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Comentário Bíblico - AT

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Comentário Bíblico AT - Prova Final.indb IIIComentário Bíblico AT - Prova Final.indb III 12/7/2010 16:17:1212/7/2010 16:17:12

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IntroduçãoO primeiro livro da Bíblia é, por várias razões, um dos mais fascinantes de toda a Escritura. Sua loca-lização no cânon, sua relação com o restante da Palavra de Deus e a natureza surpreendente e va-riada de seu conteúdo o tornam um dos livros mais notáveis da Sagrada Escritura. Portanto, não é de admirar que, com verdadeiro discernimento espiri-tual, o povo de Deus em todas as épocas se reúna ao redor deste livro e o estude com toda a atenção.

W. H. Griffi th Thomas

I. Posição singular no cânonGênesis é um título adequado para esse livro (do gr., “início”; os judeus o chamam de bereshîth, “no princípio”), que contém o único relato verdadeiro da criação feito pela única pessoa que estava lá: o Criador!

O Espírito Santo, por meio de seu servo Moisés, relata a origem de tudo o que há de mais importan-te: o homem e a mulher, o matrimônio, o pecado, os sacrifícios, as cidades, o comércio, a agricultura, a música, a adoração, as línguas, as raças e as nações do mundo. Tudo isso nos primeiros onze capítulos.

Em seguida, os capítulos 12—50 narram o sur-gimento de Israel, nação criada por Deus com o objetivo de se tornar um microcosmo espiritual a representar todos os povos do planeta. A vida dos patriarcas Abraão, Isaque, Jacó e os doze fi lhos des-te (em especial o cativante e piedoso José) inspirou milhões de pessoas, desde crianças até estudiosos e pesquisadores do AT.

Precisamos obter uma compreensão mais profun-da de Gênesis para entendermos os outros 65 livros da Escritura, pois todos estão fundamentados em sua belíssima narrativa literária.

II. AutoriaAceitamos o antigo ensinamento judaico-cristão de que Gênesis foi escrito e compilado por Moisés, servo de Deus e legislador de Israel. Uma vez que todos os acontecimentos registrados em Gênesis são pré-mosaicos, é praticamente certo que Moisés, guiado pelo Espírito Santo, escreveu sua obra utilizando do-cumentos antigos e talvez relatos orais. Para mais detalhes sobre a autoria mosaica, consulte Introdução ao Pentateuco.

III. DataOs estudiosos mais conservadores geralmente datam o êxodo em c. 1445 a.C. Portanto, Gênesis prova-

velmente foi escrito entre essa data e a morte de Moisés, ocorrida cerca de quarenta anos mais tarde. Obviamente, é possível que esse livro do Pentateuco tenha sido escrito antes do êxodo, uma vez que os acontecimentos registrados em Gênesis são anterio-res a esse grande acontecimento.

Para detalhes adicionais, consulte a “Introdução ao Pentateuco”.

IV. Contexto e temaCom exceção dos extremamente preconceituosos em relação à Escritura, ao judaísmo e ao cristianis-mo, quase todos concordam que Gênesis oferece um relato fascinante da Antiguidade, com narrativas belíssimas, como a história de José.

Em quais circunstâncias o primeiro livro da Bíblia foi escrito? Ou, mais especifi camente, o que é Gênesis?

Aqueles que rejeitam a existência de um Deus pessoal tendem a classifi car Gênesis como uma coleção de mitos pagãos adaptados da mitologia mesopotâmica e “purifi cados” de seus elementos poli teístas, com a intenção de solidifi car o mono-teísmo hebreu.

Outros, menos céticos, consideram Gênesis como uma coleção de sagas ou lendas com algum valor histórico.

Outros ainda consideram essas histórias explica-ções para a origem das coisas na natureza e na cul-tura (disciplina cujo nome técnico é etiologia). De fato, há etiologias no AT, especialmente em Gênesis (p. ex., a origem do pecado, do arco-íris, do povo hebreu); porém, de maneira nenhuma isso implica que as explicações contidas na Bíblia careçam de fundamentação histórica.

Gênesis é história. Como toda história, possui na-tureza interpretativa. Gênesis apresenta uma história teológica, isto é, narra os fatos sob a perspectiva do plano divino. Como se diz: “A história do mundo é a história de Deus”.

Embora seja o primeiro livro da “lei” (Tora no heb., com o signifi cado de “instrução”), Gênesis apresenta pouco material jurídico. Gênesis é chamado de “lei” pelo fato de servir de fundamento para os textos de Êxodo a Deuteronômio e para a entrega da lei a Moisés. Na verdade, Gênesis representa não apenas o fundamento da história bíblica, mas também da história da humanidade.

Os temas de bênção e maldição estão meticulosa-mente entrelaçados no texto de Gênesis e em toda a Escritura. A obediência produz bênção, mas a de-sobediência gera maldição.

GÊNESIS

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12 Gênesis (Introdução)

As maldições mais conhecidas são: as punições após a queda, o dilúvio universal e a confusão das línguas em Babel.

As bênçãos mais famosas são: a promessa do Re-dentor, a salvação de um remanescente durante o dilúvio e a escolha de Israel como nação formada es-pecialmente para servir de canal da graça de Deus.

Se Gênesis narra a história como de fato aconte-ceu, então de que maneira Moisés teve acesso às ge-nealogias, conversas, aos acontecimentos e à correta interpretação desses acontecimentos?

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que a ar-queologia tem apoiado (não “provado”, mas con-fi rmado, esclarecido) o relato de Gênesis em muitas áreas, principalmente com relação aos patriarcas e seus costumes.

