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Rio de Janeiro, 3 a 16 de abril de 2020 www.jornalcorreiodamanha.com.br Presidente: Cláudio Magnavita Ano CXVIII Nº 23.462 Rio: R$ 4,00 Outros Estados e DF: R$ 5,00 Fundador: Edmundo Bittencourt Fundado em 15 de junho de 1901 O eterno brilho de uma diva Ícone da beleza da mulher francesa, Fanny Ardant chega aos 71 anos com graça e es- plendor. A atriz faz um balanço de sua trajetória como artista, mulher e mãe. PÁGINA 1 Divulgação Página 2 Página 2 Página 3 As aventuras de Bolsonaro Jones O Rio que queremos de volta Amigos no obituário da peste RUY CASTRO Página 2 Ainda é cedo para qualquer conclusão sobre Hidroxicloroquina JOSÉ A. MIGUEL ARISTÓTELES DRUMMOND RICARDO CRAVO ALBIN ALEXANDRE GARCIA Corona e Coroa Página 3 O coronavírus levou uma grande mulher ANNA RAMALHO 2º Caderno - Página 3 JANIO DE FREITAS Um vírus que se trai e morre Páginas 4 Como enfrentar a quarentena! Esta edição traz várias dicas para você sobreviver à dura rotina do isolamento sem precisar sair de casa A imprensa quer matar a democracia? MAGNAVITA - Página 3 A pandemia de coronaví- rus golpeou o planeta in- teiro, mas ainda está lon- ge de acabar com a vida humana. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o isolamento social para enfraquecer a ação nefasta do Covid-19 e assim estamos fazendo. E resistindo. Estamos de casa, mas a vida continua. Esta edição traz várias di- cas do que podemos fazer para nos manter ativos, do home office às opções de lazer e cultura que po- demos experimentar re- motamente. E até para uma refeição especial, que podemos pedir de casa. A vida é mais forte que um vírus. Sigamos! Tânea Rêgo/Agência Brasil A observância às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), é fundamental para salvar vidas. Saia de casa somente quando for extremamente necessário Governo anuncia ajuda Como não fechar seu negócio Influenza foi trágica em 1919 Desafios da educação à distância O fechamento do comércio em razão da pandemia de corona- vírus deve agravar a situação de micro, pequenos e médios em- presários no país. Com isso, es- pecialistas dão dicas para otimi- zar seu negócio neste período de quarentena. Epicentro do Covid-19 nos EUA, Nova York passou por situação pa- recida há 100 anos, quando foi de- vastada pela gripe espanhola. Veja como a cidade conseguiu superar essa crise e as lições que ela pode aprender para a atual. Páginas 6 Página 5 Página7 Página 4 2º CADERNO Discípulos prestam tributo ao mestre Eça A obra de Luiz Eça é remorada em DVD que reúne mons- tros da MPB como Edu Lobo, Dori Caymmi, Toninho Horta e Zé Renato. Todos foram discípulos do genial pianista. Shakespeare: mais atual do que nunca Quando o teatro vai até você Maior dramaturgo de todos os tempos, William Shakespeare é autor fundamental para se compreender as vilanias que assolam a espécie humana desde que o mundo é mundo. Página 2 Página 4 Página 5 EDIÇÃO NACIONAL Se você não vai ao teatro, ele chega até você. Conheça al- guns espetáculos que podem ser vistos de casa nesses tem- pos de pandemia. Laise Mendes/Divulgação

Cláudio Magnavita Ano CXVIII Nº 23.462 Rio: R$ 4,00 Outros ... · cular, como o de Jim Jones. Jones, pelo menos, foi até o fim. Bolsonaro, para ser coeren-te, também terá de

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Page 1: Cláudio Magnavita Ano CXVIII Nº 23.462 Rio: R$ 4,00 Outros ... · cular, como o de Jim Jones. Jones, pelo menos, foi até o fim. Bolsonaro, para ser coeren-te, também terá de

Rio de Janeiro, 3 a 16 de abril de 2020 www.jornalcorreiodamanha.com.br Presidente: Cláudio Magnavita Ano CXVIII Nº 23.462 Rio: R$ 4,00 Outros Estados e DF: R$ 5,00

Fundador:Edmundo Bittencourt

Fundado em15 de junho de 1901

O eterno brilho de uma diva Ícone da beleza da mulher francesa, Fanny Ardant chega aos 71 anos com graça e es-plendor. A atriz faz um balanço de sua trajetória como artista, mulher e mãe.

PÁGINA 1

Divulgação

Página 2

Página 2

Página 3

As aventuras de Bolsonaro Jones

O Rio que queremos de volta

Amigos no obituário da peste

RUY CASTRO

Página 2

Ainda é cedo para qualquer conclusão sobre Hidroxicloroquina

JOSÉ A. MIGUEL

ARISTÓTELES DRUMMOND

RICARDO CRAVO ALBIN

ALEXANDRE GARCIA

Corona e Coroa Página 3

O coronavírus levou uma grande mulher

ANNA RAMALHO

2º Caderno - Página 3

JANIO DE FREITAS

Um vírus que se trai e morre

Páginas 4

Como enfrentar a quarentena! Esta edição traz várias dicas para você sobreviver à dura rotina do isolamento sem precisar sair de casa

A imprensa quer matar a democracia?MAGNAVITA - Página 3

A pandemia de coronaví-rus golpeou o planeta in-teiro, mas ainda está lon-ge de acabar com a vida humana. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o isolamento social para enfraquecer a ação nefasta do Covid-19 e assim estamos fazendo. E resistindo. Estamos de casa, mas a vida continua. Esta edição traz várias di-cas do que podemos fazer para nos manter ativos, do home office às opções de lazer e cultura que po-demos experimentar re-motamente. E até para uma refeição especial, que podemos pedir de casa. A vida é mais forte que um vírus. Sigamos!

Tânea Rêgo/Agência Brasil

A observância às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), é fundamental para salvar vidas. Saia de casa somente quando for extremamente necessário

Governo anuncia ajuda

Como não fechar seu negócio

Influenza foi trágica em 1919

Desafios da educação à distância

O fechamento do comércio em razão da pandemia de corona-vírus deve agravar a situação de micro, pequenos e médios em-presários no país. Com isso, es-pecialistas dão dicas para otimi-zar seu negócio neste período de quarentena.

Epicentro do Covid-19 nos EUA, Nova York passou por situação pa-recida há 100 anos, quando foi de-vastada pela gripe espanhola. Veja como a cidade conseguiu superar essa crise e as lições que ela pode aprender para a atual.

Páginas 6

Página 5

Página7

Página 4

2º CADERNO

Discípulos prestam tributo ao mestre EçaA obra de Luiz Eça é remorada em DVD que reúne mons-tros da MPB como Edu Lobo, Dori Caymmi, Toninho Horta e Zé Renato. Todos foram discípulos do genial pianista.

Shakespeare: mais atual do que nunca

Quando o teatro vai até você

Maior dramaturgo de todos os tempos, William Shakespeare é autor fundamental para se compreender as vilanias que assolam a espécie humana desde que o mundo é mundo.

Página 2

Página 4

Página 5

E D I Ç Ã O N A C I O N A L

Se você não vai ao teatro, ele chega até você. Conheça al-guns espetáculos que podem ser vistos de casa nesses tem-pos de pandemia.

Laise Mendes/Divulgação

Page 2: Cláudio Magnavita Ano CXVIII Nº 23.462 Rio: R$ 4,00 Outros ... · cular, como o de Jim Jones. Jones, pelo menos, foi até o fim. Bolsonaro, para ser coeren-te, também terá de

2 De 3 a 16 de abril de 2020

OPINIÃO

O Rio já paga pelos erros do Witzel

EDITORIAL

Em novembro de 1978, um americano, James Warren Jones, 47 anos, “reverendo” da seita Templo do Povo, fundada por ele mesmo, induziu seus 909 segui-dores numa comunidade agrícola chamada Jonestown, na Guiana, a cometer suicídio em massa, tomando suco de frutas (sabor uva) misturado com cianeto. Os primeiros a morrer foram as 276 crianças do local, envenenadas pelos pais. Em seguida, estes se deitaram e tomaram a bebera-gem fatal. Ato contínuo, Jim Jo-nes, como passou à história, se matou com uma bala na cabeça.

Seu argumento para conven-cer os fiéis a morrer foi uma ame-aça de invasão da comunidade por um suposto inimigo, nunca devidamente definido, que os escravizaria e submeteria a lava-gem cerebral. O conteúdo das pregações de Jones era confuso e envolvia marxismo, budismo e metodismo, tudo embrulhado em roupagem messiânica ao es-tilo de Stalin ou Hitler. Não por acaso, sua mãe, quando ele nas-ceu, em 1931, na rural e atrasada

Indiana, dizia ter dado à luz um “messias”. Jones também devia se ver assim, porque parecia acre-ditar no que dizia. O fato é que nenhum outro líder carismático levou tantos seguidores –quase mil, de uma só vez e a uma sim-ples ordem– tão cegamente à morte. Até agora.

Jair (já de batismo Messias) Bolsonaro pode bater o recorde de Jim Jones. Sua audácia em contrariar a ciência, a OMS, as medidas mundiais e o bom senso, insistindo em levar seus apoiadores a expor-se ao coro-navírus, não é muito diferente de propor um suicídio coletivo.

É verdade que ele é o primei-ro a seguir o próprio conselho. Sai à rua, deixa-se tocar e circula entre possíveis infectados como se fosse à prova de contágio. Ao desfilar sua autoproclamada in-vulnerabilidade, parece querer provocar um holocausto parti-cular, como o de Jim Jones.

Jones, pelo menos, foi até o fim. Bolsonaro, para ser coeren-te, também terá de ir. E não será por falta de bala.

Na safra de governadores eleitos em 2018, nenhum de-les estava em uma posição mais confortável junto ao Governo Federal do que o do Rio. Foi eleito com o apoio do senador Flávio Bolsonaro e tinha tudo para ser o queridinho do Pla-nalto.

A ambição precoce de ser Presidente conseguiu ruir o cor-dão umbilical que ligava Witzel a família Bolsonaro. O maior erro estratégico do governador foi a demissão do publicitário Gutemberg Fonseca já nos pri-meiros meses de gestão. Exo-nerou como um claro sinal de rompimento. Avaliou mal o seu auxiliar. Menosprezou a força de Gutemberg com a família. Achou que não faria diferença.

O prefeito Marcelo Crivella fez então a aposta. Nomeou Gu-temberg para uma de suas mais importantes secretarias e passou a ter uma linha direta com Bra-sília e a receber uma ajuda que hoje faz falta a Witzel.

Se a aposta deu resultado no campo administrativo, agora no campo eleitoral Crivella re-cebe na sua legenda partidária a família Bolsonoro toda. Até o senador fez a opção partidária. O destino final é o Aliança, mas tudo muito conversado. O peso político de Crivella é outro.

Já Witzel optou por ouvir o mantra de puxa-saco de André Moura e agora, com a pande-mia, barril de petróleo a 20 dó-lares, vai ter de ficar de joelhos perante o Planalto. Cada vez mais as suas reuniões são “pa-pos de duro”. Fala-se muito e ninguém resolve porque falta recursos. Ele tinha tudo... traiu e hoje só lhe restar implorar por ajuda.

A população do Rio, forma-dora de opinião, nas suas sólidas classes médias, precisa amadu-recer com os últimos aconteci-mentos e se tornar mais atenta na hora de votar. Este ano deve-mos ter eleições municipais.

Hoje, nossa Câmara de Vereadores não é nem sombra daquela que a então capital da República teve. Eram personali-dades dignas de respeito e admi-ração que formavam a maioria na bela casa da Cinelândia. Os mais velhos poderão entender bem quando lembrarmos que ali tiveram assento figuras como Carlos Lacerda, Embaixador Paschoal Carlos Magno, Glads-tone Chaves de Melo, Adalgisa Nery, Luiz Paes Leme, Sandra Cavalcanti, Mário Martins, Al-berto Cotrim Neto e até um futuro acadêmico Raimundo Magalhães Júnior, entre outros. E hoje? A se sobressair apenas o ex-prefeito César Maia.

No Estado da Guanabara, o nível era outro em relação aos dias de hoje. A falta de apoio dos governos militares a seus aliados empobreceu a representação conservadora, o chaguismo im-plantou a politicagem barata e demagógica, os ideólogos foram se radicalizando até chegar ao ponto que chegamos de tanta irresponsabilidade no exercício dos mandatos. Além de manter figuras como Cotrim Neto, teve Célio Borja, Álvaro Vale, Ligia Lessa bastos, Danilo Nunes.

A sociedade como um todo tem de assumir sua res-ponsabilidade neste quadro. Foram poucas as iniciativas de

incorporar novos valores na capital e no Estado. Francis-co Dornelles nos trouxe este jovem valor que é Marcelo Queiroz e o prefeito Crivella aproveitou Adolfo Konder, que, embora jovem, já mostrou vocação para a vida pública, e o Novo elegeu Bulhões. São go-tas d’água num mar de medio-cridade, para não dizer mais.

Os empresários que estive-ram presentes na política local foram se afastando. E a livre empresa pode ter um papel relevante na economia, se bem aproveitada. Semana passada, Claudio Magnavita registrou o sucesso da Riotur, que, mesmo sem recursos, vem promoven-do o nosso turismo com gran-de eficiência, inclusive eventos da envergadura como o Carna-val, com parcerias com a livre empresa.

Vamos aproveitar esses dias de recolhimento com-pulsório e avaliar a respon-sabilidade das classes médias voltarem a se interessar pela política, pela vida pública, neste momento em que o Rio precisa do esforço de todos para retomar sua economia abalada com a pandemia.

Ruy Castro

Aristóteles Drummond

Bolsonaro Jones

O Rio que nós queremos de volta

ção federal, demais entes buscam soluções isoladas, escreve Eduardo Cucolo. Todos os governadores de-cretaram estado de calamidade ou emergência e adotaram medidas de isolamento social e interrupção de comércio, serviços e eventos, apesar das divergências dentro do governo federal sobre esses temas. Também foram disponibilizados recursos para empresas por 16 estados e cria-dos diversos auxílios para famílias e informais. (...) (Folha de S. Paulo)5- Mortes sem diagnóstico refor-çam suspeitas de que estatísticas de coronavírus em São Paulo estão de-fasadas. Após resolução do dia 20, Serviço de Verificação de Óbitos deixou de fazer autópsia em casos suspeitos da Covid-19 e corpos são enterrados como se fossem confir-mados, mas não entram no balanço oficial. (El País Brasil)6- Cemitérios de SP têm mais de 30 enterros por dia de mortos com suspeita de Covid-19. Muitos desses casos não aparecem na contabilida-de oficial porque aguardam resulta-dos de testes, escreve Yan Boechat. (...) (Folha de S. Paulo)7- Apesar do discurso otimista do presidente Jair Bolsonaro sobre o uso da hidroxicloroquina para com-bater a covid-19, o médico Luciano Cesar Pontes de Azevedo alerta que “ainda é cedo” para qualquer conclu-são, escreve Bela Megale. Avalia que vai demorar ao menos dois meses para sair o resultado final do estudo. Azevedo integra a coordenação de pesquisa feita pelos hospitais Sírio--Libanês, Albert Einstein e Hospital do Coração.(...) (O Globo)8- General Santos Cruz critica “vagabundos virtuais”. “Essas pesso-

1- Pandemia deixa cesta básica mais cara. Itens básicos como o fei-jão preto, que estavam com preço em queda no início do mês, passa-ram a subir diante da maior busca por alimentos, informa Claudia Gasparini. 20 produtos da cesta ti-veram reajuste médio de 1,64% na semana passada, contra 0,19% no início de março, segundo a Funda-ção Getúlio Vargas. É o caso do fei-jão preto, que havia caído 2,61% no início do mês e agora registra alta de 2,24%. (...) (LinkedIn)2- “Dane-se o Estado mínimo”. Para economista Monica De Bolle, ministro Paulo Guedes está preso a dogmas ideológicos e mantém letar-gia para tomar decisões que afetam quem já passa fome com crise da Co-vid-19, reporta Heloísa Mendonça. “E, para os defensores da calma e da serenidade, saibam: o momento é de urgência”, escreve a economista brasileira Monica de Bolle, pesqui-sadora do Instituto Peterson de Eco-nomia Internacional e professora da Universidade Johns Hopkins.(...) (El País Brasil)3- R$ 600 com urgência - Bem concebido, amparo a vulneráveis exigirá agilidade inaudita do Execu-tivo. Além de ambicioso, é no geral bem desenhado. O principal desa-fio, contudo, reside em executar o plano a tempo. O Brasil felizmente dispõe de um aparato de proteção social espalhado por todo o seu território. Urge mobilizar todos os meios disponíveis. (...) (Editorial--Folha de S. Paulo)4- Estados antecipam medida para aliviar crise econômica do co-ronavírus. Levantamento do Ibre mostra que, na falta de coordena-

as precisam de terapia. Não têm o mínimo de bom senso. Isso atrapa-lha muito o governo”, diz o general em entrevista ao jornalista Chico Otávio (O Globo). “O governo pode acertar ou errar, mas tem de ser muito clara a orientação. Precisa transmitir tranquilidade. Mas exis-tem grupos radicais, baixarias virtu-ais, que afetam demais”, disse Santos Cruz. (...) (Brasil247)9- Este texto, 31 de março/1º de abril, é escrito no aniversário do golpe militar de 1964, e será lido no Dia da Mentira, comenta Vera Ma-galhães.. Essa mudança no calendá-rio ocorre no momento em que vi-vemos o agravamento da pandemia do novo coronavírus submetidos, de um lado, à apologia do arbítrio e, de outro, ao império da mentira como política de Estado. Bolsonaro pela primeira vez colocou a defesa da vida à frente da dos empregos. O recuo repentino de Bolsonaro mos-tra que ele está ciente de que vem minguando em todas as pesquisas realizadas, inclusive as medições de sua influência nas redes sociais. (...) (O Estado de S. Paulo)10- Líder dos caminhoneiros re-pete discurso de Bolsonaro e ameaça parar o país. A ameaça de greve visa obrigar governadores a recuarem de distanciamento social, mesmo pro-pósito repetido diversas vezes por Jair Bolsonaro. O líderes dos cami-nhoneiros à frente da greve de 2018, Wallace Landim, o Chorão, afirma que a categoria vai entrar em greve se os governadores não recuarem nas medidas restritivas de circulação de pessoas e fechamento de atividades não essenciais contra o novo corona-vírus. (...) (Brasil247)

11- A lição do SUS para o mun-do. Capotou o Brasil Paraíso dos grandes grupos de medicina priva-da, opina Elio Gaspari. Em agosto passado, o professor José Pastore avisou: “Nosso mercado de seguros e previdência ainda não despertou para o fato de que 50% da popu-lação economicamente ativa está na informalidade”. Com que pro-teção? “Nada, zero”... Tristemente, esse Brasil Fantasia explodiu com a epidemia da Covid-19, opina Elio Gaspari. A conta da Covid-19 está nas costas do SUS. (...) (Folha de S. Paulo)12- País já tem 6.836 casos e 240 mortes. Mundo registra 863 mil infectados. O Brasil entra nesta 4ª feira (1º.abr.2020) com 6.836 casos registrados e 240 mortes pelo coro-navírus No mundo, são 863.547 infectados e 42.210 óbitos por co-vid-19 até o final da 3ª feira. É o país com mais casos no mundo. Com 3.976 mortes, os Estados Unidos superaram a China em número de óbitos em decorrência do novo co-ronavírus. (...) (Poder360)13- Um menino de 13 anos, Is-mail Mohamed Abdulwahab, de Brixton, que recebeu diagnóstico positivo para covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, morreu, informou um hospital em Londres. (BBC News Brasil)

Hidroxicloroquina: cientista diz que “ainda é cedo” para qualquer conclusão

(*) José Aparecido Miguel, jornalista, diretor da Mais Comunicação-SP

(http://www.maiscom.com), trabalhou em todos os grandes jornais brasileiro

- e em todas as mídias. Foi editor-executivo do Jornal do Brasil, no Rio,

de 2007 a 2009. (http://www.outraspaginas.com.br)

E-mail - [email protected]

OUTRAS PÁGINAS JOSÉ APARECIDO MIGUEL (*)

O CORREIO DA MANHÃ NA HISTÓRIA * POR BARROS MIRANDA

Opinião do leitor

NANI

Um exemplo a ser seguidoFoi com satisfação que recebi, via Whatsapp, a edi-

ção expressa digital do CORREIO DA MANHÃ. Um formato ágil com as notícias mais importantes do dia ao alcance das mãos. Parabéns à equipe do jornal, que se reinventa a cada dia, e supera com profissionalismo essa crise sa-nitária de proporções globais. O jornalismo é fundamental nesses momentos.

