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Comissão Especial sobre Pesquisas com Células-Tronco RELATÓRIO FINAL

Comissão Especial sobre Pesquisas com Células-Tronco · Simone Zuliani Secretária 3. Índice ... E quando não puderam vir a nós, a Comissão ... quadro pode mudar, se tivermos

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Comissão Especial sobre Pesquisas com Células-Tronco

RELATÓRIO FINAL

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MESA DIRETORA - 2006

PRESIDENTE:Dep. FERNANDO ZÁCHIA (PMDB)

1º VICE-PRESIDENTE:Dep. FABIANO PEREIRA (PT)

2º VICE-PRESIDENTE:Dep. GERSON BURMANN (PDT)

1º SECRETÁRIO:Dep. EDEMAR VARGAS (PTB)

2º SECRETÁRIO:Dep. ADOLFO BRITO (PP)

3º SECRETÁRIO:Dep. BERFRAN ROSADO (PPS)

4º SECRETÁRIO:Dep. PAULO BRUM (PSDB)

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COMPOSIÇÃO DA COMISSÃO

Presidente: Paulo Brum - PSDBVice-Presidente: Luis Fernando Schmidt - PT

Relator: Pedro Westphalen - PP

TITULARES Jussara Cony - PC DO BAbílio dos Santos - PTBGiovani Cherini - PDT

Kalil Sehbe - PDTElmar Schneider - PMDB

José Farret - PPEdson Portilho - PT

SUPLENTESJosé Sperotto - PFL

Adilson Troca - PSDBSérgio Peres - PTB

Floriza dos Santos - PDTOsmar Severo - PDTEdson Brum - PMDB

Márcio Biolchi - PMDBJair Soares - PP

João Fischer - PPAdão Villaverde - PTFlavio Koutzii – PT

ASSESSORIA TÉCNICA

Antonio CandidoCoordenador

Simone ZulianiSecretária

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Índice

Mesa Diretora.........................................................................2

Composição da Comissão........................................................3

Índice......................................................................................4

Apresentação...........................................................................5

Palestras..................................................................................7

Conclusão............................................................................166

Sugestões e Encaminhamentos............................................168

Anexos.................................................................................170

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Apresentação

Desde 2005, quando o Congresso Nacional votou a Lei da

Biossegurança, informações básicas sobre células-tronco e seu potencial

para uso na Medicina entraram em nosso cotidiano. O que estava

praticamente restrito a especialistas e pesquisadores da área de Saúde teve

uma divulgação generalizada.

Houve uma mobilização nacional em favor da lei, reunindo

profissionais, pacientes e seus familiares, políticos e outros setores da

sociedade. Esse esforço foi produtivo, a Lei da Biossegurança foi aprovada,

recursos públicos foram encaminhados para a realização de novos estudos.

E depois? O que aconteceu? Assim como entraram, as células-tronco saíram

dos noticiários e voltaram a ficar restritas ao meio acadêmico.

Foi justamente para reverter essa situação que a nossa Assembléia

Legislativa — a partir de proposição do deputado Paulo Brum — formou a

Comissão Especial sobre Pesquisas de Células-Tronco. Médicos e outros

cientistas de diferentes instituições do Rio Grande do Sul vieram a esta Casa

para apresentar seus trabalhos, compartilhar conhecimentos, informar

sobre as dúvidas e os avanços. E quando não puderam vir a nós, a Comissão

foi até eles, como o Centro de Transplantes de Medula Óssea do Hospital da

Universidade Federal de Santa Maria.

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O resultado desses meses de atividade está representado neste

relatório. Reunimos o conteúdo das palestras, as reivindicações dos

pesquisadores e as proposições que o Legislativo possa fazer para que tudo

isso tenha continuidade. É esse esforço conjunto que pode alimentar as

pesquisas e tornar as células-tronco cada vez mais presentes em nosso

cotidiano, através de notícias sobre novas descobertas, tratamentos e curas.

É uma esperança de vida que precisa, cada vez mais, tornar-se realidade.

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Palestras

16/mar/2006

Pesquisa com células-tronco do cordão umbilical

Dra. Patrícia Pranke Luiz Ávila/AL

Palestrante: Dra. Patrícia Pranke — farmacêutica, pesquisadora e professora

de Hematologia da Faculdade de Farmácia da UFRGS; presidente do

Instituto de Pesquisas com Células-Tronco.

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Convidados: Dr. Paulo Mayorga, diretor da Faculdade de Farmácia da

UFRGS; Dr. José Ângelo Zuanazzi, vice-diretor da Faculdade de Farmácia da

UFRGS; e Dra. Martina Fritsch, integrante do Grupo de Pesquisas em

Células-Tronco do Hemocord.

Dra. Patrícia PrankeNos últimos anos, recebemos uma avalanche de informações na mídia,

nos meios de comunicação, em relação ao estudo com células-tronco. Na

realidade, em vários jornais e revistas do mundo inteiro, as células-tronco

tornaram-se uma grande atração no meio científico e do meio acadêmico.

Isso tem tomado uma dimensão muito interessante não só no centro de

pesquisa. Por ter atravessado as barreiras científicas, a população de modo

geral tem se envolvido muito com o assunto, não só porque a sociedade pode

vir a se beneficiar, como também pela grande esperança de que essas células

possam tratar doenças que até o final do século passado eram consideradas

incuráveis.

Costumamos dizer que estamos cautelosamente otimistas, porque

temos de ter cautela em tudo que se refere à saúde dos pacientes, mas

estamos otimistas porque é de fato uma esperança – isso é ciência, não é

milagre –que, com estudo, com pesquisa, com investimentos, podemos

conseguir avanços muito importantes nos próximos anos.

A lei permite obter células-tronco a partir do organismo chamado

blastocisto cumulativamente, desde que esses embriões sejam excedentes.

Por exemplo, um casal foi para uma clínica de reprodução assistida para

fazer uma reprodução in vitro, onde são produzidos oito ou dez embriões. A

lei permite implantar quatro, e os embriões excedentes são congelados.

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A comunidade científica reuniu-se e solicitou que se desse um destino

– que acreditamos ser mais digno – a esses embriões excedentes, que

estavam congelados e que iriam ser descartados. Portanto, só podem ser

usados embriões que sobraram de procedimento de reprodução assistida e

que estejam congelados há mais de três anos – tempo que nada tem a ver

com a viabilidade do embrião –, pois há embriões que com oito anos de

congelamento geraram um ser humano.

Esse período de três anos é o prazo mínimo exigido por lei para que a

família decida se realmente não quer mais filhos. Mas se ela desejar ficar

com aquele embrião congelado por cinco ou oito anos poderá fazê-lo, porque

é a responsável pelo destino a ser dado ao embrião. Porém, não poderá doá-

lo antes dos três anos. O uso do embrião depende sempre do consentimento

dos genitores, mediante doação, jamais incentivando-se qualquer prática de

comércio.

Junto com o uso de células-tronco embrionárias, um outro grande

avanço nas pesquisas é a utilização do sangue de cordão umbilical. Com

isso, o Instituto de Pesquisa com Células-Tronco, com o apoio da UFRGS e

com a Secretaria de Estado de Saúde, está trabalhando para construir um

banco público de sangue de cordão umbilical.

É bom lembrarmos o quão importante é ter banco público de sangue

de cordão umbilical no Estado, no Brasil. Temos uma necessidade real,

imediata, de pacientes aguardando por transplante, à espera de um doador

de medula. O cordão umbilical vem substituir o doador de medula, passando

a ser um recurso mais fácil, porque bebês nascem todos os dias e, todos os

dias, o sangue daquele cordão umbilical e a placenta são jogados fora.

A disponibilidade é imediata, porque já se encontra armazenado em

um banco público de sangue de cordão. Não é preciso ir atrás de um doador,

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basta entrar em uma lista, um cadastro que existe para ver a

compatibilidade ou não. Se estiver naquele banco, a liberação do material é

imediata. Provoca menos rejeição e o custo também é mais barato. Falei em

custo, mas salvar uma vida humana não tem preço. Isso é o que mais

importa.

Temos no Brasil cerca de sete mil casos novos de leucemia em adultos

a cada ano, sendo que pelo menos a metade é de casos fatais. Com certeza, a

doença poderia ser enfrentada com bastante sucesso se houvesse doador, se

fosse feito um transplante. Entre crianças e adolescentes, os dados são

ainda mais alarmantes. Temos aproximadamente nove mil casos novos de

crianças no Brasil com leucemia, e mais ou menos 60% delas poderiam se

salvar, se conseguissem o transplante.

A aplasia de medula é uma doença que só o transplante cura.

Leucemia, muitas vezes, a quimioterapia trata; para a aplasia de medula não

existe tratamento, apenas o transplante. Temos aproximadamente mil novos

casos de pacientes em nosso país com aplasia de medula e esses pacientes

estão na fila, à espera de um transplante. Ou seja, o Brasil precisaria fazer

de seis a oito mil transplantes por ano e faz apenas 900 procedimentos. Esse

quadro pode mudar, se tivermos disponibilidade de sangue de cordão

umbilical, doado para os bancos públicos.Com isso, o sangue de cordão vem

como uma nova oferta de células-tronco.

Falei de leucemias, porque são pacientes que hoje já poderiam ser

tratados. Mas com o avanço das pesquisas com células-tronco, estamos

vendo que não só as doenças hematológicas – as doenças do sangue – podem

ser tratadas com esse material, como várias outras doenças, entre elas, as

de ordem cardíaca e lesão de medula espinhal.

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O trabalho que faremos na UFRGS pretende exatamente comparar os

três tipos de células-tronco – cordão umbilical, medula e embrionárias –

para tratamento de lesão de medula espinhal em ratos. Faremos o

experimento justamente para ver as vantagens entre elas.

Então, cada vez mais o uso das fontes de células-tronco tem sido

ampliado e o cordão umbilical, juntamente com as células embrionárias,

vem como uma fonte muito nova, muito rica e de um futuro bastante

promissor para as pesquisas. Com isso, teríamos como vantagens: oferta

ilimitada, todos os dias bebês nascem e todos os dias esse sangue é

descartado; disponibilidade imediata e uma menor rejeição.

Paralelamente a isso, temos outras vantagens, como o tempo de

espera, que é menor que o de outros procedimentos. Por exemplo, quando se

aguarda um doador de medula óssea, o paciente tem que esperar

aproximadamente seis meses, enquanto o sangue de cordão umbilical está

disponível, o doente pode receber esse sangue em um mês ou 40 dias.

Se não bastassem todas essas vantagens, temos outra: o procedimento

tem um custo mais barato para o Sistema Único de Saúde. Hoje, o Ministério

da Saúde gasta 34 mil dólares na busca de uma medula óssea no exterior.

Se não encontrar doador no Brasil, existe uma portaria que autoriza o

Ministério da Saúde a buscar essa medula em outro país. Se for sangue de

cordão umbilical encontrado no exterior, o Ministério da Saúde gasta 23 mil

dólares nessa busca.

Se construirmos bancos públicos de sangue de cordão umbilical no

Brasil, esse custo cairá para 2 mil dólares por cada unidade. Paralelamente

à grande vantagem para os pacientes, a rapidez do processo, o Sistema

Único de Saúde terá um custo bem menor com a construção desses bancos

no País. A nossa idéia é a de quando o bebê nasce, ao invés de se jogar fora

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a sua placenta, a utilizarmos, de forma que ele já nascerá sendo um herói,

porque o sangue do seu cordão umbilical e da sua placenta poderá ser

usado para salvar vidas.

Coletamos o sangue do cordão e da placenta e o acondicionamos em

uma bolsa. Esse foi o procedimento tomado por mim em Nova Iorque, mas já

estamos fazendo isso aqui para pesquisa – o banco ainda não está aberto.

Então, o volume é reduzido, pois concentramos as células-tronco do sangue

do cordão umbilical e o congelamos.

Esse sangue pode permanecer congelado por vários anos, numa

temperatura de -196 graus Celsius, em nitrogênio líquido. É difícil dizer

quanto tempo irão durar essas células. Não sabemos isso ainda, porque é

um procedimento muito recente. As células mais antigas congeladas no

mundo datam de 13 anos. Até esse prazo sabemos que as células estão

boas. Agora, se irão durar 14 anos ou 60 anos, ninguém sabe. Mas as

células que foram congeladas estão todas muito bem conservadas. Por esse

procedimento, entendemos que podem ser guardadas por alguns anos.

Além disso, o banco tem esta vantagem: a idéia do banco é estar

sempre coletando e sempre renovando o material. Se por acaso se achar que

10 anos é um prazo suficiente, poderemos sempre ficar coletando um novo

sangue de cordão umbilical, de novos doadores, porque bebês estão

nascendo todos os dias.

O que temos de concreto no Brasil, sendo realizado em matéria de

pesquisas com células-tronco? Quais são as políticas do governo em relação

a essas pesquisas?

Como já falamos, a primeira grande medida histórica, digamos assim,

em relação às células-tronco foi a aprovação da Lei de Biossegurança, com a

permissão do uso dessas células. Depois de quase dois anos de trabalho

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junto aos deputados federais, ao Senado e aos ministros, em 24 de março do

ano passado, foi aprovada a utilização de células-tronco embrionárias

humanas, que seriam descartadas, podendo, então, ser usadas para

pesquisa.

Em julho de 2005, foi lançado pelo CNPq o primeiro edital para

pesquisas com células-tronco no Brasil. Tivemos 250 projetos apresentados

por pesquisadores de todo o País, e, em setembro do ano passado, então,

desse total, foram aprovados 41 projetos, sendo que o nosso, da UFRGS,

também foi aprovado.

Temos um grupo de pesquisadores, e o coordenador desse projeto é o

professor Carlos Alexandre Neto, que também é o pró-reitor de graduação da

universidade. Luciano Rodrigues, um aluno de doutorado, fará esse projeto

conosco, bem como o professor Oliveira, também da UFRGS.

Ganhamos uma verba no valor de 450 mil reais para esse projeto, pelo

qual faremos um estudo comparativo dos três tipos de células-tronco, tanto

embrionárias como do cordão umbilical e da medula óssea, na lesão de

medula espinhal de ratos. Usaremos um modelo animal; com isso,

obteremos várias respostas, como o tempo ideal para aplicação, a melhor via

de administração, como se comporta essa célula. Quando os resultados

começarem a sair, podemos pensar em como transferir as informações para

um estudo, talvez, em seres humanos, dependendo do resultado das

pesquisas.

Estamos com esse grupo, contando com o apoio, também, de vários

outros pesquisadores e colaboradores da UFRGS e de fora dela. No ano

passado, em Brasília, foi criado, pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério

de Ciência e Tecnologia, o grupo de trabalho relativo à pesquisa sobre

células-tronco no Brasil. Foi baixada essa portaria interministerial de 2005,

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e tanto o Ministério da Saúde quanto o Ministério da Ciência e Tecnologia

entenderam que, com os avanços das pesquisas e com o lançamento do

edital, era importante que se criasse um grupo que pudesse orientar o

governo no que diz respeito às diretrizes, ao rumo que o Brasil vai tomar

nessa área.

Os dois ministérios criaram esse grupo composto por 14 pessoas,

sendo oito delas pesquisadores e, seis, integrantes dos Ministérios da Saúde

e de Ciência e Tecnologia. Esses pesquisadores estão espalhados por todo o

Brasil. Como professora da UFRGS, integro o grupo e represento a Região

Sul. Já nos reunimos e elaboramos um documento oficial, o qual foi

entregue ao governo. Após, tivemos algumas reuniões de trabalho e saíram

as diretrizes para os estudos com células-tronco no Brasil, que vão

direcionar todo o trabalho. Fizemos algo bem amplo, porque não queremos

limitar a pesquisa; pelo contrário, temos de ampliar as pesquisas em

qualquer área da saúde que venha a mostrar que essas células possam ser

importantes.

No final do ano passado, a Secretaria da Saúde do Estado do Rio

Grande do Sul também lançou uma portaria, criando o Banco Público de

Sangue de Cordão Umbilical, que será constituído em parceria com algumas

entidades do Estado. Fui nomeada uma de suas diretoras.

O que temos de avanços no Brasil em relação às pesquisas com

células-tronco? O Ministério da Saúde lançou, no início do ano passado, um

projeto bastante arrojado, um projeto pioneiro no mundo – é o que abrange o

maior número de pacientes –, relativo ao uso de células-tronco em doenças

cardíacas.

O projeto envolverá 1.200 pacientes em todo o Brasil e fará a pesquisa

com quatro doenças, as quais serão estudadas comparando-se o uso de

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células-tronco com a melhora apresentada ou não pelos enfermos. As células

serão utilizadas em pacientes vítimas de infarto do miocárdio, de isquemia

crônica, de miocardiopatia dilatada e de Doença de Chagas. Essa última

enfermidade atinge principalmente cidadãos brasileiros do Nordeste, sendo

transmitida pelo barbeiro.

Essas quatro doenças são o foco do estudo inicial para a pesquisa com

células-tronco em cardiopatias. O projeto será desenvolvido ao longo de dois

anos, ao final dos quais vai-se comparar a melhora apresentada – ou não –

pelo paciente que fez uso de células-tronco com a melhora apresentada – ou

não – por pacientes que não as utilizaram.

Todos os pacientes vão continuar recebendo o tratamento

convencional, mas alguns deles, a metade, sem saber receberão células-

tronco. Todos os pacientes sabem que alguns vão receber as células. Isso é o

que chamamos de estudo duplo-cego; ele é adotado porque o paciente ou o

médico podem acabar mudando o tratamento, mesmo sem querer, caso

saibam que estão sendo usadas células-tronco.

Trata-se, repito, de um duplo-cego. Os pacientes entram no projeto

sabendo que alguns vão receber células-tronco e outros não; mas todos

recebem o tratamento tradicional. Isso será feito para verificarmos se vai

ocorrer alguma diferença entre aqueles que receberem as células e os que

não as receberem. É assim que se procede em pesquisa, essa é a única

forma de se responder às indagações. São as células-tronco que estão agindo

ou não? Ou é o medicamento que está agindo?

Esse é um projeto inédito no mundo. É o maior projeto, pois envolve

um maior número de pacientes. O Ministério da Saúde lançou esse projeto

que será muito importante para a comunidade científica e a sociedade toda.

Junto com isso, já há 41 projetos no Brasil começando a desenvolver

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pesquisas com células-tronco, envolvendo diversas doenças, entre elas a

lesão da medula espinhal, diabetes, que atinge milhares de pacientes,

esclerose múltipla, esclerose sistêmica, esclerose lateral ameotrófica,

distrofias musculares e várias outras doenças, desde doenças hepáticas,

como cirrose e hepatite, doenças renais, até problema de perda de visão, etc.

É sempre importante lembrarmos que estamos falando de um assunto

delicado, principalmente quando se fala de células-troco embrionárias, então

temos que lembrar de alguns aspectos éticos, legais, abordando o assunto.

Infelizmente, como em todas as profissões, sempre há pessoas bem-

intencionadas e mal-intencionadas. É muito importante a comunidade toda

estar ciente do que é realmente possível ser feito com as células-tronco.

Sempre falo com os pacientes: procurem os centros grandes,

universitários, os centros de pesquisa. Nunca um profissional vai oferecer

esse serviço num consultório a portas fechadas. Isso é sempre feito em

equipes. O paciente pode sempre pedir para verificar se aquele grupo, aquela

pessoa que esteja oferecendo aquele serviço, tem autorização da Agência

Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa –, do Ministério da Saúde.

Absolutamente ninguém pode trabalhar com qualquer procedimento

novo em saúde, não são somente células-tronco. Qualquer medicamento que

vá ser utilizado tem que ter a aprovação dos órgãos competentes. Mas como

estamos falando em células-tronco, não poderia ser diferente. Ninguém pode

trabalhar com essas células, principalmente por ser algo novo, sem a

autorização prévia dos órgãos de saúde e de fiscalização.

Como falamos, a comunidade científica está muito otimista, mas com

cautela. Temos que nos manter cautelosamente otimistas. Otimistas, porque

não tem como não ficar frente a essa grande possibilidade que está se

abrindo, que quem sabe, quem sabe – por isso é pesquisa, não é certeza –

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que essas células possam vir a tratar algumas doenças, mas para isso

mesmo é importante fazer pesquisa.

Qualquer procedimento novo na medicina, qualquer medicamento

novo que vai ser lançado no mercado, isso significa que os centros de

pesquisas vão ficar, anos a fio, estudando aquele medicamento.

Então, primeiro a pesquisa, por isso que estamos começando em

ratos, obviamente. Vamos fazer pesquisa em ratos, camundongos. Verificar a

segurança, a eficácia, a real eficácia para saber se é a célula-tronco que está

funcionando ou não é a célula-tronco. Ou, se é a célula-tronco, qual é a

melhor, qual é a melhor forma de administração? O que é seguro para o

paciente? É importante toda a comunidade saber disso. Mais um detalhe,

ninguém no mundo, não só no Brasil, ninguém no mundo utiliza células-

tronco embrionárias em pacientes, ainda. Quando se fala em células-tronco

embrionárias é apenas pesquisa. Nenhum caso no mundo foi utilizado em

seres humanos. Qualquer coisa diferente disso não é verdade.

É importante sabermos o que é exagero e o que é realidade. Bem, isso

tem a ver com a exploração antiética do sucesso, porque, realmente, as

células-tronco têm atingido um grande interesse da mídia. A mídia está

sempre interessada em saber do assunto, está sempre procurando os

pesquisadores envolvidos. Infelizmente, paralelamente a isso, como em todas

as categorias, sempre há pessoas que podem vir a explorar esse sucesso

repentino das células-tronco.

O uso das células-tronco embrionárias teve a lei aprovada, mas com

cautela, sempre dentro dos princípios éticos e morais. Podemos usar as

células-tronco embrionárias que vão ser descartadas por não terem sido

utilizadas para a fecundação.

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Também a questão dos bancos de sangue de cordão umbilical.

Estamos lutando para a construção de bancos públicos. Aí também tem

uma questão, se vale a pena ou não congelar para a própria pessoa, nos

bancos privados de cordão umbilical. Ainda falando de sangue de cordão

umbilical, temos aproximadamente 100 bancos de sangue de cordão

umbilical no mundo, 40% deles na Europa, 30% nos Estados Unidos e

Canadá, 20% na Ásia, 10% na Austrália com mais de 150 mil unidades de

sangue de cordão umbilical congeladas.

Existe uma rede internacional chamada Netcord. Ela registra todos os

cordões umbilicais que fazem parte desta rede. E nessa rede que

compreende os 16 maiores bancos dos cordões umbilicais credenciados à

rede, têm mais de 100 mil unidades congeladas, onde quase quatro mil

pacientes já receberam transplantes de células-tronco. Na realidade, já mais

do que seis mil pacientes receberam transplantes de células-tronco, mas

proveniente desta rede foram quatro mil pacientes, na maioria crianças e um

terço deles adultos, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.

Por isso a importância de criarmos os nossos bancos aqui, porque

obviamente vamos achar doador com maior facilidade na nossa sociedade,

porque todos vocês sabem que a questão, o grande problema de achar

doador é a rejeição do órgão. Então, com certeza, vamos encontrar um

doador mais parecido geneticamente conosco na nossa região do que, por

exemplo, na Ásia. Por isso a importância de abrirmos bancos regionais,

locais, no Estado e no Brasil.

Os 75% dos bancos públicos de sangue de cordão umbilical no mundo

são públicos ou privados sem fins lucrativos, ou seja, para algumas doenças,

elas congelam para aquela família que pode vir a necessitar, mas sem o uso

privado, sem indicação clínica, muito poucos.

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Por que isso? Saiu um documento, começou a ficar tão polêmica essa

questão, principalmente na Europa, se deveria ou não incentivar banco

privado de sangue de cordão umbilical, que o Comitê de Ética Europeu criou

esse documento, que está em vários sites, inclusive no site do nosso

instituto. O Comitê de Ética Europeu criou esse documento mostrando que

eles não incentivavam o armazenamento privado do sangue de cordão por

vários motivos científicos, técnicos.

Alguns deles são muito fáceis de entendermos. É que a probabilidade

de uma pessoa que não tem nenhuma indicação de doença usar, de fazer

um transplante, por exemplo, para uma leucemia, é um para 20 mil. Se o

banco público existir, podemos encontrar o doador nesse banco público, não

necessitando a pessoa ter guardado o seu próprio.

Na realidade, até 2003 houve apenas cinco casos, no mundo inteiro,

de pessoas que usaram seu próprio sangue de cordão umbilical contra seis

mil casos de pessoas que usaram sangue de cordão umbilical doados para

os bancos públicos. Então é um gasto que provavelmente a pessoa não

precisaria ter, principalmente, já existindo bancos de cordão umbilical no

mundo. Além disso, países como Itália, Bélgica e França proíbem bancos

privados de sangue de cordão umbilical, só permitem se forem públicos.

Outros países permitem, mas com cautela também.

Vou falar um pouquinho do nosso instituto. O site é

www.celulastroncors.org.br . Uns dos documentos que consta lá é esse

documento do Comitê de Ética da Europa, caso alguém queira maiores

informações. Esse instituto é uma ONG, uma Organização Não-

Governamental, criada justamente para trabalhar junto, por exemplo, com

entidades como a UFGRS, como a Secretaria da Saúde para trazer apoio

para a pesquisa e na construção do banco público.

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E quais são nossas próximas atividades? Como grupo de pesquisa na

UFRGS, que nós temos, e eu, como pesquisadora, também. Na verdade,

temos, junto com a Faculdade de Farmácia, três projetos aprovados, além

desse de lesão de medula espinhal. Vamos também trabalhar com a célula-

tronco num projeto envolvendo o uso de sangue de cordão umbilical, cujo

resultado da pesquisa beneficiará diretamente a utilização e o banco público

de sangue de cordão umbilical. Esses projetos contam com o apoio

financeiro do CNPq e FAPERGS.

Isso que gostaria de ter mostrado a vocês: um pouco do que já

estamos começando a fazer na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e

no Instituto de Pesquisa com Células-Tronco. Portanto, com o apoio da

comunidade e da Secretaria da Saúde do Estado, estamos tentando montar

esse banco público, sempre estabelecendo parcerias e trocando

conhecimento com tantos pesquisadores brilhantes que temos no Brasil.

Esperamos, então, que as células-tronco sejam uma esperança de uma vida

melhor para todos nós, como cidadãos e comunidade.

Muito obrigada.

Dr. Paulo Mayorga

Cumprimento a comissão na pessoa do deputado Paulo Brum.

Parabenizo esta Casa pela abertura de uma comissão tão importante que

vem aqui discutir questões talvez científicas, talvez um tanto quanto

distantes do dia-a-dia de um legislador, mas tão importantes para a nossa

sociedade em termos de perspectivas de futuro, de acesso a novas

terapêuticas, a novas terapias, a novos serviços de saúde, que talvez a nossa

população irá com certeza se beneficiar a médio e longo prazo a partir de

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tudo que foi colocado aqui em termos de futuro e de uma perspectiva

extremamente promissora.

A Faculdade de Farmácia completou, no ano passado, 110 anos. Foi a

primeira unidade acadêmica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Muito nos honra poder estar nesta Casa prestigiando a colega Patrícia

Pranke, professora da nossa faculdade, que vem despontando com a sua

coragem, disposição e entusiasmo, em relação a uma área científica, que

envolve uma série de articulações acadêmicas com outras unidades,

faculdades e instituições.

Infelizmente nos atrasamos na chegada a esta reunião por motivo de

comunicado de falecimento do Dr. Rubem Dantas, professor emérito da

nossa universidade, ex-diretor da Faculdade Farmácia, que estava neste ano

completando 90 anos de idade. Foi uma perda lastimável.

Mas no caminho de lá para cá foi inevitável estabelecer alguns

paralelos, já que o professor Rubem Dantas era exatamente da área de

conhecimento da professora Patrícia – enquanto grande área das Análises

Clínicas.

Questionava-me como um pesquisador que há 80, 90 anos iniciou uma

trajetória, começou a consolidar uma área de conhecimento, a ponto de que,

hoje estejamos em outro extremo, após decorridas várias décadas de avanço

científico, discutindo células-tronco e todas as suas potencialidades. Apesar

dessa tristeza pelo fato não posso deixar de prestar uma homenagem ao

Professor Dantas, que, de certa forma, tem sua trajetória coroada hoje por

meio dessa juventude que aqui está defendendo esses novos rumos.

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Nesse sentido, a Faculdade de Farmácia vem reafirmar o seu compromisso

de apoiar e estimular a realização desses projetos. Manifesto também a

importância de reconhecimento, não só por parte da comunidade científica e

da sociedade civil organizada, mas, principalmente, do poder público, na

valorização e na viabilização de projetos dessa natureza, para que possam,

de fato, ser apresentados ao grande público, não apenas como direito

constitucional, mas como uma conquista social em busca de qualidade de

vida, de acesso a recursos de saúde, dos quais a nossa população é tão

carente e tão necessitada.

Parabenizo a Comissão, mais uma vez, e, junto com a professora

Patrícia, deixo o apelo para que o poder público siga o exemplo desta

Comissão na busca desse crescimento e dessas conquistas. Muito obrigado.

Dra. Martina Fritsch

Apenas desejo agradecer e parabenizar a Dra. Patrícia. Não é a

primeira vez que assisto à palestra dela. É uma pessoa muito entusiasta da

pesquisa das células-tronco. O caminho é muito interessante, mas muito

longo para nós, pesquisadores. São muitas as fases que precisamos definir.

A pesquisa é bastante ampla, porém ainda muito básica nessa área. No

entanto, a Dra. Patrícia nos ajuda a acreditar que realmente teremos êxito e

muito rapidamente.

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23/mar/2006

Células-tronco: realidade e perspectivas

Dra. Elizabeth Obino Cirne Lima Luiz Ávila/AL

Palestrante: Dra. Elizabeth Obino Cirne Lima — bióloga, mestre e doutora

em Bioquímica, coordenadora do laboratório de embriologia e diferenciação

celular do Centro de Pesquisas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que

vem realizando estudos com ênfase em células-tronco embrionárias.

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Convidados: Dra. Clarisse Sampaio Alho, vice-diretora da Faculdade de

Biociências da PUCRS, e alunos da Faculdade de Biociências da PUCRS.

Dra. Elizabeth Obino Cirne LimaUm dos maiores problemas relacionados com as células-tronco e

sociedade é a informação. Trata-se de um assunto extremamente

controverso, polêmico, que abrange várias questões, várias facetas, várias

interpretações, que passa pelo envolvimento das emoções. É fundamental

deixar bem claro alguns conceitos, alguns princípios para que a sociedade

possa realmente tomar partido.

A minha intenção neste encontro é muito mais esclarecer e para

apresentar alguns conceitos, visando a que possamos separar algumas

premissas e evoluir nas discussões, procurando construir uma opinião

formada em cada uma das pessoas. A opinião pública deve ser formada pela

consciência e pela certeza de cada uma das pessoas, e essa tomada de

consciência tem que ser conseqüência de informações corretas.

Penso que o problema não é o da divulgação de informações

incorretas, mas, na realidade, o da falta da divulgação de informações. Então

gostaria de apresentar alguns esclarecimentos para limpar um pouco essa

confusão que se difundiu.

A minha intenção é mostrar um pouco do que estamos fazendo e de

que maneira o nosso grupo e a ciência, de maneira geral, podem colaborar

com a melhoria da saúde da população e com as novas perspectivas

terapêuticas, isto é, a forma como podemos ajudar, colaborar realisticamente

com essas esperanças.

A primeira coisa que precisamos deixar bem claro é que existem

algumas classificações de células-tronco e estas podem ser subdivididas

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quanto à origem, ou seja, de onde são retiradas, de onde são obtidas. Há um

grupo de células-tronco chamadas de células-tronco embrionárias, que são

obtidas de estágios iniciais de embriões e há células-tronco adultas,

diferentes daquelas embrionárias, que são obtidas de indivíduos adultos, de

diferentes tecidos de indivíduos adultos, conseqüentemente não envolvendo

a manipulação de embriões. Então aqui a gente já tem um grande divisor de

águas, já que a manipulação de embriões é uma das grandes questões

polêmicas envolvidas nesse assunto.

É possível separar o grupo que tem um envolvimento direto com a

manipulação de embriões, que são as células-tronco embrionárias, e o grupo

de células-tronco adultas, que são obtidas de indivíduos adultos.

Conseqüentemente, elas têm características diferentes não somente pelo

local de onde são obtidas.

Vamos começar caracterizando as células-tronco embrionárias. Estas

são obtidas de embriões, e uma característica para a ciência extremamente

importante é que essas células-tronco podem se multiplicar in vitro, o que

quer dizer isso, a gente pode colher algumas células dos embriões, levar para

sistemas in vitro, levar para sistemas de cultura de células e multiplicar tais

células, isto é, expandir essas células. Portanto, não é preciso manipular

embriões cada vez que se vai fazer um experimento, cada vez que se vai fazer

uma cultura de células embrionárias. Uma vez que a gente conseguiu

estabelecer uma cultura de células, a partir de um embrião, essas células se

multiplicam, hoje é dito, infinitamente in vitro. Então, a gente tem material

de trabalho para pesquisa.

É possível aumentar a massa celular e conseguir realizar vários

estudos e várias pesquisas in vitro com essas células e, conseqüentemente,

conseguir aprender bastante com elas, uma vez que é possível fazer vários

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experimentos e manipulações para conhecer os diferentes mecanismos de

diferenciação celular. Além disso, essas células-tronco embrionárias têm a

capacidade de gerar todos os tipos celulares que compõem um indivíduo

adulto e, por isso, numa outra classificação são chamadas de pluripotentes,

porque podem gerar, praticamente, todas as células de um indivíduo adulto.

Porém, nunca podem gerar um novo indivíduo completo, que seria a

classificação de células totipotentes.Toti quer dizer que gera um indivíduo

novo, aí é a célula totipotente, que também é uma outra célula obtida de

embriões. A célula pluripotente é obtida de embriões, porém com a

característica de poder gerar todos os tipos celulares, mas nunca um novo

indivíduo.

Na realidade, a obtenção das células-tronco embrionárias é

decorrência da fecundação. A partir da fusão do espermatozóide com o

óvulo, temos um embrião de uma única célula. Esta célula, que agora é o

ovo, o primeiro estágio embrionário, passa a se multiplicar, já que é produto

da fusão do núcleo do espermatozóide e do núcleo do gameta feminino.

Esse novo embrião começa a se multiplicar, cada célula se multiplica

gerando duas células e elas vão se multiplicando. Ao se multiplicar, cada

célula divide-se em duas e assim por diante, então vai crescendo e se

multiplicando, tendo diferentes estágios, com nomes diferentes, embrião de

uma célula, de duas, de quatro. Assim vai até chegar a um estágio em que

não se consegue mais contar. É esse envoltório com várias células idênticas

que é chamado de zona pelúcida.

O envoltório, chamado zona pelúcida, chegando ao estágio chamado

de blastocisto, onde temos uma única camada de células oriundas dessa

célula, se organizam numa estrutura circular com uma única camada de

célula e numa posição desse blastocisto, como é chamada essa estrutura,

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temos uma concentração de várias dessas células que ficam concentradas

numa região chamada de massa celular interna.

A partir dessa massa de células é que podemos colher amostras

dessas células, daqui temos a origem das células-tronco embrionárias

pluripotentes. Essas são as que podemos levar para a cultura de células,

expandi-las e realizar diferentes trabalhos.

A gente parte de um embrião, que é de uma célula, e que se multiplica

e gera uma massa de células. Depois gera a estrutura chamada blastocisto,

uma camada externa de células, e no interior uma massa interna celular. As

células dessa massa interna podem ser levadas para cultura e, em condições

adequadas, podem gerar diferentes tipos celulares típicos de tecidos de

indivíduos adultos, como células hematopoéiticas, células nervosas, células

musculares, conjuntivas, epiteliais e assim por diante.

Hoje, nós sabemos algumas condições para privilegiar a diferenciação

das células-tronco embrionárias em alguns desses tipos. Nós sabemos que,

com a adição de ácido retinóico, por exemplo, ou outras substâncias, pode-

se privilegiar a diferenciação da célula tronco embrionária para músculo

cardíaco ou para célula nervosa. Na realidade, nós precisamos ter muita

cautela, porque nós não temos o domínio absoluto de cada etapa, de cada

processo, para que realmente tenhamos o controle da diferenciação celular.

A grande promessa que acredito que o trabalho com células tronco

pode nos trazer é o aprendizado sobre diferenciação celular. Nós, primeiro,

precisamos aprender muito sobre diferenciação celular. A partir do momento

em que tivermos conhecimento suficiente para poder controlar alguns

mecanismos de diferenciação celular, aí sim, vamos poder pensar em falar

que vamos ter ferramentas que possam vir a se transformar em novas

terapêuticas e poder prometer alguma nova terapia a médio prazo.

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Hoje, penso que o trabalho ou a aplicação prática dessa ferramenta do

trabalho com as células-tronco embrionárias como alternativa terapêutica é

uma promessa para longo prazo. Nós temos muito que aprender, é óbvio que

tem muita gente trabalhando, tem muita gente querendo aprender. No

mundo inteiro, sobre essas células, tem muita gente trabalhando, mas ainda

pouco se sabe.

Vou listar alguns dos projetos que temos sobre células tronco, que

estão acontecendo no laboratório. Gostaria de ressaltar que esse foi o

primeiro projeto que se tem notícia, apoiado pelo governo brasileiro, para

estudar células-tronco embrionárias. É um projeto do nosso laboratório e

um grupo alemão, da Universidade de Munique, onde colaboramos com o

grupo do centro de pesquisas gênicas daquela universidade, através de um

projeto de estabelecimento da rotina e manutenção de células no Brasil.

Fomos para a Alemanha e trouxemos pesquisadores de lá para

trabalhar no nosso laboratório e, a partir desse convênio montamos, pela

primeira vez no Brasil, rotinas de cultura de células-tronco embrionárias.

Esse foi, então, o embrião, digamos assim, das nossas atividades com

células-tronco no Brasil, no nosso laboratório. Isto aconteceu em 2000, faz

bem pouco tempo.

Em seguida, depois da rotina estabelecida, começamos a desenvolver

trabalhos de indução de diferenciação celular in vitro para, então, tentar

aprender um pouco sobre os mecanismos de diferenciação celular. Quanto a

isto temos alguns trabalhos de tese publicados e conseguimos estabelecer

modelos de diferenciação celular e produção de células nervosas, a produção

de células cardíacas in vitro, a partir de células-tronco embrionárias.

Por fim, hoje, com células tronco-embrionárias, temos um projeto em

andamento, é um modelo para produção de células pancreáticas, produtoras

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de insulina, com o mesmo grupo alemão. Hoje temos dois alunos de

doutorado trabalhando na Alemanha. Pesquisadores vêm todos os anos e

nós também vamos para lá todos os anos. É um programa custeado pela

CAPES, do Ministério da Educação, e que visa à formação de recursos

humanos. Então, a gente manda alunos de doutorado para a Alemanha,

manda professores e pesquisadores para a Alemanha e recebemos, da

Alemanha, pesquisadores, professores e alunos de doutorado, também. É

bastante interessante este intercâmbio, um nível bastante adiantado de

formação científica, o que é bastante produtivo. Rendem muito essas visitas,

essas trocas, esses intercâmbios trazem muitos bons frutos, têm trazido

muitos bons frutos para o nosso laboratório. Acredito que para eles também,

apesar de eles terem uma autonomia maior do que a nossa.

No momento, então, estamos envolvidos com esse projeto. Células-

tronco estão sendo produzidas na Alemanha hoje, com uma aluna nossa de

doutorado que está lá, dando seqüência a um projeto que se iniciou no ano

passado, quando fizemos algumas construções genéticas e transformamos

aquelas células-tronco embrionárias quando elas ainda estavam num

modelo indiferenciado. Introduzimos nestas células-tronco embrionárias

uma seqüência de DNA que vão priorizar, ou modular positivamente a

diferenciação dessas células. À medida que colocamos essas células em um

modelo de diferenciação solar, elas se diferenciam prioritariamente em

células pancreáticas, produtoras de insulina. Então, são com estas

construções gênicas que estamos trabalhando no momento.

Já temos clones de células-tronco embrionárias transformados com

estas seqüências gênicas e, com isto, já temos um sistema funcionando para

diferenciação de células tronco no sistema de diferenciação solar,

priorizando a diferenciação para célula pancreática produtora de insulina.

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Como disse no início, o trabalho com as células tronco embrionárias

são extremamente importantes no sentido de termos condições de aprender

com um modelo que acho riquíssimo para aprender sobre diferenciação

celular. Mas quando poderemos pensar em transferir estas células

produtoras de insulina, filhas daquelas células-tronco embrionárias para um

paciente, fazer um transplante celular para um paciente? Acredito que isso

ainda falta bastante tempo porque não temos ainda um controle absoluto da

diferenciação celular. E o risco de transplantar uma célula-tronco, num

estágio embrionário para um paciente, é bastante grande.

Mesmo em cobaias, ainda não feitas experiências com transferência de

célula. Somente da indução de diferenciação in vitro. A idéia é que, à medida

que dominemos mais o processo de transformação de célula-tronco

embrionária em célula produtora de insulina, à medida que tivermos a

“certeza” – entre aspas – ou um domínio mais eficiente da técnica para poder

ter uma cultura realmente enriquecida e perto de 100% nessas células –

pureza é difícil de falarmos –, a medida em que consigamos purificar ao

máximo essas células produtoras de insulina e eliminar as que não se

diferenciaram, então passaremos para os primeiros experimentos in vivo,

mas ainda com modelos animais.

