Upload
tutora-luiza-lima
View
258
Download
23
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Coletânea de texotos PDE2009
Citation preview
PROFESSORA PDE LUIZA DE FÁTIMA WEIBER DE LIMA
PONTA GROSSA 2008
COLETÂNEA DE
TEXTOS
DO
CADERNO PEDAGÓGICO
http://escolaprof.files.wordpress.com/2008/04/gestao_sistemica.jpg
O Fracasso Escolar: construindo
novos saberes
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
Superintendência da Educação
Diretoria de Políticas e Programas Educacionais
Programa de Desenvolvimento Educacional
[Escolha a data]
1
CCCOOOLLLEEETTTÂÂÂNNNEEEAAA DDDEEE TTTEEEXXXTTTOOOSSS
O Fracasso
Escolar:
construindo
novos saberes
‘ Autor: Luiza de Fátima Weiber de Lima [email protected]
Escola Estadual Professor
Amálio Pinheiro Ensino Fundamental
Orientadora: Gislene Lössnitz Bida [email protected]
Universidade Estadual de Ponta Grossa
[Escolha a data]
2
APRESENTAÇÃO
Esta Coletânea de Reportagens e Textos faz parte do Caderno
Pedagógico: O Fracasso Escolar: construindo novos saberes com objetivo
principal de dialogar com professores sobre as altas taxas de reprovação e
evasão escolar e no desenvolvimento de alternativas pedagógicas que venham
contribuir na resolução deste problema.
É um material com o objetivo de subsidiar as discussões no momento
da execução do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola Estadual
Professor Amálio Pinheiro – Ensino Fundamental do Programa de
Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná
(SEED).
Tenho certeza que com ele poderemos realizar muitos debates e
procurar alternativas com o propósito de preparar os sujeitos para o
desenvolvimento pleno de sua cidadania, como um ser importante na
transformação e na busca de um mundo melhor.
Luiza de Fátima Weiber de Lima
[Escolha a data]
3
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO........................................................................................... 2
AUTORIZAÇÃO PARA USO DAS REPORTAGENS...................................... 5
UNIDADE I....................................................................................................... 6
BENCINI, R. ;MARANGON,C. Fala, mestre! Bernard Charlot. Revista Nova Escola....................................................................................................................................
7
DEMO, P. Ironias da educação: mudanças e contos sobre mudança........... 10
GENTILE, P. A educação, vista pelos olhos do professor, Revista Nova Escola..............................................................................................................
11
GENTILE, P. A família, culpada? Revista Nova Escola ................................. 14
PARO, V. H. Reprovação escolar: renúncia à educação............................... 16
UNIDADE II...................................................................................................... 17
ENSINAR bem é...criar vínculos, Revista Nova Escola.................................. 18
ENSINAR bem é...decidir na incerteza, Revista Nova Escola......................... 19
FERRARI. M. Ensinar bem é...saber demonstrar, Revista Nova Escola......... 20
ENSINAR bem é...saber elogiar, Revista Nova Escola.................................... 22
ENSINAR r bem é...saber explicar, Revista Nova Escola................................ 23
ENSINAR bem é...saber fazer perguntas, Revista Nova Escola..................... 25
UNIDADE III..................................................................................................... 27
[Escolha a data]
4
28
FALZETTA, R. É preciso dizer não: Fla mestre! Tania Zagury, Revista Nova Escola...............................................................................................................
28
JOVER, A. Indisciplina: como lidar com ela? Revista Nova Escola................. 32
LOPES, Á. Disciplina: é mais fácil para os alunos seguir regras que eles ajudam a criar. Revista Nova Escola................................................................
34
MACEDO, L. Disciplina é um conteúdo como qualquer outro. Revista Nova Escola...............................................................................................................
39
GENTILE, P. A indisciplina como aliada. Revista Nova Escola...................... 43
ROCHA, G. A Escola como ela é: pela ritualização da sala de aula. Julio Groppa Aquino. Revista Nova Escola..............................................................
49
ROVANI, A.. Compromisso que garante o sucesso. Revista Nova Escola...... 51
TAILLE, Y de La. Nossos alunos precisam de princípios, e não só de regras. Revista Nova Escola........................................................................................
53
UNIDADE IV 58
GROSSI, G.P. Você é a chave da motivação em sala de aula. Revista Nova Escola. on Line, ...............................................................................................
59
MENEZES, L. C. De onde vem a tal motivação? Revista Nova Escola.......... 64
ZENTI, L. Aulas que seus alunos vão lembrar por muito tempo, Revista Nova Escola. on Line.......................................................................................
65
[Escolha a data]
5
AUTORIZAÇÃO REVISTA NOVA ESCOLA
[Escolha a data]
6
TEXTOS PARA DISCUSSÃO
UNIDADE I
http://strauss.ulbra.tche.br/~lilianap/l 1nn
BENCINI, R. ;MARANGON,C. Fala, mestre! Bernard Charlot. Revista Nova
Escola, São Paulo, n. 196, out. 2006. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0196/aberto/mt_169929.shtm
DEMO, P. Ironias da educação: mudanças e contos sobre mudança. Rio
de Jabeiro: DP&A editora, P. 77-96, 2000. p.77-96.
GENTILE, P. A educação, vista pelos olhos do professor, Revista Nova
Escola, São Paulo, n. 207, nov. 2007. p. 34-35.
GENTILE, P. A família, culpada? Revista Nova Escola On LIne, NOVA
ESCOLA On-line - O site de quem educa! 13/11/2007 - 18:34.
Disponível em
http://revistaescola.abril.com.br/online/redatores/paola/20071113_posts.s
html
PARO, V. H. Reprovação escolar: renúncia à educação. São Paulo: Xamã,
2001. p.117-127.
11..FALA, MESTRE! BERNARD
CHARLOT
Edição 0196 Out/2006
O conflito nasce quando o professor não ensina
Pesquisador frânces afirma que, quando
faltam reflexão no saber e prazer e
aventura em classe, a escola perde o
sentido original
Roberta Bencini,Cristiane Marangon
Há duas línguas diferentes sendo faladas
na escola: a dos professores e a dos
alunos." Para Bernard Charlot, professor de
Ciências da Educação da Universidade de
Paris 8 e da pós-graduação da
Universidade Federal de Sergipe, essa
tensão existe porque os dois lados
desconhecem o prazer do saber. Sem
dramatizar os conflitos nem apresentar
vítimas e culpados - o que seria muito
simplório para uma questão tão profunda -,
o pesquisador passou quase 20 anos
estudando, principalmente em escolas da
periferia da França, a relação que as
pessoas estabelecem com o conhecimento.
Os jovens gostam de aprender? O que
determina o interesse pelos estudos? Seu
objetivo principal é descobrir por que
alguns adolescentes pobres não avançam
na Educação formal, enquanto outros se
revelam bem-sucedidos. Grande parte dos
trabalhos foi realizada pelo grupo de
pesquisa Escol (Educação, Socialização e
Coletividades Locais) na Universidade de
Paris 8 desde 1987. Um dos pontos de
destaque é a semelhança entre os
educadores brasileiros e franceses. A
hipótese é que existem situações, como as
de ensino, que são universais. Hoje,
Charlot acompanha de perto a realidade
das escolas brasileiras, principalmente as
do Nordeste. Aos 62 anos, vive em
Aracaju, casado com uma professora
brasileira. A seguir, os principais trechos da
entrevista realizada em São Paulo.
Por que a relação entre alunos e
professores é tão difícil?
BERNARD CHARLOT Para os alunos, há
uma lógica no ato de estudar e, para os
professores, há outra. Ouço muito das
crianças: "Fui a todas as aulas, estudei em
casa e não concordo com as notas que
recebi". O professor retruca, afirmando que
o estudante é preguiçoso e não entendeu a
matéria. Esse descompasso revela o
grande abismo que existe entre as pessoas
e interfere no processo de aprendizagem.
Quem está com a razão, os professores
ou os alunos?
CHARLOT O objetivo de minhas pesquisas
não é encontrar vítimas e vilões. Os dois
lados têm suas razões. E digo isso com
sinceridade.Qual a trajetória de alunos e
professores na construção do saber? Isso
sim é importante e explica o ponto de vista
de cada um. Estudar a ótica do outro é a
primeira lição que alunos e professores
precisam aprender. Mesmo assim, o
diálogo verdadeiro ainda é muito difícil.
Qual é o sentido da escola para os
alunos?
CHARLOT As crianças francesas acham
que, como seus pais, que ganham por hora
de trabalho, deveriam ser recompensadas
pela quantidade de tempo passado em
frente dos livros. Ou seja, as notas
deveriam ser proporcionais ao estudo. Mas,
é óbvio, essa não é a lógica da escola. A
instituição escolar defende que, se o
estudante não fez as tarefas, não leu nem
adquiriu um saber intelectual, ele pode ser
[Escolha a data]
8
reprovado. Para esse aluno, isso é uma
injustiça, algo ilógico. A maioria dos
estudantes gosta de ir à escola para comer,
namorar e brincar. Nunca ouço que é um
lugar para aprender. Para eles, os estudos,
os trabalhos e as pesquisas existem para
atender apenas aos interesses da escola.
Assim, professores pensam que ensinam e
alunos pensam que estudam.
Como fazer os alunos estudarem e os
professores ensinarem de fato?
CHARLOT Há milhares de motivos pelos
quais os jovens imaginam que a escola é o
lugar do lazer e não do saber. É importante
descobri-los, mais do que criticar. Os
conflitos nascem quando o professor
explica algo que não é compreendido.
Ainda tranqüilo, e com outras palavras, ele
explica de novo, e outra vez sem sucesso.
Rapidamente, ele vai considerar o
estudante um incapaz. O educador culpa o
aluno, mas se sente fracassado também
porque a turma não avança. O jovem, por
seu lado, pensa que o professor não sabe
ensinar. O clima fica tenso e uma coisa
sem importância vira estopim para uma
agressão verbal ou física.
O professor não age dessa forma
porque está sobrecarregado de tarefas?
CHARLOT Ser professor hoje em dia é
uma missão quase impossível. É preciso
ter jogo de cintura para enfrentar as
diversas contradições. O aluno vai à escola
sem ter recebido uma socialização prévia.
No passado, quando apenas uma pequena
parte da população tinha acesso à
Educação formal, não havia esse
problema. Os pais preparavam os filhos
para essa etapa da vida e os irmãos mais
velhos, que também freqüentavam a
escola, ajudavam os mais novos. Porém,
quando toda a população passa a estudar,
você se vê diante de crianças que não
foram preparadas para as situações de
aprendizagem. A dificuldade atual da
escola é conseqüência da democratização.
E quem há de reclamar disso?
Por que tantos professores criam
imagem de um aluno ideal?
CHARLOT Essa questão é muito
complicada. O professor espera encontrar
em sala de aula um clone ideal dele
mesmo, ou seja, uma pessoa que ele
gostaria de ser: crítico, reflexivo, leitor e
dedicado. Mas o professor também deseja
alunos obedientes. E essa contradição é
insolúvel. Como ser, ao mesmo tempo,
obediente, crítico e inquieto com a
realidade? Na verdade, os critérios estão
quase sempre baseados no
comportamento: muitos acreditam que o
bom aluno é aquele que não atrapalha o
andamento da aula, chega na hora certa,
levanta a mão para fazer perguntas
inteligentes e conta com o interesse dos
pais pelos estudos.
E os alunos, o que esperam dos
professores?
CHARLOT Uma vez ouvi esta frase:
"Gosto muito do meu professor porque ele
nos trata como seres humanos". Ilude-se
quem pensa que os meninos e as meninas
esperam um amigo ou um colaborador
mais velhos. Os jovens querem se
relacionar com um profissional maduro.
Outro ponto importante: eles não querem
ser números. Não há nada pior para uma
criança ou um adolescente do que
encontrar seu professor na rua e não ser
reconhecido. Os jovens não agüentam ser
tratados como anônimos. Isso confirma
uma das principais competências que se
espera de um profissional da Educação - a
capacidade de se relacionar. E acrescento:
com humor, que é o melhor remédio para
enfrentar as contradições do universo da
Educação.
Sempre houve conflito entre quem
ensina e quem aprende?
CHARLOT Sim, porque existe uma tensão
que faz parte do ato pedagógico. O
primeiro problema que o docente enfrenta é
não produzir diretamente seu trabalho.
Explico: o que faz o aluno aprender é sua
própria atividade intelectual, não a do
mestre. O trabalho do educador é despertar
e promover essa atividade. É assim,
sempre foi e sempre será, em qualquer
sociedade e época. Se o estudante
fracassa, a culpa é do professor, por mais
que ele não tenha o poder de enfiar o saber
[Escolha a data]
9
dentro da cabeça do jovem. Essa tensão se
converte facilmente em conflito quando o
aluno se sente pressionado ou enganado.
Mas os conflitos nem sempre são
negativos. Penso que é uma sorte viver
tantas contradições. Para ser feliz é preciso
renunciar a uma idéia enganosa de
felicidade. O humor, a reflexão e o prazer
são imprescindíveis para aceitar as
diferenças e é isso que permite avançar. Já
imaginou uma escola sem conflitos? Seria
muito monótona.
"O sentido da escola não é o mesmo na
cabeça do estudante e na do professor"
"Professores pensam que ensinam e
alunos pensam que estudam"
[Escolha a data]
10
22.. DEMO, P. Ironias da educação: mudanças e contos sobre mudança. Rio
de Jabeiro: DP&A editora, 2000. P.77-96.
[Escolha a data]
11
33. Como o professor vê a
educação
Edição 0207 Nov/2007
Uma das perguntas do questionário tinha 23 itens. Entre eles, a falta de didática e de metas de aprendizagem. Mas,na hora de listar os principais problemas do dia-a-dia dentro da sala de aula, os 500 professores entrevistados colocaram os seguintes três:
a não-participação dos
pais no dia-a-dia da
escola,
a desmotivação dos
alunos e
a indisciplina dentro da
classe (e o primeiro está
fora da sala).
Por que a família é vista tão mal? Ao
comparar a escola pública com a
particular, os professores dão
algumas pistas: 72% dizem que quem
leciona na rede pública faz também o
papel de assistente social, enquanto
apenas 3% apontam que quem está
na privada tem essa mesma função
(será mesmo?). O termo mais usado
é sobreposição. Para
25% da amostra,“a escola está no
lugar da família”. E outros 38%
reforçam que, na escola pública, “o
professor não ensina, mas ajuda o
aluno a sobreviver”. Em outra
resposta, 64% afirmam que o
nível socioeconômico das crianças
intervém no aprendizado
(negativamente, no caso da pública, e
positivamente, no caso da particular).
DE QUEM É A
RESPONSABILI-
DADE
PELA
EDUCAÇÃO
RUIM?
[Escolha a data]
12
As causas do problema
“Durante décadas, o professor
montou uma representação-padrão
de estudante, projetando o desejo de
que ele venha de casa educado, com
os parentes providenciando todos os
requisitos básicos para que eles
convivam em sociedade e aprendam.
“Esse quadro não existe”, diz Lino de Macedo. Da mesma forma, é fictícia a concepção de família ideal.Pai e mãe trabalham fora e nem sempre moram na
mesma casa – e os dois fatores levam à diminuição do tempo dedicado às crianças e, com isso, dos momentos de “formação doméstica”.
A tendência é fazer, inconscientemente, o que Luis Carlos de Menezes chama de enquadramento social: “A ampliação da escolarização no Brasil fez com que crianças e jovens de comunidades antes excluídas entrassem no sistema. equivocadamente, o professor acha que a origem cultural do garoto e da mocinha os impede de aprender. Além disso, como não quer assumir a função de formá-los, ele desiste de ensinar”. Houve consenso entre os debatedores: não é a família que tem de ser responsabilizada pelo insucesso da garotada, mas a escola, que precisa rever sua missão e seu projeto pedagógico para atender a todos, com ou sem problemas socioeconômicos.
Além das transformações sociais, existem as culturais, políticas, econômicas e tecnológicas – que, de maneira geral, a escola não acompanha. Ao longo dos anos, a defasagem do currículo e dos conteúdos, a falta de relação com a realidade e uma série de outros fatores tiveram reflexos na não-
aprendizagem. O professor acredita que sua responsabilidade sobre a Educação é muito grande, mas as notas ruins nos testes de avaliação levam a sociedade a repetir que o ensino vai mal.“Sentindo-se impotente, ele procura causas externas, criando uma situação que o prende: já que não pode mudar a família do aluno, ele acha que não é possível ensinar”, analisa a psicopedagoga Maria Cristina Mantovanini.
Para refletir
Sim, a participação da família é fundamental para que a criança se desenvolva como estudante.Por isso, ela deve ser motivo de preocupação. “Não dá para correr atrás de resultados de ensino sem pensar em reeducar os pais, que não conhecem a proposta pedagógica da escola, o que ela oferece aos filhos e como eles aprendem”, diz Maria Cristina.Reuniões de pais e atividades conjuntas nos fins de semana podem ser planejadas especialmente para promover essa integração.
Uma saída é conscientizar-se de que o novo papel do professor inclui atender o aluno que não vem pronto de casa para adquirir conhecimento. Lino de Macedo acredita que, ao perceber que a sociedade mudou e que agora é preciso fazer isso, sem esquecer de ensinar conteúdos, você se preocupa também em dar o exemplo. Assim, a angústia diminui: “Com menos ressentimento, fica mais fácil aproximar-se, melhorar a relação com o estudante e, em conseqüência, as condições de aprendizagem”.