Roberto SouzaBrasília, DF

Direção Executiva: Cláudio Magnavita (Editor Chefe) Fernando Vale Nogueira (Editor Executivo) [email protected]ção: Affonso Nunes, Gabriel Moses, Guilherme Cosenza, Ive Ribeiro, Marcelo Perillier, Marcio Corrêa e Pedro Sobreiro. Estagiários: João Victor Ferreira e Willian Cobian. Serviço noticioso: Folhapress e Agência BrasilOperações: Bruno Portella. Projeto Gráfico e Arte: Leo Delfino (Designer)

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Fundado em 15 de junho de 1901

Edmundo Bittencourt (1901-1929)Paulo Bittencourt (1929-1963)Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1963-1969)

Os artigos publicados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não necessariamente refletem a opinião da direção do jornal.

HÁ 75 ANOS: CONFERÊNCIA DE SÃO FRANCISCO JÁ TEM 37 PAÍSES CONFIRMADOS

HÁ 100 ANOS: CHANCELER DO URUGUAI VISITA O BRASIL

As principais notícias do CORREIO nas primeiras se-manas de abril em 1945 foram: Acidente aéreo mata auxiliar do

Ministério da Aeronáutica; três mil tanques abrem o caminho para as tropas aliadas chegarem a Berlim; exércitos soviéticos do-

minam Áustria, Hungria, Tche-coslováquia e Yugoslávia; e 37 países aceitaram os convites para a Conferência de São Francisco.

As principais notícias do CORREIO nas primeiras sema-nas de abril em 1920 foram: Pre-sidente Epitácio Pessoa recebe

homenagem da Câmara de Co-mércio e Indústria do Uruguai; associações de Trabalhadores da Dinamarca anunciam greve geral

no país; cavalaria vermelha ocu-pa cidade de Petrovik, na URSS; e chanceler Juan Antonio Buero, do Uruguai, visita o Brasil.

Witzel vai ter de ficar de joelhos

perante o Planalto

A sociedade como um todo tem

de assumir sua responsabilidade

neste quadro

Page 3: Cláudio Magnavita Ano CXVIII Nº 23.462 Rio: R$ 4,00 Outros ... · cular, como o de Jim Jones. Jones, pelo menos, foi até o fim. Bolsonaro, para ser coeren-te, também terá de

3De 3 a 16 de abril de 2020

OPINIÃO

[email protected]

CUNHA - TEM UM OBSERVADOR PRIVILEGIADO NO SEU EXÍLIO MILIONÁRIO. É POSSÍVEL REGISTRAR QUEM ENTRA E QUEM SAI NA MANSÃO COM ELEVADOR.

GRANDE FAMILIA - A PRESENÇA DA FAMÍLIA BOLSONARO A BORDO DO REPUBLICANOS DEU NOVO GÁS A POSSÍVEL REELEIÇÃO DO PREFEITO CRIVELLA.

Alexandre Garcia Ricardo Cravo AlbinCorona e coroa Amigos no obituário da peste

Nasci em 1940; sou, portan-to, um coroa entrando no nível mais alto do grupo de risco, no ano do meu 80º aniversário. Já estou em casa há duas semanas, e muito feliz, porque a casa da gen-te é o melhor lugar do mundo. Ligo-me ao mundo exterior pelas modernidades digitais de infor-mação e pelo jornal impresso que me chega pela manhã. Pelo tele-fone, recebo as preocupações dos amigos, que me parecem muito assustados. Queixam-se de suo-res, taquicardia, falta de apetite; pensam que o mundo vai acabar, que todos vamos morrer de Co-vid-19. Parece que estão num mundo diferente do meu. 

Concluo que estão permitin-do que os assustem. A tv pode ser boa ou má companhia. Hoje não sei o que é, porque faz mui-tos anos que não vejo tv. Nada contra; passei 40 anos trabalhan-do nela. É apenas falta de tempo para ficar sentado diante de uma tela. Tenho trabalhado muito em casa e quando me sobra tempo é hora do prazer da leitura, pois

Não sei por que a gente fica sempre a imaginar que nosso núcleo de amigos mais chegados nunca irá ostentar seus nomes nos obituários da Peste – des-culpem, mas o horror a esse ví-rus pandêmico me leva a não lhe explicitar o nome, nomeando-o apenas pelo genérico Peste. In-felizmente a Peste se aproxima tão veloz e despudoradamente nesta recém inaugurada tercei-ra década do século XXI que o núcleo de amigos queridos, que nós pressupúnhamos imune a este horror, começa a abrir flan-cos. E o coração se dilacera um pouco a cada morte.

Semana passada estremeci com a brutalidade da morte de Daniel Azulay. Estremeci e cho-rei. Por todas as razões, além do artista singular de traço único, além da originalidade de sua figu-ra física, além da graça de se co-municar pela televisão, o que en-cantou várias gerações, além do olhar, do se vestir, do ser amigo.

Aos 72 anos, Daniel conti-nuava a parecer um menino, um

ainda há muito livro por ler. A obrigação de estar bem informa-do não afasta a necessidade de ter tempo de prazer e tempo de manter a forma física. E o apo-calipse viral não consegue varar meus filtros.

Além disso, meus caros com-panheiros de cabeças coroadas por cabelos brancos, ficar parado enferruja. Ainda que estejamos confinados, sempre há espaço para nos mexer. Assim é o país; parado, enferruja e vai para o ferro-velho. Mesmo confinados, temos que nos mexer como país. Então, não nos esqueçamos de valorizar os que estão trabalhan-do por nós e para nós; graças a eles, podemos ficar em casa pro-tegidos. São os que plantam e co-lhem, que produzem nossa carne, leite e pão, os que transportam e põem à venda; os que trazem nos-sa comida e nossos remédios até nossa casa; que operam e fazem manutenção de nosso mundo di-gital; que cuidam da entrada de nossos condomínios, que estão de plantão para cuidar de idosos

menino de voz doce e olhos in-quietos sempre a buscar oportu-nidades para cativar o interlocu-tor. Ele jamais abandonaria sua persona modelada pela televisão durante décadas, ídolo natural de crianças de todas as idades, sem forçar barras mercadológi-cas, tão comuns hoje em dia.

Daniel Azulay foi meu ami-go por mais de quarenta anos e frequentava nosso Instituto na Urca com frequência. Arguto, culto, piedoso e bem informa-do, ele ora chegava para almo-çar, ora chegava para tomar umas e outras, ora chegava para apenas jogar conversa fora. Mas o “conversa fora” do Daniel sempre embutia um propósito de cristalina generosidade.

Segundo ele, todos seus projetos deveriam abrir na criança o mundo mágico do imaginário, do sonho possível ao desenvolvimento criativo a ser plantado nas cabecinhas em formação. Um público ainda virgem de vícios e de tolices que o avançar da idade acaba por

como nós. Se os obrigássemos a parar, morreríamos de fome e de isolamento.

Cuidemo-nos, pois, mas sem o medo que enfraquece nossa imunidade. Evitem esse vírus da ameaça que quer nos pôr de joelhos e enfraquecer o país. Desconfiem da democracia de quem se aproveita para confun-dir e atrapalhar; desconfiem da democracia de quem não aceita resultado de eleição; desconfiem de quem aposta na mortandade e na paralisação da economia; de quem se associa ao corona-vírus para buscar o caos da de-pressão, sem se importar com a perspectiva da fome e desespero, que tornam selvagem o mais ci-vilizado dos homens. Nós, coro-as, já vimos tanto, não é? Sabe-mos dos perigos do coronavírus mas também dos outros perigos. Se os mais jovens nos protegem do corona, nós, coroas, pode-mos retribuir alertando os mais jovens, menos vividos e menos experientes, sobre os vírus opor-tunistas.

infligir. Todas as muitas ideias do Daniel eram sempre con-templadas com assentimento geral por nossa parte. E saía ele, lépido e fagueiro como sempre, a buscar patrocínio e apoio. Que nunca chegavam. Sequer uma réstea de solidariedade aparecia. Daniel, bem humo-rado, desdenhava dos ouvidos moucos, da falta de cultura de eventuais patrocinadores, do esperar horas a fio em antessa-las dos empresários. Até porque artista como ele tinha consciên-cia de seus acertos, de sua gran-deza, do querer ampliar cabeças de meninos em formação.

Hoje me dou conta de que Daniel, lá no fundinho de seu interesse pelas crianças, queria mesmo era ser professor. Ou seja, ele parecia ter pressa em transformar gente miúda em gente grande. Grande no sen-tido filosófico de expansão do pensamento, futuros homens dotados de mais criatividade, em exercício progressivo para serem livres. Sempre.

Cadê a Primeira Dama?Muitas perguntas sobre a ausência total da Primeira Dama do Estado do Rio, Helena Witzel, nas ações sociais ligadas às comunidades carentes afetadas pela Pandemia.n O contraste com o trabalho da Maria Lucia Horta Jardim, esposa do ex-Governador Pezão, com a atual é gritante. Nesta hora, já estaria mobilizando recursos da Loterj, convocando as esposas dos Prefeitos e agindo para assistir as comunidades carentes e instituições filantrópicas. n A atual é figura onipresente na agenda festiva, como foi o caso no Carnaval, coordenando pessoalmente o super camarote e até a lista de convidados.n Se Helena Witzel tem atuado na área social é um erro a estrutura de Comunicação não divulgar e deixar a sua imagem associada apenas ao lado festivo.

MissionáriaJá no município, a discreta e atuante Sylvia Jane Crivella está trabalhando muito nesta crise.n Recolhe doações, coordena o alojamento do pessoal de rua e desenvolve um programa social com o apoio de uma rede de dedicadas colaboradoras.n O trabalho missionário esta no seu DNA e considera ser primeira dama no Rio uma missão para ajudar os mais pobres.

DesgastadoO nível de desgaste do ex-deputado André Moura, Secretário da Casa Cívil no Governo do Estado, já começa a ser sentido.n Ele tinha sido o principal defensor da ruptura com o Governo Federal e agora o governador terá de ficar de joelhos para implorar ajuda de Brasília.n O ônus de incentivar a entrada precoce de Witzel na corrida presidencial foi de Moura.

Bolsonaro no RioO presidente Jair Bolsonaro deverá vir ao Rio na próxima sexta feira, dia 3, para acompanhar as ações federais em parceria com a Prefeitura no combate a pandemia.n Deverá visitar o hospital montado no RioCentro e anunciar novos apoios a Prefeitura.n Não está previsto nenhum encontro com o Governador Witzel.

PP venceu!O PP ganhou a queda de braço com Ramon de Paula Neves, que queria dar um quinhão da Secretaria de Agricultura para o PV.n Ramon foi exonerado da Subsecretária de Gestão e Desenvolvimento Rural Sustentavel e Valdeck Ferreira Mattos da Silva da Presidencia da Fundação do Instituto de Pesca. No mesmo DO, a exoneração de diretor e cargos especiais.n Caberá ao partido e aos deputados Cristino Áureo, Dr. Luizinho e o secretário Marcelo Queiroz indicarem os novos nomeados.n Nesta briga, por pouco o partido não entregava todos os cargos no Governo Witzel.n O pivô da confusão, Ramon de Paula Neves, deverá ganhar abrigo em uma subsecretaria na pasta de Lucas Tristão.

Divulgação

Diferença de estilos : Sylvia Jane Crivella e Helena Witzel. Nunca as comunidades carentes precisaram tanto das suas primeiras damas

Por Cláudio Magnavita*

As últimas 48 do final de março foram extremamente preocupantes. No dia 31 de março, foi o aniversário do Golpe de 64. Na véspera, dia 30, o general Eduardo Villas Bôas emitiu uma dura nota tirando o presiden-te Bolsonaro das cordas, para onde fora jogado por uma metralhadora incessante das organizações Globo. Naquela mesma segunda, o general Braga Netto, ministro-chefe da Casa Civil, assume as entrevistas coletivas do governo federal, que até sábado era palco absoluto do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Neste mesmo ciclo de horas, o mi-nistro do STF Marco Aurélio Mello re-cebe e encaminha à Procuradoria Geral da República uma denúncia criminal contra o presidente da República, pro-tocolada por inexpressivo deputado do PT. Ainda neste caldeirão, o governa-dor do Rio ameaça indiretamente levar o Presidente à corte internacional.

Os telejornais da Globo e o seu canal de notícias passaram as últi-mas 24 horas do mês de março ten-tando descontruir o presidente por ele ter saído do Palácio para ouvir o povo, como ele próprio disse e como o general Villas Bôas endossou. Não está mais havendo limite e res-peito às instituições. O general, um símbolo vivo da moralidade das For-ças Armadas por enfrentar em públi-co uma doença que corrói a sua mo-bilidade, mas amplifica a sua coragem e lucidez, afirma: “Conheço o presi-dente e sei que ele não tem outra mo-tivação que não o bem-estar do povo e o futuro do país. Pode-se discordar do presidente, mas sua postura revela coragem e perseverança nas próprias convicções. Um líder deve agir em função do que as pessoas necessitam acima do que elas querem”.

Vivemos hoje uma realidade construída por uma organização, que parece estar à deriva desde a morte do seu patriarca. Ela fun-

ciona hoje como um porta-avi-ões sem almirante a bordo e com seus guardas-marinhas à frente da sua artilharia atirando para todos os lados, sem precisão e com um volume de tiros aleatórios primá-rios. Tão primários que desafiam os manuais de gestão política de qualquer veículo de comunicação. Dedicaram horas a mostrar a reper-cussão no exterior de notícias contra o presidente Bolsonaro. Muitas de-las têm como origem agências noti-ciosas como a Reuters, que baseou o seu noticiário na própria agência.

Uma simples saída não progra-mada, encontrando pessoas que já estavam na rua, uma ida a uma pa-daria e a uma farmácia (o que não é proibido) e o retorno ao Planalto. O melhor exemplo deste paradoxo surgiu quando, questionado por um repórter da CNN-Brasil por que ele estava ali numa padaria, o presiden-te responde: “Você não está aqui também?”

Para os telejornais da TV Globo e seu canal de notícias só existe um assunto: Bolsonaro. Quando falam em Trump, é para di-zer que ele mudou de ideia. Quando fala dos governadores, é para dizer que eles contestam o presidente.

Tudo o que o governo faz de concreto é eclipsado. O que é bom é do governo federal e o que é ruim é o governo Bolsonaro. Podemos gostar ou não do presiden-te, mas ele foi eleito, empossado e tem mandato. A esquerda questiona a elei-ção ter sido pela maioria. Mas ele foi eleito dentro das regras constitucionais.

A dupla Davi Alcolumbre e Ro-drigo Maia segue esticando as cordas. Trouxeram para si o crédito da vota-ção do auxílio, e o presidente do Se-nado usou as redes sociais para pedir “Sanciona logo, Bolsonaro”. Tenta fa-turar politicamente sobre algo que o próprio presidente encaminhou.

A Globo passa dos limites e con-tribui para um clima de instabilida-

de e insegurança. O presidente gasta parte do seu tempo para revidar os ataques. Villas Bôas e Braga Netto são obrigados a ir para a linha de frente. Resta perguntar? O que estão que-rendo? Para onde querem levar o país em plena guerra pandêmica, onde es-tamos entregues à própria sorte, com fronteiras fechadas, economia parada e uma insanidade suicida?

Lembra a fabula do sapo e do es-corpião que pede carona. Achando que o escorpião tinha bom-senso, aceita. No meio da travessia o sapo leva uma ferroada e os dois morrem. É o que deseja a Globo? Que todo o país morra? Que morra o estado de-mocrático? O retrocesso do estado de direito, em tempos de guerra, pode correr riscos. A mídia tem que deixar de ser escorpião e permitir que a tra-vessia seja realizada de forma liberal, segura e preservando as instituições.

* Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã

A imprensa quer matar o estado democrático?

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4 De 3 a 16 de abril de 2020

Por Agência Brasil e Folhapress

O presidente Jair Bolsonaro anunciou um pacote de medi-das de cerca de R$ 200 bilhões para socorrer trabalhadores e empresas e ajudar estados e mu-nicípios no enfrentamento aos efeitos da crise provocada pela pandemia do coronavírus.

Em pronunciamento à im-prensa no Palácio do Planalto, Bolsonaro explicou que serão editadas três Medidas Provisórias sobre o tema, mais o projeto que prevê o auxílio emergencial de R$ 600 para trabalhadores informais, autônomos e sem renda fixa.

Ao lado do presidente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, explicou que esse au-xílio custará R$ 98 bilhões aos cofres públicos e deve benefi-ciar 54 milhões de brasileiros.

- De forma que eles tenham recursos nos próximos três me-ses para enfrentar a primeira onda de impacto, que é a onda da saúde. Há outra onda vinda de desarticulação econômica que nos ameaça - disse.

O governo federal também vai transferir R$ 16 bilhões para os fundos de participação dos estados e dos municípios.

- É para reforçar essa luta no front, onde o vírus está atacan-do, os sistemas de saúde e segu-rança - explicou Guedes.

De acordo com o ministro, as outras medidas são para aju-dar as empresas na manuten-ção dos empregos. São R$ 51 bilhões para complementação salarial, em caso de redução de salário e de jornada de trabalho de funcionários, e R$ 40 bilhões

semprego ou de programa de transferência de renda federal, exceto o Bolsa Família; têm ren-da mensal per capita de até meio salário mínimo (R$ 522,50) ou renda familiar mensal total de até três salários mínimos (R$ 3.135); não tenham recebido rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70 em 2018.

Ainda não foi definido o cronograma para pagamento do auxílio emergencial, mas o ca-lendário terá os mesmos moldes do utilizado para o saque-ime-diato do FGTS, de acordo com o presidente da Caixa Econô-mica Federal, Pedro Guimarães.

Clientes da Caixa deverão receber os depósitos direta-mente nas suas contas bancá-rias, também como ocorreu no saque-imediato.

Correntistas e poupadores de outros bancos poderão optar por transferir os valores para suas contas sem a cobrança da trans-ferência, segundo Guimarães.

(R$ 34 bilhões do Tesouro e R$ 6 bilhões dos bancos privados) de crédito para financiamento da folha de pagamento.

- Então a empresa que re-solver manter os empregos, nós não só complementamos o salá-rio como damos crédito para o pagamento. A empresa está sem capital de giro e reduziu, por exemplo, em 30% a jornada e o salário, nós pagamos 30% do salário. E ela está sem dinheiro para pagar os outros 70% que se comprometeu a manter, nós damos o crédito - explicou.

Segundo o ministro Guedes, as medidas custarão ao Tesouro o correspondente a 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país.

Nas contas do governo, a suspensão dos contratos ou re-dução de salário e jornada deve alcançar 24,5 milhões de traba-lhadores com carteira assinada. O Ministério da Economia

acredita que a iniciativa vá evi-tar pelo menos 8,5 milhões de demissões.

Trabalhadores afetados pe-los cortes terão garantia pro-visória do emprego durante o período da redução e, após o restabelecimento da jornada, por período equivalente.

Já o projeto da renda bási-ca emergencial garante auxílio emergencial de R$ 600 a tra-balhadores informais e de R$ 1.200 para mães responsáveis pelo sustento da família.

A intenção da ajuda é ame-nizar o impacto da crise do coronavírus sobre a situação financeira da população que perdeu ou teve sua renda redu-zida. O auxílio foi apelidado de “coronavoucher” e será pago em três prestações mensais.

Tem direito ao benefício ci-dadãos maiores de 18 anos que não têm emprego formal; não recebem benefício previdenci-ário ou assistencial, seguro-de-

Governo propõe pacote de R$ 200 bi para salvar a economiaMedidas vão ajudar a manter empregos e renda para trabalhadores informais

Marcello Casal Jr Agência Brasil

Medidas foram divulgadas pelo presidente Bolsonaro, junto com os ministros Paulo Guedes e Braga Netto

A Câmara dos Deputados aprovou um projeto que per-mite às empresas adiarem, por dois meses prorrogáveis por mais 30 dias, o recolhimento patronal da contribuição pre-videnciária de funcionários. A prorrogação do prazo fi-cará a cargo do Executivo. A contribuição sobre a folha de pagamentos poderá ser parcelada após o período. A proposta, contudo, não re-tira a obrigação de o trabalha-dor pagar sua parcela à Pre-vidência Social no período. O projeto foi aprovado em votação simbólica em sessão virtual da Câmara. O texto, mais uma medida de ajuda às contas das empresas diante da crise econômica provoca-da pelo surto do coronaví-

rus, agora vai para o Senado. Na justificativa do projeto, o relator, deputado Luis Mi-randa (DEM-DF), afirma que a intenção é desonerar pessoas jurídicas de obri-gações acessórias durante o período de emergência. Deve ser criado o regime tri-butário emergencial, de ade-são voluntária pelas empresas. A proposta prevê que as com-panhias deixem de recolher a contribuição por 60 dias, prorrogáveis por mais 30. Os valores não recolhidos no período poderão ser par-celados em até 12 prestações mensais e sucessivas, sem cobrança de multa. Porém, o montante deverá ser acres-cido de juros equivalentes à taxa Selic.

