62
Incidente de Assunção de Competência Incidente de Demandas Repetitivas Recursos Coordenadoras Deborah Pierri Evelise Pedroso Teixeira Prado Vieira Grupo de Trabalho Analistas: Ana Carolina Lepage Parzanese, Juliana Pellegrino Vieira Lívia de Freitas Canile Patrícia Gomes da Silva Torres Rafaele Inês Fonseca Thiago Gutierrez Miadaira Estagiários: Ayrton Falcão de Aquino Maria Fernanda Rabelo Ramalho. ISO 9001 IS O 9001:2 00 8 C E R TIFI C A Ç Ã O D E Q U A LI D A D E

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Comentários ao Código de Comentários ao Código de Comentários ao Código de Processo Civil/2015Processo Civil/2015Processo Civil/2015

Incidente de Assunção de CompetênciaIncidente de Demandas Repetitivas

Recursos

Coordenadoras

Deborah PierriEvelise Pedroso Teixeira Prado Vieira

Grupo de Trabalho

Analistas: Ana Carolina Lepage Parzanese, Juliana Pellegrino Vieira Lívia de Freitas Canile Patrícia Gomes da Silva TorresRafaele Inês FonsecaThiago Gutierrez Miadaira

Estagiários: Ayrton Falcão de AquinoMaria Fernanda Rabelo Ramalho.

ISO 9001

ISO 9001:2008

CER

TIF

ICAÇÃO DE QUALIDADE

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Diretoria da Associação Paulista do Ministério PúblicoBiênio 2015-2016

PresidenteFelipe Locke Cavalcanti1º Vice PresidenteMárcio Sérgio Christino2º Vice PresidenteGabriel Bittencourt Perez1º SecretárioPaulo Penteado Teixeira Junior2º SecretárioTiago de Toledo Rodrigues1º Tesoureiro Marcelo Rovere2º TesoureiroFrancisco Antonio Gnipper CirilloRelações PúblicasPaula Castanheira LamenzaPatrimônioFabiola Moran FaloppaAposentados e PensionistasCyrdemia da Gama BottoPrerrogativas InstitucionaisSalmo Mohmari dos Santos Júnior

CONSELHO FISCAL

TitularesAntonio Bandeira NetoEnilson David KomonoLuiz Marcelo Negrini de Oliveira MattosSuplentesJosé Márcio Rossetto LeitePedro Eduardo de Camargo EliasValéria Maiolini

DEPARTAMENTOS

Assessores da PresidênciaAntonio Luiz BenedanAntonio ViscontiArthur CoganHerberto Magalhães da Silveira JúniorHermano Roberto SantamariaIrineu Roberto da Costa LopesJoão Benedicto de Azevedo MarquesJosé Eduardo Diniz RosaJosé Geraldo Brito FilomenoJosé Maria de Mello FreireJosé Ricardo Peirão RodriguesMarino Pazzaglini Filho

Munir CuryNair Ciocchetti de SouzaNewton Alves de OliveiraReginaldo Christoforo MazzaferaApoio aos SubstitutosEduardo Luiz Michelan CampanaNeudival Mascarenhas FilhoNorberto JóiaRenato Kim BarbosaApoio à 2ª InstânciaPaulo JuricicRenato Eugênio de Freitas PeresAposentadosAna Martha Smith Corrêa OrlandoAntonio de Oliveira FernandesAntonio Sérgio C. de Camargo AranhaCarlos João Eduardo SengerCarlos Renato de OliveiraEdi Cabrera RoderoEdivon TeixeiraEdson Ramachoti Ferreira CarvalhoFrancisco Mario Viotti BernardesIrineu Teixeira de AlcântaraJoão AlvesJosé Benedito TarifaJosé de OliveiraMaria Célia Loures MacucoReginaldo Christoforo MazzaferaOrestes Blasi JúniorOsvaldo Hamilton TavaresPaulo Norberto Arruda de PaulaUlisses Butura SimõesAPMP - MulherMaria Gabriela Prado ManssurDaniela HashimotoFabiana Dalmas Rocha PaesCeleste Leite dos SantosFabiola Sucasas Negrão CovasJaqueline Mara Lorenzetti MartinelliComplianceMarco Antonio Ferreira LimaConvêniosCélio Silva Castro SobrinhoCondições de TrabalhoCristina Helena Oliveira FigueiredoTatiana Viggiani BicudoCoordenador do CealJoão Cláudio CouceiroSecretário do CealArthur Migliari Júnior

CulturalAndré Pascoal da SilvaGilberto Gomes PeixotoJosé Luiz BednarskiPaula Trindade da FonsecaEsportesJoão Antônio dos Santos RodriguesKaryna MoriLuciano Gomes de Queiroz CoutinhoRafael AbujamraEstudos InstitucionaisAnna Trotta YarydClaudia Ferreira Mac DowellJorge Alberto de Oliveira MarumRafael Corrêa de Morais AguiarEventosPaula Castanheira LamenzaGestão AmbientalBarbara Valéria Cury e CuryLuis Paulo SirvinskasInformáticaJoão Eduardo Gesualdi Xavier de FreitasPaulo Marco Ferreira LimaJurisprudência CívelAlberto Camina MoreiraJosé Bazilio Marçal NetoOtávio Joaquim Rodrigues FilhoRenata Helena Petri GobbetJurisprudência CriminalAlfredo Mainardi NetoAntonio Nobre FolgadoFabio Rodrigues GoulartFernando Augusto de MelloGoiaci Leandro de Azevedo JúniorJoão Eduardo SoaveLuiz Cláudio PastinaRicardo Brites de FigueiredoRoberto TardelliLegislaçãoDaniela Merino AlhadefLeonardo D’Angelo Vargas PereiraMilton Theodoro Guimarães FilhoRogério José Filocomo JúniorMédicoLuiz Roberto Cicogna FaggioniOuvidor da APMPPaulo Roberto SalviniPatrimônioJoão Carlos CalsavaraPaulo Antonio Ludke de Oliveira

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Sérgio ClementinoWânia Roberta Gnipper Cirillo ReisPrerrogativas FinanceirasAndré Perche LuckeDaniel Leme de ArrudaJoão Valente FilhoPrerrogativas Funcionais Carlos Alberto Carmello JúniorCássio Roberto ConserinoGeraldo Rangel de França NetoHelena Cecília Diniz Teixeira C. TonelliSilvia Reiko KawamotoPrevidênciaDeborah PierriMaria da Glória Villaça B. G. de AlmeidaPublicaçõesAluísio Antonio Maciel NetoJosé Carlos de Oliveira SampaioJosé Fernando Cecchi JúniorRolando Maria da LuzRelações com Fundo de EmergênciaGilberto NonakaRoberto Elias CostaRelações InterinstitucionaisAna Laura Bandeira Lins LunardelliCristiane Melilo D. M. dos SantosSoraia Bicudo Simoes MunhozRelações PúblicasEstéfano Kvastek KummerJosé Carlos Guillem BlatRodrigo Canellas DiasSegurançaGabriel César Zaccaria de InellasJosé Romão de Siqueira NetoWalter Rangel de Franca FilhoTurismoMariani AtchabahianRomeu Galiano Zanelli Júnior

DIRETORES REGIONAIS (TITULARES E ADJUNTOS)

AraçatubaJosé Fernando da Cunha PinheiroReinaldo Ruy Ferraz PenteadoBauruJúlio César Rocha PalharesVanderley Peres MoreiraCampinasLeonardo LiberattiRicardo José Gasques de A. SilvaresFrancaJoaquim Rodrigues de Rezende NetoCarlos Henrique Gasparoto

Guarulhos

Omar MazloumRodrigo Merli AntunesPiracicaba

Fábio Salem CarvalhoJoão Francisco de Sampaio MoreiraPresidente Prudente

Valdemir Ferreira PavarinaBraz Dorival CostaRibeirão Preto

Cyrilo Luciano Gomes JúniorManoel José BerçaSantos

Sandro Ethelredo Ricciotti BarbosaRoberto Mendes de Freitas JúniorSão José do Rio Preto

Carlos Gilberto Menezello RomaniAry César HernandezSorocaba

José Júlio Lozano JúniorPatrícia Augusta de Chechi Franco PintoTaubaté

Manoel Sérgio da Rocha MonteiroLuis Fernando Scavone de Macedo

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

(TITULARES E SUPLENTES)

ABC

Fernanda Martins Fontes RossiAdolfo César de Castro e AssisAraçatuba

Sérgio Ricardo Martos EvangelistaNelson LapaAraraquara

José Carlos MonteiroSérgio MediciBaixada Santista

Maria Pia Woelz PrandiniAlessandro BrusckiBauru

João Henrique FerreiraRicardo Prado Pires de CamposBragança

Bruno Márcio de AzevedoCarmen Natalia Alves TanikawaCampinas

Carlos Eduardo Ayres de FariasFernanda Elias de CarvalhoFranca

Christiano Augusto Corrales de AndradeAlex Facciolo Pires

Guarulhos/Mogi das Cruzes

Carlos Eduardo da Silva AnapurusRenato Kim BarbosaItapetiningaJosé Roberto de Paula BarreiraCélio Silva Castro SobrinhoJundiaiMauro Vaz de LimaFernando Vernice dos AnjosLitoral NorteLuiz Fernando Guedes AmbrogiDarly ViganoMaríliaJess Paul Taves PiresLuiz Fernando GarciaOsascoFábio Luis Machado GarcezWellington Luiz DaherOurinhos/BotucatuRenata Gonçalves CatalanoLuiz Paulo Santos AokiPiracicabaSandra Regina Ferreira da CostaJosé Antonio RemédioPresidente PrudenteFernando Galindo OrtegaAndré Luiz FelicioRibeirão PretoJosé Ademir Campos BorgesDaniela Domingues HristovSantosDaury de Paula JúniorDaniel Gustavo Costa MartoriSão CarlosNeiva Paula Paccola Carnielli PereiraDenilson de Souza FreitasSão José do Rio PretoWellington Luiz VillarJúlio Antonio Sobottka FernandesSorocabaRita de Cássia Moraes Scaranci FernandesGustavo dos Reis GazzolaTaubatéJosé Benedito MoreiraDaniela Rangel Cunha AmadeiVale do Ribeira/ Litoral SulGuilherme Silveira de Portela FernandesLuciana Marques Figueira PortellaSão João da Boa VistaDonisete Tavares Moraes OliveiraSérgio Carlos GaruttiTribunal de ContasLetícia Formoso Delsin Matuck FeresRafael Neubern Demarchi Costa

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São Paulo2016

ASSOCIAÇÃO PAULISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Comentários ao Código de Processo Civil/2015

Incidente de Assunção de CompetênciaIncidente de Demandas Repetitivas

Recursos

1ª edição

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Ficha catalográfica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Comentários ao código de processo civil/2015[livro eletrônico] : incidente de assunção de competência : incidente de demandas repetitivasrecursos / [Deborah Pierri, Evelise PedrosoTeixeira Prado Vieira, organizadores]. --1. ed. -- São Paulo : Associação Paulista do Ministério Público, 2016.6,25 Mb ; PDF

Vários autores.Vários colaboradores.Bibliografia

1. Processo civil 2. Processo civil - Brasil

3. Processo civil - Legislação - Brasil I. Pierri,Deborah. II. Vieira, Evelise Pedroso Teixeira Prado.

16-07881 CDU-347.9(81)(094.4)

Composto e Diagramado peloDepartamento de Publicações da

Associação Paulista do Ministério PúblicoRua Riachuelo, 115 - 11º Andar - Centro

Tel. 3188-6464 - São Paulo - SPe-mail: [email protected]

Índices para catálogo sistemático:

1. Brasil : Código de processo civil 347.9(81)(094.4) 2. Código de processo civil : Brasil 347.9(81)(094.4)

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FORTALECIMENTO TÉCNICO E PROFISSIONAL

Ao organizar e realizar, entre maio e junho de 2015, o 1º Ciclo de Palestras sobre o Novo Código de Processo Civil (CPC), no Auditório Francismar Lamenza de sua Sede Social, no Largo São Francisco, em São Paulo, a APMP buscou o esclarecimento teórico e prático dos profissionais do sistema de Justiça com a nova ferramenta cotidiana. O evento, presenciado por centenas de pessoas e por outras milhares que acompanharam a transmissão online pelo portal da entidade de classe, reuniu seis palestrantes do mais alto nível.

Pudemos assistir a inestimáveis exposições de Antonio Carlos Marcato e José Roberto dos Santos Bedaque, professores titulares de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP); de Clilton Guimarães dos Santos, procurador de Justiça e doutor em Processo Civil pela USP; do renomado Hugo Nigro Mazzilli, procurador de Justiça aposentado, professor de Direito, consultor jurídico e autor de diversos livros; de Antonio Carlos Matteis de Arruda Júnior, doutor em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-SP); e de Deborah Pierri, mestre e doutora em Processo Civil pela PUC-SP e uma das diretoras do Departamento de Previdência da APMP.

O 1º Ciclo sobre o Novo CPC teve Comissão Organizadora composta por Marcio Sérgio Christino, 1º vice-presidente da APMP (e membro do Conselho Superior do Ministério Público), Ana Lúcia Menezes Vieira, secretária da Procuradoria Criminal, Paula Castanheira Lamenza, diretora do Departamento de Relações Públicas e de Eventos, Maria da Glória Villaça Borin Galvão de Almeida, uma das diretoras do Departamento de Previdência, Luís Paulo Sirvinskas, um dos diretores do Departamento de Gestão Ambiental (também integrante do Conselho Superior), e Celeste Leite dos Santos, uma das diretoras do Departamento APMP Mulher.

Agora, a colega Deborah Pierri, que apresentou naquele evento da APMP a palestra “Recursos no Novo CPC”, complementa sua brilhante abordagem sobre o tema com a presente obra, “Comentários ao Código de

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Comentários ao Código de Processo Civil/2015

Processo Civil/ 2015 - Incidente de Assunção de Competência/ Incidente de Demandas Repetitivas/ Recursos”. O trabalho, coordenado em conjunto com a também procuradora de Justiça Evelise Pedroso Teixeira Prado Vieira, tem como autores os analistas Ana Carolina Lepage Parzanese, Juliana Pellegrino Vieira, Lívia de Freitas Canile, Patrícia Gomes da Silva Torres, Rafaele Inês Fonseca e Thiago Gutierrez Miadaira, e pelos estagiários Ayrton Falcão de Aquino e Maria Fernanda Rabelo Ramalho.

A APMP tem a honra, o orgulho e, acima de tudo, o dever de disponibilizar esta obra, de extrema importância e relevância. É mais uma contribuição de nossa entidade de classe para o fortalecimento técnico e profissional de seus associados, colegas e interessados.

Felipe Locke CavalcantiPresidente da Associação Paulista do Ministério Público

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APRESENTAÇÃO

O presente trabalho objetiva facilitar o dia a dia dos que militam na atividade forense, sempre inçada de desafios quando entram em vigor novas regras processuais. Tais desafios são ainda maiores quando novo Código traz a lume institutos até então pouco debatido. O trabalho foi desenvolvido partir da vigência do Código de Processo Civil (2015).

Foram abordados os seguintes tópicos: disposições gerais, recursos em espécie e dois métodos de impugnações de decisões judiciais {(Incidente de Assunção de Competência - IAC) e (Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas - IRDR)}.

O estudo coordenado contou com o trabalho profícuo dos analistas e estagiários, que reservaram parte de suas horas à pesquisa e elaboração de um conjunto de notas que, esperamos, possa servir não apenas aos membros da Procuradoria de Justiça de Interesses Difusos e Coletivos, mas a todos os interessados.

De fato, pretensiosamente objetiva-se prestar auxílio técnico e prático aos que precisem e queiram efetivar concretamente a almejada segurança jurídica.

Boa leitura aos interessados, lembrando bem, esse é o começo de trabalho, que servirá a tantas quantas sugestões possam ser dadas pe-los usuários. ([email protected]).

Grupo de TrabalhoProcuradoras de Justiça: Deborah Pierri e Evelise Pedroso Teixeira

Prado Vieira; Analistas: Ana Carolina Lepage Parzanese, Juliana Pellegrino Vieira, Lívia de Freitas Canile, Patrícia Gomes da Silva Torres, Rafaele Inês Fonseca; Thiago Gutierrez Miadaira; Estagiários: Ayrton Falcão de Aquino e Maria Fernanda Rabelo Ramalho.

Fechamento da edição agosto de 2016.

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SUMÁRIO

I - Introdução

II - Os novos incidentes processuais1. Do Incidente de Assunção de Competência (art. 947)

1.1 Conceito e Natureza Jurídica1.2 Cabimento1.3 Competência 1.4 Legitimidade1.5 Procedimento1.6 Recursos Cabíveis Contra Julgamento do IAC1.7 Descumprimento da Decisão Firmada no Incidente1.8 Observações Finais

2. Do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (art.976/987)2.1 Conceito e Natureza Jurídica2.2 Cabimento2.3 Competência2.4 Legitimidade2.5 Procedimento2.6 Efeito Suspensivo

2.6.1 Distinguishing: Técnica de Distinção2.7 Atuação do Relator2.8 Procedimento Previsto no Regimento Interno do TJ/SP2.9 Divulgação e Publicidade da Instauração e do Julgamento do Incidente2.10 Julgamento do Incidente e seus Efeitos2.11 Recursos Cabíveis2.12 Descumprimento da Decisão Proferida no IRDR2.13 Observações Finais

III - Dos Recursos (arts 994/1044)1. Disposições Gerais

1.1 Tipicidade1.2 Efeitos1.3 Legitimidade1.4 Prazos1.5 Preparo e Deserção1.6 Outros aspectos (litisconsórcio, desistência e renúncia):

2. Apelação2.1 Cabimento2.2 Legitimidade

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2.3 Procedimentos2.4 Efeitos

3. Agravo de Instrumento3.1 Cabimento3.2 Da Comunicação da Interposição3.3 Procedimento e Julgamento do Agravo de Instrumento3.4 Paralelo com o CPC/73

4. Agravo Interno4.1 Cabimento4.2 Procedimento4.3 Julgamento4.4 Observação

5. Embargos de Declaração5.1 Cabimento5.2 Efeitos5.3 Prequestionamento5.4 Procedimento5.5 Julgamento5.6 Efeitos Infringentes5.7 Ratificação de Recursos Prematuros

6. Do Julgamento dos Recursos Extraordinário e Especial6.1 Prequestionamento6.2 Prazo6.3 Interposição Simultânea de Recurso Extraordinário e Recurso Especial6.4 Fungibilidade Recursal6.5 Primazia da Decisão de Mérito6.6 Interesse Processual6.7 Recurso Especial

6.7.1 Hipóteses de Cabimento6.7.2 Dissídio Jurisprudencial

6.8 Recurso Extraordinário6.8.1 Hipóteses de Cabimento6.8.2 Repercussão Geral

6.9 Juízo de Admissibilidade dos Recursos Excepcionais6.10 Juízo de Admissibilidade no Tribunal de Origem6.11 Juízo de Admissibilidade nos Tribunais Superiores6.12 Efeitos

7. Julgamento em Recurso (Extraordinário e Especial) Repetitivo 7.1 Cabimento7.2 Competência7.3 Legitimidade7.4 Efeitos da Decisão7.5 Distinguishing

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7.6 Procedimento7.7 Julgamento7.8 Efeitos da Publicação do Acórdão Paradigma7.9 Recursos Cabíveis7.10 Descumprimento da Decisão – Ação Rescisória e Reclamação 7.11 Observações

8. Agravo em Recurso Especial e Extraordinário8.1 Cabimento8.2 Procedimento8.3 Julgamento8.4 Observações

9. Embargos de Divergência9.1 Cabimento9.2 Procedimento9.3 Efeitos9.4 Julgamento9.5 Observações

IV - Finalização

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Comentários ao Código de Processo Civil/2015

I - IntroduçãoDentro do pragmatismo do estudo ressalte-se que o Livro III (Dos Proces-

sos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais) abriga dois Títulos distintos: um dedicado aos recursos e outro ordenador dos proces-sos nos tribunais, isto é, os que chegam pela via recursal ou aqueles próprios de sua competência originária.

