Upload
ngoque
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
247
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
COM ERVA-MATE NÃO SE FAZ SÓ CHIMARRÃO! SITUAÇÃO ATUAL E
PERSPECTIVAS DE INOVAÇÃO NO SETOR ERVATEIRO DO PLANALTO
NORTE CATARINENSE
Valdir Roque Dallabrida1
Caroline Ianoski Dumke2
Simone Molz3
Valéria Furini4
Maria Bertilia Oss Giacomelli5
RESUMO
Entre as diferentes acepções atribuídas à inovação, uma delas é sua compreensão como a
capacidade empresarial de introduzir novos produtos no mercado. Partindo dessa
compreensão, é possível conjeturar que a diversidade e quantidade de produtos com que um
setor produtivo opera pode ser tomada como um indicador de inovação. Tomando o exemplo
da erva-mate, a variedade de produtos que atualmente utilizam essa matéria-prima se
aproxima a uma centena, o que representa avanços inovacionais, considerando que até pouco
tempo seu uso se restringia à produção da erva-mate para chimarrão e chá. No Planalto Norte
Catarinense, região que historicamente se destacou na produção de erva-mate, estão instaladas
dezenas de empresas do setor, sendo que, em mais de 70% delas, a erva-mate para chimarrão
é o único produto. Essa constatação motivou uma investigação no setor, com o fim de avaliar
as condições efetivas de inovação, e seus desafios, considerando avanços sobre novos usos da
erva-mate e novos produtos com que o mercado mundial opera atualmente. O estudo
compreendeu consulta em sites de empresas brasileiras e mundiais, com o intuito de
reconhecer a variedade de produtos que utilizam a erva-mate como matéria-prima, além da
realização de uma pesquisa de campo, numa amostra de empresas da região. O estudo
evidenciou a prevalência de fitocosméticos a base de erva mate e a reduzida diversidade de
produtos com que operam as empresas estudadas e seu baixo nível de inovação. Tal realidade
aponta para a necessidade de avanços no setor ervateiro regional, exigindo ações não apenas
do setor empresarial, mas das instituições de pesquisa e extensão instaladas na região.
Palavras-chave: Erva-Mate. Inovação. Desenvolvimento Territorial. Planalto Norte
Catarinense.
1 Geógrafo, doutor em Desenvolvimento Regional, com atuação no Programa de Mestrado em Desenvolvimento
Regional (PMDR) da Universidade do Contestado (UnC). Santa Catarina. Brasil. E-mail:
[email protected] 2 Bolsista de Iniciação Científica no curso de Administração da UnC. Santa Catarina. Brasil. E-mail:
[email protected] 3 Farmacêutica, com Mestrado e Doutorado em Neurociência pela UFSC, atuando no curso de Farmácia da UnC.
Santa Catarina. Brasil. E-mail: [email protected] 4 Farmacêutica e mestranda em Desenvolvimento Regional da UnC, com atuação no curso de Farmácia da
UNOESC. Santa Catarina. Brasil. E-mail: [email protected] 5Graduação e Doutorado em Química, com atuação no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Santa Catarina (IFSC)-Campus Canoinhas. Santa Catarina. Brasil. E-mail: [email protected].
Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do
Planalto Norte Catarinense
248
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
ABSTRACT
WITH YERB MATE NOT JUST TO MAKE CHIMARRÃO! CURRENT SITUATION
AND INNOVATION PERSPECTIVES ON MATE SECTOR OF NORTH PLATEAU
CATARINENSE
Among the different meanings attributed to innovation, one of them is the concept of
innovation as the business capability to introduce new products on the market. Starting from
this understanding it is possible to conjure that the diversity and quantity of products whereby
a productive sector operates can be taken as an indicator of innovation. Considering yerb mate
as an example, approximately one hundred products are made based on yerb mate row
material, which demonstrates its potential to innovation, considering that until recently its
production was limited to yerb mate to make "chimarrão" and tea. North Plateau of Santa
Catarina is a region historically known due to yerb mate production. In this region are located
a dozens of companies in the sector, and in more than 70% of them, yerb mate to make
"chimarrão" is the only product in the market. This observation led to an investigation in the
sector, in order to assess the actual conditions of innovation, and its challenges, considering
advances into new yerba mate uses and new products to be introduced in the world market.
The study involved consultation in Brazilian and global companies websites, in order to
recognize the variety of products that utilize yerb mate as raw material, in addition to
performing field research on a sample of companies in the region. The study evidenced the
prevalence of phytocosmetics based on yerb mate as well as a reduced diversity of products
operated by the companies, thus showing the low level of innovation in this sector. This
reality points to the need for advances in regional ervateiro sector, requiring actions not only
of the business sector but also on research institutions and extension installed in the region.
Keywords: Yerb mate. Innovation. Territorial Development. North Plateau of Santa Catarina.
INTRODUÇÃO
A partir de pesquisas científicas, de experimentos realizados por empresas do setor
ervateiro e até mesmo fruto da curiosidade dos consumidores, é que nos últimos anos a erva-
mate passou a ser utilizada como matéria-prima para a industrialização de um número
significativo de produtos. Essa constatação é importante, pois, sua utilização mais usual é para
o preparo do tradicional chimarrão e na forma de chás.
Desde que se tenha notícia da presença de populações indígenas na região do Planalto
Norte Catarinense (PNC), ou seja, mesmo antes de sua colonização, a erva-mate foi um
produto de destaque. Inicialmente, foi utilizada como produto de uso familiar na forma de
chás ou infusões, mais tarde, para preparar o já conhecido chimarrão (SOUZA, 1998;
MAFRA, 2008; MARQUES, 2014). Com isso, há mais de oitenta anos, dezenas de empresas
vêm se instalando na região do PNC, envolvidas na industrialização do produto.
Atualmente a erva-mate, movimenta um setor produtivo e industrial de destaque, tanto
no Estado de Santa Catarina, como no Rio Grande do Sul e Paraná. Mesmo que o setor
industrial ervateiro, do PNC, não movimente valores monetários expressivos, visto a
existência de outros setores que têm maior representatividade neste quesito, a erva-mate tem
grande representatividade socioambiental e histórica regional, pela sua relação com o
contexto histórico de ocupação, além do que ela representa como valor ambiental, fazendo
Valdir Roque Dallabrida el al.
249
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
parte da Floresta Ombrófila Mista, um tipo de floresta do Bioma Mata Atlântica presente na
região (VIBRANS et al., 2013).
Desde o início do Século XX, já se tem conhecimento de que a erva-mate
desempenhava um papel de destaque, em especial, no abastecimento de empresas, não só da
região, mas de outras cidades catarinenses e até de outros estados brasileiros, para não falar do
que representou nas exportações, seja no contexto regional, como estadual, nacional e
internacional. Aliás, relatos históricos registram que a erva-mate motivou o surgimento de
cidades no Planalto Norte Catarinense, dentre as quais, Canoinhas é uma delas (MAFRA,
2008)6.
É pela importância histórica, social, econômica e ambiental que o produto erva-mate
representa para os municípios do PNC que vários estudos estão sendo realizados
recentemente. O que resultou neste texto está entre eles7. Assim, o objetivo do estudo foi
avaliar as condições efetivas em termos de inovação no setor industrial ervateiro do Planalto
Norte Catarinense, e seus desafios futuros. Com isso, pretende-se verificar a relação entre
inovação e dinamização socioeconômica, com a sua possível contribuição no
desenvolvimento da região em estudo.
A relação entre inovação e dinamização socioeconômica, já vem dos autores clássicos,
dentre os quais merece destaque Schumpeter (1982). O autor argumentava que o elemento
motriz da evolução da economia, com impacto no processo de desenvolvimento, é a inovação,
seja sob a forma de introdução de novos produtos e técnicas de produção, ou mesmo através
do surgimento de novos mercados, fontes de ofertas de matérias-primas ou composições
industriais. Mesmo que as abordagens neoshumpeterianas tenham avançado, apontando a
importância do meio na inovação, tal argumentação não terá perdido sua importância8.
Assim, neste estudo, tomando como variável a introdução de novos bens no mercado
na forma de produtos industrializados como indicador de inovação do setor produtivo de uma
determinada região, partiu-se da hipótese de que um dos principais indicadores para avaliar os
avanços em termos de inovação empresarial, é a evolução na diversidade de produtos que são
lançados no mercado, ao longo da existência das empresas do setor. Metodologicamente,
utiliza-se da pesquisa em sites da internet e na literatura, sobre usos da erva-mate como
matéria-prima em produtos industrializados, além da aplicação de um instrumento de
pesquisa, junto a uma amostra de empresas do setor ervateiro da região em referência.
Neste texto, registramos os primeiros resultados das investigações, sendo que algumas
das evidências constatadas no estudo deverão merecer aprofundamento, podendo inclusive
suscitar novas questões, a partir da análise de outras variáveis.
Dentre os resultados da investigação, ficou evidente o reduzido número de produtos
que compõem o portfólio das empresas do setor industrial ervateiro no PNC,
comparativamente ao que já é produzido mundialmente. Na pesquisa com as empresas,
verificaram-se poucos avanços e os desafios do setor quanto à introdução de novos produtos
6 Sobre o resgate da história da erva-mate na região do Planalto Norte Catarinense, além de sua importância
socioeconômica, cultural e ambiental, outros estudos são referências: Souza, 1998; Bartmann, 2009; Marques,
2014. 7 A investigação que resultou neste texto refere-se a um projeto de investigação denominado Os desafios da
inovação empresarial: um estudo no setor industrial da erva-mate do Planalto Norte Catarinense. Outro
estudo está sendo realizado, o qual pretende avançar no estudo, a partir de outras variáveis. Trata-se de um
Projeto de Dissertação no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional, na Universidade do
Contestado (Campus Canoinhas – Santa Catarina – Brasil). 8 Adiante se faz referência às abordagens neoshumpeterianas.
Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do
Planalto Norte Catarinense
250
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
no mercado, o que pode ser considerado um indicador negativo em termos de inovação. Por
outro lado, ficam evidências a partir do estudo de que os avanços necessários exigem ações
não apenas do setor empresarial, mas, em especial, das instituições de pesquisa e extensão
presentes na região.
Além destas considerações introdutórias, o texto é composto por mais três partes: (i)
um referencial teórico, abordando a inovação, na sua dimensão empresarial e territorial e sua
relação com o desenvolvimento territorial; (ii) uma explicitação sobre os procedimentos
metodológicos; (iii) uma terceira parte com os resultados da investigação, análises e
prospectivas, além de considerações finais.
AS DIVERSAS CONCEPÇÕES SOBRE INOVAÇÃO
A discussão sobre a inovação empresarial exige que se reflita teoricamente sobre
temas afins, tais como, a inovação e seus impactos da dinâmica empresarial, inovação
territorial e sua relação com desenvolvimento territorial. Isso, pois, quando se defende a
inovação, seja no setor empresarial ou mesmo na dimensão territorial, a perspectiva que se
tem é que os processos inovativos contribuam, no desenvolvimento das regiões ou territórios
atingidos.
A DISCUSSÃO SOBRE INOVAÇÃO FOCADA NA EMPRESA E NO EMPRESÁRIO: A
CONTRIBUIÇÃO DE SCHUMPETER
Schumpeter (1982) argumentava que o elemento motriz da evolução do capitalismo
seria a inovação. Afirmava Schumpeter que o indivíduo que exercita essas novas
combinações, inserindo as inovações no sistema produtivo, é o inovador, ressaltando o papel
do empresário inovador.
Como exemplos de inovações, Schumpeter (1982) destacava: (i) a introdução de um
novo produto; (ii) a descoberta de um novo método de produção; (iii) a abertura de um novo
mercado no país ou no exterior; (iv) a descoberta de uma nova fonte de matéria-prima; (v)
uma nova organização de qualquer indústria, como um novo monopólio, ou fragmentação de
uma posição do monopólio. Assim, o desenvolvimento, para Schumpeter, está intimamente
ligado ao conhecimento tecnológico, à existência de instituições eficientes e ao espírito
capitalista, ou empreendedor, do empresário.
Apesar de não ser refutável sua argumentação, versões contemporâneas sobre
inovação acrescentam novos elementos na relação entre inovação e desenvolvimento: por
exemplo, o foco no meio ou ambiente.
Valdir Roque Dallabrida el al.
251
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
AS ABORDAGENS NEOSCHUMPETERIANAS SOBRE INOVAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO: O FOCO NO MEIO
As abordagens neoschumpeterianas avançam no entendimento da relação entre
inovação e desenvolvimento, enfatizando que o desenvolvimento não necessariamente
acontece por rupturas radicais, podendo se dar de forma adaptativa e progressiva, destacando
o papel do aprendizado no processo de aprendizagem, do conhecimento tácito e da rotina nos
processos inovadores. Da mesma forma, a figura isolada do empresário, central no modelo
original de Schumpeter, é menos enfatizada em favor das instituições de pesquisa e
desenvolvimento, na inovação em produtos e processos (DALLABRIDA, 2010).
Com essa concepção de inovação, destacam-se abordagens que se referem ao meio
inovador, às regiões inteligentes e territórios inovadores. Tais abordagens sustentam-se na
defesa de que a inovação não é um fenômeno de caráter individual, que ocorra somente no
interior das empresas, senão coletivo. Além disso, a inovação seria promovida pelo entorno
ou meio em que a empresa está inserida, não sendo uma resultante exclusiva nem prioritária
da decisão de um empresário inovador. Não se trataria de negar a importância da empresa e
empresário inovadores, senão que procurar ressaltar o papel do entorno ou meio na inovação.
Ou seja, ambas as dimensões, a organizativa (empresa) e espacial (o entorno territorial),
influem de forma conjunta e se complementam, ainda que a importância seja diversa segundo
o tipo de empresa. Enquanto uma grande empresa tem maior capacidade para gerar inovações,
inclusive quando suas relações com outras empresas e o meio circundante são escassas, a
pequena empresa é mais dependente dessa rede de relações que tem com o entorno, para
avançar no caminho da inovação (DALLABRIDA, 2010).
Dentre as correntes teóricas neoshumpeterianas, destacamos as principais.
O MEIO INOVADOR (Millieux Innovateurs)
As primeiras publicações sobre meio inovador resultam de estudos realizados no
Groupe de Recherche sur les Millieux Innovateurs (GREMI), liderados inicialmente por
Aydalot (1986), compreendendo também outros pesquisadores, tais como, Camagni (1995) e
Maillat (1995; 2002). Os autores referidos mostraram estar em curso um processo de
transformação das hierarquias espaciais não compatível com as teorias dominantes do
crescimento desigual, baseadas, por exemplo, em esquemas do tipo centro-periferia.
Complementarmente, afirmavam que o retrocesso de algumas tradicionais regiões centrais e a
emergência de processos de dinamismo continuado em regiões periféricas ou semiperiféricas
tornou claro que as teorias espaciais dominantes poderiam explicar as hierarquias urbanas
existentes, mas não a sua transformação, isto é, não explicavam os processos de
desenvolvimento com gênese no território. Já Crevoisier (1993), sintetiza, afirmando que os
meios geram inovações fundamentais para seu avanço, ou seja, que o sucesso nas trajetórias
de desenvolvimento de certas regiões resulta de suas capacidades intrínsecas de fabricar
novos produtos, adotar novos processos produtivos, bem como, assumir configurações
organizacionais e institucionais inovadoras.
Assim, a empresa não seria o agente inovador isolado, passando a ser parte do meio
que a faz agir. Portanto, partindo dessa compressão, os comportamentos inovadores não são
nacionais, mas territoriais e o que caracteriza os meios inovadores não é a dotação de
Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do
Planalto Norte Catarinense
252
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
atributos naturais ou de localização, mas, sobretudo a densidade do seu tecido social, ou seu
capital relacional (MAILLAT, 1995).
Para Maillat, Quèvit e Senn (1993), o meio inovador envolve os seguintes elementos
constituintes: (1) um ambiente espacial com certa homogeneidade de comportamento dos
atores e uma mesma cultura técnica, não possuindo fronteiras estabelecidas, aproximando-se
mais da noção de território do que de região; (2) um conjunto de atores dotados de autonomia
decisional e fortemente ancorados na realidade socioeconômica local (empresas, instituições
de formação e centros de I&D); (3) elementos materiais (empresas, equipamentos,
infraestruturas) e imateriais (normas, valores, saber-fazer), bem como, elementos
institucionais (formas de organização do poder público e da sociedade civil) minimamente
integrados; (4) uma lógica de interação, ou seja, um capital relacional regulador do
comportamento dos atores e promotor das dinâmicas locais de valorização dos recursos
existentes; (5) uma lógica de aprendizagem, capacitando atores para a redefinirem e
reconfigurarem os seus comportamentos, ajustando-os na medida em que se transforma o
meio externo, em especial, no nível dos mercados e da tecnologia.
Em síntese, a abordagem sobre meios inovadores sustenta-se na tese de que a inovação
tem um caráter coletivo, resultando, em especial, de fatores sócio-histórico-culturais,
econômicos e ambientais ancorados num determinado meio, o território.
AS REGIÕES INTELIGENTES E OS TERRITÓRIOS INOVADORES
Do debate recorrente sobre conhecimento e competitividade territorial, de economistas
e geógrafos, surgem duas abordagens, que apesar de terem origens diferentes, se
complementam: regiões inteligentes e territórios inovadores (DALLABRIDA, 2010).
O conceito de região inteligente surge na sequência das abordagens sobre meios
inovadores, centrado na dialética inovação e território, bem como nas dinâmicas interativas de
aprendizagem. Foi Florida (1995) quem primeiro sugeriu o conceito região inteligente
(learning region), para referir-se às regiões ou territórios capazes de funcionarem como
coletores e repositórios de conhecimentos e ideias e de proporcionarem o ambiente e as
infraestruturas facilitadoras dos fluxos de conhecimentos, ideias e práticas de aprendizagem.
Segundo Ferrão (1996), a noção de região inteligente apresenta quatro aspectos de
interesse e utilidade para o aprofundamento da relação entre inovação e desenvolvimento
territorial: (1) centra o debate em torno das condições territoriais de desenvolvimento,
complementando as visões que valorizam a ótica dos impactos territoriais; (2) cria uma matriz
que permite integrar grande parte do patrimônio recente das diversas ciências regionais,
assegurando coerência e uma finalidade clara; (3) defende uma análise preocupada em
entender de forma sistemática as práticas dos diversos atores (indivíduos e coletivos) no
quadro de comunidades territoriais específicas; (4) fornece argumentos favoráveis ao reforço
da importância das políticas de base territorial.
A alusão atribuída aos territórios inteligentes reafirma a importância de se gerar ou
incorporar conhecimentos necessários para atribuir valor de forma eficiente e racional aos
seus recursos e ativos. De outra parte, impõe-se uma progressiva identificação e incorporação
dos recursos e ativos territoriais às lógicas socioeconômicas, reafirmando a tese de que todo o
Valdir Roque Dallabrida el al.