Alguns liberais do século XIX, como Hartmann,1 afi rmaram que Moisés não poderia ter sido o autor do Pentateuco, uma vez que a escrita ainda não ha-via sido inventada! Hoje sabemos que Moisés pode-ria ter utilizado qualquer um dos vários sistemas de escrita da Antiguidade, pois era versado em todo o conhecimento do Egito.

Sem dúvida, Moisés utilizou relatos deixados por José, além de tabuinhas, pergaminhos e traduções orais da Mesopotâmia trazidos por Abraão e seus descendentes. Esse material continha as genealogias que compõem as seções principais de Gênesis co-nhecidas como “Os descendentes de Adão” etc.

O Espírito Santo o inspirou a separar o material adequado e deixar de lado o restante. Em última análise, porém, todas essas fontes ainda não eram sufi cientes. Portanto, Deus provavelmente acrescen-tou detalhes aos diálogos e aos outros fatos por meio de revelação direta.

No fi nal das contas, tudo se resume em fé: ou Deus é capaz de produzir esse material por meio de seu servo, ou não. Fiéis de todas as gerações, desde os primórdios até hoje, têm atestado que Deus é verdadeiro.

A arqueologia pode nos ajudar a reconstruir a cultura dos patriarcas e assim proporcionar mais vivacidade2 aos relatos bíblicos. Todavia, somente o Espírito Santo é capaz de iluminar a verdade de Gênesis em nosso coração e vida cotidiana.

A fi m de se benefi ciar deste Comentário bíblico po-pular em Gênesis ou em qualquer outro livro do AT, busque a iluminação do Espírito Santo deixada na própria Palavra de Deus. Os comentários bíblicos não

são ferramentas independentes; antes, funcionam como setas que indicam a direção correta rumo ao “Assim diz o Senhor”.

EsboçoI. O início da história da terra (1—11)

A. A criação (1—2) B. Tentação e queda (3) C. Caim e Abel (4) D. Sete e seus descendentes (5) E. A disseminação do pecado e o dilúvio

universal (6—8) F. Noé após o dilúvio (9) G. A listagem das nações (10) H. A torre de Babel (11)

II. Os patriarcas de Israel (12—50) A. Abraão (12:1—25:18)

1. O chamado de Abraão (12:1-9) 2. Rumo ao Egito e retorno a Betel

(12:10—13:4) 3. Encontros com Ló e Melquisedeque

(13:5—14:24) 4. Deus promete um herdeiro a Abrão

(15) 5. Ismael, fi lho da carne (16—17) 6. Sodoma e Gomorra (18—19) 7. Abraão e Abimeleque (20) 8. Isaque, fi lho da promessa (21) 9. O sacrifício de Isaque (22) 10. A sepultura da família (23) 11. Uma esposa para Isaque (24) 12. Os descendentes de Abraão (25:1-18)

B. Isaque (25:19—26:35) 1. A família de Isaque (25:19-34) 2. Isaque e Abimeleque (26)

C. Jacó (27:1—36:43) 1. Jacó engana Esaú (27) 2. A fuga de Jacó para Harã (28) 3. Jacó, suas esposas e fi lhos

(29:1—30:24) 4. Jacó engana Labão (30:25-43) 5. Jacó retorna a Canaã (31) 6. A reconciliação de Jacó e Esaú (32—33) 7. Pecados em Siquém (34) 8. Retorno a Betel (35) 9. Os descendentes de Esaú, irmão de

Jacó (36) D. José (37:1—50:26)

1. José é vendido como escravo (37) 2. Judá e Tamar (38) 3. Tentação e triunfo de José (39) 4. José interpreta os sonhos do copeiro e

do padeiro (40)

1 (Introdução) Anton Hartmann (1831). Veja Merrill F. UNGER, Intro-ductory Guide to the Old Testament, p. 244.2 (Introdução) Veja, p. ex., Gleason ARCHER, Archeology and the Old Testament.

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13Gênesis 1:1-28

5. José interpreta o sonho de Faraó (41) 6. Os irmãos de José viajam ao Egito

(42—44) 7. José revela sua identidade aos irmãos

(45) 8. O reencontro de José com toda a sua

família (46) 9. A família de José no Egito (47) 10. Jacó abençoa os fi lhos de José (48) 11. A profecia de Jacó sobre seus fi lhos (49) 12. Jacó e José morrem no Egito (50)

COMENTÁRIO

I. O início da história da terra (1—11)

A. A criação (1—2)1:1 “No princípio, criou Deus...”. Essas quatro pri-meiras palavras da Bíblia representam o alicerce da fé. Creia nelas e será capaz de acreditar em tudo que está escrito na Bíblia. Gênesis contém o único rela-to legítimo da criação. Além disso, fornece sentido e propósito para pessoas de todas as idades, e seu conteúdo vai muito além do que todos somos capazes de absorver. Em vez de tentar provar a existência de Deus, o texto inicia-se pressupondo isso como um fato. A Bíblia chama de insensato (Sl 14:1; Sl 53:1) aquele que escolhe negar a existência de Deus. Assim como as Escrituras abrem falando de Deus, ele deve ser também o primeiro em nossa vida.

1:2 A teoria denominada criação e reconstrução, uma dentre várias interpretações conservadoras da narrativa de Gênesis, considera que entre os versículos 1 e 2 houve uma catástrofe gigantesca, possivelmente a queda de Satanás (cf. Ez 28:11-19).3 Isso tornou a criação perfeita e original de Deus sem forma e vazia (tōhû wāvōhû). Considerando que Deus não criou a terra sem forma e vazia (cf. Is 45:18), somente um imenso cataclismo poderia explicar a condição caótica descrita no versículo 2. Proponentes dessa interpre-tação chamam atenção para o fato de que o termo traduzido por estava (hāyethā) também pode ser tradu-zido por “tornou-se”.4 Desse modo, o texto poderia ser traduzido: “A terra, porém, fi cou sem forma e vazia”.

