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Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN” Coleta, Registro e Etnografia: a pesquisa de campo nos estudos de folclore. Ana Teles da Silva/PPGSA-UFRJ O objetivo deste trabalho é discutir a construção de temáticas tidas como folclóricas e a pesquisa de campo entre os intelectuais identificados com os estudos de folclore. Para tanto serão analisados alguns artigos e trabalhos publicados na Revista Brasileira de Folclore (1961-1976) e na 2ª Série dos Cadernos de Folclore (1975-1986). Assim serão analisados artigos que tenham dados empíricos relacionados ou a pesquisas de campo ou a reminiscências pessoais dos autores. Nesse sentido serão feitas algumas perguntas: O que era considerado pesquisa de campo para estes intelectuais dos estudos de folclore? Como são construídos os temas considerados folclóricos? Qual o papel da fotografia nestas pesquisas? Pretende-se analisar o fazer do folclorista e compreender quais as formas de construção de seu objeto seguindo o que Cavalcanti apontou como “deslocamento analítico da ideia bastante reificada de folclore como um objeto de estudo e atuação coisas que existiriam na realidade para a ideia de folclore como uma categoria de pensamento” (2012:156). Dentre as preocupações daqueles intelectuais que interessavam-se pela cultura popular estava a de seu registro e inventário. A formação para a pesquisa e o trabalho de campo, no entanto, não era um conhecimento que todos já tivessem de antemão. Uma das preocupações de Renato Almeida, que durante muitos anos esteve à frente da rede da Comissão Nacional de Folclore, era a de proporcionar formação para a pesquisa para aqueles que eram interessados em cultura popular. Talvez pelo fato dos estudos de folclore nunca terem tido espaço no ambiente universitário este tipo de formação nunca ocorreu de forma sistemática. Como aponta Vilhena (1997) para que o folclore tivesse alguma legitimidade enquanto uma ciência social era necessário demonstrar que a pesquisa folclórica tinha uma orientação científica. Nesse sentido a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro promovia cursos de formação em Pesquisa. Os dois primeiros cursos de formação em pesquisa folclórica ocorreram ainda antes da criação da Campanha de Defesa do Folclore. O primeiro deles ocorreu em 1937, na Sociedade de Etnografia e Folclore, sendo projeto do Departamento de Cultura do

Coleta, Registro e Etnografia: a pesquisa de campo nos ... · A formação para a pesquisa e o trabalho de campo, no entanto, não era um conhecimento que todos já tivessem de antemão

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Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias

03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN”

Coleta, Registro e Etnografia: a pesquisa de campo nos estudos de

folclore.

Ana Teles da Silva/PPGSA-UFRJ

O objetivo deste trabalho é discutir a construção de temáticas tidas como

folclóricas e a pesquisa de campo entre os intelectuais identificados com os estudos de

folclore. Para tanto serão analisados alguns artigos e trabalhos publicados na Revista

Brasileira de Folclore (1961-1976) e na 2ª Série dos Cadernos de Folclore (1975-1986).

Assim serão analisados artigos que tenham dados empíricos relacionados ou a pesquisas

de campo ou a reminiscências pessoais dos autores. Nesse sentido serão feitas algumas

perguntas: O que era considerado pesquisa de campo para estes intelectuais dos estudos

de folclore? Como são construídos os temas considerados folclóricos? Qual o papel da

fotografia nestas pesquisas? Pretende-se analisar o fazer do folclorista e compreender

quais as formas de construção de seu objeto seguindo o que Cavalcanti apontou como

“deslocamento analítico da ideia bastante reificada de folclore como um objeto de estudo

e atuação – coisas que existiriam na realidade – para a ideia de folclore como uma

categoria de pensamento” (2012:156).

