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Coleo Segurana com Cidadania

ISSN 1984-7025 n. 02, ano 01, 2009 207 pp Braslia, DF

Coleo Segurana com CidadaniaSistemas de Informao, Estatsticas Criminais e Cartografias Sociais

Presidente da Repblica Luiz Incio Lula da Silva Ministro da Justia Tarso Genro Secretrio Nacional de Segurana Pblica Ricardo Brisolla Balestreri Diretor do Departamento de Polticas, Programas e Projetos Guaracy Mingardi Coordenador Geral de Pesquisa e Anlise da Informao Marcelo Ottoni Durante EDITORES Thadeu de Jesus e Silva Filho Marcelo Ottoni Durante Ministrio da Justia Ministrio da Justia COMIT EDITORIAL Csar Barreira (UFC) Jos Vicente Tavares dos Santos (UFRGS) Michel Misse (UFRJ) Guaracy Mingardi (RENAESP SENASP MJ) Maria Stela Grossi Porto (UnB) Marcelo Ottoni Durante ( SENASP MJ) Melissa Pongeluppi (SENASP MJ) Thadeu de Jesus e Silva Filho (SENASP MJ) CONSELHO EDITORIAL Antnio Rangel Bandeira (VIVARIO) Maira Baumgarten (FURG) Cludio Beato (UFMG) Naldson Costa (UFMT) Cristina Villanova (RENAESP SENASP MJ) Renato Lima (FSEADE) Jorge Zaverucha (UFPE) Ricardo Balestreri (RENAESP SENASP MJ) Juliana Barroso (RENAESP SENASP MJ) Roberto Kant de Lima (UFF) Ivone Freire Costa (UFBA) Rodrigo Azevedo (PUCRS) Wilson Barp (UFPA) Sergio Adorno (USP) Capa Rafael Rodrigues de Sousa Emerson Soares Batista Rodrigues Diagramao Rafael Rodrigues de Sousa Emerson Soares Batista Rodrigues As matrias veiculadas nos trabalhos e artigos so de inteira e exclusiva responsabilidade dos autores Tiragem: 1.000 exemplares ISSN 1984-7025 Coleo Segurana com Cidadania / Secretaria Nacional de Segurana Pblica do Ministrio da Justia - Ano I, 2009, n. 02. Braslia, DF. Todos os direitos reservados ao MINISTRIO DA JUSTIA (MJ) SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANA PBLICA (SENASP) Esplanada dos Ministrios, Bloco T, Edifcio Sede Braslia, DF - Brasil - CEP: 70064-900 Telefone: (61) 3429.3233 Impresso no Brasil

SUMRIO

Apresentao ...................................................................................................................................................7 Gesto da InformaoClaudio Beato 1. Introduo ......................................................................................................................................................................... 8 2. Perspectiva Federal ..................................................................................................................................................... 22 3. Perspectiva Estadual ................................................................................................................................................... 35 4. Perspectiva Municipal: a Montagem de Geoarquivos .................................................................................... 41 5. Estratgias de Implementao................................................................................................................................ 46

Produo da Opacidade: Estatsticas Criminais e Segurana Pblica no BrasilRenato Sergio de Lima Introduo........................................................................................................................................................................... 48 Captulo I Em busca de uma sociologia das estatsticas criminais brasileiras.......................................................................................................................................................... 53 Captulo II Estatsticas de crimes e criminosos no contexto internacional ...................................................................................................................................................................... 73 Captulo III A produo das estatsticas criminais em So Paulo e no Brasil: 1871-1968 ................................................................................................................................ 95 Captulo IV A produo das estatsticas criminais no perodo 1968-2000: So Paulo em foco.................................................................................................................................. 119 Consideraes Finais .................................................................................................................................................... 167

Sistema Nacional de Estatsticas de Segurana Pblica e Justia CriminalMarcelo Ottoni Durante Introduo........................................................................................................................................................................ 181 Breve Histrico Dados Coletados (2001-2003) ................................................................................................ 182 Descrio do Sistema ................................................................................................................................................... 184 Construo de uma Poltica de Tratamento da Informao ...............................................................197

Instrues aos Autores ................................................................................................................................................... 204

APRESENTAOO segundo nmero do peridico Coleo Segurana com Cidadania dedicado aos sistemas de informaes, estatsticas criminais e cartografias sociais da segurana pblica do Brasil. tema caro, tanto pelo esforo em consolidar bases de dados e divulg-las com regularidade, como pela relao inversa entre a gesto tcnicocientfica de segurana pblica baseada em dados e a incidncia de eventos criminais. Ademais, para alm da relevncia dos aspectos tcnicos (que fala por si s), aperfeioar a coleta e a divulgao dos dados faz parte da agenda de uma sociedade que pretende consolidar a democracia. No texto de abertura, Gesto da Informao, Cludio Beato expressa sua preocupao em evitar que as informaes dos rgos gestores da segurana pblica no Brasil se configurem somente como um relato de atividades do Estado, permanecendo, entretanto, desconexas entre si e subutilizadas como ferramenta de gesto. No esforo de superar a formao de um tal catlogo, assevera que somente a construo de um sistema de informaes composto por partes interdependentes e alimentado por uma rede institucional capaz de ativar a principal tarefa de um banco de dados em segurana pblica: munir os gestores pblicos com dados que subsidiem a tomada de decises efetivas. O autor nomina tal sistema de Sistema de Indicadores Sociais de Segurana Pblica. O artigo seguinte - Produo da opacidade: estatsticas criminais e segurana pblica no Brasil - o texto integral da tese de doutorado de Renato Srgio de Lima. Nele, o autor aborda os papis polticos das estatsticas do sistema de justia criminal brasileiro, com nfase na histria recente do Estado de So Paulo. Sua hiptese de que a anlise do ciclo de produo dessas estatsticas tende a revelar lutas entre os dois discursos polticos predominantes acerca do trato com o crime e os criminosos. De um lado, os dados permeados pela transparncia nos atos do governo associados s caractersticas da democracia. De outro, os que reforam o segredo das prticas cotidianas, vinculados, a princpio, com modos autoritrios de conduo governamental, tipicamente os de lei e ordem. Encerrando o nmero, Marcelo O. Durante apresenta o Sistema Nacional de Estatsticas de Segurana Pblica e Justia Criminal. Ao longo do texto, o leitor perceber tanto as instncias de coleta e disponibilizao de dados, como, por entre elas, o fluxo de interdependncia funcional que as conecta e lhes d sentido. O objetivo do artigo apresentar o sistema integrado de gesto do conhecimento e informaes policiais da SENASP e sua atribuio de prover os responsveis pelas polticas pblicas de segurana de informaes necessrias para aprimorar os processos de planejamento, execuo e avaliao das aes de segurana pblica. nosso intuito que este segundo nmero da Coleo Segurana com Cidadania inspire os leitores a contribuir para o aperfeioamento da gesto das informaes de segurana pblica nas realidades singulares de cada estado e municpio do Brasil. Boa leitura. Thadeu J. Silva Filho Editor

GESTO DA INFORMAOClaudio Beato

1. IntroduoAs informaes constituem o insumo bsico para o trabalho das organizaes de segurana pblica, e a forma como elas a produzem, organizam, disponibilizam e utilizam que determinaro a natureza e efetividade das atividades desenvolvidas. Modernos sistemas de gesto das atividades de segurana pblica tm como base a utilizao intensiva de informaes para fins de planejamento e desenvolvimento de estratgias, bem como para monitoramento e avaliao de resultados. O processo de transformao de informaes de posse do pblico e de funcionrios das agncias, em dados que estejam organizados para a utilizao e, finalmente, em conhecimento que possibilite o desenvolvimento de aes estratgicas, complexo, e no ser objeto da discusso aqui empreendida (Manning, 1988. Manning1992. Skolnick, 1966. Reiss e Bordua, 1967). A dinmica informao/dado/conhecimento crucial. Isto seria mais bem compreendido atravs de uma anlise organizacional, o que fugiria ao escopo deste trabalho. Tampouco estaremos preocupados com aspectos tecnolgicos na organizao da informao. Existe um sem nmero de softwares que organizam diversos aspectos das atividades policiais e judicirias, partindo de concepes distintas a respeito da armazenagem e manejo das informaes. A tecnologia da informao para fins de segurana pblica terreno amplo que se multiplica nas inmeras aplicaes no mbito da investigao, evidncias cientficas ou monitoramento e vigilncia para atividades de inteligncia. O que estaremos tratando da arquitetura de um sistema integrado de informao, que possa compor o Sistema nico de Segurana Pblica, elaborado a partir de uma rede de organizaes localizadas em diferentes esferas de governo. No se trata, portanto, de montar uma espcie de armazm de dados federal que contenha informaes detalhadas sobre as mais diversas atividades exercidas pelos governos federal, estadual e municipal, em seus mais distintos aspectos tcnico e gerencial. A proposta a de montar um sistema de informaes, alimentado por uma rede institucional, que doravante denominaremos como Sistema de Indicadores Sociais de Segurana Pblica (SISSP), para tomarmos emprestado um termo cunhado em documento anteriormente utilizado no Ministrio de Justia. O objetivo estruturar um sistema de informaes que possam ser teis aos gestores nos diferentes nveis atravs da integrao de diferentes fontes, da operacionalizao de pesquisas e da compreenso e avaliao de estratgias utilizadas em polticas pblicas. O documento estar estruturado da seguinte maneira. A parte introdutria buscar contextualizar a discusso sobre sistemas de informao trazendo, como contraponto, a discusso sobre o sistema federal norte americano de informaes. A escolha no gratuita, e deve-se s similaridades que encontramos em termos da funo do governo federal. L, como c, a capacidade de interferncia do governo central sobre os estados8| Coleo Segurana com Cidadania [Volume II] Gesto da Informao e Estatsticas de Segurana Pblica no Brasil