253
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
processo de desenvolvimento requer a utilização imaginativa, racional, equilibrada e dinâmica
dos bens patrimoniais de um território, com sua valorização, tornando-se a base do
desenvolvimento territorial (CARAVACA; GARCÍA, 2009)9. Caravaca e García (2009, p.
37), afirmam:
Deste modo, parece que somente deveriam ser qualificados como inteligentes
aqueles territórios que, utilizando seus próprios recursos de uma forma ambiental,
social e economicamente eficiente, consigam gerar verdadeiros processos de
desenvolvimento territorial integrado.
Caravaca e García (2009) afirmam que em meio às múltiplas tensões e contradições a
que as sociedades atuais precisam fazer frente, na sociedade da informação e do
conhecimento, torna-se cada vez mais importante a forma como se articulam os distintos
âmbitos territoriais no espaço global de fluxos e redes. Nesse contexto, a capacidade
inovadora tem viabilizado a inserção de empresas e territórios no espaço mundial, inserindo-
se em elos da cadeia produtiva e de distribuição que permitam maior agregação de valor aos
seus produtos e serviços, enquanto outros permanecem marginalizados ou até excluídos.
A inovação, entendida, pois, tanto desde a perspectiva econômica como desde a
vertente social e institucional, se converte deste modo em um importante fator que
condiciona não só o dinamismo econômico senão também e sobretudo o
desenvolvimento territorial (CARAVACA; GARCÍA, 2009, p. 26).
Quanto à inserção dos espaços territoriais no espaço global, Maillat (2002) nos
relembra que tal inserção depende de qual lógica se submetem os sistemas produtivos
territoriais: a lógica e a territorial. As empresas que atuam sob a lógica funcional são
organizadas de maneira hierárquica, vertical, nas quais as decisões originam-se da direção
central, na maioria dos casos, situadas nos grandes centros internacionais. Estas repartem
geograficamente suas diferentes funções, de maneira a diminuir custos de transporte, níveis de
fiscalização, utilizar-se de benefícios fiscais, etc. Os territórios em que estão implantadas tais
empresas tornam-se lugar de passagem, desempenhando um papel passivo. Ao contrário, a
lógica territorial tem por objetivo a territorialização da empresa, ou seja, sua inserção no
sistema territorial de produção. Nestes casos, as empresas estão organizadas em rede
(clusters), de modo horizontal, com o meio orquestrando o sistema. As empresas mantêm
relações de cooperação/concorrência, gerando sinergias e complementaridades territoriais. O
território desempenha assim papel ativo e as empresas são enraizadas territorialmente e
contribuem para seu desenvolvimento.
É a partir deste debate teórico que autores como, Méndez (2002) introduzem o
conceito de território inovador. O conceito de inovação, para o autor, é entendido como a
capacidade de gerar e incorporar conhecimentos para dar respostas criativas aos problemas do
presente. Assim, é possível referir-se ao território inovador, fazendo referência aos âmbitos
espaciais em que seus atores e instituições forem capazes de gerar e incorporar conhecimentos
para dar respostas criativas aos desafios que se lhes apresentam em cada momento da história.
Segundo o autor, o padrão de desenvolvimento de um território inovador precisa atender às
9 Considera-se que o sentido atribuído ao termo "bens patrimoniais" de um território é o mesmo que outros
autores atribuem ao referir-se ao "capital territorial" ou "patrimônio territorial". Ou seja, ambos os termos
referem-se ao conjunto de ativos e recursos, materiais e imateriais, genéricos e específicos, disponíveis em um
determinado território. Em Dallabrida (2016), os elementos constitutivos do patrimônio territorial são
considerados referentes para as pessoas que habitam determinado território, que, ao mesmo tempo as
identificam e servem como potencialidades no processo de planejamento do futuro desejado.
Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do
Planalto Norte Catarinense
254
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
características de um desenvolvimento territorial integrado, incluindo as dimensões
econômicas do desenvolvimento, mas também, e com o mesmo destaque, as dimensões
sociais, ecológicas, culturais, ético-políticas e a ordenação territorial. Um território inovador,
então, é aquele que avança a partir desta estratégia prioritária em seu caminho para o
desenvolvimento.
Portanto, as duas abordagens, regiões inteligentes e territórios inovadores, remetem à
noção de inovação territorial, não apenas como uma simples relação entre inovação e
desenvolvimento, tendo como premissa preferencial a de que a inovação não ocorre exclusiva
ou preferencialmente na empresa, sim resulta das condições do meio e de processos de
aprendizagem social que ocorrem nos territórios.
SISTEMAS REGIONAIS E NACIONAIS DE INOVAÇÃO
Segundo argumenta Santos (2009), há um reconhecimento, atualmente, de que as
dinâmicas de inovação advêm da gestação de recursos cada vez mais dependentes da
realidade socioeconômica territorial, da criação de ativos específicos e do potencial criativo
dos agentes do desenvolvimento. Assim sendo, a noção de sistema regional de inovação faz
referência aos instrumentos para captar, incubar e promover conhecimento, adequando-o às
modernas necessidades dos sistemas produtivos locais. Assim, a promoção de arranjos
institucionais e organizacionais voltados à inovação tem sido mais frequente, assumindo que a
competitividade e sustentabilidade regionais tem uma forte relação com a capacidade das
empresas e instituições de inovar, pelo incremento da sua base de conhecimentos. A base
conceitual e metodológica dos sistemas regionais de inovação filia-se no ideário proveniente
da teoria dos sistemas e da economia da inovação, reconhecendo que a tecnologia e a
inovação dependem de um complexo socioeconômico de interações (SANTOS, 2009).
Lundvall (1992) e Nelson (1993) introduzem o conceito de sistemas de inovação,
destacando que o processo de inovação caracteriza-se, fundamentalmente, pelo aprendizado
interativo. São centrais os conceitos de aprendizado contínuo e interações entre os agentes.
Segundo esta concepção, conhecimento e aprendizado são, respectivamente, recurso e
processo fundamentais na economia e na sociedade atuais. Dessa forma, segundo o conceito
de sistemas de inovação, a inovação e o desenvolvimento originam-se de condições
particulares, sociais, institucionais e de características histórico-culturais. São os elementos e
as relações presentes em determinado sistema que poderão determinar a capacidade de
aprendizado de um país, região ou localidade, e assim, a capacidade de inovação e de
adaptação às mudanças do ambiente. Com isso, o conceito faz referência a sistemas locais,
regionais e nacionais de inovação. Assim um sistema de inovação compreende um
determinado sistema produtivo e o meio político institucional envolvente, indo da escala
regional à nacional, até à internacional (LUNDVALL, 1992; NELSON, 1993).
Tais abordagens ressaltam o caráter sistêmico das inovações, relacionando-se ao
potencial de transcender a visão linear da mudança tecnológica, segundo a qual,
necessariamente, parte-se das atividades de pesquisa e desenvolvimento, passando pela
inovação e difusão, para chegar-se ao incremento da produtividade. A abordagem sistêmica
está por trás da noção de que o desenvolvimento somente é possível através de uma estratégia
que reúna inovações tecnológicas, organizacionais e institucionais e que integre aspectos
econômicos, sociais e ecológicos (DALLABRIDA, 2010).
Valdir Roque Dallabrida el al.
255
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
A CONTRIBUIÇÃO DE OUTRAS ABORDAGENS QUE RELACIONAM INOVAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO À PERSPECTIVA TERRITORIAL
São muitos os autores que, somando-se aos já referenciados, estabelecem uma relação
causal entre inovação, desenvolvimento e o ambiente empresarial e territorial.
Boisier (2011) defende a dependência territorial dos processos sociais, em especial, de
desenvolvimento, admitindo a necessidade de intervenção humana. Para o autor, o
desenvolvimento consiste na criação de condições de entorno para que os indivíduos
potenciem seu status de pessoa humana, apontando como referência as noções de dignidade, o
indivíduo como sujeito da sua história, à possibilidade de convivência digna e pacífica,
incluindo, também a dimensão espiritual. Por fim, o autor ressalta algumas condições para o
desenvolvimento que atenda a dimensão de pessoa humana: (i) uma matriz produtiva com
forte incorporação de progresso técnico; (ii) uma matriz social bem dotada de capital social;
(iii) uma matriz política com elevado capital cívico; (iv) uma matriz científico-tecnológica
com possibilidade de expandir-se; (v) uma matriz ecológica que aponte a um padrão de
desenvolvimento sustentável ambientalmente; (vi) uma matriz cultural produtora de uma clara
identidade territorial.
Outro autor, Barquero (2011), afirma que nas últimas décadas, com cada vez maior
frequência as empresas e as organizações direcionam suas decisões de investimento e
localização nos territórios mais dinâmicos e inovadores, convertendo-os em lugares
estratégicos de crescimento econômico e progresso social. Com isso, os processos de
transformação e mudanças não são produzidos de maneira uniforme nos territórios. Ocorrem
nos espaços inovadores que exercem a liderança nos processos de desenvolvimento, pelo fato
de serem capazes de instrumentar suas decisões através de sistemas criativos de produção, de
organização e de interação. "O efeito resulta particularmente positivo nas cidades e regiões
criativas já que abrem oportunidades crescentes às empresas inovadoras em todo o tipo de
atividades" (p. 87).
Por fim, cabe destacar a referência que alguns autores fazem à categoria conceitual
inteligência territorial. Farinós (2011) se refere à inteligência territorial como o conhecimento
necessário para poder compreender as estruturas do sistema territorial e suas dinâmicas, assim
como o conjunto de instrumentos empregados pelos atores públicos e privados para
produzirem, utilizarem e compartilharem este conhecimento em favor de um desenvolvimento
territorial sustentável. "Partindo desta perspectiva a inteligência territorial é uma ferramenta
para a governança territorial e a participação a força motriz da mesma" (p. 46). Para o autor,
se requer a existência de um adequado capital intelectual de inteligência territorial e de um
suficiente nível de conhecimento disponível entre os atores implicados no desenvolvimento
territorial.