Esse último Título que vai dos arts. 926 a 993 reitera a tendência há tem-pos almejada de dar unidade ao direito, prestigia o desenvolvimento da cultu-ra dos precedentes (art. 926/9270) como balizas sólidas da segurança jurídica.

Destacam-se apenas dois (incidente de assunção de competência e in-cidente de resolução de demandas repetitivas) dentre os vários institutos igual-mente importantes, apenas porque revelam o alto prestígio do estatuto proces-sual por prevenir ou dirimir controvérsias.

Na verdade o texto do CPC mostra a grande importância dessas técnicas processuais de uniformização de jurisprudência, o que se mostra em várias pas-sagens: improcedência liminar do pedido1; remessa necessária2; não provimen-to de recurso pelo relator3; julgamento de plano do conflito de competência pelo relator4 e dos embargos de declaração5.

Essa importância se reafirma com a cláusula genérica de que os acórdãos, prolatados nesses incidentes, devam ser observados pelos juízes e pelos tribu-nais (CPC, inciso III, art. 927).

1 Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: (...) III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência.

2 Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confir-mada pelo tribunal, a sentença: I – proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Mu-nicípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público; II – que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal. (...) § 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em: (...) III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência.

3 Art. 932. Incumbe ao relator: (...) IV – negar provimento a recurso que for contrário a: c) entendimen-to firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência.

4 Art. 955. O relator poderá de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, determinar, quan-do o conflito for positivo, o sobrestamento do processo e, nesse caso, bem como no de conflito negativo, designará um dos juízes para resolver, em caráter provisório, as medidas urgentes. Pa-rágrafo único. O relator poderá julgar de plano o conflito de competência quando sua decisão se fundar em: (...) II – tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência.

5 Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: (...) Parágrafo único. Con-sidera-se omissa a decisão que: I – deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento.

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Comentários ao Código de Processo Civil/2015

Em seguida a abordagem é sobre os recursos e sempre que possível há pequeno comparativo com o Código de Processo Civil de 1973.

Para auxiliar na pesquisa também incluímos parte dos “Enunciados do Fó-rum Permanente de Processualistas Civis” – FPPC/20166 sobre vários disposi-tivos do novo CPC, que poderão ser úteis na solução do dia a dia. Vale ressal-tar que esses enunciados somente são aprovados por votação unânime dos 200 processualistas que compõem o Fórum, o que revela certa tendência doutrinária.

Por fim, acrescentamos a nova Resolução do CNJ nº 325 (15 de julho de 2016) que criou o banco de dados nacional no âmbito do CNJ, estendendo a obri-gatoriedade ao Superior Tribunal de Justiça, Tribunais de Justiça Estaduais e de-mais tribunais, que deverão disponibilizar os incidentes de demandas repetitivas, assunção de competência juntamente com as respectivas peças e tramitação, facilitando a consulta sobre processos sobrestados e temas fixados.

Isso é ferramenta útil de acesso à justiça, concretizando o princípio da pu-blicidade.7

Indispensável se faz a observância dos regimentos internos dos tribunais para apreciação e julgamentos dos institutos aqui referidos.8

II - Os novos incidentes processuais1. Do Incidente de Assunção de Competência

1.1 Conceito e natureza jurídicaTrata-se de incidente processual por meio do qual o órgão fracionário de

Tribunal submete o julgamento de recurso, de processo de competência originá-ria ou de remessa necessária ao órgão colegiado de maior composição, desde que o caso envolver relevante questão de direito com repercussão social9, mas sem repetição em múltiplos processos.

6 Para consulta a outros enunciados: http://portalprocessual.com/enunciados-do-forum-permanente-de-processualistas-civis-2016/7 O TJSP já possui um Núcleo de Repercussão Geral e Recursos Repetitivos – NURER (http://www.tjsp.jus.br/Institucional/Nurer/Irdr.aspx?f=2).8 Lembrando que no Brasil há tribunais que concentram o julgamento de alguns incidentes no res-

pectivo órgão especial e outros, como São Paulo, que além do órgão especial possui também tur-mas especiais para tanto. O Regimento Interno do Tribunal de Justiça de São Paulo (https://esaj.tjsp.jus.br/gcnPtl/downloadNormasAbrirConsulta.do) (arts. 32 e seguintes) atribui também para a Turma Especial competência.

9 Exemplos de processos com grande repercussão relatados pelo ministro Ayres Britto do Supre-mo Tribunal Federal: - Biossegurança (ADI 3510) – utilização de células-tronco na pesquisa cien-tifica de cura para doenças crônicas; - Nepotismo (ADC 12) – proibição na contratação de paren-tes para cargos em comissão no âmbito do Poder Judiciário, posteriormente estendida a todos os poderes e pessoas jurídicas de direito público (Súmula Vinculante 13); - Raposa Serra do Sol (PET 3388) – demarcação das terras indígenas na denominada Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima com a saída dos produtores rurais do local;- Lei de Imprensa (ADPF 130) – Ainda em 2009 o Supremo declarou, por maioria de votos, que a Lei de Imprensa (Lei 5.250/67) é incompa-tível com o atual texto constitucional. - União homoafetiva (ADPF 132 e ADI 4277); - Humor nas eleições (ADI 4451); - Marcha da maconha (ADI 4274) - – Pena alternativa para condenados por

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Comentários ao Código de Processo Civil/2015

O IAC constitui técnica de julgamento destinada a evitar decisões conflitan-tes sobre a mesma questão de direito. Isso porque o §3º, do art. 947, do CPC/15 preceitua que o acórdão proferido no incidente vinculará todos os juízes e órgãos fracionários, salvo se houver revisão de tese.

O §4º, do art. 947 também reforça tal entendimento, ao prever a aplica-ção do incidente “quando ocorrer relevante questão de direito a respeito da qual seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre câmaras ou turmas do tribunal”.

Afirma-se que o incidente encontrava paralelo no CPC/73 (§ 1º do art. 555), mas antes a “relevante questão de direito” era abordada em sede recursal, já o IAC, ora tratado, também exige relevante questão de direito, mas qualifica-da pela repercussão social.

No tocante ao cabimento, diferentemente do anterior, o CPC permite não só em qualquer recurso, mas também em remessa necessária bem como nos processos de competência originária.

Se antes era somente o relator quem poderia propor o incidente, na atu-alidade além do relator também estão legitimados: partes, Ministério Público e Defensoria Pública.

1.2 Cabimento:Hipóteses de suscitação: julgamento de recurso, remessa necessária ou

de processo de competência originária quando envolver: a) relevante questão de direito, com grande repercussão social, mas sem repetição em múltiplos proces-sos (caput, art. 947); b) relevante questão de direito a respeito da qual seja con-veniente a prevenção ou a composição de divergência entre câmaras ou turmas do tribunal (§ 4º do art.947).

O art. 947 trabalha com vários conceitos indeterminados: questão de di-reito com grande repercussão e que não haja repetição múltipla, aliás, nessa hi-pótese seria caso de outro incidente (IRDR).

De outro lado é nítida a tendência na formação de precedentes ou de ju-risprudência vinculante. Assim, considera-se esse incidente como técnica de jul-gamento, destinado a evitar decisões díspares ou conflitantes sobre a mesma questão de direito. Isso porque o §3º, do art. 947 do CPC preceitua que o acór-dão proferido no incidente ora estudado vinculará todos os juízes e órgãos fra-cionários, salvo quando houver revisão de tese.10

tráfico (HC 97256) – em setembro de 2010, ao seguir o voto do ministro Ayres Britto, a maioria do Plenário do STF declarou a inconstitucionalidade de alguns dispositivos da Lei de Drogas (Lei 11.343/2006) que proibiam a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos (também conhecida como pena alternativa) para condenados por tráfico. - Progressão de regime para militares (HC 104174) – Por unanimidade, a Segunda Turma seguiu o voto do ministro Ayres Britto para reconhecer o benefício.

10 Nesse sentido: “Trata-se, neste sentido, de técnica voltada a evitar dispersão jurisprudencial. É essa a razão pela qual se lê, do § 4º do art. 947, que a aplicação do incidente se justifica “quando

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Comentários ao Código de Processo Civil/2015

1.3 Competência:Como dito antes o tema demanda exame dos regimentos internos dos tri-

bunais, pois processado perante as instâncias revisoras.No caso do Tribunal de Justiça de São Paulo, o julgamento será pelo Ór-

gão Especial ou pelas Turmas Especiais das Seções de Direito Público ou Pri-vado, tudo a depender da matéria tratada no caso concreto, conforme previsão dos arts. 13, I, “m”, e 32, II, de seu Regimento Interno11.

Nos Tribunais Superiores também será viável a instauração do IAC, prin-cipalmente em caso de ação de competência originária. 12

1.4 Legitimidade:Na dicção do § 1º, do art. 947, é possível afirmar que ao relator cabe o de-

ver de propor de ofício que o julgamento do recurso, da remessa necessária, ou do processo de competência originária seja feito pelo órgão colegiado indicado no regimento interno.

A parte, o Ministério Público, e a Defensoria Pública também podem pro-por a instauração do incidente.

A legitimidade do Ministério Público, para requerer a instauração de tal incidente e intervir, decorre dos pressupostos legais previstos para o IAC, tais como a relevante questão de direito, a grande repercussão social e o interesse

ocorrer relevante questão de direito a respeito da qual seja conveniente a prevenção ou a com-posição de divergência entre câmaras ou turmas do tribunal”. É o que basta para que esse inci-dente não seja considerado, pelo CPC de 2015, como uma das técnicas de julgamento de “casos repetitivos”, nos moldes do art. 928. Para tanto, a exemplo do incidente de resolução de deman-das repetitivas e dos recursos extraordinários ou especiais repetitivos, precisaria haver “múltiplos processos” julgados em sentidos diversos, o que o caput e o § 4º do art. 947, cada um a sua ma-neira, expressamente dispensam”. (BUENO, Cássio Scarpinella, Manual de Processo Civil, São Paulo: 2015, Saraiva, p. 679).

11 Art. 13. Compete ao Órgão Especial: I - processar e julgar, originariamente: (..) m) proposições de enunciados de súmulas, incidentes de assunção de competência e incidentes de resolução de demandas repetitivas referentes à matéria de sua competência ou à matéria de competência não exclusiva de uma das Turmas Especiais de suas Seções. (Acréscimo pelo Assento Regimen-tal no. 552/2016).(...) Art. 32. Compete às Turmas Especiais: (...) I - a assunção de competência prevista na lei processual civil (art. 947 do CPC) referente à matéria de competência exclusiva de sua Seção”. (Acréscimo pelo Assento Regimental no. 552/2016).

12 Sendo necessário o trâmite de um recurso, remessa necessária ou processo de competência originária para que o incidente seja instaurado, parece não haver dúvida de que somente os tri-bunais terão competência para decidi-lo. Quanto ao incidente instaurado no reexame necessá-rio, tal instauração se dará sempre num tribunal de segundo grau, enquanto que no julgamento de recurso- ainda que com dificuldade prática considerável- e nas ações de competência origi-nária, além de instauração em segundo grau (o que deverá ser o mais comum), também é pos-sível a instauração no Superior Tribunal de Justiça para o Supremo Tribunal Federal”. (NEVES, Daniel Amorim Assumpção, Novo Código de Processo Civil Comentado- artigo por artigo, Sal-vador: 2016, JusPodivm, p. 1344).

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público. Consoante expresso no art. 127, caput, da CF, e, no art. 178, inciso I, do CPC/15, cabe ao MP a defesa da ordem jurídica e dos interesses público e so-cial em juízo, seja como parte, seja como fiscal da lei. Diante de tais elementos e da previsão do Enunciado nº 467 do FPPC13, a intervenção do Parquet em tal incidente mostra-se obrigatória14.

1.5 Procedimento:O relator, de ofício, ou a requerimento dos demais legitimados proporá o

julgamento do recurso, da remessa necessária ou do processo de competência originária pelo órgão colegiado indicado no regimento.

O órgão colegiado realizará o juízo de admissibilidade, que será positivo se houver a presença de interesse público. E antes mesmo do julgamento do in-cidente, o relator deverá intimar o Ministério Público, podendo, inclusive, abrir fase de instrução para oitiva de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, realização de diligências e outras providências.

Neste aspecto há unanimidade entre os estudiosos de que ao IAC aplicam-se também normas peculiares do IRDR (arts. 983 e 984).15

Encerrada a instrução haverá julgamento do recurso, da remessa neces-sária ou do processo de competência originária.

O resultado do julgamento vinculará todos os juízes e órgãos fracionários16, exceto se houver revisão de tese (art. 947, § 3º, CPC/15).

A revisão da tese ou “overrulling” corresponde à superação de preceden-te. O art. 927, § 2º do CPC, prevê a alteração de tese jurídica nas hipóteses de enunciado de súmula e julgamento de casos repetitivos. Estes correspondem ao incidente de resolução de demandas repetitivas e aos recursos: especial e extra-ordinários repetitivos (art. 928, I e II).

13 O Ministério Público deve ser obrigatoriamente intimado no incidente de assunção de competência.14 Segundo Cássio Scarpinella Bueno, em Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. São Pau-

lo: Saraiva, 2.015, p. 680: “Sobre a legitimidade do Ministério Público e da Defensoria Pública, entendo que o § 1º do art. 947 merece ser interpretado amplamente para admitir que a legitimi-dade daqueles órgãos dê-se tanto quando atuam como parte (em processos coletivos, portanto) como também quando o Ministério Público atuar na qualidade de fiscal da ordem jurídica e a De-fensoria estiver na representação de hipossuficiente ou, de forma mais ampla, desempenhando seu papel institucional em processos individuais, inclusive como curador especial. É interpreta-ção que se harmoniza com a que proponho para o inciso III do art. 977 com relação ao incidente de resolução de demandas repetitivas”.

15 Cássio Scarpinella Bueno se manifesta neste sentido (Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 681) e assim está o Enunciado n 201 do FPPC: Aplicam-se ao incidente de assunção de competência as regras previstas nos arts. 983 e 984.

16 Idem, p. 681, ressalta que “é este o único caso em que o CPC de 2015 vale-se da palavra ‘vin-culante’ ao não se referir às Súmulas vinculantes.” E faz a seguinte indagação: “Será que o le-gislador poderia estabelecer este efeito – e de forma expressa – para além das hipóteses previs-tas pelo modelo constitucional?” Trata-se de questão que certamente será levada aos Tribunais.

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A alteração da tese jurídica poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese17.

1.6 Recursos cabíveis contra o julgamento do IAC:Embora inexista menção expressa sobre o cabimento de Recurso Especial

e de Recurso Extraordinário em face de acórdão que decide o IAC, possível con-cluir que as matérias tratadas no referido incidente constituem requisitos análogos aos de admissibilidade e de mérito para o acesso junto aos Tribunais Superiores.

Isso porque o objeto do incidente corresponde: ao julgamento de recurso, remessa necessária ou processo de competência originária, a respeito de rele-vante questão de direito, com grande repercussão social (art. 947, caput), e de interesse público (art. 947, § 2º).

Por sua vez, os recursos excepcionais admitem apenas a análise de ma-téria de direito. De todo modo, a repercussão geral necessária para o conheci-mento do recurso extraordinário estará presente no IAC, diante da repercussão social e do interesse público no julgamento do incidente.

1.7 Descumprimento da decisão firmada no incidente:Contra a decisão que descumpre o entendimento firmado no IAC, cabe

Reclamação fundada no art. 988, IV, CPC. Segundo a Resolução STJ/GP nº 3, de 7 de abril de 2016:

“Art. 1º Caberá às Câmaras Reunidas ou à Seção Especia-lizada dos Tribunais de Justiça a competência para proces-sar e julgar as Reclamações destinadas a dirimir divergên-cia entre acórdão prolatado por Turma Recursal Estadual e do Distrito Federal e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, consolidada em incidente de assunção de com-petência e de resolução de demandas repetitivas, em julga-mento de recurso especial repetitivo e em enunciados das Súmulas do STJ, bem como para garantir a observância de precedentes.“Art. 2º Aplica-se, no que couber, o disposto nos arts. 988 a 993 do Código de Processo Civil, bem como as regras re-gimentais locais, quanto ao procedimento da Reclamação.”

17 Nos termos do Enunciado nº 461 do FPPC “O disposto no § 2º do art. 927 aplica-se ao incidente de assunção de competência.” O § 2º, do artigo 927, do CPC/15, por sua vez, determina que “A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de casos repetiti-vos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos ou enti-dades que possam contribuir para a rediscussão da tese.”