Dentre as preocupações daqueles intelectuais que interessavam-se pela cultura

popular estava a de seu registro e inventário. A formação para a pesquisa e o trabalho de

campo, no entanto, não era um conhecimento que todos já tivessem de antemão. Uma das

preocupações de Renato Almeida, que durante muitos anos esteve à frente da rede da

Comissão Nacional de Folclore, era a de proporcionar formação para a pesquisa para

aqueles que eram interessados em cultura popular. Talvez pelo fato dos estudos de

folclore nunca terem tido espaço no ambiente universitário este tipo de formação nunca

ocorreu de forma sistemática. Como aponta Vilhena (1997) para que o folclore tivesse

alguma legitimidade enquanto uma ciência social era necessário demonstrar que a

pesquisa folclórica tinha uma orientação científica. Nesse sentido a Campanha de Defesa

do Folclore Brasileiro promovia cursos de formação em Pesquisa.

Os dois primeiros cursos de formação em pesquisa folclórica ocorreram ainda

antes da criação da Campanha de Defesa do Folclore. O primeiro deles ocorreu em 1937,

na Sociedade de Etnografia e Folclore, sendo projeto do Departamento de Cultura do

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Estado de São Paulo, dirigido por Mario de Andrade. O curso Técnicas de Coleta

Etnográfica e Folclorica para folcloristas, foi ministrado por Dina Levi-Strauss, ex-

assistente do Museu do Homem de Paris e esposa de Claude Levi-Strauss. Em 1951, a

convite de Rossini Tavares de Lima, da Comissão Paulista de Folclore, o sociólogo Oracy

Nogueira ministra o curso Introdução aos Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. A

realização do curso foi bastante divulgada pela Comissão Nacional de Folclore.

(Menezes, 2010)

Em 1960 o Conselho da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro determina a

publicação do livro Manual de Coleta Folclórica escrito por Renato Almeida. Sobre as

motivações que o levaram a escrever este livro expressa Almeida, em correspondência,

de 1961, com, o etnólogo português, Jorge Dias:

Não se trata de pesquisa, mas de coleta, feito para uma mentalidade de professora pública

ou agente de estatística, a quem se possa pedir para fazer os levantamentos iniciais, que

orientem as pesquisas gerais... E interessa-nos muito fazer cursos, porque o pessoal

habilitado para pesquisa é pequeno.

É possível então que estes cursos tenham impresso um certo padrão de pesquisas

folclóricas, assim como o livro escrito por Renato Almeida. No entanto, a variada

formação inicial de muitos destes intelectuais e a não institucionalização acadêmica dos

estudos de folclore produziram formas de pesquisar bastante variadas.

O nível de profundidade com que são realizados a pesquisa de campo e a própria

explicitação do trabalho de campo é algo que varia bastante.

Muitos artigos e Cadernos seguem a estrutura de apresentar as origens históricas

de uma determinada manifestação cultural, algum tipo de apresentação sobre a localidade

em que esta ocorre, como dados sócio econômicos, a descrição da origem social dos

brincantes, sua cor, idade e gênero, e uma sequência das etapas seguidas na realização de

um determinado auto ou folguedo. O texto geralmente vem acompanhado de partituras,

versos, esquemas coreográficos e fotografias. Muitas vezes as fotografias são

acompanhamentos ilustrativos dos textos.

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Ainda que no Manual1se chame a atenção para a multiplicidade de ângulos e para os

detalhes, seleciona-se, não raro, para “divulgação científica” ou para composição gráfica

– talvez devido ao alto custo da reprodução – a fotografia-síntese que ilustra ou enfeixa a

argumentação textual. (Segala, 1999: 83)

Outra característica destes artigos é denominar o trabalho de campo de

coleta/colheita. Muitos autores não explicitam no artigo a forma como produziram os

dados empíricos que são objeto do artigo outros utilizam o termo coleta, assim informam

que os dados de campo foram coletados numa determinada localidade e/ou período.

Em algum dos artigos a relação do autor com o objeto cultural descrito é bem

próxima, mas poucas vezes no próprio sentido do autor ter sido um brincante, muitas

vezes o objeto cultural é próximo ao autor – seriam muitas vezes seus empregados ou

pessoas de sua família.

