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COMARCA DE NITERÓI JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL - REGIÃO OCEÂNICA Processo nº 2009.212.003510-2 Ação de Obrigação de Fazer c/c Cobrança Autor: Gabriela Del Carmen Astur Valdes Réu: Leonardo Miguel Saad S E N T E N Ç A I - RELATÓRIO Trata-se de ação de obrigação de fazer cumulada com cobrança proposta por Gabriela Del Carmen Astur Valdes em face de Leonardo Miguel Saad alegando, em síntese, que: 1) a autora na qualidade de sócia da empresa ASTUR E CORREA LTDA, firmou em 12/11/2007 com o réu, Contrato de Compra e Venda e Obrigações de Fazer; 2) o réu não transferiu para o seu nome as linhas telefônicas nº 2705-7272 e 2608-0859, constantes no anexo II do contrato; 3) o réu não promoveu junto à concessionária de serviço de energia (AMPLA) a transferência para a sua responsabilidade do consumo de energia elétrica, constante no anexo II do contrato; 4) o réu deixou de pagar alugueres do imóvel constante no anexo II, cuja dívida, no importe de R$4.400,00, que foi liquidada pela autora, conforme comprovante acostado aos autos; 5) deixou de pagar alugueres da loja constante no anexo II, no importe de R$1.535,00; 6) o réu não honrou o total compromisso da cláusula décima do contrato, deixando de pagar o último cheque no valor de R$5.000,00; 7) o réu também não honrou o compromisso previsto na cláusula sétima do contrato, na qual se obriga a transferir o financiamento do veículo Uno placa LON 2131, cor prata, ano 2002/2003 registrado no nome da autora, prevendo na mesma cláusula, que na impossibilidade de concretizar a transferência o réu pagaria o financiamento, bem como o pagamento do IPVA, o que não ocorreu e tal fato resultou em vários prejuízos para a autora que figurou como ré em ação judicial promovida pelo Banco Safra, o qual, antes protestou os respectivos títulos quitados pela autora no valor de R$11.655,89 e 8) 27 prestações não foram pagas pelo réu, o que deveria ter sido feito, por estar à época na posse do veículo; 9) os IPVA's não pagos totalizam R$2.420,64. Diante dos argumentos expendidos requereu a procedência do pedido para condenar o réu a promover junto à concessionária de telefonia a transferência das linhas telefônicas de números 2705-7272 e 2608-0859 para o seu nome e condenado ao pagamento de R$35.574,47 referente ao débito apontado. Inicial e documentos às fls. 02/53. Audiência de Conciliação às fls. 64 quando o r[eu apresentou sua contestação de fls. 6570 refutando as alegações da parte autora sustentando que: A) o contrato foi firmado de forma emergencial, em face da empresa de propriedade da autora se encontrar, à época, com diversas dívidas tais como: vários meses de salários atrasados, alugueres sem pagar, serviços básicos cortados, dentre outros; B) conforme previsto na cláusula nona do contrato firmado entre as partes ficou estabelecido alterar no contrato social o endereço da firma

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COMARCA DE NITERÓI JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL - REGIÃO OCEÂNICA Processo nº 2009.212.003510-2 Ação de Obrigação de Fazer c/c Cobrança Autor: Gabriela Del Carmen Astur Valdes Réu: Leonardo Miguel Saad S E N T E N Ç A I - RELATÓRIO Trata-se de ação de obrigação de fazer cumulada com cobrança proposta por Gabriela Del Carmen Astur Valdes em face de Leonardo Miguel Saad alegando, em síntese, que: 1) a autora na qualidade de sócia da empresa ASTUR E CORREA LTDA, firmou em 12/11/2007 com o réu, Contrato de Compra e Venda e Obrigações de Fazer; 2) o réu não transferiu para o seu nome as linhas telefônicas nº 2705-7272 e 2608-0859, constantes no anexo II do contrato; 3) o réu não promoveu junto à concessionária de serviço de energia (AMPLA) a transferência para a sua responsabilidade do consumo de energia elétrica, constante no anexo II do contrato; 4) o réu deixou de pagar alugueres do imóvel constante no anexo II, cuja dívida, no importe de R$4.400,00, que foi liquidada pela autora, conforme comprovante acostado aos autos; 5) deixou de pagar alugueres da loja constante no anexo II, no importe de R$1.535,00; 6) o réu não honrou o total compromisso da cláusula décima do contrato, deixando de pagar o último cheque no valor de R$5.000,00; 7) o réu também não honrou o compromisso previsto na cláusula sétima do contrato, na qual se obriga a transferir o financiamento do veículo Uno placa LON 2131, cor prata, ano 2002/2003 registrado no nome da autora, prevendo na mesma cláusula, que na impossibilidade de concretizar a transferência o réu pagaria