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1.8 Observações finais:A importância desta técnica processual de uniformização de jurisprudên-

cia se mostra em várias passagens do CPC: improcedência liminar do pedido18; remessa necessária19; não provimento de recurso pelo relator20; julgamento de plano do conflito de competência pelo relator21; e dos embargos de declaração22.

E como já foi dito, os acórdãos, prolatados nesses incidentes, sejam ob-servados pelos juízes e pelos tribunais (CPC, inciso III, art. 927).

Vale mencionar que a técnica de julgamento sucessivo, prevista no art. 942, caput, do CPC não se aplica no IAC23. Trata-se de “(...) técnica de julgamen-to com propósitos muito semelhantes aos do recurso de embargos infringentes, mas com natureza de incidente processual, e não de recurso.”24

18 Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: (...) III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência.

19 Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confir-mada pelo tribunal, a sentença: I – proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Mu-nicípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público; II – que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal. (...) § 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em: (...) III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência.

20 Art. 932. Incumbe ao relator: (...) IV – negar provimento a recurso que for contrário a: c) entendi-mento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência.

21 Art. 955. O relator poderá de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, determinar, quan-do o conflito for positivo, o sobrestamento do processo e, nesse caso, bem como no de confli-to negativo, designará um dos juízes para resolver, em caráter provisório, as medidas urgentes. Parágrafo único. O relator poderá julgar de plano o conflito de competência quando sua decisão se fundar em: (...) II – tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assun-ção de competência.

22 Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: (...) Parágrafo único. Con-sidera-se omissa a decisão que: I – deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento;

23 Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos ter-mos previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a possibi-lidade de inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores. (...) § 4º Não se aplica o disposto neste artigo ao julgamento: I – do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas repetitivas.

24 Neves, Daniel Amorim Assumpção Neves. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. 8ª Ed. Salvador: JusPodiVm, 2016, p. 1.338.

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2. Do incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR- arts. 976/987):2.1 Conceito e natureza jurídica:

Trata-se de incidente processual instaurado mediante pleito de juiz, rela-tor, partes, Ministério Público ou Defensoria Pública e julgado pelo órgão cole-giado responsável pela uniformização de jurisprudência de Tribunal de Segun-da Instância.

O referido incidente pressupõe a existência simultânea de efetiva repeti-ção de processos envolvendo a mesma questão unicamente de direito e risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

Tal órgão colegiado, incumbido de decidir o incidente e de fixar a tese ju-rídica, julgará também o recurso, a remessa necessária ou o processo de com-petência originária de onde se originou o incidente (art. 978, parágrafo único, CPC/15).Objetiva conferir tratamento isonômico aos processos que versam so-bre a mesma tese jurídica.

Segundo Cássio Scarpinella Bueno:

“O dispositivo evidencia que o objetivo do novel instituto é o de obter decisões iguais para casos (predominante-mente) iguais. Não é por acaso, aliás, que o incidente é considerado, pelo inciso I do art. 928, como hipótese de “julgamento de casos repetitivos”. O incidente, destarte, é vocacionado a desempenhar, na tutela daqueles princí-pios, da isonomia e da segurança jurídica, papel próximo (e complementar) ao dos recursos extraordinários e espe-ciais repetitivos (art. 928, II). Não é por acaso, também, o destaque que a ele dá o inciso III do art. 927, que dispensa a menção aos diversos casos em que, naquele contexto, o incidente é referido ao longo de todo o CPC de 2015.”25

Ainda conforme tal jurista:

“O incidente de resolução de demandas repetitivas, pro-posto desde o Anteprojeto elaborado pela Comissão de Juristas, com confessada inspiração no Musterverfahren (procedimentos-modelo ou representativos) do direito ale-mão, é, sem dúvida alguma, uma das mais profundas (e autênticas) modificações sugeridas desde o início dos tra-balhos relativos ao novo Código.”26

25 Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 705.26 Ibid, p. 703.

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2.2 Cabimento:Hipóteses de suscitação: o IRDR deve ser instaurado na hipótese de re-

curso, da remessa necessária ou em processo de competência originária27, mas exige os seguintes requisitos:28 a) efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito29 b) risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

Sobre a repetição de processos, discute-se sobre a possibilidade de ins-tauração do IRDR em planos jurisdicionais diversos, ou seja, não só na Segun-da Instância, mas também na Primeira.

A Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (EN-FAM) entende que “A instauração do IRDR não pressupõe a existência de pro-cesso pendente no respectivo tribunal.”30 Então, ainda que todos os processos estejam em primeiro grau será possível a instauração do IRDR em dedução ao contido no inciso I, do artigo 977.

Já para outros estudiosos é necessária a existência de no mínimo um pro-cesso no segundo grau para a instauração do IRDR, até para que seja atendida a norma prevista no artigo 978, parágrafo único do CPC.31

2.3 Competência:Tanto quanto o incidente de assunção de competência o IRDR também

exige o exame dos regimentos internos dos tribunais (art. 978 CPC).32

No Tribunal de Justiça de São Paulo, o julgamento será pelo Órgão Espe-cial ou pelas Turmas Especiais das Seções de Direito Público ou Direito Priva-

27 Enunciado 342 FPPC.28 V. par. único do art. 978 CPC.29 Enunciado 87 do FPPC diz que “A instauração do incidente de resolução de demandas repetiti-

vas não pressupõe a existência de grande quantidade de processos versando sobre a mesma questão, mas preponderantemente o risco de quebra da isonomia e de ofensa à segurança jurí-dica.” Não se trata de existência simples de múltiplos processos e resultados conflitantes, mas amadurecimento sobre a necessidade de que a questão seja pacificada. Daniel Amorin Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. 8ª Ed. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 1400, também en-tende que “Entendo que deve ser encontrado um meio termo. Não se deve admitir o IRDR quan-do exista apenas um risco de múltiplos processos com decisões conflitantes, como também não será plenamente eficaz o IRDR a ser instaurado quando a quebra da segurança jurídica e da iso-nomia já forem fatos consumados. A instauração, dessa forma, precisa de maturação, debate, divergência, mas não pode demorar demasiadamente a ocorrer.”

30 Enunciado nº 22.31 Neves, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. São Pau-

lo: Saraiva, 2015, p. 1.401. Segundo tal jurista, pensam como ele Marinoni-Arenhar-Mitidiero, e Scarpinella Bueno.

32 Enunciado nº 343 do FPPC: “O incidente de resolução de demandas repetitivas compete a tribu-nal de justiça ou tribunal regional”.

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do, tudo a depender da matéria tratada no caso concreto, conforme previsão dos arts. 13, I, “m”, e 32, II, de seu Regimento Interno.33

No âmbito dos Juizados Especiais, há também a possibilidade de instau-ração do IRDR. Nesse sentido, o disposto no inciso I, do artigo 985 do CPC e os Enunciados nº 21 e 44 do ENFAM.34

2.4 Legitimidade:Da mesma forma como ocorre no Incidente de Assunção de Competência,

podem suscitar o IRDR as partes, o Ministério Público35 e a Defensoria Pública.Juiz e o Relator também podem suscitar de ofício. Este último poderá fa-

zer quando o processo repetitivo tiver chegado ao Tribunal36, já quanto à legiti-midade do juízo de primeiro grau, como dito antes, há divergência de opiniões.37.

A intervenção do MP será como requerente e como fiscal da ordem jurídi-ca e o fará de modo obrigatório.

Ressalta-se que o § 2º do artigo 976 inclusive determina ao MP assumir a titularidade do incidente em caso de desistência ou de abandono (da ação ou do recurso).

2.5 Procedimento:O pedido de instauração de IRDR deve ser dirigido ao Presidente do Tri-

bunal (art. 977, caput, do CPC), mediante petição, caso seja apresentado pelas

33 Art. 13. Compete ao Órgão Especial: I - processar e julgar, originariamente: (...) m) proposições de enunciados de súmulas, incidentes de assunção de competência e incidentes de resolução de demandas repetitivas referentes à matéria de sua competência ou à matéria de competência não exclusiva de uma das Turmas Especiais de suas Seções. (Acréscimo pelo assento Regimental 552/2016) (...) Art. 32. Compete às Turmas Especiais: I - a uniformização da jurisprudência, por súmulas ou por incidentes de resolução de demandas repetitivas referentes à matéria de compe-tência exclusiva de sua Seção; (acréscimo pelo Assento Regimental 552/2016)

34 “O IRDR pode ser suscitado com base em demandas repetitivas em curso nos juizados especiais.”“Admite-se o IRDR nos juizados especiais, que deverá ser julgado por órgão colegia-do de uniformização do próprio sistema”. Em dedução ao inciso I do art. 985 do CPC.

35 Sobre a legitimidade do Ministério Público vide supra (Incidente de Assunção de Competência – Legitimidade).

36 Ob. Cit. p. 1.402 (Daniel Amorin) e Ob. Cit. p. 705, (Cassio Scarpinella).37 Como dito, as opiniões doutrinárias se dividem sobre a possibilidade de instauração do inciden-

te na primeira instancia. De todo modo, para quem entende pela possibilidade, Daniel Amorim lembra que a legitimidade do juiz só existe após a apresentação de apelação contra sua senten-ça. Isso porque tal jurista parte da premissa de que o processo no qual é instaurado o incidente deve se encontrar, necessariamente, no tribunal. Observa, entretanto, que: “Há corrente doutri-nária que defende como solução do problema a legitimidade não estar atrelada ao processo no qual será instaurado o IRDR. Assim, poderia qualquer juiz que esteja conduzindo um processo repetitivo, requerer por ofício ao presidente do tribunal a instauração do IRDR em outro proces-so repetitivo que esteja em trâmite no tribunal. E o mesmo com relação aos demais legitimados”. (Ob. Cit. p. 1.402).

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partes, pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, ou, por meio de ofício instruído com os documentos necessários à demonstração do preenchimento dos pressupostos para a instauração do incidente, quando provier de magistrados.

Distribuído ao órgão colegiado, este procederá ao juízo de admissibilidade.Há que se observar pressuposto negativo de admissibilidade (§ 4º, do ar-

tigo 976), isto é, não pode estar pendente de análise recurso repetitivo já afeta-do ao Tribunal Superior.

Como dito antes, desistência ou o abandono do processo não impede o exame de mérito do incidente (§ 1º, do artigo 977), a norma transfere para o Mi-nistério Público a titularidade do incidente.

2.6 Efeito Suspensivo:O artigo 982, inciso I, do CPC determina que o relator, ao admitir o inci-

dente, suspenderá os processos pendentes, individuais ou coletivos, que trami-tam no Estado ou na Região, conforme o caso. No mesmo sentido, o inciso IV, do artigo 313 de tal diploma.

As demandas que serão suspensas versam sobre a questão de direito ob-jeto do IRDR.

A suspensão é necessária para a efetivação do objetivo do incidente, ou seja, conferir tratamento isonômico aos processos que versam sobre a mesma tese jurídica, proporcionando isonomia e segurança jurídica.

É possível que o processo suspenso verse sobre outras questões, além das vinculadas ao incidente. Nesse caso, a suspensão será imprópria porque dirá respeito apenas à matéria objeto do IRDR38. Nesse sentido, o Enunciado nº 205 do FPPC.39

Como dito, conforme o inciso I, do artigo 982, o relator, ao admitir o inci-dente, suspenderá os processos em trâmite na Primeira Instância, dentro dos li-mites da competência territorial do Tribunal de Segunda Instância. Assim, serão suspensas as demandas no território do Estado ou da Região de competência do Tribunal, de modo que os processos em curso perante outro Estado ou Re-gião não são alcançados pela suspensão determinada.

Tendo em vista as demandas não alcançadas pela suspensão porque em trâmite perante Estado ou Região diversa daquela onde foi instaurado o IRDR,

38 Segundo Daniel Amorim Assumpção Neves, Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 494, “Na suspensão própria todo o procedimento cessa seu andamento por um determinado período, enquanto que na suspensão imprópria a suspensão atinge apenas parcela do procedimento, enquanto outra parte tramita normalmente.”

39 “Havendo cumulação de pedidos simples, a aplicação do art. 982, I e § 3º, poderá provocar ape-nas a suspensão parcial do processo, não impedindo o prosseguimento em relação ao pedido não abrangido pela tese a ser firmada no incidente de resolução de demandas repetitivas”.

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o CPC previu a viabilidade de suspensão no âmbito do território nacional, am-pliando-se, assim, a aplicação dos princípios da isonomia e segurança jurídica.

De fato, as partes do incidente, o Ministério Público e a Defensoria Públi-ca podem requerer a suspensão de todos os processos individuais ou coletivos que tratem da questão objeto do IRDR e que estejam em curso no território na-cional (artigo 982, § 3º).

O § 4º do artigo 982, por sua vez, amplia o rol de legitimados para pleite-ar a suspensão em âmbito nacional. Isso porque admite que a parte em proces-so no qual se discuta a mesma questão objeto do incidente, mas em Estado ou Região diversa daquela onde foi instaurado o mesmo, pleiteie a suspensão dos processos individuais ou coletivos no território nacional.

Cássio Scarpinella Bueno exemplifica a situação:

“(...) o jurisdicionado de Vitória pode requerer, perante o STJ, a suspensão de todos os processos em trâmite em território nacional, mesmo que o incidente tenha sido ins-taurado pelo TJSP, porque a ‘tese jurídica’ de seu caso particular é coincidente com aquela que justificou a forma-ção do incidente perante o Tribunal paulista. Ambos têm como fundamento a inobservância de determinada lei fe-deral por contrato de consumo celebrado em massa por usuários de determinado serviço”.40

O pedido de suspensão dos processos em trâmite no território nacional será dirigido ao tribunal competente para conhecer do recurso extraordinário ou especial (artigo 982, § 3º). Ressalta-se, entretanto, a ausência de interposição de qualquer destes recursos, conforme a dicção do artigo 1.029, § 4º, do CPC:

“Quando, por ocasião do processamento do incidente de resolução de demandas repetitivas, o presidente do Su-premo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça receber o requerimento de suspensão de processos em que se discuta questão federal constitucional ou infracons-titucional, poderá, considerando razões de segurança ju-rídica ou de excepcional interesse social, estender a sus-pensão a todo o território nacional, até ulterior decisão do recurso extraordinário a ser interposto”.

40 Ob. Cit., p. 711.

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Segundo o jurista acima citado, os §§ 3º e 4º do artigo 982:

“(...) não tratam, propriamente, da instauração de um novo incidente no âmbito dos Tribunais Superiores, consideran-do que a questão objeto do incidente possa ser comum em todo o território nacional (e, sendo de direito federal, muito provavelmente o será, graças às peculiaridades da Federação brasileira). Seu objetivo é, apenas, o de obter a suspensão dos processos individuais ou coletivos”.41

O Superior Tribunal de Justiça, pela Emenda Regimental nº 22, de 16 de março de 2016, incluiu em seu Regimento Interno, a fim de adequá-lo ao CPC, o artigo 271-A, que trata da suspensão de processos em incidente de resolução de demandas repetitivas.

Tal dispositivo, no caput, viabiliza ao “Presidente do Tribunal, a requeri-mento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou das partes de incidente de resolução de demandas repetitivas em tramitação, considerando razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, suspender, em decisão fundamentada, todos os processos individuais ou coletivos em curso no territó-rio nacional que versem sobre a questão objeto do incidente”. Tal redação é bem semelhante à do § 4º, do artigo 1.029, do CPC.

O § 2º do artigo 271-A possibilita, ainda, ao Presidente do Tribunal, ouvir o relator do IRDR no Tribunal de origem e o Ministério Público Federal, no pra-zo de cinco dias, antes de decidir acerca da suspensão dos processos no terri-tório nacional.

Ressalta-se que o § 1º do artigo 271-A versa sobre situação de parte em processo com curso em localidade de competência territorial diversa daquela em que tramita o incidente, dispondo, então, ela deverá comprovar a inadmis-são do incidente no Tribunal com jurisdição sobre o Estado ou Região no qual tramite sua demanda.

Assim, enquanto o § 4º, do artigo 982, do CPC legitima a parte requerer a suspensão dos processos no âmbito no território nacional, o Regimento Interno do STJ condiciona tal requerimento a pedido prévio de instauração de IRDR jun-to ao Tribunal de Segunda Instância competente para analisar o pedido.

Conforme os Enunciados nº 47042 e 47143 do FPPC, as suspensões pre-vistas no artigo 982, inciso I, e § 3º, do CPC/15, aplicam-se no âmbito dos Jui-zados Especiais.

41 Idem, ibid.42 “470. (art. 982, I) Aplica-se no âmbito dos juizados especiais a suspensão prevista no art. 982, I.

(Grupo: Precedentes, IRDR, Recursos Repetitivos e Assunção de competência);”43 “471. (art. 982, § 3º) Aplica-se no âmbito dos juizados especiais a suspensão prevista no art. 982,

§ 3º. (Grupo: Precedentes, IRDR, Recursos Repetitivos e Assunção de competência);”

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Segundo o Enunciado nº 452 do FPPC, durante a suspensão do processo não corre o prazo de prescrição intercorrente44.

Caso seja necessário pleitear tutela de urgência durante o período de sus-pensão do processo, o pedido deve ser dirigido ao juízo onde tramita o proces-so suspenso (artigo 982, § 2º).

Ainda no tocante à suspensão dos prazos, ela cessará caso o incidente não seja julgado no prazo de um ano, salvo decisão fundamentada do relator em sentido contrário (artigo 980 e seu parágrafo único).

Também cessará se não for interposto recurso especial ou extraordinário contra a decisão proferida no incidente (§ 5º do artigo 982), já que tais recursos, em sede de IRDR, têm efeito suspensivo (artigo 987, § 1º).

Quando o Superior Tribunal de Justiça determinar a suspensão em âmbito nacional, esta perdurará até o trânsito em julgado da decisão proferida no IRDR (artigo 271-A, § 3º, do Regimento da Corte).

2.6.1 Distinguishing: Técnica de Distinção:A suspensão determinada pelo relator do Tribunal de Segundo Grau será co-

municada aos órgãos jurisdicionais competentes da Primeira Instância e as partes deverão ser intimadas da suspensão de seus processos individuais ou coletivos.

Diante da suspensão de seu processo, podem as partes requerer o prosse-guimento do seu processo, demonstrando a distinção entre a questão a ser de-cidida no seu processo e aquela tratada no incidente.45 Trata-se do distinguishing – ou “distinção”, terminologia utilizada pelo CPC de 2015.

