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PODER JUDICIÁRIO Justiça Federal de Primeira Instância da 5ª Região 6ª Vara Federal/SE – Subseção Judiciária de Itabaiana Sentença Tipo “A” – Fundamentação Individualizada Processo n° 0001672-55.2012.4.05.8501 Classe 29 – Ação Ordinária Autor: COLÔNIA DE PESCADORES Z-19 Réu: UNIÃO (Advocacia-Geral da União) S E N T E N Ç A 1. A COLÔNIA DE PESCADORES Z-19, na qualidade de substituta processual, ajuizou “Ação inominada com pedido liminar” em face da UNIÃO, representada pela Advocacia-Geral da União, visando cumulativamente o seguinte: 1.1) o pagamento imediato, inclusive em sede de medida liminar, do seguro- desemprego referente ao período de 1º/11/2011 a 27/02/2012, por meio de depósito em conta judicial, quanto aos pescadores substituídos que receberam sua carteira após o período do defeso em comento e que tenham atendido ao período de carência exigido. 1.2) que, em relação aos períodos de defesos futuros, o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE 1 promova a habilitação e o pagamento do Seguro-Desemprego previsto na Lei n.º 10.779/03 dentro de tempo razoável, não superior a 60 dias, e aceite o requerimento de inscrição no Registro Geral da Atividade Pesqueira – RGP perante o Ministério da Pesca e da Agricultura – MPA; 1.3) que a ré, por intermédio do Ministério da Pesca e da Agricultura – MPA 2 , promova o julgamento administrativo de todos os requerimentos administrativos até a presente data, de inscrição inicial no RGP e, para os futuros, em prazo não superior a 3 (três) meses a contar da data do requerimento, sob pena de multa diária 2. Esclareceu, em síntese, que: 1) todo pescador artesanal que exerça a sua atividade de forma artesanal individualmente ou em regime de economia familiar, ainda com o auxílio individual de terceiros, possui direito ao seguro-desemprego (art. 1º da Lei n.º 10.779/03 c/c a Resolução CODEFAT nº 657, de 16.12.2007), no valor de um salário mínimo mensal, durante o período de defeso da atividade pesqueira; 2) dentre os vários documentos exigidos para receber o benefício, o pescador deve comprovar o registro de pescador artesanal no Registro Geral de Atividade Pesqueira – RGP, devidamente atualizado, cujo registro deve ocorrer com antecedência mínima de um ano da data do início do defeso em que será pleiteado as parcelas do seguro-desemprego; 3) o registro é efetuado perante o MPA, sendo emitido, ao final do procedimento, a carteira de pescador, cuja data de sua emissão é a data em que foram protocolado o requerimento e constitui o termo inicial para a contagem do período de carência; 4) com a apresentação do 1 Doravante, utilizar-se-á da expressão MTE 2 Doravante, utilizar-se-á da expressão MPA

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PODER JUDICIÁRIO

Justiça Federal de Primeira Instância da 5ª Região 6ª Vara Federal/SE – Subseção Judiciária de Itabaiana Sentença Tipo “A” – Fundamentação Individualizada

Processo n° 0001672-55.2012.4.05.8501

Classe 29 – Ação Ordinária Autor: COLÔNIA DE PESCADORES Z-19 Réu: UNIÃO (Advocacia-Geral da União)

S E N T E N Ç A

1. A COLÔNIA DE PESCADORES Z-19, na qualidade de substituta processual, ajuizou “Ação inominada com pedido liminar” em face da UNIÃO, representada pela Advocacia-Geral da União, visando cumulativamente o seguinte:

1.1) o pagamento imediato, inclusive em sede de medida liminar, do seguro-desemprego referente ao período de 1º/11/2011 a 27/02/2012, por meio de depósito em conta judicial, quanto aos pescadores substituídos que receberam sua carteira após o período do defeso em comento e que tenham atendido ao período de carência exigido.

1.2) que, em relação aos períodos de defesos futuros, o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE 1 promova a habilitação e o pagamento do Seguro-Desemprego previsto na Lei n.º 10.779/03 dentro de tempo razoável, não superior a 60 dias, e aceite o requerimento de inscrição no Registro Geral da Atividade Pesqueira – RGP perante o Ministério da Pesca e da Agricultura – MPA;

1.3) que a ré, por intermédio do Ministério da Pesca e da Agricultura – MPA 2, promova o julgamento administrativo de todos os requerimentos administrativos até a presente data, de inscrição inicial no RGP e, para os futuros, em prazo não superior a 3 (três) meses a contar da data do requerimento, sob pena de multa diária

2. Esclareceu, em síntese, que: 1) todo pescador artesanal que exerça a sua atividade de forma artesanal individualmente ou em regime de economia familiar, ainda com o auxílio individual de terceiros, possui direito ao seguro-desemprego (art. 1º da Lei n.º 10.779/03 c/c a Resolução CODEFAT nº 657, de 16.12.2007), no valor de um salário mínimo mensal, durante o período de defeso da atividade pesqueira; 2) dentre os vários documentos exigidos para receber o benefício, o pescador deve comprovar o registro de pescador artesanal no Registro Geral de Atividade Pesqueira – RGP, devidamente atualizado, cujo registro deve ocorrer com antecedência mínima de um ano da data do início do defeso em que será pleiteado as parcelas do seguro-desemprego; 3) o registro é efetuado perante o MPA, sendo emitido, ao final do procedimento, a carteira de pescador, cuja data de sua emissão é a data em que foram protocolado o requerimento e constitui o termo inicial para a contagem do período de carência; 4) com a apresentação do 1 Doravante, utilizar-se-á da expressão MTE 2 Doravante, utilizar-se-á da expressão MPA

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II

requerimento administrativo acompanhado da referida carteira de pescador e de outros documentos, o MTE é quem compete efetuar o pagamento do benefício seguro-defeso durante o período em que durar o defeso, o que, no presente caso, corresponde ao período de 01.11.2011 a 28.02.2012.

3. Alegou que: 1) o MPA simplesmente não apreciou os requerimentos de registro inicial dos pescadores da região no Registro Geral de Atividade Pesqueira – RGP por aproximadamente 02 (dois) anos, sendo que o MPA somente os deferiu após o período de defeso e que, em razão disso, ficaram sem receber o seguro defeso; 2) problema similares vêm ocorrendo em diversas colônias de pescadores, do Estado de Sergipe, devido ao MPA não apreciar os pedidos de revalidação das carteiras; 3) o MPA suspendeu o requerimento de inscrição no Registro Geral de Atividade Pesqueira – RGP até 31.12.2011 (art. 26 da IN n.º 2/2011); 4) atento a omissão do MPA, o MTE vinha aceitando, para fins de comprovação do registro como pescador artesanal, a certidão emitida pelo MPA de que o pescador havia protocolado requerimento de registro inicial de pesca; 5) após uma operação policial ocorrida em 2010, no qual se constatou um grande esquema para fraudar o seguro desemprego, o MTE passou a não aceitar mais a certidão, exigindo que o pescador apresentasse a carteira do Registro Geral de Pesca – RGP;

4. Sustentou que: 1) a CF/88 assegura o princípio da razoável duração, sendo que os art. 48 e 49 da Lei n.º 9.784/99 fixam prazos para que o MPA analise os requerimentos de registro inicial de pesca, não podendo o referido órgão se estender indefinidamente na análise e na apreciação dos requerimentos; 2) a suspensão do registro inicial no Registro Geral de Atividade Pesqueira – RGP, previsto no art. 26 da IN n. 02/2011, viola o direito de petição.

5. Com a inicial, juntou os seguintes documentos: 1) procuração (f. 19); 2) documentos pessoais do representante legal (f. 20); 3) atos constitutivos da parte autora (f. 21/40) e termo de posse (f. 41/45); 4) relação de carteiras disponíveis (f. 46/48)/ 5) ata notarial lavrada a pedido da Colônia de Pescadores Z-4 (f. 49/52).

6. Decisão de f. 54/57: 1) converteu de ofício “a medida cautelar inominada” em procedimento cognitivo pelo rito ordinário, com requerimento de tutela antecipada; 2) indeferiu a antecipação dos efeitos da tutela.

7. Citada (f. 89), a União apresentou contestação (f. 63/77), acompanhada dos documentos de f. 78/87. Preliminarmente, alegou: 7.1) a ausência de interesse de agir porque: 7.1.1) o MPA, por intermédio da Instrução Normativa nº 2, de 12.04.2012, prorrogou até 31.12.2012 a validade de todas as licenças de Pescador Profissional Artesanal inscritos e como situação ativa no Registro Geral da Atividade Pesqueira – RGP; 7.1.2) a parte autora não anexou a lista nominal de todos os seus representados, ficando impossibilitada a ré de exercer a ampla defesa e o contraditório em sua plenitude; 7.1.3) com exceção dos substituídos que tiveram o seguro defeso pago, as pessoas constantes na lista de f. 46/48 não efetuaram o prévio requerimento administrativo, não havendo resistência da Administração; 7.2) a ausência de interesse de agir em relação aos substituídos que já receberam o seguro defeso.

8. No mérito, sustentou que: 8.1) “ao contrário do afirmado, não se está agindo de forma desumana, mas sim na estrita observância de todos os trâmites legais a fim de respeitar a legalidade e evitar graves prejuízos ao erário e à própria comunidade” (f. 70); 8.2) “não se pode admitir é que o

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III

Poder Judiciário determinar que, ao arrepio da Lei, seja concedido o citado benefício a qualquer um que apresente documentação insuficiente ou ainda não devidamente analisada pelo órgão competente, documentação – inclusive – facilmente fraudável”; 8.3) citou a fraude ocorrida no Município de Curralino/PA e outras cidades do Pará; 8.4) “das 24 Colônias de pescadores no Estado de Sergipe, apenas a demandante não mobilizou e requereu no período legal o pedido de revalidação das licenças dos Pescadores” (f. 72); 8.5) a ata notarial não tem o condão de comprovar os fatos; 8.6) a IN n.º 2, de 25.01.2011 suspendeu o registro inicial de pesca no período de 26.01.2011 a 31.12.2011, contudo não houve prejuízo porque: 8.6.1) a Resolução n.º 02, de 12.04.2012 prorrogou a validade das licenças de pescador artesanal inscritos e com situação ativa até 31.12.2012; 8.6.2) todos os pedidos foram realizados em 01.2012; 8.7) a certidão provisória que comprova o protocolo do pedido no RGPS surgiu com a finalidade de comprovar a condição de pescador enquanto são corrigidas as divergências encontradas nas carteiras já emitidas naquele momento; 8.8) “não vem descumprindo qualquer prazo legal, sendo necessária a apreciação atenta e pormenorizada evitando-se fraudes, como as relatadas na região norte” (f. 76)

9. Intimada (f. 90), a parte autora deixou escoar integralmente o prazo para fins de réplica (certidão de f. 91).

10. Na f. 95/96, a parte autora requereu que as ações individuais propostas pelos pescadores da colônia Z-19 relativo ao seguro-defeso do período de 01.11.2011 a 28.02.2012 sejam extintas sem resolução de mérito, com fundamento na litispendência. Juntou, ainda, substabelecimento na f. 97.

11. Decisão de f. 98/99: 1) se reservou para apreciar as preliminares por ocasião da sentença; 2) fixou os pontos controvertidos; 3) designou audiência de instrução e julgamento; 4) determinou que a União trouxesse lista atualizada quanto aos pescadores que receberam suas carteiras em 2012 constante na f. 46/49 e quantidade de atendimentos diários.

12. Em cumprimento a decisão de f. 98/99, a União acostou a documentação (f. 106/217).

13. Realizada audiência de instrução (f. 218/219), foi tomado o depoimento pessoal do representante da parte autora (f. 220) e de 05 (cinco) servidores, sendo 03 (três) do MPA (f. 221/223) e 02 (dois) do MTE, os quais se encontram gravados em mídia digital (f. 226). Foram intimados em audiência para apresentarem memoriais escritos.

14. A parte autora deixou escoar integralmente o prazo (certidão de f. 227) ao passo que a ré apresentou memoriais (f. 230/238) em que repetiu os fundamentos da sua contestação.

15. Os autos vieram conclusos em 09.12.2013 (f. 239)

2. FUNDAMENTAÇÃO

16. Inicialmente, cumpre relembrar, para fins de eventuais embargos de declaração, incumbe ao magistrado a decidir a questão segundo o seu livre convencimento motivado, utilizando-se das provas, legislação, doutrina e jurisprudência que entender pertinentes à espécie. Assim, o julgador não se encontra obrigado a discorrer sobre teses, nem rebater um a um os argumentos alegados pelas partes se adotar

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IV

fundamentação suficiente para decidir integralmente a controvérsia. Isto porque a decisão judicial não constitui um questionário de perguntas e respostas de todas as alegações das partes, nem se equipara a um laudo pericial a guisa de quesitos. Neste sentido, colacionam-se os seguintes precedentes:

“O não acatamento das argumentações contidas no recurso não implica cerceamento de defesa, posto que ao julgador cabe apreciar a questão de acordo com o que ele entender atinente à lide. Não está obrigado o magistrado a julgar a questão posta a seu exame de acordo com o pleiteado pelas partes, mas sim com o seu livre convencimento (art. 131, do CPC), utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto.” 3 Processo civil. Sentença. Função prática. A função judicial é prática, só lhe importando as teses discutidas no processo enquanto necessárias ao julgamento da causa. Nessa linha, o juiz não precisa, ao julgar procedente a ação, examinar-lhe todos os fundamentos. Se um deles e suficiente para esse resultado, não esta obrigado ao exame dos demais. Embargos de declaração rejeitados.” 4 “(....) A função teleológica da decisão judicial é a de compor, precipuamente, litígios. Não é peça acadêmica ou doutrinária, tampouco se destina a responder a argumentos, à guisa de quesitos, como se laudo pericial fosse. Contenta-se o sistema com a solução da controvérsia, observada a res in judicium deducta, o que se deu no caso ora em exame.” Nítido, portanto, é o caráter modificativo que o embargante, inconformado, busca com a oposição destes embargos declaratórios, uma vez que pretende ver reexaminada e decidida a controvérsia de acordo com sua tese.” 5

2.1. Da demora no julgamento do feito. Princípio da razoável duração do processo.

17. Antes de adentrar no mérito da demanda propriamente dito, impõem-se algumas considerações em razão do disposto no art. 5º, LXXVIII da CF/88. Com efeito, a EC n.º 45/04 constitucionalizou o dever do magistrado de “velar pela rápida solução do litígio” (art. 125, II do CPC) ao introduzir no rol do art. 5º, da CF/88 o princípio da razoável duração do processo.

“CF/88, art. 5º (omissis), LXXVIII – a todos, no âmbito judicial ou administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”

18. O processo não é matemática, envolvendo a análise dos fatos e do direito aplicável à espécie. Existem processos simples e complexos pelo que é difícil reduzir ambos a um denominador comum. Por outro lado, embora o CPC disponha que o prazo para prolatar sentença seja de 10 (dez) dias 6 , tais prazos não estão em consonância com a realidade atual, considerando o volume crescente de processos. A razoável duração do 3 AgRg no Ag 512437/RJ, 1ª Turma, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, julgado em 16.10.2003, DJ 15.12.2003 p. 210. 4 EDcl no REsp 15450/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, 2ª Turma, julgado em 01.04.1996, DJ 06.05.1996 p. 14399. No mesmo sentido:REsp 172329/SP, 1ª Seção, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS; REsp 611518/MA, 2ª Turma, Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO, REsp 905959/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI; REsp 807690/SP, 2ª Turma, Rel. Ministro CASTRO MEIRA. 5 EDcl no REsp 675.570/SC, 2ª Turma, Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO, julgado em 15.09.2005, DJ 28.03.2006 p. 206. 6 CPC, Art. 456. Encerrado o debate ou oferecidos os memoriais, o juiz proferirá a sentença desde logo ou no prazo de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

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processo deve ser apurada no caso concreto. Visando dar a máxima efetividade ao texto constitucional, entendo que, nos casos em que houver atraso no julgamento do feito, impõe ao magistrado justificar as razões pela demora do julgamento.

19. As minhas justificativas são as seguintes: 1) este Juízo começou a exercer as suas funções a partir de 07.01.2013; 2) houve a necessidade de análise do processo para a fixação de pontos controvertidos, com a necessidade de realização de prova oral; 3) o feito guarda algumas peculiaridades fáticas e jurídicas adiante explanadas; 4) o elevado número de audiências de segurado especial.

2.2. Das preliminares

2.2.1. Inépcial parcial do pedido em relação ao MTE.

20. O art. 295, I dispõe que “A petição inicial será indeferida: (...)I - quando for inepta”. Por sua vez, o PU do referido artigo elenca as hipóteses de inépcia:

CPC, Art. 295. A petição inicial será indeferida: I - quando for inepta; Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial quando: I - Ihe faltar pedido ou causa de pedir; II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; III - o pedido for juridicamente impossível; IV - contiver pedidos incompatíveis entre si. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

21. A inépcia (ou inaptidão) da inicial gira em torno de defeitos vinculados à causa de pedir e ao pedido. São defeitos que não apenas dificultam, mas impedem o julgamento do mérito da causa.

22. É sabido que o pedido deve ser analisado em conjunto com a causa de pedir exposta na inicial, sendo que o pedido deve ser extraído da inicial como um todo e não apenas do capítulo “dos pedidos”, nos termos da jurisprudência abaixo preconizada.

PROCESSUAL CIVIL. JULGAMENTO EXTRA PETITA. INEXISTÊNCIA. INTERPRETAÇÃO LÓGICO-SISTEMÁTICA DOS PEDIDOS. 1. O Acórdão recorrido encontra-se em consonância com o entendimento desta Corte, segundo o qual o pedido deve ser extraído a partir de uma interpretação lógico-sistemática de toda a petição inicial. 2. "O pedido feito com a instauração da demanda emana de interpretação lógico-sistemática da petição inicial, não podendo ser restringido somente ao capítulo especial que contenha a denominação 'dos pedidos', devendo ser levados em consideração, portanto, todos os requerimentos feitos ao longo da peça inaugural, ainda que implícitos. Assim, se o julgador se ateve aos limites da causa, delineados pelo autor no corpo da inicial, não há falar em decisão citra, ultra ou extra petita." (AgRg no REsp 243.718/RS, Rel. Rel. Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Terceira Turma, julgado em 28.9.2010, DJe 13.10.2010.) Agravo regimental improvido. 7 DIREITO PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. MORTE DE PRESOS CUSTODIADOS EM DELEGACIA DE POLÍCIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PRECEDENTES. PROVA TESTEMUNHAL. AFASTAMENTO DA CULPA. DESNECESSIDADE.

7 STJ, AgRg no REsp 1198808/ES, 2ª Turma, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, julgado em 24/05/2011, DJe 01/06/2011.