o financiamento, bem como o pagamento do IPVA, o que não ocorreu e tal fato resultou em vários prejuízos para a autora que figurou como ré em ação judicial promovida pelo Banco Safra, o qual, antes protestou os respectivos títulos quitados pela autora no valor de R$11.655,89 e 8) 27 prestações não foram pagas pelo réu, o que deveria ter sido feito, por estar à época na posse do veículo; 9) os IPVA's não pagos totalizam R$2.420,64. Diante dos argumentos expendidos requereu a procedência do pedido para condenar o réu a promover junto à concessionária de telefonia a transferência das linhas telefônicas de números 2705-7272 e 2608-0859 para o seu nome e condenado ao pagamento de R$35.574,47 referente ao débito apontado. Inicial e documentos às fls. 02/53. Audiência de Conciliação às fls. 64 quando o r[eu apresentou sua contestação de fls. 6570 refutando as alegações da parte autora sustentando que: A) o contrato foi firmado de forma emergencial, em face da empresa de propriedade da autora se encontrar, à época, com diversas dívidas tais como: vários meses de salários atrasados, alugueres sem pagar, serviços básicos cortados, dentre outros; B) conforme previsto na cláusula nona do contrato firmado entre as partes ficou estabelecido alterar no contrato social o endereço da firma ASTUR e CORREA, este item permitiria a legalização de outra empresa no mesmo endereço, sendo acordado entre as partes que, com a efetivação da transferência, seria liquidado o valor pendente; C) mesmo sem cumprimento deste compromisso, foi pago o valor integral, sendo o último pagamento transferido ao Sr. João Marcus Miranda Wenz, que também firmou o referido contrato na qualidade de testemunha, sócio informal da autora e que até o presente momento não foi fornecido o comprovante de baixa ou de transferência da empresa, estando a mesma ativa no CNPJ ainda no mesmo endereço, consoante documento acostado aos autos; D) a transferência das linhas telefônicas e a transferência da conta de energia ficam pendentes, aguardando a liberação do local para a implantação de outra firma ou no caso de interesse da autora as transferências podem ser realizadas diretamente pelo titular do serviço para o nome do réu; E) que as obrigações referentes ao veículo Uno, não foram cumpridas, por culpa exclusiva da falta de cumprimento da obrigação principal, por parte das autora, no que se refere à entrega efetiva da Fiat Uno e de sua documentação; F) com relação aos alugueres não pagos, o Sr. Washington é sócio da autora na empresa Astur e Correa, e no contrato celebrado entre as partes, apenas os alugueres vencidos, deveriam ser quitados pelos réus, ou seja, agosto, setembro e outubro de 2008, totalizando R$1.481,00, valor este pago diretamente ao sócio Washington, permanecendo a obrigação de pagamento dos alugueres vincendos, por parte da

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empresa ASTUR e CORREA ou de seus sócios, de acordo com compromissos firmados entre eles; G) o valor de R$5.000,00 referido na inicial foi devidamente repassado ao Sr. João Marcus. Assim, requereu fossem julgados improcedentes os pedidos. Decisão saneadora, irrecorrida, às fls. 75. Audiência de Instrução e Julgamento realizada às fls. 77/83. É O RELATÓRIO. PASSO A DECIDIR. II - FUNDAMENTAÇÃO De acordo com os pedidos formulados pela autora, a mesma pretende ser ressarcida dos valores despendidos para quitação de débitos que tinham ficado a cargo do réu por força de contrato celebrado entre os litigantes e que o mesmo seja compelido a promover a transferência da titularidade das linhas telefônicas mencionadas às fls. 04 para seu nome. De imediato, deve ser destacado que não há no contrato de fls. 13/15 nenhuma cláusula obrigando o réu a promover a transferência da titularidade das linhas telefônicas, razão pela qual não pode exigir a autora cumprimento daquilo que não restou avençado entre as partes. Se for de seu interesse, está autorizada a demandante a suspender ou cancelar as referidas linhas telefônicas. Desta forma, o pedido concernente à obrigação de fazer improcede. No que tange ao pedido condenatório, melhor sorte não socorre o réu. Com efeito, a parte autora logrou comprovar pelos diversos documentos que instruem a inicial os pagamentos que foram realizados pela mesma, mas que eram de responsabilidade do réu por força do contrato de fls. 13/15. Com efeito, beira a litigância de má fé a alegação do réu de que o valor dos alugueis foram pagos ao sócio Washington, eis que o próprio Washington em se depoimento de fls. 82/83 afirmou que o réu teria pago