Não temos perspectiva de quando iniciaremos os experimentos in vivo.

Acredito que precisamos de mais dois ainda com esse experimento, com esse

projeto. Com outros modelos que ainda não dominamos o processo de

diferenciação solar, o tempo é bem maior para podermos chegar a falar em

aplicação prática ou transferência de células mesmas.

Por outro lado, as células-tronco adultas – como mencionei – não

envolvem a manipulação de embriões, podendo ser obtidas por diferentes

tecidos, os tecidos mais conhecidos ou mais falados, como fonte de células-

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tronco adultas, são a medula óssea, o sangue de cordão e o sangue

periférico. Ainda existem células-tronco, residentes em alguns tecidos, que

não têm a mesma capacidade de diferenciação.

Como por exemplo, existem células-tronco que moram dentro do

sistema nervoso, dentro do pâncreas e dentro do fígado. Essas têm uma

capacidade de diferenciar-se comprometida com órgão em questão. Elas

dificilmente se transformam em outro tecido, que não seja aquele com o qual

elas estão intimamente em contato. Então, existem vários tipos de células-

tronco adultas, mas essas são as que têm a maior capacidade de se

diferenciar em outros tipos celulares.

Se pensarmos e relembramos dos conceitos que foram falados, a

célula-tronco embrionária é obtida de embrião, tem toda a problemática de

se manipular embriões. As células-tronco adultas tão facilmente acessíveis

porque se olharmos esses tecidos, coletar a medula óssea é fácil, o sangue

de cordão, sangue periférico é fácil e placenta é fácil. Para que vamos mexer

num vespeiro, se temos essas possibilidades disponíveis?

Na realidade, a justificativa para mexer no vespeiro é a plasticidade,

que é a capacidade que as células-tronco tem de se diferenciar em outros

tecidos. Esse é o grande argumento para continuarmos trabalhando com

células-tronco embrionárias, é a capacidade e a potencialidade que essas

células têm. Além das questões práticas que mencionei que a célula-tronco

embrionária conseguia multiplicar in vitro. Não conseguimos multiplicar a

célula-tronco in vitro.

Nós dizemos que não essas células não se multiplicam, na realidade,

não é que elas não se multipliquem, somos nós que não conhecemos o

sistema de como fazer com que elas se multipliquem, deve existir um

sistema, mas não conhecemos. Ninguém no mundo sabe pegar uma célula-

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tronco de um tecido adulto de qualquer uma das fontes mencionadas e fazer

com que elas cresçam e se multipliquem in vitro, não se consegue.

Além disso, elas podem dar um número bem mais reduzido de tipos de

celulares maduros, ou seja, aquela plasticidade mais reduzida. Elas não têm

capacidade de gerar todos os tipos celulares de um indivíduo.

A medula óssea significa a parte central de ossos longos. Os ossos

longos têm as suas extremidades calcificadas. Na parte central, tem o que

chamamos de medula óssea, que é uma parte viva, rica, cheia de células. É

dentro desse ambiente que temos células-tronco adultas que se multiplicam,

diferenciam-se e que há alguns anos achávamos que originavam células da

linhagem hematopoiética. De fato, temos visto que as células-tronco

hematopoiéticas não só têm capacidade de dar origem a todas as células-

tronco hematopoiéticas adultas, podem ainda dar origem a alguns outros

tipos de tecidos.

Colhemos uma amostra desse conjunto de células que tem dentro da

medula óssea e levamos para um tubo. Na realidade, como não conseguimos

fazer com que essas células se multipliquem in vitro, colhemos a célula e ela

tem que ser transferida diretamente para o paciente, porque pouco se

consegue fazer. Na realidade, o que existe de célula-tronco hematopoiética

dentro da medula óssea é algo em torno de 0,0001%. Pescar essa célula é

muito difícil.

Trabalhar com essa célula in vitro já que não sabemos como mantê-la

viva e se multiplicando in vitro não nos resta outra chance a não ser colher

uma mostra de célula de medula óssea, acreditar que estatisticamente ali

dentro tem célula-tronco adulta e transferir essas células diretamente para o

paciente, para diferentes tecidos, como tem sido feito, por exemplo, com os

pacientes cardíacos.

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Coletamos e, na realidade, na hora que é transferido não sabemos

exatamente quantas células-tronco tem ali dentro. Mas o que foi

demonstrado é que tem, depois vimos que tem. Na realidade, na hora da

cirurgia, colhemos do paciente ou de um banco de células e transfere-se

para o paciente. E uma alíquota da célula que você transferiu é levada para

análise e a análise vai dizer mais tarde ou no dia seguinte o percentual de

células-tronco que tinha naquela amostra. Mas isso só fica sabendo na

realidade depois que transferiu para o paciente.

Mesmo assim, esses resultados feitos com os pacientes cardíacos

mostraram resultados positivos de que essas células de alguma maneira

colaboravam com a regeneração do músculo cardíaco e ajudava na

recuperação do órgão dos pacientes.

Nesse sentido, temos alguns outros projetos com células-tronco

hematopoiéticas em modelos animais, inicialmente acontecendo no nosso

grupo e o primeiro é a recuperação de músculo cardíaco após enfarto agudo

e crônico. Esse é um modelo que já feito em um ano.

Já foi demonstrado que funciona, mas, o que queremos com esse

trabalho não é mostrar que a célula-tronco regenera ou auxilia na

regeneração, mas, sim, tentar descobrir de que maneira ou quais são os

mecanismos envolvidos na regeneração do músculo cardíaco quando temos

uma situação de lesão e administra as células-tronco adultas. No caso o

modelo animal usado é rato. A idéia é estudar esse mecanismo.

Um outro modelo animal com que trabalhamos é a regeneração

hepática em falência hepática fulminante. Também temos um modelo com

ratos que são tratados e têm uma falência hepática fulminante importante, e

os nossos experimentos de transferência de célula-tronco adulta

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hematopoiética para esses ratos mostraram uma sobrevida e uma

regeneração do fígado desses animais.

Esse é um projeto que traz uma esperança interessante, porque

existem vários pacientes esperando, por exemplo, por um transplante que

seja compatível com o paciente e às vezes o órgão não chega, e o paciente

acaba morrendo vítima de uma falência hepática fulminante, uma situação

aguda e a idéia desse projeto é poder fazer com que esse paciente tenha uma

leve recuperação.

Não conseguimos fazer a restauração do fígado, não conseguimos

regenerar o fígado completamente, mas conseguimos restabelecer a função

hepática num pequeno grau e por um pequeno espaço de tempo. Talvez o

tempo necessário para que esse paciente tenha a chance de receber o

transplante e ter sua função hepática regenerada. Seria uma possível

alternativa, mas lembrando, de novo, que os trabalhos são feitos com

modelos de animais.

No Hospital de Clínicas, estamos realizando trabalhos com modelos de

outros tipos de animais na linha de fígado, inclusive com porcos. Talvez

tenhamos outras novidades.

Além disso, também estamos desenvolvendo um trabalho bastante

interessante na recuperação testicular. Nesse item temos um modelo de

degeneração testicular causada por um fármaco, o mesmo utilizado na

quimioterapia.

Os pacientes que precisam ser submetidos à quimioterapia se tornam,

como conseqüência, inférteis, pois ocorre a degeneração do tecido testicular.

Nesse processo de degeneração a espermatogênese acontece porque o

testículo não promove a diferenciação dos espermatozóides.

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Nesse sentido o nosso trabalho foi o de induzir à degeneração

testicular, primeiramente com ovinos, mas agora os experimentos são com

ratos. Tanto a degeneração testicular dos ovinos como a dos ratos foram

realizadas com o mesmo fármaco utilizado para a quimioterapia.

Os animais são tratados com células-tronco adultas. Restabelecemos

parcialmente a estrutura do testículo a ponto de promover novos ciclos de

espermatogênese, recuperando, então, a capacidade de fazer a maturação

dos espermatozóides, o que torna o indivíduo novamente fértil.

Esse trabalho foi bastante interessante. Após mais ou menos 15 dias

conseguimos ver espermatozóides adultos e o animal recupera a função de

diferenciação de espermatozóides completamente. Esse trabalho nos

possibilita, a curto prazo, a aplicação terapêutica em pacientes que foram

submetidos à quimioterapia ou a tratamentos com drogas que levaram à

degeneração testicular.

Ainda com modelos em animais, temos a recuperação de tendão após

lesão traumática e à recuperação dessa estrutura com células-tronco

adultas. Esses dois projetos, o da regeneração, tanto de tendão como de

músculo, foram iniciados no verão. Recém conseguimos estabelecer um

modelo de lesão tendínea e muscular. Agora estamos trabalhando no

estabelecimento dos modelos. Nos próximos dois meses começaremos os

experimentos em outros, o da regeneração das estruturas com células-

tronco adultas. Em humanos, os projetos que desenvolvemos com células-

tronco hematopoiéticas, células-tronco adultas, são para recuperação de

lesão tendínea e de estruturas articulares.

Temos a sorte de contar com um dos maiores cirurgiões ortopédicos e

traumatologista do Brasil, o Dr. João Ellera Gomes, que recentemente

recebeu prêmio por desenvolver uma nova técnica cirúrgica de joelho e de

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ombro. O Dr. João nos procurou para propor uma associação porque

gostaria de tornar a sua técnica cirúrgica mais eficiente. Ele gostaria de,

junto com a sua técnica cirúrgica, fazer a adição de células-tronco adultas.

O projeto já foi submetido ao Comitê de Ética do Hospital de Clínicas,

que já o aprovou, e o Dr. João está começando a selecionar os grupos de

pacientes para começarmos as cirurgias em seguida. O projeto já está

aprovado, mas não temos ainda nenhuma cirurgia realizada. Recém foi

aprovado, há cerca de 10 dias. Então, são dois os projetos já aprovados e

que em termos de aplicação deixaram de ser promessas.

Na realidade começaremos as primeiras cirurgias e daqui a um ano

teremos os primeiros resultados sobre e o efeito das mesmas. Mas em

termos de aplicação estamos começando os primeiros estudos na utilização

em humanos, de fato. Isso já é uma realidade.

Voltando um pouco para o outro assunto, em termos de perspectiva de

células-tronco embrionárias, na medida em que conseguimos dominar muito

mais do que hoje a diferenciação celular – considerando um paciente que

necessita de transplante de tecido –, poderemos, por exemplo, colher uma

célula de pele. A parte central é o núcleo da célula e dentro do núcleo temos

o material genético ou as diferentes células desse homem, não interessa se é

célula epitelial ou nervosa, músculo ou tecido conjuntivo. Dentro do núcleo

há material genético exatamente idêntico em todas as células.

Por isso, em medicina forense, podemos coletar bulbos de pêlo, de

cabelo ou de fragmento, tecido de mucosa, pele ou ossos para fazer a

identificação genética. É como se fosse um cartão de identificação, todas as

células de um mesmo indivíduo têm exatamente o mesmo DNA.

Quando transferimos o núcleo, por micromanipulação, retiramos o

núcleo dessa célula e transferimos para outra que foi esvaziada, ou seja, que

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é um gameta feminino e seu núcleo foi retirado. Pegamos o gameta feminino,

tiramos o núcleo, que é a informação genética dessa mulher e colocamos o

núcleo que contém a informação genética do paciente.

Essa célula, que agora é uma quimera, uma mistura do material

genético do homem com a célula enucleada da mulher, em condições

adequadas de cultura, multiplica-se como se fosse um embrião, fazendo

multiplicações duplas até gerar o blastocisto, uma estrutura de camada

única que, numa das extremidades ou numa porção, tem a concentração de

células de massa interna, de onde se podem retirar essas células.

Dessa forma, temos uma cultura de célula-tronco embrionária

idêntica, com material genético idêntico ao do homem doador do núcleo.

Uma vez em cultura, podemos fazer com que essa célula-tronco embrionária

se transforme em diferentes tipos celulares ou na que o paciente necessita

para o transplante, e assim se produz in vitro células idênticas sem o risco

de rejeição.

Essa é uma promessa superinteressante e excitante. Ficamos

sonhando com o dia em que teremos nos hospitais salas como a de um

supermercado com potes de órgãos de células pré-produzidos, compatíveis

com diferentes indivíduos. O paciente entra, colhe uma amostra, vai para a

sala ao lado, produz um fígado ou coração novo, volta com o carrinho de

supermercado e entrega para o médico fazer o transplante. Esse é um sonho

delirante, mas plausível, se pensarmos na evolução científica.

O grande complicador pode existir em relação a esse futuro é o

conhecimento ser barrado. Fingir que não sabemos, não é possível; proibir

que se manipule ou se trabalhe em prol da ciência é um grande erro.

Precisamos, sim, discutir muito, conversar para formar opinião e para

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chegarmos à conclusão de quais devem ser as regras daqui para frente, de

que maneira devemos trabalhar e que tipo de pesquisa podemos apoiar.

Proibir só prejudica as pessoas de bem que estão pensando em

trabalhar seriamente em prol da ciência e da sociedade. Quem atua na

contramão do bem público vai continuar atuando. Por isso, proibir significa

dar mais poder para quem é do mal e tirar as condições das pessoas que

querem ajudar.

Não dá para voltarmos atrás e fingirmos que isso tudo não existe, mas

dá, sim, para discutirmos bastante, a fim de formarmos opinião e sabermos

de que maneira poderemos evoluir, para onde vamos caminhar, que tipo de

trabalho devemos privilegiar, que tipo de ação queremos no futuro em prol

dos nossos pacientes e do bem-estar da comunidade.

Muito obrigada.

Dra. Clarisse Sampaio AlhoÉ um prazer estar aqui representando a Faculdade de Ciências da

PUCRS, universidade em que estão sendo desenvolvidos muitos projetos

envolvendo as células-tronco. De fato, é uma alegria saber que, em nosso

Estado, existe uma comissão formada com esse propósito. É sempre bom

assistir a conferência da Dra. Elizabeth e podermos perceber o quão

avançados estamos no Rio Grande do Sul e no País, em relação ao cenário

mundial.

A nossa instituição tem tido uma preocupação com a boa conduta

desses tipos de investigação nos âmbitos legais, morais e éticos. O grupo da

UFRGS, aqui representado pela Dra. Elizabeth, sempre trabalhou com muito

rigor e seriedade científica.

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Infelizmente, essa área das células-tronco mostrou ultimamente um

viés de falta de seriedade muito grande. Acompanhamos escândalos

internacionais envolvendo esse tipo de investigação, isso é uma lástima

porque, além de frear e confundir o avanço dessas tecnologias para o bem-

estar social, afeta diretamente os sofrimentos pessoais de cada indivíduo que

precisa de uma terapêutica para se recuperar.

A nossa preocupação, do ponto de vista ético do desenvolvimento e da

aprovação dessas pesquisas, vai desde o âmbito maior, que é a ciência, até

as particularidades de cada paciente que nos telefona contando o seu drama

pessoal, do seu filho ou do seu esposo, precisando de auxílio e confiando,

tendo esperanças na ciência.

Cada vez que uma pessoa tem as suas esperanças frustradas, a sua

vida perdida em função da ciência ter travado suas experiências por más

condutas em pesquisas, isso reflete negativamente em todos os aspectos.

Ressalto a importância de uma comissão que tenha clareza de

conhecimento técnico – que não é a área dos parlamentares, mas dos

cientistas –, a conversa entre a comunidade científica e a sociedade em geral

interessa muito, e essas propostas são as que promovem os intercâmbios de

conhecimento e as tomadas de decisões.

Acompanhamos as tomadas de decisão, em nosso País, com relação às

legislações que permitem ou impedem determinados tipos de investigação

com células-tronco embrionárias humanas. Essas decisões têm que ser

embasadas em conhecimento científico sério e tomadas por pessoas que, de

fato, trabalhem com isso.

Pelos trabalhos que temos acompanhando no Comitê de Ética e de

Pesquisa da PUC e na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa no Brasil –

CONEP –, chegamos à conclusão de que cada projeto é isolado. Por isso,

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tivemos que vivenciar a aprovação ou não da Lei de Biossegurança, que era

algo generalizado, e sabemos que essa generalização permite os andamentos

do bem e do mal.

Temos observado que cada projeto tem que ser avaliado

independentemente. Esse projeto faz parte de um grupo que tem rigor

científico e seriedade, portanto deve ser aprovado, pois virá para o bem, e

outros não devem ser aprovados porque não estão sustentados

cientificamente ou não têm perspectivas de ter utilização com seriedade.

Uso a palavra para agradecer o convite para participarmos deste

encontro, conhecer a comissão e, uma vez mais, assistir ao relato do grupo

da UFRGS.

Parabenizo a iniciativa, porque certamente isso será um benefício

muito grande para o nosso Estado e para a nossa sociedade em geral. Muito

obrigada.

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30/mar/2006

Realidade e perspectivas na terapia com células-tronco

Dr. Jefferson Braga Silva Marco Couto/AL

Palestrante: Dr. Jefferson Braga Silva — médico, livre docente e professor da

faculdade de Medicina da PUCRS.

Convidada: Dra. Karolyn Sassi, diretora-geral do HemoCord

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Dr. Jefferson Braga SilvaEm primeiro lugar, agradeço o convite para comparecer a esta reunião.

Sou médico, realizo cirurgias e faço fundamentalmente pesquisa cirúrgica. O

assunto células-tronco nos interessa há bastante tempo, e temos hoje

algumas questões bem estabelecidas na utilização dessa terapia, desse

tratamento com células-tronco.

Começamos, como sempre, pela cirurgia experimental, por

procedimentos em animais, e depois evoluímos para a terapia em humanos.

Esse título da palestra, Realidade e Perspectivas na Terapia com Células-

Tronco, corresponde exatamente ao que propõe. Na verdade, temos uma

realidade bem estabelecida hoje em algumas doenças e perspectivas

bastante promissoras em outras. Esse trabalho todo foi desenvolvido na

universidade dentro de um laboratório de cirurgia experimental, um prédio

construído ao lado do hospital da PUC onde realizamos todas essas

pesquisas.

É importante definir célula. A célula, na verdade, é um espaço vazio. Ela

foi descrita inicialmente por Robert Hooke e possui diversas estruturas, cada

uma com determinada função, e o núcleo rege tudo.

Uma definição típica e clássica de células-tronco é que são células

imaturas que não têm forma nem função, mas têm grande capacidade de se

proliferar e de poder originar diferentes tipos celulares. A célula-tronco,

acrescida de fatores de crescimento, pode – ou não – se diferenciar em tecido

neural, em tecido nervoso e em músculo.

Temos várias possibilidades de obtenção de célula-tronco. Nas próximas

semanas vocês vão ouvir a Dra. Sassi, do HemoCord, falar sobre cordão

umbilical. Outras possibilidades são a medula óssea, que é no que temos

maior experiência na universidade, a célula embrionária, que vou explicar

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para vocês, e hoje apresentaremos outra linha, que é a obtenção de células-

tronco a partir da gordura e de células olfativas.

No cordão umbilical não vou me deter, vou deixar para a próxima

palestra. Na verdade, no sangue existe uma quantidade bastante importante

de células-tronco, que podem ser usadas para o tratamento de algumas

doenças.

Vou abordar hoje fundamentalmente a medula óssea, que é o que

usamos. São células não completamente diferenciadas que vão servir de

fonte celular para todo o organismo. A medula óssea é o que está dentro do

osso e que pode se diferenciar em fígado, tecido gorduroso, tecido cardíaco,

tecido epitelial, neurônio.

No primeiro dia das células embrionárias, quando ocorre a fecundação,

chama-se zigoto; no terceiro ou quarto dia, totipotente; e depois, blastocisto.

É aqui que ocorre a separação, ou seja, retiramos a célula pluripotente do

blastocisto, colocamo-la em cultura, e ela vai se diferenciar em outros

tecidos. O grande problema ético da célula embrionária é justamente a

destruição do blastocisto, que não irá mais evoluir até o ser humano.

Há algumas questões relacionadas à bioética, fundamentalmente à

célula-tronco, sobre se é embrionária. Além disso, sabemos todos da Lei de

Biossegurança, que foi aprovada em março de 2005 pelo governo federal.

Existem algumas críticas – não só nossas –, alguns aspectos culturais e

religiosos têm de ser discutidos, e não há comprovação prévia da eficácia da

terapêutica dessa célula embrionária.

Algumas questões não vou discutir, mas vou deixá-las como incentivo à

reflexão. Quando começa a vida, na fecundação ou no nascimento? A

medicina e a sociedade já estabeleceram quando ocorre a morte: a morte

existe quando temos um silêncio isoelétrico no eletroencefalograma. Aí

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acontece a morte. A vida, porém, nós não sabemos se começa na fecundação

ou no nascimento. Na verdade, aqui é que se inicia a discussão na bioética.

O que eu quero mostrar para vocês é isto, a realidade e as perspectivas

na terapia com células-tronco, que pesquisas temos com resultado, sem

resultado, e a experimentação clínica. Dentro da experimentação clínica,

temos inicialmente pesquisas em seres humanos sobre a utilização na

terapia do quelóide, que é aquela cicatriz hipertrófica, uma cicatriz feia, e

sobre a utilização de gordura como fonte de células-tronco. Com resultados,

temos as pesquisas sobre o nervo periférico e a calvície.

Na experimentação animal, estão em andamento pesquisas sobre

insuficiência renal, isquemia, regeneração óssea, cartilagem e músculo.

Temos, com resultados muito interessantes, estudos sobre a cirrose, sobre a

regeneração da unha e da medula.

Abordando o nervo periférico, ele nada mais é do que uma porção de

cabos, envoltos em uma membrana. Quando vim para Porto Alegre, em

1995, tínhamos o caso de um paciente que sofrera um trauma no antebraço

e que, por um problema burocrático, não recebera assistência imediata, indo

recebê-la dois ou três meses depois, e então sofreu uma perda, pois os

tecidos se retraem. Em casos desse tipo, temos duas opções: ou fazemos um

enxerto para fazer a ligação desse nervo com outro, ou fazemos um

procedimento chamado de tubulização, que se trata de colocar um tubo

entre duas extremidades nervosas: nervo e nervo, e o tubo em volta, para

que o nervo cresça por dentro desse tubo.

Essa foi nossa tese de mestrado em 1997, depois fizemos algumas

publicações. Queríamos que o nervo se regenerasse, mas não sabíamos por

que o nervo se regenerava, se aqui é um regenerado nervoso, e de repente ele

pára. Não sabíamos explicar por que, em alguns pacientes, o nervo

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simplesmente parava de crescer, e aí veio uma necessidade do dia-a-dia, de

utilizar células-tronco da medula óssea, dentro daquele tubo. Fomos então

contemplados com o edital do CNPq em 2004 e 2005, para completar esse

estudo.

As pesquisas são feitas em ratos de laboratório. Logo após a secção do

nervo ciático o rato não consegue movimentar a pata direita e manca devido

a uma lesão nervosa. Retiramos a célula-tronco da medula óssea, do fêmur

do rato, essas células são marcadas com GFP que é uma substância que faz

com que eu tenha certeza que o que está se regenerando são as células-

tronco.

Fizemos várias análises para comprovar se a célula-tronco regenerava

realmente. No exame macroscópico, observamos uma regeneração, e a única

diferença com um nervo normal é o grau de densidade. Tínhamos algumas

comprovações, sabíamos que esse nervo transmitia estímulos, pois na

verdade o nervo transmite a ordem do cérebro para o músculo. O estímulo

era normal, então tínhamos várias observações: o exame macroscópico; a

microscopia; e a microscopia eletrônica; e precisávamos saber se esse nervo

era realmente eficaz.

Quatro semanas depois, a cobaia já caminhava normalmente, ou seja,

houve uma regeneração nervosa com a célula. A célula-tronco tem aquele

poder de se diferenciar. Solto no chão do laboratório, o animal não só

caminha como corre bastante. Houve uma boa regeneração funcional.

Isso nos estimulou a fazer um protocolo ao Comitê de Ética, ao Conep,

em Brasília, usando no ser humano. Então unimos pacientes do mesmo tipo

que apresentavam o mesmo tipo de lesão, e procuramos fazer da forma mais

estandardizada possível. Como eu tinha a minha tese, eu usava o meu tubo

vazio, na verdade eu estava comparando 1995 com 2005. Foi isso que

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fizemos, comparamos as duas séries — duas terapias, uma que já era

consagrada no meio da utilização do tubo com a da célula-tronco.

A avaliação dos resultados é importante, para eu poder chegar aqui e

dizer que isso já é uma realidade. Na verdade tenho uma recuperação

motora, sensibilidade de função. E se eu comparar as duas séries, observem

que existe uma nítida superioridade da utilização do nervo mediano com

células-tronco, se eu comparar quando eu não possuía as células-tronco.

Então, houve uma superioridade de resultado, de função, motricidade e

sensibilidade. Esse é um resultado clínico da terapia com células-tronco. O

paciente tem uma recuperação funcional com uma lesão do nervo bastante

interessante, o que nos encoraja a fazer clinicamente isso.

Agora a calvície. A calvície vocês sabem que é um grande problema. Na

verdade, na calvície, temos a perda do folículo, e aí começamos a usar,

também, com fatores de crescimento. A terapia em calvície são folículos de

calvície que colocamos dentro do gel, e isso é colocado na região calva.

Então, fizemos um protocolo clínico sem fator de crescimento e sem

células-tronco e com células-tronco. Então aqui temos um exemplo. A

regeneração com célula e sem, e observamos que houve uma melhora em

torno de 20%. Essas duas terapias, clinicamente, já estão bem estabelecidas

e estão sendo publicadas à calvície e ao nervo periférico.

O que gosto mesmo é das perspectivas, pois na verdade se abre um

mundo a nossa frente. Como já tivemos muito estímulo a partir desses

resultados, começamos com a insuficiência renal, isquemia, osso. Esses

trabalhos todos estão iniciando, mas estes aqui, fundamentalmente, já

terminamos e estamos enviando para aprovação no Comitê de Ética.

Vejam bem, não sou um apologista do álcool, mas posso dizer que os

fígados com cirrose regeneraram de uma forma bastante impressionante.

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Houve praticamente uma normalização das enzimas produzidas e depuradas

no fígado. Tivemos não só uma regeneração hepática macroscópica, mas

também uma regeneração microscópica. O mais importante é que houve

uma recuperação funcional desse fígado.

No último que terminamos, tivemos de criar um modelo experimental

em rato paraplégico. Foi uma coisa muito difícil. Levamos dois anos para

isso. Tínhamos de fazer com que se paralisassem as patas posteriores do

animal, verificar a eficácia e saber se esse trabalho poderia ser reproduzido

por outras pessoas. Também há algo que é quase novo nessa terapia: a

possibilidade de reinjetar célula-tronco no mesmo animal ou na mesma

pessoa.

Para isso, criamos um modelo. Dividimos o animal em três, pois essa

divisão nos proporciona ter um parâmetro de um centímetro distal à secção

da medula. Então se fez uma secção medular aberta, sem traumatizar.

Seccionamos a medula, porque essa era uma forma de verificar se o rato

continuava paralisado. Não queríamos somente traumatizar, porque alguns

poderiam recuperar-se.

Seccionamos a medula com um bisturi e colocamos um cateter – isso

nos permite fazer injeções seqüenciadas, semana a semana, de célula-

tronco. Acreditamos que essa terapia continuada poderia ter melhores

resultados. E foi o que comprovamos. Não precisaria sacrificar o animal:

simplesmente se faria uma injeção.

Levamos dois anos para fazer o modelo de um rato paraplégico. Na

verdade, é uma secção medular. Fazíamos um, dava paralisia pulmonar;

fazíamos outro, dava paralisia intestinal. Até criarmos o nível correto, foi

preciso muito tempo. O que expliquei rapidamente corresponde ao trabalho

de dois anos.

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Três meses depois de iniciado o tratamento, o rato paraplégico já

começou a movimentar a pata dianteira. Ele não conseguia ainda caminhar,

mas, seis meses depois, passa a andar.

É lógico que esta é uma pesquisa experimental, uma pesquisa que

estamos tentando transpor para o ser humano. Estamos fazendo um

protocolo de pesquisa fundamentalmente para os casos agudos, ou seja,

para aquelas pessoas que sofrem um traumatismo, ou seja, que sofrem esse

tipo de acidente e tem paraplegia. Mas é no momento da operação, da

instrumentação pela ortopedia que deveríamos iniciar a terapia celular – e,

mesmo assim, deveríamos fazer terapia descontinuada, ou seja, fazer com

que ela possa se repetir gradativamente por um tempo que pode levar de três

a seis meses.

Quanto à especulação da perspectiva, penso que é válida, porque, na

verdade, é a partir daí que poderemos progredir para o ser humano.

O papel dos senhores, deputados, hoje é sumamente importante. Isso

não é choro de pesquisador. Precisamos é de recurso e apoio da

comunidade. Já disse isso várias vezes. No momento em que a sociedade se

mobilizar e pressionar para que tenhamos recursos, o resultado virá ao

encontro de suas demandas. Precisamos de recursos para centros que façam

esse tipo de pesquisa.

Estive num congresso em Portugal. Estava sentado ao lado de um

americano que tinha ganhado seis milhões de dólares e de um alemão que

tinha ganhado 12, e eles estavam chorando. Eu tinha ganhado 180 mil

reais, e a viagem foi paga com os meus recursos.

Se tivermos algum recurso para esse tipo de pesquisa, poderemos

evoluir para uma terapia celular com célula-tronco real, verdadeira e

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bastante consciente, e isso vai voltar para a população, não tenho a menor

dúvida. Precisamos de recursos, só. Muito obrigado.

Dra. Karolyn Sassi Como estarei aqui brevemente, neste momento vou somente me

apresentar. Na verdade, sou ginecologista e trabalho com reprodução

humana há cinco ou seis anos. Vim porque queria muito conhecer o Dr.

Jefferson, cujos resultados das pesquisas já ouvi falar.

Quero aproveitar para expor o lado de quem trabalha com reprodução

humana e salientar que os recursos têm de ser focados no tipo de células-

tronco que tem dado resultado. Acho que o mais importante são as células-

tronco de medula óssea, de cordão umbilical ou de outras fontes menos

polêmicas.

Quem trabalha com reprodução humana sabe como é difícil o processo.

Para começar, na maioria das clínicas, congelam-se os embriões – os quais

se cogita utilizar para pesquisa – no terceiro dia de vida, e não na fase de

blastocisto. Toda a célula sofre com esse processo de congelamento e

descongelamento. A qualidade embrionária pós-descongelamento cai em pelo

menos 20%. O sucesso depende também da qualidade do embrião antes de

ser congelado. Se era um embrião bonito – o chamado grau quatro – no

momento do congelamento, ele tem uma chance relativamente boa de

implantação no útero de uma mulher. No descongelamento, quando se

transferem esses embriões para o útero, a chance de gravidez cai em pelo

menos 20%.

Muitas vezes, ao descongelam-se esses embriões, não sobra nada para

ser implantado na mulher, pela perda de qualidade. Portanto, sabemos como

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é difícil conseguir embriões bons para serem implantados na mulher no pós-

congelamento, quanto mais conseguir levar esse embrião em cultura até a

fase de blastocisto.

Na verdade, cogita-se utilizar esses embriões para pesquisas, mas para

conseguir levá-los para blastocisto perdem-se muitos.

Dr. Jefferson Braga Silva

Desculpe-me interrompê-la. Gostaria de acrescentar que foi feita uma

lei no Brasil, mas não conversaram com as pessoas que lidam com os

embriões, não perguntaram a opinião que quem faz esse trabalho.

Dra. Karolyn Sassi Isso mesmo, não perguntaram se seria viável ou não.

Dr. Jefferson Braga Silva

Não é viável, não existe nada na literatura que demonstre que isso

funcione. Não estou puxando para o lado da medula óssea, muito menos do

cordão umbilical. Isso todo mundo sabia, não somos nós que estamos

dizendo, é só pesquisar na literatura médica, no Medline, e ver o que está

publicado.

Portanto, fizeram um auê maluco, mas dos 51 projetos do CNPq

constantes no último edital, 49 diziam respeito à medula óssea e cordão

umbilical. Esse edital foi lançado depois da lei. Não há nenhum pesquisador

no Brasil capaz ou em condições de fazer o procedimento a partir de célula

embrionária. Mas publicaram uma lei prevendo célula embrionária.

Li uma crônica na Folha de S. Paulo sobre essa matéria e pensei: estão

investindo, apostando as fichas no lugar errado. Deveriam, ao invés disso,

investir no cordão a na medula, áreas que o Brasil tem tecnologia – inclusive

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está na frente em muitos casos, como em nervo periférico. O nervo periférico

é uma realidade nossa. Em Portugal todo mundo achou lindo, maravilhoso,

mas nos disseram que eles não têm isso lá, porque o paciente corta e é

reparado no outro dia. Portanto, desenvolvemos uma tecnologia para nós.

Deram-nos os parabéns, mas disseram que essa tecnologia vai ficar aqui, do

Equador para baixo. Mas não interessa. Já que criamos, vamos investir

nisso.

Dra. Karolyn Sassi Uma coisa muito grave, na minha opinião, foi levar a esperança a

pessoas com determinadas doenças, iludindo-as como se isso fosse resolver

o problema. Se começássemos a pesquisa com células embrionárias, não sei

se em 10 anos haveria resultados.

Dr. Jefferson Braga Silva

Foi publicada uma reportagem na Veja sobre esse tema. Fui convidado

para dar uma aula na USP e, por acaso, encontrei o paraplégico que

estampava a capa da revista. Na verdade, ele não mexe um milímetro, diz

apenas que tem um pouco mais de sensibilidade. Isso não é resultado!

Portanto, deram à população uma falsa esperança. Eu tenho 292

paraplégicos no meu banco, no consultório. E digo com toda a sinceridade:

não acredito no paraplégico crônico. Honestamente, acho que temos de

apostar as fichas no que se machuca hoje, no trauma agudo, porque é isso

que vai fazer com que tenhamos melhores condições, com que não haja

atrofia. Há várias vantagens. Temos de começar o nosso protocolo – que

espero que o comitê aprove no hospital, para depois mandarmos para a

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Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – Conep –, com a terapia do agudo,

na semana do trauma ou no máximo 10 dias depois dele.

Se conseguirmos obter algum resultado com esses casos, poderemos

expandir esse protocolo para três meses, seis meses, um ano do trauma. Não

sei até onde chegaremos, mas temos de começar pelo trauma agudo.

Deputado Paulo BrumNo meu caso, doutor, sou paraplégico há 28 anos. Vítima de um

acidente de carro, sofri lesão medular. É claro que, quando surgiu o estudo

das células-tronco, me tornei um outro homem. Quem é que não quer ter

uma vida saudável e de qualidade?

Confesso-lhe que sou esperançoso, mesmo com a minha idade

avançada – 47 anos. Só com essa perspectiva, vi-me renascendo. Alenta-me

a idéia de que, talvez, num futuro, seja possível não caminhar, mas ter uma

qualidade de vida melhor para o próprio organismo.

Para o paraplégico, no meu caso, ou para o próprio tetraplégico talvez o

fato de não poder caminhar já esteja superado. Refiro-me ao organismo em

si. Vivemos com metade do corpo. Que bom se as células-tronco pudessem,

de alguma maneira, melhorar essa qualidade do próprio organismo, mesmo

que não venha a caminhar. Bastaria que fossem dadas condições de

sensibilidade. É nisso que me apego, é com isso que me movo com

esperança. Sei que há milhares de brasileiros como eu.

Dra. Karolyn Sassi A esperança é saudável, mas temos de ter os pés no chão.

Dr. Jefferson Braga Silva

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Aí que entra o papel do cientista. Deputado, creio que nós, que fazemos

pesquisa, não podemos tirar a esperança das pessoas, mas também não

podemos dar-lhes a falsa esperança, pois essa é a pior coisa que existe.

Estou falando de peito aberto, trazendo o que temos de real aqui. O que

o deputado me falou nunca ninguém havia me falado. Na verdade, a

expectativa que muitas vezes temos é de fazer andar, mas não é isso que

muitos querem. Existe, portanto, uma grande diferença.

Pode ser que isso seja mais fácil de ser conseguido. Não estou lhe dando

falsas esperanças, deputado, mas pode ser que seja mais fácil. E aí até no

crônico. Tenho a visão de fazer a pessoa caminhar. Essa é a minha

preocupação e, por isso, foquei o meu esforço para o agudo. Por isso foco

para o agudo. Mas se formos ver essa sua necessidade, o crônico, por que

não?

06/abr/2006

Investigação da distribuição das células-tronco mesenquimais in vivo.

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Mestre Lindolfo da Silva Meirelles Luiz Avila/AL

Palestrante: Lindolfo da Silva Meirelles — biólogo, mestre em Genética e

Biologia Molecular, pela UFRGS, e doutorando no Programa de Pós-

Graduação em Genética e Biologia Molecular da UFRGS.

Convidados: Dra. Nance Beyer Nardi, representante do vice-reitor da UFRGS,

Sr. Pedro Fonseca, é colaboradora convidada do Departamento de

Imunogenética da UFRGS e professora do Programa de Pós-Graduação em

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Genética e Biologia Molecular; Dr. César Augusto Zen Vasconcellos, pró-

reitor de Pesquisa da UFRGS.

Mestre Lindolfo da Silva Meirelles

Nesta palestra sobre a Investigação da Distribuição das Células-Tronco

Mesenquimal in vivo, vou apresentar alguns aspectos da biologia da célula-

tronco mesenquimal, que é o que eu procuro investigar enquanto

pesquisador. Não se assustem com esse título.

O que é uma célula-tronco? É uma célula capaz de auto-renovação e de

geração de outros tipos celulares em estágio mais avançado de diferenciação.

Se a gente for tentar trocar em miúdos, é uma célula que é capaz de

proliferar e diferenciar. Naquilo que a gente quiser? Talvez. Mas na vida dela

o papel dela é proliferar e diferenciar em alguma coisa.

É importante definir que existem diferentes células-tronco, e essas

diferenças podem ser categorizadas. Existem as células-tronco embrionárias,

as células-tronco fetais e as células-tronco adultas. No caso, aqui, as fetais

são mais relacionadas com as células-tronco adultas.

Não vou abordar em maior profundidade o tema célula-tronco

embrionária porque eu trabalho com células-tronco adultas e acredito que o

potencial das células-tronco adultas é muito grande, talvez tão grande

quanto a outras células embrionárias e talvez até maior, se considerarmos

outros aspectos.

Mas, enfim, as células-tronco embrionárias são totipotentes ou

pluripotentes, ou seja, podem dar origem a todos os tecidos de um

organismo vivo, inclusive a placenta, se forem totipotentes; ou podem dar

origem a todos os tecidos de um organismo, e não à placenta, se forem

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pluripotentes. Elas têm vários problemas éticos associados sobre os quais

não entrarei em detalhe aqui porque esse é um tema que merece uma

discussão apropriada.

As células-tronco pós-natais ou adultas são em geral multi ou

pluripotentes. E como exemplos cito a célula-tronco hematopoiética, que

está na medula óssea; a célula-tronco neural, que está no cérebro; a

epitelial, que está nos epitélios e nas criptas epiteliais; a mesenquimal, que

está na medula óssea e em outros tecidos – é dessa mesenquimal que falarei

aqui –; e uma outra célula, que trouxe como exemplo também, que se

localiza na medula óssea, nos músculos e cérebro, que foi chamada de célula

progenitora adulta multipotente.

Entrando mais detalhadamente nas fontes de células-tronco temos que

a medula óssea é uma fonte acessível e rica de células-tronco para terapias

ou mesmo para pesquisa.

Na medula óssea existem pelo menos dois tipos de células-tronco

diferentes: uma, que já é conhecida há algum tempo, é a tronco

hematopoiética, que vai dar origem a todas as células sangüíneas; a outra,

que está sendo mais explorada recentemente, é a célula-tronco

mesenquimal, que pode dar origem a tecidos mesenquimais, como diz seu

nome, que são aqueles como ossos, cartilagens, tecido adiposo, estroma da

medula óssea.

Temos a célula-tronco mesenquimal no topo da hierarquia. Através de

estímulos do ambiente durante sua proliferação, ela irá assumir vias de

diferenciação que vão, em última análise, originar ossos, cartilagem,

músculo, estroma da medula óssea, tendão e ligamento, tecido adiposo e

ainda células dérmicas e outros tipos de células. Nos outros tipos de células

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reside uma característica muito importante dessa célula que abordarei logo

em seguida.

Como trabalhamos com essa célula no laboratório?

O que faço é pesquisa básica, porque pesquisa básica é o fundamento

para que haja pesquisa aplicada. Conhecimento é poder. Só conseguimos

controlar aquilo que queremos controlar se temos conhecimento acerca

daquilo.

Trabalho basicamente com células-tronco mesenquimais da medula

óssea de camundongos em laboratório. Na caracterização da célula-tronco

mesenquimal, há um aspecto muito atraente, especialmente do ponto de

vista do potencial de aplicação clínica dessas células. Elas têm uma

plasticidade muito grande, e aqui estou trazendo dados da literatura que

mostram que essas células podem se diferenciar em células neurais. E fora

isso elas também podem gerar células da glia, que também são células

neurais, mas não são neurônios.

Além disso, elas podem ser induzidas e diferenciadas em células

secretoras de insulina, que são semelhantes às células beta do pâncreas,

formando esses aglomerados que estão secretando insulina. Isso é algo

muito interessante porque neurônio é um tipo de célula hectodérmica e

célula secretora de insulina é um tipo de célula endodérmica, o que quer

dizer que, em última análise, a célula-tronco mesenquimal não é

simplesmente mesenquimal, mas na verdade uma célula pluripotente,

porque pode dar origem às células dos três folhetos embrionários. Quer dizer

que essa nomenclatura aqui provavelmente está inadequada. Eu acredito

que está inadequada.

