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Comentários interpretativos de cinco textos à luz da solidari-
edade paulina:
1) 2 Co 6.16 (Somos o Templo de Deus)
“Nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei
e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”.
Neste texto, como também em outras passagens do Novo Testamento, a co-
munidade dos crentes é descrita como sendo o templo de Deus. Aqui, Paulo usa
o termo grego “naos”, que indica o santuário interno, e não “ieron”, que des-
creve o templo como um todo, o edifício inteiro. Embora ambos os termos pos-
sam ser usados como sinônimos, “naos” é o “santuário”, o “Santo dos Santos”,
lugar da manifestação da glória e da presença de Deus. O coração do templo.
Enquanto 1 Co 6.19 pareça descrever o crente individual como templo do
Espírito Santo, o Novo Testamento, em 2 Co 6.16 e em diversas outras passa-
gens que citaremos a seguir, enfatiza que a igreja cristã inteira deve ser
reconhecida como o templo de Deus; ressaltando a importância da unidade, da
solidariedade, da congregação e da reunião dos crentes.
No A.T. a glória e a presença de Deus se manifestavam no templo. Deus
se revelava e se encontrava com seu povo no templo; era uma questão de lugar,
centralizando-se geograficamente em Israel, Jerusalém, templo e “Santo dos
Santos”: “O Senhor está no seu santo templo” (Sl 11.4 e Hc 2.20); “O Espí-
rito me levantou e me levou ao átrio interior; e eis que a glória do Senhor
enchia o templo”. (Ez 43.5); “Tendo os sacerdotes saído do santuário, uma nu-
vem encheu a casa do Senhor, de tal sorte que os sacerdotes não puderam per-
manecer ali, para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória de Deus en-
chera a casa do Senhor.” (1 Rs 8.10-11; ver também: 2 Cr 5.14); “Eu amo, Se-
nhor, a habitação de tua casa e o lugar onde tua glória assiste.” (Sl 26.8).
Já, no Novo Testamento, percebemos uma nítida mudança na concepção de
“templo”, que passa a não ser mais uma questão de lugar geográfico ou de edi-
fício estático, como declarou Paulo, em At 17.24, no seu discurso no Areópa-
go, dizendo que Deus não habita em templos construídos por homens. O mesmo
afirmou Estevão (At 7.48). Pois o verdadeiro templo de Deus é a Igreja, o
Corpo de Cristo, como disse Paulo: “nós somos santuário do Deus vivente...”
(2 Co 6.16). Cada cristão é uma pedra viva para a edificação do templo espi-
ritual de Deus: “também vós mesmos, como pedras vivas, sois edificados casa
espiritual...” (1 Pe 2.5).
Enquanto nós somos pedras vivas, Jesus é a pedra angular “no qual todo
edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual vós
juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito.” (Ef
2.21,22).
Foi o próprio Jesus quem disse: “Onde dois ou três estiverem reunidos
em meu nome ali eu estarei” (Mt 18.20). Ressaltando a importância da comu-
nhão. Quando os irmãos se reúnem Deus se faz presente de uma maneira toda es-
pecial. É na unidade do povo de Deus que o Senhor “ordena a sua bênção e a
vida para sempre” (Sl 133.3).
A vida cristã é uma vida em congregação, em unidade, em sociedade, em
amor. Somos individualmente membros do corpo de Cristo. Onde estamos interli-
gados e interdependentes. Não podemos ser cristãos tipo “ilha”, não podemos
viver isolados do corpo. A própria oração que Jesus nos ensinou é uma oração
que deve ser feita em conjunto: “Pai nosso... e pão nosso”.
Não devemos nos preocupar apenas com nossa santidade e edificação pes-
soal.
A questão da solidariedade é muito forte na igreja, tanto quanto entre
os hebreus, por esta razão nos exorta o autor de Hebreus, dizendo: “Não dei-
xemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes façamos admoestações,
e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima.” (Hb 10.25).
