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Nº 23 Fevereiro de 2017 0,50 Euro www.garvao.net

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JORNAL DE GARVÃO www.garvao.net

Largo D. Afonso III, 7670-125 GarvãoRedacção: José Pereira Malveiro, José Daniel MalveiroApoios: Câmara Municipal de Ourique - Junta de Freguesia de Garvão- Casa do Povo de Garvão - Comissão de Festas e Romarias -Comissão Fabriqueira da Igreja.Publicado: Ao abrigo da lei de imprensa, 2/99 de 15 de Janeiro,artigo 9º nº 2.Registado: No Instituto Nacional de Propriedade Industrial:Marcas e Patentes.

TIPOGRAFIA: NET impressos - Rio de Mouro

Comparar hoje os modernos municípios aosconcelhos dos nossos primórdios, pouco encontraríamosdo espírito povoador e defensivo que animou a atribuiçãodos primeiros forais às populações das povoaçõesrecentemente conquistadas à moirama, pelo contrário asvárias alterações que o reordenamento do território temforçado, ao longo da nossa história, em muito têm alteradoo cariz povoador e até mesmo igualitário inicial.

Os actuais concelhos são, pela força dos seusregulamentos municipais, pela injustiça na distribuição dosrendimentos e postos de trabalho, pela falta de repartiçãoequitativa pelas restantes vilas do concelho dos subsídios querecebem e respectiva gestão orçamental emcontraste com o parco orçamento dasfreguesias, são de facto polos concentradoresde poderes em desprestigio das restantespovoações do concelho, contribuindo,significativamente, para o enriquecimento dasede concelhia e empobrecimento e odespovoamento das restantes povoações doconcelho. Já, por volta de 1850, AlexandreHerculano comentava na sua história dePortugal: “O estudo do município, nas origensdele, nas suas modificações, na suasignificação como elemento político, deveter para a geração actual subido valorhistórico, e muito mais o terá algum dia,quando e experiência tiver demonstrado anecessidade de restaurar esse esquecidomas indispensável elemento de toda a boaorganização social.” Se o despovoamento das vilas e aldeiasdo interior afectam de uma forma geral todasas povoações rurais, incluindo as própriassedes dos concelhos, ela afecta de maneirasignificativa as sedes de freguesia. Sem meios financeiros edepauperadas dos seus rendimentos para fazerem fase aodespovoamento progressivo, assiste-se a uma dramáticadesproporção entre a taxa de nascimentos e falecimentos e auma incapacidade de se implementar mecanismos de defesacontra a desertificação humana ou apoios na fixação daspopulações às terras. Os condicionalismos históricos dos alvores danacionalidade, a necessidade de povoamento, de regulamentaçãoda população e a necessidade de defesa contra a moirama nãose colocam hoje, nem se colocaram com a reformaadministrativa dos forais de leitura nova por el-rei D. Manuelna centúria de mil e quinhentos, e muito menos se colocaramcom a revolução liberal do século XIX e as reformasadministrativa de Mouzinho da Silveira. De facto deve-se a Mouzinho da Silveira aresponsabilidade do ordenamento actual dos modernosconcelhos que extinguiu grande parte dos concelhos medievaisincluindo o de Panóias e de Garvão no actual concelho de

Ourique em 1836, deveu-se mais a reformas administrativasdo que a um efectivo povoamento do território que estavaprecisamente na base da atribuição do Foral às povoações pelosmonarcas do tempo da reconquista. Ora nada disto foi mais desvirtuado do que com anomeação dos modernos concelhos no século XIX, obedecendoa outros princípios que não a defesa e o povoamento do território,os governantes liberais procederam a uma série de reformasadministrativas que culminou na incorporação de muitosconcelhos noutros. Presentemente as liberdades individuais sobrepuseram-se aos interesses colectivos, não só a propriedade privada ésinonimo de progresso, como, por outro, os baldios como terras

colectivas, são considerados como exemplodo atraso da nossa agricultura. A ilusão daliberdade individual, o isolamento enfraquecido,o direito individual isolado em relação à forçada comunidade, reveste de hipocrisia osmodernos conceitos de liberdade e não deixade ser um descrédito para a democracia. Oisolamento do individuo em relação à sociedadeorganizada enfraquece as revindicações locaise dilui-se no acto enganador do voto individualnum sufrágio que se quer universal. Se a democracia se manifesta pelaintervenção eleitoral da população, comcapacidade de voto, na escolha dos seusgovernantes, não se pode deixar de ignorarque aquela que está mais próxima das massaspopulares, a eleição para a Junta de Freguesia,é aquela que tem menos poderes. De factoos poderes, executivos ou orçamentais, daJunta de Freguesia, aquela que a populaçãomais sente, compreende e participa maisempenhadamente, são praticamente nulos oureduzidos à própria existência, sem qualquerpoder de decisão ou de veto nas questões quedirectamente a afectam.

A democracia poderá estar garantida pela participaçãopopular na escolha dos governantes, tanto ao nível local comonacional, mas está incapacitada à nascença tanto pela restriçãodos poderes dos órgãos autárquicos locais, como no acesso docidadão às decisões que lhe dizem directamente respeito, tantopessoal, profissional ou financeiro, como ao nível da comunidadeonde reside.