Sumarizando as características da célula-tronco mesenquimal, ela pode

ser obtida da medula óssea, portanto pode ser obtida por um procedimento

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não muito invasivo; pode ser cultivada em estado indiferenciado com uma

metodologia relativamente simples, apesar de que acredito que essa

característica é mais importante para a pesquisarmos e não para a

aplicarmos.

Não acredito que devamos investir todas as nossas fichas na

proliferação, na expansão das células in vitro antes da aplicação, porque

existem problemas genéticos que podem ocorrer devido ao cultivo in vitro.

Mas essa característica é muito importante para que possamos estudá-la,

conhecê-la e futuramente isolá-la ao lado da medula óssea ou de qualquer

outro local do organismo onde ela esteja.

Outra característica muito importante dessas células é que se eu

infundi-las, se eu colocá-las na corrente sangüínea de um paciente, elas irão

se distribuir por todo o organismo do paciente e ficarão lá por algum tempo e

contribuirão para os tecidos onde elas forem parar. Isso é algo importante.

Existem outras características que não cito aqui numa tentativa de

simplificar o conteúdo.

A pergunta que fiz a mim mesmo em certo momento da minha pesquisa

com células-tronco mesenquimais foi a seguinte – e aqui começo a abordar o

tema que trouxe para mostrar: a célula-tronco mesenquimal existe em

outros órgãos que não a medula óssea?

A resposta que encontrei para essa pergunta foi que talvez sim, porque

a literatura trazia evidências de que essas células existem em outros tecidos

em diferentes estágios do desenvolvimento. No estágio pós-natal, após o

nosso nascimento, encontram-se células com características de célula-

tronco mesenquimal no tecido adiposo, também no tendão, na membrana

cenovial, e alguns autores afirmam que também no sangue periférico.

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No estágio de vida fetal, intra-uterina, existem células com

característica de tronco mesenquimal no pâncreas, na medula óssea, no

fígado, no sangue e no sangue do cordão umbilical, que já é considerado

uma interface fetal e pós-natal. Vejam, então, que parece existir uma

distribuição bastante grande, mas só teríamos certeza disso para o período

de vida fetal.

A pergunta que passei a fazer em seguida foi: a célula-tronco

mesenquimal existe em outros órgãos, que não a medula óssea, e nos outros

locais já descritos no período pós-natal. Ou seja, em nós, adultos, existe

célula-tronco mesenquimal por todo o corpo?

Entro aqui no trabalho que foi aceito para publicação no Journal of Cell

Science, que são os resultados parciais do meu doutorado. A resposta que

obtive foi de que elas existem virtualmente em todos os órgãos e tecidos pós-

natais. Isso tem várias conseqüências não apenas para aplicação clínica,

mas para outros procedimentos, sejam clínicos ou farmacológicos de

cuidado com a saúde humana.

A primeira pergunta prática que se faz quando se quer iniciar um

trabalho desses é: como vou saber em que locais a célula-tronco

mesenquimal existe?

Existem metodologias que permitem a análise de portes histológicos em

microscópio, mas até hoje não conhecemos nenhum marcador definitivo

para célula-tronco mesenquimal. Então, posso pegar uma lâmina e enxergar

várias células e não ser capaz de identificar qual delas é a tronco

mesenquimal, mesmo conhecendo vários marcadores que estão relacionados

com célula-tronco mesenquimal.

Outra abordagem que se faz quando se estuda célula-tronco

mesenquimal é o isolamento de células candidatas a tronco mesenquimal da

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medula óssea frescas ou, ainda, a utilização de linhagens celulares com

característica de tronco mesenquimal, fazer uma infusão intravenosa em

animais – e aqui está representado num camundongo – e depois analisar

vários órgãos desses animais, porque as células infundidas têm algum tipo

de marcação que permite que as enxerguemos posteriormente. Mas essa

abordagem somente demonstra aquela característica que falei

anteriormente, que é a capacidade enxertia dessas células. Em última

análise, essa abordagem só vai mostrar a distribuição de células-tronco

mesenquimais infundidas, mas não sua distribuição natural no organismo.

Proponho como metodologia alternativa, uma vez que temos métodos

para estabelecimento e caracterização de células-tronco mesenquimais da

medula óssea de camundongo, o estabelecimento e caracterização de

culturas de células-tronco mesenquimais derivadas de diversos órgãos e

tecidos. Essa seria uma abordagem alternativa, e foi isso que eu fiz.

Então, a resposta à minha pergunta inicial é sim. A célula-tronco

mesenquimal existe em outros órgãos e tecidos, que não a medula óssea, no

período pós-natal. Os órgãos que investiguei foram cérebro, pulmão, timo,

baço, músculo esquelético, fígado, pâncreas e rim.

A pergunta que me fiz, então, foi: o que explicaria a presença da célula-

tronco mesenquimal em todos os órgãos? Será que é uma célula que está

presente na verdade no sangue circulante e, por isso, a enxergo em todos os

órgãos que extraio e faço a cultura?

A resposta para essa pergunta é não, porque quando aplico um

procedimento que retira todo o sangue do animal, coleto o órgão e faço a

cultura, consigo estabelecer a cultura. Quando coleto o sangue desse animal

de maneira adequada e submeto ao mesmo processo de cultivo dos órgãos,

não consigo estabelecer nenhuma cultura. Então, a presença dessas células

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no sangue pode contradizer alguns dados da literatura. Mas com a minha

metodologia não foi possível encontrá-las no sangue.

Então, fica a pergunta novamente: o que explicaria a presença da

célula-tronco mesenquimal em todos os órgãos? Permaneço com essa

pergunta.

Procurei na literatura e encontrei dados a respeito de uma célula que é

chamada de perecito e situa-se abraçando as células endoteliais dos vasos.

Existem dados na literatura que mostram que o perecito é capaz de

depositar matriz mineralizada in vitro, ou seja, capaz de diferenciação

osteogênica e capaz de diferenciar-se em tecido cartilaginoso e tecido

adiposo. Outras evidências da literatura científica indicam que existe uma

sobreposição da identidade da célula-tronco mesenquimal com uma célula

que já era descrita anteriormente, que é o perecito.

A célula-tronco mesenquimal e o perecito são duas faces da mesma

moeda? Provavelmente sim.

Quando fui estabelecer culturas a partir da artéria aorta ou da veia cava

desses animais, obtive culturas semelhantes às demais. E todas as culturas

apresentavam marcador, que é de perecito, de células perivasculares.

Em última análise, existe uma unidade anatômica que faz a filtração do

sangue, produzindo a urina. Essa unidade é chamada glomero. Dentro do

glomero há uma rede de capilares, em que o único tipo de célula é endotelial

que compõe vaso, células especializadas que ajudam a manter a integridade

física dessas células e outros tipos de células que são chamadas mesangiais.

Então, se é verdade que a célula-tronco mesenquimal está associada a

vasos, o cultivo dessa porção isolada deve permitir a obtenção de células-

tronco mesenquimais.

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E isso foi possível quando aquela unidade isolada foi colocada em

cultura. Após três ou quatro dias, já há explantes de células com

características morfológicas semelhantes às células-tronco mesenquimais

que conhecíamos.

Com isso, propusemos um modelo, em que a identidade da célula-

tronco mesenquimal se sobrepõe com a do perecito, e, conseqüentemente, as

células-tronco mesenquimais se distribuem por todo o organismo, ocupando

um nicho perivascular. Esses perecitos ou células-tronco mesenquimais –

chamem como queiram – podem atuar como progenitores para os tecidos a

que pertencem, seja em condições fisiológicas ou em situação de lesão

tecidual.

As conseqüências desse modelo são importantes, portanto, para que

tenhamos uma compreensão mais unificada não só de célula-troco

mesenquimal, mas de todo o quadro de células-tronco existentes no

organismo adulto. Será que muitas células-tronco tidas como tecido-

específicas não seriam na verdade outras faces desse mesmo tipo de células?

Outra conseqüência seria o fato de que, quando administramos

medicamentos por via intravenosa ou por via oral, será que eles não

produzirão algum tipo de alteração nessa parte do nicho das células,

resultando em algum problema nos tecidos?

Isso também quer dizer que a nossa saúde vascular, que todos sabemos

ser importante, é mais importante ainda do que se pensava. Quer dizer que

a saúde dos nossos vasos determinará, em última análise, a saúde dos

tecidos e a nossa saúde como um todo.

Antes de encerrar, eu gostaria de agradecer o apoio financeiro obtido

para a realização deste trabalho, que só foi possível porque houve

financiamento da Fapergs e do CNPq. Ressalto aqui a importância das

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agências de fomento estaduais para o financiamento de pesquisa básica e

aplicada, porque – como já disse – não existe pesquisa aplicada se não

houver pesquisa básica, em especial uma agência financiadora do Estado do

Rio Grande do Sul que possa permitir o estabelecimento de competência

neste Estado, na área de biologia celular, para que possamos ser um centro

de convergências para terapias no futuro.

Também gostaria de ressaltar que sou bolsista de doutorado pelo CNPq,

cujas verbas permitem que eu continue desenvolvendo esta pesquisa.

Agradeço a todos os presentes.

Dra. Nance Beyer Nardi

Agradeço pelo convite que foi feito à universidade. A UFRGS tem

atualmente vários grupos trabalhando com células-tronco, os quais foram

beneficiados nesse edital do CNPq. O nosso é talvez o mais antigo.

Pessoalmente, comecei a trabalhar com célula-tronco antes de ela entrar na

moda. Então, foi uma situação muito interessante acompanhar todo esse

desenvolvimento que vem acontecendo, nos últimos cinco ou seis anos, já

estando no campo.

A discussão está sendo muito interessante. Esta comissão está, sem

dúvida alguma, desenvolvendo um papel bastante importante na discussão

desses assuntos. As próprias perguntas de vocês já mostram que apesar de

não serem da área, como dizem, já conhecem o assunto, já sabem do que

estão falando. São muito interessantes as questões abordadas.

Gostaria de fazer duas observações gerais com relação à discussão que

se está estabelecendo. A primeira diz respeito à sobrevida ou sobrevivências

das células que derivam das células-tronco. Esse é um conceito importante,

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porque achamos que as células-tronco são uma coisa à parte no nosso

organismo, quando na verdade o nosso organismo, para que vivamos

dezenas de anos, depende das células-tronco que temos.

Nada do que há hoje em pessoas com mais de 20 anos, por exemplo,

deriva de algo que não seja células-tronco. Talvez uma exceção seja o

sistema nervoso central, pois os neurônios são células que têm vida muito

longa. Antes acreditávamos que nascíamos e morríamos com os mesmos

neurônios, mas hoje sabemos que não, que vários vão morrendo e sendo

repostos ao longo da nossa vida.

Portanto, o nosso organismo todo vai mudando ao longo do tempo.

Entre os tecidos que mudam muito rapidamente estão, por exemplo, as

células do sangue, que se repõem aos milhões a cada hora – todos vamos

sair desta palestra com milhões de novas células sangüíneas, e milhões

evidentemente vão morrer nesse período –, e as células da pele,

principalmente no verão. Aquela pele descascando são células que morreram

e foram repostas.

Assim como a pele e o sangue, todos os nossos outros tecidos são

repostos ao longo da nossa vida. Em média, de uma forma muito grosseira,

dizemos que a cada sete anos somos novas pessoas. Alguns tecidos mudam

mais rapidamente, outros mais lentamente, isso tudo por causa das células-

tronco. Quer dizer, elas estão repondo as células que nos compõem.

Quando numa intervenção médica as células-tronco são usadas para

regenerar uma lesão, a célula que se origina dela é a mesma que se

originaria em situações normais, só estamos dando uma mãozinha para a

natureza. Então, não há nada de diferente com relação ao produto que vem

da célula-tronco adulta.

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O segundo ponto que quero observar diz respeito à questão

fundamental da aplicação clínica das células-tronco. Não é o momento,

claro, de se fazer a comparação – que vocês já acompanharam – entre célula-

tronco embrionária e célula-tronco adulta. Gostaria de reforçar, entretanto,

que nenhum dos muitos e muitos ensaios clínicos que estão sendo feitos no

mundo todo hoje usam célula-tronco embrionária. Como o Lindolfo disse, ela

ainda é muito perigosa, nós não a conhecemos suficientemente. Todos,

100% dos ensaios clínicos, usam células-tronco adultas ou, em algumas

exceções, célula-tronco fetal, em um ou outro ensaio. Mas célula-tronco

embrionária, nenhum.

O que temos de real com relação a isso? Muito pouco, porque a imensa

maioria dos estudos usa nove, 10, 20 pacientes, sem um controle adequado.

E todos sabemos que o termo célula-tronco hoje é quase mágico. Se

dissermos para um paciente que ele está sendo tratado com célula-tronco,

apenas isso já causa um impacto psicológico que sabemos ser importante na

cura de uma doença.

Alguns estudos estão começando a ser feitos no mundo. Por iniciativa

do governo, está sendo desenvolvido o Estudo Multicêntrico Randomizado de

Terapia Celular em Cardiopatias – EMRTCC –, coordenado pelo Instituto do

Coração de Laranjeiras, no Rio de janeiro.

Nesse estudo, 1.200 pacientes – vejam, não são apenas nove, 10, 20

pacientes – serão estudados por um grupo de instituições no Brasil. Desses

1.200 pacientes, 600 vão receber célula-tronco, 600, não. O paciente não

sabe que está recebendo, o médico também não, alguém certamente sabe.

Isso é o que chamamos de estudo duplo cego, o chamado efeito placebo não

vai estar atuando nesse caso.

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Esse tipo de estudo é que vai demonstrar se realmente as células-tronco

funcionam ou não. Até hoje temos muita expectativa, verificamos que está

funcionando, mas não existe uma análise criteriosa, cientificamente falando,

para termos certeza disso.

Certamente, algumas áreas serão mais fáceis de serem reparadas com

células-tronco do que outras, isso é intuitivo. Para refazermos o tecido ósseo

precisamos de só um tipo de célula praticamente, é necessário preencher

uma cavidade. É muito mais fácil do que constituir o tecido cardíaco, que é

formado de células especializadas. Também é muito mais fácil, infelizmente,

do que compor o tecido nervoso, onde há vários tipos de neurônios

interagindo de maneira exata.

Na área de reparo de lesão nervosa, certamente será mais difícil de

conseguirmos aplicar as células-tronco, mas a quantidade de estudos

realizados no mundo todo, está fazendo o assunto avançar de uma maneira

bastante rápida.

Essas células, com as quais o doutorando Lindolfo Meirelles trabalha,

também estão sendo aplicadas em modelos animais para vários tipos de

doença. Em colaboração, formou-se uma rede em Porto Alegre, em São Paulo

e nos outros Estados para os quais mandamos as células também.

Estamos aplicando essas células em camundongos ou ratos para tratar

diabete, doenças cardíacas, reparo de nervo periférico, reparo de lesão óssea

e de doenças do sistema nervoso central, como mal de Parkinson e de

Alzheimer. Acredito que esse tipo de estudo avance muito rapidamente.

Dr. César Augusto Zen Vasconcellos

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Gostaria de cumprimentar o deputado Paulo Brum, presidente da

Comissão; o deputado José Sperotto; a professora Nance Nardi,

pesquisadora da área; o mestre Lindolfo Meirelles, que brevemente concluirá

seu doutorado; e os presentes.

É uma satisfação podermos contar com pessoas tão brilhantes, como a

professora Nanci Nardi, que é uma batalhadora da área, conhecida,

renomada e que tem uma força de vontade, uma liderança e um carisma

extraordinários. Sentimo-nos extremamente recompensados por contarmos

pessoas tão competentes.

Agradecemos, evidentemente, à Comissão por prestigiar a UFRGS. A

universidade pertence a toda a população do Estado e do País.

Com muito contentamento, professora Nanci Nardi, registramos que a

UFRGS, na última avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior – Capes – a grande avaliação das instituições do País – a

UFRGS ficou em primeiro lugar entre as instituições federais de ensino

superior. Ficamos orgulhosos, pois existem 52 universidades no País – mais

as seis que o presidente da República está criando neste momento – e

conseguimos atingir esse status. Disputávamos com Minas Gerais e Rio de

Janeiro e, por pouco, passamos para o primeiro lugar.

Isso atesta a excelência acadêmica da pesquisa realizada na UFRGS e

comprova a potencialidade que a universidade tem de influir em processos,

em desenvolvimento cientifico e tecnológico e de participar de um programa

tão importante que visa fundamentalmente ao bem-estar da população, sua

melhor qualidade de vida e somos, evidentemente, parceiros da Assembléia

Legislativa nessas iniciativas, agradecendo, novamente, pela atenção e a

oportunidade de poder usar a palavra.

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24/abr/2006

Células-tronco e transplantes de medula óssea

Dr. Luis Carlos Moreira Antunes (E) ao lado do deputado Paulo Brum

Mauro Schaefer/AL

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Palestrante: Luis Carlos Moreira Antunes — médico oncologista do Centro de

Transplante de Medula Óssea do Hospital Universitário de Santa Maria, para

tratar de e transplante de medula óssea.

Convidados: Sérgio Nunes Pereira — médico cirurgião, coordenador de

Pesquisa, Ensino e Extensão do Hospital Universitário de Santa Maria, que,

neste ato, está representando a Dra. Elaine Resener, diretora do hospital, e o

Dr. Larry Argenta, diretor clínico do Hospital Universitário de Santa Maria;

Dra. Leris Bonfanti Haeffner, coordenadora do curso de Medicina da

Universidade de Santa Maria; Dr. Ney Luis Pippi, coordenador de pós-

graduação da Medicina Veterinária; Dr. Alceu Gaspar Raiser, professor do

curso de Medicina Veterinária; Dr. Alexandre Mazzanti, professor do curso

de Medicina Veterinária.

Luis Carlos Moreira Antunes

Primeiramente, agradeço, em nome do Serviço de Hemato-oncologia do

Hospital Universitário, à Comissão Especial das Células-tronco da

Assembléia Legislativa pelo convite para participar deste ciclo de palestras.

No final do ano de 2004 e início de 2005, quando houve repercussão na

imprensa a respeito do uso de células-tronco embrionária, do uso de células-

tronco para trauma raquimedular e a questão da biossegurança, os

pacientes com leucemia, com linfomas, perguntavam se, ao invés da

quimioterapia, poderiam usar célula-tronco.

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Na verdade, a célula-tronco no tratamento de linfoma e leucemia é a

forma mais consolidada de uso terapêutico. O transplante de medula óssea

nada mais é do que o uso terapêutico da célula-tronco. Abordarei essas

questões no início da minha apresentação e, depois, mostrarei alguns dados

sobre transplantes, tentando esclarecer dúvidas.

Conceito de célula-tronco: é caracterizada pela capacidade prolongada

de auto-renovação e diferenciação em pelo menos um tipo celular maduro.

Elas são classificadas de acordo com o tecido de origem, a espécie e o

potencial de diferenciação. As principais fontes de células-tronco são as

embrionárias e as adultas de medula óssea, de sangue periférico, de cordão

e placenta. Essas são as fontes usadas para tratamento. Hoje sabe-se que

existem nichos em órgãos adultos de células-tronco, mas a obtenção de

células-tronco nesses locais é muito restrita.

Com o estudo das células-tronco, novos conceitos, novas questões

foram levantadas. Hoje fala-se em transdiferenciação, que é a diferenciação

de um tipo de célula-tronco em outro. Antes, havia o paradigma de que uma

célula-tronco da medula só iria produzir células hematopoiéticas, mas hoje

se sabe que não é bem assim. Há plasticidade evolutiva, há multiplicidade

das opções de diferenciação. Sabe-se que uma célula da medula óssea pode

dar origem a outros tecidos. Isso foi visto em biópsias de estômago, de tecido

cardíaco de pacientes que haviam sido submetidos a transplante de medula

óssea, nos quais foram encontradas células do doador.

Portanto, a medula óssea possui um tipo de célula-tronco capaz de

gerar todas as linhagens teciduais ou existem múltiplos tipos de célula-

tronco na medula e cada uma estaria comprometida com um grupo

específico de tecido? Essa era a pergunta.

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Na verdade, sabe-se que se classificam, de forma didática, pelo menos

três tipos de células-tronco na medula: as células-tronco hematopoiéticas,

que estão condicionadas a produzir células do sangue – leucócitos,

plaquetas, hemácias –; as células estromais, que irão se diferenciar em

ossos, cartilagens; e as células progenitoras adultas multipotentes, que

seriam células mais imaturas, com uma capacidade de diferenciação maior.

As células-tronco embrionárias podem se diferenciar em três linhagens

– endoderme, mesoderme e ectoderme. Da mesoderme, origina-se a célula-

tronco progenitora hematopoiética, quanto à qual hoje se sabe que, além de

dar origem às células da medula e do sangue periférico, pode se diferenciar

em células epiteliais do fígado, do pulmão e do trato gastrointestinal, além

de ser precursora de neurônios e células nervosas.

Como explicar essa plasticidade, essa capacidade de se diferenciar em

tecidos totalmente diferentes? Há várias teorias. O que se tinha inicialmente

era uma célula-tronco dando origem a uma célula de determinado tecido e,

nesse caso do tecido hematopoiético, dando origem às células do sangue

periférico. Ou essa célula-tronco daria origem a uma célula de outro tecido.

Novos conceitos surgiram, inclusive uma especulação de que a célula-

tronco hematopoiética poderia regredir para uma forma mais imatura, que

daria origem a uma célula-tronco de outro tecido. Ou uma célula-tronco

hematopoiética poderia dar origem a células do tecido hematopoiético – da

medula e do sangue periférico – ou dar origem a células de outros tecidos. E

aqui entra a aplicabilidade da célula-tronco da medula em revascularização

miocárdica, em trauma raquimedular, enfim. A maioria das pesquisas hoje

realizadas com célula-tronco para reparação de outros tecidos usa como

fonte a medula óssea.

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O outro conceito seria o de fusão: a célula-tronco hematopoiética iria

migrar para o órgão lesado, onde se fusionaria com outras células do órgão,

dando origem às células-tronco específicas do tecido, reparando os danos no

fígado, ou na medula espinhal, ou no tecido cardíaco.

Há o conceito de que existiriam vários tipos de célula-tronco, cada um

dando origem a um tipo de tecido específico. Outro conceito é de que uma

mesma célula-tronco poderia dar origem às células-tronco mais específicas

de cada órgão. A transdiferenciação é uma só célula-tronco dando origem a

tecidos diferentes, ou seja, não passa por essa fase de uma célula-tronco

intermediária.

Há, também, a dediferenciação, que é uma regressão a uma forma mais

imatura a partir de células somáticas para uma célula-tronco que poderia

dar origem a mais de um tipo de linhagem celular.

Conceitos antigos que se tinha, de que alguns tecidos, como o cérebro,

não teriam a capacidade de se renovar, caíram por terra. Sabe-se que há

células-tronco inclusive no sistema nervoso central.

Outra descoberta que foi feita é a semelhança que algumas células-

tronco apresentam nos tecidos adultos com as células-tronco embrionárias.

Isso já foi citado, ou seja, a questão de se ocorre uma fusão celular ou

apenas ocorre uma mudança na capacidade da célula-tronco daquele tecido

de se diferenciar em outro tecido.

No transplante cardíaco, células endoteliais originadas de células

estromais da medula foram encontradas no coração do receptor, ou seja, foi

feito um transplante cardíaco, o órgão foi biopsiado e foram encontradas

células da medula do receptor, o que significa que células da medula

migraram para o coração para ajudar na sua recuperação.

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As células-tronco dependem de fatores de crescimento, citocinas, ou

seja, dependem do microambiente para onde migram para se diferenciar

naquele determinado tecido.

O conceito mais recente das células-tronco teciduais indica que hoje

existem células-tronco em determinados nichos de vários órgãos. No trato

gastrointestinal, essas células são encontradas nas glândulas estomacais,

nas criptas do cólon, na área do bulbo dos folículos pilosos, no limbo da

córnea, no sistema nervoso central – no bulbo olfatório e no giro denteado de

hipocampo.

Essas células ovais são as células-tronco do fígado. Isso não está bem

definido, ou seja, ainda é objeto de debate se, quando ocorre uma injúria,

por exemplo, no transplante de medula óssea, pode ocorrer a doença do

enxerto contra o hospedeiro, o que pode causar uma lesão hepática. Não se

sabe se as células-tronco da medula migram para aquele local para

restaurar essa injúria, ou se isso é feito pelas células-tronco ovais do fígado,

ou se as duas formas de reparação ocorrem simultaneamente.

O mesmo se especula quanto à pele ou quanto ao intestino.

Outros nichos de células-tronco situam-se no fígado e nas vias biliares –

são as células ovais. No músculo esquelético, existem as células-satélite

abaixo da lâmina basal do miócito e, no pulmão, as células claras dando

origem ao epitélio das vias aéreas e os pneumócitos tipo II dando origem aos

alvéolos.

Os pneumócitos tipo II são células-tronco mais características do

pulmão, porque, além de se renovarem em novos pneumócitos tipo II, elas se

diferenciam também em pneumócitos tipo I, o que corresponde àquele

conceito de célula-tronco com capacidade de auto-renovação e de

diferenciação.

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Aplicações clínicas potenciais para célula-tronco hematopoiética. No

infarto agudo do miocárdio, há vários estudos. As principais fontes de

células-tronco nesses estudos foram de medula óssea ou sangue periférico.

A via de administração foi ou endovenosa ou diretamente intracardíaco ou

coronariana.

A resposta, nesses vários estudos, foi uma redução da área de necrose e

mortalidade, melhor hemodinâmica, aumento na fração de injeção e

perfusão miocárdica, estímulo da neovascularização e angiogênese.

Vários estudos questionam também se há ação dessa célula-tronco na

lesão, na isquemia miocárdica, ou se é a presença dessas células que

renovariam o tecido endomiocárdico ou, ainda, a presença delas estimularia

a liberação de ocitocinas – até de fator de estimulação de glanulócitos –, e

isso faria com que migrassem células ou células do tecido se diferenciassem,

remodelando assim o tecido no miocárdio. Não está bem definido.

Nas doenças neurodegenerativas, a principal fonte também foi a medula

óssea. Administração endovenosa ou intraperitonial. A resposta foi a geração

de células com marcadores neuronais e possível formação de células.

Outra aplicação seria na trombose da artéria cerebral média. A fonte

desse estudo foi de cordão umbilical. A via de administração foi endovenosa.

A resposta foi uma melhor recuperação do déficit neurológico.

Na retinopatia isquêmica, a fonte de célula-tronco também foi a medula

óssea, a via de administração foi intravítrea e a resposta foi o aumento da

angiogênese na retina.

Na distrofia muscular, a fonte de célula-tronco também foi a medula

óssea, a via de administração foi endovenosa e houve reparação parcial do

músculo afetado.

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Na cirrose hepática, a fonte foi medula ou célula-tronco periférica, a via

foi endovenosa e a resposta foi a resolução da fibrose hepática e inibição da

filogênese e apoptose.

A primeira instituição a utilizar célula-tronco da medula para o

tratamento de cirrose foi o Instituto Oswaldo Cruz, de Salvador.

Nos casos de hepatite B ou C, também foram utilizadas a mesma fonte e

a mesma via de administração e houve importante redução da viremia.

Quanto a aplicações clínicas, na doença pulmonar com extensivo dano

alveolar, a fonte de célula-tronco é hematopoiética, a via é endovenosa e a

resposta é a geração de pneumócitos tipo II.

Falando mais especificamente de medula óssea, seu transplante utiliza

célula-tronco, e a forma de transplante é autogênica, em que coletamos

células-tronco do sangue periférico e administramos através de um cateter

central. Esse procedimento é realizado no Hospital Universitário. Há também

o alogênico, que advém de um doador que pode ser aparentado – quando o

doador é algum familiar que seja compatível – ou não-aparentado.

O singênico é quando o transplante ocorre entre irmãos gêmeos, e seu

mecanismo é semelhante ao autogênico.

Aqui utilizamos o autogênico e o alogênico aparentado, e foi realizado

um transplante singênico. O não-aparentado ainda não estamos realizando.

E há também o minitransplante, cuja diferença seria o regime de

condicionamento.

Com o transplante de medula, conseguimos fazer uma quimioterapia

que é de seis a 10 vezes mais intensa do que a quimioterapia habitualmente

usada, só que, ao fazer essa quimioterapia, acabamos com a medula óssea

do paciente. Portanto, precisamos de medula óssea para repor. Esse novo

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conceito de minitransplante seria com um esquema de quimioterapia não

tão destrutivo.

A lista de patologias com indicação para transplante de medula óssea é

enorme.

O uso de célula-tronco para doenças hematológicas não é novo. Já é

utilizado há décadas. Até o final da década de 90, realizaram-se no mundo

em torno de 15, 16 mil transplantes alogênicos, que se consolidaram no final

da década de 60, e quase 40 mil transplantes autólogos, que se

consolidaram no final da década de 70.

Em relação à compatibilidade, não há problemas no transplante

autólogo, no qual o paciente recebe células-tronco da própria medula. Já no

transplante alogênico é necessária compatibilidade. Parte desse exame é

realizada aqui no Hospital Universitário, e a outra parte é encaminhada a

Curitiba. Em breve estaremos realizando toda essa avaliação aqui na

universidade.

A chance de compatibilidade entre irmãos é, em média, falando

grosseiramente, uma em quatro.

A célula-tronco que coletamos da medula óssea do paciente vai-se

diferenciar nas células hematopoiéticas.

Outras fontes de célula-tronco bastante comentadas atualmente, e que

cada vez vêm tendo mais uso, são o cordão umbilical e a placenta. As

vantagens é que não há risco para a mãe e para o feto, porque esse material

seria descartado. Além disso, pode ser estocado em freezer por vários anos e

há uma menor exigência de compatibilidade entre o sangue do cordão e do

receptor. Esbarra, entretanto, em alguns problemas. A quantidade não é

muito grande, servindo, então, apenas para o tratamento de crianças e de

adultos de tamanho pequeno ou médio.

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São realizados de cinco a seis mil transplantes de células-tronco de

cordão umbilical e placenta no mundo. Um terço desses transplantes é

realizado em adultos e dois terços, em pacientes com leucemia; e um quarto

em pacientes com doenças genéticas.

Em 2004, foram realizados dois mil transplantes, dos quais 600 nos

Estados Unidos e 800 no Japão.

A questão dos bancos privados é discutível. Há pesquisadores que são

favoráveis e outros contrários. De um banco da Califórnia, com 250 mil

cordões umbilicais estocados, foram utilizados apenas 34. Claro que para as

34 pessoas que utilizaram foi importante, mas existem outras questões em

relação ao banco privado. No tratamento de algumas doenças na infância, o

ideal é usar célula-tronco de doador para haver a doença do enxerto contra o

hospedeiro e a doença do enxerto contra a leucemia, para haver essa forma

de tratamento imunológico. No transplante de cordão, se a criança usar o

cordão que era proveniente dela mesma, vai ser como se fosse um

transplante autólogo, não vai haver essa forma de tratamento e pode ainda

estar contaminado com a doença.

Células-tronco embrionárias, que são as mais polêmicas atualmente,

são células totipotenciais. Elas podem diferenciar-se em qualquer tecido, são

mais eficientes em termos de clonagem e crescem indefinidamente em meio

de cultura. Pode-se utilizar manipulação genética.

A pesquisa com células-tronco abriria vários campos de pesquisa – para

verificar a toxidade das drogas, para entender melhor o mecanismo de

desenvolvimento das células e para a reparação de tecidos, por exemplo. O

que se espera é obter células, com a mesma característica da célula

embrionária, de células somáticas adultas.

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É grande a variedade de células que se podem originar da célula-tronco.

A imagem nos permite ver a plasticidade que tem a célula-tronco para

originar qualquer tipo de célula. Seria usada no desenvolvimento de novas

drogas, para testar toxidade, entender o desenvolvimento e o controle

genético e para reparar órgãos lesados.

No século XIX, foi identificada a medula óssea como fonte de células do

sangue, e, para algumas doenças, tentou-se administração via oral, o que, é

claro, não deu certo. No início do século, identificou-se, denominou-se

aquela que viria a ser chamada de célula-tronco.

Foi com a Segunda Guerra Mundial e com as bombas de Hiroshima e

Nagasaki que se iniciaram as pesquisas para transplante de medula óssea, a

fim de reparar o dano causado pela irradiação na medula daquela

população.

Em 1930, foi realizada a primeira infusão de medula óssea. No final da

década de 60, consolidou-se o transplante alogênico, e, na década de 70, o

autogênico. Em 1988, na França, foi feito o primeiro transplante de sangue

de cordão. Em 1979, aqui no Brasil, foi feito o primeiro transplante de

medula óssea, pelos Drs. Ricardo Paschini e Eurípedes Ferreira.

Em 1990, graças ao pioneirismo dos Drs. Waldir Veiga Pereira e Dalnei

Veiga Pereira, foi realizado o primeiro transplante de medula óssea do Rio

Grande do Sul. Em 1997, houve a inauguração do nosso centro. Em 2004,

foi feito o primeiro transplante com sangue de cordão, com doador brasileiro.

Em abril de 2006, o centro de transplantes do hospital universitário

completou 150 transplantes. A previsão para este ano é de que se chegue a

40 transplantes.

Vejamos alguns dados. A Inglaterra foi o primeiro país da União

Européia a autorizar a utilização das células-tronco embrionárias.

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Cingapura, Taiwan e Coréia do Sul já realizam pesquisas, mas a legislação

ainda está em discussão.

O governo da China foi pioneiro ao aprovar as primeiras

regulamentações permitindo pesquisas com clonagem de embriões humanos

para retirada de célula-tronco. Uma curiosidade: hoje completa um ano o

primeiro e único cachorro clonado, o Snoopy. Aliás, o cientista está sendo

questionado, não com relação ao caso do cachorro – esse foi clonado mesmo

–, mas quanto a outros experimentos, inclusive com célula-tronco humana –

não conseguiram reproduzir, e há suspeitas de que os dados foram

manipulados.

Nos Estados Unidos, a Califórnia e New Jersey possuem leis permitindo

a utilização de células-tronco embrionárias derivadas de reprodução

assistida e que seriam descartadas.

Aqui no Brasil, o Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz, da Fiocruz,

realizou o primeiro transplante de medula óssea em pacientes com

insuficiência cardíaca devido à doença de Chagas e em pacientes com cirrose

hepática. Essa é uma tecnologia compatível com o Sistema Único de Saúde,

uma vez que é mais barata do que o transplante cardíaco convencional.

O departamento de ortopedia e traumatologia da Faculdade de Medicina

da Universidade de São Paulo conseguiu recriar impulsos elétricos entre a

região lesada e o cérebro com o uso de célula-tronco.

Um novo campo que se abre é o da engenharia biotecidual, que utiliza o

rápido potencial de crescimento apresentado pelas células-tronco para

obtenção de tecidos tais como ossos, pele e cartilagem, que são cultivados e

reimplantados em pacientes que apresentam lesões nesses órgãos.

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Para o tratamento de cardiopatias, há cada vez mais centros: Hospital

Pró-Cardíaco, do Rio; Incor, de São Paulo; Universidade Federal do Rio de

Janeiro.

Pesquisadores do núcleo de terapia celular molecular do Instituto de

Química da USP obtiveram resultados positivos na diminuição dos efeitos da

diabete através de transplante de ilhotas pancreáticas, ou seja, o uso de

células-tronco do pâncreas.

Transplante autólogo: como é feito?

Numa determinada etapa do tratamento, normalmente quando a doença

é reduzida ao máximo, após estimular com um fator de estimulação de

glanulócitos, é colocado um cateter central, que é o mesmo cateter da

hemodiálise, e se coleta a célula-tronco com a mesma máquina utilizada

para coletar plaquetas ou para doação de sangue. Aquela medula é

armazenada nos freezers de nitrogênio, e, numa segunda etapa, ou já se

programou para fazer uma quimioterapia intensa, ou se aguarda para,

quando recidiva, quando voltar a doença, colocar outro cateter, que receberá

essa célula-tronco endovenosa.

No transplante alogênico, coleta-se célula-tronco da medula de um

doador. Coleta-se da crista ilíaca, do osso da bacia – várias punções –, e

deposita-se na bolsa de coleta de medula. Pelas imagens, pode-se ver a

passagem pelo filtro.

Quando se faz um transplante alogênico, coleta-se lá no bloco a medula,

que é levada para o transplante para ser infundida no receptor. O paciente já

está internado ali há alguns dias, já fez quimioterapia, que é mieloablativa, e

recebe a medula para repovoar a própria medula.

Nós, da hemato-oncologia, estamos acompanhando a evolução do

transplante de medula óssea, mas quem está realizando pesquisa com

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células-tronco no hospital universitário é a pós-graduação da medicina

veterinária, coordenada pelo Dr. Ney Luis Pippi, onde estão desenvolvendo

trabalhos experimentais com células-tronco adultas coletadas da medula

óssea.

Como havia dito antes, a principal fonte de célula-tronco para pesquisa

e tratamento é a medula. Existem várias linhas de pesquisa: reparação de

falhas ósseas, sistema nervoso central, cicatrização muscular, atividade

enzimática, regeneração de nervos periféricos, tendões, cartilagens,

hepatócitos e córnea.

Dr. Sérgio Nunes Pereira

Boa-tarde a todos. Vejo que realmente o assunto está chamando a

atenção, pois, para início de tarde, já temos um representativo quórum.

Na verdade, a discussão sobre as células-tronco vem crescendo,

ocorrendo, às vezes, até alguns problemas, como a notícia que tivemos de

que, infelizmente, houve exploração comercial do tema e outros

acontecimentos que não contribuem absolutamente em nada para a ciência

e para a medicina.

O crescimento real da pesquisa com células-tronco tem sido muito

grande, e o Brasil está numa posição muito interessante quanto a esse

aspecto, pois desenvolveu uma série de pólos de pesquisas no País que já

estão com trabalhos em andamento.

Os comentários que quero fazer dizem respeito mais à minha área

específica, que é a cirurgia cardíaca. Tive a oportunidade de assistir à

primeira apresentação do Instituto do Coração de São Paulo a respeito desse

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assunto tratando de cirurgia cardíaca. Há outros centros, como no Rio de

Janeiro, que estão desenvolvendo pesquisas muito boas também na área da

cardiologia, mas via cateter.

A área da cardiologia certamente irá se beneficiar muito da palestra do

Dr. Luis. Agora mesmo estava conversando com o Dr. Alceu, do Hospital

Veterinário – com quem tive a oportunidade de trabalhar várias vezes em

pesquisas experimentais e também desenvolver um projeto nessa área –, e

tive a notícia de que as pesquisas estão mais adiantadas do que eu

imaginava. Fiquei muito feliz de saber, pois isso é muito importante.

Esse trabalho clínico no Instituto do Coração já mostrou um efetivo

benefício para pacientes com caso de cardiopatia isquêmica severa, os quais

eram submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio e,

paralelamente, era feita a coleta, no início da cirurgia, de célula-tronco para

ser implantada nas áreas não-revascularizáveis, cujas artérias estavam

muito ruins e não havia condições de fazer a ponte. Isso acontece,

infelizmente, com uma certa freqüência.

Com os comentários que fiz a respeito desse assunto, obviamente os

senhores estão pensando que são beneficiadas apenas as áreas de

hematologia e cardiologia. De forma nenhuma, isso abre uma perspectiva

muito grande em outras áreas. O Hospital Universitário certamente terá um

papel importante nisso, até em função do pioneirismo, pois iniciou em 1963,

com Dr. Pereira, e vem liderando esse processo. Depois, houve o implante da

unidade de transplante de medula óssea no próprio Hospital Universitário.

Todos nós sabemos da luta que foi para chegar a essa etapa.

Não há razão para me alongar, a não ser para dizer que na condição de

cirurgião cardiovascular do Hospital Universitário e chefe do serviço de

cirurgia cardíaca – estou concluindo meu período à testa da coordenação de

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ensino e pesquisa do Hospital Universitário –, certamente continuo muito

interessado no tema, e agora mais ainda, pois terei um pouco mais de tempo

para me dedicar a esses projetos.

Dr. Ney PippiGostaria de agradecer a referência que o Dr. Luis Carlos Antunes fez à

nossa equipe.

Aproveito também a oportunidade para agradecer a receptividade que a

equipe do Hospital Universitário da UFSM tem dispensado aos nossos

alunos, mestrandos e doutorandos, que têm participado de alguns

procedimentos, de algumas técnicas. Realmente, isso tem nos facilitado

muito, encurtado muito o caminho. Muito obrigado por isso.

Gostaria de sugerir uma ação um pouco mais intensa com relação à

Fundação de Amparo à Pesquisa, que houvesse uma sugestão da Assembléia

Legislativa de abrir um edital específico contemplando a pesquisa das

células-tronco no nosso Estado. Isso seria de grande ajuda, porque, como

todos sabem, esse trabalho envolve tecnologia e equipamentos muito caros, e

esse é o principal óbice a que as pesquisas avancem. Seria essa a colocação,

não tanto uma pergunta.

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04/mai/2006

Perspectivas do uso de células-tronco em pacientes com derrame

Dr. Maurício Friedrich Luiz Avila /AL

Palestrante: Dr. Maurício Friedrich — doutor em neurociências pela PUC,

chefe dos programas de doenças neurovasculares do Hospital São Lucas, da

PUCRS, e do Hospital Mãe de Deus.