e, no caso norte americano, sobre as cidades que possuem organizaes policiais prprias, bastante limitada. Outro aspecto diz respeito natureza dos problemas de segurana pblica enfrentada pelas organizaes policiais e judicirias. Paramos por aqui, buscando apenas buscar subsdios para a discusso sobre sistemas de informao que tambm faro referncia ao modelo mais amadurecido utilizado pelo Sistema de Sade brasileiro, especialmente a concepo de rede informaes. O parentesco entre SUSP e SUS bvio e tambm servir de subsdio, bem como protocolos internacionais a respeito do manejo de informaes. A segunda parte do documento descrever em detalhes a estrutura de um sistema federal de informaes, sem se preocupar inicialmente com a hospedagem das bases de dados, mas to somente com sua estrutura e funo. Qual informao seria desejvel que o governo federal tivesse, e que tipo de sistemas poderia vir a ser induzido nos estados e municpios atravs de verbas federais? O que poderia ser feito, e em qual perodo poderia ser implementado? A Secretaria Nacional de Segurana Pblica j dispe de uma srie de informaes, iniciativas e protocolos para compor um sistema que podem ser utilizados e incrementados para os propsitos do SISSP. Nas terceira e quarta partes discutiremos informaes que poderiam ser compartilhadas pelos estados e municpios. Aqui temos um quadro bastante heterogneo em termos de capacidade tecnolgica e qualificao de recursos humanos para a organizao de bases de dados. Algumas poucas cidades e estados brasileiros mantm um sistema de informao bastante sofisticado e detalhado seja no mbito das atividades policiais e judicirias, seja em termos de informaes geogrficas sobre aspectos socioeconmicos. Outras tm envidado esforos significativos no sentido de desenvolver sistemas para fins administrativos que poderiam ser utilizados para planejamento de segurana e controle da criminalidade. A grande maioria dos estados e cidades sequer tem no horizonte a preocupao com dados sobre criminalidade e justia, ou a importncia de informaes socioeconmicas, para fins de planejamento de estratgias de preveno e controle da violncia. Isto nos conduz ao ltimo tpico discutido sobre estratgias de implementao de um sistema desta natureza que possam ampliar nosso conhecimento e capacidade de planejamento e formulao de polticas pblicas consistentes e com possibilidades concretas de resultados. Neste sentido, mais importante que as tecnologias disponveis a qualidade das pessoas que gerenciam e utilizam estes sistemas, bem como da capacidade de institucionalizao das formas de gesto do conhecimento. Infelizmente no exploraremos mais detalhadamente este aspecto do treinamento e qualificao, fundamental para os profissionais da rea cujo perfil ainda marcadamente conservador e avesso ao planejamento e racionalidade. Menos armas e mais inteligncia e informao so as palavras de ordem de nossos dias, e os sistemas aqui propostos buscam apontar para esta direo.

1.1 ContextualizaoNo h estudo exploratrio ou reviso de literatura sobre criminalidade, violncia e polticas de controle na Amrica Latina, que no comece ou termine enfatizando as inmeras deficincias nas bases de informaes sobre criminalidade e violncia. Esta uma situao grave que compromete seriamente os estudos realizados e as9

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polticas, programas e projetos pblicos de segurana desenhados com base neste conhecimento. O desafio que enfrentamos hoje em estudos criminolgicos na Amrica Latina diz respeito justamente s bases de informaes necessrias para que se possa avanar no alcance das proposies empricas, bem como efetuar testes de teoria mais sofisticados. Sem este conhecimento no temos ao efetiva e conseqente. As implicaes dessa situao para o desenho e avaliao de polticas de segurana so bvias. Polticas na rea da criminalidade e justia so efetuadas em vo cego, sem instrumentos e com orientao puramente impressionista. Como conseqncia, temos uma situao de incremento acentuado das taxas de criminalidade, do aumento do medo e da percepo de risco das populaes nos grandes centros urbanos. O ceticismo e a descrena diante da aparente impossibilidade de se obter resultados esto naturalizando os fenmenos da criminalidade e violncia, como se estivssemos inevitavelmente destinados a conviver com o medo e a insegurana. Podemos dizer, sem dvida alguma, que dentre as diversas causas de crime destaca-se a nossa ignorncia sobre a matria. No que diz respeito ao impacto especfico de polticas e programas sociais, esta situao ainda mais obscura, pois a necessidades de tais projetos so to urgentes que, quaisquer que sejam os resultados alcanados, independentes das implicaes para o problema da delinqncia, considera-se como bem sucedido. No h uma avaliao dos custos destes programas frente aos resultados alcanados, ou tampouco da efetividade deles. Qual seu impacto efetivo nas taxas de violncia e criminalidade? Que aspectos funcionaram melhor? Qual o perodo de tempo necessrio para que se produzam efeitos? Que tipos de combinaes so necessrios para a produo de resultados promissores? Como evitar gastos desnecessrios com abordagens na realidade inteis, embora bem intencionadas? A anlise dessas questes cada vez mais necessria dada a freqente escassez de recursos que nossos governos nos mais diversos nveis tendem a enfrentar, e o natural interesse em identificar e reorientar polticas de preveno de crime a partir de decises baseadas em modelos de custo e benefcio. Em suma, a discusso sobre como gerar dados a respeito de problemas de segurana, como transform-los em informao, e traduzir essa informao em conhecimento que permita uma base de ao slida e passvel de avaliao.

1.2 Sistemas de Informao em Diferentes ContextosO sistema estatstico ideal na rea da justia criminal maximizaria tanto a cobertura quanto a flexibilidade. A cobertura diz respeito rea geogrfica includa, bem como aos pontos de deciso do sistema de justia criminal e quantidade de informao disponvel em cada ponto. O sistema ideal, por exemplo, incluiria dados de cada jurisdio do pas sobre cada evento criminal e todas as decises da justia criminal relativas a eles e s pessoas neles envolvidas. Alm disso, esta informao deveria ser coletada de modo a maximizar a flexibilidade com a qual ela poderia ser utilizada. Isto geralmente significa que a informao deve ser coletada na unidade mais inferior para maximizar a capacidade de agregar e desagregar a informao. Assim, a informao sobre os tribunais deveria ser coletada no nvel dos casos para que eles pudessem ser agregados dentro das jurisdies para informar algo acerca daquele tribunal. Tambm seria til se o sistema permitisse que os casos ou eventos fossem associados entre os10

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indivduos e as fases do processo. Finalmente, o sistema estatstico ideal deveria incluir dados sobre os mesmos eventos a partir de uma variedade de fontes para que nenhuma agncia ou grupo possa controlar a definio do crime e da resposta a ele. A capacidade de um sistema estatstico preencher estes requisitos desejveis depende do contexto tcnico, poltico e cultural. Na prtica, os sistemas estatsticos vo sendo montados de acordo com as necessidades postas a cada momento para as organizaes que os utilizam. No sentido de compreender as nossas especificidades na montagem de sistemas de informao, seria interessante tomarmos como contraste o exemplo norte americano. A escolha justifica-se por razes bvias. Tanto os Estados Unidos como o Brasil tm uma estrutura governamental federada, pela qual diferentes nveis de governo tm diferentes responsabilidades pelo controle da criminalidade e h diferenas substanciais entre os estados do ponto de vista da organizao das instituies que compem o sistema de justia. Isto dificulta a construo de um sistema nacional de estatsticas, em comparao com pases como a Frana ou a Inglaterra, uma vez que h mais atores independentes envolvidos. Isto significa que o aparato de administrao dos sistemas estatsticos deve envolver nveis variados de governo, o que demanda a imposio de uma uniformidade das definies e procedimentos entre os estados. Isto implica que a implementao desses sistemas precisa ser negociada, podendo ser uma mistura entre poltica e racionalidade. Por outro lado, os governos estaduais tm mais responsabilidade pelo policiamento no Brasil que nos Estados Unidos, o que torna a implementao de sistemas estatsticos baseados nos registros administrativos da polcia mais simples que no caso dos Estados Unidos. Alm disso, lidar com 27 jurisdies estaduais pode ser marginalmente menos complexo que com 50.

1.2.1 O Caso Norte AmericanoOs Estados Unidos no contavam com um sistema adequado de estatsticas descrevendo a criminalidade e a resposta da justia criminal at a dcada de 70 e, mesmo ento, grande parte da informao acerca do processamento dos casos no sistema de justia criminal no se encontrava disponvel em um banco de dados nacional. Os sistemas de dados atualmente existentes so substancialmente melhores que os disponveis na dcada de 70. No obstante, ainda h lacunas importantes. Os Estados Unidos um sistema federado de governo composto pelos nveis federal, estadual e local. A responsabilidade central sobre as questes da justia criminal recai sobre os estados, mas o governo federal tem a responsabilidade de impor o cdigo criminal federal. Como conseqncia, h um sistema de justia paralelo do governo federal, muito menor que o dos estados. Tambm importante notar que a responsabilidade administrativa pelo policiamento primariamente do nvel da localidade como, por exemplo, cidade ou condado, e no do nvel estadual. Este tipo especfico de federalismo tem conseqncias para a coleta das estatsticas sobre a criminalidade e particularmente sobre a justia criminal. Por isso, nossa discusso das estatsticas da criminalidade comear com uma descrio dos sistemas estatsticos projetados para documentar o problema da criminalidade nacionalmente. Ns ento nos voltaremos para os sistemas que documentam a resposta do sistema de justia criminal criminalidade nos nveis estadual e local.11

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Sistemas estatsticos que Descrevem o Problema da Criminalidade NacionalmenteH duas sries estatsticas principais que visam a medir o nvel e as mudanas no nvel da criminalidade nos Estados Unidos o Survey Nacional de Vitimizao pela Criminalidade (NCVS) e os Registros Unificados da Criminalidade (UCR). O primeiro um survey de vitimizao auto-declarada, ministrado a uma amostra da populao no institucionalizada dos Estados Unidos com 12 anos de idade ou mais. Os Registros Unificados da Criminalidade so uma srie de dados administrativos na qual os crimes conhecidos pela polcia so registrados pelas agncias policiais locais e encaminhadas ao Bureau Federal de Investigao (FBI) para serem agregados aos totais nacionais. Atualmente, os UCR incluem o Sistema Sumrio, que opera desde 1930, e o Sistema Nacional de Registro Baseado em Incidentes (NIBRS), ainda em fase de implementao.

NCVSO NCVS , em vrios sentidos, diferente dos surveys de vitimizao tpicos mais familiares, tais como o Survey Internacional de Vitimizao pela Criminalidade (ICVS) ou o Survey Britnico da Criminalidade (BCS). Estes surveys empregam um desenho transversal no qual os respondentes so entrevistados uma vez, geralmente atravs do telefone. A amostra aleatria simples ou uma amostra estratificada de endereos ou telefones. Normalmente uma pessoa da casa selecionada aleatoriamente para ser entrevistada. O questionrio inclui um conjunto de questes-filtro que so utilizadas tanto para identificar aqueles que so vitimizados quanto para classificar a vitimizao ocorrida. H tambm questes acerca das caractersticas das vtimas, ofensores e incidentes. Todos os respondentes recebem as mesmas questes. O NCVS difere deste popular modelo de survey de vtimas quanto a seu desenho, amostra, seleo dos respondentes e instrumentalizao. O NCVS emprega uma amostra de cluster multi-fsica de endereos obtidos atravs do censo decenal. A amostra do NCVS introduzida em um modelo de painel rotatrio no qual as unidades habitacionais ou endereos permanecem por trs anos e meio. Os ocupantes elegveis das unidades habitacionais so entrevistados sete vezes em intervalos de seis meses ao longo de sua permanncia na amostra. A seleo dos respondentes: todas as pessoas da unidade habitacional ou do endereo que tenham doze anos ou mais so perguntadas sobre sua experincia de vitimizao. Uma pessoa designada como respondente da casa para falar sobre o roubo da propriedade comum aos seus moradores. O NCVS oferece estimativas sobre o nvel e a mudana no nvel da vitimizao para os seguintes crimes: estupro, agresso sexual, roubo, agresso agravada, agresso simples, arrombamento, furto, roubo de veculo automotor e vandalismo.

