526
1 ACADEMIA DE CULTURA DE COLÔNIA LEOPOLDINA - ACCL - COLÔNIA LEOPOLDINA -ALAGOAS- (COLETÂNEA) (VOLUME II) Colônia Leopoldina-AL 2015

COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

  • Upload
    dokien

  • View
    387

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

1

ACADEMIA DE CULTURA DE COLÔNIA LEOPOLDINA

- ACCL -

COLÔNIA LEOPOLDINA

-ALAGOAS-

(COLETÂNEA)

(VOLUME II)

Colônia Leopoldina-AL

2015

Page 2: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

2

Ficha catalográfica elaborada na Biblioteca Central da Universidade Federal da Paraíba.

C719 Colônia Leopoldina: Alagoas - Coletânea / José Francisco

de Melo Neto (organizador).- Colônia Leopoldina, AL:

Edição da ACCL, 2015.

v.2

1. Historiografia. 2. História e cultura - Colônia

Leopoldina-AL. 3. Política. I. Melo Neto, José Francisco de.

II. Academia de Cultura de Colônia Leopoldina.

CDU: 930.2

Page 3: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

3

APRESENTAÇÃO

A Academia de Cultura de Colônia Leopoldina - ACCL - convida você à leitura

desta coletânea, distribuída em 2 (dois) volumes, sobre a cidade de Colônia Leopoldina,

do Estado de Alagoas.

Esta coletânea tem por objetivo reunir, em bloco, livros que tratam de questões

dessa cidade, tentando facilitar a sua leitura pelos interessados de agora e do futuro.

A produção desses livros foi realizada em diferentes datas e, claro, por distintos

autores, tratando também de variadas temáticas - história, política e meio ambiente.

Mas, um fio condutor lhes fazem ligação - a cidade de Colônia Leopoldina. São livros

que se encontram fora do mercado, dificultando o acesso por aqueles que desejam

algum conhecimento sobre a cidade, para além dos dados estatísticos governamentais.

Aqui, você encontrará livros de caráter científico, editado por editoras

universitárias e com registros na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Há outros sem

essa dimensão, o que não diminui o mérito, pois retratam também esforços dos filhos da

cidade para registrarem elementos considerados importantes, por eles mesmos.

A Academia de Cultura de Colônia Leopoldina - ACCL - sente-se muito

honrada em poder compilar essas obras e oferecê-las à sociedade. Além de garantir uma

cópia do conjunto de livros, também a manterá em seu próprio acervo, podendo

socializá-la por meios eletrônicos. É possível que haja outros livros sobre a cidade. Em

havendo, a Academia aguarda uma comunicação.

A Academia agradece muito aos que se esforçam em pensar o seu lugar.

Boa leitura e aprecie o esforço desses autores e pesquisadores em retratarem a

sua região, à sua maneira e aos seus estilos literários, as terras dos antepassados negros,

índios e guerreiros cabanos.

José Francisco de Melo Neto

PRESIDENTE DA ACCL

(organizador da coletânea)

Page 4: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

4

VOLUME I

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

LIVRO 1 - 6

SILVA, Everaldo Araújo. A Colônia da princesa. Maceió, 1.Ed. Igasa, 1983.

LIVRO 2 - 165

MELO NETO, José Francisco de. Ação cultural no meio rural - uma experiência em

Colônia Leopoldina, Alagoas. Dissertação de mestrado em educação, na Universidade

de Brasília, 1984.

ISBN - 85-237-0199-0.

LIVRO 3 - 243

SANTOS, Ernane Santana. COLÔNIA LEOPOLDINA - as ruas de nossa cidade.

Gráfica - Q. Gráficas. Campus Universitário. Maceió, 2007.

LIVRO 4 - 375

COLÔNIA LEOPOLDINA - situações político-ambientais 1. PASSOS, Maria Betânia

Alves dos, GOMES, Marília Gabriela da C. e MELO NETO, José Francisco de (Org.).

Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa: 2010.

ISBN - 978-85-7745-906-3

LIVRO 5 - 475

COLÔNIA LEOPOLDINA - situações político-ambientais 2. SILVA, Andréa Marques,

VELOSO, Elizabete M. do N. G., ARAÚJO, Paulo Edson de e MELO NETO, José

Francisco de (org.). Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa: 2011.

ISBN - 978-85-7745-906-3

CONSIDERAÇÕES 578

Page 5: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

5

VOLUME II

580

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 582

LIVRO 6 - 585

AMORIM, José Junior. A trajetória do movimento estudantil leopoldinense.

GrafNobre: Colônia Leopoldina, 2011.

LIVRO 7 - 725

SANTOS, Ernane Santana. Incruzando espadas. Q. Gráficas. Campus Universitário,

Maceió: 2011.

ISBN - 978-85-60995-53-0

LIVRO 8 - 787

MELO NETO, José Francisco de. COLÔNIA LEOPOLDINA - 30 anos de lutas

populares por mudanças e cidadania (1983-2013). Editora da Universidade Federal da

Paraíba, João Pessoa: 2013.

ISBN - 978-85-66414-33-2

LIVRO 9 - 1024

COSTA, Georgia Lamenha Silva. Memórias vivas do povo leopoldinense. Gráfica

Inovação. Serinhaém: 2014.

CONSIDERAÇÕES 1105

Page 6: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

6

LIVRO 6

AMORIM, José Junior. A trajetória do movimento estudantil leopoldinense.

GrafNobre: Colônia Leopoldina, 2011.

Page 7: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

7

Page 8: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

8

Page 9: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

9

A Trajetória do Movimento Estudantil

Leopoldinense

Colônia Leopoldina – Alagoas

Edição do autor

2011

Page 10: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

10

Dedicatória

Dedico este trabalho com muitíssimo afeto a minha esposa Ivânia, pela sua fé e

esperança depositada nas realizações dos nossos projetos.

Agradeço a Deus, Jesus Cristo e Nossa Senhora, por nossa maravilhosa união. Obrigado

meu amor pela sua meiga docilidade, compreensão e sensibilidade, pois tais virtudes

conduziram-me com firmeza e, sobretudo, com imensa perseverança na realização desta obra.

E aos meus estimados sobrinhos Wellingta (Ruan e Raad), Wandson, Gabriela, Beatriz,

Neto e Anna Belle.

Júnior Amorim

Autor

Page 11: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

11

Page 12: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

12

Júnior Amorim

Nasceu no dia 28 de outubro de 1970, na cidade de Colônia Leopoldina – AL, filho de

José Amorim – Altilho – PE, 04/03/36 (falecido em 31/08/88) e de Marli Francisco Xavier –

Colônia Leopoldina – AL, 30/03/44) tem quatro irmãos: Franklin, Henrique, Washinigton e

Helga. Em 26 de julho de 2001 casou-se com Ivânia Maria Bezerra Silva. É funcionário público

na Prefeitura de Colônia Leopoldina – concursando desde 10/08/98 no cargo de assistente

administrativo. De 29 de agosto de 2001 a 31 de março de 2008 exerceu a função de

secretário-geral do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA).

Ainda na Prefeitura de Colônia Leopoldina, trabalhou nos cargos de diretor do Setor de

Promoções Culturais, Esportivais e Turísticas (SPCET) de 03 de fevereiro de 1997 a 31 de março

de 2000 – no governo do então prefeito Severiano Freitas (PMDB); de auxiliar bibliotecário na

Biblioteca Municipal Dr. Neidey Alcântara de Oliveira, de 03 de outubro de 1988 a 08 de julho

de 1991; chefe e preparador eleitoral no Cartório Eleitoral (PJCL), respectivamente, nos

períodos de 09 de julho de 1991 a 10 de outubro de 1994.

No Governo do Estado de Alagoas trabalhou como auxiliar de administração, na

Secretaria do Trabalho e Ação Social (SETAS), de julho de 1995 a janeiro de 1997. Em outras

áreas profissionais já atuou em diversas funções, sendo elas: recepcionista/caixa de

supermercados, vendedor de livros e outros. Júnior Amorim possui uma trajetória brilhante de

luta em defesa das conquistas da nossa gente. Já em 1982, aos 12 anos de idade, iniciou no

campo esportivo, presidindo a agremiação da Escolinha do Vasco da Gama. Também jogou na

Escolinha do Bahia, da saudosa professora Luiza Ferreira, em 1984/89; no Atlético CL, de

1990/93, no Flamengo (do Caboge), em 1996. Em 1993 presidiu a Liga Leopoldinense de

Esportes (LLE) e fundou o Campeonato Leopoldinense de Futebol, em 1996. Ainda na Liga foi

eleito com ênfase aos postes de presidente e vice-presidente, respectivamente, entre os

períodos de 15/02/97 a 15/02/99 e de 30/04/03 a 30/04/05.

Outra fase importante na carreira de Júnior Amorim, deu-se com a sua passagem no

movimento cultural, principalmente, na qualidade de membro do GRUCALE, nos anos de

1987/90. Da intensa atividade no tal movimento, foi para o cenário político em sua terra natal.

Registra-se, também, sua militância atuante no Partido dos Trabalhadores, no ano de 1990 e

seu retorno ao mesmo, em 1995. Com o engajamento no movimento estudantil leopoldinense,

onde exerceu o mandato de conselheiro fiscal (1990) e secretário-geral (1991),

respectivamente, no Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha. Foi assim que conquistou em

1992, ser eleito presidente da União Municipal dos Estudantes Leopoldinenses (UMEL),

obtendo naquele ano uma votação expressiva de 373 votos.

Page 13: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

13

Durante os dois anos à frente da UMEL, Júnior Amorim afirmou sua posição política de

trabalho em prol da educação, da cultura, do esporte e do lazer. De 1994 a 1996 foi

conselheiro fiscal da Sociedade Musical Prof. Sebastião Braga. Em julho de 1995 se desfiliou da

sigla do PT, e ingressou no PMDB, no mesmo ano, do qual tornou-se secretário geral par o

quadriênio de 1997/2001. Em 1998, Júnior Amorim disputou a eleição para o Conselho Tutelar.

A eleição reuniu dez concorrentes, e ele elegeu-se conselheiro tutelar com 164 votos em

quinto lugar. Júnior Amorim passou três anos (1998 a 2001) no Conselho Tutelar, onde

assumiu também com mérito a presidência do órgão por um ano. Neste mesmo ano, Júnior

Amorim destacou-se como coordenador municipal da candidatura do então governador Dr.

Manoel Gomes de Barros (Mano), do PMDB, ao Governo de Alagoas. Nas eleições municipais

de 01 de outubro de 2000, concorreu uma cadeira na Câmara Municipal de Vereadores pelo

PMDB, onde recebeu carinhosamente 97 votos. Infelizmente não alcançou o objetivo, mas

marcou o pleito com mensagens positivas e realistas. Em 2002, por seis meses, Júnior Amorim

lecionou no “Projeto de Educação Infantil” da ADECOMA, no Conjunto Mandacaru. Após sete

anos no PMDB, Júnior Amorim deu baixa na sua ficha partidária no dia 22 de novembro de

2002.

No dia 18/05/2003, em prol as lutas sindicais, Júnior Amorim presidiu a Comissão

Eleitoral de fundação do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Colônia Leopoldina

(SINSEPMCOL). Colaborando com a trincheira política do vereador Ricardo Brasilino – na época

presidente da Câmara, filia-se ao Partido Social Liberal (PSL). Nas eleições municipais de 2004,

Júnior Amorim apoiou com êxito as reeleições do prefeito Manuilson Andrade Santos (PSB), do

seu vice José Alves Caldas Júnior (PL) e do vereador Ricardo Brasilino (PSL). Já nas eleições de

2006, Júnior Amorim volta ao cenário político como coordenador municipal, desta vez da

candidatura do senador Teotônio Vilela Filho, do PSDB, que se elegeu em primeiro turno

governador do Estado de Alagoas. Depois de quatro anos no PSL, Júnior Amorim conclui seu

ciclo vitorioso, e filia-se ao Partido Trabalhista Nacional (PTN), em 24 de setembro de 2007 e

por questões de compromissos partidários se desliga do PTN no dia 05/05/2009.

De 03 de setembro de 2007 a 07 de outubro de 2008, trabalhou na função de leiturista

da GBS Engenharia Ltda., de Maceió – AL – empresa que presta serviços terceirizados a

Companhia Energética de Alagoas (CEAL). Na área política partidária, Júnior Amorim prestou

assessoria aos amigos vereadores Ricardo Brasilino, de Colônia Leopoldina, Dr. Oswaldinho

Gomes de Barros Filho, de Novo Lino e Moacir Mendes, de Sertãozinho de Baixo – Distrito de

Maraial – PE.

De 1o de abril de 2008 a 31 de dezembro de 2008, exerceu a chefia de gabinete do então

prefeito Manuilson Andrade Santos (PDT).

Page 14: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

14

No pleito municipal de 2008, Júnior Amorim ao lado do então prefeito Manuilson

Andrade Santos e Eulália Moraes i- candidata a prefeita que fora impugnada pela Justiça

Eleitoral – comemoram a vitória histórica da chapa formada por Cássio Alexandre (PDT),

prefeito, e Meilton Luna (DEM), vice-prefeito. Através da Portaria no 010, de 01 de janeiro de

2009, o prefeito Cássio Alexandre Reis de Amorim Urtiga (PDT) indica Júnior Amorim à chefia

de gabinete. No tocante a representatividade religiosa, Júnior Amorim atuou como tesoureiro

(2003) e presidente (2009), respectivamente, da Comissão da Festa do Glorioso Mártir São

Sebastião.

Nas eleições gerais de 03 e 31 de outubro de 2010, Júnior Amorim acompanhou as

orientações políticas das lideranças Manuilson Andrade Santos e Cássio Alexandre que juntos

somaram forças para as vitórias dos candidatos: Nelito Gomes de Barros, deputado estadual;

Maurício Quintella Lessa, deputado federal; Benedito de Lira e Renan Calheiros, senadores;

Teotônio Vilela Filho, governador; e Dilma Rousseff, presidenta do Brasil.

De 13 a 31 de maio de 2010, presidiu a Comissão Provisória Municipal de Previdência

(CMP). Essa comissão foi à responsável pela realização das eleições do Conselho Municipal de

Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo

(ECC) da Paróquia Nossa Senhora do Carmo.

Paralelamente a chefia de gabinete, o prefeito o nomeou no dia 24 de novembro de

2010 presidente do Conselho Municipal de Previdência e representante do município no

Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) de Murici/Secretaria de Estado do Meio

Ambiente e de Recursos Hídricos/SEMARH-AL. De maio a setembro do corrente ano lecionou

no Programa de Educação de Jovens e adultos (PROEJA) do Governo do Estado de Alagoas. A

convite de Wanessa Costa, primeira-dama do município, e presidente da Comissão Provisória

Municipal do Partido da República (PR), ingressa na fileira da citada sigla partidária como vice-

presidente em meados de setembro do fluente ano.

Page 15: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

15

Page 16: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

16

Apreciação

O ato de fazer uma apresentação no campo literário envolve responsabilidades do

apresentador e do apresentando, é a dualidade milenar que se estabelece revelando o poder

da criatividade intelectual, tornando o abstrato que é a ideia no concreto que é o real e

palpável com as formas e cores sublinhadas da satisfação interior em produzir um documento

onde estão bem próximos tudo que estava fragmentado em termos do pensamento.

Sinto-me muito à vontade em proceder esta apresentação pelo valor que este jovem

escritor sempre demonstrou pelas responsabilidades assumidas e bem concluídas, pelos

desafios que já encarou, pelo amor devotado a esta tão sofrida terra que nos viu nascer.

O encaminhamento e o desenvolvimento deste trabalho são uma narrativa dinâmica e

bem cadenciada dos fatos vivenciados como testemunha ocular desta fase do seu despertar

para os embates da vida. Observou e guardou todo acervo, e quão felizes irão por certo ficar

aqueles personagens que participaram dos eventos e das ocorrências, pois nossa memória

está documentada e viva para dar o exemplo às futuras gerações.

Parabéns Júnior Amorim, pela sua fidelidade aos seus princípios e ao seu patrimônio

cultural, que você teve a feliz iniciativa em doar, em transitar todas as sensações da guerra e

da paz, ao transitar pela difícil fase da adolescência e aqui, está se perpetuando nesta edição

do seu primeiro trabalho sócio-lítero cultural. Externo meu reconhecimento de público ao seu

valor e a sua capacidade.

Everaldo Araújo Silva

Escritor

Apreciação escrita em janeiro de 1996

Page 17: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

17

Prefácio

O ano de 2011 enseja a celebração de duas extraordinárias e significativas datas para a

classe estudantil leopoldinense: o vigésimo segundo ano de aniversário de instalação da

Comissão Pró-Grêmio Cenecista e o décimo da Comissão Pró-UMEL. Esta obra reúne as mais e

variadas gigantescas conquistas do nosso movimento estudantil, entre os períodos

compreendidos de setembro de 1989 a maio de 1997.

A ideia do movimento estudantil foi inserida pedagógica e politicamente no seio da

juventude leopoldinense, através do agrônomo e professor Rudson Sarmento Maia. Ganhando

espaço, a concepção aos poucos adquiriu adesões expressivas entre os educandos. Essa

corrente vitoriosa expandiu-se e surgiu a primeira safra dos líderes estudantis nas escolas do

município. Como, por exemplo, o saudoso Cláudio Luiz, Caetano Monteiro, Hamilton

Alexandre, Vitalino do Nascimento, José Machado, Romildo Laurentino, dentre outros.

Implantado o movimento estudantil leopoldinense, as metas foram sendo colocadas em

prática pelas mais distintas formas de atuação na comunidade escolar e em todos os

segmentos da sociedade leopoldinense, por meio do Jornal do Estudante, Congressos da UBES,

Campanhas para a fundação e eleições dos Grêmios Estudantis, Debates Estudantis, Eventos

Culturais, Torneios Escolares de Futsal, Congressos da UESA, Entrevistas, Campanhas em prol

da Biblioteca Pública, Campeonato Leopoldinense de Futsal, além de atos públicos em defesa

da política educacional de boa qualidade.

Com a fundação da UMEL, o movimento estudantil leopoldinense chegou ao seu ápice.

Logo na primeira eleição da sua presidência pelo voto direto e secreto em 1992, participaram

632 estudantes, a partir da 5a serie do ensino fundamental até o 3o ano do ensino médio, além

de ex-alunos. Durante aquele período, a UMEL assumiu definitivamente um papel relevante de

articulação na política local, destacando-se em inúmeras manifestações na constante e árdua

batalha em defesa do bem-estar dos munícipes.

Tenho plena convicção que este documentário traduz uma fantástica história destes

fatos, dessas ocorrências que retratam as minúsculas derrotas. Mas, por outro lado, mostra

claramente as maiúsculas e calorosas vitórias no eixo do sistema educacional.

Júnior Amorim

Autor

Page 18: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

18

Sumário

Capítulo I – 1989

O líder universitário

Chegada de Rudson a Colônia Leopoldina

O começo de uma luta

Congresso da UBES

Comissão Pró-Grêmio Cenecista

Compromisso com a cultura

Concurso de redação

Capítulo II 1990

Conexão estudantil

Eleições da presidência do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha

Caetano Monteiro unifica diretoria

O afastamento de Caetano Monteiro

Grêmio faz campanha em prol da biblioteca pública

Duas chapas agitam disputa da presidência do Grêmio Estudantil Cenecista Padre Francisco

O PCB e os líderes estudantis

Vitalino do Nascimento é eleito presidente do Grêmio Cenecista

Prefeito Zé de Melo prestigia os estudantes

I Festão do Estudante

Hamilton Alexandre participa do Congresso da UBES

O regresso de Caetano Monteiro

Capítulo III - 1991

VI Congresso da UESA

Diretoria da UESA visitam Colônia Leopoldina

Hamijlton Alexandre é eleito novo presidente do Grêmio Antônio Lins

Fundação do Grêmio Estudantil Aristheu de Andrade

Projeto Farmácia Escolar

GRUCALE faz doação de livros ao Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha

Uma jovem na presidência do Grêmio Aristheu de Andrade

Torneio Escolar de Futsal

Capítulo IV - 1992

Grêmio tem novos diretores

I Encontro Estadual de Grêmios Estudantis

Page 19: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

19

Presidente da UBES e diretores da UESA visitam Colônia Leopoldina

II Campeonato Leopoldinense de Futsal

Fundação da UMEL

Relação dos estudantes por escolas nas eleições da UMEL-1992

Votação dos candidatos a presidente da UMEL (Eleições – 1992)

A posse dos diretores da UMEL

Diretoria Geral da UMEL (Biênio 1992/94)

Capítulo V - 1993

Desportistas fundam Liga Leopoldinense de Esportes

Torneio São Sebastião de Futsal

Secretário-geral da UMEL renuncia

Diretoria da UMEL participa da cerimônia de instalação da UMJIL

UMEL entrega abaixo-assinado ao presidente da Câmara de Vereadores

UMEL organiza debate sobre educação na Escola Antônio Lins da Rocha

Uma sala

TELEUMEL

Vereadores respondem ao pronunciamento do ex-secretário de Administração

Duelo no futsal: UMEL, versus Atlético CL

Secretário da UMEL, Gilberto Sobreira assume à presidência do Grêmio Estudantil

Antônio Lins da Rocha

VII Congresso da UESA

Gincana escolar

UMEL versus Comercial Rocha

UMEL faz distribuição de donativos

Criado comitê para combater a miséria

O mapeamento da fome

Intercâmbio: GRUCALPE e UMEL

11 de agosto: Dia do Estudante

18 de agosto: aniversário da UMEL

Mandacaru: dois anos de ocupação, de luta e resistência

22 de agosto: Dia Nacional do Folclore

Ato público

Escritor Everaldo Araújo Silva ministra palestra sobre a Monarquia no Brasil

Fórum Criança e Adolescente

UMEL participa da elaboração do Plano Decenal de Educação

Page 20: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

20

UEL no III Campeonato Leopoldinense de Futsal

30o Congresso da UBES

Dia Nacional da Consciência Negra

2o Ano Contabilidade é campeão do Torneio Estudantil de Futsal

Capítulo VI - 1994

Fórum discute Municipalização da Saúde e a criação do Conselho Municipal de Saúde

UMEL organiza I Fórum Educação e Sociedade

Chico Amâncio participa da festa dos dez anos do PT de Colônia

I Encontro Regional da Juventude

UMEL instala Sala de Leitura Everaldo Araújo Silva

1a Corrida Junina de Pedestre

90 anos de Emancipação Política de Colônia Leopoldina

Relação Humana é tema de debate

UMEL conquista cadeira no Conselho Municipal de Saúde

I Campeonato Estudantil de Futsal

UMEL empata com Almoxarifado em partida amistosa

Eleições estudantis

Resultado por educandários – Eleição UMEL / 1994

Passeata marca aniversário do Mandacaru

I Torneio Veterano de Futsal

Erivan Soares empossa diretoria do Grêmio Cenecista

Transição de cargos: o novo presidente da UMEL, Genésio é empossado em cerimônia

bastante festiva

Diretoria da UMEL (Gestão: 1994/96)

Música é vida

O governo de Genésio

Capítulo VII – Depoimentos e cartas

Capítulo VIII - Entrevistas

Capítulo IX - 1996

Votação dos candidatos a presidente da UMEL (Eleições 1996)

Diretoria Geral da UMEL (Biênio: 1996/98)

Jornais estudantis

Caderno fotográfico

Anexos

Page 21: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

21

Capítulo I – 1989

O líder universitário

Em 1978, foi aprovado no vestibular da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o

estudante Rudson Sarmento Maia. No ano de 1979, ingressou nesta mesma universidade, no

curso de Agronomia. Ainda muito jovem, com uma visão ampla das dificuldades políticas e

socioeconômicas existentes no Brasil, principalmente no Estado de Alagoas, logo aderiu ao

movimento estudantil universitário.

De 1980 a 1984, participou de 02 (dois) congressos da União Nacional dos Estudantes

(UNE), nas capitais de São Paulo – SP e no Recife – PE. Neste mesmo período, elegeu-se

presidente do Diretório dos Estudantes de Agronomia. Tal fase do movimento foi considerada

como o “período da abertura democrática” em nosso país, pois este ainda se encontrava em

pleno regime de ditadura militar.

Rudson Sarmento Maia ficou registrado nos anais da história do movimento estudantil

alagoano, como um dos líderes mais atuantes e dinâmicos, nas reivindicações que fez em prol

da educação e da democracia no Brasil.

Chegada de Rudson a Colônia Leopoldina

Já formado em agronomia pela UFAL, veio residir em Colônia Leopoldina, em princípios

de 1989. Tendo grande conhecimento da política estudantil, no que diz respeito aos nossos

professores verificou o quadro educacional e social dos leopoldinenses.

Disposto a levar seu plano avante, tomou o professor Rudson uma importante decisão:

incentivar e implantar o movimento estudantil secundarista em nosso município. Após a

criação de tal movimento, teria este maior força junto à sociedade estudantil leopoldinense,

no que se refere à participação ativa nos destinos da educação, da política e da cultura em

geral.

O começo de uma luta

No mês de fevereiro de 1989, um grupo de estudantes incentivados por Rudson S. Maia,

Miguel Florêncio, Osvaldo Acioly, Adelmo Torres e Jair de Assis, todos descontentes com as

Page 22: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

22

péssimas condições do ensino leopoldinense, começaram articulando democraticamente a

criação do movimento estudantil secundarista leopoldinese.

Os pioneiros deste movimento foram os corajosos estudantes: Cláudio Luiz, Hamilton

Alexandre, Caetano Monteiro, Vitalino do Nascimento, Jaelson de Assis, Romildo Laurentino,

Jamacy Agustinho e José Machado. Apesar de pouca experiência, no princípio, aventuraram-se

na fundação do primeiro JORNAL DO ESTUDANTE.

Nesse mesmo ano, foram lançados dois exemplares do citado jornal estudantil. O mais

importante deles, o de número 02, relatava a necessidade da “democracia nas escolas

municipais”. Tal matéria dava ênfase a “Gestão Democrática” no ensino, através de uma

Emenda Popular sobre ELEIÇÕES DIRETAS PARA DIRETORES NAS ESCOLAS MUNICIPAIS, que se

pretendia ser incluída na Lei Orgânica do Município.

Congresso da UBES

A primeira vitória no âmbito nacional e a mais sensacional do movimento estudantil

leopoldinense, ocorreu em meados de setembro de 1989. Nesse mesmo período, os

estudantes Cláudio Luiz Jatobá de Santana e Caetano Monteiro de Lima, participaram do

Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), em São Paulo – SP. Em tal

evento, não adquiriram apenas grandes experiências em matérias de simpósios, como

também, trouxeram novas ideias para os nossos educandos.

O Congresso da UBES reuniu várias delegações, e Alagoas foi representada pela União

dos Estudantes Secundários de Alagoas (UESA). Com a volta de Cláudio Luiz e Caetano

Monteiro, de São Paulo, os estudantes leopoldinenses lhes depositaram grande confiança,

necessária aos objetivos do movimento ao mesmo tempo que, proporcionava novas

expectativas para o crescimento e fortalecimento das conquistas estudantis em nossa cidde.

Comissão Pró-Grêmio Cenecista

A ascendência do Congresso da UBES deu coragem e audácia aos estudantes Hamilton

Alexandre da Silva, Vitalino do Nascimento e José Machado da Silva Filho, os quais,

entusiasmados com o sucesso do movimento estudantil, encabeçaram a formação da

Comissão Pró-Grêmio Cenecista.

Isto ensejou ao Colégio Cenecista “Pe. Francisco” – CNEC, a honra e o privilégio de ser o

berço do nosso movimento. Essa longa caminhada motivou os estudantes a continuarem sua

jornada no terreno educacional.

Page 23: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

23

A comissão serviu como boa experiência, coroando-se de êxito, pois conseguiu alcançar

os objetivos que se propôs. Por outro lado, foi dela a responsabilidade direta pela ruptura do

centralismo educacional e cultural em nosso meio. Tal se deu, principalmente, após a

mobilização dos militantes estudantis no processo político educacional.

Compromisso com a cultura

A cultura sempre esteve presente na vida da juventude. Prova-nos isto o trabalho da

comissão, que de formação excepcional, presenteou ao povo leopoldinense, no início de

dezembro de 1989, no Clube UDAL, um espetáculo teatral que recebeu por título o Auto da

Compadecida.

Tal drama é de Ariano Vilar Suassuna (João Pessoa, Paraíba, 16 de junho de 1927) é um

dramaturgo, romancista e poeta brasileiro – a peça foi montada e dirigida pelo conceituado

professor Pedro Onofre, de Maceió – AL. O sucesso do espetáculo foi comprovado pelos

leopoldinenses após sua apresentação, sendo aplaudido e comentado por todos.

Concurso de redação

Em 12 de dezembro de 1989, promoveu a Comissão Pró-Grêmio Cenecista um concurso

literário de redação, que versava o tema “Ecologia”. O referido concurso reuniu 10 (dez)

estudantes inscritos, sendo o nível dos trabalhos por eles apresentados, de excelente

qualidade.

A comissão contou com a colaboração do Banco do Brasil agência local, que premiou os

dois vencedores, Florânice Santos de Andrade e Júnior Amorim com simbólicas cadernetas de

poupança, encerraram-se todas as atividades do ano de 1989 com solenes festividades. Tudo

isto deixou um saldo positivo e uma expectativa para o futuro.

Page 24: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

24

Capitulo II – 1990

Conexão estudantil

Deu-se em 05 de março de 1990, a conexão entre os líderes estudantis da Escola de 1o e

2o Graus Antônio L. da Rocha e do Colégio Cenecista “Pe. Francisco”. Através dessa união, os

líderes Hamilton Alexandre da Silva, Caetano Monteiro de Lima, Cláudio Luiz Jatobá de

Santana, Jamacy Agustinho da Silva Júnior, José Romildo Laurentino da Silva e Jaelson de Assis

da Silva; partiram juntos rumo a fundação histórica do Grêmio Estudantil Antônio da Rocha.

Essa mobilização resultou ainda na integração de novos militantes. Uniram-se aos

demais, entre outros, Jodivaldo José da Silva Dionízio, Poliana Maciel Loureiro, Ednaldo José da

Silva, Júnior Amorim, Reginaldo Silva Barros, Vilma Ferreira Barbosa e Fabiano Henrique

Borges Amâncio.

Eleições da presidência do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha

Formação das chapas – Em 18 de março de 1990, ocorreu um racha entre o grupo. Após

essa divisão, foram formadas três chapas para disputarem as eleições, compostas com os

seguintes integrantes: Chapa 1 – Caetano Monteiro de Lima (presidente) e Cláudio Luiz J. de

Santana (vice-presidente); Chapa 2 – Hamilton Alexandre da Silva (presidente) e Júnior Amorim

(vice-presidente); e a Chapa 3 – Fabiano H. B. Amâncio (presidente) e Reginaldo Silva Barros

(vice-presidente).

Debate estudantil – No Clube UDAL, dia 24 de março de 1990, realizou-se o primeiro

debate estudantil envolvendo os candidatos à presidência do grêmio. Neste grande

acontecimento político estudantil, os presidenciáveis apresentaram aos seus eleitores as

plataformas de governo.

A eleição – no dia três de abril de 1990, nas dependências da Escola Antônio L. da Rocha,

realizou-se com sucesso absoluto o pleito de fundação do grêmio estudantil.

De maneira democrática e popular, a Chapa 1 – Caetano Monteiro e Cláudio Luiz saiu

vitoriosa obtendo um total de 60% dos votos válidos. Este resultado foi bastante expressivo,

pois a Chapa 3 – Fabiano Amâncio e Reginaldo Barros recebeu em segundo lugar o percentual

de 28% dos votos. No entanto, o pior resultado foi o da Chapa 2 – Hamilton Alexandre e Júnior

Amorim que somou apenas 9% dos votos.

Page 25: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

25

Caetano Monteiro unifica diretoria

O presidente eleito Caetano Monteiro nomeou a diretoria unificando todas as correntes,

no dia 05 de abril de 1990. A primeira diretoria do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha

formou-se com os seguintes membros:

Executiva – Caetano Monteiro de Lima, Cláudio Luiz Jatobá de Santana, Hamilton

Alexandre da Silva, Jamacy Agustinho da Silva Júnior, Jaelson de Assis da Silva e José Romildo

Laurentino da Silva; Social – Fabiano Henrique Borges Amâncio, Jodivaldo José da Silva

Dionízio, Poliana Maciel Loureiro, Márcio Caetano da Silva e Vilma Ferreira Barbosa; Conselho

Fiscal – Ednaldo José da Silva e Júnior Amorim.

Grêmio faz campanha em prol da biblioteca pública

A 29 de abril de 1990, o presidente Caetano Monteiro, do Grêmio Estudantil Antônio L.

da Rocha encaminhou aos mestres ofícios circular, solicitando-lhes que enviassem listas dos

livros de suas respectivas disciplinas.

Estas listas fariam parte da documentação que seria entregue ao prefeito José Santana

de Melo, o Zé de Melo, reivindicando a ampliação do acervo da Biblioteca Pública Municipal

Dr. Neyder Alcântara de Oliveira. Infelizmente, os professores com medo de represálias,

exceção de alguns, não deram importância ao fato. Dessa forma, não foi apresentado o

referido projeto ao chefe do Poder Executivo.

O afastamento de Caetano Monteiro

Em 07 de maio de 1990, Caetano Monteiro afastou-se da presidência do grêmio. Este

episódio ficou marcado nos bastidores como: “o dia do golpe”. Pois comentava-se que tal fato,

teria partido da organização dos opositores Hamilton Alexandre e Júnior Amorim, secretário e

conselheiro fiscal respectivamente, da entidade estudantil.

Com a saída de Caetano Monteiro, assumiu o cargo de presidente interinamente na

mesma data, o então vice-presidente Cláudio Luiz.

Duas chapas agitam disputa da presidência do Grêmio Estudantil Cenecista Padre Francisco

Page 26: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

26

A briga pela presidência do Grêmio Estudantil Cenecista Pe. Francisco reuniu dois

excelentes grupos. De um lado, a Chapa 1 – Vitalino do Nascimento (presidente) e Jackeline P.

da Silva (vice-presidente), e do outro, a Chapa 2 – Antônio Marcos Alves (presidente) e José

Cícero da Silva (Veiga) (vice-presidente).

Com os blocos nas ruas, à medida que o pleito se aproximava, a disputa tornava-se cada

vez mais ferrenha.

O PCB e os líderes estudantis

Em Colônia Leopoldina, no dia 22 de maio de 1990, o Partido Comunista do Brasil (PCB),

foi regularizado pelos educadores Adelmo de Oliveira Torres, Rudson Sarmento Maia, Miguel

Florêncio da Silva Júnior e Jair de Assis da Silva, da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

(ECT).

A meta do PCB era de uma proposta de conscientização política inovadora, sobretudo

nos anseios da juventude leopoldinense. Em seus inúmeros encontros promovidos, se faziam

sempre presentes os jovens líderes estudantis Hamilton Alexandre, Jaelson de Assis, Romildo

Laurentino, Jamacy Agustinho, Caetano Monteiro e Cláudio Luiz. Nas reuniões internas do

partido, o simpatizante Hamilton Alexandre, encabeçava a pauta das “diretrizes” do

movimento estudantil. Uma parceria marcante entre os professores e os estudantes, fez com

que os “políticos tradicionais” ficassem preocupados com o fortalecimento de mais uma

esquerda (pois, na época, já contava com o PT) em nossa cidade.

Em um dos debates organizados por seus militantes no município, participaram os

membros da Executiva Regional do PCB, Régis Cavalcante e Anivaldo Miranda, além do

convidado especial Ronaldo Lessa (engenheiro civil, vereador de 1988 a 1992 pelo Partido

Socialista Brasileiro (PSB), em Maceió – AL.

Vitalino do Nascimento é eleito presidente do Grêmio Cenecista

No dia 08 de junho de 1990, com um comparecimento de 90% dos estudantes foi

realizada a eleição da presidência do Grêmio Estudantil Cenecista Pe. Francisco. A campanha

transcorreu em clima de grande agitação, mas sem nenhuma violência.

O diretor do colégio, Sr. Severino Cavalcante de Almeida (Tininho), garantiu o processo

democrático da juventude em busca dos seus ideais. Com o resultado da eleição, que sagrou

vitoriosa a Chapa 1 – Vitalino do Nascimento e Jackeline Pereira da Silva, os estudantes

tomaram as ruas da cidade comemorando o sucesso do movimento.

Page 27: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

27

Prefeito Zé de Melo prestigia os estudantes

O prefeito Zé de Melo tomou conhecimento da existência do Grêmio Estudantil Antônio

Lins da Rocha, em seu gabinete através do Jornal do Estudante.

Logo, enviou ao presidente Cláudio Luiz, o Of. no 126/PMCL, datado de 01/08/90,

segundo o qual, destacava o trabalho da entidade e colocava-se inteiramente a disposição

para uma eventual reunião com os líderes estudantis.

I Festão do Estudante

De 06 a 12 de agosto de 1990, os grêmios estudantis Antônio Lins da Rocha e Cenecista

padre Francisco, promoveram o glorioso I Gestão do Estudante. O evento reuniu um público

bastante diversificado, onde prestigiou exposições de livros, amostra de vídeos e teatro.

Outro ponto alto da festa foi os debates educacionais proferidos pelas professoras

Maria José P. Viana, do Partido dos Trabalhadores (PT – AL) e Tânia Maria Moura, da Central

Única dos Trabalhadores (CUT – AL).

Hamilton Alexandre participa do Congresso da UBES

O secretário Hamilton Alexandre da Silva, do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha,

representou os estudantes leopoldinenses no Congresso da UBES, realizado em agosto de

1990, em Vitória – ES.

Com o comparecimento de Hamilton, abriu-se para o nosso movimento, uma vitrine de

conquistas para outros futuros encontros desse porte. Após sua chegada do encontro nacional,

inicia-se uma nova filosofia de trabalho na base do movimento estudantil leopoldinense.

O regresso de Caetano Monteiro

No dia 10 de setembro de 1990, Cláudio Luiz transfere o cargo de presidente ao amigo

Caetano Monteiro. Ao assumir a presidência, Caetano Monteiro transportou toda

responsabilidade para a equipe.

No entanto, o importante nesta nova volta de Caetano Monteiro, é que ele se

conscientizou, inclusive de aceitar a participação na elaboração das metas do grêmio

estudantil.

Page 28: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

28

Page 29: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

29

Capítulo III – 1991

VI Congresso da UESA

Nos dias 08 de junho de 1991, foi realizado no Ginásio de Esportes do Centro

Educacional Antônio Gomes de Barros, em Maceió – AL, o VI Congresso da União dos

Estudantes Secundários de Alagoas (UESA). O evento reuniu 630 delegados, representando os

movimentos estudantis da capital e do interior. No segundo dia, os delegados votaram e

escolheram a Chapa 2 – “Unir Para Lutar” para dirigir os destinos da UESA. O estudante de

Arapiraca, Luciano Marcos Freitas, encabeçou à presidência da Chapa 2.

Através da articulação do secretário-geral Hamilton Alexandre, do Grêmio Estudantil

Antônio Lins da Rocha, com os líderes da capital, negociou-se para o movimento leopoldinense

um cargo na chapa “Unir Para Lutar”. Tal cargo seria preenchido por Hamilton Alexandre.

Entretanto, com sua ausência no congresso por motivos particulares, a caravana leopoldinense

indicou no posto de vice-presidente da Zona Norte da UESA, o ex-vice-presidente do Grêmio

Estudantil Lins da Rocha, Cláudio Luiz.

A diretoria da UESA ficou assim constituída: Luciano Marcos Freitas, Evânio José, João

Honorato, Sandra Ozana, Clayton Rosa, Jefferson Félix, Maria Margarida, Carlos Henrique,

Edvaldo Francisco, Maria José, Luciém Ferreira, Rosival da Silva, Adelardo Pedro, Flávia

Daniela, Valdir Mendonça, Ibson Leonardo, Cláudio Luiz J. de Santana, Alan Kardec, Josias

Santa e Maria Lúcia.

A comitiva de Colônia Leopoldina foi representada com muito brio neste congresso.

Fizeram parte da delegação Cláudio Luz, Caetano Monteiro, Vitalino do Nascimento, José

Machado, Kleber Lins dos Santos e Cícero Manoel da Silva.

Diretores da UESA visitam Colônia Leopoldina

No dia 02 de julho de 1991, no Clube UDAL, os diretores da UESA Luciano Marcos Freitas

(presidente), Evânio José (vice-presidente), João Honorato (secretário-geral) e Cláudio Luiz

(vice-presidente da Zona Norte) participaram de um fórum/debate com lideranças estudantis

locais.

Estiveram presentes no encontro Vitalino do Nascimento, Hamilton Alexandre, José

Machado, Kleber Lins dos Santos, Júnior Amorim, Josenildo Gomes, Sandra Soares, Alcineide

Maria, Valdir J. das Neves, Reginaldo Luiz, Maria Lucimar, Maria das Dores, Cosmo Marques,

Page 30: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

30

Nivaldo T. Filho, Chico Amâncio, Maria Conceição (Ceiça), Ana Cristina Veloso, Elvis Tenório,

Edson Ribeiro e Robson José.

Neste ato, foram avaliados planos de trabalhos, com o objetivo de: 1o) realizar eleição

no Grêmio Antônio Lins; e 2o) fundar o grêmio na Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade.

Hamilton Alexandre é eleito novo presidente do Grêmio Antônio Lins

No dia 28 de setembro de 1991, das 10:00 às 13:00h, no Clube UDAL, realizou-se a

eleição da presidência do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha. Registraram-se na eleição,

os seguintes estudantes: Josenildo Gomes, Érica Valéria, Nivaldo T. Filho, Sandra Soares,

Alcineide Maria, Cosmo Marques, Franklin Amorim, Elza Maria, Micheline Cordeiro, Maria

Lucimar, Jodivaldo Dionízio, Maria das Dores, Gilberto Sobreira, Ana Cristina Veloso, Elvis

Tenório, Júnior Amorim, José Marques, Chico Amâncio, Edson Ribeiro, Robson Cláudio, Maria

Conceição, Vilma Ferreira, Paulo André e Hamilton Alexandre.

Prestigiaram o pleito os educadores Rudson S. Maia e Arleide C. Lins. Antes da eleição,

abriu-se uma série de debates. Na ocasião, os referidos educadores ressaltaram o papel de

extrema importância que os estudantes através do grêmio, proporcionaram durante um ano e

cinco meses de atuação dentro e fora da comunidade escolar. Inscreveram-se duas chapas

para disputar a eleição, sendo elas: a Chapa 1 – encabeçada por Hamilton Alexandre e a Chapa

2 – representada por Chico Amâncio. Encerrada a votação, foi proclamada vencedora com 20

votos a Chapa 1.

Ao assumir o cargo de presidente, Hamilton Alexandre discursou agradecendo o apoio

de todos nesta nova fase do grêmio. Em seguida, nomeou a diretoria, composta com os

seguintes membros: presidente – Hamilton Alexandre da Silva; vice-presidente – Vilma Ferreira

Barbosa; secretário-geral – José Amorim Júnior; 2o secretário – Josenildo Gomes; 1o tesoureiro

– Nivaldo Temisto Filho; 2a tesouraria – Elza Maria; diretor de cultura – Jodivaldo Dionízio;

diretor de imprensa – Franklin André Amorim; diretora social – Micheline Cordeiro; diretor de

esportes – José Marques da S. Filho; oradora – Érica Valéria; suplentes – Alexandre Gilberto

Sobreira e Sandra Soares; conselho fiscal – Elvis Tenório, Paulo André e Alcineide Maria;

representante de turma – Robson Cláudio.

Fundação do Grêmio Estudantil Aristheu de Andrade

Page 31: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

31

No Centro Paroquial, dia 18 de outubro de 1991, com expressivo comparecimento de

mais de 200 estudantes, realizou-se o pleito de instituição do Grêmio Estudantil Aristheu de

Andrade. Para a referida eleição foram inscritas três chapas, compostas pelos seguintes

presidenciáveis: a Chapa 1 – José Carlos da Silva (o Federal), a Chapa 2 – Adriano Almeida

Costa (Didi) e na Chapa 3 – Kleber Lins dos Santos.

A convite dos mencionados candidatos, se fizeram presentes no ato do processo

eleitoral, com bastante satisfação o diretor Cláudio Luiz, da UESA, o presidente Hamilton

Alexandre e o secretário-geral Júnior Amorim, respectivamente, do Grêmio Estudantil Antônio

Lins da Rocha.

O pleito foi acirrado, com uma margem muito pequena de votos da primeira para a

segunda chapa, de forma que, surpreendentemente, venceu a Chapa 1 do alegre jovem José

Carlos da Silva (o Federal).

Projeto Farmácia Escolar

No dia 30 de outubro de 1991, o Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha, sob à

presidência de Hamilton Alexandre, instituiu e colocou em pleno funcionamento o pioneiro

Projeto Farmácia Escolar.

O projeto atendia casos de primeiros socorros, no qual beneficiou com prioridade

absoluta toda escola. Para execução do projeto, o grêmio estudantil firmou parceria com o

Poder Executivo local que fornecia os medicamentos.

GRUCALE faz doação de livros ao Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha

Em julho de 1986, promoveu-se com sucesso formidável uma gigantesca campanha de

arrecadações de obras-primas entre literárias e científicas, com a participação de vários

segmentos da sociedade leopoldinense. Tal campanha coletou 648 livros e 151 revistas para o

acervo da futura biblioteca pública municipal.

Através das mobilizações populares, a Câmara Municipal de Vereadores aprovou e o

prefeito José Luiz Lessa da Silva (Zé Lessa), sancionou a Lei no 559/86, de 16/12/86, criando a

Biblioteca Pública Municipal Dr. Neyder Alcântara de Oliveira, subordinada a administração do

serviço de Educação e Cultura. Logo após, com o êxito da campanha, notou-se claramente que

o momento era ideal para criar uma entidade firme que pudesse representar a comunidade

como um todo. Assim, inúmeras lideranças artísticas fundaram o GRUCALE – Grupo Cultural e

Artístico Leopoldinense, no dia 14 de junho de 1987.

Page 32: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

32

Quase dois anos de negociação, no dia 1o de agosto de 1988, uma comissão formada

pelo GRUCALE, pais e estudantes com 25 integrantes, além da presença do vereador Antônio J.

A. Maciel (Totinha), da coord. da Educação e Cultura, Maria Consuêlo Lessa Ferreira e do

advogado da prefeitura, Dr. Juarez R. Costa, reuniram-se em audiência com o prefeito José L.

Lessa da Silva (Zé Lessa) que se dizia: “O Leão da Educação”. Na oportunidade, foi entregue um

relatório constando 317 assinaturas que solicitava um desfecho sobre a construção do prédio

da referida biblioteca.

O prefeito, mais uma vez, não atendeu as reivindicações e, em forma de protesto o

GRUCALE instalou uma barraca com os livros na Praça D. Pedro II, em condições precárias,

chamando a atenção da população sobre o descaso do poder local na formação intelectual da

juventude leopoldinense.

Após este ato, o material foi colocado em um depósito, no qual permaneceu amontoado

por mais de três anos. Com o desativamento do GRUCALE, o seu ex-presidente Elias Marques

Pinheiro, doou os 500 livros restantes do acervo ao Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha,

no dia 04 de novembro de 1991.

Uma jovem na presidência do Grêmio Aristheu de Andrade

O presidente José Carlos da Silva (o Federal) ficou alguns dias à frente do Grêmio

Estudantil Aristheu de Andrade. Com sua desistência escolar, no dia 06 de novembro de 1991,

a jovem Simone Nolaço da Silva assumiu a presidência da entidade.

Muito inteligente e habilidosa, Simone Nolaço nomeou a diretoria com os seguintes

membros: Kleber Lins dos Santos, Jatahí Augusto da Silva, Rosilene Maria da Silva, Adriano

Almeida Costa, Silvanea Nolaço da Silva, Manoel Mário e Sideclei Vieira da Silva.

A equipe desempenhou um excelente trabalho durante os últimos meses, destacando-

se pela eficiência na posição grandiosa das conquistas estudantis.

Torneio Escolar de Futsal

Organizado exclusivamente pelo Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha em festejos

ao dia da Proclamação da República do Brasil, o Torneio Escolar de Futsal, ralizado no dia 15 de

novembro de 1991, na Quadra Municipal Mané Garrincha, reuniu a participação das turmas: 5a

Série “C”, 6a Série “B”, 7a Série “B”, 8a Série “A”, 8a Série “B”, 2o Ano Contabilidade e 3o Ano

Contabilidade “Tecnolandos 91”, da Esc. de 1o e 2o Graus Antônio L. da Rocha; 8a Série “Única”,

Page 33: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

33

da Esc. de 1o Grau Aristheu de Andrade e Cenecista “Misto”, do Colégio Cenecista “Pe.

Francisco”.

Para realizar o torneio, o grêmio estudantil contou com o patrocínio do candidato a

prefeito Júnior Luna (PDC), do Banco do Brasil, da Pastelaria Chinesa (do amigo Bada) e dos

supermercados Rocha e Econômico. O presidente Hamilton Alexandre, contou com o apoio

expressivo do diretor de Esportes do Grêmio E. Antônio L. da Rocha, José Marques da Silva

Filho e do professor Guido Torres, além dos árbitros Manoel Henrique de Luna Neto (Mané

Gordinho), Ligarião Benício Borges, Sebastião Batista dos Santos Filho (Tão) e do mesário

Jefferson Macêdo.

A esquadra do 3o Ano Contabilidade os “Tecnolandos 91” foi a grande campeã. O timão

formou com Zé Mário, Ernando, Carlinhos, Marcone, Júnior Amorim, Calixto, Juvenal e

Jodivaldo.

Page 34: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

34

Capítulo IV – 1992

Grêmio tem novos diretores

No dia 10 de fevereiro de 1992, devido a conclusão escolar (8a Série e 3o Ano

Contabilidade) dos diretores Vilma Ferreira Barbosa, Júnior Amorim e Jodivaldo Dionízio, o

presidente Hamilton Alexandre, do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha, nomeou para

representar os cargos de vice-presidente, secretária-geral e diretora de imprensa, da citada

entidade, os seguintes membros: José Edson Emídio de Souza, Maria das Graças da Silva e

Simone Nolaço da Silva.

I Encontro Estadual de Grêmios Estudantis

Nos dias 14 e 15 de março de 1992, no Espaço Cultural Salomão A. Barros de Lima, da

UFAL (antiga Reitoria), em Maceió – AL, organizou-se pela UESA o I Encontro Estadual de

Grêmios Estudantis, com um total de 70 lideranças estudantis alagoanas representando as

delegações de Colônia Leopoldina, Novo Lino, Xingó, Delmiro Gouveia, Olho D’Água das Flores,

Rio Largo, Arapiraca e Maceió.

O encontro contou ainda com a presença ilustre da presidente da UBES, Leila Márcia. A

palestra foi ministrada pelo presidente da UESA, Luciano Marcos. Na oportunidade do ato, o

presidente Hamilton Alexandre, do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha, que foi o

principal mentor do evento, em seu discurso solicitou mais ação dos companheiros na busca

de resgatar o movimento secundarista no Estado de Alagoas. “O verdadeiro papel do

movimento é conscientizar os estudantes politicamente na construção de uma sociedade mais

justa, mais igualitária, mais solidária e democrática”, acrescentou Hamilton.

A presidente da UBES, Leila Márcia, abordou em sua explanação a atuação da entidade

no Brasil, indicando inclusive novas bandeiras de lutas, como por exemplo, o combate ao

sistema capitalista. Confirmou, ainda, sua passagem em várias escolas da capital e dos

interiores, especialmente em Colônia Leopoldina.

Presidente da UBES e diretores da UESA visitam Colônia Leopoldina

Os grêmios estudantis Antônio Lins da Rocha e Cenecista Pe. Francisco, organizaram no

Clube UDAL, dia 17 de março de 1992, com um público superior a dois mil espectadores, um

amplo encontro com as presenças de Leila Márcia (presidente da UBES), Luciano Marcos,

Page 35: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

35

Evânio José, João Honorato e Cláudio Luiz (diretores da UESA). O evento teve como ilustre

apresentador o benemérito ex-secretário do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha, Júnior

Amorim.

Dando início aos discursos, o presidente Hamilton Alexandre, destacou a gloriosa e

importante presença histórica da presidente da UBES, Leila Márcia em nossa querida terra.

Segundo o presidente da UESA, Luciano Marcos, a lastimável crise que atravessa o movimento

secundarista é fruto dos problemas sociais, uma vez que, nossa educação não é priorizada no

Brasil. Para o secretário-geral da UESA, João Honorato, o centro da atenção do encontro e a

estrela principal da festa, chama-se Leila Márcia.

Já o vice-presidente da UESA, Evânio José, incentivou a partir de uma entidade

municipal. “Essa entidade tem que ser de caráter combativo, atuante, principalmente na

formação profissional, educacional, cultural e política da sociedade estudantil” declarou

Evânio.

A presidente da UBES, Leila Márcia, em sua oratória criticou as cobranças que a

sociedade brasileira recai sobre a juventude. Em seguida, Leila Márcia, chamou atenção

dizendo: “Na verdade nós não somos ‘adultos’ totalmente. Pois, uma juventude sem

educação, sem cultura, sem emprego, não pode ser tão pressionada desta forma”. Falou ainda

do movimento estudantil da década de 60, das conquistas dos grêmios livres em 1985, do

engajamento da mulher nas lutas sociais e da questão dos meninos de rua. Concluindo seu

pronunciamento, Leila Márcia ressaltou com ênfase: “Nós temos direitos, deveres e obrigações

de estarmos preocupados com o nosso país. Porque, acredito eu fielmente que num futuro

mais próximo, dentro de cada município, seremos nós que iremos governá-los”.

Fechando o evento, discursaram, também apontando as deploráveis condições do

ensino no município, o professor do Curso de Contabilidade, Rudson Sarmento Maia e o

presidente da Câmara M. de Vereadores, Dr. Marcos Ferreira.

Através dos grêmios estudantis Antônio Lins da Rocha e Cenecista Pe. Francisco,

promoveu-se o II Campeonato Leopoldinense de Futsal, na Quadra Municipal Mané Garrincha,

de 21 de abril a 23 de junho de 1992. O campeonato reuniu 10 clubes, e os participantes com

os elencos foram: Atlético – Edson, Joilson, Filho, Clebson, Lula e Rei (técnico Xumba); Asa

Branca – Bartó, Cada, Everaldo, Josimar, Marcone, Ernando, Sérgio, Fabiano Amâncio e Girico

(técnico PM Lucas); Escolinha – Rubens, Ivan, Toinho da Areia, Mané da Tomate, Agaci, Dorgiv

al, Ailton, Ricardo e Henrique (técnico Amerlindo Carlos); Independente – Lula Costa, Dorgi,

Beta Lopes, Carlos Souza, Roberval Davino, Robson, De Melo, Carlinhos, Lula, Claudemir e

Dodô (técnico Luís Francisco); Asa Júnior – Izaque, Elias Fedelis, Jodimarco, Antônio, Val, Eran,

Deminha, Dinho Cidecley, Mica, Silvânio e Albérico Valença (técnico Mané Gordinho); Colonial

Page 36: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

36

– Du da Destilaria, Marquinhos, Reginaldo Lima, Djaílson, Célio, Vavá, Coquinho, Praça,

Manoel, Marcelo Fagundes e Genivaldo (técnico Habides Borges); Milan – Didi, Samuel Nicácio,

Ral, Júnior Guerra, Zé Mário, Jeffersom Macêdo, Lando e Prexedes (técnico Paulo Roberto);

Esporte M.L.C. – Edilson Zequinha, Boiadeiro, Fernando, Zé Nilton, Genival, Gil de Tota, Zé

Barbosa e Iranildo (técnico José Renivaldo); Comercial Rocha – Neném, Galego, Maurício, Tuca,

Antônio, També, Val, Ednaldo e Cláudio (técnico Pacheco); Oficina S.H. – Alezir, Carlos, Valmir

Felipe, Mida, Josemir Barbosa, Nado, Evaldo, Manuel, Enock Pinheiro, Zé Mago, Sérgio e

Zoroastro (técnico José Pedro).

No cerimonial de abertura na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, o diácono

Antônio Severino fez a bênção dos jogadores e o atleta Júnior Guerra, do Milan, leu o

juramento do atleta. Após a leitura do juramento, o atleta mais velho da competição, Geraldo

da Telasa, do Atlético, teve a honra de acender a “Pira Olímpica”. No ato, o presidente do

Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha, Hamilton Alexandre, declarou oficialmente a

abertura do certame. E defronte a Câmara Municipal de Vereadores, todos prestigiaram o

hasteamento das bandeiras ao som do Hino Nacional, na voz do professor Guido Torres. Os

jogadores acompanhados pela Banda Marcial Sabino de Souza desfilaram ainda pelas

principais ruas da cidade com destino a quadra. Na abertura do torneio que envolve as dez

equipes, a garotinha Nathaly Borges com honradez deu o ponta pé inicial. O torneio foi

conquistado pelo bicho-papão Atlético que venceu o Asa Branca por 4 x 0.

Patrocinaram o certame, os pretensos candidatos a prefeito de Colônia Leopoldina, o

fornecedor de cana Júnior Luna, do PDC, e o industrial Zé Lessa, do PSC. Destaca-se, ainda, o

apoio expressivo da UESA, da Pastelaria Chinesa (do amigo Bada), do Banco do Brasil, do

Supermercado Rocha, de Nenes Club e do Clube UDAL. Fizeram parte da comissão

organizadora, os seguintes membros: Hamilton Alexandre, Vitalino do Nascimento, Manoel

José da Silva Filho, Paulo Edson Araújo, Vilma Ferreira, Carlinhos Claudino, Daniela Karlla,

Kleber Lins, Antônio Marcos, Júnior Amorim, Franklin Amorim, Jodivaldo Dionízio, Jatahí

Augusto e Cícero Manoel da Silva.

Decisões – No primeiro confronto do campeonato, dia 22 de abril, entre os clubes do

Atlético x Asa Branca, os colorados sobressaíram melhor em cima dos alviverdes com uma

vitória pelo placar de 6 x 4. No entanto, na final do 1o turno, dia 28 de maio, o Atlético

devolveu o resultado sobre o Asa Branca, com uma magnífica goleada de 7 x 3. O Asa Branca

fez a 1a fase e a semifinal do 2o turno de forma brilhante e arrebatadora. Na final do turno,

encontraram-se de novo os dois gigantes: Atlético e Asa Branca. Desta vez, o Asa Branca

venceu apertado por 1 x 0. No dia 23 de junho, os campeões dos dois turnos decidiram o

certame, mais de duas mil pessoas assistiram a grande final. Os clubes colocaram suas forças

Page 37: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

37

máximas em quadra, de um lado, o Asa Branca do viva-vira, e do outro, o Atlético, assustado

com o rendimento do adversário. O jogo foi acirrado, mas em três lances precisos, o Atlético

marcou 3 x 0, e apesar da pressão sustentou o resultado que garantiu a vitória e seu primeiro

título leopoldinense.

Premiação – A comissão organizadora realizou no dia 19 de julho, no Clube UDAL, das

20:00 às 22:00h, uma exuberante cerimônia de premiação aos destaques do II Campeonato

Leopoldinense de Futsal. De forma espetacular o evento comemorou o sucesso do

campeonato, onde na ocasião reuniu todas as equipes que nele participou. Em ordem,

destaca-se a classificação geral, o quadro dos 10 principais artilheiros e os destaques que

foram homenageados.

Classificação Geral – Atlético (campeão), Asa Branca (vice), Independente (3o), Escolinha

(4o), Milan (5o), Asa Júnior (6o), Colonial (7o), Esporte MLC (8o), Oficina SL (9o), e Comercial

Rocha (10o).

Artilheiros – Rei (Atl) 51 gols; Girico (AB) 35 gols; Clebson (Atl) 34 gols; Júnior Guerra

(Mil) 32 gols; Josimar (AB) 31 gols; De Melo (Ind) 30 gols; Dinho (AJr.) 27 gols; Filho (Atl) e Ral

(Mil) 24 gols; e Marcone (AB) 23 gols.

Destaques – Melhor jogador: Filho, do Atlético; Destaque: Girico, do Asa Branca; Goleiro

menos vazado: Bartó, do Asa Branca; Revelação: Cidecley, do Asa Júnior; Melhor goleiro:

Rubens, da Escolinha; Melhor capitão: Ironildo, do Esporte ML; Jogador disciplinado: Cláudio

da “Padaria”, do Comercial Rocha; Melhor técnico: Antônio de França Campos (Xumba), do

Atlético; e Melhor árbitro: Sebastião B. S. Filho (Tão).

Fundação da UMEL

As lideranças estudantis representadas nos grêmios estudantis Antônio Lins da Rocha,

Cenecista Pe. Francisco e Aristheu de Andrade revolucionaram a politica do município no

período que se estendeu de 27 de junho a 18 de agosto de 1992, no qual resultou com muito

brio de forma planejada e organizada, a fundação da União Municipal dos Estudantes

Leopoldinenses – UMEL.

Prévias da presidência – Numa ampla reunião realizada no dia 27/06/92, no Clube UDAL,

com participação de 20 lideranças estudantis, iniciou-se o processo de fundação da entidade

municipal. A coordenação dos trabalhos coube ao presidente Hamilton Alexandre, do Grêmio

Estudantil Antônio Lins da Rocha, que definiu a seguinte pauta: 1o) criação da sigla “UMEL”,

denominada por Hamilton com o nome de União Municipal dos Estudantes Leopoldinenses; e

2o) realizações de prévias com eleições, tendo em vista a escolha dos candidatos a presidente.

Page 38: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

38

Após um caloroso debate, realizaram-se as prévias em sistema de dois turnos, com os

candidatos que disputariam à presidência. O resultado constatado do 1o turno foi o seguinte:

Hamilton Alexandre e Júnior Amorim empatados com 07 (sete) votos cada; Paulo Edson Araújo

e Jatahí Augusto empatados também com 02 (dois) votos cada e Chico Amâncio e Vilma

Ferreira Barbosa receberam também 01 (um) cada. O 2o turno foi disputado pelos dois mais

votados. Registra-se, portanto, um fato importante neste turno. No caso, se Júnior Amorim

ficasse em segundo lugar, não concorreria ao cargo de presidente, ou seja, seria confirmado

como vice na chapa de Hamilton, mas, o placar geral foi favorável a Júnior Amorim que

recebeu 11 (onze) votos contra 09 (nove) de Hamilton Alexandre. Com este resultado, formou-

se duas fortíssimas chapas compostas com os seguintes candidatos: Chapa 1 – Hamilton

Alexandre (presidente) e Jodivaldo Dionízio (vice-presidente e a Chapa 2 – Júnior Amorim

(presidente) e Vilma Ferreira (vice-presidente).

Festa da Padroeira – Em comemoração a Festa da Padroeira Nossa Senhora do Carmo e

aos 88 anos de aniversário da Emancipação Política de Colônia Leopoldina, realizou-se através

da prefeitura municipal, com o empenho do prefeito Lourinaldo de Lima (Bilau), um gigantesco

Encontro de Bandas Fanfarras, o evento foi coordenado pelo professor Fabiano Amâncio, que

contou com o apoio expressivo dos candidatos Hamilton Alexandre e Jodivaldo Dionízio, da

Chapa 1, e Júnior Amorim e Vima Ferreira, da Chapa 2, na organização do desfile das bandas.

Dias das eleições estudantis – Os candidatos a presidente da UMEL e do Grêmio

Estudantil Cenecista juntamente com os diretores das escolas se reuniram no dia 31/07/92, às

20:00h, na Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade, onde definiram os critérios das eleições. O

calendário das eleições ficaram da seguinte forma: Dia 12/08 – Escola de 1o e 2o Graus Antônio

L. da Rocha; Dia 13/08 – Colégio Cenecista “Pe. Francisco” e eleição do Grêmio Cenecista,

composta pelas chapas: Chapa 1 – Antônio Marcos Alves (presidente) e Arnaldo Sérgio

Sobreira (vice-presidente); e a Chapa 2 – Paulo Edson Araújo (presidente) e Neide Maria S.

Elias (vice-presidente); Dia 14/08 – Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade (eleição e

apuração).

Transição da presidência – A 07 de agosto de 1997, o presidente Hamilton Alexandre, do

Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha, deixou o cargo e o transfere ao então vice-

presidente Edson Emídio. Com isso, Edson Emídio entra na galeria como o quarto diretor a

assumir à presidência do grêmio em membros de três anos de sua existência.

Debate estudantil – Em festejos ao Dia do Estudante, realizou-se no dia 11 de agosto de

1992, no Clube UDAL, onde reuniu mais de mil pessoas, com presença de estudantes,

professores, diretores, políticos, comerciantes, sindicalistas e religiosos, o maior debate

estudantil entre a Chapa 1 – Hamilton Alexandre e Jodivaldo Dionízio e a Chapa 2 – Júnior

Page 39: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

39

Amorim e Vilma Ferreira. Registra-se no encontro também as presenças do vice-presidente da

UESA, Evânio José, e a do vice-presidente da Zona Norte da UESA, Cláudio Luiz. Estes diretores

da UESA são articuladores da Chapa 1. A coordenação do evento coube ao artista Elias

Marques Pinheiro.

Eleições – A primeira série realizou-se no dia 12/08, na Escola de 1o e 2o Graus Antônio

Lins da Rocha, onde compareceu 360 (trezentos e sessenta) estudantes e 07 (sete) ex-

estudantes. A votação foi marcada por um clima muito agitado, pois defronte a escola a

bancada da Chapa 1 marcou presença expressiva com cartazes, bandeiras, faixas e uma

orquestra de frevo do início até o final do pleito. A segunda série realizou-se no dia 13/08, no

Colégio Cenecista “Pe. Francisco”, com participação de 101 (cento e um) estudantes e 13

(treze) ex-estudantes. Também neste pleito, com o mesmo número de estudantes, promoveu-

se a eleição do Grêmio Estudantil Cenecista, mais uma vez, os integrantes da Chapa 1 festejam

com tudo que tiveram direito.

A terceira série, sem dúvida, foi a mais emocionante, pois seria inicialmente no dia 14,

mas devido a greve justa dos profissionais da área da educação do Estado de Alagoas,

aconteceu no dia 18. Em plena continuidade da greve, os estudantes da Escola de 1o Grau

Aristheu de Andrade, num total de 151 (cento e cinquenta e um), ou seja, 50% do alunado

compareceram para o ato de votação livre e democrático. Um fato interessante aconteceu

neste pleito, quando a equipe da chapa 1 chegou defronte a escola, deparou-se com uma

gigantesca manifestação de estudantes acompanhados por uma batucada e bandeiras

vermelhas agitando em prol da chapa 2. Essa adesão virou o cenário político.

Apuração – Às 21:00h, no Clube UDAL, deu-se a apuração dos votos das eleições da

UMEL e do Grêmio Estudantil Cenecista, com presenças das seguintes autoridades: João Reis

de Figueiredo (diretor do Clube UDAL), Cláudio Luiz (diretor da UESA), Zilma Araújo Q. Silva

(diretora adjunta da Escola Aristheu de Andrade), Gisélia F. Sobreira, Maria Francisca Alves,

Josefa Araújo de S. Borges, Marineide Barros e Josefa F. da Silva (secretária do Colégio

Cenecista “Pe. Francisco”), José Rodrigues Torres (diretor do Curso de Contabilidade), Miguel

Florêncio da Silva Júnior, Fabiano Henrique Borges Amâncio e Reginaldo Silva Barros

(professores da Escola Antônio Lins da Rocha), além dos candidatos Hamilton Alexandre,

Jodivaldo Dionízio, Júnior Amorim e Vilma Ferreira, da UMEL, e os candidatos Antônio Marcos,

Arnaldo Sobreira, Paulo Edson Araújo e Neide Elias, do Grêmio Estudantil Cenecista. A mesa

diretora dos trabalhos foi constituída por José R. Torres, Zilma A. Q. Silva, Maria F. Alves,

Marineide Barros e Josefa F. da Silva. Após uma hora de apuração, a mesa diretora dos

trabalhos divulgou o resultado que elegeu para governar a UMEL a Chapa 1 – Júnior Amorim e

Vilma Ferreira, com 373 votos, e no Grêmio Estudantil Cenecista a Chapa 1 – Antônio Marcos

Page 40: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

40

Alves e Arnaldo Sérgio Sobreira, com 60 votos. Na comemoração da vitória, Júnior Amorim e

Vilma Ferreira foram carregados nos ombros pela multidão de estudantes até a Praça D. Pedro

II, onde discursaram em cima do “Trio Elétrico Energia” cedido pelo empresário e candidato a

prefeito Zé Lessa, onde agradeceram aos estudantes o magnífico apoio e confiança neles

depositados.

Relação dos estudantes por escolas nas eleições da UMEL - 1992

Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha – 5a Série “A”: Alexandro Paulinho, Jerri

Anderson, Roberto Ramos, Rosilene Leão, Marivalva Maria, Tatiana Rocha, Luíza Maria, José

Hélio, Alesângela Timóteo, Fabiola Sarmento, Iones Patrícia, Adriana Alves, Erotildes Ribeiro,

Ana Cláudia, Adélia Elvira, Schirley Maria, Nadja Maria, Valdilene Maria, Juciquesia Ferreira,

Robson Cláudio, Elizangela das Dores, Edna Maria, Edvânia Salustiano, Cristiana Feliciano,

Marinês Alves, Cristiane Maria, Adriane Vidal, José Alberto, Lenildo Carmo, Sandoval Vieira,

Josélia José e Petrúcio de Macena; 5a Série “B”: Edvânia Maria, Erivane Maria, Adriana

Quitéria, Maria Rosângela, Josial José, Joyny Cavalcante, Flávia Bernardo, Roseli Maria, Ângela

Maria, Maria José, Gilberto Ramos, Ana Célia, Ednaldo José, Rosilene Maria, Lídia, Célia

Cristina, Cícera Maria, Glaucineide José, Dauniene Maria, Lindalva Helena, Suely Silvestre,

Severino Ramos da Conceição, Cristina Maria, Reginaldo José, Laércio Minervino, Amaury

Vanderley, Laelson Francisco, Lúcia Machado, Cícera Rozonia, Marta Maria e Renata

Wanderley; 5a Série “C”: Birlene Maria, Alexsandro Vieira, Rejane Feijó, Maria José, Edson

Soares, Glete Bezerra, Josimar Nunes, Cícera de Amorim, Deyse Geanne, Gilvane Barros, Rute

Lauriano, Rildo de Oliveira, Maria das Dores, Cícera Quitéria, Adélia de Amorim, Ana Lúcia, José

Pereira, Givaldo Pereira, Givaldo Barros, Lucinaldo Bezerra e Vicente Duque; 6a “A”: Luciano

Macedo, Márcia Barbosa, Anerice Pereira, Maria Edilene, Tercélia Josefa, Claudenice da

Conceição, Mariana Valéria, Edineide da Silva, Jacione Nunes, José Edvaldo, Marli Maria,

Edileide Guiomar, Rita de Cássia, Cícera Patrícia, Maria Helena, Luciana da Conceição, Eva

Vitor, Arlete Sandra, Latécia Maria, Hidelbrando Júnior, Izonete Peixoto, Ivânia Ramos, Márcio

Fábio, Alesandro Timóteo, Wellington Tavares, Elisângela Inácio, Edivaneide Braz, Maria

Cristina, Edneide Leite. Maria Lucineide, Maria Genônima, Claudiégina Sucinade, Cícero Pedro,

Reginaldo Luiz e Paulo Henrique; 6a Série “B”: Alcineide Maria, Claudete Alves, Maria das

Neves, Claudiane Santos, Mévie Clécia, Marcione Maria, Ivanildo Emídio, Maria Aparecida,

Meclise Moreira, Maciana Claudino, Lucenir Maria, Karina Vanderley, Licínio de Souza,

Josemilson Demesio, Gernildo Ângelo, Lilian Veríssimo, Valderice Maria, Quitéria Maria, Maria

Lúcia, Erika Ribeiro, Juliana Bezerra, Ana Paula, Maria Lucimar, Luciana Vasconcelos, Edlene

Page 41: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

41

Félix, Maria das Dores, Almeri José, Leone Xavier, Eliane Maria, Ronilson Fabrício, Geovanice

Viana, Maria José, Lidiane Nunes, Marly Josefa e Áurea Lúcia; 7a Série “A”: Saulo de Tarso,

Luciano do Nascimento, José Carlos, Alysson Lessa. Juselino José, Marcos Antônio, Luis Carlos,

Ana Cristina, Adriana, Andréia Minerviso, Márcia Andrade, Quitéria Roseno, Milena Vanderley,

Maria Isabel, Luciege Maria, Maria de Fátima, Maria da Conceição, Alessandra Teixeira, Luciege

da Silva, Nádia Ramos, Janailde Barbosa, Daniella Amâncio, Shirley Ramos, Genivaldo Serafim,

José Edson, Roberto Luna, Alysson de França, Josivânia Nunes, Bráulio Cosmo, Lêda Pereira e

Severina Cristina; 8a Série “A”: Erivelton José, Gilsaneide de Amorim, Luciene Inês, Erica

Valéria, Lissandra de Oliveira, Vanessa Holanda, Ronilda Maise, Caroliny Barbosa, Sueley

Amorim, Cidecley Buarque, Jorge Claudino, Cícera Santos, Katiana Rejane, Anderly Bezerra,

Luciana Veloso e Ivaneide Cândido; 8a Série “B”: Francisco J. B. Amâncio, Josenilda Gessé,

Márcio Roberto, Josenilson Barros, Claudione Clemir, Geane Lins, Dalzineide Maria, Neide

Nara, Sérgio Roberto, Clemilda Maria, Valdeilda Alves, Maria J. Bispo, Sílvia Ventura, Roseane

de Brito, Rosilda Mendes, Jane Cleide, Júnior Guerra, Gilberto Sobreira, José Mariano, Jorge

Alexandre, Júnior Acioly, Wagner Lins, José Jorge, Edmilson Valentim, Ricardo Alexandre e

Cícero José; 1o Ano Contabilidade “A”: Edvane Emídio, Samuel Nicácio, Neila Nara, Elizângela

Luna, Rejane Rodrigues, Maria de Fátima, Iracilda Maria, Cláudia Rejane, Marilene Maria,

Jucelina Mendes, Edvânia Ribeiro, Simoneide Nolaço, Danilo Duque, Franklin Amorim, Júnior

Lamenha, Silvanea Nolaço, Micheline Cordeiro, Anna Fábia, Caetano Monteiro, Ivone Maria,

Cícero Cláudio, Antônio Marcelino, Érica Valéria, Simone Nolaço, Cristiana Maria, Edvânia

Moreira e Luciano José; 1o Ano Contabilidade “B”: Valderez Santana, Valdemir Agustinho,

Stelita Maria, Elza Maria Santana, Daniel Andrade, Antônio José, Nadilson João, Rivonaldo

Souza, Gilvania Lins, Miraneide Machado, Fernando José, Reginaldo Feitosa, Misael Araújo,

Genilson Ângelo, Ivanise Maria, Iricélia de Oliveira, Isoneide da Silva, Gilbernon Barros, Cileide

da Silva, Dacione Josefa, Elias Barreto, Daniel Amâncio, Júnior Duque, Cosmo Marques e Luis

Carlos; 2o Ano Contabilidade “A”: Manezinho Jandaia, Edson Emídio, Quitéria Maria, Macksoel

Bezerra, José Mário, Jafferson Macêdo, Alexandre Ricardo, Valdeneide Cordeiro, Edna Lúcia,

Célia Alexandre, José Lourival, Eduardo José, Maria Suely, José Manoel, Jovanice Marques,

Edilma Vidal, Maria Cícera, Maria José, Ubiraneide Raquel, Cátia Jatobá, Carlos da Silva,

Albertina Maria, Henrique Amorim, Nauderi Maria, José Carlos, Vanúzia Gonçalves e Clóvis

Alexandre; 3o Ano Contabilidade “A”: Ironildo de Oliveira, Gilson Barros, Jodimarco Luiz, Wiu

José, Claudivan José, Cláudio Rocha, Edson Ribeiro, Jailson Barros, Nilza Machado, Genildo

Pinto, Eliane Maria, Josefa Maria, Cláudia Simone, Valéria Viana, Suely Maria, Luciana do

Nascimento, Maria José, Zenilda Cavalcante, Elisângela Viana, Viviane Florêncio, Janecleide

Maria, Janaína Maria, Risoneide Santiago, Maria das Graças, Márcia Rocha, Valdir J. das Neves,

Page 42: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

42

Marineide Augusta, Edneide Valentim, Hamilton Alexandre, Maria Raquel, Carlos Ferreira e

José M. da S. Filho; Ex-alunos: Ana Veloso, Givaldo Amorim, Jodivaldo Dionízio, Cláudia Maria,

Gilson Ferreira, Júnior Amorim e Carlinhos Claudino.

Colégio Cenecista “Padre Francisco” (CNEC) – 5a Série “A”: Washington Araújo,

Rosângela Maria, Wanessa Cristina, Rquel Lins, Carlos Alberto, Adriana Maria, Juarez Demezio,

Daniela Maria, Maria Enilda, Wequiles Ferreira, Cláudio José, Roseane da Silva e Flávio

Loureiro; 6a Série “A”: Antônio Fernandes, Sérgio Roberto, Edna Soares, Geane Maria e

Wagner Costa; 7a Série “A”: Jeane Dionízio, Paula Cristina, Claudenice Freitas, Maria Aparecida,

Elivanilda Maria, Ricardo Carneiro, Rogério da Silva, Micheline Silene, Ana Lúcia, Edvaldo

Dionízio, Maria Quitéria, Cristiane Macêdo, Aparecida Moraes, Jaciane de Moraes, Anderson

Tôrres e Neide Elias; 1o Ano Magistério: Jailene Claudino, Gilvania Ribeiro, Eliane Lamenha,

Joselita Santana, Gecilda Maria, Dalva Antão, Sineide Fagundes, Valquíria Silva, Cosmo Soares,

José Severino, Anilda Sobreira, Marcos Antônio, Aparecida Claudino, Valmir Alves, Josiane

Demésio, Maria Sueleide, Edlene Rodrigues, Mônica Costa, Gilene Gomes, Valdinete Santana,

Elisa Balbino, Diaílson José, Berivaldo Macena, Claudieje Rocha e Antônio Marcos; 2o Ano

Magistério: Uélica Cordeiro, Machado Filho, Edlene Silva, Maria Josete, Maria de Fátima,

Arnaldo Sobreira, Maria Lúcia, Carlos José, Sheyla Sobreira, Mônica Valença, Marisa Soares,

Cleyde Maria, Vitalino do Nascimento, Rosemery Félix, Suely Ribeiro, Glaucione Vitor, Sandra

Helena, Adenilce Ana, Berildes Gomes, Maria do Carmo, Kátia Regina, Lenilda Maria, Jessandra

de Oliveira, Dulcenea Ferreira, Laudiene Maria e Joareline Pereira; 3o Ano Magistério: Maria de

Fátima, Sueli Maria, Edlene Mendonça, Ubirací Souza, Maria José, Solange Melo, Luciana

Moreira, Edna Natan, Marli Maria, Jovanice Soares, Josefa Veríssimo, Márcia Valéria, Eliane

Matos, Sílvia Carneiro, Telma Vanderley, Jucyrace Silva e Rosilene de Melo; Ex-alunos:

Carmelita Maria, Anselma Dias, Silvania Nicácio, Luciana Maria, Eraldo Balbino, Nárija Temisto,

Cícera Maria, Isaílda Ferreira, Ianes Ribeiro, Edileide S. das N. Caldas, Maria de Lourdes,

Geralnalva Barreto e Maria dos Anjos.

Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade – 5a Série “A”: Alexandro Gama, Netinho

Amâncio, Clara Fagundes, José Dalmário, Amada de Lima, Odilon Manoel, Ana Elvira, Bruno

César, Leonilda Alexandre, José Luciano, Apolônia Luna, Pedro Josafá, Mário Luna, Ecileide

Luiza, Edva Pereira, Kátia Arcanjo, Rejane Marques, Silvania Mendes, Renata Carneiro,

Rosileine Maria, Ednaldo Claudino, Sílvio Severino, Jadilton Rocha, Vânderson de Lima, Roberto

Carneiro, José Adelson Márcio Bezerra, João Paulo, Célia Maria, Auxiliadora Caldas, Luis Carlos,

Alexandra Rafael, Erodiana Fernanda e Gilvaneide Lamenha; 5a Série “B”: Lidalva Manuela,

Shirley Marques, Alcione Oliveira, Geisione Lins, Alciene Oliveira, Ângela Alves, Carlos Tadeu,

Waldegilson Lins, Cícero Antônio, Leonaldo Milton, Daniela Karlla, Dayse Aparecida, Edvânia

Page 43: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

43

Valentim, Anderson Alves, Edson Antônio, Antônio Carlos, Murilo Júnior, Aristides Júnior e

Maria José; 5a Série “C”: Glegson Tôrres, Juciana Alves, Maria Lúcia, Cledivânia Ferreira,

Edvania Alexandre, Sara Barreto, Márcio Félix, Maltides Barreto, Maria Rosicleide, Messias

Celestino, Sirleide da Conceição, Ubiranilda Raquel, e Marcelino da Silva; 6a Série “A”: Caetano

Júnior, André Vitor, Ângela Patrícia, Cristiane Marques, Joana Paula, Elizabeth Michele,

Bonifácio Neto, Tifani Brito, Maurízio Alves, Jenifer Maria, Edijane Valentim, Valéria da

Conceição, Verenalda Maria, Adalberto Henrique, Joselma Maria, Everton Calado, Juliano

Acioly, Lenildo Santos, Elaine Cristina, Lucélia Maria, Patrícia Augusta e Ivaneide Lopes; 6a Série

“B”: Graziella Carvalho, Márcia Ferreira, Josielma Maria, Cleovania Ferreira, Cristina Ferreira,

Maria Aparecida, Edilma Maria, Lourinaldo Alexandre, Claudivânia Maria, Antônio Edbrás, José

Roberto, José Cláudio, Juvenal Antônio, Thaís Seine, Joelma Cristina, Maria Verônica, Clemilson

Marques, Genildo de Lima, Tanama Gomes e Maria de Fátima; 7a Série “A”: Elton Fabrício,

Silônia Nolaço, Eleonôra Neves, Adriana Mendes, Ivanildo José, Gilvaniede Bezerra, Isys

Patrick, Adriana Lamenha, Flávia Maria, Sandra Maria, Edlene Rodrigues, Aristóteles Lamenha,

Elizanja Rodrigues, Eran Andrade, Rosilene Nunes, Janaína da Silva, Meílton Luna, Creuza Maria

e José Mário; 8a Série “A”: Ivânia Maria, Edgilda Barbosa, Rosilene Maria, Rosileide Leão,

Ubiranildes Raquel, Cícera de França, Maria da Glória, Sidicley Vieira, Márcio Araújo, Wilma

Cristina, Valquíria Nunes, Maria José, Andréa Marques, Cirleide Maria, Gabriele Brito, Lília de

Figueiredo, Ester Viviane, Anderlândia Barreto, Cícero Manoel e Jatahí Augusto.

Page 44: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

44

Votação dos candidatos a presidente da UMEL (Eleições – 1992)

Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha

Chapa Candidato Votação

Chapa 1 Hamilton Alexandre da Silva /

Jodivaldo J. da Silva Dionízio 121

Chapa 2 José Amorim Júnior /

Vilma Ferreira Barbosa 226

Nulos 18

Brancos 02

Total 367

Colégio Cenecista Padre Francisco

Chapa Candidato Votação

Chapa 1 Hamilton Alexandre da Silva /

Jodivaldo J. da Silva Dionízio 62

Chapa 2 José Amorim Júnior /

Vilma Ferreira Barbosa 50

Nulos 02

Total 114

Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade

Chapa Candidato Votação

Chapa 1 Hamilton Alexandre da Silva /

Jodivaldo J. da Silva Dionízio 49

Chapa 2 José Amorim Júnior /

Vilma Ferreira Barbosa 97

Nulos 03

Brancos 02

Total 151

Resultado Final das Eleições da UMEL

Chapa Candidato Votação

Page 45: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

45

Chapa 1 Hamilton Alexandre da Silva /

Jodivaldo J. da Silva Dionízio 232

Chapa 2 José Amorim Júnior /

Vilma Ferreira Barbosa 373

Nulos 23

Brancos 04

Total 632

Page 46: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

46

Grêmio Estudantil Cenecista Pe. Francisco

Chapa Candidato Votação

Chapa 1 Hamilton Alexandre da Silva /

Jodivaldo J. da Silva Dionízio 232

Chapa 2 José Amorim Júnior /

Vilma Ferreira Barbosa 373

Nulos 23

Brancos 04

Total 632

Grêmio Estudantil Cenecista Pe. Francisco

Chapa Candidato Votação

Chapa 1 Antônio Marcos Alves /

Arnaldo Sérgio Sobreira 60

Chapa 2 Paulo Edson Araújo /

Neide Maria Silva Elias 50

Nulos 01

Brancos 03

Total Geral 114

Page 47: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

47

A posse dos diretores da UMEL

No dia 16 de outubro de 1992, às 21:00h, nas dependências do Clube UDAL, realizou-se

solenemente a cerimônia de posse da primeira diretoria da União Municipal dos Estudantes

Leopoldinenses – UMEL. O ato de abertura foi inicialmente coordenado pelo professor Fabiano

Amâncio, após seu brilhante discurso, o professor ressaltou as presenças de vários convidados,

dentre eles a dos vereadores Severino Inácio da Rocha e Severiano Freitas; do recém-eleito

vice-prefeito, Zitinho Caldas; dos membros do Partido dos Trabalhadores (PT), Jair de Assis,

Adelmo Lins e Almery Rocha; do secretário de administração, Talmo Melo; da presidente do

PMDB, Luciana Freitas; dos educadores, Adelmo Torres, Miguel Florêncio e José Rodrigues

Torres; e das professoras, Edileide S. das N. Caldas e Norma S. L. Torres; dos deportistas,

Clebson S. de Luna, Edvaldo S. Santana, Reinaldo Soares dos Santos e Ernande Balbino; além

dos estudantes Nivaldo T. Filho, Valdir José das Neves, Daula M. G. Lúcio e Ivânia Maria

Bezerra Silva.

Dando prosseguimento a solenidade, o mestre convidou para fazer parte da mesa, os

eleitos Júnior Amorim e Vilma Ferreira, presidente e vice-presidente da UMEL,

respectivamente, e os diretores Paulo Edson de Araújo e José Carlos Claudino da Silva. Em um

discurso abrangente, Júnior Amorim destacou a luta de vários companheiros pela organização

do movimento estudantil em nosso município. E enfatizou: “Sempre o movimento estudantil

teve como meta a defesa de uma política inovadora na educação, na saúde, na cultural e no

social, onde assegure os direitos conquistados na Constituição Federal. Portanto, a fundação

da UMEL, veio premiar essa batalha, pois, nós temos muito que ainda aprender e, porque não

conquistarmos. Um dos nossos objetivos é intensificar um trabalho de agentes fiscalizadores

na política, dos poderes Executivo e Legislativo, buscando parceiros para o pleno cumprimento

dos direitos e deveres da população. Esses dois longos anos, a UMEL, com certeza será uma

referência do que um grupo organizado pode e deve contribuir para a transformação da vida

social de um povo, que seja no presente ou num futuro bem próximo”.

A vice-presidente Vilma Ferreira foi bastante direta: “O nosso desejo é lutar pelos

direitos principalmente dos estudantes e dos professores de uma forma mais globalizada, pois

o grupo tem uma corrente muito forte de união”. Após o pronunciamento da vice, a

presidência franqueou a palavra aos convidados, que inicialmente fez uso dela, Adelmo Lins

que foi candidato a prefeito do PT nas eleições de 1o de outubro passado. Adelmo Lins relatou

em seu discurso a trajetória de luta da esquerda leopoldinense na batalha por uma qualidade

digna em nosso sistema educacional. Finalizando Adelmo Lins entregou aos diretores da UMEL

Page 48: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

48

uma cópia do “Programa de Trabalho do PT”, contendo as propostas de campanha para

governar o município.

O vereador Severiano Freitas reeleito pelo PMDB, períodos de 1988/1992 e 1992/1996

afirmou que a UMEL, hoje, representa o elo da corrente política de renovação em nossa cidade

e que, na qualidade de representante do povo, irá se posicionar sempre ao lado dos interesses

do bem-estar dos munícipes. Um dos fundadores do movimento estudantil leopoldinense,

professor Adelmo Torres, da Escola Antônio Lins da Rocha, espera que através da UMEL o

panorama político venha sofrer influências positivas em diversas áreas, como, por exemplo, na

educação, na saúde e na cultura, pois, desde o início do movimento estudantil esse é um

momento muito especial, mostrando que os estudantes representam um conjunto de

mudanças e conceitos para um futuro mais promissor. Já o diretor do Curso de Contabilidade,

professor José Rodrigues Torres Filho, agradeceu a oportunidade de está somando à classe

estudantil pelo cumprimento dos direitos constitucionais.

De posse dos trabalhos, o mestre de cerimônia, professor Fabiano Amâncio, convidou a

formosa estudante Ivânia Maria, da 8a série da Escola Aristheu de Andrade, que passou o

diploma às mãos do presidente Júnior Amorim. No mesmo procedimento, o presidente

empossou os outros 22 (vinte e dois) diretores da UMEL. Fechando a festa de posse, o diretor

Chico Amâncio, elogiou a todos que nessa jornada do movimento estudantil contribuíram de

forma ativa para o pleno crescimento da política voltada em defesa da juventude. Finalizando

o ato, diretores e convidados comemoraram com um coquetel ali servido.

Diretoria Geral da UMEL (Biênio 1992/94)

Diretoria Executiva: José Amorim Júnior, presidente; Vilma Ferreira Barbosa – vice-

presidente; Paulo Edson Araújo – secretário-geral; José Carlos Claudino da Silva – assessor; e

Lenilda Maria da Silva – diretora financeira.

Diretoria social: Érica Valéria da Silva, Jatahí Augusto Ferreira e Flaviano Daniel Borges

Amâncio; diretores de cultura, Franklin André Amorim, Daniela Karlla C. de França e José Mário

da Silva Filho; diretores de imprensa, Manoel José da Silva Filho, Ivanaldo José da Silva e Eraldo

Balbino de Oliveira; diretores de esportes.

Diretoria de relações humanas, Maria Elisa Balbino Oliveira e Neide Maria Silva Elias;

Diretoras de educação, Francisco José Borges Amâncio, Cícero Manoel da Silva e Alexandre

Gilberto Sobreira; Diretores de política, Cícera Patrícia Palmeira da Silva e Nádia Quitéria

Ramos da Silva; Diretoras de direitos humanos, Josivânia Maria Nunes da Silva e Sandra Soares

da Silva; Diretoras de assistência social.

Page 49: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

49

Capítulo V – 1993

Desportistas fundam Liga Leopoldinense de Esportes

No dia 05 de janeiro de 1993, nas dependências do Clube UDAL, reuniu-se um grupo de

desportistas e fundaram a Liga Leopoldinense de Esportes (LLE). Na ocasião, se fizeram

presentes os seguintes desportistas: José Rodrigues Torres Filho, Divonete Félix de Oliveira,

Antônio Carlos F. Gomes, Antônio de França Campos – Xumba, Júnior Amorim, Hamilton A. da

Silva, Rivonaldo Soares dos Santos, Rivaldo Soares dos Santos, Luís Carlos Pereira da Silva,

Paulo R. da Rocha Nascimento, Armelindo de Andrade C. Filho, Cloves Alexandre da Silva, José

Lopes da S. Júnior (o Filho), José Salvador da Silva, Edvaldo S. Santana, Antônio Marcos Alves,

Fabiano H. B. Amâncio, Manoel J. da S. Filho, Ernande Balbino Silva, Erivelton J. da Silva,

Clebson S. de Luna, Cláudio L. A. Ferreira, Luís Mário de Lima, Reinaldo S. dos Santos, Manoel

H. de L. Neto e Érica V. da Silva.

Para coordenar os trabalhos da fundação da entidade, a mesa foi composta pelos

seguintes membros: Antônio Carlos F. Gomes (Secretaria Municipal de Administração), José

Rodrigues T. Filho (professor), Divonete Félix de Oliveira (presidente do Clube UDAL) e Antônio

de França Campos (diretor municipal de Esportes). Assumindo a presidência dos trabalhos, o

Sr. Carlos Gomes, colocou a pauta da reunião em discussão, onde explicou os objetivos da

eleição de fundação da agremiação esportiva, franqueada a palavra, diversos desportistas se

manifestaram no sentido de apoiarem a iniciativa do governo municipal. Em seguida, foram

apontados e apreciados inúmeros nomes que poderiam exercer com honradez às funções de

dirigentes da LLE. Aberto o processo de inscrição de chapas, os coordenadores da eleição

receberam apenas a inscrição de uma única chapa, encabeçada pelo presidente da UMEL,

Júnior Amorim, tendo como vice-presidente o ex-presidente do Grêmio E. Antônio L. da Rocha,

Hamilton A. da Silva.

Dando sequência, o senhor presidente da mesa dirigiu o pleito, sendo por aclamação

eleita a referida chapa. O presidente recém-eleito Júnior Amorim, disse em seu discurso que o

trabalho da diretoria visará o pleno desenvolvimento do esporte local. E, espera que, a política

partidária imposta pelos governantes, não seja colocada em primeiro plano, visando assim

prejudicar os projetos da LLE. Se isto de fato vier acontecer, ele colocará o cargo à disposição,

pois sua intenção não é nadar contra a maré. Após a explanação, ele divulgou os nomes da

diretoria da LLE (biênio: 1993/95) José Amorim Júnior (presidente), Hamilton Alexandre da

Silva (vice-presidente), Rivonaldo Soares dos Santos (1o secretário), Rivaldo Soares dos Santos

(2o secretário), Antônio de França Campos (1o tesoureiro), Luís Carlos P. da Silva (2o

Page 50: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

50

tesoureiro), Paulo Roberto da Rocha Nascimento (chefe do departamento de futebol) e Carlos

Eduardo Gomes de Melo (representante da LLE junto ao departamento de esportes amadores

da Federação Alagoana de Futebol).

Torneio São Sebastião de Futsal

A UMEL organizou no dia 31 de janeiro de 1993, na Quadra Municipal Mané Garrincha, o

I Torneio São Sebastião de Futsal, com denominação de “Taça UMEL”. Este evento realizou-se

em comemoração a tradicional Festa do Glorioso Mártir São Sebastião.

O torneio contou com a participação de dez equipes, sendo elas: Atlético, Almirante,

Com. Rocha, Escolinha, E. Cidade, H. Leon, Independente, Milan, Misto e Votorantim. Aliás, o

bicho-papão Atlético, um dos favoritos ao título, ficou no meio do caminho.

Levando a melhor sobre as outras equipes, onde apresentou um belo futebol, o

Independente bateu o Almirante na decisão do torneio e, sagrou-se com todo mérito o grande

campeão. Os azulinos conquistaram a Taça UMEL com Lula Costa, Robson, Dodô, De Melo e

Agustinho (policiais militares), Coquinho, Carlinhos, Beta Lopes e Roberval Davino (delegado).

Secretário-geral da UMEL renuncia

Em carta enviada ao presidente da UMEL, Júnior Amorim, datada de 03/03/1993, o

secretário-geral Paulo Edson Araújo, comunicou seu desligamento definitivo da diretoria da

entidade.

De acordo com a correspondência, o diretor afirmava total insatisfação no

posicionamento político da presidência. Ele, ainda, avaliava que, o presidente estava

acumulando muitos cargos, como, por exemplo, as presidências da UMEL e da LLE.

No entanto, sem nenhum abalo na diretoria, o presidente acatou a renúncia de Paulo

Edson Araújo e, imediatamente nomeou para ocupar a referida secretaria, o diretor Gilberto

Sobreira.

Diretoria da UMEL participa da cerimônia de instalação da UMJIL

Nas dependências do Colégio Mário Gomes de Barros, no município de Novo Lino, ao dia

07 de março de 1993, realizou-se solenemente a fundação da União Municipal dos Jovens

Independentes Linenses (UMJIL).

Page 51: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

51

O evento reuniu várias lideranças, entre elas: o prefeito de Novo Lino, Dr. Oswaldo

Gomes de Barros; o secretário de administração, Jorge Prado; e o presidente da UMEL, Jair

Alves de Lima, Manoel Felizardo dos Santos Filho e Rodrigo Buarque. Com êxito total, o salão

do colégio ficou repleto de professores, estudantes e políticos, dentre outras personalidades

de renome do município.

Ao abrir o ato, o jovem diretor Jair Alves de Lima, agradeceu o esforço dos poderes

Executivo e Legislativo, além do apoio caloroso dos companheiros leopoldinenses no incentivo

da criação da entidade. Destacou, ainda, o papel cultural que o grupo irá desempenhar em

diversos segmentos com os jovens linenses. Franqueada a palavra, o prefeito Dr. Oswaldo

Gomes de Barros, confirmou total apoio do seu governo aos pontos primordiais da UMJIL, os

quais destacaram como metas para uma sociedade justa e harmoniosa.

Ao discursar, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, enfocou a presença dos estudantes

leopoldinenes como uma enorme parceria na construção de um intercâmbio educacional e

cultural mais sólido entre os irmãos alagoanos.

UMEL entrega abaixo-assinado ao presidente da Câmara de Vereadores

Em 29 de março de 1993, os diretores da UMEL juntamente com vários representantes

de classes da Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha, participaram da sessão da Câmara

Municipal de Vereadores.

Na oportunidade, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, entregou ao presidente da

Casa Legislativa, vereador Dr. Ernane Santana Santos, um abaixo-assinado contendo 84

assinaturas de estudantes. No teor do abaixo-assinado, os estudantes endossavam o trabalho

coerente e eficaz da entidade estudantil, como, também, solicitavam dos poderes Legislativo e

Executivo, as seguintes providências: 1o) um calendário para os vencimentos salariais dos

trabalhadores em Educação; 2o) o pleno funcionamento da Biblioteca Pública Municipal Dr.

Neyder Alcântara de Oliveira; e 3o) o registro e estágio para os concluintes do Curso de

Contabilidade.

Durante à sessão na Câmara, o vereador Severiano Freitas, do PMDB, foi o porta-voz

que entremeou o diálogo do Poder Legislativo e as representatividades estudantis. Destacou

em seu discurso a importância dos estudantes na Câmara, no qual frisou: “Os estudantes como

os professores formam uma força invencível na busca da transformação do sistema

educacional de Colônia Leopoldina. É histórica essa passagem dos estudantes nesta Casa

Legislativa, marcada pelo direito de reivindicarem o cumprimento da Lei”.

Page 52: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

52

Usaram da palavra também no plenário o presidente da Câmara, Dr. Ernane Santana

Santos e os legisladores José Pereira do Nascimento – Fernando, Valdecir José da Silva,

Maviael de Souza Gomes e Dr. Márcio Jorge dos Santos Ferreira, onde ressaltaram a iniciativa

da UMEL. Após os discursos dos mesmos, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, expõe na

tribuna do parlamento municipal o quadro clínico que se encontra o rumo da educação de

nossa comunidade leopoldinense. “É preciso valorizar o educador, a exemplo de toda

categoria do funcionário público municipal, com salários justos, condições de trabalho e,

porque não, promover um concurso público transparente que evite o corporativismo, dando

de fato dignidade ao trabalhador”, ressaltou o líder estudantil. Também estendeu o convite a

todos os legisladores para juntos discutirem em uma ampla reunião na Escola Antônio L. da

Rocha, com data prevista para o próximo dia 06/04, as propostas para a área educacional

leopoldinense.

UMEL organiza debate sobre educação na Escola Antônio Lins da Rocha

Reivindicado e coordenado pelo presidente da UMEL, Júnior Amorim, realizou-se no dia

06/04/1993, na Escola de 1o e 2o Graus Antônio L. da Rocha, um amplo debate sobre mudança

na melhoria da educação municipal.

Na oportunidade, a sabatina reuniu inúmeros participantes, entre eles: Edson Alves da

Silva (diretor do Curso de Contabilidade), Josefa B. Amâncio, Telma Lúcia Costa, Viviane

Barbosa Florêncio, Maria das Dores da S. Campos, Maria Luceny Passos da Silva, Fabiano H. B.

Amâncio, Genival João da Silva, Miguel Florêncio da Silva Júnior e Elias Felipe (professores da

escola), Maria Anita Borges Mendonça (secretário municipal de educação), Carlos Gomes

(secretário municipal de administração) e Severiano Freitas (vereador).

O debate foi acompanhado por um bom público de estudantes e teve ainda uma

participação excelente dos professores, uma vez que, submeteram os secretários há uma série

de perguntas.

Em resposta as indagações dos educadores, Fabiano Amâncio, Elias Felipe e Josefa B.

Amâncio, o secretário de Administração, Sr. Carlos Gomes, disparou o verbo: “Estou aqui para

passar mensagens e não posso responder pelo secretário municipal de Finanças, o Sr. Talmo

Melo, que é o verdadeiro responsável pela questão financeira da PMCL”.

Na avaliação do vereador Severiano Freitas, do PMDB, que faz oposição ao governo

municipal, a prefeita Telma Melo (PL) vem infringindo a Lei Orgânica do Município, deixando

inclusive a classe do funcionalismo à mercê da própria sorte.

Page 53: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

53

Uma sala

A União Municipal de Colônia Leopoldina apela à prefeita Telma Melo para que ceda

uma sala destinada a funcionar como centro de estudos da moçada. Os estudantes já

editam um BOLETIM noticioso e agora reivindicam à prefeita um espaço físico que lhes

permita desenvolver estudos e projetos culturais.

Jornal de Alagoas, edição de 25/04/93

TELEUMEL

Com base no êxito e na experiência do Jornal Voz Estudantil, a diretoria da UMEL,

concluiu que era necessário se utilizar, também, de outras formas para informar fatos de

interesses variáveis aos leopoldinenses. Então, decidiu-se criar no dia 24 de abril de 1993, o

TELEUMEL, com o objetivo específico de realizar entrevistas (em vídeo) com personalidades de

vários setores da sociedade que participam ativamente da vida de Colônia Leopoldina.

No entanto, o lançamento do TELEUMEL, nos dias 27 e 28 de abril, na Praça D. Pedro II,

foi impedido autoritariamente pela prefeita Telma Melo, que utilizou inclusive de segurança

policial, porque o entrevistado era nada menos do que o seu irmão, Antônio Carlos F. Gomes,

que renunciou dias antes, ao cargo de secretário de administraçoão, e que resolveu contar

para toda a comunidade como funcionava o “GOVERNO DE TODOS PARA TODOS”.

Vereadores respondem ao pronunciamento do ex-secretário de administração

Em entrevista concedida ao presidente da UMEL, Júnior Amorim, o ex-secretário de

administração, Sr. Antônio Gomes de Farias, tornou público os motivos que o levaram a

se demitir do governo municipal, deixando claro sua total discordância quanto à forma

como vem sendo administrado o município. Os desentendimentos constantes entre as

equipes de Talmo Melo, secretário de finanças, e seu tio, secretário de administração,

culminaram com “entrevista explosiva” onde o mesmo sugere a existência de

irregularidades administrativas, causando “grandes estragos” na imagem do governo

municipal, atingindo, principalmente, o secretário de finanças, e por tabela, tentando

alcançar a figura do presidente da Câmara, Dr. Ernane Santana e do secretário municipal

de saúde, Dr. Flávio Lima.

Em suas respostas na sessão realizada em 03 de abril do corrente ano, os Srs.

vereadores Ernane Santana e Flávio Lima, afirmaram serem “teleguiados” pelo

Page 54: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

54

Regimento Interno da Câmara que não permite o uso daquele recinto para “despedidas

pessoais” e sim, apenas para abordagem de assuntos de interesse público. Uma semana

antes, todavia, o mesmo comparecendo a Câmara limitou-se a comentários amenos não

“dizendo o que sabia e nem sabendo o que dizia”, basta verificar as estatísticas da

apuração dos votos de 03 de outubro, onde se observa serem eles os mais votados de

sua coligação e que foram decisivos para a vitória.

Na ocasião expressaram solidariedade aos Srs. vereadores Ernane Santana e Flávio Lima,

os vereadores Severiano Freitas e Márcio Jorge que através da tribuna da Câmara,

solicitaram coerência dos governantes, para evitar decepções ao povo e contradições

nas apurações.

Necessário se faz que se ponha um ponto final nesse episódio e que a Exma. Sra.

prefeita, responda de imediato aquela denúncia, mesmo sabendo que se trata de

questões provenientes de mágoas e ressentimentos familiares, isso porque, a demora

em se dar esclarecimento ao público apenas ajuda a complicar mais ainda a situação de

seu governo, que vem atravessando as mais diversas dificuldades. Assim, o povo espera

que nenhum dispositivo legal tenha sido “arranhado”, julgando-nos com o passar dos

tempos.

Boletim Informativo da Câmara M. Vereadores de Colônia Leopoldina – AL, edição do dia

01 de maio (Dia do Trabalhador).

Duelo no futsal: UMEL versus Atlético CL

A Quadra Municipal Mané Garrincha foi o palco ideal do amistoso entre a UMEL e o

Atlético CL, no último dia 19 de maio de 1993.

Dirigida pelo diretor de esportes, Ivanaldo José da Silva (Val), a esquadra estudantil foi

derrotada por 5 a 4. Para se ter ideia da importância desse jogo, o Atlético é campeão

leopoldinense e foi recentemente vencedor do torneio de futsal, organizado e patrocinado

pelo comerciante Luciano Lins.

Nesta partida, os clubes formaram com os seguintes jogadores: Atlético – Bartó (G),

Filho, Henrique e Clebson (1) um gol cada; Neném (2), Vavá, Dinho e Guri; UMEL – Rubens (G),

Praxedes, Jodimarco, Josimar Nunes e Eron (1) um gol cada; Eran e Ironildo.

Secretário da UMEL, Gilberto Sobreira assume à presidência do Grêmio Estudantil Antônio

Lins da Rocha

Page 55: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

55

Sem presidente desde o final do ano de 1992, o Grêmio Estudantil Antônio Lins da

Rocha, mergulhou numa profunda crise política e administrativa que se aproximava de sete

meses. Essa turbulência só teve um desfecho feliz no início de junho de 1993, quando Gilberto

Sobreira, secretário geral da UMEL, assumiu à presidência do órgão estudantil. O novo

presidente, o 5o desde a fundação (03/04/90), ficaria à frente da entidade até as próximas

eleições marcadas para o mês de agosto do próximo ano de 1994.

O presidente Gilberto Sobreira para não perder mais tempo e nem espaço, lançou no dia

20 de junho, o nono exemplar do Jornal do Estudante. A reportagem de capa referiu-se ao

desempenho dos ex-presidentes, onde destacou também as novas perspectivas em relação ao

futuro da educação do município.

VII Congresso da UESA

A UMEL liderou as caravanas dos estudantes de Colônia Leopoldina, Novo Lino, Joaquim

Gomes e Jundiá, no VII Congresso das UESA, promovido pela entidade estadual nos dias 05 e

06 de junho de 1993, no Campus Universitário da UFAL, em Maceió – AL. Após um período

ausente do movimento, Hamilton Alexandre retornou articulando junto a diretoria da UMEL e

líderes estudantis a formação da maior delegação já enviada há um congresso de estudantes.

Às vésperas do encontro, a diretoria da UMEL percorreu as escolas convidando e cadastrando

os estudantes interessados em participar do citado evento.

No dia 05/06/93, momento antes da saída da caravana, onde se encontrava

concentrada a massa de 72 estudantes defronte ao Grupo M. Joaquim L. da Silva, chegou a

notícia que o transporte solicitado à prefeita Telma Melo, simplesmente não estava liberado.

Esse boicote “organizado” pela equipe do governo municipal não desanimou os estudantes,

pois, os líderes estudantis conseguiram uma Toyota e, um micro-ônibus com o prefeito de

Novo Lino, Dr. Oswaldo Gomes de Barros.

Em consequência deste motivo, houve uma baixa significativa na delegação: muitos

companheiros desistiram da viagem. No entanto, só foi possível levar um grupo composto de

17 líderes, sendo eles: Ednaldo J. da Silva, Chico Amâncio, Gilberto Sobreira, José Machado,

Hamilton Alexandre, Jodivaldo Dionízio, Vitalino do Nascimento, Daniel Amâncio, Franklin

Amorim, Luis Carlos P. da Silva, Nivaldo T. Filho, Cícero Manoel da Silva, Júnior Amorim,

Romildo Laurentino, Ivanilson José, Paulo Edson Araújo e Bráulio C. da Silva.

A delegação dirigida pela UMEL foi recepcionada pelo vice-presidente da Zona Norte da

UESA, Cláudio Luiz. A UMEL foi a principal entidade do interior a participar ativamente de

todos os debates do congresso, inclusive, teve ainda o nome do seu presidente apontado para

Page 56: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

56

disputar o pleito da UESA. Após o encerramento tumultuado dos debates, minutos antes de

iniciar a votação, como forma de protesto as delegações comandadas pela UMEL retiraram-se

do plenário, em virtude das irregularidades e fraudes nas atas de inúmeras delegações.

Gincana escolar

A UMEL promoveu em festejo, aos 89 anos de Emancipação Política de Colônia

Leopoldina, no dia 16 de julho de 1993, no Clube UDAL, uma organizada gincana escolar

envolvendo os alunos da 7a e 8a séries da Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade. O evento

sociocultural e educacional contou com o incentivo especial do escritor Everaldo Araújo Silva,

além do apoio dos educadores Fabiano Amâncio e Arleide CForreia Lins.

O corpo de honra dos jurados foi composto por Luciana Cavalcante (comerciante), Vilma

Ferreira Barbosa (vice-presidente da UMEL), Ivânia Maria B. Silva (estudante do 1o Ano

Contabilidade), Elias Felipe (professor) e Hamilton Alexandre (ex-presidente do Grêmio

Estudantil Antônio L. da Rocha). Com uma disputa bastante acirrada, a turma da 8a série

liderada pelas estudantes Adriana Lamenha e Neide “Cantora” foi a grande vencedora do

evento.

Na cerimônia de premiação as duas estudantes foram condecoradas com medalhas e

receberam da garotinha Monique Carneiro o troféu de campeã. Por outro lado, as alunas

Ângela Patrícia e Cristiane Marques Silva, coordenadoras da 7a série, também receberam em

nome da turma o troféu de participação e, ainda, foram honrosamente condecoradas com

medalhas.

UMEL versus Comercial Rocha

No dia 17 de julho de 1993, na Quadra Municipal Mané Garrincha, coordenada pelo

diretor de esportes da UMEL, Manoel J. da S. Filho (Manezinho Jandaia), realizou-se uma

partida amistosa da esquadra estudantil versus a forte equipe do Comercial Rocha.

Durante todo o jogo, o elenco da UMEL manteve um bom desempenho e superou o

adversário pelo placar de 7 x 5. Os atletas que integraram a UMEL, e os seus gols marcados

foram os seguintes: Izaque (G); Josimar Nunes, Júnior Guerra e Jodimarco (2) dois gols cada;

Filho (1); Romildo Lopes e Ironildo.

UMEL faz distribuição de donativos

Page 57: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

57

Os estudantes que participaram da gincana escolar das turmas da 7a e 8a séries,

respectivamente, da Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade, coletaram os seguintes produtos:

70 cestas básicas, 116 pares de sapatos e 1010 peças de roupas.

Esses produtos foram doados a UMEL. De posse desses materiais, a diretoria fez a

distribuição junto às famílias carentes de baixa renda, no dia 19 de julho de 1993, na Praça D.

Pedro II.

Na ocasião, estiveram apoiando o ato, Cícero Manoel (Til), dir. da Assoc. dos Mor. do

Mandacaru, Severiano Freitas, vereador do PMDB, e Severino Manoel, membro do Partido dos

Trabalhadores (PT).

Criado comitê para combater a miséria

Em reunião realizada no dia 07/07/93, nas dependências do Banco do Brasil, por

iniciativa do seu gerente Isaias Baldin, e com as presenças de representantes de sindicatos,

entidades civis, lideranças das igrejas (Católica e Assembleia de Deus), organizações não

governamentais e partidos políticos, decidiu-se pela formação do Comitê do Movimento de

Âmbito Nacional “AÇÃO DA CIDADANIA CONTRA A FOME, A MISÉRIA E PELA VIDA”, que sugere

a concretização das ações emergenciais para atender o sofrimento da população indigente de

nosso Estado, onde segundo estatística do IBGE, em 1991, o município de Colônia Leopoldina

apresentava um total de 1874 famílias vivendo em estado de indigência.

Novamente reunidos os diversos representantes da comunidade, no dia 15/07/93, na

agência do BB local, discutiram os próximos passos do comitê e a criação da comissão que

ficaram assim constituídas:

Comissão da Fome – Dr. Ernane Santana Santos, Maria Clara G. Andrade, Antonio

Benedito Silva, Júnior Amorim, Vilma Ferreira e José Pereira (pastor); Comissão de

Organizações – Isaias Baldin, Maria Clara G. Andrade, Severino Inácio da Rocha e Luciana M. L.

Freitas; Comissão de Iniciativas – Odecilda Angelim de Lima, Dr. Flávio Lima, Severiano Freitas,

irmã Salete, Maurício de Souza, Manoel Benedito da Silva, Jair de Assis e Júnior Amorim.

O mapeamento da fome

A comissão encarregada de levantar dados e elaborar o MAPA DA FOME, decidiu em

reunião de 16 de julho de 1993, pela aplicação do questionário confeccionado pelo

Page 58: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

58

presidente da Câmara, Dr. Ernane Santana, ficando o mesmo coordenador da pesquisa,

tendo ainda como subcoordenadores o vereador Dr. Flávio Lima, a diretora do hospital

local, enfermeira Maria Clara e o presidente da UMEL, Júnior Amorim. Para trabalho de

tamanha envergadura e alcance social contou-se com o apoio de voluntários:

estudantes, funcionários da Câmara de Vereadores, do Hospital Maria Loureiro, do

Posto de Saúde Municipal, representantes da Vila Mandacaru, da Assembleia de Deus e

Pastoral da Saúde. A eles, nossos agradecimentos e a certeza de que o trabalho

realizado muito servirá para amenizar o sofrimento e a miséria de nossos irmãos mais

carentes, que já se encontram nos limites insuportáveis da fome e do desespero.

Acreditamos que o primeiro passo tenha sido dado.

Boletim Informativo da Câmara M. de Vereadores de Colônia Leopoldina – AL, edição de

02 de agosto de 1993.

