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2006 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS COLETÂNEA DO CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE, PATRIMÔNIO CULTURAL E URBANISMO Ø Artigos Doutrinários Ø Peças Processuais Ø Recomendações Ø Termos de Ajustamento Ø Informações Técnico-Jurídicas

COLETÂNEA DO CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA … · de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo do Ministério Público do Estado de Goiás

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2006

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS

COLETÂNEA DO CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE

DEFESA DO MEIO AMBIENTE,PATRIMÔNIO CULTURAL E

URBANISMO

ØArtigos Doutrinários

Ø Peças Processuais

Ø Recomendações

ØTermos de Ajustamento

ØInformações Técnico-Jurídicas

1Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Coordenador:RICARDO RANGEL DE ANDRADE

Promotor de Justiça - Coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa do MeioAmbiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo do Ministério Público do Estado de Goiás

Organizadoras:LARISSA PULTRINI PEREIRA DE OLIVEIRA

Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Goiás/UFG - Assessora do Centro deApoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo do

Ministério Público do Estado de Goiás

ADRIANA PEREIRA FRANCOBacharel em Direito pela Universidade Federal de Goiás/UFG - ex-Assessora do Centrode Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

do Ministério Público do Estado de Goiás - Analista Judiciária do Tribunal RegionalEleitoral de Minas Gerais

COLETÂNEA DO CENTRO DE APOIOOPERACIONAL DE DEFESA DO MEIOAMBIENTE, PATRIMÔNIO CULTURAL

E URBANISMO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO

CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA DOMEIO AMBIENTE, PATRIMÔNIO CULTURAL E URBANISMO

Conselho Editorial:

Ficha catalográfica: Tânia Gonzaga Gouveia – CRB 1842

Altamir Rodrigues Vieira Júnior

Edison Miguel da Silva Júnior

Eduardo Abdon Moura

Érico de Pina Cabral

Estela de Freitas Rezende

Ivana Farina Navarrete Pena

Milene Coutinho

Mozart Brum Silva

Paulo Ricardo Gontijo Loyola

Ricardo Papa

Spiridon Nicofotis Anifantis

Coordenador: Ricardo Rangel de Andrade

Organizadoras: Larissa Putrini P. de OliveiraAdriana Pereira Franco

Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente,

Patrimônio Cultural e Urbanismo / Ricardo Rangel de Andrade.

(Coordenador) - Goiânia : ESMP/GO, 2006 -

252 p.

Conteúdo: Artigos doutrinários - Recomendações - Informações Técnicas-

jurídicas - Termos de ajustamento - Peças processuais.

1. Andrade, Ricardo Rangel de. 1 Patrimônio Cultural. 2. Legislação.

CDU 504:34(81)

Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e

Urbanismo

Coordenador: Ricardo Rangel de Andrade

Assessora: Larissa Pultrini P. de Oliveira

Secretárias: Doralice Simarro Dias Godoi e Irene Teixeira de Moura

Auxiliar: Paula Graciela de Melo Cabral

© Ministério Público do Estado de Goiás

Tiragem: 600 exemplares

Capa: Humberto de Vasconcelos Andrade

Fotografias: Rogério César Silva e Agetur Divulgação

Procuradoria-Geral de Justiça

Procurador-Geral: Dr. Saulo de Castro Bezerra

Rua 23, esquina c/ Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts 15/24. Jardim Goiás – Goiânia – GO

CEP 74805-100 Fone: (62) 3243-8000

e-mail: [email protected]

Http:// www.mp.go.gov.br

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .................................................................................

1 Agrotóxicos (implementação de centrais e postos de recebimentode embalagens vazias): ..................................................................1.1 Artigo: Compromisso de Ajustamento de Conduta como

Instrumento Ministerial de Tutela dos Agrotóxicos: uma pro-posta de coleta seletiva .......................................................

1.2 Legislação aplicável .............................................................1.3 Organograma – roteiro de implementação de postos e uni-

dades de recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos1.4 Modelo de Portaria inaugural de Inquérito civil para inves-

tigar o cumprimento das exigências legais pelas empresasprodutoras, comercializadoras e usuários de agrotóxicos, seuscomponentes e afins, bem como para apurar eventual infra-ção aos critérios estabelecidos para manipulação deagrotóxicos ..........................................................................

1.5 Modelo de ofício requisitório ao órgão responsável para queseja fornecida a relação das empresas comercializadoras deagrotóxicos, seus componentes e afins. ..............................

1.6 Modelo de convocação de audiência pública a ser realizadapara obter subsídios e informações adicionais, no que se re-fere aos critérios utilizados para manipulação de agrotóxicos;responsabilidade das empresas comercializadoras e a cons-trução de central e postos de recebimento de embalagensvazias de agrotóxicos ...........................................................

1.7 Modelo de ofício circular às empresas revendedoras para com-parecer à audiência pública acima referida ........................

1.8 Modelo da Ata de audiência pública .................................1.9 Modelo de Termo de Ajustamento de Conduta tendo como

objeto o cumprimento das exigências legais, em relação aomanejo responsável e criterioso de agrotóxicos, seus compo-nentes e afins, pelas empresas revendedoras ......................

1.10 Termo aditivo do TAC ........................................................

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2 Artigos:2.1 Da necessidade de criação de Conselho Municipal do Meio

Ambiente – breves considerações .......................................2.2 Conversão das multas ambientais em serviços de preserva-

ção, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambien-te – apontamentos e breves reflexões .................................

2.3 Controle de políticas públicas ambientais voltadas à constru-ção de hidrelétricas e o direito ao exercício da cidadania .......

2.4 Edificações irregulares às margens de cursos d’água: deverde demolir e reparar o dano ambiental ..............................

3 Termo de Ajustamento de Conduta Preliminar no qual o empre-endedor assume o compromisso de arcar com a integralidade doscustos e demais ônus porventura existentes relativos à realizaçãode projeto e execução de diagnóstico completo dos impactosambientais nas áreas onde exerce suas atividades, inclusive visan-do à obtenção de informações sobre a composição, estrutura, fun-ções e dinâmica dos ecossistemas afetados ...................................

4 Modelo de Recomendação à instituição oficial de crédito e finan-ceira no sentido de que seja suspensa qualquer participação emlinhas de financiamento até que seja regularizada a atividade e/ouobra causadora de degradação ambiental .....................................

5 Informações Técnico-Jurídicas, sem caráter vinculativo, aos órgãosde execução:5.1 Ausência de remessa dos autos de infração lavrados por violação

à legislação ambiental ao Ministério Público a fim de que sepossa apurar eventual responsabilidade criminal dos infratores

52 Atividades carnavalescas realizadas em vias urbanas,logradouros públicos, praças e espaços livres localizados emnúcleos históricos tombados em âmbito federal, estadualou municipal e entorno ......................................................

5.3 Prévia composição dos danos ambientais e relevância da cor-reta destinação de recursos oriundos da aplicação da penarestritiva de direitos, na modalidade de prestação pecuniária,para a efetiva recuperação e/ou recomposição do meio am-biente degradado ................................................................

5.4 Inobservância do prazo legal para elaboração e aprovaçãodo Plano Diretor e desnecessidade de sua subscrição por

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profissional habilitado e registro de Anotação de Responsa-bilidade Técnica – ART no CREA ....................................

6 Recomendações a órgãos e entidades públicas e privadas que atu-am em áreas afins:6.1 Administração e uso/ocupação irregular e ilegal da faixa de

domínio ...............................................................................6.2 Irregularidades e ilegalidades – principalmente concernente

à conversão de multas em bens e serviços “sob a forma dedação em pagamento” – em “Termos de Compromisso de Ajus-tamento de Conduta” celebrados entre a Agência Ambientale pessoas físicas e jurídicas autuadas por violação à legisla-ção ambiental ......................................................................

6.3 Proposta de Resolução ao Conselho Estadual de Meio Ambi-ente – CEMAm para a proteção do BIOMA CERRADO ...

6.4 Remessa permanente dos autos de infração lavrados peloIBAMA-DF no Estado de Goiás por violação à legislaçãoambiental – em especial nos municípios limítrofes (contíguos)ao Distrito Federal – para o Ministério Público Estadual .....

6.5 Implementação do Parque Estadual do Descoberto em ÁguasLindas de Goiás ..................................................................

6.6 Emissão dos Certificados de Registro de Veículo e deLicenciamento Anual condicionada à prévia e plena quita-ção das multas ambientais ..................................................

6.7 Abstenção por parte do Batalhão Ambiental de qualqueratuação que caracterize o exercício típico de polícia admi-nistrativa, sobretudo a autuação e lavratura de autos de in-fração ambiental .................................................................

6.8 Produtores de carvão – erradicação do trabalho escravo –registro de trabalho de todos os funcionários – em quanti-dade suficiente e compatível com a capacidade de produ-ção da atividade licenciada .................................................

6.9 Suspensão de autorizações relativas aos emprego do fogoem práticas agropastoris – notadamente utilizada para co-lheita de cana de açúcar – e florestais, inclusive mediantequeima controlada ..............................................................

6.10 Produção e inserção nas programações veiculadas pelas emis-soras de rádio e televisão estabelecidas no Estado de Goiás,de assuntos, matérias, temas etc., relacionados à proteção epreservação do meio ambiente ...........................................

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6.11 Formação/enchimento de reservatórios de Usinas Hidrelé-tricas (UHEs) e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs)na estação seca e em período no qual há significativa redu-ção do volume da vazão dos corpos hídricos ......................

6.12 Aquisição, alienação e comercialização de bens culturais porparte de comerciantes de obras, artes e antigüidades(antiquários, leiloeiros, sebos, lojas de materiais de demoli-ção de prédios antigos e estabelecimentos congêneres)sediados no Estado de Goiás ..............................................

7 Peças Processuais:7.1 Ação Direta de Inconstitucionalidade – plano diretor – nor-

mas de ocupação em área de expansão urbana – supressãode áreas consideradas de preservação permanente – prote-ção do meio ambiente – competência suplementar do mu-nicípio – violação às normas gerais editadas pela União e àsnormas estaduais de complementação – necessidade de apro-vação prévia do Relatório de Impacto Ambiental ..............

7.2 Ação Direta de Inconstitucionalidade – código de posturas– poluição sonora – extravasamento da competêncialegislativa municipal – competência privativa da União le-gislar sobre direito civil e penal – violação aos princípios dalegalidade, moralidade e impessoalidade ...........................

7.3 Ação Civil por Ato de Improbidade Administrativa – mi-neração – sonegação de informações ou dados técnicos-ci-entíficos em procedimento de licenciamento ambiental – -concessão de licença ambiental sem a prévia exigência deEIA/RIMA – violação aos princípios da moralidade e lega-lidade administrativa – enriquecimento ilícito .................

7.4 Ação Civil Pública – obrigação de fazer e não fazer – pro-dução de álcool – degradação de áreas consideradas de pre-servação permanente – necessidade de prévio licenciamentoambiental – obrigatoriedade de realização de audiênciaspúblicas – obrigação de recuperar os danos causados .......

7.5 Ação Civil Pública – mineração – poluição hídrica – lança-mento de efluentes líquidos sem tratamento – recuperação– compensação dos danos ambientais – indenização pordanos patrimoniais e extrapatrimoniais. ............................

7.6 Ação Civil Pública – disposição inadequada de resíduos só-lidos (lixo) – antecipação de tutela – construção de aterro

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sanitário – bloqueio dos valores constantes no PlanoPlurianual e Lei de Diretrizes Orçamentárias ...................

7.7 Apelação em Ação Civil Pública – indeferimento da inicial –ausência da identificação exata das áreas atingidas pela açãoilícita – questão de direito material, a ser resolvida em confor-midade com as normas deste e sem influência sobre o interes-se de agir – legitimidade do Ministério Público em promoveração civil pública para proteger o meio ambiente ...............

7.8 Ação de Exibição de documentos públicos – princípios dapublicidade, moralidade e legalidade – pedido liminar ...

7.9 Termo de Ajustamento de Conduta – loteamento clandes-tino e irregular – obrigações de fazer .................................

7.10 Termo de Ajustamento de Conduta – áreas consideradas depreservação permanente – obrigação de não fazer – absten-ção de exercer qualquer atividade ou obra potencialmentecausadoras de degradação do meio ambiente – obrigação defazer – reflorestar e recuperar áreas consideradas de preser-vação permanente ...............................................................

7.11 Termo de Ajustamento de Conduta – poluição eletromag-nética – emissão de radiação não ionizante – obrigação defazer – licenciamento ambiental – necessidade – realizaçãode laudo ou estudo similar da Estação Rádio Basemensurando medições de radiações da ERB .....................

7.12 Termo de Ajustamento de Conduta – atividade mineradora– obrigação de fazer e não fazer – atividades em desacordocom as licenças expedidas ...................................................

8 Carta de GoiâniaDrenagem Urbana: Recarga do Lençol Freático, Controle de Inun-dações, Reuso de Águas Pluviais e Recuperação de NascentesUrbanas .........................................................................................

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APRESENTAÇÃO

O Ministério Público tem como função institucional, dentre outras,promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do meioambiente (artigo 129, inciso III, da Constituição da República). No cumpri-mento desse mister muito se produziu, o que justifica a presente publicação.

Em se tratando de uma Coletânea, agrupamos uma amostra indicativada diversidade e complexidade dos problemas enfrentados na área ambientale urbanística pelo Ministério Público. Revela, outrossim, o potencial deseus membros que, mesmo assoberbados em face das diversas e crescentesatribuições, têm cumprido com êxito a função institucional de defesa domeio ambiente.

Nesta Coletânea, excetuamos os trabalhos anteriormente divulga-dos nas obras Coleção Centros de Apoio Operacional (volumes 1, 2 e 3),O Ministério Público e a Proteção do Patrimônio Cultural, Manual Básicodo Promotor de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e revistas especializa-das, sem descurar do conteúdo técnico-científico. É importante salien-tar, ainda, que muitos dos trabalhos coligidos primam pela originalida-de e transcendem as contingências do tempo, representando nossas ver-dadeiras convicções.

Iniciamos com um capítulo específico que versa sobre a destinaçãofinal de embalagens vazias de agrotóxicos (roteiro de atuação) o qual, decerta maneira, dá continuidade ao Manual Básico do Promotor de Justiça– vol 1, – que recebeu excelente acolhida entre os membros do Ministé-rio Público – e serve de estímulo e fomento para o desenvolvimento deoutros temas.

Na seleção dos artigos doutrinários, foram priorizados temas que estãoa desafiar a atuação ministerial e que certamente merecem maior atenção econstante reflexão, tais como: controle de políticas públicas ambientais vol-tadas à construção de hidrelétricas e o direito ao exercício da cidadania nolicenciamento de aproveitamentos hidrelétricos; implementação de conse-lhos e fundos municipais de meio ambiente; conversão das multas ambientaisem serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meioambiente e edificações irregulares às margens de cursos d’água – dever dedemolir e reparar o dano ambiental.

Por outro lado, com intuito de fomentar o conhecimento e a utiliza-ção de instrumentos ainda pouco utilizados, acreditamos ser importante

1 0 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

apresentar modelos de Termo de Ajustamento de Conduta Preliminar, pormeio do qual o empreendedor e/ou poluidor assume(m) o compromisso dearcar com a integralidade dos custos e demais ônus porventura existentesrelativos a projeto(s) e execução de diagnóstico(s) completo(s) dos impactosambientais, e de Recomendação às entidades e órgãos de financiamento e in-centivos governamentais para que seja suspensa qualquer linha de financia-mento ao empreendedor responsável pela atividade e/ou obra que esteja(m)a causar danos ao meio ambiente.

Cuidando-se, ainda, de obra destinada precipuamente a membrosdo Ministério Público, não poderíamos deixar de compilar Informações Téc-nico-Jurídicas que, a despeito de seu caráter não vinculativo, têm se reveladoimportantes instrumentos de aprimoramento funcional, orientação e uni-formização da atuação dos órgãos de execução, bem como algumas recomen-dações visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública e, emespecial, ao respeito aos interesses, direitos e bens, cuja defesa cabe ao MinistérioPúblico promover.

Em razão, principalmente, da fecunda e expressiva – quantitativa equalitativamente – atuação dos órgãos de execução do Ministério Público edo Centro de Apoio Operacional, é certo que a presente Coletânea nãocomporta todos os trabalhos, em especial forenses, desenvolvidos, motivopelo qual escolhemos os considerados prioritários visando democratizar oacesso a tais documentos e conferir transparência às ações e medidasinstitucionais adotadas.

Por fim, coligimos a Carta de Goiânia – Drenagem Urbana: Recargado Lençol Freático, Controle de Inundações, Reuso de Águas Pluviais e Recupe-ração de Nascentes Urbanas, que resultou de evento realizado no MinistérioPúblico, sob a coordenação do perito em edificações Luiz Géa Júnior, erefere-se à matéria que requer percuciente exame.

Com a edição desta Coletânea, o Centro de Apoio Operacional deDefesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo, órgão auxiliarda atividade funcional do Ministério Público, espera contribuir para o apri-moramento funcional dos órgãos de execução do Ministério Público, promo-vendo, ainda, a uniformização e otimização da atuação de seus membros.

Goiânia-GO, outubro de 2006.

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador do Centro de Apoio Operacionalde Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

1 1Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

1 AGROTÓXICOS

1.1 O COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA COMOINSTRUMENTO MINISTERIAL DE TUTELA DOS AGROTÓXICOS:UMA PROPOSTA DE COLETA SELETIVA DE LIXO*

Sumário: Introdução. 1. Da destinação final de embalagens vazias deagrotóxicos. Implementação de sistema de parceria entre os revendedoresde agrotóxicos para construção de unidades de recebimento. 2. Da atuaçãodo Ministério Público. Celebração de compromisso de ajustamento de con-duta com as revendedoras de agrotóxicos para cumprimento das exigênciaslegais e implementação de parcerias para construção de unidades de recebi-mento. 3. Conclusão.

Introdução

A Constituição Federal, em seu art. 225, § 1º, inciso V, impõe aobrigatoriedade do poder público no controle dos agrotóxicos:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamen-te equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial àsadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e àcoletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-sentes e futuras gerações.§1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe aopoder público:(...)V – controlar a produção, a comercialização, e o emprego detécnicas, métodos e substâncias que comportem risco para avida, a qualidade de vida e o meio ambiente.

As Constituições estaduais, em regra, reproduzem esse comando cons-titucional, com o escopo de efetivar, de forma permanente e apropriada, ocontrole de tais substâncias pelo poder público.

* Texto elaborado por Ricardo Rangel de Andrade, Promotor de Justiça, Coordenador do Centro deApoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente.

1 2 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Nesse rol de “substâncias que comportem risco para a vida, a quali-dade de vida e o meio ambiente” inserem-se, indubitavelmente, osagrotóxicos, seus componentes e afins, consoante as definições dispostas naLei nº 7.802/89 (art. 2º, incisos I e II) e no Decreto nº 98.816/90 (art. 2º,incisos XX, XXI e XXII) que a regulamenta.

Vale dizer, aqui, que a terminologia agrotóxico abarca outras deno-minações, comumente usadas de forma eufemística — com intuito de dis-simular sua ação danosa sobre o meio ambiente — como “defensivos agríco-las”, “praguicidas”, “pesticidas”, etc.

Há, portanto, presunção juris tantum de que os agrotóxicos, seus com-ponentes e afins são substâncias perigosas e poluentes, oferecendo riscos àsaúde, à qualidade de vida e ao meio ambiente.

Impõe-se, como decorrência lógica de tais predicados, o seu controle peloPoder Público. Não é por outro motivo que está previsto em lei a obrigatoriedadede seu registro, mediante publicação prévia que “prioritariamente, visa defenderos interesses sociais e individuais nas áreas de alimentação, saúde e meio ambien-te”1. Prescrições e exigências rigorosas, de observância obrigatória, também foramestabelecidas no tocante à rotulagem e à embalagem.

Em suma, a manipulação — produção, manejo, comercialização, uso,etc. —, o fracionamento e a reembalagem, de agrotóxicos, de forma inade-quada, irresponsável, ou em desacordo com as determinações legais, podemtrazer danos significativos ao meio ambiente e à saúde pública, razões pelasquais foram atribuídas várias responsabilidades (obrigações de fazer e nãofazer) aos usuários (ou agricultores), comerciantes (ou revendedores) e pro-dutores (ou fabricantes) de agrotóxicos, concomitantemente ao amplo po-der-dever de fiscalização do poder público.

A atividade legiferante concentrou-se, sobretudo, no estabelecimento denormas para destinação final das embalagens vazias de agrotóxicos, cominandosanções administrativas, civis e criminais em caso de não cumprimento.

1. Da destinação final de embalagens vazias de agrotóxicos. Implementaçãode sistema de parceria entre os revendedores de agrotóxicos para construçãode unidades de recebimento

Os resíduos2 remanescentes (embalagens contaminadas), ordinaria-mente, provocam riscos ao meio ambiente e à saúde, tendo em vista a per-manência por longo tempo dos princípios ativos que fomentam o podertoxicológico dos agrotóxicos e seus componentes.

1 cf. LEME MACHADO, Paulo Affonso. Direito Ambiental Brasileiro. 8 ed. São Paulo: Ed. Malheiros,2000, pág. 541.

2 art. 2º, inciso XII, do Decreto nº 98.816/90

1 3Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Avoluma-se essa inquietação, proveniente da desídia no manejo deagrotóxicos, se atentarmos ao fato de que muitas dessas embalagens vaziasde agrotóxicos são reutilizadas como utensílios domésticos, enterradas emlocais impróprios, queimadas ou abandonadas na lavoura, estradas e àsmargens de mananciais d’água.

Se isso não bastasse, os municípios carecem de regulamentação espe-cífica concernente à responsabilidade dos distintos geradores de resíduos,sustentabilidade financeira do sistema, normatização das atividades, etc. 3

Desta feita, todos os atores envolvidos, de alguma forma, neste “pro-cedimento” complexo de destinação final das embalagens, a redundar nareciclagem controlada, foram contemplados com encargos legais.

Os usuários de agrotóxicos foram incumbidos, por expressa disposi-ção legal, de, após realizarem a tríplice lavagem4 ou a lavagem sob pressão,

efetuar a devolução das embalagens vazias dos produtos aosestabelecimentos comerciais em que foram adquiridos (...)podendo a devolução ser intermediada por postos ou cen-trais de recolhimento, desde que autorizados ou fiscalizadospelo órgão competente (art. 6º, § 2º, da Lei nº 7.802/89,com redação dada pela Lei nº 9.974, de 06.06.2000).

Em relação às empresas produtoras e comercializadoras deagrotóxicos, seus componentes e afins,

são responsáveis pela destinação final das embalagens vaziasdos produtos por elas fabricados e comercializados, após adevolução pelos usuários, e pela dos produtos apreendidospela ação fiscalizatória e dos impróprios para utilização ou emdesuso, com vistas à sua reutilização, reciclagem ou inutilização,obedecidas as normas e instruções dos órgãos registrantes esanitário-ambientais competentes (art. 6 º, § 5º, da Lei nº9.974, de 06.06.2000).

Numa análise singela dos dispositivos legais acima mencionados,poder-se-ia concluir, precipitadamente, que há uma faculdade de escolhapor parte do usuário, dentre as hipóteses previstas em lei, em relação ao3 cf. RODRIGUES, Francisco Luiz. Limpeza Pública – Aspectos Ambientais. Centro de Estudos

Judiciários - Conselho da Justiça Federal..In: Seminário Internacional de Direito Ambiental, realizadono auditório do Superior Tribunal de Justiça – Brasília-DF, 9 a 11 de maio de 2001.

4 As embalagens de agrotóxicos usadas devem ser lavadas manualmente por 3 (três) vezes, medianteprocedimento adequado (1.Escorrer bem o resto do produto da embalagem até espaçar o pingamento.2.Colocar água até ¼ da embalagem e fechar com a tampa da rosca. 3.Agitar a embalagem por algunssegundos. 4.Entornar o líquido dentro do pulverizador para ser usado na aplicação). Após a tríplicelavagem, as embalagens metálicas ou de plástico devem ser inutilizadas, perfurando o fundo. O rótulonão deve ser danificado.

1 4 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

local para devolução das embalagens vazias de agrotóxicos, independente-mente da existência de unidades de recebimento adequadas.

Seria, realmente, tal entendimento, a solução mais profícua e salutar,não se trata dos objetos a serem devolvidos de embalagens com resíduos desubstâncias tóxicas que podem causar riscos à saúde e ao meio ambiente.

A preocupação ambiental vem, aqui, justamente, a inibir a dispersão dasembalagens vazias de agrotóxicos, melhor se ajustando ao presente caso, a cons-trução de unidades ou postos de recebimento. Uma única unidade de recebimen-to receberia embalagens vazias de agrotóxicos vazias vendidas por várias revendas.

Em sistema de parceria (“pool”), as empresas comercializadorasdisponibilizariam esforços e recursos na construção de unidades de recebi-mento. E, justamente por serem em número significativamente mais redu-zido do que as revendas, em muito facilitará o controle das embalagensvazias adquiridas e devolvidas pelos usuários para fins de fiscalização.

Isto porque, o ato de recebimento e armazenamento das embalagensvazias de agrotóxicos, está condicionado a uma séria de providênciasacautelatórias, como, a título de exemplificação, localização apropriada do esta-belecimento comercial ou posto (distante de residências ou construções de usocoletivo), aparelhamento apropriado, área arejada e isolada, profissionais quali-ficados e treinados (e dotados de EPI), licenciamento ambiental, etc.

Inegável a necessidade de licenciamento ambiental das unidades derecebimento, já que acolherão grande quantidade de resíduos tóxicos. O pró-prio Decreto nº 98.816/90, em seu art. 33-F, estabelece a obrigatoriedade.

Além disso, para a criação das unidades de recebimento pressupõe-sea observância das normas técnicas competentes: dimensionamento e isola-mento convenientes, facilidade de acesso aos usuários para as operações derecebimento, recolhimento e destinação de embalagens vazias, etc.5

Dessa maneira, se preteríssemos o sistema de parceria, muitos esta-belecimentos comerciais quedariam-se impossibilitados de receber e arma-zenar as embalagens vazias de agrotóxicos — como determina a lei —, sejapor impossibilidade física, seja em decorrência de eventual descumprimentode outras normas (códigos de posturas, normas ambientais e urbanísticasmunicipais, etc.), seja em virtude dos altos investimentos que teriam queaportar para a implementação e manutenção da estrutura da adequada.

Das unidades de recebimento as embalagens vazias seriam encami-nhadas para a Central de recebimento, a quem caberá a seleção e prensagemdo material, para, posteriormente, ser enviado para reciclagem.

Problema que pode advir da adoção do sistema de parceriaconsubstancia-se na recusa de determinada unidade de recebimento em

5 arts. 33-D e 119-B, do Decreto nº 98.816/90, com redação dada pelos Decretos nºs 3.550, de 27 dejulho de 2000 e 3.694, de 21 de dezembro de 2000.

1 5Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

receber embalagens vazias de agrotóxicos de usuários que as tenham adqui-rido de revendedores outros ou dos próprios fabricantes, que não contribu-íram financeiramente ou operacionalmente em relação ao aludido posto.

A recusa não encontra amparo legal, sendo facultado ao usuário adevolução das embalagens vazias a qualquer unidade de recebimento cre-denciada6. Entende-se por “credenciamento” a simples construção em obe-diência às disposições legais, e conseqüente regularização junto aos órgãocompetentes (v.g. licenciamento ambiental).

Vale lembrar que o sistema de parceria somente mostra-se viável e opor-tuno, in casu, em razão de preocupações ambientais e de saúde pública.

Destarte, a simples recusa em receber embalagens de agrotóxicos, ouaté mesmo a mera cobrança de “taxa” simbólica daqueles usuários que adqui-riram os produtos fitossanitários em revendedores que não contribuíram coma construção da unidade de recebimento, onde se está efetivando a devolução,acaba por negar a razão de ser e primeira do próprio sistema de parceria.

Se, num primeiro momento, a preocupação com o meio ambiente e asaúde pública vem, grosso modo, favorecer os revendedores de agrotóxicos aopossibilitar a instituição do sistema de parceira, em aparente detrimento dosusuários que têm restringido o seu direito de devolver as embalagens vazias nospróprios estabelecimentos onde foram adquiridas, não pode esta causa primá-ria, num segundo momento — decorrente do primeiro —, ser ignorada.

Todo o desenvolvimento posterior desse sistema de parceria deve es-tar subordinado à sua proposição diretiva, ou seja, ao seu preceito predomi-nante: minimização dos riscos à saúde pública e ao meio ambiente.

Assim sendo, a criação de parcerias entre os revendedores deagrotóxicos para a construção de unidades de recebimento, mostra-se, apriori, a solução mais viável do ponto de vista ambiental e passível de serefetuada no plano fático.

2. Da atuação do Ministério Público. Celebração de compromisso de ajus-tamento de conduta com as revendedoras de agrotóxicos para cumprimen-to das exigências legais e implementação de parcerias para a construção deunidades de recebimento

Trata-se de função institucional do Ministério Público “promover oinquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio públicoe social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos” (art.129, III, da Constituição Federal).

6 art. 33-C, § 2º, do Decreto nº 98.816/90, com redação dada pelo Decreto nº 3.550, de 27 de julhode 2000

1 6 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

O simples cotejo do dispositivo constitucional supra com o dispostona mencionada legislação infraconstitucional (Lei nº 7.802/89) e com opróprio art. 225 da Carta Magna, é suficiente para reconhecer-se a legiti-midade do Ministério Público no controle de agrotóxicos — substânciasque comportam risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.

Este mister constitucional confere ao Ministério Público, o poder-dever de exigir o cumprimento das exigências legais de todos os agentesenvolvidos na fabricação, comercialização, utilização, licenciamento, fiscali-zação e monitoramento das atividades relacionadas com o manuseio, trans-porte, armazenamento e processamento dessas embalagens.

É certo que inexistem graus de importância hierárquica em relação àsfases desse “procedimento” complexo de destinação final das embalagensvazias de agrotóxicos — as etapas e responsabilidades dos agentes sãointerdependentes —, a fim de que se possa aferir o momento mais adequa-do para a intervenção ministerial.

Porém, alumia-se, pelas razões aduzidas, a premente necessidade deimplementação dos sistemas de parceria e construção das unidades de rece-bimento, que ocupam uma posição estratégica — de concentração das em-balagens vazias — nesse “procedimento” de destinação final das embala-gens de agrotóxicos.

Para atingir referido intuito, o Ministério Público dispõe de um im-portante instrumento — termo de ajustamento de conduta (art. 5º, § 6º,da Lei nº 7.347/85) — que, ao adequar a conduta dos revendedores deagrotóxicos às exigências legais, pode catalisar a implementação do sistemade parceria para a construção das unidades de recebimento.

A celebração do compromisso de ajustamento de conduta com asempresas revendedoras para a construção de unidades de recebimento, tan-tas quantas sejam necessárias, acaba por instituir, indiretamente, o sistemade parceria e vice-versa.7

7 O Ministério Público do Estado de Goiás, em abril/junho de 2001, por intermédio das Promotoriasde Justiça de Luziânia, Cristalina, Vianópolis e Formosa, e sob a Coordenação do Centro de ApoioOperacional de Defesa do Meio Ambiente, celebrou compromisso de ajustamento de conduta com 57(cinqüenta e sete) revendedoras de produtos fitossanitários, nas quais se incluem revendas do DistritoFederal, que, mesmo eventualmente, vendem seus produtos no Estado de Goiás. As revendas secomprometeram, dentre outras obrigações assumidas (v.g. implementar programas educativos emecanismos de controle ao uso correto e seguro de produtos fitossanitários, e de estímulo à devoluçãodas embalagens vazias por parte dos usuários, apresentando, individualmente, o respectivo projeto aosórgãos competentes), na obrigação de fazer consistente em construir 3 (três) unidades de recebimentonas regiões de Formosa, Cristalina e Vianópolis, além de disponibilizarem recursos para o término deuma Central de recebimento localizada em Luziânia. O ajuste abrangeu uma vasta “região”, revendedorese usuários de mais de 14 (quatorze) cidades, e permitirá que estes (usuários) possam devolver aembalagem vazia de agrotóxicos em qualquer unidade de recebimento ou na própria Central.

1 7Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

De caráter eminentemente preventivo, o compromisso de ajustamentode conduta celebrado dará efetividade prática à lei, envolvendo assunção volun-tária e consciente da obrigação por parte do compromitente, aprendizagemambiental, preservação da imagem e da marca da empresa, baixos custos, etc.8

3. Conclusão

A destinação final correta das embalagens vazias de agrotóxicos temcomo razão de ser a diminuição do risco para a saúde pública e de contami-nação do meio ambiente.

Seu êxito depende do cumprimento das exigências legais por partede todos os agentes envolvidos, bem como da concentração das embalagensvazias de agrotóxicos em unidades de recebimento adequadas e dotadas delicenciamento ambiental.

Nessa área de atuação obrigatória do Ministério Público — controledos agrotóxicos —, o compromisso de ajustamento de conduta revela-se oinstrumento ministerial mais adequado para atingir tal desiderato: estímu-lo e valorização da reciclagem controlada, através da implementação de sis-tema de parceria entre as revendedoras dos produtos fitossanitários.

E robustecendo a importância da reciclagem controlada, evita-se, porconseguinte: (i) a queima de embalagens (o que gera gases com potencialpoluente); (ii) a proliferação de aterros municipais; (iii) o surgimento deaterros clandestinos em propriedades rurais, impraticáveis para grande quan-tidade de embalagens e que, invariavelmente, causam risco de contaminaçãode águas subterrâneas; (iv) a ocupação desnecessária de áreas agricultáveis.

Por derradeiro, é importante salientar a perfeita possibilidade de trans-posição do raciocínio ora abordado a outros processos seletivos, envolvendoobjetos com potenciais poluentes iguais, ou até mesmo maiores, que osagrotóxicos (v.g. pneumáticos, entulhos provenientes de grandes constru-ções, pilhas, baterias, lâmpadas, etc.).

O poder público, por sua vez, mais aliviado, e de forma mais demo-crática, poderá concentrar suas atividades na coleta de lixo predominante-mente domiciliar, poupando o consumo de parcela expressiva do orçamen-to. Legitima a coleta seletiva como instrumento de promoção para o desen-volvimento economicamente sustentável e preenche lacunas governamen-tais relativas à ausência de políticas públicas que tenham como objeto areciclagem de lixo.

8 cf. FINSK, Daniel Roberto. Alternativa à ação civil pública ambiental (reflexões sobre as vantagens dotermo de ajustamento de conduta). In: MILARÉ, Édis (Coord.). Ação Civil Pública: Lei 7.347/1985– 15 anos. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2001, pág. 131-139.

1 8 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Bibliografia:

LEME MACHADO, Paulo. Direito Ambiental Brasileiro. 8 ed. rev. atual. amp. São Paulo: Ed.Malheiros, 2000;

MILARÉ, Édis (Coord). Ação Civil Pública: Lei 7.347/1985 – 15 anos. São Paulo: Ed. Revistados Tribunais, 2001.

ALVES, Airton Buzzo; RUFINO, Almir Gasquez & DA SILVA, José Antônio Franco (Org.).Funções Institucionais do Ministério Público. São Paulo: Ed. Saraiva, 2001;

MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação Civil Pública. 6 ed. rev. atual. São Paulo: Ed. Revistados Tribunais, 1999.

1.2 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL: Lei Federal nº 7802/89, Decreto Fe-deral nº 4074/02, Lei Estadual nº 12.280/94, Decreto Estadual nº4.580/95, Resoluçãço CONAMA nº 334/03

1.3 ROTEIRO PARA IMPLEMENTAÇÃO DE POSTOS E UNIDADESDE RECEBIMENTO DE EMBALAGENS VAZIAS DE AGROTÓXICOS

1 9Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

1.4 MODELO DE PORTARIA INAUGURAL DE INQUÉRITO CIVILPARA INVESTIGAR O CUMPRIMENTO DAS EXIGÊNCIAS LEGAISPELAS EMPRESAS PRODUTORAS, COMERCIALIZADORAS E USU-ÁRIOS DE AGROTÓXICOS, SEUS COMPONENTES E AFINS, BEMCOMO PARA APURAR EVENTUAL INFRAÇÃO AOS CRITÉRIOSESTABELECIDOS PARA MANIPULAÇÃO DE AGROTÓXICOS

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ___________________

PORTARIA Nº ______/______

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por inter-médio da Promotoria de Justiça – Curadoria de Defesa do Meio Ambiente– da Comarca de____________________-GO, com fundamento no art. 129,inciso III, da Constituição Federal, no art. 117, inciso III, da Constituiçãodo Estado de Goiás, no art. 8º da Lei nº 7.347/85 (LACP), no art. 25,inciso IV, alínea “a”, da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Minis-tério Público) e no art. 46, inciso VI, alínea “a” da Lei Complementar nº25/98 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Goiás),

Considerando que a Lei Federal nº 6.938/81, que instituiu a PolíticaNacional do Meio Ambiente, estabelece como princípio dessa mesma polí-tica que o Meio Ambiente é patrimônio público a ser necessariamente asse-gurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo (art. 2º, I);

Considerando que a sociedade democrática é a gestora primária eoriginal dos seus interesses e do seu patrimônio;

Considerando que a manipulação inadequada de agrotóxicos, ou seja,a produção, manejo, comercialização e uso de agrotóxicos, de maneira irres-ponsável ou em desacordo com as determinações legais, poderão trazer da-nos significativos ao meio ambiente, bem de uso comum do povo;

Considerando que o fracionamento e a reembalagem de agrotóxicos eafins com o objetivo de comercialização, somente poderão ser realizadospela empresa produtora, ou por estabelecimento devidamente credenciado,sob responsabilidade daquela, em locais e condições previamente autoriza-dos pelos órgãos competentes;

Considerando que os usuários de agrotóxicos, seus componentes eafins deverão efetuar a devolução das embalagens vazias dos produtos aosestabelecimentos comerciais em que foram adquiridos, de acordo com asinstruções previstas nas respectivas bulas, no prazo de até um ano, contadoda data da compra, ou prazo superior, se autorizado pelo órgão registrante,

2 0 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

podendo a devolução ser intermediada por postos ou centros de recolhi-mento, desde que autorizados e fiscalizados pelo órgão competente;

Considerando que as embalagens rígidas que contiverem formula-ções miscíveis ou dispersíveis em água deverão ser submetidas pelo usuárioà operação de tríplice lavagem, ou tecnologia equivalente, conforme normastécnicas oriundas dos órgãos competentes e orientação constante de seusrótulos e bulas;

Considerando que as empresas produtoras e comercializadoras deagrotóxicos, seus componentes e afins, são responsáveis pela destinação dasembalagens vazias dos produtos por elas fabricados e comercializados, apósa devolução pelos usuários, e pela dos produtos apreendidos pela açãofiscalizatória e dos impróprios para utilização ou em desuso, com vistas àsua reutilização, reciclagem ou inutilização, obedecidas as normas e instru-ções dos órgãos registrantes e sanitário-ambientais competentes;

Considerando que compete ao Poder Público o controle dosagrotóxicos (art. 225, § 1º, V, da CF), e precipuamente, in casu, a fiscaliza-ção: (i) da devolução e destinação adequada de embalagens vazias deagrotóxicos, seus componentes e afins, de produtos apreendidos pela açãofiscalizadora e daqueles impróprios para utilização ou em desuso; (ii) doarmazenamento, transporte, reciclagem, reutilização e inutilização de em-balagens vazias e produtos referidos no item anterior;

Considerando que aquele que produzir, comercializar, transportar,aplicar, prestar serviço e der destinação a resíduos e embalagens vazias deagrotóxicos, seus componentes e afins, em descumprimento às exigênciasestabelecidas na legislação pertinente, estará sujeito à pena de reclusão, dedois a quatro anos, além de multa (art. 15 da Lei nº 7.802/89, com redaçãodada pela Lei nº 9.974, de 06.06.2000);

Considerando que as empresas produtoras e comercializadoras deagrotóxicos, seus componentes e afins, implementarão, em colaboração como Poder Público, programas educativos e mecanismos de controle e estímu-lo à devolução das embalagens vazias por parte dos usuários;

Considerando ser imperiosa a criação de uma estrutura adequadapelas empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos para as opera-ções de recebimento, recolhimento e destinação de embalagens vazias eprodutos;

Considerando que os estabelecimentos comerciais deverão dispor deinstalações adequadas devidamente dimensionadas para recebimento earmazenamento das embalagens vazias devolvidas pelos usuários, até quesejam recolhidas pelas respectivas empresas produtoras e comercializadoras,responsáveis pela destinação final destas embalagens;

2 1Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Considerando que os estabelecimentos comerciais, os postos de rece-bimento e as centrais de recolhimento de embalagens vazias fornecerão com-provante de recebimento das embalagens onde deverão constar, no míni-mo: nome da pessoa física ou jurídica que efetuou a devolução, data dorecebimento, quantidades e tipos de embalagens recebidas (art. 55 do De-creto nº 4.074, de 04 de janeiro de 2002, que dispõe sobre a pesquisa, aexperimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, oarmazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, aimportação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o re-gistro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos,seus componentes e afins).

RESOLVE:

Instaurar o presente INQUÉRITO CIVIL, para investigar o cum-primento das exigências legais pelas empresas produtoras, comercializadorase usuários de agrotóxicos, seus componentes e afins, firmando-se, se neces-sário, termo de ajustamento de conduta, bem como para apurar eventualinfração aos critérios estabelecidos para manipulação de agrotóxicos, deter-minando:

1. Autue-se a presente PORTARIA;2. Registre-se o presente INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO em livro

próprio;3. Requisite-se da Agência Rural Defesa Agropecuária de ________

________________________________________________ , situada na______________________________________________ , ____________ -GO,no prazo improrrogável de 10 (dez) dias, a relação dos estabelecimentosque, de alguma forma, intervêm no processo de manipulação de agrotóxicos;

4. Seja remetida cópia desta PORTARIA ao Centro de Apoio Ope-racional de Defesa do Meio Ambiente, nos termos do art. 27 da Resolu-ção nº 09/95 da Procuradoria Geral de Justiça do Estado de Goiás;

5. Seja tomado por termo o compromisso da secretária nomeada;6. Após, voltem-me conclusos para posteriores deliberações.

________________-GO, ____de________________de 20____

____________________________________________________Promotor de Justiça

2 2 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

1.5 MODELO DE OFÍCIO REQUISITÓRIO AO ÓRGÃO RESPON-SÁVEL PARA QUE SEJA FORNECIDA A RELAÇÃO DAS EMPRESASCOMERCIALIZADORAS DE AGROTÓXICOS, SEUS COMPONEN-TES E AFINS

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ___________________

Ofício nº ______/03

______________-GO, ____de__________de 2003

Ao Senhor_____________________________________

Chefe do Escritório local da Agencia Rural Defesa Agropecuária de_________________-GO

Assunto: Inquérito Civil nº ________________/03 – Comercializaçãoe destinação final de embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes eafins

Senhor ___________, com esteio no art. 129, VI, da ConstituiçãoFederal, art. 26, I, “b” e § 3º, da Lei 8.625, de 12/02/93, e art. 8º, § 1º, daLei 7.347/85, para instruir o inquérito em epígrafe, e considerando serimperiosa a coleta de informes técnicos que possam embasar eventualpropositura de ação civil pública, formulo a presente requisição no sentidode Vossa Senhoria fornecer a relação das empresas comercializadoras deagrotóxicos, seus componentes e afins.

Tratando-se de requisição, assino o prazo de 10 (dez) dias para res-posta, sob as penas do art. 10 da Lei 7.347/85 (constitui crime, punidocom pena de reclusão de 01 a 03 anos, mais multa, a recusa, o retardamen-to ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura de ação civil,quando requisitados pelo Ministério Público).

Atenciosamente,

____________________________________________________Promotor de Justiça

2 3Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

1.6 MODELO DE CONVOCAÇÃO DE AUDIÊNCIA PÚBLICA A SERREALIZADA PARA OBTER SUBSÍDIOS E INFORMAÇÕES ADICI-ONAIS, NO QUE SE REFERE AOS CRITÉRIOS UTILIZADOS PARAMANIPULAÇÃO DE AGRÓTOXICOS; RESPONSABILIDADE DASEMPRESAS COMERCIALIZADORAS E A CONSTRUÇÃO DE CEN-TRAL E POSTOS DE RECEBIMENTO DE EMBALAGENS VAZIASDE AGROTÓXICOS

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ___________________

CONVOCAÇÃO PARA AUDIÊNCIA PÚBLICA

Assunto: Manipulação de agrotóxicos, responsabilidade das empre-sas comercializadoras e construção de central e postos de recebimento deembalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por inter-médio da Promotoria de Justiça – Curadoria de Defesa do Meio Ambiente– da Comarca de __________________, com fundamento no art. 127 eseguintes da Constituição Federal, no art. 114 e seguintes da Constituiçãodo Estado de Goiás, na Lei Complementar nº 75/93 (Lei Orgânica doMinistério Público da União), na Lei nº 7.347/85 (LACP), no art. 27,inciso IV, da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Públi-co) e no art. 48, inciso IV, da Lei Complementar nº 25/98 (Lei Orgânicado Ministério Público do Estado de Goiás), e

Considerando que a Lei Federal nº 6.938/81, que instituiu a PolíticaNacional do Meio Ambiente, estabelece como princípio dessa mesma polí-tica que o Meio Ambiente é patrimônio público a ser necessariamente asse-gurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo (art. 2º, I);

Considerando que a sociedade democrática é a gestora primária eoriginal dos seus interesses e do seu patrimônio;

Considerando que a manipulação inadequada de agrotóxicos, ou seja,a produção, manejo, comercialização e uso de agrotóxicos, de maneira irres-ponsável ou em desacordo com as determinações legais, poderão trazer da-nos significativos ao meio ambiente, bem de uso comum do povo;

Considerando que o fracionamento e a reembalagem de agrotóxicos eafins com o objetivo de comercialização, somente poderão ser realizadospela empresa produtora, ou por estabelecimento devidamente credenciado,sob responsabilidade daquela, em locais e condições previamente autoriza-dos pelos órgãos competentes;

2 4 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Considerando que os usuários de agrotóxicos, seus componentes eafins deverão efetuar a devolução das embalagens vazias dos produtos aosestabelecimentos comerciais em que foram adquiridos, de acordo com asinstruções previstas nas respectivas bulas, no prazo de até um ano, contadoda data da compra, ou prazo superior, se autorizado pelo órgão registrante,podendo a devolução ser intermediada por postos ou centros de recolhi-mento, desde que autorizados e fiscalizados pelo órgão competente;

Considerando que as embalagens rígidas que contiverem formula-ções miscíveis ou dispersíveis em água deverão ser submetidas pelo usuárioà operação de tríplice lavagem, ou tecnologia equivalente, conforme normastécnicas oriundas dos órgãos competentes e orientação constante de seusrótulos e bulas;

Considerando que as empresas produtoras e comercializadoras deagrotóxicos, seus componentes e afins, são responsáveis pela destinação dasembalagens vazias dos produtos por elas fabricados e comercializados, apósa devolução pelos usuários, e pela dos produtos apreendidos pela açãofiscalizatória e dos impróprios para utilização ou em desuso, com vistas àsua reutilização, reciclagem ou inutilização, obedecidas as normas e instru-ções dos órgãos registrantes e sanitário-ambientais competentes;

Considerando que compete ao Poder Público o controle dosagrotóxicos (art. 225, § 1º, V, da CF), e precipuamente, in casu, a fiscaliza-ção: (i) da devolução e destinação adequada de embalagens vazias deagrotóxicos, seus componentes e afins, de produtos apreendidos pela açãofiscalizadora e daqueles impróprios para utilização ou em desuso; (ii) doarmazenamento, transporte, reciclagem, reutilização e inutilização de em-balagens vazias e produtos referidos no item anterior;

Considerando que aquele que produzir, comercializar, transportar,aplicar, prestar serviço, e der destinação a resíduos e embalagens vazias deagrotóxicos, seus componentes e afins, em descumprimento às exigênciasestabelecidas na legislação pertinente estará sujeito à pena de reclusão, dedois a quatro anos, além de multa (art. 15 da Lei nº 7.802/89, com redaçãodada pela Lei nº 9.974, de 06.06.2.000);

Considerando que as empresas produtoras e comercializadoras deagrotóxicos, seus componentes e afins, implementarão, em colaboração como Poder Público, programas educativos e mecanismos de controle e estímu-lo à devolução das embalagens vazias por parte dos usuários;

Considerando ser imperiosa a criação de uma estrutura adequadapelas empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos para as opera-ções de recebimento, recolhimento e destinação de embalagens vazias eprodutos;

2 5Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Considerando que os estabelecimentos comerciais deverão disporde instalações adequadas devidamente dimensionadas para recebimento earmazenamento das embalagens vazias devolvidas pelos usuários, até quesejam recolhidas pelas respectivas empresas produtoras e comercializadoras,responsáveis pela destinação final destas embalagens;

Considerando que os estabelecimentos comerciais, postos de recebi-mento e centros de recolhimento de embalagens vazias fornecerão compro-vante de recebimento das embalagens onde deverão constar, no mínimo:nome da pessoa física ou jurídica que efetuou a devolução, data do recebi-mento, quantidades e tipos de embalagens recebidas (art. 55 do Decreto nº4.074/02, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, aembalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização,a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destinofinal dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a ins-peção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins);

Considerando que cabe ao Ministério Público promover as medidascabíveis para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meioambiente, bem como tomar as providências necessárias para aresponsabilização dos infratores (civil e criminalmente), e

Considerando que lhe incumbe melhor instruir-se, em audiênciapública, para, com a colaboração da coletividade local, melhor discutir aquestão e sua conseqüências para a própria comunidade, para, a seguir,tomas as demais providências que a lei lhe comete,

COMUNICA:

A todos os interessados que fará realizar AUDIÊNCIA PÚBLICA,no dia _____de ____________________de_____, as_____h_____min, na_____________________________, situada na____________________, -GO,com o seguinte objetivo e agenda:

1.Objetivo: Obter subsídios e informações adicionais, no que serefere aos critérios utilizados para manipulação de agrotóxicos; responsa-bilidade das empresas comercializadoras e a construção de central e postosde recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos.

O regulamento completo da audiência pública está à disposiçãodos interessados, na Promotoria de Justiça.

2.Cadastramento de expositores e lista de presença: A inscrição deentidades que queiram enviar representantes, ou de debatedores, bem como

2 6 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

de quaisquer interessados em participar das exposições, será realizada comantecedência, até o dia_____, diretamente junto à Promotoria de Justiça daComarca, com a funcionária____________________, pessoalmente, ou pormeio do telefone (_____)__________-_______________ .

A mera presença ao evento, como ouvinte, não dependerá de préviainscrição.

3.Agenda da audiência pública:13h00min – 13h20min – Abertura dos trabalhos;13h20min – 13h35min – Apresentação das questões a serem exami-

nadas na audiência, pelo presidente da sessão ou por pessoa por este desig-nada;

13h35min – 14h15min – Manifestação dos representantes do Inpev,da Agência Rural, dos Secretário Municipais de Agricultura, etc...;

14h15min – 16h00min. – Pronunciamento dos representantes le-gais das entidades interessadas (preferencialmente das empresascomercializadoras de agrotóxicos), autoridades e demais pessoas que se te-nham inscrito previamente, bem como de técnicos ou especialistas acasoconvidados pelo presidente (todas as intervenções serão feitas com tempodeterminado, e serão registradas por meio eletrônico, de forma a permitiroportuna transcrição e juntada aos autos do correspondente inquérito civil,como subsídio para a solução do problema);

16h00min – 16h50min – Exposição das medidas a serem tomadaspelas empresas comercializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins,elaborando-se, caso necessário, minuta de termo de ajustamento de condu-ta para cumprimento das exigência legais;

16h50min – 17h00min – Encerramento pelo presidente.

________________-GO, ____de________________de 20____

____________________________________________________Promotor de Justiça

2 7Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

1.7 MODELO DE OFÍCIO CIRCULAR ÀS EMPRESAS REVENDE-DORAS PARA COMPARECER À AUDIÊNCIA PÚBLICA ACIMA RE-FERIDA

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ___________________

Ofício Circular nº ______/03

______________-GO, ____de__________de 2003

Ao Senhor_____________________________________

Representante da______________-GO

Senhor Representante,

Convido Vossa Senhoria a participar da audiência pública, que trata-rá sobre a implementação de Postos e unidades de recebimento das emba-lagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, a ser realizada nodia ___/___/______, às______h______min, no_____________________ ,_____________________ -GO.

Na oportunidade, Vossa Senhoria deve estar munido de informaçõespormenorizadas acerca do volume de vendas mensal e/ou anual de seu esta-belecimento, discriminando os tipos de agrotóxicos mais vendidos.

Atenciosamente,

____________________________________________________Promotor de Justiça

2 8 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

1.8 MODELO DE ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICA

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ___________________

ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICA

Aos___de______________do ano de 200___ , na__________________,____________ - GO, presente o Dr. (Promotor de Justiça da Comarca),bem como (nomear as pessoas e autoridades presentes, mencionando osrespectivos endereços e telefones: Secretários Municipais de Agricultura,representantes da Agência Rural, do IBAMA, da Agência Ambiental, repre-sentantes da Associação dos Engenheiros Agrônomos, representantes dasPrefeituras Municipais envolvidas, representantes das empresas, etc.), reali-zou-se audiência pública para os fins do disposto no art. 27, parágrafo úni-co, inciso IV, da Lei nº 8.625/93, regularmente convocada por meio deavisos de convocação, com o objetivo e a pauta apresentados a seguir:

1. Objetivo: Obter subsídios e informações adicionais, no que serefere aos critérios utilizados para manipulação de agrotóxicos; responsabi-lidade das empresas comercializadoras e a construção de central e postos derecebimento de embalagens vazias de agrotóxicos.

2. Agenda da audiência pública:13:30 – 14:00 Abertura20’________________________ - Promotor de Justiça10’ ________________________ - ________________________.

14:00 – 14:20 20’ Destino Final –_____________________– INPEV

14:20 – 15:10 15’ ________________________. – Agência Rural 15’ ________________________. - ._____________20’________________________ -________________________

15:10 – 15:30 Intervalo

15:30 – 16:15 45’ Revendas (5’para cada Revenda)

16:15 – 17:00 Medidas para Campanhas EducativasDebate sobre as cláusulas a integrar termo de ajus-tamento de conduta.

17:00 – 17:15 EncerramentoPromotor de Justiça________________________

2 9Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

3. Desenvolvimento dos trabalhosOs trabalhos foram presididos pelo Dr. ________________________,

Promotor de Justiça. Declarada aberta a audiência pelo seu presidente, pro-cedeu à composição da mesa, que se fez conforme agenda acima.

Pelo presidente, foi feita a apresentação inicial do caso e foram reite-rados os objetivos específicos do encontro, bem como suas regras de desen-volvimento. A seguir, ainda pelo presidente, foi apresentada a pauta dostrabalhos.

Dando prosseguimento à audiência, o presidente esclareceu que fo-ram registrados os nomes de todos os participantes.

A seguir, foi dada a palavra aos expositores, e, em seguida, aos repre-sentantes legais dos revendedores de agrotóxicos para a discussão da minutade termo de ajustamento de conduta apresentado.

Dando seqüência aos trabalhos, dentro da pauta previamente apro-vada, o presidente, finalizando, agradeceu a presença de todos e encerrou aaudiência pública, assumindo os revendedores de agrotóxicos o compro-misso de assinarem termo de ajustamento de conduta, nos termos acorda-dos, a ser elaborado por esta Promotoria de Justiça.

________________-GO, ____de________________de 20____

____________________________________________________Promotor de Justiça

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1.9 MODELO DE TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTATENDO COMO OBJETIVO O CUMPRIMENTO DAS EXIGÊNCIASLEGAIS, EM RELAÇÃO AO MANEJO RESPONSÁVEL E CRITERIOSODE AGROTÓXICOS, SEUS COMPONENTES E AFINS, PELAS EM-PRESAS REVENDEDORAS.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSPromotoria de Justiça________________-GO

TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

Inquérito Civil nº ________/200__

Interessados: empresas revendedoras de agrotóxicos, seus componen-tes e afins

Objeto: critérios para manipulação de agrotóxicosFundamento Legal: art. 5º, § 6º da Lei nº 7.347/85

Pelo presente instrumento, em que figura de um lado o MINISTÉ-RIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio dos Promoto-res de Justiça infra-assinados, doravante denominado compromitente, e deoutro lados as empresas (nome e endereço), doravante denominadascompromissárias, celebram este COMPROMISSO DE AJUSTAMENTOde suas condutas, nos seguintes termos:

CLÁUSULA PRIMEIRA01. As compromissárias assumem a obrigação de fazer consistente

em efetuar a venda de agrotóxicos, seus componentes e afins, juntamentecom o respectivo receituário agronômico de acordo com a receita e reco-mendações do fabricante ou órgãos registrantes e sanitários ambientais. Nareceita deverá constar a data, assinatura e carimbo do técnico, com indica-ção do nome, do registro no Conselho Regional Profissional e do CPF/MF;

CLÁUSULA SEGUNDA02. As compromissárias, por intermédio das unidades/postos de re-

cebimento, assumem a obrigação de fazer consistente em receber e armaze-nar as embalagens vazias e respectivas tampas pelos usuários, devidamentelavadas pelo processo de tríplice lavagem ou técnica equivalente (em relaçãoàs embalagens com formulações miscíveis ou dispersíveis em água), bemcomo de receber os produtos apreendidos pela ação fiscalizatória, os impró-

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prios para utilização ou em desuso, observando-se sempre que a aludidadevolução não pode se dar num prazo superior a 01 (um) ano, contada dadata de compra;

CLÁUSULA TERCEIRA03. As compromissárias assumem a obrigação de fazer consistente

em fornecer trimestralmente à Agência Rural –Defesa Agropecuária local eàs próprias unidades/postos de recebimento, os dados concernentes à quan-tidade e tipos pormenorizados de embalagens adquiridas pelos usuários, eque deverão ser devolvidas, discriminando o nome dos respectivos usuários;

CLÁUSULA QUARTA04. As compromissárias, por intermédio das unidades/postos de re-

cebimento, assumem a obrigação de fazer consistente em fornecer trimes-tralmente à Agência Rural – Defesa Agropecuária local relatórios contendoa quantidade e tipos pormenorizados de embalagens recebidas nas unida-des/postos de recebimento, discriminando o nome dos respectivos usuári-os, bem como outras informações que julgarem necessárias;

CLÁUSULA QUINTA05. As compromissárias assumem a obrigação de fazer consistente

em manter à disposição dos órgãos fiscalizadores o sistema de controle dasquantidades e dos tipos de embalagens adquiridas pelos usuários, com asrespectivas datas das ocorrências;

CLÁUSULA SEXTA06. As compromissárias assumem a obrigação de fazer consistente

em somente comercializarem agrotóxicos, seus componentes e afins quecontenham rótulos próprios e bulas, redigidos em português, bem comoinformações sobre os equipamentos a serem usados e a descrição dos proces-sos de tríplice lavagem ou tecnologia equivalente, procedimentos para adevolução, destinação, transporte, reciclagem, reutilização e inutilização dasembalagens vazias e efeitos sobre o meio ambiente decorrentes da destinaçãoinadequada dos recipientes;

CLÁUSULA SÉTIMA07. As compromissárias assumem a obrigação de fazer consistente

em informar, quando da emissão da nota fiscal das vendas dos produtos, oendereço das unidades/postos de recebimento credenciados, para a devolu-ção das embalagens vazias;

3 2 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CLÁUSULA OITAVA08. As compromissárias, abaixo discriminadas, assumem a obrigação

de fazer consistente na construção, até ______de ________________de 2003,de unidades/postos de recebimento de embalagens vazias de produtosagrotóxicos, seus componentes e afins, devidamente dimensionadas, ade-quadas, e com completas condições de funcionamento e acesso, de modo anão dificultar a devolução pelos usuários das embalagens vazias, observan-do-se, quando da construção o disposto na NBR 13.968-ABNT.

CLÁUSULA NONA09. As compromissárias assumem a obrigação de fazer consistente

em gerenciar tais unidades/postos de recebimento, mantendo-as devida-mente estruturadas, informatizadas e adequadas para as operações de re-cebimento e armazenamento de embalagens vazias e produtos, bem comoem obter as respectivas licenças ambientais junto ao órgão ambiental com-petente;

CLÁUSULA DÉCIMA10. As compromissárias assumem a obrigação de fazer consistente

em disponibilizar/contribuir, de forma solidária, com recursos até o dia____de ________________de 200__, para o início/término da Central derecebimento, localizada em ____________-GO, depositando a quantia deR$ ________________ , na conta bancária nº___________ , agência________,Banco________________________________ , ____________-GO, em nomeda ________________, localizada na rua____________ , ____________-GOe inscrita no CNPJ-MF sob o nº____________________________;

CLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA11. As compromissárias, por intermédio das unidades/postos de re-

cebimento, assumem a obrigação de fazer consistente em fornecer compro-vante de recebimento das embalagens, devendo constar no mínimo: (i) nomeda pessoa física ou jurídica que efetuou a devolução; (ii) data do recebimen-to; (iii) quantidade e tipos de embalagens recebidas;

CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA12. As compromissárias assumem a obrigação de fazer consis-

tente em estabelecer e informar normas de recebimento e procedi-mentos para entrega de embalagens vazias nas unidades/postos de re-cebimento;

3 3Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CLÁUSULA DÉCIMA TERCEIRA13. As compromissárias assumem a obrigação de fazer consistente

em implementar programas educativos e mecanismos de controle ao usocorreto e seguro de produtos fitosanitários, e de estímulo à devolução dasembalagens vazias por parte dos usuários, apresentando, individualmente,no prazo de 90 (noventa dias), a contar da assinatura deste instrumento, orespectivo projeto à Agência Rural – Defesa Agropecuária local;

CLÁUSULA DÉCIMA QUARTA14. O compromitente poderá fiscalizar a execução do presente acor-

do, tomando as providências legais cabíveis, sempre que necessário, ou po-derá cometer a respectiva fiscalização à órgãos que vier a indicar.

CLÁUSULA DÉCIMA QUINTA15. Em caso de descumprimento das obrigações assumidas, as

compromissárias ficarão sujeitas ao pagamento de multa diária no valor deR$ 500,00 (quinhentos reais), até o adimplemento total da obrigação, in-dependentemente de Execução de Obrigação de Fazer, salvo por motivodevidamente justificado.

CLÁUSULA DÉCIMA SEXTA16. O não pagamento da multa implica em sua cobrança pelo Mi-

nistério Público ou pela Fazenda Pública, com correção monetária, juros de1% (um por cento) ao mês, e multa de 2% (dois por cento) sobre o mon-tante devido;

CLÁUSULA DÉCIMA SÉTIMA17. Este compromisso produzirá efeitos legais a partir de sua cele-

bração, e terá eficácia de título executivo extrajudicial, conforme dispõe oart. 5º, § 6º, da Lei nº 7.347/85 e o art. 585, inciso VII, do Código deProcesso Civil.

E, por estarem de acordo, firmam o presente.

________________-GO, ____de________________de 20____

____________________________________________________Promotor de Justiça

Compromissárias:

3 4 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

1.10 TERMO ADITIVO DO TAC

TERMO ADITIVO

As compromissárias abaixo relacionadas aderem integralmente aodisposto no Compromisso de Ajustamento de Conduta celebrado entre oMinistério Público do Estado de Goiás e as empresas __________________________________________________ , no bojo do Inquérito Civil nº______/______ instaurado em______de _________________de 200___,tendo como objeto o cumprimento das exigências legais, em relação aomanejo responsável e criterioso de agrotóxicos, seus componentes e afins,pelas empresas revendedoras.

Declaram, neste ato, ter pleno conhecimento das cláusulas consig-nadas, comprometendo-se a assumir, sem ressalvas, as obrigaçõesestabelecidas no referido instrumento.