Projeto permite adiar recolhimento de INSS

NACIONAL

Roberto MedinaPresidente do Rock in Rio

POR UM MUNDO MELHOR

Quando a primavera chegar, haveremos de gritar em coro: “Vencemos mais uma!”.

E iremos juntos para as ruas, sem máscaras no rosto e sem medo dedar as mãos, para festejar o fim vitorioso de mais um desafio.

Quando a primavera chegar, precisaremos estar prontos para começar de novo.Mas não de onde estávamos, e sim de um plano acima, porque estaremos mais sábiose mais fortes, mais confiantes no que podemos e mais conscientes do que queremos.Vamos, portanto, começar já a construir o futuro que merecemos, com as ferramentasda vontade e da criatividade, da ousadia para sonhar e da competência para realizar.

Quando a primavera chegar, não perderemos tempo. Vamos usar o que já ficou provadoque pode dar certo, porque, quando é bem-feito, sempre dá certo: alavancar a recuperação

da economia por meio do turismo, que pode abrir mais 170 mil empregos já neste ano.E por que não acontece?

Para o turismo brilhar, precisamos do cinema, do teatro, dos musicais,dos grandes e pequenos eventos, que geram empregos no dia seguinte e que custammuito pouco. No caso do Rio, isso é mais evidente. Meu sonho é um dia ver uma dasindústrias mais importantes do mundo florescer na minha cidade. O Rio está pronto.

Nos últimos anos, mais de R$ 27 bilhões foram investidos aqui em infraestrutura receptiva.É como se tivéssemos construído um avião que espera tripulantes decididos a decolar.

O nosso DNA é fazer festa – e festa gera receita, que cria mais salas de aula, mais remédios para os hospitais, mais empregos para as pessoas. Vamos destravar a burocracia brasileira

e injetar dinheiro nos sonhos de quem consegue entregar sorrisos.

A hora é da convergência desarmada e solidária, na política, nosmeios de comunicação, na determinação dos trabalhadores, na sensibilidade social dos

empresários, na união de todos os cariocas.

Vamos emocionar o país e o mundo, quando a primavera chegar.

A disposição das forças po-líticas, no tabuleiro do Poder, avançou em alterações impor-tantes, nos últimos dias. Ainda que confundindo botinas com luvas, mulheres e furos, Bolsa e humanidade, o bolsonarismo oficial não foi contrastado pela oposição desde a sua posse. Do-minou para nada que prestasse, aceito pela passividade provei-tosa ou atemorizada diante da inépcia amalucada e regressiva. O contraste apareceu. Incipien-te, mas já capaz de empurrar Bolsonaro e o bolsonarismo para mais próximos do seu lu-gar legítimo.

É o aparecimento quase si-multâneo da lucidez indepen-dente no Congresso, há algum tempo puxada por Rodrigo Maia e, em algumas ocasiões, por Davi Alcolumbre; também da consciência ativada em mui-tos governadores, quase todos, tanto da sua responsabilidade como do seu poder; e, ainda, da marselhesa das panelas, som da opinião pública desalentada.

Essa combinação é uma for-ça real, em condições de atenu-ar o estado caótico geral e o re-gressismo social e legal comum aos atos e projetos do governo. Não em condições, porém, de diminuir a alienação mental de Bolsonaro e dos seus três orien-tadores. Dotados de meios de resistência, como recusa a san-ções, incidentes internacionais, mobilização de agitações com PMs, caminhoneiros, milícias. O cardápio é farto. E, sim ou não, com os militares.

Nosso falar, a propósito, precisa corrigir-se. A usu-al menção a militares inclui, além do Exército, a Marinha e a Aeronáutica. Assim tem sido imprecisa e injusta. Marinha e Aeronáutica têm praticado um profissionalismo exemplar. Há muito tempo, e com mais razão nestes tempos, não se vê um al-mirante ou brigadeiro fazendo considerações públicas de fun-do político, nem diretas nem disfarçadas.

As especulações de divisão e preocupações diversas nos comandos do Exército, ou di-vergências da tropa de generais entre si ou com Bolsonaro, em geral não têm indícios aceitá-veis. Escalado ou voluntário para remendar falas de Bolso-naro, o general-vice Hamilton Mourão vem, sempre, com um “não se expressou bem” que, no máximo, traz vaguidão. É o suficiente, porém, para mos-

trar que a corrente do Exército no governo, representada por Mourão, não se opõe ao dito ou feito por Bolsonaro. Apenas procura não ser atingida, tam-bém, pela repercussão negativa do feito bolsonárico.

Como a já exausta última gota, o episódio que alterou a distribuição dos pesos políti-cos foi, na noite de terça (24), a fala de Bolsonaro em rede de TV. O contrassenso da aliena-ção: uma leitura de mau texto para atacar a estratégia do seu governo no combate ao coro-navírus. Mais contrassenso: fala em rede nacional para convocar os brasileiros a não cumprir o isolamento, na residência, re-comendado pela Organização Mundial da Saúde, em nome da ciência, para evitar o contágio e diminuir as mortes. Bolsonaro propugnando a atividade eco-nômica que seu governo, em 15 meses, jamais promoveu.

Bolsonaro, no entanto, em sua fala não fez mais do que ser Bolsonaro. Admite não co-nhecer estudo nem caso prático que apoie sua pregação contra o isolamento.

Trata-se, pois, de uma intui-ção sua, um impulso instintual, algo vindo de suas profundezas mais recônditas. Da natureza do homem que tem como seu herói o chefe de crimes coronel Ustra; que fez e levou os filhos a ligação com milicianos homici-das; adepto do método “bandi-do bom é bandido morto”; que preferiria ver um filho morto a sabê-lo homossexual.

Que instiga o aumento de tragédias rodoviárias, quer a população armada e libera arma até para menores de idade; de-fendeu e prestou homenagens parlamentares a assassinos, re-tira a proteção às tribos indíge-nas assediadas por matadores, propôs encerrar um confronto de traficantes na Rocinha com o lançamento aéreo de uma bomba na favela, ameaçou ex-plodir bombas nos quartéis de seus companheiros no Exérci-to: a morte alheia é indiferente a esse ser funesto, quando não é desejada.

A proposta de prioridade à economia, sobre a vida expos-ta das crianças escolares e dos adultos ativos, está na lógica e na natureza sinistra de Jair Bol-sonaro. Já bem conhecida. Por que agora, ou só agora, causou indignação consequente, tanto pode dizer bem como dizer mal dos brasileiros. À sua escolha.

Janio de Freitas

Nova cara para o caos

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5De 3 a 16 de abril de 2020

INTERNACIONAL

Arquivo Nacional Americano

Apesar de diferente, a Gripe Espanhola, de 1918, deixa importantes lições sobre os erros ao lidar com uma pandemia

A lição histórica de Nova YorkSofrendo com os males do Covid-19, a "cidade que nunca dorme"

conseguiu superar outra pandemia há mais de um século

Hoje, ruas silenciosas na maior cidade do mundo

Por Pedro Sobreiro

Enfim aderindo às reco-mendações da Organização Mundial da Saúde, os Estados Unidos voltam a ser ampla-mente afetados por uma pan-demia. Em 1918, há mais de um século, o mundo foi asso-lado pela terrível Gripe Espa-nhola.

Chamada de a “mãe das pandemias”, a Gripe Espa-nhola era uma variação da Influenza, que a sociedade atual conhece como H1N1, doença que também causou algumas tragédias na década passada. Porém, em 1918, era o primeiro contato das pessoas com o vírus. Se hoje, o H1N1 pode ser letal para crianças e idosos, na época, os principais afetados foram os jovens na faixa etária de 20 a 30 anos. A doença foi mortal, causando aproximadamente 50 milhões de mortes ao redor do mundo, fazendo dela a pior pandemia do século XX.

O vírus vitimou pessoas em diversos países do mundo, como Estados Unidos, Japão, Alemanha, Argentina e até mesmo no Brasil, onde cerca de 35 mil pessoas morreram, incluindo o presidente da re-pública, Rodrigues Alves, re-cém reeleito para o cargo, que faleceu antes de tomar posse, deixando a Cidade Maravi-lhosa, então capital do país, em desespero.

Nos Estados Unidos, lugar em que os pesquisadores acre-ditam que o contágio come-çou, cerca de 500 mil pessoas faleceram com a pandemia do século XX. Naquele tempo, havia complicadores que per-mitiram a propagação rápida do vírus. Além da doença ser

muito contagiosa, ainda não havia antibióticos e pessoas portadoras, mas com sintomas fracos ou assintomáticas, não davam resultado positivo nos testes disponíveis. Ou seja, muitos infectados não pu-deram entrar em quarentena porque não foram detectadas pelos testes. Fora isso, o país estava envolvido na Primeira Guerra Mundial. Então, sol-dados portadores da doença acabaram propagando o vírus em hospitais de campanha, em suas cidades e em outros conti-nentes.

Em meio à crise, algumas cidades americanas se move-ram para tomar providências de isolamento, mesmo que tardiamente. Em Tucson, no Arizona, o povo foi proibido de sair para as ruas sem usar máscaras. Na Filadélfia e em

professores, as crianças – prin-cipalmente as menos favore-cidas – poderiam tomar mais medidas de higiene e também poderiam aprender mais so-bre como evitar e identificar a doença do que brincando nas ruas. Teatros e cinemas tam-bém não foram fechados. Ao fim da epidemia, cerca de 33 mil nova-iorquinos faleceram por conta da doença, porém o saldo poderia ter sido muito pior.

Atualmente, a imprensa global tem tentado levantar paralelos entre a Gripe Espa-nhola e o novo Coronavírus. Porém, praticamente tudo na comparação é diferente. A começar pelos grupos de ris-co. Enquanto os idosos não pareciam ser tão afetados pelo H1N1, eles são o principal grupo de risco do Covid-19.

Albuquerque, as autoridades fecharam escolas, teatros, igre-jas e clubes. Por conta do gran-de fluxo migratório, a cidade de Nova Iorque foi avisada no início da pandemia de que seria duramente afetada pelo vírus. No começo, os gover-nantes da cidade não quiseram testar a população por estarem subestimando a capacidade letal do vírus. Porém, ao final do primeiro mês, aproxima-damente 50 nova-iorquinos já haviam falecido pela Gripe Espanhola. A partir do mês seguinte, horários flexíveis de trabalho foram estabelecidos para que as pessoas pouco se encontrassem nas ruas. 150 postos de saúde provisórios foram montados para atender o povo. Porém, as escolas não foram fechadas. A justifica-tiva foi que sob a tutela dos

Se na época não havia antibi-óticos, hoje, os cientistas e pes-quisadores conseguem iden-tificar e destrinchar genomas e fazer testes sobre a doença. Além disso, a capacidade de compartilhar informações e trocar conhecimentos é muito mais fácil e rápido com o avan-ço da internet.

No entanto, a prepotência política parece conectar essas duas pandemias. Em Nova Iorque, cidade mais afetada pelo Covid-19 – com mais de 53 mil casos e 672 mortes - a quarentena foi descartada pelo presidente americano, Donald Trump. O governante máxi-mo dos EUA vem sendo criti-cado ferrenhamente pelo pre-feito da cidade, Bill de Blasio, que chegou a chamar Trump de “noa-iorquino traidor”, vis-to que o presidente é natural

do bairro do Queens. Quem está “intermediando” essa re-lação política é o governador Andrew Cuomo, que tende a ser complacente com as atitu-des irresponsáveis de Trump, mas não quer desagradar ao prefeito.

Assim como no século XX, Nova Iorque é a capital de uma pandemia desconheci-da e se recusa a tomar medidas enérgicas para evitar um pre-juízo maior, subestimando a letalidade viral. Apesar de não declarar quarentena, Cuomo pediu que os habitantes evi-tem sair de casa e recomendou que atividades não essenciais fossem paralisadas.

A medida de impedir a quarentena em Nova Iorque visa exclusivamente o lado comercial, já que a “cidade que nunca dorme” é uma das principais fontes comerciais americanas. Porém, se há algo que a Gripe Espanhola deixa de legado é o estudo que apon-ta que as cidades americanas que adotaram o isolamento como estratégia de contenção se recuperaram economica-mente mais rápido. Realizado por Sergio Correa, do Banco Central americano, Stephan Luck, do Banco Central de Nova York, e Emil Verner, do MIT, o estudo mostra que o impacto dos doentes e mor-tos para a indústria é muito maior do que aquele causado pela quarentena. O material indica ainda que as cidades que se preveniram com mais antecedência tiveram alta nos empregos no ano seguinte, so-frendo bem menos com os im-pactos financeiros que outras cidades, que demoraram mais a se prevenir, tiveram de lidar mais tarde.

CORONAVÍRUS X GRIPE ESPANHOLA

Por Natasha Madov

O som de sirenes faz parte de Nova York. Ele é tão co-mum que se mistura ao ruí-do da cidade e normalmente passaria batido aos ouvidos da maioria dos nova-iorquinos. Mas em meio à crise de coro-navírus, as sirenes se tornaram tão frequentes que é impossí-vel não prestar atenção à pas-sagem das ambulâncias e ao que elas representam.

A cidade de Nova York tem 44.915 casos de Co-vid-19, segundo dados da prefeitura divulgados na ma-nhã desta quarta-feira (1º). O número é maior que a popu-lação estimada de Paraty (RJ) em 2019 - 43.165 habitantes - e mais da metade do total de casos do estado - 83.712 mil. A cidade também está na dianteira de mortes, com 1.139 das 1.915 do total es-tadual.

Se Nova York é o epicen-tro da crise do coronavírus nos Estados Unidos, o epicen-tro do epicentro está no hos-pital municipal Elmhurst, no

Queens, distrito que respon-de por um terço dos casos de Covid-19 na cidade.

O hospital de 545 leitos está localizado em Elmhurst--Corona, um dos bairros mais pobres e de maior densidade populacional de Nova York. Grande parte dos residentes é formada por imigrantes, que dividem residências de um cô-modo com várias gerações da mesma família ou com outros imigrantes, e por trabalha-dores de serviços essenciais, como entrega de comida.

Mas o coordenador de produção Chris Alan Jones, não precisa de nenhuma es-tatística ou notícia para saber como o Elmhurst está sobre-carregado. Morador do bair-ro de Jackson Heights, Jones está na rota das ambulâncias que chegam a Elmhurst e con-ta que ouvir a passagem das ambulâncias em alta veloci-dade se tornou tão frequen-te que sua filha de 11 meses, Joni, imita o som das sirenes quando elas passam, dando gritinhos de “aaaaah-aaaaah--aaaah”.

- Ouvimos pelo menos duas vezes por hora. E o pior não é nem ouvi-las, é saber o que elas significam.

Portador de uma doença autoimune, Jones faz parte do grupo de risco para Covid-19 e está isolado com a esposa e a filha nos 74 m² de seu aparta-mento de um quarto desde 7 de março.

Desde então, só saiu do seu prédio cinco vezes, por-que, mesmo com as medidas de isolamento, é difícil man-ter a distância de dois metros das outras pessoas dentro do edifício ou na calçada.

- Eu deixo para colocar o lixo para fora tarde da noite, para não correr o risco de en-contrar alguém. E uso luvas de látex - afirma.

Nova York acelera para tri-plicar o número de leitos hos-pitalares da cidade, de 20 mil para 60 mil, e assim atender a população infectada antes do período de pico de casos, pre-visto para meados de abril.

A cidade conta com cerca de 170 hospitais entre parti-culares e municipais. A pe-

dido do governador Andrew Cuomo, todos os hospitais do estado estão se organizando em uma rede para compar-tilhar informações, equipa-mentos e funcionários, oti-mizando recursos, aliviando unidades mais sobrecarrega-das e transportando pacientes acidentados ou com outras doenças não relacionadas ao coronavírus.

Os relatos de médicos e enfermeiros que chegam de salas de emergência e UTIs relatam um cenário apocalíp-tico, no qual profissionais de qualquer especialidade são transferidos para ajudar nos prontos-socorros entupidos de gente. Além da falta de equipamento de proteção, os pacientes chegam tão doentes que são colocados diretamen-te em respiradores mecânicos, aos quais ficam conectados por semanas.

Um dos médicos do El-mhurst descreveu o volume de pacientes como um tsuna-mi, com doentes morrendo em macas ou cadeiras à espera de um leito. Outro profissio-

nal, sob condição de anoni-mato, disse ao jornal online The City que os únicos leitos vagos são os de pacientes que morrem.

A crise também atinge hospitais privados. Fotos de enfermeiros da rede Mount Sinai usando sacos de lixo por cima das vestes cirúrgicas cir-cularam nas redes sociais nos últimos dias.

Enquanto isso, os nova--iorquinos seguem entocados em casa, e as ruas, bem mais vazias que o normal.

As ordens executivas do prefeito Bill de Blasio fecha-ram todos os escritórios e ser-viços não essenciais, estabele-ceu a regra de dois metros de distância e proibiu aglomera-ções, mas não alteraram o di-reito de ir e vir dos residentes. Os mais de 2.800 playgrounds da cidade continuavam aber-tos até o governador Andrew Cuomo anunciar, nesta quar-ta, o fechamento de todos eles. Parques, no entanto, se-guem abertos.

Antes, De Blasio já havia fechado dez parquinhos in-

fantis municipais porque os frequentadores não estavam seguindo a regra dos dois me-tros de distância. O prefeito também disse que autorizou a polícia a aplicar multas de US$ 200 a US$ 250 (de R$ 1.052 a R$ 1.315) para quem não respeitar a ordem de iso-lamento social.

A esposa de Jones, Jessica Letkemann, espaça ao má-ximo as saídas com a filha pequena, porque “as pessoas não têm noção”. Ela diz que, embora as ruas estejam vazias, muitos não se incomodam de dividir as calçadas estreitas da vizinhança com ela e o carri-nho de bebê e não mantêm distância, chegando a recla-mar quando ela pede que se afastem.

- Tem um pouco de tudo, entregadores andando de moto ou bicicleta na calçada, idosos indo fazer compras e muita gente mais jovem an-dando com os cachorros e dis-traída com o celular. Mas nin-guém está na rua para passear, é para fazer algo e voltar logo depois – conta.

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6 De 3 a 16 de abril de 2020

ECONOMIA

FolhaPress

Por Marília Miragaia (Folha Press)

O fechamento de lojas, aca-demias e shoppings em razão da pandemia de coronavírus deve agravar a situação de mi-cro, pequenos e médios empre-sários no país.

“As grandes empresas têm mais estrutura e estão mais preparadas para passar por si-tuações como essa. Mas a so-matória dos negócios peque-nos é muito importante para a economia”, diz Rubens Massa, professor do centro de empre-endedorismo e novos negócios da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Negociar prazos com os fornecedores, cortar custos e explorar recursos tecnológicos estão entre as medidas reco-mendadas para os empreende-dores neste momento, segundo Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae.

Veja, a seguir, as orientações

tudo o que não for essencial para o funcionamento --princi-palmente se não houver receitas no período. Mas também é im-portante procurar oportunida-des em outros canais de venda e repensar o modelo de negócio antes de paralisar as atividades.

O empresário deve procu-

dos dois especialistas para en-frentar essa crise.

*ADAPTE SEU SERVIÇO PARA O MUNDO VIRTUAL

Com a suspensão das ativi-dades físicas, a primeira atitude é controlar as despesas e cortar

rar formas de adaptar o serviço para o mundo virtual. Para isso, pode buscar exemplos dentro do seu setor e adaptá-los à sua realidade.

Na área de alimentação, o delivery feito por aplicativos é uma saída, mesmo no caso de a empresa nunca ter trabalhado com entrega. Como exemplo, uma cervejaria pode vender kits com chope e petiscos para quem quer fazer happy hour dentro de casa.

Também há professores e consultores que atendem usan-do plataformas online e perso-nal trainers que dão aulas por meio de videoconferência. Li-vrarias podem apostar na venda de e-books, e músicos, em con-certos feitos de forma virtual.

Corte custos para diminuir o impacto no fluxo de caixa

É importante fazer uma re-visão e reduzir ao máximo os custos, simplificando a opera-ção --desde que as mudanças não ameacem os resultados.

Entre os exemplos de ajus-tes estão desligar equipamen-tos que têm uso intensivo de energia, controlar o consumo de água, fazer cotação de maté-ria-prima, renegociar o valor do aluguel e diminuir os níveis de estoque.

Também é importante, se possível, rever a data de paga-mento a fornecedores e buscar formas de antecipar recebimen-tos, o que ajuda a deixar o fluxo de caixa positivo. Para conhe-cer mais alternativas, converse com associações empresariais e órgãos de auxílio a empresários.

FIQUE ATENTO ÀS NOVAS MEDIDAS DO GOVERNO

Existem pacotes de ajuda devido ao avanço da pandemia, mas é importante conversar com um contador para desco-brir as medidas mais adequadas para cada realidade.

Uma das propostas apresen-tadas pelo governo permite que empresas cortem em até 50% a jornada e os salários de traba-lhadores. Isso ajudará a reduzir custos e evitar a demissão de funcionários.