os aluguéis em atraso diretamente ao locador. Se assim ocorreu, cabe perguntar: onde está o recibo assinado pelo locador pelo recebimento dos aluguéis em atraso??? Não há recibo algum em poder do réu, porquanto quem efetuou o pagamento foi a autora, conforme já informava o documento de fls. 22. Da mesma forma, a autora cumpriu com seu ônus processual de fazer prova quanto aos fatos constitutivos de seu direito ao comprovar o pagamento dos diversos débitos que seria de responsabilidade do réu. Nesse aspecto cabe destacar que o depoimento de Washington foi importante para este Julgador perceber que, na verdade, o veículo Uno realmente estava na posse do réu que o repassou para Washignton utilizá-lo. Tal consideração ganha relevância ao perceber que o referido veículo foi apreendido pelo Banco Safra no estacionamento da empresa do réu, conforme confessado por Washington às fls. 83. É irrelevante se a autora entregou ou não os documentos do veículo, porquanto a cláusula sétima do contrato de fls. 13/15 é expressa em destacar que na impossibilidade de transferência do veículo a réu deveria assumir os pagamentos dos débitos do IPVA e multas que, na verdade, foram quitadas pela demandante. Como já dito, todas as despesas arroladas na inicial que foram pagas pela autora e que estavam à cargo do réu foram devidamente comprovadas pelos documentos de fls. 24/53, não tendo o réu comprovado nos autos quaisquer de suas alegações para o não cumprimento do contrato que, inclusive, causaram constrangimentos à autora, já que foi ré em ação de busca e apreensão e teve seu nome envolvido em protestos de títulos. Por derradeiro, deve ser esclarecido que os valores expressos no item 5.8 de fls. 04 será apreciado nos autos da demanda em apenso. III - DISPOSITIVO Pelo exposto, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO para condenar o réu a pagar à autora a quantia de R$33.404,47 (trinta e três mil quatrocentos e quatro reais e quarenta e sete centavos), que deverá ser acrescida de juros de 1% ao mês a contar da citação e correção monetária a contar dos efetivos pagamentos, condenando a parte ré no pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios que fixo em 10% sobre o valor da condenação, na forma do artigo 20, parágrafo 3º, do Código de Processo Civil. Outrossim, JULGO IMPROCEDENTE O PEDIDO relativo à obrigação de fazer, na forma da fundamentação supra. Considerando que dentre as proposições para a Reforma do Código de Processo Civil está a que estabelece que ´O cumprimento da sentença por quantia certa é auto-executável, dispensando a intimação do executado após o transcurso do prazo referido no art. 475-J, incidindo os consectários referidos transcorrido o prazo legal, após o trânsito em julgado da

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decisão´, mantenho meu posicionamento anterior, razão pela qual, acompanhando a melhor orientação do egrégio Superior Tribunal de Justiça (precedente: REsp. nº 954.859-RS - Min. Humberto Gomes de Barros - 3ª Turma - j. 16.08.2007; p. 27.08.2007), fica desde já intimado o vencido de que deverá cumprir a obrigação espontaneamente no prazo de 15 dias a contar do trânsito em julgado, independentemente de nova intimação, sob pena de incidência da multa prevista no artigo 475-J, do CPC. P. R. I. Com o trânsito em julgado, o cumprimento da obrigação e o recolhimento das custas, dê-se baixa e arquivem-se. Niterói, 1º de outubro de 2010. ALBERTO REPUBLICANO DE MACEDO JR. Juiz de Direito

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – RÉU PRESO – INTIMAÇÃO PESSOAL – OBRIGAÇÃO DE FAZER - ART. 475-J DO CPC C/C ART. 461 DO CPC - DESNECESSIDADE – DECISÃO MANTIDA. 1. Pacífico o entendimento de que, tratando-se de cumprimento de sentença, a intimação pessoal do devedor para efetuar o pagamento de quantia certa fixada por decisão transitada em julgado é desnecessária. Precedentes. 2. Os artigos 461 e 632 do CPC trouxeram ao ordenamento processual pátrio, de forma expressa, as sentenças auto-executáveis e mandamentais nas condenações de fazer e não fazer, não havendo necessidade de citação do executado na exigibilidade judicial dessas pretensões. 3. No caso dos autos, a Curadoria Especial - representante judicial do réu preso - foi pessoalmente intimada da obrigação expressa no título judicial, bem como a segunda requerida - através de seu patrono constituído – portanto, ambos os réus executados regularmente intimados do título judicial em fase de cumprimento de sentença, cientes da obrigação ali constante. 4. Agravo de Instrumento conhecido e não provido.