Compromissárias:

3 5Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

2 ARTIGOS

2.1 DA NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE CONSELHOS E FUNDOSMUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE – BREVES CONSIDERAÇÕES*

Cada município deve instituir o seu Conselho Municipal de MeioAmbiente, não só porque a Política Nacional de Meio Ambiente preconizae os princípios ambientais assim determinam, mas porque é, de fato, neces-sário que a coletividade exerça acompanhamento e controle social sobre osrecursos ambientais nas respectivas localidades, bem como possa gerir osrecursos disponibilizados no Fundo Municipal de Meio Ambiente.

A implementação do Fundo Municipal de Meio Ambiente, a sergerido pelo aludido Conselho, também apresenta singular importância, pois,em tese, garantirá que as compensações financeiras decorrentes de empre-endimentos que causam impacto ambiental sejam destinadas de forma cor-reta e transparente na reparação e/ou reconstituição do dano ambiental.

No campo comum das competências executivas ou implementadoras, asolução de eventuais conflitos deve considerar o território sobre o qual irão incidiros impactos diretos da atividade ou do fato, a exigir, conforme as circunstâncias, olicenciamento municipal de forma complementar ao federal/estadual.

Além disso, esse mecanismo de controle é necessário, ainda, dado aosprecedentes de degradação ambiental e mau uso dos recursos destinadospelos órgão competentes para a preservação/reparação do meio ambiente. Ainstituição de Conselhos Municipais vem, inclusive, sendo promovida eincentivada pelo governo federal nas mais diversas áreas (v.g. saúde, educa-ção, assistência social, criança e adolescente, etc.).

Por outro lado, corolário lógico da implementação dos Conselhos Muni-cipais de Meio Ambiente é o fortalecimento do SISNAMA (Sistema Nacionaldo Meio Ambiente) que, nas palavras da própria ministra do Meio Ambiente,“é o cerne da malha integrada de ações nos três níveis de governo – municipal,estadual e federal – e o maior ponto de apoio para a participação da sociedade naelaboração e na implementação da política ambiental. Sua ativação plena é essenci-al para criar e dar concretude e soluções duradouras, sólidas e democráticas”. 9

* Texto elaborado por Ricardo Rangel de Andrade, Promotor de Justiça, Coordenador do Centro deApoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente.

9 Uma nova maneira de camihar. In Folha de São Paulo, 27 de novembro de 2003, pág. A3

3 6 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Vale ressaltar, ainda, que o repasse de recursos do Fundo Nacional doMeio Ambiente (FNMA) poderá ser condicionado à criação pelos estados emunicípios de Conselhos de Meio Ambiente. A determinação consta de pro-posta (Projeto de Lei nº 1131/03) aprovada pela Comissão de Defesa doConsumidor, Meio Ambiente e Minorias, e será analisada, em breve, pelaComissão de Constituição Justiça e Redação da Câmara dos Deputados.

Considera-se, portanto, que não há controle social efetivo e eficazsobre as obras ou atividades potencialmente degradadoras a seremimplementadas em municípios privados de Conselhos e Fundos Munici-pais de Meio Ambiente, o que gera justificadas dúvidas e insegurança acer-ca da legitimidade de implementá-las, nessas localidades.

Destarte, o Conselho Municipal de Meio Ambiente constitui emimportante e imprescindível fórum consultivo e deliberativo acerca do quefazer, como fazer, do acompanhamento e avaliação do processo de desenvol-vimento local.10

Dessa maneira, os municípios que não possuem Conselhos e FundosMunicipais de Meio Ambiente, encontram-se, em verdade, em situaçãoirregular, devendo sanar essa grave omissão, com a máxima urgência.

Porém, a simples instituição do Conselho é insuficiente. Deve estaradequadamente constituído, bem organizado e instrumentalizado, com seusmembros escolhidos de forma legítima, para bem desempenhar o seu papel.

Assim sendo, a instalação de atividades ou obras potencialmentedegradadoras pressupõe a existência de controle a ser exercido pelo Conse-lho Municipal de Meio Ambiente, que nada mais é do que o controle diretoda sociedade, por meio do qual se abre a possibilidade de apontar, às de-mais instâncias, falhas ou irregularidades eventualmente cometidas, paraque aquelas, no uso de suas prerrogativas legais, adotem as providências quecada caso venha a exigir.

2.2 CONVERSÃO DAS MULTAS AMBIENTAIS EM SERVIÇOS DEPRESERVAÇÃO, MELHORIA E RECUPERAÇÃO DA QUALIDA-DE DO MEIO AMBIENTE – APONTAMENTOS E BREVES RE-FLEXÕES*

Sumário: Introdução. 1. Da ilegalidade da conversão das multas embens ou serviços que não visem à preservação, melhoria e recuperação da

10 CERQUEIRA, Waldemar Pinto & QUEIROZ, Carlos César de. Desenvolvimento local sustentável.In Projeto deixe suas Raízes no Araguaia – Caiapó, março/2003, pag.3.

* Texto elaborado por Ricardo Rangel de Andrade, Promotor de Justiça, Coordenador do Centro deApoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente e Marta Moriya Loyola, Promotora de Justiça.

3 7Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

qualidade do meio ambiente. Do desrespeito à Lei de Licitações (Lei nº8.666/93). 2. Da impossibilidade da conversão da multa ambiental emserviços na hipótese de ser possível a recuperação ou indenização ambiental.3. Da impossibilidade da extinção e quitação da obrigação pecuniária antesda adoção de medidas específicas para fazer cessar ou corrigir a degradaçãoambiental. Da indevida e intempestiva redução da multa. 4. Da destinaçãolegal dos valores provenientes das multas e do desvio de finalidade dos ter-mos de compromisso. 5. Da omissão de comunicação de crime: ausência deremessa dos autos de infração lavrados por violação à legislação ambientalao Ministério Público a fim de que se possa apurar eventual responsabilida-de criminal dos infratores. 6. Conclusão.

Introdução

Aos órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional do Meio Am-biente – SISNAMA, compete lavrar auto de infração ambiental e instaurarprocesso administrativo na hipótese de ação ou omissão que viole as regrasjurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambien-te11. As infrações ambientais são apuradas em processos administrativos pró-prios, os quais deverão observar necessariamente os princípios da legalidade emoralidade, e podem ser punidas em conformidade com as sanções previstasno artigo 72 da Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais).

Contudo, no exercício dessa incumbência, alguns órgãos ambientais,com fundamento no artigo 72, § 4º da Lei nº 9.605/98 e no artigo 2, § 4ºdo Decreto nº 3.179/99 – que facultam a conversão da multa simples “emserviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio am-biente” – têm convertido multas em bens e serviços de maneira ilegítima eilegal, em detrimento do erário, da probidade da administração e do meioambiente.

A presente tese, portanto, versa sobre essa conversão e visa analisaralgumas questões controvertidas, ressaltar sucintamente aspectos legais eregulamentares importantes, bem como delimitar o “espectro” legal a sercompulsoriamente observado pelo órgãos ambientais competentes.

1. Da ilegalidade da conversão das multas em bens ou serviços que nãovisem diretamente à preservação, melhoria e recuperação da qualidade domeio ambiente. Do desrespeito à Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93)

11 Cf. art. 70 da Lei nº 9.605/98.

3 8 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

O artigo 72, § 4º da Lei nº 9.605/98 e o artigo 2º, § 4º do Decreto nº3.179/99, dispõem que “a multa simples pode ser convertida em serviços depreservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente”. Poróbvio, a conversão de multas em bens ou serviços que não visem à preserva-ção, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente não encontrarespaldo legal. Vale ressaltar que a referida lei e o decreto que a regulamentanão se referem, em nenhum momento, a bens, bem como restringem a natu-reza do serviço a ser objeto de conversão, ou seja, não podem ser serviços dequalquer natureza, mas tão-somente aqueles diretamente destinados à preser-vação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente.

Não é possível admitir-se, portanto, sobretudo a pretexto de “fortale-cimento institucional”, a conversão da multa em bens destinados ao pró-prio órgão responsável pela autuação. A par da ausência de autorização naLei n º 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), tal “conversão” também nãoencontra guarida nas hipóteses de dispensa e inexigibilidade de licitaçãoprevistas na Lei de Licitações.

A dispensa de licitação assim como a inexigibilidade são situaçõesexcepcionais. A regra geral impõe o dever de licitar. Trata-se de normasinjuntivas ou cogentes, de obrigatoriedade imediata, insuscetíveis de tran-sação ou derrogação pelas partes. A própria licitação constitui um princípioa qual se vincula à Administração Pública, sendo uma decorrência do prin-cípio da indisponibilidade do interesse público.

A conversão da multa, nos moldes previstos pela legislação, não obje-tiva a destinação de bens ou a prestação de serviços úteis ao órgão ambiental.Os serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meioambiente se consubstanciam na reparação direta e imediata de danosambientais, e não na reparação indireta e mediata. Sua concretização, dessaforma, somente pode se dar por meio de programas oficiais e projetosambientais a serem custeados pelo autuado, bem como pressupõe a com-provação de impossibilidade de aporte de recursos orçamentários e finan-ceiros no orçamento geral do Estado ou outra fonte de receita.

2. Da impossibilidade da conversão da multa em serviços na hipótese de serpossível a recuperação ou indenização ambiental

Entende-se por conversão da multa transformar a multa pecuniáriasimples em prestação de serviços, quando não for possível a recuperação ouindenização ambiental12, até porque, em se tratando de danos ambientais,

12 cf. art. 2º, inciso III da Instrução Normativa nº 10/2003 expedida pelo IBAMA

3 9Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

a reparação específica é prioritária e até mesmo indisponível, enquanto quea conversão da multa é excepcional. Dessa maneira, é inequívoca a impossi-bilidade de conversão da multa oriunda de infrações administrativasambientais que se caracterizem como infrações de dano. A natureza da de-gradação ambiental própria desse tipo de infração se sujeita necessariamen-te à imprescindível recuperação/reparação do meio ambiente.

3. Da impossibilidade da extinção e quitação da obrigação pecuniária antesda adoção de medidas específicas para fazer cessar ou corrigir a degradaçãoambiental. Da indevida e intempestiva redução da multa

O artigo 72 da Lei nº 9.605/98 e o artigo 2º do Decreto nº 3.179/99 prevêem como sanções passíveis de serem aplicadas as multas (simplesou diária), que

podem ter a sua exigibilidade suspensa, quando o infratorpor termo de compromisso aprovado pela autoridade com-petente, obrigar-se à adoção de medidas específicas, para fa-zer cessar ou corrigir a degradação ambiental” e que somenteapós “cumpridas integralmente as obrigações assumidas peloinfrator, a multa será reduzida em noventa por cento do valoratualizado monetariamente (cf. artigo 60, caput e § 3º, doDecreto nº 3.179/99)13.

A recuperação ou indenização ambiental quando o infrator “obrigar-se à adoção de medidas específicas, para fazer cessar ou corrigir a degradaçãoambiental” não implica quitação e extinção integral dos débitos após a cele-bração do termo de compromisso a que se refere a lei. A normasupramencionada possibilita tão-somente a “suspensão” da exigibilidade damulta. Ao se admitir o contrário (extinção da multa) vislumbrar-se-ia, semamparo legal, uma autêntica dação em pagamento. Com efeito, o ato ouefeito de converter não guarda qualquer co-relação ou compreensão similarcom “dação em pagamento”. São palavras de natureza jurídica e significadostotalmente distintos e cujos efeitos jurídicos são igualmente diversos.

13 Art. 60. As multas previstas neste Decreto podem ter a sua exigibilidade suspensa, quando o infrator,por termo de compromisso aprovado pela autoridade competente, obrigar-se à adoção de medidasespecíficas, para fazer cessar ou corrigir a degradação ambiental.§ 1º A correção do dano de que trata este artigo será feita mediante a apresentação de projeto técnico dereparação do dano.§ 2º A autoridade competente pode dispensar o infrator de apresentação de projeto técnico, na hipóteseem que a reparação não o exigir.§ 3º Cumpridas integralmente as obrigações assumidas pelo infrator, a multa será reduzida emnoventa por cento do valor atualizado monetariamente.

4 0 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

A redução da multa, por sua vez, pressupõe o cumprimento integraldas obrigações assumidas pelo infrator em termo de compromisso aprovadopela autoridade competente. Uma vez que a conversão da multa em serviçosdeve ser embasada em programas oficiais e projetos ambientais a seremcusteados pelo autuado, conclui-se que o objeto do termo de compromissosomente pode tratar de obrigações relativas à recuperação e/ou indenizaçãodos danos ambientais, vale dizer, o termo de compromisso não é instru-mento hábil para materializar a conversão da multa.

Dessa maneira, não há previsão legal de redução da multa quandoocorrer sua conversão “em serviços de preservação, melhoria e recuperação daqualidade do meio ambiente”, posto que o termo de compromisso, inaplicávelnesta hipótese, é pressuposto condicionante e inafastável à redução da multa.Quando admissível a redução da multa — nas hipóteses em que seja possívelrecuperação ou indenização ambiental — é importante frisar que não podeocorrer antes do cumprimento integral das obrigações assumidas, sob penade violar expressa disposição legal a qual que somente autoriza a redução“após cumpridas integralmente as obrigações assumidas pelo infrator”, ouseja, após a efetiva recuperação do meio ambiente degradado.

Evidencia-se, dessa forma, que a indevida e/ou intempestiva reduçãoda multa causa enriquecimento ilícito de terceiros (infratores duplamentebeneficiados: redução indevida e desobrigação em relação a recuperar o meioambiente) e prejuízo ao meio ambiente, posto que resta, de maneira ine-quívoca, não recuperado e/ou indenizado o meio ambiente.

4. Da destinação legal dos valores provenientes das multas e do desvio definalidade dos termos de compromisso

Os valores provenientes das multas aplicadas a título de sanção ad-ministrativa têm destinação específica disciplinada em lei. O artigo 73 Leinº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais) estabelece expressamente que

os valores arrecadados em pagamento de multas por infraçãoambiental serão revertidos ao Fundo Nacional do Meio Am-biente, criado pela Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989,Fundo Naval, criado pelo Decreto nº 20.923, de 8 de janei-ro de 1932, fundos estaduais ou municipais de meio ambi-ente ou correlatos, conforme dispuser o órgão arrecadador.

Assim sendo, a alegada “reparação indireta”, em benefício de tercei-ros ou do próprio órgão ambiental, concernentes a bens e serviços proveni-entes das conversões das multas ambientais, fere indubitavelmente os prin-

4 1Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

cípios da legalidade e da moralidade. A pretexto de melhor equipar o órgãoambiental e seus servidores, não se pode violar a lei.

Ao órgão ambiental compete observar em relação à fiscalização, lança-mentos, cobrança e recolhimento de obrigações e créditos, principais ou aces-sórios, previstos na legislação, os procedimentos tributário-administrativos eexecuções judiciais-fiscais da dívida ativa também constantes da legislação.

A utilização da faculdade prevista na lei (“conversão” da multa emserviços) de forma indiscriminada e exclusivamente arrecadatória esvaziaseu efeito pedagógico e faz tabula rasa da própria razão de ser e primeira daaplicação das multas por violação à legislação ambiental: preservação e recu-peração do meio ambiente. A multa não pode e nem deve fazer as vezes dotributo que tem por finalidade o suprimento de recursos financeiros de queo Estado necessita, e por isso mesmo constitui uma receita ordinária. Amulta não tem por finalidade a produção de receita pública, e simdesestimular o comportamento que configura sua hipótese de incidência, epor isso mesmo constitui uma receita extraordinária ou eventual.

Além disso, convertendo-se a multa em bens ou serviços de algumaforma relacionados às atividades do infrator proporcionar-se-ia indubitávele significativa vantagem econômica ao autuado, que certamente despenderiaapenas uma pequena fração do valor total da multa a qual restaria, em gran-de parte, perdoada. Por outro lado, os órgãos ambientais poderiam deixaraté mesmo de realizar licitações e direcionar seus “fornecedores’ no cadastrodas empresas multadas por violação à legislação ambiental, enquanto que,concomitantemente, as dotações orçamentárias para os órgãos ambientaispassariam a ser gradativamente reduzidas.

Por fim, o não repassasse ao Fundos Nacional, Estaduais e Municipaisdo Meio Ambiente, dos valores provenientes das multas imputadas como san-ção nos casos de infrações administrativas, causa direta e indiretamente gravesprejuízo aos projetos e programas de preservação, recuperação e defesa do meioambiente, uma vez que impossibilita a sua execução por falta de recursos.

5. Da omissão de comunicação de crime: ausência de remessa dos autos deinfração lavrados por violação à legislação ambiental ao Ministério Público afim de que se possa apurar eventual responsabilidade criminal dos infratores

Outro aspecto importante, embora seja periférico ao objeto da pre-sente tese, mas afeto ao cumprimento da função institucional do Ministé-rio Público, é a remessa ao parquet dos autos de infração ambiental devida-mente lavrados – os quais, em sua expressiva maioria, noticiam a prática deconduta criminosa.

4 2 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

A omissão de comunicação de infração penal inviabiliza a eventualresponsabilização dos infratores na seara criminal, assim como a instauraçãode inquéritos civis e, conseqüentemente, a propositura de ações civis públi-cas visando à reparação dos danos ambientais. O Decreto-lei nº 3.688/1941 (Lei de contravenções penais), em seu capítulo VIII, que disciplina ascontravenções referentes à Administração Pública, prevê, inclusive, a figurada contravenção de “omissão de comunicação de crime”, consistente em:

“Art. 66. Deixar de comunicar à autoridade competente:I – crime de ação pública, de que teve conhecimento no exercício de fun-

ção pública, desde que a ação penal não dependa de representação”.Dessa maneira, a ausência de remessa dos autos de infração ao Minis-

tério Püblico prejudica e inviabiliza a responsabilização criminal de infrato-res, bem como a propositura de ações civis públicas, em detrimento, obvi-amente, do meio ambiente e da probidade da Administração Pública.

6. Conclusão

a) A conversão da multa em bens de qualquer natureza ou em serviços quenão visem à preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambienteconfigura fraude à licitação e causa enriquecimento ilícito de terceiros;

b) A conversão da multa em serviços deve necessariamente estarconsubstanciada em programas oficiais ou em projetos a serem custeadospelo autuado;

c) A conversão da multa em serviços somente pode ocorrer quandonão for possível a recuperação ou indenização ambiental;

d) A recuperação ou indenização ambiental quando o infrator “obri-gar-se à adoção de medidas específicas, para fazer cessar ou corrigir a degra-dação ambiental” não implica quitação e extinção integral dos débitos apósa celebração do termo de compromisso. Possibilita tão-somente a “suspen-são” da exigibilidade da multa;

e) A redução da multa pressupõe o cumprimento integral das obri-gações assumidas pelo infrator em termo de compromisso cujo objeto somen-te pode tratar de obrigações relativas à recuperação e/ou indenização dosdanos ambientais, vale dizer, o termo de compromisso não é instrumentohábil para materializar a conversão da multa;

f ) Não há previsão legal de redução da multa quando ocorrer suaconversão “em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade domeio ambiente”, posto que o termo de compromisso, inaplicável nestas hipóte-ses, é pressuposto condicionante e inafastável à redução da multa;

g) A indevida e/ou intempestiva redução da multa causa enriqueci-mento ilícito de terceiros (infratores duplamente beneficiados: redução

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indevida e desobrigação em relação a recuperar o meio ambiente) e prejuízoao meio ambiente, posto que resta, de maneira inequívoca, não recuperadoe/ou indenizado o meio ambiente;

h) Os valores provenientes das multas ambientais devem ser reverti-dos aos Fundos Nacional, Estaduais e Municipais de Meio Ambiente;

i) A multa não pode e nem deve fazer as vezes de tributo, ou seja,como meio instrumento preponderantemente arrecadatório;

j) O órgão ambiental deve possuir banco de dados informatizadoscontendo a relação das conversões de multas em serviços de preservação,melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, bem como a rela-ção do cumprimento das obrigações assumidas pelos autuados ecompromissários, e

l) O órgão ambiental deve remeter ao Ministério Público os autos deinfração lavrados por violação à legislação ambiental para que se possaviabilizar eventual responsabilização criminal dos infratores e propositurade ações civis públicas.

2.3 CONTROLE DE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS VOLTA-DAS À CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICAS E O DIREITO AOEXERCÍCIO DA CIDADANIA*

Sumário:1. Introdução – 2. A cidadania ambiental – 3. Conclusão –4. Bibliografia

1. Introdução

O trágico histórico do passivo ambiental carreado nas últimas déca-das para o centro-oeste do país, dentro da política de desenvolvimento na-cional sustentada desde 1960, com base no “desenvolvimento a qualquercusto”, repercute nos dias atuais de forma extremamente perversa, sem quea coletividade tenha consciência da extensão dos prejuízos que lhes sãoofertados e da herança que está legando às gerações futuras.

A discussão que se pretende travar neste ensaio corresponde ao con-trole de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento nacional, em espe-cífico, na construção de usinas hidrelétricas no sudoeste do Estado de Goiás,o acesso da coletividade na definição e concretização destas políticas combase no direito ao efetivo exercício da cidadania.

* Texto elaborado por Paulo Henrique Otoni, Promotor de Justiça.

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Chamou-nos a atenção, dentro da proposta do Governo Federal deampliar a sua matriz energética para as próximas décadas, a construção dedezenas de usinas no sudoeste do Estado de Goiás, cumulando aos 561(quinhentos e sessenta e um) empreendimentos em operação no territorialnacional mais 227 (duzentos e vinte e sete) empreendimentos, dos quais30 (trinta), encontram-se no sudoeste do Estado de Goiás, fonte de infor-mação da Companhia Energética do Estado de Goiás14.

Dentro das discussões que têm sido travadas desde 1972, quando doencontro de Estocolmo, a forma com que segmentos mais esclarecidos dacoletividade têm participado do controle de políticas públicas que envol-vam recursos ambientais, mostra-se como um dos principais fatores apublicizar à coletividade informações que são controladas por órgãos gover-namentais e que deveriam ser de conhecimento amplo da sociedade. Outraforma que também tem se mostrado eficiente corresponde aos cursos, semi-nários e palestras, envolvendo a comunidade técnica e científica na discus-são dos efeitos da intervenção humana no meio ambiente, dentro das diver-sas caracterizações, conforme descreve Édis Milaré15.

No ano de 2001, no sudoeste do Estado de Goiás, a comunidade domunicípio de Cachoeira Alta, após tomar conhecimento de que seriam lici-tados vários empreendimentos hidrelétricos (UHE), com aproveitamentoamplo de vários barramentos do Rio Claro, entendeu por instar o Ministé-rio Público para que os esclarecimentos necessários quanto à extensão dosefeitos ambientais e econômicos dos empreendimentos fosse publicizada,antes das etapas normais do procedimento do licenciamento ambiental.

Realizou-se um encontro envolvendo Órgãos Governamentais, co-munidade científica, proprietários rurais, dando-se ampla participação àsociedade, repercutindo na propositura de ações judiciais onde se questio-nou a forma com que o poder público, no seu dever de adotar providênciasque cumpram os princípios constitucionais da prevenção e precaução, esta-ria realizando a sua função fiscalizatória.

Na ação judicial, que foi proposta pelo Ministério Publico, não hou-ve litisconsórcio com entidades não governamentais, identificando-se que apopulação, em geral, mostrava-se preocupada com a questão pertinente àsindenizações que seriam pagas em caso de desapropriação dos imóveis afeta-dos pelos empreendimentos hidrelétricos.

A questão econômica, dentro da atuação dos Órgãos do Poder Execu-tivo, que são incumbidos de fomentar políticas públicas que se enfeixam

14 Fonte www.celg.com.br/Dadostecnicos_Inventario.jsp15 MILARÉ, Édis. Direito do Meio Ambiente- doutrina, jurisprudência- glossário. 3ª ed.São Paulo:

Revista dos Tribunais.2004.

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com questões ambientais, tem demonstrado preponderância, fato vincula-do ao próprio levantamento do acervo patrimonial dos recursos ambientais,dentro do potencial hidroenergético.

Embora na ação judicial proposta não se tenha discutido a questãodo valor econômico do meio ambiente, o qual deve ser preservado comodiretriz Constitucional, vê-se que o acesso da coletividade a questões daenvergadura com que se apresenta à manutenção de um modelo de produ-ção de energia de questionáveis danos, mostra-se incipiente e quando seapresenta volta-se ao valor monetário individualmente considerado.

Um retrato mais claro da questão econômica preponderando na defe-sa de direitos à preservação ambiental se encontra vinculado na posiçãoadotada pela própria municipalidade que, ao invés de informar aos cida-dãos a extensão dos efeitos que advirão para o município com a construçãodos empreendimentos, limita-se a barganhar compensações financeiras pe-los danos ambientais, compensações estas que muitas das vezes não sãoefetivamente aplicadas dentro de sua destinação.

Feita esta abordagem, resta discutir até que ponto, dentro dos pa-drões atuais de engajamento social voltado a atingir estruturas mais soli-dárias, encontra-se a coletividade apta a discutir, para as presentes e futu-ras gerações, condições de se explorar o meio ambiente que abarquempolíticas públicas que prestigiem os objetivos constitucionais, preservan-do como matriz a dignidade da pessoa humana, através do efetivo exercí-cio da cidadania.

2. A cidadania ambiental

É inegável dispor que o efetivo exercício da cidadania está intima-mente ligado à educação, entendida esta em seus diversos níveis e origens,não se limitando apenas às informações obtidas nas estruturas escolares.Não obstante, é impossível negar que a educação, em sua estrutura básicaescolar, tem resgatado a possibilidade de acesso ao exercício da cidadania,em condições amplas de entendimento, desde os ciclos básicos de alfabeti-zação, passando pela alfabetização de crianças e adolescentes, portadoras denecessidades especiais ou não que têm acesso à rede pública, como tambémjovens e adultos que se enveredaram pelos caminhos da marginalidade ouforam conduzidos a este. Enfim, a educação inclui e possibilita a discussãoparticipativa, gerando mudanças sociais e individuais, decorrentes da valo-rização das informações agregadas no processo educacional.

Partindo da afirmativa acima, tem-se que a educação ambiental tra-balhada na rede pública, como matéria transversa na formação educacional

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do ensino fundamental, agrega valores que antes eram entendidos de formaisolada e hoje são discutidos de forma interdisciplinar.

A preocupação com a preservação ambiental não deve se limitar a ques-tões pontuais, eis que a própria comunidade científica envolvida diretamentecom temas da área não detém uma análise holística das conseqüências daintervenção humana no meio ambiente, quanto menos a ciência conseguedesvendar todos os segredos que natureza reservou para a humanidade.

O desconhecimento da extensão dos benefícios que o meio ambientetem a proporcionar à humanidade indica que a exploração dos recursos sejatrabalhada de forma cautelosa, preservando para as presentes e futuras gera-ções o acesso ao acervo já individualizado, minimizando o passivo que ve-nha a se concretizar por conta da intervenção humana na natureza.

Certo é que mudanças de posturas já arraigadas devem ser estimula-das em benefício da própria coletividade, dentre estas, a errada afirmaçãode que os recursos naturais são inesgotáveis e que a produção de energiadecorrente do aproveitamento do potencial hidroenergético dos rios é aforma mais barata e menos agressiva existente. Porém, o que se discute é aresponsabilidade daqueles que detêm conhecimentos hábeis a imprimir umamudança consciencial, quando estes se omitem ou se encontram distancia-dos do papel que devem exercer.

Na defesa do meio ambiente, buscou o Legislador Constituinte pos-tura de vanguarda ao identificar que compete ao Poder Público e à coletivi-dade o exercício da preservação do meio ambiente como bem de uso co-mum, onde o desenvolvimento, como objetivo constitucional, deve estaratrelado a uma utilização racional dos recursos naturais, em condições sus-tentáveis.

Para que a coletividade possa exercer o seu mister de defesa do meioambiente é necessário perquirir se a mesma possui conteúdos axiológicos dobem a ser preservado e a extensão do conceito que este bem possui. Daí, opapel da educação ambiental, como mecanismo de agregação de informa-ção e valores para que o despertar da consciência ambiental ocorra.

A princípio, práticas comuns, dentre as quais a de se esperar que osoutros cumpram um papel que deve ser realizado individualmente mere-cem ser extirpadas, pois a atuação da coletividade na discussão de questõesambientais é imprescindível. O norte constitucional define o meio ambien-te como um bem de uso comum do povo e a este diretamente, bem comoos poderes públicos que são instituídos para a organização da vida em soci-edade, têm como função a defesa e a preservação do bem comum.

O despertar para a cidadania ambiental pode ser entendido comoum dos mecanismos de inclusão social, eis que a gama de fatores envolvidos

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impulsiona a atuação conjunta, prestigia a construção de movimentos soci-ais e a criação de organizações não governamentais, que passam a exercerfunções de elementos aglutinadores para o exercício da cidadania.

Na atual conjuntura, a cidadania indica que, necessariamente, ummínimo de consciência crítica e ética deva estar presente para se filtrarcom coerência a infinita quantidade de informações que são veiculadascom interesses diversos, tendo como escopo ora informar, quanto mesmodesorientar ou retirar o foco quanto a questões de extrema importânciainviabilizando o alcance dos objetivos constitucionais, por conta de inte-resses diversos, ora econômicos, ora políticos e, às vezes, sob a ótica doDireito Penal, até criminosos.

Certo é que todos podem exercer individualmente a sua cidadaniaem prol da defesa do meio ambiente, a qual é de extrema importância,posto que toda e qualquer forma de atingir conteúdos que preservem omeio ambiente, dentro de uma lógica sustentável, deve ser mantida.

Não obstante, é necessário que a discussão dos objetivos almejadospela Constituição e que se encontram voltados à garantia do desenvolvi-mento nacional de forma sustentável, seja publicizada contando com a par-ticipação da coletividade já amadurecida do seu papel de exercer a cidada-nia, agora consciente da preservação ambiental. Com isto, a expectativa dese alcançar em extensão os objetivos do desenvolvimento nacional pode termudança, ao se entender que determinadas regiões do país merecem serpreservadas, mesmo que a comunidade ali instalada não tenha acesso àsmesmas estruturas organizacionais espraiadas em todo o país. De fato, di-reitos prestacionais sociais oriundos da Constituição, dentre eles saúde,educação, segurança e outros indicam o mínimo necessário a uma dignaqualidade de vida para o exercício da cidadania. Neste aspecto, da impossi-bilidade de se garantir o desenvolvimento econômico de regiões que possu-em um acervo ambiental que necessita ser preservado em sua integralidade,cabe ao Poder Público compensar à coletividade que estará impossibilitadade explorar o meio ambiente para que o desenvolvimento econômico ocor-ra, garantir-lhes, através de repasses de recursos públicos, as condições viá-veis para que os direitos prestacionais sociais sejam atendidos de formasatisfatória. Trata-se de adequação de mecanismos de equilíbrio dentro deuma visão ampla do direito ao exercício da cidadania.

Certamente, propostas como as formuladas acima não são imediata-mente assimiladas e entendidas como viáveis. Porém, é necessário discutirmudanças de postura, pois o passivo ambiental que herdamos e que osestamos legando às futuras gerações tem nexo direto com a forma com quenos identificamos no exercício da nossa cidadania ambiental. Desconsiderar

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a realidade que nos envolve corresponde tanto a desrespeitar os princípiosconstitucionais inscritos no artigo 225, da CRFB/88, como também colo-carmos em risco a possibilidade de uma vida digna à futuras gerações.

Na ação civil pública proposta na comarca de Cachoeira Alta16 noano de 2001, visando à suspensão do procedimento administrativo para

16 A ação judicial proposta na Comarca de Cachoeira Alta, ano de _____, com o nº, teve como escopo exigirdo Poder Público que procedesse ao Licenciamento ambiental de forma a cumprir as determinaçõesconstitucionais do artigo 225, da CRFB/88. Foram deduzidos vários pedidos os quais registram-se inverbis : “Portanto, resta apenas o cumprimento do prazo de 72 horas, previsto pela Lei nº 8437/92, paraque a ré seja obrigada, através de tutela jurisdicional antecipada, a não licenciar o complexo energético deCaçu, sem redefinir critérios para início de estudos amplos envolvendo toda a Bacia do Rio Paranaíba,bem como, anular-se o procedimento administrativo em trâmite ou concluso, versando a respeito dorequerimento de licenciamento do Complexo Energético de Caçu, face à sua inconteste ilegalidade eainda, determinar que a AGMARN, caso haja interesse do empreendedor em prosseguir com orequerimento de licenciamento, que amplia as diretrizes para a consecução dos estudos de impactoambiental e respectivo relatório, fazendo-o de forma ampla, abarcando toda a Bacia do Rio Paranaíba, nãose permitindo o reaproveitamento de estudos individualizados, sem que haja o acompanhamento efiscalização, inclusive, in loco, dos servidores públicos da ré ou mesmo da Comunidade Científica doEstado de Goiás, representada pelas respectivas Universidades e Centros de Estudo e Pesquisa”. Nospedidos finais, requereu-se, in verbis: “Posto isto, requer o Ministério Público:1) a concessão da liminarpara que a ré seja obrigada a suspender o procedimento do licenciamento ambiental do ComplexoEnergético Caçu; caso a ré tenha concluído o procedimento de licenciamento ambiental do ComplexoEnergético de Caçu, que sejam suspensos os seus efeitos e dos atos administrativos subseqüentes em casode concessão do licenciamento.2) a concessão da tutela antecipada para obrigar a ré a adotar providenciasno sentido de cumprir a Lei Estadual de Recursos Hídricos Estadual, para especificar nos procedimentosde licenciamento ambiental vinculados à construção de hidrelétricas no sudoeste do Estado de Goiás, oestudo da Bacia do Rio Paranaíba, determinando que conste nos Estudos de Impacto Ambiental erespectivos relatórios a análise integrada e não individual dos Aproveitamentos Hidrelétricos. Em raciocíniocorrelato, requer-se a tutela antecipada para não permitir a ré que adote a ação mais simples, porémlegalmente incorreta, de aproveitar os estudos de impacto ambiental e respectivos relatórios jáindividualmente apresentados, numa análise única, em prejuízo aos levantamentos técnicos que deveriamter sido concretizados pelos empreendedores, abarcando todo o estudo da Bacia do Rio Paranaíba e suasrepercussões dentro de uma análise integrada; 3) o deferimento das liminares e a da tutela antecipada,adotando-se a regra do artigo 2º, da Lei nº 8437/92, especificamente quanto ao prazo de 72 (setenta eduas) horas para resposta preliminar;4) que seja condenada ré a fazer o Estudo da Bacia do Rio Paranaíba,definindo os critérios para a apresentação de estudos de impacto ambiental e respectivos relatórios porparte dos empreendedores, abarcando, de forma ampla, os danos ao meio ambiente dentro da bacia doRio Paranaíba e não apenas a Sub Bacia onde o Aproveitamento Hidrelétrico encontra-se instalado;5) queseja a ré condenada a não realizar aproveitamentos de estudos de impacto ambiental já realizados e seusrespectivos relatórios, sem que haja definição ampla das diretrizes de análise dentro da Bacia do RioParanaíba; 6) que seja declarada a nulidade dos procedimentos administrativos em trâmite e ou conclusose por conseguinte dos respectivos atos administrativos que neles têm supedâneo, correspondente aoComplexo Energético de Caçu, posto não estarem de acordo com a regra constitucional descrito na CartaMagna em seu artigo 225, caput; 7) a procedência dos pedidos supra descritos, com a cominação demulta diária no quantum correspondente a R$ 10.000,00 (dez mil mil reais), após concessão da liminarou da tutela antecipada; 8) a citação da ré, para, querendo, responder a presente ação, com as advertênciasdo artigo 282, do CPC; 9) que se oficie a Reitoria da Universidade Federal de Goiás, bem como a Reitoriada Pontifícia Universidade Católica e à Fundação Emas, no município de Mineiros-GO., requisitandoa indicação de profissionais da área científica para servirem de peritos na presente ação; 10) a juntada doinquérito civil aos autos, como meio de prova dos fatos expostos;11) protesta provar o alegado, por todosos meios de prova em direito admitidos, requerendo desde já, a realização de perícia no estudo de impactoambiental em trâmite e ou concluso para a exploração do aproveitamento hidrelétrico Complexo Energéticode Caçu, objetivando-se com isto a melhor visualização de todo o quadro fático exposto, a oitiva detestemunhas e o depoimento pessoal do representante legal da ré e de seus respectivos técnicos queanalisaram o estudo de impacto ambiental e respectivo relatório do Complexo Energético.

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licenciamento de hidrelétricas, discutiu-se a questão pertinente ao papel dopoder público de preservar o meio ambiente como dever constitucional. Defato, não houve adesão à lide por co-legitimados, identificando-se um certoacanhamento da sociedade em se organizar amplamente para o exercício dedeveres, que mais se caracterizam dentro do quadro mundial de devastaçãoambiental, como prerrogativas.

É necessário conscientizar o cidadão para que assuma o seu papel,visto que desta conscientização mudanças serão carreadas para os órgãos dopoder, provocando situações similares ao acontecido na Alemanha após asegunda grande guerra, conforme cita Andréas J. Krell17, ao relatar que ocontrole do poder público sofreu intervenções diferenciadas decorrente damudança de postura no exercício de seus deveres. Surge, a partir daí, anecessidade de se buscar o controle das políticas públicas voltadas à interfe-rência no meio ambiente, através do cidadão, a fim de que impulsione oPoder Público a rever a sua forma de atuação.

3. Conclusão

A Lei nº 4.320/64, recepcionada pela Constituição de 1988, estabe-lece as diretrizes para que a gestão da coisa pública ocorra de forma progra-mada, não se furtando a esta a gestão dos recursos ambientais.

Certo é que não há, diante das incontáveis tragédias reconhecidas nahistória contemporânea do Brasil, novos espaços para que ações que tragamaspectos de ineditismos possam ser mantidas, lembrando-se que, no pró-prio Estado de Goiás, as licença concedidas para a Usina de Serra da Mesa,Corumbá IV e outras, onde os reflexos das políticas públicas escolhidasestão sendo imputados à coletividade, ora indeterminada ou mesmo previ-amente determinada, sem que a coletividade tivessem amplamente infor-mações a respeito dos efeitos dos empreendimentos ou efetivamente parti-cipado das escolhas adotadas pelo poder público.

O direito à cidadania participativa e consciente deve ser prestigiadopelo poder público, bem como a adoção de mecanismos a garantir a máxi-ma eficácia das normas principiológicas que defendem o meio ambientedeve fazer parte de todos os segmentos sociais.

O efetivo acesso aos direitos fundamentais comporta mudança depostura quanto à ação daqueles que têm o dever de garanti-los e preservá-los, cabendo a adoção de mecanismos de controle tanto dos particulares

17 KRELL, Andreas J. Discricionariedade Administrativa e Proteção Ambiental- Controle dos ConceitosJurídicos Indeterminados e a Competência dos Órgãos Ambientais- Um Estudo Comparativo. PortoAlegre: Livraria do Advogado. 2004

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que degradam o meio ambiente como o próprio poder público que venha ase omitir no seu mister.

Do despertar para o papel social que se espera do cidadão no exercí-cio do seu direito fundamental a um meio ambiente sadio e ecologicamenteequilibrado, almeja-se, efetivamente, que novas formas de compreensãopossam ser adotadas e publicizadas, não só por parte de pequenos gruposque venham a assimilar novos conteúdos axiológicos, mas, sim, por toda acoletividade, não se identificando o poder público como único responsávelpela defesa do meio ambiente.

Há necessidade de que a contribuição do cidadão, que se vê desperto,venha a se multiplicar, talvez numa angustiante busca pela desconstituiçãode paradigmas perversos em prol da construção de uma sociedade justa,livre e solidária,

As normas ambientais devem ser interpretadas dentro de um modelomais amplo que prestigiem a sua maximização de resultados objetivadospelo legislador constituinte, sendo este o papel de todos os destinatários,conforme cita Haberle18.

4. Bibliografia

BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo:Malheiros. 2002.

BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 5º ed. São Paulo: Saraiva.2003.

FINK, Daniel Roberto ett alli. Aspectos Jurídicos do Licenciamento Ambiental. 3ª ed. Rio deJaneiro: Forense Universitária. 2004.

HABERLE, Peter. Hermêutica Constitucional. A Sociedade aberta de Intérpretes da Constituição;contribuição para a interpretação pluralista e “ procedimental “ da Constituição.Porto Alegre:Sérgio A. Fabris.1997.

KRELL, Andreas J. Discricionariedade Administrativa e Proteção Ambiental- Controle dos ConceitosJurídicos Indeterminados e a Competência dos Órgãos Ambientais- Um Estudo Comparativo.Porto Alegre: Livraria do Advogado. 2004.

MILARÉ, Édis. Direito do Meio Ambiente- doutrina, jurisprudência- glossário. 3ª ed.São Paulo:Revista dos Tribunais.2004.

SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 4ª ed. Porto Alegre: Livraria doAdvogado. 2004

www.celg.com.br/Dadostecnicos_Inventario.jsp.

18 HABERLE, Peter. Hermêutica Constitucional. A Sociedade aberta de Intérpretes da Constituição;contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da Constituição. Porto Alegre: Sérgio A.Fabris.1997.

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2.4 EDIFICAÇÕES IRREGULARES ÀS MARGENS DE CURSOSD’ÁGUA: DEVER DE DEMOLIR E REPARAR O DANOAMBIENTAL*

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Limitação administrativa de proteçãoambiental. 3. Área de preservação permanente. 4. Supressão de área depreservação permanente por efeito da lei (ex vi legis). 5. Edificação em áreade preservação permanente: duplo dano ambiental. 6. Reparação integraldo dano ambiental. 7. Necessidade de demolição. 8. Especificidades dasáreas urbanas consolidadas. 9. Recomposição no mesmo lugar (in situ). 10.Impossibilidade de composição ambiental em outro lugar. 11.Inoponibilidade do direito adquirido. 12. Prescrição. 13. Obrigação propterrem.14. Conclusão. 15. Referências bibliográficas.

1. Introdução

Norberto Bobbio classifica os direitos em direitos de primeira gera-ção (liberdades exercidas contra o Estado), segunda geração (direitos sociaise políticos), terceira geração (direito de usufruir dos bens ambientais doplaneta Terra) e quarta geração (defesa do patrimônio genético). Acreditaserem os direitos oriundos de uma evolução histórica, uma vez que nãonasceram de uma única vez.19

O tema ambiental (direito de terceira geração) tem despertado nasociedade brasileira crescente interesse. A proteção efetiva das denominadasáreas de preservação permanente vem sendo motivo de profundo debate nasociedade brasileira. No mês de maio de 2005, por exemplo, o CONAMA(Conselho Nacional do Meio Ambiente) redigiu proposta de resolução –não aprovada em decorrência da decisão do Presidente do STF que suspen-deu a eficácia do art. 4° do Código Florestal –, dispondo sobre os casosexcepcionais, de utilidade pública ou interesse social, que possibilitariam asupressão de vegetação e intervenção em área de preservação permanente.

Necessário aduzir que o objeto deste estudo são as edificações irre-gulares situadas em matas ciliares, não localizadas em área urbana conso-lidada.

* Texto elaborado por Jales Guedes Coelho Mendonça e Fabiano de Sousa Naves, Promotores de Justiçano Estado de Goiás

19 BOBBIO, Norberto, A Era dos Direitos, 1992, Rio de Janeiro: Ed. Campus, p. 38.

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2. Limitação administrativa de proteção ambiental

O Estado brasileiro, mesmo reconhecendo o direito à propriedadeprivada, não perde o poder de intervir em todos os bens que se encontramem seu território. Como expressão dessa intervenção na propriedade pode-mos citar a desapropriação, a servidão administrativa, a ocupação, a requisi-ção e a limitação administrativa.

Esta última, conforme leciona Diógenes Gasparini “é forma suave deintervenção na propriedade. É conceituada como toda imposição do Esta-do, de caráter geral, que condiciona direitos dominiais de proprietário, in-dependentemente de qualquer indenização.”20

A rigor, a limitação administrativa decorre do chamado poder depolícia – definição insculpida no art. 78 do Código Tributário Nacional – epode impor três modalidades de restrições: positiva (fazer), negativa (nãofazer) ou permissiva (deixar fazer).

O festejado Hely Lopes Meirelles ensina que “essas limitações, con-quanto possam atingir quaisquer direitos ou atividades individuais, incidempreferentemente sobre a propriedade imóvel, para condicionar seu uso aobem-estar da coletividade, o que justifica se alinhem maiores consideraçõessobre as restrições administrativas ao domínio particular. Com tais limita-ções, o Estado moderno intenta transformar a propriedade – direito na pro-priedade – função, para o pleno atendimento de sua destinação social, pormeio de imposições urbanísticas, sanitárias, de segurança e outros”.21

Apesar de alguma dissonância conceitual na doutrina pátria, filiamo-nosao entendimento de que a impossibilidade de exploração econômica das áreasde preservação permanente resulta do instituto da limitação administrativa.

Cumpre ressaltar que a limitação administrativa não se origina dafunção social da propriedade, apesar de serem institutos jurídicos bastanteparecidos, inclusive confundidos com certa regularidade. Oportuna às dife-renciações entre limitação administrativa e função social da propriedadeapontada por Juraci Perez Magalhães ao afirmar que:

(...) o fundamento das limitações administrativas é a predomi-nância do interesse público sobre os interesses privados, en-quanto que o da função social é a produtividade da terra coma utilização adequada dos recursos naturais; a finalidade daslimitações administrativas é condicionar a propriedade privadae as atividades individuais ao bem-estar social por meio de

20 GASPARANI, Diógenes, Direito Administrativo, 8ª edição, 2003, São Paulo: Ed.Saraiva, p. 61921 MEIRELLES, Hely Lopes, Direito Administrativo Brasileiro, 25ª edição, 2000, São Paulo: Ed.

Malheiros, p. 581.

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imposições de ordem pública (fazer, não fazer e deixar fazer),visa à paz social; na função social a finalidade é o desenvolvi-mento econômico, a justiça social e a preservação ambiental; étornar a propriedade produtiva sem degradar o meio ambien-te; outra distinção está nas conseqüências da não observaçãodas restrições de direito impostas por esses institutos.(...) Outradistinção marcante entre esses dois institutos é a intensidadecom que atingem a propriedade. Enquanto as limitações admi-nistrativas só podem atingir uma parcela desta a função social aatinge plenamente, pois a Constituição exige que toda a pro-priedade seja condicionada ao bem-estar social.(...)22

José Afonso da Silva também detectou diferenças ao afirmar que: “Afunção social da propriedade não se confunde com os sistemas de limitaçõesda propriedade. Estes dizem respeito ao exercício do direito do proprietá-rio; aquela, à estrutura do direito mesmo, à propriedade”.23

3. Área de preservação permanente

O Código Florestal Brasileiro (Lei n° 4.771/65) conceitua o que sejaárea de preservação permanente, em seu art. 1°, § 2°, inciso II, acrescentadopela MP n° 2.166-67/01:

Área protegida nos termos dos art. 2° e 3° desta Lei, cobertaou não por vegetação nativa, com a função ambiental de pre-servar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica,a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger osolo e assegurar o bem – estar das populações humanas.

Diz José Afonso da Silva:

O mais importante do ponto de vista jurídico protecionistafoi a adoção do conceito de floresta de preservação perma-nente, que não se limitara a reproduzir o conceito de florestaprotetora do Código anterior. É bem mais abrangente, abrin-do possibilidade à atuação mais ampla do Poder Público, aoestabelecer dois modos de instituição de florestas de preserva-ção permanente: as ex vi legis e as declaradas, nos termos dosarts. 2° e 3°.24

22 MAGALHÃES, Juraci Perez, Comentários ao Código Florestal, 2ª edição, 2001, São Paulo: Ed.Juarez de Oliveira, p. 39.

23 SILVA, José Afonso, Curso de Direito Constitucional Positivo, 22ª edição, 2003, São Paulo: Ed.Malheiros, p. 280/281.

24 SILVA, José Afonso, Direito Ambiental Constitucional, 4ª edição, 2002, São Paulo: Ed. Malheiros,p. 170.

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Registre-se, por importante, que neste trabalho nos ateremos às áreasde preservação permanente ex vi legis do art. 2°, mais especificamente daalínea “a”, que assim reza:

Art. 2°. Consideram-se de preservação permanente, pelo sóefeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetaçãonatural situadas:a)ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seunível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:1)de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10(dez) metros de largura;2)de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d’água que te-nham de 10 (dez) metros a 50 (cinqüenta) metros de largura;3)de 100 (cem) metros para os cursos d’água que tenham de50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de largura;4)de 200 (duzentos) metros para os cursos d’água que tenhamde 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;5)de 500 (quinhentos) metros para os curso d’água que te-nham largura superior a 600 (seiscentos) metros;

Relevante sublinhar que a alínea transcrita, bem como as alíneas “b”e “c”, visam, principalmente, à proteção das águas, enquanto as demaisobjetivam prioritariamente a proteção do solo.

Uma leitura apressada do artigo transcrito acima poderia levar aoequívoco de que tão-somente as florestas naturais deveriam ser preservadas,não as plantadas.

Contudo, Silva aponta:

A interpretação correta é a de que tal adjetivo (“natural”) só serefere à vegetação, não qualificando florestas. Por isso está nosingular. Essa compreensão lógico – gramatical do texto con-firma – se com o disposto no art. 12 que mostra que as flores-tas plantadas também podem ser consideradas de preserva-ção permanente, ao declarar que nelas, se não consideradas depreservação permanente, é livre a extração de lenha e demaisprodutos florestais ou a fabricação de carvão.25

Acrescenta Magalhães:

Mesmo após esses esclarecimentos fica uma dúvida. E nasáreas de cerrado, as matas plantadas, que não são vegetação

25 Idem, p. 172.

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natural, podem ser consideradas de preservação permanente?No nosso entendimento, sim. (...) Isto porque esse refloresta-mento é importante para a manutenção de um meio ambien-te ecologicamente equilibrado (...)26

4. Supressão de área de preservação permanente por efeito da lei (EX VILEGIS)

Necessário advertir, de início, que estas áreas são realmente de pre-servação e não apenas de conservação. Ademais, elas afiguram-se como decaráter permanente e não só provisório ou transitório.

Segundo Nicolau Dino Costa Neto:

Na acepção comum os termos “conservação” e “preservação” seequivalem. No campo do direito ambiental tem-se buscadoestabelecer uma distinção, reservando-se para a segunda ex-pressão um sentido mais rígido de proteção. Assim, enquanto oregime de preservação permanente pressupõe a “manutençãoda integridade e perenidade dos recursos ambientais”, sem apossibilidade de exploração econômica direta, o regime de con-servação pressupõe utilização racional.27

Na realidade, o poder constituinte originário de 1988 determinouem seu art. 225, § 1°, inciso III, que, em todas as unidades da federação, olegislador definisse espaços territoriais especialmente protegidos.

Neste sentido, o eminente Édis Milaré:

Espaços territoriais especialmente protegidos são espaços geo-gráficos, públicos ou privados, dotados de atributos ambientaisrelevantes, que, por desempenharem papel estratégico na pro-teção da diversidade biológica existente no território nacional,requerem sua sujeição, pela lei, a um regime de interesse públi-co, através da limitação ou vedação do uso dos recursosambientais da natureza pelas atividades econômicas. 28

A doutrina ambientalista não vacila em ressaltar que as áreas de pre-servação permanente fazem parte desse seleto rol. Verbera Nicolau Dino:

26 MAGALHÃES, Juraci Perez, op. cit, p.75.27 NETO, Nicolau Dino Costa, Reflexões sobre a Proteção Jurídica da Floresta amazônica, in Desafios

do Direito Ambiental no Século XXI, estudos em homenagem a Paulo Affonso Leme Machado, org.Sandra Akemi Shimada Kishi et al., 2005, São Paulo: Ed. Malheiros, p. 684.

28 MILARÉ, Edis, Direito do Ambiente, 4ª edição, 2005, São Paulo: Ed. RT, p. 358.

5 6 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Considerando-se a expressão “espaços territoriais especialmen-te protegidos” como gênero, podem ser elencadas, destarte,como espécies, além dos biomas mencionados no § 4° do art.225 da CF, as unidades de conservação típicas, instituídaspela Lei 9.985/2000, e, ainda, as áreas de preservação per-manente, as reservas legais florestais, as terras indígenas e osmonumentos naturais tombados, sem prejuízo da eventualinstituição de outras áreas merecedoras de especial atenção. 29

O último dos “considerandos” da Resolução n° 303/02, do CONAMAtambém comunga esta orientação.

A supressão de áreas de preservação permanente tem supedâneo emdois artigos do Código Florestal. Inicialmente, no art. 3°, § 1°, que, porregra de política legislativa e lógica jurídica, só tem incidência às áreas depreservação previstas no próprio art. 3° (administrativas). Aquelas do art. 2°(ex vi legis), de acordo com as alterações trazidas pela MP 2.166-67/01,podem ser alteradas/suprimidas por simples ato administrativo, desde queexistindo caso de utilidade pública ou interesse social.

Não obstante, a doutrina pátria tem se levantado contra tal situação.Para ela, a área de preservação permanente por efeito da lei (ex vi legis) sópode ser modificada por lei em sentido formal, principalmente porque seriailógico o legislador criar espaços de proteção e um simples ato administra-tivo – por mais rigoroso que seja ainda o ato administrativo – alterá-lo.

Note – se que tal situação não é de imutabilidade plena e sim maiorrigor na fruição das áreas de preservação permanente.

O notável Professor Paulo Affonso Leme Machado aduz:

A implementação do art. 225, § 1º, III, da CF poderá acarre-tar certa demora na apreciação do pedido de supressão deuma floresta de preservação permanente. Contudo, é de serponderado que uma vegetação de tal importância não se eli-mina todos os dias. A seca que expulsa as pessoas e os desmo-ronamentos que matam têm como uma de suas causas o corteda vegetação de preservação permanente. O processolegislativo dá chance de maior participação social para a deci-são de manter ou suprimir a vegetaçã. 30

Neste diapasão, o atual Procurador – Geral da República propôsAção Direta de Inconstitucionalidade contra a MP n° 2166-67/01, que

29 NETO, Nicolau Dino Costa, Obra op. cit, p. 671.30 MACHADO, Paulo Affonso Leme, Direito Ambiental Brasileiro, 12ª edição, 2004, São Paulo: Ed.

Malheiros, p. 701.

5 7Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

alterou o art. 4° da Lei n° 4.771/65, já que a mesma autorizou a supressãoda área de vegetação permanente por ato administrativo de autoridade com-petente, violando assim o art. 225, § 1º, inciso III, da CF.

No dia 26 de julho de 2005, o Presidente do Supremo Tribunal Fede-ral deferiu a medida cautelar pleiteada e determinou a suspensão, “ad referen-dum” do plenário, da eficácia do art. 4°, “caput”, e todos seus parágrafos.

Tal decisão judicial gerou o adiamento da reunião do CONAMA queiria, muito provavelmente, aprovar texto final da proposta de resoluçãoregulamentadora dos casos excepcionais de utilidade pública ou interessesocial, que, em seguida, possibilitariam a supressão de vegetação e interven-ção em área de preservação permanente.

Ressaltamos que a área de preservação permanente por efeito da leideve ser inexplorada, salvo se houver a observância do rito necessário à suautilização sustentável, qual seja: a) edição de lei federal específica e b) con-cessão de licença ambiental.

5. Edificação em área de preservação permanente: duplo dano ambiental

Leciona Fiorillo

Dano é a lesão a um bem jurídico. Ocorrendo lesão a um bemambiental, resultante de atividade praticada por pessoa físicaou jurídica, pública ou privada, que direta ou indiretamenteseja responsável pelo dano, não só há a caracterização destecomo a identificação do poluidor, aquele que terá o dever deindenizá-lo. 31

José Rubens Morato Leite ensina que

o dano ambiental pode ser definido como toda lesão intolerá-vel, causada por uma ação humana, culposa ou não, ao meioambiente. Essa ação invariavelmente atinge o interesse dacoletividade, podendo ou não, concomitantemente, afetarinteresses individuais. 32

Obviamente que a supressão da vegetação existente é condição in-dispensável para qualquer construção ter existido. Assim, toda edificação

31 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, 5ª edição, 2004, SãoPaulo: Ed. Saraiva, p. 34.

32 LEITE, José Rubens Morato, Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial, 2ª edição,2003, São Paulo: Ed. RT, p. 104.

5 8 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

em mata ciliar comete o primeiro dano ambiental quando promove odesmatamento.

Salientamos que se utilizássemos o adjetivo criminoso para acom-panhar a palavra desmatamento não seria nenhum exagero, mas apenasexteriorização dos tipos penais dos arts. 38 e 39 da Lei n° 9.605/98.

Depois da construção concluída, pela evidente impossibilida-de de regeneração da vegetação e falta da recomposição ambiental dolocal incorre – se em novo dano ambiental. Daí porque termos asse-verado que a edificação em área de preservação permanente infere-secomo duplo dano ambiental e assim deve ser sempre analisada pelointérprete.

As edificações irregulares em matas ciliares podem ser tanto clandes-tinas quanto ilegais, conforme lição do mestre José Afonso da Silva, que asinsere no gênero dos assentamentos não-conformes ou desconformes:

No primeiro caso, se se implantar edificação que contrarie asrestrições, ela se revelará irregular, ou porque realizada semlicença – e, então, se reputará construção clandestina –, ouporque efetuada com base em licença ilegal – e, assim, setratará de edificação ilegal. 33

Naturalmente que a licença citada, por tratar-se de matéria de Di-reito Urbanístico, refere-se à licença de construir.

Destarte, as edificações em áreas de preservação permanentes sobestudo são irregulares, se não preencherem os contornos delineados peloordenamento jurídico brasileiro no item acima.

6. Reparação integral do dano ambiental

A Constituição Federal determina a reparação do dano ambiental emseu art. 225, § 3°. O atual Código Civil dispõe no art. 927, caput: “Aqueleque, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado arepará-lo”.

Como é sabido, a responsabilidade civil ambiental é de natureza obje-tiva, ou seja, prescinde de culpa para sua configuração, segundo inteligênciado art. 14, § 1°, da Lei n° 6.938/81. Desta forma, o elemento dano para aresponsabilização dos poluidores do meio ambiente é de inconteste valia.

33 SILVA, José Afonso, Direito Urbanístico Brasileiro, 3ª edição, 2000, São Paulo: Ed. Malheiros, 2000p. 273.

5 9Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Assevera Valery Mirra:

No tocante ao dano causado ao meio ambiente, acreditamos queo princípio da reparação integral deva ser retomado em toda asua amplitude. A reparação, como se viu, naquela idéia de com-pensação do prejuízo, deve conduzir o meio ambiente e a socie-dade a uma situação na medida do possível equivalente à de queseriam beneficiários se o dano não tivesse sido causado.34

Novamente Morato:

Independentemente do instrumento a ser utilizado, consta-tado o dano, a sua reparação deverá ser a mais integral possí-vel e obedecer a critérios peculiares que objetivam garantirque a natureza tenha a oportunidade de se regenerar de for-ma hígida. 35

7. Necessidade da demolição

Lembramos que as obras em matas ciliares ocasionam dois danosambientais simultâneos, quais sejam: a supressão da vegetação que deveriaser permanente e a impossibilidade de sua regeneração pelaimpermeabilização do solo.

Assim, com intuito de reverter o processo de lesão referido acima,com supedâneo no art. 72, inciso VIII, da Lei n° 9.605/98, a demolição daobra é ato que se impõe com posterior recomposição do local degradado.

Aduz Milaré:

Não se trata, infelizmente, de hipótese cerebrina, pois emvárias cidades deste nosso país são comuns as ocupações irre-gulares nas encostas de morros, muitas vezes com a anuênciado próprio Poder Público, e que têm ensejado a reação doJudiciário, determinando a demolição de construções erguidassem a licença ambiental exigível. 36

34 MIRRA, Álvaro Luiz Valery, Ação Civil Pública e reparação do dano ao meio ambiente, 2ª ed., 2004,São Paulo: Ed. Juarez de Oliveira, p. 303.

35 LEITE, José Rubens Morato et al., Ação Civil Pública, termo de ajustamento de conduta e formas dereparação do dano ambiental: reflexões para uma sistematização, in Ação Civil Pública após 20 anos:efetividade e desafios, org. Edis Milaré, 2005, São Paulo: Ed. dos Tribunais, p. 332.

36 MILARÉ, Édis, op. citada, p. 729.

6 0 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

O Judiciário já decidiu sobre o tema:

É possível a concessão de liminar determinando a demoliçãode residência edificada clandestinamente em área de prote-ção ambiental, quando o particular foi devidamente notifica-do e teve a oportunidade de exercer a mais ampla defesaadministrativa. A tolerância com edificações clandestinas emáreas de preservação permanente fará com que, estimuladospelo uso de meios retardatários da execução da liminardemolitória, novas violências contra o meio ambiente sejamperpetradas, em prejuízo de toda a comunidade. 37

O grande José Afonso da Silva, ao tratar das construções clandestinase ilegais, profliga:

Em ambas as hipóteses a edificação em andamento deveráser embargada até que se regularize a situação, se for possí-vel, e do contrário deverá ser demolida; sendo edificação jáconcluída, não se lhe concederá o termo de conclusão, “ha-bite-se”, ficando também sujeita a demolição.38

Ora, se a obra não for retirada do lugar em que foi indevidamenteconstruída, a natureza não possui a menor chance de voltar ao status quo ante.

8. Especificidades das áreas urbanas consolidadas

Dispõe o art. 2°, inciso XIII, da Resolução n° 303/02, do CONAMA:

Art. 2°. Para os efeitos desta Resolução, são adotadas as se-guintes definições:XIII – área urbana consolidada aquela que atende aos seguin-tes critérios:a)definição legal pelo poder público;b)existência de, no mínimo, quatro dos seguintes equipa-mentos de infra-estrutura urbana:1.malha viária com canalização de águas pluviais;2.rede de abastecimento de água;3.rede de esgoto;4.distribuição de energia elétrica e iluminação pública;5.recolhimento de resíduos sólidos urbanos;

37 TJSP, AI 96.001089-0, 3CC, rel. Éder graf. J. 25.02.1997.38 SILVA, José Afonso, op. citada, p. 273.

6 1Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

6.tratamento de resíduos sólidos urbanos; ec) densidade demográfica superior a cinco mil habitantes por km².

Pela leitura do artigo transcrito, nota-se a complexidade do conceitode área urbana consolidada e o grau de interesse público acerca do tema.Essas zonas altamente adensadas merecem uma reflexão mais específica eaprofundada, principalmente no tocante às demolições acima citadas. Noscasos concretos, as regras de interpretação constitucional a serem utilizadasdevem ser muito bem avaliadas e refletidas para que não se cometam equí-vocos irreparáveis.

A compatibilização entre as agendas verde e marrom, nestas áreasurbanas consolidadas, é assunto que merece outro artigo.

Desta forma, feito esse breve registro acerca da demolição neste perí-metro, observe-se que o presente estudo não ater-se-á sobre as áreas urbanasconsolidadas, enfocando, portanto, a contrario sensu, as áreas urbanas nãoconsolidadas e rurais dos municípios.

Com efeito, para que não haja incompreensões, cumpre sublinharque o Código Florestal tem evidente incidência em zonas urbanas munici-pais, inclusive nas áreas consolidadas. Assim, por exemplo, eventual espaçoverde às margens de curso d’água, em área urbana consolidada, deve obede-cer os ditames da Lei n° 4.771/65, segundo inteligência do art. 2°, parágra-fo único:

No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendi-das nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nasregiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo oterritório abrangido, observar – se – á o disposto nos respec-tivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados osprincípios e limites a que se refere este artigo.

9. Recomposição ambiental no mesmo lugar (in situ)

A reparação do dano ambiental é feita de duas formas hierarquizadas,que podem ser cumuladas: 1) restauração natural; e 2) compensação ecoló-gica lato sensu, que se subdivide em: 2.1) substituição por equivalente insitu; 2.2) substituição por equivalente em outro local; 2.3) indenizaçãopecuniária. 39

A diferença entre restauração natural e compensação ambiental porsubstituição por equivalente in situ refere-se ao fato de que, na primeira o

39 LEITE, José Rubens Morato et al, op. cit, p. 335.

6 2 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

reflorestamento é feito com espécies originais da área desmatada e a segun-da não.