Um desses casos de proximidade é o de Maria de Lourdes Borges Ribeiro,

folclorista da Comissão Paulista de Folclore, Borges Ribeiro ao falar sobre o Jongo

(Caderno 34) no Vale do Paraíba remete-se à sua infância onde ela havia convivido com

ex-escravizados que haviam permanecido na fazenda da sua avó. “A mais antiga

recordação que tenho do Jongo é a descrição que dele minha avó fazia ao se referir às

danças dos escravos. ” Ribeiro “cria” a figura do jongueiro a partir de sua imaginação e

experiência do universo da fazenda, ao recordar cenas de sua infância:

Ao imaginar as fogueiras, no terreiro da Fazenda dos Lemes, transformava em jongueiros

os negros centenários que por lá ficaram como agregados e foram um dos encantos da

minha infância: o Ventura, o Adão, a Rosa Lemes, e outros que não moravam mais nas

casas brancas que se alinhavam perto das tulhas.

Neste sentido a referência a algo que o autor viu ou vivenciou na infância é

recorrente.

Muitos foram criados num engenho, numa casa grande. Ao mesmo tempo eram pessoas

que tinham suas amas, amigos e companheiros, empregados, no meio popular. De alguma

forma, eles participavam desses dois mundos de cultura, o Brasil está cheio de figuras

assim, como Celso Magalhães (Maranhão), Théo Brandão (Alagoas), Silvio Romero

(Sergipe) ou Câmara Cascudo (Rio Grande do Norte). (Cavalcanti, 2012:3)

1 Almeida, Renato. Manual de coleta folclórica. Rio de Janeiro: Campanha de Defesa do Folclore

Brasileiro (Col. Folclore Brasileiro, 1), 1965.

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Conforme nos falam Cavalcanti e Chaves muitos desses folcloristas eram

intelectuais de província e o lugar de que eles falam indica muito de seu bi-culturalismo.

Eram indivíduos de elite que mas que também tinham acesso a um universo cultural

popular próximo. Um desses casos é Théo Brandão. Théo Brandão nasceu em Viçosa,

Alagoas, em 1907. Ele era neto de senhor de engenho e formou-se em medicina. Como

nos informa Chaves a produção de registros da cultura popular de Brandão era

autofinanciada. Talvez este fato tenha contribuído ainda mais para esta relação

pessoalizada com o universo popular.

Théo Brandão escreveu sobre as Cavalhadas em Alagoas. Á diferença da maioria

dos outros folguedos pesquisados, por ele e por outros autores, as Cavalhadas de Alagoas

são apontadas por Théo Brandão como uma prática de elite. Brandão se insere neste

universo da Cavalhada, embora seja um espectador e não um praticante da Cavalhada, o

seu lugar não é junto ao povo, à torcida. Brandão poderia ser um Cavaleiro, como o são

parentes próximos seus. A proximidade é explicitada no texto, seja na fala de seu primo

Sinfrônio Vilela, matinador ao falar das mudanças que estão ocorrendo no

comportamento de Cavaleiros: “Quando eu corria Cavalhada, era matinador o meu pai ou

o seu avô – meu tio Zé Aprígio.” (Caderno 24, pg. 30) Mais uma vez Brandão faz-se

presente no universo das Cavalhadas de Alagoas ao falar de uma recordação e da

promoção de uma Cavalhada: “Recordo-me que, ainda em 1955, promovi, a pedido do

governo do estado, para uma reunião da Juventude Mundial, uma exibição da

Cavalhada...”

Théo Brandão apresenta dois artigos sobre as Cavalhadas: um é no Caderno 24

Cavalhadas (edição de 1978) e o outro é um artigo no nº 3 da RBF (1962). Embora

publicado com 16 anos, de distância temporal, os artigos não variam muito em seu

conteúdo. O caderno 24 é uma versão adaptada, com notas elaboradas pelo autor em

dezembro de 1977. Esta versão de 1977 também apresenta uma introdução mais elaborada

sobre as origens ibéricas da Cavalhada. Ambos artigos apresentam as mesmas 3 fotos de

Marcel Gautherot, o artigo da RBF apresenta mais duas fotos de outro fotógrafo, Stubert.

