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Comissão Especial sobre Pesquisas com Células-Tronco
RELATÓRIO FINAL
MESA DIRETORA - 2006
PRESIDENTE:Dep. FERNANDO ZÁCHIA (PMDB)
1º VICE-PRESIDENTE:Dep. FABIANO PEREIRA (PT)
2º VICE-PRESIDENTE:Dep. GERSON BURMANN (PDT)
1º SECRETÁRIO:Dep. EDEMAR VARGAS (PTB)
2º SECRETÁRIO:Dep. ADOLFO BRITO (PP)
3º SECRETÁRIO:Dep. BERFRAN ROSADO (PPS)
4º SECRETÁRIO:Dep. PAULO BRUM (PSDB)
2
COMPOSIÇÃO DA COMISSÃO
Presidente: Paulo Brum - PSDBVice-Presidente: Luis Fernando Schmidt - PT
Relator: Pedro Westphalen - PP
TITULARES Jussara Cony - PC DO BAbílio dos Santos - PTBGiovani Cherini - PDT
Kalil Sehbe - PDTElmar Schneider - PMDB
José Farret - PPEdson Portilho - PT
SUPLENTESJosé Sperotto - PFL
Adilson Troca - PSDBSérgio Peres - PTB
Floriza dos Santos - PDTOsmar Severo - PDTEdson Brum - PMDB
Márcio Biolchi - PMDBJair Soares - PP
João Fischer - PPAdão Villaverde - PTFlavio Koutzii – PT
ASSESSORIA TÉCNICA
Antonio CandidoCoordenador
Simone ZulianiSecretária
3
Índice
Mesa Diretora.........................................................................2
Composição da Comissão........................................................3
Índice......................................................................................4
Apresentação...........................................................................5
Palestras..................................................................................7
Conclusão............................................................................166
Sugestões e Encaminhamentos............................................168
Anexos.................................................................................170
4
Apresentação
Desde 2005, quando o Congresso Nacional votou a Lei da
Biossegurança, informações básicas sobre células-tronco e seu potencial
para uso na Medicina entraram em nosso cotidiano. O que estava
praticamente restrito a especialistas e pesquisadores da área de Saúde teve
uma divulgação generalizada.
Houve uma mobilização nacional em favor da lei, reunindo
profissionais, pacientes e seus familiares, políticos e outros setores da
sociedade. Esse esforço foi produtivo, a Lei da Biossegurança foi aprovada,
recursos públicos foram encaminhados para a realização de novos estudos.
E depois? O que aconteceu? Assim como entraram, as células-tronco saíram
dos noticiários e voltaram a ficar restritas ao meio acadêmico.
Foi justamente para reverter essa situação que a nossa Assembléia
Legislativa — a partir de proposição do deputado Paulo Brum — formou a
Comissão Especial sobre Pesquisas de Células-Tronco. Médicos e outros
cientistas de diferentes instituições do Rio Grande do Sul vieram a esta Casa
para apresentar seus trabalhos, compartilhar conhecimentos, informar
sobre as dúvidas e os avanços. E quando não puderam vir a nós, a Comissão
foi até eles, como o Centro de Transplantes de Medula Óssea do Hospital da
Universidade Federal de Santa Maria.
5
O resultado desses meses de atividade está representado neste
relatório. Reunimos o conteúdo das palestras, as reivindicações dos
pesquisadores e as proposições que o Legislativo possa fazer para que tudo
isso tenha continuidade. É esse esforço conjunto que pode alimentar as
pesquisas e tornar as células-tronco cada vez mais presentes em nosso
cotidiano, através de notícias sobre novas descobertas, tratamentos e curas.
É uma esperança de vida que precisa, cada vez mais, tornar-se realidade.
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Palestras
16/mar/2006
Pesquisa com células-tronco do cordão umbilical
Dra. Patrícia Pranke Luiz Ávila/AL
Palestrante: Dra. Patrícia Pranke — farmacêutica, pesquisadora e professora
de Hematologia da Faculdade de Farmácia da UFRGS; presidente do
Instituto de Pesquisas com Células-Tronco.
7
Convidados: Dr. Paulo Mayorga, diretor da Faculdade de Farmácia da
UFRGS; Dr. José Ângelo Zuanazzi, vice-diretor da Faculdade de Farmácia da
UFRGS; e Dra. Martina Fritsch, integrante do Grupo de Pesquisas em
Células-Tronco do Hemocord.
Dra. Patrícia PrankeNos últimos anos, recebemos uma avalanche de informações na mídia,
nos meios de comunicação, em relação ao estudo com células-tronco. Na
realidade, em vários jornais e revistas do mundo inteiro, as células-tronco
tornaram-se uma grande atração no meio científico e do meio acadêmico.
Isso tem tomado uma dimensão muito interessante não só no centro de
pesquisa. Por ter atravessado as barreiras científicas, a população de modo
geral tem se envolvido muito com o assunto, não só porque a sociedade pode
vir a se beneficiar, como também pela grande esperança de que essas células
possam tratar doenças que até o final do século passado eram consideradas
incuráveis.
Costumamos dizer que estamos cautelosamente otimistas, porque
temos de ter cautela em tudo que se refere à saúde dos pacientes, mas
estamos otimistas porque é de fato uma esperança – isso é ciência, não é
milagre –que, com estudo, com pesquisa, com investimentos, podemos
conseguir avanços muito importantes nos próximos anos.
A lei permite obter células-tronco a partir do organismo chamado
blastocisto cumulativamente, desde que esses embriões sejam excedentes.
Por exemplo, um casal foi para uma clínica de reprodução assistida para
fazer uma reprodução in vitro, onde são produzidos oito ou dez embriões. A
lei permite implantar quatro, e os embriões excedentes são congelados.
8
A comunidade científica reuniu-se e solicitou que se desse um destino
– que acreditamos ser mais digno – a esses embriões excedentes, que
estavam congelados e que iriam ser descartados. Portanto, só podem ser
usados embriões que sobraram de procedimento de reprodução assistida e
que estejam congelados há mais de três anos – tempo que nada tem a ver
com a viabilidade do embrião –, pois há embriões que com oito anos de
congelamento geraram um ser humano.
Esse período de três anos é o prazo mínimo exigido por lei para que a
família decida se realmente não quer mais filhos. Mas se ela desejar ficar
com aquele embrião congelado por cinco ou oito anos poderá fazê-lo, porque
é a responsável pelo destino a ser dado ao embrião. Porém, não poderá doá-
lo antes dos três anos. O uso do embrião depende sempre do consentimento
dos genitores, mediante doação, jamais incentivando-se qualquer prática de
comércio.
Junto com o uso de células-tronco embrionárias, um outro grande
avanço nas pesquisas é a utilização do sangue de cordão umbilical. Com
isso, o Instituto de Pesquisa com Células-Tronco, com o apoio da UFRGS e
com a Secretaria de Estado de Saúde, está trabalhando para construir um
banco público de sangue de cordão umbilical.
É bom lembrarmos o quão importante é ter banco público de sangue
de cordão umbilical no Estado, no Brasil. Temos uma necessidade real,
imediata, de pacientes aguardando por transplante, à espera de um doador
de medula. O cordão umbilical vem substituir o doador de medula, passando
a ser um recurso mais fácil, porque bebês nascem todos os dias e, todos os
dias, o sangue daquele cordão umbilical e a placenta são jogados fora.
A disponibilidade é imediata, porque já se encontra armazenado em
um banco público de sangue de cordão. Não é preciso ir atrás de um doador,
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basta entrar em uma lista, um cadastro que existe para ver a
compatibilidade ou não. Se estiver naquele banco, a liberação do material é
imediata. Provoca menos rejeição e o custo também é mais barato. Falei em
custo, mas salvar uma vida humana não tem preço. Isso é o que mais
importa.
Temos no Brasil cerca de sete mil casos novos de leucemia em adultos
a cada ano, sendo que pelo menos a metade é de casos fatais. Com certeza, a
doença poderia ser enfrentada com bastante sucesso se houvesse doador, se
fosse feito um transplante. Entre crianças e adolescentes, os dados são
ainda mais alarmantes. Temos aproximadamente nove mil casos novos de
crianças no Brasil com leucemia, e mais ou menos 60% delas poderiam se
salvar, se conseguissem o transplante.
A aplasia de medula é uma doença que só o transplante cura.
Leucemia, muitas vezes, a quimioterapia trata; para a aplasia de medula não
existe tratamento, apenas o transplante. Temos aproximadamente mil novos
casos de pacientes em nosso país com aplasia de medula e esses pacientes
estão na fila, à espera de um transplante. Ou seja, o Brasil precisaria fazer
de seis a oito mil transplantes por ano e faz apenas 900 procedimentos. Esse
quadro pode mudar, se tivermos disponibilidade de sangue de cordão
umbilical, doado para os bancos públicos.Com isso, o sangue de cordão vem
como uma nova oferta de células-tronco.
Falei de leucemias, porque são pacientes que hoje já poderiam ser
tratados. Mas com o avanço das pesquisas com células-tronco, estamos
vendo que não só as doenças hematológicas – as doenças do sangue – podem
ser tratadas com esse material, como várias outras doenças, entre elas, as
de ordem cardíaca e lesão de medula espinhal.
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O trabalho que faremos na UFRGS pretende exatamente comparar os
três tipos de células-tronco – cordão umbilical, medula e embrionárias –
para tratamento de lesão de medula espinhal em ratos. Faremos o
experimento justamente para ver as vantagens entre elas.
Então, cada vez mais o uso das fontes de células-tronco tem sido
ampliado e o cordão umbilical, juntamente com as células embrionárias,
vem como uma fonte muito nova, muito rica e de um futuro bastante
promissor para as pesquisas. Com isso, teríamos como vantagens: oferta
ilimitada, todos os dias bebês nascem e todos os dias esse sangue é
descartado; disponibilidade imediata e uma menor rejeição.
Paralelamente a isso, temos outras vantagens, como o tempo de
espera, que é menor que o de outros procedimentos. Por exemplo, quando se
aguarda um doador de medula óssea, o paciente tem que esperar
aproximadamente seis meses, enquanto o sangue de cordão umbilical está
disponível, o doente pode receber esse sangue em um mês ou 40 dias.
Se não bastassem todas essas vantagens, temos outra: o procedimento
tem um custo mais barato para o Sistema Único de Saúde. Hoje, o Ministério
da Saúde gasta 34 mil dólares na busca de uma medula óssea no exterior.
Se não encontrar doador no Brasil, existe uma portaria que autoriza o
Ministério da Saúde a buscar essa medula em outro país. Se for sangue de
cordão umbilical encontrado no exterior, o Ministério da Saúde gasta 23 mil
dólares nessa busca.
Se construirmos bancos públicos de sangue de cordão umbilical no
Brasil, esse custo cairá para 2 mil dólares por cada unidade. Paralelamente
à grande vantagem para os pacientes, a rapidez do processo, o Sistema
Único de Saúde terá um custo bem menor com a construção desses bancos
no País. A nossa idéia é a de quando o bebê nasce, ao invés de se jogar fora
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a sua placenta, a utilizarmos, de forma que ele já nascerá sendo um herói,
porque o sangue do seu cordão umbilical e da sua placenta poderá ser
usado para salvar vidas.
Coletamos o sangue do cordão e da placenta e o acondicionamos em
uma bolsa. Esse foi o procedimento tomado por mim em Nova Iorque, mas já
estamos fazendo isso aqui para pesquisa – o banco ainda não está aberto.
Então, o volume é reduzido, pois concentramos as células-tronco do sangue
do cordão umbilical e o congelamos.
Esse sangue pode permanecer congelado por vários anos, numa
temperatura de -196 graus Celsius, em nitrogênio líquido. É difícil dizer
quanto tempo irão durar essas células. Não sabemos isso ainda, porque é
um procedimento muito recente. As células mais antigas congeladas no
mundo datam de 13 anos. Até esse prazo sabemos que as células estão
boas. Agora, se irão durar 14 anos ou 60 anos, ninguém sabe. Mas as
células que foram congeladas estão todas muito bem conservadas. Por esse
procedimento, entendemos que podem ser guardadas por alguns anos.
Além disso, o banco tem esta vantagem: a idéia do banco é estar
sempre coletando e sempre renovando o material. Se por acaso se achar que
10 anos é um prazo suficiente, poderemos sempre ficar coletando um novo
sangue de cordão umbilical, de novos doadores, porque bebês estão
nascendo todos os dias.
O que temos de concreto no Brasil, sendo realizado em matéria de
pesquisas com células-tronco? Quais são as políticas do governo em relação
a essas pesquisas?
Como já falamos, a primeira grande medida histórica, digamos assim,
em relação às células-tronco foi a aprovação da Lei de Biossegurança, com a
permissão do uso dessas células. Depois de quase dois anos de trabalho
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junto aos deputados federais, ao Senado e aos ministros, em 24 de março do
ano passado, foi aprovada a utilização de células-tronco embrionárias
humanas, que seriam descartadas, podendo, então, ser usadas para
pesquisa.
Em julho de 2005, foi lançado pelo CNPq o primeiro edital para
pesquisas com células-tronco no Brasil. Tivemos 250 projetos apresentados
por pesquisadores de todo o País, e, em setembro do ano passado, então,
desse total, foram aprovados 41 projetos, sendo que o nosso, da UFRGS,
também foi aprovado.
Temos um grupo de pesquisadores, e o coordenador desse projeto é o
professor Carlos Alexandre Neto, que também é o pró-reitor de graduação da
universidade. Luciano Rodrigues, um aluno de doutorado, fará esse projeto
conosco, bem como o professor Oliveira, também da UFRGS.
Ganhamos uma verba no valor de 450 mil reais para esse projeto, pelo
qual faremos um estudo comparativo dos três tipos de células-tronco, tanto
embrionárias como do cordão umbilical e da medula óssea, na lesão de
medula espinhal de ratos. Usaremos um modelo animal; com isso,
obteremos várias respostas, como o tempo ideal para aplicação, a melhor via
de administração, como se comporta essa célula. Quando os resultados
começarem a sair, podemos pensar em como transferir as informações para
um estudo, talvez, em seres humanos, dependendo do resultado das
pesquisas.
Estamos com esse grupo, contando com o apoio, também, de vários
outros pesquisadores e colaboradores da UFRGS e de fora dela. No ano
passado, em Brasília, foi criado, pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério
de Ciência e Tecnologia, o grupo de trabalho relativo à pesquisa sobre
células-tronco no Brasil. Foi baixada essa portaria interministerial de 2005,
13
e tanto o Ministério da Saúde quanto o Ministério da Ciência e Tecnologia
entenderam que, com os avanços das pesquisas e com o lançamento do
edital, era importante que se criasse um grupo que pudesse orientar o
governo no que diz respeito às diretrizes, ao rumo que o Brasil vai tomar
nessa área.
Os dois ministérios criaram esse grupo composto por 14 pessoas,
sendo oito delas pesquisadores e, seis, integrantes dos Ministérios da Saúde
e de Ciência e Tecnologia. Esses pesquisadores estão espalhados por todo o
Brasil. Como professora da UFRGS, integro o grupo e represento a Região
Sul. Já nos reunimos e elaboramos um documento oficial, o qual foi
entregue ao governo. Após, tivemos algumas reuniões de trabalho e saíram
as diretrizes para os estudos com células-tronco no Brasil, que vão
direcionar todo o trabalho. Fizemos algo bem amplo, porque não queremos
limitar a pesquisa; pelo contrário, temos de ampliar as pesquisas em
qualquer área da saúde que venha a mostrar que essas células possam ser
importantes.
No final do ano passado, a Secretaria da Saúde do Estado do Rio
Grande do Sul também lançou uma portaria, criando o Banco Público de
Sangue de Cordão Umbilical, que será constituído em parceria com algumas
entidades do Estado. Fui nomeada uma de suas diretoras.
O que temos de avanços no Brasil em relação às pesquisas com
células-tronco? O Ministério da Saúde lançou, no início do ano passado, um
projeto bastante arrojado, um projeto pioneiro no mundo – é o que abrange o
maior número de pacientes –, relativo ao uso de células-tronco em doenças
cardíacas.
O projeto envolverá 1.200 pacientes em todo o Brasil e fará a pesquisa
com quatro doenças, as quais serão estudadas comparando-se o uso de
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células-tronco com a melhora apresentada ou não pelos enfermos. As células
serão utilizadas em pacientes vítimas de infarto do miocárdio, de isquemia
crônica, de miocardiopatia dilatada e de Doença de Chagas. Essa última
enfermidade atinge principalmente cidadãos brasileiros do Nordeste, sendo
transmitida pelo barbeiro.
Essas quatro doenças são o foco do estudo inicial para a pesquisa com
células-tronco em cardiopatias. O projeto será desenvolvido ao longo de dois
anos, ao final dos quais vai-se comparar a melhora apresentada – ou não –
pelo paciente que fez uso de células-tronco com a melhora apresentada – ou
não – por pacientes que não as utilizaram.
Todos os pacientes vão continuar recebendo o tratamento
convencional, mas alguns deles, a metade, sem saber receberão células-
tronco. Todos os pacientes sabem que alguns vão receber as células. Isso é o
que chamamos de estudo duplo-cego; ele é adotado porque o paciente ou o
médico podem acabar mudando o tratamento, mesmo sem querer, caso
saibam que estão sendo usadas células-tronco.
Trata-se, repito, de um duplo-cego. Os pacientes entram no projeto
sabendo que alguns vão receber células-tronco e outros não; mas todos
recebem o tratamento tradicional. Isso será feito para verificarmos se vai
ocorrer alguma diferença entre aqueles que receberem as células e os que
não as receberem. É assim que se procede em pesquisa, essa é a única
forma de se responder às indagações. São as células-tronco que estão agindo
ou não? Ou é o medicamento que está agindo?
Esse é um projeto inédito no mundo. É o maior projeto, pois envolve
um maior número de pacientes. O Ministério da Saúde lançou esse projeto
que será muito importante para a comunidade científica e a sociedade toda.
Junto com isso, já há 41 projetos no Brasil começando a desenvolver
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pesquisas com células-tronco, envolvendo diversas doenças, entre elas a
lesão da medula espinhal, diabetes, que atinge milhares de pacientes,
esclerose múltipla, esclerose sistêmica, esclerose lateral ameotrófica,
distrofias musculares e várias outras doenças, desde doenças hepáticas,
como cirrose e hepatite, doenças renais, até problema de perda de visão, etc.
É sempre importante lembrarmos que estamos falando de um assunto
delicado, principalmente quando se fala de células-troco embrionárias, então
temos que lembrar de alguns aspectos éticos, legais, abordando o assunto.
Infelizmente, como em todas as profissões, sempre há pessoas bem-
intencionadas e mal-intencionadas. É muito importante a comunidade toda
estar ciente do que é realmente possível ser feito com as células-tronco.
Sempre falo com os pacientes: procurem os centros grandes,
universitários, os centros de pesquisa. Nunca um profissional vai oferecer
esse serviço num consultório a portas fechadas. Isso é sempre feito em
equipes. O paciente pode sempre pedir para verificar se aquele grupo, aquela
pessoa que esteja oferecendo aquele serviço, tem autorização da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa –, do Ministério da Saúde.
