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Codigo Civil e legislacao Complementar - Home | … Boletim Oficial nº 23, de 9 de Junho de 1989..... 625 Resolução nº 9/90, de 18 de Abril de 1990 – ratifica, para adesão,

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    Cdigo Civil

    Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida por qualquer processoelectrnico, mecnico ou fotogrfico, incluindo fotocpia, xerocpia ou gravao,sem autorizao prvia do editor.

    Exceptuam-se as transcries de curtas passagens para efeitos de apresentao,crtica ou discusso das ideias e opinies contidas no livro. Esta excepo no pode,no entanto, ser interpretada como permitindo a transcrio de textos em recolhasantolgicas ou similares, da qual possa resultar prejuzo para o interesse pela obra.

    Os infractores so passveis de procedimento judicial, nos termos da lei.LISBOA

    2006

    GUIN-BISSAU

    Cdigo Civile

    Legislao Complementar

    FACULDADE DE DIREITO DE BISSAUCentro de Estudos e Apoio s Reformas Legislativas

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    Cdigo Civil

    NDICE GERAL

    Nota Prvia .......................................................................................................... 9

    Decreto-Lei n 47.344, de 25 de Novembro de 1966 aprova o Cdigo Civil ....... 15

    Portaria n 22.869 do Ministrio do Ultramar, de 4 de Setembro de 1967 torna extensivo s provncias ultramarinas o novo Cdigo Civil, aprovado peloDecreto-Lei n 47.344, de 25 de Novembro de 1966 Suplemento ao BoletimOficial n 38, de 25 de Setembro de 1967 ......................................................... 19

    Cdigo Civil

    Livro I Parte Geral ............................................................................................ 23

    Livro II Direito das Obrigaes ........................................................................ 119

    Livro III Direito das Coisas .............................................................................. 317

    Livro IV Direito da Famlia .............................................................................. 385

    Livro V Direito das Sucesses .......................................................................... 485

    Apndice

    Diploma Legislativo n 1.415, de 15 de Junho de 1948 (Foral da Cmara Municipalde Bissau) concesses de terrenos na rea limtrofe da cidade de Bissau 1Suplemento ao Boletim Oficial n 24, de 15 de Junho de 1948 ....................... 540

    Lei n 2.030, de 22 de Junho de 1948 expropriao de bens imveis comfundamento em utilidade pblica Dirio do Governo, I Srie, n 143, de 22de Junho de 1948 ................................................................................................ 555

    Decreto n 37.758, de 22 de Fevereiro de 1950 regulamento sobre expropriaesa que se refere a parte I da Lei n 2.030 Dirio do Governo, I Srie, n 36,de 22 de Fevereiro de 1950 ............................................................................... 579

    Lei n 2.063, de 3 de Junho de 1953 promulga a lei sobre recursos em matriade expropriaes por utilidade pblica Dirio do Governo, I Srie, n 117, de3 de Junho de 1953 ............................................................................................. 587

    Diploma Legislativo n 1.757, de 27 de Maio de 1961 alteraes ao Foral doMunicpio de Bissau Boletim Oficial n 21, de 27 de Maio de 1961 ............ 589

    Decreto-Lei n 47.952, de 22 de Setembro de 1967 Registo de Veculos Auto-mveis Dirio do Governo, I Srie, n 222, de 22 de Setembro de 1967 ........ 591

    Portaria n 23.089 do Ministrio do Ultramar, de 26 de Dezembro de 1967 torna extensivos s provncias ultramarinas com as alteraes constantes deste

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    Cdigo Civil

    diploma, o Decreto-Lei n 47.952 e o Decreto n 47.953, de 22 de Setembro de1967 (Registo de Veculos Automveis e seu Regulamento) Dirio do Governo,I Srie, n 298, de 26 de Dezembro de 1967 ...................................................... 599

    Lei n 1/73, de 24 de Setembro de 1973 acolhe o Direito portugus que no forcontrrio soberania nacional, Constituio, s leis ordinrias da Repblicae aos princpios e objectivos do PAIGC Boletim Oficial n 1, de 4 de Janeirode 1975 ................................................................................................................ 601

    Decreto n 24/74, de 31 de Dezembro de 1974 prazos vacatio legis BoletimOficial n 2, de 11 de Janeiro de 1975 .............................................................. 603

    Lei n 4/75, de 5 de Maio de 1975 integra o solo no domnio pblico do Estado Boletim Oficial n 19, de 10 de Maio de 1975 ............................................... 605

    Deciso n 2/76, de 28 de Fevereiro de 1976 aprova a nova unidade monetriada Repblica da Guin-Bissau Boletim Oficial n 9, de 28 de Fevereiro de1976 ..................................................................................................................... 607

    Lei n 3/76, de 3 de Maio de 1976 equipara as unies de facto reconhecidasjudicialmente aos casamentos 1 Suplemento ao Boletim Oficial n 18, de 4de Maio de 1976 ................................................................................................. 609

    Lei n 4/76, de 3 de Maio de 1976 abole as discriminaes entre filhos legtimose ilegtimos 1 Suplemento ao Boletim Oficial n 18, de 4 de Maio de 1976 ........ 611

    Lei n 5/76, de 3 de Maio de 1976 fixa a maioridade nos dezoito anos 1Suplemento ao Boletim Oficial n 18, de 4 de Maio de 1976 .......................... 613

    Lei n 6/76, de 3 de Maio de 1976 cria o novo regime jurdico do divrcio 1 Suplemento ao Boletim Oficial n 18, de 4 de Maio de 1976 ...................... 615

    Decreto n 21/80, de 17 de Maio de 1980 aprova o regulamento de caa Suplemento ao Boletim Oficial n 20, de 17 de Maio de 1980 ........................ 619

    Decreto-Lei n 4/86, de 29 de Maro de 1986 aprova o regime de explorao depedreiras Suplemento ao Boletim Oficial n 13, de 29 de Maro de 1986 ...... 621

    Resoluo n 5/88, de 16 de Maro de 1988 ratifica, para adeso, a Convenode Paris para a Proteco da Propriedade Industrial 2 Suplemento ao BoletimOficial n 11, de 16 de Maro de 1988 .............................................................. 623

    Decreto n 13-A/89, de 9 de Junho de 1989 Lei do Inquilinato 2 Suplementoao Boletim Oficial n 23, de 9 de Junho de 1989 .............................................. 625

    Resoluo n 9/90, de 18 de Abril de 1990 ratifica, para adeso, a Convenode Berna relativa Proteco das Obras Literrias e Artsticas 2 Suplementoao Boletim Oficial n 16, de 18 de Abril de 1990 ............................................. 653

    Decreto-Lei n 4-A/91, de 29 de Outubro de 1991 aprova a Lei Florestal Suplemento ao Boletim Oficial n 43, de 29 de Outubro de 1991 ................... 655

    Decreto-Lei n 5-A/92, de 17 de Setembro de 1992 aprova o Cdigo de guas Suplemento ao Boletim Oficial n 37, de 17 de Setembro de 1992 .............. 683

    Lei n 1/97, de 19 de Maro de 1997 aprova a nova unidade monetria daRepblica da Guin-Bissau Suplemento ao Boletim Oficial n 12, de 24 deMaro de 1997 .................................................................................................... 699

    Decreto-Lei n 6/97, de 27 de Maio de 1997 reforma os Servios de Registos eNotariado 3 Suplemento ao Boletim Oficial n 21, de 27 de Maio de 1997 ...... 701

    Lei no 13/97, de 2 de Dezembro de 1997 altera o regime jurdico do negciousurrio Boletim Oficial n 48, de 2 de Dezembro de 1997 ........................... 715

    Lei n 5/98, de 28 de Abril de 1998 aprova a Lei da Terra Suplemento aoBoletim Oficial n 17, de 28 de Abril de 1998 .................................................. 719

    Decreto-Lei n 6-A/2000, de 22 de Agosto de 2000 quadro legal da pesca,racionalizao da explorao de recursos haliuticos, vigilncia e fiscalizaodas guas martimas e sanes sobre navios pesqueiros Suplemento ao BoletimOficial n 34, de 22 de Agosto de 2000 .............................................................. 737

    Decreto-Lei n 9/2000, de 25 de Setembro de 2000 Lei de Arbitragem Boletim Oficial n 40, de 2 de Outubro de 2000 ............................................... 759

    Constituio da Repblica da Guin-Bissau Prembulo. Artigos 1, 6, 9, 11,12, 13, 23, 24, 25, 26, 28, 29, 33, 41, 52 e 55 ....................................... 775

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    NOTA PRVIA

    1. Constitui prtica corrente das edies jurdicas dos nossos dias a elaborao deColectneas de legislao que auxiliem os profissionais do Direito a trabalhar com umsistema legal empolado por uma crescente produo legislativa imputvel a umcomplexo conjunto de razes.

    Por um lado, a filosofia de organizao e a unidade sistemtica que presidiu concepo originria dos textos codificados mostra-se dificilmente compatvel como constante progresso do conhecimento jurdico traduzido na criao de novosinstitutos como as clusulas contratuais gerais ou o direito real de habitao peridica e na progressiva especializao e aprofundamento de segmentos normativos cujasnecessidades de regulao se antes se satisfaziam com a simples aplicao das regrasgerais definidas nos grandes Cdigos, exigem agora a adopo de minuciosas disciplinasespeciais, como, entre outras, a legislao do consumo, malgrado ainda lhes faltar adensidade normativa bastante que justificaria a sua autnoma codificao.

    Por outro, assiste-se a uma patente obsesso regulamentadora, que ameaa reduzirum salutar espao livre de Direito, mormente, no domnio das relaes para-familiares, sua expresso mais residual.

    Estes fenmenos, agravados pela instabilidade quase crnica de reas clssicascomo o arrendamento urbano, que aconselharam a sua sada dos Cdigos para os poupara constantes alteraes e pelos processos de integrao regional que, desenvolvendo--se um pouco por todo o lado, conhecem a sua prpria produo jurdica, tornaram, noseu conjunto, v, a antiga pretenso do movimento codificador de esgotar a disciplinanormativa de um determinado ramo ou sub-ramo do ordenamento1.

    2. Deste modo, a concentrao num nico instrumento editorial da pertinentelegislao extravagante, revela-se de uma utilidade manifesta para servir as neces-sidades permanentes de consulta dos profissionais do foro, docentes e alunos uni-versitrios, empresas, Administrao Pblica e demais interessados, ao facilitar-lhesa pesquisa e localizao das conexes materiais entre a pluralidade de fontes com quetm de trabalhar, contribuindo, como mister para a sua aplicao articulada e, emespecial, para o acerto e superior qualidade tcnica das decises que os Tribunaistenham de tomar.

    Apesar da actividade legislativa desenvolvida pela Guin-Bissau nos pouco maisde trinta anos posteriores independncia se mostrar relativamente escassa, no lheaproveitando portanto algumas das razes acima apontadas que tm funcionado, em

    1 Cf., contudo, MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Portugus, I Parte Geral, tomoI, 3 edio (2005) 271-280, sobre os actuais dilemas que se deparam sistematizao da legislaocivil portuguesa na perspectiva da reforma do Cdigo de 1966, debatendo-se entre correcespontuais, recodificao do Direito civil e codificao do Direito privado.

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    Cdigo Civil

    geral, como importantes factores do processo de descodificao, algumas singularidadesdos processos tcnicos quase que sistematicamente adoptados pelo legislador guineense,mais do que justificam, no obstante, a organizao da presente Colectnea.

    3. Logo em 1976, foi aprovado um primeiro conjunto de diplomas (Leis ns 3, 4, 5e 6 de 1976) que, embora a uma escala substancialmente mais reduzida, propuseram-sedesempenhar uma funo similar do Decreto-Lei n 496/77, de 25 de Novembro de1977, em Portugal.

