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36 14JULHO2011 CÉREBROS inovação QUANDO O veículo motorizado que vai explorar a superfície de Marte - o rover – do ExoMars chegar ao planeta vermelho vai ter de sobreviver em condições agrestes. Para além do vento e do pó, Marte apresenta variações térmicas que podem ir dos 20ºC aos 40 ºC negativos. Estas temperaturas podem prejudicar, ou mesmo destruir, os equipamentos de análise.A participação da Active Space Technologies (AST) na missão ExoMars, com a introdução de um novo ae- rogel para isolamento, serve para evitar esse problema. "Estamos a usar o aerogel para isolamento térmico de sistemas de instru- mentação eletrónica", revela Ricardo Patrí- cio, da AST, acrescentando que "nas noites de Marte as temperaturas podem baixar bastante e o equipamento eletrónico tem de estar acondicionado, de modo a ter tempe- raturas de funcionamento". Mas o que é um aerogel? "É uma espuma altamente porosa que pode ter até 90, 95 por cento de ar, que tem muito pouco material no seu volume. É muito leve e tem uma condutividade térmica muito baixa – com uma performance para isolamento térmico muito interessante", avança Ricardo Patrício. No entanto, até agora, não se usava o aerogel desta forma. "Não se usa tipicamente este tipo de aerogel porque é muito frágil, vítreo e parte com alguma facilidade, por exemplo, durante o lançamento do foguetão, porque há muita vibração", refere. Para além disso, a produção desta tecnologia estava concen- trada, sobretudo, nos Estados Unidos da América. "Eles usam espumas: são mantas de tecido nas quais impregnam aerogel. A condutividade térmica é muito maior porque está condicionada à manta que eles usam como matriz", revela.O produto português apresenta diferenças. "Nós conseguimos sintetizar aerogéis bastante mais flexíveis, que acomodam melhor o esforço", conta Ri- cardo Patrício, indicando que "usamos aero- gel puro, uma espécie de tijolo de aerogel cuja condutividade térmica vai ser muito baixa". O projeto é o resultado do esforço conjun- to do Instituto Pedro Nunes, da Universi- dade de Coimbra e da AST. Depois de uma primeira análise de mercado, para a ESA, identificou-se uma lacuna no mercado dos aerogéis. Em seguida, "começámos em 2006 com o Departamento de Engenharia Química da UC, seguindo-se o IPN", refere o responsável. "Foi um processo gradual de aprendizagem, sintetizar não é muito complicado mas conseguir obter as pro- priedades que pretendemos de forma con- sequente e repetida, mantendo a densidade e a flexibilidade que pretendemos, é um grande desafio", indica, sublinhando que "a nível europeu, estamos à frente do que se faz tecnologicamente no que se faz nesse aspeto". A Active Space Technologies é um caso de sucesso, tem 25 trabalhadores entre o escritório de Coimbra e um na Alemanha. "Interessa-nos estar num mercado maior. Acho que conseguimos fazer a ponte entre um país com uma forte tradição espacial (a Alemanha) e um país com uma grande capacidade de inovação (Portugal)", refere Ricardo Patrício. Trabalhar na área espa- cial não é comum em Portugal. "A principal desvantagem é estarmos longe dos grandes players, não há aquele networking tão fácil. Mas existem vantagens, nós temos capa- cidades tecnológicas pouco exploradas, com um grande potencial em qualidade, inovação", revela o responsável. O espaço faz as pessoas sonhar. "O nosso core business foi, desde sempre, o espaço. É o nosso sonho desde que fundámos a em- presa. O espaço dá sempre uma motiva- ção extra". Depois de testes em Portugal, o protótipo está na Alemanha a ser alvo de testes térmicos. Se não existirem atrasos com o projeto ExoMars, o rover, devida- mente protegido, parte em direção a Marte no ano de 2016. 36 COIMBRA NO PLANETA V A ACTIVE SPACE TECHNOLOGIES CRIOU UM NOVO ISOLAMENTO TÉRMICO PARA A AGÊNCIA ESPACIAL EUROPEIA (ESA), LIGANDO O NOME DE COIMBRA AO PROJETO EXOMARS, UMA MISSÃO DE EXPLORAÇÃO DE MARTE TEXTO MARCO ROQUE FOTO PEDRO RAMOS

Coimbra chega a Marte

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Active Space Technology, uma empresa sediada em Coimbra, desenvolveu um isolamento a ser usado em missões espaciais.

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36 14JuLHo 2011

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cérebros

inovação

Quando o veículo motorizado que vai explorar a superfície de Marte - o rover – do ExoMars chegar ao planeta vermelho vai ter de sobreviver em condições agrestes. Para além do vento e do pó, Marte apresenta variações térmicas que podem ir dos 20ºC aos 40ºC negativos. Estas temperaturas podem prejudicar, ou mesmo destruir, os equipamentos de análise.A participação da Active Space Technologies (AST) na missão ExoMars, com a introdução de um novo ae-rogel para isolamento, serve para evitar esse problema. "Estamos a usar o aerogel para isolamento térmico de sistemas de instru-mentação eletrónica", revela Ricardo Patrí-cio, da AST, acrescentando que "nas noites de Marte as temperaturas podem baixar bastante e o equipamento eletrónico tem de estar acondicionado, de modo a ter tempe-raturas de funcionamento". Mas o que é um aerogel? "É uma espuma altamente porosa que pode ter até 90, 95 por cento de ar, que tem muito pouco material no seu volume. É muito leve e tem uma condutividade térmica muito baixa – com uma performance para