Absolutamente ninguém pode trabalhar com qualquer procedimento
novo em saúde, não são somente células-tronco. Qualquer medicamento que
vá ser utilizado tem que ter a aprovação dos órgãos competentes. Mas como
estamos falando em células-tronco, não poderia ser diferente. Ninguém pode
trabalhar com essas células, principalmente por ser algo novo, sem a
autorização prévia dos órgãos de saúde e de fiscalização.
Como falamos, a comunidade científica está muito otimista, mas com
cautela. Temos que nos manter cautelosamente otimistas. Otimistas, porque
não tem como não ficar frente a essa grande possibilidade que está se
abrindo, que quem sabe, quem sabe – por isso é pesquisa, não é certeza –
16
que essas células possam vir a tratar algumas doenças, mas para isso
mesmo é importante fazer pesquisa.
Qualquer procedimento novo na medicina, qualquer medicamento
novo que vai ser lançado no mercado, isso significa que os centros de
pesquisas vão ficar, anos a fio, estudando aquele medicamento.
Então, primeiro a pesquisa, por isso que estamos começando em
ratos, obviamente. Vamos fazer pesquisa em ratos, camundongos. Verificar a
segurança, a eficácia, a real eficácia para saber se é a célula-tronco que está
funcionando ou não é a célula-tronco. Ou, se é a célula-tronco, qual é a
melhor, qual é a melhor forma de administração? O que é seguro para o
paciente? É importante toda a comunidade saber disso. Mais um detalhe,
ninguém no mundo, não só no Brasil, ninguém no mundo utiliza células-
tronco embrionárias em pacientes, ainda. Quando se fala em células-tronco
embrionárias é apenas pesquisa. Nenhum caso no mundo foi utilizado em
seres humanos. Qualquer coisa diferente disso não é verdade.
É importante sabermos o que é exagero e o que é realidade. Bem, isso
tem a ver com a exploração antiética do sucesso, porque, realmente, as
células-tronco têm atingido um grande interesse da mídia. A mídia está
sempre interessada em saber do assunto, está sempre procurando os
pesquisadores envolvidos. Infelizmente, paralelamente a isso, como em todas
as categorias, sempre há pessoas que podem vir a explorar esse sucesso
repentino das células-tronco.
O uso das células-tronco embrionárias teve a lei aprovada, mas com
cautela, sempre dentro dos princípios éticos e morais. Podemos usar as
células-tronco embrionárias que vão ser descartadas por não terem sido
utilizadas para a fecundação.
17
Também a questão dos bancos de sangue de cordão umbilical.
Estamos lutando para a construção de bancos públicos. Aí também tem
uma questão, se vale a pena ou não congelar para a própria pessoa, nos
bancos privados de cordão umbilical. Ainda falando de sangue de cordão
umbilical, temos aproximadamente 100 bancos de sangue de cordão
umbilical no mundo, 40% deles na Europa, 30% nos Estados Unidos e
Canadá, 20% na Ásia, 10% na Austrália com mais de 150 mil unidades de
sangue de cordão umbilical congeladas.
Existe uma rede internacional chamada Netcord. Ela registra todos os
cordões umbilicais que fazem parte desta rede. E nessa rede que
compreende os 16 maiores bancos dos cordões umbilicais credenciados à
rede, têm mais de 100 mil unidades congeladas, onde quase quatro mil
pacientes já receberam transplantes de células-tronco. Na realidade, já mais
do que seis mil pacientes receberam transplantes de células-tronco, mas
proveniente desta rede foram quatro mil pacientes, na maioria crianças e um
terço deles adultos, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.
Por isso a importância de criarmos os nossos bancos aqui, porque
obviamente vamos achar doador com maior facilidade na nossa sociedade,
porque todos vocês sabem que a questão, o grande problema de achar
doador é a rejeição do órgão. Então, com certeza, vamos encontrar um
doador mais parecido geneticamente conosco na nossa região do que, por
exemplo, na Ásia. Por isso a importância de abrirmos bancos regionais,
locais, no Estado e no Brasil.
Os 75% dos bancos públicos de sangue de cordão umbilical no mundo
são públicos ou privados sem fins lucrativos, ou seja, para algumas doenças,
elas congelam para aquela família que pode vir a necessitar, mas sem o uso
privado, sem indicação clínica, muito poucos.
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Por que isso? Saiu um documento, começou a ficar tão polêmica essa
questão, principalmente na Europa, se deveria ou não incentivar banco
privado de sangue de cordão umbilical, que o Comitê de Ética Europeu criou
esse documento, que está em vários sites, inclusive no site do nosso
instituto. O Comitê de Ética Europeu criou esse documento mostrando que
eles não incentivavam o armazenamento privado do sangue de cordão por
vários motivos científicos, técnicos.
Alguns deles são muito fáceis de entendermos. É que a probabilidade
de uma pessoa que não tem nenhuma indicação de doença usar, de fazer
um transplante, por exemplo, para uma leucemia, é um para 20 mil. Se o
banco público existir, podemos encontrar o doador nesse banco público, não
necessitando a pessoa ter guardado o seu próprio.
Na realidade, até 2003 houve apenas cinco casos, no mundo inteiro,
de pessoas que usaram seu próprio sangue de cordão umbilical contra seis
mil casos de pessoas que usaram sangue de cordão umbilical doados para
os bancos públicos. Então é um gasto que provavelmente a pessoa não
precisaria ter, principalmente, já existindo bancos de cordão umbilical no
mundo. Além disso, países como Itália, Bélgica e França proíbem bancos
privados de sangue de cordão umbilical, só permitem se forem públicos.
Outros países permitem, mas com cautela também.
Vou falar um pouquinho do nosso instituto. O site é
www.celulastroncors.org.br . Uns dos documentos que consta lá é esse
documento do Comitê de Ética da Europa, caso alguém queira maiores
informações. Esse instituto é uma ONG, uma Organização Não-
Governamental, criada justamente para trabalhar junto, por exemplo, com
entidades como a UFGRS, como a Secretaria da Saúde para trazer apoio
para a pesquisa e na construção do banco público.
19
E quais são nossas próximas atividades? Como grupo de pesquisa na
UFRGS, que nós temos, e eu, como pesquisadora, também. Na verdade,
temos, junto com a Faculdade de Farmácia, três projetos aprovados, além
desse de lesão de medula espinhal. Vamos também trabalhar com a célula-
tronco num projeto envolvendo o uso de sangue de cordão umbilical, cujo
resultado da pesquisa beneficiará diretamente a utilização e o banco público
de sangue de cordão umbilical. Esses projetos contam com o apoio
financeiro do CNPq e FAPERGS.
Isso que gostaria de ter mostrado a vocês: um pouco do que já
estamos começando a fazer na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e
no Instituto de Pesquisa com Células-Tronco. Portanto, com o apoio da
comunidade e da Secretaria da Saúde do Estado, estamos tentando montar
esse banco público, sempre estabelecendo parcerias e trocando
conhecimento com tantos pesquisadores brilhantes que temos no Brasil.
Esperamos, então, que as células-tronco sejam uma esperança de uma vida
melhor para todos nós, como cidadãos e comunidade.
Muito obrigada.
Dr. Paulo Mayorga
Cumprimento a comissão na pessoa do deputado Paulo Brum.
Parabenizo esta Casa pela abertura de uma comissão tão importante que
vem aqui discutir questões talvez científicas, talvez um tanto quanto
distantes do dia-a-dia de um legislador, mas tão importantes para a nossa
sociedade em termos de perspectivas de futuro, de acesso a novas
terapêuticas, a novas terapias, a novos serviços de saúde, que talvez a nossa
população irá com certeza se beneficiar a médio e longo prazo a partir de
20
tudo que foi colocado aqui em termos de futuro e de uma perspectiva
extremamente promissora.
A Faculdade de Farmácia completou, no ano passado, 110 anos. Foi a
primeira unidade acadêmica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Muito nos honra poder estar nesta Casa prestigiando a colega Patrícia
Pranke, professora da nossa faculdade, que vem despontando com a sua
coragem, disposição e entusiasmo, em relação a uma área científica, que
envolve uma série de articulações acadêmicas com outras unidades,
faculdades e instituições.
Infelizmente nos atrasamos na chegada a esta reunião por motivo de
comunicado de falecimento do Dr. Rubem Dantas, professor emérito da
nossa universidade, ex-diretor da Faculdade Farmácia, que estava neste ano
completando 90 anos de idade. Foi uma perda lastimável.
Mas no caminho de lá para cá foi inevitável estabelecer alguns
paralelos, já que o professor Rubem Dantas era exatamente da área de
conhecimento da professora Patrícia – enquanto grande área das Análises
Clínicas.
Questionava-me como um pesquisador que há 80, 90 anos iniciou uma
trajetória, começou a consolidar uma área de conhecimento, a ponto de que,
hoje estejamos em outro extremo, após decorridas várias décadas de avanço
científico, discutindo células-tronco e todas as suas potencialidades. Apesar
dessa tristeza pelo fato não posso deixar de prestar uma homenagem ao
Professor Dantas, que, de certa forma, tem sua trajetória coroada hoje por
meio dessa juventude que aqui está defendendo esses novos rumos.
21
Nesse sentido, a Faculdade de Farmácia vem reafirmar o seu compromisso
de apoiar e estimular a realização desses projetos. Manifesto também a
importância de reconhecimento, não só por parte da comunidade científica e
da sociedade civil organizada, mas, principalmente, do poder público, na
valorização e na viabilização de projetos dessa natureza, para que possam,
de fato, ser apresentados ao grande público, não apenas como direito
constitucional, mas como uma conquista social em busca de qualidade de
vida, de acesso a recursos de saúde, dos quais a nossa população é tão
carente e tão necessitada.
Parabenizo a Comissão, mais uma vez, e, junto com a professora
Patrícia, deixo o apelo para que o poder público siga o exemplo desta
Comissão na busca desse crescimento e dessas conquistas. Muito obrigado.
Dra. Martina Fritsch
Apenas desejo agradecer e parabenizar a Dra. Patrícia. Não é a
primeira vez que assisto à palestra dela. É uma pessoa muito entusiasta da
pesquisa das células-tronco. O caminho é muito interessante, mas muito
longo para nós, pesquisadores. São muitas as fases que precisamos definir.
A pesquisa é bastante ampla, porém ainda muito básica nessa área. No
entanto, a Dra. Patrícia nos ajuda a acreditar que realmente teremos êxito e
muito rapidamente.
22
23/mar/2006
Células-tronco: realidade e perspectivas
Dra. Elizabeth Obino Cirne Lima Luiz Ávila/AL
Palestrante: Dra. Elizabeth Obino Cirne Lima — bióloga, mestre e doutora
em Bioquímica, coordenadora do laboratório de embriologia e diferenciação
celular do Centro de Pesquisas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que
vem realizando estudos com ênfase em células-tronco embrionárias.
23
Convidados: Dra. Clarisse Sampaio Alho, vice-diretora da Faculdade de
Biociências da PUCRS, e alunos da Faculdade de Biociências da PUCRS.
Dra. Elizabeth Obino Cirne LimaUm dos maiores problemas relacionados com as células-tronco e
sociedade é a informação. Trata-se de um assunto extremamente
controverso, polêmico, que abrange várias questões, várias facetas, várias
interpretações, que passa pelo envolvimento das emoções. É fundamental
deixar bem claro alguns conceitos, alguns princípios para que a sociedade
possa realmente tomar partido.
A minha intenção neste encontro é muito mais esclarecer e para
apresentar alguns conceitos, visando a que possamos separar algumas
premissas e evoluir nas discussões, procurando construir uma opinião
formada em cada uma das pessoas. A opinião pública deve ser formada pela
consciência e pela certeza de cada uma das pessoas, e essa tomada de
consciência tem que ser conseqüência de informações corretas.
Penso que o problema não é o da divulgação de informações
incorretas, mas, na realidade, o da falta da divulgação de informações. Então
gostaria de apresentar alguns esclarecimentos para limpar um pouco essa
confusão que se difundiu.
A minha intenção é mostrar um pouco do que estamos fazendo e de
que maneira o nosso grupo e a ciência, de maneira geral, podem colaborar
com a melhoria da saúde da população e com as novas perspectivas
terapêuticas, isto é, a forma como podemos ajudar, colaborar realisticamente
com essas esperanças.
A primeira coisa que precisamos deixar bem claro é que existem
algumas classificações de células-tronco e estas podem ser subdivididas
24
quanto à origem, ou seja, de onde são retiradas, de onde são obtidas. Há um
grupo de células-tronco chamadas de células-tronco embrionárias, que são
obtidas de estágios iniciais de embriões e há células-tronco adultas,
diferentes daquelas embrionárias, que são obtidas de indivíduos adultos, de
diferentes tecidos de indivíduos adultos, conseqüentemente não envolvendo
a manipulação de embriões. Então aqui a gente já tem um grande divisor de
águas, já que a manipulação de embriões é uma das grandes questões
polêmicas envolvidas nesse assunto.
É possível separar o grupo que tem um envolvimento direto com a
manipulação de embriões, que são as células-tronco embrionárias, e o grupo
de células-tronco adultas, que são obtidas de indivíduos adultos.
Conseqüentemente, elas têm características diferentes não somente pelo
local de onde são obtidas.
Vamos começar caracterizando as células-tronco embrionárias. Estas
são obtidas de embriões, e uma característica para a ciência extremamente
importante é que essas células-tronco podem se multiplicar in vitro, o que
quer dizer isso, a gente pode colher algumas células dos embriões, levar para
sistemas in vitro, levar para sistemas de cultura de células e multiplicar tais
células, isto é, expandir essas células. Portanto, não é preciso manipular
embriões cada vez que se vai fazer um experimento, cada vez que se vai fazer
uma cultura de células embrionárias. Uma vez que a gente conseguiu
estabelecer uma cultura de células, a partir de um embrião, essas células se
multiplicam, hoje é dito, infinitamente in vitro. Então, a gente tem material
de trabalho para pesquisa.
É possível aumentar a massa celular e conseguir realizar vários
estudos e várias pesquisas in vitro com essas células e, conseqüentemente,
conseguir aprender bastante com elas, uma vez que é possível fazer vários
25
experimentos e manipulações para conhecer os diferentes mecanismos de
diferenciação celular. Além disso, essas células-tronco embrionárias têm a
capacidade de gerar todos os tipos celulares que compõem um indivíduo
adulto e, por isso, numa outra classificação são chamadas de pluripotentes,
porque podem gerar, praticamente, todas as células de um indivíduo adulto.
Porém, nunca podem gerar um novo indivíduo completo, que seria a
classificação de células totipotentes.Toti quer dizer que gera um indivíduo
novo, aí é a célula totipotente, que também é uma outra célula obtida de
embriões. A célula pluripotente é obtida de embriões, porém com a
característica de poder gerar todos os tipos celulares, mas nunca um novo
indivíduo.
Na realidade, a obtenção das células-tronco embrionárias é
decorrência da fecundação. A partir da fusão do espermatozóide com o
óvulo, temos um embrião de uma única célula. Esta célula, que agora é o
ovo, o primeiro estágio embrionário, passa a se multiplicar, já que é produto
da fusão do núcleo do espermatozóide e do núcleo do gameta feminino.
Esse novo embrião começa a se multiplicar, cada célula se multiplica
gerando duas células e elas vão se multiplicando. Ao se multiplicar, cada
célula divide-se em duas e assim por diante, então vai crescendo e se
multiplicando, tendo diferentes estágios, com nomes diferentes, embrião de
uma célula, de duas, de quatro. Assim vai até chegar a um estágio em que
não se consegue mais contar. É esse envoltório com várias células idênticas
que é chamado de zona pelúcida.
O envoltório, chamado zona pelúcida, chegando ao estágio chamado
de blastocisto, onde temos uma única camada de células oriundas dessa
célula, se organizam numa estrutura circular com uma única camada de
célula e numa posição desse blastocisto, como é chamada essa estrutura,
26
temos uma concentração de várias dessas células que ficam concentradas
numa região chamada de massa celular interna.
A partir dessa massa de células é que podemos colher amostras
dessas células, daqui temos a origem das células-tronco embrionárias
pluripotentes. Essas são as que podemos levar para a cultura de células,
expandi-las e realizar diferentes trabalhos.
A gente parte de um embrião, que é de uma célula, e que se multiplica
e gera uma massa de células. Depois gera a estrutura chamada blastocisto,
uma camada externa de células, e no interior uma massa interna celular. As
células dessa massa interna podem ser levadas para cultura e, em condições
adequadas, podem gerar diferentes tipos celulares típicos de tecidos de
indivíduos adultos, como células hematopoéiticas, células nervosas, células
musculares, conjuntivas, epiteliais e assim por diante.
Hoje, nós sabemos algumas condições para privilegiar a diferenciação
das células-tronco embrionárias em alguns desses tipos. Nós sabemos que,
com a adição de ácido retinóico, por exemplo, ou outras substâncias, pode-
se privilegiar a diferenciação da célula tronco embrionária para músculo
cardíaco ou para célula nervosa. Na realidade, nós precisamos ter muita
cautela, porque nós não temos o domínio absoluto de cada etapa, de cada
processo, para que realmente tenhamos o controle da diferenciação celular.
A grande promessa que acredito que o trabalho com células tronco
pode nos trazer é o aprendizado sobre diferenciação celular. Nós, primeiro,
precisamos aprender muito sobre diferenciação celular. A partir do momento
em que tivermos conhecimento suficiente para poder controlar alguns
mecanismos de diferenciação celular, aí sim, vamos poder pensar em falar
que vamos ter ferramentas que possam vir a se transformar em novas
terapêuticas e poder prometer alguma nova terapia a médio prazo.
27
Hoje, penso que o trabalho ou a aplicação prática dessa ferramenta do
trabalho com as células-tronco embrionárias como alternativa terapêutica é
uma promessa para longo prazo. Nós temos muito que aprender, é óbvio que
tem muita gente trabalhando, tem muita gente querendo aprender. No
mundo inteiro, sobre essas células, tem muita gente trabalhando, mas ainda
pouco se sabe.
Vou listar alguns dos projetos que temos sobre células tronco, que
estão acontecendo no laboratório. Gostaria de ressaltar que esse foi o
primeiro projeto que se tem notícia, apoiado pelo governo brasileiro, para
estudar células-tronco embrionárias. É um projeto do nosso laboratório e
um grupo alemão, da Universidade de Munique, onde colaboramos com o
grupo do centro de pesquisas gênicas daquela universidade, através de um
projeto de estabelecimento da rotina e manutenção de células no Brasil.
Fomos para a Alemanha e trouxemos pesquisadores de lá para
trabalhar no nosso laboratório e, a partir desse convênio montamos, pela
primeira vez no Brasil, rotinas de cultura de células-tronco embrionárias.
Esse foi, então, o embrião, digamos assim, das nossas atividades com
células-tronco no Brasil, no nosso laboratório. Isto aconteceu em 2000, faz
bem pouco tempo.