José Rubens Morato Leite, em brilhante exposição, salienta:

Daí a primazia concedida pelo ordenamento jurídico pátrio àrestauração natural como forma de reparação do danoambiental. Somente quando verificada a impossibilidade téc-nica de se restaurar o bem degradado é que medidas compen-satórias poderão ser aplicadas. 40

E arremata:

No caso de aplicação de medidas compensatórias para a repa-ração do dano, é importante salientar que existe primazia,também aqui, de determinadas formas de compensação eco-lógicas sobre outras. 41

Desta forma, em caso de degradação ambiental em áreas de preser-vação permanente, deve-se dar preferência à restauração natural em rela-ção à compensação ecológica lato sensu, que possui caráter subsidiário.

10. Impossibilidade de compensação ambiental em outro local

A partir de agora, abordaremos as teses mais defendidas pelos cons-trutores em área de preservação permanente de vegetação ciliar para justifi-car a poluição ambiental gerada. Iniciaremos pelo pleito de compensaçãoem outro local.

É bastante usual o pleito de celebração de termo de ajustamento deconduta para compensar-se em outro local o dano ambiental perpetrado,evitando assim a demolição da obra. Invariavelmente alega-se que tal medi-da foi aceita pelo art. 44, inciso III, do Código Florestal, que trata do insti-tuto da reserva legal e tem aplicação também em APP.

Todavia, entendemos indevida e desaconselhável a utilização destamodalidade de compensação ambiental em áreas de preservação permanen-te ex vi legis, principalmente, porque reserva legal e APP são instrumentosambientais diferenciados.

A principal diferença refere-se à localização dessas limitações admi-nistrativas de proteção ambiental. A reserva legal pode estar compreendida,em tese, em qualquer parte do imóvel rural. É possível – se a propriedade

40 Idem.41 Ibidem.

6 3Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

não possuir as dimensões necessárias de cobertura vegetal –, até mesmo queo proprietário adquira outro imóvel rural, desde que dentro da mesmamicrobacia hidrográfica, para obedecer esta imposição legal.

Tal situação não ocorre com as APPs tratadas, considerando que estasdevem sempre margear os cursos d’água, para protegê-los, inclusive no pe-rímetro urbano. Elas cumprem o seu papel se estiverem ao lado dos rios,córregos, etc., de nada valendo se se situarem em outro lugar distante dosrecursos hídricos.

Pelo exposto, a compensação ecológica por equivalente em outro lu-gar, em regra, não merece ser acolhida. A utilidade das matas ciliares para oscursos d’água expressa-se por sua localização em um lugar específico, qualseja: às margens dos mesmos.

11. Inoponibilidade do direito adquirido

Reynaldo Porchat in verbis:

Direitos adquiridos são conseqüências de fatos jurídicos pas-sados, mas conseqüências ainda não realizadas, que ainda nãose tornaram de todo effectivas. Direito adquirido é, pois, todoo direito fundado sobre um fato jurídico que já sucedeu, masque ainda não foi feito valer. 42

Sobre o assunto, oportuno transcrever a magistral lição proferida peloMinº Sepúlveda Pertence:

O direito adquirido pode ser melhor compreendidoextremando – o de duas outras categorias que lhe são vizi-nhas, a saber: a expectativa de direito e o direito consuma-do(...). Tendo em mente a sucessão de normas no tempo eaposição jurídica a ser desfrutada pelo indivíduo em face dalei nova, é possível ordenar estes conceitos em seqüência cro-nológica: em primeiro lugar, tem-se a expectativa do direito,depois o direito adquirido e, por fim, o direito consumado. Aexpectativa de direito identifica a situação em que o fatoaquisitivo do direito ainda não se completou e sobrevêm umanova norma mudando o tratamento jurídico da matéria. Nestecaso, o efeito previsto na norma não se produz, pois seu fatogerador não se aperfeiçoou. Entende-se, sem maior discrepân-cia, que a proteção constitucional não alcança esta hipótese. Na

42 PORCHAT, Reinaldo, Da retroactividade das lei civis, 1909, São Paulo: Duprat, p. 32.

6 4 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

seqüência dos eventos, direito adquirido traduz a situação emque o fato aquisitivo aconteceu por inteiro, mas por qualquerrazão ainda não se operaram os efeitos dele resultantes. Nestahipótese, a Constituição assegura que se produzam regular-mente, ao tempo próprio, tal como previsto na norma queregeu a sua formação, nada obstante a existência da lei nova.Por fim, o direito consumado descreve a última das situaçõespossíveis – quando não se vislumbra mais qualquer conflito deleis no tempo – que é aquela na qual tanto o fato aquisitivoquanto os efeitos já se produziram normalmente. Nesta hipó-tese, não é possível cogitar retroação alguma.43

Imperioso asseverar que os direitos adquiridos no Brasil, ao con-trário de várias legislações estrangeiras, têm estatura constitucional. Porisso, mesmo quando em conflito com outros direitos humanos funda-mentais, os direitos adquiridos merecem uma interpretação constituci-onal que os reafirme e reconheça, mesmo que, no caso concreto, nãosobressaia sobre aqueles.

Necessário mencionar-se a tese da inoponibilidade do direito adqui-rido às leis de ordem pública, tendo em vista a prevalência do interessepúblico sobre o privado.

Neste sentido, afirma Mazzilli:

Em matéria ambiental, a consciência jurídica indica ainexistência de direito adquirido de degradar a natureza; (...).Não se pode formar direito adquirido de poluir, já que é omeio ambiente patrimônio não só das gerações atuais comofuturas.44

Contudo, no estudo em tela, estamos abordando o assunto dasedificações irregulares. Assim, deve prevalecer a tese, nestas hipóteses, dainexistência do direito adquirido. A rigor, atos ilegais e clandestinos nãogeram efeitos e não podem lastrear aquisição de direitos.

Em excelente artigo, Hartmann assevera:

A afirmação da inexistência de direito adquirido a poluir ébastante simples de ser concretizada quando se cuida de ati-vidades clandestinas ou, ainda, de empresários que não te-nham preenchido as condições indicadas pelo órgão

43 STF, RE n° 226855/RS, voto proferido no dia 25 de setembro de 2000.44 MAZZILI, Hugo Nigro, A defesa dos interesses difusos em juízo, 9ª ed., 1997, São Paulo: Ed.

Saraiva, p. 178.

6 5Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

licenciador. Da mesma forma quando os procedimentos delicenciamento são grosseiramente viciados e nulos. A utiliza-ção irregular não é fonte direito e não pode, jamais, caracteri-zar direito adquirido.”45

Reza a Súmula n° 473, do Supremo Tribunal Federal:

A administração pode anular seus próprios atos, quando ei-vados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não seoriginam direitos; ou revogá – los, por motivo de conveniên-cia ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e res-salvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

Mais. Não podemos confundir, em decorrência da inércia em retirar-seocupações poluidoras do ambiente, direitos adquiridos com direitos tolerados.

De acordo com José Afonso da Silva:

A segunda distinção que incumbe ter em mente é a de uso ouedificação não – conforme tolerado e direito adquirido, porque,precisamente, são coisas incompatíveis. Se a lei estabelece to-lerância em relação a situações desconformes, é que, certa-mente, não se está reconhecendo direito adquirido. Está sim-plesmente reservando direito; precariamente, aliás. Direitoadquirido não é direito tolerado, mas direito garantido,impostergável.” 46

12. Prescrição

Ressalta Antunes:

Como é cediço, o artigo 5° da Constituição Federal cuida dosdireitos e garantias fundamentais. Ora, se é uma garantiafundamental do cidadão a existência de uma ação constituci-onal com a finalidade de defesa do meio ambiente, tal fatoocorre em razão de que o direito ao desfrute das condiçõessaudáveis do meio ambiente é, efetivamente, um direito fun-damental do ser humano.47

45 HARTMANN, Analúcia de Andrade, Proteção do meio ambiente e direito adquirido, in Desafios doDireito Ambiental no Século XXI, estudos em homenagem a Paulo Affonso Leme Machado, org.Sandra Ademi Shimada Kishi et al., 2005, São Paulo: Ed. Malheiros, p. 353.

46 SILVA, José Afonso, op. cit, p. 284.47 ANTUNES, Paulo de Bessa, Direito Ambiental, 7ª ed., 2004, Rio de Janeiro: Ed. Lúmen Júris, p. 24.

6 6 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Interpretando o dispositivo constitucional, a doutrina e jurispru-dência pátrias, inclusive o STF, conceituam o meio ambiente ecologica-mente equilibrado como direito humano de “terceira geração”.

Sobre esses “novos direitos”, Juliana Santilli, citando Antônio CarlosWolkmer diz:

A idéia atualmente é de que esses direitos se somam e secomplementam, e não substituem uns aos outros, como po-deria levar a crer a idéia de “gerações” de direitos. O conceitomais aceito é de que o direito ao meio ambiente ecologica-mente equilibrado é um direito humano de “terceira dimen-são”, em virtude de sua natureza metaindividual, difusa ecoletiva, tratando-se de um “direito de solidariedade”, quenão se enquadra nem no público, nem no privado, tal comoo direito à autodeterminação dos povos e da paz. 48

Abordando o tema dos caracteres dos direitos fundamentais, JoséAfonso da Silva denota neles os seguintes contornos: a historicidade,inalienabilidade, irrenunciabilidade e imprescritibilidade. 49

Resta inquestionável que o dano ambiental de natureza coletiva enão patrimonial é imprescritível. Para Fink:

É forçoso concluir que, atingindo a prescrição o titular dodireito material e não sendo ele individualmente legitimado àação para sua proteção, não seria razoável puni-lo com a inci-dência da prescrição se ele sequer poderia ter agido. A inércianão foi sua, e sim dos legitimados extraordinariamente.50

13. Obrigação propter rem

O adquirente de imóvel edificado em área imprópria não pode, parafugir de eventual responsabilização, apresentar defesa de que não foi ele quecausou a degradação ambiental e sim o alienante do bem.

A uma, porque estamos diante de uma situação de dano ambientalcontinuado. Na realidade, é como se ocorresse uma lesão a cada dia, umapoluição de ininterrupta no tempo. A duas, porque a responsabilidade pela

48 SANTILLI, Juliana, Socioambientalismo e novos direitos, 2005, São Paulo: Ed. Peirópolis, 2005, p.60.

49 SILVA, José Afonso, op. cit, p. 181.50 FINK, Daniel, ação Civil Pública – Prescrição – breves notas de reflexões, in Ação Civil Pública após

20 anos: efetividade e desafios, org. Edis Milaré, 2005, São Paulo: Ed. RT, p.144.

6 7Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

degradação, no momento da transferência dominial, é automaticamenterepassada ao adquirente do bem imóvel.

Obrigação propter rem é a que recai sobre uma pessoa, porforça de determinado direito real. Só existe em razão da situ-ação jurídica do obrigado, de titular do domínio ou de de-tentor de determinada coisa. (...) Por se transferir a eventuaisnovos ocupantes de imóvel, é também denominada obriga-ção ambulatorial. 51

O Superior Tribunal de Justiça, em feliz apreciação sobre o tema, jádecidiu:

RECURSO ESPECIAL. FAIXA CILIAR. ÁREA DE PRE-SERVAÇÃO PERMANENTE. RESERVA LEGAL. TER-RENO ADQUIRIDO PELO RECORRENTE JÁ DES-MATADO. IMPOSSIBILIDADE DE EXPLORAÇÃOECONÔMICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.OBRIGAÇÃO PROPTER REM. AUSÊNCIA DE PRE-QUESTIONAMENTO. DIVERGÊNCIA JURISPRU-DENCIAL NÃO CONFIGURADA. As questões relativas àaplicação dos artigos 1° e 6° da LICC, e, bem assim, à possi-bilidade de aplicação da responsabilidade objetiva em açãocivil pública, não foram enxergadas, sequer vislumbradas,pelo acórdão recorrido. Tanto a faixa ciliar quanto a reservalegal, em qualquer propriedade, incluída a da recorrente, nãopodem ser objeto de exploração econômica, de maneira que,ainda que se não dê o reflorestamento imediato, referidaszonas não podem servir como pastagens. Não há cogitar, pois,de ausência de nexo causal, visto que aquele que perpetua alesão ao meio ambiente cometida por outrem está, ele mes-mo, praticando o ilícito. A obrigação de conservação é auto-maticamente transferida do alienante ao adquirente, inde-pendentemente deste último ter responsabilidade pelo danoambiental. Recurso especial não conhecido. 52

14. Conclusão

Diante do que foi exposto, conclui-se que:

51 GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito das Obrigações (Parte Geral), 5ª ed., 2002, São Paulo: Ed.Saraiva, p. 14.

52 STJ, Recurso Especial nº 343741/PR (2001/0103660-8), 2º Turma do STJ, Rel. Minº FranciulliNetto. J. 04.06.2002, p.225.

6 8 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

a) A restrição à exploração econômica em áreas de preservação perma-nente localizadas às margens de cursos d’água é modalidade de intervençãona propriedade privada denominada limitação administrativa de proteçãoambiental;

b) As áreas de preservação permanentes ex vi legis só podem ser alteradase suprimidas por lei em sentido formal específica e posterior licença ambiental;

c) As edificações irregulares estabelecidas em matas ciliares de recur-sos hídricos, não situadas em áreas urbanas consolidadas, por causarem danoambiental continuado no tempo, devem ser demolidas e o proprietário doimóvel obrigado a reparar integralmente a degradação perpetrada, recom-pondo o local impactado;

d) a reparação natural tem preferência sobre a compensação ambientalpor substituição por equivalente in situ;

e) A compensação ambiental por substituição em outro lugar, possí-vel no instituto da reserva legal, em regra, é indevida e desaconselhável nasáreas de preservação permanente em debate, tendo em vista que estas cum-prem sua finalidade protetora se margearem os recursos hídricos;

f ) O proprietário de edificação irregular não pode alegar direito ad-quirido porque atos clandestinos e ilegais não geram efeitos nem funda-mentam aquisições de direito;

g) O dano ambiental coletivo é imprescritível não só por violar direi-to humano fundamental ao meio ambiente equilibrado, mas principalmenteporque os titulares do direito são as gerações presentes e futuras;

h) O adquirente de propriedade com construção clandestina nãopode, a pretexto de isentar-se da obrigação de reparar o dano ambiental,alegar que ele não foi o causador da lesão, já que se trata de obrigaçãopropter rem;

15. Referências Bibliográficas

ANTUNES, Paulo de Bessa, Direito Ambiental, 7ª ed., Rio de Janeiro: Ed. Lúmen Júris, 2004.BOBBIO, Norberto, A Era dos Direitos, Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1992.FINK, Daniel, ação Civil Pública – Prescrição – breves notas de reflexões, in Ação Civil Pública

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2003.______, José Afonso, Direito Ambiental Constitucional, 4ª ed., São Paulo: Ed. Malheiros, 2002.______, José Afonso, Direito Urbanístico Brasileiro, 3ª ed., São Paulo: Ed. Malheiros, 2000.STF, RE n° 226855/RS, voto proferido no dia 25 de setembro de 2000.STJ, Recurso Especial nº 343741/PR (2001/0103660-8), 2º Turma do STJ, Rel. Minº Franciulli

Netto. J. 04.06.2002.TJSP, AI 96.001089-0, 2CC, rel. Éder Graf. J. 25.02.1997.

3 TERMO DE AJUSTAMENTO DE

CONDUTA PRELIMINAR

Processo nº _______/_______Autor: Ministério Público do Estado de GoiásRéu:________________________________________

Pelo presente instrumento, em que figura de um lado o MINISTÉ-RIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio do Promotorde Justiça infra-assinado, doravante denominado compromitente, e de outrolado __________________________________________, pessoa jurídica dedireito privado, inscrita no CNPJ sob o nº______________ , com sede na______________ , ______________ , ______________-GO, representadaneste ato pelo seu responsável___________________________________ ,devidamente acompanhado de seu advogado, o Doutor____________________________ – OAB/GO_______, doravante denomi-nada compromissária_____________________, celebram este COMPROMIS-SO DE AJUSTAMENTO PRELIMINAR de suas condutas, nos seguintestermos:

CLÁUSULA PRIMEIRA1. A compromissária__________________assume a OBRIGAÇÃO DE

FAZER consistente em realizar projeto e execução de diagnóstico completodos impactos ambientais nas áreas onde exerce suas atividades, inclusivevisando à obtenção de informações sobre a composição, estrutura, funçõese dinâmica dos ecossistemas afetados, sendo que os autores deverão realizaras ARTs dos respectivos projetos;

TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA PRELIMINAR NOQUAL O EMPREENDEDOR ASSUME O COMPROMISSO DE AR-CAR COM A INTEGRALIDADE DOS CUSTOS E DEMAIS ÔNUSPORVENTURA EXISTENTES RELATIVOS À REALIZAÇÃO DEPROJETO E EXECUÇÃO DE DIAGNÓSTICO COMPLETO DOSIMPACTOS AMBIENTAIS NAS ÁREAS ONDE EXERCE SUAS ATI-VIDADES, INCLUSIVE VISANDO À OBTENÇÃO DE INFORMA-ÇÕES SOBRE A COMPOSIÇÃO, ESTRUTURA, FUNÇÕES E DI-NÂMICA DOS ECOSSISTEMAS AFETADOS.

7 2 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Parágrafo Único. O referido projeto técnico e execução de diag-nóstico deve ser realizado por equipe multiinterdisciplinar, formada porprofissionais independentes, de reconhecida capacidade técnica e ido-neidade e credenciados pelos seus respectivos órgãos de fiscalização pro-fissional, devendo, ainda, ser constituída, no mínimo, por agrimen-sor, especialista em botânica (biólogo, engenheiro florestal e/ou agrôno-mo) especialista em solos (geógrafo e/ou agrônomo) e especialista emrecursos hídricos.

CLÁUSULA SEGUNDA2. A compromissária ________________ assume a OBRIGAÇÃO DE

FAZER consistente em arcar com a integralidade dos custos e demais ônusporventura existentes, e em decorrência, do aludido trabalho técnico e suaexecução;

CLÁUSULA TERCEIRA3. A compromissária ____________ assume a obrigação de FAZER

consistente em cientificar previamente, com antecedência, de no mínimo72 (setenta e duas) horas, a Agência Ambiental, a Secretaria de Meio Ambi-ente e de Recursos Hídricos do Estado de Goiás, o IBAMA e o MinistérioPúblico, da data e horário das vistorias realizadas in loco na área do empre-endimento, a fim de facultar que técnicos dos referidos órgãos possam acom-panhar os trabalhos a serem desenvolvidos;

CLÁUSULA QUARTA4. O compromitente poderá fiscalizar a execução do presente acordo

a qualquer momento, inclusive mediante inspeções pessoais, tomando asprovidências legais cabíveis, sempre que necessário, ou poderá cometer arespectiva fiscalização aos órgãos competentes que vier a indicar;

CLÁUSULA QUINTA5. A celebração do Termo de Ajustamento de Conduta definitivo, e a

conseqüente transação a ser homologada pelo R. Juízo, ficará condicionadaà conclusão dos trabalhos técnico-ambientais ora acordados e ao início daexecução do competente Plano de Recuperação das Áreas Degradadas -PRAD, devidamente aprovado pelos órgãos competentes, e no qual deverá,inclusive, constar o respectivo cronograma de desenvolvimento das medi-das a serem adotadas;

7 3Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CLÁUSULA SEXTA6. O presente acordo em nada influenciará o andamento processual

ou decisões judicias proferidas, e nem caracteriza transação ou qualqueroutra forma de extinção do processo;

________________-GO, ____de________________de 20____

____________________________________________________Promotor de Justiça

Compromissárias:

7 4 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

7 5Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

4 MODELOS

MODELO DE RECOMENDAÇÃO À INSTITUIÇÃO OFICIAL DECRÉDITO E FINANCEIRA NO SENTIDO DE QUE SEJA SUSPENSAQUALQUER PARTICIPAÇÃO EM LINHAS DE FINANCIAMENTOATÉ QUE SEJA REGULARIZADA A ATIVIDADE E/OU OBRACAUSADORA DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

Recomendação nº________ /20________________-GO, ____de____________de 200__

Ao Senhor(nome e cargo)____________________-GO

Assunto: Linha de financiamento referente ao empreendimento/ati-vidade e/ou pessoa física/jurídica

Senhor ____________________,

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, com baseno art. 6º, XX, da Lei Complementar nº 75/93, e no artigo 80 da Lei nº8.625/93,

CONSIDERANDO sua competência constitucional na proteção domeio ambiente (art. 129, III);

CONSIDERANDO que o (nome da instituição financeira) deve con-siderar ser de fundamental importância, na execução de sua política decrédito, a observância de princípios éticos-ambientais, bem como assumir ocompromisso com os princípios do desenvolvimento sustentável53;

CONSIDERANDO que se trata de princípio da Política Nacionaldo Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81) ação governamental na manutençãodo equilíbrio ecológico (art. 2º-I), a qual visará à compatibilização do de-senvolvimento econômico social com a preservação da qualidade do meioambiente e do equilíbrio ecológico (art. 4º-I), bem como à imposição, ao53 www.bndes.gov.br/empresa/ambiente/ambiente.asp

7 6 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danoscausados (art. 4º-VI);

CONSIDERANDO que segundo o art. 3º, IV, do mesmo diplomalegal, “entende-se por poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito públi-co ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causado-ra de degradação ambiental”;

CONSIDERANDO que “é o poluidor obrigado, independentementeda existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meioambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público daUnião e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidadecivil e criminal, por danos causados ao meio ambiente” (art. 14, parágrafoprimeiro);

CONSIDERANDO que “as entidades e órgãos de financiamento eincentivos governamentais condicionarão a aprovação de projetos habilita-dos a esses benefícios ao licenciamento, na forma desta lei, e ao cumpri-mento das normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo CONAMA.

Parágrafo único. As entidades e órgãos referidos no caput deste artigodeverão fazer constar dos projetos a realização de obras e aquisição de equi-pamentos destinados ao controle de degradação ambiental e a melhoria daqualidade do meio ambiente” (art. 12);

CONSIDERANDO que a Lei nº 9.605/98 (Lei de CrimesAmbientais), em seu artigo 2º, estabelece que “quem, de qualquer forma,concorre para a prática dos crimes previstos nesta lei, incide nas penas aestes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, oadministrador, o membro de conselho, e de órgão técnico, o auditor, ogerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da con-duta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podiaagir para evitá-la”;

CONSIDERANDO que, dessa forma, os bancos, instituições finan-ceiras, órgãos de financiamento e incentivo governamental precisam avaliarcom cautela os financiamentos de projetos que possam envolver risco dedano ao meio ambiente, sob pena de responsabilização solidária;

CONSIDERANDO que, para conceder empréstimos ou financia-mentos, referidos órgãos e entidades devem acompanhar de perto a execu-ção dos projetos que financiam, bem como exigir, além de regularlicenciamento do empreendimento pelo órgão ambiental competente, queo beneficiado prove não haver risco ambiental em seu projeto;

CONSIDERANDO que o empreendimento/atividade_______________ ressente-se de uma série de irregularidades formais, materi-ais, de concepção e de execução, sendo imperioso cessar qualquer tipo de finan-

7 7Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

ciamento, de forma a precaver-se de danos socioambientais irreversíveis de sig-nificativa expressão;

CONSIDERANDO que, a despeito de tanto, a atividade/obra se-gue aceleradamente, sem que qualquer providência por parte do empreen-dedor ou da Agência Goiana de Meio Ambiente tenha sido tomada, emdetrimento do meio ambiente, da probidade da Administração e do princí-pio constitucional da prevenção,

RECOMENDA

que seja suspensa qualquer participação em linhas de financiamentodo Banco , na qual conste comobeneficiário o até queseja (mencionar a providência a ser requerida ou), atestada a viabilidade doempreendimento/atividade. , regu-larizado o respectivo processo de licenciamento e, sobretudo, resolvidas aspendências judiciais existentes.

Cabe ressaltar que o eventual descumprimento à presente recomen-dação ensejará a adoção de medidas administrativas, cíveis e penais, ten-dentes a responsabilizá-lo, e aos demais servidores públicos de algum modorelacionados com a questão.

Atenciosamente,

____________________________________________________Promotor de Justiça

5 INFORMAÇÕES TÉCNICO-JURÍDICAS

INFORMAÇÕES TÉCNICO-JURÍDICAS, SEM CARÁTERVINCULATIVO, AOS ÓRGÃOS DE EXECUÇÃO

5.1. AUSÊNCIA DE REMESSA DOS AUTOS DE INFRAÇÃOLAVRADOS POR VIOLAÇÃO À LEGISLAÇÃO AMBIENTAL AOMINISTÉRIO PÚBLICO A FIM DE QUE SE POSSA APURAREVENTUAL RESPONSABILIDADE CRIMINAL DOS INFRATORES.

INFORMAÇÃO TÉCNICO-JURÍDICA nº 1/2005CAO-MAPCU/ CAOCRIM

Goiânia -GO, 6 de abril de 2005

A Sua Excelência o(a) Senhor(a)Doutor(a) Promotor(a) de Justiça

Os CENTROS DE APOIO OPERACIONAL CRIMINAL e DEDEFESA DO MEIO AMBIENTE, por meio de seus Coordenadores queesta subscrevem, com fundamento no art. 60, inciso II, da Lei Comple-mentar Estadual nº 25/1998 (LOEMP), expedem a seguinte InformaçãoTécnico-Jurídica, sem caráter vinculativo, aos órgãos de execução do Mi-nistério Público do Estado de Goiás:

CONSIDERANDO que o Decreto-lei nº 3.688/1941 (Lei de con-travenções penais), em seu capítulo VIII, que disciplina as contravençõesreferentes à Administração Pública, prevê a figura da contravenção de “omissãode comunicação de crime”, consistente em:

Art. 66. Deixar de comunicar à autoridade competente:I – crime de ação pública, de que teve conhecimento noexercício de função pública, desde que a ação penal não de-penda de representação.

CONSIDERANDO que o artigo 27, § 1° da Lei Estadual nº 12.596/1995, dispõe que:

8 0 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Art. 27. As penalidades administrativas previstas pela pre-sente lei serão aplicadas independente-mente de outrascominações legais, persistindo sempre a responsabilidadeobjetiva do infrator em indenizar ou reparar o dano ambientalcausado, nos termos do § 1º do art. 14 da Lei nº 6.938, de31 de agosto de 1981.§ 1º. À verificação de infração que possa constituir-se emmotivo para propositura de ação civil pública, nos termos doart. 6º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1965, cópia doprocesso administrativo respectivo deverá ser encaminhadaao Ministério Público.

CONSIDERANDO que o artigo 44, § 1º, do Decreto Estadual nº4.593/1995, disciplina que:

Art. 44. As penalidades administrativas previstas na Lei nº12.596, de 14 de março de 1995 e neste regulamento serãoaplicadas, independentemente de outras cominações legais,persistindo sempre a responsabilidade objetiva do infrator emindenizar ou reparar o dano ambiental causado nos termos do§ 1º do art. 14 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981.§ 1º. À verificação de infração que possa constituir-se emmotivo para propositura de ação civil pública, nos termos doart. 6º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, cópia doprocesso administrativo respectivo deverá ser encaminhadaao Ministério Público.

CONSIDERANDO que o Ministério Público expediu a recomen-dação nº 2/2004 - CAOMA/CAODC/CAOPPS endereçada à AgênciaGoiana de Meio Ambiente – AGMA, instando a competente AutoridadeAmbiental a remeter, de forma permanente, os autos de infração lavradospor violação à legislação ambiental ao Ministério Público a fim de que sepossa apurar eventual responsabilidade criminal dos infratores (artigo 129,inciso I, da Constituição da República);

CONSIDERANDO que a AGMA, de maneira injustificada, nãotem remetido os autos de infração ambiental devidamente lavrados – osquais, em sua expressiva maioria, noticiam a prática de conduta criminosa –ao Ministério Público;

CONSIDERANDO que tal omissão de comunicação de infração pe-nal tem inviabilizado a eventual responsabilização dos infratores na seara cri-minal, assim como a instauração de inquéritos civis e, conseqüentemente, apropositura de ações civis públicas visando à reparação dos danos ambientais;

8 1Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

RECOMENDAM aos órgãos de execução do Ministério Público que,constatada a omissão de comunicação de crime conforme exposto, sejamadotadas as medidas penais cabíveis tendentes a responsabilizar a autorida-de competente em razão da conduta omissiva, vale dizer, seja requisitada alavratura de Termo Circunstanciado de Ocorrência pela prática da contra-venção penal do artigo 66, inciso I, do Decreto-lei nº 3.688/1941, pug-nando ainda pela designação de audiência preliminar perante o JuizadoEspecial Criminal, adotando o rito previsto na Lei nº 9.099/1995.

Atenciosamente,

Fernando Braga Viggiano Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça Promotor de Justiça

Coordenador do CAOCriminal Coordenador do CAOMA

5.2. ATIVIDADES CARNAVALESCAS REALIZADAS EM VIAS UR-BANAS, LOGRADOUROS PÚBLICOS, PRAÇAS E ESPAÇOS LIVRESLOCALIZADOS EM NÚCLEOS HISTÓRICOS TOMBADOS EMÂMBITO FEDERAL, ESTADUAL OU MUNICIPAL E ENTORNO

INFORMAÇÃO TÉCNICO-JURÍDICA nº 1/2006CAO-MAPCU

Goiânia-GO, 3 de fevereiro de 2006

A Sua Excelência o(a) Senhor(a)Doutor(a) Promotor(a) de Justiça

O CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA DOMEIO AMBIENTE, PATRIMÔNIO CULTURAL E URBANISMO, pormeio de seu Coordenador, com fundamento no artigo 60, inciso II, da LeiComplementar Estadual nº 25/1998 (LOEMP), expede a presente Infor-mação Técnico-Jurídica, sem caráter vinculativo, aos órgãos de execução doMinistério Público do Estado de Goiás:

CONSIDERANDO que compete ao Ministério Público, ao poderpúblico e à sociedade, preservar, proteger e promover o patrimônio cultu-ral brasileiro54;

54 cf. arts. 127, caput, 129, III, 216, § 1º e 225, todos da Constituição da República

8 2 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que as festividades de carnaval são comumenterealizadas em vias urbanas, logradouros públicos, praças e espaços livreslocalizados em núcleos históricos tombados em âmbito federal, estadual oumunicipal e entorno;

CONSIDERANDO que as atividades carnavalescas realizadas em taislocalidades, em regra, provocam: (i) aglomeração excessiva de pessoas em es-paços reduzidos; (ii) dificuldade de evasão rápida em caso de sinistro devidoàs reduzidas dimensões das ruas e praças das cidades históricas; (iii) emissãode níveis de ruído acima dos limites legais e regulamentares permitidos; (iv)trepidação das paredes, telhados, portas e janelas das edificações antigas de-correntes do deslocamento das ondas sonoras; (v) instalação de equipamentos(v.g. palcos, telões e similares) com a retirada de pavimentação; (vi) instalaçãode vendedores ambulantes e comércio provisório que gera a necessidade deenergia e iluminação acima da capacidade prevista para o local; (vii) imple-mentação de instalações precárias (“gambiarras”); (viii) utilização de produtosinflamáveis e/ou explosivos, como gás de cozinha, foguetes, fogos de artifícioetc.; (ix) expressiva produção de resíduos (lixo); (x) necessidade de instalaçãode banheiros químicos; (xi) atos de vandalismo decorrentes do consumo ex-cessivo de bebidas alcoólicas e do uso de substância entorpecente ou quedetermine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordocom determinação legal ou regulamentar etc.;

CONSIDERANDO que, dessa forma, as festividades de carnavalnos núcleos históricos podem ser consideradas – efetiva e potencialmente –eventos de risco ao patrimônio tombado e causar, por conseguinte, signifi-cativos e irreparáveis danos ao patrimônio cultural;

CONSIDERANDO que para evitar esse risco é essencial que o po-der público tome cada vez mais consciência do seu dever moral de respeitaro seu próprio patrimônio cultural;

CONSIDERANDO que as condutas e atividades consideradas lesi-vas ao patrimônio cultural brasileiro sujeitam os infratores, pessoas físicasou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente daobrigação de reparar os danos causados;

CONSIDERANDO que a Lei nº 9.605/98 (Lei de crimesambientais), em seu capítulo V, que disciplina os crimes contra o meioambiente, seção IV, que trata dos crimes contra o ordenamento urbano e opatrimônio cultural, estabelece que:

Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar:I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativoou decisão judicial;

8 3Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instala-ção científica ou similar protegido por lei, ato administrativoou decisão judicial:Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de seis mesesa um ano de detenção, sem prejuízo da multa.Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou localespecialmente protegido por lei, ato administrativo ou deci-são judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico,turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico,etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridadecompetente ou em desacordo com a concedida:Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.(...)Art. 65. Pichar, grafitar ou por outro meio conspurcaredificação ou monumento urbano:Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.Parágrafo único. Se o ato for realizado em monumento oucoisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológicoou histórico, a pena é de seis meses a um ano de detenção, emulta.”

RECOMENDA aos órgãos de execução do Ministério Público quepossuem atribuição relativa à proteção e preservação do meio ambiente,patrimônio cultural e urbanismo, a adoção de todas e quaisquer medidastendentes a prevenir e/ou minimizar/mitigar impactos aos núcleos históri-cos tombados e a seu entorno, e, em especial, assegurar:

1. a eventual instalação de barracas, palcos e equipamentos em geralobservando-se uma distância mínima – proporcional ao potencial de risco– dos bens tombados;

2. o regresso ao status quo ante das ruas, logradouros públicos, praçasetc., na hipótese de remoção de pavimentos e demais estruturas aplicadas àsuperfície;

3. o licenciamento e fiscalização pelos órgãos competentes das insta-lações elétricas e da utilização de materiais inflamáveis;

4. a aprovação do local em que se concentrarão as atividades carnava-lescas pelo corpo de bombeiro militar – instituição responsável pela execu-ção de atividades de defesa civil;

5. emissão de ruídos em níveis considerados adequados e aceitáveis:limite máximo de 100 (cem) decibéis;

6. policiamento ostensivo contínuo e permanente durante todo operíodo das festividades;

8 4 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

7. fiscalização e controle pelo poder público municipal quando dainstalação de barracas, tendas, construções de madeira e lonas etc.;

8. ausência de danos aos bens tombados quando da instalação ou remo-ção de objetos de decoração, enfeites, adornos etc., eventualmente fixados, e

9. a eventual instalação de banheiros químicos em locais adequados edistantes das fachadas dos imóveis e monumentos tombados.

Atenciosamente,

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador do Centro de Apoio Operacional deDefesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

5.3 PRÉVIA COMPOSIÇÃO DOS DANOS AMBIENTAIS E RELE-VÂNCIA DA CORRETA DESTINAÇÃO DE RECURSOS ORIUNDOSDA APLICAÇÃO DA PENA RESTRITIVA DE DIREITOS, NA MO-DALIDADE DE PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA, PARA A EFETIVA RE-CUPERAÇÃO E/OU RECOMPOSIÇÃO DO MEIO AMBIENTE DE-GRADADO

INFORMAÇÃO TÉCNICO-JURÍDICA nº 2/2006CAO-MAPCU

Goiânia-GO, 3 de maio de 2006.

A Sua Excelência o(a) Senhor(a)Doutor(a) Promotor(a) de Justiça

O CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA DOMEIO AMBIENTE, PATRIMÔNIO CULTURAL E URBANISMO, pormeio de seu coordenador, com fundamento no artigo 60, inciso II, da LeiComplementar Estadual nº 25/1998 (LOEMP), expede a presente Infor-mação Técnico-Jurídica, sem caráter vinculativo, aos órgãos de execução doMinistério Público do Estado de Goiás,

CONSIDERANDO que se trata de função institucional do Minis-tério Público a proteção do meio ambiente (artigo 129, inciso III, da Cons-tituição da República);

CONSIDERANDO que a Constituição da República em seu Títu-lo VIII - Da Ordem Social, Capítulo VI - Do Meio Ambiente, estabelece que:

8 5Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Art. 225 (...)§ 3. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meioambiente, sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas,a sanções penais e administrativas, independentemente daobrigação de reparar os danos causados.;

CONSIDERANDO que o artigo 4º, inciso VII, da Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins emecanismos de formulação e aplicação, estatui que:

Art. 4º. A Política Nacional do Meio Ambiente visará:(...)VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação derecuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, dacontribuição pela utilização de recursos ambientais com finseconômicos.

CONSIDERANDO que o mesmo diploma legal (Lei nº 6.938/81)em seu artigo 14, § 1o, determina que:

...é o poluidor obrigado, independentemente da existênciade culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meioambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.;

CONSIDERANDO que nas infrações penais previstas na Lei nº9.605/98 a ação penal é pública incondicionada;

CONSIDERANDO que as infrações penais ambientais de menorpotencial ofensivo possuem procedimento singular prescrevendo a Lei nº9605/98 em seu Capítulo IV – Da ação e do Processo Penal que:

Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, aproposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos oumulta, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido aprévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 damesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade.

CONSIDERANDO que a prévia composição do dano ambientalexigida pelo artigo 27 da Lei nº 9.065/98, como condição para oferecimen-to de proposta de transação penal, implicará em que o autor da fato assumaa obrigação de adotar as posturas especificadas pelo(s) órgão(s) ambiental(is)a fim de recuperar e/ou recompor o meio ambiente degradado;

8 6 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que nos crimes ambientais de menor potencialofensivo compete ao Ministério Público formular a proposta de aplicaçãoimediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no artigo 76 daLei nº 9.099/95;

CONSIDERANDO que a pena restritiva de direitos ou a multaconsubstanciada na mencionada proposta deve visar à efetiva reparaçãoe/ou recomposição do dano ambiental, razão de ser e primeira de suaimposição;

CONSIDERANDO que o processo perante o Juizado Especial deveobjetivar, sempre que possível, a reparação dos danos e a aplicação de penanão privativa de liberdade (artigo 62 da Lei nº 9.099/95);

CONSIDERANDO que a Lei nº 9.605/98 em seu Capítulo IIintitulado Da Aplicação da Pena estabelece expressamente quais penas po-dem e devem ser consideradas restritivas de direitos:

Art. 8º As penas restritivas de direito são:I – prestação de serviços à comunidade;II – interdição temporária de direitos;III – suspensão parcial ou total de atividades;IV – prestação pecuniária;V – recolhimento domiciliar. (ênfases acrescidas)

CONSIDERANDO que a Lei nº 9605/98 no mesmo Capítulo (II)conceitua e estabelece os contornos jurídicos do que se entende por presta-ção pecuniária:

Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamento emdinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fimsocial, de importância, fixada pelo juiz, não inferior a umsalário mínimo nem superior a trezentos e sessenta saláriosmínimos. O valor pago será deduzido do montante de even-tual reparação civil a que for condenado o infrator.

CONSIDERANDO que, em se prescrevendo, “o valor pago será deduzi-do do montante de eventual reparação civil”, conclui-se, por interpretação siste-mática, lógica e teleológica, que a destinação dos recursos indubitavelmentedeverá visar à proteção do bem lesado ou ameaçado de lesão, qual seja, o meioambiente;

CONSIDERANDO que, em razão do exposto, não encontra amparolegal e principiológico a destinação de recursos oriundos de infrações ambientaispara entidades, instituições, órgãos etc., estranhas à defesa, proteção e/ou

8 7Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

promoção do meio ambiente ou para aquisição de materiais que não visemdireta ou indiretamente à efetiva reparação e/ou recomposição de danos aomeio ambiente (v.g. asilos, casas de albergado, abrigos da infância e juventu-de, material para construção de cadeias, cestas básicas, material de limpezapara órgãos públicos, computadores e utilitários em geral para Fóruns etc.);

CONSIDERANDO que a implementação do Fundo Municipal de MeioAmbiente, a ser gerido pelo Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambientede caráter consultivo e deliberativo, apresenta singular importância, pois, emtese, assegura que as eventuais indenizações revertidas em seu proveito – decor-rentes de degradações ao meio ambiente – sejam destinadas de forma correta etransparente na reparação e/ou reconstituição do dano ambiental;

CONSIDERANDO que esse mecanismo de controle é necessário,ainda, dado aos precedentes de degradação ambiental e mau uso dos recur-sos oriundos de degradações ambientais que, por vezes, não são destinadosà preservação/reparação do meio ambiente;

CONSIDERANDO que não há controle social efetivo e eficaz sobreas obras ou atividades potencialmente degradadoras a serem implementadasem municípios privados de Conselhos e Fundos Municipais de Meio Am-biente, o que gera justificadas dúvidas e insegurança acerca da legitimidadede implementá-las, nessas localidades;

CONSIDERANDO que, dessa maneira, os municípios que não pos-suem Conselhos e Fundos Municipais de Meio Ambiente, encontram-se,em verdade, em situação irregular, a demandar que essa grave omissão sejasanada com a máxima urgência;

RECOMENDA aos órgãos de execução do Ministério Público quepossuem atribuição relativa à proteção e preservação do meio ambiente,patrimônio cultural e urbanismo, nos procedimentos relativos às infraçõespenais ambientais de menor potencial ofensivo:

1 observar e zelar, quando da prévia composição dos danos ambientais,a adoção dos mesmos requisitos e condições contemplados em Termos deAjustamento de Conduta, e em especial:

1.1 Cláusula assumindo a responsabilidade pelos danos causados;1.2 Cláusulas definindo obrigações específicas:1.2.1 obrigação de não fazer, consistente em:1.2.1.1 se abster de praticar qualquer intervenção ou atividade que

importe em degradação ambiental ou intensificação ou agravamento do(s)dano(s) causado(s);

8 8 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

1.2.1.2 se abster da prática de quaisquer atos que impeçam a regene-ração natural da área degradada;

1.2.2 obrigação da fazer, consistente em:1.2.2.1 recomposição/restauração do meio ambiente ao status quo

ante mediante apresentação, num prazo determinado, de projeto técnicocompleto de recuperação ambiental (PRADE), elaborado por profissionalhabilitado, na condição de responsável técnico (ART), contendo cronogramade execução e prazos para o cumprimento de cada etapa;

1.2.2.2 obrigatoriedade de obediência às orientações, recomenda-ções, diretrizes e limites impostos pelos órgãos ambientais;

1.2.2.3 realização de monitoramento e comprovação do cumprimentode cada etapa do projeto, mediante apresentação, ao órgão ambiental com-petente, de relatórios periódicos – no mínimo semestrais – devidamenteinstruídos com fotos atuais ou imagens de satélite do local, aptos a compro-var o efetivo cumprimento das obrigações assumidas;

1.3 fixação de multa diária cominatória para o descumprimento dequaisquer das obrigações pactuadas ou pela não observância dos prazos esti-pulados no cronograma aprovado, atualizada de acordo com índices oficiaisdesde o dia da prática infracional até o efetivo desembolso (os parâmetrospara a fixação das multas diárias podem levar em consideração as disposi-ções do artigo 5º do Decreto Federal nº 3.179, de 21 de setembro de1999, ou artigos 34, 35, 36 e 37, do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de1990).

1.4 fixação de cláusula penal moratória cumulativa, incidente emcaso de atraso no cumprimento da obrigação, sem prejuízo da exigência documprimento da obrigação principal.

1.5 obrigação de fazer consistente em inserir os compromissosassumidos, como cláusula específica, em todo e qualquer futuro contra-to de venda, compra, empréstimo, doação, etc., do imóvel sede, ou pontocomercial em questão, objetivando vincular às obrigações pactuadas, ter-ceiros adquirentes, proprietários, possuidores, arrendatários e respecti-vos sucessores, sem prejuízo da responsabilidade solidária do devedororiginário.

1.6 expressa previsão de que a composição não inibe, restringe, limi-ta nem impede, de qualquer forma, a incidência das normas legais, e asações de controle, fiscalização e monitoramento dos órgãos ambientais e dopróprio Ministério Público.

1.7 caso a obrigação envolva o Poder Público municipal ou estadual,expressa inclusão de previsão no Plano Plurianual, caso a execução da obra

8 9Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

ou projeto ultrapasse um exercício financeiro (art. 167, § 1º, da Constitui-ção da República), sob pena de nulidade do título55.

2 Na impossibilidade de prévia composição dos danos ambientais(reparação in natura) e quando do oferecimento da proposta de transaçãopenal (aplicação da pena restritivas de direitos na modalidade prestaçãopecuniária), exigir a obrigação de reparação civil pelos danos ambientaisirreversíveis ou de impossível quantificação que poderá consistir em:

2.1 quantia em dinheiro a ser depositada nos Fundos Estadual e/ouMunicipal de Meio Ambiente que visam direta e/ou indiretamente à recu-peração do meio ambiente, ou

2.2 custeio de programas e de projetos ambientais (v.g. material e pro-jetos de educação ambiental nas escolas, diagnóstico da situação ambientaldas nascentes do município, reflorestamento de áreas consideradas de preser-vação permanente, construção de viveiro de mudas de espécies nativas daregião, coleta seletiva do lixo urbano, repovoamento de peixes nos rios – me-diante o acompanhamento técnico dos órgãos ambientais, doação de mudasetc.), execução de obras de recuperação de outras áreas degradadas, manuten-ção de espaços públicos e contribuições a entidades públicas ou privadas comfim social que tenham como função institucional e/ou legal a proteção e recu-peração do bem jurídico lesionado, qual seja, o meio ambiente, patrimôniocultural ou a ordem urbanística, prestação de serviço à comunidade, tais comotarefas gratuitas nas praças públicas, nos jardins das escolas, passeios públi-cos, viveiros municipais, horta comunitária orgânica (sem agrotóxico) etc.

Atenciosamente,

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador do Centro de Apoio Operacional deDefesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

55 A necessidade de prévia dotação orçamentária para a execução de obra ou projeto decorre do artigo 167,I e II, da Constituição Federal, que admite a abertura de créditos extraordinários para despesasimprevisíveis e urgentes (art. 167, § 3º).No entanto, não se pode olvidar que a previsão orçamentária para a execução de obras a seremexecutadas consta em anexo da lei orçamentária, o qual não tem caráter vinculativo para a AdministraçãoPública.Logo, para a execução de obra prevista no termo de ajustamento de conduta não há necessidadede que conste da lei orçamentária item específico para ela, mas apenas que haja dotação orçamentáriapara o item genérico.Mesmo que não haja dotação orçamentária, é possível a criação de créditos adicionais, nos termos dosartigos 40 e 41, da Lei nº 4.320/64.O Prefeito Municipal tem poderes para tomar iniciativas que garantam a dotação necessária para aexecução das obras que se fizerem necessárias, até mesmo as urgentes, com possibilidade inclusive decontratação direta, com dispensa de licitação.

9 0 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

5.4 INOBSERVÂNCIA DO PRAZO LEGAL PARA ELABORAÇÃO EAPROVAÇÃO DO PLANO DIRETOR E DESNECESSIDADE DE SUASUBSCRIÇÃO POR PROFISSIONAL HABILITADO E REGISTRO DEANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA - ART NO CREA

INFORMAÇÃO TÉCNICO-JURÍDICA nº 3/2006CAO-MAPCU

Goiânia-GO, 5 de outubro de 2006

A Sua Excelência o(a) Senhor(a)Doutor(a) Promotor(a) de Justiça

O CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA DOMEIO AMBIENTE, PATRIMÔNIO CULTURAL E URBANISMO, pormeio de seu coordenador, com fundamento no artigo 60, inciso II, da LeiComplementar Estadual nº 25/1998 (LOEMP), expede a presente Infor-mação Técnico-Jurídica, sem caráter vinculativo, aos órgãos de execução doMinistério Público do Estado de Goiás,

CONSIDERANDO que se trata de função institucional do Minis-tério Público a proteção do meio ambiente e de outros interesses difusos ecoletivos56, dentre os quais a ordem urbanística;

CONSIDERANDO que o Plano Diretor é o instrumento básico dapolítica de desenvolvimento e de expansão urbana (artigo 182, § 1º daConstituição da República, artigo 85 da Constituição do Estado de Goiás eartigo 40, caput, da Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade). A proprie-dade urbana somente cumpre sua função social se atender às exigênciasfundamentais de ordenação da cidade estabelecidas no Plano Diretor;

CONSIDERANDO que ordenar o pleno desenvolvimento das fun-ções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes são os obje-tivos mais elementares da política de desenvolvimento urbano, a serinstrumentalizada pelo Plano Diretor;

CONSIDERANDO que a Lei Federal nº 10.257/2001, que “regulamentaos artigos 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da políticaurbana e dá outras providências”, em seu Capítulo III - DO PLANO DIRETOR,prevê regras de regência de observância obrigatória para os Municípios;

CONSIDERANDO que a Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cida-de), em Capítulo III - DO PLANO DIRETOR, prescreve que:

56 artigo 129, inciso III, da Constituição da República

9 1Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Art.40........................................................................................(...)§ 2o O plano diretor deverá englobar o território do Municí-pio como um todo.§ 3o A lei que instituir o plano diretor deverá ser revista, pelomenos, a cada dez anos.§ 4o No processo de elaboração do plano diretor e na fiscali-zação de sua implementação, os Poderes Legislativo e Execu-tivo municipais garantirão:I – a promoção de audiências públicas e debates com a parti-cipação da população e de associações representativas dosvários segmentos da comunidade;II – a publicidade quanto aos documentos e informaçõesproduzidos;III – o acesso de qualquer interessado aos documentos e in-formações produzidos.(...)Art. 42. O plano diretor deverá conter no mínimo:I – a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicadoo parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, consi-derando a existência de infra-estrutura e de demanda parautilização, na forma do art. 5o desta Lei;(...);

CONSIDERANDO que a referida lei (Estatuto da Cidade), em seuartigo 52, caput, inciso VII, estabelece, ainda, que o Prefeito incorre emimprobidade administrativa, nos termos da Lei nº 8.429/92, sem prejuízoda punição de outros agentes públicos envolvidos e da aplicação de outrassanções cabíveis, quando deixar de tomar as providências necessárias para ga-rantir a observância do disposto no § 3º do artigo 40 e no artigo 50 desta Lei;

CONSIDERANDO que o prazo para atender a obrigação constitu-cional de aprovação de planos diretores para municípios que tenham popu-lação superior a 20.000 habitantes ou integrem regiões metropolitanas eaglomerações urbanas, que não possuem plano diretor ou tenham aprovadoseu plano diretor há mais de 10 anos, esgota-se em 10 de outubro de 2006;

CONSIDERANDO que o Plano Diretor não é considerado tão-so-mente um documento técnico ou mero instrumento de controle do uso dosolo, e sim, um documento de “pactuação sócio territorial” que promove odesenvolvimento físico, econômico e social das cidades por meio da efetivaparticipação de todos os cidadãos;

CONSIDERANDO que o Plano Diretor é aprovado por lei e, em-bora predominem aspectos técnicos, sua formulação pressupõe uma tarefa

9 2 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

técnica multidisciplinar por intermédio, principalmente, dos órgãos de pla-nejamento da Prefeitura;

CONSIDERANDO que o Conselho Regional de Engenharia, Ar-quitetura e Agronomia - CREA, em atitude incompatível com a naturezajurídica do Plano Diretor e em flagrante afronta ao artigo 2º, inciso II, daLei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade)57, tem demonstrado a intençãode exercer suas atribuições relativas à fiscalização do exercício profissionalexigindo a (prescindível) anotação da Anotação de Responsabilidade Técni-ca - ART no Projeto de Lei que trata do Plano Diretor;

CONSIDERANDO que, em razão desse corporativismo, muitos mu-nicípios estão sendo indevidamente instados e abordados por “profissio-nais” para “negociar” valores em troca de subscrição no Projeto de Lei eposterior registro de Anotação de Responsabilidade Técnica - ART no CREA,o que, envolvendo Plano Diretor, é totalmente desnecessário;

RECOMENDA aos órgãos de execução do Ministério Público quepossuem atribuição relativa à proteção e preservação do meio ambiente,patrimônio cultural e urbanismo, a observância das seguintes orientações:

1. a elaboração e aprovação do Plano Diretor até 10 de outubro de2006 é obrigatória para os Municípios que se enquadrem nas hipótesesprevistas no artigo 41 da Lei nº 10.257/2001, razão pela qual háinviabilidade e impossibilidade jurídica da celebração de Termo de Ajusta-mento de Conduta visando à prorrogação do prazo para aprovação PlanoDiretor, tendo em vista que tal prazo está expressamente previsto em lei(Estatuto da Cidade).

2. O Prefeito Municipal e demais agentes públicos envolvidos que,no processo de elaboração do Plano Diretor, impedirem ou deixarem deassegurar a promoção de audiências públicas e debates com a participaçãoda população e de associações representativas dos vários segmentos da co-munidade, a publicidade e o acesso de qualquer interessado quanto aosdocumentos e informações produzidos, bem como deixarem de tomar asprovidências para garantir a observância do prazo legal de aprovação doPlano Diretor (10 de outubro de 2006), incorrem em improbidade admi-nistrativa.

3. antes da adoção das medidas cabíveis, principalmente, em relaçãoao descumprimento do prazo legal, mostra-se razoável e pertinente o exame57 “Art. 2º. A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento da funções sociais da

cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:(...) II – gestão democráticapor meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos dacomunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos dedesenvolvimento urbano.”

9 3Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

e análise das razões que motivaram a desobediência – sobretudo por meiode informações a serem requisitadas ao Prefeito Municipal e à Câmara deVereadores, a fim de apurar a existência de eventual desídia, inércia doPrefeito Municipal e/ou demais agentes públicos envolvidos, ou se já foramtomadas todas as providência para a elaboração e aprovação do Plano Dire-tor – que pode ser constatada pelo (i) estágio avançado em que se encontraa elaboração do Plano Diretor a considerar a preparação e realização dasLeituras Comunitária e da Realidade do Município, além dos encaminha-mentos necessários para a realização do Macrozoneamento e das PropostasGerais dos Planos Diretores, já que estas etapas fundamentam o respectivoProjeto de Lei; (ii) envolvimento e participação da sociedade; (iii) perspec-tiva de breve conclusão; (iv) encaminhamento do Projeto à Câmara de Ve-readores para discussão, deliberação e aprovação etc.

4. o Promotor de Justiça, a seu juízo, poderá considerar a inexistênciade dolo ou culpa, bem como a ausência de razões objetivas para aresponsabilização do Prefeito e outros agentes públicos envolvidos, firman-do o compromisso com o(s) responsável(is) (v.g. Prefeito Municipal, Presi-dente da Câmara de Vereadores, Presidente da Comissão de Constituição eJustiça etc.) para que informe mensalmente ao Ministério Público os atos eprocedimentos realizados visando à consecução do Plano Diretor.

5. a subscrição no Projeto de Lei que trata do Plano Diretor porprofissional habilitado (v.g. arquiteto, engenheiro etc.) e o registro da res-pectiva Anotação de Responsabilidade Técnica no CREA é prescindível e osMunicípios devem abster-se de “contratar” profissional(is) para essa exclu-siva finalidade, o que pode, inclusive, configurar ato de improbidade admi-nistrativa.

Atenciosamente,

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador do Centro de Apoio Operacional deDefesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

6 RECOMENDAÇÕES

RECOMENDAÇÕES A ÓRGÃOS E ENTIDADES PÚBLICAS EPRIVADAS QUE ATUAM EM ÁREAS AFINS

6.1 ADMINISTRAÇÃO E USO/OCUPAÇÃO IRREGULAR E ILEGALDA FAIXA DE DOMÍNIO

Recomendação nº 02/2003 Goiânia-GO, 23 de setembro de 2003

Ao Senhor ___________________Presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras Públicas -

AGETOPGoiania-GO

Senhor Presidente,

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por meiode seus Centros de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Cida-dão, Consumidor e Patrimônio Público, com base no art. 6º, XX, da LeiComplementar nº 75/93, e no artigo 80 da Lei nº 8.625/93,

CONSIDERANDO que a Agência Goiana de Transportes eObras – AGETOP, nos termos do que dispõem os artigos 5º e 6º daLei Estadual 13.550/99 – que modificou a organização administrati-va do Poder Executivo do Estado de Goiás, além de determinar outrasprovidências — e do artigo 1º do Decreto Estadual nº 5.201/2000,que aprovou o seu regulamento, “é entidade autárquica estadual, dota-da de personalidade jurídica de direito público interno, com autonomiaadministrativa, financeira e patrimonial, jurisdicionada à Secretaria deEstado de Infra-Estrutura”.

CONSIDERANDO que em se tratando de ente de direito públicointerno, a AGETOP está legitimada por lei à tomada de providências, den-tre outras, relacionadas à administração da faixa de domínio e ao cumpri-mento das normas de segurança rodoviária.

CONSIDERANDO que cabe, portanto, à AGETOP o cabal exercí-cio da defesa do patrimônio pertencente ao Estado de Goiás, seja por meio

9 6 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

de seu corpo jurídico próprio (procuradores autárquicos), seja por meio daProcuradoria-Geral do Estado.

CONSIDERANDO que é cediço que

o regime imposto pelo direito público não priva o PoderPúblico de se valer dos institutos do direito privado para adefesa de seu patrimônio, de seus bens. Assim, tratando-se debens imóveis, por exemplo, pode valer-se das ações possessórias(reintegração e manutenção de posse) e, quando o caso, domandado de segurança.58.

CONSIDERANDO que a AGETOP tem reiteradamente instado oMinistério Público, em diversas Comarcas, para instaurar inquérito civil epromover a ação civil pública, visando à “desocupação da faixa de domínio”;

CONSIDERANDO que a atuação do Ministério Público, com funda-mento no Convênio celebrado com a AGETOP objetivando a integração deesforços das partes na fiscalização das Faixas de Domínio das rodovias estaduaise nas federais delegadas”, pressupõe, a priori, efetiva degradação ambiental;

CONSIDERANDO que a AGETOP tem o poder/dever de tomar asmedidas cabíveis após proceder a notificação extrajudicial, haja vista que estáa configurar, inclusive, sua omissão — suscetível de figurar no pólo passivo deeventual ação, sem prejuízo da responsabilização de seus membros por ato deimprobidade administrativa — a simples remessa de tais notificações ao Mi-nistério Público instando esse órgão a ajuizar ações judiciais em seu lugar.

CONSIDERANDO que é de estranhar-se, ainda, que quando pos-síveis danos ambientais são aventados, sequer é dada ciência prévia ouprovocada a Agência Goiana de Meio Ambiente, a quem cabe coibir e fisca-lizar a ocorrência de danos ambientais, Limitando-se a AGETOP, não raro,requerer providências ao Ministério Público local para que, indevidamente,substitua o poder público até mesmo no exercício do poder de polícia.

CONSIDERANDO que as atribuições da AGETOP, assim como daAgência Ambiental, são disciplinas por lei e devidamente regulamentadaspor Decreto, não sendo admissível a delegação de suas responsabilidadeslegais, com fundamento em convênio.

CONSIDERANDO que a conservação das faixas de domínio é de com-petência exclusiva da AGETOP, a qual é responsável pela limpeza, roçagem epreservação do meio ambiente nas áreas não ocupadas pelos empreendimentosrodoviários (cf. art. 11 e 32, inciso I, da Lei Estadual nº 14.408/2003);

58 ELIAS ROSA, Márcio Fernando. Sinopses Jurídicas – Direito Administrativo. Editora Saraiva, 2001,página 127

9 7Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que a fiscalização das normas e da ocupação dasáreas que compõem a faixa de domínio deve ser exercida pela AGETOP,conforme sua competência e atribuições regimentais, estatuárias ou delega-das, com apoio do Batalhão da Polícia Rodoviário de Goiás, que exercerão,em conjunto ou isoladamente, o poder de polícia, cabendo-lhes, dentreoutras obrigações, embargar ou demolir obras e serviços executados eminfringência da lei, sendo que, nos casos de resistência ou desacato no exer-cício de suas funções, os funcionários incumbidos de fiscalização poderãorequisitar apoio policial (cf. art. 33 da Lei Estadual nº 14.408/93);

CONSIDERANDO que o Ministério Público tem promovido o in-quérito civil e a ação civil pública na defesa intransigente do patrimôniopúblico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivose jamais se esquivará de suas funções institucionais.

RESOLVE

RECOMENDAR à Agência Goiana de Transportes e Obras Públi-cas - AGETOP, a quem compete fiscalizar e administrar o uso e/ou ocupa-ção da faixa de domínio das rodovias estaduais e rodovias federais delegadas:

1. a comunicação imediata aos órgãos ambientais competentes (Agên-cia Ambiental de Goiás e/ou órgãos municipais) – concomitante ao Minis-tério Público –, quando da constatação de eventuais ou potenciais danos aomeio ambiente, para que exerçam o efetivo poder de polícia;

2. a adoção de todas as medidas de polícia administrativa necessáriase inerentes à sua função (v.g. multa simples, multa diária, apreensão demateriais e equipamentos utilizados na infração, destruição de plantações,embargo da obra ou atividade, suspensão parcial ou total das atividades,etc.), bem como a promoção das ações cabíveis, em defesa do patrimôniodo Estado, do meio ambiente e da segurança do trânsito rodoviário.

Cabe ressaltar que na ausência de ação e inércia dos órgãos públicos(v.g. AGETOP na administração do uso e/ou ocupação da faixa de domí-nio), a atuação do Ministério Público na defesa de bens coletivamente tute-lados deverá se dar, prioritariamente, ou de forma simultânea, à imprescin-dível responsabilização dos referidos órgãos, bem como dos servidores pú-blicos relacionados à omissão (v.g. arts. 11 e 12 da Lei 8.429/92, art. 319do Código Penal, etc.).