Cavalhadas é para Brandão uma prática de elite. “Assim, são os proprietários

rurais – senhores de engenho, fazendeiros, seus filhos e parentes, negociantes abastados

e de famílias tradicionalmente ligadas ao campo – os principais elementos participantes

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das Cavalhadas. ” A torcida, no entanto, é popular: “Apesar, assim, de praticada por uma

determinada classe da sociedade, a Cavalhada, pelo menos entre nós, nas Alagoas, é um

divertimento do povo, um folguedo que arrasta para assisti-lo uma multidão pertencente

a todas as classes sociais. ”

Brandão justifica que a Cavalhada seja folclórica justamente pelo fato da torcida

ser de populares: “Este fato, portanto, é importantíssimo, a nosso ver, para tornar estes

dois folguedos (Pastoris e Cavalhadas) não somente de uma continuada vivência, mas

para transformá-los realmente em populares, folk, conquanto por suas origens e pelos

executantes não sejam realmente populares. ” (Caderno 24, pg. 15)

Assim, apesar do povo neste caso não estar no papel do observado e sim no de

observador, Brandão de alguma forma inverte esta relação ao transformar novamente o

povo em observado por hipotéticos visitantes:

Folcloristas, escritores, viajantes que assistem em Maceió os nossos autos e folguedos

ficam realmente admirados de encontrar uma certa época do ano – toda uma população

dividida, não em partidos religiosos, políticos ou esportivos, mas em duas cores. (Caderno

24, pg. 15)

As fotos parecem refletir esta primazia de um jogo de elite observado por

populares, que por sua vez também seriam observados. São apresentadas 3 fotos de

Marcel Gautherot: a primeira é uma foto que mostra o cavaleiro passando montado no

seu cavalo pela pista, o cavaleiro está em primeiro plano e, compondo a paisagem, o

público, que torce nas duas margens da pista; a 2ª foto é a de um cavaleiro montado em

seu cavalo, ele olha diretamente para a câmara; sua postura altiva, o olhar direto está bem

descrito na legenda “o garbo e a destreza do homem e do animal se fundem no concorrido

torneio eqüestre.” A legenda aparece na versão posterior, a de 1977; seria uma percepção

retrospectiva de Brandão sobre a foto? Atrás bem ao fundo o que parecem ser

espectadores.

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As outras duas fotos de Gautherot são de dois cavaleiros parados montados sobre

os seus cavalos; esta foto parece ressaltar a fina indumentária de cavalo e cavaleiro. Assim

nesta sequência podemos observar que diferente da maioria dos Cadernos que tratam de

práticas executadas por populares; aqui é a elite a praticante, e nas fotos o olhar altivo que

não desvia da câmara fotográfica, encara-a, contrasta com as muitas fotos de populares

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que tem o rosto na sombra ou um olhar cabisbaixo. As duas fotos de Stubert retratam os

cavaleiros passando em fileira e a uma distância (2 metros aproximadamente) do público,

também em fileira assistindo atentamente.

É importante perceber também a importância que o ato de produção e publicação

de imagens tinha na construção deste objeto. Conforme demonstra Segala o ato de registro

das manifestações culturais não é simplesmente o registro de imagens, mas a própria

seleção daquilo que é fotografado contribui para a canonização de certas práticas

populares como sendo folclóricas: “O fotografo alarga esse recorte já consagrado que

essencializa grupos sociais, incluindo figurações novas, tipos de rua, artes e festas

populares, devocionais e profanas. ” (Segala, 2005:74)

O Caderno Quilombo, à diferença do caderno e artigo Cavalhadas de Alagoas é

sobre um Auto Popular, o auto do Quilombo. O auto dos Quilombos é um auto popular

executado principalmente por negros e caboclos. Brandão à diferença da relação com os

praticantes das Cavalhadas não relata ter proximidade de parentesco ou amizade com os

praticantes do Quilombo. No entanto também na descrição deste auto Brandão se coloca

de forma mais pessoal como quando se refere ao Quilombo: “Como na maioria dos nossos

folguedos populares...” Quando refere-se aos nossos Brandão está falando daqueles

folguedos que representam o estado de Alagoas. E assim como nas Cavalhadas, Brandão

também comenta as transformações sofridas no Auto do Quilombos. É interessante

observar a constatação de que o Auto do Quilombo estava perdendo seus espectadores de

classe mais alta:

Com o passar do tempo, entretanto, já não mais há, na maioria do público assistente,

aquela solidariedade que havia outrora entre ele e brincantes de autos populares,

sobretudo porque a antiga assistência de senhores rurais, da aristocracia do interior ou da

burguesia da capital, já não frequenta e assiste, como outrora, os nossos folguedos

populares, sendo substituída por uma população que ou não possui suficiente fortuna, ou

não tem a mesma tradição de premiar os artistas folclóricos.