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2) 1 Co 12.13, 25 e 26 (O Corpo de Cristo)
“Pois em um só Espírito todos nós fomos batizados em um corpo... para
que não haja divisão no corpo: pelo contrário cooperem os membros, com igual
cuidado, em favor uns dos outros. De maneira que se um membro sofre, todos
sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam”
Paulo usa a figura ilustrativa do corpo humano para descrever a igreja
e melhor demonstrar sua unidade e a solidariedade que deve existir entre os
membros (Rm 12.4-5). A igreja é o corpo de Cristo (1 Co 12.27) e “Ele é a ca-
beça do corpo, da igreja...” (Co 1.18).
Usando linguagem metafórica, Paulo, levando em consideração que a Igre-
ja é o Novo Israel, segue de perto o ensino judaico sobre a unidade de Isra-
el, que também fazia uso de diversas analogias, comparando, por exemplo, Is-
rael a “corpo e alma”, “uma árvore”, “feixe de hissopo”, e “a videira”, que é
a que melhor ilustra a unidade orgânica de Israel.1 E a estrutura orgânica (um
corpo, uma árvore) é a que melhor descreve as implicações da solidariedade.2
Paulo enfatiza que os crentes, embora sejam muitos e distintos entre
si, foram, em um só Espírito, “imersos” em um corpo. É através do poder do
Espírito Santo que cada membro é moldado para formar uma única entidade, um
só corpo. A influência do Espírito é que os transforma e os une. Este batismo
cristão torna Cristo Senhor de todos, a cabeça do corpo.
Paulo, exortando os efésios à unidade, evoca o que todos os cristãos
têm em comum, dizendo: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que an-
deis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda humildade e
mansidão, com longanimidade, suportando-os uns aos outros em amor, esforçan-
do-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz:
Há somente um corpo e um Espírito; como também fostes chamados numa só espe-
1 Shedd, Russell P. “A solidariedade da raça - o homem em Adão e em Cristo”. Tradução: Márcio Loureiro Redondo. São Pau-lo: Edições Vida Nova, 1995, p. 51-53.
2 Ibid., p. 184.
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rança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus
e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos”
(Ef 4.1-6).
Vemos aí que a unidade de Deus é um forte argumento em defesa da unida-
de da igreja. Sabemos que o mesmo argumento era usado pelos judeus em relação
à nação de Israel, como bem observou o Dr. Russel Shedd ao citar a máxima de
Josefo: “Deus é um e a raça hebraica é uma” e uma frase da Amida para as Ves-
perais dos Sábados: “Tu és um, teu Nome é um, quem és um no mundo como o teu
povo Israel”.3
A Unidade e a solidariedade deve ser de tal “maneira que, se um membro
sofre, todos sofrem com ele, e, se um deles é honrado, com ele todos se rego-
zijam.” (1 Co 12.26).