EDITORIAL

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DIVULGAÇÃO COMERCIAL: Toda a publicidade incluida neste jornal não está sujeita a pagamento

Os forais, como documentos jurídicos autónomos,desempenharam a sua função na consolidação territoriale populacional do então emergente reino de Portugal,daí a serem considerados como um dos mais notáveisinstrumentos da administração portuguesa e dos maisgenuínos órgãos administrativos em Portugal, sendo,ainda hoje, uma referência no territórionacional.

De facto a atribuição de forais, mais doque um reconhecimento implícito dumapovoação e da sua população era uminstrumento económico/fiscal/jurídico/militar eregulador da vida social, económica e militarda comunidade, precisamente paraincrementar a defesa, o povoamento e odesenvolvimento desse lugar.

Com o fim da reconquista surge anecessidade de reorganizar o reino ereformular os principais objectivos deconsolidação não só territorial masprincipalmente administrativa. De facto aindao território que viria a constituir a identidadenacional não se encontrava totalmenteconquistado, e já as forças envolvidas na suaconquista, rei, nobreza e clero, se debatiamsobre a manutenção das suas prerrogativas epor mais doações, recorrendo à implantaçãoterritorial que tinham adquirido graças àgenerosidade régia, procurando rentabilizar oseu património

Se a sobrevivência da organização concelhia se devemais ao seu modelo de organização da população e se impôsnuma altura de necessidade de povoamento e defesa, - nãonos esqueçamos da contribuição das gentes dos concelhos edos seus cavaleiros-vilãos na reconquista, - ou se o rei viunesta organização concelhia o apoio necessário para restringiros excessos do poder senhorial, o certo é que o fortalecimento

destas comunidades autónomas e o poder régio saiu reforçado,neste equilíbrio de poderes entre as forças envolvidas, com aimplantação de um verdadeiro sistema administrativo, no quala organização municipal desempenhou um papel fulcral nofortalecimento do rei como restringidor do poder da nobreza edo clero.

Nesse sentido D. Afonso III, a quemessencialmente se deve os primeiros passos nacentralização governativa, muito beneficiou da acçãodesenvolvida pelos seus antecessores, de facto já desdeos tempos do seu pai, D. Afonso II, que se vinha aobservar um reforço da monarquia num quadroadministrativo tanto em disputa como por vezes emconflito com os nobres e com a igreja.

As posturas emanadas na carta de foral,para além dos respectivos aspectos histórico e jurídicos,dão-nos igualmente conhecimento sobre outrasmatérias das vivências diárias da comunidade,nomeadamente a estrutura social e respectivas divisõesda população, particularmente as regras de posse, usoe partilha da terra e dos meios de produção, mencionamigualmente aspectos sobre a antroponímia e toponímiada época, assim como um vasto glossário das palavrasem uso e aqui, mais uma vez, não se pode deixar desalientar o importante papel desempenhado pelosagentes da escrita cujo protagonismo no aparelhoadministrativo nunca é demais realçar como alicercesda memória comunitária.

Mostrou-se igualmente os aspectos administrativoslocais, principalmente aqueles onde a auto-gestão é maisnotória, embora tutelada pelo poder régio, por vezes emconfronto com os costumes e legislação consuetudinária, nãodeixa de demonstrar a autonomia concelhia nomeadamente nacapacidade destes em elegerem os seus próprios magistrados,de regularem o regime judicial e penal, de ordenarem umsistema fiscal, de prover e regular as suas forças militares entrea população e organizar a exploração dos meios de produção.

INTRODUÇÃO

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A sociedade na transição do século XI para o séculoXIII era marcada por profundas alterações no mundo cristão:um forte crescimento demográfico, marcava a sociedadeeuropeia1: na terra santa a defesa do santo sepulcro e dosperegrinos exigia medidas defensivas por parte dos cristãoscontra os infiéis, que ameaçavam os lugares santos; na penínsulaibérica processava-se ummovimento de reconquista; nospaíses pós-Pirenéus a par doaumento demográfico, observava-se uma certa instabilidadeprovocada pelos filhossegundogénitos, afastados da linhasucessiva e de qualquer herança,reservada ao filho mais velho,segundo o exemplo da sucessãorégia, unilinear e masculina,restava-lhes somente a viaclerical ou militar.

(…) em Outubro de 1234,o pontífice concedia indulgênciasde cruzadas a todos aqueles queo ajudassem na sua luta contra ossarracenos e na ocupação de terras abandonadas que por ele(D. Sancho II) fossem conquistadas”.2

“Pese embora que no ano de 1241 a 18 de Fevereiro, asanta sé tenha exortado os portugueses, principalmente osnobres, a concederem ao rei o seu auxílio na luta contra osmuçulmanos, com indulgências e remimento de pecados emtudo idênticas às outorgadas aos que iam à terra santa, (…)3

A reconquista aos infiéis na península Ibérica promovidapelos vários reinos cristãos, descendentes do reino visigóticoque se tinham refugiado nas montanhas a norte da península,não só reclamando um espaço territorial ancestral mas unidanuma fé comum, tinha todos os condimentos para a ajuda dascruzadas e da vinda de cavaleiros pós-Pirenéus afastados dalinha linhagística4 cujo caso mais paradigmático, em relação aofuturo reino de Portugal, encontra-se na figura do conde D.Henrique de Borgonha,5 pai de D Afonso Henriques, primeirorei de Portugal.

