44

CNA – C Exp P B - Projeto ABC Capacitação · O caso da fazenda Santa Brígida Programa ABC testado na fazenda do ex-ministro Alysson Paolinelli Parceria Para divulgar a agricultura

Embed Size (px)

Citation preview

CNA – CoNfederAção dA AgriCulturA e PeCuáriA do BrAsil

Diretoria executiva

Senadora Kátia abreu (to)Presidente

João MartinS da Silva Júnior (ba)1o Vice-Presidente

JoSé Zeferino PedroZo (SC)Vice-Presidente de Secretaria

JoSé Mário SChreiner (Go)Vice-Presidente de Finanças

fábio de SalleS MeireleS filho (MG)Vice-Presidente Executivo

CarloS rivaCi SPerotto (rS)Vice-Presidente Diretor

eduardo Corrêa riedel (MS)Vice-Presidente Diretor

JoSé raMoS torreS de Melo filho (Ce)Vice-Presidente Diretor

Júlio da Silva roCha Júnior (eS)Vice-Presidente Diretor

vice-presiDentes

áGide MeneGuetti (Pr)alMir MoraiS Sá (rr)álvaro arthur loPeS de alMeida (al)CarloS auGuSto Melo Carneiro da Cunha (Pi)CarloS fernandeS Xavier (Pa)eduardo Silveira Sobral (Se)fábio de SalleS MeirelleS (SP)flávio viriato de Saboya neto (Ce)franCiSCo ferreira Cabral (ro)JoSé hilton Coelho de SouSa (Ma)JoSé álvareS vieira (rn)luiZ iraçu GuiMarãeS ColareS (aP)Mário antônio Pereira borba (Pb)Muni lourenço Silva Júnior (aM)Pio Guerra Júnior (Pe)renato SiMPlíCio loPeS (df)roberto SiMõeS (MG)rodolfo tavareS (rJ)rui CarloS ottoni Prado (Mt)

2

ExpEdiEntE

Comissão NaCioNal de meio ambieNte

superiNteNdêNCia téCNiCa

Rosemeire Cristina dos Santos

equipe téCNiCa

Camila Nogueira Sande

Emanuela Da Rin Paranhos

Jessica Figueiredo

Nélson Ananias Filho

Rodrigo Justus de Brito

assessoria de ComuNiCação

Otília Rieth Goulart

Fabíola Salvador

Letícia Dias de Souza

Pablo Ulisses

Paulo Zarat Tavares

apoio

Banco do Brasil

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)

realização

Embaixada do Reino Unido

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

Fotos

Igo Estrela

Wenderson Araújo

projeto GráFiCo e diaGramação

Raruti Comunicação e Design

O Brasil tem avançado nos últimos anos no firme propósito de reduzir as

emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs), responsáveis pelo aquecimento

global. A redução do desmatamento da Amazônia, que, segundo dados do

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), registrou a menor taxa em 23

anos, mostra que estamos no caminho certo.

Mas ainda há muito a ser feito. A adoção de tecnologias e práticas industriais

e agrícolas é fundamental para controlar e reduzir as emissões dos gases

de efeito estufa – gás carbônico (CO2), gás metano (CH4) e óxido nitroso

(N2O), garantindo as condições necessárias para conciliar o necessário

desenvolvimento do País com o crescimento sustentável.

Para o setor agropecuário, o desafio é evoluir das práticas convencionais para uma agricultura de baixa

emissão de carbono, sem deixar de proporcionar renda aos agricultores e alimentos de qualidade e baratos

para a população. Os produtores brasileiros estão preparados para enfrentar esse desafio e elevar a

agropecuária nacional para um novo patamar de sustentabilidade.

Com o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, o Governo federal inicia, no Brasil, um novo

ciclo de desenvolvimento agropecuário. Por meio do Programa para Redução de Emissão de Gases de Efeito

Estufa na Agricultura (Programa ABC) são financiadas práticas e tecnologias adequadas e também sistemas

produtivos eficientes que contribuem para a menor redução dos gases causadores do efeito estufa.

O programa ABC também garante ao produtor maior capacidade de pagamento, pois o crédito é oferecido

com prazos de carência e de pagamento diferenciados, além de taxas de juros mais baixas.

Apresentamos aqui algumas destas tecnologias que integram o programa oficial de incentivo à agricultura

de baixo carbono. Percorremos fazendas pioneiras, como a Santa Brígida, em Goiás, e a Boa Vista, em Minas

Gerais, para mostrar o que vem sendo feito, com sucesso, em favor deste novo ciclo em expansão no setor.

Fizemos uma parceria com a Embaixada Britânica e, com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária

e Abastecimento (MAPA) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para aprofundar

os conhecimentos dos nossos produtores a respeito da agricultura de baixa emissão de carbono. Estamos

somando forças para que a agropecuária brasileira se consolide como a maior e mais sustentável do planeta.

SENADORA KÁTIA ABREUPresidente da CNA

AgropecuáriA brAsileirA contribui pArA A redução do Aquecimento globAl

2

revistA Abc edição novembro 2012

O que é agricultura de baixa

emissãO de carbOnO?

Por que incentivar a agricultura de

baixa emissão de carbono

Métodos de produção, tecnologias e

medidas priorizadas pelo Brasil para

a transição da agricultura tradicional

para a agricultura de baixo carbono

ações dO gOvernO federal

O que é o Plano de Agricultura de Baixa

Emissão de Carbono - Plano ABC?

Qual o objetivo geral do Plano ABC?

Que metas foram estipuladas no Plano ABC?

Quais ações são previstas no Plano ABC?

PrOgrama abc

Vantagens em aderir ao Programa ABC

Regras de financiamento do Programa ABC

Itens financiáveis

05 17

21

casOs de sucessO

O caso da fazenda Santa Brígida

Programa ABC testado na fazenda do

ex-ministro Alysson Paolinelli

Parceria Para divulgar a agricultura de baixO carbOnO

Conhecimento sobre Agricultura de

Baixo Carbono aos produtores rurais

27 39

Sistema de plantio direto de milho.

5

A Agricultura de Baixa Emissão de Carbono,

ou ABC, se baseia em métodos de produção

e tecnologias de elevado grau de sustenta-

bilidade, incluindo os sistemas integrados agropas-

toril, silvipastoril, silviagrícola e agrossilvipastoril e

os sistemas de baixa movimentação do solo, como o

plantio direto. Além dessas práticas, destaque, tam-

bém, para tecnologias que promovam a substituição

de insumos de alta capacidade emissora de Gases de

Efeito Estufa (GEEs), como é o caso do uso da fixação

biológica de nitrogênio (N) em substituição ao nitro-

gênio químico, da melhoria da qualidade das pasta-

gens e do uso de produtos para alimentação animal

que diminuam a emissão de gás metano (CH4) pelos

bovinos, ovinos e caprinos, assim como no tratamen-

to dos resíduos de dejetos animais.

A agricultura ABC impõe novos desafios ao Brasil,

entre eles o acesso à assistência técnica rural, a pro-

moção da melhoria da infraestrutura associada, as

tecnologias disponibilizadas pela pesquisa agrope-

cuária, além da oferta de crédito para que os produ-

tores possam implantar tais tecnologias. O Governo

federal tem elaborado uma série de ações para essas

necessidades sejam supridas.

AgriculturA de bAixo cArbono gArAnte sustentAbilidAde à produção brAsileirAMétodos de produção, novas

tecnologias e sistemas integrados

6

A agricultura de baixa emissão de carbono tem

como base as estratégias, processos, métodos,

tecnologias e sistemas que permitam conciliar

a produção de alimentos, madeira e bioenergia

com redução da emissão dos GEEs.

O planejamento da produção de baixo carbono é

feito de acordo com zoneamentos econômicos e

ecológicos, o que possibilita a obtenção da má-

xima produtividade das culturas e criações, ati-

vidades desenvolvidas em locais com melhores

condições de produção devido a aspectos como

clima, solo, economia local/regional e sustenta-

bilidade da produção.

Pasto recuperado no sistema silvipastoril.

Além desses aspectos, também é priorizada a

produção em locais que estejam o mais próxi-

mo possível dos consumidores finais, pois esta é

uma forma de reduzir a quantidade de carbono

embutida no transporte dos alimentos.

A agricultura de baixo carbono também busca

desenvolver processos que permitam a geração

de energia renovável nas próprias fazendas, para

utilização nas instalações agrícolas e residências,

em substituição à energia gerada a partir de fon-

tes não renováveis.

Divu

lgaç

ão S

anta

Bríg

ida

7

No Brasil, os investimentos na agricultura de baixo carbono permitirão que

70 milhões de hectares de áreas degradadas sejam ocupados com ati-

vidades agrícolas, evitando a perda do gás carbônico que é emitido quando

as terras estão nessa situação e não são produtivas. A recuperação de áreas

degradadas garantirá o incremento da produção a partir do aumento da pro-

dutividade da atividade agropecuária.