Atenciosamente,

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

(Coordenador do CAO - MAPCU)

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Marcus Antônio Ferreira AlvesPromotor de Justiça

(Coordenador do CAO de Defesa do Cidadão)

Cláudio Braga LimaPromotor de Justiça

(Coordenador do CAO de Defesa do Consumidor)

Eduardo Abdon MouraPromotor de Justiça

(Coordenador do CAO de Defesa do Patrimônio Público)

6.2 IRREGULARIDADES E ILEGALIDADES - PRINCIPALMENTECONCERNETE À CONVERSÃO DE MULTAS EM BENS E SERVI-ÇOS “SOB A FORMA DE DAÇÃO EM PAGAMENTO” – EM “TERMOSDE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA” CELEBRA-DOS ENTRE A AGÊNCIA AMBIENTAL E PESSOAS FÍSICAS E JU-RÍDICAS AUTUADAS POR VIOLAÇÃO À LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

Recomendação nº 002/2004 – CAOMA/CAODC/CAOPPS

Goiânia-GO, 22 de março de 2004

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, no cum-primento de suas funções institucionais de que tratam os artigos 127 e129, incisos II e III, da Constituição Federal, e com fundamento no art. 6º,XX, da Lei Complementar nº 75/93, artigo 80 da Lei nº 8.625/93(LONMP), e art. 47, VII, da Lei Complementar Estadual nº 25/98(LOEMP), e

CONSIDERANDO que compete aos funcionários da AgênciaGoiana de Meio Ambiente e Recursos Naturais, entidade autárquica inte-grante do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, lavrar auto deinfração ambiental e instaurar processo administrativo na hipótese de açãoou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção erecuperação do meio ambiente (cf. art. 70 da Lei nº 9.605/98);

CONSIDERANDO que as infrações ambientais são apuradas emprocedimentos administrativos próprios, os quais deverão observar com-pulsoriamente o princípio da legalidade, e podem ser punidas em confor-midade com as sanções previstas no art. 72 da Lei nº 9.605/98;

9 9Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que o art. 72 da Lei nº 9.605/98 e o art 2º doDecreto nº 3.179/99 prevêem como sanções passíveis de serem aplicadas asmultas (simples ou diária), que “podem ter a sua exigibilidade suspensa,quando o infrator por termo de compromisso aprovado pela autoridadecompetente, obrigar-se à adoção de medidas específicas, para fazer cessar oucorrigir a degradação ambiental” e que somente após cumpridas integral-mente as obrigações assumidas pelo infrator, a multa poderá ser reduzida(cf. art. 60, caput e § 3º, do Decreto nº 3.179/99);

CONSIDERANDO que os valores provenientes das multas aplicada atítulo de sanção administrativa têm destinação específica disciplinada em lei;

CONSIDERANDO que o art. 73 Lei nº 9.605/98 (Lei de CrimesAmbientais) estabelece expressamente que “os valores arrecadados em pa-gamento de multas por infração ambiental serão revertidos ao Fundo Naci-onal do Meio Ambiente, criado pela Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989,Fundo Naval, criado pelo Decreto nº 20.923, de 8 de janeiro de 1932,fundos estaduais ou municipais de meio ambiente ou correlatos, conformedispuser o órgão arrecadador”;

CONSIDERANDO que a Constituição do Estado de Goiás, em seuart. 132, § 1º, dispõe que “Constituirão recursos para formação do FundoEstadual do Meio Ambiente os previstos no orçamento estadual e a totali-dade dos oriundos das licenças, taxas, tarifas e multas impostas no controleambiental, excetuados os devidos a Municípios”;

CONSIDERANDO que a Lei Complementar Estadual nº 20/96, queestabelece diretrizes para controle, gestão e fiscalização do Fundo Estadual de MeioAmbiente e dá outras providências, dispõe em seu art. 3º, incisos II e III, que

Constituem recursos do FEMA: II - o produto das multas eindenizações referentes à infração da legislação ambiental,aplicadas e recolhidas pelo Estado de Goiás, inclusive as pro-venientes de condenações fundamentadas na Lei nº 7.347,de 24 de julho de 1985, III – a totalidade dos recursos oriun-dos das licenças, taxas, tarifas e multas impostas no controleambiental, excetuados os devidos a municípios, previstos no§ 1º do art. 132 da Constituição do Estado de Goiás;

CONSIDERANDO que o art. 3º, parágrafo único, da Lei Comple-mentar Estadual nº 20/96 estabelece que

os recursos arrecadados pela aplicação da Lei nº 8.544/78serão repassados, imediatamente, após a sua arrecadação, aoórgão executor da Política Ambiental, à FEMAGO – atualAgência Ambiental de Goiás –, para despesas de custeio e ma-nutenção, visando garantir, a sua agilidade e operacionalidade;

100 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que o art. 2º, I, do Decreto nº 4.470/95, queaprova o Regulamento do Fundo Estadual do Meio Ambiente e dá outrasprovidências, dispões que “Constituem receitas do FEMA: II – produtosdas multas e indenizações referentes a infrações à legislação ambiental, apli-cadas e recolhidas pelo Estado de Goiás, inclusive os provenientes de con-denações fundamentadas na Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985”;

CONSIDERANDO que a Lei Estadual nº 12.596/95, em seu arti-go 33, parágrafo único, alterado pelo artigo 14 da Lei Complementar Esta-dual nº 20/96, preceitua que as receitas arrecadadas com base na aplicaçãodesta lei integrarão o Fundo Estadual de Meio Ambiente - FEMA, à contade Recursos Especiais a Aplicar”, e terão a seguinte destinação:

“I – 70% (setenta por cento), para formação de florestasenergéticas; estabelecimento, manejo e desapropriação de áreasnecessárias à implantação de unidades de conservação estadu-ais e municipais; pesquisa florestal e reflorestamento com finsecológicos, paisagísticos ou turísticos; II – 30% (trinta por cen-to), para pagamento de pessoal, despesas de custeio e manu-tenção da estrutura de meio ambiente do Estado de Goiás.

CONSIDERANDO que o art. 11 da Lei Estadual nº 8.544/78 quedispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente, estabelece expressa-mente que “o produto arrecadado das multas decorrentes das infrações previstasnesta lei constituirá receita da Superintendência Estadual do Meio Ambiente;

CONSIDERANDO que o art. 41 da lei Estadual nº 13.123/97, queinstitui a Política Estadual de Recursos Hídricos, estabelece como recursos daconta especial de recursos hídricos do Fundo Estadual do meio Ambiente, oresultado de multas cobradas dos infratores da legislação de água;

CONSIDERANDO que o art. 37 da Lei Estadual nº 13.583/00,que versa sobre a conservação e proteção ambiental dos depósitos de águasubterrânea no Estado de Goiás, determina que os valores das multas apli-cadas pelas infrações àquela lei deverão ser depositados em conta especial doFundo Estadual de Meio Ambiente;

CONSIDERANDO que na aplicação do Decreto Estadual nº 4.593/95, que regulamenta a Lei Estadual nº 12.596/95, que dispõe sobre a po-lítica florestal do Estado de Goiás,

o órgão ambiental competente observará, no que couber, re-lativamente à fiscalização, lançamentos, cobrança e recolhi-mento de obrigações e créditos, principais ou acessórios, pre-vistos na legislação estadual, os procedimentos tributário-ad-ministrativos e execuções judiciais-fiscais da dívida ativa tam-

101Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

bém constantes da legislação estadual e, no que forem omis-sos, as disposições das Leis Federais nº 6.830, de 22 de se-tembro de 1980 e 8.397, de 6 de janeiro de 1992, e legisla-ção subseqüente” (cf. art. 58 do Decreto nº 4.593/95);

CONSIDERANDO que, segundo consta do art. 72, § 4º da Lei nº9.605/98 e do art. 2º, § 4º, do Decreto nº 3.179/99, “a multa simplespode ser convertida em serviços de preservação, melhoria e recuperação daqualidade do meio ambiente”, e não, em bens destinados ao próprio órgãoresponsável pela aplicação da sanção administrativa, mormente sem a ob-servância do devido procedimento administrativo como sói ocorrer;

CONSIDERANDO que o art. 26, § 4º da Lei Estadual nº 12.596/95, que institui a Política Florestal do Estado de Goiás e dá outras provi-dências, assim como o art. 43, § 4º do Decreto Estadual nº 4.593/95que a regulamenta, estabelecem que

será admitida, a critério do órgão competente, a conversão deaté 50% (cinqüenta por cento) do valor da multa aplicadana obrigação de execução, pelo infrator, de projeto de repa-ração do dano causado, quantia esta que permanecerá comocaução do cumprimento da obrigação assumida e que só serádevolvida após a comprovação de execução a contento;

CONSIDERANDO que, apesar de todo arcabouço jurídico vigen-te, a Agência Ambiental de Goiás tem sistemática e reiteradamente celebra-do com empreendedores autuados por suposta infração administrativaambiental Termos de Compromisso de Ajustamento de Conduta, no quais pre-vê expressamente como forma de extinção e quitação da obrigação pecuniária,oriunda de multas aplicadas como sanção administrativa, o fornecimentode materiais e equipamentos (v.g. impressoras, mesas para escritório, com-putadores, armários, racks, cadeiras giratórias, carros zero quilômetros, motosetc.), sob a forma de dação em pagamento, à Agência Ambiental de Goiás;

CONSIDERANDO que mediante esse artifício a Agência Ambientalde Goiás confeccionou informativo no qual assevera que converteu em bense serviços o valor de R$ 16.000.000,00 (dezesseis milhões de reais) relativoa multas aplicadas, sendo que significativa parcela da quantia foi convertidaem bens (13 carros zero quilômetro, 5 motos, uma câmara frigorífica paraarmazenamento dos pescado apreendido, além de “diversos equipamentosinstitucionais)59, todos revertidos aos cofres da Agência Ambiental de Goiásem total desrespeito à legislação vigente;

59 cf. Informativo da Agência Goiana do Meio Ambiente – 2003/2004, p. 11

102 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que a conversão integral do valor da multa embens dá-se sem que se consubstancie em qualquer programa oficial e projetoambiental a ser custeado pelo autuado e tal prática contumaz ocorre indepen-dentemente da comprovação de impossibilidade de aporte de recursos orça-mentários e financeiros no orçamento geral do Estado ou outra fonte de receita;

CONSIDERANDO ainda que, a par da ausência de critérios legais,a conversão integral do valor da multa em bens e serviços não guarda qual-quer relação e correspondência com a condição socioeconômica do interes-sado, a gravidade da infração ambiental cometida e principalmente equiva-lência entre os valores da multas aplicadas aos autuados e os valores dosbens e serviços adquiridos mediante a sua indevida conversão;

CONSIDERANDO que tais Termos de Compromisso de Ajustamento deConduta prevêem expressamente a “extinção e quitação da obrigação pecuniária”– encerrando-se indevidamente o procedimento administrativo – e antes daadequação das pessoas físicas e jurídicas autuadas às normas ambientais e regu-lamentares pertinentes, bem como à constatação de reparação do dano ambiental;

CONSIDERANDO que ao utilizar-se do mecanismo da dação empagamento verifica-se que o devedor que entrega coisa corpórea em pagaatua como se estivesse vendendo, a seu credor e pelo valor do crédito, oobjeto que assim lhe transmite – o que enseja, inclusive, fraude à licitação;

CONSIDERANDO que a Agência Ambiental de Goiás exacerba as fun-ções estatais de arrecadação dos créditos provenientes das multas e não há, frise-se,equivalência pecuniária entre os valores do bens adquiridos e os valores das mul-tas aplicadas o que enseja, por força dos raciocínios lógicos, prejuízo ao erário;

CONSIDERANDO que em assim agindo a Agência Ambiental deGoiás libera indevidamente o devedor e, dessa forma, descumprida total ouparcialmente a obrigação assumida nos mencionados Termos de Compromis-so de Ajustamento de Conduta fica impossibilitada a atualização monetáriado valor da multa e incidência dos juros legais, inviabilizando conseqüentecobrança, bem como, de forma imprópria e ilegal, obsta o prosseguimentoem seus ulteriores termos dos procedimentos administrativos regularmenteinstaurados em razão de infrações administrativas como se o interesse pú-blico tivesse sido satisfeito e o meio ambiente recuperado;

CONSIDERANDO que eventual conversão de multas em prestaçõesde serviços indiretos somente pode correr, em tese, — e desde que devida-mente regulamentada e comprovada a impossibilidade de reparação do danoambiental ou do ambiente degradado, indenização ambiental e prestação deserviços de forma direta (v.g. execução de obras de recuperação de áreas degra-dadas e de atividades de preservação, melhoria e recuperação da qualidade domeio ambiente) – por meio de custeio de programas e projetos ambientais;

103Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que a Agência Ambiental tem, dessa maneira,indevidamente priorizado, quando da instauração do competente procedi-mento administrativo, a conversão de multas em bens destinados ao pró-prio órgão, em detrimento de obrigações consistentes em reparação doambiente degradado, indenização ambiental (v.g. custeio de projetos e eprogramas ambientais etc).

CONSIDERANDO que a ausência do repasse ao FEMA dos valoresdas multas imputadas como sanção nos casos de infrações administrativascausa direta e indiretamente prejuízo aos projetos e programas de preserva-ção, recuperação e defesa do meio ambiente, até porque impossibilita a suaexecução por falta de verbas;

CONSIDERANDO que fere indubitavelmente o princípio da lega-lidade e da moralidade o próprio órgão fiscalizador, Agência Goiana deMeio Ambiente, se arvorar em órgão arrecadador em substituição ao FundoEstadual do Meio Ambiente, de maneira a legitimar a conversão da multaem bens destinados à própria Agência Ambiental;

CONSIDERANDO que, segundo o Fundo Estadual do Meio Ambiente,

desde janeiro/2003 a Agência deixou de enviar ao FEMA oRelatório de Retorno (arquivo de dados) do Banco Itaú im-possibilitando assim, a identificação das referidas taxas. Emreunião com as áreas administrativa financeira e de Informá-tica da Agência Ambiental ficou definido que esta voltaria aenviar o arquivo, mas até a presente data ele não vem sendoenviado” e que diante disso o FEMA não tem como “infor-mar os valores referentes às autuações realizadas pela AgênciaGoiana do Meio Ambiente (cf. Ofício nº 058 GAB.SEMARH datado de 03 de dezembro de 2003).

CONSIDERANDO que a conversão das multas em bens, nos mol-des e termos em que é realizada pela Agência Ambiental de Goiás, dificultae até impossibilita o controle interno e externo de suas atividades, as quaisdevem ser exercidas com a necessária e absoluta transparência a fim de serobservado o princípio constitucional da publicidade;

CONSIDERANDO que a Agência Ambiental de Goiás não possui omínimo e qualquer controle ou banco de dados informatizados ou não, con-tendo a relação das conversões de multas em bens e serviços, bem como acercado cumprimento das obrigações assumidas pelos autuados e compromissários;

CONSIDERANDO que a Agência Ambiental, em flagrante afron-ta à determinação contida no art. 27, § 1º da Lei Estadual nº 12.596/95 eno art. 44, § 1º, do Decreto Estadual nº 4.593/95, injustificadamente não reme-

104 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

te os autos de infração devidamente lavrados ao Ministério Público para que sepossa viabilizar eventual responsabilização criminal dos infratores, possibilitar,quando cabível, a propositura de ações civis públicas, bem como o exercício deimportante função institucional consistente em zelar pelo efetivo respeito dospoderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados naConstituição Federal, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;

CONSIDERANDO que tais irregularidades e ilegalidades estão cons-tatadas em Inquérito Civil (Portaria nº 004/2003-15ª PJ) regularmenteinstaurado para apurar a existência de supostas irregularidades e ilegalida-des – principalmente concernente à conversão de multas em bens e serviços“sob a forma de dação em pagamento” — em “Termos de Compromisso deAjustamento de Conduta” celebrados entre a Agência Ambiental e empreen-dedores autuados por violação à legislação ambiental;

CONSIDERANDO que a Agência Ambiental deve considerar defundamental importância, na execução da política ambiental, a observânciade princípios éticos-ambientais e assumir o compromisso com os princípiosdo desenvolvimento sustentável;

CONSIDERANDO que, a despeito de tanto, a Agência Ambientalde Goiás continua a celebrar Termos de Compromisso de Ajustamento deConduta com empreendedores prevendo a conversão de multas em benspara a própria Agência, em detrimento do meio ambiente, do patrimôniopúblico e da probidade da Administração;

RESOLVE

RECOMENDAR à Agência Goiana de Meio Ambiente e RecursosNaturais – AGMARN, no prazo consignado no Ofício nº 0448/2004 –CAOMA/CAODC/CAOPPS que acompanha a presente, e sob pena dasprovidências judiciais e das responsabilidades legais cabíveis, em especial aincursão nos artigos 11 e 12 da Lei nº 8.429/92 (LIA), bem como no art.37, §6º da Constituição Federal:

1. a ANULAÇÃO IMEDIATA de todos os Termos de Compromissode Ajustamento de Conduta – celebrados entre a Agência Ambiental deGoiás e pessoas físicas e jurídicas autuadas por suposta violação à legislaçãoambiental – nos quais há expressa conversão de multas em bens e serviços,sob a forma de dação em pagamento, e que contemple extinção e quitaçãoda obrigação pecuniária;

2. o restabelecimento e prosseguimento dos procedimentos admi-nistrativos instaurados em razão de infrações administrativas e indevidamentefinalizados pelos Termos de Compromisso de Ajustamento de Conduta que pa-decem de expressiva nulidade, conforme restou demonstrado;

105Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

3. que se abstenha de celebrar novos Termos de Compromisso de Ajus-tamento de Conduta com pessoas físicas e jurídicas que supostamente te-nham violado a legislação ambiental;

4. a remessa ao Ministério Público de todos os Termos de Compro-misso de Ajustamento de Conduta celebrados no bojo de processos adminis-trativos regularmente instaurados em razão de autos de infração lavradoscontra pessoas físicas e jurídicas por suposta violação à legislação ambiental;

5. a remessa ao Ministério Público da relação integral de bens rece-bidos – mediante a forma de dação em pagamento – e efetivamente inte-grados ao patrimônio da Agência Ambiental, encaminhando-se, ainda, osdocumentos comprobatórios de tais aquisições e respectivas notas fiscais;

6. a remessa permanente dos autos de infração lavrados por violaçãoà legislação ambiental ao Ministério Público a fim de que se possa apurareventual responsabilidade criminal dos infratores (art. 129-I, da CF);

Cabe ressaltar, mais uma vez, que o eventual descumprimento à pre-sente recomendação ensejará a adoção de medidas administrativas, cíveis epenais, tendentes a responsabilizá-lo, e aos demais servidores públicos dealgum modo relacionados com a questão.

Atenciosamente,

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador do CAO de Defesa do Meio Ambiente

Juliano de Barros AraújoPromotor de Justiça

15ª Promotoria de Justiça

Marcus Antônio Ferreira Alves Promotor de Justiça

Coordenador do CAO de Defesa do Cidadão

Márcio Lopes ToledoPromotor de Justiça

39ª Promotoria de Justiça

Eduardo Abdon MouraPromotor de Justiça

Coordenador do CAO de Defesa do Patrimônio Público

106 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

6.3 PROPOSTA DE RESOLUÇÃO AO CEMAM PARA A PROTEÇÃODO BIOMA CERRADO

Recomendação nº 002/2005 – CAOMA/15ª PJ

Goiânia-GO, 03 de março de 2005

A Sua Excelência o Senhor _____________Presidente do Conselho Estadual do Meio Ambiente - CEMAmGoiânia-GO

Senhor Presidente,

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, no cum-primento de suas funções institucionais de que tratam os artigos 127 e 129,incisos II e III, da Constituição Federal, e com fundamento no art. 6º, XX, daLei Complementar nº 75/93, artigo 80 da Lei nº 8.625/93 (LONMP), e art.47, VII, da Lei Complementar Estadual nº 25/98 (LOEMP),

CONSIDERANDO que compete ao Ministério Público promovero inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do meio ambiente ede outros interesses difusos e coletivos60;

CONSIDERANDO que o Conselho Estadual do Meio Ambiente –CEMAm tem por finalidade deliberar sobre normas regulamentares e téc-nicas, padrões e outras medidas de caráter operacional, para preservação econservação do meio ambiente e dos recursos ambientais e acompanhar aimplantação e gestão do Sistema Estadual de Unidades de Conservação;

CONSIDERANDO que todos têm direito ao meio ambiente ecolo-gicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadiaqualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever dedefendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações61;

CONSIDERANDO que a Constituição do Estado de Goiás, emcapítulo específico sobre a Proteção dos Recursos Naturais e da Preservaçãodo Meio Ambiente, dispõe que:

Art. 128. Para promover, de forma eficaz, a preservação dadiversidade biológica, cumpre ao Estado:I – criar unidades de preservação, assegurando a integridadede no mínimo vinte por cento do seu território e arepresentatividade de todos os tipos de ecossistemas nele exis-tentes (ênfase acrescida).

60 cf. art.129, III, da CF61 cf. art 225, caput, da CF

107Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que a preservação do Cerrado – savana maisrica do mundo – como bioma mostra-se imprescindível, haja vista que com-porta significativa diversidade de espécies da flora e da fauna, sendo notávela diversidade dos invertebrados: 161 espécies conhecidas de mamíferos,837 espécies conhecidas de aves, aproximadamente 120 espécies de répteise 150 de anfíbios. Desse total de aproximadamente 1.268 espécies de ver-tebrados, 117 são endêmicas, ou seja, somente existem no cerrado. O nú-mero de espécies vegetais também é extremamente considerável: aproxima-damente 10.000 espécies;

CONSIDERANDO que o Cerrado compreende uma superfície deaproximadamente 1,7 milhão de quilômetros quadrados (estendendo-se emárea contínua, por 12 Unidades da Federação) e desempenha um papelestratégico na conservação dos recursos hídricos do território brasileiro, poiscontempla os “berços das águas” das mais importantes bacias hidrográficasdo país (v.g. engloba nascentes de importantes rios das bacias Amazônica,do Prata e do São Francisco);

CONSIDERANDO que é digno de nota, também, a importânciasocial do Bioma Cerrado que abriga populações e povos (v.g. etnias indíge-nas, Kalungas etc.) que exploram os recursos naturais do bioma e detêmum conhecimento tradicional da biodiversidade;

CONSIDERANDO que a destruição desse bioma significa a pró-pria destruição desse patrimônio cultural brasileiro portador de referência àidentidade, à ação, e à memória dos diferentes grupos formadores da socie-dade brasileira (cf. art. 216 da CF);

CONSIDERANDO que o BIOMA CERRADO encontra-se seria-mente ameaçado (em vias de desaparecimento) principalmente devido àexpansão da fronteira agrícola, instalação de monoculturas, desmatamentosilegais, incêndios criminosos e supressão ilegal de vegetação nativa;

CONSIDERANDO que a incessante e significativa degradação edevastação do Cerrado já abrange mais de 900 mil quilômetros quadrados,o que corresponde à totalidade da área dos Estados de São Paulo, Piauí,Ceará e Santa Catarina, e somente nos últimos 15 anos, 400 mil quilôme-tros quadrados viraram pasto;

CONSIDERANDO que a devastação e exploração do Cerrado —que ocupa aproximadamente 25% do território nacional —, já atinge ní-veis insustentáveis, em proporção superior à deterioração causada pormotosserras, queimadas, garimpos etc., na Amazônia. Dados do EstudoAmbiental de Goiás 2002 – GeoGoiás comprovam essa realidade: só na-quela região, até o ano 2000, nada menos que 74% do território estavamocupados pela atividade agrícola. Isso em um único Estado brasileiro;

108 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO o teor dos estudos da Conservação Internacio-nal–Brasil – os quais instruem e passam a integrar a presente Recomenda-ção — sobre a fragmentação da cobertura vegetal em Goiás e as estimativasde perda da área do Cerrado brasileiro;

CONSIDERANDO que, conforme referidos estudos, estimativasapontam para uma antropização de mais de 70% de toda sua extensão62 eapesar de toda sua riqueza biótica e abiótica, há um deficit no Estado deGoiás de 6% de áreas que deveriam ser preservadas (áreas de preservaçãopermanente, áreas de reserva legal etc.);

CONSIDERANDO que a continuar a degradação nos moldes e ve-locidade atuais compromete-se, inclusive, a RESERVA DA BIOSFERA DOCERRADO GOYAZ63 que abrange a região do nordeste goiano e, em es-pecial, a região ao longo do vale do Rio Paranã, considerada de característi-cas únicas;

CONSIDERANDO que grande extensão de terreno que se distinguedos demais por possuir características peculiares e inigualáveis com mais de4,76 milhões de hectares e considerado um dos maiores nascedouros de avesdo país, o Vale do Paranã possui a maior concentração no Cerrado de um tipode vegetação conhecido como floresta seca: remanescente de um corredornatural que ligava a caatinga ao Chaco paraguaio há cerca de 20.000 anos;

62 Mantovani and Pereira, INPE, 1998 in: Ministério do Meio Ambiente, Funatura, ConservationInternational, Fundação Biodiversitas e Universidade de Brasilia, 1999. “Ações Prioritárias para aConservação da Biodiversidade do Cerrado e Pantanal”, Brasília 32 p

63 Surgida nos anos 70, a proposta de criação de Reservas da Biosfera reflete a determinação e a urgênciade se garantir a proteção de áreas importantes à conservação de biomas em risco de extinção de espéciesde fauna e flora. A partir disso, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura(Unesco) propôs o Programa O Homem e a Biosfera (MAB – Man and Biosphere), que prevê aconsolidação dessas regiões em todo o planeta. Foram criadas, então, cerca de 400 reservas em 110países. No Brasil, são apenas cinco, localizadas nos principais biomas, entre os quais o cerrado. AsReservas da Biosfera tem três objetivos básicos: conservação da biodiversidade, implantação dodesenvolvimento sustentável e aprimoramento científico. Para sua implementação, é escolhida umaárea de grande importância biológica, na qual são determinadas três zonas distintas: zonas núcleo (quedevem ser unidades de conservação de uso indireto); zonas de amortecimento (que devem cercar ouunir as zonas núcleo, onde as atividades econômicas necessitam ser compatíveis com práticasecologicamente aceitáveis, de forma a garantir a integridade dos ecossistemas das zonas núcleo); e zonasde transição (que são zonas de abrangência flexível, onde há o direcionamento para o uso sustentado daterra). Em 1993, foi criada a Reserva da Biosfera do Cerrado – Fase I no Distrito Federal – o marcomais importante no reconhecimento internacional do cerrado, como área de grande interesse biológico.Em 2000, foi elaborada a proposta da Reserva da Biosfera do Cerrado Goyaz, com o objetivo deampliar a participação de outros Estados situados na área do cerrado, garantindo a integração destebioma com os demais (Pantanal, Floresta Amazônica e Mata Atlântica). RESERVA DA BIOSFERADO CERRADO GOYAZ: proposta da Reserva da Biosfera do Cerrado Goyaz foi elaborada pelaSecretaria de Meio Ambiente de Goiás, com o apoio do Ministério do Meio Ambiente e do FundoMundial para a Natureza, a partir de discussões originadas nas próprias comunidades, através deorganizações sociais, principalmente na região da Chapada dos Veadeiros. Sua aprovação foi em 9 denovembro de 2000, pela Unesco. FONTE: FUNATURA.ORG.BR

109Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que segundo estudo realizado pela FundaçãoPró-Natureza (Funatura) e pela Conservação Internacional, 440 (quatro-centos e quarenta) hectares de mata nativa de Cerrado, por dia, são sumari-amente suprimidos no Vale do Paranã. Em 2 anos, aproximadamente,315.000 (trezentos e quinze mil) hectares de cobertura vegetal nativa fo-ram devastados e, caso se mantenha essa tendência de destruição – o quetudo está a indicar – em 2015 não haverá mais Cerrado na região;

CONSIDERANDO que é significativo o aumento do número deespécies ano a ano incluídas no rol das ameaçadas de extinção, conformelista mais recente, revisada pelo Ibama e Ministério do Meio Ambiente, emparceria com a Fundação Biodiversitas e a Sociedade Brasileira de Zoologia,com o apoio da Conservation International e do Instituto Terra Brasilis, epublicada no dia 27 de maio de 2003, no Dia Internacional da Diversida-de Biológica (In MMA nº 03/03);

CONSIDERANDO que, no caso do Cerrado, foram incluídas 65espécies da fauna. Trata-se do segundo bioma em número de espécies defauna mais ameaçadas, atrás apenas da Mata Atlântica, que tem 269 espé-cies em risco64.

Nº De espécies e SituaçãoVulneráveis

Em Criticamente

por categoria de risco perigo em perigo

Anfíbios 3

Aves 15 4 3

Invertebrados 11 3 1

Mamíferos 16 1 3

Répteis 16 1 3

Fonte: MMA

Algumas espécies ameaçadas de extinção no Cerrado:*Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815). Família Canidae. Nome po-

pular: lobo-guará, guará, lobo-vermelho.*Mymercophaga tridactyla (Linnaeus, 1758). Família Mymercophagidae.

Nome popular: tamanduá-bandeira.*Priodontes maximus (Kerr, 1792). Família Dasypodidae. Nome po-

pular: tatu-canastra, tatuaçu.

64 Fonte: http://www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/index.cfm

110 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

*Tolypeutes tricinctus (Linnaeus, 1758). Família Dasypodidae. Nomepopular: tatu-bola, tatuapara.

*Ozotocerus bezoarticus (Linnaeus, 1758). Família Cervidae. Nomepopular: veado-campeiro.

*Panthera onca (Linnaeus, 1758). Família Felidae. Nome popular:onça-pintada, canguçu, onça-canguçu, jaguar-canguçu.

CONSIDERANDO que em razão da magnitude e representatividadedo Bioma Cerrado, a criação de Unidades de Conservação para a sua prote-ção e conservação, na prática, tem-se revelado ineficaz;

CONSIDERANDO que, desde fevereiro de 2000, a partir de estu-do científico publicado pela Revista Nature, o bioma Cerrado é internacio-nalmente reconhecido como um dos hotspots da biodiversidade mundial,por abrigar grande riqueza ambiental e por sofrer grave ameaça pelas ativi-dades humanas, exigindo ações urgentes de conservação;

CONSIDERANDO que os meios de comunicação, por meio deemissoras de rádio e televisão, periódicos etc., veiculam, com assiduidadecrescente e alarmante, e a partir de imagens de satélites e entrevistas comespecialistas, matérias cada vez mais contundentes sobre o iminente fim docerrado. Indicam que o desmatamento do ecossistema já atingiu, no míni-mo, 57% da área original e que o cerrado pode sumir até 2030;

CONSIDERANDO que a demanda por licenciamento de autoriza-ção para desmatamento cresce de forma voraz, e segundo o relatórioGEOGOIÁS 2002

Como em 2002, até outubro, a dimensão total das áreas dedesmatamento autorizadas pela Agência já superava a de2001, os argumentos administrativos e técnicos então apre-sentados como justificativa para esse crescimento perdem seupoder explicativo. Essa taxa de desmatamento, em um Esta-do que não está mais na fronteira agrícola do pais, assumevalores preocupantes, dada a baixa cobertura vegetal natu-ral que hoje resta em Goiás... (ênfase acrescida);

CONSIDERANDO que a construção, instalação, ampliação e fun-cionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursosambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidoras, bem comocapazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerãode prévio licenciamento do órgão competente65;

65 cf. art. 10 da Lei nº 6.938/1981

111Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que a utilização desse macroecossistema naforma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação dos seusatributos biológicos e a sustentabilidade dos recursos naturais, e de ma-neira que vede a sua internacionalização, são pressupostos condicionantese inafastáveis para garantir o curso norma da evolução das espécies, bemcomo manter estáveis as condições climáticas, perenizar as fontes de su-primento de águas doce, defender os solos contra a erosão, controlar asinundações, através da compensação do ciclo hidrológico, proteger os re-cursos florísticos e faunísticos etc;

CONSIDERANDO que no atual quadro desolador e devastador rela-tivo à degradação ambiental do Estado de Goiás e à precaríssima situação dacobertura vegetal, o cumprimento da legislação que prevê a obrigatoriedadede preservação das áreas de preservação permanente e de averbação e preser-vação das áreas de reserva legal assume importância singular e crucial;

CONSIDERANDO que, em razão do exposto, o cumprimento dasexigências legais e regulamentares deve preceder à supressão da vegetaçãoflorestal nativa e decorre diretamente da Constituição Federal, tendo emvista que o meio ambiente é considerado direito fundamental,

RESOLVE

RECOMENDAR ao Conselho Estadual do Meio Ambiente –CEMAm, órgão colegiado, consultivo e deliberativo, a deliberar e aprovarResolução com o seguinte teor:

1. a expedição de licenças de exploração e/ou supressão florestal dequalquer natureza pelo órgão ambiental competente (Agência Goiana deMeio Ambiente - AGMA) seja obrigatoriamente precedida de idôneo laudotécnico subscrito por profissional habilitado que ateste e comprove juntoà propriedade: (i) a preservação das áreas de preservação permanente (APPs),assim definidas em lei e por Resolução do CEMAm; (ii) a devida averbaçãoe preservação das áreas de reserva legal; e (iii) o efetivo cumprimento dafunção ambiental/ecológica das áreas de preservação permanente e de re-serva legal existentes, de maneira que estejam assegurando, de fato, a pre-servação dos recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, abiodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, a proteção do solo necessá-ria ao uso sustentável dos recursos naturais, a conservação e reabilitaçãodos processos ecológicos e a conservação da biodiversidade.

2. a vedação à exploração e/ou supressão vegetal de qualquer naturezana região denominada “Panela” localizada nos municípios de Serranópolis eChapadão do Céu e na área compreendida pela APA do Pouso Alto localiza-da no Nordeste do Estado de Goiás.

112 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Atenciosamente,

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador do CAO de Defesa do Meio Ambiente

Juliano de Barros AraújoPromotor de Justiça

15ª Promotoria de Justiça

6.4 REMESSA PERMANENTE DOS AUTOS DE INFRAÇÃOLAVRADOS PELO IBAMA-DF NO ESTADO DE GOIÁS PORVIOLAÇÃO À LEGISLAÇÃO AMBIENTAL – EM ESPECIAL AOSMUNICÍPIOS LIMÍTROFES (CONTÍGUOS) AO DISTRITOFEDERAL – PARA O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL

Recomendação nº 3/2005 – CAOMA

Goiânia-GO, 20 de maio de 2005

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, no cum-primento de suas funções institucionais de que tratam os artigos 127 e129, incisos II e III, da Constituição Federal, e com fundamento no art. 6º,XX, da Lei Complementar nº 75/93, artigo 80 da Lei nº 8.625/93(LONMP), e art. 47, VII, da Lei Complementar Estadual nº 25/98(LOEMP), e

CONSIDERANDO que compete aos funcionários do Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais - IBAMA, entidadeautárquica integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA,lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo na hipó-tese de ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção,proteção e recuperação do meio ambiente (cf. art. 70 da Lei nº 9.605/98);

CONSIDERANDO que o Decreto-lei nº 3.688/1941 (Lei de con-travenções penais), em seu capítulo VIII, que disciplina as contravençõesreferentes à Administração Pública, prevê a figura da contravenção de “omissãode comunicação de crime”, consistente em:

Art. 66. Deixar de comunicar à autoridade competente:I – crime de ação pública, de que teve conhecimento noexercício de função pública, desde que a ação penal não de-penda de representação.

113Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que tal omissão de comunicação de infraçãopenal pode inviabilizar a eventual responsabilização dos infratores na searacriminal, assim como a instauração de inquéritos civis e, consequentemente,a propositura de ações civis públicas visando à reparação dos danosambientais;

RESOLVE

RECOMENDAR ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis do Distrito Federal - IBAMA, sob pena dasprovidências judiciais e das responsabilidades legais cabíveis, em especial aincursão nos artigos 11 e 12 da Lei nº 8.429/92 (LIA), bem como no art.37, § 6º da Constituição da República, a remessa dos autos de infraçãolavrados pelo IBAMA-DF no Estado de Goiás por violação à legislaçãoambiental – em especial nos municípios limítrofes (contíguos) ao DistritoFederal – para o Ministério Público Estadual, a fim de que se possa apurareventual responsabilidade criminal dos infratores (art. 129, inciso I, daConstituição da República);

Atenciosamente,

Ricardo Rangel de Andrade

Promotor de Justiça

Coordenador do CAO de Defesa do Meio Ambiente

Karina D’Abruzzo

Promotora de Justiça

Renata Dantas de Moraes e Macedo

Promotora de Justiça

Vanessa Goulart Barbosa

Promotora de Justiça

114 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

6.5 IMPLEMENTAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL DODESCOBERTO EM ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS

Recomendação nº 6/2005 – CAOMAPROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ÁGUAS LINDAS

Águas Lindas de Goiás - GO, 5 de outubro de 2005

Ao Senhor ______________Presidente da Agência Goiana do Meio AmbienteGoiânia-GO

Senhor Presidente,

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS e o MI-NISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, com base no artigo 6º, inciso XX, daLei Complementar nº 75/93, artigo 80 da Lei nº 8.625/93 (LONMP) eart. 47, inciso VII, da Lei Complementar Estadual nº 25/98 (LOEMP),

CONSIDERANDO sua competência constitucional na proteção domeio ambiente (art. 129, inciso III, da Constituição da República);

CONSIDERANDO a criação do PARQUE ESTADUAL DO DES-COBERTO — localizado no município de Águas Lindas de Goiás, comárea de 1.935,6 hectares — pelo Decreto nº 6.188, de 30 de junho de2005 publicado no Diário Oficial de 7 de julho de 2005;

CONSIDERANDO que, conforme estabelece o artigo 2º do re-ferido Decreto, “o Parque destina-se a preservar as nascentes, os mananci-ais, a flora e fauna, as belezas cênicas, bem como controlar a ocupação dosolo na região”;

CONSIDERANDO que a área do Parque Estadual do Descober-to está inserida na Área de Proteção Ambiental da Bacia do Rio Desco-berto por meio do Decreto Federal nº 88.940/83 e que foramestabelecidas normas de gestão por intermédio da Instrução NormativaSEMA/SEC/CAP nº 001/88;

CONSIDERANDO o assoreamento e a manifesta precariedade, quan-do existentes, dos sistemas de drenagem de águas pluviais na cidade deÁguas Lindas de Goiás e as significativas influências negativas que acarre-tam ao lago do Descoberto (manancial responsável pelo abastecimento deaproximadamente 65% dos habitantes do Distrito Federal);

CONSIDERANDO que a expansão urbana desordenada, implemen-tação de loteamentos clandestinos e irregulares, extração irregular de areia

115Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

etc. – inclusive na área compreendida pelo Parque do Descoberto – está acomprometer, quantitativa e qualitativamente, a água do lago do Descober-to, com possível e gravíssimo risco de comprometimento do abastecimentode água do Distrito Federal;

CONSIDERANDO que o cercamento e demais medidas de prote-ção do Parque Estadual do Descoberto deverão ser desenvolvidas pela Agên-cia Goiana do Meio Ambiente em parceria com a Companhia de Sanea-mento Básico (cf. artigo 4º do Decreto nº 6.188/2005);

CONSIDERANDO a necessidade premente de ser providenciado eelaborado a aprovação do Plano de Manejo do Parque Estadual do Desco-berto instaurando-se, para tanto, o devido processo administrativo com osestudos técnicos pertinentes e realizada consulta pública;

CONSIDERANDO que compete à Agência Goiana do Meio Ambien-te aplicar a legislação relativa ao meio ambiente, fiscalizando, licenciando, con-trolando e coibindo quaisquer atividades poluidoras ou de degradação ambiental,bem como implantar, administrar e estruturar as unidades de conservação doEstado (cf. art. 4º, inciso VIII, do Decreto Estadual nº 5.226/2000);

CONSIDERANDO que a Agência Goiana do Meio Ambiente deveconsiderar de fundamental importância, na execução da política ambiental,a observância de princípios éticos-ambientais e assumir o compromisso comos princípios do desenvolvimento sustentável;

CONSIDERANDO que, a despeito de tantos danos irreversíveis esignificativos estão sendo causados na área compreendida pelo Parque Esta-dual do Descoberto, sem que qualquer providência por parte dos órgãoscompetentes tenha sido tomada, em detrimento do meio ambiente, da se-gurança, da saúde e do bem-estar da população;

RESOLVEM

RECOMENDAR à Agência Goiana do Meio Ambiente (AGMA), aquem compete implantar, administrar e estruturar as unidades de conser-vação do Estado, no prazo máximo e improrrogável de 10 (dez) dias, aadoção de todas as medidas necessárias e inerentes à efetiva implementaçãodo PARQUE ESTADUAL DO DESCOBERTO, em especial, isolar e cer-car a área observando-se a poligonal estabelecida na Tabela de CoordenadasGeográficas integrante do Anexo único do Decreto nº 6.188/2005.

Cabe ressaltar que o eventual descumprimento à presente recomen-dação ensejará a adoção de medidas administrativas, cíveis e penais, ten-dentes a responsabilizá-lo, e aos demais servidores públicos de algum modorelacionados com a questão.

116 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Águas Lindas de Goiás – GO, 5 de setembro de 2005

Vanessa Goulart BarbosaPromotora de Justiça

Promotoria de Justiça de Águas Lindas de Goiás

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador CAO-MAPCU

Francisco Guilherme Vollstedt BastosProcurador da República

Procuradoria da República no Distrito Federal/Ministério Público Federal

6.6 EMISSÃO DOS CERTIFICADOS DE REGISTRO DE VEÍCULOE DE LICENCIAMENTO ANUAL CONDICIONADA À PRÉVIA EPLENA QUITAÇÃO DAS MULTAS AMBIENTAIS

Recomendação nº 1/2006 – CAO-MAPCU

Goiânia-GO, 26 de janeiro de 2006

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, no cum-primento de suas funções institucionais de que tratam os artigos 127 e129, incisos II e III, da Constituição Federal, e com fundamento no art. 6º,XX, da Lei Complementar nº 75/93, artigo 80 da Lei nº 8.625/93(LONMP), e art. 47, VII, da Lei Complementar Estadual nº 25/98(LOEMP),

CONSIDERANDO que compete ao Ministério Público promovero inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do meio ambiente ede outros interesses difusos e coletivos66;

CONSIDERANDO que todos têm direito ao meio ambiente ecolo-gicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadiaqualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever dedefendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações67;

66 cf. art.129, III, da CF67 cf. art 225, caput, da CF

117Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que, desde fevereiro de 2000, a partir de estu-do científico publicado pela Revista Nature, o BIOMA CERRADO é inter-nacionalmente reconhecido como um dos hotspots da biodiversidade mun-dial, por abrigar grande riqueza ambiental e por sofrer grave ameaça pelasatividades humanas, exigindo ações urgentes de conservação;

CONSIDERANDO que o BIOMA CERRADO encontra-se seria-mente ameaçado (em vias de desaparecimento) principalmente devido àexpansão da fronteira agrícola, instalação de monoculturas, desmatamentosilegais, incêndios criminosos, supressão ilegal de vegetação nativa, conver-são do cerrado nativo em carvão etc.;

CONSIDERANDO que, na condição de grandes consumidoras, asUsinas Siderúrgicas situadas no Estado de Minas Gerais são destinatárias ebeneficiárias dos produtos e subprodutos florestais provenientes dodesmatamento (supressão de cerrado nativo), que está a provocar adesertificação do BIOMA CERRADO;

CONSIDERANDO que o Estado de Minas Gerais possui grandeparque industrial de siderurgia e outras atividades, sendo responsável peloconsumo anual de aproximadamente 80% do carvão vegetal produzidono país;

CONSIDERANDO que esse consumo impõe severo impacto aoBIOMA CERRADO que tem se acentuado expressivamente em decorrên-cia da atual valorização e da forte demanda por produtos siderúrgicos nomercado nacional e internacional;

CONSIDERANDO que a existência de expressivo e vigoroso merca-do clandestino de carvão vegetal nos Estados de Goiás e Minas Gerais favo-rece a ocorrência de explorações florestais, o surgimento de carvoarias e arealização de transporte ilegal do produto, gerando, além do prejuízoambiental, séria evasão fiscal e conseqüente enriquecimento ilícito daquelesque se beneficiam de tais práticas;

CONSIDERANDO que a “ação” dos caminhoneiros, responsáveispelo transporte clandestino de carvão vegetal de origem ilícita, tem se reve-lado estratégica e fundamental para o funcionamento do complexo sistemade operação envolvendo a denominada “Máfia do Carvão” nos Estados deGoiás e Minas Gerais;

CONSIDERANDO que o artigo 46, caput, e parágrafo único da Leinº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais) estabelece que:

Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou indus-triais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origemvegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outor-

118 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

gada pela autoridade competente, e sem munir-se da via quedeverá acompanhar o produto até final beneficiamento:Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, ex-põe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda madei-ra, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, semlicença válida para todo o tempo da viagem ou doarmazenamento, outorgada pela autoridade competente. (art.46, parágrafo único, da Lei nº 9.605/98);

CONSIDERANDO que a prática de tais ações também sujeita osresponsáveis ao pagamento de multa decorrente de infração administrativade natureza ambiental (artigos 25, 26, 27, 28 e 29 da Lei Estadual nº12.596/95 e Anexo Único, itens 4 e 20);

CONSIDERANDO que o licenciamento de veículo está vinculadoà quitação prévia, ampla e plena de todas as responsabilidades, inclusivemultas ambientais, conforme prescrevem os artigos 122, 128 e 131, caput,§ 2º, do Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 122. Para a expedição do Certificado de Registro deVeículo o órgão executivo de trânsito consultará o cadastroRENAVAM e exigirá do proprietário os seguintes documen-tos:(...)Art. 128. Não será expedido novo Certificado de Registro deVeículo enquanto houver débitos fiscais e de multas de trân-sito e ambientais, vinculadas ao veículo, independentementeda responsabilidade pelas infrações cometidas.(...)Art. 131. O Certificado de Licenciamento Anual será expe-dido ao veículo licenciado, vinculado ao Certificado de Re-gistro, no modelo e especificações estabelecidas peloCONTRAN.(...)§ 2º O veículo somente será considerado licenciado estandoquitados os débitos relativos a tributos, encargos e multas detrânsito e ambientais, vinculados ao veículo, independente-mente da responsabilidade pelas infrações cometidas.(...);

CONSIDERANDO que o Superior Tribunal de Justiça já de-cidiu que:

119Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

É lícita a atuação da Administração, no sentido de condicionara vistoria em veículo e a conseqüente expedição do Certifica-do de Licenciamento ao pagamento de tributos, encargos emultas de trânsito e ambientais vinculados ao veículo, inde-pendentemente da responsabilidade pelas infrações cometi-das, consoante o art. 131, caput e § 2º, do Código de Trân-sito Brasileiro e desde que tenha havido regular notificaçãodo infrator. Agravo regimental improvido. (STJ – AGRESP200400270036 – (650536 RJ) – 1ª T. – Rel. Minº Fran-cisco Falcão – DJU 06.12.2004 – p. 00227);

CONSIDERANDO que, em razão do exposto, o cumprimento dasexigências legais e regulamentares pertinentes (v.g. licenciamento do veícu-lo condicionado ao prévio pagamento das multas ambientais) decorre dire-tamente da Constituição da República, tendo em vista que o meio ambien-te é considerado direito fundamental, e

CONSIDERANDO que, nesse contexto, os órgãos, entidades e ins-tituições do Poder Público devem atuar de forma conjunta, coesa e articula-da, a fim de combater com eficácia e celeridade a exploração, comércio,transporte e consumo de produtos e subprodutos de origem florestal – emespecial o carvão vegetal – destinados, em sua expressiva maioria, à indús-tria siderúrgica.

RESOLVE

RECOMENDAR à Agência Goiana de Meio Ambiente – AGMA eao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis – IBAMA/GO, para, no prazo máximo e improrrogável de 30(trinta) dias, a contar do recebimento desta:

1.Realizar inventário/levantamento periodicamente de todos os veícu-los vinculados às autuações (regularmente constituídas) por violação à legisla-ção ambiental e cujas multas ainda não tenham sido integralmente quitadas;

2.Remeter tal inventário/levantamento periodicamente ao DETRAN/GO para que os veículos discriminados sejam lançados no Registro Nacio-nal de Veículos Automotores – RENAVAM;

RECOMENDAR ao Departamento Estadual de Trânsito de Goiás -DETRAN/GO, para, no prazo máximo e improrrogável de 30 (trinta) dias,a contar do recebimento do inventário/levantamento a ser remetido perio-dicamente pelos órgãos ambientais competentes:

120 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

1.Proceder ao registro no RENAVAM respectivo de todas e quais-quer multas ambientais comunicadas pelos órgãos ambientais integrantesdo Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA;

2.Abster-se de emitir, doravante, Certificado de Registro de Veículoe Certificado de Licenciamento Anual referentes aos veículos que apresen-tam obrigações ambientais pendentes, na forma da lei (cf. artigos 122, caput,128 e 131, caput, § 2º do CTB);

3.Divulgar a presente Recomendação nos meios de comunicação lo-cais destinados à publicação dos atos oficiais, bem como informações sobreas medidas adotadas.

Atenciosamente,

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador do CAO-MAPCU

Marcus Antônio Ferreira AlvesPromotor de Justiça

53ª Promotoria de Justiça de Goiânia

Marta Moriya LoyolaPromotora de Justiça

15ª Promotoria de Justiça

6.7 ABSTENÇÃO POR PARTE DO BATALHÃO AMBIENTAL DEQUALQUER ATUAÇÃO QUE CARACTERIZE O EXERCÍCIO TÍPICODE POLÍCIA ADMINISTRATIVA, SOBRETUDO A ATUAÇÃO ELAVRATURA DE AUTOS DE INFRAÇÃO AMBIENTAL

Recomendação nº 3/2006CAOCRIM/CAOEX-DH/CAO-MAPCU

Goiânia -GO, 17 de abril de 2006

A Sua Excelência o Senhor_____________Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado de GoiásComando Geral da Polícia Militar do Estado de GoiásAvenida Anhangüera, nº 7.364, Setor Aeroviário74535-010 - Goiânia - GO

121Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por meiodos Promotores de Justiça que esta subscrevem, com fundamento no artigo 6º,inciso XX, da Lei Complementar nº 75/93, artigo 80 da Lei nº 8.625/93,artigo 47, inciso VII, da Lei Complementar Estadual nº 25/98 (LOEMP) e,

CONSIDERANDO que compete aos funcionários do Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais - IBAMA, entidadeautárquica integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA,lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo na hipó-tese de ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção,proteção e recuperação do meio ambiente (artigo 70 da Lei nº 9.605/98);

CONSIDERANDO que o IBAMA celebrou Convênio com a PolíciaMilitar do Estado de Goiás que tem como objeto

estabelecer um regime de mútua cooperação entre osconvenentes, com vistas à execução, no âmbito do Estado deGoiás, de ações fiscalizatórias, voltadas para a preservação econservação do meio ambiente e dos recursos naturaisrenováveis (cf. cláusula primeira do Convênio);

CONSIDERANDO que em razão do mencionado convênio cele-brado foi delegada à Polícia Militar Ambiental o poder-dever de lavrar autode infração ambiental e instaurar processo administrativo a caracterizar,portanto, o exercício típico de polícia administrativa;

CONSIDERANDO que à Polícia Militar cabe o patrulhamento ostensivoe a preservação da ordem pública (artigo 144, § 5º da Constituição da República);

CONSIDERANDO que a polícia administrativa é uma função típi-ca de Estado e indelegável e que o exercício indevido da função pública,salvo hipóteses definidas em lei, e não em meras instruções normativas,convênios termos de cooperação etc., pode configurar, inclusive, a práticada conduta prevista no artigo 328, do Código Penal:

Art. 328. Usurpar o exercício de função pública: Pena- de-tenção, de 3(três) meses a 2 (dois) anos, e multa.Parágrafo único. Se do fato o agente aufere vantagem: Pena –reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

CONSIDERANDO que o artigo 27, § 1° da Lei Estadual nº 12.596/1995, dispõe que:

Art. 27. As penalidades administrativas previstas pela pre-sente lei serão aplicadas independentemente de outras

122 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

cominações legais, persistindo sempre a responsabilidadeobjetiva do infrator em indenizar ou reparar o dano ambientalcausado, nos termos do § 1º do art. 14 da Lei nº 6.938, de31 de agosto de 1981.§ 1º - À verificação de infração que possa constituir-se emmotivo para propositura de ação civil pública, nos termos doart. 6º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1965, cópia doprocesso administrativo respectivo deverá ser encaminhadaao Ministério Público.

CONSIDERANDO que o artigo 44, § 1º, do Decreto Estadual nº4.593/1995, disciplina que:

Art. 44. As penalidades administrativas previstas na Lei nº12.596, de 14 de março de 1995 e neste regulamento serãoaplicadas, independentemente de outras cominações legais,persistindo sempre a responsabilidade objetiva do infratorem indenizar ou reparar o dano ambiental causado nos ter-mos do § 1º do art. 14 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de1981.§ 1º. À verificação de infração que possa constituir-se emmotivo para propositura de ação civil pública, nos termos doart. 6º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, cópia doprocesso administrativo respectivo deverá ser encaminhadaao Ministério Público”.

CONSIDERANDO que o Decreto-lei nº 3.688/1941 (Lei de con-travenções penais), em seu capítulo VIII, ao disciplinar as contravençõesreferentes à Administração Pública, prevê a figura da contravenção de “omissãode comunicação de crime”, consistente em:

Art. 66. Deixar de comunicar à autoridade competente:I – crime de ação pública, de que teve conhecimento noexercício de função pública, desde que a ação penal não de-penda de representação.

CONSIDERANDO que a Polícia Militar Ambiental há anos, de ma-neira injustificada, não tem remetido os autos de infração ambiental suposta-mente lavrados por violação à legislação ambiental – os quais, em sua expressivamaioria, noticiam a prática de conduta criminosa – ao Ministério Público;

CONSIDERANDO que tal omissão de comunicação de infração pe-nal tem inviabilizado a eventual responsabilização dos infratores na seara cri-

123Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

minal, assim como a instauração de inquéritos civis e, consequentemente, apropositura de ações civis públicas visando à reparação dos danos ambientais.

RESOLVE

RECOMENDAR ao Comando Geral da Polícia Militar do Estadode Goiás, a adoção de todas e quaisquer medidas cabíveis tendentes a ade-quar às normas legais e regulamentares pertinentes as atividades e ações doBatalhão da Polícia Militar Ambiental e, em especial:

1. a abstenção por parte do Batalhão Ambiental de qualquer atuaçãoque caracterize o exercício típico de polícia administrativa, sobretudo a au-tuação e lavratura de autos de infração ambiental;

2. a implementação de Comissão – a ser integrada no mínimo por 3(três) Oficiais Militares – a qual terá a incumbência de analisar o perfil,antecedentes dos militares que deverão integrar o Batalhão da Polícia Mili-tar Ambiental, e

3. a instauração pelo órgão competente (Corregedoria da PolíciaMilitar) de procedimentos administrativos disciplinares tendentes a apurare responsabilizar os servidores responsáveis pelas condutas ilícitas eventual-mente praticadas.

Atenciosamente,

Carlos Alberto Fonseca

Promotor de Justiça

Coordenador do CAOEX-DH

Carlos Vinícius Alves Ribeiro

Promotor de Justiça

Fernando Braga Viggiano

Promotor de Justiça

Coordenador do CAOCriminal

Ricardo Rangel de Andrade

Promotor de Justiça

Coordenador do CAO-MAPCU

124 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

6.8 PRODUTORES DE CARVÃO - ERRADICAÇÃO DO TRABALHOESCRAVO - REGISTRO DE TRABALHO DE TODOS OS FUNCIONÁRIOS- EM QUANTIDADE SUFICIENTE E COMPATÍVEL COM ACAPACIDADE DE PRODUÇÃO DA ATIVIDADE LICENCIADA

Recomendação nº 5/2006 –CAO-MAPCU

Goiânia -GO, 6 de junho de 2006

A Sua Excelência, o Senhor _________________Presidente da Agência Goiana de Meio AmbienteGoiânia - GO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por meiodos Promotores de Justiça que esta subscrevem, com fundamento no artigo 6º,inciso XX, da Lei Complementar nº 75/93, artigo 80 da Lei nº 8.625/93,artigo 47, inciso VII, da Lei Complementar Estadual nº 25/98 (LOEMP) e,

CONSIDERANDO que a escravidão contemporânea manifesta-sena clandestinidade e é marcada pelo autoritarismo, corrupção, segregaçãosocial, racismo, clientelismo e desrespeito aos direitos humanos (PlanoNacional para Erradicação do Trabalho Escravo);

CONSIDERANDO que segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT)existem no Brasil aproximadamente 25.000 (vinte e cinco mil) pessoas sub-metidas às condições análogas ao trabalho escravo e que expressiva parte dessecontigente pode se encontrada em diversas carvoarias no Estado de Goiás;

CONSIDERANDO que o Decreto-Lei nº 2.848/40 (Código Pe-nal), em seu Título I - Dos Crimes Contra a Pessoa, Capítulo VI - Dos CrimesContra a Liberdade Individual, ao disciplinar os crimes contra a liberdadepessoal, prevê a figura típica de Redução a condição análoga a de escravo,consistente em:

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga a de escravo,quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaus-tiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho,quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em ra-zão de dívida contraída com o empregador ou preposto:Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, além dapena correspondente à violência.§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte dotrabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;

125Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou seapodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador,com o fim de retê-lo no local de trabalho.§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:I - contra criança ou adolescente;II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ouorigem.

CONSIDERANDO que o mesmo Decreto-Lei nº 2.848/40 (Códi-go Penal), em seu Título IV - Dos Crimes Contra a Organização do Trabalho,prevê a figura típica de Aliciamento de trabalhadores de um local para outro doterritório nacional, consistente em:

Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los deuma para outra localidade do território nacional:Pena - detenção de um a três anos, e multa.§ 1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadoresfora da localidade de execução do trabalho, dentro do territó-rio nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quan-tia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seuretorno ao local de origem.§ 2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço)se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos, idosa, gestante,indígena ou portadora de deficiência física ou mental.

CONSIDERANDO que compete aos produtores de carvão obteremna Agência Ambiental de Goiás o registro de licenciamento para a atividadede carvoejamento;

CONSIDERANDO que usualmente verifica-se ausência de compa-tibilidade entre a quantidade de carvão produzida e trabalhadores registrados;

CONSIDERANDO a necessidade de conscientização, sensibilizaçãoe capacitação de todos os agentes públicos que, de certa forma, podemcontribuir com a erradicação do trabalho escravo;

CONSIDERANDO que a Agência Ambiental deve considerar defundamental importância, na execução da política ambiental, a observânciade princípios éticos-ambientais e assumir o compromisso com os princípiosdo desenvolvimento sustentável;

RESOLVE

RECOMENDAR à Agência Goiana de Meio Ambiente - AGMA,no prazo máximo e improrrogável de 30 (trinta) dias, a exigir dos produto-

126 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

res de carvão a comprovação do registro de trabalho de todos os funcio-nários – em quantidade suficiente e compatível com a capacidade de pro-dução da atividade licenciada (devidamente atestada por profissional habi-litado), de maneira que não se caracterize qualquer forma contemporâneade escravidão ou jornada exaustiva de trabalho.

Dê-se ciência à Delegacia Regional do Trabalho - DRT do teor dapresente recomendação para, em querendo, se manifestar e/ou contribuircom informações, dados e demais elementos que possam aperfeiçoá-la.

Atenciosamente,

Marcelo Fernandes de MeloPromotor de Justiça

81ª Promotoria de Justiça

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador do CAO-MAPCU

6.9 SUSPENSÃO DE AUTORIZAÇÕES RELATIVAS AOS EMPREGO DOFOGO EM PRÁTICAS AGROPASTORIS - NOTADAMENTE UTILIZADAPARA COLHEITA DE CANA DE AÇÚCAR - E FLORESTAIS, INCLUSIVEMEDIANTE QUEIMA CONTROLADA

Recomendação nº 6/2006 – CAO-MAPCU /53ª Promotoria de Justiça de Goiânia (Defesa do Cidadão)

Goiânia-GO, 27 de junho de 2006

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, no cum-primento de suas funções institucionais de que tratam os artigos 127 e129, incisos II e III, da Constituição Federal, e com fundamento no art. 6º,XX, da Lei Complementar nº 75/93, artigo 80 da Lei nº 8.625/93(LONMP), e art. 47, VII, da Lei Complementar Estadual nº 25/98(LOEMP), e

CONSIDERANDO que é função institucional do MinistérioPúblico a proteção do meio ambiente e de outros interesses difusos ecoletivos68;

68 Artigo 129, inciso III, da Constituição da República

127Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que todos têm direito ao meio ambiente ecolo-gicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadiaqualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever dedefendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações69;

CONSIDERANDO o elevado e crescente emprego do fogo em prá-ticas agropastoris - notadamente utilizada para colheita de cana de açúcar –e florestais no Estado de Goiás e as condições climáticas desfavoráveis;

CONSIDERANDO que tais práticas têm provocado impacto nega-tivo ao meio ambiente e contribuído significativamente para diminuir aumidade relativa do ar;

CONSIDERANDO que índices críticos relativos a baixa umidaderelativa do ar já foram registrados pelo Núcleo de Meteorologia da Secreta-ria de Ciência e Tecnologia (Sectec) e pelo Instituto Nacional de Meteorologia(Inmet) em diversos municípios do Estado de Goiás e, em especial, nacapital (Goiânia), Morrinhos e Jataí.

CONSIDERANDO que no ano passado (2005) – em que a produ-ção de cana de açúcar era menor e menos intensa e as condições climáticasmenos desfavoráveis - a umidade relativa do ar em Goiânia-GO atingiu 9%(estado crítico);

CONSIDERANDO que, em razão do exposto, a suspensão de auto-rizações relativas aos emprego do fogo em práticas agropastoris – notadamenteutilizada para colheita de cana de açúcar – e florestais, inclusive mediantequeima controlada, se justifica devido: (i) aos baixos índices de umidade eestado de emergência que se avizinha, a oferecer gravíssimos riscos à saúdepública (v.g. patologias respiratórias); (ii) proliferação de “focos” de quei-madas agravada pelas condições meteorológicas desfavoráveis;

CONSIDERANDO que o artigo 27, caput, § único da Lei nº 4.711/1965 (Código Florestal) dispõe que:

Art. 27. É proibido o uso de fogo nas florestas e demaisformas de vegetação;PARÁGRAFO ÚNICO. Se peculiaridades locais ou regionaisjustificarem o emprego do fogo em práticas agropastoris ou flores-tais, a permissão será estabelecida em ato do Poder Público, cir-cunscrevendo as áreas e estabelecendo normas de precaução.;

CONSIDERANDO que o Decreto nº 2.661/98, que “regulamentao parágrafo único do artigo 27 da Lei nº 4.771/65, mediante o estabeleci-mento de normas de precaução relativas ao emprego do fogo em práticas

69 cf. art 225, caput, da CF

128 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

agropastoris e florestais, e dá outras providências, em seu Capítulo III - DoOrdenamento e da Suspensão Temporária do Emprego do Fogo”, impõe aoórgão competente a suspensão ou cancelamento da queima controlado noscasos em que especifica, nos seguintes termos:

Art. 14. A autoridade ambiental competente poderá deter-minar a suspensão da Queima Controlada da região ou mu-nicípio quando:I - constatados risco de vida, danos ambientais ou condiçõesmeteorológicas desfavoráveis;II - a qualidade do ar atingir índices prejudiciais à saúdehumana, constatados por equipamentos e meiosadequados, oficialmente reconhecidos como parâmetros;III - os níveis de fumaça, originados de queimadas, atingiremlimites mínimos de visibilidade, comprometendoe colocando em risco as operações aeronáuticas, rodoviárias ede outros meios de transporte”.Art. 15. A Autorização de Queima Controlada será suspensaou cancelada pela autoridade ambiental nosseguintes casos:I - em que se registrarem risco de vida, danos ambientais oucondições meteorológicas desfavoráveis;II - de interesse e segurança pública;III - de descumprimento das normas vigentes. (ênfases acresci-das);

CONSIDERANDO que o Decreto nº 3.179/99, em seu Capítulo II- Das Sanções Aplicáveis às Infrações Cometidas Contra o Meio Ambiente, naSeção II - Das Sanções Aplicáveis às Infrações Contra a Flora, prevê a infraçãoadministrativa de fazer uso de fogo em áreas agropastoris sem autorizaçãodo órgão competente, consistente em:

Art. 40. Fazer uso de fogo em áreas agropastoris sem autoriza-ção do órgão competente ou em desacordo com a obtida:Multa de R$ 1.000,00 (um mil reais), por hectare ou fração;

RESOLVE

RECOMENDAR à Agência Goiana de Meio Ambiente – AGMA,sob pena das providências judiciais e das responsabilidades legais cabíveis,em especial a incursão nos artigos 11 e 12 da Lei nº 8.429/92 (LIA), bemcomo no artigo 37, § 6º da Constituição da República: (i) abster-se, por

129Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

prazo indeterminado, de autorizar toda e qualquer prática relativa ao em-prego do fogo em práticas agropastoris – notadamente utilizada para co-lheita de cana de açúcar – e florestais, inclusive mediante queima controla-da; e (ii) suspender, também por prazo indeterminado, eventuais autoriza-ções/permissões expedidas.

Requer-se, ainda, seja publicada as medidas adotadas no Diário Ofi-cial do Estado.