Assim pode-se observar uma inversão: se as Cavalhadas eram uma prática de elite

assistida por populares; o auto do Quilombo é uma prática popular assistida pela elite.

No caso de Brandão tem-se em Cavalhadas de Alagoas e Quilombo uma forma

pessoalizada de descrever uma prática cultural considerada pelo autor como sendo

folclórica. Embora a relação de proximidade com a população e manifestações culturais

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estudadas apareça em diversos artigos não há praticamente casos em que um participante

seja também o autor de um artigo. Uma exceção é Déoscoredes Maximiliano dos Santos

(Didi) que escreve sobre a Festa da Mãe d’Agua em Ponta de Areia, Itaparica, Bahia, e é

sacerdote do Culto de Egun. Didi é também funcionário da Superintendência de Turismo

de Salvador. Ele explica que iniciou a pesquisa sobre a festa da Mãe D’agua quando

Edison Carneiro solicitou que ele ajudasse uma pesquisadora argentina, ligada a

instituição de pesquisa dos Estados Unidos, a obter entrada no campo das seitas de origem

ou influências africanas. Talvez, então, não fosse pelo papel mediador de Edson Carneiro2

Didi não exerceria simultaneamente os papéis de participante e observador, ou de

folclorista e folclorizado.

Alguns dos artigos além do aspecto da pesquisa apresentam também pontos

programáticos relacionados a ações que os autores recomendam com o objetivo de que

determinada prática cultural seja preservada.

Assim Guilherme Santos Neves em Caderno de sua autoria sobre o auto de

Congos, Ticumbi (Caderno 12), clama às autoridades ações no sentido de preservar o

Ticumbi, considerando que apenas o seu registro é insuficiente para tal propósito.

Em vez da simples descrição – como a que aqui se fez – e a recolha dos elementos para

documentário de arquivo, o que é de importância capital é o estímulo que se deve dar a

esses grupos folclóricos; é o amparo, o auxílio, a colaboração dos poderes públicos, do

clero, do comércio, de todo o conglomerado social, para que esses conjuntos não se

desfaçam, mas – ao revés – possam prosseguir suas belas representações populares, nas

épocas marcadas pelo seu próprio calendário.

Os que se aproximam mais de um trabalho de campo antropológico são os

cadernos de autoria de Sergio Ferreti et al., Beatriz Dantas e Sandra Carneiro. O Caderno

de Carneiro, Balão no céu, alegria na terra. Estudo sobre as representações e a

2 Rossi em sua tese sobre a trajetória de Edison Carneiro aponta para a sua figura de mediador entre o

mundo dos terreiros e o mundo das elites baianas. “A saber, a posição de uma espécie de mediador

exercida em diferentes níveis: de um lado, localmente, entre o povo de santo e as elites baianas, se

convertendo gradualmente em porta-voz e mandatário das demandas políticas e simbólicas dos

candomblés baianos, que Edison encaminhava a um público abrangente na forma de artigos, notícias e

reportagens.” (Rossi, 2011:144)

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organização social dos baloeiros, encerra a série Cadernos e seria o mais antropológico.

Trata-se da publicação resumida de uma dissertação de mestrado defendida num

programa de pós-graduação em Antropologia Social. Com exceção de Rossini Tavares

de Lima não há citação de autores folcloristas na bibliografia. A autora ressalta esta

diferença de seu trabalho para trabalhos anteriores de folcloristas sobre os balões,

considerando que estes tem uma visão romântica e não analisam o contexto social em

torno da baloagem:

...na grande parte dos estudos e artigos publicados sobre o tema não há uma preocupação

maior em analisar o significado que estas festas têm para determinados indivíduos e

grupos específicos. Isto talvez possa ser explicado pelo fato de a maioria dos trabalhos

consultados inscreverem-se em uma vertente de estudos de folclore que tem como suporte

uma idealização romântica da tradição e da procura de maior ou menor autenticidade.