DEMITA FUNCIONÁRIOS SÓ EM ÚLTIMO CASO

A demissão deve ser consi-derada quando nenhum outro recurso, a exemplo de ajuda governamental e da anteci-

pação de férias, consegue re-solver o problema. Fazer uma dispensa impacta as reservas da empresa, que pode se des-capitalizar ao ter de pagar indenizações. Além disso, é preciso considerar o investi-mento que a companhia fez na formação de seus trabalha-dores e a dificuldade de subs-tituir essa mão de obra. CONSIDERE FECHAR AS PORTAS MESMO SE NÃO FOR OBRIGADO

No caso de estabelecimen-tos que não precisam fechar, como farmácias e supermerca-dos, os empresários precisam avaliar se devem ou não suspen-der as atividades.

A primeira atitude é obser-var se a empresa consegue traba-lhar sem risco de contaminação. Depois disso, é necessário anali-sar a viabilidade e a importância de manter o ponto físico aberto.

Procure ajuda do contador para organizar as contas e fazer uma estrutura de custos. Ope-rar com uma margem positiva é um sinal de que o negócio pode continuar funcionando. Além disso, o capital de giro deve ser suficiente para um período de dois a seis meses de operação.

AVALIE ANTES DE PEGAR DINHEIRO EMPRESTA-DO AGORA

Antes de buscar crédito, o empresário precisa avaliar sua capacidade de pagar as parcelas. Começar a fazer o pagamento no momento de crise ou de re-tomada pode ser arriscado.

Mesmo se o empreendedor for cliente antigo de um banco, vale consultar prazos, taxas e carências disponíveis no mer-cado (incluindo cooperativas de crédito, bancos digitais e de fomento para pequenos empre-sários). Taxas de empréstimos do mesmo segmento podem ter uma grande variação entre ins-tituições.

DIVULGUE MEDIDAS DE PREVENÇÃO AOS CLIENTES

É importante comunicar que o negócio está tomando to-das as medidas recomendadas para evitar a disseminação do vírus. O cuidado deve ser di-vulgado permanentemente em redes sociais e na comunicação visual do ponto físico. Além de transmitir segurança, o que é essencial para o consumidor no momento, a medida também informa que a companhia está operando.

PROMOVA CAMPANHAS DE ESTÍMULO AO COMÉRCIO LOCAL

Micro e pequenas empre-sas têm menos estrutura para atravessar momentos de crise. Por isso, é legítimo que adotem campanhas para sensibilizar o consumidor e estimulá-lo a dar preferência a produtos de com-panhias menores.

NÃO OFEREÇA DESCON-TOS SEM FAZER CONTAS

Como o movimento pre-sencial está em queda, é impor-tante buscar formas de manter o faturamento. Mas, antes de fazer promoções online ou ofe-recer entrega grátis, é preciso calcular os custos para entender se isso é viável ou só vai piorar a situação financeira.

Como evitar a falência mesmo de portas fechadasEmpresários devem reduzir custos e adaptar serviços para o mundo digital

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7De 3 a 16 de abril de 2020

ESPECIAL

FolhaPress

Por Angela Pinho (Folha Press)

São Paulo - Além do efeito devastador na saúde, no coti-diano e na economia, a pan-demia do coronavírus provoca também uma situação sem pre-cedentes na educação.

Segundo estimativa da Unesco (Organização das Na-ções Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o fecha-mento de instituições educa-cionais em decorrência do vírus já atinge metade dos estudantes no mundo, um total de 890 mi-lhões em 114 países.

No Brasil, todos os estados já decidiram suspender aulas. A medida foi seguida por colégios privados e faculdades.

Educadores agora avaliam quais serão as consequências dessa paralisação forçada. O aumento da desigualdade é um dos riscos mais temidos.

De maneira geral, e muitas vezes sem planejamento, países têm apostado na educação a distância como solução para o período de confinamento.

Os resultados da adoção massiva desse modelo, bem como o período ao longo do qual ele será necessário, ainda são desconhecidos, mas algo parece certo: estudantes com pior nível socioeconômico te-rão mais dificuldades. Basta ver a movimentação das escolas na primeira semana de interrupção gradual das aulas em São Paulo.

As particulares já começa-ram com aulas ao vivo trans-mitidas por computador e plataformas online nas quais os alunos acessam conteúdos e podem interagir com a turma.

Nas públicas, os professo-res ainda não sabem como será o uso de tecnologia, uma vez que muitos estudantes não têm computador em casa.

O governo de São Paulo negocia com operadoras pa-trocínio para bancar a conexão de wi-fi do jovem que tenha ao menos um smartphone. O se-cretário da Educação, Rossieli Soares, já afirmou que qualquer solução só será adotada como principal se for acessível a to-dos.

As condições materiais, claro, não são o único desafio do isolamento. Com filhas tri-gêmeas de 9 anos, o médico Vamberto Maia Filho tem as acompanhado nas tarefas de casa desde que o Santi, colégio no Paraíso (região central de SP) onde elas estudam, anun-ciou a interrupção das aulas. A escola preparou para o período atividades online e off-line.

“Não vou mentir: o primei-ro dia [de atividades em casa] foi catastrófico”, conta o pai. “Era um volume muito grande de material, e elas ainda não es-tavam adaptadas.”

Agora, diz ele, ficou mais fá-cil, mas Valdemar avalia como fundamental a sua presença ou a de sua mulher por perto para acompanhar o processo –algo natural para o casal, que já fazia isso.

“Nessa idade, não tem chan-ce de elas seguirem sozinhas. A plataforma, por exemplo, per-mite que alunos falem entre si. Se deixar, vira zorra e descon-centra”, diz.

O contexto de participação dos pais e acesso a tecnologia contrasta com o descrito por

Mariana (nome fictício), pro-fessora de um colégio público em Mogi das Cruzes (Grande SP) que pede para não ser iden-tificada. Ela diz temer pelas lacunas de aprendizagem que seus alunos podem adquirir no período sem aulas.

Em primeiro lugar, porque ela própria está sem computa-dor em casa, e muitos dos seus estudantes passam pelo mesmo. Em segundo, porque não sabe que atenção eles terão para ati-vidades remotas neste momen-to sem ninguém para acompa-nhar de perto.

“Os pais dos meus alunos são autônomos, a cabeça deles não vai estar voltada para os estudos, mas para se manterem vivos nesse período.”

A duração da emergência do coronavírus é vista por autori-dades e educadores como chave para determinar se a suspensão das aulas irá de fato aumentar a disparidade entre alunos ricos e pobres.

Estudos mostram que até as férias de verão produzem perdas de aprendizagem com maior efeito entre os de pior ní-vel socioeconômico.

“As dificuldades crescem exponencialmente quando o fechamento de escolas é pro-longado”, afirmou na quinta--feira (19) Stefania Giannini, diretora-geral assistente da Unesco para a Educação. “Es-colas, ainda que imperfeitas, cumprem um papel de equali-zação na sociedade e, quando elas fecham, as desigualdades se tornam muito maiores.”

Não é só entre grupos so-ciais que o efeito da paralisação escolar pode ser diferente. En-tre níveis de ensino também.

A fase de alfabetização é vis-ta como uma das mais difíceis de se transpor para o mundo online. E lacunas nessa etapa, se não resolvidas, deixam sequelas por toda a vida escolar.

Em live nas redes sociais, o secretário Rossieli afirmou que deverão ser enviadas orientação aos pais com filhos nesse está-gio, mas previu obstáculos, uma vez que é difícil para as famílias ajudar a desenvolver habilida-des como a de fixar a mão e a grafia.

“Certamente na hora que voltarem as aulas nós vamos ter uma dificuldade muito grande em relação ao que a gente pre-cisa fazer com alfabetização”,

mecem a pensar em avaliação a ser feita na retomada das au-las, a fim de planejar eventuais ações reparadoras.

Outra fase considerada deli-cada por parte dos educadores é a dos alunos do 3º ano do en-sino médio. Professor do Labo-ratório de Redação, cursinho que tem se destacado nas notas da Fuvest, Adriano Chan de-cidiu interromper as aulas por enquanto, já contando com a possibilidade de adiamento de vestibulares.

Ele descartou lecionar a dis-

disse, citando os estudos relati-vos aos prejuízos de longos pe-ríodos sem aulas para a apren-dizagem.

Há também quem veja a questão de forma mais otimis-ta. “Os pais de crianças em al-fabetização devem se tranqui-lizar, não é uma interrupção que vai impedi-las de concluir o processo”, diz Cristina No-gueira Barelli, coordenadora do curso de pedagogia do Instituto Singularidades.

Ela avalia, por outro lado, ser importante que as redes co-

tância durante o confinamento. “Quando você está dando aula para aluno presencial, você vê pela cara dele quando ele não entendeu alguma coisa. No on-line, parece que está tudo certo quando não está.”

Não é consenso. Diretora pedagógica do Colégio Ban-deirantes, em São Paulo, Mayra Lora avalia que o que se perde a distância é principalmente o convívio social, não o conteú-do. Para ela, os alunos dessa sé-rie têm ainda uma vantagem: a maior autonomia.

O debate sobre a a manu-tenção da data de provas diante do impacto da pandemia sobre o calendário escolar provavel-mente será colocado em pauta adiante, como já ocorre em ou-tros países.

Para João Marcelo Borges, diretor de estratégia política do Todos Pela Educação, é impor-tante já pensar no adiamento do Enem, uma vez que o exame é porta de entrada para univer-sidades, e os alunos mais pobres devem voltar do período sem aula com uma defasagem maior.

Para ele, as ações do Estado para a educação no período de confinamento devem envolver medidas, que vão desde a nutri-ção ao apoio ao professor, pas-sando pela comunicação com as famílias.

Reabertas as escolas, será preciso trabalhar com as se-quelas do isolamento na saúde mental. “Trata-se de algo que deve afetar toda a sociedade, mas, no caso das crianças, tam-bém contribuirá para dificulda-des de aprendizagem.

“Abaixo-assinado pede que terceirizados sejam mantidos

A Secretaria estadual da Educação publicou resolução para suspender contratos com prestadoras de transporte es-colar e alimentação no período sem aulas. Um abaixo-assinado agora pede que os terceirizados recebam licença remunerada, para que os trabalhadores não sejam penalizados

Fechamento generalizado de escolas impõe desafio inédito à educaçãoMetade dos estudantes do mundo está sem aulas; aumento de desigualdade é temor na área

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8 De 3 a 16 de abril de 2020

COMPORTAMENTO

FolhaPress

FolhaPress

Por Lívia Marra

Áreas isoladas, eventos can-celados, escolas fechadas, tra-balhadores em home office. A pandemia de coronavírus deixa dúvidas, e a quarentena afeta o dia a dia também dos pets.

Se a recomendação é não sair de casa, e o isolamento so-cial é regra para conter o vírus entre os humanos, como ficam as brincadeiras com os bichos, os lambeijos, as voltinhas?

Segundo o CFMV (Conse-lho Federal de Medicina Vete-rinária), passeios curtos podem ser mantidos, desde que sejam curtos, longe de aglomerações em parques ou praças e estejam asseguradas as medidas de hi-giene.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma que não há evidências de que cães, gatos ou outro animal de es-timação possam transmitir a Covid-19 e que continua mo-nitorando pesquisas. Ainda assim, a orientação é para que pessoas que contraíram a doen-ça evitem contato direto com seus pets e façam quarentena de convivência com eles.

Isso porque o tutor ou outro infectado, ao espirrar ou tossir, pode espalhar partículas com vírus sobre os pelos. Se alguém brincar com o animal e levar as mãos ao rosto em seguida fica

exposto ao Sars-Cov-2. Assim, de acordo com o CFMV, não há garantia de que não haverá transmissão se alguém tocar na pelagem contaminada.

Enquanto não houver me-didas restritivas mais drásticas e os passeios ao ar livre estiverem garantidos, é importante lim-par as patinhas e os pelos do ca-chorro logo após a voltinha ou pet park para evitar que o vírus tenha uma porta de entrada por essas áreas, afirma a veterinária Adriana Souza dos Santos, clí-nica geral da AmahVet, em São Paulo.

Tyson, 4, e Ronda, 2, am-bos da raça buldogue francês, já perceberam que algo está mudando no dia a dia. A tuto-ra, Walena Guergik, afirma que mantém os passeios diários, mas reduzidos, e incorporou o álcool em gel às saídas, para sua proteção. “O tempo [do passeio] diminuiu bastante. Só uma voltinha mesmo na região e nada de contato com outras pessoas. Além do cata-caca,

bém o gatinho Zen.Tem dúvida sobre o que

pode e o que não pode fazer com o pet? Confira respostas da veterinária e as recomenda-ções do CFMV.

ROTINAAs orientações da Organi-

zação Mundial da Saúde de-vem ser seguidas, e a população precisa evitar aglomerações e contato social. Mas o tutor não infectado pode manter passeios com o cachorro.

Pessoas em quarentena de-terminada pelo médico devem evitar contato com o animal —como beijos e carinhos após espirrar ou tossir— porque po-dem contaminar seu pelo com o vírus.

PASSEIOSEnquanto não houver me-

dida restritiva de circulação, pessoas não infectadas podem passear com seus cães em pra-ças, parques ou pet parks. O Conselho Federal de Medicina

agora o álcool em gel está sem-pre presente. E, chegando em casa, a limpeza das patas é ime-diata”, afirma.

A veterinária recomenda, porém, que as pessoas sigam as orientações das autoridades e evi-tem sair de casa neste período em que os números de casos de coro-navírus estão ascendentes no país.

Resultado do isolamento provocado pela Covid-19, cães e gatos ganharam a família por mais tempo dentro de casa. Se é impossível ficar sem dar e re-ceber carinho dos pets, melhor aumentar o rigor na higiene.

“O que temos nos regrado é fazer higiene das mãos com muito mais frequência. É im-portante manter uma rotina saudável também para os ani-mais que estão com a rotina al-terada na quarentena e oferecer enriquecimento ambiental com chifres, cascos e recheáveis. É hora de estreitar laços e apro-veitar pra ensinar novos tru-ques ao seu melhor amigo”, diz a tutora, que tem em casa tam-

Veterinária reforça que passeios devem ser reduzidos e feitos em pequenas distâncias, para evitar exposição ao vírus, e afirma que todas as recomendações dos ór-gãos públicos de saúde devem ser seguidas rigorosamente.

Tutores devem evitar locais cheios e não manter contato direto com seu pet ou outros animais, já que eles podem ter o pelo contaminado pelo vírus por alguém que espirrou ou tossiu sem proteção, afirma a veterinária da Amahvet.

Como prevenção, deve ser evitado o contato direto com o animal recém-chegado da rua. As patinhas e o pelo do animal devem ser higienizados após o passeios, para evitar que o vírus tenha uma porta de entrada. Segundo Adriana, podem ser usados lenços umedecidos an-tissépticos ou água e sabão.

NECESSIDADES NA RUANo caso de animais que

só fazem xixi e cocô na rua, a orientação é manter a saída rá-pida de casa, apenas para que ele realize as necessidades fisio-lógicas. Evitar contato social é fundamental.

ABRAÇO E LAMBEIJOA recomendação é evitar

proximidade com o bicho por-que o contato de uma pessoa infectada pode deixar o vírus em sua pelagem. Contra uma possível transmissão, lave bem as mãos antes e depois de inte-ragir com o animal.

MÁSCARANão há necessidade de más-

caras para cães e gatos, já que o vírus associado à Covid-19 é diferente daquele já conhecido no meio veterinário e que pro-voca vômitos e diarreias nos

pets –e não é transmitido aos humanos.

BANHO E TOSAPara o CFMV, tutores de-

vem reduzir a frequência de banhos e tosas de seus pets para diminuir, assim, a circulação das pessoas. A higiene deve ser feita, preferencialmente, em casa.

LIMPEZAA pessoa infectada não deve

ter acesso aos brinquedos dos animais já que, na maioria das vezes, é preciso pegar o objeto com as mãos para divertir o pet.

Segundo Adriana, a lava-gem dos brinquedos que tenha contato direto com a boca do animal devem ser lavados antes e após a brincadeira. Evitar que o animal chegue do passeio e vá direto para a caminha também não é recomendado pois pode trazer em seus pelos o vírus e dispersar posteriormente pela casa e acometer os moradores.

QUARENTENA E ESTRESSE

Se o animal tem uma rotina de passeios e interação com o tutor, uma mudança abrupta na rotina pode provocar estresse.

Pessoas saudáveis não de-vem isolar seus pets, mas pre-cisam seguir as determinações sanitárias impostas pelas auto-ridades.

CONSULTA VETERINÁRIA

Para o CFMV, o atendimen-to em clínica deve ser, preferen-cialmente, agendado e com a presença de apenas um respon-sável para evitar a concentração de humanos na área de espera.

Colaborou Naná DeLuca

Aliar trabalho, casamento e cuidado com filhos é um desafio durante isolamento para reduzir risco de contrair coronavírus

Por Emilio Sant’Anna

Dois meses após se casarem, Amanda Santana Portela, 23, e Ricardo Kaluan de Oliveira, 27, estão, desde quarta-feira (18), 24 horas por dia juntos em casa. Ela é analista de comu-nicação. Ele, analista de com-pras. Ambos passaram a fazer home office devido à pandemia causada pelo novo coronavírus.

Em sua opinião, o casal:a) Ganhou uma nova lua de

mel e a oportunidade de se co-nhecer ainda melhor.

b) Ganhou um grande pro-blema e a oportunidade de des-cobrir o que um não suporta no outro.

Por ora, a reposta do casal parece ser a primeira alternati-va. “Estamos ocupando a mesa da sala [para trabalhar] e ‘bri-gando’ por espaço. Fora isso, es-tamos bem, por enquanto”, diz Ricardo em tom de brincadeira. “Casamos recentemente e não tínhamos ainda ficado assim, os dias inteiros juntos.”

“Ele deve estar me odiando, mas não sabe ainda. Como é muito recente está ok”, comple-ta Amanda. “ “Mas na segunda e na terça passei o dia inteiro aqui sozinha trabalhando e foi muito mais difícil”, diz ela.

Ao fim da primeira semana

trabalhando de casa, os dois se divertem com as novas difi-culdades como a adaptação do espaço de trabalho e da rotina do casal. “A algumas coisas nós vamos nos adaptar. Com outras vamos aprender”, diz Ricardo. “Já botei na minha cabeça que serão de dois a três meses para as coisas começarem a voltar ao normal.”

Assim como os dois, o ca-sal Isabelle Poltronieri, 30, e Daniel Poltronieri, 31, está em fase de adaptação à rotina a dois 24 horas durante os sete dias da semana. Ela é analista de marketing de uma empresa do setor de saúde; ele é geren-te comercial de uma fabricante de bebidas. Casados há quatro anos, o único contratempo que tiveram na semana foi em de-corrência do trabalho.

“O maior problema foi quando tivemos que fazer duas videoconferências ao mesmo tempo, ela num cômodo e eu no outro, nenhum dos dois com fones de ouvido”, diz Da-niel. “No relacionamento, va-mos ter que criar regras profis-sionais.”

Um dos primeiros pontos para fazer a convivência dar certo, de acordo com Isabelle, é reconhecer que algumas situ-ações que geram tensão serão

ram pelas dificuldades de man-ter a vida do casal e da casa em harmonia.

Ao mesmo tempo em que redes de solidariedade se for-mam, por exemplo, em vizi-nhanças e condomínios — com pessoas jovens se oferecendo para fazer e levar as compras de idosos —, dentro de casa as coi-sas podem não ir tão bem, diz o psicanalista.

Segundo Flávio, problemas de relacionamento e neuro-ses que já existem tendem a se manifestar na atual situação de quarentena. Os tipos de confli-to que podem surgir também se relacionam com a classe social

inevitáveis. “Os conflitos vão existir. É impossível não ter, mas eles se resolvem com base na conversa e no entendimen-to”, diz ela.

Sobre isso, o psicanalista Flávio Carvalho Ferraz, profes-sor do Instituto Sedes Sapien-tiae, dá uma dica importante para manter a convivência a dois saudável: “Agora é hora de lembrar do que é essencial, de não se preocupar com detalhes, pequenos prazeres e confortos. É hora de dividir tudo”, afirma.

Na última semana, Flávio passou atendendo seus pacien-tes em sessões pela internet, e os relatos de seus pacientes passa-

das pessoas. Para algumas, as-sumir as funções domésticas da empregada dispensada em tem-pos de pandemia é uma fonte de estresse e origem de brigas.

Para outras, porém, o es-tresse surge de fatores mais inevitáveis. “Dentro de casa há problemas de todos os tipos, como as pessoas que vivem em casas muito pequenas em que não há espaço. Já soube de si-tuações em que o casal está se revezando entre quem fica no apartamento e quem vai para a garagem trabalhar de dentro do carro”, afirma.

A vida dos casais em home office e com filhos tem desafios a mais. No caso de Gabriela Lo-bianco, 38, e Erin Egan, 32, pais de Cecília, 5, as dificuldades se somam ao fato de estarem em outro país, longe da família.