Os sistemas, técnicas e métodos da agricultura de baixo carbono vão ao encon-

tro do compromisso assumido pelo Brasil em 2009, durante a 15ª Conferência

das Partes (COP-15), realizada em Copenhague, na Dinamarca, de reduzir, por

meio de ações voluntárias, as emissões de GEEs entre 36,1% e 38,9% em re-

lação ao projetado para 2020. Na ocasião, o Brasil comprometeu-se, ainda, a

reduzir em o desmatamento em 80% até 2020, para 5.800 quilômetros quadra-

dos (km2). Essa meta está muito próxima de ser atingida pelo Brasil: em 2010,

o desmatamento foi de 6.500 km2.

O fato é que as discussões suscitadas na COP-15 deram início a uma nova fase

de negociações internacionais sobre mudanças climáticas globais. As posições

assumidas pelo Brasil na Dinamarca foram confirmadas por meio do Acordo de

Copenhague e na COP-16, realizada no ano seguinte em Cancún, no México.

Os dados de emissões de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso

(N2O) de diferentes setores da economia, apresentados na Segunda Comunica-

ção Oficial do Brasil à Convenção Quadro das Nações Unidas, tornam evidente

o potencial das atividades agrícolas sustentáveis como forma de contrabalan-

çar as emissões de gases no setor agropecuário. Essa contribuição pode ser

feita, principalmente, por meio da fixação de carbono a partir do aumento das

áreas de florestas plantadas e da ampliação do uso de sistemas de produção

com distúrbio mínimo do solo.

No caso da agricultura, os compromissos se referem à expansão da adoção ou

implantação de tecnologias que podem ser adotadas para mitigar as emissões

de GEEs e, ao mesmo tempo, promovam a retenção de CO2 na biomassa e

no solo. Recuperação de pastagens degradadas; Integração Lavoura-Pecuária-

-Floresta (iLPF); Sistema de Plantio Direto (SPD); fixação biológica de nitrogê-

nio; florestas plantadas; e tratamento de dejetos animais foram as tecnologias

selecionadas.

Independente da técnica adotada, a ampliação, no País, do número de prá-

ticas de agricultura de baixa emissão de carbono contribuirá para proteger

o agronegócio brasileiro de potenciais barreiras comerciais no futuro. Tam-

bém permitirá a geração de serviços ambientais e ecossistêmicos que poderão

qualificar ainda mais o País no comércio internacional. Para aproveitar todas

essas oportunidades, estão sendo implementadas diferentes ações, entre elas a

redução do desmatamento da Amazônia e do Cerrado, ampliação da eficiência

energética e adoção em larga escala de práticas sustentáveis na agricultura.

A recuperação de áreas

degradadas garantirá o

incremento da produção

a partir do aumento

da produtividade da

atividade agropecuária.

investimentos na agricultura de baixo carbono aumentarão produção e reduzirão emissões de gees

8

O Programa ABC viabilizará inúmeros benefí-

cios para a sociedade brasileira, contribuindo

para a melhoria da imagem do agronegócio na-

cional, que pode ser, ao mesmo tempo, empre-

sarial e sustentável. Por meio desse programa, o

Brasil poderá acelerar a adoção de um portfólio de

tecnologias, muitas já conhecidas, incorporando,

oportunamente, o desejável e pertinente discurso

de tecnologias ecoamigáveis a uma decisão (ado-

ção) de natureza predominantemente econômica.

A partir dele será possível abandonar definitiva-

mente o modelo de agricultura extrativista de

produção, praticado, ainda, por muitos agricul-

tores brasileiros que, por vários motivos, não têm

tido acesso a tecnologias ecoamigáveis.

Com o Programa ABC, o Brasil poderá mostrar

ao mundo que é possível utilizar processos de

produção de alimentos com baixa dependência

de insumos externos, aliando práticas conserva-

cionistas de solo e de água (os dois maiores e

principais bens de uma propriedade rural) e atin-

gindo, inclusive, requisitos de sustentabilidade

e desenvolvimento de modelos de certificação.

Desta forma, o incentivo à adoção da Agricultura

ABC é algo imprescindível para o futuro da agro-

pecuária nacional.

programa Abc favorece o agronegócio e viabiliza inúmeros benefícios para a sociedade brasileira

Plantio de eucalipto.

9

sil e do uso de agrotóxicos; a mitigação da emis-

são dos GEE e a contribuição para o aumento da

capacidade de adaptação do solo às alterações.

O SPD é um sistema “democrático” que pode ser

usado tanto por grandes empresários como por

agricultores familiares. Uma prova disso foi dada

pelo agricultor Roberto Qualhato, um dos agri-

cultores do projeto de extensão da Associação de

Pequenos Agricultores do Serra-Abaixo (APASA),

que recebeu o Prêmio Agricultor de Plantio Dire-

to Tropical, de 2003, promovido pela Associação

de Plantio Direto no Cerrado (APDC)/Fundação

AGRISUS1. Agricultores familiares do Rio Grande

do Sul, Paraná e Santa Catarina também são re-

presentantes dessa realidade.

1. ALMEIDA, R. A. Introdução do sistema de plantio direto em pequenas propriedades do Estado de Goiás. Revista da UFG, Vol. 7, No. 01, junho 2004, on line <www.proec.ufg.br>. Disponível em <http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/agro/A08_plantio.html>. Acesso em 09 jan 2012.

Sistema Plantio Direto (SPD)

É uma tecnologia que dispensa o revolvimento

do solo e que evita a erosão a partir da se-

meadura direta na palha da cultura anterior. A

palha e os restos orgânicos protegem o solo e re-

duzem a perda de água. Assim, é possível manter

a umidade, acumular carbono, aumentar a pro-

dutividade da lavoura e diminuir despesas com

maquinário e combustível.

O SPD consiste em um complexo de processos

tecnológicos destinados à exploração de siste-

mas agrícolas produtivos, que compreende a mo-

bilização de solo apenas na linha ou cova de se-

meadura, manutenção permanente da cobertura

do solo, diversificação de espécies e redução ou

supressão do intervalo de tempo entre colheita e

semeadura.

Esse sistema deve estar associado à agricultura

conservacionista de forma a contribuir para a

conservação do solo e da água; o aumento da

eficiência da adubação; do conteúdo de matéria

orgânica do solo e da relação econômica custo/

benefício; a redução do consumo de energia fós-

tecnologiAs e medidAs priorizAdAs pelo brAsil

Os sistemas, métodos e tecnologias de produção selecionados para a Agricultura ABC são: Sistema

de Plantio Direto (SPD), Integração Lavoura–Pecuária–Floresta (iLPF), recuperação de áreas e pas-

tagens degradadas, florestas plantadas, fixação biológica de nitrogênio e tratamento de dejetos animais.

Plantio direto de milho sobre palha de aveia-preta. Plantio tradicional de algodão.

Man

oel H

enriq

ue P

erei

ra

Carlo

s Ru

dine

y/Ab

rapa

10

A iLPF é uma estratégia de produção susten-

tável que integra atividades agrícolas, pe-

cuárias e florestais, realizadas na mesma área,

em cultivo consorciado, em sucessão ou rota-

cionado, e busca, para um mesmo fim, efeitos

convergentes entre os componentes (sinergia). A

iLPF e os sistemas agroflorestais (SAFs) contri-

buem para a recuperação de áreas degradadas,

manutenção e reconstituição da cobertura flo-

restal, promoção, geração de emprego e renda,

adoção de boas práticas agropecuárias (BPA),

melhoria das condições sociais, adequação da

unidade produtiva à legislação ambiental e valo-

rização dos serviços ambientais oferecidos pelos

agroecossistemas. Entre esses serviços, estão a

conservação dos recursos de solo e água, abrigo

de insetos e animais polinizadores e de controle

natural de pragas e doenças, fixação de carbono

e nitrogênio, redução da emissão de GEEs, reci-

clagem de nutrientes; biorremediação do solo e

manutenção e uso sustentável da biodiversida-

de. O avanço da iLPF e dos SAFs tem sido muito

acentuado, sendo utilizados em todos os biomas

e regiões geográficas do Brasil, desde Roraima ao

Rio Grande do Sul e do Acre a Pernambuco.

Integração Lavoura–Pecuária–Floresta (iLPF)

Pasto em iLPF usado para engorda de gado leiteiro.

Divu

lgaç

ão E

mbr

apa

11

A técnica consiste em transformar as terras

degradadas (no caso específico de pasta-

gens degradadas) em áreas produtivas para a

produção de alimentos, fibras, biodiesel, florestas

e carne, evitando a derrubada de novas áreas de

florestas.

