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247 DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029) v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016. COM ERVA-MATE NÃO SE FAZ SÓ CHIMARRÃO! SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS DE INOVAÇÃO NO SETOR ERVATEIRO DO PLANALTO NORTE CATARINENSE Valdir Roque Dallabrida 1 Caroline Ianoski Dumke 2 Simone Molz 3 Valéria Furini 4 Maria Bertilia Oss Giacomelli 5 RESUMO Entre as diferentes acepções atribuídas à inovação, uma delas é sua compreensão como a capacidade empresarial de introduzir novos produtos no mercado. Partindo dessa compreensão, é possível conjeturar que a diversidade e quantidade de produtos com que um setor produtivo opera pode ser tomada como um indicador de inovação. Tomando o exemplo da erva-mate, a variedade de produtos que atualmente utilizam essa matéria-prima se aproxima a uma centena, o que representa avanços inovacionais, considerando que até pouco tempo seu uso se restringia à produção da erva-mate para chimarrão e chá. No Planalto Norte Catarinense, região que historicamente se destacou na produção de erva-mate, estão instaladas dezenas de empresas do setor, sendo que, em mais de 70% delas, a erva-mate para chimarrão é o único produto. Essa constatação motivou uma investigação no setor, com o fim de avaliar as condições efetivas de inovação, e seus desafios, considerando avanços sobre novos usos da erva-mate e novos produtos com que o mercado mundial opera atualmente. O estudo compreendeu consulta em sites de empresas brasileiras e mundiais, com o intuito de reconhecer a variedade de produtos que utilizam a erva-mate como matéria-prima, além da realização de uma pesquisa de campo, numa amostra de empresas da região. O estudo evidenciou a prevalência de fitocosméticos a base de erva mate e a reduzida diversidade de produtos com que operam as empresas estudadas e seu baixo nível de inovação. Tal realidade aponta para a necessidade de avanços no setor ervateiro regional, exigindo ações não apenas do setor empresarial, mas das instituições de pesquisa e extensão instaladas na região. Palavras-chave: Erva-Mate. Inovação. Desenvolvimento Territorial. Planalto Norte Catarinense. 1 Geógrafo, doutor em Desenvolvimento Regional, com atuação no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional (PMDR) da Universidade do Contestado (UnC). Santa Catarina. Brasil. E-mail: [email protected] 2 Bolsista de Iniciação Científica no curso de Administração da UnC. Santa Catarina. Brasil. E-mail: [email protected] 3 Farmacêutica, com Mestrado e Doutorado em Neurociência pela UFSC, atuando no curso de Farmácia da UnC. Santa Catarina. Brasil. E-mail: [email protected] 4 Farmacêutica e mestranda em Desenvolvimento Regional da UnC, com atuação no curso de Farmácia da UNOESC. Santa Catarina. Brasil. E-mail: [email protected] 5 Graduação e Doutorado em Química, com atuação no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC)-Campus Canoinhas. Santa Catarina. Brasil. E-mail: [email protected].

COM ERVA-MATE NÃO SE FAZ SÓ CHIMARRÃO! SITUAÇÃO … · da erva-mate, a variedade de ... 7 A investigação que resultou neste texto refere-se a um projeto de investigação denominado

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DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)

v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.

COM ERVA-MATE NÃO SE FAZ SÓ CHIMARRÃO! SITUAÇÃO ATUAL E

PERSPECTIVAS DE INOVAÇÃO NO SETOR ERVATEIRO DO PLANALTO

NORTE CATARINENSE

Valdir Roque Dallabrida1

Caroline Ianoski Dumke2

Simone Molz3

Valéria Furini4

Maria Bertilia Oss Giacomelli5

RESUMO

Entre as diferentes acepções atribuídas à inovação, uma delas é sua compreensão como a

capacidade empresarial de introduzir novos produtos no mercado. Partindo dessa

compreensão, é possível conjeturar que a diversidade e quantidade de produtos com que um

setor produtivo opera pode ser tomada como um indicador de inovação. Tomando o exemplo

da erva-mate, a variedade de produtos que atualmente utilizam essa matéria-prima se

aproxima a uma centena, o que representa avanços inovacionais, considerando que até pouco

tempo seu uso se restringia à produção da erva-mate para chimarrão e chá. No Planalto Norte

Catarinense, região que historicamente se destacou na produção de erva-mate, estão instaladas

dezenas de empresas do setor, sendo que, em mais de 70% delas, a erva-mate para chimarrão

é o único produto. Essa constatação motivou uma investigação no setor, com o fim de avaliar

as condições efetivas de inovação, e seus desafios, considerando avanços sobre novos usos da

erva-mate e novos produtos com que o mercado mundial opera atualmente. O estudo

compreendeu consulta em sites de empresas brasileiras e mundiais, com o intuito de

reconhecer a variedade de produtos que utilizam a erva-mate como matéria-prima, além da

realização de uma pesquisa de campo, numa amostra de empresas da região. O estudo

evidenciou a prevalência de fitocosméticos a base de erva mate e a reduzida diversidade de

produtos com que operam as empresas estudadas e seu baixo nível de inovação. Tal realidade

aponta para a necessidade de avanços no setor ervateiro regional, exigindo ações não apenas

do setor empresarial, mas das instituições de pesquisa e extensão instaladas na região.

Palavras-chave: Erva-Mate. Inovação. Desenvolvimento Territorial. Planalto Norte

Catarinense.

1 Geógrafo, doutor em Desenvolvimento Regional, com atuação no Programa de Mestrado em Desenvolvimento

Regional (PMDR) da Universidade do Contestado (UnC). Santa Catarina. Brasil. E-mail:

[email protected] 2 Bolsista de Iniciação Científica no curso de Administração da UnC. Santa Catarina. Brasil. E-mail:

[email protected] 3 Farmacêutica, com Mestrado e Doutorado em Neurociência pela UFSC, atuando no curso de Farmácia da UnC.

Santa Catarina. Brasil. E-mail: [email protected] 4 Farmacêutica e mestranda em Desenvolvimento Regional da UnC, com atuação no curso de Farmácia da

UNOESC. Santa Catarina. Brasil. E-mail: [email protected] 5Graduação e Doutorado em Química, com atuação no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de

Santa Catarina (IFSC)-Campus Canoinhas. Santa Catarina. Brasil. E-mail: [email protected].

Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do

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ABSTRACT

WITH YERB MATE NOT JUST TO MAKE CHIMARRÃO! CURRENT SITUATION

AND INNOVATION PERSPECTIVES ON MATE SECTOR OF NORTH PLATEAU

CATARINENSE

Among the different meanings attributed to innovation, one of them is the concept of

innovation as the business capability to introduce new products on the market. Starting from

this understanding it is possible to conjure that the diversity and quantity of products whereby

a productive sector operates can be taken as an indicator of innovation. Considering yerb mate

as an example, approximately one hundred products are made based on yerb mate row

material, which demonstrates its potential to innovation, considering that until recently its

production was limited to yerb mate to make "chimarrão" and tea. North Plateau of Santa

Catarina is a region historically known due to yerb mate production. In this region are located

a dozens of companies in the sector, and in more than 70% of them, yerb mate to make

"chimarrão" is the only product in the market. This observation led to an investigation in the

sector, in order to assess the actual conditions of innovation, and its challenges, considering

advances into new yerba mate uses and new products to be introduced in the world market.

The study involved consultation in Brazilian and global companies websites, in order to

recognize the variety of products that utilize yerb mate as raw material, in addition to

performing field research on a sample of companies in the region. The study evidenced the

prevalence of phytocosmetics based on yerb mate as well as a reduced diversity of products

operated by the companies, thus showing the low level of innovation in this sector. This

reality points to the need for advances in regional ervateiro sector, requiring actions not only

of the business sector but also on research institutions and extension installed in the region.

Keywords: Yerb mate. Innovation. Territorial Development. North Plateau of Santa Catarina.

INTRODUÇÃO

A partir de pesquisas científicas, de experimentos realizados por empresas do setor

ervateiro e até mesmo fruto da curiosidade dos consumidores, é que nos últimos anos a erva-

mate passou a ser utilizada como matéria-prima para a industrialização de um número

significativo de produtos. Essa constatação é importante, pois, sua utilização mais usual é para

o preparo do tradicional chimarrão e na forma de chás.

Desde que se tenha notícia da presença de populações indígenas na região do Planalto

Norte Catarinense (PNC), ou seja, mesmo antes de sua colonização, a erva-mate foi um

produto de destaque. Inicialmente, foi utilizada como produto de uso familiar na forma de

chás ou infusões, mais tarde, para preparar o já conhecido chimarrão (SOUZA, 1998;

MAFRA, 2008; MARQUES, 2014). Com isso, há mais de oitenta anos, dezenas de empresas

vêm se instalando na região do PNC, envolvidas na industrialização do produto.

Atualmente a erva-mate, movimenta um setor produtivo e industrial de destaque, tanto

no Estado de Santa Catarina, como no Rio Grande do Sul e Paraná. Mesmo que o setor

industrial ervateiro, do PNC, não movimente valores monetários expressivos, visto a

existência de outros setores que têm maior representatividade neste quesito, a erva-mate tem

grande representatividade socioambiental e histórica regional, pela sua relação com o

contexto histórico de ocupação, além do que ela representa como valor ambiental, fazendo

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parte da Floresta Ombrófila Mista, um tipo de floresta do Bioma Mata Atlântica presente na

região (VIBRANS et al., 2013).