Ela trabalha como gerente de atendimento e ele é enge-nheiro sênior de empresas de tecnologia, em Cork, na Irlan-da. Ambos estão trabalhando de casa desde o dia 9 deste mês. “A dificuldade maior é associar a agenda de trabalho aos cuida-dos com a nossa filha”, diz Ga-briela.

Erin está trabalhando no escritório, e Gabriela tem usado a mesa da sala de estar. “Acabo atendendo as demandas dela, de

ajeitar algo para ela comer até trabalhar com ela no colo”, diz.

Flávio Ferraz explica que às tensões normais de um pe-ríodo de convivência fora dos padrões, mesmo para casais, se soma um fator completamente novo: o medo. “Os casais estão experimentando um convívio inédito junto com o temor do contágio”, diz o psicanalista.

Excesso de convivência e medo do coronavírus à parte, há quem encare essa situação de forma positiva e veja uma opor-tunidade para cuidar mais de quem se ama.

Em Belo Horizonte, a ar-quiteta Paula Pedrosa, 34, vi-nha sentindo a necessidade de desacelerar sua rotina de traba-lho e passar mais tempo com a família desde o final de 2019.

Em casa, as responsabili-dades de limpeza e arrumação foram divididas ela, o marido e a filha de 11 anos, e todos têm cooperado. Para se manter fir-me, e ser uma espécie de centro emocional da família, ela evita acompanhar as notícias sobre a pandemia na televisão e inter-net, mas se mantém bem infor-mada com o auxílio de todos.

“Claro que não queria que isso estivesse acontecendo, mas estou tentando focar na família e em coisas boas”, afirma.

Pode passear, abraçar o pet?

Confinados em casa, casais lutam contra dificuldades da hiperconvivência

Veja o que pode e o que não pode em época de coronavírus

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Rio de Janeiro, 3 a 16 de abril de 2020 - Nº 23.462

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

ão é certo ainda se, em meio ao combate con-tra o coronavírus, o Fes-tival de Cannes será ca-paz de realizar sua 73ª edição, outrora marca-da para maio e já adia-da, em junho ou julho,

como planeja, a fim de dar espaço a filmes inéditos como “DNA”, pro-dução francesa que, de acordo com o zumzumzum de bastidor na indústria audiovisual europeia, pode repaginar a carreira de Fanny Ardant. A tarefa não é das mais fáceis, uma vez que a atriz de 71 anos vive nas raias da ex-celência constantemente: no dia 29 de fevereiro, ela acrescentou o troféu César de melhor atriz coadjuvante a seu currículo de prêmios. Venceu por “La Belle Époque”, de Nicolas Bedos, sobre corações partidos que voltam no tempo – de maneira alegórica - para reviverem seus melhores mo-mentos.

Agora, em “DNA”, sua persona-gem também é parte de um movi-mento de regressão histórica, só que em direção ao passado de tensões entre a Argélia e a França, sendo conduzida pela diretora Maïwenn. Também atriz, a cineasta estará ao lado dela em cena, assim como Louis Garrel e Marine Vacth.

- Gosto de filmes sobre tensões familiares em parte porque eu te-nho uma conexão muito forte com minhas filhas e todos os meus pa-rentes. Sou protetora, gosto de ter todo mundo perto e iria até às últi-mas consequências para resguardar quem eu amo - disse a atriz ao COR-REIO DA MANHÃ, em Paris, du-

DO LADO...DA

Aos 71 anos, Fanny Ardant passa em revista seu papel como atriz, diretora e mãe

rante o fórum Rendez-vous Avec Le Cinéma Français, em janeiro.

- São as histórias de amor que nos constituem. E a primeira experi-ência de amor que vivemos é no seio da família... o amor protetor, por ve-zes conciliador. Quando eu faço um balanço da minha história, percebo que a vida foi mais forte do que eu: foi ela quem me conduziu, quem me tirou de casa e me levou para o cine-ma, para a arte. Ela me deu grandes encontros, a começar da minha his-tória com François Truffaut, que me

ensinou muito, sobretudo sobre a dis-ciplina de saber aprender e de saber me surpreender. Mas a vida nunca me afastou dos meus laços de afeto fami-liar. Pelo contrário...

Em 1981, Fanny Marguerite Ju-dith Ardant, que crescera em Môna-co e engatou uma carreira no teatro a partir de 1974, protagonizou “A mulher do lado”, tendo Gérard De-pardieu (seu grande amigo e cola-borador até hoje) como parceiro de cena, trabalhando sob a direção de Truffaut. Ela e o cineasta se apaixo-

naram, tiveram uma filha ( Joséphi-ne, em 1983) e fizeram mais um fil-me, “De repente num domingo”, que rendeu a ela uma indicação ao César em 1984. Naquele mesmo ano, Tru-ffaut morreu, em decorrência de um tumor no cérebro, deixando para trás um dos mais poéticos legados do cinema francês. Dele, Fanny guar-dou saudades e lições sobre como se comportar nos sets.

- A primeira vez que encontrei com ele para filmar “A mulher do lado”, ele me perguntou se eu tinha

Nlido a sinopse do projeto e se tinha alguma questão sobre a personagem. Eu disse que não, sem demonstrar ne-nhuma dúvida. Isso porque eu sentia que só no set, no corpo a corpo com a história, eu entenderia na inteireza o que aquele projeto representava. Ele percebeu aquilo e suspirou, pois a gente se entendeu ali naquele ges-to. Aprendi com ele que, no cinema, você não pergunta, você sente. Você se abre para os sentimentos. E eu con-tinuo a atuar buscando aquilo que me surpreenda. Aceito cada novo papel atrás desse sentimento de me deixar surpreender.

Ícone de beleza desde os anos 1980, Fanny chegou ao Rendez-vous de Paris na garupa de uma moto, os-tentando anéis prateados em formato de serpente, incluindo uma medusa.

- Isso é um segredo meu que pos-so compartilhar com vocês. Fui rou-bada há a alguns anos e, desde então, as serpentes se tornaram um símbolo de proteção para mim. Um dia, leva-ram várias joias minhas. Desde então, comecei a usar as cobras nos dedos. A medusa está aqui por que é um ser mitológico que tem serpentes no lugar dos cabelos. Cobras ninguém me rouba. E prefiro prata a ouro, pois corta o mal - disse a mítica atriz, que já se firmou como realizadora, ao pilotar cults como “Cinzas e san-gue” (2009) e “Candences obstinés” (2013), no qual dirigiu o galã portu-guês Ricardo Pereira e o eterno Djan-go Franco Nero.

- Dirigir não chegou a mudar a minha forma de atuar, mas ampliou a minha percepção sobre companhei-rismo nos sets. Eu dirijo histórias que me fascinam por me conduzirem a mundos novos, diferentes dos meus. Encontrando uma história que me gere estranheza, eu aposto nela.

surpresasurpresa

Fotos Divulgação

Ícone de beleza da mulher francesa, Fanny Ardant conserva, aos 71 anos, a elegância de sempre, como nos tempos em que contracenou com o grande amigo, companheiro e ex-marido Gérard Depardieu (foto acima)

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2 De 3 a 16 de abril de 20202.º CADERNO

CORREIO CULTURALAFFONSO NUNES

Pandemia inspira remixes e paródias musicais

De repente, letrista

Curtas

Nas últimas semanas, artistas e anônimos de di-versas partes do mundo usaram a música para falar sobre o coronavírus para e reforçar as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) de redobrar a atenção com a higiene e permanecer em casa. O grupo baiano La Fúria lan-çou a música “Senta no ál-cool em gel”. Já o DJ Pedro Sampaio criou o remix em cima da canção “Lavar as mãos”, de Arnaldo Antunes, um dos sucessos do ex-Ti-tãs, que tambéma regravou e lançou um clipe no YouTu-be em forma de campanha.

Mas nada supera a cria-

tividade e irreverência dos internautas. No Facebook, um usuário criou uma paró-dia com a letra de “Meu caro amigo”, da dupla Chico Bu-arque e Francis Hime. “Meu caro amigo me perdoe, por favor / Se eu não lhe faço uma visita / Mas como ago-ra pintou uma pandemia / Tô em casa cheio de preguiça / Aqui na terra suspenderam o futebol / Já não tem sam-ba, nem papel nem álcool gel / Tô fazendo maior esfor-ço pra não ficar pinel / Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta / Nem o Mandetta sabe como en-carar a situação”, diz um de seus trechos.

n Formado por Agatha, Meucci e Tasdan, o MKT lançou seu segundo sin-gle do ano. “Problemão” tem atmosfera pra cima e refrão bem chiclete. “Essa música represen-

ta bastante o nosso lado pop, que sempre usa-mos de referência para nossas músicas, mas que, dessa vez, se so-bressaiu bastante”, avi-sa o grupo em nota.

Divulgação

Arnaldo Antunes gravou um vídeo lembrando que lavar as mãos é preciso

Por uma boa causa

Ele voltouCofre aberto

Ao vivo de um estú-dio em Vila Isabel, a Bla-ck Circle fez sua primeira live no YouTube por uma causa social. A banda se apresentou virtualmente com a finalidade de an-gariar fundos para que a família da menina Zoe pudesse comprar um cão

guia para Zoe, a menina autista de 9 anos que fi-cou cega em virtude de uma catarata. A live arre-cadou US$ 8 mil e chegou a ser compartilhada pela perfil oficial do Pearl Jam. A banda de Seattle, aliás, caba de lançar seu novo álbum "Gigaton".

Após um hiato de oito anos, o bardo Bob Dylan lançou a música “Murder most foul” nas plataformas digitais. Com 17 minutos, a canção faz referências ao assassinato do ex-pre-sidente dos Estados Uni-dos John F. Kennedy, aos Beatles e a acontecimen-tos marcantes das déca-das de 1960 e 1970.

Olhando dentro de si Em tempos de olhar

para dentro de si, o canal OFF está levando ao ar e às suas plataformas digi-tais conteúdos com foco no bem estar bem-estar, tranquilidade e hábitos saudáveis. Um deles é a série #RespiraeSeInspira, com a yogini Milla Mon-

teiro, que leva práticas e exercícios simples de meditação, respiração e yoga que podem ser re-alizadas de forma segura dentro de casa. As video-aulas podem ser vistas no aplicativo do canal, na IGTVs (Instagram), e no YouTube.

Com 72 anos recém completados, o jorna-lista paulistano Ricar-do Kotscho tornou-se compositor de forma acidental. Fred Demar-ca, um dos integrantes da banda Pietá, lançou no YouTube um clipe apresentando a can-ção “520 anos depois” cuja letra foi montada

a partir de trechos de reportagens de Kots-cho, um de nossos melhores profissionais de imprensa. “Leio suas matérias quase que diariamente. Em uma delas, uma frase em especial me cha-mou a atenção e a mú-sica desceu na hora”, explica Fred.

Uma crise sem precendentes Mercado editorial vive dias cada vez mais complicadosPor Maurício Meireles (Folhapress)

O clima azedou. Com o pâ-nico gerado pela pandemia do novo coronavírus e o fechamen-to das livrarias - bem de como quase todo o varejo -, o merca-do editorial ainda busca solu-ções para atravessar uma crise que é vista como sem preceden-tes em sua história. Enquanto não se chega a uma solução, se é que haverá alguma, o ambiente é de desentendimento.

Embora o comércio online já seja responsável por cerca de 45% do faturamento, segundo números da Nielsen Bookscan, as livrarias físicas ainda são o cerne do negócio. E as duas maiores de-las já estão em apuros. Depois de primeiro pedir a renegociação, a Saraiva anunciou a suspensão dos

pagamentos por tempo indeter-minado. Nesta semana, a Cultura fez o mesmo em comunicado a seus fornecedores.

As duas já haviam sido res-ponsáveis, nos últimos anos, por uma profunda crise no setor livreiro -atrasando paga-mentos em uma bola de neve, que culminou na entrada em recuperação judicial das duas empresas, no ano passado. Desta vez, é claro, elas não estão sozinhas. Por isso, todas as livra-rias mais importantes já pediram renegociação de prazos com edi-tores, gerando um nó na cadeia difícil de desatar. Com o fecha-mento das lojas, o natural é que o faturamento de cada livraria caia a zero imediatamente, no caso das que não tenham operações relevantes de ecommerce.

Ainda é cedo para ter núme-ros exatos, mas é preciso traba-lhar com projeções - e o merca-do prevê uma retração imediata que fica entre 60% e 70% do fa-turamento. Isso se o varejo rea-brir daqui a dois meses. Mesmo que isso aconteça, em algumas editoras a queda pode chegar a 50% no fim do ano.

Essa crise encontra um mercado menos exposto a uma eventual falência daCultura. Depois da novela que resul-tou na recuperação judicial, a empresa vinha enfrentando dificuldades em retomar sua credibilidade com editores -eles vinham restringindo o crédito à rede e vendendo li-vros em quantidades menores e com prazos de pagamento mais curtos. Novos atrasos já

haviam ocorrido no ano pas-sado com editores pequenos e médios.

Já no caso da Saraiva, o ce-nário é mais sombrio, sobre-tudo com grandes editores, porque casas menores não cos-tumam vender lá. A rede havia conseguido convencer os cre-dores de sua recuperação, e eles voltaram a fornecer à livraria -obviamente, uma pandemia global não estava nos planos. O receio, como se comenta à boca pequena, é que o coronavírus seja a pá de cal nas duas redes.

Ao mesmo tempo, a Ama-zon, que já conseguira surfar na crise anterior e crescer de forma sólida, é a única que continua pagando - e agora pode con-quistar uma fatia maior do mer-cado de livros.

L I V R O S

Shakespeare ajuda a enfrentar a quarentenaDramas e comédias do Bardo são uma boa companhia para enfrentar a solidãoPor Nelson Vasconcelos

Lavado e enxaguado nas águas da sinceridade, garanto que me surpreendi ao ver aqui na página o nobre William Shakes-peare – também conhecido por God, na sua língua-mãe. Meu plano inicial era escrever sobre “Um amor”, do Dino Buzzati. É um belo livro, bem Buzzati mesmo. Mas depois volto a ele, pois Shakespeare entra em cena, o que sempre fez com maestria.

Talvez seja uma pegadinha dos editores querendo que eu escreva sobre ele. Como estamos aprendendo com o coronavírus, temos que estar sempre prontos para qualquer surpresa. Falemos, pois, de William Shakespeare, um dos escribas mais brilhantes dos últimos dois milênios. Ou mais (embora tenha vivido ape-nas entre 1564 e 1616).

O assunto vem a calhar mes-mo. Nestes tempos conturba-dos, Shakespeare nos lembra que não há nada de novo sob o sol. Ele o diz: “Se nada há de novo e tudo o que há/ já dantes era como agora é,/ só ilusão a cria-ção será:/ criar o já criado para quê?”. Tem a ver.

Isso me leva, aliás, a uma questão: ele era um leitor da alma ou apenas cronista da su-

Reprodução

perfície humana? Explico: ele retrata tão bem certas pessoas com desqualidades à flor da pele, que não precisa ir fundo para descobrir suas podridões. Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento.

A mesquinharia, a prepotên-cia, o egoísmo, a insanidade... Esses e tantos outros desvios que ainda nos surpreendem no dia a dia vêm de longe, claro. Mas nunca foram tão magistralmen-te registrados como pelo drama-turgo inglês.

Essas características tão desprezíveis me lembram, por exemplo, “Hamlet”. A vingança do príncipe pela morte do pai, o cinismo do padrasto, a desfa-çatez da própria mãe, a loucura dissimulada, as picuinhas. Tudo tão 2020, tão contemporâneo quanto era em 1601, quando a peça chegou aos palcos.

A primeira dica, então, é “Hamlet”, que recentemente ganhou uma linda edição da editora Ubu, com tradução por-reta da Bruna Beber e ilustrações do Gordon Craig. Mais do que isso, estão ali alguns ensaios que nos fazem não só refletir mais profundamente, como também nos cutucam a vontade de reler a peça várias vezes.

Já “Romeu e Julieta”, certa-

mente a peça mais conhecida do mundo ocidental, é menos uma história melosa de paixão adolescente, o que tampouco seria ruim, do que uma o retrato de uma sociedade quebrada em preconceitos e aspirações cadu-cas. É leitura tão rápida quanto instigante. Recomendo, por exemplo, a edição da Penguin--Companhia das Letras, com tradução de José Francisco Bo-telho e um ensaio esclarecedor de Adrian Poole.

Também merecem alenta-da leitura “Rei Lear” ou “Ma-cbeth”, entre outras tantas. Se qualquer obra dessas não fizer sua cabeça, me ligue. Vou rever meus conceitos.

Mas nem tudo é drama, por mais que os shakespearianos os tratem como obras supremas da psique. As comédias também são instigantes. O humor é peculiar, claro. Estamos falando de teatro ali na esquina dos séculos XVI e XVII. Só que é o humor que provoca também o riso de nervo-so, aquele que acerta na veia para desnudar as hipocrisias e as vergo-nhas de cada um da plateia. Nin-guém está livre das críticas – no que, aliás, lembra o genial irlandês Oscar Wilde (1854-1900).

Nas comédias, portanto, po-demos pensar em “Sonho de uma

noite de verão” e seu romantismo bem-humorado. Ou “Muito ba-rulho por nada”. São ótimas op-ções para quem pretende entrar na obra do Bardo – um apelido tão sem graça quanto famoso.

By the way, pelo menos duas biografias são ótimas (na verda-de, foram as únicas a respeito dele que li, e foram o bastante). Gostei mais de “O mundo é um palco”, de Bill Bryson. É bem curtinha e capricha ao resumir o que o autor leu em dezenas de ótimas fontes. É leve, bem infor-mativa, sem complicações.

Li também “Como Shakes-peare se tornou Shakespeare”, do Stephen Greenblatt. Aí a con-versa vai mais fundo, com muita riqueza de detalhes e especula-ções até filosóficas a respeito do personagem – ressaltando sem-pre o vigor de sua imaginação e da nossa necessidade de imagi-nar para compreendê-lo.

A rigor, sabe-se muito pou-co sobre o Bardo. Ou, pelo menos, não há tantos dados quanto gostaríamos – o que só nos instiga a curiosidade. Eis aqui, portanto, curtas dicas sobre uma parte minúscula da obra do escriba. Seus poemas, sempre tão perfeitos “em forma e conteúdo”, merecem um texto somente para eles. Até lá.

Spotify abriu o cofre e anunciou uma doação milionária para reduzir os impactos do coronavírus na indústria da música. A plataforma de streaming acrescentará US$ 1 para cada US$ 1 doado no site do projeto Spotify CO-VID-19 Music Relief até o fundo atingir a marca de US$ 10 milhões.

William Shakespeare: arguto observador das riquezas e das

tristezas do coração humano

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3De 3 a 16 de abril de 2020 2.º CADERNO

[email protected]

[email protected] com Luiz Claudio de Almeida

ANNA RAMALHO

CORREIO DA MA-NHÃ - Quais são as suas primeiras impressões des-ta pandemia? ACHILLE MBEMBE - Por enquanto, estou soterrado pela magni-tude desta calamidade. O co-ronavírus é realmente uma ca-lamidade e nos traz uma série de questões incômodas. Esse é um vírus que afeta nossa capa-cidade de respirar?

- E obriga governos e hos-pitais a decidir quem continua-rá respirando.

- Sim. A questão é encon-trar uma maneira de garan-tir que todo indivíduo tenha como respirar. Essa deveria ser a nossa prioridade política. Pa-rece-me, também, que o nosso medo do isolamento, da qua-rentena, está relacionado ao nosso temor de confrontar o nosso próprio fim. Esse medo tem a ver com não sermos mais capazes de delegar a nossa pró-pria morte a outras pessoas. - O isolamento social nos dá, de alguma maneira, um poder sobre a morte?

- Sim, um poder relativo. Podemos escapar da morte ou adiá-la. A contenção da mor-te é o cerne dessas políticas de confinamento. Isso é um poder. Mas não é um poder absoluto porque depende das outras pessoas. - Depende de outras pessoas também se iso-larem?

- Sim. Outra coisa é que muitas das pessoas que mor-reram até agora não tiveram tempo de se despedir. Diver-sas delas foram incineradas ou enterradas imediatamente, sem demora. Como se fossem um lixo de que precisamos nos livrar o mais rapidamente possível. Essa lógica de descar-te ocorre justamente em um

A pandemia vai mudar a maneira com que lidamos com o nosso corpo. Nosso corpo se tornou uma ameaça para nós próprios”

E N T R E V I S TA / A C H I L E S M B E M B E , F I L Ó S O F O

‘Nossa história não está garantida’O coronavírus está mudando a maneira com que pensamos

sobre o corpo humano. Ele virou uma arma, diz o filósofo camaronês Achille Mbembe. Ao sair de casa, afinal, po-

demos contrair o vírus ou transmiti-lo a outras pessoas. Já há mais de 735 mil casos confirmados e 34 mil mortes no mundo.