E o Espírito de Deus pairava por sobre as águas, isto é, preparava-se para o maravilhoso ato criativo e reconstrutivo que vem a seguir. Os versículos restan-tes descrevem os seis dias de criação e reconstrução que moldaram a terra para ser habitada pelos seres humanos.

1:3-5 No primeiro dia, Deus ordenou que a luz se separasse das trevas e, com isso, estabeleceu o ciclo

Dia e Noite. Esse ato não deve ser confundido com a criação do sol, da lua e das estrelas no quarto dia. Em 2Coríntios 4:6, o apóstolo Paulo estabelece um paralelo da separação entre a luz e as trevas com a conversão do pecador.

1:6-8 Parece que, antes do segundo dia, a terra estava completamente imersa numa camada espessa de água, talvez em forma de vapor carregado. No se-gundo dia, Deus dividiu essa camada em duas partes: uma parte cobriu a terra, e a outra formou as nuvens, e entre elas surgiu a atmosfera, ou fi rmamento: E chamou Deus ao fi rmamento Céus, isto é, o espaço imediatamente acima da superfície do planeta (não o espaço estelar, nem o terceiro céu, onde Deus habita). O versículo 20 deixa claro que o céu aqui se refere ao espaço onde voam as aves.

1:9-13 Depois disso, Deus ajuntou as águas que cobriam o planeta e fez aparecer a porção seca, crian-do assim a Terra e os Mares. Além disso, no terceiro dia Deus fez surgir todos os tipos de plantas e árvores na terra.

1:14-19 Somente no quarto dia Deus criou os luzei-ros no fi rmamento dos céus (o sol, a lua e as estrelas) para iluminarem a terra e servirem no estabelecimento do calendário.

1:20-23 No quinto dia, Deus povoou as águas com peixes e a terra, com aves e insetos. A palavra tradu-zida por aves signifi ca “seres que voam”, incluindo morcegos e provavelmente insetos alados.

1:24-25 No sexto dia, Deus criou os animais e répteis. A lei biológica da reprodução aparece repe-tidamente com as palavras conforme a sua espécie. Há variações signifi cativas entre as “espécies” que compõem a vida biológica, mas não há cruzamento entre uma espécie e outra.

1:26-28 A coroa da obra de Deus foi a criação do homem à sua imagem e semelhança. Isso signifi ca que o homem foi colocado na terra como representan-te de Deus e, de certa forma, partilha características semelhantes com o Senhor: Deus é uma Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), e o homem é um ser tripartite (corpo, alma e espírito); como Deus, o homem possui intelecto, juízo moral, poder de se comunicar com os outros e uma natureza emocional que transcende seus instintos. Não há indicação de semelhança física no texto. Ao contrário dos animais, o homem é um ser criador e adorador, e se comunica com clareza.

3 (1:2) Outros situam a catástrofe antes do versículo 1 e, dessa forma, consideram esse versículo uma declaração resumida.4 (1:2) O verbo hebraico hayah, entretanto, geralmente vem acom-panhado da preposição le quando signifi ca “tornou-se”, o que não é o caso aqui.

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14 Gênesis 1:29—2:23

O versículo 26 contempla ou até mesmo faz supor a existência da Trindade: “disse [no heb., o verbo está no singular] Deus [Elohim, no plural]: Façamos [plural] o homem à nossa imagem”.

A Bíblia apresenta a origem dos sexos como um ato criativo de Deus (a evolução até agora não conseguiu explicar como surgiram os sexos). Deus ordenou aos seres humanos: sede fecundos, multiplicai-vos.

Quanto à criação, Deus disse ao homem: sujeitai-a; dominai; porém não mandou que fosse destruída. A crise atual que afeta o meio ambiente se deve à ganân-cia, ao egoísmo e à negligência do homem.

1:29-30 Esses versículos deixam claro que, no início, os animais eram herbívoros, e o homem, vegetariano. Essa situação mudou após o dilúvio (cf. 9:1-7).

Será que os seis dias da criação compreendiam 24 horas ou seriam referentes a eras geológicas? Ou será que se referem a seis dias de “visões dramáticas” em que Deus revelou a Moisés como ocorreu a criação? Até agora, nenhuma evidência científi ca refutou o conceito de que esses períodos se referem a dias solares de 24 horas. A expressão “houve tarde e manhã” indica um intervalo de 24 horas. Em qualquer outra passagem do AT, essas palavras indicam um dia solar normal. Após o término daquele sétimo dia, Adão ainda viveu 930 anos, de modo que o sétimo dia provavelmente não se refere a uma era geológica. No AT, sempre que a palavra “dia” aparece junto de um numeral (p. ex., “primeiro dia”), ela se refere a um dia de 24 horas. A ordem de Deus para que o povo de Israel descansas-se no sábado tinha por base seu descanso no sétimo dia após seis dias de trabalho (Êx 20:8-11). A fi m de garantirmos uma interpretação coerente sobre esse assunto, precisamos adotar um único signifi cado para a palavra “dia”.

A difi culdade, entretanto, reside no fato de que o dia solar como o conhecemos pode ter surgido somente no quarto dia da criação (v. 14-19).

Na Bíblia, não se atribui uma data específi ca à criação do céu e da terra ou à criação do homem. Contudo, o texto apresenta genealogias. Ora, mesmo admitindo possíveis lapsos de tempo nessas informações, o homem não poderia ter vivido na terra por milhões de anos, como querem os evolucionistas.