Intercâmbio: GRUCALPE e UMEL

A UMEL lançou no dia 05 de agosto de 1993, o seu quinto número do dinâmico e

fantástico Jornal Voz Estudantil. Paralelo ao lançamento do jornal, o presidente da UMEL,

Júnior Amorim, acompanhado do ex-estudante Romildo Laurentino (um dos fundadores do

movimento estudantil leopoldinense), participou da “Exposição Artística do GRUCALPE”,

realizada em sua própria sede, às 20:00h, na cidade de Palmares – PE. Este evento realizou-se

com o objetivo de divulgar a recente visita do diretor do GRUCALPE, Joarish Telles, a

Alemanha. Na sede do grupo, reuniram-se diversos artistas ilustres do cenário cultural

palmarense.

Durante a exposição, exibiu-se um documento sobre o neonazismo. Após a amostra, o

ato encerrou-se com uma mesa-redonda onde a temática abordada foi o racismo e a cultura

popular brasileira.

11 de agosto: Dia do Estudante

Nas comemorações ao Dia do Estudante, a UMEL recebeu orgulhosamente a visita do

diretor do GRUCALPE, Joarish Telles, de Palmares – PE. Na companhia do presidente da

entidade, Júnior Amorim, Joarish Telles proferiu significativas palestras nos educandários

Antônio L. da Rocha e Aristheu de Andrade, onde falou do perfil desenvolvido pelo GRUCALPE

há mais de 20 anos na comunidade palmarense. Além do mais, ele humildemente fez questão

de enaltecer o grande guerreiro quilombola, o Zumbi dos Palmares.

Page 59: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

59

Destacou ainda que, o GRUCALPE foi o espelho de luta que inspirou o movimento

sociocultural leopoldinense nos meados de 1987. Nesse período, surgiu com muita luz, força e

garra o gigante GRUCALPE. Grupo que atuou em Colônia Leopoldina de forma bastante

expressiva, reivindicando os direitos culturais e educacionais, até o ano de 1991.

Nos dias 13 e 14, em pleno ritmo frenético das festividades da Semana do Estudante, a

UMEL promoveu dois animadíssimos shows musicais. O primeiro realizou-se no Clube UDAL, e

outro na Praça D. Pedro II, ocasião em que a galera estudantil emocionada sacudiu o corpo e

lavou a alma. Os shows superaram toda a expectativa por parte da organização. A festa

inesquecivelmente teve como atração especial, o talentoso cantor leopoldinense Valdir José,

da Banda Riu’s.

18 de agosto, aniversário da UMEL

A Assembleia Geral em homenagem ao aniversário de um ano de fundação da UMEL,

realizada no dia 18 de agosto de 1993, no Clube UDAL, reuniu um público de

aproximadamente 400 pessoas. Entre esse contingente de participantes, estiveram

prestigiando o ato, as seguintes lideranças políticas: Maurício Pereira (presidente da

Associação dos Moradores do Mandacaru), Severino Inácio da Rocha (comerciante), Jair Alves

(diretor da UMJIL de Novo Lino – AL), Luciana Freitas (presidente do PMDB de Colônia

Leopoldina – AL), Josias (Pastoral da Juventude – AL), Severino Manoel (membro do Diretório

Municipal do Partido dos Trabalhadores), Jaorish Telles (diretor do GRUCALPE de Palmares –

PE), Elias Felipe (professor), Hamilton Alexandre da Silva (ex-presidente do Grêmio Estudantil

Antônio L. da Rocha), Dr. Flávio Lima de Souza e Severiano Freitas (vereadores).

Representando a entidade se fizeram presentes os diretores: Júnior Amorim, Vilma Ferreira,

Gilberto Sobreira, Chico Amâncio, Érica Valéria, Lenilda Maria, Daniel Amâncio, Cícero Manoel

da Silva, Daniel Benvindo de Andrade, Franklin Amorim, Daniela Karlla, Maria Elisa Balbino,

José Mário e Neide M. S. Elias.

Em discurso de abertura, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, destacou positiva sua

atuação à frente da entidade, mas frisou que esse trabalho é fruto da união e da competência

de todos os diretores da UMEL. Após o pronunciamento do presidente, o secretário-geral

Gilberto Sobreira fez a leitura do estatuto da entidade. Em seguida, a diretora Érica Valéria leu

a ata do resultado das eleições de agosto-92. Mostrando transparência dos seus atos na

tesouraria, a diretora Lenilda Maria prestou conta do balancete compreendido entre outubro-

92 e agosto-93. Com expectativa para as próximas eleições – definida para o dia 18/08/94, o

Page 60: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

60

diretor de política, Chico Amâncio, apresentou o regulamento que regerá o processo eleitoral

estudantil.

Franqueada a palavra, Hamilton Alexandre da Silva, um dos guerreiros do nosso

movimento estudantil leopoldinense, ou porque não, do Estado de Alagoas, enfatizou o auge

da UMEL em referência apenas um ano de vida. E acrescentou: “A UMEL dirigida por Júnior

Amorim & Cia. está de parabéns. Estou feliz de verdade e ao mesmo tempo bastante

orgulhoso de presenciar esta magnífica festa”. O vereador Flávio Lima de Souza, abordou a

importância do movimento estudantil brasileiro, através da UNE, da UBES e da UESA, nas

imemoráveis conquistas em defesa dos direitos à educação, à saúde, ao emprego, enfim, à

cidadania. Papel que, segundo o legislador, a UMEL é mais um exemplo dessas entidades

vencedoras em prol dos direitos da humanidade. Com os términos das explanações, o evento

foi oficialmente encerrado pelo GRUCALPE que apresentou as seguintes atrações: peça de

teatro, dança africana, capoeira e o filme Zumbi dos Palmares.

Mandacaru: dois anos de ocupação, de luta e resistência

A Associação dos Moradores do Mandacaru festejou com muito brio o aniversário de

dois anos de “ocupação, de luta e resistência” do Mandacaru, no dia 20 de agosto de 1993,

com presença expressiva da comunidade e de vários segmentos da sociedade alagoana.

Entre os representantes destes segmentos, o presidente da A.M.M., Maurício Pereira de

Souza, contou com a participação marcante da secretária de Educação de Maceió – AL,

professora Maria José Viana; da representante do MST-AL, Eloísa Gabriel; dos membros do

Diretório Municipal do PT, Adelmo Lins, Elias Pinheiro, Almery Rocha e Jair de Assis; e do

presidente da UMEL, Júnior Amorim.

O presidente da UMEL, Júnior Amorim, em seu pronunciamento deu ênfase aos que

contribuíram de forma direta e indireta e aos que continuam na luta em defesa desse espaço

tão significativo para realização do sonho deste povo: “a posse dos títulos e a construção da

casa própria com dignidade e justiça”.

Dentro da programação do ato, inaugurou-se pelo presidente da associação, Maurício

Pereira de Souza, a primeira lavanderia comunitária que homenageia o professor canadense

Thomás Alphonse. Esta obra foi construída através do sistema de mutirão.

22 de agosto: Dia Nacional do Folclore

Page 61: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

61

A UMEL promoveu “um baile pró-cultural e um super bingo”, no dia 22 de agosto de

1993, no Clube UDAL, em festança às comemorações ao Dia Nacional do Folclore.

A festa reuniu um público bastante animado. Esse belo público prestigiou a

apresentação da Academia de Kung-Fu, do professor Jailton de Xexéu – PE, riu a vontade como

show espetacular do Teatro City, aplaudiu entusiasmado a capoeira dos meninos da “Horta

Nossa Esperança”, da ATRAPO, e contagiou-se com a dança delirante do Grupo Funk.

Outra atração que emocionou, foi o show da dupla de sanfoneiros que une duas

gerações. De um lado o pai, Tião Marcolino, e do outro o seu talentoso filho Douglas

Marcolino. Após os espetáculos, o baile varou à noite ao som do cantor leopoldinense

Jodivaldo Dionízio.

Ato público

Em homenagem ao Dia do Soldado, 25 de agosto, a UMEL liderou um ATO PÚBLICO em

protesto as condições desfavoráveis à política educacional implantada pelo governo municipal.

Para o ato, a UMEL contou com a participação de 40 estudantes. Esse grupo era

formado especialmente por estudantes e ex-estudantes do Curso de Contabilidade. O protesto

teve início na Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha e ganhou as principais vias

públicas da cidade.

Após os discursos de vários líderes estudantis, o ato encerrou-se vitoriosamente

defronte ao chalé dos Santana, na Praça D. Pedro II, residência oficial da prefeita Telma Melo

(PL).

Escritor Everaldo Araújo Silva ministra palestra sobre a Monarquia no Brasil

No dia 03 de setembro de 1993, a convite do presidente da UMEL, Júnior Amorim,

juntamente com a diretora do Colégio Cenecista Pe. Francisco – (CENEC), professora Gisélia

Sobreira, o escritor leopoldinense Everaldo Araújo Silva, autor do livro A Colônia da Princesa,

proferiu uma importante palestra sobre a Monarquia no Brasil. O tema foi abordado no

referido educandário, que contou com a participação de aproximadamente 60 estudantes, das

turmas do segundo e terceiro anos de Magistério.

O evento levou ao conhecimento dos estudantes a origem do Império do Brasil. Serviu

também para que, a comunidade cenecista absorvesse melhor o trabalho que o mestre

desenvolve no tocante à cultura do povo brasileiro.

Page 62: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

62

Fórum Criança e Adolescente

A Prefeitura Municipal de Colônia Leopoldina, através da Secretaria M. de Saúde,

promoveu no dia 28 de setembro de 1993, nas dependências do Grupo Municipal Joaquim Luiz

da Silva, o Fórum Criança e Adolescente.

Tal evento reuniu representantes de órgãos governamentais, sociedades civis e ONGs.

Entre eles, destacamos os seguintes: Cleide Maria A. Tavares (CBIA – AL), José Gerônimo Neto

(secretário municipal de saúde), Telma Gomes de Melo (prefeita), José Alves Caldas Júnior

(vice-prefeito), Ernane Santana Santos (presidente da Câmara), Aldo Giazzon (padre), Genildo

L. Pinto (secretário municipal de obras), Maria das Dores (supervisora educacional), Maria

Clara (diretora da Unid. M. Ma L. Cavalcante), Maria José R. L. da Silva (professora), Maria José

A. da Silv a (dire5tora da Escola Zora de Menezes), Maria Francisca A. Soares (diretora da

Escola Antônio Lins da Rocha), Maria de Fátima Carneiro (diretora do Grupo Aristheu de

Andrade), Cleonides S. Loureiro (diretora do Grupo Municipal Joaquim L. da Silva), Odecilda

Angelim de Lima (presidente do Clube da Mulher do Campo), Severina Maria e Maria de

Lurdes (Clube das Mães), Maria Verônica e José Machado (Grupo do Adolescente), Florisval

Alexandre e José Ferreira da Silva (membros da ATRAPO), Júnior Amorim, Gilberto Sobreira,

Cícero Manoel da Silva e Chico Amâncio (diretores da UMEL).

O fórum abordou com objetivo específico a criação do Conselho Municipal dos Direitos

da Criança e do Adolescente. As palestras foram proferidas pela representante da CBIA – AL,

Cleide Maria, juntamente com o secretário de Saúde, Dr. José Gerônimo Neto. Na

oportunidade, Cleide Maria, falou dos direitos adquiridos pela sociedade infanto-juvenil com a

sanção da Lei no 8.069 (de 13 de julho de 1990) pelo então presidente Fernando Collor de

Mello, que criou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

UMEL participa da elaboração do Plano Decenal de Educação

No dia 11 de outubro de 1993, no Grupo M. Joaquim L. da Silva, a Secretaria Municipal

de Educação promoveu uma reunião ampliada que contou com a participação de várias

entidades municipais na elaboração das propostas do “Plano Decenal de Educação

1993/2003”.

A Secretaria de Educação, professora Anita Borges, recebeu inúmeras sugestões dos

representantes das categorias, a fim de reverter a situação clínica do ensino local. Na ocasião,

o presidente da UMEL, Júnior Amorim, entregou-lhe uma lista de sugestões contendo 15 itens

formulados pelos diretores da entidade.

Page 63: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

63

Segundo a representante da pasta educacional, as propostas selecionadas pelos técnicos

da referida secretaria, serão encaminhadas aos órgãos competentes do Estado de Alagoas.

UMEL no III Campeonato Leopoldinense de Futsal

Organizado pelo diretor de Esportes, Antônio de França Campos (Xumba), o III

Campeonato Leopoldinense de Futsal contou com a participação numerosa de 16 clubes. O

primeiro turno foi dividido em quatro grupos. Formaram a chave da UMEL, os times: Granja 3

Irmãos, Independente e Sendas (Sertãozinho – PE).

A UMEL estreou com uma vitória de 6 x 4, no dia 12 de agosto, sobre a boa equipe da

Granja 3 Irmãos. Na segunda partida, mesmo apresentando um futebol dinâmico, não foi

suficiente para superar a poderosa esquadra do Independente que venceu por 11 x 7. No

terceiro confronto, estava em jogo a classificação para as semifinais. No entanto, nova derrota,

desta vez para o Sendas, por 8 x 4.

No segundo turno, a UMEL ficou no Grupo B, ao lado dos clubes: Milan, Esporte e

Sendas. Os três últimos jogos foram realizados nos dias 16, 23 e 31 de outubro. No primeiro

jogo, revanche contra o Sendas, desta vez superando o rival com uma vitória folgada de 9 x 2.

No segundo duelo, a equipe apresentou um futebol de baixo nível e levou uma implacável

goleada do Milan de 13 x 3.

A UMEL despediu-se do certame com uma amarga derrota por 8 x 5, aplicada pelo

poderoso Esporte. Apesar da derrota, a equipe ficou com o nono lugar na classificação geral do

campeonato. A esquadra estudantil formou com Bau (G), Zé Mago, Maurício, Marquinhos,

Cosmo, Cal Rocha, Djaílson, Valmir, Reginaldo Inácio e Edvânio Balbino.

Após vencer a grande final contra a ASPA, da Destilaria Porto Alegre, o Atlético

conquistou o bicampeonato leopoldinense – 1992/93. O Atlético formou com Fernadinho,

Vavá, Fabiano Amâncio, Rubens, Clebson, Rei, Dinho, Henrique, Filho, Romildo Lopes e Neném.

30o Congresso da UBES

O diretor da UMEL, Cícero Manoel da Silva, representou com muita honraria os

estudantes leopoldinenses no 30o Congresso da UBES, realizado nos dias 01 e 02 de novembro

de 1993, na grande São Paulo – SP.

Para levantar a contrapartida com as despesas, uma vez que a preferida Telma Melo (PL)

procurada pelo grupo recusou-se a contribuir, a UMEL fez uma “vaquinha” entre os

Page 64: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

64

comerciantes, estudantes e professores. Através da solidariedade dessas categorias levantou-

se com garra o capital.

No encontro nacional, o diretor Cícero Manoel da Silva fez parte da caravana da

“Juventude Revolução”, uma das tendências dos partidos políticos de esquerda de Alagoas.

Dia Nacional da Consciência Negra

A UMEL promoveu antecipadamente no dia 19 de novembro de 1993, o I Concurso de

Redação, com o tema: “A influência da cultura negra no Brasil”. Este evento realizou-se em

homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra, o qual reverencia o líder dos quilombos,

Zumbi dos Palmares, assassinado na manhã do dia 20 de novembro de 1695.

Com o apoio e o patrocínio exclusivo do nosso conterrâneo escritor Everaldo Araújo

Silva, o concurso obteve um êxito magnífico, onde mais de 30 trabalhos foram apresentados

por estudantes de diversas escolas.

O presidente da UMEL, Júnior Amorim, entregou os prêmios aos três vencedores nas

suas respectivas escolas. Foram honrosamente contemplados os seguintes alunos: Sineide

Fagundes da Silva e Luciana da Silva Nascimento, 2o Ano de Magistério, respectivamente, do

Colégio Cenecista Pe. Francisco – CNEC, e Bráulio Cosmo da Silva, 8a série da Escola de 1o Grau

Aristheu de Andrade.

2o Ano Contabilidade é campeão do Torneio Estudantil de Futsal

Selando as atividades sociopolíticas e esportivas do ano com chave de ouro, a UMEL

organizou no dia 21 de novembro de 1993, na Quadra Municipal Mané Garrincha, com

presença de oito equipes, o Torneio Estudantil de Futsal. Este evento esportivo contou com o

patrocínio de Marcelo Fagundes, além da colaboração do professor Fabiano Amâncio. Os

participantes foram divididos em dois grupos. Grupo “A”: 2o Ano Magistério, Aristheu de

Andrade, ex-alunos e 2o Ano Contabilidade. Grupo “B”: 7a Série, 8a Série, 1o Ano Contabilidade

e 1o Ano Magistério.

De acordo com o regulamento classificaram-se para as semifinais dois clubes de cada

grupo. No “A”: ex-alunos e 2o Ano Contabilidade. No “B”: 7a Série e 1o Ano Magistério. Na

abertura da segunda fase, vitória de goleada de 10 x 0 dos ex-alunos sobre o 1o Ano

Magistério. No outro duelo, empate de 3 x 3 entre a 7a Série e o 2o Ano Contabilidade, mas nas

penalidades máximas a classificação ficou com o 2o Ano Contabilidade que venceu por 5 x 4.

Page 65: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

65

A disputa do 3o lugar reuniu a 7a Série e o 1o Ano Magistério. A 7a Série levou a melhor

vencendo a partida por 2 x 1. Numa decisão dramática o 2o Ano Contabilidade sagrou-se

campeão do torneio. O jogo que decidiu o título foi emocionante. O 2o Ano Contabilidade

liquidou o adversário marcando 4 gols, contra apenas 3 dos ex-alunos.

Os atletas que integram o 2o Ano Contabilidade na conquista do título foram os

seguintes: Izaque (G); Luciano, Samuel Nicácio, Franklin Amorim, Eron, Aílton e Cosmo. Os

artilheiros: Josimar Nunes (8a Série) 16 gols; Jodimarco (ex-alunos) 12 gols; Júnior Guerra (ex-

alunos) e Eron (2o Ano Contabilidade) 10 gols; Ral (ex-alunos) 7 gols; Lando (1o Ano Magistério)

e Luciano (8a Série) 6 gols; Samuel Nicácio (2o Ano Contabilidade), Everaldo (1o Ano

Contabilidade) e Paulo (7a Série) 4 gols; Marquinhos (2o Ano Magistério) e Eran (7a Série) 3

gols; Wandercarlos (8a Série), Gilberto Sobreira (1o Ano Contabilidade), Mida (Aristheu),

Márcio (1o Ano Magistério), Val (ex-alunos) e Cal Rocha (2o Ano Contabilidade) 2 gols; Lon e

Wellington (1o Ano Magistério), Aílton (2o Ano Contabilidade), Cícero 8a Série), Beta (Aristheu),

Jorginho e Murilio (ex-alunos) e Getúlio (1o Ano Contabilidade) 1 gol.

Page 66: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

66

Capítulo VI – 1994

Fórum discute Municipalização da Saúde e a criação do Conselho Municipal de Saúde

Durante os meses de janeiro (18 e 25) e fevereiro (02 e 09) de 1994, a Prefeitura

Municipal através da Secretaria Municipal de Saúde, promoveu no Grupo Municipal Joaquim L.

da Silva, 4 etapas do Fórum Saúde Pública, com os temas: “Municipalização da Saúde e

Conselho Municipal de Saúde”.

O encontro contou com a participação do secretário municipal de Saúde, Dr. José

Gerônimo Neto; da prefeita do município, Telma Melo; do vice-prefeito, José Alves Caldas

Júnior (Zitinho); do presidente da Câmara, Dr. Ernane Santana Santos; da presidente do Clube

da Mulher do Campo, Odecilda Angelim de Lima; do representante do Sindicato dos

Trabalhadores Rurais, Geraldo Ângelo; dos diretores da UMEL – Júnior Amorim, Gilberto

Sobreira e Chico Amâncio; da diretora da Unidade Mista Maria L. Cavalcante, enfermeira Maria

Clara; do representante da Polícia Militar, PM Silva Lucas; do membro da ATRAPO, José

Ferreira da Silva; do diretor do Grupo dos Jovens, Valdemir Agustinho; do diretor do Curso de

Contabilidade, Edson Alves; dos funcionários da Saúde – Rosângela Maria, Edilma Regina,

Maria das Graças, Ernandes Barbosa, Gesiana Barreto e Vanúzia Gonçalves; dos funcionários

da Educação – Edvanilda Neves, Arleide C. Lins, Edna Lúcia, Maria José R. Luna, Cleonides

Loureiro, Joselita B. R. Amorim, Alba Fátima e Gilvânia Lamenha, além do vereador José

Pereira do Nascimento.

No final do fórum, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, defendeu com bravura a

cadeira da entidade na futura composição do Conselho Municipal de Saúde, no qual a entidade

discutirá temas importantes na área da saúde no tocante à educação, como, por exemplo,

atendimento médico-odontológico nas escolas.

UMEL organiza I Fórum Educação e Sociedade

Superando com coragem e determinação toda pressão política por parte do governo

municipal, a UMEL organizou o I Fórum Educação e Sociedade, nos dias 28 e 29 de abril de

1994, no Clube UDAL. Na abertura oficial do fórum, o presidente da UMEL, Júnior Amorim,

agradeceu entusiasmado em nome da diretoria o comparecimento dos estudantes, dos

professores, dos palestrantes, das ONGs, dos sindicalistas e demais convidados. “Somos hoje

responsáveis pelas transformações na política de Colônia Leopoldina. A UMEL está fazendo sua

parte, pois este fórum é um retrato dessa mudança”, concluiu o presidente.

Page 67: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

67

Na primeira série do encontro, o público conferiu as palestras da Secretaria Municipal

de Educação, professora Anita Borges; do representante do Movimento dos Trabalhadores

Sem Teto – AL, Adelmo Lins; e do vereador de Xexéu PE, Jailton F. do Nascimento. Os temas

debatidos foram: Administração, Moradia e Ecologia.

Abordando o tema Administração, a secretária Anita Borges destacou o encontro como

uma formação de diálogo entre o poder executivo e as representações de classes. Questionada

sobre o caos na área educacional, a mesma explicou que apresentou uma proposta a prefeita

Telma Melo em relação ao atraso de mais de dois meses no salário da categoria.

O tema Moradia foi pincelado pelo líder comunitário Adelmo Lins. Após apresentar

dados do déficit habitacional municipal, Adelmo Lins entregou aos organizadores do fórum, o

“Projeto de Moradia Popular” que visa equacionar esta carência na área habitacional. Em

relação ao seminário, disse: “Esse espaço está sendo de imensa importância, pois abriu as

discussões em torno dos principais pontos para o pleno desenvolvimento da cidade”.

Encerrando a primeira etapa da sabatina, o convidado especial vereador Jailton F. do

Nascimento, de Xexéu – PE, salientou a importância da Ecologia. O mesmo chamou a atenção

para os problemas locais, como, por exemplo, o reflorestamento das margens do Rio Jacuípe, a

questão do lixo que poderia ser solucionado com a implantação da coleta seletiva (lixo

reciclável), na qual gera emprego e renda e sobre o possível combate aos produtos químicos

despejados no Rio Jacuípe pela Usina Taquara.

No segundo dia 29, as principais temáticas tratadas foram: Informatização, Legislação,

Cultura, Direito e Cidadania. Os expositores foram: o vereador do PMDB, Severiano Freitas; o

professor do Curso de Contabilidade, Adelmo de Oliveira Torres; o juiz de direito, Antônio Luna

da Silva, o agrônomo e professor, Rudson Sarmento Maia; e o escritor Everaldo Araújo Silva. A

princípio o professor Adelmo de Oliveira Torres disse no seu pronunciamento que, o

“esvaziamento” do encontro se deu pelo fato das ameaças de demissões impostas pela

prefeita Telma Melo (PL) em represálias aos funcionários públicos que visitassem o fórum. E

acrescentou: “Os estudantes estão de parabéns pela realização deste ato de tamanha

envergadura para a sociedade leopoldinense”.

Com o segundo mandato na Câmara pelo PMDB, o vereador Severiano Freitas descreveu

o simpósio de uma rara oportunidade para a comunidade enfrentar a realidade do

agravamento do ensino público. “Foi a primeira vez que aconteceu um debate tão importante

nos últimos cinco anos, tratando-se, sobretudo, dos diversos temas associados em educação.

Parabéns, UMEL!”, enfatizou o legislador. O agrônomo Rudson Armento Maia – o principal

fundador do movimento estudantil leopoldinense, ministrou com sucesso o debate sobre

Cidadania. “Historicamente, em Colônia, a partir de vários movimentos sociais, notamos a

Page 68: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

68

prática de uma verdadeira cidadania. A ação comandada pela UMEL é um exemplo claro de

luta e justiça por direitos conquistados”, ponderou o agrônomo. Em sua explanação o juiz de

direito, Dr. Antônio Luna da Silva, falou dos direitos adquiridos na atual Constituição, onde

todo cidadão tem o direito de se organizar; ainda se referiu solidariamente aos movimentos

sociais, uma vez que, todos os cidadãos têm de ser tratados igualmente pela lei.

O último orador do evento bem-sucedido, o escritor Everaldo Araújo Silva, fez uma

análise positiva da cultura do nosso povo. Muito embora, sem apoio algum do governo local,

mostra o compromisso sério que esta juventude tem em prol da nossa terra natal. Finalizando,

o mestre Everaldo disse: “Vocês estudantes estão seguindo a trilha certa. Pra frente

juventude!”

Chico Amâncio participa da festa dos dez anos do PT de Colônia

No dia 06 de maio de 1994, no Centro Paroquial, o diretor da UMEL, Chico Amâncio

prestigiou a cerimônia do aniversário de fundação de dez anos do Partido dos Trabalhadores

em nossa sociedade leopoldinense. Em 1984, o PT de Colônia foi legalizado por um grupo de

amigos, entre eles: Yrapuan Araújo Yrá (que aliás em 1988 foi o primeiro candidato a

prefeito pela esquerda), o artista Elias Marques Pinheiro e o professor/escritor leopoldinense

José Francisco de Melo Neto (1951) conhecido em nossa cidade por Zé de Melo – atual

educador adjunto da Universidade Federal da Paraíba, no Campus I, em João Pessoa.

A cerimônia foi digna de um partido que vem se firmando cada vez mais na sociedade,

contando inclusive com a presença da sua militância e de várias lideranças comunitárias,

estudantis, sindicalistas, religiosas e de professores. No ato, o presidente do PT, Jair de Assis,

conduziu a mesa-redonda com participação do membro do MST-AL e secretário-geral do PT de

Colônia, Adelmo Lins; do presidente da Associação dos Moradores do Mandacaru, Maurício P.

de Souza; e do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-AL), Paulo Fernando dos

Santos, o Paulão do PT de Maceió – AL.

I Encontro Regional da Juventude

Colônia Leopoldina foi sede do I Encontro Regional da Juventude, realizado nos dias 21 e

22 de maio de 1994, no qual reuniu as delegações de: Jundiá, Campestre, Novo Lino e Joaquim

Gomes. A UJIPA (União Jovem: Instrumento Presente Para o Amanhã) entidade recém-

fundada, foi a responsável pela brilhante organização do evento sociocultural. Em sua diretoria

constam os seguintes jovens: Saulo Wilker, Alexandre Félix, Wagner Lins, Ivanilson José,

Page 69: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

69

Márcio Roberto, Sandoval Almeida, José Joaquim, Rubens Vitor, Roberto Carneiro e Wellington

Sandro.

O coordenador da UJIPA, Saulo Wilker, abriu o evento no Clube UDAL. Na ocasião,

convidou para fazer parte da mesa de honra as seguintes autoridades: a prefeita do município,

Telma Melo; o representante da Pastoral da Terra, Valdo Lira Soares; e o presidente da UMEL,

Júnior Amorim, além dos expositores o professor da UFAL, Gabriel Louisle-Campion e do

representante da Secretaria do Meio Ambiente de Maceió – AL, Reinaldo Falcão. Os

palestrantes debateram o tema “Problema Ecológico em Alagoas” para um público superior a

mais de 500 espectadores.

À noite, no Centro Parouial, o tema “Questão Educacional em Alagoas” recebeu atenção

especial de um público seleto de educadores e estudantes. A palestra foi ministrada pela

representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT-AL), professora Margareth França e

contou com a participação do vereador Severiano Freitas, do comerciante e ex-vereador

Severino I. da Rocha e do presidente da UMEL, Júnior Amorim. Após o debate, exibiu-se um

documentário sobre “Gestão Democrática”, modelo educacional implantado na gestão do

prefeito Ronaldo Lessa (PSB), onde tem à frente da Secretaria M. de Educação de Maceió, a

professora Maria José Viana, do Partido dos Trabalhadores.

Prosseguindo o encontro na manhã do dia 22, realizou-se um torneio de futsal na

Quadra Municipal Mané Garrincha. E novamente, na parte da tarde, no Centro Paroquial,

promoveu-se uma enorme e importante palestra com a temática “Saúde e Sexualidade”.

Estes temas foram debatidos pela socióloga Vilma de Oliveira e pela assistente social

Ana Lúcia Marinho, da Sociedade Civil Bem-Estar Familiar do Brasil (BENFAM-AL). Marcou

presença nesta explanação, o engenheiro civil e candidato ao Governo de Alagoas, Marcos

Vieira e o jornalista e candidato ao Senado Federal, Régis Cavalcante.

Às 21:30h, o evento encerrou-se de forma magnífica no Clube UDAL, com uma

apresentação especial do Grupo Teatral Moinhos de Máscaras, de Maceió – AL, que encantou

o público com uma belíssima apresentação humorística.

UMEL instala Sala de Leitura Everaldo Araújo Silva

Depois de quatro longas décadas de uma incansável luta em busca por um espaço de

estudo e pesquisa, a atual geração representada pela UMEL, fundou no dia 05 de junho de

1994, a Sala de Leitura Everaldo Araújo Silva. A cerimônia de inauguração ocorreu às 09:00h,

na Rua Severino Ferreira de Lima, 254.. O espaço servirá simultaneamente de sal de leitura e

Page 70: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

70

também como sede da entidade. O imóvel pertence aos comerciantes: Antônio Carneiro e

Marinho Carneiro, o qual foi alugado a UMEL por um salário mínimo e que será pago

religiosamente todo mês da seguinte forma: o vereador Severiano Freitas financiará 50%

(cinquenta por cento) e o restante, ou seja, os outros 50% (cinquenta por cento) será rachado

com os demais vereadores Valdecir José, Dr. Ernane Santana, José Alfredo de Souza, Dr. Flávio

Lima, Lúcio Flávio, Maviael de Souza, Dr. Márcio Jorge e José P. do Nascimento (Fernando).

O ato sociocultural contou com presença de professores, estudantes, comerciantes,

políticos, organizações não governamentais – ONGs entre outras representações da sociedade.

Dentre 80 participantes estavam os diretores da UMEL – Júnior Amorim, Vilma Ferreira,

Gilberto Sobreira, Cícero Manoel da Silva, Chico Amâncio, Carlinhos Claudino, Daniel Amâncio,

Elisa Balbino e Ivanaldo José; o patrono da sala, escritor Everaldo Araújo Silva; o escritor e

proprietário do Supermercado Brilar em Maceió – AL, Severino Araújo e sua esposa,

engenheira Kátia Araújo; o pároco da Igreja M. Nossa Sra. do Carmo, padre Aldo Giazzon; os

comerciantes Severino Inácio da Rocha, Antônio Carneiro, Marinho Carneiro e Carlos H. S.

Maciel; os vereadores Valdecir José da Silva e Severiano Freitas; o presidente do PT de Colônia,

Jair de Assis; o coordenador da UJIPA, Saulo Wilker; o diretor do MST-AL, Adelmo Lins, a

presidente do Clube da Mulher do Campo, Odecilda Angelim de Lima, a presidente do PMDB,

Luciana Freitas, o locutor da Câmara, Ernande Balbino, o fotógrafo João Bosco Alves, o ex-

presidente do Grêmio Estudantil Antônio L. da Rocha, Hamilton Alexandre, os educadores –

Josefa Borges Amâncio, Adelmo Torres, Miguel Florêncio, Fabiano Amâncio, Paulo Edson

Araújo, Adalgisa Borges, Josefa Santana do Nascimento, Marilene P. de Melo, Edleusa Araújo

Edna L. Borges e Emanoel da Silva; o membro do Grupo dos Jovens, Valdemir Agustinho; o

cantor Valdir José; o músico Vitalino do Nascimento; os ex-líderes estudantis Romildo

Laurentino e Jamacy Agustinho, e os estudantes – Cícera Shirley, Valdir José das Neves,

Francisco Caetano, Vanessa Holanda, Geane M. Lins, Ronilda Maise, Lília Soares, Ester Viviane,

José Joaquim, Fredson Jorge, Jorge Alexandre, Francisco Manoel, Alexandre Félix, Josenilson

Silva, Érico da Silva, Wagner Lins, Jorge L. Alves da Silva e Dayse Aparecida.

Na cerimônia, fizeram parte da mesa as seguintes personalidades: o presidente da

UMEL, Júnior Amorim, o homenageado escritor Everaldo Araújo Silva, o vereador Severiano

Freitas, o padre Aldo Giazzon, e o secretário-geral da UMEL, Gilberto Sobreira. Em discurso

eloquente e franco, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, não economizou elogios ao perfil

do patrono da sala, que ao longo dos anos vem dando exemplo de amor como ninguém, a

nossa cidade. Para se ter uma ideia da sua grandeza histórica, é só lembrarmos do seu

esplêndido livro A Colônia de Princesa, lançado no dia 23 de janeiro de 1983, no qual o escritor

relata os heróis que marcaram a história de nosso povo. Júnior Amorim também parabenizou

Page 71: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

71

com orgulho o esforço dos diretores da UMEL, o apoio da Câmara M. de Vereadores, e

expressou agradecimento aos doadores dos livros entre eles e Aldo Giazzon, Elias M. Pinheiro,

Fabiano Amâncio, Miguel Florêncio, Adelmo Lins, Severino Araújo, Jadson Pedro, Edvaldo

Florêncio, Antônio Luna da Silva, João Neto, José L. Lessa da Silva, Manoel Jandaia, Severiano

Freitas, Rudson Sarmento, Josefa B. Amâncio, Jair de Assis, João Neto, Ruy Borges, Hamilton

Alexandre, Edleusa Araújo, Luciana Freitas e Everaldo Araújo Silva.

Após o seu pronunciamento, o padre Aldo Giazzon, benzeu as instalações abençoando a

todos pela enorme conquista social. O escritor Severino Araújo recitou inúmeras poesias dos

seus livros e destacou a batalha dos estudantes em transformar Colônia Leopoldina numa

potência educacional e cultural do Estado de Alagoas. Já o diretor da UMEL, Chico Amâncio,

ressaltou a importância do patrono Everaldo Araújo Silva em nossa sociedade leopoldinense. O

coordenador do MST-AL, Adelmo Lins, relatou as lutas árduas da juventude em prol de uma

biblioteca pública, principalmente, quando estava à frente do GRUCALE, onde enfrentou o

governo do então prefeito Zé Lessa, apresentando diversos projetos nas áreas da educação e

da cultura.

Para Saulo Wilker, coordenador da UJIPA, o movimento estudantil leopoldinense através

da UMEL, deu um gigantesco avanço na política cultural da nossa gente. “A homenagem

pública ao escritor Everaldo Araújo Silva simboliza respeito e toda dedicação que ele tem pela

terra natal”, destacou Saulo. Representando com honradez o Poder Legislativo, o vereador

Severiano Freitas fez uma explanação de alerta positivo sobre o benefício infinito que trará

sem sombra de dúvida, a sala de leitura para a comunidade leopoldinense, especialmente para

os estudantes e professores.

Em discurso emocionante, o homenageado escritor Everaldo Araújo Silva, deu um banho

literalmente falando para a encantada plateia. Com palavras mansas, verdadeiras e repletas de

sensibilidades, o mestre retribuiu à juventude a decência do título de maneira espetacular,

deixando assim, sobre suas mentes, uma mensagem clara e significativa: “Homenagem não se

implora. É dada espontaneamente com carinho e reconhecimento àquele cidadão que vê o

mundo de forma mais humana”, afirmou sabiamente o mestre. A emoção transportada dos

olhos repletos de lágrimas, acompanhada pela voz quase partida ao meio, foi recebida com

uma calorosa salva de palmas. No final do ato, os músicos Vitalino do Nascimento e Valdir

José, da Banda Filarmônica Sabino de Souza, executaram uma música a qual foi composta

especialmente em homenagem ao escritor Everaldo Araújo Silva.

Page 72: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

72

1a Corrida Junina de Pedestre

A UMEL organizou no dia 28 de junho de 1994, com patrocínio exclusivo da Farmácia

Veterinária COTASC (dos amigos Carlos Souza e Henrique Araújo) a 1a Corrida Junina de

Pedestre. Quinze atletas participaram da prova de resistência num percurso de 9 Km, cujo

asfalto de péssima qualidade era o maior desafio. Apesar desse obstáculo, os corredores

superaram o tempo máximo de 37 minutos da largada do trevo (BR 101), até a chegada

defronte a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo.

O maratonista José da Silva, o “Neguinho da Areia” – como é mais conhecido entre os

leopoldinenses, cravou o tempo de 29 minutos e sagrou-se o grande campeão da corrida. Em

segundo lugar ficou Jack e na terceira colocação Toinho (irmão do campeão).

Na cerimônia de premiação, o presidente da UMEL, Júnior Amorim, dignamente

condecorou o fantástico campeão “Neguinho da Areia” com taça e medalha de menção

honrosa pela brilhante conquista. Também foram condecorados com troféus e medalhas os

atletas Jack e “Toinho da Areia”, respectivamente, pelos diretores da UMEL, Chico Amâncio e

Carlinhos Claudino.

90 anos de Emancipação Política de Colônia Leopoldina

Em festejos aos 90 anos de Emancipação Política de Colônia Leopoldina, a UMEL

promoveu no dia 16 de julho de 1994, no Centro Paroquial, um debate memorável sobre o

tema com o escritor Everaldo Araújo Silva.

Atendendo a convite especial do presidente da entidade, Júnior Amorim, participaram

deste evento as seguintes personalidades: Edna Morais, Sandra Soares, Márcio Roberto,

Apolônia Luna, João Alves, Elton Fabrício, Paulo E. Araújo, Josefa B. Amâncio, Vitalino do

Nascimento, Romildo Laurentino, Ivânia M. B. Silva, Marcelo Moreira, Moisés Barreto, Marcelo

José, Givaldo Amorim, Ronaldo Adriano, Adelmo Lins, Amauri P. dos Anjos, Saulo Wilker,

Wagner Lins, Alexandre Félix, Geremias Alexandre, Daniel Amâncio, Chico Amâncio, Zé Mário,

Gilberto Sobreira, Cícero Manoel, Ivanaldo José e Carlinhos Claudino.

O debate questionou o descaso com a história política, social e cultural do município,

pois não há um planejamento nem a curto e nem a longo prazo para valorizar essas categorias.

Concluiu-se que, a comunidade está a mercê da sorte e do esforço das suas organizações, que

buscam de certa forma preservar as raízes culturais e as tradições da população.

Page 73: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

73

Relação Humana é tema de debate

A convite da UMEL, o empresário Severino Araújo, que também é poeta e um dos filhos

ilustres de Colônia Leopoldina, atual proprietário do Supermercado Brilar, em Maceió – AL,

ministrou uma palestra para 21 convidados no dia 24 de julho de 1994, no Centro Paroquial,

sobre a tese: “Relação Humana”.

No debate, entre os presentes estavam Elias M. Pinheiro, Ivânia M. B. Silva, Apolônia

Luna, Paulo Edson Araújo, Everaldo Araújo Silva, Zito Luna, Licínio Neto, Chico Amâncio,

Gilberto Sobreira, Carlinhos Claudino, Júnior Amorim, Amauri Pereira dos Anjos e Adelmo Lins.

Segundo o empresário, os mecanismos básicos para um bom relacionamento entre

patrão e empregado se dão por cinco fatores principais: Planejamento, Organização,

Comando, Coordenação e Controle.

UMEL conquista cadeira no Conselho Municipal de Saúde

A prefeita Telma Melo (PL), baixou “Portaria de no 58/94”, datada de 10 de agosto de

1994, na qual nomeou os representantes do Conselho Municipal de Saúde.

No governo municipal: José Gerônimo Neto (secretário de Saúde), vereador Dr. Ernane

Santana (suplente); Anita Borges (secretária de Educação), Galba Florêncio (suplente); Talmo

Melo (secretário de Finanças) e Nerutcha Luna (suplente).

A classe dos prestadores de serviço: Maria das Graças, Maria Dulcilene (suplente);

Edileide Caldas, Nilza Machado (suplente); Maria Clara e Daniel José (suplente).

E a dos usuários: João Sebastião (APPAGA), Odecilda Angelim de Lima (suplente);

Gilberto Sobreira (UMEL), Adelmo Lins (suplente); Maurício Pereira de Souza (Associação dos

Moradores do Mandacaru), Cícero Manoel (suplente); Moisés Augusto (Sindicato dos

Trabalhadores Rurais), Geraldo Ângelo da Silva (suplente); Aldo Giazzon (Igreja Católica), José

Ferreira da Silva (suplente); Ivandege Maria (Grupo dos Jovens) e Valdemir Agustinho

(suplente).

I Campeonato Estudantil de Futsal

De 19 de julho a 14 de agosto de 1994, realizou-se na Quadra Municipal Mané

Garrincha, o I Campeonato Estudantil de Futsal. O evento foi promovido pela UMEL que

contou com a participação de nove clubes, sendo eles: Zora, da Escola Municipal Zora de

Menezes; Aristheu, da Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade; NACES, do Supletivo 1o Grau; 2o

Page 74: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

74

Ano Magistério e 3o Ano Magistério, do Colégio Cenecista “Pe. Francisco”; 7a Série, 1o Ano

Contabilidade, 2o Ano Contabilidade e 3o Ano Contabilidade, da Escola de 1o e 2o Graus Antônio

L. da Rocha. Para a organização do certame, a entidade recebeu apoio exclusivo dos

patrocinadores Severiano Freitas (vereador), Júnior Luna (fornecedor de cana) e Everaldo

Araújo Silva (escritor). Na decisão do 1o Turno, dia 30/07, o 2o Ano Magistério goleou

facilmente o 1o Ano Contabilidade por 9 x 0. Os gols foram marcados por Eduardo (3); Márcio

Araújo e Iranildo (2); Lando e Edson Emídio (1). Rubens Vitor foi o árbitro da partida, auxiliado

por Geremias Alexandre e Ivanaldo José.

No dia 13/08, na disputa do 2o Turno, o 3o Ano Contabilidade venceu o 3o Ano

Magistério, pelo placar de 6 x 2. Os gols foram assinalados por Antônio José (5) e Samuel

Nicácio (1) para o time dos Contadorandos, e Djaílson e Cal Rocha (1) anotaram para os

Professorandos. Este jogo foi arbitrado por Ivanaldo José, tendo como auxiliares Geremias

Alexandre e Daniel Amâncio.

Na preliminar da grande final do dia 14 de agosto, as equipes do 1o Ano Contabilidade e

do 3o Ano Magistério disputaram o 3o lugar do campeonato. Num jogo bastante movimentado,

o 1o Ano Contabilidade bateu o rival por 5 x 2. Júnior Guerra foi o autor dos cinco gols do 1o

Ano Contabilidade, enquanto Djaílson e Cal Rocha marcaram os tentos da equipe dos

Professorandos.

Disputaram o título, o 2o Ano Magistério (campeão do 1o Turno) versus o 3o Ano

Contabilidade (campeão do 2o Turno). Neste clássico, os Contadorandos ficaram com o prêmio,

aplicando uma goleada impiedosa de 12 x 2. Os gols do 3o Ano Contabilidade foram marcados

por Maurício (5); Antônio José (3); Samuel Nicácio (2); Danilo e Franklin (1). Edson Emídio e

Lando (1) descontaram para o 2o Ano Magistério. As duas partidas finais, foram arbitradas por

Geremias Alexandre, auxiliado por Ivanaldo José e Daniel Amâncio. Os quatro clubes finalistas

e os destaque da competição receberam da diretoria da UMEL, troféus e medalhas de honra

ao mérito. Na cerimônia de premiação, se fez presente a diretora do Colégio Cenecista Pe.

Francisco, Gisélia Sobreira. E para comemorar o encerramento do torneio, a diretora Gisélia

Sobreira deu uma recepção as equipes na Pastelaria Chinesa do amigo Bada.

Os clubes, os gols e os melhores do campeonato:

7a Série: Jorge (G), Paulo Henrique (11), Eran (11), Sinho (4), Jailson (2), Binho, Manoel,

Josenildo e Marcone; 1o Ano Contabilidade: Everaldo (G), Júnior Guerra (25), Luciano (9),

Romildo Lopes (6), Jorginho (2), Bráulio (1), Juscelino (1), Sérgio e José Carlos; 2o Ano

Contabilidade: Misael (G), Francisco Assis (5), Cosmo (3), Jefferson (3), Genilson (1). Chico

Amâncio (1), Lindomar, João Alves e Cosmo Soares; 3o Ano Contabilidade: Zé Mário (G),

Antônio José (23), Samuel Nicácio (16), Maurício (12), Ailton (6), Danilo (6), Franklin (3),

Page 75: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

75

Luciano, Antônio Marcelino e Cícero Cláudio; Zora: Misso (G), Eraldo (8), Del (6), Júnior

Gouveia (2), Rosenildo, Marinaldo, Manoel, Wellington e Welma; NACES: Bau (G) Val (12),

Rodemendes (4), Van (4), Adriano (3), Eduardo (2), Agenor Alves (1), e Wilson (1); 2o Ano

Magistério: Gilberto (G), Eduardo (16), Lando (13), Iranildo (12), Edson Emídio (10). Lon (8),

Márcio Araújo (3), Erivan Soares (1), Iran, Rogério e Valdemir; 3o Ano Magistério: Lito (G),

Djaílson (16), Cal Rocha (14), Marquinhos (7), Valmir (6), Gilsomar (1), Moga e Marzinho;

Aristheu: Netinho (G), Araponga (7), Eduardo (5), Cristiano (3), Rafael (3), Peba (2), Vicente (1),

Wilton (1), Pedro, Elinaldo e Ademir. Melhor Goleiro: Netinho, do Aristeu; Goleiro M. Vazado:

Zé Mário, do 3o Ano Contabilidade; Artilheiro: Júnior Guerra, do 1o Ano Contabilidade, com 25

gols; Melhor Jogador: Lando, do 2o Ano Magistério e Jogador Revelação: Maurício, do 3o Ano

Contabilidade.

UMEL empata com Almoxarifado em partida amistosa

A UMEL representada por um time misto de diretores enfrentou a fortíssima esquadra

do Almoxarifado, da Destilaria Porto Alegre, no dia 16 de agosto de 1994, em partida amistosa

realizada na Quadra Municipal Mané Garrincha.

Os clubes fizeram uma bela apresentação. O jogo terminou empatado em 5 x 5. Os gols

da UMEL foram anotados por Márcio Araújo (2); Gilberto Sobreira, Júnior Amorim e Franklin

(1) um gol cada. Do lado do Almoxarifado marcaram Joílson (2); Adelmo Torres, Eduardo e

Edson (1) um gol cada.

O elenco estudantil formou com Zé Mário (goleiro); Carlinhos, Chico, Júnior Amorim, Zé

Luiz, Márcio Araújo, Franklin e Gilberto Sobreira. Representou o Almoxarifado os atletas Dário

(goleiro); Lula, Adelmo Torres, Edson, Eduardo e Joílson.

Eleições estudantis

De 08 de junho a 18 de agosto de 1994, a UMEL mobilizou mais uma vez com sucesso

absoluto os estudantes leopoldinenses para as eleições gerais à presidência da entidade e dos

grêmios Antônio Lins, Cenecista e Aristheu de Andrade.

Registros das chapas – A campanha ganhou mais força após uma ampla reunião com 22

lideranças estudantis realizada na Sala de Leitura Everaldo Araújo Silva, na qual o presidente

Júnior Amorim deferiu os registros das chapas. Para à presidência da UMEL foram constituídas

três capas, sendo elas: Chapa 1 – Chico Amâncio (presidente) e Gilberto Sobreira (vice-

presidente); Chapa 2 – Cícero Manoel (presidente) e Luciano José (vice-presidente) e a Chapa 3

Page 76: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

76

– Genésio (presidente) e Robertinho Carneiro (vice-presidente). No Grêmio Estudantil Antônio

Lins da Rocha registrou-se a Chapa “Única” – Jefferson Macêdo (presidente) e Érica Valéria

(vice-presidente). Também no Grêmio Estudantil Cenecista confirmou-se apenas a Chapa –

Erivan Soares da Silva (presidente) e Rosejane G. Wanderley (vce-presidente). Enquanto, no

Grêmio Estudantil Aristheu de Andrade registrou-se duas fortíssimas chapas. A Chapa 1 com

Apolônia Luna (presidente) e Sandra Soares (vice-presidente) e a Chapa 2 com Meilton Luna

(presidente) e Reginaldo Luiz (vice-presidente).

Debate Estudantil – Em homenagem ao Dia do Estudante promoveu-se no Clube UDAL,

às 21:00h, com um público de, aproximadamente, 500 participantes, um imenso fórum e

debate entre as referidas chapas. Após abertura oficial do ato, os candidatos Chico Amâncio,

da Chapa 1, e Cícero Manoel, da Chapa 2, tentaram apresentar sem sucesso os seus planos de

governo, os quais foram recebidos por uma sonora vaia pelos aliados da Chapa 3 – “UMEL de

Cara Nova”. Com uma batucada infernal, a estratégia organizada e bem “orientada” da equipe

de Genésio, atingiu o planejado: neutralizou os adversários. Essa eufórica ala só era controlada

quando o próprio candidato Genésio usava da palavra na tribuna. Tudo isto não passava de

uma encenação, pois a finalidade desses grupos era tumultuar de fato o desempenho dos

candidatos adversários no encontro. Na prática, os aliados da Chapa 3 – “UMEL de Cara Nova”

sabiam que seu candidato não reunia experiência suficiente em relação aos demais. Durante o

fórum, muitos apelos foram feitos para acalmar os estudantes. Contudo, indivíduos infiltrados

entre as chapas iniciaram um confronto direto. O saldo dessa confusão: estudantes agredidos

e, por fim, o cancelamento do evento. Apesar desse lamentável conflito, os estudantes tiveram

ainda fôlego para saírem às ruas comemorando o sagrado dia “D”.

Propostas – A Chapa 1 – “Dinâmica e Luta” encabeçada por Chico Amâncio elaborou o

Plano de Governo na b ase de uma visão mais ampla da política educacional e do compromisso

social da UMEL com toda comunidade leopoldinense.

O Plano de Governo da Chapa ‘ – “Dinâmica e Luta”. Para tanto:

Articular a implantação do Conselho Municipal de Educação e o funcionamento da

Biblioteca Pública Dr. Neyder Alcântara de Oliveira;

Mobilizar as fundações dos Conselhos Escolares;

Defender o Concurso Público para a carreira do magistério e funcionários em geral;

Defesa do Plano de Cargos e Carreiras – PCC;

Lutar pela Gestão Democrática (eleições diretas para diretores nas escolas municipais);

Promover atividades pedagógicas (cursos literários, exposições de livros, ampliação do

Jornal Voz Estudantil, exibição de vídeos e documentários);

Page 77: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

77

Organizar atividades culturais e esportivas (incentivo à formação de grupos de teatro,

festivais musicais, revelação de pintores e desenhistas, torneios e campeonatos estudantis);

Aquisição de uma sede própria para a Sala de Leitura Everaldo Araújo Silva;

Qualificação profissional e encaminhamento ao mercado de emprego;

Implantação da Carteira do Estudante (fazer valer a lei da “Meia Entrada” e firmar

convênios com órgãos públicos, ONGs e setor privado;

Cidadania (aquisição de documentos: RG, Reservista, Carteira do Trabalho, Título de

Eleitor);

Defesa da criação do Crédito Educativo.

Grupos de apoio A Chapa 1 – “Dinâmica e Luta” recebeu o apoio da maioria dos

diretores da UMEL, também dos candidatos à presidentes Jefferson Macêdo e Apolônia Luna,

nos grêmios estudantis Antônio Lins e Aristheu de Andrade, respectivamente, além de

pouquíssimos professores e partidos políticos (PMDB, PSB e uma ala do PT). O militante do PT

e candidato da Chapa 2, Cícero Manoel não recebeu adesão nenhuma, pois sua candidatura

não foi nem aprovada pela cúpula do Partido dos Trabalhadores.

No entanto, a Chapa 3 – “UMEL de Cara Nova” liderada pelo fenômeno Genésio José, 6a

Série do Colégio Cenecista e monitor da “Horta Nossa Eseprança”, da Associaão de

Trabalhadores e de Pequenos Produtores Rurais – (ATRAPO), reuniu em torno de sua

candidatura diversos grupos (UJIPA, ATRAPO, Grupo dos Jovens) – coordenados pela Igreja

Católica, vereadores da situação, todos os escalões do poder executivo: prefeita, vice-prefeito,

secretários, diretores das escolas, militância do “PT de Cara Nova”, os articuladores Rudson

Sarmento e Hamilton Alexandre, além das chapas – “Única” no Colégio Cenecista e a “2” no

Aristheu de Andrade. Esse bolo bem recheado de “aliados” – tinha uma posição notória: uns

controlar a UMEL com o objetivo de levar adiante projetos políticos e sociais, e outros destruí-

la, pois o movimento incomodava muita gente. Gente essa, que se sentia ameaçada no seu

intocável cargo.

O pleito – 810 estudantes de quatro educandários participaram das eleições da UMEL e

dos grêmios estudantis realizados no dia 18 de agosto. Este número representa uma marca

histórica para o movimento estudantil, pois a categoria atingiu mais de 5% (cinco por cento) da

população leopoldinense. As eleições transcorreram em clima festivo e tranquilo, onde contou

com a cooperação de diretores, professores e funcionários das escolas.

Apuração – às 22:00h, no Clube UDAL, deu-se a apuração do pleito. No ato, se fizeram

presentes as seguintes personalidades: Júnior Amorim, Gilberto Sobreira, Carlinhos Claudino,

Érica Valéria, Daniel Amâncio, Cícero Manoel, Sandra Soares, Ivanaldo José, José Mário e Chico

Amâncio (diretores da UMEL), Arnaldo Sobreira (diretor do Clube UDAL), Rudson Sarmento

Page 78: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

78

Maia (agrônomo), Saulo Wilker (coordenador da UJIPA), Gisélia Sobreira (diretora do Colégio

Cenecista), Josefa Araújo S. Borges e Maria F. Alves (secretárias do Colégio Cenecista), Edson

Alves (diretor do Curso de Contabilidade), Verônica Maria (diretora da Escola Aristheu de

Andrade), Maria da Silva, Jaqueline Domingos, Gilvan José, Miguel Florêncio e Lucineide Maria

(professores), além dos estudantes Genésio, Robertinho Carneiro, Jefferson Macêdo, Erivan

Soares da Silva, Rosejane Wanderley, Apolônia Luna, Meilton Luna, Reginaldo Luiz, Bráulio

Cosmo, Lucinalda Andrade, Ednaldo Jorge, Juliana Maria, Andreza Marques, Juliana Maria,

Maria Verônica, Rodemendes Wanderley, Manuela Domingos, Regina Marques, Daula M. G.

Lúcio e Ivânia M. B. Silva. A mesa diretora dos trabalhos foi composta por Gisélia Sobreira,

Edson Alves, Josefa A. S. Borges, Verônica Maria, Maria da Silva, Jaqueline Domingos e

Lucineide Maria. Finalizada a contagem dos votos pela mesa diretora, foi declarada eleita com

507 votos a Chapa 3 – “UMEL de Cara Nova” liderada por Genésio e Robertinho Carneiro, com

uma diferença de 246 votos para a segunda colocada e, 408 votos da terceira colocada. Para à

presidência do Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha foi eleito o companheiro Jefferson

Macêdo. E no Grêmio Estudantil Cenecista elegeu-se a Chapa “Única” – Erivan Soares e

Rosejane G. Wanderley. Enquanto isso, a disputa da presidência do Grêmio Estudantil Aristeu

de Andrade foi mais acirrada entre os primos “Luna”. Mesmo assim, a Chapa 2 – Meilton Luna

e Reginaldo Luiz venceu com uma diferença de 49 votos.

Resultado por educandários – Eleição UMEL/1994

Colégio Cenecista Pe. Francisco - CNEC

Chapa Candidato Votação

1 Francisco José Borges Amâncio /

Alexandre Gilberto Sobreira 55

2 Cícero Manoel da Silva /

Luciano Jose da Silva 02

3 Genésio da Silva /

Roberto Carneiro da Silva Júnior 101

Nulos 03

Brancos 01

Total 102

Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha

Page 79: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

79

Chapa Candidato Votação

1 Francisco José Borges Amâncio /

Alexandre Gilberto Sobreira 93

2 Cícero Manoel da Silva /

Luciano Jose da Silva 04

3 Genésio da Silva /

Roberto Carneiro da Silva Júnior 223

Nulos 06

Brancos 03

Total 329

Escola de 1o Grau Aristheu de Andrade

Chapa Candidato Votação

1 Francisco José Borges Amâncio /

Alexandre Gilberto Sobreira 104

2 Cícero Manoel da Silva /

Luciano Jose da Silva 03

3 Genésio da Silva /

Roberto Carneiro da Silva Júnior 179

Nulos 08

Brancos

Total

NACES (Supletivo 1o Grau)

Chapa Candidato Votação

1 Francisco José Borges Amâncio /

Alexandre Gilberto Sobreira 09

2 Cícero Manoel da Silva /

Luciano Jose da Silva 00

3 Genésio da Silva /

Roberto Carneiro da Silva Júnior 14

Total 23

Page 80: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

80

Votação dos candidatos a Presidente da UMEL – Gestão: 1994/1996

Chapa Candidato Votação

1 Francisco José Borges Amâncio /

Alexandre Gilberto Sobreira 261

2 Cícero Manoel da Silva /

Luciano Jose da Silva 09

3 Genésio da Silva /

Roberto Carneiro da Silva Júnior 507

Nulos 16

Brancos 06

Total 810

Grêmio Estudantil Aristheu de Andrade

Chapa Candidato Votação

1 Apolônia Alzira R. Luna da Silva /

Sandra S. da Silva 114

2 Meilton Luna /

Reginaldo Luiz 163

Nulos 11

Brancos 08

Total 296

Passeata marca aniversário do Mandacaru

Uma passeata com mais de 600 pessoas pelas principais vias públicas da cidade, no dia

20 de agosto de 1994, marcou as festividades em homenagem ao terceiro aniversário do

Mandacaru. O ato foi organizado pela Associação dos Moradores do Mandacaru.

O presidente da AMM, Maurício Pereira de Souza, contou com as presenças dos

membros do MST-AL, Eloísa Gabriel e Adelmo Lins; dos presidentes do PT e da UMEL,

respectivamente, Jair de Assis e Júnior Amorim; além da vice-prefeita de Maceió e candidata a

deputada estadual, Heloísa Helena e do presidente da CUT-AL e candidato a deputado federal,

Paulo Fernando dos Santos Paulão), ambos pelo Partido dos Trabalhadores.

O ato encerrou-se após discursos dos líderes ao lado da quadra de esportes, num

palanque improvisado com um caminhão. Na ocasião, a cúpula do governo municipal mandou

Page 81: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

81

desligar os refletores. Apesar desta baixa, a festa não perdeu o brilho, pois a lua, as estrelas e o

povo foram testemunhas da verdade.

I Torneio Veteranos de Futsal

Através da UMEL e com a coordenação do desportista João Reis de Figueiredo, realizou-

se o I Torneio Veteranos de Futsal, no dia 21 de agosto de 1994, na Quadra Municipal Mané

Garrincha. Participaram da competição os seguintes clubes: ASV, Veteranos F. C. (Barrigudos),

ASPA, Garagem F. C. de Veteranos, Usina Taquara e Polícia Militar.

O torneio contou com o patrocínio da Drogaria Central, da Casa São Geraldo e do

vereador Severiano Freitas. Resultados dos jogos da 1a fase: pelo Grupo “A” ASV 1 x 3 ASPA,

Garagem 4 x 5 ASV e ASPA 5 x 1 Garagem; e pelo Grupo “B” PM 1 x 2 VFC (Barrigudos), Usina

Taquara 2 x 4 PM e VFC (Barrigudos) 8 x 0 Usina Taquara. Placar das partidas das semifinais:

ASPA 4 x 4 PM (nos pênaltis: ASPA 4 x 3) e VFC (Barrigudos) 1 x 2 ASV.

Na final, o ASPA goleou o ASV por 5 a 0, sagrando-se campeão invicto. Os gols foram

marcados por Miro e Valter (2) e Girico (1). Miro, do ASPA, foi o artilheiro do torneio, com 7

gols assinalados. Na cerimônia de premiação, o presidente da UMEL, Júnior Amorim e o

desportista João Reis de Figueiredo, condecoraram o campeão e o vice-campeão,

respectivamente, com troféus e medalhas de honra ao mérito. A festa encerrou-se com um

coquetel oferecido aos atletas e convidados.

Erivan Soares empossa diretoria do Grêmio Cenecista

No dia 14 de setembro de 1994, o presidente Erivan Soares da Silva juntamente com a

sua vice-presidente Rosejane Gama Wanderley, empossaram a mais nova diretoria do Grêmio

Estudantil Cenecista Pe. Francisco.

A diretoria que responderá por um mandato de um ano (14/09/94 a 14/09/95), é

formada pelos seguintes membros: Gilberto Sobreira (secretário geral), Daniela Karlla

(tesoureira), Orlando José (diretor de esportes), Juliana Maria (diretora de imprensa), Patrícia

Palmeira (diretora de educação), Márcio Araújo (diretor de patrimônio), Rosilene Maria da

Silva (diretora de cultura), Josivânea Nunes (diretora social) e Gilvaneide Bezerra (conselheira

fiscal).

Nota-se nesta composição a mensagem de diretores com vasta experiência, entre eles,

destacamos os ex-diretores da UMEL: Gilberto Sobreira, Daniela Karlla, Patrícia Palmeira e

Josivânea Nunes.

Page 82: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

82

Transição de cargos: o novo presidente da UMEL, Genésio é empossado em cerimônia

bastante festiva

O presidente Júnior Amorim, da UMEL, empossou como novo presidente da entidade na

noite de sábado, dia 17 de setembro de 1994, o jovem Genésio da Silva, de 18 anos. A

solenidade aconteceu no Clube UDAL, com presenças do padre Aldo Giazzon; do juiz Antônio

Luna da Silva; da diretora Gisélia F. Sobreira, do Colégio Cenecista Pe. Francisco – CNEC; do

presidente Maurício P. de Souza, da Associação dos Moradores do Mandacaru; do vereador

Severiano Freitas; do coordenador Adelmo Lins, do MST-AL; da advogada Almira Melo; da

presidente Luciana Freitas, do Diretório M. do PMDB; do ex-presidente Caetano Monteiro de

Lima, do Grêmio Estudantil Antônio L. da Rocha; do militante Romildo Laurentino, do PT de

Colônia Leopoldina; da diretora Amara Marques de Araújo, da ATRAPO; dos educadores –

Adelmo de Oliveira Torres e Elda Brito; e das estudantes Ivânia M. B. Silva e Apolônia Luna,

dentre outras personalidades de renome no município.

A formação da mesa foi composta por Júnior Amorim, Vilma F. B arbosa, Gilberto

Sobreira, Lenilda Maria, Chico Amâncio, Elisa M. Balbino, Carlinhos Claudino, Daniel Amâncio,

Sandra Soares, Érica Valérica, Patrícia Palmeira, Cícero Manoel e Josivânea Nunes.

Na oportunidade, o presidente Júnior Amorim, fez a saudação aos presentes

reafirmando a importância da entidade na questão das ações em relação aos estudantes do

município. Em seguida, os diretores Gilberto Sobreira e Lenilda Maria leram, respectivamente,

a “Ata da Eleição-1994” e a “Prestação de Contas da Gestão-1992/94”. No momento da

transição da presidência, Genésio assinou com os demais diretores o termo de posse e

recebeu das mãos de Júnior Amorim a chave da Sala de Leitura Everaldo Araújo Silva. Após

assumir à presidência, Genésio antes mesmo do seu primeiro pronunciamento, franqueou a

palavra a plateia.

Ativo na defesa dos interesses sociais, o vereador Severiano Freitas (PMDB), em suas

palavras elencou o trabalho da UMEL e comprometeu-se em manter forte e firme sua relação

de contribuição também com a nova diretoria ora empossada. O segundo orador, Adelm Lins,

coordenador do MST-AL, enfatizou o papel positivo de transformação que a UMEL promoveu

com esforço junto a comunidade escolar ao longo desses dois primeiros anos de fundação.

Representando a categoria estudantil, Apolônia Luna, 8a série da Escola de 1o Grau Aristheu de

Andrade, não economizou elogios aos ex-diretores da UMEL, destacando-os pela coragem e

pela mensagem de garra e de dedicação, que encararam os obstáculos em prol de uma melhor

qualidade de vida para o povo leopoldinense.

Page 83: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

83

Em discurso cauteloso, Genésio disse que iria conduzir a UMEL com novas mudanças em

sua estrutura política. Falou também que a incumbência de dirigir a entidade é de toda a

equipe, e que buscará parceria principalmente junto aos seus aliados. No entanto, defendeu a

autonomia da UMEL. Segundo ele, este ponto tem que ser preservado. Finalizou agradecendo

feliz aos que depositaram confiança em seu grupo, particularmente na sua pessoa. O

secretário-geral Saulo Wilker, um dos líderes da nova diretoria da entidade, frisou em seu

pronunciamento que a partir daquele momento, iniciaria uma nova fase na política estudantil.

Segundo ele, a UMEL adotará uma postura menos agressora nos embates políticos.

Diretoria da UMEL (Gestão: 1994/96)

Presidente: Genésio da Silva: Vice-presidente: Roberto Carneiro da Silva Júnior;

Secretario geral: Saulo Wilker Marques Silva; Assessora geral: Maria Dagmar Barbosa; Diretor

de patrimônio: Sandoval da Silva Almeida; Diretores financeiros: Luis Carlos da Silva do

Nascimento e Maria Verônica; Diretores de cultura; Vitalino do Nascimento e Erivelton José da

Silva; Diretores de esporte: Ivanilson José da Silva e Alessandro da Silva Pereira; Diretores de

educação: Wagner Lins Cavalcante e Silvanio dos Santos; Diretores de política: José Ferreira da

Silva e Paulo Edson Araújo; Diretores de imprensa: Wellington Sandro Silva de Carvalho e Jorge

Alexandre da Silva; Diretores de direitos humanos: Valdemir Agustinho de Souza e Maria das

Graças da Silva; Diretores de Assuntos sociais: Márcioi Moreira Bezerra Silva e Gilvaneide

Maria da Silva.

Música é vida

Através da iniciativa do escritor Everaldo Araújo Silva, com o apoio do músico Vitalino do

Nascimento e de Paulo Edson Araújo, respectivamente, diretores de Cultura e de Política da

UMEL, fundou-se uma entidade em homenagem a um dos mais conceituados músicos

leopoldinense, o ex-professor Sebastião Silva Braga (Bastos), no dia 18 de setembro de 1994.

O evento se deu no Centro Paroquial, com presenças de mais de 50 pessoas

representando diferentes segmentos da sociedade leopoldinense. A entidade foi batizada de

Sociedade Musical Prof. Sebastião Braga. Durante a solenidade, o escritor Everaldo Araújo

Silva explicou que o principal objetivo da sociedade musical ora constituída, será executar um

trabalho árduo com crianças e adolescentes carentes em faixas etárias entre 07 aos 17 anos,

Page 84: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

84

onde terão a oportunidade de receberem ensinamentos gratuitamente, de aulas teóricas e

práticas de música instrumental.

Outro ponto importante deste projeto, é que os seus fundadores espelham-se no

exemplo bem-sucedido da Fundação Música e Vida dos Meninos de São Caetano, coordenado

pelo maestro Mozart Vieira, no município de São Caetano do Sul – PE.

O governo de Genésio

Em outubro de4 1994, a diretoria da UMEL através do seu presidente Genésio da Silva,

lançou com uma nova face a primeira edição do Jornal Voz Estudantil. O jornal enfocou os

principais acontecimentos aos meses de setembro e outubro.

Para a tiragem deste boletim noticioso e de grande valia para a categoria estudantil, a

entidade contou com o apoio expressivo da Prefeitura Municipal de Colônia Leopoldina, da

Câmara M. de Vereadores, do Comercial Rocha Ltda. e da Paróquia Nossa Senhora do Carmo.

Levando sempre informações importantíssimas em suas páginas com conteúdos verídicos e

imparciais, o informativo destacou-se mais uma vez junto a todos os setores da sociedade.

Entre os textos em vitrines, a matéria com o título “Desafio”, de autoria de Paulo Edson

Araújo, abordou a capacidade de ler e escrever. Outro texto que mereceu a atenção especial,

com o título “Conquista”, escrito pela secretária municipal de Educação, professora Anita

Borges, tratava do drama da categoria do Magistério.

A equipe de coordenação da “Horta Nossa Esperança”, da ATRAPO, deu também sua

parcela de contribuição para a redação do jornal, com o tema “Esperança”. A reportagem

referiu-se a história da fundação do projeto da horta, no qual divulgou os dados das atividades

desenvolvidas pela equipe com as crianças carentes do nosso município.

Page 85: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

85

Capítulo VII – Depoimentos e cartas

Ter acompanhado Júnior Amorim, para mim foi de uma satisfação imensa, pois sua garra

e determinação fazem dele este líder nato, a quem tive a honra de trabalhar ao seu lado

e, ter aprendido tantas coisas com ele. Sempre firme e forte nas suas decisões, tornou-

se um irmão, um companheiro de luta a quem admiro e respeito.

Vilma Ferreira Barbosa

(ex-vice-presidente da UMEL 1992/94)

Transcendente, dotado de virtude simples, mas bem definidas, demonstrou veemência,

compatibilidade e, sobretudo, seriedade. Digno representante dos interesses coletivos

dos estudantes.

Francisco José Borges Amâncio

(ex-diretor da UMEL 1992/94)

Comentar sobre Júnior Amorim, é lembrar o sucesso do movimento estudantil. O que

ele deixou de lembrança do seu mandato como presidente da UMEL, foi a realização de

uma conquista em favor da massa estudantil. Nenhuma forma de agradecimento do

mundo, pode recompensar o que ele realizou por nós: fez com que nos acreditássemos

no valor que tem um estudante. E soube mostrar a nossa sociedade que “os estudantes

unidos ninguém os detêm”. Em nome de todos os estudantes, obrigada Júnior Amorim,

por ter feito de nós verdadeiros estudantes.

Apolônia Alzira Rodrigues Luna da Silva

(ex-estudante da Escola Aristheu de Andrade)

A princípio, gostaria de parabenizá-lo pela atuação da UMEL. Fico muito feliz em saber,

que não é só nas capitais que pulsa o movimento estudantil (...).

José A. Parente (Totó)

Coordenador Geral da UBES São Paulo SP, em 12/07/93

(...) Queremos trocar ideias com você no que diz respeito a visão política da UMEL, em

relação ao nosso pais.

Cláudia V. Cavalcante

Diretora da UBES e Secretária-Geral da UMES

São Paulo – SP, em 07/01/94

Page 86: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

86

Page 87: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

87

Capítulo VIII - Entrevistas

“... A luta pelo direito é constante, e deve ser o ideal de toda

sociedade organizada...”

ANA FLORINDA M. DA SILVA DANTAS

Juiz de Direito

Entrevista concedida ao presidente Hamilton Alexandre da Silva, do

Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha e publicada no Jornal do

Estudante em 08 de outubro de 1991.

Ana Florinda Mendonça da Silva Dantas, 37 anos, nasceu em Salvador – BA. Magistrada

em Direito pela Faculdade de Salvador – BA, advogou durante 09 anos, os quais exerceu como

Procuradora do Estado da Bahia. Vinda para Alagoas, prestou concurso para o Tribunal de

Justiça no cargo de juiz de direito, e aprovada com mérito e competência, é hoje a juíza da

nossa comarca. Nesta entrevista, a juíza aborda assuntos polêmicos, inclusive, a ação do MST

na ocupação do terreno localizado no Engenho Santo Antônio, propriedade da Companhia

Habitacional Popular do Estado de Alagoas COHAB/AL, em 20 de agosto de 1991, por cem

famílias carentes que recebeu o nome de Mandacaru.

Jornal do Estudante – De que forma a senhora ver o nosso município?

Juíza – Como um reflexo das dificuldades pelos quais passa o país e o Estado de Alagoas

em particular.

Jornal do Estudante – O que deveria mudar?

Juíza – As mudanças necessárias são as mesmas esperadas no país: a visão do

desenvolvimento do município como um todo, em que seja dada prioridade à educação, à

saúde e ao desenvolvimento social.

Jornal do Estudante – Como a senhora ver o ensino do município?

Juíza – Possuo poucas informações a respeito, mas tenho uma visão positiva dos

resultados, a partir do nível dos auxiliares com que conto.

Jornal do Estudante – Ao lançar o Concurso de Redação qual era o seu objetivo?

Page 88: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

88

Juíza – O concurso é uma experiência que teve início no município de São Sebastião –

AL, minha primeira comarca. O seu objetivo é levar ao jovem estudante a refletir sobre um

tema que considero relevante naquele momento, despertando discussões e debates a seu

respeito.

Jornal do Estudante – Já foi criado o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do

Adolescente – CMDCA?

Juíza – O Conselho Titular já foi criado através da lei municipal, mas ainda não ocorreu a

sua implantação, que é uma das minhas prioridades no momento. Será o tema de palestra a

ser proferida pelo promotor da comarca no próximo dia 15 de outubro, às 19:00h, no Salão

Paroquial.

Jornal do Estudante – Os “menores de rua” estão aumentando cada vez mais em

Colônia. O que fazer para reverter este quadro?

Juíza – Trabalhar muito, enfrentando a falta de condições e usando toda a equipe

disponível. Foi criado recentemente um grupo de Comissários Orientadores, que vêm atuando

no cadastramento dos menores que apresentam comportamento desajustado socialmente, e

acompanhando os casos junto às respectivas famílias. Estamos ainda desenvolvendo vários

projetos que serão apresentados à comunidade no encontro programado para o dia 15

próximo. A participação da comunidade é fundamental para o êxito desse tipo de trabalho.

Jornal do Estudante – O Executivo e Legislativo têm contribuído para chegar a uma

solução?

Juíza – Tenho notado um interesse na cooperação, e espero que diante de propostas

concretas a colaboração se efetive. Até o momento tanto o Legislativo com a apresentação do

projeto de lei regulamentando a atividade do Conselho Tutelar do município, como o

Executivo, aprovando e sancionando a lei, não nos tem faltado com o apoio necessário.

Jornal do Estudante – A senhora criou o Comissário de Menores. Para que serve?

Juíza – O seu objetivo é o acompanhamento e a orientação dos casos de crianças e

adolescentes com desajustes sociais ou que pratiquem infrações, buscando facilitar a

integração desses jovens com a comunidade, prevenindo futuras ocorrências de maior

gravidade.

Page 89: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

89

Jornal do Estudante – No Brasil, a violência e o extermínio de menores vêm mais por

parte de policiais. O que fazer para acabar com isto?

Juíza – Cada caso deve ser apurado, e punido com rigor os culpados. O trabalho

preventivo, como o que pretendemos realizar, visa justamente evitar que em nosso município

o problema atinja níveis de maior gravidade.

Jornal do Estudante – A senhora acha que é necessário uma mudança na Constituição?

Juíza – Sim, desde que seu objetivo seja um aprimoramento das instituições e não um

pretexto para retrocessos nos direitos já conquistados pelos cidadãos.

Jornal do Estudante – É legal o Movimento do Sem Teto?

Juíza – Eventualmente tais movimentos podem ignorar as normas legais, pois se

constituem em mecanismos de pressão para modificar uma situação social que lhe é adversa.

Jornal do Estudante – Qual o seu parecer sobre a violência ocorrida em Maceió com os

sem teto?

Juíza – Toda violência deve ser condenada, pois não constrói. Quanto ao episódio em

particular, tudo o que sei é fruto de leitura dos jornais, que nem sempre espelham a realidade,

e portanto me sinto incapacitada para emitir uma opinião mais contundente. Em princípio sou

contra toda forma de violência.

Jornal do Estudante – Todo trabalhador tem direito no mínimo a um salário. O que fazer

para o cumprimento desta lei?

Juíza – Recorrer aos mecanismos que a lei põe à disposição do cidadão para fazer valer

os seus direitos. A luta pelo direito é constante, e deve ser ideal de toda sociedade organizada.

A cada direito que tenha sido desatendido corresponde um meio de faze-lo efetivo, cabendo

ao cidadão prejudicado buscar a orientação de um profissional de direito para dar a solução

ideal e adequada para cada caso.

Jornal do Estudante – O Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha tem como objetivo o

desenvolvimento da educação e o bem-estar da sociedade. Para isto, criamos o nosso jornal. O

que a senhora acha desta iniciativa?

Juíza – Desde o primeiro numero que recebi e li, venho acompanhando com atenção e

entusiasmo esse trabalho, que considero da maior importância, pois revela nos seus

idealizadores e colaboradores a existência de uma mobilização, de um ideal em prol dos seus

Page 90: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

90

objetivos. O grêmio estudantil está de parabéns pela iniciativa, que espero se desenvolva a

cada dia, inclusive com execução de outros projetos com o entusiasmo e a criatividade que nal

faltam aos seus membros.

Page 91: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

91

“... Os mandacarus se multiplicarão à medida que as instituições de

hoje e de amanhã, acumularem riqueza e poder a custa dos mais

fracos...”

ALDO GIAZZON

Padre

Entrevista concedida ao presidente Hamilton Alexandre da Silva, do

Grêmio Estudantil Antônio Lins Rocha e publicada no Jornal do

Estudante em 14 de fevereiro de 1992.

O padre Aldo Giazzon nasceu na cidade de São Giustina – Belluno, na Itália, no ano de

1938. Desde 1984 é o pároco da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo. Em 1988, foi o

principal fundador da Associação de Trabalhadores e Pequenos Produtores Rurais – ATRAPO,

em Colônia Leopoldina. Destaca-se a seguir, nesta entrevista os mais importantes assuntos

sobre catolicismo, teologia, moradia popular, educação, política entre outros mais.

Jornal do Estudante – Segundo pesquisas dos meios de comunicação e da própria igreja,

o catolicismo sofreu uma queda no Brasil. Ao que o senhor atribui esta crise?

Pe. Aldo – Para mim, não há “queda”. Quem antigamente se declarava católico,

frequentar a igreja ou frequentando outras, hoje se sente mais livre e se declara o que ele é.

Por outro lado, entendo que há maior compromisso, interesses e entendimentos daqueles que

hoje frequentam a igreja, assumindo tarefas que pareciam exclusivas do padre, exemplo:

encontros explicando a palavra de Deus, levar a comunhão aos enfermos, etc.

Jornal do Estudante – Uma pesquisa realizada pelo IBGE diz que 72% da população é

católica, mas 7 entre 10 brasileiros frequentam cartomantes, videntes e sessões espíritas. A

igreja perdeu sua articulação entre os brasileiros?

Pe. Aldo – Não cabe à igreja “articular” todos os brasileiros, indagar sobre o futuro é

próprio do homem, consultar cartomantes e videntes pode ser pouca fé no Deus vivo, mas

sabemos que pessoas dotadas de percepção, podem descobrir coisas da vida de alguém. Pela

ciência, sabemos que a mente tanto tem capacidade de transmitir o pensamento como de

captar o pensamento de outros.

Page 92: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

92

Jornal do Estudante – O Sr. acha que hoje se desvanece o temor de pecar e de ser

punido por isso?

Pe. Aldo – Os valores que a sociedade apresenta (poder, dinheiro, vaidade,

aproveitamento só para si, individualismo, etc.), são tidos como mais importantes que os

valores do Evangelho (justiça, fraternidade, partilha dos bens, perdão, amor, doação, etc.).

Assim muitos incautos ou ingênuos, sobretudo entre os jovens acham que o bem é seguir que

o mundo apresenta sem medir as consequências, salvo depois de arrepender ou lastimar de

sua sorte!

Jornal do Estudante – O que é Teologia da Libertação?

Pe. Aldo – A Teologia da Libertação o- TLD é um discurso que tem Deus como centro, um

Deus que está presente também nas situações da história, da política, da economia, da

sociologia, etc. Ela pressupõe uma experiência espiritual de encontro com o Senhor na massa

dos pobres, feitos pobres pelo sistema. A Teologia é um esforço de aproveitamento de

sistematização desta experiência. A experiência é algo pessoal e mutável; assim há várias

tendências de TDL.

Jornal do Estudante – Por que o Papa João Paulo II critica a Teologia da Libertação?

Pe. Aldo – O Papa critica certos aspectos da TDL e valoriza outros. No último documento

oficial da igreja (AAS no 76) ao no 24 se lê: “Hoje de um modo totalmente novo, por causa dos

terríveis desafios que a humanidade deve enfrentar, torna-se necessário e urgente que o amor

de Deus e a liberdade na verdade e na justiça imprimam a sua marca nas relações entre o

homem e entre os povos e animem a vida das culturas”. Abre-se diante de nós uma nova fase

da história da liberdade. Liberdade não é fazer não importa o quê: ela é liberdade para o bem,

participatividade de todos no processo de desenvolvimento e no uso dos bens produzidos. Ao

no 42: “Ninguém pode menosprezar seus semelhantes despojando-os injustamente e tratando-

os como objetos ou instrumentos...” Assim é preciso denunciar e mudar aquelas estruturas de

exploração e de servidão que fazem uns ricos mais ricos e outros pobres cada vez mais pobres.

Jornal do Estudante – Por que os conservadores enxergam nas atitudes dos religiosos

ligados à teologia da Libertação casamento do Marxismo com o Cristianismo a razão para o

enfraquecimento da igreja?

Pe. Aldo – A alguns, a igreja parece enfraquecer porque não se desenvolvem algumas

práticas religiosas tradicionais: a outros, porque são derrubados certos privilégios de poder ou

Page 93: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

93

dominação. Eu penso que onde a igreja está mais comprometida com o povo, aí se torna mais

presente a força de Deus, embora os poderosos queiram abafá-la. Nada de estranho quanto a

isso, pois o pior fizeram com o seu fundador, Jesus Cristo.

Jornal do Estudante – O Sr. acha que a crença e a prática religiosa passaram a ser

individual, ou seja, acreditar em Deus deixou de significar adesão a alguma igreja concreta?

Pe. Aldo – Há uma tendência relevante ao individualismo e a fechar-se em si mesmo.

Alguns ficam desnorteados por causa de tantas “religiões” e acham que qualquer religião é um

modo de viver. Isto me parece bastante negativo. Não vejo porém essa falta de adesão à igreja

concreta, pelo menos em nossa região.

Jornal do Estudante – Como o Sr. ver o nosso município no contexto político, social e

econômico?

Pe. Aldo – Todos se perguntam: porque tantos candidatos, quando têm eleições? Por

que, os candidatos gastam fortunas para poder chegar lá? É só por amor ao povo? Para servir

ao povo, como eles gostam de enganar o povo? Um número considerável de pessoas sabe

quando entra na prefeitura e os que chegam lá, se aproveitam, calam a boca e mamam. Todos

eles calam a boca e se protegem uns dos outros; só assim podem se perpetuar no poder:

poder gera capital e capital gera poder. Já se viu um pobre honesto e inteligente (e tem em

Colônia) entrar no poder? Eu me pergunto: tem pessoas que ganham Cr$ 900.000,00 ou

600.000,00 o que elas fazem de mais importante e de mais nobre que uma professora que

ganha atrasados os miseráveis Cr$ 30.000,00 (30 vezes menos) se esforçando todo dia e

acabando com sua saúde. Uns são super valorizados e outros super desvalorizados.

Jornal do Estudante – Que nota o Sr. avalia os poderes Executivo e Legislativo?

Pe. Aldo – Está na vista! Outo dizer muitas vezes: “Se algum candidato aparecer me

pedindo o voto, só votarei se conseguir este favor (?). Quer dizer que muitos eleitores querem

favores pessoais e não olham o bem comum, quem consegue se eleger, uma vez empossado

no cargo, pode até dizer: “Me elegi com o meu esforço e não devo nada a ninguém”. Está na

vista!

Jornal do Estudante – Como o Sr. observa o ensino em nosso município?

Pe. Aldo – Noto um esforço razoável na sede do município, embora dezenas e dezenas

de crianças, por vários motivos, não tenham condições de frequentar a escola. Parece-me que

nunca se tomou a sério uma verdadeira alfabetização de adultos; no interior a situação é

Page 94: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

94

lastimável; alguns sítios e fazendas estão completamente abandonados, de número excessivo

de alunos e de várias séries na esma sala etc., e pela vergonhosa exploração da mão de obra

de crianças que têm que trabalhar na cana (até com 7 anos) para ajudar a família.

Jornal do Estudante – Como está o ensino dirigido pela igreja?

Pe. Aldo – A igreja não recebe verba do Estado, pelo menos aqui. Ela tem algumas

classes da alfabetização de adultos na região. A experiência tem dado bons resultados a tal

ponto de nos incentivar a continuar, sobretudo nas periferias.

Jornal do Estudante – A quem o Sr. atribui o problema do Mandacaru?

Pe. Aldo – Todos sabem em que época nasceu o Mandacaru, na entressafra. Surgiu por

falta de: 1o) casa para o povo morar, povo que foi obrigado a sair dos sítios e fazendas sem

indenização, quando não despejado ou corrido; 2o) trabalho e de ganho, como pagar aluguél?

Ganhar 12 e pagar 9?; 3o) condições mínimas de higiene e espaço. Um quarto para 6-7

pessoas, sem água, sem luz e sem sanitário. Tem gente que não quer enxergar esta realidade e

tapa a situação com a força bruta, gastando um dinheirão. Se eu tivesse o dinheiro que foi

gasto para manter a ordem, bem que teria feito já uma dezena de casas e a ordem seria bem

melhor! Os mandacarus se multiplicarão à medida que as instituições de hoje e de amanhã,

acumularem riqueza e poder a custa dos mais fracos.

Jornal do Estudante – No atual quadro politico que se forma para as eleições municipais,

o Sr. vê alguma perspectiva de mudança?

Pe. Aldo – Todos nós acreditamos em dias melhores. Peço a Deus que elejam candidatos

competentes e honestos, e não aqueles que compram votos, fazem ameaças ou roubam na

apuração. Se antes das eleições não são honestos, como o poder ser depois? O povo não se

queixe: tem os governantes que merece!

Jornal do Estudante – O Sr. acredita que o país vai melhorar?

Pe. Aldo – Todo dia há novos planos para melhorar, dizem eles. Só que a corrupção está

se alastrando dos altos escalões aos baixos. Enquanto não entrar na cadeia os verdadeiros

ladrões a coisa vai... vai... não sei se vai melhorar.

Jornal do Estudante – A Festa de São Sebastião correspondeu as suas expectativas?

Pe. Aldo – Desde que cheguei em Colônia, fiz questão que a comunidade participasse o

quanto mais possível. Foi duro nos primeiros tempos, por vícios adquiridos. Aos poucos nós

Page 95: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

95

começamos a nos entender e assim formamos comissões que com o empenho e sacrifício

assumem as festas. Acredito que a comunidade toda ganhou, por isso me sinto satisfeito e

vemos uma numerosa participação todo ano as nossas festas.

Jornal do Estudante – O Grêmio Estudantil tem como objetivo o desenvolvimento da

educação e o bem-estar da sociedade. O que o Sr. acha do nosso trabalho?

Pe. Aldo – Acho louvável e incentivo, pois é de grande valia para todos.

Page 96: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

96

“Acho inclusive, que compete aos jovens, especialmente estudantes,

examinarem paciente e cautelosamente cada candidato, seu passado

e seu presente para não se decepcionarem no futuro...”

TEMA GOMES DE MELO

Ex-primeira-dama e pré-candidata a prefeita de Colônia Leopoldina –

AL.

Entrevista concedida ao presidente Hamilton Alexandre da Silva, do

Grêmio Estudantil Antônio Lins da Rocha e publicada no Jornal do

Estudante em 20 de maio de 1992.

Telma Gomes de Melo nasceu no ano de 1936, na cidade de Canavieiras – BA. Ex-

primeira-dama do município, ficou conhecida durante a gestão do seu saudoso marido e ex-

prefeito, José Santa de Melo – o Zé de Melo (falecido em 05/01/980), pela classe menos

favorecida como a “mãe da pobreza” devido a um belíssimo trabalho desempenhado na área

de assistência social em nossa região. A seguir, veremos sua entrevista de capa de campanha,

onde ela aborda sua pré-candidatura a prefeita de Colônia, fala também da educação,

ocupação do Mandacaru, eleições diretas para diretores nas escolas municipais entre outros

temas.

Jornal do Estudante – O que faz uma mulher pública?

Telma Melo – Comete a mulher que assume tarefas públicas uma multiplicidade de

responsabilidades. Por exemplo: viver os problemas da coletividade e não somente vivenciá-

los, mas acima de tudo, buscar soluções; desse modo, para mim, a tribuna da mulher é a rua, o

jardim, o hospital como sua enorme gama de problemas reclamando soluções hábeis e

inteligentes. Enfim, a tarefa principal da mulher pública é o bem-estar da coletividade.

Jornal do Estudante – Qual seu grande projeto de vida?

Telma Melo – Projeto, plano ou ideal? Pouco importa! No momento a mercê de Deus e

dos homens e mulheres desta terra é a combinação de uma Colônia Leopoldina em sintonia

com a própria evolução. A educação tem que estar desempenhando o seu verdadeiro papel;

estímulo a cultura e as artes; frentes de trabalho para oferecer opções ao homem do campo; a

saúde reclama providências inadiáveis na cidade e no interior. Os métodos administrativos

sofrerão profundas transformações, adequando-os às necessidades, sem o sacrifício do erário

público.

Page 97: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

97

Jornal do Estudante – Seus adversários insistem na sua inelegibilidade. A senhora é

realmente candidata a prefeita?

Telma Melo – Pena que no momento em que estamos diariamente preocupados com as

coisas sérias de interesse coletivo, descompromissados com este mesmo povo, percam-se com

questões menores, o que denota, desde já que não têm aptidão pública. Por esta e outras

razões o homem público, o político está se transformando numa figura repelente e

desacreditada. Sou candidata por imposição popular e disputarei palmo a palmo.

Jornal do Estudante – A senhora é candidata do prefeito?

Telma Melo – Sou candidata, como já disse, do povo de Colônia, quanto ao fato de ser

candidata ou não do senhor prefeito, só o próprio poderá responder. Mais uma vez afirmo:

sou candidata do povo de Colônia, até dos que concorrem comigo. Eu diria até que ficaria

muito bem este slogan de campanha: TELMA E O POVO CONTRA O RESTO.

Jornal do Estudante – O que a senhora achou da GREVE dos funcionários (ocorrida em

abril). Achou justa?

Telma Melo – Da greve em si não gostei, porque conduzida por homens que têm a

responsabilidade de estabelecer a “harmonia e a tranquilidade; não o fizeram há título de que,

não importa”. Pareceu-me que os estimuladores da crise foram incompetentes na mediação,

até defesa em um momento difícil. Acho que antes da eclosão de uma greve devem ser

esgotados todos os recursos, até a exaustão. Não houve isso, houve precipitação de alguns

vereadores, inclusive um que coloca o seu nome ao julgamento popular e seus próprios

funcionários, a um cargo executivo. Pasmem! Sou a favor da greve, quando toda uma classe é

atingida nos seus direitos. Desse modo, achei que os funcionários, reclamando um direito

justíssimo, paralisaram atividades embora reconheça que o destino da citada greve seria outro

caso, os microfones da Câmara de Vereadores estivessem em mãos mais habilidosas,

tranquilas e conscientes das suas graves responsabilidades. Veja-se que a categoria continua

penalizada!

Jornal do Estudante – Os salários dos funcionários são insignificantes. Se prefeita que

soluções a senhora adotará para resolver problema?

Telma Melo – Os salários dos funcionários, não condizem com a realidade, por exemplo,

o salário do professor. Entretanto, aqui em Colônia, um estudo desse problema demandaria

Page 98: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

98

tempo, administrações passadas, etc. Se eleita, contudo, buscarei num caráter justo, impor um

número de funcionários estritamente necessários, a fim de que se possa realmente pagar um

salário digno e justo. Reconheço com todos que a Prefeitura abriga um contingente muito

grande de funcionários, isto por falta de opções no campo de trabalho, eis porque falei

anteriormente em novas frentes de trabalho, para o binômio prefeitura-campo não sejam as

únicas alternativas.

Jornal do Estudante – Diante da necessidade de democratizar o ensino e sendo uma

reivindicação dos estudantes e professores. A senhora fará eleições diretas para diretores nas

escolas municipais?

Telma Melo – Não vejo o menor problema, desde quando o diretor e demais auxiliares,

assim escolhidos se identificarão melhor, e os jovens estudantes passam a assumir

responsabilidades. Creio na juventude nos seus ideais e jamais iria cerceá-los.

Jornal do Estudante – A educação se encontra em total abandono e descaso material e

pedagógico. A senhora pretende fazer alguma reforma no ensino?

Telma Melo – Não sei até onde vai o abandono mencionado. Contudo a educação será,

se não a meta principal do meu governo, talvez a mais preocupante. Anteriormente já me

referia a esta prioridade. Tratando-se de reforma, tenho a declarar que na educação ele se fará

necessária bem como nos diferentes setores de uma administração dinâmica.

Jornal do Estudante – A senhor foi contra a “invasão” do Mandacaru?

Telma Melo – O termo invasão, por si só, implica em atitude não pacífica. Entretanto,

vivendo o país num sistema eminentemente capitalista, onde o rico tem assento em todos os

lugares, sempre como o melhor, o mais inspirado, o dono das terras e até das verdades, em

geral nada fica para os “descamisados”. Este retrato social leva, muitas vezes, a invasão

similares. É um problema social todo país e somente o futuro vivendo um sistema de governo

justo e democrático por excelência, poderá sanar tais inconvenientes. Acredito que o sol

nasceu para todos e não para alguns poucos privilegiados.

Jornal do Estudante – Dizem que ter muito dinheiro é decisivo numa eleição. Nessa

lógica a senhora acha que o prefeito é “seu” LESSA?

Telma Melo – Não obstante reconhecer a realidade dessa afirmação não acredito que o

dinheiro de A ou B venha decidir o pleito em Colônia. E o povo onde ficará? Sou daquelas que

acredita que este povo de Colônia, não se troca e não se vende. E por acreditar irei até o fim

Page 99: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

99

ao lado dos humildes. São pessoas que não misturam o joio com o trigo. Tem consciência de

seu valor. Quanto ao candidato citado, admiro-o, mas a resposta se dará nas urnas com o povo

se manifestando livremente.

Jornal do Estudante – A senhora acha que a votação de Júnior Luna para deputada

estadual, refletirá para a eleição dele?

Telma Melo – São duas realidades bem distintas, por isso não acredito nessa suposta

influência. É um jovem com o seu ideal, embora, politicamente, não consiga polarizar

atenções.

Jornal do Estudante – Até que ponto a gestão do seu falecido marido irá lhe ajudar?

Telma Melo – Até o momento em que ele demonstrou ao povo de Colônia, competência

e capacidade, muito especialmente, identificando-se com os problemas do povão. Sua obra foi

interrompida, mas será retomada no meu governo. No seu espírito liberal e democrático devo

tudo. Por isso sou candidata.

Jornal do Estudante – Qual o seu ponto de vista sobre o governo Bilau?

Telma Melo – O senhor prefeito, a meu ver, tem sua maneira de dirigir, tornando-se às

vezes polêmico. Acho desse modo que embora tenha o meu ponto de vista, quanto a

administração atual, julgo inoportuno, estar fazendo o papel de juiz, ora absolvendo, ora

condenando. Acho que o melhor juízo está com a sua própria consciência. Ela sim pode

absolver ou condenar com absoluta segurança. Assim procedo porque nem sempre a nossa

verdade é verdade dos outros, isto é, a nossa verdade, muitas vezes carece de retoques e

reparos.

Jornal do Estudante – A senhora acha que o voto do jovem será decisivo numa eleição

como essa para prefeito?

Telma Melo – Corretíssimo. Nesta eleição o voto do jovem é de importância vital, razão

pela qual, lanço o meu grito de alerta ao jovem, seja ele estudante ou não. Não se deixe

envolver pelas promessas falazes, porque via de regra visam apenas o poder, nunca o

cumprimento do prometido. Certas decepções não têm retorno, pelo menos durante 04

exaustivos anos. Acho inclusive, que comete aos jovens, especialmente estudantes,

examinarem paciente e cautelosamente cada candidato, seu passado e seu presente para não

se decepcionarem no futuro. Creio muito no jovem, na sua força interior e nos seus ideais e na

Page 100: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

100

sua própria imaginação. Ajudar participando deste trabalho é a sua própria iluminação. Avante

pois, juventude de Colônia! CONTEM COMIGO!

Page 101: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

101

“De pleno acordo com eleições diretas, pois seria eleito aquele

funcionário que de fato é amado e respeitado por seus colegas...”.

MARIA DE FÁTIMA FARIAS DOS PASSOS

Professora

Entrevista concedida ao presidente da UMEL, Júnior Amorim e

publicada no Jornal Voz Estudantil, no dia 23 de março de 1993.

Maria de Fátima Farias dos Passos é natural de Colônia Leopoldina – AL, nasceu em

14/04/59, casada, mãe de três filhos. A educadora é uma guerreira com sua liderança política

em favor das causas sociais em nosso município. Nesta brilhante entrevista, ela revela, por

exemplo, que é de acordo com eleições diretas para diretores nas escolas municipais. Aborda

também o descaso com a biblioteca pública, dentre outros tópicos.

Jornal Voz Estudantil – Na greve dos funcionários públicos no dia 22/04/92, a senhora

foi um alvo do esquema do ex-prefeito Lourinaldo de Lima (Bilau), e de sua “equipe”. Portanto,

não está na hora de organizar os funcionários públicos, especialmente os professores e,

eventualmente fundar o SINDICATO?

Profa Fátima Farias – Em abril do ano passado, lutei ao lado de alguns companheiros que

reivindicavam melhor salário. Sofri represálias fortíssimas por parte do Poder Executivo, mas

enfim surtiu algum efeito, pois o salário subiu um pouco. Só que uma luta não se faz só, e

meus companheiros com medo não prosseguiram na luta. Daí, eu tenho certeza se de fato é o

momento do surgimento de um sindicato, que para os menos esclarecidos é fazer oposição;

fato não verídico. No entanto, essa ideia ainda faz parte dos meus pensamentos.

Jornal Voz Estudantil –O sistema mais coerente, correto e democrático é realizar

eleições diretas para DIRETORES nas escolas públicas. A senhora é de acordo com este sistema,

ou prefere nomeação?

Profa Fátima Farias – De pleno acordo com eleições, pois seria eleito aquele funcionário

que de fato é amado e respeitado por seus colegas. Pois o diretor tem que ser querido pelo

“pessoal” e não pelo secretário ou prefeito.

Page 102: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

102

Jornal Voz Estudantil – A inexistência de uma BIBLIOTECA PÚBLICA é um grande

problema para os professores e estudantes. Considerando que a biblioteca é fundamental para

o desenvolvimento cultural, intelectual dos professores e dos estudantes, a senhora acha que

esta questão não é levada a sério por parte das autoridades competentes do nosso município?

Profa Fátima Farias – Sim, é óbvio o desinteresse; pois já foi solicitado o prédio do antigo

almoxarifado, bem como doações de estantes, mesas e enciclopédias, pois a UMEL se dispõe

de alguns livros e boa vontade de encontrar uma solução para a cultura local.

Jornal Voz Estudantil –A quem a senhora atribui a decadência do ensino público em

nosso município?

Profa Fátima Farias – Em primeiro lugar ao descaso com que é escolhido o corpo docente

das escolas. Depois, a falta de cursos de aperfeiçoamento, e também ao péssimo salário que

não permite ao professor ter um só trabalho. Falta de preparo geral.

Jornal Voz Estudantil –Qual seria a solução ideal para uma educação qualitativa e

quantitativa em nossa cidade?

Profa Fátima Farias – Já falei, teria que haver uma solução para escolha do professor,

bem como, escolas mais agradáveis, menos quentes, e cursos temporários para os professores

além do que um salário justo, para que o profissional tenha incentivo para trabalhar,

pesquisar, sorrir e viver.

Page 103: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

103

“O amor pelo trabalho; é como se fosse minha casa, acostumei-me

com a vida no Colégio Cenecista...”.

GISÉLIA FEITOSA SOBREIRA

Secretária do Colégio Cenecista Pe. Francisco – CNEC.

Entrevista concedida ao presidente Arnaldo Sérgio Sobreira, do

Grêmio Estudantil Pe. Francisco e publicada na primeira edição do

Jornal do Estudante, no dia 03 de junho de 1993.

Gisélia Feitosa Sobreira, nasceu em 11 de janeiro de 1943, na cidade de Colônia

Leopoldina – AL. No dia 06 de março de 1967, iniciou sua carreira no Colégio Cenecista Pe.

Francisco – CNEC. Mais tarde, em 1981, foi designada pelo então diretor Antônio Luna da Silva,

para ocupar com mérito o cargo de secretária do referido educandário. Nessa entrevista

exclusiva para o Jornal do Estudantil, a educadora relata a história da fundação do Colégio

Cenecista Pe. Francisco e um pouco dos seus grandes mestres que marcaram época em prol

desse patrimônio do saber de Colônia Leopoldina.

Jornal do Estudante – Como foi fundado o Colégio? Quais foram os seus fundadores?

Gisélia F. Sobreira – Em 20 de janeiro de 1960, na presença do Sr. Narciso César da Silva,

diretor executivo da NECEG (na época) que relatou algo sobre a Campanha Nacional

Educandários Gratuitos no País e Estado, também sobre seu fundador Felipe Tiago Gomes, foi

feita a nomeação da primeira diretoria do setor local. Presidente Manoel Barbosa de França;

vice-presidente Alfredo de Paula Cavalcanti; 1o secretário José Araújo de Luna; 2o secretário

Gilberto de Paula Cavalcanti; tesoureiro Heitor de Lima Vasconcelos.

Jornal do Estudante – Após sua fundação quanto tempo levou para ser registrado?

Gisélia F. Sobreira – Em 05 de maio de 1960, o Ministério da Educação e Cultura (MEC)

autorizou o funcionamento como estabelecimento de ensino do 1o grau, pela portaria no 318;

em 1971, por um Decreto Governamental foi autorizado o funcionamento do 2o grau, por

prazo indeterminado (Decreto Gov. no 1897, de 26/04/71).

Jornal do Estudante – Onde funcionava o Colégio?

Gisélia F. Sobreira – No prédio do Grupo Escolar Aristheu de Andrade.

Page 104: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

104

Jornal do Estudante – Qual foi o seu primeiro diretor?

Gisélia F. Sobreira – Padre Afonso Winhowen SCJ, vigário da Paróquia de Nossa Senhora

do Carmo.

Jornal do Estudante – Quantos diretores já direcionaram o Colégio?

Gisélia F. Sobreira – Oito, são eles: Pe.l Afonso Winhoven SCJ, Dr. Neyder Alcântara de

Oliveira, Pe. Jorge, Dr. Solalberk, Dr. Antônio Luna da Silva, José Meira Lins, José Araújo de

Luna e Severino Cavalcante de Almeida.

Page 105: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

105

Jornal do Estudante – Qual foi o primeiro quadro de professores?

Gisélia F. Sobreira – Jesus Piauiense de Arêa Leão, Pe. Afonso Winhoven SCJ, Celestina

Cavalcanti Lima de Vasconcelos, Antônio Luna da Silva, Heitor Lima de Vasconcelos, Manoel

Freire Borges e Maurício Siqueira Campos.

Jornal do Estudante – Sabemos que o Cenecista possui um Conselho, quem compõe esse

Conselho?

Gisélia F. Sobreira – Manoel Benedito da Silva, João Severino da Silva, José Acioly Maciel

e Severino Inácio da Rocha (comerciantes); José Alves Caldas Júnior e Severiano José de Freitas

Souza (políticos); e Maria Cely Passos (professora).

Jornal do Estudante – Essas pessoas que compõe o Conselho são ligadas a educação, sim

ou não, por quê?

Gisélia F. Sobreira – Apenas a professora Maria Cely Passos está ligada a educação, os

demais são comerciantes e políticos. Foi a indicação feita pelo senhor diretor e aprovada em

reunião para o prazo de 02 anos.

Jornal do Estudante – Quais as principais dificuldades enfrentadas pelo colégio hoje?

Gisélia F. Sobreira – Principais dificuldades são: a falta de um prédio para melhor

acomodação; pouca renda, impossibilitando um melhor salário aos funcionários; a falta de

firmeza nas decisões da direção no tocante a disciplina; falta de uma máquina de datilografia.

Jornal do Estudante – Gisélia, com todos os aborrecimento que você enfrenta no

cotidiano do estabelecimento de ensino e com a pouca remuneração que recebe, o que a faz

continuar?

Gisélia F. Sobreira – O amor pelo trabalho; é como se fosse minha casa, acostumei-me

com a vida no colégio. A gente sofre, passa decepções, mas tem momentos gratificantes. É

bom encontrar um ex-aluno que passou pelo nosso colégio dizer, que eu era muito exigente

“braba”, mas esse aluno tem um bom emprego lá fora. Como contribuímos para o INSS, resta-

me a esperança de, daqui há 05 anos ter uma aposentadoria, se Deus me conceder a graça de

chegar até lá.

Page 106: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

106

“Afirmo com toda segurança que enquanto estiver sendo editado o

Jornal do Estudante a classe estudantil leopoldinense terá VOZ e VEZ.

ADELMO DE OLIVEIRA TORRES

Professor

Entrevista concedida ao presidente da UMEL, Júnior Amorim e

publicada no Jornal Voz Estudantil em 03 de junho de 1993.

Adelmo de Oliveira Torres, nasceu em 15 de março de 1960, no município de Colônia

Leopoldina – AL. É professor na Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha (Curso de

Contabilidade) e no Colégio Cenecista “Pe. Francisco” (CNEC), onde desenvolve e defende uma

política pedagógica com gestão democrática. Em entrevista ao JVE, ele destaca, inclusive,

pontos importantes do anseio da comunidade leopoldinense, que prioritariamente deveriam

ser solucionáveis pelos poderes Executivo e Legislativo. Como por exemplo, a política salarial

do corpo docente, a estruturação da biblioteca pública, e sugere uma nova edição da Lei

Orgânica do município.

Jornal Voz Estudantil – O sistema mais coerente, correto e democrático é realizar

ELEIÇÕES DIRETAS PARA DIRETORES nas escolas públicas. O senhor é de acordo com este

sistema ou prefere nomeação?

Prof. Adelmo Torres – Sou totalmente a favor de eleições diretas para diretores, pois

neste processo podemos aliar competência com legitimidade. A nomeação é sempre

decorrente de acordos políticos, impossibilitando a direção tomar decisões de ordem

administrativas sem consultar o grupo que a nomeou.

Jornal Voz Estudantil – Se o senhor fosse diretor do Curso de Contabilidade eleito pelos

estudantes, pais e professores. Que atitude tomaria no sentido de informatizar, desenvolver

uma proposta de salário digno para os professores e, especialmente, conscientizar o estudante

de sua participação no meio social?

Prof. Adelmo Torres – Antes de responder a esta pergunta, quero registrar que tive a

honra de ser convidado para dirigir o Curso de Contabilidade pela atual secretaria de

Educação, professora Anita Borges, e que por divergências no acerto de pagamentos da hora-

aula não fui efetivado como diretor. Com relação a informatização no sentido de

Page 107: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

107

investimentos em computadores e aplicativos, é fundamental que antes se invista no professor

em todos os aspectos, inclusive o financeiro. A questão da proposta salarial só será possível

quando houver uma integração maior entre professores, alunos, pais de alunos e governantes,

hoje tão dispersos. Com relação a participação dos alunos nos movimentos sociais, é tarefa

dos professores incentivá-los e conscientizá-los da importância destes movimentos.

Jornal Voz Estudantil – Como o senhor analisa a direção do CURSO DE CONTABILIDADE e

seu quadro de professores?

Prof. Adelmo Torres – Direção e professores do Curso de Contabilidade, para mim, são

verdadeiros heróis, pois ensinam em condições precárias, mas são movidos por um senso de

responsabilidade e dedicação que só o amor ao magistério e a consciência do dever cumprido

explica.

Jornal Voz Estudantil – A evasão escolar vem aumentando a cada mês, especialmente no

Contabilidade. O senhor atribui este problema a que fator?

Prof. Adelmo Torres – Evasão é um problema que vem sendo detectado em todas as

escolas do país. Os motivos são generalizados, como ingresso no mercado de trabalho, não

permitindo a conciliação de horários, sucateamento das escolas públicas, exploração das

mensalidades das escolas particulares e principalmente o descrédito nas instituições. Enfim,

ausência total de perspectivas.

Jornal Voz Estudantil – O senhor tem esperança em uma política salarial mais digna para

a classe?

Prof. Adelmo Torres – A partir do momento em que os quatro pilares de sustentação, ou

seja, professores, alunos, pais de alunos e governantes perceberem que não estão indo a lugar

nenhum, tomara que não seja tarde demais. Aí sim, a política salarial sairá do verbo.

Jornal Voz Estudantil – A falta de investimentos materiais e salariais impossibilitam um

bom rendimento do professor?

Prof. Adelmo Torres – Por mais criativo e competente que seja um professor, se não

houver infraestrutura que lhe permita desenvolver o seu trabalho, o rendimento

inevitavelmente ficará comprometido.

Jornal Voz Estudantil – Como o senhor vê a direção do Colégio Cenecista?

Page 108: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

108

Prof. Adelmo Torres – Escolas comunitárias em todo o país sempre tiveram um perfil

conservador e os seus dirigentes não fogem a regra. É necessário que a escola participe mais

dos problemas das comunidades, senão estará entrando na contramão da modernidade.

Jornal Voz Estudantil – Que nota o senhor dá ao atual governo municipal?

Prof. Adelmo Torres – Infelizmente a população leopoldinense tem pouco a comemorar

neste primeiro quadrimestre de governo. Governantes e governados falam línguas diferentes e

isto não é bom para o município.

Jornal Voz Estudantil – Que nota o senhor atribui aos vereadores?

Prof. Adelmo Torres – Não tenho informações de que tipo de trabalho ou linhas de ação

vem sendo realizado pelos vereadores. Há uma distância enorme entre os representantes do

povo e a comunidade. É necessário que os vereadores tomem a iniciativa de convidar

membros da comunidade para juntos discutir os reais problemas que os afligem. Achei

interessante o lançamento do JORNAL TRIMESTRAL pela Câmara de Vereadores, mas seria

interessante também uma nova tiragem da “Lei Orgânica do Município” pois 90% da

população não tem.

Jornal Voz Estudantil – Jornal Voz Estudantil – Qual em sua opinião o vereador (es) que

está (ão) atuando em defesa dos professores, estudantes, enfim, da sociedade leopoldinense?

Prof. Adelmo Torres – O vereador Severiano Freitas tem se revelado um defensor

atuante nos problemas concernentes à educação como um todo. A sua solidariedade em

momentos difíceis de alunos e professores é importante e gera resultados positivos.

Jornal Voz Estudantil – A leitura é fundamental para o desenvolvimento cultural,

intelectual e profissional de um indivíduo. O senhor é de acordo que a falta da regulamentação

e funcionamento pleno da BIBLIOTECA PÚBLICA, faz com que os estudantes não se interessem

pela leitura?

Prof. Adelmo Torres – A criação da Biblioteca Municipal seria o “ponto inicial” para uma

virada, para incentivar os estudantes a se habituarem a ler. Enquanto não tivermos esta

biblioteca estaremos indo a lugar nenhum.

Jornal Voz Estudantil – Esta é a quinta edição do nosso Jornal Voz Estudantil, para o

senhor estamos num caminho certo?

Page 109: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

109

Prof. Adelmo Torres – Afirmo com toda segurança que enquanto estiver sendo editado o

Jornal do Estudante a classe estudantil leopoldinense terá VOZ e VEZ.

Jornal Voz Estudantil – Com base na experiência deste jornal, decidimos sair o

TELEUMEL, com o objetivo específico de realizar entrevistas com personalidades de vários

setores da sociedade leopoldinense e outros. Este meio de informar é viável para o

desenvolvimento da cidade. O senhor aprova esta iniciativa?

Prof. Adelmo Torres – Estamos vivendo uma nova ordem mundial, onde o papel da

imprensa é bastante significativa, principalmente, a imprensa investigativa. E importante

modernizar e diversificar as formas de entrevistas como no caso TELEUMEL. A sociedade

leopoldinense já percebeu a seriedade como a UMEL vem desenvolvendo o seu trabalho e isto

é prova de maturidade e pleno exercício da cidadania.

Page 110: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

110

“A UMEL, órgão estudantil do município, tem tido, segundo meu

conhecimento, uma atuação concreta, efetiva no tocante a defesa

dos estudantes, professores e da educação em geral, além da

promoção de vários eventos, alguns com arrecadação cuja apuração

é em favor dos carentes.”

MARIA VALÉRIA LINS CALHEIROS

Juíza de Direito

Entrevista concedida ao presidente da UMEL, Júnior Amorim e

publicada no Jornal Voz Estudantil, em março de 1994.

A meritíssima juíza Maria Valéria Lins Calheiros, nasceu no dia 12 de maio de 1945, em

Maceió – AL, filha de Edson Gomes Lins e de Olga Nobre Lins. No dia 28 de setembro de 1992,

na qualidade de Juíza substituta da titular Dra. Ana Florinda, foi designada para a Comarca de

Colônia Leopoldina. Há um ano e seis meses à frente do Poder Judiciário local, ela associou

coerência e competência em suas ações e destacou-se assim em prol da justiça social no

município.

Consolidando seu belo trabalho, a Câmara Municipal de Vereadores outorgou-a com o

título honorário “Cidadã Leopoldinense”, no dia 30 de novembro de 1993 através de projeto

de lei de autoria do vereador Dr. Flávio Lima de Souza. Nesta íntegra entrevista, a meritíssima

juíza considera o povo leopoldinense politicamente conscientizado, ressalta também o

trabalho do “Comissário de Menores” e preocupa-se com o aumento da criminalidade.