– Agora todos temos o poder de matar. O isolamento é jus-tamente uma forma de regular esse poder – argumenta o pen-sador, conhecido por ter cunhado em 2003 o termo necropo-

lítica. Ele investiga, em sua obra, a maneira com que governos decidem quem viverá e quem morrerá - e de que maneira viverão e morrerão.

Formado em história na Sorbonne e em ciência política no Instituto de Estudos Políticos, Mbembe lecionou nas universida-des Columbia, Yale e Duke; é atualmente professor na Universi-dade de Witwatersrand, em Johanesburgo. Na última sexta-feira, a África do Sul registrou as primeiras mortes pelo coronavírus.

Por Diogo Bercito (Folhapress)Divulgação

A tristeza é senhora – peço emprestado o verso de Gil e Caetano – porque

nunca ela foi tão certeira. Para o mundo, no geral, pra mim, em particular. Perdi para o coronaví-rus a Mirna, amiga-irmã de toda uma vida, mais de meio século de convivência e amizade. Estuda-mos juntas no Santa Úrsula, fi-zemos Jornalismo na PUC, uma inesquecível viagem de navio a Buenos Aires quando tínhamos 18 anos. Fomos uma ao casamen-to da outra, acompanhamos os nascimentos de nossos rebentos – ela também tem um Christia-no, pouco mais velho que o meu, e o Rafael, dois homens do bem – acompanhei seu namoro e noi-vado com o amor de toda a vida, o querido Paulinho, fui hóspede inúmeras vezes de suas casas em Itaipava e Angra.

Nos anos dourados do Rio, dançamos no Régine’s , no

Hippo e no Chez Castel, onde ela e Paulinho fizeram parte do bolo vivo dos meus 40 anos: 20 casais amigos dançando a valsa, num revival dos bailes de 15 anos de nossos tempos de meninas-moças.

Mirna nasceu rica. Muito rica. Mas foi educada pelo pai – o grande empresário Ted Badin – para sempre trabalhar muito e bem. Ela foi o braço direito do pai enquanto ele viveu e tocou o barco brilhantemente depois de sua morte. Era uma mulher sensata, simples, sem qualquer tipo de deslumbramento ( por ter sido uma das primeiras víti-mas do Covid-19 aqui no Rio virou notícia; em todas ela foi tachada de socialite. Coisa que ela nunca foi. Era uma grande empresária bem nascida, bem educada e rica. E super na dela).

Um dia, depois de ter reali-zado um grande negócio – da-

Mirna e Paulo Bandeira de Mello com os filhos Christiano e Rafael

Álbum de família

MINHA AMIGA MIRNA o coronavírus levou uma grande mulher

queles definitivos – estávamos as duas num almoço no Country. Lá pelas tantas, ela me pergun-ta baixinho: “Você acha que eu mudei depois dessa tacada? Te-nho pavor que pensem que virei outra pessoa, que estou metida...” Tranquilizei-a: “Você nunca vai mudar. Você é a pessoa mais igual que conheci em toda a vida.”

Pura verdade. Mirna perdeu a mãe muito cedo e foi criada pela madrasta, a bonita e sim-paticíssima Vania Badin. A re-lação das duas era linda, Mirna chamava Vania de mãe e esta-vam sempre juntas, enquanto Vania ainda podia frequentar as festas e almoços. Ironicamente, a mãe sobreviveu à filha.

Ao lado de Paulo, Mirna formou um casal – para usar um termo só dela – “das Ará-bias”. Chegaram a comemorar bodas de ouro e foram sempre festejados a adorados pelos muitos amigos. Já entraram para os anais da história, as fes-tas do dia 5 de dezembro, ani-versário dele. Ela ligava e dizia: “Nem sei quantas pessoas sere-mos. Você sabe como o Pauli-nho é: conversa 10 minutos com o cara que conheceu on-tem na rua e já está convidan-do...” O aniversário dela, 24 de março, geralmente viajava. Mas, quando fez 70 anos, ano retrasado, recebeu para uma grande festa, que ganhou nota especial que fiz para o meu site com o título Mirna Bandei-ra de Mello: a bem amada do Rio. Morreu na véspera de seu aniversário. Padre Juan Pablo, que rezou missa virtual, foi

poético: disse que Deus quis que ela passasse seu primeiro aniversário no céu, ao lado de Nossa Senhora. (Sou capaz de jurar que a Mãe de Jesus já está in love com Mirna).

Minha amiga teve uma vida plena e feliz. Nos últimos tempos, fez muitas viagens ao exterior com toda a família: Ch-ristiano e Verônica, Rafael e Re-nata e os cinco netos. Rodaram mundo. Ela só deixa boas e deli-ciosas lembranças para a família, bem como para os amigos. Estou devastada com a perda da minha Mirnoca ( ela me chamava de Anoca). Infinitamente triste. Porque esta maldita doença não permite sequer que possamos velar e enterrar nossos mortos. A morte fica, assim, um tanto irreal. Parece que não é verdade. Gostaria que não fosse verdade.

Amiga querida: amor infi-nito, saudade eterna.

momento em que precisamos, ao menos em tese, da nossa comunidade. E não existe co-munidade sem podermos dizer adeus àqueles que partiram, organizar funerais. A questão é: como criar comunidades em um momento de calamidade?

- Que sequelas a pandemia deixará na sociedade?

- A pandemia vai mudar a maneira com que lidamos com o nosso corpo. Nosso corpo se tornou uma ameaça para nós próprios. A segunda consequên-cia é a transformação da maneira com que pensamos no futuro, nossa consciência do tempo. De repente, não sabemos como será o amanhã.

- Nosso corpo também é uma ameaça a outros, se não ficarmos em casa.

- Sim. Agora todos temos o poder de matar. O poder de matar foi totalmente democra-tizado. O isolamento é precisa-mente uma forma de regular esse poder. - Outro debate que evoca a necropolítica é a questão so-bre qual deveria ser a prioridade

política neste momento, salvar a economia ou salvar a população. O governo brasileiro tem acena-do pela priorização do resgate da economia.

- Essa é a lógica do sacrifício que sempre esteve no coração do neoliberalismo, que deve-ríamos chamar de necrolibera-lismo. Esse sistema sempre ope-rou com um aparato de cálculo.

A ideia de que alguém vale mais do que os outros. Quem não tem valor pode ser descartado. A questão é o que fazer com aqueles que decidimos não ter valor. Essa pergunta, é claro, sempre afeta as mesmas raças, as mesmas classes sociais e os mes-mos gêneros. - Como na epide-mia de HIV, em que governos demoraram a agir porque as ví-timas estavam nas margens: ne-gros, homossexuais, usuários de droga? - Na teoria, o coronaví-rus pode matar todo o mundo. Todos estão ameaçados. Mas uma coisa é estar confinado num subúrbio, numa segunda residência em uma área rural. Outra coisa é estar na linha de frente. Trabalhar num centro

de saúde sem máscara. Há uma escala em como os riscos são distribuídos hoje.

- Diversos presidentes têm se referido ao combate ao co-ronavírus como uma guerra. A escolha de palavra impor-ta, neste momento? O senhor escreveu em sua obra que a guerra é um claro exercício de necropolítica.

- Existe dificuldade em dar um nome ao que está acontecen-do no mundo. Não é apenas um vírus. Não saber o que está por vir é o que faz estados em todo o mundo retomar as antigas termi-nologias utilizadas nas guerras. Além disso, as pessoas estão re-cuando para dentro das frontei-ras de seus estados-nação.

- Há um maior nacionalis-

mo durante esta pandemia?- Sim. As pessoas estão re-

tornando para o “chez-soi”, como dizem em francês. Para o seu lar. Como se morrer longe de casa fosse a pior coisa que poderia acontecer na vida de uma pessoa. Fronteiras estão sendo fechadas. Não estou dizendo que elas deveriam fi-car abertas. Mas governos res-pondem a esta pandemia com gestos nacionalistas, com esse imaginário da fronteira, do muro.

- Depois dessa crise, vamos

voltar a como éramos antes?- Da próxima vez, vamos ser

golpeados de uma maneira ain-da mais forte do que fomos nes-ta pandemia. A humanidade está em jogo. O que esta pande-mia revela, se a levarmos a sério, é que a nossa história aqui na terra não está garantida. Não há garantia de que vamos estar aqui para sempre. O fato de que é plausível que a vida continue sem a gente é a questão-chave deste século.

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CORREIO TEATRAL

S.O.S. Corona

SERGIO FONTA

TRIBO DO TEATRO-MEMÓRIA /FREGOLENTE (1912-1979)Reprodução

email: [email protected]

Vá ao teatro. você precisa de teatro e o teatro precisa de você

Ser um ator rodriguea-no, ou seja, um ator cujo estilo de representar cai como uma luva em per-sonagens de Nelson Ro-drigues, nem todos são. Podem ser excelentes ato-res, mas os personagens criados por aquele que é um dos nossos maiores dramaturgos têm um tem-peramento, digamos, mais exuberante. Ambrósio Fre-golente, nascido em São Paulo e morto no Rio de Janeiro, era um desses.

Talvez tenha sido o ator que mais fez peças ou fil-mes baseados em obras de Nelson Rodrigues. Mais de 200 obras, entre elas “O casamento”, “Beijo no as-falto” e “Os sete gatinhos”.

Já consagrado como ator, forma-se em Medicina aos 53 anos, trabalhando na área de Psiquiatria, tanto em consultório, quanto no Hospital Pinel e no Sanató-rio Psiquiátrico de Mendes, cidade do interior do estado onde passa a viver no início dos anos 1970, até morrer.

Concilia a nova profis-são com os convites que recebe para teatro, cinema e televisão.

É de Fregolente um fol-clore que perpassa o meio artístico e que não é folclo-re, é verdade: ele estava fa-zendo um trabalho no tem-po em que atv era ao vivo e, como não havia decora-do determinado trecho do texto, preparou uma cola com as falas que tinha de dizer e a colocou atrás de um jarro de dálias. Antes de o programa começar, sem que ele notasse, alguém

1) Dizem que Nostra-damus, em 1555, já previra essa devastação mundial que estamos vendo com o malfadado coronavírus. Seria ótimo se ele tivesse errado.Mas a tragédia, às vezes, provoca reações surpreendentes, nos faz mais fortes e, nas artes, mais criativos e solidários. Foi – está sendo – bonito ver as diversas manifesta-ções de artistas da músi-ca, do teatro, da literatura doando seu talento, via internet.

2) O produtor Eduardo Barata, junto à APTR, reali-zou neste mês uma reunião no Teatro Poeira e dali saiu um documento com 10 medidas emergenciais para enfrentar o impacto econô-mico na cultura, entre elas, umaproposta de desone-ração dos impostos para espaços culturais por de-terminado períodoe de uma Linha de Crédito a juros 0 com os Bancos federais.

3) A ABL, por inter-médio de seu presidente, Marco Lucchesi, disponi-bilizou leituras dramatiza-das, leituras de textos por acadêmicos e apresenta-ções musicais; o Sesc RJ vai garantir o pagamento dos contratos com atra-ções culturais que tiveram de ser suspensas e rea-gendá-las; e vários espe-táculos infantis poderão ser vistos pelo YouTube.

4) E fica uma ideia: gru-pos e cias. de teatro po-deriam criar um cardápio teatral de peças em cartaz e, quando elas saíssem de temporada, os internau-tas pagariam um preço simbólico para assisti-las, o que geraria uma renda extra para as produções e seria um benefício para a memória teatral brasilei-ra. Claro que, para isso, as produções teriam de filmar suas montagens. Mas isso é tema para a próxima coluna.

sumiu com o vaso de flores. Quando Fregolente, já em cena, não viu o jarro, gritou, esbaforido, no ar: “Onde estão as dálias? Onde es-tão as minhas dálias!”.

Hoje o ponto eletrônico ou o teleprompte resolve-riam tudo, mas, naqueles anos 1950, a cola passou a ser chamada de dália...Fregolente era muito queri-do por seus colegas, con-siderado um profissional exemplar.

E tinha humor: em en-trevista ao nosso CORREIO DA MANHÃ, em 1969, con-fidenciou que, durante a montagem de “Os sete ga-tinhos”, o diretor pediu que ele descesse as calças de costas para o público. Con-tou ele: “O menino queria que eu aparecesse arriando as calças, de costas para o público, numa cena em que o personagem que eu fazia ia ao banheiro. Eu protestei e disse pra ele: ‘não amigo, isso eu não faço não, não é preciso’. E não fiz. Depois veio a censura e proibiu até que aparecesse o vaso. Imagine se eu ainda estives-se lá, como complemento”.

Fregolente, memória ilu-minada do teatro nacional.

Reprodução

T E A T R O

Quatro opções de espetáculos que têm algo a nos dizer nos dias de isolamento social

Migliaccio brilha em “Confissões de um senhor de idade”, no qual passa alimpo as concepções de uma vida a limpo

Por Cláudia Chaves

Não sabemos o que fazer. Sair, ficar? Pensar, ler, comer, trabalhar, limpar, rir, chorar, dormir, acordar. E como refle-tir, ter assunto mais legal para conversar no grupo, dar uma dica para a pessoa querida em quarentena? Artes, muita arte. O teatro, com a sua capacidade de vermos um semelhante ex-pressando as emoções, vivendo situações que, ainda metafóri-cas, nos aproxima de nossas do-res e alegrias, é a possibilidade de nos afastarmos da realidade, da fake news e podermos nos encontrar com nós mesmos.

Escolhemos quatro espetácu-los, para serem assistidos online, com um traço comum: abor-dam os caminhos escolhidos, balanços, discutem angústias, evidenciam que a vida é a melhor opção ainda. “Confissões de um senhor deidade”, com Flávio Migliaccio e Luciano Paixão, foi encenado para comemorar os 60 anos de carreira do grande ator. “Riobaldo”, com Gilson Barros e direção de Amir Haddad, a partir da saga do ex-jagunço Riobaldo, apresenta os vários aspectos da interioridade. “A tropa”, de Gustavo Pinheiro, com direção de Cesar Augus-to, se passa durante a visita de quatro filhos ao pai militar do exército que está hospitalizado em consequência de uma queda. E “Mulher multidão”, com a performer Maria Rezende, que, com potência e humor, mostra as forças e fragilidades da mulher contemporânea.

Flávio Migliaccio, assumida-mente ateu, opta por um diálogo com Deus para rememorar e avaliar episódios de sua vida. A escolha do gênero, escrita de si, ir além de enfileirar atos do próprio passado - aqui se torna extremamente acertada, pois ao transformar com leveza a realidade, misturá-la com suas indagações vai direto à fonte. O diálogo do incréu reflete o papel do artista, pois as indagações nos colocam de frente com aquilo que nos assusta e assombra desde sempre. Mas é o talento de Flá-vio, seu timing do humor, o seu jeito de ser um artista maior que, ao ver o espetáculo, temos a alma apaziguada.

A tropa” ,quase que um jogo de basquete, de quatro (os filhos) contra um (o pai), no

Marcelo Migliaccio/Divulgação

Riobaldo, o mítico personagem roseano, nos mostra caminhos através das interioridades

Maria Rezende expõe a força e fragilidade

da mulher contemporânea

qual cada um marca pontos, corta, defende e impede o outro de jogar. Uma verdadeira babel o encontro. O pai/coronel do Exército/autoritário/adepto da ditadura, excelente com-posição de Otávio Augusto, é rodeado pelos quatro filhos, todos nomeados a partir dos di-tadores – Humberto, Arthur, Emílio, Ernesto, João Baptista - interpretados por Alexandre Menezes, Daniel Marano, Edu Fernandes e Rafael Morpanini. São fracassados cada um em suas vidas, e se esforçam para aparentar um bem-estar, a har-monia familiar e os caminhos equivocados em que foram lançados.

Temas como amor,autoes-tima, maternidade, relacio-namento abusivo, estupro e a relação com o próprio corpo são levados à cena em poemas autorais dos quatro livros da artista e obras de poetas novas e consagradas estão no espetácu-lo de Maria Rezende “Mulher multidão”. A performer radi-caliza na contemporaneidade, mistura poesia, arte, prosa e tudo o que mais para se par-ticipar da saída do isolamento emocional.

- Neste momento, nada me parece mais importante do que respeitarmos o isolamento social e ficarmos em casa. O es-petáculo nasceu do meu desejo

profundo de falar sobre coisas que me tocam, e tem cenário, figurino, luz, mas a poesia não precisa de nada disso. A poesia não precisa de quase nada, e por isso ela é resistência. Assim, a quarentena nos tirou os toques, mas não as palavras, nos tirou os encontros mas não a arte. E ainda criamos a quarentena às avessas, trazendo pra junto gente de todo canto, Brasil afora, mundo adentro – reflete Maria.

Em “Riobaldo”, projeto de Gilson Barros para o principal personagem do maior dos ro-mances brasileiros – “Grande sertão: veredas” -aparecem, em uma interpretação contundente questões extrapolam o sertão, são conflitos universais. Através do recorte feito sobre a obra de Guimarães Rosa, o monólogo busca jogar luz sobre o papel das mulheres na vida e nos cami-nhos deste sertanejo, e refletir universalmente sobre a travessia do ser humano pela vida.

Renato Margolin/Divulgação

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SERVIÇO

CONFISSÕES DE UM SENHOR DE IDADEhttps://youtu.be/hH8hOLx7SAE A TROPAhttps://m.youtube.com/watch?v=9BUA1b89yO8 MULHER MULTIDÃOquartas-feiras, às 19h@amariadapoesia.

RIOBALDOInstagram: @barrosgilsonde

Stefan Ress/Divulgação

SÓVOCÊnão está

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M Ú S I C A

Tributo ao mestre Luiz Eça reúne pupilos em DVD ao vivo

Por Affonso Nunes

Em dias de quarentena, a gravadora Biscoito Fino deci-diu disponibilizar um DVD na íntegra em seu canal YouTube e no Facebook Whatch antes mesmo que ele chegue às lojas físicas. Trata-se do registro ao vivo do show “Em casa com Luiz Eça”, idealizado por Igor Eça, filho do pianista, com a participação de músicos de primeira grandeza como Edu Lobo, Dori Caymmi, Toninho Horta e Zé Renato.

Gravado em 25 de abril de 2017 no palco do Theatro Net Rio (agora Teatro Claro), o projeto nasceu como álbum de estúdio, lançado no mesmo ano, pela Biscoito. Adaptado para o palco, o espetáculo ga-nhou roteiro e direção de Dul-ce Lobo, Hugo Sukman e de Igor Eça, idealizador e co-dire-tor musical, ao lado do pianista Itamar Assiere. A banda for-mada para o tributo tem ainda Mauro Senise (saxes e flauta), Jurim Moreira e Ricardo Costa nas baterias.

- Ele é o pai de toda uma geração de ouro da música brasileira. Muito mais que um

ção no Chico’s Bar, em 1979. Os outros brasileiros gravados pelo americano foram Francis Hime (“Minha”) e Tom Jobim (“Chora Coração”).

Um dos roteiristas do es-petáculo, o jornalista Hugo Sukman lembra que a casa de Luiz Eça, no Leblon, funciona-va como um oráculo de portas constantemente abertas e com um piano ao centro da sala:

- E sentado diante dele um menino da noite, um músico constantemente entusiasmado, incansável, como se redesco-brisse a música a cada acorde, a cada tema novo, seu ou dos outros, que surgisse.

E quanto mais ele recebia visitas de jovens artistas mais lucrava a música popular bra-sileira. Aos 22 anos, Edu Lobo chegou à casa de Luiz Eça com uma dúzia de canções espeta-culares para um compositor de qualquer idade.

grande pianista e arranjador, foi um mentor de vários ídolos nossos. Meu primeiro contato com sua música foi quando eu era criança e ganhei de uma tia o LP Antologia do Piano. Ela sabia que eu tinha começado a estudar piano e me deu esse disco. Meu breve contato com ele foi uma oficina de impro-visação nas férias da Escola de Música da UFRJ em 1988, onde eu estudava. A oficina durou cinco dias e foi mui-to importante ver de perto a visão musical do Luiz - re-lembra Itamar Assiere, que se encheu de orgulho por rece-ber de Igor Eça e Dulce Lobo o convite para representar o mestre nesse tributo, ao lado de artistas como Zé Renato, Dori Caymmi, Toninho Hor-ta e Edu Lobo.

- Luiz Eça merece ser home-nageado sempre, e suas com-posições têm que ser tiradas da gaveta e ganhar o mundo novamente - defende Assiere, destacando que o músico foi um dos três únicos composi-tores brasileiros que Bill Evans gravou – a dupla possui, inclui-ve, um álbum ao vivo, gravado durante histórica apresenta-

Laise Mendes/Divulgação

Igor Eça reuniu Zé Renato , Edu Lobo, Dori Caymmi e Toninho Horta (foto acima) no show

que acaba de virar DVD (à esquerda). Abaixo, Luiz Eça nos tempos de Tamba Trio

- Saiu de lá com o seu pri-meiro e revolucionário disco arranjado. E com a maior aula de música (e de vida) que pode-ria haver - comenta Sukman.