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VI

SENTENÇA EXTRA PETITA. NÃO OCORRÊNCIA. DANO MORAL. REDUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. A responsabilidade civil do Estado nos casos de morte de pessoas custodiadas é objetiva, portanto, desnecessária determinação de audiência para colheita de prova testemunhal cujo objetivo seria demonstrar a ausência de culpa do Estado. Precedentes STJ e STF. 2. A interpretação do pedido do autor deve ser feita levando em consideração toda a petição inicial, e não apenas o capítulo "dos pedidos", utilizando-se o método lógico-sistemático e, ainda, a própria causa de pedir. Nesse sentido: REsp 1040448/RJ, DJe 28.05.2008; REsp 613.732/RR, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 20.02.2006; REsp 337.785/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 25.03.2002; REsp 931.659/RJ, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ 18.06.2007). No caso, embora a petição inicial não se revista de apurada técnica, e tenha sido confeccionada em 11 de agosto de 1987, pode-se extrair de todo seu conteúdo, o desejo à reparação dos danos causados pelo ato lesivo, tanto materiais quanto morais. 3. A fixação do valor dos danos morais no patamar de 150 salários mínimos não destoa da jurisprudência da Corte em casos semelhantes. 4. Recurso especial não provido. 8

23. Conforme já exposto no relatório (item 1.2), a parte autora pediu em face da União que, em relação aos períodos de defesos futuros, o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE promova a habilitação e o pagamento do Seguro-Desemprego previsto na Lei n.º 10.779/03 dentro de tempo razoável, não superior a 60 dias, e aceite o requerimento de inscrição no Registro Geral da Atividade Pesqueira – RGP perante o Ministério da Pesca e da Agricultura – MPA em substituição da carteira de pescador.

24. Analisando a petição inicial, a parte autora narrou, em síntese, a demora do Ministério da Pesca e Aqüicultura – MPA em efetuar a inscrição dos pescadores artesanais no Registro Geral de Pesca – RGP e, por conseqüência, a expedição da carteira de pescador, sendo tal documento indispensável para requerer o benefício de seguro-defeso. Já em relação ao Ministério do Trabalho e Emprego – MTE narrou que o órgão não concedeu o seguro-desemprego porque os pescadores não apresentam tempestivamente a inscrição no Registro Geral de Pesca – RGP dentro do período de carência 9, bem assim o referido órgão não aceitou, como prova da sua condição de pescador, o “requerimento” de inscrição no Registro Geral da Atividade Pesqueira – RGP perante o Ministério da Pesca e da Agricultura – MPA, quando ainda não houver recebido a referida carteira.

25. Ora, em nenhum momento a parte autora alegou que o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE estaria demorando também na apreciação dos requerimentos de seguro-defeso, sendo que a demora imputada, em tese, seria de outro órgão.

26. Vê-se, portanto, que o pedido dirigido a União em relação ao Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, qual seja, o de “habilitação e o pagamento do Seguro-Desemprego previsto na Lei n.º 10.779/03 dentro de tempo razoável, não superior a 60 dias” não guarda correspondência com a causa de pedir exposta na inicial.

8 STJ, REsp 1022798/ES, 2ª Turma, Rel. Min. CASTRO MEIRA, julgado em 14/10/2008, DJe 28/11/2008 9 Com antecedência mínima de um ano da data do início do defeso em que será pleiteado as parcelas do seguro-desemprego

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VII

27. Reconheço a inépcia parcial quanto a esta parcela do pedido: “habilitação e o pagamento do Seguro-Desemprego previsto na Lei n.º 10.779/03 dentro de tempo razoável, não superior a 60 dias”.

2.2.2. Prejuízo da demanda em razão da perda dos efeitos do art. 26 da IN n.º 2/2011

28. A União alegou que: 1) de fato, o Ministério da Pesca e Aqüicultura – MPA suspendeu o requerimento de inscrição no Registro Geral de Atividade Pesqueira – RGP até 31.12.2011 (art. 26 da IN n.º 2/2011); 2) ocorre que o MPA, por intermédio da Instrução Normativa nº 2, de 12.04.2012, prorrogou até 31.12.2012 a validade de todas as licenças de Pescador Profissional Artesanal inscritos e como situação ativa no Registro Geral da Atividade Pesqueira – RGP; 3) não resultou qualquer prejuízo quanto ao direito que tem os pescadores de obter seu seguro-defeso referente ao período de 2011/2012.

29. Inicialmente, esta questão não abrange toda a lide. Por sua vez, a perda de efeitos do art. 26 da IN n.º 2/2011 (item 1 do parágrafo anterior) não acarretou a perda parcial do interesse de agir porque: 1) a parte autora pretende afastar os seus efeitos no período em que a referida norma esteve em vigor; 2) embora não tenha requerido expressamente no tópico “dos pedidos”, o pedido deve ser extraído da petição inicial como um todo (vide item 22); 3) na petição inicial, expressamente se insurgiu contra a referida suspensão do registro inicial de pescador artesanal, bem como o pedido de promover o julgamento administrativo de todos os requerimentos administrativos até a presente data, de inscrição inicial no RGP e, para os futuros, em prazo não superior a 3 (três) meses a contar da data do requerimento, abrange, logicamente, o da União de não mais suspender o registro inicial do RGP; 4) havendo duas interpretações da causa de pedir, deve ser adotar aquela que assegure o princípio da máxima efetividade; 5) assim, a parcela da demanda referente à aplicação desta norma guarda autonomia em relação ao seguro defeso, já que a suspensão do registro inicial impede que novos pescadores se habilitem ao benefício.

30. Impende frisar que, após o ajuizamento da presente demanda, o MPA editou a Instrução Normativa MPA Nº 21 DE 30/12/2013 para suspender até 31.12.2014 qualquer requerimento de inscrição inicial no Registro Geral da Atividade Pesqueira - RGP, na categoria de Pescador Profissional Artesanal, contudo os seus efeitos foram suspensões pela Instrução Normativa MPA Nº 2 DE 11/02/2014 em cumprimento de decisão judicial proferida nos autos da Ação Civil Pública nº 4105.38.2012.4.01.3200.

2.2.3. Requerimento do autor de extinção das ações individuais em razão da tramitação da ação coletiva (Item 10 do relatório). Litispendência das ações individuais em relação a ação coletiva

31. Pretende a parte autora que seja reconhecida a litispendência, com a consequente extinção do processo sem resolução de mérito, quanto às demais demandas individuais que forem propostas no âmbito do Juizado Especial atrelado a este Juízo, referentes a pedidos de seguro-defeso dos pescadores da Colônia Z-19.

32. Quanto à possibilidade de tramitação concomitante de uma demanda coletiva e outra de natureza individual, a jurisprudência afasta a existência de conexão, continência e litispendência entre ações coletivas (ação civil pública, ação popular, ação coletiva) e ações individuais, ainda que possuam o mesmo objetivo, uma vez que

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VIII

produziriam seus efeitos em planos distintos, vale dizer, as primeiras no plano coletivo e a segunda no plano individual.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO COLETIVA E AÇÃO INDIVIDUAL. AUTONOMIA. REUNIÃO DE PROCESSOS. COMPETÊNCIA ABSOLUTA. MODIFICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. A ação individual pode ter curso independente da ação coletiva para defesa de direitos individuais homogêneos. 2. A competência absoluta não pode ser modificada por conexão ou continência (CPC, art. 102). 3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de São José dos Pinhais/PR, o suscitado. 10

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE COBRANÇA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA E DEMANDA INDIVIDUAL. INOCORRÊNCIA DE LITISPENDÊNCIA. 1. A existência de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público não impede o ajuizamento da ação individual com idêntico objeto. Desta forma, no caso não há ocorrência do fenômeno processual da litispendência, visto que a referida ação coletiva não induz litispendência quanto às ações individuais. Precedentes: REsp 1056439/RS, Relator Ministro Carlos Fernando Mathias (Juiz Federal convocado do TRF 1ª Região), Segunda Turma, DJ de 1º de setembro de 2008; REsp 141.053/SC, Relator Ministro Francisco Peçanha Martins, Segunda Turma, DJ de 13 de maio de 2002; e REsp 192.322/SP, Relator Ministro Garcia Vieira, Primeira Turma, DJ de 29 de março de 1999. 2. Agravo regimental não provido. 11

33. Além disso, eventual requerimento de desistência de uma demanda dever ser formulado no bojo do processo em que se pretende desistir, uma vez é nele em que o Juízo verificará ou não a presença dos requisitos. Neste diapasão, se a parte quiser desistir das ações individuais, deveria formular em cada ação individual e não o contrário.

34. Indefiro o requerimento do autor de extinção das ações individuais sem resolução de mérito (f. 95/96). Pelos mesmos fundamentos, afasto a ocorrência de litispendência em relação aos eventuais beneficiários que já receberam o seguro-defeso, sendo que a questão de recebimento em duplicidade será examinada por ocasião do mérito.

2.2.4. Inépcia da petição inicial por ausência de relação nominal. Ausência de interesse de agir por ausência de prévio requerimento.

35. É desnecessária a apresentação da lista nominal. Nos termos da Súmula n.º 629 do STF e da jurisprudência pacífica do STJ, em caso de decisão favorável a categoria, a apresentação de lista nominal não afasta que as outros beneficiários promovam execução individual, independentemente de serem filiados a associação/sindicato, inclusive na época da propositura da demanda, de terem dado autorização individual para o ente coletivo representá-lo na fase de conhecimento e mesmo que os seus nomes não tenham sido incluídos na lista de substituídos juntados com a inicial.

10 STJ, CC 41.953/PR, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/08/2004, DJ 13/09/2004, p. 165 11 STJ, AgRg no Ag 1400928/RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/12/2011, DJe 13/12/2011

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IX

PROCESSUAL CIVIL. BENEFÍCIO-ALIMENTAÇÃO. AÇÃO COLETIVA. EXECUÇÃO. SINDICATO. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. EXECUÇÃO INDIVIDUAL. AFILIADOS. LEGITIMIDADE. 1. Nos termos da Súmula 629/STF, associação ou sindicato, na qualidade de substituto processual, atuam na esfera judicial na defesa dos interesses coletivos de toda a categoria que representam, dispensando-se a relação nominal dos afiliados e suas respectivas autorizações. 2. Tem legitimidade o associado para ajuizar execução individual de título judicial proveniente de ação coletiva proposta por associação, independentemente da comprovação de sua filiação ou de sua autorização expressa para representação no processo de conhecimento. Precedentes: AgRg no REsp 1.185.824/GO, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, DJe 16.2.2012; AgRg no REsp 1.153.359/GO, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 12.4.2010. 3.Omissis. 4. Recurso Especial parcialmente provido. 12 PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. AUSÊNCIA. TARIFA DE ÁGUA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ASSOCIAÇÃO. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. CONDOMÍNIO NÃO FILIADO. EXECUÇÃO INDIVIDUAL DO JULGADO. LEGITIMIDADE ATIVA. EXTENSÃO DOS EFEITOS DA COISA JULGADA. 1 a 2. Omissis 3. Nos termos da jurisprudência desta Corte, os sindicatos e associações, na qualidade de substitutos processuais, detêm legitimidade para atuar judicialmente na defesa dos interesses coletivos de toda a categoria que representam, sendo prescindível a relação nominal dos filiados e suas respectivas autorizações, nos termos da Súmula 629/STF. 4. Desse modo, a coisa julgada advinda da ação coletiva deverá alcançar todos as pessoas da categoria, legitimando-os para a propositura individual da execução de sentença, ainda que não comprovada sua associação à época do ajuizamento do processo de conhecimento (REsp 1.326.601/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques). 5. Agravo regimental a que se nega provimento. 13 PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO - RECURSO ESPECIAL - VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC - INEXISTÊNCIA - AÇÃO COLETIVA PROMOVIDA POR ENTIDADE DE CLASSE - EXECUÇÃO INDIVIDUAL - POSSIBILIDADE - AUTORIZAÇÃO - DESNECESSIDADE. 1. Omissis. 2. A jurisprudência desta Corte admite que integrante da categoria beneficiada com sentença coletiva execute individualmente o título judicial, ainda que não tenha autorizado expressamente a associação a defender o interesse da classe em Juízo e mesmo que não tenha seu nome incluído na lista de associados juntada com a inicial. Precedentes. 3. Recurso especial parcialmente provido. 14

12 STJ, REsp 1347147/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/11/2012, DJe 18/12/2012 13 STJ, AgRg no REsp 1340368/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/11/2013, DJe 22/11/2013 14 STJ, REsp 1255493/PE, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/05/2013, DJe 15/05/2013. No mesmo sentido: “3. A jurisprudência do STJ é no sentido de que integrante de categoria beneficiada por sentença coletiva pode executar individualmente o título judicial, ainda que não tenha autorizado expressamente a associação a defender o interesse da classe em juízo e não tenha seu nome incluído na lista de associados juntada com a petição inicial do processo de conhecimento” (AgRg no REsp 1389894/PE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/10/2013, DJe 24/10/2013)

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X

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535, II DO CPC NÃO CONFIGURADA. ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO ACOBERTADA PELA COISA JULGADA. FUNDAMENTO AUTÔNOMO E SUFICIENTE À MANUTENÇÃO DO ARESTO E NÃO IMPUGNADO NO RESP. SÚMULA 283/STF. AÇÃO COLETIVA AJUIZADA POR ASSOCIAÇÃO CLASSISTA. LEGITIMIDADE DO INTEGRANTE DA CATEGORIA PARA PROPOR EXECUÇÃO INDIVIDUAL DO JULGADO. RECURSO ESPECIAL DA UNIÃO DESPROVIDO. 1 a 2. Omissis 3. A indivisibilidade do objeto da ação coletiva, na maioria das vezes, importa na extensão dos efeitos positivos da decisão a pessoas não vinculadas diretamente à entidade classista postulante que, na verdade, não é a titular do direito material, mas tão somente a substituta processual dos integrantes da respectiva categoria, a que a lei conferiu legitimidade autônoma para a promoção da ação. Nessa hipótese, diz-se que o bem da vida assegurado pela decisão é fruível por todo o universo de integrantes da categoria, grupo ou classe, ainda que não filiados à entidade postulante. 4. Aquele que faz parte da categoria profissional (ou classe), representada ou substituída por entidade associativa ou sindical, é diretamente favorecido pela eficácia da decisão coletiva positiva transitada em julgado, independente de estar filiado ou associado à mesma entidade, tendo em vista que as referidas peculiaridades do microssistema processual coletivo privilegia a máxima efetividade das decisões nele tratadas, especialmente considerando que o direito subjetivo material (coletivo) se acha em posição incontroversa e já proclamado em decisão transitada em julgado. 5. Recurso Especial da União desprovido. 15

36. Em adendo, não é necessário a apresentação de qualquer lista nominal, uma vez que a pretensão coletiva envolve o reconhecimento de uma tese de direito material comum aplicável à determinada categoria, sendo que a sua delimitação (quantum debeatur) e o titular do direito somente serão conhecidos na fase executiva, seja através de execução coletiva, seja através de execução individual. Em consequência, não se examina a situação individual de cada um dos substituídos 16 A questão da ausência de prévio requerimento está indiretamente relacionada com o mérito.

37. Não havendo outras preliminares arguidas ou conhecíveis de ofício, examino o mérito.

2.3. Mérito

38. Basicamente, a pretensão deduzida na inicial gira em torno de dois pontos:

1) em relação ao MTE, o recebimento do seguro-defeso em decorrência da não expedição, pelo MPA, da carteira de pescador dentro de um tempo hábil e também da não aceitação, pelo MTE, da respectiva certidão provisória de registro de Pesca ou certidão emitida pelo MPA de que o pescador havia protocolado requerimento de registro inicial de pesca;

2) em relação ao MPA, promova o julgamento administrativo de todos os requerimentos administrativos pendentes até a presente data, de inscrição

15 STJ, REsp 1338687/SC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/10/2012, DJe 09/11/2012 16 Nem seria recomendável porque se converteria um demanda coletiva em uma individual com litisconsórcio multitudinário, frustrando o escopo deste importante instrumento.

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XI

inicial no RGP e, para os futuros, em prazo não superior a 3 (três) meses a contar da data do requerimento, sob pena de multa diária.

2.3.1. Sobre o Seguro-desemprego para pescador artesanal e Registro Geral da Atividade Pesqueira – RGP.

39. Visando proteger a fauna e proibir a pesca para permitir a reprodução das espécies, foi editada a Lei nº 8.287/91, atualmente revogada/sucedida pela Lei nº 10.779, de 25 de novembro de 2003, que regulamentou a concessão do benefício do seguro-desemprego ao pescador artesanal durante o período de defeso.

40. De acordo com o art. 1º da Lei n.º 10.779/03, O pescador profissional que exerça sua atividade de forma artesanal, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de parceiros, fará jus ao benefício de seguro-desemprego, no valor de um salário-mínimo mensal, durante o período de defeso 17 em que são impostas pelo órgão competente 18 19 restrições à pesca de espécies em

17 Lei 11.959/09, Art. 2o Para os efeitos desta Lei, consideram-se: (...) XIX – defeso: a paralisação temporária da pesca para a preservação da espécie, tendo como motivação a reprodução e/ou recrutamento, bem como paralisações causadas por fenômenos naturais ou acidentes; 18 Lei 10.779/03, Art. 1º (omissis), § 2o O período de defeso de atividade pesqueira é o fixado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, em relação à espécie marinha, fluvial ou lacustre a cuja captura o pescador se dedique. Esta competência foi transferida aos Ministérios da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente, em conjunto e sob a coordenação do primeiro, nos termos do art. 27, §6º, I da Lei n.º 10.683/03 c/c o Decreto n.º 6.981/09 Seção II – Das Áreas de Competência Lei 10.683/03, Art. 27. Os assuntos que constituem áreas de competência de cada Ministério são os seguintes: (..) § 6o Cabe aos Ministérios da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente, em conjunto e sob a coordenação do primeiro, nos aspectos relacionados ao uso sustentável dos recursos pesqueiros: (Redação dada pela Lei nº 11.958, de 2009) I - fixar as normas, critérios, padrões e medidas de ordenamento do uso sustentável dos recursos pesqueiros, com base nos melhores dados científicos e existentes, na forma de regulamento; e (Redação dada pela Lei nº 11.958, de 2009) (Vide Lei nº 11.958, de 2009) (Vide Decreto nº 6.981, de 2009) DECRETO Nº 6.981, DE 13 DE OUTUBRO DE 2009.

Art. 1o Este Decreto regulamenta a competência conjunta dos Ministérios da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente para, sob a coordenação do primeiro, com base nos melhores dados científicos e existentes, fixar as normas, critérios, padrões e medidas de ordenamento do uso sustentável dos recursos pesqueiros. Art. 4o As normas, critérios, padrões e medidas de ordenamento, em conformidade com as peculiaridades de cada unidade de gestão, deverão dispor sobre: I - os regimes de acesso; II - a captura total permissível; III - o esforço de pesca sustentável; IV - os períodos de defeso; V - as temporadas de pesca; VI - os tamanhos de captura; VII - as áreas interditadas ou de reservas; VIII - as artes, os aparelhos, os métodos e os sistemas de pesca e cultivo; e IX - a proteção de indivíduos em processo de reprodução ou recomposição de estoques. Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de dados científicos, deverá ser aplicado o principio da precaução para a definição de critérios e padrões de uso de que trata este artigo. Art. 5o As normas, critérios, padrões e medidas para a gestão do uso sustentável dos recursos pesqueiros serão estabelecidas em ato conjunto dos Ministros de Estado da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente, com base nos subsídios gerados pelo sistema de gestão compartilhada. Parágrafo único. Os Ministérios poderão estabelecer normas, critérios, padrões ou medidas de gestão, de forma conjunta, independentemente dos subsídios de que trata o caput, desde que de maneira fundamentada em dados técnicos e científicos.