Em conjunto, redes de ensino, direção e corpo docente deveriam estar preocupados com a definição do currículo. “Ninguém vai se sentir motivado a conhecer algo que não tem relação nenhuma com a vida”
[Escolha a data]
13
ressalta Menezes. “É necessário levar para a escola a cultura da comunidade e voltar a prática para a formação total do aluno. O que não dá é ficar esperando que ele saia correndo atrás dos conteúdos para dominá-los.”Outro caminho para diminuir a tal desmotivação é deixar de lado o vício pedagógico de buscar sempre a passividade do educando:
“As crianças são curiosas por
natureza e gostam de fazer
perguntas, mas elas só aprendem se
tiverem espaço para a participação. E
isso existe quando há conversa, fala,
movimentação e argumentação e não
um ambiente de apatia”, ressalta
Menezes (leia mais na coluna Pense
Nisso, na página 90). Nunca é
demais lembrar que só consegue
motivar quem conhece (e utiliza) boas
práticas de ensino. Chegamos assim
à segunda contradição apontada pela
pesquisa:
o professor acha que foi bem
formado, mas acaba admitindo não
estar preparado para o dia-a-dia em
classe nem saber como enfrentar os
problemas da sala de aula, como o
famoso desinteresse e a não menos
decantada indisciplina.
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes
/pdf/0207/capa.pdf
[Escolha a data]
14
44..ESCOLA E FAMÍLIA
por Paola Gentile
NOVA ESCOLA ON-LINE - O SITE
DE QUEM EDUCA!
DIRETO DA REDAÇÃO
13/11/2007 - 18:34
A família, culpada?
77% dos professores acreditam que o principal problema de sala de aula é a ausência da família do aluno. Quando vi este dado na pesquisa que NOVA ESCOLA encomendou ao Ibope – e que saiu publicada na edição de novembro – fiquei perturbada como jornalista da área de Educação. Mas me incomodou ainda mais como mãe. Então quer dizer que se meu filho não aprende a culpa é do que acontece – ou não acontece – em casa?
Como repórter, procurei especialistas para me explicar o que o professor estava querendo dizer com isso... Fiquei pensando o que aconteceria se eu fosse até a escola reclamar que meus filhos não comem verdura ou que não me obedecem de jeito nenhum. Fico imaginando a coordenadora pedagógica olhando para mim com cara de interrogação e se controlando para não ser indelicada, mas falando para si mesma: “E o que é que eu tenho com isso?”
Será que as mães dos alunos desses professores também pensam dessa maneira quando ouvem tamanho absurdo da boca dos profissionais da escola? A pesquisa desencadeou reações iradas nos internautas. Até concordo que os pais podem ser responsabilizados pelo fato de a criança não comparecer às aulas (é obrigação deles, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente). Mas uma vez que a criança está lá, a tarefa de fazer com que ela aprenda é do professor. Estou aqui retirando dessa análise os casos extremos, de meninos e meninas que sofrem violência doméstica ou que apresentam algum outro problema que mereça ser encaminhado a outros profissionais. Esses são minoria e não servem de justificativa para que uma classe inteira do Ensino Fundamental termine o ano sem estar alfabetizada ou não sabendo resolver problemas.
Claro que a importância que a família dá aos estudos reflete no desenvolvimento da criança: ter acesso a material escrito em casa, desde pequenos, predispõe os pequenos à alfabetização; pais que estudaram mais tendem a cobrar melhor desempenho dos filhos etc. etc. Mas se nada disso acontece com os alunos de hoje, cabe à escola providenciar as condições propícias para o aprendizado. Porque também está comprovado que qualquer criança pode aprender, independente de classe social, da formação e da configuração familiar e de outros fatores que são sempre colocados como “desculpa”.
Diferentes realidades O aluno brasileiro vive como sabemos: em uma sociedade com diferenças e injustiças sociais, mas isso não significa que ele não tenha direito a uma boa educação e a um professor que pelo menos se empenhe para que ele aprenda. Ao contrário: talvez ele precise mais do que os que vivem em países em que todas as condições favorecem o aprendizado. Como na
[Escolha a data]
15
Finlândia, por exemplo. Um estudo do espanhol Javier Melgarejo Draper, diretor do Colégio Claret de Barcelona, mostrou como as realidades são bem diferentes. Ele passou 13 anos estudando o sistema educativo daquele país, apontado em todas as avaliações internacionais como sendo o melhor do mundo.
A conclusão foi de que o sistema social como um todo precisa do apoio de três sub-sistemas: o escolar, o familiar e o de recursos culturais (formado por biblitecas, ludotecas, cinemas etc.). Esses eixos se interrelacionam de tal maneira que o trabalho educativo é feito em cadeia. As estruturas estão sincronizadas e se ajudam mutuamente, não havendo bloqueio entre elas. Quando trata da família, o pesquisador cita, na verdade, os programas sociais que permitem que as mães continuem a exercer suas atividades profissionais (90% das mulheres com filhos em escolas trabalham fora). Lá, tem-se a crença de que a família só deve manter-se na formação tradicional se entre os cônjuges houver afeto, respeito e igualdade de direitos e deveres.
Acontece é que quando o professor é questionado sobre os motivos que levam a família a ser um problema, eles respondem justamente que elas são “desetruturadas”, “ausentes, porque os pais trabalham fora e ‘depositam’ a criança na escola” e que “não se interessam pelo aprendizado do filho”. Ou seja, problemas para uns, desafios para outros.
A questão é: se temos parte da população que não teve acesso à escola, mas que agora tem os filhos na sala de aula – a quem cabe convencer esses pais da importância da educação das crianças? A quem cabe atrair os pais para a escola e fazê-los participantes do processo? Vamos tentar responder levando em consideração a realidade brasileira... É a escola que precisa colocar em seu planejamento a parceria com as famílias e procurar fazer a sua parte, que é ensinar. Esse pode ser o começo de uma engrenagem bem azeitada que poderá fazer os sub-sistemas começarem a trabalhar. Isso, pelo menos, está ao nosso alcance.
[Escolha a data]
16
55.. PARO, V. H. Reprovação escolar: renúncia à educação. São Paulo:
Xamã, 2001. P.117-127.
[Escolha a data]
17
TEXTOS PARA DISCUSSÃO
UNIDADE II
http://strauss.ulbra.tche.br/~lilianap/l 2nn
ENSINAR bem é...criar vínculos, Revista Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 167, nov. 2003. Disponível em
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0167/aberto/mt_178182.shtml acesso
em: 27 out. 2008.
ENSINAR bem é...decidir na incerteza, Revista Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 163, jun. 2003. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0163/aberto/mt_244144.shtml
acesso em: 27 out. 2008.
FERRARI. M. Ensinar bem é...saber demonstrar, Revista Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 161, abr. 2003. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0161/aberto/mt_244556.shtml
acesso em: 27 out. 2008.
ENSINAR bem é...saber elogiar, Revista Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 166, out. 2003. Disponível em
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0166/aberto/mt_181679.shtml acesso
em: 27 out. 2008.
ENSINAR r bem é...saber explicar, Revista Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 160, mar. 2003. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0160/aberto/mt_246439.shtml
acesso em: 27 out. 2008.
ENSINAR bem é...saber fazer perguntas, Revista Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 159, jan. 2003. Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0159/aberto/mt_242501.shtml
acesso em: 27 out. 2008.
[Escolha a data]
18
11..
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0167/aberto/mt_178182.shtml
Edição 167 - nov/2003
ENSINAR BEM É...
... CRIAR VÍNCULOS
A aprendizagem melhora quando você se relaciona bem com os estudantes. E isso inclui acreditar que todos eles são capazes
As posturas que você assume em sala de
aula interferem no desempenho da turma,
embora não se dê a devida importância a
fatores afetivos. É por meio do vínculo
existente entre você e cada um dos alunos
que a aprendizagem acontece. "Se a criança
não aprende, o professor deve refletir sobre
o ato de ensinar", aconselha Madalena
Freire, do Espaço Pedagógico, um centro de
formação de educadores de São Paulo.
Além de desenvolver habilidades cognitivas,
você deve fazer com que todos se sintam em
condições de aprender. "Tudo o que o
professor vive em sala está sendo decifrado,
inclusive a linguagem não-verbal", diz
Madalena. Por isso, considerar o estudante
sempre capaz é uma maneira de tornar o
processo de aprendizagem mais estimulante.
Por outro lado, quem compara as crianças
entre si e deposita nelas a obrigatoriedade
de sucesso corre o risco de bloquear o
vínculo, fazendo com que o interesse pelo
conhecimento se perca.
"A afetividade existe quando o professor
considera o estudante como único e o leva a
construir suas próprias relações com o
mundo", diz Ana Rosa Abreu, coordenadora
de projetos de formação docente. Mas
lembre-se: ser afetivo não é ser bonzinho.
Estabelecer um vínculo afetivo é ensinar os
alunos a serem curiosos e fazer com que
eles encontrem um lugar para as suas idéias,
que podem ser diferentes das suas.
Formação e diálogo
Lidar com relações afetivas não é coisa que se aprenda facilmente. A formação continuada e a troca de experiências o ajudam a se sentir mais seguro para trabalhar com as expectativas da classe. "O professor é referência fundamental para o estudante. As estratégias de vínculo entre eles devem ser vistas com cuidado para que
sejam construídas ferramentas pedagógicas efetivas", diz Daniel Valdez, professor da Universidade de Buenos Aires.
Mesmo que você tenha menos vontade de olhar para aquele estudante que não aprende, lembre-se de que é exatamente ele que precisa de uma atenção maior. "Está na hora de investir na qualidade do vínculo entre professor e aluno", recomenda Ana Rosa.
O bom relacionamento pede:
aceitar cada estudante como ele é e
acreditar no potencial dele;
conhecer os alunos e as necessidades de
cada um;
recorrer ao autoconhecimento, questionando
sempre a qualidade da aula que acabou de
dar e a resposta da turma;
discutir sua postura em classe com outros
professores e compartilhar possíveis
problemas;
não esperar que o vínculo seja sempre
positivo. Esteja ciente de que conflitos
existem e que é preciso administrá-los.
Revista Nova Escola 167 ano XVIII
[Escolha a data]
19
22..
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes
/0163/aberto/mt_244144.shtml
Edição 163 - jun/2003
Ensinar bem é...
...decidir na incerteza Um acontecimento
inesperado dentro ou fora da escola, uma pergunta desconcertante, uma curiosidade... Por mais que você disponha de conhecimento pedagógico e experiência, a dinâmica da sala de aula é impregnada de
surpresas. Assim como outros profissionais que lidam com pessoas, o professor tem de decidir certo e rápido, mesmo que não disponha do tempo e do espaço necessários para uma reflexão mais profunda. Hoje isso acontece com freqüência ainda maior por causa da avalanche de informações proporcionada pela tecnologia. Ela provoca mudanças no cenário político, econômico e social, trazendo a incerteza em relação ao futuro para o cotidiano de todos, inclusive de
crianças e adolescentes. Diferente do passado No modelo tradicional de ensino, era comum usar o autoritarismo e mecanismos de coerção como a ameaça de notas baixas, de repetência ou de exclusão para manter uma rotina previsível na classe. "O professor era um ensinador", afirma Nelson Pretto, diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. "Hoje nosso papel é o de
negociador de diferenças. Para isso, precisamos estar preparados para mudanças
constantes." Diante de situações inusitadas, a primeira atitude a tomar deve ser manter a tranqüilidade. Você tem de estar aberto para ouvir as necessidades (previstas e imprevistas) dos alunos e perceber e interpretar as sutilezas de cada membro da turma. Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, completa que só dá uma resposta adequada à situação quem mantém a calma
e reconhece os próprios limites. Sem afobação Dar respostas rápidas não significa decidir com pressa. As reações mais inadequadas diante do inesperado e do incerto são as produzidas pela afobação. "Se as situações educativas se caracterizassem apenas pelos numerosos fatores a serem integrados e pela necessidade de agir rapidamente, a competência do professor seria semelhante à habilidade do malabarista ou do piloto de
Fórmula 1", opina o sociólogo suíço Philippe Perrenoud. Como a teoria nunca é suficiente para abranger os desafios do cotidiano dinâmico, o ideal é aprimorar a prática conhecendo os processos que envolvem a tomada de decisão. E lembre-se: seus alunos vão aprender, ao mesmo tempo que você, a decidir e a agir na incerteza.
Na prática
Diante da incerteza, é preciso:
aceitar a ambigüidade e a complexidade das
relações na sala de aula;
reconhecer os fatores que geram mal-
entendidos;
eleger prioridades;
aprender com a experiência e conhecer os
próprios limites;
estimular os alunos à reflexão;
trocar experiências com os outros membros
da equipe pedagógica;
usar a intuição.
Dica: A melhor forma de adaptar-se às
diversidades é estar aberto ao diálogo e
buscar qualificação. É essencial conhecer as
teorias pedagógicas e ter formação para a
solidariedade e a cidadania.
[Escolha a data]
20
33..
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes
/0161/aberto/mt_244556.shtml
Edição 161 - abr/2003
Ensinar bem é...
...saber demonstrar Márcio Ferrari
Fazer demonstrações é uma estratégia
pedagógica indispensável para certos
assuntos, como experimentos nas aulas de
Ciências, jogos e práticas esportivas ou na
hora de ensinar a dirigir um carro. Para
temas e subtemas que envolvem habilidades
e processos, a demonstração é a forma mais
rápida e eficiente de fazer a turma entender
o assunto.
No ensino de Ciências, as demonstrações
assumem muitas vezes o papel de
verificação prática do que foi visto na teoria.
"Servem, nesses casos, para fechar um
determinado tema que exige constatação",
diz Miguel Castilho Júnior, professor de
Biologia da Escola Nova Lourenço Castanho,
em São Paulo.
Ao demonstrar, todo professor assume o
papel de especialista. Mostra "como" fazer
enquanto descreve o processo e reflete
sobre ele em voz alta. Ao assumir esse
posto, é recomendável adotar o hábito de
falar sempre em primeira pessoa, sem cortar
a participação dos alunos.
Ao ensinar "como se faz", não deixe de
planejar a atividade de forma a preparar o
segundo passo, que é levar o aluno a
recorrer sozinho às habilidades e aos
processos apresentados. Por isso, durante as
demonstrações, explicite as decisões, os
processos e a progressão das etapas da
atividade, para que tudo fique muito claro
aos que estão apenas observando.
Além do "fazer" e do "pensar alto", as
demonstrações implicam o uso de outros
instrumentos didáticos, como esquemas e
outras informações visuais, responder a
perguntas durante a própria atividade,
alternar movimentos em seqüência com
interrupções (para observar se todos estão
aprendendo) e reservar um tempo no final
da aula para dúvidas e esclarecimentos. "É
útil perguntar como cada um explica o que
foi observado", sugere Castilho.
Se a objetividade é uma qualidade a ser
buscada sempre, mais ainda no caso das
demonstrações. Nunca dê explicações vagas
e aproveite o momento para explicar
princípios e mecanismos subjacentes ao
processo que está sendo demonstrado.
Compartilhando seu pensamento em voz
alta, você convida todos à participação e à
compreensão.
Ao planejar uma demonstração, um bom
método é identificar a "estrutura" do
processo, decompondo as etapas em
módulos em um nível adequado ao
conhecimento do aluno. É importante que
ele tenha a noção mais clara possível dessa
estrutura, para poder repeti-la. Embora a
prática de demonstrações tenha
características rígidas por definição — não há
como fugir de um passo-a-passo definido de
antemão —, ela não exclui a participação e a
criatividade da turma. "O segredo é propor
tarefas que representem algum desafio",
ensina Castilho. "Senão tudo se restringe a
seguir uma receita."
Na prática O aluno aprende mais quando:
vê o professor demonstrando e "pensando
alto";
tem a oportunidade de fazer perguntas sobre
o processo;
acompanha as etapas do processo em
"câmera lenta";
vê o passo-a-passo esquematizado
visualmente;
tem tempo para discutir o que foi feito e
visto.
Por que utilizar esse recurso:
[Escolha a data]
21
para mostrar como se faz algo e apresentar
novas habilidades;
para fazer melhor uso dos seus
conhecimentos específicos;
para deixar claros para os alunos os
princípios e conceitos subjacentes a um
processo;
para sustentar, com uma atividade dirigida,
o aprendizado sobre um determinado tema;
para garantir aos estudantes condições de
agir por si mesmos.
A boa demonstração exige:
"pensar alto" e mostrar "como";
explicitar a estrutura do processo;
decompor o processo em etapas;
estimular os alunos a fazer perguntas;
dar tempo para refletir sobre o processo;
permitir que o aluno repita o processo
sozinho
[Escolha a data]
22
44..
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0
166/aberto/mt_181679.shtml
Edição 166 - out/2003
ENSINAR BEM É...
... saber elogiar
A qualidade do elogio não está nas palavras, mas na maneira como ele é feito. E isso na escola pode ter sérias conseqüências
Em sala de aula, elogios demais ou de
menos podem ser igualmente prejudiciais
para o estudante. Autora de uma tese sobre
o assunto, Telma Vinha, de Campinas (SP),
concluiu que esse discurso de admiração
pode ser dividido em duas categorias: o
valorativo e o descritivo.
O valorativo tem um caráter destrutivo,
independentemente de conter uma crítica
positiva ou negativa. A frase "Você é muito
inteligente" é um exemplo. Nela está contido
um juízo de valor. Esse tipo de exaltação, de
acordo com Telma, gera dependência. A
criança passa a fazer as coisas com o
objetivo de receber a aprovação das pessoas
e vai perdendo a capacidade de se auto-
avaliar. Imagine que um aluno muda uma
mesa de lugar. Se em vez de afirmar "Você é
muito forte" você disser "Obrigada, eu não
conseguiria carregar isso sozinha", o
julgamento sobre ser forte ou não fica a
cargo dele. O estudante que tem sempre
suas ações enaltecidas de forma valorativa
pode ficar com receio de desapontar os
outros. "É uma carga muito grande ser
inteligente ou bem-comportado durante o
tempo todo", considera a pedagoga.
Descrever pontos fortes
Já o elogio descritivo é benéfico e contribui
para que o estudante adquira consciência da
sua própria evolução. Expressões como
"Parabéns. Seu texto está muito bem
redigido. Você conseguiu captar bem o tema
proposto" podem ser ditas em particular ou
de maneira que a classe ouça, pois a turma
toda aprende com os erros e acertos de um
colega.