UCR: O Sistema SumrioOs UCR comearam em 1929 sob os auspcios da Associao Internacional de Chefes de Polcia (IACP), tendo sido transferido para o Bureau Federal de Investigao (FBI) em 1930. Os UCR representaram um grande avano na estatstica criminal, uma vez que ofereciam uma classificao uniforme das ofensas que permitia a produo de um indicador nacional das mudanas no nvel da criminalidade nos Estados Unidos. Em um pas com 50 estados e 50 cdigos legais diferentes, esta uniformidade foi essencial para a produo de estimativas nacionais.12| Coleo Segurana com Cidadania [Volume II] Gesto da Informao e Estatsticas de Segurana Pblica no Brasil

Amostra. As tentativas dos UCR se do no sentido de agregar dados da populao de agncias policiais nos Estados Unidos, e no de uma amostra dessas agncias. Em 2002, havia aproximadamente 18.000 agncias policiais que respondiam aos UCR. Embora as taxas de participao sejam altas, esto longe de constituir 100% (Maltz, 1999). Desenho. Os UCR uma srie administrativa na qual as agncias policiais locais fornecem as contagens dos crimes e prises ocorridos em sua jurisdio para o programa estadual dos UCR ou diretamente para a Unidade de Registros Criminais Uniformes do FBI. O FBI agrega essas contagens em uma estimativa nacional dos crimes conhecidos pela polcia e das prises por ela efetivadas. Ele um sistema de registro agregado no qual as agncias participantes fornecem contagens de crimes elegveis, e no dos registros individuais sobre cada crime ou priso. Instrumentalizao. Os UCR so formados por cinco componentes separados Ofensas Conhecidas pela Polcia (Retorno A), Idade, Gnero, Raa e Origem tnica das Pessoas Presas (ASREO), Registros de Homicdio Suplementares (SHR), Dados de Emprego da Polcia e Policiais Mortos ou Agredidos (LEOKA). H tambm um Programa de Registro de Crimes de dio que foi includo em 1991. O Retorno A inclui as contagens das ofensas que chegam ao conhecimento da polcia. Nem todos os crimes so registrados, apenas homicdio, estupro, roubo, agresso agravada, arrombamento, furto e roubo de veculo automotor. O incndio criminoso tambm registrado, porm no includo no ndice criminal do FBI que a soma dos outros sete tipos de crime. Estas sete classes de ofensas foram escolhidas para serem registradas nos UCR porque os chefes de polcia concordaram que essas classes criminais eram graves, comuns e bem registradas pela polcia. Evidentemente, um grande nmero de classes criminais no foi includo nos dados do Retorno A. Arquivos de Dados. Uma grande variedade de arquivos contendo dados dos UCR se encontra disponvel para uso pblico no site do NACJD (http://www.icpsr.umich. edu/NACJD/index.html). H arquivos de nvel nacional para muitos anos que incluem dados de ofensas conhecidas e de prises para anlise de tendncias. H arquivos do nvel do condado nos quais os dados das agncias do condado so agregados e h arquivos SMSA onde os dados da agncia policial so agregados at a rea Estatstica Metropolitana Padro (SMSA). O arquivo de dados dos SHR se encontra disponvel atravs de registros nicos para cada homicdio. Estes dados foram utilizados extensivamente por acadmicos para testar teorias sobre a etiologia do crime e o controle da criminalidade.

UCR: NIBRSO Sistema Nacional de Registro Baseado nos Incidentes (NIBRS) o mais recente programa de estatstica da criminalidade. Ele foi desenvolvido em 1985, e pretende eventualmente substituir os UCR (Poggio, et al. 1985). Assim como os UCR, o NIBRS foi projetado para oferecer estimativas do nvel e da mudana no nvel da criminalidade nos Estados Unidos e do nvel e da mudana no nvel de pessoas presas. Diferente dos UCR, o NIBRS um sistema de dados baseado no incidente, e no um sistema agregado. Embora os UCR ofeream contagens de ofensas e prises no nvel da agncia ou da jurisdio, o NIBRS oferece um registro para cada incidente criminal e para cada priso. Estes registros de incidentes incluem muito mais informao sobre13

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os crimes, vtimas e ofensores que os dados dos UCR, e o fato deste conjunto se basear no incidente proporciona muito mais flexibilidade na agregao e desagregao dos dados. O NIBRS tambm inclui informao sobre 46 tipos diferentes de crime, em comparao com os sete dos dados do Retorno A. Amostra. Assim como o Sistema Sumrio dos UCR, o NIBRS foi projetado para incluir a populao das agncias policiais nos Estados Unidos. O plano original para o NIBRS inclua um processo de implementao em duas fases no qual o sistema de registro seria primeiro implementado em uma amostra de mais ou menos 300 jurisdies, e ento no restante das agncias na medida em que o tempo e os recursos fossem permitindo (Poggio, et al. 1985). Desenho. Assim como os UCR, o NIBRS uma srie administrativa onde as agncias locais repassam seus registros para os nveis estadual e federal, onde eles so ento agregados para produzir taxas nacionais. Quadro 1 Segmentos de Registro do NUBRSSegmento Administrativo (01) Identifica apenas cada incidente criminal registrado no NIBRS, junto com caractersticas comuns de todas as ofensas dentro de cada incidente como, por exemplo, o dia e a hora do incidente ocorrido. Cada incidente criminal possui 1 registro no segmento administrativo. Segmento da Ofensa (02) Todas as ofensas associadas a um incidente criminal, at 10, so listadas em registros separados. As informaes sobre ao menos uma ofensa devem ser includas em cada Registro de Incidente do Grupo A. Segmento da Propriedade (03) So coletados dados da propriedade descrevendo o tipo, valor e (para drogas e narcticos apreendidos em casos envolvendo drogas) quantidade da propriedade envolvida no incidente. Cada registro no segmento da propriedade contm informao sobre uma combinao de TIPO DE PERDA DE PROPRIEDADE DESCRIO DA PROPRIEDADE. Se, por exemplo, um automvel, equipamento de informtica e residncia so todos vandalizados durante um incidente criminal, haver trs registros no segmento da propriedade. Cada um dos trs ser codificado com um TIPO DE PERDA DA PROPRIEDADE vandalizado. Os trs registros sero ento codificados apenas com uma DESCRIO DA PROPRIEDADE automvel, equipamento de informtica e residncia, respectivamente. Segmento da Vtima (04) So coletados dados das vtimas envolvidas no incidente. Um conjunto separado registrado para cada tipo de vtima (at 999) envolvida no incidente. Deve haver ao menos um conjunto de dados para cada incidente. Segmento do Ofensor (05) Os dados do ofensor incluem caractersticas de cada um dos envolvidos (at 99) em um incidente criminal, quer tenha sido efetuada alguma priso ou no. Segmento do Preso (06) So registrados dados para todas as pessoas presas pela execuo de crimes do Grupo A ou B, ou seja, todas as ofensas exceto Homicdio Justificvel (que no um crime). O objetivo aqui coletar dados sobre as pessoas presas, e no sobre as acusaes imputadas. Por exemplo: a priso de uma nica pessoa em conexo com diversas acusaes em um incidente resulta em apenas um registro de priso.

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Resposta do Sistema de Justia Criminal Criminalidade nos Nveis Estadual e LocalPolcia e Estrutura da Atividade PolicialO NCVS e os UCR podem nos dizer muito sobre a resposta da polcia criminalidade em nvel nacional. O survey pode nos dizer se a polcia foi chamada ou no. De modo menos confivel, o survey pode nos dizer se a polcia fez algo em resposta a esta vitimizao criminal. Ele pode, por exemplo, nos dizer se a polcia chegou cena, se fez um registro e se voltou a contatar a vtima aps o contato inicial.

Gesto Policial e Estatstica AdministrativaEm 1984, o Bureau de Estatstica da Justia iniciou uma nova coleta de dados, a Gesto Policial e Estatstica Administrativa (LEMAS), projetada para descrever a estrutura e as polticas das organizaes policiais em nvel nacional. Desenho. A LEMAS baseado em um questionrio que enviado a uma amostra nacionalmente representativa de organizaes policiais, administrado a cada dois anos. Os respondentes de cada agncia so solicitados a declarar as funes executadas pela organizao (por exemplo, controle do trfico, do vcio, etc.), o nmero e tipo de pessoal, os diversos tipos de polticas seguidas e os programas da agncia, bem como as vrias tecnologias disponveis aos oficiais da organizao, entre elas computadores e armas. Publicaes de Rotina. O BJS produz publicaes de rotina que descrevem diferentes segmentos da atividade policial, tais como grandes departamentos de polcia, departamentos de xerifes, polcias menores e polcia especial. Ver Law Enforcement Management and Administrative Statistics, 1999: Data for Individual State and Local Agencies with 100 or More Officers no http://www.ojp.usdoj.gov/bjs/abstract/ lemas99.htm (Bureau de Estatstica da Justia).

Ministrio PblicoO promotor o personagem mais central no sistema de justia criminal americano. Ele determina se um suspeito ser acusado e qual ser a acusao especfica a ser registrada na justia. A deciso de declinar o processo no pode ser revista pela justia. As reformas mais recentes no sentenciamento tm tirado o arbtrio dos juzes na determinao das sentenas para os ofensores condenados de tal forma que, como resultado, a acusao hoje um determinante muito mais importante da sentena do que era anteriormente. H duas sries de dados que descrevem as decises tomadas e as polticas seguidas nos processos. O primeiro a Estatstica Estadual do Processo na Justia (SCPS) (anteriormente, at 1994, Programa Nacional de Registro Pr-Julgamento (NPRP)), que oferece dados sobre os processos na justia criminal de pessoas acusadas por crimes graves.1 O segundo o Survey Nacional dos Promotores (NPS), que coleta dados sobre recursos, polticas e prticas dos promotores locais.

1 Estes crimes mais graves tipicamente implicam uma sentena de um ano ou mais. A definio precisa destes crimes varia entre os estados.Gesto da informao |

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Estatstica Estadual do Processo na JustiaA SCPS inclui as pessoas acusadas por crimes graves em 40 jurisdies representativas dos 75 maiores condados. So obtidos dados dos arquivos da justia sobre caractersticas demogrficas, ofensas com priso, situao na justia criminal no momento da priso, prises e condenaes anteriores, liberao por fiana ou prjulgamento, registro do comparecimento ao tribunal, novas prises durante a liberao pr-julgamento, tipo e conseqncia da adjudicao e tipo e durao da sentena. Estes dados so coletados aproximadamente a cada dois anos, desde 1988.2 Amostra. Os casos rastreados pela SCPS so identificados em um procedimento de amostragem de duas fases no qual primeiro seleciona-se o tribunal e, depois, casos especficos registrados no tribunal em dias especficos. O arcabouo da amostragem dos tribunais constitudo pelas 75 maiores jurisdies dos Estados Unidos e se divide em quatro estratos de acordo com o tamanho. Quarenta jurisdies so escolhidas aleatoriamente a partir deste arcabouo.