Se o aumento populacional a que se assistia, por estaaltura, na Europa e o afastamento dos filhos segundogénitos da

herança familiar se por uma lado reforça o movimentocruzadístico por outro e a confirmar-se a extensão dessecrescimento demográfico à Península Ibérica, teremos, porestes motivos, de colocar a própria fundação da identidadenacional nestes factores.Se a pressão demográfica, vinda do norte, misturou gentes

com origem em váriasprocedências, moldou assim oconceito de nacionalidade, nãodeixará, também, de absorverpoliticamente e culturalmente oCentro e Sul na unidade políticaem formação “Portucale”.Apesar das diferenças culturaisentre um Norte Cristão e um SulIslamizado, a progressão destemovimento unificador, e aconsolidação não só territorial,mas essencialmente religioso-cultural, dinamizada pelo rei,absorve, inevitavelmente, asassimetrias regionais encontradasno território, mesmo para aqueles

nascidos longe do espaço onde teve origem este movimentode reconquista.6

1 A. H. De Oliveira Marques, História de Portugal volume I, pag. 150e seguintes. José Mattoso: Identificação de um país. Ensaio sobreas origens de Portugal (1096-1325). P. 17.2 José Mattoso, “D. Sancho II, o Capelo”, in: Mário Raul de SousaCunha - A Ordem Militar de Santiago (das origens a 1327). P. 73.3 Transcrita em vernáculo na crónica de D. Sancho II, in: Mário Raulde Sousa Cunha - A Ordem Militar de Santiago (das origens a1327). P. 73.4 Esta classe de nobres, segundogénitos, iriam, igualmente, noreinado de D. Afonso III, desempenhar uma acção importante naspretensões ao trono pelo Conde de Bolonha, futuro D. Afonso IIIem oposição ao seu irmão D. Sancho II.5 Nasceu em Dijon por volta de 1057, e faleceu em 1114 na cidade deAstorga. Quarto filho do duque Henrique de Borgonha e de Sibila,era igualmente neto de Roberto I, duque de Borgonha-Baixa, ebisneto do rei da França, Roberto.

6 José Mattoso: Identificação de um país. Ensaio sobre as origensde Portugal (1096-1325). P. 13, 14 e 26.

CONTEXTO HISTÓRICOFactores Sócio-económicos

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A fundação das ordens religioso-militares encontra-se,originalmente, na necessidade de assistência aos peregrinosque visitavam a terra Santa, principalmente depois da primeiracruzada e da conquista de Jerusalém em 1099, assistiu-se àconstituição de ordens militares-religiosas na terra santa.

Este novo conceito de milícia-cristã conciliava asnecessidades tanto assistenciais como defensivas nesta novafigura do monge-cavaleiro, cujoconceito de uma posição meramenteassistencial evoluíram para umaposição de defesa e posteriormentepara a conquista territorial como seveio a observar nas cruzadas, ondede facto se poderá encontrar o idealdeste monges-cavaleiros e em cujocontexto global cruzadistico não sepoderão desassociar.

“(…) esta nova funçãoguerreira acaba por ser aceite, aolongo do século XII, quando oprotagonismo dos freires resultava nadefesa dos lugares santos da ameaçado Islão e na reconquista territorialem cenários mais ocidentais, como,por exemplo, na península Ibérica.”1

Sob o comando do mestrePaio Peres Correia e a partir deAlcácer do Sal, os freires da Ordemde Santiago dilataram os seusterritórios através da conquista degrande parte do Sul alentejano e do sotavento algarvio. A atribuição do foral a várias terras, incluindo Garvão,demonstra, claramente, a hegemonia desta ordem militar e asua importância no povoamento, administração e consolidaçãoterritorial. É assim neste quadro sócio-político que em Fevereirode 1267, sendo mestre da Ordem de Santiago, D. Paio PeresCorreia conjuntamente com João Raimundo, Comendador deMértola, se outorga a carta de Foral de Garvão em cujas armasactuais figura a cruz espatária.3