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Dr. Maurício Friedrich

Bom-dia a todos. Antes de qualquer coisa, gostaria de esclarecer que o

acidente vascular cerebral (AVC) é a maior causa de morte no Brasil hoje.

Temos aproximadamente 18 a 20 mil casos de AVC por ano no Rio Grande

do Sul de modo que é uma doença de alto impacto.

Gostaria de lembrar também que a cada 100 pessoas acometidas por

AVC, 40 delas jamais voltam a ter uma vida independente e 20 delas ao final

de um ano estão mortas. Ou seja, é uma doença de alto impacto

epidemiológico com uma mortalidade alta e um percentual de incapacidade

significativa.

Iniciamos esse trabalho em março de 2005 e escolhemos o acidente

vascular cerebral isquêmico grave, porque são pacientes que ficam

incapacitados, não têm nenhuma perspectiva de recuperação neurológica e

há a perda total da expectativa de uma qualidade melhor de vida.

Nós nos preocupamos de tratar inicialmente casos de AVCs químicos

severos. Nada pode ser pior, é um quadro catastrófico, a mortalidade pode

chegar a 80% em três meses. Aproximadamente 75% dos pacientes ficam

com graves seqüelas neurológicas.

Quando uma área cerebral que estava recebendo irrigação é

comprometida e não recebe mais o afluxo de oxigênio e nutrientes, gera o

que chamamos de isquemia, uma lesão isquêmica. Isso acontece

repentinamente, a pessoa pode estar muito bem conversando, falando,

movimentando e repentinamente é acometida normalmente pela perda de

função motora, perde a força em um braço, em uma perna ou por vezes no

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lado inteiro. É uma doença com uma probabilidade de incapacidade severa

muito grande.

Atualmente, desde 2002, no Hospital São Lucas, da PUC, iniciamos um

trabalho de tentar desobstruir essas artérias acometidas. Utilizamos um

medicamento que vai deslocar o coágulo, que vai dissolver o trombo,

restabelecer o fluxo sangüíneo cerebral e impedir a isquemia.

Se a isquemia não for impedida, uma área total, uma área grande do

cérebro é acometida, gerando uma perda total de todos os neurônios dessa

região.

Quase todo o hemisfério é acometido nesses casos que estamos

tratando e isso leva a seqüelas muito graves. Se não conseguirmos, em

tempo, desobstruir a artéria, vai acontecer um enorme dano isquêmico a um

dos hemisférios cerebrais, levando conseqüentemente a perda dos

movimentos do lado contralateral. Se for o hemisfério esquerdo, a perda da

linguagem, a perda do campo visual, a uma descoordenação, a uma

dificuldade na fala. Também, em pacientes atingidos no hemisfério direito, a

incontinência urinária, a perda de memória.

É um quadro catastrófico. O uso dessa terapêutica trombolítica que

fazemos no Hospital São Lucas, é bom que se diga, é paga pelo hospital,

porque desde o início dissemos que seria impossível utilizar um

medicamento com tamanho benefício para um paciente com algum convênio

e o paciente do SUS não poder usar, porque não é pago pelo governo.

Temos tratado duzentos pacientes, é a maior experiência da América do

Sul, estamos publicando esses trabalhos científicos feitos com essa droga e é

uma experiência muito grande, talvez uma das cinco maiores experiências

individuais do mundo nos dias de hoje.

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Na nossa cidade, por exemplo, menos de um por cento das pessoas que

têm AVC isquêmico podem receber essa medicação, o que acontece é que

esses pacientes vão enfartar, terão uma isquemia extensa e vão ficar

seqüelados.

Até aqui existe um paradigma de que uma vez seqüelado, jamais se

recupera aquela função ou, quem sabe, progressivamente, com fisioterapia,

recupera-se o que não foi lesado no cérebro, o que se pode recuperar por

uma série de modificações no tecido cerebral, é um remodelamento.

Esses casos que estou colocando para vocês, de oclusão da artéria

cerebral média, são casos de isquemia bastante extensa e que não há

nenhuma perspectiva de melhora neles.

Mais ou menos de cinco a dez anos na PUC tem se estudado muito a

questão das células-tronco quanto à possibilidade de recuperar vias

neuroniais afetadas por uma série de injúrias, dentre elas, injúrias

isquêmicas.

No ano passado iniciamos a utilização de células-tronco da medula

óssea na fase aguda da isquemia, para tentar, nos primeiros sete dias,

restabelecer precocemente e proteger essa área cerebral injuriada pela

isquemia. Daqui a pouco explicarei melhor o processo.

Vamos ver alguma coisa sobre o que conseguimos até aqui. As células-

tronco existem no nosso organismo e basicamente existem para reparar,

proteger e restabelecer as vias que foram lesadas, no caso do cérebro, devido

a uma isquemia cerebral, que é sobre o que estamos falando hoje.

Quanto à questão da escolha das células-tronco da medula óssea,

inicialmente é por que acreditamos que as células-tronco originadas das

células mesenquimais da medula óssea são células pluripotenciais, ou seja,

possuem a capacidade de, a partir da sua retirada da medula óssea, gerar

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qualquer tipo de célula, dependendo de qual necessidade o organismo

apresente.

Durante o período inicial da isquemia, existe uma série de fatores que

chamamos de quimiotaxias, que atraem as células-tronco até a área

isquêmica para tentar repará-la. Isso acontece naturalmente, porém é

insuficiente, de modo que nós retiramos e filtramos uma enorme quantidade

de células-tronco e injetamos no tecido cerebral na tentativa de aumentar a

possibilidade de recuperação das vias danificadas.

Existem três efeitos pelos quais podemos esperar que as células-tronco

da medula óssea possam restabelecer essas vias. O primeiro, a qual

realmente acreditamos, é a questão da transdiferenciação, que é a

diferenciação de uma célula-tronco em célula nervosa.

O segundo é a questão da fusão celular, ou seja, uma célula-tronco a

partir de uma fusão com uma outra célula que esteja preparada para

morrer, mas que ainda não está morta, fará com que essa célula se

recupere. O terceiro é o efeito parácrino, através de uma série de enzimas

que fazem com que exista uma citoproteção do tecido que foi injuriado e

devido a fatores neurotróficos que se produzam novos neurônios a partir de

neurônios que já existem em áreas como as áreas periventriculares dos

lóbulos temporais. Portanto, existem células-tronco que estão prontas a

serem ativadas por enzimas que são ativadas por células-tronco da medula

óssea.

Qual é o estudo que estamos desenvolvendo e que em verdade a

primeira parte desse estudo terminou há uns meses e agora estamos em fase

de escrever o artigo científico para mandar à revista New England Journal of

Medicine, que é seguramente a revista mais importante no momento atual

em nosso meio médico-científico internacional.

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Escolhemos pacientes graves, porque eles não têm a mínima

possibilidade de recuperação. Essa escolha se deu em função de, desde o

início, não admitirmos utilizar uma terapêutica com alguma chance de

recuperação e usar um grupo controle, ou seja, utilizar pacientes em que se

usaria placebo ao invés das células-tronco para tentar comparar os efeitos

das células-tronco.

A nossa filosofia desde o início era tratar todos os pacientes, e

utilizamos pacientes graves em que, seguramente, não teríamos chances de

recuperação. Portanto, qualquer tipo de recuperação poderia ser um achado

científico importante. É a segurança e a viabilidade do transplante autólogo

de células-tronco em paciente com AVC isquêmico.

Esses são, junto com o mesmo trabalho realizado no Rio de Janeiro, os

dois únicos trabalhos clínicos que estão sendo realizados atualmente com

células-tronco em AVC no mundo. Os outros trabalhos são estudos pré-

clínicos em ratos.

Esse único estudo clínico está sendo desenvolvido junto com o pessoal

da UFRJ e do Pró-cardíaco do Rio de Janeiro, que têm um trabalho

semelhante ao nosso. Utilizamos as células-tronco entre o terceiro e sétimo

dia, e a artéria cerebral média tem que estar aberta. Normalmente após o

segundo dia a artéria que está fechada abre, mas abre tardiamente, e o

tecido já está isquêmico.

Testamos inicialmente a segurança, porque é muito importante, dentro

do princípio primun non nocere, não causar mais danos a uma pessoa que já

está tão comprometida. Precisaríamos saber se a injeção dessas células-

tronco que extraímos da medula óssea dentro de uma artéria cerebral é

segura, ou se ela poderá trazer mais danos.

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O segundo objetivo obviamente é testar a eficácia desse método.

Fizemos um acompanhamento clínico radiológico, ou seja, por exames de

imagem, e eletroencefalográfico bastante intensivo. As células-tronco da

medula óssea são células não-embrionárias, ou seja, são células adultas, e

acreditamos que possam ser superiores às células embrionárias pelo simples

fato de que existem no nosso organismo hoje. Elas nasceram para reparar

tecidos.

As células-tronco embrionárias nasceram para criar tecidos, e as

células-tronco adultas da medula óssea nasceram pra reparar tecidos, de

modo que acreditamos muito que esse seja o caminho para a recuperação de

uma série de injurias neurológicas que acometem milhões de pessoas no

mundo.

Como é feito o processo? Ele não é um processo difícil de ser

desenvolvido. O primeiro passo é retirar o sangue da medula óssea por uma

punção na crista ilíaca superior do quadril. Essa punção retira

aproximadamente 50ml de sangue da medula óssea do quadril, da crista

ilíaca, sob anestesia local, e, após a retirada, filtramos para retirar as

partículas ósseas e os resíduos de gordura. Após a filtração, centrifugamos

essas células várias vezes por 25 minutos e separamos a fração de células

mononucleares, porque dentro das células da medula óssea a fração

mononuclear é que contempla as células mesenquimais, que são as que

podem gerar qualquer tipo de tecido.

Em média, utilizamos de 200 a 300 milhões de células e sabemos que

1% a 2% delas são células mesenquimais, ou seja, são células que podem

gerar qualquer tipo de tecido. Portanto, se tivermos 200 milhões, teremos

aproximadamente dois milhões de células sendo jogadas diretamente na

lesão isquêmica, podendo reabilitar, reestruturar, rearquitetar aquela área

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que foi injuriada. Nós, por meio de um cateter inserido na virilha, chegamos

até a circulação cerebral, através da artéria carótida, e injetamos essas

células diretamente na circulação. Elas vão percorrer toda a área isquêmica

na tentativa de recuperar o dano.

O que obtivemos até aqui? Esses resultados, que estou mostrando,

estão um pouco científicos para uma sessão pública, mas tratamos 20

pacientes e estamos em fase de acompanhamento. Quatorze deles já

completaram três meses. Podemos dizer que 70% desses pacientes, que

jamais se recuperariam, atingiram o que esperávamos de melhora

substancial neurológica e 20% deles, pasmem, tenho vídeos para comprovar

isso, ficaram absolutamente sem seqüelas, e não houve nenhuma

complicação.

Esse trabalho está apenas se iniciando. É extremamente seguro o

transplante autológo de células-tronco da medula óssea e, é, possivelmente,

muito eficaz.

Vou mostrar-lhes dois casos para exemplificar. Esse caso foi veiculado

nos meios de comunicação; foi um caso em que nos surpreendemos muito.

Foi um caso extremamente grave. Houve uma recuperação dramática,

fantástica. Essa foi a segunda paciente que tratamos. A partir dali,

triplicamos o nosso esforço em prol da terapia celular.

É uma paciente de 41 anos, de sexo feminino, branca, do lar. Era hígida

previamente; fumante; usava pílula anticoncepcional e tinha histórico de

enxaquecas. Diríamos que essa história médica: de ser fumante, de estar

usando pílula aos 41 anos de idade e de ter enxaquecas, é basicamente

como colocar um palito de fósforo acesso em um vidro de álcool. Ele vai

explodir. A chance de acontecer um evento isquêmico, mesmo em uma

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paciente tão jovem, é muito grande quando essa combinação de fatores

existe.

No dia três de maio de 2005, ela estava trabalhando em casa e,

subitamente, perdeu todos os movimentos do lado esquerdo. Ela foi para o

Hospital de Pronto-Socorro, para onde muitas pessoas com algum quadro

mais sério pensam que devem dirigir-se. Ocorre que a droga e o treinamento

para se fazer a recanalização da artéria, a dissolução do trombo, não estão

disponíveis no HPS.

Isso apesar de que já estive lá, em três ocasiões, mostrando a

experiência que temos e do fato de que hoje se sabe que o único tratamento

para a isquemia cerebral, AVC isquêmico nas primeiras horas, é o

trombolítico, como é no caso do coração. Sabe-se disso há vinte anos. No

coração se utiliza o trombolítico, a artéria coronária aberta, e a pessoa pode

ser salva de um enfarto. No cérebro é o mesmo processo. Só que,

infelizmente, ainda não está difundida essa técnica.

A paciente foi para o HPS, e nada foi feito, de modo que aquela lesão,

que era inicialmente pequena, foi-se estendendo, e a paciente ficou bastante

seqüelada.

Essa paciente, com dois dias de evolução, era candidata a um

procedimento cirúrgico que é retirar o epicrânio para possibilitar que a área

isquêmica se expanda para fora, ao invés de comprometer o outro

hemisfério, levando à morte da paciente. Esse era um caso dramático,

gravíssimo e com poucas opções terapêuticas.

Conseguimos estabilizar a paciente. Estabilizar significa evitar a morte.

Conseguimos que ela estabilizasse clinicamente o que chamamos de

parâmetros fisiológicos – pressão arterial, nível de consciência –, mas ela

continuava com a perda de força, era acordada só com estímulo vigoroso.

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Era uma paciente que estava muito mal e candidata a jamais recuperar a

independência física e o controle dos esfíncteres.

O aprendizado de extração das células é crescente. Esse foi o nosso

segundo caso. Nele utilizamos 60 milhões de células mononucleares no

transplante, no quinto dia daquela isquemia.

Transplantamos essa paciente. Chamou-nos muito a atenção, já no

décimo dia após o transplante, o fato de que naquela área enorme isquêmica

algo havia acontecido, porque já se notava que essa área estava em um

processo de restabelecimento, o qual também não entendemos; não existe

nenhum aprendizado prévio disso. Isso é absolutamente pesquisa. É novo.

Essa paciente recuperou completamente os movimentos. Ainda

apresenta um pouquinho de perda de força na mão esquerda, ao invés de

uma perda total de movimentos.

Outro caso que gostaria de mostrar-lhes é o de um rapaz de trinta anos

que teve uma perda completa da linguagem subitamente e, uma perda de

força do membro superior direito.

Ele chegou ao hospital fora da janela, ou seja, depois de três horas, que

é o tempo admitido para tentar abrir essa artéria. Utilizamos as células-

tronco no quarto dia de evolução. Era uma isquemia também bastante

extensa, e estava localizada exatamente em cima da área denominada área

de Broca, que é a área da linguagem.

Esse paciente, com 30 anos, perdeu a fala completamente, com grandes

chances de jamais se recuperar. No dia do transplante, o paciente. tem na

mão uma escala com figuras, palavras e frases para tentar ler. Não

conseguia ler nada e, ficou tremendamente ansioso com isso. Ele foi

transplantado no quinto dia da isquemia.

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Uma semana depois, ele parece um estrangeiro falando, pois ainda não

recuperou completamente a linguagem, mas esse foi o resultado desse

paciente. Hoje, a linguagem dele é como a nossa; absolutamente normal. Ele

se recuperou completamente. E essa é uma frase que gostaria de deixar pra

vocês como conclusão e final de exposição. Obrigado.

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11/mai/2006

Terapia com célula-tronco em neurologia:realidade e perspectivas

Dr. Jaderson Costa da Costa Marco Couto/AL

Palestrante: Dr. Jaderson Costa da Costa — neurologista, diretor do

Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital São Lucas, da PUCRS,

professor titular de Neurologia da Faculdade de Medicina da PUCRS,

professor orientador do Programa de Pós-Graduação em Medicina da PUCRS

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e professor adjunto e associado do Departamento de Medicina Interna de

Miami.

Convidadas: Dra. Zaquer Munhoz Costa, do Instituto de Pesquisas

Biomédicas do Hospital São Lucas, e a Dra. Simone Denise Salamoni, do

Instituto de Pesquisas do Hospital São Lucas.

Dr. Jaderson Costa da Costa

Inicialmente, desejo expressar a minha satisfação de estar aqui. Graças

a esta comissão, o assunto células-tronco tem chegado a nossa população,

que tem sido de alguma maneira informada; e isso tem nos mantido também

aquecidos na área da pesquisa.

Tanto a pesquisadora Zaquer Costa como a Simone Salamoni são

pessoas dedicadas ao trabalho diuturnamente, por isso fiz questão de que

elas comparecessem a esta reunião.

Irei dividir a minha apresentação, até para não ser repetitivo, porque já

estiveram aqui colegas da instituição falando sobre o mesmo assunto.

Primeiramente, irei focar alguns aspectos que evoluímos bastante nos

últimos quatro meses, será uma apresentação mais técnica; e, num segundo

momento, levantarei alguns questionamentos em relação a como estou

vendo essa questão no Estado no que tange ao pesquisador, bem como

falarei um pouco da vivência que tenho fora do Estado, o que penso será de

extrema importância.

O número de e-mails que recebemos diariamente é tremendo, as

pessoas estão desesperadas, estão morrendo, perdendo qualidade de vida, e

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às vezes faltam alguns elementos básicos para que o processe se acelere e

tenhamos êxito.

Irei limitar o meu plano de apresentação à explanação sobre as células-

tronco do sistema nervoso, a neurogênese do cérebro adulto; as células-

tronco da medula óssea; as perspectivas terapêuticas; e, por último, a parte

neurológica das neurociências.

Acredito que isto já tenha sido manifestado aqui, por isso serei breve.

Mas lembro que, ao falarmos em células-tronco adultas, falamos em células

que são responsáveis pela recomposição de qualquer tecido do nosso

organismo. Um indivíduo fantástico chamado Pasko Rakic, homem que hoje

está se aposentando, teve enorme importância no entendimento de como se

formam as camadas corticais do cérebro, de como o cérebro se desenvolve.

Pasko Rakic disse uma coisa muito interessante: pelo menos em relação

a sua pele, ele, a cada ano, é um indivíduo mais jovem. A pele, tecido, é

constantemente renovada. E renovada como? Graças às células-tronco que

existem na pele. O nosso sangue também é constantemente renovado. A

grande questão é se o nosso cérebro poderia ser renovado, se a nossa

medula poderia ser renovada, se os nossos nervos poderiam ser renovados.

E isso irei esclarecer aos senhores agora.

Pergunta: Para haver renovação há necessidade da célula-mãe – a

céula-mãe é aquela que tem a capacidade de gerar as células-filhas, que são

as células que vão constituir a nossa pele, o nosso sangue, as nossas células

nervosas, etc? Tratava-se de uma grande dúvida. Por quê? Nós tínhamos um

oráculo, um grande homem chamado Santiago Ramón y Cajal, talvez o

maior pesquisador em neurociências, espanhol, que nunca publicou em

inglês, nem em alemão, nem em francês, só publicou na sua língua materna.

O mundo científico da época o procurou, porque foi ele quem apresentou os

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fundamentos para a neurobiologia. Esse homem, que foi um autodidata, que

se dedicou à pesquisa básica, não observava regeneração no cérebro do

indivíduo adulto. E cunhou, em 1913, o seguinte: No sistema nervoso tudo

pode morrer, e nada pode regenerar.

Senhores, é triste saber que nós, que estamos envelhecendo, não

teríamos uma segunda chance, como temos com a segunda dentição, de ter

novas células. Apesar de esse homem ter contribuído enormemente para as

neurociências, felizmente ele errou. Ele começou a errar – e este é um dado

importante – quando foi feita uma constatação pelo indivíduo chamando

Fernando Nottebohm, um argentino radicado nos Estados Unidos há muitos

anos, que se dedica ao estudo de uma das coisas mais preciosas e mais

gostosas do mundo: pássaros que cantam – pássaros canoros –, canto dos

pássaros.

Os senhores devem estar pensando: convidamos um neurologista que

agora enlouqueceu de vez. Queríamos que falasse sobre células-tronco, veio

falar sobre canários. Bem, talvez pela minha infância, pelo meu afeto.

Realmente eu tinha muito carinho, gostava muito dos canários belgas,

graças a minha avó, que me ajudava a cuidar deles. Gostava de vê-los, mas

não era muito prestativo no cuidar dos canários.

Fernando Nottebohm estudou os pássaros canoros e verificou que esses

pássaros cantavam por uma série de razões. Talvez a razão mais importante

seja defesa do território, alarme, chamamento para contato, acasalamento,

atrair a companheira. Essa é uma propriedade do pássaro macho, ele faz

isso.

O que tem a ver isso com o que estamos falando hoje? Ele identificou

que existem três centros responsáveis por isso, que fazem parte do circuito

do cérebro do canário para canto.

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Atentem para uma frase que é fundamental: os pássaros cantam num

período de luz – período fotóptico –, e, quando eles cantam, nesse período,

existem novas células nervosas, novos neurônios. É interessante que a cada

período esses neurônios se renovam; e podemos fazer o canário fêmea cantar

se tratarmos com hormônios.

Qual a importância disso? Esse autor demonstrou, então, que as

células do cérebro de um animal, no caso o canário, eram capazes de, ao

morrer, se constituírem a cada período de canto. Era como se dissesse:

Santiago Ramón y Cajal, você errou pelo menos nos canários, porque eles

fazem neurônios novos.

Depois se mostrou que praticamente todos os mamíferos fazem

neurônios novos. Faltava a última barreira: provar que isso acontecia no

cérebro humano.

Senhores, não pensem que este é um assunto muito antigo. Embora em

1913 tenha sido feita aquela afirmativa, o dogma de Santiago Ramón y Cajal

só caiu em 1998. E caiu em 1998 graças a duas circunstâncias – e é

fundamental que se aprenda, que a nossa população entenda isto: a

determinação de um homem chamado Peter Ericson de acreditar nisto e

porque alguns pacientes se doaram. Esse é o termo. Eram pacientes que

tinham câncer em fase terminal, sabiam que iam morrer, tinham

consciência disso e consentiram em ser injetados com uma substância

radioativa, para estadear o câncer deles. E, se eles morressem, eles doariam

o cérebro ao pesquisador.

Essa substância radioativa, senhores, é um marcador de células novas,

de células que se multiplicam, de neurônios novos. Os pacientes que

morreram foram à autópsia, e, em 1998, então, cai o dogma de Santiago

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Ramón y Cajal, mostrando que em alguns locais especiais do cérebro

existem células-tronco. E aí a neurogênese.

Esse é o primeiro passo. Não se pode falar em células-tronco do sistema

nervoso sem conhecer esse fato.

Imaginem, senhores, estamos falando de 1998 a 2006; estamos falando

de oito anos. Estamos hoje reunidos nesta Casa falando de um assunto que

começou há oito anos. Não poderíamos falar em relação ao sistema nervoso

central sem essa descoberta.

Permitam-me informar mais um dado: houve ampla demonstração, mas

existe uma limitação. Eu posso obter essas células-tronco de um indivíduo,

da sua pele, do seu tecido gorduroso, da sua medula óssea, mas eu não

tenho a mesma liberdade de obter essas células da medula ou do cérebro do

indivíduo adulto. Eu não posso extrair essas células de lá. Eu sei que estão

lá, mas eu não posso mexer nessas células.

Então, começa a se estabelecer uma situação difícil: sabemos que estão

lá, precisam ser induzidas, precisam ser estimuladas, precisam ser

mobilizadas, mas não podemos mexer nessas células com facilidade. E aí

entramos num segundo capítulo que é o da relação entre a medula óssea,

neurônios, que são as células nervosas, e a glia, nome genérico que

utilizamos para todas aquelas células que não são neurônios e que servem

de suporte para as células nervosas. Elas são as companheiras das células

nervosas; elas são que alimentam, que fazem a ajuda das células nervosas.

Senhores, devemos isso a uma senhora chamada Eva Mezey, que

passou por um verdadeiro calvário. Ela suspeitou que células da medula

óssea poderiam se converter em neurônios ou em células gliais. Seus

primeiros experimentos, que datam de 1997, foram contestados. Essa

senhora tinha uma posição no Instituto Nacional da Saúde; ela perdeu essa

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condição e perdeu todo auxílio para pesquisa. Foi dito que seu trabalho não

passava de uma ilusão, de um erro de interpretação, de um erro de

delineamento.

Felizmente ela teve um orientador húngaro extremamente forte,

chamado Zandar Goday – ela é de origem húngara –, que lhe havia dito:

Quando você acredita numa coisa, não desista. Vá em frente, toque, porque

na ciência é assim: são necessários muitos anos para convencer as pessoas.

Graças a isso ela conseguiu publicar seus primeiros artigos. Hoje,

constata-se que ela tinha toda a razão: a partir da medula óssea podemos

transformar as células-tronco em neurônios e em glia. Esta é a grande

virada: o sangue da medula óssea, as células da medula óssea podem gerar

os nossos neurônios e a nossa glia. Isso é fantástico.

Agora entraremos no terceiro aspecto. Sabendo que podemos obter

essas células, o que podemos fazer? Os senhores vêem uma constelação de

tecidos que podem ser obtidos: fígado, músculo, pele e as nossas células

nervosas que podem ser originadas de células-tronco da medula óssea.

O que fizemos na PUC. Em 1999, a revista Science, que é a mais

importante em termos de pesquisa, elegeu como maior assunto científico do

ano o potencial das células-tronco. Isso foi em dezembro de 1999. Em

janeiro de 2000, começamos a trabalhar com células-tronco no Instituo de

Pesquisas Biomédicas da PUC.

Com todas as limitações de legislação que havia na época e com todo o

questionamento que existe de ordem ética e religiosa optamos pelas células-

tronco adultas. Baseados nos trabalhos já reconhecidos internacionalmente

de Eva Mezey de que poderíamos trabalhar com células-tronco de medula

óssea, começamos a trabalhar em laboratório.

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O que essas células fazem? Essas células têm inúmeras possibilidades.

Elas podem se fundir, por exemplo, com as células do local; elas podem se

transdiferenciar, ou seja, se transformar em outra célula; ou elas podem ter,

talvez o que seja mais importante e que nossas últimas pesquisas têm

demonstrado, efeito parácrino. O que é isso? Elas podem funcionar como

pequenos vagõezinhos que levam os elementos necessários para que aquelas

células-tronco lá do cérebro se movimentem, acordem e façam o trabalho

que deveriam fazer.

Achávamos no inicio que esse efeito não fosse tão importante. Hoje

estamo-nos convencendo de que talvez seja o elemento mais importante.

Faço uma correção: não estamos falando de 1998 para cá; estamos

falando de 2000 para cá. E por que faço esta correção? Porque foi quando

também começamos.

Quero dizer aos senhores que independente de qualquer estímulo

externo, independente de qualquer estímulo político ou de qualquer apelo,

nós já tínhamos nos auto-estimulado em 2000 e entramos na corrida ao

mesmo tempo em que os grandes centros mundiais de pesquisas. Estamos

falando de uma história de seis anos. E somos protagonistas dessa história

porque começamos há seis anos pari passu.

Às vezes há um certo sentimento, muito próprio do gaúcho, que é mais

conservador, de que devemos algumas coisas a outros centros superiores ou

mais desenvolvidos. Sempre nos passa a idéia de que não somos totalmente

capazes ou que não temos todas as condições intelectuais ou de recursos

materiais. Isso não é verdade. Temos condições porque começamos ao

mesmo tempo. No final de junho, levarei ao 4º Congresso Internacional de

Células-Tronco, em Toronto, os nossos resultados.

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Perspectivas terapêuticas das doenças. Existem várias perspectivas.

Algumas doenças já estão em protocolo clínico, além de protocolos

experimentais como doença de Parkinson; esclerose múltipla; esclerose

lateral ameotrófica, que é uma situação de extrema gravidade – os indivíduos

morrem num período que varia de seis meses a um ano.

O professor Jefferson Braga Silva apresentou a questão da lesão de

nervo periférico. Isso é muito importante: todos esses estudos começam com

experimentos em animais e só depois, se aprovado pelo Comitê de Ética e

pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa, em Brasília, é que são feitos

os protocolos para estudos clínicos.

Outro elemento que gostaria de mostrar refere-se à isquemia cerebral. O

Dr. Maurício Friedrich trouxe alguns resultados interessantes de

recuperação de pacientes. Não vou alongar minha manifestação.

Mostrarei agora estudos experimentais na área da epilepsia. Contamos

com a colaboração das pesquisadoras Zaquer Munhoz Costa e Simone

Denise Salamoni. Um dos problemas que encontramos é que 30% dos

pacientes portadores de epilepsia não respondem aos medicamentos e há

possibilidade de tratamento cirúrgico para a metade desses pacientes. É

uma situação grave que faz com que os pacientes passem por situações

constrangedoras e tenham uma baixa qualidade de vida.

Esse modelo é muito interessante, pois a epilepsia é uma lesão crônica.

Ou seja, se avançarmos no estudo da epilepsia, avançaremos no estudo de

todas as lesões crônicas. Até agora mostrei casos de lesões agudas, cuja

charada está desvendada: as células têm uma atração pela lesão aguda.

Precisamos desvendar o segredo das lesões crônicas – e a epilepsia é uma

lesão crônica.

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Verão agora o quanto avançamos. Utilizamos um camundongo que tem

a sua genética modificada. Foi colocado um gene de uma alga nas suas

células, fazendo com que as células expressem uma proteína verde. Quando

colocamos as células na luz ultravioleta elas ficam verdes. Por que

utilizamos isso? Para não nos enganarmos. O camundongo doador vai

repassar células para um camundongo que tenha células normais.

Todas as células que encontrarmos no sistema nervoso, nas lesões, que

forem verdes poderemos dizer, com certeza, que são do doador, e não do

receptor. Isso é extremamente importante para não nos iludirmos. Na

realidade, as células são elas mesmas e são do doador.

Esses animais são estudados de todas as maneiras para que seja visto

se as crises são controladas e se o tecido é regenerado. Vou passar esse

aspecto técnico.

A estrutura chamada de hipocampo é normalmente lesada nesse tipo de

epilepsia induzida em camundongos, é responsável pela nossa memória.

Quando as células são injetadas e ela está lesada, as células vão exatamente

para aquele local. Essa é uma lesão crônica, e não aguda.

Vou fornecer um dado preliminar importante. Os animais são

monitorados por vídeo após as crises. Ocorrem de uma a cinco crises por

hora. Esse modelo é realmente muito grave, pois há muitas crises por hora.

Os animais que receberam as células têm as crises diminuídas em torno de

70% com o passar do tempo.

Trago um dado muito importante. A Sra. Zaquer terminou um trabalho

mostrando que se atuarmos precocemente a redução é de 100%. Os

senhores estão recebendo esses resultados em primeira mão. Estamos numa

fase muito importante.

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Vou resumir da seguinte maneira: as células-tronco migram para essas

lesões, diminuem as crises em 65%, 70% – e já afirmo que há uma mentira

aqui, pois ontem se descobriu que modificando a técnica e o tempo de

injeção se alcança 100% –, e as fatias voltam ao normal.

Existe uma série de perspectivas, por exemplo, para a doença de

Parkinson e, trabalhando com tecido fetal, para a esclerose múltipla, uma

doença em que se vai perdendo a bainha das células nervosas. Tudo isso é

secundário no momento em que começamos a desvendar um pouco do

segredo das lesões crônicas. É nesse ponto que estamos.

Quero destacar dois aspectos que considero fundamentais. O século

XXI, a meu ver, é o século da esperança no que diz respeito à remodelação

de órgãos e tecidos. Essa esperança depende de uma série de pessoas.

Temos de entender que para isso acontecer há necessidade de amparo.

Essas pessoas são abnegadas, mas comem e vivem também.

Passarei à última parte, à parte política e de apelo. Organizei o primeiro

congresso brasileiro de células-tronco, realizado em novembro do ano

passado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Na

ocasião, fiz um apelo político que foi pouco escutado.

Não contamos com a presença do governador do nosso Estado, mas do

governador do Paraná na abertura do congresso. Digo isso com um duplo

sentimento de satisfação e vergonha, porque esse homem está apoiando

todas essas pesquisas. Tudo o que mostrei aqui foi feito com dinheiro do

Estado do Paraná.

Qual foi o meu comprometimento? Vendi a alma. Qual foi a alma?

Transferir toda a tecnologia para a Universidade Federal do Paraná. Esse foi

o meu compromisso. Como ciência não é propriedade de ninguém, me sinto

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à vontade para fazer isso. A satisfação foi por ter recebido o apoio que

permitiu chegarmos a esse ponto. A vergonha é saber que não recebi isso do

nosso Estado, nem essa consideração. Se não fosse os senhores me

convidarem para esta Comissão, não teria tido nenhum espaço político.

Precisamos fazer com que o poder público entenda que mais do que

boas palavras são as ações. E as ações vão incentivando aqueles jovens. Eu

já estou com 58 anos, a minha carreira científica já está sólida o suficiente

para não precisar mais dessas coisas. Na verdade, estou correndo atrás de

sonhos. Os jovens pesquisadores, no entanto, vão fazer a mudança, são eles

que vão modificar a situação do País, do nosso Estado e o sofrimento desses

pacientes.

Por favor, precisamos de auxílio. Estou buscando auxílio no governo do

Paraná. Segunda-feira, a convite do governo do Paraná, tomarei um avião da

Gol, à tarde, para estar reunido no outro dia, às 8 horas da manhã, com o

governador e seu secretariado para apresentar esses resultados. Ele quer

saber o que fizemos com o dinheiro, e eu vou mostrar. Ele me prometeu que

se os resultados foram bons, vai fazer mais um acréscimo de valores para

que possamos progredir na pesquisa.

Gostaria que isso tivesse ocorrido no meu Estado. Infelizmente, tenho

de fazer esse registro. Essa é a parte política e é uma via de duas mãos. A

nossa via como cientistas é fazer o nosso trabalho bem feito; e o trabalho das

pessoas desta Casa do Povo é fazer com que o governo seja sensibilizado no

sentido de apoiar essa iniciativa. Muito obrigado pela oportunidade.

Dra. Zaquer Munhoz Costa

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Gostaria de reforçar o que foi dito pelo Dr. Jaderson. Estamos

trabalhando muito, temos um grupo muito grande, jovem e unido. Estamos

muito contentes com os resultados obtidos e temos a esperança de que tudo

o que estamos fazendo possa ser aplicado em pacientes, no caso de

epilepsia, que estudamos mais. Desejamos que a nossa busca seja útil para

muitas pessoas não só no Rio Grande do Sul, mas no País inteiro e até fora,

se for o caso.

Nós trabalhamos em turnos – há os turnos da manhã, da tarde e da

noite –, porque estamos empenhados na pesquisa. Realmente, contamos

com o apoio das autoridades para poder seguir adiante e para que

pesquisadores mais jovens, que vêm depois, alunos de iniciação científica,

também possam prosseguir com as pesquisas. Isso é importante para nós,

assim como é importante o convite para virmos aqui mostrar o nosso

trabalho, para que todos o conheçam.

Dra. Simone Denise Salamoni

Quero apenas agradecer pela oportunidade de mostrarmos o nosso

trabalho e pedir para que os senhores façam por nós o que o governo do

Paraná está fazendo. Muito obrigado.

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18/mai/2006

Imunologia dos transplantes e células-tronco

Deputados José Farret (E) e Paulo Brum com Dr. Luiz Fernando Jobim

Marco Couto/AL

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Palestrante: Dr. Luiz Fernando Jobim —chefe do serviço de Imunologia do

Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor de Medicina Interna da

UFRGS.

Convidado: Dr. Paulo Mayorga, diretor da Faculdade de Farmácia da

UFRGS

Dr. Luiz Fernando Jobim

Hoje, conversaremos a respeito das aplicações das células-tronco,

especialmente sobre a tipagem do sistema Antígenos Leucocitários Humanos

– HLA – entre doador e receptor para os transplantes, projeto que desenvolvo

há muitos anos.

Em 1973, iniciamos no Hospital de Clínicas de Porto Alegre um

laboratório de imunogenética ou de imunologia de transplantes, o qual

proporcionou um avanço muito grande na área de compatibilização entre

doador e receptor. Naquela época, não existia nenhum laboratório no Rio

Grande do Sul. Fomos o segundo laboratório no Brasil a iniciar a tipagem

HLA, e conseguimos ajudar durante esses anos 3 mil transplantes de rim,

algumas centenas ou milhares de transplantes de medula óssea,

transplantes de coração, etc.

Hoje, a novidade que a comunidade discute são as células-tronco.

As pesquisas com as células-tronco, diferentemente, começaram

dispersas pelo mundo inteiro, especialmente na América do Norte, na

Europa, na Inglaterra, na Espanha, em Portugal, na França, etc. A explosão

do estudo das células-tronco foi muito maior do que a própria agricultura e

a industrialização dos continentes.

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Este mapa mostra a competição internacional no estudo de células-

tronco. Infelizmente no Brasil não temos nenhum daqueles triângulos que

mostram centros de pesquisa com células-tronco, mas já temos alguns que

poderiam estar incluídos neste mapa.

O que são as células-tronco? São células indiferenciadas que se

renovam por meio da divisão celular. Elas podem ser induzidas a se

diferenciarem nos diversos tecidos de nosso corpo, provindo de embriões, de

fetos, de células da medula óssea, do cordão umbilical e de diferentes tecidos

somáticos em adultos.

Esta é a base da medicina regenerativa, da qual se fala hoje em dia:

regenerar algo que está estragado. No futuro será possível produzir nos

tecidos e células especializadas, para tratar diversas condições de doença.

Com a melhor compreensão dos processos normais e da proliferação,

será possível corrigir eventuais processos anormais, inclusive o câncer.

Existem as células-tronco embrionárias, que vem dos embriões. Elas

são cultivadas in vitro, e podemos ter uma quantidade grande delas; podem

dar origem às células do sangue e diversas outras células.

Essas células-tronco embrionárias, que saem do embrião e são

cultivadas, poderão, teoricamente, dar origem às células dos ossos, do

cérebro, dos rins, dos músculos e assim por diante. Essa é uma parte mais

de teoria e pesquisa. Estão sendo utilizadas até com algumas restrições em

relação aos embriões, à utilização dos embriões, etc.

Mas o que nos interessa aqui são as células embrionárias provenientes

da medula óssea, que, para os leigos, dizemos ser o tutano do osso. Dentro

do osso temos as células primitivas, as stem cells, que são as células-tronco.

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Elas dão origem a todo o sangue – aos eritrócitos, às células fagocitárias, aos

eosinófilos, às células T, às células B, às células de defesa.

O objetivo da palestra de hoje é mostrar a diferença entre esses tipos de

células-tronco. As embriônicas são totipotenciais, podem dar origem a

qualquer tipo de tecido e são fáceis de propagar in vitro. Já as somáticas são

pluripotentes e raras nos tecidos, ainda não existindo, para elas, técnicas de

propagação perpétua in vitro.

Que outros tecidos as células-tronco somáticas podem formar? As

células hematopoiéticas; os neurônios; as células musculares; as células

mesenquimais; as cerebrais, etc.

Quanto à melhor célula-tronco para desenvolvimento das terapias

celulares, podemos dizer que as do mesenque, as medulares, têm várias

vantagens. Elas são fáceis de isolar, pois simplesmente fazemos uma punção

da medula óssea e tiramos essas células-tronco. Podemos expandi-las e

cultivá-las; elas são geneticamente estáveis, de potencial reparo para muitos

tecidos e podem ser retiradas do próprio paciente – são autotransplantáveis

–, apresentando pouca atividade imunogênica, etc.

Qual a diferença entre os transplantes com células da medula óssea e

os com células de cordão umbilical? Agora falamos pela primeira vez em

células do cordão umbilical. É praticamente a mesma coisa. Elas são

também células-tronco que dão origem às células sangüíneas. Em relação às

células da medula óssea, é mais difícil se conseguir compatibilidade entre

um doador e um receptor, porque entre irmãos só temos 25% de pessoas

idênticas. E as células do cordão umbilical? Podemos congelar centenas ou

milhares dessas células e constituir um banco.

Existem vários tipos de transplantes. Quanto aos alogênicos, a medula

óssea é retirada de um doador vivo, previamente selecionado por testes de

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histocompatibilidade, que é o que o nosso laboratório executa, chamado de

teste HLA. O doador é identificado entre os familiares, ou se utilizam bancos

de medula óssea.

Existem bancos, que não guardam a medula óssea, mas as informações.

São bancos de dados.

Transplantes autólogos: a medula óssea e as células-tronco periféricas

são retiradas do próprio paciente, armazenadas e reinfundidas após um

regime de imunossupressão, de destruição das células que estavam doentes.

Sendo um autotransplante, não há rejeição.

E há os transplantes singênicos, que ocorrem entre gêmeos

univitelínicos. São transplantes em que também nunca acontecem rejeições.

Nos autólogos e nos singênicos não há esse risco.

No transplante alogênico o doador é da família ou de banco.

Simplesmente se retira do osso ilíaco, com anestesia, o sangue, que é grosso,

contendo as células-tronco. O material é filtrado, para se tirar o excesso de

gordura, espículas ósseas, etc., e depois é feita uma transfusão.

O transplante autólogo: o sangue da medula óssea do próprio paciente é

resfriado ou congelado. Se faz, então, uma imunossupressão, uma

destruição da medula óssea anterior, e se reinfunde a própria medula óssea.

Então, tratamos o paciente e depois lhe damos uma medula óssea

novamente.