Survey Nacional dos PromotoresO NPS solicita que os promotores declarem informaes bsicas sobre pessoal, operaes e questes atuais tais como o uso de tcnicas inovadoras no processo, sanes intermedirias e casos juvenis transferidos para os tribunais criminais, aes contra promotores e outros profissionais e ameaas e agresso relacionadas ao seu trabalho. O survey foi conduzido pelo BJS em 1990, 1992, 1994, 1996 e 2001.

Condenao e SentenciamentoAs decises sobre condenao e sentenciamento feitas nos tribunais criminais em todo o pas so descritas na SCPS e no Programa Nacional de Registro Judicial (NJRP). Lembremos que a SCPS inclui informaes sobre a adjudicao de culpa ou inocncia e sobre a natureza da sentena imposta, porm esses dados s so coletados em uma amostra de 40 dentre os 75 maiores condados do pas. Isto exclui a atividade em locais menores que cobrem uma proporo substancial da populao dos Estados Unidos. O NJRP se baseia em uma amostra nacional dos julgamentos por crimes graves nos condados e constitui um quadro mais representativo nacionalmente das condenaes e sentenciamentos. Ele no oferece dados sobre o histrico criminal dos rus, o que um determinante importante da sentena. Os dados sobre as condenaes e sentenas de adolescentes se encontram disponveis no NJCDA, conforme descrito na seo anterior.

Programa Nacional de Registro JudicialDesenho. O NJRP coleta dados sobre condenaes por crimes graves em um dado ano nos tribunais estaduais. Os coletores dos dados do censo codificam a informao disponvel nos registros da justia. Assim como o SCPS, o NJRP conta com dados de um ano sim e outro no, especificamente 1983, 1985, 1986, 1988, 1990, 1992, 1994, 1996, 1998 e 2000. Survey da Organizao dos Tribunais Estaduais (SCCO). O SCCO contm informaes descritivas bsicas sobre os sistemas estaduais de justia de apelao e julgamento.2 Por alguma razo desconhecida, a raa dos rus no foi coletada em 1988, mas se encontra disponvel em todos os anos subseqentes.

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So coletadas informaes sobre tribunais e juzes, seleo e servio judicial, procedimentos administrativos, jri e estrutura do tribunal a partir da populao dos tribunais estaduais. O conjunto mais recente inclui dados sobre a proliferao dos tribunais especializados, adjudicao de casos de violncia domstica, defesa por insanidade e sistemas automatizados de informao judicial. Esses dados foram coletados a intervalos irregulares, especificamente em 1980, 1987, 1993 e 1998. Desenho. Os dados so coletados atravs de um survey enviado por correio aos juzeschefe ou administradores dos tribunais em 50 estados e no Distrito de Colmbia. Surveys separados so enviados a tribunais de apelao em cada estado. A informao deste survey complementada por revises dos estatutos e regras que definem a organizao do tribunal.

Cumprimento da SentenaAs sentenas mais comuns impostas s pessoas condenadas pelos crimes (especialmente crimes graves) nos Estados Unidos so o encarceramento e a condicional. Uma pessoa sentenciada ao encarceramento cumprir sua pena em uma priso, caso a sentena seja de um ano ou menos, ou em uma penitenciria estadual, caso a sentena seja de mais de um ano. As pessoas sentenciadas superviso ou condicional vivero em casa, mas tero que aderir a certas condies, tais como testes de rotina ou tratamento para drogas, para que possam permanecer na comunidade. Estes condenados sob condicional so supervisionados por oficiais de condicional que garantem que o ofensor se conforme as condies de sua libertao. Aqueles que no conseguem seguir as condies para sua liberao devero cumprir sua sentena em uma instituio correcional. Muitas pessoas que cumprem sentenas em instituies correcionais tambm cumprem um perodo de superviso ps-liberao. H algumas sries estatsticas que descrevem as populaes que cumprem estas sentenas. Estatsticas Correcionais. Os prisioneiros e prises so descritos em um conjunto inter-relacionado de dados que mede o estoque e o fluxo de prisioneiros, bem como a estrutura e a polcia nas facilidades correcionais nas quais estes internos permanecem abrigados. Estes conjuntos de dados incluem a Estatstica Nacional dos Prisioneiros (NPS), o Censo das Facilidades Correcionais (CSCF), o Censo das Prises (CJ), o Programa Nacional de Registro Correcional (NCRP), o Survey dos Internos das Facilidades Correcionais Estaduais e Federais (SISFCF) e o Survey dos Internos das Prises Locais (SILJ). Os censos so conduzidos mais ou menos a cada cinco anos, mas o CSCF e o CJ no so conduzidos no mesmo ano. Os censos so projetados para enumerar e descrever as penitencirias estaduais e as prises locais. Eles servem como arcabouo de amostragem para o SISFCF e o SILJ, que so realizados a cada cinco anos um ano ou dois aps a realizao dos censos. O NCRP inclui registros individuais para cada admisso e liberao das penitencirias estaduais em um dado ano. Estes dados so coletados continuamente, e no a intervalos, como os censos e surveys. Tomados em conjunto, estes conjuntos de dados oferecem informao sobre as facilidades correcionais e os internos nos nveis estadual e local, bem como sobre o estoque e o fluxo das populaes correcionais. Pena de Morte. Relativamente poucas democracias industrializadas utilizam a pena de morte com alguma freqncia. Vrias naes possuem a capacidade legal de impor a pena de morte para crimes raros como traio, porm esta pena quase17

Gesto da informao |

nunca utilizada. Os Estados Unidos, por sua vez, impem a pena de morte com freqncia razovel para crimes graves como homicdio. Conseqentemente, o Bureau de Estatstica da Justia coleta dados sobre os internos que foram executados e que esperam a execuo.

Sistemas Estatsticos no Nvel FederalO papel federal no controle da criminalidade um tanto limitado nos Estados Unidos, embora a preocupao recente com o terrorismo possa vir a mudar esta tendncia. H um cdigo criminal federal que identifica classes especficas de crimes que as agncias policiais e os tribunais federais devem controlar, como o caso das leis de imigrao. A criminalidade nessas classes rara em comparao com os crimes da lei comum que so em grande medida responsabilidade dos estados e localidades. As agncias policiais federais tm responsabilidade por crimes da lei comum como homicdio ou roubo apenas em domnios federais como bases militares ou reservas indgenas. H algumas agncias policiais federais, cada qual com uma funo bem especfica. O Bureau Federal de Investigao tem a maior autoridade e a agncia mais conhecida. Ele tem a responsabilidade de investigar crimes federais e crimes que envolvem jornadas ou transaes interestaduais. O Bureau de lcool, Tabaco e Armas de Fogo tem autoridade para regular a venda e a movimentao dessas substncias. Muito de sua atividade procura garantir que os impostos sobre o lcool e o tabaco sejam pagos. O Servio de Alfndega tambm tem poder de fazer impor as leis relativas importao de bens e ao pagamento dos impostos sobre esses bens. O Servio Secreto fica a cargo de proteger o Presidente e outros funcionrios do governo. O Servio de Elite fica a cargo de proteger os tribunais, o que inclui o cumprimento de mandatos de fugitivos. A Agncia Anti-Drogas parte independente e parte do FBI. A DEA fica a cargo de fazer cumprir as leis que regulam a venda e uso de substncias controladas. O Servio de Imigrao e Naturalizao fica a cargo de impor as leis de imigrao. Ele hoje parte do Departamento da Segurana Interna. H outras agncias federais com poderes de polcia. Esta fragmentao das agncias se deve em parte ao desejo de limitar o poder federal. No lugar de haver uma polcia federal com amplos poderes, estas agncias federais tm uma autoridade estritamente prescrita e so monitoradas pelo Congresso. Esta necessidade de accountability explica o fato de haver poucas estatsticas coletadas e publicadas rotineiramente por essas vrias agncias. Alm disso, quando esses dados existem e so disponibilizados ao pblico, isto feito atravs de um grande nmero de relatrios dispersos e obscuros. Com resultado, o quadro estatstico das agncias federais parcial e fragmentado. O processo no sistema federal de responsabilidade do Procurador Nacional. H 94 distritos judiciais no sistema judicial federal, e h um Procurador Nacional indicado pelo presidente e confirmado pelo Senado para cada um destes distritos. Estes procuradores so coordenados pela Secretaria dos Procuradores Nacionais do Departamento Federal de Justia. Esta secretaria coleta e distribui rotineiramente relatrios estatsticos sobre as atividades dos procuradores, incluindo as questes consideradas para serem processadas, casos processados, condenaes, etc. O Tribunal Distrital Federal o tribunal de primeira instncia para a maioria das ofensas federais. H 94 Tribunais Distritais Federais, 13 Tribunais Federais de Apelao18| Coleo Segurana com Cidadania [Volume II] Gesto da Informao e Estatsticas de Segurana Pblica no Brasil