Atenciosamente,

Marcus Antônio Ferreira AlvesPromotor de Justiça

53ª Promotoria de Justiça de Goiânia

Ricardo Rangel De AndradePromotor de Justiça

Coordenador do CAO-MAPCU

6.10 PRODUÇÃO E INSERÇÃO NAS PROGRAMAÇÕES VEICULADASPELAS EMISSORAS DE RÁDIO E TELEVISÃO ESTABELECIDAS NO ES-TADO DE GOIÁS, DE ASSUNTOS, MATÉRIAS, TEMAS ETC. RELACIO-NADOS À PROTEÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

Recomendação nº 8/2006 – CAO-MAPCU /4ª Promotoria de Justiça de Aparecida de Goiânia

Goiânia-GO, 15 de agosto de 2006

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, no cum-primento de suas funções institucionais de que tratam os artigos 127 e129, incisos II e III, da Constituição Federal, e com fundamento no art. 6º,XX, da Lei Complementar nº 75/93, artigo 80 da Lei nº 8.625/93(LONMP), e art. 47, VII, da Lei Complementar Estadual nº 25/98(LOEMP), e

CONSIDERANDO que é função institucional do Ministério Pú-blico a proteção do meio ambiente e de outros interesses difusos e coleti-vos70;

70 Artigo 129, inciso III, da Constituição da República

130 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que a Constituição da República em seus Ca-pítulos V (Da Comunicação Social) e VI (Do Meio Ambiente), ambos inseridosno Título VIII - Da Ordem Social, dispõe, respectivamente, nos artigo 221,caput, inciso I e 225, caput, § 1º, inciso VI, que:

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádioe televisão atenderão aos seguintes princípios:I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais einformativas;(...)Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamen-te equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial àsadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e àcoletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-sentes e futuras gerações.§1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe aoPoder Público:(...)VI - promover a educação ambiental em todos os níveis deensino e a conscientização pública para a preservação domeio ambiente.;

CONSIDERANDO que a Lei nº 9.795/99, que “dispõe sobre aeducação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental, edá outras providências”, em seu Capítulo I - Da Educação Ambiental, nosartigo 3º, inciso IV e 13, § único, inciso I, estabelece que:

Art. 3º. Como parte do processo educativo mais amplo, to-dos têm direito à educação ambiental, incumbindo:(...)IV - aos meios de comunicação de massa, colaborar de manei-ra ativa e permanente na disseminação de informações e prá-ticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimen-são ambiental em sua programação;(...)Art. 13.. ..................................................................................Parágrafo único. O Poder Público em níveis federal, estaduale municipal, incentivará:(...)I - a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de mas-sa, em espaços nobres, de programas e campanhas educativas ede informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente;

131Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que o artigo 42, § 1º da Lei nº 4771/65 (Có-digo Florestal) prevê expressamente a inserção obrigatória - por aqueles queprestam serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens - de dispositivosde interesse ambiental nas programações, consistente em:

“Art. 42.......................................................................................§ 1º As estações de rádio e televisão incluirão, obrigatoria-mente, em suas programações, textos e dispositivos de inte-resse florestal, aprovados pelo órgão competente no limitemínimo de 5 (cinco) minutos semanais, distribuídos ou nãoem diferentes dias;

CONSIDERANDO que o artigo 35, § 2º da Lei nº 5197/67, quedispõe sobre a proteção à fauna e dá outras providências, em redação similar,prescreve que os programas de rádio e televisão deverão incluir textos edispositivos sobre a proteção da fauna, no limite mínimo de cinco minutossemanais, distribuídos ou não, em diferentes dias;

CONSIDERANDO que os órgãos de comunicação social devemconsiderar de fundamental importância, na prestação de serviços de radio-difusão sonora e de sons e imagens, a observância de princípios ético-ambientais e assumir compromissos com os princípios do desenvolvimentosustentável e fomento ao exercício da cidadania;

RESOLVE

RECOMENDAR, no prazo máximo e improrrogável de 30 (trinta)dias: (i) a todas emissoras de rádio e televisão estabelecidas no Estado deGoiás a adoção das providências cabíveis tendentes à observância das normasconstitucionais e legais acima referidas, principalmente mediante a produçãoe inserção em suas respectivas programações, com duração semanal não infe-rior a dez minutos, de assuntos, matérias, temas etc., relacionados à proteçãoe preservação do meio ambiente, nos moldes das diretrizes preconizadas pelaPolítica Nacional de Meio Ambiente; (ii) a Associação Goiana das Emissorasde Rádio e Televisão, com sede na avenida Mutirão nº 2.241, sala 2, edifícioÉrica, Setor Marista, Goiânia-GO, a imediata divulgação da presente reco-mendação entre seus afiliados e que zele pelo seu efetivo cumprimento.

Atenciosamente,

Miryam Belle Moraes da SilvaPromotora de Justiça

4ª Promotoria de Justiça de Aparecida de Goiânia-GO

132 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador do CAO de Defesa do Meio Ambiente,Patrimônio Cultural e Urbanismo

6.11 FORMAÇÃO/ENCHIMENTO DE RESERVATÓRIOS DEUSINAS HIDRELÉTRICAS (UHES) E PEQUENAS CENTRAISHIDRELÉTRICAS (PCHS) NA ESTAÇÃO SECA E EM PERÍODO NOQUAL HÁ SIGNIFICATIVA REDUÇÃO DO VOLUME DA VAZÃODOS CORPOS HÍDRICOS

Recomendação nº 9/2006 – CAO-MAPCU

Goiânia-GO, 1 de setembro de 2006

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, no cum-primento de suas funções institucionais de que tratam os artigos 127 e129, incisos II e III, da Constituição Federal, e com fundamento no art. 6º,XX, da Lei Complementar nº 75/93, artigo 80 da Lei nº 8.625/93(LONMP), e art. 47, VII, da Lei Complementar Estadual nº 25/98(LOEMP), e

CONSIDERANDO que compete ao Ministério Público promovero inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do meio ambiente ede outros interesses difusos e coletivos71;

CONSIDERANDO que compete aos órgãos e entidades ambientaisintegrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente a defesa, preservação,proteção e conservação do meio ambiente;

CONSIDERANDO que todos têm direito ao meio ambiente ecolo-gicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadiaqualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever dedefendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações72;

CONSIDERANDO que as condutas e atividades consideradas lesi-vas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, asanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de re-parar os danos causados73;

71 artigo.129, inciso III, da Constituição da República72 artigo 225, caput, da Constituição da República73 artigo 225, § 3º, da Constituição da República

133Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que a construção, reforma, instalação, amplia-ção e funcionamento de estabelecimentos, obras, serviços e atividadesutilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmen-te poluidoras, depende de prévio licenciamento do órgão competente74;

CONSIDERANDO que a matriz energética no Brasil está forte-mente ancorada nas hidrelétricas e na região CENTRO-OESTE observa-sea ocorrência de um período seco e outro chuvoso bem definidos, o queacarreta expressivas variações – de aproximadamente três a quarenta vezes –nos volumes das vazões dos rios;

CONSIDERANDO que em decorrência dessas variações o enchi-mento/formação de reservatórios na estação seca – em razão da significativaredução do volume da vazão dos corpos hídricos – ocasiona conflitos com apopulação, produtores, usuários etc., a jusante da barragem;

CONSIDERANDO que a formação/enchimento de reservatórios emperíodo no qual o volume da vazão do corpo hídrico é reduzida provoca rele-vante prejuízo à icitiofauna, que poderia ser minimizado na estação chuvosa;

CONSIDERANDO que freqüentemente os empreendedores se ba-seiam nos prazos constantes dos contratos celebrados com a Agência Nacio-nal de Energia Elétrica - ANEEL para requerer a Licença de Operação e, atocontínuo, promover a formação/enchimento de reservatórios de UHEs e PCHs;

CONSIDERANDO que os prazos constantes de tais contratos – quenão contemplam e desconsideram variáveis ambientais concernentes à vazão docorpo hídrico – têm indevidamente pautado a data de início de enchimentodos reservatórios, em detrimento da sustentabilidade ambiental e social;

CONSIDERANDO que, dessa forma, tem-se provocado desnecessá-rios impactos socioambientais – principalmente em períodos de baixa preci-pitação pluviométrica –, além de gerar expressiva pressão sobre os órgãosambientais licenciadores tendente à emissão da Licença de Operação, e

CONSIDERANDO que, desde fevereiro de 2000, a partir de estu-do científico publicado pela Revista Nature, o bioma Cerrado é internacio-nalmente reconhecido como um dos hotspots da biodiversidade mundial,por abrigar grande riqueza ambiental e, por sofrer grave ameaça pelas ativi-dades humanas, exigindo ações urgentes de conservação,

RESOLVE

RECOMENDAR à Agência Goiana de Meio Ambiente – AGMA aabster-se de emitir Licença de Operação (LO) de UHEs e PCHs: (i) na

74 artigo 10 da Lei nº 6938/1981

134 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

estação seca, que se inicia no mês de maio e termina no final de outubro; e(ii) até que se verifique significativo aumento da vazão do(s) rio(s) onde sepretende(m) instalar o(s) empreendimento(s) hidrelétrico(s), observando-se a série histórica de vazões médias mensais (m3/s).

Atenciosamente,

Marcelo Fernandes de MeloPromotor de Justiça

81ª Promotoria de Justiça de

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador do CAO-MAPCU

José Carlos Miranda Nery JúniorPromotor de Justiça

1ª Promotoria de Justiça de Iporá

6.12 AQUISIÇÃO, ALIENAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE BENSCULTURAIS POR PARTE DE COMERCIANTES DE OBRAS, ARTESE ANTIGÜIDADES (ANTIQUÁRIOS, LEILOEIROS, SEBOS, LOJAS DEMATERIAIS DE DEMOLIÇÃO DE PRÉDIOS ANTIGOS E ESTABELE-CIMENTOS CONGÊNERES) SEDIADOS NO ESTADO DE GOIÁS

Recomendação nº 10/2006CAO-MAPCU/CAO-C/CAO-Crim

Goiânia-GO, 3 de outubro de 2006

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por meiodos Centros de Apoio Operacionais de Defesa do Meio Ambiente, Patrimô-nio Cultural e Urbanismo, Consumidor e Criminal, no cumprimento desuas funções institucionais de que tratam os artigos 127 e 129, incisos II eIII, da Constituição da República, e com fundamento no artigo 6º, incisoXX da Lei Complementar nº 75/93, artigo 80 da Lei nº 8.625/93(LONMP), e artigo 47, inciso VII da Lei Complementar Estadual nº 25/98 (LOEMP), e o INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO EARTÍSTICO NACIONAL - Iphan, por meio da 14ª SuperintendênciaRegional,

135Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que compete ao Ministério Público, ao poderpúblico e à sociedade, preservar, proteger e promover o patrimônio culturalbrasileiro75;

CONSIDERANDO o disposto no artigo 216 da Constituição daRepública:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bensde natureza material e imaterial, tomados individualmenteou em conjunto, portadores de referência à identidade, àação, à memória dos diferentes grupos formadores da socie-dade brasileira, nos quais se incluem:I – as formas de expressão;II – os modos de criar, fazer e viver;III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espa-ços destinados às manifestações artísticos-culturais;V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico;

CONSIDERANDO que reputam-se bens culturais dignos de pro-teção e preservação aqueles que, a título religioso ou profano, se revestem deuma importância para a arqueologia, a pré-história, a história, a literatura,a arte ou a ciência;

CONSIDERANDO que os bens culturais constituem um dos ele-mentos básicos da civilização e da cultura dos povos, e que seu verdadeirovalor só pode ser apreciado quando se conhecem, com a maior precisão, suaorigem, sua história e seu meio ambiente (cf. Convenção sobre as medidasa serem adotadas para proibir e impedir a importação, exportação e transfe-rência de propriedades ilícitas de bens culturais);

CONSIDERANDO que o Poder Público tem o dever de proteger opatrimônio constituído pelos bens culturais existentes em seu territóriocontra os perigos de roubo, comércio ilegal, escavação clandestina e outraspráticas ilícitas;

CONSIDERANDO que, para evitar esses perigos, é essencial que oPoder Público tome cada vez mais consciência do seu dever moral de respei-tar o seu próprio patrimônio cultural;

CONSIDERANDO que a categoria dos bens móveis (aqueles quepodem ser deslocados de seus locais de origem, como: peças decorativas,prataria, imagens sacras etc.) e Integrados (aqueles que não podem ser re-

75 cf. arts. 127, caput, 129, III, 216, § 1º e 225, todos da Constituição da República

136 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

tirados da paisagem ou ambientes culturais, pois a sua retirada compromete-ria a leitura completa da referida paisagem ou ambiente) tem se destacadocomo de particular interesse nos mercados de arte nacional e internacional;

CONSIDERANDO que o comércio clandestino (tráfico) de bensculturais tem causado expressivos e irreparáveis danos ao patrimônio cultu-ral do Estado de Goiás e do Brasil constituindo, por conseguinte, uma dasprincipais causas de se empobrecimento, sendo que, não raro, bens móveis,sobretudo localizados em igrejas, são deslocados de sua origem para comer-ciantes de antigüidades e acervos particulares;

CONSIDERANDO tratar-se de fato público e notório a omissão –por parte da grande maioria dos comerciantes — no cumprimento das nor-mas legais e regulamentares destinadas a disciplinar o comércio deantigüidades;

CONSIDERANDO que se trata absolutamente indispensávelincrementar, aperfeiçoar e intensificar a fiscalização do comércio deantigüidades de maneira a coibir a circulação de produtos de origem ilícitae, por conseguinte, proteger os direitos dos consumidores que podem, inad-vertidamente, adquirir bens provenientes de atividades criminosas;

CONSIDERANDO que as condutas e atividades consideradas lesi-vas ao patrimônio cultural brasileiro sujeitam os infratores, pessoas físicasou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente daobrigação de reparar os danos causados;

CONSIDERANDO que o Decreto-lei nº 3.688/1941 (Lei de con-travenções penais), em seu capítulo VI, que disciplina as contravenções re-lativas à Organização do Trabalho, prevê a figura da contravenção de “exer-cício ilegal do comércio de coisas antigas e obras de arte”, consistente em:

Art. 48. Exercer, sem observância das prescrições legais, co-mércio de antigüidades, de obras de arte, ou de manuscritose livros antigos ou raros:Pena – prisão simples, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa ;

CONSIDERANDO o que prescreve o artigo 26 do Decreto-Lei nº25/37:

Art. 26. Os negociantes de antigüidades, de obras de arte dequalquer natureza, de manuscritos e livros antigos ou rarossão obrigados a um registro especial no Serviço do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional, cumprindo-lhes outrossimapresentar semestralmente ao mesmo relações completas dascoisas históricas e artísticas que possuírem;

137Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CONSIDERANDO que essa regulamentação específica visa, simul-taneamente: (i) prevenir que negociantes de antigüidades, de obras de arte dequalquer natureza, de manuscritos e livros antigos ou raros, de forma ilegítimae criminosa, recoloquem em circulação bens culturais obtidos por meio deatividades criminosas levadas a cabo por terceiros; e (ii) garantir e condicionaro exercício pacífico e lícito do comércio referido pelas pessoas que a ele sededicarem, de forma a compatibilizar a liberdade de profissão e a livre ini-ciativa com a preservação e proteção do patrimônio cultural brasileiro;

CONSIDERANDO o teor e as determinações contidas nas demaisnormas legais e regulamentares destinadas a reger a circulação ecomercialização de objetos de arte e antigüidades, em especial:

- Lei nº 3.924/61, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos epré-históricos;

- Lei nº 4.845/65, que proíbe a saída para o exterior de obras de artee ofícios produzidos no país até o fim do período monárquico;

- Lei nº 5.471/68, que dispõe sobre a exportação de livros antigos econjuntos bibliográficos brasileiros;

- Decreto-lei nº 72.321/73, que promulga a convenção sobre medi-das a serem adotadas para proibir e impedir a importação, exportação etransferência de propriedades ilícitas de bens culturais (Convenção Unescode 1970);

- Portaria nº 262/92 Iphan, que regulamenta a saída de objetos cul-turais do país;

CONSIDERANDO que por expressa disposição legal são imprópri-os ao uso e consumo os produtos deteriorados, alterados, adulterados, ava-riados, falsificados, corrompidos, fraudados ou, ainda, aqueles em desacor-do com as normas regulamentares de distribuição ou apresentação (cf. arti-go 18, § 6º da Lei nº 8.078/90 - Código de Defesa do Consumidor);

CONSIDERANDO que as infrações às normas de defesa do consu-midor também ficam sujeitas, conforme o caso, a sanções administrativas,cíveis e criminais;

CONSIDERANDO que a Lei nº 8.137/90, em seu capítulo II, quedisciplina os crimes contra a ordem econômica e as relações de consumo,prevê que:

Art. 7º Constitui crime contra as relações de consumo:(...)IX - vender, ter em depósito para vender ou expor à vendaou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercado-ria, em condições impróprias ao consumo.Pena – detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.

138 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II, III e IX pune-sea modalidade culposa, reduzindo-se a pena de detenção de1/3 (um terço) ou a multa à quinta parte.;

CONSIDERANDO que a efetiva interação e cooperação entre oMinistério Público e órgãos, instituições e entidades culturais — principal-mente aquelas responsáveis pela tutela de bens e valores culturais — pro-porciona maior celeridade e eficácia na adoção de medidas e ações, preven-tivas e reparadoras, relacionadas à defesa, preservação e promoção do pa-trimônio cultural brasileiro;

CONSIDERANDO a precursora Recomendação nº 01/2004 –expedida pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais e Institutodo Patrimônio Histórico Artístico Nacional – Iphan (13ª Superintendên-cia Regional) – cujo teor é similar à presente e necessita, para que possater plena eficácia e efetividade, de igual providência em outros Estados dafederação, de maneira a coibir ameaças e danos ao patrimônio culturalbrasileiro,

RESOLVE

RECOMENDAR a todos os comerciantes de obras, artes eantigüidades (antiquários, leiloeiros, sebos, lojas de materiais de demoliçãode prédios antigos e estabelecimentos congêneres) sediados no Estado deGoiás, e sob pena de serem tomadas as medidas cabíveis:

1. Realizar o Registro, no prazo máximo e improrrogável de 60 (ses-senta) dias, a contar da publicação da presente Recomendação nº 10/2006– CAO-MAPCU/CAO-C/CAO-Crim no Diário Oficial, de seus estabele-cimentos junto à 14ª Superintendência Regional do Iphan.

Vale ressaltar que o registro deverá ser requisitado por meio depreenchimento de requerimento próprio disponibilizado pelo Iphan, aser instruído, no mínimo, com: (i) cópia autenticada de comprovanteatualizado de inscrição no CNPJ; (ii) alvará de funcionamento expedidopela Prefeitura Municipal; e (iii) atos constitutivos da empresa e even-tuais alterações, devidamente registrados na Junta Comercial do Estadode Goiás.

2. Proceder ao envio a 14ª Superintendência Regional do Iphan,no prazo máximo e improrrogável de 120 (cento e vinte) dias, a contar dapublicação desta Recomendação nº 10/2006 – CAO-MAPCU/CAO-C/

139Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CAO-Crim no Diário Oficial, da relação integral – que deverá ser atuali-zada semestralmente – de todos os bens culturais que possuírem.

O Iphan considerará, a princípio, a relação integral de bens históri-cos e artísticos como idônea, desde que contenha, no mínimo, os seguintesdados concernentes a cada bem exposto ou sujeito à venda: a) proprietárioanterior; (b) data e valor da aquisição; c) descrição sintética do bem conten-do: dimensões, procedência, autoria, técnica, estado de conservação, regis-tro fotográfico e quaisquer outros dados complementares que sirvam desubsídio para a correta identificação das peças.

3. Comunicar imediatamente a 14ª Superintendência Regional doIphan, no prazo máximo e improrrogável de 10 (dez) dias a contar da pu-blicação desta Recomendação nº 10/2006 – CAO-MAPCU/CAO-C/CAO-Crim no Diário Oficial, acerca de quaisquer aquisições ou alienações debens culturais, sem prejuízo do disposto no item 2.

Os bens culturais de maior valor, conforme regulamentação do Iphan,deverão ser fotografados, em seus diversos ângulos, para que seja possível asua completa identificação.

RECOMENDAR a todos os agentes públicos – de alguma formalegal e regularmente incumbidos de fiscalizar, preservar e proteger opatrimônio cultural brasileiro, sob pena das providências judiciais e dasresponsabilidades legais cabíveis, em especial a incursão nos artigos 11 e 12da Lei nº 8.429/92 (LIA), bem como no art. 37, § 6º da Constituição daRepública:

1. a adoção de todas e quaisquer medidas necessárias e apropriadas,com os meios de que disponham – e fiscalização contínua e permanente – afim de cumprir e fazer cumprir o inteiro teor de presente Recomendação nº10/2006 – CAO-MAPCU/CAO-C/CAO-Crim, bem como zelar pela in-teira observância das normas legais e regulamentares pertinentes, em espe-cial as de natureza consumerista e aquelas que visam a disciplinar as ativida-des comerciais relacionadas a bens e valores culturais, e

2. a comunicação imediata aos órgãos subscritores da presente deeventuais ilegalidades e irregularidades constatadas.

140 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Atenciosamente,

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador do CAO de Defesa do Meio Ambiente,Patrimônio Cultural e Urbanismo

Cláudio Braga LimaPromotor de Justiça

Coordenador do CAO de Defesa do Consumidor

Fernando Braga ViggianoPromotor de Justiça

Coordenador do Centro de Apoio Criminal

Marcelo Fernandes de MeloPromotor de Justiça

81ª Promotoria de Justiça de Goiânia

Salma Saddi Waress de Paiva14ª Superintendência Regional do Iphan

141Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

7 PEÇAS PROCESSUAIS

7.1 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PLANODIRETOR. NORMAS DE OCUPAÇÃO EM ÁREA DE EXPANSÃOURBANA. SUPRESSÃO DE ÁREAS CONSIDERADAS DEPRESERVAÇÃO PERMANENTE. PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE.COMPETÊNCIA SUPLEMENTAR DO MUNICÍPIO. VIOLAÇÃO ÀSNORMAS GERIAS EDITADAS PELA UNIÃO E ÀS NORMASESTADUAIS DE COMPLEMENTAÇÃO. NECESSIDADE DEAPROVAÇÃO PRÉVIA DO RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO EGRÉGIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DE GOIÁS

O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA, com fundamento noartigo 129, inciso IV, da Constituição da República, artigos 60 e 117,inciso IV, da Constituição do Estado de Goiás, artigo 29, inciso I, da LeiFederal nº 8.625/93 e artigo 52, inciso II, da Lei Complementar Estadu-al nº 25/98, vem perante esse Egrégio Tribunal de Justiça ajuizar a pre-sente AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (com pedi-do liminar) em face da Lei nº 3.047/2005, de 14 de abril de 2005, doMunicípio de Itumbiara - GO, consoante as razões e fundamentos a se-guir expostos.

DOS FATOS

1. A Lei nº 3.047/2005, de 14 de abril de 2005, do Município deItumbiara. GO. que “institui normas para ocupação em área de expansãourbana às margens do Rio Paranaíba”. modificou disposição legal contidana Lei nº 437/78 (Plano Diretor), e possui o seguinte teor:

Art. 1º. Fica considerado expansão urbana da cidade deItumbiara- GO às margens do Rio Paranaíba, numa faixacom largura de 100m a partir do marco atual, à montante dacidade até o limite de segurança da Usina Hidroelétrica deItumbiara (Furnas) e a jusante numa faixa de largura de 100ma partir do limite atual, até a estação de tratamento de efluentes(ETE) da cidade de Itumbiara-GO.

142 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Art. 2. Fica proibido no lote, domínio ou módulo de terras, aconstrução de obras, para fins comerciais, de produtos ouserviços de qualquer natureza.Parágrafo Único. As proibições de que trata o presente artigonão se aplicam aos estabelecimentos que encontram-se funci-onando com prévia autorização dos órgãos competentes daadministração municipal.Art. 3. Fica proibido a construção com área de ocupação ouprojeção superior a 5% da área total do lote, domínio oumódulo de terra.Art. 4. Fica proibida a construção de obra superior a doispavimentos.Art. 5. Fica proibida ocupação de área com testada mínimado lote, domínio ou módulo de terra para o Rio Paranaíbacom dimensão inferior a 45mts. E área total inferior a3.000m².Art. 6. Fica proibida a ocupação com uso residencial perma-nente para mais de 03 pessoas, por lote, domínio ou módulode terra.Art. 7. Fica obrigatória a construção e manutenção de fossaséptica e poço sumidouro para todo tipo de esgoto produzi-do na propriedade.Art. 8. Fica proibido o lançamento de quaisquer resíduossólidos ou líquidos no Rio Paranaíba e seus afluentes.Art. 9. Todo Lixo produzido nas propriedades, obrigatoria-mente serão acondicionados em recipientes adequados e des-tinados aos locais apropriados. Sendo estas ações de responsa-bilidade exclusiva dos proprietários ou seus representanteslegais.Art. 10. Fica proibido a exploração agrícola de qualquer na-tureza para fins comerciais.Art. 11. Fica proibido o uso de agrotóxicos de qualquer natu-reza nos limites da propriedade.Art. 12. Fica proibida a criação de animais bovinos, eqüinose suínos.Art. 13. Fica proibido a criação de animais, de qualquer natu-reza em regime de cativeiro.Art. 14. Fica obrigatório o lote, domínio o lote, domínio oumódulo de terra possuir no mínimo 80% de sua vegetaçãoarbórea, nativas e ou plantadas, de espécies da flora da região.Art. 15. Fica obrigatório a orientação e acompanhamentotécnico nas atividades de construções e plantio de qualquernatureza, obedecendo ás regulamentações do CREA-GO ePrefeitura Municipal de Itumbiara.

143Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

2. O referido diploma legal, a pretexto de dar nova delimitação àzona de expansão urbana de Itumbiara, visa permitir indevidamente a ocu-pação irregular, “às margens do Rio Paranaíba” entre as barragens das Usi-nas de Cachoeira Dourada e Furnas, sem estabelecer qualquer extensão míni-ma de faixa marginal de preservação ambiental.

3. Com efeito, o legislador municipal utiliza-se de técnica legislativainadequada e imprópria no intuito de camuflar a razão de ser e primeira dalei: permitir a supressão de vegetação em áreas consideradas de preservaçãopermanente (v.g. mata ciliar do Rio Paranaíba). Ao consignar nos artigos 2ºe seguintes do diploma legal algumas restrições ao direito de construir àsmargens do Rio Paranaíba. em evidente e censurável esforço de tergiversa-ção. a contrario sensu e por força irresistível do raciocínio lógico, denota-seque a lei municipal tem como escopo permitir, disciplinar e regrar a edificaçãode obras às margens do rio Paranaíba.

4. Ao assim proceder, o Município de Itumbiara descurou-se do seudever constitucional de proteger o meio ambiente. A norma municipal veio, deforma inconteste, frise-se, autorizar a edificação de obras e, por conseguinte, aalteração e supressão de vegetação em áreas consideradas de preservação perma-nente, conforme preceitua o artigo 2º da Lei nº 4.771/65 (Código Florestal),artigo 5º da Lei Estadual nº 12.596/95, art. 3º da Resolução Conama nº 303/2002, além do artigo 130, § 2º da própria Constituição Estadual.

5. Vale ressaltar que as faixas marginais ao longo de qualquer cursod’água, cuja largura mínima varia de acordo com a largura do corpo d’água,são consideradas de preservação permanente, visto que a exploração dessasáreas, de mata ciliar, contribui decisivamente para a diminuição da diversi-dade da flora e da fauna, e a redução dos mananciais, propiciando, porconseqüência, a erosão, o assoreamento dos cursos d’água, a alteração nega-tiva das condições climáticas e do regime de chuvas, dentre outras formasde degradação ambiental.

6. Presentes, ainda, vícios formais e materiais que evidenciam a patenteinconstitucionalidade da Lei Municipal nº 3.047/2005 do Município deItumbiara. GO, por flagrante violação aos artigos 4º, inciso II, alínea “f”,64, inciso II, 77, inciso VIII, alínea “d”, 127, caput, 130, § 2º e § 3º e 132,§ 3º, todos da Constituição Estadual, conforme restará demonstrado.

DA OFENSA AOS ARTIGOS 4º, INCISO II, ALÍNEA “F” e 64,INCISO II, DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL

7. Por se tratar de normas de reprodução obrigatória, os artigos 4º, incisoII, alínea “f”, e 64, inciso II, da Constituição Estadual, prescrevem o seguinte:

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Art. 4º- Compete ao Estado, sem prejuízo de outras compe-tência que exerça isoladamente ou em comum com a Uniãoou com os Municípios:(...)II. legislar, concorrentemente com a União, sobre: (...)f- florestas, fauna, caça e pesca, conservação da natureza, de-fesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambi-ente e controle da poluição”. (...)Art. 64. Compete aos Municípios: (...)II. suplementar a legislação federal e estadual, no quecouber;

8. Como é cediço, compete à União e aos Estados legislarconcorrentemente sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natu-reza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente econtrole da poluição. E no âmbito da legislação concorrente, a competênciada União limitar-se-á a estabelecer normas gerais, enquanto aos Estadoscompete complementar a legislação federal (cf. artigo 24, inciso VI e pará-grafos da Constituição da República).

Quanto aos Municípios, compete suplementar a legislação federal eestadual no que couber (art. 30, inciso II, da Constituição da República).

9. E da análise desses preceitos constitucionais, pode-se concluir quea competência atribuída aos Estados para complementar as normas geraisda União não afasta a competência dos Municípios de assim também proce-der, quando houver interesse local. Todavia, o Município não poderá, emnenhuma hipótese, afrontar as normas gerais da União e nem as normasestaduais de complementação; sua atuação, nesse caso, há de se limitar aodetalhamento destas legislações, para adequá-las às particularidades locais,sob pena de invadir seara normativa que não lhe é própria.

10. Dessa maneira, o texto legal ora questionado não poderia permi-tir a edificação de obras e, por conseguinte, alteração e supressão de vegeta-ção, em áreas de preservação permanente, consideradas espaços territoriaisespecialmente protegidos, assim devidamente definidas pelo artigo 2º daLei Federal nº 4.771/65 (Código Florestal) em cumprimento ao que deter-mina o artigo 225, § 1º, inciso III, da Constituição da República:

Art. 2. Consideram-se de preservação permanente, pelo sóefeito desta lei, as florestas e demais formas de vegetaçãonatural situadas:

145Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seunível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:1- de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de10 (dez) metros de largura;2- de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d’água que te-nham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta) metros de largura;3- de 100 (cem) metros para os cursos d’água que tenham de50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;4- de 200 (duzentos) metros para os cursos d’água que te-nham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;5- de 500 (quinhentos) metros para cursos d’água que te-nham largura superior a 600 (seiscentos) metros;a) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d´água naturaisou artificiais;(...)Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas ascompreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei munici-pal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todoo território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivosplanos diretores e lei de uso do solo, respeitados os princípios elimites a que se refere este artigo. (ênfases acrescidas).

11. A Resolução nº 303, de 20 de março e 2002, do Conselho Na-cional do Meio Ambiente. CONAMA, no uso das competências que lhesão conferidas pela Lei nº 6.938/81, regulamentada pelo Decreto nº 99.274/90, e tendo em vista o disposto nas Leis nºs. 4.771/65 e 9.433/97, estabe-lece parâmetros, definições e limites referentes às Áreas de Preservação Per-manente. E o seu artigo 3º assim prescreve:

Art. 3º. Constitui Área de Preservação Permanente a áreasituada:I. em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, emprojeção horizontal, com largura mínima, de:a) trinta metros, para o curso d’água com menos de dez me-tros de largura;b) cinqüenta metros, para o curso d’água com dez a cinqüen-ta metros de largura;c) cem metros, para o curso d’água com cinqüenta a duzentosmetros de largura;d) duzentos metros, para o curso d’água com duzentos aseiscentos metros de largura;e) quinhentos metros, para o curso d’água com mais de seis-centos metros de largura;

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(...)III - ao redor de lagos e lagoa naturais, em faixa com metragemmínima dea) trinta metros, para os estejam situados em áreas urbanasconsolidadas;b) cem metros, para as que estejam em áreas rurais, exceto oscorpos d’água com até vinte hectares de superfície, cuja faixamarginal será de cinqüenta metros; (ênfases acrescidas).

12. O artigo 5º da Lei Estadual nº 12.596/95, que “Institui a PolíticaFlorestal do Estado de Goiás e dá outras providências”, em sintonia com o CódigoFlorestal e a Resolução Conama acima transcritos, também reza o seguinte:

Art. 5. Consideram-se de preservação permanente, em todoo território do Estado de Goiás, as florestas e demais formasde vegetação natural situadas:(...)II - ao longo dos rios ou qualquer curso d’água, desde seunível mais alto, cuja largura mínima, em cada margem, seja de:a) 30m (trinta metros), para curso d’água com menos de 10(dez metros) de largura;b) 50m (cinquenta metros), para o curso d’água de 10 a 50(dez a cinqüenta metros) de largura;c) 100m (cem metros), para cursos d’água de 50m a 200m(cinqüenta a duzentos metros) de largura;d) 200m (duzentos metros), para cursos d’água de 200m a600m (duzentos a seiscentos metros) de largura;e) 500m (quinhentos metros), para cursos d’água com largu-ra superior a 600m (seiscentos metros);III. ao redor das lagoas ou reservatórios d’água naturais ouartificiais, desde que seu nível mais alto, medido horizontal-mente, em faixa marginal cuja largura mínima seja de:a) 30 m (trinta metros), para os que estejam situados em áreasurbanas;b) 100 m (cem metros), para os que estejam em área rural,exceto os corpos d’água com até 20 ha. (vinte hectares) desuperfície, cuja faixa marginal seja de 50m (cinqüenta metros);(...)Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, compreendidas nosperímetros de expansão urbana definidos por leis municipais,nas regiões metropolitanas e aglomerados urbanos, em todo oterritório abrangido observar-se-á o disposto nas respectivas LeisOrgânicas Municipais, Planos Diretores e Legislação de uso do

147Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

solo, respeitados os princípios e limites mínimos a que serefere este artigo. (ênfases acrescidas).

13. No mesmo sentido, o artigo 252 da Lei Orgânica do Municípiode Itumbiara:

Art. 252. É considerada de preservação permanente a vege-tação das áreas marginais dos cursos d’água, suas nascentes erespectivas margens, podendo o Município firmar convêniose contratos com entidade públicas e privadas, visando à re-composição, manutenção e conservação dessas áreas. (ênfasesacrescidas).

14. Assim sendo, o Município de Itumbiara, ao legislar sobre espa-ços territorialmente protegidos, em especial, áreas de preservação perma-nente, com inobservância dos ditames da Lei Federal nº 4.771/65 (CódigoFlorestal), Resolução Conama nº 303/2002 e Lei Estadual nº 12.596/95,exorbitou os limites de sua competência legislativa suplementar (art. 64,inciso II, da Constituição Estadual), incorrendo, dessa forma, em patenteinconstitucionalidade.

15. A título de ilustração, tem-se os comentários do eminenteconstitucionalista Alexandre de Morais:

O art. 30, II, da Constituição Federal preceitua caber ao muni-cípio suplementar a legislação federal e estadual, no que couber, oque não ocorria na Constituição anterior, podendo o municípiosuprir as omissões e lacunas da legislação federal e estadual, embo-ra não podendo contraditá-la, inclusive, nas matérias previstasdo artigo 24 de Constituição de 1988. Assim, a ConstituiçãoFederal prevê a chamada competência suplementar dos municí-pios, consistente na autorização de regulamentar as normaslegislativas federais e estaduais, para ajustar sua execução a pecu-liaridade locais, sempre em concorrência com aquelas e desdeque presente o requisito primordial de fixação de competênciadesse ente federativo: interesse local.76

16. A jurisprudência, por sua vez, é firme no sentido de negar eficá-cia às leis municipais com repercussão no meio ambiente que não guardamcompatibilidade material com as normas editadas pelos demais entes dafederação. Confira-se:

76 in Direito Constitucional, 17ª Edição, Editora Atlas S.A- 2005, pág. 285

148 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Ação Direta de Inconstitucionalidade. Lei Municipal. Normaque dita regra sobre o meio ambiente e controle de poluição.Permissão de queimadas na colheita da cana de açúcar no espa-ço local. Inadmissibilidade. Afronta a prévia disposição estadu-al. interesse do Estado que prevalece sobre o do Município.Competência Municipal meramente suplementadora da le-gislação federal e estadual. artigo 191, 192, §§ 1º e 2º, 193 daConstituição Estadual; 2º, I e V, 4º e 5º da Lei Federal nº6.938/81; 24, VI e 30, II da Constituição da República- Açãoprocedente. Toda a normatividade do Município, em matériaambiental, limita-se ao exercício de uma competência mera-mente suplementadora, restrita no que couber, ao interesselocal, devendo atender ao ordenamento federal fixados dasnorma gerais e a legislação derivada da competência atribuídaaos Estados-membros. (ADIn nº 17.926-0. São Paulo. Relator:Renan Lotufo. OESP. M.V.23.11.94)

17. Na mesma toada, a ressaltar a impossibilidade do Município, aolegislar acerca de matéria ambiental, contrariar normas federais e estaduais:

Representação por inconstitucionalidade da Lei nº 3781/2002. Norma eivada de inconstitucionalidade por violar oartigo 358, II da Constituição do Estado do Rio de Janeirorepresentação que se acolhe. Os Municípios, embora possu-indo competência para legislar em assuntos de interesse lo-cal, não podem em matéria ambiental, contrariar as normafederais e estaduais, ex-vi do artigo 358, II da Constituiçãodo Estadual c/c o artigo 6], incisos VI, § 1º da Lei 6.938/81.In Casu a Lei Municipal de Volta Redonda contrariou oconteúdo de Resolução CONAMA nº 01 de 08 de março de1990 que adotou nacionalmente os parâmetros de ruídospropostos como aceitáveis pelo NBR 10.151, não sendopossível, portanto, legislação municipal alterar o estabelecidopor órgão competente do Governo Federal. Representaçãopor Inconstitucionalidade, pois, que se tem como proceden-te, acolhendo-se como razões de decidir os Pareceres das dou-tras Procuradorias Gerais de Justiça e do Estado. (TJRJ- Ór-gão Especial -Repres. por Inconstitucionalidade nº2002.007.00142, Des. J. C. Murta Ribeiro).

18. A propósito, o Superior Tribunal de Justiça assim já se manifes-tou acerca da competência municipal supletiva:

CONSTITUCIONAL. MEIO AMBIENTE. LEGISLAÇÃOMUNICIPAL SUPLETIVA. POSSIBILIDADE.

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Atribuindo, a Constituição Federal, a competência comum àUnião, aos Estados e aos Municípios para proteger o meio ambi-ente e combater a poluição em qualquer de suas formas, cabe, aosMunicípios, legislar supletivamente sobre a proteção ambiental,na esfera do interesse estritamente local.A Legislação municipal, contudo, deve se constringir a atenderàs características próprias do território em que as questõesambientais, por suas particularidades, não contém com odisciplinamento consignado na lei federal ou estadual. A legisla-ção supletiva, como é cediço, não pode ineficacizar os efeitos dalei que pretende suplementar.Uma vez autorizada pela União a produção e deferido o registrodo produto perante o Ministério competente, é defeso aos Mu-nicípios vedar, nos respectivos territórios, o uso e o armazenamentode substâncias agrotóxicas, extrapolando o poder suplementar,em desobediência à lei federal.A proibição de uso e armazenamento por decreto e em todo oMunicípio constitui desafeição à lei federal e ao princípio da livreiniciativa campo em que as limitações administrativas hão decorresponder às justas exigências do interesse público que asmotiva sem o aniquilamento das atividades reguladas.Recurso conhecido e improvido. Decisão indiscrepante.” (grifou-se)(RESP 29299/RS, 1ª Turma do STJ, Rel. Minº DemócritoReinaldo, publicado no DJU em 17.10.94, Seção 1, p. 27.861.)

Em seu precioso voto, o e. Ministro Demócrito Reinaldo tece osseguintes esclarecimentos:

... ao Município compete legislar, supletivamente, sobre omeio ambiente, preenchendo as lacunas da legislação federale estadual, sem, contudo, lhe contrariar o conteúdo. Assim,como enfatizam os juristas, ‘a legislação municipal visaria aten-der às características próprias do território em que as questõesambientais, por suas especificidades, não contassem com aproteção oferecida pela legislação federal ou estadual’ (JoséAntônio Osório Silva, O Município e a Proteção Ambiental).Ademais, no sistema jurídico-constitucional vigente, ao Mu-nicípio é lícito editar normas legais que digam respeito aointeresse local. Nada impede, pois, que o Município expeçanormas que disciplinem situações especiais, conquanto seatenham ao que dispuserem as leis federais e estaduais. O quenão pode, o Município, é regulamentar matéria já disciplina-da na lei federal (ou estadual), porquanto a sua competência

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é meramente supletiva. É o magistério de Maria Sylvia Ribei-ro Barreto: ‘O texto constitucional distribui competência àUnião, aos Estados, permitindo aos Municípios tão somentesuplementar a legislação federal e estadual, no que couber(artigo 30, II). Assim, se ao Município não é vedado legislarsobre o meio ambiente, deverá fazê-lo sempre de acordocom a legislação federal e estadual, no âmbito do interesselocal.’ (O Município e a Questão Ambiental, Revista dosTribunais, vol. 670, p. 254)”(grifei)

19. Diante disso, é correto afirmar que as áreas de preservação per-manente assim consideradas e definidas pelo artigo 2º da Lei Federal nº4.771/65 (Código Florestal). em consonância, diga-se de passagem, com aResolução Conama nº 303/2002 e Lei Estadual nº 12.596/95 — somentepoderão ser alteradas ou suprimidas parcial ou totalmente por força de lei.formal e específica – emanada do mesmo ente da federação, ou seja, pormeio de outra lei federal, eis que falecem aos Estados e aos Municípioscompetência legislativa para alterar normas gerais ditadas pela União.

20. É esse o entendimento perfilhado pelo Supremo Tribunal Fe-deral:

Meio Ambiente – Disciplina Normativa – União – Estados. ÀUnião cabe baixar as normas gerais sobre a defesa e a proteçãoda saúde, a abranger as relativas ao meio ambiente. A atuaçãodos Estados mostra-se válida no que não as contrariam.(AGRAG. 152115/RJ, 2ª Turma do STF, Rel. Minº MarcoAurélio, publicado o DJU em 20.08.93, Seção 1, p. 16.323.)

21. Vale ressaltar que o Município pode e deve legislar em matéria dezoneamento urbano-ambiental, mas jamais para reduzir a proteção jáalcançada pela lei federal ou estadual. Se, no exercício de sua competênciaconcorrente e suplementar, resolver enfrentar o tema das áreas de preserva-ção permanente em meio urbano, não poderá trabalhar com limites e defi-nições menos protetivos que os já eleitos pelas leis estadual e federal.

É vedado, portanto, ao legislador municipal, no exercício da sua com-petência suplementar, reduzir o grau de proteção já eleito pelo legisladorfederal ou estadual, conforme explicitamos alhures.

22. Como adverte o e. jurista Paulo Affonso Leme Machado:

...nem o princípio da autonomia municipal possibilita aoMunicípio autorizar obras públicas ou privadas nas áreasdestinadas a florestas de preservação permanente, pois esta-

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ria derrogando e invadindo a competência da União, queestabeleceu normas gerais77.

23. Por outra banda, não se pode deixar de argumentar que a lei municipalora questionada, ainda que sob a ótica de matéria relativa a direito urbanístico, emrazão de modificar dispositivos do Plano Diretor da cidade, a sua ineficácia normativamanifesta-se de forma incontestável. Em se tratando de direito urbanístico, oregime jurídico de competência legislativa previsto na Constituição da Repúblicae na Constituição Estadual é o mesmo que disciplina a proteção do meio ambien-te, qual seja, compete à União e aos Estados legislar concorrentemente sobredireito urbanístico (art. 24, inciso I, da Constituição da República reproduzidano art. 4º, II, “a”, da Constituição Estadual).

24. Desta feita, a Lei nº 10.257, de 10.07.2001 (Estatuto de Cida-de). que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição da República.enquanto instrumento legal instituidor das normas gerais sobre matériaurbanística, cujas diretrizes são de observância obrigatória para os Estados-membros e os Municípios, impõe a oitiva prévia da população e de suasassociações representativas na formulação e aprovação de programas e proje-tos de ordenamento urbano.

25. Assim reza o artigo 2º, incisos II e XIII, da referida Lei Federal,verbis:

Art. 2. A política urbana tem por objetivo ordenar o plenodesenvolvimento da funções sociais da cidade e da proprie-dade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:(...)II. gestão democrática por meio da participação da populaçãoe de associações representativas dos vários segmentos da co-munidade na formulação, execução e acompanhamento deplanos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;(...)XIII. audiência do Poder Público municipal e da populaçãointeressada nos processos de implantação de empreendimen-tos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobreo meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a se-gurança da população;

77 in Direito Ambiental Brasileiro. 9ª ed., rev. atual. e ampl. São Paulo: Malheiros Editores, 2001

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26. Nesse diapasão também dispõem os artigos 40 e 43, inciso II, doEstatuto da Cidade. Veja-se:

Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é oinstrumento básico da política de desenvolvimento e expan-são urbana. (...)§ 4. No processo de elaboração do plano diretor e na fiscali-zação de sua implementação, os Poderes Legislativo e Execu-tivo municipais garantirão:I. a promoção de audiências públicas e debates com a parti-cipação da população e de associações representativas dosvários segmentos das comunidade.II. a publicidade quantos aos documentos e informações pro-duzidas.III. o acesso de qualquer interessado aos documentos e infor-mações produzidos. (...)Art. 43. Para garantir a gestão democrática da cidade, deverãoser utilizados, entre outros, os seguintes instrumentos: (...)II. debates, audiências e consultas públicas. (ênfases acrescidas)

27. Não restam dúvidas, portanto, que, ainda que se trate de matériade direito urbanístico, o Município também exorbitou de sua competêncialegislativa, em flagrante afronta às normas gerais instituídas pela União.

DA OFENSA AO ARTIGO 77, INCISO VIII, ALÍNEA “D” DACONSTITUIÇÃO ESTADUAL

28. O artigo 77, inciso VIII, alínea “d”, da Constituição do Estadode Goiás, dispõe que:

Art. 77. Compete privativamente ao Prefeito: (...)VIII. enviar à Câmara Municipal, observado o disposto nestae na Constituição da República, projetos de lei dispondosobre: (...)d) plano diretor

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29. O vício no processo legislativo que resultou na sanção e promulgaçãoda lei municipal ora questionada é evidente. O legislador municipal, ao darnova delimitação à zona de expansão urbana de Itumbiara, promoveu, nesseparticular, alteração em dispositivo do Plano Diretor da cidade, com indiscutí-vel inobservância do devido processo legislativo. Trata-se, portanto, de matériade iniciativa reservada ao Prefeito Municipal e insuscetível de delegação.

DA OFENSA AO ARTIGO 127, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃOESTADUAL

30. O art. 127, caput, da Constituição Estadual, estabelece que:

Art. 127- Todos têm direito ao meio ambiente ecologica-mente equilibrado, bem de uso comum do povo e essenci-al à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Públicoe à coletividade o dever de defendê-lo, recuperá-lo epreservá-lo.

31. Referida norma positivou o direito à sadia qualidade de vida, quesignifica viver em um meio ambiente hígido e ecologicamente equilibrado.Existe uma dupla perspectiva relativamente à tutela ambiental. Por umlado, em sentido objetivo, se protegem os recursos naturais por seus valoresintrínsecos. Por outro, e indissociavelmente do anterior, a proteção ambientalvisa garantir o desfrute de tais bens pelas pessoas. A qualidade de vida estárelacionada a essa segunda perspectiva.

32. A respeito da relevante função das áreas de preservação perma-nente, de maneira que se possa compreender a sua importância parasalvaguardar o direito fundamental ao meio ambiente, bem como o tra-tamento dispensado pelo legislador, colacionamos os esclarecimentostécnicos prestados por analista pericial/engenheiro florestal da 4ª Câ-mara. Meio Ambiente do Ministério Público Federal, Marcos CiprianoCardoso Garcia, in verbis:

Antes, porém, para melhor entendimento da questão, apre-sentamos. com base em artigo publicado por Naiman &Décamps, 199778 - uma séria de justificativa que fundamen-tam a criação e manutenção de áreas de preservação perma-nente no entorno de cursos d’água:

78 Naiman, R.J. & Décamps, H. The ecology of interfaces: Riparian Zones. Annº Rev. Ecol. Syst. 1997.28:621-658

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A vegetação que ocorre nas proximidades de cursos d’água, esão por esses influenciadas, é denominada de vegetação ripáriaou ripícola. A área que engloba a faixa entre o nível de águainferior e o superior dos cursos d’água, acrescidos daquelaporção de paisagem terrestre, partindo do nível superior daágua em direção à terra firme, em que a vegetação é influen-ciada pela elevação do nível da água e pela capacidade deretenção de água no solo é denominada zona ripária.São áreas que possuem características que as distinguem dosecossistemas aquáticos e de terra firma. Cada área em particu-lar é caracterizada por condições hidrológicas, de solo e bióticasúnicas, determinadas pela duração, fluxo, quantidade e fre-qüência de água na área.De uma maneira geral, a interface entre ecossistemas terres-tres e de água doce, tais como matas ripárias, pântanos, lagoase lagos em planícies alagáveis, são particularmente sensíveis amudanças ambientais.À vegetação situada próxima cursos d’água (ripária) tem sidoatribuídas diversas funções que justificam a sua manutençãoao longo de cursos reservatórios e nascentes de água. Dentreessas funções podem ser destacadas:1 - controle da erosão e assoreamento de cursos d’água;2 - manutenção da qualidade da água;3 - tampão biológico de nutrientes;4 - corredores ecológicos;5 - fonte de nutrição e abrigo para fauna;6 - proteção de plântulas;7 - controle de microclima;8 - diversidade de habitats1 - Controle de erosão e assoreamento de cursos d’água: Aerosão das margens carreia sólidos para o interior de cursos ereservatórios d’água, um processo influenciado pelas caracte-rísticas do relevo e da vegetação das margens. Margens decurso e reservatórios desprovidas de vegetação são altamenteinstáveis e sujeitas a perdas de sedimentos. A presença devegetação em zonas ripárias altera o transporte de sedimentose nutrientes quer seja pela retenção física de materiais ou pelaalteração hidráulica da calha. A presença de detritos vegetaisem bacias de baixa energia atuam como estruturas físicas quereduzem a velocidade da água e retém sólidos no local. Expe-rimentos tem demonstrado que a remoção de detritos vege-tais leva a um aumento dramático das taxas de erosão.2 - Manutenção da qualidade da água: A presença física devegetação ripária atua como filtro de nutrientes, controlando

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fontes de poluição por sedimentos e nutrientes em baciashidrográficas. Esse controle se dá pela retenção e deposiçãode sedimentos e poluentes, carreados por escoamentos super-ficiais de água, sobre a vegetação ripária, evitando assim queatinjam o leito dos rios. A cobertura vegetal altera o padrão deescoamento. Transformando fluxos canalizados em fluxosexpandidos e rasos, de velocidade reduzida, o que facilita adeposição de sedimentos e previne a erosão.3 - Tampão biológico de nutrientes: A vegetação ripária atuacomo tampão biológico pela remoção de nutrientes do meio,via absorção radicular, acumulando-os na forma de biomassa.A acumulação de nutrientes em plantas pode ser de curtoprazo, quando esse acúmulo é feito na forma de biomassa nãolenhosa, ou de longo prazo, quando o acúmulo é feito naforma de biomassa lenhosa. As zonas ripárias são locais espe-cialmente importantes de acumulação biológica de nutrien-tes, pois as condições ambientais propiciam manutenção detranspiração elevada da vegetação, o que permite um maiorfluxo de nutrientes solúveis através do sistema radicular. Adap-tações morfológicas e fisiológicas das espécies vegetais, garan-tem tolerância a inundações e possibilitam a continuidade daabsorção de nutrientes mesmo sob condições de baixaoxigenação.4 - Corredores ecológicos: Como corredores dentro de baciashidrográficas, a vegetação situada na margem de rios tem ummodelo longitudinal único que exerce controle sobre os mo-vimentos de água, nutrientes, sedimentos e espécies. A distri-buição das zonas ripárias ao longo de cursos d’água terminampor formar um malha sobre grandes áreas de forma que tor-nam-se componentes fundamentais na manutenção das co-nexões biológicas ao longo de gradientes ambientais. A ve-getação marginal atual como corredor para migração e dis-persão. É consenso a hipótese de atuação de zonas ripáriascomo corredores para animais terrestres. Quanto à flora,diversas evidências comprovam a atuação das zonas ripáriascomo corredores biológicos, inclusive em preferência a rotaspor terra firme.5 - Fonte de nutrição e abrigo para fauna: A vegetação dezonas ripárias fornece abrigo e refúgio para mamíferos, ninhale poleiro para pássaros. As condições mais estáveis de umida-de e temperatura nessas zonas, são atrativos para a fauna. Adisponibilidade de água para a dessedentação, obviamente éum importante motivo para a visitação de zonas ripárias pormamíferos. Da mesma forma que mamíferos, maior número

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de indivíduos e espécies de pássaros também são encontradosem habitats ripários. Os detritos lenhosos, provenientes dessavegetação, depositados sobre o solo oferecem proteção e abri-go para pequenos mamíferos e pássaros, já os detritos vegetaisque caem dentro da calha dos cursos d’água oferecem refúgioe habitat para peixes e macroinvertebrados aquáticos.A matéria orgânica produzida em zonas ripárias é fonte denutrição para organismos terrestres e aquáticos. Diversos or-ganismos herbívoros alimentam-se diretamente da vegetaçãoripária e, além disso, a queda de detritos vegetais é sustentopara comunidades de invertebrados aquáticos e terrestres.Assim, alterações em comunidades de plantas ripárias, obvia-mente, podem afetar macroinvertebrados aquáticos e peixescomo conseqüência da modificação da cadeia trófica e habitats,bem como a diversidade de anfíbios, pássaros e mamíferos.6 - Proteção de plântulas: A vegetação ripária e seus detritossobre os solo retém, fisicamente, propágulos de plantas, favo-recendo o estabelecimento de espécimes vegetais. Em umaetapa posterior à de germinação das sementes, a presença davegetação e seus detritos protegem plântulas dos efeitos daerosão, da abrasão, da seca e da herbivoria.7 - Controle de microclima: A vegetação ripária exerce fortecontrole no microclima de cursos d’água. As zonas ripáriasoferecem condições mais estáveis de umidade e temperatura.Florestas ripárias, especialmente em estações quentes, influen-ciam a descarga de curso d’água através da evapotranspiração.8 - Diversidade de habitats: Restos de vegetação exercem umimportante papel biofísico na interação terra/ água. Em flo-restas ripárias, em substratos aluviais expostos, e em cursosd’água, eles acumulam-se, durante inundações, em pilhas.Cada pilha inclui pelo menos um grande pedaço de madeira(que atua como membro chave) capaz de resistir à corrente ecapturar fisicamente pedaços menores de madeira e detritosvegetais, tornando a pilha cada vez maior. Pilhas de detritosde madeira dissipam energia da água, capturam material emmovimento, e formam habitats distintos. Dependendo dotamanho, posição na calha e geometria, elas podem resistir eredirecionar a corrente, levando o poder erosivo da água atornar-se espacialmente heterogêneo, criando, desta forma,um mosáico de erosões e sedimentos ao longo do corredorripário. As freqüentes variações na duração e freqüência deinundações, concomitantes às mudanças do nível da água edeposição de sedimentos propiciam a criação e destruição dehabitats em diferentes escalas espaço-temporais.

157Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

A importância desses ecossistemas únicos de transição entreterra e água é reconhecida, e esforços têm sido empreendidosna sua preservação. Assim, diversos países têm adotado, comoferramenta de manejo de bacias hidrográficas, a delimitaçãode zonas de tampão ripária, definidas a uma determinadadistância partir da calha, onde atividades de uso do são restri-tas visando à proteção do curso d’água.No Brasil, a Lei 4.771/65 (Código Florestal), determina, emseu artigo 2º, áreas de preservação permanente, no entornode cursos d’água, lagos e lagoas, nascentes e olhas d’água (Art.2º, alíneas “a”, “b” e “c”). Adicionalmente, também pelo sóefeito da Lei 4.771/65, são consideradas como áreas de pre-servação permanente topos de morros, montes e serras (Art.2º, alínea “d”), encostas ou partes destas com declive superiora 45º, equivalente a 100 por cento na linha de maior declive(Art. 2º,alínea “e”), restingas, dunas e mangues (Art. 2º, alí-nea “f”), bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linhade ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem)metros em projeções horizontais (Art. 2º, alínea “g”) em alti-tude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquerque seja a vegetação (Art. 2º, alínea “h”). Pode ainda o PoderPúblico declarar áreas de preservação permanente destinadasa atenuar erosão de terras, fixar dunas, formar faixas de prote-ção ao longo de rodovias e ferrovias, auxiliar a defesa do terri-tório nacional, a critério das autoridade militares, protegersítios de excepcional beleza ou de valor científico ou históri-co, asilar exemplares da fauna ou flora ameaçadas de extinção,manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas,assegurar condições de bem estar público (Art. 3º da Lei4.771/65)79.

33. Sobre o tema versado, tem-se, ainda, o magistério de PauloBezerril Jr.:

A cobertura vegetal tem um papel importante, tanto nodeflúvio superficial. parte da chuva que escoa pela superfíciedo solo. como no deflúvio de base. resultado da percolaçãoda água no solo, onde ele se desloca em baixas velocidades,alimentando os rios e lagos. A redução da cobertura vegetalreduz o intervalo de tempo observado entre a queda da chu-va e os efeitos nos curso de água, diminui a capacidade deretenção de água nas bacias hidrográficas e aumenta o pico

79 Informação Técnica nº042/2005, de 04 de março de 2005

158 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

das cheias. Além disso, a cobertura vegetal limita a possibili-dade de erosão do solo, minimizando a poluição dos cursosde água por sedimento.

34. Constata-se, portanto, que as áreas de preservação permanente,em especial a vegetação ciliar, é de fundamental importância para o equilí-brio ecológico, sendo responsável pela sustentação dos seus nutrientes, pelaalimentação fluvial que nutre o lençol freático (reserva de água subterrâ-nea), além de propiciar a formação de microclimas que possibilitam a fixa-ção de uma fauna variada.

35. Dessa maneira, afigura-se patente o efeito degradante e pernici-oso que a lei municipal atacada poderá produzir ao meio ambiente, aspectoque, por si só, já poderia ensejar a declaração de sua invalidade, notadamentese se observar que este diploma legal somente foi editado para salvaguardarinteresses de proprietários (atuais e vindouros) de imóveis edificados (ou aserem construídos) às margens do Rio Paranaíba, ou seja, dentro de áreasconsideradas de preservação permanente.

36. O Poder Público local, a quem cabe garantir a efetividade dodireito ambiental, prevenindo danos ambientais e preservando os ecossistemasexistentes no município, em verdade, editou ato normativo para consolidare respaldar práticas de degradação ambiental, o que está em absoluta con-tradição com a obrigação constitucional que lhe foi atribuída.

Exsurge, de maneira indubitável, portanto, ofensa ao artigo 127,caput, da Constituição Estadual.

DA OFENSA AO ARTIGO 130, §§ 2º e 3º DA CONSTITUI-ÇÃO ESTADUAL

37. O artigo 130, § 2º e § 3º da Constituição Estadual prescreve que:

Art. 130. O Estado e os Municípios criarão unidades deconservação destinadas a proteger as nascentes e curso demananciais que:(...)§ 2. A vegetação das áreas marginais dos cursos d’água, nas-centes e margens de lago e topos de morros, numa extensãoque será definida em lei, é considerada de preservação per-manente, sendo obrigatória sua recomposição onde for ne-cessário.§ 3. É vedado o desmatamento até a distância de vintemetros das margens dos rios, córregos e curso d’água.” (ên-fases acrescidas)

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38. Constata-se que as áreas marginais dos cursos d’água, nascentes emargens de lago e topos de morro são consideradas, pela Constituição Esta-dual, áreas de preservação permanente, ou seja, espaços territorialmenteprotegidos, assim conceituados:

Espaços geográficos, públicos ou privados, dotados de atri-butos ambientais relevantes, que, por desempenharem pa-pel estratégicos na proteção da diversidade biológica existen-te no território nacional, requerem sua sujeição, pela lei, a umregime de interesse público, através da limitação ou vedaçãodo uso dos recursos ambientais da natureza econômicas (ên-fases acrescidas).

39. Dessa maneira, em se tratando de espaço territorialmente prote-gido, o artigo 225, § 1º, inciso III, da Constituição da República estabele-ce que incumbe ao Poder Público definir, em todas as unidades da Federa-ção, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegi-dos, sendo a alteração e a supressão permitidas através de lei.

40. No Estado de Goiás, a própria Constituição Estadual define quea vegetação das áreas marginais dos cursos d’água, nascentes e margens delago e topos de morros é considerada de preservação permanente. Quantoao Poder Público Federal e Estadual, assim o fizeram ao editarem, respecti-vamente, a Lei nº 4.771/65 (Código Florestal) e a Lei Estadual nº 12.596/95, ambas com harmônica redação ao definirem áreas de preservação per-manente, conforme adredemente transcritas.

41. Depreende-se, portanto, que a lei municipal ora questionada, aopermitir a edificação de obras e a conseqüente alteração e supressão parcialou total de vegetação em áreas consideradas de preservação permanentepela própria Constituição Estadual, está em claro descompasso com os pre-ceitos contidos no artigo 130, § 2º e § 3º da referida Carta.

DA OFENSA AO ARTIGO 132, § 3º DA CONSTITUIÇÃOESTADUAL

42. A Constituição Estadual em seu artigo 132, § 3º dispõe que:

Art. 132..............................................................................(...)§ 3º. Todo projeto, programa ou obra pública ou privada,bem como a urbanização de qualquer área, de cuja implanta-ção decorrer significativa alteração do ambiente, está sujeito àaprovação prévia do Relatório de Impacto Ambiental, pelo

160 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

órgão competente, que lhe dará publicidade e o submeteráà audiência pública, nos termos definidos em lei.” (ênfasesacrescidas)

43. Essas providências, ao que tudo indica, foram sumariamente ig-noradas, ou seja, não precederam à elaboração da lei questionada. Em virtu-de de sua própria razão de ser, como vimos, a vegetação em áreas considera-das de preservação permanente possuem uma importante e relevante fun-ção socioambiental e sua alteração ou supressão parcial ou total causam, porcerto, significativa alteração do meio ambiente.

44. Inobstante, observa-se, pelo teor da documentação coligida peloPresidente da Câmara Municipal de Itumbiara, que o Projeto de Lei nº 21/2005, de iniciativa do vereador Ivan Luiz Silva, foi apresentado em 04 deabril de 2005 e obteve aprovação nas sessões dos dias 05 e 06 subseqüentes,sem que fossem suscitados maiores questionamentos sobre a sua viabilidadeurbanística. Vê-se, portanto, que a Lei Municipal nº 3.047/05, além deconter vício de iniciativa insanável que a nulifica, também ressente-se deoutras formalidades legais, tais como aprovação prévia de Relatório de Im-pacto Ambiental e participação popular, irregularidades estas que, por cer-to, traduzem-se em inconstitucionalidades.

DA MEDIDA CAUTELAR. PRESENÇA DOS REQUISITOSEXIGIDOS À SUA CONCESSÃO. SUSPENSÃO DA LEI Nº 3.047 DOMUNICÍPIO DE ITUMBIARA POR FLAGRANTE VIOLAÇÃO AOSDISPOSITVOS DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL

45. Ao teor do exposto, cumpre seja reconhecida, pelo Órgão Espe-cial desse Colendo Tribunal de Justiça, a inconstitucionalidade formal ematerial da Lei nº 3.047/2005, de Itumbiara, a fim de que seja a mesmasubtraída do ordenamento jurídico local, pois, em caso contrário, estar-se-á, sobretudo, e em última análise, a legitimar a exploração e/ou supressãodas áreas de preservação permanente instituídas pelo Código Florestal, pelaatuação do município, em claro extravasamento de sua competência suple-mentar.

46. Presentes os requisitos exigidos à concessão da medida cautelar afim de evitar grave lesão à ordem jurídica e social. Afigura-se plausível aargüição de inconstitucionalidade ora articulada, o que traduz o fumus boniiuris necessário à concessão da medida suspensiva, enquanto o periculum inmora também ressai transparente e consubstancia-se na inequívoca conti-nuidade dos danos ao meio ambiente e à saúde pública perpetrados pela

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norma ora impugnada em vigor: a norma edilícia, acaso continue a produ-zir os seus efeitos nefastos estimulará a construção de inúmeras edificaçõesao longo das margens do Rio Paranaíba, resultando na degradação dos re-cursos naturais existentes em áreas consideradas de preservação permanen-te, o que ensejará inevitavelmente prejuízo ambiental que uma vez consu-mado será de difícil e incerta reparação.