Existem alguns casos em que podemos tratar a medula óssea, num

caso de leucemia, usando medicamentos para anticorpos monoclonais a fim

de destruir células leucêmicas in vitro, enquanto essas células estão fora do

organismo.

No transplante autólogo, a coleta das células do paciente é feita através

do sangue periférico, às vezes, com máquinas especiais. Tiramos o sangue e

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separamos as células-tronco para depois serem reinfundidas no próprio

doente.

O primeiro transplante que foi um sucesso com sangue do cordão

umbilical ocorreu em 1998 – não há muito tempo. Ele foi usado para tratar

um menino com anemia. A doadora, sua irmã, tinha uma combinação

perfeita no sistema HLA. Este é o nosso trabalho: a combinação.

O cordão umbilical: pesquisadores identificaram no cordão umbilical

um grande número de células-tronco. As células-tronco do sangue do cordão

e placentárias são células com características adultas, porém, mais imaturas

e ainda pouco estimuladas.

Algo importante: a célula-tronco do cordão umbilical é menos

imunogênica. Temos menos rejeição a ela do que a uma célula-tronco

retirada da medula óssea. Por quê? Porque a célula da criança, ou do feto –

porque é retirada do cordão umbilical –, não é tão agressiva como a célula

retirada da medula óssea de um adulto.

Existe ampla disponibilidade de cordões nas gestantes. Jogamos fora

esses cordões. O aproveitamento de material biológico habitualmente é

descartado, mas há a possibilidade de armazenamento e congelamento em

nitrogênio líquido, um banco de cordão.

Já temos, no Brasil, um banco de cordão no Instituto Nacional do

Câncer, no Rio de Janeiro, e um banco de cordão em São Paulo, que foi

doado pelo Hospital Albert Einstein. E existem dois bancos de cordão

privados.

Tenho minhas dúvidas se esses bancos privados irão oferecer o que

pretendem aos seus clientes. Em primeiro lugar, porque não sabemos se a

pessoa que deu placenta para aquele banco irá precisar desse material. Essa

criança, um dia, quando adulta, vai ficar leucêmica e precisar da placenta?

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Qual é a proporção de utilização desse material? Qual é o custo disso para

as famílias?

Em segundo lugar, será que as células vão ficar disponíveis durante 20

anos? Quando o doador, aquela criança que nasceu e doou a placenta,

quiser usá-las mais tarde, será que essas células estarão vivas?

Essas são as dúvidas que expomos em relação aos bancos privados, que

entraram fortemente no Brasil, pois há propaganda até em Caxias do Sul de

banco de cordão umbilical. Só que não dizem o nome do diretor, nem do

médico responsável, apenas dão números de telefones para se entrar em

contato com o banco.

Sei que existem intenções de pessoas, dentro do Brasil, de criarem

bancos paralelos privados no mesmo sistema que queremos seguir, igual ao

do público, para a comercialização. Nesse caso, se alguém precisar de um

transplante de medula óssea, não tendo depositado sua placenta no banco,

ele irá comprar o material.

Isso existe em termos de comércio internacional, e custa 25 mil dólares

para se conseguir fazer uma pesquisa a fim de encontrar um doador. Isso é o

que Inca aparentemente paga para o exterior. Existem bancos públicos

enormes, na Inglaterra, nos Estados Unidos, com centenas e milhares de

pessoas já cadastradas com o seu código HLA.

Penso que no Brasil devemos investir em bancos públicos, pois já

existem muitos laboratórios prontos para isso.

No ano passado, me telefonaram de São Paulo para saber se poderíamos

tipar o HLA para um banco privado. Mas se não possuem nem laboratório,

como querem ter um banco?

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Tenho dúvidas em relação a isso, ao tempo em que as células ficarão

congeladas, se elas vão permanecer por muito tempo, se as pessoas irão

precisar desse recurso ou não, sobre a freqüência de utilização, tendo em

vista que essas doenças são raras. Elas não são raras na população, mas

são raras para o próprio indivíduo. A possibilidade de uma pessoa contrair

leucemia deve ser mínima.

Mas quanto a isso nada sabemos; o futuro é que poderá dizer se isso

terá valor ou não. Tenho minhas ressalvas.

As desvantagens do cordão umbilical: o volume é pequeno; e sucesso

reduzido em pessoas com mais de 40 quilos. Nos adultos, às vezes temos

que usar dois cordões umbilicais, de duas pessoas. Dessa forma, são

utilizados mais nas crianças, e agora estão aumentando o volume, usando

dois ou três cordões para poder satisfazer um adulto.

Para a doação, as gestantes entre 18 e 36 anos devem fazer todas as

consultas pré-natais, idade, não possuir histórico médico de doenças, devem

repetir os exames – as mães – no período de dois a seis meses após o parto.

A Rede Brasil-Cord foi criada, mas não implantada. Nesse ponto, digo

que os nossos deputados têm que ajudar a população, porque foram criados

cinco centros no País, e o Rio Grande do Sul tem um. Toda a parte

administrativa do nosso centro foi resolvida pela Secretaria da Saúde,

Hospital de Clínicas e até com o Instituto de Células Tronco, que na

realidade é um Instituto que não tem laboratório, tem somente uma pessoa

trabalhando.

A parte administrativa foi organizada, está pronta. Vai ser no Hospital

de Clínicas, no banco de sangue e o diretor será o professor João Pedro

Marques Pereira.

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Tudo isso já está decidido, só que não veio o dinheiro federal. Nesse

sentido, vem a parte de vocês. Quanto é que vai custar isso? Um milhão de

reais, um milhão e meio não é muito para começarmos.

O que aconteceu foi um esquecimento, no meu ponto de vista, porque

não ouvi mais falarem sobre a questão. No ano passado, nos reunimos

várias vezes e ficou decidida a parte administrativa. E o dinheiro? Onde está

o dinheiro? Esse é o ponto que deve ser levantado pela Assembléia

Legislativa.

Penso que a primeira atitude que vocês podem tomar é a de ter o acesso

com o Secretário da Saúde, que está totalmente a par disso, pois ajudou em

toda a parte administrativa o Sistema Nacional de Transplantes. A parte

administrativa está pronta, tem até diretor, só não tem verba para iniciar. É

uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea, um

grupo de estudos, etc.

A próxima questão é sobre a aplicação em transplantes; tratamento de

doenças malignas e não malignas; identificação de doadores familiares e não

familiares, que pode ser difícil e demorada para alguns pacientes.

Vocês sabem que, num banco de cordão umbilical, a proporção de se

conseguir identidade para uma pessoa que precisa é de uma em cem mil. O

nosso banco está com 200 mil.

Vocês não imaginam que trabalho foi chegar a 200 mil. Ele foi

constituído pelo Dr. José Roberto Moraes, que faleceu este ano, no Rio de

Janeiro. Foi ele quem batalhou a vida inteira pelo banco, pelo Redome, o

registro de doadores de medula óssea. Nesse caso não é banco, é com

relação à medula óssea.

E de cinco mil, sete mil, oito mil, chegamos hoje a 200 mil, o que é um

orgulho para o Brasil. Mas nós temos que conseguir mais, inclusive de

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outras origens genéticas, porque esses 200 mil são mais da região sul e

sudeste. Precisamos de genética de populações negras da Bahia, do

Maranhão, etc. Precisamos ter toda essa constelação genética que forma o

povo brasileiro.

Aqui temos o Inca, que, em 2001, inaugurou o banco de sangue de

cordão umbilical, foi o primeiro banco no Brasil. A chance de um brasileiro

localizar um doador em território nacional é trinta vezes maior que a chance

de encontrar o mesmo doador no exterior. Isso ocorrerá, quando tivermos

um bom banco. Por quê? Porque a nossa genética é que está sendo

guardada. O cordão umbilical é das nossas pessoas, da nossa origem

genética. Nós não vamos trocar com um escandinavo, que certamente tem

sua genética muito diferente da nossa.

Temos que compatibilizar tanto no Redome, que é o registro de doadores

de medula óssea, como nos bancos de cordão umbilical que serão formados

e, por enquanto, são dois. Temos também que ter uma parcela de cada

genética da população: brancos, pretos, negros, indígenas, etc.

Aqui temos a coleta e armazenamento de cada unidade, que custa em

torno de 3 mil reais. Em cada banco nacional serão congelados 100 cordões

mensais. Isso foi o que se definiu. Se tivermos cinco, vamos ter 500

placentas sendo congeladas por mês. Esses bancos possuem tanques de

nitrogênio líquido com capacidade de estocar cerca de 3 mil unidades de

cordão.

Estávamos pensando, então, que teríamos 15 mil cordões no Brasil

disponíveis, por primeiro. E aqui está a placenta, que é jogada fora, que está

cheia de células-tronco. A coleta é feita logo após o nascimento, quando

espreme-se o cordão. Aqui temos o volume de sangue, que é um pouco

menor.

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O transplante acontece após a identificação do cordão umbilical HLA

compatível ou semicompatível. As células são introduzidas por via

endovenosa.

Como é que acontece? Nós temos uma pessoa com leucemia que não

tem doador na família. Passamos para o registro de doadores nacional,

Redome, doadores de medula óssea, banco de dados.

Por exemplo, nós estamos agora com quatro doadores que o Redome

quer que estudemos mais profundamente. Não se consegue. Vai-se, então,

para um banco de cordão. No banco de cordão nós não precisamos de tanta

compatibilidade como precisamos com outro.

Neste ano, cuidamos de uma criança que nasceu sem as defesas, um

imunodeficiente primário grave –semelhante àquela criança que ficava na

bolha, nos Estados Unidos. No ano passado, nasceu no Estado do Rio

Grande do Sul e atendemos no Hospital de Clínicas uma criança igual.

Conseguimos um cordão na Alemanha. Esse cordão veio para o Brasil – tem

que pagar esse cordão, não sei quanto custa, em torno de 20 mil dólares,

alguma coisa assim –, a criança foi transplantada e está muito bem.

Nós já tivemos outra dessas crianças da bolha, que nascem sem defesa

nenhuma. Foi o primeiro transplante com cordão, que veio de Nova Iorque. O

transplante foi feito no Hospital de Clínicas. Esse criança evoluiu muito

bem, ela chegou a 20 mil leucócitos e, quando recebeu alta, adquiriu uma

infecção de um primo, que foi fatal. As crianças e os adultos transplantados

têm que ter muito cuidado no pós-transplante.

Existe uma série de doenças, inclusive as imunodeficiências primárias,

que nós trabalhamos no Hospital de Clínicas. Essa é uma questão que até a

Assembléia Legislativa deveria saber. Essas crianças que não têm as defesas

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não têm os anticorpos, não têm as células T. Elas não têm defesas, têm dez

pneumonias por ano, otites, etc.

Nós temos um ambulatório no Hospital de Clínicas que atende essas

crianças. Eu atendo pessoalmente crianças e adultos com

imunodeficiências, mas o número de crianças e de adultos que foram lá com

imunodeficiências é pequeno. Muita gente está morrendo no interior sem

diagnóstico, porque, nesses pacientes, os médicos não fazem diagnóstico, só

dão antibiótico.

E aí dizem: De novo, a sua filha com infecção. Agora vamos dar

penicilina, vamos dar esse medicamento que vai curá-la, mas eles muitas

vezes não conseguem fazer o diagnóstico porque não têm os meios

laboratoriais que nós temos para chegarmos a definir que situação acontece.

Nós temos uma criança que teve dez meningites meningocócicas. Ela

tem um defeito no sistema do complemento, que é um sistema que ajuda

nas defesas. É raríssimo. O que se faz? Ela toma penicilina para o resto da

vida, é o único jeito. Agora ela está muito bem, mas, se ela não estivesse com

o diagnóstico feito, ela teria morrido de meningococo da outra vez.

Às vezes, nós temos dificuldades num hospital como esse, no sentido de

que a população saiba onde ela pode se socorrer, onde nós temos todas as

maneiras, inclusive os transplantes para os pacientes com imunodeficiências

primárias.

Inicialmente, começamos a comparar a nossa população, no início da

década de 1970, as freqüências dos genes HLA com os de outras populações.

Esse indivíduo que aparece nessa transparência parece um irmão meu, mas

sou eu mesmo há décadas. Estudamos a genética dos índios tikunas na

fronteira do Brasil com a Colômbia e com o Peru, no Alto Amazonas.

Montamos um laboratório num barco chamado Igara Catuçaua, que quer

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dizer barco da amizade, na língua. Com um americano da Universidade da

Califórnia, estudamos as características HLA dos índios, o que é muito

interessante. Imaginem uma índia de olhos orientais e cabelos lisos,

parecida com uma japonesa. Eles são orientais, amarelos. Esses índios

afilam os dentes para ficarem com eles iguais aos da piranha. Levamos

dentistas na expedição que chegaram ao recorde de, num dia, fazerem 50

extrações dentárias porque os índios perdem os dentes. Eles não falam

português. Falam somente a língua tikuna. Eles só têm três marcadores do

HLA em cada lócus. Eles não são polimórficos como os brancos e os negros.

Isso demonstra a passagem de poucas populações pelo Estreito de Bering,

no Alasca. Pouca gente fez essa travessia quando o Estreito congelava. Foi o

que veio a fazer com que houvesse essa população indígena na América do

Norte. Se compararmos esses índios com outros índios latino-americanos,

inclusive com os esquimós, eles são praticamente superponíveis.

Sobre herança desse sistema HLA numa família, se temos um pai que

tem esse cromossomo A1B8 em vermelho, na transparência, e 3B7 em azul.

Ele casou com essa senhora que é 2B12 a 9B21. Entre seus filhos, há o de

nº 5 no quadro apresentado, que é igual ao filho nº 1. Um transplante feito

entre esses dois irmãos tem alta chance de sucesso, seja de rim, de medula

óssea, do que for.

Existem vários testes de HLA, os de baixa resolução e os de alta

resolução, que iniciamos desde o ano passado. Os de baixa resolução, ou por

intermédio de anticorpos que adquirimos. Esprememos muitas placentas

para tirar os anticorpos de dentro. É uma coisa complicada. Depois, vieram

testes chamados de PCRSSP. Pioneiramente no País, desenvolvemos um kit

para isso e agora um exame automático chamado luminex.

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Esses eram os testes que fazíamos com anticorpos. Estudávamos as

células do doador, do receptor, víamos se o sangue do doador podia matar a

célula do receptor. Isso é feito ainda em grande parte do mundo. Depois, veio

a reação em cadeia da polimerase, que é o PCR, que deu um Prêmio Nobel a

quem o identificou, entrou o DNA no meio. Em vez de estudar a superfície

das células com anticorpos, estávamos estudando o DNA ou exatamente os

genes que queríamos detectar.

Desenvolvemos um kit HLA para o lócus a, para o lócus b, para o lócus

c, d, r, dq e agora para um genes novos chamado KIF. Todo esse

desenvolvimento foi realizado no Hospital de Clínicas. Enquanto os outros

laboratórios no Brasil compravam, a preço de ouro, os reagentes de

laboratórios industriais e internacionais, nós preparamos as nossas

amostras com um alto controle de qualidade, realizado na Universidade da

Califórnia.

Conseguimos amplificar o DNA e dizer que o indivíduo é A-1, devido a

tal banda, é A-26 devido a três bandas. Também é B-62 e apresenta o B-35.

Conseguimos um dinheiro do Ministério da Saúde para

automatizarmos, para fazermos um número de testes maiores, inclusive

poder repassar esses kits para outros laboratórios públicos nacionais.

Realizamos esses testes há dez anos, só que eles são mais lentos, porque são

manuais.

No ano passado, chegou essa nova tecnologia que veio a suplantar a

anterior, ela é automática, com esse aparelho chamado Luminex. Por

intermédio de luzes, de marcadores de DNA, consegue-se fazer um grande

número de amostras a mais do que se fazia anteriormente.

Contamos com duas tecnologias. Uma delas é feita no Hospital de

Clínicas e a outra que é comprada e custa caro.

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Nessa projeção, vemos um americano que veio nos dar um curso.

Inicialmente, tivemos problemas com os kits e com o ampliador de DNA que

apresentava defeitos. Compramos um novo e estamos realizando os testes

com uma eficiência melhor.

O que significa a alta resolução? Todos esses testes que mencionei até

agora chamam-se de baixa resolução, inclusive esse automático. Exemplo de

alta resolução: uma pessoa poderá ser HLA A-1, mas com a alta resolução

posso saber se ela é A-1-01, A-102, A1-22, A1-27, que são subdivisões do

DNA desse sistema, seqüenciando o HLA.

O seqüenciamento é a leitura das bases genéticas de um pedaço do DNA

da pessoa. Fomos o primeiro laboratório do Brasil a fazer o seqüenciamento

automático. Estamos fazendo isso para doadores de Banco. Quando

identificamos do Banco temos de aumentar a sensibilidade e para isso

usamos o seqüenciamento para frente e para trás, conseguindo definir essa

especificidade mais apurada.

Por que fazemos isso? Quando se transplanta a medula óssea, ela entra

no sangue do paciente, pois é uma transfusão, e poderá criar um caso

agudo: ela pode rejeitar o paciente. Vejam bem, a medula óssea rejeita o

paciente! Por quê?

Porque antes de introduzirmos a medula óssea, ou até a célula do

cordão umbilical, matamos toda a medula óssea do paciente por

quimioterapia ou radioterapia. Então, aquela pessoa que tinha uma

leucemia, matamos as células leucêmicas, mas junto matamos todas as

células normais imunológicas que defendem o organismo.

A pessoa, com isso, fica à mercê de qualquer vírus. Nesse momento, se

transplanta a medula óssea ou cordão e se reconstitui a pessoa, mas, se

existir um grau de incompatibilidade severo ou maior, podemos ter que a

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medula transplantada não se identifique e aí rejeita: O que estou fazendo

aqui, sou a medula do João, colocaram-me na Maria, ela é diferente de mim,

vou matar as células dela. E aí infiltra o fígado, a pele, o cérebro e mata o

paciente.

Outro teste que fazemos, que é muito elegante, é o pega. Pegou ou não

pegou o transplante, seja de cordão umbilical, de medula óssea. Isso porque,

durante um tempo, os hematologistas que fizeram o transplante não sabem

se pegou ou não, porque aquele organismo tem poucos leucócitos, poucas

células no sangue, que foi quase todo destruído – só se colocou um pouco do

doador.

Então usamos, do teste do DNA – que não são do HIVA – para analisar o

receptor e o doador. Vejam bem, o par doador-receptor é geneticamente

idêntico no sistema HLA. Como não são gêmeos idênticos, são diferentes em

outros sistemas genéticos. Não é uma obrigação ser igual em tudo.

Se eu contasse isto para meu pai, Homero Jobim, que era médico e que

foi reitor da universidade, ele não iria acreditar. Ele era imunologista.

Existem testes – não os tenho aqui para mostrar aos senhores – em que

um receptor do sexo masculino recebeu a medula de uma doadora. Ele

passa a ter, no sangue, o perfil de mulher, mas continua a ser homem.

Então, altera o sexo só no sangue, porque a medula mudou; o resto, se

analisarmos um fio de cabelo dele, é homem.

Há um caso mais raro – ainda bem – e mais perigoso. Este primeiro

indivíduo recebeu a medula deste outro. Só que, depois de 15 dias, o

paciente ficou com quatro tipos de células, os dois dele e mais os dois do

doador. A esse fenômeno chamamos de quimera. Ficou uma quimera

imunológica, tendo no sangue células dele e do doador. Só que entre as

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células dele, pode haver algumas leucêmicas e aí é perigoso, porque a

doença pode voltar.

O que fazemos para nos vermos livres dessa quimera? Simplesmente

transfundimos células do doador, que passarão a brigar com as do paciente

até eliminá-las. Por transfusão, corrigimos a quimera. Interessante, não?

Nossa função no Hospital de Clínicas é estudar os doadores e os

receptores para transplantes. Iniciamos estudando a genética da população

brasileira, chegamos a analisar os índios, os negros, os brancos.

Trabalhamos durante muitos anos nisso. Fomos pioneiros nos transplantes

renais. Hoje, existe um segundo laboratório na Santa Casa, mas o Hospital

de Clínicas foi um marco na área de transplantes no Rio Grande do Sul.

Temos uma equipe grande, estamos inaugurando mais um laboratório,

zero quilômetro, recebemos incentivo da administração do hospital para

novas máquinas e estamos fazendo um grande esforço para conseguir tipar o

maior número de doadores e estamos trabalhando 24 horas em plantão. Há

dias em que aparecem 3 doadores cadáveres para transplante de rim. São 6

transplantes de rins, 6 córneas, três corações, assim por diante, é um

laboratório muito ocupado. Modéstia a parte, acho algo muito bem

organizado e que teve todo o suporte da administração do hospital.

Na semana passada fui a Salvador inaugurar o Laboratório de

Imunologia de Transplantes de Salvador, onde todos que lá estão são

gaúchos, então, exportamos um laboratório para Salvador. Foi uma beleza a

inauguração, é numa ONG de crianças com câncer, o Grupo de Apoio à

Criança com Câncer de Salvador. O laboratório de Salvador é um laboratório

público, não fazia plantão, as coisas estavam mal, enquanto temos 200 mil

tipados no Brasil, para o Redome, Salvador entrou com 400 pessoas tipadas.

Acho que será uma raiz que saiu do Rio Grande do Sul para ajudar a Bahia.

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Agradeço a oportunidade.

Dr. Paulo Mayorga

Quero saudar e cumprimentar todos os presentes na pessoa do Sr.

Presidente, também parabenizar o Dr. Jobim pela sua exposição, muito

esclarecedora e bastante interessante. Apenas uma dúvida, Dr. Jobim, o Sr.

afirmou que o protocolo terapêutico, ou a abordagem terapêutica se inicia

pela busca de uma compatibilização de doadores de medula, mas se existe

esta alta rejeição, temos condições, hoje, de pensar em iniciar um protocolo

pela busca de compatibilidade através de células de cordão umbilical, ou

seria uma aplicação distinta?

Dr. Luiz Fernando Jobim

Talvez eu tenha me expressado mal. A procura é rápida. Hoje temos

uma procura através de um software chamado Rereme, em que os grupos

que fazem o transplante de medula óssea têm acesso ao Redome, por

intermédio do Rereme, então, colocam os dados HLA da pessoa e já faz a

busca e sabem imediatamente se tem ou não tem. Há uns 6 ou 8 meses

atrás isso não existia.

Então, isso agora é uma coisa mais moderna, em pouco tempo, numa

tarde, ficamos sabendo se existe ou não doador no Redome, se não existe,

temos que ir para os bancos.

Os nossos bancos são pequenos, o que vai acontecer? O que o Brasil

quer? Quer que os nossos bancos, tanto o de cordão quanto o Redome,

participem do internacional. Uma pessoa, na Alemanha, pode encontrar um

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doador no Brasil e o Brasil repassará essa medula óssea para a Alemanha.

Hoje em dia, estamos sempre pedindo, mas chegará um momento em que

estaremos na mesma situação desses outros países.

Dr. Paulo Mayorga

E as pessoas que têm intenção de doar os cordões umbilicais ou sangue

obtido a partir desse material?

Dr. Luiz Fernando JobimO cordão umbilical ainda não, porque não temos banco.

Dr. Paulo Mayorga Apenas no Rio?

Dr. Luiz Fernando JobimSim.

Dr. Paulo Mayorga E não há interesse ou demanda para isso?

Dr. Luiz Fernando JobimPara cordão, não. Estamos esperando verbas para criar o centro de

cordão umbilical no Hospital de Clínicas, é nisso que vocês, deputados, têm

que nos ajudar, a pressionar Brasília. Afinal e o nosso banco? Ficou na

conversa. Deve haver uma mobilização para que isso aconteça.

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Dr. Paulo Mayorga Perfeito, obrigado e parabéns pela explanação.

Deputado Paulo BrumNa questão da medula óssea, doutor, não existe nenhum processo de

armazenamento do próprio paciente?

Dr. Luiz Fernando JobimSim, o autotransplante é feito em vários centros, não apenas no

Hospital de Clínicas.

Deputado Paulo BrumO banco seria de células-tronco só do cordão umbilical?

Dr. Luiz Fernando JobimExato. Quando a pessoa vai doar para ela mesma, ela tira o cordão ou a

medula óssea, que é resfriada ou congelada e o paciente faz a quimioterapia,

aí ele recebe novamente a medula óssea. É a mesma medula dele, pode ter

mais recidiva de doenças anteriores.

Isso é feito no Hospital de Clínicas, na Santa Casa, no Hospital Moinhos

de Vento, talvez em outros, não sei bem, trata-se de algo corriqueiro nos dias

de hoje, porque não há rejeição.

Aqueles que querem doar a medula óssea, tiram um pouco de sangue,

fazemos os testes e os enviamos pela internet para o Instituto Nacional do

Câncer, no Rio de Janeiro, formando o Redome, o registro nacional. Aí não é

congelado nada, só dados.

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Por exemplo, uma moça que foi estagiária no meu laboratório, doou a

medula, agora ela foi chamada por que existe alguém no Brasil que precisa

da medula dela. Agora estamos fazendo a alta resolução, que é o teste

definitivo, o HIVA DR de alta resolução para ver se, realmente, bate com

aquela pessoa que está precisando, aí o transplante é realizado.

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25/mai/2006

Banco de sangue de cordão umbilical, a visão do serviço privado

Dra. Karolyn Sassi Marco Couto/AL

Palestrante: Dra. Karolyn Sassi — diretora-geral do Hemocord,

especialista em reprodução humana e doutoranda em Biologia Molecular

pela Universidade Federal de São Paulo.

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Dra. Karolyn Sassi

Agradeço o convite, pois esta é uma oportunidade para nós, como

serviço privado, de podermos mostrar a nossa visão, porque hoje em dia

existem evidências de que os serviços público e privado deveriam ser

parceiros nisso e realmente podem ser.

Inicialmente, célula-tronco é uma célula que consegue se multiplicar,

formar células primitivas iguais a ela e também se diferenciar de uma

linhagem determinada de células com uma função específica. O grande

desafio de hoje é como controlar esse processo de diferenciação de ela se

transformar em uma determinada célula ou outra.

Qual é a fórmula mágica de que precisamos, quais os componentes

para fazer com que essa célula se diferencie num tipo de tecido ou num

outro?

Temos basicamente uma divisão: as células adultas, ou somáticas, que

vêm da medula óssea, de tecidos fetais e do sangue do cordão umbilical do

bebê; e as embrionárias, que vêm dos embriões, do blastocisto, na verdade,

que é o embrião de cinco dias.

Em princípio, se diz, na literatura, que as células adultas teriam uma

especialização limitada, conseguem se dividir em vários tecidos, mas em

número limitado e que a célula do embrião conseguiria se transformar em

todos os tecidos do organismo.

Começarei falando pela célula-tronco embrionária, porque é mais a

minha área. A primeira pessoa que conseguiu selecionar e retirar a célula-

tronco do embrião foi Dr. James Thomson, da Universidade de Wisconsin em

1998. Ele conseguiu tirar do miolo da parte de cima, tirando a parte que vai

formar o embrião. Essas células seriam retiradas quando o embrião teria

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cinco dias de vida e seriam colocadas em cultura e, com isso, se destruiria

esse embrião. A partir daí se faz a cultura dessas células com uma mistura

específica de substâncias para tentar fazer com que delas se originem, por

exemplo, só fibras cardíacas, músculo cardíaco ou só neuronais.

Em 1998, foi a primeira vez que se conseguiu isolar essas células-

tronco e mantê-las em cultura. Atualmente, temos mais de 150 linhagens de

células-tronco embrionárias disponíveis no mundo, que já estão

diferenciadas num tipo de tecido, congeladas ou em cultura e sendo usadas

em pesquisas para poder, no futuro, serem utilizadas.

Quais os problemas que temos com a célula-tronco embrionária? A

contaminação, pois essas culturas foram feitas com fibroblastos de

camundongos, com algumas células dentro desse líquido que se coloca a

cultura, porque, em princípio, isso era experimental e foi usado soro fetal

bovino, que é também um dos componentes dentro dessa cultura. Muitas

dessas linhagens não poderemos aplicar em seres humanos por causa da

contaminação animal.

A questão dessas células serem totipotentes, ou seja, delas poderem se

transformar em qualquer tecido, é algo que precisamos saber como

controlar, porque pode gerar tumores. Como ela se multiplica

desordenadamente, precisamos saber quais os genes que precisamos

bloquear ou liberar a sua função para que aquelas células se comportem da

mesma maneira que se comportariam se estivessem no organismo humano,

onde recebe sinais.

No organismo, naquele determinado tecido onde ela está, ela recebe

sinais de uma célula ou do meio, que ligam e desligam os genes certos para

que a célula se comporte da forma como deveria. Na verdade, quando ela

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está em cultura, não temos as mesmas substâncias para conseguir controlá-

la.

Aos poucos, se vem descobrindo quais os genes importantes para fazer

esse controle, e aqui descobriram um gene, que é o OCT-4, que quando a

sua expressão está aumentada, consegue manter as células primitivas

indiferenciadas. Isso já é um começo se quero multiplicá-las in vitro para

conseguir ter uma quantidade grande antes de diferenciá-la. E uma das

dificuldades era essa, por exemplo, na célula adulta, a célula somática, a

célula-tronco adulta teria uma capacidade de multiplicação limitada,

morreria dentro de algum tempo, mas se sei dominar isso, posso tentar usar

esse gene, manter a célula adulta indiferenciada sem precisar usar a de

embrião, por exemplo, porque aí há toda a controvérsia quanto ao seu uso.

Em termos de rejeições, se eu criar uma linhagem simplesmente de um

embrião e querer transplantá-la numa terceira pessoa, vai existir a rejeição,

pois, assim como nos transplantes, precisa haver compatibilidade. Esse é

um problema, também, não é simplesmente criar linhagens e a solução está

pronta.

Qual é a solução para essa rejeição? A partir disso é que se começou a

pensar na clonagem terapêutica. Por quê? Porque se pode criar um embrião

da própria pessoa que precisa de determinado tratamento com célula-tronco,

nesse caso não haveria rejeição.

A clonagem terapêutica consiste em pegar uma célula adulta célula da

própria pessoa, retirar esse núcleo, aliás, pegar um óvulo dessa pessoa, tirar

o núcleo e colocar o núcleo de uma célula adulta já como se fosse um

embrião formado. Esse embrião se multiplicaria e se faria em cultura de

uma determinada linhagem específica.

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Quais são as alternativas apresentadas para eliminar o conflito ético em

relação ao uso do embrião? Se se souber como controlar a manipulação

genética da célula adulta, da qual eu tinha falado antes, e fazer com que ela

se comporte da mesma forma e com as vantagens da embrionária, então é

eliminada a necessidade de usar as embrionárias. Um bom começo é este

gene OCT-4, que eles descobriram.

Outra coisa seria a partenogênese, que consiste em pegar um óvulo e

fazer com que ele, com determinado estímulo, se multiplique e se comporte

como um embrião, mas sem que ocorra a fertilização com o espermatozóide.

Alguns animais se reproduzem por partenogênese, esse já é um

processo conhecido. Experimentaram com óvulos de camundongos, de

animais e até no óvulo humano isso funciona, pois, às vezes vemos que,

mesmo sem fertilizar, com um determinado estímulo, ele começa a se

multiplicar e, após alguns dias, parece um embrião.

A outra alternativa seria a clonagem de embriões humanos – e aí entra

todo o medo da clonagem reprodutiva, criação e destruição de embriões para

isso e também teríamos de vencer a reação imunológica.

E de onde se tiraria tantos óvulos, porque para o processo da clonagem,

que os coreanos disseram que tinham iniciado – e na verdade era uma farsa

– mostrou que precisaram de muitos óvulos para conseguir poucas

linhagens.

O primeiro a realizar a clonagem foi o Dr. Ian Wilmut, que criou a Dolly

e foi a partir disso que começou toda a polêmica e a possibilidade de

analisarmos a clonagem terapêutica.

A imagem mostra uma gatinha, que também foi clonada, no Texas, o

nome dela é CC, isso foi em 2001, Copy Cat, foi a primeira gatinha clonada.

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No caso desta égua, é interessante que ela mesma, a mãe, doou a

célula, o óvulo, de que foi feito o clone do embrião e ela mesma o gerou em

outubro de 2003. O nome da pequeninha é Prometéia e foram usados 841

embriões para apenas uma conseguir nascer.

Já foram feitos experimentos aqui de partenogênese, aquele processo do

óvulo, só ele estimulado, mas fizeram alguma mudança genética nesse óvulo

para fazer ele se comportar de uma maneira como se fosse um embrião. De

460 embriões se conseguiu 10 filhotes e uma foi para a fase adulta, que é

este camundongo fêmea, que, inclusive, até já teve filhotes normais.

É um processo possível que elimina a fertilização do óvulo com o

espermatozóide – e talvez isso diminua um pouco a polêmica, pois não será

usado o embrião verdadeiro. Mas a questão é que aqueles que defendem os

embriões dizem que o processo de clonagem ou partenogênese também gera

seres vivos.

Em princípio, se isso for feito com células humanas, teoricamente se

conseguiria gerar um ser vivo, um ser humano. Então, quem defende mesmo

os embriões, diz que mesmo a clonagem não é uma desculpa, que isso gera

seres vivos. Eles são contra, inclusive, à clonagem de embriões que foram

gerados por clonagem para retirar as células-tronco.

Os coreanos apresentaram um trabalho, em 2004, no qual eles tinham

usado 242 óvulos, geraram 30 embriões e tinham conseguido uma linhagem

de células. Nem isso é verdade. Depois, em 2005 foi publicado que eles já

tinham conseguido 11 linhagens de células tronco. Isso caiu por terra e, na

verdade, foi um balde de água fria nos defensores de células-tronco

embrionárias porque se achou que se havia descoberto a fórmula mágica de

se conseguir essas linhagens. Na verdade, retrocedeu-se um pouco.

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Entre os obstáculos a serem superados, em termos de células

embrionárias está encontrarmos maneiras mais eficazes de obter células

tronco, porque o processo todo não é eficaz pois perdemos muito,

precisamos de muitas células e de muitos embriões para conseguir

desenvolver muito poucas linhagens. Precisamos de métodos melhores para

identificar as embrionárias e seu potencial de desenvolvimento; formas de

controlar sua diferenciação e crescimento dentro do corpo; saber se o

sistema imunológico ataca células-tronco ou aquelas diferenciada a partir

delas. Esse também é um mistério. Como nunca foi usada em uma célula

tronco embrionária, não se sabe qual será o resultado disso. Só se sabe que

em animais isso gerou tumores em uma grande porcentagem de, em função

do crescimento desordenado dessas células. Também é preciso se

compreender melhor as vantagens comparativas das células-tronco

embrionárias em relação às células somáticas em diferentes aplicações,

porque precisamos apostar naquilo que tem dado resultados clínicos e tentar

descobrir como são controladas as vantagens das embrionárias para ver se

conseguimos reproduzir isso nas adultas, que são as células de medula

óssea ou as de sangue de cordão.

A maioria dos cientistas pensa que pode levar uma ou duas gerações

para se poder aproveitar plenamente os possíveis benefícios das células

embrionárias. Essa é a minha opinião.

Com relação às dificuldades associadas no Brasil, existe um consenso

da Associação Americana de Medicina Reprodutiva quanto a embriões

congelados no sentido de que, quando usamos e transferimos embriões,

quando fazemos um processo de fertilização in vitro e se coloca os embriões

dentro do útero de uma mulher, temos um resultado no caso dos embriões

que não haviam sido congelados. Quando os colocamos dentro do útero

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depois de um processo de congelamento e de descongelamento, a taxa de

implantação desses embriões cai em 20%. A qualidade desses embriões é

diferente. Não sabemos se trabalhar com embriões congelados, que é o que

cogita a lei, será o mesmo que trabalhar com embriões a fresco. A lei

também cita o uso de embriões inviáveis. Se esses embriões são enviáveis,

não sabemos se conseguiremos trabalhar com eles. Se eles são enviáveis, em

princípio nem os colocaríamos no útero de uma mulher. Se o consideramos

inviável, ele está morto, em outras palavras. É um embrião inutilizado. Será

que isso vai funcionar em cultura?

A maioria das clínicas têm os embriões congelados no terceiro dia. Eles

não viraram blastocistos ainda. Então, quando os descongelarmos,

precisamos deixá-los em cultura para chegar até blastocisto. Muitos

embriões não sobrevivem ao processo de descongelamento. Então, muito

poucos embriões conseguiremos levar até o quinto dia em cultura, fazendo

com que ele fique de boa qualidade para conseguirmos tirar a célula-tronco e

fazermos uma cultura da célula-tronco. A proposta da lei é bem difícil, na

prática, de acontecer.

Também precisamos do consentimento dos pais. Os embriões precisam

estar estocados por no mínimo três anos nas clínicas de fertilização. Cada

instituição, mesmo assim, terá sua comissão de ética que aprovará ou não o

uso do embrião, apesar de a lei permitir pesquisa com célula-tronco

embrionária. Existe a questão do certo e do errado. Por isso, muitas

instituições não aprovarão isso, principalmente as que envolvem religião,

instituições privadas religiosas.

A questão é: será que era hora de aprovar isso, por questões financeiras

e pela evolução das pesquisas na área, principalmente, das células-tronco

adultas? Creio que a verba e o empenho deveriam ser muito mais em torno

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das células-tronco somáticas e adultas, porque é o que tem dado resultado.

Além de tudo, tem dado resultado em seres humanos já. Está muito mais

próximo da nossa realidade do que a célula-tronco embrionária, das quais

poucos entendem ainda do seu comportamento. Até conseguirmos aplicar

isso em seres humanos serão necessários muitos anos de pesquisa.

Na transparência que apresento sobre o processo de fertilização in vitro,

essa mostra o embrião do segundo dia. Nós o congelamos nessa fase do

terceiro dia, quando ele tem, no geral, de oito a dez células dentro dele.

Precisamos descongelá-lo e fazer com que ele chegue nessa fase. A massa

interna é o que gerará o embrião todo. Retira-se essa massa e se deixa em

cultura na estufa. O difícil é realmente passar dessa fase.

Os embriões ficam congelados em tanques de nitrogênio líquido nessa

fase de oito a dez células, com a esperança do uso direto das células na

terapêutica de doenças. Esperamos um dia conseguir usar essas células

para determinadas doenças, a criação de modelos de tecidos diferenciados

para estudo da fisiologia das doenças, das moléculas envolvidas e para

testar drogas. Isso sim é uma vantagem, podermos, pelo menos, pesquisar,

mas isso tem que ser divulgado dessa forma. Existe a vantagem de podermos

fazer as pesquisas. Estamos mais na fase de usar isso para tentar descobrir

e responder muitas questões em relação às doenças, para entender melhor

aquela doença do que já usar a célula-tronco como se fosse algo mágico que

já trata diretamente. De muitas doenças não se sabe nem qual é a base, qual

a molécula que causa aquilo. Para isso sim, criar modelos de tecidos com

doenças, estudar como aquilo funciona e por que nos levará à resposta a

respeito do tratamento mais apropriado. Por exemplo, criar células

pulmonares que têm fibrose cística. Esse é um modelo para estudarmos,

entender melhor essa doença e, a partir dali, criarmos opções terapêuticas.

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Quanto à célula-tronco somática, em 1950, foram feitos os primeiros

experimentos com a célula-tronco hematopoética. Sabia-se, há muito tempo,

que existia uma célula na medula óssea que era a célula-mãe que conseguia

gerar todas as outras células do sangue, inclusive as células do aparato da

medula óssea., do tecido ósseo, do tecido subcutâneo, pois há gordura

dentro da medula óssea.

Em 1958, descobriu-se o complexo HLA, que é aquilo que dá

compatibilidade. Descobriu-se que precisava existir uma compatibilidade

entre as células. Em 1973, foi feito o primeiro transplante de medula óssea

com sucesso em seres humanos. Tudo isso baseado no conhecimento de que

existia uma célula que era a que dava origem às outras. Só que a célula-

tronco não estava tão em voga. Na verdade, não se sabe ainda qual é a

verdadeira célula-tronco adulta, qual é a primeira, onde ela se origina.

Sabemos que ela existe em todos os tecidos, mas não sabemos se ela começa

em algum lugar, o que ela faz e como faz. Principalmente como ela faz não se

sabe ainda. Os pesquisadores estão correndo atrás para saber como

conseguiram chegar aos resultados que alcançados em seres humanos, na

área cardíaca e tudo o mais, para tratar insuficiência cardíaca, enfarto. Não

se sabe qual a verdadeira célula-tronco, qual seu fenótipo, quais suas

características. Há marcadores na superfície das células. Sabemos que a

hematopoética tem essas características. A mesenquimal também está

dentro da medula óssea e que dá origem a outros tecidos, não às células do

sangue, mas sim as do tecido extracelular em volta. Descobriu-se, por meio

dessas publicações, que ela também gera outros tecidos. Então, não há só a

hematopoética adulta, a que origina os glóbulos vermelhos e os brancos,

mas que há outra, a que gera o tecido de sustentação da medula que

também tem a capacidade de se transformar em outros tecidos. Ela tem

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características diferentes dessa aqui. É uma célula diferente, que tem a

mesma capacidade. Então, quem é a verdadeira célula tronco? Será que há

uma antes dessa, que origina essas duas? Tudo isso está em pesquisa ainda.

Não temos muitas respostas. O que sabemos é que mais do que 75% das

células-tronco hematopoéticas têm essas características. Só que menos de

1% das células CD34 positivas, que são as que têm esse marcador, que

armazenamos, que dosamos no sangue do cordão umbilical, têm o resto das

características. Sabemos que não só a célula-mãe, mas uma ou duas

gerações depois dela também têm a capacidade muito grande de

regeneração.