Já, para Girardot (2009) a inteligência territorial é um meio para os investidores, os
atores e a comunidade territorial adquirir um melhor conhecimento do território, no entanto,
também, de fazer parte do processo de desenvolvimento. Para o autor, a apropriação de
tecnologias da informação e da comunicação é uma etapa indispensável para que os atores
introduzam um processo de aprendizagem que lhes permita atuar de maneira pertinente e
eficiente. A inteligência territorial é útil para ajudar os atores territoriais a projetar, definir,
animar e avaliar as políticas e ações de desenvolvimento territorial sustentável.
Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do
Planalto Norte Catarinense
256
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL: UMA SÍNTESE
Como visto, as diferentes abordagens sobre inovação empresarial e territorial,
resumidamente, apontam para dois pressupostos, não necessariamente contraditórias, mas
complementares. Primeiro, a visão schumpeteriana de inovação, ressaltando que o
conhecimento tecnológico, a existência de instituições eficientes e o espírito empreendedor do
empresário são decisivos para o sucesso empresarial, com reflexos positivos no
desenvolvimento. Já as abordagens neoshumpeterianas sobre inovação, defendem que o
desenvolvimento não necessariamente acontece por rupturas radicais, podendo se dar de
forma adaptativa e progressiva, destacando o papel da aprendizagem, com o que a inovação
não é um fenômeno de caráter individual, mas coletivo.
Ou seja, ambas as dimensões, a organizativa (empresa) e espacial (o entorno
territorial), influem de forma conjunta e se complementam. Portanto, tais abordagens,
remetem à noção de inovação territorial, com o que a inovação não ocorre exclusiva ou
preferencialmente na empresa, sim resulta das condições do meio e de processos de
aprendizagem social que ocorrem nos territórios. E essas são condições essenciais para a
qualificação do processo de desenvolvimento (DALLABRIDA, 2010).
Sobre desenvolvimento, assumimos a acepção expressa em Dallabrida (2015, p. 235):
O desenvolvimento territorial é entendido como um processo de mudança
continuada, situado histórica e territorialmente, mas integrado em dinâmicas
intraterritoriais, supra territoriais e globais, sustentado na potenciação dos recursos e
ativos (materiais e imateriais, genéricos e específicos) existentes no local, com vistas
à dinamização socioeconômica e à melhoria da qualidade de vida da sua população.
Portanto, o que se almeja quando fazemos referência ao desenvolvimento é que as
mudanças resultantes da forma de ocupação dos territórios resultem não apenas na
dinamização socioeconômica, mas, essencialmente, na melhoria da qualidade de vida para sua
população. E falar de inovação empresarial em um setor produtivo que tem importância
regionalmente, como o caso do setor ervateiro no PNC, é falar da possibilidade de
qualificação do processo de desenvolvimento da referida região. Mas como está o
posicionamento desse setor empresarial do PNC?10
Essa é uma interrogação que motivou as
investigações das quais resultaram este texto.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O processo de investigação esteve focado no estudo do setor empresarial ervateiro de
municípios do Planalto Norte Catarinense11
. Na Figura 1, está a localização dos municípios
que compõem este recorte territorial, nos quais estão localizadas as empresas que foram
objeto de pesquisa.
10
Salientamos que a resposta a esta questão exige muito mais investigações. Nesta, daremos um primeiro passo. 11
Considerando que a caracterização socioeconômica do PNC é tema de artigos que compõem a presente edição
da revista DRd, não aprofundaremos aqui o tema.
Valdir Roque Dallabrida el al.
257
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
Figura 01 – Localização dos municípios que compõem a região do Planalto Norte Catarinense
Fonte: Elaboração de Maikon Waskiewic, a partir da base de dados do IBGE
Para atender a um dos objetivos específicos da investigação - conhecer os principais
usos da erva-mate como matéria-prima industrial -, foi realizada uma pesquisa em sites de
todas as empresas que se teve acesso, seja do Estado de Santa Catarina, de outros estados
brasileiros e do exterior. Nesse aspecto, o limite do universo pesquisado foi a possibilidade de
acesso por meio de sites de busca na internet, no período da pesquisa, janeiro até maio de
2016. O critério de pesquisa foi acessar empresas que produzissem outros produtos, além da
erva-mate para chimarrão e chás.
Nos municípios do PNC consta a existência de vinte e seis empresas ervateiras12
. Esse
número foi apurado em pesquisa feita nos arquivos das prefeituras dos municípios da região,
no mês de maio/2016, por meio de consulta aos responsáveis pelo cadastro industrial.
Portanto, o número de empresas no PNC é um dado que demonstra a importância desse setor
para a economia regional.
Com o propósito de averiguar questões referentes à inovação no setor empresarial
ervateiro do PNC, elaboramos um instrumento de pesquisa, com questões estruturadas e
semiestruturadas. A escolha das empresas para a pesquisa foi aleatória. Fizemos o convite
para a participação a todas as empresas dos treze municípios do PNC, no total de 26. A partir
da manifestação do interesse das empresas em responder a pesquisa, enviamos formulário
para 17 empresas. Destas, no período estabelecido, 11 empresas retornaram com a resposta ao
12
O dado é aproximado, pela falta de estatísticas mais atualizadas disponíveis para consulta nas prefeituras, além
do fato de que ocorre anualmente fechamento ou abertura de novas empresas, em especial as de pequeno
tamanho.
Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do
Planalto Norte Catarinense
258
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
instrumento de pesquisa. Com base nas respostas dessa amostra de empresas é que foram
compilados os dados e feitas as análises.
Assim, foram pesquisadas empresas dos seguintes municípios catarinenses: Bela Vista
do Toldo, Campo Alegre, Canoinhas, Itaiópolis, Monte Castelo e São Bento do Sul. O
município com maior número de empresas pesquisadas foi Canoinhas. Na sequência,
apresentamos os resultados do presente estudo, nesse primeiro estágio de investigação.
RESULTADOS DA INVESTIGAÇÃO E ANÁLISES
Inicia-se a apresentação dos resultados da investigação, pela descrição do que resultou
da pesquisa sobre produtos que utilizam a erva-mate como matéria-prima.
Pela pesquisa sobre a variedade de produtos industrializados, que utilizam a erva-mate
como matéria-prima foram obtidos os seguintes resultados: (i) acessou-se a um total de
sessenta e duas empresas, no Brasil (57) e no exterior (5), que produzem e/ou comercializam
produtos à base de erva-mate, não incluindo neste número, empresas que produzissem apenas
erva-mate para chimarrão, além de erva para chás e tererê; (ii) a pesquisa chegou a uma lista
extensa de produtos, como é possível verificar no Quadro 1.
Quadro 1 – Listagem de produtos industrializados tendo a erva-mate como matéria-prima
Categoria Produto(s) Uso/características
Alimentos Chocolate Chocolate com erva-mate e cacau
Alimentos Extrato líquido de erva-mate Para preparo de Alimentícios
Alimentos Farimate Farinha de trigo com adição de erva-mate
Alimentos Sorvete de erva-mate Alimento gelado na forma de sorvete
Bebida Absinto Bebida com teor alcoólico
Bebida Bebida à base de mate, adoçada com açúcar
de cana ou de estévia Bebida para consumo em geral
Bebida Bebida hidroeletrolítica Bebida para atletas
Bebida Cerveja à base de erva-mate Bebida com teor alcoólico
Bebida Champagne de erva-mate Bebida gaseificada à base de erva-mate
Bebidas Chás Solúveis em Pó Para preparo de sucos e bebidas
Bebidas Concentrado de Erva-Mate Orgânico Para preparo de sucos e bebidas
Bebida Destilado Bebida destilada para consumo com teor
alcoólico
Bebida Drink Energético orgânico Drink energético natural à base de erva-mate
orgânica
Bebida Energy Drink Energético Bebida energética à base de erva-mate
Bebida Mate expresso tostado e natural Bebida, para uso como chá
Bebida Mate solúvel Chá solúvel de erva-mate
Bebida Mate Verde Instantâneo Bebida, para uso como chá
Bebida Preparado Líquido de Chá Mate Para preparo de sucos e chás
Bebida Suco com erva-mate Sucos
Bebida Tererê líquido com sabores de frutas Sucos para tomar
Bebidas Xarope de Chá Mate Orgânico Para preparo de sucos e bebidas
Cosméticos Body Splash Creme para o corpo
Cosméticos Condicionador de cabelos Condicionador de cabelos
Cosméticos Creme Hidratante Corporal Previnem o envelhecimento da pele
Cosméticos Creme hidratante Facial Ação revitalizante e tônus muscular da pele,
Valdir Roque Dallabrida el al.