Em seguida, depois da rotina estabelecida, começamos a desenvolver
trabalhos de indução de diferenciação celular in vitro para, então, tentar
aprender um pouco sobre os mecanismos de diferenciação celular. Quanto a
isto temos alguns trabalhos de tese publicados e conseguimos estabelecer
modelos de diferenciação celular e produção de células nervosas, a produção
de células cardíacas in vitro, a partir de células-tronco embrionárias.
Por fim, hoje, com células tronco-embrionárias, temos um projeto em
andamento, é um modelo para produção de células pancreáticas, produtoras
28
de insulina, com o mesmo grupo alemão. Hoje temos dois alunos de
doutorado trabalhando na Alemanha. Pesquisadores vêm todos os anos e
nós também vamos para lá todos os anos. É um programa custeado pela
CAPES, do Ministério da Educação, e que visa à formação de recursos
humanos. Então, a gente manda alunos de doutorado para a Alemanha,
manda professores e pesquisadores para a Alemanha e recebemos, da
Alemanha, pesquisadores, professores e alunos de doutorado, também. É
bastante interessante este intercâmbio, um nível bastante adiantado de
formação científica, o que é bastante produtivo. Rendem muito essas visitas,
essas trocas, esses intercâmbios trazem muitos bons frutos, têm trazido
muitos bons frutos para o nosso laboratório. Acredito que para eles também,
apesar de eles terem uma autonomia maior do que a nossa.
No momento, então, estamos envolvidos com esse projeto. Células-
tronco estão sendo produzidas na Alemanha hoje, com uma aluna nossa de
doutorado que está lá, dando seqüência a um projeto que se iniciou no ano
passado, quando fizemos algumas construções genéticas e transformamos
aquelas células-tronco embrionárias quando elas ainda estavam num
modelo indiferenciado. Introduzimos nestas células-tronco embrionárias
uma seqüência de DNA que vão priorizar, ou modular positivamente a
diferenciação dessas células. À medida que colocamos essas células em um
modelo de diferenciação solar, elas se diferenciam prioritariamente em
células pancreáticas, produtoras de insulina. Então, são com estas
construções gênicas que estamos trabalhando no momento.
Já temos clones de células-tronco embrionárias transformados com
estas seqüências gênicas e, com isto, já temos um sistema funcionando para
diferenciação de células tronco no sistema de diferenciação solar,
priorizando a diferenciação para célula pancreática produtora de insulina.
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Como disse no início, o trabalho com as células tronco embrionárias
são extremamente importantes no sentido de termos condições de aprender
com um modelo que acho riquíssimo para aprender sobre diferenciação
celular. Mas quando poderemos pensar em transferir estas células
produtoras de insulina, filhas daquelas células-tronco embrionárias para um
paciente, fazer um transplante celular para um paciente? Acredito que isso
ainda falta bastante tempo porque não temos ainda um controle absoluto da
diferenciação celular. E o risco de transplantar uma célula-tronco, num
estágio embrionário para um paciente, é bastante grande.
Mesmo em cobaias, ainda não feitas experiências com transferência de
célula. Somente da indução de diferenciação in vitro. A idéia é que, à medida
que dominemos mais o processo de transformação de célula-tronco
embrionária em célula produtora de insulina, à medida que tivermos a
“certeza” – entre aspas – ou um domínio mais eficiente da técnica para poder
ter uma cultura realmente enriquecida e perto de 100% nessas células –
pureza é difícil de falarmos –, a medida em que consigamos purificar ao
máximo essas células produtoras de insulina e eliminar as que não se
diferenciaram, então passaremos para os primeiros experimentos in vivo,
mas ainda com modelos animais.
Não temos perspectiva de quando iniciaremos os experimentos in vivo.
Acredito que precisamos de mais dois ainda com esse experimento, com esse
projeto. Com outros modelos que ainda não dominamos o processo de
diferenciação solar, o tempo é bem maior para podermos chegar a falar em
aplicação prática ou transferência de células mesmas.
Por outro lado, as células-tronco adultas – como mencionei – não
envolvem a manipulação de embriões, podendo ser obtidas por diferentes
tecidos, os tecidos mais conhecidos ou mais falados, como fonte de células-
30
tronco adultas, são a medula óssea, o sangue de cordão e o sangue
periférico. Ainda existem células-tronco, residentes em alguns tecidos, que
não têm a mesma capacidade de diferenciação.
Como por exemplo, existem células-tronco que moram dentro do
sistema nervoso, dentro do pâncreas e dentro do fígado. Essas têm uma
capacidade de diferenciar-se comprometida com órgão em questão. Elas
dificilmente se transformam em outro tecido, que não seja aquele com o qual
elas estão intimamente em contato. Então, existem vários tipos de células-
tronco adultas, mas essas são as que têm a maior capacidade de se
diferenciar em outros tipos celulares.
Se pensarmos e relembramos dos conceitos que foram falados, a
célula-tronco embrionária é obtida de embrião, tem toda a problemática de
se manipular embriões. As células-tronco adultas tão facilmente acessíveis
porque se olharmos esses tecidos, coletar a medula óssea é fácil, o sangue
de cordão, sangue periférico é fácil e placenta é fácil. Para que vamos mexer
num vespeiro, se temos essas possibilidades disponíveis?
Na realidade, a justificativa para mexer no vespeiro é a plasticidade,
que é a capacidade que as células-tronco tem de se diferenciar em outros
tecidos. Esse é o grande argumento para continuarmos trabalhando com
células-tronco embrionárias, é a capacidade e a potencialidade que essas
células têm. Além das questões práticas que mencionei que a célula-tronco
embrionária conseguia multiplicar in vitro. Não conseguimos multiplicar a
célula-tronco in vitro.
Nós dizemos que não essas células não se multiplicam, na realidade,
não é que elas não se multipliquem, somos nós que não conhecemos o
sistema de como fazer com que elas se multipliquem, deve existir um
sistema, mas não conhecemos. Ninguém no mundo sabe pegar uma célula-
31
tronco de um tecido adulto de qualquer uma das fontes mencionadas e fazer
com que elas cresçam e se multipliquem in vitro, não se consegue.
Além disso, elas podem dar um número bem mais reduzido de tipos de
celulares maduros, ou seja, aquela plasticidade mais reduzida. Elas não têm
capacidade de gerar todos os tipos celulares de um indivíduo.
A medula óssea significa a parte central de ossos longos. Os ossos
longos têm as suas extremidades calcificadas. Na parte central, tem o que
chamamos de medula óssea, que é uma parte viva, rica, cheia de células. É
dentro desse ambiente que temos células-tronco adultas que se multiplicam,
diferenciam-se e que há alguns anos achávamos que originavam células da
linhagem hematopoiética. De fato, temos visto que as células-tronco
hematopoiéticas não só têm capacidade de dar origem a todas as células-
tronco hematopoiéticas adultas, podem ainda dar origem a alguns outros
tipos de tecidos.
Colhemos uma amostra desse conjunto de células que tem dentro da
medula óssea e levamos para um tubo. Na realidade, como não conseguimos
fazer com que essas células se multipliquem in vitro, colhemos a célula e ela
tem que ser transferida diretamente para o paciente, porque pouco se
consegue fazer. Na realidade, o que existe de célula-tronco hematopoiética
dentro da medula óssea é algo em torno de 0,0001%. Pescar essa célula é
muito difícil.
Trabalhar com essa célula in vitro já que não sabemos como mantê-la
viva e se multiplicando in vitro não nos resta outra chance a não ser colher
uma mostra de célula de medula óssea, acreditar que estatisticamente ali
dentro tem célula-tronco adulta e transferir essas células diretamente para o
paciente, para diferentes tecidos, como tem sido feito, por exemplo, com os
pacientes cardíacos.
32
Coletamos e, na realidade, na hora que é transferido não sabemos
exatamente quantas células-tronco tem ali dentro. Mas o que foi
demonstrado é que tem, depois vimos que tem. Na realidade, na hora da
cirurgia, colhemos do paciente ou de um banco de células e transfere-se
para o paciente. E uma alíquota da célula que você transferiu é levada para
análise e a análise vai dizer mais tarde ou no dia seguinte o percentual de
células-tronco que tinha naquela amostra. Mas isso só fica sabendo na
realidade depois que transferiu para o paciente.
Mesmo assim, esses resultados feitos com os pacientes cardíacos
mostraram resultados positivos de que essas células de alguma maneira
colaboravam com a regeneração do músculo cardíaco e ajudava na
recuperação do órgão dos pacientes.
Nesse sentido, temos alguns outros projetos com células-tronco
hematopoiéticas em modelos animais, inicialmente acontecendo no nosso
grupo e o primeiro é a recuperação de músculo cardíaco após enfarto agudo
e crônico. Esse é um modelo que já feito em um ano.
Já foi demonstrado que funciona, mas, o que queremos com esse
trabalho não é mostrar que a célula-tronco regenera ou auxilia na
regeneração, mas, sim, tentar descobrir de que maneira ou quais são os
mecanismos envolvidos na regeneração do músculo cardíaco quando temos
uma situação de lesão e administra as células-tronco adultas. No caso o
modelo animal usado é rato. A idéia é estudar esse mecanismo.
Um outro modelo animal com que trabalhamos é a regeneração
hepática em falência hepática fulminante. Também temos um modelo com
ratos que são tratados e têm uma falência hepática fulminante importante, e
os nossos experimentos de transferência de célula-tronco adulta
33
hematopoiética para esses ratos mostraram uma sobrevida e uma
regeneração do fígado desses animais.
Esse é um projeto que traz uma esperança interessante, porque
existem vários pacientes esperando, por exemplo, por um transplante que
seja compatível com o paciente e às vezes o órgão não chega, e o paciente
acaba morrendo vítima de uma falência hepática fulminante, uma situação
aguda e a idéia desse projeto é poder fazer com que esse paciente tenha uma
leve recuperação.
Não conseguimos fazer a restauração do fígado, não conseguimos
regenerar o fígado completamente, mas conseguimos restabelecer a função
hepática num pequeno grau e por um pequeno espaço de tempo. Talvez o
tempo necessário para que esse paciente tenha a chance de receber o
transplante e ter sua função hepática regenerada. Seria uma possível
alternativa, mas lembrando, de novo, que os trabalhos são feitos com
modelos de animais.
No Hospital de Clínicas, estamos realizando trabalhos com modelos de
outros tipos de animais na linha de fígado, inclusive com porcos. Talvez
tenhamos outras novidades.
Além disso, também estamos desenvolvendo um trabalho bastante
interessante na recuperação testicular. Nesse item temos um modelo de
degeneração testicular causada por um fármaco, o mesmo utilizado na
quimioterapia.
Os pacientes que precisam ser submetidos à quimioterapia se tornam,
como conseqüência, inférteis, pois ocorre a degeneração do tecido testicular.
Nesse processo de degeneração a espermatogênese acontece porque o
testículo não promove a diferenciação dos espermatozóides.
34
Nesse sentido o nosso trabalho foi o de induzir à degeneração
testicular, primeiramente com ovinos, mas agora os experimentos são com
ratos. Tanto a degeneração testicular dos ovinos como a dos ratos foram
realizadas com o mesmo fármaco utilizado para a quimioterapia.
Os animais são tratados com células-tronco adultas. Restabelecemos
parcialmente a estrutura do testículo a ponto de promover novos ciclos de
espermatogênese, recuperando, então, a capacidade de fazer a maturação
dos espermatozóides, o que torna o indivíduo novamente fértil.
Esse trabalho foi bastante interessante. Após mais ou menos 15 dias
conseguimos ver espermatozóides adultos e o animal recupera a função de
diferenciação de espermatozóides completamente. Esse trabalho nos
possibilita, a curto prazo, a aplicação terapêutica em pacientes que foram
submetidos à quimioterapia ou a tratamentos com drogas que levaram à
degeneração testicular.
Ainda com modelos em animais, temos a recuperação de tendão após
lesão traumática e à recuperação dessa estrutura com células-tronco
adultas. Esses dois projetos, o da regeneração, tanto de tendão como de
músculo, foram iniciados no verão. Recém conseguimos estabelecer um
modelo de lesão tendínea e muscular. Agora estamos trabalhando no
estabelecimento dos modelos. Nos próximos dois meses começaremos os
experimentos em outros, o da regeneração das estruturas com células-
tronco adultas. Em humanos, os projetos que desenvolvemos com células-
tronco hematopoiéticas, células-tronco adultas, são para recuperação de
lesão tendínea e de estruturas articulares.
Temos a sorte de contar com um dos maiores cirurgiões ortopédicos e
traumatologista do Brasil, o Dr. João Ellera Gomes, que recentemente
recebeu prêmio por desenvolver uma nova técnica cirúrgica de joelho e de
35
ombro. O Dr. João nos procurou para propor uma associação porque
gostaria de tornar a sua técnica cirúrgica mais eficiente. Ele gostaria de,
junto com a sua técnica cirúrgica, fazer a adição de células-tronco adultas.
O projeto já foi submetido ao Comitê de Ética do Hospital de Clínicas,
que já o aprovou, e o Dr. João está começando a selecionar os grupos de
pacientes para começarmos as cirurgias em seguida. O projeto já está
aprovado, mas não temos ainda nenhuma cirurgia realizada. Recém foi
aprovado, há cerca de 10 dias. Então, são dois os projetos já aprovados e
que em termos de aplicação deixaram de ser promessas.
Na realidade começaremos as primeiras cirurgias e daqui a um ano
teremos os primeiros resultados sobre e o efeito das mesmas. Mas em
termos de aplicação estamos começando os primeiros estudos na utilização
em humanos, de fato. Isso já é uma realidade.
Voltando um pouco para o outro assunto, em termos de perspectiva de
células-tronco embrionárias, na medida em que conseguimos dominar muito
mais do que hoje a diferenciação celular – considerando um paciente que
necessita de transplante de tecido –, poderemos, por exemplo, colher uma
célula de pele. A parte central é o núcleo da célula e dentro do núcleo temos
o material genético ou as diferentes células desse homem, não interessa se é
célula epitelial ou nervosa, músculo ou tecido conjuntivo. Dentro do núcleo
há material genético exatamente idêntico em todas as células.
Por isso, em medicina forense, podemos coletar bulbos de pêlo, de
cabelo ou de fragmento, tecido de mucosa, pele ou ossos para fazer a
identificação genética. É como se fosse um cartão de identificação, todas as
células de um mesmo indivíduo têm exatamente o mesmo DNA.
Quando transferimos o núcleo, por micromanipulação, retiramos o
núcleo dessa célula e transferimos para outra que foi esvaziada, ou seja, que
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é um gameta feminino e seu núcleo foi retirado. Pegamos o gameta feminino,
tiramos o núcleo, que é a informação genética dessa mulher e colocamos o
núcleo que contém a informação genética do paciente.
Essa célula, que agora é uma quimera, uma mistura do material
genético do homem com a célula enucleada da mulher, em condições
adequadas de cultura, multiplica-se como se fosse um embrião, fazendo
multiplicações duplas até gerar o blastocisto, uma estrutura de camada
única que, numa das extremidades ou numa porção, tem a concentração de
células de massa interna, de onde se podem retirar essas células.
Dessa forma, temos uma cultura de célula-tronco embrionária
idêntica, com material genético idêntico ao do homem doador do núcleo.
Uma vez em cultura, podemos fazer com que essa célula-tronco embrionária
se transforme em diferentes tipos celulares ou na que o paciente necessita
para o transplante, e assim se produz in vitro células idênticas sem o risco
de rejeição.
Essa é uma promessa superinteressante e excitante. Ficamos
sonhando com o dia em que teremos nos hospitais salas como a de um
supermercado com potes de órgãos de células pré-produzidos, compatíveis
com diferentes indivíduos. O paciente entra, colhe uma amostra, vai para a
sala ao lado, produz um fígado ou coração novo, volta com o carrinho de
supermercado e entrega para o médico fazer o transplante. Esse é um sonho
delirante, mas plausível, se pensarmos na evolução científica.
O grande complicador pode existir em relação a esse futuro é o
conhecimento ser barrado. Fingir que não sabemos, não é possível; proibir
que se manipule ou se trabalhe em prol da ciência é um grande erro.
Precisamos, sim, discutir muito, conversar para formar opinião e para
37
chegarmos à conclusão de quais devem ser as regras daqui para frente, de
que maneira devemos trabalhar e que tipo de pesquisa podemos apoiar.
Proibir só prejudica as pessoas de bem que estão pensando em
trabalhar seriamente em prol da ciência e da sociedade. Quem atua na
contramão do bem público vai continuar atuando. Por isso, proibir significa
dar mais poder para quem é do mal e tirar as condições das pessoas que
querem ajudar.
Não dá para voltarmos atrás e fingirmos que isso tudo não existe, mas
dá, sim, para discutirmos bastante, a fim de formarmos opinião e sabermos
de que maneira poderemos evoluir, para onde vamos caminhar, que tipo de
trabalho devemos privilegiar, que tipo de ação queremos no futuro em prol
dos nossos pacientes e do bem-estar da comunidade.
Muito obrigada.
Dra. Clarisse Sampaio AlhoÉ um prazer estar aqui representando a Faculdade de Ciências da
PUCRS, universidade em que estão sendo desenvolvidos muitos projetos
envolvendo as células-tronco. De fato, é uma alegria saber que, em nosso
Estado, existe uma comissão formada com esse propósito. É sempre bom
assistir a conferência da Dra. Elizabeth e podermos perceber o quão
avançados estamos no Rio Grande do Sul e no País, em relação ao cenário
mundial.
A nossa instituição tem tido uma preocupação com a boa conduta
desses tipos de investigação nos âmbitos legais, morais e éticos. O grupo da
UFRGS, aqui representado pela Dra. Elizabeth, sempre trabalhou com muito
rigor e seriedade científica.
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Infelizmente, essa área das células-tronco mostrou ultimamente um
viés de falta de seriedade muito grande. Acompanhamos escândalos
internacionais envolvendo esse tipo de investigação, isso é uma lástima
porque, além de frear e confundir o avanço dessas tecnologias para o bem-
estar social, afeta diretamente os sofrimentos pessoais de cada indivíduo que
precisa de uma terapêutica para se recuperar.
A nossa preocupação, do ponto de vista ético do desenvolvimento e da
aprovação dessas pesquisas, vai desde o âmbito maior, que é a ciência, até
as particularidades de cada paciente que nos telefona contando o seu drama
pessoal, do seu filho ou do seu esposo, precisando de auxílio e confiando,
tendo esperanças na ciência.
Cada vez que uma pessoa tem as suas esperanças frustradas, a sua
vida perdida em função da ciência ter travado suas experiências por más
condutas em pesquisas, isso reflete negativamente em todos os aspectos.
Ressalto a importância de uma comissão que tenha clareza de
conhecimento técnico – que não é a área dos parlamentares, mas dos
cientistas –, a conversa entre a comunidade científica e a sociedade em geral
interessa muito, e essas propostas são as que promovem os intercâmbios de
conhecimento e as tomadas de decisões.
Acompanhamos as tomadas de decisão, em nosso País, com relação às
legislações que permitem ou impedem determinados tipos de investigação
com células-tronco embrionárias humanas. Essas decisões têm que ser
embasadas em conhecimento científico sério e tomadas por pessoas que, de
fato, trabalhem com isso.