João 1:1,14, Colossenses 1:16 e Hebreus 1:2 ensi-nam que o Senhor Jesus foi o agente da criação. Em vista das inesgotáveis maravilhas de sua criação, ele é digno de adoração eterna.

1:31 Ao fi nal dos seis dias da criação, viu Deus tudo quanto fi zera, e eis que era muito bom.

2:1-3 No dia sétimo, Deus descansou de seu traba-lho de criação. Esse descanso não está relacionado à fadiga proveniente de trabalho árduo, mas à satisfação

por terminar uma obra bem-acabada. Embora não tenha ordenado ao homem que guardasse o sábado naquele momento, Deus ensinou o princípio de reservar um dia dentre sete para o descanso.

2:4-6 O nome SENHOR Deus (Jeová [Javé] Elohim) ocorre pela primeira vez aqui (v. 4), mas somente após a criação do homem (1:27). Em sua natureza como Elohim, Deus é o Criador. Em sua natureza como Javé, ele se relaciona com o homem. Alguns críticos bíblicos não perceberam essa distinção e concluíram que a utilização de nomes diferentes só pode ser explicada pela existência de autores diferentes.

Esta é a gênese (v. 4) se refere à criação descrita no capítulo 1. O versículo 5 (“Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado”) descreve as condições da terra em 1:10, por ocasião do surgimento da terra seca, antes da criação das plantas. Nessa época, ainda não havia chuva sobre a terra, de modo que era regada por uma neblina.

2:7 Nesse momento, o texto fornece um relato mais detalhado da criação do homem. Deus formou o corpo do homem do pó da terra, mas, somente quando so-prou o fôlego de vida, o homem passou a ser alma vi-vente. Adão (“vermelho” ou “solo”) recebeu este nome por causa da terra vermelha da qual foi formado.

2:8-14 O jardim que o Senhor plantou no Éden se situava no oriente, isto é, ao leste da Palestina, região que se tornou ponto de referência geográfi -ca na Bíblia. O Éden fi cava localizado na região daMesopotâmia, próximo aos rios Tigre e Eufrates. Nes-se jardim, Deus colocou a árvore do conhecimento do bem e do mal como forma de testar a obediência do homem. A única razão para não comerem daquele fruto era o fato de Deus assim haver ordenado. De muitas maneiras, tal fruto ainda se encontra em nosso meio nos dias de hoje.

2:15-23 A punição por transgredir o mandamento era a morte (v. 17): morte espiritual instantânea e morte física gradativa. Durante o processo de nomear os animais, Adão deve ter percebido a diferença entre o sexo feminino e o masculino. Cada animal tinha um parceiro semelhante e, ao mesmo tempo, diferente. Essa percepção preparou Adão para receber uma auxiliadora semelhante a ele. E assim surgiu Eva, formada de uma de suas costelas, a qual foi retirada enquanto Adão dormia um pesado sono. Cristo obteve sua noiva de modo semelhante, quando teve o lado traspassado e verteu sangue em agonia indescritível. A mulher não foi formada da cabeça de Adão, para dominá-lo, nem de seu pé, para ser pisada, mas de seu lado, para ser protegida, e próxima ao coração, para ser amada.

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15Gênesis 2:24—3:15

Deus concedeu autoridade ao homem antes da queda. Paulo defende esse fato com base na ordem (o homem foi criado primeiro) e no propósito da criação (a mulher foi criada para o homem; 1Co 11:8-9). Além disso, embora tenha sido Eva quem pecou primeiro, a Bíblia diz que o pecado entrou no mundo por meio de Adão (cf. Rm 5:12). Adão era o cabeça; portanto, também o responsável.

2:24 Aqui Deus institui o casamento monogâmico. Como todo mandamento divino, foi estabelecido em benefício do homem e não pode ser transgredido sem punição. O vínculo do casamento ilustra o relaciona-mento entre Cristo e a Igreja (Ef 5:22-32).

2:25 Embora Adão e Eva vivessem no jardim do Éden sem roupas, não se envergonhavam.

B. Tentação e queda (3)3:1-6 Mais adiante, o texto bíblico revela que a serpente que apareceu a Eva era o próprio Satanás (cf. Ap 12:9). Alguns procuram “demitizar” a Bíblia, alegando que o relato da queda é uma metáfora e não um acontecimento real, o que seria evidenciado pela serpente falante. Será que podemos considerar o diá-logo entre Eva e a serpente um fato? O apóstolo Paulo crê dessa forma (2Co 11:3), assim como o apóstolo João (Ap 12:9; 20:2). Além disso, a Bíblia apresenta outro relato de um animal falante: Deus fez a mula de Balaão falar para conter a loucura do profeta (Nm 22). O apóstolo Pedro considerava o episódio um fato real (2Pe 2:16). Esses três apóstolos foram inspirados pelo Espírito Santo a escrever parte do material que se encontra na Bíblia. Logo, rejeitar a veracidade do relato da queda é o mesmo que rejeitar a inspiração da Escritura. A Bíblia contém metáforas, porém essa não é uma delas.