259
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
Cosmético Creme Hidratante para mãos Uso nas mãos
Cosmético Creme Hidratante para pés Uso nos pés
Cosméticos Creme para pentear Para os cabelos
Cosméticos Desodorante colônia Desodorante corporal
Cosméticos Extrato oleoso de erva-mate Produto lipossolúvel para preparo de
cosméticos e produtos de limpeza
Cosméticos Extratos líquidos hidroalcoólicos Para uso em produtos de uso capilar
Cosméticos Fitoblend de Saponinas
Mix de extratos ervas, com o mate, para
produção de cosméticos
Cosméticos Fitoglicerinado de Erva-Mate Composto básico a base erva-mate para preparo
de cosméticos
Cosméticos Fluído Termoprotetor Protetor de fio de cabelo
Cosméticos Geleia Hidratante Hidratantes nutritivo e protetor da pele
Cosméticos Glicólicos de erva-mate Produtos hidrossolúveis: composto básico para
preparo de cosméticos
Cosméticos Gloss Labial Uso nos lábios
Cosméticos Loção de Limpeza demaquilante Limpar e renovar as peles normais e secas
Cosméticos Manteiga Esfoliante Propriedades tonificantes e adstringentes e
micropartículas de limpeza
Cosméticos Máscara Capilar Biorreconstrutora Reconstrução da estrutura capilar
Cosméticos Óleo bifásico Para o corpo
Cosméticos Óleo Hidratante de Banho Produto com flavonoides que previnem o
envelhecimento da pele
Cosméticos Polpa Cremosa Hidratante Propriedades revitalizantes e energizantes
Cosméticos Sabonete Esfoliante Facial Para esfoliação profunda na pele
Cosméticos Shampoo Biorreconstrutor Limpeza e fortalecimento dos fios danificados e
quimicamente tratados
Cosméticos Shampoo fortalecedor Shampoo Capilar
Higiene e
limpeza Água de Cheiro para Tecidos Para perfumar roupa
Higiene e
limpeza Aromatizante de ambiente Para perfumar ambiente
Higiene e
limpeza Desodorante Uso pessoal
Higiene e
limpeza Difusor de aromas Para perfumar ambiente
Higiene e
limpeza Espuma de Banho Limpeza e hidratação
Higiene e
limpeza Espuma de barbear Para barbear
Higiene e
limpeza Gel pós-barba Para barbear
Higiene e
limpeza Loção Pós-Sol Para a pele
Higiene e
limpeza Mascara facial Capilar
Higiene e
limpeza Pasta esfoliante para os pés Tonificantes e adstringentes
Higiene e
limpeza Sabonete em barra Corporal e limpeza em geral
Higiene e
limpeza Sabonete líquido Para mãos
Higiene e
limpeza Sal de banho Relaxantes e antiestresse
Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do
Planalto Norte Catarinense
260
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
Higiene e
limpeza Vela aromática Vela aromática para ambientes
Higiene e
limpeza Vela de massagem Nutrem, tonificam e hidratam a sua pele
Saúde Erva-mate em cápsulas Diminuição do colesterol e funcionamento do
intestino
Saúde Florais Uso interno
Saúde e
Alimento Extrato fluído de erva-mate Usos diversos
Saúde e
Alimento Extrato glicólico de erva-mate Usos diversos
Saúde e
Alimento
Extrato líquido de erva-mate
(verde, estacionado e tostado) Usos diversos
Saúde e
Alimento
Extrato seco de erva-mate (com vários
níveis de cafeína) Usos diversos
Saúde e
Alimento
Extrato seco de erva-mate (verde,
estacionado e tostado) Usos diversos
Outros usos Corante natural de erva-mate verde oliva Tingimento de tecidos
Fonte: Dados da Pesquisa, a partir da consulta aos sites de empresas (2016)
Como é possível observar na lista de produtos o uso principal da erva-mate é na linha
de bebidas, cosméticos e higiene e limpeza, e secundariamente, em alimentos e produtos para
promoção da saúde.
Na Figura 2, os dados do Quadro 1 são apresentados na forma de números absolutos
de produtos pertencente às diferentes classificações.
Figura 2 – Classificação dos produtos do Quadro 1
Alim
ento
Beb
ida
Cosm
étic
o
Hig
iene
e lim
peza
Saú
de e
alim
ento
Outr
o
0
10
20
30
17
04
25
15
07
01Nú
mem
ro d
e p
rod
uto
s
Fonte: Dados da Pesquisa, a partir da consulta aos sites de empresas (2016)
Valdir Roque Dallabrida el al.
261
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
Através da análise destes dados é possível detectar que os elementos que caracterizam
a inovação se manifestam de forma mais intensa nos segmentos de cosméticos, que nos
segmentos de alimentos e bebidas. A fitocosmética se dedica ao estudo e à aplicação dos
conhecimentos da ação dos princípios ativos extraídos de espécies do reino vegetal, em
proveito da higiene, da estética, da correção e da manutenção de um estado normal e sadio da
pele e cabelo. Este interesse na utilização de extratos de erva mate na preparação de
cosméticos naturais pode ser correlacionada com evidências científicas da sua ação
antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana (BRAVO, GOYA e LECUMBERRI et al.,
2007; LANZETTI et al., 2008) justificando assim seu emprego nesta categoria. Indo além
neste tema, com a utilização das plantas nos produtos cosméticos foram desenvolvidos os
cosméticos orgânicos, que são fabricados com ingredientes que seguem normas de qualidade
e sustentabilidade obedecendo a normas rígidas de certificação capazes de garantir, ao
consumidor final, a qualidade orgânica dos produtos adquiridos (BORGES, GARVIL, ROSA,
2013). Por isso, os orgânicos, aos poucos estão ganhando mercado, não só nos alimentos, mas
agora também em cosméticos e podem ser considerados uma interessante estratégia para a
inovação em cosméticos a partir da erva mate. Tendo em vista que a produção orgânica
obedece às normas rígidas de certificação que exigem além da não utilização de agrotóxicos e
drogas venenosas, os cuidados elementares como a conservação e a preservação de recursos
naturais e condições adequadas de trabalho tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e
ecológica, um produto cosmético orgânico a partir da erva mate pode ser considerada uma
estratégia de inovação e desenvolvimento do território do PNC.
Apesar de ainda pouco expressivo quando comparados às outras classificações, foi
observado que existe no mercado cápsulas a base de erva mate moída que são utilizadas pela
população para a diminuição do colesterol. De fato, um estudo conduzido em humanos
demonstrou que a redução dos níveis de colesterol foi maior naqueles indivíduos que
consumiam a erva mate juntamente com o medicamento, sugerindo assim a utilização da erva
mate como nutracêutico (MORAIS et al., 2009). O termo nutracêutico vem da junção de
“nutriente” e “farmacêuticos”, pois os nutrientes têm a capacidade comprovada de
proporcionar benefícios à saúde, como a prevenção e o tratamento de doenças (MORAES;
COLLA, 2006).
Ressalte-se que, apesar das muitas possibilidades de uso da erva-mate como
fitomedicamento, conforme já salientado no início do texto, nos sites pesquisados detectaram-
se informações apenas sobre o uso sob a forma de extrato líquido ou seco, o que, neste caso, é
classificado como complemento alimentar. Isso, pois, não foi feita a consulta em laboratórios
de medicamentos, nos quais seria possível identificar alguns produtos que já estejam no
mercado. Para concluir, nos últimos anos a pesquisa na área de produtos naturais tem
progredido devido aos avanços tecnológicos e dessa forma a avaliação da dinâmica da
inovação em bionegócio (nutracêutico ou até mesmo fitomedicamento) a partir da erva mate
pode ser inserida dentro da temática da inovação e desenvolvimento territorial do PNC.
Apesar da existência de estudos acadêmicos, muito ainda há por ser feito, até que se
vislumbre um maior uso da erva-mate como medicamento. Isso aponta para a necessidade de
estudos nesta área13
.
13
No curso de Farmácia da Universidade do Contestado, estão sendo realizados estudos, alguns já na fase de
testes em humanos, sobre efeitos terapêuticos da erva-mate. Destes e outros estudos, poderão resultar futuras
inovações em novos usos da erva-mate, neste caso, na fabricação de fitomedicamentos. Um dos artigos dessa
edição da DRd, trata do tema.
Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do
Planalto Norte Catarinense
262
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
A segunda dimensão da investigação trata da pesquisa no setor empresarial ervateiro
do PNC, levantando dados e informações que pudessem apontar indicativos em relação à
inovação. Como salientado, esta parte da investigação utilizou-se de um instrumento de
pesquisa aplicado a uma amostra de onze empresas da região, conforme apresentado no
Anexo 1.
A pesquisa realizada com empresas apurou uma série de informações e/ou dados: (i)
quanto ao ano de fundação, as mais antigas foram fundadas, em 1918 e 1938; das demais, seis
foram fundadas entre as décadas de 1970 e 1980, uma na década de 1990 e as mais recentes
foram fundadas em 2009 e 2011; (ii) quanto à origem da erva-mate beneficiada pelas
empresas, 48% provêm de municípios do PNC e outros 42% de municípios próximos, no
Paraná (Figura 3); (iii) o beneficiamento ou industrialização da erva-mate para chimarrão é,
majoritariamente, o produto que compõe o portfólio das empresas pesquisadas, sendo que, de
forma pouco significativa, algumas empresas também produzem chás, palito ou erva-mate
para tererê, com uma empresa terceirizando a produção de picolé sabor erva-mate.
Figura 3 – Origem da matéria-prima beneficiada/industrializada nas empresas pesquisadas
Fonte: Pesquisa (2016)
Podemos constatar que o setor industrial ervateiro do PNC tem muitos desafios a
superar: (i) possuem uma pequena variedade em seu portfólio de produtos, se compararmos
ao que é encontrado atualmente no mercado nacional e internacional; (ii) além da erva-mate
para chimarrão, mesmo a produção dos demais produtos, na maioria das empresas, é uma
iniciativa recente.