Desde o início do Século XX, já se tem conhecimento de que a erva-mate

desempenhava um papel de destaque, em especial, no abastecimento de empresas, não só da

região, mas de outras cidades catarinenses e até de outros estados brasileiros, para não falar do

que representou nas exportações, seja no contexto regional, como estadual, nacional e

internacional. Aliás, relatos históricos registram que a erva-mate motivou o surgimento de

cidades no Planalto Norte Catarinense, dentre as quais, Canoinhas é uma delas (MAFRA,

2008)6.

É pela importância histórica, social, econômica e ambiental que o produto erva-mate

representa para os municípios do PNC que vários estudos estão sendo realizados

recentemente. O que resultou neste texto está entre eles7. Assim, o objetivo do estudo foi

avaliar as condições efetivas em termos de inovação no setor industrial ervateiro do Planalto

Norte Catarinense, e seus desafios futuros. Com isso, pretende-se verificar a relação entre

inovação e dinamização socioeconômica, com a sua possível contribuição no

desenvolvimento da região em estudo.

A relação entre inovação e dinamização socioeconômica, já vem dos autores clássicos,

dentre os quais merece destaque Schumpeter (1982). O autor argumentava que o elemento

motriz da evolução da economia, com impacto no processo de desenvolvimento, é a inovação,

seja sob a forma de introdução de novos produtos e técnicas de produção, ou mesmo através

do surgimento de novos mercados, fontes de ofertas de matérias-primas ou composições

industriais. Mesmo que as abordagens neoshumpeterianas tenham avançado, apontando a

importância do meio na inovação, tal argumentação não terá perdido sua importância8.

Assim, neste estudo, tomando como variável a introdução de novos bens no mercado

na forma de produtos industrializados como indicador de inovação do setor produtivo de uma

determinada região, partiu-se da hipótese de que um dos principais indicadores para avaliar os

avanços em termos de inovação empresarial, é a evolução na diversidade de produtos que são

lançados no mercado, ao longo da existência das empresas do setor. Metodologicamente,

utiliza-se da pesquisa em sites da internet e na literatura, sobre usos da erva-mate como

matéria-prima em produtos industrializados, além da aplicação de um instrumento de

pesquisa, junto a uma amostra de empresas do setor ervateiro da região em referência.

Neste texto, registramos os primeiros resultados das investigações, sendo que algumas

das evidências constatadas no estudo deverão merecer aprofundamento, podendo inclusive

suscitar novas questões, a partir da análise de outras variáveis.

Dentre os resultados da investigação, ficou evidente o reduzido número de produtos

que compõem o portfólio das empresas do setor industrial ervateiro no PNC,

comparativamente ao que já é produzido mundialmente. Na pesquisa com as empresas,

verificaram-se poucos avanços e os desafios do setor quanto à introdução de novos produtos

6 Sobre o resgate da história da erva-mate na região do Planalto Norte Catarinense, além de sua importância

socioeconômica, cultural e ambiental, outros estudos são referências: Souza, 1998; Bartmann, 2009; Marques,

2014. 7 A investigação que resultou neste texto refere-se a um projeto de investigação denominado Os desafios da

inovação empresarial: um estudo no setor industrial da erva-mate do Planalto Norte Catarinense. Outro

estudo está sendo realizado, o qual pretende avançar no estudo, a partir de outras variáveis. Trata-se de um

Projeto de Dissertação no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional, na Universidade do

Contestado (Campus Canoinhas – Santa Catarina – Brasil). 8 Adiante se faz referência às abordagens neoshumpeterianas.

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no mercado, o que pode ser considerado um indicador negativo em termos de inovação. Por

outro lado, ficam evidências a partir do estudo de que os avanços necessários exigem ações

não apenas do setor empresarial, mas, em especial, das instituições de pesquisa e extensão

presentes na região.

Além destas considerações introdutórias, o texto é composto por mais três partes: (i)

um referencial teórico, abordando a inovação, na sua dimensão empresarial e territorial e sua

relação com o desenvolvimento territorial; (ii) uma explicitação sobre os procedimentos

metodológicos; (iii) uma terceira parte com os resultados da investigação, análises e

prospectivas, além de considerações finais.

AS DIVERSAS CONCEPÇÕES SOBRE INOVAÇÃO

A discussão sobre a inovação empresarial exige que se reflita teoricamente sobre

temas afins, tais como, a inovação e seus impactos da dinâmica empresarial, inovação

territorial e sua relação com desenvolvimento territorial. Isso, pois, quando se defende a

inovação, seja no setor empresarial ou mesmo na dimensão territorial, a perspectiva que se

tem é que os processos inovativos contribuam, no desenvolvimento das regiões ou territórios

atingidos.

A DISCUSSÃO SOBRE INOVAÇÃO FOCADA NA EMPRESA E NO EMPRESÁRIO: A

CONTRIBUIÇÃO DE SCHUMPETER

Schumpeter (1982) argumentava que o elemento motriz da evolução do capitalismo

seria a inovação. Afirmava Schumpeter que o indivíduo que exercita essas novas

combinações, inserindo as inovações no sistema produtivo, é o inovador, ressaltando o papel

do empresário inovador.

Como exemplos de inovações, Schumpeter (1982) destacava: (i) a introdução de um

novo produto; (ii) a descoberta de um novo método de produção; (iii) a abertura de um novo

mercado no país ou no exterior; (iv) a descoberta de uma nova fonte de matéria-prima; (v)

uma nova organização de qualquer indústria, como um novo monopólio, ou fragmentação de

uma posição do monopólio. Assim, o desenvolvimento, para Schumpeter, está intimamente

ligado ao conhecimento tecnológico, à existência de instituições eficientes e ao espírito

capitalista, ou empreendedor, do empresário.

Apesar de não ser refutável sua argumentação, versões contemporâneas sobre

inovação acrescentam novos elementos na relação entre inovação e desenvolvimento: por

exemplo, o foco no meio ou ambiente.

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AS ABORDAGENS NEOSCHUMPETERIANAS SOBRE INOVAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO: O FOCO NO MEIO

As abordagens neoschumpeterianas avançam no entendimento da relação entre

inovação e desenvolvimento, enfatizando que o desenvolvimento não necessariamente

acontece por rupturas radicais, podendo se dar de forma adaptativa e progressiva, destacando

o papel do aprendizado no processo de aprendizagem, do conhecimento tácito e da rotina nos

processos inovadores. Da mesma forma, a figura isolada do empresário, central no modelo

original de Schumpeter, é menos enfatizada em favor das instituições de pesquisa e

desenvolvimento, na inovação em produtos e processos (DALLABRIDA, 2010).

Com essa concepção de inovação, destacam-se abordagens que se referem ao meio

inovador, às regiões inteligentes e territórios inovadores. Tais abordagens sustentam-se na

defesa de que a inovação não é um fenômeno de caráter individual, que ocorra somente no

interior das empresas, senão coletivo. Além disso, a inovação seria promovida pelo entorno

ou meio em que a empresa está inserida, não sendo uma resultante exclusiva nem prioritária

da decisão de um empresário inovador. Não se trataria de negar a importância da empresa e

empresário inovadores, senão que procurar ressaltar o papel do entorno ou meio na inovação.

Ou seja, ambas as dimensões, a organizativa (empresa) e espacial (o entorno territorial),

influem de forma conjunta e se complementam, ainda que a importância seja diversa segundo

o tipo de empresa. Enquanto uma grande empresa tem maior capacidade para gerar inovações,

inclusive quando suas relações com outras empresas e o meio circundante são escassas, a

pequena empresa é mais dependente dessa rede de relações que tem com o entorno, para

avançar no caminho da inovação (DALLABRIDA, 2010).

Dentre as correntes teóricas neoshumpeterianas, destacamos as principais.

O MEIO INOVADOR (Millieux Innovateurs)

As primeiras publicações sobre meio inovador resultam de estudos realizados no

Groupe de Recherche sur les Millieux Innovateurs (GREMI), liderados inicialmente por

Aydalot (1986), compreendendo também outros pesquisadores, tais como, Camagni (1995) e

Maillat (1995; 2002). Os autores referidos mostraram estar em curso um processo de

transformação das hierarquias espaciais não compatível com as teorias dominantes do

crescimento desigual, baseadas, por exemplo, em esquemas do tipo centro-periferia.

Complementarmente, afirmavam que o retrocesso de algumas tradicionais regiões centrais e a

emergência de processos de dinamismo continuado em regiões periféricas ou semiperiféricas

tornou claro que as teorias espaciais dominantes poderiam explicar as hierarquias urbanas

existentes, mas não a sua transformação, isto é, não explicavam os processos de

desenvolvimento com gênese no território. Já Crevoisier (1993), sintetiza, afirmando que os

meios geram inovações fundamentais para seu avanço, ou seja, que o sucesso nas trajetórias

de desenvolvimento de certas regiões resulta de suas capacidades intrínsecas de fabricar

novos produtos, adotar novos processos produtivos, bem como, assumir configurações

organizacionais e institucionais inovadoras.