Pelos trabalhos que temos acompanhando no Comitê de Ética e de
Pesquisa da PUC e na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa no Brasil –
CONEP –, chegamos à conclusão de que cada projeto é isolado. Por isso,
39
tivemos que vivenciar a aprovação ou não da Lei de Biossegurança, que era
algo generalizado, e sabemos que essa generalização permite os andamentos
do bem e do mal.
Temos observado que cada projeto tem que ser avaliado
independentemente. Esse projeto faz parte de um grupo que tem rigor
científico e seriedade, portanto deve ser aprovado, pois virá para o bem, e
outros não devem ser aprovados porque não estão sustentados
cientificamente ou não têm perspectivas de ter utilização com seriedade.
Uso a palavra para agradecer o convite para participarmos deste
encontro, conhecer a comissão e, uma vez mais, assistir ao relato do grupo
da UFRGS.
Parabenizo a iniciativa, porque certamente isso será um benefício
muito grande para o nosso Estado e para a nossa sociedade em geral. Muito
obrigada.
40
30/mar/2006
Realidade e perspectivas na terapia com células-tronco
Dr. Jefferson Braga Silva Marco Couto/AL
Palestrante: Dr. Jefferson Braga Silva — médico, livre docente e professor da
faculdade de Medicina da PUCRS.
Convidada: Dra. Karolyn Sassi, diretora-geral do HemoCord
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Dr. Jefferson Braga SilvaEm primeiro lugar, agradeço o convite para comparecer a esta reunião.
Sou médico, realizo cirurgias e faço fundamentalmente pesquisa cirúrgica. O
assunto células-tronco nos interessa há bastante tempo, e temos hoje
algumas questões bem estabelecidas na utilização dessa terapia, desse
tratamento com células-tronco.
Começamos, como sempre, pela cirurgia experimental, por
procedimentos em animais, e depois evoluímos para a terapia em humanos.
Esse título da palestra, Realidade e Perspectivas na Terapia com Células-
Tronco, corresponde exatamente ao que propõe. Na verdade, temos uma
realidade bem estabelecida hoje em algumas doenças e perspectivas
bastante promissoras em outras. Esse trabalho todo foi desenvolvido na
universidade dentro de um laboratório de cirurgia experimental, um prédio
construído ao lado do hospital da PUC onde realizamos todas essas
pesquisas.
É importante definir célula. A célula, na verdade, é um espaço vazio. Ela
foi descrita inicialmente por Robert Hooke e possui diversas estruturas, cada
uma com determinada função, e o núcleo rege tudo.
Uma definição típica e clássica de células-tronco é que são células
imaturas que não têm forma nem função, mas têm grande capacidade de se
proliferar e de poder originar diferentes tipos celulares. A célula-tronco,
acrescida de fatores de crescimento, pode – ou não – se diferenciar em tecido
neural, em tecido nervoso e em músculo.
Temos várias possibilidades de obtenção de célula-tronco. Nas próximas
semanas vocês vão ouvir a Dra. Sassi, do HemoCord, falar sobre cordão
umbilical. Outras possibilidades são a medula óssea, que é no que temos
maior experiência na universidade, a célula embrionária, que vou explicar
42
para vocês, e hoje apresentaremos outra linha, que é a obtenção de células-
tronco a partir da gordura e de células olfativas.
No cordão umbilical não vou me deter, vou deixar para a próxima
palestra. Na verdade, no sangue existe uma quantidade bastante importante
de células-tronco, que podem ser usadas para o tratamento de algumas
doenças.
Vou abordar hoje fundamentalmente a medula óssea, que é o que
usamos. São células não completamente diferenciadas que vão servir de
fonte celular para todo o organismo. A medula óssea é o que está dentro do
osso e que pode se diferenciar em fígado, tecido gorduroso, tecido cardíaco,
tecido epitelial, neurônio.
No primeiro dia das células embrionárias, quando ocorre a fecundação,
chama-se zigoto; no terceiro ou quarto dia, totipotente; e depois, blastocisto.
É aqui que ocorre a separação, ou seja, retiramos a célula pluripotente do
blastocisto, colocamo-la em cultura, e ela vai se diferenciar em outros
tecidos. O grande problema ético da célula embrionária é justamente a
destruição do blastocisto, que não irá mais evoluir até o ser humano.
Há algumas questões relacionadas à bioética, fundamentalmente à
célula-tronco, sobre se é embrionária. Além disso, sabemos todos da Lei de
Biossegurança, que foi aprovada em março de 2005 pelo governo federal.
Existem algumas críticas – não só nossas –, alguns aspectos culturais e
religiosos têm de ser discutidos, e não há comprovação prévia da eficácia da
terapêutica dessa célula embrionária.
Algumas questões não vou discutir, mas vou deixá-las como incentivo à
reflexão. Quando começa a vida, na fecundação ou no nascimento? A
medicina e a sociedade já estabeleceram quando ocorre a morte: a morte
existe quando temos um silêncio isoelétrico no eletroencefalograma. Aí
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acontece a morte. A vida, porém, nós não sabemos se começa na fecundação
ou no nascimento. Na verdade, aqui é que se inicia a discussão na bioética.
O que eu quero mostrar para vocês é isto, a realidade e as perspectivas
na terapia com células-tronco, que pesquisas temos com resultado, sem
resultado, e a experimentação clínica. Dentro da experimentação clínica,
temos inicialmente pesquisas em seres humanos sobre a utilização na
terapia do quelóide, que é aquela cicatriz hipertrófica, uma cicatriz feia, e
sobre a utilização de gordura como fonte de células-tronco. Com resultados,
temos as pesquisas sobre o nervo periférico e a calvície.
Na experimentação animal, estão em andamento pesquisas sobre
insuficiência renal, isquemia, regeneração óssea, cartilagem e músculo.
Temos, com resultados muito interessantes, estudos sobre a cirrose, sobre a
regeneração da unha e da medula.
Abordando o nervo periférico, ele nada mais é do que uma porção de
cabos, envoltos em uma membrana. Quando vim para Porto Alegre, em
1995, tínhamos o caso de um paciente que sofrera um trauma no antebraço
e que, por um problema burocrático, não recebera assistência imediata, indo
recebê-la dois ou três meses depois, e então sofreu uma perda, pois os
tecidos se retraem. Em casos desse tipo, temos duas opções: ou fazemos um
enxerto para fazer a ligação desse nervo com outro, ou fazemos um
procedimento chamado de tubulização, que se trata de colocar um tubo
entre duas extremidades nervosas: nervo e nervo, e o tubo em volta, para
que o nervo cresça por dentro desse tubo.
Essa foi nossa tese de mestrado em 1997, depois fizemos algumas
publicações. Queríamos que o nervo se regenerasse, mas não sabíamos por
que o nervo se regenerava, se aqui é um regenerado nervoso, e de repente ele
pára. Não sabíamos explicar por que, em alguns pacientes, o nervo
44
simplesmente parava de crescer, e aí veio uma necessidade do dia-a-dia, de
utilizar células-tronco da medula óssea, dentro daquele tubo. Fomos então
contemplados com o edital do CNPq em 2004 e 2005, para completar esse
estudo.
As pesquisas são feitas em ratos de laboratório. Logo após a secção do
nervo ciático o rato não consegue movimentar a pata direita e manca devido
a uma lesão nervosa. Retiramos a célula-tronco da medula óssea, do fêmur
do rato, essas células são marcadas com GFP que é uma substância que faz
com que eu tenha certeza que o que está se regenerando são as células-
tronco.
Fizemos várias análises para comprovar se a célula-tronco regenerava
realmente. No exame macroscópico, observamos uma regeneração, e a única
diferença com um nervo normal é o grau de densidade. Tínhamos algumas
comprovações, sabíamos que esse nervo transmitia estímulos, pois na
verdade o nervo transmite a ordem do cérebro para o músculo. O estímulo
era normal, então tínhamos várias observações: o exame macroscópico; a
microscopia; e a microscopia eletrônica; e precisávamos saber se esse nervo
era realmente eficaz.
Quatro semanas depois, a cobaia já caminhava normalmente, ou seja,
houve uma regeneração nervosa com a célula. A célula-tronco tem aquele
poder de se diferenciar. Solto no chão do laboratório, o animal não só
caminha como corre bastante. Houve uma boa regeneração funcional.
Isso nos estimulou a fazer um protocolo ao Comitê de Ética, ao Conep,
em Brasília, usando no ser humano. Então unimos pacientes do mesmo tipo
que apresentavam o mesmo tipo de lesão, e procuramos fazer da forma mais
estandardizada possível. Como eu tinha a minha tese, eu usava o meu tubo
vazio, na verdade eu estava comparando 1995 com 2005. Foi isso que
45
fizemos, comparamos as duas séries — duas terapias, uma que já era
consagrada no meio da utilização do tubo com a da célula-tronco.
A avaliação dos resultados é importante, para eu poder chegar aqui e
dizer que isso já é uma realidade. Na verdade tenho uma recuperação
motora, sensibilidade de função. E se eu comparar as duas séries, observem
que existe uma nítida superioridade da utilização do nervo mediano com
células-tronco, se eu comparar quando eu não possuía as células-tronco.
Então, houve uma superioridade de resultado, de função, motricidade e
sensibilidade. Esse é um resultado clínico da terapia com células-tronco. O
paciente tem uma recuperação funcional com uma lesão do nervo bastante
interessante, o que nos encoraja a fazer clinicamente isso.
Agora a calvície. A calvície vocês sabem que é um grande problema. Na
verdade, na calvície, temos a perda do folículo, e aí começamos a usar,
também, com fatores de crescimento. A terapia em calvície são folículos de
calvície que colocamos dentro do gel, e isso é colocado na região calva.
Então, fizemos um protocolo clínico sem fator de crescimento e sem
células-tronco e com células-tronco. Então aqui temos um exemplo. A
regeneração com célula e sem, e observamos que houve uma melhora em
torno de 20%. Essas duas terapias, clinicamente, já estão bem estabelecidas
e estão sendo publicadas à calvície e ao nervo periférico.
O que gosto mesmo é das perspectivas, pois na verdade se abre um
mundo a nossa frente. Como já tivemos muito estímulo a partir desses
resultados, começamos com a insuficiência renal, isquemia, osso. Esses
trabalhos todos estão iniciando, mas estes aqui, fundamentalmente, já
terminamos e estamos enviando para aprovação no Comitê de Ética.
Vejam bem, não sou um apologista do álcool, mas posso dizer que os
fígados com cirrose regeneraram de uma forma bastante impressionante.
46
Houve praticamente uma normalização das enzimas produzidas e depuradas
no fígado. Tivemos não só uma regeneração hepática macroscópica, mas
também uma regeneração microscópica. O mais importante é que houve
uma recuperação funcional desse fígado.
No último que terminamos, tivemos de criar um modelo experimental
em rato paraplégico. Foi uma coisa muito difícil. Levamos dois anos para
isso. Tínhamos de fazer com que se paralisassem as patas posteriores do
animal, verificar a eficácia e saber se esse trabalho poderia ser reproduzido
por outras pessoas. Também há algo que é quase novo nessa terapia: a
possibilidade de reinjetar célula-tronco no mesmo animal ou na mesma
pessoa.
Para isso, criamos um modelo. Dividimos o animal em três, pois essa
divisão nos proporciona ter um parâmetro de um centímetro distal à secção
da medula. Então se fez uma secção medular aberta, sem traumatizar.
Seccionamos a medula, porque essa era uma forma de verificar se o rato
continuava paralisado. Não queríamos somente traumatizar, porque alguns
poderiam recuperar-se.
Seccionamos a medula com um bisturi e colocamos um cateter – isso
nos permite fazer injeções seqüenciadas, semana a semana, de célula-
tronco. Acreditamos que essa terapia continuada poderia ter melhores
resultados. E foi o que comprovamos. Não precisaria sacrificar o animal:
simplesmente se faria uma injeção.
Levamos dois anos para fazer o modelo de um rato paraplégico. Na
verdade, é uma secção medular. Fazíamos um, dava paralisia pulmonar;
fazíamos outro, dava paralisia intestinal. Até criarmos o nível correto, foi
preciso muito tempo. O que expliquei rapidamente corresponde ao trabalho
de dois anos.
47
Três meses depois de iniciado o tratamento, o rato paraplégico já
começou a movimentar a pata dianteira. Ele não conseguia ainda caminhar,
mas, seis meses depois, passa a andar.
É lógico que esta é uma pesquisa experimental, uma pesquisa que
estamos tentando transpor para o ser humano. Estamos fazendo um
protocolo de pesquisa fundamentalmente para os casos agudos, ou seja,
para aquelas pessoas que sofrem um traumatismo, ou seja, que sofrem esse
tipo de acidente e tem paraplegia. Mas é no momento da operação, da
instrumentação pela ortopedia que deveríamos iniciar a terapia celular – e,
mesmo assim, deveríamos fazer terapia descontinuada, ou seja, fazer com
que ela possa se repetir gradativamente por um tempo que pode levar de três
a seis meses.
Quanto à especulação da perspectiva, penso que é válida, porque, na
verdade, é a partir daí que poderemos progredir para o ser humano.
O papel dos senhores, deputados, hoje é sumamente importante. Isso
não é choro de pesquisador. Precisamos é de recurso e apoio da
comunidade. Já disse isso várias vezes. No momento em que a sociedade se
mobilizar e pressionar para que tenhamos recursos, o resultado virá ao
encontro de suas demandas. Precisamos de recursos para centros que façam
esse tipo de pesquisa.
Estive num congresso em Portugal. Estava sentado ao lado de um
americano que tinha ganhado seis milhões de dólares e de um alemão que
tinha ganhado 12, e eles estavam chorando. Eu tinha ganhado 180 mil
reais, e a viagem foi paga com os meus recursos.
Se tivermos algum recurso para esse tipo de pesquisa, poderemos
evoluir para uma terapia celular com célula-tronco real, verdadeira e
48
bastante consciente, e isso vai voltar para a população, não tenho a menor
dúvida. Precisamos de recursos, só. Muito obrigado.
Dra. Karolyn Sassi Como estarei aqui brevemente, neste momento vou somente me
apresentar. Na verdade, sou ginecologista e trabalho com reprodução
humana há cinco ou seis anos. Vim porque queria muito conhecer o Dr.
Jefferson, cujos resultados das pesquisas já ouvi falar.
Quero aproveitar para expor o lado de quem trabalha com reprodução
humana e salientar que os recursos têm de ser focados no tipo de células-
tronco que tem dado resultado. Acho que o mais importante são as células-
tronco de medula óssea, de cordão umbilical ou de outras fontes menos
polêmicas.
Quem trabalha com reprodução humana sabe como é difícil o processo.
Para começar, na maioria das clínicas, congelam-se os embriões – os quais
se cogita utilizar para pesquisa – no terceiro dia de vida, e não na fase de
blastocisto. Toda a célula sofre com esse processo de congelamento e
descongelamento. A qualidade embrionária pós-descongelamento cai em pelo
menos 20%. O sucesso depende também da qualidade do embrião antes de
ser congelado. Se era um embrião bonito – o chamado grau quatro – no
momento do congelamento, ele tem uma chance relativamente boa de
implantação no útero de uma mulher. No descongelamento, quando se
transferem esses embriões para o útero, a chance de gravidez cai em pelo
menos 20%.
Muitas vezes, ao descongelam-se esses embriões, não sobra nada para
ser implantado na mulher, pela perda de qualidade. Portanto, sabemos como
49
é difícil conseguir embriões bons para serem implantados na mulher no pós-
congelamento, quanto mais conseguir levar esse embrião em cultura até a
fase de blastocisto.
Na verdade, cogita-se utilizar esses embriões para pesquisas, mas para
conseguir levá-los para blastocisto perdem-se muitos.
Dr. Jefferson Braga Silva
Desculpe-me interrompê-la. Gostaria de acrescentar que foi feita uma
lei no Brasil, mas não conversaram com as pessoas que lidam com os
embriões, não perguntaram a opinião que quem faz esse trabalho.
Dra. Karolyn Sassi Isso mesmo, não perguntaram se seria viável ou não.
Dr. Jefferson Braga Silva
Não é viável, não existe nada na literatura que demonstre que isso
funcione. Não estou puxando para o lado da medula óssea, muito menos do
cordão umbilical. Isso todo mundo sabia, não somos nós que estamos
dizendo, é só pesquisar na literatura médica, no Medline, e ver o que está
publicado.
Portanto, fizeram um auê maluco, mas dos 51 projetos do CNPq
constantes no último edital, 49 diziam respeito à medula óssea e cordão
umbilical. Esse edital foi lançado depois da lei. Não há nenhum pesquisador
no Brasil capaz ou em condições de fazer o procedimento a partir de célula
embrionária. Mas publicaram uma lei prevendo célula embrionária.
Li uma crônica na Folha de S. Paulo sobre essa matéria e pensei: estão
investindo, apostando as fichas no lugar errado. Deveriam, ao invés disso,
investir no cordão a na medula, áreas que o Brasil tem tecnologia – inclusive
50
está na frente em muitos casos, como em nervo periférico. O nervo periférico
é uma realidade nossa. Em Portugal todo mundo achou lindo, maravilhoso,
mas nos disseram que eles não têm isso lá, porque o paciente corta e é
reparado no outro dia. Portanto, desenvolvemos uma tecnologia para nós.
Deram-nos os parabéns, mas disseram que essa tecnologia vai ficar aqui, do
Equador para baixo. Mas não interessa. Já que criamos, vamos investir
nisso.
Dra. Karolyn Sassi Uma coisa muito grave, na minha opinião, foi levar a esperança a
pessoas com determinadas doenças, iludindo-as como se isso fosse resolver
o problema. Se começássemos a pesquisa com células embrionárias, não sei
se em 10 anos haveria resultados.
Dr. Jefferson Braga Silva
Foi publicada uma reportagem na Veja sobre esse tema. Fui convidado
para dar uma aula na USP e, por acaso, encontrei o paraplégico que
estampava a capa da revista. Na verdade, ele não mexe um milímetro, diz
apenas que tem um pouco mais de sensibilidade. Isso não é resultado!
Portanto, deram à população uma falsa esperança. Eu tenho 292
paraplégicos no meu banco, no consultório. E digo com toda a sinceridade:
não acredito no paraplégico crônico. Honestamente, acho que temos de
apostar as fichas no que se machuca hoje, no trauma agudo, porque é isso
que vai fazer com que tenhamos melhores condições, com que não haja
atrofia. Há várias vantagens. Temos de começar o nosso protocolo – que
espero que o comitê aprove no hospital, para depois mandarmos para a
51
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – Conep –, com a terapia do agudo,
na semana do trauma ou no máximo 10 dias depois dele.
Se conseguirmos obter algum resultado com esses casos, poderemos
expandir esse protocolo para três meses, seis meses, um ano do trauma. Não
sei até onde chegaremos, mas temos de começar pelo trauma agudo.