1 Maria Cristina Ribeiro de Sousa Fernandes, A Ordem Militarde Santiago no século XIV, Porto: 2002. p. 32.

CRUZADAS Em Cenários mais Ocidentais

2 Anísio Miguel De Sousa Saraiva, A formação de UmTerritório, de Uma Fronteira e de Uma Identidade: AMargem Esquerda do Guadiana em Tempos Medievais,“A vitória alcançada, em 1212, na batalha das Naves deTolosa, pela expedição liderada pelo exército castelhanoapoiado pelos seus congéneres leoneses, aragoneses,navarros, portugueses e de além-Pirenéus, consubstancia

esse momento de viragem. Naverdade, o sucesso esmagadordesta empresa ditou adesagregação do império e oenfraquecimento das ofensivasalmóadas, abrindo assimcaminho ao relançamento daReconquista, o que de facto foipositivamente aproveitado porLeão e Castela, mas não porPortugal.”Contudo é inegável que oenfraquecimento das hostesmuçulmanas facilitou as aspiraçõese as conquistas territoriais dosportugueses no Alentejo, com areconquista definitiva de várioslugares antes perdidos para osmuçulmanos, nomeadamenteAlcácer do Sal em 1217. Apesarde, contudo, o rei português D.Afonso II, talvez devido à suaenfermidade, tenha sido o rei quemenos beneficiou directamente

com a vitória cristã de Naves de Tolosa, não deixou de concedergrandes domínios fronteiriços às ordens militares para reforçara salvaguardar a defesa do reino.3 Em 23 de Maio de 1320, por bula do papa João XXII a D.Dinis, concedia-lhe o direito de cobrar a dízima de todas asigrejas do reino incluindo as da Ordem de Santiago: assim aigreja de Garvão era taxada em 540 libras anuais; Ourique, igrejade Santa Maria, 210 libras e igual valor de 210 libras para aigreja de S. Salvador de Ourique; Panoias e Torredões, taxadaem 240 libras. Mário Raul de Sousa Cunha - A Ordem Militarde Santiago (das origens a 1327), pág. 236/238.

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AS CARTAS de FORALA outorga das cartas de Foral às povoações

conquistadas no período da formação da nacionalidade, emboragenericamente se denominem Carta de Foral ou simplesmenteForal, constituem na realidade, na maioria dos casos, doisimportantes documentos jurídicos,embora autónomos, complementam-se, e regulam as relações da populaçãoentre si e com a entidade outorgante,um, o foral, concedido pelo rei,(privilegiando o reforço domunicipalismo), ou por entidade compoderes para tal, senhores detentoresdas terras, leigos, nobres ou do clero,(geralmente reforçando os seusdireitos e a garantir as rendas dasterras), o outro, os costumesmunicipais, compensando as lacunasna lei geral, são fontes de direito local,em uso em povoações antigas,transmitidas oralmente e, nalgunscasos, redigidas a escrito e incluídasna Carta de Foral como no casoconcreto de Garvão.

Os Costumes, também, seencontram denominados por foros,contudo, enquanto, em relação ao foral,os primeiros documentos eramdenominados por fórum ou foro, como conjunto das disposiçõesescritas, e o suporte do texto como carta, só posteriormente noséculo XIV se generalizou a denominação de carta de foral.Os foros propriamente ditos significavam; o direito costumeiro,também designado consuetudinário ou costumesmunicipais; o estatuto de uma classe de pessoas quandodestinado a foro de cavaleiro ou foro eclesiástico; ora aoconjunto de prescrições nele contidas; e mais tarde veio asignificar os contratos de exploração das terras, contratos deenfiteuse, ou contratos de aforamento,1 entre os proprietáriosdas herdades e os enfiteutas ou foreiros, determinando umacerta quantia de renda a pagar.2

As cartas de foral3, dos primevos concelhos no territórioportuguês, constituem-se em famílias, conforme o modelo deforal que seguiam, distinguem-se assim, para além da família

de forais tipo Ávila/Évora, ao qual pertence o foral de Garvão,encontremos, também, forais tipo Salamanca e Coimbra erespectivas famílias. A redacção dos diversos forais, conformea época, os outorgantes e as especificidades locais, de uma

maneira geral procuravam:Garantir as liberdades e garantiasdos povoadores/moradores,respeitando a inviolabilidade dodomicílio familiar; impondoimpostos e obrigações fiscais;instituindo normas militares paraa população, incluindo direitos egarantias para peões e cavaleiros;impondo regulamentos para aaplicação da justiça, e asrespectivas penas e multas pelasviolações e crimes; e disposiçõespara uso dos solos comuns.

Os forais foram, também,outorgados a outras comunidadesjá existentes na península pelareconquista como o caso dosmouros4 e dos judeus e, de outrascomunidades que se vieram ainstalar posteriormente noterritório português, geralmentedenominados por “francos”,

referem-se de facto a comunidades estrangeiras chegadas àpenínsula, como no caso de Vila Verde dos Francos em Alenquerou na Lourinhã, assim como Atouguia dos Francos e, também,Atouguia dos Gálicos, referindo-se a outra denominação extra-pirenaica.5

Ditada pelos condicionalismos da reconquista, apromulgação da carta de foral, aos concelhos do Centro e Sul,reflectem uma sociedade guerreira, caracterizada pelorelacionamento e disputa entre poderes e, a sociedadehierarquizada, em cavaleiros, peões e várias classes dedependentes, desde serviçais domésticos aos que laboravam aterra e pastoreavam os rebanhos e, aos artífices e mercadores.Os mais antigos documentos que se encontram nesse sentido,denominados por Cartas de Foral6, datam, na península Ibérica,por volta do século X7.