Assim, a empresa não seria o agente inovador isolado, passando a ser parte do meio

que a faz agir. Portanto, partindo dessa compressão, os comportamentos inovadores não são

nacionais, mas territoriais e o que caracteriza os meios inovadores não é a dotação de

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atributos naturais ou de localização, mas, sobretudo a densidade do seu tecido social, ou seu

capital relacional (MAILLAT, 1995).

Para Maillat, Quèvit e Senn (1993), o meio inovador envolve os seguintes elementos

constituintes: (1) um ambiente espacial com certa homogeneidade de comportamento dos

atores e uma mesma cultura técnica, não possuindo fronteiras estabelecidas, aproximando-se

mais da noção de território do que de região; (2) um conjunto de atores dotados de autonomia

decisional e fortemente ancorados na realidade socioeconômica local (empresas, instituições

de formação e centros de I&D); (3) elementos materiais (empresas, equipamentos,

infraestruturas) e imateriais (normas, valores, saber-fazer), bem como, elementos

institucionais (formas de organização do poder público e da sociedade civil) minimamente

integrados; (4) uma lógica de interação, ou seja, um capital relacional regulador do

comportamento dos atores e promotor das dinâmicas locais de valorização dos recursos

existentes; (5) uma lógica de aprendizagem, capacitando atores para a redefinirem e

reconfigurarem os seus comportamentos, ajustando-os na medida em que se transforma o

meio externo, em especial, no nível dos mercados e da tecnologia.

Em síntese, a abordagem sobre meios inovadores sustenta-se na tese de que a inovação

tem um caráter coletivo, resultando, em especial, de fatores sócio-histórico-culturais,

econômicos e ambientais ancorados num determinado meio, o território.

AS REGIÕES INTELIGENTES E OS TERRITÓRIOS INOVADORES

Do debate recorrente sobre conhecimento e competitividade territorial, de economistas

e geógrafos, surgem duas abordagens, que apesar de terem origens diferentes, se

complementam: regiões inteligentes e territórios inovadores (DALLABRIDA, 2010).

O conceito de região inteligente surge na sequência das abordagens sobre meios

inovadores, centrado na dialética inovação e território, bem como nas dinâmicas interativas de

aprendizagem. Foi Florida (1995) quem primeiro sugeriu o conceito região inteligente

(learning region), para referir-se às regiões ou territórios capazes de funcionarem como

coletores e repositórios de conhecimentos e ideias e de proporcionarem o ambiente e as

infraestruturas facilitadoras dos fluxos de conhecimentos, ideias e práticas de aprendizagem.

Segundo Ferrão (1996), a noção de região inteligente apresenta quatro aspectos de

interesse e utilidade para o aprofundamento da relação entre inovação e desenvolvimento

territorial: (1) centra o debate em torno das condições territoriais de desenvolvimento,

complementando as visões que valorizam a ótica dos impactos territoriais; (2) cria uma matriz

que permite integrar grande parte do patrimônio recente das diversas ciências regionais,

assegurando coerência e uma finalidade clara; (3) defende uma análise preocupada em

entender de forma sistemática as práticas dos diversos atores (indivíduos e coletivos) no

quadro de comunidades territoriais específicas; (4) fornece argumentos favoráveis ao reforço

da importância das políticas de base territorial.

A alusão atribuída aos territórios inteligentes reafirma a importância de se gerar ou

incorporar conhecimentos necessários para atribuir valor de forma eficiente e racional aos

seus recursos e ativos. De outra parte, impõe-se uma progressiva identificação e incorporação

dos recursos e ativos territoriais às lógicas socioeconômicas, reafirmando a tese de que todo o

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processo de desenvolvimento requer a utilização imaginativa, racional, equilibrada e dinâmica

dos bens patrimoniais de um território, com sua valorização, tornando-se a base do

desenvolvimento territorial (CARAVACA; GARCÍA, 2009)9. Caravaca e García (2009, p.

37), afirmam:

Deste modo, parece que somente deveriam ser qualificados como inteligentes

aqueles territórios que, utilizando seus próprios recursos de uma forma ambiental,

social e economicamente eficiente, consigam gerar verdadeiros processos de

desenvolvimento territorial integrado.

Caravaca e García (2009) afirmam que em meio às múltiplas tensões e contradições a

que as sociedades atuais precisam fazer frente, na sociedade da informação e do

conhecimento, torna-se cada vez mais importante a forma como se articulam os distintos

âmbitos territoriais no espaço global de fluxos e redes. Nesse contexto, a capacidade

inovadora tem viabilizado a inserção de empresas e territórios no espaço mundial, inserindo-

se em elos da cadeia produtiva e de distribuição que permitam maior agregação de valor aos

seus produtos e serviços, enquanto outros permanecem marginalizados ou até excluídos.

A inovação, entendida, pois, tanto desde a perspectiva econômica como desde a

vertente social e institucional, se converte deste modo em um importante fator que

condiciona não só o dinamismo econômico senão também e sobretudo o

desenvolvimento territorial (CARAVACA; GARCÍA, 2009, p. 26).

Quanto à inserção dos espaços territoriais no espaço global, Maillat (2002) nos

relembra que tal inserção depende de qual lógica se submetem os sistemas produtivos

territoriais: a lógica e a territorial. As empresas que atuam sob a lógica funcional são

organizadas de maneira hierárquica, vertical, nas quais as decisões originam-se da direção

central, na maioria dos casos, situadas nos grandes centros internacionais. Estas repartem

geograficamente suas diferentes funções, de maneira a diminuir custos de transporte, níveis de

fiscalização, utilizar-se de benefícios fiscais, etc. Os territórios em que estão implantadas tais

empresas tornam-se lugar de passagem, desempenhando um papel passivo. Ao contrário, a

lógica territorial tem por objetivo a territorialização da empresa, ou seja, sua inserção no

sistema territorial de produção. Nestes casos, as empresas estão organizadas em rede

(clusters), de modo horizontal, com o meio orquestrando o sistema. As empresas mantêm

relações de cooperação/concorrência, gerando sinergias e complementaridades territoriais. O

território desempenha assim papel ativo e as empresas são enraizadas territorialmente e

contribuem para seu desenvolvimento.

É a partir deste debate teórico que autores como, Méndez (2002) introduzem o

conceito de território inovador. O conceito de inovação, para o autor, é entendido como a

capacidade de gerar e incorporar conhecimentos para dar respostas criativas aos problemas do

presente. Assim, é possível referir-se ao território inovador, fazendo referência aos âmbitos

espaciais em que seus atores e instituições forem capazes de gerar e incorporar conhecimentos

para dar respostas criativas aos desafios que se lhes apresentam em cada momento da história.

Segundo o autor, o padrão de desenvolvimento de um território inovador precisa atender às

9 Considera-se que o sentido atribuído ao termo "bens patrimoniais" de um território é o mesmo que outros

autores atribuem ao referir-se ao "capital territorial" ou "patrimônio territorial". Ou seja, ambos os termos

referem-se ao conjunto de ativos e recursos, materiais e imateriais, genéricos e específicos, disponíveis em um

determinado território. Em Dallabrida (2016), os elementos constitutivos do patrimônio territorial são

considerados referentes para as pessoas que habitam determinado território, que, ao mesmo tempo as

identificam e servem como potencialidades no processo de planejamento do futuro desejado.

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características de um desenvolvimento territorial integrado, incluindo as dimensões

econômicas do desenvolvimento, mas também, e com o mesmo destaque, as dimensões

sociais, ecológicas, culturais, ético-políticas e a ordenação territorial. Um território inovador,

então, é aquele que avança a partir desta estratégia prioritária em seu caminho para o

desenvolvimento.

Portanto, as duas abordagens, regiões inteligentes e territórios inovadores, remetem à

noção de inovação territorial, não apenas como uma simples relação entre inovação e

desenvolvimento, tendo como premissa preferencial a de que a inovação não ocorre exclusiva

ou preferencialmente na empresa, sim resulta das condições do meio e de processos de

aprendizagem social que ocorrem nos territórios.

SISTEMAS REGIONAIS E NACIONAIS DE INOVAÇÃO

Segundo argumenta Santos (2009), há um reconhecimento, atualmente, de que as

dinâmicas de inovação advêm da gestação de recursos cada vez mais dependentes da

realidade socioeconômica territorial, da criação de ativos específicos e do potencial criativo

dos agentes do desenvolvimento. Assim sendo, a noção de sistema regional de inovação faz

referência aos instrumentos para captar, incubar e promover conhecimento, adequando-o às

modernas necessidades dos sistemas produtivos locais. Assim, a promoção de arranjos

institucionais e organizacionais voltados à inovação tem sido mais frequente, assumindo que a

competitividade e sustentabilidade regionais tem uma forte relação com a capacidade das

empresas e instituições de inovar, pelo incremento da sua base de conhecimentos. A base

conceitual e metodológica dos sistemas regionais de inovação filia-se no ideário proveniente

da teoria dos sistemas e da economia da inovação, reconhecendo que a tecnologia e a

inovação dependem de um complexo socioeconômico de interações (SANTOS, 2009).