A concepção paulina de igreja local e igreja universal é melhor enten-
dida traçando-se um paralelo com o uso que os judeus faziam do termo “sinago-
ga”, que em alguns casos era aplicado a nação como um todo e, geralmente, se
referia às congregações locais. O fato de existirem centenas de sinagogas não
negava a existência da unidade do povo de Israel que formava uma única sina-
goga. Sendo assim tanto Israel como a igreja têm alcance universal e manifes-
tação local.4 Como bem observou o Dr. Russell Shedd: “...o entendimento pau-
lino da manifestação local da igreja universal não implica, de modo algum, em
negação da unidade ou singularidade do único corpo.”5
Nós somos o corpo de Cristo, o templo em que Deus habita, portanto,
quando nos reunimos, “seja tudo feito para edificação” (1 Co 14.26). Pois o
amor, que é a essência do cristianismo, não busca os próprios interesses em
detrimento do bem coletivo (1 Co 13.5). Os nascidos de novo são o corpo de
Cristo, e, individualmente, membros deste corpo. O membro não vive em função
de si mesmo, mas do corpo. A igreja precisa ouvir a vós do Espírito e cada
membro deve se esforçar diligentemente por preservar a unidade do Espírito no
vínculo da paz (Ef 4.3), e, como exorta o apóstolo Paulo, “seguindo a verda-
3 Ibid., p. 50.4 Ibid., p. 132.5 Ibid., p. 154.
4
4
de, em amor, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, Cristo, de quem
todo o corpo, bem ajustado e consolidado, pelo auxílio de toda junta, segundo
a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edifi-
cação de si mesmo em amor.” (Ef 4.3, 15,16). Como crentes, precisamos discer-
nir o corpo de Cristo (1 Co 11.29), como veremos a seguir quando estivermos
comentando o texto que diz respeito à Ceia do Senhor.
3) 1 Co 10.16,17 (A Ceia do Senhor)
“O cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão com o sangue de
Cristo? O pão que partimos não é a comunhão com o corpo de Cristo? Já que há
um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos partici-
pamos desse único pão”
Paulo lembra aos coríntios que a Ceia do Senhor é momento de reflexão
sobre o significado do corpo de Cristo, momento de mantermos a consciência da
nossa unidade em Cristo. Como bem observa o Dr. Russell Shedd:
A refeição é uma representação comemorativa do sacrifício com o qual Cristo deu início à nova aliança que constituiu o novo Israel, ou seja, que originou a Igreja. A Ceia é uma confissão do vínculo da aliança que faz com que a comunidade seja o povo de Deus, ao mesmo tempo em que produz uma comunhão entre aqueles que participam juntos dos elementos.6
Podemos traçar um paralelo entre a Ceia do Senhor e a Páscoa dos ju-
deus. Para os judeus a participação e os cumprimentos das obrigações religio-
sas de cada judeu era de suma importância para a comunidade como um todo,
como bem observa o Dr. Russell Shedd:
... o mesmo acontece com Israel. Se um deles peca, todos o sentem. De acordo com o rabino José, o galileu, até que o último israelita completasse seu sacrifício pascal, a na-ção inteira correria o perigo de extinção. Em toda a exposição dos acontecimentos da história de Israel, existe essa ênfase nas terríveis implicações do fato de um único israe-lita deixar de cumprir seu papel como subunidade da nação.7
A unidade e o vínculo existentes entre os membros da Igreja não são di-
ferentes dos da comunidade judaica, por esta razão, Paulo, com as seguintes
palavras, advertiu severamente aos coríntios que agiam egoisticamente na ce-
6 Ibid., p. 180,181.7 Ibid., p. 52.
5
lebração da Ceia do Senhor: “não vos louvo, porquanto vos ajuntais , não para
melhor, e, sim, para pior. Porque, antes de tudo, estou informado haver di-
visões entre vós quando vos reunis na igreja; e eu em parte o creio... Quan-
do, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a Ceia do Senhor que comeis. Por-
que, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente a sua própria ceia; e há quem
tenha fome, ao passo que há também quem se embriague. Não tendes porventura
casas onde comer e beber? Ou menosprezais a igreja de Deus e envergonhais o
que nada têm... Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor
indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor... pois quem bebe, sem
discernir o corpo, come e bebe juízo para si... Assim irmãos meus, quando vos
reunis para comer, esperai uns pelos outros... a fim de não vos reunirdes
para juízo” (1 Co 11.17s).