Embora a distinção seja prevista de forma expressa no artigo § 9º ao 13º do artigo 1.037 do CPC (que trata acerca do julgamento dos recursos especial e extraordinários repetitivos), é plenamente possível a sua aplicação, no que cou-ber, ao incidente de resolução de demandas repetitivas, conforme Enunciado nº 481 do FPPC46

Assim, pela utilização da técnica do distinguishing (ou “distinção”) no IRDR, a parte pleiteia o prosseguimento de seu processo, sustentando que a questão de direito versada em sua demanda difere daquela tratada no IRDR, pois apre-senta peculiaridades que exigem tratamento diferenciado e características que o distinguem do caso a ser julgado no IRDR.

44 “A prescrição ficará suspensa até o trânsito em julgado do incidente de resolução de demandas repetitivas”.

45 Enunciado nº 348, do FPPC: Os interessados serão intimados da suspensão de seus processos individuais, podendo requerer o prosseguimento ao juiz ou tribunal onde tramitarem, demonstran-do a distinção entre a questão a ser decidida e aquela a ser julgada no incidente de resolução de demandas repetitivas, ou nos recursos repetitivos.

46 “O disposto nos §§ 9º a 13 do art. 1.037 aplica-se, no que couber ao incidente de resolução de demandas repetitivas”.

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Essa distinção terá por fundamento a não coincidência entre as questões fundamentais discutidas ou porque, conquanto existam similitudes entre os pro-cessos, algumas particularidades no caso em julgamento afastam a aplicação da questão submetida ao incidente de resolução de demandas repetitivas ou re-cursos repetitivos.

2.7 Atuação do relator:Digna de relevância nesse incidente é a atuação do relator, já que ele po-

derá requisitar informações aos órgãos em cujo juízo tramita processo com a mesma controvérsia; ouvir as partes e os demais interessados, inclusive pesso-as, órgãos e entidades com interesse na controvérsia; determinar a realização de diligências e a juntada de documentos das partes; realizar audiências públi-cas para ouvir depoimentos de pessoas com experiência e conhecimento na ma-téria, de modo a subsidiar o julgamento e esclarecer a questão de direito objeto do incidente (arts. 982, II, e 983, CPC).

O prazo para os órgãos, em cujo juízo tramita processo no qual se discute o objeto do incidente, prestarem informações, é de 15 (quinze) dias. Em seguida, o Ministério Público terá o mesmo prazo para se manifestar (artigo 982, inciso II).

O CPC prevê o mesmo prazo para as partes e os demais interessados, inclusive pessoas, órgãos e entidades com interesse na controvérsia pedirem a juntada de documentos e a realização de diligências necessárias à elucidação da questão de direito controvertida. Em seguida, o Ministério Público terá prazo idêntico para se manifestar (artigo 983, caput).

Daniel Amorim destaca que:

“O dispositivo deixa claro que a exigência é de intimação obrigatória do Ministério Público, e não de efetiva mani-festação, de forma que o procedimento deve seguir seu curso no caso de inércia do Ministério Público. O contradi-tório, mesmo o institucional gerado pela manifestação do Ministério Público como fiscal da lei se satisfaz com a mera possibilidade de reação. O prazo de 15 dias, entretanto, é impróprio, de modo que a manifestação do Parquet será admitida mesmo depois de vencido o prazo, desde que seja feita antes do julgamento do incidente”.47

Por fim, vale dizer que alguns aspectos do regramento dispensado ao ins-tituto, em especial os parágrafos 2º, 3º e 5º do art. 976, assemelham-se ao regi-me jurídico previsto para as ações coletivas, mormente no que tange à inexigi-

47 Ob. Cit. p. 1.412/1.413.

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bilidade do pagamento de custas processuais pelo demandante, legitimação do Ministério Público para reassumir a titularidade do incidente, em caso de desis-tência ou abandono do titular e à possibilidade de instauração de novo inciden-te, mesmo após a superveniência de decisão colegiada que o inadmita por au-sência de seus pressupostos legais.

2.8 Procedimento previsto no Regimento Interno do TJSP:O Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo con-

siderou o presente instituto mecanismo de uniformização de jurisprudência. E, nos termos dos artigos 191, §2º, e 192, §3º, seu procedimento é constituído de três fases: (a) admissibilidade; (b) instrução e julgamento; e (c) ratificação ou re-jeição do enunciado”.48

2.9 Divulgação e publicidade da instauração e do julgamento do incidente:

Segundo CPC, deve haver ampla e específica divulgação e publicidade da instauração e do julgamento do IRDR, por meio de banco de dados eletrôni-

48 Art. 191. [...]. § 2º Nas Turmas Especiais das Seções de Direito Público e de Direito Privado, a aprovação dos enunciados se desdobrará em três fases, prejudicando-se a subsequente, se não houver aprovação na antecedente: I - na primeira, a Turma Julgadora é composta apenas pelos desembargadores da Turma Especial que integram as Câmaras cuja competência seja correlata à matéria em discussão; II – na segunda, apenas para ratificar ou rejeitar o enunciado de juris-prudência pacificada e o enunciado de tese jurídica de incidente de resolução de demanda repe-titiva aprovada na fase antecedente, votamos demais desembargadores que compõem a Turma Especial; III – na terceira, apenas para ratificar ou rejeitar o enunciado de jurisprudência pacifi-cada ou o enunciado de tese jurídica de incidente de resolução de demanda repetitiva aprovado na fase antecedente, votam, em meio digital e com assinatura eletrônica, no prazo de cinco dias, todos os desembargadores da respectiva Seção que compõem Câmaras ou Grupos cuja compe-tência seja correlata à matéria do enunciado. Art. 192.[...].(...) § 3º Os incidentes de resolução de demandas repetitivas, instaurados, processados e julgados conforme as normas do CPC (arts. 976 e 987), no Órgão Especial ou nas Turmas Especiais, conforme as normas regimentais, tam-bém observarão as seguintes regras procedimentais: I - Protocolizado o pedido de instauração do incidente dirigido ao Presidente do Tribunal, será, imediatamente, distribuído ao órgão com-petente e encaminhado ao relator, que o encaminhará à Mesa para o juízo de admissibilidade pela Turma Julgadora (art. 191, §2º, I); II - Admitido, o incidente é considerado instaurado, para fins de registro em banco eletrônico de dados do Tribunal, divulgação, comunicação ao Conse-lho Nacional de Justiça e demais fins legais (art. 982 do CPC); III - O relator presidirá a instru-ção, decidirá as eventuais questões correlatas, e, concluídas as diligências, encaminhará o fei-to à Mesa para a exposição da causa, sustentações orais e julgamento do incidente e da causa pela Turma Julgadora (art. 191, §2º, I); IV - O enunciado da tese jurídica fixada pela Turma Julga-dora (art. 191, §2º, I) será submetido à ratificação ou rejeição dos demais desembargadores que compõem a Turma Especial para este fim (art.191, §2º, II e III, e seu §5º); V - Havendo rejeição, a tese jurídica é considerada não aprovada nem fixada pelo Tribunal e seu enunciado não terá a eficácia do art. 985 do CPC; VI - Havendo ratificação, a tese jurídica é considerada fixada pelo Tribunal e, ao seu enunciado aprovado, dar-se-á ampla divulgação e publicidade, sem prejuízo das comunicações necessárias.

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cos nos Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais, contendo informa-ções específicas sobre questões de direito submetidas ao incidente, registro ele-trônico das teses jurídicas no CNJ, contendo os fundamentos determinantes da decisão e os dispositivos normativos a ela relacionados (artigo 979, §§ 1º e 2º);

2.10 Julgamento do incidente e os seus efeitos:O prazo máximo para julgamento é de 1(um) ano, prorrogável pelo relator

mediante decisão fundamentada.49

O julgamento do IRDR terá preferência sobre os demais feitos, salvo os processos que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus (art. 980, ca-put, CPC).

A tese jurídica também será aplicada aos casos futuros que versem idên-tica questão de direito e venham a tramitar no território de competência do tribu-nal (artigo 985, inciso II, do CPC).

Do mesmo modo que nos recursos repetitivos a decisão do IRDR é apli-cável tanto aos processos pendentes afetados à questão paradigma, quanto às futuras ações ajuizadas com base nos mesmos fundamentos jurídicos.50

Ainda no tocante aos efeitos da decisão que julga o IRDR, ressaltam-se os Enunciados nº 1951 e nº 2052 do ENFAM, e nº 45853 do FPPC.

2.11 Recursos cabíveis:Contra a decisão que julga o IRDR cabe recurso especial e recurso ex-

traordinário. Excepcionalmente os recursos especiais e extraordinários serão proces-

sados com efeito suspensivo (§4º do art. 1029 CPC).54

49 Interessante notar que o legislador fixou para o julgamento do IRDR o mesmo prazo máximo con-tido no CPC para a suspensão dos processos, qual seja, 1(um) ano, conforme consta dos arti-gos 313 e 315. Isso porque um dos efeitos imediatos da instauração do incidente analisado con-siste na suspensão dos processos individuais e coletivos que versem sobre a mesma matéria, como já foi mencionado.

50 Destaca-se o artigo 985, inciso I, segundo o qual, julgado o incidente, a tese jurídica será aplica-da “a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito e que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive àqueles que tramitem nos jui-zados especiais do respectivo Estado ou região”.

51 A decisão que aplica a tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos não precisa en-frentar os fundamentos já analisados na decisão paradigma, sendo suficiente, para fins de aten-dimento das exigências constantes no art. 489, § 1º, do CPC, a correlação fática e jurídica entre o caso concreto e aquele apreciado no incidente de solução concentrada.

52 O pedido fundado em tese aprovada em IRDR deverá ser julgado procedente, respeitados o con-traditório e a ampla defesa, salvo se for o caso de distinção ou se houver superação do entendi-mento pelo tribunal competente.

53 Para a aplicação, de ofício, de precedente vinculante, o órgão julgador deve intimar previamente as partes para que se manifestem sobre ele.

54 V. artigo 271-A do RISTJ.

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Além disso, se envolver questões constitucionais a repercussão geral de questão propriamente dita é presumida (§ 1º, art. 987 CPC).

Superado o exame da admissibilidade recursal pelo Tribunal a quo, o mé-rito do recurso será apreciado nas instâncias superiores, devendo a tese jurídi-ca adotada pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça ser aplicada no território nacional a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito (artigo 987, § 2º).

2.12 Descumprimento da decisão proferida no IRDR:Contra a decisão que descumpre o entendimento firmado no IRDR, cabe

Reclamação fundada no art. 988, IV, CPC, tal como ocorre no IAC.Segundo a Resolução STJ/GP nº 3, de 7 de abril de 2016:

“Art. 1º Caberá às Câmaras Reunidas ou à Seção Es-pecializada dos Tribunais de Justiça a competência para processar e julgar as Reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão prolatado por Turma Recursal Estadual e do Distrito Federal e a jurisprudência do Su-perior Tribunal de Justiça, consolidada em incidente de assunção de competência e de resolução de demandas repetitivas, em julgamento de recurso especial repetitivo e em enunciados das Súmulas do STJ, bem como para garantir a observância de precedentes.Art. 2º Aplica-se, no que couber, o disposto nos arts. “988 a 993 do Código de Processo Civil, bem como as regras re-gimentais locais, quanto ao procedimento da Reclamação.”

2.13 Observações Finais:A importância desta técnica processual de uniformização de jurispru-

dência se mostra em várias passagens do CPC: improcedência liminar do pe-dido55; remessa necessária56; não provimento de recurso pelo relator57; jul-

55 “Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: (...) III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência”.

56 “Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confir-mada pelo tribunal, a sentença: I – proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Mu-nicípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público; II – que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal. (...) § 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em: (...) III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência”.

57 “Art. 932. Incumbe ao relator: (...) IV – negar provimento a recurso que for contrário a: c) entendi-mento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência”.

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gamento de plano do conflito de competência pelo relator58; e dos embargos de declaração59.

Essa importância se reafirma com a cláusula genérica de que os acórdãos, prolatados nesses incidentes, sejam observados pelos juízes e pelos tribunais (CPC, inciso III, art. 927).

Vale mencionar que a técnica de julgamento sucessivo, prevista no art. 942, caput, do CPC não se aplica ao IRDR60. Trata-se de “(...) técnica de julga-mento com propósitos muito semelhantes aos do recurso de embargos infringen-tes, mas com natureza de incidente processual, e não de recurso”.61 Tal técnica é cogente, devendo ser aplicada de ofício.

III – Dos recursos:1. Disposições gerais (arts. 994/1008):Antes de qualquer outra coisa é preciso considerar algumas diretrizes de

direito intertemporal que já foram enunciados pelo Superior Tribunal de Justiça:Enunciado administrativo número 2. Aos recursos interpostos com fun-

damento no CPC/73 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.

Enunciado administrativo número 3. Aos recursos interpostos com fun-damento no CPC (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do CPC.

Enunciado administrativo número 5. Nos recursos tempestivos interpos-tos com fundamento no CPC/73 (relativos a decisões publicadas até 17 de mar-

58 “Art. 955. O relator poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, determinar, quan-do o conflito for positivo, o sobrestamento do processo e, nesse caso, bem como no de confli-to negativo, designará um dos juízes para resolver, em caráter provisório, as medidas urgentes. Parágrafo único. O relator poderá julgar de plano o conflito de competência quando sua decisão se fundar em: (...) II – tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assun-ção de competência”.

59 “Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: (...) Parágrafo único. Con-sidera-se omissa a decisão que: I – deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento”;

60 “Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimen-to em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos termos previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a pos-sibilidade de inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o direi-to de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores. (...) § 4º Não se aplica o dis-posto neste artigo ao julgamento: I – do incidente de assunção de competência e ao de resolu-ção de demandas repetitivas”.

61 Neves, Daniel Amorim Assumpção Neves. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. 8ª Ed. Salvador: JusPodiVm, 2016, p. 1.338.

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ço de 2016), não caberá abertura de prazo previsto no art. 932, parágrafo único, c/c o art. 1.029, § 3º, do CPC.

Enunciado administrativo número 6: Nos recursos tempestivos inter-postos com fundamento no CPC (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016), somente será concedido o prazo previsto no art. 932, pa-rágrafo único, c/c o art. 1.029, § 3º, do CPCpara que a parte sane vício estrita-mente formal.

1.1 Tipicidade:Sobre tipicidade dos recursos há um rol (art. 994), mas por certo que o

CPC não afastou a vigência de recursos previstos em leis especiais (v.g. art. 41 da Lei 9.099/95 - recurso inominado).

Nesse novo quadro descartou-se o agravo retido e os embargos infringen-tes, muito embora esse último tenha passado a simples técnica de julgamento (v. art. 942/CPC).

De todo modo, ainda que não se trate de recurso, cabe lembrar que o re-exame necessário também se constitui instrumento para revisão de sentenças (art. 496).62

1.2 Efeitos:Sobre a suspensão dos recursos (art. 995) a regra é o efeito meramen-

te devolutivo, inclusive os embargos de declaração art. 1026.Contudo, dentro da probabilidade do êxito recursal e para cobrir riscos

de dano (fumus boni juris e periculum in mora) os recursos podem sim ter efeito suspensivo (arts. 932, II, 995 parágrafo único, 1019, I,1029 § 5º) e isso deve ser requerido ao relator.

Caso o recurso ainda se encontre em fase de admissibilidade é possível requerer ao tribunal destinatário que se dê efeito suspensivo de modo antecipa-do (art. 299 § único do CPC). Há quem estenda essa possibilidade ainda quan-do não haja urgência, v.g, pedindo-se ao relator que dê tutela contra ato ilícito (art. 497, § único), o que de todo modo resultaria no efeito suspensivo pretendido.

De todo modo, a probabilidade de provimento do recurso constitui requisi-to específico para a concessão do efeito suspensivo, não bastando o risco gra-ve de difícil ou impossível reparação.

1.3 Legitimidade:Sobre a legitimidade: parte sucumbente, Ministério Público, Defensoria

Público e terceiro prejudicado (assistente simples, litisconsorciais e outros)

62 Lembre-se o enunciado da Súmula 45 do STJ: No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda Pública.

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1.4 Prazos:O prazo ocupa espaço considerável no levantamento.Em regra, o Ministério Público como fiscal da ordem jurídica, após ser inti-

mado, tem o prazo de 30 dias para intervir (art. 178 CPC), o dobro ao legalmen-te concedido às partes, salvo quando a lei estipular de modo diferente (art. 180 CPC). Essa mesma regra de prazo em dobro serve às Fazendas Públicas (art. 183 CPC) e também para Defensoria (art.186).

No caso de litisconsortes com advogados distintos o prazo não mais será em dobro quando o processo for eletrônico (art. 229, § 2º CPC).

No que diz a contagem dos prazos o artigo 1003, assemelhado ao anterior parágrafo 1º do art. 242 CPC/73, expressa que a contagem deve ser feita da inti-mação da decisão e, quando prolatada antes da citação (v.g. tutela antecipada, li-minares) os prazos serão contados na forma dos incisos I a IV do art. 231 do CPC.

Contam-se os dias a partir do primeiro dia útil subsequente (art. 224, § 3º CPC). Os prazos de dias devem ser considerados os dias úteis, assim 15 dias serão 15 dias úteis, na contagem pula-se feriados, sábados e domingos etc. ( art. 219 CPC). No caso de interposição do recurso via correio é a data de postagem o termo inicial de contagem, contrariando a Súmula 216 do STJ.63

Recai sobre o recorrente o ônus de comprovar a existência de feriado lo-cal durante a contagem do prazo, o que antes de acordo com o artigo 184 e pa-rágrafos do CPC/73 só tinha importância quando o início e vencimento do prazo caíssem em dia de feriado, fechamento do fórum ou expediente forense encer-rado antes do horário normal.

O prazo de recursos foi unificado sempre em 15 (quinze) dias, salvo os em-bargos de declaração (5 dias).

Mais duas observações ainda devem ser feitas. Primeiro no caso de fale-cimento da parte e/ou do advogado da parte quando haverá interrupção do pra-zo, isto é, será todo devolvido (art. 1004).