e a Suprema Corte. A Secretaria Administrativa dos Tribunais Nacionais fica a cargo de coletar e publicar estatsticas descrevendo as atividades destes tribunais. O Comit Nacional de Sentenciamento foi criado em meados da dcada de 1980 para desenvolver diretrizes para o sentenciamento criminal no sistema de justia federal. Esta agncia hoje monitora a aplicao dessas diretrizes e publica rotineiramente relatrios estatsticos descrevendo o sentenciamento no sistema, bem como quaisquer alteraes nas diretrizes que ocorrem como resultado de novas leis ou regras administrativas. O Bureau de Prises administra o sistema correcional federal e coleta rotineiramente dados muito detalhados sobre suas facilidades e a populao de internos. Em vista do grande nmero de organizaes envolvidas, pode-se notar que difcil obter um quadro estatstico do funcionamento do sistema de justia criminal federal. H agncias demais, e muitas delas no disponibilizam prontamente suas estatsticas. Alm disso, no se busca utilizar definies uniformes ou regras para contagem, portanto no fcil realizar comparaes entre as agncias ou funes. Assim, por exemplo, os procuradores nacionais tratam questes de modo diferente da Secretaria Administrativa dos Tribunais Nacionais o que implica que no se pode obter uma taxa de registro para um distrito judicial especfico. Em 1987, o Bureau de Estatstica da Justia criou o Centro de Pesquisa e Estatstica Federal da Justia (FJSRC) com o objetivo de desenvolver um conjunto de estatsticas mais uniformes e acessveis para o sistema federal de justia. O FJSRC tem sido bem sucedido no sentido de tornar as estatsticas federais mais uniformes e acessveis. O Centro administrado pelo BJS em contrato com o Instituto Urbano. A equipe do Instituto Urbano continuamente solicita dados de todas as agncias mencionadas acima, sendo esses dados disponibilizados no site do Centro. Alm disso, o Centro desenvolveu um tutorial sobre o sistema federal de justia que descreve as funes realizadas pelas diversas agncias, bem como os termos e definies utilizados por estas agncias para descrever sua atividade (http:// fjsrc.urban.org/index.cfm ). Pode-se extrair informao estatstica do banco de dados do FJSRC para uma agncia ou funo especficas ou vrias agncias s quais casos especficos so associados. Deste modo, pode-se conhecer tanto a ao do procurador nacional quanto do juiz do tribunal distrital a respeito do mesmo caso. O site possui uma funo de consulta onde os usurios podem solicitar informaes especficas que so extradas do banco de dados e visualizadas. Para o usurio mais sofisticado, o site oferece a funo de criar conjuntos de dados que podem ser utilizados atravs de softwares estatsticos tais como o SAS. Vamos a seguir descrever brevemente outra experincia de referncia aos nossos propsitos, agora no mbito domstico da rea de sade no Brasil. 1.2.2. O Caso SUS No atual cenrio de debates em torno da constituio de um Sistema nico de Segurana Pblico (SUSP), a discusso da constituio de um Sistema de Informao em Segurana Pblica mostra-se fundamental, j que polticas e estratgias setoriais de comunicao e informao fazem parte da espinha dorsal de qualquer proposta de mudana nos modelos institucionais de gesto. Neste sentido, a experincia da reforma sanitria brasileira, a qual culminou na implementao do Sistema nico de19

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Sade (SUS) no deve ser desprezada, dadas algumas similaridades entre o processo hoje vivido no setor de segurana pblica brasileiro e o vivido no setor sade. Assim, a anlise da trajetria de constituio do SUS, particularmente no tocante experincia do Sistema de Informao em Sade, pode oferecer alguma inspirao para a elaborao da arquitetura de um Sistema de Informao de Segurana Pblica. Na prtica o prprio avano da implantao do SUS, que tem como principais diretrizes de atuao poltico administrativa, a descentralizao da gesto dos servios e a participao popular, tornou necessria a descentralizao da produo das informaes em sade, de modo a possibilitar a gesto e definio de prioridades no plano do municpio, reconhecido como ente governamental autnomo com responsabilidades no tocante ao planejamento, organizao, controle e avaliao das aes e servios de sade. Neste sentido, produzir, gerenciar e divulgar informaes constitui elementos estratgicos, servindo para o fortalecimento das aes estatais. No campo da sade no Brasil, at a dcada de 70, grande parte dos indicadores de sade da populao era obtida indiretamente atravs de estimativas baseadas em dados censitrios e pesquisas amostrais, j que poucos estados possuam sistemas de informao que permitissem a obteno por mtodos diretos de indicadores epidemiolgicos. Os sistemas de informao criados nos anos 70 e 80 espelhavam a interveno centralizadora do Estado, a par de uma tecnologia de processamento de dados que exigia computadores de grande porte, e a inexistncia de recursos humanos qualificados disponveis para a gesto e produo de informaes. Este cenrio acabou por relegar as atividades de gerenciamento dos sistemas que abarcavam a introduo de crticas de dados, anlise de consistncia e a avaliao de cobertura para o nvel federal de gesto da sade. Nos anos 90, testemunhou-se a expanso dos sistemas de informao no plano municipal, o que foi bastante facilitado pela incorporao da informtica nos servios de sade. Entretanto, estes sistemas eram falhos, em funo da baixa cobertura levando a elaborao de indicadores pouco confiveis e que no refletiam a condies reais de sade da populao. Neste mesmo perodo, por iniciativa do Ministrio da Sade e da Associao Brasileira de Ps-graduao em Sade Coletiva (ABRASCO), foi realizado um diagnstico dos sistemas de informao em sade de abrangncia nacional o qual apontou dentre outros problemas: 1) falta de normatizao e padronizao dos documentos dos sistemas, 2) dificuldades de acesso informao, 3) dificuldade de compatibilizar a informao. Seguiu-se um grande esforo para superar os problemas existentes nos sistemas de informao de abrangncia nacional, o qual culminou na reviso dos documentos bsicos de coleta do Sistema de Informao de Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informao de Nascidos Vivos (SINASC), criando-se Manual de Declaraes de bito e de Nascimento (DO e DN), obtendo-se assim padronizao das variveis existentes nestes instrumentos e documentando a definio destas variveis. Em 1996, o Ministrio da Sade, em conjunto com a Organizao Pan-Americana de Sade (OPAS), criou a RIPSA (Rede Integrada de Informaes para Sade), a qual colocou-se como frum tcnico das diversas agncias produtoras de informaes de sade e usurios e definio dos indicadores bsicos de sade do pas, variveis mnimas de identificao do indivduo e da ocorrncia do evento, formulao de propostas de capacitao de recursos humanos, e identificao dos principais problemas na produo e disseminao das informaes em sade, avanando no processo de padronizao dos sistemas e compatibilizao dos sistemas de informao. Concomitantemente, o desenvolvimento de tecnologia pelo Departamento de Informtica do SUS (DATASUS)20| Coleo Segurana com Cidadania [Volume II] Gesto da Informao e Estatsticas de Segurana Pblica no Brasil

facilitou a produo e disseminao de informaes que hoje podem ser disponibilizadas com poucos meses aps a ocorrncia do evento. Assim, existem atualmente no pas 28 sistemas nacionais de informao sobre sade. Estes sistemas esto sob a gesto do Departamento de Informtica do SUS DATASUS e do Centro Nacional de Epidemiologia CENEPI, da Fundao Nacional de Sade (FUNASA), todos vinculados ao Ministrio da Sade. No quadro 1 abaixo so apresentados esquematicamente e a ttulo de exemplo os principais sistemas nacionais de informao de interesse para a sade. Quadro 2 Principais Sistemas Nacionais de Informao de SadeBase de dados Sistema de Informaes de Mortalidade SIM Sistema de Informaes de Nascidos Vivos SINASC Sistema de Informaes Hospitalares autorizao de internao hospitalar SIH/SUS Sistema de Informaes Ambulatoriais autorizao de procedimentos de alta complexidade/custo SIA/ SUS (APAC) Sistema de Informao de Ateno Bsica SIAB Sistema de Notificao de agravos SINAN Atualizao anual Anual Mensal Instituio responsvel CENEPI CENEPI DATASUS Unidade de registro bito Nascimento Procedimento Unidade espacial de referncia Municpio, endereo* Municpio, endereo* CEP, endereo** Ano de criao 1975 1990 1981

Mensal

DATASUS

Terapia utilizada

CEP, endereo*

1997

Mensal Mensal

PACS/PSF CENEPI

Famlia Agravos sade

Microraea Bairro, endereo* 1995

* O registro de endereos nessas bases de dados mantido em arquivo separado e sigiloso nas secretarias municipais e estaduais de sade. ** O registro de endereos na base de dados do SIA/SUS (apac) mantido em sigilo pela DATASUS com uma cpia na Secretaria de Assistncia Sade (SAS) do Ministrio da Sade.

A experincia do SUS, principalmente no tocante s dificuldades vivenciadas na implementao e disseminao dos sistemas de informao, apontou uma srie de situaes que devem ser evitadas ou minimizadas a fim de um bom funcionamento de sistemas de informao, quais sejam: a captura manual de dados por falta de informatizao do sistema, o que gera trabalho via mltiplos instrumentos de coleta; a implementao de sistemas que carecem de integrao e de padronizao para representar e compartilhar informaes; o excesso de demandas dos nveis gestores centrais do sistema consumindo grande parte do tempo dos trabalhadores, a ausncia de documentao dos sistemas de informao, como manuais de instruo para coleta de dados, definio do fluxo de informaes e manuais de operao dos sistemas; a presena de diferentes verses dos softwares utilizados nos sistemas de informao e a introduo de mudanas operacionais no acompanhadas de explicaes necessrias para sua compreenso. Assim, a experincia de implantao de um sistema de informao nos sugere que ela deve ser acompanhada no mnimo de: (a) Documento padro para captao de dados; (b) Manuais de instruo para coletas de dados; (c) Manuais de operaoGesto da informao |

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do sistema; (d) Embasamento legal para funcionamento do sistema (leis e portarias); (e) Definio de fluxos de documentos e informaes; (f )Definio de indicadores; (g) Capacitao de recursos humanos para operao do sistema.

2. Perspectiva FederalA criao da rede que compe o Sistema de Gesto do Conhecimento do SUSP segue mltiplos objetivos que se diferenciam segundo o usurio do sistema. Por esta razo, os sistemas de informaes dentro do contexto do SUSP podem ser vistos sob perspectivas diferentes. A primeira delas refere-se a sua esfera de abrangncia: municipal, estadual e federal. Outra perspectiva refere-se caracterstica dos sistemas de informaes, os quais podem ser considerados como gerenciais ou transacionais/ operacionais. Pode-se ainda caracterizar os sistemas gerenciais como sistemas para gesto da informao ou sistemas para a gesto do conhecimento. Independentemente da perspectiva a ser considerada, na definio de uma poltica que defina quais sistemas de informaes devem permear este contexto, deve-se zelar para que elas sejam facilmente acessveis e forneam transparncia e confiabilidade s aes executadas pelos rgos de segurana estatal. A figura abaixo esquematiza estas diferentes possibilidades. Ressalte-se o sentido de alimentao ascendente mostrado na figura, visto que as informaes nos nveis municipal e estadual alimentam o nvel federal. Quadro 3 Sistemas transacionais e gerenciais de segurana pblica

Podemos contar com a existncia de pelo menos cinco pblicos diferenciados com usos especficos para cada um deles: Secretarias Estaduais de Segurana Pblica fornecer informaes necessrias na elaborao de diagnsticos para o planejamento de polticas estaduais de segurana pblica. Organizaes Policiais fornecer informaes necessrias para o desenvolvimento de relatrios comparativos da realidade vivida pelos diferentes estados, de maneira a qualificar o processo de planejamento e implantao das aes policiais.22

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Secretaria Nacional de Segurana Pblica fornecer informaes fundamentais para o acompanhamento da implantao das polticas estaduais de segurana pblica e fornecimento de informaes para a sociedade civil aprimorar suas formas de participao na estruturao e implementao das polticas pblicas de segurana. Pesquisadores da rea de Segurana Pblica fornecer informaes fundamentais para incrementar o carter prtico das pesquisas desenvolvidas na rea de segurana pblica. Sociedade Civil fornecer informaes fundamentais para aumentar o conhecimento da sociedade civil sobre a segurana pblica e, assim, dar mais contedo participao da sociedade civil nos debates para planejamento e implantao das polticas segurana pblica.