19 Resolução CODEFAT Nº 657, de 16.12.2010, Art. 1º Ficam estabelecidos os procedimentos para a concessão do Seguro- Desemprego ao pescador profissional que exerça sua atividade de forma artesanal, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de parceiros, durante o período de defeso de atividade pesqueira para preservação da espécie, instituído pelo Ministério do Meio Ambiente - MMA e pelo Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA, devidamente publicado no Diário Oficial da União.

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XII

determinada localidade visando à recomposição do equilíbrio ecológico e de preservação da espécie.

41. Para que o seguro-defeso seja devido administrativamente, é imprescindível a prévia habilitação do pescador artesanal junto aos órgãos competente do Ministério do Trabalho e Emprego mediante a apresentação dos documentos necessários, facultada, quando conveniente, a exigência de documentação complementar pelo referido órgão. Os requisitos básicos para a sua percepção estão previstos no art. 2º da Lei n.º 10.779/03, a saber:

Art. 2º Para se habilitar ao benefício, o pescador deverá apresentar ao órgão competente do Ministério do Trabalho e Emprego os seguintes documentos: I - registro de pescador profissional devidamente atualizado, emitido pela Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República, com antecedência mínima de um ano da data do início do defeso; II - comprovante de inscrição no Instituto Nacional do Seguro Social - INSS como pescador, e do pagamento da contribuição previdenciária; III - comprovante de que não está em gozo de nenhum benefício de prestação continuada da Previdência ou da Assistência Social, exceto auxílio-acidente e pensão por morte; e IV - atestado da Colônia de Pescadores a que esteja filiado, com jurisdição sobre a área onde atue o pescador artesanal, que comprove: a) o exercício da profissão, na forma do art. lo desta Lei; b) que se dedicou à pesca, em caráter ininterrupto, durante o período compreendido entre o defeso anterior e o em curso; e c) que não dispõe de outra fonte de renda diversa da decorrente da atividade pesqueira. Parágrafo único. O Ministério do Trabalho e Emprego poderá, quando julgar necessário, exigir outros documentos para a habilitação do benefício.

42. Impende observar que, em relação ao inciso IV do artigo 2º da referida Lei, o STF, no julgamento da ADI 3464, declarou inconstitucionalidade da necessidade de filiação obrigatória a Colônia de Pescadores e, por consequência, de atestado emitido pela referida entidade para fins de percepção do seguro-defeso, nos termos da ementa:

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Art. 2º, IV, "a", "b" e "c", da Lei nº 10.779/03. Filiação à colônia de pescadores para habilitação ao seguro-desemprego. Princípios da liberdade de associação e da liberdade sindical (arts. 5º, XX, e 8º, V, da Constituição Federal). 1. Viola os princípios constitucionais da liberdade de associação (art. 5º, inciso XX) e da liberdade sindical (art. 8º, inciso V), ambos em sua dimensão negativa, a norma legal que condiciona, ainda que indiretamente, o recebimento do benefício do seguro-desemprego à filiação do interessado a colônia de pescadores de sua região. 2. Ação direta julgada procedente. 20

43. O STF considerou dispensável a filiação à colônia para a consecução do seguro-desemprego, e a emissão do atestado, ficando a critério do Ministério da Pesca exigir outros documentos de comprovação da atividade pesqueira (art. 2º, PU da Lei n.º

§ 1º Entende-se como defeso, para fins de concessão do benefício, o período de paralisação da pesca das espécies incidentes na localidade, nos termos fixados pelo MMA e MPA 20 STJ, ADI 3464, Relator(a): Min. MENEZES DIREITO, Tribunal Pleno, julgado em 29/10/2008, DJe-043 DIVULG 05-03-2009 PUBLIC 06-03-2009 EMENT VOL-02351-01 PP-00092 RTJ VOL-00209-02 PP-00566 LEXSTF v. 31, n. 363, 2009, p. 32-43)

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XIII

10.779/03). Embora não seja mais exigido, na prática, a maioria dos beneficiários continuam sendo filiados a Colônia de Pescadores.

44. O Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador – CODEFAT, no exercício de sua competência normativa 21, regulamentou a Lei n.º 10.779/03 ao editar a Resolução n.º 657, de 16.12.2010, cujos arts 2º, 3º, 5º e 6º impede transcrever:

Art. 2º Terá direito ao Seguro-Desemprego o pescador que preencher os seguintes requisitos no processo de habilitação: I - ter registro como Pescador Profissional, categoria artesanal, devidamente atualizado no Registro Geral da Atividade Pesqueira - RGP, emitido pelo MPA, com antecedência mínima de um ano da data do início do defeso; II - possuir inscrição no Instituto Nacional do Seguro Social - INSS como segurado especial; III - possuir nota fiscal de venda do pescado a adquirente pessoa jurídica, ou pessoa física equiparada à jurídica no período compreendido entre o término do defeso anterior e o início do defeso atual; IV - na hipótese de não atender ao inciso III e ter vendido sua produção a pessoa física, possuir comprovante de recolhimento ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, constando em matrícula própria no Cadastro Específico - CEI, no período compreendido entre o término do defeso anterior e o início do defeso atual; V - não estar em gozo de nenhum benefício de prestação continuada da Previdência ou da Assistência Social, exceto auxílio-acidente, auxílio-reclusão e pensão por morte; e, o VI - não ter vínculo de emprego ou outra relação de trabalho, ou outra fonte de renda diversa da decorrente da pesca. Art. 3º O benefício do Seguro-Desemprego será requerido pelo pescador profissional, categoria artesanal, nas unidades de atendimento autorizadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, vedada a intervenção de agenciadores/despachantes no processo de habilitação, mediante a apresentação dos seguintes documentos: I - documento de identificação oficial; II - comprovante de inscrição no Programa de Integração Social - PIS ou Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público - PASEP; III - comprovante de inscrição no Cadastro de Pessoa Física - CPF; IV - Carteira de Pescador Profissional, categoria artesanal, emitida e atualizada pelo MPA, cuja data do primeiro registro comprove a antecedência mínima de um ano da data do início do defeso; V - comprovante de venda de pescado ou comprovante de recolhimento ao INSS, conforme disposto nos incisos III e IV do art. 2º, desta Resolução; VI - comprovante do Número de Inscrição do Trabalhador - NIT como segurado especial na Previdência Social; VII - comprovante de inscrição no Cadastro Específico do INSS – CEI, quando necessário; VIII - comprovante de domicílio. § 1º No momento da recepção do Seguro-Desemprego o pescador profissional, categoria artesanal, assinará declaração de que não dispõe de outra fonte de renda, que se dedicou à pesca em caráter ininterrupto durante o período compreendido entre o defeso anterior e o em curso, e que assume

21 Lei 7.998/89, Art. 19. Compete ao Codefat gerir o FAT e deliberar sobre as seguintes matérias: (...)V - propor o aperfeiçoamento da legislação relativa ao seguro-desemprego e ao abono salarial e regulamentar os dispositivos desta Lei no âmbito de sua competência;

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XIV

responsabilidade civil e criminal por todas as informações prestadas para fins de concessão de benefício Seguro-Desemprego. § 2º O pescador profissional, categoria artesanal, que opera com auxílio de embarcação que necessitem de autorização específica perante o Ministério da Pesca e Aquicultura, deve, ainda, apresentar cópia do Certificado de Registro da Embarcação, emitido pelo MPA, comprovando que a permissão de pesca concedida é direcionada para a captura da espécie objeto do defeso. § 3º Nos casos de embarcações com propulsão a motor, o pescador deve apresentar cópia do Título de Inscrição de Embarcação registrado no Ministério da Marinha. § 4º Instruirão o processo de habilitação, cópia da documentação de que trata os incisos I a VIII deste artigo, mediante apresentação de documento original, e documentação exigida no § 1º. § 5º O Ministério do Trabalho e Emprego poderá, por meio da SPPE, quando julgar necessário, exigir outros documentos para a habilitação do benefício, conforme Parágrafo único, art. 2º da Lei 10.779/2003, mediante Instrução Normativa. Art. 5º O benefício do Seguro-Desemprego será requerido na unidade da Federação de domicílio do pescador artesanal. Parágrafo único. O Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Secretaria de Políticas Públicas de Emprego, disciplinará os casos em que o pescador exerça a pesca em área limítrofe da Unidade da Federação de seu domicílio. Art. 6º O pescador que se dedicou à pesca em caráter ininterrupto, durante o período compreendido entre o término do defeso anterior e o início do defeso em curso, desde que da mesma espécie, fará jus ao benefício Seguro-Desemprego no valor de um salário mínimo mensal durante o período de defeso. § 1º O pagamento da primeira parcela corresponderá aos primeiros trinta dias, a contar da data do início do defeso e, as parcelas subsequentes, a cada intervalo de trinta dias. § 2º O pescador fará jus ao pagamento integral das parcelas subsequentes para cada mês, quando a data do defeso em curso terminar em fração igual ou superior a 15 (quinze) dias. § 3º Nos casos de início de atividade remunerada, percepção de outra renda ou morte do beneficiário, o Seguro-Desemprego será pago proporcional, com base na relação entre o início do defeso e a data do impedimento para percepção do benefício. § 4º Caso o período de defeso seja, em caráter excepcional, prorrogado ou antecipado, além da duração usual, a concessão do Seguro-Desemprego será limitada ao período usual, acrescido de um mês.

45. De fundamental importância para a presente lide, o art. 4º da referida Resolução estabeleceu que o seguro-defeso deve ser requerido a partir do trigésimo dia anterior ao início do defeso até o seu final, não podendo exceder até 180 (dias) dias após o seu início.

Art. 4º O benefício do Seguro-Desemprego poderá ser requerido a partir do trigésimo dia que anteceder o início do defeso, até o seu final, não podendo ultrapassar o prazo de cento e oitenta dias, a contar da data de início do defeso. § 1º Quando houver prorrogação do defeso considerar-se-á a data final da prorrogação para requerer o benefício, desde que não ultrapasse o prazo de cento e oitenta dias, a contar da data de início do defeso. § 2º Quando o fim do defeso for antecipado pelo MMA e MPA, o prazo para Requerimento de que trata o caput será antecipado, observado o mesmo período.

46. De acordo com as instruções normativas editadas, os períodos de defeso que atingem o Estado de Sergipe são os seguintes:

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XV

Peixes – no período de 1° de novembro a 28 de fevereiro, com exceção da área da

bacia hidrográfica do rio São Francisco

INSTRUÇÃO NORMATIVA No 196, DE 2 DE OUTUBRO DE 2008 O PRESIDENTE DO INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - IBAMA, no uso das atribuições que lhes confere o item V do art. 22, do anexo I ao Decreto Nº 6.099, de 26 de abril de 2007, que aprova a Estrutura Regimental do IBAMA, publicada no Diário Oficial da União de 27 de abril de 2007; (...) Art.1° Estabelecer normas de pesca para o período de proteção à reprodução natural dos peixes, nas áreas de abrangência das bacias hidrográficas do Leste, nos estados de Sergipe, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo, excetuando-se a área da bacia hidrográfica do rio São Francisco, contemplada por instrução normativa específica. Parágrafo único. Entende-se por bacia hidrográfica o rio principal, seus formadores, afluentes, lagos, lagoas marginais, reservatórios e demais coleções d'água. Art. 2° Proibir a pesca, anualmente, no período de 1° de novembro a 28 de fevereiro para a proteção à reprodução natural dos peixes, nas bacias hidrográficas referenciadas no art. 1° desta Instrução Normativa, nas seguintes áreas: I - nas lagoas marginais; e II - até um mil metros a montante e a jusante das barragens de reservatórios de usinas hidrelétricas, cachoeiras e corredeiras. Parágrafo único. Entende-se por lagoas marginais alagados, alagadiços, lagos, banhados, canais ou poços naturais situados em áreas alagáveis da planície de inundação, que apresentam comunicação permanente ou intermitente com o rio principal ou canais secundários. Peixes – no período de 1° de novembro a 28 de fevereiro na área da bacia

hidrográfica do rio São Francisco INSTRUÇÃO NORMATIVA No-48, DE 27 DE OUTUBRO DE 2005 A MINISTRA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE, no uso das suas atribuições e tendo em vista o disposto no art. 27, § 6º , inciso I da Lei nº- 10.683, de 28 de maio de 2003, no art. 3º- do Decreto nº- 4.810, de 19 de agosto de 2003, no Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967 e na Lei nº- 7.679, de 23 de novembro de 1988 e na Instrução Normativa no- 29, de 31 de dezembro de 2002, e o que consta do Processo no- 02001004386/2003-03, resolve: (...) Art. 1º Estabelecer normas para o período de proteção à reprodução natural dos peixes (piracema), na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco a seguir indicadas: I - o período de defeso é, anual, de 1º- de novembro a 28 de fevereiro; II - proibir a pesca, de qualquer categoria, modalidade e petrecho, nas lagoas marginais de 1º- de novembro a 30 de abril, anualmente; Caranguejo-uçá INSTRUÇÃO NORMATIVA INTERMINISTERIAL Nº 1, DE 14 DE JANEIRO

DE 2010

O MINISTRO DE ESTADO DA PESCA E AQUICULTURA, SUBSTITUTO E A MIINISTRA DE ESTADO MEIO AMBIENTE-INTERINA, no uso de suas atribuições e tendo em vista o disposto no art. 27, § 6o, inciso I, da Lei no 10.683, de

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28 de maio de 2003, nas Leis nos 11. 958, de 29 de junho de 2009 e 11.959, de 29 de junho de 2009; e Art.1º Proibir a captura, transporte, beneficiamento, industrialização e comercialização de qualquer indivíduo da espécie Ucides cordatus, conhecido popularmente como caranguejo-uçá, nos Estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, nos meses de janeiro, fevereiro, março e abril, durante os dias de "andada", correspondendo aos seguintes períodos, em 2010: I – 1º Período: a) de 16 a 21 de janeiro; b) de 31 de janeiro a 5 de fevereiro; II – 2º Período: a) de 15 a 20 de fevereiro; b) de 1º a 6 de março; III – 3º Período: a) de 16 a 21 de março; e b) de 31 de março a 5 de abril § 1º omissis § 2º Entende-se por "andada" o período reprodutivo em que os caranguejos machos e fêmeas saem de suas galerias (tocas) e andam pelo manguezal, para acasalamento e liberação de ovos.

47. Nesse diapasão, remanescem como requisitos básicos para concessão do benefício:

I. o registro de pescador profissional devidamente atualizado, emitido pela Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República, com antecedência mínima de um ano da data do início do defeso;

II. o comprovante de inscrição no Instituto Nacional do Seguro Social - INSS como pescador e do pagamento da contribuição previdenciária;

III. comprovante de que não está em gozo de nenhum benefício de prestação continuada da Previdência ou da Assistência Social, exceto auxílio acidente e pensão por morte e, por decorrência lógica, não dispõe de fonte de renda diversa da decorrente da atividade pesqueira artesanal.

48. O Registro Geral de Atividade Pesqueira – RGP, apontado no inciso I supra, representa um dos instrumentos do Poder Executivo que permite legalizar o exercício da atividade pesqueira através do credenciamento de pessoas físicas nas categorias de Aprendiz de Pesca e Pescador Profissional, este último abrangendo o pescador artesanal e o praticante de pesca industrial.

49. É o que dispõe a Lei n. 11.959/2009: Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se:(...) XXII – pescador profissional: a pessoa física, brasileira ou estrangeira residente no País que, licenciada pelo órgão público competente, exerce a pesca com fins comerciais, atendidos os critérios estabelecidos em legislação específica. (...) Art. 5º O exercício da atividade pesqueira somente poderá ser realizado mediante prévio ato autorizativo emitido pela autoridade competente, asseguradas:

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XVII

I – a proteção dos ecossistemas e a manutenção do equilíbrio ecológico, observados os princípios de preservação da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais; II – a busca de mecanismos para a garantia da proteção e da seguridade do trabalhador e das populações com saberes tradicionais; III – a busca da segurança alimentar e a sanidade dos alimentos produzidos. (...) Art. 6º, § 1º Sem prejuízo do disposto no caput deste artigo, o exercício da atividade pesqueira é proibido:(...) III – sem licença, permissão, concessão, autorização ou registro expedido pelo órgão competente; (...) Art. 24. Toda pessoa, física ou jurídica, que exerça atividade pesqueira bem como a embarcação de pesca devem ser previamente inscritas no Registro Geral da Atividade Pesqueira - RGP, bem como no Cadastro Técnico Federal - CTF na forma da legislação específica. Parágrafo único. Os critérios para a efetivação do Registro Geral da Atividade Pesqueira serão estabelecidos no regulamento desta Lei. Art. 25. A autoridade competente adotará, para o exercício da atividade pesqueira, os seguintes atos administrativos: I – concessão: para exploração por particular de infraestrutura e de terrenos públicos destinados à exploração de recursos pesqueiros; II – permissão: para transferência de permissão; para importação de espécies aquáticas para fins ornamentais e de aquicultura, em qualquer fase do ciclo vital; para construção, transformação e importação de embarcações de pesca; para arrendamento de embarcação estrangeira de pesca; para pesquisa; para o exercício de aquicultura em águas públicas; para instalação de armadilhas fixas em águas de domínio da União; III – autorização: para operação de embarcação de pesca e para operação de embarcação de esporte e recreio, quando utilizada na pesca esportiva; e para a realização de torneios ou gincanas de pesca amadora; IV – licença: para o pescador profissional e amador ou esportivo; para o aquicultor; para o armador de pesca; para a instalação e operação de empresa pesqueira; V – cessão: para uso de espaços físicos em corpos d’água sob jurisdição da União, dos Estados e do Distrito Federal, para fins de aquicultura. § 1º Os critérios para a efetivação do Registro Geral da Atividade Pesqueira serão estabelecidos no regulamento desta Lei. § 2º A inscrição no RGP é condição prévia para a obtenção de concessão, permissão, autorização e licença em matéria relacionada ao exercício da atividade pesqueira.

50. Atualmente, cabe ao Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) organizar e manter esse registro (art. 1º, caput).

51. O referido Registro Geral da Atividade Pesqueira – RGP se encontrava regulado pela Instrução Normativa MPA n.º 2, de 25.01.2011 sendo substituída pela Instrução Normativa MPA nº 6 de 29/06/2012 que regulamentou integralmente a matéria e expressamente revogou a anterior (art. 24 22).