"Ser descritivo dá trabalho para o professor",
admite Telma. Ela explica que é mais fácil
escrever palavras como "lindo" ou
"parabéns" do que indicar os pontos fortes
presentes em uma atividade. Se a classe for
numerosa, você pode fazer essas
intervenções em alguns trabalhos apenas,
em cada aula. Por meio de um revezamento,
ao final de determinado período todas as
crianças terão suas lições avaliadas desse
modo.
Para quem não está acostumado a atuar
assim, Telma dá uma sugestão: "Faça de
conta que está descrevendo o texto
analisado para alguém que não o leu, ou o
desenho ou projeto para alguém que não o
viu".
Três razões para elogiar
Por iniciativa: as boas idéias têm de ser
valorizadas mesmo que o produto final seja
ruim. Em nossas escolas esse tipo de elogio
não é comum.
Por esforço: o empenho da criança precisa
ser sempre reconhecido, caso contrário ela
poderá se sentir desestimulada no futuro.
Por resultado: há alunos que aprendem com
mais facilidade que os outros. Fique atento
para não valorizar somente os bons
resultados, já que todos precisam de elogios.
[Escolha a data]
23
55..
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0160/aberto/mt_246439.shtml
Edição 160 - mar/2003
Ensinar bem é...
...saber explicar
Pesquisas feitas com alunos mostram que saber explicar é a mais importante qualidade de um professor ¿ porque quem faz isso bem torna suas aulas mais interessantes. Essa habilidade não nasce com a gente, mas pode ser desenvolvida e aperfeiçoada.
Fazer associações
Explicar, segundo os dicionários, é dar
compreensão a outra pessoa.
"Crianças e adolescentes dependem
da intermediação de adultos para
aprender", diz a pesquisadora e
consultora Elvira Souza Lima. "Não há
ensino sem explicações." A
capacidade de cada aluno de entendê-
las relaciona-se com os mesmos
mecanismos de quase todo
aprendizado, ou seja, a utilização da
experiência pessoal ou da associação
com informações que ele já tem. Por
isso cabe ao educador ajudar os
estudantes a vasculhar o próprio
conhecimento. "O maior desafio é
expressar-se de acordo com os
processos de pensamento da turma,
em especial se forem crianças",
afirma Elvira. Ao planejar uma
explicação, é fundamental prever que
conceitos serão expostos à turma e
como isso será feito, para obter o
máximo de clareza e atingir os
objetivos (leia o quadro ao lado).
Você mesmo pode aferir a eficácia de
cada método. Elvira Souza Lima indica
dois caminhos para isso. O primeiro é
a análise do próprio desempenho
mediante o registro das aulas, em
vídeo ou áudio. O segundo é
conversar com os estudantes e
escutar o que eles têm a dizer, para
ver o que entenderam. Assim você
avalia melhor a sintonia que se
estabelece entre professor e alunos.
Cinco abordagens
As explicações podem seguir cinco
tipos de abordagem.
[Escolha a data]
24
Definição de conceitos. Eles podem
ser concretos ou abstratos e
familiares (presentes no dia-a-dia) ou
técnicos (restritos a especialistas). Os
abstratos e técnicos demandam mais
explicação, porque estão além da
experiência sensorial e imediata.
Semelhanças e diferenças. É hora
de dar um passo maior. Com essa
abordagem, você compara, distingue
e/ou classifica as informações em
grupos. Para tratar de catolicismo e
protestantismo, por exemplo, um
quadro comparativo é um bom
material de apoio.
Causa e efeito. Essa abordagem
mostra como um fenômeno leva a
outro numa seqüência lógica. É o
melhor jeito de explicar
acontecimentos como a eclosão de
uma guerra ou o surgimento de um
movimento artístico. Diagramas
facilitam a compreensão.
Finalidade. Mostrar "para que serve"
um trabalho evoca a experiência dos
alunos e os ajuda muito a entender.
Um bom exemplo é falar de princípios
de saúde e mostrar como eles se
aplicam à prática de esportes.
Processos. Quando lança mão dessa
abordagem, você revela como as
coisas funcionam. A ênfase é na
seqüência de itens. Por isso, essa é
melhor maneira de descrever um
lance de um jogo de tênis ou uma
coreografia.
O que e como explicar
Recursos para explicações
Divisão em tópicos
Analogias
Esquemas gráficos
Exemplos e antiexemplos
Conexões com experiência do aluno
Humor
Tipos de abordagem
Definição de conceitos
Similaridades e diferenças
Causa e efeito
Finalidade
Processos
Tipos de conceitos
Concreto x Abstrato
Familiar x Técnico
Para avaliar explicações
Análise de gravações das aulas
Entrevistas com os alunos
Duas dicas
Uma recomendação: o humor é um
bom aliado para tornar as explicações
mais acessíveis e interessantes.
Conhecer os comentários que vão
divertir a turma só depende de você.
Um alerta: abrir espaço para debates
durante a apresentação só serve para
atrasar o processo e desviar o
assunto. Uma vez encerrado um
tópico ou um tema, porém, a
discussão é bem-vinda.
[Escolha a data]
25
66..
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes
/0159/aberto/mt_242501.shtml
Edição 159 - jan/2003
Ensinar bem é...
... saber fazer perguntas
O mundo está cada vez menor. Entenda por que e veja um plano de aula para explorar o assunto em classe
Márcio Ferrari
Fazer perguntas aos alunos na sala de aula é a forma mais comum de interação do professor com sua classe e um dos métodos mais usados para aprofundar o conhecimento sobre um determinado assunto. Por meio das questões o professor pode avaliar como a turma acompanha seu raciocínio e, assim, avançar nos conteúdos.
"Ensina-se a fazer perguntas sendo um bom perguntador", diz José Sérgio Fonseca de Carvalho, professor de Filosofia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Ou seja, como todo instrumento pedagógico, essa atividade envolve técnica e repetição e pode ser aperfeiçoada se forem observados alguns métodos.
Novas abordagens
Em primeiro lugar, é importante definir quais
são os objetivos das perguntas. Ao serem
questionados os alunos se vêem frente a
frente com o próprio conhecimento, o que
deve levá-los a querer aprender mais ou
experimentar novas abordagens do tema.
Perguntas podem ajudar o estudante a saltar
da informação factual para a análise, a
organizar o pensamento e a observar como o
professor constrói conhecimento. Justamente
por isso, elas devem permitir que os jovens
usem as próprias palavras para expressar
uma visão particular do assunto em foco. Só
assim é possível efetivamente compreender
o objeto de estudo — em vez de ficar apenas
repetindo o que o professor recitou.
Um alerta Embora fazer perguntas seja um excelente
instrumento de aprendizado, é fundamental
saber identificar os limites de utilização
desse recurso em classe. Há assuntos que se
prestam melhor a uma aula expositiva do
que a uma discussão aberta e só você,
professor, tem como avaliar qual é, no
contexto específico de cada turma, o melhor
caminho a seguir num determinado
momento.
Fechadas e abertas
Há dois tipos de pergunta. As perguntas
fechadas são as que têm só uma resposta
certa e são as mais apropriadas para
recapitular lições e avaliar até onde vai o
domínio do aluno sobre a matéria. As
perguntas abertas, que permitem mais de
uma resposta correta, são as que estimulam
exposições individuais e discussões coletivas.
A atividade de perguntar e responder terá
rendimento adequado se estiver vinculada
aos objetivos didáticos, se for um
instrumento que faça avançar o
conhecimento durante essa aula e se
fornecer aos alunos oportunidades para
formular os próprios questionamentos,
procurar respostas e estimular os colegas a
fazer o mesmo.
Compartilhar objetivos Uma boa maneira de ressaltar a importância
das perguntas no aprendizado é expor aos
alunos, no início de uma aula, quais são as
perguntas que aquela atividade tentará
responder. Assim, você compartilha
objetivos didáticos, atiça a curiosidade e
desperta a atenção da turma — é essencial
que todos se sintam livres para apresentar
hipóteses e formular questões sobre o tema.
Ao fazer perguntas abertas, o professor deve
se certificar de que não tem, de antemão,
uma única resposta que considere boa. É
comum, nas discussões, dirigir os
[Escolha a data]
26
argumentos de forma que todos concordem
no final. Isso vicia o processo e limita o
aproveitamento dos estudantes. É muito
mais interessante abrir, de fato, o debate:
"Por que você acha isso?", "Fale mais",
"Explique melhor".
"A chave é criar uma atmosfera para que
todos possam perguntar", diz Fonseca de
Carvalho. Um bom método é organizar a
classe em duplas e dar um tempo para
debater uma resposta antes de formulá-la
em voz alta. Regras como as dos programas
de televisão — "peça ajuda às outras
duplas", "pergunte à classe" — são bem-
vindas.
[Escolha a data]
27
TEXTOS PARA DISCUSSÃO
UNIDADE III
http://strauss.ulbra.tche.br/~lilianap/l 3nn
FALZETTA, R. É preciso dizer não: Fla mestre! Tania Zagury, Revista Nova
Escola, São Paulo, ano 15, n. 130, p.14, mar. 2000.
JOVER, A. Indisciplina: como lidar com ela? Revista Nova Escola, São Paulo,
ano 13, n. 113, p. 34-38, jun. 1998.
LOPES, Á. Disciplina: é mais fácil para os alunos seguir regras que eles ajudam
a criar. Revista Nova Escola, São Paulo, ano 20, n. 183, p. 45-49, jun/jul.
2005.
MACEDO, L. Disciplina é um conteúdo como qualquer outro. Revista Nova
Escola, São Paulo, ano 20, n. 183, p. 24-26, jun/jul. 2005.
GENTILE, P. A indisciplina como aliada. Revista Nova Escola, São Paulo, ano
17, n.149, p.15-19, nov. 2007. P. 34-35, jan./fev.. 2002.
ROCHA, G. A Escola como ela é: pela ritualização da sala de aula. Julio
Groppa Aquino. Revista Nova Escola, São Paulo, ano 17, n. 149, p.14,
jan./fev.. 2002.
ROVANI, A.. Compromisso que garante o sucesso. Revista Nova Escola, São
Paulo, ano19, n. 172, p. 48, mar.2004.
TAILLE, Y de La. Nossos alunos precisam de princípios, e não só de regras.
Revista Nova Escola, São Paulo, ano 23, n. 213, p. 26-30, jun/jul.2008.
[Escolha a data]
28
11..
. Edição 130 - mar/2000
Fala, mestre! Tania Zagury
É preciso dizer não
Pesquisadora carioca diz que a escola deve mobilizar os pais para a necessidade de impor limites e, assim, auxiliar na educação moral dos filhos
Ricardo Falzetta
Paulo Jares
"Abalados pela crise ética, os pais de hoje não
impõem limites às crianças e não ensinam o que
é certo e o que é errado"
Nas últimas décadas, a escola vem
assumindo praticamente sozinha um papel
que, em princípio, não deveria ser só seu: o
de educar seus alunos para a cidadania. Essa
carga foi sendo despejada sobre a instituição
por uma série de motivos. A sociedade
mudou, valores éticosse transformaram e
muitos pais ficaram inseguros com relação à
formação dos filhos. Não é o caso de os
professores abrirem mão dessa
responsabilidade e jogarem a culpa nas
famílias, mas a pesquisadora Tania Zagury
defende que é preciso encontrar um ponto
de equilíbrio. Durante os últimos vinte anos,
essa filósofa e mestre em educação estudou
as dificuldades na criação dos jovens e
encontrou respostas que lhe renderam
quatro livros. Suas descobertas podem
ajudá-lo a redividir essa árdua tarefa de
transmitir preceitos éticos e morais
necessários para uma boa convivência social.
O segredo, segundo ela, está na
reaproximação com os pais. Nesta
entrevista, ela indica caminhos para quem
quer formar cidadãos produtivos,
participativos, críticos e respeitosos. Mas
avisa: essa tarefa não é nada fácil.
Nova Escola: Quem tem hoje o papel de
educar as crianças para a cidadania? Os
pais ou a escola?
Tania Zagury: Essa missão está sobrando
muito mais para a escola, apesar de ela não
ter condições de arcar sozinha com a
responsabilidade. Não que os pais estejam
acomodados. Nas últimas décadas, nossa
[Escolha a data]
29
sociedade passou por mudanças que se
refletiram nas relações familiares.
NE: Que mudanças foram essas?
Tania: Os pais de hoje trabalham mais e
passam menos tempo com os filhos. A mãe,
que antes ficava em casa e transmitia
valores morais, agora trabalha fora e, em
27% dos casos, é arrimo de família. Quando
chegam do trabalho, ambos estão cheios de
culpa pela ausência e, para minimizar esse
sentimento, tornam-se muito permissivos,
deixam de estabelecer limites e de ensinar o
que é certo e errado. Por trás de tudo isso
há uma insegurança grande, em parte fruto
da crise ética institucional que estamos
vivendo no Brasil. No passado, a família
tinha um papel de formação ética do
indivíduo. À escola cabia a transmissão da
cultura acumulada (tendo o professor no
papel de centro de conhecimento) e uma
parte da formação de hábitos e atitudes.
Reestabelecida a democracia, a volta da
liberdade de imprensa permitiu que uma
série de escândalos viessem à tona e a
população percebeu que a impunidade corria
solta. Casos como o de PC Farias, o dos
anões do Orçamento e o do ex-deputado
Sérgio Naya passaram a deixar no ar uma
sensação ruim de que, para se dar bem no
Brasil, é preciso ser, no mínimo, "esperto".
Senti, nas minhas pesquisas, que essa
inversão de valores afetou negativamente as
famílias.
NE: De que forma?
Tania: Antigamente, ninguém deixava por
menos. Se a criança trazia para casa um
lápis ou uma borracha de um colega, não se
aceitava, mesmo que fosse apenas um
empréstimo. No dia seguinte, tinha de
devolver ao dono. No momento em que se
vê triunfar a impunidade, os pais não agem
mais assim. Como são amorosos e
preocupados — e não querem ver seus filhos
por baixo —, ficam em dúvida se devem
preservar esses valores com um nível de
exigência tão alto. Prevalece a idéia de que
as pessoas têm de levar vantagem em tudo.
Eles temem que o filho perca os
instrumentos necessários para se defender
em uma sociedade que privilegia os
espertos. Têm a impressão de que ele será o
único a agir com ética e sentem medo de
que se torne um "bobão". Tornam-se
inativos, inseguros. Como conseqüência,
acabam transferindo a responsabilidade da
educação moral para os professores.
A. Milena/ R. Stuckert/ C. Versiani
"Casos como o de PC, o dos anões do Orçamento
e do ex-deputado Naya deixam a idéia de que é
preciso ser esperto para se dar bem"
NE: E como a escola deve agir diante
dessa situação?
Tania: Deve revitalizar a confiança da
família no seu papel de formadora e trazê-la
cada vez mais para dentro da instituição.
Quando os pais passaram a se sentir
inseguros e culpados por não estar tão
próximos dos filhos, a escola tentou ocupar
esse espaço. Mas ela não tem condições de
fazer bem as duas coisas. Os conteúdos
estão mudando muito rapidamente. O
professor precisa se reciclar, tem
responsabilidades profissionais e não pode
arcar com tarefas que são prioritariamente
da família. Ao levar os pais a participar de
encontros, palestras, reuniões e troca de
experiências com outros pais, eles saem
fortalecidos e sentem que não estão
sozinhos nessa luta.
NE: Mas os pais aceitam participar?
Tania: Muitos sim, mas sempre há os que
resistem. Os que delegam toda a
responsabilidade aos professores são os que
trazem mais problemas. Costumam não
aceitar críticas e apóiam os filhos em
atitudes indisciplinadas. São os que pedem
que não sejam aplicadas provas às
segundas-feiras para viajar no fim de
[Escolha a data]
30
semana ou sugerem que se enforquem
feriados para que seus filhos não corram o
risco de perder matéria. Se o pai faz esse
tipo de reclamação, a escola se enfraquece e
o jovem sem limites se fortalece.
NE: O que fazer para evitar esse
enfraquecimento?
Tania: Pais e professores devem agir em
conjunto. A própria escola tem de mostrar
coesão e transparência e trabalhar em
equipe. Se um problema de indisciplina é
enviado para uma instância superior e a
direção abranda, o professor sai
enfraquecido. Ninguém pode tomar
atitudes isoladas. Por exemplo, aplicar
uma prova mais difícil porque determinado
aluno é bagunceiro. O planejamento
pedagógico, que deve incluir o programa
de avaliação, precisa ser claro e seguido à
risca. Essa postura gera confiança. O
aluno percebe que a escola é séria, bem
definida e passa a respeitá-la.
NE: Por que muitos pais modernos não
conseguem dizer não aos filhos?
Tania: Eles têm o que eu chamo de visão
excessivamente psicologizada da educação.
Preocupam-se demais com a psiqué, com o
emocional, se os filhos vão ficar com algum
trauma, algum complexo ou com a auto-
estima abalada cada vez que eles lhes
impõem limites. Muitos tornam-se
superprotetores, alegando que o tempo é
escasso e que preferem curtir os filhos em
vez de ficar fazendo exigências. Mas esse
tempo que sobra é precioso para a formação
ética dos filhos. Nessas poucas horas é
preciso ter postura. É preciso fazer a criança
entender que os pais se ausentam porque
estão trabalhando. E que trabalham porque
querem dar segurança, saúde e educação
aos filhos. A criança compreende isso muito
bem. Quando juntos, os pais devem dar
atenção, carinho, amor e... educação aos
filhos.
NE: A senhora afirmaria que os
estudantes de hoje estão mais
indisciplinados por causa da falta de
limites em casa?
Tania: Com certeza eles estão mais
indisciplinados, mas não apenas por causa
disso. Há três fatores que contribuem para
essa situação. Em primeiro lugar, a
insegurança dos pais. Criança que não
aprendeu a esperar a vez, que bate na porta
quando a mãe está no banheiro, que grita
para chamar a atenção, chega à escola e
repete esse modelo. Em segundo lugar, está
um fator que, isoladamente, é positivo. Na
sociedade atual, a quantidade de estímulos
que a criança recebe a faz mais articulada.