Cada membro precisa discernir o corpo de Cristo para não incorrer em
juízo condenatório; e buscar viver em unidade e amor, visando o bem comum,
sufocando o egoísmo, a inveja, os ciúmes, as contendas e tudo o que for con-
trário ao amor. Pois participar da Ceia do Senhor não é apenas participar de
Cristo, mas também de nossos irmãos em Cristo, pois todos juntos, somos um só
em Cristo. Estes textos mencionados sobre a Ceia do Senhor ensinam que a
unidade do Corpo de Cristo é santa, pois ao participarmos de um único pão,
devemos lembrar que formamos um só corpo em Cristo, destacando-se, assim,
nossa “personalidade coletiva”. Pecar contra os irmãos significa pecar contra
Cristo e investir contra a unidade da Igreja é pecado grave que traz consigo
dura condenação. (1 Co 8.12; 11.29).
4) Rm 5.15, 18 (Em Adão e Em Cristo)
“Todavia, não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque se pela
ofensa de um só, morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela
graça de um só homem, Jesus Cristo, foi abundante sobre muitos... Pois assim
como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação,
assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para
a justificação que dá vida.”
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Paulo, ciente de que a solidariedade baseia-se no relacionamento,
demonstra como nosso vínculo com Adão nos trouxe danosas conseqüências, ao
mesmo tempo que nossa união com Cristo, o segundo Adão, autêntico represen-
tante da raça humana, reverte o quadro e nos possibilita a redenção.
Cristo substitui o primeiro homem como o arquétipo e representante de
uma nova humanidade.8
O primeiro Adão falhou, Cristo veio para tomar o lugar do velho Adão,
pois é o único capaz de desfazer o poder e as conseqüências do pecado de Adão
que atingiu a todos os homens, e, assim, dar início a uma nova humanidade.
Como afirma Bruce:
E aos que Ele colocou em reta relação com Deus, a velha solidariedade do pecado e da morte, que tinham por sua associação com o primeiro Adão, abriu passo para uma nova solidariedade: a da justiça e da vida, pela associação com o “último Adão”.9
Paulo apresenta a salvação em Cristo em termos do tão bem conhecido e
desenvolvido (em todo Israel) conceito de solidariedade da raça humana. Pau-
lo conhecia muito bem o conceito hebraico de personalidade coletiva ou corpo-
rificada. E o Dr. Russell Shedd está certo ao dizer que : “toda a antropolo-
gia e a soteriologia de Paulo estão construídas sobre os conceitos hebraicos
de solidariedade da raça”.10 Infelizmente, em nossos dias, principalmente no
ocidente, tendemos a negligenciar tal solidariedade em favor da afirmação de
nossa identidade individual. Mas como afirmou John Donne:
Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do con-tinente, uma parte do todo. Se um bloco de terra e arrastado pelas águas, o território fica diminuído, seja a Europa, ou um promontório ou a fazenda dos teus amigos. A morte de cada ser humano me diminui, porque estou envolvido na humanidade. Portanto, nunca mande perguntar por quem os sinos dobram: dobram por ti.11
Todos os homens participaram em Adão do pecado original, mas, também,
cada indivíduo tem cometido os seus próprios pecados. Como ilustra Champlin
8 Bruce, F. F. “Romanos - Introdução e Comentário”. Tradução: Odayr Olivetti. São Paulo Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão. 1986, p. 106.
9 Ibid., 102.10 Shedd, Russell P. “A solidariedade da raça - o homem em Adão e em Cristo”. Tradução: Márcio Loureiro Redondo. São Pau-
lo: Edições Vida Nova, 1995, p. 101.11 Ibid., p. 103.
7
este fato, bem como a solidariedade que existe entre a raça humana e o pri-
meiro homem, Adão:
O pecado de Adão é a raiz; os pecados da humanidade são os ramos; e os pecados indi-viduais são os frutos... A realidade de tudo quanto uma árvore é, se origina de suas raí-zes. Uma árvore, entretanto, é bem mais do que apenas as suas raízes; pois também con-siste do grande tronco que se eleva da superfície do chão. Também inclui até mesmo os seus frutos. Ora, outro tanto sucede no caso do pecado. A raiz é o pecado de Adão, e o juízo divino foi pronunciado contra a raiz. Mas o pecado também desenvolveu o seu tronco, visível para todos, o que representa o princípio do pecado, que opera neste mun-do. Finalmente o pecado tem os seus frutos, o que significa os atos individuais de todos os homens. Ora, tais atos também produzem julgamento, determinando a intensidade do mesmo, porquanto a declaração bíblica, freqüentemente repetida, é que os homens serão julgados de acordo com as suas obras (Rm 2.6)12
De maneira semelhante a salvação nos é outorgada por meio de Cristo.