2.1 O sistema de Gesto da Informao do Sistema nico de Segurana PblicaUm dos aspectos importantes a ser ressaltado que o sistema proposto inclui componentes informacionais tanto de registros administrativos quanto de surveys populacionais, para que nem toda a informao do sistema fique sob controle das agncias de justia criminal. Isto aumentar a legitimidade destas estatsticas, levando a que a percepo pblica do problema da criminalidade no esteja sob o controle apenas das agncias da justia criminal. O sistema tambm contm informaes descritivas sobre as agncias envolvidas no sistema de justia criminal como, por exemplo, recursos e pessoal. O programa de Gesto do Conhecimento do Sistema nico de Segurana Pblica (SUSP) visa a estabelecer polticas de comunicao e cooperao vertical entre estado, municpios e governo federal, bem como, em um sentido horizontal dentro de cada um desses nveis, estabelecer polticas de coleta, integrao e divulgao da informao para os rgos/setores envolvidos localmente nas aes de Segurana Pblica. O sistema aqui proposto obedece a uma concepo para constituio de uma Rede Integrada de Informaes para a Segurana Pblica. Trata-se de uma estratgia de articulao inter-institucional destinada a propiciar a disponibilizao adequada, oportuna e abrangente de dados bsicos, indicadores e anlises de situaes sobre as condies de segurana pblica e suas tendncias no pas, com vistas ao aperfeioamento da capacidade de formulao, coordenao, gesto e operacionalizao de polticas e aes pblicas dirigidas segurana pblica. A concepo da Rede est balizada no reconhecimento dos seguintes problemas sntese da rea de informaes em segurana pblica no Brasil: (I) a informao no adequadamente utilizada como um requisito fundamental do processo de decisocontrole aplicado gesto de polticas e aes de segurana pblica; (II) os sistemas de informao existentes so desarticulados, insuficientes e imprecisos, e no contemplam a multicausalidade dos fatores que atuam na determinao da violncia e da criminalidade; (III) inexistem processos regulares de anlise da situao de segurana pblica e de suas tendncias, de avaliao de servios e de difuso da informao. De outra parte, observa-se que as necessidades atuais de informao na rea de segurana pblica podem ser agrupadas nos seguintes campos: (I) formulao de polticas pblicas e programas governamentais anlise de condies de segurana pblica, suas tendncias e relaes intersetoriais; induo do desenvolvimento cientfico23

Gesto da informao |

e tecnolgico; (delineamentos estratgicos da ao governamental); (II) gesto do SUSP planejamento estratgico e desenvolvimento institucional; formulao de diretrizes de financiamento; conduo, avaliao e controle das aes e servios; (III) mobilizao de recursos aprimoramento de mecanismos e instrumentos de cooperao tcnica nacional e internacional; desenvolvimento de recursos humanos; formulao de acordos e projetos para a potencializao de fontes de financiamento; e (IV) difuso pblica acompanhamento das condies de segurana pblica no Brasil e da posio do pas no contexto internacional; orientao da populao; produo cientfica.

2.2 Sistema de Indicadores Sociais e de Segurana SISS2.2.1 Objetivos Gerais O Sistema de Indicadores Sociais de Segurana (SISS) visa a estimular a coleta, anlise e divulgao de informaes sobre o problema da criminalidade e da violncia, bem como estratgias eficazes de controle, orientando-se pelo princpio da difuso pblica das informaes. Neste sentido prope-se criar uma base de dados com informaes sobre criminalidade, violncia e justia no Brasil, para que possa servir de base para formulao, implementao, monitoramento e avaliao de polticas de segurana pblica. Os objetivos do SISS so os seguintes: (I) dispor de bases de dados consistentes, atualizadas, abrangentes, transparentes e de fcil acesso; (II) articular instituies que possam contribuir para o fornecimento e crtica de dados e indicadores, e para a anlise de informaes, inclusive com projees e cenrios; (III) implementar mecanismos de apoio para o aperfeioamento permanente da produo de dados e informaes; (IV) promover interfaces com outros sub-sistemas especializados de informao da administrao pblica; (V) contribuir para o aprofundamento de aspectos ainda pouco explorados, ou identificados como de especial relevncia para a compreenso do quadro de segurana pblica brasileiro. 2.2.2 Caractersticas Gerais O SISS est estruturado a partir de duas possibilidades de obter informaes a respeito de criminalidade, violncia e sobre as organizaes de polcia e justia. (a) Fontes secundrias: Dados oficiais e registros administrativos; (b) Produo de dados: Observaes diretas; Surveys de vitimizao e auto-resposta; Observaes experimentais. A montagem dessas vrias frentes de informaes deve-se ao fato de que no existe uma frmula nica de classificao, mensurao ou definio de delitos criminosos. Cada organizao encarregada do processamento de crimes e criminosos os classifica de acordo com seus objetivos e orientaes. O SISS est dividido em trs grandes mdulos. O primeiro deles dever conter informaes coletadas a partir de dados disponveis nas agncias oficiais encarregadas da produo de informaes a respeito de crimes e criminosos, bem como das prprias agncias da justia criminal (polcias, promotoria, juizes e prises). O segundo diz respeito produo de informaes complementares s fontes oficiais. O terceiro refere-se estrutura j existente do INFOSEG, e dirige-se para a organizao de um cadastro criminal. Logo a seguir, descreve-se com mais detalhes esta estrutura de informaes.24

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Quadro 4 Proposta de Organizao de um Sistema Federal de Informaes

Gesto da informao |

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2.2.3 Estrutura do Sistema de Informaes O SISS est estruturado em trs mdulos que, por sua vez, dividem-se em submdulos: 2.2.3.1 Mdulo Informaes Oficiais de Segurana Pblica Registros oficiais e administrativos so produzidos por organizaes policiais, hospitais de pronto-socorro e organizaes encarregadas da emisso de atestados de bito dentre outras. Este mdulo dever organizar as informaes disponveis sobre as organizaes policiais e judicirias (polcias, promotoria, varas criminais, prises), bem como da criminalidade, violncia e criminosos Para tal, estar dividido em dois sub-mdulos: a) Sub-Mdulo Informaes sobre Organizaes Sistema Justia Criminal Assim, sero coletadas informaes que permitam uma avaliao mnima a respeito da performance das organizaes da justia criminal. Organizaes policiais Quadro 5Nmero de policiais efetivos Recursos materiais Nmero de inquritos oferecidos Natureza das prises Nmero de civis mortos Recursos tecnolgicos Razo de policiais em atividades meios e fins Nmero de denncias e ocorrncias (viaturas, informtica etc.) Nmero de prises efetuadas pela polcia judiciria ao Ministrio Pblico Nmero de policiais mortos em atividade (flagrante, averiguaes etc) Atividades de policiamento comunitrio em confronto com a polcia Centros de anlise criminal e informacionais

Justia3 Sugere-se o seguinte modelo de dados sobre o Movimento Judicirio a serem coletados na Varas Criminais3 As informaes relevantes para a Justia e Estabelecimentos prisionais foram extradas de INDICADORES SOCIAIS DE CRIMINALIDADE. Trabalho elaborado de acordo com o convnio SG n 033/86 e o Termo de Renovao SG-003/87, celebrados entre a Fundao Joo Pinheiro (FJP) e o Ministrio da Justia Programa Ruas em Paz. No que diz respeito ao movimento judicirio, ele busca incorporar o modelo de informaes sobre o Movimento dos Inquritos e Processos que se encontra na publicao Crimes e Contravenes, do Servio de Estatstica Demogrfica, Moral e Poltica do Ministrio da Justia para o antigo Estado da Guanabara (Brasil, Ministrio da Justia, 1972). Este trabalho nos oferece dados sobre o total de inquritos apreciados e total de pessoas implicadas, por tipo de delitos. * Estas informaes devem ser especificadas por Motivo Determinantes.

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Recursos humanos e materiais Nmero de inquritos recebidos no ano Nmero de sentenas Condenatrias no ano*

Caractersticas sociais promotores e juzes Nmero de inquritos vindos do ano anterior Extenso da pena privativa de liberdade (menos; de dois anos; de dois a quatro anos; de quatro a dez anos; de dez a quinze anos; mais de quinze anos) por motivo determinante.

Pessoal existente na justia criminal: promotores, juizes, defensores pblicos, Recursos tecnolgicos e informacionais oficiais de justia, outros

Estabelecimentos Prisionais Quadro 6Recursos humanos e materiais Condenados existentes por tipos de unidades Movimento de presos durante o ano Tipos de unidades prisionais penitencirias, presdios, Outras Extenso da pena imposta por motivo determinante da priso Infopen

Percia Recursos humanos, matrias, tecnolgicos e de comunicao b) Sub-Mdulo Criminalidade e Violncia Esta parte dirige-se coleta de informaes sobre os crimes e criminosos, no sentido de montar uma base de informaes sobre variveis relevantes para descrio das caractersticas sociais de presos, implicados, indiciados, denunciados, condenados e apenados em estabelecimentos prisionais. Alm disso, buscam-se informaes a respeito das circunstncias e dos aspectos scio-temporais de ocorrncia dos delitos. A combinao de distintas fontes crucial para a montagem deste sub-mdulo. Alm disso, a possibilidade de inseri-los em uma base de ocorrncias geoprocessadas dever ser o horizonte de organizao desta base de dados. b-1) Ocorrncias Polcia Militar Ocorrncias policiais: tipo, local, data, hora, dia, ms. b-2) Informaes Polcia Civil Inquritos: caractersticas sociais dos indiciados Relacionamento agressor e vtima Motivaes b-3) Justia Caractersticas Individuais dos Indiciados em Inquritos nas Varas Criminais por Motivo Determinante. Caractersticas Individuais dos condenados por motivo determinante.Gesto da informao |

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b-4) b-5) c)

Estabelecimentos Prisionais Caractersticas Individuais por Motivo Determinante da Priso. Percia Dados identificao criminal Quais informaes coletar? Tipos de crimes Homicdios Tentativa de homicdio Estupro e atentado violento ao pudor Roubo Roubo a mo armada Roubo de veculo Roubo de veculo a mo armada Seqestro Trfico de entorpecentes Assaltos a transeuntes

Caractersticas dos presos: Sexo, Idade, Emprego, Etnia, Antecedentes Criminais, Estado Civil e Instruo