Deputado Paulo BrumNo meu caso, doutor, sou paraplégico há 28 anos. Vítima de um
acidente de carro, sofri lesão medular. É claro que, quando surgiu o estudo
das células-tronco, me tornei um outro homem. Quem é que não quer ter
uma vida saudável e de qualidade?
Confesso-lhe que sou esperançoso, mesmo com a minha idade
avançada – 47 anos. Só com essa perspectiva, vi-me renascendo. Alenta-me
a idéia de que, talvez, num futuro, seja possível não caminhar, mas ter uma
qualidade de vida melhor para o próprio organismo.
Para o paraplégico, no meu caso, ou para o próprio tetraplégico talvez o
fato de não poder caminhar já esteja superado. Refiro-me ao organismo em
si. Vivemos com metade do corpo. Que bom se as células-tronco pudessem,
de alguma maneira, melhorar essa qualidade do próprio organismo, mesmo
que não venha a caminhar. Bastaria que fossem dadas condições de
sensibilidade. É nisso que me apego, é com isso que me movo com
esperança. Sei que há milhares de brasileiros como eu.
Dra. Karolyn Sassi A esperança é saudável, mas temos de ter os pés no chão.
Dr. Jefferson Braga Silva
52
Aí que entra o papel do cientista. Deputado, creio que nós, que fazemos
pesquisa, não podemos tirar a esperança das pessoas, mas também não
podemos dar-lhes a falsa esperança, pois essa é a pior coisa que existe.
Estou falando de peito aberto, trazendo o que temos de real aqui. O que
o deputado me falou nunca ninguém havia me falado. Na verdade, a
expectativa que muitas vezes temos é de fazer andar, mas não é isso que
muitos querem. Existe, portanto, uma grande diferença.
Pode ser que isso seja mais fácil de ser conseguido. Não estou lhe dando
falsas esperanças, deputado, mas pode ser que seja mais fácil. E aí até no
crônico. Tenho a visão de fazer a pessoa caminhar. Essa é a minha
preocupação e, por isso, foquei o meu esforço para o agudo. Por isso foco
para o agudo. Mas se formos ver essa sua necessidade, o crônico, por que
não?
06/abr/2006
Investigação da distribuição das células-tronco mesenquimais in vivo.
53
Mestre Lindolfo da Silva Meirelles Luiz Avila/AL
Palestrante: Lindolfo da Silva Meirelles — biólogo, mestre em Genética e
Biologia Molecular, pela UFRGS, e doutorando no Programa de Pós-
Graduação em Genética e Biologia Molecular da UFRGS.
Convidados: Dra. Nance Beyer Nardi, representante do vice-reitor da UFRGS,
Sr. Pedro Fonseca, é colaboradora convidada do Departamento de
Imunogenética da UFRGS e professora do Programa de Pós-Graduação em
54
Genética e Biologia Molecular; Dr. César Augusto Zen Vasconcellos, pró-
reitor de Pesquisa da UFRGS.
Mestre Lindolfo da Silva Meirelles
Nesta palestra sobre a Investigação da Distribuição das Células-Tronco
Mesenquimal in vivo, vou apresentar alguns aspectos da biologia da célula-
tronco mesenquimal, que é o que eu procuro investigar enquanto
pesquisador. Não se assustem com esse título.
O que é uma célula-tronco? É uma célula capaz de auto-renovação e de
geração de outros tipos celulares em estágio mais avançado de diferenciação.
Se a gente for tentar trocar em miúdos, é uma célula que é capaz de
proliferar e diferenciar. Naquilo que a gente quiser? Talvez. Mas na vida dela
o papel dela é proliferar e diferenciar em alguma coisa.
É importante definir que existem diferentes células-tronco, e essas
diferenças podem ser categorizadas. Existem as células-tronco embrionárias,
as células-tronco fetais e as células-tronco adultas. No caso, aqui, as fetais
são mais relacionadas com as células-tronco adultas.
Não vou abordar em maior profundidade o tema célula-tronco
embrionária porque eu trabalho com células-tronco adultas e acredito que o
potencial das células-tronco adultas é muito grande, talvez tão grande
quanto a outras células embrionárias e talvez até maior, se considerarmos
outros aspectos.
Mas, enfim, as células-tronco embrionárias são totipotentes ou
pluripotentes, ou seja, podem dar origem a todos os tecidos de um
organismo vivo, inclusive a placenta, se forem totipotentes; ou podem dar
origem a todos os tecidos de um organismo, e não à placenta, se forem
55
pluripotentes. Elas têm vários problemas éticos associados sobre os quais
não entrarei em detalhe aqui porque esse é um tema que merece uma
discussão apropriada.
As células-tronco pós-natais ou adultas são em geral multi ou
pluripotentes. E como exemplos cito a célula-tronco hematopoiética, que
está na medula óssea; a célula-tronco neural, que está no cérebro; a
epitelial, que está nos epitélios e nas criptas epiteliais; a mesenquimal, que
está na medula óssea e em outros tecidos – é dessa mesenquimal que falarei
aqui –; e uma outra célula, que trouxe como exemplo também, que se
localiza na medula óssea, nos músculos e cérebro, que foi chamada de célula
progenitora adulta multipotente.
Entrando mais detalhadamente nas fontes de células-tronco temos que
a medula óssea é uma fonte acessível e rica de células-tronco para terapias
ou mesmo para pesquisa.
Na medula óssea existem pelo menos dois tipos de células-tronco
diferentes: uma, que já é conhecida há algum tempo, é a tronco
hematopoiética, que vai dar origem a todas as células sangüíneas; a outra,
que está sendo mais explorada recentemente, é a célula-tronco
mesenquimal, que pode dar origem a tecidos mesenquimais, como diz seu
nome, que são aqueles como ossos, cartilagens, tecido adiposo, estroma da
medula óssea.
Temos a célula-tronco mesenquimal no topo da hierarquia. Através de
estímulos do ambiente durante sua proliferação, ela irá assumir vias de
diferenciação que vão, em última análise, originar ossos, cartilagem,
músculo, estroma da medula óssea, tendão e ligamento, tecido adiposo e
ainda células dérmicas e outros tipos de células. Nos outros tipos de células
56
reside uma característica muito importante dessa célula que abordarei logo
em seguida.
Como trabalhamos com essa célula no laboratório?
O que faço é pesquisa básica, porque pesquisa básica é o fundamento
para que haja pesquisa aplicada. Conhecimento é poder. Só conseguimos
controlar aquilo que queremos controlar se temos conhecimento acerca
daquilo.
Trabalho basicamente com células-tronco mesenquimais da medula
óssea de camundongos em laboratório. Na caracterização da célula-tronco
mesenquimal, há um aspecto muito atraente, especialmente do ponto de
vista do potencial de aplicação clínica dessas células. Elas têm uma
plasticidade muito grande, e aqui estou trazendo dados da literatura que
mostram que essas células podem se diferenciar em células neurais. E fora
isso elas também podem gerar células da glia, que também são células
neurais, mas não são neurônios.
Além disso, elas podem ser induzidas e diferenciadas em células
secretoras de insulina, que são semelhantes às células beta do pâncreas,
formando esses aglomerados que estão secretando insulina. Isso é algo
muito interessante porque neurônio é um tipo de célula hectodérmica e
célula secretora de insulina é um tipo de célula endodérmica, o que quer
dizer que, em última análise, a célula-tronco mesenquimal não é
simplesmente mesenquimal, mas na verdade uma célula pluripotente,
porque pode dar origem às células dos três folhetos embrionários. Quer dizer
que essa nomenclatura aqui provavelmente está inadequada. Eu acredito
que está inadequada.
Sumarizando as características da célula-tronco mesenquimal, ela pode
ser obtida da medula óssea, portanto pode ser obtida por um procedimento
57
não muito invasivo; pode ser cultivada em estado indiferenciado com uma
metodologia relativamente simples, apesar de que acredito que essa
característica é mais importante para a pesquisarmos e não para a
aplicarmos.
Não acredito que devamos investir todas as nossas fichas na
proliferação, na expansão das células in vitro antes da aplicação, porque
existem problemas genéticos que podem ocorrer devido ao cultivo in vitro.
Mas essa característica é muito importante para que possamos estudá-la,
conhecê-la e futuramente isolá-la ao lado da medula óssea ou de qualquer
outro local do organismo onde ela esteja.
Outra característica muito importante dessas células é que se eu
infundi-las, se eu colocá-las na corrente sangüínea de um paciente, elas irão
se distribuir por todo o organismo do paciente e ficarão lá por algum tempo e
contribuirão para os tecidos onde elas forem parar. Isso é algo importante.
Existem outras características que não cito aqui numa tentativa de
simplificar o conteúdo.
A pergunta que fiz a mim mesmo em certo momento da minha pesquisa
com células-tronco mesenquimais foi a seguinte – e aqui começo a abordar o
tema que trouxe para mostrar: a célula-tronco mesenquimal existe em
outros órgãos que não a medula óssea?
A resposta que encontrei para essa pergunta foi que talvez sim, porque
a literatura trazia evidências de que essas células existem em outros tecidos
em diferentes estágios do desenvolvimento. No estágio pós-natal, após o
nosso nascimento, encontram-se células com características de célula-
tronco mesenquimal no tecido adiposo, também no tendão, na membrana
cenovial, e alguns autores afirmam que também no sangue periférico.
58
No estágio de vida fetal, intra-uterina, existem células com
característica de tronco mesenquimal no pâncreas, na medula óssea, no
fígado, no sangue e no sangue do cordão umbilical, que já é considerado
uma interface fetal e pós-natal. Vejam, então, que parece existir uma
distribuição bastante grande, mas só teríamos certeza disso para o período
de vida fetal.
A pergunta que passei a fazer em seguida foi: a célula-tronco
mesenquimal existe em outros órgãos, que não a medula óssea, e nos outros
locais já descritos no período pós-natal. Ou seja, em nós, adultos, existe
célula-tronco mesenquimal por todo o corpo?
Entro aqui no trabalho que foi aceito para publicação no Journal of Cell
Science, que são os resultados parciais do meu doutorado. A resposta que
obtive foi de que elas existem virtualmente em todos os órgãos e tecidos pós-
natais. Isso tem várias conseqüências não apenas para aplicação clínica,
mas para outros procedimentos, sejam clínicos ou farmacológicos de
cuidado com a saúde humana.
A primeira pergunta prática que se faz quando se quer iniciar um
trabalho desses é: como vou saber em que locais a célula-tronco
mesenquimal existe?
Existem metodologias que permitem a análise de portes histológicos em
microscópio, mas até hoje não conhecemos nenhum marcador definitivo
para célula-tronco mesenquimal. Então, posso pegar uma lâmina e enxergar
várias células e não ser capaz de identificar qual delas é a tronco
mesenquimal, mesmo conhecendo vários marcadores que estão relacionados
com célula-tronco mesenquimal.
Outra abordagem que se faz quando se estuda célula-tronco
mesenquimal é o isolamento de células candidatas a tronco mesenquimal da
59
medula óssea frescas ou, ainda, a utilização de linhagens celulares com
característica de tronco mesenquimal, fazer uma infusão intravenosa em
animais – e aqui está representado num camundongo – e depois analisar
vários órgãos desses animais, porque as células infundidas têm algum tipo
de marcação que permite que as enxerguemos posteriormente. Mas essa
abordagem somente demonstra aquela característica que falei
anteriormente, que é a capacidade enxertia dessas células. Em última
análise, essa abordagem só vai mostrar a distribuição de células-tronco
mesenquimais infundidas, mas não sua distribuição natural no organismo.
Proponho como metodologia alternativa, uma vez que temos métodos
para estabelecimento e caracterização de células-tronco mesenquimais da
medula óssea de camundongo, o estabelecimento e caracterização de
culturas de células-tronco mesenquimais derivadas de diversos órgãos e
tecidos. Essa seria uma abordagem alternativa, e foi isso que eu fiz.
Então, a resposta à minha pergunta inicial é sim. A célula-tronco
mesenquimal existe em outros órgãos e tecidos, que não a medula óssea, no
período pós-natal. Os órgãos que investiguei foram cérebro, pulmão, timo,
baço, músculo esquelético, fígado, pâncreas e rim.
A pergunta que me fiz, então, foi: o que explicaria a presença da célula-
tronco mesenquimal em todos os órgãos? Será que é uma célula que está
presente na verdade no sangue circulante e, por isso, a enxergo em todos os
órgãos que extraio e faço a cultura?
A resposta para essa pergunta é não, porque quando aplico um
procedimento que retira todo o sangue do animal, coleto o órgão e faço a
cultura, consigo estabelecer a cultura. Quando coleto o sangue desse animal
de maneira adequada e submeto ao mesmo processo de cultivo dos órgãos,
não consigo estabelecer nenhuma cultura. Então, a presença dessas células
60
no sangue pode contradizer alguns dados da literatura. Mas com a minha
metodologia não foi possível encontrá-las no sangue.
Então, fica a pergunta novamente: o que explicaria a presença da
célula-tronco mesenquimal em todos os órgãos? Permaneço com essa
pergunta.
Procurei na literatura e encontrei dados a respeito de uma célula que é
chamada de perecito e situa-se abraçando as células endoteliais dos vasos.
Existem dados na literatura que mostram que o perecito é capaz de
depositar matriz mineralizada in vitro, ou seja, capaz de diferenciação
osteogênica e capaz de diferenciar-se em tecido cartilaginoso e tecido
adiposo. Outras evidências da literatura científica indicam que existe uma
sobreposição da identidade da célula-tronco mesenquimal com uma célula
que já era descrita anteriormente, que é o perecito.
A célula-tronco mesenquimal e o perecito são duas faces da mesma
moeda? Provavelmente sim.
Quando fui estabelecer culturas a partir da artéria aorta ou da veia cava
desses animais, obtive culturas semelhantes às demais. E todas as culturas
apresentavam marcador, que é de perecito, de células perivasculares.
Em última análise, existe uma unidade anatômica que faz a filtração do
sangue, produzindo a urina. Essa unidade é chamada glomero. Dentro do
glomero há uma rede de capilares, em que o único tipo de célula é endotelial
que compõe vaso, células especializadas que ajudam a manter a integridade
física dessas células e outros tipos de células que são chamadas mesangiais.
Então, se é verdade que a célula-tronco mesenquimal está associada a
vasos, o cultivo dessa porção isolada deve permitir a obtenção de células-
tronco mesenquimais.
61
E isso foi possível quando aquela unidade isolada foi colocada em
cultura. Após três ou quatro dias, já há explantes de células com
características morfológicas semelhantes às células-tronco mesenquimais
que conhecíamos.
Com isso, propusemos um modelo, em que a identidade da célula-
tronco mesenquimal se sobrepõe com a do perecito, e, conseqüentemente, as
células-tronco mesenquimais se distribuem por todo o organismo, ocupando
um nicho perivascular. Esses perecitos ou células-tronco mesenquimais –
chamem como queiram – podem atuar como progenitores para os tecidos a
que pertencem, seja em condições fisiológicas ou em situação de lesão
tecidual.
As conseqüências desse modelo são importantes, portanto, para que
tenhamos uma compreensão mais unificada não só de célula-troco
mesenquimal, mas de todo o quadro de células-tronco existentes no
organismo adulto. Será que muitas células-tronco tidas como tecido-
específicas não seriam na verdade outras faces desse mesmo tipo de células?
Outra conseqüência seria o fato de que, quando administramos
medicamentos por via intravenosa ou por via oral, será que eles não
produzirão algum tipo de alteração nessa parte do nicho das células,
resultando em algum problema nos tecidos?
Isso também quer dizer que a nossa saúde vascular, que todos sabemos
ser importante, é mais importante ainda do que se pensava. Quer dizer que
a saúde dos nossos vasos determinará, em última análise, a saúde dos
tecidos e a nossa saúde como um todo.
Antes de encerrar, eu gostaria de agradecer o apoio financeiro obtido
para a realização deste trabalho, que só foi possível porque houve
financiamento da Fapergs e do CNPq. Ressalto aqui a importância das
62
agências de fomento estaduais para o financiamento de pesquisa básica e
aplicada, porque – como já disse – não existe pesquisa aplicada se não
houver pesquisa básica, em especial uma agência financiadora do Estado do
Rio Grande do Sul que possa permitir o estabelecimento de competência
neste Estado, na área de biologia celular, para que possamos ser um centro
de convergências para terapias no futuro.
Também gostaria de ressaltar que sou bolsista de doutorado pelo CNPq,
cujas verbas permitem que eu continue desenvolvendo esta pesquisa.
Agradeço a todos os presentes.
Dra. Nance Beyer Nardi
Agradeço pelo convite que foi feito à universidade. A UFRGS tem
atualmente vários grupos trabalhando com células-tronco, os quais foram
beneficiados nesse edital do CNPq. O nosso é talvez o mais antigo.
Pessoalmente, comecei a trabalhar com célula-tronco antes de ela entrar na
moda. Então, foi uma situação muito interessante acompanhar todo esse
desenvolvimento que vem acontecendo, nos últimos cinco ou seis anos, já
estando no campo.
A discussão está sendo muito interessante. Esta comissão está, sem
dúvida alguma, desenvolvendo um papel bastante importante na discussão
desses assuntos. As próprias perguntas de vocês já mostram que apesar de
não serem da área, como dizem, já conhecem o assunto, já sabem do que
estão falando. São muito interessantes as questões abordadas.
Gostaria de fazer duas observações gerais com relação à discussão que
se está estabelecendo. A primeira diz respeito à sobrevida ou sobrevivências
das células que derivam das células-tronco. Esse é um conceito importante,
63
porque achamos que as células-tronco são uma coisa à parte no nosso
organismo, quando na verdade o nosso organismo, para que vivamos
dezenas de anos, depende das células-tronco que temos.
Nada do que há hoje em pessoas com mais de 20 anos, por exemplo,
deriva de algo que não seja células-tronco. Talvez uma exceção seja o
sistema nervoso central, pois os neurônios são células que têm vida muito
longa. Antes acreditávamos que nascíamos e morríamos com os mesmos
neurônios, mas hoje sabemos que não, que vários vão morrendo e sendo
repostos ao longo da nossa vida.
Portanto, o nosso organismo todo vai mudando ao longo do tempo.
Entre os tecidos que mudam muito rapidamente estão, por exemplo, as
células do sangue, que se repõem aos milhões a cada hora – todos vamos
sair desta palestra com milhões de novas células sangüíneas, e milhões
evidentemente vão morrer nesse período –, e as células da pele,
principalmente no verão. Aquela pele descascando são células que morreram
e foram repostas.
Assim como a pele e o sangue, todos os nossos outros tecidos são
repostos ao longo da nossa vida. Em média, de uma forma muito grosseira,
dizemos que a cada sete anos somos novas pessoas. Alguns tecidos mudam
mais rapidamente, outros mais lentamente, isso tudo por causa das células-
tronco. Quer dizer, elas estão repondo as células que nos compõem.
Quando numa intervenção médica as células-tronco são usadas para
regenerar uma lesão, a célula que se origina dela é a mesma que se
originaria em situações normais, só estamos dando uma mãozinha para a
natureza. Então, não há nada de diferente com relação ao produto que vem
da célula-tronco adulta.