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TAS de FORAL A outorga da Carta do Foral a uma povoação, aoreconhecer e a legitimar a existência de uma comunidadeautónoma, e ao estabelecer regras de organização próprias ede reconhecer a capacidade da própria população e dos homenslivres de assumirem o poder local, legitimava a fundação doconcelho. “(…) as várias causasque temos apontado traziam aconcessão das cartas queinstituíam os concelhos, e que,raras ou duvidosas ainda noséculo X, se tornam maisfrequentes e precisas noseguinte, multiplicando-segradualmente nos doisimediatos, esses mesmosdiplomas nos ensinam que aideia do município, das suasformulas e magistraturas, erauma coisa tradicional”8.

1Embora numa realidade maisrecente, foi concedidoaforamento de certas parcelasde terreno aos povoadores daSardoa para construírem casase quintais de apoio agrícola(cômodos para gado, hortas,poços ...). Actualmente ainda seassiste reminiscências deste tipode “foro” na vila de Garvão,nomeadamente na Sardoa deque o caso do Xaveco é um bomexemplo.2 António Matos Reis, História dos Municípios, 2007.3 Como sistema de direito local foi amplamente utilizado naPenínsula Ibéria e em certas zonas da França.4 Maria Filomena Barros, Manuela Santos Silva, João PauloOliveira e Costa. (2005). Os Forais de Palmela. Palmela:Câmara Municipal de Palmela.5 António Matos Reis, História dos Municípios, 2007. P. 39

6 Termo adoptado a partir do século XIV, inicialmentedenominados por foro ou forum ou simplismente por carta.António Matos, História dos Municípios (1050 - 1383),Lisboa, Livros Horizonte, 2007. P.47.7 São João da Pesqueira tem o foral mais antigo de Portugal,

outorgado entre 1055 e 1065, no reinadode Fernando I de Leão, cognominado “OMagno”. Conde de Castela entre 1035-1065 e rei de Leão de 1037 a 1065.8 Alexandre Herculano. História dePortugal …, com prefácio e notascríticas de José MATTOSO. Tomo IVpag. 769 Alexandre Herculano foi o grandeestudioso dos forais em Portugal noséculo XIX. Na sua “História de Portu-gal”, (de 1846 a 1853), Produto de longosanos de investigação documental,Alexandre Herculano escreve sobre asorigens dos concelhos nacionais e comos vários progressos porque passou omunicipalismo em Portugal, assim comoos classifica em categorias, tendo comobase a população e a própria organizaçãodas respectivas povoações.10 Marcelo Caetano. História do DireitoPortuguês (1140-1495), Lisboa, Verbo,198111 Alexandre Herculano, História dePortugal III, Lisboa, Círculo de Leitores,1987, p.98.12 Denominavam-se Servos da Glebla,os trabalhadores dependentes de umsenhor feudal, que estavam obrigados atrabalhar a terra e a residência fixa, na

Gleba. Eram, inclusivamente, transaccionados conjuntamentecom a terra. Com a reconquista e a necessidade de povoamentoeste regime foi dando lugar, progressivamente, ao aforamentode terreno, sendo praticamente inexistente no século XIII.13 Alexandre Herculano.História de Portugal …, com prefácio e notas críticas deJosé MATTOSO. Tomo IV Pag. 100.

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OS CONCELHOS COMO BALUARTESDA LIBERDADE

A atribuição de um documento jurídico com normas,não só de defesa e de incentivos à fixação das populações,mas, também, de regulamentação administrativa, militar, fiscal,económica e penal, criava, entre o rei e a população, uma aliançadesmotivadora dos abusos por parte do senhores locais, cujaprepotência, por vezes, tanto punha em causa as liberdades dapopulação como os direitos régios. “Os reis viam no povo oaliado ideal para atingir os seus objectivos e o povo sentia nomonarca a salvaguarda das suas liberdades”.1

O historiador Alexandre Herculano, classifica os foraiscomo marcos significativos naliberdade das populações,sustenta, inclusivamente que osforais são documentosessenciais para a articulação dopoder concelhio e régio, noordenamento territorial e naregulamentação dos deveres edireitos das populações,constituindo uma “...aliança dorei e dos concelhos contra as classes privilegiadas, o clero e afidalguia”2.

Esta aliança, materializada na carta do foral, entre o poderrégio e as povoações concelhias, limitava o poder dos senhoresfeudais, nobreza e clero, detentores, não só dos meios produtivos,a terra, mas, também, de enormes privilégios. Com a instituiçãodo Foral, criava-se, assim, um pacto entre o rei e os homensbons das povoações, de resistência aos abusos perpetuados pelosricos detentores das terras, impedindo-os de submeterem apopulação das povoações à sua vontade, como anteriormentese observavaou a manutenção dos servos da gleba3. Sem ainstituição dos organismos municipais, criados a partir daatribuição da carta de Foral, (como a instituição do Concelho edo Pelourinho) vigorava a lei do mais forte, os abusos e aprepotência dos senhores feudais, nobres e inclusivamente doclero, detentores de vastos territórios, acrescia á já desprotegidapopulação, numa altura de extrema insegurança, em que osroubos eram frequentes, tanto de alimentos, animais e searascomo assaltos aos próprios moradores.