Identificados com nosso legítimo representante e por causa dos méritos dele
somos justificados e nascidos de novo, onde “a nova humanidade é criada por
um processo de inclusão em Cristo (2 Co 5.17)”13. Os princípios de solidarie-
dade se aplicam neste caso de modo semelhante com o que se deu em relação ao
pecado de Adão. “Como o pecado de Adão envolve em culpa sua descendência, as-
sim a justiça de Cristo é creditada em favor do Seu povo.”14 Como ensina Pau-
lo: “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens
para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre to-
dos os homens para a justificação que dá vida.” (Rm 5.18). Os redimidos pela
fé se tornam participantes da vida que há em Jesus Cristo.
Concluo este ponto com a seguinte frase do Dr. Russell Shedd:
Com base na representação realística dos cabeças dos dois respectivos tipos de humani-dade, Paulo afirma que os dois grupos correspondentes participaram de fato dos atos ar-quétipos da história humana. 15
12 Champlin, Russell Norman, Ph. D. “O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo” . São Paulo: MILENIEUM. Vol. 3, p.657.
13 Shedd, Russell P. “A solidariedade da raça - o homem em Adão e em Cristo”. Tradução: Márcio Loureiro Redondo. São Pau-lo: Edições Vida Nova, 1995, p. 103.
14 Bruce, F. F. “Romanos - Introdução e Comentário”. Tradução: Odayr Olivetti. São Paulo Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão. 1986, p. 103.
15 Shedd, Russell P. “A solidariedade da raça - o homem em Adão e em Cristo”. Tradução: Márcio Loureiro Redondo. São Pau-lo: Edições Vida Nova, 1995, p. 107.
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Gl 3.16 (O Verdadeiro Israel de Deus)
Israel, de um modo geral, não aceitou Jesus como o Messias (Jo 1.10-
12), os gentios recebem o Cristo e são enxertados na Oliveira (Rm 11.17-24).
Repare que não existem duas oliveiras mais somente uma. Jesus disse: “Eu sou
a videira verdadeira”. Sabemos que tanto videira, como oliveira são símbolos
de Israel. Jesus está afirmando ser o Israel verdadeiro. Por esta razão Paulo
diz aos gentios cristãos: “naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da
comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperan-
ça, e sem Deus no mundo. Mas agora em Cristo Jesus, vós que antes estáveis
longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque ele é a nossa paz, o
qual de ambos fez um, e tendo derrubado a parede de separação que estava no
meio, a inimizade... para que dos dois criasse em si mesmo um novo homem, fa-
zendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo… Assim já não sois estran-
geiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois família de Deus… os
gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da pro-
messa em Cristo Jesus por meio do evangelho.” (Ef 2.12-3.6). “Dessarte, não
pode haver judeu nem grego… porque todos vós sois um em Cristo. E se sois de
Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa.”
(Gl 3.28-29). Por tudo isto Paulo pode declarar ousadamente: “Sabei, pois,
que os da fé é que são filhos de Abraão… Ora, as promessas foram feitas a Ab-
raão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de
muitos, porém como de um só: E ao teu descendente que é Cristo” (Gl 3.7, 16).