Foi assim também com um certo Dorival Caymmi Filho que, mesmo sendo cria de um dos gigantes da MPB, aceitou ser copista dos arranjos que Luiz Eça faria para seu próximo disco. E assim Dori mergulhou nas notas e acordes de ‘Luiz Eça e cordas’ que, para muitos, trata-se do maior disco instru-mental já gravado no Brasil.

- Dori juntou o berço, o talento próprio e essa inesti-mável aula de música e de vida para tornar-se, além do grande compositor, um dos maiores ar-ranjadores do mundo - destaca Sukman.

Toninho Horta era outro que não saía da casa do Leblon e dos estúdios em que Luiz Eça gravasse. O pianista era admira-

Título foi disponibilizado em link do YouTube antes mesmo de seu lançamento nas lojas físicas

dor confesso dos caminhos har-mônicos da guitarra do músico mineiro.

- Dessa parceria nasceu mui-ta gravação e o arranjo mais lin-do, de uma das mais lindas can-ções, ‘Beijo partido’ pelo Tamba Trio - recorda o jornalista.

Zé Renato conta ter passa-do uma noite na casa do velho mestre. Nunca trabalharam juntos, mas o cantor e compo-sitor paga por essa lacuna com juros e correção num trabalho de clima caseiro e pessoal. O primeiro tema que todos grava-ram juntos, “Tamba”, nem pre-cisou de ensaio. Todos eram tão íntimos da música gravada ori-ginalmente no primeiro disco do Tamba Trio, em 1962, que bastou meia dúzia de olhares e ajustes para que se gravasse em 15 minutos.

- Eles tinham o arranjo ori-ginal no ouvido e no coração - resume Sukman.

Além de recriar os princi-pais temas de Luiz Eça por seus filhos musicais, “Em casa com Luiz Eça”, que está sendo lan-çado nos formatos DVD físico e álbum digital, corrige lacunas históricas deixadas pela dinâ-mica muito própria de quem tocava na noite, ou seja, resga-ta uma atmosfera que poucos (muito poucos mesmo) presen-ciaram. Nesse clima, os amigos vão se revezando nos temas.

- Não desejei um disco re-cheado de participações espe-ciais. Pensei mas no formato de sarau - conta Igor Eça, que se-guiu fielmente os arranjos ori-ginais do pai. E a formação que ele mais gostava de trabalhar – consagrada no Tamba Trio – a bateria, com dois mestres do instrumento Ricardo Costa e Jurim Moreira; o baixo pelo próprio Igor, e o piano de Ita-mar Assiere, que encarou a mais dura missão de todo o trabalho.

Mas o mais bonito é, de re-pente, enquanto Igor canta a sua canção nova em homena-gem ao pai, “Menino da noi-te”, parceria com Paulo César Pinheiro, Dori virar para Edu, emocionado.

- Estou ouvindo a voz do Luizinho…

Como se estivessem – e es-tão – numa daquelas noites sem fim na casa à beira do velho ca-nal do Leblon.

Todos estarão disponíveis no canal YouTube da gravadora, sempre ao meio dia.

O dono da voz encantadaReprodução

Por Aquelies Rique Reis*

Foi numa breve viagem que veio o encantamento. Não mais do que 14 minutos, marcados no relógio do tempo, aque-le que nos induz a dormir e a acordar em movimentos regu-lares. No relógio da eternida-de, CRÍTICA14 é o marco do além-mundo, a bendita hora infinita em que tudo brilha, em que tudo se antecipa ao tempo do bem-fazer. Não há relógio real que regule a vida eterna.

Voei nos braços de um pás-saro gentil que me ensinou a idealizar antes de avaliar. Nas asas do ser alado, ao invés de agrilhoado, o tempo deixou de ser manhãtardenoitemadruga-da. Ainda que meio desacor-çoado, pude sentir a vida girar fora de seu eixo.

No voo eu era o aprendiz. Senti frio, medo. A coragem encheu-me o peito com o mais puro ar, ar que não há na sofre-guidão do clarearescurecer. Luz superabundante na eternidade do infinito, na imortalidade que não se pode tocar. Entre-tanto, pude senti-la forte como

nunca sentira antes da breve viagem em que senti o tal en-cantamento.

Ouvia-se uma voz angelical: ali há vida, pensei. Pois o lacô-nico pode ser infinito desde que o envolvamos com a alma do quemviversonhará.

Uma voz muito aguda, pe-netrante como uma incisão, expondo a profundeza de um anjo bommau. Anjo que não pretende explicar nada, para ele basta ser. Soando, demonstra que o que canta vem de outra natureza. Distante da nossa, pobrezinha, já tão vilipendiada.

Enquanto propaga um novo

viver, a “voz” tam-bém compõe. E lá vem ela. Vem firme em sua delicadeza; poderosa em seu vivoviver. Religio-sa sem rezar, cho-rosa sem lacrimar, poderosa e infi-nita a voar.

“Olhos de Lúcifer” (de au-toria do “dono

da voz”) é o seu pri-meiro cantar, quando vocalises dobram as notas do violão de sete, derramando-se em belezas sutis. Peço-lhe que não se impa-ciente, caro leitor, poucos pará-grafos mais e revelarei quem é o do dono da voz encantada.

O segundo cantar, “Anjo Agreste” (de autoria do “dono da voz”), tem o violão em res-fôlegos com características nor-destinas. Em sua pegada seca, tudo tem sabor; e ela vem leve, solta, por vezes altiva, nobre, levando a vidaaviver.

O terceiro cantar “Apala-che”, é também de autoria do “dono da voz”. Seus vocalises, ora sofridos, ora inconforma-

C R Í T I C A D I S C O / P E D R O I A C O

dos – valendo-se mais uma vez do assertivo recurso de dobrar as notas com o sete –, propor-cionam uma melodia acoberta-da por acertada harmonia, so-mam-se às notas do violão, com ecos a parir a vivovida.

“Bem-Vindo” (Yamandu Costa) é a quarta faixa. Com vocalises à la Bob McFerrin (com quem o “dono da voz” já cantou em duo), ela, a “voz”, vem a capella.

Em “Franciscana” (Guinga) a “voz” logo evoca o encanto de monges franciscanos, bem como de imaginários badala-res de sino, abstrações insinu-adas pela melodia de Guinga. A “voz” ainda se faz ouvir em esplendidos vocalises e também cantando alguns versos.

Enfim, o compositor, dono da voz encantada, cujo EP inde-pendente é o seuprimeiro tra-balho solo, traz na capa apenas o seu nome: Pedro Iaco. Dei-xem-se cativar por sua extraor-dinária musicalidade.

* Aquiles Rique Reis é crítico musical, escritor e fundador do MPB-4

P L AY L I S T

“Vale Quanto Pesa - Péro-las de Luiz Melodia” (2018), de Pedro Luis, ganhou nova versão que chega aos apli-cativos de música com seis novas faixas. “Feto, poeta do morro” entraria no LP “Pé-rola negra”, mas foi censurada pela ditadura. Pedro recebeu a datilografia original da letra que continha o carimbo da Censura Federal. O álbum ainda traz versões para “For-ró de Janeiro”, “Farrapo hu-mano” e “Maura”, composta pelo pai do cantor, Oswaldo

Vale e muito mais

Melodia. Completam a lista “O caderninho” (Olmir Sto-cker) e “Negro gato” (Getú-lio Cortes), que não são de Melodia mas foram por ele eternizadas.

Depois de sacudir a cena musical brasileira com seu álbum de estreia, “Letrux em noite de climão” (2017), a cantora e compositora Le-tícia Novaes apresenta “Le-trux aos Prantos”. O trabalho reforça a verve cronista da artista, com emoção à flor da pele. A poesia é afiada, cor-tante, angustiada mas car-rega toques de humor. Sua sonoridade segue as sendas abertas no álbum anterior e de difícil classificação, mas

Do climão ao choro

cheia de referências da músi-ca do fim do século passado. Participações especiais de Liniker e Lovefoxx pontuam o repertório de inéditas.

Reprodução

Repr

oduç

ão

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6 De 3 a 16 de abril de 20202.º CADERNO

TIRINHAS DO CORREIO

S A U D A D E

A histórica Turma do Lambe-Lambe estreou aqui nas páginas do Correio da Manhã em forma de tiras, e logo virou a parte favorita da criançada dos anos 70. Nos anos 80, Pita, Paparote, Gil-da, Xicória, Professor Pirajá e toda a Turma do Lambe--Lambe ganharam um gibi próprio. Publicado pela editora Abril, sempre abran-gendo temas infantis e tipi-camente brasileiros - como folclore, festividades e brin-cadeiras -, a Turma do Lam-be-Lambe durou 20 edições

Tamanho é documentoProtagonista de 'Crush à altura' sofreu bullying como no filmePor Canal Like*

Ad o l e s c en -tes, em geral, já se sentem mes-mo desconfortá-veis na própria

pele. Só que Jodi, a protago-nista da comédia romântica “Crush à altura”, sempre foi a garota mais alta da escola e sente esse desconforto em um nível estratosférico. Tama-nho não é documento, mas dependendo da situação, essa questão pode ganhar grandes proporções.

Jodi tem mais de um me-tro e oitenta. Ela se acostu-mou a andar meio curvada e a só usar sapatos rasteiros. Mas isso nunca a protegeu de provocações do tipo “Como está o tempo aí em cima?”. Ou comparações com seres mito-lógicos como o Pé Grande ou marcos arquitetônicos do tipo arranha-céus.

Até a chegada de um estu-dante de intercâmbio que veio da Suécia, o Stig, mudar tudo isso. Ele é ainda mais alto que Jodi. E ela, que sempre evi-tou os holofotes pra fugir do bullying, vai querer chamar a atenção do rapaz. O problema

Ava, Dunkleman e Stig vivem um triângulo em que nem todos os lados são do mesmo tamanho

Divulgação

é que Stig é tão bonitão, char-moso e inteligente que todas as garotas querem atrair o in-teresse dele.

Então Jodi volta a ficar in-segura. De nada adiantam as declarações apaixonadas de seu eterno admirador, Dunkle-man, que é um baixinho perto dela. Mas Jodi vai contar com a força da melhor amiga, a Fa-reeda, e as dicas da irmã, Har-per, vencedora de vários con-cursos de beleza.

De repente, Jodi consegue a sua chance com o cobiçado Stig,

que, por coincidência, se hospe-dou justamente na casa de seu antigo fã, Dunkleman. Está aí um triângulo amoroso do tipo isósceles, ou seja, aquele que tem dois lados da mesma medida.

“Crush à altura” é a estreia de Nzingha Stewart na dire-ção de longas. Ela vem de uma larga experiência em séries de TV e videoclipes. Agora, vocês devem estar se perguntando: como foi que encontraram uma atriz tão boa e tão alta pra viver a Jodi?

A produção lançou aos qua-

tro cantos do mundo convites pra que jovens com mais de um e oitenta de altura mandassem vídeos e fizessem testes. E a escolhida foi a americana Ava Michelle. Cantora, dançarina, modelo e atriz engajada em campanhas contra o bullying, Ava encarna tudo o que sua personagem sofreu e luta pela conscientização da importân-cia de se aceitar as diferenças e cultivar o amor próprio.

Em “Crush à altura”, Ava é muito bem amparada por um elenco talentosíssimo. Grif-fin Gluck vive Dunkleman e Luke Eisner, o Stig. Anjelika Washington vive Fareeda, en-quanto Sabrina Carpenter faz o papel de Harper. E o ultra versátil Steve Zhan interpreta o pai da garota alta.

Será que Jodi fará questão de circular pelo mesmo ar ra-refeito que o grandalhão Stig? Ou vai passar a acreditar que os melhores perfumes estão nos menores frascos, e dar uma chance ao Dunkleman? Façam suas apostas. O filme está dis-ponível na Netflix.

Licões de empatia em cinco documentários

D O C U M E N T Á R I O SD I C A S

Por Clara Balbi (Folhapress)

Nas redes sociais, empatia parece ser a palavra da vez. Isso porque as medidas de distan-ciamento adotadas para com-bater a Covid-19 só são efeti-vas se aqueles que não fazem parte do grupo de risco, como os jovens, também deixarem de lado o convívio social. Para exercitar a empatia, nada me-lhor do que documentários autobiográficos.

A ideia dessas obras, de voltar a câmera para a vida de seus próprios diretores, pode não parecer muito re-volucionária na era da selfie. Mas, se as redes sociais estão cheias de imagens posadas, aqui os cineastas não temem o julgamento alheio. É isso que faz com que sucedam na tarefa de filtrar o mundo pelas suas lentes. Dos quatro filmes listados, três são bra-sileiros, lembrando-nos de que se pôr no lugar do outro é processo que começa no próprio quintal.

‘ELENA’Adolescente, a cineasta

Petra Costa se viu refazendo os passos da irmã, Elena, que tinha se suicidado quando a diretora era criança. “Elena”, seu documentário de estreia, é, assim, um delicado acerto

de contas com o fantasma da personagem-título.Disponível na Netflix

‘HISTÓRIAS QUE CONTAMOS’A atriz e diretora Sarah Pol-

ley (de “Longe dela”) sempre ouviu que não era parecida fi-sicamente com o pai. Mas, ao investigar a vida da mãe, morta quando ela era pequena, desco-bre que é grande a chance de ser filha de outra pessoa. Uma me-ditação sobre como as memórias nascem. Disponível para aluguel no iTunes canadense.

‘SANTIAGO’Mais de 10 anos se passaram

até que o documentarista João Moreira Salles confrontasse as entrevistas que fez com Santiago Badariotti Merlo, mordomo de sua família por 30 anos. O trunfo desse filme é justamente mostrar o que acontece antes e depois do “corta”. É a partir desses momen-tos que o diretor tece uma reflexão sobre o fazer cinematográfico e a própria experiência. DVD dispo-nível para compra no site do IMS.

‘UM PASSAPORTE HÚNGARO’Documentário sobre a tenta-

tiva da diretora Sandra Kogut de tirar um passaporte da Hungria, país onde seus avós nasceram. Mas a aparente banalidade acaba numa labirinto burocrático dig-no de Kafka.

Daniel Azulay e a Turma do Lambe-LambeReprodução

* Confira dicas de filmes, séries e streaming em www.canallike.com.br

antes de irem para a televi-são junto ao seu criador, o saudoso Daniel Azulay.

Em 2015, em home-nagem aos 40 anos de existência da turminha, a editora Ediouro lançou o Almanaque da Turma do Lambe-Lambe, que reunia todas as edições publicadas. Atualmente, nos sites de vendas virtuais, os gibis da turma do Daniel Azulay são considerados raridade. Edições "machucadas" pelo tempo custam em média R$ 30, enquanto as revistas em perfeito estado de con-servação podem chegar a valer até R$ 200.

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7De 3 a 16 de abril de 2020 2.º CADERNO

S O L I D A R I E D A D E

O ator Leonardo DiCa-prio, a executiva Laurene Po-well Jobs, a Fundação Ford e a Apple se juntaram para criar um "Fundo de Alimentos da América", que já arrecadou US$ 12 milhões (cerca de R$ 62,8 milhões) para ajudar as comunidades afetadas pelo co-ronavírus. A organização afir-mou na quinta-feira (2) que os fundos serão destinados a ajudar famílias de baixa renda, idosos, indivíduos que perde-ram o emprego e crianças que dependem da merenda escolar para se alimentar.

"Diante dessa crise, organi-zações como a World Central Kitchen e a Feeding America nos inspiraram com seu com-promisso inabalável de alimen-tar as pessoas mais vulneráveis em necessidade", disse DiCa-prio em seu perfil no Insta-gram. "Agradeço a eles por seu incansável trabalho na linha de frente, eles merecem todo o nosso apoio".

"Com milhões perdendo seus empregos, e programas de merenda escolar em risco, ga-rantir que as pessoas não pas-sem fome é da maior urgência", disse Powell Jobs.

Em meio à pandemia do coronavírus, famosos têm se mobilizado e organizado doa-ções para os mais necessitados. Shawn Mendes, por meio de sua fundação, já doou U$S 175 mil (cerca de R$ 887 mil) para um hospital do Canadá.

Assim como ele, Xuxa, por meio da empresa Espaçola-ser, do qual é sócia, anunciou uma doação no valor de R$ 1 milhão para o SUS (Sistema Único de Saúde).

Já Ivete Sangalo doou 1.000 Camas Box e 5.000 pe-ças de roupas para uma unida-de de combate ao Coronavírus e acolhimento a população ca-rente contaminada em Salva-dor, segundo informou o Go-vernador da Bahia, Rui Costa.

Os atores Ryan Reynolds e Blake Lively decidiram doar US$ 1 milhão (cerca de R$

Ações que fazem a diferença

Conscientes de seu papel social na crise, artistas desenvolvem ações humanitárias

Folhapress/Arquivo

O fundo que DiCaprio ajudou a criar já arrecadou cerca de US$ 12 milhões nos primeiros dias

Há semanas temos vivido dias sombrios. O misto de medo e incerteza tem gerado uma série de preocupações que conduzem muitos a dúvidas e perda da es-perança. São milhões confinados em suas casas recebendo diaria-mente um bombardeio de infor-mações por vezes desoladoras. Neste tempo em que o vírus se prolifera abreviando vidas e cau-sando dores em familiares e ami-gos as perguntas que mais tenho recebido, seja por redes sociais ou ao cruzar uma praça são as se-guintes. Onde está Deus quando os seus filhos sofrem? Por que Ele permite estas coisas?

Poderíamos simplesmente responder esta questão com as pa-lavras de Santo Agostinho quan-do diz que “Deus só permite o mal se desse mal ele tirar um bem muito maior”, mas com ela se nos ia aparecer outras tantas questões sem resposta. Não digo que ela não seja o suficiente, mas talvez porque queiramos colocar todo o mistério de Deus, ou da ini-quidade, dentro de nossa cabeça. O filósofo Voltaire usava como bandeira do ateísmo o terremoto de Lisboa de 1755, em que num domingo radioso enquanto mi-lhares de fiéis oravam em igrejas lotadas, um terrível terremoto as fez desabar matando milhares. “Se Deus sabia, por que permitiu?” bradava o iluminista em um poe-ma, transformando o sismo numa negação do Criador.

A essa questão podemos tam-bém nós nos perguntar: por acaso, um Deus que coubesse em nossa cabeça, limitado a nossa razão, seria divino? este ser restrito, re-duzido as conclusões humanas poderia ser adorado? e a resposta é não. Para ser Deus, de verdade, Ele precisa ser muito maior que nos-sas limitações. Esse deus de Voltai-re não é um deus verdadeiro, pois é condicionado nossa racionali-

dade, um deusinho que cabe na cabeça humana.

Nós cremos na infinita bonda-de de Deus e aceitamos que o mal embora não estando no seu proje-to, se Ele o permite, é porque do mal pode tirar um bem maior. Ele permite o mal na sua providência, pois quer tirar um bem ainda maior dessa paciência de permitir que o mal cresça lado a lado com o trigo. A explicação é olhar para a cruz de Cristo onde todas as nossas dúvi-das se quebram e nossa razão se do-bra. É diante da cruz do verdadeiro Deus poderoso, providente e bon-doso que compreendemos o Seu plano. Ela é a demonstração per-feita de que Deus não nos deixa a mercê do mal, mas vem nos salvar.

Robert Cheaib no livro: além da morte de Deus se faz a seguinte pergunta: "onde está Deus na dor? E responde: Deus está na dor.” Está na dor inocente. É na convic-ção obstinada de que o mal não é a condição de normalidade, pois somos feitos para o bem. Deus está no bem que fazemos... “Na dor Deus está presente na rebeldia ao mal, na iniciativa dos bons. no coração do mal, Deus é a revolta do bem.” Deus não salva do sofri-mento, mas no sofrimento. Deus não manipula a criação eliminan-do antecipadamente o mal, não elimina o joio antes da colheita final, mas vence o mal com o bem que os seus eleitos operam.

Não há completa ausência, Deus se manifesta de forma po-derosa na vida de quem O invo-ca. Não é à toa que a esperança, mesmo em meio ao caos, é um dos traços mais fascinantes da humanidade. Neste tempo, não esqueçamos de que Deus não vence a Cruz, mas vence na Cruz. Elevemos a Ele a nossa oração pe-dindo-o que venha ao nosso en-contro, perdoe os nossos pecados e abençoe, a nossa vida, família e trabalhos.

ONDE ESTÁ DEUS EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS?

Rafael dos Santos Seminarista

Haja o que houver, uma coisa é certa: a cultura, paradoxalmente, está se fortalecendo com a qua-rentena. Claro que o setor cultu-ral, como todos os demais, sofre o impacto econômico da Covid-19. Shows cancelados, cinemas, tea-tros e livrarias fechados escrevem o roteiro de um filme que, espera-mos, tenha um final breve e feliz. O miolo, no entanto, se inscreve entre os maiores dramas da histó-ria da humanidade.