1.5 Preparo e deserção:O preparo do recurso deve ser provado já no ato de interposição, mas o

artigo 1007 do CPC também dispensa algumas pessoas jurídicas e alguns ou-tros, dentre os quais está o Ministério Público.64

De todo modo os que estejam obrigados ao preparo, poderão ser chama-dos a completar valores e só no caso de inércia é que o recurso será julgado de-serto. Isto porque, o princípio da colaboração que permeia o CPC, não permite que de logo se decrete a deserção, sem que o interessado seja intimado a reco-lher o preparo ou corrigir erros no preenchimento da guia etc.

63 A tempestividade de recurso interposto no Superior Tribunal de Justiça é aferida pelo registro no protocolo da secretaria e não pela data da entrega na agência do correio.

64 A Defensoria Pública não foi indicada, mas a ela se estende essa isenção, quando estiver atuan-do nas hipóteses elencadas da Lei Complementar no. 80/94.

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Por fim, os embargos de declaração estão dispensados de preparo e em caso de recursos em geral, nos de processos eletrônicos nem se cogita porte de remessa e de retorno (art. 1007, § 3º, CPC/15).

1.6 Outros aspectos (litisconsórcio, desistência e renúncia):Por certo que entre os litisconsórcios há independência, mas na hipótese

de solidariedade há efeito expansivo subjetivo (parágrafo único do art. 1005 CPC).65

A desistência de recurso não depende da anuência de outrem e produzirá a extinção do feito. Contudo, objetivando dar unidade ao direito, as Cortes Su-periores, mesmo no caso de desistência de recursos, podem sim pronunciar-se sobre questão de direito, obviamente, sem alcançar propriamente o recurso de-batido, valendo apenas como precedente (parágrafo único do art. 998 do CPC).

Também independe de aceitação a renúncia que pode ser expressa ou tácita.

2. Apelação: (arts. 1.009/1014)2.1 Cabimento:

A apelação é o recurso cabível contra sentença terminativa ou definitiva, proferida em qualquer espécie de procedimento ou processo (arts. 203, § 1º e 1.009, caput), ressaltando-se haver exceções previstas em legislação especial e no próprio CPC66.

Em relação às questões processuais resolvidas na fase de conhecimen-to, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento (art. 1015 CPC), não haverá preclusão, sendo ônus das partes suscitá-las em preliminar de apelação e mesmo em contrarrazões (art. 1.009, § 1º, CPC).

E se essas questões forem trazidas em contrarrazões, o recorrente será intimado para, em 15 dias, manifestar-se a respeito delas.

2.2 Legitimidade:São legitimados a parte vencida, o terceiro prejudicado e o Ministério Pú-

blico como parte ou como fiscal da ordem jurídica. O terceiro deve demonstrar a possibilidade de a decisão atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual.

65 Art. 1.005. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses. Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso inter-posto por um devedor aproveitará aos outros quando as defesas opostas ao credor lhes forem comuns. (STJ REsp nº 209.336/SP e 181.788/SC).

66 Contra as sentenças proferidas: a) no âmbito dos Juizados Especiais, cabe recurso inominado (artigo 41, caput, da Lei nº 9.099/95); b) em execução fiscal de valor igual ou inferior a cinquenta Obrigações do Tesouro Nacional (OTN), cabem embargos infringentes (art. 34 da Lei nº 6.830/80); c) em processos em que forem partes, de um lado Estado estrangeiro ou organismo internacio-nal e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no Brasil, cabe recurso ordinário (artigo 1.027, inciso II, alínea ‘b’).

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2.3 Procedimento:O delineamento do procedimento está no art. 1010 do CPC.Como dito, nem todas as questões processuais se sujeitam a preclusão,

isto é, questões não sujeitas a agravos poderão ser suscitadas em razões e con-trarrazões de apelação.

O juízo de admissibilidade será feito uma única vez e perante o Tribunal competente para julgar a apelação. Contudo, o CPC ainda manteve esse ree-xame pelo juízo prolator da sentença terminativa (art. 485, § 7º), tal como antes previsto no art. 296 do CPC/73.

De qualquer modo, o recurso de apelação será encaminhado ao relator, que poderá decidi-lo monocraticamente (art. 932, III a V CPC) ou encaminhá-lo ao julgamento pelo órgão colegiado.

2.4 Efeitos:A apelação tem efeito suspensivo em regra67, salvo nos casos do §1º do

art. 1012, quando o apelado poderá requerer seu cumprimento provisório (art. 1012, §2º).68

É possível requerer a concessão de efeito suspensivo, nas hipóteses do §1º do art. 1012, ao tribunal competente para julgar apelação. Assim, entre o período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, fica o relator designado prevento para julgar o pedido de efeito suspensivo e a própria apelação.

Segundo o § 4º do art. 1012, é possível que o relator suspenda a eficácia da sentença nas hipóteses do §1º, desde que o apelante demonstre a probabilidade

67 Interessante interpretação dada por NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Co-mentário ao Código de Processo Civil, São Paulo: RT, 16ª. ed. p.2215: “Os recursos, como regra geral, são recebidos no efeito apenas devolutivo (CPC 995 caput). Contrariando essa regra ge-ral, o CPC 1012 parece conferir a apelação, imperativamente (terá) efeito suspensivo, mas con-diciona essa circunstancia ao pedido do apelante, na forma do CPC 1012 §3º e apenas para as poucas hipóteses arroladas no CPC 1012, §1º . O dispositivo comentado, na verdade, não con-tem comando imperativo (terá), como a literalidade do texto parece conduzir o interprete”. Enfim, os doutrinadores insinuam que o efeito suspensivo sempre deve ser requerido ao relator por in-terpretação combinada dos artigos 1012, §3º e 995, P.u CPC.

68 Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo. § 1º Além de outras hipóteses previstas em lei, co-meça a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que: I - homologa di-visão ou demarcação de terras; II - condena a pagar alimentos; III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; IV - julga procedente o pedido de ins-tituição de arbitragem; V - confirma, concede ou revoga tutela provisória; VI - decreta a interdi-ção. § 2º Nos casos do § 1º, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento provisório de-pois de publicada a sentença. § 3º O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1º poderá ser formulado por requerimento dirigido ao: I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la; II - relator, se já distribuída a apelação. § 4º Nas hipóteses do § 1º, a efi-cácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação.

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de que o provimento do recurso ou, sendo relevante a fundamentação, haja risco de dano grave ou de difícil reparação (v.g. tutela provisória, interdição, alimentos).

Há em algumas hipóteses de apelação efeito translativo, isto é, a possi-bilidade de atuação oficiosa do órgão julgador recursal, independentemente de manifestação do recorrente.

Assim, o tribunal pode apreciar as questões suscitadas e discutidas no processo ainda que não tenham sido solucionadas.

Há, no § 2º do mesmo dispositivo, a possível transferência dos fundamen-tos não analisados na sentença ao tribunal, independentemente de requerimento do apelante. Isto é, se a pretensão ou defesa for embasada em vários fundamen-tos e o magistrado decidir pela utilização de um apenas, os demais fundamen-tos também serão devolvidos ao tribunal. O que se proíbe é inovação (art. 1014).

3. Agravo de Instrumento (arts. 1.015/1020):3.1 Cabimento:

O CPC/15 excluiu o agravo retido. Contudo, serão considerados os que já tenham sido interpostos na regência do CPC/73.

O CPC cuida do agravo de instrumento e o faz de modo exemplificativo (inciso XIII e parágrafo único do art. 1015 CPC):69

De todo modo, o artigo 1015 do CPC destaca o cabimento em face das se-guintes decisões interlocutórias: I) tutelas provisórias, II) mérito do processo; III) rejeição da alegação de convenção de arbitragem; IV) incidente de desconside-ração da personalidade jurídica; V) rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; VI) exibição ou posse de documen-to ou coisa; VII) exclusão de litisconsorte; VIII) rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX) admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; X) con-cessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execu-ção; XI) redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º.

Além disso, há no próprio CPC outros casos: arts. 101, 1.037, § 9º e § 13, inciso I e outras leis que sugerem o cabimento do recurso: art. 100 da Lei nº 11.101/2005; art. 17, § 10, da Lei nº 8.429/92.

Já se afirmam outras hipóteses mesmo no silêncio do CPC: indeferimento parcial da inicial ou da reconvenção (Enunciado nº 154, FPPC), condenação de

69 O rol é legal e não taxativo, pois o inciso XIII permite o cabimento do referido recurso em outros casos expressamente previstos em lei. Há também quem afirme o cabimento do agravo nos ca-sos de tutela coletiva com fundamento nos arts. 1.015, inc. XIII, do Novo CPC e 19, §1º, da Lei 4.717/65: “Por força do microssistema coletivo a norma deva ser aplicada a todos os processos coletivos e não só à ação popular. Ou seja, todas as decisões interlocutórias proferidas em ação popular, mandado de segurança coletivo, mandado de injunção coletivo, ação civil pública e ação de improbidade administrativa, são recorríveis por agravo de instrumento, pela aplicação conjun-ta dos arts. 1.015, XIII, do Novo CPC e do art. 19 da Lei 4.717/65 inspirada pelo microssistema coletivo”. Neves, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil Comentado Artigo por Artigo. Salvador: 2016, JusPodivm, p. 1690.

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prestar contas (Enunciado nº 177, FPPC), reconhecimento da competência pelo juízo arbitral (Enunciado nº 435, FPPC).70

Existem outras interlocutórias e não são passíveis de agravo de instrumen-to, devendo ser impugnadas em preliminar de apelação ou nas contrarrazões do recurso, nos termos do art. 1009, §1º do CPC71.

Com isso, busca-se a final decision do direito norte-americano. Há quem veja risco à celeridade, pois transferir o debate para momento do julgamento da apelação possibilitaria prejuízos à parte e ao processo. Exemplarmente: emen-da da inicial; competência absoluta ou relativa; indeferimento do negócio jurídi-co processual; determinação da quebra do sigilo bancário; indeferimento do pe-dido de produção de provas apresentado pelas partes.72

3.2 Da comunicação da interposição (art. 1.018 do CPC):No processo físico, a comunicação acerca da interposição do recurso é

obrigatória e deve ser feita no prazo de 3 (três) dias ao juízo de primeira instân-cia, possibilitando-se assim eventual juízo de retratação (art. 1018, § 1º). No to-cante ao processo eletrônico, pela interpretação literal do artigo 1018, § 2º, do CPC, é desnecessária.73

70 Enunciado 154. (art. 354, parágrafo único; art. 1.015, XII) É cabível agravo de instrumento con-tra ato decisório que indefere parcialmente a petição inicial ou a reconvenção. Enunciado 177. (arts. 550, § 5º e 1.015, inc. II) A decisão interlocutória que julga procedente o pedido para con-denar o réu a prestar contas, por ser de mérito, é recorrível por agravo de instrumento. Enuncia-do 435. (arts. 485, VII, 1015, III) Cabe agravo de instrumento contra a decisão do juiz que, dian-te do reconhecimento de competência pelo juízo arbitral, se recusar a extinguir o processo judi-cial sem resolução de mérito.

71 As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agra-vo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de ape-lação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.

72 Sobre esse tema: “Corre-se sério risco de trocar seis por meia dúzia, e, o que é ainda pior, des-virtuar a nobre função do mandado de segurança. E uma eventual reação dos tribunais não ad-mitindo mandado de segurança nesse caso será uma aberrante ofensa ao previsto no art. 5º, II, da lei 12.016/2009.” Neves, Daniel Amorim Assumpção, Manual de Direito Processual Civil, Sal-vador: 2016, JusPodivm, pp. 1560/1561. Numa interpretação ampliativa do art. 1.015 do NCPC: “No máximo será bem-vinda, justamente para não generalizar o emprego do mandado de segu-rança como sucedâneo recursal, interpretação ampliativa das hipóteses do art. 1.015, sempre con-servando, contudo, a razão de ser de cada uma de suas hipóteses para não generalizá-las inde-vidamente. Mesmo para elas, contudo, prefiro não me arriscar a fazer prognósticos de nenhuma ordem. Seria querer infirmar, em abstrato, o que acabei de escrever” (Bueno, C. Scarpinella, Ma-nual de Direito Processual Civil, São Paulo: 2015, Saraiva, p. 760).

73 Segundo Daniel Amorim Assumpção Neves referido dispositivo é intrigante. “(...) A sofrível reda-ção não permite uma conclusão segura: nos autos eletrônicos é dispensável a informação em pri-meiro grau ou ela continua a existir, mas não é necessário se respeitar o prazo previsto nos dis-positivos?” E complementa o autor: “Numa interpretação literal dá-se a entender que a dispensa é apenas quanto ao prazo legal, mas nesse caso, questiona-se qual seria o prazo no caso con-creto? E que lógica teria se tratar de forma distinta, em termos de prazo, autos físicos e eletrô-nicos”? (Neves, Daniel Amorim Assumpção, Manual de Direito Processual Civil, Salvador: 2016, JusPodivm, p. 1570.)

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A falta de comunicação acarreta a inadmissibilidade do recurso, conforme já era previsto no CPC/73 (art. 1018, §3º, NCPC).

3.3 Procedimento e julgamento do agravo de instrumento:Após providências do art. 1019 do CPC, se for o caso, o relator solicitará

dia para julgamento no prazo não superior a um mês.Sobre o tema, vale ressaltar a possibilidade de sustentação oral durante

as sessões de julgamento nos tribunais, faculdade conferida às partes e ao MP nos agravos de instrumento tirados de decisões interlocutórias que versem sobre tutelas provisórias de urgência ou de evidência (art. 937, inciso VIII).

3.4 Paralelo com o CPC de 73:Dentre as mudanças significativas observadas no instituto examinado estão:

a) supressão do agravo retido; b) o aumento dos documentos obrigatórios para a formação do instrumento (art. 1.017, I)74; c) a redução dos pronunciamentos do relator (art. 1.019, I, II e III); d) a possibilidade de sustentação oral conferida às partes e ao MP no agravo de instrumento (inciso VIII do art. 973)75 e) a alteração do prazo recursal de 10 (dez) para (15) quinze dias úteis, a teor do art. 1003, § 5º e art. 212; g) a alteração do prazo para manifestação do Ministério Público, nos casos de sua intervenção, de 10 (dez) para (15) quinze dias úteis (art. 1.019, III).

4. Agravo interno (art. 1021):4.1 Cabimento:

O agravo interno é cabível em relação às decisões monocráticas e serve para que questão decidida pelo relator, em qualquer espécie de recurso, ação ou reexame necessário, seja levada ao colegiado da qual faz parte (art. 1.021, caput).

74 Além da cópia da decisão agravada, certidão de respectiva intimação e procurações outorgadas aos advogados das partes, que já eram tratadas como peças obrigatórias pelo CPC/1973, o Novo CPC determina a juntada de cópia da petição inicial, da contestação e da petição que ensejou a decisão agravada. No tocante ao processo eletrônico, destaca-se a previsão do art. 1.017, §5º, do CPC que cuida da dispensa do agravante de carrear aos autos as peças obrigatórias do Agravo de Instrumento. Tal dispensa, muito embora tenha a finalidade de afastar, no processo virtual, a juntada dos documentos obrigatórios que fica a cargo do recorrente no processo físico, evitando quiçá repetições desnecessárias, desconsidera o fato de a Procuradoria de Justiça não ter aces-so ao conteúdo das peças protocoladas em 1º grau pelas partes, o que dificulta sua manifestação nos autos como fiscal da lei. Talvez a disponibilização de senha de acesso ao processo de origem pelo relator do agravo no despacho de seu recebimento represente uma das possíveis soluções destinadas a resolver o mencionado óbice imposto ao membro do Ministério Público de 2ª ins-tância. No entanto, a jurisprudência e a doutrina ainda não examinaram e se pronunciaram sobre tal tema, merecendo aguardar uma posição mais consolidada formada por tais fontes do direito.

75 O CPC em seu art. 937, inciso VIII, admite a sustentação oral pelo Ministério Público nas sessões de julgamento dos recursos de agravo de instrumento tirados de decisões interlocutórias que ver-sem sobre tutelas provisórias de urgência ou de evidência.

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Essa delegação ao relator ocorre nas situações em que haja necessidade de decisão urgente ou por razões de economia processual (art. 932), mas pelo agravo se leva a decisão ao colegiado.

4.2 Procedimento:O prazo segue a regra geral de 15 (quinze) dias, contados em dias úteis

(art. 219).Na petição de agravo interno o recorrente deve, de modo dialético e espe-

cífico, expor os fundamentos da decisão agravada (art. 1.021, § 1º).Não basta, portanto, apenas repetir a fundamentação do recurso ou pedido.

No processamento deste recurso observe-se as regras do regimento in-terno dos Tribunais de Justiça.76 (art. 1.021, caput).

4.3 Julgamento:O agravo será dirigido ao relator, a quem caberá intimar o agravado para

se manifestar sobre o recurso no prazo de 15 dias. Findo este prazo e não ha-vendo retratação, o relator levará o recurso a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta (art. 1.021, § 2º).

A eventual retratação da decisão monocrática, em princípio, será prejudi-cial ao agravado, razão pela qual este deve ser intimado para se manifestar an-tes da decisão do relator, em observância ao disposto no artigo 9º, do CPC/73.77

A motivação do relator deve ser efetiva e não pode ser reprodução sim-ples dos fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno (art. 1.021, §3º).

Se o agravo for manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravan-

76 Regimento Interno do TJSP Assento Regimental 552 de 20106 – Art. 253. Salvo disposição em contrário, cabe agravo, sem efeito suspensivo, no prazo de quinze dias, das decisões monocráti-cas que possam causar prejuízo ao direito da parte. § 1º Esse recurso também terá cabimento em matéria administrativa prevista em lei e em questões disciplinares envolvendo magistrado. § 2º A petição conterá, sob pena de indeferimento liminar, as razões do pedido de reforma da decisão agravada. (§ 2º suprimido e § 3º renumerado como § 2º pelo Assento Regimental nº 552/2016). Art. 254. Na falta de peça ou comprometida a admissibilidade do agravo, por algum vício, o rela-tor concederá o prazo de cinco dias ao agravante para complementar a documentação ou sanar o vício.§ 1º Em recurso interposto por fac-símile ou similar, as peças devem ser juntadas no mo-mento de protocolo da petição original. § 2º Em se tratando de processo eletrônico, dispensam-se as peças obrigatórias e a declaração referida no art. 1.017, II, do CPC, facultando-se ao agra-vante anexar os documentos que entender necessários. Art. 255. O prolator da decisão impug-nada poderá reconsiderá-la; se a mantiver, colocará o feito em Mesa, independentemente de in-clusão em pauta, proferindo voto.

