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UNILA LAMC FELIPE ESPINOLA BAPTISTA DA SILVA Nº 417 TEORIA E METODOLOGIA DA HISTÓRIA: MODERNIDADES E NARRATIVAS GUSTAU NERIN ABAD OS SERTÕES – EUCLIDES DA CUNHA - COMENTÁRIO 1. CONTEXTO HISTÓRICO Publicado em 1902, por Euclides da Cunha, foi escrito como um retrato da Guerra de Canudos, confronto este travada entre o exército brasileiro e os considerados rebeldes pela República brasileira, se iniciando em 1896 e concluída no ano seguinte, em 1897. Euclides da Cunha foi enviado à Bahia para cobrir o conflito, se apropriando depois das informações compiladas durante esse período e posteriormente publicado sob o título de Os Sertões. Dividido em três partes, o livro trata da geografia da região (A Terra), da antropologia dos povos (O Homem) e a descrição detalhada da batalha de Canudos (A Luta). Seu estilo de escrita se encontra entre o literário, o científico e o jornalístico, sendo fortemente influenciado pelo pensamento positivista, antropológico e biológico do seu tempo, finais do século XIX. 2. PRINCIPAIS IDEIAS DO TEXTO A intenção do autor era escrever sobre o conflito de Canudos, mas pela sua demora em ser publicado, o livro

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Page 1: Comentário de Texto Euclides

UNILALAMCFELIPE ESPINOLA BAPTISTA DA SILVA Nº 417TEORIA E METODOLOGIA DA HISTÓRIA: MODERNIDADES E NARRATIVASGUSTAU NERIN ABAD

OS SERTÕES – EUCLIDES DA CUNHA - COMENTÁRIO

1. CONTEXTO HISTÓRICO

Publicado em 1902, por Euclides da Cunha, foi escrito como um retrato da Guerra de Canudos, confronto este travada entre o exército brasileiro e os considerados rebeldes pela República brasileira, se iniciando em 1896 e concluída no ano seguinte, em 1897.

Euclides da Cunha foi enviado à Bahia para cobrir o conflito, se apropriando depois das informações compiladas durante esse período e posteriormente publicado sob o título de Os Sertões.

Dividido em três partes, o livro trata da geografia da região (A Terra), da antropologia dos povos (O Homem) e a descrição detalhada da batalha de Canudos (A Luta).

Seu estilo de escrita se encontra entre o literário, o científico e o jornalístico, sendo fortemente influenciado pelo pensamento positivista, antropológico e biológico do seu tempo, finais do século XIX.

2. PRINCIPAIS IDEIAS DO TEXTO

A intenção do autor era escrever sobre o conflito de Canudos, mas pela sua demora em ser publicado, o livro acabou perdendo sua atualidade, visto ter sido escrito cinco anos após o conflito.

Há uma tentativa de esboçar alguns traços daquilo que Euclides chama de sub-raças sertanejas, para que fique impresso na história e atestada a sua existência, visto que pelas exigências da civilização, estavam destinadas a desaparecer.

O jagunço, o tabaréu e o caipira seriam extintos, relegados aos livros de história. Meras personagens de um Brasil passado, já que se encontram atrasados comparado à marcha dos povos.

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Os sertões seriam invadidos pela civilização, com sua marcha implacável, e as raças fortes subjugariam as raças fracas, as destruindo por completo.

O conflito de Canudos tem uma significação desse avanço da civilizaçao sobre os sertões, sendo “um primeiro assalto, em luta talvez longa”, e por não estarem sob um mesmo estandarte, ou seja, seguirem os mesmo ideias pela heterogeneidade de tradições e serem “etnologicamente indefinidos”, os sertanejos e os civilizados, não há grande culpa em os brasileiros terem realizado o confronto contra os próprios brasileiros de Canudos, sendo seus combatentes “mercenários inconscientes”.

O espaço e tempo os divide, os sertanejos e os civilizados: o espaço pelos sertões que se encontram distantes dos polos urbanos, e o tempo, pois os civilizados se encontram avançando enquanto os sertanejos atrasados em comparação a aqueles.

No capítulo final, dividido em três partes: o fim, canudos não se rendeu e o cadáver de Antônio Conselheiro, o autor nos dá um panorama do final do conflito, os últimos defensores e o fim que deram a Antônio Conselheiro.

A luta entre rebeldes e soldados se deu até de forma sangrenta nos dias finais da batalha, sendo que vinte jagunços lutavam entre cadáveres contra um exército inteiro.

O fim de Canudos foi trágico, sendo seus últimos defensores quatro pessoas apenas: um idoso, dois homens feitos e uma criança, tendo contra cinco mil soldados.

Todas as casas, sendo 5.200, contadas com todo o cuidado, foram demolidas e assim o arraial pereceu. Isso ocorreu entre os dias 5 e 6.

O cadáver de Conselheiro foi encontrado com seu hábito e com as mãos ao peito, tendo sido indicado sua localização por um prisioneiro.

Seu cadáver foi como um espólio de guerra. Sua cabeça logo depois foi cortada para ser exposta, não sem antes fotografá-lo e terem certeza que aquele corpo pertencia mesmo ao Antônio Conselheiro, pois havia o temor de que pudesse ainda prosseguir vivendo, visto ele ser um “terribílissimo antagonista”.

3. IDEIAS DO AUTOR

Como dito anteriormente, Euclides da Cunha se utiliza muito do conhecimento de seu tempo para compreender o conflito que se estabelecia no interior da Bahia, compondo um texto de alto nível, se utilizando de um vocabulário erudito, neológico e regionalista.

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Na introdução do livro deixa clara sua posição racial a respeito daqueles que viviam à margem da história, se utilizando o determinismo de Taine para compreender os fatos que se sucediam, sendo tal determinsmo apoiado em três coordenadas: o meio ambiente, a raça e o momento histórico.

4. OPINIÃO PESSOAL

A compreensão de um mundo dividido em raças é um pensamento ultrapassado e que nos causa aversão. Mesmo edificado em metodologia científica, o que daria garantias de um conhecimento certo e verificável, ainda dessa forma nos causa repugância que tais pressupostos sejam levados em consideração pelas pessoas.

Creio que este é o único ponto que nos choca logo de primeira vista, no momento em que abre o livro esclarecendo ao autor algumas coisas e opinando a respeito do acontecimento que foi o conflito de Canudos, e citando a existência e prognosticando seu fim das sub-raças sertanejas.

Porém, do ponto de vista histórico em que o autor se encontrava, entre final do século XIX e início do século XX, em que as surgiam as teorias mais ingênuas possíveis, calcadas na ciência para corroborar teses inúteis e negativistas, contribuindo pouco ou quase nada para o progresso do pensamento humano, sendo hoje tais teorias delegadas a um passado longínquo.

Citamos a teoria sociológica de Ludwig Gumplowicz, jurista e sociólogo polonês, autor de uma teoria em que os povos fortes conquistariam os povos mais fracos, que segundo Luiz Costa Lima1, entendeu mal o intelectual.

Apesar disso, Euclides da Cunha é o autor que imortaliza aquela guerra, esta representando a modernidade civilizatória que arrasa um povoado inteiro, exterminando todos aqueles que se opusrem aos ideias Republicanos.

1 COSTA LIMA, Luiz. Autor leu mal ideias de Gumplowicz. Disponível em: < http://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,autor-leu-mal-ideias-de-gumplowicz,423100> . Acesso em 26 de jan 2015.