Ela argumenta mais cedo e discute sobre
mais assuntos. Por fim, mudanças ocorridas
nas últimas décadas ajudam a compor esse
ambiente. A relação professor/alunos se
alterou de forma radical. Na década de 50, a
hierarquia era rígida. O mestre tinha poder
absoluto, o que é muito ruim. Com o
chamado movimento da Escola Nova, no
final dos anos 60 e início dos 70, o aluno
passou a ter mais participação. O poder do
professor diminuiu, o que é positivo. No
entanto, nem todos os docentes souberam
lidar de forma eficiente com essa democracia
em sala de aula.
NE: Como lidar com essa indisciplina?
Existem castigos na era moderna?
Tania: A solução começa pela boa formação
do professor, que precisa dominar muito
bem os conteúdos, ter bom relacionamento
com os alunos, muita didática e autoridade
com eles, mas ser afetuoso e respeitoso.
Dessa forma, ele será querido e respeitado.
Por outro lado, a escola tem de ter
autonomia para agir pedagogicamente. Pôr
para fora da sala ou expulsar o aluno devem
ser os últimos recursos, pois são formas de
exclusão social que não levam a nada. O
importante é fazer o aluno perceber as
conseqüências dos seus atos. Se picha uma
parede, deve pintá-la. Se quebra uma
carteira, deve consertá-la. Essas sanções,
porém, necessitam do apoio da família e têm
de estar claras para todos os envolvidos,
desde o início das aulas.
Marcos Rosa
[Escolha a data]
31
"Os pais temem que suas crianças sejam
perdedoras. Vi um pai gritar para o filho, num
jogo, que derrubasse o colega para não perder
um gol"
NE: O que a senhora acha de pais que
estimulam a precocidade dos filhos?
Tania: Isso faz parte de uma sociedade
competitiva, com tendência à recessão e
cada vez mais globalizada. As pessoas estão
com muito medo. Cada vez mais cedo os
pais procuram dar estímulos para o filho não
ficar para trás. Só que acabam exagerando.
Há crianças que até disputam docinhos a
tapa nas mesas de aniversários. E, quando
acha que o filho não lutou, o pai fica
incomodado. Tem medo de que ele seja um
derrotado. Começa a incentivar atitudes que
normalmente não incentivaria. Certa vez, vi
um pai gritar para o filho, num jogo de
futebol amistoso, que derrubasse o colega
para não perder um gol. O medo é um
grande inimigo da educação ética.
NE: Esse estímulo, então, não é
saudável?
Tania: Tudo o que é excessivo é ruim. É
ótimo que se consiga perceber certas
inclinações e habilidades nos filhos. Mas que
isso não se torne um motivo de ansiedade
para a criança. É muito interessante que um
filho goste de jogar xadrez. Mas, se surge
um clima de cobrança quando ele perde um
campeonato, não é bom. A aprendizagem
tem de vir acompanhada do prazer. Do
contrário, podemos criar uma população de
neuróticos. Bebê já tem de ir para a piscina.
Com 5 anos, tem de estar alfabetizado em
duas línguas. Depois, faz vestibulinho. Desse
jeito, suprimimos a infância, gerando
pessoas estressadas, competitivas e
ansiosas.
NE: Essa precocidade gera situações por
vezes constrangedoras — perguntas que
desconcertam qualquer adulto. Como
pais e professores devem agir nessas
situações?
Tania: A orientação que costumo dar é que
a verdade deve ser sempre a resposta. É
evidente que, de acordo com a idade, os pais
precisam dosar a profundidade do que estão
falando. Não convém aprofundar mais do
que foi perguntado, respondendo sempre de
forma objetiva e concreta. Se não se der por
satisfeita, a criança continuará perguntando
até que se sinta atendida. É muito chato
quando uma simples pergunta se transforma
numa aula de Biologia. Também a mentira
ou as meias-verdades são percebidas pela
criança. Agindo assim, pais e professores
perdem a credibilidade.
NE: A senhora tem filhos?
Tania: Sim. Dois, já entrando na idade
adulta.
NE: Como agiu com eles?
Tania: O que escrevo nos livros é
exatamente o que fiz, toda a vida, em minha
casa, com meus filhos. Eu e meu marido
colocamos limites desde o começo. Limites
coerentes, no momento certo e bem
dosados, é claro. Sempre exercitamos esse
equilíbrio entre a liberdade e a
responsabilidade e também nossa autoridade
como pais. Não pense que foi fácil, mas vale
a pena quando, depois de alguns anos, seu
filho vira uma pessoa produtiva, ética e
respeitosa.
Quer saber mais?
LIVROS DE TANIA ZAGURY
Encurtando a Adolescência, 25 reais
O adolescente por Ele Mesmo, 22 reais
Educar Sem Culpa, 18 reais
Sem Padecer no Paraíso, 17 reais
[Escolha a data]
32
22..
Comportamento
Indisciplina: como lidar com ela? Por Ana Jover
Não pense que o problema é só seu. Escolas de todos os níveis sociais, no mundo inteiro, têm de enfrentar a questão da disciplina, sem recorrer a castigos e mantendo sempre vivo o interesse do aluno. Veja alguns modos de tornar isso possível
O que fazer diante de uma classe repleta de baderneiros? Como botar ordem no caos? De quem é a culpa?
Com certeza você já se deparou ao menos uma vez com essas perguntas. Realmente, conquistar a disciplina em sala de aula tornou-se um verdadeiro desafio para o ensino nos dias de hoje, tanto nas instituições públicas como privadas, e merece uma séria reflexão.
Não trataremos aqui de atos de vandalismo contra escolas, nem de desajustes decorrentes do uso de drogas – por sua própria relevância e abrangência, tais temas merecem um artigo à parte.
Vamos pensar no que acontece dentro da classe, quando o professor tenta desenvolver o conteúdo de sua disciplina para crianças ou adolescentes desinteressados, apáticos, bagunceiros, isto é, indisciplinados. Talvez alguns professores saudosistas (e até mesmo os progressistas), numa situação de desespero, sonhem em punir severamente, "à antiga", os baderneiros: expulsar da sala, tirar pontos da nota, ganhar "no berro", enfim, reprimir severa e exemplarmente os "maus elementos". Era desse jeito que a antiga escola procedia. Mas o seu modelo era apropriado a um quartel, onde
prevalece a hierarquia. Tanto nas famílias como no ensino, a disciplina era obtida à custa de medo, subserviência e coação.
Ora, se o ensino é um direito da criança e do adolescente e um dever do Estado, no intuito de promover pessoas livres, autônomas, capazes de exercer plenamente a cidadania, não nos interessa criar um exército amedrontado de pseudo-cidadãos, quer dizer, gente que vai para uma guerra desconhecida.
Vamos pensar juntos. Qualquer exército forma tropas para combater em algum tipo de guerra. Se você, educador, seguir a mesma orienta-ção dada às tropas, fica a pergunta: quem é o inimigo? Resumindo, queremos formar gente autônoma, emancipada, livre e consciente, ca-paz de fazer suas próprias escolhas.
Para começar, vamos adotar o conceito atual de disciplina, que vem a ser o reconhecimento da atividade em grupo, harmonicamente supervisionada por uma autoridade externa (no caso, o professor). Esse reconhecimento pressupõe, da parte do aluno, valores éticos anteriores à escolarização: entendimento de regras comuns, partilha de responsabilidades, cooperação, reciprocidade, solidariedade etc. E, acima de tudo, reconhecimento dos direitos do outro, sem o que fica impossível a convivência em grupo.
Fácil? Não, dificílimo, porque tais noções vêm da família (existem, mas são raríssimos, os alunos que as desenvolvem por conta pró-pria). E nem toda família tem con-dições de fornecer tais valores. Nessa hora, a convivência, a troca de idéias – caso a caso, aluno por aluno – é premente. As próprias famílias, aliás, costumam ser mais permeáveis do que a gente pensa: de um modo geral, aceitam as noções vindas da escola e tentam à sua maneira colocá-las em prática.
Agora, quando a família está indisponível ao educador, o professor tem de assumir esse papel.
Por uma nova disciplina
Em primeiro lugar, é preciso abandonar os clichês do tipo "o adolescente é rebelde e revoltado pela própria natureza", "as crianças são naturalmente egocentradas e indisciplinadas".
Ninguém nasce rebelde ou disciplinado: trata-se de um comportamento construído. Se antigamente disciplina equivalia ao silêncio ab-soluto, a disciplina desejada hoje é a do interesse e da participação. É importante que o aluno fale, dê sua opinião, de modo que possamos acompanhar suas descobertas e sua
[Escolha a data]
33
aprendizagem. Aqui, a sua atuação é decisiva, pois uma coisa é verdade: com exceção de casos patológicos, crianças e adolescentes são muito curiosos. Eles adoram aprender, desde que o conhecimento não lhes pareça impingido e, sobretudo, quando seu interesse e participação são estimulados.
Mas eles também gostam de ser respeitados: valorizam a sinceridade, o jogo aberto de um professor.
Com todo o prazer
Satisfazer uma curiosidade (no caso, despertada pelo professor em classe) e, a partir disso, construir um novo saber, é uma experiência extremamente recompensadora. Ou seja, é trabalho e prazer ao mesmo tempo.
Mas o fato de que o trabalho es-colar se constitua em prazer não significa que ele se transformou em lazer. Esse tipo de confusão é co-mum e acaba acarretando inúmeros problemas, sobretudo de disciplina.
Daí a importância de se fazer uma negociação permanente. Como nem todo assunto vai interessar a todo mundo todos os dias, convém fazer um acordo, uma espécie de "contrato social" com a classe, estabelecendo as regras do jogo. Todos participarão da feitura das regras, mas, uma vez acatadas pela maioria, a turma se obriga a cumpri-las. Caso uma ou várias regras, com o tempo, não funcionem mais, pára-se tudo e discute-se com os alunos a criação de novas regras.
Para ficar mais prático, divida a classe em grupos, cada qual destinado a estudar determinado conjunto de regras e apresentar propostas, que depois serão votadas por todos.
Essa postura não pode passar a imagem do professor "bonzinho" (que sequer é respeitado pelos alunos), mas sim a do professor interessado na classe como um todo e em cada um de seus membros. Aqui também é fundamental dizer a verdade. Existe, sim, uma liberdade na organização da classe, mas ela se destina ao aprendizado. E, para que ele aconteça, é necessária a presença de uma autoridade representada pelo professor. Em outras palavras, o professor não é o "dono" do saber, mas aquela pessoa que orienta a classe para que ela construa seu jeito de aprender, cada vez mais e melhor.
Pouco a pouco, a turma vai percebendo a legitimidade dessa autoridade. Mas vai percebendo na prática, através daquilo que viveu e não porque alguém disse que é assim e pronto. Essa é a nova disciplina. Um imenso desafio e um enorme prazer para alunos e professores.
Bibliografia:
Indisciplina na Escola; alternativas teóricas e práticas, org. por Julio Groppa Aquino (Summus Editorial);
Confrontos na Sala de Aula, de Julio Groppa Aquino (Summus Editorial);
Disciplina, Limite na Medida Certa, de Içami Tiba (Editora Gente);
Desnudando a Escola, de Luiza Laforgia Gavaldon (Pioneira Educ.)
[Escolha a data]
34
33..
Edição 183 - jun/2005
Reportagem de capa
Disciplina É mais fácil para os alunos seguir regras que eles ajudam a criar
Algazarra em classe, brigas, xingamentos, depredação e até agressões a professores não acabam com gritos ou ameaças. O fim da indisciplina acontece quando crianças e adolescentes são ouvidos, conhecem o objetivo de cada atividade e negociam a melhor maneira de atingi-los
Áurea Lopes
Quando a bagunça é muita, mesmo que a
gente queira prestar atenção não
consegue." A queixa de Larissa Daiana de
Oliveira Abreu, 13 anos, aluna da 8ª série
da Escola Estadual Parque Piratininga II,
em Itaquaquecetuba, na grande São
Paulo, dá uma amostra do problema que
interfere na aprendizagem e, claro, está
entre as maiores preocupações dos
professores. Manter a disciplina é, sem
dúvida, uma arte que poucos mestres
dominam. O autoritarismo, os gritos e o
bom e velho "já para a diretoria" não
funcionam mais. A melhor saída para
manter a ordem é a negociação de
objetivos e regras com os estudantes, que
vão aos poucos aprendendo a ter
disciplina. Sim, você pode ensinar esse
conteúdo como qualquer outro! Mas o que
é disciplina de fato? O conceito varia de
acordo com a situação, com o tipo de aula
a ser dado e até mesmo com o perfil do
professor.
"Um aluno que levanta de sua cadeira
para falar com o colega pode ser
considerado indisciplinado ou não,
depende do professor", explica Cândida
Maria Daltro Alves, professora da
Universidade Estadual de Santa Cruz, na
Bahia. Ela avaliou durante dois meses o
comportamento de oito professores de 5ª
série em duas escolas, uma pública e uma
particular da cidade de Piracicaba, em São
Paulo. Durante o trabalho parte de sua
dissertação de mestrado , Cândida
constatou que nem todos diferenciam o
estudante indisciplinado do que está
enfrentando alguma dificuldade dentro ou
fora da escola. "É preciso conhecer a
criança. Algumas não conseguem, por
exemplo, ficar caladas por muito tempo."
Cândida associa a disciplina a três pontos:
metodologia, conteúdo e relações
interpessoais. "Não há quem fique atento
a uma aula que não motiva", assegura.
Até o conteúdo mais interessante fica
difícil de ser assimilado se não há empatia
com o professor. Entre os educadores
acompanhados no estudo, apenas dois
não enfrentavam problemas de disciplina
em classe exatamente os que tinham
melhor desempenho nos três aspectos
identificados pela pesquisadora.
Parte da dificuldade do professor em lidar
com a questão está em sua formação. O
psicólogo Lino de Macedo, docente da
Universidade de São Paulo (leia entrevista
na pág. 24), afirma
[Escolha a data]
35
que uma das características importantes
do professor para conseguir disciplina é a
equanimidade. "Ele precisa respeitar as
diferenças, mas tratar todos de um modo
justo." Além disso, ele deve dar o
exemplo, cumprindo o que promete.
Um ambiente caótico se torna
acolhedor quando os alunos ajudam a
criar regras
Quem leciona em escolas onde o problema
de indisciplina é grave (algazarra em
classe, agressões físicas, xingamentos e
depredações) pode pensar que atitudes
repressivas sejam a solução. Mas as
medidas capazes de fazer os alunos
mudarem o modo de agir e de pensar têm
outra natureza: a participação da
comunidade escolar. Trabalhando dessa
maneira, a Escola Estadual Parque
Piratininga II pôs fim ao caos no prédio
que abrigava mais de 2 mil alunos.
Os estudantes pichavam a escola,
agrediam os colegas e ofendiam os
professores. E o pior: os alunos não eram
os únicos vilões da história. "Eu via
professores gritando com adolescentes, e
funcionários batendo boca com pais na
recepção", conta a diretora Fátima Zen
Casarini. Em 1998, Fátima pediu a
professores e alunos que fizessem
propostas para acabar com os problemas
cotidianos. Surgiu o Código Interno
Disciplinar. Os alunos listaram as
infrações, divididas em muito graves,
graves, médias e leves. E definiram as
sanções: perda de pontos (com 20 pontos,
os pais do aluno seriam chamados) e
multas pagas com papel higiênico ou
sabonete para uso coletivo.
Os objetivos do código da Piratininga II,
afixado nas paredes da escola, eram,
entre outros: evitar chamar os pais
constantemente; fazer com que os alunos
refletissem sobre suas ações; e tornar o
ambiente escolar agradável. Sete anos
depois, o código caiu em desuso. "Antes
as salas de aula precisavam ser limpas
com vassoura grande, tamanha era a
quantidade de lixo. Hoje faz parte da
rotina dos alunos conservar o ambiente
arrumado", lembra Fátima. As regras de
convivência foram incorporadas. "Se um
aluno novo gritar palavrões, os colegas
dizem a ele para não fazer isso", diz
Fátima.
A participação da garotada na gestão da
escola é constante. Todos têm acesso à
caixa de avaliação, em que depositam
bilhetinhos com elogios, críticas e
sugestões. De acordo com Fátima, os
recados são recolhidos diariamente e
mostrados aos professores e funcionários.
A diretora admite que todo esse trabalho
não significou o fim dos conflitos. "Eles
existem e são saudáveis; as agressões é
que devem ser contidas."
Se os estudantes agridem colegas e
professores, o ensino precisa mudar
Diferentemente do que muitos acreditam,
as causas da indisciplina não estão apenas
no estudante e na educação que ele traz
de casa. "Ao achar que as soluções para o
problema estão fora do seu alcance, a
escola nega a responsabilidade que lhe
cabe. Disciplina tem tanto a ver com a
família quanto com a escola", diz Telma
Vinha, integrante do Laboratório de
Psicologia Genética da Universidade
Estadual de Campinas. A equipe da Escola
Municipal de Ensino Fundamental Pedro
Nava, em São Paulo, resolveu assumir
efetivamente essa responsabilidade seis
anos atrás. Ocorrências graves eram
registradas lá: alunos atiravam carteiras
escada abaixo, professores eram
obrigados a se trancar no almoxarifado
para não ser agredidos fisicamente por
alunos e chegaram a ser assaltados por
estudantes a poucos metros da escola.
Um dia, a diretoria, os professores e os
coordenadores se reuniram para pensar
em uma educação mais interessante para
os alunos, moradores de um bairro pobre
da cidade. "Os jovens tinham que parar de
odiar escola", diz a diretora Fujiko Satomi
Takahashi. Assim, começaram a ser
implantados projetos extracurriculares
com participação voluntária. "O primeiro
foi a cozinha experimental, criada quando
a direção ficou sabendo que os alunos
vendiam o leite da merenda ou trocavam
[Escolha a data]
36
por drogas", lembra a coordenadora
pedagógica
Maria Lúcia B. Nogueira de Sá. Depois
vieram o grupo de teatro, as aulas de
xadrez, a horta comunitária, o programa
de orientação sexual, o jornal dos alunos
e a rádio.