    Serviram, a um s tempo, para adequar o Cdigo Civil aos novos princpios cons-titucionais que consagraram a igualdade entre homens e mulheres e a abolio dadiscriminao dos filhos nascidos fora do casamento e transpor para a lei ordinriaconcepes ideolgicas ento emergentes sobre a precocidade da maturidade juvenil recuando a maioridade para os dezoito anos e a dignidade das unies de facto,merecedoras de equiparao legal aos casamentos, desde que reconhecidas judicialmente.

    Todavia, ao contrrio do que sucedeu com a reforma portuguesa de 1977, queinterveio directamente sobre o prprio texto do Cdigo, procedendo revogaoexpressa de diversas disposies, aditando umas quantas outras e inserindo nos seuslugares prprios todas as alteraes introduzidas, mantendo-o poca praticamentecomo a nica fonte de Direito Civil, o legislador da Guin-Bissau quase que manteveformalmente intacto o Cdigo Civil, limitando-se, por um lado, a revogar expressa-mente todo o Captulo XII do Livro IV (Divrcio e separao judicial de pessoas ebens), com excepo do artigo 1789 e, por outro, quanto ao resto, recorreu quasesempre tcnica da revogao tcita ou indirecta, determinando a cessao davigncia de todas as disposies que se devessem considerar incompatveis com opreceituado nos novos diplomas2.

    Semelhante procedimento foi ainda adoptado pela Lei n 13 de 1997 que, nasequncia da adeso do pas Unio Econmica e Monetria Oeste africana (UEMOA)alterou o regime do negcio usurrio, visando a sua harmonizao com o DireitoComunitrio e, em parte, pela prpria Lei do Inquilinato de 1989 que, embora tenharevogado expressamente o Decreto n 43.525 de 7 Maro de 19613, no deixou tambmde se socorrer do instrumento da revogao global tcita quanto demais legislaosobre arrendamento urbano que se devesse considerar contrria ao seu articulado.Excepo digna de registo foi dada pela Decreto-Lei n 6 de 1997, que deu novaredaco aos artigos 714 (forma da hipoteca voluntria) e 1143 (forma do contratode mtuo) do Cdigo Civil.

    Posto que razoveis os motivos que, num determinado contexto, possam justificaro recurso tcnica da revogao tcita, pela eventual dificuldade em determinardirectamente todos os preceitos do ordenamento atingidos pela nova lei o que, alis,nem era o caso, uma vez que o Cdigo de 1966 concentrava de forma exaustiva adisciplina civil abrangida pelos diplomas referidos so, contudo, conhecidos ossrios inconvenientes inerentes sistemtica utilizao daquele tipo de procedimento,o qual pode implicar srios melindres tcnicos.

    Embora tudo dependa dos exactos termos em que se processa, a revogao indirectainveste quase que necessariamente julgadores e estudiosos na delicada responsabilidadede apurar a existncia e extenso da contrariedade entre a lei nova e a antiga, valendocomo eventual factor de incerteza tanto na prpria determinao dos normativos emvigor, como na definio de regimes e, consequentemente, na aplicao do Direito.Com efeito, embora na maioria das hipteses se admita que o apuramento dasincompatibilidades seja de uma facilidade liminar, noutras suscitam-se dvidas legtimassobre o sentido com que devem valer certos regimes seno sobre a sua prpriasubsistncia em que apenas foram introduzidas alteraes isoladas de elementosdeterminados ou mesmo sobre a aplicao subsidiria das disposies do CdigoCivil, devido efectiva incompletude das novas leis, apesar destas se terem propostoproceder revogao global tcita da regulao anterior, como a do Inquilinatorelativamente legislao sobre arrendamento urbano.

    Como exemplos manifestos do primeiro grupo de casos acima referido, confira-seo teor das anotaes ao artigo 132, que define as causas de emancipao e artigo 9704,que dispe sobre a revogao das doaes por supervenincia de filhos e do segundo,o artigo 1037, que trata dos actos que impedem ou diminuem o gozo da coisa locadae artigo 1040, n 3, que identifica os familiares do locatrio para efeitos de reduoda renda ou aluguer por motivo no atinente s suas pessoas, entre outras disposiesque causam problemas similares5.

    O minimalismo da Reforma de 1976 e a persistente omisso legislativa que se lheseguiu criaram ainda uma outra espcie de dificuldades, atinentes agora ostensivainsuficincia da adequao da lei ordinria s directivas constitucionais, como sucede,

    2 Frmula que, em rigor, suprflua, pois que as disposies contrrias se devem haver sempre portacitamente revogadas. Cf., OLIVEIRA ASCENSO, O Direito Introduo e Teoria Geral, 11edio (2003), 301 e GALVO TELLES, Introduo ao Estudo do Direito, 11 edio (reimpresso--2001), 111 (nota 46).

    3 Mantido em vigor pela Portaria n 22.869 que estendeu ao antigo Ultramar portugus a aplicaodo Cdigo Civil de 1966 mas cujo artigo 3, n 2 ressalvou da revogao global prescrita no n 1 alegislao privativa de natureza civil, emanada dos rgos legislativos metropolitanos (como era o casodo Decreto n 43.525 de 7 Maro de 1961) ou provinciais, que vigorasse em cada provncia ultramarina.

    4 A teleologia primitiva da disposio que visava favorecer os interesses patrimoniais dos filhoslegtimos foi, como bvio, definitivamente prejudicada pelo fim da discriminao da descendnciailegtima mas em abstracto tanto se poderia sustentar a subsistncia da norma, agora alargada aos filhosnascidos fora do casamento, como defender a sua revogao, por ter desaparecido a figura da filiaoilegtima que dava razo de ser ao privilgio concedido sua categoria antittica pela redacooriginria do artigo 970. Porm, em concreto, o sentido do artigo 3 da Lei n 4/76 aponta claramentepara a prevalncia da primeira interpretao.

    5 O artigo 1, n 1, da Lei do Inquilinato de 1989, atribui mera funo subsidiria s disposiesgerais e prprias do contrato de locao do Cdigo Civil que no contrariem o seu preceituado. Logo,no seria o caso do artigo 1037 do Cdigo Civil que prima facie teria sido substitudo pelo dispostono artigo 37 da nova Lei, atenta a identidade do objecto regulado. O confronto entre as duas normasaponta, todavia, em sentido contrrio, conforme se defende na cuidadosa anotao ao preceito, paraa qual se remete. A entender-se de outro modo, estar encontrada uma lacuna, a integrar nos termosgerais.

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    Cdigo Civil

    por exemplo, de forma patente, com a coliso frontal entre o princpio da liberdade deconstituio de associaes, consagrado no artigo 55 da Constituio e a disciplinafixada pelo artigo 158 do Cdigo Civil que condiciona a aquisio de personalidadejurdica ao seu reconhecimento casustico. A forosa prevalncia do comando cons-titucional no afasta a indispensabilidade de corrigir a lei civil, neste como em tantosoutros lugares, para evitar graves contradies sistemticas.

    4. Ao trabalho dos consultores incumbidos de anotar a redaco originria doCdigo Civil que, no contexto da Guin-Bissau, assumiu carcter quase pioneiro no presidiram objectivos de construo dogmtica, mas to s preocupaes decarcter exegtico das disposies que sofreram interveno legislativa, assumindo,pois, o prstimo de sublinhar as necessrias articulaes com o articulado constitucionale a legislao ordinria avulsa posterior independncia e constituindo, nessa medida,um importante elemento de apoio tarefa legal, que tarda, de proceder reformaintegrada do diploma de 1966.

    A valia desta consultoria vai, todavia, mais alm, porque, pela primeira vez, chamaa ateno de uma forma sistemtica, embora naturalmente limitada sua rea deinterveno, para a importncia de um outro empreendimento de harmonizaojurdica de alcance muito mais vasto, que tem por objecto o ajustamento entre o Direitointerno da Guin-Bissau e os Actos Uniformes adoptados pela Organizao para aHarmonizao em frica do Direito dos Negcios (OHADA)6.

    Iniciados em 1991 os trabalhos preparatrios, sob a coordenao de um Directrio,presidido pelo prestigiado jurista senegals KEBA MBAYE, antigo vice-presidentedo Tribunal Internacional de Justia, a OHADA foi instituda pelo Tratado celebradoem Port-Louis, nas Ilhas Maurcias, a 17 de Outubro de 1993, a que a Guin-Bissau sevinculou pela Resoluo n 1/94 do Conselho de Estado, publicada no Boletim Oficialn 3 (Suplemento), de 17 de Janeiro de 1994.

    At hoje, o Direito derivado desta Organizao materializou-se j na adopo deoito Actos Uniformes que, no seu conjunto, provocaram profundas modificaes naordem jurdica privatstica de expresso predominantemente patrimonial, sem embargoda significativa incidncia imposta a importantes sectores do Direito Pblico.

    Ora, uma das caractersticas que particulariza este processo de integrao jurdicadesenvolvido pela OHADA consiste em todo ele operar por meio de instrumentosnormativos assistidos de eficcia directa e obrigatria nos Estados partes, dispensando,portanto, qualquer interveno legislativa nacional que condicione a produo deefeitos na esfera interna e vigorando independentemente de publicao nos respectivosBoletins Oficiais.

    Trata-se, enfim, de um mtodo de perfeita uniformizao jurdica, que, ao derrogar,por fora do disposto no artigo 10 do Tratado, toda e qualquer disposio de direitointerno anterior ou posterior que lhe seja contrria, constitui, portanto, Direitosupranacional com carcter supra-legal.

    Assinale-se ainda que, embora a incidncia da OHADA se manifeste sobretudo nodomnio comercial, alguns dos Actos Uniformes vigentes conhecem, contudo, sriasrepercusses na legislao civil, nomeadamente, no regime das garantias, conformese reala nas correspondentes anotaes.

    Da que, estando em curso a consultoria jurdica confiada pelo Governo da Guin--Bissau Faculdade de Direito de Lisboa, em colaborao com a Faculdade de Direitode Bissau, com o apoio financeiro do Instituto Portugus de Apoio ao Desenvolvimentoe do Banco Mundial, para realizar a harmonizao jurdica entre o Direito interno dopas e os Actos Uniformes da OHADA, se perspective para breve uma reforma maisalargada do Cdigo Civil, que poder ser aproveitada para levar a cabo os restantesajustamentos que esto h largo tempo por fazer.

    5. Ao chamar a si a responsabilidade de organizar a presente Colectnea, o Centrode Estudos e Apoio s Reformas Legislativas da Faculdade de Direito de Bissaurecorreu, como natural, aos seus quadros docentes para seleccionar os consultoresaos quais foi confiada a incumbncia de procederem s pertinentes anotaes daredaco originria do Cdigo e de coligirem a legislao extravagante materialmenteconexa, aprovada aps a independncia7.

    O critrio de escolha dos consultores respeitou a distribuio de servio docentepara o ano lectivo de 2005/06, recaindo, por isso, sobre a Dr. Mnica Freitas, regentede Teoria Geral do Direito Civil, a reviso do Livro I; a reviso do Livro II foi confiada Dr. Cludia Madaleno, regente de Direito das Obrigaes e dos Contratos emEspecial; a do Livro III foi atribuda ao Dr. Juliano Fernandes, regente de Direitos Reaise Direito Agrrio e a dos Livros IV e V ao Mestre Fod Abulai Man, regente de Direitoda Famlia e das Sucesses.

    Os mtodos de trabalho adoptados variaram tanto na substncia como na forma,havendo consultores que optaram por cingir essencialmente o teor das anotaes aremisses para a Constituio e legislao especial e outros que preferiram desenvolv--las, confrontando as vrias solues possveis para os problemas encontrados, recorrendo,nalguns casos, ao concurso de elementos de Direito comparado, em especial, da ordemjurdica portuguesa.