Jornal Voz Estudantil – A senhora chegou no nosso município em 28/09/92, como juíza

substituta, tendo também, o objetivo de presidir as eleições municipais de Colônia Leopoldina

e de Novo Lino, num período que podemos considerar “A HORA DA DECISÃO”. Destaque os

principais pontos positivos e negativos do pleito de 03 de outubro de 1992.

Juíza – Destaco como principal ponto positivo das eleições de 03/10/91, a

conscientização do povo LEOPOLDINENSE e LINENSE na escolha de seus candidatos, votando

de acordo com suas consciências e preferências pessoais, independentes de qualquer tipo de

pressão, exercendo a verdadeira democracia. Como ponto negativo o voto do analfabeto por

sentir que lhes falta o discernimento necessário no exercício de sua cidadania, sendo

manipulado por políticos inescrupulosos.

Page 111: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

111

Jornal Voz Estudantil – De que forma a senhora observa o nosso município no seu

contexto político, econômico e social?

Juíza – Colônia Leopoldina vista em seu contexto político, econômico e social, apesar de

contar com um povo de certa forma politicamente conscientizado, sofre as consequências da

política adotada em nosso país, daí a miserabilidade da população, em sua maioria, trazendo

como consequências a criminalidade, a marginalidade, por lhes faltar o imprescindível as suas

necessidades básicas, como alimentação, moradia, vestuário, lazer, etc.

Jornal Voz Estudantil – Quais as mudanças necessárias?

Juíza – Seriam necessárias mudanças sérias e concretas na política adotada em nosso

país, com uma maior conscientização de nossos dirigentes, através de melhor repartição das

rendas, objetivando atender as necessidades básicas do povo em geral, sem qualquer tipo de

demagogia.

Jornal Voz Estudantil – A senhora considera altíssimo o número de “menores infratores”

em Colônia Leopoldina, ou são casos isolados?

Juíza – É um fato concreto que o número de menores infratores tem aumentado em

nosso município, apesar de não se poder generalizar. Não se pode esconder que, a maioria das

infrações cometidas por estes menores são decorrentes da falta das condições mínimas de

sobrevivência, empurrando-os, de certa forma, para a marginalidade.

Jornal Voz Estudantil – Em sua opinião, é importante a reativação do Comissário de

Menores?

Juíza – No meu ponto de vista é de máxima importância a reativação do Comissário de

Menores, no sentido de ser desenvolvido um trabalho consciente e efetivo em prol dos

menores carentes, como forma da diminuição da marginalidade mirim.

Jornal Voz Estudantil – De que forma a senhora observa a criminalidade em Colônia, e

quais os crimes mais polêmicos?

Juíza – O índice atual de criminalidade em Colônia é considerável, destacando-se os

crimes ligados a roubos de veículos, estupros, formação de quadrilhas e homicídios, onde a

maioria dos autores encontram-se foragidos, escapando assim, da ação da justiça na aplicação

da pena como retribuição do mal praticado.

Page 112: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

112

Jornal Voz Estudantil – A senhora recebe da população muitas denúncias sobre “abuso

de autoridades”, principalmente, por parte dos policiais desta jurisdição. Em face, quais as

punições tomadas?

Juíza – É verdade que tenho recebido da população denúncias de “abuso de

autoridades”, principalmente vindo dos policiais. Toda denúncia recebida está sendo apurada,

com abertura de alguns inquéritos, punição dos responsáveis.

Jornal Voz Estudantil – Como a senhora questiona o ensino em Colônia?

Juíza – Deixo de emitir opinião sobre o ensino em Colônia Leopoldina, por não dispor de

elementos para tal.

Jornal Voz Estudantil – O jornalista Bóris Casoy, diz o seguinte: “É preciso passar o Brasil

a limpo”. O exemplo disto foi o impeachment do ex-presidente COLLOR, e agora, as possíveis

cassações de políticos corruptos. A senhora acredita que o povo brasileiro está formando uma

nova consciência política?

Juíza – O povo brasileiro deu prova contundente de que está investido de uma nova

consciência política, cujo exemplo maior foi o impeachment do ex-presidente Fernando Collor,

levando a efeito de forma consciente, sem demagogia e, principalmente, sem derramamento

de sangue. Estamos em uma nova era política.

Jornal Voz Estudantil – A senhora é a favor ou não da revisão constitucional?

Juíza – Sou a favor da reforma constitucional em certos aspectos, como a política fiscal,

bancária, a extinção do monopólio e do voto do analfabeto.

Jornal Voz Estudantil – Segundo a Constituição Federal, todo trabalhador tem direito no

mínimo a um salário. O que fazer para o cumprimento desta lei?

Juíza – O salário mínimo é um direito previsto pela Constituição Federal. No caso do não

cumprimento do preceito constitucional, cabe aquele que tem o direito ferido, acionar a

justiça para o cumprimento da lei.

Jornal Voz Estudantil – Através da iniciativa do vereador Dr. Flávio Lima, a senhora, a

promotora Dra. Maria Margarida e o Pe. Aldo Giazzon, receberam no ano passado o título de

CIDADÃOS LEOPOLDINENSES. Como a senhora analisa essa louvável condecoração?

Juíza – De minha parte foi uma honra imensa vez que apenas tenho cumprido a minha

função que é o de aplicar a justiça no caso concreto.

Page 113: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

113

Jornal Voz Estudantil – Em relação a UMEL, do seu papel, da sua atuação na sociedade, o

que a senhora afirma?

Juíza – A UMEL, órgão estudantil do município, tem tido, segundo meu conhecimento,

uma atuação concreta, efetiva no tocante a defesa dos estudantes, professores e da educação

em forma geral, além da promoção de vários eventos, alguns com arrecadação cuja apuração é

em favor dos carentes.

Page 114: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

114

Capítulo IX – 1996

Votação dos candidatos a presidente da UMEL (Eleições 1996)

Escola de 1o e 2o Graus Antônio Lins da Rocha

Chapa Candidato Votação

Chapa 1 Alexandre Gilberto Sobreira /

André Vitor da Siva 147

Chapa 2 Joílson Luiz da Silva Dionízio /

José Valdir Calixto da Silva 114

Nulos 02

Brancos 00

Total 263

Grupo Escolar Aristheu de Andrade

Chapa Candidato Votação

Chapa 1 Alexandre Gilberto Sobreira /

André Vitor da Siva 55

Chapa 2 Joílson Luiz da Silva Dionízio /

José Valdir Calixto da Silva 216

Nulos 16

Brancos 00

Total 287

Colégio Cenecista “Pe. Francisco” - CNEC

Chapa Candidato Votação

Chapa 1 Alexandre Gilberto Sobreira /

André Vitor da Siva 74

Chapa 2 Joílson Luiz da Silva Dionízio /

José Valdir Calixto da Silva 74

Nulos 07

Brancos 01

Total 156

Page 115: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

115

Resultado Final das Eleições da UMEL

Chapa Candidato Votação

Chapa 1 Alexandre Gilberto Sobreira /

André Vitor da Siva 276

Chapa 2 Joílson Luiz da Silva Dionízio /

José Valdir Calixto da Silva 404

Nulos 23

Brancos 03

Total 706

* Apuração realizada no Clube UDAL, às 22:00h, no dia 20 de agosto de 1996.

Diretoria Geral da UMEL (Biênio: 1996/98)

Presidente: Joílson Luiz da Silva Dionízio

Vice-Presidente: José Valdir Calixto da Silva

Diretores sociais: Jodivaldo José da Silva Dionízio, Manoel José da Silva Filho, José Adalberon

da Silva, Reinaldo Guerra Freitas Júnior, Jodimarco Luiz da Silva Dionízio, Ivanilson José da

Silva, Andreza Marques da Silva, Flávia Maria da Silva, Marta Maria da Silva, Ronaldo Adriano

Ferreira da Silva e Carlos Tadeu dos Passos.

Page 116: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

116

Jornais Estudantis

Page 117: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

117

Page 118: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

118

Page 119: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

119

Page 120: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

120

Page 121: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

121

Page 122: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

122

Page 123: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

123

Page 124: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

124

Page 125: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

125

Page 126: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

126

Page 127: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

127

Page 128: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

128

Page 129: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

129

Page 130: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

130

Page 131: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

131

Page 132: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

132

Page 133: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

133

Page 134: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

134

Page 135: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

135

Page 136: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

136

Page 137: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

137

Page 138: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

138

Page 139: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

139

Page 140: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

140

Page 141: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

141

Page 142: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

142

Page 143: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

143

Page 144: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

144

Page 145: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

145

Page 146: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

146

LIVRO 7

SANTOS, Ernane Santana. Incruzando espadas. Q. Gráficas. Campus Universitário, Maceió: 2011.

Page 147: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

147

Page 148: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

148

Ernane Santana Santos

Page 149: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

149

Page 150: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

150

Page 151: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

151

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho A minha esposa, Eutália e diletos filhos Natalie, Nathália, Natassia e Ernane Manoel e a

minha netinha Marina; Aos meus saudosos pais Adalgiso Borges e Maria de Lourdes; Aos meus inesquecíveis irmãos Gisomar, Solange, Sônia, Antônio, Fátima, Jorge e Marcia

Inez; Aos saudosos irmãos Paulo Santana, Maria de Lourdes, Maria de Fátima, Márcio

Santana, Francisca (Chiquita) e Francisco (Chiquito); Aos meus avós paternos Mário da Silva Santos e Adelaide Borges Santos, falecidos; Aos meus avós maternos Francisco Santana e Silva e Francisca Barros e Silva, falecidos; À Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e à Academia Alagoana de Cultura. Enfim, a todos os meus irmãos leopoldinenses, alagoanos e brasileiros.

Page 152: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

152

APRESENTAÇÃO

Certa ocasião, lá pelos anos da virada do século XX para o XXI, quando ainda era

proprietário da Ecos Gráfica e Editora, tive uma conversa com capitão Carlito Lima sobre a

contribuição que ele daria para a que história se escrevesse sobre os episódios em que foi

protagonista durante os anos de chumbo. Argumentava com ele que o seu ponto de vista era

privilegiado já que atuara como militar sem aceitar os métodos truculentos dos ditadores,

chegando ao ponto de ser perseguido por suas posições humanistas. Diante da alegação do

Carlito de que não tinha recursos literários para escrever, insisti dizendo que, então, não

tentasse ser um escritor, bastava que simplesmente contasse suas histórias. A cobrança deu

resultado e, ainda com o incentivo do Lelé, seu irmão, e do Geraldo Majella, Carlito escreveu e

o Brasil inteiro leu e lê o livro Confissões de um capitão, a partir daí, abriu a porteira da escrita

e hoje é autor de dezenas de livros e um dos cronistas mais lidos de Alagoas.

Se alguém tem alguma história para contar, recomendo que conte. É assim que

contribuímos para a formação da nossa memória coletiva. São esses registros que nos ajudam

a perceber a verdadeira fisionomia de um povo. Alguns estudiosos não dão o devido valor aos

documentos e textos produzidos a partir da história oral. Eles analisam que esse material

estaria comprometido por estar contaminado pelos valores subjetivos da fonte. Essa

argumentação absurda é refutada facilmente, ao se mostrar que os ditos documentos da

história documental também foram escritos por indivíduos carregados de subjetividade,

quando não estavam servindo abertamente ao poder dominante, mobilizados para contar a

história dos vencedores.

O Dr. Ernane não tem a pretensão de ser literato: ele ama a sua terra e a sua cultura e

quer demonstrar isso contando e cantando as peripécias do homem da zona da mata

açucareira de Alagoas e Pernambuco. Conta por ouvir dizer, mas declara que conheceu todos

os personagens das suas histórias. Zelo desnecessário: não precisa ser um Repórter Esso –

“testemunha ocular da história” – para dar veracidade aos “causos”. Aliás, “causo” verdadeiro

é aquele que sobre ele pairam todas as dúvidas. Ninguém pode deixar de desconfiar, por

exemplo, de um personagem que “também era o único coveiro da cidade, fabricante dos

doces alfenins, feirante e dono do carrossel”. Mas não estranhe: esses tipos eram comuns nos

povoados atrasados do interior do Nordeste e, ainda hoje, alguns poucos sobrevivem tratados

como bons malandros e aceitos socialmente sem maiores problemas. É tão comum que o

polivalente oficial de justiça Pedro Alfenim, da obra de Ernane Santana, bem que poderia fazer

uma parceria com o João Grilo do consagrado Ariano Suassuna.

Page 153: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

153

Incruzando Espadas é um baú de família que mostra as melhores recordações do

“versejador” Ernane Santana. Ele, que já havia aberto o coração para o seu município ao

escrever o livro As ruas de nossa cidade, agora nos ajuda a entender a cultura dos pátios dos

banguês e dos recentes barracões das modernas usinas de álcool e açúcar, onde o cantar dos

Guerreiros e o rimar dos repentistas eram aplaudidos pelo corumba e pelo senhor de engenho,

cada qual torcendo para o seu lado.

Edberto Ticianeli

Ex-Secretário de Cultura de Alagoas

Page 154: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

154

Introdução

Nesse modesto livro procuro apresentar “causos”, crônicas, versos e repentes,

recolhidos das minhas vivências e andanças no pequeno mundo de homem do interior, que

quase sempre giravam entre as cidades de Colônia Leopoldina, em Alagoas, e Palmares, em

Pernambuco.

Travei meus primeiros contatos com as letras em Palmares, no Educandário Ginásio

Agamenon Magalhães, hoje denomnado de Colégio Pinto Ribeiro. Foi lá que recebi a minha

formação cultural e política pelas mãos dos mestres Amaro Matias Silva – meu padrinho,

amigo e orientador dos meus sonhos de escrevinhador , Edson Matos, Elias Sabino e Brivaldo

Leão de Almeida.

Os “causos”, que recolhi do meu pai Adalgiso Borges, do meu avô Mário Santos e do

meu cunhado Zezito Corrêa, foram aqui reproduzidos com a máxima fidelidade ao que eles

tinham de pitorescos. Em parte, esse trabalho foi facilitado porque vi e convivi com todos os

personagens citados em meus acanhados e limitados escritos. Procurei descrever os fatos

curiosos de nossa comunidade, aqueles que fizeram parte da história social, cultural e política

do nosso meio rural. Ambiente interiorano, onde a literatura de cordel era um veículo

importante para transmitir o que se passava em nosso mundo.

Se me exigiu esforço buscar na memória as lembranças de um passado distante, muito

mais difícil foi criar coragem para colocá-los em forma de prosa e verso. Esses rabiscos só

foram possíveis porque me confesso um devoto da poesia e da literatura de cordel, e,

principalmente, porque sou um apaixonado pela minha centenária cidade de Colônia

Leopoldina, a Colônia da Princesa, como a ela se referia o conterrâneo Everaldo Araújo Silva.

Antecipo minhas desculpas, se por ventura feri a dignidade de alguma pessoa, quando

dos relatos aqui narrados, já que isso pode acontecer quando se está “incruzando espadas”.

Ernane Santana Santos

Page 155: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

155

Índice

Incruzando espadas

Chico Machado, o fogueteiro carnavalesco

“A agonia dos bangues” e seu bueiro quadrado

Os anos de chumbo

O “comunista” leopoldinense

Questão de risco com pobre

Toinho Santana

Lembranças do Cine Apolo

Todo astronauta que parte

Choveu tantinho assim

Os dez mandamentos dos cabras de Lampião

O poeta Genival da Paraíba

Pulo mermo mutivo

Grampo azougado pra mulher que tem piolho

Deda Ribeiro e o vendaval de 94

As cabeças de Lampião e Maria Bonitinha

Negócios que três saem ganhando

Page 156: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

156

Incruzando espadas

Para nós, alagoanos e pernambucanos, também para o folclorista Pedro Teixeira, o

guerreiro alagoano é uma variante do reisado, em que são participantes as figuras do Mestre,

os dois Embaixadores, o Mateu, o Caboclinho de Lira, o Capitão General, o Índio Peri e seus

vassalos, a Rainha, a Lira e a Sereia.

Ainda segundo outros folcloristas são inumeráveis os personagens que podem compor

um auto de guerreiro. É um auto de caráter dramático, profano e religioso, representando

uma junção de elementos existentes nos pastoris, nas cheganças, nos quilombos e nos

caboclinhos. Para alguns estudiosos, o guerreiro não passa de um reisado moderno.

O guerreiro é comandado pelo mestre e sua espada, que usa um chapéu em formato de

igreja de onde caem fitas de cetim multicoloridas. Normalmente, logo depois da reza do

divino, no meio do espetáculo, acontece a luta de espadas entre os mestres guerreiros,

simulando uma luta em defesa dos seus reinados.

Do folclore alagoano, extraímos os seguintes versos pertencentes ao Hino do Guerreiro

das Alagoas:

Eu esse ano vou prá Maceió,

Vou pro Farol, Guerreiro Campeão

Eu vou rever o meu guerreiro amado

Eu vou dançá xaxado na televisão

Guerreiro, cheguei agora,

Nossa Senhora é nossa defesa

Guerreiro, cheguei agora,

Nossa Senhora é nossa defesa

Ô minha gente

Dinheiro só de papé,

Carinho só de muié,

E capitá só Maceió.

Se eu me casá

Com uma muié feia demais,

O diabo é que num faz

Page 157: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

157

Todo dia ela chorá

Eu digo isso

Porque sou um cabra home

A muié feia só come

Minha boia se roubá.

Quando um guerreiro chegava numa cidade, vila, povoado ou mesmo num engenho ou

em uma usina de açúcar, normalmente, eram bem recebidos pelas pessoas do lugar. Os

componentes, tendo à frente o mestre, pediam permissão às autoridades locais e em plena

praça pública montavam sua apresentação com música, dança e cantoria.

Ocorrendo chegar ao mesmo local outro guerreiro – o que muitas vezes acontecia na

época natalina – não havia escapatória: os mestres eram instados a cruzarem suas espadas de

madeira, batendo uma na outra, enquanto os versos, glosas, rimas e peças elogiavam as

pessoas do lugar. Era um verdadeiro duelo verbal. Oportunidade em que se exibia a destreza

com as palavras. Rimavam sobre as autoridades e os últimos acontecimentos ocorridos na

redondeza, que conheciam através da informação oral ou mesmo pelo rádio e os cordéis. Em

tais desafios, os cantadores enalteciam a valentia do senhor de engenho, a bondade de sua

esposa, a formosura de suas filhas donzelas, a riqueza e as virtudes dos agraciados pelos

cantos improvisados, o gesto nobre daquele que fazia uma boa paga e a mesquinhez de outros

que não contribuíam com nada, mesmo assistindo aquela apresentação burlesca.

As rimas eram improvisadas pelos respectivos mestres, e suas pastorinhas limitavam-se

a responder em cantoria os mesmos versos. O canto era sincronizado, harmônico, e ao mesmo

tempo enchia de alegria e nostalgia aquele ambiente teatral armado ao ar livre. Enquanto

ocorria a porfia, os Mateus ficavam correndo de um lado para outro, dando cambalhotas,

fazendo gracejos com as pessoas que assistiam ao espetáculo. A meninada era sempre a mais

perseguida pelos homens de caras pintadas, armados de rebenques ou relhos feitos de tranças

de cebola. Tudo era festa. Verdadeira alegria. Era como se tivesse chegado naquela localidade

um espetáculo circense ou, hoje em dia, uma banda de show para diversão daquela gente tão

sofrida. Quando começava a função, surgia gente de toda versidade. Gente acostumada a

iniciar sua jornada de trabalho com o nascer do sol e a encerrar sua lida quando o horizonte já

se encontrava tão escuro quanto o breu. Gente que conhecia bem o manejo da enxada, da

foice de cortar lenha e cana-de-açúcar, da estrovenga de roçar mato, do arado de madeira

puxado por eles, ou mesmo por uma junta de bois, sempre trabalhando a terra para receber as

sementes. Gente séria, honesta, por vezes injustiçada e enganada pelos empreiteiros e

Page 158: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

158

senhores de engenho. Sem carteira assinada, sem direito a sua cidadania. Gente analfabeta

que não sabia ler e nem escrever, que ainda assinava o próprio nome com a impressão digital

de seu polegar direito. Era para essa plateia que, comumente, se apresentavam os nossos

folguedos populares entre os meses de dezembro e janeiro – época das festas de Natal, do

Ano Novo e das comemorações dos Santos Reis.

Quando um mestre recitava:

Eu sou um guerreiro novo

Que veio de Minas Gerais

Eu atiro a bala passa

Se prepare pra brigar

Pois hoje aqui nesta praça

Quero fazer arruaça

Pois nós vamos é duelar. (Deda Ribeiro)

O outro respondia:

Eu sou guerreiro alagoano

Acostumado a duelar

Já briguei durante um ano

No Estado do Pará

Quando cruzo a minha espada

Vejo o cantador sangrar

Ele corre, não vem mais,

Volta pra Minas Gerais

O mestre que me enfrentar. (Ernane)

É o folclorista Theo Brandão quem nos diz que em uma cantoria, elogiando o senhor de

engenho, o mestre de guerreiro assim se expressava:

Sinhô dono da casa

Oios de cana caiana

Quanto mais a cana cresce

Mais aumenta a sua fama

Page 159: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

159

Sinhô dono da casa

Oios da péda redonda

Daquela péda mais fina

Onde o má combate as ondias.

Segundo o meu avô Mário Santos, nos anos 40, existia na cidade pernambucana de

Palmares, um respeitado mestre de guerreiro conhecido como mestre Rozendo. Na vinha

cidade de Catende morava mestre Sales, um também afamado mestre de guerreiro. Quando

esses homens se encontravam, a terra tremia diante da maestria de cada um.

Foi nessa época que vivia em Palmares uma figura famosa, não por seu trabalho ou dote

artístico, mas pela sua valentia e destemor. Chamava-se Bruno e era muito respeitado,

principalmente na Rua da Coreia, onde se situava a maioria dos bordéis. Era o valentão do

lugar. Vez por outra acabava as festas no baixo meretrício com ciúme de suas raparigas.

Enfrentava quem estivesse pela frente, até mesmo a polícia militar.

Certa feita, estando ele farrando no local, por causa de uma mulher desentendeu-se

com um caixeiro viajante das Lojas Paulistas. Foram às vias de fato na disputa pela fogosa

rapariga, moça nova no puteiro. Garrafadas, murros, tabefes, chutes, tamboretadas e até

mesmo tiros foram trocados pelos dois valentões, provocando correria e gritos no local.

Em um dos becos da Rua da Coreia, em frente ao Colégio Nossa Senhora de Lourdes,

ficava instalada a Casa de Força, onde funcionava um velho gerador movido por motor a óleo

diesel, que de tão velho já tinha até nome: Motor do Leite. Essa estrutura era responsável pelo

fornecimento de energia elétrica para a iluminação da cidade.

Pois foi exatamente em frente à Casa de Força, que os briguentos resolveram trocar

mais tiros. A única vítima foi o Motor do Leite, que parou atingido por uma bala perdida. A

polícia – cuja delegacia ficava nas proximidades – foi avisada do tiroteio e já chegou atirando

de mosquetão para todo lado. Novamente, a única vítima foi o velho motor, que perdeu suas

últimas gotas de óleo ao ser atingido por mais quatro balas perdidas. Terminada a confusão,

Bruno foi preso e o caixeiro viajante fugiu em direção ao canavial da Usina 13 de Maio,

localizada no perímetro urbano da cidade.

Um belo dia, naqueles idos dos anos 40, apareceu no Engenho Lua Nova o afamado

guerreiro de mestre Zé Pedro para apresentar uma função. Pediu permissão ao senhor do

engenho, o meu avô Mário Santos, e começou a brincadeira. Depois de brincar à vontade, com

suas pastorinhas, o mestre foi provocado por “seu” Mário que, lembrando da famosa briga da

Rua da Coreia, deu-lhe o seguinte mote:

Levaram preso “seu” Bruno, quebraram até o motor.

Page 160: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

160

De imediato, mestre Zé Pedro, que conhecia a história, cantou:

Eu já incruzei cum Sales,

Mestre Rozendo in Palmares,

É Reis dos vadiadô,

Quando a peça detonô,

Que surgiu o vagalume,

Levaram preso “seu” Brune,

Quebraram inté o motô.

Foram esses “incruzamentos” de espadas que ajudaram a guardar as histórias da vida

simples do homem do interior e a formar a cultura nordestina.

Page 161: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

161

Chico Machado, o fogueteiro carnavalesco

Francisco Machado da Silva, ou Chico Machado para os mais próximos, nasceu no dia 29

de novembro de 1907, na cidade alagoana de Colônia Leopoldina. Viveu quase toda a sua

infância no Engenho Canto Escuro, pertencente ao major da Guarda Nacional, Manoel

Henrique de Luna, avô do comendador José Araujo de Luna. Havia entre Chico Machado e o

major Manoel Henrique de Luna uma ligação quase que familiar. Chico era uma pessoa bem

quista pela família Luna e realizava quase todas as funções de confiança do major.

Quando o conheci ele já residia na antiga Rua das Pedrinhas, hoje Rua Durval Gonçalves

da Silva, e exercia a profissão de fogueteiro. Segundo o nosso conterrâneo Everaldo Araújo

Silva, Chico Machado “era fogueteiro de profissão e um exímio artista na arte da pirotecnia, e

seus fogos de artifício eram engenhosamente preparados com requintada perícia e excelente

qualidade”.

Nas horas vagas Chico gostava de pontear sua viola em peleja com alguns cantadores

que por ali apareciam. Seus embates poéticos quase sempre se davam à luz de velas ou de

candeeiros, já que naquela época Colônia Leopoldina ainda não possuía uma boa energia

elétrica. Somente algumas ruas e poucas residências eram fracamente iluminadas por

lâmpadas que mais pareciam pequenas tochas acesas. A eletricidade era gerada a partir de um

apequena barragem existente no município.

Desde criança, eu era fanático por literatura de cordel e cantoria de poeta violeiro. Fugia

de casa, à noite, para assistir aqueles duelos verbais. Lembro que certa noite Chico Machado

enfrentava um cantador de Pernambuco, quando terminou um verso dizendo:

Eu sou filho de deputado.

O outro cantador, imediatamente, sapecou-lhe uma resposta desconcertante, que

terminava mais ou menos assim:

Você é filho de deputado, mas tirando o “dê-ó-dó”.

A viola não era o seu forte. Ele gostava mesmo de ser reconhecido como o fogueteiro-

mor da cidade. Sentia-se realizado quando via seus foguetes e balões subirem aos céus

animando as festas juninas, as novenas do mês de maio e a tradicional festa do mártir São

Sebastião.

Mais tarde, revelou-se como carnavalesco. Fundou, na década de 50, o famoso bloco

Leão da Aldeia e o bloco do Jacaré. Durante os festejos momescos, seus blocos saíam às ruas

para animar o nosso carnaval, quase sempre ao som da famosa banda de música de Belém de

Maria, de Pernambuco. Os foliões alegremente cantavam os seus versos:

Chamei Chiquinha, chamei Lionô,

Page 162: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

162

A Mariêta não pôde marchar,

Porque estava no rio lavando roupa

E o jacaré partiu pra lhe pegar

Olê, olá, olê, olá

Entra no frevo

Que essa trinca é de amargar.

Religiosamente, em todo carnaval, Chico Machado deslocava o seu bloco para dançar no

terreiro do Engenho Canto Escuro. Rendia homenagem ao major Henrique de Luna e ao lugar

onde ele passou grande parte de sua infância e adolescência. Por mais de 20 anos animou e

movimentou os carnavais de sua terra natal, principalmente com o bloco do Jacaré.

Além de poeta popular e fogueteiro de profissão, Chico Machado participava com muito

orgulho da política local. Alinhava-se politicamente com o seu velho amigo Alfredo Cavalcanti.

Certa feita, quando Alfredo recepcionava o candidato a governador, Abraão Fidélis de Moura,

ele, após homenagear o seu candidato com foguetório em frente à igreja matriz de Nossa

Senhora do Carmo, improvisou essas quadras:

Eu sou o Leão da Aldeia

Valente como um terror,

Abraão é o candidato,

Votemos nele pra governador

Sou pobre, sou rico,

Grito de peito empolado,

Com Alfredo na prefeitura,

O pobre está arrumado.

Daniel, seu filho, durante muito tempo tentou manter acesa a chama carnavalesca do

pai. Não conseguiu em razão de dificuldades financeiras e da própria mudança dos costumes

populares na forma de comemorar as folias de Momo.

Em 24 de outubro de 1988, o Poder Legislativo local, através da Lei no 590, resolveu

homenagear o velho Chico Machado, dando seu nome a uma das ruas de nossa cidade. Foi

uma homenagem justa e merecida para aquele que em vida foi um dos mais festejados

carnavalescos que Colônia Leopoldina conheceu.

Page 163: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

163

Page 164: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

164

A agonia dos banguês e seu bueiro quadrado

Há um texto de José Roberto Melo, publicado na revista A Região, no 3, de 1984, que

aborda o tema da agonia dos engenhos banguês. José Roberto era odontólogo e foi o primeiro

prefeito eleito da cidade de Cortês, situada na região da Mata-Sul de Pernambuco. O assunto

era familiar para ele, que foi senhor de engenho nos idos de 1946, quando participou da fase

de transição da economia canavieira dos banguês par aas primeiras usinas de açúcar. Ele viu o

apagar do fogo das caldeiras dos velhos engenhos, com seus bueiros quadrados e fumaça

branca, que durante muito tempo encantou e encorajou os poetas da região.

É o próprio José Roberto quem nos apresenta os versos proféticos, de Bernardino Borba

(1948), a respeito da agonia dos banguês:

Creio que em breve, talvez,

Se acabarão os banguês,

Se acabará banguezeiro...

Como lembranças ficando

Ao tempo desafiando,

Algum saudoso bueiro.

Quando criança, acompanhando as andanças de meu pai, Adalgiso Borges Santos, tive a

oportunidade de conhecer alguns “esqueletos” de engenhos banguês. Instalações físicas

deterioradas pelo tempo, sem nenhuma marca da época em que seus donos eram chamados

de senhores de engenho. Lembro-me de alguns engenhos e respectivos proprietários da

época, como o Engenho Jericó (coronel Joãozito), Engenho Lua Nova (Mário da Silva Santos),

Engenho Macuca (Zé Quincas), Engenho São Sebastião – primitivo Pé de Serra de São João da

Mata (Joaquim Monteiro da Cruz), Engenho Livramento (coronel Joaquim Luiz da Silva),

Engenho Onça (Caetano Buarque de Gusmão), Engenho São Bernardo (Ludovico de Medeiros),

Engenho Capoeira dos Reis (Alfredo Soares), Engenho Ouro Preço (coronel Salú), Engenho

Itajubá (Gustavo Fittipaldi), Engenho Canto Escuro (Manoel Henrique de Luna), Engenho Santo

Antônio (Alfredo de Paula Cavalcanti), Engenho Amapá (Família Gomes de Barros), Engenho

Flor de Taquara (coronel Joaquim Luiz da Silva), existente do lado pernambucano da divisa com

Alagoas. Este, nos anos 50 se transformou na Usina Taquara, cujo acionista majoritário era o

José Luiz Lessa, que também foi prefeito de Colônia Leopoldina em dois mandatos. Também

não podemos deixar de mencionar o Engenho Macaco (Alcides Freire), Cavaco (Otávio Freire) e

Forte do Mato (Aristides Caetano), todos situados em território pernambucano, construídos

Page 165: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

165

quase que às margens do rio Jacuípe, além do velho Engenho Porto Rico, erguido no lado

alagoano, também seu bueiro quadrado.

Segundo relata nosso conterrâneo Everaldo Araujo Silva em seu livro A Colônia da

Princesa, o antigo Engenho Pé de Serra foi o primeiro na região a ser movido a vapor. Sabemos

por ele que os “primitivos engenhos de açúcar eram movidos à água. Chamados de engenho

d’água ou também aqueles puxados por bestas, conhecido por engenhos de bestas, além dos

engenhos puxados a bois, segundo relato do historiador alagoano Manoel Diegues Jr., era

natural que o engenho d’água ocupasse posição de relevo na economia açucareira”. As

plantações desses engenhos eram quase sempre feitas nas várzeas e nas margens dos rios e

riachos. A água, além de ser o elemento essencial para movimentar a engrenagem da máquina

de moer cana, também servia para uso doméstico. Dela se serviam todos que moravam e

trabalhavam no engenho.

As usinas que sucederam aos velhos engenhos banguês trouxeram, além de novas

máquinas, outra inovação: a construção da chaminé de forma arredondada e mais alta.

Quando o antigo Engenho Porto Rico foi transformado em usina, o seu dono resolveu

conservar o bueiro quadrado e por isso foi objeto de gozação e deboche. Muitas eram as peças

de guerreiro tiradas e cantadas às escondidas, debochando do velho bueiro quadrado que não

quis se modernizar. O coronel Ezequiel Siqueira Campos, seu proprietário desde 1938, vivia

alheio às piadas sem nada saber dos irreverentes gozadores.

O meu avô, Mário da Silva Santos, contou-me que certo dia um corumba – vindo das

bandas de Garanhuns para cortar cana na referida usina – achou aquele bueiro muito

estranho. Quando terminou a sua lida na safra de cana, e antes de viajar para sua terra natal,

após passar mais de seis meses residindo e trabalhando na Usina Porto Rico, deixou em rima

as suas impressões debochadas e imorais para aquela época (1946).

A Usina Porto Rico

Tem o bueiro quadrado,

A máquina é uma caixa de fósforos,

O foguista é aleijado,

O maquinista é um corno,

O barracão é de safado,

E a mulher do usineiro

Tem os pés apaêtado.

Historiadores dizem que não há como negar a influência do engenho banguê nas

manifestações folclóricas do Nordeste, notadamente, em Pernambuco e Alagoas, onde existia

Page 166: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

166

grande quantidade dos referidos engenhos. Seus operários, nas horas vagas, vadiavam

contando prosas, fazendo versos, emboladas e elaborando cantigas de coco. Normalmente, os

repentistas emboladores e “tiradores” de coco, dançavam e cantavam no terreiro dos

engenhos, fazendo rimas com temas ligados ao velho banguê, à senzala, ao dono do engenho,

ao cultivo da cana-de-açúcar, sua colheita, à produção, e aos trabalhadores.

Em seu livro o Banguê nas Alagoas, Manuel Diégues Júnior – grande historiador

alagoano – relata que “numa cantoria de coco, Joaquim Pueirame apresentou uma série de

versos referentes à paisagem da área rural do Nordeste”, narrando fatos da vida do engenho,

ocorridos aos domingos, quando todos se dirigiam à venda para comprar mantimentos, jogar

conversa fora ou prosear com os camaradas de trabalho. Eis o verso de Pueirame, citado por

Manuel Diégues Júnior:

Eu pranto cana

Mas não trabaio alugado

Que não sou cabra safado

Tenho credo em quarqué lugá.

Dia de Domingo,

Se não tiver um tostão,

Vou na casa do patrão

Ele tem prá me emprestá.

O meu patrão

Tem uma bodega no cercado,

Ele num vende fiado,

Ele só vende é a legá.

Aos domingos e dias de folga, era comum os trabalhadores se juntarem no barracão ou

na bodega dos engenhos para tomarem a conhecida cachaça feita de alambique de barro.

Depois de “espritado” pelo álcool, cada um que fizesse a sua rima. O escritor José Lins do

Rêgo, numa publicação antiga da revista O Globo Rural, conta-nos que um desses repentistas

bebia cachaça e fazia glosas alusivas aos homens de bem, que também tomavam a sua

branquinha. Eis os versos de autor desconhecido:

Antigamente quem bebia,

Era o negro ou o mulato,

Mas, hoje gente de trato

Page 167: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

167

Bebe de noite e de dia,

Homem de categoria

Tenho visto acontecer,

Nas ruas tombar, pender,

Dando passadas sem prumo,

Se os grandes lhe dão consumo,

Não é defeito beber.

Assim, banguês e usinas, de bueiro quadrado ou redondo, atraiam os repentistas. Alguns

pelas riquezas dos proprietários e a maioria pela cachaça quase de graça.

Page 168: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

168

Os anos de chumbo

Em 1965, vivíamos em plena efervescência, pós-intervenção militar na política brasileira.

O trote dos calouros de medicina da Universidade Federal de Pernambuco era aguardado com

ansiedade. Em Recife só se falava na prisão do governador Miguel Arraes. A Revolução, ou

Golpe Militar, que havia afastado o presidente João Goulart do comando da nação em 1o de

abril de 1964, agora apagava os focos de resistência nos estados.

Estudante quando quer, ou mesmo quando deixa se conduzir, é mesmo bicho afoito e

rebelde. Foi assim que nós, alunos do 3o ano científico do Colégio Carneiro Leão, atendemos

ao convite e fomos engrossar as fileiras do famoso trote.

O cortejo estudantil colocou, à frente da manifestação, um jumento pintado de verde e

vestido com uma jaqueta militar, coberto de medalhas e com um chapéu entre suas orelhas.

Alguns calouros, devidamente escalados para àquela missão, conduziam uma faixa que

utilizava os conhecimentos da tabela periódica dos elementos químicos para alterar o contexto

do slogan da campanha “Ouro para o Brasil”, que era uma campanha de doação voluntária

para ajudar o país a resolver seus problemas sociais, econômicos e financeiros. A ousada faixa

dizia: “Au para o Brasil, Ag para os militares e Pb para os que falarem”.

Com semelhante afronta, a passeata não poderia ir muito longe. O insulto às forças

militares foi em dose cavalar. Na mesma dose foi a resposta e a dispersão foi rápida. As forças

policiais usaram cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo e até mesmo a cavalaria. Isolaram as

ruas e becos da Avenida Dantas Barreto, no coração da capital pernambucana. Foi um salve-se

quem puder. Lembro-me que entrei num elevador e fui bater no 7o andar de um edifício, onde

existia um consultório odontológico. Ali, sob a proteção do doutor dentista, fiquei escondido

até o início da noite, quando o movimento das tropas já era reduzido. Apanhei um ônibus e

voltei para a casa de uma prima, no bairro General Severiano, onde me hospedava. No outro

dia, os jornais do Comércio e o Diário de Pernambuco noticiavam a dissolução violenta do trote

dos calouros de medicina.

Durante o movimento militar, Recife foi palco de vários episódios sangrentos, inclusive

com a morte do Ivan Aguiar, um colega de infância, que era chamado carinhosamente de

Vanzinho. Seu pai, Severino Aguiar Ferreira, egresso de Pernambuco, chegou a Colônia

Leopoldina, em Alagoas, para exercer a profissão de dentista. Envolveu-se com a política local

e chegou a ocupar a presidência da Câmara de Vereadores no período de 1951/52. Por

questões familiares, voltou à Recife com toda a sua família. Era um convicto participante do

Partido Comunista Brasileiro. Seus filhos foram batizados com nomes originários dos países

integrantes da “Cortina de Ferro” – Danúbio, Moldávia, Ivan, Vânia Petruska e outros mais.

Page 169: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

169

Em 1o de abril, durante o Golpe Militar, Ivan Aguiar era estudante de engenharia e

estava na linha de frente das manifestações contra as forças revolucionárias. Mesmo estando

envolto com a bandeira do Brasil, foi metralhado em plena praça pública, pagando com a vida

pela coragem de se opor aos golpistas.

Em junho de 1965, deixei o Colégio Carneiro Leão e fui estudar em Maceió, no Colégio

Moreira e Silva, onde terminei meu curso científico. Aprovado no vestibular da Faculdade de

Medicina de Alagoas, iniciei o curso em 1966. Quando recebi o diploma de médico, no dia 11

de dezembro de 1971, vivíamos ainda em plena vigência do movimento militar, com vigilância

redobrada, principalmente dentro das universidades. Foi assim que tive contato com o período

que foi denominado, mais tarde, como “os anos de chumbo”.

Page 170: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

170

O “comunista” leopoldinense

Helvécio Afonso de Melo nasceu no dia 29 de agosto de 1919, no então distrito de

Joaquim Nabuco, no município pernambucano de Palmares. Quando o conheci, ele era

funcionário do Ministério da Agricultura e já estava casado com minha prima Nélia Borges.

Residia em Colônia Leopoldina e trabalhava no Fomento Agrícola.

Durante grande parte de sua vida exerceu as funções de caixeiro-viajante. Mas também

foi vendedor de medicamentos, ajudante de padaria e balanceiro de uma usina situada no seu

Estado natal.

Todavia, Helvécio era mesmo um poeta nato, um escrevinhador de glosas, repentes e

sextilhas. Conhecia os segredos e atalhos da vida como a palma de sua mão. Experiente,

viajador, muito esperto. Era considerado por todos como um “cabôco véio, passado na casca

do angico”.

Por várias vezes foi indicado pelo juiz de direito de Colônia Leopoldina para exercer as

funções de advogado sem diploma. Como rábula, defendia os mais pobres e excluídos da

sorte. Era considerado um autodidata de muita leitura, com excelentes qualidades intelectuais

e morais, versado na arte de convencer.

Quando estourou a Revolução de 1964, Helvécio ministrava aulas de Organização Social

e Política Brasileira (OSPB) no Colégio Normal Padre Francisco. Certa noite, estando ele dando

aula, foi abordado por agentes do poder revolucionário, tendo à frente um coronel do

Exército. Levaram-no preso como “agitador e comunista”. Foi encaminhado imediatamente

para uma prisão nas dependência do antigo 20o Batalhão de Caçadores do Exército Brasileiro,

em Maceió, onde foi acusado de professor e ensinar abertamente ideias simpáticas às nações

que faziam parte do regime político da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, além

de ser admirador do governo cubano de Fidel Castro. Contra Helfécio ainda h avia a denúncia

de que ele era simpatizante das Ligas Camponesas Pernambucanas, organização dos

trabalhadores rurais fundadas e comandadas pelo deputado Francisco Julião e pelo comunista

Gregório Bezerra. Eram acusações pesadíssimas.

Para nossa surpresa, ele passou poucos dias na prisão. Não havia nada de concreto

contra ele. Foi posto em liberdade e retornou tranquilamente ao convívio dos seus amigos,

familiares e alunos do Colégio Padre Francisco.

Disseram que a sua prisão foi provocada por discutir política em sala de aula,

oportunidade em que defendia suas ideias. Outros afirmaram que uma denúncia anônima e

covarde, feita pelos adversários políticos, é que realmente determinou sua prisão. Certo

Page 171: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

171

mesmo é que o nosso Helvécio entrou para a história como sendo o único “comunista” preso

em Colônia Leopoldina durante o golpe militar.

Seu cunhado, Manoel Freire Borges, o Balé, fora deputado estadual de 1954 a 1958,

tendo inclusive ocupado a vice-presidência da Casa Tavares Bastos durante o dificílimo período

do processo de impeachment do governador Muniz Falcão. Processo que culminou, em 13 de

agosto de 1957, com o famoso tiroteio na Assembleia Legislativa de Alagoas, onde perdeu a

vida o deputado Humberto Mendes, que também era sogro do governador. Manoel Freire era

também um convicto estudioso dos movimentos sociais. Lia muito, possuía uma excelente

biblioteca e sempre estava pronto a defender os menos favorecidos. Coragem e bravura nunca

lhe faltaram. Até hoje, não sabemos, na sua convivência com Helvécio, quem influenciou

quem.

Mas o nosso Helvécio gostava mesmo era de uma boa prosa, de versos, glosas e

repentes picantes e irreverentes. No ano de 1965, o senador Rui Palmeira, disputava o

governo alagoano com um slogan bastante inteligente: “Dê um passo à frente – vote em Rui

Palmeira”. Em Colônia Leopoldina, José Maria de Omena, guarda-livros da Usina Taquara,

disputava pela segunda vez o cargo de prefeito da cidade e apoiava a candidatura de Rui

Palmeira ao governo do Estado.

Quando as urnas foram abertas, o outro candidato a prefeito, Antônio Lins da Rocha, foi

disparando na contagem dos votos. A vantagem era visivelmente crescente, conforme

“cantavam as urnas”. Rui Palmeira e Zé Maria perdiam feio. Este fumava um cigarro atrás do

outro, meio inquieto, porém sem dar o braço a torcer. Sabia que a eleição estava perdida.

Acompanhando a apuração se encontrava o nosso Helvécio, que vendo Zé Maria

nervoso, não resistiu em provocá-lo. O resultado era tão acachapante que merecia uma

gozação. Rabiscou essa quadra e mandou entregar-lhe.

É dez, é trinta, é quarenta,

Lá vai a conta crescendo.

O José já está dizendo:

Qual é o rabo que aguenta?

Zé Maria, poeta também, depressa no outro lado do papel respondeu:

Disputando uma prefeitura

Que uma máquina velha não tem,

Eu sei que a parada é dura

Page 172: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

172

Mas, sou da luta também.

Helvécio revidou com essa outra quadra:

Já descambou dos sessenta

Galopando em disparada.

Sem voto, meu camarada,

Assim, você se arrebenta.

Zé Maria finalizou a peleja assim:

Eu seguirei adiante

Vou aguentando o revés,

Mas, nunca de quatro pés

Pra Rui dar um passo à frente.

Foi assim que Helvécio, o “comunista” leopoldinense, fez história em nossa terra ao

promover a “socialização” da inteligência e da irreverência.

Page 173: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

173

Questão de rico com pobre

O meu avô, Mário Santos, contou-me um “causo” acontecido na cidade dos Palmares,

onde ele residia nos idos de 1930, quando o Brasil vivia sob o regime do Estado Novo

comandado pelo presidente Getúlio Vargas.

Disse-me ele que, naquela época, Palmares já era considerada como a capital da região

Mata-Sul, crescia rapidamente a todo vapor, embalada pelos inúmeros engenhos de açúcar e

pelas usinas que já haviam se instalado e que cresciam graças ao crédito e ao financiamento

do governo, que nunca pagavam. Dentre elas podemos citar: Usina Treze de Maio, Catende –

considerada a maior usina de açúcar da América do Sul , Pumaty, Pirangy, Cerro Azul, Santa

Terezinha, Cucaú, entre outras. A cidade possuía bom comércio atacado e varejista e era

servida por excelentes estabelecimentos educacionais, que muito contribuíram para a

formação cultural dos filhos de muitos senhores de engenho da divisa de Alagoas com

Pernambuco. Possuía um clube lítero-recreativo onde os jovens se divertiam e os poetas da

terra realizavam seus recitais nas manhãs domingueiras. Citamos Hermilo Borba Filho, Ascenso

Ferreira, José de Barros Corrêa (Lelé Corrêa), Arthur Cruz, Jaime Griz, Fenelon Barreto,

Raimundo Alves, Margarida Mesquita, Miguel Jacele, Abel Fraga e outros tantos

escrevinhadores.

Lembro-me do Ginásio Municipal Agamenon Magalhães onde estudei todo meu curso

ginasial (1959/1962). Possuía este nome em homenagem póstuma ao ex-governador de

Pernambuco no período de 1951/1952. Agamenon Magalhães foi acometido de mal súbito e

teve morte instantânea no segundo ano de governo. Esse ginásio, antes da morte do

governador, chamava-se Ginásio Municipal Fernando Augusto Pinto Ribeiro, em

reconhecimento a um ex-prefeito que conseguira os recursos necessários para a sua

construção. Soube que vinte ou trinta anos depois, a sociedade exigiu que aquele

estabelecimento educacional voltasse a se chamar Ginásio Municipal Augusto Pinto Ribeiro.

Fez-se justiça.

Palmares também contava com o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, educandário

administrado por freiras e que só admitia estudantes do sexo feminino em regime de internato

ou semi-internato, para o Curso Normal Rural. Era conduzido sob rígida disciplina e todas as

suas professoras eram irmãs da Ordem Franciscana ou formadas para exercer o magistério.

Professor homem lá não entrava, tamanho era o cuidado e o zelo da madre superiora com a

formação de suas colegiais. Nos anos 40, minha mãe, Maria de Lourdes Santana, e suas irmãs,

Maria Auxiliadora, Maria Zildete, Maria Estela e Maria Carmelita, também ali fizeram seus

cursos, bem como minhas irmãs Gisomar, Solange e Sônia Santana, além de Eutália Guerra

Page 174: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

174

Santos, minha esposa, e meu filho Ernane Manoel, no ano de 1997, quando o Colégio das

Freiras já havia se tornado misto.

Havia outra unidade escolar; mantida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial,

somente para homens, mas com o mesmo regime de internato e semi-internato. Era

conhecida como Escola Industrial do SENAI. Fardamento quase militar: casquete, cinto com

fivelas de aço, caça com listras e camisa com divisas nos ombros, identificando o curso e o ano

que cada um fazia. O objetivo do SENAI era a formação de mão-de-obra qualificada para

atender ao surto industrial que se instalara no governo getulista. Formava serralheiros,

marceneiros, torneiros mecânicos, eletricistas, desenhistas entre outros profissionais. A

histórica rede ferroviária Great Weestern, tão bem administrada pelos ingleses, servia a cidade

dos Palmares com suas máquinas a lenha, as Marias Fumaças, ou as novas Máquinas Azuis, já

movida a óleo diesel. Interligavam os estados de Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Ceará, Rio

Grande do Norte e Piauí, transportando nossa gente e seus produtos agrícolas: café, açúcar,

sal, mel, algodão, cacau, farinha de mandioca, fumo, banana e gado de corte.

Muitos poetas se inspiraram na viagem dos trens para descreverem a paisagem

nordestina, seu povo e seus costumes, a exemplo de Ascêncio Ferreira, com a sua famosa

poesia “Vou danado pra Catende”.

Apesar de Palmares ser considerada uma verdadeira capital da região Mata-Sul, poucos

eram os proprietários de terra ou senhores de engenho que possuíam recursos para importar

veículos automotores. Eram poucos os que possuíam os Ford Bigode, Chevrolet, Buick,

Studbeaker, International, Nash e algumas “baratinhas” transformadas em carro de praça.

Poucos “monarcas” do açúcar possuíam um automóvel de passeio ou mesmo caminhão para

transportar seus produtos. Na cidade não existia guarda de trânsito, apenas o pessoal da

polícia militar, da guarda municipal e uns poucos e briosos inspetores de quarteirões,

respeitadas “otoridades”.

Predominavam as ruas estreitas, como as que interligavam a zona do baixo meretrício

da Rua da Coreia, no Alto do Lenhador, com a rua principal de Palmares. Ali existia um beco

muito estreito por onde os “homens de bem” subiam e desciam de mansinho. Tal beco

chamava-se Beco do Engole Homem, já que por ali eles “sumiam” como num passe de mágica.

Em Palmares havia um rico senhor de engenho, que tinha um filho arrogante e

baderneiro. O rapaz tomava “umas e outras” e em seguida, com seus colegas de copo, ia à

procura das fogosas damas da Rua da Coreia. Em uma determinada madrugada, o nosso

boêmio e embriagado filho de senhor de engenho, ao volante de um caminhão Super-White,

manobrava no tal Beco do Engole Homem quando perdeu o controle do pesado veículo e

derrubou a parede da frente de uma casa, quase matando seu dono e filhos. Como era uma

Page 175: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

175

madrugada de domingo, dia de feira da cidade, o acidente rapidamente atraiu curiosos,

aguardando o bate-boca entre os envolvidos. O jovem motorista, demonstrando irritação,

argumentava que a culpa era da casa, que fora construída em local inadequado. O pobre

proprietário do imóvel apelava para a boa vontade e pedia para ele consertar a parede. Como

a conversa já se arrastava por um bom tempo e nada se resolvia, o dono do caminhão, ainda

embriagado, arrastou um rifle papo-amarelo e ameaçou resolveu a pendenga na violência.

Passando pelo local um velho senhor de engenho, prevendo o pior, sugeriu a ambos que

se deixasse o dia clarear para chamar o doutor juiz de direito e dele solicitar a definição de

quem estava com a razão. Concordaram, esperaram amanhecer e acordaram o magistrado,

que foi levado ao local do acidente. A autoridade, que era amigo do pai do jovem motorista,

analisou a localização da casa, calculou a posição em que ficara o caminhão e deu o seu

veredito.

No meu entendimento ninguém está com a razão, mas para se fazer melhor justiça, e

tendo em vista as posses das partes envolvidas no acidente – e ainda observando que não

houve nenhuma lesão corporal, apenas danos materiais – recomendo que cada um faça seu

conserto. Não vou instaurar inquérito algum.

Passava por ali um poeta repentista, em direção à feira palmarina, onde ia defender o

seu trocado, que ouviu revoltado a decisão do juiz. Alguém do povo, mais revoltado ainda,

falou alto: “nunca vi questão de rico com pobre, o pobre sair com razão”. Imediatamente o

poeta viu nas palavras um mote e improvisou esta sextilha:

Questão de rico com pobre,

O pobre não tem razão,

E para este “causo”

Só há uma explicação,

A casa se balançou,

E bateu no caminhão.

Page 176: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

176

Toinho Santana

O meu irmão, Antônio Santana, foi admitido no ano de 1969 pela agência do Banco do

Estado de Alagoas, que depois ficou mais conhecido como Banco da Produção ou PRODUBAN.

Ali, Santana trabalhou por quase três décadas. Começou como investigador de cadastro,

depois foi promovido a caixa executivo, posteriormente, coordenador dos caixas e, por último,

ascendeu a condição de tesoureiro geral. Era jovem, forte, e levava uma vida acelerada:

fumava moderadamente, bebia razoavelmente nos finais de semana e ainda jogava voleibol.

Era um caçador nato, quer seja com sua espingarda de chumbo ou mesmo com sua baladeira.

Avexado por natureza, vivia num ritmo estressante.

Ainda criança, era considerado um exímio atirador de peteca, caçador infalível, com

pontaria certeira e dele nada escapava. Abatia andorinha, curió, bem-te-vi, rolinha fogo-pagou,

rouxinol, casaca-de-couro, joão-de-barro, sanhaçú, anum preto, guriatã, galo de campina,

canário, carcará, urubu e até mesmo o velocíssimo beija-flor. Era um verdadeiro carrasco

quando passarinhava.

Com ele, nas farras, sempre estavam presentes Pereira, Trajano, Ernande Baracho,

Roberto Marques, Chicão, Zezinho Coroa, Artur Machado, Mário Barros e o Floro, seu

cunhado, que quase sempre se encontrava na linha de frente das noitadas festivas. Uma vida

inteira como irmãos siameses de bebedeira. Santana mudou sua vida quando, em 1988, o

PRODUBAN cerrou suas portas por questões financeiras e péssima gestão administrativa.

Governos irresponsáveis permitiram que o banco alagoano quebrasse em razão de contratos

que foram considerados, posteriormente, lesivos ao seu patrimônio, como o famigerado

acordo entre o banco e algumas classes produtoras de Alagoas, que nunca pagaram um

centavo sequer dos empréstimos negociados.

Nenhum avalista pagou por isso e nenhum patrimônio dos devedores sofreu qualquer

“arranhão” das garras da justiça. Esse fato motivou, tempos depois, a instauração de uma

Comissão Parlamentar de Inquérito. Os resultados da CPI do PRODUBAN foram remetidos à

justiça, onde se arrasta até hoje.

Essa irresponsabilidade levou à rua das amarguras e ao muro das lamentações 1.200

funcionários do banco. Alguns se entregaram ao vício da embriaguez, outros foram

acometidos de crises nervosas, tornando-se dependentes de acompanhamento psiquiátrico e

do uso de tranquilizantes menores. Houve até quem, em momento de acentuada depressão,

atentasse com sucesso contra sua própria vida. Ainda hoje nós os vemos perambulando pelas

ruas, vendendo cachorro quente ou como verdadeiros zumbis. Famílias inteiras foram

Page 177: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

177

desestruturadas, casamentos desfeitos e muitos vivendo à custa dos parentes. O fechamento

do PRODUBAN foi uma tragédia para os seus funcionários.

Santana foi um desses que, não aguentando a pressão e o peso da responsabilidade

familiar, terminou desenvolvendo doença coronariana acrescida de uma diabetes. Em 1998,

ele reclamou de forte dor no peito e falta de ar. Negava-se a procurar um médico por mais que

sua esposa Vela Lúcia insistisse. Fui chamado às pressas a sua casa e, quase à força, levei-o a

Santa Casa de Maceió para um atendimento emergencial. A equipe de cardiologia, altamente

qualificada, diagnosticou infarto do miocárdio, internando-o imediatamente na UTI.

Passado o susto, foi submetido a cateterismo cardíaco pelas mãos experientes do nosso

colega Gilvan Dourado, que recomendou cirurgia de revascularização do miocárdio – no

popular, colocação de pontes de safena. Na manhã do exame, fui visitá-lo em um apartamento

da Santa Casa. Ele estava ansioso, inquieto, conversando muito e fazendo piadas com os

presentes. Ele lembrava que tinha experimentado idêntico estado de ansiedade quando, em

1991, eu fui submetido à mesma cirurgia cardíaca para colocação de quatro pontes de safena.

Tentei tranquilizá-lo o quanto pude e, antes de me despedir, escrevi alguns versos, que

deixei em cima da mesa ao lado de folhas em branco. Queria que ele, poeta também,

extravasasse através da poesia a inquietação natural desses momentos. Rabisquei o seguinte:

Pra seu Toinho Santana,

Poeta de opinião,

Que deitado em sua cama,

Espera a ocasião,

Deixo estas folhas em branco,

Pedindo-lhe que aguente o tranco,

E mande botar as “pontes”,

Prú riba do coração.

Pois ele mesmo é um valente,

E respeitado no sertão,

Dizem até que fez parte

Do bando de Lampião,

Sendo, igualmente Corisco,

Com um bacamarte na mão.

A coisa foi muito séria,

Eu vi o cateterismo,

Page 178: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

178

Gilvan salvou uma artéria

Agindo com heroísmo,

Porém, lhe disse: Santana,

Agora, tome juízo.

No dia seguinte, voltei a visitá-lo e ele já tinha produzido as seguintes quadras:

Estando na Santa Casa

E sendo ex-PRODUBAN,

Aqui serei operado

Me informa o Dr. Gilvan

Há sete anos atrás,

O mano veio infartou,

E essa grande equipe,

Foi ela quem lhe salvou

Eu não sei se sou valente,

Ou primo de Lampião,

Também valente se afroxa

Na mesa de operação

Segunda-feira tá chegando,

Ninguém de mim tenha pena,

Meu coração vai ficar novo,

Com as pontes de safena

Vou encerrar os meus versos,

É hora de ir prá cama,

Agora de Coração Aberto,

Ernane e Antônio Santana.

Page 179: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

179

Lembranças do Cine Apolo

Conheci o cinema através da pequena tela do Cine São José, em minha terra natal,

Colônia Leopoldina. A atração pela sétima arte era tamanha que cheguei a ocupar função de

porteiro daquela casa de entretenimento, que funcionava as quintas, sábados e domingos. O

São José tinha à frente um grande entusiasta do cinema, Sebastião Lopes e, depois, o seu

irmão José Lopes, que também iniciou sua vida como porteiro. Presenciei a garotada e os

barbados se deliciarem com os filmes ali projetados: os seriados de Zorro, Nioka a Rainha da

Selva, Flash Gordon, os grandes filmes de amor, de bang-gang, de guerra, de espadachins,

Tarzan e o Fantasma Vingador. Também ali eram exibidos filmes de suspense e de comédia

com grandes artistas brasileiros como Grande Otelo, Zé Trindade, Ankito, Oscarito, Zezé de

Macedo, Dercy Gonçalves, Anselmo Duarte, Eliane, Renata Fronzi, e tantos outros comediantes

do nosso iniciante cinema.

Em 1959, quando iniciei meus estudos no Ginásio Agamenon Magalhães, na vizinha

cidade de Palmares, em Pernambuco, fui conhecer o cine Apolo. Foi enorme a sensação de

felicidade ao reencontrar o agradável mundo do cinema – principalmente exibidos numa

telona com som estereofônico, já que vivíamos a época do cinemascope.

A cidade de Palmares possuía apenas dois cinemas. O mais antigo era o Cine Theatro

Apolo e o segundo era o cinema São Luís, com instalações e maquinário mais novos e cadeiras

mais aconchegantes. Os estudantes preferiam o velho cinema Apolo, que não tinha

comodidade e nem grandes atrativos, mas era o ponto de encontro da estudantada do Ginásio

Agamenon Magalhães, do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), do Ginásio

Costa Azevedo e da Escola Técnica de Comércio dos Palmares. Lá, de maneira irresponsável, se

comportavam como adolescentes rebeldes e sem causa, sempre agindo de forma imatura. A

bagunça era generalizada: jogavam caroços e cascas de pitombas nas cabeças uns dos outros,

davam gritinhos nervosos, faziam xixi em plena sessão, arrotavam e peidavam

escandalosamente. Reclamavam também da presença das pulgas e do odor nauseabundo

vindo dos banheiros. Várias vezes, o operador da máquina acendia as luzes e suspendia a

projeção da fita por alguns minutos para pedir silêncio, ameaçando até mesmo suspender a

“passagem do filme” ou apelar para a polícia.

O porteiro do Apolo chamava-se Altino. Era um septuagenário muito espirituoso,

chegado a um chiste, a uma prosa safada, e ainda mostrava seus dotes como um exímio

contador de anedotas. Conhecia quase todos os frequentadores daquele cinema. Nós o

estimulávamos e gostávamos de ouvi-lo contar suas putarias. Às vezes, somente nos

Page 180: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

180

afastávamos dele quando a sessão cinematográfica já havia sido iniciada e a tela mostrava as

primeiras “notícias da semana”, de Jean Mazon.

Com poucas oportunidades de diversão noturna, nós vivíamos esperando os dias de

sessão para namorarmos no escurinho do cinema e também bagunçarmos o ambiente.

Quando a fita exigia silêncio, concentração e emoção, nós ríamos e até imitávamos os sons dos

animais; quando a cena era de alegria, nós ensaiávamos momentos de choro. No meio de

tanta esculhambação, quem melhor resumiu o que era o Apolo foi um anônimo que deixou

escrita essa engraçada glosa na porta do sanitário:

Quem vai ao Cinema Apolo,

Na entrada o porteiro joga pulha,

Lá dentro se desembrulha,

Uma fita ruim desgraçada,

Quem sofre é o camarada,

Com peido, pulga e mau cheiro.

Se levanta o desordeiro,

E grita de voz enxuta:

Isso é cinema ou chiqueiro?

Comboio de filhos da puta.

Encontrei, em minha caminhada pela vida, várias outras escritas poéticas em lugares

inusitados. Mas, a glosa do Apolo ficou gravada como lembrança da minha juventude nas

terras palmarinas, onde fiz os primeiros contatos com a arte de escrever poesia.

Page 181: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

181

Todo astronauta que parte...

O cosmonauta russo Yuri Gagarin foi o primeiro homem a conquistar o espaço. Em 12 de

abril de 1961 ele deu uma volta completa na órbita terrestre pilotando a nave russa Vostok.

Antes, em 1957, os russos já haviam colocado em órbita o satélite Sputinik. Esses dois feitos

colocavam os russos na dianteira da corrida pela conquista do espaço sideral. Secretamente,

os EUA planejavam responder aos russos, realizando o primeiro pouso tripulado na lua. Os

cientistas e cosmonautas daquele país, incentivados pelo presidente John Kennedy,

alcançaram o sucesso somente no ano de 1969, quando Neil Armstrong, pilotando a Apolo 11,

fez história ao ser o primeiro homem a pisar no solo lunar.

Esses feitos não passaram despercebidos pelos poetas e escritores da época. Durante o

carnaval de 1962, em Pernambuco, foi lançada com muito sucesso a marchinha carnavalesca

Eu vou pra lua, de autoria dos compositores Luiz Boquinha e Ary Lobo. Sua letra era simples,

mas retratava com fidelidade o feito do astronauta russo Yuri Gagarin. O frevo pernambucano

foi cantado no Brasil inteiro. Sua letra era mais ou menos assim:

Gagarin, subiu, subiu, subiu,

Foi até ao espaço sideral,

Chegando lá na lua ele sorriu:

Vou m’imbora pro Brasil

Que o negócio é carnaval

A lua disse, não vá, demore mais

Já ouvi que lá na terra

Querem lhe passar pra trás

Mas o Gagarin correu e deu no pé

Vou m’imbora pro Brasil

Eu quero é conhecer Pelé.

Em 1970, conheci o poeta Antônio Aurélio de Morais, natural de Atalaia, em Alagoas.

Sapateiro de profissão e poeta nas horas vagas. Ele possuía uma oficina de trabalho localizada

num cubículo existente na esquina da Rua Formosa com a Miguel Omena. Quando colei grau

no ano de 1971, na antiga Faculdade de Medicina, declamei alguns versos do “tio” Tonho e,

ele próprio foi convidado por mim para declamar a sua poesia, Criança num é caxorro.

Page 182: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

182

Estimulamos o sapateiro a publicar seus versos, fato que somente ocorreu em 1981, quando

pela Sergasa ele publicou versos de um Lambe-Sola.

A nossa turma de medicina era bastante politizada e resolveu não homenagear

nenhuma autoridade. Por unanimidade escolheu como patrono a poesia do “tio” Tonho, A

Criança Abandonada. Fiz com sucesso, o discurso da aula da saudade.

Quando da conquista da lua, “tio” Tonho escreveu uma poesia de nome Eu vou pra lua,

de onde extraí os seguintes versos:

Tenho seis fios piqueno

I a muié com o buxão

Mai num to ligano não

Eu dêxo tudo na rua

Daqui num quero mai nada

Já tô cá trôxa rumada

Prú mode morá na lua.

“Tio” Tonho completou a sua poesia escrevendo versos que homenageavam o

astronauta americano Neil Armstrong que participara da conquista da lua:

Minha muié na inxada

Trabaia quiném um bixo,

Ta cá pança no espixo,

Mai quando ela dispejá,

Eu vô incerrá naquele,

E si for maxo u nome dele

É Armustrongo Luná.

Como só se falava na conquista da lua, o compositor e cantor Ary Lobo e o paraibano

Jackson do Pandeiro também cantaram e encantaram o Brasil com um forró que dizia mais ou

menos assim:

Eu vou pra lua, eu vou morar lá

Saio no meu Sputnik do campo do Jequiá

Já estou enjoado aqui da terra

Page 183: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

183

Onde o povo a pulso faz regime

A indústria, o roubo, a fome, o crime...

Lá na lua não falta hospital, não falta escola

É fuzilado lá quem come bola

E morre na rua quem faz anarquia...

Lá não tem juventude transviada

Os rapazes de lá não têm malícia

Quando há casamento na polícia

A moça é quem é sentenciada,

Por ventura, se a mulher for casada

E enganar o marido, a coisa é feia

Ela pega dez anos de cadeia

E o conquistador não sofre nada...

De igual maneira, o nosso alagoano Roberto Beckér, também compositor, e dos bons,

cantou e gravou um disco enaltecendo a grande proeza americana na conquista do solo lunar.

Quando o homem foi à lua,

Numa nave espacial,

Começou a descobrir,

O espaço sideral,

Viu as estrelas do Norte,

Via as estrelas do Sul,

E ficou maravilhado

Vendo que a terra era azul.

Na década de 60 as doenças venéreas, hoje chamadas de doenças sexualmente

transmissíveis, explodiram no Brasil de forma assustadora. Foi uma verdadeira epidemia.

Nessa mesma década houve uma verdadeira revolução sexual com o uso de preservativos, as

famosas camisinhas, e o aparecimento das pílulas anticoncepcionais.

Ministrando aulas na velha Faculdade de Medicina, o mestre Aderbal Loureiro Jatobá,

quando abordava as doenças venéreas, fazia referência a uns versos que ele ouvira no Rio de

Page 184: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

184

Janeiro, durante o seu curso de pós-graduação em Saúde Pública. O carioca, de natureza

irreverente, fazia gozações em relação à conquista da lua e às doenças venéreas,

recomendando aos astronautas cuidados especiais com sua saúde, principalmente quando

fossem lançados ao espaço sideral. Sempre que podia, Dr. Aderbal repetia essa quadra de

domínio público, que passamos a transcrevê-la conforme ouvimos em sala de aula:

Todo astronauta que parte,

Tem que trazer pelo menos,

Uma gravata de Marte

E uma camisa de Vênus.

A poesia, como crônica popular, é também uma forma de contar história a partir do

olhar criativo do artista. É a arte que faz a poesia nascer numa banca de sapateiro e chegar aos

bancos da universidade, mesmo quando o tema envolve descobertas e avanços científicos.

Page 185: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

185

Choveu tantinho assim

No ano de 1973, recém-formado em medicina e já sendo chamado pelas pessoas mais

simples de doutor Ernane, fui visitar em Bom Conselho, Pernambuco, a minha noiva e futura

esposa Eutália Guerra. Ali tive o prazer de ser apresentado pelo meu concunhado, Arcôncio

Camboim, a um cidadão de nome Jacó. Pessoa conhecida na cidade por sua espirituosidade,

boas piadas e inteligência. O velho sertanejo, mesmo já alquebrado pelo peso dos seus quase

setenta janeiros, nunca deixou de ir aos sábados à feira da cidade e nem de cuidar dos seus 15

hectares de terra, onde plantava feijão, milho, algodão e a palma forrageira, que servia para

alimentar a suas poucas cabeças de gado bovino.

Jacó era vizinho de cerca da propriedade de Zitinho, cidadão abastado e considerado um

dos maiores fazendeiros daquela região. Ele era dono de 380 hectares de terras, que eram

separadas das de Jacó por uma enorme cerca, parte feita com varas finas entrelaçadas umas às

outras e parte de aveloz. O cidadão vivia econômica e financeiramente muito bem, graças à

venda de leite e gado para o abate, além de também vender a palma forrageira para os

proprietários circunvizinhos.

Indo Jacó, certo dia, para a feira de Bom Conselho, encontrou com o amigo Deolindo,

que queria saber mais detalhes da chuvarada que tinha caído dias antes.

“Seu” Jacó, choveu muito nas suas terras?

Ele imediatamente respondeu:

Qual nada seu moço, nas minhas terras choveu tantinho assim. Mostrou um

pequeno espaço entre os dedos e emendou: Agora, nas terras do meu vizinho Zitinho foi

tanta água que os riachos estouraram e os açudes transbordaram. Foi um mundão de água.

Deolindo, que lhe fizera a pergunta, ficou meio descabreado com aquela resposta tão

estranha, pois sabia que chovera bastante em toda região, o que não excluía as terras de Jacó.

Passados alguns anos e tendo novamente chovido torrencialmente no município de Bom

Conselho Papa-Caça, lá vem o nosso querido Jacó caminhando pela feira da cidade quando,

por coincidência, encontra com Deolindo que, lembrando da situação de anos antes e da

resposta de Jacó, resolve perguntar de novo.

Jacó, choveu muito lá pras bandas de sua terra?

Ele respondeu sem hesitar:

Nunca vi tanta fartura de água, quase que o mundo se acaba de trovoada e de um

aguaceiro danado de bom que caiu do céu. Esse ano eu planto tudo.

Deolindo não se aguentou e provocou:

Page 186: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

186

E nas terras do Zitinho, choveu muito como da outra vez?

O velho Jacó, percebendo onde o amigo queria chegar, respondeu-lhe:

Qual nada seu moço, nas terras do Zitinho choveu muito pouco, choveu tantinho

assim. E mostrou os dedos levemente afastados.

Deolindo insistiu.

Mas suas terras não são vizinhas das do Zitinho? Como pode chover tanto em um

lugar e no outro tantinho assim?

O astuto Jacó não se intimidou e explicou:

Naquele tempo eu possuía uns 15 hectares de terra e ele possuía quase 400 hectares.

Hoje, as coisas estão invertidas e eu tenho mais terras que ele. Ou já se esqueceu que o Zitinho

morreu no ano passado e suas terras são apenas uns dois metros de comprimento por um

metro de largura. Por isso que posso lhe dizer hoje, com garantia, que nas terras dele choveu

tantinho assim.

Page 187: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

187

Os dez mandamentos dos cabras de Lampião

O capitão Virgulino Ferreira da Silva, apelidado Lampião, participou de muitas

escaramuças em vários estados do Nordeste. Conta Gildson Oliveira em seu livro Luiz Gonzaga:

o matuto que conquistou o mundo que foi Lampião “quem ensinou o Nordeste a fazer justiça

com as próprias mãos, escrevendo sua história através da fumaça dos seus rifles e bacamartes

– quase sempre em defesa dos injustiçados”.

Lampião e seu grupo foram produtos de toda uma situação política, cultural, social e

econômica que prevaleceu no início do século XX no nordeste brasileiro. Cangaceiros, jagunços

e matadores de aluguel, terminaram por servir quase que religiosamente aos coronéis,

latifundiários e senhores de engenho da época, nas suas disputas políticas. Era comum o

cangaceiro proteger o político e dele também receber proteção contra as forças policiais.

O deputado cearense Floro Bartolomeu, ao conceder a Lampião a patente de capitão

das forças legais, assim procedeu com o objetivo de sensibilizá-lo a defender a cidade cearense

de Juazeiro, terra do m eu Padim Padre Cícero, da provável invasão comunista através da

Coluna Prestes. Além da patente, Lampião recebeu também armas automáticas e farta

munição para proteger a cidade.

O bando de Lampião havia crescido tanto que ele começou a perder o controle. Seus

cabras matavam e saqueavam povoados e vilas, impondo o terror, utilizando o nome do

capitão Virgulino. Quando tomou conhecimento de tais estripulias, Lampião sentiu que era

chegada a hora de disciplinar seus seguidores, que estavam aumentando mais ainda sua fama

de bandido implacável. Reuniu Corisco, Moita Brava, Antonio Silvino, Gato, Limoeiro,

Fortaleza, Félix, Mata Redondo, Mariano, Ezequiel, Zé Baiano, Volta Seca, Arvoredo, Gavião,

Luiz Pedro, Mourão, Elétrico, Mergulhão, Quinta-Feira, o grupo de Antônio Purcina, seu

cunhado Virgínio e mais alguns cangaceiros que sempre foram leais ao seu comando e lhes

falou que sua autoridade estava sendo desrespeitada. Precisava com urgência disciplinar os

cangaceiros, uma vez que, não havia critérios para se fazer parte do seu bando. Muitos

ingressaram no cangaço fugindo da perseguição policial, à procura da proteção que

imaginavam ter ao pertencerem ao bando de Lampião.

Com semelhante tropa, só a força bruta poderia frear os ímpetos criminosos desses

cangaceiros. Dizem que o próprio Lampião andou sangrando alguns “cabras da peste”, que

andaram passando os pés pelas mãos, isto é, lhes faltando com obediência e respeito, fazendo

determinados “serviços” por conta própria.

O cangaceiro reuniu os seus “cabras” na divisa de Alagoas com Sergipe e, em cima de

um penhasco à beira do rio São Francisco, fez igual a Moisés quando apresentou os dez

Page 188: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

188

mandamentos da lei de Deus aos seus seguidores. Virgulino apresentou também os seus dez

mandamentos, que segundo o meu compadre Genival da Paraíba, foram escritos por um poeta

cordelista, cujo nome ele nunca conseguiu se lembrar.

Lampião teria falado o seguinte:

De hoje em diante, após eu acabar de anunciar os dez mandamentos, o cabra safado

só permanece no bando se quiser. Ficando, se não respeitar as normas do cangaço, para a sua

alma não haverá salvação.

Após as palavras de Lampião, Corisco, seu “cabra” de confiança, passou a ler em voz alta

o que o chefe havia rabiscado em uma folha de caderno “Avante Brasil”:

“Primeiro, amar o cangaço

De todo o seu coração.

Segundo, a ordem do chefe

Não deixar cair em vão.

Terceiro, acreditar nele,

e quarto, morrer por ele,

Em qualquer ocasião.

Quinto, não deixar fugir,

O soldado que pegar,

Sexto, nunca ter dó,

De nenhum particular.

Sétimo, de armas na mão,

Se deixar cair n o chão,

O chefe manda fuzilar,

Oitavo, não maldizer,

A vida de cangaceiro.

Nono, não cobiçar,

Senão joias e dinheiro,

E décimo, se conspirar,

O chefe manda amarrar,

Em riba do formigueiro.

Genival da Paraíba também não soube me dizer se esses mandamentos foram

obedecidos pelos “disciplinados” seguidores de Lampião.

Page 189: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

189

0 poeta Genival da Paraíba

Nasceu Genival Rodrigues da Silva em Sumé, na Paraíba. Chegou em Colônia Leopoldina

na década de 60, através de Zé Maria de Omena, que era contador da Usina Taquara.

Certa noite, em 1964, tomando “umas e outras” no famoso Bar das Ostras, em Maceió,

Zé Maria de Omena encontrou-se com o poeta Genival da Paraíba, que estava acompanhado

de um colega chamado Zé Brejeiro, também poeta e natural de Barreiros, em Pernambuco.

Como Zé Maria era poeta, boêmio e também excelente declamador, passaram a noite

declamando e conversando sobre toda “versidade poética”, com cada um tentando mostrar

mais competência que o outro na arte declamatória. Como bons boêmios, também mostraram

serviço na hora de tomar todas e mais algumas.

Ali mesmo, na mesa do bar, Zé Maria soube que o poeta Genival da Paraíba estava

desempregado e vivendo, ele e sua família, de favores na casa de um parente em Maceió. Bom

coração, Zé Maria de imediato o convidou para trabalhar como auxiliar de escritório na Usina

Taquara. Convite feito e aceito na mesma hora, já marcaram a viagem para a madrugada

daquela noite. Na hora acertada, o poeta Genival se aboletou no banco traseiro do Jeep e lá

ficou calado, cabisbaixo e macambúzio. Zé Maria notou e lhe perguntou:

Poeta, o que é que você tem? Está triste? Parece que viu assombração ou quer desistir

da viagem e do emprego?

Diante da preocupação do novo amigo, Genival explicou o motivo de tanta tristeza.

“Seu” Zé, o problema é que lá em casa não deixei nada pra comer. De comer mesmo,

lá em casa só tem a mulher e os filhos.

Zé Maria deu uma gargalhada com a resposta ladina e astuciosa dada pelo poeta. Botou

a mão no bolso, tirou certa quantia em dinheiro e a entregou a Genival e disse:

Volte a sua casa, deixe o dinheiro com a sua mulher e aí decida se vai ou não.

O poeta partiu alegremente e voltou rapidamente. Foram para Leopoldina, de onde

nosso poeta jamais saiu, e onde hoje é até nome de rua.

Com seu jeito desasnado e com seus improvisos marotos ganhou logo a confiança do

industrial José Luiz Lessa. Tempos depois esse usineiro o lançou candidato a vereador para

representar a comunidade operária da Usina Taquara. Foi eleito em 1973, mas não chegou a

concluir o seu mandato, em razão de haver sido acometido de grave moléstia. Faleceu em 17

de agosto de 1976.

Genival tomou-se como padrinho de uma de suas filhas, juntos e sob o comando do meu

pai, o “tenente” Giso, nos metemos em muitas estripulias. Declaramos em parceria nas

cidades de Colônia Leopoldina, Ibateguara e Maceió, em Alagoas. Fomos a Palmares e Água

Page 190: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

190

Preta em Pernambuco, e a Própria e Aracaju, no vizinho Estado de Sergipe, de onde sua

mulher Maria Aparecida era filha natural.

Quando conclui o curso de medicina, ele me fez uma grande surpresa trazendo até

Colônia Leopoldina o seu colega e poeta Zé Marcolino, grande compositor de músicas para Luiz

Gonzaga. Zé Marcolino almoçou conosco, declamou alguns poemas, ouviu outros, e até cantou

algumas canções de seu vasto repertório, que foram gravadas por Gonzagão.

Genival da Paraíba, além de ter sido um excelente declamador, aplaudido e requisitado

para as festas, era um homem trabalhador e cumpridor de seus deveres. Na política só fez

construir mais amizades. Distribuía parte do seu pequeno subsídio de vereador com os mais

pobres. Ele dizia aos mais pobres que lhe pediam ajuda para a feira:

Tome o dinheiro e vá comer. Eu sei o que é passar fome.

O sonho do usineiro Zé Lessa era atingir a fabricação de cem mil sacas de açúcar.

Quando a Usina Taquara conseguiu produzir mais de cem mil sacas, em 1967, Genival, de

imediato escreveu:

Bem que o povo me dizia

Taquara tá miorando,

Pois o usineiro dela

Veve sempre trabaiando,

Num pissui carro bunito

E ninguém vê ele farrando.

Em 1970, quando o governador Lamenha Filho foi inaugurar a energia elétrica de nossa

cidade, ele escreveu e declamou uma poesia intitulada Colonha quilariô, cujos primeiros versos

são os seguintes:

Um versejador matuto

No meio dos home letrado

Fica assim meio acanhado

Num sabe nem cunversá,

Mais ninguém vai sinsurá

Pruquê pueta eu num sou,

Já dixe e digo de novo

Só quero dizê ao povo

Colonha quilariô.

Page 191: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

191

Quilariô sim senhor

Quilariô de verdade,

Foi uma felicidade

Que o Governo mandou,

Inté as águas chegou

Nas torneiras e chafariz,

Nosso povo está feliz

Antôno Lins é lutadô.

Nóis vivia no escuro,

Iscuridão que inté juro

Era sumiante ao breu,

A tristeza nos cobria

Tal e qual uma famia

Chorando um pai que morreu.

Tempos depois, quando do término do mandato do prefeito Antônio Lins da Rocha e

posse do industrial José Luiz Lessa como o próximo prefeito da cidade, ele tomou umas

“bicadas” e assim se expressou:

Dispoi que quilariô

Eu nunca mai dixe nada

Tava isperando o moimento

Perparando a imboscada

Pra quando chegasse a vez

Eu dá minha imburacada

E prosseguiu de microfone em punho:

E hoje eu torno a vortá

Num sei se bem inspirado,

Mai sei que meu pensamento

Vem bem intencionado

Mode nos versos matuto

Page 192: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

192

Dá conta do meu recado.

Mais adiante, mostrava noutra sextilha o que realmente veio fazer e dizer naquela noite

de festa:

Vim dá adeus a quem vai,

Parabenizá quem vem,

Vim divirti o isprito

E a natureza tombem,

Vim vivê essa noitada

Cum tudo que nela tem.

Genival da Paraíba faz parte da história cultural da Colônia de Leopoldina.

Page 193: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

193

Pulo mermo motivo

O meu cunhado José de Barros Corrêa, exímio contador de “causos”, é mais conhecido

na cidade de Palmares pelo apelido de Zezito da Sodipe, ou ainda por Zezito de seu Lelé.

Herdou os apelidos do tempo em trabalhou na Sodipe, loja de peças de automóveis

pertencente ao seu pai Lelé Corrêa, grande poeta da cidade.

Quando o visito, ele sempre tem um “causo” para me contar. Outro dia narrou que nos

idos de 1940, residia em Palmares um sapateiro de nome Manoel Dionísio, dono de uma

oficina de trabalho localizada quase no centro comercial. Exercitava a sua arte fazendo ou

consertando sapatos, botas e botinas, além de, vez por outra, realizar reparos em guarda-

chuvas, sombrinhas, arreios e selas de montaria. Às vezes, a pedido da garotada do lugar, abria

uma exceção e costurava as bolas couraças.

Dionísio era um homem muito esperto e bom de prosa. Amigo de todos, fregueses ou

não. Seus olhos brilhavam de alegria quando se falava em dinheiro perto dele. Sempre atento,

espirituoso e chegado a resposta simples e inteligentes.

O velho sapateiro era casado e tinha um casal de filhos. O rapaz, cujo nome de batismo

era Terêncio, possuía muita habilidade com as letras e dominava com bastante facilidade a

matemática. Sua filha, Maria José, conhecida por Mazé, a custo de muito sacrifício conseguiu o

diploma de professora em uma escola normal rural. Uma proeza e motivo de orgulho para

aquela época de atraso educacional. Todavia, apesar dos filhos letrados, o velho Dionísio era

um legítimo analfabeto.

Seus amigos e alguns desocupados ficavam sentados em sua oficina proseando e

observando a sua destreza e maestria na arte de bater sola. No meio das conversas, lhe

enchiam de elogios dizendo que ele era um homem de sorte e rico, por possuir dois filhos

letrados e que em breve o ajudariam a não precisar mais trabalhar de sapateiro, Dionísio ouvia

e respondia:

É verdade, sim, senhor. Sou um home de muita sorte, muito rico. Minha filha Mazé

sabe tanto português, que dá inté pra mode inscrever uma gramática, e o meu filho Terenço,

sabe mais matemática do que quarqué professor de ingenharia. Mais no dia em que eu num

bato o prego, num chega comida lá em casa. De que serve tanta instrução se num tem

emprego pra eles?

Com isso, o velho dava a prosa por encerrada.

Page 194: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

194

Certo dia, sua esposa Severina querendo lhe chamar a atenção enquanto ele consertava

uma sela, disse-lhe com voz carregada de ternura, demonstrando carência afetiva:

Meu véio, está dando uma coisa em mim.

A resposta veio sem pestanejar:

Arreceba, minha véia.

Ela retrucou:

Mais é uma coisa ruim, Dionísio.

Sem se abalar ele respondeu:

Oxente muié, entonce devolva.

Nessa mesma época, também morava na cidade de Palmares um senhor de engenho

que acudia pelo nome de Otacílio do Engenho Pajeú. Cidadão muito respeitado, pertencente à

aristocracia agrária de Pernambuco e frequentador do Clube Lítero Recreativo dos Palmares.

Era figura frequentemente encontrada nas rodas de prosa que se formavam na calçada da

igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, onde após a missa se discutia política, economia,

revolução de 30, surgimento das usinas e suas consequências para as classes produtoras da

cidade.

Mas tal senhor de engenho também era portador de outra característica pouco

elogiável: não era muito chegado a saldar seus compromissos financeiros. Com essa fama de

mau pagador, os comerciantes evitavam lhe vender fiado. Otacílio era um mestre na arte de

empurrar os problemas e as dívidas com a barriga. Quando procurado pelos credores,

utilizava-se quase sempre da seguinte resposta:

Hoje não, mas amanhã sem falta, eu mando pagar o que lhe devo. No momento estou

desprevenido.

Um belo dia, Otacílio do Engenho Pajeú achou por bem mandar por um preto velho e

analfabeto, um bilhete endereçado ao sapateiro Dionísio, que foi lido por sua filha Mazé. Lá

esta escrito: “Prezado amigo Dionísio, solicito a fineza de enviar-me pelo portador deste, um

par de botas tamanho 42. Deixo de mandar o dinheiro correspondente a encomenda, porque o

referido portador não merece confiança. Atenciosamente, Otacílio do Engenho Pajeú”. Após

ouvir a leitura do bilhete pela terceira vez, o velho Dionísio demorou-se matutando e espiando

o preto velho que esperava. Sentindo o cheiro do calote no ar, o astuto sapateiro disse para

sua filha:

Mazé, bote aí nas costas desse bilhete o seguinte: seu Otacílio, me adescurpe a

resposta, mais dêxo de mandar a sua encomenda pulo mermo mutivo.

Page 195: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

195

Grampo azougado pra mulher que tem piolho

Francisco Santana e Silva, meu avô, era um dos grandes comerciantes de Colônia

Leopoldina, terra que me serviu de berço. Em suas várias propriedades cultivava o café, o

cacau, a banana, a mandioca e ainda criava umas cem cabeças de gado bovino. Em Caruaru,

também possuía uma propriedade chamada Fazenda Salgado, ali criava gado leiteiro de raça

holandesa, vendia o leite, fazia o queijo e também alugava o pasto aos boiadeiros viajantes

que vinham para a famosa feira da cidade.

Fez parte do velho PSD (Partido Social Democrata) no final dos anos 30. Seu Chiquito,

como era conhecido, vivia sempre cercado de amigos e familiares. Era um cidadão exemplar.

Católico convicto e pertencente à Liga Católica Apostólica Romana. Enviuvou quando suas

cinco filhas ainda eram crianças, mas tempos depois conheceu Celeste de Lima, a diretora do

Grupo Escolar Aristheu de Andrade, com quem casou para dar uma segunda mãe às filhas.

Seu Chiquito mantinha, em Colônia Leopoldina, uma loja na antiga Rua do Comércio,

hoje 15 de Novembro. Seu estabelecimento comercial negociava quase tudo: tecidos de chita,

brim paulista, organdi, madapolão, algodão e seda; chapéus Panamá, Cury luxo, Ramezzoni,

pratos de ágata, xícaras, garfos, colheres, gillete para barbear, pentes flamengo, pentes finos,

carretéis de linha urso 40, brilhantina, perfumes, tabuada de Teobaldo Miranda, a “Cartilha do

Povo”, cadernos “Avante Brasil”, fitas de cetim, grampos para cabelos de mulher, marrafas e

outras bijuterias do adorno feminino.

Nessa época, também vivia em Colônia um cidadão chamado Pedro José de Souza. Era

oficial de justiça e orgulhoso coveiro da cidade. Ele se gabava de saber em qual cova cada

pessoa do lugar estava enterrada. Os gozadores da cidade diziam que os presos pelo juiz

podiam ser soltos com um bom advogado, mas aquele que fosse preso na sepultura pelo

Pedro, não havia nenhum habeas corpus que o soltasse. Casou com D. Maria, com quem teve

dois filhos: Antônia e Luiz. Convivi com o Luiz quando criança e perambulávamos pelas ruas de

nossa querida Colônia Leopoldina, fazendo estripulias, organizando brincadeiras e peraltices

de meninos do interior.

Mas Pedro, além de oficial de justiça e coveiro, era também vendedor ambulante. Aos

domingos, trabalhava na feira local negociando mangaio em uma pequena barraca de

madeira, coberta por um pedaço de lona de caminhão e montada sobre rodas de pau. Durante

a semana, ele percorria a cidade vendendo guloseimas. Produzia alfenins, uma deliciosa massa

branca de clara de ovo e açúcar cristal que tomava a forma de patinhas, cavalos, revólveres e

Page 196: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

196

bonecos. Na hora do recreio do Grupo Escolar Aristheu de Andrade, lá estava ele à porta

oferecendo os seus bonecos de açúcar.

Olha o alfenim do Pedro. É doce, alimenta e serve para o lanche da garotada.

Foi por causa desse pregão que ele ficou mais conhecido pelo apelido de Pedro Alfenim.

Nas festas de Natal, Ano Novo e do mártir São Sebastião, o santo mais festejado da

cidade, o polivalente Pedro Alfenim se revelava também como o empresário dono do

carrossel. Estrutura simples no qual estavam fixados alguns pares de cavalinhos de madeira

com tiras de couro simulando rédeas. As cadeiras ficavam para os casais se inebriarem dando

voltas no inocente brinquedo. Com tantas profissões, Pedro aprendeu a ser esperto sem deixar

de ser brincalhão. Sempre estava disposto a dizer chistes e contar piadas engraçadas.

Certo dia, o velho Chiquito e Pedro Alfenim conversavam animadamente quando meu

avô contou que possuía cinco ou seis grosas de grampos para prender cabelos de mulher, que

de tanto tempo encalhados já estavam enferrujados. Pedro Alfenim, sentindo a possibilidade

de ganhar alguns trocados com os grampos, se propôs a tentar vendê-los na feira. Chiquito,

que já estava mesmo decidido a jogar os grampos no lixo, concordou e lhe disse:

Olha Pedro, fique com os grampos e deles faça o uso que melhor lhe aprouver, sem

compromisso algum.

Com sua visão “empreendedora”, capaz até de vender algodão por veludo, Pedro

Alfenim imediatamente pôs-se a imaginar uma estratégia para negociar os grampos.

Nos anos 40, o piolho grassava epidemicamente em nossa região. A falta de água e o

desconhecimento das noções básicas de higiene facilitavam a multiplicação da praga. Na

época, para tratar dos piolhos eram utilizados pentes finos – que só arrastavam os “bichos”

maiores – ou se empregava a catação à unha. Mulheres e crianças interioranas perdiam horas

nesse processo de arrepiar cabelos para matar piolho um a um. Foi esse enorme “mercado

consumidor” que Pedro Alfenim escolheu para vender seu produto, mesmo com validade

vencida. Para compensar, atribuiria uma nova função aos grampos, já que estariam

supostamente imantados.

No domingo seguinte, lá estava Pedro na feira anunciando em voz alta:

Meus senhores e minhas senhoras, estamos vendendo grampo azougado pra mulher

que tem piolho e, eu garanto: com sete dias – e repetia com mais ênfase – com sete dias, a

mulher que usar os grampos ficará completamente curada desse mal, dessa peste do piolho.

Os matutos ouviam desconfiados. Mas Pedro falava com tanta convicção sobre o poder

de cura dos seus grampos, que as pessoas foram se aproximando devagarinho e logo surgiram

as primeiras perguntas:

Page 197: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

197

Mulher de resguardo pode usar os grampos azougados?

O esperto camelô respondia seguro:

Bota-se sete grampos nos cabelos da mulher no primeiro dia. Tranca-se a mulher num

quarto escuro por sete dias. No terceiro dia bota-se mais sete grampos e no sexto dia também.

A mulher não pode ver a luz do sol e a comida entra por baixo da porta. Pronto, com exatos

sete dias os piolhos vão caindo e morrendo, todos feito piaba na rede.

Entre um toque de gaita e boca de um palavreado convincente, os grampos azougados

foram sendo vendidos, domingo após domingo. Pedro estava alegre com o ganho, mas

preocupado com os possíveis desdobramentos daquela sua propaganda enganosa. Ele fez as

contas e concluiu que passadas quatro semanas, logo alguém apareceria para reclamar da

ineficácia dos seus produtos antipiolho.

Num belo domingo, Pedro Alfenim estava sentado no meio fio da rua, por trás de sua

barraca, quando avistou de longe um sujeito acafuzado, zarolho, com o paletó entreaberto,

mostrando uma pistola garrucha presa na cinta. Ele arrastava pelo braço uma mulher

banguela, que não parava de coçar a desalinhada e arrepiada cabeleira negra. Pedro Alfenim

pensou: “É agora. Dessa eu não escapo” e agachou-se pensando na humilhação e no vexame

que decerto passaria. O sujeito foi chegando e falando bem alto:

Quem é Pedro Alfenim, o homem que vende grampo azougado pra mulher que tem

piolho?

Repetiu a pergunta mais uma três vezes e todos permaneciam em silêncio. Pedro

continuava acocorado e calado. Passando pelo local, um molecote tentou ajudar e indicou:

Seu moço, o Pedro é aquele homem ali agachado.

Não tendo mais como se esconder, o camelô levantou-se de pernas trêmulas e olhos

arregalados. O homem perguntou outra vez:

É você que vende grampo azougado pra mulher que tem piolho?

A resposta veio baixinha, quase inaudível:

Sim senhor, sou eu mesmo.

Para sua surpresa e da plateia que já se formara para assistir aquela cena, o caboclo

perguntou-lhe:

Quantos grampos azougados ainda lhe restam pra vender?

Pedro criou alma nova e, percebendo que poderia se desfazer da “ponta de estoque”,

respondeu:

Restam ainda 140 grampos.

O matuto abusado ordenou:

Page 198: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

198

Ajunte tudo num pacote, diga quanto custa os danados dos grampos, que eu quero

ver se agora essa condenada num acaba com essa praga de piolhos que está empestando todo

mundo lá de casa.

Pedro fez o pacote, recebeu o pagamento, deixou o sujeito se afastar um pouco e deu

dois pulos de alegria. Ato contínuo, ele desarmou a barraca e partiu rapidamente carregando

todas as miudezas.

Por segurança e com medo de que o episódio se repetisse sem um final feliz para ele, o

multe empreendedor resolveu passar uns 30 dias sem armar a barraca na feira. Afinal, seguro

morreu de velho.

Pedro Alfenim continuou negociando ainda por muito tempo, alegrando a garotada com

seus doces e entretendo a todos com seu famoso carrossel de cavalinhos. Faleceu com mais de

92 anos de idade, deixando marcada sua presença na história da pequenina Colônia

Leopoldina.

Page 199: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

199

Deda Ribeiro e o vendaval de 94

O poeta e sonhador Derival Ribeiro da Silva é filho de Antônio Aureliano da Silva e

Enedina Ribeiro da Silva. Nasceu no Sítio Boa Esperança, no povoado Cachoeira, município de

Maraial, em Pernambuco. Durante muitos anos foi um profissional destacado nas funções de

caldeireiro e soldador. Nas horas vagas, dedicava-se à poesia. Deda Ribeiro ou Deda Cachoeira

trabalhou entre 1966 e 1976 na Usina Taquara e, no período de 1978 a 1994, na Destilaria

Porto Alegre, ambas situadas no município de Colônia Leopoldina. Após a aposentadoria,

passou a residir em Maceió com sua família, em busca de melhores oportunidades para seus

filhos, mas sem esquecer a poesia.

Os personagens de seus versos são pessoas com quem conviveu. São operários e

técnicos da empresa onde trabalhou. Uma das suas poesias, conta um episódio inusitado que

aconteceu no dia 11 de fevereiro de 1994, na Destilaria Porto Rico. Deda Ribeiro, lembra que

eram aproximadamente 14 horas, quando testemunhou uma conversa entre dois agrônomos

da empresa.

Segundo ele, Dr. Fabiano, um homem simples e religioso, dizia que a seca que se abatia

na região norte de Alagoas – e que muito prejudicava a produção da Porto Rico – só se

resolveria por intervenção divina, quando Deus quisesse mandar chuva. Do outro lado, Dr.

Roberto, que era o gerente geral – de gênio forte e autoritário – argumentava que esse

problema era dos homens, e que ele iria resolver de qualquer maneira, nem que tivesse que

apelar para outros meios técnicos. Ele dizia que os homens são sempre os donos da situação.

Deda Cachoeira conta que, enquanto observava essa conversa, viu surgir uma forte

ventania e em seguida caiu um tremendo pé-d’água. A ventania era tão violenta que saiu

provocando sérios estragos na região. Ele não perdeu tempo e descreveu em versos o que

acabara de assistir:

Dr. Fabiano disse:

Meus Deus, porque não choveu

A cana toda morreu

Sumiu o fornecedor

As canas que se plantou

Não quis sair nem da terra

Meu Deus, porque tanta guerra

Se nós queremos é amor.

Page 200: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

200

Mas Dr. Roberto disse:

Não quero lamentação

Vou fazer irrigação

E as canas eu vou aguar

Comigo ela tem que dá

Seja com sol ou chovendo

Quando ele estava dizendo

O tempo pegou a mudar.

Veio uma nuvem pesada

Vindo do lado do norte

Com uma ventania forte

De fazer admirar

Vi muitas mulheres chorar

E os homens ficando tristes

E as telhas de brasilite

Voando tudo no ar

Eu vinha na Assembleia

Quando a chuva começou

Corri e fui me amparar

A tempestade aumentou

Foi quando eu vi o seu Pedro

Gritando com muito medo:

“As telhas o vento levou”.

Eu até que achei bonito

Quando olhei pro vendaval

Arrancando as brasilites

Derrubando os pés de pau

A coisa foi muito triste

Mulheres passaram mal

Arrancou dois pés de jaca

De perto das castanholas

Page 201: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

201

Três pés de jabuticaba

E quatro de carambola

E se o espírito não me engana

Das touceiras de banana

Eu vi os cachos indo embora.

Isso aí foi um exemplo

Que Deus queria mostrar

Pra quem diz que é poderoso

E Dele quer duvidar

Não fale mal de Jesus

Pois até Ele na cruz

Prometeu que ia voltar.

Eu pra fazer estes versos

Pedi bem perdão a Deus

Também eu só escrevi

Aquilo que aconteceu

Se fiz coisa de errado

Ô Deus perdoe os pecados

Do poeta que escreveu.

O poeta popular consegue extrair poesia até da tragédia. Os exageros, Deus perdoa.

Page 202: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

202

As cabeças de Lampião e Maria Bonitinha

Nos anos de 1930, as famílias do sertão e do agreste nordestino viviam assombradas

com os ataques e as atrocidades praticadas por Lampião e seu bando de cangaceiros. As

notícias corriam de boca em boca dando conta da audácia e das estripulias dos bandidos, que

mesmo perseguidos pela polícia, percorriam os estados nordestinos, já há uma década. O

imaginário popular, a literatura de cordel, os violeiros e repentistas enalteciam seus feitos,

relatando sua trajetória de fora da lei ou de vingador dos sertões. Quase sempre era elevado à

categoria de herói do povo nordestino, impressionado com suas façanhas e astúcias para

conseguir enganar as forças policiais.

Foi ao amanhecer do dia 28 de julho de 1938, que Lampião foi emboscado, após ser

traído por um dos seus coiteiros, segundo alguns historiadores. Assim, Lampião, Maria Bonita

e parte do seu bando sucumbiram aos tiros de metralhadora disparados pela volante policial

alagoana comandada pelo tenente João Bezerra, numa grota existente na Fazenda Angicos,

nas margens do Rio São Francisco, município de Porto da Folha em Sergipe. Todos tiveram suas

cabeças decepadas a golpe de facão e colocadas em latas contendo querosene. Esse troféu

macabro foi exposto ao público de várias cidades alagoanas, antes de chegar à Maceió, onde

foram ao Instituto Médico Legal Estácio de Lima para comprovação da identidade dos mortos.

As rádios transmitiam diariamente o ocorrido e os jornais estampavam em suas

primeiras páginas as fotografias das cabeças decepadas dos cangaceiros. Todos queriam

comprar o jornal como lembrança e para saber dos detalhes da empreitada que culminou com

a morte e o esfacelamento do bando. Não havia jornal para todos.

Em 1938, Leopoldina era uma pequena cidade cortada por umas poucas ruas de barro

batido. A Rua 15 de Novembro, mesmo sendo a principal artéria da cidade, também não tinha

pavimento. Nessa rua morava meu avô materno, o comerciante e agricultor Francisco Santana,

mais conhecido como Chiquito. Proprietário de fazendas e negociante de secos e molhados.

Ele também era proprietário de pequenos quartinhos de duas portas e apenas uma janela, que

eram alugados aos bodegueiros, sapateiros, tamanqueiros, barbeiros e vendeiros. O juiz

municipal, Dr. Jerônimo Accioly Lins, mais conhecido como Dr. Gila, era auxiliado, na pacata

cidade, pelo oficial de justiça Pedro José de Souza, o polivalente Pedro Alfenim, que também

era o único coveiro da cidade, fabricante dos doces alfenins, feirante e dono do carrossel.

Foi exatamente nesse período efervescente da histórica desarticulação do bando

liderado por Lampião que o inefável Pedro Alfenim teve a brilhante ideia de procurar Chiquito

para que ele lhe alugasse um de seus quartinhos. Pedro expôs que queria o espaço por apenas

um domingo, para mostrar ao respeitável público da terrinha as famosas cabeças dos

Page 203: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

203

cangaceiros. Meu avô ouviu a proposta e ficou desconfiado de que ali existe mais uma

presepada do Pedro, afinal já o conhecia de outras histórias e sabia do que ele era capaz de

fazer para defender alguns réis. Após alguma relutância inicial, Chiquito foi convencido a

alugar o imóvel. O boato de que Colônia Leopoldina iria receber espetáculo de tal magnitude,

logo correu pela boca do povo da cidade e da redondeza. Só se falava no evento mórbido

organizado pelo nosso Pedro Alfenim.

No domingo seguinte, dia de feira, Colônia estava em ebulição. Era um acontecimento

histórico. A multidão ansiosa se aglomerava na porta da improvisada e minúscula casa de

show, querendo o início da função. Pedro tocava o seu realejo e anunciava em voz alta e

estridente que logo daria início a apresentação. Com essa conversa ia ganhando tempo para

vender os últimos ingressos. Era gente empurrando gente numa fila enorme formada na rua

principal da cidade. Os mais exaltados já ameaçavam abrir a porta na marra. Pedro segurou a

pressão até que o empurra-empurra ficou incontrolável. De repente, as portas foram

escancaradas, ao tempo em que o promotor do evento gritava:

Avança negrada, venham ver as cabeças de Lampião e Maria Bonitinha.

A correria para entrar transformou-se num grande atropelo. Era gente gritando, aos

empurrões, com os mais fracos espremidos nas paredes e os menores pisoteados.

Aproveitando a esperada confusão, Pedro escapuliu, atravessando a ponte do Rio Jacuípe em

direção à Pernambuco, onde sua esposa já o esperava para ficarem uma temporada longe da

clientela.

Enquanto isso, na salinha da Rua 15 de Novembro, os pagantes – depois de não

encontrarem cabeça alguma de cangaceiro – perceberam que tinham sido vítimas de mais

uma armação do coveiro. Quando a calma parecia ter sido restabelecida, alguém gritou:

Olha aqui as cabeças de Lampião e Maria Bonita.

Foi outro alvoroço. Mas logo se descobriu que Pedro havia se superado na arte de

pregar peças. Conforme ele anunciava e prometera, ali estavam as cabeças dos bandidos. O

detalhe é que eram as cabeças em fotos, que haviam sido estampadas nas páginas do Jornal

do Comércio e que agora estavam coladas na parede.

Os espectadores enganados foram alvo de gozação na cidade por muito tempo.

Chateados, prometeram se vingar daquela brincadeira que Pedro lhes havia pregado. Semanas

depois, Pedro estava tranquilamente de volta para vender os alfenins, enterrar defunto morto

e intimar gente a mando do Dr. Juiz de Direito.

Page 204: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

204

Negócio que três saem ganhando...

Mário da Silva Santos, meu avô paterno, foi dono do Engenho Lua Nova, em Colônia

Leopoldina. Seu pai, o major da guarda nacional Justo do Ipiranga, também foi dono de

engenho, o Ipiranga, que ficava no município pernambucano de Água Preta.

Meu avô desde cedo trabalhou no campo. Vivia montado em lombo de burro ou de

cavalo, ajudando nas tarefas do engenho. Ora, estava acompanhando o roço do mato, a limpa

do terreno, a semeadura da cana-de-açúcar, seu corte no período de safra; ora, se encontrava

com uma vara de ferrão nas mãos, como um verdadeiro carreiro, conduzindo os carros de bois

do engenho. Conhecia de cor e salteado os nomes da cada boi atrelado ao carro de cana: Ouro

Fino, Lavandeira, Andorinha e Teimoso.

Ainda adolescente, amanhecia no eito do canavial fiscalizando os cortadores de cana, os

carreiros e cambiteiros, que tombavam os feixes de cana no lombo dos animais. Assim, levou

quase toda a sua existência, lidando com a terra e, principalmente, com cultura da cana-de-

açúcar. Andava sempre acompanhado pelo capataz Zé Pedro, que também lhe servia de

guarda-costas, por ordem do major Justo do Ipiranga. A convivência terminou em amizade e

ficaram conhecidos por aprontarem muitas estripulias nos forrós das redondezas. Tornaram-se

compadres, sendo que os filhos de Zé Pedro passaram a andar com meu pai, Adalgiso Borges

Santos, exercendo a mesma função do velho capataz. Naquela época, os filhos herdavam as

intrigas e as inimizades dos pais. Era o tempo em que o trabuco e o rifle papo-amarelo falavam

mais alto. Era comum uma rixa política terminar em violência, como, por exemplo, entre os

adeptos do governo Getúlio Vargas e a oposição. Ninguém podia se descuidar da sua

segurança.

Mário foi testemunha do aparecimento das grandes usinas, muitas delas montadas a

partir de capital estrangeiro ou do Banco do Brasil. Empréstimos raramente pagos. Com a

chegada das usinas de açúcar, os pequenos produtores não puderam competir por muito

tempo. Alguns arrendaram suas terras aos novos industriais e foram morar nas cidades,

vivendo do que a usina lhes pagava. Outros, em desespero pela nova situação econômica,

deram fim às suas vidas. Suas “casas grandes” aos poucos foram abandonadas. Elas, que

durante muitas décadas representaram o símbolo do poder e opulência, agora se curvavam ao

poder dos usineiros.

Foi assim que Mário Santos viu o seu engenho apagar o fogo. Mas acostumado ao

trabalho, passou a plantar cana no Engenho Jericó, de propriedade do coronel Joãozito, seu

irmão. A produção era vendida à Usina Porto Rico. Algumas vezes também botava suas canas

para a Usina Santa Therezinha, no município de Água Preta, em Pernambuco.

Page 205: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

205

Quando deixou de plantar cana no Engenho Jericó, resolveu se instalar no Engenho

Beleza, pertencente à sua família e ainda em Água Preta. Aos 70 anos, já cansado e adoentado

pela longa vida de trabalho, foi aconselhado pelos filhos a deixar aquelas brenhas, sem água,

sem energia elétrica, distante de tudo e sem conforto algum. Eles estavam também cansados

do trabalho pesado e queriam estudar e descobrir novas oportunidades na cidade.

Ele ouviu a família, vendeu suas canas e foi residir em Olinda, próximo a Recife. Levou

junto com ele a sua terceira mulher, D. Irene, e todos os seus filhos desse último casamento.

Na sua longa vida, Mário constituiu mais de três famílias tendo criado, aproximadamente 35

filhos.

Com o dinheiro das canas comprou uma casinha em Casa Caiada e, orientado pelos

filhos mais velhos, Paulo e Ricardo – que já trabalhavam no comércio de Recife – montou uma

frota de carros de aluguel, empregando quase todas as suas economias na compra de táxis

usados. Sem entender nada do novo riscado, aos poucos viu a empresa se esvaindo.

Desconfiou que estivesse sendo enganado pelos seus choferes de praça, que rodavam de dia e

de noite, mas quando iam prestar contas, o lucro era quase nenhum. Para ele ainda ficava a

responsabilidade de consertar os carros quebrados e batidos.

Mário vendeu sua pequena frota e passou um tempo quieto, assuntando o que fazer

com o resto de suas economias. Muitas propostas tentadoras lhes surgiram, mas o velho já

desconfiado recusava sempre as boas intenções de quem queria ajudá-lo. Vivia dizendo que

“de bem intencionado o inferno tá cheio”. Comportava-se como um gato escaldado, que tem

medo de água fria.

Uma manhã, estando ele em casa descansando em frente à televisão, ouviu alguém

batendo palmas à sua porta. “Seu” Mário abriu o postigo da porta e de longe perguntou:

O que deseja seu moço?

Antes de o homem se apresentar, ele pôde ver que o cidadão trajava-se bem: chapéu,

gravata, paletó, calça de casimira e sapatos bem engraxados, além de conduzir uma vistosa

pasta preta. O velho desconfiou que fosse algum vendedor de bíblia e foi logo dizendo:

O senhor se enganou seu moço, eu não quero comprar livro nenhum.

O homem continuou parado diante da porta e, com voz mansa e pausada, pediu-lhe

licença para expor o motivo de sua visita. Mário, mesmo de cara feia, resolveu receber o

homem, mas lhe pediu que fosse rápido. Já dentro da casa, o cidadão, bem vestido e bem

falante lhe disse:

Meu senhor, eu não sou vendedor de livros. Na verdade represento uma companhia

de seguro de vida.

Page 206: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

206

Imediatamente passou a explicar o que pretendia, mostrando alguns papéis cheios de

quadros e tabelas. O vendedor de seguros não parava de falar:

Este tipo de seguro dá direito ao senhor se aposentar. Se sofrer um acidente, o seguro

cobre durante o tempo do seu afastamento do trabalho. Se houver perda parcial de algum

órgão, como um braço ou uma perna, também será ressarcido. Se por acaso o senhor morrer,

sua família receberá o prêmio total do seguro.

Considerando que o freguês estava convencido, o vendedor mostrou a última tabela,

que definia o valor da mensalidade de acordo com a idade do assegurado. Foi quando o “seu”

Mário disse:

Meu amigo, não sou homem muito letrado, mas entendi quase tudo que o senhor me

explicou – e continuou diante do já sorridente vendedor – eu lhe pergunto: ganho alguma

coisa com esse seguro?

A resposta foi surpreendentemente honesta:

Oxente, meu senhor, é claro que sim. Se o senhor não ganhasse nada eu estaria aqui

vendendo o seguro? O senhor é a pessoa mais beneficiada nesse plano, que foi feito

especialmente para atender pessoas como o senhor.

O velho imediatamente fez outra pergunta:

Você ganha alguma coisa vendendo esses papéis?

Novamente o vendedor respondeu com sinceridade:

Ora, se eu não ganhasse nada, não estaria vendendo esses seguros de vida.

Mário insistiu com mais uma pergunta:

E o dono desse plano também sai ganhando alguma coisa?

A resposta não se fez esperar:

Naturalmente. Se eles não tivessem vantagem alguma, não mandariam vender o

plano. Isso pertence a um grupo empresarial muito forte.

Encerrado o interrogatório do vendedor, “seu” Mário se levantou e disse calmamente:

Meu senhor, um negócio em que três saem ganhando e ninguém sai perdendo, não

me cheira muito bem. Ajunte seus papéis, passe bem. Dito isso, mostrou-lhe a porta de saída

da casa.

Seu Mário faleceu de morte natural aos 92 anos de idade, cercado pelos filhos, netos,

bisnetos e tataranetos, na cidade pernambucana de Abreu e Lima.

Page 207: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

207

Page 208: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

208

LIVRO 8

MELO NETO, José Francisco de. COLÔNIA LEOPOLDINA - 30 anos de lutas

populares por mudanças e cidadania (1983-2013). Editora da Universidade

Federal da Paraíba, João Pessoa: 2013.

ISBN - 978-85-66414-33-2

Page 209: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

209

José Francisco de Melo Neto

COLÔNIA LEOPOLDINA - 30 anos de lutas populares por mudanças e cidadania

(1983-2013)

Colônia Leopoldina-Alagoas

Page 210: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

210

2013

COLEÇÃO - COLÔNIA LEOPOLDINA

SÉRIE 1 - Filosofia e História

Volume 1

- História imperial e pós-modernidade (alguns elementos de discussão)

Alexandre Gilberto Sobreira

Sílvio César da silva de Carvalho

SÉRIE 2 - Geografia

Volume 1

- Colônia Leopoldina (Al): situações político-ambientais

Maria Betânia Alves dos Passos

Marília Gabriela da C. Gomes

José Francisco de Melo Neto

Volume 2

- Colônia Leopoldina (Al): situações político-ambientais (v. II)

Andréa Marques Silva

Elizabete M. do N. G. Veloso

Paulo Edson de Araújo

Valquíria Maria da Silva

José Francisco de Melo Neto

SÉRIE 3 - Sociologia e Política

Volume 1

- Colônia Leopoldina: 30 anos de lutas populares por mudanças e cidadania

(1983 - 2013)

José Francisco de Melo Neto

Page 211: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

211

APRESENTAÇÃO

A resistência política, em suas diferenciadas expressões, constitui as não

concordâncias de agrupamentos políticos aos ditames de grupos dominantes, sendo

produto das contradições do mundo da vida. Também adquire formas variadas, nos

diversos lugares onde se realiza, sempre expressando relações de classes sociais. Em

especial, na cidade de Colônia Leopoldina, apresenta-se também como ambiente rico de

sugestões político-administrativas ao poder público local. A construção concreta de

exercícios de cidadania crítica e ativa.