A violência externa ainda afeta os jovens,
mas eles se portam melhor em classe, e
as pichações, as depredações e os roubos
não acontecem mais. "No passado, a
gente nem podia conversar com os
estudantes. Hoje, eles respeitam mais a
escola e os professores", lembra Tereza
Guimarães da Silva que leciona Inglês.
Tudo isso graças às mudanças na vida
acadêmica e na postura da equipe escolar.
Durante as aulas, os professores
procuraram formas de cativar os alunos,
com trabalhos interdisciplinares, por
exemplo, que passaram a dar mais
sentido ao que era estudado.
Especialmente querido entre os alunos, o
professor de História Edson Alberto
Giacom conta que mesmo nas aulas
tradicionais e explanativas, comuns em
sua disciplina, ele não enfrenta problemas
de disciplina. "Encanto os alunos com o
conhecimento. Procuro fazer com que
fiquem vidrados no que eu falo". Giacom
atribui seu bom relacionamento com os
alunos a uma postura equilibrada: "Tenho
um vínculo afetivo com a classe, uma
relação de amizade. Mas não esqueço que
sou um adulto me relacionando com
crianças que necessitam de uma
autoridade dentro da sala". Giacom dá a
receita de sucesso de suas aulas. "Só
aprendi a dar aula depois que comecei a
fazer contratos com os alunos."
As crianças aprendem desde cedo a
se organizar para chegar à
autodisciplina
Escolas particulares, que não enfrentam
problemas de disciplina graves, como os
que ocorriam na Piratininga II e na Pedro
Nava, adotam com sucesso a negociação
de regras com os alunos. De acordo com
Stella Galli Mercadante, diretora do Ensino
Fundamental da Escola Vera Cruz, em São
Paulo, quando o professor compartilha
com a turma seus objetivos para uma aula
ou um projeto, por exemplo, ele não
precisa correr atrás dos alunos para que a
meta seja cumprida. "O objetivo tem que
ser de todos, e não do professor. Esse é o
pulo-do-gato." Investir na autonomia
como geradora da autodisciplina traz
excelentes resultados. "Temos um
trabalho com representantes de classe,
eleitos pelos próprios alunos. Eles se
reúnem periodicamente para discutir
desde questões práticas do dia-a-dia,
como a ocupação do espaço coletivo, até
para refletir sobre o que é democracia e
cidadania", conta Elisa Vieira,
coordenadora do Ensino Fundamental I.
Em cada sala de aula, a participação dos
alunos nas decisões é constante. Dessa
maneira, o estudante entende que, se
realiza um trabalho individual, o melhor é
estar em sua carteira, sozinho, para poder
refletir. Já para que uma atividade de
grupo seja produtiva, a escolha dos
integrantes da equipe é fundamental. A
dinâmica é útil, inclusive, na preparação
de estudos do meio. A professora Teruco
Hayashida, encarregada de organizar as
viagens das 7ª séries, estimula a turma a
listar as características necessárias a cada
integrante para um bom trabalho e uma
boa convivência no grupo. Com essa
estratégia, a professora tem o que
comemorar: "Diminuíram muito as horas
de viagem dedicadas a administrar
conflitos".
Ao dar aos alunos a chance de participar
da elaboração de regras, a escola põe fim
ao conceito de disciplina como um
mecanismo de repressão ou controle, na
avaliação de Telma Vinha. Ela ressalta
que, muitas vezes, em nome da disciplina,
o aluno fica à mercê de normas
autoritárias, como "falar só quando
questionado" e "não fazer outra coisa
senão o que o professor mandou". Essa é,
para Telma, uma educação para a
obediência, que ela chama de "escola para
a passividade". "Nesse modelo entram as
filas, as cabeças atrás de cabeças, o
tempo limitado para cada atividade, os
conteúdos estagnados, as provas
homogêneas", exemplifica.
[Escolha a data]
37
Com isso, em vez de autonomia, a criança
desenvolve dependência. "É como lembrar
a todo momento que o aluno não tem
capacidade de decidir por si e enquadrá-lo
em um espaço em que todos se
comportem da mesma maneira. Como se
isso fosse possível." Por essa lógica, quem
não obedece é tratado à base de castigos
e ameaças que, segundo Telma, só fazem
algum efeito com crianças que temem a
autoridade: "As outras não se intimidam.
E, quanto mais gritos e repressão dos
professores, mais se satisfazem
internamente".
Mesmo numa escola democrática, os
limites são essenciais para a
disciplina
Embora encarada de forma flexível nas
escolas mais democráticas, a disciplina
ainda inclui um componente essencial: o
respeito aos limites. "O aluno
indisciplinado não é mais aquele que
conversa ou se movimenta na sala. É o
que não tem limites, não respeita os
sentimentos alheios, tem dificuldade em
se autogovernar", esclarece Telma. São
essas as características que devem ser
trabalhadas. "Em vez de um pré-requisito,
a disciplina se torna um dos objetivos a
ser construídos pela escola", explica. "E
desde os primeiros anos", completa Sílvia
Helena Passos Vieira, professora da 1ª
série do Colégio Franciscano Nossa
Senhora Aparecida, em São Paulo.
Com as crianças menores, essa
construção deve ser permanente. Todos
os dias, as regras e os combinados são
lembrados e apresentados aos pequenos.
"O professor precisa perceber quando um
bate-boca vai se tornar uma briga,
interceder quando alguém pega o material
do amigo, conversar sem pressa com o
agredido e com o agressor para estimular
a reflexão sobre o ato e o pedido de
desculpas voluntário", diz Sílvia. Na
Educação Infantil, se necessário, a
professora pára de dar aula para
conversar com o aluno enquanto a
assistente cuida da classe, que não se
dispersa fazendo bagunça.
Os mais velhos exigem igualmente um
trabalho pontual. Responsável pela
coordenação pedagógica de 5ª série ao 3º
ano do Ensino Médio, Marina Escobar de
Kinjo, do Nossa Senhora Aparecida,
acredita que deve-se aproveitar cada
conflito para discutir os valores e a vida
em comunidade. "Quando um aluno deixa
tocar o celular na aula ou senta como se
estivesse no sofá de casa, é preciso
mostrar que ele não tem o direito de
converter o espaço público em espaço
privado."
No cotidiano do colégio, uma medida
eficaz para cultivar a disciplina durante a
aula e acabar com os conflitos entre
professor e aluno são os contratos
didáticos. Trimestralmente, os professores
estabelecem roteiros de estudos que
discutem com a turma. O aluno sabe tudo
o que será abordado: as aulas teóricas e
práticas programadas, se haverá
atividades externas e como será feita a
avaliação, entre outros detalhes. "O
contrato, como diz o nome, é um
combinado. O aluno não fica ansioso, pois
sabe o que vai acontecer com ele. O
espaço de diálogo com o professor é
garantido", argumenta Marina. A mesma
metodologia é utilizada em classe. Assim
que entra na sala, a professora de Língua
Portuguesa Márcia Carvalho Rufino, por
exemplo, coloca na lousa tudo o que será
feito. Assim, os alunos vão se organizando
com calma.
Aprender a resolver problemas por meio
do diálogo, no entanto, não se dá de uma
hora para outra. Telma Vinha lembra que
"a criança aprende gradualmente, como
resultado da reflexão contínua, da troca
de pontos de vista e da coerência nos
procedimentos empregados". Por isso, a
primeira lição para os professores
interessados em "ensinar" disciplina é: se
trabalhado com dedicação, o aluno que
não tem disciplina pode perfeitamente
aprender a ter.
[Escolha a data]
38
O que fazer em classe na hora na
bagunça Nem todas as escolas têm um projeto que
contemple a questão da disciplina. Por
isso, às vezes, os professores enfrentam
esse desafio sozinhos. Aqui, algumas
sugestões para amenizar o problema.
Não grite. Se o barulho se sobrepõe à sua
voz, espere em silêncio: a turma vai
perceber que isso está prejudicando a
aula.
Recorra aos contratos. Se as regras
coletivas são claras e todos estiverem de
acordo, fica mais fácil chamar a atenção
quando ocorre uma transgressão.
Seja coerente com o que pede aos alunos.
Não adianta cobrar pontualidade se você
chega atrasado.
Não considere a indisciplina um ataque
pessoal. Não aceite provocações para não
reforçar comportamentos indesejados.
Seja enérgico quando necessário sem
perder o afeto. Faltas graves merecem
atitudes firmes. O diálogo e a reflexão não
eliminam a sanção prevista.
Não desanime. A assimilação da disciplina
é um processo gradativo e exige
investimento. Você terá que repetir o
discurso para o mesmo aluno várias
vezes.
[Escolha a data]
39
44...
Edição 183 - jun/2005
Fala, mestre!
LINO DE MACEDO
"Disciplina é um conteúdo como qualquer outro"
Para o psicólogo especializado em Piaget, o comportamento dos alunos em sala de aula é algo que precisa ser ensinado e varia de acordo com a atividade
Ao longo da carreira, Lino de Macedo,
professor do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo, se
especializou no construtivismo do
suíço Jean Piaget (1896-1980), na
psicologia aplicada à educação e nos
jogos infantis ele coordena um
laboratório de pesquisas e elaboração
de atividades relacionadas às
brincadeiras e voltadas para a escola.
Um assunto que ocupa
particularmente sua atenção são os
estágios de desenvolvimento da
criança e a importância de o professor
conhecer o que acontece em cada
fase do crescimento.
Com essa vivência, ele encara um dos
temas que mais preocupam os
educadores: a disciplina. Segundo o
psicólogo, disciplina na escola não é
questão de boa conduta nem de
formação trazida de casa. "Disciplina
se aprende e é do interesse de todo
mundo, porque facilita a relação da
gente com as coisas." O que o
professor pode fazer para que a
turma se comporte como deve? O
exemplo é um dos caminhos. "Fala-se
muito que as crianças de hoje não
têm limites. Mas nós, adultos,
também não temos." Macedo acaba
de lançar uma nova coletânea de
textos, Ensaios Pedagógicos, que tem
como subtítulo a pergunta Como
Construir uma Escola para Todos? Um
dos capítulos trata especificamente de
disciplina, tema discutido na
entrevista a seguir, concedida a
ESCOLA, em São Paulo.
É possível ensinar disciplina?
Sim. Disciplina é uma competência
escolar que as crianças aprendem
como qualquer conteúdo. Condição
para realizar um trabalho com êxito, é
uma matéria interdisciplinar, porque
dela dependem todas as outras.
A disciplina vem de casa?
Para alguns educadores, sim. Quem
considera a disciplina uma coisa que
se tem ou não se tem possui uma
visão moralizante que transforma
uma competência numa questão de
valor. Para eles, a disciplina depende
da força de vontade do aluno ou da
determinação dos pais. Essa visão
atribui culpa em caso de indisciplina.
De fato, na escola exclusiva, anterior
à atual, selecionavam-se os alunos e
ficavam de fora aqueles que não se
ajustavam ao comportamento
desejado. Nesse caso, disciplina era
mesmo um pré-requisito para a
escola. Hoje, comportadas ou não,
todas as crianças têm direito a
estudar.
[Escolha a data]
40
Qual o principal erro da escola em
relação à disciplina?
É pensar que existe um único tipo de
disciplina e que ela só pode ser
imposta. Minha idéia é que disciplina
é um trabalho de todos em sala de
aula. Constrói-se a melhor forma de
acordo com a necessidade. Numa aula
tradicional, expositiva, enquanto o
professor fala ou escreve no quadro-
negro, os alunos devem ficar quietos,
prestar atenção e copiar. Acontece
que hoje temos muitas propostas
pedagógicas. Cada cultura escolar e
cada atividade em sala de aula têm
uma disciplina adequada a seu
desenvolvimento. Dependendo da
situação, a melhor pode ser o silêncio,
as crianças perguntando ou
conversando entre si.
É possível ensinar disciplina pelo
exemplo?
Sim. Um erro comum é achar que a
falta de disciplina é sempre do outro.
Fala-se muito que as crianças de hoje
não têm limites. É verdade. Mas nós,
adultos, também não temos. Em uma
sociedade como a nossa, um dia se
almoça de manhã, outro dia de tarde,
outro dia enquanto se fala ao celular.
Nós é que não temos rotinas para
organizar a vida das crianças.
Entendemos os motivos da nossa
"indisciplina" porque sabemos que
para muitas pessoas a regularidade se
tornou impossível. Mas, se nós não
somos disciplinados, por que
esperamos um comportamento
regular das crianças, como se fosse
uma coisa natural, espontânea, quase
herdada? Podemos conquistar o aluno
para um projeto de disciplina
conseguindo a admiração dele. Em
sua origem, a palavra disciplina tem a
ver com discípulo. Discípulo é uma
pessoa que tem alguém como modelo
e se entrega pelo valor que atribui a
essa pessoa. Com o tempo, perdeu-se
o elemento de referência que havia
antigamente. Isso tem de ser
novamente conquistado, pouco a
pouco, pelos dois lados.
A disciplina que se aprende na
escola serve para a vida toda?
A gente tem de pensar a disciplina ao
mesmo tempo como fim e como meio.
É um fim porque podemos
desenvolver atitudes como
concentração, responsabilidade,
interesse. Essas coisas viram
ferramentas pessoais e de trabalho.
Disciplina é também um meio, um
instrumento sem o qual as coisas não
acontecem ou acontecem fora do
prazo ou dos padrões.
A disciplina ajuda a desenvolver a
autonomia?
Disciplina é, cada vez mais,
autodisciplina. Um exemplo é a lição
de casa. Hoje em dia a maioria das
famílias não tem um adulto com
tempo disponível para fiscalizar o
dever. A própria criança aprende a
administrar essa tarefa e, se
necessário, ela pede socorro. A
autonomia é uma conquista, um
aprendizado complexo e longo pelo
qual as crianças desenvolvem a
disciplina para dar conta de suas
tarefas.
O que é ser uma pessoa
disciplinada?
Ser disciplinado significa ter um
comportamento subordinado a regras.
Mas o que é regra? Algo que se
constrói por consentimento. É como
em um jogo. As regras são
arbitrárias, mas a criança aceita
porque gosta de jogar. Sem regra,
não há jogo. Para definir regras,
usamos o recurso da democracia. A
classe toda discute, sob a condição de
que todos aceitem o que a maioria
decidir. O problema é que a minoria
pode se recusar a cumprir. Deve-se
combinar previamente que a não
observação das regras implicará
punições ou perdas. Um dos motivos
que nos levam a aderir à disciplina
são as conseqüências de não nos
entregarmos a ela. Convencer é
diferente de impor.
Todas as obrigações devem ser
submetidas a discussão?
Não. Por exemplo: muitos pais
perguntam aos filhos se eles querem
comer. Eu não acho que seja uma boa
pergunta. Porque, se o filho disser
[Escolha a data]
41
que não quer comer, como fica? A
melhor pergunta é o que ele quer
comer, dando opções. Dar autonomia
não significa abrir mão do seu papel
de líder e de responsável por certas
coisas. Se você submeter tudo à
opinião da maioria das crianças, a
curto prazo elas vão decidir pelo pior.
Primeiro, tenta-se convencer. O
último recurso é impor. É errado
tentar tratar como homogêneo algo
desigual como a relação adulto e
criança ou a relação professor e
aluno.
As crianças conseguem entender
a importância da disciplina?
Em 1930 Piaget escreveu um livro
importante, O Julgamento Moral da
Criança, e mostrou que mesmo as
bem pequenas já têm valores como o
gosto pelas regras, pela disciplina,
pelo fazer bem-feito e por se entregar
a uma tarefa coletiva. Só que o adulto
não percebe. Piaget provou que é
possível ver isso usando o exemplo
das brincadeiras. A própria garotada
se auto-regula e se submete a regras
coletivas. Piaget analisou como o
respeito entre iguais promove o
desenvolvimento da criança. Muitos
pais e professores sabem
compartilhar com ela a necessidade
de uma regra de forma que a criança
até reclama, mas aceita, entendendo
que é o melhor.
Como ensinar a disciplina na pré-
escola?
Para alunos da Educação Infantil,
digamos de 2 a 6 anos, a brincadeira,
a fantasia, as histórias são ótimas
estratégias. A argumentação científica
não funciona com os pequenos. O
recurso lúdico soa sincero para a
criança, porque é uma espécie de
dramatização do assunto, uma
elaboração simbólica da questão.
Nessa idade, outro recurso possível é
simplesmente, com habilidade, dar
uma ordem e pedir que ela seja
cumprida. Nesse caso, é preciso
deixar claro para a criança que há
uma diferença entre ela e o adulto.
Ela sabe disso e até se sente aliviada.
Como ensinar a disciplina no
Ensino Fundamental?
A idade dos 7 aos 11 anos é
interessante para trabalhar disciplina
como uma boa regra ou uma regra
sem a qual certas coisas não se
desenvolvem bem. O convencimento
se dá de forma empírica, com
exemplos, discussão, não mais como
faz-de-conta. Uma coisa é o
imaginário, outra é a própria
negociação da regra. O problema do
convencimento no seu sentido adulto
é que ele supõe um pensamento
hipotético-dedutivo ("se você não
fizer isso, acontece aquilo"). Mas
crianças com menos de 12 anos não
entendem esse pensamento. É preciso
trabalhar com elas a própria
construção das regras mais
adequadas para uma determinada
tarefa que se espera que realizem. Se necessário, ela pede socorro. A autonomia
é uma conquista, um aprendizado
complexo e longo pelo qual as crianças
desenvolvem a disciplina para dar conta
de suas tarefas.
O que é ser uma pessoa disciplinada?
Ser disciplinado significa ter um
comportamento subordinado a regras.
Mas o que é regra? Algo que se constrói
por consentimento. É como em um jogo.
As regras são arbitrárias, mas a criança
aceita porque gosta de jogar. Sem regra,
não há jogo. Para definir regras, usamos o
recurso da democracia. A classe toda
discute, sob a condição de que todos
aceitem o que a maioria decidir. O
problema é que a minoria pode se recusar
a cumprir. Deve-se combinar previamente
que a não observação das regras
implicará punições ou perdas. Um dos
motivos que nos levam a aderir à
disciplina são as conseqüências de não
nos entregarmos a ela. Convencer é
diferente de impor.