“O critério para vermos aí uma tentativa, um embrião demunicipalidade, á acharmos na respectiva carta de povoaçãoesse indício de vida pública distinta e especial que abrangeum grupo de indivíduos, que os separa colectivamente, numa

ou noutra relação de direito público, da população solta queos rodeia; que os faz sair do estado ordinário que determinavanaqueles tempos a condição comum das classes inferiores;que em suma, os incorpora, por assim nos exprimirmos, numseu social.”4

As povoações nas terras conquistadas aos Muçulmanos,ao receber o foral do rei ou de outras entidades com poderpara o fazer (Ordens Religiosas, Clero, particulares), mais doque reconhecer a sua existência, legalizava-as, integrando-asnum quadro político sob a guarda do rei, concedia-lhes privilégios,

direitos e obrigações; civis, militares,administrativas, fiscais, penais eprocessuais, reconhecendo, também, odireito ás terras que a populaçãotrabalhava em volta das povoações.Embora constituindo uma reduzida partedo total do território, eram terras doconcelho que não estavam integradasnas terras da nobreza ou do clero (ordensreligiosas, mosteiros, conventos, bispos

etc). Era acima de tudo, como se tem afirmado, um progressona emancipação das populações, em que os vizinhos e oshomens bons do concelho, mandatados por essa “autorização”real, instituíam os órgãos e os cargos concelhios; os jurados, oalcaide, o mordomo, o saião, o vozeiro entre outros cargosconcelhios cujas nomeações e atribuições, por vezes, variavamde concelho para concelho. O rei através da fiscalização porfuncionários régios, em visitação aos diversos concelhos,garantia que se cumprissem as normas legais e se evitassemabusos ou injustiças.

1 Marcelo Caetano. História do Direito Português (1140-1495),Lisboa, Verbo, 1981.2 Alexandre Herculano, História de Portugal III, Lisboa, Círculo deLeitores, 1987. P. 98.3 Denominavam-se Servos da Glebla, os trabalhadores dependentesde um senhor feudal, que estavam obrigados a trabalhar a terra e aresidência fixa, na Gleba. Eram, inclusivamente, transaccionadosconjuntamente com a terra. Com a reconquista e a necessidade depovoamento este regime foi dando lugar, progressivamente, aoaforamento de terreno, sendo praticamente inexistente no século XIII.4 Alexandre Herculano. História de Portugal …, com prefácio e notascríticas de José MATTOSO. Tomo IV. P. 100.

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Têm sido inúmeros os autores que de uma maneira geral,tanto em termos históricos, como em termos jurídicos elinguísticos se têm referido ao foral de Garvão. De facto se setorna exaustivo, e sem fundamento para o presente trabalho, amenção a todos eles, que de alguma forma se limitaram a atestara sua existência ou a corroborar teses já anteriormenteveiculadas, outros há cujas investigações e trabalhos sãopertinentes ao desenvolvimento deste dissertação.

Alexandre herculano1, Torquato Sousa Gomes, GamaBarros, Lindley Cintra, MarceloCaetano,2 estão entre os autores que deuma forma significativa maiscontribuíram para o estudo e divulgaçãodesta carta foralenga e cujascontribuições se encontram devidamenteanotadas ao longo desta dissertação. Emtermos linguísticos, sem desprezar aobra de José Azevedo Ferreira e adevida referência que faz ao foral deGarvão, há a realçar o trabalho deMaria Helena Inês Garvão,3 na suadissertação de mestrado em “Foros deGarvão. Edição e estudo linguístico”e a posterior menção a essa dissertaçãopor outros autores.

Para além da mencionada tese de Mestrado de MariaHelena Inês Garvão inteiramente dedicada ao foral de Garvão,as únicas duas publicações do referido foral até agora editadasaparecem, pela primeira vês, no século XIX, uma nos “Inéditosda Historia Portuguesa”, publicada pela Academia Real dasSciencias de Lisboa em 1824, e outra no “PortugaliaeMonumenta Histórica, Leges et Consuetudines”, obraorganizada por Alexandre Herculano, em 1856, são obras deinteresse historiográfico geral, publicadas, conjuntamente comas cartas de foral de outras terras, cujo objectivo era a suadivulgação. O “Portugaliae Monumenta Histórica, Leges etConsuetudines” apresente algumas melhorias em relação aos“Inéditos da Historia Portuguesa”, mas mantêm-se, contudo,uma certa discordância entre o foral original e os textospublicados em ambas edições, requerendo uma leitura maisapurada quando consultadas. Contudo, a nota final no texto daprimeira publicação do foral de Garvão na Colecção de Inéditos

REFERÊNCIASDE OUTROS AUTORES

de História Portugueza de 1824, é, embora resumidamente,elucidativa sobre o seu conteúdo.