Este livro procura apresentar e destacar esses momentos por meio de

documentos escritos, portanto, aqueles que precisam não ser esquecidos, fatos dignos de

registros, para contribuir com a história do lugar. Uma história para além dos simples

indícios de fatos e de mera visão linear da vida, sem as suas contradições.

O livro é um registro desses documentos, com a intenção de contribuir à historia

da cidade de Colônia Leopoldina, município localizado na Zona da Mata Norte, do

Estado de Alagoas, a partir do olhar daqueles que estão fora das decisões políticas

dominantes mas que contribuem, decididamente, para a vida política local.

Não expressa, como se vê, um mero registro para uma história geral do

município, mas assinala expressões escritas da resistência de setores populares que se

colocaram em oposição à política dominante local com importantes sugestões para a

administração local. É uma contribuição para a organização, cada vez mais forte, de um

setor que luta por liberdade pelos seus dizeres, os seus pensares e os seus agires, os

setores populares da sociedade. É um esforço e desejo de contribuição às políticas

outras que se mostravam e permanecem como alternativas a um poder alicerçado no

latifúndio e na cultura da cana, expressando as perspectivas dominantes da sociedade

alagoana e do país.

É um registro dos registros escritos de agrupamentos populares da cidade, que

aparentemente parece não esboçarem qualquer tipo de resistência ao estabelecido, mas

que sempre permanecera viva.

Page 212: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

212

A pouca existência de qualquer movimento social expressivo popular, traduzida

pelo baixo nível de organização social, característica da região e da cidade, não significa

a inexistência de contradições políticas em uma região das mais esquecidas pelas

políticas públicas, durante décadas. Contraditoriamente, é um município cercado por

duas usinas de açúcar, na Zona da Mata nordestina, com a presença desse operariado e

do trabalhador do corte da cana. Situa-se em uma região das mais ricas,

economicamente, onde vive um povo dos mais pobres do País. Povo este que tem sido

rebaixado ao nível menor as suas condições de cidadania, devido, entre outros aspectos

da vida social, a extremada concentração de terras e de riquezas em tão pouquíssimas

mãos.

Inicialmente, este livro contém esparsos textos, quase perdidos e totalmente

esquecidos nos dias de hoje, acentuadamente aqueles da década passada, até os cinco

primeiros meses do ano de 2013 que, sem desejos de se ter interpretação única dos

mesmos, coloca-os à disposição do leitor para que formule os seus próprios

entendimentos, podendo, inclusive, disporem-se ao trabalho de contribuição à busca da

cidadania de tantos outros.

O papel deste livro é trazer à luz expressões escritas que puderam ser resgatadas

de grupos políticos, não necessariamente partidários, de origens populares, que

traduzem a não passividade do povo da região, a terra onde corre sangue indígena

cumaru, um dos povos antigos moradores das cercanias do Rio Jacuípe, e sangue negro,

dos antepassados de Zumbi.

Colônia Leopoldina, maio de 2013.

O organizador.

Page 213: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

213

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.

1. INTRODUÇÃO.

2. TRILHAS INDICIÁRIAS TEXTUAIS DAS LUTAS POPULARES.

TEXTO - 1. Convite à reunião partidária – PMDB.

TEXTO - 2. Documento de desportistas (Nova Geração).

TEXTO - 3. Documento de Grupos Culturais.

TEXTO - 4. A difícil arte da política de oposição e de esquerda, em cidades do

interior.

TEXTO - 5. Colônia Leopoldina: ação cultural no meio rural.

TEXTO - 6. Colônia Leopoldina: eleições e lições.

TEXTO - 7. Manifesto do Movimento Colônia e Cidadania – MCC.

TEXTO - 8. Ata de reunião do Movimento Colônia e Cidadania (1).

TEXTO - 9. Ata de reunião do Movimento Colônia e Cidadania (2).

TEXTO - 10. Colônia Leopoldina - propostas para a cidade.

TEXTO - 11. Vereador é para lutar.

TEXTO - 12. Afinal, em quem votar?

TEXTO - 13. Colônia Leopoldina: análise de conjuntura política.

TEXTO - 14. Carta do MCC à Prefeita.

TEXTO - 15. Entrevista com Luciano e Maurício.

TEXTO - 16. Entrevista com o Vereador Antônio Timóteo (PT).

3. CONSIDERAÇÕES

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 214: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

214

1. INTRODUÇÃO

A cidade tem sua origem em uma colônia militar. Esta fora fundada às margens

do Rio Jacuípe com a finalidade de combater perdedores das lutas pernambucanas,

embrenhados nas matas da região.

Tendo sido, anteriormente, habitada por índios, por antigos escravos, situada no

raio de 100 Km das terras de Zumbi, região de quilombolas, as suas serras como a da

atual Serra do Catita foram passagens e trilhas de negros em busca de liberdade.

Com a instalação da Colônia Militar, nos anos de 1852, surge um povoado que veio

depois a tornar-se a atual cidade de Colônia Leopoldina, com aproximadamente 20 mil

habitantes, trazendo consigo uma síntese de todas as virtudes e mazelas, produtos

culturais dessa tradição.

O nome atual é uma homenagem à Princesa Leopoldina, expressando a

lembrança de uma passagem do Imperador Dom Pedro II por essas terras, em 5 de

janeiro de 1860, tendo sido parte de uma visita às terras de Porto Calvo, fazendo parte

dessas terras. Uma visita que muito marcou a vida desse povoado e expressivo fato

histórico.

Mas a colônia militar encerrara as suas atividades, acompanhado forte

decadência econômica e mantendo-se sob jurisdição da cidade de Porto Calvo. Como se

vê, uma lugar inventado para combate a “revoltosos” e, necessariamente, trazendo

consigo todos os germes de conservação, à época, pela conservação da monarquia e,

hoje, até hoje, pela conservação do status quo dominante, germinado desde a origem do

povoado.

Ainda houve uma outra visita de uma pessoa pertencente à família real, o Dom

Pedro de Orleans e Bragança a Colônia Leopoldina para o lançamento do livro do

leopoldinense Everaldo Araújo Silva. Um livro1 marcado pela perspectiva histórica

fatual, intitulado A COLÔNIA DA PRINCESA, também expressa a simpatia do autor

pelas ideias monarquistas, isto pelos idos dos anos de 1983. Nessa esteira de fatos

educacionais, também ocorre, em 1998, o lançamento do livro do pesquisador e

professor titular da Universidade Federal da Paraiba, José Francisco de Melo Neto,

denominado ORGANIZAÇÃO POPULAR, editado pela Editora da Universidade

1 Ver: A Colônia da Princesa. Everaldo Araújo Silva. Maceió, 1.ed. Igasa, 1983.

Page 215: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

215

Federal da Paraíba. Este livro é produto de suas pesquisas que mostram os processos de

organização do povo, em particular, a evolução do conceito de partido no Partido dos

Trabalhadores (PT), em suas lutas para se viver melhor e mais feliz.

É com estes fatos de início da década de 1980, com o declínio da ditadura

militar, que se inicia um grande esforço de democratização das relações entre as

pessoas, entre as pessoas e as instituições, bem como entre as instituições, em síntese,

entre a Sociedade e o Estado.

Os mais de vinte anos de silêncio, impostos por aqueles ditadores, contribuíram

para criar diferenciados processos organizativos políticos, a partir, principalmente, dos

maiores aglomerados humanos e da pressão social, produto de instituições da sociedade

civil. Por outro lado, em regiões mais afastadas dos grandes centros, como é o caso da

cidade Colônia Leopoldina, nas terras de tradições dos canaviais, das casas-grandes e

senzalas, da usinagem e escravidão, arrastaram-se e, ainda, continuam em seus lentos

processos de promoção de cidadania, em busca dos mais elementares direitos.

As imposições do silêncio geram o medo, perdurando ainda. A destruição dessas

amarras passa a cobrar maior nível de exigência para a promoção do sujeito e do outro e

expõe as relações de alteridade de forma mais aguda. A quebra dessas referências forja

caminhos tortuosos de busca de mudanças. Nesses ambientes, as mudanças são esforços

de Hércules e com disposição de tão poucos políticos ou grupos de políticos.

No Brasil, isto significa os esforços de mudanças, iniciados pelo Movimento

Democrático Brasileiro (MDB e depois PMDB), por setores eclesiais da denominada

teologia da libertação, pela criação do Partido dos Trabalhadores (PT) e Central Única

dos Trabalhadores (CUT), expressando um forte movimento de massas de trabalhadores

e, mais presentemente, com o governo do Partido Social Democrático Brasileiro

(PSDB), aprofundado, ainda mais, nos Governos do PT. Sentimentos que, de forma

diferenciada, passaram a ser iniciados, também, por essas bandas.

Os esforços de mudanças localizados em ambientes do interior geográfico,

todavia, foram acontecendo de forma muito lenta e gradual, com pouca visibilidade pela

própria comunidade onde aconteciam. A região da Zona da Mata, em todo o Nordeste,

tem sido profícuo no aparecimento desses movimentos. Mas, aquilo que marca é que o

sentido de mudança expressa, apenas, trocas de nomes de figurantes de gestores

públicos. Qualquer análise pode mostrar que, quando houve alguma mudança, isto

significa, tão somente, que não passou de simples permutas de pessoas com as mesmas

intenções de dominação e da promoção do medo.

Page 216: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

216

Na região dos canaviais, em boa parte, ainda perdura a cultura da dominação

escravocrata, reproduzida, ainda hoje, em filhos e netos dos antigos senhores das terras

e das forças políticas locais, mudando-se pequenas coisas para que tudo se permaneça,

mesmo que estejam defendendo distintas siglas partidárias. Diga-se, inclusive, que essas

siglas, muito pouco ou nada dizem em nível local, do ponto de vista ideológico e

político.

O que realmente se põe a cabo são os individuais interesses desses gestores

públicos. Interesses estaduais se apresentam sempre posteriormente às eleições de

prefeitos. Juntos vão reforçar o jogo ideológico e político nacional dos grupos

dominantes nesse cenário, devido à profunda debilidade organizativa dos setores sociais

das pequenas cidades praticamente em todo interior do país.

Neste livro, apresentam-se produtos escritos de grupos situados à margem desse

esquema geral de dominação, produtos de suas análises críticas, em busca de mudanças

no ambiente municipal da cidade de Colônia Leopoldina. Traduzem desejos de

resistência ao estabelecido. Seus desejos são os algos elementares de conquistas

cidadãs, com resultados ainda muito pequenos. Contudo, expressam o movimento

político de resistência local, geradores de suas próprias e pequenas lutas que, com suas

forças, procuraram apresentar suas propostas e seus desejos. Expressam também seus

fluxos e refluxos, tentando sobreviver e conviver como movimentos sociais populares

que na expressão de Alder Júlio Ferreira Calado2, " seguem constituindo uma parte

decisiva entre os protagonistas dos processos de mudança social".

Esses esforços, todos juntos, certamente não foram em vão. Mas, claramente

sem ser produto unicamente desse esforço político, que se pode chamar de resistência,

consegue-se destronar um grupo político fortemente estabelecido. Grupos que se

encastelaram do poder por ciclos de 12 anos, alguns de forma ininterrupta.

A vitória da mudança que assume o governo local, nesse ano de 2013, passa a

exercer um tipo de política que dificilmente escapará da tradição do estabelecido,

considerando suas dificuldades gerenciais, bem como as suas dificuldades de realizar

suas propostas pela falta de quadros políticos para a sua efetivação, entre outros

aspectos.

Os desencontros estão desde o trato com as próprias forças políticas vitoriosas,

até com o anseio geral de mudanças imediatas da população. Os gestores eleitos,

2 Ver: Organização Popular - a construção do conceito de partido no Partido dos Trabalhadores. José

Francisco de Melo Neto. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 1998.

Page 217: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

217

particularmente aqueles de oposição, encontraram prefeituras em situação de penúria

financeira deixadas por seus antecessores. Situação resultante, ora pelo total desleixo

para com a prestação de contas de convênios, atrasos em prestações, salários atrasados

de servidores, impedimentos de municípios de receberem verbas federais, além de

limpeza pública, ora pelo assalto direto ao patrimônio público.

Tudo isto contribui para o reforço ao pensamento de que as mudanças, quando

assumidas por novos gestores, têm tido significado de apenas a sustentação do

município, por meio de cumprimento de leis, sem qualquer desvio das tradições

dominadoras anteriormente existentes. Afinal, quem mais deseja o cumprimento das leis

que não os próprios detentores da lei, expressando versão equivocada de justiça?

Um governo de mudança passa a se identificar, tão somente, com gestão pública

alinhada às exigências técnicas, sem a necessidade sequer de transparência pública. O

aprovo de câmaras de vereadores carcomidas pela política do „toma-lá-dá-cá‟ e de

tribunais que pouco verificam, in loco, as contas públicas já são significados de

mudança, considerando o descalabro administrativo de boa parte de governantes.

Dessa maneira, o esquecimento às mudanças prometidas em campanhas se

diluem no esquecimento geral, em especial, dos eleitos em seu nome mesmo, caindo

nos braços da conservação, compondo um quadro de poucas mudanças e sem qualquer

tipo de transformação radical possível e necessária, como o exercício para a cidadania

crítica e ativa.

Mas, por essas terras, ocorreram formas de resistências variadas a partir, às

vezes, de instituições religiosas, como a Igreja Católica. Se as formas de resistência

estão sendo apresentadas, sacerdotes houve que externaram os desejos de mudanças

mais profundas. Pelos seus caminhos próprios, contudo, sempre estiveram refletindo e

realizando medidas como foi o caso do Pe. italiano Aldo Giazzon, atuando por uma

década nessas terras, como vigário. Com o seu estilo de ação política e pastoral, volta-

se, conforme o livro Colônia Leopoldina – Situações político-ambientais II 3, “(...) às

origens, eis a Igreja Católica Romana moldando e predestinando o modo de vida das

pessoas, através de ideias “civilizatórias” com intuito de conversão”, Silva (2011:14).

No intervalo de 1989 até 1997, há de se destacar o Movimento Estudantil, que

teve nesta fase a expressão maior de sua resistência, particularmente com reivindicações

3 Ver: Colônia Leopoldina: situações político-ambientais.Andréa Marques... (et. al.). José Francisco de

Melo Neto (org.). João Pessoa: Editora da Universidade Federal da Paraíba, 2011.

Page 218: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

218

educacioatnais, bem caracterizado no livro "A trajetória do Movimento Estudantil

Leopoldinense", de José Júnior Amorim. Para o autor, os ideais estudantis, aos poucos,

adquiriram " adesões expressivas entre os educandos. Essa corrente vitoriosa expandiu-

se e surgiu a primeira safra dos líderes estudantis nas escolas do município".4

Desse movimento social destaca-se a criação do Jornal do Estudante que chegou

a promover a participação dos mesmos em Congressos da UBES (União Brasileira de

Estudantes Secundaristas). Dessa forma é que se chegou à fundação de Grêmios

Estudantis, com promoção de debates estudantis, promoção de eventos culturais e

participação na UESA (União dos Estudantes Alagoanos), até a criação da UMEL

(União Municipal dos Estudantes Leopoldinenses) - o ponto alto da organização

estudantil local, mobilizando-se em busca de biblioteca pública e, em especial, em

defesa " de uma política educacional de boa qualidade".

Vale destacar na esteira das lutas por cidadania, a criação do sindicato dos

servidores públicos locais. Um movimento, que chegou a promover greve sem a

organização e sem representação formal, é criado no ano de 2003, depois de intensas

articulações e promessas de perseguição: o Sindicato dos Servidores Públicos

Municipais de Colônia Leopoldina - SINSEPMCOL.

Até o ano de 2013, governos que passaram contribuíram pouco quando não

combatiam diretamente os processos organizativos da sociedade, enquanto grupos

variados como religiosos, monges, sindicato rural e sindicato municipal foram os

responsáveis por algum nível de mobilização local, com alguma ênfase para os

trabalhadores rurais, em especial na década de 1990. Já na década de 2000, aparecerem

novos atores em cena na política leopoldinense - destaques à criação do Grupo Colônia

e Cidadania. Este grupo se esforça por agrupar pessoas em busca de conquistas cidadãs;

um grupo desejoso de se tornar um movimento permanente de lutas por cidadanias, sem

cor partidária e coloração religiosa, luta para poderem se tornar vozes ouvidas pela

política local.

Mas, os desejos de mudanças continuavam, expressos em textos e em ações

reivindicatórias específicas como pouco conhecidos. Neste livro, aparecerão aqueles

textos que foram divulgados, desde convites à reunião partidária, passando por reuniões

de grupos, textos reivindicatórios encaminhado ao prefeito, à época, por grupos

constituídos como produtos de ações culturais, além de um texto de uma pesquisa em

4 Ver: A Trajetória do Movimento Estudantil Leopoldinense. José Júnior Amorim. Grafnobre, Colônia

Leopoldina, Al, 2011.

Page 219: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

219

nível de mestrado5. Os textos que vão seguindo se constituem em expressões de

resistência, mesmo simbólica, traduzidos por análise de conjuntura até os três meses

iniciais do Governo de mudança local, sob a tutela do Partido Trabalhista Brasileiro

(PTB), acompanhado de uma aliança com o Partido Socialista Brasileiro (PSB), o

Partido Social Cristão (PSC), o Democratas (DEM) e o Partido dos Trabalhadores (PT).

Uma composição de forças que fez a gestora eleita perder, desde o início, a Presidência

da Câmara, tida como necessária para o cumprimento de seus planos, momentos antes

de sua posse.

Críticas mais severas há, passando pelo nepotismo. Em apenas 4 meses de

governo, são várias as acusações de empreguismo, e as críticas sobre redução drástica

de salários de servidores públicos municipais. Ora, os anos de mandato seguintes são

para a recuperação de todos esses desgastes.

Os textos foram mantidos em sua integralidade, mesmo que alguns já tenham

sido divulgados na cidade ou em compêndios. Também estão contidos em coletânea

como a Coleção Colônia Leopoldina, constituída, até o momento, de três volumes de

autores da cidade ou de temáticas sobre a cidade.

QUE MUDANÇAS?

Mas, de que se trata ao se falar de mudança num ambiente de interior, na Zona

da Mata Norte, no Estado de Alagoas? Claro que a resposta passa por relações entre o

humano e o meio ambiente, inclusive tão degradado como mostram dois livros sobre as

situações político-ambientais da cidade. Como bem mostra o livro Colônia Leopoldina,

situações político-ambientais, vol I, a situação de existência humana, inclusive a local,

passou por três momentos importantes da vida, como sendo sociedade coletora de caça e

pesca; sociedade agrícola e sociedade industrial6. Ao que mostram as autoras, esses

momentos foram vividos em sua plenitude pelos povos que habitaram a região, com

destaques ao momento atual, com duas indústrias açucareiras em pleno funcionamento.

5 Ver: Ação cultural no meio rural – uma experiência em Colônia Leopoldina, realizada em 1982/83,

dissertação de mestrado em Educação, pela Universidade de Brasília.

6 Colônia Leopoldina – situações político-ambientais, Vol I. Organização dos autores: Maria Betânia

Alves dos Passos; Marília Gabriela da C. Gomes e José Francisco de Melo Neto. Editora da Universidade

Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.

Page 220: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

220

Mas, é importante destacar a situação precária nas relações entre a sociedade e

Estado, expresso em como se processam os tratos com a Prefeitura. A figura do Gestor

Público aparece como centralizadora em todas as situações relacionadas à vida da

população. Uma luta por cidadania é, necessariamente, num ambiente de tal servidão e

distanciamento de conquistas de liberdade, qualquer busca política. Quase qualquer

atitude nessa direção pode ser apresentada como momento de mudanças importantes.

É possível observar-se o quão as coisas da vida do lugar são tratadas de forma

tão totalitária pelo governo de plantão. Até mesmo o desejo de se fazer um grupo de

qualquer esporte passa, necessariamente, por um aprovo do poder centralizador de um

Prefeito. Mesmo assim, não se conseguem esconder as relações de classes tão

profundas, marcadas por aqueles que estão no trabalho do corte da cana, operários de

ambas as indústrias açucareira e minifundistas: a classe trabalhadora. Pequenos

comerciantes e funcionários públicos dando forma aos setores médios da sociedade e

concentrando toda a riqueza e o poder político e econômico, em um ou dois usineiros do

lugar.

Um governo municipal se mostra, talvez, na expressão de Claude Lefort, como

egocrata, em que se governa acima das regras estabelecidas, concentrando em si a

potência social, aparecendo como se nada existisse fora dele mesmo. O governante local

passa a ser o ego absoluto da sociedade, sem aceitar qualquer tipo de resistência7.

Mas, é importante salientar que, nesse percurso da crítica, após 30 anos de

políticas de resistência e busca de cidadania com os trabalhadores, o PT consegue eleger

o seu primeiro vereador, dando ênfase à participação popular e compromissos radicais

com a mobilização dos próprios trabalhadores. Um algo de importância relevante para

os processos organizativos das pessoas, com a perspectiva de busca de cidadania e

comprometido com as lutas pelas mudanças necessárias.

Diante dessa situação, a condição de criticidade se põe fora de qualquer

possibilidade. A capacidade de pensar criticamente desaparece por completo e,

consequentemente, está destruída a condição para liberdade pessoal. Há muito está

aprisionada pelas necessidades de condições materiais a que muitos estão submetidos

7 Ver: História das Ideias Políticas. François Chateler e all. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Editora

Zahar, Rio de Janeiro, 2009.

Page 221: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

221

assim como totalmente desaparecida. Anaina Clara de Melo, ao analisar pensadores

frankfurtianos8, explicita que as dimensões de universalidade necessárias às dimensões

do mundo da vida das pessoas, em ambientes dessa natureza interiorana e permeada de

autoritarismos, adquirem essas condições sem existirem como tal. Isto faz com que o

local seja o dominante na relação de pensar o outro e de se pensar. O mundo fica

reduzido ao local. Este fica impedido de ver a dimensão de universalidade tão

importante para Slavoj Zizek9, do ponto de vista conceitual, e mostra que este universal

é o conteúdo que entra no ser mesmo da pessoa, e “adquire existência real” (p. 213), a

construção da subjetividade, diferentemente do particular que o aprisiona e o impede da

reflexão crítica.

As condições de mudanças possíveis pela realização do diálogo ficam

pulverizadas, subsumindo a organização dos saberes populares em prol de melhorias de

suas próprias condições de vida, perdendo, conforme Roberto Mauro Gurgel Rocha10, o

situar-se no mundo de forma histórica, cultural, econômica e política. Ou, no dizer de

Freire 11, no estilo de educação tão opressora como acontece cotidianamente, tanto na

escola como fora dela, introjeta-se no oprimido as formas distintas de expressão do

opressor.

As mudanças de desejo para região ou mesmo outra qualquer situação

geográfica passa por mudanças de comportamento nas relações das pessoas. Ora, do

ponto de vista da economia, a mudança poderia passar pelas condições de possibilidade

de gerenciamento dos próprios empreendimentos econômicos, preferencialmente em

regime de autogestão. Neste estilo, as pessoas tornam-se sujeitas de seus próprios

mundos econômicos, lutando e administrando, sem intermediários, os seus negócios. Aí,

os governos precisariam olhar com mais interesse os projetos em economia solidária

como os que ocorrem em todo país e no mundo, a exemplo do que ocorreu na Usina

8 Ver: Escola de Frankfurt – diálogos. Anaina Clara de Melo. Editora da Universidade Federal da

Paraíba, João Pessoa, 2008.

9 Ver: Menos que nada. Hegel e a sombra do materialismo dialético. Slavoy Zizek. Tradução de Rogério

Bettoni. São Paulo, Boitempo Editorial, 2013.

10

Ver: Extensão Universitária – diálogos populares. Vários autores. Editora da Universidade Federal da

Paraíba, João Pessoa, 2002.

11

Ver: Pedagogia do Oprimido. Paulo Freire, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1987.

Page 222: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

222

Catende, como mostra José Francisco de Melo Neto, no livro Usina Catende – para

além dos vapores do diabo12.

As mudanças, do ponto de vista da gestão pública, sugerem novas relações

comportamentais entre os servidores públicos e as pessoas que precisam dos serviços

públicos, particularmente no campo da saúde. O atendimento é que faz possível a

transcendência desde que seja promotor do outro, em respeito à alteridade das pessoas

da comunidade. Nesses escorchantes despreparos para o atendimento ao público, esse

público é a classe trabalhadora, cuja situação de cidadania tem sido mais vilipendiada.

Seria possível a promoção de um profícuo debate quanto aos desejos e anseios,

muito para além da palavra vazia, mudança, como um algo totalmente sem seus

determinantes, portanto uma mera abstração. Dessa maneira, tem pouca valia como uma

perspectiva de outro estilo de se viver.

Finalmente, poder-se-ia pensar as mudanças necessárias no campo da educação.

Muito para além das simplórias discussões conteudísticas no interior das escolas, com

os seus profissionais, se carece de uma reviravolta na própria educação. A prioridade

passaria pelos princípios da educação popular, como expressão filosófica de se ver o

mundo em mudança, com pedagogia e metodologia próprias, com mecanismos de

avaliação específicos e distantes dos que se usam no momento. Uma educação popular

que, na visão de José Francisco de Melo Neto13, é uma educação política, sem ser

partidária, direcionada para conquistas cidadãs e éticas, como a luta por liberdade,

solidariedade, igualdade e em busca de felicidade.

12

Ver: Usina Catende – para além dos vapores do diabo. José Francisco de Melo Neto e Lenivaldo

Marques da Silva Lima (orgs.). Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.

13

Ver: Educação Popular – enunciados teóricos. José Francisco de Melo Neto. Editora da Universidade

Federal da Paraíba, João Pessoa, 2004.

Page 223: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

223

2. TRILHAS INDICIÁRIAS TEXTUAIS DAS LUTAS POPULARES.

TEXTO 1.

CONVITE À REUNIÃO PARTIDÁRIA - PMDB14

(Diretório Municipal do Partido do Movimento Democrático Brasileiro)

CONVITE

Os resultados das eleições terão sobre o PMDB resultados contraditórios. Se

um lado há lutas em nível interno, no nível externo elas serão muito duras e difíceis

de serem encaminhadas pela oposição vitoriosa.

A oposição, em especial o PMDB, foi responsável pela fragorosa derrota ao

PDS, o partido da exploração, em aproximadamente 10 milhões de votos a mais.

Fomos os grandes vencedores no país. Temos nas mãos os mais importantes estados

brasileiros.

Sabemos que os vencedores nestes estados não foram os melhores na

oposição do PMDB. Foram eleitos muitos namoradores do poder de Brasília. Assim,

é que temos de ter claro que tem-se de se superar as divergências internas e, por

outro lado, vermos as dificuldades que estes companheiros governadores terão em

suas administrações.

Ora, companheiros, é este saldo positivo nacional para as oposições que

deverá nos mover daqui adiante. Se Colônia é dominada há muito pelo PDS, mas o

país como todo quebra estas amarras e aí é que temos que acreditar em mudanças e,

sobretudo sustentar e melhorar nossa organização interna do Partido para que

essas mudanças aconteçam.

Nesta direção é que sentimos a necessidade de iniciarmos uma melhor

preparação política de todos os companheiros, nós aprendendo conjuntamente, a

entendermos melhor nossa realidade. E discutindo é que aprenderemos juntos a

melhor forma de nos mantermos “vivos” e intervir nesta realidade de Colônia.

14

Documento do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). No início, o partido da

resistência à ditadura militar de 1964.

Page 224: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

224

Daí é que segue um programa para iniciarmos uma discussão interna no

nosso partido. Interna agora, mas que pensamos abri-la para toda a comunidade

posteriormente.

- OBJETIVOS

- Reforçar a organização do partido.

- Colher novas propostas para crescimento do partido.

- Preparar politicamente a militância partidária.

- Tornar o partido de oposição operário-popular.

- CONTEÚDO DAS REUNIÕES

- O POVO E A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA.

- A POLÍTICA ANTES DE 64.

- A POLÍTICA DEPOIS DE 64.

- OS PARTIDOS HOJE.

- CRONOGRAMA

Dias: 7 a 10 do corrente.

Horário: 20:00 às 21:30

Local: Travessa Clodoaldo da Fonseca, s/n (casa de Dedé).

- ESTRATÉGIAS

Discussão em grupo.

Curtas exposições.

- MATERIAL UTILIZADO

Projetor de slides

Slides

Boletim de divulgação

- AVALIAÇÃO

Coletiva – Durante e no final das reuniões.

Colônia Leopoldina, 3 de fevereiro de 1983.

Page 225: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

225

TEXTO 2.

DOCUMENTO DE DESPORTISTAS (Nova Geração) 15

APRESENTAÇÃO

As propostas para o Desporto Leopoldinense contidas neste documento são

propostas apresentadas pelo grupo de atletas do NOVA GERAÇÃO ESPORTE

CLUBE. O NOVA GERAÇÃO é uma equipe criada a 15 de março de 1981 e reativada

a partir do segundo semestre de 1982.

Sua força está em seus atletas. Existe em função dos mesmos. Suas decisões

são tomadas todas em assembleias dos atletas. Tem direção, sim, mas ela existe para

fazer cumprir o que todos decidiram. E fora discutindo os problemas da equipe que se

chegou a discutir os problemas do esporte leopoldinense. Mas não só discutiu como

também propôs o que fazer. E em assembleia marcada para esse fim, realizada no dia

19/03/83, resolveu-se encaminhar estas propostas ao executivo municipal. Finalmente, o

documento foi lido e aprovado em reunião.

Teve-se o cuidado de não se eliminar nenhuma proposta de nenhum atleta. O

que segue é o fruto de todo empenho de todos que compõem esta equipe.

Colônia Leopoldina, 3 de abril de 1983

15 Reivindicações apresentadas ao Prefeito José Luiz Lessa, proprietário da Usina Taquara, por

desportistas do Time de Futebol - Nova Geração.

Page 226: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

226

NOVA GERAÇÃO ESPORTE CLUBE

FUNDADO EM 15 DE MARÇO DE 83

COLÔNIA LEOPOLDINA – ALAGOAS

(proposta para o esporte leopoldinense, do conjunto de atletas do Nova Geração Esporte

Clube) 16

.

INTRODUÇÃO

Construir uma civilização que não sucumba, que não se desmorone diante da

hora de não ter o que fazer se apresenta como uma das metas dos povos. Tudo isto

conduz ao que se está necessitando, o imperativo para investimento em instituições que

cuidem da formação do caráter das pessoas. Os clubes desportistas são ambientes

também dessa educação; são ambientes onde se dá este processo educativo. É também

pelos clubes que serão preenchidas as horas de lazer da mocidade. Portanto, os clubes

desportistas devem ser contados nessa busca pela formação de caráter das pessoas e

elevando também o senso e a necessidade de trabalho coletivo. Este imperativo se faz

há muito tempo necessário haja vista que Rui Barbosa, em seu discurso no senado, em

13 de outubro de 1896, já mostrava que a grande desgraça que penetra no homem pela

algibeira e arruína seu caráter é o jogo; o jogo na sua acepção usual: os naipes, os dados,

a mesa-verde. Tudo isto decorrente entre outros fatores do ócio da juventude, da

criança.

Ainda assim, sabemos da proibição dos jovens adolescentes e crianças em

estabelecimento de jogos. Mas como faremos cumprir? Os jogos estão de portas abertas

nas cidades, nos campos, aonde se for. Já vivemos desde a infância nesta atmosfera.

Sim, tudo isto é verdade. Isto se torna agravante em regiões como a nossa, onde as horas

de lazer são horas de “não ter o que fazer”. Se elas não são preenchidas, aí sim, mais

florescerá o jovem sem perspectiva de vida, uma característica observada na nossa

juventude leopoldinense, comprovada por observações também dos religiosos locais.

Ocupar essas horas parece-nos ser urgente tarefa para os dias de hoje.

16

Propostas definidas na reunião do dia 19 de março de 1983.

Page 227: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

227

O que temos visto ultimamente é um efetivo aumento de criminalidade e de

violência; e aqui está claro que não é com aumento de efetivos policiais que se resolverá

o problema. O efetivo policial aqui aumentou. O que observamos é que, diante das

condições sociais que se têm no país e, sobremaneira no nosso município - arrocho

salarial, desemprego, concentração de renda, sobretudo nas macro empresas de caráter

internacional, as condições de miséria absoluta de muitos lares leopoldinenses - os

dados sobre criminalidade e violência crescem cada vez mais.

Assim, precisamos ir mais além: a Colônia Leopoldina já precisa de

representação de outra ordem que não a apresentada. É urgente uma dinâmica nunca

vista aqui. Na ocupação das horas ociosas, faz-se necessário o esporte no seu papel

também de construir a outra Leopoldina através de seus jovens. O papel da educação

física advinda pelo esporte terá seu papel no aperfeiçoamento físico em qualidades

particulares como SAÚDE, pela resistência às moléstias; AGILIDADE, pela agudeza

dos sentidos e movimentos; VIRILIDADE, pelo desenvolvimento de vontade e

consciência coletiva como em si mesmo; MORAL, pelo despertar do senso da

solidariedade, iniciativa, moldando-se à perseverança no trabalho.

Esta nova prática desportiva, a Nova Educação Física, como mostra o professor

americano I. Fischer, em Vida Sã e eficiente, deverá preparar o homem para esta nova

era. Um homem equilibrado e consciente de si mesmo, tendo claro o seu papel na

sociedade; homem de iniciativa. A nova educação física, continua I. Fischer, deverá

orientar para que este homem assuma parte que lhe cabe na construção de sua história.

Ela deve ser objetiva, pondo fim ao antigo subjetivismo. A Nova Educação Física, o

novo desporto, deverão orientar para uma consciência social, exigindo do indivíduo

preocupação com o bem coletivo, como diz o professor Paulo Nogueira, em seu livro,

Clubes esportivos.

O ESPORTE EM COLÔNIA LEOPOLDINA

Diante das considerações de ordem geral apresentadas, temos de pisar no chão

e analisar o “concreto”. O concreto para nós desportistas leopoldinenses é nosso esporte.

Para tanto, observando a história do esporte local, vemos que, no fundo, ele não tem

história. Ter história significa construir história. O nosso esporte, em momento algum,

deixou qualquer história. Jamais escreveu-se uma única página de suas atividades.

Page 228: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

228

Ao analisá-lo, vamos encontrar uma pequena citação de sua existência num

trabalho da professora Anita hoje professora do Grupo Aristeu de Andrade - sobre a

história de Colônia Leopoldina em que um time fora criado lá pelos findos de 1949. Daí

para frente não temos notícias de sua atuação e muito menos fora escrito algo pelos seus

componentes.

Ainda, na busca de algo encontrar sobre nosso esporte, no livro de Everaldo

Araújo Silva, A Colônia da Princesa, vamos observar que o esporte não tem citação

alguma. Isto nos leva a concluir o que já afirmamos: que somos uma gente sem escrita

esportiva e, portanto, sem história esportiva.

Hoje, temos duas equipes básicas no município: uma é o Nova Geração

Esporte Clube. Esta equipe, diante de todas as dificuldades locais, busca existir com a

colaboração de seus próprios atletas. Uma iniciativa importante para o desporto da

cidade. Esta equipe se reúne regularmente e discute não só as questões específicas da

equipe, mas o esporte em Colônia. A outra equipe é a do Sport Club Leopoldinense.

Conhecemos outras equipes de nomes desconhecidos formadas por garotos que

merecem uma especial atenção por todos. O Nova Geração Esporte Clube conta com 34

atletas inscritos no seu quadro.

O esporte leopoldinense tem características muito peculiares para a região da

Zona da Mata. Ele está totalmente desorganizado como equipe oficialmente registrada,

com estatutos, regulamento interno sem uma clareza do papel do esporte na sociedade;

portanto, sem um programa expresso de atividades. Limita-se a reduzidas partidas de

futebol. Além de ser reduzido a um único tipo de esporte: o futebol. Este futebol só

acontece nas épocas de verão, a época da safra de cana na região. Está ligado ao ciclo

econômico regional.

Outra fundamental questão é que o esporte, não tendo se construído como

equipe, os atletas não sustentam sua organização. Os times pertencem a A ou a B que

possuem uma bola ou um terno de camisa (que já ganhou na época da eleição de algum

candidato). Estes se estendem como os donos dos times e mandam como bem

entendem, até que acabam a bola ou o padrão de camisas e o time está desfeito; aliás,

nunca existira.

O Nova Geração Clube tem tentado se construir fora deste corredor. Até agora

vem se mantendo mesmo com muitíssimas dificuldades, mas se mantendo com suas

mãos. Tem-se direção sim mas não se tem donos do Nova Geração, afirmam os atletas.

Suas reuniões, assembleias é que decidem suas questões.

Page 229: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

229

Até agora, as afirmações tem sido baseadas mais em nossas observações do dia

a dia esportivo. Porém em recente pesquisa realizada sob coordenação do professor José

de Melo Neto,* temos nossas observações ratificadas em dados e vejamos:

Uma discussão sobre o que o Leopoldinense acha de se praticar o esporte:

%

Importante 71,1

Sem importância 3,6

Não sabe 10,7

Não respondeu 13,6

100,0

O que vemos é que o Leopoldinense, residente na cidade, sente a necessidade

do esporte na vida de seu filho, criança, jovem ou adulto. Pode não saber expressar de

maneira científica, mas está claro a sua importância na sua vida. Aqui vai uma pergunta:

temos então, o esporte?

Vemos que no fundo, no fundo, nunca tivemos esporte no nosso município e

por incrível que pareça, o leopoldinense se mostrou um desportista. Mas esta pergunta

também foi discutida na mesma pesquisa e vejamos:

Uma discussão sobre se existe esporte em nossa cidade:

%

Não 41,5

Sim 17,1

Só futebol 17,1

Não sabe 13,6

Não respondeu 10,7

100,0

* Pesquisa orientada por equipe de quatro professores da Universidade de Brasília e processada em

computação da mesma Universidade código SAU-J MELO NETO-0732-DATE:MAR 3, 1983.

Page 230: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

230

Estes dados vêm nos ajudar na análise histórica feita sobre o esporte aqui. Está

patente sua inexistência na nossa cidade, não só a 30 anos atrás, mas hoje mesmo não

há. Uma menos exigente análise nos conduz à existência de uma rudimentar prática do

futebol. Não podemos mais escantear esta questão. Não podemos mais fingir que ela

inexiste. Estes dados também denunciam a existência de uma grande margem de

leopoldinenses que nada sabe sobre esta questão.

Estas são as questões que hoje discutimos em reuniões de desportistas do Nova

Geração. Baseados em problemas que sentimos na equipe, refletimos sobre que esporte,

que divertimento tem o jovem leopoldinense? Enfim, será apenas andar pelos campos o

esporte da criançada? Será praticar esporte o matar o tempo na esquina do centro da

cidade? Há oportunidades para diversão? Fomos refletindo, discutindo, que chegamos a

sugerir propostas.

ENFIM, NESTA REALIDADE, QUE FAREMOS?

Da reflexão sobre estas questões, partimos para executar tarefas que refletiam

sobre nossa própria equipe: organização interna da equipe, preparo físico... Outras

questões surgiram e sentimos que não tínhamos forças para solução. São questões de

ordem geral e que conduzem diretamente à intervenção da administração pública

municipal. Assim, resolvemos pensar um pouco mais nas nossas reuniões e tiramos as

seguintes propostas que resolvemos encaminhá-las ao Executivo local.

Organizamos nossas propostas em dois aspectos17

: aspectos quantitativos, e

dizem respeito ao incremento em termos de quantidade do desporto local, e aspectos

qualitativos, dizem respeito à melhoria do desporto. Vejamos a seguir, reivindicações

sobre ambos:

a) ASPECTOS QUANTITATIVOS

Primeira 18

17

Todas as propostas, entretanto, se interrelacionam. 18

A ordem apresentada também reflete a ordem de prioridades.

Page 231: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

231

DOAÇÃO DE UMA SEDE COLETIVA PARA OS CLUBES ESPORTIVOS

EXISTENTES, MESMO SEM REGISTRO EM CARTÓRIO.

Considerações

a) o espaço físico para os atletas é uma das grandes necessidades. Aqui, no

campo de futebol, não se tem local de vestir a roupa do jogo. Não há local

para reuniões dos times. Esta pode ser a primeira grande providência a ser

tomada;

b) o patrimônio desta sede seria mantido para a Prefeitura, porém, era da

competência dos clubes a sua administração. Como fazê-la, é uma

discussão para os times resolverem entre si;

c) esta sede dará condições para que os clubes possam exercer seu papel

também de educadores, questão levantada no 1o parágrafo do texto.

Segunda

MELHORAMENTO NO CAMPO DE FUTEBOL EXISTENTE,

ADEQUANDO-O PARA PRÁTICA DE VÁRIOS ESPORTES.

Considerações

a) com uma melhor exploração do atual campo de futebol, ampliando-o em

toda sua extensão, poderão ser aproveitadas áreas laterais para prática de

outras modalidades esportivas;

b) há condições de implantação de modalidade de esporte que exija,

inicialmente, menores despesas e, posteriormente, outros esportes com

maior exigência técnica;

c) diversificando, inicia-se a ocupação de nossos jovens e crianças, reduzindo

o poder do “jogo de azar” como única opção que há para o lazer, na cidade.

Terceira

CONSTRUÇÃO DE OUTRO CAMPO DE FUTEBOL.

Page 232: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

232

Considerações

a) esta reivindicação também se alicerça na pesquisa já citada, neste nível de

proposta, que é mais difícil, apenas 28,1% da comunidade tem propostas,

tendo esta um percentual expressivo de 7,0%, destes 28,1%;

b) ampliar o espaço de futebol e incentivar a formação de mais equipes.

Quarta

CONSTRUÇÃO DE QUADRAS: FUTEBOL DE SALÃO, VOLEIBOL E

BASQUETEBOL.

Considerações

a) esta é uma proposta mais ambiciosa que as anteriores e sabemos que uma

quadra apenas não soluciona nossas necessidades;

b) esta proposta vem de 15% da população, que propôs algo para o esporte,

segundo pesquisa citada;

c) leques para várias opções para a prática do esporte amador local;

d) aqui se ataca mais profundamente as questões do jogo, criminalidade,

violência, considerando o processo de amizade coletiva que o esporte

desenvolve.

Quinta

CONSTRUÇÃO DE GINÁSIO PÚBLICO FECHADO PARA TODOS OS

ESPORTES.

Considerações

a) esta proposta é um tanto quanto abrangente e a mais ambiciosa. Mas é uma

proposta dos atletas que já vê longe. Afinal, inicia-se hoje a preparação do

jovem do ano 2000;

Page 233: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

233

b) o jovem leopoldinense sente a necessidade de como a cidade de Colônia se

apresenta para os visitantes: como uma cidade que tem em torno de 7.000

habitantes.

O segundo aspecto de propostas relaciona-se a aspectos qualitativos, e nos

conduz à melhoria do desporto:

b) ASPECTOS QUALITATIVOS:

Primeira

CONTRATAÇÃO DE PROFESSOR GRADUADO EM EDUCAÇÃO

FÍSICA.

Considerações

a) a necessidade é grande de um orientador da prática desportiva: um curioso

não serve. É necessário alguém que conheça a prática do desporto e que

desenvolva a nova prática desportiva descrita anteriormente. O profissional

dessa área é um professor de Educação Física, graduado nesta disciplina;

b) este professor seria útil também às escolas do município, que têm obrigação

de prática desportiva conforme a Lei de Ensino 5692/71;

c) a importância desta proposta é que, desde a infância, iniciar-se-ia uma

prática correta do esporte;

d) um atendimento aos clubes desportivos, ao passo que os mesmos iam tendo

reforço na sua função de educador;

e) o desempenho desses desportistas geraria, também, futuros treinadores

práticos nossos;

f) de maneira indireta, contribui para as questões de perspectiva de vida do

jovem leopoldinense e, subjetivamente, ocupando os lugares da violência e

falta do que fazer;

g) acabaria, de uma vez por todas, com o problema dos times nossos aqui: a

falta de preparação física por falta de um orientador desta prática;

Page 234: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

234

h) a educação esportiva dos atletas ganharia bastante com o estudo das regras

e táticas dos diversos esportes;

i) será imprescindível para implantação de novas modalidades esportivas.

Segunda

FOMENTAR NOVOS ESPORTES.

Considerações

a) esta proposta diz respeito à prefeitura assumir uma campanha maciça para

incentivar a população, sobretudo, a juventude, à prática desportiva. Neste

processo, convocar-se-ia também a população a participar;

b) toda uma campanha montada a partir das escolas existentes, proposta dada

por 6,4% da população e encampada, também, pelo Nova Geração;

c) um processo desta ordem, todo cidadão pode participar e aproveitar os

benefícios de seu trabalho.

CONCLUSÃO

Senhor Prefeito, sabemos que não será só pelo esporte que resolveremos os

problemas citados do nosso município; ou ainda, executando um plano para o esporte,

eles não deixarão de existir. Sabemos que não são só estes os problemas deste

município. O esporte, possivelmente, nem seja prioritário para ser resolvido.

Acreditamos que a educação e saúde devam estar na frente em uma ordem de

prioridade. Entretanto, a educação esportiva também faz parte da prioridade

EDUCAÇÃO.

Sabemos também, através do “disse-me-disse”, sobre o injustificado caos

financeiro por que passa este município ora sob a direção de Vossa Excelência. Por

outro lado, saiba V. Exm. que, pela primeira vez, um grupo de esporte apresentou uma

série de propostas para o esporte leopoldinense. Fizemos isto por entender que deverão

sair dos desportistas as propostas do esporte.

Estas apresentadas, sem dúvida, são bastante amplas. Merecem um maior

aprofundamento. Elas servirão de subsídio para uma política desportista para Colônia,

Page 235: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

235

na elaboração inicialmente de um plano do Desporto e, em seguida, estruturação de

PROJETOS vários dentro deste plano geral. Aqui estão opiniões e dados. Opiniões

alicerçadas, mais das vezes, com dados de nossa própria realidade. Mostramos o real da

cidade.

Acreditamos voltar mais vezes a discutir a questão do esporte com V. Exma.

Discutir para executar.

Colônia Leopoldina, 3 de abril de 1983.

Page 236: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

236

TEXTO 3.

DOCUMENTO DE GRUPOS CULTURAIS19

APRESENTAÇÃO

A cultura leopoldinense é algo que deve preocupar a todos conterrâneos. Nossa

cidade, hoje, tem um compromisso com este Estado de Alagoas, com a Zona da Mata,

que não é apenas de caráter só econômico. A cultura de nossa terra terá de também

exercer a sua força sobre esta região, sobre este Estado. Este papel tem que ser

assumido por todos nós, pois é o espaço cultural que temos também de ocupar e que não

estamos ocupando.

O documento que surge é o compromisso de artistas locais que compõem a

Banda de Zabumba São Sebastião, Grupo pró-reativação dos Guerreiros e Grupo de

Arte em resgatar a cultura nossa que vem, pouco a pouco, desaparecendo. Aqui estão

propostas, tiradas de reunião dos três grupos, que serão apresentadas também ao prefeito

municipal, bem como a toda comunidade.

Colônia Leopoldina, 1 de maio de 1983

Componentes da Banda de Zabumba São Sebastião

Componentes do grupo pró-reativação dos guerreiros.

Componentes do Grupo de Arte.

19 Reivindicações apresentadas ao Prefeito José Luiz Lessa, proprietário da Usina Taquara, pelos Grupos

vinculados à cultural local - Grupo de Zabumba, Grupo pró-reativação dos Guerreiros e Grupo de

Arte.

Page 237: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

237

1 – A CULTURA

Não temos interesse de, neste documento, dissecar conceitos de cultura ou

mesmo questionar seus múltiplos enfoques. Trabalharemos com o conceito de cultura:

tudo aquilo que o homem faz no sentido de expressar o que sente de sua realidade.

Diante da situação da cultura brasileira, vamos ver que estamos diante, hoje, da

conhecida “indústria cultural”. Esta indústria que compreende o conjunto de processo de

produção e comercialização de mercadorias culturais. Mas, muitos dos elementos da

cultura, como ideias, valores, noções, princípios etc. não podem concretizar-se como

mercadorias. Para isto, a indústria cultural compreende duas ordens de produtos

culturais. Uma ordem montada no livro, jornal, revista, rádio, televisão, teatro, cinema,

xerox etc. Vários elementos que materializam ideias, valores etc. Uma segunda ordem

que compreende o sistema de comunicação, ensino e propaganda. E aí vem uma gama

de organizações físicas, empresas, estabelecimentos, técnicas em informação,

processamento de dados e também comumente permutando essas técnicas, decisões e

implementação. Ficamos todos sitiados dentro dessa estrutura. Complementando com

dados estatísticos, vejamos:20

a) Há no Brasil, cerca de mil estações de rádio e mais de 75 de televisão;

b) Imprensa escrita: em números aproximados, 280 jornais diários, 1.000

publicações mensais e semanais e 700 revistas da mais variada natureza.

c) É muito comum, quando se fala da indústria cultural no Brasil, omitir-se

completamente o setor da edição de livros. De fato, em termos numéricos,

essa área é tão reduzida no Brasil que não entra no cálculo da cultura de

massa, mesmo considerada em nossos padrões.

d) A maioria esmagadora dos veículos de comunicação excetuando-se as

editoras de livros e as emissoras ditas educativas, vive essencialmente da

publicidade. Os jornais brasileiros dela dependem numa percentagem não

inferior a 80%, e as emissoras de rádio e TV dependem da publicidade em

100%. Esses veículos colocam-se assim, claramente, numa posição de

20

O que é a Indústria Cultural. Teixeira Coelho, p. 80-83.

Page 238: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

238

dependência absoluta em relação aos interesses de seus anunciantes e dos

intermediários, as agências de publicidade.

e) Com todos esses números, no entanto, cerca de 20% da população

brasileira não ouve rádio; 50% não vê televisão e pelo menos 80% não lê

jornal ou revista.

f) Assim como o livro, o cinema e o teatro não são, rigorosamente, veículos

de comunicação de massa no Brasil.

2 – A CULTURA DE COLÔNIA

Da história da cultura leopoldinense21

podem ser observados os seguintes

traços:

Logo na introdução da Cultura Leopoldinense no livro de Everaldo, este

leopoldinense fez a seguinte observação: “Todo o conjunto de manifestações

espontâneas vamos encontrar nas artes e nas letras que em épocas passadas, não foram

registradas pelo pouco ou nenhum valor dado e também pela falta de incentivo, pois tais

coisas não eram e não são merecedoras de estímulo e reconhecimento, o que é

lastimável”. Uma introdução que conduz à reflexão de cada leopoldinense, de cada

pessoa compromissada com esta terra, sobre o papel de cada um em alterar este nosso

quadro cultural.

Sabemos que pelos anos vinte fora criada a Filarmônica 16 de Julho, sob a

direção do maestro Sabino Souza. Esta acabou não sabemos quando.

Outra banda ressurgiu na década de 60, agora com o nome do maestro Sabino

Souza. Hoje também não existe mais.

No campo literário, Everaldo ressalta os trabalhos do jornalista Euzébio de

Andrade e Severino Pinto, porém desconhecido do nosso meio e das nossas escolas.

Na arte pirotécnica, ressalta também os nomes de Manoel Praiba e Chico

Machado, com seus famosos balões de maio. Esta arte também não resistiu.

21

Estes traços podem ser encontrados nos seguintes trabalhos:

1. História de Colônia Leopoldina – professora Anita Borges. Mimeo. 1975.

2. História de Colônia Leopoldina – Brochura mimeografada de autora não citada no trabalho. Casa

paroquial, 1975.

Page 239: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

239

As manifestações mais importantes do ponto de vista folclórico e de caráter

social são, entretanto, o Coco de roda; o Reisado; os Guerreiros; A banda de zabumba

São Sebastião e Pastoril e, em menor expressão, as Cavalhadas.

Podemos ressaltar o trabalho de desconhecidos leopoldinenses que no

anonimato têm contribuído para o sustento de nossa cultura como participantes de todas

as formas de expressão cultural apresentadas.

Mas o que sentimos, sem análise alguma mais aprofundada, é a seguinte

constante: “o não continuar”. E vejamos:

a) Década de 20 constitui-se a Filarmônica e se acaba posteriormente.

b) Década de 60 retoma a Filarmônica e se acaba de novo.

c) A cultura esportiva (o futebol) tem característica semelhante.

d) A arte pirotécnica desapareceu com a morte dos fogueteiros.

e) As cavalhadas se acabaram há muito.

f) O coco de roda; o reisado; os guerreiros e pastoril estão ainda na lembrança

de todos.

g) A própria educação apresenta comportamento bastante estranho no nosso

município. Ora, em todos os municípios temos a educação formal sempre

crescente. Instala-se a 1a fase (primário), 2

a fase (ginásio) e depois o 2

o

grau. E aí se mantém.

Em Colônia, temos: até 1960, a 1a fase. Ainda nesta década, monta-se o 1

o grau

completo. No final da década de 60, monta-se o 2o grau. Até aqui, um percurso normal e

crescente.

Posteriormente, desaparece o 2o grau, ficando apenas o 1

o ano e, em 1982,

funciona o 2o ano de Magistério. Em 1983, volta a funcionar apenas o 1

o ano do 2

o grau.

Uma trajetória por demais preocupantes.

E o que diz a população de Colônia? Em recente pesquisa,22

na questão

cultural, em específico a escola, perguntou-se no questionário qual a opinião sobre a

escola:

É boa 20,0%

Não é boa 61,5%

Não sabe 12,1%

22

Pesquisa realizada na nossa cidade e processada em computação da Universidade de Brasília, código

SAU-MELO NETO 0732 – DATE: MAR 3, 1983.

Page 240: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

240

Não respondeu 6,4%

100,0

Uma situação por demais preocupante, já que as populações, de certa forma,

acreditam em sua escola. Aqui, não; uma situação muito complexa, portanto.

O valor cultural popular também, que a constante “o não continuar”, não é a

única que deve contribuir com esta situação pelo qual passa nossa cidade. O estudo será,

na verdade, analisar o porquê desta constante: o fator econômico estará presente nesta

análise; o processo de invasão cultural processada pela indústria cultural etc. Um

trabalho que exige pesquisa profunda e muito mais sistematizada.

3 – TERÁ SENTIDO ABRIR ESTA PREOCUPAÇÃO COM A CULTURA

LEOPOLDINENSE?

A resposta mais contundente vem mesmo da população local. Ao serem

perguntados sobre qual a visão a respeito do fim dos folguedos populares,

responderam:23

Bom se acabar 10,7%

Ruim se acabar 70,7%

Indiferente 10,7%

Não sabe 2,9%

Não respondeu 5,0%

100,0

Os traços culturais nossos fazem-nos falta e, de uma forma ou de outra, será

importante serem retomados para que não nos descaracterizemos como leopoldinenses.

São nossos valores que não podem sucumbir, se acabar.

23

Pesquisa citada.

Page 241: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

241

Sobre como nos organizarmos de novo para resgatarmos esses valores,

vejamos as propostas do povo:24

Só com o poder público 10,0%

Ensinar novos a dançarem 2,1%

Reunir interessados 32,9%

Não voltar mais 8,6%

Não sabe 17,1%

Não respondeu 25,7%

Outros 3,6%

100,0

Cada resultado desse tem um significado importante. Porém, gostaríamos de

ressaltar o mais expressivo, quantitativamente: reunir interessados. E, em cima dessa

resposta, resolvemos reunir interessados que constituíram-se em três grupos, com

características diferentes, porém, com mesmo objetivo: a cultura local.

Assim formamos os seguintes grupos: de Arte, de Zabumba São Sebastião e de

Guerreiros. Vejamos considerações a respeito de cada um deles.

a) Grupo de Arte

Este grupo se constitui de artistas que fazem pintura e artesanato e, às vezes,

fotografia. É um grupo bastante reduzido ainda, porém, aberto a qualquer um que queira

contribuir para a arte local, não só este grupo como os demais.

Tem executado com seus próprios recursos os seguintes trabalhos:

a) 1o Amostra da arte de Colônia Leopoldina, realizada no mês de outubro

passado, quando da festa da Igreja local. Esta amostra se constituiu de

trabalhos de pintura (Elise Pinheiro e Fernando); artesanato (Irá) e

fotografia (Silvestre e José de Melo Neto).

b) 2o Amostra da arte de Colônia Leopoldina, realizada nas comemorações

da Festa de São Sebastião tendo a mesma composição apenas com um

detalhe de que fora apresentada também nas ruas 7 de Setembro e

Mangueira.

24

Pesquisa citada.

Page 242: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

242

c) Cultura de maio. Esta é a mais recente atividade do grupo que visa

mostrar todos os trabalhos nas escolas da cidade, da Usina Taquara, da

destilaria Porto Alegre bem como em Sertãozinho de Baixo. Está se

desenvolvendo neste mês de maio.

b) Grupo de Zabumba São Sebastião

Este grupo já existe de uma forma mais ou menos organizada desde 1920.

Entretanto, com a ajuda do Grupo de Arte, conseguimos, com todos os componentes da

Zabumba, montar um documento sobre a história desta Banda de Zabumba de São

Sebastião e que fora divulgado por eles mesmos à comunidade.

Sua contribuição para a cultura local dispensa esclarecimentos e ressaltamos

este histórico que fora elaboração deste grupo.

c) Grupo de Guerreiros

Este grupo está em formação ainda, mas muito tem buscado, com suas forças

próprias, a reativação deste evento da cultura no nosso dia a dia. Hoje, está empenhado

na melhor organização de si mesmo.

4 – PROPOSTAS DOS GRUPOS

Em reunião coletiva dos três grupos realizada a 24 de abril passado, tiramos as

seguintes propostas:

DO GRUPO DE ARTE

Um espaço físico para a arte:

a) este local é importante pois aí concentraríamos qualquer atividade ligada à

produção cultural;

b) reuniões e ensaios dos grupos existentes e de outros que surgirem como de

Pastoris, Samba de Coco etc.;

c) seria um embrião de atelier para pintores;

Page 243: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

243

d) começaríamos a montar a futura Casa da Cultura;

e) local de ensaio de arte pelos professores de arte das escolas da cidade.

Verba mensal destinada à cultura:

a) esta verba seria distribuída entre os grupos existentes, juntamente com

aqueles que ainda surgirão, coletivamente, reunidos com um representante

da prefeitura;

b) é fundamental para o Grupo de Arte para manter uma programação anual

de montagem: 1) circuito de arte, que seria desenvolvido durante um mês

inteiro pelas ruas da cidade; 2) manutenção do Cultural de Maio, uma

semana de arte pelas escolas no mês de maio;

c) para a Zabumba teria aplicação na reposição de seus instrumentos e

fardamento;

d) no grupo dos Guerreiros teria aplicação na reposição de sua roupagem;

e) até mesmo cursos de artes plásticas intensivos de mês ou meses poderiam

ser assistidos por artistas locais noutros centros nordestinos.

DO GRUPO DE ZABUMBA

Este grupo apenas reivindica:

Terno de roupa Total Cores

Calça e camisa 8 Azul claro ou caqui

Conjunto de alpercata

Par 8

a) como sendo um grupo que existe há tempos, esta solicitação tem caráter

puramente estético;

b) com a verba destinada à cultura, este grupo participaria em ambos os

eventos culturais citados.

DO GRUPO DE GUERREIROS

Page 244: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

244

Este grupo apresenta também uma única solicitação: que seja autorizado o

funcionamento dos Guerreiros na rua da Mangueira:

a) este galpão seria mesmo na rua e daí nossa solicitação, entretanto, a rua não

ficaria interditada; o espaço que fica aberto é suficiente para passagem de

qualquer transporte;

b) o trânsito neste local praticamente inexiste;

c) acima de tudo, seria uma sede provisória e, tão logo que tivermos local

apropriado, nos retiraríamos deste local.

OBS.1: Sobre a Educação Escolar, a pesquisa citada apontou que 74,1% da

família leopoldinense não tem nenhuma pessoa que concluiu sequer o 1o grau;

e 20,7% tem uma pessoa apenas. Diante disto, entendemos que a questão

cultural em específico a da Educação Formal, deve ser analisada sob dois

aspectos: primeiro, uma resposta a esta realidade e que temos de ter a escola e

as condições para todos, questão meramente quantitativa; e segundo, uma

escola que inspire confiança no leopoldinense, uma questão de qualidade. É

uma questão complexa e que as propostas para tal deverão sair, sobretudo, dos

professores locais.

OBS.2: Quando da aplicação do questionário da pesquisa, alguém mostrou a

necessidade de uma biblioteca, algo importante para a cultura local.

Aproveitamos para sugerir que se faça um contato com a Fundação Roberto

Marinho, a Hoschat ou Secretaria de Educação que querem incentivar o hábito

da leitura em nossas crianças, campanha que está sendo apresentada pela Rede

Globo: “Ciranda, Cirandinha, vamos todos ler...”. Eles doam “bibliotecas”.

Seria um início.

5 - CONCLUSÕES

Sr. Prefeito, conhecemos a preocupação de V.Ex. pela cultura leopoldinense

como também as questões levantadas já as conhece. Está tudo, praticamente, a ser feito.

Page 245: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

245

Os nossos dados são preocupantes. Preocupados também com o desmantelamento das

culturas latino-americanas pela indústria cultural, nós estamos propondo ou solicitando

medidas que façamos revigorar já, a nossa cansada, mas nossa, cultura. E, assim, ocupar

o espaço que é nosso no cenário cultural alagoano. Acreditamos que, como

leopoldinenses, possamos contribuir para a cultura do município, do Estado e, por que

não dizer, para o país, já que vozes daqui já se fizeram e fazem-se ouvir neste país afora.

E, para concluir, poderíamos citar um poeta venezuelano que mostra que “a

história prova que a maior força de autoafirmação de um povo ante a voracidade

colonialista é a presença de uma vigorosa cultura...”.25

Esta forte cultura poderá ter

início no nosso aqui, nosso agora.

Agradecemos,

Colônia Leopoldina, 1 de maio de 1983.

Componentes da Banda de Zabumba São Sebastião.

Componentes do Grupo para criação dos Guerreiros.

Componentes do Grupo de Arte.

25

Citação do Jornal Leia Livros – edição abril/maio,2003.

Page 246: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

246

TEXT0 4.

A DIFÍCIL ARTE DA POLÍTICA DE OPOSIÇÃO E DE ESQUERDA,

EM CIDADES DE INTERIOR26

Não adianta, conservadores!

O mundo se move.

As elites dominantes teimam em fazer compreender aos que atuam na política de

oposição ou de esquerda que essa política é inviável para um país, para um povo e, de

forma singular, para as pequenas cidades, a não ser que sejam elas mesmas as suas

próprias oposições. Para elas, jamais se poderá encastelar nas mentes e nos corações do

povo uma política de esquerda, cujo programa apresenta-se como uma alternativa ao

modus vivendi do capitalismo – sistema que é muito bom para uns poucos.

No máximo, podem admitir a existência de uma oposição singela e doce (sem

liderança e vinda do açúcar) como a que se está vivendo em Colônia, seguidor de um

mesmo programa político, definido por elas e, portanto, o programa político dominante.

Pensar uma alternativa de viver, um jeito novo de viver e de fazer política é, para elas,

uma situação impensável a todos e todas que não se situam naquele arco elitizante - os

setores oprimidos da sociedade. Esses setores concretizados naqueles que padecem da

opressão do judiciário, com raros e respeitosos personagens; da opressão religiosa das

maiorias dominantes; da opressão étnica embutida na sociedade; da opressão de gênero

estabelecida; da opressão da instituição universitária que impede a chegada desses em

seus cursos; da opressão da família opressora; da opressão de vizinhos nada educados;

da opressão de um Estado que lhes abandonou já faz tempo; da opressão de servidores

públicos em todos as escalas do governo, sendo eles quaisquer coisa menos um servidor

do povo; da opressão daqueles mesmos que até se dizem amigos e, enfim, da opressão

sobre aqueles todos que vivem ou viverão da força de seu trabalho.

26

Análise política de um grupo emergente, durante eleições de 2008, base do que veio a se consolidar

como Movimento Colônia e Cidadania - MCC.

Page 247: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

247

Inserido nessa dimensão está o nosso município, aqui pensado como o ambiente

do exercício político possível de uma oposição, vislumbrando possivelmente uma

perspectiva de esquerda. Uma perspectiva de esquerda seria um exercício de governo

que promovesse um planejamento participativo da equipe técnica da prefeitura com a

população; um orçamento participativo, em que o gestor público não temesse a

transparência de suas ações, aplicando o dinheiro aonde o povo entende que seja

importante. Uma perspectiva de esquerda como aquela que possa cuidar das pessoas e

não deixá-las à mercê de suas sortes. Uma perspectiva de esquerda seria a promoção da

participação do povo, pois, assim, estaria conquistando a sua cidadania. Cidadania como

algo a ser conquistada mas que um político de esquerda pode, perfeitamente, contribuir

para esse povo avançar em seus desejos de viver como gente e com satisfação de vida.

Enfim, a preparação do cidadão no sentido grego, isto é, para que atue nas definições

das coisas de sua cidade, de sua polis. Em Colônia, isto seria um avanço transformador

profundo que muito colocaria a cidade na vanguarda política da região norte do Estado

de Alagoas. Vivam os sonhos!

Mas, o que temos, concretamente, hoje, no campo da oposição e da esquerda

leopoldinense? Uma difícil aritmética política com quase nenhuma ideologização,

retorcendo-se para uma perfeita adequação ao status quo dominante, sendo

encaminhado por nossas próprias mãos para a inexistência de oposição na cidade,

tornando-se ainda inaceitável pensar-se em um governo de esquerda. Estamos nós

submetidos aos desígnios dos nossos próprios acordos, dos nossos particulares

interesses e mais: estamos dominados pelos dados de realidade. Estamos sem força para

superar os dados da dominação e, assim, rendidos à lógica política reducionista de que

fazer política é uma questão meramente financeira. Estamos abdicando da nossa

capacidade de insurgência que é intrínseca ao gênio humano e nos entregando às razões

externas da política. A política de oposição em Colônia vem se rendendo aos sabores

das políticas de Maceió ou de Brasília, mesmo que elas precisem ser contadas, e

omitindo-se no fazer da política local.

Vejamos um histórico do grupo:

a) Formamos um grupo desejoso de construir uma oposição planejada e com

programa de governo mesmo que, ainda, pudesse não aparecer ações de avanços

de uma política de esquerda e, necessariamente, de mudanças profundas.

Page 248: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

248

b) Estivemos juntos com um personagem-vereador que bem pensava a utilização

do grupo para fortalecer-se como negociador do lado contrário ao grupo, e se

foi.

c) Veio a composição partidária do grupo e eis o que se formou: PSOL, PTB,

PSDB, PT, PMDB... .

d) A nossa principal figura, particularmente do ponto de vista eleitoral, foi

arrastada para o PSDB por um governo de Estado que garantiu finanças para a

sua campanha.

e) A representação do PMDB se foi para o outro lado, tecendo as suas próprias

negociatas.

f) O PSOL, o partido mais solidamente estabelecido em campo ideológico,

mantém-se presente a esse grupo de oposição, mas com a clareza de que será

muito difícil aliançar-se com tais forças presentes. Este partido cobra mudanças

profundas na sociedade, mas tal discurso soa distante das cabeças dos

componentes do grupo de oposição. Para o PSOL, a política se faz em nível

municipal, estadual e nacional. Portanto, não se pode pensar uma política do

micro sem a perspectiva macro. Afinal, os votos de Colônia vão ajudar aos

políticos do Estado e do País.

g) Fomos ficando reduzidos a praticamente PSDB, PT e PTB.

h) Com o comportamento eleitoral do PSDB em nível nacional votando, quase

sempre, em oposição ao governo Lula, o PT se coloca na impossibilidade de

uma composição local com aquele partido, sobretudo, após as votações do final

de ano passado (cpmf). Compreendemos que o seu diretório regional em

Alagoas dificilmente aceitará tal aliança. Ademais, a principal figura do PSDB,

virtual candidata das oposições, nunca demonstrou em eleições passadas

qualquer interesse pelo governo Lula.

i) Na última festa da cidade, na procissão de São Sebastião, o presidente do PT

acenou publicamente para outros campos políticos, justificando que PSB

(partido do usineiro) e PDT (partido do prefeito) estão na base de sustentação do

Governo Lula.

j) Vai restando o PSDB, PSOL e PTB (partido da base do governo Lula) a

continuidade de uma visão oposicionista dividida, ainda possível na política

leopoldinense, contudo, por diferenciadas razões. O PSDB representa a principal

expressão oposicionista da cidade, mas a sua situação no expectro ideológico o

Page 249: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

249

afasta do PSOL que caminha para ter candidatura própria, mesmo que seja

inexpressiva a sua votação. O PTB, tendo como figura principal um religioso

que esteve ao lado da política do atual prefeito (manuilson), ainda não

posicionou-se no geral, mas aguarda, em Alagoas, um forte apoio de Collor para

realizar campanha, além de um apoio, mesmo informal de autoridades

eclesiásticas mais altas, difícil de assim fazerem.

Diante disto, vem se ratificando a tese dominante de que a política é uma

atividade exclusivamente financeira, de estranhos acordos e que o povo precisa sempre

estar fora disso. Nós sabemos, todavia, que política não é sinônimo de economia e

muito menos de finanças.

Então, poderemos apresentar a clássica questão de esquerda: O que fazer?

Célebre livro de Lenin – revolucionário russo. Pensamos, concretamente, que já

estamos fazendo algo. As circunstâncias vieram determinando as opções partidárias e os

acordos se sobrepondo ao grupo que tinha, tão somente, o papel de aglutinar essas

oposições – uma ação que é inédita em Colônia Leopoldina. Mais uma vez, pode-se

repisar as clarezas iniciais: a oposição dividida sempre foi um prato cheio para a vitória

dos setores dominantes e conservadores da política.

As condições objetivas postas caminham, mais uma vez, para mantermo-nos

separados, tornando mais dura a difícil caminhada do fazer política local, em particular

no ambiente em que as opções de vida das pessoas são mínimas ou nulas. O financeiro

passa a ser o determinante na vida eleitoral e das vidas das pessoas, mesmo que isto não

seja novidade no campo da teoria política e do nosso quadro cultural.

Há, agora, um desafio maior ao grupo que é até onde podemos continuar, pelo

menos, conversando esporadicamente. Essa continuidade de conversas é necessária para

que se possa ainda haver conversas mínimas sobre a política da cidade. Não podemos

alimentar a anomia, a desorganização e o não diálogo. Resta a alternativa de pensarmos

definitivamente a chapa com os partidos que toparem algum tipo de acordo. Resta,

ainda, o esforço de que, nessa luta, possamos eleger o maior número de vereadores que

possam continuar pensando política (tomar a câmara).

Os desafios postos agora são maiores mas não são insuperáveis. A dinâmica da

vida nos mostra isto, mesmo que as nuvens políticas atuais estejam muito mais

tenebrosas para o nosso município. Mas, será sempre importante pelo menos uma

Page 250: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

250

certeza, nesse campo de tantas incertezas: O MUNDO SE MOVE E AS FLORES

SEMPRE RENASCERÃO NOS JARDINS DAS NOSSAS VIDAS.

Texto para possível discussão do grupo.

Colônia Leopoldina, fevereiro de 2008.

Abraços.

José Francisco de Melo Neto

Page 251: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

251

TEXTO 5.

COLÔNIA LEOPOLDINA: ação cultural no meio rural

José Francisco de Melo Neto27

Ação cultural no meio rural28

é um trabalho fruto da experiência desenvolvida na

Zona da Mata do Estado de Alagoas, no município de Colônia Leopoldina29

. Uma

preocupação conceitual de educação esteve sempre presente: educação como processo

que envolve o educando na atuação transformadora de seu ambiente. A comunidade30

é

caracterizada em seus aspectos: histórico, geográfico, econômico, educacional e

cultural, social, religioso e outros. Delineiam-se estes aspectos no marco da

dependência, situação que caracteriza a comunidade.

O trabalho de ação cultural se desenvolve a partir da definição de uma

metodologia científica, com vista à concretização de ações educativas, que façam frente

a essa situação de dependência e que conduzam à organização de vários grupos sociais

existentes ou emergentes com a ação educativa na comunidade. Optou-se pela

metodologia da pesquisa-ação, buscando-se mostrar o conjunto de atividades educativas

que foram sendo desenvolvidas, constituindo-se como ação cultural. O conhecimento da

realidade local deu-se a partir de grupos já formados ou em formação, iniciando-se a

definição da ação por esses mesmos grupos que são os responsáveis diretos pelo

exercício daquelas práticas educativas.

27 Professor do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), atuando nos cursos de Pedagogia,

no Programa de Pós-Graduação em Educação – Educação Popular – e coordenador do Grupo de Pesquisa em

Extensão Popular (EXTELAR).

28 Este trabalho resultou em Dissertação de Mestrado em Educação, tendo como membros da Banca Examinadora os

Professores: Dra. Hélène Le Blanch, Dr. Argemiro Procópio Filho e Dr. Messias Costa, defendida na Universidade

de Brasília (UnB), com o título Ação Cultural no Meio Rural: Uma experiência em Colônia Leopoldina – Al, em

1984.

29 Essa experiência, que teve duração de dezesseis meses, foi pautada por uma visão educativa em que o homem se

educa, comprometendo-se politicamente e intervindo no seu ambiente para transformá-lo.

30 Comunidade – conjunto de pessoas convivendo em um determinado espaço físico e geográfico, com um complexo

de diversidades culturais, econômicas, políticas e sociais que interagem em um processo dinâmico de relações.

(Secretaria de Cultura do MEC – 1980).

Page 252: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

252

O trabalho educativo inicia-se pelos seguintes segmentos: Sindicato de

Trabalhadores Rurais; professores do colégio da cidade; alunos do curso de magistério;

professores do MOBRAL; grupo de jovens; jogadores de futebol; grupo de zabumba;

„guerreiros‟ (dança folclórica) e fotógrafos. Entre vários membros desses grupos,

ocorreu a coleta de dados sobre a comunidade, sendo devolvido, posteriormente, à

própria. Destaca-se, nesse trabalho, a ação coletiva desses grupos quanto ao resgate de

sua cultura e organização, podendo ser caracterizado, hoje, como expressão da

resistência cultural de grupos de uma comunidade rural naquele determinado momento

histórico.

INTRODUÇÃO

Pelo menos dois tipos de abordagem têm predominado, de certa forma,

nos estudos da educação nos últimos anos: uma considera a educação como fator de

mudança social e, portanto, como canal de mobilidade social; outra vê a educação numa

perspectiva de investimento, num enforque econômico. Na análise em que a educação é

vista como fator de mudança social esta é explicitada como mudança superficial dos

problemas; não questiona a essência do sistema. Nesta concepção, a educação tem papel

fundamental. Mudança aqui é entendida como uma transformação profunda, em que o

sistema de produção vigente e suas relações sociais são alteradas, tendo a educação um

poder importante.

Nos estudos que apresentam a educação como canal de mobilidade, a função da

educação se direciona no sentido de “situar” o homem socialmente. Dessa forma, além

da função de formação e socialização, passa a promovê-lo na escala de prestígio.

Escamoteia-se a estrutura de classes da sociedade, entendendo-se que contribui para

uma mudança na sociedade. Em consequência, desenvolve-se a motivação para que o

indivíduo busque essa mobilidade. Trata-se de uma dimensão que admite vários

conceitos, conforme apresenta BENJAMIN (1980: 28):

Mobilidade estrutural resultante das modificações nas ofertas de ensino

decorrentes das mudanças de ocupação com a industrialização; mobilidade por

troca de posição onde ocorre um intercâmbio de indivíduos entre “status”

devido à pouca rigidez na estratificação; mobilidade de competição onde o

“status” é um prêmio conquistado individualmente com o próprio esforço do

Page 253: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

253

aspirante, e também a mobilidade promocional onde a própria elite escolhe e

premia os escolhidos de dentro de seu seio instituindo critérios meritocráticos e

aqui o esforço não é suficiente para sua obtenção.

A educação é, então, apresentada como um fator muito expressivo para a

ascensão social. Nesse aspecto, busca-se a demonstração de que o critério sócio-

econômico deixa de ser fator de obtenção de status para dar espaço a um novo critério: a

escolaridade.

No enfoque econômico, a educação é analisada de forma explícita, como

investimento. Estão presentes, em cada momento, elementos como: produto, taxa de

retorno, consumo, demanda e oferta. Esse investimento apresenta-se em três tipos:

estatal, privado (a escola particular) e individual (auto-investimento). Dele decorrem

três tipos de taxas de retorno: lucro para a nação, lucro para o setor privado e também

maiores rendimentos aos estudantes quando estiverem no mercado de trabalho. A

preocupação está sempre em medir os estoques na educação e, em consequência, seus

rendimentos. Na visão econômica da educação, a medição da ascensão social decorre da

qualificação e do rendimento, de modo que os diferentes níveis de status são gerados

por diferentes níveis de especialização. A educação, enfim, assegura taxa de retorno alta

para a nação bem como para o indivíduo. Ainda segundo BENJAMIN (ibid.: 41),

ambos os enfoques se aproximam quando estão preocupados com “o equilíbrio e a

estabilidade das estruturas, inclusive utilizando mecanismos de avaliação e controle

que servirão a própria realimentação do sistema, visando seu funcionamento perfeito

para que não tenha de ser modificado... Supõe-se que o sistema capitalista é o mais

eficiente e procura-se analisar relações da situação vigente”.

Partindo-se do pressuposto de que transformações na sociedade deverão

ocorrer, a educação tem papel importante nas etapas de preparação dessas

transformações como posterior a elas. Não só pode ser analisada como um fator que

permite manter o status quo, como também pode ser orientada para o papel de

instrumento na busca de construção da história da maioria. Dessa forma, a educação

toma sua dimensão maior: a dimensão cultural. Esta passa a marcar presença em todos

os setores da vida da sociedade, podendo possibilitar um desenvolvimento crítico nas

pessoas a partir de suas práticas nas mais simples formas de organização como

sindicato, partido político, igreja e outras instituições, ou mesmo, buscando novas

formas organizativas.

Page 254: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

254

Entretanto, constata-se que a prática pedagógica tem sido reduzida à sala

de aula. É desenvolvida numa realidade expressa de forma estática, resistente à

mudança nesse processo limitado da prática educativa. O seu planejamento não reflete

suficientemente as necessidades das comunidades. Seus conteúdos e métodos não

traduzem as necessidades do homem da cidade e muito menos as do homem do campo.

É reforçada a ideia da educação como mecanismo assistencialista, mas pode contribuir

para mudanças na vida da comunidade se utilizar a sua capacidade criadora. Para o meio

rural, os conteúdos são mais alienantes, já que provêm de uma realidade urbana. Tais

conteúdos, juntamente com a metodologia de ensino, contribuem para o fracasso da

aprendizagem.

Partindo-se do pressuposto de que a educação no meio rural deve ser

diferenciada, ela também deve ser capaz de atuar para a plena realização do potencial

dos indivíduos que moram e vivem no campo. O conhecimento da realidade concreta

pode possibilitar-lhes uma intervenção na mesma, como agentes do seu próprio

desenvolvimento. Mas, como conhecer essa realidade? E mais: uma vez conhecida,

como realizar essa intervenção?

Uma ação educativa só se justifica a partir do envolvimento da

comunidade e a sua orientação para as possíveis soluções de problemas comunitários,

ou seja, uma ação que considere necessária a participação das pessoas no processo de

mudanças. Contudo, que formas podem ser utilizadas para efetivá-la no meio rural?

Além do mais, essa ação educativa determinada pelo conhecimento da realidade não

pode ser sinônimo de transferência de conhecimento, e sim de ato dinâmico e

permanente no processo de sua descoberta. Enfim, que metodologia desenvolver para

atender às expectativas de participação daquela comunidade?

É possível descobrir a realidade local a partir da ação daqueles que vivem

na própria região e com eles poder melhor desenvolver todo o processo de

sistematização. Com esse entendimento, promoveram-se encontros informais com

professores municipais e do Colégio Pe. Francisco, daquela localidade, discutindo-se

questões educativas como: o abandono da escola pelo alunado, sobretudo na época da

colheita da cana-de-açúcar; turmas reduzidas a menos da metade; reprovação do aluno

ao final do período letivo e também as questões salariais. Registre-se que professores

passam até sete meses sem receber seus salários, mesmo sendo muito aquém do salário

mínimo regional.

Page 255: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

255

Na reunião com a coordenação e professores do MOBRAL, os problemas

apresentados foram os seguintes: índice de analfabetos considerado elevado no

município; a impossibilidade de sustentação das turmas, que mal iniciam já vão se

reduzindo; ou ainda a preocupação de uma professora em como alfabetizar, já que

muitos não acreditam na educação do MOBRAL, nem mesmo os analfabetos.

Esta preocupação com a educação também é externada pelos dirigentes

do sindicato rural em relação aos seus associados. Várias pessoas apresentam também a

atuação do sindicato como pouco expressiva. Os religiosos locais têm dificuldades em

encontrar formas de organizar a comunidade considerando, inclusive, a comunidade

com baixa motivação.

Quanto ao grupo de jovens da Igreja Católica, surgem dificuldades na

promoção de suas reuniões. Vários deixam o grupo por não saber mesmo qual o

objetivo do grupo. Entendem, entretanto, que precisam realizar alguma prática de

organização comunitária, mas não se sabe como iniciar. Mesmo assim o grupo existe.

Diversas pessoas apresentaram questões de ordem político-partidária, já

que não mais de quatro políticos se revezam na administração da Prefeitura há trinta

anos, sendo de uma mesma corrente política. Para elas, é preciso haver uma renovação

nos quadros políticos locais - também indicaram questões tais como o fim de tradições

culturais como os „guerreiros‟.

De posse dessas informações, a opção metodológica que se apresentou

para este trabalho foi a da pesquisa-ação, por ser uma metodologia que estimula a

participação e abre o universo de respostas, passando pelas condições de trabalho e vida

da comunidade. Buscam-se as explicações entre os próprios participantes, que se

colocam em posição de investigador.

Mas, apenas procurar o conhecimento da realidade não é suficiente, pois outras

metodologias também realizam isso. Entretanto, na pesquisa-ação, o participante é

conduzido à produção do próprio conhecimento e se torna o sujeito dessa produção.

Nesse aspecto, essa metodologia se distancia de todas as demais e se afirma como

instrumento fundamental de resistência e conquista popular, posto que se reveste dessa

ação educativa. Segundo OLIVEIRA (1981: 19), essa metodologia promove “o

conhecimento da consciência e também a capacidade de iniciativa transformadora dos

grupos com quem se trabalha”. Trata-se de uma concepção de pesquisa que, conforme

PINTO (1979: 456), considera “fundamen-talmente como ato de trabalho sobre a

realidade objetiva”. Ou ainda, como afirma GAMBOA (1982: 36), “busca superar

Page 256: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

256

essencialmente, a separação entre conhecimento e ação, e buscando realizar a prática

de conhecer para atuar”.

Nesse sentido, buscaram-se as bases teóricas da metodologia escolhida

para tornar possível uma maior fundamentação da mesma, podendo ser resumidas nos

termos em que foram apresentados por BORDA (1974: 41):

Não pode haver separação entre o pesquisador e a metodologia. Se faz

necessária a militância do pesquisador já que sem a prática não será possível

deduções de cunho teórico ou mesmo a validade ou não do conhecimento.

Assim, como a metodologia não está separada do pesquisador, também

não está dos grupos sociais com os quais se trabalha. Ela tem sua adequação ao se

trabalhar no campo ou na cidade, ou ainda, quando se trata de grupos diferenciados

como negros, índios, brancos ou camponeses.

A metodologia evolui e se modifica em função das condições políticas

locais e, logicamente, em função das correlações das forças existentes. Se forças sociais

adversárias são fortes, não há porque não tratá-las como tal, sem fazer abstrações dessas

situações.

Essa metodologia depende ainda da estratégia global da mudança social

adotada e de suas táticas, a curto e médio prazos. Não se apresenta como enumeração

pura e simples de princípios sem referência do processo global de mudança. Dela têm-se

ainda alguns traços que são apresentados por HALL (1981: 14) e que podem ser

sintetizados assim:

A informação é devolvida ao povo, de onde a mesma surgiu bem como na

linguagem e na forma cultural daquele ambiente; o povo e o movimento de base

passam a estabelecer o controle do trabalho; as técnicas de pesquisa tornam-se

acessíveis ao povo; um esforço consciente é necessário para manter o ritmo da

ação-reflexão do trabalho; aprender a escutar e a ciência tornam-se partes do

dia-a-dia da população.

Mas, como a metodologia da pesquisa se desenvolveu, de forma

sistemática? Para responder a esta questão, convém apresentar todo o processo

metodológico, desde a preparação do pesquisador até as técnicas de avaliação da

pesquisa.

Page 257: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

257

a) Preparação do investigador - é a etapa inicial onde se dá o processo de aproximação

do investigador31

com a comunidade escolhida, a inserção do mesmo na comunidade.

Foram, então, contactados os seguintes grupos ou instituições: Colégio Pe. Francisco

(administrador e adjunto); professores do colégio local; pessoas vinculadas à Igreja

Católica; equipe de coordenação e professores do MOBRAL; grupo de futebol;

Sindicato Rural (presidente e secretário); grupo de jovens, bem como um grupo de

ação comunitária (MOBRAL) em formação, na rua da Mangueira, trabalhadores

rurais, além de pequenos comerciantes.

Nessa etapa, inicia-se o conhecimento da comunidade. O investigador

observa como ela apresenta seus problemas, tendo como base os dados coletados de

fontes faladas, vivas ou sensoriais e as observações sobre a vida diária, bem como dados

oficiais da atividade econômica, social e cultural. Outros dados são coletados nas

reuniões de vereadores ou em comícios das várias correntes políticas, na cidade, nos

sítios e nos engenhos. As visitas e entrevistas são relatadas em pequenos informes para

posterior devolução aos participantes. Essa devolução acontece durante uma reunião

com praticantes do esporte local, estudantes do curso de magistério e outras pessoas

sem vinculação a grupos. Nessa ocasião, expõe-se todo o material coletado, elaborando-

se um elenco de necessidades apresentadas. Selecionam-se aqueles problemas mais

citados na coleta. A partir daí, inicia-se o estudo procurando identificar como a

comunidade percebe e analisa sua realidade.

Com essa sistematização inicial, efetiva-se o primeiro retorno dos

resultados aos grupos ou pessoas que iniciam a investigação. Pessoas não pertencentes a

grupos, nessa fase, chegam a formar grupos posteriormente. A partir daí, elabora-se um

questionário32

que é devolvido aos que estão presentes nessa reunião e também a

professores, religiosos e outras pessoas.

b) O investigador e a comunidade – Para a aplicação do questionário, leva-se em conta

que havia no município, em 1980, um total de 1.456 domicílios33

em sua sede. Nessa

fase de pesquisa, de maior organização de busca das necessidades e problemas, são

visitados 140 desses domicílios. A entrevista dá-se coletivamente com os residentes, nos

31 O conhecimento da cultura da região é condição para o exercício metodológico da pesquisa-ação.

32 Utilizou-se, como exemplo, o questionário aplicado no levantamento das necessidades básicas da “Invasão do

Chaparrau”, no Distrito Federal em 1982, num trabalho de Educação Popular desenvolvido por um grupo de alunos

do Mestrado em Educação, da Universidade de Brasília, coordenado pela Profa. Dra. Hélène Barros.

33 Domicílio – toda e qualquer residência habitada com uma ou diversas entradas ou mesmo embarcações (IBGE, IX

Censo Geral do Brasil, 1980).

Page 258: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

258

seus domicílios. Os questionários são aplicados em todas as ruas da sede municipal

sendo, aleatoriamente, escolhidos. Os dados coletados saíram do consenso dos que se

faziam presentes no momento da entrevista no domicílio.

Elaborada a amostra, segue-se o treinamento de dez entrevistadores. São

pessoas dos grupos de professores do MOBRAL e dos alunos do curso de magistério.

Alguns critérios são utilizados para a seleção desses entrevistadores como: pertencer a

algum dos grupos existentes ou em formação; poder cumprir o calendário das

entrevistas. Procede-se à entrevista de domicílios selecionados, aplicando-se um

questionário de dez em dez domicílios.

c) Sistematização das informações - Concluída a fase de aplicação dos questionários,

inicia-se a sistematização dos dados com a finalidade de oferecê-los à reflexão dos

grupo. Elabora-se, para tanto uma codificação das respostas34

, utilizando-se da

computação de dados como instrumento de ajuda neste trabalho. Muitas propostas ou

questões levantadas são mantidas, mesmo que quantitativamente pudessem ser

desprezíveis. Além disso, são utilizadas na devolução das mesmas a todos os

envolvidos na investigação. Com base nos resultados encontrados confeccionam-se

fichas-problema contendo dados, juízos e apreciações, que são utilizados na

devolução do material aos grupos. Um dos grupos existentes encarrega-se da

elaboração dessas fichas.

d) Análise e interpretação dos dados – Nessa fase, são analisadas, de maneira crítica,

as necessidades coletadas, extraindo as dimensões positivas e negativas das questões

levantadas, encarando a realidade numa perspectiva de mudança, impulsionando os

grupos à reflexão e à ação, desenvolvendo seu poder de organização e intervenção na

realidade. O estímulo à reflexão e ao diálogo é o princípio fundamental de todo o

processo.

Apresentaram-se todos os resultados da investigação aos grupos já existentes ou

criados na comunidade, num primeiro momento. Num segundo momento, através de

novas reuniões, se estabelece uma ordem de prioridade dos problemas. Prioritário é

aquele problema que está ligado diretamente ao grupo inserido na pesquisa. O grupo de

34 Utilizou-se o pacote estatístico SPSS (Statistical Package Social Sciences).

Page 259: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

259

esporte tratou, especificamente, das questões do esporte local, sem deixar, entretanto, de

conhecer as demais questões.

Aprofundam-se as análises dos problemas mais expressivos,

quantitativamente, em pelo menos uma reunião. Daí, discutem-se as tarefas urgentes a

serem encaminhadas. Com quatro grupos chega-se a elaborar um documento contendo

as propostas, ratificado posteriormente em nova reunião do grupo. Após aprovado, é

encaminhado às autoridades competentes do município, através de encontro entre essas

autoridades e os grupos. Em seguida divulga-se o documento junto à comunidade.

e) Avaliação - avaliação está presente no decorrer de todas as etapas do processo, desde

os contatos iniciais até o final das atividades. Este trabalho também passa pela

avaliação global de todo o processo, no que se refere à capacidade dos grupos de

responder aos problemas concretos da vida diária. Finalmente, o documento

resultante deste trabalho retorna aos grupos envolvidos no processo.

A comunidade

A dominação desenvolve sua cultura própria. Sua reprodução, entretanto,

insere-se nas próprias relações imperialistas. Da mesma forma que essas relações

adquirem especificidade, em cada pólo dominador e em cada pólo dominado, bem como

em cada momento histórico, também vão gerando elementos culturais próprios. Como

são relações específicas, vão produzindo e reproduzindo formas culturais específicas.

Valores tais como promoção da eficácia, competitividade, lucro

empresarial, salário como o preço justo da força de trabalho, ou ainda, a ideia de que o

modelo europeu constitui o padrão da civilização ocidental para as sociedades

subdesenvolvidas, são veiculadas às populações. Estes são os constituintes da cultura de

dominação. Uma cultura que a dominação impõe às sociedades chamadas

subdesenvolvidas ou dependentes.

Para KOWARICK (1974: 34), vários são os conceitos ou significados

apresentados sobre dependência. Porém, ideias básicas já estão definidas e são

consensuais aos estudiosos do assunto. Por exemplo, as ideias que consideram os

fatores externos provenientes de ações originadas nas sociedades centrais e aquelas que

Page 260: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

260

equacionam a questão a partir das ligações que aparecem no quadro das relações entre

países, salientando o domínio de um sobre o outro.

Portanto, a abordagem de dependência apenas como dominação externa

não é a única. Há também um tipo de análise que apresenta o pólo interno de forma

dinâmica. Mas, mesmo assim, nada impede que autores deem ênfase à relação de

dependência entre os pólos hegemônicos (centrais) e periféricos. Outros centram o

estudo nas relações de produção, políticas, sociais e culturais no interior da nação

subdesenvolvida. Não são abordadas neste trabalho as divergências entre vários

enfoques ou significados da dependência. Utilizam-se, todavia, os componentes dessa

dominação nas relações de produção, políticas e sociais com ênfase nos aspectos

culturais. Partindo da dimensão municipal, buscam-se aspectos que caracterizam a

dependência da região nas relações citadas de produção, políticas, bem como nos

aspectos culturais.

A teoria da dependência tem buscado explicações de caráter global, não

só em relação às etapas por que passaram as formações sociais latino-americanas, mas

também quanto ao futuro dessas sociedades. Em outras palavras, de posse da análise dos

fatores políticos, sociológicos, econômicos e culturais, examina as relações dos “países

periféricos” com os “países centrais”. Nesse aspecto, SANTOS (1976: 126) caracteriza

a dependência como situação condicionante:

Um certo grupo de países tem a própria economia condicionada pelo

desenvolvimento e expansão de outra economia. A relação da interdependência

entre duas ou mais economias e entre estas e o comércio mundial, toma forma

de dependência quando alguns países (os dominantes) podem expandir-se e

auto-impulsionar-se, enquanto outros (os dependentes) só podem fazê-lo como

reflexo daquela expansão... .

Nessa relação entre dominantes e dependentes, os primeiros detêm o

domínio tecnológico, comercial e sócio-político e impõem as condições de exploração

sobre os “países periféricos” ou dependentes. Porém, sendo a dependência apresentada

como situação condicionante e entendida esta situação como determinadora de limites

de ação, o autor mostra que a situação não é condicionante de forma definitiva, em dois

aspectos. O primeiro diz respeito às situações concretas do desenvolvimento que são

formadas pelas condições gerais de dependência, bem como pelas especificidades da

situação condicionada. A condição geral está, então, delimitada por essas condições. O

Page 261: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

261

outro aspecto é que a situação de dependência pode mudar, “e muda de fato pela

mudança das estruturas hegemônicas como dos dependentes” (ibid.: 126).

Observando estes dois aspectos, FRANK (1976: 26) alerta para a

ignorância sobre os países subdesenvolvidos que leva autores a acreditar na repetição

histórica dos países desenvolvidos. Para ele, “a conseqüência é que a maior parte das

teorias não consegue explicar a estrutura e o desenvolvimento capitalista”. Já para

COHEN (1976: 48), a teoria mais convincente é a tradicional, enfocada por LENINE

(1982: 87), que apresenta o desenvolvimento atual do capitalismo como resultante da

fusão do capital dos grandes bancos monopolistas com o capital de grupos de

industriais, também monopolistas. Por outro lado, mostra a contínua divisão do mundo

como sendo a transição da política colonial que vai se estendendo sem obstáculos

àquelas regiões não apropriadas por outras potências capitalistas. Para LENINE (ibid.:

87), esta é a fase do máximo desenvolvimento do capitalismo, a fase monopolista.

Nessa fase, a dependência alicerça-se mais ainda não só pelas

exportações de mercadorias ou produtos industriais, mas também pela exportação do

próprio capital aos países dependentes. Ela surge agora com objetivos de máximo lucro

na forma de ajuda econômica, mas cobrando seus juros na extração das riquezas. Para

HARNECKER (1980: 25), esses países centrais “conseguem controlar o mercado,

vencendo facilmente a concorrência nas pequenas indústrias nacionais, além de

aproveitarem dos recursos estatais em que esses países destinam o seu

desenvolvimento”. Mas as negociações econômicas, por si sós, não são suficientes para

manter a extração dessas riquezas. O capital emprestado, em si, não é a sustentação para

o recebimento dos juros. Para isto, os acordos econômicos e empréstimos, as mais das

vezes, são antecipados por tratados ou acordos militares. Fica, então, assegurada não só

a dominação gerada pelo capital, mas também a dependência política do país periférico.

Uma questão, entretanto, acredita-se fundamental. Como caracterizar a

dependência? Para FERNANDES (1975: 31), toda essa análise passa pela

caracterização das relações de produção sob o capitalismo e elaborada por Marx.

Acrescenta que os conceitos utilizados por Marx demonstram, conclusivamente, que a

organização capitalista das relações de produção condiciona, morfológica, funcional e

geneticamente, os processos de estratificação social geradores da sociedade de classes.

Dessa forma, torna a apropriação privada dos meios de produção e a mercantilização do

trabalho faces de uma mesma moeda. Ao nível estrutural, sua explicação torna-se

Page 262: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

262

também válida para as sociedades capitalistas desenvolvidas, subdesenvolvidas ou em

processo de transição.

O autor também entende que seja necessário fazer-se uma adequação da

contribuição de Marx no que diz respeito às condições, fatores e efeitos na formação e

desenvolvimento da estrutura básica do pólo dominador e às classes sociais nas

sociedades dependentes ou subdesenvolvidas. Essa adequação pode se dar em três

aspectos: o primeiro referente à teoria da acumulação capitalista; o segundo relacionado

à teoria da mercantilização do trabalho; e o terceiro voltado às contradições entre as

forças produtivas e as formas de organização da produção capitalista.

A teoria da acumulação capitalista, mesmo sem apresentar as mesmas

condições, é perfeitamente aplicável às sociedades subdesenvolvidas. Aqui, ressaltem-

se as proporções, os significados e as funções de acumulação de capital. As sociedades

subdesenvolvidas capitalistas não se apresentam, hoje, com todos os mecanismos, como

a pilhagem da fase inicial da acumulação do capital. Não estão submetidas à destruição

de suas estruturas econômicas e sociais arcaicas, mas adquirem formas de mudanças

internas e até aceleradas. Isto se dá tanto no âmbito da economia rural como da

economia urbana. Tal economia passa rapidamente do capitalismo financeiro,

comercial, ao capitalismo industrial. Essa transição se dá nos países subdesenvolvidos

impulsionados pela sua inclusão no mercado mundial. Com isto, ocorreram as

transferências de capitais, técnicas e instituições econômicas.

Já no sistema agrícola não ocorre nenhuma transformação radical, pois

este acompanha o desempenho superior do capitalismo no setor urbano com negócios

de exportação35

e com suas estruturas e técnicas econômicas superadas. Todo processo

de modernização vem sendo orientado, entretanto, a partir de fora. Neste contexto, se

vai definindo toda uma situação de capitalismo dependente, capitalismo instável e

controlado externamente.

O outro aspecto se refere à mercantilização do trabalho à entrada do capitalismo

dependente do mercado mundial, significando participação do mercado de trabalho

externo. Esta participação não se dá como no início da modernização, pois o nível de

ocupação e serviços exige certa especialização e relevo. Essas sociedades

subdesenvolvidas têm de avançar bastante para construírem um autêntico mercado de

trabalho interno. A extinção do sistema colonial e a emancipação nacional pouco

35 Áreas do campo tornam-se ricas e prósperas participando dos ciclos econômicos voltados ao comércio exterior.

Page 263: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

263

contribuíram para a implantação do “trabalho livre” cujo vendedor fosse o próprio

produtor. As determinações capitalistas que sustentam entre si os donos dos meios de

produção e os assalariados não ficam delineadas claramente36

. Dessa forma, a

mercantilização do trabalho evoluiu de maneira lenta e precária. Sua universalização

não chega a incentivar um mercado especial, integrado regional ou nacionalmente. Isto

resulta em algo também específico no nível da evolução da mercantilização do trabalho

nas sociedades subdesenvolvidas.

O outro ponto que merece considerações é o que diz respeito às

contradições entre as forças produtivas e as formas de organização da produção

capitalista. Essas contradições fornecem a chave para se entender todo o crescimento

contínuo do sistema de produção capitalista. Sua destruição depende de condições

estruturais e dinâmicas que, no capitalismo dependente, não chegam a fomentar a

expansão das forças de produção. Por outro lado, a parte autônoma do processo de

acumulação capitalista (o montante de capital nacional) termina sendo insuficiente tanto

para a expansão das forças produtivas existentes como para a organização da produção.

Até aqui, tentou-se analisar o fenômeno de dependência em sua forma global. Convém-

se analisar a maneira como esse fenômeno se expressa no município pesquisado.

COLÔNIA LEOPOLDINA

Histórico

O primeiro núcleo gerador da cidade de Colônia Leopoldina pode ter surgido

com a interiorização dos grupos vencidos nas lutas armadas da Província de

Pernambuco, entre o início e meados do século passado. O embrenhamento desses

grupos pelo interior fez com que o Governo Imperial criasse uma Colônia Militar, com

função de proteger a região contra o ingresso de grupos armados. Essa Colônia Militar

tem a incumbência de combater os participantes das revoltas da “Abrilada” e da

36 Para FERNANDES (1975), um penoso e longo hiato separou o primeiro ato de modernização, com o aparecimento

do Estado Nacional bem como a montagem de economia de mercado, e o período em que a própria expansão

interna do capitalismo comercial e o financeiro fez pressão sobre a diferenciação da produção e organização do

mercado.

Page 264: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

264

“Cabanada” que duraram de 1832 a 1835, sendo palco tanto a Província de Pernambuco

como a de Alagoas. Nesta sua posição de defesa “houve por bem, o Imperador D.

Pedro II, com o Decreto no 729, de 09 de Novembro de 1850, criar a Colônia Militar”

(SILVA, 1983: 36). Efetivamente, só a partir de 1852, com a instalação da Colônia

Militar, se dá o povoamento do lugar.

Em 05 de janeiro de 1860, D. Pedro II visita a Colônia Militar, sendo este um

ponto alto da memória do povo leopoldinense. Em 1901, a povoação é elevada à

categoria de vila e, em 1922, é instalada definitivamente a Comarca, passando, em 20 de

junho de 1923, à categoria de cidade, desmembrando-se do município de Porto Calvo.

É, hoje, Colônia Leopoldina.

Os três poderes públicos se fazem representar na cidade e como sede da

Comarca comporta o Judiciário, Executivo e Legislativo.

Aspectos geográficos

O município de Colônia Leopoldina situa-se no extremo nordeste do

Estado de Alagoas, na região da Mata alagoana. Limita-se ao norte com o Estado de

Pernambuco, ao sul com o Município de Joaquim Gomes, a leste com o Município de

Novo Lino e a oeste pelo Município de Ibateguara. Abrange uma área de 314 km2,

constituída de um único distrito, a sede municipal. É limitado com Pernambuco pelo

Rio Jacuípe, que orienta o povoamento da região. Às suas margens, localizam-se uma

usina de açúcar e uma destilaria de álcool.

O clima local é o predominante na Zona da Mata, tropical-chuvoso,

quente no verão e frio-úmido no inverno. Como na região, o período de estiagem vai de

outubro a abril, oscilando a temperatura entre a máxima de 37oC e mínima de 18

oC,

com uma umidade relativa em torno de 70%. A fertilidade do solo apresenta alternativas

agrícolas ao município. Porém, quase toda a vegetação nativa está sendo destruída pelo

avanço do cultivo da cana. Sua madeira continua sendo enviada aos pólos mais

desenvolvidos, sobretudo para a cidade de Campina Grande, na Paraíba.

No município apresentam-se os seguintes tipos de vegetais classificados

em culturas permanentes e temporárias: a) culturas permanentes: goiaba, laranja, manga e

jaca; b) culturas temporárias: cana-de-açúcar, banana, milho, inhame, mandioca e batata

doce. Grande parte dessas culturas, sobretudo as permanentes, pouco contribui para a

Page 265: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

265

economia local, constituindo-se em “plantações de quintais”. A densidade populacional

do município é inferior à da Mata alagoana e à do Estado, representando atualmente 4,4%

da população da microregião homogênea (116) a que pertence.

TABELA 1

Município de Colônia Leopoldina: população residente – 1980

Pop.

Total

(residen

te)

Hom

ens

Mulhe

res

Pop. Urb.

Sede Mun.

Pop.

rural

Densidade

dem.

(Hab/Km2)

14.960 7.602 7.358 6.950 8.010 47,61

Fonte: IBGE (Sinopse preliminar do censo demográfico) Alagoas 1980.

TABELA 2

População do município de Colônia Leopoldina, da micro-região no 116, e do Estado

REGIÕES POPULAÇÃO

TOTAL URBANA RURAL

Colônia

Leopoldina

14.960 6.950 8.010

Micro-

região – 116

340.988 115.142 225.846

Alagoas 2.011.875 995.344 1.016.531

Fonte: IBGE (Sinopse reliminar do censo demográfico) Alagoas 1980.

Mobilidade da população

O deslocamento da população residente no campo para a cidade, também

se observa aqui. De quase dois terços da população que residia no campo em 1970, este

percentual está reduzido, em 1980, a 50%, praticamente.

Page 266: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

266

TABELA 3

Município de Colônia Leopoldina: distribuição urbana e rural da população recenseada

1970 1980

No habitante % N

o

habitante

%

Urbana

Rural

4.784

7.917

37,66

62,34

7.037

8.093

46,51

53,49

TOTAL 12.701 100 15.130 100

Fonte: IBGE (Sinopse preliminar do censo demográfico) Alagoas 1980.

Uma característica fundamental é que esse deslocamento não alterou, no geral, a

atividade que tinha cada pessoa, pois mantém a atividade agrícola, embora residindo na

sede do município.

Segue-se uma série de tabelas, resultantes do levantamento feito na comunidade,

pelos grupos de trabalho, durante o processo de pesquisa, e cujas atividades serão

apresentadas em itens posteriores.

TABELA 4

Tempo de moradia na cidade37

(em anos)

ANOS %

Até 10 33,6

Entre 10-20 21,4

Entre 20-30 20,0

Acima de 30 25,0

TOTAL 100,0

Observa-se que o maior percentual dessas pessoas se encontra no setor mais

pobre da cidade (Ruas da Titara e Mangueira), num total de 23,1%. Esse descolamento

pode estar relacionado à situação de vida dos entrevistados e, portanto, à busca de

estabilidade que pode se expressar na posse da propriedade, aqui na região do

37 Dados coletados na comunidade, no período de dezembro de 1982 a janeiro de 1983.

Page 267: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

267

latifúndio. Mas, com base na consulta feita sobre por que o respondente vinha para a

cidade, apresentam-se os seguintes motivos:

TABELA 5

Motivo de deslocamento para a cidade

MOTIVOS %

Busca de outro emprego 16,0

Saúde 12,4

Educação 10,0

Casamento 4,6

Não respondeu 43,0

Outros 14,0

TOTAL 100,0

Pode-se observar que três interesses deslocam os habitantes do campo:

saúde, educação e novo emprego, registrando-se que quase a metade dos entrevistados

não sabe por que veio para a cidade. Entretanto, esta questão pode se inserir no avanço

do capitalismo no campo, com seu avanço tecnológico e de insumos para a agricultura.

A limpeza da cana, por exemplo, não é feita mais de enxada como antigamente, mas

com herbicidas. Entretanto, pergunta-se: o emprego, a saúde e a educação encontrados

na cidade têm atendido as suas expectativas? A solução ao desemprego apresentada pela

comunidade é vaga:

Page 268: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

268

TABELA 6

Solução para o desemprego

%

Indústria de papel 18,6

Indústria de doce 3,6

Novas indústrias 32,9

Outros 3,6

Não sabe 26,4

Não respondeu 10,0

TOTAL 100,0

Estas respostas são desvinculadas da realidade local e decorrem apenas

das propostas de campanhas eleitorais dos políticos do local.

Economia

O município é agrícola e a cana-de-açúcar representa a maior atividade

econômica; a indústria está ligada à produção canavieira. O avanço agrícola prende-se à

qualidade do solo (massapê) facilitando o cultivo da cana. Porém, grande limitação lhe é

imposta pela pouca área existente em condições de mecanização. Portanto, o plantio e a

colheita estão ligados diretamente à força braçal. Aqui, a exemplo de toda a região, há

predomínio de latifúndio dedicado a essa monocultura.

TABELA 7

Município de Colônia Leopoldina: distribuição de terras segundo grupos de área

IMÓVEIS ÁREA

OCUPADA

Page 269: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

269

Grupos de áreas

(ha)

No

absoluto

% No

absoluto

%

0 - 50 208 76,76 2.961 15,46

50 – 100 24 8,86 1.542 8,27

100 – 500 26 9,59 4.942 21,15

500 – 1000 11 4,05 7.348 39,42

1000 – 2000 2 0,73 2.945 15,80

TOTAL 271 100,00 18.637 100,0

0

Fonte: IBGE – censo agropecuário de Alagoas – 1975

É marcante, ainda hoje, o avanço histórico da cana-de-açúcar nos nomes

das propriedades chamadas engenhos, que são o sustentáculo da produção açucareira e

que mantêm seus nomes, mesmo estando a cana-de-açúcar totalmente industrializada na

área. O aumento da produtividade das unidades de produção é exigência do mercado.

Faz-se urgente a adequação a novo padrão tecnológico e, consequentemente, ao uso de

instrumentos mecanizados. Dessa forma, o produtor hoje, cada vez mais, está à mercê

dos empréstimos que conduzem a integração de produtos ao consumo daqueles

instrumentos mecanizados; e isto contribui para o fomento dos outros setores industriais

que produzem esses instrumentos. Mas o acesso aos instrumentos tecnológicos não está

aberto a todos os produtores. Sua utilização implica a condição de posse de fatores de

produção para assegurar a hipoteca, conforme mostra NEVES (1981: 38):

Este processo de mecanização das atividades agrícolas intensificou a ruptura

dos antigos mecanismos da ampliação dos recursos financeiros como

diminuição das lavouras de subsistência, que possibilitavam o controle da

reprodução física e social da unidade familiar sob menos dependência do

mercado.

Mesmo que haja uma baixa utilização dos instrumentos mecanizados

devido a acidentes de terreno, hoje a agricultura utiliza-se de insumos (adubos,

fertilizantes e agrotóxicos) na terra, integrando-se ao circuito da reprodução do capital

industrial. A utilização desses produtos não só integra o circuito do capital das empresas

industriais atuantes na transformação da matéria-prima por eles comercializada, como

Page 270: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

270

outros setores industriais ligados à produção daqueles instrumentos e insumos. Assim, a

economia municipal torna-se vulnerável a agentes externos, isto é, às flutuações do

mercado mundial do açúcar e da tecnologia dos insumos de plantio e colheita.

O cultivo da cana-de-açúcar ocupa 75,49% da área produtiva do município

(Tabela 1 Anexo 1). Portanto, apenas esse produto sobressai-se naquela área deixando

os demais produtos em um nível inferior à média estatística para os municípios da Zona

da Mata. Dos treze principais produtos agrícolas que são produzidos no Estado e na

Zona da Mata, apenas 5 são extraídos em Colônia Leopoldina. Das culturas

permanentes, salienta-se apenas o cultivo de banana com uma participação do município

para produção da Zona da Mata na ordem de 14,41% (Tabela 2 Anexo 1). Como não há

diversificação da produção agrícola, a população tem que deslocar, de outros centros, os

produtos básicos de alimentação. Este fato também é constatado (Tabelas 3 e 4 no

Anexo 1) no que se refere à contribuição da pecuária para a economia municipal. Para

atender ao consumo de carne, o rebanho bovino é trazido de outros municípios, afetando

negativamente o consumo de todos os seus derivados. Tudo isto só faz contribuir para a

dependência global dessa área.

Comércio varejista (Tabela 5 do Anexo 1)

A feira e o mercado estão no centro da cidade, oferecendo acesso a todos.

Sobrevivem ainda nos “engenhos”38

, os conhecidos “barracões”39

, nos quais as famílias

que residem nas vizinhanças se abastecem. Cria-se, aqui, um sistema de crédito e

dependência simultâneos em que as pessoas dificilmente saldam suas dívidas. Os preços

das mercadorias, nos barracões, também estão bem mais inflacionados.

Um matadouro serve ao município no abate do gado para consumo. Suas

instalações carecem de reformas, como necessário também se faz um rigoroso exame

prévio nos animais que serão abatidos. O abate se dá aos sábados e a feira acontece no

domingo. Mercado, matadouro e feira são administrados pela Prefeitura.

38 Não há mais engenhos na Zona da Cana, foram substituídos pelas usinas, mas sobrevivem seus antigos nomes nas

propriedades.

39 Espécie de armazém que já pertencera aos donos dos engenhos, mas que hoje é arrendado a terceiros. Sua função

sempre foi de fornecer gêneros alimentícios aos moradores a preço superior ao do comércio, mas a crédito.

Page 271: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

271

Os gêneros alimentícios consumidos, tais como charque, leite em pó, macarrão,

milho e manteiga vêm de outros municípios do Estado, sobretudo de Maceió. Vêm

também de Palmares ou Caruaru, em Pernambuco. Com relação ao custo de vida, pode-

se afirmar que cada município dessa região funciona como um “grande barracão”, pois

o “custo de vida está superior até mesmo ao da capital”. O comércio varejista também é

saída para muitos que conseguem uma pequena quantidade de dinheiro e com algumas

garrafas conseguem montar uma bodega, driblar o desemprego e assim, “dar um jeito”

de sobreviver.

FRANK (1976) insere toda esta situação de dependência contextualizada na

integração histórica do processo de desenvolvimento capitalista mundial. Direciona sua

explicação ao fator concentrador em um único produto de exportação. Com relação à

posse dos meios de produção acrescenta:

Está muito concentrada em poucas mãos (...) negando deste modo a grandes

parcelas da população o acesso aos meios de produção e fontes de subsistência

que não está na indústria produtiva para exportação, nem diretamente

relacionada a ela, e onde são obrigados a trabalhar por salários muito baixos

quando não em regime de escravidão total (1980: 30).

Mesmo, internamente, as regiões como o Nordeste, Minas Gerais, Norte

e também Centro-Sul converteram-se em regiões exportadoras de um único produto,

incorporando-se à estrutura de desenvolvimento do sistema capitalista. FRANK (1976:

30) sustenta que o próprio desenvolvimento de São Paulo não gerou maior riqueza para

as demais regiões do país. Converte em “satélites coloniais internos, descapitalizando-

se ainda mais, e consolidou ou até aumentou o seu subdesenvolvimento” . Também

para o autor, o subdesenvolvimento dos países periféricos ou satelitizados está inserido

no processo histórico de desenvolvimento do capitalismo. Em especial, a região

nordestina parece comprovar uma das hipóteses do autor, segundo a qual as regiões que

hoje são as mais subdesenvolvidas e aparentemente feudais são as que estiveram mais

ligadas às metrópoles.

Educação

A educação é conduzida por três entidades. O antigo primário ou o ensino

de 1o grau, séries iniciais, está sob a responsabilidade tanto do Estado, que tem um grupo

Page 272: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

272

escolar, como do município, que tem um outro grupo na rede municipal e várias vagas. As

séries finais do 1o grau (5

a a 8

a séries) e o 2

o grau (Magistério) são de responsabilidade da

Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC. Mesmo assim, o ensino de 2o

grau encerrou suas atividades em 1979, com os cursos de Magistério e Contabilidade. Só

em 1982 foi reaberto o Curso de Magistério, funcionando somente com a 1a e 2

a séries.