Existe também o processo de transdiferenciação, que é o interessante

da célula-tronco. Uma cientista, em 2002, descobriu a célula adulta

progenitora multipontente. Foi ela que começou a estudar a

transdiferenciação. Ela sugeriu que existia uma outra célula, que seria a

mezenquimal, que também teria capacidade de gerar outros tecidos. Por

meio da manipulação de genes responsáveis por enviar sinais bloqueadores

à células-tronco, houve o desenvolvimento de nervos ópticos danificados. Os

cientistas viram que, na verdade, o embrião, num determinado momento,

divide-se em três folhetos – o endodermo, o mesodermo e o hectodermo – que

geram, cada um deles, determinados tecidos. Eles pensavam que a célula-

tronco hematopoética adulta já estava destinada a se transformar somente

nos tecidos daquele folheto de onde ela havia se originado. Por isso se

acreditava que as células embrionárias tinham muito mais vantagem em

relação à célula adulta, porque a embrionária está antes da divisão desses

folhetos. Então, ela tem como se dividir em todos os tecidos.

Essa cientista viu que, por meio de alguma manipulação de genes,

conseguiu-se fazer com que aquela célula conseguisse se transformar e gerar

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um tecido que era do outro folheto, que não tinha dado origem a ela. Isso é

chamado de transdiferenciação. É um pouco complicado de explicar. Não sei

se consegui deixar claro.

Outra questão é o envelhecimento das células. Pensava-se que a

células-tronco embrionária tinha muita vantagem em relação às adultas,

porque as adultas já haviam sofrido alguns processos de mutações, algumas

lesões de poluição, de fumo, de medicação que a pessoa possa ter tomado

durante a vida. Em relação às de medula óssea, às células do cordão e às do

feto, os pesquisadores pensam que elas, por serem mais jovens,

conseguiriam superar isso.

Descobriu-se a plasticidade das células-tronco da medula óssea em

1998. Aí é que se começou a falar muito em células-tronco, de que existia

essa célula que vinha da medula óssea, mas que conseguia gerar tecido

muscular, que foi o que o trabalho publicado nesse ano mostrou. Aí é que

começou toda a divulgação das células-tronco, apesar de já se conhecer a

célula- tronco da medula óssea desde a década de 1950.

A partir de então, houve outras publicações, mostrando que a célula-

tronco da medula conseguia se desenvolver em tecido hepático, em tecido

neuronal, em outras células de vasos sangüíneos e de cartilagem.

O Brasil tem a liderança, na área cardiológica. Em 2001, um primeiro

paciente recebeu a terapia com células-tronco. Ele está bem hoje. Esse é um

dado importante porque precisamos não só sugerir o tratamento com

células-tronco adultas, mas precisamos fazer esse acompanhamento por um

tempo para constatar se essa lesão não voltará. É importante o segmento.

Desde 2001 esse paciente está bem. Ele está na fila de transplante e

conseguiu sair dessa fila.

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Trouxe uma matéria que foi publicada na revista IstoÉ. A Dra. Alice

Teixeira é consultora científica do Hemocord e é minha orientadora do

doutorado. Por intermédio do Departamento de Biofísica da Universidade

Federal de São Paulo que começamos a avaliar a possibilidade de abrir o

banco de sangue de cordão umbilical para trabalhar com células-tronco. A

Dra. Alice Teixeira trabalha há mais de 15 anos com a célula de medula

óssea.

Nessa transparência temos todas as instituições que trabalham com as

células-tronco. No Incor e no Hospital de Clínicas de São Paulo, estão sendo

feitos trabalhos com cardiopatias. No Hospital Pró-Cardíaco foi feito o

primeiro uso das células-tronco em cardiopatias. Agora, os pesquisadores

estão fazendo um estudo com acidente vascular cerebral, que será bem

interessante. A Universidade Federal do Rio de Janeiro trabalha em conjunto

com o Hospital Pró-Cardíaco na parte de pesquisa básica. O Hospital de

Clínicas de Ribeirão Preto trabalha com diabetes juvenil. A Universidade de

São Paulo tem o Projeto Genoma. A Fundação Oswaldo Cruz, em Salvador,

estuda a doença de Chagas. A Unifesp, com a Dra. Alice Teixeira, faz estudos

de pesquisa básica de cultura, in vitro, a parte celular mesmo. O INCA e o

Hospital Israelita Albert Eistein também têm um banco público de sangue de

cordão umbilical. Incluí esse dado aqui porque muita gente entra em contato

para saber como doar o sangue do cordão umbilical.

Em 1984, pesquisadores detectaram as células progenitoras no sangue

do cordão umbilical. Eles descobriram que o feto tinha muitas células-tronco

circulantes, que poderiam ser aproveitadas de alguma forma. O banco de

medula óssea é um banco de registros, de endereços, de nomes. Como é

muito difícil encontrar doadores de medula óssea, vai-se atrás dele para

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saber se ele mora no mesmo endereço, para ver se ele ainda pode doar ou

não. A sistemática dos bancos de medula óssea é muito difícil.

Descobrir células-tronco no sangue do cordão umbilical foi uma luz.

Depois do nascimento, sai a criança, sai a placenta e essa era desprezada. O

máximo que se fazia com a placenta era pesá-la para ter esse dado e jogá-la

no lixo. Começou-se a cogitar de usar isso como uma alternativa para quem

não encontrava no banco de medula óssea algum doador compatível. Ele era

encontrado num banco de cordão, já que as células eram as mesmas,

inclusive com algumas vantagens.

Depois, houve estudos mais recentes com sangue de cordão umbilical.

São de 2004. Foi quando constataram que as células de cordão têm a

mesma vantagem da de medula óssea, que é sua plasticidade, sua

capacidade de gerar outros tecidos também. Podem se transformar em

músculos esqueléticos, podem regenerar ossos, recuperando a função

cardíaca, atuando em diabetes em paralisia. Os estudos são em animais,

porque muito pouca gente tem o sangue do cordão, porque é uma coisa

recente, e precisou usar sangue do cordão armazenado.

A maioria dos estudos no sangue do cordão é feita em sangue de cordão

de animais ainda, mas tem-se conseguido chegar no mesmo caminho das

pesquisas de medula óssea. Tem-se descoberto algumas vantagens que

citarei depois.

O primeiro transplante de sangue de cordão umbilical foi feito em 1988,

como uma alternativa. Uma criança tinha anemia de Fanconi. Foi feito na

França por Eliane Gluckmann, que foi quem começou tudo isso. Foi

publicado em 1989. Pablo Rubenstein fez o primeiro banco de sangue de

cordão umbilical em 1993, em Nova Iorque.

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Em relação aos bancos de sangue de cordão umbilical, deve ser feita

uma opção prévia. É o paciente que tem que decidir antes se quer doar ou se

quer armazenar num banco privado, porque não existe a possibilidade de

doar metade para um e metade para outro. Essa é uma questão bem

freqüente. A diferença é que o banco público é feito para transplante

alogênico. Há uma doação e o sangue é usado em uma terceira pessoa. Ele

visa, principalmente, a aplicação em leucemias ou doenças genéticas para as

quais já existe o tratamento consagrado hoje em dia.

O objetivo dos bancos públicos é o de complementar os bancos de

medula óssea, para conseguir um maior pool de doadores. Se não for

encontrado um doador em medula, talvez se encontre num banco de sangue

de cordão umbilical algum doador para um paciente com leucemia.

No banco privado, o procedimento e a manutenção são pagos. O destino

é o uso pelo próprio doador, um dia, se ele precisar, ou algum familiar. Visa,

principalmente, a doenças hematológicas adquiridas, que são diferentes da

leucemia, e alguns tumores sólidos, que são comuns em crianças como

neuroblastoma, retinoblastoma e, no futuro, a medicina regenerativa.

Acredito que as duas coisas são complementares para a sociedade,

porque têm objetivos diferentes. O nosso objetivo é tratar a leucemia um dia,

talvez, de algum familiar, se for compatível; e não o próprio bebê que coletou

o sangue do cordão umbilical. Talvez um dia se possa apostar nessa

medicina regenerativa, que, pelas pesquisas, nos vem mostrando alguns

resultados bem animadores.

Essas são as aplicações atuais do sangue de cordão umbilical no geral,

tanto para transplante para a própria pessoa como para uma terceira pessoa

recebê-lo.

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Pelo exemplo, podemos ver alguns tipos de câncer – e nem me atreverei

a falar sobre cada doença, porque nem são da minha área.

Nesta lista há casos de câncer; de falência de medula óssea; síndromes

de hemoglobinopatia; doenças do sangue também; alguns erros inatos do

metabolismo, que são defeitos genéticos; algumas imunodeficiências e outras

doenças. Há uma lista enorme de casos em cujo tratamento já se usa sangue

de cordão umbilical.

E qual é a lista de doenças em que a pessoa pode receber o seu próprio

sangue? São mais ou menos umas 20 doenças. A maioria são casos de

tumores: linfomas; meloma múltiplo; Sarcoma de Ewing, que é um tumor

ósseo; neuroblastoma; tumor de Wills, que é de rim; tumor neuronal; tumor

de tecido muscular; meduloblastoma; tumores de células germinativas, que

é o câncer de ovário; tumor de retina; etc.

Nos casos em que o paciente precisar realizar quimioterapia, pode-se

usar o sangue do cordão umbilical para regenerar a medula óssea

novamente. E isso já é utilizado.

O banco de cordão umbilical privado é muito criticado, porque dizem

que é muito raro precisar usar. É raro, mas existem as suas indicações

atuais. A maioria das pessoas que coletam o sangue de cordão umbilical no

banco privado o faz porque está apostando na medicina regenerativa e não

pela lista de doenças que podem ser tratadas.

Os senhores podem ver aqui as doenças que estão em pesquisa, mas o

detalhe é que as pesquisas são sempre com transplante autólogo.

Se o tratamento para diabetes um dia ficar consagrado e as pesquisas

mostrarem que pode-se usar células-tronco de cordão umbilical para tratar

diabete juvenil e eu recorrer a um banco público, eles irão liberar? É preciso

achar um doador compatível, porque terá de existir a compatibilidade, o

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banco público vai liberar ou aquilo vai continuar sendo somente para a

leucemia? Não sabemos.

Se um dia esse tratamento ficar consagrado para diabetes e tenho o

meu próprio sangue coletado e armazenado no banco privado, poderei usá-lo

sem ter o problema da rejeição – essa também é uma vantagem. Se eu

recorrer a um terceiro, existe o problema da rejeição.

O avanço maior é nas doenças cardíacas. Se esse tratamento na área

cardiológica também ficar consagrado, e as pesquisas mostrarem que vale a

pena usar isso como uma terapêutica, pois a incidência de cardiopatias é

muito alta.

Hoje em dia, com aquela lista anterior que mostrei, é muito raro

aquelas doenças acontecerem e será muito raro aquela pessoa precisar usar

aquele sangue.

Hoje, vemos que é raro a criança precisar usar o sangue que coletou e

armazenou no banco privado, mas isso pode virar uma alternativa definitiva,

no futuro, pois há uma incidência é muito grande de insuficiência cardíaca,

de hipertensão, de doenças isquêmicas, etc. Isso pode chegar a uma

incidência de um para quatro, um para dois em mulheres após a menopausa

e com mais de 50 anos e em homens é mais freqüente ainda.

Estou apostando nessas pesquisas e acredito que um dia poderemos

usar o sangue do cordão umbilical armazenado e ampliarmos suas

aplicações usando-o para esclerose múltipla; paralisias; enxertos de pele e

de tecido ósseo; lúpus; etc. Na Doença de Parkinson e no Mal de Alzheimer

será mais difícil conseguir usá-lo e precisará de muita pesquisa, pois tudo

que envolve o sistema neurológico é mais complicado. É necessário que se

injete as células no local, uma boa quantidade das células precisam

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sobreviver depois que as injetamos e elas têm de assumir a função daquelas

que queremos substituir.

Está em estudo e creio que, pelo que tudo indica, alguma coisa irá

avançar nessa área.

Por que coletar, então, o sangue do cordão umbilical? Quais são as

evidências que temos a favor disso? Achava-se que a quantidade de sangue

coletada do cordão umbilical não era suficiente para transplantar um adulto.

Há uma das publicações, aqui, uma das primeiras que apareceu, que

mostra que é suficiente transplantar um adulto com o sangue do cordão

umbilical. A quantidade varia muito, o ideal é que tenhamos de 70 mililitros

para cima para termos uma boa quantidade de células-tronco nesse sangue.

Às vezes não conseguimos isso, porque a placenta é pequena e não vem todo

o sangue, e muitas vezes vem em torno de 150 mililitros.

Esse foi um estudo interessante que envolveu 682 adultos com

leucemia. Noventa e oito deles forma tratados com sangue de cordão

umbilical, e 584 receberam medula óssea. O estudo foi feito pelo mesmo

grupo que realizou o primeiro transplante de sangue de cordão.

Os que receberam o sangue de cordão eram pacientes um pouco mais

jovens, tinham, em média, 24 anos e meio; e os que receberam medula

óssea, tinham, em média, 32 anos. Mas eram adultos.

O peso era um pouco diferente: a média dos pacientes que receberam

sangue de cordão era de 58 quilos; e os que receberam medula óssea, de 68

quilos.

Dos pacientes que receberam o sangue de cordão, 52% tinham doença

mais avançada, enquanto que o percentual dos que receberam medula era

de 33%.

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Noventa e quatro por cento dos pacientes que receberam sangue de

cordão não tinham a compatibilidade HLA de 6/6, que é a compatibilidade

completa. Quem recebeu medula óssea precisa de uma compatibilidade de

100%.

Uma das vantagens do sangue do cordão é que pode-se procurar um

doador que não seja 100% compatível, tendo uma certa compatibilidade já

funciona.

Outra coisa muito importante é a quantidade de células que os

pacientes receberam por quilo: 0,23x10⁸ células para quem recebeu sangue

de cordão, e quem recebeu medula óssea precisou de 2,9.

Quem recebeu sangue de cordão teve uma menor incidência de doença

enxerto versus hospedeiro, apesar de a maioria, 94%, não ter a

compatibilidade. E quem recebeu sangue de cordão teve uma recuperação

da população de neutrófilos um pouco mais tardia.

A recuperação foi um pouco mais tardia, mas no final de tudo não

houve uma diferença nos dois grupos em relação à incidência de doença

enxerto versus hospedeiro crônica, à mortalidade, ao índice de recidiva da

doença e ao tempo de sobrevida livre da doença. Ou seja, o resultado é o

mesmo, no entanto, foi preciso muito menos células de cordão. O sangue do

cordão, mesmo que seja pouco, tem uma quantidade de células suficiente

para transplantar um adulto, porque a capacidade de regeneração da célula

do cordão é maior do que a célula da medula óssea, talvez por ser mais

jovem. Vários estudos têm provado o que estou dizendo.

Esse é um argumento favorável. Algumas pessoas questionavam se o

sangue do cordão seria suficiente para tratar doenças cardíacas, já que elas

ocorrem na fase adulta. Sim, até porque cada doença necessitará de um

número determinado de células. Precisamos de uma quantidade bem grande

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de células, realmente, depois de uma quimioterapia, pois é necessário

regenerar toda a medula óssea. Para o coração, injeta-se uma quantidade

menor, a concentração é menor.

Temos visto ao longo do tempo que as aplicações do sangue do cordão

estão sendo ampliadas e são suficientes para transplantar um adulto. Para

algumas doenças degenerativas, como falei anteriormente, o número de

células a serem utilizadas é menor, não precisamos, talvez, da mesma

quantidade necessária para regenerar a medula óssea. Se temos coletado

uma quantidade pequena de células, talvez seja suficiente para determinada

doença que vamos querer tratar no futuro.

O tempo de armazenamento é indeterminado. Como fica numa

temperatura de menos 196 graus Celsius, abaixo de menos 130 não existe

metabolismo dentro da célula, não existe um envelhecimento dessa célula.

Não sabemos. Na verdade, é indeterminado. Sabemos que do sangue

armazenado desde 1993, no primeiro banco que apareceu de sangue de

cordão, até hoje as células estão viáveis, estão sendo aplicadas e têm

funcionado. Então, precisamos de mais tempo, de bancos de cordão para

irmos descongelando e vendo se vai funcionando. Em princípio, 15, 20 anos

já estão garantidos. Sabemos, por embriões ou por sêmen congelados, que

não existe tempo limite, porque realmente em nitrogênio líquido a

temperatura é muito baixa. Então, não temos como determinar.

A célula tronco do cordão dá menos rejeição em relação à de medula

óssea. Não sabemos por quê. Talvez por ser mais imatura tenha uma

capacidade de regeneração maior e provoque menos reação do organismo

onde é transplantada. Isso é uma vantagem em relação à medula óssea.

Permite um menor grau de compatibilidade, o que aumenta a

disponibilidade de potenciais doadores, porque podemos ampliar. Se

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procuramos um doador num banco público, não precisamos pegar apenas

os que são 100% compatíveis, existe uma maleabilidade maior.

Existe uma maior concentração de células progenitoras mais primitivas

dentro do sangue do cordão, o que é bom. O sangue do cordão está

imediatamente disponível, não precisamos ir atrás do doador. O sangue já

foi coletado e está no nitrogênio, basta testá-lo para compatibilidade,

descongelar e usar. A média para conseguir achar um doador de medula

óssea é em torno de quatro meses, se recorrermos a um banco de medula

óssea, o que pode significar, às vezes, a vida de algum paciente.

Existe uma grande oferta, muito maior. Se formos pensar em quantos

partos acontecem por dia e se coletássemos de todos, para colocar num

banco público, seria ótimo.

A coleta não oferece risco nenhum, nem para mãe, nem para o bebê. A

probabilidade de uso é crescente para tratar doenças degenerativas, por

causas das pesquisas em andamento, então, existe aquela lista de coisas

que se usa hoje, mas acredito que daqui há cinco anos a lista vai estar

maior.

Quem tem história na família de doenças que são tratáveis, deve coletar

porque existe a chance de algum familiar desenvolver.

Quem tem um tipo de HLA raro, também deve coletar o sangue do

cordão, os hematologistas recomendam, porque aí é muito difícil de achar

um doador, então o ideal é que se colete o sangue do cordão para ter na

família.

A sobrevida é maior quando o transplante ocorre com sangue de um

doador aparentado, então isso é um grande argumento a favor dos bancos

privados.

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Se eu preciso de um transplante e eu recorro a um doador, alguém que

não tem parentesco, mas, ao mesmo tempo alguém da família coletou o

sangue do cordão e aquele sangue do cordão é compatível comigo, e o do

banco público também é compatível, se eu receber o do meu parente, o

resultado é melhor. A minha sobrevida é maior. Isso, nos trabalhos, não se

sabe porquê ainda, mas o mesmo grupo da Eliane Gluckman provou isso,

que foi quem começou e fez o primeiro transplante do sangue do cordão.

Então, isso é uma vantagem.

Mesmo que aquele bebê que coletou não use o sangue do cordão, se for

compatível com algum familiar, já é uma vantagem para os familiares de

primeiro grau. É uma possibilidade de conseguir, de ter um doador ali.

A probabilidade de eu encontrar um doador compatível num banco

público, de alguém que não tem parentesco é de uma em um milhão. Se eu

tiver entre parentes de primeiro grau, a chance é de um para quatro. Claro

que não é garantido, mas a chance é muito maior.

O Hemocord está muito interessado em fazer pesquisa e contribuir.

Temos todo o interesse de ampliar aquela lista de aplicações. Eu acredito

nisso, e foi por isso que o nosso grupo resolveu montar e trabalhar com

células troncos, porque acredita que isso tem futuro, e principalmente as

células de cordão que tem mostrado vantagem sobre as de medula.

Estamos envolvidos. O Hemocord vai financiar até a primeira etapa da

coleta do sangue do cordão para fazer essa pesquisa em diabetes. Vamos

trabalhar lá Universidade Federal de São Paulo, com os meus professores,

lá, então trabalhar na área de diabetes.

A outra pesquisa que nós conseguimos junto, em colaboração com o

CNPq, as duas na área de leucemia linfoblástica aguda, também vai ser feito

lá essa pesquisa e o Hemocord vai fazer a coleta. Há pessoas que já

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coletaram. Veio um baixo volume. Essas pessoas resolveram desistir da

coleta e doaram para a pesquisa, e esse sangue vai ser usado na

Universidade Federal de São Paulo para a gente desenvolver isso.

Gostaria de agradecer esta oportunidade. Registro que o serviço privado

não é o bandido, ele também procura contribuir, realizando pesquisas, na

medida do possível, tentando se envolver, porque o nosso interesse maior é

contribuir com esse propósito. Afinal, apostamos na medicina terapêutica,

na medicina regenerativa e tudo o mais. A solução é a união do serviço

privado com o serviço público. Dessa maneira, avançaremos mais

rapidamente. Assim como o Hospital Albert Einstein, que era um banco

privado, agora é um banco público dentro de uma instituição privada. Todos

temos a ganhar. Muito obrigada.

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01/jun/2006

As células-tronco nas cardiopatias

Dr. Renato Kalil Luiz Avila/AL

Palestrante: Dr. Renato Kalil — Doutor em medicina pela UFRGS, diretor

científico e cirurgião da equipe de cardiologia do Instituto de Cardiologia da

Fundação Universitária de Cardiologia – IC/FUC.

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Dr. Renato Kalil

Agradeço o convite para vir aqui palestrar sobre esse assunto das

células-tronco, em meu nome e em nome do Instituto de Cardiologia.

Nas cardiopatias, as células-tronco têm algumas utilidades já

demonstradas experimentalmente e ainda em investigação na parte clínica,

em ensaios clínicos.

As células-tronco foram testadas em doenças do miocárdio, ou seja, do

músculo do coração, e em doenças das coronárias, ou seja, dos vasos do

coração, nas cardiopatias isquêmicas. Em ambas as situações, elas

demonstraram ser úteis em melhorar a função cardiovascular, em promover

a formação de novos vasos no coração e em melhorar a contractilidade do

órgão.

Atualmente, como todos sabem, existem muitos recursos para o

tratamento das cardiopatias: a revascularização com pontes de safena ou

com angioplastia por cateter; as válvulas que podem ser implantadas,

trocando-se as válvulas do coração; o transplante cardíaco. Existem formas

de fazer o músculo cardíaco melhorar sua contractilidade nas doenças do

miocárdio. Todos esses recursos, no entanto, são limitados.

O recurso final é o transplante cardíaco, quando não há mais nenhuma

possibilidade de tratamento convencional, mas esse recurso também é

bastante limitado. Existem as limitações de doadores e o custo do

transplante, que é muito alto para ser suportado pelo sistema de saúde. As

cardiopatias em fase final também têm tratamentos complexos e de custo

elevado.

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Como as células-tronco têm demonstrado experimentalmente que

melhoram a função cardíaca em situações terminais, estão sendo testadas

em humanos nessas situações em que não há mais outros meios de

tratamento.

Há cerca de um ano e meio, o Ministério da Saúde propôs um protocolo

de estudo multicêntrico no Brasil, envolvendo 1.200 pacientes com quatro

doenças principais do coração. São elas: a miocardiopatia dilatada, doença

do músculo do coração que não contrai bem; a doença de chagas, causada

por um parasita que ocasiona a miocardiopatia; a doença isquêmica crônica,

que é originada pela seqüência de múltiplos enfartos, e o próprio enfarto

agudo do miocárdio. Nesses quatro grupos vai ser investigada a utilidade das

células-tronco.

Esse estudo, que tem como objetivo descobrir um novo método

extremamente barato, de baixo custo, que poderá substituir alguns dos

métodos convencionais com vantagens fisiológicas e de aplicação, está em

andamento no Ministério da Saúde, desde 2004, e deve demorar cerca de

dois anos ainda para ter resultados apresentáveis. Estão sendo estudados

300 casos de cada uma dessas patologias.

Enquanto isso, existem grupos que estão investigando as cardiopatias

em projetos isolados, com cerca de 10, 20 e 30 pacientes, avaliando os

resultados nessas pequenas séries.

Há um trabalho que foi muito divulgado, não só no meio médico mas

também na mídia, realizado no Rio de Janeiro, no Hospital Pró-cardíaco em

colaboração com o Instituto do Coração do Texas. Foram estudados

pacientes com doença isquêmica crônica do coração. Compararam-se 14

pacientes tratados com sete pacientes-controle e foi observada uma melhora

da função cardíaca muito significativa nos 14 pacientes.

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Outros estudos demonstram que o método é seguro, ou seja, não há

efeitos colaterais, não há dano nenhum nem complicações moderadas ou

graves do uso. É bastante seguro e de baixo custo, mas se é realmente

efetivo para essas patologias vamos saber mais adiante. Os pequenos grupos

estudados até agora demonstraram vantagens.

A diferença entre os experimentos em animais e em humanos é que

para o paciente queremos um efeito benéfico, efetivo, de longo prazo e que

resolva o problema. Os estudos experimentais são todos de curto prazo. O

experimento é feito, o animal é avaliado e depois sacrificado para que o

coração seja estudado. Todos os estudos em animais deram efeito positivo,

mas não foram feitos a longo prazo.

Os estudos em humanos mostraram efeitos positivos, mas até agora de

forma temporária. Aqueles grupos que acompanhavam os pacientes há mais

tempo, mostram que depois de oito, 10 ou 12 meses o efeito das células-

tronco de melhorar a contratividade do coração foi sendo reduzido. Não se

sabe ainda que mecanismo causa essa redução, isso vai ser fruto de novas

pesquisas.

Temos dois protocolos próprios do Instituto de Cardiologia que são

financiados pela FAPERGS e pelo CNPq. Um deles envolve a miocardiopatia

dilatada, ou seja, aquela doença do miocárdio – que não se sabe a causa –,

em que simplesmente o coração não contrai efetivamente. Nessa doença

tivemos uma série inicial de seis pacientes, com financiamento da FAPERGS.

O resultado foi que todos eles melhoraram uniformemente, nos primeiros

dois, quatro, seis meses, ou seja, tiveram melhora funcional importante

nesse período. Todos os pacientes melhoraram dos seus sintomas,

melhoraram na sua qualidade de vida e esses sintomas e a qualidade de vida

melhor persistem até hoje, cerca de um ano após o início do tratamento, mas

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a função miocárdica avaliada pelo ecocardiograma, pela ressonância

magnética, isto é, por aqueles métodos que vêem a imagem do coração,

mostra que o coração voltou a contrair com deficiência como era no início.

Então, vamos fazer um novo estudo, que já começou, comparando 20

pacientes tratados com 20 pacientes-controle, ou seja, em 20 pacientes

vamos injetar as células-tronco e em outros 20 vamos acompanhar com o

mesmo tratamento, mas sem injeção de células-tronco. Vamos ver se esta

melhora temporária foi por algum efeito placebo, ou se foi porque o paciente

estava sentido-se melhor tratado, ou porque os remédios que ele está

recebendo são melhor controlados, vamos ver se há algum efeito que não

tem a ver com as células-tronco.

O que podemos dizer hoje da miocardioplastia dilatada? Ela tem um

efeito benéfico, e esse efeito benéfico, muito provavelmente, é devido à

injeção das células-tronco, e que ele parece que se dissipa com o tempo.

Na doença isquêmica do coração, que pode ser crônica ou aguda, a

aguda é o infarto do miocárdio, temos também alguns estudos. No infarto do

miocárdio está demonstrado que as células-tronco melhoraram a função

cardíaca, se injetada logo no início do infarto.

Na doença isquêmica crônica do coração, este grupo sobre o qual me

reportei do Hospital Pró-cardíaco, do Rio de Janeiro, e do Texas Heart

Institute demonstrou melhora, e temos aqui também, no Instituto de

Cardiologia, um grupo tratado com revascularização do miocárdio, isto é,

tratado junto com a cirurgia cardíaca. Na cirurgia cardíaca se faz uma ponte

de safena nas regiões onde podem ser tratadas com ponte de safena, e se faz

injeções de células- tronco onde existe doença, mas não se pode alcançar a

revascularização com ponte de safena.

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Nesta situação o que se demonstrou? É que nas zonas de transição

entre a parte doente e a parte sadia ocorreu melhora, mas a melhora não foi

significativa, não se conseguiu demonstrar grandes diferenças entre os

grupos tratados e não-tratados na doença crônica do coração, por meio de

cirurgia cardíaca.

Não temos a terapia cardiovascular mas temos transplantes para tratar

as cardiomiopastias e o coração artificial, temos válvulas para implantar e

para tratar as válvulas cardíacas, temos a revascularização cirúrgica ou

percutânea, ou ainda o transplante cardíaco para tratar doenças

isquêmicas, mas ficamos limitados nos processos ainda hoje disponíveis. A

terapia gênica e a terapia celular podem nos fazer transpor esta fronteira, e

poderemos produzir novo músculo cardíaco, que é a cardiomiogênese, ou

produzir novos vasos no coração, ou fazer novos tecidos por meio de células-

tronco cultivadas e, com isso, substituir válvulas cardíacas.

Relativamente ao que mencionei sobre o projeto do Ministério da Saúde

– e não sei se alguém já discorreu aqui sobre esse assunto da terapia celular

em cardiologia nesse projeto patrocinado pelo Ministério da Saúde –,devo

dizer que é baseado no que comentei sobre o custo, hoje, da alta

complexidade em cardiologia, que gasta anualmente, pelo Ministério da

Saúde, cerca de 600 milhões de reais. Poder-se-ia melhor tratar os pacientes

e reduzir bastante esse custo com o emprego de tratamentos mais efetivos e

menos dispendiosos.

Foi realizada uma reunião com o objetivo de discutir esse assunto.

Neste ponto, observamos o valor investido pelo SUS no ano de 2003, que foi

de 774 milhões de reais, gastos com alta complexidade, em pacientes

cardíacos. Foi proposto esse estudo multicêntrico brasileiro, abrangendo

1.200 pacientes, sendo 300 portadores de doença chagásica, ou seja,

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miocardiopatia chagásica, em que as células serão injetadas por via

intracoronariana, ou seja, será colocado um cateter na coronária e ocorrerá

injeção dentro da coronária. Na doença isquêmica crônica do coração,

células serão injetadas, via cirúrgica, em 300 pacientes. No infarto agudo do

miocárdio será feita a injeção intracoronária em 300 pacientes e, na

miocardiopatia dilatada também será feita a injeção intracoronariana, que é

o que estamos estudando aqui, em outros 300 pacientes. Resultarão em

respostas daqui a cerca de dois anos.

Quais são os tipos de células que se utilizam em cardiologia? Existem

mioblastos que podem ser empregados. Mioblastos são células retiradas de

qualquer músculo da perna, ou do braço, cultivados e reinjetados no

coração.

Fibroblastos são células que geram fibras. Foram usadas

experimentalmente e não são mais empregadas na parte clínica.

Podem ser usadas células de medula óssea, dessa categoria de

mononucleares, ou também células mesenquimais, que também são obtidas

da medula óssea, e a grande questão é quanto às células-tronco

embrionárias, que podem ser também utilizadas, para as quais há todas as

restrições éticas que todos conhecemos.

Como se faz isso? As células podem ter origem no sangue, na medula

óssea, no músculo ou no esqueleto. Podem ser retiradas também de tecido

gorduroso ou adiposo, ou são células embrionárias que poderão ser

injetadas no coração. Descobriu-se recentemente que o próprio coração tem

células-tronco que podem ser mobilizadas, por meio de substâncias

injetadas, as quais podem ajudar no reparo do músculo cardíaco.

As células tipo mioblastos, células que podem ser retiradas de qualquer

músculo, como por exemplo do da coxa, são cultivadas in vitro, em placas no

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laboratório; depois que há uma quantidade suficiente são injetadas no

coração. Com isso se pensa que se pode transformar músculo esquelético em

músculo cardíaco. Isso foi feito durante algum tempo experimentalmente, e

também feito em clínica, na França, assim como em Curitiba pelo grupo da

PUC.

Este é o exemplo de um paciente que faleceu dezessete meses depois. O

coração dele foi examinado e constatou-se que havia músculo originário das

células do mioblasto que haviam sido injetadas. Elas estavam lá vivas e

contraindo ainda.

É uma terapêutica que provê células a longo prazo no coração.

As formas de injeção podem ser intramiocárdica, ou seja, injetando-as

direto no miocárdio; podem ser através da cavidade do coração, por meio de

um cateter colocado dentro da cavidade; podem ser intravenosas, ou seja,

injetando em uma veia e esperar que ela vá se localizar no coração; ou

podem ser por meio de um cateter colocado dentro da coronária.

Não sabemos como age a célula-tronco. Ela pode agir transformando-se

numa célula cardíaca, ou seja, formando a regeneração cardíaca; pode agir

transformando-se em uma célula vascular, ou pode agir através de produção

de fatores paractos, ou seja, produzindo substâncias que melhorarão a

função cardíaca, mas não necessariamente se transformando em outras

células.

Uma propriedade importante – e talvez, a Dra. Nancy tenha falado aqui

– é a mobilização e o homing, ou seja, a forma como essas células são

mobilizadas e como irão se localizar na região que desejamos tratar.

As porções onde existem lesão cardíaca tem uma atração pelas células e

elas procuram instalar-se nas zonas da lesão. Podemos mobilizar as células

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através de substâncias injetadas na corrente sangüínea: elas saem da

medula óssea, mobilizam-se e vão-se localizar na região que queremos.

Existem trabalhos na cardiopatia isquêmica e na cardiopatia dilatada.

Qual a vantagem de tratar na cardiopatia isquêmica? É que se trata de uma

doença altamente incidente, prevalente na população em geral. Nenhuma

forma de tratamento, atualmente disponível, é capaz de regenerar os

cardiomiostos, reverter a fibrose. Esse seria o objetivo. O que vimos é que a

reversão da fibrose, hoje em dia, não é demonstrada que pode ser realizada

pelas células-tronco, mas regenerar os cardiomiostos, ou formar novos

cardiomiostos, poderia se fazer.

Esse é um estudo experimental, publicado em 2001, em pacientes com

enfarto do miocárdio, através de injeção direta no miocárdio. Em ratos, ficou

demonstrado que as células injetadas se transformavam em miostos, ou

seja, células do músculo cardíaco e estruturas vasculares.

No estudo que foi realizado em colaboração com o Pró-cardíaco, do Rio

de Janeiro e o Texas Heart Institute, que foi publicado em 2003, 14

pacientes foram tratados e sete foram pacientes-controle. Foram utilizadas

as células da medula óssea, injetadas por cateterismo e foram, depois,

avaliados. Não ocorreram efeitos colaterais relacionados. Todos os pacientes

melhoraram assintomaticamente. Ocorreu uma melhora da função

ventricular, ou seja, esse índice de 20% subiu para 29%. E o grupo-controle

teve uma piora. Nesses pacientes o benefício foi mantido após um ano.

Em dez pacientes que não eram passíveis de revascularização completa

com ponte de safena, foi feita, além da revascularização, um implante de

células-tronco, que demonstrou que existe segurança, melhora da função

cardíaca global e melhora da perfusão dos segmentos onde foram tratados.

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Na nossa experiência no Instituto de Cardiologia – e esse trabalho foi

realizado pelo Dr. Santana – foram injetadas células de medula óssea para

tratar áreas de fibrose miocárdica durante a cirurgia cardíaca, a fim de

avaliar a segurança e os efeitos.

Os pacientes foram acompanhados de um a nove meses, um paciente

apresentou um sangramento e foi tratado; um paciente teve pneumonia, com

complicações não-relacionadas ao implante, e os demais estão clinicamente

bem e assintomáticos.

Mas o estudo com a cintilografia miocárdica foi negativo, ou seja, não

ocorreu melhora entre o pré-operatório e a extensão do déficit de perfusão,

que era de 30% no pré-operatório e de 29% no pós-operatório.

Não ocorreu melhora significativa, nem nesse índice nem no índice que

chamamos de fração de injeção, que melhorou de 30% para 32%, não sendo

muito significativo. Conclusão, na cardiopatia isquêmica e no uso em

cirurgia cardíaca junto com ponte de safena, concluímos que é factível, não

implicando em risco adicional para o paciente. Os resultados indicam que o

transplante não está associado à regeneração das áreas de fibrose, mas que

limita a extensão da fibrose aumentando a área viável, ou seja, não substitui

a fibrose, mas pode limitar a sua extensão.

Um método de implante que nós estamos fazendo, por meio do Dr.

Rogério Sarmento Leite, no Instituto de Cardiologia, é o implante na veia do

coração. Ele entra com um cateter, em vez de injetar na veia coronária, ele

injeta na veia coronária retrogadamente. O Dr. Sarmento Leite demonstrou

que em alguns casos existe uma melhora imediata.

Ainda foi demonstrado que houve uma melhora significativa usando o

método de injeção na veia do coração. Vocês podem observar que a fração de

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injeção desse paciente aumentou de 45% para 58% , que é uma melhora

significativa.

Por último, falarei no estudo que estamos fazendo em cirurgia numa

situação de cardiomiopatia dilatada e diopática, ou seja, não existe causa

definida e o coração está dilatado e não contrai direito.

Há argumentos contrários para se usar as células-tronco nessa

situação. Isso porque em geral é uma doença genética, ou seja, todas as

células do organismo são afetadas. Então, se formos transplantar células-

tronco do próprio paciente para o coração, elas também levarão aquele

defeito genético para o coração, e poderá não ter efeito.

Existe um embasamento experimental, que é bastante limitado, mas até

agora não há estudos clínicos com essa patologia. Porém há outros estudos

experimentais bastante significativos, que entusiasmam no sentido de

utilizar nessa situação.

O próximo estudo mostrou que as células mesenquimais de medula

óssea melhoram a função cardíaca com o modelo de rato de miocardiopatia

dilatada. Melhorou a função ventricular, formou novos vasos, formou

músculo, reduziu a fibrose, a cicatrização do coração, produziu fatores que

melhoraram a função cardíaca. Isso se estabelece como uma potencial nova

estratégia terapêutica. Esse trabalho foi publicado numa revista de grande

prestígio no meio médico, em 2005.

Demonstrou que existe a formação de uma grande rede nova de vasos.

Esse é um rato em que não foi feito nada. Aqui, há um rato que foi ao

experimento, mas não foi tratado. Depois, um rato em que foram injetadas

as células mesenquimais, mostrando todos esses vasos em muito maior

quantidade do que nos outros grupos.

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A liberação desses fatores que vão melhorar a função cardíaca e

diminuir a perda de células também aumentou bastante nos ratos tratados.

Os índices que medem a contratilidade miocárdica melhoraram nos ratos

tratados.

A histologia de um coração normal, a histologia de um coração com

miocardiopatia – essas partes brancas são fibroses, tecido cicatricial –, e nos

corações que tinham fibrose e foram tratados, aquela fibrose foi bastante

reduzida, quase desapareceu.

Há um fundamento experimental claro e bastante otimista em relação à

miocardiopatia dilatada. Existem poucos estudos clínicos, e na América do

Sul estamos sendo pioneiros nisso. Existem três estudos clínicos em

miocardiopatia dilatada no mundo, e esses três são da América do Sul.

Um deles é de São Paulo, do Dr. Edimar Bocchi, que mostrou que a

mobilização das células e a infusão entre a coronária é viável em

insuficiência cardíaca grave, pois ele fez isso em nove pacientes, e ocorreu

melhora. Foi demonstrada melhora com essa mobilização.

Um outro estudo foi apresentado num congresso americano, em 2005.

É um estudo colaborativo entre Pittsburgh, Montevidéu, Rosário – na

Argentina –, e uma universidade em Dallas. Eles trataram 30 pacientes, dos

quais 15 foram para um grupo-controle e 15 foram tratados com injeção de

células-tronco. Todos tinham um déficit de função miocárdica importante.

Não tiveram complicações e foram seguidos por seis meses.

O que se encontrou? Que no grupo tratado com células-tronco, nesses

quinze, houve uma grande melhora funcional, que os pacientes, no teste de

caminhada de seis minutos – é um teste em que se vê por quanto tempo o

paciente, num total de seis minutos, consegue caminhar sem cansar –,

melhoraram bastante, passando de 50 metros para 300 metros.

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Esse peptídeo natriurético é uma substância que se dosa, para avaliar

insuficiência cardíaca, melhorou bastante. Baixou de 800 para 300, e a

contractilidade miocárdica também aumentou bastante, de 26% para 46%

no grupo tratado, que foi bem diferente do grupo-controle, que não se

constatou melhora.

Conforme vemos aqui na projeção, este é um grupo de Buenos Aires, o

Dr. Trainini e a Dra. Noemi Lago estiveram aqui, em Porto Alegre, na semana

passada, num simpósio que promovemos. Apresentaram no congresso, em

março de 2006 – quando apresentamos os nossos resultados –, a experiência

com oito casos, de diversas etiologias de doença isquêmica dilatada do

coração, verificaram melhora na classe funcional, ou seja, caiu

significativamente o comprometimento funcional do paciente, houve melhora

da fração de injeção e não houve diferença de diâmetro no coração.

Concluiu-se que é uma técnica viável e segura com melhora clínica e

funcional.

Em conclusão, estamos achando, nesse estudo, que os resultados

iniciais são encorajadores, que existe uma melhora objetiva e subjetiva

imediata, que a função ventricular se perde a médio prazo, mas a melhora

clínica subjetiva é mantida – o mecanismo de como isso funciona tem ainda

que ser esclarecido –, e que se precisa mais acompanhamento e mais estudo

para definir melhor as indicações.