Os três últimos Cadernos são publicados num período em que a direção do

Instituto Nacional de Folclore havia passado de um folclorista, Braulio Nascimento, para

uma museóloga, Lélia Coelho Frota, que buscava dialogar com o campo institucional da

antropologia. Esse caderno não tem fotos, nem na capa.

Beatriz Dantas não tem nenhum artigo publicado na Revista, apenas nos cadernos.

Este fato dá-se porque Dantas entrou em contato com a CDFB apenas no período em que

Braulio (1974-1982) era presidente. Enquanto a RBF vai do período de 1961 a 1976, a

segunda série dos Cadernos de Folclore é de 1975 a 1986. Assim a série Cadernos é mais

representativa deste segundo período de retomada da Campanha e de suas ações.

Dantas escreveu três cadernos. O que pode depreender-se de seus cadernos é que

embora tenha muitas características semelhantes aos cadernos de folcloristas como

partituras, versos, coreografias, o uso do termo coleta e a preocupação em desenvolver a

origem histórica dos autos, por outro lado há também análises sociológicas.

No caderno Chegança, Dantas conclui que há uma relação entre a ordem social e

a hierarquia dos personagens do auto: “No seu todo, a Chegança, através da temática de

mouros e cristãos ou dos motivos de inspiração marítima, seria uma representação

dramática veiculadora de valores que ajudam a manutenção da ordem da sociedade. ”

Também em Dança de São Gonçalo, Dantas observa esta analogia entre a promessa ao

Santo e a estrutura paternalista da sociedade rural: “Tem-se mostrado que, refletindo a

estrutura da sociedade paternalista, os conceitos de “promessa”, “proteção”, “pedido”,

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“milagre”, e “mostrar respeito” são conceitos nucleares nas crenças e práticas religiosas

rurais do Brasil. ”

Em relação às fotos dos Cadernos de autoria de Dantas podemos ver que a maioria

das fotos são complementares ao texto. No caso dos cadernos Taieras as fotos

demonstram as diferentes etapas do cortejo, são fotos que focam-se no movimento, no

momento de execução de cada uma das etapas das Taieras. As fotos aparecem com

legendas indicando a etapa da Taieira que está sendo executada. Assim vemos fotos das

seguintes situações: crianças adornadas caminhando num cortejo, o instante de

“coroação” de uma rainha, os personagens da Taieira diante do altar e duas fotos de

crianças cruzando espadas enfeitadas – momento conhecido como “combate” na dança

das Taieras. Apenas na capa de Taieras temos a foto de Bilina, a organizadora da Taieira

de Laranjeiras, vestida a caráter e situada em plena festa, ao seu lado um rapaz tocando

tambor, tendo os outros participantes ao fundo.

O Caderno Dança de São Gonçalo apresenta também fotos com legendas

ilustrativas das etapas da dança. Nestas fotos são focados principalmente as etapas

seguidas na Dança de Culto à São Gonçalo: o ensaio geral, a procissão, a chegada à

Capela. Na capa aparecem os dançadores numa procissão. Os rostos e a expressão facial

dos integrantes, seja no Caderno Taieras, seja no Caderno Dança de São Gonçalo, são

pouco focados. No caderno Chegança há também fotos das etapas do auto, inclusive a

capa. Este caderno, no entanto, tem uma foto de página inteira em que os personagens da

Cheganças, os Mouros - rei, ministro e embaixadores - posam para a foto.