Contudo, a 2a série funcionou no 1

o semestre daquele ano, sem grade curricular definida,

em função da carência de professores. O alunado, de uma maneira geral, dispõe de bolsa

de estudo tendo, entretanto, que pagar uma complementação, pois as bolsas não cobrem o

total das mensalidades. Porém, mesmo o pagamento da complementação é empecilho ao

prosseguimento do curso do jovem leopoldinense em função de suas condições

econômicas adversas.

Adiciona-se a esse problema econômico o descrédito à escola que há no

município. Inicia-se, então, a prática de deslocamento de jovens para os municípios

vizinhos: Palmares e Novo Lino. Hoje, esse processo adquire conotação de política

partidária, contribuindo o poder público local para essa situação da estrutura escolar. A

própria população não acredita na qualidade do ensino. Quando perguntada sobre as

escolas e o colégio, as opiniões são as seguintes:

TABELA 8

Opinião da comunidade sobre as escolas

%

É boa 20,0

Não é boa 61,4

Não sabe 12,1

Não respondeu 6,4

TOTAL 100,0

A comunidade talvez não perceba que as contradições da escola podem

manifestar-se na sua ineficiência de conteúdo, expressas no desencontro entre conteúdo

urbano e conteúdo rural. Há, entretanto, um conjunto de contradições para a comunidade

que, de forma muito simples, sintetiza: “os meninos não sabem nada”. Existe solução para

esta realidade? A comunidade também responde da seguinte forma:

Page 273: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

273

TABELA 9

Soluções apresentadas para a escola

%

Construir mais escolas 11,4

Escolas de graça 10,0

Bons professores (conteúdo) 27,9

Aprova escola 11,4

Não sabe 12,9

Não respondeu 17,9

TOTAL 100,0

Vê-se que a comunidade tem suas propostas para a escola. Assumir estas

propostas se faz necessário. Observa-se ainda um nível de escolaridade dos moradores

da comunidade, bastante baixo, encontrando-se 65,5% dos pais e 60,4% das mães em

um estágio de apenas saber assinar o nome. Todavia, o significado desses números

surge com mais evidência e preocupação quando se vê que 74,1% das famílias não têm

alguém que pelo menos concluiu o primeiro grau. Em relação ao segundo grau, esse

índice sobe para 82,7%. Buscou-se, por fim, colher informações sobre a possibilidade

de se aprender mesmo já adulto, tendo 65% respondido afirmativamente. Mas aprender

o quê?

TABELA 10

Opções para estudar – escolha dos adultos

%

Ser motorista 3,6

Continuar estudos 17,9

Enfermagem 0,7

Page 274: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

274

Mecânica 2,1

Ler, escrever e contar 25,0

Desenvolver comércio 1,4

Buscar cultura 5,7

Costurar ou bordar 4,3

Nada mais quer aprender 12,1

Não respondeu 13,6

Outros 13,6

TOTAL 100,0

Essa população pensa continuar seus estudos, quer iniciar aprendendo a

ler e escrever, porém suas aspirações parecem bloqueadas pelo próprio esquema

educacional que predomina na comunidade. A única opção é o MOBRAL, mas muitos

expressam seu descrédito para com essa modalidade de ensino. Mesmo sem se ter

percentuais desses números na análise, em possíveis trabalhos futuros, esses aspectos

devem ser levados em consideração para servir, pelo menos, como início de reflexão.

Os motivos para aprender não estão muito claros nas mentes dos

entrevistados já que 40% não responderam nem discutiram a questão, enquanto 26,4%

afirmaram simplesmente que têm necessidade de continuar; 9,3% afirmaram que já

atuavam naquele setor de trabalho. Sobre o que poderiam ensinar num tipo de escola em

que todos aprendessem conjuntamente, registram-se as seguintes informações:

TABELA 11

Atividades que os consultados na pesquisa podem ensinar

%

Comércio 2,9

Costurar 9,3

Eletricidade 0,7

Page 275: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

275

Alfabetizar 18,6

Dirigir automóvel 4,3

Práticas do campo 7,1

Não sabe 16,4

Não respondeu 20,7

Outros 20,0

TOTAL 100,0

Nesse item do questionário, discute-se a ideia de que cada pessoa pode

ensinar algo a outro. A discussão que este tema gera parece confundir a percepção do

grupo que tem uma visão tradicional de professor. Muitos simplesmente não

responderam. Uma prática educativa talvez os convenceria. Outro aspecto é o fato de

que 18,6% se sentem com condições de alfabetizar.

Há, portanto, uma dependência caracterizada, primeiramente, pela falta

de uma escola adequada à região e também por terem que submeter-se, para

alfabetização, a uma única metodologia que alguns não mais aceitam: a do MOBRAL.

Enquanto isso, a escola vai mantendo o seu papel de defensora de uma pequena parcela

daqueles que vão a outras localidades. Esse papel seletivo vem existindo desde a época

colonial. Analisando o sistema educacional da América Latina, e em particular o do

Brasil, CARNOY (1978) constata que a educação escolar, já na época colonial, atendia

apenas a uma minoria para desempenhar funções profissionais. Com a independência,

os liberais da América Latina introduzem algumas reformas, todas copiadas da

Inglaterra ou da França. Mesmo com as reformas, pouco se mudou no sistema

educacional. De um lado, não se efetiva mudança, porque as estruturas econômicas são

mantidas; por outro, as próprias elites resistem.

O autor mostra que a expansão - que mesmo com todos esses problemas

ocorreu - estava dirigida para introduzir os indivíduos dos grupos marginais, sem escola

até então, para participar no setor moderno da economia como consumidores do

excedente gerado pelo comércio de exportação. Esta é a solução encontrada pelos países

industrializados para manter a sua ordem social transportada para a América Latina.

Page 276: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

276

Ainda assim, é limitadíssimo o acesso à escola secundária e superior, com o alunado

muito tendente para o lado das crianças ricas. As camadas dominante e média são as

fornecedoras da elite intelectual brasileira. Acrescente-se que a expansão da instrução

primária é pequena e determinada pela economia dependente, pelo seu setor de

exportação e por um sistema todo organizado para satisfazer às necessidades de

consumo de pequenos grupos dos centros urbanos e das metrópoles. Não há

mobilização para que a massa de negros, brancos, pobres e mestiços possa se incorporar

a esse mercado. Assim, esta participação fica limitada pela própria estrutura dependente.

Ainda para o autor, a dependência na educação já é marcante. Escolas

Alemães (1890 – 1920) encerram suas atividades, mas é tolerada a influência da escola

Norte-Americana. As escolas normais são organizadas segundo o modelo de

Massachussetts e financiadas pelos Estados Unidos. O Mackenzie College, a escola de

agricultura de Viçosa (Minas Gerais) e escolas profissionais para mulheres, no Rio e em

São Paulo, são financiadas e seguem normas americanas.

Já no Estado Novo (1937) se implanta um maior controle sobre a

sociedade civil. Elabora-se um Plano Nacional de Educação. Este, entre outras normas,

dispõe que é obrigação das indústrias e dos sindicatos criarem suas escolas de

aprendizagem para filhos de empregados.

Para TORINO (1982: 41), “a política educacional do Estado Novo não

se limita à simples legislação e sua implantação. Visa, acima de tudo, transformar o

sistema educacional em um instrumento mais eficaz de manipulação das classes

subalternas”. Está formalmente implantada a dualidade do ensino, um ensino dirigido

para as classes dominantes e outro para as classes dominadas.

Saúde

Os serviços de saúde também apresentam deficiências. Até 1979, o

atendimento era feito por um único posto de saúde e um enfermeiro. Hoje, o município

já dispõe de um hospital com cinco médicos, dois deles residentes. Mesmo assim, os

tratamentos que exigem uma aparelhagem mais sofisticada, que não a que o médico

normalmente utiliza, são feitos em Palmares ou Maceió. No município não há clínica

médica particular e, apenas, um odontólogo atende, duas vezes por semana, na

Associação de Plantadores de Cana no município, entidade com sede em Maceió. A

assistência odontológica é feita também no Sindicato Rural, porém, a um reduzido

Page 277: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

277

grupo de trabalhadores que sabe desse serviço, dada a pouca divulgação do Sindicato.

Nas escolas, estes serviços inexistem, como inexiste também laboratório de análises

clínicas.

Consultada sobre os tipos de doença que as crianças apresentam, a

comunidade respondeu o seguinte:

TABELA 12

Doenças que mais afetam as crianças

%

Verme 45,7

Disenteria 8,7

Feridas 0,7

Paralisia 0,7

Gripe 17,1

Bronquite-tosse 5,0

Não sabe 7,1

Não respondeu 3,6

Outros 11,4

TOTAL 100,0

Não há perspectiva de mudança no quadro da saúde. Não se tem plano de

saúde, nada se conhece. Assim, só com a existência de um quadro de médicos, uma boa

parcela da população acredita no atendimento do hospital, como demonstra a tabela a

seguir:

Page 278: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

278

TABELA 13

Atendimento médico local

%

Bom 46,6

Ruim 18,6

Regular 25,7

Não sabe 3,6

Não respondeu 5,7

TOTAL 100,0

Mas, a comunidade sabe como melhorar o quadro da saúde e apresenta as

seguintes sugestões:

TABELA 14

Sugestões para melhoria da saúde

% Mais médico 15,0 Especialista 5,0

Qualificar enfermeira 12,1 Aumentar atendimento 4,3

Mais equipamento 13,6 Falando com os “homens” 1,4

Conscientizar Pes. (do hospital 5,0 Acabar politicagem 2,9

Não sabe 9,3 Não respondeu 22,1

Outros 9,3 TOTAL 100,00

A efetivação de algumas dessas propostas apresentadas exige um

trabalho de organização dos que atuam no setor.

Page 279: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

279

Família, emprego e profissão

A família leopoldinense tem em média cinco dependentes, sendo que

52,8% são dependentes menores de sete anos. A situação de emprego, em plena época

do verão, tempo da colheita, é a seguinte:

TABELA 15

Situação empregatícia do(a) chefe da família

%

Empregado 51,4

Eventual 33,6

Aposentado 8,6

Falecido 6,4

TOTAL 100,0

Normalmente, o pai assume todos os dependentes, já que apenas 30% das

famílias têm mais alguém que contribui para as despesas. A mãe, no verão, também

passa a ajudar no sustento da família, mas normalmente, está em casa.

TABELA 16

Situação empregatícia da mãe de família

%

Empregada 9,3

Eventual 8,6

Desempregada 0,7

Do lar 72,9

Falecido 3,6

Aposentado 5,0

TOTAL 100,0

Page 280: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

280

Entre as profissões dos responsáveis pela família, apresenta-se a seguinte

discriminação:

TABELA 17

Profissão do chefe da família

%

Agricultores 26,5

Barbeiro 2,9

Comerciante 12,9

Serralheiro 0,7

Pedreiro 10,0

Do lar 2,7

Aposentado 9,3

Outros 35,0

TOTAL 100,0

O número de subempregados, sobretudo na sede municipal, é

considerável, mas o quadro se agrava no período de inverno (abril a agosto), quando o

desemprego atinge o maior número de trabalhadores que vivem do plantio e colheita de

cana. É a época de entre-safra. Esta situação é comum na região e se repete a cada ano.

A tabela a seguir indica como é a vida dessa comunidade no inverno.

TABELA 18

Situação da população no inverno (março a setembro)

%

Muita privação 70,0

Sai para outro lugar 7,1

Igual ao verão 9,3

Page 281: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

281

Não respondeu 12,1

Outros 1,5

TOTAL 100,0

Esta situação de dependência do homem em relação à monocultura torna-se

ainda mais patente. Mas como se situa esse homem em termos de planejamento oficial?

Para planejar a política açucareira, foi criado o Instituto de Açúcar e do Álcool (IAA).

Dentre os órgãos mais importantes, encarregados de Planos de Defesa da Safra, destaca-

se a Divisão dos Estatutos e Planejamentos (Dep), que tem os seguintes objetivos:

a) estudar as questões de ordem econômica e fornecer os elementos necessários à

orientação política agro-industrial canavieira, procedendo para esse fim ao

necessário planejamento;

b) estudar as questões relacionadas com os custos de produção agro-industrial

canavieira e com os preços de venda dos produtos oriundos e sob a alçada do IAA;

c) estudar os problemas relacionados com a política do contingenciamento da produção

açucareira (estabelecimento de critérios para a fixação das quotas de produção);

d) estudar a situação estatística da produção e do comércio de cana, do açúcar, do

álcool, da aguardente, bem como a relativa aos carburantes nacionais e ao transporte

dos produtos referidos.

Observe-se, entretanto, que nenhuma incumbência apresenta, de forma explícita,

qualquer preocupação com o homem da região açucareira. Este, no final, é que sofre

diretamente com as oscilações do mercado de açúcar e do álcool. Analisando as

dificuldades do setor açucareiro, SZMRECSANYI(1979: 433) aponta, além da baixa

produtividade, a pobreza generalizada dos trabalhadores do setor, acrescentando:

O que é pior e mais doloroso, a pobreza mais ou menos generalizada das

classes assalariadas ligadas ao setor, sobretudo em algumas áreas do País, com

graves repercussões de caráter social, algumas vezes mesmo com reflexos

desfavoráveis no conceito que desfrutamos no exterior.

Page 282: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

282

Hoje, novos objetivos são definidos pelo Programa Nacional de Melhoramento

da cana-de-açúcar (Planalsucar). O plantio da cana continua se expandindo alicerçado

nos planos governamentais de criação de mais usinas e destilarias (Pró-Álcool). Busca-

se, através desse programa, obter-se rendimentos agroindustriais expressos em termos

de quilos de cana-de-açúcar por hectare cultivado, rendimentos que são considerados

pouco expressivos nos últimos 40 anos. O homem continua não sendo a preocupação

para a zona canavieira.

Esporte

Sobre a história do esporte local, pouco há registrado a respeito das

possíveis agremiações que existiram, seus fins ou formas de atuação. Segundo

BORGES (1975: 14), um time de futebol foi criado lá pelos idos de 1949, e nada mais

se tem escrito. Existe uma equipe que informalmente está atrelada ao poder público

local. Entretanto, não apresenta qualquer organização do ponto de vista formal, nem

mesmo com um simples regimento interno. Dependente da ajuda do poder público e

esporádicas ajudas do comércio, limita-se apenas a reduzidas partidas de futebol. Além

de existir um único tipo de esporte, o futebol, ele só acontece na época do verão,

período da safra de cana na região. Está, portanto, ligado ao ciclo econômico regional.

Quando, às vezes, surge alguma outra equipe pretendendo se organizar, ela dependente

de A ou B que possui uma bola ou um conjunto de camisas, doação de algum candidato

na época da eleição. Este se torna o dono do time, até que acabem a bola. A equipe está

desfeita; aliás, nunca existiu.

Consultando a comunidade sobre atividades esportivas, 72,1% as acham

necessárias. Porém, sobre a existência dessa prática, 41,4% afirmam que não há; 17,1%

apontam unicamente o futebol e 24,3% ou não sabem ou não responderam a questão.

Mas, quando perguntadas sobre o que fazer para ativar a prática desportiva, as pessoas

responderam da forma indicada na tabela abaixo:

TABELA 19

O que fazer para ativar o esporte

%

Page 283: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

283

Iniciar nas escolas 6,4

Construção de quadras 15,0

Construção de outro campo 7,2

Sem possibilidades 1,4

Não tem propostas 70,0

TOTAL 100,0

Tradições culturais

A tradição cultural local, hoje, padece também da conhecida “indústria cultural”.

A indústria cultural compreende o conjunto de pessoas de produção cultural como

também dos meios de comercialização das mercadorias culturais. Constitui-se de duas

ordens de produtos culturais: uma ordem montada em livros, jornal, rádio, televisão, etc.

Outra que compreende o sistema de comunicação, ensino e propaganda. O município

não está fora desse contexto. Porém, pelo reduzido número de exemplares de jornais

que chegam à cidade, além da ausência de livrarias e bibliotecas, leva-se a concluir que

a ação dessas empresas se efetiva via rádio e televisão. Esses canais de comunicação são

os de Recife e Maceió, sobretudo a Rádio Cultura dos Palmares (Cidade dos Palmares).

A esse respeito, assinala SILVA (1983: 195):

Todo o conjunto de manifestações espontâneas vamos encontrar nas artes e nas

letras em Colônia que em épocas passadas não foram registradas pelo pouco o

nenhum valor dado e também pela falta de incentivo, pois tais coisas não eram e

não são merecedoras de estímulo e reconhecimento, o que é lastimável.

Para GRAMSCI (1979), nas manifestações da vida social e espiritual do

homem comum, há uma riqueza de ver, de pensar e de expressar o que a ciência e a

política desconhecem. Já IANNI (1079: 139) entende a necessidade desse conhecimento

achando, entretanto, que esse povo composto de operários, camponeses e outras

categorias está em processo de extinção. No entanto, afirma:

Page 284: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

284

Vale a pena trabalhar com ele para conhecer como ele é no momento, quais são

as suas maneiras de ser, de pensar, de trabalhar, de criar mas reconhecendo,

preliminarmente, que é uma espécie que está em rápida extinção, por causa do

desenvolvimento das relações do produção do tipo capitalista, por causa do

divórcio acelerado entre trabalhadores e propriedades dos meios de produção.

Nesse sentido, sabe-se que, aproximadamente em 1920, foi criada a

Filarmônica 16 de Julho. Não se sabe exatamente quando acabou. Em 1960, surgiu uma

nova Banda Filarmônica, inexistente hoje. Na arte pirotécnica, destacam-se fogueteiros

com seus famosos balões de Maio e São João - mas esta arte não resistiu. Porém, na

busca de encontrar as manifestações culturais do povo, as fontes mais importantes são o

coco-de-roda; o reizado, os guerreiros; a banda de zabumba São Sebastião e pastoril,

bem como as festas de São João e São Sebastião, nos meses de junho e janeiro,

respectivamente. Em menor expressão, estão as cavalhadas.

Torna-se importante conhecer as formas de expressão popular que ainda

resistem tais como: coco-de-roda ou o coco-de-umbigada, que se dança nas festas

juninas; o pastoril, folguedo natalino que se dança em jornada solta, sem visar uma

sequência, sendo o folguedo de maior expressão também no Estado. Estão,

praticamente, extintos a cavalhada e o reizado, enquanto que há cinco anos que não se

dança os guerreiros. Porém, estas festas, mesmo em processo de extinção, estão na

mente do povo, o qual manifesta o desejo de que elas retornem, como se verá adiante.

Além das festas juninas, destacam-se também as festas natalinas, que não

apresentam organização do povo de forma definida e contínua. Já a festa de São

Sebastião é a mais estruturada delas, sendo atração em toda a região. Sua organização

está a cargo da Igreja Católica, com a participação da Prefeitura.

Mesmo com a invasão da cultura brasileira pela conhecida “indústria

cultural”, o povo ainda mantém resistência a todo este processo. Indagada como vê o

enfraquecimento ou o fim dos seus folguedos populares, a comunidade emitiu as

seguintes opiniões.

TABELA 20

Visão da comunidade sobre o fim dos folguedos

%

Bom se acabar 10,7

Page 285: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

285

Ruim se acabar 70,7

Indiferente 10,7

Não sabe 2,9

Não respondeu 5,0

TOTAL 100,0

Mas a invasão cultural parece ter avançado ainda mais nos setores mais

populares da comunidade. Ora, é nas ruas da Mangueira e Titara onde a preocupação

com o fim dos folguedos está menor, atingindo um percentual de 53,3% dos que

acharam ruim sua extinção, enquanto na comunidade toda o percentual foi de 70,7%.

Mas, se nesse setor registrou-se tal índice, é lá também que se encontram

pessoas mais dispostas a tocar para frente a ideia de reativação dos guerreiros e a formar

um grupo para reativá-los, levando em conta as seguintes propostas:

TABELA 21

Propostas para a reativação dos folguedos

%

Só poder público 10,0

Ensinar novos a dançar 2,1

Reunir interessados 32,9

Não voltar mais 8,6

Não respondeu 25,7

Outros 17,1

Não sabe 3,6

TOTAL 100,0

Page 286: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

286

Portanto, ainda está presente na mente da comunidade a possibilidade da

reorganização desses valores culturais. É necessário que a população se reúna, já que a

reativação das festividades envolve muitas pessoas. Na dança dos guerreiros, por

exemplo, envolvem-se aproximadamente vinte pessoas. Por outro lado, há também uma

parte da população que já não acredita mais na volta desses folguedos, não

respondendo, ou por não acreditar mais em nada, ou ainda por não ver saída nesse

esquema financeiro que se tem hoje.

Há ainda a se registrar o paternalismo dos poderes públicos locais

desenvolvendo a mentalidade de que só o poder público tem força. Se enfraquece,

assim, o poder que o povo unido tem e se fortalece o sistema vigente. Mas, de que

maneira é gerada essa cultura dependente no contexto das sociedades estratificadas?

Estando essa região inserida nas relações capitalistas de dependência, aí também se

situa a dependência cultural. A cultura capitalista, portanto, é elemento importante para

a reprodução dessas relações tanto em escala nacional como internacional. Nas relações

de dominação, a cultura conduz à reprodução de ideias, valores, princípios e doutrinas

dessa dominação. Para PONCE (1981: 165), “a classe que domina materialmente é

também a que domina com a sua moral, a sua educação e as suas ideias.”

O capitalismo, sendo um modo de produção, gera historicamente o

desenvolvimento dessa característica. Esse modo de produção diz respeito não só à

produção material como à produção intelectual. Dessa forma, ambos se inserem no

conjunto global do processo de reprodução das relações capitalistas, e, concluindo-se

que “a produção intelectual é indispensável ao funcionamento e à reposição das

relações do sistema, em escala nacional e mundial” (IANNI, 1979: 13). Segundo o

autor, essa produção intelectual, em sentido lato, torna-se a base da cultura capitalista,

tanto material como espiritual. Assim, no jogo de interesses econômicos, políticos,

militares e outros da burguesia dependente, são transferidos os valores, as ideias

princípios e doutrinas, elementos componentes da ideologia de dominação. Por sua vez,

a ideologia da burguesia dependente tenta sintetizar essas ideias, crenças ou concepções

que caracterizam a cultura da dependência, entendendo-se que esta é fortemente

determinada por aquela. Portanto, as ideias da classe dominante passam a ser as ideias

dominantes num momento, através de todo um processo de ideologização. Nesse

sentido, Marx e Engels, apud IANNI (ibid.: 30), afirmam:

Page 287: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

287

Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, também, uma

consciência, e, portanto, pensam. Na medida em que dominam como classe, e

determinam uma época histórica em toda a sua amplitude, é claro que esse

domínio se exerce em todos os setores de sua classe, donde dominarem também,

entre outras coisas, como pensadores, como produtores de ideias, e regularem a

produção e distribuição de ideias na sua época. As ideias são, portanto, as

ideias dominantes de sua época.

A dominação dos países centrais sobre os países periféricos numa análise

econômica, apresenta-se de certa forma convincente. Determinando a economia do país

dependente, as ideias dos países centrais tornam-se dominantes, sendo defendidas,

sobretudo, pela burguesia do país dependente. Porém, de que maneira surge essa

dominação de uma classe sobre a outra no aspecto da cultura? Para se entender esta

questão, faz-se necessário compreender a cultura no seu significado amplo. PINTO

(1979: 122) considera a cultura como “uma criação do homem, resultante da

complexidade crescente das operações de que esse animal se mostra capaz no trato

com a natureza material e da luta a que se vê obrigado para manter-se em vida”.

Essa capacidade de luta, de resposta à realidade cresceu de intensidade e

qualidade num processo acumulativo. Todo esse conjunto de atos vai sendo transferido

às gerações futuras. Os atos criativos do homem e da cultura são apenas faces de um

mesmo processo, inicialmente uma face orgânica e outra de caráter social. É no

desenvolvimento e aperfeiçoamento de suas qualidades orgânicas que o homem é

levado a transformar sua realidade. Inicialmente se dá de forma inconsciente e depois

conscientemente. PINTO (ibid.: 123) apresenta o seguinte conceito de cultura:

O processo pelo qual o homem acumula as experiências que vai sendo capaz de

realizar, discerne entre elas, fixa as de efeito favorável e, como resultado da

ação exercida, converte em ideias as imagens e lembranças, a princípio coladas

às realidades sensíveis, e depois generalizadas, desse contato incentivo com o

mundo natural.

Daí se conclui que o mundo adquire duas ordens da realidade, provindas

de uma mesma operação de conquista do meio-ambiente: os instrumentos ainda em

estado natural e depois fabricados e as ideias que surgem no pensamento com a

utilização desses instrumentos sobre a natureza. Dessa forma, a cultura vem se constituir

como efeito da relação produtiva do homem sobre a realidade, estando intrinsecamente

ligada ao processo de produção.

Page 288: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

288

Nesta visão, FREIRE (1980: 38) entende cultura como “todo o resultado

da atividade humana, do esforço criador e recriador do homem, do seu trabalho por

transformar e estabelecer relações de diálogo com outros homens” . Todavia, essas

relações de diálogo foram afastadas, já que as riquezas estão nas mãos da classe

dominante e nela se concentra também a cultura espiritual e material. Para LEONTIEV

(1980: 60), as criações dessa cultura parecem até existir para todos, ressalvando, no

entanto, que:

Só uma minoria ínfima tem possibilidades materiais e tempo para satisfazer os

seus anseios de instrução para completar sistematicamente os seus

conhecimentos e dedicar-se às artes, ao mesmo tempo, as massas especialmente

a população rural, devem contentar-se com um mínimo de desenvolvimento

cultural, o mínimo indispensável para que possam realizar, dentro dos limites

traçados para os operários, a atividade profissional e a produção de valores

materiais.

Entendida como resultado também do processo produtivo, a cultura traz

em si a dupla natureza de bem de consumo: enquanto resultado, tornada concreta em

coisas e artefatos e subjetivada em ideias gerais de ação produtiva, e bem de produção,

no sentido de subjugação da realidade pelas ideias gerando simultaneamente nova

capacidade humana. Segundo PINTO (ibid.: 124), trata-se da capacidade de “idealizar

em prospeção os possíveis efeitos de atos a realizar, conceber novos instrumentos e

novas técnicas de exploração do mundo, e criar ideias que significam finalidades para

as ações a empreender”. Portanto, o homem passa a ser ele próprio um bem de

produção, porém de si para si mesmo. É de fundamental importância este conceito de

que “o homem produza cultura por uma necessidade existencial, para se apropriar

dela, pois é por meio dela que chega a postular as finalidades da sua ação” (ibid.:

126).

Mas o que vem ocorrendo historicamente é que um grupo minoritário

assume os bens de produção material e outro corporifica a força de produção

(dependente). Com isso, surgem dois fenômenos: de um lado, o acervo cultural se

constitui, em seu conjunto, de instrumentos de transformação da realidade; e de outro

lado, as máquinas, as ferramentas, técnicas, operações manuais e criação artística e

ideológica que essas operações desenvolvem e as orientam posteriormente. O grupo

minoritário se apropria essencialmente dessa segunda ordem de bens materiais,

entendendo que a primeira já está em suas mãos. Daí todo um enaltecimento dirigido à

Page 289: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

289

posse das ideias e dos produtos dessas ideias da cultura. A primeira ordem de bens

materiais é deslocada para a massa trabalhadora. Cindida está a sociedade em dois

grupos essenciais e que manejam o produto da cultura.

O outro resultado é que os detentores do ideal e subjetivo da cultura se

apoderam também dos produtos da fabricação dos que manipulam os instrumentos

materiais. Mas essa minoria (opressora) vai mais além, chegando a apouderar-se do

próprio homem enquanto tal, em sua qualidade de instrumento produtivo. Esse processo

teve seu auge na escravidão. Assim, tem-se o auge também de dependência individual

em que o homem é transformado em um objeto material e, portanto, desumanizado.

Religiosidade

A religião católica está presente na vida da comunidade desde a instalação da

Colônia Militar. Já naquela época, lança-se a primeira pedra religiosa e hoje permanece

alicerçada na comunidade. A religião protestante também se faz presente, estando os

seus adeptos distribuídos em duas igrejas.

A igreja católica também congrega pessoas em torno de um centro comunitário,

desenvolvendo atividades pastorais. O trabalho organizativo se apresenta indefinido, ao

que parece, pela complexidade da composição social do município. Um grupo de três

freiras desenvolve atividades de assistência em certas épocas do ano, como no Natal,

com a promoção do „Natal do Pobre‟ ou atividades culturais com a mocidade católica.

O grupo de jovens também se apresenta indefinido quanto ao tipo de atividade e à forma

de executá-la junto à comunidade.

Política

Podem-se identificar dois grandes grupos no município: os proprietários de terra,

que são os fornecedores de cana à usina; e o campesinato, os trabalhadores rurais. Há

contradições no próprio grupo de fornecedores, decorrentes da sua diferente situação

financeira. Isto também constitui fator gerador de conflitos. Uns utilizam as vantagens

Page 290: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

290

dos financiamentos, enquanto outros não. Na busca de solução dos conflitos, acionam-

se os interesses político-partidários que deságuam todos nos interesses agrícolas. Já o

campesinato local precisa também ser caracterizado. Nesse sentido PINTO (1981: 74)

apresenta-o não como uma classe homogênea e uniforme. Há nele todo um conjunto

social e complexo, constituído de frações, “cuja especificidade se origina de processo

de desenvolvimento histórico da sociedade, no qual distintos modos de organização da

produção conduzem à diferentes tipos de relações sociais”. Essas frações constituintes

do campesinato não geram, entretanto, antagonismo entre si. Caracterizando-se o

campesinato no município, é possível localizar as frações seguintes: minifundistas ou

pequenos proprietários que tiram o seu próprio sustento da terra, com instrumento

pouco desenvolvido tecnologicamente; arrendatários, que são grupos de camponeses

sem terra; e trabalhadores volantes, que são aqueles que estão em processo de

proletarização e que vendem sua força de trabalho por um salário em dinheiro. Na Zona

da Mata, são chamados “curumba”, caracterizando-se por um salário de subsistência e

estão à mercê da flutuação do mercado de trabalho. No entendimento de SINGER

(1979), a proletarização do trabalhador rural, no Brasil, não tem gerado assalariados

permanentes nas fazendas, mas transformou os colonos posseiros e moradores em

trabalhadores diaristas ou volantes.

Os políticos defendem suas questões pessoais. A preocupação pela solução dos

problemas locais não é externada na prática. A política assume o caráter partidário,

eleitoreiro, passando a ser a geradora de uma prática assistencialista às pessoas e sem

qualquer programa de governo local. Na campanha eleitoral, os políticos investem em

doações de terrenos, tijolos, cimento, areia, sendo nas áreas mais pobres acontecem as

doações e se constroem as casas populares. Dessa forma, mantém-se a estrutura política

de sempre, sustentada pela burguesia rural. Permanecem, ainda, os políticos que são

invariavelmente quatro pessoas que, desde 1950, revezam-se na Prefeitura. A prática de

todos é a mesma, e o clientelismo continua. O período eleitoral, aliás, é a rara

oportunidade para a obtenção de favores, para o transporte gratuito em toda a fase da

eleição, churrascos nos engenhos, enfim, os benefícios que uma campanha eleitoral traz.

Esta começa um ou dois anos antes do esperado: dia 15 de novembro, o dia da votação.

É a fase dos acordos e dos “conchavos”. Passada a fase de registro dos candidatos, está

instalada a campanha. Bailes, comícios, festas de casamento e batizados estão na agenda

e a eles o candidato não pode faltar. Para atender os pedidos de documentos, instalam-

se postos; prometem-se empregos ou viagens. Os candidatos deixam transparecer a

Page 291: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

291

imagem do homem “bondoso” que tem dinheiro. O político sabe da necessidade de estar

junto ao povo e conhece o dizer popular que “o pobre é cativo do agrado”. Ele tem de

agradar no período eleitoral. As visitas de candidato a deputado federal ou estadual são

demonstrações de “força” e “prestígio” políticos junto ao povo.

No dia da eleição, é preciso muito trabalho, cuidado e dinheiro. Nada pode

comprometer tantos esforços. Os transportes estão na rua para deslocar os eleitores até

as urnas. Os eleitores que vêm dos sítios ou engenhos, antes de entrarem na cidade, são

orientados mais um vez. Mas os cuidados não ficam só aí. Para maior segurança,

instalam-se nas “bocas de urna” grupos de três ou quatro elementos para fazerem a

última revisão no eleitor, tirar-lhe as possíveis cédulas de outros candidatos e entregar-

lhe a cédula de seu candidato. Aos mais reticentes, entrega-se a cédula eleitoral e outra

cédula em dinheiro.

O empenho é levado em consideração para os que pretendem atuar na

manipulação das organizações públicas. É um grande investimento. Porém, não basta

apenas estar no poder público e controlar essas organizações. Tratando-se de um

investimento, é necessário ao político ser “habilidoso” para, com manipulações

inteligentes, tirar vantagens e benefícios desse mando sobre a comunidade e também

recuperar seu investimento com as devidas correções monetárias. Se o PDS local tem

apoio e seus dirigentes são os usineiros e altos comerciantes, a oposição local (PMDB),

sem apoio de industriais ou patrões, tem como base alguns comerciantes e alguns

médios plantadores de cana. Essa oposição busca apresentar um estilo político diferente.

Há, entretanto, prática política semelhante ao do PDS, entretanto, em município vizinho

onde a oposição local foi vencedora. Aqui, há, ainda, por parte da população, certa

desconfiança do que apresenta a oposição, já que, em épocas passadas, chegou-se,

inclusive, a fazer comícios no mesmo palanque com a antiga Arena. Mesmo assim, um

grupo de oposição permanece, porém, sem perspectiva de vencer, a curto prazo.

As marcas da campanha eleitoral atingem todos os setores da comunidade, afetando

até mesmo o religioso, que se pretende neutro nessa luta. Após as eleições, o padre falava

que “os fiéis haviam se afastado um pouco das missas do domingo”.

Outros aspectos

No que se refere à habitação, existem atualmente 1.456 domicílios ocupados na

sede municipal. Grande quantidade da população não dispõe de água encanada e alguns

Page 292: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

292

setores da cidade ainda não dispõem de energia elétrica nem iluminação pública.

Naqueles arredores, sobretudo, encontram-se as habitações com piores condições de

moradia, sem água, sem energia, e sem fossa sanitária, sendo, em geral, de taipa40

.

Serviços como abastecimento d‟água são deficientes e inexiste um sistema de esgoto, o

que agrava a saúde coletiva, sobretudo, adas crianças.

Sobre a origem da água de uso doméstico, apresentam-se os índices da tabela

abaixo.

TABELA 22

Origem da água

%

Encanada 57,9

Chafariz 40,0

Cacimbão 9,1

TOTAL 100,0

A água é de qualidade discutível, apesar de ser encanada, já que

raramente existe tratamento. Os reservatórios estão sempre cheios de aruá (caramujos)

portadores de verminoses diversas. Ainda encontram-se cacimbões em quintais por

onde também passam esgotos abertos da cidade. Porém, a maior satisfação é ter água.

Do total de entrevistados, 87,1% declararam-se insatisfeitos por conta da falta d‟água.

As soluções propostas pela comunidade para a solução desse problema são

resumidas na tabela abaixo:

TABELA 23

Soluções da comunidade para a falta d‟água

%

Falar com autoridades 32,9

Fazer tanques 5,7

Reunir todo mundo 12,9

Reunir e não pagar 3,6

40 Moradias construídas de estacas de madeira e ripas que formam um engradado sustentador do barro amassado,

muito comum na zona rural.

Page 293: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

293

Não sabe 10,0

Não respondeu 15,0

Outros 20,0

TOTAL 100,0

Registrou-se um expressivo percentual daqueles que não souberam, ou

não quiseram responder. Sentem muito receio em dar respostas que podem ser

entendidas como críticas às autoridades. Outros propõem até o não pagamento. A forma

de concretizar cada proposta não deixa de ser uma grande dificuldade.

Faz-se necessário também conhecer a que tipo de programa a

comunidade assiste, tanto no rádio como na televisão. Os habitantes assistem,

praticamente na mesma proporção, aos programas de Silvio Santos e novelas: 20,7% e

19,3%, respectivamente. Quanto aos programs de rádio, escuta-se, na Rádio Cultura dos

Palmares, o “combate”, um programa que traz uma mensagem de justiceiro: quem

pratica o mal deve estar na cadeia - quando há alguma crítica, não vai além de crítica ao

delegado de polícia ou mais comumente ao soldado. Esse programa apresenta 29,3% de

audiências e é líder absoluto no seu horário. Sem canais de expressão, a população passa

a ouvir um programa que às vezes, pode identificar-se com suas aspirações: o desejo de

justiça.

Pode estar inculcada no homem trabalhador rural a ideia de que ele não

tem força, de que ele está totalmente submetido aos poderes locais nos dizeres de que “

analfabeto é para estar calado”. Ele não mais em nenhum trabalho conjunto na

localidade e quer saber se isto não vai para fora daquelas fronteiras. É como dizer que

naquela região nada mais é possível.

Em contrapartida, existe uma pequena parcela que ainda arrisca fazer

denúncias, embora meio temeroso. Mas é a partir daí que se entende que o trabalhador

ainda resiste. Aliás, na concepção de BORDA (1972), o camponês ou o operário não é

nada conservador, é mesmo realista e dinâmico.

AÇÃO CULTURAL

Caracterizada a situação de dependência da comunidade, passa-se agora a

apresentar todo o processo da ação cultural desenvolvido naquela realidade, bem como

Page 294: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

294

de que maneira foram formados os grupos e suas atividades. Antes, porém, são

definidas as características da ação cultural, apresentando suas diferenças com outros

tipos de atividades que não conduzem à organização dos participantes e que não servem

à liberdade e sim à dominação.

Mas, qual será a importância dessa libertação para um povo? Para

FREIRE (1980: 62), esta é a tarefa fundamental dos países subdesenvolvidos: a

superação de sua “situação limite” de sociedades dependentes. Sem essa superação, elas

continuarão a experiência da “cultura do silêncio”. Tal cultura não significa, entretanto,

não ter a sua palavra autêntica, “mas seguir as prescrições daqueles que falam e

impõem sua voz”. Na busca da superação da “situação-limite” das sociedades

dependentes, pode-se desenvolver a consciência de classe. Para isto, faz-se necessária

uma ação organizada em cada contexto cultural, dirigida para a transformação dessa

realidade. Mas que características deve apresentar uma ação cultural que conduza ao

rompimento da “cultura do silêncio”?

No momento histórico da humanidade, em que o homem é desapropriado

da percepção de sua cultura, surge a sociedade de classe. A ideia de dominação se

impõe. A vigilância surge no sentido de extinguir todo movimento de protesto dos

oprimidos. Fora do trabalho manual, as classes “superiores” tornam-se socialmente

improdutivas. A partir daí, o pensamento e a linguagem, constituintes de um todo,

expressam sempre a realidade do dominador. Este conjunto torna-se, dessa forma, um

pensamento alienante. Todo esse pensamento chega até as sociedades dependentes

imposto pela classe opressora numa prática que é culturalmente alienante. “Este modo

de pensamento, dissociado da ação que supões um pensamento autêntico, perde-se em

palavras falsas e ineficazes” (FREIRE, 1977: 103).

A interiorização desses valores dominantes não é apenas um fenômeno

individual; é um fenômeno social e cultural. Aí, a ação pode constituir a denúncia dessa

interiorização e anúncio da realidade com conhecimento científico. Como diz FREIRE

(1976: 75), na ação cultural, a conscientização41

constitui-se em ação de superar a

consciência semiintransitiva, a ingenuidade pela consciência crítica da classe dominada.

41 Ver, a respeito do processo de conscientização e dos níveis de consciência na concepção de Paulo Freire,

Educação como Prática da Liberdade. Paz e Terra, 12a. ed. São Paulo, 1981. E Ainda em Conscientização.

Editora Moraes, São Paulo, 1980.

Page 295: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

295

Uma ação que, partindo da consciência real, conduza à consciência possível42

, ou à

consciência de classe do proletariado (GOLDMAN, 1972). Uma consciência gerada

dentro do processo de diálogo, de discussão ou de crítica.

A crítica é necessária e deve ser vivenciada na prática. Com isto, “nossa

ação involucra uma crítica-reflexão que, organizando cada vez o pensar, nos leva a

superar um conhecimento estritamente ingênuo da realidade. Este precisa alcançar um

nível superior com que os homens cheguem à razão da realidade” (FREIRE, 1979:

152). Mas, para isto, faz-se necessário um pensar constante que não pode estar

dissociado das massas. Ao se pensar com as massas, o objetivo torna-se a libertação das

massas. Sob esse ângulo, o pensar certo é não deixar as massas se expressarem. É não

deixar as massas pensarem. Mas é no pensar com elas que se dá a conscientização. Aqui

a prática da ação cultural e a ação antidialógica se contrapõem. A classe dominada não

pratica a conscientização, pois se exige-se, na sua execução, denúncia das estruturas de

dominação, e isto não é de interesse do dominador. A ação antidialógica que serve ao

dominador e a ação cultural que serve ao dominado são antagônicas. A ação cultural

para a liberdade traz consigo o diálogo para a construção de conhecimento com as

massas. Já a ação antidialógica descarta tal possibilidade, impedindo a visão crítica da

realidade. A ação antidialógica gera a dominação de classe e esconde a realidade para

preservar o poder. Para isto, utiliza-se da tecnologia e da ciência. A ação cultural para a

liberdade também necessita da ciência e da tecnologia, porém, para desmistificar a

realidade.

Para desmistificar a realidade é preciso analisá-la através de um

conhecimento, que é um ato dinâmico, não se satisfazendo apenas no objeto. A

realização como conhecimento verdadeiro se torna completa quando passa a incidir

sobre o objeto cognoscível de transformação. Caracterizando-as mais sistematicamente,

FREIRE (1979: 143) define a ação cultural e ação antidialógica com base em quatro

características gerais discutidas.

A ação antidialógica tem necessidade da conquista, pretende conquistar o

dominado. Utiliza todas as formas possíveis para tal, das mais repressoras às

paternalistas. Este ato de dominação determina as finalidades e só o dominador tem os

objetivos. Os homens são cortados de sua ação no mundo; devem-se adaptar a esta

realidade. Impõem, pois, a essa ordem repressora, os seus mitos com os mais diferentes

42 Ver consciência real e a consciência possível em Lucien Goldman, A criação da cultura de uma sociedade

moderna. Difusão Européia do Livro, São Paulo, l972.

Page 296: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

296

esquemas de divulgação, como liberdade de trabalho, conformismo com a situação de

vida, a “boa sociedade ocidental”, harmonia da sociedade, preguiça dos oprimidos. É o

dar “pão e circo” às massas para conquistá-las.

Uma dimensão importante da ação antidialógica é a necessidade de

dividir para manter a dominação das maiorias pelas minorias. Estas utilizam-se,

inclusive, da violência, para manter a divisão entre as maiorias, pois sua união é

ameaçadora. União e organização são conceitos perigosos para a minoria. O

desenvolvimento das comunidades se dará não pelas comunidades, mas pelo

treinamento de líderes que vão gerando a promoção do todo. Dividir para dominar se

expressa em ações como a intervenção em sindicatos; quando não, estimulando a

“criação dos sindicatos reformistas, paralelos aos sindicatos anti-imperialistas”

(HARNECKER, 1980: 47). Um aspecto da divisão se expressa também na ideia de que

os dominadores surgiram para salvar os homens; buscam na verdade a sua salvação

individual. Sob qualquer ponto de vista da salvação, diz FREIRE (ob. cit.), equivocam-

se, pois ninguém se salva sozinho, e como opressores, não podem estar do lado dos

oprimidos.

Outra característica dessa ação antidialógica é a manipulação das massas

oprimidas. Este é o instrumento fundamental da conquista. O assistencialismo é também

um instrumento fundamental da manipulação que se utiliza para esconder os

verdadeiros problemas da sociedade e, sobretudo, para distrair camadas populares.

Da ação antidialógica faz parte, ainda, a invasão cultural. Esta, associada

à manipulação e à divisão, juntas vão constituir a conquista. Uma invasão considerada

como “penetração que fazem os invasores no contexto cultural dos invadidos, impondo

a estes sua visão do mundo, enquanto lhes freiam a criatividade, ao inibirem sua

expressão” (FREIRE, 1979: 178).

Nesse sentido, os invasores são os autores e atores do processo. Os

invadidos vivem na ilusão de serem atores na atuação da classe dominante. Na realidade

a invasão constitui, já em si, a dependência, ou torna-se um instrumento de dependência

utilizado pela minoria dominante. Daí que, nesse processo, o lar e a escola, não fugindo

às condições estruturais, refletem esta invasão numa sociedade de dominação. Para o

invadido, é proibido pensar.

Outro aspecto que caracteriza a invasão cultural, introjetado no invadido

pelos instrumentos de dominação, é o “medo da liberdade”. Na problematização das

situações concretas, há um “desnudar-se de seus mitos e renunciar a eles, no momento,

Page 297: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

297

é uma “violência” contra si mesmos, praticada por eles próprios. Afirmá-los é revelar-

se” (FREIRE, 1979: 183).

Mas, problematizar as relações homem-mundo aos oprimidos é

componente essencial de uma ação cultural, cujo objetivo seja a superação da situação

de dominação, de dependência. Para tanto, têm-se as características fundamentais desta

ação, ou seja: colaboração, união para libertação, organização e síntese cultural. Na

colaboração, não se tem conquista, portanto não se tem conquistado. Os homens se

encontram para a transformação de sua realidade e não há imposição nem domesticação.

Isto não significa que a ação cultural não conduza a nada, nem deixa uma consciência

clara da realidade concreta. Seus objetivos são comprometidos com a libertação,

conforme o pensamento de FREIRE (1979: 197):

As massas oprimidas que se libertem, não pode pretender conquistá-las, mas

conseguir sua adesão para libertação. Adesão conquistada não é adesão,

porque é “aderência” do conquistado ao conquistador através da prescrição

das opções deste àquele. Adesão verdadeira é a coincidência livre de opções.

Não pode verificar-se a não ser na intercomunicação dos homens, mediatizados

pela realidade .

Enquanto a ação antidialógica mitifica a realidade, a ação cultural se

impõe desvelando o mundo. Portanto, não se descobre o mundo ou o outro. Há uma

busca conjunta em que todos são sujeitos dessa ação. A adesão, nesse processo, gera a

confiança das camadas populares em si mesmas, superando também o “medo” de sua

libertação.

A união é outra característica da ação cultural e se contrapõe à divisão na

ação antidialógica. A busca da união é o esforço constante de todos os oprimidos, a

união entre si, caminhando para a liberdade. Todas as características da ação cultural só

acontecem na práxis libertadora. Mas para essa união é imprescindível a ação na qual

agentes que aderiram à busca da liberdade conheçam o porquê e o como da sua decisão.

Assim não é busca de “slogan” ideológico. Não é um simples mudar de ação

antidialógica para a ação cultural. É o seu comprometimento com o fim da “cultura do

silêncio”, a qual “se perpetuou no tempo através de uma relação estrutural de

dependência entre o terceiro mundo (ou sociedades-objeto) e as metrópoles (ou

sociedades diretivas)” (LIMA, 1981: 89).

A organização se contrapõe à manipulação. Na ação cultural, busca-se a

organização do povo. Esta organização conduz à unidade da ação e nesta ação dá-se

Page 298: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

298

também a organização das massas trabalhadoras. Aqui o conhecimento crítico do

momento histórico da ação, da visão do mundo das massas, da clareza da contradição

principal se impõe pela apresentação do que é tudo isto e de como se apresenta.

Na organização, tornam-se imprescindíveis valores como a liderança, a

disciplina, a decisão, a ordem, os objetivos, bem como as tarefas a serem cumpridas e

que devem ser cobradas, já que a elite dominante se estrutura sempre mais para melhor

coisificar as pessoas e dominá-las. Aqui, nega-se o autoritarismo, mas afirma-se a

autoridade, a liberdade. Assim, na ação cultural, “a organização, implicando em

autoridade, não pode ser autoritária; implicando em liberdade, não pode ser

licenciosa” (FREIRE, 1979: 211).

Como última característica da ação cultural, destaca-se a síntese cultural

que vem em contraposição à invasão cultural. Se a invasão cultural traz consigo a

conquista das massas populares e trabalhadoras, sua divisão e sua manipulação, a

síntese cultural vai em direção oposta. Se no objetivo dominador da ação antidialógica

vem uma ação de indução, na síntese cultural insere-se a condição de superar essa

indução. Enquanto na invasão cultural os atores podem descartar a ida ao mundo

invadido, destacando-se muito mais apoio meramente tecnológico, na síntese cultural os

atores se integram com os trabalhadores, “atores, também, da ação que ambos exercem

sobre o mundo” (ibid.: 123). Na síntese cultural, não há lugar para espectadores; não há

esquemas prescritos, mas identificados na ação gerando as suas pautas. Torna-se uma

ação frente a uma cultura que mantém a invasão cultural. Não nega as diferentes visões

que podem ocorrer; nutre-se, aliás, delas. A ação cultural, com estas características, não

significa, contudo, invocação de uma nova cultura particular própria, mas a cultura já

existente, porém voltada para liberação de classe. Mas como desenvolver esta ação na

comunidade?

Conhecimento da comunidade pelos grupos e suas ações

A seguir, será apresentado de que forma efetivou-se a participação da

comunidade através dos grupos e como foi sendo buscado o seu fortalecimento. A busca

de se conhecer a comunidade, de detectar suas necessidades é um processo que conduz

à formação de grupos na própria comunidade, bem como o fortalecimento de grupos

existentes. Aliás, um trabalho educativo, no campo da ação social, pode se iniciar

pelo grupo já existente. Esses grupos não podem ser entendidos apenas como

Page 299: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

299

formais43

, já que a comunidade tem poucos (Lyons Clube e Grupo de Jovens). São, na

maioria, grupos informais44

. Mesmo assim, não se descartou a possibilidade de criação

de novos grupos. Segue, portanto, a descrição da ação cultural realizada e a descrição

dos grupos envolvidos.

Sindicato

O sindicato rural pode ser a mais importante força dos trabalhadores no campo.

Neste município, congregam-se os assalariados (contratados por temporada ou jornada)

das duas usinas existentes e, em menor proporção, pelos minifundistas que trabalham

por temporadas em suas terras. Caracteriza-se como um sindicato que mantém a linha

geral do sindicalismo rural brasileiro. Suas atividades limitam-se ao atendimento

odontológico, feito duas vezes por semana, e à rara assistência jurídica. Segundo seu

Presidente, poucos são os casos de assistência trabalhista, já que o trabalhador entende

“que não adianta”. Ainda assim, o trabalhador volante dessa região não tem carteira

assinada, como também “não quer ter”, conforme afirma o secretário do sindicato. Em

contatos com esses trabalhadores, constata-se a veracidade da afirmação. Alegam que

carteira assinada é como “prisão, que o sujeito tem de estar às oito horas, largar às

cinco da tarde; é uma escravidão dos infernos45

”.

De um modo geral, a semana de trabalho inicia-se na terça-feira, já que a feira se

realiza no domingo. Esses trabalhadores prestam seus serviços onde bem pretendem e

onde pagarem mais. Na época da colheita da cana, falta mão-de-obra. Na entressafra, a

situação é de fome. Todos estes fatores contribuem para aumentar a dificuldade do

trabalho sindical. Por outro lado, a própria diretoria há doze anos se mantém na direção,

sem qualquer mudança no encaminhamento das lutas dos trabalhadores. Observa-se

uma total desinformação por parte da diretoria sobre o que está ocorrendo no meio

sindical e até mesmo em nível de federação - rara foi a reunião a que compareceu:

“Sempre as coisas se apresentam muito difícil”, segundo a direção sindical.

43 Grupo formal – aquele que está organizado com coordenador, reuniões regulares e objetivos definidos.

44 Grupo informal – aquele sem as características do grupo formal, mas que se reúne assistematicamente.

45 Depoimento de trabalhadores volantes.

Page 300: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

300

Porém, combina-se com a diretoria a possibilidade de um trabalho junto à

categoria no segundo semestre. Volta-se a entrar em contato com a diretoria. Num

primeiro encontro, com o presidente e secretário, sugere-se o início de algum trabalho

que venha a romper com essa situação, somando-se a isso o analfabetismo da categoria.

Imagina-se iniciar o curso de alfabetização aproveitando-se os alunos do curso de

Magistério que teriam nas suas aulas uma unidade de educação de adultos. Planeja-se

em seguida, avançar-se para encontros no nível de educação sindical, abordando-se o

Estatuto da Terra. Mas tudo deveria sair do encontro com os sindicalizados. O encontro

não é prática comum nesse sindicato. E, ainda, vive-se o ano de campanha eleitoral e o

presidente em nada concordou. Alega que “qualquer reunião aqui neste ano, eles (os

políticos) entendem que é política dos partidos. O sindicato não é para fazer política.”

Assim, além das dificuldades inerentes à organização dos trabalhadores no

campo, o que se ressalta é o forte cunho ideológico da atual corrente hegemônica do

sindicalismo rural, contrapondo-se à nova corrente de construção do sindicalismo pela

base.

E a vez e a voz do trabalhador? No país inteiro, o trabalhador está sem vez e sem

voz. Todo o sistema contribui para que isto aconteça. Mesmo entre os sindicatos, são

ainda poucos aqueles que assumem a luta de suas categorias e da classe trabalhadora. O

sindicato em questão, em nenhum momento das entrevistas, foi sequer citado.

Entretanto, quando a discussão sobre associações vem à tona, os entrevistados entendem

a sua importância e 85,0% aprovam a necessidade associativa. Mas, mesmo naquele

momento da entrevista também perguntado se participariam, 73,6% respondem

afirmativamente. Porém, há distanciamento para efetivar-se tal proposta. A igreja local

sofre desse afastamento das pessoas de seus grupos. “Cada um por si e Deus por todos”

é um lema que precisa urgentemente ser desfeito na comunidade, resgatando-se a

participação. A partir dos encontros, entende-se que seria possível o início de um grupo

na comunidade pelo sindicato. Mas a ideia de reunir terminou “aterrorizando” a direção

sindical. Nada significou a pesquisa para o sindicato.

Professores do colégio

O primeiro contato na comunidade dá-se com os professores locais do Colégio

Padre Francisco. O colégio abrange da 5a série do 1

o até o 2

o grau. Em função dos

Page 301: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

301

contatos efetuados em 1981, quando da preparação do projeto deste trabalho, ficou

acertado o apoio da escola ao trabalho de pesquisa. O investigador também passa a

lecionar naquela escola durante o tempo da pesquisa. Inicia-se o trabalho numa classe

da 2a série do 2

o grau.

Como professor, iniciam-se contatos com os demais professores de todo o

colégio. A administração admite a discussão de muitos problemas existentes e que

perduram. Os professores, por outro lado, resignam-se diante da situação. Mas que

problemas apresenta o colégio? De início, sente-se a falta de planejamento, comprovada

pelos próprios professores que comentam sua inexistência. Nunca houve reunião para

planejar o trabalho no colégio. Constata-se que a grade curricular do curso pedagógico é

a mesma do curso científico. Surgem questões de ordem disciplinar, administrativa e,

sobretudo, financeira. Somente em agosto, professores e funcionários recebem o salário

do mês de março. Os professores, na verdade, estão no colégio à noite, apenas, em

busca de uma complementação salarial.

Observando-se a trajetória da implantação dessa escola no município, ela

apresenta comportamento singular. Instala-se a 1a fase (primário) e 2

a fase (ginásio), e

depois o 2o grau, mantendo-se aí. Até 1960, implanta-se a 2

a fase. No final da década de

60, implanta-se o 2o grau. Até aqui, tudo normal. Em seguida, desaparece o 2

o grau com

cursos de Contabilidade e Magistério. Permanece o 1o grau, apenas. Em 1982, inicia-se

o funcionamento do curso de Magistério. Porém, em 1983, volta a funcionar apenas o 1o

ano do 2o grau.

Porém, o que diz a comunidade sobre a escola que tem para seus filhos? A

resposta vem do questionário aplicado para detectar as necessidades básicas da

comunidade. A opinião sobre a escola indica que a comunidade sente o descaso para

com a educação e 61,5% opinam que ela não está boa. Conhecendo essa situação, ela é

capaz de também apresentar soluções. Perspectivas de mudanças para os professores se

mostram longínquas, de tal forma que não aparece claro o que fazer ou mesmo como

iniciar. Porém, a partir de contatos com mais professores, sente-se a possibilidade de se

promoverem encontros de atualização pedagógica. Elabora-se, com mais quatro outros

professores, um programa proposto sobre: educação e sociedade (envolvendo didática

para matemática, ciências, comunicação e expressão); educação no município.

Esse trabalho seria executado com o pessoal da própria escola. O programa é

apresentado em reunião dos professores. É a primeira reunião feita até então, com esse

objetivo. Realiza-se a reunião com a presença do administrador-adjunto. Com a

Page 302: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

302

definição da pauta da reunião, sugestão de todos os presentes, o programa que seria

apresentado não foi necessário, já que as principais necessidades daquela escola eram:

questão administrativa (a direção é uma interventoria desde 1976 e, portanto,

deveria regularizar tal situação);

conhecimento da Lei n o.

5692/71 e da CNEC;

questão educacional (aqui entraria o programa proposto, mas não discutido).

As propostas discutidas e não encaminhadas, entretanto, conduzem ao impasse

de mudança na direção do colégio. Não havia pessoas que se dispusessem a assumir a

direção. O trabalho com o grupo, que apenas havia iniciado, não foi adiante.

Alunos do curso de magistério ( 2o. ano)

A escola está desprovida de qualquer forma de planejamento e organização

curricular; há agravantes de ordem material como, por exemplo, a ausência de uma

única folha de papel para qualquer tipo de trabalho, livro, ou mesmo, máquina de

datilografia.

Inicia-se o contato com a turma, composta por quatorze alunos, no mês de

agosto. São consultados a respeito do curso pedagógico. As respostas dos alunos são as

mais diversas: estão no curso em busca de uma mera conclusão do 2o grau e o curso

tanto faz; por entender que é preciso; por não poder fazer outro; por não querer ficar

parado, sem estudar; por não ter outro na cidade ou mesmo por experiência. Para serem

professores apenas existem duas afirmativas. As aspirações desses alunos do segundo

grau são modestas, já que não apresentam nenhum interesse em prosseguir estudos,

mesmo se as possibilidades lhes forem favoráveis. Lembrando SARUP (1980: 119), no

capitalismo, “a educação é realizada em circunstâncias tão alienantes que se torna um

processo de desumanização”.

Assim mesmo, mostra-se um esquema de trabalho procurando orientação na

própria legislação de ensino em que as escolas considerem as necessidades educacionais

básicas da comunidade. Enquanto avança-se em nível teórico, chega-se também a um

levantamento das principais necessidades apresentadas pela comunidade. Estas questões

são discutidas, assim como o questionário aplicado na comunidade, sendo analisados

seus resultados parciais.

Page 303: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

303

As aulas são interrompidas na escola desde o início de outubro, em função da

campanha eleitoral. As aulas se tornam impraticáveis, especialmente por serem

noturnas, paralisadas em função dos comícios e passeatas. Só no começo de dezembro

inicia-se a aplicação do questionário para detectar as necessidades básicas da

comunidade. Juntos saem à noite durante o expediente das aulas, voltando em seguida à

escola para discutir-se o trabalho daquela noite.

Os alunos, em sua maioria, ficam entusiasmados com a proposta do trabalho;

outros ficam desconfiados sem entender mesmo o porquê, pois tudo lhes parece

estranho ao seu aprendizado e conhecimento da realidade. Outros optam por outra

atividade que substitua aquela de aplicar os questionários e discutir as questões

levantadas. A concepção de aprendizagem, como um processo dinâmico e contínuo, é

entendida pelos alunos no quadro negro; porém, sua execução abala a estrutura estática

da aprendizagem veiculada pela escola.

Para o ano de 1983, prevê-se um entrosamento com o trabalho do MOBRAL, em

que passaria algum tempo de estágio. No entanto, descobrem-se, já no início da

aplicação dos questionários, dezoito adultos que podem iniciar o processo de

alfabetização em fevereiro. Inicia-se também a elaboração do material didático.

Conclui-se o período letivo com uma autoavaliação final. Veja-se o primeiro

parágrafo de uma delas: “alta-avaliação – 05/01/83. Primeiramente peço-lhe que não

fiques com raiva com o que eu vou mi declarar... você usava um vocabulário muito auto

para o nível da turma, então nós ficávamos vuando um pouco”.

Da turma, cinco desistem ao longo do semestre e outros foram reprovados

sobretudo em português. Como apenas duas alunas moravam na cidade, não foi mais

possível o contato com todos. Não voltam quando do reinício das aulas.

Grupo do MOBRAL

Os programas pedagógicos do MOBRAL já trazem tudo pronto. Os postos nas

pequenas cidades são apenas executores de tarefas já determinadas pelos programas,

em geral, de nível nacional. Mesmo na execução desses programas, é mantida uma

inspeção, de modo que pouco espaço resta à atividade de organização do povo. Mesmo

assim, iniciam-se contatos com as professoras do MOBRAL e, sobretudo, com as

Page 304: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

304

coordenadoras. Por várias vezes discutem-se as questões levantadas por elas mesmas,

destacando-se as de ordem educativa.

A Prefeitura mantém rigorosa fiscalização em relação às professoras do

MOBRAL. Após campanha eleitoral, uma professora de outra facção política é

despedida. Não importam seus treinamentos feitos. Mesmo assim, as inspetoras da

região esclarecem que no MOBRAL não há política. Some-se ainda a não continuação

de muitos programas educativos. Há programas como o de ação comunitária, que estão

paralisados no meio das atividades. Aqui, uma campanha de filtro não foi à frente,

enquanto a comunidade foi mantida nesta expectativa. Como resultado, desgastam-se as

coordenadoras do programa. São comprometidos ainda outros trabalhos de base que

possam surgir. Entretanto, elas estão envolvidas na aplicação dos questionários (Anexos

2 e, 3) e hoje chegam a apoiar a reativação dos guerreiros, ajudando, porém, fora de sua

programação oficial.

O que se observa é a desmisficação de uma possível educação popular feita pelo

Estado. Sua ação não passa de mera inspeção e execução de prescrições legais, vindo a

perder o significado que ele pode ter como educador do povo. Parece ser necessário

descartar esta possibilidade educativa do Estado: “É pelo contrário o Estado que tem

necessidade de uma muito rude educação pelo povo”(MARX e ENGELS, 1978: 89).

Esporte

Com o pessoal do futebol se dão os primeiros contatos para a ação. Conhecendo

o pessoal que dirige a equipe, houve um encontro com vinte e cinco jovens do esporte

local, no próprio campo. Depois do jogo, para-se por um momento e há a apresentação

das ideias que se tinha para o esporte leopoldinense. Uma preocupação é, entretanto, a

participação de todos que fazem o esporte. Discute-se a necessidade de aquele grupo

automanter-se como equipe, além da sua própria independência financeira, de modo a

quebrar o vício local, que é a Prefeitura sustentar as equipes. Fala-se da necessidade do

fortalecimento da própria direção da equipe, bem como sua rotatividade. Todos

concordam com estes aspectos levantados. Agora, parece que as coisas vão acontecer no

futebol leopoldinense.

Marca-se um outro encontro, na Câmara de Vereadores. Um jogador está

presente. Mas não há desânimo, marca-se com a diretoria novo encontro, ainda na

Câmara. Nesse dia chove muito e ninguém comparece. Combina-se novo encontro e

Page 305: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

305

nada parece interferir para sua realização, mas também não se fazem presentes.

Desânimos, sem dúvida, frente a esse grupo. Na verdade, era uma resposta muito clara e

entendida, posteriormente.

Esse grupo de jovens, sobretudo a direção da equipe, se constitui de moços que

são funcionários municipais ou estaduais e, sobretudo, de bancários. Este grupo, no

meio rural, não apresenta disposição para mudança. São assalariados estabilizados. A

discussão no campo de futebol vai de encontro à situação reinante e dominada por eles.

Quebrar a ligação da equipe com a Prefeitura e construir-se como equipe independente

não soa bem aos seus ouvidos. A manutenção do “status-quo” é a manutenção dos

benefícios do grupo. Portanto, não há por que mudar. Se se almejasse qualquer mudança

por aí, esta possibilidade já estaria negada. A sua resposta negativa poderia ser prevista.

Grupo do esporte Nova Geração

Passados dois meses de atividades na comunidade e agora conhecendo mais

detalhes da mesma, imagina-se como não funcionou a tentativa de organização do

esporte no início. No futebol que tem tudo para se estruturar em qualquer lugar neste

país, a questão da classe social interfere na organização de equipe. Mas como uma

comunidade tem apenas uma equipe com população jovem tão expressiva? Assim

pensando, logo se percebe que um número muito maior de trabalhadores e filhos de

trabalhadores não participam da única equipe local. Tudo surge mais fácil quando se

descobre ainda a existência de uma outra equipe (Nova Geração), que tinha parado suas

atividades há um ano. Então, decide-se promover o reencontro dos ex-componentes.

Page 306: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

306

Nova Geração Esporte Clube

Encontrados seis dos antigos participantes, prepara-se um boletim convidando

seus colegas para reagruparem-se. Dois dias depois, ainda em outubro, reúnem-se

quatorze, dos vinte convidados, para uma explanação sobre a necessidade de

organização e união. O pessoal esteve sempre calado. A falta de prática de reunião, para

discutir suas questões, é um dos maiores problemas da Zona da Mata. Daí já se

discutem o treino e a composição da equipe. Marca-se o próximo encontro no próprio

campo. Define-se o treino para as madrugadas, das quatro às seis horas, em função do

próprio trabalho dos atletas. Dois membros assumem acordar os demais jogadores.

Estava sendo introduzida a prática de reunião. Na comunidade não há grupos que

mantenham reuniões sistemáticas. Somente o grupo de jovens se reúne

esporadicamente.

Passadas duas semanas, prosseguem-se os treinos e mais uma reunião com doze

atletas. Nesse dia, acontece um grande comício com políticos de Maceió, bandas e

passeatas; mesmo assim ocorre o encontro. Avança-se na discussão, colocando-se a

necessidade de se apagar a figura do “dono do time”, uma prática normal na

comunidade. A ideia é bem aceita. Assim, com o entusiasmo, compra-se coletivamente

uma bola e uma outra por crediário. A equipe começa a não ter “dono”. Em reunião

seguinte, é apresentada proposta de se pedir bola aos políticos (sobretudo ao usineiro).

Page 307: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

307

Nesse momento, cinco deles são contrários a tal proposta, alegando que aquilo já havia

sido discutido e que todos iriam assumir as despesas da equipe.

Depois dos treinos, realiza-se uma partida oficial com uma equipe do mesmo

nível. Afinal, uma equipe não só treina; também enfrenta adversário. É grande a alegria:

o Nova Geração bate o adversário de quatro-tentos a um (4X1), em jogo que se encerra

meia hora antes, quando a outra equipe não permite a cobrança de uma penalidade

máxima, mesmo o juiz sendo da equipe adversária. Os atletas do Nova Geração passam

a acreditar que o preparo físico é determinante para a vitória. A outra equipe não

aguentava jogar naquele ritmo.

No mês de novembro, os atletas reunidos aprovam o nome de Nova Geração

Esporte Clube e não apenas futebol. Inicia-se a prática do “espiribol” como novo

esporte, suscitando novo entusiasmo, não só para a equipe, mas também para serem

solucionadas:

a questão da existência do time como entidade dependente só de seus membros, bem

como da educação esportiva (estudo de regras de jogo) pelos membros da equipe;

a organização da secretaria do time, registrando seus atletas;

a busca de informações técnicas.

As reuniões vão acontecendo todos os sábados, à tarde, no Centro Paroquial:

define-se a contribuição dos atletas; escolhe-se uma comissão para dirigir a equipe; um

processo de eleição é instalado. Com a participação de todos os trinta e quatro

componentes, é escolhida a direção. Tomam posse o coordenador financeiro, o

coordenador de patrimônio, o coordenador de secretaria e o coordenador técnico.

A escalação da equipe deixa de ser definida pelo coordenador técnico e passa a

ser feita coletivamente. A presença nos treinos físicos é decisiva para a escalação aos

jogos, um processo que os rapazes estranham de início, mas depois aceitam com

naturalidade. Um espírito novo surge na equipe que é o de sua independência e de seus

atletas. Eles decidem também que o atleta do Nova Geração será unicamente da equipe.

e que outros constituam equipes independentes.

A organização da equipe avança mais ainda, até quando um dos coordenadores

segue com outra equipe a Maceió sem autorização da assembleia deles. Reage-se

bastante contra isto e, na reunião seguinte, o coordenador teve de se explicar diante de

todos. Sua explicação foi mais no sentido de mostrar as falhas do outro time e de

esclarecer que, daquela forma, o Nova Geração não podia continuar com o coordenador.

Page 308: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

308

Ele é mantido na equipe, porém, no dia seguinte, faz-se uma nova reunião de

emergência: o pessoal decide expulsar do time seu melhor atleta e único goleiro. Ele

estava jogando pela outra equipe local.

O grupo continua se reunindo, agora sozinho, durante todo o mês de dezembro,

sem a presença do pesquisador/educador. Quando de sua volta, no dia 7 de janeiro, já

havia campanha sutil encabeçada pelo jogador que foi expulso, dizendo que a equipe ia

se acabar. Fazem treinos só uma vez por semana e só jogam com uma equipe.

Reiniciam-se os treinos. Buscam novos jogos, pois afirmam que “time que não joga não

é time”. Sempre se faz convite às reuniões através de boletins, mas poucos são lidos. A

comunicação é mesmo a verbal. Mesmo assim, aproveitando-se a necessidade de novas

partidas, monta-se novo boletim com o calendário dos novos encontros das equipes e

surge uma nova reativação para todos.

No dia vinte e sete, tem-se um grande encontro de duas equipes para se juntarem

em uma única: Nova Geração e Real Esporte Clube. Um boletim foi distribuído a todos

com frases dizendo: “A força maior se dá na união; as duas equipes têm condição de se

tornarem juntas uma forte equipe; criar uma forte equipe só depende de nós”. Forma-

se, então, o Nova Geração Esporte Clube.

O investigador retorna à comunidade em março, com dados coletados sobre as

necessidades educativas básicas locais. Sobre o esporte, prepara-se nova reunião para

discutir a situação do esporte de Colônia. Dessa reunião com um grupo de vinte e seis

atletas, tiram-se as propostas que devem ser encaminhadas ao Prefeito:

a sede coletiva para os alunos esportistas (administração cabendo às equipes locais);

um ginásio público para todos os esportes;

a construção de quadras;

a construção de outro campo de futebol;

a contratação, pela prefeitura, de professores formados em educação física, pela

prefeitura;

o incentivo de novos esportes.

As discussões nessas reuniões passam por pólos opostos, desde aqueles que

entendem que só com mais reuniões e mais organização o prefeito atenderia ao pedido

da equipe, até aqueles que entendem que o prefeito nem iria recebê-la. Acontece a nova

reunião com um documento preparado, distribuído entre eles, sendo aprovado e

Page 309: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

309

encaminhado ao prefeito, no dia 11 de março. Dezoito atletas fazem-se presentes nesse

encontro com o prefeito. No momento há uma apresentação de fotos do time. Em

seguida, distribuem-se cento e vinte cópias desse documento na cidade.

A direção do time continua agora nas mãos de cinco coordenadores, pois em

reunião restauram a figura do presidente criando o coordenador presidente. A base de

decisão do time é, entretanto, a assembleia realizada aos sábados.

Clube de jovens

Este era o único grupo formal que havia na comunidade. São realizadas três

reuniões com vinte e cinco jovens. Tais reuniões acontecem depois de uma fase de

estagnação do clube, que há muito tempo não se reúne. No final do ano, após a

campanha eleitoral, volta às suas atividades. Em seguida, dá-se novo período de

recesso, retornando às reuniões em março.

Nas reuniões constata-se uma evasão constante de jovens. Apesar de todo

esforço dos religiosos locais no sentido de dar maior dinamismo ao grupo, ele não

avança numa direção planejada. A coordenação do grupo resume suas atividades às

reuniões - atividades de cunho meramente religioso (orações). Há também a necessidade

de uma práxis que busque a unidade da oração com alguma prática social no meio.

Inicia-se a apresentação dos “slides” fé e política. Este conjunto trata da organização

política do assalariado. Mas com a organização do grupo de esporte Nova Geração, os

horários das reuniões de ambos coincidem. Opta-se por reforçar a equipe de futebol.

Círculo de cultura

Passados já vinte dias na região, chega-se a contatos com várias pessoas.

Discutindo sobre as questões municipais, observa-se a possibilidade de um encontro

entre o pessoal interessado. Num bate-papo informal, reúne-se pela primeira vez no

Salão Paroquial pertencente à Igreja Católica. Esse encontro dura pouco mais de uma

hora. Aproveita-se, inclusive, para se marcar outros encontros semanais. Os

componentes desse grupo exercem as seguintes atividades: barbeiro, agricultor,

pedreiro, servente de pedreiro, professor do MOBRAL, pintor e artesão. Neste primeiro

Page 310: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

310

encontro, o grupo não faz comentários sobre o que foi apresentado, apenas acena

concordando durante a apresentação.

Após os dois encontros, outros não acontecem mais, nem os componentes

comentam sobre o círculo da cultura. Mas o que acontece com este grupo? A discussão

que se planejou como início de um plano mais abrangente culminaria com uma prática.

Aquele estudo pareceu não ser importante para eles e assim resolveram não mais se

encontrar. Se, por um lado, passa-se informação aos trabalhadores, esta “desreificação

teórica não basta porque não resolve o problema de superar essas limitações”

(SARUP, 1980: 96). E aí, talvez, um dos membros já aponta a necessidade daquele

grupo que era a de associar tudo aquilo a uma prática. Já busca uma práxis que era

necessária: a união daquela discussão apresentada a um fazer; além da crítica teórica,

faz-se mais urgente uma ação social associada.

Grupo de zabumba

Este é um grupo informal que já existia. A Banda de Zabumba São Sebastião se

constitui de seis instrumentos: duas tabocas (pifes); um tarol; uma zabumba; um bombo

(surdo) e um par de pratos. Uma característica da banda é, atualmente, a versatilidade de

seus componentes quando tocam. Eles afirmam que tocam “como em sociedade”, isto é,

todos os instrumentos. O indivíduo, ao iniciar sua participação ao modo de tocar dos

outros, vai se afirmando em todos os instrumentos. Utilizam desse rodízio, inclusive,

como momentos de descanso ao permutarem os instrumentos.

Page 311: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

311

Banda de Zabumba São Sebastião

O seu repertório é bastante amplo, tocando hinos religiosos como os hinos de

São Sebastião e São José. Tocam também em santas missões, romarias, procissões e

forró. O tocar dos hinos dá-se em função dos Padroeiros das Comunidades em que a

banda toca. A valsa, tango, dobrados, marchas e hino nacional também são tocados. “O

Hino Nacional é tocado no dia 7 de setembro, a descoberta do Brasil”, como diz seu

Chiquinho. Um hino muito tocado é “prá ti amada”, como diz seu Luciano, querendo

dizer “Pátria amada”.

Numa das reuniões observa-se que eles tocam com instrumento da Banda

Marcial da prefeitura, enquanto seu instrumental original é artesanal, amarrado de

corda. Os couros dos instrumentos são de bode e de gato. Levanta-se a questão dessa

troca de material original. Muitos dão palpite e passam duas horas falando sobre a

necessidade ou não de se voltar aos instrumentos artesanais. No final, seu Chiquinho

comenta que a Banda teve um encontro em Maceió, onde se apresentaram bandas de

todo o Estado de Alagoas, umas trinta a quarenta. Tocaram e se apresentaram e,

finalmente, saiu vencedora uma que se apresentou com instrumentos artesanais, isto é,

zabumba, bombo e tarol amarrados de cordas.

Hoje muitas dessas bandas de zabumba aderem aos instrumentos novos de

metal, desfigurando a verdadeira banda de zabumba. A Banda de São Sebastião adere

também ao “modernismo”. A vitória da Banda em Maceió, segundo seu Chiquinho, foi

Page 312: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

312

uma vitória que “foi feia, foi triste”. O Grupo cresce, entretanto, e passa a entender

também que “eles tiveram valor, pois foi com o primeiro instrumento”.

Chega-se a juntar todos os grupos ligados à arte local. Esses grupos reunidos

fazem uma discussão sobre arte popular, alicerçando com o trabalho da própria

zabumba. Em seguida, há a apresentação da Banda, uma sintonia entre o que se falava e

o que se fazia na localidade.

Em outra reunião, no mês de setembro, discute-se a história da Banda. Alguns se

lembram de passagens importantes quando tocavam em coretos com a Banda de Música

local, que hoje não existe mais. De suas apresentações em frente à igreja e outras

localidades, surge a ideia de, conjuntamente, montar-se a história do grupo. Vários

encontros são gravados, transcritos e discutidos até se chegar ao texto final dessa

história. É a volta às origens. O texto é lido e discutido para que traduza aquilo que eles

entendem como sua história. Hoje ela está escrita. Dessas discussões sobre a história,

avança-se para o trabalho deles como artistas. Tiram-se várias cópias que o grupo

decide encaminhar às escolas, Prefeitura e Câmara de Vereadores (Anexo 4).

De que forma esse grupo demostra organização? Ora, em uma de suas

apresentações em homenagem ao Padre Cícero, promoção da Prefeitura no dia 13 de

novembro, o prefeito paga a eles o valor de um dia do cortador de cana, o equivalente ao

corte de uma tonelada de cana. O grupo entende que este não pode ser o referencial de

pagamento para a Banda Marcial que pertence à Prefeitura e então, “vamos tocar, agora, é

um contrato”. Tocar com um acerto prévio, o que não acontecia. Manter seu instrumental

artesanal passou a ser fator de autoafirmação do grupo.

O grupo demostra organização ainda quando parte para uma listagem de

entidades e pessoas que precisam conhecer melhor as atividades da Banda. O grupo,

mais uma vez reunido, decide visitar outros municípios, além das Prefeituras e Câmaras

de Vereadores dos municípios vizinhos, como Joaquim Gomes (Al), Ibateguara (Al),

Maraial (Pe), Palmares (Pe) e Novo Lino (Al). Preocupam-se, sobretudo, com os

promotores dos festejos religiosos. Saem da dimensão municipal para outros

municípios. Além disto, aumentam o número de apresentações, que ocorriam apenas no

final do ano, para qualquer época. Durante um dos encontros, seu Lúcio fala:

Minha cabeça tá zinindo.

Por que, Lúcio?

Page 313: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

313

Porque com essa história toda nós vai ser chamado mermo a tocar e aí? Precisamos

juntar mais o pessoá e tocar muito mais.

Agora estão também escutando os discos de outras bandas de zabumba.

Ressalte-se ainda que, quebrando a prática de tocarem apenas em festa religiosa, já

estão tocando em qualquer momento, por convite, e já acompanham pela cidade uma

promoção de grupo de arte e exposição de quadros e fotos em várias ruas da cidade.

Estão tocando para o povo “ver e apreciar”.

Grupo dos guerreiros

Esse grupo se forma de maneira diferente dos demais. Os componentes

de outros grupos que participam na aplicação de questionários de pesquisa descobrem as

pessoas interessadas nos guerreiros quando da aplicação dos questionários. A reativação

dos guerreiros era uma dúvida, que foi explicitada quando da aplicação dos

questionários. À medida que estes são aplicados, discutindo-se com as pessoas, o

problema da reativação dessa festa folclórica se expressa de forma aguda. No final,

descobrem-se pessoas não só sentindo falta dos traços culturais que estão se acabando,

como também dispostos a enfrentar o problema. Num questionário aplicado numa

bodega, com cinco trabalhadores do campo, percebe-se a disposição de um deles em

ativar os guerreiros. Logo há empolgamento do pessoal da rua. E então, lança-se a ideia

de possível encontro para tal fim. Ocorre o encontro e dez pessoas daquele setor da

cidade participam. Essas pessoas são as pontas de lanças para a montagem e a

administração do futuro guerreiro.

Na reunião, discute-se sobre a situação dos moradores locais da cultura

esquecida e como ia acontecendo tudo isto; a importância de um grupo para a

Mangueira e também outros problemas locais. A criação de um guerreiro pode abrir

condições de se montar tabuleiros e bugigangas, sobretudo cachaça, milho verde,

pamonha e confeitos que poderiam servir de ajuda aos iniciadores e coordenadores da

festa.

Nas reuniões levantam-se questões como a de buscar um sanfoneiro, o

mestre, o contra-mestre, dois embaixadores. O mais difícil, entretanto, é palha e madeira

par se montar a palhoça, pois isso envolve dinheiro. Os participantes da reunião

assumem o trabalho de fazer a palhoça. Mas, como arranjar o dinheiro de comprar

Page 314: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

314

madeiras e palha? Antes de se conseguir isto, tem-se de conseguir a autorização da

Prefeitura para instalar-se o guerreiro no meio da rua, como é necessário. Para se chegar

a tal autorização, pelo menos mais dois meses se passaram.

Surge outro importante trabalho do grupo de arte que havia assumido, em

suas reuniões, a ajuda ao guerreiro. O grupo assume as tarefas de reuniões com esse

outro grupo. Na organização de grupos, surgem tarefas que, às vezes, escapam às suas

possibilidades. Como a organização ainda é muito incipiente, não é fácil a execução das

tarefas. Aí se exige muito mais do pesquisador/educador e do grupo. Há tarefas que

podem ser resolvidas com certa brevidade, pois esperar para que o grupo resolva

sozinho, em vez de contribuir para um maior enriquecimento organizativo, contribui

para um descrédito de sua força.

O grupo decide encaminhar sua solicitação ao prefeito que seria

empossado. Na verdade, este encontro só veio acontecer em maio com o Grupo de Arte

e Zabumba conjuntamente. Juntos preparam suas propostas, e, em reunião, aprovam o

documento que foi entregue e discutido com o prefeito. O espaço físico foi conseguido e

hoje se dança guerreiro às quartas-feiras, aos sábados e aos domingos.

Fotógrafos

Iniciam-se no mês de Setembro os preparativos para a festa de

reinauguração da Igreja Matriz. É feito convite pelo padre para reunião com os jovens e

Lyons Clube, recentemente criado, para se discutir o dia da festa.

O encontro se reveste de importância, por permitir que se conheçam mais

jovens na comunidade com os trabalhos feitos para o MOBRAL, Igreja e Esporte. Aí

também aparece um fotógrafo. Vê-se a possibilidade de como os demais (seis ao todo)

podem fotografar a Igreja Matriz. Entra-se em contato com todos eles e, em particular,

todos combinam e sentem necessidade de se fazer um trabalho para mostrar ao povo.

Um trabalho que fosse além de retrato e monóculo, que mostrasse que fotografia

também é arte.

Já se imagina então uma programação de atividades com esse grupo,

iniciando-se com pequenas coisas organizativas, tais como carnês de endereço dos

solicitantes de monóculo, uma vez que eles perdem muitas fotos sem saber o dono. Daí

programar-se-ia o trabalho de fotografia da Igreja Matriz. No próprio trabalho de

fotografar, discutem-se questões técnicas e fotos até aparelhagem fotográfica. Seria

Page 315: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

315

atingida a própria organização dos fotógrafos, definindo os preços dos seus trabalho, já

que variam muito. Marca-se o primeiro encontro e aparece um fotógrafo apenas. Marca-

se com os demais o segundo encontro e nada, apenas dois aparecem. Com estes, define-

se o trabalho de organização deles mesmos e chega-se até a fotografar a Igreja e

apresentar o trabalho do mês de outubro na praça da Matriz.

Organizá-los como um grupo foi impossível. Os fotógrafos não se

constituem nem mesmo como grupo informal de encontros esporádicos, nem avançam

para uma maior organização, pois três deles são “intrigados”, isto é, nem se conversam.

Grupo de arte

Em contato com a coordenação do MOBRAL, as professoras descrevem as

atividades que promovem. Entre os programas descritos, está o de “ação comunitária”.

O programa se constitui de cursos de bordado, crochê e artesanato em corda. Descobre-

se o artesão, promotor do curso, um jovem vivendo isolado que não acredita naquilo

que faz. Além dele, descobrem-se mais três que faziam pintura e artesanato. Todos,

entretanto, nem estão pintando nem fazendo artesanato. Vê-se o trabalho de todos.

No início de setembro, há uma reunião com o pessoal do MOBRAL, do esporte

e com todo pessoal interessado em arte. Nesse encontro, discute-se o que se faria no dia

três de outubro, quando ocorreria a festa de reinauguração e restauração da Matriz local,

um momento de grande interesse para a comunidade. Nessa reunião, discute-se a forma

de participação desses jovens nas comemorações. Logo em seguida, realiza-se uma

reunião com o Lyons Clube, com o mesmo objetivo. Ao final do encontro, fica

aprovada a participação daquele grupo de jovens para: descobrir o pessoal que tem

trabalhado na cultura popular local reativá-la; e mostrar a arte de Colônia aos seus

habitantes.

O MOBRAL e o Lyons Clube dão apoio, inclusive financeiro. Para os presentes

na reunião, foi mostrado que se inicia um refazer da cultura que estava em extinção,

inclusive com o pessoal ligado às atividades artísticas que estava desmotivado e

desorganizado. Parte-se daí para se mostrar o material que tinham. Continua-se com a

distribuição de tarefas para serem cumpridas. Bem próximo ao dia 3 de outubro,

distribui-se um convite para a amostra em todos os domicílios da cidade. Um convite à

comunidade alerta para a extinção dos traços culturais locais, tais como: guerreiros,

Page 316: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

316

reizados, cavalhadas, pastoris e cocos de roda. Conclamam-se todos à ação, já que não

se pode assistir ao fim de tudo sem se fazer nada.

Pretende-se percorrer algumas ruas da cidade com a amostra do material

artístico, mas a ideia não funciona e acontece uma única apresentação em frente à

Igreja, no centro da cidade. Constitui-se de artesanato, pintura e fotografia. Eles não

acreditam que possam mostrar a sua arte na cidade, jamais admitem que pessoas

convidadas de fora pudessem ver as suas produções de arte. Foi um trabalho marcado

pelo espontaneísmo, característica das atividades populares na região.

Questionados sobre o que representou esta primeira amostra de arte, os

integrantes do grupo respondem:

Fernando: Para nós foi muito bom, porque realmente se não fosse essa primeira amostra

de arte, a gente não teria condição de formar um grupo de arte. E outra

coisa, o grupo não tem condição de ser independente, a gente teria de falar

com as autoridades.

Elias: O artista sozinho não tem condições, a não ser que seja rico, mas o grupo tem

condição de sobreviver sem ajuda de autoridade, será necessário que os

artistas se ajudem.

A primeira amostra ocorrida no 1o semestre foi a oportunidade de

divulgar a cidade de Colônia Leopoldina. É devido a ela que o grupo está existindo. As

discussões seguem em torno do tema “força do grupo” e ao que se apresenta. Se não é

devido a esta amostra que o grupo está existindo, pelo menos se deve a ela um momento

determinado para se sentirem com força de fazer algo como grupo.

Numa reunião seguinte, entretanto, há um relatório do que foi o festival

de São Cristóvão, em Sergipe. Dois dos membros do grupo de arte, estando em Maceió

para vender sua produção, resolvem ir até aquela cidade onde acontecia o Festival de

Arte, um encontro de toda a América Latina. O entusiasmo do grupo cresce.

Outras reuniões acontecem e discussões sobre cultura popular e arte, com

base em textos simples, são realizadas num desses encontros, amplia-se a discussão e

chega-se a se reunir com o grupo de zabumba e alguns interessados nos guerreiros.

Monta-se todo um jogo de “fotos” sobre os zabumbeiros e discute-se a cultura popular.

Segue a análise do grupo sobre esse encontro:

Fernando: Acho que falta muita coisa para eles se juntarem a nós, pois nosso grupo é

muito “evoluído”. Eles também têm de lutar, se iniciarem.

Elias: O grupo deles já existe, está reunido. Então eles venham a nós e vamos ajudar.

Page 317: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

317

Irá: Mas é por causa disto que temos de dar uma força a eles.

Fernando: Eles não vão poder entender, e para eles entender...

Irá: Justamente que é preciso ir lá com eles.

Elias: Sabe como é. A gente pode ajudar. E não deixar que os grupos morram.

Concluem com um consenso geral no grupo, no sentido de que podem e

devem ajudar outros grupos. Continuando o trabalho, esse grupo promove a 2a Amostra

de Arte. Cada componente do grupo continua produzindo seus trabalhos. No começo de

dezembro, inicia-se a aplicação dos questionários sobre as necessidades básicas e os

componentes do grupo ajudam também na sua aplicação. Já no final de dezembro, novo

fato desponta como outro momento cultural. É a festa de São Sebastião, tradicional no

município. O grupo de arte reunido decide realizar a segunda amostra, que agora seria

não mais um fazer pelo simples ato do fazer. Porém, definem-se os objetivos e a

composição da amostra, mantendo-se ainda a ideia de percorrer a cidade. Tudo isto é

discutido e definido coletivamente.

Um boletim informativo contando o que é essa amostra de arte da

Colônia Leopoldina, seus objetivos, sua composição e em que ruas passaria, foi

distribuído à comunidade e divulgado na missa de domingo. Se a primeira amostra

estava restrita a uma apresentação apenas, a segunda se propôs realizar quatro

apresentações, das quais se concretizaram três, já que choveu em um dos dias previstos.

Os objetivos são: mostrar a arte da cidade à própria cidade; levar o

leopoldinense a valorizar sua arte; proporcionar discussão entre os visitantes da amostra

e apresentar a arte ao povo como um momento educativo entre povo e artista. O

leopoldinense pode não ter chegado a valorizar sua arte, não conseguindo o grupo

atingir um dos objetivos por falta de atitudes que o demonstrem. Contudo, a arte foi

mostrada ao público interessado. Se a discussão não ocorreu, como talvez o grupo todo

esperasse, ela se dá pelas próprias observações do grupo quando mostra que alguns

saem pegando, mexendo ou mesmo questionando “para quê é isto?” Ou “de quem é

isto?”; ainda, quando se aproximam fazendo sua análise, e respondendo e saindo; ou até

mesmo quando observam à distância.

Mas, se nenhum objetivo foi explicitamente conseguido, pelo menos um

estaria assegurado: ter tornado o evento como momento de interação povo-artista. Se

por parte do povo há questionamento, dúvidas, receios, medo, desconfiança, ou não lê o

boletim querendo pastoril, buscando o dono dos quadros para saber se era de “alguém”,

o apoio maior vem das crianças presentes. Algo ocorre em suas mentes. Um processo

Page 318: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

318

educativo processa-se nas mentes desses visitantes que pela primeira vez, veem e

observam esses trabalhos na sua comunidade.

Mas e da parte do grupo? O processo educativo buscado pelos artistas se

expressa quando o grupo responde sobre o que representou para eles a segunda amostra

de arte:

Irá: Esta 2a amostra foi um duro. A segunda deu mais coragem; foi mais à frente; agiu

mais e foi melhor. Melhora apresentada e estamos indo.

Estes aspectos são compartilhados por todo o grupo. E ainda sobre que avanço

houve (se é que houve) eles respondem:

Elias: Na primeira amostra, houve acanhamento. O pessoal nunca se reuniu e na

segunda amostra a gente foi superando e não tínhamos mais acanhamento de

andar com quadros e trabalhos debaixo do braço. Houve avanço assim de, sem

exibição, quebrar o medo. Sem ter trabalhos diferentes mas houve avanço de

querer mostrar sem medo e sem manha.

Fernando: Acho que houve evolução. Agora achei os trabalhos (pintura) na primeira e

na segunda muito fracos. Três meus e outros de Elias, mas é pouco para a

exibição. Da próxima, iremos fazer e trazer muita coisa para mostrar lá fora.

O grupo continua a produção, mas ainda necessita de maior divulgação.

Maio é mês de vários festejos religiosos. O grupo reúne-se ainda no início de abril e

decide apresentar o Cultural de Maio, isto é, vai mostrar o material, a produção artística

aos alunos da escola. O grupo faz visitas às escolas da cidade, Usina Taquara e

destilaria Porto Alegre. Definem seus objetivos: divulgar a arte entre as crianças e

jovens; incentivar a cultura artística; fortalecer o grupo, já que mantinha sua

dependência a sua própria força. Do poder local (Prefeitura) não houve ajuda alguma e

ainda faz questão de assim continuar.

Então, prepara-se novo boletim informativo sobre o que é o Cultural de

Maio, com o intuito de continuar despertando a discussão sobre a cultura local. São

visitadas quatro escolas nesse mês. Se permanece todo um expediente em cada uma

delas. A garotada observa o material exposto e entrega-se papel a todos para também

desenvolverem seu próprio trabalho. Este é um importante encontro com os educandos

que cursam a 1a fase do 1

o grau, incentivando a liberdade de fazerem algo. Quebra-se o

formalismo da escola, naquela ocasião.

Page 319: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

319

Ainda nesse momento, o grupo coleta observações também das

professoras sobre a apresentação daqueles trabalhos:

Edite: precisa voltar mais vezes.

Ma Rodrigues: É útil para as crianças se elevarem culturalmente.

Auxiliadora: Ótimo, leva a adquirir conhecimento para todos.

Cícera: É bom para o desenvolvimento para a criança ir descobrindo alguma coisa daí.

Jacy: É bom para despertar a curiosidade das crianças para a arte.

Conceição: É bom porque eles gostam de desenhar.

Ma José: Educativo para os alunos.

Joselita: Válido, pois desperta curiosidade das crianças.

Lila: Tem validade pois é incentivo aos alunos.

Gesilda: É válido pois a cultura é importante.

Ednaura: É valido para despertar nas crianças a arte-conhecimento.

Estas são as impressões deixadas nas professoras pela apresentação nos

dois maiores grupos do município. Sobre a importância ou não de se continuar com

outras apresentações elas também responderam:

Edite: Importante pois desperta valores artísticos.

Ma Rodrigues: Continuar, sim, para o progresso.

Auxiliadora: É mais cultura que se aprende.

Edileuza: Precisa ir renovando as exposições para dar condição a Leopoldina de ter

alguns artistas.

Jacy: Já se sentia falta deste trabalho.

Conceição: Voltando mais vezes para dar chance de renovar os desenhos.

Ma José: Importante, pois esta amostra de arte sai da rotina.

Joselita: É importante voltar pelo contato humano que há.

Lila: É bom para que apareçam outras pessoas que querem fazer parte da arte.

Gesilda: Deve continuar, pois é educativo. Devem lutar para continuar mostrando os

trabalhos.

Ednaura: É importante para as pessoas tomarem conhecimento da arte.

No desenvolvimento das atividades nas escolas, o grupo coleta também

os trabalhos dos meninos nas apresentações e os mantêm como material para estudo e

busca de novos garotos que podem contribuir para a arte. Mas, mesmo procurando sua

Page 320: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

320

existência, dependendo apenas de si, o grupo tem necessidades que devem ser

encaminhadas ao poder público local.

Para tanto, tira-se ainda nas reivindicações das reuniões de abril uma lista

de solicitações ou propostas para a arte leopoldinense, isto feito em conjunto com o

grupo de zabumba e grupo pró-formação dos guerreiros. O documento final aprovado

tem dois objetivos básicos: despertar a preocupação pela cultura local e apresentar as

reivindicações dos grupos ao executivo local. Estas reivindicações saíram das reuniões e

traduzem os anseios de seus participantes. Sobre este documento, afirmam:

Elias: São propostas do próprio grupo, reivindicações e hoje a gente pensa em ganhar

uma casa para trabalhar. Vamos mostrar as fotos de todo nosso trabalho.

Pensamos sensibilizar o prefeito, já que ele é o “Leão da Cultura” (divulgação da

campanha eleitoral).

Fernando: Eu acho que, realmente, o prefeito vai dar apoio a nós e a gente tem de saber

chegar mostrar.

Ressaltem-se aqui as propostas apresentadas pelos três grupos tiradas em

reunião conjunta: grupo de arte, zabumba e guerreiros. O grupo de arte solicitou um

espaço físico para arte (uma casa para trabalhar) e uma verba mensal para a cultura

(essa verba seria distribuída entre os grupos existentes e os que poderão surgir). O grupo

de zabumba exigiu a doação de um conjunto de roupa (conjunto azul-claro ou cáqui) e

de um conjunto de alparcatas para os componentes. O grupo dos guerreiros apresentou

uma única solicitação: a autorização de se montar uma palhoça na Rua da Mangueira.

Estando o documento final preparado e aprovado por todos, marca-se a

audiência com o prefeito. Distribuem-se cento e vinte cópias na comunidade. Na

reunião com o prefeito, todo um expediente é tomado em discussões e apresentação das

atividades dos grupos através de fotos. Nas questões de cunho financeiro, o prefeito

discute a crise econômica do Estado e do município.

Como saldo imediato, tem-se a aprovação do espaço para os guerreiros,

sendo quebrado o medo que têm as pessoas de falar com uma autoridade, no caso o

prefeito. Para aqueles trabalhadores, falar com o prefeito já não é obstáculo daqui para

frente. Quanto às outras questões, voltariam a ser discutidas em outra ocasião.

Page 321: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

321

Devolução dos dados

A partir de agora, também se faz necessário apresentar como se dá a devolução

dos dados coletados na comunidade pelos grupos. Como é apresentada a situação da

comunidade aos grupos de trabalhos e aos grupos que efetivamente não haviam

participado da pesquisa. De posse dos dados da comunidade, parte-se para a devolução

dos mesmos. Esse é um momento determinante na pesquisa em que se passa a encarar

perspectivas de mudança e assim impulsionando os grupos a refletirem, de forma

sistematizada a sua realidade; Um momento de reflexão e diálogo, porém, com dados da

própria vida local. A importância dessa etapa está na problematização das situações

apresentadas.

Esse processo teve dois momentos distintos: um primeiro, onde se apresentam

todos os dados levantados e se questionam, superficialmente, essas situações; e um

outro momento de maior discussão dos dados - por exemplo, o grupo do esporte

aprofunda mais os dados relativos ao esporte.

Nos encontros em que houve pouca ou nenhuma participação dos presentes no

trabalho, expunham-se os dados, levantando-se discussões sem necessariamente haver

ação posterior imediata. Nos encontros com grupos engajados no processo, busca-se,

além das discussões, esta ação social.

O primeiro encontro de devolução desses dados se dá com o grupo de arte,

zabumba e guerreiros. Os dados são analisados de forma geral e, em seguida, analisa-se

parte específica de aspectos da cultura local. Como resultado desse segundo momento,

chega-se a elaborar o documento já citado sobre a cultura local e, em seguida, o seu

encaminhamento para o prefeito local. Paralelamente a tudo isto, promove-se, com o

grupo, o Cultural de Maio.

Os componentes do grupo de arte preparam cartazes de divulgação desses dados

e passam a explicá-los também nos encontros que eram promovidos em algumas ruas.

No encontro com o Lyons Club local se apresentam todos os dados. Uma reunião do

clube foi tomada para essa discussão. Um de seus membros chega a levantar a questão

de que, para a promoção de um trabalho social, não é necessária a existência de Lyons,

e sim de um grupo que se comprometa com a comunidade. Foi um questionamento

importante sobre a própria existência daquele grupo, que também não sabe que rumo

Page 322: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

322

tomar diante do desafio do trabalho comunitário. O Lyons não teve participação na

pesquisa e também não assume nenhuma ação imediata.

Aos religiosos locais são apresentados e discutidos, além dos dados, a própria

metodologia aplicada. É possível que estes dados venham a ser úteis para orientar o

trabalho pastoral que já se prepara.

Outro encontro com maior discussão ocorre na “assembléia da comunidade”,

com duração de um dia. Estiveram presentes representantes de municípios vizinhos e

tudo foi promovido pela Igreja com as lideranças religiosas da região. Todos os dados

coletados servem como material de discussão em vários grupos, passando a ter

significado para a orientação dos trabalhos de ações a serem executadas. Especialmente

sobre educação, houve uma reunião com os professores da 1ª à 4ª séries dos grupos

escolares do município. Discute-se a educação em geral e também a situação da

educação municipal. Esse encontro pode ter sido o início de reuniões futuras sobre as

questões educativas locais.

São feitos, normalmente, dois outros pedidos de apresentações e discussões

desses dados sobre a comunidade: um à direção do Colégio, que, pela instabilidade

reinante, não se efetiva - toda a administração escolar está deixando o colégio; o outro

pedido é feito à Câmara de Vereadores, mas negado pelo seu presidente, alegando ser

desnecessária a divulgação dessas necessidades básicas, porque “nós vereadores

quando eleitos, trouxemos o cômputo de todas as dificuldades do nosso município46

”.

Assim, entende o presidente reagindo a tal tipo de discussão. Para ele, quem deve

discutir os problemas do município é apenas o prefeito.

O grupo de arte continua sozinho, apresentando, através de cartazes, aqueles

dados nas ruas da Lama, Mangueira e Cemitério. Nesses momentos, apresentam-se os

dados nas cartolinas, a forma que eles mesmos escolheram para divulgação. Um

total de quatro reuniões acontece durante o mês de março. Além dos dados, os

componentes do grupo apresentam fotos da cidade e da qualidade da água, como

também discutem um cartaz distribuído pela estação ecológica de Tapacurá (Pe), (os

“preceitos do padre Cícero” ), que orienta para a não derrubada da mata; fogo no mato;

caça e pesca; criação de bodes e bois; plantas para ração e outros aspectos da ecologia,

um ponto novo da discussão assumido pelo grupo; um dos elementos do grupo

apresenta também questões de saúde.

46 Cf. Of. Câmara Municipal de Colônia Leopoldina – no. 25/1983, de 13 de abril de 1983.

Page 323: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

323

Na avaliação do grupo, comenta-se que “fizemos com que eles se sentissem

seguros e conversassem abertamente de seus pedidos e problemas”. Em outra rua,

chegam a concluir que o trabalho é importante, mas muitos não têm fé em nada.

Portanto, um trabalho de ação popular necessita de pessoal qualificado para entender e

explicar a dinâmica do trabalho.

Essa devolução de dados é determinante para uma maior disseminação dos

conhecimentos da comunidade. A análise da cultura, num ângulo global, reduz o espaço

de discussão meramente localizada, que é tônica até mesmo nos comícios eleitorais.

Além disso, abre para uma análise mais ampla, colocando os temas locais na sua

vinculação com problemas globais, numa perspectiva cultural em que ela ajuda os

homens “a compreender a sociedade como um todo, e avaliar sabiamente os fins que a

comunidade deve realizar e a ver a presente em sua relação com o passado e o futuro”

(RUSSEL, 1978: 69). Um processo educativo que se caracteriza pela busca de

transformação da realidade social e contribui para a organização dos trabalhos do campo

ou da cidade.

A luta para a organização da classe trabalhadora é constante. Buscar essa

organização significa estar enfrentando também os ataques da classe antagônica ou de

seus agentes. De coisas muito pequenas, como o simples treino de futebol, são respostas

correspondentes dos opositores. Não entendem, é certo, aqueles trabalhadores que, por

trás de tudo isso, existe uma dinâmica maior; mas, entendem que aquelas respostas eram

para eles. Observa-se que, um mês depois de treinamentos físicos do Nova Geração,

outros promovem o treinamento também de suas equipes e buscam seus atletas em casa.

De início, há comentários de que o Nova Geração não iria existir e este passou a

existir. Em seguida, que ia se acabar logo que o preparador físico (pesquisador/

educador) fosse embora em dezembro. Ele não acabou, apesar de sofrer forte abalo.

Hoje, organizam suas atividades com sua direção própria. Mas a equipe sofre a

campanha para sua extinção, como declaram os atletas Fernando e Edson:

A gente estamos na dança e estamos dando mais esforço sobre a equipe. Nossa

equipe não é como pensavam, que a nossa equipe era de formar e de repente se

acabar. A gente teve nossa equipe sempre em ordem e queremos que o Nova

Geração vá em frente. As outras equipes pensavam que o Nova Geração criava,

continuava e se acabava. Pensaram enganado. Mesmo sem Zé de Melo47

nós

continuou e ele não pode ficar diretamente aqui, passa fora e vem e nós na

47 Refere-se ao coordenador da pesquisa José Francisco de Melo Neto.

Page 324: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

324

direção manteve a coisa em ordem e a nossa equipe em frente é o que a gente

quer.

Eles fizeram críticas, falaram bastante, mangaram quando se jogava bola. Eles

pensaram em negócio mas foi outro. Um time de perna de pau. Esse ali é um

grosso. Em todo canto na praça era aquele bate-papo, mas eles pensaram

enganado. O Nova Geração foi subindo devagazinho e está subindo...

O grupo rompe essa fase, e nada se comenta mais de sua não existência.

O campo hoje tem espaço para o Nova Geração jogar dois domingos por mês com

equipes de fora e três dias na semana para treinamento.

Grande discussão acontece também quando se espalha na cidade a notícia

do documento que foi entregue ao prefeito. Muitas pessoas da localidade não podem

entender tal coisa: primeiro, que qualquer reunião com o prefeito deveria ter sido

realizada por eles, e não pelo Nova Geração. A grande correria dos funcionários que

estavam na prefeitura chama atenção, pois jamais viram tanta gente reunida com o

prefeito. Tudo é novidade para todo mundo. Mas a reação maior se dá por entenderem

que o documento ofende os brios do esporte local. Tudo parece transparecer na verdade

uma reação inconsciente ou consciente, no sentido de não aceitarem o fato de o futebol

praticado estar na dependência do poder local. Adicionam-se, ainda, as reações

individualizadas e comentários públicos ou não, como a do Presidente da Câmara.

Mas o poder local, diante de tal tipo de mobilização que passa

paralelamente ao seu poder, desperta seus agentes e prepara suas intervenções. Como

representam o poder econômico e todo o grupo está bastante sensível às investidas do

dinheiro, eles atacam justamente com isto. O grupo de arte que vinha funcionando às

suas custas também foi sabedor de todo um esquema de cooptação para o sistema local.

Em uma das reuniões, Elias afirma:

Alguém chegou ao nosso grupo e percebeu nosso desempenho e tá vendo que

aqui vai subir de qualquer jeito. Existe alguém esperando que o grupo suba

para depois dar apoio. Mas, a questão é política (partidária). O grupo não

aceita o tipo de apoio dele.

Por outro lado, há os esquemas políticos montados e para enfrentá-los,

num tipo de trabalho de ação cultural, o grupo de arte ainda avalia que há falta de

pessoas para num trabalho dessa ordem. É necessário que haja uma turma mais

preparada para o trabalho de organização do povo, mas, em contrapartida, os

“poderosos” locais não querem de jeito nenhum. Sentenciam ainda que “é muito

Page 325: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

325

perigoso até mesmo de vida, pois eles são mafiosos”. Esta avaliação não foge ao que se

observa hoje da ação desses “poderosos” em seus ataques à organização dos

trabalhadores, chegando ao assassinato de tantos líderes classistas no campo.

Mas a investida do poder local se dá com maior expressão no grupo dos

guerreiros. Após a conquista do local, o espaço em plena rua para se montar a palhoça

de dança, a festa podia começar. Mas, como fazer a palhoça? Como conseguir o

dinheiro? E, por falta de maior agilização desse material, dois integrantes da equipe

recorrem à prefeitura e são prontamente atendidos com ajuda financeira. Facilita-se não

só a palhoça, mas também de forma muito rápida toda a indumentária necessária, o que

levaria outra temporada de trabalho para consegui-la com a colaboração de todos. Para

um grupo que se forma, tudo pode voltar à estaca zero, caso não se mantenha sua

reunião frequente.

Mas entende-se que a primeira instância desse diálogo educativo é nos

grupos. Os momentos de interações de suas percepções facilitam a transformação das

mesmas, à medida que vão se enriquecendo em conhecimento. Portanto, está aí a base

primeira da instrumentalização de seus membros e de suas lideranças, no sentido de

buscar as soluções para os problemas.

São o elemento de controle social que leva seus membros à mudança. Nesta

função o grupo exerce, sobre seus líderes, um controle permanente, para que não

ultrapassem suas funções, distanciando-se dos interesses do grupo em benefício

próprio (PINTO,1981:92).

Assim, são esses grupos que, atuando em situação de diálogo e voltados à

transformação social, irão educando seus próprios componentes.

Quanto ao pesquisador/educador, um ponto que merece atenção é a

questão de que os grupos têm em mente que ele deve ser a figura central do trabalho.

Anular esta perspectiva dos grupos é tarefa do educador. Deve-se entender sempre que a

função é de estimulação de reflexão e de ação do grupo. O pesquisador/educador deve

manter permanente reflexão sobre este seu papel, para não correr o risco de se sentir,

como naquela equipe de futebol, “o dono da equipe”. Tudo isso causa reação dentro dos

grupos. Portanto, desenvolver uma prática em que o trabalhador vá entendendo a

dinâmica social também faz parte da metodologia da pesquisa-ação.

Page 326: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

326

AÇÃO CULTURAL - DISCUSSÃO

Após os contatos com a comunidade, com conhecimentos mesmo

superficiais de seus principais problemas, a metodologia da pesquisa-ação se torna um

instrumento, uma ferramenta para uma intervenção sistematizada na comunidade. As

questões apresentadas pela comunidade, analisadas isoladamente, podem não trazer

maior significado se a comunidade não estiver envolvida. A participação dos grupos ou

a comunidade reforça a visão da análise dos condicionantes histórico-sociais, resultando

numa concepção de ciência como processo. Essa participação, conduzindo à

organização da comunidade, gera a ação. Esta ação contextualizada na globalidade de

cultura está determinada aqui como ação cultural. Uma ação que busca conhecer,

compreender a verdade das coisas e do ser, mas que também passe a buscar, a partir do

agir, a possibilidade de transformação das condições de existência humana em todas as

dimensões. Afirma Marx, em suas teses sobre FEUERBACH, que os filósofos até agora

têm se preocupado em compreender o mundo, mas que a tarefa, no momento, é a de

transformação deste mundo. Já, para JAPIASSU (1981: 89), surge agora duas posições

delineadas: “o homem por um duplo deslocamento, vai tentar definir-se: de um lado,

enquanto objeto da ciência; e do outro, enquanto sujeito da ciência”.

Na presente pesquisa, durante os primeiros contatos em que se busca a

formação do círculo de cultura, inicia-se todo um estudo teórico da realidade local. Este

estudo, entretanto, não teve continuidade. Mesmo assim, não foi em vão. Cinco das sete

pessoas que se iniciaram no círculo de cultura assumem a ação em outros grupos, já em

momentos posteriores. Neste início, há uma busca no sentido de entender a realidade da

comunidade, porém de forma contemplativa e, assim, faltou a prática. O conhecimento

da realidade não pode apresentar-se como contemplação, ficando à margem da prática.

Esse conhecimento, aliás, só existe na prática e é o “conhecimento de objetos nela

integrados, de uma realidade que já perdeu, ou está em via de perder, sua existência

imediata, para ser uma realidade mediada pelo homem” (VÁSQUEZ, 1977: 155).

Contudo, no estudo em questão, é a partir das discussões das questões

concretas com os grupos que se vai passando da teoria à ação. Esta ação se constitui da

participação dos indivíduos desde os primeiros encontros. Vêm novos encontros e

outros mais. Assim, o componente do grupo vai superando a mera expectativa e passa à

Page 327: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

327

ação, uma ação de elaboração conjunta de sua história da banda de zabumba; de

convidar amigos para a organização da equipe de futebol; de ir repensando o seu tocar e

definindo a necessidade de ensaiar suas músicas ainda mais; de buscar a construção da

sede de seus guerreiros; ou ainda para as atividades em pinturas ou atividades

artesanais, com o intuito de promoção cultural e maior socialização da arte. Enfim, a

ação vai acontecendo por meio da organização dos esforços dos indivíduos. A ação

esteve presente em todo momento nas suas diferentes formas. As diferentes formas de

práxis vão surgindo, à medida que avança a organização dos grupos. Dessa forma, o

objeto sobre o qual o sujeito exerce a ação vai mudando quando se afirma mais a

organização, e também quando se tem de agir em diferentes grupos.

É no desenrolar da pesquisa, nesta busca de conhecer a realidade que o

participante dos grupos vai adquirindo “sua auto-consciência e está no rumo não só de

sua própria verdade, mas também na do mundo. E o reconhecimento é acompanhado

pela ação. Ele procurará por sua verdade em ação, e fazer do mundo o que é

essencialmente, ou seja, a realização de auto-consciência do homem.” (MARCUSE, in

FROMM, 1979: 36).

Assim, na busca de conhecer o mundo, o homem o constrói para si

mesmo. E vai construindo sua independência individual e de classe, como afirma

FROMM, tornando-se “não apenas livre de, mas também livre para” (1979: 45). Esta

independência, partindo de sua auto-consciência, vem sendo formada a partir da ação da

formação dos grupos na comunidade. Esta ação dos membros dos grupos vai tornando-

se mais complexa, mas sempre vinculada às necessidade que vão surgindo. Vai

passando da simples participação com outros elementos de grupo até atingir a ação de

encaminhamento de reivindicação de ordem política (CHEPTULIM, 1982: 92). Ação

que, nesta pesquisa, foi concretizada com as propostas que os grupos apresentaram ao

poder executivo local. Assim, vai se orientando o homem através de sua práxis, a

transformar sua realidade de forma criativa.

Mas, na ação de formação dos grupos, vai se desenvolvendo a

consciência: desde a fase inferior da mesma, isto é, consciência comum, aquele que

pensa os atos sem fazer da ação o seu objeto. A partir do nível inicial de consciência

intransitiva, busca-se o rompimento da mesma para uma consciência transitiva ingênua,

pela ação na realidade, para se chegar até o nível de consciência transitiva crítica. Nessa

perspectiva, esclarece BARROS (1982: 13):

Page 328: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

328

Na medida em que cada indivíduo começa a analisar a realidade em que vive,

indagando suas causas mais profundas ou os fatores que realmente a

determinam; na medida em que este indivíduo em diálogo com os outros em um

círculo de cultura, questiona esta realidade com os seus companheiros,

interpelando-os e sendo por eles interpelados; na medida em que eles tomam

consciência de que através da cooperação podem transformar esta realidade,

podem tornar-se um pouco mais sujeitos e criadores de sua história, podem

fazer cultura, nesta medida este indivíduo ou este grupo desenvolve uma

consciência transitivo-crítica. (BARROS, 1982: 13).