47. Assim sendo, ante a relevância da fundamentação expendida eestando presentes os requisitos exigidos para a concessão da medida cautelar,com eficácia ex nunc, nos termos previstos do artigo 10 da Lei nº 9.868/99e artigo 46, inciso VIII, “a”, da Constituição do Estado de Goiás, pleiteia-se a suspensão ad cautelam dos efeitos da Lei nº 3.047/2005, do Municí-pio de Itumbiara - GO, por flagrante violação aos artigos 4º, inciso II,alínea “f”, 64, inciso II, 77, inciso VIII, alínea “d”, 127, caput, 130, § 2ºe § 3º e 132, § 3º, todos da Constituição do Estado de Goiás.

DOS PEDIDOS

48. Diante do exposto, requer o Ministério Público:a) a suspensão ad cautelam dos efeitos da Lei nº 3.047/2005 do

Município de Itumbiara-GO comunicando-se ao Município de Itumbiarapara que se abstenha de dar-lhe aplicabilidade;

b) sejam colhidas informações, no prazo de trinta dias, do Presidenteda Câmara e do Prefeito Municipal de Itumbiara, nos termos do artigo 6ºda Lei Federal nº 9.868/99;

c) a citação do Procurador-Geral do Estado, nos termos do artigo 60,§ 3º, da Constituição do Estado de Goiás;

d) a abertura de vista dos autos a esta Procuradoria-Geral de Justiçapara o pronunciamento final;

e) a juntada do procedimento administrativo nº 60.622/2005, doqual consta cópia do texto impugnado, e

f ) seja julgada procedente a presente ação, pelas razões fáticas e jurí-dicas esposadas, para declarar a inconstitucionalidade da Lei Municipal nº3.047/2005.

Dá-se à causa o valor de R$ 100,00.Termos em que,Aguarda deferimento.

Goiânia, 09 de setembro de 2005

Saulo de Castro BezerraProcurador-Geral de Justiça

162 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

7.2 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CÓDIGO DEPOSTURAS. POLUIÇÃO SONORA. EXTRAVASAMENTO DACOMPETÊNCIA LEGISLATIVA MUNICIPAL. COMPETÊNCIAPRIVATIVA DA UNIÃO LEGISLAR SOBRE DIREITO CIVIL E PENAL.VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, MORALIDADE EIMPESSOALIDADE

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO EGRÉGIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DE GOIÁS

O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA, com fundamento noartigo 129, inciso IV, da Constituição da República, artigos 60 e 117,inciso IV, da Constituição do Estado de Goiás, artigo 29, inciso I, da LeiFederal nº 8.625/93 e artigo 52, inciso II, da Lei Complementar Estadualnº 25/98, vem perante esse Egrégio Tribunal de Justiça ajuizar a presenteAÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (com pedidoliminar) em face da Lei Complementar nº 153, de 9 de maio de 2006 e daLei Complementar nº 156, de 13 de junho de 2006, ambas do Municípiode Goiânia. GO, consoante as razões e fundamentos a seguir expostos.

DOS FATOS

1. A Câmara Municipal de Goiânia aprovou os Projetos de Leis nºs:35/05 e 004/2006, de autoria do vereador Samuel Belchior, e promulgou,recentemente, as Leis Complementares n°s: 153/2006 e 156/2006, queintroduziram alterações no Código de Posturas do Município de Goiânia.

2. A Lei Complementar nº 153, de 9 de maio de 2006 do Municí-pio de Goiânia - GO, que “Acrescenta § 7º no Art. 49 da lei Complementarnº 014, de 29 de dezembro de 1992”, preconiza que:

Art. 1. Fica acrescido o parágrafo 7º ao artigo 49 da LeiComplementar nº 14, de 29 de dezembro de 1992, com aseguinte redação:Art. 49...§ 7. Os proprietários de equipamentos de som que utilizemequipamentos sonoros em eventos tradicionais tais como car-naval, festas juninas, festas de largo, eventos religiosos e simi-lares, estão obrigados a efetivar acordo com órgão competen-te quanto aos níveis máximos de emissão sonora em valoresdiferenciados ao disposto neste artigo.

163Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

3. A Lei Complementar nº 156, de 13 de junho de 2006, que “Alteraa redação do Art. 46 e do inciso III, do § 2º do Art. 47 da Lei Complementarnº 014, de 29 de dezembro de 1992” –, por sua vez, dispõe o seguinte:

Art. 1º. O artigo 46 e o inciso III do § 2º do art. 47 da LeiComplementar nº 14, de 29 de dezembro de 1992, passa avigorar com a seguinte redação:Art. 46 - É proibido perturbar o sossego e o bem-estar públi-co ou da vizinhança com ruídos, algazarras barulhos ou sonsde qualquer natureza, excessivos e evitáveis, produzidos porqualquer forma, exceto para festas de largo, eventos religiosose similares, festas juninas e grandes eventos artísticos, esporti-vos, culturais e turísticos, de organização da iniciativa públicaou privada.

Art. 47 - (...)§ 2º (...)III - É vedado a realização de som ao vivo em local totalmenteaberto que cause transtorno e perturbação, ou que não tenhavedação acústica necessária, exceto para festa de largo, even-tos religiosos e similares, festas juninas e grandes eventos artís-ticos, esportivos, culturais e turísticos, de organização da ini-ciativa pública ou privada.

4. Verifica-se que as referidas leis modificaram dispositivos da LeiComplementar nº 14/92 (Código de Posturas) do Município de Goiâniapara, de forma censurável, permitir a perturbação do sossego e do bem-estar público, por ocasião da realização de festas de largo, eventos religiosose similares, festas juninas e grandes eventos artísticos, esportivos, culturais eturísticos. E, ainda, autorizar, nas mesmas situações, a realização de som aovivo em local totalmente aberto que cause transtorno e perturbação, ou quenão tenha vedação acústica necessária.

5. Tratam-se de leis teratológicas. Excetuam todas as atividades, even-tos, “shows”, festividades, etc. do imprescindível tratamento acústico adequa-do. Desobrigam as entidades organizadoras de zelar pela tranqüilidade doscidadãos (paz pública), referendando a conduta de perturbar alguém, o tra-balho ou o sossego alheios, por meio de gritaria ou algazarra, abuso de instru-mentos sonoros ou sinais acústicos etc., em inquestionável desrespeito às nor-mas concernentes ao direito de vizinhança (artigos 1.277 e seguintes do Có-digo Civil) e à proibição contida no artigo 42 da Lei de Contravenções Penais.São, a toda evidência, leis desprovidas de validade normativa, por apresenta-rem eivas de inconstitucionalidade, conforme se demonstrará:

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FUNDAMENTOS JURÍDICOS:

- Extravasamento da competência legislativa municipal. Afronta aosArtigos 4°, inciso II, aliena “f” e 64, Incisos I e II, ambos da Constituiçãodo Estado de Goiás.

6. Da leitura dos textos legais impugnados, observa-se, ao fácil, que oMunicípio de Goiânia, em virtude do conteúdo aberto das normas recente-mente editadas, liberou a realização de grandes eventos artísticos, esporti-vos, culturais e turísticos, em lugares abertos, situados na área urbana eresidencial desta Capital, sem, contudo, estabelecer quais os níveis máxi-mos de emissão sonora a serem obedecidos. Assim agindo, excedeu os limi-tes de sua competência legislativa, afeta ao interesse local, e acabouadentrando esfera privativa da União, na medida em que altera as normasde direito civil e penal, que regulam as relações de vizinhança e as contra-venções penais (Art. 22, inciso I da CF).

7. As leis municipais sub examine permitem, indiscutivelmente, ouso anormal da propriedade pública e/ou privada em detrimento da vizi-nhança local, para atender interesses financeiros das empresas produtorasde grandes eventos. Antes de o Município criar espaços adequados parafestas de maior participação popular, preferiu, de forma casuísta, introduziralteração no Código de Posturas para legitimar a prática nociva de poluiçãosonora nesta Capital e impor aos proprietários e/ou possuidores de imóveissituados em zonas residenciais e hospitalares interferências que lhes são al-tamente danosas, desconhecendo, assim, as disposições dos artigos 1.277 eseguintes do Código Civil, que regulam o direito da vizinhança e uso anor-mal da propriedade.

8. Não bastasse isso, nota-se que as alterações introduzidas pelas LeisComplementares 153 e 156 revogam o artigo 42, incisos I, II, III e IV doDecreto-lei nº 3.688 de 03/10/1941, a chamada LEI DAS CONTRA-VENÇÕES PENAIS, pois, na medida em que facultam a produção de ru-ídos fora dos limites estabelecidos no § 3º do artigo 49 da Lei Complemen-tar 014/92. Código de Posturas – e das normas técnicas da ABNT, estão, naverdade, permitindo A PERTURBAÇÃO DO TRABALHO OU DO SOS-SEGO ALHEIO. Isto quer dizer que a Câmara Municipal de Goiânia legis-lou sobre direito penal, matéria de competência privativa da União, nostermos do artigo 22, inciso I, da Constituição Federal.

9. Ademais, impende ressaltar que o Poder legislativo local tambémexorbitou a sua competência legislativa suplementar (art. 64, inciso II daCE) afeta à proteção do meio ambiente, quando deixou a critério exclusivo

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da Administração Pública municipal a definição dos níveis máximos deemissão sonora, os quais poderão ultrapassar os parâmetros estabelecidos nalegislação estadual e normas técnicas da ABNT.

10. Por se tratar de normas de reprodução obrigatória, os artigos 4º,inciso II, alínea “f”, e 64, inciso II, da Constituição Estadual, prescrevem oseguinte:

Art. 4º- Compete ao Estado, sem prejuízo de outras com-petências que exerça isoladamente ou em comum com aUnião ou com os Municípios:(...)II. legislar, concorrentemente com a União, sobre: (...)f- florestas, fauna, caça e pesca, conservação da natureza,defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meioambiente e controle da poluição”. (...)Art. 64. Compete aos Municípios: (...)II. suplementar a legislação federal e estadual, no quecouber;

11. Como é cediço, compete à União e aos Estados legislarconcorrentemente sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natu-reza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente econtrole da poluição. E no âmbito da legislação concorrente, a competênciada União limitar-se-á a estabelecer normas gerais, enquanto aos Estadoscompete complementar a legislação federal (cf. artigo 24, inciso VI e pará-grafos da Constituição da República).

12. Quanto aos Municípios, compete suplementar a legislação fe-deral e estadual no que couber (art. 30, inciso II, da Constituição daRepública).

13. Da análise desses preceitos constitucionais, pode-se afirmar quea competência atribuída aos Estados para complementar as normas geraisda União não afasta a competência dos Municípios de assim também proce-der, quando houver interesse local. Todavia, o Município não poderá, emnenhuma hipótese, dispor de forma desarmônica (ou menos restritiva) comas normas gerais da União e normas estaduais de complementação, de modoa contraditá-las; sua atuação, nesse caso, há de se limitar ao detalhamentodaquelas legislações, para adequá-las às particularidades locais, sob pena deinvadir seara normativa que não lhe é própria.

166 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

14. Em se tratando de limites de produção de ruídos, não se podeolvidar que no âmbito do Estado de Goiás tem-se a Lei nº 8.544, de 17 deoutubro de 1978, dispondo sobre o controle de poluição do meio ambien-te, cujo ato legislativo foi regulamentado pelo Decreto nº 1.745 de 6 dedezembro de 1979, que no seu artigo 69 (com redação dada pelo Decretonº 5.871, de 03 de dezembro de 2003) impõe observância aos níveis máxi-mos de ruídos estabelecidos pela ABNT. Confira-se:

Art. 69. O nível máximo de som ou ruído permitido a má-quinas, motores, compressores, vibradores e geradores estaci-onários, que não se enquadrem no art. 68, obedecerá à Nor-ma NBR 10.151. Acústica. Avaliação do Ruído em ÁreasHabitadas, da Associação Brasileira de Normas Técnicas.ABNT.Parágrafo único. O uso de altos falantes, rádios, orquestras,instrumentos isolados, aparelhos ou utensílios de qualquernatureza em residências e estabelecimentos comerciais ou dediversões públicas, deverá observar os mesmos níveis previs-tos na Norma NBR 10.151. Acústica. Avaliação de Ruídosem Áreas Habitadas, da ABNT, sendo considerado prejudi-cial à saúde e ao sossego público o seu desrespeito.

15. A par disso, a Resolução do Conama. Conselho Nacional doMeio Ambiente nº 001, de 08 de março de 1990, também estabelece que:

I. A emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer ativida-des industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive asde propaganda política, obedecerá, no interesse da saúde, dosossego público, aos padrões, critérios e diretrizes estabeleci-dos nesta Resolução.II. São prejudiciais à saúde e ao sossego público, para os finsdo item anterior os ruídos com níveis superiores aos conside-rados aceitáveis pela norma NBR 10.152. Avaliação do Ruí-do em Áreas Habitadas, visando o conforto da comunidade,da Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT.

16. Em sendo assim, é forçoso concluir que o Município de Goiâniatambém está adstrito às normas técnicas da ABNT e qualquer disposição legalem contrário importa em extravasamento de sua competência suplementar,passível de correção na esfera do controle abstrato de constitucionalidade.

17. Sobre a invasão da competência estadual ambiental pelo Municí-pio, vale transcrever anotação feita pelo Prof. Paulo Affonso Leme Machado,

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na sua obra Direito Ambiental Brasileiro, 13ª ED. Malheiros Editores, pág.386, verbis:

O Juiz Álvaro Luiz Valery Mirra. Mestre em Direito Ambientalpela Universidade de Estrasburgo -, com a sua habitual pre-cisão jurídica, acentua que “é bastante freqüente, na prática,que os Municípios, ao legislarem em tema de meio ambiente,procurem diminuir o rigor do legislador federal ou estaduale, com isso, ampliar ou facilitar o exercício de atividades po-tencialmente degradadoras do meio ambiente em seus terri-tórios, sem o devido respeito às restrições já anteriormenteestabelecidas pelas normas da União e dos Estados. Tais inici-ativas das municipalidades, porém, devem ser impugnadaspor contrariarem os limites constitucionais da competêncialegislativa dos Municípios.

18. No que tange especificamente à poluição sonora, o mestre deixaconsignado o seguinte (pág. 396):

A matéria sujeita-se à mesma disciplina que as outras setoriaisdo meio ambiente. Assim, deve o Município pesquisar a exis-tência de normas federais e estaduais sobre poluição sonora, e,se existirem, exigir o cumprimento das mesmas. Pode o Muni-cípio não só suplementar essas normas, com outras regras maisrestritivas, como, no interesse local, inovar no campo normativoda poluição acústica, determinando utilização de materiais iso-lantes ou diminuidores do som, construção de muros contra apropagação do som. A omissão do Município na formulaçãode normas urbanísticas e de meio ambiente, e na execuçãoestrita dessas normas no que concerne à poluição sonora, podesituar esse ente público na posição de réu de ação civil pública,de ação popular ou de outra ação judicial cabível.

19. Ante à argumentação esposada, ressai transparente a inconstitu-cionalidade das leis municipais impugnadas, por falta de compatibilidadecom o artigo 4°, inciso II, alínea “f” c/c o artigo 64, incisos I e II, ambos daConstituição do Estado de Goiás.

- Vulneração dos artigos 6°, inciso V, 127, “caput”, e 92, “caput”,todos da Carta Estadual.

20. É certo que o Município, em comum com a União e aos Estados,detém competência material para proteger o meio ambiente e combater

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todas as formas de poluição (art. 6°, inciso VI da Constituição do Estado).Logo, o controle e a fiscalização de todas atividades que produzam efetivaou potencialmente poluição (no caso, sonora) em qualquer de suas formas,são inerentes ao exercício do indelegável poder de polícia administrativa doMunicípio a quem compete prevenir e reprimir tais atividades poluidoras,dentro, é claro, dos parâmetros legais previstos.

21. No entanto, o Município de Goiânia, ao eximir os mega-eventos,“shows”, festas, atividades em geral etc. da observância aos níveis máximosde som ou ruídos previstos no Código de Posturas do Município e normastécnicas da ABNT, descurou-se de seu mister constitucional, eis que deixoua critério exclusivo da autoridade municipal a definição de outros limites depoluição sonora, discricionariedade esta que pode, obviamente, dar mar-gem ao abuso, em detrimento do seu dever constitucional de defesa e pro-teção do meio ambiente. Antes de exercer o seu poder de polícia (poder-dever) para coibir práticas poluidoras, a administração pública veio, ao con-trário, respaldar tais lesões, que atentam contra a saúde e a qualidade devida da população local.

22. Não se discute que as atividades que direta ou indiretamenteprejudiquem a saúde e o bem-estar da população ou emitam sons em pa-drões não suportáveis pelo ser humano são consideradas fontes poluidoras(artigo 3º da Lei nº 6938/81) e, como tais, devem ser reprimidas pelopoder público, sob pena de responsabilização. A propósito, vale transcrevero artigo 3º da Lei 6.938/81:

Art. 3. Para os fins previstos nesta lei, entende-se por:I – meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influên-cias e interações de ordem física, química e biológica, quepermite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;II – degradação da qualidade ambiental: a alteração adver-sa das características do meio ambiente;III – poluição: a degradação da qualidade ambiental resul-tante de atividades que direta ou indiretamente:a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da po-pulação;b) criem condições adversas às atividades sociais e econô-micas:c) afetem desfavoravelmente a biota;d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambi-ente;e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrõesambientais estabelecidos;

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IV – poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito públicoou privado, responsável, direta ou indiretamente, por ativi-dade causadora de degradação ambiental;V – recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, su-perficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo,o subsolo e os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

23. Aliás, cumpre registrar, a título de ilustração, os comentários doProf. Paulo Affonso Machado, sobre os efeitos maléficos dos ruídos na saúdedo ser humano:

Estudo publicado pela Organização Mundial de Saúde as-sinala como efeitos do ruído: perda da audição; interferên-cia com a comunicação; dor; interferência no sono; efeitosclínicos sobre a saúde; efeitos sobre a execução de tarefas;incômodo; efeitos não específicos. Queremos dar ênfase so-bre a interferência do ruído sobre o sono. Primeiramente,assinale-se que encontramos uma ilusão freqüentementedifundida. a adaptação ao ruído. Essa adaptação é só apa-rente, pois se deixa de analisar os incômodos sofridos du-rante a noite. Pessoas que foram submetidas a controle deeletroencefalogramas, eletrocardiogramas etc., mostraramefeitos nocivos do ruído durante o sono. O sono assegura areparação da fadiga física e da fadiga mental ou nervosa doindivíduo. O sono é composto de várias etapas, cujas dura-ções variam no curso da noite. Primeiramente, há uma pre-ponderância dos estágios de sono lento ou profundo, asse-gurando-se principalmente a reparação física. Na segundaparte, onde o sono rápido ou paradoxal é maior, assegura-sea reparação nervosa. Nas fases paradoxais, o sono é relativa-mente leve e pode ser perturbado por ruídos fracos, o queirá impedir ou entravar a reparação do sistema nervoso.Como efeitos do ruído sobre a saúde em geral registram-sesintomas de grande fadiga, lassidão, fraqueza. O ritmo car-díaco acelera-se e a pressão arterial aumenta. Quanto aosistema respiratório, pode-se registrar dispnéia e impressãode asfixia. No concernente ao aparelho digestivo, as glân-dulas encarregadas de fabricar ou de regular os elementosquímicos fundamentais para o equilíbrio humano são atin-gidas (como supra-renais, hipófise etc.). O incômodo ouperturbação é geralmente relacionado aos efeitos diretamenteexercidos pelo ruído sobre certas atividades, por exemplos:perturbação da conversação, da concentração mental, dorepouso e dos lazeres. A existência e a dimensão do incômo-

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do são determinadas pelo grau de exposição física e porvariáveis conexas de ordem psicossocial.” (obra citada, pág.636/637)

24. Vê-se, portanto, que as aludidas alterações legislativas foram, atoda evidência, realizadas sob encomenda, para atender exclusivamente in-teresses privados, em especial, de representantes da indústria do entreteni-mento, sem nenhuma preocupação séria com o bem-estar dos munícipes. Apropósito, o Instituto Goiano do Terceiro Setor. IGTS, em documento en-caminhado à 81ª Promotoria de Justiça de Goiânia, credita a edição dasquestionadas leis à “IMPORTANTES VITÓRIAS JUNTO À CÂMARADE VEREADORES DE GOIÂNIA”.

25. Em última análise, as exceções introduzidas, em verdade esta-belecem, como regra, a algazarra, a balbúrdia, o direito de produzirruídos sem qualquer limitação. Estipulam que é proibido poluir, exce-tuando-se as atividades que efetivamente poluem e tal situação desvir-tua e invalida o próprio espírito do Código de Posturas e fere sobrema-neira o artigo 127, “caput”, da Constituição do Estado de Goiás, queassim estatui:

Art. 127. Todos têm direito ao meio ambiente ecologica-mente equilibrado, bem de uso comum do povo e essenci-al à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder públicoe à coletividade o dever de defendê-lo, recuperá-lo epreservá-lo.

26. Sob outro enfoque, o § 7º, acrescentado ao artigo 49, da LeiComplementar n° 014/92, pela Lei Complementar n° 153/2006, aoditar que: “Os proprietários de equipamentos de som que utilizem equi-pamentos sonoros em eventos tradicionais tais como carnaval, festasjuninas, festas de largo, eventos religiosos e similares, estão obrigados aefetivar acordo com órgão competente quanto aos níveis máximos deemissão sonora em valores diferenciados ao disposto neste artigo”, aten-ta contra os princípios da legalidade, da impessoalidade e da moralida-de administrativa, pois confere ao Secretário do Meio Ambiente (“ór-gão competente”) poder discricionário ilimitado para a liberação oulicenciamento do evento, sem nenhum critério técnico/objetivo previa-mente definido. O desrespeito aos princípios norteadores da Adminis-tração Pública, insculpidos nos artigos 37 da Constituição Federal e 92da Carta Estadual, torna-se ainda mais gravoso quando se percebe que aaplicação da norma municipal também contrapõe-se ao princípio da

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isonomia, na medida em que permite a determinados grupos, promoto-res de eventos, a extrapolação dos limites previstos no § 3º do artigo 49,do Código de Posturas, que variam de 45 a 70 decibéis, conduta vedadapara outras atividades ou estabelecimentos.

27. Dessa maneira, resulta demonstrada a INCOSTITUCIONALI-DADE DAS LEIS COMPLEMENTARES Nºs 153 E 156, DE 09 DEMAIO DE 2006 E 13 DE JUNHO DE 2006, DO MUNICÍPIO DEGOIÂNIA - GO, que “ACRESCENTA § 7º NO ART. 49 DA LEI COM-PLEMENTAR Nº 014, DE 29 DE DEZEMBRO DE 1992” e “ALTERAA REDAÇÃO DOS ARTS. 46 e 47, § 2°, INCISO III”; respectivamente,por flagrante violação ao artigo 4º, inciso, II, alínea “f”,artigo 6º, inciso V,artigo 64, incisos I e II, artigo 92, “caput”, artigo 127, “caput”, todos daConstituição do Estado de Goiás. Daí porque cabe a esse Egrégio Tribunalde Justiça reconhecer a invalidade destes atos legislativos, para expurgá-losdo ordenamento jurídico do Município de Goiânia, em respeito à supre-macia das normas constitucionais.

DA MEDIDA CAUTELAR. PRESENÇA DOS REQUISITOSEXIGIDOS PARA A SUA CONCESSÃO.

28. Ante a incompatibilidade material das leis municipais impugna-das com a Constituição do Estado de Goiás, afigura-se plausível a argüiçãode inconstitucionalidade ora articulada, o que traduz o fumus boni iurisnecessário à concessão da medida cautelar, tendente a suspender, provisori-amente, os efeitos dos atos legislativos atacados. O periculum in mora tam-bém ressai transparente, pois, acaso não haja uma atuação firme e rápida doPoder Judiciário, a Administração Municipal continuará expedindo licen-ças para os mais diversos tipos de eventos e autorizando a emissão sonora deruídos e sons em níveis superiores aos previstos no Código de Posturas,como aconteceu, recentemente, com a liberação do “CarnáGoiânia”, cujoevento foi realizado no autódromo de Goiânia, zona eminentementeresidencial.

29. Assim sendo, ante a relevância da fundamentação expendida eestando presentes os requisitos exigidos para a concessão da medida cautelar,com eficácia ex nunc, nos termos previstos do artigo 10 da Lei nº 9.868/99e artigo 46, inciso VIII, “a”, da Constituição do Estado de Goiás, pleiteia-se a suspensão ad cautelam dos efeitos das Leis Complementares n°s: 153/2006 e 156/2006, por flagrante violação aos artigos 4º, inciso II, alínea“f”; 6°, V; 64, incisos I e II; 92, “caput” e 127, caput, todos da Constitui-ção do Estado de Goiás.

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DOS PEDIDOS

30. Diante do exposto, requer o Procurador-Geral de Justiça:a) a suspensão ad cautelam dos efeitos das Leis Complementares n°

153 e 156/2006, do Município de Goiânia - GO, comunicando-se aomencionado Município para que se abstenha de dar-lhe aplicabilidade;

b) a solicitação de informações, no prazo de trinta dias, do Prefeito edo Presidente da Câmara Municipal de Goiânia, nos termos do artigo 6º daLei Federal nº 9.868/99;

c) a citação do Procurador-Geral do Estado, nos termos do artigo 60,§ 3º, da Constituição do Estado de Goiás;

d) a abertura de vista dos autos a esta Procuradoria-Geral de Justiçapara o pronunciamento final;

e) a juntada do procedimento administrativo nº 96.330/2006, doqual consta cópia dos textos legais impugnados, e

f ) o julgamento definitivo da presente ação, mediante o reconheci-mento da procedência do pedido e declaração da inconstitucionalidade dasLeis Complementares n°s: 153/2006 e 156/2006, ambas do Município deGoiânia, para, desta forma, suprimir o § 7º do artigo 49 do texto da LeiComplementar nº 014/92 e repristinar as normas originalmente contidasnos artigos 46, “caput” e 47, § 2º, III deste mesmo diploma legal.

Goiânia, 05 de outubro de 2006.

Saulo de Castro BezerraProcurador-Geral de Justiça

7.3 AÇÃO CIVIL POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.MINERAÇÃO. SONEGAÇÃO DE INFORMAÇÕES OU DADOSTÉCNICOS-CIENTÍFICOS EM PROCEDIMENTO DELICENCIAMENTO AMBIENTAL. CONCESSÃO DE LICENÇAAMBIENTAL SEM A PRÉVIA EXIGÊNCIA DE EIA/RIMA. VIOLA-ÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA MORALIDADE E LEGALIDADE AD-MINISTRATIVA. ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITODA _____ VARA CÍVEL E DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCADE ISRAELÂNDIA - GO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, no exercí-cio das suas atribuições constitucionais e legais, vem, respeitosamente, peran-

173Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

te Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 129, inciso III e 37, “caput”,e seu parágrafo 4º, da Constituição Federal; nos artigos 117, III e 92, “caput”,e seu parágrafo 4º da Constituição Estadual; na Lei nº 7.347/85 (Lei da AçãoCivil Pública), na Lei nº 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) e noartigo 25, IV, “a” e “b”, da Lei nº 8.625/93, propor a presente

AÇÃO CIVIL POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

em desfavor de NILTON DE OLIVEIRA SANTOS, brasileiro, agentefiscal da Agência Goiana de Meio Ambiente, podendo ser citado na 11ªAvenida, 1.272, Setor Leste Universitário, Goiânia-GO, CEP 74.605-060,ede NEUZELIDES MARIA REBELO FONSECA, brasileira, Chefe doDepartamento de Uso do Solo, sendo localizada no mesmo endereço, pararesponderem pelos fatos e fundamentos expendidos a seguir

DOS FATOS

Para esta propositura, motivou-se o Ministério Público nas irregula-ridades e ilegalidades existentes no procedimento de licenciamentoambiental nº 5601.02216/2000-1 — em trâmite na Agência Ambientalde Goiás — no qual Marly Pinto de Oliveira Neves requereu Licença paraExtração de granito em blocos na rodovia GO nº 422, Fazenda CapimBranco, Zona Rural, Jaupaci - GO.

O primeiro ato de improbidade administrativa diz respeito a fazerafirmação falsa e enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dadostécnico-científicos em procedimento de licenciamento ambiental.

Destarte, o réu Nilton de Oliveira Santos subscreveu o Auto de Inspeçãode nº 18.165 datado de 01 de novembro de 2004 e que tinha como objeto“vistoria para liberação de licenciamento pleiteado”, sonegando dados importantese em nada reproduziu os danos ambientais existentes e as atividades desenvolvi-das em desacordo com as normas legais e regulamentares pertinentes. E laconi-camente conclui: “...somos favoráveis ao licenciamento pleiteado”.

Contudo, Relatório de fiscalização ambiental do IBAMA datado desetembro/2004 (doc. anexo) e elaborado mediante vistoria in loco de seustécnicos asseveraram que:

A paisagem local apresenta-se bastante alterada pelos proce-dimentos de extração, pelas vias de acesso implementadaspara se atingir as frentes de trabalho e principalmente pelospátios de deposição dos blocos de granito extraídos;

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(...)A atividade de mineração desenvolvida na região, conformedescrito no item anterior deste documento, provocou umprocesso de degradação ambiental, comprometendo os as-pectos de conservação exigidos para áreas de Preservação Per-manente. Não se constata até a presente data uma atividadede recuperação do meio ambiente digna de citação, estando amesma reduzida a umas poucas mudas; algumas não adapta-das à situação local e espalhadas por pequenos trechos deacesso às zonas de exploração abandonadas.Impactos Ambientais Identificados na Exploração de Grani-to em Jaupaci.Qualquer que seja o tipo de atividade ou empreendimento,este sempre acarreta modificações ambientais, podendo esta serde caráter irreversível ou temporário. A amplitude da degrada-ção ambiental advinda da atividade de extração mineral é ta-manha que fez desta atividade a única a ser explicitada naConstituição Federal, em seu artigo 225, § 2º, que diz ‘Aqueleque explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meioambiente degradado, de acordo com solução técnica exigidapelo órgão público competente, na forma da lei’.Assim, conclusivamente, dentre os principais impactos cau-sados pela mineração na Área em Jaupaci, enumeram-se osseguintes:01)Alteração na Paisagem: A simples operação dos equipa-mentos de extração, a explora em si e o transporte do bemmineral afetam de maneira significativa à paisagem local. Soma-se a esse fato a destruição da vegetação no constatado. Umoutro fator digno de nota é a construção de vias de acessoligando os depósitos minerais que se encontram em zonas depreservação permanente.02)Supressão de Vegetação: Provocada, também, pela ope-ração dos equipamentos, pela exploração em si, pela disposi-ção do material extraído e dos rejeitos e pela circulação deveículos. É porem, reversível se houvesse manejo adequadoda vegetação existente no local. Hoje, em algumas circuns-tâncias locais, este tipo de recuperação é irreversível.03)Modificações na Estrutura do Solo: A atividade extrativaacarreta mudanças nas características do solo, aumentando oseu grau de compactação, de exposição ao sol e mudanças deordem microbiológica por incorporação de substâncias emsua composição.04)Favorecimento na Formação de Processos Erosivos: Asupressão da vegetação associada às demais atividades direta-

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mente relacionadas com a mineração e a exploração nas pro-ximidades do talude, promovem na formação de erosões.05) Interferência sobre a Fauna: A remoção de vegetação e amodificação na estrutura do solo, dentre outros fatores, pro-vocam a evasão ou alteração nos hábitos da fauna local.

Mais. Em razão de referido e degradante suporte fático a atividadesminerária. objeto do procedimento de licenciamento ora questionado. foidevidamente embargada/interditada pelo IBAMA (anexos autos de embar-go/interdição e apreensão).

É de frisar. e patente — que o agente não avaliou as condiçõesambientais da área e aspectos correlatos (cf. determinação do Técnico emMineração às fls. 121 do processo de licenciamento) e que o auto de inspe-ção foi ainda fator de extrema importância para a emissão da licença requerida.

Displicente, no mínimo, a conduta de quem tem por dever efetuarin loco as inspeções necessárias para aferir a regularidade nos pedidos e nãoo faz, ensejando a atuação ilegal de pessoas, em detrimento do meio ambi-ente. Mais séria se torna a acusação quando o AUTO DE INSPEÇÃO,elaborado por quem possui o dever legal de cumprir obrigação de relevanteinteresse ambiental, está viciado e eivado de dados falsos e discrepantes coma realidade.

Em seguida e ato contínuo perpetrou-se o segundo ato deimprobidade administrativa (concessão de licença em desacordo com asnormas ambientais).

Aos 19 de novembro de 2004, a ré Neuzelides Maria Rebelo Fonse-ca, Gerente do Uso do Solo da Agência Ambiental de Goiás, outorgou aLicença de Funcionamento nº 438/2004 a Marly Pinto de Oliveira Nevespara Extração de granito.

Contudo a atividade indevidamente licenciada já estava embargadapelo IBAMA desde 14 de agosto de 2004 (anexos autos de embargo/inter-dição, apreensão e depósito) e a ré Neuzelides Maria Rebelo Fonseca tinhainequívoca ciência dessa situação.

Por outro lado, no licenciamento em questão consta como condiçãoespecial a apresentação de Plano de Gestão Ambiental - PGA. É de estra-nhar-se, no entanto, que esta condição não precisou ser preenchida paraque a licença fosse emitida. Como é possível, dada a importância destedocumento, postergar-se sua exigência?

Pior. É inequívoca a necessidade da realização do EIA/RIMA. A Agên-cia Ambiental, de forma contraditória e não atendendo aos princípios bási-cos da administração estabelecidos nos artigos 37 e 225, § 1º, inciso IV, da

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CF, arbitrariamente entendeu por solicitar a apresentação de um PGA. Pla-no de Gestão Ambiental, que é uma avaliação de menor complexidade, quenão atendeu a sua finalidade única que seria de avaliar os efeitos do empre-endimento em área de preservação permanente.

O EIA/RIMA é a regra geral, só podendo ser dispensado em casosonde a degradação estaria situada em área não causadora de danos significa-tivos. Entretanto, para a Agência Ambiental, a regra passa a ser a exceção eo meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo, passa a serusufruído com total desrespeito por uma pessoa física e/ou jurídica e conva-lidado pelo Poder Público.

O pseudo Relatório de Controle Ambiental/Plano de ControleAmbiental existente nos autos do procedimento de licenciamento não cons-titui estudo idôneo e sequer faz referência ao passivo ambiental presente naárea a ser recuperado.

Noticia-se, em verdade, há anos, atos concessivos de licença em desa-cordo com as normas ambientais para atividades cuja realização depende deato autorizativo do poder público.

Instada a se manifestar, a Agência Ambiental de Goiás, por meio daré Neuzelides, expediu o DESPACHO DQ / GUS Nº 3504/2004 “solici-tando o cancelamento da licença”.. Tenta-se em vão e involuntariamente,querer dar ares de regularidade ao procedimento de licenciamento, postoque a licença poderia. e deveria na hipótese de comprovada ilegalidade comono presente caso. ser revogada pelo própria agente público que a emitiu.

Mais evidente ainda, o descaso ou o favorecimento particular ao ates-tarmos que a Agência Ambiental procedeu da mesma forma em outros pro-cedimentos administrativos de licenciamento na mesma região e cujas ati-vidades também foram objeto de embargo/interdição por parte do IBAMA.

DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS QUE REGEM A MATÉRIA

A Constituição Federal dispõe que:

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perdaou suspensão só se dará nos casos de:(...)V. improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.Art. 37. A administração pública direta e indireta de qual-quer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federale dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, tam-bém, ao seguinte :

177Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

(...)§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão asuspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, aindisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, naforma e graduação previstas em lei, sem prejuízo da açãopenal cabível. (ênfase acrescida)

DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE CAU-SARAM ATENTARAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRA-ÇÃO PÚBLICA

Pela análise detida dos documentos apresentados vê-se que se os ser-vidores em questão não só feriram o princípio da moralidade como, tam-bém, atuaram em afronta aos princípios da legalidade da administração.

Violaram, assim, os artigos 4°, 10 - X e XII e 11, caput e inciso I daLei 8.429/92 que dispõem:

Art.4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquiasão obrigados a velar pela estrita observância dos princípiosde legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade notrato dos assuntos que lhe são afetos.(...)Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa quecausa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ouculposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,malbaratamento, ou dilapidação dos bens ou haveres dasentidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:(...)X – agir negligentemente na arrecadação de tributo ou ren-da, bem como no que diz respeito à conservação do patrimô-nio público;(...)XII – permitir, facilitar ou concorrer para que terceira se enri-queça ilicitamente;(...)Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa queatenta contra os princípios da administração pública qual-quer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, enotadamente:I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamentoou diverso daquele previsto na regra de competência;(...)

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Houve, no mínimo, omissão da diligência indispensável, em razãoda relevante função pública exercida pela ré Neuzelides (Chefe do Departa-mento do Uso do Solo), na análise do caso concreto, que a impediu deprever, quando na realidade, se fosse cautelosa, poderia ter previsto, a im-possibilidade de concessão da licença requerida, sobretudo após tomar co-nhecimento do embargo/interdição da pretensa atividade a ser licenciada.

Ao conceder a licença deixou de observar requisitos e formalidadesessenciais, facilmente perceptíveis, enquanto a conduta do agente fiscal queagiu negligentemente na lavratura do auto de Inspeção tendeu a permitir efacilitar a expedição da licença ambiental.

Os réus são, inclusive, passíveis de responsabilização criminal, postoque restaram violados o art. 66 e 67 da Lei de Crimes Ambientais (Lei nº9.605/98).

Denota-se, ainda, que houve ilícito enriquecimento de particulares,os quais estão esmerando esforços para que a situação fática continue, emrazão de ação e omissão ilegal dos agentes públicos — que, de qualquerforma, permitiram, facilitaram e concorreram para que ocorresse tallocupletação ilícita —, em detrimento do meio ambiente (bem de uso co-mum do povo)

De fato. Os recursos minerais são considerados bens da União (cf.art. 20. IX da CF) e foram transferidos indevidamente para a esferapatrimonial de terceiros em razão da atuação indevida dos réus.

É de clareza meridiana, também, a ofensa e o desrespeito aos deveresde honestidade, imparcialidade, legalidade, eficiência e lealdade à institui-ção da qual faz parte a Agência Goiana de Meio Ambiente.

Isso porque, a afronta ao “dever de honestidade” corresponde à viola-ção do princípio da moralidade, e ao “dever de imparcialidade” à ofensa aoprincípio da impessoalidade, o que caracteriza inequívoca violação aos prin-cípios constitucionais reguladores da Administração Pública.

DO PEDIDO

Pelo exposto, o Ministério Público requer:(i) Seja a presente ação autuada e ordenada a notificação dos réus,

para, em querendo, oferecer manifestação por escrito, dentro do prazo de15 (quinze) dias, conforme dispõe o art. 17, parágrafo 7º, da Lei nº 8.429/92, com redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45/2001;

(ii) o recebimento e o processamento desta demanda na forma e norito preconizado no artigo 17 da Lei nº 8.429/92, juntando, para tanto, osdocumentos que acompanham essa inicial;

179Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

(iii) a comunicação pessoal dos atos processuais, nos termos do art.236, parágrafo 2º do Código de Processo Civil e do art. 41, inciso IV da Leinº 8.625/93;

(iv) sejam os réus citados pessoalmente, via mandado, para respon-der aos termos desta ação no prazo legal, sob pena de ser-lhes decretada arevelia, facultando-se ao oficial de justiça utilizar-se da providência previstano art. 172, parágrafo 2º do Código de Processo Civil;

(v) seja o Estado de Goiás cientificado da presente ação para, casoqueira, exercitar a faculdade prevista no art. 6º, parágrafo 3º, da Lei nº4.717/65;

(vi) a procedência dos pedidos, com a condenação dos réus NILTONDE OLIVEIRA SANTOS e NEUZELIDES MARIA REBELO FONSE-CA nas sanções civis relacionadas no art. 12, incisos II e III, pela prática dasinfrações descritas no art. 10, caput, incisos X e XII, e art. 11, caput, incisoI, todos da Lei nº 8.429/92.

Protesta provar o alegado por qualquer meio de prova admitido emdireito, máxime provas testemunhais, periciais e documentais, e, inclusive,pelos depoimentos pessoais do réus.

Dá-se a causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), para efeitoslegais.

Termos em que,Aguarda deferimento.

Israelândia-GO,_____de_______________de 2005

Promotor de Justiça

7.4 AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER.PRODUÇÃO DE ÁLCOOL. DEGRADAÇÃO DE ÁREASCONSIDERADAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE.NECESSIDADE DE PRÉVIO LICENCIAMENTO AMBIENTAL.OBRIGATORIEDADE DE REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIASPÚBLICAS. OBRIGAÇÃO DE RECUPERAR OS DANOS CAUSADOS

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTO JUIZ DE DIREITO DACOMARCA DE RIALMA. ESTADO DE GOIÁS.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Pro-motor de Justiça infra-assinado, legitimado pelos artigos 129, inciso III, daConstituição Federal; 1°, inciso I, c/c o 5º, da Lei da Ação Civil Pública (Lei

180 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

nº 7.347/1985); 82, inciso I, do Código de Proteção e Defesa do Consu-midor (Lei nº 8.078/90); 25, inciso IV da Lei Orgânica do MinistérioPúblico (Lei nº 8.625/93), vem respeitosamente à presença de Vossa Exce-lência, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA condenatória80 em OBRIGAÇÃODE FAZER e NÃO FAZER, com pedido de medida liminar, inaudita alte-ra pars, em desfavor de:

CRV INDUSTRIAL LTDA., inscrita no Cadastro Nacional de Pesso-as Jurídicas sob o nº 03.937.452/0001-92, inscrita na Secretaria da Fazendado Estado de Goiás sob o nº 10.343.502-6, representada pelo quotista Sr.Paulo Fernando Cavalcanti de Morais, portador da Cédula de Identidade nº533.886, expedida pela SSP-PE, com endereço na Fazenda Boa Vista, Km2,5, Zona Rural, município de Carmo do Rio Verde, Estado de Goiás.

Pelos seguintes fatos e fundamentos jurídicos expostos:

OS FATOS

Em decorrência de duas representações protocoladas nesta Promoto-ria de Justiça, acompanhadas de material em meio magnético (DVD) efotográfico (fls. 23/69), foi instaurado o inquérito civil nº 004/2006, vi-sando apurar a prática de dano ambiental pela demandada.

Segundo os relatos apresentados, a demandada, produtora de álcoolno município de Carmo do Rio Verde-GO, teria destruído área de preser-vação permanente em uma das propriedades de um de seus parceiros nestemunicípio (a demandada celebra contratos de parceria agrícola com propri-etários de área rural).

Apurou-se que, na propriedade do Sr. Valter Pereira Miranda (latitude15° 26’ 03”. longitude 49° 34’ 45”), situada na zona rural deste município,a demandada desmatou, em local de preservação permanente, área aproxima-da de 1.265,50 m² (mil, duzentos e sessenta e cinco metros e cinqüentacentímetros quadrados), às margens do Rio das Almas (doc. de fls. 63).

Além do desmatamento a demandada edificou um galpão no localonde será instalada uma bomba de sucção de água (centrífuga), com potên-cia de 150cv (cento e cinqüenta cavalos-vapor) e capacidade debombeamento máxima de 600m³/h (seiscentos metros cúbicos por hora).

Para a distribuição da água a ser captada no Rio das Almas a deman-dada ainda instalou no subterrâneo canos de diâmetro elevado, quedirecionarão a água até canais de distribuição (construídos em concreto)objetivando irrigar as propriedades dos Srs. Paulo Moreira, Bráulio Brandão80 Conforme a nova sistemática do Código de Processo Civil (art. 475 – N) “reconhecimento da

existência de obrigação”.

181Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Rego, dentre outros, todos partes em contratos de parceria agrícola com ademandada (cópias em anexo).

Conforme documentação apresentada à Promotoria de Justiça pelademandada (docs. de fls. 85/260), foi requerida à Secretaria do Meio Am-biente e dos Recurso Hídricos do Estado de Goiás, no dia 27 de julho de2006, a outorga de direitos de uso de recursos hídricos (derivação, capta-ção), até o presente momento não deferida.

Não houve, por parte da demandada, a realização de qualquerlicenciamento ambiental para a instalação do empreendimento (unidadede captação d’água, instalação de canos no subterrâneo, construção de ca-nais, etc.), limitando-se apenas ao requerimento da outorga de direitos deuso de recursos hídricos.

Em síntese, são os fatos que causaram enorme repercussão na comu-nidade regional e que possuem as seguintes implicações jurídicas:

AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

O Código Florestal Brasileiro (Lei nº 4.771/65) em seu artigo 2º,dispõe o seguinte:

Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo sóefeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetaçãonatural situadas:a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seunível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:(Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de10 (dez) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803de 18.7.1989)2 - de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d’água que te-nham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta) metros de largura; (Re-dação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)3 - de 100 (cem) metros para os cursos d’água que tenham de50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de largura; (Reda-ção dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989)(...)

Vê-se, portanto, que com o objetivo claro de preservar os recursoshídricos, o legislador ordinário erigiu em área de preservação permanente(que não pode ser destruída !!!), as florestas e demais formas de vegetaçãonatural, situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água.

182 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Para compatibilizar a medida de proteção com os interesses econô-micos dos proprietários dos imóveis “afetados” com a restrição, o legisladorerigiu a “largura” do curso d’água como base de cálculo para a aferição daárea de preservação permanente, fixando-a entre 30m (trinta metros) a 500m(quinhentos metros), conforme prescrito no artigo citado.

No caso específico do Rio das Almas, que possui largura variável emseu curso, da nascente à foz, a área de preservação permanente a ser obser-vada é de 100m (cem metros), conforme item “3”, da aliena a do artigo 2º,do Código Florestal.

Decorre, portanto, do breve esboço, que a demandada edificou, cons-truiu em área proibida por lei, ou seja, em local que deveria ser permanen-temente preservado!

Conforme se depreende de fotografia encontradiça no software GoogleEarth (doc. de fls. 262) a área destruída pela demandada era composta dedensa vegetação e não de área de pastagem, já desmatada, como quer fazerparecer no Projeto de Recuperação de Área Degradada, encaminhado àPromotoria de Justiça (doc. de fls. 231/260).

Assim, deve ser compelida a recompor o dano ambiental causado(obrigação de fazer), inclusive com a demolição das obras efetuadas na áreade preservação permanente, buscando o status quo ante.

O LICENCIAMENTO AMBIENTAL

A Constituição Federal, em seu artigo 225, § 1º, inciso IV, dispõe oseguinte:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamen-te equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial àsadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e àcoletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-sentes e futuras gerações.§ 1. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe aoPoder Público:(...)IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou ativida-de potencialmente causadora de significativa degradação domeio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que sedará publicidade;(...)

Decorre, portanto, da Constituição Federal a necessidade de prévioestudo de impacto ambiental para a instalação de obra ou atividade poten-cialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente.

183Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Por seu turno, a Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacio-nal do Meio Ambiente e que foi recepcionada pela Constituição Federal de1988, dispõe na cabeça de seu artigo 10, o seguinte:

Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamen-to de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursosambientais, considerados efetiva ou potencialmentepoluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, decausar degradação ambiental, dependerão de préviolicenciamento por órgão estadual competente, integrante doSISNAMA, sem prejuízo de outras licenças exigíveis.

A citada lei ainda erigiu o CONAMA. Conselho Nacional do MeioAmbiente como órgão superior do Sistema Nacional do Meio Ambiente.SISNAMA, com atribuição para estabelecer, dentre outras, normas e crité-rios para o licenciamento de atividades.

No exercício de sua atribuição o CONAMA editou as Resoluções nº001/1986 (Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para o Relató-rio de Impacto Ambiental - RIMA” - Data da legislação: 23/01/1986 -Publicação DOU: 17/02/1986) e nº 237/1997 (Regulamenta os aspectosde licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional do MeioAmbiente” – Data da legislação: 22/12/1997 – Publicação DOU: 22/12/1997), especificamente destinadas ao estudo de impacto e ao licenciamentoambiental.

Não há suporte jurídico a respaldar a ausência de estudo prévio deimpacto ambiental e de licenciamento ambiental por parte da requerida,quanto ao empreendimento que está sendo instalado neste município, so-bretudo pela enorme possibilidade de causar degradação ambiental,notadamente pela captação de grande volume de água do combalido Riodas Almas e de sua distribuição em uma área de 1.582,89 HA (conformeprojeto apresentado pela demanda em anexo).

Estamos falando na captação de 166,66l (cento e sessenta e seis litrose sessenta e seis centilitros) de água por segundo, ou seja, aproximadamente10.800.000l (dez milhões e oitocentos mil litros) de água por dia, conside-rando que a demandada, em seu requerimento de outorga protocolado naSecretaria do Meio Ambiente e dos Recurso Hídricos do Estado de Goiás,informou que irá manter em funcionamento a bomba a ser instalada, porum período de 18 (dezoito) horas, durante os meses de junho a agosto e,eventualmente, durante os meses de maio a setembro.

Trata-se, portanto, de atividade capaz de causar significativa degra-dação ambiental, sendo imprescindível a realização de estudo de impacto

184 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

ambiental, com a necessária publicidade e participação da comunidade in-teressada.

Além do mais, a Resolução nº 237/1997, do CONAMA, no § 1º,do artigo 2º, dispõe que estão sujeitos ao licenciamento ambiental os em-preendimentos e as atividades relacionadas no “Anexo 1”. Dentre as ativi-dades relacionadas no anexo, no subitem referente a obras civis, encontra-mos, como enquadradas as obras referentes a canais para drenagem, retifi-cação de curso de água, abertura de barras, embocaduras, canais e transpo-sição de bacias hidrográficas.

Ainda que não se possa enquadrar o empreendimento da demandadaem qualquer dos itens relacionados (cuja lista é exemplificativa), devemoster sempre em mente que, em matéria ambiental, vigoram princípios comoo da precaução, da prudência ou cautela, que podem ser resumidos comoaqueles que determinam que não se produzam intervenções no meio ambi-ente antes de ter a certeza de que estas não serão adversas.

Dessume-se, portanto, que é imperiosa a condenação da demandadaa realizar o licenciamento ambiental junto ao órgão estadual competente,com plena discussão de seus impactos com a comunidade da região, comopressuposto inafastável para o funcionamento do empreendimento em ques-tão.

Ressalte-se que, a demandada requereu junto à Secretaria do MeioAmbiente e dos Recurso Hídricos do Estado de Goiás, apenas outorga dedireitos de uso de recursos hídricos, sendo que isso não a isenta dolicenciamento ambiental que, no Estado de Goiás, é realizado pela AgênciaAmbiental do Estado de Goiás.

OS OBJETOS DA PRESENTE AÇÃO

A presente ação, adotando-se a teoria da substanciação, tem comocausa de pedir remota, o dano ambiental causado pela demandada em áreade preservação permanente e a instalação/implantação de atividade compotencial capaz de causar degradação ambiental, sem o devido licenciamento,o que envolve a realização do competente estudo prévio de impacto ambientale respectivos relatórios.

Assim, diante dos fatos, em ordem de precedência, impõe-se a con-denação da demandada no seguinte:

1. LICENCIAR junto ao órgão estadual competente o empreendi-mento questionado, contemplando a elaboração de estudo prévio de impactoambiental e relatórios respectivos, dando-se ampla publicidade dos resulta-dos, sobretudo com a realização de audiências públicas (obrigação de fazer);

185Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

2. REPARAR O DANO AMBIENTAL, com o retorno ao status quoante, da área de preservação permanente degrada, inclusive com odesfazimento das obras civis e retirada dos canos e acessórios, de acordocom Projeto de Recuperação, devidamente aprovado pelo órgão ambientalcompetente (obrigação de fazer);

3. NÃO PROSSEGUIR na implantação do empreendimento (queenvolve a continuidade de obras civis, instalação de bombas, rede elétrica,colocação de canos, teste de funcionamento, estanqueidade, etc.), até aobtenção do licenciamento previsto no item 1º e apresentação dos estudos,relatórios e discussão com a comunidade através da realização de audiênciaspúblicas (obrigação de não fazer).

DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Embora não mais passível de questionamentos, a legitimidade doMinistério Público à presente ação decorre, sobretudo, da ConstituiçãoFederal que, em seu artigo 129, inciso III, dispõe o seguinte:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:(...)III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para aproteção do patrimônio público e social, do meio ambiente ede outros interesses difusos e coletivos;(...)

Trata-se, portanto, de função institucional do Ministério Público, apromoção do inquérito civil público e da ação civil pública para a proteção,dentre outros interesses difusos e coletivos, do meio ambiente.

Da mesma forma, regulamentando a ação civil pública, a Lei Federalnº 7.347/85, em seu artigo 1º, dispõe que são regidos por esta lei, as açõesde responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

l – ao meio-ambiente;ll – ao consumidor;III – à ordem urbanística;IV – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,turístico e paisagístico;V – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.VI – por infração da ordem econômica.

Como legitimados, a lei arrola em seu artigo 5º, o Ministério Públi-co, a União, os Estados e Municípios, além das autarquias, empresas públi-

186 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

cas, fundações, sociedade de economia mista e as associações que preen-cham os requisitos legais.

Portanto a legitimidade do Ministério Público à presente ação possuiextrato constitucional, sendo incabível qualquer questionamento em senti-do contrário.

DA LIMINAR DE ANTECIPAÇÃO PARCIAL DOS EFEITOS DATUTELA

A presente ação objetiva condenar a demandada nas obrigações defazer e de não fazer acima especificadas, tendo por fundamentos fáticos aprática de dano ambiental e a ausência de licenciamento ambiental de em-preendimento com enorme potencial de causar degradação ambiental.

Referida degradação, sobretudo considerando a extensão e impor-tância do Rio das Almas, possui relevância de âmbito regional não se limi-tando apenas aos municípios integrantes desta comarca.

Até o presente momento o empreendimento não entrou em funcio-namento, com a captação do grande volume de água pretendido, pelo em-bargo/interdição realizado pelo IBAMA. Instituto Brasileiro do Meio Am-biente (doc. de fls. 75), após solicitação de providência pelo MinistérioPúblico, conforme ofício de folha 71 dos autos do inquérito civil que ins-trui a presente.

Sabe-se que a demandada é detentora de enorme poder econômico enão medirá esforços para a continuidade de suas obras e funcionamento dosistema de captação d’água, visando à irrigação de suas plantações de cana-de-açúcar. São comuns as denúncias de que a demandada chega a “secar” oscórregos e rios que utiliza quando por ocasião do processo de irrigação desuas plantações (isto pode ser facilmente comprovado por meio de depoi-mentos testemunhais).

O obtenção da outorga de direitos de uso de recursos hídricos é questãode dias, já que a demandada possui diversas outorgas concedidas pela Secre-taria do Meio Ambiente e dos Recurso Hídricos do Estado de Goiás, inclu-sive dos córregos que “secam” por ocasião da irrigação.

Com a obtenção da outorga, certamente o IBAMA. Instituto Brasi-leiro do Meio Ambiente, será compelido a levantar o embargo/interdição,sobretudo porque a demandada já mandou realizar um Projeto de Recupe-ração da Área Degradada, encomendado após ter sido descoberta em atua-ção ilegal.

Ocorre que, conforme acima historiado, a recomposição e/ou recu-peração da área degradada deverá ocorrer com o retorno ao status quo ante,

187Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

ou seja, com a demolição de todas as obras e plantio de árvores nativas queforam brutalmente arrancadas. Vê-se, portanto, que o projeto apresentadopela demandada não atende ao requerido na presente ação, já que não con-templa o retorno da área ao status quo ante, sobretudo porque estamos atratar de degradação de área de preservação permanente.

Em sede de cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o Códi-go de Processo Civil Brasileiro, com as alterações que têm procurado conce-der eficácia aos provimentos jurisdicionais, dispõe em seu artigo 461, oseguinte:

Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento deobrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutelaespecífica da obrigação ou, se procedente o pedido, deter-minará providências que assegurem o resultado prático equi-valente ao do adimplemento.§ 1o A obrigação somente se converterá em perdas e danosse o autor o requerer ou se impossível a tutela específica oua obtenção do resultado prático correspondente.§ 2o A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízoda multa (art. 287).§ 3o Sendo relevante o fundamento da demanda e havendojustificado receio de ineficácia do provimento final, é lícitoao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justifi-cação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá serrevogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fun-damentada.§ 4o O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou nasentença, impor multa diária ao réu, independentementede pedido do autor, se for suficiente ou compatível com aobrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimentodo preceito.§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção doresultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou arequerimento, determinar as medidas necessárias, tais comoa imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreen-são, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras eimpedimento de atividade nociva, se necessário com requi-sição de força policial. (Redação dada pela Lei nº 10.444,de 7/5/2002)§ 6o O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a perio-dicidade da multa, caso verifique que se tornou insuficienteou excessiva. (Incluído pela Lei nº 10.444, de 7/5/2002)

188 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Conforme se depreende do § 3º, sendo relevante o fundamento dademanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final élícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação pré-via, citado o réu.

Portanto, diversamente da antecipação da tutela genérica do artigo273 do Código de Processo Civil, os requisitos para a tutela das obrigaçõesde fazer e não fazer são diversos, ou seja, o relevante fundamento da deman-da e o justificado receio de ineficácia do provimento final.

O relevante fundamento da demanda, que nada mais representa queo fumus boni juris e o justificado receio de ineficácia do provimento final,que representa o periculum in mora, estão cumpridamente demonstradosnos documentos que acompanham a presente ação.

No presente caso é relevante o fundamento da demanda, já que énítida e comprovada pela documentação anexada a presente, que a deman-dada causou dano ambiental de monta e encontra-se em vias de causargrande degradação ambiental com a captação de volumes expressivos deágua do já combalido Rio das Almas.

A título de comparação, para análise da potencialidade lesiva da con-duta da demandada, a Organização Mundial da Saúde - OMS, calculouque são necessários 200l (duzentos litros) de água por habitante por dia,para uma vida saudável. A demandada pretende captar, em um único dia,água bruta (sem tratamento) no importe aproximado de 10.800.000l (dezmilhões e oitocentos mil litros) do Rio das Almas, o que eqüivale dizer, oconsumo ideal de 54.000 (cinqüenta e quatro mil) pessoas. Ou seja, maisque o consumo ideal da população dos municípios de Rialma, Rianápolis,Santa Isabel, Ceres, Uruana e Carmo do Rio Verde, somadas (conformedados do IBGE do ano de 2005).

Do mesmo modo se a inibição do funcionamento do empreendi-mento. captação de água. somente ocorrer ao final com o julgamento defi-nitivo da ação, com todos os recursos possíveis e imagináveis cabíveis, a“saúde” do Rio das Almas estará seriamente comprometida e, quem sabe, opróprio abastecimento da população e dos animais que dele dependem.

Tal assertiva, embora pareça exagerada, encontra respaldo em análiseleiga e profana que se faça da atual situação do Rio das Almas, onde emalguns trechos pode-se atravessá-lo com água na altura da canela. Some-se aisso o assoreamento de seus afluentes, o desmatamento desenfreado, a des-truição das nascentes, para que facilmente concluamos que, em curto espa-ço de tempo, teremos que buscar fontes alternativas de abastecimento.

Requer-se, a título de antecipação parcial dos efeitos da tutela, ape-nas a condenação da demandada na obrigação de não fazer, consistente em

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não prosseguir na implantação do empreendimento (que envolve a conti-nuidade de obras civis, instalação de bombas, rede elétrica, colocação decanos, teste de funcionamento, estanqueidade, etc.), até o competentelicenciamento ambiental, pelo órgão estadual com atribuição para tanto ediscussão com a comunidade por meio de audiências públicas, conformedeterminação da Constituição Federal.

DOS REQUERIMENTOS

Isso posto, requer o Ministério Público a Vossa Excelência o seguinte:1. Recebimento e autuação da presente, com os autos do inquérito

civil público nº 004/2006 e documentos que o instruem;2. A concessão de liminar, inaudita altera pars, nos termos do artigo

461, § 3º, do Código de Processo Civil Brasileiro, reconhecendo a obriga-ção da demandada (obrigação de não fazer), consistente em não prosseguirna implantação do empreendimento, até a o competente licenciamentoambiental, pelo órgão estadual e discussão com a comunidade através deaudiências públicas, conforme determinação da Constituição Federal, in-clusive com a fixação de multa diária para o caso de descumprimento;

3. Citação da demandada, na pessoa de seu representante legal para,querendo, contestar os termos da presente ação, sob pena de revelia;

4. Ao final, a procedência dos pedidos, para condenar81 a demanda-da, inclusive com a cominação de multa diária pelo descumprimento, nasobrigações de fazer e não fazer consistentes em:

a - LICENCIAR junto ao órgão estadual competente o empreendi-mento questionado, contemplando a elaboração de estudo prévio de impactoambiental e relatórios respectivos, dando-se ampla publicidade aos resulta-dos, sobretudo com a realização de audiências públicas (obrigação de fazer);

b - REPARAR O DANO AMBIENTAL, com o retorno ao status quoante, da área de preservação permanente degrada, inclusive com odesfazimento das obras civis e retirada dos canos e acessórios, de acordocom Projeto de Recuperação, devidamente aprovado pelo órgão ambientalcompetente (obrigação de fazer);

c - NÃO PROSSEGUIR na implantação do empreendimento até aobtenção do licenciamento e apresentação dos estudos, relatórios e discus-são com a comunidade por meio da realização de audiências públicas (obri-gação de não fazer). pedido coincidente com a medida liminar;

81 Conforme a nova sistemática do Código de Processo Civil (art. 475 – N) “reconhecimento daexistência de obrigação”

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5. A expedição de mandado ao Presidente da Agência Ambiental doEstado de Goiás, determinando a realização de exame pericial no local de-gradado pela demandada;

6. A expedição de ofício ao Secretário Estadual do Meio Ambiente eRecursos Hídricos. SEMARH, para que tome ciência da presente ação eadote as providência cabíveis para a fiscalização de outorgas de uso dosrecursos hídricos à demandada;

7° - A aplicação do disposto no artigo 18, da Lei nº 7.347/85;8. A produção de todas as espécies de provas admitidas em direito,

em especial a juntada de documentos; a testemunhal, cujo rol será apresen-tado no momento processual adequado; a pericial e a inspeção judicial;

9. A publicação de edital no órgão oficial, a fim de que os interessa-dos possam intervir no processo como litisconsortes (art. 94 da Lei nº 8.078/90);

10. A expedição de ofício à Rádio Alvorada. AM de Rialma-GO e àRádio Sucesso. FM de Ceres-GO, para divulgação da propositura da pre-sente ação a fim de possibilitar-se o conhecimento a eventuais litisconsortesfacultativos (art. 94 da Lei nº 8.078/90);

11. Intimação do Chefe do Escritório Regional do IBAMA. InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente, em Ceres-GO, para exercer a fiscalização doempreendimento e o cumprimento das decisões proferidas no curso da ação.

VALOR DA CAUSA

Embora de valor inestimável, já que o direito/interesse protegido é omeio ambiente, atribui-se à presente causa, nos termos do artigo 258, doCódigo de Processo Civil, o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Termos em que,

Pede deferimento.