Observe os passos que levaram a raça humana a pecar. Primeiro, Satanás instigou dúvida em relação à palavra de Deus: “É assim que Deus disse?”. Satanás deturpou o mandamento, insinuando que Deus havia proibido Adão e Eva de comerem de toda árvore do jardim. Em seguida, Eva declarou (falando sobre a árvore do conhecimento do bem e do mal): “disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele”. Na verdade, Deus não dissera nada acerca de tocar na árvore. Na se-quência, Satanás se atreveu a negar as consequências da desobediência, como fazem até hoje seus seguidores, ao continuarem negando a existência do inferno e a punição eterna. Ele deturpou o mandamento do Senhor ao sugerir que Deus ocultava algo benéfi co para Adão e Eva. A mulher sucumbiu à tríplice tentação: o desejo da carne (boa para se comer), o desejo dos olhos (agra-dável aos olhos) e a soberba da vida (desejável para dar entendimento, cf. 1Jo 2:16). Ao comer do fruto,

Eva agiu independentemente de Adão, seu cabeça. De-veria ter consultado seu marido, mas, ao em vez disso, usurpou a autoridade dele. Nas palavras “tomou-lhe do fruto e comeu” reside a origem das doenças, do sofrimento, da angústia, do medo, da culpa e da morte que vêm assolando a humanidade desde aquele dia. Há uma expressão que diz: “Os escombros da terra e as incontáveis sepulturas confi rmam que Deus fala a verdade e Satanás é um mentiroso”. Eva foi engana-da (1Tm 2:14), mas Adão agiu intencionalmente, em rebelião deliberada contra Deus.

O humanismo secular tem perpetuado a mentira de Satanás: “Você será igual a Deus”.

3:7-13 A primeira consequência do pecado foi o sentimento de vergonha e medo. As cintas de folhas de fi gueira demonstram a tentativa do ser humano de salvar a si mesmo por meio de uma religião de boas obras e sem derramamento de sangue. Quando cha-mados a se explicar diante de Deus, os pecadores se justifi cam. Adão disse: “A mulher que me deste por esposa...”, colocando a culpa em Deus (cf. Pv 19:3); e Eva respondeu: “A serpente...” (v. 13).

Amoroso e misericordioso, Deus veio à procura de suas criaturas caídas com a pergunta: “Onde estás?”. Essa pergunta demonstra duas coisas: o homem es-tava perdido, e Deus veio buscá-lo. Com essa atitude, o Senhor demonstra a pecaminosidade do homem e a graça divina.5 Deus tomou a iniciativa na salvação e, por meio dessa atitude, demonstrou exatamente aquilo de que Satanás levou Eva a duvidar: o amor de Deus.

3:14 Então, o SENHOR Deus amaldiçoou a serpente a viver de modo degradante e em desgraça e derrota. O fato de a serpente ter sido amaldiçoada junto com todos os animais domésticos e todos os animais selváticos sugere que o texto está se referindo aqui à espécie biológica dos répteis, e não a Satanás.

3:15 Contudo, o versículo 15 volta a falar de Sata-nás. Esse versículo é conhecido como protoevangelho, isto é, “o primeiro evangelho”. O texto anuncia a inimi-zade perpétua entre Satanás e a mulher (que repre-senta toda a humanidade), e entre a descendência de Satanás (seus representantes) e o seu descendente (o descendente da mulher, o Messias). O descendente da mulher esmagaria a cabeça de Satanás, uma feri-da mortal que signifi ca derrota completa. Essa ferida foi infl igida no Calvário, quando o Salvador triunfou sobre Satanás. Este, por sua vez, feriria o calcanhar do Messias. Essa ferida se refere ao sofrimento (in-cluindo morte física), mas não à derrota fi nal. Cristo sofreu na cruz e morreu, mas ressuscitou dentre os mortos, vitorioso sobre o pecado, o inferno e Satanás.

5 (3:7-13) C. H. MACKINTOSH, Genesis to Deuteronomy, p. 33.

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16 Gênesis 3:16—4:16

O fato de Cristo ser chamado de descendente da mu-lher pode aludir a seu nascimento virginal. Observe a bondade de Deus ao prometer a vinda do Messias antes mesmo de decretar a sentença de juízo nos versículos seguintes.

3:16-19 O pecado produz consequências inevitáveis. A mulher foi sentenciada a sofrer dores de parto e a viver em sujeição ao marido. O homem foi sentenciado a obter alimento de uma terra amaldiçoada com cardos e abrolhos. Isso signifi ca que ele teria de trabalhar o resto da vida em fadigas e com o suor do rosto até retornar ao pó. Devemos observar que o trabalho não é uma maldição (em geral, o trabalho é uma bênção). A maldição está mais ligada à tristeza, à frustração, ao suor e ao cansaço que acompanham o trabalho.

3:20-21 Adão demonstrou fé ao referir-se à espo-sa como Eva [...] mãe de todos os seres humanos, uma vez que nenhuma criança havia nascido ainda. Em seguida, Deus providenciou vestimenta de peles mediante a morte de um animal. Esse ato representa o manto de justiça entregue aos pecadores por meio do sangue do Cordeiro, disponível ao ser humano por meio da fé.

3:22-24 Havia um vestígio de verdade na mentira que Satanás contou a Eva ao dizer que ela se tornaria como Deus (v. 5). Adão e Eva, porém, trilharam o caminho mais difícil, o da experiência, para discernir entre o bem e o mal. Caso tivessem comido em seguida do fruto da árvore da vida, viveriam para sempre em um corpo sujeito à doença e degeneração. Portanto, Deus agiu com misericórdia quando os expulsou do jardim do Éden. Os querubins são criaturas celestiais cuja função é “defender a santidade de Deus contra a presunção arrogante do homem caído”.6

Adão e Eva precisavam chegar a uma conclusão sobre quem estava mentindo: Deus ou Satanás. Con-cluíram que era Deus quem mentia. “Sem fé é impos-sível agradar a Deus” (Hb 11:6). É por essa razão que o nome deles não consta na lista dos heróis da fé de Hebreus 11.

O jardim paradisíaco do Éden não impediu a en-trada do pecado. Empreender esforços para criar um ambiente mais favorável não irá resolver os problemas do homem.