77 Artigo 9º: Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.

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te a pagar ao agravado multa fixada entre 1% e 5% do valor atualizado da cau-sa (art. 1.021, §4º).78

4.4 Observação:A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito

prévio do valor da multa prevista no § 4º, à exceção da Fazenda Pública e do be-neficiário de gratuidade da justiça, que farão o pagamento ao final (art. 1.021, §5º).

Segundo o doutrinador Daniel Amorim, em que pese ausência do Ministé-rio Público neste dispositivo legal, por uma questão de coerência, também deve ser isento do depósito da multa, por ser um órgão do Estado ou da União.

Outro aspecto a ser observado, embora não explicito no CPC, é, se tal como no direito anterior, seria exigível a interposição de agravo interno para es-gotamento de instância, de modo a permitir-se posterior interposição de recur-so especial e extraordinário.79

5. Embargos de declaração (arts.1022/1026):5.1 Cabimento:

O CPC deixa expresso o que já estava consolidado na jurisprudência: cabe embargos em relação “a qualquer decisão judicial” (art. 1.022, caput) e não ape-nas a sentença ou acórdão.

As hipóteses de cabimento são as seguintes: I- esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; II- suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; III- corrigir erro material.

A novidade, contudo, está no parágrafo deste mesmo dispositivo, pois re-afirmando a cultura dos precedentes e a busca pela unidade do direito, o CPC abre mais as possibilidades de cabimento.80

78 Há discussão sobre a constitucionalidade deste dispositivo, pois parte da doutrina entende que é uma forma de vedar o acesso aos Tribunais Superiores. De qualquer forma, ele foi inserido com o propósito de evitar a interposição do agravo interno de maneira desenfreada e abusiva. Contu-do, a lei não exige, nesta hipótese, o abuso do direito de recorrer, mas tão somente a improcedên-cia do recurso em votação unânime. Ocorre que a incidência da multa, nesta situação, acaba por sancionar um legítimo exercício de direito processual de recorrer. Também já há manifestações no sentido de que a expressão “manifesta” se refere tanto à inadmissibilidade quanto à improce-dência. Vide - Enunciado 358 do Fórum Permanente de Processualistas Civis - “A aplicação da multa prevista no art. 1.021, §4º, exige manifesta inadmissibilidade ou manifesta improcedência”.

79 Há quem levante esse questionamento, mas discorde francamente do rumo anterior dado pelo STJ no sentido dado ao ‘prévio esgotamento da instancia ordinária’, Conferindo: ‘Se a intenção e abreviar o exame dos recursos, eliminando a demora do julgamento colegiado, não há sentido em obrigar à interposição do agravo interno, sob pena de transformar – mais uma vez – a boa inten-ção do legislador em uma frustrante e penosa duplicação de recursos’ – Marinoni, Luiz Guilher-me et al. Novo Código de Processo Civil Comentado, São Paulo, RT, 2015.

80 O parágrafo único do art. 1.022: (i) quando deixe de se manifestar sobre tese firmada em julga-mento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob

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Na verdade, ao mencionar os diversos casos de inconsistência na deci-são judicial, o cabimento foi muito amplificado foi muito amplificado, conforme os enunciados nº 09 a 13 da ENFAM81 (Escola Nacional de Formação e Aperfei-çoamento de Magistrados).

5.2 Efeitos:Interrupção - A regra é da não suspensão, mas simples interrupção do pra-

zo para a interposição de outros recursos (art. 1.026, caput). Vale, ainda, ressal-tar que os embargos de declaração, ainda que sejam rejeitados, interrompem o prazo recursal.

Entretanto, se demonstrada a probabilidade de provimento do recurso ou a presença do fumus boni juris e do periculum in mora, tanto o juiz quanto o re-lator poderão dar aos embargos o efeitos suspensivo (art. 1026 § 1º).

O CPC pune com multa a interposição de embargos protelatórios82, regra especial em relação ao contido no inciso VII do art. 80 (litigância de má-fé),na hi-pótese de serem manifestamente protelatórios. O juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não ex-cedente a 2% sobre o valor atualizado da causa (art. 1.026, § 2º).

Na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa será elevada a até 10% sobre o valor atualizado da causa e a interpo-

julgamento; (ii) quando incorra em qualquer das condutas do art. 489, §1º. Sobre o Art. 489, §1º: Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I- se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem expli-car sua relação com a causa ou a questão decidida; II- empregar conceitos jurídicos indetermina-dos, sem explicar o motivo concreto de sua incidência ao caso; III- invocar motivos que se pres-tariam a justificar qualquer outra decisão; IV- não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V- se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem de-monstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI- deixar de seguir enun-ciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existên-cia de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.

81 Enunciados do ENFAM: 9) É ônus da parte, para os fins do disposto no art. 489, §1º, V e VI, do CPC, identificar os fundamentos determinantes ou demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento, sempre que invocar jurisprudência, preceden-te ou enunciado de súmula; 10) A fundamentação sucinta não se confunde com a ausência de fundamentação e não acarreta nulidade da decisão se forem enfrentadas todas as questões cuja resolução, em tese, influencie a decisão da causa; 11) Os precedentes a que se referem os inci-sos V e VI do §1º do art. 489 do CPC são apenas os mencionados no art. 927 e no inciso IV do art. 332; 12) Não ofende a norma extraível do inciso IV do §1º do art. 489 do CPC a decisão que deixar de apreciar questões cujo exame tenha ficado prejudicado em razão da análise anterior de questão subordinante; 13) O art. 489, §1º, IV, do CPC não obriga o juiz a enfrentar os funda-mentos jurídicos invocados pela parte, quando já tenham sido enfrentados na formação dos pre-cedentes obrigatórios.

82 Os parágrafos 2º, 3º e 4º do art. 1026 preveem a aplicação de sanção em etapas a quem utilize os embargos meramente protelatórios.

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sição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio de seu valor, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que a recolherão ao final (art. 1.026, § 3º).

Não serão admitidos novos embargos de declaração se os dois anteriores tiverem sido considerados protelatórios (art. 1.026, §4º). Sobre essa questão, há o enunciado nº 361 do Fórum Permanente de Processualistas Civis.83

5.3 Prequestionamento:Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante sus-

citou, para fins de prequestionamento, ainda que os embargos de declaração se-jam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade (art. 1.025).

Este dispositivo consagra a tese do prequestionamento ficto, o que não era admitido pelo STJ. Na verdade a Súmula 21184 se apresenta superada. O mes-mo ocorre com a Súmula 356 do STF85, abarcando demais hipóteses de embar-gos de declaração (contradição, obscuridade), reforçando, de qualquer modo, a necessidade da oposição desse recurso para que seja viabilizado o acesso aos Tribunais Superiores.

5.4 Procedimento:Devem ser interpostos no prazo de 5 (cinco) dias, sendo contado em dias

úteis (art. 219), em petição dirigida ao juiz, com a indicação do erro, obscurida-de, contradição ou omissão.

O prazo dos embargos de declaração é contado em dobro quando hou-ver litisconsortes com diferentes procuradores, desde que estes pertençam a di-ferentes escritórios de advocacia, conforme previsão do artigo 229, do CPC. O prazo não será em dobro caso se trate de processo eletrônico.

Subsiste a desnecessidade de preparo para fins de oposição dos embar-gos de declaração (art. 1.023, caput).

Aproveitando-se de precedentes o CPC consagrou a necessária manifes-tação do embargado, quando o eventual acolhimento dos embargos implicar em modificação da decisão embargada.

83 Enunciado 361, FPPC: “Na hipótese do art. 1.026, §4º, não cabem embargos de declaração e, caso opostos, não produzirão qualquer efeito”.

84 Súmula 211 do STJ: “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposi-ção de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal a quo”.

85 Súmula 356 do STF: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos decla-ratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”.

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5.5 Julgamento:O julgamento dos embargos deve ocorrer em 5 dias. (art. 1.024, caput).Quando de competência dos órgãos colegiados dos tribunais, o relator

apresentará os embargos em mesa na sessão subsequente, proferindo voto. Não havendo julgamento nessa sessão, será o recurso incluído em pauta auto-maticamente (art. 1.024, §1º).

Será monocrática a decisão quando os embargos de declaração forem opostos contra decisão de relator ou outra decisão unipessoal proferida em tri-bunal. É o órgão prolator da decisão quem decidirá os embargos (art. 1.024, §2º), não dependendo, pois de sessão colegiada. Os autores dizem que isso não cons-titui uma faculdade, mas um ato impositivo, implicando maior agilidade na apre-ciação do recurso e no andamento processual.

A fungibilidade dos embargos por agravo interno será possível quando se entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intima-ção do recorrente para, no prazo de 5 dias, complementar as razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1º do CPC.86

Trata-se de inovação do art. 1.024, §3º, do CPC, prestigiando a efetivida-de e a celeridade processuais, menor formalismo dos recursos e trazendo am-pla garantia de acesso à justiça às partes.

Verdadeiramente a fungibilidade é relativa, pois reconhecido pelo órgão julgador ser caso de agravo interno - hipótese destinada às situações em que a parte se vale dos embargos com nítida pretensão de reformar ou anular a deci-são recorrida, necessário que a parte adversa seja intimada para fazer as devi-das adequações, pena de o recurso não ser conhecido em razão da inobservân-cia dos requisitos legais do agravo interno.

5.6 Efeitos infringentes: Se o acolhimento dos embargos de declaração implicar modificação e o

embargado já tiver interposto outro recurso contra a decisão originária, terá ele o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modifi-cação, no prazo de 15 (quinze) dias. Este prazo é contado da intimação da deci-são dos embargos de declaração (art. 1.024, § 4º).

5.7 Ratificação de recursos prematuros:Se os embargos forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do julga-

mento anterior, o recurso interposto pela outra parte, antes da publicação do jul-gamento dos embargos de declaração, será processado e julgado independen-temente de ratificação (art. 1.024, § 5º).

86 Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal. § 1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os fundamentos da decisão agravada.

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Esse dispositivo afasta de vez o teor da súmula 418 do STJ.87 Aliás, can-celada por decisão do próprio STJ, o que deu ensejo a Sumula 579: “não é ne-cessário ratificar o recurso especial interposto na pendência do julgamento dos embargos de declaração quando inalterado o julgamento anterior”.

6. Recursos: Especial e Extraordinário (art.1029/1035):6.1 Prequestionamento:

A excepcionalidade dos recursos às Cortes Superiores exige o preques-tionamento da matéria.

Diz-se, então, que só pode ser objeto do recurso excepcional questão fe-deral/constitucional suscitada/analisada na instância inferior. A interpretação uni-forme da Constituição Federal e da legislação infraconstitucional, amplia a se-gurança jurídica e evita decisões contraditórias, máculas à justiça e equidade.

A boa técnica exige o prequestionamento explícito, por essa razão é recomendável, pois que o prequestionamento seja feito em várias oportunida-des, suscitando o Poder Judiciário a enfrentar as questões. Em outras palavras se possível desde a petição inicial deve-se começar a prequestionar a matéria de direito, propiciando eventual subida aos Tribunais Superiores, com maior ên-fase na apelação e também nos embargos de declaração.

Aceitável, contudo o prequestionamento implícito, isto é, o tribunal de ori-gem, apesar de se pronunciar explicitamente sobre a questão federal controverti-da, não o faz mencionando expressamente o dispositivo legal ou constitucional. 88

Há ainda o prequestionamento ficto, aquele que decorre da simples in-terposição dos embargos declaratórios diante da omissão judicial, contradição e obscuridade (art. 1.025). Para o STF esse prequestionamento dar-se-ia inde-pendentemente do êxito desses embargos, com franca relativização da Súmula 35689. Contudo, tal posicionamento não encontrou eco no STJ, diante da conso-lidação da Súmula 21190, aplicada reiteradamente na Corte para obstar o conhe-cimento do recurso especial.

87 Súmula 418 do STJ: “É inadmissível o recuso especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação”.

88 Contudo, não se considera prequestionada quando a matéria foi ventilada somente no bojo do voto vencido (S. 320 STJ).

89 Súmula 356 do STF: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos decla-ratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”.

90 Súmula 211 do STJ: “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da opo-sição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo”. “Resta superada o STJ 211, porque a parte pode, sim, atacar diretamente, por RESP, a questão federal não decidida, a despeito de haverem sido opostos EmbDcl para que o Tribunal a decidisse”. Nery Junior e outro. Código de Processo Civil, 16a ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: RT, 2016, p. 2292.

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6.2 Prazo:O prazo é de 15 dias úteis (art. 1.003, § 5º).Para o MP o prazo é em dobro, iniciando-se da intimação pessoal (art.

180). Também gozam de prazo em dobro a União, Estados, DF, Municípios, res-pectivas autarquias e fundações de direito público (art. 183), bem como a De-fensoria Pública (art. 186).

Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de ad-vocacia distintos, terão prazo em dobro para todas as suas manifestações. (art. 229). Todavia, a lei excepciona essa regra em duas situações: a) quando apenas um dos réus oferece defesa; b) nos processos eletrônicos.

6.3 Interposição Simultânea de Recurso Extraordinário e Recurso Especial:

Interpostos perante o Tribunal de origem, os autos seguem primeiramen-te ao STJ e, somente depois do julgamento do RESP, serão encaminhados ao STF para o julgamento do RE.

Contudo, o relator do STJ pode considerar o RE prejudicial do julga mento do próprio RESP, caso em que o remeterá ao STF. Em face dessa decisão não cabe recurso, porém o relator do RE, poderá rejeitar prejudicialidade invocada, devolvendo os autos para que seja julgado o RESP.

6.4 FungibilidadeO CPC permite a fungibilidade recursal.91

No Superior Tribunal de Justiça: Ao analisar o RESP, o relator pode en-tender que o recurso especial verse questão constitucional. Neste caso, abrirá vista ao recorrente para que, em 15 dias demonstre a existência de repercus-são geral e se manifeste sobre a questão constitucional, remetendo o recurso ao STF para julgamento.

O STF, por sua vez, ao receber a remessa feita pelo STJ terá duas possi-bilidades: a) julgamento do recurso e b) devolução dos autos ao STJ (art. 1032, parágrafo único).

No Supremo Tribunal Federal: Ao analisar o RE, o relator pode conside-rar a ofensa reflexa à Constituição. Neste caso remeterá o recurso ao STJ, que o julgará como recurso especial, dispensando-se a abertura de vista às partes.

Nota: Considera-se ofensa reflexa à Constituição Federal quando houver necessidade de revisão da interpretação de lei ou tratado, (art. 1033). O referi-do dispositivo é a normatização da consagrada Súmula 636 do STF:“Não cabe RE por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade, quando sua ve-rificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão recorrida”.

91 Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

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6.5 Primazia da decisão de mérito: (Art. 1029, § 3). O Presidente do Tribunal Superior pode desconsiderar eventual vício for-

mal que não repute grave92 em recurso tempestivo ou determinar sua correção.Caso determine a correção do vício, deverá ser concedido ao recorrente

o prazo de 5 dias, nos termos do art. 932, parágrafo único.Sobre tema, o Fórum Permanente de Processualistas Civis editou 2 enun-

ciados: Enunciado 21993 e Enunciado 22094.

6.6 Interesse Processual:O objetivo do recurso de modo mais didático foi explicitado no inc. III do

art. 1029 do CPC, de sorte que ou o recorrente almeja a reforma ou pretende a invalidação da decisão recorrida.

6.7 Recurso Especial (art. 105, III, alíneas a, b, c da CF):O recurso especial é cabível nas causas decididas em única ou última ins-

tância por tribunal, estadual ou federal. Seu objetivo fundamental é preservação da unidade e uniformidade do di-

reito federal, bem por isso não se imagine como correto o cabimento do RESP fundado em violação de enunciados de súmulas (S. 518 STJ).

De acordo com as alíneas do inciso III do artigo 105 da Constituição Fede-ral o reexame fica adstrito à matéria jurídica, defeso a rediscussão de fatos ou provas.95 Exige-se clara indicação dos dispositivos supostamente violados, de-monstração de afronta aos dispositivos invocados e/ou que o acórdão tenha dado ao caso interpretação divergente da antes adotada por outro tribunal.

6.7.1 Hipóteses de cabimento:Alínea a - Contrariar tratado, lei federal ou negar-lhes vigência.Contrariar significa não observar o preceito legal contido no tratado ou na

lei federal, e negar vigência exprime a ideia de deixar de aplica, afastar a aplica-ção ou declarar que a norma encontra-se revogada.

Alínea b - Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal.

Evidentemente ao referir-se a “atos de governo local” não se está falan-do de ato produzido por casas legislativas, mas sim de atos administrativos de quaisquer dos poderes (ex: decreto estadual) contestada em face de lei federal.

92 Conceito de vício grave e que seria considerado insanável. A lei não trata, contudo especifica que essa correção somente se dará no caso de recurso tempestivo, ou seja, recurso intempestivo é um exemplo de vício insanável.

93 Enunciado 219 FPPC –“O relator ou órgão colegiado poderá desconsiderar o vício formal de re-curso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não repute grave”.

94 Enunciado 220 FPPC –“O STF ou o STJ inadmitirá o RE ou RESP quando o recorrente não sa-nar o vício formal de cuja falta foi intimado para corrigir”.

95 Súmula nº 7 do Superior Tribunal de Justiça: “A pretensão de simples reexame de prova não en-seja recurso especial”.

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Alínea c - Der a lei federal interpretação divergente da que haja atri-buído outro tribunal.

Além de indicar o dispositivo de lei federal deve mostrar o recorrente que a interpretação diverge daquela dada por outro tribunal. Entenda-se que a deci-são paradigma pode ser inclusive do STJ ou do STF, só não poderá ser de outra câmara do próprio tribunal recorrido96.

É imprescindível a demonstração analítica da divergência97. O cotejo ana-lítico deve mencionar as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os ca-sos confrontados.

6.7.2 Dissídio jurisprudencial: Exatamente sobre a alínea “c”, há quatro formas de provar a divergência

(art. 1029, § 1º, do CPC), a saber:a) com a certidão; b) com a cópia (não precisa ser mais autenticada); c)

com a citação do repositório de jurisprudência em que houver sido publicado o acórdão divergente; d) com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de computadores com a indicação da respectiva fonte.