2.2.3.2 Mdulo Produo de Informaes em Criminalidade e Violncia Conforme ressaltado anteriormente, no desejvel que as organizaes oficiais detenham o monoplio da informao. A necessidade de formas alternativas de dados ser uma maneira de aumentar o accountability dessas organizaes, alm de serem formas importantes de suplementar e qualificar os dados com os quais elas trabalham. a) Sub-Mdulo Pesquisa Sugere-se que este sub-mdulo seja composto por um programa contnuo de produo de informaes atravs de pesquisas de vitimizao e avaliao de medo, que podem ainda ser complementada por questes de avaliao institucional a respeito das polcias e da justia, alm de questionrios auto-respondidos. Pesquisas de vitimizao so aquelas que procuram conhecer detalhadamente a freqncia e a natureza da ocorrncia de crimes. Seu objetivo central est em obter informaes sobre as vtimas, os agressores e seu relacionamento com as vtimas, alm das circunstncias de sua ocorrncia (hora e local de ocorrncia, uso de armas, conseqncias econmicas etc), atravs de entrevistas feitas junto a membros da populao. Tornam possvel, tambm, o conhecimento de informaes suplementares da experincia das vtimas com o sistema de justia criminal e sobre medidas tomadas para autodefesa. Investigaes desta natureza permitem ainda qualificar as estatsticas criminais produzidas pelos sistemas de justia e polcia, proporcionar aos planejadores de polticas de segurana pblica informaes sobre a natureza e a extenso dos crimes e o que habitualmente leva as pessoas a reportarem crimes polcia, alm de avaliar a percepo do pblico a respeito da atuao do Estado numa rea crucial para a consolidao de instituies democrticas: a da segurana pblica.28

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b) Sub-Mdulo Programas Aplicados de Pesquisa Este sub-mdulo buscar, atravs dos canais de financiamento de pesquisa do governo federal, induzir pesquisas em temas que sejam de interesse das autoridades pblicas de segurana, bem como alvo de preocupao da populao. Uma iniciativa desta natureza j est sendo patrocinada pela Senasp, atravs dos concursos de pesquisas aplicadas, lanado no ltimo ano, que deveriam ser replicadas no interior de uma linha de financiamento contnuo de pesquisas de interesse para polticas pblicas. 2.2.4. Funes dos Sistemas de Informao A estrutura do sistema proposto montada a partir da coleta de dados distribuda por distintos nveis de governo, e ao longo de diversas instituies oficiais e civis. A natureza das informaes coletadas, bem como a finalidade para o qual elas so registradas que determinaro sua funo. Informaes podem ser utilizadas para fins administrativos e de contabilidade organizacional a respeito dos recursos humanos e materiais disponveis na organizao. Trata-se de saber a quantidade e qualidade dos recursos disponveis, bem como a natureza das atividades exercidas a fim de resolver problemas de natureza da gerncia interna das organizaes. Informaes tambm podem ser utilizadas para fins operacionais, com vistas s metas e fins ltimos das organizaes que, no caso da segurana pblica, significa aumentar a qualidade de vida da populao atravs do aumento do controle de crimes e da sensao de segurana. Informaes aqui so tomadas como elementos para o desenvolvimento de estratgias operacionais das organizaes que compem o sistema de justia, buscando incrementar a eficincia e efetividade de suas aes. A tabela abaixo discute as conseqncias que o tipo e a funo das informaes que iro compor o SISSP tem para o gerenciamento da segurana pblica. Quadro 7 Utilizao de distintos tipos de informao para fins diversosTipo Funo Administrativo Operacional Agregado (A) Comparao (B) Monitoramento e Avaliao Incidentes (C) Gerenciamento (D) Gesto Operacional

Dois tipos de informao podem ser utilizados para a realizao destas atividades: elas podem ser usadas de forma agregada, agrupando certo nmero de casos a partir de uma unidade qualquer seja uma organizao, unidade geogrfica, grupos de idade ou tipos de crimes. Os dados constantes do Sistema Nacional de Estatsticas de Segurana Pblica e Justia Criminal (SINESPJC) da Secretaria Nacional de Segurana Pblica, por exemplo, so o resultado agregado de vrios tipos de ocorrncias criminais e caractersticas de pessoas. Ou, ento, podemos dispor de informaes na forma de incidentes, organizadas caso a caso, sejam eles indivduos, processos, fichas de pessoas ou eventos criminais. Incidentes so dados brutos transformados em informaoGesto da informao |

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armazenados caso a caso. Boletins de ocorrncia das polcias militares so incidentes que relatam eventos relativos a crimes; inquritos policiais relatam uma investigao que contm informaes sobre criminosos e vtimas; denncias e processos so incidentes formulados a partir de pessoas denunciadas, fichas prisionais etc. O nvel de agregao de dados depende de uma srie de fatores que tm a ver com a tecnologia disponvel, com o treinamento das pessoas na coleta de dados e com a centralidade dessas atividades no interior das organizaes. Por outro lado, a funo que estas informaes cumprem no interior dessas atividades tem a ver com mecanismos de gesto estratgica, ttica e operacional, que so heterogeneamente utilizados nas organizaes do sistema de justia brasileiro. As conseqncias so diferentes para cada nvel de governo. Vamos ver em detalhe as diversas possibilidades de interao. As tabelas abaixo so especificaes da tabela 1, na qual relacionam-se as bases de dados especficas, com a indicao das unidades responsveis pela coleta e manuteno. Como estamos falando de uma concepo em rede, estas organizaes podem ser municipais, estaduais ou federais. Tambm podem participar ONGs, universidades e centros de pesquisa. Alm disso, indicado tambm qual a perspectiva de implementao destas bases. Em alguns casos, esta informao j est disponvel na Senasp/MJ, ou ento est em vias de se concretizar no curto prazo. Em outras situaes ela pode ser produzida atravs de pesquisas ou da organizao de dados j existentes a nvel estadual ou federal no mdio prazo. Finalmente, em alguns casos ela dever ser produzida desde as etapas iniciais, exigindo esforos de longo prazo. Naturalmente, todo este esforo est sujeito a negociaes de natureza poltica. Alm disto, dada a heterogeneidade dos estados e das cidades, existem situaes mistas em que a implementao ir variar do curto ao longo prazo. 2.2.4.1 Informaes Comparativas A primeira clula (A) refere-se aos dados agregados que tm fins administrativos. Trata-se de informaes cujo objetivo comparar situaes distintas a partir de um mesmo conjunto de informaes. Assim podemos ter: Federal: Neste nvel, trata-se de obter informaes que permitam uma perspectiva comparada a respeito dos recursos policiais e de justia nos estados, de forma a visualizar reas de interveno estratgica atravs de polticas de induo seja no mbito do treinamento e qualificao, seja na introduo de tecnologias de comunicao, e informao. Todas estas bases podem ser ampliadas para incluir mais informaes sobre atividades das polcias, e serem replicada a cada dois anos. Quadro 8Bases de Dados Planilha de Registros Policiais (Policia Civil e Policia Militar) nos moldes do Uniform Crime Report americano Planilha Perfil Organizacional (Polcia Militar, Polcia Civil, Polcia Tcnica, Guarda Municipal, Ouvidoria e Corregedoria) Unidade Responsvel SENASP Perspectivas de Implementao Curto Prazo

SENASP

Curto Prazo

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Planilha de Cadastro de Crimes Letais Planilha de Controle da Atividade Policial (Ouvidorias e Corregedorias)

SENASP SENASP

Curto Prazo Longo Prazo

Pesquisa Organizao das Guardas Municipais sobre as atividades, equipamento e treinamento utilizados pelas organizaes municipais pode ser replicada a cada dois meses SENASP Sistema de Informaes Prisionais que permite estabelecer uma base comparativa para os 1185 estabelecimentos prisionais brasileiros, que congregam uma populao carcerria de 116.288 pessoas, no qual trabalham 27.856 funcionrios. Dados genricos sobre recursos humanos e materiais da Justia e do Ministrio Pblico hoje so virtualmente inexistentes para efeito de planejamento do Ministrio da Justia, embora existem de forma mais ou menos sistemtica nos estados

Curto Prazo

DEPEN

Curto Prazo

MJ

Curto Prazo

Estadual: A gesto estratgica dos recursos humanos e materiais para os executivos estaduais pode vir a ser incrementada na medida em que se constituam sistemas de informao de recursos humanos, materiais e de informaes de crime no mbito das secretarias estaduais de defesa social, de justia e do Ministrio Pblico. A montagem destes sistemas pode vir a ser parte importante dos Planos Estaduais a serem submetidos ao Fundo Nacional de Segurana Pblica. Quadro 9Bases de Dados Distribuio de Recursos Humanos e Materiais Cadastro de Informaes Prisionais do INFOPEN Unidade Responsvel Secretarias Estaduais DEPEN Perspectivas de Implementao Curto Prazo Mdio Prazo

Municipal: Relatrio das condies de vida intramunicipal a partir de dados socioeconmicos, informaes de segurana pblica bem como do levantamento de equipamentos de proteo social. Muitos municpios brasileiros j vem adotando os relatrios produzidos pelo IBGE, e sistemas como o Atlas do Desenvolvimento Humano (http:// www.pnud.org.br/index.php?lay=inst&id=atl3) para orientar suas polticas de desenvolvimento social. 2.2.4.2 Informaes Estratgicas: Monitoramento e Avaliao4 A segunda clula refere-se a um conjunto de informaes agregadas, mas com propsito mais operacional com vistas a monitoramento e avaliao de polticas, projetos e programas. Trata-se de obter informaes que permitam acompanhar de4 Muitas destas informaes encontram-se nos sistemas de gerenciamento de pessoal das respectivas instituies e podem vir a ser compartilhadas num sistema de gerncia de pessoal que contenha informaes funcionais.Gesto da informao |

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forma metdica o que est ocorrendo atravs de dados oficiais e de pesquisas e surveys de vitimizao. Federal: O governo federal necessita instrumentos de avaliao e monitoramento que possam subsidiar: Quadro 10Bases de Dados Avaliao dos Planos Estaduais de Segurana Distribuio de Recursos Financeiros Induo de Programas e Polticas Treinamento e Qualificao Profissional Avaliao Institucional e Qualificao dos dados Perfis de Vitimizao Unidade Responsvel SENASP SENASP SENASP SENASP SENASP SENASP Perspectivas de Implementao Curto a longo prazo Curto prazo Longo prazo Curto prazo Mdio prazo Mdio prazo

Estadual: da mesma maneira os governos estaduais tm que monitorar e avaliar: programas e performance organizacional para efeitos de gesto estratgica Quadro 11Bases de Dados Desempenho de unidades operacionais policiais Condies prisionais Perfil da populao prisional Avaliao institucional das polcias Treinamento e qualificao profissional Unidade Responsvel Secretarias Estaduais Secretarias Estaduais Secretarias Estaduais Secretarias Estaduais Secretarias Estaduais Perspectivas de Implementao Curto a longo prazo Mdio prazo Mdio prazo Curto a longo prazo Curto a mdio prazo