Mas, como dizia o grande po-eta Ferreira Gullar, a arte existe porque a vida só não basta. E é exatamente o que ocorre agora, neste momento em que precisa-mos, todos, superar as limitações impostas por um isolamento social repentino, que agride sobretudo o DNA latino da vida em comuni-dade, do verbo como expressão e do abraço como emblema maior da fraternidade.

Errou quem apostou que a criatividade também cederia ao isolamento. Pelo contrário. A resiliência cultural alçou voos que foram muito além dos filmes em streaming ou tevês a cabo, con-forto burguês infelizmente não acessível a todos. A arte foi para as janelas, foi para as ruas, superou-se. Vi registros emocionantes de bom-beiros do Brasil nas ruas, tocando seus instrumentos e sendo aplau-didos por cidadãos responsavel-mente confinados. Imagens que parecem concebidas pela poética onírica de um Federico Fellini, que

este ano completaria 100 anos. Músicos de todas as partes

promovem encontros em que apresentam seus talentos ao vivo, com hora marcada e tudo, pelas redes sociais, mostrando como a tecnologia deve servir à criação. Em todo o mundo, Museus esti-mulam a interação pela internet. No Rio de Janeiro, notável tem sido o esforço do Museu de Arte Moderna, agora sob a gestão de Fábio Schwarcwald, ex- Escola de Artes Visuais do Parque Lage, que diante da crise estimulou suas Curadorias a agirem de forma in-tensa pelas redes sociais, mantendo vivo o contato do MAM-RJ com seus frequentadores.

Outro esforço criativo no-tável chegou-me pelas redes por intermédio de Cavi Borges, um dos maiores guerreiros do cine-ma carioca, capaz de fazer filmes com orçamento mínimo. Junto com Bebeto Abrantes, ele está dirigindo o que ambos definem como um filme-processo em ple-na Covid-19. Feito sem qualquer contato pessoal, o filme reúne depoimentos de pessoas de várias classes sócias que estão enfrentan-do o isolamento e suas duríssimas consequências. Cavi e Bebeto montam as imagens que lhe che-gam pelos computadores costu-rando um registro que já entrou para a história ela necessidade imperiosa do documento. Que o happy end chegue rápido é o que todos esperamos.

CULTURA NA QUARENTENARicardo Cota

Jornalista e curador da Cinemateca do MAM-RJ

4,95 milhões) para duas ins-tituições de caridade dos Es-tados Unidos e do Canadá, devido a pandemia do novo coronavírus.

O cantor Justin Timberla-ke também afirmou que faria uma contribuição, cujo valor não foi divulgado, para um centro de doação de comi-da em Memphis, Tennessee, sua cidade natal. "Essa é uma

época louca, mas lembrem-se de que estamos todos juntos. Apoie sua comunidade local levando comida para aqueles que precisam", disse ele, no Instagram.

Já Rihanna fez uma doação de US$ 5 milhões (cerca de R$ 25,3 milhões), por meio da ONG Clara Lionel Fou-dantion, do qual é uma das fundadoras, para iniciativas de

combate ao coronavírus ao redor do mundo.

Além dela, Penélope Cruz fez uma doação para um hospital de Madri, na Es-panha, para contribuir com o combate da pandemia do novo coronavírus, que tem 64 mil casos confirmados e mais de 4.000 mortes por causa do vírus. Em seu perfil em uma rede social, a atriz contou que comprou cerca de 100 mil luvas e 20 mil máscaras.

No fim de fevereiro, na Coreia do Sul, Bong Joon-ho, diretor do filme ganhador do Oscar "Parasita", e Suga, da banda de k-pop BTS, doaram cada um cerca de US$ 82 mil (R$ 415 mil) para a compra e distribuição de máscaras e ál-cool gel no país.

No início de feve-reiro, Justin Bieber fez uma doação, cujo va-lor não foi revelado, para uma ONG chinesa. No mundo do futebol, segundo a imprensa es-panhola, o jogador Lio-nel Messi, do Barcelona, doou 1 milhão de euros (R$ 5,4 milhões) para dois hospitais, um da Catalu-nha e outro de Rosário, cidade natal do jogador.

Fotos dvulgação

Ivete doou 1 mil camas box e 5 mil peças de roupas para uma unidade de combate ao coronavírus

Timberlake contribuiu em sua cidade natal, mas não disse o valor

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G A S T R O N O M I A

Delivery é a palavra de ordem durante o período de isolamento social. Veja algumas de nossas recomendações

Por Natasha Sobrinho

Especial para o Correio da Manhã

Com bares e restaurantes vazios, em virtude do novo co-ronavírus, o delivery aparece como opção para os consumidores quando bater aquela vontade de comer algo especial ou para evitar aglomeração nos supermercados.

De olho no aumento dos pedi-dos e para atrair clientes, as casas estão investindo na ampliação da operação de delivery, na isenção de taxa de entrega e caprichando nos descontos e nas promoções. Tudo isso para driblar a falta de movimento causada pela reclusão.

Confira abaixo algumas opções:

BARESCAJU

O bar iniciou serviço de deli-very. Pedidos realizados pelo te-lefone e com retirada no local não têm taxa adicional e possuem pre-ços diferenciados. O serviço tam-bém está disponível na plataforma iFood. Entre as sugestões, Vina-grete de polvo com caju e chips de mandioca (R$ 45,30) e CajuBur-ger (cupim 150g, maionese de caju e pimenta de cheiro, mix de queijos e cebola crocante. R$ 39).

“Estamos nos adequando às orientações dos órgãos públicos de saúde. Já estávamos no processo de introdução do delivery e nossos esforços estão todos voltados para acelerar o processo”, informa o empresário e sócio Daniel Gama.

ServiçoEndereço: Praça Demetrio Ribeiro, 97 Loja

C - Tel.: (21) 3264-3713

Horários de entrega: Terça a domingo, de

12h à 0h

https://www.instagram.com/cajugastrobar/

ÊTTA BAR O restaurante de Ipanema

aprimorou e incentivou o Deli-very, com taxa de entrega grátis pe-dindo direto no restaurante. Além disso, a casa preparou algumas ações para o cliente ter o bar em casa. O cliente que for ao Êtta bus-car o pedido ganhará um cupom no valor de 20% do que foi gasto para utilizar no próximo pedido.

ServiçoInformações e pedidos pelo Tel.: 21- 3593-

5109 ou whatsapp: 21- 98289-0330

ENCHENDO LINGUIÇAO bar, tradicional casa do

Grajaú, também segue com en-tregas via iFood, sem taxas. Entre as refeições, o Joelho de porco à pururuca (R$ 88), carro-chefe do bar, é serviço com duas guarnições à escolha, entre 16 opções, como polenta frita, feijão tropeiro, arroz maluco, farofa de ovos e outras. Já a Mineirinha, costela suína ao mo-lho barbecue com purê de batatas e couve à mineira sai por R$ 72.

ServiçoEndereço: Av. Eng. Richard 2 Grajaú

Tel.: (21) 2576-5727

Todos os dias, até às 21h

https://www.instagram.com/enchendo-

linguica/

ACADEMIA DA CACHAÇA Durante o período de qua-

rentena, todos os pedidos irão receber de brinde uma garrafi-nha de cachaça, mel e limão de 200ml. Entre as opções no meu destacam-se o Bobó de camarão (R$109,80 – serve duas pessoas), acompanhado de arroz e farofa de dendê; e o Pastelzinho misto (R$39,90), de queijo e camarão.

ServiçoLeblon : Rua Conde Bernadotte, 26,

Leblon, Rio de Janeiro.

Tel./delivery: (21) 2529-2680 / 2239-1542

Horário de funcionamento: Domingo a

quinta - 12:00 às 20:00 / Sexta e sábado

- 12:00 às 22:00 Barra:Endereço: Av. Armando Lombardi, 800

- Loja 65- L (Cond. Condado de Cascais)

Tel./delivery: (21) 2492-1159 / 2493-7956

Horário de funcionamento: Domingo a

Mix joio de salmão do Sushi Akyrio Pizza Verano, da Cobre Hot roll, do Gurumê

RESTAURANTES SE reinventam em

época de quarentena

quinta - 12:00 às 19:00 / Sexta e sábado

- 12:00 às 22:00

Cc/Cd: Visa|Elo - crédito e débito / Mas-

ter|Diners - crédito e débito/Amex/Alelo/

Visa Vale/Ticket Eletrônico/Sodexo www.

academiadacachaca.com.br

SANDUÍCHESCURADORIA

Todos os dias tem burgers em promoção na plataforma Ra-ppi, para as unidades da Barra da Tijuca e Botafogo. Entre os car-ros-chefes da casa estão o Classic Burger (blend da casa 160g, quei-jo, maionese, cebola roxa picles e bacon Curadoria. R$ 35) e o sanduíche de Salmão defumado (com pão de leite, sour cream, pi-cles de cebola roxa da casa, pipoca de alcaparra e cebollete. R$ 40).

ServiçoEndereço: Av. das Américas, 8585 – Vogue

Square (Barra da Tijuca) - Rua da Matriz

54, Botafogo, RJ - Tel.: 21 99274-6863

https://www.instagram.com/thecuradoria/

ORANGE BURGERA hamburgueria acaba de lan-

çar um serviço próprio de delivery (www.orangeburger.com.br), que visa fazer entregas com ainda mais eficiência. A marca atende a todos os bairros da Zona Sul e parte da Zona Norte. Para quem preferir, os apps também são opções viáveis, como Ifood, Rappi e Uber Eats. Em tempos de isolamento social por conta da pandemia de corona-vírus, os sócios esperam que os pe-didos sejam ainda mais frequentes do que a ida ao trailer, que fica no Largo Maria Portugal, na Rua das Laranjeiras e em frente à rua Alice, no coração do bairro.Os lançamentos da vez são os sma-shedburgers: o Smash Orange (80g de hambúrguer de fraldinha com bordinhas crocantes, queijos prato e cheddar, alface, tomate e molho rosé no pão) e o Smash Ronald (80g de hambúrguer de fraldinha com bordinhas crocantes, queijo cheddar, cebola, picles, ketchup e mostarda no pão) a R$ 13 cada.

ServiçoTerça a domingo, 18h às 23h

Tel.: (21) 98070-8727

www.instagram.com/orangeburger_rio

MEXICANODALE!

O restaurante mexicano na Barra da Tijuca está com aplicati-vo próprio, e no primeiro pedido o cliente tem isenção da taxa de entrega. O Dale opera também nas plataformas Rappi, iFood

eUberEats. Durante os próximos 15 dias, o código promocional “xocovid19” dá direito a uma porção de sour ou chilli extra. O burrito Al Pastor é uma das suges-tões: cubos de pernil suíno grelha-dos com abacaxi (R$ 21,99).

ServiçoEndereço: Av. Ayrton Senna, 2541 - loja

174 - Shopping Aerotown

Tel.: (21) 2070-5941 / 99724-2541

Horários: Domingo a quarta-feira, de 12h

às 23h. Quinta a sábado, de 12h às 23h30

https://www.instagram.com/dale.mexicano/

EMPÓRIOSCAKE&CO

Para colaborar com a popu-lação durante a quarentena no Rio de Janeiro, a Cake&Co re-solveu implementar taxa de en-trega grátis, com pedido mínimo de R$40,00, para delivery nos bairros de Botafogo e Humai-tá. Além do delivery tradicional de tortas, a Cake&Co também passou a entregar o almoço, antes disponível apenas na loja física, para ambos os bairros. Entre as opções de almoço estão Stro-gonoff de Frango (R$33,20) e Ravioli de queijo ao molho de tomate (R$36,30). Já entre as tortas, destaca-se a NakedCake de Chocolate (R$70,00 – 13cm e R$220,00 – 25cm). “Visando o bem estar de todos, resolvemos isentar a taxa de entrega para os bairros de Botafogo e Humaitá, e incluir nosso menu de almoço também para entrega. Acredi-tamos que a prevenção é sempre o melhor caminho e esperamos que essas atitudes colaborem para impedir o avanço do coronavírus na nossa cidade”, diz a proprietá-ria Laura de Oliveira Castro.

ServiçoEndereço: Rua Conde de Irajá, nº 132 –

Botafogo – R J. Tel./delivery: (21) 2286-

4769/2539-0792

Horário de funcionamento: De 2ª a sába-

do, de 9h às 19h. Cc/Cd: Visa, Master-

Card, Amex, Diners, Elo e Sodexo.

EMPÓRIO JARDIM A chef Paula Prandini do Em-pório Jardim criou refeições sim-ples que despertam a memória de comida caseira. Os pratos (R$ 24,50) serão definidos diariamen-te, mas contam sempre com arroz, feijão e salada, como um bom PF e estão disponíveis via IFood ou ta-keaway. Dentre as delícias, pratos que nos remetem à mesa de casa como um clássico bife acebolado com batata frita, ou frango grati-

nado escoltado por purê de abó-bora, ou uma panqueca de carne moída com verduras refogadas e até mesmo a tradicional carne as-sada com purê de batata.“Nesse momento difícil, onde as pessoas estão em casa, eu que-ria levar essa comida de carinho e do dia a dia até elas e com esse preço mais acessível para que elas possam contar com isso todos os dias”, complementa a chef.

ServiçoTakeaway: Ligar para as unidades Jardim

Botânico (2535-9862 - Rua Visconde

da Graça, 51) ou Praia de Ipanema-RJ.

(2513-5151- Rua Maria Quitéria, 62)

escolha seu prato e passe para retirar, em

20 minutos, sem taxas. Delivery feito pelo

Ifood.

JAPONÊSGURUMÊ

A operação de delivery nas unidades de SãoConrado, Ipane-ma, Botafogo e Barra foi antecipa-da diante da necessidade de fechar os restaurantes para preservar a saúde de funcionários e clientes e reduzir a circulação e aglome-ração nas ruas e locais fechados. Entre os itens mais pedidos estão o Combinado do chef comcriações diárias do sushibar R$97 (20 pe-ças ) / R$138 (30 peças) e o Hot RollGurumê, oito rolls de salmão empanados em flocos de cereal e cobertos por salmão batidinho, ovas de massago, cebolinha, mo-lho teriyaki e um leve toque de azeite trufado (R$ 38).

“Estamos fechando todos os restaurantes para atendimento no salão e virando 100% para takeaway e delivery. Contratamos motoqueiros e já recebemos pe-didos por telefone desde o fim de semana com diversas linhas por restaurante. Nos próximos dias va-mos entrar com entregas por apli-cativos especializados em delivery de comida”, adianta o empresário e gestor Jerônimo Bocayuva.

ServiçoIpanema: 3030-8235

Rio Design Barra: 3030-8231

Fashion Mall: 3030-8233

Rio Sul: 3030-8234

Shopping Tijuca: 3030-8232 (No Tijuca tb

tem pedidos pelo app D-Tudo)

SUSHI AKYRIOCom a quarentena na cidade, o

restaurante japonês Sushi Akyrio decidiu isentar todas as taxas de entrega para o delivery das filiais da Tijuca e do Leme. Os pedidos podem ser feitos pelo site www.

sushiakyrio.com.br, pelos telefo-nes das filiais, ou baixando o apli-cativo Sushi Akyrio, disponível. Entre os destaques do cardápio es-tão o carro-chefe da casa EbiCrock (6 peças – R$40,00) e o Mix Joio Salmon (12 peças - R$59,00.

ServiçoLeme: Endereço: Rua Gustavo Sampaio,

831-C - Tel.: (21) 2244-8129

Tijuca: Endereço: Rua Conde de Bonfim,

18A, Tijuca-RJ Tel.: (21) 2568-2570

Horário de funcionamento: De 2ª a quinta,

de 18h às 00h | Sexta, de 18h às 01h

| Sábado, de 11h30 às 01h | Domingo, de

11h30 às 00h.

Cc/Cd: todos. www.sushiakyrio.com.br

PORTUGUÊSTASCA DO FILHO D’MÃE

O português Tasca do Filho d’Mãe, na Barra, tem uma pro-moção no ifood: os novos clien-tes podem comprar a porção de pastéis de camarão ou o pastel de nata e bacalhau por R$ 1,00 ,até 29/03. Os pedidos feitos pelo tele-fone do restaurante (3030-9080) ou pelo WhatsApp (98690-1089) vão ser entregues sem nenhum tipo de taxa nos condomínios, na Barra e no Recreio, que estão no raio de até 7km. Já o takeaway vai funcionar com direito a 10% de desconto no valor do pedido.

ServiçoEndereço: Av. das Américas, 8585 - Vogue

Square, Barra da Tijuca, RJ.

Tel: 21 3030-9080

TAILANDÊSNAM THAI

O restaurante tailandês Nam Thai já registrou um aumento de pedidos no Ifood de 30% nos últimos dias e, por isso, passou a oferecer 15% de desconto no menu inteiro e 10% no menu executivo em pedidos feitos pela plataforma pelos próximos dias. Um dos pratos mais vendidos são: o Pad Thai - Talha-rim de arroz frito com camarões, tofu, ovo, tamarindo, coentro, broto de feijão, molho de ostra e amen-doim ( de R$ 83,60 por R$ 71,06) e o GaengKuaSapparod, camarão com abacaxi, especial curry verme-lho da casa, finalizado com leite de coco (de R$ 97,90 por R$ 83,21).

Segundo o chef David Zis-man, “este momento é de cons-cientização, onde todos precisam se ajudar. Vimos que as pessoas estavam pedindo mais delivery e estão precisando ficar em casa. Nada mais justo do que abaixar um pouco os preços nas entregas nesse período”

Serviço Rua Rainha Guilhermina, 95 – B -Leblon

Tel: 2259-2962

Pedidos de delivery pelo IFood

CARNECORTÉS ASADOR

A casa especializada em par-rilla, no Leblon, disponibiliza algumas opções do cardápio para o cliente pelo delivery, com taxa de entrega grátis. Para entrega são oferecidos combos com valores especiais como a costela assada lentamente na parrilla (450g), servida com mandioca assada e gratinada com queijo coalho, manteiga de alho e farofinha crocante de pão e mais um acompanhamento à escolha do cliente por R$118 e serve duas pessoas.

ServiçoPedidos de delivery pelo IFood

PIZZASFERRO E FARINHA

O Ferro e Farinha do Leblon lança serviço de delivery no bairro e arredores. A partir de agora, a casa entrega sua seleção de pizzas exclu-sivas, criadas pelo chef Sei Shiro-ma, feitas no forno à lenha. O ser-viço, via delivery próprio ou iFood, pode ser pedido entre 18h45 e 0h, e vai atender os bairros do Leblon, Ipanema, Gávea, Jardim Botânico, Copacabana e Lagoa.

ServiçoRua Dias Ferreira, 48 - Leblon - RJTelefone: (21) 99605-0397 Horário de funcionamento: terça e quarta, das 18h45 à 0h; quinta, das 18h45 à 0h30; sexta e sábado, das 18h45 à 1h30; e domingo,

das 18h45 à 0h

CAPRICCIOSAA pizzaria Capricciosa isen-

tou a taxa de delivery tanto pelo call center quanto pelo iFood. As duas unidades, Jardim Botânico e Ipanema começam hoje com a ação por 15 dias. E neste final de semana eles tiveram um aumento de 20% nas vendas pelo delivery. Uma das pedidas é a novidade da casa, a pizza Marguerita Gour-met Cereali (R$54).

ServiçoPedidos podem ser feitos pelo Ifood ou

nos tels2527-2656, da unidade Jardim

Botânico ou no 2523-3394, na unidade

de Ipanema.

COBRE

O Cobre, no Humaitá, ofere-ce delivery através dos aplicativos Ifood, Rappi, Spoonrocket e Ube-reats. Os produtos mais pedidos são as Pizzas Verano - mozarela de búfala, sour crema, parmesão e toque de alho (R$38) e Margue-rita - molho pelati, mozarela fior-dilatte, parmesão, tomate cereja e manjericão (R$32). Eles estão com várias promoções no Rappi, como desconto de 35% na compra das pizzas Verano e Marguerita.

ServiçoEndereço: Rua Visconde de Caravelas, 149

Humaitá – Tel.: 21 97986-9900

SUPERMERCADO ZONA SUL Com o aumento de mais de

100% nos pedidos de delivery, o supermercado Zona Sul realo-cou funcionários para ajudar na separação de pedidos e reposição de mercadoria, já que os serviços de pizzaria, spagheteria, café da manhã, grelhados e sushibar fo-ram suspensos. Estão contratando novos entregadores para que seja possível atender a população o mais rápido possível. A rede adotou também horários priori-tários para clientes acima de 60 anos, todos os dias entre 8h e 9h da manhã.

ServiçoEntregas pelos site www.zonasul.com.brWhatsapp das lojas: https://www.zonasul.com.br/nossas-lojas App Zona Sul disponível para IOS e Android

Costela do Cortés Asador Bobó de camarão da academia da cachaçaEstrogonofe de frango da Cake & Co

Divulgação

Rodrigo Galvão Divulgação

Folico Berg Silva/ Academia da Cachaça

Tomaz Rangel