Jesus é “a pedra principal”, os que estiverem firmes nesta pedra, quer ju-
deus, quer gentios, pois “Deus não faz acepção de pessoas” (Rm 2.11), é que,
agora são chamados de “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus…” (1 Pe 2.4-10). Interessante notar que, neste
trecho, Pedro está citando uma promessa de Deus dirigida ao povo de Israel,
Êxodo 19.5-6: “... então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os
povos... vós me sereis reino e sacerdotes e nação santa. São estas as pala-
vras que falarás aos filhos de Israel”. Pedro entende que através da Igreja,
tal profecia tem seu cumprimento, e não teme “falar tais palavras à Igreja”.
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“Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é
somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão a
que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede
dos homens, mas de Deus.”(Rm 2.28-29).
Sou contra o estabelecimento de uma distinção exagerada entre Israel e
Igreja. É óbvio que são dois organismos distintos, mas não devemos chegar ao
ponto de destruir algumas claras afinidades e elementos de continuidade. Je-
sus Cristo é o “sim” e o “amém” pronunciado sobre cada uma das promessas de
Deus registradas no Antigo Testamento: “Porque quantas são as promessas de
Deus tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para a glória
de Deus.” Jesus é o Messias prometido; e, verdadeiro israelita é aquele que
possui o Messias. A esperança do povo judeu é crer no Messias, ingressando na
Sua Igreja. Quando Israel rejeitou o Messias foi cortado fora da “Oliveira” e
os gentios foram enxertados nesta mesma árvore. Não existem, portanto, duas
árvores; não existem, portanto, dois povos de Deus. O que não quer dizer que
Deus tenha se esquecido e abandonado Israel. A esperança e promessa em rela-
ção a Israel é de que venha ser enxertado de volta na mesma árvore, onde ago-
ra estão os gentios. A Igreja é este “mistério de Deus” (Ef 5.32), que englo-
ba todos os povos, formando um “só corpo”, com “um só Senhor” (Ef 4.4 e 5).
Outros textos para estudo: Gl 6.16; Rm 9.6,8 e Fp 3.3.
A igreja, sendo o verdadeiro Israel de Deus, participa da mesma solida-
riedade que caracterizou o povo de Israel do Antigo Testamento, incluindo as
aplicações, com a mesma ênfase, dos conceitos de atributos de personalidade
coletiva, vínculo, parentesco, irmandade, mérito e castigo transferíveis, re-
presentação real, substituição vicária, etc.16
16 Ibid., p. 132.
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Bibliografia Consultada
BROWN, Colin (Editor Geral). O Novo Dicionário Internacional de Teologia do
Novo Testamento. Tradução: Gordon Chown. São Paulo: Edições Vida Nova. Vol.
IV. 1983.
BRUCE, F. F. Romanos - Introdução e Comentário. Tradução: Odayr Olivetti. São
Paulo Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão. 1986.
CHAMPLIN, Russell Norman, Ph. D. O Novo Testamento Interpretado Versículo
por Versículo . São Paulo: MILENIEUM. Vol. 3 e 4.
ELWELL, Walter A. (Editor). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cris-
tã. Tradução Gordon Chown. São Paulo: Edições Vida Nova. Vol. 3. 1990.
HORRELL, J. Scott (Editor). Ultrapassando Barreiras - Novas Opções para a
Igreja Brasileira na virada do século XXI. São Paulo: Edições Vida Nova.
1994.
MORRIS, Canon Leon. I Coríntios - introdução e comentário. Tradução: Odayr
Olivetti. São Paulo: Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão. 1986.
SHEDD, Russell P. A solidariedade da raça - o homem em Adão e em Cristo. Tra-
dução: Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Edições Vida Nova, 1995.
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Comentários interpretativos de cinco textos
à luz da solidariedade paulina
POR
JOSÉ ILDO SWARTELE DE MELLO
em cumprimento
Ós exigÛncias preliminares da matÚria: A Solidariedade
da Raþa
professor: Dr. Russell Shedd
Encontro Geral do mestrado - agosto/95
do
Curso de Mestrado em Teologia
FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE SÃO PAULO
São Paulo
Quinta-feira, 27 de julho de 1995
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