C. Caim e Abel (4)4:1 Eva reconheceu que o nascimento de Caim ocorreu com o auxílio do Senhor. É possível que, ao chamá-lo de Caim (“conquista”), tenha pensado que dera à luz o fi lho da promessa.

4:2-6 As palavras: “Aconteceu que no fi m de uns tempos” (v. 3a) permitem concebermos a ideia de um grande aumento populacional. Caim e Abel devem ter recebido a informação de que o pecador só pode se aproximar do Deus santo por meio de sangue oferecido em sacrifício. Caim, porém, rejeitou essa instrução e trouxe ofertas de frutas e vegetais. Abel acreditou no mandamento divino e ofereceu sacrifício de animais, demonstrando fé e recebendo justifi cação por parte de Deus (Hb 11:4). Abel trouxe das primícias do seu rebanho, mostrando que o SENHOR merece o melhor. A oferta de Abel aponta para a morte substitutiva do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

4:7 A ira de Caim começava a se transformar em desejo assassino. Por isso, Deus o advertiu em tom amável. O versículo 7 pode ser interpretado de várias maneiras.

1. A versão RC traz: “Se bem fi zeres [i.e, se te ar-rependeres], não haverá aceitação para ti? E, se não fi zeres bem [i.e, se continuares a odiar Abel], o pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo [ou seja, o desejo de Abel em submeter-se à autoridade de Caim] e sobre ele dominarás [i.e, se bem fi zeres]”.

2. A versão RA diz: “Se procederes bem” [ou con-forme traduz a LXX: “Se ofereceres corretamente”], não é certo que serás aceito?”. Proceder bem, nesse caso, estaria relacionado à oferta. Ou seja, Abel agiu bem ao se esconder atrás de um sacrifício aceitável, ao passo que Caim agiu mal ao trazer uma oferta sem derramamento de sangue, de modo que seu com-portamento perverso era resultado inevitável de sua falsa adoração.7

3. A versão NVI apresenta: “Se você fi zer o bem, não será aceito? Mas se não o fi zer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo”.

4. F. W. Grant comenta em sua obra Numerical Bible: “Se você não proceder bem, uma oferta pelo pecado está agachada ou jaz à porta”.8 Em outras palavras, Deus havia providenciado a oferta pelo pecado, caso Caim desejasse se arrepender.

4:8-12 A ira se transformou em ação, e Caim ma-tou seu irmão. Embora morto, Abel permanece como testemunha de que o mais importante na vida é viver pela fé (Hb 11:4). Deus questionou Caim de forma amorosa; porém, recebeu em troca uma respostainsolente e impenitente. O Senhor, portanto, pronun-ciou seu juízo: dali em diante, todo o trabalho de Caim seria infrutífero, e ele se tornaria fugitivo e errante sobre a terra.

4:13-16 A reclamação de Caim contra sua senten-ça revela remorso não tanto pela culpa, mas pelas consequências de seu pecado. Ainda assim, o Senhor

6 (3:22-24) Merrill F. UNGER, Unger’s Bible Dictionary, p. 192.7 (4:7) MACKINTOSH, Genesis to Deuteronomy, p. 42.8 (4:7) F. W. GRANT, “Genesis”, The Numerical Bible, vol. I, p. 38.

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17Gênesis 4:17—6:2

continuou agindo com misericórdia e acalmou o fugi-tivo ao colocar um sinal de proteção em Caim e uma maldição em qualquer pessoa que o matasse. O episó-dio termina em tristeza: Caim se retira da presença do Senhor, a mais dolorosa de todas as despedidas.

4:17-24 Caim deve ter se casado com uma de suas irmãs ou com algum outro membro de sua família. Conforme mencionamos acima, Gênesis 4:3 admite a ideia de um aumento populacional, e Gênesis 5:4 declara que Adão teve fi lhos e fi lhas. Deus ainda não havia proibido o casamento entre membros da mesma família (além disso, naquela época não havia risco de disfunção genética).

Os versículos 17-24 registram a descendência de Caim, além de uma série de acontecimentos inédi-tos na história: o surgimento da primeira cidade, chamada Enoque; o primeiro caso de poligamia; o início da criação de gado; o início das artes, música e metalurgia; a primeira canção, cuja letra fala de violência e derramamento de sangue. Nessa canção, Lameque explica às suas esposas que matou um rapaz em legítima defesa. Uma vez que seu crime não foi premeditado (ao contrário do ato de Caim), Lame-que considerou que sua imunidade contra represálias deveria ser muito maior.

4:25-26 Nesse momento, para nosso alívio, o texto introduz a linhagem piedosa de Sete, por meio de quem o Messias viria ao mundo. A partir do nascimento de Enos (que signifi ca “frágil” ou “mortal”), as pessoas começaram a chamar Deus de SENHOR (Jeová) ou então a invocar o nome do SENHOR em adoração pública.

D. Sete e seus descendentes (5)O capítulo 5 registra a linhagem do Messias desde Adão até Sem, fi lho de Noé (cf. Lc 3:36-38). Tem sido chamado de “as badaladas do sino da morte”, pelo número de vezes em que a expressão “e morreu” é repetida.

5:1-17 Adão foi criado à semelhança de Deus. Sete nasceu à semelhança de Adão. Entre a criação de Adão e o nascimento de Sete ocorreu a queda. A partir de então, a imagem de Deus no homem se desfi gurou por causa do pecado. O versículo 5 registra o cumpri-mento físico das consequências que Deus decretou em 2:17. Quanto ao cumprimento espiritual, este ocorreu no instante em que Adão pecou.