64
O segundo ponto que quero observar diz respeito à questão
fundamental da aplicação clínica das células-tronco. Não é o momento,
claro, de se fazer a comparação – que vocês já acompanharam – entre célula-
tronco embrionária e célula-tronco adulta. Gostaria de reforçar, entretanto,
que nenhum dos muitos e muitos ensaios clínicos que estão sendo feitos no
mundo todo hoje usam célula-tronco embrionária. Como o Lindolfo disse, ela
ainda é muito perigosa, nós não a conhecemos suficientemente. Todos,
100% dos ensaios clínicos, usam células-tronco adultas ou, em algumas
exceções, célula-tronco fetal, em um ou outro ensaio. Mas célula-tronco
embrionária, nenhum.
O que temos de real com relação a isso? Muito pouco, porque a imensa
maioria dos estudos usa nove, 10, 20 pacientes, sem um controle adequado.
E todos sabemos que o termo célula-tronco hoje é quase mágico. Se
dissermos para um paciente que ele está sendo tratado com célula-tronco,
apenas isso já causa um impacto psicológico que sabemos ser importante na
cura de uma doença.
Alguns estudos estão começando a ser feitos no mundo. Por iniciativa
do governo, está sendo desenvolvido o Estudo Multicêntrico Randomizado de
Terapia Celular em Cardiopatias – EMRTCC –, coordenado pelo Instituto do
Coração de Laranjeiras, no Rio de janeiro.
Nesse estudo, 1.200 pacientes – vejam, não são apenas nove, 10, 20
pacientes – serão estudados por um grupo de instituições no Brasil. Desses
1.200 pacientes, 600 vão receber célula-tronco, 600, não. O paciente não
sabe que está recebendo, o médico também não, alguém certamente sabe.
Isso é o que chamamos de estudo duplo cego, o chamado efeito placebo não
vai estar atuando nesse caso.
65
Esse tipo de estudo é que vai demonstrar se realmente as células-tronco
funcionam ou não. Até hoje temos muita expectativa, verificamos que está
funcionando, mas não existe uma análise criteriosa, cientificamente falando,
para termos certeza disso.
Certamente, algumas áreas serão mais fáceis de serem reparadas com
células-tronco do que outras, isso é intuitivo. Para refazermos o tecido ósseo
precisamos de só um tipo de célula praticamente, é necessário preencher
uma cavidade. É muito mais fácil do que constituir o tecido cardíaco, que é
formado de células especializadas. Também é muito mais fácil, infelizmente,
do que compor o tecido nervoso, onde há vários tipos de neurônios
interagindo de maneira exata.
Na área de reparo de lesão nervosa, certamente será mais difícil de
conseguirmos aplicar as células-tronco, mas a quantidade de estudos
realizados no mundo todo, está fazendo o assunto avançar de uma maneira
bastante rápida.
Essas células, com as quais o doutorando Lindolfo Meirelles trabalha,
também estão sendo aplicadas em modelos animais para vários tipos de
doença. Em colaboração, formou-se uma rede em Porto Alegre, em São Paulo
e nos outros Estados para os quais mandamos as células também.
Estamos aplicando essas células em camundongos ou ratos para tratar
diabete, doenças cardíacas, reparo de nervo periférico, reparo de lesão óssea
e de doenças do sistema nervoso central, como mal de Parkinson e de
Alzheimer. Acredito que esse tipo de estudo avance muito rapidamente.
Dr. César Augusto Zen Vasconcellos
66
Gostaria de cumprimentar o deputado Paulo Brum, presidente da
Comissão; o deputado José Sperotto; a professora Nance Nardi,
pesquisadora da área; o mestre Lindolfo Meirelles, que brevemente concluirá
seu doutorado; e os presentes.
É uma satisfação podermos contar com pessoas tão brilhantes, como a
professora Nanci Nardi, que é uma batalhadora da área, conhecida,
renomada e que tem uma força de vontade, uma liderança e um carisma
extraordinários. Sentimo-nos extremamente recompensados por contarmos
pessoas tão competentes.
Agradecemos, evidentemente, à Comissão por prestigiar a UFRGS. A
universidade pertence a toda a população do Estado e do País.
Com muito contentamento, professora Nanci Nardi, registramos que a
UFRGS, na última avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior – Capes – a grande avaliação das instituições do País – a
UFRGS ficou em primeiro lugar entre as instituições federais de ensino
superior. Ficamos orgulhosos, pois existem 52 universidades no País – mais
as seis que o presidente da República está criando neste momento – e
conseguimos atingir esse status. Disputávamos com Minas Gerais e Rio de
Janeiro e, por pouco, passamos para o primeiro lugar.
Isso atesta a excelência acadêmica da pesquisa realizada na UFRGS e
comprova a potencialidade que a universidade tem de influir em processos,
em desenvolvimento cientifico e tecnológico e de participar de um programa
tão importante que visa fundamentalmente ao bem-estar da população, sua
melhor qualidade de vida e somos, evidentemente, parceiros da Assembléia
Legislativa nessas iniciativas, agradecendo, novamente, pela atenção e a
oportunidade de poder usar a palavra.
67
24/abr/2006
Células-tronco e transplantes de medula óssea
Dr. Luis Carlos Moreira Antunes (E) ao lado do deputado Paulo Brum
Mauro Schaefer/AL
68
Palestrante: Luis Carlos Moreira Antunes — médico oncologista do Centro de
Transplante de Medula Óssea do Hospital Universitário de Santa Maria, para
tratar de e transplante de medula óssea.
Convidados: Sérgio Nunes Pereira — médico cirurgião, coordenador de
Pesquisa, Ensino e Extensão do Hospital Universitário de Santa Maria, que,
neste ato, está representando a Dra. Elaine Resener, diretora do hospital, e o
Dr. Larry Argenta, diretor clínico do Hospital Universitário de Santa Maria;
Dra. Leris Bonfanti Haeffner, coordenadora do curso de Medicina da
Universidade de Santa Maria; Dr. Ney Luis Pippi, coordenador de pós-
graduação da Medicina Veterinária; Dr. Alceu Gaspar Raiser, professor do
curso de Medicina Veterinária; Dr. Alexandre Mazzanti, professor do curso
de Medicina Veterinária.
Luis Carlos Moreira Antunes
Primeiramente, agradeço, em nome do Serviço de Hemato-oncologia do
Hospital Universitário, à Comissão Especial das Células-tronco da
Assembléia Legislativa pelo convite para participar deste ciclo de palestras.
No final do ano de 2004 e início de 2005, quando houve repercussão na
imprensa a respeito do uso de células-tronco embrionária, do uso de células-
tronco para trauma raquimedular e a questão da biossegurança, os
pacientes com leucemia, com linfomas, perguntavam se, ao invés da
quimioterapia, poderiam usar célula-tronco.
69
Na verdade, a célula-tronco no tratamento de linfoma e leucemia é a
forma mais consolidada de uso terapêutico. O transplante de medula óssea
nada mais é do que o uso terapêutico da célula-tronco. Abordarei essas
questões no início da minha apresentação e, depois, mostrarei alguns dados
sobre transplantes, tentando esclarecer dúvidas.
Conceito de célula-tronco: é caracterizada pela capacidade prolongada
de auto-renovação e diferenciação em pelo menos um tipo celular maduro.
Elas são classificadas de acordo com o tecido de origem, a espécie e o
potencial de diferenciação. As principais fontes de células-tronco são as
embrionárias e as adultas de medula óssea, de sangue periférico, de cordão
e placenta. Essas são as fontes usadas para tratamento. Hoje sabe-se que
existem nichos em órgãos adultos de células-tronco, mas a obtenção de
células-tronco nesses locais é muito restrita.
Com o estudo das células-tronco, novos conceitos, novas questões
foram levantadas. Hoje fala-se em transdiferenciação, que é a diferenciação
de um tipo de célula-tronco em outro. Antes, havia o paradigma de que uma
célula-tronco da medula só iria produzir células hematopoiéticas, mas hoje
se sabe que não é bem assim. Há plasticidade evolutiva, há multiplicidade
das opções de diferenciação. Sabe-se que uma célula da medula óssea pode
dar origem a outros tecidos. Isso foi visto em biópsias de estômago, de tecido
cardíaco de pacientes que haviam sido submetidos a transplante de medula
óssea, nos quais foram encontradas células do doador.
Portanto, a medula óssea possui um tipo de célula-tronco capaz de
gerar todas as linhagens teciduais ou existem múltiplos tipos de célula-
tronco na medula e cada uma estaria comprometida com um grupo
específico de tecido? Essa era a pergunta.
70
Na verdade, sabe-se que se classificam, de forma didática, pelo menos
três tipos de células-tronco na medula: as células-tronco hematopoiéticas,
que estão condicionadas a produzir células do sangue – leucócitos,
plaquetas, hemácias –; as células estromais, que irão se diferenciar em
ossos, cartilagens; e as células progenitoras adultas multipotentes, que
seriam células mais imaturas, com uma capacidade de diferenciação maior.
As células-tronco embrionárias podem se diferenciar em três linhagens
– endoderme, mesoderme e ectoderme. Da mesoderme, origina-se a célula-
tronco progenitora hematopoiética, quanto à qual hoje se sabe que, além de
dar origem às células da medula e do sangue periférico, pode se diferenciar
em células epiteliais do fígado, do pulmão e do trato gastrointestinal, além
de ser precursora de neurônios e células nervosas.
Como explicar essa plasticidade, essa capacidade de se diferenciar em
tecidos totalmente diferentes? Há várias teorias. O que se tinha inicialmente
era uma célula-tronco dando origem a uma célula de determinado tecido e,
nesse caso do tecido hematopoiético, dando origem às células do sangue
periférico. Ou essa célula-tronco daria origem a uma célula de outro tecido.
Novos conceitos surgiram, inclusive uma especulação de que a célula-
tronco hematopoiética poderia regredir para uma forma mais imatura, que
daria origem a uma célula-tronco de outro tecido. Ou uma célula-tronco
hematopoiética poderia dar origem a células do tecido hematopoiético – da
medula e do sangue periférico – ou dar origem a células de outros tecidos. E
aqui entra a aplicabilidade da célula-tronco da medula em revascularização
miocárdica, em trauma raquimedular, enfim. A maioria das pesquisas hoje
realizadas com célula-tronco para reparação de outros tecidos usa como
fonte a medula óssea.
71
O outro conceito seria o de fusão: a célula-tronco hematopoiética iria
migrar para o órgão lesado, onde se fusionaria com outras células do órgão,
dando origem às células-tronco específicas do tecido, reparando os danos no
fígado, ou na medula espinhal, ou no tecido cardíaco.
Há o conceito de que existiriam vários tipos de célula-tronco, cada um
dando origem a um tipo de tecido específico. Outro conceito é de que uma
mesma célula-tronco poderia dar origem às células-tronco mais específicas
de cada órgão. A transdiferenciação é uma só célula-tronco dando origem a
tecidos diferentes, ou seja, não passa por essa fase de uma célula-tronco
intermediária.
Há, também, a dediferenciação, que é uma regressão a uma forma mais
imatura a partir de células somáticas para uma célula-tronco que poderia
dar origem a mais de um tipo de linhagem celular.
Conceitos antigos que se tinha, de que alguns tecidos, como o cérebro,
não teriam a capacidade de se renovar, caíram por terra. Sabe-se que há
células-tronco inclusive no sistema nervoso central.
Outra descoberta que foi feita é a semelhança que algumas células-
tronco apresentam nos tecidos adultos com as células-tronco embrionárias.
Isso já foi citado, ou seja, a questão de se ocorre uma fusão celular ou
apenas ocorre uma mudança na capacidade da célula-tronco daquele tecido
de se diferenciar em outro tecido.
No transplante cardíaco, células endoteliais originadas de células
estromais da medula foram encontradas no coração do receptor, ou seja, foi
feito um transplante cardíaco, o órgão foi biopsiado e foram encontradas
células da medula do receptor, o que significa que células da medula
migraram para o coração para ajudar na sua recuperação.
72
As células-tronco dependem de fatores de crescimento, citocinas, ou
seja, dependem do microambiente para onde migram para se diferenciar
naquele determinado tecido.
O conceito mais recente das células-tronco teciduais indica que hoje
existem células-tronco em determinados nichos de vários órgãos. No trato
gastrointestinal, essas células são encontradas nas glândulas estomacais,
nas criptas do cólon, na área do bulbo dos folículos pilosos, no limbo da
córnea, no sistema nervoso central – no bulbo olfatório e no giro denteado de
hipocampo.
Essas células ovais são as células-tronco do fígado. Isso não está bem
definido, ou seja, ainda é objeto de debate se, quando ocorre uma injúria,
por exemplo, no transplante de medula óssea, pode ocorrer a doença do
enxerto contra o hospedeiro, o que pode causar uma lesão hepática. Não se
sabe se as células-tronco da medula migram para aquele local para
restaurar essa injúria, ou se isso é feito pelas células-tronco ovais do fígado,
ou se as duas formas de reparação ocorrem simultaneamente.
O mesmo se especula quanto à pele ou quanto ao intestino.
Outros nichos de células-tronco situam-se no fígado e nas vias biliares –
são as células ovais. No músculo esquelético, existem as células-satélite
abaixo da lâmina basal do miócito e, no pulmão, as células claras dando
origem ao epitélio das vias aéreas e os pneumócitos tipo II dando origem aos
alvéolos.
Os pneumócitos tipo II são células-tronco mais características do
pulmão, porque, além de se renovarem em novos pneumócitos tipo II, elas se
diferenciam também em pneumócitos tipo I, o que corresponde àquele
conceito de célula-tronco com capacidade de auto-renovação e de
diferenciação.
73
Aplicações clínicas potenciais para célula-tronco hematopoiética. No
infarto agudo do miocárdio, há vários estudos. As principais fontes de
células-tronco nesses estudos foram de medula óssea ou sangue periférico.
A via de administração foi ou endovenosa ou diretamente intracardíaco ou
coronariana.
A resposta, nesses vários estudos, foi uma redução da área de necrose e
mortalidade, melhor hemodinâmica, aumento na fração de injeção e
perfusão miocárdica, estímulo da neovascularização e angiogênese.
Vários estudos questionam também se há ação dessa célula-tronco na
lesão, na isquemia miocárdica, ou se é a presença dessas células que
renovariam o tecido endomiocárdico ou, ainda, a presença delas estimularia
a liberação de ocitocinas – até de fator de estimulação de glanulócitos –, e
isso faria com que migrassem células ou células do tecido se diferenciassem,
remodelando assim o tecido no miocárdio. Não está bem definido.
Nas doenças neurodegenerativas, a principal fonte também foi a medula
óssea. Administração endovenosa ou intraperitonial. A resposta foi a geração
de células com marcadores neuronais e possível formação de células.
Outra aplicação seria na trombose da artéria cerebral média. A fonte
desse estudo foi de cordão umbilical. A via de administração foi endovenosa.
A resposta foi uma melhor recuperação do déficit neurológico.
Na retinopatia isquêmica, a fonte de célula-tronco também foi a medula
óssea, a via de administração foi intravítrea e a resposta foi o aumento da
angiogênese na retina.
Na distrofia muscular, a fonte de célula-tronco também foi a medula
óssea, a via de administração foi endovenosa e houve reparação parcial do
músculo afetado.
74
Na cirrose hepática, a fonte foi medula ou célula-tronco periférica, a via
foi endovenosa e a resposta foi a resolução da fibrose hepática e inibição da
filogênese e apoptose.
A primeira instituição a utilizar célula-tronco da medula para o
tratamento de cirrose foi o Instituto Oswaldo Cruz, de Salvador.
Nos casos de hepatite B ou C, também foram utilizadas a mesma fonte e
a mesma via de administração e houve importante redução da viremia.
Quanto a aplicações clínicas, na doença pulmonar com extensivo dano
alveolar, a fonte de célula-tronco é hematopoiética, a via é endovenosa e a
resposta é a geração de pneumócitos tipo II.
Falando mais especificamente de medula óssea, seu transplante utiliza
célula-tronco, e a forma de transplante é autogênica, em que coletamos
células-tronco do sangue periférico e administramos através de um cateter
central. Esse procedimento é realizado no Hospital Universitário. Há também
o alogênico, que advém de um doador que pode ser aparentado – quando o
doador é algum familiar que seja compatível – ou não-aparentado.
O singênico é quando o transplante ocorre entre irmãos gêmeos, e seu
mecanismo é semelhante ao autogênico.
Aqui utilizamos o autogênico e o alogênico aparentado, e foi realizado
um transplante singênico. O não-aparentado ainda não estamos realizando.
E há também o minitransplante, cuja diferença seria o regime de
condicionamento.
Com o transplante de medula, conseguimos fazer uma quimioterapia
que é de seis a 10 vezes mais intensa do que a quimioterapia habitualmente
usada, só que, ao fazer essa quimioterapia, acabamos com a medula óssea
do paciente. Portanto, precisamos de medula óssea para repor. Esse novo
75
conceito de minitransplante seria com um esquema de quimioterapia não
tão destrutivo.
A lista de patologias com indicação para transplante de medula óssea é
enorme.
O uso de célula-tronco para doenças hematológicas não é novo. Já é
utilizado há décadas. Até o final da década de 90, realizaram-se no mundo
em torno de 15, 16 mil transplantes alogênicos, que se consolidaram no final
da década de 60, e quase 40 mil transplantes autólogos, que se
consolidaram no final da década de 70.
Em relação à compatibilidade, não há problemas no transplante
autólogo, no qual o paciente recebe células-tronco da própria medula. Já no
transplante alogênico é necessária compatibilidade. Parte desse exame é
realizada aqui no Hospital Universitário, e a outra parte é encaminhada a
Curitiba. Em breve estaremos realizando toda essa avaliação aqui na
universidade.
A chance de compatibilidade entre irmãos é, em média, falando
grosseiramente, uma em quatro.
A célula-tronco que coletamos da medula óssea do paciente vai-se
diferenciar nas células hematopoiéticas.
Outras fontes de célula-tronco bastante comentadas atualmente, e que
cada vez vêm tendo mais uso, são o cordão umbilical e a placenta. As
vantagens é que não há risco para a mãe e para o feto, porque esse material
seria descartado. Além disso, pode ser estocado em freezer por vários anos e
há uma menor exigência de compatibilidade entre o sangue do cordão e do
receptor. Esbarra, entretanto, em alguns problemas. A quantidade não é
muito grande, servindo, então, apenas para o tratamento de crianças e de
adultos de tamanho pequeno ou médio.
76
São realizados de cinco a seis mil transplantes de células-tronco de
cordão umbilical e placenta no mundo. Um terço desses transplantes é
realizado em adultos e dois terços, em pacientes com leucemia; e um quarto
em pacientes com doenças genéticas.
Em 2004, foram realizados dois mil transplantes, dos quais 600 nos
Estados Unidos e 800 no Japão.