52. Confrontando as duas instruções normativas, verifica-se que houve substanciais mudanças nos diplomas a ponto da sucessora da IN MPA n.º 2, de 25.01.2011, ou seja, a IN MPA n.º nº 6 de 29/06/2012 ser muito mais flexível, conforme quadro comparativo:

22 IN MPA n.º 06/2012, Art. 24º. Fica revogada a Instrução Normativa MPA nº 2, de 25 de janeiro de 2011.

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XVIII

Instrução Normativa MPA n.º 2, de 25.01.2011 Instrução Normativa MPA nº 6 DE 29/06/2012 1) – As categorias são categorias de Aprendiz de Pesca e

Pescador Profissional, sendo este último dividido em Pescador Profissional na pesca artesanal ou na pesca industrial Art. 1º. Estabelecer normas e procedimentos para a inscrição de

pessoas físicas no Registro Geral da Atividade Pesqueira – RGP nas categorias de Aprendiz de Pesca e Pescador Profissional, sob a responsabilidade do Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA. § 2º. A Licença de Aprendiz de Pesca, a Licença Inicial de Pescador Profissional e a Licença de Pescador Profissional são consideradas documentos comprobatórios de inscrição do interessado no RGP.

– Desapareceu a figura do Aprendiz de pesca

2) § 3º As pessoas físicas que atuam em trabalhos de confecção e de reparos de artes e petrechos de pesca e em reparos realizados em embarcações de Arqueação Bruta (AB) igual ou inferior a 20 (vinte), assim como aquelas que atuam no processamento do produto da pesca artesanal, de que trata o parágrafo único do art. 4º da Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009 , serão qualificadas e inscritas no RGP sob condições e critérios estabelecidos em norma específica.

– Desapareceu

3) – Existem dois registros: 1) primeiramente, a pessoa requer e obtém uma licença provisória e válida por um período; 2) findo este prazo, deve requerer a renovação da sua licença em que, além de atender as condições da licença inicial, deve comprovar o efetivo exercício da atividade pesqueira (art. 9º e 10). Art. 2º. Para efeitos desta Instrução Normativa, entende-se por:

IV – Licença Inicial de Pescador Profissional: documento emitido pelo MPA, de caráter individual e provisório, considerado como o instrumento comprobatório do primeiro ano de inscrição do interessado no RGP, com validade em todo o território nacional; e V – Licença de Pescador Profissional: documento emitido pelo MPA, de caráter individual, considerado como o instrumento comprobatório de inscrição do interessado no RGP, na categoria de Pescador Profissional, com validade em todo o território nacional.

Art. 14. A Licença de Pescador Profissional terá validade de 02 (dois) anos, contados a partir da data de emissão, quando então deverá ser revalidada ou substituída, se atendida pelo interessado às exigências previstas nesta Instrução Normativa.

Art. 15. A Licença de Aprendiz de Pesca terá validade desde a data de sua emissão até a data em que o interessado venha a completar 18 (dezoito) anos de idade. CAPÍTULO III – DO DEFERIMENTO DO PEDIDO DE

EXPEDIÇÃO DA LICENÇA DE APRENDIZ DE PESCA E DA LICENÇA INICIAL DE PESCADOR PROFISSIONAL

Art. 7º. A inscrição do interessado no RGP, para fins de emissão

da Licença de Aprendiz de Pesca ou da Licença Inicial de Pescador Profissional, dar-se-á com a inserção dos dados do interessado no Sistema Informatizado do RGP – SisRGP, do MPA, que gerará uma numeração única e sequencial para as inscrições deferidas. Parágrafo único. Nos casos em que a Licença vier a ser deferida, a inscrição será considerada na situação cadastral “regular ativa”, como definido no art. 22, desta Instrução Normativa.

Art. 8º. A Licença do Aprendiz de Pesca, a Licença Inicial de

Pescador Profissional e a Licença de Pescador Profissional são consideradas documentos comprobatórios de inscrição do interessado no RGP e servem como documento de autorização para o exercício da atividade de pesca e de identificação do interessado junto aos demais órgãos governamentais competentes, tendo como início de validade a data de sua emissão.

– Desapareceram as duas Licenças, sendo que, atualmente, a licença será válida por período indeterminado. . Art. 11º. A Licença de Pescador Profissional será valida por

período indeterminado. § 1º Para efeito de validade da Licença de Pescador, o MPA publicará em seu endereço eletrônico a relação oficial de todos os pescadores profissionais e sua respectiva situação junto ao RGP Esta norma é importante para assegurar a transparência e

coibir eventuais fraudes.

4) Art. 9º. A substituição da Licença Inicial de Pescador Profissional e a emissão, revalidação ou substituição da Licença

Não obstante afirme que a validade é por tempo indeterminado o art. 9º exige que apresente um Relatório

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XIX

de Pescador Profissional deve ser requerida pelo interessado junto à Unidade Administrativa do MPA localizada no Estado de sua residência. § 2º O requerimento de que trata o caput deste artigo, com a documentação complementar prevista no art. 10 desta Instrução Normativa, deverá ser apresentado até 60 (sessenta) dias antes da data de vencimento da Licença a ser substituída, renovada ou revalidada.

Art. 10. Para atendimento do disposto no art. 9º, desta Instrução

Normativa, deverá ser apresentada pelo interessado, a seguinte documentação complementar: I - Se Pescador Profissional na Pesca Artesanal: a) requerimento específico; b) Relatório de Desempenho de Atividade, como um dos documentos de aferição da comprovação do exercício da profissão de pescador no período ou fase imediatamente anterior, assinado pelo interessado e ratificado por dois pescadores profissionais já inscritos no RGP, na situação de inscrição regular ativa; c) (...) d) cópia do comprovante de venda do pescado, quando o adquirente da produção for pessoa jurídica ou pessoa física equiparada à jurídica, referente ao período correspondente ao Relatório de Desempenho de Atividade previsto na alínea "b" deste artigo; e) quando a produção for vendida à pessoa física não equiparada á jurídica, comprovante de recolhimento do INSS, constando em matrícula própria no Cadastro Específico - CEI, referente ao período correspondente ao Relatório de Desempenho de Atividade previsto na alínea "b" deste artigo;

Art. 11. A ausência de requerimento de revalidação ou

substituição das Licenças de Pescador Profissional no prazo estabelecido no § 2º do art. 9º desta Instrução Normativa acarreta a suspensão automática do registro de Pescador Profissional junto ao MPA, ficando sua inscrição na situação cadastral de irregular inativa ou suspensa, de que trata o inciso III do art. 22 desta Instrução Normativa.

Parágrafo único. O ato de suspensão será formalmente comunicado ao interessado pelas Superintendências Federais do MPA, com a indicação do respectivo motivo.

de Exercício da Atividade Pesqueira na Categoria de Pescador Profissional Artesanal, o que, na prática, equivale a dizer que possui prazo determinado.

Art. 9º. Para a manutenção da Licença de Pescador

Profissional, o interessado deverá apresentar com até 30 (trinta) dias de antecedência da data de aniversário do pescador junto à Unidade Administrativa do MPA localizada no Estado de sua residência os seguintes documentos: I - No caso de se tratar de Pescador Profissional Artesanal: a) Relatório de Exercício da Atividade Pesqueira na Categoria de Pescador Profissional Artesanal; b) Cópia do Número de Inscrição do Trabalhador (NIT) inscrito como segurado especial; e, § 1º O Relatório de Exercício da Atividade Pesqueira na Categoria de Pescador Profissional Artesanal deverá ser homologado pela entidade de classe de filiação do Pescador, devidamente constituída e Registrada no Cadastro Nacional da Atividade Pesqueira-CNAP, ou, no caso de não filiação, deverá ser homologado por 2 (dois) pescadores devidamente licenciados.

§ 3º Caso o Pescador Profissional estiver exercendo sua atividade de maneira embarcada, deverá apresentar cópia do Certificado de Registro e Autorização de Pesca da embarcação utilizada, se de sua propriedade, ou declaração do proprietário de que faz uso da Embarcação de Pesca, indicando o nome e número do RGP da embarcação ou contrato de parceria, devidamente registrado, se esta for de terceiros;

5) – A referida Instrução Normativa parece mais rígida na comprovação dos requisitos ao determinar que se fizesse pesquisa, diligências e cruzamento de informações a fim de pesquisar a existência ou não de outra atividade remunerada. Art. 5º Para a inscrição no RGP e a concessão da Licença Inicial

de Pescador Profissional, serão consideradas as seguintes condições complementares: I - a comprovação de que não há qualquer vínculo empregatício em outra atividade profissional que não seja a de pesca, inclusive junto ao setor público federal, estadual ou municipal; e II - a verificação de que não há outra atividade econômica não relacionada diretamente com a atividade de pesca, mesmo que sem vínculo empregatício. § 1º Não será permitida a inscrição de interessado que se encontre na condição de aposentado por invalidez ou que receba benefícios inerentes ao amparo assistencial ao idoso e ao deficiente, assim como previdenciário que, na forma de legislação específica, não seja permitido o pleno exercício de atividades comerciais ou econômicas. § 2º Para o atendimento do disposto nos incisos I e II deste artigo, serão realizadas pelo MPA consultas junto aos diversos bancos de dados disponibilizados pelo Governo Federal, especialmente junto ao Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED, Cadastro Nacional de Informações Sociais - CNIS, Relação Anual de Informações Sociais - RAIS, sem prejuízos de outras consultas a serem realizadas junto a outros órgãos do governo federal, estadual e municipal, a critério das Unidades Administrativas do MPA.

Art. 6º O deferimento da inscrição do interessado no RGP e da Licença de Aprendiz de Pesca ou da Licença Inicial de Pescador Profissional será precedido da conferência, análise e avaliação da

– O Art. 5º caput exige que o pescador profissional na pesca artesanal não possua outra atividade remunerada, mas não determinou que se fizesse consulta nos bancos de dados já mantidos pela Administração Pública Federal, tais como previstos no art. 5º, § 2º da IN MPA n.º 2, de 25.01.2011. Pelo contrário, as diligências estão previstas de maneira lacônica no art. 6º, § 2º da referida Instrução Normativa, transmitindo a impressão de ser desnecessário a consulta nos bancos de dados. Art. 5º. No ato da inscrição, o interessado deverá declarar se

possui algum vínculo empregatício em outra atividade profissional, inclusive no setor público municipal, estadual ou federal, ou outra fonte de renda não decorrente da atividade de pesca, conforme formulário de declaração publicado em ato da Secretaria de Monitoramento e Controle da Pesca e Aquicultura - SEMOC/MPA. O caput exige que o pescador profissional na pesca

artesanal não possua outra atividade remunerada, mas não determinou que se fizesse consulta nos bancos de dados já mantidos pela Administração Pública Federal, tais como previstos no art. 5º, § 2º da IN MPA n.º 2, de 25.01.2011

§ 1º Quando se tratar de aposentado, o interessado deverá informar tal condição, conforme formulário de declaração publicado em ato da Secretaria de Monitoramento e Controle da Pesca e Aquicultura - SEMOC/MPA. § 2º Não será permitida a inscrição de interessado que se encontre na condição de aposentado por invalidez ou que receba benefícios inerentes ao amparo assistencial ao idoso e ao deficiente, assim como previdenciário que, na forma de legislação específica, não seja permitido o pleno exercício de atividades comerciais ou econômicas.

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XX

documentação entregue pelo interessado, sem prejuízo das consultas e avaliações de que trata o art. 5º desta Instrução Normativa. § 1º A conferência, análise e avaliações de que trata o caput serão de responsabilidade das Superintendências Federais de Pesca e Aquicultura - SFPA do MPA. § 2º À critério do MPA, por meio das SFPAs, além do exame da documentação e consultas definidas nesta Instrução Normativa, o deferimento do pedido ficará condicionado, ainda, ao resultado de entrevista pessoal com o interessado para coleta de informações complementares julgadas pertinentes, com declaração a termo realizado por servidor designado a este fim, em formulário próprio com assinatura do entrevistado e a identificação do entrevistador e o respectivo parecer conclusivo desta consulta.

Art. 12. O deferimento da revalidação da Licença de Pescador Profissional está condicionado à conferência e exame da documentação entregue pelo interessado e, consequentemente, da comprovação do efetivo exercício da atividade de pesca profissional com fins comercial.

Parágrafo único. A comprovação do exercício da atividade de pesca comercial pelo pescador profissional dar-se-á por meio da análise e avaliação da documentação mencionada no art. 10, assim como das consultas aos bancos de dados referenciados no § 2º, do art. 5º, podendo ser utilizadas, ainda, informações complementares a critério do MPA, tais como, entrevista pessoal ou visita ao interessado, como mencionado no § 2º, do art. 6º, todos desta Instrução Normativa.

Art. 6º. O deferimento da inscrição do interessado no RGP na categoria de Pescador Profissional Artesanal e Industrial será precedido da conferência, análise e avaliação da documentação entregue pelo interessado. § 1º A conferência, análise e avaliações de que trata o caput serão de responsabilidade das Superintendências Federais de Pesca e Aquicultura - SFPA do MPA. § 2º À critério do MPA, por meio das SFPAs, além do exame da documentação definidas nesta Instrução Normativa, o deferimento do pedido poderá ser condicionado, ainda, ao resultado de entrevista pessoal com o interessado para coleta de informações complementares julgadas pertinentes, com declaração a termo realizado por servidor designado a este fim, em formulário próprio com assinatura do entrevistado e a identificação do entrevistador e o respectivo parecer conclusivo desta consulta.

6) Art. 21. A inscrição no RGP e as Licenças de que trata esta Instrução Normativa deverão ser suspensas ou canceladas nos seguintes casos: I - a pedido do interessado; II - quando não comprovado o exercício da atividade de pesca como profissão ou principal meio de vida, no caso da Licença de Pescador Profissional; III - de ofício, quando infringir qualquer dispositivo constante desta Instrução Normativa e suas alterações; IV - por comunicação do órgão fiscalizador competente; V - nos casos de óbito do interessado; VI - por decisão judicial; VII - quando comprovado vínculo empregatício em atividade distinta da pesca; VIII - quando comprovada a situação de aposentadoria por invalidez ou outra aposentadoria que não seja a de segurado especial ou aposentadoria como pescador, ou que receba benefícios inerentes ao amparo assistencial ao idoso e ao deficiente ou outro benefício previdenciário assemelhado; IX - quando não procurada ou recebida pelo interessado, transcorrido 06 (seis) meses da data de sua emissão; X - quando não renovado até 12 (doze) meses incompletos da data do vencimento; ou XI - quando o registro for suspenso por mais de 06 (seis) meses, sem que seja apresentado recurso ou justificativa pelo interessado. § 1º Os Incisos II, V, VII, VIII, IX e X deste artigo não se aplicam nos casos de suspensão. § 2º A efetivação da suspensão ou cancelamento do registro dar-se-á por ato administrativo da SFPA do MPA que efetivou a inscrição do interessado no RGP ou pelo Departamento de Registro da Pesca e Aquicultura - DRPA, vinculado à Secretaria de Monitoramento e Controle da Pesca e Aquicultura - SEMOC do Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA, cujo ato será formalmente comunicado ao interessado, com a indicação do respectivo motivo. § 3º Todas as formas de cancelamento constantes neste artigo implicarão, conforme o caso, na devolução ao MPA da Licença Inicial, da Licença de Pescador Profissional e de Aprendiz de Pesca, sem prejuízo das penas previstas na legislação pertinente. § 4º Nos casos em que a Licença de Pescador Profissional tenha sido cancelada nas condições estabelecidas no inciso IX deste artigo e venha a ser requisitada posteriormente pelo interessado, a data de emissão desta deverá ser alterada para a data da nova solicitação. § 5º O atendimento ao inciso IV deste artigo será efetivado a partir das informações a serem prestadas por qualquer órgão integrante do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA que atue nas ações de fiscalização da atividade pesqueira, ou quando constatada pelo MPA qualquer irregularidade ou descumprimento das normas vigentes.

Art. 17º. A inscrição no RGP e as Licenças de que trata esta Instrução Normativa deverão ser canceladas nos seguintes casos: I - a pedido do interessado; II - quando comprovado o não exercício da atividade de pesca com fins comerciais; III - por recomendação ou decisão judicial; IV - nos casos de óbito do interessado; V - quando o registro for suspenso por mais de 06 (seis) meses, sem que seja apresentado recurso ou justificativa pelo interessado; VI - Quando indeferido o Recurso Administrativo disposto no parágrafo único do art. 14. Parágrafo único. Todas as formas de cancelamento constantes neste artigo implicarão na devolução ao MPA da Licença Pescador Profissional, sem prejuízo das penas previstas na legislação pertinente.

7) Art. 7º A inscrição do interessado no RGP, para fins de emissão da Licença de Aprendiz de Pesca ou da Licença Inicial

Art. 7º. A inscrição do interessado no RGP, para fins de emissão da Licença de Pescador Profissional, dar-se-á com

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de Pescador Profissional, dar-se-á com a inserção dos dados do interessado no Sistema Informatizado do RGP - SisRGP, do MPA, que gerará uma numeração única e sequencial para as inscrições deferidas. Parágrafo único. Nos casos em que a Licença vier a ser deferida, a inscrição será considerada na situação cadastral "regular ativa", como definido no art. 22, desta Instrução Normativa.

a inserção dos dados do interessado no Sistema Informatizado do RGP - SisRGP, do MPA, que gerará uma numeração única.

8) Art. 8º A Licença do Aprendiz de Pesca, a Licença Inicial de Pescador Profissional e a Licença de Pescador Profissional são consideradas documentos comprobatórios de inscrição do interessado no RGP e servem como documento de autorização para o exercício da atividade de pesca e de identificação do interessado junto aos demais órgãos governamentais competentes, tendo como início de validade a data de sua emissão.

Art. 8º. A Licença de Pescador Profissional servirá como documento de autorização para o exercício da atividade de pesca e de identificação do interessado junto aos demais órgãos governamentais competentes.

9) – No caso de cancelamento, o prazo para requerer nova inscrição era de 12 meses Art. 21(omissis), § 6º Nos casos de cancelamento de Licença Inicial

de Pescador Profissional ou Licença de Pescador Profissional, novo requerimento com esse fim só será permitido após 12 meses do cancelamento efetivado.

– Aumentou o prazo para 24 meses ao invés de 12 Art. 22º. Nos casos de cancelamento de Licença de Pescador

Profissional, novo requerimento com esse fim só será permitido após 24 meses do cancelamento efetivado.

53. Aqui, impende uma observação interessante entre a Resolução CODEFAT n.º 657, de 16.12.2010, que regula “a concessão do Seguro-Desemprego aos pescadores profissionais, categoria artesanal, durante os períodos de defeso, instituído pela Lei nº 10.779, de 25 de novembro de 2003” e a IN MPA n.º nº 6 de 29/06/2012 que “Dispõe sobre os procedimentos administrativos para a inscrição de pessoas físicas no Registro Geral da Atividade Pesqueira na categoria de Pescador Profissional no âmbito do MPA”.

54. Na Resolução do CODEFAT, exige-se do pescador, dentre outros, o seguinte:

Art. 2º Terá direito ao Seguro-Desemprego o pescador que preencher os seguintes requisitos no processo de habilitação: III - possuir nota fiscal de venda do pescado a adquirente pessoa jurídica, ou pessoa física equiparada à jurídica no período compreendido entre o término do defeso anterior e o início do defeso atual; IV - na hipótese de não atender ao inciso III e ter vendido sua produção a pessoa física, possuir comprovante de recolhimento ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS,

55. Tal exigência que também tinha previsão no art. 10,. I. “d” e “e” 23 da Instrução Normativa MPA n.º 2, de 25.01.2011 não foi mais reproduzida na Instrução Normativa MPA nº 6 de 29/06/2012 que atualmente regula a matéria quanto ao RGP. Incumbe verificar se tal mudança produz efeitos quanto à percepção do seguro-defeso ou se trata de requisito autônomo, uma vez que a Resolução CODEFAT n.º 657/2010 ainda não foi alterada.