Municipal: a complexidade dos problemas que se apresentam a os municpios requer o desenvolvimento de instrumentos para: Quadro 12Bases de Dados Monitoramento e avaliao de projetos relacionados a desordens e delitos de qualidade de vida Focalizao de projetos de preveno voltados para distintos grupos sociais e locais do espao urbano Indicadores Sociais Unidade Responsvel Secretarias Municipais Perspectivas de Implementao Mdio a longo prazo

Secretarias Municipais Secretarias Municipais

Mdio a longo prazo Curto e mdio prazo

2.2.4.3 Atividades de Gerenciamento Ttico Nesta clula termos informaes de natureza distinta, que so os incidentes e casos que podem posteriormente vir a ser agregados seja para efeitos de comparao, ou seja, para efeitos de gesto estratgica no nvel administrativo. Trata-se de melhor alocao de recursos humanos e materiais tendo em vista resultados no incremento das condies de segurana e sensao de medo.32| Coleo Segurana com Cidadania [Volume II] Gesto da Informao e Estatsticas de Segurana Pblica no Brasil

Federal: neste nvel, devemos dispor de dados para gesto ttica relacionadas s atividades de inteligncia e planejamento da polcia federal e da justia federal nos estados. Quadro 13Bases de Dados Informaes sobre crimes especficos, tais como invases de terra Atividades de inteligncia policial (crime organizado e trfico de drogas) Justia Federal Presdios federais Unidade Responsvel MJ e Polcia Federal MJ MJ MJ Perspectivas de Implementao 2 1 3 2

Estadual: A nfase aqui so os sistemas de despachos e atendimentos integrados entre os rgos que compem o sistema de defesa social, includos bombeiros e ministrio pblico. O desenvolvimento de sistemas de informaes mapeadas ser a referncia para a integrao das diversas bases de dados, e para compartilhamento com outros rgos da administrao pblica. Quadro 14Bases de Dados Centros Integrados de Operaes Sistema de Informao Policial Justia Infncia Unidade Responsvel Secretarias Estaduais Secretarias Estaduais Secretarias Estaduais Perspectivas de Implementao Curto a longo prazo Curto a longo prazo Curto a longo prazo

Municipal: sistemas de informaes para fins de segurana no nvel ttico ainda so novidades no mbito municipal, e os planos municipais podem ser orientados na direo de sua montagem. A articulao com outras reas de pode ser de interesse dos municpios. Quadro 15Bases de Dados Sistemas de monitoramento de condies sociais e desordem pblica Gerenciamento de Guardas Municipais Unidade Responsvel Perspectivas de Implementao Mdio e longo prazo Mdio e longo prazo

Secretarias Municipais Secretarias Municipais

2.2.4.4 Gesto Operacional Esta clula refere-se ao planejamento operacional nas atividades de ponta, que envolvem vrios nveis de gerncias de problemas. Boa parte das atividades dos Gabinetes de Gesto Integrada e de foras tarefa para fins especficos pode partir deste nvel de organizao das informaes.

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Federal Quadro 16Bases de Dados INFOSEG Controle de Armas Trfico de drogas e crime organizado Percia Criminal Unidade Responsvel SENASP PF PF PF Perspectivas de Implementao Curto prazo Curto prazo Curto prazo Curto prazo

Estadual Quadro 17Bases de Dados Planejamento operacional de atividades Centros de anlise criminal e mapeamento Planejamento operacional de atividades Percia criminal Unidade Responsvel Secretarias Estaduais Secretarias Estaduais Secretarias Estaduais Secretarias Estaduais Perspectivas de Implementao Curto a longo prazo Curto a longo prazo Curto a longo prazo Curto a longo prazo

2.3. Sistemas de Gesto do ConhecimentoA gesto do conhecimento(GC) enfatiza o aspecto da formalizao e compartilhamento do conhecimento. Polticas de registro e acesso de melhores prticas, bem como formalizao de experincias onde o conhecimento tcito est envolvido, devem assim ser realizadas. Alm disso, a criao de um banco de talentos e o mapeamento de competncias a partir do mesmo so atividades primordiais neste contexto. Sistemas de informaes (SI) para auxiliar a Gesto do conhecimento facilitam a troca de experincias e resoluo coletiva de problemas. A GC envolve ainda um forte investimento em mudana cultural o que, no caso da Segurana Pblica, se trata de tarefa monumental. Muitos so os profissionais do conhecimento na Segurana Pblica: delegados, investigadores, comandantes, peritos, etc. Eles realizam tarefas de anlise, planejamento, investigaes, estudos, pesquisas, associaes e muitas outras que envolvem uso e/ou produo de conhecimento a partir de informaes diversas. Como um dos pilares da GC a propriedade de se compartilhar conhecimento, partese do princpio de que o que se sabe pode ser til a outros e, por isso, deve-se estar aberto troca de experincias. Esta filosofia est longe de ser disseminada no ambiente dos rgos policiais. A cultura reinante a de guetos de conhecimento. Creio ser um de nossos desafios definir estratgias, polticas, mtodos e ferramentas para se conseguir avanar nesta rea. Algumas iniciativas j em implantao pela SENASP neste sentido so: ormao de comits Regionais de Excelncia dedicados a difundir pelos F estados as melhores prticas, estratgias e tecnologias adotadas pelas agncias de Segurana Pblica e Justia Criminal; elo de qualidade SENASP para a avaliao, classificao, padronizao e S certificao das prticas, estratgias e tecnologias adotadas pelas agncias de Segurana Pblica e Justia Criminal;

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bservatrio de Segurana Pblica, em parceria com uma rede de instituies O estaduais, municipais, universitrias e da sociedade civil, capaz de identificar, certificar e premiar as melhores prticas, estratgias e tecnologias em segurana pblica no Brasil; Outras devem ser induzidas de imediato tais como: ontagem de centros de anlise criminal nos Gabinetes de Gesto Integrada; M ormao em larga escala de analistas de crime no nvel operacional das F organizaes envolvidas; stmulo pesquisa como base das atividades operacionais; E ormao intensiva, em nvel de ps-graduao, dos operadores estratgicos F e operacionais de polcia e justia em anlise de polticas pblicas.

3. Perspectiva EstadualA existncia de duas ou mais polcias atuando no contexto estadual requer um esforo constante de integrao de aes visando a racionalizaes e maior eficcia nas aes. A informao um dos fatores que pode agir como integrador neste processo, pois a percepo e tratamento nico da mesma fator determinante para obteno destes objetivos. Desta forma, o sistema estadual de segurana pblico deve contemplar a gesto integrada das informaes inseridas neste contexto. Independentemente da estruturao das polcias, em linhas gerais, o nvel estadual de tratamento da informao na segurana pblica est ligado prtica delituosa de transgresso a lei (crime). Cabe aos atores que representam a segurana pblica reduzir ou manter sob controle a ocorrncia de crimes. Esta reduo ocorre basicamente em duas formas: impedir que um crime acontea e, caso ele tenha ocorrido, dissuadir sua repetio atravs da identificao, apreenso e punio dos culpados. O principal ator externo ao contexto policial o cidado, cuja sua segurana a razo de ser da polcia. A interao do cidado com os atores policiais feita, em essncia, de trs formas: pedido de socorro, prestao de queixas e prestao de informaes. Cada uma dessas aes gera diferentes procedimentos dos atores policiais em busca do objetivo maior de reduzir a criminalidade. Um outro agente externo importante nesse contexto o poder judicirio, pois tem a tarefa de punir os culpados, com base nos procedimentos policiais de relato e/ou elucidao dos eventos criminosos. Ao fazer isto, a justia interage com a polcia, inclusive para ordenar a apreenso de cidados transgressores da lei. Sob esta tica, os principais sistemas de informao ligados diretamente s aes policiais que podem ser desenvolvidos neste contexto so os seguintes: entro Integrado de Atendimento de Emergncia com um sistema de C informao para auxilio a recepo de chamados e atendimento ao cidado; olcia Judiciria com sistema de informao para registro e tratamento de P ocorrncias policiais; olcia Tcnico-cientfica com sistemas de informaes para tratamento das P informaes relativas s identificaes civis, criminais e de medicina-legal; Inteligncia Policial para registro e tratamento de informaes coletadas por agentes de inteligncia;

Gesto da informao |

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orregedoria dos rgos de polcia para tratamento de informaes relativas C ao acompanhamento e avaliao dos procedimentos realizados pelos rgos de segurana.

3.1. Centro Integrado de Operaes CIOPSA filosofia do CIOPS fundamentada na idia da integrao das aes de segurana entre os rgos envolvidos. Visa-se, ao atuar em um mesmo espao fsico (ou interligados por intermdio de uma rede de voz e dados de alta velocidade) de forma integrada, realizar de forma complementar e harmnica as atividades de atendimento de emergncia racionalizando o uso dos recursos e obtendo uma maior eficcia neste atendimento. Esse modelo de central de atendimento (call center) oriundo das centrais de emergncia estabelecidas inicialmente nos Estados Unidos da Amrica e hoje em funcionamento em diversos pases, podendo o nmero nico 911 acionado pelos cidados para atendimento de qualquer tipo de emergncia. Atendimento relativo a crimes, acidentes, desastres naturais, etc. podem ser socorridos atravs desta central.

Funcionalidades Gerais do SOSOs principais atores existentes no CIOPS so os atendentes telefnicos / atendentes de informao e os despachantes (e seus respectivos supervisores). O atendente realiza primeiramente o atendimento das chamadas atravs da digitao das informaes relativas ocorrncia. As chamadas telefnicas so automaticamente direcionadas pelo sistema atravs de uma central telefnica digital. Este aparelho identifica as linhas livres reduzindo chamadas ocupadas para o CIOPS. Outra funo do SOS a identificao automtica do local da chamada que est sendo realizada e posicionamento do mesmo no mapa digitalizado da cidade. Dessa forma, pode-se reduzir o nmero de trotes e o mau uso da frota em chamadas desnecessrias. Todas as conversas telefnicas oriundas de chamadas do nmero nico, bem como as conversas entre os despachantes e as patrulhas so gravadas. Isto permitir o esclarecimento de possveis queixas sobre a qualidade do atendimento prestado pelos envolvidos no SOS. De posse dos dados da ocorrncia e assim do endereo do fato, o sistema de informaes geogrficas que est embutido no SOS possibilita a consulta de informaes do local, tais como hospitais e logradouros prximos, tipo de cobertura da pista, mo de direo, jurisdio policial, referncias para mapas e/ou guias cartogrficos. Em um segundo tempo, o sistema auxilia os despachantes no envio das patrulhas, policiais e equipes para o atendimento de fatos emergenciais, podendo sugerir a viatura mais prxima ao local da ocorrncia. Eles podero igualmente acompanhar e controlar o atendimento das ocorrncias tendo assim o controle exato da disponibilida