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Coerência semântica Refere-se à relação entre os significados dos elementos das frases em sequência. A incoerência aparece quando esses sentidos não combinam ou quando são contraditórios. É estabelecida entre os significados dos elementos do texto através de uma relação logicamente possível. Coerência sintática Refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a coerência semântica: conectivos, pronomes etc. Trata da adequação entre os elementos que compõem a frase, o que inclui também atenção às regras de concordância e de regência. Coerência estilística Vem da utilização de linguagem adequada às possíveis variações do contexto. Na maioria das vezes, esse tipo de coerência não chega a perturbar a interpretabilidade de um texto. É uma noção relacionada à mistura de registros linguísticos (formal x informal, por exemplo). É desejável que quem escreve ou lê se mantenha em um estilo relativamente uniforme. Coerência pragmática Podemos dizer que esse tipo de coerência é verificado através do conhecimento que possuímos da realidade sociocultural, que inclui também um comportamento adequado às conversações. Refere-se ao texto visto como uma sequência de atos de fala. Para haver coerência nesta sequência, é preciso que os atos de fala se realizem de forma apropriada, isto é, cada interlocutor, na sua vez de falar, deve conjugar o seu discurso ao do seu ouvinte, de forma a manter a expectativa de conteúdo de acordo com a situação em que o texto é usado. Incoerência semântica A casa que desejo comprar é bastante jovem. Essa frase é incoerente quando levamos em consideração o significado da palavra jovem.

Coerência semântica

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Page 1: Coerência semântica

Coerência semântica

Refere-se à relação entre os significados dos elementos das frases em sequência.

A incoerência aparece quando esses sentidos não combinam ou quando são contraditórios.

É estabelecida entre os significados dos elementos do texto através de uma relação logicamente possível.

Coerência sintática

Refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a coerência semântica: conectivos, pronomes etc.

Trata da adequação entre os elementos que compõem a frase, o que inclui também atenção às regras de concordância e de regência.

Coerência estilística

Vem da utilização de linguagem adequada às possíveis variações do contexto. Na maioria das vezes, esse tipo de coerência não chega a perturbar a interpretabilidade de um texto.

É uma noção relacionada à mistura de registros linguísticos (formal x informal, por exemplo). É desejável que quem escreve ou lê se mantenha em um estilo relativamente uniforme.

Coerência pragmática

Podemos dizer que esse tipo de coerência é verificado através do conhecimento que possuímos da realidade sociocultural, que inclui também um comportamento adequado às conversações.

Refere-se ao texto visto como uma sequência de atos de fala. Para haver coerência nesta sequência, é preciso que os atos de fala se realizem de forma apropriada, isto é, cada interlocutor, na sua vez de falar, deve conjugar o seu discurso ao do seu ouvinte, de forma a manter a expectativa de conteúdo de acordo com a situação em que o texto é usado.

Incoerência semântica

A casa que desejo comprar é bastante jovem.

Essa frase é incoerente quando levamos em consideração o significado da palavra jovem.

Embora tenha o sentido de coisa nova, o vocábulo jovem só é empregado para caracterizar seres humanos; e não seres inanimados, como é o caso de casa.

Para essa caracterização, a palavra nova seria mais apropriada, concorda?

Incoerência sintática

As pessoas que têm condições procuram o ensino particular, onde há métodos, equipamentos e até professores melhores.

Apesar de haver comunicabilidade, já que possível compreender a informação, a coerência desse período está inadequada.Ela poderia ser restabelecida se fosse feita uma alteração: a troca do pronome relativo onde, específico de lugar, para no qual ou em que (ensino particular, no qual/em que há métodos).

Page 2: Coerência semântica

Incoerência pragmática

Veja esta conversa entre amigos:

― Maria, sabe dizer se o ônibus para o Centro passa aqui?

― Eu entendo, João. Hoje faz um ano que minha avó faleceu.

Note que Maria, na verdade, não responde a pergunta feita por João, pois não estabeleceu uma sequência na conversa.

Ela propôs outro assunto, irrelevante para a pergunta feita.

Assim, percebemos que na sequência de falas deste exemplo não há coerência.

O MOSQUITO(Vinícius de Moraes)Parece mentiraDe tão esquisito:Mas sobre o papelO feio mosquitoFez sombra de lira!Coerência sintática O articulador sintático “mas” (3º verso) garante a coerência sintática, pois estabelece uma oposição entre duas imagens: um mosquito x uma lira.

No fim da tarde, Nossa mãe aparecia nos fundos do quintal:Meus filhos, o dia já envelheceu, entrem pra dentro.(Manoel de Barros)Coerência semântica Sem um contexto específico, não seria adequado atribuir o adjetivo “envelheceu” ao substantivo “dia”. Porém, no poema, a expressão “fim de tarde” garante a coerência semântica.

Num ouvido, escrito: ENTRADA, noutro ouvido, escrito: SAÍDA.(Paulo Leminski)Coerência semântica A oposição “num” x “noutro” permite que também se estabeleça uma coerência semântica por oposição de sentidos entre as palavras “ENTRADA” X “SAÍDA”.

BALÕEZINHOS (fragmento) (Manuel Bandeira) Na feira do arrabaldezinhoUm homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:— “O melhor divertimento para as crianças!”Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.Coerência pragmática A palavra “balõezinhos” organiza-se em coerência pragmática com a fala do homem que oferece os balões, pois os “menininhos pobres”, que no texto são os receptores da mensagem, compreendem que se trata de um tipo de brinquedo destinado especialmente à diversão das crianças.

MACUNAÍMA (fragmento) Vinha passando Capei, a Lua. Macunaíma gritou pra ela:— Sua bênção, dindinha Lua!— Uhum... que ela secundou.Coerência pragmática Os falantes do texto – os personagens Macunaíma e Capei, a Lua – conseguem estabelecer um diálogo coerente, pois ambos pertencem ao contexto da cultura popular. Portanto, trata-se de coerência pragmática.

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ERRO DE PORTUGUÊS(Oswald de Andrade)Quando o português chegouDebaixo de uma bruta chuvaVestiu o índioQue pena! Fosse uma manhã de solO índio tinha despidoO português.Coerência estilística A coerência estilística é garantida pela linguagem coloquial, marcada pela oralidade, que é utilizada em todos os versos. Destacam-se “bruta chuva” e “Que pena!”

ROMEU E JULIETA (fragmento) ROMEU - Deixai, então, ó santa! que esta boca mostre o caminho certo aos corações.Em tua boca me limpo dos pecados.(E ele a beija)JULIETA - Que passaram, assim, para meus lábios.ROMEU - Pecados meus? Quero-os retornados. Devolva-me os.Coerência estilística O diálogo mantém uma coerência estilística, visto que os personagens utilizam o mesmo padrão de linguagem para se comunicar.