56. Salvo melhor juízo, a partir de uma intepretação sistemática de ambos os diplomas, entendo que não se pode mais exigir tal requisito para fins de percepção de seguro-desemprego pelas seguintes razões: 1) ambos atos normativos tratam do 23 Art. 10. Para atendimento do disposto no art. 9º, desta Instrução Normativa, deverá ser apresentada pelo interessado, a seguinte documentação complementar: I - Se Pescador Profissional na Pesca Artesanal: d) cópia do comprovante de venda do pescado, quando o adquirente da produção for pessoa jurídica ou pessoa física equiparada à jurídica, referente ao período correspondente ao Relatório de Desempenho de Atividade previsto na alínea "b" deste artigo; e) quando a produção for vendida à pessoa física não equiparada á jurídica, comprovante de recolhimento do INSS, constando em matrícula própria no Cadastro Específico - CEI, referente ao período correspondente ao Relatório de Desempenho de Atividade previsto na alínea "b" deste artigo;

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“pescador artesanal”, sendo que o RGP constitui um requisito indispensável para a percepção do seguro-desemprego; 2) o principal meio de comprovação da condição de pescador artesanal é a inscrição no RGP que não mais exige tal requisito; 3) Se o Executivo, no exercício de sua função, dispensou tal requisito por ato normativo posterior, parece-me contraditório manter a exigência na legislação anterior a partir da perspectiva do diálogo das fontes 24.

57. De acordo com os preceitos acima, somente é lícito o exercício comercial da atividade pesqueira se a pessoa possuir a referida licença. Por sua vez, analisando a sobredita legislação, observa-se que há uma certa coincidência dos requisitos para se cadastrar como pescador artesanal com aqueles necessários para a percepção do seguro-defeso, principalmente quanto ao não exercício de qualquer outra atividade.

58. Partindo destas premissas, examino o caso concreto.

59. As irregularidades alegadas na inicial podem ser divididas basicamente em dois pontos:

2.3.2. Alegação de violação do direito de petição garantido à classe em questão quando da determinação de suspensão, pelo MPA, da recepção de pedido de inscrição no RGP e de emissão de Licença Inicial para pescadores Profissionais da pesca artesanal.

60. É incontroverso, inclusive a União confessou o fato na sua contestação, de que o Ministério da Pesca e Aqüicultura – MPA suspendeu o requerimento de inscrição no Registro Geral de Atividade Pesqueira – RGP e a emissão de Licença Inicial para Pescadores Profissionais na Pesca Artesanal até 31.12.2011, nos termos do art. 26 da IN n.º 2/2011:

Art. 26. Fica suspensa, até 31 de dezembro de 2011, a recepção de pedido de inscrição no RGP e de emissão de Licença Inicial para Pescadores Profissionais na Pesca Artesanal.

61. A Instrução Normativa MPA n.º 12, de 28.11.2011 alterou o artigo 26 para prorrogar o prazo até 31/03/2012.

"Art. 26 . Fica suspensa, até 31 de março de 2012, a recepção de pedido de inscrição no RGP e de emissão de Licença Inicial para Pescadores Profissionais na Pesca Artesanal. Parágrafo único. A suspensão de que trata o caput não se aplica nos casos em que o requerente tenha completado a maioridade durante o ano de 2011, ou venha a completá-la no ano de 2012, independentemente de já possuir, ou não, Licença de Aprendiz de Pesca em vigor." (NR)

62. Na vigência da IN n.º 06, de 26.06.2012, o MPA editou a Instrução Normativa MPA Nº 21 DE 30/12/2013 para suspender até 31.12.2014 qualquer requerimento de inscrição inicial no Registro Geral da Atividade Pesqueira - RGP, na categoria de Pescador Profissional Artesanal, contudo os seus efeitos foram suspensões pela Instrução Normativa MPA Nº 2 DE 11/02/2014 em cumprimento de decisão judicial proferida nos autos da Ação Civil Pública nº 4105.38.2012.4.01.3200.

24 Pela teoria do diálogo das fontes, permite-se a aplicação da regra de um subsistema para outro, visando à atualização de um subsistema que ficou “defasado”, desde que não haja princípios colidentes (AgRg no REsp 1030569/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/12/2009, DJe 23/04/2010).

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Art. 1º Suspender, até 31 de dezembro de 2014, os efeitos dos arts. 3º, 4º e 5º da Instrução Normativa nº 6, de 29 de junho de 2012. Parágrafo único. Durante a vigência desta Instrução Normativa, não será aceito, pelas unidades administrativas do Ministério da Pesca e Aquicultura nos Estados, qualquer requerimento de inscrição inicial no Registro Geral da Atividade Pesqueira - RGP, na categoria de Pescador Profissional Artesanal, sem prejuízo da inscrição dos requerimentos protocolizados até a data da publicação desta Instrução Normativa.

63. Inicialmente, impende fazer uma consideração: no site do MPA, na parte de legislação, consta os diversos atos normativos supramencionados, contudo, ao procurar acessar o seu inteiro teor, apresenta mensagem de erro, de maneira que este Juízo teve que se valer de outros sites de busca.

64. Em sua inicial, a União alegou que não houve prejuízo, já que prorrogou a validade das carteiras expedidas até 31.12.2012, contudo este argumento deve ser prontamente afastado porque ao suspender em caráter geral impende que novos pescadores venham requerer a licença de pescador profissional artesanal e, por consequência, requeiram o recebimento do seguro-defeso.

65. Embora a resposta do réu tenha se restringido a questão da existência de fraude nos requerimentos (apontou a situação em um Município Curralino do Pará – f. 71/72), dessume-se, a partir dos depoimentos colhidos em audiência que, em verdade, a suspensão decorreu por dois motivos: 1) elevado número de requerimento de licenças iniciais perante o MPA, os quais não tiveram condições de atender a demanda; 2) a suspeita de fraude.

66. Sobre item 2, é mister transcrever o conteúdo da Nota Conjunta do Ministério do Trabalho e Emprego e do Ministério da Pesca e Aquicultura

Nota Conjunta do Ministério do Trabalho e Emprego e do Ministério da Pesca e Aquicultura 25 Assunto: Seguro-Desemprego Pescador Artesanal. Considerando as reportagens veiculadas no jornal O Globo dos dias 05 e 06/10/2011 sobre o Seguro-Desemprego Pescador Artesanal, informamos: 1 – Até o dia 13/10/2011, será divulgada através do Portal Transparência (http://www.portaltransparencia.gov.br/) a relação de todos pescadores artesanais que recebem o seguro-defeso contendo: nome, parte do número do CPF, município e UF. 2 – Outras ações do Governo Federal já estavam em curso ao longo deste ano visando ao aprimoramento do sistema, como segue abaixo: a) Foi aberto processo administrativo para cada Estado, averiguando caso a caso e cadastrando os pedidos de restituições de todos os pescadores que realmente receberam indevidamente. b) Foi estabelecida no CODEFAT revisão das normas operacionais do Programa por meio da Resolução nº. 657/2010, proposta pelo Ministério do Trabalho e Emprego, estabelecendo novas exigências ao processo de habilitação, em especial: i) acentuou o direito ao benefício especificamente àqueles que exercem a atividade de pesca artesanal, dele não fazendo parte os que exercem atividades relacionadas com a cadeia produtiva; ii) proibiu a intervenção de agenciadores ou despachantes no processo de habilitação;

25 Em http://www.pesca.sp.gov.br/noticia.php?id_not=9329. Acesso em 10.03.2014

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iii) exigiu a apresentação de documentos adicionais, para pescadores que atuam com auxílio de embarcações pesqueiras, em especial, documento emitido pela Marinha do Brasil; iv) exigiu apresentação de comprovante de domicílio; v) exclui a hipótese de pescadores de outras unidades da Federação darem entrada no benefício. c) O Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) suspendeu desde janeiro de 2011 a emissão de novas carteiras de pescador. A medida vale até dezembro de 2011 e poderá ser prorrogada caso haja necessidade. O MPA também cancelou, nos últimos meses, 91.822 registros irregulares de pescadores. Esses cancelamentos foram realizados a partir do cruzamento de dados do Registro Geral da Pesca com outros cadastros do Governo Federal como o Cadastro Nacional de Informações Sociais, base de dados dos trabalhadores que contêm seus vínculos empregatícios. Desde março de 2011 o MPA a disponibiliza em sua página na Internet o cadastro completo do Registro Geral da Pesca, que pode ser consultado em http://www.mpa.gov.br/#destaques/inscritos-RGP) 3 – Será criado um Grupo Técnico Interministerial, com participação do MTE, MPA, MMA, Ministério da Previdência e CGU, com prazo de 30 dias com o objetivo de estudar e propor o aperfeiçoamento da inscrição do Registro Geral da Pesca, da publicação dos períodos dos defesos visando à preservação das espécies, da concessão do benefício seguro-desemprego, da fiscalização e do recadastramento dos pescadores. Por fim, reafirmamos que o Governo Federal vem permanentemente tomando medidas visando ao aperfeiçoamento e fortalecimento do programa, sempre buscando garantir o pagamento a quem realmente tem direito. Brasília, 06 de outubro de 201l Assessorias de Comunicação Ministério do Trabalho e Emprego Ministério da Pesca e Aquicultura http://www.mpa.gov.br/#imprensa/2011/OUTUBRO/nt_OUT_06-10-notampa

67. Nenhum dois fundamentos é suficiente para adotar um ato tão drástico.

68. Quanto ao 1º motivo, não é a demanda que se deve amoldar a estrutura, mas é a estrutura que se deve dar conta da demanda (se organizar, se preparar). Se os servidores são insuficientes, a Administração Direta precisa criar o quadro necessário e preenche-lo mediante concurso público, fazer convênios com outros órgãos afins para conseguir dar conta da demada.

69. Quanto ao 2º motivo, este Juízo não pode desconhecer/ignorar a existência de problemas no programa de seguro-defeso, diante de tantas notícias publicadas na imprensa informando “supostas fraudes” 26 no recebimento que surgiram muitas notícias na imprensa acerca do recebimento indevido dos seguros defeso, inclusive foi publicada uma reportagem específica sobre o tema no Estado de Sergipe.

70. Abaixo, algumas publicações correntes na internet acerca da fraude no seguro-defeso:

Jornal Correio de Sergipe – Edição de domingo 05 e segunda 06 de maior de 2013

26 Falo de suposta fraude porque não é suficiente a publicação de notícia na imprensa para restar comprovada a fraude, devendo ser apuradas individualmente através dos órgãos competentes (MPA, Controladoria-Geral da União, Ministério Público)

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Fraudes no Seguro Pesca desviam R$ 3 mi só em SE 27 Em Sergipe, cerca de 5% dos beneficiários estão recebendo o seguro de forma indevida

Para garantir a preservação ambiental de espécies marinhas e manter o

sustento dos pescadores artesanais durante o período do defeso, o Ministério da Pesca e Agricultura (MPA) criou o Seguro Defeso. Desde 2003, o Governo Federal pagou, por meio do benefício, cerca de R$ 4 bilhões aos pescadores. Só em Sergipe foram mais de R$ 114 milhões aos quase 27 mil cadastrados. Mas como nenhum programa esta livre de fraudes, deste quantitativo, segundo a Controladoria Geral da União no Estado de Sergipe (CGU – Regional/SE), R$ 3 milhões foram pagos irregularmente, ou seja, cerca de 5 % dos beneficiários estão recebendo o beneficio indevidamente.

As fraudes no Seguro Pesca motivaram a CGU, órgão responsável por fiscalizar o destino do dinheiro Público, a cruzar informações dos pescadores com dados coorporativos para identificar possíveis irregularidades, por meio de uma varredura com os dados dos pescadores para verificar os vínculos patrimoniais e de ordem trabalhista que essa pessoa possa ter, já que para receber o seguro é necessário ser pescador artesanal e não possuir vinculo trabalhista.

O Seguro Defeso é pago em quatro parcelas, cada uma no valor de um salário mínimo. Como o foco em Sergipe é na pesca do camarão, existem dois períodos de defeso, um que vai de 1° de dezembro a 15 de janeiro e o segundo que começa em 1º de abril e termina em 15 de maio.

Em dezembro de 2012 havia 25 mil pescadores cadastrados no Registro Geral de Pesca do Ministério da Pesca em Sergipe e 18.900 parcelas pagas. Segundo relatório elaborado pela CGU, de janeiro de 2009 a dezembro de 2010, R$ 48 milhões foram pagos através do programa federal no Estado, ou seja, 97 mil pagamentos. Dos quase R$ 114 milhões destinados ao Seguro Pesca, R$ 3 milhões podem ter sido pagos para falsos pescadores.

“A Controladoria Geral da União fiscaliza os recursos federais em todo país, inclusive os benefícios sociais. Fruto desse trabalho foi feito um cruzamento de informações justamente em relação ao Seguro Defeso. Numa esfera macro sistemática do trabalho, já foram identificadas diversas situações que precisam de averiguação. Do total de cadastros do Estado, cerca de 5 % apresentam inconsistências cadastrais, ou seja, apresentam irregularidades e não atendem os requisitos do programa. Um relatório foi elaborado e será encaminhado para o Ministério do Trabalho e ao Ministério da Pesca para que sejam feitas as correções, as exclusões necessárias e os esclarecimentos sejam prestados”. Informa o chefe da CGU/SE, Manoel Gomes Marciape Neto.

A presidente da Colônia de Pescadores da Barra dos Coqueiros Wilma Santos, revela que de fato existem pessoas que de fato se cadastram na Colônia e na realidade não são pescadores. Uma situação difícil de combatida e resolvida. “Eu procuro no cadastro checar as informações das pessoas. Aqui na Barra, como temos cerca de 485 cadastros, ainda consigo fazer um acompanhamento, mas é comum chegar pessoas só em busca do beneficio. Já apareceu aqui taxistas, pessoas que trabalham com transporte escolar, diaristas, eu tenho que cortar porque a responsabilidade vem para cima de mim, mas é difícil, temos que ter muita cautela”, conta a presidente.

• Dificuldades

27 A reportagem aponta as dificuldades de coibir as fraudes (medo de represália, ausência de fiscalização preventiva, despreparo dos servidores).

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Uma das dificuldades encontrada pela presidente em cadastrar apenas pescadores é a falta de critério do Ministério da Pesca. Segundo ela, os pescadores podem fazer o cadastro diretamente no órgão. “O Ministério do Trabalho e o da Pesca orienta que faça o cadastro do pescador na colônia a gente faz o possível para fiscalizar, mas não temos como controlar tudo, infelizmente alguns casos passam. O que acontece também é se uma pessoa chegar no Ministério da Pesca e disser que é marisqueira e quer fazer o cadastro, eles fazem, não seguem um critério. Questiona porque não procura a colônia, mas faz o cadastro assim mesmo. Então como é que só as colônias podem se responsabilizar pelos falsos pescadores? Porque se houvesse só inscrições na colônia, talvez melhorasse. Não há uma lei que impeça as pessoas de se inscreverem diretamente no MPA, ai já é um problema”, sugere Wilma Santos.

Outro problema que contribui para as fraudes é que não é exigido que o pescador se cadastre na colônia do seu município, ele é livre para escolher onde quer fazer o cadastro. “Eu mesmo tenho pescador de Estância, Carmopólis e de outros municípios. Como vou saber quem são essas pessoas? Deveria ser estipulado que o pescador tivesse que procurar a colônia do seu município, assim ficaria mais fácil de pesquisar as pessoas. Eu tenho o cuidado de checar informações, mas nem sempre é possível. O governo atribui à Colônia fiscalizar, mas não temos condições para isso”, relata a presidente a Colônia.

A mesma situação acontece na Colônia de Pescadores de Aracaju, onde pescadores de todo o Estado são cadastrados. Como forma de tentar garantir que os cadastros sejam feitos apenas por pescadores, a colônia exige além dos documentos, duas testemunhas que comprovem a atividade do futuro beneficiário.

“Não emitimos a carteirinha sem a presença das duas testemunhas. Essa é uma maneira de tentar comprovar que a pessoa vive de pesca, mas isso não garante. Nos só vamos checar a pessoa se tiver denuncia, então informamos ao Ministério do Trabalho e da Pesca, mas no ato do cadastro não temos como fiscalizar, já que temos pessoas de todos os municípios”, conta a integrante da Comissão Especial da Colônia de Pesadores de Aracaju criada pelo Ministério do Trabalho Ana Cristina dos Anjos.

• Impotência A presidente da Colônia da Barra dos Coqueiros se sente de mãos atadas em

relação aos falsos pescadores. Ele admite não ter poder e também tem receio de tomar uma medida mais enérgica. “Aqui na Barra dos Coqueiros, por ter poucos pescadores, não há muitos casos de pescadores falsos, mas existe. A gente não tem como tomar certas medidas dizer que essa pessoa não mais parte da entidade, eu não posso fazer isso, porque hoje esta se morrendo de graça. O que a gente faz é informar ao Ministério do Trabalho e da Pesca, porque a medida é deles, mas no fundo é hoje e amanha e não foi tomada providência nenhuma. É um problema que existe, vai continuar existindo e não sei o que fazer. Acredito que os ministérios deveriam ter mais pulso”, expõe.

Wilma aponta outro problema que as colônias enfrentam no Estado. A troca constante de Superintendente do Ministério da Pesca e Agricultura em Sergipe, fato que dificulta o trabalho e as cobranças. “Um problema seríssimo que a gente enfrenta é que a cada seis meses muda o superintendente da pesca. Quando a pessoa chega que começa a trabalhar, mostrar serviço, ai tiram. Fica difícil continuar o trabalho que fica sempre pelo meio do caminho. A gente não tem a quem cobrar, se muda o superintendente, vamos cobrar a quem? É uma questão política que não sabemos nem por onde começar, mas isso nos prejudica”, reclama a presidente.

• MPA A Superintendente do Ministério da Pesca e Agricultura em Sergipe (MPA),

Cristiane Generosa, explica que o pescador pode realizar o cadastro através do ministério e que o órgão ainda não possui poder de fiscalização. “Para receber o beneficio o pesador tem que estar cadastrado no RGP aqui no MPA. Ele pode fazer seu cadastro nas colônias, que é a entidade máxima do pescador, que também estar

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cadastrado aqui, mas também pode vir diretamente. Nós ainda não fazemos o papel fiscalizador, então só fiscalizamos de fato quando notamos que há algo de errado, algo absurdo, ai a gente vai lá para vistoriar, entrevistar se é pescador, verificar in loco. Nós fazemos isso quando recebemos a demanda, isto é, a denúncia dos órgãos”, justifica a superintendente.

Cristiane frisa que a fiscalização é feita pelo IBAMA e pela Marinha, mas que os servidores do MPA já estão fazendo cursos para, em breve, realizar ações de fiscalização. “O IBAMA e a Marinha nos convidam para participar da fiscalização com eles porque entendem a importância do MPA neste processo. Já foram feitos dois cursos de fiscalização com nossos servidores e em breve teremos nossos futuros fiscais”, informa.