Lundvall (1992) e Nelson (1993) introduzem o conceito de sistemas de inovação,

destacando que o processo de inovação caracteriza-se, fundamentalmente, pelo aprendizado

interativo. São centrais os conceitos de aprendizado contínuo e interações entre os agentes.

Segundo esta concepção, conhecimento e aprendizado são, respectivamente, recurso e

processo fundamentais na economia e na sociedade atuais. Dessa forma, segundo o conceito

de sistemas de inovação, a inovação e o desenvolvimento originam-se de condições

particulares, sociais, institucionais e de características histórico-culturais. São os elementos e

as relações presentes em determinado sistema que poderão determinar a capacidade de

aprendizado de um país, região ou localidade, e assim, a capacidade de inovação e de

adaptação às mudanças do ambiente. Com isso, o conceito faz referência a sistemas locais,

regionais e nacionais de inovação. Assim um sistema de inovação compreende um

determinado sistema produtivo e o meio político institucional envolvente, indo da escala

regional à nacional, até à internacional (LUNDVALL, 1992; NELSON, 1993).

Tais abordagens ressaltam o caráter sistêmico das inovações, relacionando-se ao

potencial de transcender a visão linear da mudança tecnológica, segundo a qual,

necessariamente, parte-se das atividades de pesquisa e desenvolvimento, passando pela

inovação e difusão, para chegar-se ao incremento da produtividade. A abordagem sistêmica

está por trás da noção de que o desenvolvimento somente é possível através de uma estratégia

que reúna inovações tecnológicas, organizacionais e institucionais e que integre aspectos

econômicos, sociais e ecológicos (DALLABRIDA, 2010).

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v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.

A CONTRIBUIÇÃO DE OUTRAS ABORDAGENS QUE RELACIONAM INOVAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO À PERSPECTIVA TERRITORIAL

São muitos os autores que, somando-se aos já referenciados, estabelecem uma relação

causal entre inovação, desenvolvimento e o ambiente empresarial e territorial.

Boisier (2011) defende a dependência territorial dos processos sociais, em especial, de

desenvolvimento, admitindo a necessidade de intervenção humana. Para o autor, o

desenvolvimento consiste na criação de condições de entorno para que os indivíduos

potenciem seu status de pessoa humana, apontando como referência as noções de dignidade, o

indivíduo como sujeito da sua história, à possibilidade de convivência digna e pacífica,

incluindo, também a dimensão espiritual. Por fim, o autor ressalta algumas condições para o

desenvolvimento que atenda a dimensão de pessoa humana: (i) uma matriz produtiva com

forte incorporação de progresso técnico; (ii) uma matriz social bem dotada de capital social;

(iii) uma matriz política com elevado capital cívico; (iv) uma matriz científico-tecnológica

com possibilidade de expandir-se; (v) uma matriz ecológica que aponte a um padrão de

desenvolvimento sustentável ambientalmente; (vi) uma matriz cultural produtora de uma clara

identidade territorial.

Outro autor, Barquero (2011), afirma que nas últimas décadas, com cada vez maior

frequência as empresas e as organizações direcionam suas decisões de investimento e

localização nos territórios mais dinâmicos e inovadores, convertendo-os em lugares

estratégicos de crescimento econômico e progresso social. Com isso, os processos de

transformação e mudanças não são produzidos de maneira uniforme nos territórios. Ocorrem

nos espaços inovadores que exercem a liderança nos processos de desenvolvimento, pelo fato

de serem capazes de instrumentar suas decisões através de sistemas criativos de produção, de

organização e de interação. "O efeito resulta particularmente positivo nas cidades e regiões

criativas já que abrem oportunidades crescentes às empresas inovadoras em todo o tipo de

atividades" (p. 87).

Por fim, cabe destacar a referência que alguns autores fazem à categoria conceitual

inteligência territorial. Farinós (2011) se refere à inteligência territorial como o conhecimento

necessário para poder compreender as estruturas do sistema territorial e suas dinâmicas, assim

como o conjunto de instrumentos empregados pelos atores públicos e privados para

produzirem, utilizarem e compartilharem este conhecimento em favor de um desenvolvimento

territorial sustentável. "Partindo desta perspectiva a inteligência territorial é uma ferramenta

para a governança territorial e a participação a força motriz da mesma" (p. 46). Para o autor,

se requer a existência de um adequado capital intelectual de inteligência territorial e de um

suficiente nível de conhecimento disponível entre os atores implicados no desenvolvimento

territorial.

Já, para Girardot (2009) a inteligência territorial é um meio para os investidores, os

atores e a comunidade territorial adquirir um melhor conhecimento do território, no entanto,

também, de fazer parte do processo de desenvolvimento. Para o autor, a apropriação de

tecnologias da informação e da comunicação é uma etapa indispensável para que os atores

introduzam um processo de aprendizagem que lhes permita atuar de maneira pertinente e

eficiente. A inteligência territorial é útil para ajudar os atores territoriais a projetar, definir,

animar e avaliar as políticas e ações de desenvolvimento territorial sustentável.

Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do

Planalto Norte Catarinense

256

DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)

v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.

INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL: UMA SÍNTESE

Como visto, as diferentes abordagens sobre inovação empresarial e territorial,

resumidamente, apontam para dois pressupostos, não necessariamente contraditórias, mas

complementares. Primeiro, a visão schumpeteriana de inovação, ressaltando que o

conhecimento tecnológico, a existência de instituições eficientes e o espírito empreendedor do

empresário são decisivos para o sucesso empresarial, com reflexos positivos no

desenvolvimento. Já as abordagens neoshumpeterianas sobre inovação, defendem que o

desenvolvimento não necessariamente acontece por rupturas radicais, podendo se dar de

forma adaptativa e progressiva, destacando o papel da aprendizagem, com o que a inovação

não é um fenômeno de caráter individual, mas coletivo.

Ou seja, ambas as dimensões, a organizativa (empresa) e espacial (o entorno

territorial), influem de forma conjunta e se complementam. Portanto, tais abordagens,

remetem à noção de inovação territorial, com o que a inovação não ocorre exclusiva ou

preferencialmente na empresa, sim resulta das condições do meio e de processos de

aprendizagem social que ocorrem nos territórios. E essas são condições essenciais para a

qualificação do processo de desenvolvimento (DALLABRIDA, 2010).

Sobre desenvolvimento, assumimos a acepção expressa em Dallabrida (2015, p. 235):

O desenvolvimento territorial é entendido como um processo de mudança

continuada, situado histórica e territorialmente, mas integrado em dinâmicas

intraterritoriais, supra territoriais e globais, sustentado na potenciação dos recursos e

ativos (materiais e imateriais, genéricos e específicos) existentes no local, com vistas

à dinamização socioeconômica e à melhoria da qualidade de vida da sua população.

Portanto, o que se almeja quando fazemos referência ao desenvolvimento é que as

mudanças resultantes da forma de ocupação dos territórios resultem não apenas na

dinamização socioeconômica, mas, essencialmente, na melhoria da qualidade de vida para sua

população. E falar de inovação empresarial em um setor produtivo que tem importância

regionalmente, como o caso do setor ervateiro no PNC, é falar da possibilidade de

qualificação do processo de desenvolvimento da referida região. Mas como está o

posicionamento desse setor empresarial do PNC?10

Essa é uma interrogação que motivou as

investigações das quais resultaram este texto.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O processo de investigação esteve focado no estudo do setor empresarial ervateiro de

municípios do Planalto Norte Catarinense11

. Na Figura 1, está a localização dos municípios

que compõem este recorte territorial, nos quais estão localizadas as empresas que foram

objeto de pesquisa.

10

Salientamos que a resposta a esta questão exige muito mais investigações. Nesta, daremos um primeiro passo. 11

Considerando que a caracterização socioeconômica do PNC é tema de artigos que compõem a presente edição

da revista DRd, não aprofundaremos aqui o tema.

Valdir Roque Dallabrida el al.

257

DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)

v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.

Figura 01 – Localização dos municípios que compõem a região do Planalto Norte Catarinense

Fonte: Elaboração de Maikon Waskiewic, a partir da base de dados do IBGE

Para atender a um dos objetivos específicos da investigação - conhecer os principais

usos da erva-mate como matéria-prima industrial -, foi realizada uma pesquisa em sites de

todas as empresas que se teve acesso, seja do Estado de Santa Catarina, de outros estados

brasileiros e do exterior. Nesse aspecto, o limite do universo pesquisado foi a possibilidade de

acesso por meio de sites de busca na internet, no período da pesquisa, janeiro até maio de

2016. O critério de pesquisa foi acessar empresas que produzissem outros produtos, além da

erva-mate para chimarrão e chás.

Nos municípios do PNC consta a existência de vinte e seis empresas ervateiras12

. Esse

número foi apurado em pesquisa feita nos arquivos das prefeituras dos municípios da região,

no mês de maio/2016, por meio de consulta aos responsáveis pelo cadastro industrial.

Portanto, o número de empresas no PNC é um dado que demonstra a importância desse setor

para a economia regional.