Nota: O RISTJ esclarece que o repositório de jurisprudência98 pode ser oficial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica em que houver sido publi-cado o acórdão divergente – art. 255, § 1º.

6.8 Recurso extraordinário (art. 102, inciso III, alíneas a, b, c, d):O recurso extraordinário é cabível nas causas decididas em única ou úl-

tima instância. Sua finalidade é impedir as decisões judiciais contrárias à Constituição

Federal, garantindo-se assim a uniformidade na interpretação e mantendo a se-gurança jurídica.

Por conta dessa previsão, nas decisões proferidas por Colégio Recursal de Juizado Especial Cível somente será admissível recurso extraordinário.

Trata-se de recurso adstrito ao reexame da matéria jurídica, sendo defeso para rediscussão de fatos ou provas99.

96 Súmula nº 13 do Superior Tribunal de Justiça: “A divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja recurso especial”.

97 Súmula nº 83 do Superior Tribunal de Justiça: “Não se conhece do recurso especial pela diver-gência quando a orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida”.

98 RISTJ, artigo 255 (...) § 3º “São repositórios oficiais de jurisprudência, para o fim do § 1º des-te artigo, a Revista Trimestral de Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a Revista do Superior Tribunal de Justiça e a Revista do Tribunal Federal de Recursos e, autorizados ou credenciados, os habilitados na forma do art. 134 e seu parágrafo único deste Regimento”.

99 Súmula nº 279 do Supremo Tribunal Federal: “Para simples reexame da prova não cabe recur-so extraordinário”.

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6.8.1 Hipóteses de cabimento (art.102, inc.III, alíneas a,b,c,d):Alínea a - Contrariar dispositivo da Constituição Federal.Contrariedade, negativa de vigência ou interpretação que também não dê

a norma constitucional a melhor interpretação, ainda que a dada seja razoável. O STF não admite ofensa indireta à norma constitucional, exigindo que a

violação afirmada seja direta.Alínea b - Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal. Pela via difusa qualquer órgão do poder judiciário pode manifestar-se so-

bre a inconstitucionalidade de uma lei ou norma.Logo, as partes podem no bojo dos processos em geral pleitear o reco-

nhecimento pelo tribunal inferior (CF, art. 97) de inconstitucionalidade de dispo-sitivo de tratado ou de lei federal, quando então aberta a via do recurso extraor-dinário. Contudo, isso não se confunde com a hipótese na qual o acórdão recor-rido afirme a constitucionalidade do tratado ou lei federal, pois aí o recurso ex-traordinário não será cabível.

Alínea c - Julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição Federal.

Será cabível o recurso extraordinário caso o acórdão julgue a validade de lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição Federal. Esta hipóte-se, porém não é válida caso o acórdão declare a inconstitucionalidade de lei local.

Alínea d - Julgar válida lei local contestada em face de lei federal (art. 102, inc.III, alínea d)

Esta hipótese passou a desafiar recurso extraordinário após a emenda constitucional 45/04, antes era cabível somente o recurso especial. Isso sempre que uma decisão julgar válida lei municipal ou estadual, contestada em face de lei federal. Assim, quando se tratar de competência legislativa do Município ou do Estado que desafie a competência legislativa da União, justifica-se a atração da decisão para o Supremo Tribunal Federal, pois a questão da competência le-gislativa é sim matéria de ordem constitucional.

6.8.2 Repercussão geral:É preciso considerar que no trato do RE é exigível a demonstração da exis-

tência de repercussão seja do ponto de vista econômico, político, social ou jurí-dico, isto é, aquelas que ultrapassem os interesses subjetivos do processo. (art. 1.035, § 1º do CPC é similar ao art. 543-A, § 1º do CPC/73).

É ônus do recorrente demonstrar a reper cussão geral. O artigo 1.035, § 3º estabelece hipóteses de presunção da repercussão geral quando o recurso impugnar acórdão que: a) reconhece a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal , nos termos do art. 97, CF e b) con trarie súmula ou jurisprudência domi-nante do STF.

A decisão sobre a existência ou não de repercussão geral é exclusiva do STF (art. 1035, § 2º). Há semelhança com o art. 543-A, § 2º do CPC/73, mas

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com uma única alteração, qual seja, a de ser exigível a arguição da repercussão geral em sede preliminar do RE.100

Antes mesmo da admissão, pode o relator ouvir “amicus curiae” (art. 1035, § 4º do CPC).

A grande novidade é que se reconhecida a repercussão geral o relator de-terminará a suspensão de todos os processos pendentes, individuais ou coleti-vos que versem sobre a questão e tramitem no território nacional (art. 1035, § 5º).

De qualquer modo o interessado pode pugnar pela não extensão dessa decisão sobre seu recurso, requerendo ao presidente do Tribunal a quo que ex-clua do sobrestamento o recurso extraordinário, demonstrando o equívoco do sobrestamento, por exemplo, pela distinção das causas envolvidas ou mesmo quando tenha sido determinado sobrestamento de recurso interposto intempes-tivamente, o que seria de todo inútil e apenas impediria o inexorável trânsito em julgado. Da decisão que indefere a exclusão cabe agravo do art. 1042 do CPC.

A repercussão caso seja negada repercutirá no seguimento dos recursos mantidos sobrestados art. 1036, § 8º do CPC.

6.9 Juízo de admissibilidade dos recursos excepcionais (art. 1030 do CPC):

A interposição dos recursos deve ser feita em 15 dias úteis, salvo prazos mais dilatados (v.g MP), perante o presidente ou vice-presidente do tribunal a quo, a quem caberá fazer o prévio juízo de admissibilidade.

Apresentada as contrarrazões e nos casos em que o MP estiver como fis-cal da ordem jurídica após a sua manifestação, os autos serão conclusos ao pre-sidente ou vice-presidente.

6.10 Juízo de admissibilidade no Tribunal de origem:O presidente do Tribunal a quo a quem compete fazer o juízo de admissibi-

lidade dos recursos extraordinários, poderá adotar uma das seguintes decisões:

a) negar seguimento: 1) Ao RE quando a questão constitucional versa-da já tiver sido considerada pelo STF como ausente de repercussão geral; 2) Ao RE quando o acórdão recorrido estiver em conformidade com o entendimento do STF exarado em repercussão geral; 3) Ao RE e RESP quando o acórdão re-corrido estiver em conformidade com o entendimento do STF ou STJ, exarado no regime de recurso repetitivo;

b) encaminhar a câmara julgadora para juízo de retratação - quando o acórdão recorrido divergir do entendimento fixado pelo STF ou STJ nos regimes de repercussão geral e recurso repetitivo respectivamente;

100 Neste sentido, o Enunciado 224 do FPPC: “A existência de repercussão geral terá de ser de-monstrada de forma fundamentada, sendo dispensável sua alegação em preliminar ou em tó-pico específico”.

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c) sobrestar o recurso - quando a questão versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda pendente de julgamento no âmbito do STF ou STJ. – Ne-gada a repercussão o Presidente do TJ negará seguimento aos recursos extra-ordinários sobrestados na origem (art. 1036, § 8º);

d) selecionar o recurso com representativo de controvérsia - desde que ele esteja de acordo com o § 6º do artigo 1036;

e) admitir o recurso - quando: 1) o recurso ainda não tiver sido subme-tido ao regime de repercussão geral ou de julgamento de recurso repetitivo; 2) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia; 3) o tribu-nal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.

Nesta fase o interessado poderá apresentar recurso da decisão:

a) que não admite no juízo de admissibilidade - agravo do art. 1042, salvo quando fundado na aplicação de entendimento fixado em regime de reper-cussão geral ou julgamento de recursos repetitivos.

b) que nega seguimento ao recurso em razão do inciso I (questão con-solidada) ou sobrestar o recurso – cabe agravo interno previsto no artigo 1021.

6.11 Juízo de admissibilidade nos Tribunais Superiores: 101

- Distribuído o recurso, o relator, após vista ao MP, se necessário, pelo prazo de vinte dias, poderá: (art. 255,§ 4º, do RISTJ)

I - não conhecer do recurso especial inadmissível, prejudicado ou da-quele que não tiver impugnado especificamente todos os fundamentos da deci-são recorrida; (dialeticidade)

II - negar provimento ao recurso especial que for contrário a tese fixa-da em julgamento de recurso repetitivo ou de repercussão geral, a entendimen-to firmado em incidente de assunção de competência, a súmula do Supre-mo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça ou, ainda, a juris-prudência dominante sobre o tema;

Obs: Mais abrangente do que o artigo 1030, I, do CPC.III - dar provimento ao recurso especial se o acórdão recorrido con-

trariar tese fixada em julgamento de recurso repetitivo ou de repercussão geral, a entendimento firmado em incidente de assunção de competência, a súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça ou, ainda, a juris-prudência dominante sobre o tema;

Não ocorrendo nenhuma dessas hipóteses, o recurso será remetido a Turma que preliminarmente verificará se o recurso é cabível. Decidida pela

101 A referência exclusiva ao recurso especial dá-se porque até a presente data – do fechamento do trabalho o Supremo Tribunal Federal ainda não havia adequado o regimento interno ao Có-digo de Processo Civil vigente.

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negativa, a Turma não conhecerá do recurso, se cabível julgará o recurso, aplicando o direito à espécie, (art. 257 do RISTJ).

6.12 Efeitos:Suspensivo: Em regra esses recursos não possuem esse efeito. Contudo

o interessado poderá requerer em petição apartada que deverá ser dirigida ao:

a) Tribunal Superior se requerido entre a publicação da decisão de admis-são do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo;

b) Presidente ou vice-presidente do Tribunal recorrido, no período compre-endido entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso do recurso ter sido sobrestado (art. 1029, § 5º).102

Devolutivo/Translativo: Admitido o recurso por um fundamento, devolve-se ao Tribunal Superior o conhecimento dos demais para a solução do capítulo impugnado. (art. 1034).103 Os Tribunais Superiores não apenas fixam tese, mas julgam a causa. (Art. 1034, caput: = a Súmula 456 do STF): “Supremo Tribu-nal Federal, conhecendo do recurso extraordinário, julgará a causa, aplicando o direito à espécie”.

7. Julgamento em Recurso (Extraordinário e Especial) Repetitivo:7.1 Cabimento:

De acordo com o artigo 1.036, caput, do CPC, diante da multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com fundamento em idêntica questão de direito, deverá haver afetação para julgamento da questão controvertida.

O objetivo do julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos é dar solução uniforme e segurança jurídica para as demandas repetitivas ou de-mandas de massa.

102 Pelo que se compreende, dado que não mais existe ações cautelares em princípio superadas as SÚMULA 634: “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de admissibi-lidade na origem”. SÚMULA 635: “Cabe ao Presidente do Tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo de admissibilidade”.

103 O CPC explicitou aquilo que já se conhecia como efeito translativo, isto é, além dos fundamen-tos arguidos pelo recorrente, os demais fundamentos eventualmente existentes para a solução da questão impugnada poderão ser conhecidos igualmente, sendo, pois transladados ao conhe-cimento da Corte. MARINONI, Luiz Guilherme e outro, op cit, p. 975.

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É cabível, assim, para o exame de questões que acarretem ofensa a direi-to individual ou coletivo e atinjam considerável número de pessoas de forma se-melhante, e, por conta disso, ensejam o ajuizamento de multiplicidade de ações em que se discute idêntica matéria de direito.

7.2 Competência:A competência para o julgamento do recurso extraordinário (RE) e do re-

curso especial (REsp) repetitivos, pertence, respectivamente, ao Supremo Tri-bunal Federal (STF) e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ)104, observado o disposto nos seus Regimentos Internos (artigo 1.036, caput, CPC).

7.3 Legitimidade:De acordo com o § 1º do artigo 1.036, o presidente ou vice-presidente de

Tribunal de Justiça105 ou de Tribunal Regional Federal deverá selecionar dois ou mais recursos representativos da controvérsia, encaminhando-os ao STF ou STJ para fins de afetação.

A escolha do presidente ou vice-presidente não vincula o relator no tribu-nal superior, que poderá selecionar outros recursos que representem melhor a controvérsia (§ 4º).

Além disso, o relator no tribunal superior também poderá selecionar dois ou mais recursos representativos da controvérsia, independentemente da inicia-tiva do presidente ou do vice-presidente do tribunal de origem (§ 5º).

104 O STJ já adequou o Regimento Interno (Emenda Regimental nº 22). O STF, entretanto, ainda não deliberou sobre a questão.

105 O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já promoveu a alteração de seu Regimento Inter-no, (https://esaj.tjsp.jus.br/gcnPtl/downloadNormasAbrirConsulta.do) prevendo o procedimento a ser adotado em razão da comunicação da decisão de afetação pelos Tribunais Superiores. Art. 257. Recebido o ofício dos Tribunais Superiores comunicando a admissão da existência de Reper-cussão Geral ou de Recurso Repetitivo, o Presidente do Tribunal ou da Seção, conforme o caso determinará a suspensão dos recursos extraordinário e especial correspondentes, certificando-se nos autos, que serão encaminhados ao setor próprio, até o pronunciamento definitivo. § 1º As matérias dos recursos paradigmas constarão de lista específica, devidamente identificada por tese numerada, ementa e números dos processos. § 2º Do despacho de suspensão constarão: I - o número do processo paradigma, sua ementa, a numeração da tese controvertida e a corte superior; II - a adequação da controvérsia ao recurso paradigma, a ementa e numeração. § 3º Os feitos suspensos deverão ser inseridos em sistema de informática, que conterá: I - despacho de suspensão; II - número do processo; III - ementa; IV - numeração da tese; V - corte superior. § 4º A Secretaria do Órgão Especial ou a Coordenadoria dos Recursos Especiais e Extraordinários das Presidências de cada Seção, conforme o caso é responsável pelo acompanhamento sema-nal dos recursos paradigmas. Art. 258. Julgado o recurso paradigma e juntada cópia do acór-dão nos autos, o Presidente do Tribunal ou da Seção competente, após o juízo de admissibilida-de dos recursos extraordinário ou especial, cumprirá o disposto nos arts. 1.040 e 1.041 do CPC.

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7.4 Efeitos da decisão:Após a seleção de recursos representativos da controvérsia, o tribunal de

origem determinará a suspensão do trâmite de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitem no Estado ou na região, conforme o caso.

Essa suspensão fica atrelada à efetiva afetação do recurso no âmbito do STF ou STJ (§ 1º, do artigo 1.036). Entretanto, há possibilidade do interessado requerer ao presidente ou ao vice-presidente a exclusão da decisão de sobres-tamento e a imediata não admissão de recurso especial ou o recurso extraordi-nário quando interposto intempestivamente. Da decisão que indeferir o requeri-mento caberá agravo interno (art. 1.036, § 3º).

Encaminhados os recursos ao tribunal superior, caso haja decisão de afe-tação pelo relator no tribunal superior, haverá a suspensão do processamen-to de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional (artigo 1.037, § 1º).

Note-se, portanto, que, proferida a decisão de afetação, não só os proces-sos que tramitam no Estado ou região de onde foram encaminhados os recursos representativos da controvérsia serão suspensos, mas todos os processos no território nacional que versem sobre a mesma questão controvertida.

7.5 Distinguishing: técnica de distinção (artigo 1.037, §§ 9º a 12, CPC):Determinada a suspensão, as partes devem ser intimadas da decisão de

afetação pelo Tribunal Superior (artigo 1.037, § 8º).De acordo com o artigo 1.037, § 9º a 13, podem as partes requerer o pros-

seguimento do seu processo, demonstrando a distinção entre a questão a ser decidida no seu processo e aquela a ser julgada no recurso especial ou extraor-dinário objeto da decisão de afetação.106

A distinção, nessa hipótese, se dá mediante a demonstração pela parte de que o caso em debate possui peculiaridades que o distinguem do caso sub-metido a julgamento de recurso repetitivo, e por isso o processo não comporta suspensão.

Para obter o prosseguimento do processo, a parte deve formular um re-querimento que será dirigido a autoridades diversas107. Posteriormente, formado o contraditório com a intimação da parte contrária e acolhido o pedido, ou seja,

106 Enunciado nº 348, do FPPC: Os interessados serão intimados da suspensão de seus processos individuais, podendo requerer o prosseguimento ao juiz ou tribunal onde tramitarem, demons-trando a distinção entre a questão a ser decidida e aquela a ser julgada no incidente de resolu-ção de demandas repetitivas, ou nos recursos repetitivos.

107 (i) ao juiz, se o processo sobrestado estiver em primeiro grau; (ii) ao relator, se o processo so-brestado estiver no tribunal de origem; (iii) ao relator do acórdão recorrido, se for sobrestado re-curso especial ou recurso extraordinário no tribunal de origem; (iv) ao relator, no tribunal superior, de recurso especial ou de recurso extraordinário cujo processamento houver sido sobrestado.

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aceita a distinção, o processo volta a tramitar com observância das variáveis pre-vistas no § 12º do art. 1037.

A decisão que resolve a distinção (acolhendo ou rejeitando) é recorrível por agravo de instrumento, se proferida pelo juízo da primeira instância108, ou por agravo interno se proveniente de ato do relator no âmbito de quaisquer Tribunais, inclusive os Superiores (§ 13º do art. 1037).

7.6 Procedimento:109

O artigo 1.036 determina inicialmente a seleção de pelo menos dois re-cursos pelos Tribunais de Justiça ou Regionais Federais para envio aos Tribunais Superiores (§ 1º), que poderão selecionar outros (§§ 4º e 5º). A seleção deve ser feita apenas em relação aos recursos admissíveis que contenham abrangente argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida (art. 1036, § 6º).

Selecionados os recursos, o relator do Tribunal Superior proferirá uma de-cisão de afetação e, após, adotará as providências descritas nos incisos do arti-go 1.037: (I) Identificará com precisão a questão a ser submetida a julgamento110; (II) Determinará a suspensão do processamento de todos os processos penden-tes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no territó-rio nacional; (III) Poderá requisitar aos presidentes ou aos vice-presidentes dos tribunais de justiça ou dos tribunais regionais federais a remessa de um recurso representativo da controvérsia.

Já se a decisão for pela não afetação, o relator do recurso repetitivo no âmbito do STF ou do STJ comunicará o fato aos presidentes ou vice-presiden-tes dos Tribunais de segunda instância para revogação da decisão de suspen-são prevista no § 1º do artigo 1.036.