5:18-24 O Enoque e o Lameque desse texto não devem ser confundidos com as pessoas de mesmo nome que o capítulo 4 menciona. O Enoque do ver-sículo 18 se refere ao sétimo descendente de Adão (Jd 14) e não ao terceiro. Por meio da fé, andou Enoque com Deus durante trezentos anos. Isso agra-dou a Deus (Hb 11:5). Parece que o nascimento de

seu fi lho teve um efeito enobrecedor e santifi cador na vida de Enoque (v. 22a). É bom começar bem, mas permanecer fi el até o fi m é melhor ainda. O termo “andou” implica um relacionamento fi rme e progressivo, não encontros ocasionais. Andar com Deus é um projeto de vida. Não é simplesmente algo de que nos lembramos de vez em quando. Enoque foi transportado ao céu antes do dilúvio, da mesma forma que a igreja será arrebatada antes do início da tribulação (1Ts 4:13-18; Ap 3:10).

5:25-32 Metusalém viveu mais que qualquer outro ser humano (969 anos). Se o nome Metusalém real-mente signifi ca “será enviado” (cf. Williams),9 talvez se trate de uma profecia, uma vez que o dilúvio ocorreu no ano de sua morte. A profecia que Lameque vislum-brava ao dar a seu fi lho o nome de Noé (que signifi ca “descanso”) possivelmente se referia ao consolador que viria ao mundo por meio da descendência de Noé: o Senhor Jesus Cristo. No decorrer do tempo, a ex-pectativa de vida do ser humano começou a declinar. Salmos 90:10 refere-se a um período natural de vida para o homem como algo em torno de setenta anos.

E. A disseminação do pecado e o dilúvio universal (6—8).

6:1-2 Existem duas interpretações principais sobre o versículo 2. Uma considera que os fi lhos de Deus eram anjos que deixaram seu domicílio original (Jd 6) e se casaram com mulheres terrenas, causando uma desordem sexual abominável ao Senhor. Defensores desse ponto de vista argumentam que a expressão “fi lhos de Deus” em Jó 1:6 e 2:1 se refere a anjos que tinham acesso à presença de Deus. Além disso, “fi lhos de Deus” é uma expressão semítica comum para se referir aos anjos. A passagem em Judas 6-7 sugere que alguns anjos deixaram seu domicílio natural e depois se tornaram culpados de comportamento sexual abominável. Observe a expressão “como Sodoma, e Gomorra” no início de Judas 7, logo após o relato dos anjos caídos.

A principal objeção a esse ponto de vista consiste no fato de que, até onde sabemos, os anjos não se reproduzem sexualmente. O texto de Mateus 22:30 geralmente é utilizado para provar que Jesus ensinou a assexualidade dos anjos. Na verdade, o versículo está dizendo que os anjos no céu não se casam, nem se dão em casamento. Anjos apareceram em forma humana a Abraão (Gn 18:1-5), e, ainda de acordo com o texto, os dois anjos que se dirigiam para Sodoma apresentaram-se com feições e emoções humanas.

9 (5:25-32) George WILLIAMS, The Student’s Commentary on the Holy Scriptures, p. 12.

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18 Gênesis 6:3-22

Segundo outra interpretação, os fi lhos de Deus eram descendentes piedosos de Sete e as fi lhas dos homens se refere à posteridade perversa de Caim. O argumento funciona da seguinte maneira: o con-texto anterior da narrativa trata dos descendentes de Caim (4) e dos descendentes de Sete (5). Gênesis 6:1-4 descreve o casamento entre pessoas das duas linhagens. A palavra “anjo” não aparece no contexto. Os versículos 3 e 5 falam da perversidade do homem. Ora, se foram os anjos que pecaram, então por que a raça humana deveria ser destruída? Os piedosos são chamados de “fi lhos de Deus”, embora não exatamente com as mesmas palavras hebraicas empregadas em Gênesis 6:2 (cf. Dt 14:1; Sl 82:6; Os 1:10; Mt 5:9).

Há vários problemas com essa interpretação: por que todos os homens descendentes de Sete foram con-siderados piedosos, ao passo que todas as mulheres da linhagem de Caim seriam perversas? Além disso, não há indícios de que a linhagem de Sete permane-ceu piedosa. Pois, se permaneceram piedosos, por que haveriam de ser destruídos? E por que a união entre homens piedosos e mulheres perversas teria produzido gigantes?

6:3 O SENHOR declara que seu Espírito não agirá para sempre no homem. Assim, decretou um prazo de cento e vinte anos para a vinda do julgamento do dilúvio. Deus é misericordioso e não deseja que as pessoas morram. Porém, sua paciência tem li-mites. Pedro ensina que foi Cristo quem, por meio de Noé (que por sua vez era inspirado pelo Espíri-to Santo), pregou a mensagem aos antediluvianos (1Pe 3:18-20; 2Pe 2:5). Estes, contudo, a rejeitaram e foram condenados.

6:4-5 Com relação aos gigantes (heb. nephilim, que signifi ca “caídos”), Unger explica:

Os nefi lins são considerados por muitos como semideuses gigantes, descendentes anormais do relacionamento sexual entre as “fi lhas dos homens” (mulheres terrenas) com os “fi lhos de Deus” (anjos). Essa união totalmente fora dos padrões da ordem criada por Deus era algo tão revoltante que obrigou o derramamento do juízo universal por meio do dilúvio.10

6:6-7 O arrependimento de Deus não indica uma mudança arbitrária em seus planos, embora pareça dessa forma para nós. Antes, indica uma atitude da parte de Deus em resposta ao comportamento huma-no. O Senhor sempre reage contra o pecado, pois é Deus santo.