Esta teoria se embasa para melhor compreender a realidade e contribuir

para uma ação política. Dentre outros autores, BORDA (1972: 3) mostra como uma

explicação teórica adequada à realidade facilita esta ação política e, ao mesmo tempo,

como esse processo chega a ser um aporte da ciência. Para ele “sobreviverão e

acumularão aqueles conceitos e técnicas até que passem pela prova de força da

experiência de massas erguidas em defesa de seus interesses de classe” .

Por isso, não é necessário apenas ter em seu tema de trabalho a classe

operária, o proletário do campo e ligar-se ao movimento sindical. Para THIOLLENT

(1981: 131), as “condições de obtenção dos dados e o processamento aos quais são

submetidos – numa palavra, o dispositivo metodológico – constituem o elemento

determinante de que se pode pretender alcançar”. Este dispositivo deverá ser útil à

classe trabalhadora, sobretudo no sentido de promoção e fortalecimento de organização

da classe para a superação dos problemas enfrentados. Mas a produção desse

conhecimento se insere na lógica da produção das mercadorias. Nas condições do

capitalismo, SARUP (1980: 70) entende que o processo educativo hoje se apresenta

como um ato alienante, tornando-se um processo de desumanização. Outros autores

também o entendem dessa forma. Por outro lado, a proposta de que cada indivíduo é

responsável pela sua própria desmistificação não passa de mero idealismo. É pouco

provável a sua realização, já que não será unicamente da crítica teórica que se superará a

alienação. Para tanto, faz-se necessária a ação, a prática social, levando-se em conta

todos os fatores locais e as circunstâncias, uma ação cultural, em que a questão de como

proceder para desenvolver este processo é o problema central. Este trabalho, entretanto,

pode ser realizado junto às massas. Para tanto, através da ação cultural, utilizando os

procedimentos da pesquisa-ação, parte-se, na Zona da Mata, desta realidade concreta.

Daí, busca-se entendê-la, busca-se o encontro com indivíduos, sendo os passos iniciais

para organização dos futuros grupos. À medida que se avança com cada grupo, tem-se o

Page 329: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

329

cuidado permanente na percepção desses indivíduos de sua realidade convergindo para

uma perspectiva de ação sobre a realidade.

Um trabalho organizativo que se inicia a partir daquilo que os indivíduos

sabem, do que percebem, eleva-se a um nível de um novo conhecimento, revelando o

objeto a ser transformado. Se se falha na organização do primeiro grupo de esporte;

num possível trabalho educativo do sindicato rural; se ocorre um impasse no grupo de

professores do colégio, no grupo de fotografias, no grupo de jovens, ou no círculo de

cultura, ou ainda no grupo de MOBRAL, tudo isso passa por nova análise de

circunstâncias em que se inserem estes grupos. Se com os demais grupos superam-se

esses impasses, pode ter sido por conta de uma maior clareza dessas circunstâncias e

melhor trato com o método de trabalho, ou ainda uma questão de tempo.

Nessa ação de organização inicial, a concepção teórica de ver o povo

com sinônimo de massa monolítica deve também desaparecer. Para o campo,

sobretudo, as frações constituintes do campesinato devem ser consideradas.

Mas, no trabalho com os grupos, a preocupação com a união está sempre

presente. Nas reuniões, discutindo as questões concretas de grupos, discute-se também o

entendimento da organização da sociedade e como cada grupo se insere nessa

conjuntura. A união entre grupos no meio rural não é tarefa fácil. Além dos fatores

apresentados anteriormente, soma-se ainda o analfabetismo e a ausência de auxiliares,

bem como a desorganização dos operários da cidade, sem possibilidade de prestar

alguma ajuda. Assim, os fatores que contribuem para sua desorganização são também

fatores discutidos. De suas condições de vida saem os temas para decodificações. Todos

na região padecem de insegurança da não qualificação, além da ausência de emprego. A

partir daí, vislumbra-se com maior clareza a necessidade de união. Os detalhes culturais

vão desde o espontâneo dos gestos, códigos, entonação de voz, expressão corporal, até a

linguagem semântica de seus termos.

Todos os problemas colocados têm uma finalidade educativa de desmistificar o

mundo da dominação aos dominados. Com todos vão-se definindo propostas geralmente

imediatas, mas que preconizam a afirmação de desenvolvimento político e social,

buscando se tornar, a longo prazo, poder, e um poder em busca de hegemonia. Esta

união vai se concretizando através desse processo educativo. Entretanto, não significa

que eles vão receber, mas que devem repetir ou se ajustar ao esquema social, como faz a

escola formal. Dessa forma, adquirindo consciência, descobrindo a sua existência,

Page 330: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

330

relacionando-se com o mundo, os indivíduos podem iniciar seu próprio processo de

construção.

Pela ação cultural, cada vez mais se tem a necessidade e clareza de

colaboração entre grupos, entre os trabalhadores para sua autodeterminação. O papel do

investigador neste processo deve estar claro aos grupos. Esta figura passa a tornar-se a

esperança dos indivíduos e sem ele tudo vai abaixo. Numa ação cultural, a função do

investigador dá-se mais no sentido de estimular o grupo. Este é o papel de colaboração

que tem o investigador: fomentar e desenvolver práticas que os levem a esta

colaboração. Neste aspecto, os grupos passam a ter contato entre si: o pessoal do

MOBRAL ajuda o grupo dos guerreiros; o grupo de guerreiros une-se ao grupo de

zabumba; o grupo de zabumba reúne-se com o grupo de arte e o grupo de guerreiros,

todos discutindo os problemas da cultural local. Como resultado dessa colaboração e

discussão, hoje, o grupo de guerreiros está se apresentando às quartas, sábados e

domingos. Ganha a cultura local, se fortalece a resistência à invasão cultural. Os grupos

descobrem sua força também quando buscam mostrar a arte à comunidade e o grupo de

zabumba fortalece as amostras com a melodia, com sua arte. É a busca pela construção

das formas concretas de resistência cultural do povo.

Porém, a necessidade de colaboração de consciência não se constrói do

dia para a noite, como não vem pronta de fora, mas são processos que se engendram na

ação desses grupos. Portanto, toda uma série de atividades vai despertando o indivíduo

da sua consciência intransitiva para outro nível de compreensão, o qual deve ir além da

dimensão da Zona da Mata e do Estado, atingindo uma dimensão global. Assim se

desenvolve a colaboração entre os grupos, partindo daí para outras formas de ação mais

políticas.

A colaboração e a união vão se definindo desde o momento inicial de

investigação e o conhecimento do ambiente da pesquisa. Inicia-se desde aí, nesta prática

da Zona da Mata, com os grupos buscando sua organização, descobrindo outros e

promovendo a colaboração e união de seus membros. Chega-se a culminar com ação

eminentemente política, quando os grupos ligados à cultura e ao esporte encaminham,

como grupos organizados, as propostas culturais e esportivas para o prefeito local.

Visões diferentes surgem, dificuldades surgem, mas na ação conjunta tudo isto é

dirimido. Ações de cunho reivindicatório, bem como sua problematização, iniciam-se

desde o levantamento das entrevistas feitas pelo grupo de estudantes do Magistério e

Page 331: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

331

que fornece todo o roteiro para as reuniões dos grupos. Os dados dão maior sustentação

às propostas encaminhadas, como o documento à autoridade local que fora distribuído.

Ação cultural, segundo FREIRE (1976), é utopia, é esperança. Ação

cultural, entretanto, sendo utópica não significa ser idealista ou inexequível. Como ação,

ela se constitui do anúncio e denúncia; denúncia da realidade desumana e anúncio de

outra realidade onde os homens se tornarão mais humanos em sua plenitude. Tudo isto

parece por demais difícil. Mudar as análises, as discussões, partidos, modelos

econômicos, enfim, a estrutura social “Pode ser difícil: mas tudo isto é necessário, não

há alternativa. Como também é necessário que haja coisas que não podem ser feitas do

dia para a noite” (HELLER, in CHASIN, 1983: 7).

Page 332: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

332

CONSIDERAÇÕES

Aqui, pode-se questionar o alcance das mudanças naquela comunidade,

em termos de alteração do sistema produtivo ou quebra de dependência de classe social.

Foi alterada a dependência do município à monocultura da cana-de-açúcar e obtida a

diversificação da agricultura local? A resposta aos questionamentos apresentados é

negativa. Não foi alterado o sistema produtivo local, nem desfeita a dependência de

classe e muito menos deslocada a agricultura local da monocultura da cana. Não será

apenas através de um processo de ação cultural que tudo isso ocorrerá. Mas, podemos

ainda nos questionar se existe algum movimento social caracterizado por grandes

mobilizações, como atos públicos, greves e outros e como ficarão os grupos após o

envolvimento do pesquisador e os mesmos na comunidade.

Para responder a estas perguntas, a primeira dificuldade que se tem é a

caracterização, hoje, do momento social com o modelo padrão de certo tipo de

movimento como: atos públicos, greves, movimento sindical e atuação partidária ou

mesmo em associações de moradores. Tudo isto constitui o movimento social da classe

trabalhadora, mas é necessário que também sejam recuperadas as atividades, as ações

do dia-a-dia e enfocado como movimento de resistência da classe trabalhadora. O

enfrentamento da classe oprimida com a realidade e sua busca pela sobrevivência

fornecem as referências que podem ser úteis a uma análise prospectiva para os grupos

na comunidade.

Esta tentativa está expressa nas afirmações de alguns componentes dos

diversos grupos quando questionados sobre a possibilidade da sobrevivência daquele

grupo, mesmo com o afastamento do pesquisador. Em relação ao Nova Geração, Gizo

afirma: “as outras equipes têm mais condições de praticar esporte, mas não têm

aquela boa vontade que têm os atletas da Nova Geração”. Esta boa vontade a que se

refere o atleta da equipe diz respeito ao desejo de que elas permaneçam. Ou ainda,

quando Eraldo, o tesoureiro da equipe, envolvido nas questões financeiras, assegura que

todas aquelas despesas não ficariam “nas suas costas”- “Vamos marcar uma reunião,

no meio da semana, para acertar isto” - isto significa que a equipe começa a discutir

suas questões. Com esta prática, pode-se estar exercitando sua sustentação futura.

Indagados se o recolhimento de contribuições seria feito dentro do campo de futebol,

Page 333: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

333

alguns atletas discordam dessa cobrança dentro do campo e um deles sentencia: “vamos

reunir todos e discutir isto direitinho. Só isto”. A discussão das questões de forma

coletiva está se tornando necessidade. É comum a equipe adversária receber uma taxa

de deslocamento. Para efetivar esse pagamento, Noronha explica: “o Nova Geração não

é rico mas vem organizando e trazendo os times para jogarem em Colônia e este

pagamento tem de sair da equipe. Nós não gostamos de sair pela rua pedindo a um e a

outro para colaborar (uma prática na região e de outras equipes). Só o Nova Geração

não sai pedindo dinheiro e tudo está saindo da equipe”.

Mas nem todos têm aquela boa vontade anteriormente citada. Geraldo é o

atleta que também observa este aspecto e entende que o Nova Geração não será feito

como deveria. No entender dele, o correto seria, todo mundo pagando certo e todos

disciplinados. Porém, perguntado se a equipe acabaria após a saída do treinador

(pesquisador), ele acredita que não “porque através de nós conseguirmos cinco sócios o

que é muito difícil aqui. Cinco sócios que não jogam e contribuem, são dos engenho”.

Se esta prática se enraizar, está assegurada definitivamente a equipe. Para ele, discute-se

qualquer assunto menos o fim de sua equipe.

Torna-se equipe, como prática de discussão, um grupo também de

resistência a toda aquela forma de dependência local do esporte à Prefeitura. Está

acontecendo um processo de autoafirmação, passando a contribuir com o esporte local,

arregimentando a população local para ir ao campo de futebol assistir aos seus jogos. Os

jogos do Nova Geração passam a ser o assunto das discussões da cidade.

No aspecto político, ressalve-se a clareza da necessidade de manter-se a

cobrança ao executivo local por parte de um dos atletas - após a entrega de um

documento reivindicatório do esporte local: “temos de cobrar ao Prefeito, porque se a

gente esquecer como é que a gente vai fazer este negócio?” Isto significa conquistar as

propostas apresentadas. Mesmo com a pouca força organizativa e poder reivindicatório

desta equipe, só a presença de seus atletas no Gabinete do Prefeito foi suficiente para

que a Secretária, em plena reunião, viesse a apresentar a todos o ofício que seria

enviado a Maceió (capital do Estado), solicitando verbas para uma quadra de esporte,

uma reivindicação da equipe. O documento foi apresentado aos presentes não como

reivindicação da equipe, mas como sendo uma preocupação do prefeito desde outros

tempos.

Por outro lado, os reflexos na Câmara de Vereadores são sintomáticos.

No dia da entrega do documento sobre o esporte ao prefeito - também distribuído à

Page 334: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

334

comunidade - três vereadores se posicionam na Câmara no sentido de se ter

preocupação com o esporte local. Tudo isto foram reações a determinadas ações do

grupo que podem constituir um movimento que não se enquadra nas formas de

movimento social estigmatizados como os apresentados anteriormente, mas que vão se

constituindo na busca da efetivação de mudanças.

Do grupo de arte, salientam-se suas observações. Em uma de suas

reuniões, Elias mostra que “já sustenta um papo com o povo por duas horas. Eu só não

fazia isto. Mas já me empolgo mais. E vou, sozinho”. Estava se referindo às reuniões

que ocorriam em várias ruas.

A necessidade de todo esse trabalho continuar está expressa ainda com a

primeira visita feita a Maceió para contatos com o pessoal de arte da capital. Foram

ainda a São Cristóvão, em Sergipe, ou até Campina Grande, na Paraíba, observar o

“atelier” do Museu de Arte local e discutir com artistas campinenses. Se antes estavam

limitados ao seu município, agora já buscam outras ideias em outros centros. Fernando

afirma: “para mim foi muito bom essa organização. Eu desenvolvi mais a minha arte

que já fazia. Então vou incentivar os meus amigos. Espero que em breve o grupo esteja

com elementos e mais organizado. E ainda acho que nós iremos descobrir através desse

grupo verdadeiros artistas e cada um mostrar o que tem, como grupo então”. Ou ainda

Elias que se convence de que o “artista sozinho não tem condição, é claro, a não ser

que seja rico, mas o grupo tem condição de sobreviver sem ajuda de autoridades. Será

necessário que os artistas se ajudem”. São afirmações que transmitem possibilidades de

continuação de um grupo de arte naquela comunidade.

Num momento de autocrítica, o grupo começa a observar que “vamos

cuidar dos trabalhos, pois não temos nem trabalho para mostrar aqui em Colônia”.

Mas o interesse maior vem ainda de Irapuan, quando entende que “o grupo de arte deve

ser fortalecer e ter mais garra. Um artista deve trocar ideias, ajudar o outro, um dia

chegar aonde a gente pensa chegar”. Não se sabe aonde querem chegar, mas

explicitam a confiança de continuarem suas atividades como grupo de arte. Dois

meses depois, voltando à região, o investigador constata que o grupo define-se para

mais outra forma de arte: a escultura. Está também com troncos de madeira da região

desenvolvendo nova forma de expressão artística que, até então, não havia sido

produzido. Tudo isto vai delineando a possível sustentação do mesmo, com a saída do

investigador.

Page 335: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

335

Com relação ao grupo de zabumba, algo vai se apresentando como

mudanças quando da expectativa de atualização de suas apresentações, já que passam a

escutar discos e outras bandas de zabumba como as de Caruaru (PE). Decide-se

também, assumir o instrumento original. Estão divulgando sua história na cidade e na

região onde passam tocando. Tudo isto parece fortalecer bem mais a existência e

consolidação do grupo.

Em relação ao grupo de guerreiros, constata-se que, passados os dois

meses após se deixar a comunidade em plena época de inverno, que é a de maior crise

na região canavieira, o grupo de guerreiros passa a existir na palhoça no meio da rua da

Mangueira e dança-se às quartas, sábados e domingos. Sua existência nessa época de

chuvas é indício de sua continuação na fase da colheita que se aproxima, já que nessa

época a situação econômica da comunidade se torna menos instável.

Esta ação cultural deixa ainda um saldo expressivo de informações sobre a

comunidade. Ela ficou conhecida bem mais do que se conhecia no que se referem às suas

necessidades básicas, isto é, àquelas necessidades mais indicadas pela comunidade. Todas

aquelas informações devolvidas aos grupos e mantidas, sobretudo, com o grupo de arte

podem ser úteis para continuação deste processo praxeológico. Um leque de atividades

em cada assunto específico, como saúde e outros, fica mais claro para uma sequência dos

mesmos. Todo um trabalho está aberto. A continuação sistematizada pode se constituir

em processos vários, quando se delineiam, agora, as questões que devem ser

aprofundadas. Pode-se desenvolver o tema da cultura, questões educativas formais,

organização esportiva, organização sindical, o professorado de 1o grau, enfim, uma ação

cultural dimensionada em cada questão específica.

Aprofundar estas pequenas mudanças ocorridas e refletidas em atividades

que antes não existiam parece ser necessário. Assim, pode-se configurar um quadro

mais expressivo de possíveis mudanças, porém, a longo prazo, acrescenta-se que,

mesmo para os grupos sozinhos, não será fácil toda esta sistematização. Os religiosos,

com os agentes pastorais, poderão ter mais condições de sustentar tal processo

considerando, sobretudo, a disponibilidade e a prática dos mesmos. Para isto, pode ser

necessária a formação de novos grupos para cada aspecto a ser estudado, como, por

exemplo, para educação de 1a a 4

a séries.

Para possível criação de novos grupos, todos os dados coletados

permanecem nas mãos desses religiosos e do grupo de arte. Contudo, algo parece ficar

patente para todos os que estiveram envolvidos neste processo. Até mesmo o prefeito,

Page 336: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

336

no dia da entrega das propostas do esporte local, declara: “é bom que estão

despertando”. Para o usineiro e prefeito, não se sabe o que significa “ser bom”, mas é

evidente que aqueles trabalhadores e seus filhos demonstram estar se conscientizando,

“despertando” para a sua realidade. Os efeitos dessa ação cultural, do ponto de vista de

organização, mesmo envolvendo todos os trabalhadores da comunidade, são limitados.

O que foi feito, observa também o grupo de arte, ainda foi pouco: “Mas foi. Parece que

precisa mais gente para cada grupo”. Pode-se até admitir que nenhum desses grupos vá

avante com suas próprias forças. Entretanto, acredita-se também, como o grupo de arte,

que “o trabalho, mesmo que não vá avante, ele não se acabou. Parou, não foi em vão”.

Algumas questões de cunho acadêmico se apresentam e podem contribuir

mais para o desempenho do trabalho social como, por exemplo, a necessidade de uma

maior fundamentação nas próprias técnicas de pesquisa e, sobretudo, na análise

epistemológica das mesmas. Isto se faz necessário para se buscar também, de forma

científica, outras formas de produção do conhecimento que, mesmo podendo ser

modestas, têm de ser científicas. Formas que venham considerar os aspectos

determinantes em cada região, desenvolvendo técnicas de ação, orientando-se para fatos

pertinentes e significativos da comunidade e que tenham como finalidade a organização,

educação e ação dos envolvidos na pesquisa. Um estudo social que se busque estar

combinado com a sistematização posterior para então ser devolvido aos grupos de base

para a comprovação com a realidade.

As formas de devolução desses conhecimentos à comunidade são

desafios que, uma vez superados, se contrapõem às formas de produção especializadas,

fechadas e, portanto, divorciadas da cultura do local onde foram colhidos os dados. Essa

devolução se caracteriza pela clareza de exposição, para que a classe trabalhadora possa

compreendê-la. Não pode ser feita apenas através dos livros ou revistas especializados,

pois assim o próprio conhecimento passa a ser direcionado por critérios que estejam

fundamentados num conhecimento de utilidade às comunidades. Nesse sentido, afirma

THIOLLENT (1980), apenas a crítica não é suficiente, como as levadas ao empiricismo,

se, as mais das vezes, são críticas apressadas sem apontar alternativas adequadas.

Uma equipe de pesquisadores de várias áreas do conhecimento também

pode ser necessária para um trabalho de ação cultural mais elaborado. Várias pesquisas

podem ser geradas de um mesmo projeto de ação comunitária. Educadores, sociólogos,

economistas, antropólogos e outros podem contribuir no conjunto da devolução de

Page 337: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

337

dados com uma maior fundamentação teórica de cada pesquisador. Isto será útil a uma

maior compreensão da comunidade e, em consequência, uma ação social mais efetiva.

E, finalmente, a pesquisa nos países periféricos ou subdesenvolvidos pode gerar

uma maior autonomia dos mesmos, quando se busca construir seu instrumental próprio

de pesquisa. Esse instrumento se faz necessário, pois assim se avança para deter-se o

colonialismo científico e cultural como meio de resistência à dependência econômica e

política dos povos.

Page 338: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

338

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, Hélène Le Blanch. Paulo Freire - Fundamentos e perspectivas de sua

concepção educacional. Paulo Freire e a educação brasileira. Frente Cultural de

Brasília. Brasília, 1982.

BENJAMIM, Fernanda Antônia Sobral. Educaçã e mudança social. São Paulo:

Cortez: Autores Associados, 1980.

BORDA. O. Fals e outros. Causa popular. Ciência popular. Uma metodologia do

conhecimento científico através de ação. Publicação de la Rosca. Bogotá, 1972.

BORGES, Anita. História de Colônia Leopoldina. Mimeo. 1975.

CARNOY, Martin. La Educacion como imperialismo cultural. 2a ed. México: Siglo

Veintiuno Editores, S.A., 1978.

CHASIN, J. Marx, hoje – da razão do mundo ao mundo sem razão. Nova Editora

Ensaio, Ano V – no 11/12, Edição Especial, São Paulo, Outubro, 1983.

CHEPTULIN, ALEXANDRE. A Dialética materialista. Categorias e leis da dialética.

Tradução de Leda Rita Cintra Ferraz, Editora Alfa-Omega, São Paulo, 1982.

COHEN, Benjamim J. A questão do imperialismo. A economia política da dominação

e dependência. Tradução: Maria Izabel da Silva Lopes. Zahar Editores, Rio de

Janeiro, 1976.

FERNANDES, Florestan. Sociedade de classe e subdesenvolvimento. Zahar Editores,

3a ed. Rio de Janeiro, 1975.

FRANK, André Gunder. Desenvolvimento do subdesenvolvimento latino-ameri-

cano. In: Pereira, Luiz (org). Urbanização e Subdesenvolvimento. Zahar, Editores,

Rio de Janeiro, 1976.

_____, Acumulação dependente e subdesenvolvimento: Repensando a teoria da

dependência. Editora Brasiliense, São Paulo, 1980.

Page 339: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

339

FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao

pensamento de Paulo Freire. 3a ed. São Paulo: Moraes, 1980.

_____. Ação cultural para liberdade. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1976.

_____. A mensagem de Paulo Freire: Teoria e prática da libertação. Textos de

Paulo Freire selecionados pelo I.N.O.D.E.P, Porto: Nova Crítica, 1977.

_____. Pedagogia do oprimido. 7a ed. Rio de Janeiro, paz e Terra, 1979.

_____. Educação e mudança. Tradução de Moacir Gadotti e Lilian Lopes Martins,

Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.

FROMM, Erich. Conceito marxista do homem. Tradução de Octávio Alves Velho, 7

ed. Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1979.

GAMBOA, Silvio A. S. Análise epistemológica dos métodos na pesquisa educa-

cional: um estudo sobre as dissertações de mestrado em educação da UnB. Brasília:

Faculdade de Educação UnB, 1982.

GOLDMAN, Lucien. A criação cultural na sociedade moderna. (Por uma Sociologia da

Totalidade). Tradução: Rolando Roque da Silva. Difusão Européia do Livro, São

Paulo, 1972.

GRAMSCI, Antônio. Os intelectuais e a organização da cultura. 3a ed. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 1979.

HALL, Budd. L. Participatory Research, Popular Knowledge and Power e Personal

Reflection, in: Convergence, XIV no 3, 1981.

HARNECKER, Marta e Uribe, Gabriela. Imperialismo e dependência. São Paulo:

Global Editora e Distribuidora, Ltda, 1980.

IANNI, Octávio. Imperialismo e cultura. Petrópolis, Vozes, 3a ed. 1979.

JAPIASSU, Hilton. O mito da neutralidade científica. 2a ed. Rio de Janeiro: Imago

Editora Ltda, 1981.

KOWARICK, Lúcio. Capitalismo, dependência e marginalidade urbana na América

Latina: uma contribuição teórica. Estudos CEBRAP 8, edições CEBRAP. São

Paulo, 1974.

LENIN, V. I. Imperialismo e cultura. 2a ed. São Paulo: Global, 1982.

LEONTIEV, Alexei N. O Homem e a Cultura. In. O papel da cultura nas ciências

sociais. 37-73, Villa Marta, vários autores, Porto Alegre, 1980.

LIMA, Venício Artur de. Comunicação e cultura: as ideias de Paulo Freire, Rio de

Janeiro, Paz e Terra, 1981.

Page 340: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

340

MARX, Karl e Engels, F. Crítica da educação do ensino, trad. Ana Maria Rabaça.

Lisboa: Moraes, 1978.

NEVES, Delma Pessanha. Lavradores e pequenos produtos de cana: estudo das

formas de subordinação dos pequenos produtores agrícolas ao capital. Rio de

Janeiro: Zahar Editora, 1981.

OLIVEIRA, Rosiska D. e Oliveira, Miguel D. Pesquisa social e ação educativa. In.

Carlos Rodrigues Brandão, (org.). Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense,

1981.

PINTO, Álvaro Vieira. Ciência e existência: Problemas filosóficos da pesquisa

científica. 2a ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1972.

PONCE, Aníbal. Educação e luta de classe. Tradução de José Severo Camargo

Pereira, 2a ed. São Paulo: Cortez, autores associados, 1979.

RUSSEL, Bertrand. A Educação e ordem social. Rio de Janeiro: Zahar Editores,

1978.

SANTOS, Theotonio dos. A crise da teoria do desenvolvimento e as relações de

dependência na América Latina. In: Hélio Jaguaribe e outros. A dependência

política econômica da América Latina. São Paulo: Loyola, 1976.

SARUP, Madan. Marxismo e educação. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro,

Zahar Editores, 1980.

SILVA, Everaldo Araújo. A Colônia da princesa. IGASA, Maceió, Alagoas, 1983.

SINGER, Paul. Capital e trabalho no campo. Organização de Jaime Pinsky. São

Paulo: Hucitec, 1979.

SZMRECSÁNYI, Tamás. O planejamento da agro - indústria canavieira do Brasil:

1930 – 1975. São Paulo: Hucitec, Unicamp, 1979.

THIOLLENT, Michel J. M. Crítica metodológica; investigação social e enquete

operária. 2a ed. São Paulo: Polis Ltda, 1980.

TORINO, Malena Tayler. Educação e estrutura de produção: estudo das desi-

gualdades educacionais regionais. São Paulo: Cortez e Autores Associados, 1972.

VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da práxis. Tradução de Luiz Fernando

Cardoso, 2a ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.

Page 341: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

341

TEXTO 6.

COLÔNIA LEOPOLDINA: ELEIÇÕES E LIÇÕES48

Colônia é aqui, a terra da cana-de-açúcar.

48

Este texto é um registro das eleições de 2008 e, ao mesmo tempo, uma análise do Movimento

Colônia e Cidadania - MCC. A análise mostra a visão sobre as eleições em Colônia Leopoldina, tendo

sido reproduzida no ano de 2008 e editado no livro: Colônia Leopoldina – situações político-ambientais.

Maria Betânia Alves dos Passos, Marília Gabriela da C. Gomes e José Francisco de Melo Neto (org.).

Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.

Page 342: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

342

A pessoa que não tiver a proteção de seus direitos efetivamente assegurada está correndo o risco de perder

sua vida, sua dignidade, sua integridade física e psíquica e todos os bens e direitos inerentes à sua

condição humana (Dalmo de Abreu Dallari).

1 INTRODUÇÃO

A semana que antecede o dia da eleição, em uma cidade do porte de Colônia

Leopoldina49

, em Alagoas, é um convite para a compreensão daquilo que está

acontecendo naquele momento, diante da complexa teia de relações sociais

estabelecidas. Podem ser observadas as diferenciadas possibilidades da prática política,

especialmente a política partidária, o seu exercício em uma região do interior e sua

relação com a política em geral. Nessa semana,inclusive, se presencia a participação das

pessoas diante das distintas condições de escolha de um representante, naquele dia de

domingo, e, sobretudo, ouvir e assistir as conversas e tensões geradas pelo

envolvimento emotivo do povo, bem como, as negociações que se dizem feitas, tudo em

nome da política partidária.

O convite que a realidade expõe provoca a compreensão de que cabe ainda o

investimento na organização do povo para que possa exercer sua cidadania e avançar

nas suas lutas por esta conquista mesma. Cidadania, expressão de um processo de busca

nunca concluso, pois sempre se mostra como um vir a ser, com sonhos e utopias de se

viver em condições humanas.

O texto que segue é uma análise superficial do processo eleitoral em Colônia

Leopoldina, mas que se parece muito, em boa parte, com o que vem ocorrendo em

outras cidades por todo o País.

A busca pela compreensão de aspectos políticos de uma cidade do porte de

Colônia, em seus aspectos partidários e demais aspectos da organização da vida local,

exige um zeloso cuidado na coleta de informações, principalmente quando se está

49

Cidade situada na Zona da Mata Norte do Estado de Alagoas, com aproximadamente 22 mil habitantes

no município, com um eleitorado em torno de 14.500 eleitores. Nas terras do município, a economia é

dominada pela cana-de-açúcar, estando estabelecidas duas agroindústria produtoras de açúcar e álcool, a

Usina Taquara e a Destilaria Porto Alegre, respectivamente.

Page 343: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

343

vivenciando aquele momento eleitoral. Em compensação, fora desse momento, fica

muito mais difícil a captação de elementos que só podem ser observados nesses dias

mesmos. Foi nesse calor e momento, portanto, que se procurou entender os eventos

últimos da campanha eleitoral deste ano, tentando-se ver a presença das demais

organizações que compõem a vida política e social da cidade.

É uma busca por elementos para uma orientação política, voltada à perspectiva

do exercício de ser cidadão, não apenas na vigência dos períodos eleitorais. Ações que

possam conduzir as pessoas para a participação nas coisas públicas, no seu dia-a-dia,

preparando-se para seguir as futuras políticas encetadas pelo poder público local após os

resultados das urnas.

Esta análise inconclusa visa50

contribuir, em particular, à organização de setores

da sociedade leopoldinense, na perspectiva de poderem expressar os seus desejos de

participação por meio de atividades políticas permanentes e, não somente, por meio de

partidos políticos.

Portanto, este é um texto permeado do esforço de se tentar compreender a

política partidária local, no momento mais conflituoso, que é o das eleições,

contribuindo para a ação política permanente de todos e todas, em diferenciadas

organizações da sociedade civil, que insistem no desejo de se tornarem cidadãos,

atuando no seu próprio local de vida.

O texto contempla o quadro da política resultante das urnas, em dimensão

nacional e local, as expressões políticas marcantes da campanha eleitoral em Colônia, os

limites desse quadro político, o discurso de candidatos e suas dimensões táticas e

programáticas, a atuação do poder judiciário, e apresenta sugestões para pessoas que,

mesmo diante do desfavorável quadro político, insistem em vivenciar uma outra política

que as promovam para a condição de cidadãos e cidadãs.

Logo, o texto é uma tentativa de ajudar à compreensão do processo eleitoral

local, contribuindo, talvez, para a organização de grupos com encaminhamentos futuros

para a sua própria caminhada. Afinal, todos e todas têm o direito de viver sua cidadania

com direitos humanos realizados.

50

Os dados aqui citados, cuja origem não estiver indicada, são todos retirados do Tribunal Superior

Eleitoral (TSE).

Page 344: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

344

2 O RESULTADO DAS URNAS NO PAÍS 51

O resultado eleitoral das eleições nacionais, considerando o chamado grupo do

G79, um grupo de cidades com mais de 200 mil eleitores, incluindo todas as capitais

dos Estados e o Distrito Federal, teve um grande vitorioso – o Partido dos

Trabalhadores -, que conquistou 21 dessas cidades e eleito mais de 350 prefeitos, no

cômputo total. Ao que parece, o PT vem superando a sua crise ética vivida em 2005 e

2006, mas perdeu o seu trunfo principal, a cidade de São Paulo, para o partido

Democratas (Dem), este que foi o mais derrotado neste atual processo eleitoral e neste

grupo de cidades.

O PCdoB saltou de 10 prefeitos para 39, um crescimento expressivo e

reelegendo o prefeito de Aracaju. O PSB passou de 214 para 309, aproximadamente, e o

PDT, mais limitado, subiu de 311 para 344. No “bloco de esquerda”, o PSB, PDT e

PCdoB adquiriram mais musculatura, podendo exercer um papel bem mais importante

na sua relação com o PT e com o governo Lula.

O mapa político eleitoral, saído das urnas, no entanto, tem um novo dono - o

Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Este partido consolidou a sua

posição e venceu em 1.208 municípios, inclusive, em boa parte das cidades mais

importantes do país, num total de 17 cidades. Para o seu atual Presidente Michel

Temer: “Somos o maior partido do Brasil. Em 2010, vamos forte para qualquer aliança,

sem nenhuma dúvida” (Folha de São Paulo, 27/10/08).

O Dem (antigo PFL), entretanto, mesmo vencendo na cidade de São Paulo,

fortalece a posição de Serra a postular a candidatura a presidente no ano de 2010,

considerando a aliança Dem/PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). O DEM

elegeu mais 4 prefeitos nesse grupo das maiores cidades do país.

A partir desses dados, os grandes perdedores são os partidos que fizeram frente

de oposição ao Presidente Lula mas, continuam governando 35,4 milhões de eleitores,

mesmo com 10 milhões de eleitores a menos do que atualmente. O PSDB passou a

51

Nomes dos partidos:

- PP chamava-se PPB em 1996 e 2000. Antes havia sido – PPR e PDS.

- O PTB fundiu-se com o PSD em 2003 e incorporou o PAN em 2006.

- O PR é resultado da fusão do PL com o PST e com o PGT (em 2003) e com a incorporação do PRONA

(em 2006).

- O PFL mudou de nome para Democratas (DEM), em 2007.

Page 345: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

345

administrar 5,8 milhões de eleitores, mas estava gerenciando 14 milhões em 2004, uma

perda de quase 1/3 de seu eleitorado de cidades do G79. No cômputo total, o PSDB

passou para 17,5 milhões. É importante observar que o partido com maior número de

derrota, todavia, foi o PPS. Este partido havia eleito 5 prefeitos nas eleições passadas,

perdendo todos nesta última. Mesmo diante desse estrago, de difícil perfomance

eleitoral da oposição, Serra se mantém na dianteira como o centro dos candidatos da

oposição em 2010.

Rendimento Eleitoral dos Partidos no G79,

cidades com mais de 200 mil eleitores

governa hoje governará

PT 17 21

PMDB 14 17

PSDB 15 13

DEM 4 5

PSB 9 5

PDT 6 5

PP 4 5

PCdoB 2 2

PTB 1 3

PV 1 1

PPS 2 0

PRB 1 0

Na luta da esquerda versus a direita, ainda em nível nacional, a esquerda

permaneceu tateando e pouco efetivando a unidade política. Um dos exemplos mais

marcantes é a situação do Estado do Rio de Janeiro, em que a esquerda partiu dividida.

Convém ainda um destaque à “frente de esquerda”, que a partir do desempenho

da campanha passada (presidencial) do PSOL, PSTU e PCB vem promovendo um

confronto direto com o governo Lula, com poucas análises das correlações de forças na

América Latina e Brasil e, sobretudo, sem uma mais rigorosa percepção desse híbrido

ou contraditório governo. Essa frente ficou em terceira posição quando da última

campanha para presidente, com Heloisa Helena, mas, nestas eleições, não conseguiu

manter sequer a frente de esquerda, desenvolvendo críticas intensas e fraticidas entre

esses partidos. O PSTU, avesso às alianças, chegou a criticar a direção do PSOL que

Page 346: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

346

“realiza coligações com os partidos burgueses, que inclusive integram a base de

sustentação do governo Lula”, enquanto que o PCB preferiu marcar suas posições,

apresentando candidatos sem densidade eleitoral.

3 O RESULTADO DAS URNAS EM ALAGOAS E COLÔNIA

Em nível de Estado, o partido com maior expressão de candidatos eleitos a

prefeito foi o PP (Partido Progressista) com um total de 21, sendo seguido pelo PMDB,

com 20, e o PTB, com 17. Estes são os partidos que se apresentam com maior potencial

de direções municipais, podendo mapear e definir a agenda política em Alagoas. Mesmo

sendo governado pelo PSDB, que nessas eleições elegeu apenas 13 prefeitos, ao que

parece, esse governo manifesta a dificuldade de realizar a sua política. A eleição no

Estado, como se vê, mostra claramente que a política não está passando e não passará

pelas mãos do PSDB.

Alagoas apresentou uma figura com retumbante vitória eleitoral – o atual

prefeito reeleito de Maceió, Cícero Almeida, em condições de posicionar-se diante dos

caciques políticos do Estado e se apresentar, no futuro, como uma importante liderança

em nível estadual.

A esquerda continua estrangulada, contando apenas com 2 prefeitos do PCdoB,

enquanto que o total de vereadores chega à casa de 24, a contar com 22 do Partido dos

Trabalhadores e 2 do PSOL. Por outro lado, Heloisa Helena ressurge das cinzas como a

mais votada vereadora de Maceió, iniciando pelo patamar mais baixo da representação

política. Não obstante, a sua desenvoltura ainda é algo a se ver, a depender de sua

definição política de construir o seu partido no Estado ou de continuar vagando no país,

contribuindo à organização nacional do PSOL – Partido Socialismo e Liberdade.

Rendimento Eleitoral dos Partidos no Estado de Alagoas

Partidos prefeitos eleitos

PP 21

PMDB 20

PTB 17

Page 347: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

347

PSDB 13

PMN 7

PSC 6

PSB 5

PDT 4 (Colônia Leopoldina)

PCdoB 2

PTdoB 2

PR 2

PT 1

PRB 1

DEM 1

Como tem sido uma prática muito comum, após os processos eleitorais, é

possível de se ver no futuro breve a rearrumação partidária, principalmente desses

prefeitos eleitos por partido com pouca expressão estadual. Deverão ficar à espera da

prometida e não realizada reforma política. A atual legislação tem dificultado a prática

do troca-troca de partido, muito comum nos processos de articulação político-partidária,

demonstrando o pouco papel dos partidos do ponto de vista político e ideológico sobre

os seus quadros, e sem qualquer significado para os eleitores em geral.

Já em Colônia Leopoldina, as eleições estiveram marcadas por três candidaturas:

a do ex-prefeito Manuilson Andrade (PDT), que insiste em sua permanência com a

candidatura de Lala (sua esposa) durante todo o processo eleitoral; a do usineiro José

Maria (PSB), proprietário da Usina Taquara; e a candidatura da servidora pública

Luciana Luna (PSDB), que não apresentou densidade eleitoral, mesmo durante a

campanha.

Page 348: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

348

Campanha do candidato do prefeito Manuilson (PDT).

Em nível de Estado, a coligação do candidato Zé Maria (40) –

PSB/PTN/PSL/PTC/PMDB/PSC teve maior quantitativo de prefeitos eleitos, num total

de 31, tendo a segunda colocada, Luciana (45), com a coligação PSDB/PTB/PPS,

atingido a cifra de 30 prefeitos eleitos. Esta aliança foi fortalecida com o PTB, que

contribuiu com 17 prefeitos, ao passo que o PPS não contribuiu nessa aritmética. Por

outro lado, a coligação do prefeito Manuilson (12) – PDT/PV/PT/PR/DEM elegeu, em

todo o Estado, apenas 7 prefeitos. Isto pode indicar a pouca articulação política, ou

mesmo, uma não aceitação dessa aliança por parte do eleitorado alagoano.

Esta situação suscita a pergunta: afinal, qual será o agrupamento político a ser

procurado pelo Prefeito eleito Cássio? Esta resposta trará resultados imprevisíveis para

a nova gestão do eleito Cássio com uma baixa condição política de soluções para

questões da cidade, em especial, aquelas que não se resolvem em nível municipal. Além

Page 349: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

349

do mais, poderá, no futuro, trazer algum incômodo na sua relação com o atual Prefeito

Manuilson que deseja permanecer prefeito.

Este quadro também mostra que poderá continuar uma centralização exagerada

no governo da cidade, considerando o baixo nível de força política estadual da sua

coligação. A contribuição maior nesse grupo é mesmo do PDT com 4 prefeitos

(inclusive o de Colônia Leopoldina), 2 do PR e 1 do Democratas. Uma composição com

baixa expressão eleitoral.

Contraditoriamente, quanto à candidata Luciana, sua coligação em nível de

Estado apresentou uma melhor performance, mas que não vem, necessariamente, de seu

partido o PSDB, com 13 prefeitos apenas. A maior força dessa coligação passa pelo

PTB com 17 prefeitos eleitos, em todo o Estado. Pessoalmente, em termos totais de

votos em Colônia, Luciana apresenta uma queda expressiva em seu eleitorado,

considerando as duas últimas campanhas, mesmo que esse tenha se mantido

razoavelmente “cativo”.

Dia de eleições – festa na cidade.

Page 350: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

350

Rendimento Eleitoral dos Partidos em Colônia

Votos - 11.548 eleitorado 14.216 seções 45

Votos Válidos - 10.546 apurado 14.216

Nulos - 789 não apurado 0

Em branco - 213 comparecimento 11.548

Candidatos Coligação Votação % Válidos

1. Cássio PDT/PV/PT/PR/DEM 4.482 42,50

2. Zé Maria PSB/PTN/PSL/PTC/PMDB/PSC 4.454 42,23

3. Luciana PSDB/PTB/PPS 1.610 15,23

Os dados podem nos indicar que, mesmo diante da dificuldade de articulação da

Chapa 1, do Manuilson, este foi um candidato que jogou em campo toda a sua força

política. A sua coligação atraiu vários apoios políticos no âmbito estadual, contribuindo

na sua força eleitoral. A vitória, por pequena diferença, mostra o desafio grande que

teve ao enfrentar os candidatos de oposição. Os resultados expõem à vista que a maioria

do eleitorado de Colônia, mesmo depois de 8 anos de sua ação política, não está mais

convencida dessa capacidade de administração do atual prefeito.

Por outro lado, houve uma disputa acirrada por bases materiais entre dois fortes

candidatos: aquele apresentado por Manuilson, que tinha a sua base na prefeitura e no

seu trabalho, e a outra candidatura, a do usineiro, detinha o suporte financeiro, estando

debilitado inicialmente, com problemas na usina, recobra a força total no final de

campanha. Já a terceira candidatura, a de Luciana, reduziu muito o seu eleitorado.

Perdeu duas vereadoras de sua base de sustentação da política local, mesmo que elas

tenham tido uma expressiva votação.

Page 351: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

351

Eleitores mais antigos da cidade ainda mantêm a visão de que:

Sempre têm sido assim as eleições, isto é, com a compra de votos. É

importante a gente pensar para frente. ... A coisa não mudou, e, digo

mais, que até piorou. Outro resultado qualquer não mudaria nada. Não se

pode esquecer que eles (Manuilson e Zé Maria) sempre brigaram e

sempre se juntaram (Maurício Pereira).

Observem-se os seguintes dados:

Rendimento Eleitoral dos Candidatos/as a Vereadores em Colônia

- Ricado Brasilino - PTN - 743 votos 6,96% do eleitorado

- Paula - PTB - 685 6,42

- Dr. Marinho - PPS - 683 6,40

- Deda Messias - PSB - 667 6,25

- Dr. Ernane - PDT - 494 4,63

- Gal Fest - PPS - 477 4,47

- João Matuto - PPS - 459 4,30

- Diva do Banco - PV - 428 4,01

- Vitalino - PDT - 346 3,24

Estes são os vereadores eleitos para os próximos 4 anos.

Demais candidatos/as:

Graça Leite - PTB - 453 4,24

Luiz costa - PSB - 407 3,81

Carmelita - PSDB - 374 3,50

Cícero Mamãe- PDT - 343 3,21

Rubinho - DEM - 311 2,91

Irmã Silvania - PDT - 282 2,64

Luciano - PT - 264 2,47

Page 352: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

352

Jau - PSDB - 251 2,35

Suzana - PSB - 248 2,32

Edmilson Soldado - PDT - 243 2,28

Vavá - PSDB - 238 2,23

De todos/as candidatos à Câmara, dois candidatos a vereador iniciam um novo

jeito de apresentar-se à cidade, não apenas pelo velho estilo de “cata-cata” de voto

individual, mas apresentando programa de ação junto ao prefeito, na câmara – os

candidatos Rubinho (DEM) e Luciano (PT). Destacam-se as propostas de Luciano:

1. NA AGRICULTURA – disposição de tratores aos pequenos produtores para

gradear a terra e de assistência técnica em geral; ampliação do Programa Luz

para Todos; reformar casas de taipa da zona rural em convênio com a FUNASA

(Fundação Nacional de Saúde); implantação do Conselho da Agricultura;

criação de um banco de sementes em parceria com SEAGRI (Secretaria de

Agricultura do Estado de Alagoas) e com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária) em prol do melhoramento genético de nossos produtos.

2. NA EDUCAÇÃO – melhora da biblioteca municipal, com aumento do acervo e

contratação de um profissional da área; incentivo à leitura na escola com o

desenvolvimento de programas voltados à nossa realidade; implantação de uma

escola integral para as crianças do município; fortalecimento da educação de

jovens e adultos; implantação do ensino médio na zona rural (Porto Alegre e

Monte Alegre); convênio da prefeitura com a UFAL (Universidade Federal de

Alagoas) e/ou outras caso possível, para a realização de cursos superiores no

município, pela via da educação à educação; apoio financeiro aos professores

em forma de bolsas de estudo, a fim de que estes possam investir em sua

formação por meio de cursos de especialização, mestrado e doutorado;

implantação do sistema de gestão democrática nas escolas, com a eleição de

direitos e conselhos escolares.

Há outros candidatos/as com menor expressão eleitoral. Estes dados, contudo,

mostram que a força partidária, em termos de eleitos, apresenta a seguinte configuração:

PPS - 3 vereadores

Page 353: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

353

PDT - 2 vereadores

PSB - 1 vereador

PTN - 1 vereador

PTB - 1 vereador

PV - 1 vereador

Tais resultados indicam uma possível dificuldade para a ação do prefeito Cássio,

recentemente eleito, caso os partidos assumm a sua formulação originária partidária, ou

se os eleitos, pelo menos, conheçam a vida partidária, o manifesto e o programa de seus

partidos. O significado de Partido nesse eleitorado é pouco explorado e não serve para a

definição do voto.

Nesse caudal político, tem surgido um esboço inicial de uma futura liderança

emergente: o vereador Brasilino. Este fora eleito duas vezes com a maior votação da

cidade: o seu comportamento político tem sido muito mais para apoiar o prefeito ou o

usineiro. Não tem realizado movimentos políticos para se tornar um importante líder

local. Suas ações são muito mais de não correr risco, esforçando-se pela manutenção da

sua cadeira de vereador. A vereadora Paula e João Matuto são debutantes em política,

enquanto se aguardam os seus pronunciamentos. O Dr. Marinho, advogado e procurador

da prefeitura, base do prefeito e bem sucedido comerciante, está em seu primeiro

mandato. Poderá despertar futuras e maiores ambições na política. O Dr. Ernane,

médico conceituado e professor de medicina, indo para o 5 mandato consecutivo,

poderia ter sido uma esperança de mudança para a política local. A sua atividade

política, contudo, tem buscado os caminhos fáceis da política, angariando postos em

segundos escalões da prefeitura, ficando muito aquém daquela possibilidade e

desperdiçando sonhos de mudança local. O vereador Deda Messias, caminhando para o

terceiro mandato, mantém-se em seu silêncio político até o momento. A vereadora Gal

Fest, agora em seu segundo mandato, tem pouco a dizer ao seu eleitorado, assim como

Diva do Banco, com pequenos atendimentos pessoais, perseguindo o assistencialismo.

E, finalmente, Vitalino, um obstinado músico, que em primeiro mandato, precisará

definir com clareza o seu papel para além de acordes musicais.

Em Colônia, o PT esteve na aliança até com o Democratas, velhos inimigos

ideológicos nacionais, à medida que participou da mesma coligação com o PDT.

Espremido entre duas possibilidades de aliança, considerando que ambos os partidos

dirigentes das alianças PSB e PDT apóiam o governo Lula, o Partido dos Trabalhadores

Page 354: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

354

opta pelo PDT e, sendo a última coligação realizada com o prefeito, pode-se dizer que

este partido foi determinante na vitória de sua coligação. No entanto, o PT continua com

profundas dificuldades de organização de si mesmo, estando há mais de 20 anos na ação

política local, sem ter conquistado qualquer posto na Câmara de Vereadores. Não

obstante, este momento eleitoral consagrou-se com a maior votação já obtida em sua

história.

Esses dados e o desenvolvimento do processo eleitoral em Colônia apresentam a

sua primeira característica e, portanto, no mesmo caudal da política em todo o país, isto

é, um total desconhecimento do que seja o partido. Não se vive o partido, não se vota

em partido, apesar de se pedir votos para 12, 40 ou 45. Vota-se na pessoa. Aqui,

contraditoriamente, votou-se no número 12, já que o candidato Cássio só foi

oficializado na última semana de campanha.

As eleições em todo o país seguiram o mesmo diapasão de total

desconhecimento de partidos, haja vista as coligações realizadas. Ora, um partido

político só pode ter a sua razão de existência a partir da definição de sua identidade e foi

no país e em Colônia onde menos se ouviu sobre a vida dos partidos. Para Jânio de

Freitas (Folha de São Paulo, 16/10/08) “as alianças tornaram-se uma bagunça quase

sempre indecente; uma corrida a jazidas de ouro reabertas”. Alastraram-se

alianças/coligações as mais espúrias, em termos ideológicos. A conclusão desse

jornalista é que a reforma política não se apresenta como possível. Para ele, as razões

são simples: se os partidos não expressam um partido é porque os políticos não são

políticos. Nessa lógica, os congressistas não serão congressistas e os vereadores também

não exercerão, de forma partidária, os seus mandatos na Câmara de Colônia.

4 O PROCESSO ELEITORAL – forças políticas em conflito

Como transcorreu o processo eleitoral? O discurso do atual Prefeito Manuilson

insistiu para que o povo votasse no número 12, ao mesmo tempo em que pairava a

dúvida se a Dona Lala seria candidata, o que se confirmou no final a sua inelegibilidade.

Assume, dessa forma, um ilustre desconhecido da população como expressão política –

o candidato Cássio. O Prefeito Manuilson conseguiu promover o seu secretario de

finanças à condição de Prefeito da Cidade. A pergunta é: por que escolher um secretário

de finanças, considerando a existência de outros bons candidatos?

Page 355: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

355

Manuilson, em seu discurso de campanha, apresentou as seguintes realizações

em seus 8 (oito) anos de prefeito: 1) saneamento da Vila Nova; 2) construção de

Ginásio de Esportes; 3) construção do Fórum Guedes de Miranda; 4) pista de acesso à

Colônia; 5) praça do centenário; 6) construção de 120 casas populares; 7) praça D.

Pedro II; 8) eletrificação do bairro Belo Jardim; 9) renovação da tubulação de água da

cidade; 10) calçamento do loteamento Abides Borges; 11) calçamento do bairro da

Mangueira; 12) calçamento de outras 12 ruas; 13) água do loteamento Belo Jardim; 14)

construção da secretaria de obras; 16) água da Vida Nova; 17) torre de celular; 18)

construção do centro administrativo (com secretaria de saúde, assistência social,

agricultura...); 19) construção da biblioteca municipal; 20) construção de CRAS (centro

de referência de assistência social); 21) centro do idoso; 22) eletrificação de vários

sítios (Mamona, Mata-verde, Macaco, Catita, Capim de planta...); 23) água nos sítios

(Papa-mel, Mamona e outros); 24) novo hall do hospital; 25) construção junto com o

governo do estado da barragem de Canto Escuro; 26) e outros, segundo os discursos.

Destaque-se que durante toda a peleja eleitoral, era alto o nível de acusações de

ambos os candidatos sobre suas vidas pessoais, ajudados pelo grau de parentesco entre o

prefeito Manuilson Andrade e o usineiro José Maria Quirino, sobrinho e tio,

respectivamente. O espaço para acusações do tipo – estuprador – foi delineado e posto

ao vento pelo atual prefeito. A acusação de altíssimo salário (50 mil reais) ao gestor

principal do município também teve o seu momento de glória nos palanques. Já a

campanha de Luciana procurou manter-se no nível das apresentações de propostas.

Page 356: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

356

Campanha do candidato e usineiro Zé Maria (PSB).

O candidato-usineiro Zé Maria sempre tentava resposta e, de uma forma mais

tímida, disparava as suas acusações. Organizou, por outro lado, um Programa de

Governo com as seguintes propostas:

1. Agricultura e pecuária – nomear um técnico de capacidade comprovada para

a secretaria; adquirir uma patrulha mecanizada composta de uma patrol, um trator de

esteira, dois tratores de pneus com todos os implementos, retro-escavadeira e

caçambas; distribuir semente para plantio de roça de inverno (milho, feijão...etc);

garantir aos produtores de leite a compra do produto a preço de mercado para

merenda escolar; contratar um médico veterinário para realizar as inspeções

sanitárias no matadouro público; dar assistência aos produtores rurais e incentivar a

instalação de pequenas indústria para o aproveitamento das frutas nativas da região.

2. Política de valorização do funcionário público – atualizar o plano de cargos

e salários; abrir vagas para os funcionários por concurso público; patrocinar cursos e

treinamentos para capacitar os servidores; motivar o ingresso de servidores em cursos

de nível superior; dotar os servidores de EPI(S) de acordo com as exigências da DRT;

reconhecer os servidores especiais, obedecendo a classificação da DRT.

Page 357: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

357

3. Obras civis de infraestrutura – construir 400 casas populares; substituir

todas as casas de taipa por alvenaria (100%); criar um programa de recuperação de

casas em todos os bairros; calçar 100% das ruas (asfaltar principais); recuperar o

matadouro público e o mercado municipal; reconstruir o estádio de futebol; reformar o

clube social; eletrificar 100% da zona rural; construir um grupo escolar com trinta

salas de aula; construir mini-postos em povoados para dar apoio ao PSF.

4. Plano municipal de saúde Colônia 100% - Manter serviço de urgência

ativada; convênios com hospitais e clínicas (palmares); ativar o posto de saúde de

Monte Alegre; oferecer serviço de nutrologia, fisioterapia, reabilitação, fonoaudiologia

e psicologia; destinar atenção aos idosos, pessoas de 3ª. Idade; ampliar o programa de

saúde da família; reativar o serviço de radiologia;garantir o funcionamento do hospital

com plantonistas diários; reativar o bloco cirúrgico e oferece tratamento para

cirurgias-mioma, ligadura, hérnia, vesícula, cirurgia por vídeo, proctologia; implantar

especialidade como cardiologia, psiquiatria, pediatria, ultra-sonografia, neurologia,

dermatologia, obstetrícia; manter saúde itinerante e serviço de odontologia; abrir um

banco de aleitamento materno e laboratório de exames essenciais.

5. Educação de qualidade – Colônia 100% - ampliar escola com auditório para

pais e mestres, salas de informática, espaço coberto para recreação, salas de leituras,

laboratório de ciências; oferecer formação continuada para professores por áreas

específicas como palestras e oficinas pedagógicas; assegurar laboratório de

informática comunitária, circus-espaço cultural (reservado para culminância de

projetos educativos), aulas de Arte – pintura, crochê, bordado, reciclagem, dança,

músicas, teatro, eventos com datas comemorativas e oferecer cursos profissionalizantes

para alunos.

6. Resgatar o tradicional desfile cívico – 7 de setembro - reformar a banda

marcial leopoldinense; distribuir fardamento completo ao alunado.

7. Reajuste salarial para os professores (periodicamente) - prêmio “profissional

do ano da educação”.

Page 358: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

358

8. Diminuição do índice de evasão e reprovação – simulador com

reconhecimentos gerais (bimestral), escola tempo integral; oferecer reforço de língua

portuguesa (leitura, produção de texto) e Matemática; oferecer merenda de qualidade

(cardápio diferenciado).

9. Assistência especializada à educação da zona rural – oferecer melhores

condições ao aluno; promover interação entre escolas da zona urbana e rural; garantir

a continuidade do transporte escolar.

O documento concluiu com uma frase do educador pernambucano Paulo Freire:

“a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda”.

O Programa de Governo acima disposto foi pouco massificado/distribuído e,

praticamente, sem discussão com a população. Isto, contudo, mostra um avanço

importante para a política local quando se inicia a apresentação de propostas para a

cidade. Durante a campanha, Zé Maria preferiu apresentar-se como um administrador

vitorioso, que tem sempre dado certo, a exemplo do empreendimento da Usina Taquara.

Ficou em segundo colocado nesta “festa da democracia”, com a diferença do primeiro

colocado sendo de 28 votos.

Um entendimento muito generalizado, como afirma um eleitor, é que:

... em Colônia, a política está sempre entre aspas, isto é, ela é apenas um

arremedo. Quem tem dinheiro é quem manda mais. Cada um tinha força

pelo dinheiro. A candidata que tinha pouco dinheiro, perdeu. Há uma

indução para que o povo vote só pelo financeiro. Pessoalmente, vejo

difícil mudar essa situação, mas precisamos de esperança de que essa

quadro político pode mudar (Júlio Moraes).

A candidata Luciana, tentando apresentar-se por fora desse embate familiar que

prendeu toda a cidade, não conseguiu organizar, de forma mínima, uma equipe para o

planejamento de sua campanha, isolando-se ao ponto de ter que escolher o próprio

irmão para compor a sua chapa – uma chapa familiar. A aliança PSDB/PTB/PPS não a

ajudou na renovação de duas vereadoras, elegendo, contudo, três outros candidatos

(PPS) e uma candidata pelo PTB mas sem a sua direção política. Esses três eleitos do

Page 359: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

359

PPS estão comprometidos com o Prefeito Manuilson, e a do PTB, com o usineiro. Para

alguns:

Luciana foi embora de Colônia e abandonou o seu eleitorado. Mesmo

depois de um trabalho para recomposição de um grupo, ela participou

poucas vezes.

O Zé Maria e o Manuilson são de um mesmo tempo e de uma mesma

família. Não há novidades com qualquer um deles (Silvano dos Santos).

Luciana, durante a sua campanha, procurou reforçar o seu Plano de Governo -

por nossa terra, por nossa gente. Os seus comícios foram marcados,

caracterizadamente, por apresentações dessas propostas, procurando mostrar um outro

estilo de fazer política, o que lhe conferiu o terceiro lugar nessa disputa. Examine-se o

Plano:

1. AÇÃO SOCIAL – Programa de Moradia Digna (construção de casas

populares no sistema de mutirão participativo. A prefeitura entrará com o material e a

comunidade auxiliará com a mão-de-obra.

- Volta do Programa de alimentação para a população carente, com participação das

entidades religiosas e não governamentais; programa de apoio à criança e ao

adolescente; volta dos programas de apoio específicos aos idosos, mulheres e pessoas

portadoras de necessidades especiais; volta do programa de apoio à gestante; apoio

mais efetivo para fortalecimento do Conselho Tutelar Municipal; programa cidadão

(tiragem de documentos); construção de núcleos comunitários para funcionamento dos

programas sociais, tais como o PETI, PAC, Ciranda da criança, alfabetização

solidária, bolsa escola, egressos do peti, portal da alvorada, entre outros;

disponiblização de transportes de pessoas da zona rural para a feira na cidade;

realização de cursos profissionalizantes através do SEBRAE, SENAI, SESC e SENAC,

tais como: eletricista, encanador, padeiro, computação, cabeleireiro, mecânico de

automóveis, artesãos, dentre outros; reestruturação e ampliação das creches (zona

rural e urbana).

2. EDUCAÇÃO E CULTURA – Programa Amigos da Internet – todas as escolas

serão contempladas com laboratórios de informática, com acesso à Rede Mundial de

Page 360: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

360

Computadores – Internet, para que os nossos alunos possam pesquisar, fazer amigos e

se integrar com o mundo.

- recuperação das escolas municipais (urbanas e rurais); melhoria e garantia do

transporte escolar gratuito, dando condições de maior segurança e conforto para todos

os estudantes inclusive para Maceió, estudantes de graduação e pós-graduação;

aquisição de mais ônibus escolares, mais modernos, seguros e confortáveis para o

transporte dos estudantes; criação da casa do estudante universitário, em Maceió, para

incentivar os nossos jovens e dar apoio a todos aqueles que estivem estudando na

capital; melhoria da qualidade e da quantidade além da garantia total do fornecimento

diário de merenda escolar para os estudantes, durante o período das aulas;

erradicação do analfabetismo no município; garantia do fornecimento gratuito dos

materiais didáticos nas escolas municipais; fardamento para todos os alunos e pessoal

de apoio; resgate da banda de fanfarra do nosso município; apoio e incentivo às artes,

esportes e lazer para os jovens do nosso município.

3. SAÚDE – Consórcio de Saúde – proposta de acordo com cidades

circunvizinhas objetivando atender regionalmente serviços ambulatoriais, exames,

cirurgias de baixa e média complexidade.

- funcionamento do Programa Saúde da Família (PSF) em todas as unidades da cidade

e campo; contratação de profissionais especializados na área de saúde, para melhorar

o nível de atendimento à população, em especial a mais carente; volta do Programa da

Saúde Bucal Coletiva, com campanhas de educação com a distribuição gratuita de

escolas de dentes e fio dental e seu uso de forma correta; volta do Programa de

Atendimento Oftalmológico, para que nossa população seja atendida de forma

preventiva e corretiva; funcionamento efetivo do laboratório de análises, para que os

médicos do nosso município possam diagnosticar com maior velocidade e segurança as

enfermidades dos pacientes; criação da Casa de Apoio ao Doente em Maceió, para

alojar os parentes das pessoas que estejam nos hospital da capital; implantação do

Sistema de Saneamento Básico; convênios com os governos federal e estadual para a

aquisição de novas máquinas e equipamentos para a modernização do nosso hospital e

postos médicos; programa de saúde preventiva; valorização e fortalecimento do

Programa de Agentes de Saúde; programa de redução dos índices de mortalidade

infantil; reforma e ampliação da estrutura da Vigilância Sanitária Municipal; volta do

Page 361: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

361

programa A Saúde Vai ao Campo; volta do programa A Saúde Vai à Feira; reabertura

do Centro Cirúrgico do Hospital Maria Loureiro.

4. OBRAS, URBANISMO E AGRICULTURA

- reforma e reestruturação do campo de futebol Joaquim Luiz da Silva; apoio à

vaqueirama para a reestruturação do Parque de Vaquejada Murilo Loureiro;

drenagem das áreas alagadas (Vila Nova) para acabar com as constantes cheias nestas

áreas nos períodos chuvosos; construção de casas populares para a população carente;

construção do terminal rodoviário de passageiros; aquisição de uma patrol para

execução e manutenção das estradas do município; construção de um novo matadouro

público municipal; melhoramento no sistema de limpeza pública; tratamento do lixo,

com incentivo à reciclagem; volta do programa Lavoura Comunitária, com a aquisição

de sementes para distribuir com os pequenos produtores rurais; recuperação e

ampliação da iluminação pública; criação de um cadastro numérico, para os imóveis

que ainda não tenham assim como a colocação de placas identificadoras das ruas da

cidade e de sinalização de trânsito; estruturar um sistema de gestão e controle

ambiental do município; projeto Vamos Salvar o Rio Jacuípe; guarda municipal.

Mesmo com um bom programa de governo, algo novo ocorreu para a política

local: no entanto, a sua colocação pode ser justificada em decorrência de uma frágil

infraestrutura político-partidária, com seus candidatos a vereador votando em outra

aliança, além do isolamento político a que ficou submetida. Talvez, tenha também

contribuído a sua opção pelo PSDB, dificultando alianças com partidos mais críticos da

realidade brasileira, como o PT, o PSOL ou outros. Todavia, este aspecto de estar

vinculado ao partido que se opõem às políticas do Governo Lula, como as bolsas do

Governo Federal, não foi explorado na campanha. Mesmo que o PTB seja da base do

Governo Lula, aqui, ele esteve na aliança com o PPS e PSDB, partidos que têm mantido

uma oposição sistemática àquele governo. Contraditoriamente, o discurso de campanha

da candidata na campanha anterior e nesta tem sido o que mais se aproxima das

formulações de políticas públicas encetadas pelo atual governo federal, e,

merecidamente, pode se apresentar como a liderança capaz de enfrentar a política

tradicional dos dois outros candidatos.

Page 362: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

362

Luciana Luna, entretanto, mantém-se como uma incógnita na política

leopoldinense. Ela arrasta consigo uma prática de governo que foi muito aceita pela

população - o governo de Severiano. Desenvolve um discurso voltado às mudanças

necessárias propaladas por partidos de centro esquerda e esquerda brasileiros. Por outro

lado, realiza alianças partidárias com aqueles que mais combatem as políticas de

tentativas de avanços na política nacional quanto à participação das pessoas na vida da

cidade, além de se filiar ao PSDB. Aliás, ela mesma nunca atuou em campanha para o

atual Presidente Lula, tendo assumido as lutas de seus opositores, diferentemente do

atual prefeito Manuilson. Deverá, porém, superar esse dilema político em futuros

embates se ainda desejar continuar numa linha mais progressista do fazer política –

progressista para as políticas de Colônia, mas conservadora nas opções da política geral.

Duas grandes incógnitas, além disso, são os eleitos Cássio e o seu vice Meilton

Luna. Ambos são jovens em idade e na política e, portanto, com desejos que, no

momento, não podem ser analisados. Com o tempo, eles irão se manifestar quando no

comando da prefeitura. Estão vinculados a Manuilson, mas só o tempo se encarregará

de mostrar que tipo de fidelidade foi assumido por esses atores.

Há análises sobre as eleições que apresentam outros elementos nada ouvidos nas

maiorias das conversas sobre as eleições locais, como por exemplo:

O voto familiar não existe mais em Colônia. Os filhos não votam mais

aonde desejam os pais. Esta é uma mudança significativa, a quebra desse

mando familiar tem raízes feudais e que continua, ainda, no Sertão. Isto

terá reflexo no futuro da cidade.

Os estudantes, hoje, não estão mais presos às famílias, sendo importante

para a ação política e para a majoritária futura.

O povo ainda não despertou para uma política com propostas. O povo

ainda está votando na mera emoção, para onde vai a sua emoção. O voto

foi definido mais nas brigas, na agressão e não em torno de propostas. Se

bem que isto não é uma questão apenas de Colônia. Isto mostra a

importância da POLITIZAÇÃO DO NOSSO POVO.

Luciana deu um salto nessa perspectiva.

Os eleitores não são, contudo, inocentes. Eles vêm votar e vêm fazer um

negócio naquele dia da votação. Eles, assim, não votam por aqueles que

fizeram algum trabalho. Talvez, até conte um pouco, mas eles votam por

Page 363: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

363

outras razões. Nesta eleição, o eleitor votou por dinheiro. Ambos

candidatos gastaram muito dinheiro.

Um outro aspecto que pouco vem sendo levando em conta é que a zona

rural ainda define as eleições em Colônia (José Luciano Pereira).

As afirmações acima não podem ter um valor absoluto em relação ao voto, pois

há visões que apontam para outras perspectivas, como a seguinte: “Vejo três

comportamentos políticos em Colônia: uma minoria com consciência política; uma

outra parte que é a turma do tanto faz (vota em quem vai ganhar); e uma terceira é o

´interesseiro` que vota em quem der mais. Ao meu ver, esta é uma maioria” (Severino

Rocha).

De uma maneira geral, a eleição em Colônia segue a marca geral da política

nacional que é a ausência de uma tática política clara para os eleitores, apresentada

pelas coligações ou alianças. Os militantes partidários são os que mais têm a

responsabilidade pela ação coerente na política, no entanto, são eles mesmos que mais

desmotivam a escolha do eleitorado nas propostas dos partidos. Essa ausência da tática

política talvez tenha sido responsável, em Colônia e nas demais cidades do país, pela

pouca visibilidade de eleitos de alguns partidos, sobretudo, aqueles do campo da

esquerda. O PSOL, em especial, mostrou-se com baixíssima votação, com votos para

duas vagas para vereadores em Alagoas, mesmo tendo sido a terceira força política na

campanha para presidente. Já o PSTU não elegeu vereadores no País, e o próprio PCB

retrocedeu, perdendo seus importantes mandatos.

Em Colônia, de forma semelhante, sem candidatos ao executivo pelo campo da

esquerda, não foi possível a apresentação de críticas, entendida como o delineamento de

aspectos positivos e negativos de qualquer algo, de forma contundente ao governo

nacional e ao governo local. O PT fez a sua aliança com o prefeito Manuilson (PDT),

partido da base de sustentação do governo Lula. Com tal ótica ideológica, poderia

também ter feito aliança com o PSB, o usineiro. O próprio PSOL desarmou a sua

militância que, sem proposta eleitoral, liberou a sua militância a optar segundo os seus

próprios desígnios. Aqui, PT e PSOL passam a dever formulações táticas para a política

da cidade.

Page 364: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

364

Ruas em região periférica da cidade

No entanto, parece ainda haver esperanças como a posição que segue:

“Precisamos despertar na população o interesse de cobrar, de ser CIDADÃO. Nós

precisamos ver formas de como cobrar, como CIDADÃO” (Arnaldo Sobreira).

As forças em embate no município são as que se formaram em torno do Prefeito,

algo constatável em todo momento político e presente na política estadual e municipal,

tendo em vista o desejo de continuidade dos que estão no governo. Há um segundo

conjunto de forças que veio se formando em torno do usineiro da Usina Taquara, que

antes tinha apoiado o seu sobrinho, o atual prefeito Manuilson, mas agora estão em

campos políticos opostos. Este fato não é novo em Colônia, lembrando que a Usina

Taquara sempre teve participação direta na política municipal, desde a década de 60,

com a participação do usineiro José Lessa que foi prefeito por dois mandatos. Há uma

terceira composição de forças políticas fruto de processos anteriores, de sua simpatia e

de sua “luz” própria que é Luciana. Lançou-se pela segunda vez à direção do executivo

municipal, sendo, em ambas as tentativas, derrotada pelo grupo da usina, mesmo com

Page 365: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

365

significativa expressão eleitoral. Acompanhando essas três vertentes, distribuem-se

alguns pequenos grupos satélites em busca de algo para poderem se manter. Procuram

as benesses do executivo, como a troca de favores e a venda de votos até por

vereadores/as, quando do exercício de seus mandatos, nos momentos de aprovações de

matérias de interesse do executivo, segundo comenta-se na cidade.

O teatro das eleições de Colônia acontece em três ambientes físicos: a área rural,

a periferia da cidade (ambientes como Vila Nova, Mangueira, Mandacaru e outras) e as

ruas mais antigas. Em cada espaço físico, desenvolveram-se ações eleitorais

diferenciadas. Os comícios são no centro da cidade, na área do mercado da farinha, on

de também acontecem as festas dançantes popularizadas. Para esse lugar, convida-se a

população para a audiência de comunicados para apresentações de quaisquer natureza e,

sobretudo, para as aguardadas denúncias de ilícitas práticas políticas, desmandos,

impropérios e acusações muito conhecidos pela população, mas de pouca condição de

serem comprovados. A temática das denúncias atende boa parte do imaginário do povo.

Nas ruas mais antigas da cidade, a tática eleitoral incentiva as visitas corpo-a-

corpo nas casas dos eleitores, constituindo-se como um momento de uma rápida

conversa do candidato com o eleitor. Normalmente, o candidato está acompanhado de

muita gente, evitando os dissabores dos pedidos de eleitores. Uma prática que tem forte

apelo positivo da população.

Nas áreas periféricas, o convencimento do eleitor se faz em outras bases,

definindo-se muito cedo a sua opção, apelando-se para a colocação de bandeiras do

candidato nas casas.

Esse consentimento, segundo conversas em geral na cidade, indica acertos financeiros

ou de outra natureza.

Os comícios são extensos e, comumente, terminam após a meia noite, o que é

um massacre às pessoas que foram conduzidas da área rural para a sua assistência. Não

se tem controle de horário de cada candidato ou uma mínima definição para as temáticas

que vão sendo abordadas. Não se respeita o meio ambiente, reforçando a poluição

sonora. A técnica da repetição de refrões é muita utilizada. Cada um diz o que quer e no

tempo que deseja, expondo-se coisas do arco da velha. Depois, fica a tarefa de

recondução daqueles moradores de sítios ou engenhos, assumida pelos cabos eleitorais e

militantes políticos das facções partidárias.

Uma outra característica de todo o processo eleitoral é a inequívoca

desorganização de campanha por parte de todos os grupos, mesmo que se gaste muito

Page 366: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

366

dinheiro. A estruturação de campanha passa por doações de combustível a motos e

automóveis, para assegurar o volume e o alarido aos comícios e às passeatas.

Ainda, considerando todo o processo, pode-se afirmar que a segunda grande

marca eleitoral neste município, espelho do país, é que foram eleições marcadas por

denúncias. Denúncias não por parte de entidades representativas da sociedade civil

(igrejas, sindicatos, grupos outros quaisquer) que permaneceram mudas durante todo o

tempo eleitoral, como se fossem neutras. Em Colônia, houve reclamos permanentes por

parte de todas as candidaturas no que se refere ao esbanjamento financeiro com vários

tipos de ilícitos eleitorais, principalmente, a compra de votos, enfatizada nos dias que

antecedem o domingo da eleição e no próprio dia. Ouve-se de alguns cabos eleitorais e

participantes da organização de campanhas que a derrota da candidatura do Zé Maria foi

devido a não liberação de mais dinheiro naquele domingo. Por outro lado, militantes da

candidatura do 12 afirmaram que o pouco dinheiro do atual prefeito foi o responsável

pela vitória diminuta de apenas 28 votos. Este grupo esperava diferenças de até um

milhar de votos.

Mas, esta não foi uma marca apenas de Colônia. No Estado da Paraíba, alguns

juízes e promotores chegaram a tomar decisões polêmicas, do ponto de vista

constitucional, para tentar impedir a ação de “marcadores de votos”. Em alguns

municípios, os seus moradores foram proibidos de saírem às ruas durante à noite, nos

dias que antecederam o dia da eleição “para não serem seduzidos com ofertas tentadoras

de transação de compra de votos” (Jornal O Norte, 19/10/08, p. A5). É interessante que:

Cerca de 100 pessoas admitiram que não receberam o pagamento do

dinheiro dos votos dados a um candidato a vereador. Eles chegaram a

fazer protesto em via pública e alguns já foram ouvidos pelo promotor

Amadeus Lopes Pereira, da 64ª. Zona Eleitoral (idem, ibidem).

Mais recentemente, nas eleições de segundo turno em Campina Grande, a

segunda mais importante cidade do Estado, o prefeito reconduzido, Veneziano,

declarou:

Em 2004, eu fiz referência sobre as desigualdades materiais, logísticas,

mas neste ano elas tiveram peroração, dimensões e potencialização ainda

maiores, conforme nós assistimos nesses últimos 100 dias de disputa, de

Page 367: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

367

refrega eleitoral. Nunca tínhamos visto isso antes. O derramamento de

dinheiro para se tentar arrematar, tomar das mãos dos cidadãos

campinenses, um poder que não é meu, que não é do José, que não é o do

homem em si, mas é o poder de uma instituição maior, que é o povo

campinense decidir sobre a escolha de seu governante (Correio da

Paraíba, 28/10/08, p. 3).

São denúncias que espelham o nível da campanha, em que o atual Governador

Cunha Lima, cassado por duas vezes e ainda exercendo o mandato, transferiu a

Administração do governo estadual para Campina Grande, e, licenciado, atuou

diretamente na organização e ação político-eleitoral de seu candidato.

Como se vê, denúncias de esbanjamento financeiro não faltam em todo o país.

Diferentemente de outros momentos, o poder judiciário começa a despertar para uma

efetiva participação em todo o processo e autuando, nas condições que lhes são postas,

aqueles desmandos mais horripilantes, tornando-se um agente importante nessas

eleições.

5 O PODER JUDICIÁRIO - uma quarta força

Este foi um novo componente das eleições deste ano na cidade de Colônia

Leopoldina. Também em todo o país, este poder tentou aplicar a lei naquilo que lhes foi

mais explícito. Para o Presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) da Paraíba, por

exemplo, o desembargador Nilo Ramalho, “a campanha de combate à corrupção

eleitoral foi satisfatória...” (Jornal O Norte, 19/10/08, p. A5). Ele também considera que

este problema é uma questão nacional e que os tribunais nos Estados muito trabalharam

na direção de impedimento de ilícitos. Para ele: “... sempre foi e ainda é uma praxe na

política brasileira a prática de ilícitos eleitorais, como a compra de votos envolvendo

eleitores, cabos eleitorais e candidatos” (idem, ibidem). Como se vê, isto também é do

conhecimento do setor da sociedade responsável pela aplicação da lei. Ainda, para ele:

“A justiça eleitoral está dando, hoje, mais oportunidade para as pessoas denunciarem.

Antes, isso não acontecia. Tudo ia para debaixo do tapete” (idem, ibidem).

Ficou evidente, também em Colônia, a ação do judiciário. Este poder tem uma

imagem de que sempre beneficia os mais ricos. Porém, as decisões tomadas no dia da

Page 368: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

368

eleição muito contribuíram para a redução desse tipo de compreensão, combatendo a

corrupção. Vários foram os cabos eleitorais detidos na nova quadra de esporte, sendo

uma boa parte com prisão em flagrante. O judiciário decidiu, logo cedo, pela prisão

domiciliar dos candidatos principais Zé Maria e Manuilson que, com certeza, concorreu

para uma maior tranquilidade à eleição.

As ações desse poder foram sentidas em todo o país. Em Colônia, há rumores de

que processos estão correndo no judiciário com questionamentos dos resultados, devido

à corrupção eleitoral. Na Paraíba, em João Pessoa, foi preso e só agora liberado, vinte

dias após as eleições, por força de “habeas corpus”, o “votinho de ouro”, conhecido

comprador e organizador de grupos de eleitores. Já o prefeito eleito da cidade de

Itapororoca, também na Paraíba, está impedido de tomar posse por problemas

anteriores, assumindo o segundo colocado. Em Pernambuco, o prefeito de Lagoa

Grande, Jorge Roberto, teve negado seu registro de candidatura e não poderá assumir o

cargo. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) poderá realizar uma nova eleição. Em todo

país, aumentam os pedidos do judiciário para que a Receita Federal investigue a

situação de doadores de campanhas nas eleições deste ano, procurando saber a respeito

da condição de doador e os valores destinados aos candidatos e às coligações. Assim, o

judiciário contribuiu como um forte aliado da sociedade para que se estabeleçam

Eleições Limpas, em Colônia e em todo o País, tornando-se um importante ator,

doravante, já nestas eleições e, espera-se, naquelas que ainda estão por vir.

6 DESSA SELVA ...

Page 369: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

369

Flores de sonhos e utopias

Agora, o quadro político exposto precisa ser complementado por todos e todas

que assim o desejarem. Ressalte-se que este é um texto inicial para discussão, mas que

já cabe o desafio: O QUE FAZER?

Parece que aos que não lograram êxito nestas eleições; aos que investiram para

que outro tipo de política se desenvolvesse no município e pouco conseguiram; aos

trabalhadores rurais sempre sofridos na produção sem apoio, praticamente; aos

pequenos proprietários que não são reconhecidos em seu trabalho na pequena produção;

aos profissionais que veem com clareza a redução da dimensão da Política na cidade;

aos que vivem na área rural mas não veem os seus desejos contemplados nas políticas

públicas do seu município; aos que residem em periferias e tanto são maltratados,

durante toda a sua vida, sendo visíveis tão somente em momentos eleitorais; aos que

atuam em setores religiosos e veem a ausência de valores nas pessoas e nos políticos, ou

mesmo, a exploração de suas divindades; aos que atuam partidariamente, mas que

mesmo assim não têm vez nem voz; aos que atuam no comércio e, mais das vezes, estão

subjugados aos desejos menores de prefeitos ou empresários inescrupulosos, enfim, aos

Page 370: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

370

que se sentem oprimidos em seu viver, restam os desafios de como tomar para si a

condição de cidadania. O cidadão, como aquele, com possibilidades de contribuir para

um melhor jeito de viver, em seu local e em sua cidade, sobretudo, diante do silêncio

geral das entidades civis do lugar. Todos sabem que silenciar é uma opção política.

Desse modo, alguns aspectos saltam aos olhos, como por exemplo: a luta é para

que todos possam exercer a sua cidadania em todas as suas dimensões. Para isto,

parece urgente a compreensão da necessidade de exercícios de autonomia das pessoas.

Este tem sido um dos valores mais vilipendiados no município com a falta de respeito

ao outro, quando declaradamente se promovem agressões, em suas mais variadas

formas, tanto em tempos de eleições como no dia-a-dia. Para isto, pode ser sugerido o

que segue:

a) ser cidadão como sendo uma conquista de todos os momentos e não apenas em

tempos de eleição;

b) ser cidadão de forma crítica e ativa, isto é, pensando o mundo e pensando-o em

mudanças;

c) realizar ações de cidadania de forma permanente, por meio de discussões de

questões da cidade e da vida;

d) criar um grupo, um movimento pela cidadania em Colônia, sem qualquer tipo

de restrição partidária ou religiosa, para discutir, elaborar e realizar ações

permanentes nessa perspectiva.

Em síntese, uma caminhada para a cidadania, com organização de ações que

possam promover a participação de todos e todas na vida da cidade, na vida de Colônia.

Seja como for, é necessária e possível a manutenção de sonhos, da esperança e das

utopias de mudanças, na perspectiva de que dessa floresta de dificuldades, possam ainda

nascer flores.

Page 371: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

371

7 REFERÊNCIAS

1. ANOTAÇÕES em caderno de campo de conversas com eleitores. Colônia

Leopoldina, Alagoas. Colônia Leopoldina (AL): 2008.

2. DALARI, Dalmo de Abreu. Comissão Nacional de Direitos Humanos. 50 anos

da Declaração dos Direitos Humanos: conquistas e desafios. Brasília: OAB,

Conselho Federal, 1998, p. 115.

3. Jornal Correio da Paraíba. João Pessoa, Paraíba. 2008.

4. Jornal O Norte. João Pessoa, Paraíba. 2008.

5. Jornal Folha de São Paulo. São Paulo, São Paulo. 2008.

6. Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Brasília, Distrito Federal. 2008.

Page 372: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

372

TEXTO 7

MANIFESTO DO MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA52

- MCC –

O MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA (MCC) encampa a necessidade

política mais urgente, nos dias de hoje, que é a condição de ser cidadão. Cidadania

entendida como expressão da possibilidade do indivíduo externar e viver de forma

crítica e ativa a sua liberdade - condição humana de poder agir, sem qualquer tipo de

constrangimento. Cidadão como uma pessoa em possibilidade de realização de seus

direitos e deveres para com a sua cidade, o seu povo, o seu país e para com o mundo.

Ser cidadão com direitos humanos.

Este movimento pela cidadania entende que o não ter escola, saúde, emprego e

alimentação; o não poder viver a vida político-partidária; o não respeitar as mulheres em

suas especificidades de gênero; o não respeitar as várias expressões religiosas, as

expressões de sexualidade e o meio ambiente, enfim, qualquer atitude geradora de

opressão... são todas situações para a não cidadania. Todas estas circunstâncias

subtraem do humano sua condição de ser gente, sua liberdade e autonomia, reduzindo,

assim, a condição de vida de cada um.

Este MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA não tem cor partidária ou

religiosa e lutará para que todos e todas, nesta cidade e no mundo, possam tornar

possível o sonho de serem cidadãos e de viverem felizes.

Colônia Leopoldina, Alagoas, 19 de outubro de 2008.

A TERRA DOS NOSSOS ANTEPASSADOS INDÍGENAS E NEGROS.

Assinam este manifesto:

01. Aluisio Bezerra Filho - técnico agrícola

02. Aluisio Timóteo de Sousa Neto - trabalhador do comércio

03. Arnaldo Sérgio Sobreira - professor e dirigente sindical

52

Este texto é o primeiro a ser apresentado à cidade, marcando a criação desse agrupamento político.

Page 373: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

373

04. Bonifácio Alves Silva Neto - professor

05. Edvaldo Rodrigues de Moraes - comerciante

06. Gilberto Timóteo de Sousa - comerciante

07. João Batista Magalhães Sales - monge católico

08. José Alves de Sousa - monge católico

09. José Antonio Timóteo de Sousa - agricultor

10. José Francisco de Melo Neto - professor universitário

11. José Geovan de Oliveira - monge católico

12. José Luciano Pereira da Silva - estudante universitário

13. José Ronaldo Timóteo de Sousa - agricultor

14. Júlio Morais Luna - comerciante

15. Maurício Pereira de Sousa - aposentado

16. Silvânio dos Santos - professor

17. Severino Rocha - comerciante

18. Wanderléia Bezerra da Silva - estudante secundarista

Page 374: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

374

TEXTO 8

ATA 1

ATA DE REUNIÃO DO MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA

PAUTA: - comentários sobre a conjuntura;

- encaminhamentos

Presentes: Vavá do posto, Zé de Melo Neto, Silvanio, Maurício, Ivanilda, Neto

Trompete, Prof. Silvio, Luciano, Wanderleia, Antonio e Aloísio.

PRIMEIRO ITEM – conjuntura local.

1. Há um contentamento descontente, hoje, em Colônia (neto);

2. Há também mudanças no sentido de que a maioria anda meio bestializada,

sobretudo, os mais esclarecidos, pois estão comprometidos com o poder local

(Silvio);

3. Colônia está nesta mesma linha. As coisas acontecem e muita gente fica

descontente, mas não reclama. Temos discutido a administração e, no mês

passado, discutimos por meio de uma audiência pública. Discutimos bastante,

sendo feito um abaixo assinado com mais de 600 pessoas. O pessoal estava

descontente, sobretudo, com saúde e a educação.

O governo mostra que vai mudar mas nada acontece. Na próxima quarta-feira,

teremos nova audiência pública sobre a Ceal, a Casal e a TIM, a respeito dos

problemas dessas empresas aqui no município.

Há muitas pessoas que se ligam ao poder, pois o poder está ausente, moram em

Maceió. Mesmo dessa forma, o governo vai indo.

O São João que era para as enchentes, ninguém sabe para onde foi o dinheiro.

Os prédios históricos estão se acabando. Eles (prefeitos) não são daqui e não se

incomodam com isto. Exemplo são as castanholas que estão morrendo.

(Maurício)

Page 375: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

375

Mas as coisas não estão assim porque eles são forasteiros. Isto é algo mais

profundo. Há prefeitos que foram daqui e o povo ficou à margem.

Sobre as enchentes, é desejar demais que o povo de colônia sofresse a mesma

catástrofe. A divulgação mentirosa de que Colônia estava nessa mesma situação

não é aceitável. Aqui, sempre teve pessoas necessitadas. Hoje, há cestas básicas

demais, pois aqui não tem um número tão grande de desabrigados. Talvez seja

essa a enganação. Talvez sejam cestas para a eleição.

A falta de compromisso é muito grande, muito grande. As coisas só vão andar se

houver um grupo que ative a população, a exemplo de junho, quando

movimentou-se a cidade para reivindicações. (Silvânio)

4. A política de Colônia continua conforme a análise já apresentada. Vereadores

dizem que vão trabalhar, mas se rendem aos outros que não topam trabalhar.

Vários estão correndo apenas para melhorar o seu emprego. Quem se dispuser a

ser oposição, até poderá ser, mas hoje não temos, praticamente, oposição.

Exemplo, Novo Lino é diferente, pois a oposição já foi vitoriosa várias vezes.

Aqui, está se passando a ideia de que não é possível qualquer tipo de mudança.

(Antonio)

5. Não temos um único vereador que se comprometa com os trabalhadores. Fala-se

uma vez uma certa necessidade, mas é muito rápido. Até mesmo o regimento da

câmara é arcaico e não há como o povo se expressar na Câmara. Isto deve estar

beneficiando alguém. O dr. Ernande dá aula de conhecimento mas não tem

comprometimento e não é combativo. Todos balançam a cabeça. Uns estão

comprometidos ou com um prefeito ou com outro. E assim vai. Eu mesmo, para

tomar vacina foi uma luta. Tive que ir ao ministério público. (Maurício)

6. Os alimentos para as enchentes é parte de uma política do estado e as assinaturas

é para comprovar que receberam. Mas na política, os grupos se mexem: o Zé

Maria se mexe e o de manuilson, também. Quem está no poder está perdendo

base e busca suas articulações. Exemplo, a vinda de Ricardo ao grupo de

manuilson é um exemplo. Se quisermos o poder, temos de pressionar, também.

Colônia pode ter uma terceira via, considerando uma possível divisão de

manuilson com o vice. Este, inicialmente, não queria nada e foi o que primeiro

lançou candidatos. Marinho é o vereador que mais cresce pois tem coragem de

romper, ele balança a cabeça para Manuilson mas de forma diferente. Portanto,

todos estão se mexendo.

Page 376: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

376

Eu participo de um time de minoria. Talvez, sejamos divisor de água, no futuro.

Uma terceira via pode aparecer, mas não seria construída por esse grupo.

Assim, poderemos ter uma administração no futuro. O dia 5 será um marco na

política. E nunca esquecer que mesmo os governos de esquerda funcionam sob

pressão, também. (Luciano )

7. Foi colocado que Colônia estava igual aos outros municípios. Ora, foi feito um

monte de mentira e isto só para se ganhar cestas básicas. A distribuição vem

sendo entregue a qualquer pessoa. É um problema meramente político eleitoral

(Maurício).

8. A questão partidária passa entre eles. Não somos, ainda, um grupo para sermos

chamados à discussão. Há uma briga de faixada. O grupo vai se manter. A

panela ali vai se manter. Quem tem de puxar as marchas são as pessoas. A opção

será A ou B. isto aqui ficou igual a Ibateguara. Só com dois grupos. Não há

possibilidade de mudanças com esse povo, os dois grupos. (Silvanio)

9. É isto o que acontece, mesmo. Eu vivo mais em casa. A cidade está parada. Não

temos uma indústria de fazer pipoca, linguiça, etc. Só há a Prefeitura e a Usina.

As informações vão de lá para cá e de cá para lá. Os vereadores, 80% são venais.

O povo tem uma certa culpa pois precisa, segundo eles mesmos, estar ao lado ao

poder.

A cesta básica é enrolação. Muita gente ganha cesta básica mas não precisa.

Eu vejo colônia entregue às baratas. Sem dono. Exemplo: um ônibus estacionou

de porta aberta e até hoje, durante 3 dias, no meio da rua, e ninguém faz nada.

O povo fica disputando os dois poderes. Não há outras fontes de renda. O

secretário de saúde diz que tem tudo, mas isto é falso. Só funcionam para os tais

de “pega bala” – babão. É isto. (Vavá)

10. A situação está clara. Os fatos estão aí. O que acontece é o que acabou-se de

relatar. O que vejo: dois grupos fechados. Não há brechas, desde que o grupo se

organize. Não temos espaço. Movimentos populares e sociais não têm espaços e

eles não abrem. (Ivanilda)

11. Só o povo pode achar uma saída para tudo isto (neto).

12. Mas a consciência não é que resolve e somente a realidade mesma. Não tem

como se despertar uma consciência se esse povo está preso nesse material –

prefeitura e indústria. Não tem como escapar disto. Nós somos idealistas. Essa

construção é difícil.(Silvio)

Page 377: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

377

13. A consciência é a necessidade. Muitos dizem ter consciência, mas não é algo que

está lá dentro. Os que sofrem mais, parece, não quererem saber de nada. A

necessidade é a organização das pessoas. É a necessidade de ter mais, ter mais,

que é dominante. (Silvânio)

14. Lembrar que: a) todo mundo tem consciência das coisas que faz (inclusive quem

vende ou compra votos); b) todo mundo tem interesses (nós aqui temos os

nossos interesses). Eles têm interesse de se utilizarem da cidade para si e nós

outros interessamos por uma cidade para todos.

ENCAMINHAMENTOS:

01. acompanhar as audiências públicas (dia 14, 9 horas ) (a discussão do lixão está

em pauta);

02. organizar o texto com as propostas apresentadas à cidade, que se tem registro;

03. retomar os cursos internos de educação política e de palestras gerais para a

cidade;

04. Lembrar aos pequenos agricultores para venda de sua produção por meio do

programa da Agricultura Familiar.

Colônia Leopoldina, 08 de julho de 2010.

Page 378: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

378

TEXTO 9

ATA 2

ATA DE REUNIÃO

MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA

Tivemos hoje mais um momento para o exercício da reflexão do campo político

local (leopoldinense) através de seus objetos e eventos pertinentes. A reunião do MCC

deste dia contou com a presença e contribuição do professor de Ciências Neto, do

comerciante Sr. Vavá, do autônomo Nildo, do religioso Valdo e dos agricultores Aluísio

e seu pai, o Sr. Antônio, além de minha pessoa. O desenvolvimento da reunião se fez de

forma espontânea, isto é, sem qualquer programação a priori com o objeto de

sistematizar ou mesmo hierarquizar tempo e discursos. Contudo, foi nesse momento de

espontaneidade que se percebeu uma maior relação com alguma programação política

posterior ao ato do encontro, revelando que o verbete do senso-comum de que “a

qualidade as vezes é melhor do que a quantidade”se apresenta com lógica em momentos

distintos, ou seja, na própria relação axiológica entre a qualidade e a quantidade.

Durante o desdobramento da reunião fui tomando notas a partir dos discursos dos

participantes, procurando destacar os principais pontos discursivos de cada um. Nesse

sentido, a partir dessas anotações prosseguirei com a atividade de registrar os

andamentos do MCC. Cabe ressaltar três coisas nesses momentos: 1) os textos

relacionados aos encontros do MCC pertencem ao próprio grupo; 2) eles são produtos

de percepções subjetivas, isto é, são objetos da forma como signifiquei os discursos

pessoais; 3) como produtos subjetivos, talvez os mesmos não correspondam às

intenções autênticas dos membros. Como já afirmado em outros momentos, não há

qualquer preocupação – pelo menos no momento – de construir uma analítica dos

discursos do MCC a partir dos instrumentos acadêmicos, mas tão-somente registrá-los,

o que não obstrui uma posterior análise mais detalhada e refletida dos próprios discursos

dos membros do MCC. Passemos agora ao quadro sinótico dos discursos construídos e

proferidos na reunião:

Page 379: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

379

a) Infidelidade partidária – o professor Neto, pré-candidato ao cargo de

legislador para o pleito de 2012, filiado ao PT local, colocou em debate o

fato de que, segundo informações de sítios eletrônicos alagoanos, haveria

uma grande possibilidade do PDT em Alagoas solicitar as autoridades

competentes na matéria a perda de mandato político do prefeito Cássio

Alexandre e dos vereadores Vitalino e Hernane Santana, por infidelidade

partidária. Acredito que essa informação divulgada na rede de computadores

apresenta lógica pelo fato de que, o presidente do PDT em Alagoas é o ex-

governador Ronaldo Lessa, que perdeu na disputa eleitoral desse ano para o

atual governador Teotônio Vilela Filho. Inclusive, na última vez que

Ronaldo Lessa esteve em Colônia, dois dias das eleições do 2º turno, iniciou

seu discurso afirmando que alguns políticos locais eram traidores, referindo-

se, principalmente, ao prefeito Cássio, que fez campanha para Teotônio

Vilela;

b) Possível investigação judicial sob o vereador João Matuto – ainda de acordo

com o professor Neto, o MPE (Ministério Público Estadual) irá investigar o

vereador João Matuto pelo fato de não declaração da verba de gabinete. Para

título de esclarecimento, a verba de gabinete deve ser utilizada para despesas

de custeio de capacitações, viagens e outros serviços, ambos devendo-se

estar relacionados ao cargo legislativo. Acredito que o MCC poderia

trabalhar nessa matéria através de solicitação dos gastos da verba de gabinete

dos vereados de Colônia Leopoldina, fazendo com que a transparência

exigida em Lei se torne clara e objetiva;

c) O descaso político significado pelo corpo – o religioso Valdo, que participa

do Conselho Municipal da Saúde, junto com o também religioso João Batista

(Catita) patenteou ao grupo o fato de perceber o descaso dos vereadores de

Colônia Leopoldina através da forma corporal com que eles participam das

reuniões públicas da Câmara. Ou seja, os vereadores ficam despojados de

qualquer gestualidade ética com o espaço onde são (ou deveriam ser)

debatidos os andamentos políticos. O escamoteamento por parte da Câmara

de Vereadores de Colônia em relação a sua função pública ficou evidente

para o próprio Valdo no momento em que ele presenciou uma cena em que,

em plena seção da Câmara, a vereadora “Gal Fest” disse “[...] o que fizerem

aí eu assino”. Para ele, fica evidente também o fato de que os grandes

Page 380: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

380

manipuladores da Câmara são os vereadores “Marinho” e “Hernane”. Talvez

isto se deva ao grau de escolaridade dos dois, que em relação aos demais,

ultrapassa a média. Dessa maneira, eles possuem maior capacidade sofista

em seu aspecto negativo;

d) Manipulação tecnológica com fins políticos – o professor Neto explanou um

dado relevante sobre os últimos acontecimentos políticos locais. Ele disse

que nos dias 24 e 25 deste mês, o sinal de TV (para aqueles que não possuem

antena parabólica) foi retirado intencionalmente pelo Prefeito Cássio

Alexandre na tentativa de não tornar pública as entrevistas do Promotor de

Justiça, o Sr. Jorge Bezerra. Este declarou que a manifestação da terça-feira

(23) foi pensada por terceiros, talvez alguém relacionado ao poder executivo

municipal. Segundo Neto, o Promotor Público disse que pediu – após

recolher os cartazes e encaminhar duas mulheres que supostamente lideram a

manifestação – para os possíveis líderes do movimento para soletrar o que

estava escrito nos cartazes, principalmente o cartaz que dizia: “FORA

PROMOTOR”. Como não soletraram, deduziu o magistrado que foi

possivelmente uma manobra política do executivo ou de alguém que estará

correlacionado diretamente com o grupo político dominante;

e) A natureza política do problema dos aluguéis – o Sr. Antônio, em seu

discurso, considerou a relação estreita entre a política assistencialista

praticada no município e o problema dos aluguéis, pois se o governo atual –

que está no poder há 10 anos – tivesse construído casas populares não

ocorreria eventos como os acontecidos nesta última semana. Desse modo, o

pagamento dos aluguéis é instrumento assistencial político, ou seja, possui

fins de conservação do poder;

f) Apoio ao Promotor – o Sr. Antônio ainda apresentou a proposta de que o

MCC deveria oferecer apoio ao MP na tentativa de desfazer o plano do

Prefeito em apresentar o Promotor Público como o carrasco do momento

político municipal. Ou seja, mostrar à população que o Promotor proibiu não

apenas o pagamento dos 201 aluguéis, mas de todos os serviços que não

tinha processo de licitação, a partir de improbidade administrativa. Não era

ele que estava proibindo, mas a Lei;

g) Política e comércio: problema – o Sr. Vavá, no atributo de suas palavras,

tratou de um problema de sua área de trabalho, o comércio. Considera o Sr.

Page 381: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

381

Vavá que o comércio leopoldinense está invadido por comerciantes

pernambucanos, o que prejudica o município. O prejuízo está no fato de que

o “dinheiro que deveria ficar aqui está indo parar em cidades do estado de

Pernambuco”. Isto afeta o comércio e seu crescimento através de novos

trabalhos que poderiam ser efetivados. Assim, o Sr. Vavá condena a

inexistência de políticas alfandegárias para fazer com que parte desse

dinheiro fique na cidade, por meio de capital flutuante. Acredito que, de

modo inconsciente, o Sr. Vavá é contrário às mãos invisíveis que regulam as

atividades econômicas conforme Adam Smith, permanentes no

neoliberalismo econômico;

h) Um Possível Neomessianismo – no uso de minhas palavras, inicialmente

comentei com o grupo uma das possíveis abordagens acerca da configuração

política relacionada às eleições de 2012. Assim, é fato o reconhecimento de

que, antes da decisão judicial (e mesmo depois) que proibiu a candidatura da

Sra. Lala, nas eleições de 2008, houve uma estreita relação entre política e

religião em nossa cidade. Dessa maneira, relembrando eventos históricos da

política brasileira, naquele momento classifiquei essa relação como sendo

uma neomessianismo. Isto é, sempre houve uma ligação entre o ente religião

e o ente política em nossa história, sendo as mais conhecidas “Canudos” e

“Contestado”, que, apesar de seus discursos diacrônicos sobre uma ligação

com a política, apresentava bases ideológicas tipicamente qualificáveis como

políticas. Assim, a partir do momento em que Antônio Conselheiro afirmou

ser a separação da religião católica do Estado brasileiro algo prejudicial, fica

evidente sua preocupação em manter o velho estado de coisas a partir da

ligação entre catolicismo e império através do Padroado. Todavia, essa

característica tão presente em nossa história desde épocas coloniais (só

lembrando que a colônia brasileira é tomada como propriedade física pelo

Estado lusitano e como propriedade espiritual pela Companhia de Jesus)

parece que de tempos em tempos se apresenta com alta vivacidade, como o

caso da candidata Lala. Ou seja, na época (e ainda se escutam ecos desse

momento) ela teve amplo apoio das pessoas que se declaram possuidoras de

algum credo religioso, principalmente entre católicos e os evangélicos.

Inclusive, em sua campanha, como símbolo de marketing político, foi

amplamente utilizada uma das mais influentes músicas evangélicas na época

Page 382: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

382

(a qual não relembro o autor da mesma). Em síntese, este neomessianismo,

neo no sentido de “novo”, pois carrega em si matizes ideológico-religiosas

diferentes – conceito sem qualquer aprofundamento mais amplo – parece

ainda ter capacidade de influenciar os andamentos das futuras eleições em

nossa cidade, caso a Srª Lala se apresente como candidata.

i) Educação política – outro aspecto que considerei no encontro foi relacionado

à Educação Política. Educação Política no sentido de sistematização

epistêmica da Ciência Política sem qualquer ligação com idiossincrasias

partidárias. Em outros termos, seria interessante o MCC organizar encontros

periódicos acerca de uma organização política educacional para a

comunidade no tocante à apresentação dos principais conceitos (filosóficos,

sociológicos, antropológicos e jurídicos) numa perspectiva autônoma de

partidarismo. Seria um reviver de momentos sublimes da formação política

de muitas pessoas de nossa cidade, quando o PT local se apresentava isento

de qualquer participação do poder, ou seja, quando era oposição em nossa

cidade. Esses encontros eram embasados no marxismo, apesar dos principais

representantes do partido na cidade não demonstrarem domínio da teoria

(essa parte ficava a cargo de São). Assim colocada, considerei que uma

possível organização em torno de uma Educação Política seria produtiva no

sentido de apresentar os principais conceitos para o entendimento do

universo político local – a partir de conceitos gerais da Ciência Política - ,

possibilitando oportunidades para a vivência cidadã, que é o principal

objetivo do MCC. Terminei esse argumento citando a 11º tese sobre

Feuerbach de Marx, ou seja, o conhecimento e o estudo da realidade política

são fundamentais para a ação revolucionaria (transformável).

j) Superar a aparente ontologia política local? – nesse momento, comentei uma

percepção pessoal (não exclusiva) que, nos últimos dias, tem gerado

adversos posicionamentos em meios eletrônicos. Tal percepção, baseada no

real, apresenta-se como uma aparente ontologia política na história brasileira.

Tal ontologia se apresenta no sentido de que, normalmente, são os

possuidores de capital que vencem os pleitos eleitorais. Talvez o fato

histórico de um operário ser atualmente o presidente do Brasil possa se

caracterizar como uma superação dessa ontologia. Mas, para os mais

prevenidos, sabe-se que o PT chegou ao poder político nacional pela ligação

Page 383: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

383

com alguns setores da burguesia brasileira, fato que não tinha ocorrido nos

três momentos anteriores em que o PT perdeu as disputas eleitorais. Assim, a

partir de uma leitura dos documentos fundantes da ideologia petista,

disponíveis, por exemplo, na obra “O conceito de partido no partido dos

trabalhadores”, do Dr. Profº. José Francisco de Melo Neto, talvez possam ser

compreendidas algumas divergências entre o discurso original e a prática,

principalmente nos últimos anos. Nessa perspectiva, para o MCC é

fundamental o entendimento de que é manifesta esta ontologia política, e

sendo uma essência, é conceitualmente imutável ou não transformáveis.

Assim, filosoficamente, chega-se a uma aporia, no sentido desta aparente

ontologia ser realmente real. Como o MCC deve trabalhar essa questão?

Em suma, o encontro deste dia foi importante para a construção do sentimento

de vivência da cidadania enquanto categoria indispensável para o crescimento coletivo

da sociedade.

Colônia Leopoldina, 21 de novembro de 2010.

Page 384: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

384

TEXTO 10

COLÔNIA LEOPOLDINA: propostas para a cidade53

Escola Estadual – Aristheu de Andrade

53 Documento repassado aos vereadores, ao prefeito e distribuído na comunidade, em

janeiro de 2010.

Page 385: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

385

SUMÁRIO

1. Apresentação.

2. Pontos temáticos e propostas:

- Grupo 1 de propostas - de internautas (Orkut).

- Grupo 2 de propostas - de dois candidatos a vereador.

- Grupo 3 de propostas - do usineiro e ex-candidato a prefeito Zé Maria.

- Grupo 4 de propostas - da ex-candidato a prefeita Luciana Luna.

- Grupo 5 de propostas - um conjunto de proposta durante o sesquicentenário

da cidade.

3. Considerações.

Page 386: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

386

1 – APRESENTAÇÃO

O Movimento Colônia e Cidadania (MCC) apresenta esta brochura, um conjunto

de propostas originárias dos mais variados grupos de pensamento político da cidade de

Colônia Leopoldina, presentes em panfletos ou pela rede de computadores – internet,

com várias propostas repetidas e, mesmo assim, mantendo-as, assegurando a

originalidade dos documentos54

.

O grupo 1 de propostas é um esforço inicial de pessoas que pensavam, em certo

momento, construírem uma alternativa política aos candidatos originários da Prefeitura

ou da Usina Taquara, que já estavam em campanha para as eleições municipais de 2008.

Compilaram propostas apresentadas na internet por vários/as leopoldinenses, em

especial da comunidade eletrônica Colônia Leopoldina – a cidade, uma das várias

comunidades existentes sobre Colônia Leopoldina.

O grupo 2 de propostas expressa a primeira tentativa na cidade, de dois

candidatos a vereador de partidos distintos – Partido dos Trabalhadores (PT) e

Democratas (Dem) – em apresentarem as suas propostas aos eleitores. De forma inédita

e antecipada, mostraram o que seria a sua atuação na Câmara de Vereadores, se eleitos

fossem.

O grupo 3 de propostas é um Plano de Governo, apresentado pelo candidato a

prefeito, à época – o usineiro da Usina Taquara – José Maria.

O Grupo 4 de propostas é o Plano de Governo da candidata à prefeita, à época,

Luciana Luna.

54 Estas propostas foram divulgadas pelo Movimento Colônia e Cidadania (MCC) para a cidade, em 2010, constando no livro: Colônia Leopoldina – situações político-ambientais (Vol 2). Andréa Marques Silva, Elizabete M. do N. G. Veloso, Paulo Edson de Araújo e José Francisco de Melo Neto (org.). Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa: 2011.

Page 387: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

387

O Grupo 5 de propostas, finalmente, é originário de conversas avulsas, presente

inclusive o saudoso Everaldo Araújo Silva, escritor do livro A Colônia da Princesa.

Uma coleta de propostas que se estende desde a comemoração do Sesquicentenário de

fundação da Colônia Militar, núcleo gerador da cidade de Colônia Leopoldina, até os

dias de hoje.

A chapa vencedora do pleito de 2008 não apresentou, durante a campanha, de

forma sistematizada, qualquer conjunto de propostas.

O MCC espera que este material possa ser útil à orientação de alguma prática

política possível de atores com cargos eletivos, aos estudos nas escolas sobre os

movimentos políticos locais, às discussões para maior aprofundamento de soluções para

a cidade e seu povo, na perspectiva de sua melhoria, contando com a sua presença,

bem como, às práticas futuras de cidadania das pessoas, mantendo viva a memória

política da cidade.

Colônia Leopoldina, verão de 2010.

Page 388: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

388

2 – PONTOS TEMÁTICOS E PROPOSTAS

Page 389: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

389

GRUPO 1 DE PROPOSTAS

(apresentadas pelos usuários da internet – Orkut)

3 NECESSIDADES DO MUNICÍPIO (PESQUISA)

- realização de uma pesquisa na cidade sobre as suas necessidades, como início de

um futuro planejamento participativo; conhecimento da cidade em dados e por meio

dos ditos do povo;

02. GESTÃO DA CIDADE

1. Beleza da Cidade:

1.1. embelezamento das ruas Pe. Francisco, 15 de novembro, 16 de julho, Manoel

Ferreira Lima e outras, tornando-as avenidas. É preciso retirar pelo menos 1 metro

de calçadas das casas do lado sem postes e plantando árvores no meio de cada uma

dessas ruas.

2. Transparência:

2.1. planejamento participativo;

2.2. orçamento participativo;

2.3. prestação de contas de forma pública para a cidade;

3. administração:

3.1. gerenciamento da prefeitura com diálogo com a população, administrando com

a participação do povo;

Page 390: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

390

03. LAZER E ESPORTE

1. construir mais duas quadras de exportes na cidade.

2. assegurar uma área definitiva e melhorar o campo de futebol.

3. fazer um levantamento dos pontos que podem tornar-se de lazer, em todo o

município.

04. TRABALHO E RENDA (economia)

1. criação de um grupo de pessoas que possam pensar a cidade, oferecendo outras

possibilidades de trabalho e renda, sobretudo aos/às jovens;

2. desenvolver grupos em condição de se organizarem em bases à economia

solidária.

05. MORADIA

- acabar com casas de taipas no município, em especial na zona rural.

06. DIREITOS HUMANOS

- introduzir, nas escolas, material de divulgação sobre direitos das pessoas.

07. FINANÇAS

1. transparência pública de todo tipo de finanças que cheguem ao município, por

meio de convênios, programas ou impostos, com prestação de contas, não só à

câmara de vereadores, mas à toda a cidade.

08. AGRICULTURA

Page 391: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

391

1. fazer levantamento das possibilidades da agricultura no município, além da

cana.

2. organizar grupos com a possível participação do SEBRAE.

3. ter políticas de ajuda às formas de agricultura familiar que não a cana.

09. EDUCAÇÃO

1. melhora da biblioteca existente;

2. incentivo à leitura na escola;

3. implantação da educação popular;

4. revisão do estatuto do magistério;

5. apoio financeiro ao profissional que investe em sua carreira de professor em

cursos oficiais (especialização, mestrado e doutorado);

6. realização de convênios da prefeitura com universidades federais (UFAL e

outras, se for o caso) para a realização de cursos de especialização gratuitos

aos estudantes e em Colônia Leopoldina;

7. promoção pela prefeitura ou ajudando o sindicato a promover de encontros

sobre a educação leopoldinense e definição de seus rumos;

8. iniciação da escola integral para as crianças de Colônia;

9. promoção de cursos gratuitos de educação à distância por meio de convênios

com universidades públicas;

10. Realização de cursos de especialização presencial e gratuitos aos estudantes,

em Colônia, com universidades federais.

10. CULTURA

1. criação de uma escola de música/fanfarra;

2. criação de grupos de teatro na cidade, com uma ajuda inicial de quem puder

ajudar e que tenham a capacidade de autosustentação;

Page 392: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

392

11. TRANSPORTE

- assegurar transporte para universitários para Palmares e Maceió.

12. MEIO AMBIENTE

1. construção de uma adutora para garantir água para cidade;

2. estação de tratamento de lixo regional em convênios com outros municípios;

13. SAÚDE

1. acabar, por meio de campanhas, com todo tipo de endemia na cidade;

2. possibilitar que o hospital da cidade realize cirurgias de pequena e média

complexidades.

14. ALTERNATIVAS PARA A CIDADE

1. articular grupos de teatro com costureiras para a produção das pessoas e que elas

possam viver disso;

2. ver as possibilidades da economia solidária popular;

3. estudar com associações possibilidades de outras culturas, além da cana;

Page 393: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

393

Page 394: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

394

GRUPO 2 DE PROPOSTAS

De todos/as candidatos à Câmara, dois candidatos a vereador iniciam um novo jeito

de apresentar-se à cidade, não apenas pelo velho estilo de “cata-cata” de voto

individual, mas apresentando um programa de ação junto ao prefeito, na câmara – os

candidatos Rubinho (DEM) e Luciano (PT). Destacam-se, aqui, as propostas de

Luciano:

3. NA AGRICULTURA – disposição de tratores aos pequenos produtores para

gradear a terra e de assistência técnica em geral; ampliação do Programa Luz

para Todos; reformar casas de taipa da zona rural em convênio com a FUNASA

(Fundação Nacional de Saúde); implantação do Conselho da Agricultura;

criação de um banco de sementes em parceria com SEAGRI (Secretaria de

Agricultura do Estado de Alagoas) e com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária) em prol do melhoramento genético de nossos produtos.

4. NA EDUCAÇÃO – melhora da biblioteca municipal, com aumento do acervo e

contratação de um profissional da área; incentivo à leitura na escola com o

desenvolvimento de programas voltados à nossa realidade; implantação de uma

escola integral para as crianças do município; fortalecimento da educação de

jovens e adultos; implantação do ensino médio na zona rural (Porto Alegre e

Monte Alegre); convênio da prefeitura com a UFAL (universidade federal de

alagoas) e/ou outras caso possível, para a realização de cursos superiores no

município, pela via da educação à educação; apoio financeiro aos professores em

forma de bolsas de estudo, a fim de que estes possam investir em sua formação

por meio de cursos de especialização, mestrado e doutorado; implantação do

sistema de gestão democrática nas escolas, com a eleição de direitos e conselhos

escolares.