Todas as obrigações devem ser
submetidas a discussão?
Não. Por exemplo: muitos pais perguntam
aos filhos se eles querem comer. Eu não
acho que seja uma boa pergunta. Porque,
se o filho disser que não quer comer, como
fica? A melhor pergunta é o que ele quer
comer, dando opções. Dar autonomia não
significa abrir mão do seu papel de líder e
de responsável por certas coisas. Se você
[Escolha a data]
42
submeter tudo à opinião da maioria das
crianças, a curto prazo elas vão decidir
pelo pior. Primeiro, tenta-se convencer. O
último recurso é impor. É errado tentar
tratar como homogêneo algo desigual
como a relação adulto e criança ou a
relação professor e aluno.
As crianças conseguem entender a
importância da disciplina?
Em 1930 Piaget escreveu um livro
importante, O Julgamento Moral da
Criança, e mostrou que mesmo as bem
pequenas já têm valores como o gosto
pelas regras, pela disciplina, pelo fazer
bem-feito e por se entregar a uma tarefa
coletiva. Só que o adulto não percebe.
Piaget provou que é possível ver isso
usando o exemplo das brincadeiras. A
própria garotada se auto-regula e se
submete a regras coletivas. Piaget
analisou como o respeito entre iguais
promove o desenvolvimento da criança.
Muitos pais e professores sabem
compartilhar com ela a necessidade de
uma regra de forma que a criança até
reclama, mas aceita, entendendo que é o
melhor.
Como ensinar a disciplina na pré-escola?
Para alunos da Educação Infantil,
digamos de 2 a 6 anos, a brincadeira, a
fantasia, as histórias são ótimas
estratégias. A argumentação científica
não funciona com os pequenos. O recurso
lúdico soa sincero para a criança, porque
é uma espécie de dramatização do
assunto, uma elaboração simbólica da
questão. Nessa idade, outro recurso
possível é simplesmente, com habilidade,
dar uma ordem e pedir que ela seja
cumprida. Nesse caso, é preciso deixar
claro para a criança que há uma diferença
entre ela e o adulto. Ela sabe disso e até
se sente aliviada.
Como ensinar a disciplina no Ensino
Fundamental?
A idade dos 7 aos 11 anos é interessante
para trabalhar disciplina como uma boa
regra ou uma regra sem a qual certas
coisas não se desenvolvem bem. O
convencimento se dá de forma empírica,
com exemplos, discussão, não mais como
faz-de-conta. Uma coisa é o imaginário,
outra é a própria negociação da regra. O
problema do convencimento no seu
sentido adulto é que ele supõe um
pensamento hipotético-dedutivo ("se você
não fizer isso, acontece aquilo"). Mas
crianças com menos de 12 anos não
entendem esse pensamento. É preciso
trabalhar com elas a própria construção
das regras mais adequadas para uma
determinada tarefa que se espera que
realizem.
A disciplina e a ordem podem
prejudicar a criatividade?
Rigidez é uma coisa, rigor é outra. Os
artistas, que trabalham com criação,
costumam ser super-rigorosos. Já
rigidez é acreditar que uma coisa só
pode ser feita de um jeito, definido
arbitrariamente. A disciplina está do
lado da criação, mas não é uma só.
Alguns trabalham de dia, outros à
noite; alguns de um modo, outros de
outro. A maior parte dos artistas tem
de cumprir prazos, se impõe tarefas.
Se não houver disciplina, você pára
no meio, esquece. Acontece que
muitas vezes nós, adultos, usamos o
discurso do rigor para defender nossa
rigidez ou nossa incapacidade de lidar
com as situações.
[Escolha a data]
43
55..
Índice da edição 149 - jan/2002
Reportagem de capa
A indisciplina como aliada
Ela atrapalha e incomoda, mas se for trabalhada de forma adequada pode ajudá-lo a conquistar a turma neste novo ano
Paola Gentile
Ano novo, novos desafios. O maior
deles, provavelmente, é conquistar a
turma, fazê-la produzir mais do que o
esperado, criar condições para que
todos aprendam. Por isso,
preparamos duas reportagens para
começar as aulas com o pé direito.
Veja aqui sugestões para ransformar
o pátio num verdadeiro ambiente
educativo, capaz de reduzir a
agressividade dos estudantes e ajudá-
los a se tornar mais participativos e
menos indisciplinados, o tema desta
página.
Como lidar com os grupinhos que não
param de conversar e não participam
das atividades? E com os que,
semana após semana, deixam de
fazer a lição? Sem falar nos
problemas mais graves, como a falta
de respeito dentro da classe, os
xingamentos e, o pior, as agressões
verbais e físicas. Pesquisa realizada
no ano passado pelo Observatório do
Universo Escolar, em parceria com o
Ministério da Educação, constatou que
a indisciplina é uma das causas mais
apontadas pelos professores para o
fracasso do planejamento inicial.
Masao Goto Filho
Ana Paula, da Vianna Moog, em
São Paulo:o "aluno-problema" se
tornou um dos mais interessados
com uma dose extra de atenção e
[Escolha a data]
44
pedidos de ajuda na organização
da sala
"A família não impõe limites!" "É a
televisão que educa as crianças."
"Eles não estão a fim de nada, não
têm jeito!" Quantas vezes você já não
ouviu (ou proferiu) essas frases? Não
há dúvidas de que boa parte do
problema passa mesmo pela família,
ausente e desestruturada, pelos
programas de TV, cada vez mais
violentos, e pelo próprio jovem, cujo
caráter ainda está em formação. Mas
saber disso não resolve o problema.
Nesta reportagem, são apontados três
caminhos para compreender e
resolver a questão: a diferença entre
autoridade e autoritarismo, a
importância de compreender a
necessidade que o jovem tem de se
expressar e as vantagens de construir
pactos com a garotada (tema também
da coluna de estréia de Julio Groppa
Aquino). Tudo para transformar a
indisciplina em aliada.
Autoridade se constrói
É impossível falar de indisciplina sem
pensar em autoridade. E é impossível
falar de autoridade sem fazer uma
ressalva: ela não é dada de mão
beijada, mas é algo que se constrói.
Ou seja, ter autoridade é muito
diferente de ser autoritário (leia o
quadro abaixo). Dizer "não faça isso",
ameaçar e castigar são atitudes
inúteis. O estudante precisa aprender
a noção de limite e isso só ocorre
quando ele percebe que há direitos e
deveres para todos, sem exceção.
Um professor
autoritário...
Um professor com
autoridade...
...exige silêncio para
ser ouvido;
...conquista a
participação com
atividades pertinentes;
...pede tarefas
descontextualizadas;
...mostra os objetivos
dos exercícios
sugeridos;
...ameaça e pune; ...escuta e dialoga;
...quer que a classe
aprenda do jeito que
ele sabe ensinar;
...procura adequar os
métodos às
necessidades da turma;
...não tem certeza da
importância do que
está ensinando;
...valoriza o conteúdo
de sua disciplina na
construção do
conhecimento;
...quer apenas passar
conteúdos;
...adapta os conteúdos
aos objetivos da
educação e à realidade
do aluno;
...vê o aluno como um
a mais.
...vê o aluno como um
ser humano.
Ana Kennya Félix, que leciona Língua
Portuguesa na Escola Crescimento,
em São Luís, dá uma boa amostra de
como fazer isso. Certo dia, ela
encontrou sua classe de 7ª série em
pé de guerra por causa de uma
discussão entre os meninos. Um deles
desafiou-a a "botar moral".
Calmamente, ela pediu que todos se
sentassem e deu início a uma
conversa sobre o sentido de "moral"
[Escolha a data]
45
(no caso, ordem). "Eles não
esperavam esse encaminhamento e o
debate serviu para a gente pensar
sobre os limites de nossos atos",
constata a professora.
Um dos obstáculos mais frequentes
na hora de usar o mau
comportamento a favor da
aprendizagem é uma atitude comum
a muitos professores: encarar a
indisciplina como agressão pessoal.
"Não podemos nos colocar na mesma
posição do jovem", adverte Julio
Aquino, professor de Psicologia da
Educação na Universidade de São
Paulo (USP). Quando a desordem se
instala, diz ele, é fundamental agir
com firmeza. Como fazer isso? Não há
fórmulas prontas, mas um bom
caminho é discutir o caso com os
envolvidos e aplicar sanções
relacionadas ao ato em questão.
O professor precisa desempenhar seu
papel o que inclui disposição para
dialogar sobre objetivos e limitações e
para mostrar ao aluno o que a escola
(e a sociedade) esperam dele. Só
quem tem certeza da importância do
que está ensinando e domina várias
metodologias consegue desatar esses
nós. Maria Isabel Fragoso, professora
de História do Colégio Albert Sabin,
em São Paulo, sabe que sua disciplina
requer muitas aulas expositivas. Mas
ela notou que não conseguia atenção
suficiente ao falar diante do quadro-
negro. A saída foi propor à garotada a
criação de encenações sobre alguns
períodos históricos. Resultado: o
desinteresse e a bagunça logo se
transformaram em mais
concentração.
Rogério Albuquerque
Maria Isabel, do Albert Sabin, em
São Paulo: as aulas expositivas
deram lugar a peças de teatro e a
turma que gostava de bagunça
logo começou a participar mais
Bagunça ou inquietação?
Cintia Copit Freller, professora de
Psicologia Escolar do Instituto de
Psicologia da USP, nos ajuda a
compreender essa pergunta. "A
indisciplina é uma das maneiras que
as crianças e os adolescentes têm de
comunicar que algo não vai bem". Por
trás de uma guerra de papel podem
estar problemas psíquicos ou
familiares. Ou um aviso de que o
estudante não está integrado ao
processo de ensino e aprendizagem.
Cerca de 95% dos casos atendidos
pelo Serviço de Orientação à Queixa
Escolar, coordenado por Cintia, são
resolvidos na própria classe. O truque
[Escolha a data]
46
é transformar a contestação em
aliada, dando atenção ao jovem e
ajudando-o a entender o que o
incomoda.
Carlos Silva
Cely, da Ciro Pimenta, em Belém:
achar o foco de interesse do aluno
foi a chave para integrá-lo
De maneira geral, as escolas
consideram rebeldia as transgressões
às regras de convivência ou a não
adequação a um modelo ideal seja em
relação ao ritmo de aprendizagem
(bom é quem aprende rápido) seja
em relação ao comportamento (só
queremos os obedientes). O primeiro
passo é tomar consciência de que a
inquietação é inerente à idade e faz
parte do processo de desenvolvimento
e de busca do conhecimento. O
segundo, aceitar as diferenças. "A
adolescência, em especial, é a fase de
descobrir e de testar limites", diz o
psicólogo português Daniel Sampaio,
autor de Indisciplina: Um Signo
Geracional.
Ok, a contestação é natural em
crianças e jovens, mas como lidar
com ela? Ana Paula Gama, regente de
uma turma de 4ª série da Escola
Municipal de Ensino Fundamental
Vianna Moog, em São Paulo, conta o
que fez para "domar" um garoto tido
como o terror em pessoa. "Augusto*,
então com 12 anos, era conhecido
desde a 1ª série como agressivo e
desinteressado. A mãe
freqüentemente assistia às aulas a
seu lado e ajudava nas lições de casa.
Tudo em vão", lembra a professora.
Ana Paula começou a pedir ajuda na
arrumação da sala e na distribuição e
recolhimento de material. Em pouco
tempo, ele tomou a iniciativa de
abandonar as carteiras do fundão e a
sentar-se na frente. Passou a prestar
atenção, a freqüentar as classes de
reforço e a oferecer-se para executar
as mais variadas tarefas. "Ela
incentivou o lado bom do estudante,
mostrou que ele pode ser útil",
analisa Cintia Freller. Só com carinho
e atenção, Ana Paula fez com que
Augusto superasse o estigma de
aluno-problema.
"Quando há relacionamento afetuoso,
qualquer caso pode ser revertido em
pouco tempo", afirma Tânia Zagury,
psicóloga e pesquisadora em
educação. Ana Cely Monteiro da Silva,
da Escola Municipal Ciro Pimenta, em
Belém, precisou de apenas três meses
para incluir Márcio* na turma de 2ª
série. Com 13 anos, ele não tinha
amigos, ameaçava os colegas e se
dizia "do mal". Faltava muito e,
quando aparecia, contestava tudo.
Cely sabia que o problema estava em
casa. Por ocasião do Dia dos Pais, ela
decidiu trabalhar um texto sobre
relacionamento familiar. Na hora do
debate, Márcio expôs o próprio
drama: pai desempregado, alcoólatra
e violento. "Ele tinha bom vocabulário
e gostava de expor suas idéias",
lembra a professora. O passo seguinte
foi elogiar as colocações do menino e
propor discussões sobre outros
temas. Ao ver seus interesses
contemplados na classe, o jovem se
[Escolha a data]
47
tornou assíduo e participativo. "Aliar
as necessidades de ensino-
aprendizagem às preferências da
turma é uma estratégia que sempre
dá certo", garante Nívea Maria de
Carvalho Fabrício, presidente da
Associação Brasileira de
Psicopedagogia.
Meireles Júnior
Anna, da Crescimento, em São
Luís: o diálogo como forma de
mostrar autoridade e discutir
valores e ética
Contrato pedagógico
Finalmente, chegamos ao contrato
pedagógico. Como todos os acordos
que celebramos na vida (aluguel,
casamento etc.), este também é um
pacto com aspirações e obrigações.
Como escreve Julio Aquino, não se
trata de definir o que não é permitido
fazer na sala de aula e na escola, mas
de abrir um diálogo entre professor e
alunos para estabelecer o que é bom
para todos e aqui, o exemplo de uma
escola talvez não sirva para outra.
"É nossa função dizer à turma tudo o
que cabe a ela para facilitar o ensino",
diz. "Em contrapartida, devemos
mostrar empenho em fazer todos
aprenderem. Só assim os jovens
encontram sentido nos conteúdos e
participam mais."
Com responsabilidade, todos devem
dizer o que querem e o que não
querem que aconteça neste ano letivo
que se inicia. Vale a pena redigir essa
carta de intenções. Pode chamar de
contrato mesmo, ou de combinado.
As regras podem valer para o ano
todo ou para uma atividade
específica. Como em todo diálogo,
esse também pressupõe a
possibilidade de rever posições, se
necessário. Assim, todos vão
incorporar e cumprir as normas de
conduta. E a indisciplina, que antes
incomodava, se transforma numa
grande aliada.
Os especialistas e o nó da
disciplina
Giselle Rocha
"A escola precisa quebrar o círculo
vicioso e instalar o benigno,
[Escolha a data]
48
ressaltando as qualidades do
jovem e mostrando que ele pode
ter liderança positiva"
Cintia Copit Freller, do Serviço de
Queixa Escolar da USP
Giselle Rocha
"Encontrar o centro de interesse
da turma como um todo é uma
excelente estratégia para integrar
os jovens no processo de
aprendizagem"
Nívea Maria Fabrício, da Associação
Brasileira de Psicopedagogia
Paulo Jares
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0
149/aberto/mt_245660.shtml
"Quando há relacionamento de
afeto e um professor atencioso,
qualquer caso pode ser revertido
em pouco tempo"
Tânia Zagury, psicóloga e
pesquisadora em Educação
Como enfrentar os "rebeldes"
Esqueça a
imagem do aluno
"ideal";
Observe a
criança e o grupo
com atenção;
Procure criar
situações, com
histórias ou
brincadeiras, que
levem a turma a
refletir sobre o
comportamento
de um ou mais
colegas, sem
expô-los;
Converse com os
que atrapalham a
aula, ouvindo
suas razões;
Não abra mão do
objeto de seu
trabalho, que é o
conhecimento;
Não rotule o
aluno, em
hipótese alguma;
Diferencie as
aulas, evitando
rotinas;
Esclareça as
conseqüências
para a
aprendizagem
das atitudes
consideradas
inadequadas;
Lembre-se de que
os conteúdos
podem ser
atitudinais, e não
apenas factuais e
conceituais.
[Escolha a data]
49
66...
Índice da edição 149 - jan/2002
A escola como ela é
Pela ritualização da sala de aula
Julio Groppa Aquino
Nove entre dez profissionais da
educação afirmam que um dos
maiores entraves do ofício reside no
descaso com a autoridade do
professor por parte das novas
gerações. Embora legítima, essa
constatação merece alguns reparos.
Em primeiro lugar, não se pode
conceber a noção de autoridade na
vida contemporânea como algo de
véspera. Ela se constrói aos poucos,
artesanalmente. Em segundo, as
ações escolares que se pretendam
democráticas necessitam ser
negociadas e reinventadas
continuamente. É aí que desponta a
proposta de contrato pedagógico
uma alternativa relativamente
simples, mas com resultados
notáveis.
Os antigos costumavam dizer que "o
combinado não sai caro". Com
razão. Celebramos contratos mesmo
que implícitos todo o tempo, em
todos os momentos da vida. É uma
espécie de pacto de confiança, que
poderia ser assim resumido:
"Primeiro, diga-me o que espera
que eu faça e seja, para que eu
possa esperar algo de você". Assim
começamos a cultivar expectativas
acerca do outro e de nós mesmos e
passamos a contar com parâmetros
de julgamento de nossas ações e
das alheias.
Um bom exemplo disso é o primeiro
dia de aula ocasião mágica de
convocação dos mais jovens para o
ingresso no velho mundo que os
precede. Muitas vezes, apenas o
bom senso não é suficiente para nos
guiar mediante a engenhosa tarefa
de iniciar o ano letivo. Quem não
precisa de um certo fôlego diante de
trinta ou quarenta pares de olhos
desconfiados, espreitando o que virá
e se repetirá nos próximos meses? É
hora de ultrapassar as aparências,
de dizer a que viemos.
Sempre que deparamos com alguém
pela primeira vez é preciso conhecer
sua trajetória de vida. Vale a pena,
de cara, aproveitar o tempo para
contar um pouco de sua história e
ouvir as que os alunos têm para
revelar. Histórias de realizações, de
fracassos e, sobretudo, de
aspirações.