A degradação de pastagens é o processo evolu-

tivo de perda de vigor, de produtividade e da ca-

pacidade de recuperação natural das pastagens

para sustentar os níveis de produção e qualidade

exigidos pelos animais, assim como, em superar

Pasto degradado

usado para

criação de gado

de corte.

Recuperação

de pastagem.

Recuperação de áreas e pastagens degradadas

Lute

cia

Beat

riz d

os S

. Can

alli

os efeitos nocivos de pragas, doenças e invaso-

ras, culminando com a degradação avançada dos

solos e pastagens, em razão de manejos inade-

quados. Com o avanço do processo de degrada-

ção, ocorre perda de cobertura vegetal e redução

no teor de matéria orgânica do solo, emitindo

gás carbônico (CO2) para a atmosfera, além de

tornar o local improdutivo. A recuperação e ma-

nutenção da produtividade das pastagens con-

tribuem para mitigar a emissão dos gases do

efeito estufa.

12

Florestas plantadas

O plantio de espécies florestais de rápido cres-

cimento (eucalipto, pinus e acácia-negra,

entre outras) proporciona renda, abastece um

amplo mercado consumidor e reduz o carbono

do ar por causa da fotossíntese.

A produção de florestas plantadas (econômi-

cas) nas propriedades rurais possui quatro ob-

jetivos básicos. São eles: implementar uma fonte

de renda de longo prazo para o produtor e sua

família; aumentar a oferta de madeira para fins

industriais (celulose e papel, móveis e painéis de

madeira), energéticos (carvão vegetal e lenha),

construção civil e outros usos; reduzir a pressão

sobre as matas nativas; e captura de CO2 da at-

mosfera, reduzindo os efeitos do aquecimento

global.

A área de florestas plantadas com o objetivo de

comercializar madeira e/ou produtos não madei-

reiros, nas duas últimas décadas, tem tido um

grande crescimento em razão do apoio financei-

ro prestado pelo Programa Nacional de Fortaleci-

mento da Agricultura Familiar (PRONAF) Flores-

tal, das ações de fomento das grandes empresas,

do desenvolvimento de tecnologias de plantio e,

também, pelo plantio com recursos próprios.

Um ponto muito importante a ser destacado é

que não há necessidade, pelo menos no mé-dio prazo, de se fazer plantação de florestas comerciais em áreas adequadas para a produ-ção de grãos. Ou seja, plantar floresta comercial

não implica em competição com a produção de

alimentos. As áreas a serem ocupadas serão as

pastagens degradadas por mau uso.

Vale ressaltar, ainda, que as florestas plantadas diminuem a pressão sobre as florestas nativas, com reflexos na redução da emissão de carbono.

Além disso, o uso de espécies florestais exóticas

será admitido em até 50% da área de Reserva

Legal (RL) a ser recuperada.

Plantio de pinus na área da Embrapa Florestas em Ponta Grossa, (PR).

13

A técnica possibilita captar, por meio de mi-

cro-organismos e/ou bactérias, o nitrogênio

existente no ar e transformá-lo em matéria or-

gânica para as culturas, o que permite a redução

do custo de produção e melhoria da fertilidade

do solo.

O aumento da produção agrícola é especialmen-

te dependente do suprimento de nitrogênio, um

dos principais fatores limitantes nos solos tro-

picais e subtropicais. Aproximadamente 78% da

atmosfera é composta por nitrogênio (N2), ele-

mento indisponível para a maioria dos organis-

mos. Apenas um número limitado de espécies de

microrganismos tem a capacidade de converter

N2 em nitrogênio reativo (assimilável pelas plan-

tas), por meio da Fixação Biológica de Nitrogênio

(FBN). Esse processo é indispensável para a ma-

nutenção da vida no planeta e estratégico para

a sustentabilidade na agricultura. A FBN é am-

plamente reconhecida como prática sustentável,

uma vez que diminui o custo da produção e os

riscos para o meio ambiente, pois reduz a emis-

são de GEEs, além de elevar o conteúdo de maté-

ria orgânica (sequestro de carbono) e melhorar a

fertilidade do solo.

O aumento no uso de fixadores biológicos de ni-

trogênio deverá ocorrer na cultura da soja, onde

essa tecnologia está mais desenvolvida, mas

também em outras culturas como, por exemplo,

na cana de açúcar, pastagens, feijão e milho.

Fixação Biológica de

Nitrogênio.

Inoculação por

rhizobium.

Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN)

Rosa

Mot

ta

14

Tratamento de dejetos animais

Técnica que aproveita os dejetos de suínos e

outros animais para a produção de energia

(gás) e composto orgânico. A correta destina-

ção dos dejetos e efluentes originados a partir

da criação de animais criados em estábulos tem

se constituído uma prática importante para a re-

gularidade ambiental das propriedades rurais. O

tratamento adequado desses efluentes e dejetos

contribui para a redução da emissão de metano,

Gerador de energia elétrica movido a biogás.

Rica

rdo

Stei

nmet

z

Rica

rdo

Stei

nmet

z

Biodigestor e Flare (Sistema padrão para obtenção de certificações de carbono).

15

Além dos já citados sistemas, métodos e tecnolo-

gias de produção selecionados para a Agricultura

ABC, também foram definidos como prioridades

o planejamento e a execução de medidas pre-

ventivas em relação aos possíveis impactos das

mudanças climáticas.

um dos GEEs. Possibilita, também, o aumento na

renda dos agricultores pelo composto orgânico

gerado ou pela geração de energia automotiva,

térmica e elétrica, por meio do uso do biogás.

Os processos de biodigestão e compostagem já

são conhecidos e proporcionam redução nos

custos de produção por evitar o consumo de

energia, insumos químicos e diminuir os riscos

para o meio ambiente, bem como reduzir a emis-

são de GEEs.

Biodigestor para pequena propriedade + esterqueira.

Airt

on K

unz

O tratamento adequado desses

efluentes e dejetos contribui

para a redução da emissão de

metano, um dos GEEs.

16

Sistema silvipastoril.

17

Através da Lei n° 12.187, de 29 de dezembro

de 2009, foi instituída a Política Nacional so-

bre Mudança do Clima, onde foi estabelecido

o compromisso de redução de emissões de gases de

efeito estufa de 36,1% a 38,9% das emissões proje-

tadas até 2020.

Nesse sentido, o Brasil submeteu em nível internacio-

nal, no Acordo de Copenhague em 2009, uma lista de

ações nacionais de mitigação, denominadas NAMAs2.

O país implementará essas ações de maneira volun-

tária e de acordo com os princípios e provisões esta-

belecidos pela Convenção sobre Mudança do Clima,

através da adoção de Planos de Ação Setoriais.

Os Planos de Ação Setoriais foram divididos nas ca-

tegorias Mudanças de Uso da Terra (desmatamento

na Amazônia e no Cerrado), Agropecuária, Energia e

Outros (substituição de biomassa oriunda de floresta

nativa por florestas plantadas na siderurgia).

Para a implementação das Ações Setoriais relaciona-

das à Agropecuária foi concebido o Plano de Agricul-

tura de Baixo Carbono - ABC.

2. NAMAs: Nationally Appropriate Mitigation Actions, sem sigla em português.

Ações do governo federAl Compromissos voluntários

assumidos pelo Brasil na COP-15

para a redução das emissões de

Gases de Efeito Estufa (GEEs)

18

na Política Nacional sobre Mudanças Climáticas

(PNMC), Lei no. 12.187/09. Sua elaboração deu-

-se pelos ministérios da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA) e do Desenvolvimento

Agrário (MDA), contando, inclusive, com a par-

ticipação das entidades representativas dos pro-

dutores, dentre elas a CNA.

Os ministérios e a Casa Civil são responsáveis

pela coordenação das ações necessárias ao esta-

belecimento do Plano Setorial de Mitigação e de

Adaptação às Mudanças Climáticas para a Con-

solidação de uma Economia de Baixa Emissão de

Carbono na Agricultura.

O Plano ABC é um instrumento de política

pública que traz uma visão diferente de se

fazer agricultura. Busca incentivar o investimen-

to em tecnologias sustentáveis com a adoção de

boas práticas agrícolas e a integração de siste-

mas produtivos capazes de aumentar a produção

e, com isso, abastecer o mercado interno, expor-

tar mais, melhorar a renda e o bem-estar social e

econômico do produtor e da população, além de

preservar os recursos naturais e manter o equi-

líbrio ambiental com a conseqüente redução da

emissão dos GEEs.

O plano foi idealizado a partir dos compromissos

de redução de emissões de GEEs estabelecidos

plano de Agricultura de baixa emissão de carbono (Abc)

Pasto após colheita do milho – iLPF de milho, eucalipto e capim.