No âmbito do que vai ser o estudo e do que se alastrou como futuro,

estamos nesta fase: estamos separando as células, injetando-as diretamente

em algum lugar e vendo como funciona. No futuro, vamos saber ainda qual o

tipo celular melhor, qual o método de liberação, se elas têm reação

imunogênica.

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Vamos estabelecer as considerações éticas para ver se vamos usar

células embrionárias, que tipo de células embrionárias ou não; qual o

número de células que vamos injetar – por enquanto estamos injetando o

número que obtemos aleatório e não sabemos se isso é muito ou pouco; qual

vai ser a eficácia na realidade na clínica – sabe-se que os efeitos adversos a

curto prazo não existem, mas, a longo prazo, têm de ser ainda avaliados; se

vai haver um efeito positivo sobre a mortalidade desses pacientes; qual vai

ser o momento ideal para a aplicação, quando vai ser a indicação da

aplicação; qual vai ser o paciente ideal; em que doenças vai ser mais

benéfico ou em que doenças que vai haver vantagem em relação aos métodos

convencionais. Tudo isso ainda tem que ser esclarecido. Era isso. Muito

obrigado.

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Conclusão

Encerrar as atividades da Comissão Especial sobre Pesquisas de

Células-Tronco nos traz um misto de satisfação e tristeza. Satisfação por

termos a oportunidade de conhecer os estudos que vêm sendo feitos em

hospitais e universidades do nosso Estado e de possibilitarmos condições de

divulgar esse trabalho. Tristeza por constatarmos que ainda há muito para

ser mostrado, especialmente se considerarmos o que vem sendo feito em

outras regiões do país.

Mas, se alcançamos os objetivos iniciais que nos levaram a defender

que esta Comissão fosse criada, sabemos também que ainda há muito a ser

feito. Nossa proposta visava tomar conhecimento de pesquisas para

podermos informar e divulgar os avanços na área e contribuirmos para o

aperfeiçoamento da legislação. Agora que encerramos a coleta de

informações, podemos trabalhar para aprimorar as leis e reunir esforços na

busca de recursos junto ao Poder Público e à iniciativa privada.

Sabemos que as pesquisas sobre células-tronco sustentam a

esperança humana de encontrar tratamento e até mesmo a cura para

doenças que, até pouco tempo, eram consideradas irremediáveis, como

diabetes, esclerose múltipla, enfarto, distrofia muscular e lesões medulares.

Mas, agora, podemos dizer que, embora já haja grandes avanços,

verdadeiros milagres científicos, ainda há muito a ser feito. Um esforço a ser

compartilhado pelos pesquisadores, em seu trabalho incansável, e pela

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sociedade, através do apoio legislativo e financeiro. É triste vermos

pesquisadores afirmando que governos de outros Estados apóiam pesquisas

feitas aqui, em troca de receberem todo o conhecimento obtido.

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Sugestões e encaminhamentos

Ao Poder Executivo Estadual:

1. Viabilizar o banco público de sangue de cordão umbilical no Estado. No

final de 2005, a Secretaria Estadual da Saúde lançou uma portaria, criando

o Banco Público de Sangue de Cordão Umbilical, que será constituído em

parceria com algumas entidades do Estado. Sabe-se que é oneroso, é

precisos buscar verbas junto aos empresários.

Temos uma necessidade real, imediata, de pacientes aguardando por

transplante, à espera de um doador de medula. O cordão umbilical vem

substituir o doador de medula, passando a ser um recurso mais fácil,

porque bebês nascem todos os dias e, todos os dias, o sangue daquele

cordão umbilical e a placenta são jogados fora.

2. Abrir um edital específico contemplando a pesquisa das células-tronco no

Estado na Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapergs). As verbas poderiam

vir através de uma lei de incentivo fiscal às pesquisas, semelhante à

legislação existente para incentivo à Cultura.

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Ao Poder Legislativo Estadual

Que nas comissões permanentes que tratem dos assuntos que envolvem as

pesquisas com células-tronco, sejam criados mecanismos que permitam o

acompanhamento das ações propostas pela Comissão, bem como se

constitua um canal permanente de comunicação entre as instituições de

pesquisa, a Assembléia Legislativa e a população.

Palácio Farroupilha, 1º de junho de 2006.

Deputado Pedro Westphalen,

Relator.

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Anexos

Agradecimentos

Queremos registrar nossa gratidão a todos os convidados especiais,

pela disponibilidade e qualidade das palestras apresentadas. Também

agradecemos a todos que participaram das audiências, razão do nosso

trabalho, e que contribuíram de maneira efetiva nas discussões e

encaminhamentos.

Agradecemos aos serviços disponibilizados pela Assembléia Legislativa

para realização dos nossos trabalhos, tais como assessoramento, secretaria,

imprensa, informática, editoração eletrônica e reprografia, sonografia, ao

Departamento de Comissões Parlamentares, ao Departamento de Taquigrafia

e ao Gabinete do deputado José Farret, que sempre nos prestigiou.

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Pronunciamento do deputado Paulo Brum sobre a visita ao Instituto de Ortopedia e Traumatalogia do Hospital de Clínicas de São Paulo

Senhor Presidente, nobres colegas:

Na condição de presidente da Comissão Especial sobre Células-

Tronco, viajei a São Paulo para conhecer o trabalho que vem sendo

realizado no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital de Clínicas

da USP — uma das instituições de ponta na pesquisa no tratamento de

pessoas com deficiência e de novos equipamentos.

Na visita que fiz, fiquei particularmente impressionado com o trabalho

da Oficina Ortopédica, ligada ao Laboratório de Bioengenharia e Tecnologia

Assistiva. Com o lema “Recuperação, independência, superação,

produtividade e conforto”, a Oficina Ortopédica desenvolve tecnologia em

órteses, próteses, acessórios e cadeiras de rodas, para atender aos pacientes

conforme suas necessidades.

Em especial quanto às cadeiras de rodas, está sendo montada uma

linha de testes para avaliá-las quanto à sua capacidade de rodagem e

resistência a impacto, semelhante ao que é feito com automóveis. A idéia é

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definir normas técnicas para a construção desse equipamento, que passará

a ter prazo de validade.

Ao mesmo tempo, está sendo organizada uma parceria com um

fabricante de cadeiras para que elas passem a ser feitas de forma que se

sirvam perfeitamente ao corpo do usuário, com materiais de qualidade, mas

com baixo custo.

Esses materiais também estão sendo pesquisados pela equipe da

Oficina Ortopédica, que se utiliza de computadores para produzir encostos e

assentos totalmente anatômicos, projetados a partir de moldes feitos com

almofadas. Assim, o peso do usuário se distribui uniformemente pela

cadeira, garantindo conforto e saúde.

Dentro de quatro meses, quando as máquinas para fabricação desses

equipamentos estiverem prontas, os pacientes do Instituto de Ortopedia e

Traumatologia sairão de lá com uma cadeira totalmente adequada ao seu

corpo. E paga pelo SUS.

Fiquei muito feliz em tomar conhecimento dessa realidade, pois há

anos eu venho dizendo que a cadeira de rodas é uma extensão do corpo das

pessoas com deficiência e luto para que todos tenham acesso a

equipamentos de qualidade. Com uma cadeirinha feita com latão e lona,

como as que são pagas atualmente pelo SUS, a pessoa fica mal acomodada e

acaba sofrendo com outros problemas provocados pela má postura.

O Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina da USP foi inaugurado em 1953, para combater uma

epidemia de Paralisia Infantil que atacava São Paulo.

O Instituto dispunha de toda a tecnologia ortopédica, existente na

época, para o ensino do tratamento da paralisia infantil aguda e suas

seqüelas, bem como de fraturas. Com a erradicação da paralisia infantil, o

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Instituto pôde ser utilizado para o atendimento, a pesquisa e o ensino de

outras importantes patologias ortopédicas.

Pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia passaram alguns dos

maiores professores da ortopedia mundial e quase todos os grandes

ortopedistas brasileiros, além de um número infindável de estudantes e

médicos interessados em conhecer e treinar as técnicas aqui desenvolvidas

ou aperfeiçoadas. É lá que trabalha o Dr. Tarcísio de Barros Filho, pioneiro

em pesquisas para o tratamento de lesões medulares com o uso de células-

tronco medulares.

Atualmente, o Instituto ocupa 25.000 metros quadrados de área

construída com 7 laboratórios de especialidades, e um corpo clínico com

mais de 200 médicos que se dedicam ao tratamento das enfermidades do

aparelho locomotor. Por lei, pode admitir pacientes particulares e

conveniados (na proporção máxima de 20%) e para tal, possui um andar

exclusivo com todos os recursos de um hospital privado.

Cientifica e academicamente o Instituto é ligado à Universidade de São

Paulo, através do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade

de Medicina. Dedica-se ao ensino, em nível de graduação, residência e pós-

graduação, formando mestres e doutores, além de oferecer cursos de

especialização aos ortopedistas e profissionais afins.

Hoje, como um dos principais centros de pesquisas do Brasil, está entre

os maiores hospitais de ortopedia e traumatologia da América Latina.

Faço este pronunciamento com grande satisfação, por poder

compartilhar com meus nobres colegas os avanços que vêm sendo

conquistados aqui, com conhecimento e tecnologias desenvolvidos em nosso

país.

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Debate sobre células-tronco deverá mobilizar Parlamento em 2006 Por: Mirella Poyastro / Agência de Notícias

Data: 01/03/2006

A Lei de Biossegurança – aprovada pelo Congresso Nacional e em fase de

regulamentação – representou o primeiro passo de uma longa jornada até as

células-tronco serem utilizadas na cura de doenças, como o Mal de

Parkinson e de Alzheimer, do coração, diabetes, tipos de cânceres e

distrofias musculares. O texto autorizou a comunidade científica brasileira a

realizar pesquisas com células-tronco embrionárias, consideradas as mais

eficazes para formar qualquer tecido do corpo. No entanto, o embrião deve

ser obtido do processo de fertilização in vitro, congelado há mais de três

anos e ter sua utilização aprovada pelos pais. Já o uso de células-tronco

adultas está fase avançada. No Estado, cirurgias cardíacas, por exemplo,

estão sendo realizadas nos hospitais de Clínicas de Porto Alegre, no São

Lucas da PUCRS, no Instituto de Cardiologia e na Santa Casa de

Misericórdia.

Acompanhar a evolução das pesquisas do uso de células-tronco do ponto de

vista científico e bioético. Incentivar a discussão sobre o tema ainda

cerceado pela desinformação ou por posições religiosas que vêem nele um

atentado à vida e não um recurso terapêutico que poderá salvar muitas

vidas. Unir esforços na busca de recursos nas áreas governamental e

empresarial. Estes são os principais objetivos da Comissão Especial sobre a

pesquisa das Células-Tronco, presidida pelo deputado Paulo Brum (PSDB),

cujas atividades se iniciam a partir do próximo dia 15. Os integrantes do

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órgão deverão definir o calendário de reuniões e de palestras com

especialistas e profissionais da área.

Paulo Brum é paraplégico e voluntário de um grupo de estudo do Hospital de

Clínicas de São Paulo, composto por 40 pessoas. Eles se preparam para

fazer um transplante de medula com células-tronco adultas. "Sabemos que

essas pesquisas sustentam a esperança humana de encontrar tratamento e,

até mesmo, a cura para doenças que eram consideradas irremediáveis, como

a diabetes, a esclerose múltipla, o enfarto, a distrofia muscular e as lesões

medulares", declarou Paulo Brum. O parlamentar afirmou que a comissão

pretende ainda contribuir para o aperfeiçoamento da legislação existente.

A vice-presidência da comissão ficou com o deputado Luis Fernando

Schmidt (PT), e a relatoria, com Pedro Westphalen (PP). Também integram o

órgão técnico os parlamentares Marco Lang (PFL); Jussara Cony (PCdoB);

Ciro Simoni e Giovani Cherini, do PDT; Elmar Schneider e Kanan Buz, do

PMDB; José Farret (PP), Edson Portilho (PT) e Abílio dos Santos (PTB).

Células-tronco

Há três tipos de células-tronco: as encontradas na medula de pessoas de

qualquer idade – mas com baixo poder de reprodução e especialização; as

existentes no cordão umbilical – mais potentes que as da medula; e o tipo

mais promissor, as dos embriões.

As células-tronco embrionárias têm extraordinário poder de reprodução e

capacidade ilimitada de especialização, podendo se transformar em qualquer

tecido humano. Estas são obtidas de embriões congelados ou clonados. Os

primeiros são células da mãe que se transformam e se multiplicam para dar

origem a todos os tecidos do organismo, sendo considerado o mais versátil. A

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idéia é montar bancos como os de sangue, com várias linhagens de células,

para o uso de transplantes. O clonado é igual ao congelado, só que

produzido a partir de uma célula do próprio paciente, eliminando o risco de

rejeição em transplante.

Poderão levar décadas ainda para que as células-tronco sejam usadas na

cura de doenças. O primeiro passo do processo é a regulamentação da

matéria. Depois vem a fase de pesquisa que necessitará de recursos

financeiros para o início dos estudos científicos. Os resultados serão

testados primeiro em animais, para depois começarem experiências com

seres humanos.

Especialistas afirmam que é impossível precisar o tempo que levará para

utilização das células-tronco se tornarem prática comum na medicina, pois

tudo nesta área é estimado, inclusive, o número de embriões congelados no

País. Os pesquisadores trabalham com a existência de 30 mil embriões

congelados, espalhados nos cerca de 180 centros de reprodução assistidas

do País.

Especialistas em células-tronco serão ouvidos

Por: Daniela Bordinhão / Agência de Notícias Data: 09/03/2006 A Comissão Especial sobre a pesquisa das Células-Tronco, presidida pelo

deputado Paulo Brum (PSDB), definiu nesta quinta-feira (9) a metodologia de

trabalho que será adotada nos próximos 120 dias. O parlamentar anunciou

a presença de especialistas e de representantes de laboratórios e institutos

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de pesquisas nas audiências públicas. Brum comunicou também a

realização de reuniões no interior do Estado e de um seminário sobre o tema

no encerramento das atividades do órgão técnico. Na próxima quinta-feira

(16), a comissão deverá receber a professora de Hematologia da Faculdade

de Farmácia e de pós-graduação em Ciências Médicas da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Patrícia Pranke.

Brum afirmou que o principal objetivo da comissão é incentivar a discussão

sobre o tema ainda cerceado pela desinformação ou por posições religiosas

que vêem nele um atentado à vida e não um recurso terapêutico que poderá

ajudar na cura de doenças. “Ouviremos especialistas do Rio Grande do Sul e

de outros estados para acompanhar a evolução das pesquisas do uso de

células-tronco e levaremos informações às comunidades”, assegurou.

Segundo o parlamentar, a comissão vai unir esforços na busca de recursos

nas áreas governamental e empresarial e receber sugestões para o

aperfeiçoamento da legislação existente. Brum ressaltou que as pesquisas

representam a esperança de cura para pessoas que sofrem de doenças como

diabetes, esclerose múltipla, enfarto, distrofia muscular e lesões medulares.

Participaram da reunião os deputados José Sperotto (PFL) e Luis Fernando

Schmidt (PT) e o diretor-presidente da Fundação de Articulação e

Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de

Deficiência e de Altas Habilidades no RS (Faders), Luiz Augusto Gemelli.

A comissão especial sobre a pesquisa das Células-Tronco, instalada em

dezembro de 2005, tem 120 dias para concluir suas atividades. A entrega do

relatório está prevista para o dia 6 de junho.

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Especialista fala da pesquisa e uso de células tronco Por: Marta Sfreddo / Agência de Notícias Data: 16/03/2006 A pesquisa e o uso de células-tronco no tratamento de várias doenças foi o

tema da palestra da professora doutora Patrícia Pranke, da Faculdade de

Farmácia e do curso de Pós-graduação em Ciências Médicas da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul. O assunto foi abordado durante reunião da

Comissão Especial sobre a Pesquisa de Células-tronco, presidida pelo

deputado Paulo Brum (PSDB), nesta quinta-feira (16). "Nossa expectativa é

de que as terapias com células-tronco sejam uma esperança de vida melhor

para todos nós", assinalou a pesquisadora, que também é presidente do

Instituto de Pesquisa com Células-tronco. Com o lançamento do edital de

pesquisas em 2005, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq) aprovou 41 projetos, entre os quais o da Ufrgs. O CNPq

disponibilizou recursos para os pesquisadores brasileiros fazerem estudos

no tratamento de lesão medular em ratos, comparando os resultados entre

os três tipos de células-tronco: medula óssea, sangue de cordão umbilical e

embrionárias humanas.

Hoje, a Lei de Biossegurança (nº 11.105, de 24.03.05) permite, com

restrições, o uso de células-tronco embrionárias humanas. Segundo Patricia,

os pesquisadores estão otimistas diante da possibilidade destas células

serem usadas para tratar doenças que até há bem pouco tempo eram

consideradas incuráveis. No entanto, apesar do otimismo que cerca as

pesquisas, o assunto é tratado com muita cautela pela comunidade

científica. Para a doutora, a população precisa ser esclarecida e deve buscar

informações junto a grandes centros de pesquisa, centros universitários e

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hospitais para evitar situações como as divulgadas recentemente, quando

médicos estavam comercializando ilegalmente supostas células-tronco em pó

para pacientes portadores de doenças graves, numa exploração anti-ética da

terapia. "Qualquer tratamento com pacientes só pode ser feito se houver a

aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do

Ministério da Saúde", alertou. Ela revelou, porém, que ninguém no mundo

utiliza células-tronco embrionárias em seres humanos. O uso ainda é

limitado ao campo da pesquisa.

De acordo com Patricia, são diagnosticados por ano, no Brasil, 7.100 novos

casos de leucemia em adultos, provocando mais de 4.300 mortes. Metade

delas poderia ser evitada por meio do tratamento com células-tronco de

sangue do cordão umbilical. Já entre crianças e adolescentes, surgem 9.200

casos novos de leucemia todo ano no País, enquanto a aplasia de medula

acomete 800 pessoas no mesmo período. Segundo a especilista, o Brasil

necessitaria entre 6.500 e 8.000 transplantes de medula óssea por ano e só

consegue realizar 900, por falta de doadores.

O uso de células-tronco de cordão umbilical mudaria esta realidade. Entre

as vantagens, estão a oferta ilimitada (uma vez que bebês nascem todos os

dias), a disponibilidade imediata e a menor rejeição. Para isso, defendeu a

implantação de bancos públicos de sangue de cordão umbilical. "Estamos

lutando, junto com o Ministério e a Secretaria Estadual da Saúde, para que

em breve possamos abrir este banco no Rio Grande do Sul", afirmou

Patricia. Atualmente, existem apenas dois bancos públicos para

armazenamento deste tipo de material no Brasil: um no Rio de Janeiro e

outro em São Paulo. A pesquisadora estima que outros oito bancos seriam

suficientes para atender à demanda do País, observando que o maior

problema a enfrentar é o custo do investimento.

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O deputado Paulo Brum ressaltou que o trabalho realizado pela cientista vai

ao encontro dos objetivos da comissão, que pretende ampliar o debate em

torno do tema e desta forma contribuir para trazer avanços à sociedade.

Também participaram da reunião os deputados José Farret (PP), Ciro Simoni

(PDT), Luis Fernando Schmidt (PT) e Reginaldo Pujol (PFL).

Pesquisadora anuncia primeiros transplantes com células-tronco

Por: Rafael Guimaraens / Agência de Notícias

O Hospital de Clínicas de Porto Alegre vai realizar as primeiras cirurgias do

estado com a utilização de células tronco em seres humanos, para a

recuperação de tendões e estruturas articulares em processos degenerativos.

A informação foi prestada pela coordenadora do Laboratório de Embriologia

e Diferenciação Celular de Centro de Pesquisas da instituição, Elizabeth

Cirne Lima, em palestra nesta quinta-feira (23), na Comissão Especial sobre

a Pesquisa das Células-Tronco da Assembléia, proposta e presidida pelo

deputado Paulo Brum (PSDB).

A cientista afirmou que a discussão pública em torno da aplicação

terapêutica das células-tronco é fundamental para desmitificar conceitos e

preconceitos sobre o assunto. "Barrar conhecimento não é possível e proibir

a pesquisa é um erro", disse ela. "É preciso estudar, divulgar as informações

corretas, debater e formar uma opinião sobre quais as regras que devemos

fixar e quais os caminhos a seguir".

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Considerada uma das maiores especialistas do Estado, Elizabeth Cirne Lima

salientou que é preciso cautela sobre a utilização das células-tronco na

recuperação de seres humanos, em curto prazo. "Sabemos ainda muito

pouco sobre aspectos fundamentais desta matéria", disse ela. Destacou a

diferença entre células-tronco adultas e as embrionárias, alvo das polêmicas

éticas que envolvem os cientistas e os religiosos, pois envolvem manipulação

de embriões.

"As células embrionárias, como o nome diz, são obtidas de embriões

humanos, podem se multiplicar in vitro e têm capacidade de dar origem a

todos os tipos de células, mas nunca a um novo indivíduo completo",

explicou, destacando que os pesquisadores ainda não têm domínio completo

sobre cada etapa da diversificação celular. As células-tronco adultas são

obtidas de diversos tecidos de seres humanos formados, especialmente da

medula óssea, do sangue do cordão umbilical, do sangue periférico e da

placenta.

A curto prazo, a pesquisadora revelou-se mais otimista sobre o uso

terapêutico de células adultas. Ainda assim, justificou as pesquisas de

células-tronco embionárias, argumentando que as adultas têm algumas

limitações. "Não conhecemos ainda o sistema de multiplicação das células

adultas in vitro, portanto elas têm de ser imediatamente transplantadas

para o paciente", explicou. "Além disso, elas podem dar origem a um número

ainda bem reduzido de tipos de novas células adultas".

Elizabeth relatou os projetos que sua equipe vem desenvolvendo em animais,

destacando a regeneração do músculo cardíaco após infarto agudo e crônico,

a recuperação do fígado em casos de falência hepática e o desenvolvimento

de células pancreáticas para a produção de insulina. Destacou que todas

elas são rigorosamente examinadas pela comissão de ética do Ministério da

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Saúde. Lembrou que o Hospital de Clínicas realizou a primeira pesquisa de

células-tronco financiada pelo governo brasileiro, em convênio com a

Universidade Ludwig Maximillian, de Munique, da Alemanha. Ela tratava do

estabelecimento de rotinas de manutenção de células embrionárias.

Ao final da reunião, o presidente Paulo Brum anunciou para a próxima

quinta-feira a palestra do professor Jefferson Braga da Silva, no Centro de

Biociências da PUC. Revelou ainda que a comissão vai interiorizar suas

atividades com um debate na Faculdade de Medicina da Universidade

Federal de Santa Maria, marcado para o dia 7 de abril. A Comissão Especial

sobre a Pesquisa das Células-Tronco foi criada em dezembro do ano passado

e deve encerrar suas atividades em junho, com um grande seminário.

Instituto da PUC pretende iniciar pesquisas com pessoas paraplégicas

Rafael Guimaraens / Agência de Notícias Data: 30/03/2006

O sucesso das experiências de células-tronco na recuperação de ratos

paraplégicos cria uma perspectiva promissora para sua utilização em seres

humanos, afirmou o médico Jefferson Braga da Silva, do Instituto de

Pesquisas Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Ele foi o

palestrante convidado da Comissão Especial sobre a Pesquisa de Células-

Tronco da Assembléia Legislativa, presidida pelo deputado Paulo Brum

(PSDB). A pesquisa coordenada por ele mostrou que seis meses após a

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aplicação seqüenciada de células-tronco retiradas da medula óssea os

animais já conseguiam caminhar.

O médico acredita que este tipo de terapia pode ser eficaz em casos de

pessoas que sofreram trauma agudo, uma semana ou dez dias após o

acidente. "Se conseguirmos bons resultados, poderemos ir paulatinamente

ampliando as experiências para períodos mais longos", afirmou. Jefferson

Silva falou sobre a realidade e as perspectivas da terapia com células-tronco.

Inicialmente fez uma diferença entre as células adultas e as embrionárias,

estas últimas alvo de controvérsias éticas por aspectos culturais ou

religiosos, pela ausência de comprovação de sua eficácia e pela falta de

regulamentação na lei.

Ele acredita que os recursos devem ser destinados preferencialmente a

pesquisas que dão resultado, que são as que utilizam células-tronco adultas,

retiradas principalmente da medula óssea, material que existe no interior

dos ossos. "Desde que foi promulgada a Lei da Biossegurança, no ano

passado, dos 51 projetos aprovados pelo Conselho Nacional de Pesquisa

(CNPq), 49 trabalham com células da medula óssea e do cordão umbilical",

revelou.

Ele relatou os projetos desenvolvidos pelo Instituo de Pesquisas Biomédicas

da PUC. Em seres humanos, a instituição vem obtendo resultados

expressivos na recuperação dos nervos da mão, rompidos em traumatismos,

e nos casos de calvície, nos quais o uso de células-tronco produz resultados

20% mais eficientes que os dos implantes convencionais. Em animais, além

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da recuperação da medula, em casos de paraplegia, o Instituto consegue

bons resultados na restauração de unhas e do fígado.

Jefferson Silva observou que setores da mídia têm criado ilusões em relação

à utilização terapêutica imediata das células-tronco, especialmente em casos

mais graves. "Não podemos tirar a esperança das pessoas, mas também não

devemos gerar falsas expectativas", afirmou. "Se tivermos recursos,

poderemos evoluir nos avanços científicos que certamente retornarão à

comunidade na forma de novas terapias", afirmou.

O deputado Paulo Brum destacou a preocupação da comissão que preside,

no sentido de informar a opinião pública e suscitar o debate realista sobre o

tema. "Estamos conhecendo experiências importantes no uso das células-

tronco, mas temos consciência de que elas devem ser apoiadas para

conseguirem efetivamente alterar as realidade das pessoas que sofrem com

doenças graves", disse ele. No próximo dia 19 de abril, a médica Karolyn

Sassi, diretora do Hemocord, será a palestrante na Comissão Especial sobre

pesquisas das Células-Tronco. Na semana seguinte, os deputados estarão no

interior, conhecendo o trabalho desenvolvido na Faculdade de Medicina da

Universidade Federal de Santa Maria.

Biólogo relata pesquisa com células-tronco adultas Marta Sfreddo / Agência de Notícias

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O biólogo Lindolfo da Silva Meirelles, mestre e doutorando em Genética e

Biologia Molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, palestrou

na reunião da Comissão Especial das Células-Tronco, presidida pelo

deputado Paulo Brum (PSDB), nesta quinta-feira (6). O especialista falou das

pesquisas em torno da distribuição de célula-tronco mesenquimal (MSC) in

vivo. Estas células, que são encontradas primariamente na medula óssea,

podem dar origem a ossos, tendão, cartilagem, tecidos adiposo e muscular,

estroma medular e células neurais, o que evidencia a possibilidade de serem

utilizadas para procedimentos de terapia celular e gênica. O trabalho de

pesquisa de Meirelles é feito a partir de células-tronco mesenquimal de

medula óssea de camundongos.

Bolsista de doutorado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq), o pesquisador explicou que a célula-tronco é uma célula

capaz de auto-renovação e de geração de outros tipos celulares em estágio

mais avançado. Elas podem ser do tipo embrionárias, fetais ou adultas (pós-

natais). Esta última é o foco do trabalho de pesquisa de Meirelles.

De acordo com ele, a medula óssea é uma fonte acessível e rica de células-

tronco. A MSC é um dos dois tipos de células-tronco encontradas na medula

óssea e passou a ser mais estudada pela comunidade científica. Segundo

Meirelles, depois de isolar e caracterizar as células-tronco mesenquimais

adultas, a pesquisa procurou apurar a presença de células similares em

outros órgãos. Hoje, acrescentou, a linha de experiência detectou MSCs em

vários órgãos e tecidos, como timo, baço, rim, fígado, músculos, pulmões,

artéria aorta e veia cava.

Questionado pelo deputado Paulo Brum sobre a aplicação clínica das MSCs,

Meirelles disse que a utilização destas células de forma purificada ainda não

é corrente, pois os resultados têm sido melhores a partir do uso combinado

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dos vários tipos celulares. Entretanto, o pesquisador acredita que o uso de

célula-tronco mesenquimal isolada pode ter, no futuro, um impacto muito

grande nos casos de tratamento de lesão de medula espinhal.

A professora orientadora da pesquisa de Meirelles, Nance Beyer Nardi, disse

que apesar do avanço das pesquisas, a aplicação clínica das células-tronco

ainda é muito incipiente. Segundo ela, nenhum ensaio clínico no mundo usa

células-tronco embrionárias e alguns poucos experimentos utilizam células-

tronco adultas e fetais em humanos. Nance relatou estudos realizados na

cidade de Laranjeiras (RJ), em que 1.200 pacientes participarão de

protocolos clínicos de terapia celular para cardiopatias.

Antes do início da palestra, o deputado Paulo Brum informou que na

próxima segunda-feira (10) estará com o médico Tarcízio Barros Filho. Ele

ele é coordenador de pesquisa sobre a utilização de células-tronco adultas

no tratamento de pacientes com lesão medular crônica, realizada pelo

Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O parlamentar é um

dos voluntários da pesquisa.

Participaram da reunião os deputados José Sperotto (PFL) e José Farret (PP)

e o pró-reitor de Pesquisa da UFRGS, Cesar Augusto Vasconcellos.

CTMO quer aumentar número de transplantes

Por: Daniela Bordinhão / Agência de Notícias Data: 25/04/2006 Hora: 09:00

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A relação entre células-tronco e transplante de medula óssea foi o tema da

palestra do oncologista do Centro de Transplante de Medula Óssea (CTMO)

do Hospital da Universidade Federal de Santa Maria (HUSM), Luís Carlos

Antunes. O assunto foi abordado nesta segunda-feira (24), durante a

audiência pública no anfiteatro do HUSM, da Comissão Especial sobre a

Pesquisa das Células-Tronco, presidida pelo deputado Paulo Brum (PSDB).

"Em 1990, o HUSM foi o primeiro hospital do Estado a realizar um

transplante de medula óssea. Até o final de 2006, pretendemos realizar em

torno de 40 procedimentos. Queremos ultrapassar os números registrados

nos últimos anos", afirmou o especialista. Antunes ressaltou que o CTMO,

implantado em 1997, atualmente recebe pacientes de todas as regiões do

Estado e de Santa Catarina.

O médico explicou que a medula óssea e o sangue periférico são fontes ricas

de células-tronco usadas no tratamento de doenças como leucemia aguda e

crônica, linfoma, mieloma múltiplo e aplasia de medula. "O hospital

universitário já utilizou este recurso para o transplante de medula óssea em

aproximadamente 150 pacientes", estimou o especialista. Segundo ele, o

CTMO realiza transplantes halogênicos ou aparentados e autólogos ou

autogênicos. "No primeiro tipo a coleta de células-tronco é feita por meio de

punção na cristalíaca (em um dos ossos da bacia) do doador para,

posteriormente, ser aplicado no paciente. No segundo caso, utiliza-se as

células-tronco do sangue periférico do paciente para depois injetá-lo

novamente através de um catéter central", esclareceu Antunes.O oncologista

afirmou que a cura de doenças verifica-se em 50% dos pacientes

transplantados.

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Além do CTMO, o curso de pós-graduação de Medicina Veterinária da UFSM

está desenvolvendo pesquisas com células-tronco em animais. "Fizemos a

coleta do material, exames microscópicos e observamos as reações.

Futuramente estas pesquisas poderão beneficiar pacientes humanos e

animais", previu o coordenador do grupo de pesquisa, professor Nei Peppi.

O deputado Paulo Brum ressaltou a importância destes estudos e dos

transplantes realizados no HUSM desde 1997. O parlamentar garantiu que a

comissão estará levando aos órgãos competentes as reivindicações dos

pacientes e da comunidade científica. A principal solicitação é a destinação

de recursos financeiros para assegurar as pesquisas.

Participaram da audiência pública o coordenador de Pesquisa, Ensino e

Extensão do HUSM, Sérgio Nunes Pereira, a coordenadora do curso de

medicina da UFSM, Leris Haeffner, além de medicos, professores e

estudantes da instituição.

CTMO

Após a palestra, a comissão visitou as instalações do Centro de Transplante

de Médula Óssea. A instituição dispõe de sete quartos com ventilação

especial, uma equipe médica formada por oncologistas, pediatras,

geneticistas e hematologistas, além de enfermeiros, assistentes sociais,

psicólogos, fisioterapêutas e nutricionistas. Há 76 dias, a paciente Cláudia

Silva, que sofre de aplasia medular, foi submetida ao transplante de medula

óssea. Cláudia recebeu a doação de células de sua irmã Fabiana. "Minha

irmã está reagindo muito bem. Estou feliz porque ajudei a salvar sua vida.

Hoje sinto-me um pessoa bem melhor", declarou Fabiana.

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Células-tronco são debatidas na Assembléia Legislativa

Daniela Bordinhão / Agência de Notícias

04/05/2006

As evidências clínicas do uso de células-tronco em pacientes vítimas

de acidente vascular cerebral (AVC) foram tema da palestra do neurologista e

chefe do Programa de Doenças Neurovasculares do Hospital São Lucas da

PUCRS, Maurício Friedrich. O assunto foi abordado nesta quinta-feira (4)

durante reunião da Comissão Especial sobre a Pesquisa das Células-Tronco,

presidida pelo deputado Paulo Brum (PSDB ). O Hospital da PUC já realizou

o tratamento experimental com as células-tronco de medula óssea em 20

pacientes que apresentaram diagnóstico de acidente vascular cerebral

isquêmico.

O especialista explicou que o procedimento utilizado no hospital visa

restabelecer as áreas neuronais que foram comprometidas com a doença.

Segundo ele, os estudos mostram que as células-tronco retiradas da medula

óssea representam o caminho para a cura de problemas neurológicos. "Dos

20 pacientes selecionados para o tratamento, 14 tiveram uma boa

recuperação e, desses, três ficaram sem seqüelas", contabilizou. Friedrich

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disse que o tratamento experimental nestes pacientes representa a primeira

etapa das pesquisas. "Pretendemos ainda estender os estudos para todos os

casos de isquemia cerebral, incluindo pacientes já seqüelados por AVC

prévio", informou.

O médico ressaltou que o derrame cerebral é a maior causa de morte

no Brasil. No Rio Grande do Sul, cerca de 20 mil casos de AVC são

diagnosticados por ano.

O deputado Paulo Brum elogiou as pesquisas desenvolvidas pela

equipe do especialista que trazem esperança de cura às pessoas vítimas da

doença. "Continuaremos ouvindo os estudiosos no assunto para

acompanhar a evolução das pesquisas do uso de células-tronco e levar

informações às comunidades", assegurou o parlamentar.

A doença

O acidente vascular cerebral (AVC) é um distúrbio circulatório agudo

cerebral em que um vaso sangüíneo é obstruído por um coágulo,

ocasionando perda de funções motoras ou de linguagem.

Também participaram da reunião os deputados Edson Portilho (PT) e

José Farret (PP).

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Sugerida criação de fundo para financiar pesquisa com células-tronco

Tatiana Fraga / Agência de Notícias

11/05/2006

O diretor do Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital da PUC,

neurologista Jaderson da Costa, foi o palestrante da audiência pública

promovida pela Comissão Especial sobre a Pesquisa das Células-Tronco,

realizada na manhã desta quinta-feira (11) na Assembléia Legislativa. Após

falar do estudo desenvolvido naquela universidade sobre a utilização de

células-tronco adultas no tratamento de doenças neurológicas, o médico fez

um apelo ao poder público gaúcho que, segundo ele, negligencia

financeiramente a pesquisa nesta área.

Costa afirmou que foi o governo paranaense o principal patrocinador do

estudo coordenado por ele. "Toda a tecnologia médica que estamos

elaborando será transferida para a universidade federal daquele estado",

lamentou. De acordo com o neurologista, enquanto a Fundação de Amparo à

Pesquisa do Rio Grande do Sul liberou R$ 40 mil, o Executivo do Paraná

disponibilizou R$ 370 mil para a realização da pesquisa.

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O presidente da Comissão, deputado Paulo Brum (PSDB), defendeu a criação

de um fundo para o financiamento dos estudos sobre a utilização das

células-tronco no tratamento de inúmeras doenças. "Desenvolvemos a

pesquisa, ampliamos o conhecimento técnico na área e perdemos para outro

Estado", disse. Brum garantiu que conversará com o governador Germano

Rigotto sobre o assunto.

Epilepsia

Considerada uma lesão crônica, a epilepsia é o novo alvo dos pesquisadores.

Costa destacou que estudo realizado em camundongos epilépticos

mostraram uma redução de 100% dos ataques, após aplicação de células-

tronco da medula óssea. "Cerca de 30% das pessoas que sofrem da doença

não respondem aos medicamentos e mais da metade não podem fazer

cirurgia. Este é um grande passo para a medicina que pode estar

encontrando um tratamento consistente para a doença", comemorou.

O deputado José Farret (PP) também participou da reunião.

Audiência

A próxima reunião do órgão técnico será no dia 18 de maio. Na ocasião, o

chefe do serviço de Imunologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e

professor de medicina da Ufrgs, Luiz Fernando Jobim, falará sobre

imunologia dos transplantes e células-tronco.

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Transplante de medula é tema de audiência

Tatiana Fraga / Agência de Notícias

A Comissão Especial sobre a pesquisa das Células-Tronco, presidida pelo

deputado Paulo Brum (PSDB), realizou audiência pública na manhã desta

quinta-feira (18). Palestrante do encontro, o chefe do serviço de Imunologia

do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor de medicina da Ufrgs,

Luiz Fernando Jobim, falou sobre seu trabalho em tipagem de Antígenos

Leucocitários Humanos (HLA). O exame identifica a compatibilidade tecidual

de doadores e pacientes receptores de medula óssea.

O HLA é uma proteína genética localizada no cromossomo seis das células

humanas. Jobim afirmou que o método de identificação deste conjunto de

genes é fundamental para a realização dos transplantes de medula. "É

preciso que haja compatibilidade para que o processo seja efetuado com

sucesso", alertou. Segundo o médico, isso evita ou minimiza a rejeição do

enxerto, que acontece por meio de uma resposta imunológica do receptor

contra o HLA do doador.

O transplante de medula é um procedimento que beneficia pessoas

portadoras de doenças hematológicas, como as leucemias e as aplasias de

medula. Pacientes com patologias imunológicas, em que as defesas do

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organismo estão comprometidas, também podem se curar com o

transplante. Existem três tipos de transplante de medula: o alogênico, em

que as células são transplantadas de um indivíduo para outro; o singênico,

em que o processo é realizado entre gêmeos univitelinos; e o autólogo, em

que células transplantadas pertencem ao próprio paciente.

Seminário

Elogiando a palestra do médico, o deputado José Farret (PP) sugeriu a

realização de um seminário com a participação de todos os palestrantes que

estiveram no órgão técnico.

Comissão discute pesquisa com cordão umbilical

Cibele Carneiro / Agência de Notícias

O uso de células-tronco (CT) do sangue de cordão umbilical no tratamento

de doenças é mais promissor do que as CT embrionárias e de medula óssea.

A afirmação é da diretora-geral do Hemocord, Karolyn Sassi Oligari, que fez

uma análise sobre o tema na reunião da Comissão Especial sobre a pesquisa

das Células-Tronco, presidida pelo deputado Paulo Brum (PSDB). Segundo

ela, além das inúmeras experiências positivas do uso do sangue umbilical

para o tratamento de doenças cardíacas, o avanço nas pesquisas permitirá

que, em uma década, doenças como Alzheimer, Parkinsin, diabetes e

paralisias possam ser revertidas. "Aposto nestas pesquisas e acho que

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vamos poder aplicar as CT deste sangue para além das doenças cardíacas",

ressaltou.

Segundo a especialista em reprodução humana, uma das vantagens do uso

desta técnica é que, diferentemente das CT de medula óssea, a coleta não

oferece riscos para mãe ou para o bebê. "O uso do sangue também permite

menor grau de incompatibilidade (aumentando a disponibilidade de

potenciais doadores) o que não ocorre com a medula de um doador, que deve

ser 100% compatível com a do paciente", explicou.

Karolyn disse ainda que o sangue do cordão umbilical não possui barreiras

éticas, como ocorre com as CT embrionárias, as quais precisaram da criação

de legislação específica para poderem ser estudadas. "Não sabemos ainda

quais os benefícios que as embrionárias podem trazer para os seres

humanos. Os cientistas também ainda não sabem como controlar a

multiplicação destas CT dentro do corpo humano, o que aumenta a

probabilidade de desenvolvimento de tumores", avaliou a diretora,

acrescentando que serão necessárias ainda duas gerações para poder aplicar

esta técnica no tratamento de doenças humanas.

Ela explicou ainda que a armazenagem do sangue de cordão umbilical pode

ser feita de maneira pública ou privada. A doação para bancos de sangue

públicos é para utilização de terceiros, geralmente pacientes com leucemia.

"É como um complemento do banco de medula óssea", salientou. Já o

sangue alocado em bancos privados é para uso próprio ou familiar, tem

custos de manutenção, e geralmente é usado para doenças hematológicas

adquiridas e no tratamento de tumores. "O serviço privado está avançando

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nas pesquisas para o tratamento terapêutico e de doenças degenerativas.