“Estes foros estão n´bum códice de pergaminho, quese aeba no real arebivo no maço de foraes antigosN.11. começa na 1ª folha pelo foral, que he escritoem Leiria franceza, com as iniciaes, e com ornatos,e a primeira cubital; acaba no principio da folha5.ª seguem-se imediatamente os costumes d´alcaçar,no primeiro da 7.ª os costumes de monte mor o novo,

que acabao na 8.ª aqui acabaa copia do foro e costumes,feita na era de 1905, no reinadodo sr. D. affonso III. Na folha9.ª esta pintado com tintasvermelhas e azues hum senhorcrucificado. Que toma ioda apagina. O reverso desta folha,e as folhas 10, 11,12 e 13 estaoem branco. Na folha 14começao os custumes d´evora ,escritos em letra francezamiúda sem ernados do reinadodo sr. D. affonso IV. E assimtudo o mais que se segue,

acabando no reverso da folha 22, seguem-se embranco mais três folhas: não tem assignatura, nemas folhas são numeradas.”De notar, ainda, a inclusão da iluminura de Cristo

crucificado, (no fólio nove rosto), na exposição levada a cabopela fundação Calouste Gulbenkian, sobre manuscritosiluminados, em Maio de 2000.

1 Alexandre Herculano. História de Portugal …, com prefácio e notascríticas de José MATTOSO. Tomo IV pag. 368.2 Assim como António Hespanha, Nuno Espinosa Gomes da Silva,Manuel de Carvalho Moniz, António Matos Reis, Ruy deAlbuquerque e Martim de Albuquerque, abordam, emboraligeiramente, o foral de Garvão.3 “O tema da dissertação foi-me proposto pelo professor Luís F.Lindley Cintra inspirado na coincidência do meu apelido sersimultaneamente o topónimo de uma localidade ..." . In: Maria HelenaInês Garvão: Foros de Garvão. Edição e estudo linguístico.Dissertação de Mestrado, FLUL, Lisboa, 1992.

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O CODICEA Carta de Foral de Garvão, encontra-se no Arquivo

Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, tendo como cotaactualizada: N. A. 471 – Maço 11. nº 11, correspondendo àantiga cota “Interior da Caza da Coroa Armário 17 Maço 11 Nº11”, como consta no pergaminho queserve de capa da Carta de Foral eantes de serem transferidos para onovo arquivo nacional da Torre doTombo. Apresenta igualmente, nointerior da contracapa, uma inscriçãobastante imperceptível mas já comcaligrafia do século XVIII,possivelmente feito pela mesma mãoque em numeração árabe actualenumerou os fólios, (no rosto), nocanto superior direito.

Trata-se de um documentoem razoável estado de conservação,embora os efeitos da suaantiguidade sejam visíveis em certosfólios, nomedamente, escurecimentodo próprio pergaminho e comalgumas manchas de humidade,apresenta noutros lugares manchasde tinta e, nalgumas margens,principalmente da goteira,apresenta-se ligeiramente deteriorado devido ao uso. Apesarde, presentemente, alguns fólios se apresentarem muitotranslúcidos como é o caso de certos fólios no segundo caderno,não impede, contudo, a devida leitura do texto.

Apresenta igualmente pequenos cortes e vincos dedobras nos cantos ou pequenos furos próprios do processo detratamento e esticagem da pele na preparação do pergaminho,processo esse muito anterior à passagem a escrito e portantonão afectando o próprio texto no pergaminho, como no caso dofólio três que apresenta dois buracos, que o escriba teve o

cuidado de os contornar e afastar as letras, (13ª linha deregramento do lado rosto, 12ª linha do lado verso) ou de osincluir nas próprias letras do texto quando procedia à suaredacção, (16ª linha de regramento do lado verso).

Entendeu-se assim na feituradeste trabalho seguir as orientaçõesjá antes veiculadas em trabalhosanteriores, nomeadamente parte datradução efectuada por AlexandreHerculano nos inéditos/ da história dePortugal e a ordenação das foliaçõesde Maria Inês Garvão.

Escrito numa altura detransição da língua portuguesa, emque D. Afonso III tentando acentuara independência portuguesa emrelação aos outros reinos ibéricos,introduziu alterações significativas aoléxico escrito da altura, criando assimo embrião da língua portuguesa,distanciando-o das outras línguasfaladas na península, não se nota,contudo, na redacção do Foral aintrodução dessas alteraçõeslinguísticas, pelos dois primeiroscopistas que o redigiram.

Na redução a escrito deste codice nota-se na suaredacção o uso de quatro escribas diferentes, com aparticularidade de no último fólio do primeiro caderno, (fólio 13verso), o escriba, sem se aperceber, a ter começado a redigircom o livro ao contrário, quando deu pelo erro, e depois devirar o livro para a posição correcta, começou a escrever otexto novamente na página seguinte, (primeira do segundocaderno), sem inutilizar a página anterior que apresenta assimseis linhas escritas no fundo da página com a letra invertida erepetidas no fólio seguinte.

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A Carta de Foral de Garvão compõe-se dos seguintesdocumentos comunicados de outras terras.