1919

qual o objetivo geral do plano Abc?Promover a adoção de tecnologias que diminuem a emissão de GEE na agricultura, de

acordo com a PNMC, com a melhoria da eficiência no uso de recursos naturais, aumento

da resiliência de sistemas produtivos e de comunidades rurais, e a adaptação do setor

agropecuário às mudanças climáticas.

metas estipuladas

1. Por meio do manejo adequado e adubação2. Incluindo Sistemas Agroflorestais3. Não está computado o compromisso brasileiro relativo ao setor da siderurgia; e não foi contabilizado o potencial de atenuação de emissão de GEE.

Fonte: Decreto no. 7.390 de 09/12/2010

Ações previstasPara atingir com sucesso as metas do Plano ABC, não bastam apenas as idéias e recursos financeiros,

mas também, e principalmente, um elenco de ações integradas. Por isso, foi estabelecido o seguinte

conjunto de ações para todas as tecnologias componentes do compromisso:

PROCESSO TECNOLÓGICO

Recuperação de Pastagens Degradadas1 (ha)

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta2 (ha)

Sistema Plantio Direto (ha)

Fixação Biológica de Nitrogênio (ha)

Florestas Plantadas3 (ha)

Tratamento de Dejetos Animais (m3)

COMPROMISSO (AUMENTO DE ÁREA/USO)

15 milhões

4 milhões

8 milhões

5,5 milhões

3 milhões

4,4 milhões

1. Campanhas publicitárias e de divulgação;

2. Disponibilização de tecnologias;

3. Fortalecimento da pesquisa e do desenvol-vimento tecnológico;

4. Fortalecimento da assistência técnica e extensão rural (ATER);

5. Capacitação de produtores rurais e téc-nicos de Ciências Agrárias envolvidos com a Agricultura ABC;

6. Promoção de ações junto aos segmentos de insumos, produtos e serviços, principal-mente, para disponibilização de insumos bá-sicos e inoculantes;

7. Fomento a viveiros e redes de coleta de sementes;

8. Criação de linhas de financiamento e de crédito agrícola específicas (Programa ABC);

9. Estabelecimento de estratégias de moni-toramento, relato e verificação (MRV) das ações;

10. Regularização fundiária e ambiental;

11. Ações transversais (sensibilização, articu-lação, etc.);

12. Adaptação, redução de vulnerabilidades e aumento da resistência às mudanças climáti-cas previstas.

20

Nilt

on S

ouza

Plantio de eucalipto.

21

OPrograma foi instituído em 17 de agosto de

2010, pelo MAPA, e inserido no Plano Safra

2010-2011 com valor disponibilizado de US$

1,2 bilhão.

Na ocasião, o Conselho Monetário Nacional (CMN),

por meio da Resolução no. 3896, criou, no âmbito do

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES), o Programa para Redução da Emissão

de Gases de Efeito Estufa na Agricultura (Programa

ABC). Posteriormente, foi feita uma atualização com

a Resolução no. 3.979, de 31 de maio de 2011.

O Programa ABC é uma das ações previstas no Plano

ABC para disponibilização de recursos oficiais para

financiamento da adoção das tecnologias mitigadoras

de emissões de GEE pelos produtores rurais brasileiros.

progrAmA AbcCriado em 2011, contará

com R$ 3,4 bilhões na

safra 2012/2013

22

Fontes e o volume de recursos

O programa ABC é financiado com recursos

do Sistema BNDES, Caderneta de Poupan-

ça Rural (MCR6-4) e Fundos Constitucionais.

São recursos públicos originados de impostos e

da movimentação da economia nacional, o que

envolve toda a sociedade, mesmo indiretamente,

neste esforço em favor da sustentabilidade.

Para a safra 2012/2013, o Governo federal dispo-

nibilizou R$ 3,4 bilhões para as linhas de crédito

do ABC. Para estimular a contratação, o juro do

financiamento foi reduzido de 5,5% ao ano, na

safra 2011/2012, para 5% ao ano na safra atual.

Entre julho de 2011 e julho deste ano, os produ-

tores rurais contrataram R$ 1,5 bilhão.

vantagens em aderir ao programa Abc

O Programa ABC é a oportunidade de incorporar ao proces-

so produtivo as tecnologias sustentáveis para uma pro-

dução mais eficiente, que proporciona o aumento da renda

através do incremento da produtividade e da diversificação

da produção, incentiva a recuperação do passivo ambiental,

diminui a pressão sobre as florestas nativas e tudo isso resulta

na redução da emissão de GEE, propiciando uma agricultura

mais sustentável na produção de alimento aos brasileiros e ao

mercado externo.

Essa nova agricultura sustentável conta com incentivos go-

vernamentais que tornam o Programa uma alternativa atra-

ente frente aos instrumentos de financiamento existentes no

mercado, como veremos a seguir.

regras de financiamento do programa Abc

Essa nova agricultura

sustentável conta com

incentivos governamentais

que tornam o Programa uma

alternativa atraente

Plantação de feijão.

Programa ABC PAP 2011/2012 PAP 2012/2013 Variação (%)

Recursos R$ 3,1 bi R$ 3,4 bi 9,6

Juros 5,5% 5,0% -9,1

Fonte: PAP 2011/2012 e PAP 2012/2013

23

Finalidades do créditoAs linhas de crédito do Programa ABC têm a fi-

nalidade de financiar:

• A recuperação de áreas e pastagens degra-dadas;

• A implantação de sistemas orgânicos de produção agropecuária;

• A implantação e melhoramento de sistema Plantio Direto na Palha;

• A implantação de sistemas de integração lavoura-pecuária; lavoura-floresta; pecuária--floresta ou lavoura-pecuária-floresta;

• A implantação, manutenção e manejo de florestas comerciais, inclusive, àquelas des-tinadas ao uso industrial ou à produção de carvão vegetal;

• A adequação ou regularização das proprie-dades rurais frente à legislação ambiental, in-clusive, recuperação de áreas de reserva legal, preservação permanente, e o tratamento de dejetos e resíduos entre outros;

• A implantação de planos de manejo flores-

tal sustentável;

• A implantação e manutenção de florestas

de dendezeiro prioritariamente em áreas pro-

dutivas degradadas.

Público-alvo

O Programa ABC tem como público alvo os pro-

dutores rurais e suas cooperativas, inclusive,

para repasse aos associados.

Limites de crédito e juros

O limite de crédito é de R$ 1.000.000,00 (um mi-

lhão de reais) por beneficiário e por ano-safra,

independentemente de outros créditos que o

produtor ou cooperativa tenha recebido ao am-

paro de recursos controlados do crédito rural. A

taxa de juros é de 5,5% ao ano.

ILPF de milho com capim.

24

25

• Aquisição, construção ou reformas de bebedouros, saleiro ou cochos de sal;

• Marcação e construção de terraços e implantação de práticas conservacionistas do solo;

• Operações de destoca;

• Pagamentos de serviços destinados à conversão da produção orgânica e sua certificação;

• Realocação de estradas internas das propriedades rurais para fins de adequação ambiental;

• Serviços de agricultura de precisão: do planejamento inicial da amostragem do solo à geração dos mapas de aplicação de fertilizantes e corretivos.

Esses itens somente poderão ser financiados

se estiverem vinculados a um projeto técnico

que ateste o enquadramento das práticas aos

objetivos do Programa ABC.

Além desses itens, ações de custeio também

são financiáveis, mas devem estar associadas

ao investimento e limitadas a 30% do valor

financiado, admitida a elevação nos seguintes

casos:

I - Até 35% do valor financiado, quando destinado à implantação e manutenção de florestas comerciais ou recomposição de áreas de preservação permanente ou reserva legal.

II - Até 40% do valor financiado, quando o projeto incluir a aquisição de bovinos, ovinos e caprinos, para reprodução, recria e terminação, e de sêmen dessas espécies.

Itens financiáveis

• Adubação verde e plantio de cultura de cobertura do solo;

• Aquisição de bovinos, ovinos e caprinos para reprodução, recria e terminação, e de sêmen dessas espécies;

• Aquisição de insumos e pagamento de serviços destinados à implantação e manutenção dos projetos financiados;

• Aquisição de máquinas e equipamentos de fabricação nacional para a agricultura e pecuária, não financiáveis pelos Programas Moderfrota3 e Moderinfra4;

• Aquisição de sementes e mudas para formação de pastagens e de florestas;

• Aquisição, transporte, aplicação e incorporação de corretivos agrícolas (calcário e outros);

• Assistência técnica necessária até a fase de maturação do projeto;

• Construção e modernização de benfeitorias e de instalações na propriedade rural;

• Despesas relacionadas ao uso de mão de obra própria5;

• Elaboração de projeto técnico e georreferenciamento das propriedades rurais, inclusive, as despesas técnicas e administrativas relacionadas ao processo de regularização ambiental;

• Implantação de viveiros de mudas florestais;

• Implantação e recuperação de cercas, inclusive, aquisição de energizadores de cerca;

3. Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas Implementos Associados e Colheitadeiras.