Page 395: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

395

GRUPO 3 DE PROPOSTAS

Do candidato-usineiro Zé Maria – um Programa de Governo com as seguintes

propostas:

Agricultura e pecuária – nomear um técnico de capacidade comprovada para a

secretaria; adquirir uma patrulha mecanizada composta de uma patrol, um trator de

esteira, dois tratores de pneus com todos os implementos, retro-escavadeira e caçambas;

distribuir semente para plantio de roça de inverno (milho, feijão...etc); garantir os

produtores de leite, a compra do produto a preço de mercado para merenda escolar;

contratar um médico veterinário para realizar as inspeções sanitárias no matadouro

público e dar assistência aos produtores rurais; incentivar a instalação de pequenas

indústrias para o aproveitamento das frutas nativas da região.

Política de valorização do funcionário público – atualizar o plano de cargos e

salários; admissão de vagas por concurso público; patrocinar cursos e treinamentos para

capacitar os servidores; motivar o ingresso de servidores em cursos de nível superior;

dotar os servidores de EPI(S) de acordo com as exigências da DRT; reconhecer os

servidores especiais, obedecendo a classificação da DRT.

Obras civis de infraestrutura – construir 400 casas populares; substituir todas as

casas de taipa por alvenaria (100%); criar um programa de recuperação de casas em

todos os bairros; calçar 100% das ruas (asfaltar principais); recuperar o matadouro

público e o mercado municipal; reconstruir o estádio de futebol; reformar o clube social;

eletrificar 100% da zona rural; construir um grupo escolar com trinta salas de aula;

construir mini-postos em povoados para dar apoio ao PSF.

Plano municipal de saúde Colônia 100% - Manter serviço de urgência ativada e

convênios com hospitais e clínicas (palmares); ativação do posto de saúde de Monte

Alegre; serviço de nutrologia e fisioterapia; serviço de reabilitação, fonoaudiologia e

psicologia; atenção aos idosos, pessoas de 3ª. Idade; ampliação do programa de saúde

da família; reativação do serviço de radiologia; funcionamento do hospital com

Page 396: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

396

plantonistas diários; reativação do bloco cirúrgico; cirurgias-mioma, ligadura, hérnia,

vesícula, cirurgia por vídeo, proctologia; implantação de especialidades: cardiologia,

psiquiatria, pediatria, ultra-sonografia, neurologia, dermatologia, obstetrícia; manter

saúde itinerante; serviço de odontologia; banco de aleitamento materno; funcionamento

de laboratório; exames essenciais.

Educação de qualidade – Colônia 100% - ampliação de escola – auditório para

pais e mestres; salas de informática; espaço coberto para recreação; salas de leituras;

laboratório de ciências; formação continuada para professores por áreas específicas –

palestras; oficinas pedagógicas; laboratório de informática comunitária; circus-espaço

cultural (reservado para culminância de projetos educativos); aulas de Arte – pintura;

crochê; bordado; reciclagem; dança; músicas; teatro; eventos com datas comemorativas;

oferecer cursos profissionalizantes para alunos.

Resgatar o tradicional desfile cívico – 7 de setembro – reformar a banda marcial

leopoldinense; distribuir fardamento completo ao alunado.

Reajuste salarial para os professores (periodicamente) – premio “profissional

do ano da educação”.

Diminuição do índice de evasão e reprovação – simulador com reconhecimentos

gerais (bimestral); escola tempo integral; oferecer reforço da língua portuguesa (leitura,

produção de texto) e Matemática; oferecer merenda de qualidade (cardápio

diferenciado).

Assistência especializada à educação da zona rural – oferecer melhores

condições ao aluno; promover interação entre escolas da zona urbana e rural; garantir a

continuidade do transporte escolar.

E, ainda, o documento conclui com uma frase do educador pernambucano Paulo

Freire: “a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade

muda”.

Page 397: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

397

GRUPO 4 DE PROPOSTAS

Da candidata à prefeita – Luciana Luna (Plano de Governo – por nossa terra, por nossa

gente).

1. AÇÃO SOCIAL – Programa de Moradia Digna (construção de casas populares

no sistema de mutirão participativo. A prefeitura entrará com o material e a comunidade

auxiliará com a mão-de-obra.

- Volta do Programa de alimentação para a população carente, com participação das

entidades religiosas e não governamentais; programa de apoio à criança e ao

adolescente; volta dos programas de apoio específicos aos idosos, mulheres e pessoas

portadoras de necessidades especiais; volta do programa de apoio à gestante; apoio mais

efetivo para fortalecimento do Conselho Tutelar Municipal; programa cidadão (tiragem

de documentos); construção de núcleos comunitários para funcionamento dos

programas sociais, tais como o PETI, PAC, Ciranda da criança, alfabetização solidária,

bolsa escola, egressos do PETI, portal da alvorada, entre outros; disponibilização de

transportes de pessoas da zona rural para a feira na cidade; realização de cursos

profissionalizantes através do SEBRAE, SENAI, SESC e SENAC, tais como:

eletricista, encanador, padeiro, computação, cabeleireiro, mecânico de automóveis,

artesãos, dentre outros; reestruturação e ampliação das creches (zona rural e urbana).

2. EDUCAÇÃO E CULTURA – Programa Amigos da Internet – todas as escolas

serão contempladas com laboratórios de informática, com acesso à Rede Mundial de

Computadores – Internet, para que os nossos alunos possam pesquisar, fazer amigos e

se integrar com o mundo.

- recuperação das escolas municipais (urbanas e rurais); melhoria e garantia do

transporte escolar gratuito, dando condições de maior segurança e conforto para todos

os estudantes inclusive para Maceió, estudantes de graduação e pós-graduação;

aquisição de mais ônibus escolares, mais modernos, seguros e confortáveis para o

transporte dos estudantes; criação da casa do estudante universitário, em Maceió, para

incentivar os nossos jovens e dar apoio a todos aqueles que estiverem estudando na

Page 398: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

398

capital; melhoria da qualidade e da quantidade além da garantia total do fornecimento

diário de merenda escolar para os estudantes, durante o período das aulas; erradicação

do analfabetismo no município; garantia do fornecimento gratuito dos materiais

didáticos nas escolas municipais; fardamento para todos os alunos e pessoal de apoio;

resgate da banda de fanfarra do nosso município; apoio e incentivo às artes, esportes e

lazer para os jovens do nosso município.

3. SAÚDE – Consórcio de Saúde – proposta de acordo com cidades

circunvizinhas, objetivando atender regionalmente serviços ambulatoriais, exames,

cirurgias de baixa e média complexidades.

- funcionamento do Programa Saúde da Família (PSF) em todas as unidades da cidade e

campo; contratação de profissionais especializados na área de saúde, para melhorar o

nível de atendimento à população, em especial a mais carente; volta do Programa da

Saúde Bucal Coletiva, com campanhas de educação com a distribuição gratuita de

escolas de dentes e fio dental e seu uso de forma correta; volta do Programa de

Atendimento Oftalmológico, para que nossa população seja atendida de forma

preventiva e corretiva; funcionamento efetivo do laboratório de análises, para que os

médicos do nosso município possam diagnosticar com maior velocidade e segurança as

enfermidades dos pacientes; criação da Casa de Apoio ao Doente em Maceió, para

alojar os parentes das pessoas que estejam nos hospital da capital; implantação do

Sistema de Saneamento Básico; convênios com os governos federal e estadual para a

aquisição de novas máquinas e equipamentos para a modernização do nosso hospital e

postos médicos; programa de saúde preventiva; valorização e fortalecimento do

Programa de Agentes de Saúde; programa de redução dos índices de mortalidade

infantil; reforma e ampliação da estrutura da Vigilância Sanitária Municipal; volta do

programa A Saúde Vai ao Campo; volta do programa A Saúde Vai à Feira; reabertura

do Centro Cirúrgico do Hospital Maria Loureiro.

4. OBRAS, URBANISMO E AGRICULTURA

- reforma e reestruturação do campo de futebol Joaquim Luiz da Silva; apoio à

vaqueirama para a reestruturação do Parque de Vaquejada Murilo Loureiro; drenagem

das áreas alagadas (Vila Nova) para acabar com as constantes cheias nestas áreas nos

Page 399: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

399

períodos chuvosos; construção de casas populares para a população carente; construção

do terminal rodoviário de passageiros; aquisição de uma patrol para execução e

manutenção das estradas do município; construção de um novo matadouro público

municipal; melhoramento no sistema de limpeza pública; tratamento do lixo, com

incentivo à reciclagem; volta do programa Lavoura Comunitária, com a aquisição de

sementes para distribuir com os pequenos produtores rurais; recuperação e ampliação da

iluminação pública; criação de um cadastro numérico, para os imóveis que ainda não os

tenham assim como a colocação de placas identificadoras das ruas da cidade e de

sinalização de trânsito; estruturar um sistema de gestão e controle ambiental do

município; projeto Vamos Salvar o Rio Jacuípe; guarda municipal.

GRUPO 5 DE PROPOSTAS

NO SESQUICENTENÁRIO DE FUNDAÇÃO DA COLONIA MILITAR

LEOPOLDINA

UMA PROPOSTA ESTÉTICA PARA COLONIA DE LEOPOLDINA

Justificativa para as propostas:

- promover a ocupação dos jovens,

- comemorar sesquicentenário da cidade,

- incentivar a beleza da cidade (estética)

Pontos:

1. Praça D. Pedro II

- fazer concha acústica em frente à Igreja Matriz, aproveitando o declive do terreno.

2. Antigo mercado público

- fazer um mini-chopping nesse local, deslocando os comerciantes da Praça em frente à

Igreja para este chopping.

Page 400: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

400

3. Atual mercado público

- transformar este mercado em mais uma quadra poliesportiva.

4. Rua Pe. Francisco, 15 de ov, e 16 de julho – Severino Ferreira de lima

- transformá-las em avenidas, retirando 1 metro das calçadas do lado que não tem postes

e colocando árvores no meio da rua, transformando-as em avenida.

5. Centro administrativo

- construir na entrada da cidade

6. Acesso à cidade

- em todo percurso dos 9 Km, da Br 101 até Colônia, plantar árvores, formando uma

alameda de bambual, jaqueira, mangueira....(frutas da terra)

7. Ao redor do mercado da farinha

- tirar o posto de gasolina do centro da cidade.

- fazer um parque para lazer.

8. Divisória da rua do cemitério

- baixar aquelas calçadas para facilitar o acesso aos idosos.

9. Construção de um centro cultural para a cidade, com bibliotecas e núcleo de

informática e outros organismos voltados à cultura para possibilitar a educação superior

à distância.

3 – CONSIDERAÇÕES

Este esforço do MCC na divulgação destas propostas deve-se a necessidade de

se mostrar que existem propostas para a cidade de Colônia, aqui apresentadas por

diversos grupos. Claro que nem todas as condições de realização desse conjunto de

propostas estão dadas. Nem significa, contudo, que isto aqui apresentado deva ser

Page 401: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

401

encaminhado pelos governos estabelecidos, até porque a mecânica política geral do país

também trespassa a política local de qualquer município, consequentemente, também de

Colônia, e qualquer governo tem propostas próprias. Todavia, isto pode ser útil como

um conjunto de pistas para melhoramento da cidade. O desejo é que a maior quantidade

dessas propostas possa ser efetivada por qualquer governo estabelecido. São propostas

públicas e, assim, propriedade de todo mundo.

Mas, uma coisa parece certa: os grupos aqui mostram a existência de um

conjunto variado de propostas para uma melhor organização das coisas do lugar,

podendo superar o desprezo que vários políticos têm tido para com a cidade. Isto se

configura como um exercício de cidadania.

Oxalá, hoje, políticos haja que possam ter a humildade de assumir várias dessas

sugestões, originadas de tantas cabeças, desejosas de contribuir para melhor organização

de Colônia. Ninguém poderá dizer, simplesmente, que não há propostas. A sua

realização será conquista da cidade, tão somente.

Colônia Leopoldina, 2010.

Page 402: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

402

TEXT0 11

VEREADOR É PARA LUTAR55

(eu quero seu voto para defender as seguintes propostas, junto à Prefeitura -

Eleições de 2012)

01. Realização de uma pesquisa na cidade sobre as suas necessidades, norteando o

planejamento municipal de forma participativa;

02. Embelezamento das ruas Pe. Francisco, 15 de novembro, 16 de julho, Manoel

Ferreira Lima e outras, tornando-as avenidas;

03. Nove quilômetros da entrada da cidade se tornarem uma grande alameda de plantas,

frutas da região da região;

04. Efetivação do Planejamento e Orçamento municipal, com a participação da

população;

05. Ajuda na prática da prestação de contas de forma pública para toda a cidade;

06. Ajuda à administração para que seja feita com diálogo com a população;

07. Recuperação do estádio de futebol da cidade;

08. Ajudar em projetos da prefeitura para construção de novas quadras de esporte;

09. Apoio logístico aos times da cidade, com a contratação de professores de

educação/convênio com o Estado;

10. Criação de um grupo de pessoas que possam pensar a cidade, oferecendo outras

possibilidades de trabalho e renda, sobretudo aos/às jovens;

55

Documento distribuído durante a campanha eleitoral, nas eleições de 2012, pelo candidato Luciano do

Partido dos Trabalhadores (PT).

Page 403: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

403

11. Parceria com o SEBRAE com o intuito de desenvolver novas técnicas de gestão

para pequenas empresas existentes no município;

12. Fortalecimento e ampliação dos programas sociais do governo federal existentes no

município;

13. Recuperação/reforma de casas de taipa da zona urbana e rural, em convênio com a

FUNASA;

14. Instalação do conselho de direitos humanos;

15. Insistência com a necessidade de se implantar uma área para pequenas indústrias

como incentivo fiscal por parte do governo municipal;

16. Contribuição para a elaboração de estudos fiscais com finalidade de incentivar

instalações de empresas;

17. Criação de um Banco de semente, em parceria com a Secretaria de Agricultura do

Estado e com a Embrapa, para o melhoramento da genética;

18. Implantação do Conselho de Agricultura;

19. Trator para pequenos produtores poderem gradear a terra;

20. Continuação no reforço ao programa Luz para Todos;

21. Implantação da educação popular (fortalecimento da educação de jovens e

adultos);

22. Revisão do estatuto do magistério;

23. Apoio financeiro (bolsa de estudo) ao profissional que investe em sua carreira de

professor em cursos oficiais (especialização, mestrado e doutorado);

24. Realização de convênios da prefeitura com universidades federais (UFAL e/ou

outras, se for o caso) para a realização de cursos de especialização gratuitos e em

Colônia Leopoldina;

25. Realização de convênio com universidades federais para a realização de cursos

superiores em Colônia Leopoldina, pela via da educação a distância;

Page 404: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

404

26. Iniciação de uma escola integral para as crianças de colônia, de forma experimental;

27. Democratização na escola – eleição de diretores e conselhos da escola;

28. Criação de uma escola de música/fanfarra;

29. Defesa da criação de uma casa da cultura;

30. Apoio a grupos de teatro na cidade, com uma ajuda inicial de quem puder ajudar e

que tenham a capacidade para a sua futura autosustentação;

31. Implantação da Secretaria do Meio Ambiente para estudos da revitalização do Rio

Jacuípe, com a participação de associação de meio ambiente de Colônia;

32. Ampliação do PSF;

33. Ambulância para a zona rural nos ambulatórios existentes;

34. Ajuda à prefeitura no sentido de ir aumentando gradativamente o repasse do

município para a saúde, até o índice de 15% da arrecadação municipal;

35. Convencimento para a criação de um centro de recuperação de pessoas com

necessidades especiais, vinculado ao município;

36. Ajuda na articulação de grupos de teatro com costureiras para a produção das

pessoas e que elas possam viver disso;

37. Ajuda na criação de grupos de produção, como empreendimentos solidários

populares, com a filosofia da economia;

38. Ajuda em estudos com associações sobre as possibilidades de incentivo à outras

culturas na região, além da cultura da cana;

39. Sugestão para a criação de um shop municipal na área do antigo mercado público

para os “boxes” situados em frente à Igreja e outros;

40. Transformação da área em torno do mercado de farinha em uma área de lazer para a

cidade;

(obs: as propostas estão escritas para você me cobrar depois)

Page 405: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

405

TEXTO 12

AFINAL, EM QUEM VOTAR?56

VOTAR é um dever de extrema importância. Por meio do voto, cada um está, de

certa forma, definindo as condições de vida de si, do povo e, em parte, daqueles que

ainda virão. Reflete-se na saúde, na segurança, na agricultura e nas vidas de todos.

Votar é plantar o sonho de pobres, negros, brancos, índios, crianças, homens e

mulheres de terem seus direitos garantidos.

Mas, afinal, neste tempo de eleições, os/as candidatas/os sempre dizem que estão

do lado das maiorias sofridas, isto é, do lado do povo. Como separar o JOIO DO

TRIGO no momento de votar?

OS CRITÉRIOS que seguem, ajudarão os/as eleitores/as a melhor escolherem os

seus representantes:

1. Informe-se do passado daquele seu candidato e veja se ele esteve sempre

do lado das lutas do povo. Veja se ele sempre defendeu o interesse do

povo ou é só nesse momento eleitoral.

2. Veja se o que ele promete e defende, hoje, sempre esteve defendendo

antes. Se não for, esse candidato está mentindo e não merece o seu voto.

3. Finalmente, veja se ele nunca se envolveu nas falcatruas, nas safadezas,

nos roubos, nas máfias da política. VOTE EM FICHA LIMPA.

BOA ELEIÇÃO PARA TODOS E TODAS.

MOVIMENTO COLÔNIA E CIDADANIA (MCC)

Eleições de 2012

56

Orientação ao eleitor, distribuída na cidade, durante a campanha nas eleições de 2012, pelo MCC.

Page 406: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

406

TEXTO 13

COLÔNIA LEOPOLDINA: análise de conjuntura política57

O ano de 2013, para o Partido dos Trabalhadores, pode ter dimensões

emblemáticas, isto é, marcadamente com feitios petistas, devido ao número do partido

saído da justiça eleitoral, o 13. Isto não significa bons e nem presságios ruins, pois a

política, como arte, comumente apresenta novidades distantes de qualquer tipo de sorte

ou superstições. Os resultados eleitorais e políticos são produtos de muito trabalho de

organização, planejamento estratégico e doses de oportunidades, que não podem ser

desperdiçadas. Em Colônia, esta máxima também é verdadeira. Cabe ao PT iniciar o seu

processo organizativo, como nunca, desigual em relação aos demais partidos na cidade e

combinado com o partido estadual, contando com fluidos do seu sucesso local e

nacional, considerando que conseguiu eleger, pela primeira vez, um vereador após 30

anos de existência partidária no município.

Histórico

O PT, fundado em 1982, em seu processo de organização, conviveu com várias

situações contraditórias em seu interior, bem como em sua interlocução com a

sociedade leopoldinense. Nesse percurso, desde a preparação política com cursos de

formação para os petistas originários e abandonados depois; passou pelas relações, em

seus primeiros 10 anos, com o sacerdote Aldo Giazon, doador de uma casa que veio a

cair, na antiga rua das pedrinhas; continua com ex-dirigentes que assumiram posturas

ora mais radicais para seus momentos políticos e ora mais conservadoras, assumindo

posturas efetivamente reacionárias. Ainda hoje convive com posturas nitidamente

contrárias às decisões do partido, como a postura da atual Presidente, fazendo campanha

57

Uma análise elaborada para o Partido dos Trabalhadores (PT), por José Francisco de Melo Neto, em

janeiro de 2013.

Page 407: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

407

contrária às deliberações partidárias. É isto mesmo que o fez chegar tardiamente à

Câmara de Vereadores

Mas, é com esse capital político que o PT vem se construindo, num esforço de

tornar-se um partido com autonomia e independência para realizar a sua própria

política, num ambiente dos mais hostis de se fazer política voltada aos trabalhadores, a

zona da cana do Estado de Alagoas, com todas as mazelas histórico-sociais existentes.

Uma luta para se constituir em uma alternativa de poder local. Ao que se apresenta no

atual momento na cidade, esta busca permanece profundamente atual, merecendo

especiais cuidados nas suas relações com os demais partidos, com a sociedade local,

com o partido em nível de Estado e em sintonia com o discurso do Governo nacional,

que é capitaneado pela petista Dilma Roussef.

O resultado eleitoral de 2012

Com idas e vindas no quadro eleitoral da cidade58

, em movimentos políticos de

criação ou arrumação de partidos, distante de toda a perspectiva ideológica contida em

seus manifestos e programas partidários, os partidos que vieram a participar do processo

eleitoral foram – PDT, PTN, PPS, PSDB e PP 59

, sob a liderança do PSDB, partido

tomado da atual petista Luciana Luna pelo ex-Prefeito Manuilson Andrade Santos, líder

da aliança política. Esta aliança, de um total de 12.418 votos apurados e 10.599 votos

válidos, obteve 5.235 votos, expressos percentualmente em 49,39%. O outro

agrupamento esteve em torno do PSB e mais o PTB, o PSC, o DEM e o PT, sob

liderança da Paula Rocha, a prefeita eleita da mudança local obteve 5.346 votos,

expressos em termos percentuais em 50,61%.

58

Todos os dados apresentados foram retirados do texto distribuído pela Justiça Eleitoral –

Eleição Municipal 2012 – 1º. Turno – Resultado da Totalização – Colônia Leopoldina – Alagoas,

07/10/2012.

59

- PDT – partido democrático trabalhista, tendo como antigo líder Leonel Brizola.

- PTN – partido trabalhista nacional.

- PPS -- partido popular socialista

- PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira, liderado pelo ex-presidente Fernando

Henrique Cardoso, e no município, pelo ex-Prefeito Manuilson.

- PP – partido progressista.

- DEM – democratas.

- PSB – partido socialista brasileiro

- PTB – partido trabalhista brasileiro

- PSC – partido social cristão

- PT – partido dos trabalhadores

Page 408: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

408

As alianças participaram da campanha eleitoral, sendo a primeira, liderada pelo

Manuilson, com 18 candidatos/as a vereador, elegendo os 6 (seis) vereadores seguintes:

Nomes Votos

Franklin André Amorim 612 - PSDB

Ricardo Pereira Xavier 598 - PTN

Amaro Rodrigues da Silva 587 - PPS

Edmilson da Silva Barros 572 - PSDB

Vitalino do Nascimento 434 - PDT

Maria das Graças Costa Almeida 424 - PPS

Já a segunda aliança, liderada pela vitoriosa Paula Rocha, participou com 22

candidatos, elegendo os 5 (cinco) vereadores seguintes:

Nomes Votos

Rubens Severino da Silva 812 - DEM

Fernando Lamenha Silva 611 - PSB

Maria das Graças Leite F. de Oliveira 532 - PTB

Cícero Ramos da Silva 478 - PSB

José Antonio Timóteo da Sousa 382 - PT

Contudo, isto não significa um rigoroso posicionamento político sólido. Para

cada momento ou para cada questão que for posta existirá, possivelmente, novas

rearrumações de forças, haja vista o resultado final da composição da Câmara, com a

vitória da atual oposição, ajudado pelo PT, que não é oposição. O quadro mostra ainda a

não hegemonia de qualquer partido nessa Câmara e no eleitorado leopoldinense, que

também não vota por partido ou ideologia, mas nas pessoas. Apenas nos processos

eleitorais estaduais ou gerais, cada partido procurará os seus congêneres nos municípios,

em busca de votos para os seus candidatos estaduais e nacionais. Se do ponto de vista

partidário, os partidos que mais elegeram prefeitos, em 2012, foram PMDB (1.027),

PSDB(704), PT(634), PSD(500) e PP(467), em Colônia Leopoldina, os vereadores

eleitos distribuem-se quase equitativamente entre os partidos de ambas as alianças

políticas. A questão partidária passa pela comunidade, sem a percepção de suas

ideologias por parte dos eleitores.

Page 409: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

409

Será caracterizado também o quantitativo de votos de cada partido, ajudando,

assim, a uma melhor visualização da participação eleitoral de cada um deles,

contribuindo para que o PT realize uma melhor formulação de políticas e possa

dimensionar melhor o seu verdadeiro tamanho na comunidade e como crescer.

Resumo da Votação dos Partidos

PARTIDO VOTOS NOMINAIS %

1º. PSB 2.252 21,76

2º. PSDB 1.801 19,48

3º. PDT 1.145 11,35

4º. PPS 1.069 10,44

5º. PTN 951 9,28

6º. DEM 812 7,83

7º. PTB 735 8,80

8º. PT 734 7,21

9º. PSC 369 2,55

O Partido dos trabalhadores conquista, nesta eleição, a posição de penúltimo

partido entre os que participaram do processo eleitoral. Começa a aparecer nesta

relação, iniciando um processo que com muito planejamento estratégico, poderá galgar

à posição de definição de sua política própria, precisando dar maior visibilidade a essa

política, uma política que aproveite os ventos do Governo Federal enquanto está no

comando o próprio partido.

A articulação política após as eleições

A Prefeita eleita inicia, então, após as eleições, as articulações políticas para a

composição de seu governo. O que surge à mesa, de imediato, são as questões das

contas a serem pagas. Não há eleições realizadas só por amor ou por qualquer outra

virtude altruísta. Há despesas e estas precisam ser pagas. Quem então chegou com o

Page 410: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

410

dinheiro? Afirmam ter sido o tesoureiro da Associação de Plantadores de Cana

(ASPLANA), o seu marido. Colocou-se como o responsável para o pagamento dos

possíveis débitos financeiros e eleitorais, assumindo o papel político de articulador,

papel este que caberia, necessariamente, à Prefeita. Passou-se a ter uma direção política

assegurada por uma espécie de Prefeito da Prefeita. Os argumentos para isso eram os

mais torpes e machistas, como por exemplo, a necessidade de que estava em jogo o

nome de sua esposa e que a ele caberia a tarefa de fazer política para a sua sustentação.

Dos cargos discutidos, assume a Secretaria de Finanças, abrindo margem para

especulação à moda de Manuilson, o ex-prefeito, que se tornara, após os dois mandatos,

Secretário das Finanças do Prefeito que indicou, o Cássio. Por que precisa o esposo da

Prefeita, ex-tesoureiro da campanha, tornar-se, também, o Secretário das Finanças?

Mas, não é só isto. A composição política do Secretariado da Prefeita e demais funções

secundárias de Coordenação passaram a ter como critério o compromisso de se fazer

campanha para os seus futuros candidatos a deputado, em 2014. Com isto, fica mais

claro o nível de acordo que fora feito durante a campanha, bem como a origem do

dinheiro e envolvidos nas transações.

Em nível de PT, o vereador eleito Antônio Timóteo, pautado por princípios de

independência e de autonomia política do próprio vereador e do Partido, começa a

entrar em rota de colisão com o esposo da Prefeita. Situação que chega ao quase

impossível diálogo, quando o vereador apresenta-se contrário aos critérios que vêm se

estabelecendo, posicionando-se contra a definição do nome de Fabiano (esposo) como

Secretário de Finanças e contra as exigências de compromissos políticos eleitorais para

o futuro. O vereador foi sendo colocado, pouco a pouco, às margens daquelas

negociações. Se no início o PT reivindicara para si uma Secretaria, logo a perdera;

passando para 4 Coordenações oferecidas pelo mesmo e depois reduzida para duas,

apenas. Num momento seguinte, terminou sem qualquer participação no governo; e

posteriormente, sem sequer participar das discussões que se seguiam. Assim, gera uma

indisposição pessoal do vereador com o esposo da Prefeita. A política, neste momento,

perde a sua essência que é o diálogo, um comando da razão, e passa para a dimensão

emocional, orientada pelo coração. Mas, o coração não pensa. Desperta-se na política

petista, tocada pelo vereador, um desejo de se “dar o troco”, de forma imediata, àquelas

pretensões políticas do Fabiano. Para a composição da Mesa Diretora da Câmara, o PT

teria a 1ª. Secretaria, deslocando-se depois para a 2ª, ficando finalmente, em uma outra

reunião, fora da Chapa da Mudança. Pavimentava-se uma nova composição de forças

Page 411: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

411

para a direção da Câmara – Gal fest, presidente; Antônio Timóteo 1º. Secretário; e

demais membros.

A disputa estava empatada em 5 a 5 e, então, pressiona-se o vereador Vitalino

que em suas necessidades, admite aceitar dinheiro, traindo o lado que estava: o lado da

Paula, segundo todos os comentários da cidade. Este, contudo, já estivera no time da

não mudança. O Partido dos Trabalhadores que vinha, até então, atuando em prol das

mudanças, fora arremessado para o oposto de sua proposta eleitoral. Uma escolha mais

do que justificada, porém, profundamente aberta a ser combatida. Uma posição que

exigirá muito esforço explicativo às pessoas que votaram em Antônio, vendo, no

mesmo, um legítimo representante trabalhador do Partido dos Trabalhadores. Esta é

mais uma nova contradição a ser somada ao rol de outras do Partido. O PT assegura,

com o voto do vereador o retorno à Câmara das Viúvas do Manuilson, que ainda não

digeriram a derrota. As razões políticas do vereador são legítimas, mas pouco se

sustentam na perspectiva de uma política de longo prazo e dentro dos princípios

petistas. Claro que, em linguagem popular, o vereador lavou a alma, mas abriu flancos

complexos para o futuro político petista que, no momento, sequer há condições de se

pensar.

O retorno das viúvas do Manuilson

Com a eleição na Câmara, o time derrotado da conservação conseguiu atrair o

petista que, zangado com os fatos ocorridos, viu-se vitorioso com essa possibilidade,

reforçando a incompreensão política de um de seus antigos aliados Vitalino, que mais

uma vez se fez comprado e fez vendido. Há, hoje, na Câmara, aquilo que mais foi

combatido na campanha, com a ajuda do Partido dos Trabalhadores, o retorno dos que

já tinham ido. Talvez, caberia ao PT assegurá-los a sua última par de terra em cova

funda.

Mas, nem tudo está perdido politicamente. A primeira lição do resultado da

Câmara vai para o time da mudança e, em particular, para a Prefeita. Houve um erro no

seu grupo de articulação, entregando ao “outro lado” novas possibilidades de

continuarem fazendo política, pelo menos, por mais dois anos. Manuilson, portanto,

ainda vive. Isto exigirá mais política e menos arrogância pessoal daqueles sequiosos de

fazerem “mudanças” com suas únicas mãos, o Secretário de Finanças. Este não se cacifa

como o melhor articulador político desse grupo. Ele conduziu o grupo a um problema

Page 412: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

412

para a administração do novo. Será preciso determinação da Prefeita para a retomada

dos diálogos ou negociações políticas com a sua própria base para mantê-la unida,

mesmo com vereadores de sua base na outra chapa.

Ao PT, sobrou o discurso de que não é da oposição, afirmado pelo vereador em

seu pronunciamento de posse. Então, além de explicar-se externamente para os seus

eleitores, terá problemas internos, na Câmara, quando a diretoria entender que deverá

votar em bloco. Mais problemas para o futuro. Contudo, a situação contraditória é maior

do ponto de vista ideológico: se na chapa 1, o PT apoiaria o presidente do Democratas,

na chapa dois, reforça a política do PSDB, ambos os partidos de oposição ao Governo

Dilma. Salva-se, todavia, o PT, considerando que nessa distância eleitoral, região rural

do Estado, as questões ideológicas passam muito distantes das demais opções políticas.

Mas, perdeu a oportunidade de mais para frente iniciar o exercício de sua política

própria para esta cidade, mesmo que de forma tardia, alimentando um futuro de

caminhos petistas de governar uma cidade, no interior de Alagoas, na Zona da Mata, na

terra de índios, de quilombolas e de escravos negros.

O papel do vereador petista 60

O vereador Antônio terá pela frente um papel político de várias dimensões. A

primeira dimensão é resolver ou esclarecer as suas últimas posições tomadas,

considerando que a população continua apostando em mudança, e não havendo, ainda,

maiores desgastes impostos à administração. O seu voto para a mesa diretora da Câmara

gerou incompreensões.

Mas, o importante também é que o mesmo encontra-se feliz e com disposição

para isto. Estas são expressões em seu semblante, no dia da posse, observadas in loco.

Haverá dificuldades, como já frisada, com o futuro dessa direção da Câmara, já que não

se constitui como bloco político homogêneo. Mas, o vereador tem potencialidades e,

com isto, é necessária uma maior organização de seu mandato. Poderá ter clareza de que

o seu mandato, politicamente, será diferente dos demais vereadores, mesmo que seja

este o seu primeiro. Com esta determinação, abrem-se duas dimensões: 1) na primeira,

encontra-se o desejo de manutenção da autonomia petista e sua independência, diante

das quinquilharias políticas que aparecerão e que ocuparão qualquer vereador a fazer

60

Estas sugestões se completam e se confundem com ações do Partido, mesmo não sendo a mesma coisa.

Page 413: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

413

praticamente nada, em todo o tempo de seu mandato; 2) na segunda, o petista carecerá

de manter duas frentes de atuação, a sua inserção, e agora, a do Partido, nos

movimentos de reivindicação da cidade, com maior intensidade do que quando não era

vereador. A outra é a busca pela interlocução com as instituições organizadas da

sociedade civil leopoldinense, a exemplo de sindicatos, igrejas, associações... e outras,

buscando informações, reivindicações, prestando esclarecimentos de sua postura

política durante o seu mandato. Assim, é possível o delineamento claro de que o

vereador Antônio estará realizando um mandato de forma diferenciada, mostrando o

jeito de ser do Partido dos Trabalhadores.

Caminhos para o Partido

O que cabe ao Partido dos Trabalhadores, nessa cidade? Neste momento, pode-

se imaginar que há uma recomposição de força em seu interior e que precisará,

imediatamente, ser equacionada. As forças políticas dirigentes em seu interior não

lograram os votos esperados, sendo eleito um novo agrupamento que precisará

contribuir mais diretamente com a vida partidária. A depender das datas internas, será

preciso um novo realinhamento político, desistindo finalmente de qualquer direção que

aponte para o não cumprimento das deliberações partidárias. O PT tem, finalmente, um

líder na Câmara e na cidade.

A tarefa acima acompanha a organização do Mandato Antônio Timóteo,

firmando uma espécie de logo-marca dessa sua atuação na Câmara. O vereador eleito

precisa de assessoria técnica e política para o seu melhor desempenho na Câmara. Não

se pode deixar que o transformem em figura folclórica qualquer, como já tem

acontecido com outros vereadores, tentando detonar essa nova experiência partidária.

Antônio não é desses quaisquer: é um vereador do Partido dos Trabalhadores.

Analise-se a possibilidade de que as atividades políticas petistas iniciem-se com

um grande Encontro Municipal do Partido no município, quiça, se encabece um

Encontro Regional Petista da Mata Norte do Estado. É o PT de Colônia abrindo suas

asas para os municípios de toda a Região. Colônia e o PT podem e, entende-se que

precisam ampliar a sua política para além do local, simplesmente.

Imagina-se necessário que o Partido possa realizar avaliações bimestrais de sua

atuação na Câmara. Manter-se avaliando a conjuntura a cada dois meses, como

expressão orientadora das decisões do vereador.

Page 414: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

414

Poderá ser necessária a comunicação com a sociedade leopoldinense em sua

maior extensão possível. Para isto, é bom a criação de uma folha informativa do

mandato de Antônio, acompanhando orientações da Câmara e ações do Partido.

Antônio poderá encabeçar, juntamente com a direção petista futura, encontros

com os suplentes de vereadores, discutindo questões de Câmara e do futuro político da

cidade, visando ampliação do PT. Talvez, haja figuras que possam tornar-se quadros

petistas.

Poderá orientar-se por uma campanha de reanimação dos petistas existentes e

trazer novas pessoas para o Partido. É tempo de crescimento político do PT. Pode-se

pensar o convite à maior inserção da Luciana Luna e outros na vida petista. O Partido

precisa preparar-se para mais e futuros aguerridos embates. Luciana é peça da política

local. Esta continua sendo uma liderança importante e necessária à cidade. Será bom

trazê-la para a vida política local, firmando mais a sua presença no estilo de vida do

Partido.

Analisar melhor a participação dos petistas para uma melhor organização do

Movimento Colônia e Cidadania, como expressão de reflexões políticas sólidas para a

cidade, mantendo a sua autonomia frente ao Partido.

Manter a comunicação mais direta do Diretório de Colônia com os demais

diretórios municipais do Partido e, sobretudo, maior inserção na vida política estadual e

nacional.

Talvez, com o crescimento do Partido, seria necessária a reedição dos cursos de

formação política nos moldes daquilo que já se fez e se parou. As análises políticas,

hoje, estão sendo dominadas pelos comentários da rede globo, tão somente. Nesses

cursos, é necessária a presença de material originário petista e de material atual do

Diretório Nacional, sobretudo, agora, que se prepara o 5º. Encontro do Partido dos

Trabalhadores.

Avante Partido!

Colônia Leopoldina, 3 de janeiro de 2013.

Page 415: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

415

ANEXOS 14

CARTA DO MCC À PREFEITA61

Exma. Sra. Prefeita

Paula Rocha

Sra. Prefeita:

Este Movimento Colônia e Cidadania (MCC) segue atento às políticas em

desenvolvimento na nossa cidade, mantendo a sua disposição originária de contribuir

para a conquista da cidadania das pessoas. Com esta perspectiva, queremos lembrar a

nossa primeira carta enviada à Vossa Excelência, apresentando o nosso apoio ao

Governo, no desejo de poder contribuir com propostas para as políticas da cidade.

Estamos enviando esta segunda carta, após balanço de seus 100 (cem) dias de

Governo que, após análise crítica, com aspectos positivos e negativos, reafirmamos a

nossa disposição de apoio, na expectativa de que melhores dias virão para o município.

Assim, a contribuição deste Movimento é apresentar sugestões para o seu

Governo, que após a análise de V. Exma, possam ser ou não implementadas, seguindo o

eixo central da vitória eleitoral, a mudança:

1. Criação de um Conselho Político de Governo, com pessoas que podem

contribuir ao seu Governo, com a participação de diversos setores

sociais, religiosos, partidos políticos da base sem ser vereador, gênero

e idade...;

2. Reunião mensal com Secretários da Prefeitura, socializando a política,

verificando metas e definindo novas políticas, informando-os das

políticas gerais;

61

Esta é a segunda carta do Movimento Colônia e Cidadania entregue à Prefeita Paula, com sugestões à

sua Gestão.

Page 416: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

416

3. Reunião trimestral com a base de sustentação do Governo para que

assuma a defesa do governo com mais e melhores informações

qualificadas;

4. Reunião semestral com o Conselho Político para balanço do Governo e

definições de novas prioridades;

5. Organização do Planejamento do Governo com definição de um Plano

de Metas para os novos três meses;

6. Promoção do Orçamento Participativo;

7. Fomento ao funcionamento dos Conselhos e criação de outros que se

façam necessários;

6. Prestação de contas de maneira didática para a população, praticando a

transparência pública;

7. Divulgação para toda a população das medidas administrativas

tomadas, utilizando os meios que existem na cidade:

a) os carros de som explicando medidas tomadas;

b) uma folha de papel impressa com a mesma finalidade e distribuída

na cidade.

Reafirmando a nossa disposição nas lutas pela cidadania do povo, na cidade e no país,

desejamos sucessos para os novos tempos que virão.

Atenciosamente,

Colônia Leopoldina, 21 de abril de 2013.

Maurício Pereira Thiago Sotero

Membro da Coordenação Membro da Coordenação

Page 417: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

417

TEXTO 15 – Entrevista com Luciano e Maurício

Entrevista62

José Luciano Pereira da Silva e Maurício Pereira de Sousa63

1. Histórias de vidas.

Maurício.

Maurício nasceu em Colônia Leopoldina, Alagoas, mas parte de sua vida passou

na Califórnia brasileira, a cidade paulista de Ribeirão Preto. Na vinda para Colônia,

participando de várias atividades políticas em embriões de Movimentos Sociais que

aqui se iniciavam, ingressou, no Partido dos Trabalhadores (PT). Um filiado petista o

convidou naquele momento. Ele não tinha qualquer vontade de se inserir na luta

político-partidária e nem a conhecia. Mas, os petistas precisavam de um certo número

mínimo de títulos de eleitores para a legalização do Partido e, assim, veio a assinar a

ficha de filiação partidária. O pensamento era o de que, posteriormente, tiraria o nome

da lista dos petistas. E aí ficou até 1988, sem participar de qualquer atividade. É quando

surge a campanha de Lula. É aí que se inicia a sua atuação com pichações na cidade,

devido à campanha e tomando gosto pela militância no PT.

Mas, eis que ocorreu a doação de um pedaço de terra a algum agricultor, no

Engenho Pé de Serra, precisamente nos anos de 1988, gerando, logo em seguida, uma

ocupação no sítio Grota Dàgua, nas terras de Joaquim Monteiro. Foi uma ocupação que

ocorreu de forma espontânea, envolvendo Maurício, doravante, nas questões da terra.

62

Entrevista realizada no dia 13 de maio de 2013, em Colônia Leopoldina, Alagoas, com a presença de

vários participantes de Movimentos políticos, após uma reunião do Movimento Colônia e Cidadania

(MCC).

63

Dois militantes e representantes de forças políticas populares, Maurício Pereira de Sousa e Luciano Pereira da Silva, ambos ex-presidentes do Partido dos Trabalhadores (PT), expõem suas vidas políticas e visões de Movimentos Sociais, da política local e nacional, desde o início da década de 1980 ao primeiro semestre de 2013, em Colônia Leopoldina, Alagoas.

Page 418: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

418

Nisto, parece estar o germe da ocupação do INCRA64

, em Maceió, e, logo depois, nas

terras do Mandacaru, em Colônia Leopoldina. O objetivo da ocupação do Mandacaru,

uma ocupação na cidade, era também avançar mais para as ocupações no campo. Este

objetivo foi esquecido, posteriormente, ficando, tão somente, na ocupação deste lugar.

Nesse momento, tem-se o Collor como Governador do Estado de Alagoas e seu

Vice Moacir Andrade. Inicia-se um Movimento pela moradia em todo o Estado e o

Sindicato Rural assume a luta de Grota dágua.

Dessa maneira é que se pode afirmar que o Mandacaru foi a universidade que o

Maurício não teve. Esta foi a sua escola política. Daí, foi um passo para mais participar

do Movimento de ocupação de terra, tanto na área rural como em áreas urbanas, em

todo o Estado. O objetivo dos Movimentos era criar ocupações e a primeira conquista

seria denominada de Zumbi dos Palmares. Não foi bem o que ocorreu. Colocaram um

outro na Comunidade conquistada, em Maceió, hoje denominada de Conjunto Rosane

Color e Sônia Sampaio, nome das elites alagoanas. De qualquer maneira, foi assim que

ele entrou no Movimento dos Sem Teto. Neste Movimento Social, ele permanece até

hoje.

Mas, na perspectiva da política partidária, pode-se destacar que participou de

vários Partidos, considerados como de esquerda. Inicialmente no PT; por problemas

internos, foi para o PSB65

. Posteriormente, retorna ao PT. Com grupos petistas

simpáticos ao PSOL66

, viera contribuir para a sua fundação, retornando, ainda, ao

Partido dos Trabalhadores, Partido em que está hoje. Segundo ele, tal qual o filho

pródigo, que volta à casa, mas nem por isto deixa de manter-se no campo da crítica ao

Partido e ao Governo da Presidenta da República - Dilma Roussef.

Luciano.

Nasceu em Angelim, cidade do Agreste de Pernambuco, chegando com seis anos

de idade nas terras da cidade de Colônia Leopoldina. Veio como muitos que se

retiravam de suas terras, por motivos econômicos, mas que sempre voltavam a visitar a

família anualmente. Estabeleceu-se, finalmente, na cidade, no ano de 1986.

64

Instituto Nacional da Reforma Agrária. 65

PSB - Partido Socialista Brasileiro.

66

PSOL - Partido do Socialismo e Liberdade.

Page 419: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

419

Começou a estudar aos 9 anos. Aos 13 anos, chegou a participar da conquista de

um pedaço de terra no Movimento do, então, Mandacaru. Ficou com sua família

estabelecida alí, participando da conquista daquela terra, em que todos adquiriram seu

teto para morar. Neste Movimento, contudo, é que começa a sua história de vida

política, a sua participação em um Movimento Social.

Aos 16 anos, era delegado do Movimento Nacional dos Sem Teto. Representou

o seu local e o seu local era Mandacaru. Neste momento, no Movimento do Mandacaru,

além de uma Associação67

já existente, criou-se uma segunda, permanecendo até o

momento. Ele se definiu por um desses grupos. Foi, então, que surge a oportunidade de

participar de um curso de formação política, patrocinado pela CPT68

, em Colônia. Ele

trabalhou como servente e foi como servente que o seu chefe liberou-o para tal curso,

durante dois dias, sem descontos em seu pagamento de final de semana. Este é o

primeiro curso de formação política de sua vida, já com 19 anos. E foi na CPT e com a

CPT que surgiu o Movimento de Educação Popular, em Colônia, que viera a constituir-

se em política de Estado e geradora de outros Movimentos que apareceram na cidade.

A partir deste curso, Luciano fica na atuação educativo-popular da CPT,

largando o serviço de servente de pedreiro e dando aula para crianças, na comunidade

de Vila Nova (antigo lixão). Em seguida, atuou na Coordenação da Educação Popular

na região, participando em Colônia, Ibateguara e Campestre, sob a coordenação da

Associação da Educação Católica de Alagoas (AEC).

O seu trabalho era mobilizar pessoas, contribuindo para ocupação nessa região.

A primeira delas foi na Fazenda Onça, município do Novo Lino, tendo sido uma

novidade no lugar e gerando, também, reações conservadoras, com seus fantasmas

pistoleiros pelas fazendas da região.

Saindo da Educação Popular da AEC, passou a atuar junto aos Sem Terra,

durante 2 anos no MT, que é o MTL69

. Mesmo de forma ainda incipiente, o Movimento

político de construções de políticas populares em Colônia foi se consolidando. Esta foi

uma preocupação conjunta no pensamento da Igreja Católica e no Partido dos

Trabalhadores. Um Movimento que busca superação do analfabetismo. É algo político

que as Associações transformaram em intervenções sociais, contribuindo com esse

67

AMM – Associação dos Moradores de Mandacaru e ADECOMA – Associação de Desenvolvimento

Comunitário do Mandacaru.

68

CPT - Comissão Pastoral da Terra, vinculada à Igreja Católica. 69

MT – Movimento dos Trabalhadores e MTL (Movimento de Trabalhadores por Liberdade).

Page 420: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

420

legado desde a criação da primeira escola de educação de jovens e adultos, iniciada pela

Igreja Católica, tendo sido assumida como uma política de Estado, estando Colônia

neste trecho.

É importante destacar, nas tentativas de formulações de políticas populares, aqui

na região, o Movimento Estudantil. Um Movimento que esteve por fora das elites

dominantes da cidade, trazendo sempre preocupações às mesmas.

Luciano esteve no final de um ciclo do Movimento Estudantil em que houve o

apoio do Padre Aldo Giazzon, sacerdote italiano, que passou pouco mais de uma década

como vigário na cidade. Pode participar, ainda, de fortes mobilizações e com

enfrentamentos com os grupos políticos dominantes locais que não queriam uma escola

progressista.

Foi a posse do estudante Genésio, estudante combativo que, contraditoriamente,

começou a se esvaziar o Movimento dos Estudantes. Foram perseguidos não somente os

próprios estudantes como, também, os seus familiares que trabalhavam na Prefeitura,

com as ameaças de demissão dos mesmos. Dizia-se à época que o Governo Municipal,

pressionava os familiares dos estudantes que trabalhavam na Prefeitura, ameaçando-os

de demissão do trabalho. Contudo, o Movimento retoma alguns anos depois, mas com

muito pouco êxito. Tudo isto como produto da mobilização pela Educação Popular,

juntamente com o Movimento Estudantil que qualquer um pôde, à época, acompanhar.

Algo importante de registro, num período com forte perseguição aos

Movimentos locais, vem por meio do poder público, buscando abafar tais Movimentos,

em especial o do Mandacaru. Não só em nível de perseguição direta a alguns, mas

sobretudo, propalando o preconceito de que todo tipo de maldade que ocorria na cidade,

o ponto de partida, a origem, era sempre em Mandacaru. Ser do Mandacaru virou

sinônimo de discriminação e de preconceito. Como não tinham conseguido acabar com

o Movimento no campo jurídico, passaram a promover o preconceito para com seus

moradores. Isto pode ser vivido na Escola Aristeu, uma escola pública, mas que havia

discriminação para com os alunos que moravam na região do Mandacaru, a exemplo de

si mesmo, assim como do Dinho e do Silvânio que foram estudantes nesse momento.

Todos puderam sentir na pele tais preconceitos, mesmo hoje, com a vitória do

Mandacaru, que já tem 22 anos de existência.

A partir do ano de 1999, Luciano chegou ao Partido dos Trabalhadores, mesmo

que já fizesse parte das suas campanhas políticas. Este caminho foi uma construção

mais longa, pois já estava na Educação Popular, na AEC, e já tinha simpatia pelo

Page 421: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

421

Partido. Houve, finalmente, a sua filiação, retomando-se o trabalho social de combate à

miséria com forte apoio do Pe. Aldo. Este mesmo com suas contradições na condução

política desses Movimentos, contribuiu com a administração da Associação de

pequenos produtores locais, denominada de ATRAPO70

. Também foi marcante a sua

contribuição na organização do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, em toda a Região

da Zona da Mata Norte de Alagoas; ainda é destaque no seu trabalho, o de cuidar de

crianças desvalidas da região.

Essa Associação, com o retorno à Itália desse sacerdote, passou a ter problemas

administrativos com o seu próprio pessoal, como o Florisval, o São e o Irapuan, que

fizeram parte de suas diretorias. Também esteve neste momento pessoas como Beth

Moreira e Ivanilda, que ficaram na linha de frente do trabalho. O Luciano também

esteve participando desse agrupamento, mas sem importância central na Diretoria da

Associação, promovendo o trabalho com jovens alcoólatras, além do trabalho com as

crianças. Um trabalho social em que o Padre não pode deixar de ser lembrado. Foram

ações políticas e que, contraditoriamente, o Governo local chegou a apoiar, pois eles

mesmos nunca se dispuseram a enfrentar este tipo de trabalho social.

Ainda nessa época surgiram na zona rural várias associações que foram criadas,

único e exclusivamente, para adquirirem crédito rural. Aparece a ACOPAL71

que

chegou a ter mais de trezentos sócios/filiados. Essa entidade chegou a falir, não dando

continuidade em seu trabalho e arrastando consigo a maioria de seus sócios que

quebraram, também. Este é um registro importante para os caminhos da agricultura

local. A Associação fazia os Projetos para os agricultores, sumindo depois de Colônia.

Se algum agricultor, com problemas no Banco, problemas de débito, fosse consultado,

ele afirmaria que fez parte da Associação do Sr. Dedito que a comandava. A maior parte

desse Projetos com débito no Banco se deu por aquela entidade que desapareceu da

cidade.

Isto se constitui como um grande sofrimento às pessoas, mas, de certa forma,

expressa um Movimento de pequenos produtores e trabalhadores, que participaram de

criação de associações como a Alvorada, tendo como presidente Adelmo Lins72

, com

políticas muito pontuais, sem continuidade alguma, e que fizeram muito mal a essa

70

ATRAPPO - Associação de Trabalhadores e de Pequenos Produtores Rurais dos municípios próximos

da Bacia Hidrográfica do Rio Jacuípe: Colônia Leopoldina, Jacuípe, Jundiá e Novo Lino (em Alagoas),

Xexéu e Maraial (em Pernambuco). Foi fundada em 15 de março de 1988, em Colônia Leopoldina.

71

ACOPAL – Associação de Produtores Rurais e Pecuária. 72

Ex - Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Colônia Leopoldina.

Page 422: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

422

gente. São políticas de setores não dominantes que expressam desejos de acertos por

parte daqueles que almejavam certa autonomia em seu modo de viver.

Hoje, pode-se dizer que se vive em um novo momento desses Movimentos e em

outro tempo, também. Há um novo Governo de mudanças na cidade, havendo uma

prefeita do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Luciano espera que esse momento

novo que a cidade está vivendo possa contribuir para não se ver nunca políticas que não

ajudem aos setores trabalhadores.

Este é um legado em que também Luciano participou, sempre com destaque para

a Educação de Jovens e Adultos. Aguarda-se, assim, que outras políticas possam se

transformar em políticas públicas e até como políticas de Estado. O programa de

Educação de Jovens e Adultos é produto das políticas não dominantes e que alcançaram

dimensões gerais de políticas públicas, e não apenas de pequenos grupos.

2. Visões a respeito dos Governos Dilma e Vilela73.

Luciano.

Para ele, esta é uma tarefa difícil. A presidenta Dilma é um instrumento, um

Projeto que o PT acumulou durante toda a sua trajetória de vida. Dilma é produto desse

Projeto. Vem executando aquilo que o Partido traçou durante a Gestão de Lula, a partir

do seu planejamento. Mas, também, difere de Lula, pois este é popular, abraça todo

mundo enquanto Dilma quer resultados imediatos. Ela aperta naquilo que Lula

afrouxava. Ela é Projeto do PT e é a continuação desse Projeto.

E é claro que um país como este precisa apresentar resultados. Para isto, tem

aperto na economia. Mas, lá em baixo, nos municípios, ela promove a organização

desses municípios em todo o país. Ela quer a organização dos municípios. O Governo

Dilma dá condições técnicas e financeiras para se fazer planejamento. Podem ser

citados exemplos vários como o do Saneamento Básico, o Plano Diretor. Qualquer um

pode ir ao Ministério da Cidade. Qualquer município pode enviar Projetos com fortes

73

Teo Vilela, Governador do Estado de Alagoas. É filho do ex-senador por Alagoas, Teotônio Vilela,

usineiro e figura importante na luta pelas Diretas, Já!

Page 423: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

423

possibilidades de contratação de pessoal. Eles estão fazendo coisas, lá em Brasília, que

fazem o Governo acontecer.

Por outro lado, o Governo Vilela vive de mídia. As verbas da comunicação são

quase as mesmas para a educação. É um Governo só de mídia. Um Governo do faz de

conta. O Teo tem feito muitas coisas mas, tudo, através do Governo Federal. O suporte

dado é para que o Estado de Alagoas saia da situação de miséria, indo para um aceitável

desenvolvimento. Em seu Governo, a classe trabalhadora está ferrada e as elites

permanecem muito bem. Ele é um Governo de muita conversa e poucas realizações. Um

Governo que o próprio PT reclama dos tantos recursos que já lhes foram repassados,

gerando certo ciúme partidário, considerando que o mesmo é do PSDB, o Partido

responsável pela maior crítica ao Governo da Dilma. Mas isso, por conta do combate à

pobreza que é uma luta que vem sendo travada pelo Governo, independentemente do

Estado ou Partido dominante, naquele Estado. E uma das mais importantes obras do

Governo Federal, com todos os problemas que poderão causar ao meio ambiente no

futuro, é o Canal do Sertão, que trará mais água para o povo daquela região e outros.

Maurício.

Falar de Dilma é falar da origem do PT, nos anos de 1980, das mudanças que

houve no Partido. É preciso entender a política do Lula e do Chaves, pois são muito

parecidas, mas diferentes, além de comparar Lula, Chaves e Dilma. Lula quando foi

eleito defendia o socialismo. É um líder que veio do ABC paulista e surgiu a partir das

necessidades de fundação de um Partido para levar os desejos dos trabalhadores avante.

Portanto, as propostas dos três são as mesmas.

Maurício não tem dúvida de que o PT vai governar o país por mais de 20 anos.

Qual é a oposição? Os tucanos? Eles até que criaram mecanismos de política

econômica, mas, hoje, estão fora dessa disputa geral. O Partido dos Trabalhadores, é

bom que se diga, aprofundou muitas de suas políticas como a das cotas. Não há

candidato para bater chapa com o PT. Mesmo assim, Maurício apresenta críticas quanto

à frouxidão de Lula em relação a montar o sua plataforma de Governo após a eleição.

Lula aproveitou um Meireles (que sempre foi tucano), no Banco Central, e outros

parecidos. Isto nunca foi uma atitude petista. O Governo do Lula, todavia, tem

importantes avanços como na educação. Ele afirmou que o filho do pedreiro e o

engraxate iriam à universidade. Isto aconteceu com as cotas. Mesmo assim, as cotas são

políticas emergenciais e não devem permanecer por toda a vida, não pensando na

Page 424: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

424

qualidade da educação para todo mundo. As notas ruins que se tiram no vestibular pelos

alunos das escolas públicas são por conta de que os professores daquelas disciplinas não

sabem ou não estão ensinando nada. E assim como as cotas, seguem a mesma política,

como as bolsas famílias e outros programas sociais. É preciso se ensinar a pescar, e não

garantir o peixe, mesmo que nenhum brasileiro deva passar fome. Até mesmo a Bíblia

lembra que cada um vai viver com o suor de seu rosto. Então, todos precisam ter

oportunidades.

Para ele, o Governo Dilma teve seus avanços, mas não a considera tanto petista.

Dilma veio do PDT (Partido Democrático Trabalhista, do Brizola). O Lula, entretanto,

achou que ela era a melhor para o Brasil, naquele momento. Assim é que o Governo

Lula, mesmo com tal frouxidão, teve seus avanços. Por exemplo, a reforma agrária dos

sonhos não é esta que se tem. Mas, há saúde mesmo precariamente. Na segurança, é

preciso pensar mais para mudar isto. Com tudo isto, o Governo petista é diferente dos

tucanos. Falo da visão política da Social Democracia e do Socialismo. O atual PT é

muito social democrata. Isto não é bom.

Mas, é claro também que houve mudanças com a Presidenta Dilma. O sonho,

todavia, continua muito longe. Repete, ainda, que o PT, sem sombra de dúvida,

governará ainda o País por 20 anos. E tem mais: haverá mais mudanças e elas não caem

do céu. Tudo isto é produto das lutas da organização dos trabalhadores.

Não se pode negar que o Brasil cresceu com Lula e com Dilma. Eles estão aí. Os

tucanos são um atraso, por outro lado. Eles venderam tudo que o país tinha e ninguém

sabe onde está o dinheiro. O que foi construído com o suor da classe trabalhadora, eles

venderam tudo, sucateando-se tudo de valor: assim é o PSDB, o Partido da Social

Democracia Brasileira.

Já o Governo Vilela é tudo que há de atraso em Alagoas. Vilela é filho de

usineiro. Seu pai, no final da vida, tornou-se progressista. O pai dele lutou com Ulissses,

com Lula, com o jogador Sócrates pelas “Diretas, Já!” Mas o filho dele, o Téo Vilela, é

o atraso do Estado. É populista e só faz propaganda. Diz toda hora que está fazendo,

mas nada existe. É um Governo mentiroso, populista, defensor do latifúndio e dos

usineiros, simplesmente. É o atraso do Estado. Quem sabe se não é também grileiro de

terra? Esses fazendeiros em Alagoas têm terra demais, mas ninguém sabe como

conseguiram essas terras. Até aqui, em Colônia, dizem que Nossa Senhora do Carmo

tem toda a terra da região. Mas ninguém sabe. Os fazendeiros daqui são os mesmos do

grupo de Collor, de Renan Calheiros e do Teo Vilela. Isto faz o Estado de Alagoas o

Page 425: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

425

mais reacionário do país. É pequeno, mas cheio de coronéis e, em Colônia, eles também

imperam. São a mesma corja. Eles não mudam.

3. Mudanças em Colônia Leopoldina.

Maurício.

Este tema tem várias compreensões. O que pode ser mudança para mim, não é

para outro. Pode-se falar, então, da plataforma do Governo, do grupo e do povo que

queria mudança. O Governo de Colônia não mudou nada. Mudança no sentido de alterar

os nossos pensamentos na atuação política. A pessoa pode ter participado da campanha

e a mudança dela é ter um carro "agregado" à Prefeitura. Em outras palavras, empregar

o carro, para essa pessoa, pode ter havido mudança. Mas, se mudar é ter remédio, ter

educação para os filhos da cidade, então, não está havendo mudança. Muitos entendem

que mudança era aquilo do emprego do carro. Mudança não é oportunismo político.

Mas, a busca continua para se ter mudanças em Colônia, no sentido de fazê-la

diferente. Todos passaram 12 anos só com uma administração e a sociedade anestesiada

diante daquilo. Acontecia uma letargia que ninguém falava nada. Apenas o Movimento

Colônia e Cidadania falava e com muito cuidado. O Prefeito passava o mês inteiro em

Maceió e chegava aqui pagando cachaça para todo mundo. Estavam lá todas as sujeiras

jogadas na rua, aqui no pé do morro do Mandacaru. Lixo por todos os lados e nada de

calçamento, e muito menos as conversas de pavimentação da cidade. É a casa de cima

que tira a terra e joga na de baixo e a de baixo cuida para não arrear a de cima. É uma

complicação. Tudo é culpa do Governo passado. A cidade não cuida de seu Código de

Postura e muito menos havia qualquer fiscalização. A posteação é feita de forma

aleatória e sem água canalizada. Colônia era uma terra sem lei. Em cada palmo da

cidade tem um quebra-molas de carros, no sentido mesmo de quebrar mola.

O que seria a mudança? Mudança é algo que passa pela participação popular,

mesmo que ainda não seja muito clara. Pode-se pensar numa Gestão que seja popular e

democrática. Pode-se pensar num planejamento participativo, num orçamento em que as

pessoas decidem onde aplicar aquela parte do dinheiro público. Isto seria importante e

necessário para a mudança e para a conquista da cidadania, conforme a visão do próprio

Page 426: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

426

Movimento Colônia e Cidadania. O povo precisa saber o quanto de dinheiro entrou para

a saúde, para a educação, para a agricultura, a questão ambiental, etc. A mudança só

pode haver se existir o diálogo com a população, com os diversos segmentos da

sociedade. Isto é importante. Como já foi proposto pelo MCC, é importante a proposta

política, como a da construção de um Conselho Político que seria o diálogo da

população com o Governo Local. Isto é mudança. Isto vai acontecer? Há dúvidas quanto

a isso. Conduzir uma Gestão dessa maneira, isso seria mudança.

Um exemplo maior é o da educação. Ela só muda por meio do diálogo, com

parceira com os pais de alunos, os estudantes e os professores/as. Como isto não está

acontecendo, então, os problemas vão continuar. A mudança é respeito aos humanos.

Aliás, durante a campanha, o mote da oposição foi: "prefeito respeite o povo", dizia

Paula. Estas foram as promessas. Ela não se cansou de dizer isto. Na sua Gestão,

prometeu que o vice seria ativo e hoje não tem nada disso. O vice seria um ajudante na

administração. Mas, cadê o vice? Está ajudando ou somente plantando cana. Um

exemplo nessa direção foi a vice Heloisa Helena, em Maceió, à época no PT, que

recebia os Movimentos Sociais, discutia propostas e encaminhava as reivindicações

para o Ronaldo Lessa, Prefeito de Maceió, de então. Quanto aqui, em Colônia, o atual

Vice-Prefeito está um zero à esquerda, na Gestão.

Luciano.

Na ótica do Partido da Prefeita, o PTB, houve mudança pois, derrubou um

Governo de 12 anos na cidade - o Governo dos ex-prefeitos Manuilson e seu seguidor

Cássio. Por isso, a sociedade entende que houve mudanças. O Governo de Paula é um

Governo de mudança que daqui para frente precisa organizar as suas metas de governar.

O cumprimento das promessas é outra coisa. Para eles, houve mudança a partir,

inclusive, da mudança da equipe. Agora, toda ela é daqui do município. Trouxe os

filhos da terra. Os cargos da administração são filhos da terra. Isto apresenta sentido de

mudança.

Mudança é processo contínuo e não apenas de curto e médio prazos. Não se faz

mudança de comportamento, apenas, em uma Gestão. O Governo da Paula pode fazer

mudanças com esse sentido colocado, isto é, na visão que eles defendem. A sua

plataforma de mudança é algo diferente. Observe-se que o próprio PT também mudou

os seus objetivos quando se abriu às coligações, com uma clara estratégica de mudança.

Page 427: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

427

Aqui em Colônia, o Partido mudou seus objetivos e estratégias, fazendo alianças que

possibilitaram eleger um vereador. Mudou para ver a sua estratégia funcionar. Então,

nesse Governo atual, podem-se ver mudanças. A sociedade vê isto. Não se tem a

mesmice do antigo Governo. O Governo está interessante mas, não apresenta mudança

de comportamento. O algo novo é ter um Fabiano Amâncio fora do Governo, um

Waulísio e mesmo um Prefeito fantasma, o boneco do Manuilson, que foi o ex-prefeito

Cássio. Isto é mudança e o povo desejou fazer essa mudança. O povo vê mudança nesse

sentido.

O Governo atual não tem muito o que mostrar em termos de mudanças mais

profundas. Talvez, seria bom que mudanças houvessem no sentido petista de governar,

no sentido mais radical conceitualmente, buscando a mudança na raiz da sociedade.

Para isto acontecer, será preciso muito trabalho, ainda.

É bom lembrar que pouca gente viu o Projeto desse Governo. Não se via no

Projeto nem mesmo um desejo de mudança, nesses termos anteriores, mas havia

sentimento respeitoso em que o povo desejava mudança. Reafirma-se que o atual

Governo tem tudo para fazer as mudanças. Tem capital humano, capital financeiro, pois

não faltam verbas vindas do Governo Federal, contribuindo para se fazer mudança.

Mudanças pensadas, sim, de ordem estrutural, mas não ainda, de ordem política. É

difícil enxergarem-se mudanças a médio prazo. Haverão mudanças contingenciadas,

com trocas de pessoas. Não se pode esquecer que a origem desse grupo que governa

agora é o grupo do lado, particularmente, da entranha do Zé Maria Quirino, usineiro e

tio do Manuilson, ex-prefeito que Governou a cidade por 12 anos.

Na questão estrutural, há chances de se fazer mudanças. E se pode fazer maiores

mudanças. O grupo do atraso não estava adormecido. A diferença da vitória foi de 128

(cento e vinte e oito) votos. Um povo que estava ligado pela questão financeira e com

seus próprios negócios com a Prefeitura. O povo queria mesmo era mudar os cabos

eleitorais. Mas, só uma pressão maior pode avançar e aprofundar o sentido de mudar.

Algum partido pode contribuir com isto e, no caso do PT, que mudou sua estratégia,

vem no sentido de implantação dessa estratégia política. Agora, já conseguiu eleger o

seu primeiro vereador, com 30 anos de existência, na história política da cidade.

A mudança política, no sentido de mudança de postura política ainda não se

conseguirá nem agora e nem num futuro próximo. A questão que se coloca de mudar é a

mudança do ser humano. Nem mesmo um PT de origem faria isto, na atual conjuntura

Page 428: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

428

da cidade. Todavia, o campo está aberto para mudanças estruturantes. Mudança de

postura política, nesse atual Governo, não haverá.

4. Políticas populares marcantes na trajetória de suas vidas e em Colônia

Leopoldina.

Maurício.

A partir da luta do Mandacaru e da Grota Dágua, foi possível ocuparem-se

vários outros lugares em Maceió e na Zona Rural da Mata, em Alagoas. Claro que

houve repressão política, cachorros na rua e enfrentamento com a polícia. Mas aqui, a

mais marcante foi a ocupação do Mandacaru, o Movimento Social, que ainda hoje, mais

se respeita. Essa ocupação parou Colônia. Quem nasceu naquela época já está com 22

anos de idade. "Os meus filhos nasceram lá, em barraco de lona e em casa de taipa". Foi

um acontecimento que teve mais repercussão. Naquela época, houve uma caminhada até

Maceió. "Você, Zé de Melo, fincou aqui o PT, juntamente com outros . Você plantou

esse germe".

Mas houve contradições, como o apoio da Igreja Católica, que ora é boa e, em

outros momentos, nem tanto. É como parente e polícia. Na confusão, se pede polícia,

mas estando ela perto, incomoda.

Luciano.

O mais marcante Movimento foi o da Educação popular, aqui no Município.

Mandacaru foi importante, mas a sua participação foi pouca, considerando ser ainda

criança. A Educação Popular contribuiu com a alfabetização das pessoas, de vários pais

de família e em sua formação. Muitos deles choravam quando recebiam seus diplomas,

trocando suas carteiras de identidade. Além deste, também houve o Movimento da

Reforma Agrária. Aí, atuou durante 2 anos e saindo para poder estudar.

5. Forças políticas que se podem contar para mudanças, em Colônia Leopoldina.

Page 429: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

429

Maurício.

No município, há o PTB, a família Lamenha e a Usina Porto Alegre que é uma

composição política local vitoriosa. Mas, não se pode esquecer que facilmente pode

haver divisão entre eles, alguns rachas internos. Essas forças que estão juntas hoje,

amanhã podem não estar. Hoje, o Governo de Paula está com o PT, família Lamenha,

Usina Porto Alegre e a depender da condução da Gestão, a composição pode dividir-se.

A Usina Taquara e o PSB têm o Vice-Prefeito, cujo Presidente é o usineiro e o

tio do Manuilson. Ninguém sabe o que vai acontecer. O Governo, hoje, pode não ser

Governo amanhã, sem contar com parte das siglas que pensa, apenas, em se darem bem.

Parte das siglas políticas pensa só para si. A política do país e a local são assim. A

Presidenta Dilma, para manter a governabilidade, tem de fazer acordos. Se são acordos

esdrúxulos ou não, não se está na análise do mérito. Também, a governabilidade local é

na base do acordo. Existem os poderes e nem um nem outro deve querer interferir no

outro. Eles precisam estar em harmonia. A interferência sempre gera problemas.

Luciano.

Destaca-se, ainda, na discussão de mudanças, que só o PT, em Colônia, coloca-

se como uma agremiação política e ideológica. Só o PT tem esse trabalho ideológico.

Os demais Partidos esquecem seus programas e se tornam simplesmente personalistas.

As siglas partidárias não dizem muito. O PSB, o PTB não têm figuras históricas na

cidade. Contudo, apresentam forças, nesse bloco citado, que podem ajudar.

O PT é um deles que poderá canalizar essa dinâmica de mudanças. Outro

agrupamento, contraditoriamente, é o pessoal que é ligado aos Democratas (DEM), em

especial a família Luna. Eles são ligados à Destilaria e ao Governo do Estado, podendo

trazer algum dinheiro para cidade. Agora, como parceiro para o PT, em médio e longo

prazo, não se pode ver relações com o Dem. Já quanto à família Luna, isto é possível. O

PSB não ajuda à mudança, mas a família Lamenha pode contribuir nessa direção - uma

mudança estruturante. Assim, podem ser aliados no futuro. Então, têm-se o PT, o PTB

(do senador Collor e da Prefeita) e o Dem, pela família Luna, que tem a mão no

Governo do Estado.

Page 430: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

430

5. Sonhos de mudanças.

Luciano.

A mudança de seus sonhos é a do sonho petista de governar. A mudança seria

orçamento participativo, a implementação de ações e ferramentas com a transparência

dos recursos públicos para a sociedade. Mudança é a forma petista de governar: o como

será a aplicação das verbas públicas e muita discussão com o povo. Isto promoveria

mudanças políticas e mudanças de mentalidade política na região, com o exercício da

participação popular. A contribuição do Governo, na viabilidade de políticas que

ajudem à criação e ao fortalecimento das organizações populares. Haveria o

fortalecimento das entidades da região, a criação de associações que funcionem e a

preparação de quadros para suas direções. Esses seriam os sonhos petistas,

sedimentando popularmente a política.

Maurício.

Para Maurício, não só os sonhos petistas, pois estas são utopias. O PT,

administrando Colônia, é uma utopia. O sonho é o de uma sociedade fraterna, igualitária

e plural. Para isto acontecer, é preciso intercâmbio, diálogo, parceria e entendimento da

administração com a sociedade, a sociedade civil organizada, como as associações e o

Governo.

Careceria de uma administração em que a sociedade muito orienta e define a

política pela participação; pela participação desde a campanha política, pela definição

da Plataforma de Governo, definindo modelos de Gestão em todos os setores da

administração pública. Um secretário deveria ter competência, sim, mas ser um elo vivo

com a sociedade. Seria assim, mas isto só vem com a mobilização dessa mesma

sociedade. Um Governo com o exercício da crítica. Uma comunidade que siga as ações

de vereadores, através de agremiações e associações. Estas só funcionarão se tiverem

origem no povo e, jamais, de cima para baixo.

6. E mais uma outra questão.

Page 431: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

431

Maurício.

A mudança vem a partir do momento em que o Governo discute com a

sociedade, existindo um elo com a sociedade e Governo. O Executivo precisa discutir

com o Legislativo e o Judiciário. Todos esses poderes precisam ser criticados. Há

reivindicações que podem passar pelos Vereadores, pelo Prefeito ou pelo Ministério

Público. Enfim, judiciário, legislativo e executivo com certa dinâmica conjunta e em

harmonia. "... assim é que vejo o Governo de meus sonhos". Um Governo do Partido

dos Trabalhadores, em Colônia, é uma utopia. Mas, as mudanças não caíram do céu.

São produtos de muita organização das pessoas. As mudanças vêm se a sociedade

buscar. Muita gente foi morta, outros exilados... isto em todo o mundo, em busca de

mudanças, transformações, liberdade e justiça. É uma educação da sociedade,

entendendo que a mudança só se dá a partir desse Movimento geral - Governo e

sociedade. Um exemplo é o planejamento participativo.

"Meus agradecimentos aos presentes à entrevista".

Luciano.

Um tópico que gostaria de abordar são os elementos que vêm acontecendo

nestes últimos doze anos. O elemento de participação e a ausência política dos

agrupamentos políticos, com exceção do PT. Essa participação política só existia de vez

em quando, ou só em tempos de campanhas eleitorais. Hoje, parece diferente. Há

participação na vida política simples do dia-a-dia. É um elemento novo em Colônia. As

pessoas começam a participar da vida do seu lugar.

As principais lideranças de Colônia estão mais presentes na cidade. Isto muda a

forma de se estar na política. Isto exige do PT, por exemplo, a necessidade de se pensar

mais profundamente a política local e, também, a política das Associações. Isto poderá

mudar essas projeções políticas da cidade.

"Agradeço ao Zé de Melo e aos colegas que estão, aqui, escutando. À

Jacqueline, que organiza as mulheres; ao Thiago Sotero, que exerce cargo na

Previdência Municipal e que é também do PT e coordenador do MCC; ao Prof.

Bonifácio Neto, que coordena um setor da Saúde e é do PT; e ao amigo Prof. Sílvio

César, membro do Movimento Colônia e cidadania - MCC, assim como eu e os demais;

ao Maurício, Coordenador do MCC que dividiu esta entrevista comigo.

Page 432: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

432

Colônia Leopoldina, 13 de maio de 2013.

Entrevistador: José Francisco de Melo Neto (Zé de Melo).

Professor Titular da Universidade Federal da Paraíba.

Page 433: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

433

ENTREVISTA COM ANTÔNIO TIMÓTEO74

(1º. Vereador do Partido dos Trabalhadores)

História de vida.

Nasceu em União dos Palmares, município da Zona da Mata de Alagoas, em

1964, aonde viveu com os pais até 1980. A partir desse ano, foi trabalhar na Usina

Cansanção de Sinimbu, exercendo a função de Cabo Rural, passando um bom tempo

nesse trabalho, atuando no campo da usina. Depois, conseguindo uma vaga de

empregado em outro engenho, ainda permaneceu nessa atividade por mais três anos.

Quando foi dispensado, passou a morar no atual município de Teotônio Vilela,

participando das lutas políticas pela transformação do antigo distrito de Feira Nova no

atual município com esse nome. Era o Movimento pela Municipalização, estando aí

suas primeiras participações políticas e aí permanecendo até o ano de 1996. Lá atuava

como camelô e carroça de burro, além de trabalhar como agricultor. Também trabalhou

na Usina Guaxuma.

De Teotônio Vilela foi morar na cidade do Cabo de Santo de Agostinho, por 8

meses. Aí, trabalhou como camelô, na feira local. Daí segue para morar em Agrestina,

trabalhando no comércio no ramo de transporte alternativo, onde esteve presente nas

lutas pela liberdade do transporte coletivo e na luta pela reforma agrária. Aí, conseguiu-

se assentar várias famílias no povoado de Santa Tereza, junto com o companheiro Zé

Guegé, em Agrestina. Assim, também contribuiu para assentamentos em São Joaquim

do Monte, na Fazenda Brejinho.

Esse movimento dos coletivos era decorrente das dificuldades que a Prefeitura

de Caruaru estava impondo para o exercício dessa atividade. Foi necessária uma

interdição na rodovia por onde se chega a Caruaru, quando o Prefeito definiu a

passagem de ônibus de 4 reais para 1 real, impedindo assim o funcionamento dos carros

alternativos. Com a participação desse movimento e o seu carro na interdição da

estrada, teve de vender inclusive uma casa para pagar as multas que foram colocadas 74

Antônio Timóteo – Primeiro vereador eleito pelo Partido dos Trabalhadores, em Colônia Leopoldina,

nas eleições de 2012, iniciando o seu mandato em janeiro de 2013, como 1º. Secretário da Câmara. Fez

campanha pelas mudanças na cidade, participando da vitoriosa eleição da Prefeita Paula Rocha.

Page 434: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

434

pela Polícia Rodoviária, por conta dessa interdição. Mas, chegou-se a uma negociação

com a mudança do Prefeito. E, hoje, tem-se um terminal em Caruaru para os 18

municípios da região. Isto só foi possível por intermédio de muita luta.

Saindo de Agrestina, veio morar em Colônia, onde já trabalhava nas terras da

Usina Taquara. Politicamente, pôde participar da primeira campanha da candidata

Luciana Luna, em 2008. Hoje, trabalha com a agricultura familiar, participando das

mobilizações desse ramo de atividade, bem como do Movimento Colônia e Cidadania –

MCC. Um Movimento para que todos tenham condições de exercer sua cidadania.

Nesse Movimento, passa a participar da luta por melhoria da vida dos leopoldinenses –

pela qualidade da água, pela melhoria da saúde, pela criação de associações de

moradores, movimento pela melhoria da energia elétrica, movimentos que ainda

mantêm as suas lutas. Ainda atua no movimento pela agricultura familiar, procurando

dar apoio pela Via do Trabalho. Este Movimento procura terras para a realização da

Reforma Agrária.

A partir de 2013, já filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 2011, começa a

exercer o mandato de vereador, como 1º. Secretário da Câmara de Vereadores, após a

vitoriosa campanha da mudança na política da cidade, contra a permanência de um

grupo que já vinha governando por 12 anos ininterruptos. Portanto, faz parte de um

Grupo Político que procura melhores condições de vida para os leopoldinenses e na luta

por melhor saúde, educação e pelo combate à corrupção. Continua inserido em todos os

Movimentos Sociais que já vinha participando.

Visões a respeito dos Governos Dilma e Vilela.

Na sua avaliação, o governo Dilma, do seu Partido, tem se empenhado para

realizar as melhores coisas para o País. Mas, existem muitos problemas. O problema da

saúde é grave, mas o governo tenta equacionar. A mobilização que está ocorrendo

nesses tempos é boa advertência para toda a política e para a administração pública. A

educação precisa mais investimento. Precisa-se também que os gestores públicos

trabalhem com os seus corações mais voltados para a sociedade. O dinheiro público é da

nação. O dinheiro da nação precisa ser corrigido e fiscalizado. O maior problema a ser

enfrentado é o da corrupção. Todos os políticos precisam realizar o seu trabalho de

político com honestidade. Essa mobilização popular que está ocorrendo no Brasil inteiro

Page 435: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

435

é para acordar os políticos brasileiros. É preciso uma maior fiscalização das verbas

federais aplicadas nos municípios. O pessoal que vem fazer fiscalização precisa fazer

sem qualquer corrupção. Sem isto, é difícil a realização de uma gestão melhor.

O governo Vilela, do Téo Vilela, do PSDB, estes sempre foram fortes em

Alagoas. Mas, esse Governo atual tem problemas com a segurança pública, a saúde, a

educação que é uma das mais fracas do país.

O concurso que houve para segurança faz muito tempo. A aposentadoria do

pessoal é por obesidade, por idade e não ocorre reposição desses quadros policiais.

Esses problemas, por sua vez, abrem possibilidade de novas lideranças como a que já

está se falando que é João Pereira, Deputado Estadual. Fala-se bastante da possibilidade

de se ter uma aliança com o filho do Renan Calheiros. Mas, isso tudo significa novas

lideranças com os mesmos pensamentos dos velhos políticos.

Visão a respeito do Governo Paula.

Até cinco meses atrás, eu não via mudança alguma. Mas agora, a Prefeita tem

mostrado aos vereadores os projetos para a cidade e os empecilhos que precisam ser

superados para que as coisas passem a acontecer. Ela tem mostrado também como está

enfrentando esses impedimentos. Assim, é que haverá reformas da praça em frente ao

antigo Fórum e mostrou até as dificuldades para se gastar o dinheiro da saúde. O

dinheiro do matadouro, por exemplo, por não se ter iniciado a obra, teve de ser

devolvido à Brasília. Isto é uma coisa que não se admite. Agora, o seu pessoal está

correndo par fazer outro projeto, fazer outro matadouro. Há, com isso, por exigência do

planejamento, a possibilidade de desapropriação de uma área de terra do Zé Genildo e

outra desapropriação das terras da Edilene para a construção de outro colégio. Tem

também o projeto para 50 moradias, além do início do saneamento básico que custará

aproximadamente uns 20 milhões. Haverá necessidade de mais desapropriação para o

tratamento sanitário da cidade para que a água que chegue ao Rio Jacuípe esteja limpa.

Isto exigirá mais de 20 hectares para a realização da obra. Isto será uma alavanca para a

cidade. Assim acontecendo, Colônia vai ficar na história.

Quanto à saúde, ela tem tentado passar o Hospital para o Estado. Mas, o Estado

não quer. Diante disto, a Prefeita está tentando algo pelo próprio município e isto pode

Page 436: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

436

acontecer breve. Esta é a avaliação. Caso tudo isto seja feito, é um avanço muito

importante.

A experiência na Câmara.

A experiência na Câmara tem sido sempre com muita novidade. No início, levou

muita chicotada. Há todo um processo para enquadramento dos novos que chegam ali,

em especial com alguém que vem do Partido dos Trabalhadores, com a determinação de

ver as coisas acontecerem. Não se conhece nada de regimento ou outros procedimentos

internos. Mas a essa altura, já conhece os caminhos e procura mais aperfeiçoamento.

A maioria dos vereadores se coloca sempre como seu amigo, mas não é isto não.

Não há nada de amigo, e sim uma certa competição interna. O caminho é de muito

cuidado para não se queimar. Como primeiro Secretário, vê muitas dificuldades da casa.

São muitas opiniões e cada um pensa de uma maneira. Tomar decisão conjunta é

sempre algo complicado. Claro que se aprende muito, pois essa experiência mostra os

caminhos difíceis de se fazer democracia.

E se alguém é vereador de oposição, fazer oposição se torna algo muito mais

complicado. Mas, não é o seu caso, considerando que foi eleito nesse grupo político

pelas mudanças. Os vereadores ou estão com o governo ou são contra. Não há meio

termo. Hoje, os que eram de oposição estão todos com o Governo. Isto é o que vem

mostrando essa experiência na Câmara dos vereadores.

Políticas populares marcantes na trajetória de sua vida em Colônia Leopoldina.

A luta pela melhoria da saúde foi importante, pois se chegou a tirar um técnico

em agroperucuária que era Secretário de Saúde. Esse secretário era a cara da saúde.

Nesse momento, estão sendo resolvidas algumas irregularidades que ainda

permaneceram.

Merece destaque, também, o movimento pela melhoria da qualidade da água.

Outro movimento foi o apagão que aconteceu em toda a região. Com as denúncias dos

problemas da energia na cidade, inclusive o fato de ninguém nunca explicar nada,

sobretudo a Eletrobrás. Houve, então, coordenado pelo Ministério Público, uma

Page 437: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

437

audiência pública que foi realizada com os prefeitos dos 4 municípios envolvidos nesse

apagão com os técnicos da Eletrobrás. O resultado foi a definição de que, em 2013, seria

instalada uma subestação em Arapiraca. Assim, foi possível se conseguir outro ramal de

energia. Isto foi fruto da organização resultante do apagão.

Outra mobilização foi a campanha de vereador na qual foi eleito vereador, o

primeiro de 30 anos de existência do Partido dos Trabalhadores. Imagine um agricultor

está exercendo um mandato e com compromissos com os trabalhadores. Tudo isto

foram frutos dessas políticas populares e da mobilização das pessoas.

Forças políticas que se podem contar para mudanças, em Colônia Leopoldina.

Entende que o grupo político da família Lamenha tem forte entusiasmo pelo

trabalho de promoção de mudanças. A conversa seria que tipo de mudança eles estariam

dispostos a fazer. Talvez, haja alguns de outras forças políticas como do PSDB. Vários

deles, inclusive, pensam em ir para a Rede, esse novo partido que estão falando em

criar. Com esse grupo pode, talvez, conversar sobre mudanças mais profundas para o

futuro.

O que seriam as mudanças para a cidade.

Mudanças para Colônia: iniciando pela Zona Rural, seria importante a busca por

benefícios para agricultura familiar que não tem subsídio algum de incentivo. Começar

pela melhoria das estradas, sobretudo nas épocas quando passa o inverno.

Outra questão seria uma política que garantisse toda a compra da produção do

agricultor familiar. Uma política que assegurasse que tudo que fosse produzido estaria

garantido pela Prefeitura. A agricultura precisa dessa garantia.

É preciso mudar a cultura de cana, pois aqui já se plantou abacaxi e acabou,

praticamente.

É possível a cultura do café, da macaxeira, superando essa prisão de só se ter

cultura da cana. O município precisa entrar com técnico, inicialmente, podendo esses

produtos saírem daqui prontos para o consumo.

Page 438: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

438

A reforma urbana precisa que seja feita com um baita planejamento para o

saneamento da cidade, organização da moradia e mais loteamentos organizados com

calçamento, água, luz e escola. Hoje, se precisa de mais de 300 moradias. Aí devem ser

construídos, também, colégios e creches.

A saúde precisa de mais PSF e que eles funcionem mesmo. Também será

necessário mais verba para o hospital e mais investimento em educação, bem como

reformas e construção de mais salas de aula.

Agora é uma hora certa para se avançar em mudanças. O Brasil está pedindo

mudanças e espera-se que aconteça. Além dos movimentos que estão ocorrendo no país

mostram isso como a Presidenta Dilma tem apontado para alguma mudança necessária.

Isto precisa chegar ao Município.

Têm pontos também que precisam ser mudados que estão apenas do Município.

Compete ao Município, somente. Estes precisam ser feitos. Assim, pode-se ver

mudança na política e no governo municipal. Repetindo: agora é uma hora certa para se

avançar e se fazer algo que nunca foi feito.

Os seus sonhos para a cidade.

Sonha com uma Colônia com água, com a criação de uma barragem de grande

porte para acabar definitivamente com esse problema de falta de água. Sonha com uma

cidade padronizada, pois atualmente está toda fora dos padrões. Uma cidade bem

sinalizada, com praças, passarelas, reformas em canteiros da cidade. Uma cidade com

hospital para atender a região, sem precisar se deslocar para Maceió. A região precisa

escola profissionalizante. Cuidado com o meio ambiente e recuperação do Rio Jacuípe.

Cada loteamento precisa de pelo menos 20 % de área de mata e para praças. Tudo isto

precisa estar atualizado pelo Plano Diretor da cidade. É a atualização do código de

postura. Colônia e os seus políticos, principalmente, precisam pensar de tornar esta

cidade líder na região.

E mais uma outra questão.

Page 439: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

439

Encerrando, também, se destaca a possibilidade de que a região passe a sofrer

ainda mais com as usinas fechando. A Usina Taquara está com problemas. A Usina

Central Barreiros fechou. A Usina Catende que experimentou uma administração de

trabalhadores continua com problemas graves de gestão. Outras usinas fecharam na

região. O Governo Federal precisará ajudar com outras ideias e outras culturas para a

região. É preciso pensar culturas agrícolas novas.

Meus agradecimentos.

Colônia Leopoldina, 23 de junho de 2013.

Entrevistador: José Francisco de Melo Neto (Zé de Melo).

(Professor Titular da Universidade Federal da Paraíba).

Page 440: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

440

3. CONSIDERAÇÕES

O que foi apresentado é o produto escrito de esforços de várias forças políticas

que têm atuado, à sua maneira, nesses rincões da Zona da Mata Norte do Estado de

Alagoas. Forças que não expressam as políticas dominantes do lugar mas, com certeza,

têm contribuído com o seu ponto de vista próprio e crítico, para com a melhoria da

política da cidade.

Os movimentos sociais, seja em que dimensão se apresentem, traduzem seus

pontos de vistas sobre as suas questões e procuram convencer a cidade da justeza de

suas reivindicações. Os textos mostram que várias das reivindicações apresentadas

passaram a ser realidade muito tempo depois. É possível, inclusive, que os

reivindicantes se quer se lembrem de que aquilo foi sua reivindicação. Pode-se destacar

a construção de quadra de esporte que veio se realizar muito tempo depois de a

reivindicação ter sido apresentada ao governo do Prefeito José Luiz Lessa. A construção

de novas escolas. A preocupação para com a superação do trabalho infantil, iniciado

pelo Pe. Aldo, e mesmo com a educação de jovens e adultos, pelo movimento da

Educação Popular da Associação de Educação Católica (AEC). Estas demandas

transformaram-se nacionalmente em políticas de Estado. Estão hoje presentes nos

orçamentos e na busca incessante por superação do analfabetismo, um dos mais altos do

país.

Em um momento em que o país ferve com realização de copas e de grandes

mobilizações por melhores escolas, pelo passe livre para estudantes, por melhor saúde

pública e, em especial, contra todo o tipo de corrupção, jovens de Colônia, mesmo que

simbolicamente, realizaram também o seu pequeno protesto.

Esta produção textual registra documentos para que outros pesquisadores, num

futuro que pode não ser longe, desenvolvam melhores análises sobre esses movimentos

que se apresentaram de baixa intensidade em suas mobilizações, naqueles momentos.

Também, de forma sutil contribuíram para a definição das políticas locais, com olhares

e significados diferentes por melhores condições de vida, e, quiça, possa Colônia

exercer papel de liderança na região, contribuindo para uma política de qualidade social

Page 441: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

441

para todos, de olhos naqueles que mais necessitam, as classes trabalhadoras.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, José Júnior. A trajetória do Movimento Estudantil Leopoldinense.

Grafnobre, Colônia Leopoldina, Al, 2011.

COLÔNIA LEOPOLDINA – situações político-ambientais, Vol I. Organização dos

autores: Maria Betânia Alves dos PASSOS; Marília Gabriela da C. GOMES e José

Francisco de MELO NETO. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa,

2010.

COLÔNIA LEOPOLDINA: situações político-ambientais. Andréa Marques... (et. al.).

José Francisco de MELO NETO (org.). João Pessoa: Editora da Universidade Federal

da Paraíba, 2011.

ESCOLA DE FRANKFURT – diálogos. Anaina Clara de MELO (Orga.). Editora da

Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2008.

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA – diálogos populares. José Francisco de MELO NETO

(Org.) Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1987.

História das ideias políticas. François CHATELER e all. Tradução de Carlos Nelson

Coutinho. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2009.

MELO NETO, José Francisco de. Ação cultural no meio rural – uma experiência em

Colônia Leopoldina, realizada em 1982/83, dissertação de mestrado em Educação, pela

Page 442: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

442

Universidade de Brasília.

__________. Organização Popular - a construção do conceito de partido no Partido

dos Trabalhadores. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 1998.

__________. Educação Popular – enunciados teóricos. Editora da Universidade

Federal da Paraíba, João Pessoa, 2004.

LIMA, Lenivaldo Marques da Silva & MELO NETO, José Francisco de. Usina Catende

– para além dos vapores do diabo. Editora da Universidade Federal da Paraíba, João

Pessoa, 2010.

SILVA, Everaldo Araújo. A Colônia da Princesa. Maceió, 1.eD. Igasa, 1983.

ZIZEK, Slavoy. Menos que nada. Hegel e a sombra do materialismo dialético.

Tradução de Rogério Bettoni. São Paulo, Boitempo Editorial, 2013.

Page 443: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

443

LIVRO 9

COSTA, Georgia Lamenha Silva. Memórias vivas do povo leopoldinense.

Gráfica Inovação. Serinhaém: 2014.

Page 444: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

444

Page 445: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

445

Georgia Lamenha Silva Costa

Memórias vivas

do povo leopoldinense

Page 446: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

446

1a edição

Colônia Leopoldina/AL

Edição do Autor

2014

Page 447: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

447

Page 448: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

448

A memória é o único paraíso do qual não

podemos ser expulsos.

Johann Paul Ritcher

Page 449: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

449

Dedicatória

Dedico esta obra aos meus pais, personagens dela, porque, pela vontade Deus, foram

unidos e me deram a vida. De uma forma especial, como não poderia deixar de ser, a todos s

cidadãos leopoldinenses, pessoas especiais que ajudaram a construir um pouco da nossa

querida Colônia Leopoldina.

Page 450: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

450

Apresentação

Recordar a vida é uma terapia que serve para emocionar a alma. O tempo passa rápido,

mas ficam as lembranças gravadas na memória e no coração, prontas para serem reveladas

quando se tem oportunidade.

Prepare-se para conhecer acontecimentos que marcaram a vida dos entrevistados e da

cidade onde vivem nesta obra intitulada Memórias vivas do povo leopoldinense.

Reviver o passado para entender o presente! Espero, caro leitor, que aprecie este

trabalho, baseado nas experiências de cada cidadão que o compõe, com um toque literário

para a história ficar mais emocionante!

Page 451: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

451

Agradecimentos

Em primeiro lugar, a Deus Altíssimo que me deu a capacidade e o dom de escrever; em

segundo, a todos os entrevistados que colaboraram com as informações por meio de uma boa

prosa. Depois, a todos que direta ou indiretamente contribuíram e torceram para que este

sonho viesse a se tornar realidade.

Page 452: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

452

Agradecimentos especiais

À minha família – meu esposo, Émerson Costa, e filhos: Everaldo Neto, Clara Fernanda e

Ana Cecília , presentes de Deus na minha vida.

À minha professora, alfabetizadora e tia, Edite Lamenha, que me orientou na

concretização do meu primeiro sonho: a descoberta da leitura.

À minha irmã, Gilvania Lamenha, um exemplo de vida. Mulher de garra, fé,

perseverança, bondade e humildade.

Ao meu amigo – companheiro de jornada, atual secretário de Educação, Romildo

Moura, profissional que admiro.

À ex-secretária de Educação, Eleonora Amorim, que acreditou no meu sonho e me

incentivou na realização desta obra.

Aos meus alunos da 8a série do ano de 2008, que demonstraram interesse pelos textos

de memórias das Olimpíadas de Língua Portuguesa.

À ex-diretora da Escola Antônio Lins da Rocha, Genilda Cavalcante, pelo apoio e

reconhecimento às minhas ações pedagógicas.

A Jadiaelson Alves, o profissional que organizou meus textos e imagens, dando forma a

esta singela obra, através de sua criatividade, dedicação e zelo.

A todos os entrevistados que contaram fatos marcantes de suas vidas e do lugar onde

vivem e autorizaram a publicação de seus relatos.

Page 453: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

453

E por falar em memórias...

Lembro-me de uma garotinha: olhos vivos e curiosos, atenta à chegada da família que

vinha de Colônia Leopoldina para o Engenho Canto Escuro. Lá, apresentava-se com quase

nenhuma roupa, pois ali se sentia em casa e à vontade.

Naquela ocasião, agarrava-se no vestido da avó paterna – Isabel Lamenha, pois era onde

se sentia segura, coladinha na matriarca daquela família. Admirada, observava os parentes que

desciam de um caminhão para apreciar e desfrutar a cachoeira daquele lugar.

Algum tempo depois, aquela menininha esperta veio morar na cidade, onde realizou um

de seus maiores desejos: aprender a ler e a escrever. Um tanto quanto assustada com a nova

etapa de vida, a garotinha começava a escalar sua carreira estudantil.

Na Escola Estadual Aristheu de Andrade, foi aluna da tia Edite Lamenha e com ela

obteve as primeiras lições. Graças àquela oportunidade, tive a honra de (ainda muito nova)

também lhe dar “aulas de reforço” (a pedido da minha mãe).

Aquela criança de dedinho na boca, de olhar atento, tornou-se uma das melhores

educadoras deste município. Sempre estudiosa, esforçada e dedicada, conseguiu trilhar uma

trajetória profissional de forma brilhante: preocupa-se com o bom desempenho de seus

alunos, ensinando-lhes estratégias de leitura e produções textuais.

Hoje, como escritora, descreve e narra, neste livro, as Memórias vivas do povo

leopoldinense, daqueles que a ouvi chamar de “meu povo”. Evidentemente, não utiliza este

termo como posse, apenas no sentido de acolhimento e reconhecimento.

O livro dela registra fatos históricos da vida do nosso povo, pessoas ilustres e

importantes para o desenvolvimento de nossa cidade e, certamente, se perpetuará nas

memórias dos novos leopoldinenses.

É com imenso prazer que faço declarações sobre a vida de GEORGIA LAMENHA: mulher

temente e agradecida a Deus por tudo que tem e por tudo que é. Ela é minha prima, minha

irmã em Cristo e minha colega de trabalho. Parabéns por mais esta conquista!

Claudiana Rocha

Page 454: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

454

Professora

Sumário

A boneca que deu vida ao meu sonho

A arte do trabalho

A natureza é mãe, é vida!

Amante da vida pública

As mãos de Mãezinha

De alfaiate a comerciante

De Antônia para Eulina

De aluna para professora

De coração aberto

Gera Ação!

Mandacaru: símbolo de resistência

O pequeno grande homem

O senhor da floresta

Parteira vocacionada

Se o tempo voltasse, seria diferente

Uma árvore frutífera

Orgulho de ser leopoldinense

Breve história de Colônia Leopoldina

Obra-prima de Colônia Leopoldina

Page 455: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

455

Prefácio

Colônia Leopoldina pode contar hoje com uma grande mulher de letras, que se tornou

escritora e estreia sua obra Memórias vivas do povo leopoldinense, fazendo um resgate das

lembranças e trazendo ao nosso conhecimento relatos importantes dos nossos conterrâneos.

Georgia Lamenha é uma extraordinária educadora que, dentre os grandes trabalhos

desenvolvidos nas nossas escolas, transformou suas oficinas de textos de memórias numa

coletânea que vem sendo construída há alguns anos, com todo o zelo, carinho e amor pelo

nosso povo. Afinal de contas, que família leopoldinense não ficará lisonjeada em ver sua

história reportada às páginas de um livro?

Recordo-me, por diversas vezes, em ouvi-la relatar histórias que fazem parte desta obra,

demonstrando profunda emoção. Todo esse encantamento deve-se ao comprometimento

com o resgate das memórias de nossa gente, transcritas em papel e transformadas num livro

fabuloso que será mais um marco para os literatos de Colônia Leopoldina.

Educadora comprometida com a leitura e a escrita, que honra a graduação do Curso de

Letras, consegue repassar às páginas de sua obra as lembranças dos leopoldinenses, as quais o

leitor sentirá prazer em reconhecê-las, ao se debruçar sobre cada página deste livro.

Sua capacidade intrínseca de escrever transportará o leitor para dentro de cada história,

fazendo-o vivê-la como se fosse a sua, pois as sutilezas e os detalhes explícitos o fará perceber

bem claramente que também é a sua vida que está sendo abordada em cada texto.

Espero que assim como eu fui agraciado em marcar a abertura desta obra, você também

seja presenteado com o que encontrará nas páginas seguintes.

José Romildo de Moura

Professor, Secretário de Educação

Page 456: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

456

A autora da obra, Georgia Lamenha, em recordação escolar na Escola Aristheu de Andrade.

“A boneca que deu vida ao

meu sonho”

Nasci na década de 70, no Engenho Canto Escuro, próximo ao município de Colônia

Leopoldina. Dos dez filhos e filhas a quem minha mãe deu à luz, fui a terceira da sequência, e a

segunda das mulheres. Tive uma infância carente, apenas o básico para sobreviver, nunca

soube o que era uma festa de aniversário. Minhas roupas eram simples, vestidinhos de chita. A

única roupa de festa era um vestido azul claro, bordado com pequenas flores na parte

superior, que logo ficou curto para mim, presente da minha madrinha que também me

presenteou com o nome de Georgia.

Menina de poucos brinquedos, apenas aqueles que a própria imaginação criava através

das caixas de fósforos, embalagens plásticas, folhas e flores que a natureza dava gratuitamente

para minhas invenções. A vida não era só brincadeira, ajudava também a mamãe nos afazeres

domésticos. Nas noites de lua cheia, brincávamos no terreiro da casa, eu, os irmãos e alguns

poucos vizinhos da redondeza. Gostávamos de ouvir histórias fantasiosas contadas pelos mais

velhos. Algumas até que davam medo. As cantigas de roda e as adivinhações fizeram parte da

minha infância.

Page 457: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

457

As dificuldades da época não me impediram de criar fantasias e alimentar sonhos; de

outra forma, a vida não teria sentido. Nisso, vocês devem concordar comigo. Há lembranças

que marcaram profundamente o meu ser e elas estão relacionadas a um dos meus sonhos –

aprender a ler e escrever!

Naquele lugar, onde vivi parte de minha infância, não havia escola, a mais próxima

ficava, aproximadamente, a 3 Km, na Fazenda Macuca. Lá estudei seis meses e tive contato

com as primeiras letras do alfabeto. Íamos a pé eu, meus irmãos e algumas crianças. Bem

diferente dos dias de hoje. As crianças da zona rural do município têm escolas de séries iniciais

e dispõem de transporte para fazê-las às escolas da cidade para continuarem sua formação.

Hoje tudo está mais fácil, não estuda quem não quer, as condições são mais favoráveis.

Em julho de 1979, meus pais resolveram mudar-se para a cidade a fim de colocar os

filhos na escola. Eu e meu irmão fomos matriculados na Escola Estadual Aristheu de Andrade e

tivemos a professora Edite Lamenha, nossa tia, nos ensinando a 1a série. Nessa época, eu ainda

não conhecia todo o alfabeto, sabia escrever algumas palavrinhas decoradas. Recordo que os

meus colegas zombaram de mim, porque em um ditado eu não soube escrever a palavra

“ovo”, escrevi “vov”; a decoreba falhou, confundi-me na escrita.

Naquele momento, me senti humilhada, envergonhada e inferior a todos os alunos que

já estavam alfabetizados. A emoção tomou conta de mim, as lágrimas rolaram dos meus olhos.

Minha tia repreendeu os alunos e me confortou. Não desisti, corri atrás... Agarrei-me com a

cartilha, aprendi o alfabeto e ganhei uma assistência especial da professora. Não sei se pelo

fato de ser minha tia, talvez os laços de afetividade familiar tenham contribuído.

Lembro-me, como hoje, da aula que marcou a grande descoberta da minha vida – a

leitura. A professora colocou a palavra “boneca” no quadro e pediu para eu juntar as sílabas.

Com muito medo, tomada pela insegurança, a voz trêmula, balbuciei letra por letra e juntei as

sílabas: “bo-ne-ca”. Boneca! Boneca, tia”! Essa lembrança viva na minha memória foi uma

experiência que tomou meu coração de alegria, uma explosão de felicidade, compreendi a

leitura como decodificação.

A partir daquele momento, comecei a devorar as palavras, lia tudo o que via na minha

frente, elas ganharam sentido. Realizei o primeiro sonho da minha vida. Na década de 90,

tornei-me professora. Em 2001, graduada para o ensino de Língua Portuguesa, apaixonada

pelas Letras e desejosa de que meus alunos descobrissem, por meio da minha experiência, o

poder que as palavras têm, construindo textos de memórias literárias a fim de resgatar valores

de pessoas que contribuíram direta ou indiretamente com a construção do lugar em que

vivem.

Page 458: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

458

Page 459: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

459

Dona Carmelita em fotografia 3x4.

A arte do trabalho

Já morei em Buenos Aires, mas não na Argentina, com você deve estar pensando. Esse

era o nome do sítio do meu pai, pertencia a Maraial – PE. Eu sou Carmelita Silva das Neves,

nascida no dia 27 de agosto de 1940, filha do casal Antônio Avelino da Silva e Filomena

Marques da Silva. Gosto de recordar a minha infância, momentos inesquecíveis, cheios de

aventuras, fantasias, verdades e mitos. As lembranças trazem à minha memória um gosto doce

daquela bala chamada de nego bom. Chega até a dar sede. Então, vamos ao pote!

O Sítio Buenos Aires era o lugar dos meus sonhos, lá eu vivi até meus 12 anos. Fui criada

na fartura, gostava pouco de estudar e muito de trabalhar. Meu pai era um homem rico e

bondoso. No sítio dele havia peixe no açude, gado no cercado, burro e cavalos na estribaria.

Ele também era comerciante: tinha um super barracão, estabelecimento bem sortido que

vendia de tudo que precisasse na região.

Recordo de algumas tradições vivenciadas por nós naquele lugar. Na época de Semana

Santa, os açudes eram abertos, o que se juntava de peixe era para ser dividido com os

moradores. Da mesma forma, acontecia no Natal, meu pai pegava um boi gordo e o abatia,

para depois reparti-lo com todos do nosso convívio. Era bonito de ver a satisfação estampada

nos olhos daquela gente.

Quando me denomino de mulher trabalhadora, é porque realmente fazia as tarefas por

opção e não por obrigação. Eu gostava muito do campo. Lá existia uma casa de farinha, eu

Page 460: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

460

fazia questão de colocar a mão na massa: arrancada mandioca, descascava, raspava, espremia

e ajudava a fazer a massa até assar e transformar-se em farinha.

Nunca gostei de estudar, meu fraco era trabalhar no pesado, gostava também de

serviços domésticos: lavava trouxas de roupas num brejo, lavava pratos, carregava água da

cacimba em latas na cabeça, torrava até café no pilão, tudo isso para ajudar mamãe. Tenho a

impressão de que sinto o cheiro forte e bom do café chegando às minhas narinas, dá até água

na boca, pois o café de hoje não é tão saboroso quanto o de antigamente.

Eu era bem diferente da minha irmã, ela gostava de fazer anotações e ficar por trás do

balcão despachando as mercadorias; enquanto eu, não para quieta, era o tempo todo

procurando o que fazer. Meu negócio era trabalhar em diversos afazeres que aparecesse,

parecia uma garota elétrica.

Posso afirmar que, para estudarmos, cada dia vivíamos uma aventura. No nosso sítio

não tinha escola, então era preciso caminhar mias ou menos meia légua a pé pra poder chegar

à escola mais próxima, que ficava em Sertãozinho de Cima. No percurso, tinha uma matinha

que as pessoas diziam que era mal-assombrada, e haja medo.

Éramos cinco, ninguém queria ir na frente ou atrás, para não sermos atacados pelos

monstros do folclore brasileiro: comadre fulozinha, papa-figo, lobisomem... Graças a Deus,

quando atravessávamos a mata, nosso coração voltava a bater normalmente. Hoje eu entendo

que todo esse medo não passava de uma fantasia que as pessoas criavam para nos aterrorizar,

não passavam de lendas.

Lembro-me, como hoje, do dia em que precisei deixar para trás um pedacinho de mim.

O Sítio Buenos Aires foi vendido pelo meu pai, mudamos para Sertãozinho de Baixo. Eu já tinha

meus 12 anos, estudei somente até a quarta série. Casei bem novinha, com apenas 16 anos.

Fui morar com o meu esposo, Adalberto, em Recife. Ele era, nessa época, motorista particular.

Eu já me encontrava grávida de minha primeira filha. As coisas não estavam dando certo,

então entramos em um acordo: retornar a Sertãozinho.

Assim aconteceu, escrevi uma carta para minha mãe e contei a situação, ela

prontamente me deu a maior força ara que eu retornasse de onde nunca deveria ter saído. No

dia de nossa volta, foi uma grande festa, chego até a comparar com a parábola do Filho

Pródigo quando retorna à casa paterna. A alegria contagiou a todos... Depois vieram bons e

maus dias; a vida é assim mesmo. Fui uma mulher muito fértil, todo ano um filho e haja

enxoval.

Chegou ao ponto que eu queria: falar de enxoval lembra bordado, agora começa a

história da bordadeira de mão cheia, que aprendeu a fazer a arte com Dona Alta, uma

bordadeira antiga de Sertãozinho que, com muito jeito e carinho, me ensinou os pontos cheios

Page 461: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

461

e os bordados feitos em máquinas. Descobri que tinha jeito pra coisa, deixei o trabalho pesado

para me dedicar à delicadeza dos bordados. Tenho nas minhas lembranças cada obra

encantadora. Laços, flores, borboletas, pássaros; cores quentes e frias, linhas grossas e finas;

várias coisas aplicadas em casaquinhos, panos, colchas de berço, mantas... Cheguei até a fazer

curso em Maceió para me aperfeiçoar na arte do bordado.

Enfim, Colônia Leopoldina ganhou a mais nova moradora que chegou para ficar na

década de 60, ainda na casa que resido atualmente, situada à Rua Padre Francisco, uma das

principais da cidade. Recordo-me que minha vizinhança era de muitas árvores frutíferas e

matagais. Meu trabalho artístico foi logo conhecido e reconhecido pelo povo, perdi as contas

de quantos enxovais bordei para casamentos e recém-nascidos.

Apesar de não ter valorizado meus estudos, me considero uma mulher culta, pois sei

conversar sobre assuntos diversos, presto sempre atenção às novas palavras que vão surgindo,

acompanho as notícias. Sou religiosa, católica praticante, uma mulher bastante ativa que

supera muitas adversidades, pois sou uma mulher de fé.

Vi a evolução de Colônia durante 50 anos, muita coisa surgiu... Lembro-me dos prédios

importantes sendo construídos, o hospital, por exemplo, a escola Antônio Lins da Rocha, entre

outros. A cidade que moro já é centenária e eu conheço parte de sua história que se mistura

com a minha.

Já possuí lojinha de roupas de bebê no comércio da cidade, depois o negócio não foi em

frente, voltei para o ramo de vocação: bordei novos enxovais... Se eu pudesse, bordaria minha

história em uma peça de tecido. Como não é possível, essa parte da minha vida será registrada

num livro de memórias, para que as futuras gerações conheçam um pouco dos costumes

antigos.

Os nomes dos meus sete filhos serão bordados neste texto em ponto de cruz, com uma

curiosidade: os meninos com iniciais “A” e as meninas “E”. São eles: Adalberto, Alberto,

Edileide, Edvanilda, Edjailda, Elisângela e Eleonôra. Minhas sete pedras preciosas que Deus me

deu e que estão aplicadas nas artérias do meu coração. Este é o bordado perfeito e mais

importante, porque foi feito pelas mãos do Criador à sua imagem e semelhança.

Não tenho palavras para expressar as emoções que ora estou sentindo, é algo

indescritível, só sabe quem sente. Só sei dizer que devemos viver a vida com intensidade, para

desfrutar momentos bons e nos fortalecer para as dificuldades que surgem no decorrer de

nossa existência. É preciso amar a nós mesmas, amarmos as pessoas que estão a nossa volta e

amar o lugar onde vivemos. Dessa forma seremos felizes!

Page 462: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

462

Carmelita Silva e sua filha Eleonôra Amorim.

Texto baseado em conversa informal com a Sra. Carmelita Silva Neves.

Page 463: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

463

Casa onde residiu José Lamenha, Engenho Canto Escuro.

A natureza é mãe, é vida!

A relação homem e natureza é algo instituído por Deus desde a criação. Uma conversa

informal com o meu genitor me faz enxergar o exemplo que ele deixa às futuras gerações. A

sua maneira de tratar a mãe terra e os frutos extraídos dela serve de lição para todos que

buscam a sobrevivência de forma digna e honesta. O senhor José Lamenha da Rocha, mais

conhecido popularmente por Zé Cazuza, homem simples – mais do campo que da cidade –

conta para mim experiências que marcaram a vida dele e do lugar onde viveu. Nascido e criado

em engenhos, não podia ser diferente.

Apenas uma ponte para separar os limites de dois estados: Alagoas e Pernambuco.

Posso dizer que sou meio pernambucano e meio alagoano, sabe por quê? Nasci em 23 de

novembro de 1939, assim consta em meu registro civil, no Engenho Riacho do Mato – terra

pernambucana que faz divisa com o município de Colônia Leopoldina, através das margens do

Rio Jacuípe.

Ainda bebê, fui levado por meus pais para o agreste pernambucano, para o Sítio

Tamanduá, entre as cidades de Lagoas dos Gatos e Cupira. Lá morei parte da minha infância,

ali não demoramos muito Meu destino, eu creio, estava traçado para os lados de cá. Por volta

Page 464: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

464

dos anos de 1948, regressamos às terras de Colônia Leopoldina, fomos morar no Engenho

Canto Escuro, lugar que serviu de palco para minha história. Comparo os acontecimentos a

retalhos que, com o passar do tempo, conseguimos unir e formar uma imensa colcha.

Vida fácil não tive, precisei pegar a enxada, cavar a terra, plantar, limpar mato e carregar

nos lombos aquilo que cultivei. Isso não me causou nenhuma revolta, pelo contrário, amo por

demais a mãe terra, de onde vem o sustento da vida. Ainda hoje aprecio o cheiro de terra

molhada, o aroma das folhas silvestres, o verde exuberante das árvores que ainda restam e o

orvalho das manhãs. Mesmo possuindo moradia na cidade, prefiro estar em contato com a

natureza, rodeado de cães, galinhas, patos, colhendo frutos, hortaliças e aguando os lerões de

coentro, cortando uma ração para animal, entre outras coisas que ocupam o meu tempo.

Como dizia, não tive infância, conheci o que é trabalho muito cedo. Aos nove anos era

homem feito, os calos surgiram cedo em minhas mãos. Dou graças a Deus, porque tive a

oportunidade de estudar. Aos dez anos, frequentei a escola e tive duas professoras. Dava

conta das lições decoradas. Lembro-me da professora Dorotéia Luna. Conseguia ver, nos olhos

dela, certa proteção por mim. Agradeço também a Deus, porque não precisei experimentar os

bolos de palmatória da época, pois vocês já devem ter escutado falar, naqueles tempos era

assim: “Escreveu não leu, o pau comeu”. Também me recordo que, quando a professora

precisava ir à cidade, eu a acompanhava, montado na garupa do cavalo dela, eu era uma

espécie de anjo da guarda, para não dizer guarda-costas.

Nunca fui chegado à malandragem, mas quem já não cometeu certo delito? Afinal,

ninguém é perfeito. Não lembro o que escrevi nas paredes da sala de aula, mas só o fato de

riscar as paredes estava errado, esse mal vem de muito tempo... Pois é, apareceram paredes

rabiscadas, e a professora investigou o caso. Como era fácil de reconhecer a caligrafia, fui logo

descoberto por ela. Sendo eu protegido dela, caso abafado! Passei de provar dos bolos...