Para evitar as fraudes, o MPA está fazendo um recadastramento nacional com os pescadores artesanais para comprovar a veracidade das informações prestadas no ato do cadastro. “Para receber o Seguro Pesca é necessário ser um pescador artesanal e não ter um vínculo aberto com nenhuma empresa. Hoje o pescador artesanal é aquele que pesca e que também comercializa o seu pescado. Para esse trabalhador continuar usufruindo desse direito ele tem que fazer o recadastramento do RGP este ano. A data para se recadastrar é o mês de aniversário e o prazo máximo é mais 60 dias. Se ele perder o recadastramento ele é desligado do sistema”, explica Generosa.

Para a Presidente da Colônia de Pescadores da Barra dos Coqueiros o recadastramento não comprova se de fato a pessoa é pescador já que o recadastramento é simples e só exige documentos pessoais do pescador. “Nesse recadastramento não tem nada que comprove se a pessoa é pescador ou não, é só feito para ver se as informações pessoais estão corretas, nome, RG, CPF, filiação, endereço. Em 2009 e 2010, o MPA não estava fazendo a inscrição de novos pescadores porque teria o recadastramento para peneirar cada pescador, mas isso não aconteceu. Agora em 2013, em 1º de fevereiro, é que começou o recadastramento, mas ali não diz nada, ali só vai cadastrar novamente o pescador, mesmo ele não sendo”, critica Wilma Santos.

• Crime O chefe da CGU/SE alerta as pessoas de que apresentar documentos

comprovando uma atividade a qual não pertence para receber um beneficio social federal é crime de falsidade ideológica cometido contra a federação. “O recurso é destinado a pescadores artesanais, o seguro foi criado para atender a esse público. Se outras pessoas estão se passando por pescadores sem ser, apresentando documentos falsos, é crime de falsidade ideológica e essa pessoa sofrerá punições graves. Com certeza é uma situação que não passa impune e a Polícia Federal está atuando em conjunto, inclusive já atuou em outros estados, recentemente no Pará, justamente na questão do Seguro Pesca”, adverte. 28

No Pará, sistema de fraudes no seguro defeso contava até com

atravessadores “A colônia de pescadores inchou igual baiacu”, resumiu uma das testemunhas da fraude que pode ter desviado mais de R$ 18 milhões em recursos federais 25/04/2013 às 17h03 O sistema de fraudes no seguro defeso desbaratado no Pará nesta quinta-feira, 25 de abril, era tão amplo que chegou contar com 'cambistas', integrantes especializados em arregimentar pessoas para entrar no esquema. De acordo com investigações feitas pelo Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal (PF) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em três anos as quadrilhas podem ter desviado mais de R$ 18 milhões em saques fraudulentos no seguro-desemprego de pescador artesanal.

28 Em: < http://virtual.correiodesergipe.com/ >. Acesso em: 10.03.2014.

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“A colônia de pescadores inchou igual baiacu”, disse uma das testemunhas ouvidas durante os inquéritos. Foram identificadas quadrilhas atuando nos municípios de Breves, Curralinho, Salvaterra e Soure, no Marajó, e na capital do Estado. Pessoas ligadas às colônias ou associações de pescadores desses municípios atuaram em parceria com servidores de órgãos de cadastro, controle e pagamento do seguro. E os 'cambistas' ficavam incumbidos de encontrar interessados em se passar por pescadores, levando-os até as agências bancárias para o recebimento ilegal do benefício. Segundo a PF, até o início da tarde desta quinta-feira, as duas operações – batizadas de Proteu e Tétis em referência a divindades marinhas da mitologia grega – tinham resultado na prisão de 13 empregados públicos, além de presidentes de colônias de pescadores e vigilantes de agencias bancárias. Dois vereadores dos municípios envolvidos foram alvos das Operações, bem como as sedes das Colônias de Pescadores de Curralinho, Soure e Salvaterra. As operações também contaram com o apoio da Polícia Civil do Estado do Pará. No total, foram cumpridos 19 mandados de prisão preventiva, 19 mandados de prisão temporária, duas conduções coercitivas, 41 mandados de busca e apreensão, oito afastamentos de servidores públicos, bloqueio de 44 contas bancárias e o cancelamento de 19 registros gerais de pesca. As operações Proteu e Tétis foram planejadas a partir de dados de mais de 160 inquéritos em que a PF e o MPF atuam. Cassação – Devido a esse mesmo tipo de fraude, em 2011 o Ministério Público Eleitoral (MPE) conseguiu no Tribunal Regional Eleitoral a cassação do mandato do então deputado estadual Paulo Sérgio Souza, o Chico da Pesca. Ele tinha sido o quinto candidato mais votado para a Assembleia Legislativa e, de acordo com o MPE, incluiu centenas de pessoas irregularmente no Registro Geral da Pesca em troca de votos, o que configura abuso de poder político e econômico, já que ele foi superintendente da Secretaria Federal da Pesca no Pará. O esquema foi descoberto depois que a Controladoria Geral da União notou um aumento inexplicável do número de registros de pescadores no período anterior à eleição. O registro dá direito ao cidadão de requerer benefícios como o seguro-defeso29. Denúncias de fraude no seguro-desemprego do pescador preocupam

Secretarias do Trabalho. 30 Em períodos pré-determinados, o pescador artesanal fica proibido de exercer sua atividade, denominada como defeso. Esses períodos são fixados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por meio de Instrumento Normativo Publicado no Diário Oficial da União. Para compensar a interrupção da atividade pesqueira, o governo federal concede o benefício do seguro-desemprego aos pescadores profissionais que exerçam sua atividade de forma artesanal. Para ter direito, é necessária a apresentação de documentos como carteira de identidade ou outro documento que possa comprovar, de forma inequívoca, a identidade do cidadão, registro geral de pesca devidamente atualizado, emitido pela Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República, com antecedência mínima de um ano da data do início do defeso; possuir inscrição no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) como segurado especial; e possuir atestado da Colônia de Pescadores a que esteja filiado com jurisdição sobre a área onde atue o pescador artesanal. As secretarias estaduais do Trabalho e as Superintendências Regionais do trabalho (SRTE) são responsáveis pela habilitação dos pescadores ao benefício do seguro-

29 Em: http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2013/no-para-sistema-de-fraudes-no-seguro-defeso-contava-ate-com-atravessadores. Acesso em 10.03.2014. 30 Em: < http://www.fonset.org.br/2012/03/denuncias-de-fraude-no-seguro-desemprego-do-pescador-preocupam-secretarias-do-trabalho/>. Acesso em: 10.03.2014.

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XXIX

desemprego. Apesar de todas as exigências de documentos feitas para habilitar o pescador artesanal a receber o seguro-desemprego, denúncias de fraude são recorrentes. Na última reunião do Fonset, realizada em Brasília, em dezembro de 2012, os secretários de Trabalho dos Estados do Pará, Sergipe e do Maranhão mostraram-se preocupados com o aumento dessas irregularidades em seus respectivos estados. O secretário de Trabalho, Emprego e Renda do Estado do Pará, José Alfredo Silva Hage Júnior, destacou que dados da Procuradoria da República no Pará revelam que em anos eleitorais os benefícios aos pescadores artesanais crescem assustadoramente naquele estado, o que leva a crer que pessoas não habilitadas estão recebendo o benefício. Os gestores cobraram uma ação mais enérgica do Ministério do Trabalho, por meio da Superintendência Regional do Trabalho. O secretário paraense solicitou uma atenção especial do MTE para a questão. Instrução Normativa publicada pelo MTE no dia 4 de janeiro último, visa garantir ainda mais controle nos procedimentos operacionais para habilitação ao seguro desemprego pelos pescadores. O documento determina, por exemplo, que o planejamento do processo de recepção do requerimento do pedido seja feito de forma conjunta pela rede Sine e Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego desse público. Para o combate e prevenção às fraudes, a Instrução Normativa prevê, em seu Art 32, que o MTE celebrará diretamente ou por intermédio das SRTE, Termo de Cooperação Técnica com o Ministério Público do Trabalho com o objetivo de promover ações para o aperfeiçoamento do processo de recepção do requerimento do seguro-desemprego artesanal. Pronatec – Além do benefício do seguro desemprego, o pescador artesanal contará, a partir de abril próximo, com cursos de qualificação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). O anúncio foi feito durante reunião do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat), realizada em 29 de fevereiro, em Brasília.31

71. Conforme se vê das reportagens, a fraude consiste basicamente em pessoas se passarem como pescadores profissionais artesanais sem nunca se dedicarem a atividade pesqueira (exercem outra atividade) ou, se exercem, possuem outra atividade remunerada que descaracteriza a sua qualidade. Tal fraude, diga-se de passagem, é muito comum com a questão do segurado especial, já que estamos falando de um setor em que a informalidade predomina e, aí, é que algumas pessoas querem se aproveita.

72. De fato, para ser enquadrado como pescador profissional artesanal, constitui requisito fundamental de que o pescador artesanal comprove que não está em gozo de nenhum benefício de prestação continuada da Previdência ou da Assistência Social, exceto auxílio acidente e pensão por morte e, por decorrência lógica, não dispõe de fonte de renda diversa da decorrente da atividade pesqueira artesanal.

73. A qualificação de pescador artesanal é feita principalmente pelo MPA, sem prejuízo de uma verificação posterior pelo MTE por ocasião do requerimento de pagamento de seguro-defeso.

74. Para comprovar tal condição, o pescador artesanal, durante a obtenção do RGP e por ocasião do requerimento de seguro-desemprego 32, se submete as seguintes condições: 1) Assina declarações de que não possui outra atividade, sob as penas da lei * 31 In: http://www.fonset.org.br/2012/03/denuncias-de-fraude-no-seguro-desemprego-do-pescador-preocupam-secretarias-do-trabalho/. Acesso em 29 de janeiro de 2014, às 13:40. 32 Conforme já afirmado, há uma certa coincidência dos requisitos para se cadastrar como pescador artesanal com aqueles necessários para a percepção do seguro-defeso, principalmente quanto ao não exercício de qualquer outra atividade.

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Resolução CODEFAT n.º 657/2010, Art. 6º (omissis), § 1º); 2) é feita pesquisa nos sistemas informatizados acerca da existência de outra atividade por ocasião de inscrição no RGP e do seguro-defeso (Resolução CODEFAT n.º 657/2010, Art. 3º (omissis), § 5); 3) podem ser feitas entrevistas e até pesquisas in loco.

75. Infelizmente, fraude vai existir em todo lugar, ainda mais no Brasil em que, infelizmente, ainda viceja na população a cultura do jeitinho brasileiro 33, mas o que não se pode é a pretexto de fraude suspender o benefício de toda uma categoria.

76. A fraude na concessão do seguro-defeso se combate com uma estrutura adequada de servidores proporcional ao volume de trabalho e que permita uma fiscalização adequada e também a repressão eficaz das fraudes com a sua descoberta tempestiva. Em verdade, a certeza da impunidade, fruto da ausência de fiscalização maior, é que acaba por estimular a sua ocorrência. Ainda que todas as medidas apontadas por este Juízo fossem adotadas, não haveria garantia (não existe fórmula perfeita) de que não ocorreriam – porque sempre vai existir alguém que vai preferir correr o risco de ser punido em razão da obtenção de um benefício indevido. Do contrário, ninguém mais cometeria delito de latrocínio com medo da pena.

77. Se o RGP constitui o meio necessário para que os novos pescadores se habilitem ao benefício, tem-se que não é possível a sua suspensão geral, como a União efetivamente praticou, uma vez que viola diversos princípios constitucionais.

78. Tal medida viola fragrantemente o direito de petição (Art. 5º, XXXIV, al “a” da CF/88) e o devido processo legal administrativo, uma vez que cerceia o acesso da

33 A Controladoria Geral da União está fazendo uma campanha que bem ilustra o problema. Campanha Pequenas Corrupções – Diga Não

Criada pela Controladoria-Geral da União (CGU), a Campanha “Pequenas Corrupções – Diga Não” tem como objetivo principal conscientizar os cidadãos para a necessidade de combater atitudes antiéticas – ou até mesmo ilegais –, que costumam ser culturalmente aceitas e ter a gravidade ignorada ou minimizada. As peças buscam chamar a atenção e promover a reflexão sobre práticas comuns no dia-a-dia dos brasileiros, como falsificar carteirinha de estudante; roubar TV a cabo; comprar produtos piratas; furar fila; tentar subornar o guarda de trânsito para evitar multas; entre outras. As imagens da campanha foram inicialmente divulgadas nas redes sociais da CGU, em junho de 2013. Numa segunda etapa, em fevereiro de 2014, alcançou, em menos de uma semana, 7,6 milhões de usuários no Facebook. Buscando facilitar o acesso às imagens, a CGU disponibiliza nesse espaço todas as peças da campanha, em alta resolução, para entidades, órgãos ou cidadãos que queiram fazer uso do material, sem fins comerciais. Disponíveis em diversos tamanhos e formatos para impressão e uso digital, as peças podem ser utilizadas sem prévia autorização da CGU, desde que não haja modificação dos arquivos. Disponível em <http://www.cgu.gov.br/redes/index.asp>. Acesso em 09.03.2014

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via administrativa na busca do reconhecimento dos seus direitos. Vale dizer, o administrado não tem nem a situação ser examinada pela Administração Pública, com a possibilidade de revisão dos seus atos pelo Poder Judiciário, porque o seu benefício é indeferido prima facie que ao não admitir requerimentos de novos pescadores profissionais artesanais e com isso impede que recebam seguro-defeso. Por vias transversas, a Administração transfere uma atividade sua ao Poder Judiciário, já que este último estará obrigado examinar originariamente a lide em razão de a porta administrativa se encontrar fechada.

79. Por sua vez, o art. 5º, XIII da CF/88 assegura o seguinte direito fundamental: “É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”.

80. De acordo com os preceitos acima, somente é lícito o exercício comercial da atividade pesqueira se a pessoa possuir a referida licença.

81. Especificamente em relação à atividade pesqueira, o legislador ordinário possibilitou o seu exercício apenas àqueles previamente inscritos no Registro Geral da Atividade Pesqueira – RGP, detentores de licença, permissão, concessão, autorização ou registro expedido pelo órgão competente.

82. Assim, considerando que a atividade pesqueira somente poderá ser exercida por quem estiver devidamente licenciado e registrado no RGP, a suspensão de novos registros e emissão de novas licenças, além de ferir o direito de petição que tem os seus prováveis beneficiários, constitui, de forma oblíqua, vedação ao labor de diversos cidadãos que exercem tal atividade para sua subsistência. Ao obstar a emissão de licenças inicial, por prazo determinado, a Administração, por via indireta, impede que novos pescadores exerçam, de maneira lícita, o exercício da atividade pesqueira a que fazem jus, colocando-os a margem do sistema sujeito as sanções administrativas/penais.

83. Ademais, a aludida suspensão também constitui óbice ao recebimento do seguro-desemprego por profissionais da pesca artesanal, visto que, havendo a necessidade de inscrição no RGP pelo prazo mínimo de um ano, a referida medida finda por ultimar severos prejuízos a quem depende do benefício para sua subsistência, fulminando cabalmente o direito social constante do artigo 7º, II do Texto Maior.

84. Atento à gravidade da situação, não se mostra iterativo lembrar que a pesca artesanal é atividade exercida por cidadãos que compõem a parcela mais humilde da sociedade. O benefício em questão tem relevante papel de garantir sua subsistência dessas pessoas no período em que estão proibidas de pescar, ou seja, de exercer a atividade que garante seu sustento, por ato do Poder Público. Impossibilitá-las de usufruir o benefício por suspensão do registro em razão de falha do mecanismo estatal significa não somente prejudicar a sua existência minimante digna no período do defeso, bem como frustra a finalidade do seguro-desemprego (preservação das espécies), já que, para sobreviver, vão precisar desrespeitar o defeso ou, então, procurar outra atividade.

85. Se não bastasse tudo isso, a medida violou o princípio da proporcionalidade. Segundo Luis Roberto Barroso,

“O princípio da razoabilidade é um mecanismo de controle da discricionariedade legislativa e administrativa. Ele permite ao Judiciário invalidar atos legislativos ou atos administrativos quando: (a) não haja relação de adequação entre o fim visado e o meio

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empregado; (b) a medida não seja exigível ou necessária, havendo meio alternativo para chagar ao mesmo resultado com menor ônus a um direito individual; (c) não haja proporcionalidade em sentido estrito, ou seja, o que se perde com a medida é de maior relevo do que aquilo que se ganha”34.

86. Embora seja adequada, a medida não passa pelo princípio da exigibilidade, pois se ela teve por objeto de coibir supostas fraudes, deveria ter aumentado à fiscalização (o que não fez) e não simplesmente proibido os novos.

87. Em resumo, a União não pode mais suspender o registro inicial/revalidação do RGP no Estado de Sergipe, devendo adotar outras vias. É claro que isto não impede de fazer auditorias/fiscalizações nos seus cadastros a fim de verificar se as pessoas cadastradas se enquadram nos requisitos legais sem que proibir novas pessoas.

2.3.3. A ausência de observância pela Administração envolvida, na emissão das carteiras de pescador, de um prazo razoável para apreciação dos requerimentos que lhes são propostos, ocasionando aos administrados prejuízo maior em razão da não percepção do seguro-defeso pelo descumprimento de requisito necessário a sua concessão;

88. Conquanto esse registro atualizado de pescador no MPA figure inarredável requisito à concessão do seguro-defeso, é relevante consignar que a percepção do referido benefício, todavia, é matéria de competência exclusiva do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), nos termos da legislação supra.

89. Em relação ao Ministério da Pesca e Aquicultura, alega a parte autora que foram protocolados vários pedidos de registro inicial de RGP pelos pescadores da Colônia Z-19, em meados de 2010, tendo tão somente sido entregues as respectivas carteiras de pescador a partir de abril de 2012, conforme documento constante de f. 46/48.

90. Não bastasse o atraso na entrega, o problema maior foi de que a União fixou um prazo decadencial não previsto em lei 35 que, na prática, acarreta na esfera administrativa a perda do direito ao recebimento do seguro-defeso quando o pescador artesanal recebe a sua licença de pesca após o prazo para requerer o benefício (vide item 45 ).

91. Por conta disso, como apenas após o período do defeso pleiteado é que esses pescadores receberam suas carteiras, ausente assim um dos requisitos necessários à concessão do seguro-defeso, o Ministério do Trabalho e Emprego denegou os requerimentos então apresentados.

92. Embora a União suscite, em sua defesa, que os pescadores supostamente lesados, na verdade, sequer protocolaram requerimento administrativo de seu benefício, com exceção daqueles constantes do ofício 1325/2012 (f. 78/79), visualizo, a partir das provas coligidas aos autos, que o fato ora controvertido delineou-se sob outra perspectiva.

93. Consoante os documentos de f. 110/112, é manifesto que os protocolos de RGP registrados no MPA em 2010 apenas tiveram suas carteiras disponíveis para entrega aos respectivos pescadores em 2012. Semelhante conclusão torna-se indene de

34 Barroso, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. Ed: Saraiva, 2006, 6ª ed., pg. 245. 35 Não vou fazer juízo de valor acerca da legalidade em si porque não é objeto do pedido.