7.7 Julgamento:Para efetuar o julgamento de recurso extraordinário ou especial repetitivo,

o artigo 1.038 do CPC autorizou ampla participação de terceiros intervenientes na qualidade de “amicus curiae”, seja pela manifestação de pessoas, órgãos ou entidades, desde que tenham interesse na controvérsia (inciso I). Há possibilida-de de prévia participação em sede de audiências públicas (inciso II).

108 Enunciado 364, do FPPC: O sobrestamento da causa em primeira instância não ocorrerá caso se mostre necessária a produção de provas para efeito de distinção de precedentes.

109 Marinoni e outros: O procedimento que visa a solução dos recursos repetitivos obedece a cinco estágios distintos: i) seleção de recursos fundados em idêntica controvérsia de direito (art.1036, CPC); ii) afetação da questão como repetitiva (ar. 1037,CPC); iii) instrução da controvérsia (art. 1038, CPC); iv) decisão da questão repetida (art. 1038, par. 3º, CPC); v)irradiação dos efeitos da decisão para casos repetitivos (art. 1039 e 1041, CPC) (Op. cit, p. 980).

110 A Lei nº 13.256/16 revogou o § 2º do art. 1.307 que vedava o julgamento de questão não delimi-tada na decisão de afetação.

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Após essa etapa, e requisitadas informações aos tribunais inferiores a res-peito da controvérsia, o Ministério Público será intimado para manifestar-se so-bre a questão objeto da decisão de afetação no prazo de quinze dias (inciso III).

Transcorrido o prazo, haverá inclusão em pauta de julgamento, que terá preferência sobre os demais feitos, salvo os relativos a réu preso ou pedido de habeas corpus.

Decididos os recursos repetitivos afetados, os órgãos colegiados decla-rarão prejudicados os demais recursos versando sobre idêntica controvérsia ou os decidirão aplicando a tese firmada (art. 1.039, caput).

E no caso do recurso extraordinário, negada a existência de repercussão geral, os recursos que estavam sobrestados serão automaticamente tidos por não admitidos.

7.8 Efeitos da publicação do acórdão paradigma (artigo 1.040, CPC):Após a publicação do acórdão paradigma poderá ocorrer uma das seguin-

tes circunstâncias: (a) O acórdão recorrido coincidir com a orientação do Tribunal Superior:

O presidente ou vice-presidente do tribunal de origem negará seguimento aos recursos especiais ou extraordinários sobrestados (inciso I);

(b) O acórdão recorrido contrariar a orientação: O órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem, deverá reexaminar o processo de competência originária, a remessa necessária ou o recurso anteriormente julgado (inciso II);

(c) Os processos (em primeiro ou segundo graus) suspensos: retomarão o curso para julgamento e aplicação da tese firmada pelo tribunal superior (inciso III);

(d) No caso de questão relativa à prestação de serviço público objeto de concessão, permissão ou autorização: o resultado do julgamento será comuni-cado ao órgão, ao ente ou à agência reguladora competente para fiscalização da efetiva aplicação da tese adotada, por parte dos entes sujeitos a regulação (inciso IV).

Mesmo sem estar expressa, há nítida tendência em atribuir força vinculante ao entendimento firmado pelos Tribunais Superiores nos julgamento dos recursos extraordinário e especial repetitivos, principalmente em razão do disposto no arti-go 927, inciso III e do artigo 489, inciso VI. Sendo assim, os juízes e tribunais de-verão aplicar a tese firmada, ou, não aplicando, deverão fundamentar a decisão.

Nesse sentido, mantido acórdão divergente pelo tribunal de origem (com fundamento na distinção, por exemplo), o tribunal deverá remeter o recurso es-pecial ou extraordinário ao respectivo tribunal superior (art. 1.041 do CPC).

Todavia, na adequação da tese fixada no repetitivo, o Tribunal de origem não se retrate, mas ao contrário modifique o acórdão recorrido sob outros fun-damentos, de modo a tornar obsoleto o recurso especial, deve o interessado in-terpor embargos declaratórios ou novo recurso especial.

Neste sentido: “a retratação exija o enfrentamento de questões não deci-didas anteriormente, devendo o Tribunal proceder à sua análise. (...) Esse novo

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acórdão, consequência da retratação do tribunal de origem, pode ser impugna-do, em tese por Edcl ou por novo RESP/RE, caso estejam presentes os pressu-postos constitucionais. A reclamação poderá, em tese, ser admissível, caso o entendimento do STJ ou STF no RE ou no RESP representativo da controvérsia não tenha sido corretamente aplicado, pelo Tribunal local”. E prossegue mencio-nando que: “Se o recurso versar sobre questões que não façam parte da contro-vérsia decidida no processamento de recursos repetitivos, então o RE ou RESP deve ser remetido ao tribunal superior correspondente, já que essas questões não se encontram abarcadas pelo acórdão paradigma”.111

Caso seja realizado o juízo de retratação, com alteração do acórdão di-vergente ao paradigma julgado, o tribunal de origem, decidirá as demais ques-tões ainda não estabelecidas, cujo enfrentamento se tornou necessário em de-corrência da retratação.

Mecanismo de pacificação o § 1º, do artigo 1.040 prevê a possibilidade do autor desistir da ação em curso no primeiro grau de jurisdição, antes de proferi-da a sentença, caso a questão discutida for idêntica àquela resolvida no julga-mento do recurso repetitivo, independentemente de consentimento do réu. Caso tal conduta seja realizada antes da contestação, a parte ficará isenta do paga-mento de custas e de honorários de sucumbência.

7.9 Recursos cabíveis:No âmbito do julgamento dos recursos extraordinário e especial repetiti-

vos, são cabíveis os seguintes recursos:a) Agravo interno (artigo 1.036, § 3º): contra a decisão que rejeita o re-

querimento de exclusão da decisão de sobrestamento e a imediata inadmissão de recurso especial ou extraordinário em razão do recurso ter sido interposto in-tempestivamente;

b) Agravo de instrumento (artigo 1.037, § 13): contra a decisão que deci-de (acolhe ou rejeita) o requerimento de distinção, caso o pronunciamento seja feito pelo juízo de primeira instância;

c) Agravo interno (artigo 1.037, § 13): contra a decisão que decide (acolhe ou rejeita) o requerimento de distinção, caso o pronunciamento seja provenien-te de ato monocrático no âmbito de quaisquer Tribunais, inclusive os Superiores.

7.10 Descumprimento da decisão - Ação rescisória112 e Reclamação: O parágrafo 5º do artigo 966 prevê o cabimento de ação rescisória con-

tra decisão transitada em julgado, baseada em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento.

111 Nery, Nelson e outro. Código de Processo Civil Comentado, São Paulo: RT, 16ª edição, p.2389112 Os § 5º e 6º foram incluídos pela Lei nº 13.256/16.

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Logo, a ação rescisória caberá contra a decisão que aplicou de forma in-correta o precedente, ao não realizar o distinguishing, ou seja, que decidiu com base no precedente, mas utilizou fundamentos que justificariam, na realidade, a sua distinção.

Nesta hipótese, dispõe o § 6º que caberá ao autor, sob pena de inépcia, demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de situação particularizada por hipó-tese fática distinta ou de questão jurídica não examinada, a impor outra solução jurídica. Deste modo, a petição inicial deverá especificar os fundamentos (fáti-cos ou jurídicos) omitidos na decisão questionada, que levariam à distinção do precedente que foi utilizado, sob pena de indeferimento.

Além disso, cabe Reclamação ao STF e ao STJ113 para garantir a obser-vância de precedente em acórdão proferido em julgamento de recursos extraor-dinário ou especial repetitivos.

7.11 Observações:Pela Resolução nº 160 de 2012 do Conselho Nacional de Justiça foram

instituídos os Núcleos de Repercussão Geral e Recursos Repetitivos (NU-RER) encarregados de auxiliar no gerenciamento dos processos submetidos à sistemática da Repercussão Geral e dos Recursos Repetitivos.

O Tribunal de Justiça de São Paulo criou cinco NURERs114, vinculados à Presidência, Vice-Presidência e às Seções de Direito Público, Direito Privado e Direito Criminal (Resolução CSM 2019, de 2012). Aos núcleos cabem uniformi-zar e informatizar o procedimento de gestão dos processos submetidos à siste-mática da repercussão geral e recursos repetitivos, subsidiar a seleção dos re-cursos representativos da controvérsia pelos órgãos competentes, e monitorar os recursos dirigidos aos Tribunais Superiores.

Por isso, a ampla publicidade da decisão de afetação tem especial relevân-cia, devendo as partes buscar informações a respeito do tema em debate para que, se for o caso, requererem a distinção quando cabível, evitando que o pro-cesso fique suspenso desnecessariamente. Tal publicidade deverá ser realiza-da, por analogia de acordo com as diretrizes dos artigos 979 e seus §§ 1º e 2º e também o artigo 927 § 5º do CPC.

8. Agravo em recurso especial e recurso extraordinário (art. 1.042):8.1 Cabimento:

Cabível contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal re-corrido que não admitiu recurso extraordinário ou o recurso especial, salvo quan-

113 Inciso IV e § 4º do art. 988 do CPC. Não observância também configurada na aplicação indevi-da da tese jurídica ou sua não aplicação aos casos que a ela correspondam.

114 http://www.tjsp.jus.br/Institucional/Nurer/InformacoesGerais

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do fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão ge-ral ou em julgamento de recursos repetitivos (art. 1.042, caput).115

8.2 Procedimento:Também em termos de prazo, os referidos agravos observam o prazo ge-

ral dos recursos, isto é, 15 (quinze) dias, contados em dias úteis (art. 219).A petição de agravo será dirigida ao presidente ou ao vice-presidente do

tribunal de origem e independe do pagamento de custas e despesas postais, aplicando-se o regime de repercussão geral e de recursos repetitivos, inclusive quanto à possibilidade de sobrestamento e do juízo de retratação (art. 1.042, §2º).

Alias, vale mencionar o art. 256, do RITJSP:

“Cabe ao Presidente do Tribunal, se o acórdão for do Órgão Especial, ou ao Presidente da respectiva Seção, o proces-samento e o exame da admissibilidade dos recursos para o Supremo Tribunal Federal e Tribunais Superiores e dos incidentes processuais que surgirem nessa fase”.

O agravado deve ser intimado, de imediato, para oferecer resposta no pra-zo de 15 dias (art. 1.042, §3º), com ou sem sua resposta, e caso não haja re-tratação, o agravo será remetido ao tribunal superior competente – STJ ou STF (art. 1.042, §4º).

8.3 Julgamento:Admite-se que o julgamento do agravo possa ser feito conjuntamente com

o recurso especial ou extraordinário. Neste caso, é assegurada a possibilidade de sustentação oral, observando-se, ainda, o disposto no regimento interno do tribunal respectivo (art. 1.042, §5º).

Na hipótese de ter havido a interposição conjunta de recurso extraordiná-rio e recurso especial, o agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não admitido (art. 1.042, §6º).

Se houver apenas um agravo, este recurso será remetido ao tribunal com-petente. Havendo interposição conjunta, os autos serão remetidos primeiro ao Superior Tribunal de Justiça (art. 1.042, §7º).

115 A Lei nº 13.256/2016, que alterou o CPC ainda na vacatio, não permitiu a mudança no sistema, mantendo a competência dos Tribunais de segundo grau para fins de realização do juízo de ad-missibilidade dos Recursos Extraordinário e Especial. Equivale ao agravo de despacho dene-gatório, previsto no art. 544, do CPC/73, quando o Presidente do Tribunal negar seguimento ao Recurso Extraordinário e o Recurso Especial.

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8.4 Observações:Concluído o julgamento do agravo pelo Superior Tribunal de Justiça e, se

for o caso, do recurso especial, os autos serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal, independentemente de pedido, para apreciação do agravo dirigido à Su-prema Corte, salvo se o recurso se o recurso extraordinário estiver prejudicado (art. 1.042, §8º).

9. Embargos de divergência (art. 1.044):9.1 Cabimento:

O objetivo primordial é afastar divergência de entendimentos no âmbito da mesma Corte de Justiça, seja no Supremo Tribunal Federal seja no Superior Tribunal de Justiça.116

Aliás, a divergência pode ser da mesma turma (§ 3º do art. 1043) que pro-feriu a decisão embargada, desde que a sua composição seja diferente daquela que proferiu a decisão divergente (mais da metade dos membros).

As hipóteses estão previstas no próprio art. 1043 do CPC, com a modifi-cação dada pela Lei 13.256/2016 que revogou os incisos II e IV.

As teses jurídicas divergentes podem ser de direito material ou processual.

9.2 Procedimento:Nos termos do artigo 1.044, caput, deve ser observado o procedimento es-

tabelecido no regimento interno do respectivo tribunal superior.117

116 “o fim a que visam os embargos de divergência é o de provocar a extinção da divergência intes-tina que eventualmente grassar no STF e no STJ. A Constituição outorgou a tais tribunais supe-riores, ao primeiro em matéria constitucional, ao segundo no tocante ao direito federal, funções uniformizadoras.” (ASSIS, Araken de. Manual dos recursos, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 881-882)

117 Regimento interno do STJ sobre os embargos de divergência, já atualizado (artigos 266 e 267): Art. 266. Cabem embargos de divergência contra acórdão de Órgão Fracionário que, em recur-so especial, divergir do julgamento atual de qualquer outro Órgão Jurisdicional deste Tribunal, sendo: I - os acórdãos, embargado e paradigma, de mérito; II - um acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do recurso, embora tenha apreciado a controvérsia. § 1º Poderão ser confrontadas teses jurídicas contidas em julgamentos de recursos e de ações de competência originária. § 2º A divergência que autoriza a interposição de embargos de divergência pode ve-rificar-se na aplicação do direito material ou do direito processual. § 3º Cabem embargos de di-vergência quando o acórdão paradigma for do mesmo Órgão Fracionário que proferiu a decisão embargada, desde que sua composição tenha sofrido alteração em mais da metade de seus membros. § 4º O recorrente provará a divergência com certidão, cópia ou citação de repositório oficial ou credenciado de jurisprudência, inclusive em mídia eletrônica, em que foi publicado o acórdão divergente, ou com a reprodução de julgado disponível na internet, indicando a respecti-va fonte, e mencionará as circunstâncias que identificam ou assemelham os casos confrontados.Art. 266-A. Os embargos de divergência serão juntados aos autos independentemente de des-pacho, e sua oposição interrompe o prazo para interposição de recurso extraordinário por qual-quer das partes. Art. 266-B. Se os embargos de divergência não forem providos ou não altera-

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9.3 Efeitos:A interposição de embargos de divergência no Superior Tribunal de Justi-

ça interrompe o prazo para interposição de recurso extraordinário por qualquer das partes (art. 1.044, §1º).

Assim, diante de tal regra, o prazo para fins de interposição de recurso ex-traordinário será contado da intimação do resultado dos embargos de divergência.

Se os embargos de divergência forem desprovidos ou não alterarem a con-clusão do julgamento anterior, o recurso extraordinário interposto pela outra par-te, antes da publicação do julgamento dos embargos de divergência, será pro-cessado e julgado independentemente de ratificação (art. 1.044, §2º).

Assim, não e necessário ratificação do recurso extraordinário quando man-tida a decisão objeto dos embargos.

9.4 Julgamento:A divergência pode ser confrontada entre teses jurídicas contidas em jul-

gamentos de recursos e de ações de competência originária (art. 1.043, §1º).Cabe ao recorrente provar a divergência com certidão, cópia ou citação

de repositório oficial ou credenciado de jurisprudência, inclusive em mídia ele-trônica, onde foi publicado o acórdão divergente, ou com a reprodução de julga-do disponível na rede mundial de computadores, indicando a respectiva fonte.

Também deverá mencionar as circunstâncias que identificam ou asseme-lham os casos confrontados. (art. 1.043, §4º).Exige-se, portanto, a menção, nes-te recurso, das circunstâncias que identificam ou assemelham os casos confron-tados, tendo em vista a uniformização jurisprudencial.

9.5 Observações:Já no CPC/73 (Art. 546) os embargos estavam previstos. As alterações do CPC, já com a modificação da Lei 13.256, de 2016, reti-

ram o sentido do enunciado 315 da Súmula de jurisprudência do STJ, vejamos:

rem a conclusão do julgamento anterior, o recurso extraordinário interposto pela outra parte an-tes da publicação do julgamento dos embargos de divergência será processado e julgado inde-pendentemente de ratificação. Art. 266-C. Sorteado o relator, ele poderá indeferir os embargos de divergência liminarmente se intempestivos ou se não comprovada ou não configurada a di-vergência jurisprudencial atual, ou negar-lhes provimento caso a tese deduzida no recurso seja contrária a fixada em julgamento de recurso repetitivo ou de repercussão geral, a entendimento firmado em incidente de assunção de competência, a súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça ou, ainda, a jurisprudência dominante acerca do tema. Art. 266-D. O Ministério Público, quando necessário seu pronunciamento sobre os embargos de diver-gência, terá vista dos autos por vinte dias. Art. 267. Admitidos os embargos de divergência em decisão fundamentada, promover-se-á a publicação, no Diário da Justiça eletrônico, do termo de vista ao embargado, para apresentar impugnação nos quinze dias subsequentes. Parágrafo único. Impugnados ou não os embargos, serão os autos conclusos ao relator, que pedirá a inclu-são do feito na pauta de julgamento.

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“Não cabem embargos de divergência no âmbito do agravo de instrumento que não admite recurso especial”.

Também a ampliação de hipóteses indica que enunciado 158 do STJ (“Não se presta a justificar embargos de divergência o dissídio com acórdão de Tur-ma ou Seção que não mais tenha competência para a matéria neles versada”), merece uma releitura, tendo em vista o texto atual considerar embargável acor-dão fracionário.

IV – Finalização:Essas são algumas pequenas reflexões sobre a modificação trazida com

a vigência do Código de Processo Civil 2015.Ao final de intensa pesquisa, debates, escritos e revisões, nos resta afir-

mar que ainda há muito espaço para que outros participantes se integrem nesse conjunto de ideias, o que será muito útil e bem-vindo.

O que era um pequeno estudo no início transformou-se em alvissareiro en-volvimento de todos em torno de único propósito, qual seja o de facilitar a militân-cia diária e o manejo do instrumental processual na busca de promoção da justiça.