Apesar de ter um breve histórico escolar – de apenas três anos, foi o suficiente para aprender

a ler, escrever e calcular as quatro operações da Matemática – estava eu pronto para

enfrentar o mundo... Aos 18 anos, tirei o título eleitoral, e desde 1958 comecei a exercer o

papel de cidadão, escolhendo os governantes da época. Posso dizer que sou um felizardo –

aquele que é bem-aventurado, pois, naquela época, analfabeto não tinha direito a voto como

nos dias de hoje.

Voltando à adolescência, há um fato que marcou muito a minha vida. Lembro-me, como

hoje, cedo do dia, quando minha mãe me chamou e disse: “Zé, não tem nada para cear”. Não

tive dúvida, peguei um saco nas costas e subi a capoeira, rasgando passagem pelos matos

adentro. Avistei uns pés de mandiocas perdidos entre outras plantas. Com a enxada, cavei a

terra e consegui arrancar as raízes que encheram saco.

Page 465: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

465

Chegando à casa, entreguei as mandioca para minha mãe. Era, com muita paciência,

executou o trabalho de transformar aquela matéria-prima em uma massa. Foi todo um

processo: descascar, ralar, espremer a massa em pano de saco até retirar todo o seu líquido,

depois peneirar, colocar sal a gosto e, por fim, levá-la a uma chapa quente. Após assar dos dois

lados, estava pronto o beiju – crocante como uma bolacha seca.

Outro episódio me vem à mente que descreve os momentos de escassez alimentar.

Dessa vez, foi durante o almoço. Minha mãe precisou dividir um ovo cozido em quatro partes.

Cada filho recebeu, naquele momento, um quarto de um ovo que serviu de mistura para

complementar a refeição. Lembro-me de que um dos meus irmãos, insatisfeito com a porção,

pegou a parte dele e esfarelou por sobre a mesa. Minha mãe não pensou duas vezes,

imediatamente deu-lhe o castigo de ficar sem almoçar. Não sei se ela agiu certo ou errado.

Muitas vezes, nos finais de semana, o básico nos faltava, o jeito era recorrer para a vizinhança

que tinha melhores condições de vida que a nossa. Talvez seja por esse motivo que não

suporto ver o desperdício de alimentos, principalmente num país feito o nosso, uns com tanto

e outros sem nada.

Não sei se sou descendente de índio, mas é bem possível, pios no Brasil não tem

ninguém de sangue puro, falo assim porque dizem que os índios têm uma relação muito boa

com a natureza, e isso me faz lembrar alguns hábitos que desenvolvi ainda na minha

juventude. Da natureza sempre procurei aproveitar todas as fontes de alimento. Gostava

muito de ganhar as matas noite afora para caçar animais que servissem para o consumo. Perdi

as contas de quantos tatus-peba e verdadeiros, veados, pacas, cassacos e tamanduás caíram

nas minhas armadilhas; é claro que contava com a ajuda dos cães farejadores que acuavam os

bichos, deixando-os sem saída.

Outra fonte bem explorada era a pesca de peixes nos rios e açudes. Gostava de pescar

de loca, de anzol e de pulsar – foram muitos os peixes que caíram em minha rede: carito,

jundiá, tilápia, tainha, mussum e acari. Hoje em dia, as metas e os rios sofreram tantas

agressões que muitos animais e peixes já estão em extinção. Muitas matas forma derrubadas

para o plantio da cana-de-açúcar, consequentemente, os animais foram perdendo seu espaço,

sem contar que esse desmatamento afeta a diminuição das águas. Outro sério problema é a

poluição dos rios, que estão mais parecidos com depósito de lixo e descargas sanitárias; já não

servem mais para o uso doméstico, os peixes não conseguem sobreviver num ambiente tão

poluído.

Sempre fui um homem empreendedor, gostava de mandar pessoas criarem animais de

“meia”, sabe como é esse negócio? Alguém pegava o animal e se responsabilizava em

engordar o bicho; quando o animal estava no ponto para ser vendido, o valor era dividido

Page 466: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

466

meio a meio. Achava um negócio lucrativo. Não deixava faltar nas mãos dos criadores: galinha,

peru, porco, ovelha, cabra.

Casei-me aos 29 anos com uma linda jovem de 17, Maria de Lourdes. Tivemos 10 filhos:

cinco homens e cinco mulheres. No início do casamento, ajudava nas despesas da casa de

minha mãe. Aos poucos, com muito trabalho e sacrifício, fui conquistando um pequeno

pedaço de terra para plantar cana-de-açúcar, tornei-me um pequeno fornecedor dessa

lavoura. A princípio, até carreguei feixes de cana no lombo como se fosse um burro (quando

esse animal eu ainda nem possuía).

Hoje em dia, as máquinas evoluíram tanto que até o trabalho do burro está sendo

extinto. Pelo visto não é só o homem que está perdendo sua vez no mercado de trabalho.

Parece brincadeira, mas não é. Antigamente, a mão de obra humana no trabalho com a cana-

de-açúcar exigia um grande número de trabalhadores: cortar, amarrar, cambitar até a estrada

e sacudir a cana na carroceria do caminhão para poder ser transportada para a indústria.

Atualmente, a carregadeira apanha a cana – que não precisa ser amarrada – e carrega o

caminhão, apenas uma pessoa para operar a máquina e fazer o trabalho de uns seis homens e

alguns burros.

Perto dos 69 anos, sinto-me cansado, sem mais o mesmo vigor de outrora, o corpo cheio

de dores, o que me resta de bom são as memórias que o tempo não conseguiu destruir.

Contemplo o presente e vejo o que construí ao longo da minha vida. Meus filhos, com exceção

de um, seguiram minha carreira profissional, faz parte da cultura. Minhas filhas, todas

professoras. Já perdi até as contas de quantos netos possuo no momento. Se não e, mas está

perto dos trinta. Dentro das minhas possibilidades, sempre procurei transmitir-lhes os valores

mais importantes da vida, entre eles, a honestidade.

Meu refúgio ainda continua sendo o Engenho Canto Escuro, é de lá que gosto, pena que

a minha esposa não sente da mesma forma, mas deve ser verdade o que diz o adágio popular:

Os opostos se atraem. Às vezes, ficamos separados, ela na cidade e eu no engenho; pois é lá

que encontro sossego, brisa suave e ar puro; me relaciono tão bem com os animais, com os

vegetais e também com as pessoas que falam a minha língua, que comungam dos mesmos

prazeres.

Não posso encerrar com as palavras do poeta que dizia: Ai que saudades eu tenho da

minha infância querida. Na verdade, sinto saudade, não da infância, mas da força e do vigor da

juventude. Como a vida é um ciclo, quem sou eu para reclamar? É melhor cantar como

Gonzaguinha:

Page 467: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

467

Viver e não ter a vergonha de ser feliz

Cantar e cantar e cfantar

a beleza de ser um eterno aprendiz

[...] Que a vida devia ser

bem melhor e será,

mas isso não impede que eu repita:

É bonita, é bonita e é bonita.

Espero em Deus que a minha forma de viver a vida e lutar por ela sirva de exemplo para

as futuras gerações, pois é com respeito, verdade, solidariedade, justiça e honestidade que

conseguimos viver sem prejudicar o próximo e a natureza.

José Lamenha no Engenho Canto Escuro alimentando os cães.

Texto baseado em várias conversas informais com meu pai, José Lamenha da Rocha.

Page 468: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

468

José Araújo de Luna no seu setor de trabalho na Câmara Municipal de Vereadores.

Amante da vida pública

Estou em dúvida, não sei por onde começar... Se do passado ou do presente, são tantas

histórias, dificuldades, aventuras, mas, acima de tudo, muitas realizações. Por que não contar

parte delas? Sou um homem conhecido e reconhecido pelos atos prestados à minha amada e

querida cidade.

Nasci e cresci nas terras de Colônia Leopoldina, propriamente no Engenho Canto Escuro

– lugar de referência para o desenvolvimento econômico do município naquela época. Os

tempos eram muito diferentes dos de hoje, mas ainda me atrevo a repetir o que o poeta

Casimiro de Abreu escreveu:

Ai que saudade eu tenho

da aurora da minha vida,

da minha infância querida,

que os anos não trazem mais...

Page 469: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

469

Sou José Araújo de Luna, mais conhecido pelos conterrâneos por Zito Luna, cheguei a

esse mundo de meu Deus no dia 23 de junho de 1925, filho do casal João Batista de Luna e

Apolônia Araújo de Luna.

As primeiras letras aprendi-as no lugar onde vivi minha infância, passei pelas

palmatórias, naquela época era assim: escreveu não leu, a palmatória bateu. Concluí o

primário e me tornei um jovem sonhador, tive o privilégio de estudar fora e de receber uma

educação de qualidade. Estudei nas cidades de Palmares, Caruaru e Garanhuns – município de

Pernambuco.

Voltando à cidade materna, retornei para dedicar-me aos serviços públicos. Ingressei na

política muito jovem, com apenas 19 anos. Já participei da gloriosa campanha de princípios

democráticos, votei na primeira eleição, lembro-me como se fosse hoje, exatamente em 02 de

dezembro de 1945. Acredito que minha aptidão pela vida pública eu a carrego comigo pela

hereditariedade política administrativa dos meus antepassados. Meu ingresso para a vida

pública foi desde 1947 – vários foram os cargos assumidos: tesoureiro da prefeitura, fiscal de

rendas auxiliar, funções de secretário geral da municipalidade com quatro prefeitos

consecutivos, supervisor de obras. Eleito vereador no ano de 1982 e presidente da Câmara.

Durante o meu mandato, tive a honra de ser o diretor do Colégio Cenecista Pe. Francisco por

quatro anos e seis meses.

Nem só de vida pública vive o homem, não poderia deixar de mencionar que me

apaixonei por uma formosa jovem com a qual casei, a saudosa Estela, comi quem tivemos 14

filhos, formamos uma grande família. Nos dias de hoje são 12 vivos, cada um com sua própria

história para contar. Procurei ser um bom pai, dei uma educação boa a cada um, nenhum

deles quis seguir minha carreira, com exceção de Clebson, que presta serviços na Câmara de

Vereadores. Acredito que metade da minha vida tenha sido dedicada aos serviços públicos,

principalmente à Câmara Municipal, a qual me homenageou nomeando a sala do plenário

daquela respeitada Casa de Sala Legislativa José Araújo de Luna, o que foi para mim uma

grande honra. Eu sou um homem que conhece a história de Colônia como a palma da minha

mão. Já providenciei, por escrito, parte dela, como o Memorial Biográfico dos Ex-Presidentes

da Câmara Municipal de Colônia Leopoldina a partir de 1948.

Não sou homem de me entregar às dificuldades, a saúde está frágil, mas a memória está

viva, graças a Deus. Lembro-me nitidamente do dia em que resolvi compor o Hino Municipal.

Foi tanto papel rabiscado, muitas voltas no pensamento, para encontrar as palavras que

expressassem uma boa composição que enaltecesse Colônia como ela merece. Digo com

orgulho no peito: tornou-se um dos hinos mais bonitos que já vi e ouvi. Sou patriota,

apaixonado pela terra mãe, berço de heroicas famílias. Na hora de escrever o poema que

Page 470: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

470

exalta Colônia, me inspirei nas memórias do passado, trazendo lembranças ao presente, para

que a história de Colônia nunca nos saia da mente.

Sou leopoldinense privilegiado, recebi uma educação de primeira, valorizei as

oportunidades, tornei-me vereador, poeta, escritor, autor da mais importante composição

como símbolo de honra ao município, cantado hoje por todos os leopoldinenses nas escolas e

momentos cívicos. É por isso que o lema da Secretaria da Educação diz: A Educação é tudo...

De fato, é fundamental para formar o cidadão apto a exercer sua cidadania. Homens e

mulheres capazes de se tornarem poetas, professores, escritores, doutores, advogados,

promotores, juízes... Lembrando que, sem o professor, não há formação de nenhuma dessas

outras profissões.

Estou hoje, exatamente, com 85 anos, com vontade de viver o dobro, mas sei que isso

vai de encontro à natureza... Ninguém nasce para ser eterno, todavia fica a certeza de que,

quando eu partir dessa para outra vida, deixarei minhas marcas na história, e elas serão

eternas, ficarão para sempre, sendo passada de geração a geração. Até mais... Sinto-me

cansado, porém satisfeito com tudo que relatei ao meu respeito.

Texto baseado na entrevista com José Araújo de Luna, em 23 de junho de 2010.

Page 471: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

471

As mãos de Mãezinha

Cheguei a Colônia Leopoldina no dia 22 de maio de 1935, data do meu nascimento.

Morei na antiga Rua das Pedrinhas, hoje nomeada de Rua Durval Gonçalves. Na minha rua e na

minha vida existiram muitas pedras no meio do caminho. Nos arredores da minha casa, poucas

moradias, bastante mato, ainda lembro-me do ver de das árvores e do ar puro que respirava.

Aquele ar inodoro, saudável.

Recordo que, na minha infância, recebi três apelidos: minha irmã mais velha chamava-

me de Tuxinha; um dos meus irmãos, até os dias de hoje, só me chama de Andinha; mas o que

pegou mesmo foi o “Mãezinha”. Todas as pessoas me conhecem por esse nome.

Coincidentemente, nasci no mês de maio, mês de Maria, mês das mães. Consta na minha

identidade o nome Maria do Carmo Soares Felipe. No presente momento, sou viúva, fui casada

com o Sr. Tota, Antônio Felipe Filho, in memoriam, juntos tivemos nove filhos, todos bem

criados e vivos até hoje.

Considero-me uma pessoa de sorte, tive oportunidade de estudar da primeira à quarta

série na Escola Estadual Aristheu de Andrade. Fui uma aluna boa, nunca dei muita dor de

cabeça às professoras. Era uma menina quieta e pouco estudiosa.

Não somente eu, mas todos nós sonhamos com um trabalho remunerado. Consegui

realizar esse sonho ainda jovem, pela prefeitura, no governo do prefeito Antônio Lins da

Rocha, com o emprego de auxiliar de parteira na maternidade que funcionava na Rua 16 de

Page 472: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

472

Julho, num casarão, quando ainda não havia o hospital. Eu fui auxiliar da minha irmã Dora,

parteira de mão cheia, experiente e competente, nesse trabalho tão delicado; com ela aprendi

muito. Neste momento me vem à mente o jogo das palavras relacionadas ao meu nome:

maternidade deriva de materno, que lembra o amor de mãe, caracterizado em locução

adjetiva; não se pode dizer que mãezinha é diminuto de mãe, mas uma forma carinhosa de

chamar pela genitora.

Nunca fiz parto nas residências, todos na maternidade e depois no hospital. Para quem

não sabe, naqueles tempos, a parteira que pegava uma criança, automaticamente, tornava-se

madrinha de parto dela, e crescia a cada dia o número das comadres. Há quem diga que a ação

de colocar um filho no mundo, seja parir, descansar, dar à luz, seja lá o nome que se dê, é uma

ação divina criada pelas mãos do Todo Poderoso. É fantástico o ato natural de um parto, chega

a ser quase sobrenatural.

Lembro-me, como se fosse hoje, quando precisei dar o plantão, sozinha, pois, por

motivos superiores, minha irmã Dora não pôde se fazer presente. Foi o grande dia da minha

história. Por volta das 20:00h, chega às minhas mãos uma parturiente (assim eram chamadas

as mulheres do primeiro parto). Agi naturalmente, com calma, examinei a mulher, percebi que

ela e o bebê estavam bem. Pelo encaixe da criança, fiz uma estimativa de que lá por uma hora

da madrugada aquela viria ao mundo; dito e feito, assim aconteceu. Passei o plantão às claras,

foi uma mulher após a outra. Quando o dia raiou, dos oito bercinhos que a maternidade tinha,

apenas dois ficaram desocupados. Depois dessa experiência, ganhei o título de parteira oficial.

Trabalhei seis anos e onze meses na maternidade, logo após fui transferida para o

Hospital Maria Loureiro Cavalcante, no mandato do prefeito José Gomes de Lima, conhecido

por Zequinha Macaco. Tenho a lembrança de que o nome dado ao hospital foi em homenagem

póstuma à esposa do ex-prefeito Alfredo de Paula Cavalcante. Tive a oportunidade ainda de

fazer um curso na área de saúde, oferecido pelo Estado, no qual fui aprovada, ficando

habilitada em parteira e enfermeira, trabalhando para o Estado e município. Hoje sou

aposentada nas duas categorias.

Do que mais me orgulho dessa profissão é que nenhuma mãe e nenhuma criança recém-

nascida morreram mediante os meus cuidados. Muitas crianças vieram a esse mundo pelas

minhas mãos, não sei dizer quantas, acredito que centenas não, mas milhares, por isso que as

mulheres da minha época me chamam comadre mãezinha pra cá, comadre mãezinha pra lá, e

haja comadres. Antigamente era assim, existiam as comadres de parto, era como se a parteira

tivesse responsabilidade pela criança nascida, que cresciam pedindo a bênção. Era tanto Deus

te abençoe, Deus te faça feliz. Hoje em dia, poucas crianças têm o hábito de rogar a bênção

aos próprios pais, essa prática está em desuso.

Page 473: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

473

Acredito que sou uma mulher bem-aventurada, pois o nosso Criador me deu mãos

abençoadas, mãos que apanham as crianças, mãos que acaricia, mãos que sustenta, que

apalpam, mãos que acodem a quem precisa. Neste instante, vem à minha mente uma canção

que toda criança católica sabe cantar e junta as mãozinhas, dizendo:

Mãezinha do céu,

eu não sei rezar.

Só sei dizer

que quero te amar.

Branco é teu manto,

azul é teu véu.

Mãezinha, eu quero

te ver no céu.

Com certeza essa canção levou muitas crianças ao embalo do sono.

Texto baseado na entrevista com Dona Mãezinha, em 11 de dezembro de 2009.

Page 474: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

474

Sr. Antônio ao lado do filho Severino Rocha.

De alfaiate a comerciante

Para ganhar a vida, é preciso desenvolver algum trabalho. A sobrevivência exige, de cada

um, a luta, o esforço e a dedicação... Há uma canção que diz: Cada um de nós constrói a sua

própria história... E também, é claro, o lugar onde se vive. Dentro de uma sala de aula,

rodeado de mais ou menos sessenta alunos, encontrava-se o nosso convidado que, de forma

natural, descontraída, conta-nos como chegou a essa cidade e em que contribuiu para o

desenvolvimento dela.

Com os ouvidos atentos e os olhos fixos no entrevistado, que antes era conhecido pelos

da sua época como Severino Alfaiate, hoje é conhecido pela nova geração por Severino Rocha

– dono de supermercado. Muitas perguntas lhe foram feitas e, fundamentado nos

depoimentos, você agora é convidado a fazer uma viagem ao túnel do tempo...

Cheguei a Colônia Leopoldina quando já tinha meus 20 anos, lá pelos idos de 1951. Era

um jovem sonhador, corria atrás de um espaço que me desse a oportunidade de crescer.

Graças ao bondoso Pai Celestial, pois o nosso destino devemos a Ele, fui bem acolhido por essa

terra. Quando aqui cheguei, trouxe comigo uma profissão – alfaiate – homem que costura

roupas masculinas. Talvez muitos de vocês nem saibam da existência dessa arte.

Page 475: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

475

Nasci em terras pernambucanas, como muitos que chegaram a esse lugar, imigrantes

das cidades vizinhas, em busca de oportunidades.

Para me tornar o que sou hoje, devo muito aos meus pais. Naquela época, nada era

fácil, se comparado aos dias de hoje. Não posso esquecer o sacrifício que meu pai fez para

poder oferecer aos filhos uma boa educação. Isso me faz lembrar o adágio popular: “Educação

vem de berço”. Concordo plenamente, pois foi no lar que aprendi os princípios éticos, morais e

religiosos. No entanto, para aprender as letras, era necessário frequentar escola, como hoje

ainda é. Só com uma diferença: nos meus tempos de infância, esse privilégio era para poucos.

Escola pública não existia no lugar onde vivi minha primeira fase da vida... Se quisesse estudar,

tinha que ser particular. Isso custava caro. Os poucos professores da época cobravam por aula.

Quando aprendíamos a assinar o nome, ler algumas palavras e calcular as quatro

operações, já éramos considerados mestre do saber. Se quiséssemos ser professor, já

podíamos repassar o conhecimento aos leigos. Caso desejasse seguir carreira estudantil, teria

que mudar-se para a capital pernambucana. É possível notar que esse direito era ara uma

minoria. O jeito que tinha era procurar uma profissão que não exigisse diploma, só a prática.

Mesmo vivendo em um tempo tão atrasado, meu pai tinha consciência de que a maior

herança que se pode deixar para um filho é a EDUCAÇÃO. Portanto, não mediu esforços e, com

muito sacrifício, pagou aulas particulares para mim. Consegui fazer até a terceira série

primária. Segundo meu pai, a herança do conhecimento é individual e intransferível, ladrão

nenhum pode roubar o bem mais precioso que adquirimos. Essas recordações mexem com

minhas emoções, o coração bate mais rápido e fazem meus olhos transbordarem em lágrimas.

Chegando a maior idade com o desejo ardente de conquistar a independência, como um

pássaro que está pronto para alçar voo, foi então que, em busca da sobrevivência, procurei

aprender a arte da costura. Tive um mestre que me passou as orientações de corte e costura,

eu levava muito jeito para a obra, logo recebi carta branca para exercer a profissão.

Caí de paraquedas em Colônia. Para chegar a esse lugar não foi fácil, naquela época, as

estradas eram precárias – rodeadas de matas, passagens estreitas. Os transportes eram

cavalos, burros de carga e os carros de boi – uma carroça de madeira puxada por bois.

Transporte motorizado, lembro-me de que só existiam dois jeeps na região – automóvel com

tração nas quatro rodas, pois, quando chovia, era um deus nos acuda, a lama dava no joelho.

Também existiam uns três caminhões que transportavam a cana-de-açúcar para as duas

indústrias vizinhas.

Como toda cidadezinha do interior, nos tempos mais antigos, a zona rural era mais

habitada que a urbana, ao contrário de hoje. As cidades cresceram, e os engenhos, sítios e

fazendas estão quase em total abandono.

Page 476: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

476

Essa conversa toda sobre o passado me faz lembrar que o progresso chegou não só aqui,

mas em todo o país, na época em que Juscelinio Kubitschek foi presidente da República, no

seu governo, recordo-me perfeitamente, foram construídas as rodovias asfaltadas. A partir daí,

o acesso à capital alagoano ficou mais fácil. Outro avanço marcante foi o fornecimento de

energia elétrica, gerada pelas hidrelétricas.

Antes de a energia elétrica chegar pelas bandas de cá, luz só durante o dia ou nas noites

de lua cheia. Outra opção era o candeeiro a querosene. Poucas casas da cidade recebiam uma

energia que era gerada por um motor a óleo diesel. Funcionava das 18:00 às 12:00h.

Por falta de energia elétrica, as primeiras televisões, com imagem em preto e branco,

funcionavam à bateria, os rádios à pilha. O telefone chegou aqui depois de muito tempo,

usávamos muito o serviço dos Correios. Dá para imaginar que as informações não chegavam

tão rápidas. Hoje, com o avanço da tecnologia, é possível uma comunicação instantânea. Tudo

o que se quer saber sobre o mundo está ao nosso alcance em questão de segundos. O celular e

a internet facilitam a comunicação entre as pessoas, com uma ressalva, as pessoas estão

perdendo o contato pessoal, o corre-corre do mundo moderno está tornando as pessoas mais

distantes umas das outras. O contato é superficial, virtual. Ninguém mais visita o outro para

uma prosa. O diálogo está acabando até entre as famílias. Os bate-papos de hoje são virtuais –

pela tela e teclado de um computador – via internet.

Voltando ao que interessa, você deve estar querendo saber se costurei para pessoas

importantes desse lugar. Sim! Lembro-me das camisas, calças e paletós que minhas mãos

cortaram e costuraram para os prefeitos Alfredo de Paula Cavalcante e Antônio Lins da Rocha

(meu primo). Também costurei para pessoas simples. Ganhava mais um dinheirinho nas

quatro festas do ano: Ano Novo, Natal, Festa do Padroeiro – São Sebastião – comemorado

sempre no último domingo do mês de janeiro, e a festa da Padroeira – Nossa Senhora do

Carmo – comemorada no dia 16 de julho, mesma data em que se comemora a Emancipação

Política de Colônia Leopoldina. As festividades faziam com que meu trabalho aumentasse. Para

dar conta das encomendas era preciso fazer serão (hora extra).

Com o passar dos anos, além de costurar, entrei n o ramo do comércio – uni o útil ao

agradável. Abri uma loja de tecidos. Por falar nisso, entre as décadas de 60 e 70, o comércio de

Colônia era formado por algumas mercearias, duas farmácias e umas seis lojas de tecido.

Naqueles tempos, não só a minha profissão, mas em muitas outras, o trabalho manual era

bastante explorado e valorizado. Até então, a indústria de confecção de roupas ainda não

havia sido desenvolvida. Porém, o progresso chegou... E a procura pelos serviços do alfaiate foi

desaparecendo aos poucos...

Page 477: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

477

Continuei no comércio, mas decidi mudar de ramo de tecido para gêneros alimentícios.

Quem hoje não conhece o supermercado, registrado de Comercial Rocha? O maior e mais

sortido da cidade.

Muitas coisas mudaram nesse lugar, desde o dia em que cheguei às suas terras. Assisti

ao seu crescimento e desenvolvimento, continuo ativo no meu trabalho. Estou casado há 50

anos, tenho três filhos e três netos. Participei da vida política de Colônia – vereador eleito na

década de 80 por um mandato de quatro anos.

Posso dizer que sou um homem realizado... E que essa viagem ao passado me fez reviver

os tempos que marcaram a minha vida e a do lugar que escolhi como palco de parto da minha

história.

Se cada um de nós parasse no tempo e fizéssemos uma retrospectiva de fatos do

passado, chegaríamos à conclusão de que nada do que foi será de novo do jeito que já foi um

dia. Tudo passa, tudo sempre passará... E só restarão as lembranças para contar a história que

formamos.

Texto baseado na entrevista em sala de aula com o Sr. Severino Rocha, ex-alfaiate, ex-vereador

e atual comerciante de Colônia Leopoldina – Alagoas.

Page 478: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

478

Eulina Costa

De Antônia para Eulina

O mundo dá muitas voltas... E, nesse movimento, pessoas se encontram e formam

histórias impressionantes. Com um dedo de prosa, ouvimos fatos interessantes que envolve a

vida de nossa convidada Eulina Costa – uma senhora de pequena estatura, magrinha, rosto

afilado, pele clara e os cabelos curtos – mais alvos que a neve, beirando seus 70 anos de idade.

Para contar minha história, preciso resgatar minha origem, como tudo começou... Quem

nunca perguntou: “Quem eu sou?”, “De onde vim?”, “Para onde vou?”. Tais questionamentos

nos ajudam a compreender a nossa existência. Vamos ao que interessa: sou filha do casal

Manoel Lino e Maria da Glória. Ambos se conheceram viúvos. Eram ainda jovens. Meu pai

tinha três filhos; minha mãe, quatro. O destino uniu esse casal e, dessa nova união, nasceram

sete filhos – inclusive eu! Deu para entender os laços das famílias? Tornamo-nos a família três

em uma. Ao todo, quatorze herdeiros, criados todos juntos.

Porém, o mais interessante desse enredo é que um filho do meu pai com uma filha da

minha mãe se apaixonaram, namoraram e se casaram. Meus pais não ficaram nem um pouco

satisfeitos com o acontecido, pois tinham sido criados como irmãos, mesmo possuindo o

sangue de outra raiz familiar. Eles ficaram com medo que o mesmo pudesse acontecer com

outros dois irmãos.

A vida tem muitos casos engraçados. O destino é um mistério... Tenho uma ligeira

impressão de que cada um nasce com a sina traçada. Algumas coisas a gente pode até mudar,

Page 479: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

479

outras não. Como foi o caso do meu nome. Não se explicar o porquê, mas nunca aceitei o

nome de batismo que me deram. Particularmente, não tenho nada contra as Antônias desse

mundo afora.

Naqueles tempos, os pais batizavam os filhos e a Igreja Católica emitia o primeiro

documento de identidade cristã: o batistério. Já ouviu falar? Pois é, esse bendito documento

desceu em uma enchente que atingiu nossa casa. Essa foi a gota d’água para que,

posteriormente, o nome de Antônia não fosse registrado em minha certidão de nascimento.

Você deve estar morrendo de curiosidade para saber como foi escolhido o nome que

tenho hoje. Minha mãe tinha uma amiga que se chamava Eulina, eu achava esse nome bonito,

então pedi para ser chamada por ele; como ainda era criança, não foi difícil trocar de

identidade. Todos se acostumaram a me chamar pelo novo nome.

Engraçado! Acabo de fazer uma descoberta incrível! Após relatar essas memórias,

percebo que o sobrenome do meu pai – Lino – está ligado ao meu nome. Se levado para o

feminino e suceder ao Eu, vai dar EULINA. Não é o máximo? Simplesmente, porque eu sempre

fui apaixonada pelo meu pai, homem de quem tive muito orgulho e tenho dele saudades...

Nos idos de 1952, quando cheguei ao lugar que até hoje vivo, lembro que minha cidade

era rodeada de matas, existiam apenas duas ruas principais – uma reta que ia de uma ponta a

outra. Basicamente, no meio, estava situado o pequeno e precário comércio da região

leopoldinense. Nessa mesma rua, estava construído um dos prédios mais importantes do

município – a prefeitura , cuja arquitetura colonial é mantida até os dias de hoje.

Bem no centro da principal praça – D. Pedro II , estava o primeiro monumento histórico

da cidade, de encher os olhos de qualquer um, prédio grandioso, esplêndido, lugar de

reverência, apropriado para reunir os moradores de todas as classes sociais para celebrarem a

Deus. O nome dado ao templo foi escolhido em homenagem à padroeira – Nossa Senhora do

Carmo , cuja festa é comemorada tradicionalmente todo 16 de julho, com celebrações de

missas, procissão pelas ruas, carregando andores enfeitados e outros festejos sociais para

alegrar o povo da comunidade.

Antes de morar definitivamente na cidade, morei nos seus arredores; primeiro no

Engenho Canto Escuro, por dois anos; lá cheguei a frequentar a escola. Já era adolescente

nessa época, apenas cursei até a segunda série primária, fui obrigada a abandonar os estudos

cedo, pois precisava ajudar minha mãe nos afazeres domésticos e ajudar a criar meus irmãos

caçulas.

Em seguida, mudamos para uma indústria de cana-de-açúcar – Usina Taquara. Naquela

época, ela estava começando a produzir o açúcar em maior escala. Tornei-me funcionária da

cooperativa – uma espécie de loja de variedades que atendia os consumidores locais e da

Page 480: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

480

vizinhança rural. Vendia-se de tudo o que se pode imaginar: gêneros alimentícios, tecidos,

utensílios de cozinha, aviamentos, lonas, cordas, candeeiros... Despachei muitas mercadorias

ali.

Nos idos de 1955, eu já tinha os meus 17 anos de idade, eu mesma compareci ao

cartório de Registro Civil e me registrei. Além de trocar o meu nome de batismo, resolvi

acrescentar um ano na minha idade. Quis aproveitar a oportunidade para tirar os outros

documentos, inclusive o título eleitoral. Adulterar a data do nascimento era a coisa mais fácil

naquela época, os partos eram feitos pelas parteiras nas residências, não existia um controle

de informações como nos dias de hoje. Inclusive, muita gente pobre daqueles tempos nunca

teve direito a um documento de identidade, morreu sem deixar registro, jamais foi contado

como cidadão brasileiro. Bem diferente dos dias atuais: uma criança, ao deixar o hospital, leva

com seus responsáveis todas as informações por escrito, cabendo aos pais procurarem um

cartório para efetuar o registro que, segundo a Lei atual, é um documento gratuito, para que

todos, sem exceção, tenham acesso. Até a algumas décadas, esse documento era cobrado, e

muitos, por não terem condições, se tornaram anônimos.

Para falar a verdade, não tenho saudade da minha infância, muito menos da mocidade,

tive uma vida dura, marcada pelo trabalho e por pouca diversão. A palavra lazer não fazia

parte do meu vocabulário. Festa era uma vez ao ano; na época que frequentei um baile, não

existia clube na cidade. O evento acontecia no prédio da prefeitura que servia de palco para o

encontro dos mais moços, para ouvirem e dançarem uma boa música. Aquele momento era

tão esperado, sonhado... Quando ele se tornava real, esquecíamos o tempo... Num piscar de

olhos, meu pai apontava sua cabeça na janela do prédio, anunciando que já estava na hora de

voltar à realidade.

Fui uma moça bastante curiosa: aprendi a costurar, bordar, engomar e cozinhar...

Modéstia à parte, era uma jovem prendada. Minha mãe era muito exigente, gostava das

roupas bem lavadas e engomadas, enfim, impecáveis. Naquela época, isso era um serviço que

requeria muita força. Você já deve ter escutado falar dos ferros de engomar... Literalmente de

ferro, esquentado à brasa de carvão, superpesado. Hoje tudo é mais prático – ferro elétrico,

leve; goma para roupas, quase ninguém mais usa; existem uns produtos modernos, cheirosos,

que usamos para barrufar o tecido que deixa a roupa um cheirinho bem gostoso.

Não precisei fazer nada de corte e costura, aprendi a arte descosturando roupas, e suas

partes serviam de moldes que, após cortados, eram costurados. No começo, só reproduzia por

uma roupa já existente, depois fui me aprimorando ao ponto de tornar-me uma costureira

profissional.

Page 481: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

481

Não fui moça namoradeira, casei com o segundo namorado. Nos meus tempos, o

namoro era muito diferente da atualidade. Não existia esse agarra-agarra. Beijo na boca só

depois de casado. O namoro era de porta – nada de namoro escondido, tudo era levado a

sério. Conversávamos na presença dos pais ou dos irmãos. O simples toque nas mãos já

simbolizava muita intimidade; beijo na mão ou na face, tudo muito discreto. No meu tempo de

moça, não existia a história do “ficar”, como a gente vê hoje em dia. As moças se davam mais

valor, os rapazes sabiam respeitar as moças de família, recatadas e, acima de tudo, prendadas.

Os tempos modernos, sem dúvida, têm suas vantagens, mas, em contrapartida, suas

desvantagens. Os tempos evoluíram, muitas coisas surgiram para facilitar a nossa vida: os

meios de comunicação, de transporte, a educação... Mas prejuízos são visíveis no

comportamento das pessoas. Os valores se perderam. É muito difícil encontrar pessoas

honestas, solidárias, respeitadoras. Com o crescimento da população, cresceu também a

violência, os presídios, a pobreza e a fome... Isso tem atingido até as pequenas cidades como a

nossa. Antes ninguém ouvia falar em maconha. As drogas têm matado muitos jovens. A

prostituição já existia, mas hoje se multiplicou, sem contar com os divórcios... Será que daqui a

uns dias a família vai deixar de existir?

Essa situação me causa pânico. Lembrando bem, tenho saudade dos tempos que se vivia

mais em paz, sem a palavra stress, e com menos violência. A vida era mais simples e mais

tranquila. Pensando bem, foi muito bom recordar e perceber que os tempos antigos me

proporcionaram viver uma vida mais intensa.

Hoje, tento levar uma vida ativa, apesar dos problemas de saúde, a osteoporose, doença

que enfraquece os ossos, acompanhada de dores fortes. Com os meus 70 anos, tenho sido

renovada no espírito; logo, a disposição de viver me mantém de pé.

Essa senhora tem uma história engraçada, a troca de nome, que retrata bem as

condições civis de muitos cidadãos do seu tempo: a falta de direito da certidão de nascimento.

A lição deixada para nós é que devemos cultivar os verdadeiros valores da vida, que são os

mesmos, independentemente da época em que vivemos.

Page 482: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

482

Eulina Costa (primeira à direita) e seus irmãos.

Elita Bezerra.

De aluna para professora

Page 483: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

483

Não há nada melhor do que conversar com pessoas mais velhas, elas tem uma visão do

passado que nos ajuda a entender o presente. Vamos ler a história de mais uma mulher

leopoldinense.

Sou da década de 30, nasci exatamente no dia 19 de março de 1931, no Sítio Capim de

Planta, que fica nos arredores da minha querida Colônia Leopoldina. Recebi o nome de Maria

Elita Bezerra da Silva, mas todos me chamam de Dona Lita. Quando meus pais resolveram

habitar na cidade, eu já tinha 12 anos; vim morar bem no centro da pequena Leopoldina.

Minha casa fica, até hoje, na Praça Dom Pedro II. NO meio da praça está o grandioso e mais

belo templo alagoano da Igreja Católica. Por sinal, sou uma católica do pé roxo, pois, desde

que me entendo por gente, frequento regularmente missas, terços, novenas e as procissões de

São Sebastião o padroeiro da cidade – e de Nossa Senhora do Carmo – a padroeira.

Sou privilegiada, pois, na praça onde resido, do meu lado direito, existe a casa do padre

e, vizinha a ela, a casa das freiras – filhas do Sagrado Coração de Jesus. Atravessando a rua,

bem na esquina, fica o Banco do Brasil, onde, outrora, era um centro paroquial.

Existem algumas casas, a padaria Olinda, que fica na outra esquina junto à prefeitura.

Esta, cujo prédio é belíssimo, possui arquitetura em estilo colonial. Vizinha à prefeitura, situa-

se a Câmara de Vereadores, bem em frente aos famosos e históricos pés de castanhola –

árvores centenárias plantadas pelo próprio D. Pedro II. Contam os mais antigos que foi em

homenagem à princesa Leopoldina, filha do Imperador, que a cidade, anteriormente

denominada Colônia Militar, passou a ser chamada Colônia de Leopoldina. Hoje em dia, não

usamos mais a preposição de posse. Minha casa fica por trás da igreja. Na frente do templo, há

complemento da praça, um prédio público bem antigo, chamado Castelo Branco. Além dos

prédios públicos, existem também farmácias, lanchonetes, quiosques. Se você nunca veio à

minha cidade, basta fechar os olhos e, pela descrição que fiz, ver a igreja no centro da praça.

Quero falar sobre minha história, iniciando pelos meus estudos. Já tinha meus 12 anos

quando comecei a frequentar a escola. Lembro-me de que estudei no antigo prédio da

paróquia, onde hoje é o Banco do Brasil. Já existia, nessa época, a Escola Estadual Aristheu de

Andrade e não sei se foi por falta de vagas que eu não estudei lá, mas tenho uma ligeira

impressão de que foi pelo fato de ser pobre. Estudei em escola inferior, com pouca estrutura

física. A escola na qual estudei era simples, um salão dividido em duas salas, administradas

pela igreja católica. Recordo-me que um padre era o diretor.

Minha única professora foi Regina de Assis Figueiredo, de pequena estatura, pele alva,

cabelos loiros. Pessoa muito meiga, ela tinha o dom de ensinar; todos que com ela estudavam,

aprendiam. Era professora vocacionada, tive a sorte de estudar até a terceira série do

primário. Tudo quanto aprendi, agradeço, em primeiro lugar, a Deus; segundo, a ela. Minha

Page 484: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

484

querida mestra precisou mudar de cidade, até aí tudo bem. Quase caí dura no chão quando ela

me procurou para me informar que eu seria a sua sucessora. Nessa época, eu já estava com 19

anos, e tornei-me uma professora leiga, porém, por ter sido uma boa aluna, que chegava cedo

à escola, varria e arrumava as bancas, sem esquecer que já ensinava aos principiantes aquilo

que já havia aprendido. Meus requisitos foram observados e fui escolhida para repassar o

conhecimento a outras gerações.

Recordo-me, no momento, que a metodologia aplicada, naquela época, não tinha nada

a ver com a nova LDB. Com as conquistas dos direitos humanos, chegaram à conclusão de que

a punição não combina com a educação. Hoje, ai do professor ou professora que agredir o

aluno: com certeza, perderá seu emprego. Dos meus tempos para cá, as coisas mudaram

muito. Recebi e dei uma didática metodológica diferente da de hoje, era a forma de ensinar e

aprender daqueles tempos. Todos tinham em mãos sua cartilha do ABC e sua tabuada.

Lembro-me de que existia uma prática de punição para quem errasse. A tarefa era cobrada por

dupla, aquele que não acertasse recebia o bolo pesado da palmatória feita de madeira forte –

sucupira ou pau-amarelo. Existia também uma régua de 50 cm para os alunos inquietos.

Aquele que quebrasse as regras ou saísse da linha, as reguadas nas pernas era por certo. Isso

era normal pra época.

Quem pensa que estudar na década de 40 e 50 era fácil está muito enganado, os

estudos eram puxados, não era moleza não. A Matemática de hoje era chamada Aritmética

(tabuada na ponta da língua, as quatro operações); a Língua Portuguesa se denominava

Gramática (tinha que saber escrever palavras respeitando a ortografia, dominar as 10 classes

gramaticais, sintaxe de concordância verbal e nominal e, acima de tudo, ler bem). A Geografia

envolvia Ciências e a famosa História do Brasil, que era mentirosa que só vendo. Tudo era na

base da decoreba, aluno não tinha vez nem voz, a não ser para responder apenas o que o

professor perguntasse.

Não para me orgulhar, mas fui uma aluna que sofri pouca punição, nem precisei apanhar

tanto e muito menos bater em meus colegas. Quanto a isso, não tenho traumas. Comi meus 19

anos, assumi a sala de aula e ensinei até a segunda série. Quando comecei a trabalhar,

oficialmente, a prefeitura me pagava uma subvenção – um valor pequeno, ou melhor,

simbólico, pelo serviço prestado à comunidade.

Mudando de assunto, casei-me com Valdemar Figueiredo, com quem tive uma dúzia de

filhos. Sou viúva, tenho netos e bisnetos, me considero bem-aventurada. Já completei meus 78

anos, sou saudável, conservadora, guardo as lembranças escritas no papel e na memória,

tenho ainda uma caderneta da época narrada. Considero que o meu maior erro foi não ter

dado continuação aos meus estudos. Só pensei em criar filhos e repassar o conhecimento

Page 485: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

485

adquirido. Mas a vida me ensinou muitas coisas, não existe escola melhor do que a própria

vida. Hoje, sou aposentada pela prefeitura e recebo um salário mínimo que nem eu. Eis a

minha descrição: sou uma mulher minúscula, baixinha e magrinha, sobretudo tenho uma

grande fé em Deus que me dá força para continuar vivendo...”

Texto baseado em uma conversa informal com a Sra. Elita Bezerra.

Page 486: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

486

Ex-vereador Dr. Ernane Santana.

De coração aberto

Pelo título, muitos leopoldinenses já sabem de quem se trata, porque esse foi meu lema

nas minhas campanhas de candidatura a vereador. Sou Ernane Santana Lemos, nasci em 28 de

agosto de 1944, em Colônia Leopoldina, filho de Adalgiso Borges Santos e Maria de Lourdes

Santana Santos. Meus avós foram pessoas influentes no município, donos de muitas terras,

naquela época.

Cresci num ambiente próspero, estudei bastante, sempre apreciei as letras, até hoje

gosto de recitar poemas, contar histórias e também escrevê-las. Sem querer ser convencido,

tenho uma boa oratória, gosto muito de falar em público e compartilhar o meu conhecimento.

Sinto uma satisfação enorme.

Tive o privilégio de estudar na capital alagoana, consegui fazer uma faculdade em

Medicina, especialista em psiquiatria. Tornei-me um profissional da mente humana, campo

complexo de entendimento. Fui professor da UFAL, alguns dos meus alunos, hoje, exercem a

profissão, toraram-se colegas de trabalho. Casei-me com Eutália Guerra, com quem tive quatro

filhos.

Que coisa maravilhosa, um filho doutor (médico)! Citado no hino municipal, para mim,

chega a ser uma honra. Mesmo morando fora, nunca me desliguei da terra mãe, a nossa

Page 487: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

487

ligação era tão forte que entrei logo cedo para a política. Fui eleito vereador por cinco

mandatos consecutivos, tornei-me presidente da Câmara de Vereadores por quatro vezes.

Prestei e ainda presto meus serviços no atendimento à saúde da população

leopoldinense. Sempre estive ao lado do povo, e não é à toa que o meu lema foi “de coração

aberto”. É do coração que vem o sentimento mais precioso – o amor pela vida das pessoas,

abeto, porque estive sempre à disposição. Lembro-me de que, muitas vezes, cansado, não

deixava de atender aos que iam à minha procura, afinal de contas, foi para isso que fui

formado.

Falando em coração, órgão essencial à vida, fonte das emoções, de onde brota a

intensidade do amor, sentimento sublime, dado por Deus para servir ao próximo, não posso

deixar de registrar: aí esse meu coração, ora tão forte, ora tão frágil. Não me lembro das vezes

que fui parar nas salas de UTI, entre a vida e a morte. Um infarto aqui, outro ali, mas sou um

homem emocionalmente equilibrado, não me deixei abalar pelos problemas cardíacos dos

quais fui acometido. Hoje tenho implantado, no meu peito, um desfibrilador cardíaco – uma

espécie de marca-passo para quem sofre de arritmia cardíaca. Este já é o terceiro implantado.

A saúde é frágil, em compensação, a força de vontade de viver supera as deficiências

orgânicas que o meu organismo expõe. Apesar das dificuldades, sou um homem realizado,

ativo no meu trabalho, respeitado pelos cidadãos. Ainda cheio de projetos, penso em escrever

um livro de causos. Há pouco, publiquei o livro que tem como título As ruas da nossa cidade,

obra muito rica para a história da formação de nosso município, que irá favorecer os leitores

leopoldinenses.

Tenho um profundo orgulho de pertencer a Colônia Leopoldina. Lembro-me, como hoje,

das vezes que vinha passar férias por aqui, das brincadeiras, dos amigos e namoradas, tudo era

muito diferente dos dias de hoje. Existia um respeito enorme pelos pais e pelos mais velhos.

Havia uma inocência muito grande nas brincadeiras e nos namoros.

Há um provérbio popular que diz: de médico e de louco, todo mundo tem um pouco. E

por que não acrescentar: de poeta também. Recordo-me que sempre gostei de rascunhar

textos poéticos, de expressar sentimentos que mexem com a alma; também gostava e gosto

de ler muitos poemas da literatura clássica. Tenho o privilégio de uma boa memória e, quando

tenho oportunidade de recitá-los, faço com o coração e deixo muita gente emocionada.

Além de medico, sou louco, sou poeta, contador de histórias, um homem com

inteligência multifuncional; uma loucura sana, que todo mundo deveria experimentar. Desejo

encerrar meu texto, pois não pretendo buscar das palavras, mas gostaria de usá-las com o

coração carregado de paixão pela escrita e dizer que através dela podemos melhorar a nossa

Page 488: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

488

comunicação, partindo do hábito de ler e escrever, mas, acima de tudo, escrever com o

coração aberto, só assim as emoções fluem naturalmente.

Sou um eterno apaixonado: pela minha vida, pela minha família, pela minha cidade, pela

minha profissão, pelos cargos de vereador, pelas pessoas... Termino citando a frase: Tenho

orgulho de ser leopoldinense.

Texto baseado em conversa informal com o Dr. Ernane.

Page 489: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

489

Dona Gerinha com seu esposo, Zé Brasilino e seu filho, Ricardo Brasilino.

“Gera Ação!”

De geração em geração, eu observo as mudanças que ocorreram na minha vida, na

minha cidade natal e na vida do seu povo. Quero me apresentar de maneira simples: sou filha

natural de Colônia Leopoldina, filha única do casal Odilon Pereira e Joselinda Oliveira, nasci no

dia 11 de outubro de 1935, fiz parte do desenvolvimento do lugar que amo e vivo até hoje, já

completei meus 74 anos. Encontro-me com a saúde defasada, mas, graças a Deus, a minha

memória está novinha em folha. Lembro-me mais do passado do que do tempo mais recente;

é só puxar pelas recordações que ela funciona como uma fita cassete rebobinada em busca

dos sons e das imagens do passado. Esse ato é tão bom e relaxante que chego a sentir o aroma

das flores e as fragrâncias dos sabonetes e perfumes daquela época.

De acordo com as minhas lembranças, fui uma criança muito recatada, ingênua e com

alguns mimos. Meus pais deram-me o nome de Maria Garaldina e, de forma carinhosa,

começaram a me chamar de Gerinha. Estudei em escola particular da primeira à segunda série,

somente depois fui para o Grupo Escolar Atistheu de Andrade, assim era chamada a escola

estadual. Minhas primeiras experiências com as letras aconteceram com aulas pagas por meus

pais, não sei como funcionava a legalização desse ensino, só sei dizer que ocorriam em

residências.

No momento, penso num jogo de palavras. Como é bom brincar com elas! E, quando se

busca sentido para elas, sempre se acha. Meu apelido, por exemplo: Gerinha vem de gera;

Page 490: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

490

gera é do verbo gerar, que numa frase pode estar conjugado na terceira pessoa do singular, no

tempo presente. Gerinha gera o conhecimento. Na primeira pessoa do presente, eu afirmo:

“Eu gero o saber”. Concluímos com isso que o sentido das palavras somos nós quem as damos

e explicamos. Portanto, gerar é o mesmo que fazer, produzir, e eu me pergunto: o que tudo

isso tem a ver com a minha história? Estamos chegando lá, tudo está interligado à minha

profissão, da qual me orgulho. Já estou aposentada, no entanto, se é de uma coisa que eu

sinto saudade, é da minha sala de aula. Fui professora alfabetizadora. Ensinei a várias gerações

o conhecimento do mundo das letras e o descobrimento da leitura.

Com relação ao avanço científico, tecnológico, industrial de décadas, percebo que a

geração atual sabe menos que antigamente. Antes não existiam tantos meios de

comunica~/ao e livros como hoje em dia; em contrapartida, os poucos recursos que tínhamos

para ensinar o básico era suficiente para tornar um cidadão apto para se virar e sobreviver

com o conhecimento limitado adquirido.

Nos dias atuais, os métodos da avaliação de ensino-aprendizagem são outros, porém o

índice de analfabetismo é gritante. Os alunos de hoje, das escolas públicas, terminam o quinto

ano do Ensino Fundamental, na maioria deles, sem nem sequer saber ler. Antigamente a

escrita e a leitura eram mais valorizadas, a maioria dos contatos se davam por bilhetes, cartas,

telegramas, diários; hoje em dia, com o advento dos telefones celulares e internet, o contato

das pessoas ficaram mais superficiais, muita coisa se resolve por telefone, as amizades são por

intermédio do facebook e dos e-mails. Os tempos mudaram e, com eles, os comportamentos

das pessoas também. É preferido pelas pessoas ouvirem uma música a ler um bom livro.

Na época em que fui alfabetizada, com a cartilha do ABC, recebi muitos castigos por não

dar a lição na ponta da língua. Quem naquela época não provou dos amargos bolos de

palmatória? Coitado daqueles que sofreram as dores e nunca aprenderam! Essa dor, com

certeza, deve ser sentida em dobro. A dor da decepção. Mesmo eu tendo recebido esse

método de ensino, jamais fui revoltada, me profissionalizei só concluindo até a quarta série,

era uma professora leiga, todavia muito esforçada e, acima de tudo, vocacionada. Fazia o meu

trabalho com muito amor e dedicação, nunca gostei de bater em meus alunos, nem castigá-

los; tratava todos por igual, do rico ao pobre. Graças a Deus que, naquela época, as crianças

tinham mais respeito e consideração pelos professores, coisa rara nos dias de hoje.

Conseguia, com a minha metodologia de ensino, passar os alunos para série seguinte

lendo e escrevendo bem. Cerca de 90% da turma era aprovada e bem aprovada, diga-se de

passagem. Por esse motivo, era uma professora da rede municipal, da Escola Joaquim Luiz da

Silva, muito solicitada pelas mães para que ensinasse aos seus filhos. Esse trabalho de

Page 491: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

491

alfabetização que eu fazia na época é, atualmente, chamado de segundo ano, que há pouco

tempo era a primeira série de ensino fundamental.

Com o passar dos anos, resolvi estudar mais e me tornar uma professora habilitada.

Cursei admissão,1 fiz magistério, agora sim: além da prática, tinha o diploma. Já ia esquecendo

de dizer que fui casada com o popular Zé Brasilino, vereador por cinco mandatos, contando dá

24 anos de representação pública do povo leopoldinense. Com ele, formei minha família, e

juntos tivemos cinco filhos que são verdadeiros presentes preciosos que Deus nos deu; sou a

mãe do vereador Ricardo Brasilino, que herdou a paixão pela política. Já se encontra no

terceiro mandato.

Consegui, por meio das amizades políticas, um emprego de serviços gerais –

merendeira, zeladora – na escola estadual, mas logo fui removida de função. O que é que um

diploma não faz? Com o desvio de função, passei a trabalhar na parte burocrática da escola

numa sala que recebeu o nome de “biblioteca”.

Definem-me, em homenagem ao meu trabalho, de alfabetizadora especial, justamente

pelo desempenho, ano após ano. Sinto-me honrado pelo reconhecimento, chega a dar uma

pontinha de orgulho e vaidade. Quem não gosta de receber um elogio? Aproveito o momento

e agradeço a Deus pelo dom da vida, o dom de ser mãe, o dom de ensinar e, acima de tudo, o

dom de amar as pessoas, principalmente, aquelas que estão mais próximas a mim.

Confesso que não sinto solidão. Mesmo a vida de hoje sendo tão corrida, as pessoas já

nem param para conversar umas com as outras, todos os dias sou visitada pelos meus filhos,

que cuidam de mim com muito amor. Quanto aos leitores do meu texto, deixo um recado às

futuras gerações: “Que busquem o amor ao conhecimento que está na filosofia, que está

dentro de cada ser, seja na razão ou na emoção”. O que importa é cantar a vida, como canta

Roberto Carlos:

Quem espera que a vida,

seja feita de ilusão,

pode até ficar maluco,

ou morrer na solidão.

É preciso ter cuidado

pra mais tarde não sofrer.

1 Para os que não conhecem o sentido do (antigo) “admissão”, explico: o exame de admissão, que

funcionou no Brasil de 1937 até 1969, era uma espécie de vestibular entre o curso primário

(fundamental 1) e o ginasial (fundamental 2), ou seja, após completar o quarto ano primário, o aluno

faria um teste para poder passar para o ginasial; caso não fosse aprovado, teria que fazer o curso de

“Admissão ao ginásio” durante um ano.

Page 492: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

492

É preciso saber viver.

Esta é a última lição da professora Geraldina.

Texto baseado na entrevista com a sra. Maria Geraldina, 74 anos.

Construção da Vila Mandacaru.

Mandacaru:

símbolo de resistência

É normal que todo lugar cresça com o passar dos anos. Não foi diferente com a minha

cidade. Muitas pessoas, pela necessidade básica de moradia, lutaram para conquistar um

espaço no qual pudesse construir sua habitação. Com base na história contada pelo

entrevistado – participante desse movimento , conheceremos como se deram os fatos.

Sou filho natural de Colônia Leopoldina, não estou aqui para contar a minha história,

mas a minha participação ativa na conquista de terras para um povo que tinha necessidade de

um teto. Entre tantas famílias, eu também estava lá, pronto para tomar posse daquilo que por

direito é do povo.

O lugar, eu me lembro muito bem, era tomado pelo verde exuberante de um matagal

cheirando a capim. Alguns animais, criados pela população vizinha, eram soltos em seus pastos

abundantes para se alimentarem. Uma terra desabitada, com tanta gente desabrigada. Isso

Page 493: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

493

não poderia continuar assim. Nosso desejo era plantar nessas terras coisas que não se comem,

mas que servem de abrigo. Dar para entender o que quero dizer?

Num tempo não muito distante, exatamente no dia 20 de agosto de 1991, lembro-me

como hoje, pois datas marcantes ficam bem registradas na memória. Eu, juntamente com os

parceiros de luta, tomamos posse das terras desocupadas do município, que mais tarde foram

nomeadas Vila Mandacaru. Tal acontecimento não se deu de uma hora para outra: tudo foi

pensado, planejado e organizado como manda a lei. No total, reunimos mais ou menos 100

famílias que, unidas, lutaram pelo mesmo ideal.

Tendo em vista o crescimento populacional da cidade e a chegada de mais famílias da

zona rural para a urbana, muitas em busca de melhores condições de vida, a situação se

complicou, pois as pessoas não tinham como pagar aluguel de casa, outros moradores tinham

as suas moradias em locais impróprios, às margens do rio que banha a cidade, vítimas de

enchentes nos rudes invernos. Tais motivos nos fizeram entender que não era justo viver nessa

situação, havendo, bem à nossa frente, um espaço ideal para a construção de um conjunto

habitacional. Estudamos o local e tivemos a certeza de que aquele lugar seria nosso lar. O

ambiente tinha uma fonte de água abençoada por Deus e, junto à fonte, uma planta comum

na vegetação sertaneja – o mandacaru – que nos inspirou a nomear o local, pelo fato de esse

símbolo representar a força e a resistência de um povo sofrido. Em nosso contexto, era a

busca pela realização do sonho da casa própria.

Não pense que foi fácil consolidar a nossa conquista. Tivemos muitos entraves políticos,

fomos perseguidos, até ameaçados de morte, sofremos pressão psicológica, porém nada disso

nos fez recuar. Acreditamos que nosso maior erro foi ter pensado que as terras pertenciam ao

município. Tarde demais. Quando ficamos sabendo que aquele terreno havia sido vendido pelo

prefeito da época – José Luís Lessa – ao Estado para a construção de uma COHAB (Companhia

de Habitação de Alagoas), nosso movimento não arredou os pés do local.

Tínhamos um sonho em comum. E sonho que se sonha no coletivo torna-se realidade.

As primeiras casas, ou melhor, barracos cobertos por lonas, foram erguidos, em um número

aproximado de cem. Convictos dos nossos ideais, fundamos uma associação de moradores

para justificarmos nossas necessidades. Contamos com o apoio do Pe. Aldo Giazzon – um

padre de origem italiana, pároco da nossa cidade – que defendia com unhas e dentes as causas

sociais. Não muito diferente dos tempos mais antigos, todo aquele que se envolve com causas

que buscam o bem do povo incomoda os que se acham donos do mundo.

Esse padre não agradou muito àqueles que estavam no poder, principalmente, os que

não querem o bem do pobre. É bom deixar claro que a nossa associação funcionou com alguns

projetos em prol da sua população, recebendo ajuda financeira de um professor e músico

Page 494: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

494

canadense, Thomás Afonse, por influência da cidadã Maria José Viana, na época, líder do

Movimento sem Teto.

Após alguns anos de luta, eu que pensei que não sobreviveria a um problema de saúde

renal, estou aqui para contar vitória. Há 25 anos, vivo com um rim doado pelo meu pai. Deus

me concedeu força, saúde, perseverança, paciência para, junto com outros companheiros de

luta, conquistarmos nossos direitos. Em breve estaremos completando 18 anos de fundação.

Com muito orgulho, sou um dos poucos que lutaram e ainda tenho moradia fixa neste lugar.

Dou graças a Deus, porque ninguém precisou morrer para fazer valer esse direito,

apesar das ameaças. Tivemos a coragem de resistir aos problemas de ordem política e

burocrática e fomos vitoriosos! Conto essa história bastante emocionado... Com o coração

palpitante! No dia em que precisar partir deste lugar, levarei comigo um pedacinho do

Mandacaru, as doces lembranças... Também na minha partida dessa vida levarei a certeza da

semente plantada aqui, a lição de como se conquista os direitos de cidadão.

Sou parte desse povo, dessa história. Depois de muitas lágrimas, veio a alegria de poder

olhar para trás e ver a história construída. Hoje, quase trezentas famílias usufruem desse

espaço. Depois de alguns anos, o governador do Estado resolveu transferir a propriedade do

terreno à prefeitura que, por iniciativa do prefeito, conferiu, oficialmente, a cada morador, o

termo de posse, regularizando as construções de suas casas.

A história não termina por aqui, muitas lutas e conquistas estão por vir. Algumas já

alcançadas, outras esperadas. Nessa pequena comunidade, temos energia elétrica, água

encanada... Ainda nos falta saneamento básico. As suas ruas são no barro puro. No verão, a

poeira levanta, no inverno vira lamaçal.

O que me deixou impressionado nessa história que poucos conhecem e que o

entrevistado cursou apenas a sexta série do ensino fundamental e, durante a sua fala,

demonstrou um conhecimento de causa bastante elevado e fundamentado nas leis

constitucionais. Uma pessoa envolvida na política, que defende bem uma visão de governo

planejado em proporcionar o bem-estar da população em geral.

Não poderíamos esquecer jamais da mensagem transmitida por ele: “Valorize o ato da

leitura – o segredo de saber defender o que penso ser certo e argumentar está na prática da

leitura que aprendi a desenvolver durante a minha vida”.

Mais uma aprendizagem adquirida no decorrer dessas atividades de produção de textos

de memórias literárias.

Page 495: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

495

Sr. Maurício Pereira de Souza.

Texto baseado na entrevista em sala de aula com o Sr. Maurício Pereira de Souza, 48 anos,

morador da Vila Mandacaru, Colônia Leopoldina – AL, em junho de 2008.

O garoto Everaldo Costa Silva na sua primeira comunhão.

O pequeno grande homem

Page 496: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

496

Conversa vai, conversa bem, a gente vai descobrindo a história de cada um e do lugar

onde viveram. Um ponto de partida e um ponto final para encerrar qualquer assunto.

Nasci em Monte Sombrio, município de Bonito – PE, precisamente em 02 de setembro

de 1947. Fui um menino de tempo – 09 meses , mas de estatura pequena, cabia numa caixa

de sapatos, precisaram diminuir meus casaquinhos de recém-nascido. Sou o filho caçula dos

Costa: Manoel Lino da Silva e Maria da Glória Costa e Silva. Fui muito paparicado por minha

mãe e minhas irmãs mais velhas. Recebi o nome de Everaldo, em homenagem a um padre que

minha mãe, na época, católica, apreciava muito. Poderiam ter me chamado de polegar ou o

pequeno príncipe, mas não, recebi o apelido de um adereço de noiva: Véu.

Meus pais resolveram mudar de lugar e vieram, em 1952, habitar as redondezas de

Colônia Leopoldina. Chegamos ao famoso Engenho Canto Escuro, lá moramos por dois anos,

depois apeamos na Usina Taquara, a terra do açúcar. Vi, com meus próprios olhos, o

desenvolvimento daquela indústria. Naquele tempo, o meu pai tornou-se chefe do campo. O

trabalho era braçal, os homens usavam as suas forças para fazer a máquina moer. Lembro-me

do suor escorrendo pelos corpos daqueles cidadãos.

Meu pai era um homem bastante conhecido, administrava muitas terras, mas não

queria essa profissão para os seus filhos, por isso todos tivemos a oportunidade de estudar

para exercer outras profissões de prestígio. Fui contemplado, estudei primeiro na escola da

Fazenda Macuca, que fica entre Canto Escuro e Taquara, depois fiz admissão e fui aprovado,

daí parti para Palmares, a fim de estudar no Ginásio Municipal Agamenon Magalhães.

Comparando a educação que recebi naquela época com os dias de hoje, me considero um

doutor. Tenho hábito de leitura, de tudo eu entendo um pouco. Fiz até o sétimo ano, que para

mim vale mais do que um ensino médio ou até mesmo superior.

Fui criança, depois adolescente cheio de questionamentos sobre a existência humana. Já

filosofava sem saber que estava filosofando. Fazia perguntas a mim mesmo e queria respostas

para os sentimentos que afloravam na minha mente e no meu coração.

Tive meus medos, como todo mundo tem, chegaram até a pensar que minhas

ansiedades fossem vontade de casar. Foi morando em Palmares que encontrei a mulher da

minha vida, posso dizer que ela seja minha alma gêmea, até os dias de hoje. Descrever minha

amada mulher não é difícil: era uma jovem de cor clara, pele rosada, magrinha, ingênua, fiel,

dócil, mas de forte personalidade, difícil de ser conquistada; todavia, como nos planos de

Deus, acredito eu, já estava tudo traçado, consegui amansar a dócil fera e conquistar seu

coração.

Nossa união perdura até os dias de hoje, minha querida esposa com quem tive quatro

filhos é a palmarense Norma Lúcia de Oliveira Costa. No dia do nosso casamento, recebi de um

Page 497: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

497

cunhado meu um cartão que dizia assim: “Norma com véu na cabeça”, gerando daí o duplo

sentido da palavra “véu”, texto ilustrado em caricatura, uma verdadeira obra de arte.

Voltando à mocidade, lembro que meu pai se envolveu na política de Colônia

Leopoldina, o povo o elegeu para vereador em dois mandatos. Numa época em que o

vereador não recebia remuneração. Penso que o sentido da política daquela época está além

da dos dias de hoje. Mas nenhum dos seus filhos quis herdar a vocação da política. Quando

atingi a maior idade, abandonei os estudos, quis ser dono do próprio nariz e resolvi trabalhar,

tornei-me funcionário da antiga SODIPE, em Palmares, trabalhei de motorista para Marcos

Luna, fornecedor bastante conhecido na região de Colônia.

Para formar a família que tenho hoje, passei por muitas dificuldades, fui até São Paulo,

em busca de melhores condições de vida, como ainda acontece nos dias atuais com muitos

nordestinos. Antes de ser o que sou hoje, passei muitas fases difíceis, é claro.

Minha vida dá um livro, como a vida de qualquer pessoa. Quero dizer que voltei à minha

querida Colônia, minha primeira morada foi na Rua Severino Ferreira de Lima, mas por pouco

tempo. Passei a morar na Rua Senador Arnon de Melo, onde resido até hoje. Os fundos da

minha casa davam com os fundos da casa da minha mãe. Meu sogro, Oscar, palmarense, tinha

o maior desejo de abrir uma congregação Presbiteriana, esse era o sonho dele. Naquela época,

eu era um homem desviado do Evangelho, pertencia a alta sociedade leopoldinense.

Fui membro do Lions Club, possuía automóvel e telefone. Na década de 80, pessoas que

tinham esse nível eram contadas como ricas. Sempre gostei de reunir a família no fundo do

meu quintal, foi não foi tinha uma festa, gostava de tomar minha pinguinha em casa, fumar

meu cigarrinho, tomar uma cervejinha, comer pitu, camarão e o famoso churrasco. Época em

que minha esposa era microempresária, possuindo uma fábrica de bonecas, “A bruxinha”, no

fundo do quintal.

Mesmo distante do Evangelho, eu consenti que na garagem da minha casa fosse aberto

o trabalho de Deus, reconhecia meus pecados, mas não conseguia abandoná-los. Como Deus

tem planos para a vida de cada um de nós, somente depois da morte de meu sogro é que o

Espírito Santo me transformou, fez de mim como fez com Zaqueu, me deu o arrependimento,

me perdoou e eu passei a servi-lo. Naquela época, a congregação funcionava na Rua Pe.

Francisco. Lembro-me, como hoje, que foi no início do ano de 1995 que se deu esse fato e

houve um avivamento para a igreja presbiteriana, não somente eu, mas outro irmão que

estava desviado voltou a servir a Jesus, a minha esposa já era crente, voltou à ativa, e meus

três filhos mais velhos e minha nora aceitaram a Jesus no mesmo período. Foi uma grande

festa no batismo e na profissão de fé, mas festa maior foi no céu!

Page 498: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

498

Por eu ser muito popular, algumas pessoas chamam a Igreja de Everaldo, porém muitos

não sabem que o dono da Igreja é o senhor Jesus Cristo. O templo presbiteriano tinha poucos

membros, mas fiéis nos dízimos e nas ofertas e, para conseguir construir um templo amplo e

pomposo, a união fez a força: do pequeno ao grande, todos que faziam parte da Igreja, no ano

de 1999, se empenharam em trabalhar e ganhar dinheiro para construir o sonho que a fé já

contemplava, antes mesmo de ele existir. Os planos de Deus não se explicam.

Como escrevi anteriormente, nunca me envolvi com política, todavia ocupei, ao mesmo

tempo, dois cargos de secretaria do município: finanças e administração, no governo do

prefeito Severiano de Freitas. Foi desafiador para um homem crente assumir certas

responsabilidades, dou graças a Deus, porque o poder nunca me subiu à cabeça, orava a cada

dia que entrava naquele gabinete para Deus abençoar o nosso município. Tenho certeza de

que não agradei a muitos aproveitadores, que querem fazer da prefeitura uma Mãe Tonha, só

querem tirar vantagens. Quando se aproximou o ano da política, por eu não saber fazer o jogo

da politicagem, deixei o cargo da secretaria da administração, fiquei apenas com as finanças.

Ao perceber que o período da campanha política estava chegando e já cogitava fazer músicas

usando o meu nome, resolvi sair para não manchá-lo e nem comprometer a igreja. Entretanto,

continuei apoiando Severiano pelo trabalho de restauração que Colônia havia passado, pois

saiu do lixo para a limpeza, estava de fato a Colônia de Princesa. Nas eleições, tínhamos a

certeza da reeleição, que virou ilusão. Por mais de 300 votos de vantagem, Manuilson Andrade

assumiu o governo de Colônia.

De tudo fui um pouco, sempre ganhei a vida com dignidade. Quando digo que sou um

grande homem, esse título está relacionado ao meu caráter, à minha personalidade, aos meus

valores morais, não bato no peito para me engrandecer, basta que as pessoas olhem para mim

e digam quem eu sou. Nunca tive interesse pelo poder. Pelo contrário, gosto da vida que levo,

tranquila. Quero ser hoje testemunha viva de Cristo Jesus e que, por meio de minhas orações e

modo de vida, eu venha a atrair muita gente para os braços do Salvador, assim como ele fez

comigo.

Com humildade, eu, o pequeno grande homem, me despeço lembrando o hino que

tocou o meu coração, que tem como título “O Deus Fiel”, cujo refrão declara:

Tu és fiel, Senhor!

Tu és fiel, Senhor!

Dia após dia, com bênçãos sem fim.

Tua mercê nos sustenta e nos guarda.

Tu és fiel, Senhor, fiel assim.

Page 499: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

499

Na verdade, eu queria ter mais que uma voz, mais que uma canção e uma vida para

oferecer ao Senhor, pois ele é muito mais que eu possa ter. Só para resumir, Jesus é a razão do

meu viver, antes eu o conhecia de ouvir falar, mas agora de com ele andar. Aguardo o grande

dia, no qual todos os filhos se encontrarão no paraíso que o Senhor preparou para nós que

cremos, e assim teremos um coral perfeito.

Texto baseado em várias conversas informais com o Sr. Everaldo Costa Silva, Colônia

Leopoldina – AL.

Sr. Ubirajara.

O senhor da floresta

Foi no ventre da minha mãe a primeira moradia, apenas sete meses. Após ser expulso

de lá, do lado de cá, conheci um mundo diferente. Lembro-me de alguns episódios da infância,

por isso dizem que recordar é viver. Nasci em Maraial – PE, com um ano de idade fui morar no

meio da mata, num lugarzinho chamado “Amor da Pátria”, terras pertencentes a Sertãozinho,

distrito de Maraial. A poucos quilômetros de onde nasci, bastava atravessar a ponte do rio

Jacuípe que faz divisa com os estados de Pernambuco e Alagoas que estávamos pisando em

solo leopoldinense. A Colônia do mato, como muitos na época chamavam, hoje é a Colônia da

Princesa Leopoldina.

Page 500: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

500

Meu nome é Ubirajara, de origem indígena, segundo tenho conhecimento de dois

significados: senhor da lança e o outro de guerreiro. Segundo informações coletadas na

internet, fico sabendo de outro: o senhor da floresta. Sou descendente de espanhóis e

indígenas, tenho características de homem branco; mas o sangue é puro indígena, meus avós

maternos eram índios, ganhei meu nome em homenagem ao meu bisavô, meu pai pediu para

que, quando eu tivesse meus filhos, mantivesse a mesma tradição para perpetuar a origem. E

assim aconteceu.

Antes de falar sobre a constituição da minha família, gostaria de recordar a minha

infância. Era um menino esperto, que apreciava ouvir o canto dos pássaros, tomar banho no

rio, observar os peixinhos nadando em águas cristalinas, ouvir o chuá das águas a desaguarem

em outras águas, subir em árvores, saborear as frutas maduras e frescas, tiradinhas na hora

que desse vontade. Tenho saudade, sim, dessas terras, doce terra onde nasci. Olho sempre o

sol se por e, num passe de mágica, sou tomado por uma grande saudade que às vezes me faz

chorar ao lembrar a minha meninice. Eu era feliz com tudo isso.

Ninguém esquece a primeira professora, pois é, Dona Margarida foi quem me ensinou

as primeiras letras. Por meio da cartilha do ABC, fui alfabetizado e aprendi a ler e escrever um

pouco. Nesse instante, me recordo de dois presentes preciosos que ganhei dela, quando ela

precisou ir embora. O primeiro foi uma bíblia, e o segundo foi um livreto de literatura de

cordel que contava a história A intriga do cachorro com o gato. Naquela época, os professores

já desejavam transformar os alunos em leitores e escritores. Cheguei a essa conclusão, porque,

de forma espontânea, criei poemas em homenagem aos meus filhos.

Nos idos de 1956, começaram a invadir as terras dos pequenos agricultores, meu pai foi

forçado a vender nossas terras, perdemos nosso espaço para a Usina Santa Terezinha. Por esse

motivo, migramos para a cidade que eu considero minha, que amo de coração e que me

recebeu de braços abertos como o Cristo Redentor.

Nessa época, eu já tinha meus 10 anos de idade e, para se ter uma ideia, a rua em que

morei parecia mais um sítio: apenas quatro casas, rodeadas de árvores frutíferas e matagal,

mas tinha um belo nome: Rua Boa Vista. Continuei na escola, mas lembro que só conclui a

terceira série no Aristheu de Andrade. Estudei com as professoras Dona Romélia Luna e Dona

Ivar. Esta última vinha de Maceió ensinar aqui. Naquela época, Dona Edleuza Araújo era a

diretora da Escola Estadual Aristheu de Andrade.

Eu me recordo do “Amor da Pátria”, a casa onde morava, a minha escola, a minha rua,

os meus primeiros amigos; aí como o pensamento voa ao lembrar de coisas boas e que não

voltam mais! Lembro-me de quando minha avó me chamava de mirro, que quer dizer meu

filho em espanhol.

Page 501: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

501

Já na adolescência, conheci Dona Milu, crente da Igreja Presbiteriana. Ela ensinava a

palavra de Deus na congregação que ficava na Usina Taquara. Existia também outra dirigida

por distintas pessoas na Usina Porto Rico, atual Destilaria Porto Alegre. A primeira igreja

evangélica que chegou à nossa região foi a Igreja Presbiteriana no Brasil, precisamente em

1940. Após cinco anos, chegou a Assembleia de Deus que, por sinal, foi bem recebida,

arrebatando muitos crentes presbiterianos para si. Sua sede era na cidade.

Sempre fui um homem muito desenrolado, aprendi desde cedo a profissão do meu pai;

entre 13 e 14 anos, me tornei pedreiro, admirava bastante a profissão e quis segui-la. Já rapaz

feito, fui comparando o meu crescimento com o crescimento de Colônia. O padre Jorge foi

uma pessoa muito importante na minha história. Antes de trabalhar com o padre, fui gerente

da padaria Olinda. Naquela ocasião, lembro-me de que o dinheiro era chamado de cruzeiro.

Conheci a mulher da minha vida com quem pretendia me casar, ela é conhecida até hoje

como Dona Zuzu. Por esse motivo, precisei entregar o emprego de gerente, pois o salário que

eu ganhava na época não era suficiente para sustentar uma família. Trabalhando com o padre

Jorge, tive oportunidades maravilhosas de estudar em Maceió, ele investiu muito na minha

educação, estudei no Movimento de Base de Educação Alagoano; fiz o curso de aluno-chefe da

escola, estudei psicologia pessoal e relações humanas. Para a época, era mais de que um curso

superior ou igual.

A nossa vida é feita de vários momentos emocionantes, mas tem aqueles que marcam

mais... O primeiro e inesquecível foi o dia do meu casamento, o enlace matrimonial para mim

é sagrado, a união entre um homem e uma mulher é algo divino, criado por Deus e vivido por

nós. O segundo momento, só de pensar, meus olhos se enchem de lágrimas. Assisti a uma

coisa que eu posso chamar de sobrenatural: o nascimento do meu filho primogênito, Ubiraci,

que também recebeu nome de origem indígena, significando o senhor da lua ou segundo a

internet, “madeira boa”. O engraçado de tudo isso é que floresta e madeira têm uma ligação

íntima, nesse caso particular: pai e filho.

Eu e a Zuzu tivemos sete filhos: dois homens e cinco mulheres. O interessante disso tudo

é que eu resolvi colocar o nome dos meus filhos com a raiz do meu: UBIRA. Esta é a lista das

adaptações de sufixos que deram origem a outros nomes: Ubiranilson, Ubiraneide, Ubiracilda,

Ubiranildes, Ubiranilda e Ubirajane. Fazia questão de assistir aos partos feitos pelas parteiras

na própria residência. Quando parto era difícil, haja reza, a parteira tinha que ser mulher de fé

e ajudar a parturiente nesse trabalho. Todo mundo era comadre e compadre, pois fazia parte

da tradição chamar as parteira de comadres. O único parto a que não assisti foi o da filha

Ubiranildes.

Page 502: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

502

Do passado tenho saudade da calmaria, do presente tenho aversão à prostituição que

assola o mundo e da violência que cresce a cada dia. Quanto ao futuro, só Deus sabe o que

será do amanhã, só a sua misericórdia para não mandar outro dilúvio pra castigar a

humanidade. Sou um homem muito feliz, satisfeito com minha família, sou cristão, não tenho

preconceito com nenhuma placa de igreja, minha religião é secreta, sou da Igreja Gnóstica

Cristã, funciona em todo lugar do Brasil, com exceção em Colônia, mas existe nas cidades

vizinhas. Não temos templos fixos, mas temos um meio de comunicação que usa sinais para

poder identificar os membros. Aprecio as músicas gospel, MPB (música popular brasileira),

curto muito as canções de Roberto Carlos, aprecio as composições de Padre Zezinho que, por

sinal, canta uma bem relacionada ao milagre da vida e, desse milagre, surge a FAMÍLIA.

Esta é a minha oração em música:

Que nenhuma família termine por falta de amor.

Que o casal seja um para o outro de corpo e de mente.

Que o homem carregue nos ombros a graça de um pai.

Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor

e que os filhos conheçam a força que brotou do amor.

Que as crianças aprendam no colo o sentido da vida.

Abençoa, senhor, as famílias, amém.

Abençoa, Senhor, a minha também

e a todas as famílias leopoldineses...

Tenho ainda um sonho nesta vida, porque não é à toa que meu nome tem o significado

de senhor da floresta. Moro na cidade, mas queria ter os meus últimos dias de vida vividos

numa casa simplesinha, com uma rede pra dormir, rodeado de todo tipo de plantas e árvores...

Se não for nessa vida, que seja na outra. A prova concreta de que de fato amo a natureza é

que o sangue indígena corre em minhas veias. Obrigado, Colônia Leopoldina, por ter sido bem

recebido aqui. Muitos foram os índios e os negros vindos das terras pernambucanas vizinhas

habitar por aqui e construí-la. Eu lhe dei minha contribuição, assentando pedras, tijolos sobre

tijolos, afinal de contas, quem não conhece o pedreiro aposentado Ubirajara? Homem

guerreiro de força e vigor!

Texto baseado em uma conversa informal com o Sr. Ubirajara.

Page 503: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

503

Page 504: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

504

Comemoração na maternidade. Participação da parteira Doralice.

Parteira vocacionada

Como descobri minha vocação? As pessoas em geral perguntam às crianças: o que você

quer ser quando crescer? Várias são as profissões citadas por elas. Há muita gente que abraça

uma profissão sem ter a mínima vocação. Não precisei fazer nenhum teste vocacional para

descobrir o que seria na vida. A própria vida foi mostrando com as experiências do cotidiano.

Para mim, não há nada mais lindo do que o nascimento de uma criança, um verdadeiro

milagre. Não precisei de professor para me ensinar isso, fui parteira de primeira classe e

ensinei a outras pessoas a profissão, inclusive, uma irmã minha aprendeu esse trabalho

assistindo aos partos que eu realizava. Lembro-me de que, em uma determinada situação,

uma criança colocou a mãozinha para fora, e eu pensei o que seria daquele parto. Deus me

iluminou a tomar uma sábia providência: simplesmente, apertei sua mãozinha e ela se

encolheu virando para a posição de parto normal. Daí por diante, eu não tive dúvida de que

Deus me colocou no mundo, usando minhas mãos para receber crianças, dando-lhes as boas-

vindas a sesse mundo.

Completei meus 88 anos, já não enxergo, mas gosto de receber visitas e recordar os

fatos antigos. Fui nascida em Canto escuro, no ano de 1921. Meu nome é Doralioce, filha do

casal Manoel Pedro Soares e Josefa Ambrosina Soares e sou chamada por todos os conhecidos

por Dona Dora. Casei-me aos 22 anos com o viúvo Francisco Máximo de Souza, pai de cinco

filhos, que havia sido casado por duas vezes, ambas esposas morreram pós-parto. Ironia do

destino, seu terceiro casamento ser com uma parteira. Meu namoro foi vapt e vupt, apenas

Page 505: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

505

três meses. Com ele tive 15 filhos, sendo que nasceram 12 de parto a termo, que quer dizer

com vida, e tive três abortos espontâneos. Antes dessa história tem outra, mas prefiro não

comentar. Morei em muitos lugares de zona rural, meu esposo era administrador de terras;

nessas mudanças, trabalhei muito fazendo partos residenciais.

Deixei o Engenho Canto Escuro aos oito anos de idade e vim habitar na cidade. Nessa

época, iniciei os meus estudos e fiz até a quarta série primária. Aprendi a ler ouvindo os sons

das letras e formando palavras. Naqueles tempos, os estudos eram muito diferentes dos dias

de hoje. Atualmente, os alunos vão à escola sem saber o que querem, professor não tem o

mesmo valor que antes. É certo que antigamente o sistema era bruto, mas foi com marcas nas

orelhas, pernas e mãos que estudei e graças a Deus aprendi, prefiro não reclamar, foi o melhor

pra mim, era o sistema que ditava as regras e o professor era o dono da verdade, coisa

impossível hoje, já que o conhecimento avançou tanto: aluno e professor aprendem juntos e

serão eternos aprendizes.

Na primeira metade do século passado, não havia ultrassom, as mulheres faziam

práticas supersticiosas para descobrir o sexo do bebê. Quando alguém perguntasse a uma

mulher grávida: “O que é isso em suas mãos”? Se ela virasse as mãos para baixo, seria menino;

caso virasse pra cima, seria menina. Também tem a história do coração da galinha: a mulher

grávida, ao guisar um frango, colocava o coração da galinha cortado ao meio; depois de cozido,

se o coração ficasse aberto, seria menina; se fechado, seria menino na certa. Havia também a

superstição da tesoura2 e ainda tinha as mulheres que adivinhavam o sexo do bebê pelo

modelo da barriga. Muitas vezes davam certas as previsões, outras não.

As grávidas de antigamente não tinham os privilégios que as de hoje, ninguém sabia o

que era um pré-natal e, por causa disso, muitas mulheres morriam de parto. Existia uma

prática religiosa na Igreja Católica: quando as mulheres completavam oito meses de gravidez,

todas se reuniam para o padre abençoá-las e rogava a Nossa Senhora do Bom Parto que desse

proteção e uma boa hora para todas.

Não osso deixar de falar do meu serviço prestado às mães leopldinenses, num casarão

que até hoje existe na Rua 16 de Julho. Esse prédio era chamado de maternidade, foi fundado

pelas irmãs freiras Filhas do Sagrado Coração de Jesus e, com o passar dos anos, a prefeitura

fez parceria, dando contribuição para a manutenção da casa. Ainda hoje, tenho guardado a

sete chaves um livro no qual constam os registros de muitos partos. Nele, podemos encontrar

o nome da paciente, do marido, a religião, idade, filiação, residência, estado civil, profissão,

2 Dizia-se que a grávida não deveria pegar numa tesoura, pois o bebê nasceria com os lábios cortados

(lábio leporino).

Page 506: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

506

diagnóstico, data da entrada e data da alta, atendente e convênio com a prefeitura ou

particular.

A freira que esteve à frente desse trabalho foi a irmã Cleonice, a chefe das parteiras.

Essa maternidade, segundo o livro de registros, funcionou até o dia 21 de dezembro de 1979,

passando os trabalhos para o hospital Maria Loureiro Cavalcante, a partir dessa data.

Chega à minha memória um fato muito triste que ocorreu com D. Ester, esposa de um

ex-vereador, Manoel Jandaia... O parto se deu na residência dela, a criança nasceu bem, foi um

trabalho rápido. Enquanto eu cuidava da criança, a comadre Ester falou as últimas palavras:

“Comadre Dora, dê um tapinha nela para eu ouvi-la chorar”. Só deu tempo me virar pra

comadre, examiná-la e perceber que ela já estava sem pulso. A pretensão arterial chegou a

zero, foi feito tudo que estava ao nosso alcance. Levada às pressas para a emergência de

Palmares, a vítima não suportou e, após 09 Km de Colônia, teve morte súbita.

Mesmo aposentada, continuei sendo muito solicitada pela população para continuar

fazendo partos residenciais, ou na minha própria casa. Tenho a honra de dizer que fiz parto até

de bisneto. Não existe coisa melhor do que recordar os fatos que marcam as nossas vidas e

também do lugar em que vivemos. Desde que vim morar em Colônia Leopoldina, resido em

uma simples moradia que fica na Avenida Clodoaldo da Fonseca.

É bom recordar para viver os momentos de felicidade e, ao mesmo tempo, perceber que

o meu trabalho foi um dom dado por Deus. Hoje só existe no meu peito uma sensação

tranquila, de satisfação, de paz e amor, reconhecendo a dádiva mais linda: a vida. Celebrar

cada dia como se fosse o último. Como diz o sábio Salomão:

Há tempo pra tudo

[...] há tempo de nascer e tempo de morrer;

[...] tempo de chorar e tempo de rir;

[...] tempo de estar calado e tempo de falar.

Eu acrescento: “Há tempo de esquecer e tempo de recordar”.

Vamos brincar um pouco com a palavra parto. Existem dois sentidos para ela. Parto do

verbo partir: “eu parto para a eternidade”. Bom exemplo, não? O parto substantivo: “não

existe parto sem dor”. O parto é uma mistura de dor com prazer, existem inúmeros exemplos,

eu já cansei, e já estou com vontade de parar de escrever. Termino caçoando: a dor do parto é

grande, mas eu tenho que partir.

Page 507: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

507

Texto baseado em conversa informal com D. Doralice.

Ex-vereador José Amâncio, conhecido por Zé Pretinho, em reunião.

Se o tempo voltasse, seria diferente

Essa história se parece com outras que já ouvimos. O entrevistado do dia se encontra

meio nervoso, tímido, com poucas palavras, sem saber direito por onde começar. Suas

respostas são muito objetivas, mas a professora procura deixá-lo à vontade, para que a

conversa venha a fluir naturalmente. Enfim, conseguimos arrancar suas lembranças do fundo

de um baú trancado a sete chaves. Acredito que talvez ele mesmo tenha se surpreendido com

tantas coisas recuperadas pela memória ainda bem aguçada.

Nos idos de 1934, saí de minha terra natal, Caruaru – PE, para habitar as terras de uma

pequena cidade alagoana, minha querida Colônia Leopoldina, conhecida por seus

conterrâneos como a Colônia da Princesa, devido ao nome da filha do imperador D. Pedro II.

Se eu tivesse que escolher um nome para esse município, colocaria Colônia Mãe, porque a

tenho como uma mãe acolhedora, me sinto seu filho legítimo; quando alguém pergunta minha

naturalidade, encho a boca cheio de orgulho: sou alagoano, leopoldinense de corpo e alma.

Ainda completo: Graças a Deus!

Page 508: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

508

Sou José Amâncio da Silva, nascido em 23 de novembro de 1921, mas poucos me

conhecem pelo nome de registro. Eu sou o Zé Pretinho, apelido que tem uma justificativa

interessante. Meu pai adotou um primo meu, que também se chamava José. Quando meu pai

chamava por José, aparecíamos os dois para atendê-lo. Então meu primo propôs ao meu pai

que, quando ele quisesse nos chamar, chamasse-nos de Zé Vermelhinho, por ser ele ruivo, e

de Zé Pretinho, por ser eu um moleque de cor escura. Só sei dizer que isso pegou até hoje.

Mexer na memória é algo que sacode o meu coração, o ritmo de seus batimentos ficam

acelerados, minhas mãos trêmulas não conseguem escrever muito bem e a voz trava. Vez ou

outra um nó aparece na garganta e os olhos querem transbordar de lágrimas. O passado

revela a construção de nossa vida. O que fizemos ou deixamos de fazer traz resultados às vezes

não tão agradáveis. Uma pessoa que ultrapassa seus 80 anos tem uma longa estrada

percorrida.

No momento em que escrevo, quase completando meus 97 anos de idade, modéstia à

parte, ainda possuo muito vigor. Quem não sabe a minha idade, diz que aparento apenas 75,

chega até ser motivo de orgulho para um velho que ainda se considera jovem de espírito.

Nunca fui um garoto apaixonado pelos livros. Na infância, sonhava mais com uma bola

de futebol que com o mundo das letras. Cheguei a ser matriculado em escola, porém pouco

frequentava. Lembro que saía de casa com os livros, meus pais certos de que eu estava

estudando. Nem chegava à escola, ia uma vez ou outra perdida. Os professores sentiam minha

ausência e mandavam bilhetes para avisar das minhas faltas.

Os campinhos improvisados eram o meu mundo de fantasia, lá eu me sentia livre, feliz...

Corria atrás da bola e fazia gols. Não sentia o tempo passar. Meus pais não conseguiram mudar

isso em mim. Não teve castigo que desse jeito. A única coisa que eu segui do meu pai foi a

profissão: comecei a ajudá-lo a consertar sapatos. Tornei-me um sapateiro profissional, exerci

esse trabalho em média de uns 10 anos. Depois entramos no ramo comercial.

Voltando um pouco ao passado da minha pacata cidade, quando aqui cheguei, dava

para contar a dedo os seus habitantes. Todos se conheciam. Naquela ocasião, não existia

nenhum automóvel, todo transporte era feito em lombo de animais. O que abastecia o

pequeno comércio vinha da cidade mais próxima e de menos difícil acesso, Palmares, a 42 Km,

aproximadamente. Dá ara imaginar como esse tempo era difícil e precário, bem diferente de

hoje. Antes levávamos um dia para ir e voltar; atualmente, é questão de menos de uma hora.

Considero-me uma pessoa popular no comércio, possuí uma loja grande, de muitas

variedades, vendia de tudo: tecido, aviamentos, guarda-chuvas, candeeiros, rádios, móveis...

Mercadorias de pequena a grande. Era uma pessoa de princípios, já havia constituído minha

família – casei-me com Hercília, minha única namorada, com quem tive sete filhos. Nesse

Page 509: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

509

período da minha vida, já tinha consciência de que a Educação era algo primordial; olhei para o

meu passado e vi que havia desperdiçado as oportunidades. A pouca leitura que tenho foi

adquirida por trás de um balcão de venda, a vida foi minha escola. Na prática do dia a dia,

consegui entender um pouco das coisas básicas. Não me considero um homem leigo. Com os

meus esforços, consegui pagar bons colégios para que os meus filhos tivessem uma boa

formação. Apenas um deles não quis negócio com os estudos. Tinha que haver um parecido

comigo.

Não demorou muito e me tornei um homem popular. Quando me dei conta, já estava

envolvido com a política do município. Fui vereador ativo por quatro mandatos, lembro-me de

que, com minha influência política, consegui empregos públicos municipais e estaduais para

muitas pessoas. No passado, era na base da boa amizade que se conseguiam os empregos.

Hoje, é necessário se submeter a concurso público para ser admitido em cargos públicos com a

habilitação exigida. Nada mais do que justo. A competitividade cresce de forma absurda, até

para ser gari é necessário passar por testes classificatórios. Está explicado que quem não tem

estudo fica para trás.

Conforme estava falando, minha influência política era tanta que não conto às vezes que

abri as portas da minha casa para receber o governador de Alagoas, Guilherme Palmeira.

Muitas vezes, ele telefonava e avisava que estava vindo para almoçarmos juntos e tratarmos

de assuntos ligados à política.

Como tudo passa um dia, já se foi esse tempo e, por força de circunstâncias, minha loja

comercial deixou de existir. Atribuo esse fato à política. Sempre fui um homem de ajudar os

carentes. Ainda hoje, por essa região, as pessoas costumam pedir ajuda aos vereadores:

receita médica, gás de cozinha, água, energia, aluguel, material de construção, entre tantas

outras coisas. Tirar o mau costume do povo é difícil. Se não der, já viu, perdeu o eleitor. Por

isso muitos entram na política e saem mais pobres que antes. Ainda hoje o povo não entende

qual é de fato o papel do vereador.

As mudanças ocorrem naturalmente na vida da gente, mudei de atividade comercial.

Passei a ser sorveteiro. Fabricava sorvetes e picolés de vários sabores. Sorveteria Flórida era o

nome do estabelecimento. No verão, se vendia muito bem, mas, no inverno, as vendas

congelavam. Não considero um negócio lucrativo, é muito pouco o lucro. Para conseguir uma

boa renda, era necessário vender bastante. Como a concorrência é a realidade da vida

moderna, surgiram outras sorveterias e a minha produção foi diminuindo ao ponto de encerrar

o negócio. Quero dizer com isso que, depois de muitos anos de luta, achei mais viável fechar as

portas da sorveteria.

Page 510: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

510

Posso afirmar que sou um homem realizado, dei conta da minha obrigação como chefe

de família, eduquei bem meus filhos e, como representante do povo, ajudei no

desenvolvimento do município. Mas nem tudo é do jeito que a gente gostaria que fosse. Falo

isso, porque antes não entendia o valor dos estudos, e isso me fez muita falta. Aposentei-me

como funcionário estadual e recebo apenas um salário mínimo – valor irrisório para uma

sobrevivência com dignidade. Se tivesse escolaridade, com certeza o valor seria outro,

portanto o recado que deixo às crianças e jovens que tiverem oportunidade de ler minhas

memórias é o seguinte: “Amém os livros! Valorizem os estudos”. Se eu pudesse voltar no

tempo, mudaria o rumo da minha história.

Está mais uma vez constatado que a vida das pessoas, do lugar onde se vive é mesmo

uma metamorfose. Tudo gira em torno de mudanças. Fisicamente, tanto as pessoas como os

lugares se transformam. Psicologicamente, só os humanos passam por esse processo. Ter uma

opinião diferente sobre determinados assuntos, por exemplo. Isso nos faz lembrar de uma

música cantada por Raul Seixas, que diz:

Eu prefiro ser

essa metamorfose ambulante,

[...] do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

Dessa forma, as pessoas têm evoluído e mudado de opinião, após passar por algumas

experiências marcantes. Hoje pensamos uma coisa, amanhã descobrimos que aquilo que

pensávamos não é o correto ou melhor para seguir.

Texto escrito com base nos depoimentos concedidos em sala de aula pelo Sr. José Amâncio da

Silva, 87 anos, morador de Colônia Leopoldina.

Page 511: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

511

Page 512: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

512

Uma arvore frutífera

Sei até o dia da semana em que nasci: uma bola manhã de domingo do dia 21 de

outubro de 1951, no Engenho Canto Escuro, município de Colônia Leopoldina. Sou uma das

filhas do casal Francisco Raimundo da Silva e Maria Dulce Luna da Silva. Eu chamava a parteira

que fez o parto de minha mãe de madrinha Marica.

Recordo-me de um fato muito triste que aconteceu na minha família, ficamos

traumatizados, fomos abandonados pela nossa mãe que resolveu fugir do lugar em que

vivíamos com um machadeiro para a cidade de São Paulo – SP. Essa dor doeu muito, mas doeu

mais ainda em meu pai, que era um senhor de engenho próspero, bravo, orgulhoso, ignorante.

Que prometia matar o casal se chegasse a vê-los. Eu e meus irmãos sofremos por muitos anos

essa perda. O povo costuma dizer que madrasta não presta, mas a minha madrasta Angelita foi

para mim mais que uma mãe. Até agora não revelei quem sou eu, meu nome é Maria de

Lourdes Luna da Silva, conhecida de todos por Lourdes Lamenha.

Page 513: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

513

Dizem que recordar é viver, concordo plenamente, pois acabo de dar bastante

gargalhadas lembrando de um fato bom que ocorria com frequência nas noites de loa cheia.

Era diversão familiar. Meu irmão mais velho pegava uma vida e começava a tocar e eu era a

cantora. O terreiro enchia de gente, as pessoas vizinhas vinham se animar e prestigiar minha

suave voz. Chega-me à memória uma música que eu gostava muito de cantar:

Índia teus cabelos nos ombros caídos,

negros como a noite que não tem luar.

Teus lábios de rosa para mim sorrindo,

e a doce meiguice desse teu olhar.

Índia da pele morena,

da boa pequena,

que eu quero beijar [...].

Lembro-me também da negra Zefa Carrero que cantava pra gente:

Café é bom, chá é melhor,

na casa de Zé Carrero,

não faltava café com pão de ló.

Para quem não sabe, Zefa Carrero foi uma doceira de mão cheia, a melhor da região,

também torradeira de café no pilão. Mulher preta, trabalhadora, resistente. Para se ter ideia,

viveu 103 anos.

Voltando a falar sobre mim. Todos diziam que, na minha adolescência, eu era uma flor

de formosura, cintura de pilão, pele rosada e lábios vermelhos, cabelos castanhos e longos.

Enchia os olhos de qualquer homem. Nunca precisei de maquiagem para ficar bonita, minha

beleza era natural, bem diferente das adolescentes de hoje que, para ficar bonitas, maquiam

toda a face. Admito que, atualmente, preciso de um batonzinho para levantar meu astral e

visual, mas nunca fui uma mulher vaidosa.

Vou falar do homem que conquistou meu coração: foi o famoso Zé Cazuza, bem

diferente de mim, com 11 anos, 11 meses e dois dias mais velho que eu. Desde os meus nove

anos de idade, Zé já pegava no meu pé, dizia de brincadeira que eu seria sua mulher. Eu era

moça rica, filha de um homem de prestígio na região, um forte agricultor, fornecedor de cana,

agricultor de arroz, feijão, fava, milho, mandioca, melancia, jerimum... Tudo de fartura. Além

Page 514: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

514

disso, era dono de um barracão sortido de todo tipo de mercadoria que o povo daquele lugar

precisasse.

Na minha infância, cheguei a sentir raiva de Zé, pois ele não me dava sossego, me falava

namoro por gesto da mão fechada com o polegar pra cima, e minha resposta era sempre

negativa, mão fechada com o polegar pra baixo. Esse era o famoso fora, “sai dessa”, “minha

praia é outra”. Sem contar com os psius e o famoso piscar de olhos.

Após três anos, ele continuava insistindo. Era muito perseverante, não desistiu da

adolescente amada. De tanto insistir, eu caí nos laços da paixão dele. Então, bem decidido, ele

resolveu procurar meu pai e pediu permissão para namorar de porta. Nos dias de hoje, as

moças já não querem apresentar o namorado aos pais, preferem ficar com um hoje, outro

amanhã; o namoro está ficando para trás. Poucas famílias conservam essa tradição.

Mesmo Zé sendo um simples trabalhador rural, trabalhava autônomo e nas folgas

chegou a ser cambiteiro (aquele que transporta cana em burro) para meu pai, porém não

houve empecilho por parte de preconceito social. O que meu pai olhou nele foi o caráter e,

acima de tudo, ser um homem trabalhador. Sendo assim, permitiu.

Comparamos nossa paixão ao fósforo e à pólvora. Quando nos aproximávamos um do

outro, explodíamos de tanta emoção. Nosso namoro foi quente... Seja na porta de casa, ou

num partido de cana ou na beira do fogão à lenha, o lugar pouco importava. Namoramos por

cinco anos. Quando não deu mais para esperar, tivemos a primeira relação, que foi tiro e

queda, o suficiente para engravidar. Escondi a barriga até os sete meses de gestação. Zé queria

abrir o jogo e contar o acontecido, mas eu não deixei que ele falasse nada, o medo do meu pai

era maior que tudo que se possa imaginar. Mas chegou a hora da verdade... Na hora do

almoço, todos reunidos à mesa, meu pai me observou de cima a baixo e viu que a roupa que

eu estava usando não era minha. Calada estava, calada fiquei. As lágrimas rolaram pelo rosto:

“E agora, o que será de mim?” Meu pai ficou com os ânimos alterados. E gritou com minha

madrasta: “Por que Lourdes está usando essas roupas que são suas”? Meu pai se transformou

em um monstro de tanta ira, sentia-se traído mias uma vez, puxou até o revólver, mas foi logo

aquietado pela madrasta Angelita, que gritou: “Que é isso, Francisco?” “Não faça nada”!

“Tenha calma”! “Zé vai assumir, ela não foi a primeira e nem será a última”.

Depois que os ânimos se acalmaram, o casamento foi acertado, marcado e realizado no

dia 15 de dezembro de 1968. Meu vestido foi de cor rosa, brilhoso, tipo uma batinha de

gestante com uma jaqueta por cima. No dia 31 de janeiro de 1969, nasceu a minha filha

primogênita: Gilvania Lamenha Silva. Meu segundo parto foi em 23 de março de 1970. Dele

nasceu o meu primeiro filho do sexo masculino: Francisco Raimundo da Silva Neto, em

homenagem póstuma ao meu pai, que foi vítima de um assassinato, uma história que prefiro

Page 515: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

515

não comentar. A segunda filha veio no dia 10 de janeiro de 1972 e recebeu um lindo nome,

Georgia, indicado pela madrinha de batismo, minha irmã Socorro Luna. O quarto parto

aconteceu no dia 28 de março de 1973 e me trouxe Fernando, mas todos o conhecem por Lê

Lamenha. O terceiro filho e quinto da sequência nasceu no dia 26 de setembro de 1975,

recebendo o nome do pai, o galego que lembra o avô paterno e, em homenagem ao genitor, é

registrado como José Lamenha da Rocha Júnior. Era um atrás do outro... No sexto parto, veio

minha terceira filha Eliane Lamenha, no dia 1o de janeiro de 1977; em seguida, mais uma filha:

Adriana Lamenha, no dia 10 de abril de 1978. Chegou a vez do quarto filho e oitavo na

sequência. Flávio Lamenha, nascido no dia 22 de julho de 1979. Já passou das contas, mas eu

era muito fértil e o medo de ligar as trompas me apavorava, preferi ser uma mãe parideira. No

ano de 1979, deixei o Engenho Canto Escuro e vim morar na cidade, era o meu sonho, gosto da

claridade. Na época á existia energia elétrica. Morei por alguns anos na Travessa Clodoaldo da

Fonseca e logo fui habitar bem no centro da cidade, na Praça D. Pedro II. Mais uma gravidez,

dessa vez uma menina que veio no dia 20 de abril de 1981, chamada Gilvaneide. Só faltava um

para completar uma dezena de filhos. Esse veio atravessado. Nesse tempo já existia ultrassom

e foi descoberto que o parto não poderia ser normal, eu precisei criar coragem para fazer um

parto cesariano. Aproveitando a ocasião, extraí minhas trompas, e a ponta da rama é o Fábio

Lamenha, que nasceu no dia 21 de março de 1983. Hoje, todos os meus filhos estão casados,

uma nova geração de aproximadamente 30 netos, e já tenho um bisneto.

Não me considero uma linda mulher, exteriormente, mas linda interiormente, gosto

muito de ajudar aos necessitados, sou muito sensível, amo todos os meus filhos por igual. A

minha saúde é frágil, por isso a mulher alegre de outrora está um pouco pra baixo, me sinto

cansada e velha, mas com muita fé em Deus vou levando a vida.

Page 516: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

516

A Sra. Maria de Lourdes Luna na sua adolescência.

Texto baseado em várias conversas informais da filha Georgia Lamenha com sua mãe, Maria

de Lourdes.

Orgulho de ser leopoldinense.

Subi a ladeira e vi

a geografia e a poesia se encontrarem,

bem como a cultura, patrimônio nosso.

É a Colônia da Princesa

que Everaldo Araújo não deixou sem registrar,

muito menos seu sobrinho, Júnior Acioly,

deixaria de fotografar, ao sobrevoar.

O professor Romildo Moura

não hesitou em compartilhar a imagem e comentar:

“Não é todo mundo que tem esse privilégio.”

De ser piloto ou de ser leopoldinense?

Page 517: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

517

Mas toda poesia brota de uma inspiração.

Cadê o Josenildo Gomes pra compor uma canção?

Ou quem sabe Tião Marcolinio pra cantar:

“A saudade é companheira...”

Ou Doutor Ernane Santana Santos

falando sobre “As ruas da Nossa Cidade”.

Salve, Salve, Colônia Leopoldina,

de autoria de José Araújo de Luna,

cantado por Jodimarco Dionízio.

Nessa terra de Sebastião Braga e Vitalino,

tem gente com muito talento

e artista de grande valor:

Quem conhece Ernandes Barbosa?

Aqui viveu e estudou,

mas as suas telas, onde estão?

Numa bela exposição,

na biblioteca pública de Piracicaba!

Penso que a mãe de Everton Calado,

psicólogo, sim senhor,

muito, muito o incentivou.

O nome dela é Elda Brito,

professora que tanto, tanto se dedicou.

Ah, meu Deus, é tanta gente

que não cabe nessa poesia!

Mas cada um que aqui nasceu,

cresceu e ama a terrinha

bate no peito e diz que tem

orgulho de ser leopoldinense!

“Colônia de guerreiros, terra de conquistas”:

temático do projeto

Page 518: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

518

do Antônio Lins da Rocha,

cuja vida do seu patrono

também merece ser conhecida.

Jadilton Rocha é o diretor, filho da princesa,

jovem cheio de vigor e bom professor.

“Memórias vivas do povo leopoldinense”,

Obra escrita pela professora Georgia Lamenha

que resgata histórias

de nossa terra, de nossa gente!

Sua leitura nos convida

a uma viagem no tempo...

Gilvania Lamenha Silva Antão

Georgia Lamenha e sua irmã Gilvania Lamenha.

Page 519: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

519

Breve história de Colônia Leopoldina

Situada no Vale do Rio Jacuípe, bem próximo à Serra do Teixeira, a primitiva povoação

teria surgido no começo do século XIX. Sabe-se, contudo, que o território chegou a pertencer a

Porto Calvo até 1901.

Só a partir de 1852, com a instalação da colônia militar, efetivou-se como povoado. A

colônia foi criada com muita festa e com a presença, inclusive, do presidente da província de

Alagoas, José Bento da Cunha Figueiredo. A história não registra os motivos para a instalação

da colônia militar. Os antigos moradores contam que o objetivo era combater e exterminar o

banditismo que dominava as matas de Porto Calvo. O primeiro comandante e diretor-fundador

da colônia foi o tenente João da Gama Lobo Bentes. A colônia também foi dirigida por Olavo

Elói Pessoa da Silva e pelo alferes Augusto Pereira Ramalho.

Em 05 de janeiro de 1860, a colônia recebeu o imperador Dom Pedro II. A passagem de

Dom Pedro consolidou o povoado e se tornou fato histórico. A antiga casa da diretoria onde se

hospedou o imperador existe até hoje. Na ocasião, Dom Pedro e sua comitiva plantaram

quatro mudas de castanholas, das quais duas sobrevivem até o presente.

Quando a colônia militar foi extinta, em 1867, Leopoldina continuou sob a jurisdição de

Porto Cavo e logo depois entrou em decadência. A Lei 372, de 1861, criou o distrito de

Leopoldina e outra lei, em 1901, elevou-o à vila e depois município. Isso contribuiu para que a

antiga colônia voltasse a progredir. Em 1923, passou à condição de cidade. A freguesia foi

criada sob as bênçãos de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Colônia Leopoldina, cujos

festejos são comemorados em 16 de janeiro, mas a comunidade celebra também os santos

São Sebastião, São João e São Pedro.

Além das festas cristãs, Colônia comemora também sua Emancipação (16 de julho).

O atrativo turístico é a Serra do Catita com sua cachoeira e, abaixo dela, a antiga ponte

do Catita, construída no período de 1919 a 1922, pelo então governador Dr. José F. da Silva.

Economicamente, o município dispõe da cultura de cana-de-açúcar, destacando-se a

produção de bananas no Estado e boa produção de culturas de subsistência. Relevante

também a pecuária que reflete grande economia para o município. O município é

contemplado por dois parques industriais de grande porte: Usina Taquara S.A. e Destilaria

Autônoma Porto Alegre Ltda.

Page 520: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

520

Rio Jacuípe nas terras do Mosteiro do Catita.

Page 521: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

521

População 20.019 hab.

Área 207.893 Km2

Densidade 69,65 hab./Km2

Mesorregião Leste alagoano

Microrregião Mata alagoana

Municípios limítrofes

Ao norte, com o Estado de Pernambuco; ao sul, com

Joaquim Gomes; a leste, com Novo Lino e, a oeste, com

Ibateguara.

Gentílico Leopodinense

Distância até a capital 117 Km

Bioma Mata Atlântica

Altitude 140 m

Clima Tropical chuvoso com verão seco

Aspectos geopolíticos de Colônia Leopoldina de acordo com o Senso 2010.

(IBGE. Disponível em <http://cod.ibge.gov.br/M6Q>. Acesso em: 19 nov./2013).

Parte do mapa de Alagoas posicionando o município de Colônia Leopoldina – AL.

Brasão do município de Colônia Leopoldina – AL, criado por João Reis.

Page 522: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

522

Obra-prima de Colônia Leopoldina

A primeira obra escrita sobre nossa cidade intitulada A Colônia da Princesa, do

conterrâneo Everaldo Araújo Silva, publicada em julho de 1983. O autor rendeu justa

homenagem à terra onde nasceu, trazendo ao conhecimento das gerações posteriores a

historiografia do lugar onde vivemos. Recordando notas do autor:

A interdependência une no tempo e ao espaço os homens que vivem e que

viveram nas grandes épocas de crise ou de apogeu e, assim sendo, a vida nos

reserva surpreendentes estágios, acontecimentos e lições que servem para nos

retemperar e recompor o nosso posicionamento diante de nossa própria

fragilidade e limitação e assim poder observá-la no doce enlevo de uma criança, na

plena atividade explosiva da juventude, no fascínio e no romantismo da

adolescência, no vigor e na capacidade produtiva do adulto e na ternura da

lembrança do tempo vivido na velhice (p. 22).

Page 523: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

523

É possível perceber a sabedoria de suas palavras, fazem menção à relação íntima entre

as fases da vida em diferentes circunstâncias.

Como disse o autor na conclusão do seu trabalho, essa obra iria representar para sua

comunidade um ponto de referência. “Não somos mais os anônimos transeuntes da massa

humana informe e sem coesão, temos domicílio reconhecidamente histórico. Temos os nossos

valores expostos e identificadores de uma comunidade ativa e participativa no contexto.

Temos nobreza!” (p. 222).

Após 20 anos de publicação, muitos fatos ocorreram... A cidade cresceu junto com seu

povo. Cada um construiu a sua própria história e todos contribuíram para a formação do lugar

onde vivem. Os munícipes que buscam conhecer sua origem têm uma fonte riquíssima de

informações históricas contidas na obra do inesquecível Everaldo Araújo.

Hino de Colônia Leopoldina

Letra: José Araújo Luna

Música: Jodimarco Dionízio

Salve! Salve! Colônia Leopoldina

Que vieste da Colônia Militar

Berço de heroicas famílias

Por teus filhos a te glorificar;

Salve! Salve! Colônia Leopoldina

Reminiscências de teu imperador

Com teus filhos a estudar

Doutores, poetas, escritores

Para sua terra sempre honrar.

Salve! Salve! Colônia Leopoldina

Castanholas simbolizam a Princesa Leopoldina

Vivenciando suas matas verdejantes

Do Rio Jacuípe das florestas exuberantes

Memórias do passado traz lembranças no presente

Que tua imagem não saia da mente!

Page 524: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

524

Page 525: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

525

CONSIDERAÇÕES

Aqui estão os livros que, de uma maneira ou outra, referiram-se sobre

temáticas da cidade de Colônia Leopoldina. Sabe-se que são livros pouco lidos pelos

habitantes da cidade, menos ainda pelos da redondeza, e, em menor expressividade

de conhecimento do grande público. Não há nenhum "best seller" na cultura nacional

ou interncional. Contudo, são escritos sobre assuntos de uma região, de uma cidade e

que diz muito para os seus filhos e filhas. Afinal, o desejo de ser internacional começa

em sendo local.

Há livros de caráter de memória de pessoas. Outros há com registros de fatos

da vida do lugar e outros ainda com caráter científico, com indicação de conselhos

editoriais, a exemplo de texto de conclusão de monografias de curso de especialização.

Todos esses livros, todavia, são a expressão existente de uma inteligência que registra

o local. São registros do esforço desses poucos agora, mas que queremos que seja

material incentivador para que breve, muito breve, haja muito mais expressão de

muitos filhos da terra sobre a própria terra.

Destaca-se que não são livros de filhos de Colônia Leopoldina, tão somente. São

livros de leopoldinenses com o foco na cidade. Filhos há que estão nos diversos

campos da vida, contribuindo com o conhecimento, ou mesmo, com a cultura em sua

dimensão maior. Estas tematizações apresentadas, todavia, expressam questões da

região e em particular da cidade de Colônia Leopoldina. Região esta que a história

oficial insiste em apagar da memória coletiva de que por aqui correu muito sangue de

índios, negros quilombolas e valorosos cabanos que em duras batalhas defenderam o

direito à liberdade. Estiveram muito antes da Colônia Militar e constituem, hoje, o

povo que agora na Colônia habita.

A Academia de Cultura de Colônia Leopoldina, ACCL, agradece a esses filhos e

filhas da terra dos valorosos guerreiros cabanos.

Colônia Leopoldina, ano de 2015.

Page 526: COLÔNIA LEOPOLDINA - blogdaaccl.files.wordpress.com · Previdência. É membro desde o dia 07 de novembro de 2010 do Encontro de Casais com Cristo (ECC) da Paróquia Nossa Senhora

526

José Francisco de Melo Neto, nascido em 16 de janeiro de 1951, em Colônia

Leopoldina, Alagoas. É filho de Doralice Bezerra de Melo (Dórinha Loló) e Francisco

José de Melo (Chico Loló). É Professor Titular da Universidade Federal da Paraíba -

UFPB e Organizador desta Coletânea.