COLEÇÃO ANTÔNIO CAMPOS. Diálogos culturais no mundo pós-moderno

8/8/2019 COLEO ANTNIO CAMPOS. Dilogos culturais no mundo ps-moderno

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Antnio CamposDilogosculturaisno

munDops-moDerno

Estocolmo, maro, 2010


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conferncia: Brasileofuturo

Mesa: Dilogo culturalPainel: Cincia e cultura

Boa tarde,

Agradeo o convite para participar deste painel

Cincia e Cultura.O tema Dilogo Cultural muito grato a mim,que venho advogando a ideia de uma maior inte-grao cultural do Brasil e dos demais pases ibero--americanos, que falam lnguas neolatinas, com ou-tras culturas.

Diante do cenrio atual, o Brasil se apresentacomo uma potncia econmica emergente. Contu-

do, venho salientar um aspecto sociolgico do Brasil,que uma maior tolerncia na relao racial e cultural,que merece ser mais bem conhecida e estudada pelosoutros povos, num momento de grande tenso entrereligies e culturas.

Assim, venho falar sobre dilogos culturais nomundo ps-moderno, atravs de uma reflexo bas-

tante atual.


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DilogosculturaisnomunDops-moDerno

Auditrio da Academia Real de Cincias da Engenharia, Sucia


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A globalizao econmica e financeira aliada aoprogresso das tecnologias de comunicao e infor-mao tm tido impacto sobre as identidades cultu-rais, colocando em risco tambm a diversidade cul-tural no mundo. As identidades nacionais, que tmnas culturas nacionais as suas principais fontes, esto

com uma tendncia de fragmentao, como resul-tado da homogeneizao cultural da ps-moderni-dade global. Novas identidades hbridas comeam aganhar fora. Dialeticamente, algumas identidadesesto sendo reforadas pela resistncia globaliza-o, num processo de tenso entre o local e o global,entre culturas e religies.

O sculo XXI passou da diversidade como rique-

za para a interculturalidade como problema. As rela-es ou dilogos entre as culturas esto sendo altera-dos pelos deslocamentos de imigrantes, como tam-bm pela crescente interdependncia entre as socieda-des em razo do efeito da globalizao com fronteirasbem mais complexas do que as convencionais.

Los Angeles a segunda cidade no mundo emnmero de mexicanos. Buenos Aires a segunda emnmero de bolivianos. O que significa ser europeu,num continente marcado no apenas pelas culturasde suas antigas colnias, mas tambm por outrasculturas e povos oriundos de migraes ou dispo-ras ps-coloniais? Calcula-se que a Europa tenha emseu territrio cerca de 20 milhes de muulmanos.


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No seu livro Choque de civilizaes, o professor

e ensasta americano Samuel P. Huntington previuque, depois da Guerra Fria, as disputas se dariamno terreno da cultura e da religio. As distinesprimordiais entre as pessoas no seriam ideolgicasnem econmicas, mas de natureza cultural. Real-mente, as pessoas esto cada vez mais se definindocom base no idioma, na religio, nos costumes, nosantepassados.

Recentemente, a Sua proibiu em seu solo no-vos minaretes (cpula de mesquitas). Debate-se ouso da burca na Frana, onde cerca de 1,5 milhode muulmanos vivem na regio de Paris. A legisla-o inglesa antiterrorismo tornou-se mais rigorosa,ante o temor do radicalismo islmico. Na Alema-nha, cresce o medo de terrorismo num momento

em que a comunidade muulmana chega a mais de2 milhes de habitantes.Merece reflexo o pensamento do escritor Salman

Rushdie ao defender seu romance Versos satnicos, quecausou polmica e forte reao no fundamentalismomuulmano por ser considerado ofensivo a Maom.Rushdie apresenta uma defesa do hibridismo, que uma das veredas desse novo caminho: Aquelas pesso-

as que se opem violentamente ao romance, hoje, sode opinio de que a mistura entre diferentes culturasinevitavelmente enfraquecer e destruir sua prpriacultura. Sou da opinio oposta. O livro Versossat-nicos celebra o hibridismo, a impureza, a mistura, atransformao, que vm de novas e inesperadas com-binaes de seres humanos, culturas, idias, polticas,


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filmes, msicas. O livro alegra-se com os cruzamentos

e teme o absolutismo do puro. Mlange, mistura, umpouco disso e um pouco daquilo, dessa forma que onovo entra no mando. a grande possibilidade que amigrao de massa d ao mundo, e eu tenho tentadoabra-la. O livro Versos satnicos a favor da mudan-a-por-fuso, da mudana-por-reunio. uma canode amor para nossos cruzados eus. (RUSHDIE,Imaginary homelands, 1991, Granta Books).

Como melhorar o convvio ou dilogo entreculturas ou indivduos, admitindo diferenas, semdiscriminaes, passou a ser uma das principais in-dagaes do sculo XXI.

O Brasil, que um pas mestio, marcado pelamistura de raas, deve ser motivo de estudos quanto tolerncia e ao convvio entre raas e culturas, qua-

se numa democracia racial. Prescindimos de iden-tidades, porque temos todas elas. O homem novoest no Brasil. Esse trao marcante do Brasil foi ob-jeto de estudos de alguns brasileiros, destacando-seo socilogo Gilberto Freyre, autor de Casa-grande& senzala, que ontem, 15 de maro de 2010, faria110 anos se vivo fosse. Gilberto, inclusive, em suaobra Insurgncias e ressurgncias atuais (1983), pre-

viu h quase 30 anos a ressurgncia do islamismo.O crescimento recente da ao afirmativa doBrasil traz Gilberto Freyre de novo baila. Minhaproposta de que se releia Gilberto Freyre para com-preender melhor esse legado das relaes raciais noBrasil contribuindo para o debate da identidade bra-sileira e, certamente, para ummelhor entendimento


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das questes interculturais no mundo. Haver, em

maio prximo, uma Conferncia Internacional so-bre o assunto chamada Aliana de Civilizaes.Est no centro da vida contempornea o desa-

fio de construir pontes, de se estabelecer dilogosconstrutivos de paz, entre culturas que esto em cho-que real ou aparente, em sociedades cada vez maisinterculturais do que multiculturais. Somos Di-versos, como afirma o poema do msico brasileiroMarcelo Yuka, pois entre a revolta e a obedincia,crescer com diferenas e crescer pelas diferenas, sersempre entender que o amor a nossa maior formade inteligncia.

Agradeo a ateno e espero ter contribudopara os debates, no dia de hoje.

Antnio Campos

Escritor, advogado, acadmico

[email protected]

Estocolmo, maro de 2010


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Antnio Campos e Arnaldo Niskier, em Estocolmo

Antnio Campos e Ivo Pitanguy, em Estocolmo


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Gilberto Freyre Neto, Arnaldo Niskier e Antnio Campos

Antnio Campos e Cristina Oiticica


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Texto

Antnio Campos

Reviso

Norma Baracho e Cludia Cordeiro

Projeto grficoPatrcia Lima

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