4. Programa de Incentivo à Irrigação e à Armazenagem.

5. Desde que compatíveis com estruturas de custos de produção regional (coeficiente técnico, preço e valor), indicadas por instituições oficiais de pesquisa ou de assistência técnica (federal ou estadual), e desde que se refiram a projetos estruturados e assistidos tecnicamente, admitindo-se, nessa hipótese, que a comprovação da aplicação dos recursos seja feita mediante apresentação de laudo de assistência técnica oficial atestando que o serviço, objeto de financiamento, foi realizado de acordo com o preconizado no projeto, devendo mencionar laudo a ser apresentado pelo menos uma vez a cada semestre civil.

26

A Fazenda Santa Brígida adota o sistema de iLPF.

27

O Programa ABC está disponível para os pro-

dutores rurais há duas safras e, muitos deles,

já podem assegurar a sua importância para

o desenvolvimento de atividades nas propriedades.

Vale destacar dois casos bem sucedidos que servem

como exemplo e motivação para novas experiências

que possam ser implementadas no âmbito do Progra-

ma ABC.

fazenda santa brígida

No município de Ipameri, interior de Goiás, a cerca

de 200 km de Goiânia, está localizada a fazenda

Santa Brígida, que tem servido de modelo para quem

quer montar um projeto de integração Lavoura-Pecu-

ária-Floresta.

De acordo com a proprietária, Marize Porto Costa, há

alguns anos a fazenda tinha uma área muito grande

de pastagem degradada com muitos cupinzeiros.

Os custos da fazenda, de 922 hectares, eram muito

elevados e a produtividade muito baixa. Ela costuma

se referir àquela época dizendo que antigamente não

se plantava capim na fazenda e, sim, cupim.

cAsos de sucessoDois casos bem sucedidos

e que servem como

exemplo e motivação para

novas experiências

28

tos agrícolas John Deere. Com a parceria e muito

trabalho, aquela fazenda, que apresentava um

triste cenário de pastagem degradada, conse-

guiu, na safra 2006/2007, recuperar cerca de

50% da área.

No projeto de Marize, que teve apoio de uma

equipe técnica, foi desenvolvido um sistema que

consorciava milho com braquiárias e adubos ver-

des. Ao introduzir a braquiária, passou a produ-

zir pasto de boa qualidade, no período seco, e a

obter os benefícios agronômicos produzidos pela

braquiária, como descompactação de solos, reci-

clagem de nutrientes e aumento de matéria orgâ-

nica. Os adubos verdes aumentaram o aporte de

Com a morte de seu marido, ela teve que assumir

o negócio. Como não tinha a experiência neces-

sária para administrar a fazenda, buscou apoio

na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

(EMBRAPA). O primeiro encontro, em 2006, foi

com Homero Aidar, que lhe deu um livro sobre

iLP e a apresentou ao pesquisador João Klu-

thcouski. A partir das orientações do pesquisa-

dor, a Fazenda Santa Brígida começou a mudar.

Marize passou a incentivar os funcionários, que

reviraram o pasto, destruíram os cupinzeiros,

corrigiram a acidez do solo e plantaram soja

no local. Em 2006, a Santa Brígida ganhou um

parceiro: a empresa de máquinas e implemen-

Integração silvicultura e pecuária

29

nitrogênio no solo, por meio de fixação biológica,

o que beneficiava a pastagem e as plantações.

Segundo Marize, em apenas um ano, a produção

agrícola pagou parte do investimento feito com

a orientação da EMBRAPA.

O primeiro ciclo de iLP na Santa Brígida está qua-

se terminando e 600 hectares estão recuperados,

dos quais 50% cultivados com soja e outros 50%

com milho e braquiária. Na safra 2010/2011, fo-

ram colhidas 35 mil sacas de milho e 20 mil sacas

de soja. O hectare de pastagem passou a render

em torno de R$ 500,00. Antes do projeto, não

passava de R$ 100,00.

Desta forma, surgiu a idéia de plantar eucalipto

no meio da área de integração. Hoje, são vistos

renques de eucalipto por toda a fazenda. A dis-

tância entre cada linha dupla de eucalipto é de

24 metros. No intervalo entre as linhas duplas,

há o cultivo consorciado de grãos (verão) e pasto

(inverno).

Segundo o gerente da fazenda, Anábio Ribeiro,

com a integração, o pasto fica verde no auge da

seca, favorecendo a alimentação do gado, que

engorda, em média, 1,2 Kg diariamente. Este sis-

tema também proporciona nove safras a cada

oito anos: duas a três de grãos, cinco a seis safras

de pecuária e uma de eucalipto. Em 2012, por

Na safra 2010/2011, foram colhidas 35 mil sacas de milho e 20 mil sacas

de soja. O hectare de pastagem passou a render em torno de R$ 500,00.

Antes do projeto, não passava de R$ 100,00.

Marize Porto adota o sistema de iLPF em sua fazenda.

30

exemplo, será colhida a primeira safra de madei-

ra, com estimativa de ganho de aproximadamen-

te R$ 1 mil por hectare/ano.

Com a experiência adquirida em tecnologias de

baixa emissão de carbono, Marize não deixou

passar a oportunidade de crédito ofertada pelo

Programa ABC. Ela foi a primeira produtora ru-

ral a obter crédito do programa e revela que não

houve problemas para conseguir o financiamen-

to. Recebeu, inclusive, a visita do vice presidente

de Agronegócio do Banco do Brasil (BB), Osmar

Dias, que ficou bastante impressionado com o

que viu.

A fazenda Santa Brígida continuará inovando

com o apoio dos recursos do Programa ABC,

preparando-se para um futuro no qual as exi-

gências de mercado vão premiar os produtores

inovadores e, certamente, cobrar um custo alto

para os que resolveram apostar na continuida-

de da agricultura tradicional. É bom exemplo de

que a agricultura sustentável é viável em todos

os aspectos.

Plantio de soja e eucalipto.

Sistema silvipastoril.

31

Além da recuperação do solo, a implantação

do sistema integrado de lavoura e pecuária

ajuda a reduzir a emissão de carbono e o uso de

agrotóxicos.

Quem percorre os 1.250 hectares (ha) da fazen-

da Boa Vista, no município de Baldim (MG), não

imagina a transformação por que passou o solo

e o subsolo da propriedade nos últimos anos. O

que antes era um conjunto de terras inférteis

transformou-se, hoje, numa espécie de oásis

produtivo, em meio às áreas degradadas do cer-

rado próximas à Serra do Cipó, região central do

Estado de Minas Gerais. A fazenda, que suporta-

va, em 1992, um rebanho bovino de apenas 480

cabeças, aumentou sua capacidade produtiva

em mais de três vezes, graças à implantação de

técnicas de agricultura de baixo carbono. A pro-

priedade suporta atualmente 1.800 cabeças de

gado e teve o nível de água dos córregos elevado

com a construção das “barraginhas”, que retêm

a água das chuvas. “Sou um produtor de água

também”, brinca o proprietário da Boa Vista, o

engenheiro agrônomo Alysson Paolinelli.

Paolinelli, que foi ministro da agricultura em

meados da década de 1970, é um entusiasta da

agricultura de baixo carbono. Ele ouviu falar pela

primeira vez da técnica de recuperação de pasto,

conhecida como sistema Barreirão, no início dos

anos 1990. Curioso, decidiu conhecer de perto a

técnica que estava sendo desenvolvida numa fa-

zenda no Estado do Tocantins, pelos pesquisado-

res da Embrapa João Kluthcouski e Homero Aidar.

fazenda no cerrado de minas gerais recupera áreas degradadas com técnicas de agricultura de baixo carbono

Áreas recuperadas ocupadas com atividades agropecuárias

32

O Barreirão consiste em utilizar um arado aiveca

para tombar a terra e matar as ervas daninhas

e outras pragas que infestam o terreno. Depois,

corrigi-se o solo, aduba-se e planta-se o arroz

junto com uma forrageira. No caso da fazenda

Boa Vista, Paolinelli utilizou milho e braquiária

(capim). As duas plantas crescem juntas. A van-

tagem econômica desse sistema é que a receita

obtida com a venda do milho geralmente cobre

os custos do plantio e ainda deixa o pasto pron-

to para o gado engordar. Ao mesmo tempo, a

terra descompactada pelo arado acumula e re-

tém matéria orgânica no solo, o que o mantém

mais fértil.