Com o propósito de averiguar questões referentes à inovação no setor empresarial

ervateiro do PNC, elaboramos um instrumento de pesquisa, com questões estruturadas e

semiestruturadas. A escolha das empresas para a pesquisa foi aleatória. Fizemos o convite

para a participação a todas as empresas dos treze municípios do PNC, no total de 26. A partir

da manifestação do interesse das empresas em responder a pesquisa, enviamos formulário

para 17 empresas. Destas, no período estabelecido, 11 empresas retornaram com a resposta ao

12

O dado é aproximado, pela falta de estatísticas mais atualizadas disponíveis para consulta nas prefeituras, além

do fato de que ocorre anualmente fechamento ou abertura de novas empresas, em especial as de pequeno

tamanho.

Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do

Planalto Norte Catarinense

258

DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)

v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.

instrumento de pesquisa. Com base nas respostas dessa amostra de empresas é que foram

compilados os dados e feitas as análises.

Assim, foram pesquisadas empresas dos seguintes municípios catarinenses: Bela Vista

do Toldo, Campo Alegre, Canoinhas, Itaiópolis, Monte Castelo e São Bento do Sul. O

município com maior número de empresas pesquisadas foi Canoinhas. Na sequência,

apresentamos os resultados do presente estudo, nesse primeiro estágio de investigação.

RESULTADOS DA INVESTIGAÇÃO E ANÁLISES

Inicia-se a apresentação dos resultados da investigação, pela descrição do que resultou

da pesquisa sobre produtos que utilizam a erva-mate como matéria-prima.

Pela pesquisa sobre a variedade de produtos industrializados, que utilizam a erva-mate

como matéria-prima foram obtidos os seguintes resultados: (i) acessou-se a um total de

sessenta e duas empresas, no Brasil (57) e no exterior (5), que produzem e/ou comercializam

produtos à base de erva-mate, não incluindo neste número, empresas que produzissem apenas

erva-mate para chimarrão, além de erva para chás e tererê; (ii) a pesquisa chegou a uma lista

extensa de produtos, como é possível verificar no Quadro 1.

Quadro 1 – Listagem de produtos industrializados tendo a erva-mate como matéria-prima

Categoria Produto(s) Uso/características

Alimentos Chocolate Chocolate com erva-mate e cacau

Alimentos Extrato líquido de erva-mate Para preparo de Alimentícios

Alimentos Farimate Farinha de trigo com adição de erva-mate

Alimentos Sorvete de erva-mate Alimento gelado na forma de sorvete

Bebida Absinto Bebida com teor alcoólico

Bebida Bebida à base de mate, adoçada com açúcar

de cana ou de estévia Bebida para consumo em geral

Bebida Bebida hidroeletrolítica Bebida para atletas

Bebida Cerveja à base de erva-mate Bebida com teor alcoólico

Bebida Champagne de erva-mate Bebida gaseificada à base de erva-mate

Bebidas Chás Solúveis em Pó Para preparo de sucos e bebidas

Bebidas Concentrado de Erva-Mate Orgânico Para preparo de sucos e bebidas

Bebida Destilado Bebida destilada para consumo com teor

alcoólico

Bebida Drink Energético orgânico Drink energético natural à base de erva-mate

orgânica

Bebida Energy Drink Energético Bebida energética à base de erva-mate

Bebida Mate expresso tostado e natural Bebida, para uso como chá

Bebida Mate solúvel Chá solúvel de erva-mate

Bebida Mate Verde Instantâneo Bebida, para uso como chá

Bebida Preparado Líquido de Chá Mate Para preparo de sucos e chás

Bebida Suco com erva-mate Sucos

Bebida Tererê líquido com sabores de frutas Sucos para tomar

Bebidas Xarope de Chá Mate Orgânico Para preparo de sucos e bebidas

Cosméticos Body Splash Creme para o corpo

Cosméticos Condicionador de cabelos Condicionador de cabelos

Cosméticos Creme Hidratante Corporal Previnem o envelhecimento da pele

Cosméticos Creme hidratante Facial Ação revitalizante e tônus muscular da pele,

Valdir Roque Dallabrida el al.

259

DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)

v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.

Cosmético Creme Hidratante para mãos Uso nas mãos

Cosmético Creme Hidratante para pés Uso nos pés

Cosméticos Creme para pentear Para os cabelos

Cosméticos Desodorante colônia Desodorante corporal

Cosméticos Extrato oleoso de erva-mate Produto lipossolúvel para preparo de

cosméticos e produtos de limpeza

Cosméticos Extratos líquidos hidroalcoólicos Para uso em produtos de uso capilar

Cosméticos Fitoblend de Saponinas

Mix de extratos ervas, com o mate, para

produção de cosméticos

Cosméticos Fitoglicerinado de Erva-Mate Composto básico a base erva-mate para preparo

de cosméticos

Cosméticos Fluído Termoprotetor Protetor de fio de cabelo

Cosméticos Geleia Hidratante Hidratantes nutritivo e protetor da pele

Cosméticos Glicólicos de erva-mate Produtos hidrossolúveis: composto básico para

preparo de cosméticos

Cosméticos Gloss Labial Uso nos lábios

Cosméticos Loção de Limpeza demaquilante Limpar e renovar as peles normais e secas

Cosméticos Manteiga Esfoliante Propriedades tonificantes e adstringentes e

micropartículas de limpeza

Cosméticos Máscara Capilar Biorreconstrutora Reconstrução da estrutura capilar

Cosméticos Óleo bifásico Para o corpo

Cosméticos Óleo Hidratante de Banho Produto com flavonoides que previnem o

envelhecimento da pele

Cosméticos Polpa Cremosa Hidratante Propriedades revitalizantes e energizantes

Cosméticos Sabonete Esfoliante Facial Para esfoliação profunda na pele

Cosméticos Shampoo Biorreconstrutor Limpeza e fortalecimento dos fios danificados e

quimicamente tratados

Cosméticos Shampoo fortalecedor Shampoo Capilar

Higiene e

limpeza Água de Cheiro para Tecidos Para perfumar roupa

Higiene e

limpeza Aromatizante de ambiente Para perfumar ambiente

Higiene e

limpeza Desodorante Uso pessoal

Higiene e

limpeza Difusor de aromas Para perfumar ambiente

Higiene e

limpeza Espuma de Banho Limpeza e hidratação

Higiene e

limpeza Espuma de barbear Para barbear

Higiene e

limpeza Gel pós-barba Para barbear

Higiene e

limpeza Loção Pós-Sol Para a pele

Higiene e

limpeza Mascara facial Capilar

Higiene e

limpeza Pasta esfoliante para os pés Tonificantes e adstringentes

Higiene e

limpeza Sabonete em barra Corporal e limpeza em geral

Higiene e

limpeza Sabonete líquido Para mãos

Higiene e

limpeza Sal de banho Relaxantes e antiestresse

Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do

Planalto Norte Catarinense

260

DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)

v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.

Higiene e

limpeza Vela aromática Vela aromática para ambientes

Higiene e

limpeza Vela de massagem Nutrem, tonificam e hidratam a sua pele

Saúde Erva-mate em cápsulas Diminuição do colesterol e funcionamento do

intestino

Saúde Florais Uso interno

Saúde e

Alimento Extrato fluído de erva-mate Usos diversos

Saúde e

Alimento Extrato glicólico de erva-mate Usos diversos

Saúde e

Alimento

Extrato líquido de erva-mate

(verde, estacionado e tostado) Usos diversos

Saúde e

Alimento

Extrato seco de erva-mate (com vários

níveis de cafeína) Usos diversos

Saúde e

Alimento

Extrato seco de erva-mate (verde,

estacionado e tostado) Usos diversos

Outros usos Corante natural de erva-mate verde oliva Tingimento de tecidos

Fonte: Dados da Pesquisa, a partir da consulta aos sites de empresas (2016)

Como é possível observar na lista de produtos o uso principal da erva-mate é na linha

de bebidas, cosméticos e higiene e limpeza, e secundariamente, em alimentos e produtos para

promoção da saúde.

Na Figura 2, os dados do Quadro 1 são apresentados na forma de números absolutos

de produtos pertencente às diferentes classificações.

Figura 2 – Classificação dos produtos do Quadro 1

Alim

ento

Beb

ida

Cosm

étic

o

Hig

iene

e lim

peza

Saú

de e

alim

ento

Outr

o

0

10

20

30

17

04

25

15

07

01Nú

mem

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e p

rod

uto

s

Fonte: Dados da Pesquisa, a partir da consulta aos sites de empresas (2016)

Valdir Roque Dallabrida el al.

261

DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)

v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.