A questão dos bancos privados é discutível. Há pesquisadores que são
favoráveis e outros contrários. De um banco da Califórnia, com 250 mil
cordões umbilicais estocados, foram utilizados apenas 34. Claro que para as
34 pessoas que utilizaram foi importante, mas existem outras questões em
relação ao banco privado. No tratamento de algumas doenças na infância, o
ideal é usar célula-tronco de doador para haver a doença do enxerto contra o
hospedeiro e a doença do enxerto contra a leucemia, para haver essa forma
de tratamento imunológico. No transplante de cordão, se a criança usar o
cordão que era proveniente dela mesma, vai ser como se fosse um
transplante autólogo, não vai haver essa forma de tratamento e pode ainda
estar contaminado com a doença.
Células-tronco embrionárias, que são as mais polêmicas atualmente,
são células totipotenciais. Elas podem diferenciar-se em qualquer tecido, são
mais eficientes em termos de clonagem e crescem indefinidamente em meio
de cultura. Pode-se utilizar manipulação genética.
A pesquisa com células-tronco abriria vários campos de pesquisa – para
verificar a toxidade das drogas, para entender melhor o mecanismo de
desenvolvimento das células e para a reparação de tecidos, por exemplo. O
que se espera é obter células, com a mesma característica da célula
embrionária, de células somáticas adultas.
77
É grande a variedade de células que se podem originar da célula-tronco.
A imagem nos permite ver a plasticidade que tem a célula-tronco para
originar qualquer tipo de célula. Seria usada no desenvolvimento de novas
drogas, para testar toxidade, entender o desenvolvimento e o controle
genético e para reparar órgãos lesados.
No século XIX, foi identificada a medula óssea como fonte de células do
sangue, e, para algumas doenças, tentou-se administração via oral, o que, é
claro, não deu certo. No início do século, identificou-se, denominou-se
aquela que viria a ser chamada de célula-tronco.
Foi com a Segunda Guerra Mundial e com as bombas de Hiroshima e
Nagasaki que se iniciaram as pesquisas para transplante de medula óssea, a
fim de reparar o dano causado pela irradiação na medula daquela
população.
Em 1930, foi realizada a primeira infusão de medula óssea. No final da
década de 60, consolidou-se o transplante alogênico, e, na década de 70, o
autogênico. Em 1988, na França, foi feito o primeiro transplante de sangue
de cordão. Em 1979, aqui no Brasil, foi feito o primeiro transplante de
medula óssea, pelos Drs. Ricardo Paschini e Eurípedes Ferreira.
Em 1990, graças ao pioneirismo dos Drs. Waldir Veiga Pereira e Dalnei
Veiga Pereira, foi realizado o primeiro transplante de medula óssea do Rio
Grande do Sul. Em 1997, houve a inauguração do nosso centro. Em 2004,
foi feito o primeiro transplante com sangue de cordão, com doador brasileiro.
Em abril de 2006, o centro de transplantes do hospital universitário
completou 150 transplantes. A previsão para este ano é de que se chegue a
40 transplantes.
Vejamos alguns dados. A Inglaterra foi o primeiro país da União
Européia a autorizar a utilização das células-tronco embrionárias.
78
Cingapura, Taiwan e Coréia do Sul já realizam pesquisas, mas a legislação
ainda está em discussão.
O governo da China foi pioneiro ao aprovar as primeiras
regulamentações permitindo pesquisas com clonagem de embriões humanos
para retirada de célula-tronco. Uma curiosidade: hoje completa um ano o
primeiro e único cachorro clonado, o Snoopy. Aliás, o cientista está sendo
questionado, não com relação ao caso do cachorro – esse foi clonado mesmo
–, mas quanto a outros experimentos, inclusive com célula-tronco humana –
não conseguiram reproduzir, e há suspeitas de que os dados foram
manipulados.
Nos Estados Unidos, a Califórnia e New Jersey possuem leis permitindo
a utilização de células-tronco embrionárias derivadas de reprodução
assistida e que seriam descartadas.
Aqui no Brasil, o Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz, da Fiocruz,
realizou o primeiro transplante de medula óssea em pacientes com
insuficiência cardíaca devido à doença de Chagas e em pacientes com cirrose
hepática. Essa é uma tecnologia compatível com o Sistema Único de Saúde,
uma vez que é mais barata do que o transplante cardíaco convencional.
O departamento de ortopedia e traumatologia da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo conseguiu recriar impulsos elétricos entre a
região lesada e o cérebro com o uso de célula-tronco.
Um novo campo que se abre é o da engenharia biotecidual, que utiliza o
rápido potencial de crescimento apresentado pelas células-tronco para
obtenção de tecidos tais como ossos, pele e cartilagem, que são cultivados e
reimplantados em pacientes que apresentam lesões nesses órgãos.
79
Para o tratamento de cardiopatias, há cada vez mais centros: Hospital
Pró-Cardíaco, do Rio; Incor, de São Paulo; Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
Pesquisadores do núcleo de terapia celular molecular do Instituto de
Química da USP obtiveram resultados positivos na diminuição dos efeitos da
diabete através de transplante de ilhotas pancreáticas, ou seja, o uso de
células-tronco do pâncreas.
Transplante autólogo: como é feito?
Numa determinada etapa do tratamento, normalmente quando a doença
é reduzida ao máximo, após estimular com um fator de estimulação de
glanulócitos, é colocado um cateter central, que é o mesmo cateter da
hemodiálise, e se coleta a célula-tronco com a mesma máquina utilizada
para coletar plaquetas ou para doação de sangue. Aquela medula é
armazenada nos freezers de nitrogênio, e, numa segunda etapa, ou já se
programou para fazer uma quimioterapia intensa, ou se aguarda para,
quando recidiva, quando voltar a doença, colocar outro cateter, que receberá
essa célula-tronco endovenosa.
No transplante alogênico, coleta-se célula-tronco da medula de um
doador. Coleta-se da crista ilíaca, do osso da bacia – várias punções –, e
deposita-se na bolsa de coleta de medula. Pelas imagens, pode-se ver a
passagem pelo filtro.
Quando se faz um transplante alogênico, coleta-se lá no bloco a medula,
que é levada para o transplante para ser infundida no receptor. O paciente já
está internado ali há alguns dias, já fez quimioterapia, que é mieloablativa, e
recebe a medula para repovoar a própria medula.
Nós, da hemato-oncologia, estamos acompanhando a evolução do
transplante de medula óssea, mas quem está realizando pesquisa com
80
células-tronco no hospital universitário é a pós-graduação da medicina
veterinária, coordenada pelo Dr. Ney Luis Pippi, onde estão desenvolvendo
trabalhos experimentais com células-tronco adultas coletadas da medula
óssea.
Como havia dito antes, a principal fonte de célula-tronco para pesquisa
e tratamento é a medula. Existem várias linhas de pesquisa: reparação de
falhas ósseas, sistema nervoso central, cicatrização muscular, atividade
enzimática, regeneração de nervos periféricos, tendões, cartilagens,
hepatócitos e córnea.
Dr. Sérgio Nunes Pereira
Boa-tarde a todos. Vejo que realmente o assunto está chamando a
atenção, pois, para início de tarde, já temos um representativo quórum.
Na verdade, a discussão sobre as células-tronco vem crescendo,
ocorrendo, às vezes, até alguns problemas, como a notícia que tivemos de
que, infelizmente, houve exploração comercial do tema e outros
acontecimentos que não contribuem absolutamente em nada para a ciência
e para a medicina.
O crescimento real da pesquisa com células-tronco tem sido muito
grande, e o Brasil está numa posição muito interessante quanto a esse
aspecto, pois desenvolveu uma série de pólos de pesquisas no País que já
estão com trabalhos em andamento.
Os comentários que quero fazer dizem respeito mais à minha área
específica, que é a cirurgia cardíaca. Tive a oportunidade de assistir à
primeira apresentação do Instituto do Coração de São Paulo a respeito desse
81
assunto tratando de cirurgia cardíaca. Há outros centros, como no Rio de
Janeiro, que estão desenvolvendo pesquisas muito boas também na área da
cardiologia, mas via cateter.
A área da cardiologia certamente irá se beneficiar muito da palestra do
Dr. Luis. Agora mesmo estava conversando com o Dr. Alceu, do Hospital
Veterinário – com quem tive a oportunidade de trabalhar várias vezes em
pesquisas experimentais e também desenvolver um projeto nessa área –, e
tive a notícia de que as pesquisas estão mais adiantadas do que eu
imaginava. Fiquei muito feliz de saber, pois isso é muito importante.
Esse trabalho clínico no Instituto do Coração já mostrou um efetivo
benefício para pacientes com caso de cardiopatia isquêmica severa, os quais
eram submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio e,
paralelamente, era feita a coleta, no início da cirurgia, de célula-tronco para
ser implantada nas áreas não-revascularizáveis, cujas artérias estavam
muito ruins e não havia condições de fazer a ponte. Isso acontece,
infelizmente, com uma certa freqüência.
Com os comentários que fiz a respeito desse assunto, obviamente os
senhores estão pensando que são beneficiadas apenas as áreas de
hematologia e cardiologia. De forma nenhuma, isso abre uma perspectiva
muito grande em outras áreas. O Hospital Universitário certamente terá um
papel importante nisso, até em função do pioneirismo, pois iniciou em 1963,
com Dr. Pereira, e vem liderando esse processo. Depois, houve o implante da
unidade de transplante de medula óssea no próprio Hospital Universitário.
Todos nós sabemos da luta que foi para chegar a essa etapa.
Não há razão para me alongar, a não ser para dizer que na condição de
cirurgião cardiovascular do Hospital Universitário e chefe do serviço de
cirurgia cardíaca – estou concluindo meu período à testa da coordenação de
82
ensino e pesquisa do Hospital Universitário –, certamente continuo muito
interessado no tema, e agora mais ainda, pois terei um pouco mais de tempo
para me dedicar a esses projetos.
Dr. Ney PippiGostaria de agradecer a referência que o Dr. Luis Carlos Antunes fez à
nossa equipe.
Aproveito também a oportunidade para agradecer a receptividade que a
equipe do Hospital Universitário da UFSM tem dispensado aos nossos
alunos, mestrandos e doutorandos, que têm participado de alguns
procedimentos, de algumas técnicas. Realmente, isso tem nos facilitado
muito, encurtado muito o caminho. Muito obrigado por isso.
Gostaria de sugerir uma ação um pouco mais intensa com relação à
Fundação de Amparo à Pesquisa, que houvesse uma sugestão da Assembléia
Legislativa de abrir um edital específico contemplando a pesquisa das
células-tronco no nosso Estado. Isso seria de grande ajuda, porque, como
todos sabem, esse trabalho envolve tecnologia e equipamentos muito caros, e
esse é o principal óbice a que as pesquisas avancem. Seria essa a colocação,
não tanto uma pergunta.
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04/mai/2006
Perspectivas do uso de células-tronco em pacientes com derrame
Dr. Maurício Friedrich Luiz Avila /AL
Palestrante: Dr. Maurício Friedrich — doutor em neurociências pela PUC,
chefe dos programas de doenças neurovasculares do Hospital São Lucas, da
PUCRS, e do Hospital Mãe de Deus.
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Dr. Maurício Friedrich
Bom-dia a todos. Antes de qualquer coisa, gostaria de esclarecer que o
acidente vascular cerebral (AVC) é a maior causa de morte no Brasil hoje.
Temos aproximadamente 18 a 20 mil casos de AVC por ano no Rio Grande
do Sul de modo que é uma doença de alto impacto.
Gostaria de lembrar também que a cada 100 pessoas acometidas por
AVC, 40 delas jamais voltam a ter uma vida independente e 20 delas ao final
de um ano estão mortas. Ou seja, é uma doença de alto impacto
epidemiológico com uma mortalidade alta e um percentual de incapacidade
significativa.
Iniciamos esse trabalho em março de 2005 e escolhemos o acidente
vascular cerebral isquêmico grave, porque são pacientes que ficam
incapacitados, não têm nenhuma perspectiva de recuperação neurológica e
há a perda total da expectativa de uma qualidade melhor de vida.
Nós nos preocupamos de tratar inicialmente casos de AVCs químicos
severos. Nada pode ser pior, é um quadro catastrófico, a mortalidade pode
chegar a 80% em três meses. Aproximadamente 75% dos pacientes ficam
com graves seqüelas neurológicas.
Quando uma área cerebral que estava recebendo irrigação é
comprometida e não recebe mais o afluxo de oxigênio e nutrientes, gera o
que chamamos de isquemia, uma lesão isquêmica. Isso acontece
repentinamente, a pessoa pode estar muito bem conversando, falando,
movimentando e repentinamente é acometida normalmente pela perda de
função motora, perde a força em um braço, em uma perna ou por vezes no
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lado inteiro. É uma doença com uma probabilidade de incapacidade severa
muito grande.
Atualmente, desde 2002, no Hospital São Lucas, da PUC, iniciamos um
trabalho de tentar desobstruir essas artérias acometidas. Utilizamos um
medicamento que vai deslocar o coágulo, que vai dissolver o trombo,
restabelecer o fluxo sangüíneo cerebral e impedir a isquemia.
Se a isquemia não for impedida, uma área total, uma área grande do
cérebro é acometida, gerando uma perda total de todos os neurônios dessa
região.
Quase todo o hemisfério é acometido nesses casos que estamos
tratando e isso leva a seqüelas muito graves. Se não conseguirmos, em
tempo, desobstruir a artéria, vai acontecer um enorme dano isquêmico a um
dos hemisférios cerebrais, levando conseqüentemente a perda dos
movimentos do lado contralateral. Se for o hemisfério esquerdo, a perda da
linguagem, a perda do campo visual, a uma descoordenação, a uma
dificuldade na fala. Também, em pacientes atingidos no hemisfério direito, a
incontinência urinária, a perda de memória.
É um quadro catastrófico. O uso dessa terapêutica trombolítica que
fazemos no Hospital São Lucas, é bom que se diga, é paga pelo hospital,
porque desde o início dissemos que seria impossível utilizar um
medicamento com tamanho benefício para um paciente com algum convênio
e o paciente do SUS não poder usar, porque não é pago pelo governo.
Temos tratado duzentos pacientes, é a maior experiência da América do
Sul, estamos publicando esses trabalhos científicos feitos com essa droga e é
uma experiência muito grande, talvez uma das cinco maiores experiências
individuais do mundo nos dias de hoje.
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Na nossa cidade, por exemplo, menos de um por cento das pessoas que
têm AVC isquêmico podem receber essa medicação, o que acontece é que
esses pacientes vão enfartar, terão uma isquemia extensa e vão ficar
seqüelados.
Até aqui existe um paradigma de que uma vez seqüelado, jamais se
recupera aquela função ou, quem sabe, progressivamente, com fisioterapia,
recupera-se o que não foi lesado no cérebro, o que se pode recuperar por
uma série de modificações no tecido cerebral, é um remodelamento.
Esses casos que estou colocando para vocês, de oclusão da artéria
cerebral média, são casos de isquemia bastante extensa e que não há
nenhuma perspectiva de melhora neles.
Mais ou menos de cinco a dez anos na PUC tem se estudado muito a
questão das células-tronco quanto à possibilidade de recuperar vias
neuroniais afetadas por uma série de injúrias, dentre elas, injúrias
isquêmicas.
No ano passado iniciamos a utilização de células-tronco da medula
óssea na fase aguda da isquemia, para tentar, nos primeiros sete dias,
restabelecer precocemente e proteger essa área cerebral injuriada pela
isquemia. Daqui a pouco explicarei melhor o processo.
Vamos ver alguma coisa sobre o que conseguimos até aqui. As células-
tronco existem no nosso organismo e basicamente existem para reparar,
proteger e restabelecer as vias que foram lesadas, no caso do cérebro, devido
a uma isquemia cerebral, que é sobre o que estamos falando hoje.
Quanto à questão da escolha das células-tronco da medula óssea,
inicialmente é por que acreditamos que as células-tronco originadas das
células mesenquimais da medula óssea são células pluripotenciais, ou seja,
possuem a capacidade de, a partir da sua retirada da medula óssea, gerar
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qualquer tipo de célula, dependendo de qual necessidade o organismo
apresente.
Durante o período inicial da isquemia, existe uma série de fatores que
chamamos de quimiotaxias, que atraem as células-tronco até a área
isquêmica para tentar repará-la. Isso acontece naturalmente, porém é
insuficiente, de modo que nós retiramos e filtramos uma enorme quantidade
de células-tronco e injetamos no tecido cerebral na tentativa de aumentar a
possibilidade de recuperação das vias danificadas.
Existem três efeitos pelos quais podemos esperar que as células-tronco
da medula óssea possam restabelecer essas vias. O primeiro, a qual
realmente acreditamos, é a questão da transdiferenciação, que é a
diferenciação de uma célula-tronco em célula nervosa.
O segundo é a questão da fusão celular, ou seja, uma célula-tronco a
partir de uma fusão com uma outra célula que esteja preparada para
morrer, mas que ainda não está morta, fará com que essa célula se
recupere. O terceiro é o efeito parácrino, através de uma série de enzimas
que fazem com que exista uma citoproteção do tecido que foi injuriado e
devido a fatores neurotróficos que se produzam novos neurônios a partir de
neurônios que já existem em áreas como as áreas periventriculares dos
lóbulos temporais. Portanto, existem células-tronco que estão prontas a
serem ativadas por enzimas que são ativadas por células-tronco da medula
óssea.
Qual é o estudo que estamos desenvolvendo e que em verdade a
primeira parte desse estudo terminou há uns meses e agora estamos em fase
de escrever o artigo científico para mandar à revista New England Journal of
Medicine, que é seguramente a revista mais importante no momento atual
em nosso meio médico-científico internacional.
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Escolhemos pacientes graves, porque eles não têm a mínima
possibilidade de recuperação. Essa escolha se deu em função de, desde o
início, não admitirmos utilizar uma terapêutica com alguma chance de
recuperação e usar um grupo controle, ou seja, utilizar pacientes em que se
usaria placebo ao invés das células-tronco para tentar comparar os efeitos
das células-tronco.
A nossa filosofia desde o início era tratar todos os pacientes, e
utilizamos pacientes graves em que, seguramente, não teríamos chances de
recuperação. Portanto, qualquer tipo de recuperação poderia ser um achado
científico importante. É a segurança e a viabilidade do transplante autólogo
de células-tronco em paciente com AVC isquêmico.
Esses são, junto com o mesmo trabalho realizado no Rio de Janeiro, os
dois únicos trabalhos clínicos que estão sendo realizados atualmente com
células-tronco em AVC no mundo. Os outros trabalhos são estudos pré-
clínicos em ratos.
Esse único estudo clínico está sendo desenvolvido junto com o pessoal
da UFRJ e do Pró-cardíaco do Rio de Janeiro, que têm um trabalho
semelhante ao nosso. Utilizamos as células-tronco entre o terceiro e sétimo
dia, e a artéria cerebral média tem que estar aberta. Normalmente após o
segundo dia a artéria que está fechada abre, mas abre tardiamente, e o
tecido já está isquêmico.
Testamos inicialmente a segurança, porque é muito importante, dentro
do princípio primun non nocere, não causar mais danos a uma pessoa que já
está tão comprometida. Precisaríamos saber se a injeção dessas células-
tronco que extraímos da medula óssea dentro de uma artéria cerebral é
segura, ou se ela poderá trazer mais danos.