Animado com os resultados, Paolinelli fez um

empréstimo junto ao Banco do Brasil para im-

plantar a técnica em 600 ha da fazenda. Perce-

beu, no entanto, que a formação do pasto pro-

porcionava uma boa produtividade no primeiro

ano, mas que não se sustentava nos anos se-

guintes. “No primeiro ano do Barreirão, coloquei

até cinco animais por hectare. Mas, no segundo

e terceiro ano, percebi que a capacidade de su-

porte do pasto caía muito. Aí, pensei: estou num

pau-de-sebo, na hora em que vou botar a mão

no dinheiro, escorrego e tenho que começar tudo

de novo”, brincou. Apesar das dificuldades, com

o sistema Barreirão foi possível recuperar 600

ha de pasto. O problema em continuar com esse

método era a oscilação de rendimentos. “Tinha

ano que empatava, tinha ano que ganhava um

pouquinho, tinha ano que perdia, porque aqui as

condições de chuvas não são as melhores”, expli-

ca Paolinelli.

Já no início dos anos 2.000, os mesmos pesqui-

sadores da Embrapa, Kluthcouski e Aidar, desen-

volviam os primeiros passos do sistema Santa Fé.

Essa técnica proporciona o aproveitamento do

solo do cerrado durante todo o ano. As terras são

cultivadas com lavouras anuais de verão, combi-

nadas com grãos e forrageiras. Após a colheita

dos grãos, por volta do mês de fevereiro, o capim

plantado cresce e fornece a pastagem no período

de entressafra (inverno). “Enquanto as fazendas

vizinhas começam a ficar com o pasto seco nessa

época, aqui o pasto está verde”, conta o técnico

em agropecuária e gerente da fazenda Boa Vista,

Miguel Rodrigues Neto.

Segundo Rodrigues Neto, as vantagens desse

sistema que integra lavoura e pecuária é a recu-

peração das características biológicas do solo, o

barateamento dos custos de produção e o rápido

Pastagens recuperadas

“Vale a pena não

economizar na

preparação do solo

no primeiro ano,

porque você não vai

fazer isso de novo.”

33

aumento da produtividade. No primeiro ano, o

plantio é feito de forma tradicional. O solo pre-

cisa ser arado, gradeado e corrigido com calcário

e gesso. Depois, aduba-se e são plantadas as se-

mentes do grão e da forrageira. “Vale a pena não

economizar na preparação do solo no primeiro

ano, porque você não vai fazer isso de novo”, ex-

plica Miguel. Na fazenda Boa Vista, foram plan-

tados soja e capim no primeiro ano. A colheita da

oleaginosa foi suficiente para cobrir os custos da

implantação do sistema e ainda deu para fazer a

ração animal. “Do primeiro para o segundo ano,

a produtividade da soja cresceu 100%. Passei de

20 sacas (60 kg) por hectare para 40 sacas e per-

cebi que a fertilidade do solo vai subindo a cada

ano”, afirma Paolinelli, que implantou o sistema

em 600 ha da fazenda.

Economia na emissão de carbono

Além das vantagens econômicas, o sistema

Santa Fé, que, na prática, é a integração de

lavoura e pecuária, permite produzir com a mí-

nima emissão de carbono. O sistema de rodízio

implantado na fazenda consistiu em aplicar o

método, no primeiro ano, em 200 ha. Depois, em

outros 200 ha e, assim, até completar 600 ha. No

quarto ano, o ciclo recomeça com o plantio de

grãos novamente nos primeiros 200 ha que rece-

beram o sistema. No entanto, dessa vez, não será

preciso utilizar o trator para arar o solo, tampou-

co será necessário aplicar calcário e gesso, uma

vez que a correção do solo já foi feita. O mesmo

procedimento se dará nos próximos 200 ha, até

completar o ciclo novamente.

É o ciclo que torna o método sustentável e, por-

tanto, mais eficiente na recuperação de áreas de-

gradadas do que o Barreirão. O solo permanece

rico em matéria orgânica e protegido das chuvas

e veranicos, porque o plantio é feito diretamente

na palha. O produtor rural economiza no gasto

do combustível, que seria usado no trator, e a

natureza agradece. Segundo Miguel Rodrigues,

para arar e gradear 600 ha são queimados cerca

de 1.500 litros de óleo diesel. Como não haverá

necessidade de fazer a preparação do solo, a pro-

dução deixa de emitir para atmosfera a quanti-

dade de carbono resultante da queima de 1.500

litros de óleo diesel. “É isso que chamo de agri-

cultura de baixo carbono”, empolga-se Miguel.

A fixação de carbono também ocorre porque o

solo não é revolvido, já que não é preciso passar

o arado. E a economia com insumos, de acordo

com cálculos do gerente da fazenda, chega a R$

840 por ha.

Com a integração lavoura-pecuária, Paolinelli

também percebeu que a necessidade de uso de

agrotóxicos diminuiu. Há cerca de oito anos uma

praga atacou o milho que ele havia plantado pelo

sistema tradicional, justamente para comparar

com o sistema integrado. Para sua surpresa, a la-

garta não se alastrou para o milho plantado pelo

sistema lavoura-pecuária. “Verificamos que a la-

garta não pula a cerca”, brinca Paolinelli, “porque

ela não consegue andar onde tem braquiária”.

Além disso, segundo ele, o uso de agrotóxicos nas

plantações consorciadas de grãos e capim dimi-

nui a cada ano, porque com a técnica “se estabe-

lece um equilíbrio biológico do solo onde a praga

tem mais dificuldade de proliferar”.

A implantação do sistema integrado de lavoura

e pecuária na fazenda Boa Vista foi uma expe-

riência exitosa. Foram recuperadas praticamente

todas as áreas degradadas da propriedade em

menos de 10 anos. Em vista do sucesso, Paolinelli

arrendou 700 ha de uma fazenda vizinha, onde

agora pretende, primeiro, recuperar o solo com

a implantação do sistema, para depois colocar

mais 1.200 cabeças de gado. Paolinelli pretende,

ainda, inserir mais um elemento no sistema in-

tegrado: o eucalipto. Além de diversificar a fon-

te de renda com a venda da madeira, o sistema

de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)

favorece o micro-clima das regiões onde são

plantadas as árvores. Ele chegou a fazer uma ex-

periência plantando eucalipto em um hectare da

fazenda e os resultados foram animadores. “Ma-

nejado de forma adequada, o eucalipto promove

a fertilização e o equilíbrio do solo por meio do

seu processo de fotossíntese”, explica.

34

Produtor de água

Além da implantação das técnicas de agricul-

tura de baixo carbono para recuperação das

áreas degradadas, a fazenda Boa Vista desenvol-

ve, há 10 anos, um sistema de armazenamento

das águas das chuvas que fez subir o leito dos

dois córregos que cortam a propriedade. São as

chamadas “barraginhas”, buracos cavados nos

pastos — geralmente onde surgem erosões —,

que retêm a água e impede que ela corra para

os córregos. “As barraginhas funcionam como

um pulmão da terra: no período das chuvas, elas

ficam cheias e aquela água acumulada, que es-

correria para o córrego, vai se infiltrando, ume-

decendo todo o subsolo, até chegar aos lençóis

freáticos”, explica Miguel. Além de elevar o nível

de água dos córregos, as barraginhas impedem

que a enxurrada “lave o pasto” e leve com ela os

nutrientes do solo.

A técnica de construir buracos que represam a

água no lugar onde antes era uma vossoroca

também ajuda a conter o avanço das erosões.

“Hoje eu não tenho mais erosão aqui”, comemo-

ra. Com isso, os rios sofrem menos o processo

de assoreamento, pois diminui a quantidade de

terra que a enxurrada levaria para o fundo dos

córregos. A experiência foi tão bem sucedida

que, há dois anos, Paolinelli estendeu a técnica

para a fazenda Santo Antônio, onde os efeitos

já são sentidos. “A cisterna de um morador des-

sa fazenda (Santo Antônio) sempre secava nos

meses de agosto e setembro, mas, hoje, isso não

acontece mais”, conta Miguel. Com o aumen-

to do nível dos córregos, Paolinelli já pensa em

implantar, em breve, um sistema de irrigação.

“Posso dizer que hoje sou um produtor de água

também”.

Área de preservação permanente.

35

cultura de baixo carbono à toda região tropical

do planeta e criar um código ambiental para os

trópicos. “O Brasil possui conhecimento científi-

co para elaborar um código ambiental para toda

região tropical do globo. Na minha visão, o Brasil

tem de assumir essa posição”, diz.

Quais as principais vantagens da agricul-tura de baixo carbono?