O fato positivo é que, segundo dados da amostra pesquisada, 48% da matéria-prima
erva-mate provém da própria região do PNC. Se somada com a que se origina de áreas muito
próximas, o caso do Centro Sul do Paraná, recorte territorial contíguo, esse montante chega a
90%. Essas áreas, além de se constituírem numa das maiores produtoras do Brasil, a erva-
mate que tem origem nelas, é considerada da melhor qualidade, somado ao fato de que tem
um diferencial: mais de 80% é oriunda da extração de folhas em formações de remanescentes
Planalto Norte
Catarinense
48%
Outros municípios do Estado de
Santa Catarina 5%
Paraná, próximos à
nossa região 42%
Outros Estados brasileiros
5%
Outros países 0%
Origem da erva-mate
Valdir Roque Dallabrida el al.
263
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
da Floresta Ombrófila Mista, podendo ser considerada uma atividade sustentável
ecologicamente (MARQUES, 2014)14
.
Sobre a opinião dos empresários em relação ao reduzido portfólio de produtos, 27%
das empresas considera suficiente continuar trabalhando com poucos produtos, enquanto 73%
delas tem interesse em diversificar a produção. Perguntados sobre se consideram que a
empresa poderia atuar no mercado com mais produtos e qual o motivo que justifica não ter
ampliado sua quantidade, 55% das empresas responderam que, mesmo tendo procura fora da
região ou no exterior, as atividades atuais da empresa são suficientes para manter-se no
mercado. Os demais respondentes afirmaram ser importante diversificarem a produção e
apresentaram como justificativa a desunião entre os sócios, a questão dos baixos preços da
erva-mate e a mentalidade conservadora dos dirigentes, além das poucas pesquisas sobre o
tema.
Veja-se que as respostas dão indicativo de pouca dinamicidade em termos de
inovação. É significativo o número de respostas que indicam certa acomodação do setor, em
função de estarem conseguindo competir no mercado, mesmo sem ensejarem avanços. No
entanto, as respostas, também, apontam para o reconhecimento dos desafios que precisam ser
enfrentados, como o caso da diversificação da produção e novas investigações que interessa
ao setor.
Já, quanto ao destino dos produtos industrializados e comercializados pelas empresas
pesquisadas, o mercado consumidor regional e nacional é majoritário ainda; para cinco
empresas corresponde a 100% da produção, enquanto para outras quatro, oscila entre 50 e
70%. O mercado internacional como destino da produção, para uma empresa oscila entre 70 e
95%, duas entre 50 e 70% e para três outras, representa menos de 50%. As demais não atuam
no mercado internacional. Ou seja, os dados apontam que o mercado regional e nacional
consegue oportunizar certa competitividade do setor produtivo regional. Certamente, o fato
das empresas da região estarem relativamente próximas a um dos maiores mercados
consumidores, além do interior do estado de Santa Catarina, que é o mercado gaúcho, no
vizinho estado do Rio Grande do Sul, em muito contribui para a manutenção do setor.
Questionados os representantes das empresas sobre a inovação empresarial, tivemos as
seguintes respostas: (i) duas referiram que não têm inovado em nada; (ii) quatro disseram
inovarem em máquinas, três em embalagens, três em programas de qualidade; (iii) duas
consideraram a exportação como uma inovação; (iv) outras respostas individuais variaram,
afirmando que inovam em novos pontos de venda, sua inserção em roteiros turísticos,
promoção de eventos e manutenção de site atualizado; (v) no entanto, somente três empresas
disseram inovar no lançamento de novos produtos. Os motivos alegados para não inovar
variaram entre desunião dos sócios, pouco incentivo na produção, mente conservadora,
resistência dos sócios da empresa, falta de pesquisa, de conhecimento e capacitação das
pessoas envolvidas nas empresas.
Portanto, estas respostas estão entre as mais agravantes em relação ao setor quanto à
inovação. Somente três empresas demonstraram estarem preocupadas com a inovação em
novos produtos. As demais dimensões apontadas como ações inovadoras, o são apenas em
parte, como o exemplo de embalagens e máquinas. Nestes casos, em geral, tais inovações
14
Vejam-se mais dados sobre a produção ervateira regional, nos demais artigos dessa edição da DRd.
Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do
Planalto Norte Catarinense
264
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
atendem exigências do mercado quanto à qualidade dos produtos, em outros casos, atendem
às exigências de adequação legal.
Sobre os fatores favoráveis ao sucesso do setor industrial da erva-mate no PNC
(Figura 4), mereceram destaque a qualidade da matéria-prima (46%), a tradição (15%) e a
disponibilidade de matéria-prima regionalmente (15%). Outros fatores são mencionados, tais
como, a existência regional da erva-mate nativa, o clima favorável e as parcerias do setor.
Em relação aos fatores favoráveis ao sucesso do setor empresarial ervateiro, constata-
se o reconhecimento de vantagens competitivas, como a questão do diferencial de qualidade
da matéria-prima produzida próxima à região em estudo. A questão que fica é porque tais
vantagens não são suficientemente capitalizadas, como o caso de que mais de 80% do produto
provém de ervais nativos. Produtos com este diferencial são reconhecidos pelos consumidores
dos estados do sul do Brasil, como de qualidade superior. Isso mostrado no fato de que muitas
ervateiras que atuam no Rio Grande Sul vêm buscar erva-mate na região aqui destacada, para
fabricar a erva-mate preferida pelos consumidores daquele estado15
.
Figura 4 – Fatores considerados favoráveis ao sucesso do setor industrial da erva-mate no PNC
Fonte: Pesquisa (2016)
Quanto às dificuldades apontadas pelos respondentes em relação ao setor, predominou
a indicação da falta de união entre o setor ervateiro regional como a principal (23% das
respostas). Vem na sequência, a concorrência (15%) e outras respostas com percentuais entre
7 e 8%, tais como: baixo incentivo e imaturidade administrativa dos órgãos públicos; falta de
capacitação dos envolvidos no setor; restrições relacionadas à legislação ambiental e
trabalhista; necessidade de prospectar inovações no setor e novos mercados, além do baixo
preço do produto erva-mate.
15
Mesmo que esse dado não tenha sido objeto de pesquisa desta investigação, tal constatação é de conhecimento
público. Marques (2014) fez estudos que apontam nesta direção. No entanto, um dos artigos desta edição da
DRd, apresenta dados mais precisos e atualizados.
8%
15%
46%
15%
8% 8%
Clima
Tradição
Qualidade da matéria prima
Disponibilidade de matéria prima
Parcerias
Erva Nativa
Valdir Roque Dallabrida el al.
265
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
Portanto, a investigação permitiu elucidar algumas questões sobre o setor industrial
ervateiro do PNC. Umas são óbvias para quem vive na região e conhece minimamente o setor.
Outras permitem reflexões, algumas delas comentadas na sequência.
Analisando os dados, várias questões podem ser elencadas como significativas: (i)
76% dos inqueridos reconhecem como fator de competitividade do setor industrial do PNC, a
qualidade diferenciada da matéria-prima juntamente com a tradição histórica na produção
regional da erva-mate; (ii) as respostas comprovam outra vantagem competitiva do setor:
poderem se abastecer da matéria-prima em áreas do PNC ou muito próximas; (iii) apesar de
um número significativo de empresários referirem-se à importância de inovar, em especial, na
diversificação dos produtos, contraditoriamente, mais da metade das empresas pesquisadas
afirmam que as atividades atuais da empresa são suficientes para manter-se no mercado, ou
seja, transparece certa acomodação do setor em termos de inovação; (iv) quanto ao destino da
produção, quase a metade atua apenas no mercado regional e nacional; no entanto, é
significativo o destino na produção para o mercado externo16
.
Já quanto à relação da variável variedade de produtos com a inovação, podemos
afirmar que o setor empresarial regional está situado numa situação que merece um
reposicionamento dos empresários. Analisando os dados das 11 empresas pesquisadas, 7 delas
apenas produzem erva-mate para chimarrão, sendo que apenas 4 possuem mais produtos em
seu portfólio. Ao se comparar, mesmo os novos produtos das empresas regionais, com os da
lista pesquisada, percebe-se que se trata de produtos que exigem pouca inovação
tecnológica17
.
Estas são as questões que podem ser consideradas de maior importância. Finalizemos
com algumas considerações, reflexões e indicativos de novos estudos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das constatações e análises que os dados levantados permitem, várias
considerações são procedentes, sendo que se dará destaque às mais impactantes tanto no setor,
como no desenvolvimento da região.
Para avaliar o posicionamento em termos de inovação empresarial do setor industrial
ervateiro do PNC, centra-se o foco numa variável: a variedade do portfólio de produtos das
empresas regionais. Mesmo que se concorde que há uma limitação em se avaliar um setor
apenas por uma variável, entende-se que é significativo, por duas razões: (i) o fato de que se
têm empresas que atuam no mercado há quase um século; (ii) o fato de que o setor situa-se
16
Mesmo que a pesquisa não tenha apurado este dado, o que poderá ser feito em estudos futuros, sabe-se por
informações informais com empresários do setor, que atualmente mais de 50% da produção de erva-mate, em
especial das empresas mais bem estruturadas, é exportada para países do Mercosul, Europa e Ásia. O problema
é que esta exportação, na sua quase totalidade, é de produto semibeneficiado, agregando pouco valor à
produção. 17
Sobre a questão da inovação nas empresas, precisa-se reconhecer que, em virtude das empresas pesquisadas
atenderem predominantemente o mercado regional e nacional, tal fato não exige que as mesmas inovem, pois o
consumidor não busca adquirir novos e diferenciados produtos. Ou seja, pode-se conjecturar que para setores
tradicionais como o ervateiro, a inovação em novos produtos não seja uma exigência essencial. É uma discussão
para se aprofundar.
Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do
Planalto Norte Catarinense
266
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
próximo a uma região produtora de erva-mate da melhor qualidade, o que é reconhecido por
empresários de outros estados, como o Rio Grande do Sul, onde há um grande consumo do
produto e tem a presença significativa de empresas do setor ervateiro que, em função da
qualidade diferenciada, buscam matéria-prima no PNC e Centro Sul do Parará, para fazer um
mix com a erva-mate tipo especial, lá produzida. Poderíamos nos questionar: quais fatores
dificultam avanços no setor ervateiro regional, considerando que o mesmo pode contar com
uma vantagem competitiva da maior importância, ou seja, estar próxima a região produtora da
erva-mate da melhor qualidade do Brasil?
Alguns dados da pesquisa explicam, ao menos em parte, esta importante questão. A
justificativa apontada na pesquisa com as empresas, ao justificarem por que pouco inovam,
pode nos dar uma pista, ao se ouvir a afirmação sobre a existência regionalmente de uma
mentalidade empresarial conservadora por parte dos dirigentes de empresas, haver resistência
dos sócios de empresas em inovar e ao afirmarem existir falta de conhecimento e capacitação
das pessoas envolvidas no setor.
No entanto, como vimos na revisão da literatura sobre inovação, não devemos atribuir
apenas ao empresário a culpa por não inovar, ao considerar que a inovação não é um
fenômeno de caráter individual, senão coletivo. Ou seja, abordagens teóricas defendem que
inovação seria promovida pelo entorno ou meio em que a empresa está inserida. Não se trata
de negar a importância da empresa e empresário inovador, senão que ressaltar o papel do
entorno e do meio institucional na inovação.
Eis uma questão que merece reflexão: quais as condições que o meio institucional
regional oferece ou deixa de oferecer ao setor? Falamos das instituições de pesquisa e
extensão rural, das associações representativas do setor empresarial, do apoio público
oferecido ao setor, da adequabilidade da legislação que regula a atividade de extração e
beneficiamento da erva-mate. Neste quesito, certamente há muito que se fazer, mesmo que,
mais recentemente, algumas iniciativas estejam sendo executadas. Destaco duas: (i) pesquisas
recentes realizadas no único programa de mestrado que funciona na região18
; (ii) ações
articuladas pelo órgão estadual catarinense de pesquisa e extensão (Epagri), com apoio do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com o fim de se conseguir o
reconhecimento da tradição e notoriedade da erva-mate regional, por meio da Indicação
Geográfica.
De outra forma, também, nem tudo deve ser atribuído ao meio institucional. A
iniciativa empresarial é fundamental para o avanço do setor. Neste sentido fica o indicativo de
que o setor industrial ervateiro do PNC tem um importante desafio a superar: investir em
pesquisa, qualificar seus dirigentes e funcionários, para habilitar-se a competir no mercado
nacional e internacional, nos mesmos padrões de competitividade utilizados por empresas que
há mais tempo inovaram, por exemplo, ampliando seu portfólio de produtos e buscando
mercado para os mesmos. Isso ocorrendo, os impactos do setor ervateiro no desenvolvimento
da região do PNC seriam mais significativos, pois se estaria gerando novos empregos e
melhor remunerados, possibilitaria o aumento da área de cultivo de erva-mate com o que mais
produtores poderiam se envolver na atividade, ocorreria qualificação do processo produtivo,
oportunizaria maior arrecadação tributária, com isso, melhorando o retorno de recursos para
18
No dossiê, do qual faz parte este artigo está publicado resultados de pesquisas neste setor.
Valdir Roque Dallabrida el al.
267
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
os poderes públicos disponibilizarem no investimento em novos serviços públicos, dentre
outros aspectos positivos.
Esse reposicionamento do setor industrial ervateiro do PNC é fundamental, dentre
outras razões, para superarmos uma característica histórica da região: a tradição extrativista da
economia. Isso, pois, o extrativismo vegetal, como atividade econômica é a que menos
riqueza gera, por agregar pouco valor à produção. Isso ocorreu com a fase extrativista das
madeiras nobres do início até meados do fim do Século XX. No caso da erva-mate,
considerando que nos primórdios de sua exploração, a maior parte saia da região na forma in
natura, sendo beneficiada em outros centros urbanos, podemos também falar numa atividade
de caráter extrativista. Ao constatar que, atualmente, parte significativa da erva-mate é
exportada na forma de produto semibeneficiado, poderíamos afirmar que a atividade não
superou totalmente o caráter de economia predominantemente extrativista19
.
Uma última reflexão: quando fizemos referência às condições que o meio institucional
oferece ou deixa de oferecer ao setor ervateiro regional, dividimos a responsabilidade entre
empresários do setor e as instituições públicas e privadas do PNC. Ou seja, para contribuir no
avanço e inovações no setor ervateiro regional, precisamos regionalmente assumir o caráter de
um “território inovador”, nos tornando capazes de gerar ou incorporar conhecimentos
necessários para atribuir valor de forma eficiente e racional aos nossos recursos e ativos.
Outra recomendação de autores referenciados é que a capacidade inovadora regional é que
viabiliza a inserção de empresas e territórios no espaço mundial, inserindo-se em elos da
cadeia produtiva e de distribuição que permitam maior agregação de valor aos seus produtos e
serviços (FERRÃO, 1996; MÉNDEZ, 2002; CARAVACA; GARCÍA, 2009).
E quais as implicações das recomendações dos autores quanto à dimensão coletiva da
inovação, no caso do setor ervateiro do PNC? Uma delas, que já está sendo operacionalizada
em parte, é o aumento das pesquisas científicas de parte das instituições universitárias
localizadas regionalmente, muitas das quais resultarão em inovações no setor20
. Outra, a
necessidade de instituir regionalmente um centro ou instituto de pesquisa e inovação da erva-
mate, na forma de rede, integrando instituições regionais, tais como a UnC, a Epagri, o
Instituto Federal Santa Catarina, escolas técnicas agrícolas e a Embrapa Florestas, esta última
situada no vizinho estado do Paraná. Esta segunda recomendação, não deixa de ser uma
ousadia, proposta por nós pesquisadores, que nos parece ter muita urgência. Um bom
exemplo, que pode inspirar-nos, é o que decorre da experiência da IG Região do Cerrado
Mineiro, o caso do Centro de Excelência do Café do Cerrado21
. Da mesma forma, é
importante se pensar uma estrutura institucional responsável pela gestão do centro de pesquisa
19
Até este estágio de investigação não chegamos a apurar o montante representado pela exportação, do total da
erva-mate beneficiada na região. No entanto, em conversas informais com empresários, sabe-se que o
percentual é significativo, pois, no momento, há uma demanda crescente no mercado externo por erva-mate
semibeneficiada. 20
Vejam-se resultados de pesquisas realizadas recentemente, nos demais artigos desta edição da DRd. 21
Ver artigo nesta edição da revista DRd sobre o assunto. No artigo referido, se propõe que o processo de
estruturação da IG da erva-mate, avance, integrando o recorte territorial de produção de erva-mate próximo ao
Planalto Norte Catarinense, no caso da região Centro Sul do Paraná, propondo como referência territorial, a
“Região Ervateira do Médio Vale do Rio Iguaçu”. É um debate que, mesmo estando presente, ainda é pouco
aprofundado, além de não ser aceito por alguns atores envolvidos no processo de discussão da referida IG. No
nosso entendimento, como pesquisadores sobre o tema, o aprofundamento do referido debate deve ocorrer com
a maior urgência possível, sendo considerado um posicionamento estratégico, considerando as possibilidades
de sucesso da futura IG da erva-mate.
Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do
Planalto Norte Catarinense
268
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
e inovação, com a missão de estabelecer linhas de pesquisa, inovação e desenvolvimento de
novos produtos à base da erva-mate, além da identificação de novas tecnologias que
proporcionem a qualificação e ampliação do setor produtivo rural. Uma estrutura desse tipo
teria a possibilidade de promover o intercâmbio permanente de experiências com técnicos e
especialistas de diversas regiões produtoras, executando cursos e eventos. Novamente, o
exemplo da Fundação de Desenvolvimento do Cerrado Mineiro, pode servir de inspiração.
Espera-se que os dados pesquisados e informações evidenciadas nesta investigação,
além das análises e reflexões propositivas oportunizadas, estimulem o debate regionalmente,
não só internamente no setor, mas no meio acadêmico, nos órgãos de pesquisa e extensão, no
empresariado, na sociedade em geral e de parte dos gestores públicos.
Por fim, reconhecemos as limitações da presente investigação, com o que estamos
cientes quanto à necessidade de aprofundar as análises, por meio de novas investigações.
REFERÊNCIAS
AYDALOT, P. Milieux Innovateurs en Europe. Paris: GREMI, 1986.
BARQUERO, A. V. Los territorios innovadores, espacios estratégicos del desarrollo. In:
CURBELO, J. L.; PARRILLI, M. D.; ALBUQUERQUE, F. (coords.). Territorios
innovadores y competitivos. Madrid: Marcial Pons Ediciones Jurídicas y Sociales S.A.,
2011, p. 75-88.
BARTMANN, S. K. B. Memória Social e Desenvolvimento: uma análise do processo
histórico de produção de erva-mate no município de Canoinhas – SC. Santa Cruz do Sul:
UNISC, 2009. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Regional. 2009.
BOISIER, S. Decodificando el desarrollo del siglo XXI: subjetividad, complejidad, sinapsis,
sinergía, recursividad, liderazgo y anclaje territorial. In: CURBELO, J. L.; PARRILLI, M. D.;
ALBUQUERQUE, F. (coords.). Territorios innovadores y competitivos. Madrid: Marcial
Pons Ediciones Jurídicas y Sociales, 2011, p. 51-73.