Através da análise destes dados é possível detectar que os elementos que caracterizam

a inovação se manifestam de forma mais intensa nos segmentos de cosméticos, que nos

segmentos de alimentos e bebidas. A fitocosmética se dedica ao estudo e à aplicação dos

conhecimentos da ação dos princípios ativos extraídos de espécies do reino vegetal, em

proveito da higiene, da estética, da correção e da manutenção de um estado normal e sadio da

pele e cabelo. Este interesse na utilização de extratos de erva mate na preparação de

cosméticos naturais pode ser correlacionada com evidências científicas da sua ação

antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana (BRAVO, GOYA e LECUMBERRI et al.,

2007; LANZETTI et al., 2008) justificando assim seu emprego nesta categoria. Indo além

neste tema, com a utilização das plantas nos produtos cosméticos foram desenvolvidos os

cosméticos orgânicos, que são fabricados com ingredientes que seguem normas de qualidade

e sustentabilidade obedecendo a normas rígidas de certificação capazes de garantir, ao

consumidor final, a qualidade orgânica dos produtos adquiridos (BORGES, GARVIL, ROSA,

2013). Por isso, os orgânicos, aos poucos estão ganhando mercado, não só nos alimentos, mas

agora também em cosméticos e podem ser considerados uma interessante estratégia para a

inovação em cosméticos a partir da erva mate. Tendo em vista que a produção orgânica

obedece às normas rígidas de certificação que exigem além da não utilização de agrotóxicos e

drogas venenosas, os cuidados elementares como a conservação e a preservação de recursos

naturais e condições adequadas de trabalho tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e

ecológica, um produto cosmético orgânico a partir da erva mate pode ser considerada uma

estratégia de inovação e desenvolvimento do território do PNC.

Apesar de ainda pouco expressivo quando comparados às outras classificações, foi

observado que existe no mercado cápsulas a base de erva mate moída que são utilizadas pela

população para a diminuição do colesterol. De fato, um estudo conduzido em humanos

demonstrou que a redução dos níveis de colesterol foi maior naqueles indivíduos que

consumiam a erva mate juntamente com o medicamento, sugerindo assim a utilização da erva

mate como nutracêutico (MORAIS et al., 2009). O termo nutracêutico vem da junção de

“nutriente” e “farmacêuticos”, pois os nutrientes têm a capacidade comprovada de

proporcionar benefícios à saúde, como a prevenção e o tratamento de doenças (MORAES;

COLLA, 2006).

Ressalte-se que, apesar das muitas possibilidades de uso da erva-mate como

fitomedicamento, conforme já salientado no início do texto, nos sites pesquisados detectaram-

se informações apenas sobre o uso sob a forma de extrato líquido ou seco, o que, neste caso, é

classificado como complemento alimentar. Isso, pois, não foi feita a consulta em laboratórios

de medicamentos, nos quais seria possível identificar alguns produtos que já estejam no

mercado. Para concluir, nos últimos anos a pesquisa na área de produtos naturais tem

progredido devido aos avanços tecnológicos e dessa forma a avaliação da dinâmica da

inovação em bionegócio (nutracêutico ou até mesmo fitomedicamento) a partir da erva mate

pode ser inserida dentro da temática da inovação e desenvolvimento territorial do PNC.

Apesar da existência de estudos acadêmicos, muito ainda há por ser feito, até que se

vislumbre um maior uso da erva-mate como medicamento. Isso aponta para a necessidade de

estudos nesta área13

.

13

No curso de Farmácia da Universidade do Contestado, estão sendo realizados estudos, alguns já na fase de

testes em humanos, sobre efeitos terapêuticos da erva-mate. Destes e outros estudos, poderão resultar futuras

inovações em novos usos da erva-mate, neste caso, na fabricação de fitomedicamentos. Um dos artigos dessa

edição da DRd, trata do tema.

Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do

Planalto Norte Catarinense

262

DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)

v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.

A segunda dimensão da investigação trata da pesquisa no setor empresarial ervateiro

do PNC, levantando dados e informações que pudessem apontar indicativos em relação à

inovação. Como salientado, esta parte da investigação utilizou-se de um instrumento de

pesquisa aplicado a uma amostra de onze empresas da região, conforme apresentado no

Anexo 1.

A pesquisa realizada com empresas apurou uma série de informações e/ou dados: (i)

quanto ao ano de fundação, as mais antigas foram fundadas, em 1918 e 1938; das demais, seis

foram fundadas entre as décadas de 1970 e 1980, uma na década de 1990 e as mais recentes

foram fundadas em 2009 e 2011; (ii) quanto à origem da erva-mate beneficiada pelas

empresas, 48% provêm de municípios do PNC e outros 42% de municípios próximos, no

Paraná (Figura 3); (iii) o beneficiamento ou industrialização da erva-mate para chimarrão é,

majoritariamente, o produto que compõe o portfólio das empresas pesquisadas, sendo que, de

forma pouco significativa, algumas empresas também produzem chás, palito ou erva-mate

para tererê, com uma empresa terceirizando a produção de picolé sabor erva-mate.

Figura 3 – Origem da matéria-prima beneficiada/industrializada nas empresas pesquisadas

Fonte: Pesquisa (2016)

Podemos constatar que o setor industrial ervateiro do PNC tem muitos desafios a

superar: (i) possuem uma pequena variedade em seu portfólio de produtos, se compararmos

ao que é encontrado atualmente no mercado nacional e internacional; (ii) além da erva-mate

para chimarrão, mesmo a produção dos demais produtos, na maioria das empresas, é uma

iniciativa recente.

O fato positivo é que, segundo dados da amostra pesquisada, 48% da matéria-prima

erva-mate provém da própria região do PNC. Se somada com a que se origina de áreas muito

próximas, o caso do Centro Sul do Paraná, recorte territorial contíguo, esse montante chega a

90%. Essas áreas, além de se constituírem numa das maiores produtoras do Brasil, a erva-

mate que tem origem nelas, é considerada da melhor qualidade, somado ao fato de que tem

um diferencial: mais de 80% é oriunda da extração de folhas em formações de remanescentes

Planalto Norte

Catarinense

48%

Outros municípios do Estado de

Santa Catarina 5%

Paraná, próximos à

nossa região 42%

Outros Estados brasileiros

5%

Outros países 0%

Origem da erva-mate

Valdir Roque Dallabrida el al.

263

DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)

v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.

da Floresta Ombrófila Mista, podendo ser considerada uma atividade sustentável

ecologicamente (MARQUES, 2014)14

.

Sobre a opinião dos empresários em relação ao reduzido portfólio de produtos, 27%

das empresas considera suficiente continuar trabalhando com poucos produtos, enquanto 73%

delas tem interesse em diversificar a produção. Perguntados sobre se consideram que a

empresa poderia atuar no mercado com mais produtos e qual o motivo que justifica não ter

ampliado sua quantidade, 55% das empresas responderam que, mesmo tendo procura fora da

região ou no exterior, as atividades atuais da empresa são suficientes para manter-se no

mercado. Os demais respondentes afirmaram ser importante diversificarem a produção e

apresentaram como justificativa a desunião entre os sócios, a questão dos baixos preços da

erva-mate e a mentalidade conservadora dos dirigentes, além das poucas pesquisas sobre o

tema.

Veja-se que as respostas dão indicativo de pouca dinamicidade em termos de

inovação. É significativo o número de respostas que indicam certa acomodação do setor, em

função de estarem conseguindo competir no mercado, mesmo sem ensejarem avanços. No

entanto, as respostas, também, apontam para o reconhecimento dos desafios que precisam ser

enfrentados, como o caso da diversificação da produção e novas investigações que interessa

ao setor.

Já, quanto ao destino dos produtos industrializados e comercializados pelas empresas

pesquisadas, o mercado consumidor regional e nacional é majoritário ainda; para cinco

empresas corresponde a 100% da produção, enquanto para outras quatro, oscila entre 50 e

70%. O mercado internacional como destino da produção, para uma empresa oscila entre 70 e

95%, duas entre 50 e 70% e para três outras, representa menos de 50%. As demais não atuam

no mercado internacional. Ou seja, os dados apontam que o mercado regional e nacional

consegue oportunizar certa competitividade do setor produtivo regional. Certamente, o fato

das empresas da região estarem relativamente próximas a um dos maiores mercados

consumidores, além do interior do estado de Santa Catarina, que é o mercado gaúcho, no

vizinho estado do Rio Grande do Sul, em muito contribui para a manutenção do setor.

Questionados os representantes das empresas sobre a inovação empresarial, tivemos as

seguintes respostas: (i) duas referiram que não têm inovado em nada; (ii) quatro disseram

inovarem em máquinas, três em embalagens, três em programas de qualidade; (iii) duas

consideraram a exportação como uma inovação; (iv) outras respostas individuais variaram,

afirmando que inovam em novos pontos de venda, sua inserção em roteiros turísticos,

promoção de eventos e manutenção de site atualizado; (v) no entanto, somente três empresas

disseram inovar no lançamento de novos produtos. Os motivos alegados para não inovar

variaram entre desunião dos sócios, pouco incentivo na produção, mente conservadora,

resistência dos sócios da empresa, falta de pesquisa, de conhecimento e capacitação das

pessoas envolvidas nas empresas.

Portanto, estas respostas estão entre as mais agravantes em relação ao setor quanto à

inovação. Somente três empresas demonstraram estarem preocupadas com a inovação em

novos produtos. As demais dimensões apontadas como ações inovadoras, o são apenas em

parte, como o exemplo de embalagens e máquinas. Nestes casos, em geral, tais inovações

14

Vejam-se mais dados sobre a produção ervateira regional, nos demais artigos dessa edição da DRd.

Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do

Planalto Norte Catarinense

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DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)

v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.

atendem exigências do mercado quanto à qualidade dos produtos, em outros casos, atendem

às exigências de adequação legal.

Sobre os fatores favoráveis ao sucesso do setor industrial da erva-mate no PNC

(Figura 4), mereceram destaque a qualidade da matéria-prima (46%), a tradição (15%) e a

disponibilidade de matéria-prima regionalmente (15%). Outros fatores são mencionados, tais

como, a existência regional da erva-mate nativa, o clima favorável e as parcerias do setor.

Em relação aos fatores favoráveis ao sucesso do setor empresarial ervateiro, constata-

se o reconhecimento de vantagens competitivas, como a questão do diferencial de qualidade

da matéria-prima produzida próxima à região em estudo. A questão que fica é porque tais

vantagens não são suficientemente capitalizadas, como o caso de que mais de 80% do produto

provém de ervais nativos. Produtos com este diferencial são reconhecidos pelos consumidores

dos estados do sul do Brasil, como de qualidade superior. Isso mostrado no fato de que muitas

ervateiras que atuam no Rio Grande Sul vêm buscar erva-mate na região aqui destacada, para

fabricar a erva-mate preferida pelos consumidores daquele estado15

.

Figura 4 – Fatores considerados favoráveis ao sucesso do setor industrial da erva-mate no PNC

Fonte: Pesquisa (2016)

Quanto às dificuldades apontadas pelos respondentes em relação ao setor, predominou

a indicação da falta de união entre o setor ervateiro regional como a principal (23% das

respostas). Vem na sequência, a concorrência (15%) e outras respostas com percentuais entre

7 e 8%, tais como: baixo incentivo e imaturidade administrativa dos órgãos públicos; falta de

capacitação dos envolvidos no setor; restrições relacionadas à legislação ambiental e

trabalhista; necessidade de prospectar inovações no setor e novos mercados, além do baixo

preço do produto erva-mate.

15

Mesmo que esse dado não tenha sido objeto de pesquisa desta investigação, tal constatação é de conhecimento

público. Marques (2014) fez estudos que apontam nesta direção. No entanto, um dos artigos desta edição da

DRd, apresenta dados mais precisos e atualizados.

8%

15%

46%

15%

8% 8%

Clima

Tradição

Qualidade da matéria prima

Disponibilidade de matéria prima

Parcerias

Erva Nativa

Valdir Roque Dallabrida el al.

265

DRd – Desenvolvimento Regional em debate (ISSNe 2237-9029)

v. 6, n. 2, ed. esp., p. 247-273, jul. 2016.

Portanto, a investigação permitiu elucidar algumas questões sobre o setor industrial

ervateiro do PNC. Umas são óbvias para quem vive na região e conhece minimamente o setor.

Outras permitem reflexões, algumas delas comentadas na sequência.

Analisando os dados, várias questões podem ser elencadas como significativas: (i)

76% dos inqueridos reconhecem como fator de competitividade do setor industrial do PNC, a

qualidade diferenciada da matéria-prima juntamente com a tradição histórica na produção

regional da erva-mate; (ii) as respostas comprovam outra vantagem competitiva do setor:

poderem se abastecer da matéria-prima em áreas do PNC ou muito próximas; (iii) apesar de

um número significativo de empresários referirem-se à importância de inovar, em especial, na

diversificação dos produtos, contraditoriamente, mais da metade das empresas pesquisadas

afirmam que as atividades atuais da empresa são suficientes para manter-se no mercado, ou

seja, transparece certa acomodação do setor em termos de inovação; (iv) quanto ao destino da

produção, quase a metade atua apenas no mercado regional e nacional; no entanto, é

significativo o destino na produção para o mercado externo16

.

Já quanto à relação da variável variedade de produtos com a inovação, podemos

afirmar que o setor empresarial regional está situado numa situação que merece um

reposicionamento dos empresários. Analisando os dados das 11 empresas pesquisadas, 7 delas

apenas produzem erva-mate para chimarrão, sendo que apenas 4 possuem mais produtos em

seu portfólio. Ao se comparar, mesmo os novos produtos das empresas regionais, com os da

lista pesquisada, percebe-se que se trata de produtos que exigem pouca inovação

tecnológica17

.

Estas são as questões que podem ser consideradas de maior importância. Finalizemos

com algumas considerações, reflexões e indicativos de novos estudos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das constatações e análises que os dados levantados permitem, várias

considerações são procedentes, sendo que se dará destaque às mais impactantes tanto no setor,

como no desenvolvimento da região.

Para avaliar o posicionamento em termos de inovação empresarial do setor industrial

ervateiro do PNC, centra-se o foco numa variável: a variedade do portfólio de produtos das

empresas regionais. Mesmo que se concorde que há uma limitação em se avaliar um setor

apenas por uma variável, entende-se que é significativo, por duas razões: (i) o fato de que se

têm empresas que atuam no mercado há quase um século; (ii) o fato de que o setor situa-se

16

Mesmo que a pesquisa não tenha apurado este dado, o que poderá ser feito em estudos futuros, sabe-se por

informações informais com empresários do setor, que atualmente mais de 50% da produção de erva-mate, em

especial das empresas mais bem estruturadas, é exportada para países do Mercosul, Europa e Ásia. O problema

é que esta exportação, na sua quase totalidade, é de produto semibeneficiado, agregando pouco valor à

produção. 17

Sobre a questão da inovação nas empresas, precisa-se reconhecer que, em virtude das empresas pesquisadas

atenderem predominantemente o mercado regional e nacional, tal fato não exige que as mesmas inovem, pois o

consumidor não busca adquirir novos e diferenciados produtos. Ou seja, pode-se conjecturar que para setores

tradicionais como o ervateiro, a inovação em novos produtos não seja uma exigência essencial. É uma discussão

para se aprofundar.

Com erva-mate não se faz só chimarrão! Situação atual e perspectivas de inovação no setor ervateiro do

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próximo a uma região produtora de erva-mate da melhor qualidade, o que é reconhecido por

empresários de outros estados, como o Rio Grande do Sul, onde há um grande consumo do

produto e tem a presença significativa de empresas do setor ervateiro que, em função da

qualidade diferenciada, buscam matéria-prima no PNC e Centro Sul do Parará, para fazer um

mix com a erva-mate tipo especial, lá produzida. Poderíamos nos questionar: quais fatores

dificultam avanços no setor ervateiro regional, considerando que o mesmo pode contar com

uma vantagem competitiva da maior importância, ou seja, estar próxima a região produtora da

erva-mate da melhor qualidade do Brasil?

Alguns dados da pesquisa explicam, ao menos em parte, esta importante questão. A

justificativa apontada na pesquisa com as empresas, ao justificarem por que pouco inovam,

pode nos dar uma pista, ao se ouvir a afirmação sobre a existência regionalmente de uma

mentalidade empresarial conservadora por parte dos dirigentes de empresas, haver resistência

dos sócios de empresas em inovar e ao afirmarem existir falta de conhecimento e capacitação

das pessoas envolvidas no setor.

No entanto, como vimos na revisão da literatura sobre inovação, não devemos atribuir

apenas ao empresário a culpa por não inovar, ao considerar que a inovação não é um

fenômeno de caráter individual, senão coletivo. Ou seja, abordagens teóricas defendem que

inovação seria promovida pelo entorno ou meio em que a empresa está inserida. Não se trata

de negar a importância da empresa e empresário inovador, senão que ressaltar o papel do

entorno e do meio institucional na inovação.

Eis uma questão que merece reflexão: quais as condições que o meio institucional

regional oferece ou deixa de oferecer ao setor? Falamos das instituições de pesquisa e

extensão rural, das associações representativas do setor empresarial, do apoio público

oferecido ao setor, da adequabilidade da legislação que regula a atividade de extração e

beneficiamento da erva-mate. Neste quesito, certamente há muito que se fazer, mesmo que,

mais recentemente, algumas iniciativas estejam sendo executadas. Destaco duas: (i) pesquisas

recentes realizadas no único programa de mestrado que funciona na região18

; (ii) ações

articuladas pelo órgão estadual catarinense de pesquisa e extensão (Epagri), com apoio do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com o fim de se conseguir o

reconhecimento da tradição e notoriedade da erva-mate regional, por meio da Indicação

Geográfica.

De outra forma, também, nem tudo deve ser atribuído ao meio institucional. A

iniciativa empresarial é fundamental para o avanço do setor. Neste sentido fica o indicativo de

que o setor industrial ervateiro do PNC tem um importante desafio a superar: investir em

pesquisa, qualificar seus dirigentes e funcionários, para habilitar-se a competir no mercado

nacional e internacional, nos mesmos padrões de competitividade utilizados por empresas que

há mais tempo inovaram, por exemplo, ampliando seu portfólio de produtos e buscando

mercado para os mesmos. Isso ocorrendo, os impactos do setor ervateiro no desenvolvimento

da região do PNC seriam mais significativos, pois se estaria gerando novos empregos e

melhor remunerados, possibilitaria o aumento da área de cultivo de erva-mate com o que mais

produtores poderiam se envolver na atividade, ocorreria qualificação do processo produtivo,

oportunizaria maior arrecadação tributária, com isso, melhorando o retorno de recursos para

18

No dossiê, do qual faz parte este artigo está publicado resultados de pesquisas neste setor.