A recuperação de áreas degradadas, a meu ver, é

a maior vantagem. Aqui, nessa região de cerra-

do (centro do Estado de MG, próximo à Serra do

Cipó), se consome até 15 hectares para engordar

um único animal. Com a recuperação do solo,

dá pra colocar quatro, cinco e até mais animais

por hectare. A recuperação de áreas degradadas

permite aumentar a produção sem tocar nas flo-

restas nativas. No Brasil, temos cerca de 120 mi-

lhões de hectares de pastagens. Em torno de 90

a 100 milhões estão degradados.

entrevistA

por um código ambiental para as regiões tropicais do planetaEx-ministro da agricultura, defende a

liderança do Brasil em movimento para

levar a agricultura de baixo carbono a

outros países tropicais

O engenheiro agrônomo e produtor de gado

de corte Alysson Paolinelli é um convicto

das vantagens da agricultura de baixo carbono.

Aos 75 anos, esse mineiro de Bambuí, mostra

um entusiasmo juvenil ao falar das técnicas de

produção que recuperam solos degradados e

multiplicam a produtividade das lavouras bra-

sileiras. “Eu diria que qualquer terra degradada

deste País pode ser recuperada com as técnicas

de agricultura de baixo carbono”. Segundo Paoli-

nelli, 80% dos cerca de 120 milhões de hectares

de pastagens nativas no Brasil podem ser recu-

perados com a adoção dos sistemas integrados

de produção.

Ex-ministro da agricultura entre 1974 e 1979,

Paolinelli foi um dos grandes incentivadores do

papel da Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-

cuária (Embrapa) no desenvolvimento de uma

produção agropecuária pautada pela inovação

científica. “Foi a partir da criação da Embrapa

que o Brasil passou a ter saltos de produtivida-

de na agricultura”, diz. Na opinião dele, graças à

Embrapa, o Brasil foi o único País que conseguiu

desenvolver tecnologias de produção nos trópi-

cos, capaz de resolver dois graves problemas que

hoje afligem o mundo: a produção de alimentos

e de energia. “O Brasil sofreu muito enquanto

não acreditou na capacidade de criar um conhe-

cimento tecnológico próprio, o que só veio ocor-

rer na década de 1970”, relembra Paolinelli.

Nesta entrevista, na sede da fazenda Boa Vista,

em Baldim (MG), Paolinelli defendeu a idéia do

Brasil liderar um movimento para levar a agri-

36

Por que os sistemas integrados de produ-ção não são mais difundidos? São difíceis de se implantar?

Cada pasto é um caso. A Embrapa continua a

pesquisar esses sistemas. Essa é, ainda, uma

tecnologia em evolução. A caatinga, por exem-

plo, receberia muito bem os sistemas de inte-

gração, mas com outras plantas. É preciso estar

permanentemente discutindo. Esse processo é

contínuo. A agricultura foi descoberta há quatro

mil anos, nós estamos descobrindo a agricultura

tropical há 30 anos. A gente tem que entender

que as evoluções são permanentes.

O que falta para disseminar por todo o País a agricultura de baixo carbono?

O Governo precisa dar condições aos produto-

res rurais, porque isso é uma tecnologia de alto

capital. Tem de fazer como na época em que in-

centivou o plantio no cerrado da região Centro-

-Oeste, arriscando junto com o agricultor. Essa é

uma condição sine qua non.

No caso dos sistemas integrados de lavoura-

-pecuária e lavoura-pecuária-floresta (iLPF), por

exemplo, a dificuldade é que o produtor que só

planta grãos e fibras terá de se adaptar para

também produzir carne ou leite. Isso tem um

custo, porque ele terá que fazer o curral, com-

prar vacinas, ração, fazer a cerca. Enfim, a tran-

sição para a agricultura de baixo carbono exige

investimento.

Os recursos do Programa ABC do Governo Federal são suficientes?

Estamos lutando por esse Programa ABC há mui-

to tempo. Ele saiu porque, durante a COP-15, em

2009, conseguimos fazer chegar às mãos do então

presidente Lula e da sua ministra da Casa Civil na

época, Dilma Rousseff, esse sistema de integração

Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF). Eles ficaram en-

cantados. Com o compromisso acertado na COP-

15, foram destinados R$ 3 bilhões, mas é preciso

estimular, conversar com o produtor. Um serviço

de assistência técnica poderia ajudar a disseminar

a agricultura de baixo carbono pelo Brasil.

É possível exportar as técnicas da agricul-tura de baixo carbono para outros países?

Somente para os países de clima tropical. Nos

países de clima temperado, os agricultores têm

uma pequena janela para plantar, porque são

seis meses de neve por ano. A degradação de ter-

ras lá é maior do que aqui. Quando começa a cair

neve, o solo fica paralisado. Eles não têm como

produzir. Aqui, podemos produzir o ano inteiro.

Nessa última visita do presidente dos Estados

Unidos, Barack Obama, ao Brasil, ele quis nos

chamar a atenção para uma coisa muito im-

portante: o mundo hoje precisa de vocês. Vocês

desenvolveram uma tecnologia tropical, que é a

única que pode resolver dois grandes problemas

no mundo, a produção de alimentos e de energia.

Vim pedir a vocês que nos ajudem. Primeiro, au-

Alysson Paolinelli usa o sistema integração lavoura-pecuária.

37

xiliando seus países parceiros da América Latina.

Segundo, seus irmãos da África e as outras áre-

as tropicais do globo para produzir alimentos e

energia. Foi isso que o Obama veio dizer naquela

visita. Foi a primeira vez que um presidente da-

quele país não trouxe favores nem empréstimos

ao Brasil.

E o Brasil tem condições de atender a esse pedido?

Sim, dá pra levar essa agricultura de baixo car-

bono para toda área tropical do planeta. Na mi-

nha visão, o Brasil tem de assumir essa posição

e a Embrapa seria fundamental nesse processo.

Temos que pegar o Obama pela palavra. Os Esta-

dos Unidos ainda são a grande fonte de recursos

nesses organismos internacionais. Devemos le-

var essa tese ao Banco Mundial, ao Banco Intera-

mericano de Desenvolvimento, às grandes orga-

nizações internacionais e falar: nós aceitamos o

desafio do Obama. Temos conhecimento científi-

co para criar regras para um código ambiental de

toda região tropical do globo. Tenho certeza que

a presidente Dilma toparia esse desafio.

Já existem projetos de agricultura de baixo car-

bono em países como a Venezuela, Colômbia,

Peru e Angola. A minha tese é a de que a Embra-

pa precisa assumir um papel importantíssimo na

definição de um código de preservação ecológica

tropical. Ela é a única instituição, no mundo, que

tem conhecimento para isso. Para criar regras

ambientais é preciso se embasar em ciência e

não em “achismos”. O Brasil possui conhecimen-

to para isso.

Na Fazenda Boa Vista, não há mais erosão no solo.

38

Abertura do ciclo de seminários para divulgação do Plano ABC, na sede da CNA, em Brasília

Auditório lotado em Belo Horizonte (MG) e em Porto Alegre (RS) Capacitação de técnicos em Salvador (BA)

Uma das iniciativas previstas na segunda fase do Projeto ABC

Capacitação é o levantamento, em campo, dos custos da agricultura

tradicional e da agricultura de baixo carbono

39

pArceriA pArA divulgAr A AgriculturA de bAixo cArbono

CNA e Reino Unido capacitam produtores e técnicos

em seminários regionais

A CNA, em parceria com a Embaixada do

Reino Unido, desenvolve, desde 2011,

um projeto que tem como um dos prin-

cipais objetivos levar ao produtor rural conheci-

mento sobre as vantagens das técnicas, sistemas

e modelos sustentáveis da agricultura de baixo

carbono. Também está entre as metas do projeto

divulgar as linhas de financiamento da Agricul-

tura de Baixo Carbono (ABC), com foco no Pro-

grama ABC, do Governo federal, criado em 2010.

Para a CNA, essas iniciativas permitirão ao Brasil

mostrar ao mundo que é possível utilizar proces-

sos sustentáveis de produção de alimentos.

Nas etapas iniciais do projeto, foram feitos dois

estudos, sendo o primeiro para mapear o nível de

conhecimento da sociedade rural sobre a agri-

cultura de baixo carbono, e o segundo para iden-

tificar as exigências de mercados internacionais

sobre a sustentabilidade na produção. Os dados

obtidos a partir desses estudos foram consoli-

dados em dois workshops, realizados na sede da

CNA, em Brasília.

No estágio seguinte, foram organizados quatro

seminários regionais, realizados em Brasília (DF),

Belo Horizonte (MG), Salvador (BA) e Porto Ale-

gre (RS) para capacitação de técnicos das cin-

co regiões do País no tema. Sensibilizados para

a importância da agricultura de baixo carbono,

os 525 participantes dos seminários passaram a

divulgar o Programa ABC em seus Estados, in-

centivando o produtor rural a buscar acesso ao

financiamento na rede bancária.