Em entrevista à Cavalcanti, Dantas fala sobre a sua formação, vida profissional e

de como surgiu a ideia da pesquisa sobre as Taieras. Ela foi aluna de Felte Bezerra – que

também é autor de artigos na RBF – e foi segundo ela o fundador da antropologia em

Sergipe. Em 1969, Dantas já dava aula na Universidade de Sergipe e fez o Curso de

Pesquisa em Ciências Sociais no Instituto Joaquim Nabuco. Num curso que dava na

Universidade sobre o folclore do Negro, Dantas ficou sabendo sobre as Taieras através

de um aluno. É interessante observar que Dantas busca orientação sobre como proceder

à pesquisa inicialmente no campo do folclore. Assim ela escreve para a CDFB e passa a

se corresponder com Vicente Salles. Outro personagem da rede de folcloristas que foi

importante para Beatriz é Theo Brandão que lhe deu uma carta de referência. Com esta

carta em mãos Dantas inclusive publicou seu livro sobre as Taieras pela editora Vozes.

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Ainda tecendo relações com a rede de folcloristas, Dantas conhece Braulio Nascimento,

então presidente da CDFB, e este encomenda novos cadernos para ela.

Apesar destas relações traçadas com folcloristas Dantas expressou que tentou

fazer uma monografia de sua pesquisa com as Taieras relacionando uma expressão

cultural religiosa com atores sociais, suas motivações.

Essa interlocução entre os campos da antropologia e do folclore não se deu sem

conflitos como relembra Beatriz Dantas a respeito de sua pesquisa sobre a Taieras, que

dentre outros produtos como uma monografia, resultou também na publicação de um

caderno. Em relação a este trabalho houve o questionamento por parte de Edison Carneiro

pelo fato de Dantas não ter realizado um trabalho suficientemente folclórico e por parte

de Maria Isaura Pereira de Queiroz por não ter feito um trabalho mais sociológico.

Ferreti menciona em entrevista que o Caderno Dança das Taieras de Dantas havia

servido de roteiro para as pesquisas que resultaram nos Cadernos Tambor de Crioula e

Dança do Lelê.

Ferreti chega ao Maranhão no começo da década de 1960 e ainda nesse começo

de década realizou uma pós-graduação em Sociologia do Desenvolvimento na Bélgica.

No final da década de 1960 ingressa na UFMA, não havia um curso de Ciências Sociais,

apenas um Departamento de Sociologia. Ao mesmo tempo em que trabalhava na

Universidade, Ferreti também trabalhava na Secretaria de Cultura e dentro da Secretária

de Cultura no Museu Histórico ligado a esta. Ferreti entra para a Fundação Cultural no

Maranhão no mesmo período em que Domingos Vieira Filho assume a sua presidência,

por volta de 1976. Os dois entram em contato e Ferreti passa a ocupar o segundo cargo

do Departamento de Assuntos Culturais. É um momento de renovação da Comissão

Maranhense de Folclore em que jovens que trabalhavam no DAC, como o próprio Ferreti,

Valdelino Cécio, Joila Morais e Roldão Lima foram chamados para integrar a CFMA,

convite feito por Vieira Filho.

Vieira Filho sugeriu que fizessem uma pesquisa sobre a Dança do Lelê. Braulio

Nascimento foi para o Maranhão algumas vezes e conseguiu levantar junto à CDFB um

pequeno recurso para a pesquisa da dança do Lelê. A ideia da pesquisa da Dança do Lelê

no município de Rosário era “observar, tirar fotografia, filmar e conseguir material para

o futuro Museu do Folclore”. A pesquisa durou três meses, Murilo Santos, cineasta do

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Maranhão, fez um pequeno filme. O irmão dele Joaquim Santos é músico e fez a parte

musical. Não eram pessoas que tivessem treinamento em Ciências Sociais, Joila Moraes

era matemático e Valdelino era formado em Direito e a formação de Ferreti, que é oriundo

do Rio de Janeiro, é em história e museologia.