BORGES, R. C. G; GARVIL, M. P.; ROSA, G. A. A. Produção de fitocosméticos e cultivo
sustentável da biodiversidade do Brasil. Revista Eletrônica da Reunião Anual de Ciência,
v. 3, n. 1, p. 223-233, 2013.
BRAVO, L.; GOYA, L.; LECUMBERRI, E. LC/MS characterization of phenolic constituents
of Mate (Ilex paraguariensis St. Hil.) and its antioxidant activity compared to commonly
consumed beverages. Food Res Int., v. 40, p. 393–405, 2007.
CAMAGNI, R. (ed.). Innovation networks. Spatial perspectives. London: GREMI-
Belhaven Press, 1995.
CARAVACA, I. B.; GARCÍA, A. G. El debate sobre los territorios inteligentes: el caso del
área metropolitana de Sevilla. Revista Eure, v. 35, n. 105, p. 23-45, ago. 2009.
Valdir Roque Dallabrida el al.
269
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
CREVOISIER, O. Industrie et région: les milieux innovateurs de l'Arc jurassien. Neuchâtel:
EDES, 1993.
DALLABRIDA, V. R. Desenvolvimento Regional: por que algumas regiões se desenvolvem
e outras não? Santa Cruz do Sul (RS): Edunisc, 2010.
DALLABRIDA, V. R. Governança territorial: do debate teórico à avaliação da sua prática.
Análise Social, v. 50(2º), n. 215, p. 304-328, 2015.
DALLABRIDA, V. R. Território, Governança e Desenvolvimento Territorial: indicativos
teórico-metodológicos, tendo a Indicação Geográfica como referência. São Paulo: Editora
LiberArs, 2016.
FARINÓS, J. D. Inteligencia Territorial para la planificación y la gobernanza democráticas:
los observatorios de los territorios. Proyeccion 11, v. 5, p. 45-69, set. 2011.
FERRÃO, J. Educação, sociedades cognitivas e regiões inteligentes: uma articulação
promissora. Inforgeo - Revista da Associação Portuguesa de Geógrafos, n. 11, p. 97-104,
1996.
FLORIDA, R. Oward the Learning Region. Futures, v. 27, n. 5, p. 527-536, 1995.
GIRARDOT, J. J. Evolution of the concept of territorial intelligence within the coordination
action of the European network of territorial intelligence. Res-Ricerca e Sviluppo per le
Politiche Sociali, n. 1-2, p. 11-29, 2009.
LANZETTI et al. Mate tea reduced acute lung inflammation in mice exposed to cigarette
smoke. Nutrition, v. 24, n. 4, p. 375-81, 2008.
LUNDVALL, B. National Systems of Innovation: Towards a Theory of Innovation and
Interactive Learning. Londres: Pinter Publishers, 1992.
MAFRA, A. D. Aconteceu nos ervais: a disputa territorial entre Paraná e Santa Catarina pela
exploração da erva-mate - Região Sul do Vale do Rio Negro. Canoinhas: Universidade do
Contestado, 2008. Dissertação (Mestrado) em Desenvolvimento Regional. 2008.
MAILLAT, D. Globalização, meio inovador e sistemas territoriais de produção. Interações,
Campo Grande (MT), v. 3, n. 4, p. 9-16, mar./2002.
MAILLAT, D. Les milieux innovateurs. Sciences Humaines, n. 8, p. 41-57, 1995.
MAILLAT, D.; QUÈVIT, M.; SENN, L. (eds.). Resaux d'Innovation et Milieux
Innovateurs: un Pari pour le Dévelopment Régional. Neuchâtel: GREMI-EDES, 1993.
MARQUES, A. C. As paisagens do mate e a conservação socioambiental: um estudo
junto aos agricultores familiares do Planalto Norte Catarinense. Curitiba, 2014. Tese
(Doutorado) – Universidade Federal do Paraná – Doutorado em Meio Ambiente e
Desenvolvimento. 2014.
MÉNDEZ, R. Innovación y desarrollo territorial: algunos debates teóricos recientes. Revista
EURE, v. 28, n. 84, p. 63-83, 2002.
Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do
Planalto Norte Catarinense
270
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
MORAES, F. P.; COLLA, L. M. Alimentos funcionais e nutracêuticos: definições, legislação
e benefícios à saúde. Revista Eletrônica de Farmácia, v. 3, n. 2, p. 109-122, 2006.
MORAIS, E. C. et al. Consuption of Yerba Mate (Ilex paraguariensis) Improves Serum Lipid
Parameters in Healthy Dyslipidemic Subjects and Provides na Additional LDL-Cholesterol
Reduction in Individuals on Statin Therapy. Journal of Agricultural and Food Chemistry,
v.57, n.18, p. 8316-24, 2009.
NELSON, R. R. (Ed.). National Innovation Systems: a Comparative Analysis. Nova Iorque:
Oxford University Press, 1993.
SANTOS, D. Teorias de inovação de base territorial. In: COSTA, J. S.; NIJKAMP, P.
(coords.). Compêndio de Economia Regional. 1a. ed. Cascais (Portugal): Princípia Editora
Ltda, 2009, p. 319-352 (Vol. 1 - Teoria, temáticas e políticas).
SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre
lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982 (Coleção Os
Economistas).
SOUZA, A. M. Dos ervais ao mate: possibilidades de revalorização dos tradicionais
processos de produção e de transformação de erva-mate no Planalto Norte Catarinense.
Florianópolis, 1998. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina –
Mestrado em Agroecossistemas. 1998.
VIBRANS, A. C. et al. (Eds.). Floresta Ombrófila Mista. Vol.3. Blumenau: Edifurb, 2013.
440p. (Inventario Florístico e Florestal de Santa Catarina).
Valdir Roque Dallabrida el al.
271
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
ANEXO A – ESTUDO DO SETOR INDUSTRIAL ERVATEIRO DO PLANALTO
NORTE CATARINENSE
Objetivo: Caracterizar a cadeia produtiva da erva-mate dos municípios do Planalto Norte Catarinense.
Os dados farão parte de estudos que estão sendo realizados por dois alunos da Universidade do
Contestado, orientados pelo Prof. Dr. Valdir Roque Dallabrida. As informações serão utilizadas,
exclusivamente, para estudo acadêmico, os quais não serão disponibilizados individualmente, ou seja,
não será informado o nome da empresa, nem do empresário.
1. Localização da empresa:
( ) Bela Vista do Toldo ( ) Campo Alegre ( ) Canoinhas ( ) Irineópolis ( ) Itaiópolis
( ) Mafra ( ) Major Vieira ( ) Monte Castelo ( ) Papanduva ( ) Rio Negrinho
( ) Porto União ( ) São Bento do Sul ( ) Três Barras
2. Data de fundação:
Ano: _____________
3. Origem da matéria-prima utilizada no beneficiamento industrial:
( ) De municípios do Planalto Norte Catarinense – percentual %: _____.
( ) De outros municípios do Estado de Santa Catarina - %___________.
( ) De municípios do Paraná, próximos à nossa região %___________.
( ) De outros Estados brasileiros %___________.
( ) De outros países, como a Argentina %___________.
4. Relação de produtos da empresa e época em que se iniciou a comercialização do produto:
a- ( ) erva-mate para chimarrão:
( ) desde o início da empresa
( ) a partir do ano _________.
b- ( ) erva para chás:
( ) desde o início da empresa
( ) a partir do ano _________.
c- Outros produtos Ano em que a empresa iniciou a comercialização
1-___________________________________________________________.
2- ___________________________________________________________.
3- ___________________________________________________________.
4- ___________________________________________________________.
5- ___________________________________________________________.
5. Você considera que a quantidade de produtos que a empresa comercializa:
( ) É suficiente para manter a competitividade da empresa
( ) Poderia ser maior, pois melhoraria a competitividade da empresa
6. Se considera que a empresa poderia atuar no mercado com mais produtos, qual o motivo que
justifica não ter ampliado a quantidade:
( ) Não tem mercado regional
( ) Mesmo tendo mercado fora da região ou no exterior, as atividades atuais da empresa são
suficientes para manter-se no mercado
( ) Outros motivos, quais:______________________________________________________
_________________________________________________________________________
Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do
Planalto Norte Catarinense
272
DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)
v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.
7. Sobre a atividade industrial e comercial da empresa e volume de produção mensal (média):
a- ( ) A industrialização e comercialização de produtos no mercado consumidos regional e
nacional representa um percentual de:
( ) 100% ( ) entre 70 e 99% ( ) entre 50 e 69% ( ) menos de 50%
b- A industrialização e comercialização de produtos no mercado internacional representa um
percentual de:
( ) 100% ( ) entre 70 e 99% ( ) entre 50 e 69% ( ) menos de 50%
c- Do total da atividade comercial e industrial da empresa, a exportação de erva-mate
semibeneficiada (ex. cancheada), representa um percentual de:
( ) 100% ( ) entre 70 e 99% ( ) entre 50 e 69% ( ) menos de 50%
8. Sobre inovação empresarial:
a- A empresa tem inovado historicamente, e em que?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
b- Se você considera que a empresa tem inovado pouco ao longo de sua história, quais as razões
que você aponta como justificativas?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
9 Relacione os fatores que você considera favoráveis ao sucesso do setor industrial da erva-
mate do Planalto Norte Catarinense:
___________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
10 Quais as principais dificuldades que você aponta para o setor industrial ervateiro da região?
___________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Algo mais que gostaria de registrar?
___________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Agradecemos imensamente sua disponibilidade em responder nossas questões. Com certeza
contribuirão para refletirmos sobre o fortalecimento do setor ervateiro de nossa região.
Os autores da Pesquisa
Artigo recebido em: 15/07/2016
Artigo aprovado em: 20/07/2016