Como parte do projeto, também foi elaborado o

Guia de Financiamento da Agricultura de Baixo

Carbono, com informações sobre o tema e as re-

gras para obtenção dos financiamentos, material

distribuído durante os seminários. Além disso,

desenvolveu-se um blog específico, com dados

sobre esse assunto, inclusive com avaliações

de especialistas. Em três meses, o blog recebeu

10.170 acessos, com média diária de 200 acessos.

Uma das iniciativas previstas na segunda fase do

Projeto ABC Capacitação é o levantamento, em

campo, dos custos da agricultura tradicional e da

agricultura de baixo carbono, além da pesquisa

dos custos de transição de um modelo para o

outro. Está prevista a publicação de uma cartilha,

com informações sobre os requisitos do banco

para se obter o crédito e a elaboração de projetos

para buscar o acesso à linha do Programa ABC,

além de novas capacitações nos Estados.

e em Porto Alegre (RS)

40

SitesFontes de consulta sobre agricultura de baixa emissão de carbono

e serviços ambientais:

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) |

<http://www.embrapa.br/>

Environmental Protection Agency (EPA) | <http://www.epa.gov/

sequestration/faq.html>

European Environment Agency (EEA) | <http://www.eea.europa.

eu/>

Farming futures | <http://www.farmingfutures.org.uk/>

Farming for a better climate | <http://www.sac.ac.uk/climate-

change/farmingforabetterclimate>

Global Environment Facility (GEF) | <http://www.thegef.org/gef/>

Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais

(ICONE) | <http://www.iconebrasil.org.br/pt/>

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) | <http://www.

inpe.br/>

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) | <http://

www.ipam.org.br/abc/glossario/letra/Z>

Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) | <http://

www.ipcc.ch/>

Low Carbon Options | <http://www.lowcarbonoptions.net/>

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) |

<http://www.agricultura.gov.br/abc/>

Página do Programa ABC no Facebook | <http://pt-br.facebook.

com/pages/Programa-ABC-Agricultura-de-Baixo-Carbono/237954

696259219?sk=wall&filter=12>

Registro Público de Emissões | <http://www.registropublicodee-

missoes.com.br/>

United Convention on Climate Change (UNFCCC) Nations – Fra-

mework | <http://unfccc.int/2860.php>

World Resources Institute (WRI) | <http://www.wri.org/publica-

tion/carbon-value-analysis-tool>

BibliografiaDocumentos | Endereços eletrônicos

A agricultura na EU: enfrentar o desafio das alterações climáticas

| <http://bit.ly/shNgt4>

Agricultura, mudanças climáticas e comércio: artigos selecionados

| <http://bit.ly/uABA7A>

A Low Carbon Development Guide for Local Government Actions

in China | <http://bit.ly/rLO0xu>

An introduction to low carbon farming | <http://bit.ly/tf0XYy>

Arborização de pastagens com espécies florestais madeireiras:

implantação e manejo | <http://bit.ly/s3tmF>

A short guide to the European Commission´s proposals for EU for

rural development after 2013 | <http://bit.ly/sLtFR7>

Best management practices for lowering greenhouse gases from

pastoral farming | <http://bit.ly/uzPQT>

Brasil: país de baixo carbono – estudo de caso | <http://bit.ly/

tCot5y>

Brazilian greenhouse gás emissions: the importance of agriculture

and livestock | <http://bit.ly/v5pLTE

Caminhos para uma economia de baixa emissão de carbono no

Brasil | <http://bit.ly/WIsJQ

Climate change: be part of the solution Focus on nutrient mana-

gement | <http://bit.ly/sznKAw

Comunicação Nacional Inicial do Brasil à Convenção - Quadro das

Nações Unidas sobre Mudança do Clima | <http://bit.ly/tFAHXb

Conservação sistêmica, REDD, e o futuro da Bacia Amazônica |

<http://bit.ly/sEfFR2

Contribuição da integração lavoura-pecuária para a agricultura de

baixo carbono | <http://bit.ly/uLTh3M

Desafios da agricultura brasileira na região Norte | <http://bit.

ly/rXl1M>

Estudo de baixo carbono para o Brasil: modelagem do uso da terra

no Brasil | <http://bit.ly/s38bP>

Guia para Determinação de Carbono em Pequenas Propriedades

Rurais | <http://bit.ly/rB5Ap>

Green jobs in a low carbon economy | <http://bit.ly/vYZ9P>

Livro verde sobre a informação e a promoção dos produtos agrí-

colas: uma estratégia com grande valor acrescentado europeu

para promover os sabores da Europa | <http://bit.ly/vBO5D>

Pathways to a Low – Carbon Economy | <http://bit.ly/swzHR>

Plano nacional sobre mudanças Do clima | <http://bit.ly/t9tov2>

Potencial de redução de emissão de equivalente de carbono de

uma unidade suinícola com biodigestor | <http://bit.ly/vPpnib>

Potencial florestal na conservação dos recursos naturais |

<http://bit.ly/rPAZEl>

Potencialidade do mecanismo “cap and trade” no Brasil | <http://

bit.ly/ru1Tmg>

Potential for carbon sequestration in European agriculture |

<http://bit.ly/uUVoT6>

Poverty reduction in a low carbon economy | <http://bit.ly/

rOxTr8>

Práticas de gestão para redução da emissão de gases de efeito

estufa e remoção de carbono na agricultura, pecuária e engenha-

ria florestal brasileira | <http://bit.ly/ujL8Y9>

Preparing for a low carbon agriculture | <http://bit.ly/tstCxS>

Propostas empresariais de políticas públicas para uma economia

de baixo carbono no Brasil: energia, transportes e agropecuária |

<http://bit.ly/cK2OEh>

Redução das emissões de carbono do desmatamento no Brasil:

o papel do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA) |

<http://bit.ly/w4bpto>

Resource guide for Indian Business: low carbon investment in

India | <http://bit.ly/v5TnL1>

Rumo a uma economia verde: caminhos para o desenvolvimento

sustentável e a erradicação da pobreza | <http://bit.ly/vqiLpf>

Semeando sustentabilidade | <http://bit.ly/vGFhve>

Soil carbon and organic farming: a review of the evidence of

agriculture´s potential to combat climate change | <http://bit.ly/

v2iRgu>

Trees in the greenhouse | <http://bit.ly/rtv62j>

WRI Annual Report 2010 - Think Solutions | <http://bit.ly/t0el-

DU>

CNA – CoNfederAção dA AgriCulturA e PeCuáriA do BrAsil

Diretoria executiva

Senadora Kátia abreu (to)Presidente

João MartinS da Silva Júnior (ba)1o Vice-Presidente

JoSé Zeferino PedroZo (SC)Vice-Presidente de Secretaria

JoSé Mário SChreiner (Go)Vice-Presidente de Finanças

fábio de SalleS MeireleS filho (MG)Vice-Presidente Executivo

CarloS rivaCi SPerotto (rS)Vice-Presidente Diretor

eduardo Corrêa riedel (MS)Vice-Presidente Diretor

JoSé raMoS torreS de Melo filho (Ce)Vice-Presidente Diretor

Júlio da Silva roCha Júnior (eS)Vice-Presidente Diretor

vice-presiDentes

áGide MeneGuetti (Pr)alMir MoraiS Sá (rr)álvaro arthur loPeS de alMeida (al)CarloS auGuSto Melo Carneiro da Cunha (Pi)CarloS fernandeS Xavier (Pa)eduardo Silveira Sobral (Se)fábio de SalleS MeirelleS (SP)flávio viriato de Saboya neto (Ce)franCiSCo ferreira Cabral (ro)JoSé hilton Coelho de SouSa (Ma)JoSé álvareS vieira (rn)luiZ iraçu GuiMarãeS ColareS (aP)Mário antônio Pereira borba (Pb)Muni lourenço Silva Júnior (aM)Pio Guerra Júnior (Pe)renato SiMPlíCio loPeS (df)roberto SiMõeS (MG)rodolfo tavareS (rJ)rui CarloS ottoni Prado (Mt)

2

ExpEdiEntE

Comissão NaCioNal de meio ambieNte

superiNteNdêNCia téCNiCa

Rosemeire Cristina dos Santos

equipe téCNiCa

Camila Nogueira Sande

Emanuela Da Rin Paranhos

Jessica Figueiredo

Nélson Ananias Filho

Rodrigo Justus de Brito

assessoria de ComuNiCação

Otília Rieth Goulart

Fabíola Salvador

Letícia Dias de Souza

Pablo Ulisses

Paulo Zarat Tavares

apoio

Banco do Brasil

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)

realização

Embaixada do Reino Unido

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

Fotos

Igo Estrela

Wenderson Araújo

projeto GráFiCo e diaGramação

Raruti Comunicação e Design