    A coordenao dos trabalhos, que coube ao Presidente do Centro de Estudos,respeitou integralmente a autonomia cientfica dos consultores, preocupando-se,sobretudo, em evitar desarmonias tcnicas de fundo e garantir a exaustividade dalegislao avulsa compilada8.

    6. Embaixada dos Estados Unidos em Dakar so devidos os mais rasgados epblicos agradecimentos por ter patrocinado os custos desta edio, reatando-se, assim,

    6 Sobre a natureza, objectivos e a aco legislativa desenvolvida pela OHADA, cf., Boletim n6 da Faculdade de Direito de Bissau, Nota Prvia, 2-16, Junho de 2004.

    7 Alm de alguns diplomas anteriores independncia, que o consultor do Livro III entendeupor bem coligir por os considerar relevantes.

    8 Dentre os mltiplos diplomas citados nas anotaes, h apenas um ou outro que se decidiu nopublicar no Apndice, por se considerar que a conexo material com as disposies do Cdigo Civilera demasiado remota para o justificar.

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    Cdigo Civil

    uma frtil e intensa relao de colaborao iniciada no princpio dos anos noventa coma USAID/TIPS (United States Agency for International Development/Trade andInvestment Promotion Support Project) e que tinha sido interrompida na sequncia doconflito militar de 1998.

    nossa aluna do 4 ano, Osvaldina Ado, uma palavra tambm de muito apreo peloentusiasmo, perseverana e eficincia com que desempenhou as funes de ligaocom a Embaixada dos Estados Unidos, muito se lhe devendo pela forma feliz comotodo este processo se desenrolou.

    Finalmente, espera-se que esta edio seja apenas a primeira de uma Coleco deColectneas legais que o Centro de Estudos e Apoio s Reformas Legislativas daFaculdade de Direito de Bissau se prope organizar. Com efeito, em Novembro de2005, foi apresentado um plano global que contempla a edio de Colectneas deDireito Penal e Processual Penal, Direito Processual Civil e Direito Administrativo,aguardando-se resposta que, sendo positiva, permitir cobrir as reas nucleares doordenamento jurdico da Guin-Bissau9 10.

    Bissau, Maro de 2006

    CENTRO DE ESTUDOS E APOIO S REFORMAS LEGISLATIVAS

    Rui Paulo Coutinho de Mascarenhas Atade

    9 Alm destas edies do Centro de Estudos, cumpre realar a excelente iniciativa que se con-substanciou na Colectnea Legislao Econmica da Guin-Bissau, organizada pelos Mestres EmlioKafft Kosta, da Faculdade de Direito de Bissau, e Ricardo Borges, da Faculdade de Direito de Lisboa,publicada em Coimbra pela Editora Almedina em Setembro de 2005.

    10 Cumpre ainda louvar o minucioso e competente trabalho de reviso de provas efectuado peloaluno Duarte Hermenegildo Vaz. Advirta-se, alis, que os lapsos subsistentes no articulado dosdiplomas publicados em Apndice, no eram susceptveis de correco, uma vez que constam dasua prpria redaco originria.

    Decreto-Lei n 47.344, de 25 de Novembro de 1966

    Usando da faculdade conferida pela 1 parte do n 2 do artigo 109 da Constituio,o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:

    Artigo 1(Aprovao do Cdigo Civil)

    aprovado o Cdigo Civil que faz parte do presente decreto-lei.

    Artigo 2(Comeo de vigncia)

    1. O Cdigo Civil entra em vigor no continente e ilhas adjacentes no dia 1 de Junhode 1967, excepo do disposto nos artigos 1841 a 1850, que comear a vigorarsomente em 1 de Janeiro de 1968.

    2. O cdigo no , porm, aplicvel s aces que estejam pendentes nos tribunaisno dia da sua entrada em vigor, salvo o disposto nos artigos 17 e 21 do presentedecreto-lei.

    Artigo 3(Revogao do direito anterior)

    Desde que principie a vigorar o novo Cdigo Civil, fica revogada toda a legislaocivil relativa s matrias que esse diploma abrange, com ressalva da legislao especiala que se faa expressa referncia.

    Artigo 4(Remisses para o Cdigo de 1867)

    Todas as remisses feitas em diplomas legislativos para o Cdigo Civil de 1867consideram-se feitas para as disposies correspondentes do novo cdigo.

    Artigo 5(Aplicao no tempo)

    A aplicao das disposies do novo cdigo a factos passados fica subordinada sregras do artigo 12 do mesmo diploma, com as modificaes e os esclarecimentosconstantes dos artigos seguintes.

    Artigo 6(Pessoas colectivas)

    As disposies dos artigos 157 a 194 do novo Cdigo Civil no prejudicam asnormas de direito pblico contidas em leis administrativas.

    Decreto-Lei n 47.344, de 25 de Novembro de 1966

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    Cdigo Civil

    Artigo 7(Interdies)

    Os dementes, surdos-mudos ou prdigos que tenham sido total ou parcialmenteinterditos do exerccio de direitos, ou venham a s-lo em aces pendentes, mantmo grau de incapacidade que lhes tiver sido ou vier a ser fixado na sentena ou queresultar da lei anterior.

    Artigo 8(Privilgios creditrios e hipotecas legais)

    1. No so reconhecidos para o futuro, salvo em aces pendentes, os privilgiose hipotecas legais que no sejam concedidos no novo Cdigo Civil, mesmo quandoconferidos em legislao especial.

    2. Exceptuam-se os privilgios e hipotecas legais concedidos ao Estado ou a outraspessoas colectivas pblicas, quando se no destinem garantia de dbitos fiscais.

    Artigo 9(Sociedades universais e familiares)

    s sociedades universais e familiares constitudas at 31 de Maio de 1967 seroaplicveis, at sua extino, respectivamente, as disposies dos artigos 1243 a1248 e 1281 a 1297 do Cdigo Civil de 1867.

    Artigo 10(Arrendamentos em Lisboa e Porto)

    Enquanto no for revista a situao criada em Lisboa e Porto pela suspenso dasavaliaes fiscais para o efeito da actualizao de rendas dos prdios destinados ahabitao, mantm-se o regime excepcional da Lei n 2.030, de 22 de Junho de 1948,quanto a esses arrendamentos.

    Artigo 11(Parceria agrcola)

    Ao contrato de parceria agrcola so aplicveis, para o futuro, as disposies queregulam o arrendamento rural.

    Artigo 12(Foros do Estado)

    Na determinao do quantitativo do laudmio nos foros do Estado, para efeitos dodisposto no artigo 1517 do novo Cdigo Civil, atender-se- ao valor dos respectivosprdios que resulte da matriz.

    Artigo 13(Anulao do casamento)

    1. Os casamentos civis celebrados at 31 de Maio de 1967 no podem ser declaradosnulos ou anulados, se para tal no houver fundamento reconhecido tanto pela lei antigacomo pela nova lei civil, a no ser que j esteja pendente, naquela data, a respectivaaco.

    2. O disposto nos artigos 1639 a 1646 do novo cdigo aplicvel s aces queforem intentadas depois de 31 de Maio de 1967, sem prejuzo do que, relativamenteaos prazos, prescreve o artigo 297 do mesmo diploma.

    Artigo 14(Efeitos do casamento)

    O disposto nos artigos 1671 a 1697 do novo cdigo aplicvel aos casamentoscelebrados at 31 de Maio de 1967, mas em caso algum sero anulados os actos praticadospelos cnjuges na vigncia da lei antiga, se em face desta no estiverem viciados.

    Artigo 15(Regime de bens)

    O preceituado nos artigos 1717 a 1752 s aplicvel aos casamentos celebradosat 31 de Maio de 1967 na medida em que for considerado como interpretativo dodireito vigente, salvo pelo que respeita ao n 2 do artigo 1739.

    Artigo 16(Doaes para casamento e entre casados. Separao e divrcio)

    1. Sem prejuzo da regra estabelecida no n 2 do artigo 2 deste decreto-lei, soaplicveis aos casamentos celebrados at 31 de Maio de 1967 as disposies do novoCdigo Civil relativas caducidade das doaes para casamento, s doaes entrecasados, separao dos cnjuges ou dos seus bens e ao divrcio.

    2. No pode, no entanto, ser decretada a separao judicial de pessoas e bens ou odivrcio de cnjuges casados at 31 de Maio de 1967 com fundamento em facto queno seja relevante segundo a lei vigente data da sua verificao.

    Artigo 17(Converso da separao em divrcio)

    O disposto no artigo 1793 aplicvel nas aces pendentes e nos processos findos data da entrada em vigor do novo Cdigo Civil.

    Artigo 18(Impugnao da legitimidade)

    1. At 31 de Outubro de 1967 pode o marido da me intentar aco de impugnaoda paternidade, com fundamento em qualquer dos factos referidos nas alneas c) e d)do artigo 1817 do novo Cdigo Civil, relativamente ao filho nascido antes da entradaem vigor deste diploma, com prejuzo do disposto no artigo 1818.

    2. Dentro do mesmo prazo sero recebidos nos tribunais de menores os requerimentosa que se refere o artigo 1820, seguindo-se os demais termos da impugnao oficiosa,desde que o filho tenha menos de catorze anos de idade data da apresentao dorequerimento.

    Decreto-Lei n 47.344, de 25 de Novembro de 1966

  • 1918

    Cdigo Civil

    Artigo 19(Aces de investigao de maternidade ou paternidade ilegtima)

    O facto de se ter esgotado o perodo a que se refere o n 1 do artigo 1854 no impedeque as aces de investigao de maternidade ou paternidade ilegtima sejampropostas at 31 de Maio de 1968, desde que no tenha caducado antes, em face dalegislao anterior, o direito de as propor.

    Artigo 20(Filhos adulterinos)

    Os assentos secretos de perfilhao de filhos adulterinos, validamente lavrados aoabrigo da legislao vigente, tornar-se-o pblicos mediante averbamento oficioso,sempre que sejam passadas certides do respectivo registo de nascimento.

    Artigo 21(Tutela e curatela)

    As disposies do novo Cdigo Civil relativas tutela e curatela so aplicveiss tutelas e curatelas instauradas at 31 de Maio de 1967; porm, os tutores e oscuradores j nomeados manter-se-o nos seus cargos enquanto deles no se escusaremou enquanto no forem removidos ou exonerados.

    Artigo 22(Declarao de nulidade ou anulao de testamento

    ou de disposies testamentrias)Os testamentos anteriores a 31 de Maio de 1967 e as disposies testamentrias

    neles contidas s podem ser declarados nulos ou anulados, por vcio substancial oude forma, se o respectivo fundamento for tambm reconhecido pelo novo CdigoCivil, salvo se a aco j estiver pendente naquela data.

    Artigo 23(Testamentaria)

    As atribuies do testamenteiro so as que lhe forem fixadas pela lei vigente datada feitura do testamento.

    Publique-se e cumpra-se como nele se contm.

    Paos do Governo da Repblica, 25 de Novembro de 1966. AMRICO DEUSRODRIGUES THOMAZ Antnio de Oliveira Salazar Antnio Jorge Martins da MotaVeiga Manuel Gomes de Arajo Alfredo Rodrigues dos Santos Jnior Joo de MatosAntunes Varela Ulisses Cruz de Aguiar Corts Joaquim da Luz Cunha FernandoQuintanilha Mendona Dias Alberto Marciano Gorjo Franco Nogueira Eduardode Arantes e Oliveira Joaquim Moreira da Silva Cunha Inocncio Galvo Teles Jos Gonalo da Cunha Sottomayor Correia de Oliveira Carlos Gomes da SilvaRibeiro Jos Joo Gonalves de Proena Francisco Pereira Neto de Carvalho.