Mas entendo que os bancos públicos e privados se complementam e

deveriam se unir para desenvolver o setor", avaliou Karolyn, ao lembrar que

no Brasil existem cerca de oito bancos de sangue privados - sendo o

Hemocord o único da Região Sul -, e quatro públicos.

O deputado Brum lembrou que o relatório da comissão será entregue no dia

6 de junho. "A nossa última reunião ocorre no dia 1º, com a presença do

cardiologista Renato Kalil, que falará sobre as células-tronco nas

cardiopatias", enfatizou. A comissão também editará um livro com a

transcrição de todas as palestras proferidas durante os trabalhos.

O deputado José Farret (PP) também participou da reunião.

RS avança em pesquisa com pacientes cardíacosPor: Roberta Amaral / Agência de Notícias

O Rio Grande do Sul é pioneiro na América Latina, junto com São

Paulo, em transplante de células-tronco no coração. O anúncio foi feito nesta

quinta-feira (1º) pelo diretor científico do Instituto de Cardiologia, Renato

Kalil, na última reunião da Comissão Especial sobre a pesquisa das Células-

Tronco da Assembléia Legislativa.

Com o suporte financeiro de R$ 58 mil da Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado (Fapergs), durante um ano, seis pacientes portadores de

infarto agudo do miocárdio - doença isquêmica crônica do coração -

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cardiomiopatia dilatada e cardiopatia chagásica se submeteram ao

transplante e responderam satisfatoriamente ao tratamento.

O procedimento consiste na coleta do líquido da medula óssea, e as

células são separadas para serem injetadas no coração do paciente.

Conforme Kalil, apesar dos resultados positivos, ainda é preciso avançar na

pesquisa sobre os tipos e o número de células, os efeitos e as causas de

mortalidade após o tratamento, além de conhecer as doenças, os pacientes e

o momento ideal para o tratamento.

A equipe de cirurgia cardíaca agora se prepara para uma nova

pesquisa com 40 pacientes. Financiado pelo Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a contrapartida do

Instituto de Cardiologia do RS, serão investidos cerca de R$ 240 mil na

análise do tratamento com células-tronco em 20 pacientes e somente com

medicação em outros 20. O objetivo é comprovar os resultados já obtidos em

pesquisas isoladas e verificar a viabilidade da substituição dos tratamentos

cardíacos tradicionais (inclusive o transplante de coração) pela terapia com

células-tronco.

No Brasil, 4 milhões de pessoas sofrem de insuficiência cardíaca grave.

Se ficar comprovado que as células-tronco podem melhorar as condições

desses pacientes na mesma proporção que os estudos preliminares têm

indicado, estima-se que 200 mil vidas poderão ser salvas em três anos e

reduzido o custo do tratamento em aproximadamente R$ 37 milhões por

mês.

O presidente da Comissão, deputado Paulo Brum (PSDB), adiantou

que entre as sugestões que serão apresentadas no relatório final está a

criação de um fundo para que o RS avance nos estudos sobre esta nova

alternativa da medicina. "Sem sombra de dúvidas, é fundamental que o

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poder público incentive as pesquisas com células-tronco, para evitar que

cientistas gaúchos busquem melhores condições de trabalho em outros

estados, a exemplo do que vem acontecendo no Paraná", destacou o

presidente.

Também participaram da reunião os deputados Edson Portilho (PT) e

José Farret (PP).

Atas

ATA DE INSTALAÇÃO

Aos sete dias do mês de dezembro do ano dois mil e cinco, às dezoito horas e

trinta minutos, no Salão Nobre do Gabinete da Presidência, localizado no 1o

andar do Palácio Farroupilha, o Digníssimo Presidente deste Poder

Legislativo, Excelentíssimo Senhor Deputado Iradir Pietroski, reuniu-se com

os Excelentíssimos Senhores Deputados Paulo Brum, Marquinho Lang e

Adilson Troca com o objetivo de instalar a Comissão Especial sobre a

pesquisa das Células-Tronco que tem por finalidade estudar os avanços das

pesquisas da utilização das Células-Tronco em seres humanos, com o

propósito de contribuir na discussão sobre o tema e congregar esforços na

busca de recursos e informações nas áreas governamental, empresarial e

comunidade, a fim de que todas as metas sejam alcançadas, requerida

consoante o Processo nº 20039-0100 – RCE 7/2005. O Excelentíssimo

Senhor Presidente desta Assembléia Legislativa saudou os Deputados

presentes e declarou instalada a Comissão Especial sobre a pesquisa das

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Células-Tronco , dando posse aos Deputados indicados pelas respectivas

Bancadas para comporem, como membros titulares e suplentes, a Comissão

Especial sobre a pesquisa das Células-Tronco, sendo titulares os Senhores

Deputados Edson Portilho - PT, Luis Fernando Schmidt- PT, José Farret- PP,

Pedro Westphalen- PP, Elmar Schneider- PMDB, Kanan Buz- PMDB, Ciro

Simoni- PDT, Giovani Cherini- PDT, Abílio dos Santos- PTB, Marquinho

Lang- PFL, Paulo Brum- PSDB e Jussara Cony- PCdoB . Suplentes os

Senhores Deputados Adão Villaverde - PT, Adilson troca-PSDB, Edson Brum

- PMDB, Flavio Koutzii- PT, Floriza dos Santos- PDT, Jair Soares- PP, João

Fischer- PP, José Sperotto- PFL, Márcio Biolchi- PMDB, Osmar Severo- PDT

e Sérgio Peres- PTB. O Senhor Presidente, Deputado Iradir Pietroski declarou

instalada a Comissão e empossados seus membros titulares e suplentes.

Saudou os membros da Comissão destacando a relevância dos estudos

acerca do assunto e a necessidade de aperfeiçoar a legislação existente. Logo

após, desejou a todos um trabalho exitoso na busca de políticas públicas

que viabilizem a terapia com Células-Tronco. O Senhor Deputado Paulo

Brum afirmou que a instalação deste órgão técnico visa conhecer pesquisas

desenvolvidas na área para informar e divulgar os avanços que, muitas

vezes, sustentam a esperança humana de encontrar tratamento ou até

mesmo a cura para certas doenças.

Conforme entendimento político entre as Bancadas, foram eleitos por

aclamação e empossados os Excelentíssimos Senhores Deputados Paulo

Brum, como Presidente e Luis Fernando Schmidt como Vice-Presidente e,

ainda, o Excelentíssimo Deputado Pedro Westphalen, como Relator.. E, nada

mais havendo para registrar, lavrei a presente ata que, após lida e aprovada,

será assinada pelo Digníssimo Presidente da Assembléia Legislativa do

Estado do Rio Grande do Sul, Deputado Iradir Pietroski, pelo Senhor Paulo

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Brum, Presidente da Comissão Especial sobre a pesquisa das Células-

Tronco, e por mim, Secretária ad hoc desta Comissão. Palácio Farroupilha,

sete de dezembro do ano de dois mil e cinco.

Dep. Iradir Pietroski,

Presidente da Assembléia Legislativa.

Dep. Paulo Brum,

Presidente da Comissão Especial sobre a pesquisa das Células-Tronco.

Simone da Rosa Zuliani,

Secretária ad hoc da Comissão Especial sobre a pesquisa das Células-

Tronco.

ATA nº 01/2005

Aos nove dias do mês de março do ano dois mil e seis, às onze horas, na

Sala Doutor Maurício Cardoso, quarto andar do Palácio Farroupilha, reuniu-

se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente

da Comissão, Deputado Paulo Brum, e os Senhores Deputados Luis

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Fernando Schmidt e José Sperotto. Justificou ausência o Deputado José

Farret. Abertos os trabalhos, o Senhor Presidente saudou os presentes e

noticiou a presença do Senhor Luis Augusto Gemelli, Presidente da

FADERS. O Senhor Presidente apresentou aos Senhores Deputados a

Secretária da Comissão, Simone da Rosa Zuliani, e o Assessor Superior da

Comissão, Antônio Cândido. Salientou que o objetivo desta primeira Reunião

da Comissão é ouvir os Senhores Deputados, para que seja traçado o plano

de ação da Comissão. Explanou sobre a relevância dos trabalhos da

Comissão e sobre a importância de serem difundidas entre a população as

inovadoras pesquisas com células-tronco. Afirmou que já manteve contato

com diversos especialistas da área. Logo após, passou a palavra ao

Deputado Luis Fernando Schmidt, que, após saudar os presentes,

parabenizou a instalação da Comissão, ressaltando que o objetivo da mesma

é de extrema importância para a vida humana, que a ciência está

possibilitando verdadeiros milagres, e que muitas pessoas poderão passar a

ter uma vida melhor com as descobertas feitas pelos estudos com células-

tronco. Citou que há várias passagens bíblicas que impulsionam as pessoas

a reagirem diante de situações difíceis e que um dos objetivos da ciência, na

atualidade, é ajudar as pessoas a procurarem sua cura. Disse que considera

importante que os trabalhos da Comissão se revelem democráticos, de

maneira que não sejam debatidas questões ideológicas ou religiosas.

Acrescentou que nem sempre poderá estar presente nos trabalhos da

Comissão que aconteçam nas quintas-feiras, vez que preside a Comissão de

Serviços Públicos, a qual tem reuniões quintas-feiras às nove horas, muitas

vezes estendendo-se até o meio-dia. o Senhor Presidente agradeceu a

contribuição do Senhor Deputado Luis Fernando Schmidt e passou a

palavra ao Deputado José Sperotto, que cumprimentou os presentes e

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parabenizou o Senhor Presidente pela iniciativa de criação da Comissão.

Disse que, com a evolução da raça humana, vivenciamos, atualmente, a

importância da informação e que, com esta, a Comissão deve utilizar-se de

sua estrutura e da estrutura da Assembléia Legislativa, citando os exemplos

da Rádio e TV Assembléia, para buscar o conhecimento e difundi-lo em

nível municipal, estadual e federal. O Senhor Presidente, concordando com

as afirmações do Deputado José Sperotto citou a passagem bíblica “Levanta-

te e anda”, demonstrando a importância de difundir todo o conhecimento,

salientando que a Comissão já fez contato com o Instituto de Pesquisas

Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, que

desenvolve pesquisas com células-tronco do nervo periférico, acidente

cardio-vascular e epilepsia. O Laboratório de Imunologia e o Departamento

de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que desenvolvem

pesquisa com células-tronco mesenquimais(adultas). O Hemocord, banco de

cordão umbilical que desenvolve pesquisas sobre a plasticidade das células-

tronco, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que desenvolve pesquisas com

cardiomiopatia dilatada, O ICFUC, Instituto Fundação Universitária de

Cardiologia, que desenvolve pesquisas em cardiopatias, o Hospital de

Clínicas de São Paulo que desenvolve pesquisas em lesado-medular,

salientando que é voluntário deste Hopital nas pesquisas com implante de

células-tronco adultas . O Hospital de Clínicas do Rio de Janeiro, que

desenvolve pesquisas em cérebro, o Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto,

que desenvolve pesquisas em sistema imunológico. Disse que é importante,

além de ouvir os especialistas do Rio Grande do Sul, trazer também

especialistas de outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro. Sugeriu

que os trabalhos da Comissão iniciem convidando a especialista Patrícia

Pranke, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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Também considera importante ouvir os especialistas: Jaderson Costa

Dacosta, Doutor da Pontifícia Universidade Católica com pesquisa aprovada

pelo CNPQ- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-

em epilepsia; Dr. Maurício, que desenvolve pesquisas em acidente cárdio-

vascular na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Rogério

Sarmento-Leite, pesquisador do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do

Sul- Fundação Universitária de Cardiologia, que teve projeto selecionado

como o melhor caso clínico nos Estados Unidos, Ivo Nesralla, Diretor do

Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul- Fundação Universitária de

Cardiologia , Nance Nardi, bióloga e geneticista, coordenadora do programa

de células-tronco do Departamento de Genética da Universidade Federal do

rio Grande do Sul, Luis Eduardo Rohde, responsável pelas pesquisas do

Hospital de Clínicas de Porto Alegre, João Ricardo Santanna, pesquisador do

Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul- Fundação Universitária de

Cardiologia e Mayana Zatz, geneticista da Universidade de São Paulo, entre

outros pesquisadores que possam contribuir para os trabalhos da Comissão.

O Deputado José Sperotto pediu a palavra ao Senhor Presidente e sugeriu

que ao término dos trabalhos da Comissão, o Relatório da Comissão seja

distribuído à comunidade. O Senhor Presidente concordou com a sugestão

do Senhor Deputado e sugeriu que ao final dos trabalhos da Comissão seja

feito um Seminário difundindo aquilo que foi abordado nas Reuniões.

Considerando relevante, foi aprovado que a Comissão realize Reuniões,

acompanhada de um especialista do assunto, também no interior do Estado,

contando com com a estrutura que a Casa oferece, inclusive locação de

veículos. Solicitou aos Senhores Deputados integrantes da comissão que

sugiram nomes de especialistas da área que possam ser convidados para as

Reuniões da Comissão . Logo após, passou a palavra ao Senhor Luis

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Augusto Gemelli, o qual parabenizou a iniciativa da Comissão, agradeceu a

oportunidade e disse que a FADERS- Fundação de Articulação e

Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de

Deficiência e de Altas Habilidades no Rio Grande do Sul- está à disposição

da Comissão naquilo que possa acrescentar aos trabalhos realizados.

Ressaltou a importância da existência dos bancos públicos de cordão-

umbilical e que deve-se ter restrições àquelas entidades que fazem mau uso

do conhecimento adquirido. Considerou importante o deslocamento da

Comissão ao interior do Estado. Logo após, o Senhor Presidente agradeceu a

presença de todos e convocou os Senhores Deputados membros da

Comissão para a próxima reunião, que acontecerá no dia dezesseis de março

do corrente ano, às onze horas, em local a ser definido, para que na

oportunidade seja ouvido um especialista no assunto. Nada mais havendo a

tratar, agradeceu a presença de todos e contribuição dos Senhores

Deputados e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata,

que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente,

Deputado Paulo Brum, e por mim , Secretária.

Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,

Presidente da Comissão Secretária.

ATA nº 02/2006

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Aos dezesseis dias do mês de março do ano dois mil e seis, às onze

horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-

se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o senhor Presidente

da Comissão, Deputado Paulo Brum, o Deputado Luis Fernando Schmidt, o

Deputado José Farret e o Deputado Reginaldo Pujol. Também estava

presente a Assessoria Técnica da Comissão , o Doutor Paulo Mayorga,

Diretor da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul , o Doutor José Ângelo Zuanazzi, Vice-Diretor da Faculdade de Farmácia

da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Doutora Martina Fritsch,

integrante do Grupo de Pesquisas em células-tronco do Hemocord. Após

saudar os Deputados e demais presentes, o Senhor Presidente determinou

que fosse confeccionado e registrado em ata um documento contendo o

Roteiro de Trabalho da Comissão, cuja transcrição segue: “Os Deputados

membros da Comissão, abaixo assinados, estão de acordo com o

encaminhamento dado pelo Presidente desta Comissão na Reunião de

16/03/2006, com relação a proposta de Roteiro de Trabalho que constará do

seguinte:Roteiro de trabalho: a)Envio de ofícios reportando a instalação da

Comissão, sua duração e seu objeto, bem como solicitando colaboração, aos

seguintes órgãos e instituições: Secretaria Estadual de Saúde - Sr. Osmar

Gasparini Terra, Secretário; Famurs - Sr. Mauri Heinrich, Presidente;

Secretaria Municipal de Saúde- . Sr. Pedro Gus, Secretário; Secretaria

Municipal de Acessibilidade e Inclusão Social- Sr. Tarcízio Teixeira Cardoso,

Secretário; todas as 496 Prefeituras e Secretarias de Saúde do Estado do RS;

Ministério da Saúde; Tribunal de Contas do Estado; Ministério Público do

Estado; b)Realização de Audiências Públicas, através da oitiva das

Secretarias de Estado que interagem no processo da saúde, Municípios,

órgãos nacionais e internacionais e comunidade em geral, tais como:

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Secretários de Estado ; Presidente da Famurs; Ministério da Saúde ;

Ministério Público Estadual; Tribunal de Contas Estadual; Municípios;

Convites a outras autoridades, a cargo da presidência da comissão;

Realização de Reuniões Regionais, com interiorização, se necessário, para

esclarecimentos e proposição de estudos, junto a Secretarias Municipais de

Saúde e Secretaria Estadual de Saúde, bem como Universidades, Hospitais e

Centros de Pesquisa, sobre o tema objeto da Comissão; Oitiva de

pesquisadores do tema, em reuniões realizadas no Palácio Farroupilha ou fora

da Casa. Visitas a Hospitais e Centros de Pesquisa que trabalhem com

células-tronco ou pesquisem o tema; Visitas a Universidades com o intuito de

obter informações em Centros de Pesquisa sobre Células-Tronco.” Feito isso,

foi elaborado o documento, que após a aquiescência dos Senhores

Deputados membros da Comissão, será anexado, fazendo parte integrante

desta ata. Logo após, passou a palavra à Doutora Patrícia Pranke,

Farmacêutica, Pesquisadora e Professora de Hematologia da Faculdade de

Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que agradeceu a

oportunidade de comparecer à Reunião e palestrou sobre as pesquisas com

células-tronco enfatizando as células-tronco do cordão umbilical. Dentre

outros assuntos, explanou sobre o Projeto da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul aprovado pelo CNPQ- Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico- e defendeu a criação de um banco de cordão

umbilical público no Rio Grande do Sul , demonstrando a importância das

células-tronco em diversos tipos de tratamento clínico em seres humanos.

Após, o Senhor Presidente abriu espaço para questionamentos. Nada mais

havendo a tratar, agradeceu a presença dos Senhores Deputados e demais

presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata,

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Page 207: Comissão Especial sobre Pesquisas com Células-Tronco · Simone Zuliani Secretária 3. Índice ... E quando não puderam vir a nós, a Comissão ... quadro pode mudar, se tivermos

que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente,

Deputado Paulo Brum, e por mim , Secretária..

Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,

Presidente da Comissão Secretária.

ATA nº 03/2006

Aos vinte e três dias do mês de março do ano dois mil e seis, às onze

horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-

se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente

da Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret. Também

estavam presentes a Assessoria Técnica da Comissão , Elizabeth Cirne-Lima,

Coordenadora do Laboratório de Embriologia e Diferenciação Celular do

Centro de Pesquisas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Bióloga, Mestre

e Doutora em Bioquímica, palestrante da Reunião de hoje; Clarisse Sampaio

Alho, Vice-Diretora da Faculdade de Biociências da Pontifícia Universidade

Católica do Rio Grande do Sul, alunos da Faculdade de Biociências da

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Belkis Moraes,

Secretária-adjunta da Secretaria de Acessibilidade e Inclusão Social. Logo

após saudar os Senhores Deputados e demais presentes e reafirmar a

necessidade da interiorização da Comissão para a cidade de Santa Maria em

abril do corrente ano, para que se possa discutir o assunto com outros

órgãos, como Universidades, Secretarias de Município e Hospitais, bem como

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Page 208: Comissão Especial sobre Pesquisas com Células-Tronco · Simone Zuliani Secretária 3. Índice ... E quando não puderam vir a nós, a Comissão ... quadro pode mudar, se tivermos

difundir as pesquisas realizadas. O Senhor Presidente passou a palavra à

Elizabeth Cirne-Lima, que agradeceu a oportunidade de comparecer à

Reunião e palestrou sobre as pesquisas com células-tronco enfatizando as

células-tronco embrionárias. Dentre outros assuntos, ressaltou a

importância da continuidade da pesquisas com células-tronco embrionárias,

afirmando que as mesmas, de acordo com recentes pesquisas, são

totipotentes, o que significa que podem transformar-se, in vitro, em

qualquer tecido humano, possibilitando a cura de diversas doenças. A

palestrante relatou que a primeira pesquisa do Brasil que obteve recursos de

órgãos federais foi o “Estabelecimento da rotina de manutenção de células-

tronco in vitro”. Relatou que o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em várias

de suas pesquisas, mantém convênio com a Universidade de Munique, na

Alemanha. Que pesquisadores alemães e brasileiros têm realizado estudos

juntos e obtido excelentes resultados. Após, o Senhor Presidente abriu

espaço para questionamentos, passando a palavra à Doutora Clarisse

Sampaio, que elogiou a inicitaiva da criação da Comissão, dizendo que este é

um meio de a comunidade científica entrar em contato com a comunidade

em geral e mais uma vez enfatizou que a pesquisa com células-tronco

embrionárias é assunto de relevância na vida de pessoas que necessitam de

tratamentos que podem vir a ser obtidos com o referido estudo. O Senhor

Presidente, após agradecer pela contribuição das duas pesquisadoras

anunciou que a Comissão, no dia trinta de março do corrente ano, terá como

palestrante o Doutor Jefferson Braga da Silva, especialista em micro-cirurgia

de mão e pesquisador de células-tronco do Hospital São Lucas. Nada mais

havendo a tratar, agradeceu a presença dos Senhores Deputados e demais

presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata,

que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente,

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Page 209: Comissão Especial sobre Pesquisas com Células-Tronco · Simone Zuliani Secretária 3. Índice ... E quando não puderam vir a nós, a Comissão ... quadro pode mudar, se tivermos

Deputado Paulo Brum, e por mim, Secretária.

Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,

Presidente da Comissão Secretária.

ATA nº 04/2006

Aos trinta dias do mês de março do ano dois mil e seis, às onze horas,

na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-se a

Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente da

Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret. Também

estavam presentes a Assessoria Técnica da Comissão e a Doutora Karolyn

Sassi, Diretora-Geral do Hemocord . Logo após saudar os Senhores

Deputados e demais presentes, o Senhor Presidente anunciou a

interiorização da Comissão ao município de Santa Maria no dia vinte e

quatro de abril do corrente ano e passou a palavra ao palestrante, Doutor

Jefferson Braga da Silva, Professor Livre- Docente em Cirurgia da mão e

Professor da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do

Rio Grande do Sul, que agradeceu a oportunidade de comparecer à Reunião

e palestrou sobre as pesquisas com células-tronco enfatizando as

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perspectivas dessa terapia. O palestrante definiu o que são células, suas

funções e diferenciação das células-tronco e suas diversas funções. Trouxe à

tona a existência de células-tronco de medula óssea, de gordura, de

células-olfativas e também de tecido neural e de músculos. Dentre outros

assuntos, ressaltou a relevância das células-tronco de medula óssea e

também do nervo periférico. Abordou questões acerca da Lei de

Biossegurança, bioética e utilização de células-tronco embrionárias e, após,

apresentou slides ilustrativos das experiências com células-tronco feitas com

animais e humanos, demonstrando que é necessário incentivo de diversos

ógãos a essas pesquisas para que se evolua nesse campo da ciência. Após, o

Senhor Presidente abriu espaço para questionamentos, passando a palavra à

Doutora Karolyn Sassi, que agradeceu a oportunidade e salientou que

considera importante que os recursos sejam repassados a pesquisas com

viabilidade comprovada. Também explicou brevemente pesquisas de células-

tronco com cordão umbilical. Nada mais havendo a tratar, agradeceu a

presença dos Senhores Deputados e demais presentes e encerrou a reunião,

e, para constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai

assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim,

Secretária.

Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,

Presidente da Comissão Secretária.

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ATA nº 05/2006

Aos seis dias do mês de abril do ano de dois mil e seis, às onze horas,

na Sala Maurício Cardoso, quarto andar do Palácio Farroupilha, reuniu-se a

Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente da

Comissão, Deputado Paulo Brum, o Deputado José Farret e o Deputado

José Sperotto. Também estavam presentes a Assessoria Técnica da

Comissão, a Doutora Nance Beyer Nardi, representando o Senhor Pedro

Fonseca, Vice-Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o

Professor César Augusto Zen Vasconcellos, Pró-Reitor de Pesquisa da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul . Após saudar os Senhores

Deputados e demais presentes, o Senhor Presidente anunciou que a

Comissão irá até São Paulo, representada por seu Presidente e Assessor

Superior, no dia dez de abril do corrente ano, para audiência com o Doutor

Tarcízio Barros Filho, Coordenador de Pesquisa sobre a utilização de células-

tronco adultas no tratamento de pacientes com lesão medular crônica, no

Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Logo após, o Senhor

Presidente passou a palavra ao palestrante, Senhor Lindolfo Meirelles,

Mestre em Genética e Biologia molecular pela Universidade Federal do Rio

Grande do Sul e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Genética e

Biologia molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul . O

palestrante explanou sobre a investigação da distribuição das células-tronco

mesenquimais in vivo. Definindo o que são células-tronco, afirmou que são

células capazes de renovação e geração de outros tipos celulares. Abordou,

dentre outros assuntos, a plasticidade das células-tronco e como é feita sua

diferenciação nos diversos tipos de tecido, como por exemplo, o tecido

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adiposo. Logo após, o Senhor Presidente passou a palavra ao Deputado José

Sperotto, que parabenizou, na pessoa do palestrante, a Comunidade

Científica do Estado do Rio Grande do Sul, pela evolução nos diversos ramos

de pesquisas. O Deputado iniciou um debate sobre o tempo de duração de

uma célula-tronco no organismo humano e indagou se as células-tronco

seriam uma possível descoberta para uma vida humana mais longa. O

palestrante respondeu que as células-tronco existem no organismo humano

durante toda a sua vida e que, atualmente, apenas é possível afirmar que o

tratamento com essas células pode trazer uma melhor qualidade de vida ao

ser humano. O Senhor Presidente indagou ao palestrante se há previsão,

pela comunidade científica, de as pesquisas serem aplicadas em seres

humanos. O palestrante esclareceu ao Senhor Presidente que já há projetos

para o tratamento de cardiopatias em seres humanos. Logo após, o Senhor

Presidente passou a palavra à Doutora Nance Nardi, que agradeceu a

oportunidade e afirmou que há vários grupos de pesquisa sobre células-

tronco na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e que essa discussão é

muito relevante hodiernamente. A mesma explicou, de maneira breve, a

sobrevida das células-tronco e salientou que nenhum desses programas

utiliza células-tronco embrionárias em suas pesquisas. Também foi passada

a palavra, pelo Senhor Presidente, ao Sr. Pedro Vasconcellos, que agradeceu

a oportunidade e ressaltou que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul

tem vanguarda em diversos programas de pesquisa. Nada mais havendo a

tratar, o Senhor Presidente agradeceu a presença dos Senhores Deputados e

demais presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a

presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor

Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim, Secretária.

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Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,

Presidente da Comissão Secretária.

ATA nº 06/2006

Aos vinte e quatro dias do mês de abril do ano de dois mil e seis, às

quatorze horas, no Anfiteatro Gulerpe, anexo ao Hospital Universitário de

Santa Maria, reuniu-se, em Audiência Pública, a Comissão Especial das

Células-Tronco. Compuseram a mesa o Senhor Presidente da Comissão,

Deputado Paulo Brum e o palestrante, Dr. Luís Carlos Antunes. Também

estavam presentes a Assessoria Técnica da Comissão, o Senhor Júlio Cézar

de Almeida Brener, Vereador do município de Santa Maria, o Senhor Sérgio

Nunes Pereira, Coordenador de Pesquisa, Ensino e Extensão do Hospital

Universitário de Santa Maria, neste ato representando a Sra. Elaine Resener,

Diretora do Hospital Universitário e o Sr. Larry Argenta, Diretor-Clínico do

Hospital Universitário, a Senhora Léris Falet Haeffner, Coordenadora do

Curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria, o Senhor Ney

Pippi, integrante da Assessoria de Apoio Internacional do Gabinete da

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Reitoria, médicos, enfermeiros e demais funcionários do Hospital

Universitário de Santa Maria, além de estudantes da Universidade Federal

de Santa Maria. Após saudar os presentes, o Senhor Presidente explicou

que o principal objetivo da Comissão, criada em sete de dezembro do ano

passado, é informar a comunidade sobre os avanços das pesquisas com

células-tronco, em nível estadual e federal. Esclareceu brevemente quais

foram os trabalhos já realizadas pela Comissão até o momento. Disse que a

primeira interiorização da Comissão se dá em Santa Maria, no dia de hoje.

Logo após, passou a palavra ao Senhor Sérgio Nunes Pereira, que disse que

o assunto é muito importante e que embora haja especulações que em nada

contribuem à ciência, o crescimento real das pesquisas com células-tronco

tem sido expressivo no mundo inteiro. O mesmo disse que a área de

cardiologia já está sendo beneficiada atualmente mas todas as áreas da

medicina poderão vir a ser beneficiadas com o desenvolvimento das

pesquisas. O Senhor Presidente então passou a palavra ao palestrante,

Doutor Luís Carlos Antunes, Médico Oncologista do Centro de Transplante

de Medula Óssea do Hospital Universitário de Santa Maria, que agradeceu a

oportunidade e afirmou que o transplante de medula óssea é o uso

terapêutico de células-tronco. Explanou que no ano de mil novecentos e

noventa, o Hospital Universitário de Santa Maria foi o primeiro hospital do

Estado a realizar um transplante de medula óssea. O médico explicou que a

medula óssea e o sangue periférico são fontes ricas de células-tronco usadas

no tratamento de doenças como leucemia aguda e crônica, linfoma, mieloma

múltiplo e aplasia de medula. Segundo o palestrante, o Centro de

Transplantes de Medula Óssea do Hospital Universitário de Santa Maria

realiza transplantes halogênicos ou aparentados e autólogos ou autogênicos.

Explicou que, no primeiro tipo, a coleta de células-tronco é feita por meio de

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punção na cristalíaca (em um dos ossos da bacia) do doador para,

posteriormente, ser aplicado no paciente. No segundo caso, utiliza-se as

células-tronco do sangue periférico do paciente para depois injetá-lo

novamente através de um catéter central. O palestrante também afirmou

que há uma lista enorme de patologias que podem se beneficiar das células-

tronco da medula óssea. Logo após, o Senhor Presidente abriu espaço para

questionamentos dos presentes, que usaram da palavra promovendo debate

sobre o assunto. Após, o Senhor Presidente disse que o intuito da Comissão

é auxiliar as pesquisas naquilo que for possível , para que no futuro muitas

doenças consideradas incuráveis tenham outra alternativa. Então, passou a

palavra ao palestrante, que agradeceu a oportunidade. Nada mais havendo a

tratar, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos os presentes e

encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de

lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum,

e por mim, Secretária.

Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa

Zuliani,

Presidente da Comissão Secretária.

ATA nº 07/2006

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Aos quatro dias do mês de maio do ano de dois mil e seis, às onze

horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-

se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente

da Comissão, Deputado Paulo Brum, o Deputado José Farret e o Deputado

Edson Portilho. Também estava presente a Assessoria Técnica da Comissão.

Justificou a ausência o Deputado Marquinho Lang. O Presidente da

comissão saudou os presentes e explanou sobre a primeira interiorização da

Comissão, que aconteceu em Santa Maria, no dia vinte e quatro de abril do

corrente ano. Logo após, passou a palavra ao palestrante, Maurício

Friedrich, Doutor em Neurociências pela Pontifícia Universidade Católica do

Rio Grande do Sul , Chefe dos Programas de Doenças Neurovasculares do

Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

e do Hospital Mãe de Deus, que proferiu a palestra "Perspectivas do uso de

células-tronco em pacientes com derrame". Após agradecer a oportunidade,

o palestrante salientou que o acidente vascular cerebral é a maior causa de

mortes no Brasil e que desde o ano de dois mil e dois há pesquisas com

células-tronco nessa área específica. Também explanou acerca da

potencialidade das células-tronco de medula óssea, dizendo que acredita

que as mesmas podem ser mais eficazes do que as células-tronco

embrionárias. Ilustrou sua palestra com vídeos sobre o assunto. Logo após o

término da palestra, o Senhor Presidente agradeceu o palestrante e

mencionou que a próxima reunião da Comissão será no dia onze do corrente

mês, na Sala Salzano Vieira da Assembléia Legislativa, às onze horas. Nada

mais havendo a tratar, agradeceu a presença dos Senhores Deputados e

demais presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a

presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor

Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim, Secretária.

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Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,

Presidente da Comissão. Secretária.

ATA nº 08/2006

Aos onze dias do mês de maio do ano de dois mil e seis, às onze horas,

na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-se a

Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente da

Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret. Também

estavam presentes a Senhora Simone Denise Salamoni e a Senhora Zaquer

Costa, pesquisadoras do Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital São

Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Presente a

Assessoria Técnica da Comissão. O Presidente da Comissão saudou os

presentes e passou a palavra ao palestrante, Doutor Jaderson Costa da

Costa, Neurologista, Diretor do Instituto de Pesquisas Biomédicas da

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Professor Titular de

Neurologia da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do

Rio Grande do Sul, Professor-orientador do Programa de Pós-graduação em

Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Professor

Adjunto Associado do Departamento de Medicina Interna da Universidade de

Miami, que agradeceu a oportunidade e proferiu palestra sobre terapia com

células-tronco em neurologia. Ilustrou sua palestra com vídeos sobre o

assunto. Afirmou que, no ano de mil novecentos e noventa e oito, pesquisas

descobriram que havia células-tronco em cérebros humanos e que a

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Doutora Éva Mezey descobriu que a partir da medula óssea podem ser

obtidas células-tronco do sistema nervoso. O palestrante esclareceu que,

apenas no ano de dois mil, as pesquisas com células-tronco do sistema

nervoso iniciaram no mundo todo e o Rio Grande do Sul acompanha a

evolução das pesquisas na vanguarda. Disse que doenças como Mal de

Parkinson, esclerose e isquemia cerebral, hoje em dia, já podem ser tratadas

com células-tronco. O palestrante acredita que o século vinte e um é o

século da esperança para remodelagem de órgãos e tecidos. Finalizou sua

palestra explanando sobre o Primeiro Congresso Brasileiro de Células-

Tronco, realizado em novembro do ano passado, no Hospital São Lucas da

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, com o incentivo

financeiro do governo estadual do Paraná. Logo após o término da palestra, o

Senhor Presidente agradeceu o palestrante e passou a palavra à

pesquisadora Zaquer Costa, que agradeceu a oportunidade e disse que o

Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

espera fazer muito pela população mundial no tangente às pesquisas com

células-tronco. Nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença dos

presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata,

que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente,

Deputado Paulo Brum, e por mim, Secretária.

Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,

Presidente da Comissão. Secretária.

ATA nº 09/2006

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Aos dezoito dias do mês de maio do ano de dois mil e seis, às onze

horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-

se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente

da Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret. Também

presentes o Doutor Paulo Mayorga, Diretor do Curso de Farmácia da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Assessoria Técnica da

Comissão. O Presidente da Comissão saudou os presentes e passou a

palavra ao palestrante, Doutor Luiz Fernando Jobim, Chefe do Serviço de

Imunologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Professor de Medicina

Interna da Universidade Federal do Rio grande do Sul, que proferiu palestra

sobre a imunologia dos transplantes e células-tronco. Após agradecer a

oportunidade, o palestrante explicou a plasticidade de diferentes tipos de

células-tronco. Também explanou sobre os diversos tipos de transplantes,

quais sejam, alogênico, autólogo e singênico. Falou sobre a Rede BrasilCord,

projeto que visa criar cinco bancos públicos de cordão umbilical no Brasil e

que no projeto está previsto um banco no Hospital de Clínicas de Porto

Alegre. Afirmou que já existe toda a previsão administrativa mas os recursos

financeiros não são liberados por parte do Governo Federal. O Deputado

Paulo Brum solicitou ao palestrante que envie à Comissão dados sobre o

projeto mencionado, para que seja verificada a possibilidade de colaborar

com o mesmo. Na seqüência, o Doutor Jobim relatou um caso de uma

criança que nasceu sem imunidades mas foi tratada com implante de

células-tronco com sucesso. Após, explicou sobre os trabalhos do Hospital

de Clínicas de Porto Alegre com tipagem de Antígenos Leucocitários

Humanos, proteína localizada no cromossomo seis das células humanas.

Logo após a palestra, o Deputado Presidente agradeceu e passou a palavra

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ao Deputado José Farret, que elogiou a palestra e sugeriu que seja feito um

seminário sobre o assunto assim que possível. Após a explanação do

Deputado José Farret, foi oferecida a palavra ao Senhor Paulo Mayorga, que

agradeceu a oportunidade e elogiou a palestra afirmando que o palestrante

foi muito esclarecedor em suas explanações. Nada mais havendo a tratar, o

Senhor Presidente agradeceu a presença dos presentes e encerrou a reunião,

e, para constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai

assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim,

Secretária.

Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,

Presidente da Comissão. Secretária.

ATA nº 10/2006

Aos vinte e cinco dias do mês de maio do ano de dois mil e seis, às

onze horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha,

reuniu-se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor

Presidente da Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret.

Presente a Assessoria Técnica da Comissão. O Presidente da Comissão

saudou os presentes e passou a palavra à palestrante, Doutora Karolyn

Sassi, Diretora-Geral do Hemocord, Especialista em Reprodução Humana e

Doutoranda em Biologia Molecular pela Universidade Federal de São Paulo,

que proferiu palestra que tinha por foco central o assunto Bancos de

Sangue de Cordão Umbilical e a Visão do Serviço Privado. Após agradecer a

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oportunidade, a palestrante afirmou que considera o uso de células-tronco

do cordão umbilical promissor para o tratamento de diversas doenças e que

os bancos privados de cordão umbilical podem ser parceiros dos bancos

públicos, vez que visam ao tratamento de diferentes doenças. Explanou

sobre a definição de células-tronco, diferenciou os genes importantes para a

eficácia do tratamento com células-tronco e apresentou soluções para a

rejeição da terapia por determinados pacientes, como por exemplo, a

clonagem terapêutica. Também apresentou alternativas para eliminar o

conflito ético que circunda as pesquisas com células-tronco embrionárias,

como fazer a partenogênese. Disse que há dúvidas em relação à eficácia do

tratamento com células-tronco embrionárias em seres humanos, vez que até

o momento as pesquisas foram realizadas apenas com animais. Demonstrou

dúvidas quanto ao congelamento de embriões e a Lei Federal que permite

que embriões congelados sejam utilizados em pesquisas. Relatando o

histórico da terapia com células-tronco, a palestrante afirmou que desde mil

novecentos e cinqüenta há experimentos com células-tronco hematopoéticas

e que em mil novecentos e setenta e três foi realizado o primeiro transplante

de células-tronco da medula óssea em seres humanos. A palestra foi

ilustrada com vídeos sobre o assunto. O Senhor Presidente agradeceu a

presença da palestrante e seus esclarecimentos e nada mais havendo a

tratar, agradeceu a presença dos presentes e encerrou a reunião, e, para

constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai

assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim,

Secretária.

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Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,

Presidente da Comissão. Secretária

ATA nº 11/2006

Ao primeiro dia do mês de junho do ano de dois mil e seis, às onze

horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-

se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente

da Comissão, Deputado Paulo Brum, o Deputado José Farret e o Deputado

Edson Portilho. Presente a Assessoria Técnica da Comissão. Recebido ofício

justificando as ausências do Deputado Edson Portilho nas reuniões dos dias

seis de abril, vinte e cinco de abril, onze de maio, dezoito de maio e vinte e

cinco de maio do corrente ano. O Presidente da Comissão saudou os

presentes e passou a palavra ao palestrante, Renato Kalil, Doutor em

Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Diretor-Científico

e Cirurgião da equipe de cardiologia do IC-FUC(Instituto de Cardiologia do

Rio Grande do Sul, Fundação Universitária de Cardiologia), que proferiu a

palestra " células-tronco nas cardiopatias". Após agradecer a oportunidade, o

palestrante afirmou que embora os tratamentos de doenças cardíacas

estejam em potencial evolução, a terapia com células-tronco pode salvar a

vida de muitos pacientes, vez que, quando a doença isquêmica é muito

avançada e difusa, os métodos atualmente disponíveis não são efetivos.

Explanou sobre os dois projetos que estão sendo desenvolvidos no Instituto

de Cardiologia. Também explicou o projeto do Ministério da Saúde que visa

reduzir os gastos com internação utilizando terapia com células-tronco. A

palestra foi ilustrada com vídeos sobre o assunto, que apresentavam, dentre

outros assuntos, a origem das células-tronco, dados estatísticos de cura de

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pacientes cardíacos tratados com células-tronco e terapias ideais que teriam

como ações minimizar a perda de cardiomiócitos reduzindo a morte celular

(apoptose), promover o retorno da função de miocárdio hibernante para um

nível normal, estimular a revascularização de zonas isquêmicas pela

angiogênese, e criar novos cardiomiócitos, para repor aqueles perdidos após

a injúria inicial. Ao término da palestra, o Senhor Presidente agradeceu a

presença do palestrante e seus esclarecimentos e nada mais havendo a

tratar, agradeceu a presença dos presentes e encerrou a reunião, e, para

constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai

assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim,

Secretária.

Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa

Zuliani,

Presidente da Comissão. Secretária.

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É O RELATÓRIO.

Deputado Paulo Brum,Presidente.

Deputado Pedro WestphalenRelator

Deputado Luis Fernando Schmidt,Vice-Presidente.

Deputado Abílio dos Santos Deputado Edson Portilho

Deputado José Farret Deputado Elmar Schneider

Deputada Jussara Cony Deputado Giovani Cherini

Deputado Kalil Sehbe

DEPUTADOS SUPLENTES

Deputado Adão Villaverde Deputado Adilson Troca

Deputado Edson Brum Deputado Flávio Koutzii

Deputado Floriza dos Santos Deputado Jair Soares

Deputado José Sperotto Deputado Márcio Biolchi

Deputado João Fischer Deputado Osmar Severo

Deputado Sérgio Peres