A pesquisa sobre o Tambor de Crioula teve uma duração de tempo maior do que

a do Lelê, tendo durado um ano e tendo sido realizada com recursos angariados por

Domingos Vieira Filho. Carlos Rodrigues Brandão passou uma semana no Maranhão e

ministrou um curso de folclore para a equipe a pedido deles. Outra pessoa que trabalhava

com Ferreti, Manhães deu um curso sobre Negro para a equipe. A equipe era composta

pelos já referidos estudantes do DAC e por estudantes bolsistas. A equipe fez

levantamento em fontes de jornais do século XIX e XX para encontrar material sobre

perseguições policiais e festas de negros. A preparação e formação para a pesquisa incluía

reuniões semanais da equipe com leituras de Artur Ramos e Roger Bastide. Foram feitas

entrevistas com grupos. Ferreti tinha contato com etnomusicólogos de fora do Brasil e o

músico Joaquim Santos fez um esforço no sentido de fazer partituras adaptadas à música

popular. Uma etnomusicóloga americana, que estava de passagem pelo Maranhão,

Patrícia Sandler, ajudou com o trabalho de Joaquim Santos. Foi feita também o desenho

da dança do Tambor de Crioula, mas não pela mesma pessoa que fizera o da dança do

Lelê. Ferreti escreveu a maior parte do Tambor de Crioula.

Ferreti explica que, embora na época da pesquisa dos cadernos, não fosse mestre

em antropologia, dava aulas de antropologia e tinha interesse no assunto, buscando então

dar um enfoque em antropologia nas pesquisas que deram origem aos cadernos. Ferreti

lembrou-se também de Maristela Andrade, antropóloga, esposa de Murilo Santos e que

acompanhou a pesquisa do Lelê e os debates em torno da pesquisa.

Embora tenha havido uma separação entre os campos da antropologia e do folclore

este fato não se deu de forma igual em todos os lugares. Como aponta Cavalcanti (2012)

em alguns ambientes universitários a constituição de um campo de antropologia não

excluiu o campo dos estudos de folclore, pelo contrário o primeiro campo desenvolveu-

se a partir do segundo. Tanto Dantas quanto Ferreti transitavam por estes dois campos e

seus cadernos refletem este trânsito. A série Cadernos é emblemática da transição de uma

direção “folclórica” de uma instituição para uma direção “antropológica”. Se o último

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caderno é claramente um trabalho antropológico, outros como no caso dos de autoria de

Ferreti et al. e Dantas há uma interlocução entre a antropologia e o folclore.

Ao longo deste trabalho procuramos mostrar como sob a denominação comum de

folcloristas, Cadernos de Folclore e Revista Brasileira de Folclore abrigavam-se

intelectuais com níveis e origens de formação muito distintas e essas diferenças refletiam-

se em distintas formas de fazer pesquisa. É possível observar também a fluidez que houve

entre os campos da antropologia e dos estudos de folclore.

Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias

03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN”

Bibliografia:

Aguiar, Luciana de Araújo. Celebração e Estudo do Folclore Brasileiro: O

Encontro Cultural de Laranjeiras/Sergipe. Dissertação de mestrado defendida no

Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Sociologia da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: PPGSA-IFCS/UFRJ, 2011.

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antropologia,folclore e cultura popular./Maria Laura Viveiros de Castro (org.) – Rio de

Janeiro: Aeroplano, 2012.

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Disciplina “História das Ciências Sociais no Brasil” (IFCS/FIOCRUZ) -2010

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Nascimento, Ana Carolina Carvalho de Almeida. O sexto sentido do pesquisador:

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Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ. 2010

Reis, Daniel. Entre arquivose memórias: a respeito de uma narrativa audiovisual

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Revista Brasileira de Folclore. Rio de Janeiro: CDFB/MEC, nºs 1-41, 1961-

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Cadernos de Folclore. Rio de Janeiro: Funarte/MEC. nºs 1-35, 1975-1986.

Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias

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Palestra:

Cavalcanti, Maria Laura Viveiros de Castro. Antropologia e estudos de

folclore em diálogo. Conferência proferida no Seminário Théo Brandão, a

Antropologia e os estudos de Folclore, em 22 de agosto de 2012.

Chavez, Wagner. Antropologia dos estudos de folclore: Notas sobre Théo

Brandão e a documentação sonora dos folguedos populares. Palestra proferida no

PPGSA/IFCS/UFRJ. Rio de Janeiro em novembro de, 2012.

Entrevistas:

Dantas, Beatriz; Cavalcanti, Maria Laura Viveiros de Castro. 2012. DVD.

Ferreti, Sergio. Silva, Ana Teles da. 2013, áudio.