Mas não só. É fundamental o
[Escolha a data]
50
professor dispor abertamente do
projeto de trabalho para o ano que
se inicia, dando a conhecer as
exigências e condições mínimas
para que as aulas transcorram a
contento. O mesmo vale para o
outro lado do balcão. Muitos se
espantarão com a clareza que os
alunos têm de seus deveres. E
vontade de participar não lhes falta
a não ser que não se queira vê-la...
Estabelecer um plano contratual
significa organizar conjuntamente as
rotinas de trabalho (o que será
feito) e de convivência (como será
feito) do jogo escolar. Não se trata
de regras fixas. Elas devem estar
em constante revisão. No meio do
caminho, é inevitável recordar ou
mesmo reformular os acordos. Mal
nenhum há nisso.
Os contratos pedagógicos explicitam as
condições mínimas para que as aulas
ocorram a contento. São um pacto de
confiança entre professor e aluno
Mais importante de tudo: contratos
estão longe de ser uma lista de
mandamentos do que não pode ser
feito. Ao contrário, eles tratam do
que deve ocorrer durante o ano
letivo. O resto o respeito mútuo, o
exercício livre do pensar e a alegria
de tomar parte da vida escolar é
conseqüência.
Contratos pedagógicos são, em
suma, formas sutis de ritualização
da sala de aula. São estratégias de
consagração dos diferentes papéis
de professor e aluno esses
protagonistas do mundo das idéias e
seu encantamento, que ainda
poucos conhecem.
[Escolha a data]
51
77... Revista
Nova escola, edição 172 - mai/2004
Sala de aula
Compromisso que garante o sucesso
Os alunos se tornam responsáveis pela aprendizagem quando combinam objetivos e tarefas com você
Andressa Rovani
Combinado, contrato pedagógico ou contrato didático. O nome pode variar, mas o conceito é um só: um acordo estabelecido entre o professor e a classe que leva todos a buscar um mesmo objetivo, a aprendizagem. "Quando se estabelece um contrato entre o professor e a turma, os estudantes deixam de ser apenas aqueles que estão destinados a obedecer, mas se tornam iguais em direitos e deveres", diz Maria de Fátima Francisco, professora de Filosofia da Educação da Universidade de São Paulo.
O contrato didático é útil tanto no começo do ano quanto no início de um projeto. Nesses momentos, você espera que a garotada se
dedique ao estudo e tenha uma disciplina exemplar. Mas, do outro lado da sala também existem expectativas. Crianças e adolescentes querem saber o que vão aprender e de que maneira. Um consenso sobre o que podem ou não fazer e quais as conseqüências pelo não cumprimento de alguma regra é fundamental.
Os bons resultados virão se crianças e jovens se sentirem responsáveis pela identificação de seus objetivos e pela criação dos meios para alcançá-los. Você passa a tutor dessas intenções, avaliando e fazendo intervenções. "Os alunos só assumem a própria aprendizagem quando é dada a eles oportunidade de uma participação ativa", diz Claudio Baptista, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Foi o que fez o professor Ricardo César, do Centro Educacional dos Pimentas, de Guarulhos (SP), em 2003. O relacionamento entre ele e a turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) foi todo baseado num contrato didático. O professor conhecia os altos índices de evasão em classes de EJA e logo no início das aulas apresentou à classe sua proposta de trabalho para o semestre (veja matéria à pág. 44). Para cumpri-la, todos juntos definiram quais seriam as responsabilidades do professor e dos estudantes, na maioria trabalhadores desempregados.
Entre as regras previstas no documento estavam as seguintes: se um aluno faltar à aula, os colegas têm permissão de visitá-lo em casa para saber o motivo da ausência; atrasos são permitidos, mas ninguém entra em classe
[Escolha a data]
52
passados mais de dez minutos do sinal; provas e seminários são os instrumentos utilizados para avaliar o rendimento dos estudantes; e alunos e professor têm responsabilidades definidas no desenvolvimento de cada tema. O
contrato, de acordo com César, foi fundamental para o sucesso do grupo. "Eu era apenas o condutor do projeto. As regras valiam para todos, que se tornaram mais unidos e participativos."
[Escolha a data]
53
88..
Revista Nova Escola edição 213 - jun/2008
Entrevista | Yves de La Taille
Nossos alunos precisam de princípios, e não só de regras
Amanda Polato
Agressões, humilhação, ausência de
limites. Nove em cada dez educadores
reclamam que as salas de aula estão
cada vez mais incivilizadas e que é
preciso dar um basta. Para resolver o
problema, nove entre dez escolas
recorrem a regras de controle e
punição. “É legitimo, mas é pouco. É
preciso criar uma lei para coibir algo
que o bom senso por si só deveria
banir?”, questiona Yves de La Taille,
professor do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo.
Especialista em Psicologia Moral (a
ciência que investiga os processos
mentais que levam alguém a
obedecer ou não a regras e valores),
ele defende que a escola ajude a
formar pessoas capazes de resolver
conflitos coletivamente, pautadas pelo
respeito a princípios discutidos pela
comunidade. O caminho para chegar
lá passa pela formação ética – não
necessariamente como conteúdo
didático, mas principalmente no
convívio diário dentro da instituição.
Co-autor dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) sobre Temas
Transversais, La Taille aponta que a
tentativa de abordar assuntos como
ética, orientação sexual e meio
ambiente de maneira coordenada em
várias disciplinas não funcionou no
Brasil. “É uma proposta sofisticada
que não se transformou em
realidade.” Nesta entrevista concedida
a NOVA ESCOLA, o ganhador do
Prêmio Jabuti de 2007 na categoria
Educação, Psicologia e Psicanálise,
com o livro Moral e Ética, Dimensões
Educacionais e Afetivas, indica
caminhos para trabalhar esses temas
no ambiente escolar.
Políticos, educadores e a
sociedade cada vez mais
pedem ética para
solucionar problemas
sociais. A que se atribui
essa demanda?
YVES DE LA TAILLE Existe uma
situação de medo, uma
percepção de que as relações
humanas estão cada vez mais
desrespeitosas. Mas creio que
a demanda social não seja
realmente por ética. O clamor,
[Escolha a data]
54
na verdade, é por
normatização. Tanto que hoje
temos uma espécie de
hiperinflação de leis. Um
exemplo é o projeto aprovado
pela Assembléia Legislativa de
São Paulo proibindo o uso de
celulares dentro das classes. É
claro que atender ao aparelho
durante a aula atrapalha, mas
como a escola enfrenta esse
problema? Criando uma regra
de controle em vez de discutir
os valores envolvidos nessa
situação – o respeito ao outro,
por exemplo. Penso que
deveria haver uma regulação
social, e não uma regulação
estatal, para esses
comportamentos.
O que significa isso?
LA TAILLE Significa que a
própria sociedade deveria ser
capaz de administrar essas
atitudes. O professor, por
exemplo, tem a possibilidade
de dizer: “Não vamos usar o
celular porque isso atrapalha a
aula, a não ser numa
emergência”. Quando uma lei
exterior resolve até os
mínimos conflitos, cria-se uma
sociedade infantil. Já a
formação ética, em vez da
simples normatização, discute
as relações com outras
pessoas, as responsabilidades
de cada um e os princípios e
valores que dão sentido à vida.
Como a escola pode discutir
princípios e valores?
LA TAILLE Antes de tudo ela
tem de eleger seus próprios
princípios, coerentes com a
Constituição brasileira:
liberdade, respeito, igualdade,
justiça, dignidade... É
fundamental, ainda, deixar
claro aos estudantes e pais
quais são esses princípios,
defendendo-os com unhas e
dentes. Por exemplo, se um
aluno for humilhado, ferindo o
princípio da dignidade,
algumacoisa precisa ser feita.
Aí entram debates, reuniões e
assembléias para discutir
regras que garantam a defesa
do princípio.
"A dimensão moral da
criança tem de ser
trabalhada desde a pré-
escola. Ética se aprende,
não é uma coisa
espontânea"
Qual é a real influência da
escola no desenvolvimento
moral e ético?
LA TAILLE Em primeiro lugar, é
preciso lembrar que criar
cidadãos éticos é uma
responsabilidade de toda a
sociedade e suas instituições.
A família, por exemplo,
desempenha uma função
muito importante até o fim da
adolescência, enquanto tem
algum poder sobre os filhos. A
escola também, na medida em
que apresenta experiências de
convívio diferentes das que
existem no ambiente familiar –
se deixo meu quarto
bagunçado, o problema é meu;
se deixo uma classe
bagunçada, o problema não é
só meu.
Cidadania e ética podem ser
trabalhadas nas séries
iniciais?
PERGUNTA DA LEITORA
Solange Gomes, Vilhena, RO
LA TAILLE Claro. A dimensão
moral da criança tem de ser
tratada desde a préescola e se
estender por toda a trajetória
do aluno. O trabalho pode ser
feito de forma simples ou
sofisticada, não importa: o que
a escola não pode é silenciar.
Décadas atrás, tiraram a
disciplina Educação Moral e
Cívica do currículo. É bom que
ela tenha sido eliminada por
causa de sua ligação com a
didatura militar, mas o
problema é que não colocaram
nada no lugar. Moral, ética e
cidadania se aprendem, não
são espontâneas.
[Escolha a data]
55
É preciso criar aulas
específicas para abordar
esses temas?
LA TAILLE Penso que a
transversalidade é melhor que
uma aula específica. Se ela for
considerada inviável numa
determinada instituição, então
que se proponha uma aula.
Mas, se essas discussões não
encontrarem eco nas próprias
relações da escola, o trabalho
em sala terá pouco efeito. É
preciso que o conteúdo seja
inseparável do convívio. Não
adianta falar das belas virtudes
da justiça e da generosidade e
ter um ambiente de
desrespeito e indiferença. Por
outro lado, se os contatos
forem expressão de uma
sociedade digna e solidária, faz
sentido discutir justiça e
generosidade. Existe uma
ponte entre a vida e a ref
lexão sobre a vida.
Muitos educadores
trabalham regras de
convivência com a turma
em suas aulas por meio dos
combinados, discutindo
normas coletivamente. Qual
é sua opinião sobre essa
prática?
LA TAILLE Para que um
combinado seja efetivamente
aceito, é preciso prestar
atenção a três aspectos.
Primeiro, é necessário que os
princípios inspiradores
norteiem o acordo e sejam
explicitamente colocados, não
fiquem apenas implícitos para
a turma. Na escola inglesa
Summerhill, por exemplo, um
dos princípios fundamentais é
o da igualdade. Com base
nele, ficou decidido que
nenhuma assembléia poderia
resolver que os meninos
menores serviriam aos maiores
– algo que, na prática, poderia
acontecer caso os mais velhos
tivessem maioria em uma
votação, digamos. Esse, aliás,
é o segundo ponto importante:
deve-se evitar ao máximo que
os combinados se dêem por
votação. É preferível procurar
o consenso, o que dá muito
mais trabalho mas é bem mais
rico porque desenvolve a
prática de escutar o outro. Se
o grupo segue muito rápido
para a votação, elimina-se
uma etapa preciosa que
poderia ser dedicada ao
diálogo. A votação não é
diálogo, a votação é poder: se
eu tenho mais votos que você,
você perde e eu ganho. Em
terceiro lugar, o professor não
pode abrir mão de seu papel
de autoridade, simplesmente
jogando para o grupo
asresponsabilidades pelas
sanções que o combinado pode
gerar.
Há algum caso prático que
exemplifique essa atuação?
LA TAILLE Posso contar um
fato real ocorrido numa
excelente escola, uma das
melhores que eu conheço. A
professora combinou com uma
turma de 5 e 6 anos que, após
as brincadeiras, as crianças
guardariam os brinquedos.
Todas brincaram, mas duas
delas resolveram não guardar
o brinquedo. O que fazer nessa
hora? A educadora – que
depois se arrependeu
profundamente – propôs que a
classe criasse uma lista num
pedaço de papel, escrevendo
de um lado aqueles que
cumpriram o combinado e do
outro os que não. Resultado
imediato: o menino e a menina
que haviam desobedecido ao
acordo ficaram desesperados
porque se viram excluídos.
Foram para casa e disseram
que não queriam mais voltar à
escola de jeito nenhum. O erro
da professora foi justamente
atribuir ao grupo a sanção. A
tirania do grupo às vezes é
pior do que a tirania de uma só
pessoa.
[Escolha a data]
56
Qual seria a atitude correta
da professora nessa
situação?
LA TAILLE Ela deveria ser a
guardiã do combinado, dizendo
aos pequenos: “Vocês vão
arrumar os brinquedos, sim.
Primeiro, em razão do
combinado. Segundo, porque
eu estou mandando”. É preciso
cuidar para que a criança não
substitua a figura do adulto.
Ela precisa dessa referência de
autoridade, de proteção, de
confiança. Depois, à medida
que a turma vai tomando
consciência e refletindo sobre
as questões morais, pouco a
pouco o grupo passa a assumir
essa referência.
Então, pode-se dizer que a
questão da indisciplina é
um problema moral?
LA TAILLE Depende do que se
entende por indisciplina. Eu
vejo três definições para o
termo. A primeira tem a ver
com a falta de autodisciplina,
que é quando o aluno não
consegue organizar a tarefa. A
segunda pode ser associada à
desobediência. Acontece
quando eu mando o aluno
fazer algo e ele não faz. Eu
deixo de ter autoridade porque
ele não seguiu minhas ordens,
mas não fui desrespeitado. O
estudante pode desobedecer
dizendo algo como “Senhor,
me desculpe, mas eu não vou
fazer a lição”. É uma questão
política, tem a ver com a
legitimidade do posto de
direção. A terceira indisciplina,
o desrespeito, essa, sim, é
uma questão moral. Se estou
lecionando e o aluno se
levanta e vai embora como se
eu não existisse, fui
desobedecido como autoridade
e desrespeitado como pessoa,
independentemente do fato de
eu ser ou não professor. Isso
não se justifica. Um professor
com uma aula chata não me
autoriza de jeito nenhum a
desrespeitá-lo.
Como co-autor do capítulo
dos Temas Transversais dos
Parâmetros Curriculares
Nacionais, qual é sua
avaliação sobre o impacto
desse documento na
formação dos alunos?
LA TAILLE Em geral, o que se
verifica é que a
tranversalidade foi
pouquíssimo implementada.
Ela se baseia na idéia de que
um determinado tema social
seja trabalhado
coordenadamente por
professores de várias
disciplinas. Cada um deles
contribuiria, dentro de sua
área de atuação, para o ensino
desses assuntos. Para que isso
seja feito, é preciso que a
equipe se reúna, estabeleça
metas e defina o que cada um
vai abordar. Isso pressupõe
uma elaboração complexa: o
tempo é essencial para
organizar as propostas, colocá-
las à prova e – não vamos
esquecer nunca – avaliá-las.
Na prática, esbarra- se em
diversos problemas, como o
fato de muitos professores
trabalharem em várias escolas
e só comparecerem para dar
aulas ou, no máximo, também
às reuniões ligadas a sua
disciplina.
As escolas não estão
preparadas para a
transversalidade?
LA TAILLE Eu diria que não
estão disponíveis para ela, até
pelas condições trabalhistas
que acabei de mencionar.
Existem belíssimas atividades
com temas transversais, mas
quase sempre são levadas por
um único professor.
Raramente há o
comprometimento institucional
necessário para o projeto se
tornar a realidade proposta
pelos PCNs. E o governo
também precisa se
[Escolha a data]
57
comprometer.
De que forma?
LA TAILLE Os políticos prestam
um grande desserviço à
Educação quando cada novo
governo quer partir quase do
zero, como se cada mandato
fosse a Revolução Francesa,
que aboliu o calendário
anterior e implantou novos
meses, novas datas. Pegue-se
o caso dos PCNs, feitos no
governo Fernando Henrique e
atualmente deixados de lado,
apenas vegetando no site do
Ministério da Educação. E o
programa Parâmetros em
Ação, que era essencial para
instrumentalizar a proposta, foi
abandonado. Ele seria
essencial para concretizar os
PCNs, que são, evidentemente,
teóricos.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
Labirintos da Moral, Mario Sérgio Cortella e Yves
de La Taille, 112 págs.,
Ed. Papirus, tel. (19) 3272-4500, 26 reais
Limites: Três Dimensões Educacionais, Yves
de La Taille, 152 págs.,
Ed. Ática, tel. 0800-115-152, 34,90 reais
Moral e Ética – Dimensões Educacionais e
Afetivas,
Yves de La Taille, 192 págs., Ed. Artmed, tel.
0800-703-3444, 36 reais
Vergonha, a Ferida Moral, Yves de La Taille, 288
págs.,
Ed. Vozes, tel. (24) 2233-9000, 43,90 reais
[Escolha a data]
58
TEXTOS PARA DISCUSSÃO
UNIDADE IV
http://strauss.ulbra.tche.br/~lilianap/l 4nn
GROSSI, G.P. Você é a chave da motivação em sala de aula. Revista Nova Escola. on Line, Disponível em: <<http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0134/aberto/mt_248568.shtml> Acesso em 20 de Nov. 2008.
MENEZES, L. C. De onde vem a tal motivação? Revista Nova Escola. São Paulo, ano 17, n. 207, p.82, nov. 2007.
ZENTI, L. Aulas que seus alunos vão lembrar por muito tempo, Revista Nova Escola. on Line, Disponível em: <<http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0134/aberto/mt_248561.shtml>, Acesso em 20 de Nov. 2008.
[Escolha a data]
59
11..
Edição 134 - ago/2000
Você é a chave da motivação em sala de aula
Gabriel Pillar Grossi
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0
134/aberto/mt_248568.shtml
NOVA ESCOLA ON-LINE - O SITE
DE QUEM EDUCA!