    Para ser presente Assembleia Nacional.

    SUPLEMENTO AO BOLETIM OFICIAL N 38,DE 25 DE SETEMBRO DE 1967

    Portaria n 22.869, de 4 de Setembro de 1967

    MINISTRIO DO ULTRAMARDireco-Geral de Justia

    Com a publicao na metrpole do novo Cdigo Civil, aprovado pelo Decreto-Lein 47.344, de 25 de Novembro de 1966, torna-se necessria a sua aplicao ao ultramarportugus, no s como afirmao poltica da unidade nacional, mas tambm pelaconvenincia de regular uniformemente as mltiplas relaes de direito privado detodos os portugueses, qualquer que seja o local do territrio nacional onde se encontrem,com excepo apenas dos que ainda se regem pelos usos e costumes legalmentereconhecidos e s na medida em que a lei admite a sua observncia. Mas mesmo a esteso novo Cdigo Civil aplicvel sempre que optem pela lei geral ou quando entremem relao com pessoas de diferente estatuto pessoal e no exista lei especial a prevenira hiptese, nem tenha sido escolhida outra lei reguladora dessas relaes.

    Por outro lado, h ainda que ressalvar a diversa legislao privativa de natureza civildas provncias ultramarinas, quando traduz interesses superiores, situaes enraizadasnas tradies locais ou condicionalismos prprios que convm respeitar.

    Nestes termos:Ouvido o Conselho Ultramarino, usando da faculdade conferida pelo n III da base

    LXXXIII da Lei Orgnica do Ultramar Portugus:Manda o Governo da Repblica Portuguesa, pelo Ministro do Ultramar, o seguinte:

    1 tornado extensivo s provncias ultramarinas o novo Cdigo Civil, aprovadopelo Decreto-Lei n 47.344, de 25 de Novembro de 1966.

    2 1. O Cdigo Civil entra em vigor em todo o territrio ultramarino no dia 1 deJaneiro de 1968, excepo do disposto nos artigos 1841 a 1850, que comear avigorar somente em 1 de Agosto do mesmo ano.

    2. O Cdigo no , porm, aplicvel s aces que estejam pendentes nos tribunaisno dia da sua entrada em vigor, salvo o disposto nos artigos 15 e 19 da presenteportaria.

    3 1. Desde que principie a vigorar o Cdigo Civil, fica revogada toda a legislaocivil relativa s matrias por ele abrangidas.

    2. , porm, ressalvada a legislao privativa de natureza civil, emanada dos rgoslegislativos metropolitanos ou provinciais, que vigorar em cada provncia ultramarina.

    Portaria n 22.869, de 4 de Setembro de 1967

  • 2120

    Cdigo Civil

    4 Todas as remisses para o Cdigo Civil de 1867, constantes dos preceitoslegais, consideram-se feitas para as disposies correspondentes do Cdigo.

    5 A aplicao das disposies do Cdigo a factos passados fica subordinada sregras do artigo 12 do mesmo diploma, com as modificaes e os esclarecimentosconstantes dos nmeros seguintes.

    6 As disposies dos artigos 157 a 194 do Cdigo Civil no prejudicam asnormas de direito pblico contidas em leis administrativas.

    7 Os dementes, surdos-mudos ou prdigos que tenham sido total ou parcialmenteinterditos do exerccio de direitos, ou venham a s-lo em aces pendentes, mantmo grau de incapacidade que lhes tiver sido ou vier a ser fixado na sentena ou queresultar da lei anterior.

    8 1. No so reconhecidos para o futuro, salvo em aces pendentes, os privilgiose hipotecas legais que no sejam concedidos no Cdigo Civil, mesmo quandoconferidos em legislao especial.

    2. Exceptuam-se os privilgios e hipotecas legais concedidos ao Estado ou a outraspessoas colectivas pblicas, quando se no destinem garantia de dbitos fiscais.

    9 s sociedades universais e familiares constitudas at 31 de Dezembro de 1967sero aplicveis, at sua extino, respectivamente, as disposies dos artigos 1243a 1248 e 1281 a 1297, do Cdigo Civil de 1867.

    10 Ao contrato de parceria agrcola so aplicveis, para o futuro, as disposiesque regulam o arrendamento rural.

    11 1. Os casamentos civis celebrados at 31 de Dezembro de 1967 no podemser declarados nulos ou anulados, se para tal no houver fundamento reconhecidotanto pela lei antiga como pela nova lei civil, a no ser que esteja pendente, naqueladata, a respectiva aco.

    2. O disposto nos artigos 1639 a 1646 do Cdigo aplicvel s aces que foremintentadas depois de 31 de Dezembro de 1967, sem prejuzo do que, relativamente aosprazos, prescreve o artigo 297 do mesmo diploma.

    12 O disposto nos artigos 1671 a 1697 do Cdigo aplicvel aos casamentoscelebrados at 31 de Dezembro de 1967, mas em caso algum sero anulados os actospraticados pelos cnjuges na vigncia da lei antiga, se em face desta no estiveremviciados.

    13 O preceituado nos artigos 1717 a 1752 s aplicvel aos casamentoscelebrados at 31 de Dezembro de 1967 na medida em que for considerado comointerpretativo do direito vigente, salvo pelo que respeita ao n 2 do artigo 1739.

    14 1. Sem prejuzo da regra estabelecida no n 2 do n 2 desta portaria, soaplicveis aos casamentos celebrados at 31 de Dezembro de 1967 as disposies doCdigo Civil relativas caducidade das doaes para casamento, s doaes entrecasados, separao dos cnjuges ou dos seus bens e ao divrcio.

    2. No pode, no entanto, ser decretada a separao judicial de pessoas e bens ou odivrcio de cnjuges casados at 31 de Dezembro de 1967 com fundamento em factoque no seja relevante segundo a lei vigente data da sua verificao.

    15 O disposto no artigo 1793 aplicvel nas aces pendentes e nos processosfindos data da entrada em vigor do Cdigo Civil.

    16 1. At 31 de Maio de 1968 pode o marido da me intentar aco de impugnaoda paternidade, com fundamento em qualquer dos factos referidos nas alneas c) e d)do artigo 1817 do Cdigo Civil, relativamente ao filho nascido antes da entrada emvigor deste diploma, com prejuzo do disposto no artigo 1818.

    2. Dentro do mesmo prazo sero recebidos nos tribunais de menores os requerimentosa que se refere o artigo 1820, seguindo-se os demais termos da impugnao oficiosa,desde que o filho tenha menos de catorze anos de idade data da apresentao dorequerimento.

    17 O facto de se ter esgotado o perodo a que se refere o n 1 do artigo 1854 noimpede que as aces de investigao de maternidade ou paternidade ilegtima sejampropostas at 31 de Dezembro de 1968, desde que no tenha caducado antes, em faceda legislao anterior, o direito de as propor.

    18 Os assentos secretos de perfilhao de filhos adulterinos, validamente lavradosao abrigo da legislao vigente, tornar-se-o pblicos mediante averbamento oficioso,sempre que sejam passadas certides do respectivo registo de nascimento.

    19 As disposies do Cdigo Civil relativas tutela e curatela so aplicveiss tutelas e s curatelas instauradas at 31 de Dezembro de 1967; porm, os tutores e oscuradores j nomeados manter-se-o nos seus cargos enquanto deles no se escusaremou enquanto no forem removidos ou exonerados.

    20 Os testamentos anteriores a 31 de Dezembro de 1967 e as disposiestestamentrias neles contidas no podem ser declarados nulos ou anulados, por vciosubstancial ou de forma, se o respectivo fundamento for tambm reconhecido peloCdigo Civil, salvo se a aco j estiver pendente naquela data.

    21 As atribuies do testamenteiro so as que lhe forem fixadas pela lei vigente data da feitura do testamento.

    22 A referncia ao territrio continental ou s ilhas adjacentes considera-sesempre feita ao territrio da provncia respectiva.

    Portaria n 22.869, de 4 de Setembro de 1967

  • 2322

    Cdigo Civil

    23 Todas as disposies do Cdigo Civil cuja execuo depender da existnciade servios determinados s sero obrigatrias desde que tais servios funcionem.

    Ministrio do Ultramar, 4 de Setembro de 1967. O Ministro do Ultramar, JoaquimMoreira da Silva Cunha.

    Para ser publicada no Boletim Oficial de todas as provncias ultramarinas. J. daSilva Cunha.

    (Dirio do Governo n 206, I Srie de 1967)

    CDIGO CIVIL

    LIVRO IPARTE GERAL

    TTULO IDas leis, sua interpretao e aplicao

    CAPTULO IFontes do direito

    Artigo 1(Fontes imediatas)

    1. So fontes imediatas do direito as leis e as normas corporativas.2. Consideram-se leis todas as disposies genricas provindas dos rgos estaduais

    competentes; so normas corporativas as regras ditadas pelos organismos representativosdas diferentes categorias morais, culturais, econmicas ou profissionais, no domniodas suas atribuies, bem como os respectivos estatutos e regulamentos internos.

    3. As normas corporativas no podem contrariar as disposies legais de carcterimperativo.

    Artigo 2(Assentos)

    Nos casos declarados na lei, podem os tribunais fixar, por meio de assentos, doutrinacom fora obrigatria geral.

    Artigo 3(Valor jurdico dos usos)

    1. Os usos que no forem contrrios aos princpios da boa f so juridicamenteatendveis quando a lei o determine.

    2. As normas corporativas prevalecem sobre os usos.

    Artigo 4(Valor da equidade)

    Os tribunais s podem resolver segundo a equidade:a) Quando haja disposio legal que o permita;b) Quando haja acordo das partes e a relao jurdica no seja indisponvel;c) Quando as partes tenham previamente convencionado o recurso equidade, nos

    termos aplicveis clusula compromissria.

    Livro I Parte Geral

  • 2524

    Cdigo Civil

    CAPTULO IIVigncia, interpretao e aplicao das leis

    Artigo 5(Comeo da vigncia da lei)

    1. A lei s se torna obrigatria depois de publicada no jornal oficial.2. Entre a publicao e a vigncia da lei decorrer o tempo que a prpria lei fixar

    ou, na falta de fixao, o que for determinado em legislao especial.

    Conferir, quanto a esta matria, o disposto no Decreto n 24/74, publicado no Boletim Oficialn 2, de 11 de Janeiro de 1975.

    Artigo 6(Ignorncia ou m interpretao da lei)

    A ignorncia ou m interpretao da lei no justifica a falta do seu cumprimentonem isenta as pessoas das sanes nela estabelecidas.

    Artigo 7(Cessao da vigncia da lei)

    1. Quando se no destine a ter vigncia temporria, a lei s deixa de vigorar se forrevogada por outra lei.

    2. A revogao pode resultar de declarao expressa, da incompatibilidade entreas novas disposies e as regras precedentes ou da circunstncia de a nova lei regulartoda a matria da lei anterior.

    3. A lei geral no revoga a lei especial, excepto se outra for a inteno inequvocado legislador.

    4. A revogao da lei revogatria no importa o renascimento da lei que estarevogara.

    Artigo 8(Obrigao de julgar e dever de obedincia lei)

    1. O tribunal no pode abster-se de julgar, invocando a falta ou obscuridade da leiou alegando dvida insanvel acerca dos factos em litgio.

    2. O dever de obedincia lei no pode ser afastado sob pretexto de ser injusto ouimoral o contedo do preceito legislativo.

    3. Nas decises que proferir, o julgador ter em considerao todos os casos quemeream tratamento anlogo, a fim de obter uma interpretao e aplicao uniformesdo direito.

    Artigo 9(Interpretao da lei)

    1. A interpretao no deve cingir-se letra da lei, mas reconstituir a partir dos textoso pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurdico,as circunstncias em que a lei foi elaborada e as condies especficas do tempo emque aplicada.