6:8-22 Noé achou graça diante do SENHOR e foi instruído a construir uma arca. As medidas são for-necidas em côvados (1 côvado = 44,4 centímetros). Portanto, a arca media aproximadamente 133 metros de comprimento, 22 metros de largura e treze metros de altura. Foi construída em três pavimentos. A aber-tura registrada no versículo 16 se refere literalmente a “um lugar de luz”, provavelmente uma claraboia construída ao longo de toda a extensão da arca e por onde entravam luz e ar fresco.

Noé foi salvo pela graça, um ato de soberania divina. Em resposta à misericórdia de Deus, agiu consoante a tudo o que Deus lhe ordenara (v. 22), um ato de responsabilidade humana. Noé construiu a arca para salvar sua família, porém foi Deus quem fechou a porta. A soberania divina e a responsabilidade humana não se excluem. Antes, são complementares.

Noé (v. 9) e Enoque (5:22) são os únicos homens mencionados na Escritura que andavam com Deus. Se Enoque é um símbolo do arrebatamento da igreja, Noé simboliza o remanescente judaico fi el que será preservado durante a tribulação para viver na terra durante o milênio.

O versículo 18 menciona a primeira aliança bíblica. Scofi eld relaciona oito alianças: edênica (Gn 2:16); adâmica (Gn 3:15); noética (Gn 9:16); abraâmica (Gn 12:2); mosaica (Êx 19:5); palestina (Dt 30:3); davídica (2Sm 7:16) e a nova aliança (Hb 8:8). Essas oito alian-ças, além da aliança salomônica, são apresentadas a seguir. Obviamente, um assunto complexo como esse tem sido interpretado de maneiras diferentes por vá-rias escolas teológicas. O tratamento apresentado aqui parte da tradição pré-milenarista dispensacionalista.

As principais alianças bíblicas

Aliança edênica (Gn 1:25-30; 2:16-17)A aliança edênica entregou ao homem, em sua ino-cência, a responsabilidade de se multiplicar, povoar a terra e sujeitá-la. Para isso, recebeu autoridade sobre toda a vida animal. Seu trabalho consistia em cultivar o jardim e comer de seus frutos, exceto o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A deso-bediência a esse mandamento acarretaria a morte.

Aliança adâmica (Gn 3:14-19)Após a queda do homem, Deus amaldiçoou a ser-pente e predisse inimizade entre ela e a mulher e entre Satanás e Cristo. Satanás feriria Cristo, porém Cristo destruiria Satanás. A mulher sofreria dores du-rante o parto e viveria em sujeição à autoridade do marido. A terra foi amaldiçoada com pragas e espi-nhos, de modo que o homem teria de enfrentá-los a 10 (6:4-5) UNGER, Bible Dictionary, p. 788.

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19Gênesis 6

fi m de cultivá-la. Além disso, seu trabalho seria árduo e cansativo. Ao fi nal de sua jornada, o homem retor-naria ao pó, de onde veio.

Aliança noética (Gn 8:20—9:27)Deus prometeu a Noé que nunca mais amaldiçoaria a terra ou a destruiria com outro dilúvio. Como si-nal dessa promessa, o Senhor criou o arco-íris. Essa aliança também incluía o estabelecimento do gover-no humano com poder de aplicar a pena de morte. Deus garantiu a regularidade das estações do ano, ordenou o repovoamento da terra e reafi rmou o do-mínio do homem sobre todos os animais. A partir de então, o homem poderia incluir carne em sua alimentação (a dieta anterior era composta apenas por alimentos do reino vegetal). Com relação aos descendentes de Noé, Deus amaldiçoou Canaã, fi lho de Cam, e o condenou a ser servo de Sem e Jafé. Deus favoreceu Sem, colocando-o na linhagem do Messias. Quanto a Jafé, disse que conquistaria muitos territórios e habitaria nas tendas de Sem.

Aliança abraâmica (Gn 12:1-3; 13:14-17; 15:1-8; 17:1-8)A aliança abraâmica é incondicional. Nela, apenas Deus (manifestando-se por meio de um “fogareiro fumegante e uma tocha de fogo”) passou entre os dois animais sacrifi cados em Gênesis 15:12-21. Esse fato é bastante signifi cativo, pois, quando duas pes-soas fi rmavam (no heb., “cortavam”) uma aliança,

ambas deviam passar no meio do sacrifício, a fi m de demonstrar seu compromisso com as condições da-quela aliança. Deus, porém, não estipulou nenhuma condição para Abraão. Portanto, as cláusulas listadas a seguir serão (e têm sido) cumpridas, independen-temente de quão piedosos sejam os descendentes de Abraão.

Aqueles que não enxergam um futuro para o povo de Deus da Antiguidade geralmente tentam fazer que a aliança seja interpretada de modo condicional, pelo menos no que se refere à posse da terra, e, em seguida, reivindicam todas as bênçãos para a igreja, deixando pouco ou nada para Israel.

A aliança inclui as seguintes promessas de Deus para Abraão e seus descendentes: uma grande na-ção (Israel); bênçãos pessoais para Abraão; um nome de destaque; fonte de bênçãos para outras pessoas (12:2); promessa de bênçãos divinas para seus ami-gos e maldições para seus inimigos; bênçãos para todas as nações, cumprida por meio de Cristo (12:3); posse eterna da terra conhecida como Canaã, mais tarde chamada de Israel e Palestina (13:14-15,17); inúmeros descendentes, tanto naturais como espiri-tuais (13:16; 15:5); pai de numerosos reis e nações, por meio de Isaque e Jacó (17:4,6); um relaciona-mento especial com Deus (17:7b).

Aliança mosaica (Êx 19:5; 20:1—31:18)Em um sentido mais amplo, a aliança mosaica inclui: os Dez Mandamentos, que descrevem as obrigações do

Representação artística da Arca de Noé. “© James Steidl | Dreamstime.com”

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