isolamento térmico muito interessante", avança Ricardo Patrício.No entanto, até agora, não se usava o aerogel desta forma. "Não se usa tipicamente este tipo de aerogel porque é muito frágil, vítreo e parte com alguma facilidade, por exemplo, durante o lançamento do foguetão, porque há muita vibração", refere. Para além disso, a produção desta tecnologia estava concen-trada, sobretudo, nos Estados Unidos da América. "Eles usam espumas: são mantas de tecido nas quais impregnam aerogel. A condutividade térmica é muito maior porque está condicionada à manta que eles usam como matriz", revela.O produto português apresenta diferenças. "Nós conseguimos sintetizar aerogéis bastante mais flexíveis, que acomodam melhor o esforço", conta Ri-cardo Patrício, indicando que "usamos aero-gel puro, uma espécie de tijolo de aerogel cuja condutividade térmica vai ser muito baixa".O projeto é o resultado do esforço conjun-to do Instituto Pedro Nunes, da Universi-dade de Coimbra e da AST. Depois de uma primeira análise de mercado, para a ESA, identif icou-se uma lacuna no mercado dos aerogéis. Em seguida, "começámos em 2006 com o Departamento de Engenharia Química da UC, seguindo-se o IPN", refere o responsável. "Foi um processo gradual

de aprendizagem, sintetizar não é muito complicado mas conseguir obter as pro-priedades que pretendemos de forma con-sequente e repetida, mantendo a densidade e a f lexibilidade que pretendemos, é um grande desafio", indica, sublinhando que "a nível europeu, estamos à frente do que se faz tecnologicamente no que se faz nesse aspeto". A Active Space Technologies é um caso de sucesso, tem 25 trabalhadores entre o escritório de Coimbra e um na Alemanha. "Interessa-nos estar num mercado maior. Acho que conseguimos fazer a ponte entre um país com uma forte tradição espacial (a Alemanha) e um país com uma grande capacidade de inovação (Portugal)", refere Ricardo Patrício. Trabalhar na área espa-cial não é comum em Portugal. "A principal desvantagem é estarmos longe dos grandes players, não há aquele networking tão fácil. Mas existem vantagens, nós temos capa-cidades tecnológicas pouco exploradas, com um grande potencial em qualidade, inovação", revela o responsável. O espaço faz as pessoas sonhar. "O nosso core business foi, desde sempre, o espaço. É o nosso sonho desde que fundámos a em-presa. O espaço dá sempre uma motiva-ção extra". Depois de testes em Portugal, o protótipo está na Alemanha a ser alvo de testes térmicos. Se não existirem atrasos com o projeto ExoMars, o rover, devida-mente protegido, parte em direção a Marte no ano de 2016.

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coimbra no planeta vermelho

a active Space technologieS criou um novo iSolamento térmico para a agência

eSpacial europeia (eSa), ligando o nome de coimbra ao projeto exomarS, uma

miSSão de exploração de marte TexTo marco roque foTo Pedro ramos

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A universidAde de Aveiro (UA) conseguiu atingir o 3.º lugar na Lig a de Ta ma n ho Méd io da RoboCup 2011, o Campeonato Mundial de Futebol Robótico, após vencer a RFC, de Estugar-da, por 2-1. A prova decorreu em Istambul, na Turquia, de 5 a 11 de julho. A equipa CAMBADA, da UA conseguiu, assim, obter de novo um lugar no pódio, de-pois de ter chegado ao 1.º lugar em 2008 e ao 3.º lugar em 2009 e 2010.

A fAculdAde de Medicina da Universidade de Coimbra vai proporcionar um curso de verão, de 18 a 22 de julho. Integrado na Universidade de Verão, o curso vai abordar várias temáticas da saúde, com especial destaque para o "Curso de Suporte Bási-co de Vida" e "um dia na área da Medicina Dentária".

filipe rodrigues, aluno do departamente do Engenharia Informática da FCTUC, rece-beu o Prémio Nacional de Tra-balhos em Inteligência Artifi-cial, instituído pela Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial. O trabalho recebeu o prémio por uninamidade, sendo o segundo ano consecutivo em que um aluno da FCTUC ganha este prémio.

CAMBADA alcança bronze na Turquia

FMUC não pára durante o verão

Aluno da FCTUC recebe prémio

ciência & tecnologia

Este não é o primeiro projeto espacial da Active Space Technologies. Nas mãos de Ricardo Patrício está um protótipo desenvolvido para a Agência Espacial Japonesa, que vai até Mercúrio.

Entre 54,6 milhões de km a 401 milhões de

km, dependendo das órbitas

CoiMBRA No PlANETA vERMElho

NoME Terra

DiâMETRo12,742 km

SATéliTESLua

ATMoSFERANitrogénio 78%; Oxigénio 20,9%;Argônio 0,9340%; Dióxido de car-bono 0,0390%

ANo365,25 dias

NoME Marte

DiâMETRo6,794 km

SATéliTESPhobosDeimos

ATMoSFERADióxido de carbono 95,32%; nitro-génio 2,7% ; Árgon 1,6% ; Oxigénio 0,13%

ANo687 dias terrestres

DR