    2. No pode, porm, ser considerado pelo intrprete o pensamento legislativo queno tenha na letra da lei um mnimo de correspondncia verbal, ainda que imperfeita-mente expresso.

    3. Na fixao do sentido e alcance da lei, o intrprete presumir que o legisladorconsagrou as solues mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termosadequados.

    Artigo 10(Integrao das lacunas da lei)

    1. Os casos que a lei no preveja so regulados segundo a norma aplicvel aos casosanlogos.

    2. H analogia sempre que no caso omisso procedam as razes justificativas daregulamentao do caso previsto na lei.

    3. Na falta de caso anlogo, a situao resolvida segundo a norma que o prpriointrprete criaria, se houvesse de legislar dentro do esprito do sistema.

    Artigo 11(Normas excepcionais)

    As normas excepcionais no comportam aplicao analgica, mas admiteminterpretao extensiva.

    Artigo 12(Aplicao das leis no tempo. Princpio geral)

    1. A lei s dispe para o futuro; ainda que lhe seja atribuda eficcia retroactiva,presume-se que ficam ressalvados os efeitos j produzidos pelos factos que a lei sedestina a regular.

    2. Quando a lei dispe sobre as condies de validade substancial ou formal dequaisquer factos ou sobre os seus efeitos, entende-se, em caso de dvida, que s visaos factos novos; mas, quando dispuser directamente sobre o contedo de certasrelaes jurdicas, abstraindo dos factos que lhes deram origem, entender-se- que alei abrange as prprias relaes j constitudas, que subsistam data da sua entradaem vigor.

    Artigo 13(Aplicao das leis no tempo. Leis interpretativas)

    1. A lei interpretativa integra-se na lei interpretada, ficando salvos, porm, os efeitosj produzidos pelo cumprimento da obrigao, por sentena passada em julgado, portransaco, ainda que no homologada, ou por actos de anloga natureza.

    2. A desistncia e a confisso no homologadas pelo tribunal podem ser revogadaspelo desistente ou confitente a quem a lei interpretativa for favorvel.

    Livro I Parte Geral

  • 2726

    Cdigo Civil

    CAPTULO IIIDireitos dos estrangeiros e conflitos de leis

    SECO IDisposies gerais

    Artigo 14(Condio jurdica dos estrangeiros)

    1. Os estrangeiros so equiparados aos nacionais quanto ao gozo de direitos civis,salvo disposio legal em contrrio.

    2. No so, porm, reconhecidos aos estrangeiros os direitos que, sendo atribudospelo respectivo Estado aos seus nacionais, o no sejam aos portugueses em igualdadede circunstncias.

    1. Devemos entender que a parte final do n 2 do artigo 14 do Cdigo Civil se encontra formuladana Guin-Bissau da seguinte forma: ..., o no sejam aos guineenses em igualdade de circunstncias..

    2. discutvel a constitucionalidade do n 2 deste artigo, ou seja, o facto do mesmo ter sido j ouno revogado, tendo em conta o disposto no artigo 28, n 1 da Constituio da Repblica da Guin-Bissau,na parte em que dispe Os estrangeiros, na base da reciprocidade,..., gozam dos mesmos direitos e estosujeitos aos mesmos deveres que o cidado guineense,....

    Uma vez que o mesmo problema se coloca no Ordenamento Jurdico Portugus, em virtude doartigo 15, n 1 da Constituio da Repblica Portuguesa consagrar tambm o Princpio da Equiparao,devemos ter em conta aquela que a posio da doutrina portuguesa, adaptando-a para o OrdenamentoJurdico Guineense. Assim sendo, a maioria da doutrina, onde se inserem nomes como o Professor CastroMendes (cf. Teoria Geral do Direito Civil, vol. I, AAFDL, 1995, p. 176), a Professora Magalhes Collao(segundo o seu ensino oral), o Professor Carvalho Fernandes (cf. Teoria Geral do Direito Civil I, 3 edio,Universidade Catlica Editora, Lisboa, 2001, p. 237) e o Professor Lima Pinheiro (cf. Direito InternacionalPrivado, vol. II, Direito dos Conflitos, Parte Especial, Almedina, 2 edio, 2002, p. 145), defende ainconstitucionalidade do preceito, o mesmo dizer, entende que o n 2 foi revogado pela Constituio.

    Todavia, os autores Jorge Miranda (cf. Manual de Direito Constitucional, tomo III, 4 edio,Coimbra Editora, 1998, p. 152), Ferrer Correia (cf. Lies de Direito Internacional Privado I, Almedina,2000, p. 78) e Drio Moura Vicente (posio adoptada nas aulas tericas, leccionadas na Faculdade deDireito de Lisboa, no ano lectivo de 1997/1998) defendem a constitucionalidade da disposio, pelo queentendem que a mesma se encontra em vigor. Remete-se para a bibliografia citada as razes que os diversosautores invocam para sustentar a sua tomada de posio sobre a matria.

    Artigo 15(Qualificaes)

    A competncia atribuda a uma lei abrange somente as normas que, pelo seucontedo e pela funo que tm nessa lei, integram o regime do instituto visado na regrade conflitos.

    Artigo 16(Referncia lei estrangeira. Princpio geral)

    A referncia das normas de conflitos a qualquer lei estrangeira determina apenas,na falta de preceito em contrrio, a aplicao do direito interno dessa lei.

    Artigo 17(Reenvio para a lei de um terceiro Estado)

    1. Se, porm, o direito internacional privado da lei referida pela norma de conflitosportuguesa remeter para outra legislao e esta se considerar competente para regularo caso, o direito interno desta legislao que deve ser aplicado.

    2. Cessa o disposto no nmero anterior, se a lei referida pela norma de conflitosportuguesa for a lei pessoal e o interessado residir habitualmente em territrio por-tugus ou em pas cujas normas de conflitos considerem competente o direito internodo Estado da sua nacionalidade.

    3. Ficam, todavia, unicamente sujeitos regra do n 1 os casos da tutela e curatela,relaes patrimoniais entre os cnjuges, poder paternal, relaes entre adoptante eadoptado e sucesso por morte, se a lei nacional indicada pela norma de conflitosdevolver para a lei da situao dos bens imveis e esta se considerar competente.

    1. Devemos entender que a parte inicial do n 1 tem na Guin-Bissau a seguinte formulao:Se, porm, o direito internacional privado da lei referida pela norma de conflitos guineense remeter....

    2. Na Guin-Bissau, o n 2 deste preceito deve ser entendido da seguinte forma: Cessa o dispostono nmero anterior, se a lei referida pela norma de conflitos guineense for a lei pessoal e o interessadoresidir habitualmente em territrio guineense ou em....

    Artigo 18(Reenvio para a lei portuguesa)

    1. Se o direito internacional privado da lei designada pela norma de conflitosdevolver para o direito interno portugus, este o direito aplicvel.

    2. Quando, porm, se trate de matria compreendida no estatuto pessoal, a leiportuguesa s aplicvel se o interessado tiver em territrio portugus a sua residnciahabitual ou se a lei do pas desta residncia considerar igualmente competente o direitointerno portugus.

    1. Devemos entender que, no Ordenamento Jurdico Guineense, o artigo 18 do Cdigo Civil tema seguinte epgrafe: Reenvio para a lei guineense.

    2. Deve ser esta a formulao do n 1 do artigo 18: Se o direito internacional privado da leidesignada pela norma de conflitos devolver para o direito interno guineense, este o direito aplicvel..

    3. Tambm o n 2 do artigo deve ser adaptado, de forma a poder aplicar-se plenamente noOrdenamento Jurdico Guineense, pelo que deve ser formulado da seguinte forma: Quando, porm,se trate de matria compreendida no estatuto pessoal, a lei guineense s aplicvel se o interessado tiverem territrio guineense a sua residncia habitual ou se a lei do pas desta residncia considerar igualmentecompetente o direito interno guineense..

    Artigo 19(Casos em que no admitido o reenvio)

    1. Cessa o disposto nos dois artigos anteriores, quando da aplicao deles resultea invalidade ou ineficcia de um negcio jurdico que seria vlido ou eficaz segundoa regra fixada no artigo 16, ou a ilegitimidade de um Estado que de outro modo serialegtimo.

    2. Cessa igualmente o disposto nos mesmos artigos, se a lei estrangeira tiver sidodesignada pelos interessados, nos casos em que a designao permitida.

    Livro I Parte Geral

  • 2928

    Cdigo Civil

    Artigo 20(Ordenamentos jurdicos plurilegislativos)

    1. Quando, em razo da nacionalidade de certa pessoa, for competente a lei de umEstado em que coexistam diferentes sistemas legislativos locais, o direito internodesse Estado que fixa em cada caso o sistema aplicvel.

    2. Na falta de normas de direito interlocal, recorre-se ao direito internacionalprivado do mesmo Estado; e, se este no bastar, considera-se como lei pessoal dointeressado a lei da sua residncia habitual.

    3. Se a legislao competente constituir uma ordem jurdica territorialmente unitria,mas nela vigorarem diversos sistemas de normas para diferentes categorias de pessoas,observar-se- sempre o estabelecido nessa legislao quanto ao conflito de sistemas.

    Artigo 21(Fraude lei)

    Na aplicao das normas de conflitos so irrelevantes as situaes de facto ou dedireito criadas com o intuito fraudulento de evitar a aplicabilidade da lei que, noutrascircunstncias, seria competente.

    Artigo 22(Ordem pblica)

    1. No so aplicveis os preceitos da lei estrangeira indicados pela norma deconflitos, quando essa aplicao envolva ofensa dos princpios fundamentais daordem pblica internacional do Estado portugus.

    2. So aplicveis, neste caso, as normas mais apropriadas da legislao estrangeiracompetente ou, subsidiariamente, as regras do direito interno portugus.

    1. Devemos entender que a parte final do n 1 do artigo 22 tem a seguinte formulao: ... ofensados princpios fundamentais da ordem pblica internacional do Estado guineense..

    2. A parte final do n 2 do artigo 22 deve ter a seguinte formulao no Ordenamento JurdicoGuineense: ... ou, subsidiariamente, as regras do direito interno guineense..

    Artigo 23(Interpretao e averiguao do direito estrangeiro)

    1. A lei estrangeira interpretada dentro do sistema a que pertence e de acordo comas regras interpretativas nele fixadas.

    2. Na impossibilidade de averiguar o contedo da lei estrangeira aplicvel, recorrer--se- lei que for subsidiariamente competente, devendo adoptar-se igual procedimentosempre que no for possvel determinar os elementos de facto ou de direito de quedependa a designao da lei aplicvel.

    Artigo 24(Actos realizados a bordo)

    1. Aos actos realizados a bordo de navios ou aeronaves, fora dos portos ou aer-dromos, aplicvel a lei do lugar da respectiva matrcula, sempre que for competentea lei territorial.

    2. Os navios e aeronaves militares consideram-se como parte do territrio do Estadoa que pertencem.

    SECO IINormas de conflitos

    SUBSECO Imbito e determinao da lei pessoal

    Artigo 25(mbito da lei pessoal)

    O estado dos indivduos, a capacidade das pessoas, as relaes de famlia e assucesses por morte so regulados pela lei pessoal dos respectivos sujeitos, salvas asrestries estabelecidas na presente seco.

    Artigo 26(Incio e termo da personalidade jurdica)

    1. O incio e termo da personalidade jurdica so fixados igualmente pela lei pessoalde cada indivduo.

    2. Quando certo efeito jurdico depender da sobrevivncia de uma a outra pessoae estas tiverem leis pessoais diferentes, se as presunes de sobrevivncia dessas leisforem inconciliveis, aplicvel o disposto no n 2 do artigo 68.