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os poderes públicos disponibilizarem no investimento em novos serviços públicos, dentre

outros aspectos positivos.

Esse reposicionamento do setor industrial ervateiro do PNC é fundamental, dentre

outras razões, para superarmos uma característica histórica da região: a tradição extrativista da

economia. Isso, pois, o extrativismo vegetal, como atividade econômica é a que menos

riqueza gera, por agregar pouco valor à produção. Isso ocorreu com a fase extrativista das

madeiras nobres do início até meados do fim do Século XX. No caso da erva-mate,

considerando que nos primórdios de sua exploração, a maior parte saia da região na forma in

natura, sendo beneficiada em outros centros urbanos, podemos também falar numa atividade

de caráter extrativista. Ao constatar que, atualmente, parte significativa da erva-mate é

exportada na forma de produto semibeneficiado, poderíamos afirmar que a atividade não

superou totalmente o caráter de economia predominantemente extrativista19

.

Uma última reflexão: quando fizemos referência às condições que o meio institucional

oferece ou deixa de oferecer ao setor ervateiro regional, dividimos a responsabilidade entre

empresários do setor e as instituições públicas e privadas do PNC. Ou seja, para contribuir no

avanço e inovações no setor ervateiro regional, precisamos regionalmente assumir o caráter de

um “território inovador”, nos tornando capazes de gerar ou incorporar conhecimentos

necessários para atribuir valor de forma eficiente e racional aos nossos recursos e ativos.

Outra recomendação de autores referenciados é que a capacidade inovadora regional é que

viabiliza a inserção de empresas e territórios no espaço mundial, inserindo-se em elos da

cadeia produtiva e de distribuição que permitam maior agregação de valor aos seus produtos e

serviços (FERRÃO, 1996; MÉNDEZ, 2002; CARAVACA; GARCÍA, 2009).

E quais as implicações das recomendações dos autores quanto à dimensão coletiva da

inovação, no caso do setor ervateiro do PNC? Uma delas, que já está sendo operacionalizada

em parte, é o aumento das pesquisas científicas de parte das instituições universitárias

localizadas regionalmente, muitas das quais resultarão em inovações no setor20

. Outra, a

necessidade de instituir regionalmente um centro ou instituto de pesquisa e inovação da erva-

mate, na forma de rede, integrando instituições regionais, tais como a UnC, a Epagri, o

Instituto Federal Santa Catarina, escolas técnicas agrícolas e a Embrapa Florestas, esta última

situada no vizinho estado do Paraná. Esta segunda recomendação, não deixa de ser uma

ousadia, proposta por nós pesquisadores, que nos parece ter muita urgência. Um bom

exemplo, que pode inspirar-nos, é o que decorre da experiência da IG Região do Cerrado

Mineiro, o caso do Centro de Excelência do Café do Cerrado21

. Da mesma forma, é

importante se pensar uma estrutura institucional responsável pela gestão do centro de pesquisa

19

Até este estágio de investigação não chegamos a apurar o montante representado pela exportação, do total da

erva-mate beneficiada na região. No entanto, em conversas informais com empresários, sabe-se que o

percentual é significativo, pois, no momento, há uma demanda crescente no mercado externo por erva-mate

semibeneficiada. 20

Vejam-se resultados de pesquisas realizadas recentemente, nos demais artigos desta edição da DRd. 21

Ver artigo nesta edição da revista DRd sobre o assunto. No artigo referido, se propõe que o processo de

estruturação da IG da erva-mate, avance, integrando o recorte territorial de produção de erva-mate próximo ao

Planalto Norte Catarinense, no caso da região Centro Sul do Paraná, propondo como referência territorial, a

“Região Ervateira do Médio Vale do Rio Iguaçu”. É um debate que, mesmo estando presente, ainda é pouco

aprofundado, além de não ser aceito por alguns atores envolvidos no processo de discussão da referida IG. No

nosso entendimento, como pesquisadores sobre o tema, o aprofundamento do referido debate deve ocorrer com

a maior urgência possível, sendo considerado um posicionamento estratégico, considerando as possibilidades

de sucesso da futura IG da erva-mate.

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e inovação, com a missão de estabelecer linhas de pesquisa, inovação e desenvolvimento de

novos produtos à base da erva-mate, além da identificação de novas tecnologias que

proporcionem a qualificação e ampliação do setor produtivo rural. Uma estrutura desse tipo

teria a possibilidade de promover o intercâmbio permanente de experiências com técnicos e

especialistas de diversas regiões produtoras, executando cursos e eventos. Novamente, o

exemplo da Fundação de Desenvolvimento do Cerrado Mineiro, pode servir de inspiração.

Espera-se que os dados pesquisados e informações evidenciadas nesta investigação,

além das análises e reflexões propositivas oportunizadas, estimulem o debate regionalmente,

não só internamente no setor, mas no meio acadêmico, nos órgãos de pesquisa e extensão, no

empresariado, na sociedade em geral e de parte dos gestores públicos.

Por fim, reconhecemos as limitações da presente investigação, com o que estamos

cientes quanto à necessidade de aprofundar as análises, por meio de novas investigações.

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ANEXO A – ESTUDO DO SETOR INDUSTRIAL ERVATEIRO DO PLANALTO

NORTE CATARINENSE

Objetivo: Caracterizar a cadeia produtiva da erva-mate dos municípios do Planalto Norte Catarinense.

Os dados farão parte de estudos que estão sendo realizados por dois alunos da Universidade do

Contestado, orientados pelo Prof. Dr. Valdir Roque Dallabrida. As informações serão utilizadas,

exclusivamente, para estudo acadêmico, os quais não serão disponibilizados individualmente, ou seja,

não será informado o nome da empresa, nem do empresário.

1. Localização da empresa:

( ) Bela Vista do Toldo ( ) Campo Alegre ( ) Canoinhas ( ) Irineópolis ( ) Itaiópolis

( ) Mafra ( ) Major Vieira ( ) Monte Castelo ( ) Papanduva ( ) Rio Negrinho

( ) Porto União ( ) São Bento do Sul ( ) Três Barras

2. Data de fundação:

Ano: _____________

3. Origem da matéria-prima utilizada no beneficiamento industrial:

( ) De municípios do Planalto Norte Catarinense – percentual %: _____.

( ) De outros municípios do Estado de Santa Catarina - %___________.

( ) De municípios do Paraná, próximos à nossa região %___________.

( ) De outros Estados brasileiros %___________.

( ) De outros países, como a Argentina %___________.

4. Relação de produtos da empresa e época em que se iniciou a comercialização do produto:

a- ( ) erva-mate para chimarrão:

( ) desde o início da empresa

( ) a partir do ano _________.

b- ( ) erva para chás:

( ) desde o início da empresa

( ) a partir do ano _________.

c- Outros produtos Ano em que a empresa iniciou a comercialização

1-___________________________________________________________.

2- ___________________________________________________________.

3- ___________________________________________________________.

4- ___________________________________________________________.

5- ___________________________________________________________.

5. Você considera que a quantidade de produtos que a empresa comercializa:

( ) É suficiente para manter a competitividade da empresa

( ) Poderia ser maior, pois melhoraria a competitividade da empresa

6. Se considera que a empresa poderia atuar no mercado com mais produtos, qual o motivo que

justifica não ter ampliado a quantidade:

( ) Não tem mercado regional

( ) Mesmo tendo mercado fora da região ou no exterior, as atividades atuais da empresa são

suficientes para manter-se no mercado

( ) Outros motivos, quais:______________________________________________________

_________________________________________________________________________

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7. Sobre a atividade industrial e comercial da empresa e volume de produção mensal (média):

a- ( ) A industrialização e comercialização de produtos no mercado consumidos regional e

nacional representa um percentual de:

( ) 100% ( ) entre 70 e 99% ( ) entre 50 e 69% ( ) menos de 50%

b- A industrialização e comercialização de produtos no mercado internacional representa um

percentual de:

( ) 100% ( ) entre 70 e 99% ( ) entre 50 e 69% ( ) menos de 50%

c- Do total da atividade comercial e industrial da empresa, a exportação de erva-mate

semibeneficiada (ex. cancheada), representa um percentual de:

( ) 100% ( ) entre 70 e 99% ( ) entre 50 e 69% ( ) menos de 50%

8. Sobre inovação empresarial:

a- A empresa tem inovado historicamente, e em que?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

b- Se você considera que a empresa tem inovado pouco ao longo de sua história, quais as razões

que você aponta como justificativas?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

9 Relacione os fatores que você considera favoráveis ao sucesso do setor industrial da erva-

mate do Planalto Norte Catarinense:

___________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

10 Quais as principais dificuldades que você aponta para o setor industrial ervateiro da região?

___________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

Algo mais que gostaria de registrar?

___________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

Agradecemos imensamente sua disponibilidade em responder nossas questões. Com certeza

contribuirão para refletirmos sobre o fortalecimento do setor ervateiro de nossa região.

Os autores da Pesquisa

Artigo recebido em: 15/07/2016

Artigo aprovado em: 20/07/2016