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qualquer dúvida sobretudo após a percepção, em audiência, de alguns depoimentos cujos excertos seguem abaixo transcritos:

1) Depoimento de José Luís dos Santos (Presidente da Colônia Z-19): “de 2010 para cá, deu muito trabalho (...) até a chegada de Cristiane, foi ruim a coisa (...) porque não recebia a documentação.” “(...) Passaram dois anos sem chegarem as carteiras. Chegava bem pouquinho, mas com dois anos começou a chegar mais um pouquinho.” “(...) O Superintendente travou a entrega das carteiras e eu fui lá umas 05 (cinco) ou 06 (seis) vezes e ele disse que não entregava porque não estava pronto e aqueles documentos ficaram arquivados lá por muito tempo. Os documentos estavam arquivados desde 2010.” 2) Depoimento de Misael Tavares de Oliveira (servidor do MPA): “Na prática, há pessoas que deram entrada em 2010 e só foram receber em 2012. Chegavam caixas e mais caixas lá. Os presidentes levavam tudo em caixa e nem dava nem tempo de averiguar se a documentação estava toda correta ou não.” “O requerimentos de pesca poderiam ser feitos das duas formas: pelo pescador, diretamente ou por meio dos representantes das Colônias.” “Confirma que as datas constantes do documento acostado à f. 110/112 são as datas dos protocolos (08:25).” 3) Depoimento de Gerson Teles de Menezes Neto (servidor do MPA): “Em 2010, alguns processos estavam com pendências e não foram notificados todos no prazo certo e ocorreu que, muitos processos ficaram lá parados por muitos meses, até anos paralisados por falha interna.” “Confirma que as datas de f. 110/112 correspondem às datas dos protocolos de registros de pesca – todos de 2010.”

94. Assim, em virtude do não recebimento dessas carteiras de pesca em época anterior ao defeso de 2011, muitos pescadores, conquanto houvessem protocolado seus registros no MPA com a antecedência mínima de 01 ano do defeso pretendido, não conseguiram efetuar o requerimento de seus benefícios de seguro-desemprego perante o MTE.

95. Os excertos abaixo, extraídos da prova colhida em audiência, são esclarecedores:

1) Depoimento de Nadja Vieira Lima de Oliveira (servidora do MTE): “Em 2010, alguns pescadores não deram entrada no seguro-desemprego por falta da documentação. Faltavam a carteira de pesca, em sua maioria, e em outros casos, o pagamento de contribuições.” “Muitos pescadores disseram que deram entrada na carteira de pesca mais ainda não tinham recebido.” “A orientação do Ministério do Trabalho é de que a certidão só pode ser utilizada tão somente para correção de algum dado na carteira de pesca.” “Nenhum outro documento substitua a carteira de pesca. Eles deveriam regularizar a situação para depois solicitarem o seguro-defeso.” “Quem não tinha a carteira era orientado a trazer a carteira até o último dia do defeso. A pessoa ficava sem dar entrada naquele dia.” “Afirma que o MTE recebeu as declarações só em 2008 e 2009. Só em 2010 foi que não receberam mais as declarações. Foi proibido de receber por conta de fraudes.” “Se houver alguma pendência no cadastramento dos pedidos, a pessoa tem mais um ano, ou seja, até o início do defeso seguinte para regularizar.” “Pessoa que protocolou seu RGP em 2010 e só recebeu a carteira em 2012, o MTE informa que administrativamente, ela não recebe mais. Há um ano entre um defeso e

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outro. Após o requerimento, você tem um ano para requerer aquele defeso. Então, de 2010 até o defeso seguinte, em 2011, ela teria direito, caso o pedido fosse protocolado. Então, quem protocolou pedido de seguro-defeso em 2012 com data de RGP de 2010, ficou sem receber.” “Depois do período do defeso, não há como protocolar mais os pedidos de seguro-defeso. Se o prazo de defeso reclamado já passou, não há como protocolar mais os pedidos de seguro-defeso.” “O sistema não aceita se o pescador leva documentação incompleta. Não gera nenhum protocolo. Hoje, nós estamos notificando este pescador que está com a documentação incompleta. A gente recepciona e notifica. À época não se fazia isso. Recomendava-se que ele retornasse com a documentação e, muitas vezes, pedia para ele me procurar pessoalmente. A pessoa que não tivesse documentação tinha até o último dia do defeso para requerer o benefício.” “Em 2010, essa orientação para regularizar a situação era feita verbalmente. Hoje, no ato da solicitação, se ele está com a documentação incompleta, a gente recolhe a documentação e ao mesmo tempo notifica que até o final do defeso ele apresente a documentação.” “Se o pescador é notificado e nada responde, o pedido é indeferido. O processo não fica parado.” 2) Depoimento de Marcos Antônio Almeida Lima (servidor do MTE): “Referente a 2010, na hora de fazer a triagem, teve alguns que não tinham recebido a carteirinha da RGP, que é um dos critérios para a concessão do seguro-defeso.” “Sabia que o MPA estava atrasando a entrega da carteira de pescadores.” “Quando não apresentavam a carteira, os requerentes eram orientados a procurar os presidentes das respectivas colônias ou a SEAP. Se faltasse a carteira, o requerimento não era protocolado, nessa época, porque não tinha como informar o número respectivo sem a carteira. O sistema precisa desses dados constantes da carteira de pesca. O sistema não habilita.” “Não se aceitava nenhum documento substitutivo disso. Só a carteira de pescador.”

96. Em 2010, muitos pescadores protocolaram seus pedidos de RGP perante o MPA com intuito de receber o benefício de seguro-desemprego referente ao período do defeso que se iniciaria em novembro de 2011.

97. Como as carteiras de pesca somente foram entregues em 2012 e o MTE, a partir de 2010, não aceitou mais declarações, certidões provisórias ou espelhos emitidos pelo MPA, tem-se, portanto, que, no ano de 2011, não houve o protocolamento dos pedidos de seguro-defeso no âmbito do MTE.

98. Conforme prova oral colhida em audiência, sem a licença de pesca não era nem possível acessar o sistema referente aos pedidos de seguro-defeso no âmbito do MTE. Isto porque a aludida carteira, como bem expunha Marcos Antônio Almeida Lima (servidor do MTE) em sua oitiva, continha um número 36 que liberava a habilitação do requerimento de seguro-defeso. Diante da ausência dessa documentação, não era gerado sequer algum tipo de protocolo na ocasião do requerimento do benefício. 37

99. Assim, à época, o servidor do MTE recomendava à parte interessada que retornasse até o último dia do defeso de 2011 com sua respectiva carteira de pesca a fim de que seu requerimento pudesse ser efetivamente implementado.

36 Instrução Normativa MPA Nº 6 DE 29/06/2012 , Art. 7º. A inscrição do interessado no RGP, para fins de emissão da Licença de Pescador Profissional, dar-se-á com a inserção dos dados do interessado no Sistema Informatizado do RGP - SisRGP, do MPA, que gerará uma numeração única. 37 Quanto a recusa em protocolar requerimento, não foi objeto de requerimento, cuja causa petendi basicamente girou na demora da concessão do registro e também na suspensão.

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100. Ademais, como bem aponta Nadja Vieira Lima de Oliveira (servidora do MTE) em seu pronunciamento, após transcorrido o período do defeso, as parcelas supostamente devidas e atreladas a um registro de pesca anterior já não poderiam ser concedidas administrativamente.

101. Desse modo, os pescadores, que protocolaram seus RGP´s em 2010 e respeitaram o período mínimo de 01 ano de antecedência ao defeso pretendido, não puderam comprovar um dos requisitos legais necessários à percepção do seguro-desemprego em 2011, visto que, somente após o prazo decadencial da Resolução CODEFAT n.º 657, de 16.12.2010, receberam suas carteiras de pesca, alguns somente em 2012.

102. Isso significa que os pescadores pertencentes ao conjunto acima apenas restaram prejudicados quanto à comprovação tempestiva desse requisito legal. Não importa inferir, como se poderia esperar a priori, que todos os pescadores enquadrados na situação apresentada teriam efetivamente direito ao seguro-defeso pleiteado, visto que além do RGP, deveriam eles igualmente comprovar os demais requisitos necessários ao recebimento da correspondente benesse.

103. É patente, portanto, que o MPA não atualizou os registros de pescador artesanal em tempo suficiente a engendrar o direito dos pescadores de requererem seu benefício de seguro-defeso.

104. Pela conexão estreita a esse fato, cumpre analisar, outrossim, a conduta da União, por meio do MTE, de não receber, ante a falta de apresentação de carteira de pesca, certidões provisórias, protocolos de recebimento, espelhos de RGP ou declarações do MPA, quando do protocolamento do respectivo pedido de seguro-defeso.

105. Partindo destas premissas, examino os pedidos da parte autora.

2.3.3.1. A ausência de emissão das carteiras de pescador e substituição pelos requerimentos de inscrição no Registro Geral da Atividade Pesqueira

106. Em tese, abrir-se-ia 3 (três) possibilidades: 1) dispensar o registro no RGP; 2) aceitar o requerimento de inscrição como se fosse o próprio registro, vale dizer, sem que o MPA tenha efetivamente deferido ou não a inscrição; 3) não dispensar.

107. Não se pode dispensar a inscrição no RGP porque se trata do principal requisito – qualidade de pescador artesanal – e também o princípio meio de comprovação, já que, conforme já afirmado, a qualificação de pescador artesanal é feita principalmente pelo MPA, sem prejuízo de uma verificação posterior pelo MTE por ocasião do requerimento de pagamento de seguro-defeso. A utilização do simples requerimento seria altamente prejudicial porque abriria ainda mais a porta para as fraudes.

108. Diante desta situação, o pescador artesanal não pode ficar completamente desguarnecido, devendo adotar uma solução intermediária que preserve os interesses em jogo.

109. Primeiramente, os órgãos responsáveis (MPA e MTA) devem dialogar mais entre si e não fazer jogo de empurra e empurra colocando os interessados no limbo.

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110. É premissa básica de que o pescador não pode ser prejudicado no seu direito se não deu causa ao fato nem mostrou desídia, uma vez que a comprovação do seu direito está pendente de verificação por outro órgão.

111. Conquanto esse registro atualizado de pescador no MPA figure inarredável requisito à concessão do seguro-defeso, é relevante consignar que a percepção do referido benefício, todavia, é matéria de competência exclusiva do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), nos termos da legislação supra.

112. O que MTE deve fazer se o MPA não entregar dentro do prazo?

113. Caso haja demora na concessão da licença, o órgão do MPA em Sergipe deverá informar ao órgão do MTE em Sergipe dentro de um tempo razoável 38 antes do início do seguro-defeso:

1) os que já tiveram a inscrição deferida, mas não a receberam o documento porque não se encontra disponível ou porque necessita de retificação dos dados por algum motivo. Somente abrange aquelas situações excepcionais de a Carteira não ter sido entregue porque não está pronta ou apresenta vícios que necessitam de retificação. Não alcança a situação daqueles que não foram retirar a carteira dentro do prazo, sendo devolvida ao MPA;

2) os que estiveram com o seu registro pendente de análise no órgão do MPA por qualquer motivo.

114. Para os que estão na 1ª situação, o órgão do MTE em Sergipe não pode indeferir sob o fundamento de que “não possui carteira/inscrição no RGP”, ainda que não a tenham recebido formalmente.

115. Para os que estão na 2ª situação, diante desta situação específica e excepcional, fica afastada para estes segurados que estiverem com o seu registro pendente a aplicação do art. 4º da Resolução CODEFAT n.º 657/2010, devendo a Administração revisar este ato normativo. Vale dizer, a Administração não vai poder indeferir sob o fundamento de que o pescador artesanal requereu fora do período do defeso.

Art. 4º O benefício do Seguro-Desemprego poderá ser requerido a partir do trigésimo dia que anteceder o início do defeso, até o seu final, não podendo ultrapassar o prazo de cento e oitenta dias, a contar da data de início do defeso. § 1º Quando houver prorrogação do defeso considerar-se-á a data final da prorrogação para requerer o benefício, desde que não ultrapasse o prazo de cento e oitenta dias, a contar da data de início do defeso. § 2º Quando o fim do defeso for antecipado pelo MMA e MPA, o prazo para Requerimento de que trata o caput será antecipado, observado o mesmo período.

116. A situação não é de dispensar/nem aceitar requerimento de inscrição do RGP em substituição a própria inscrição, mas impedir que o art. 4º da Resolução CODEFAT n.º 657/2010 produza os seus efeitos, desde que fique caracterizado a situação excepcional acima. Não estou reconhecendo a ilegalidade da referida norma,

38 Deixo de fixar, desde logo, porque, adotando uma postura participativa, entendo que a questão pode ser resolvida em sede de execução de sentença sem que implique a violação da coisa julgado. A fixação do prazo em decisão judicial poderia não atender os interesses envolvidos, bem assim os órgãos envolvidos não foram chamados a se manifestar sobre este ponto. É claro que a fixação deste prazo não vai ficar ao talante, mas será buscada de comum acordo e, não havendo, fixada pelo juízo segundo o prudente arbítrio do juiz, após a oitiva dos interessados.

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mas afastando os seus efeitos diante de uma situação excepcional e devidamente justificada.

117. Por sua vez, nem se alegue que a decisão é extra ou citra petita quando o magistrado defere menos do que pedido enquanto decorrência lógica do pedido.

118. Em lides que envolvem obrigação de fazer, o Juiz não se encontra vinculado incondicional ao pedido formulado na petição inicial. Neste passo, o art. 461 do CPC permite a possibilidade de substituição de uma medida por outra, sem que haja ofensa a coisa julgada visando atender o resultado prático equivalente. Isto porque o 461 do CPC flexibiliza o princípio da congruência ao permitir que o magistrado altere parcialmente a forma de cumprimento, visando assegurar o resultado prático equivalente. A substituição deve guiar pelo princípio da máxima efetividade, com o menor sacrifício dos réus.

119. A ratio subjacente do art. 461 do CPC é tentar resolver o problema submetido ao Poder Judiciário, desde que mantenha a sua vinculação a causa de pedir. Em outras palavras, o juiz pode adotar uma solução diversa da requerida pela parte, desde que esteja adstrito aos fatos da causa de pedir e com vistas a solucionar a crise de direito material que desaguou no litígio. Com efeito, a presente demanda tem por objeto resolver a questão do recebimento do seguro-defeso em razão da demora dos pescadores artesanais na obtenção de inscrição no RGP. No sentir deste magistrado, a solução adotada é a mais razoável para tentar resolver a questão da ausência de maior diálogo institucional dos órgãos envolvidos na tentativa de mitigar os problemas.

2.3.3.2. Prazo razoável para o órgão do MPA analisar os requerimentos de inscrição no RGP.

120. Além do direito geral de realizar requerimentos perante Administração Pública, tem os administrados, outrossim, direito à análise de todas suas postulações em prazo razoável, a fim de evitar o perecimento de direito a que se busca concretizar.

121. Esse direito decorre tanto de normas constitucionais (5º, inciso XXXIV c/c LXXVIII c/c princípio da eficiência do art. 37, caput), quanto de regras insertas na legislação infraconstitucional, especialmente aquelas contidas na Lei n. 9.784/99. Salvo prazo legal específico (art. 69 39), a Lei nº 9784/99, que regula o processo administrativo, prevê os seguintes prazos: 1) 30 dias para a Administração decidir de maneira fundamentada após a conclusão da instrução (art. 49); 2) 10 (dez) dias para recorrer (art. 59); 3) 5 (cinco) dias para a autoridade recorrida reconsiderar a sua decisão antes de remeter a autoridade superior (art. 56, § 1º); 4) 30 (trinta) dias para decidir o recurso contado a partir do recebimento dos autos pelo órgão competente (art. 59, § 1º), conforme artigos abaixo:

Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Administração tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação por igual período expressamente motivada. Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em face de razões de legalidade e de mérito.

39 Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei.

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§ 1º O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco dias, o encaminhará à autoridade superior. Art. 59. Salvo disposição legal específica, é de dez dias o prazo para interposição de recurso administrativo, contado a partir da ciência ou divulgação oficial da decisão recorrida. § 1º Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso administrativo deverá ser decidido no prazo máximo de trinta dias, a partir do recebimento dos autos pelo órgão competente.

122. Assim, a Administração Pública não somente tem o dever de responder fundamentadamente os requerimentos que lhes são dirigidos, seja no sentido de acolher o pedido que lhe fora formulado, seja no sentido de indeferi-lo, como também deve chegar a resposta ao conhecimento do interessado, sob pena de, em assim não sendo, tornar inócua a garantia constitucional.

123. Compulsado a legislação da concessão do RGP (IN MPA n.º 02/2011), não prevê um prazo para conclusão da instrução do processo administrativo e nem de decisão. Somente prevê um prazo recursal de 10 (dez) dias para recorrer.

Art. 18 O recurso administrativo do indeferimento dos pedidos de inscrição, concessão, revalidação ou substituição das Licenças de Pescador Profissional ou de Aprendiz de Pesca, bem como do ato de cancelamento ou suspensão deverá ser protocolizado, pelo interessado, na Unidade Administrativa do MPA que comunicou o indeferimento, no prazo máximo de 10 (dez) dias, contados após o recebimento da notificação por AR.

124. Se a legislação não prevê um prazo específico, aplica-se a Lei n.º 9.784/99 por se tratar de norma geral sobre processo administrativo. Salvo disposição mais favorável, é irrelevante a edição de qualquer ato normativo infralegal fixar um prazo inferior, uma vez que a Lei, sendo ato normativo superior, somente pode ser excepcionado por outro da mesma hierarquia.

125. É de se observar que o prazo de instrução – colher elementos para a decisão – é diferente do de decidir, sendo que a Lei n.º 9.784/99 não fixou um prazo máximo de instrução. Não obstante isto, não pode o processo ficar aguardando indefinidamente, sob pena de frustração da obtenção do RGP e de seus efeitos legais.

126. Analisando os demais dispositivos legais da IN MPA n.º 06, de 26.06.2012, verifica-se que impõe que o pedido de suspensão da inscrição no RGP por um período de 60 (sessenta) dias.

IN MPA n.º 06/12, Art. 16º. A inscrição no RGP e as Licenças de que trata esta Instrução Normativa deverão ser suspensas nos seguintes casos: IV - para averiguação, por até 60 (sessenta) dias, por determinação do DRPA.

127. No regime anterior (IN MPA n.º 02/2011 40), impôs ao pescador artesanal que o pedido de renovação seja feito com 60 (sessenta) dias de antecedência do prazo. 40 A grande diferença é que, no regime anterior, em relação ao pescador artesanal, existia dois registros: 1) primeiramente, a pessoa requer e obtém uma licença provisória e válida por um ano; 2) findo este prazo, deve requerer a renovação da sua licença – licença com maior prazo – em que, além de atender as condições da licença inicial, deve comprovar o efetivo exercício da atividade pesqueira (art. 9º e 10). Já, na IN MPA n.º 06, de 26.06.2012, “A Licença de Pescador Profissional será valida por período indeterminado” (art. 11)

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128. Adotando-se o parâmetro inicial de 90 (noventa) dias – 60 da suspensão + 30 dias em razão de uma intercorrência– e somado com o prazo de 30 (trinta) para decidir (art. 49 da Lei n.º 9.784), 10 (dez) dias para recorrer (art. 59), 5 (cinco) dias para a autoridade recorrida reconsiderar a sua decisão antes de remeter a autoridade superior (art. 56, § 1º), 30 (trinta) dias para decidir o recurso contado a partir do recebimento dos autos pelo órgão competente (art. 59, § 1º), chega-se a um prazo total de 165 (cento e sessenta e cinco) dias.