    Artigo 27(Direitos de personalidade)

    1. Aos direitos de personalidade, no que respeita sua existncia e tutela e srestries impostas ao seu exerccio, tambm aplicvel a lei pessoal.

    2. O estrangeiro ou aptrida no goza, porm, de qualquer forma de tutela jurdicaque no seja reconhecida na lei portuguesa.

    A referncia feita na parte final do n 2 do artigo 27 do Cdigo Civil deve ser entendida comosendo feita lei guineense, da seguinte forma: ... que no seja reconhecida na lei guineense..

    Artigo 28(Desvios quanto s consequncias da incapacidade)

    1. O negcio jurdico celebrado em Portugal por pessoa que seja incapaz segundoa lei pessoal competente no pode ser anulado com fundamento na incapacidade nocaso de a lei interna portuguesa, se fosse aplicvel, considerar essa pessoa como capaz.

    2. Esta excepo cessa, quando a outra parte tinha conhecimento da incapacidade,ou quando o negcio jurdico for unilateral, pertencer ao domnio do direito da famliaou das sucesses ou respeitar disposio de imveis situados no estrangeiro.

    3. Se o negcio jurdico for celebrado pelo incapaz em pas estrangeiro, ser observadaa lei desse pas, que consagrar regras idnticas s fixadas nos nmeros anteriores.

    Devemos entender que o n 1 do artigo 28 do Cdigo Civil tem na Guin-Bissau a seguinteformulao: O negcio jurdico celebrado na Guin-Bissau por pessoa que seja incapaz segundo a lei

    Livro I Parte Geral

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    Cdigo Civil Livro I Parte Geral

    pessoal competente no pode ser anulado com fundamento na incapacidade no caso de a lei internaguineense, se fosse aplicvel, considerar essa pessoa como capaz..

    Artigo 29(Maioridade)

    A mudana da lei pessoal no prejudica a maioridade adquirida segundo a leipessoal anterior.

    Artigo 30(Tutela e institutos anlogos)

    tutela e institutos anlogos de proteco aos incapazes aplicvel a lei pessoaldo incapaz.

    Artigo 31(Determinao da lei pessoal)

    1. A lei pessoal a da nacionalidade do indivduo.2. So, porm, reconhecidos em Portugal os negcios jurdicos celebrados no pas

    da residncia habitual do declarante, em conformidade com a lei desse pas, desde queesta se considere competente.

    Deve ser esta a formulao no Ordenamento Jurdico Guineense do n 2 do artigo 31 do CdigoCivil: So, porm, reconhecidos na Guin-Bissau os negcios jurdicos celebrados no pas da residnciahabitual do declarante, em conformidade com a lei desse pas, desde que esta se considere competente..

    Artigo 32(Aptridas)

    1. A lei pessoal do aptrida a do lugar onde ele tiver a sua residncia habitual ou,sendo menor ou interdito, o seu domiclio legal.

    2. Na falta de residncia habitual, aplicvel o disposto no n 2 do artigo 82.

    Artigo 33(Pessoas colectivas)

    1. A pessoa colectiva tem como lei pessoal a lei do Estado onde se encontra situadaa sede principal e efectiva da sua administrao.

    2. lei pessoal compete especialmente regular: a capacidade da pessoa colectiva;a constituio, funcionamento e competncia dos seus rgos; os modos de aquisioe perda da qualidade de associado e os correspondentes direitos e deveres; a respon-sabilidade da pessoa colectiva, bem como a dos respectivos rgos e membros, peranteterceiros; a transformao, dissoluo e extino da pessoa colectiva.

    3. A transferncia, de um Estado para outro, da sede da pessoa colectiva noextingue a personalidade jurdica desta, se nisso convierem as leis de uma e outra sede.

    4. A fuso de entidades com lei pessoal diferente apreciada em face de ambas asleis pessoais.

    Ao aplicarmos o n 1 do artigo 33 do Cdigo Civil, se estiver em causa a anlise do regime materialaplicvel s sociedades comerciais, devemos ter em conta as normas que regem este tipo de pessoas

    colectivas, e que constam do Acto Uniforme Relativo ao Direito das Sociedades Comerciais e ao Agrupa-mento Complementar de Empresas. Este diploma, no seu artigo 1, estabelece o seu campo de aplicaoem relao a todas as Sociedades Comerciais, cuja sede social esteja situada no territrio de um dos Estados--Parte. Isto significa que, quanto delimitao da esfera de aplicao deste Acto Uniforme, o que releva, j no o critrio da sede principal e efectiva da administrao (relevante para efeitos de resoluo deconflitos de Direito Internacional Privado), mas sim o critrio da sede social.

    Ou seja, o artigo 33, n 1 do Cdigo Civil aplica-se s sociedades comerciais, no que concerne determinao da sua lei pessoal. Se concluirmos que a lei pessoal a lei guineense, isso implica a aplicaodas normas materiais guineenses, pelo que teremos que aferir da aplicao ou no do Acto Uniforme,que se aplicar desde que a sociedade em causa tenha a sua sede social no territrio da Guin-Bissau,enquanto Estado-Parte do Tratado relativo Harmonizao do Direito dos Negcios em frica.

    Artigo 34(Pessoas colectivas internacionais)

    A lei pessoal das pessoas colectivas internacionais a designada na conveno queas criou ou nos respectivos estatutos e, na falta de designao, a do pas onde estivera sede principal.

    SUBSECO IILei reguladora dos negcios jurdicos

    Artigo 35(Declarao negocial)

    1. A perfeio, interpretao e integrao da declarao negocial so reguladas pelalei aplicvel substncia do negcio, a qual igualmente aplicvel falta e vcios davontade.

    2. O valor de um comportamento como declarao negocial determinado pela leida residncia habitual comum do declarante e do destinatrio e, na falta desta, pela leido lugar onde o comportamento se verificou.

    3. O valor do silncio como meio declaratrio igualmente determinado pela leida residncia habitual comum e, na falta desta, pela lei do lugar onde a proposta foirecebida.

    Artigo 36(Forma da declarao)

    1. A forma da declarao negocial regulada pela lei aplicvel substncia donegcio; , porm, suficiente a observncia da lei em vigor no lugar em que feita adeclarao, salvo se a lei reguladora da substncia do negcio exigir, sob pena denulidade ou ineficcia, a observncia de determinada forma, ainda que o negcio sejacelebrado no estrangeiro.

    2. A declarao negocial ainda formalmente vlida se, em vez da forma prescritana lei local, tiver sido observada a forma prescrita pelo Estado para que remete a normade conflitos daquela lei, sem prejuzo do disposto na ltima parte do nmero anterior.

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    Cdigo Civil

    Artigo 37(Representao legal)

    A representao legal est sujeita lei reguladora da relao jurdica de que nasceo poder representativo.

    Artigo 38(Representao orgnica)

    A representao da pessoa colectiva por intermdio dos seus rgos regulada pelarespectiva lei pessoal.

    Artigo 39(Representao voluntria)

    1. A representao voluntria regulada, quanto existncia, extenso, modificao,efeitos e extino dos poderes representativos, pela lei do Estado em que os poderesso exercidos.

    2. Porm, se o representante exercer os poderes representativos em pas diferentedaquele que o representado indicou e o facto for conhecido do terceiro com quemcontrate, aplicvel a lei do pas da residncia habitual do representado.

    3. Se o representante exercer profissionalmente a representao e o facto forconhecido do terceiro contratante, aplicvel a lei do domiclio profissional.

    4. Quando a representao se refira disposio ou administrao de bens imveis, aplicvel a lei do pas da situao desses bens.

    Artigo 40(Prescrio e caducidade)

    A prescrio e a caducidade so reguladas pela lei aplicvel ao direito a que umaou outra se refere.

    SUBSECO IIILei reguladora das obrigaes

    Artigo 41(Obrigaes provenientes de negcios jurdicos)

    1. As obrigaes provenientes de negcio jurdico, assim como a prpria substnciadele, so reguladas pela lei que os respectivos sujeitos tiverem designado ou houveremtido em vista.

    2. A designao ou referncia das partes s pode, todavia, recair sobre lei cujaaplicabilidade corresponda a um interesse srio dos declarantes ou esteja em conexocom algum dos elementos do negcio jurdico atendveis no domnio do direitointernacional privado.

    Artigo 42(Critrio supletivo)

    1. Na falta de determinao da lei competente, atende-se, nos negcios jurdicosunilaterais, lei da residncia habitual do declarante e, nos contratos, lei da residnciahabitual comum das partes.

    2. Na falta de residncia comum, aplicvel, nos contratos gratuitos, a lei daresidncia habitual daquele que atribui o benefcio e, nos restantes contratos, a lei dolugar da celebrao.

    Artigo 43(Gesto de negcios)

    gesto de negcios aplicvel a lei do lugar em que decorre a principal actividadedo gestor.

    Artigo 44(Enriquecimento sem causa)

    O enriquecimento sem causa regulado pela lei com base na qual se verificou atransferncia do valor patrimonial a favor do enriquecido.

    Artigo 45(Responsabilidade extracontratual)

    1. A responsabilidade extracontratual fundada, quer em acto ilcito, quer no riscoou em qualquer conduta lcita, regulada pela lei do Estado onde decorreu a principalactividade causadora do prejuzo; em caso de responsabilidade por omisso, aplicvel a lei do lugar onde o responsvel deveria ter agido.

    2. Se a lei do Estado onde se produziu o efeito lesivo considerar responsvel oagente, mas no o considerar como tal a lei do pas onde decorreu a sua actividade, aplicvel a primeira lei, desde que o agente devesse prever a produo de um dano,naquele pas, como consequncia do seu acto ou omisso.

    3. Se, porm, o agente e o lesado tiverem a mesma nacionalidade ou, na falta dela,a mesma residncia habitual, e se encontrarem ocasionalmente em pas estrangeiro, alei aplicvel ser a da nacionalidade ou a da residncia comum, sem prejuzo das dis-posies do Estado local que devam ser aplicadas indistintamente a todas as pessoas.

    SUBSECO IVLei reguladora das coisas

    Artigo 46(Direitos reais)

    1. O regime da posse, propriedade e demais direitos reais definido pela lei doEstado em cujo territrio as coisas se encontrem situadas.

    2. Em tudo quanto respeita constituio ou transferncia de direitos reais sobrecoisas em trnsito, so estas havidas como situadas no pas do destino.

    Livro I Parte Geral

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    Cdigo Civil

    3. A constituio e transferncia de direitos sobre os meios de transporte submetidosa um regime de matrcula so reguladas pela lei do pas onde a matrcula tiver sidoefectuada.

    Artigo 47(Capacidade para constituir direitos reais sobre coisas imveis

    ou dispor deles) igualmente definida pela lei da situao da coisa a capacidade para constituir

    direitos reais sobre coisas imveis ou para dispor deles, desde que essa lei assim odetermine; de contrrio, aplicvel a lei pessoal.

    Artigo 48(Propriedade intelectual)

    1. Os direitos de autor so regulados pela lei do lugar da primeira publicao da obrae, no estando esta publicada, pela lei pessoal do autor, sem prejuzo do disposto emlegislao especial.

    2. A propriedade industrial regulada pela lei do pas da sua criao.

    1. No que diz respeito aos direitos de autor, vigora na Guin-Bissau, graas Resoluo n 9/90,de 18 de Abril, publicada no 2 Suplemento ao Boletim Oficial n 16, de 18 de Abril de 1990, que ratificou,para adeso, a Conveno de Berna relativa Proteco de Obras Literrias e Artsticas, de 9 de Setembrode 1886. possvel retirar do diploma a consagrao do Princpio da Territorialidade, uma vez que os direitosde autor so regidos pela lei que est em vigor no Estado onde reclamada a proteco dos mesmos.Isso mesmo resulta do disposto na parte final da alnea 2) do artigo 5: ... a extenso da proteco, bemcomo os meios de recurso garantidos ao autor para salvaguardar os seus direitos regulam-se exclusivamentepela legislao do pas onde a proteco reclamada..