- Foral de Garvão comunicado de Alcacer- Foros e costumes de Garvão comunicados de

Alcácer- Costumes de Montemor-o-novo

comunicados a Alcácer- Foros e costumes de Garvão

comunicados de Évora- Carta do Alcaide e dos Alvazis

de Lisboa ao concelho de Alcácer- Carta do rei D. Afonso III aos

concelhos do Alentejo- Costumes da Corte- Dos ForosTratam essencialmente dos

aspectos ligados à defesa, aborda a questãodos aspectos jurídicos, das penas e castigos,dos direitos e deveres, das ofensas físicase morais, portagens, sobre a inviolabilidadedo lar, dos juízes e almoxarifes.

A Carta de Foral comprendendo oforal propriamente em si e os foros oucostumes, apresenta tratamentos diferentes,embora não coincidentes, tanto na matériatratada como no tratamento caligráfico.

A redacção do foral e dos foros ecostumes de Garvão comunicados de Alcácer e dosCostumes de Montemor-o-novo comunicados a Alcácer,incluídos no primeiro caderno e redigidos pelo primeiro escriba,seguem um tratamento mais apurado, (em relação so segundocaderno), em letra luxuosa com as iniciais carregadas a vermelhoe a azul em latim intercalado com subtítulos em português avermelho, que subentendem o assunto que se segue. Escritaintegralmente pelo primeiro escriba, no século XIII, e onde asiluminuras se mostram mais coloridas e deslumbrantes.

Na redação dos foros e costumes de Garvãocomunicados de Évora, da carta do Alcaide e dos Alvazisde Lisboa ao concelho de Alcácer, da carta do rei D. AfonsoIII aos concelhos do Alentejo, dos costumes da Cortee edos Foros, incluídos no segundo caderno, temos um tratamento

menos luxuoso, escritopelo segundo, terceiro equarto escriba, (estes doisúltimos escribas já doséculo XIV), em escritautilitária portuguesa daépoca, de tom castanho eonde as poucasdecorações aí existentesseguem o mesmo padrão,tanto da cor como dotexto.

Assim sobre omesmo temaencontraremos váriasdisposições consoante setrate dos comunicados deÀlcacer, de Montemor oude Èvora ou mesmo deLisboa como Henrique daGama Barros defendepelo facto de na própria

carta do foral, fólio vinte verso, incluir a rubrica “Dos Custumesda Corte”.

Contudo não se observa uma contradição entre osvários costumes comunicados a Garvão, poderão-se repetircomo no caso do castigo a aplicar no caso de mudança demarco divisório das propriedaes como se observa no fólio 2rrelacionado com o Foral comunicado de Àlcacer e o mesmotema descrito no fólio 5r na rubrica relacionada com os Foros ecostumes de Garvão comunicados de Alcácer.

CONTEÚDO

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AS ILUMINURAS NO FORAL DEGARVÃO

Uma parte importante do manuscrito corresponde àsiluminuras, na sua maioria, constam de iniciais zoomórficas edesenhos marginais, embora no segundo caderno as decoraçõessejam escassas e feitas na mesma cor da tinta do restante texto,é no primeiro caderno, na parte respeitante ao foral que seapresentam mais deslumbrantes.

O fólio um apresenta,ricamente decorado, umaimagem de um “dragão e umaespada” e o fólio nove, umaimagem do calvário de cristo quesegue a tipologia usada no séc.XII. São raras as representaçõesdo calvário na iluminuraportuguesa que chegaram aténós fora de Santa Cruz deCoimbra, sendo este exemplarum dos mais antigos. Ao copistanão seria, certamente, estranhoo missal de Santa Cruz deCoimbra de 1179, assim como olivro do Apocalipse do mosteirodo Lorvão fundado em dataanterior.

As iniciaisornamentadas e as ilustraçõesapresentadas, algumastemerosas, estariam de acordocom o sentimento que sepretendia transmitir nesta partedo texto relacionada com aspenas e os castigos aplicados à população em caso detransgressão.

O fólio um (rosto), correspondente ao início da partemanuscrita do documento, está ricamente ilustrado com uma

decoração, que envolve e ultrapassa a respectiva caixa de texto,tanto em altura, pelo lado da lombada, como na largura pelaparte superior.A espada que sobrepõe esta figura, apresenta na lâmina umaténue inscrição em latim cuja leitura embora quaseimperceptível consegue-se determinar: “Signum Santi

Iacobi..........Garuã”, (sinalde São Tiago … Garvão).Apresenta igualmente asimbologia associada àOrdem de Santiago: avieira ou concha naseparação do punho com alâmina da espada, aindausada pelos peregrinos emromaria a Santiago deCompostela, e uma Flor-de-Lis na extremidade dopunho, ao contrário deoutras representações dopunho da espada, em queapresenta três flores-de-Lis, como aparece nopróprio brasão de armasdesta vila e de outras terrasdentro dos domínios daordem. Nos restantes fóliosda carta de foral,maioritariamente no primeirocaderno, surgem váriascapitais decoradas, a iniciar

as respectivas linhas do texto, assim como váriasrepresentações animalescas ou associadas ao bestiário religioso-cristão, como se observará nos fólios seguintes.