129. É claro que pode haver um cúmulo em razão do volume excepcional da demanda que deve ser observado em relação a medidas dos anos anteriores. Neste caso, será normal o atraso, contudo jamais pode prejudicar o direito do pescador artesanal.

2.3.4. Limites da tutela coletiva no presente.

130. É de se examinar os limites da tutela coletiva, considerando o pedido formulado de recebimento do seguro-defeso.

131. Ao lado das técnicas de aceleração do julgamento (súmula vinculante, repercussão geral, julgamentos de recursos repetitivos, a tutela coletiva tem sido um dos instrumentos para tentar debelar a crise numérica do Poder Judiciário. Não obstante a sua importância, a tutela coletiva não constitui uma resposta para qualquer problema, sendo necessário respeitar os seus limites.

132. Direitos individuais homogêneos, de acordo com o já transcrito dispositivo legal do CDC, são aqueles que decorrem de uma origem comum (art. 81, PU, III do CDC), contudo não dá a extensão desta cláusula.

CDC, Art. 81. omissis Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: (...) III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

133. A ação coletiva não constitui um cúmulo subjetivo de pretensões individuais (litisconsórcio) em que demandaria a análise individual do direito de cada um das pessoas, mas é voltada para examinar coletivamente – através de uma única demanda. É por isso que se fala em direito acidentalmente coletivo – questões comuns relativos a diversas pretensões individuais (o vínculo seria de afinidade) visando uma solução uniforme. Trata-se, portanto, de uma técnica processual voltada para a proteção de direitos individuais homogêneos, decorrentes da natureza comum.

“Em que pesem os argumentos utilizados pela corrente anterior, parece

evidente que a categoria chamada de “direitos individuais homogêneos” não é uma nova categoria de direitos subjetivos (ou materiais), mas sim uma forma processualmente distinta de tratar direitos inidviduais. Substancialmente, os direitos chamados “individualmente homogêneos” são direitos individuais enfeixados para tratamento coletivo. Olhados sob o prisma do direito material, permanecem como sua natureza própria e individual (crédito, propriedade etc.); o que os diferencia é a forma de tutela que o direito processual lhes atribui.

A categoria, portanto, se assenta no plano processual e não no material. Sua definição, portanto, há de ser buscada com base em critérios processuais, o que significa dizer que esses direitos estão associados, antes de tudo, à forma de tutela jurisdicional especial que lhes é dedicada. Na realidade, tratam-se de direitos individuais comuns (subjetivos ou potestativos, relativos ou absolutos, reais ou pessoais) que, por alguma, característica, devem merecer tratamento processual conjunto”

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134. Em outras palavras, o pólo aglutinador da tutela coletiva (e também o seu limite) é o predomínio de questões comuns sobre as questões individuais (caráter homogêneo dos direitos individuais) em que o Juiz consegue exercer um grau de cognição na definição do direito aplicável a espécie, sendo descabível examinar a situação jurídica individual de cada um dos substituídos 41. Neste sentido, transcrevo doutrina:

“A ação coletiva surge, por outro lado, em razão de uma particular relação entre

a matéria litigiosa e a coletividade que necessita da tutela para solver o litígio. Verifica-se, assim, que não é significativa, para esta classificação, a ‘estrutura subjetiva’ do processo, e sim, a ‘matéria litigiosa nele discutida’ 42.

“Nessa perspectiva, o pedido nas ações coletivas será sempre uma ‘tese

jurídica geral’ que beneficie, sem distinção, aos substituídos. As peculiaridades dos direitos individuais, se existirem, deverão ser atendidas em liquidação de sentença a ser procedida individual” 43.

“(...) uma ação coletiva para a defesa de direitos individuais homogêneos não

significa a simples soma das ações individuais. Às avessas, carcateriza-se a ação coletiva por interesse individuais homogêneos exatamente porque a pretensão do legitimado concentra-se acolhimento de uma tese jurídica geral, referente a determinados fatos, que pode aproveitar a muitas pessoas. O que é completamente diferente de apresentarem-se inúmeras pretensões singularizadas, especificamente verificadas em relação a cada um dos respectivos titulares do direito” 44

135. Sobre a natureza e função da ação coletiva para a defesa de direitos individuais homogêneos, destaco excerto abaixo:

“As sentenças proferidas no âmbito das ações coletivas para tutela de direitos individuais homogêneos, por força de expressa disposição do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90, art. 95), são condenatórias genéricas. Nelas não se especifica o valor da condenação nem a identidade dos titulares do direito subjetivo. A carga condenatória, por isso mesmo, é mais limitada do que a que decorre das demais sentenças condenatórias. Sobressai nelas a carga de declaração do dever de indenizar, transferindo-se para a ação de cumprimento a carga cognitiva relacionada com o direito individual de receber a indenização. Assim, a ação de cumprimento não se limita, como nas execuções comuns, à efetivação do pagamento. Nelas se promove, além da liquidação do valor se for o caso, o juízo sobre a titularidade do exeqüente em relação ao direito material, para somente então se passar aos atos propriamente executivos”. 45

136. No mesmo sentido, destaco a ementa abaixo: PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. AÇÃO COLETIVA. EXECUÇÃO INDIVIDUAL NO DOMICÍLIO DO AUTOR. FORO DIVERSO DO FORO DO PROCESSO DE CONHECIMENTO. POSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DAS

41 Nem seria recomendável porque se converteria um demanda coletiva em uma individual com litisconsórcio multitudinário, frustrando o escopo deste importante instrumento. 42 DIDIER JR, Fredie et al. Curso de Direito Processual Civil. Processo Coletivo. Salvador: Editora JUSPodivm, 2007, p. 34 43 Idem, p. 77 44 FILHO, Luiz Paulo da Silva. Ações coletivas: a tutela jurisdicional dos direitos individuais homogêneos. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 114. 45 EREsp 475566/PR, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/08/2004, DJ 13/09/2004, p. 168

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LEIS 8.078/90 E 7.347/85. CONFLITO CONHECIDO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL DO ESTADO DO AMAZONAS. 1. As ações coletivas lato sensu – ação civil pública ou ação coletiva ordinária – visam proteger o interesse público e buscar a realização dos objetivos da sociedade, tendo, como elementos essenciais de sua formação, o acesso à Justiça e a economia processual e, em segundo plano, mas não de somenos importância, a redução dos custos, a uniformização dos julgados e a segurança jurídica. 2. A sentença coletiva (condenação genérica, art. 95 do CDC), ao revés da sentença que é exarada em uma demanda individualizada de interesses (liquidez e certeza, art. 460 do CPC), unicamente determina que as vítimas de certo fato sejam indenizadas pelo seu agente, devendo, porém, ser ajuizadas demandas individuais a fim de se comprovar que realmente é vítima, que sofreu prejuízo e qual o seu valor. 3. O art. 98, I, do CDC permitiu expressamente que a liquidação e execução de sentença sejam feitas no domicílio do autor, em perfeita sintonia com o disposto no art. 101, I, do mesmo código, que tem como objetivo garantir o acesso à Justiça. 4. Não se pode determinar que os beneficiários de sentença coletiva sejam obrigados a liquidá-la e executá-la no foro em que a ação coletiva fora processada e julgada, sob pena de lhes inviabilizar a tutela dos direitos individuais, bem como congestionar o órgão jurisdicional. 5. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 2ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Amazonas/AM, o suscitado. 46

137. Conforme se verifica, a finalidade das ações coletivas para a defesa de interesses individuais homogêneos é obter uma condenação genérica reconhecendo a obrigação de indenizar (art. 95 do CDC), contudo tal dispositivo deve ser lido em conjunto com o disposto no art. 83 do CDC que admite “Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela”.

138. Basicamente, a pretensão deduzida na inicial é o recebimento do seguro-defeso em decorrência da não expedição, pelo MPA, da carteira de pescador dentro de um tempo hábil e também em razão da não aceitação, pelo MTE, da respectiva certidão provisória de registro de Pesca.

139. Ocorre que, o acolhimento da pretensão com base no fundamento alegado não assegura automaticamente a percepção do direito (seguro desemprego). Isto porque, no caso em exame, a par da matéria comum que está sendo questionada em sede de ação coletiva (a questão do registro de pesca e demora na concessão), o seguro defeso demanda outros requisitos que exigem uma avaliação individual de cada um dos substituídos.

140. De outro lado, a ação coletiva é voltada para aplicação do direito a partir de uma situação concreta, vale dizer, não pode prescindir da avaliação mínima do caso concreto. Neste diapasão, não será cabível para enunciar as regras aplicáveis (reiterar requisitos legais) à espécie se não houver relação com uma situação concreta comum às partes (a parte pode questionar um determinado entendimento sobre um requisito) que não precisa se referir necessariamente (especificamente) a uma pessoa concreta. Em

46 STJ, CC 96682/RJ, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/02/2010, DJe 23/03/2010.

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outras palavras, a ação coletiva não serve para tão-somente enunciar as regras regais aplicáveis ao direito, já que demanda o mínimo de referência ao caso concreto.

141. Assim, conceder o seguro-defeso, genericamente postulado em benefício dos respectivos pescadores, com base apenas na causa petendi descrita, exorbita o âmbito de proteção conferido em sede de tutela coletiva.

142. Nesse diapasão, tendo em vista que, in casu, a demanda coletiva jamais pode corresponder à concessão do benefício de seguro-defeso aos respectivos pescadores vinculados à Colônia Z-19, porquanto isso importe a análise de outros requisitos individuais imprescindíveis, vislumbro, contudo que, o ponto comum, capaz de atingir homogeneamente todos os prováveis beneficiários diz respeito, basicamente, a ausência de análise ou análise serôdia dos respectivos registros de Pesca pelo MPA e suas consequências, a possibilidade de suspensão de inscrição no RGP.

143. Isto não afasta o cabimento da tutela coletiva porque, ainda que não seja possível provimento genérico para, desde logo, determinar que pague determinado direito, é possível afastar eventual exigência tida por ilegal. Isto porque a tutela coletivamente prestada vincula as partes da demanda, especialmente a Administração Pública, que não poderá decidir de maneira diversa. “Nesta perspectiva, o pedido nas ações coletivas será sempre uma “tese jurídica geral” que beneficie, sem distinção, aos substituídos” (Fredie, pág . 77)

144. Conforme já explanado, a finalidade das ações coletivas para a defesa de interesses individuais homogêneos é obter uma condenação genérica reconhecendo a obrigação de indenizar (art. 95 do CDC), contudo tal dispositivo deve ser lido em conjunto com o disposto no art. 83 do CDC que admite “Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela”.

2.3.5. Alcance subjetivo

145. Quanto ao alcance subjetivo, entendo que: 1) como a autora litiga na qualidade de substituto processual em prol de toda uma categoria de servidores; 2) a sua legitimação tem por fundamento o art. 8º, III do CF/88 c/c o art. 1º e 2º da Lei n.º 11.699/08 47 , norma que visa facilitar o acesso coletivo; 3) no caso de decisão favorável, a substituição processual alcança todos os beneficiários situados no Estado de Sergipe que podem requerer a sua aplicação, independentemente de serem filiados a associação/sindicato, inclusive na época da propositura da demanda, de terem dado autorização individual para o ente coletivo representá-lo na fase de conhecimento e mesmo que os seus nomes não tenham sido incluídos na lista de substituídos juntados com a inicial.

47 Art. 1o As Colônias de Pescadores, as Federações Estaduais e a Confederação Nacional dos Pescadores ficam reconhecidas como órgãos de classe dos trabalhadores do setor artesanal da pesca, com forma e natureza jurídica próprias, obedecendo ao princípio da livre organização previsto no art. 8o da Constituição Federal. Art. 2o Cabe às Colônias, às Federações Estaduais e à Confederação Nacional dos Pescadores a defesa dos direitos e interesses da categoria, em juízo ou fora dele, dentro de sua jurisdição.

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TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. LEGITIMIDADE DE INTEGRANTE DA CATEGORIA NÃO FILIADO AO SINDICATO. RECONHECIMENTO. 1. Nos termos da Súmula 629/STF, as associações e sindicatos, na qualidade de substitutos processuais, têm legitimidade para a defesa dos interesses coletivos de toda a categoria que representam, sendo dispensável a relação nominal dos afiliados e suas respectivas autorizações. 2. Julgados das Turmas de Direito Público desta Corte comungam do entendimento no sentido de que o servidor público integrante da categoria beneficiada, desde que comprove essa condição, tem legitimidade para propor execução individual, ainda que não ostente a condição de filiado ou associado da entidade autora da ação de conhecimento. Precedentes: AgRg no REsp 1153359/GO, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 16/3/2010, DJe 12/4/2010; REsp 1270266/PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 6/12/2011, DJe 13/12/2011; e REsp 936.229/RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, julgado em 19/2/2009, DJe 16/3/2009. Agravo regimental improvido. 48

3. DISPOSITIVO

146. Diante do exposto:

a) Reconheço a inépcia parcial quanto a esta parcela do pedido: “habilitação e o pagamento do Seguro-Desemprego previsto na Lei n.º 10.779/03 dentro de tempo razoável, não superior a 60 dias” e, no demais,

b) julgo parcialmente procedente os pedidos com resolução de mérito (art. 269, I do CPC) para:

b.1) abster-se de promover suspensões gerais da análise dos pedidos de inscrição/revalidação no Registro Geral da Atividade Pesqueira;

b.2) fixar o prazo máximo para encerramento do requerimento de inscrição/validação no RGP de 165 (cento e sessenta e cinco) dias;

c) em caso de acúmulo excepcional do serviço que acarrete a demora da inscrição no RGP, o órgão do MPA em Sergipe deverá informar ao órgão do MTE em Sergipe num prazo razoável anterior ao início do seguro-defeso 49:

c.1) os que já tiveram a inscrição deferida, mas não a receberam o documento porque não se encontra disponível ou porque necessita de retificação dos dados por algum motivo. Somente abrange aquelas situações excepcionais de a Carteira não ter sido entregue porque não está pronta ou apresenta vícios que necessitam de retificação. Não alcança a situação daqueles que não foram retirar a carteira dentro do prazo, sendo devolvida ao MPA;

48 STJ,AgRg no AREsp 232468/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/10/2012, DJe 25/10/2012 49 Deixo de fixar, desde logo, porque, adotando uma postura participativa, entendo que a questão pode ser resolvida em sede de execução de sentença sem que implique a violação da coisa julgado. A fixação do prazo em decisão judicial poderia não atender os interesses envolvidos, bem assim os órgãos envolvidos não foram chamados a se manifestar sobre este ponto. É claro que a fixação deste prazo não vai ficar ao talante, mas será buscada de comum acordo e, não havendo, fixada pelo juízo segundo o prudente arbítrio do juiz, após a oitiva dos interessados.

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c.2) os que estiveram com o seu registro pendente de análise no órgão do MPA por qualquer motivo.

d) os que se enquadrarem no item “c.1”, o órgão do MTE em Sergipe não pode indeferir sob o fundamento de que “não possui carteira/inscrição no RGP”, ainda que não tenha recebido formalmente;

e) os que se enquadrarem no item “c.2”, diante desta situação específica e excepcional, fica afastada para estes segurados que estiverem com o seu registro pendente a aplicação do art. 4º da Resolução CODEFAT n.º 657/2010, devendo a Administração revisar este ato normativo. Vale dizer: a Administração não vai poder indeferir sob o fundamento de que o pescador artesanal requereu fora do período do defeso.

f) seja reaberto o prazo de pagamento seguro-defeso relativo à 2011/2012, no prazo de 60 dias, a todos os pescadores profissionais da pesca artesanal, situados no âmbito do Estado de Sergipe cujo o óbice seja à percepção do benefício seja a pendência da emissão da Carteira de Pescador Profissional Artesanal, em razão da suspensão impugnada, excluído os que já receberam por força de decisão judicial proferida em processo individual. A Administração deverá analisar a presença dos demais requisitos individuais a fim de verificar a sua presença ou não;

g) deverá afixar um aviso nos órgãos MPA e MPE em local visível as obrigações impostas nesta sentença a fim de que os beneficiários tenham conhecimento.

147. Visando assegurar a efetividade da jurisdição, fixo as seguintes multas diárias:

1) no valor de R$ 10,00 a ser pago a cada beneficiário, nos casos de ultrapassar o prazo no item “b.2”;

2) no valor de R$ 1.000,00 no caso do órgão MPA descumprir a ordem de comunicação ao MTE em Sergipe e será devido ao ente coletivo que abranger a localidade (item “c”);

3) no valor de R$ 1.000,00 a ser pago a cada beneficiário, nos casos do órgão do MTE decidir em desacordo com os itens “d” e “e” do dispositivo

148. Em razão da procedência substancial do pedido, reexamino a tutela antecipada com espeque no art. 273, § 4º do CPC, que fora indeferida na decisão de f. 54/57.

149. A verossimilhança da alegação, fundada em prova inequívoca, está mais do que presente, uma vez que foi reconhecido o direito vindicado em juízo de cognição exauriente. Quanto ao dano irreparável ou de difícil reparação, esse é evidente porque a repercussão da conduta empreendida pela ora ré causou restrições indevidas ao direito social de recebimento do seguro-defeso pelos pescadores ora prejudicados. Assim defiro para cumprir todos os itens do dispositivo acima, com exceção do item “f”.

150. Não obstante a prestação possua caráter alimentar, é certo que já passou muito tempo o período do referido defeso, de maneira que não atenderá o sentido de atender uma necessidade urgente. Diante do tempo já decorrido, a prestação possui mais o caráter patrimonial em razão da lesão sofrida. Ressalte-se que a própria União tem feito acordo nas ações individuais.

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151. Condeno a ré ao pagamento de custas e de honorários advocatícios, estes arbitrados no valor de R$ 6.000,00 (seis mil reais), considerando que a complexidade da causa e atuação do profissional. A atualização observará as regras do Manual de Cálculos da Justiça Federal.

152. Ressalte-se que, para fins de embargos de declaração, não pretendo modificar o meu entendimento, ainda que uma das partes venha a colacionar uma jurisprudência, doutrina e etc. diversa deste juízo, uma vez que a modalidade recursal cabível é o recurso de apelação. Advirto que a interposição de embargos de declaração pretendendo o rejulgamento da matéria, sem que estejam presentes quaisquer dos vícios (obscuridade, contradição, omissão ou para correção de erro material) que autoriza o manejo desta modalidade excepcional, ensejará a análise de eventual litigância de má-fé.

153. Sentença sujeita ao reexame necessário. Decorrido o prazo sem a interposição de recurso, remeter os autos ao TRF da 5ª Região.

Publicar. Registrar. Intimar.

Aracaju, 11 de março de 2014.

Fábio Cordeiro de Lima Juiz Federal da 6ª Vara/SE