    Assim, e uma vez que as disposies de Direito Internacional Privado, que constem de ConvenesInternacionais (e que constituem legislao especial), prevalecem sobre as leis internas ordinrias (estaconcluso no resulta de nenhuma disposio expressa da Constituio Guineense, mas parece poderretirar-se, por interpretao sistemtica, do artigo 29 da mesma, uma vez que a Conveno que est aquiem causa foi devidamente ratificada e aprovada pelo Estado da Guin-Bissau), o Princpio da Territorialidadeesvazia o mbito de aplicao do n 1 do artigo 48 do Cdigo Civil.

    2. No que concerne propriedade industrial, vigora na Guin-Bissau, por fora da Resoluon 5/88, publicada no 2 Suplemento ao Boletim Oficial n 11, de 16 de Maro de 1988, que ratificou,para adeso, a Conveno de Paris para a Proteco da Propriedade Industrial, de 20 de Maro de 1883.

    Analisando este documento, no possvel afirmar-se, com a mesma certeza com que se fazquanto Conveno de Berna relativa Proteco de Obras Literrias e Artsticas, que est tambm aquiconsagrado o Princpio da Territorialidade. Contudo, podemos dizer que existem alguns indcios nessadireco. Assim, o artigo 2, alnea 1), aponta para a aplicao, em cada pas, das normas materiais quel se encontram vigentes (Os nacionais de cada um dos pases da Unio gozaro em todos os outrospases da Unio,..., das vantagens que as leis respectivas concedem actualmente, ou venham a concederno futuro, aos nacionais, sem prejuzo dos direitos especialmente previstos na presente Conveno.).

    Paralelamente, para que qualquer pedido nacional de patentes seja regular, s necessita de estar... em condies de estabelecer a data em que o mesmo foi apresentado no pas em causa,... (artigo 4,ponto A., alnea 3) da Conveno), sendo que pode ser apresentado em qualquer dos pases da Unio, talcomo resulta do estipulado no artigo 4, ponto A., alnea 1) do mesmo diploma (Aquele que tiver apresentado,em termos, pedido de patente de inveno, de depsito, de modelo de utilidade de desenho ou modeloindustrial, de registo de marca de fbrica ou de comrcio num dos outros pases da Unio,...). Ou seja, umavez apresentado em qualquer pas da Unio para a proteco da propriedade industrial (cf. artigo 1 do diploma),ser a lei vigente nesse pas a aplicar-se, bem como os preceitos legais que resultam da Conveno em anlise.

    Assim, entendemos que tambm no que diz respeito propriedade industrial, existe legislaoespecial, que, consagrando o Princpio da Territorialidade, permite esvaziar o mbito de aplicao do n2 do artigo 48 do Cdigo Civil.

    SUBSECO VLei reguladora das relaes de famlia

    Artigo 49(Capacidade para contrair casamento ou celebrar

    convenes antenupciais)A capacidade para contrair casamento ou celebrar a conveno antenupcial

    regulada, em relao a cada nubente, pela respectiva lei pessoal, qual compete aindadefinir o regime da falta e dos vcios da vontade dos contraentes.

    Artigo 50(Forma do casamento)

    A forma do casamento regulada pela lei do Estado em que o acto celebrado, salvoo disposto no artigo seguinte.

    Artigo 51(Desvios)

    1. O casamento de dois estrangeiros em Portugal pode ser celebrado segundo a formaprescrita na lei nacional de qualquer dos contraentes, perante os respectivos agentesdiplomticos ou consulares, desde que igual competncia seja reconhecida por essalei aos agentes diplomticos e consulares portugueses.

    2. O casamento no estrangeiro de dois portugueses ou de portugus e estrangeiropode ser celebrado perante agente diplomtico ou consular do Estado portugus ouperante os ministros do culto catlico; em qualquer caso, o casamento deve serprecedido do processo de publicaes, organizado pela entidade competente, a menosque ele seja dispensado nos termos do artigo 1599.

    3. O casamento no estrangeiro de dois portugueses ou de portugus e estrangeiro,em harmonia com as leis cannicas, havido como casamento catlico, seja qual fora forma legal da celebrao do acto segundo a lei local, e sua transcrio servir debase o assento do registo paroquial.

    1. Devemos entender que o n 1 do artigo 51 do Cdigo Civil tem no Ordenamento JurdicoGuineense a seguinte formulao: O casamento de dois estrangeiros na Guin-Bissau pode ser celebradosegundo a forma prescrita na lei nacional de qualquer dos contraentes, perante os respectivos agentesdiplomticos ou consulares, desde que igual competncia seja reconhecida por essa lei aos agentesdiplomticos e consulares guineenses..

    2. O n 2 do artigo 51 do Cdigo Civil deve ser alvo de certas modificaes, de forma a poderconsiderar-se plenamente em vigor no Ordenamento Jurdico Guineense.

    A primeira modificao prende-se com a parte final da disposio, que diz respeito ao casamentoperante ministros do culto catlico. O que se passa quanto a esta parte o seguinte: at independnciada Guin-Bissau, o Estado guineense encontrava-se vinculado pela Concordata de 1940 (publicada no33 Suplemento ao Boletim Oficial n 53, de 1940), no que diz respeito ao reconhecimento de efeitoscivis do casamento catlico (cf. artigo XXII da Concordata). Contudo, aps a independncia, e nos termos

    Livro I Parte Geral

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    Cdigo Civil

    da Lei n 1/73 (cf. Boletim Oficial n 1, de 4 de Janeiro de 1975), s deveria manter-se em vigor a legislaoportuguesa vigente at data que no contrariasse a Constituio da Repblica, bem como os princpiosfundamentais do P.A.I.G.C..

    Procedendo a uma anlise da Constituio da Repblica da Guin-Bissau, retira-se da mesmaque a Guin-Bissau um Estado laico, marcado pelos Princpios da liberdade religiosa e da igualdade decultos (cf. artigo 1; artigo 6, n 2; artigo 24, in fine e artigo 52). Consequentemente, no nos pareceque a Concordata de 1940 continuasse a vincular a Guin-Bissau aps a independncia, da mesma formaque em 1975 a Guin-Bissau no aderiu ao Protocolo Adicional Concordata de 1940.

    Por tudo isto, entendemos que a parte final do n 2 do artigo 51 do Cdigo Civil no se encontraem vigor na Guin-Bissau. Assim, esta disposio deve ter a seguinte formulao no Ordenamento JurdicoGuineense: O casamento no estrangeiro de dois guineenses ou de guineense e estrangeiro pode sercelebrado perante agente diplomtico ou consular do Estado guineense; em qualquer caso, o casamentodeve ser precedido do processo de publicaes, organizado pela entidade competente, a menos que eleseja dispensado nos termos do artigo 1599..

    3. Em relao ao n 3 desta disposio, remetemos para o comentrio anterior (n 2) tudo o quefoi dito acerca da manuteno ou no do tratamento do casamento catlico pela lei civil guineense. Daanlise efectuada, acabamos por concluir que, a partir da independncia da Guin-Bissau, o casamentocatlico deixou de poder ser, no s equiparado, para certos efeitos, ao casamento civil, como tambmregulado pela lei civil guineense. Consequentemente, entendemos que este n 3 do artigo 51 do CdigoCivil no se encontra em vigor na Guin-Bissau.

    Artigo 52(Relaes entre os cnjuges)

    1. Salvo o disposto no artigo seguinte, as relaes entre os cnjuges so reguladaspela lei nacional comum.

    2. No tendo os cnjuges a mesma nacionalidade, aplicvel a lei da sua residnciahabitual comum e, na falta desta, a lei pessoal do marido.

    Quanto ao ltimo elemento de conexo (a lei pessoal do marido), referido neste artigo, devemosentender que o mesmo no se encontra em vigor na Guin-Bissau, em virtude da sua contrariedade aosPrincpios, constitucionalmente consagrados, atravs dos quais se estabelece a igualdade entre o homeme a mulher (artigo 25 da Constituio da Repblica da Guin-Bissau), e, consequentemente, a igualdadeentre os cnjuges (artigo 26, n 3 da Constituio da Repblica da Guin-Bissau).

    No caso de no existir lei nacional comum, nem lei da residncia habitual comum dos cnjuges,a soluo para o problema poder passar pela aplicao da posio do Professor Ferrer Correia (cf. ACodificao do direito internacional privado, no Boletim da Faculdade de Direito, vol. LI (1975), pp.83, 87 e ss.), que critica a soluo portuguesa (distinta da guineense, j que consagra como elementode conexo subsidirio a lei do pas com a qual a vida familiar do casal se ache mais estreitamente conexa).Segundo este autor, deve atender-se a outras conexes, que sejam susceptveis de gerar solues menosimprevisveis e que traduzam menos insegurana jurdica.

    A ttulo de exemplo, poderemos apontar conexes como a lei da ltima nacionalidade comumdos cnjuges, ou a lei do ltimo domiclio comum dos cnjuges.

    Transpondo esta soluo doutrinria para o Ordenamento Jurdico Guineense, sempre que oscnjuges no tenham nacionalidade comum ou residncia habitual comum, deve procurar-se soluessubsidirias, nomeadamente, a lei da ltima nacionalidade comum das partes ou a lei do ltimo domicliocomum das partes. Em ltimo caso, deve admitir-se o recurso ao elemento de conexo subsidirio, vigenteem Portugal a lei do pas com a qual a vida familiar do casal se ache mais estreitamente conexa, desdeque assim a questo se resolva de uma forma justa e equitativa para ambas as partes.

    Artigo 53(Convenes antenupciais e regime de bens)

    1. A substncia e efeitos das convenes antenupciais e do regime de bens, legalou convencional, so definidos pela lei nacional dos nubentes ao tempo da celebraodo casamento.

    2. No tendo os nubentes a mesma nacionalidade, aplicvel a lei da sua residnciahabitual comum data do casamento e, se esta faltar tambm, a lei pessoal do maridona mesma data.

    3. Se for estrangeira a lei aplicvel e um dos nubentes tiver a sua residncia habitualem territrio portugus, pode ser convencionado um dos regimes admitidos nestecdigo.

    1. Quanto ltima parte do n 2, devemos entender, tal como fizemos em relao ao artigo 52,que a mesma no se encontra em vigor, porque, ao mandar atender lei pessoal do marido data dacelebrao do casamento, viola os Princpios Constitucionais, que consagram a igualdade entre o homeme a mulher (artigo 25 da Constituio da Repblica da Guin-Bissau), bem como a igualdade entre oscnjuges (artigo 26, n 3 da Constituio da Repblica da Guin-Bissau).

    Caso no exista lei da nacionalidade comum das partes, nem lei da residncia habitual comum,dever recorrer-se a conexes subsidirias, nomeadamente, procurando uma conexo mais estreita como casal, no momento da celebrao do casamento. Uma soluo possvel poder consistir na aplicaoda lei da primeira residncia conjugal, que aquilo que est estabelecido no Cdigo Civil vigente emPortugal, merc de uma alterao legislativa (no verificada na Guin-Bissau).

    2. No Ordenamento Jurdico Guineense, a formulao do n 3 do artigo 53 do Cdigo Civilem vigor deve ser a seguinte: Se for estrangeira a lei aplicvel e um dos nubentes tiver a sua residnciahabitual em territrio guineense, pode ser convencionado um dos regimes admitidos neste cdigo..