Você é a chave da motivação em sala de aula
Suas atitudes, decisões e ações em sala de
aula são essenciais para criar um ambiente
motivador. Ao responder com a máxima
honestidade esse teste, você vai descobrir se
está pondo lenha na fogueira da motivação
dos alunos ou despejando nela baldes de
água fria. Para cada questão, há um
comentário da autora do teste, a pedagoga
Madza Ednir.
Gabriel Pillar Grossi
A jornalista Madza Ednir acompanhada de
crianças senegalesas na travessia que leva do
continente à ilha de Gorée, em Dacar
Madza Ednir é pedagoga e presta serviços de
consultoria em comunicação e educação ao
Centro de Criação de Imagem Popular
(CECIP), à Fundação Victor Civita e ao
Instituto Ayrton Senna, onde edita o jornal
"Campeão de Cidadania". É co-autora do
conjunto de publicações "Todos pela
Educação no Município" (CECIP/Unicef,
1992), que divulgam as recomendações de
Jomtien no Brasil, de cartilhas, de manuais e
de uma fotonovela, buscando tornar
acessíveis a amplas camadas da população
os seus direitos de cidadania. Foi editora de
jornais dirigidos a educadores, como o
"Paulicéia Educação", da Secretaria Municipal
de Educação de São Paulo (1983-1985) e o
"Escola Agora", da Secretaria de Estado de
Educação de São Paulo (1995-1998).
[Escolha a data]
60
ATENÇÃO: Selecione, no máximo, duas
alternativas em cada item, com exceção
do item 4, no qual você poderá escolher
todas as alternativas verdadeiras para o
seu caso. Ao final, consulte o gabarito,
some os pontos que você fez e veja em
qual faixa você se encontra.
1 - É uma segunda feira e a primeira
aula da semana vai começar. Assinale a
frase que melhor traduz o seu estado de
espírito.
a - "Será que vou ter forças para sobreviver
até sexta feira nesta escola ?"
b - "O primeiro aluno que bancar o
engraçadinho na sala de aula vai se ver
comigo. Eles querem guerra? Pois vão ter!"
c - "Tomara que esta semana seja bem
melhor que a anterior."
d - "Preparei um monte de desafios
interessantes para as próximas aulas. Estou
louco(a) para ver como eles vão reagir".
Comentário da autora
Arquivo Pessoal
Seu entusiasmo – ou sua desmotivação
– são contagiosos e decidem como será
o "clima" na sala de aula
2 - Marque os comentários que mais
correspondem ao que você, em geral,
sente por seus alunos.
a - "Adoraria se fossem raptados
coletivamente por um disco voador."
b - "A maioria é boa, mas alguns não
querem nada com nada."
c - "São muito diferentes, fazem coisas que
às vezes me emocionam e outras me deixam
de cabelos em pé, mas gosto muito de todos
eles".
d - "Procuro compreendê-los."
Comentário da autora
Nossas necessidades de amor e afeto
precisam ser atendidas para a chama da
motivação crescer. Os alunos sentem
quando você gosta de verdade de cada
um deles e isso os estimula a aprender e
a crescer.
3 - Assinale as afirmações que você
poderia fazer , em relação à(s)
disciplinas(s) que ensina.
a - "Domino completamente o conteúdo e a
metodologia e não preciso aprender mais.
b - " Interesso-me bastante e procuro, no
dia a dia, aperfeiçoar o domínio do conteúdo
e da metodologia.
c - "Muitas vezes preciso ensinar coisas que
estão no currículo, mas não me interessam e
não sei ao certo para que servem na vida
real ."
Comentário da autora
Sua disposição para continuar
aprendendo é captada de mil maneiras
pelos alunos, que passam a seguir o seu
exemplo. A condição número um para
provocar o interesse dos alunos por um
tema é, no mínimo, saber por que ele é
relevante. O melhor mesmo é ser
apaixonado(a) pelo assunto.
4 - Assinale todas as afirmações que
você poderia fazer em relação às suas
atitudes durante as aulas.
a - Procuro estimular os alunos a questionar
as minhas idéias.
b - Estou sempre disposto(a) a ajudar.
c - Tenho dificuldades em criar um ambiente
descontraído.
d - Faço com que os alunos compreendam
que errar faz parte da aprendizagem.
e - Não costumo aceitar decisões da classe.
f - Antes de dar a minha opinião, escuto as
dos alunos.
[Escolha a data]
61
g - Na maior parte do tempo, a palavra está
comigo. Raramente faço perguntas, desafio
os alunos com problemas ou os estimulo a
agir.
Comentário da autora
A motivação explode quando os alunos
sentem que você confia neles, que os
escuta e respeita suas idéias e
julgamentos, que não os trata como se
fossem inferiores ou incapazes, mas
como parceiros da maravilhosa
aventura que é aprender sempre.
5 - O que você sabe sobre os seus
alunos ?
a - O nome dos que mais se destacam.
b - Características gerais, como nível sócio-
econômico e cultural das famílias.
c - Seus principais interesses, sonhos e
preocupações.
Comentário da autora
Compare essa resposta com a do item 2
para ver se elas "batem". Quem gosta
se interessa por conhecer o outro e não
se contenta com informações gerais
sobre a comunidade a que pertencem.
Se você sabe quais são as necessidades
e preocupações dos alunos, pode
relacioná-las ao que está ensinando e
descobrir a melhor forma de cativar
cada um.
6 - Um(a) colega conta que, antes de
iniciar a aula, reserva alguns minutos
para uma "roda da conversa", para que
os alunos tenham a oportunidade de
contar alguma novidade, comentar uma
notícia, dizer como estão se sentindo e
planejar com o(a) professor(a ) o que
vão fazer . Você...
a - …pensa : "Quanta perda de tempo!
Desse jeito ele(a) nunca vai vencer o
conteúdo".
b - ...pergunta: "E como você utiliza, na sua
aula, as informações que os alunos trazem
para essa roda da conversa?".
c - ...pergunta: "E como você utiliza, na sua
aula, as informações que os alunos trazem
para essa roda da conversa?".
Comentário da autora
Professores motivados costumam fazer
perguntas aos colegas para aprender
com eles. E são capazes de estimular
seus alunos a também fazer perguntas,
sinal inequívoco de motivação.
7 - Você vai começar a trabalhar um
novo tema com os alunos. Como
procede?
a - Explico o assunto da forma mais clara
possível.
b - Faço perguntas para descobrir o que os
alunos já sabem sobre o assunto.
c - Procuro relacionar o assunto com a vida
cotidiana e com os interesses da turma.
Comentário da autora
Como se sentiria um professor de
Língua Portuguesa que, em uma
capacitação, se deparasse com um
especialista discorrendo sobre
Mecânica? Com o aluno se passa o
mesmo. Ele precisa saber por que está
aprendendo algo. Deve perceber a
utilidade daquilo que aprende, na
realização de seus objetivos, na
satisfação de suas necessidades. Por
exemplo, um menino que gosta de
empinar papagaios, ficará motivado a
aprender medidas, se puder usar esse
conhecimento para construir pipas
melhores.
8 - Assinale o tipo de estratégia que
você usa mais freqüentemente em sala
de aula.
a - Exposições orais, cópias e ditados.
b - Trabalhos em grupo e estudos do meio.
c - Projetos que encorajam os alunos a
resolver problemas reais, a fazer algo que
seja interessante para eles, utilizando os
conhecimentos adquiridos.
Comentário da autora
O trabalho por projetos é uma das
[Escolha a data]
62
alternativas mais eficientes quando se
trata de motivar os alunos. Por várias
razões: permite a aplicação prática do
conhecimento; favorece a
interdisciplinaridade; dá mais
oportunidades de opção aos alunos, que
podem escolher seu grupo e as tarefas
mais adequadas aos seus interesses e
capacidades. Ao satisfazer as
necessidades que os alunos têm de
compreender, de se sentir capazes, de
realizar, você está estimulando sua
motivação.
9 - Ao entrar na sala, você percebe que
o ambiente está sujo e muito
bagunçado. Que atitude toma ?
a - Nenhuma. O importante é começar a
aula o quanto antes.
b - Chama alguém da diretoria para ver o
estado deplorável da sala e tomar
providências.
c - Pergunta aos alunos o que aconteceu e,
depois de ouvi-los, convida-os a, junto com
você, rapidamente organizar o espaço antes
de iniciar a aula.
Comentário da autora
O espaço físico da sala de aula deve
atender às necessidades de bem estar
dos alunos para não acabar com a sua
motivação. A limpeza, a disposição das
carteiras, a estética da sala são fatores
pedagógicos que precisam ser levados
em conta. E os alunos devem estar
conscientes disso, participando dos
esforços para embelezar e harmonizar
seu ambiente.
10 - Assinale os recursos que estão à
disposição dos alunos e que você utiliza
regularmente.
a - Quadro negro e giz.
b - "Cantinhos" com materiais relativos a
diferentes áreas do conhecimento,
computador, oportunidades de participar de
excursões, visitas a museus, teatros…
c - Livros, dicionários, jornais e revistas.
Comentário da autora
Os "cantinhos" ajudam os alunos das
séries iniciais a identificar o que mais
gostam de fazer. Dar aos alunos a
possibilidade de identificar e colocar em
prática suas diferentes habilidades e
capacidades é garantia de motivação.
Ao diversificar ao máximo as opções de
atividades, você está no caminho certo.
11 - Você utiliza os resultados das
avaliações …
a - …verificando quais alunos estão com
desempenho abaixo da média e
providenciando medidas de recuperação.
b - …elogiando os melhores alunos e
deixando bem claro aos demais o quanto são
incapazes.
c - …mostrando o quanto os alunos
avançaram e convidando cada um a
comparar os resultados que obteve com as
metas que havia estabelecido para si
mesmo.
Comentário da autora
Os alunos ficam motivados quando
compreendem que são responsáveis por
sua própria aprendizagem. Ao ajudá-los
a estabelecer metas individuais e a se
auto-avaliar, você está fazendo com que
assumam, aos poucos, o controle de
suas vidas.
[Escolha a data]
63
Gabarito
Questão e Pontuação
1 a.0 b.0 c.1 d.2
2 a.0 b.0 c.2 d.1
3 a.0 b.1 c.0
4 a.1 b.1 c.0 d.1 e.0 f.1 g.0
5 a.0 b.1 c.2
6 a.0 b.1 c.1
7 a.0 b.1 c.2
8 a.0 b.1 c.2
9 a.0 b.1 c.2
10 a.0 b.2 c.1
11 a.1 b.0 c.2
Resultados
Menos de 13 pontos
Água Gelada: Alerta vermelho! A desmotivação está colocando em perigo
sua realização pessoal e a aprendizagem dos alunos
Entre 14 e 21 pontos
Vento na Fogueira: Você faz o possível para estar atento(a) às
necessidades dos alunos e apresentar a eles objetivos e tarefas que lhes
permitam satisfazê-las.
Mais de 21 pontos
Gasolina Pura: Parabéns! Você adora o que faz, e seus alunos estão
descobrindo o prazer de nunca perder a motivação de aprender.
Fontes
http://novaescola.abril.com.br/ed/134_ago00/html/cresca_teste.htm
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0134/aberto/mt_248568.shtml
[Escolha a data]
64
22..
Edição 207 - nov/2007
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0207/aberto/mt_256856.shtmlhttp://revistaescola.abril.com.br/edicoes/02
07/aberto/mt_256856.shtm
l
[Escolha a data]
65
33.
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0134/aberto/mt_248568.shtml
Edição 134 - ago/2000
Cresça e aconteça
Aulas que seus alunos vão lembrar por muito tempo
Motivação é a chave para ensinar a importância do estudo na vida de cada um de nós
Luciana Zenti
O professor Domingos Ditano Jr. canta um
rap matemático para seus alunos:
motivação garantida
Júlia é uma menina falante e alegre.
Nas rodas de leitura, que acontecem
toda semana na escola em que estuda,
em São Paulo, está sempre atenta aos
comentários da professora e se empolga
contando aos colegas as passagens da
história que está lendo. "Se bobear, leio
até dicionário", diz, sorrindo.
Surpreendente? Pois saiba que, na
turma de Júlia, ela não é exceção.
Quase todos levantam a mão quando
alguém pergunta se estão lendo mais
do que no ano passado. Eles adoram
contar suas aventuras pelas páginas
impressas, o que transforma a atividade
em um grande bate-papo.
Embora todos os educadores saibam a
importância da educação para o
desenvolvimento do ser humano, fazer
[Escolha a data]
66
com que crianças e adolescentes
compreendam isso é certamente mais
difícil. Mas está longe de ser impossível.
Ao contrário. Experiências como a de
Simone Santiago, a professora de Júlia
(leia mais nos textos que acompanham
as fotos, abaixo), têm como base uma
palavra-chave: motivação.
"Não se pode esperar que todos os
alunos queiram estudar e se
interessem, pois muitos acham a escola
chata e a freqüentam por obrigação",
afirma Antonio Santos, professor de
Psicologia Educacional da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
Preto (USP).
A indisciplina excessiva, a falta de
interesse constante e a apatia dos
estudantes são, sim, um problema
enorme. E é preciso muita disposição
para superá-las. Infelizmente, não
existe uma receita mágica para
transformar as aulas em foco de
atração, mas com sensibilidade e
energia para enfrentar o desafio você
pode conquistar seus alunos, ganhar
tempo e, o que é melhor, trabalhar com
mais prazer.
Nesse aspecto, os especialistas são
unânimes: é fundamental mostrar que
estudar também é divertido. "Não existe
aluno sem solução. De um jeito ou de
outro se descobre algo de que ele
goste", diz Olgair Gomes Garcia,
professora de Didática da PUC-SP e
coordenadora pedagógica da rede
municipal de ensino de São Paulo. "O
profissional atento valoriza o estudante
quando ele participa e, assim, consegue
trazê-lo para o grupo."
Papéis trocados
Como explica Olgair, a maior dificuldade
é planejar a aula de forma a interessar
a todos. "Cada jovem traz em si
características muito diferentes. Por isso
é tão complicado criar um clima de
aprendizagem", destaca. Isso acontece
porque a motivação não é apenas algo
natural, mas depende de fatores
externos.
Na linguagem dos especialistas, há uma
divisão entre a motivação intrínseca —
quando o próprio conteúdo basta para
gerar um interesse — e a extrínseca —
quando se recorre a elogios, notas ou
prêmios. "As pesquisas mostram que
quanto mais idade o aluno tem mais se
torna imprescindível a motivação
intrínseca", explica Antonio Santos. Para
trabalhar essa motivação, o mais
importante é estimular o progresso do
grupo e criar um ambiente agradável
em sala. "O estudante precisa perceber
que o que ele faz é valorizado. Para a
sua auto-estima isso é essencial."
Segundo Santos, o aluno é
naturalmente motivado para tudo aquilo
que esteja ligado ao momento de vida
pelo qual está passando. Ocorre que
muitos professores planejam as
atividades apenas de acordo com seu
ponto de vista, sem definir os desafios a
partir da perspectiva da classe. "Uma
boa dica é inverter os papéis. Se o
educador descobrir o que a classe quer,
com certeza vai atrair sua atenção",
ensina.
Vale a pena investir na motivação
Estabeleça metas individuais. Isso
permite que os alunos desenvolvam seu
próprio critério de sucesso.
Emoções positivas melhoram a
motivação. Se você pode tornar alguma
coisa engraçada ou emocionante, sua
turma tende a aprender muito mais.
[Escolha a data]
67
Matemática no embalo do rap
Rogério Voltan
Quando era estudante, Domingos
Ditano Jr, que hoje leciona Matemática
na Escola Internacional de Alphaville,
em Barueri (Grande São Paulo), se
questionava por que as aulas não
podiam ser divertidas. Passados alguns
anos, ele resolveu aplicar no trabalho o
que gostava como aluno. Com bom
humor e a ajuda do rap, transformou as
aulas e conquistou a turma. As letras
explicam de forma objetiva e engraçada
o conteúdo e auxiliam na introdução da
matéria, na correção de exercícios ou
no esclarecimento de dúvidas. "Assim é
possível motivá-los a estudar sem que
eles percebam", comemora.
Demonstre por meio de suas ações que
o aprendizado pode ser agradável.
Desperte na criança o desejo de
aprender.
Dê atenção. Mostre ao aluno que você
se importa com o progresso dele. Ser
indiferente a uma criança é um
poderoso desmotivador.
O professor como peça principal
Explorar a afetividade foi a saída
encontrada por Ivonete Feitosa, que
trabalha na Escola Estadual Doutor
Edigardo Cajado, em Ribeirão Preto
(SP), para atrair os alunos. "Tento
valorizar a criança para que ela tenha
prazer de ir à escola. Esse é o nosso
papel", diz. No ano passado, ela
assumiu uma turma de 3a série que mal
sabia ler e escrever. Na classe estava a
aluna Sara Isaira, que jogou o material
no chão no primeiro dia, demonstrando
sua antipatia pelos livros. Ivonete
assumiu o desafio de conquistá-la e,
hoje, enche o peito ao contar o sonho
da menina: ser professora.
Negocie regras para o desenvolvimento
do trabalho.
Mostre como o conteúdo pode ser
aplicado na vida real.
Explique sempre os objetivos da
atividade.
Em vez de recriminar respostas ou
atitudes erradas, reconheça o trabalho
bem-feito.
Sempre que possível ofereça opções de
atividades.
Brincadeira de roda na biblioteca
Masao Goto Filho
Dar oportunidades de escolha pode
gerar ótimos resultados. Com
autonomia sobre o trabalho, a criança
se envolve na atividade e produz mais.
Essa foi a idéia adotada na escola Ibeji,
[Escolha a data]
68
em São Paulo. Para estimular a leitura,
Simone Santiago criou a roda de
biblioteca. Pelo menos uma vez por
semana a turma se reúne para uma
conversa em que cada um conta um
pouco do livro que está lendo. Na sala,
foi criada uma minibiblioteca, com obras
trazidas pelos alunos. Eles não têm
prazo de entrega dos livros e, no caso
de não gostarem da obra, podem trocá-
la por outra.
Seja flexível ao ensinar. Apresente
exemplos para estimular a reflexão.
Use recursos visuais, como desenhos,
fotos, gráficos, objetos.