Rialma, 26 de setembro de 2006

Paulo Henrique MartoriniPromotor de Justiça

191Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

7.5 AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINERAÇÃO. POLUIÇÃO HÍDRICA.LANÇAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS SEM TRATAMEN-TO. RECUPERAÇÃO. COMPENSAÇÃO DOS DANOSAMBIENTAIS. INDENIZAÇÃO POR DANOS PATRIMONIAIS EEXTRAPATRIMONIAIS

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DACOMARCA DE CRIXÁS. GO

“Que a sede de ouro é sem cura, e, por ela subjugados, oshomens matam-se e morrem, ficam mortos, mas não fartos”(Cecília Meireles)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por meiodos Promotores de Justiça que esta subscrevem, vem, respeitosamente, àpresença de Vossa Excelência, com fundamento nos art. 129, inciso III eart. 225, ambos da Constituição Federal; art. 117, inciso III, § 3º, da Cons-tituição do Estado de Goiás, art. 25, inciso IV, alínea “a”, da Lei Federal nº8.625/93 (LONMP), art. 46, inciso VI, alínea “a”, da Lei ComplementarEstadual nº 25/98 (LOEMP), nas Leis Federais de nº 9.605/98 (LCAmb),nº 8.078/90 (CDC), nº 6.938/81 (Lei que dispõe sobre a Política Nacio-nal do Meio Ambiente), nº 7.347/85 (LACP), nº 4.471/65 (Código Flo-restal), nas Leis Estaduais de nº 8.544/78, nº 12.596/95, nas ResoluçõesConama, e demais dispositivos aplicáveis à espécie, vem, respeitosamente,propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

em desfavor da MINERAÇÃO SERRA GRANDE LTDA., pessoa ju-rídica de direito privado, inscrita no CGC/MF sob o nº 42.445.403./0001-94, estabelecida na Rodovia GO-336, Km 97, s/n°, zona rural, município deCrixás, pelas razões de fato e fundamentos jurídicos a seguir expostos.

DOS FATOS

Constam das peças anexas que instruem e integram a presente de-manda. oriundas de inquérito civil regularmente instaurado sob o nº 002/94. que há alguns anos a empresa ré Mineração Serra Grande lançou ilegale indevidamente efluentes líquidos e sólidos no leito do Rio Vermelho,município de Crixás - GO, e que até o presente momento não recuperou,compensou e indenizou os danos causados.

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Os efluentes apresentavam elevados teores das substâncias altamentetóxicas e letais, tais como arsênio e cianeto e outros rejeitos químicos, e sua“descarga”. em razão de rompimento na Barragem de Rejeitos Químicos daempresa-ré. provocou significativos danos ambientais, socioeconômicos e àsaúde pública.

Constatou-se, ainda, que o lançamento do volume de água sem odevido tratamento, em proporções colossais (milhões de metros cúbicos)motivou a aplicação de multa diária no valor de 6 mil UFIRs (aproximada-mente 3,5 mil dólares à época dos fatos) pelo órgão ambiental, além dasuspensão da licença ambiental.

A própria ré, por meio de funcionários que exerciam à época impor-tantes e estratégicos cargos na empresa, confessou espontaneamente os lan-çamentos de tais substâncias e, por conseguinte, os danos ocorridos, osquais, inclusive, foram atestados por especialistas em Fundação e Barragem:

...Que no dia 1° de março os peritos em Fundação em Barra-gem chegaram a conclusão que para, digo, a única soluçãofactível no momento seria a descarga imediata, mas paulati-na, e controlada, acompanhada de monitoramento de apro-ximadamente 400m³ da água da Barragem que apresentavateores de Arsênio e Cianeto que sendo 2.99 a 5.0 ppm e0,42 a 1ppm respectivamente.(...)Que no dia 3 recebeu notificação ministerial solicitando quefossem prestadas informações sobre a situação atual da Barra-gem de Rejeitos, o que foi atendido no dia 4, na respostasalientava a Empresa que a única alternativa era o descarte daágua da barragem, na forma acima evidenciada para evitar-se omau maior rompimento da Barragem, com conseqüências ca-tastróficas podendo afetar vidas humanas bem como todoecossistema do Rio Vermelho. Na encruzilhada entre o maumaior e o mau menor optou a Serra Grande pela descargagradativa e monitorada da água da Barragem no Rio Verme-lho, que está sendo lançado no Rio média aproximada de1400m³ por hora, com um piso de 700m³ e teor de 3000m³quando atinge a plenitude de extravasor. Que juntamentecom os efluentes, inevitavelmente está sendo lançado no Riorejeitos sólidos em pequenas quantidades, através doextravasor. Que sabe informar que nos dias anteriores, ondedigo, quando chovia muito, a capacidade de vazão do RioVermelho variava de 25 mil a 35 mil m³, que tal operação seráfinalizada, provavelmente entre os dias 15 e 20 de cada mês.Que atualmente a empresa tem feito novos estudos com a

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finalidade de se apurar se poderá ser efetuada descarga menorde água da Barragem, ficando a referida Barragem com cotasuperior, digo, cota de água superior a 410m, devendo a mes-ma para isto apresentar condições de segurança. (...) Que desejasalientar que até o momento não foi possível chegar-se a con-clusão do motivo do acidente, que só poderá ser explicitadocom os estudos retro-mencionados. Deseja, ainda, declarar quea Empresa somente fez tal descarte por não haver outra alterna-tiva. Que desde o início tem mantido as autoridades informa-das, e vêm fazendo tal descarte de forma a comprometer omínimo possível o meio ambiente e o ecossistema da região, emuma ação preventiva, usando dos instrumentos legais(...). (ter-mo de declarações de às fls. 37/40 do ICP. ênfases acrescidas).

Essa pretensa solução levada a cabo pela ré, além de agravar os danosde expressiva extensão já existentes, não foi autorizada pelo órgão ambientalcompetente. Mais esclarecimentos prestados por funcionários da ré corro-boram os fatos ora expendidos:

(...) que sabe informar que o responsável por esses dados é oseu superior imediato, Dr. Sérgio Cardoso, que ocupa o cargode Chefe Departamento de Metalurgia; que ficou sabendoque no dia 26 houve um deslizamento na Barragem deRejeitos; (...) que trabalha na Empresa há quase um ano; quese recorda que o teor mais baixo, de arsênio, foi aproximada-mente 2.9 ppm. que o nível mais baixo em termos de Cianeto,recorda-se bem por ser um teor muito baixo, 0.05ppm; quesabe informar que o teor máximo de Arsênio encontrado atéhoje encontradas em suas análises foi de aproximadamente5.0ppm, esclarece o depoente que a unidade ppm que éinternacional, significa Parte por Milhão e tem equivalênciamiligrama litro (mg/l); que sabe dizer que nas análises feitasnunca passou de 0.5 ppm. Que sabe informar que o teor,digo, que o PH médio da água da Barragem é de 7.9, apro-ximadamente; que sabe informar que na última análise feitada água, da Barragem o teor de Cianeto era de 0, vinte epoucos e o teor de arsênio de era de 3, alguma coisa, ambosteores tem como unidade padrão o ppm; que sabe informarque o teor máximo encontrado em suas análises da água doRio Vermelho, tratando-se de Arsênio foi de aproximada-mente 0,15 ppm; que sabe informar que o monitoramentoatual, do Rio Vermelho está sendo feito, dioturnamente deduas em duas horas em função do acidente; que sabe infor-

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mar que o Arsênio da região é o Arsênio pirita e que sendoo mesmo lançado na água e estando extremamente fino elese mistura na água, caso contrário, tende o mesmo a serdepositado no fundo do leito ou do reservatório (...). (termode declarações às fls. 41/43. ênfases acrescidas).

Os demais documentos acostados a essa exordial também estão ademonstrar e a comprovar que os parâmetros de substâncias altamente pre-judiciais ao meio ambiente estavam sobremaneira acima dos máximosparâmetros legais permitidos.

Positivados em várias análises e laudos anexados à presente fica pa-tente, portanto, que os lançamentos dos rejeitos químicos mencionados.principalmente arsênio e cianeto — não atenderam aos níveis recomenda-dos o que demonstra, de maneira inequívoca, a existência de gravíssimapoluição hídrica e a violação à legislação vigente.

A despeito do trágico suporte fático ora relatado, as diminutas medi-das de polícia administrativa adotadas pelos órgãos competentes (v.g.: Pre-feitura Municipal, Agência Ambiental) mostraram-se insuficientes. É in-concebível que a prática de atos, na forma omissa e comissa, que resultamem danos dessa magnitude, e relacionada à atividade significativamentepoluente (minerária). que se faz cada vez mais presente e em maior exten-são. permaneça impune.

Empreendimentos minerais de grande porte, como a ré MineraçãoSerra Grande, não podem se caracterizar predominantemente por uma “cul-tura extrativista”, atuando de maneira predatória e ignorando totalmente alegislação ambiental.

A inércia dos órgãos incumbidos de proteger o meio ambiente e asaúde pública, bem como a desídia e a inconseqüente e ilegal atitude da ré,cuja mora em recuperar, compensar e indenizar os danos causados aindapermanece na sua integralidade, não deixou ao Ministério Público outraalternativa que a propositura da presente demanda.

DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS QUE REGEM A MATÉRIA

A Constituição Federal dispõe que:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologica-mente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencialà sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder Público e àcoletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-sentes e futuras gerações.

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§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe aoPoder Público:I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais eprover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;II – preservar a diversidade e a integridade do patrimôniogenético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisae manipulação de material genético;(...)IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou ativi-dade potencialmente causadora de significativa degradaçãodo meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, aque se dará publicidade;(...) V – proteger a fauna e a flora (...)(...)§ 2. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado arecuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solu-ção técnica exigida pelo órgão público competente, na formada lei.§ 3. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meioambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, asanções penais e administrativas, independentemente daobrigação de reparar os danos causados (ênfases acrescidas).

DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS EM DES-RESPEITO ÀS NORMAS CONSTITUCIONAIS E REGULAMENTA-RES PERTINENTES E A RESPONSABILIDADE DA EMPRESAMINERADORA EM RECUPERAR, COMPENSAR E INDENIZAR OSDANOS CAUSADOS

O lançamento de efluentes líquidos sem o devido tratamento queacabou por provocar grave e expressiva poluição hídrica decorreu de ativida-de mineradora exercida pela ré, conforme restou amplamente demonstra-do. Ademais, trata-se de fato público e notório, fartamente documentado enoticiado à época (docs. anexos).

A Lei Federal nº 6.938/81 (LPNMA) dispõe que:

Art. 3. Para fins previstos nesta Lei, entende-se por:I – Meio Ambiente: o conjunto de condições, leis, influênci-as e interações de ordem física, química e biológica, que per-mite, abriga e rege a vida em todas as suas formas:II – Degradação da qualidade ambiental: a alteração adversadas características do meio ambiente;

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III - Poluição: a degradação da qualidade ambiental resul-tante de atividades que direta ou indiretamente:a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da popu-lação;b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;c) afetem desfavoravelmente a biota;d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambi-ente;e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrõesestabelecidos. (ênfases acrescidas).

No mesmo sentido, a Lei Estadual nº 8.544/78, que dispõe sobre ocontrole da poluição do meio ambiente.

As substâncias tóxicas lançadas no Rio Vermelho em razão da ati-vidade mineradora são, de forma incontestável, efetiva e potencialmen-te prejudiciais à saúde, à segurança e ao bem-estar da população. Emgrande quantidade, como na hipótese dos autos, podem ser considera-das letais.

A Resolução CONAMA nº 20/86, que dispõe sobre a classificaçãodas águas doces, salobras e salinas do Território Nacional, não deixa dúvidasacerca da deterioração da qualidade da água em razão do lançamento deefluentes sem o devido tratamento em desacordo com os padrões estabele-cidos.

O simples cotejar dos documentos, principalmente laudos e análisesquímicas, acostados à presente inicial, com os padrões estabelecidos poressa Resolução, por si só comprovam a degradação da qualidade ambientalresultante da atividade minerária desenvolvida pela ré.

Vale ressaltar que cabe ao Conselho Nacional de Meio Ambienteestabelecer, privativamente, normas, critérios e padrões nacionais relativosao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas aouso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos (cf. art.8º, VII, da Lei nº 6.938/81).

Desse modo, e por força irresistível dos raciocínios lógicos, restaramafetadas desfavoravelmente a biota e as condições estéticas e sanitárias domeio ambiente.

A responsabilidade da ré em recuperar e compensar integralmente osdanos causados mostra-se, portanto, indiscutível. A responsabilidade aqui,frise-se, é objetiva. E, por conseguinte, é irrelevante e impertinente a dis-cussão da conduta do agente (dolo ou culpa) para atribuição do dever deindenizar, de reparar o meio ambiente.

Assim, dispõe a Lei n° 6.938/81 (art. 14, § 1º):

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Art. 14. (...)§ 1ºSem obstar a aplicação das penalidades previstas nesteartigo é o poluidor obrigado, independentemente da exis-tência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados aomeio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. OMinistério Público da União e dos Estados terá legitimidadepara propor ação de responsabilidade civil e criminal pordanos causados ao meio ambiente. (ênfases acrescidas)

Por outro lado, a Lei n° 7.805/89 estabelece que:

Artigo 3°. A outorga da permissão de lavra garimpeira de-pende de prévio licenciamento ambiental concedido peloórgão ambiental competente.(...)Artigo 18. Os trabalhos de pesquisa ou lavra que causaremdanos ao meio ambiente são passíveis de suspensão temporáriaou definitiva, de acordo com parecer do órgão ambiental com-petente.(...)Artigo 19. O titular de autorização de pesquisa, de permis-são de lavra garimpeira, de concessão de lavra, delicenciamento ou de manifesto de mina responde pelos da-nos causados ao meio ambiente. (ênfases acrescidas).

Do exposto, podemos considerar como conseqüências da responsabi-lidade ambiental:

a) prescindibilidade de culpa e do dolo para que haja o dever deindenizar;

b) irrelevância da licitude da conduta do causador do dano para quehaja o dever de indenizar;

c) inaplicação, em seu sistema, das causas de exclusão da responsabi-lidade civil (cláusula de não indenizar, caso fortuito e força maior).

Pressupostos: evento danoso e nexo de causalidade. E entende-se pordano ao meio ambiente “qualquer lesão ao meio ambiente causada por condu-tas ou atividades de pessoa física ou jurídica de direito público ou privado”.

Ciente há anos dos danos ambientais que lhe são imputados, a ré nãoapresentou e não realizou qualquer recuperação, compensação ou indeniza-ção dos danos provocados e relacionados à sua atividade minerária — situ-ação que perdura até o presente momento.

Destarte, deve-se, in casu, analisar a possibilidade de efetiva reinte-gração do estado de equilíbrio dinâmico do sistema ecológico em momentoposterior à reparação.

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Por “recuperação do equilíbrio dinâmico” entenda-se não apenas arecuperação da capacidade funcional do bem, mas também a recuperaçãodas capacidades de auto-regulação e auto-regeneração do bem ambientallesado. Dessa forma, verifica-se que três níveis devem ser atendidos para quea reparação seja efetiva e satisfatória: capacidade de auto-regeneração, capa-cidade de auto-regulação e capacidade funcional.

É importante dizer, também, da imprescindibilidade da compensa-ção ecológica consistente na substituição do bem lesado por um bem funci-onalmente equivalente, de maneira que o patrimônio natural permaneça,no seu todo, qualitativa e quantitativamente inalterado.

Vale ressaltar, ainda, que a par do dano material, impõe-se a repara-ção do dano moral ambiental, principalmente, o coletivo. Sua reparação sedá de forma autônoma e independente da reparação do dano material. Odano extrapatrimonial ambiental evidencia-se aqui por meio de uma lesãoque trouxe desvalorização imaterial ao meio ambiente ecologicamente equi-librado e concomitantente a outros valores inter-relacionados como saúde equalidade de vida.

Configurada, portanto, a lesão objetiva (bem ambiental) e subjetiva(interesse coletivo), a reparação dos danos morais é indispensável como for-ma de restabelecer o equilíbrio ambiental. Nesse sentido, é importante aavaliação econômica dos recursos naturais para se calcular o montante deressarcimento devido à sociedade pelos danos causados ao meio ambiente.

Assim sendo, a conduta censurável e reprovável da ré é, conforme osfatos e fundamentos apresentados, passível de inequívoca responsabilizaçãocivil, administrativa e até mesmo penal.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer o Ministério Público, havendo substanciosaadequação entre o fato e o direito:

I – Seja a presente ação recebida, autuada e processada na forma e norito preconizado;

II. Digne-se seja a ré MINERAÇÃO SERRA GRANDE LTDA.citada na pessoa de seu Representante Legal, se for o caso através de Man-dado e Carta Precatória, para, querendo, vir responder aos termos da pre-sente ação no prazo legal, sob pena de aplicação dos consectários jurídicoslegais da revelia, o que desde já requer, facultando-se ao Oficial de Justiçapara a comunicação processual, a permissão estampada no artigo 172, §2°, do CPC;

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III – a procedência in totum do da ação proposta, com o julgamentodefinitivo de modo a satisfazer todos os objetivos expostos na presente peçavestibular inicial, em especial, quanto ao mérito:

1. Que a ré MINERAÇÃO SERRA GRANDE LTDA. seja conde-nada a recuperar e compensar os danos ambientais, socioeconômicos e àsaúde pública provocados em razão de sua atividade, de maneira que a repa-ração seja efetiva e satisfatória e o patrimônio natural permaneça, no seutodo, qualitativa e quantitativamente inalterado, nos moldes expostos nestaexordial.

2. Que seja, ainda, à ré MINERAÇÃO SERRA GRANDE LTDA.condenada a indenizar os danos extrapatrimoniais causados, cuja quantificação(quantum debeatur) deve ser feita por arbitramento, o que, desde já, se re-quer — a liquidação — antes da instauração do processo de execução (arts.586 e 602 do CPC);

IV – A publicação de Edital para dar conhecimento a terceiros inte-ressados e à coletividade, considerando o caráter erga omnes da Ação CivilPública;

V – Requer e protesta, ainda, provar o alegado por qualquer meio deprova admitida em direito, máxime provas testemunhais, periciais e docu-mentais, e, inclusive pelo depoimento pessoal do representante legal da ré,pleiteando, desde já. a juntada dos documentos anexos (Inquérito CivilPúblico nº 02/94, contendo _______ folhas, numeradas e rubricadas) quefazem parte do conjunto probatório colhido;

VI – Protesta-se, ainda, por eventual emenda, retificação e/oucomplementação da presente exordial, caso necessário;

VII – Seja condenada a ré ao pagamento da custas e demais cominaçõeslegais.

Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), para efeitoslegais e fiscais.

Termos em que,Aguarda Deferimento.

Delson Leone JúniorPromotor de Justiça

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador do CAO de Defesa do Meio Ambiente

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7.6 AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DISPOSIÇÃO INADEQUADA DERESÍDUOS SÓLIDOS (LIXO). ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.CONSTRUÇÃO DE ATERRO SANITÁRIO. BLOQUEIO DE VALORESCONSTANTES NO PLANO PULRIANUAL E LEI DE DIRETRIZESORÇAMENTÁRIAS

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE SÃOSIMÃO-GO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seusÓrgãos de Execução, com atribuições na Comarca de São Simão, respectiva-mente como Substituta Automática, Eventual, mediante Portaria nº 1662-PGJ, com fulcro no artigo 129, inciso III, da CRFB/88, bem como na Lei nº7347/85 e escudados, ainda, no Procedimento Administrativo de Portaria nº002/03, vem propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido deANTECIPAÇÃO DE TUTELA ESPECÍFICA em face do MUNICÍPIODE SÃO SIMÃO, pessoa jurídica de Direito Público Interno, representadoneste ato por JOSÉ MÁRCIO DE VASCONCELOS CASTRO, brasileiro,Prefeito Municipal de São Simão - GO., com endereço funcional correspon-dente à Praça Cívica, nº 01, Centro São Simão, CEP 75890-000;

Expondo os seguintes fatos e fundamentos para, ao final, requerer:

DOS FATOS

O ser humano, desde primórdios, vem se utilizando de recursos na-turais sem se preocupar, amplamente, com as conseqüências de sua inter-venção no meio ambiente em que está inserido.

Discute-se que o homem é o único ser que altera voluntariamente ascondições ambientais em benefício próprio, causando prejuízo à coletivida-de, agindo, contudo, com a premissa de bases racionais.

Nos últimos anos, tem sido crescente a preocupação quanto à preser-vação do meio ambiente, bem este considerado pelo Legislador Constituin-te de 1988, como de uso comum do povo, necessário às presentes e futurasgerações, situação que, com apoio da mídia, tem gerado um início deconscientização de base, provocando mudanças significativas de postura.

Não obstante, nem toda mudança é bem assimilada de imediato,tornando-se, necessária, às vezes, uma pacificação de posturas, fato que de-manda tempo.

No caso de políticas de preservação e conservação ambiental, estamosdegladiando contra o tempo, eis que a inércia ou a acomodação podem impor-

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tar em prejuízos irreversíveis, gerando a insustentabilidade da vida, não só dohomem isoladamente considerado, mas de toda a biota a qual está inserido.

Buscando uma ação mais positiva e almejando a efetividade que asnormas constitucionais devem alcançar, pautou-se o Ministério Público doEstado de Goiás, por adotar, nos últimos cinco anos, dentro de suas metasde atuação, o combate aos depósitos de lixos a céu aberto, fontes inesgotá-veis de prejuízos ambientais e de fomento de miséria, visto que muitasfamílias vinham retirando restos de alimentos já descartados, quase em es-tado de putrefação, como fonte de sustento.

Diante do quadro, foram enfatizadas ações extra-judiciais para que osMunicípios do Estado de Goiás, dentro de suas atribuições originárias, to-massem providências quanto à destinação dos resíduos sólidos, fazendo-odentro de padrões já regulamentados pelas regras estabelecidas pelos órgãosambientais existentes, evitando que danos maiores ao meio ambiente vies-sem a ser concretizados.

Alguns municípios, através de ações voluntárias, antes deacionamento extra-judicial do Ministério Público, iniciaram a construçãoadequada de aterros sanitários para recebimento dos resíduos sólidos, en-quanto outros municípios, só agiram após acionados extra-judicialmente,assinando Termos de Ajustamento de Conduta, vindo os resistentes, quenão alinharam as suas ações nos parâmetros determinados, receberam oacionamento judicial.

Todos estes fatos, que são de conhecimento notório, ressoam no Dis-trito de Itaguaçu, o qual se vincula ao Município de São Simão, posto que odepósito de resíduos sólidos do referido distrito não atende a quaisquer dasexigências legais, sendo considerado no padrão coloquial como “lixão a céuaberto”.

Instaurado Procedimento Administrativo em setembro do ano de2003, mediante abaixo-assinado pela comunidade do Distrito de Itaguaçu,fls. 05/12, foi o Município de São Simão, por meio de seu representante,devidamente instado para adoção de providências, fls. 13 e 18, deixando,contudo, de prestar qualquer tipo de informação ou adotar providências arespeito da poluição ambiental.

Trata-se de obrigação de fazer, correspondente a manter no Distrito deItaguaçu, local compatível com as exigências legais para o recebimento deresíduos sólidos, tendo como obrigação de não fazer, justamente a condutaidentificada atualmente, qual seja, manter os resíduos sólidos a céu aberto,sem qualquer tipo de tratamento ou adequação para sua manutenção.

Das provas carreadas para o Procedimento Administrativo, fls. 15/17 e 19/22, tem-se a extensão do dano ambiental, embora conste no Plano

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plurianual, fls. 36, previsão de atuação quanto à destinação de resíduossólidos, da ordem de R$ 720.000,00 (setecentos e vinte mil reais).

Em ação civil pública proposta no ano de 2001, pelo douto Promo-tor de Justiça, Dr. Daniel Pinhal Júnior, na Comarca de Bom Jesus - GO, omesmo já alinhava, in verbis:

Os “lixões” urbanos a céu aberto constituem-se sério proble-ma no tocante a aspectos do meio ambiente, da saúde públi-ca e suas interações. Alguns dos resíduos sólidos degradam-sefacilmente em contato com as intempéries; outros, ao contrá-rio, persistem por centenas de anos no meio ambiente, a sa-ber: a) papel, de 2 a 4 semanas; b) plástico, mais de 50 anos;c) lata, 100 anos; d) alumínio, de 200 a 500 anos; e e) vidro,tempo indeterminado.O impacto causado por determinados resíduos pode trazerconseqüências irreversíveis ao Meio Ambiente. Na questãodo lixo doméstico, sabe-se que materiais como pilhas de rá-dio, são colocados dentro de sacos de lixo. As pilhas contêmmercúrio, elemento responsável por graves problemas de con-taminação do homem e do meio ambiente; é absorvido pelosorganismos vivos e vai se acumulando de forma contínuadurante toda a vida. Pela contaminação da terra ou da água,entra facilmente na cadeia alimentar, representando um peri-go potencial para o homem que se alimenta dos peixes ouaves das áreas vizinhas aos “lixões”. A ação tóxica do mercúrioafeta o sistema nervoso central, provocando lesões no córtex ena capa granular do cérebro. São observadas alterações emórgãos do sistema cardiovascular, urogenital e endócrino. Emcasos de intoxicações severas, os danos são irreparáveis.Parece-nos evidente que, para as autoridades, é mais cômododeixar que a saúde pública se deteriore, ao invés de tentarresolver os problemas de saneamento básico, de forma objeti-va e eficaz. Segundo o “Perfil Ambiental e Estratégias – 1992– Secretaria Especial de Meio Ambiente do Estado de Goiás”:“A saúde pública vem sendo seriamente afetada pela baixaqualidade do saneamento básico, principalmente a falta detratamento de esgoto e a inadequada coleta e disposição delixo urbano.”Outra situação originada pelos “lixões” é a da decomposiçãodo lixo com pouco ou nenhum oxigênio, que contribui paraa formação do gás metano, representando um sério risco deincêndio nestas áreas. Além disso, como estes resíduos sãoapenas lançados em um lugar qualquer, existe também uma

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necessidade natural da expansão do “lixão”, com a conse-qüente derrubada gradativa da vegetação circunvizinha. Estaúltima situação ocorreu de forma claramente perceptível no“Lixão da Querosene” e, se providências não forem tomadas,voltará a ocorrer no “Lixão da Pecuária”.Também devem ser considerados, conforme já salientamos,os aspectos de poluição do ar, mediante a queimada do lixo,bem como de poluição visual, pois os “lixões” a céu aberto sãofétidos e visualmente repugnantes – confira-se pelas fotogra-fias anexas, embora nada se iguale a uma visita pessoal a esteslugares para comprovar tais assertivas.Outro sério problema advindo destes depósitos irregulares,sem as necessárias medidas de proteção, está relacionado àfacilidade de proliferação de vetores. As moscas apresentamum ciclo reprodutivo de 12 dias e botam cerca de 120 a 150ovos por dia, sendo responsáveis pela transmissão de cem espé-cies patogênicas; os roedores transmitem doenças, tais como aleptospirose e a salmonelose, e em apenas um ano de vida umafêmea gera 98 novos ratos; as baratas, por sua vez, se reprodu-zem exageradamente, visto que, em apenas um ano e meio, abarata gera 1.300 novas baratas, transmitindo doenças como ovírus da poliomielite e bactérias intestinais.Diante deste contexto, que no caso de Bom Jesus é agravadopela existências, já tantas vezes frisada, de dois “lixões”, faz-semister que medidas urgentes sejam tomadas, evitando-se, as-sim, que danos maiores venham a ocorrer. Sem dúvida, razãoassiste a Paulo Afonso Leme Machado quando assevera que:“Não podemos estar imbuídos de otimismo inveterado, acre-ditando que a natureza se arranjará por si mesma, frente atodas as degradações que lhe impomos. De outro lado, nãopodemos nos abater pelo pessimismo. A luta contra a polui-ção é perfeitamente exeqüível, não sendo necessário para issoamarrar o progresso da indústria e da economia, pois a polui-ção da miséria é uma de suas piores formas”.

Da inércia adotada pelo Município de São Simão, outra alternativanão resta que não a propositura da presente ação, visando à solução doproblema ambiental correspondente à falta de tratamento e adequação dosresíduos sólidos do Distrito de Itaguaçu.

Inquestionavelmente, o dano à saúde pública, decorrente do danoambiental com a manutenção de “lixões a céu aberto”, tem sede no Distritode Itaguaçu, embora devesse ser prioridade nas políticas públicas em ter-mos de combate.

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Necessário gizar que o acionamento judicial, através de Ação CivilPública, visando servir de instrumento para o cumprimento de políticaspúblicas não ofende o princípio de separação de poderes, posto que cabívele possível a intervenção do Estado-Juiz na solução de conflito de interessesqualificados pela inércia do Poder Público.

DA LEGITIMIDADE DO MINSITÉRIO PÚBLICO

A constituição da República Federativa do Brasil/88, em seu artigo127, ao estabelecer que ao Ministério Público incumbe a defesa da ordemjurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indis-poníveis, deixou bem clara a legitimidade para defender, também, direitosindividuais e sociais indisponíveis.

Aclarando, ainda mais a legitimidade do Ministério Público, o artigo129, da magna carta, em seu inciso III, dispôs:

“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Públi-co:I e II– omissis;III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para aproteção do patrimônio público e social, do meio ambiente ede outros interesses difusos e coletivos;. (Negritei).

Outrossim, a Lei nº 7347/85, que disciplina a ação civil pública,estabelece em seu artigo 5º, o seguinte:

Art. 5. A ação principal e a cautelar poderão ser propostaspelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Muni-cípios...I a II. omissis§ 1. O Ministério Público, se não intervir como parte, atuaráobrigatoriamente como fiscal da Lei.§§ 2º a 4. omissis;§ 5. Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Mi-nistérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Es-tados na defesa dos interesses e direitos de que cuida estaLei.

DA COMPETÊNCIA

O artigo 2º, da Lei nº 7347/85, dispõe:

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Art. 2º. As ações previstas nesta lei serão propostas no foro dolocal onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funci-onal para processar e julgar a causa.Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdiçãodo juízo para todas as ações posteriores intentadas que possu-am a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.

É imprescindível asseverar que o escopo da Lei da Ação Civil Públicaem concretizar a jurisdição no foro do local do dano, determinando a com-petência funcional do juízo, estava atrelada em permitir ao destinatário dasprovas, a efetivação da tutela jurisdicional, com maior clareza possível so-bre a extensão dos fatos e de suas conseqüências.

DO DIREITO

A Constituição da República Federativa do Brasil/88, em seu artigo,225, estabelece, in litteris:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamen-te equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial àsadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e àcoletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-sentes e futuras gerações.§ 1. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe aoPoder Público:I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais eprover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;II – preservar a diversidade e a integridade do patrimôniogenético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisae manipulação de material genético;III – definir, em todas as unidades da Federação, espaçosterritoriais e seus componentes a serem especialmente pro-tegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somen-te através de lei, vedada qualquer utilização que compro-meta a integridade dos atributos que justifiquem sua pro-teção;IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou ativi-dade potencialmente causadora de significativa degradaçãodo meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, aque se dará publicidade;V – controlar a produção, a comercialização e o emprego detécnicas, métodos e substâncias que comportem risco para avida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

206 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

VI – promover a educação ambiental em todos os níveis deensino e a conscientização pública para a preservação do meioambiente;VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, aspráticas que coloquem em risco sua função ecológica, provo-quem a extinção de espécies ou submetam os animais a cruel-dade.§ 2. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado arecuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solu-ção técnica exigida pelo órgão público competente, na formada lei.§ 3. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meioambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas,a sanções penais e administrativas, independentemente daobrigação de reparar os danos causados.

Novamente, a Lei nº 7347/85, estabelece, in litteris:

Art. 1º – Regem-se pelas disposições desta lei, sem prejuízosda ação popular, as ações de responsabilidade por danos mo-rais e patrimoniais causados.I - ao meio ambiente.II a III. omissis;IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivoArt. 2. As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro dolocal onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funci-onal para processar e julgar a causa.Parágrafo único - A propositura da ação prevenirá a jurisdiçãodo juízo para todas as ações posteriormente intentadas quepossuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto..............................................................................................Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obri-gação de fazer ou não fazer juiz determinará o cumprimentoda prestação da atividade devida ou cessação da atividadenociva, sob pena de execução específica, ou de cominação demulta diária, se esta for suficiente ou compatível, indepen-dentemente de requerimento do autor.

No âmbito da Constituição do Estado de Goiás, encontra-se previs-to, in litteris :

Art. 6. Compete ao Estado, em comum com a União e osMunicípios:

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I – zelar pela guarda da Constituição, das leis e das institui-ções democráticas e conservar o patrimônio público;II – omissis;III – proteger documentos, obras, monumentos, paisagensnaturais, sítios arqueológicos e outros bens de valor histórico,artístico e cultural, impedindo sua evasão, destruição edescaracterização;IV – omissis;V – proteger o meio ambiente, preservar as florestas, a faunae a flora e combater todas as formas de poluição;VI a VIII. omissis; (Negritei).

Mais à frente, definindo posturas, dispõe a Constituição Estadual, inlitteris:

Art. 127. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamen-te equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial àsadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e àcoletividade o dever de defendê-lo, recuperá-lo e preservá-lo.§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, cabe ao PoderPúblico:I a II – Omissis;III – inserir a educação ambiental em todos os níveis de ensi-no, promover a conscientização pública para a preservaçãodo meio ambiente e estimular práticas conservacionistas;IV – assegurar o direito à informação veraz e atualizada emtudo o que disser respeito à qualidade do meio ambiente;V – Omissis;VI – controlar e fiscalizar a produção, comercialização, trans-porte, estocagem e uso de técnicas, métodos e substânciasque comportem risco para a vida e o meio ambiente;VII – Omissis;§ 2º. Omissis;Art. 128. Omissis;Art. 129 a130. Omissis;Art. 131. O Estado manterá Sistema de Prevenção e Contro-le da Poluição Ambiental, objetivando atingir padrões dequalidade admitidos pela Organização Mundial de Saúde.§ 1º. Os resíduos radioativos, as embalagens de produtostóxicos, o lixo hospitalar e os demais rejeitos perigososdeverão ter destino definido em lei, respeitados os critéri-os científicos.

208 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

De volta à legislação federal, encontra-se a Lei nº 6.938/ 81, a qualdispõe sobre a Política do Meio Ambiente, nos seguintes termos:

Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por ob-jetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidadeambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condi-ções ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses dasegurança nacional e à proteção da dignidade da vida huma-na, atendidos os seguintes princípios.I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológi-co, considerando o meio ambiente como um patrimôniopúblico a ser necessariamente assegurado e protegido, tendoem vista o uso coletivo;II – racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;III – planejamento e fiscalização do uso dos recursosambientais;IV – proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreasrepresentativas;V – controle e zoneamento das atividades potencial ou efeti-vamente poluidoras;VI – incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orienta-das para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais;VII – acompanhamento do estado da qualidade ambiental;VIII – recuperação de áreas degradadas;IX – proteção de áreas ameaçadas de degradação;X – educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusivea educação da comunidade, objetivando capacitá-la para par-ticipação ativa na defesa do meio ambiente.............................................................................................Art. 4º. A Política Nacional do Meio Ambiente visará:I – à compatibilização do desenvolvimento econômico-socialcom a preservação da qualidade do meio ambiente e do equi-líbrio ecológico;II – à definição de áreas prioritárias de ação governamentalrelativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aosinteressados da União, dos Estados, do Distrito Federal, dosTerritórios e dos Municípios;III – ao estabelecimento de critérios e padrões da qualidadeambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursosambientais;

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IV – ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias naci-onais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;V – à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, àdivulgação de dados e informações ambientais e à formaçãode uma consciência pública sobre a necessidade de preserva-ção da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;VI – à preservação e restauração dos recursos ambientais comvistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente,concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico pro-pício à vida;Art. 5º. As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambienteserão formuladas em normas e planos, destinados a orientar aação dos Governos da União, dos Estados, do Distrito Fede-ral, dos Territórios e dos Municípios no que se relaciona coma preservação da qualidade ambiental e manutenção do equi-líbrio ecológico, observados os princípios estabelecidos noartigo 2º desta Lei.Parágrafo único – As atividades empresariais públicas ou pri-vadas serão exercidas em consonância com as diretrizes daPolítica Nacional do Meio Ambiente.Art. 8º. Compete ao CONAMA:I – estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e cri-térios para o licenciamento de atividades efetiva ou potenci-almente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e supervi-sionado pelo IBAMA;II – determinar, quando julgar necessário, a realização de es-tudos das alternativas e das possíveis conseqüências ambientaisde projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãosfederais, estaduais e municipais, bem assim a entidades priva-das, as informações indispensáveis para apreciação dos estu-dos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso deobras ou atividades de significativa degradação ambiental,especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional..............................................................................................Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funciona-mento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de re-cursos ambientais, considerados efetiva e potencialmentepoluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, decausar degradação ambiental, dependerão de préviolicenciamento de órgão estadual competente, integrante doSistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e doInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos NaturaisRenováveis - IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo deoutras licenças exigíveis.“

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Por seu turno, a Lei Estadual nº 8.544, de 17 de outubro de 1978,que dispõe sobre o controle de poluição do meio ambiente, estabelece:

Art. 2º. Considera-se poluição do meio ambiente a presença,o lançamento ou liberação, nas águas, no ar, no solo, de todae qualquer forma de matéria ou energia, com intensidade, emquantidade de concentração ou com características em desa-cordo com as que forem estabelecidas em lei, ou que tornemou possam tornar as águas, o ar ou o solo:I – impróprios, nocivos ou ofensivos à saúde;II – inconvenientes ao bem-estar público;III – danosos aos materiais, à fauna e à flora;IV – prejudiciais à segurança, ou uso e gozo da propriedadee às atividades normais da comunidade;........................................................................................Art. 5º. A instalação, a construção ou ampliação, bem comooperação ou funcionamento das fontes de poluição que fo-rem enumeradas no regulamento desta lei, ficam sujeitos àprévia autorização do órgão estadual de controle de poluiçãodo meio ambiente, mediante licenças de instalação e funcio-namento.

ANTECIPAÇÃO DA TUTELA ESPECÍFICA

Muito se discute quanto à concessão de provimentos antecipatóriosem face do poder público, dentro das limitações jungidas pelas Leis nºs

8.437/92 e 9.494/97, posto que os atos irregulares praticados pela pessoajurídica, deveriam ter necessariamente um servidor responsável para, nocaso de procedência dos pedidos na ação proposta em face da pessoa jurídi-ca, venham a ser ressarcidos os danos causados, quando evidenciada a culpaou dolo do servidor.

Embora a denunciação da lide, como forma de intervenção deterceiro na relação processual, seja muito pouco utilizada, deixando,outrossim, os entes jurídicos que são acionados em ações civis de busca-rem dos responsáveis diretos pelos danos causados à própria pessoa jurí-dica ou a terceiros o ressarcimento dos prejuízos sofridos, tal situaçãonão pode se prestar de obstáculo para que o titular do direito, mesmoem se tratando de direito difuso, como é caso do meio ambiente, deixede ter a satisfação de sua pretensão por conta do incorreto entendimen-to de que, ao se acionar a pessoa jurídica, estar-se-ia acionando a própriacoletividade.

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Mudanças têm sido identificadas ao se buscar a efetividade das nor-mas constitucionais, conforme bem cita o douto professor Luís RobertoBarroso, in O Direito Constitucional e a efetividade de suas normas, 4ª ed,Editora Renovar, in verbis:

Os princípios constitucionais, portanto, explícitos ou não,passam a ser a síntese dos valores abrigados no ordenamentojurídico. Eles espelham a ideologia da sociedade, seus postu-lados básicos, seus fins. Os princípios dão unidade e harmo-nia ao sistema, integrando suas diferentes partes e atenuandotenções normativas. De parte isto, servem de guia para ointérprete, cuja atuação deve pautar-se pela identificação doprincípio maior que rege o tema apreciado, descendo do maisgenérico ao mais específico, até chegar à formulação da regraconcreta que vai reger a espécie. Estes, os papéis desempe-nhados pelos princípios: a) condensar valores, b) dar unida-de ao sistema; c) condicionar a atividade do intérpreteNa trajetória que os conduziu ao centro do sistema, os princí-pios tiveram de conquistar o status de norma jurídica, supe-rando a crença de que teriam uma dimensão puramenteaxiológica, ética, sem eficácia jurídica ou aplicabilidade diretae imediata. A dogmática moderna avaliza o entendimento deque as normas em geral, diversas: os princípios e as regras.Normalmente, as regras contêm relato mais objetivo, comincidência restrita a situações específicas às quais se dirigem.Já os princípios têm maior teor de abstração e uma finalidademais destacada no sistema. Inexiste hierarquia entre ambas ascategorias, à vista do princípio da unidade da Constituição.Isto não impede que princípios e regras desempenhem fun-ções distintas dentro do ordenamento.A distinção qualitativa entre regra e princípio é um dos pila-res da moderna dogmática constitucional, indispensável paraa superação do positivismo legalista, onde as normas se cingi-am a regras jurídicas. A Constituição passa a ser encaradacomo um sistema aberto de princípios e regras, permeável avalores jurídicos supra-positivos, no qual as idéias de justiça ede realização dos direitos fundamentais desempenham umpapel central. A mudança de paradigma nessa matéria deveespecial tributo à sistematização de Ronald Dworkinº Suaelaboração acerca dos diferentes papéis desempenhados porregras e princípios ganhou curso universal e passou a consti-tuir o conhecimento convencional na matéria..............................................................................................

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A denominada ponderação de valores ou ponderação de in-teresses é a técnica pela qual se procura estabelecer o pesorelativo de cada um dos princípios contrapostos. Como nãoexiste um critério abstrato que imponha a supremacia de umsobre o outro, deve-se, à vista do caso concreto, fazer conces-sões recíprocas, de modo a produzir um resultado socialmen-te desejável, sacrificando o mínimo de cada um dos princípi-os ou direitos fundamentais em oposição. O legislador nãopode, arbitrariamente, escolher um dos interesses em jogo eanular o outro, sob pena de violar o texto constitucional.Seus balizamentos devem ser o princípio da razoabilidade (v.infra) e a preservação, tanto quanto possível, do núcleo míni-mo do valor que esteja cedendo passo. Não há, aqui superio-ridade formal de nenhum dos princípios em tensão, mas asimples determinação da solução que melhor atende o ideárioconstitucional na situação apreciada..............................................................................................O novo século se inicia fundado na percepção de que o Direi-to é um sistema aberto a valores. A Constituição, por sua vez,é um conjunto de princípios e regras destinados a realizá-los,a despeito de se reconhecer nos valores uma dimensão supra-positiva. A idéia de abertura se comunica com a Constituiçãoe traduz a sua permeabilidade a elementos externos e a re-núncia à pretensão de disciplinar, por meio de regras especí-ficas, o infinito conjunto de possibilidades apresentados pelomundo real. Por ser o principal canal de comunicação entre osistema de valores e o sistema jurídico, os princípios não com-portam enumeração taxativa. Mas, naturalmente, existe umamplo espaço de consenso, onde têm lugar alguns dos prota-gonistas da discussão política, filosófica e jurídica do séculoque se encerrou: Estado de direito democrático, liberdadeigualdade, justiça.

Sob a ótica do artigo 273, do Código de Processo Civil, incisos I e II,provado pelo autor a existência do direito obstado pelo réu, no caso a Ad-ministração Pública Municipal e presente a ameaça de um dano irreparávelou de difícil reparação ou abuso de defesa pelo réu ou mesmo atuaçãoprotelatória, cabível a antecipação parcial ou total da tutela pretendida,podendo, ainda, de ofício, em caso de tutela específica, determinar o juiz asmedidas necessárias ao cumprimento da decisão prolatada (art. 461, caput,do CPC).

Conforme bem cita Marcelo Lima Guerra, o manejo de mecanismosefetivos à implementação concreta das decisões judiciais em obrigações de

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fazer contra o Poder Público deve ter uma redefinição de concretividade,amparada pelo regramento processual, sob pena de inutilidade da presta-ção da tutela jurisdicional, visto que não adimplida a obrigação, sob o raci-ocínio da convolação, cria-se a obrigação de ressarcir, sendo que no caso daAdministração Pública, o ressarcimento ocorrerá pela via do precatório.

Contudo, não é esta a conclução que se pode alcançar nas ações quetenham o objeto o cumprimento de obrigações de fazer, pois o Estado-Juizao prestar a tutela e não sendo esta voluntariamente cumprida, exerce ocaráter substitutivo que a jurisdição lhe determina e através da sub-rogação,adentra à esfera de disponibilidade da parte, retirando o que for necessárioà implementação do direito. É este o norte das ações executórias, quando háprovocação da parte.

Em se tratando de interesses difusos ou coletivos, onde não há que sefalar na disponibilidade do direito, face à transcendência que a este se vin-cula, mais se espera do Estado-Juiz, na implementação concreta da tutelaespecífica.

A dicção do artigo 461, § 5º, do CPC, ao estabelecer que, para aefetivação da tutela específica ou para obtenção do resultado prático equiva-lente, poderá o Juiz, de ofício ou a requerimento determinar as medidasnecessárias, exemplificando atos constritivos, requisitórios, demolitórios edesconstitutivos, dá o norte necessário à concretividade da tutela jurisdicionalpretendida.

Não há, obedecido o regramento legal na implementação da deter-minação judicial, óbice a efetivação concreta da tutela específica.

Diga-se obedecido, por conta de que os atos administrativos que ge-ram gastos não programados demandam inclusão nos Planos Plurianuais,na Lei de Diretrizes Orçamentárias e na própria Lei Orçamentária Anual,salientando, contudo, que a Lei Complementar nº 101/2001, estabelece anecessidade do Administrador Público prever, no anexo dos Riscos fiscais, aadequação de receita para cumprimento de determinações judiciais.

In casu, conforme se encontra previamente especificado no PlanoPlurianual (doc. fls. 36), o Município de São Simão definiu para os anosde 2003, 2004 e 2005, valores, respetivamente da ordem de R$850.000,00 (oitocentos e cinqüenta mil reais), 720.000,00 (setecentos evinte mil reais) e R$ 734.000,00 (setecentos e trinta e quatro mil reais),a serem gastos na construção de aterro sanitário, sendo que até o momen-to o que se tem é um verdadeiro “lixão a céu aberto“, sendo que no orça-mento para o presente ano se encontra previsto o valor de R$ 720.000,00(setecentos e vinte mil reais), fls. 72 e 138, para concretização da constru-ção do aterro sanitário.

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Pois bem, dentro da característica da substitutividade na prestaçãojurisdicional possível a implementação de medidas concretas e efetivas nadeterminação à autoridade pública, para que cumpra a obrigação de fazer.Inexistindo programação de gastos, há que se falar na adaptação da LeiOrçamentária Anual, para inclusão dos custos do cumprimento da obriga-ção de fazer.

Poder-se-ia discutir a suposta quebra do princípio da separação dospoderes ou separação das funções afetas ao Poder com a intervenção doPoder Judiciário na própria implementação concreta de políticas públicas,eis que nas obrigações de fazer, vinculadas a garantia de direitos difusos ecoletivos nada mais há do que políticas públicas ali delimitadas.

No entanto, o crivo do artigo 273, § 2º, do CPC, nos permite ali-nhar o raciocínio de que a concessão da tutela específica se vincula àreversibilidade do provimento, fato que deve ser interpretado com a cautelaprópria do caput do referido artigo. Outrossim, o parágrafo terceiro doartigo 273, determina que a execução da tutela antecipada, observe, no quecouber, a regra para execução provisória de sentença.

Em se tratando de tutela específica, a melhor adequação que se faz aoparágrafo terceiro do artigo 273, e a própria instrumentalização do artigo461, § 5º, do CPC, posto que, do contrário, ineficaz a redação ali contida.

Frise-se, ainda, que na atual descentralização de atividades afetasaos Entes Públicos, prevalece o entendimento de que as atividades vin-culadas ao Poder de Polícia não podem ser executadas por terceiros, ge-rando a conclusão que em se tratando de obrigação dita infungível ter-se-ia um óbice.

Não obstante, a elasticidade garantida pelo § 5º, do artigo 461, doCPC, permite ao Juiz que adote providências amplas à efetividade da decisãoprolatada, fato que se conjuga ao raciocínio sustentado por Marcelo Lima Guerra,no sentido de determinar a um terceiro, que tenha vinculação com o órgãopúblico que está obrigado a cumprir a obrigação inadimplida, e que tenha,dentro de cadeia hierárquica, atribuições para substituir o servidor inerte, eapós integrar a relação processual, seja obrigado a cumprir a determinação legal,sob pena de se sujeitar, bem como o seu patrimônio individual, caso mantenhaa mesma inércia do titular da obrigação, às sanções pessoais e patrimoniaiscabíveis, evitando, obviamente, a execução pela via do precatório.

Nestes casos, não se trata apenas de se vincular um terceiro para quecumpra a obrigação, sob as expensas do inerte, mas a própria Administra-ção Pública estará cumprindo, adentrando o Poder Judiciário, constitucio-nalmente, numa seara reservada ao Poder Público Municipal, somente emdecorrência da inércia da prestação da obrigação e mesmo assim, após ter

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avaliado a reversibilidade da decisão, a verossimilhança do direito ante suarelevância e os riscos da ineficácia do provimento final.

Sendo assim, e não se sujeitando a concessão da tutela específica aoreexame necessário do artigo 475, do CPC, conforme bem cita DeiltonRibeiro Brasil, in Tutela Específica das Obrigações de Fazer e Não Fazer, Ed.DelRey, eis que ao reexame necessário se vinculam as sentenças, em sentidoestrito, e não as decisões interlocutórias, vê-se como cabível a obtenção datutela específica, antes do final do processo, in casu, liminarmente.

Registre-se, ainda que os óbices à ampla atuação na busca da efetivaçãodos pedidos de provimentos antecipatórios emergenciais tem sido alimen-tado pelas Leis nºs 8437/92 e 9494/97. Contudo, há uma flagrante identi-ficação à limitação dos provimentos antecipatórios aos caos que importemadequação de vantagens patrimoniais ou vencimentais. Não se vê limitaçãoà tutela específica nas obrigações de fazer, vinculadas à direitos difusos,quando não atrelado o objeto a questões vencimentais ou de vantagens niti-damente patrimoniais.

Cite-se, por oportuno, recente decisão do STJ, a respeito de matériacorrelata, in litteris:

RECURSO ESPECIAL Nº 429.570. GO (2002/00-16110-8)RELATORA: MINISTRA ELIANA CAMONRECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTA-DO DE GOIÁSRECORRIDO: MUNICÍPIO DE GOIÂNIAPROCURADOR: ALEXANDRE MEIRELES E OUTROSEMENTAADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. AÇÃO CI-VIL PÚBLICA. OBRAS DE RECUPERAÇÃO EM PROLDO MEIO AMBIENTE. ATO ADMINISTRATIVO DIS-CRICIONÁRIO1. Na atualidade, a administração pública está submetida aoimpério da Lei, inclusive quanto à conveniência e oportuni-dade do ato administrativo.2. Comprovado tecnicamente ser imprescindível, para o meioambiente, a realização de obras de recuperação do solo, tem oMinistério Público legitimidade para exigi-la.3. O Poder Judiciário não mais se limita a examinar os as-pectos a extrínsicos da administração, pois pode analisar,nada, as razões de conveniência de oportunidade, uma vezque essas razões devem observar critérios de moralidade erazoabilidade.

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4. Outorga de tutela específica para que a Administração des-tine do orçamento verba própria para cumpri-la.5. Recurso Especial Provido.ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos os autos em que são partes asacima indicadas, acórdão os Ministros da SEGUNDA TUR-MA, do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, vencidoo Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins, conhecer do re-curso e lhe dar provimento, nos termos do voto da Sra.Ministra Relatora. Os Srs. Ministros João Otávio de Noronhae Castro Meira votaram com a Sra. Ministra Relatora.Ausente, justificadamente, o Sr. MinistroFrancilli Netto.Brasília-DF, 11 de novembro de 2003 (Data do Julga-mento).

DA URGÊNCIA DO PROVIMENTO ANTECIPATÓRIO

Dos fatos expostos à exordial, tem-se que o dano ambiental e os riscosà saúde decorrentes do desrespeito às regras mínimas para com o saneamentobásico. Tais fatos estão atrelados a deveres do Poder Público, indicando-se, incasu, o município como responsável pelo cumprimento da obrigação de fazer,situações que comprovam a presença da plausibilidade do direito e do perigoda demora, posições estas já confrontadas com a ação procrastinatória da ré,que, desde 2003, ou antes disto, já tinha em seu plano plurianual a propostapara construção de aterro sanitário, com específica destinação de recursos,porém não o fez, tampouco se dignou a prestar informações no Procedimentoinstaurado pelo Ministério Público.

DA MULTA COMINATÓRIA

Como é cediço, a constrição patrimonial ou a imposição de sançõespatrimoniais tem o condão de forçar a parte resistente a cumprir com aobrigação legal ou se abster de descumprir a lei.

In casu, o artigo 11, da Lei nº 7347/85, estabelece a viabilidade deimposição da multa cominatória diária, tanto em obrigação de fazer, quan-to não fazer.

Da mesma forma, o artigo 461, § 4º, do CPC, dispõe quanto àaplicabilidade da multa cominatória diária, independente de pedido doautor, face à relevância do fundamento da demanda (§ 3º, art. 461) e ha-vendo justificado receio de ineficácia do procedimento final.

Embora formule-se pedido expresso para a concessão antecipada datutela específica, dentro das especificações que abaixo serão deduzidas, vê-

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se que, permanecendo o Município em condições de inércia, há necessida-de, ainda, de impingir-lhe sanção patrimonial, posto que o desrepeito à Leiimportando, outrossim, em sanção patrimonial ao Município, por inérciade seu representante legal, configura ato de improbidade administrativaensejadora das sanções previstas no artigo 12, da Lei nº 8429/92, das quaiso patrimônio particular do ímprobo deve ser ofendido para ressarcimentodo cofres públicos afetados em decorrência de sua inércia na boa gestão dacoisa pública.

Destarte, requer o Ministério Público a fixação da multa cominatóriadiária, no quantum de R$ 1.000,00 (mil reais), a contar da procrastinaçãono cumprimento da concessão da tutela antecipada específica, diretamentepelo Município.

DOS PEDIDOS

Posto isto, requer o Ministério Público:1) a concessão da antecipação da tutela específica para que a ré seja

condenada, dentro dos valores estipulados para a construção do aterro sani-tário, quais sejam R$720.000,00 (setecentos e vinte mil reais), conformeplano plurianual e Lei de Diretrizes Orçamentárias, a construir no prazo de12 (doze) meses, o aterro sanitário do Distrito de Itaguaçu, obedecendo asespecificações e normas vigentes, devidamente aprovado pelo órgão deLicenciamento Ambiental do Estado, apresentando, outrossim, prestaçãoregular de contas, mediante processo prévio de licitação, caso o faça porterceiro, mantendo-se os referidos valores bloqueados, direcionados a contaespecífica e vinculados a movimentação por autorização judicial.

2) que os valores descritos no Plano Plurianual e Lei de DiretrizesOrçamentária Anual sejam bloqueados e direcionados à conta específicade controle e movimentação vinculada a este juízo, intimando-se o Se-cretário Municipal do Meio Ambiente, a atuar como responsável pelagestão das atividades afetas a construção do aterro sanitário, dentro dasdemais regras administrativas correspondentes à licitação, empenho,controle, fiscalização e comprovação da prestação do serviço, com poste-rior remessa ao Tribunal de Contas do Município, caso o representantelegal da ré não inicie a obrigação de fazer, no prazo de 05 (cinco) dias acontar da concessão da tutela antecipada específica, comunicando aojuízo os atos decorrentes para construção de aterro sanitário em prazoinferior a 12 (doze) meses, apresentando, ainda, planilha de execuçãoque deverá constar de todo o procedimento para construção do aterrosanitário.

218 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

3) a concessão da multa cominatória diária no valor de R$ 1.000,00(mil reais), caso o representante legal da ré procrastine o cumprimento datutela específica, ensejando a partir de sua inércia a intimação do SecretárioMunicipal do Meio Ambiente para que assuma a obrigação de cumprir atutela específica, sob pena de crime de desobediência;

4) o deferimento da antecipação da tutela específica, adotando-se aregra do artigo 2º, da Lei nº 8437/92, especificamente quanto ao prazo de72 (setenta e duas) horas para resposta preliminar;

5) que seja condenada ré à obrigação de fazer correspondente a cons-trução de aterro sanitário dentre dos padrões estabelecidos pelo órgão deFiscalização Ambiental do Estado, no prazo máximo de 12 (doze) meses,bem como seja condenada a obrigação de não fazer correspondente a nãomanter o depósito de lixo de Itaguaçu, nos moldes que se encontra atual-mente, sob pena de multa diária no valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais).

6) a citação da ré, para, querendo, responder a presente ação, com asadvertências do artigo 282, do CPC;

7) que se proceda a intimação do Secretário do Meio Ambiente doMunicípio de São Simão, para que tome conhecimento da presente ação,adotando as providências que entender cabíveis, após regular integração darelação processual;

8) a juntada do procedimento administrativo nº 002/03, aos autos,como meio de prova dos fatos expostos;

9) protestam provar o alegado, por todos os meios de prova em direi-to admitidos, requerendo desde já, a realização de perícia no local atual-mente utilizado como depósito de lixo do Distrito de Itaguaçu e acompa-nhamento das atividades após concessão antecipada da tutela específica,pelo órgão de fiscalização ambiental do Estado.

Embora haja determinação para identificação do valor da causa, vê-seque o objeto da lide, por estar atrelado à obrigação de fazer e de não fazer,comporta parâmetros certos, porém o direito que se busca tutelar, qual sejaa o meio ambiente, tem valor inestimável.

Portanto, para fins apenas de atendimento ao artigo 259, do CPC,dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais).

Termos em que pedem deferimento.Cachoeira Alta p/ São Simão, 15 de junho de 2004.

Jonisy Ferreira FigueiredoPromotora de Justiça

Paulo Henrique OtoniPromotor de Justiça

219Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

7.7 APELAÇÃO EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA - INDEFERIMENTO DAINICIAL - AUSÊNCIA DA IDENTIFICAÇÃO EXATA DAS ÁREASATINGIDAS PELA AÇÃO ILÍCITA - QUESTÃO DE DIREITOMATERIAL, A SER RESOLVIDA EM CONFORMIDADE COM ASNORMAS DESTE E SEM INFLUÊNCIA SOBRE O INTERESSE DEAGIR - LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM PROMOVERAÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA PROTEGER O MEIO AMBIENTE

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARACÍVEL DA COMARCA DE GOIÂNIA. GO

Referência:Ação Civil Pública AmbientalAutos nº1424/2004 - Processo nº2004020537313ª Vara Cível da Comarca de GoiâniaAutor: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSRéus: ASSOCIAÇÃO DAS SIDERÚRGICAS PARA FOMENTO

FLORESTAL - ASIFLOR E OUTROS

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, vem, res-peitosamente, perante V. Exa., nos autos da Ação Civil Pública em epígrafe,com fundamento nos artigos 296 e 513 do Código de Processo Civil edemais dispositivos aplicáveis à espécie, interpor o presente RECURSODE APELAÇÃO contra a r. sentença de fls. 419/422, apresentando as ane-xas razões recursais e requerendo, após o seu processamento, e, em nãosendo reformada a decisão — juízo de retratação facultado ao juiz no prazode quarenta e oito horas —, a remessa ao Egrégio Tribunal de Justiça doEstado de Goiás.

Termos em que,Aguarda deferimento.

Goiânia, 05 de abril de 2005

Marta Morya LoyolaPromotora de Justiça

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

220 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Processo de Origem nº 200402053731Comarca de Goiânia - GOApelante: Ministério Público do Estado de GoiásApelados: Associação das Siderúrgicas para Fomento Florestal e outros

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA,COLENDA CÂMARA CÍVEL,DOUTA PROCURADORIA DE JUSTIÇA,EMÉRITOS DESEMBARGADORES,

Trata-se de recurso de apelação interposto contra a r. sentença de fls.419/422 dos autos proferida por MM. Juiz singular, que indeferiu açãocivil pública ambiental (com pedido liminar), sob a alegação de “ausênciade interesse processual”, ajuizada pelo Ministério Público em desfavor da As-sociação das Siderúrgicas para Fomento Florestal e outras.

DOS FATOS

O Ministério Público do Estado de Goiás ajuizou ação civil públicaambiental (com pedido liminar) que tem como objeto impedir a continui-dade dos expressivos danos ambientais ocorrentes no Estado de Goiás e aoBIOMA cerrado, em desobediência à Constituição Federal e às normas le-gais e regulamentares pertinentes, bem como visa à recuperação e compen-sação dos danos ambientais, socioeconômicos e à saúde pública provocadosem razão das atividades das apeladas.

Narra a exordial que as apeladas são grandes consumidoras de produ-tos e subprodutos florestais e há anos se beneficiam, diretamente, de formapredatória e ilegal, da exploração de florestas nativas (vegetação natural ori-ginária e típica do BIOMA Cerrado). Não cumprem (as apeladas) a obriga-ção legal de auto-suprimento integral desses produtos e subprodutos flo-restais e estão a provocar a desertificação do BIOMA Cerrado.

Por outro lado, os fatos estão a evidenciar a prática ilegal decomercialização e transporte de carvão vegetal e outros subprodutos flores-tais decorrentes da exploração de árvores nativas do cerrado e, por conse-guinte, total desrespeito à Lei de Política Florestal do Estado de Goiás, emespecial à obrigação legal de somente utilizarem carvão vegetal provenientede florestas exóticas plantadas (silvicultura).

Consta, ainda, da peça vestibular, que as apeladas, além de não possuí-rem florestas plantadas para garantirem o auto-suprimento, possuem um outropassivo ambiental decorrente da não-reposição florestal em conformidade com

221Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

o volume de seu consumo anual integral, mediante o plantio de espécies ade-quadas e em locais apropriados, ou seja, não realizaram a reparação ambientaldos danos decorrentes do indevido consumo de madeira nativa.

São fatos públicos e notórios a exploração florestal de cerrado nati-vo nos moldes relatados na inicial, e a inexistência de medidas aptas aprevenir/minimizar/mitigar os impactos negativos decorrentes dodesmatamento indevido. E figuram as Usinas Siderúrgicas, ora apeladas,como destinatárias dos produtos e subprodutos florestais provenientes dodesmatamento.

A despeito de tanto e o prazo consignado pela Lei Estadual nº12.596/95 (Lei que Institui a Política Florestal do Estado de Goiás) paraintegral cumprimento da obrigação de auto-suprimento ter se esvaído háanos, as apeladas demonstram inércia e desídia com relação às suas obri-gações mais elementares, em detrimento do meio ambiente e da credibi-lidade dos órgãos e instituições responsáveis pela aplicação da lei e daConstituição Federal.