    Artigo 54(Modificaes do regime de bens)

    1. Aos cnjuges permitido modificar o regime de bens, legal ou convencional, sea tal forem autorizados pela lei competente nos termos do artigo 52.

    2. A nova conveno em caso nenhum ter efeito retroactivo em prejuzo de terceiro.

    Artigo 55(Separao judicial de pessoas e bens e divrcio)

    1. separao judicial de pessoas e bens e ao divrcio aplicvel o disposto noartigo 52.

    2. Se, porm, na constncia do matrimnio houver mudana da lei competente, spode fundamentar a separao ou o divrcio algum facto relevante ao tempo da suaverificao.

    1. Em virtude do disposto na Lei n 6/76, de 3 de Maio de 1976, publicada no 1 Suplementoao Boletim Oficial n 18, de 4 de Maio de 1976, quer no seu Prembulo (Exclui-se definitivamente aseparao judicial de pessoas e bens...), quer nos artigos 15 e 16 (Considera-se automaticamenteconvertida em divrcio a separao judicial de pessoas e bens...; Consideram-se como sendo de divrcioos pedidos de separao judicial de pessoas e bens...), o instituto da separao judicial de pessoas e bensno est em vigor na Guin-Bissau. Assim, deve entender-se que este artigo 55 do Cdigo Civil tem apenaspor epgrafe: Divrcio, englobando, quer o litigioso, quer o por mtuo consentimento.

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    Cdigo Civil

    2. Tal como se explica no comentrio ao n 1, em virtude do disposto na Lei n 6/76, de 3 deMaio de 1976, que retirou o instituto da separao judicial de pessoas e bens do Ordenamento JurdicoGuineense, deve ser esta a seguinte formulao deste n 1 do artigo 55 do Cdigo Civil: Ao divrcio aplicvel o disposto no artigo 52..

    3. Tambm o n 2 do artigo 55 do Cdigo Civil, em virtude do instituto da separao judicialde pessoas e bens no estar em vigor na Guin-Bissau (cf. Lei n 6/76, de 3 de Maio de 1976, publicadano 1 Suplemento ao Boletim Oficial n 18, de 4 de Maio de 1976), deve ser formulado da seguinte forma:Se, porm, na constncia do matrimnio houver mudana de lei competente, s pode fundamentaro divrcio algum facto relevante ao tempo da sua verificao..

    Artigo 56(Filiao legtima)

    1. A determinao da legitimidade da filiao compete lei nacional comum da mee do marido desta ou, na sua falta, lei da residncia habitual comum, ao tempo, quernum caso, quer noutro, do nascimento do filho, ou ao tempo da dissoluo, declaraode nulidade ou anulao do casamento, se este tiver sido dissolvido, declarado nuloou anulado.

    2. Na falta de nacionalidade ou residncia habitual comum, aplicvel a lei pessoaldo marido nos momentos a que o nmero anterior se refere.

    1. Com a entrada em vigor da Lei n 4/76 de 3 de Maio de 1976, publicada no 1 Suplementoao Boletim Oficial n 18, de 4 de Maio de 1976 (cf. artigo 1: Todos os filhos so iguais e tm iguais direitose deveres, qualquer que seja o estado civil dos seus progenitores), que veio a ser complementada peloPrincpio Constitucional da igualdade entre os filhos nascidos dentro e fora do casamento (cf. artigo 26,n 2 da Constituio da Repblica da Guin-Bissau), deixou de ser possvel proceder-se na Guin-Bissau distino entre filhos legtimos e ilegtimos.

    Consequentemente, a epgrafe deste artigo 56 do Cdigo Civil tem que ser alterada, ou seja,deve ter como formulao apenas Filiao, de forma a abranger os filhos nascidos dentro e fora docasamento.

    2. O n 1 tem que ser alvo de uma adaptao, de forma a poder ser aplicado a filhos nascidosdentro e fora do casamento. Isso mesmo deve ser feito tendo em conta o disposto no artigo 59, quecremos ter sido revogado pelo artigo 5 da referida Lei n 4/76 de 3 de Maio de 1976.

    Assim, e uma vez que a lei em anlise foi concebida para ser aplicada apenas a filhos nascidosdentro do casamento, para que possa tambm ser aplicada a filhos nascidos fora do casamento, deveracrescentar-se-lhe uma disposio nos termos do que est ou estava (consoante a posio que se adopteacerca da sua revogao) formulado no artigo 59, n 1 do Cdigo Civil. A soluo que nos parece maisacertada passa por regular a filiao num nico artigo, uma vez que, tendo terminado a discriminao,deixa de fazer sentido distinguir, em artigos diferentes, a forma de estabelecer a filiao.

    Desta forma, caso se trate de estabelecer a filiao de filhos nascidos fora do casamento, adisposio que cremos dever vigorar no Ordenamento Jurdico Guineense (no de forma expressa, masinserida implicitamente no n 1 do artigo 56) deve ser formulada nestes termos: constituio da relaode filiao aplicvel a lei pessoal do progenitor, que vigore data do reconhecimento.. Esta disposioacaba por ser aquela que consta da redaco original do artigo 59, n 1 do Cdigo Civil de 1966, quecremos j no vigorar na Guin-Bissau, por visar a regulamentao da filiao ilegtima, que foi banidado Ordenamento Jurdico Guineense, em virtude da entrada em vigor da Lei n 4/76 de 3 de Maio de1976, acima referida. Contudo, foi suprida a expresso ilegtima, o que bem se compreende, uma vezque agora h um nico conceito de filiao.

    No que concerne ao estabelecimento da filiao de filhos nascidos na constncia do casamento,a sim faz sentido aplicar a actual redaco do n 1 do artigo 56 em anlise, suprimindo, contudo, aexpresso ... da legitimidade.... Ou seja, o n 1 deve comear da seguinte forma: A determinao dafiliao compete....

    A aplicao do preceito pressupe que o aplicador de Direito tenha conscincia que o mesmos pode e deve ser aplicado a filhos nascidos dentro do casamento, uma vez que a parte inicial do preceitono o diz expressamente, ao contrrio, por exemplo, do que sucede no mbito do Direito portugus, emque o n 2 do artigo 56 do Cdigo Civil (revisto em 1977), diz expressamente: Tratando-se de filho demulher casada....

    3. Devemos considerar como revogado o n 2 desta disposio, uma vez que viola os PrincpiosConstitucionais, que consagram a igualdade entre o homem e a mulher (artigo 25 da Constituio daRepblica da Guin-Bissau), bem como a igualdade entre os cnjuges (artigo 26, n 3 da Constituioda Repblica da Guin-Bissau).

    Como forma de solucionar o problema que se levanta no caso de no existir lei nacional comum,nem lei da residncia habitual comum entre a me e o marido, entendemos que deve recorrer-se, comoelemento de conexo subsidirio, lei pessoal do filho. Esta uma forma de dar sempre resposta aoproblema, uma vez que muito dificilmente o filho ser aptrida. Paralelamente, est em consonncia coma soluo adoptada em Portugal (cf. artigo 56, n 2, in fine, do Cdigo Civil, vigente em Portugal, coma redaco de 1977) para dar resposta a este mesmo problema.

    4. Cremos ser til e benfico, em termos de Direito Comparado, reproduzir aqui a actual redacodo artigo 56 do Cdigo Civil, vigente em Portugal, graas reforma operada pelo Decreto-Lei n 496/77,de 6 de Outubro, que regula a filiao de filhos nascidos dentro e fora do casamento:

    ARTIGO 56(Constituio da filiao)

    1. constituio da filiao aplicvel a lei pessoal do progenitor data do estabelecimento darelao.

    2. Tratando-se de filho de mulher casada, a constituio da filiao relativamente ao pai reguladapela lei nacional comum da me e do marido; na falta desta, aplicvel a lei da residncia habitual comumdos cnjuges e, se esta tambm faltar, a lei pessoal do filho.

    3. Para os efeitos do nmero anterior, atender-se- ao momento do nascimento do filho ou aomomento da dissoluo do casamento, se for anterior ao nascimento..

    Artigo 57(Relaes entre pais e filhos legtimos)

    1. As relaes entre pais e filhos legtimos so reguladas pela lei nacional comumdos pais e, na falta desta, pela lei da sua residncia habitual comum.

    2. Se os pais tiverem a residncia habitual em pases diferentes, aplicvel a leipessoal do pai ou, se a me exercer plenamente o poder paternal, a lei pessoal desta.

    1. Dada a entrada em vigor da Lei n 4/76 de 3 de Maio de 1976, publicada no 1 Suplementoao Boletim Oficial n 18, de 4 de Maio de 1976 (cf. artigo 1: Todos os filhos so iguais e tm iguais direitose deveres, qualquer que seja o estado civil dos seus progenitores), complementada pelo PrincpioConstitucional da igualdade entre os filhos nascidos dentro e fora do casamento (cf. artigo 26, n 2 daConstituio da Repblica da Guin-Bissau), a epgrafe deste artigo deve ser formulada com a supressoda palavra legtimos, isto , o mesmo deve ser apenas relativo s Relaes entre pais e filhos.

    2. Tal como sucede com a epgrafe, tambm do n 1 desta disposio deve ser retirada a expressolegtimos, de forma a permitir que a mesma possa ser aplicada a filhos nascidos dentro e fora do casamento.Desta forma, a formulao do n 1 do artigo 57 do Cdigo Civil, em vigor no Ordenamento JurdicoGuineense, deve ser a seguinte: As relaes entre pais e filhos so reguladas pela lei nacional comum dospais e, na falta desta, pela lei da sua residncia habitual comum..

    3. O n 2 do artigo 57 tem que ser alvo de uma modificao, de forma a poder ser aplicadoplenamente a filhos nascidos dentro e fora do casamento.

    Em primeiro lugar, no caso de faltar a lei nacional comum, ou a lei da residncia habitual comumdos pais, o elemento de conexo subsidirio a aplicar no pode ser a lei pessoal do pai (no obstante aparte final da disposio), uma vez que estaramos a dar preferncia ao pai, e, desta forma, a ir contra osPrincpios Constitucionais, que consagram a igualdade entre o homem e a mulher artigo 25 da Constituio

    Livro I Parte Geral

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    Cdigo Civil

    da Repblica da Guin-Bissau), bem como a igualdade entre os cnjuges (artigo 26, n 3 da Constituioda Repblica da Guin-Bissau).

    Aquilo que parece fazer mais sentido recorrer-se a outro elemento de conexo subsidirio, talcomo a lei pessoal do filho. Foi esta a soluo adoptada pelo Cdigo Civil Portugus, depois da Reformade 1977 (operada pelo Decreto-Lei n 496/77, de 6 de Outubro), tal como se demonstra pela transcriodo artigo 57 do Cdigo Civil, vigente em Portugal:

    ARTIGO 57(Relaes entre pais e filhos)

    1. As relaes entre pais e filhos so reguladas pela lei nacional comum dos pais e, na falta desta,pela lei da sua residncia habitual comum; se os pais residirem habitualmente em Estados diferentes, aplicvel a lei pessoal do filho.

    2. Se a filiao apenas se achar estabelecida relativamente a um dos progenitores, aplica-se a leipessoal deste; se um dos progenitores tiver falecido, competente a lei pessoal do sobrevivo..

    No caso da filiao estar estabelecida em relao a um nico progenitor, a sim faz sentido aplicara lei pessoal do mesmo, quer se trate do pai, quer se trate da me, sem que seja posto em causa o PrincpioConstitucional da Igualdade entre o homem e a mulher, e, consequentemente, entre os cnjuges..

    Artigo 58(Legitimao)

    1. A legitimao regulada, quanto aos seus requisitos e efeitos, pela lei pessoaldo pai no momento da celebrao do casamento ou, quando fundada em qualquer outroacto, no momento em que este se verificar.

    2. Se, posteriormente a