Dessa maneira, o apelante requereu a procedência in totum dos pedi-dos liminares e da ação proposta, com o julgamento definitivo de modo asatisfazer todos os objetivos expostos na presente peça vestibular inicial, emespecial, quanto ao mérito:

“a) sejam condenadas as rés a prestar a atividade devida consistenteem PROVER O IMEDIATO SUPRIMENTO INTEGRAL DOS PRO-DUTOS E SUBPRODUTOS FLORESTAIS QUE CONSOMEM;

b) Que Vossa Excelência julgue procedente a DESCONSIDERAÇÃODA PERSONALIDADE JURÍDICA da Associação das Siderúrgicas paraFomento Florestal - ASIFLOR;

c) Que a rés sejam condenadas, solidariamente, a RECUPERAR ECOMPENSAR OS DANOS AMBIENTAIS, SOCIECONÔMICOS E ÀSAÚDE PÚBLICA provocados em razão de suas atividades, de maneira quea reparação seja efetiva e satisfatória e o patrimônio natural readquira, noseu todo, qualitativa e quantitativamente, os atributos existentes antes doinício do processo de desmatamento, observando-se, para tanto, e no míni-mo, o art. 128 da Constituição do Estado de Goiás (integridade de nomínimo 20% do território), e necessariamente:

c.1) restauração da cobertura vegetal primitiva, incluindo:c.1.1) a eventual descontaminação do solo;c.1.2) a estabilização das encostas;c.1.3) o restabelecimento do equilíbrio da rede de drenagem natural;c.1.4) a revegetação com espécies nativas e típicas do Cerrado, obe-

decendo a fluxograma racional;

222 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

c.2) reintrodução das espécies endêmicas de todos os gêneros da faunasilvestre;

c.3) desassoreamento dos cursos d´água comprometidos.d) Que sejam, ainda, às rés condenadas a INDENIZAR OS DA-

NOS EXTRAPATRIMONIAIS causados ao complexo ecológico atingi-do, cuja quantificação (quantum debeatur) deve ser feita por arbitramento,o que, desde já, se requer – a liquidação – antes da instauração do pro-cesso de execução (arts. 586 e 602 do CPC);

e) SUSPENSÃO DE NOVAS GUIAS FLORESTAIS emitidas emfavor das rés Usinas Siderúrgicas, da ASIFLOR e de suas associadas,independentemente da apresentação de créditos, até a quitação integraldo passivo ambiental existente, bem como apresentação e efetiva imple-mentação dos Planos de Auto-Suprimento;

f ) APREENSÃO DE TODOS OS PRODUTOS ESUBPRODUTOS FLORESTAIS DE ORIGEM NATIVA em poder e/ou destinadas (v.g. transportados em caminhões) às rés Usinas Siderúr-gicas, a ASIFLOR e as suas associadas, comunicando-se imediatamentea decisão aos órgãos de segurança pública (v.g. polícia militar, políciacivil, batalhão florestal etc.) e ambientais (v.g. Agência Goiana de MeioAmbiente, Instituto Estadual de Florestas, Ibama etc.) Federal e dosEstados de Goiás e Minas Gerais.

g) CESSAÇÃO DAS ATIVIDADES NOCIVAS consistentes nautlização, industrialização, transformação, transporte, armazenamento ouconsumo de produtos e subprodutos de matéria-prima vegetal do Estadode Goiás, até que sejam integralmente quitados os débitos de carvão deorigem nativa junto ao órgão estadual competente, bem como apresenta-dos e efetivamente implementados os Planos de Auto-Suprimento.”

Tudo sob pena de pagamento de multa no valor de R$ 180.000,00(cento e oitenta mil reais) por dia, cominada, nos termos do art. 11 daLei 7.347/85.

Conclusos os autos, o MM. Juiz a quo indeferiu a inicial, comfundamento no art. 295, III, do CPC, sob a alegação de que

com a ausência da identificação exata das áreas atingidas pelapretensa ação ilícita das requeridas, não há como sequer averigüara ocorrência de tal conduta, quanto mais coibi-la, se tornando,pois, a presente ação inútil sob o aspecto prático, vez que seráimpossível alcançar o resultado prático pretendido pelo requeren-te, faltando a este, o interesse se agir imprescindível ao desenvol-vimento normal do processo. (fls. 421 dos autos).

223Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Em que pese proferida por magistrado de escol, a decisão supradeve ser anulada, como restará demonstrado.

DO LEGÍTIMO INTERESSE PROCESSUAL DO MINISTÉRIOPÚBLICO EM PROMOVER A PRESENTE AÇÃO CIVIL PÚBLICAAMBIENTAL

Na clássica definição dos processualistas Ada Pelegrini Grinover, An-tônio Carlos de Araújo Cintra e Cândido Rangel Dinamarco:

interesse de agir assenta-se na premissa de que, tendo emborao Estado o interesse no exercício da jurisdição, não lhe con-vém acionar o aparato judiciário sem que dessa atividade sepossa extrair algum resultado útil. É preciso, pois, sob esseprisma, que, em cada caso concreto, a prestação jurisdicionalsolicitada seja necessária e adequada.Repousa a necessidade da tutela jurisdicional na impossibilida-de de obter a satisfação do alegado direito sem a intercessão doEstado. Adequação é a situação lamentada pelo autor ao vir ajuízo e o provimento jurisdicional concretamente solicitado.”82

O interesse processual, portanto, é aferido mediante a conjugação dotrinômio “necessidade-utilidade-adequação” da ação eleita.

A ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meioambiente é o veículo por meio do qual é viabilizada a tutela pretendida (cf.Lei nº 7.347/85). A idoneidade da via eleita é manifesta.

Em se tratando de Ministério Público a propositura de ações dessanatureza é função institucional (cf. art. 25, IV, da Lei nº 8.625/93). Defato, ao Ministério Público foi atribuída a função institucional de “promo-ver o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimôniopúblico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coleti-vos” (CF. art. 129-III).

Ainda, o art. 83 do CDC estabelece que, para a defesa dos direitosdifusos e coletivos, são admissíveis todas as espécies de ações capazes depropiciar sua adequada e efetiva tutela.

A necessidade do recurso ao judiciário para obter o bem de vida per-seguido (direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibra-do essencial à sadia qualidade de vida. CF, art. 225, caput) — que não selogrou obtê-lo pelas vias suasórias. também é patente e dispensa maiores

82 Teoria Geral do Processo. 13 ed. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 260.

224 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

digressões, sobretudo diante da proibição da autotutela e do conseqüentecompromisso assumido pelo Estado de prestar a adequada tutelajurisdicional.

O art. 5º, XXXV, da CF, dispõe que “nenhuma lei excluirá da apre-ciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Este, que é o denomi-nado “princípio da inafastabilidade”, atualmente é compreendido como oprincípio constitucional garantidor do acesso à justiça e, “por direito deacesso à justiça entende-se o direito à preordenação de procedimentos real-mente capazes de prestar a tutela adequada, tempestiva e efetiva”83.

Por fim, a alegação de que “com a ausência da identificação exata dasáreas atingidas pela pretensa ação ilícita das requeridas, não como sequer averigüara ocorrência de tal conduta, quanto mais coibi-la, se tornando, pois, a presenteação inútil sob o aspecto prático” (fundamento prevalente da sentença recorri-da) refere-se ao mérito: questão de direito material, a ser resolvida em conformi-dade com as normas deste e sem influência sobre o interesse de agir.

A decisão recorrida configura, em verdade, antecipação de julgamen-to de mérito acerca de apenas um dos pedidos formulados na inicial, hajavista que a presente ação comporta cumulação objetiva de pedidos baseadosem diversas causas de pedir (fatos de estruturas diferentes), as quais nãoforam apreciadas pelo juiz monocrático (v.g. descumprimento pelas apela-das à determinação legal de que devem possuir o imprescindível plano deauto-suprimento a fim de que promovam o imediato suprimento integraldos produtos e subprodutos florestais que consomem).

Destarte, há interesse processual quando o provimento jurisdicionalpostulado for capaz de, efetivamente, ser útil ao demandante, ou seja, quandofor capaz de trazer-lhe uma verdadeira tutela, a tutela jurisdicional. Consti-tui, portanto, objeto do interesse processual a tutela jurisdicional e não obem da vida a que ela se refere.84

Nesse sentido, o art. 461 do CPC (bem como o art. 84 do CDC) não sóprevê expressamente a sentença mandamental, como também admite a senten-ça executiva, o que permite ao autor postular, como no presente caso, que sejaimpedido o ilícito ou o inadimplemento (tutelas inibitória e inibitória executi-va; artigos 461 do CPC e 84 do CDC), removido o ilícito (tutela de remoçãodo ilícito; artigos 461 do CPC e 84 do CDC), adimplida a obrigação na formaespecífica (tutela do adimplemento na forma específica; artigos 461 e 461-A doCPC e 84 do CDC), e reparado o dano na forma específica (tutela ressarcitóriana forma específica; artigos 461 e 461-A do CPC e 84 do CDC).

83 Cf. MARINONI, Luiz Guilherme & ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do Processo deConhecimento. São Paulo: RT. 2ª ed. rev. atualizada e ampliada. 2003, pag. 71

84 cf. DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Processo Civil. São Paulo. Pag. 303

225Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Um procedimento que permite a concessão de tutela inibitória é ab-solutamente fundamental em um ordenamento jurídico que se empenhaem dar efetividade aos direitos que consagra, especialmente aos direitos nãopatrimoniais (v.g. meio ambiente).

Vale ressaltar que a tutela inibitória não tem o dano entre seus pres-supostos. O dano é requisito indispensável para a configuração da obriga-ção ressarcitória, mas não para a constituição do ilícito.

Em suma: na sistemática atual preconizada pelo direito processual ci-vil brasileiro as tutelas jurisdicionais pleiteadas, in casu, são o único caminhopara tentar obter e propiciar o bem da vida almejado: higidez do meio ambi-ente. Reconhecido o interesse processual, posteriormente, o juiz concederáou não o bem da vida, conforme o caso (e essa será a decisão de mérito).

PREQÜESTIONAMENTO

A decisão recorrida leva à negativa de vigência e validade de normasfundamentais constitucionais e legais que asseguram a todos: (i) um meioambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida;(ii) o direito de obter do Poder Judiciário a tutela jurisdicional adequada,tempestiva e eficaz.

Assim sendo, prequestiona-se, para os devidos fins, ofensa à Constitui-ção Federal em relação à negativa de vigência do art. 225, caput (meio ambi-ente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial àsadia qualidade de vida), § 1º, I (preservar e restaurar os processos ecológicosessenciais), II (preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genéticodo País) e VII (proteger a fauna e a flora), bem como do art. 5º, XXXV(princípio da inafastabilidade da jurisdição e garantidor do acesso à justiça).

DA NECESSÁRIA APRECIAÇÃO E CONCESSÃO DA LIMINAR

A sentença, ao indeferir a inicial, também negou a liminar pleiteada.O recurso de apelação, portanto, devolve ao tribunal a análise dos requisitosda inicial e dos pressupostos da concessão da liminar.

Dessa maneira, em razão das razões fáticas e jurídicas delineadas nainicial e pelo fato da atividade das apeladas – que pressupõe significativadegradação ambiental de caráter irreversível – estar em flagrante afronta aosprincípios e normas constitucionais e legais pertinentes, a concessão deMEDIDA LIMINAR é imprescindível para que cessem os danos e nãoacarrete maiores prejuízos ao meio ambiente e à coletividade.

226 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

DO PEDIDO

Por todo o exposto, a par da concessão da liminar nos moldes expos-tos na exordial, o que desde já se requer, manifesta-se o Ministério Públicopelo conhecimento do presente recurso de apelação interposto e, no méri-to, pelo seu integral provimento, com a anulação da r. sentença proferida eprosseguimento do feito em seus ulteriores termos.

Termos em que

Aguarda deferimento.

Goiânia - GO, 05 de abril de 2005

Marta Morya LoyolaPromotora de Justiça

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

7.8 AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS PÚBLICOS -PRINCÍPIOS DA PUBLICIDADE, MORALIDADE E LEGALIDADE -PEDIDO LIMINAR.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ____VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOI-ÂNIA - GO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, com fun-damento no art. 5º, XXXIII, art. 37, caput, art. 127, caput, art. 129, incisosII, III e VI, e art. 225, todos da Constituição Federal; art. 114, caput, e art.117, incisos II, III e V, § 3º, da Constituição do Estado de Goiás, art. 25,inciso IV, alínea “a” e “b”, art. 26, I, “b”, da Lei Federal nº 8.625/93(LONMP), art. 46, inciso VI, alínea “a”, da Lei Complementar Estadual nº25/98 (LOEMP), nas Leis Federais de nº 9.605/98 (LCAmb), nº 8.078/90 (CDC), nº 6.938/81 (Lei que dispõe sobre a Política Nacional do MeioAmbiente), nº 7.347/85 (LACP), e demais dispositivos aplicáveis à espé-cie, vem, respeitosamente, propor o presente procedimento preparatório de

EXIBIÇÃO JUDICIAL DE DOCUMENTOS PÚBLICOS(com pedido liminar)

227Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

em desfavor da AGÊNCIA GOIANA DE MEIO AMBIENTE ERECURSOS NATURAIS, também denominada AGÊNCIAAMBIENTAL DE GOIÁS, com sede na 11ª Avenida, nº 1.272, SetorLeste Universitário, Goiânia - GO, pelas razões de fato e fundamentosjurídicos a seguir expostos.

DOS FATOS

Em 24 de novembro de 2003 o Ministério Público do Estado deGoiás instaurou Inquérito Civil (Portaria nº 004/2003-15ª PJ) para apurara existência de eventuais irregularidades e ilegalidades — principalmenteconcernente à conversão de multas em bens e serviços “sob a forma de daçãoem pagamento” — em “Termos de Compromisso de Ajustamento de Con-duta” celebrados entre a Agência Ambiental e pessoas físicas e jurídicasautuadas por violação à legislação ambiental (doc. 01).

Consta do inquérito civil peças informativas que estão ab initio ademonstrar: (i) eventual conversão integral do valor da multa em bens semque esteja consubstanciado em qualquer programa oficial e projeto ambientala ser custeado pelo autuado; (ii) a inexistência de critérios legais; (iii) aconversão integral do valor da multa em bens e serviços sem guardar qual-quer relação e correspondência com a condição socioeconômica do interes-sado e a gravidade da infração ambiental cometida; (iv) a inexistência deequivalência entre os valores da multas aplicadas aos autuados e os valoresdos bens e serviços adquiridos mediante a sua indevida conversão; (v) aausência de constatação de reparação do dano ambiental; (vi) prejuízo aoerário; (vii) a inexistência de execução de obras de recuperação de áreasdegradadas e de atividades de preservação, melhoria e recuperação da quali-dade do meio ambiente; (viii) o descumprimento das obrigações assumidaspelos autuados e compromissários etc.

Esse rosário de impropriedades formais e materiais tem como razãode ser e primeira os referidos Termos de Compromisso de Ajustamento de Con-duta conforme fazem prova, a título de ilustração, os Termos anexados àpresente (doc. 02).

Consta, inclusive, que a requerida confeccionou informativo no qualassevera que converteu em bens e serviços o valor de R$ 16.000.000,00(dezesseis milhões de reais) relativo a multas aplicadas, sendo que significa-tiva parcela da quantia foi convertida em bens (13 carros zero quilômetro, 5motos, uma câmara frigorífica para armazenamento do pescado apreendi-do, além de “diversos equipamentos institucionais)85, todos revertidos aoscofres da Agência Ambiental de Goiás (doc. 03).85 cf. Informativo da Agência Goiana do Meio Ambiente – 2003/2004, p. 11

228 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Dessa maneira, visando a instruir procedimento administrativo re-gularmente instaurado, e considerando ser imperiosa a coleta de informestécnicos que possam embasar eventual propositura de ação civil pública,em 27/11/2003, 17/12/2003 e 04/02/2004 foram expedidos ofícios àrequerida – entidade autárquica integrante do Sistema Nacional do MeioAmbiente. SISNAMA, a quem compete lavrar auto de infração ambiental einstaurar processo administrativo na hipótese de ação ou omissão que violeas regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meioambiente (cf. art. 70 da Lei nº 9.605/98). REQUISITANDO

a relação completa dos Termos de Compromisso de Ajusta-mento de Conduta celebrados entre essa R. Agência e empre-endedores que sofreram multas por transgressão à lei ambiental,que converteram a multa em doação de bens e serviços, bemcomo cópia dos respectivos procedimentos administrativos.

Em relação aos dois primeiros ofícios requisitórios (docs. 04 e 05) se-quer houve qualquer resposta da requerida. E após reiterada pela terceira veza requisição formulada (doc. 06), a requerida, como que confessando suadesídia e manifesta recusa em encaminhar os documentos, limitou-se a profe-rir escusas insustentáveis e inadmissíveis em se tratando de órgão públicoincumbido de executar a política ambiental no Estado de Goiás (doc. 07).

Expedida, por derradeiro, em 22/03/2004, a Recomendação nº 002/04. CAOMA/CAODC/CAOPPS (doc. 08), novamente o Ministério Públi-co instou a requerida, sob pena das providências judiciais e das responsabili-dades legais cabíveis, em especial a incursão nos artigos 11 e 12 da Lei nº8.429/92 (LIA), bem como no art. 37, § 6º da Constituição Federal, a apre-sentar os documentos os quais se pretender serem exibidos com a propositurada presente demanda. Passado in albis o prazo consignado (dez dias). comosói ocorrer com a requerida – não resta dúvida acerca de sua conduta dolosaconsubstanciada na recusa de apresentar tais documentos ao requerente.

Ainda, segundo o Fundo Estadual do Meio Ambiente,

desde janeiro/2003, a Agência deixou de enviar ao FEMA oRelatório de Retorno (arquivo de dados) do Banco Itaú im-possibilitando assim, a identificação das referidas taxas. Emreunião com as áreas administrativa financeira e de Informá-tica da Agência Ambiental ficou definido que esta voltaria aenviar o arquivo, mas até a presente data ele não vem sendoenviado” e que diante disso o FEMA não tem como “infor-mar os valores referentes às autuações realizadas pela AgênciaGoiana do Meio Ambiente” (cf. Ofício nº 058 GAB.SEMARH datado de 03 de dezembro de 2003- doc. 09).

229Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Assim sendo, ao Ministério Público não restou outra alternativa a nãoser requisitar a instauração de inquérito policial (doc. 10) pela prática docrime prevista no art. 10 da Lei nº 7.347/85 (LACP), e ajuizar a presenteação de exibição judicial de documentos públicos: Termos de Compromisso deAjustamento de Conduta — celebrados entre a requerida e pessoas físicas ejurídicas autuadas por suposta infração administrativa ambiental — no quaisprevê expressamente como forma de extinção e quitação da obrigação pecuniária,oriunda de multas aplicadas como sanção administrativa, o fornecimento demateriais e equipamentos (v.g. impressoras, mesas para escritório, computa-dores, armários, racks, cadeiras giratórias, carros zero quilômetros, motos etc.),sob a forma de dação em pagamento, à Agência Ambiental de Goiás.

DO DIREITO

O art. 844 do CPC dispõe que:

Tem lugar, como procedimento preparatório, a exibição judi-cial:(...)II. de documento próprio ou comum, em poder de co-inte-ressado, sócio, condômino, credor ou devedor; ou em poderde terceiro que o tenha em sua guarda, como inventariante,testamenteiro, depositário ou administrador de bens alheios(...)

Conforme restou demonstrado, a requerida está fazendo menoscaboda Constituição Federal (art. 5º, XXXIII, art. 37, caput, art. 129, incisosVI), da Constituição Estadual (art. 117, V), da Lei nº 8.625/93 (art. 26, I,“b”), da Lei Complementar Estadual nº 25/93 (art. 47, I, “b”) e, em espe-cial, do art. 8º, caput, e § 1º da Lei nº 7.347/85, além de outros dispositi-vos constitucionais e legais que conferem ao Ministério Público a funçãoinstitucional de requisitar informações e documentos visando à proteção domeio ambiente, do patrimônio público e da probidade da administração.

Não resta dúvida de que a Agência Ambiental de Goiás, ao assimproceder, também atua em flagrante afronta à determinação contida no art.27, § 1º da Lei Estadual nº 12.596/95 e no art. 44, § 1º,, do DecretoEstadual nº 4.593/95, além de inviabilizar por completo o exercício deimportante função institucional atribuída ao Ministério Público consisten-te em zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços derelevância pública aos direitos assegurados na Constituição Federal, promo-vendo as medidas necessárias a sua garantia.

230 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Descumpre (a requerida) reiterada e sistematicamente ordem legal.Viola, ainda, o direito do Ministério Público e da coletividade de recebe-rem dos órgãos públicos informações de interesse coletivo ou geral, quedevem ser prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade (cf. art.5º, XXXIII, da Constituição Federal) e faz tabula rasa do princípio consti-tucional da publicidade (cf. art. 37, caput, da Constituição Federal).

A Agência Ambiental de Goiás, ora requerida, deveria facilitar e atépromover medidas aptas a tornar eficaz o controle interno e externo de suasatividades, as quais devem ser exercidas com a necessária e absoluta transpa-rência a fim de ser observado o princípio constitucional da publicidade, enão agir ao arrepio da lei e da Constituição.

Vale dizer, que as infrações ambientais são apuradas em procedimentosadministrativos próprios, os quais deverão observar compulsoriamente o prin-cípio da legalidade e da publicidade. Como a requerida tutela interesses pú-blicos não se justifica o sigilo de seus atos processuais ou procedimentais.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer o Ministério Público, e havendosubstanciosa adequação entre o fato e o direito, seja determinado à AgênciaGoiana de Meio Ambiente e Recursos Naturais. AGMARN, no prazo má-ximo e improrrogável de 48 (quarenta e oito) horas, liminarmente e inde-pendente de justificação prévia ou oitiva da parte contrária, a exibição inte-gral dos seguintes documentos públicos:

(i) Termos de Compromisso de Ajustamento de Conduta — celebra-dos entre a Agência Ambiental de Goiás e pessoas físicas e jurídicas autua-das por suposta violação à legislação ambiental — nos quais há expressaconversão de multas em bens e serviços, sob a forma de dação em pagamen-to, e que contemple extinção e quitação da obrigação pecuniária, e

(ii) a relação integral de bens recebidos. mediante a forma de daçãoem pagamento — e efetivamente integrados ao patrimônio da AgênciaAmbiental, acompanhados dos documentos comprobatórios de tais aquisi-ções e respectivas notas fiscais.

O MP requer, ainda, em caso de descumprimento da ordem, a ime-diata apreensão do que deveria ter sido exibido (art. 262 do CPC), tendoem visto ser ínsito ao procedimento da exibição o pedido de busca e apre-ensão, que é consectário lógico-natural do primeiro, e, por fim:

I – Seja a presente ação cautelar recebida, autuada e processada naforma e no rito preconizado;

II – A concessão initio litis da LIMINAR, na forma requerida;

231Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

III – Digne-se seja a ré citada na pessoa de seu Representante Legalpara, querendo, vir responder aos termos da presente ação no prazo legal,sob pena de presumirem-se aceitos pela requerida, com verdadeiros, os fa-tos alegados pelo requerente;

IV – a procedência in totum dos pedidos, com o julgamento defini-tivo de modo a satisfazer todos os objetivos expostos na presente peça ves-tibular inicial;

V – A publicação de Edital para dar conhecimento a terceiros inte-ressados e à coletividade, considerando o caráter erga omnes da presenteação cautelar

VI – Requer e protesta, ainda, provar o alegado por qualquer meio deprova admitida em direito, máxime provas testemunhais, periciais e docu-mentais, e, inclusive pelo depoimento pessoal do representante legal darequerida, pleiteando, desde já, a juntada dos documentos anexos do con-junto probatório colhido;

VII – Protesta-se, ainda, por eventual emenda, retificação e/oucomplementação da presente exordial, caso necessário.

VIII – Seja condenada a ré ao pagamento da custas e demaiscominações legais.

Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), para efeitoslegais e fiscais.

Termos em que,Aguarda deferimento.

Goiânia - GO, 02 de abril de 2004.

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Coordenador do CAO de Defesa do Meio Ambiente

Juliano de Barros AraújoPromotor de Justiça

15ª Promotoria de Justiça

Marcus Antônio Ferreira AlvesPromotor de Justiça

Coordenador do CAO de Defesa do Cidadão

Márcio Lopes ToledoPromotor de Justiça

39ª Promotoria de Justiça

232 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

7.9 TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA – LOTEAMENTOCLANDESTINO E IRREGULAR – OBRIGAÇÕES DE FAZER

COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

Inquérito Civil nº ____________Objeto: loteamentos clandestinos e irregularesFundamento Legal: art. 5º, § 6º da Lei nº 7.347/85

Pelo presente instrumento, em que figura de um lado o MINISTÉ-RIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio dos Promoto-res de Justiça infra-assinados, doravante denominado compromissário, e deoutro lados as empresas________________________ , doravante denomina-das compromitentes, celebram este COMPROMISSO DE AJUSTAMEN-TO de suas condutas, nos seguintes termos:

CLÁUSULA PRIMEIRA01. Os compromissários assumem a obrigação de fazer consistente

em eliminar as barreiras arquitetônicas do projeto do loteamento oudesmembramento, bem como adaptar os logradouros públicos, no que tan-ge aos elementos do mobiliário urbano (postes, hidrantes, placas de sinali-zação, bocas de lobo, etc.), garantindo aos deficientes físicos ou sensoriais(visuais, auditivos e mentais) o direito à acessibilidade previsto na Lei n º10.098, de 19/12/2000);

CLÁUSULA SEGUNDA02. Os compromissários assumem a obrigação de fazer consistente

em dotar o loteamento de sistema de captação, drenagem, e escoamento deáguas pluviais adequados, de forma a impedir a formação de poças d’água,eclosão de processos erosivos, proliferação de doenças e problemas relativosà circulação de pessoas e veículos automotores;

CLÁUSULA TERCEIRA03. Os compromissários assumem a obrigação de fazer consistente em

dotar o loteamento com rede de esgoto de forma a impedir que resíduos domés-ticos sejam despejados em cursos d’água, leitos carroçáveis ou em fossas clan-destinas, com perigo de contaminação do lençol freático e dos mananciais;

CLÁUSULA QUARTA04. Os compromissários assumem a obrigação de fazer consistente

em dotar o loteamento com energia elétrica domiciliar e rede de água de

233Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

forma a impedir as ligações clandestinas, e, por conseguinte, o comprome-timento da saúde pública e da qualidade do fornecimento desses produtosessenciais aos demais cidadãos;

CLÁUSULA QUINTA05. Os Compromissários, sócios da sociedade loteadora, com pode-

res de gestão de fato e de direito, figuram no presente acordo, assinando poresta e também em nome próprio, assumindo pessoal e solidariamente aresponsabilidade pela execução das obras, em razão do disposto no art. 47da lei nº 6.766/79 (hipótese de solidariedade legal);

CLÁUSULA SEXTA06. Os compromissários assumem a obrigação de fazer consistente

em ressarcir os danos causados aos padrões de desenvolvimento urbano eaos adquirentes dos lotes (pela inexecução das obras), executando as obrasde infra-estrutura do loteamento;

CLÁUSULA SÉTIMA07. Os compromissários assumem a obrigação de fazer consistente

em realizar as obras de infra-estrutura (drenagem e escoamento de águaspluviais, esgoto, calçamento, pavimentação, implementação de redes de águae energia elétrica, etc.) segundo um cronograma de obras apresentado pelorespectivo órgão público, conforme documento anexo;

CLÁUSULA OITAVA08. Os compromissários assumem a obrigação de fazer consistente

no adimplemento das obrigações constantes nas cláusulas anteriores no prazomáximo e improrrogável de 2 (dois) anos, ficando estabelecido que seráconsiderada antecipadamente vencida todas as obrigações, ensejando ime-diata execução judicial, caso os compromitentes descumpram quaisquer dasfases do cronograma de obras apresentado, mediante constatação pelo ór-gão técnico do Município;

CLÁUSULA NONA09. Os compromissários assumem a obrigação de fazer consistente

em apresentar a Promotoria de Justiça de _______________ no prazo máxi-mo e improrrogável de____________, termo de verificação de obras elabora-do pelo Município, a fim de que se possa constatar o adimplemento dasobrigações assumidas;

234 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CLÁUSULA DÉCIMA10. Os compromissários assumem a obrigação de fazer consistente

em promover a competente ação de retificação de área na hipótese do imó-vel objeto do parcelamento contiver descrição irregular ou nenhuma medi-da perimetral no cartório de registro de imóveis;

CLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA11. Os compromissários assumem a obrigação de fazer consistente

em promover a fusão das matrículas na hipótese de ter sido utilizada maisde uma gleba para um único loteamento (e mais de uma matrícula);

CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA12. Os compromissários, caso sejam proprietários em condomínio,

por sucessão causa mortis, e realizaram o loteamento “nas suas partes ideais”,antes de homologada e registrada a partilha ou antes de terminado o inven-tário, assumem a obrigação de fazer consistente em regularizar a situação doimóvel, promovendo, inclusive, o desmembramento de suas respectivas fra-ções, antes de qualquer ato de disponibilidade do loteamento;

CLÁUSULA DÉCIMA TERCEIRA13. Os compromissários assumem a obrigação de fazer consistente

em remover as pessoas residentes e domiciliadas no loteamento, com justaindenização e assentamento noutro lugar adequado, caso o loteamento es-teja localizado em zona rural ou em área de preservação ambiental;

CLÁUSULA DÉCIMA QUARTA14. Os compromissários, na hipótese do loteamento ser clandestino,

reconhecem que executaram o loteamento ________, na________________.,no imóvel objeto da matrícula nº ________ , composto de ________.lotes,________quadras, ________ruas, tendo vendido.________lotes ao preço deR$______________ cada um, sem as devidas aprovações, sem registro e semas obras de infra-estrutura, comprometendo-se a observar as diretrizes doMunicípio de______________, elaborar e apresentar o projeto, memorialdescritivo, contrato padrão e demais elementos exigidos pela Lei 6.766/79(arts. 6º, 9º, 10, 12, 18, 26 e outros) aos órgãos públicos e ao cartório deregistro de imóveis, tudo no prazo de 120 (cento e vinte) dias, contadosdesta data, devendo apresentar na Promotoria de Justiça os respectivos com-provantes (protocolos, prenotação, etc.) no 120º dia, sob pena de paga-mento de multa no valor de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil) reais, acrescidade juros e correção monetária, a ser exigida de imediato em regular processo

235Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

de execução por quantia certa, independentemente de notificação ou inter-pelação (art. 960, caput, do Código Civil);

CLÁUSULA DÉCIMA QUINTA15. Os compromissários assumem a obrigação de fazer, na hipótese de

promoverem loteamentos clandestinos ainda em fase inicial (ainda não executa-dos nem ocupados, ou com baixa densidade de ocupação, onde seja possívelreservar espaços para as áreas públicas ou non aedificandi), consistente em:

15.1. paralisar todas as atividades de implantação física do loteamento(obras de terraplanagem, abertura de ruas, demarcação de quadras e lotes,edificações, supressão de vegetação, movimentação de terras, etc.) e impe-dir que terceiros executem obras no local, inclusive os adquirentes dos lotes;

15.2. cessar a publicidade, as vendas, promessas de vendas, reservasou quaisquer atos que impliquem na alienação de lotes, bem como a co-brança ou o recebimento de prestação dos adquirentes;

15.3. colocar placas e faixas na área informando que o parcelamentonão pode ser executado e não podem ser vendidos lotes;

15.4. obter as licenças, aprovações e registro do loteamento, em pra-zo razoável, sob pena de desfazimento do loteamento, com indenizaçãopelos danos ambientais, urbanísticos e aos adquirentes;

15.5. ressarcir os consumidores lesados, devolvendo-lhes as quantiaspagas, com juros e correção monetária, sem prejuízo de indenização porperdas e danos, cujo montante deve ser apurado em processo de liquidação;

15.6. cientificar os adquirentes da existência do acordo e do seu di-reito de receber as quantias pagas, apresentando à Promotoria de Justiça oscomprovantes das notificações, feitas na forma do art. 49 da Lei nº 6.766/79, num prazo razoável, sob pena de pagamento de multa moratória novalor de ________________para cada adquirente injustificadamente não no-tificado, exigível em processo de execução por quantia certa, sem necessida-de de interpelação do loteador (art. 960 do Código Civil);

CLÁUSULA DÉCIMA SEXTA16. Os compromissários reconhecem que a implementação do

loteamento denominado________________causa relevante impactoambiental, razão pela qual assumem a obrigação de fazer, no prazo máximoe improrrogável de _______ meses, consistente em elaborar o competenteestudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental -EIA/RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão competente, bemcomo a providenciar o licenciamento ambiental do empreendimento, con-forme disposto na Resolução CONAMA nº 237.

236 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

O Município poderá fixar as diretrizes adicionais que, pelas peculi-aridades do projeto e características ambientais da área, forem julgadas ne-cessárias, inclusive os prazos para conclusão e análise dos estudos (Resolu-ção CONAMA nº 001, art. 5º, parágrafo único).

CLÁUSULA DÉCIMA SÉTIMA17. O compromitente poderá fiscalizar a execução do presente acor-

do, tomando as providências legais cabíveis, sempre que necessário, ou po-derá cometer a respectiva fiscalização a órgãos que vier a indicar;

CLÁUSULA DÉCIMA OITAVA18. Em caso de descumprimento das obrigações assumidas, os

compromissários ficarão sujeitos ao pagamento de multa diária no valor deR$ 1.000,00 (um mil reais), até o adimplemento total da obrigação, quepoderá ser exigida conjuntamente com a demais obrigações de fazer, e semprejuízo da execução específica da obrigação por terceiros, salvo por motivodevidamente justificado.

CLÁUSULA DÉCIMA NONA19. O não-pagamento da multa implica em sua cobrança pelo Mi-

nistério Público ou pela Fazenda Pública, com correção monetária, juros de1% (um por cento) ao mês, e multa de 10% (dez por cento) sobre o mon-tante devido;

CLÁUSULA VIGÉSIMA20. Este compromisso produzirá efeitos legais a partir de sua cele-

bração, e terá eficácia de título executivo extrajudicial, conforme dispõe oart. 5º, § 6º, da Lei nº 7.347/85 e o art. 585, inciso VII, do Código deProcesso Civil.

E, por estarem de acordo, firmam o presente.

________________-GO, ____de _____________ de 20___

__________________________________Promotor de Justiça

Compromissários:

237Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

7.10 TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA – ÁREAS CONSIDE-RADAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – OBRIGAÇÃO DE NÃOFAZER – ABSTENÇÃO DE EXERCER QUALQUER ATIVIDADE OU OBRAPOTENCIALMENTE CAUSADORAS DE DEGRADAÇÃO DO MEIO AM-BIENTE -– OBRIGAÇÃO DE FAZER – REFLORESTAR E RECUPERARÁREAS CONSIDERADAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

Pelo presente instrumento, em que figura de um lado o MINISTÉ-RIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio do(a)Promotor(a) de Justiça infra-assinado, doravante denominado compromitente,e de outro lado ____________________________________________________inscrita no CNPJ/CPF sob o nº________________________________ , comdomicílio. _________________________________________________________Município de________________________________ -GO, doravante deno-minada compromissária________________________ , celebram este TERMODE AJUSTAMENTO DE CONDUTA, nos seguintes termos:

CLÁUSULA PRIMEIRA01. A compromissária________________________________ reconhe-

ce a necessidade de recuperar degradação ambiental existente em áreas depreservação permanente ao longo e, principalmente, às margens da nascen-te da bacia hidrográfica do rio Meia Ponte, em toda a extensão situadadentro de sua propriedade.

CLÁUSULA SEGUNDA02. A compromissária ________________________________assume a

obrigação de NÃO FAZER, consistente em abster-se de exercer quaisqueratividades ou obras potencialmente causadoras de degradação do meio am-biente, com inobservância das normas legais e regulamentares ambientais eem desacordo com as licenças válidas expedidas pelos órgãos competentes;

CLÁUSULA TERCEIRA03. A compromissária ________________________________ assume

as obrigações de FAZER, consistente em recuperar e reflorestar todas asáreas de preservação permanente existentes (cf. art. 2º da Lei Federal 4.771/65 e art. 5º da Lei Estadual 12.596/95) principalmente na faixa de 30metros, em toda a extensão das margens das nascentes da bacia hidrográficado rio Meia Ponte que passam por sua propriedade;

238 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CLÁUSULA QUARTA04. O compromitente poderá fiscalizar a execução do presente acor-

do a qualquer momento, inclusive mediante inspeções pessoais, tomandoas providências legais cabíveis, sempre que julgar necessário, ou poderá co-meter a respectiva fiscalização aos órgãos competentes que vier a indicar;

CLÁUSULA QUINTA05. Em caso de descumprimento das obrigações assumidas, a

compromissária ________________________________ ficará sujeita ao paga-mento de multa diária no valor de R$ 100,00 (cem reais), até o adimplementototal da obrigação, que poderá ser exigida conjuntamente com as demaisobrigações, e sem prejuízo da execução específica da obrigação por tercei-ros, salvo por motivo devidamente justificado;

CLÁUSULA SEXTA06. O não pagamento da multa implica em sua cobrança pelo Mi-

nistério Público ou pela Fazenda Pública, com correção monetária, juros de1% (um por cento) ao mês, e multa de 2% (dois por cento) sobre o mon-tante devido;

CLÁUSULA SÉTIMA07. Este compromisso produzirá efeitos legais a partir de sua cele-

bração, e terá eficácia de título executivo extrajudicial, conforme dispõe oart. 5º, § 6º, da Lei nº 7.347/85 e o art. 585, inciso VII, do Código deProcesso Civil.

E, por estarem de acordo, firmam o presente.

________________-GO, ____de _____________ de 20___

__________________________________Promotor de Justiça

Compromissária:

239Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

7.11 TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA – POLUIÇÃOELETROMAGNÉTICA – EMISSÃO DE RADIAÇÃO NÃO IONIZANTE– OBRIGAÇÃO DE FAZER – LICENCIAMENTO AMBIENTAL.NECESSIDADE – REALIZAÇÃO DE LAUDO OU ESTUDO SIMILARDA ESTAÇÃO RÁDIO BASE MENSURANDO MEDIÇÕES DERADIAÇÕES DA ERB

COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

Processo nº __________Autor: Ministério Público do Estado de GoiásRé: __________

Pelo presente instrumento, em que figura de um lado o MINISTÉ-RIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio dos Promoto-res de Justiça infra-assinados, doravante denominado compromitente, e deoutro lado __________, empresa concessionária do Serviço Móvel Celular,nos termos do Contrato de Concessão nº __________ , doravante denomi-nada compromissária, celebram este COMPROMISSO DE AJUSTAMEN-TO de suas condutas, nos seguintes termos:

CLÁUSULA PRIMEIRA01. A compromissária reconhece que a Estação Rádio Base, instalada

na ____________________ , é uma fonte poluente e que a emissão de radi-ação não ionizante, sob a forma de ondas eletromagnéticas, em desacordocom os padrões estabelecidos, pode afetar à saúde pública e o bem-estar daspessoas (art. 3º da Lei n º 6.938/91 e art. 2º da lei Estadual nº 8.544/78);

CLÁUSULA SEGUNDA02. A compromissária assume a obrigação de fazer, no prazo máximo

e improrrogável de 90 (noventa) dias, consistente em realizar laudo ou es-tudo similar da Estação Rádio Base mensurando medições de radiações daprópria ERB e da área, a fim de que se possa constatar se a emissão deradiação está em conformidade com os limites aplicáveis para exposição dopúblico em geral especificados nas recomendações da ICNIRP, bem comoem consonância com as normas e critérios adotados pela Organização Mun-dial de Saúde (OMS) e pela ANATEL;

CLÁUSULA TERCEIRA03. A ccompromissária assume a obrigação de fazer consistente em

submeter o laudo técnico a que se obrigou a realizar (cf. cláusula segunda),

240 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

no prazo máximo e improrrogável de 30 (trinta) dias após a sua conclusão,ao órgão competente da Administração Pública estadual/municipal, a fimde que esta exerça, in casu, o necessário controle como gestora do meioambiente, efetuando o licenciamento, a que se dará publicidade (art. 10 daLei nº 6.938/81 e art. 1º, inciso I, da Resolução Conama nº 237/97);

CLÁUSULA QUARTA04. A compromissária, comprovada a emissão de radiação não ionizante

da ERB em desacordo com os padrões estabelecidos pelo órgãos mencionadosna cláusula segunda, e/ou constatada a não aprovação dos órgãos ambientaiscompetentes da Administração Pública estadual/municipal, assume a obriga-ção de fazer consistente em adequar-se aos padrões estabelecidos pelos referi-dos órgãos (ICNIRP, OMS e ANATEL), no prazo máximo e improrrogávelde 30 (trinta) dias ou, na impossibilidade de cumprimento dessa obrigação,demolir ou remover a ERB, restaurando o meio ambiente ao status quo ante-rior, no prazo máximo e improrrogável de 90 (noventa) dias;

CLÁUSULA QUINTA05. A compromissária assume a obrigação de fazer consistente em

realizar monitoramento periódico (______em ______meses) da radiaçãonão ionizante emitida pela ERB;

CLÁUSULA SEXTA06. A compromissária assume a obrigação de fazer consistente em

apresentar o referido laudo técnico, no prazo máximo e improrrogável de30 (trinta) dias após a sua conclusão, à comunidade local, mediante a rea-lização de audiência pública ou evento similar (art. 2º, inciso XIII, da LeiFederal nº 10.257/2.001), a que se dará devida publicidade, o que permi-tirá a intervenção dos cidadãos e de associações ambientalistas, satisfazen-do, assim, o princípio da participação comunitária;

CLÁUSULA SÉTIMA07. A compromissária assume a obrigação de fazer, no prazo máximo e

improrrogável de 30 (trinta) dias, consistente em submeter o empreendi-mento e respectivo projeto à vistoria e apreciação do Corpo de BombeirosMilitar do Estado de Goiás, que emitirá parecer ao qual a compromitenteficará vinculado (art. 5º, parágrafo primeiro, da Lei Municipal nº 2.218/98);

CLÁUSULA OITAVA08. A compromissária, em razão da instalação e funcionamento da

ERB sem o referido laudo técnico (violação do princípio da precaução) e de

241Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

sua localização imprópria (em desacordo com as normas que regulam oordenamento dos espaços urbanos — instrumento de política ambiental)assume a obrigação de fazer consistente em providenciar medidas de com-pensação aos danos de ordem ambiental e urbanística causados (v.g. finan-ciamento e promoção de projetos culturais, restauração do patrimônio his-tórico, destinação de pequena parte dos lucros ao Fundo Municipal de MeioAmbiente para preservar e recuperar o meio ambiente degrado, etc.);

CLÁUSULA NONA09. O compromitente poderá fiscalizar a execução do presente acor-

do, tomando as providências legais cabíveis, sempre que necessário, ou po-derá cometer a respectiva fiscalização aos órgãos que vier a indicar;

CLÁUSULA DÉCIMA10. Em caso de descumprimento das obrigações assumidas, a

compromissária ficará sujeita ao pagamento de multa diária no valor de R$500,00 (quinhentos) reais, até o adimplemento total da obrigação, quepoderá ser exigida conjuntamente com a demais obrigações de fazer (art.919 do CC), e sem prejuízo da execução específica da obrigação por tercei-ros, salvo por motivo devidamente justificado.

CLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA11. O não-pagamento da multa implica em sua cobrança pelo Mi-

nistério Público ou pela Fazenda Pública, com correção monetária, juros de1% (um por cento) ao mês, e multa de 10% (dez por cento) sobre o mon-tante devido;

CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA12. Este compromisso produzirá efeitos legais a partir de sua homo-

logação por este r. juízo, e terá eficácia de título executivo judicial.E, por estarem de acordo, firmam o presente e requerem a compe-

tente homologação judicial, extinguindo-se o feito com julgamento de mérito(art. 269, inciso III, do CPC).

Luziânia - GO, 15 de fevereiro de 2002.

Ricardo Rangel de AndradePromotor de Justiça

Robertson Alves de MesquitaPromotor de Justiça

Compromissária:

242 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

7.12 TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA - ATIVIDADEMINERADORA - OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER -ATIVIDADES EM DESACORDO COM AS LICENÇAS EXPEDIDAS

COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA

Processo nº_______Autor: Ministério Público do Estado de GoiásRéu: Orca Mineradora

Pelo presente instrumento, em que figura de um lado o MINISTÉ-RIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio do Promotorde Justiça infra-assinado, doravante denominado compromitente, e de outrolado ORCA MINERADORA, pessoa jurídica de direito privado, inscritano CNPJ sob o nº___________________ , com sede na_______________,Município de______________________________, representada neste atopor_________________________ , devidamente acompanhado de seu advo-gado, o Dr. _________________________doravante denominadacompromissária ORCA MINERADORA, celebram este COMPROMISSODE AJUSTAMENTO de suas condutas, nos seguintes termos:

CLÁUSULA PRIMEIRA01. A compromissária ORCA MINERADORA reconhece a proce-

dência da presente ação civil pública – da qual faz parte integrante o LaudoTécnico _________ elaborado pelo perito ambiental do Ministério Público–, no sentido de que exerce atividade utilizadora de recursos naturais, po-tencialmente poluidora e capaz de causar degradação ambiental, e que seufuncionamento estava em desacordo com as normas pertinentes (Lei 8.544/78, Lei nº 6938/81, Resoluções CONAMA, etc.) e eventuais licençasexpedidas;

CLÁUSULA SEGUNDA02. A compromissária ORCA MINERADORA assume a obriga-

ção de NÃO FAZER consistente em abster-se de exercer quaisquer ati-vidades de pesquisa, lavra e extração de recursos minerais, sem que dete-nha as competentes e válidas: (i) Licença Ambiental de Funcionamento,com a imprescindível especificação detalhada dos locais autorizados paraa exploração mineral, a ser expedida pela Agência Ambiental de Goiás;(ii) licença expedida pelo DNPM autorizando a exploração de recursosminerais;

243Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CLÁUSULA TERCEIRA03. A compromissária ORCA MINERADORA assume a obrigação

de NÃO FAZER consistente em abster-se de pesquisar, lavrar e extrair re-cursos minerais (notadamente areia e argila) nas áreas consideradas de pre-servação permanente pela Lei Federal nº 4.771/65 (Código Florestal), epela Lei Estadual nº 12.596/95;

CLÁUSULA QUARTA04. Para atender a determinação do artigo 27, da Lei 9.605/98, que

exige a prévia composição do dano ambiental como condição para a transa-ção penal, bem como para atender o disposto no art. 76 da Lei 9.099/95,que estabelece a possibilidade de transação penal mediante aplicação ime-diata de pena não privativa de liberdade, a compromissária ORCAMINERADORA assume a obrigação de FAZER consistente em: a) apre-sentar ao Ministério Público local e à Agência Goiânia de Meio Ambiente,no prazo máximo e improrrogável de 90 (noventa) dias, o PRAD. Plano deRecuperação de Área Degradada e o Plano de Recuperação do Manancial,acompanhados dos respectivos cronogramas de execução, os quais deverãoser analisados e aprovados pelo corpo técnico de ambos os órgãos (Ministé-rio Publico e Agência Ambiental), sendo que os mencionados Planos deve-rão ser rigorosamente cumpridos, apresentando a compromissária ORCAMINERADORA relatório circunstanciado, subscrito por profissional devi-damente habilitado com a respectiva Anotação de Responsabilidade Técni-ca. ART, comprovando a recuperação ambiental das áreas atingidas.

Parágrafo primeiro. O PRAD deverá obrigatoriamente prever:(i) medidas destinadas a propiciar a regularização do terreno – de

sorte a mitigar os danos ambientais inerentes a esta atividade –, e evitar oacúmulo de água nas áreas escavadas;

(ii) a integral recuperação da mata ciliar, a qual deve contar com, nomínimo, 50m de largura, ao longo do rio Crixás Mirim, dentro da propri-edade, observando-se as peculiaridades edáficas ao longo do referido corpod´água;

(iii) reflorestamento ao redor dos lagos naturais ou artificalmenteformados, criando uma área de preservação permanente, conforme legisla-ção específica;

(iv) o afastamento das caixas de areia para, no mínimo, 50m da mar-gem do rio;

(v) a recuperação da Área I (Laudo Técnico LTPA 009/2003/PRC04/03 elaborado por técnicos periciais ambientais do Ministério Público),

244 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

abandonada, com a cobertura de uma camada de, no mínimo, 60 centíme-tros de terra fértil em locais onde se deve reflorestar (Áreas de preservaçãopermanente) e 30 centímetros em áreas de pastagem (situadas fora da APP);

(vi) cópias, em papel vegetal, do over-lay das poligonais licenciadaspelo DNPM, e

(vii) a aquisição de, no mínimo, 20.000 (vinte mil) mudas por ano,durante 5 (cinco) anos, as quais deverão conter quantidade igual ou superi-or a 50 (cinqüenta) espécies diferentes e nativas da região, e tamanho míni-mo de 30 centímetros cada uma, a título de indenização e mediante com-pensação dos danos ambientais ocasionados pela atividade exercida de for-ma irregular. As mudas deverão ser disponibilizadas ao Ministério Públicolocal, preferencialmente, no início da estação chuvosa, ocorrente, em regra,a partir de outubro/novembro, e deverão ser destinadas à recuperação dasáreas de preservação permanente da comarca de Mozarlândia;

Parágrafo Segundo – O Plano de Recuperação do Manancial deveráobrigatoriamente observar integralmente às disposições contidas no anexoTERMO DE REFERÊNCIA PARA O DIAGNÓSTICO DE IMPACTOSAMBIENTAIS EM MANANCIAIS HÍDRICOS

CLÁUSULA QUINTA05. A compromissária ORCA MINERADORA assume a obrigação

de FAZER consistente em monitorar e comprovar, mediante relatórios tri-mestrais, o cumprimento do PRAD e do Plano de Recuperação do Manan-cial;

CLÁUSULA SEXTA06. A compromissária ORCA MINERADORA assume a obrigação

de FAZER consistente em apresentar ao Ministério Público, no prazo má-ximo e improrrogável de 30 (trinta) dias, documentos que comprovem aexistência de averbação da reserva legal;

CLÁUSULA SÉTIMA07. A compromissária ORCA MINERADORA, a título de compen-

sação ambiental, assume a obrigação de FAZER consistente depositar, noprazo máximo e improrrogável de 30 (trinta) dias, a quantia de R$ 50.000,00(cinqüenta mil reais0 na Fundo Municipal de Meio Ambiente;

Parágrafo primeiro – A compromissária ORCA MINERADORA de-verá comprovar perante o Ministério Público o cumprimento da compen-sação pactuada.

245Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

CLÁUSULA OITAVA08. O compromitente poderá fiscalizar a execução do presente acor-

do, inclusive mediante inspeções pessoais, que serão consignadas em autosde constatação, tomando as providências legais cabíveis, sempre que neces-sário, ou poderá cometer a respectiva fiscalização aos órgãos competentesque vier a indicar;

CLÁUSULA NONA09. O não pagamento da multa implica em sua cobrança pelo Mi-

nistério Público ou pela Fazenda Pública, com correção monetária, juros de1% (um por cento) ao mês, e multa de 2% (dois por cento) sobre o mon-tante devido;

CLÁUSULA DÉCIMA10. Em caso de descumprimento das obrigações assumidas, a

compromissária ORCA MINERADORA ficará sujeita ao pagamento demulta diária no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), até o adimplementototal da obrigação, que poderá ser exigida conjuntamente com a demaisobrigações, e sem prejuízo da execução específica da obrigação por tercei-ros, salvo por motivo devidamente justificado;

CLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA11. Este compromisso produzirá efeitos legais a partir de sua homo-

logação por este r. juízo (art. 269, III, do CPC), e terá eficácia de títuloexecutivo judicial.

E, por estarem de acordo, firmam o presente e requerem a compe-tente homologação judicial.

Goiânia - GO, 18 de março de 2005

____________________________________Promotor de Justiça

Compromissária:

8 CARTA DE GOIÂNIA

DRENAGEM URBANA: RECARGA DO LENÇOL FREÁTICO, CON-TROLE DE INUNDAÇÕES, REUSO DE ÁGUAS PLUVIAIS E RECU-PERAÇÃO DE NASCENTES URBANAS

Os representantes do Ministério Público do Estado de Goiás, Municí-pio de Goiânia, Saneamento de Goiás S/A. - Saneago, Escola de EngenhariaCivil da Universidade Federal de Goiás - UFG, Associação Brasileira de Enge-nharia Sanitária - ABES, Clube de Engenharia de Goiás e Hidrante Consultoriae Projetos, presentes no 1º FÓRUM DE DRENAGEM URBANA DO ES-TADO DE GOIÁS, realizado no dia 11 de maio de 2006, em Goiânia-GO,

CONSIDERANDO que drenagem urbana é a denominação usual-mente empregada para designar instalações destinadas a escoar o excesso deágua pluvial na malha urbana;

CONSIDERANDO que a drenagem urbana não deve se restringir

aos aspectos puramente técnicos impostos pelos limites restri-tos à engenharia, pois compreende o conjunto de todas asmedidas a serem tomadas que visem à atenuação dos riscos edos prejuízos decorrentes de inundações aos quais a sociedadeestá sujeita”; (cf. Prof. Antonio Cardoso Neto em SistemasUrbanos de Drenagem);

CONSIDERANDO que o ciclo hidrológico sofre fortes alteraçõesnas áreas urbanas devido, principalmente, à alteração da superfície do solo(redução da área de permeabilidade) e à canalização do escoamento;

CONSIDERANDO que a política existente de desenvolvimento e con-trole dos impactos quantitativos na drenagem urbana se baseia no conceitode escoar a água precipitada o mais rápido possível. Este princípio foi abando-nado nos países desenvolvidos no início da década de 1970, por ter comoconseqüência imediata dos projetos baseados neste conceito o aumento dasinundações a jusante. (cf. Carlos E. M. Tucci em Drenagem Urbana).

CONSIDERANDO que o aumento dos prejuízos causados por en-chentes em cidades brasileiras deve-se sobretudo, à: (i) baixa capacitaçãoinstitucional e técnica dos municípios, a resultar na concepção inadequadadas ações de drenagem urbana e baixa sustentabilidade das mesmas; (ii)insuficiência na oferta de infra-estrutura de drenagem urbana; (iii) escassez

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de recursos para implementação de ações que visem à gestão do escoamentodas águas nas cidades e dos impactos de enchentes urbanas e ribeirinhas, quedegradam a saúde pública, o ambiente e a qualidade de vida nas cidades; e(iv) ausência de mecanismos de controle social na prestação dos serviços;

CONSIDERANDO que a unidade do ciclo hidrológico deverá sersempre levada em consideração pelo legislador, quando houver que tratardas águas em quaisquer de suas fases ou estado. A falta de preocupaçãonesse sentido, em geral, leva à edição de normas estanques, dispondo sobreas águas superficiais e subterrâneas, com graves inconvenientes para a ges-tão de ambas. (cf. Carlos E. M. Tucci).

CONSIDERANDO que o modelo de urbanização das cidades bra-sileiras em sua concepção de drenagem urbana minimizou a porção de recargados aquíferos;

CONSIDERANDO que a melhor maneira de evitar a redução dadisponibilidade hídrica é assegurar seu ciclo hidrológico natural, e

CONSIDERANDO ainda os altos custos de substituição de redesde drenagem que hoje operam sub-dimensionadas e a economicidadealcançada com ações preventivas e planejamento adequado

VOTAM E APROVAM AS SEGUINTE CONCLUSÕES E RECO-MENDAÇÕES:

1. É dever do poder público e da sociedade reduzir o impacto daurbanização sobre o ciclo hidrológico da região, assegurar a preservação erecuperação das nascentes, reduzir a possibilidade de inundações na áreaurbanizada e minimizar o impacto das descargas das redes de drenagempluvial sobre os cursos hídricos;

2. O aumento dos índices de impermeabilização, a dificuldade demanutenção das redes de drenagem pluvial e o impacto do lançamento daságuas pluviais sobre os cursos hídricos estão entre os principais desafios aserem enfrentados pelo poder público e sociedade na melhoria do meioambiente urbano;

3. A impermeabilização das áreas urbanas é prejudicial ao ciclohidrológico por reduzir a recarga do lençol freático, concentrar a descargano corpo hídrico e reduzir o tempo de concentração nas bacias, provocan-do, por conseguinte, inundações e danificando os fundos de vale;

4. A preocupação com a abordagem da recarga do lençol freático e orespeito à capacidade de escoamento e auto-depuração dos cursos hídricos,devem ser os principais objetivos almejados para a redução do impacto daurbanização sobre o ciclo hidrológico local e para a economia de recursos na

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manutenção da adequada simbiose entre o ambiente urbano e o ambientenatural que lhe serve de suporte;

5. Há necessidade de uma mudança na concepção tradicional deprojetos de drenagem urbana, que hoje se restringe ao conceitoimpermeabilização–captação–condução–descarga das águas pluviais, paraa inclusão de mecanismos redutores de vazão e de volume de escoamento,que assegurem também a recarga dos aquíferos;

6. É responsabilidade de todos a manutenção da condição natural dedescarga pluvial de sua(s) respectiva(s) área(s), sem acréscimo de vazão ouvolume em relação às condições pré-existentes à ocupação do terreno;

7. Deve ser assegurada a manutenção das vazões máximas dos cursoshídricos em níveis seguros, evitando-se alterações adversas ao meio-ambien-te urbano ou à saúde pública, tais como, erosões, perda de propriedade oudoenças de veiculação hídrica. Para isso qualquer descarga pluvial diretadeve ser acompanhada de um estudo que prove ser compatível com a vazãosuportável daquele trecho do curso hídrico.

8. A área de permeabilidade – considerada, ainda, o único instru-mento de recarga dos aquíferos freáticos exigido em projetos – deve serdesmembrada em dois elementos distintos: área de permeabilidade e áreaverde, uma dicotomização necessária porque elas exerçam funções distintasno ambiente urbano, e a área verde não deve ser reduzida por soluções deinfiltração diferentes;

9. A “área verde” exerce um importante papel no micro-clima dacidade, possibilitando a captura de carbono pela arborização e auxiliandona manutenção da temperatura e umidade pela evapo-transpiração e redu-ção da reflexão solar. Por isso, deve ser assegurada, em qualquer projeto, aum mínimo de 15% da área do terreno em questão;

10. A utilização de sistemas de retenção e infiltração são soluções debaixo custo, que podem substituir parcialmente, quando for o caso ejustificadamente, a “área de permeabilidade” hoje exigida por diversosmunicípios;

11. A utilização de sistemas de retenção e infiltração também deveser obrigatória para o poder público, nas áreas sob sua responsabilidade;

12. A implantação de sistemas de infiltração e/ou retenção em áreasjá construídas é possível, economicamente viável e benéfica, especialmentenas regiões que contam com redes de drenagem operando acima da suacapacidade;

13. O aproveitamento das águas pluviais resulta em retenção, reduçãode picos de enchentes, e promove, também, a economia no consumo de águatratada, devendo, portanto, ser incentivado e fomentado pelo poder público;

250 Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

14. A conscientização da população sobre os problemas com a drena-gem decorrentes do lixo jogado nas ruas é de fundamental importância noprocesso de manutenção das redes de drenagem e da qualidade da água noscorpos hídricos;

15. Devem ser incentivadas e divulgadas as iniciativas de recarga dolençol freático (v.g. como a realizada pelo Clube de Engenharia de Goiás) afim de que a sociedade conheça e valorize ações voltadas à melhoria domeio-ambiente urbano;

16. Pela relevância do tema para o bem comum, é importante queórgãos de classe, universidades, entes públicos e privados, divulguem e in-centivem o desenvolvimento de pesquisas, promoção de eventos, cursos,concursos bem como outros instrumentos úteis para o desenvolvimento detecnologias e o envolvimento da sociedade;

17. O rebaixamento definitivo de lençol freático por bombeamentoconstante ou intermitente, necessário em alguns projetos para viabilizar aimplantação de subsolos, é impactante ao ciclo hidrológico da região, de-vendo, portanto, ser cuidadosamente analisado pelos órgãos ambientaiscompetentes;

18. A implantação de poços artesianos é impactante ao ciclohidrológico da região e pode trazer problemas de saúde pública. Além dolicenciamento ambiental faz-se necessária uma ação enérgica dos órgãos defiscalização a fim de coibir o uso de poços clandestinos e irregulares;

19. É dever do poder público monitorar e informar a qualidade daságuas de drenagem lançadas em corpos d’água, bem como instituir medi-das de minimização/mitigação dos impactos advindos da drenagem, à luzdas legislações municipal, estadual e federal de recursos hídricos;

20. As águas de drenagem freqüentemente apresentam substânciaspoluentes, como óleos e graxas, lixo, matéria orgânica, organismospatogênicos, metais pesados etc. Esses poluentes são precursores de doen-ças de veiculação hídrica, mutagênese, teratogênese, podendo causar pro-blemas ao ser humano e aos ecossistemas aquáticos. Dessa maneira, reco-menda-se a utilização de sistemas de retenção e infiltração aos quais a águapluvial só tenha acesso após um limite de vazão mínimo, de forma a assegu-rar que a maior parte dos poluentes já tenha sido levada e impedir a conta-minação pontual do solo;

21. O poder público municipal deve modificar o termo de “uso dosolo” incluindo a separação das exigências de “Área Verde” e de “Área dePermeabilidade”;

22. O poder público municipal deve exigir nos novos projetos,residenciais ou comerciais, a implementação de sistemas de retenção e infil-

251Coletânea do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

tração de águas pluviais. A definição dos volumes de retenção e do sistemade infiltração deverá ser definida pelo poder público municipal, por meiode estudos geotécnicos, e deverá ser exigido projeto específico elaboradopor profissional competente para aproveitamento de áreas maiores que1.500,00m². Esta exigência deve incidir sobre qualquer novo projeto deconstrução ou reforma a ser aprovado;

23. A utilização de reservatórios para aproveitamento de águas pluvi-ais pode ser considerada como volume de retenção a ser parcialmente abati-do (50%) daquele previsto no sistema de retenção e infiltração previsto;

24. As Agências, Secretarias de Habitação e empreendedoreshabitacionais devem utilizar projetos de sistemas de infiltração e retençãonos novos loteamentos populares, sempre com o acompanhamento de pro-fissional em geotecnia para definir a aplicabilidade de tais elementos;

25. O poder público municipal deve criar procedimentos, em suasdiversas secretarias, a fim de que toda solicitação de “Habite-se”, “Alvará deFuncionamento” ou “Transferência Imobiliária” gere uma vistoria do imó-vel para verificação das exigências de área verde e de permeabilidade exigidas.Nas áreas já construídas o poder público deverá criar critérios mínimos deárea permeável ou sistemas de retenção e infiltração de águas pluviais;

26. O poder público deve criar instrumentos e incentivos fiscais parafomentar a implantação de sistemas de retenção e/ou infiltração nas áreas jáconstruídas (v.g. campanhas informativas, conscientizando a população daimportância de tais equipamentos para a melhoria do ambiente urbano).Eventuais dispêndios serão plenamente recompensados pela redução doscustos de manutenção das redes de drenagem subdimensionadas hoje exis-tentes e pela melhoria do bem-estar da população;

27. O poder público deve fazer uso dos sistemas de retenção e infil-tração de águas pluviais em áreas públicas, tais como praças, “ilhas” emavenidas ou em paralelo com “bocas-de-lobo”, a fim de contribuir com aredução do impacto do lançamento das águas pluviais nos corpos hídricos.Sugere-se, ainda, a obrigatoriedade de implantação de tais sistemas em quais-quer projetos de execução ou reforma em áreas públicas;

28. O poder público deve exigir, nos projetos de drenagem pluvialde novos loteamentos, a previsão de sistemas de infiltração e retenção nasáreas públicas;

29. A SANEAGO deve realizar levantamento de eventuais poçosartesianos irregulares e adotar as medidas cabíveis;

30. Os órgãos fiscalizadores responsáveis devem agir com rigor,coibindo a implantação e utilização de poços artesianos clandestinos eirregulares;

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31. O poder público deve exigir, para qualquer lançamento de águaspluviais em corpos hídricos, a compatibilidade da vazão de descarga com acapacidade de escoamento do corpo hídrico receptor, por meio de um estu-do de impacto ou instrumento similar. A inexistência de compatibilidadeimplicará na necessidade de redução da vazão lançada, regularização da va-zão do córrego ou aumento de sua capacidade de escoamento de maneira aimpedir transbordamentos de calha e erosões de fundo ou marginais noscórregos, bem como alagamentos e disseminação de doenças de veiculaçãohídrica;

32. Deve-se exigir, em qualquer obra em que seja previsto rebaixa-mento de lençol freático, análise da viabilidade pelos órgãos ambientaiscompetentes;

33. O poder público municipal deve regulamentar as construçõesabaixo do nível do lençol freático em áreas urbanas, exigindo estudos deimpacto das alterações no ciclo hidrológico em tais casos. No caso de exis-tência de escavações abaixo do nível do terreno natural deverá ser exigido,em anexo ao projeto de arquitetura, o laudo de sondagem geotécnica dolocal para fornecer subsídios para a aprovação no órgão competente;

34. O poder público e a sociedade devem promover campanhas edu-cativas visando orientar a sociedade quanto à importância do aproveitamen-to das águas pluviais, recarga do lençol freático e acondicionamento ade-quado do lixo;

35. É do anseio de todos que em breve seja realizado o 2º Fórum deDrenagem Urbana do Estado de Goiás.