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O segundo objetivo obviamente é testar a eficácia desse método.
Fizemos um acompanhamento clínico radiológico, ou seja, por exames de
imagem, e eletroencefalográfico bastante intensivo. As células-tronco da
medula óssea são células não-embrionárias, ou seja, são células adultas, e
acreditamos que possam ser superiores às células embrionárias pelo simples
fato de que existem no nosso organismo hoje. Elas nasceram para reparar
tecidos.
As células-tronco embrionárias nasceram para criar tecidos, e as
células-tronco adultas da medula óssea nasceram pra reparar tecidos, de
modo que acreditamos muito que esse seja o caminho para a recuperação de
uma série de injurias neurológicas que acometem milhões de pessoas no
mundo.
Como é feito o processo? Ele não é um processo difícil de ser
desenvolvido. O primeiro passo é retirar o sangue da medula óssea por uma
punção na crista ilíaca superior do quadril. Essa punção retira
aproximadamente 50ml de sangue da medula óssea do quadril, da crista
ilíaca, sob anestesia local, e, após a retirada, filtramos para retirar as
partículas ósseas e os resíduos de gordura. Após a filtração, centrifugamos
essas células várias vezes por 25 minutos e separamos a fração de células
mononucleares, porque dentro das células da medula óssea a fração
mononuclear é que contempla as células mesenquimais, que são as que
podem gerar qualquer tipo de tecido.
Em média, utilizamos de 200 a 300 milhões de células e sabemos que
1% a 2% delas são células mesenquimais, ou seja, são células que podem
gerar qualquer tipo de tecido. Portanto, se tivermos 200 milhões, teremos
aproximadamente dois milhões de células sendo jogadas diretamente na
lesão isquêmica, podendo reabilitar, reestruturar, rearquitetar aquela área
90
que foi injuriada. Nós, por meio de um cateter inserido na virilha, chegamos
até a circulação cerebral, através da artéria carótida, e injetamos essas
células diretamente na circulação. Elas vão percorrer toda a área isquêmica
na tentativa de recuperar o dano.
O que obtivemos até aqui? Esses resultados, que estou mostrando,
estão um pouco científicos para uma sessão pública, mas tratamos 20
pacientes e estamos em fase de acompanhamento. Quatorze deles já
completaram três meses. Podemos dizer que 70% desses pacientes, que
jamais se recuperariam, atingiram o que esperávamos de melhora
substancial neurológica e 20% deles, pasmem, tenho vídeos para comprovar
isso, ficaram absolutamente sem seqüelas, e não houve nenhuma
complicação.
Esse trabalho está apenas se iniciando. É extremamente seguro o
transplante autológo de células-tronco da medula óssea e, é, possivelmente,
muito eficaz.
Vou mostrar-lhes dois casos para exemplificar. Esse caso foi veiculado
nos meios de comunicação; foi um caso em que nos surpreendemos muito.
Foi um caso extremamente grave. Houve uma recuperação dramática,
fantástica. Essa foi a segunda paciente que tratamos. A partir dali,
triplicamos o nosso esforço em prol da terapia celular.
É uma paciente de 41 anos, de sexo feminino, branca, do lar. Era hígida
previamente; fumante; usava pílula anticoncepcional e tinha histórico de
enxaquecas. Diríamos que essa história médica: de ser fumante, de estar
usando pílula aos 41 anos de idade e de ter enxaquecas, é basicamente
como colocar um palito de fósforo acesso em um vidro de álcool. Ele vai
explodir. A chance de acontecer um evento isquêmico, mesmo em uma
91
paciente tão jovem, é muito grande quando essa combinação de fatores
existe.
No dia três de maio de 2005, ela estava trabalhando em casa e,
subitamente, perdeu todos os movimentos do lado esquerdo. Ela foi para o
Hospital de Pronto-Socorro, para onde muitas pessoas com algum quadro
mais sério pensam que devem dirigir-se. Ocorre que a droga e o treinamento
para se fazer a recanalização da artéria, a dissolução do trombo, não estão
disponíveis no HPS.
Isso apesar de que já estive lá, em três ocasiões, mostrando a
experiência que temos e do fato de que hoje se sabe que o único tratamento
para a isquemia cerebral, AVC isquêmico nas primeiras horas, é o
trombolítico, como é no caso do coração. Sabe-se disso há vinte anos. No
coração se utiliza o trombolítico, a artéria coronária aberta, e a pessoa pode
ser salva de um enfarto. No cérebro é o mesmo processo. Só que,
infelizmente, ainda não está difundida essa técnica.
A paciente foi para o HPS, e nada foi feito, de modo que aquela lesão,
que era inicialmente pequena, foi-se estendendo, e a paciente ficou bastante
seqüelada.
Essa paciente, com dois dias de evolução, era candidata a um
procedimento cirúrgico que é retirar o epicrânio para possibilitar que a área
isquêmica se expanda para fora, ao invés de comprometer o outro
hemisfério, levando à morte da paciente. Esse era um caso dramático,
gravíssimo e com poucas opções terapêuticas.
Conseguimos estabilizar a paciente. Estabilizar significa evitar a morte.
Conseguimos que ela estabilizasse clinicamente o que chamamos de
parâmetros fisiológicos – pressão arterial, nível de consciência –, mas ela
continuava com a perda de força, era acordada só com estímulo vigoroso.
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Era uma paciente que estava muito mal e candidata a jamais recuperar a
independência física e o controle dos esfíncteres.
O aprendizado de extração das células é crescente. Esse foi o nosso
segundo caso. Nele utilizamos 60 milhões de células mononucleares no
transplante, no quinto dia daquela isquemia.
Transplantamos essa paciente. Chamou-nos muito a atenção, já no
décimo dia após o transplante, o fato de que naquela área enorme isquêmica
algo havia acontecido, porque já se notava que essa área estava em um
processo de restabelecimento, o qual também não entendemos; não existe
nenhum aprendizado prévio disso. Isso é absolutamente pesquisa. É novo.
Essa paciente recuperou completamente os movimentos. Ainda
apresenta um pouquinho de perda de força na mão esquerda, ao invés de
uma perda total de movimentos.
Outro caso que gostaria de mostrar-lhes é o de um rapaz de trinta anos
que teve uma perda completa da linguagem subitamente e, uma perda de
força do membro superior direito.
Ele chegou ao hospital fora da janela, ou seja, depois de três horas, que
é o tempo admitido para tentar abrir essa artéria. Utilizamos as células-
tronco no quarto dia de evolução. Era uma isquemia também bastante
extensa, e estava localizada exatamente em cima da área denominada área
de Broca, que é a área da linguagem.
Esse paciente, com 30 anos, perdeu a fala completamente, com grandes
chances de jamais se recuperar. No dia do transplante, o paciente. tem na
mão uma escala com figuras, palavras e frases para tentar ler. Não
conseguia ler nada e, ficou tremendamente ansioso com isso. Ele foi
transplantado no quinto dia da isquemia.
93
Uma semana depois, ele parece um estrangeiro falando, pois ainda não
recuperou completamente a linguagem, mas esse foi o resultado desse
paciente. Hoje, a linguagem dele é como a nossa; absolutamente normal. Ele
se recuperou completamente. E essa é uma frase que gostaria de deixar pra
vocês como conclusão e final de exposição. Obrigado.
94
11/mai/2006
Terapia com célula-tronco em neurologia:realidade e perspectivas
Dr. Jaderson Costa da Costa Marco Couto/AL
Palestrante: Dr. Jaderson Costa da Costa — neurologista, diretor do
Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital São Lucas, da PUCRS,
professor titular de Neurologia da Faculdade de Medicina da PUCRS,
professor orientador do Programa de Pós-Graduação em Medicina da PUCRS
95
e professor adjunto e associado do Departamento de Medicina Interna de
Miami.
Convidadas: Dra. Zaquer Munhoz Costa, do Instituto de Pesquisas
Biomédicas do Hospital São Lucas, e a Dra. Simone Denise Salamoni, do
Instituto de Pesquisas do Hospital São Lucas.
Dr. Jaderson Costa da Costa
Inicialmente, desejo expressar a minha satisfação de estar aqui. Graças
a esta comissão, o assunto células-tronco tem chegado a nossa população,
que tem sido de alguma maneira informada; e isso tem nos mantido também
aquecidos na área da pesquisa.
Tanto a pesquisadora Zaquer Costa como a Simone Salamoni são
pessoas dedicadas ao trabalho diuturnamente, por isso fiz questão de que
elas comparecessem a esta reunião.
Irei dividir a minha apresentação, até para não ser repetitivo, porque já
estiveram aqui colegas da instituição falando sobre o mesmo assunto.
Primeiramente, irei focar alguns aspectos que evoluímos bastante nos
últimos quatro meses, será uma apresentação mais técnica; e, num segundo
momento, levantarei alguns questionamentos em relação a como estou
vendo essa questão no Estado no que tange ao pesquisador, bem como
falarei um pouco da vivência que tenho fora do Estado, o que penso será de
extrema importância.
O número de e-mails que recebemos diariamente é tremendo, as
pessoas estão desesperadas, estão morrendo, perdendo qualidade de vida, e
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às vezes faltam alguns elementos básicos para que o processe se acelere e
tenhamos êxito.
Irei limitar o meu plano de apresentação à explanação sobre as células-
tronco do sistema nervoso, a neurogênese do cérebro adulto; as células-
tronco da medula óssea; as perspectivas terapêuticas; e, por último, a parte
neurológica das neurociências.
Acredito que isto já tenha sido manifestado aqui, por isso serei breve.
Mas lembro que, ao falarmos em células-tronco adultas, falamos em células
que são responsáveis pela recomposição de qualquer tecido do nosso
organismo. Um indivíduo fantástico chamado Pasko Rakic, homem que hoje
está se aposentando, teve enorme importância no entendimento de como se
formam as camadas corticais do cérebro, de como o cérebro se desenvolve.
Pasko Rakic disse uma coisa muito interessante: pelo menos em relação
a sua pele, ele, a cada ano, é um indivíduo mais jovem. A pele, tecido, é
constantemente renovada. E renovada como? Graças às células-tronco que
existem na pele. O nosso sangue também é constantemente renovado. A
grande questão é se o nosso cérebro poderia ser renovado, se a nossa
medula poderia ser renovada, se os nossos nervos poderiam ser renovados.
E isso irei esclarecer aos senhores agora.
Pergunta: Para haver renovação há necessidade da célula-mãe – a
céula-mãe é aquela que tem a capacidade de gerar as células-filhas, que são
as células que vão constituir a nossa pele, o nosso sangue, as nossas células
nervosas, etc? Tratava-se de uma grande dúvida. Por quê? Nós tínhamos um
oráculo, um grande homem chamado Santiago Ramón y Cajal, talvez o
maior pesquisador em neurociências, espanhol, que nunca publicou em
inglês, nem em alemão, nem em francês, só publicou na sua língua materna.
O mundo científico da época o procurou, porque foi ele quem apresentou os
97
fundamentos para a neurobiologia. Esse homem, que foi um autodidata, que
se dedicou à pesquisa básica, não observava regeneração no cérebro do
indivíduo adulto. E cunhou, em 1913, o seguinte: No sistema nervoso tudo
pode morrer, e nada pode regenerar.
Senhores, é triste saber que nós, que estamos envelhecendo, não
teríamos uma segunda chance, como temos com a segunda dentição, de ter
novas células. Apesar de esse homem ter contribuído enormemente para as
neurociências, felizmente ele errou. Ele começou a errar – e este é um dado
importante – quando foi feita uma constatação pelo indivíduo chamando
Fernando Nottebohm, um argentino radicado nos Estados Unidos há muitos
anos, que se dedica ao estudo de uma das coisas mais preciosas e mais
gostosas do mundo: pássaros que cantam – pássaros canoros –, canto dos
pássaros.
Os senhores devem estar pensando: convidamos um neurologista que
agora enlouqueceu de vez. Queríamos que falasse sobre células-tronco, veio
falar sobre canários. Bem, talvez pela minha infância, pelo meu afeto.
Realmente eu tinha muito carinho, gostava muito dos canários belgas,
graças a minha avó, que me ajudava a cuidar deles. Gostava de vê-los, mas
não era muito prestativo no cuidar dos canários.
Fernando Nottebohm estudou os pássaros canoros e verificou que esses
pássaros cantavam por uma série de razões. Talvez a razão mais importante
seja defesa do território, alarme, chamamento para contato, acasalamento,
atrair a companheira. Essa é uma propriedade do pássaro macho, ele faz
isso.
O que tem a ver isso com o que estamos falando hoje? Ele identificou
que existem três centros responsáveis por isso, que fazem parte do circuito
do cérebro do canário para canto.
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Atentem para uma frase que é fundamental: os pássaros cantam num
período de luz – período fotóptico –, e, quando eles cantam, nesse período,
existem novas células nervosas, novos neurônios. É interessante que a cada
período esses neurônios se renovam; e podemos fazer o canário fêmea cantar
se tratarmos com hormônios.
Qual a importância disso? Esse autor demonstrou, então, que as
células do cérebro de um animal, no caso o canário, eram capazes de, ao
morrer, se constituírem a cada período de canto. Era como se dissesse:
Santiago Ramón y Cajal, você errou pelo menos nos canários, porque eles
fazem neurônios novos.
Depois se mostrou que praticamente todos os mamíferos fazem
neurônios novos. Faltava a última barreira: provar que isso acontecia no
cérebro humano.
Senhores, não pensem que este é um assunto muito antigo. Embora em
1913 tenha sido feita aquela afirmativa, o dogma de Santiago Ramón y Cajal
só caiu em 1998. E caiu em 1998 graças a duas circunstâncias – e é
fundamental que se aprenda, que a nossa população entenda isto: a
determinação de um homem chamado Peter Ericson de acreditar nisto e
porque alguns pacientes se doaram. Esse é o termo. Eram pacientes que
tinham câncer em fase terminal, sabiam que iam morrer, tinham
consciência disso e consentiram em ser injetados com uma substância
radioativa, para estadear o câncer deles. E, se eles morressem, eles doariam
o cérebro ao pesquisador.
Essa substância radioativa, senhores, é um marcador de células novas,
de células que se multiplicam, de neurônios novos. Os pacientes que
morreram foram à autópsia, e, em 1998, então, cai o dogma de Santiago
99
Ramón y Cajal, mostrando que em alguns locais especiais do cérebro
existem células-tronco. E aí a neurogênese.
Esse é o primeiro passo. Não se pode falar em células-tronco do sistema
nervoso sem conhecer esse fato.
Imaginem, senhores, estamos falando de 1998 a 2006; estamos falando
de oito anos. Estamos hoje reunidos nesta Casa falando de um assunto que
começou há oito anos. Não poderíamos falar em relação ao sistema nervoso
central sem essa descoberta.
Permitam-me informar mais um dado: houve ampla demonstração, mas
existe uma limitação. Eu posso obter essas células-tronco de um indivíduo,
da sua pele, do seu tecido gorduroso, da sua medula óssea, mas eu não
tenho a mesma liberdade de obter essas células da medula ou do cérebro do
indivíduo adulto. Eu não posso extrair essas células de lá. Eu sei que estão
lá, mas eu não posso mexer nessas células.
Então, começa a se estabelecer uma situação difícil: sabemos que estão
lá, precisam ser induzidas, precisam ser estimuladas, precisam ser
mobilizadas, mas não podemos mexer nessas células com facilidade. E aí
entramos num segundo capítulo que é o da relação entre a medula óssea,
neurônios, que são as células nervosas, e a glia, nome genérico que
utilizamos para todas aquelas células que não são neurônios e que servem
de suporte para as células nervosas. Elas são as companheiras das células
nervosas; elas são que alimentam, que fazem a ajuda das células nervosas.
Senhores, devemos isso a uma senhora chamada Eva Mezey, que
passou por um verdadeiro calvário. Ela suspeitou que células da medula
óssea poderiam se converter em neurônios ou em células gliais. Seus
primeiros experimentos, que datam de 1997, foram contestados. Essa
senhora tinha uma posição no Instituto Nacional da Saúde; ela perdeu essa
100
condição e perdeu todo auxílio para pesquisa. Foi dito que seu trabalho não
passava de uma ilusão, de um erro de interpretação, de um erro de
delineamento.
Felizmente ela teve um orientador húngaro extremamente forte,
chamado Zandar Goday – ela é de origem húngara –, que lhe havia dito:
Quando você acredita numa coisa, não desista. Vá em frente, toque, porque
na ciência é assim: são necessários muitos anos para convencer as pessoas.
Graças a isso ela conseguiu publicar seus primeiros artigos. Hoje,
constata-se que ela tinha toda a razão: a partir da medula óssea podemos
transformar as células-tronco em neurônios e em glia. Esta é a grande
virada: o sangue da medula óssea, as células da medula óssea podem gerar
os nossos neurônios e a nossa glia. Isso é fantástico.
Agora entraremos no terceiro aspecto. Sabendo que podemos obter
essas células, o que podemos fazer? Os senhores vêem uma constelação de
tecidos que podem ser obtidos: fígado, músculo, pele e as nossas células
nervosas que podem ser originadas de células-tronco da medula óssea.
O que fizemos na PUC. Em 1999, a revista Science, que é a mais
importante em termos de pesquisa, elegeu como maior assunto científico do
ano o potencial das células-tronco. Isso foi em dezembro de 1999. Em
janeiro de 2000, começamos a trabalhar com células-tronco no Instituo de
Pesquisas Biomédicas da PUC.
Com todas as limitações de legislação que havia na época e com todo o
questionamento que existe de ordem ética e religiosa optamos pelas células-
tronco adultas. Baseados nos trabalhos já reconhecidos internacionalmente
de Eva Mezey de que poderíamos trabalhar com células-tronco de medula
óssea, começamos a trabalhar em laboratório.
101
O que essas células fazem? Essas células têm inúmeras possibilidades.
Elas podem se fundir, por exemplo, com as células do local; elas podem se
transdiferenciar, ou seja, se transformar em outra célula; ou elas podem ter,
talvez o que seja mais importante e que nossas últimas pesquisas têm
demonstrado, efeito parácrino. O que é isso? Elas podem funcionar como
pequenos vagõezinhos que levam os elementos necessários para que aquelas
células-tronco lá do cérebro se movimentem, acordem e façam o trabalho
que deveriam fazer.
Achávamos no inicio que esse efeito não fosse tão importante. Hoje
estamo-nos convencendo de que talvez seja o elemento mais importante.
Faço uma correção: não estamos falando de 1998 para cá; estamos
falando de 2000 para cá. E por que faço esta correção? Porque foi quando
também começamos.
Quero dizer aos senhores que independente de qualquer estímulo
externo, independente de qualquer estímulo político ou de qualquer apelo,
nós já tínhamos nos auto-estimulado em 2000 e entramos na corrida ao
mesmo tempo em que os grandes centros mundiais de pesquisas. Estamos
falando de uma história de seis anos. E somos protagonistas dessa história
porque começamos há seis anos pari passu.
Às vezes há um certo sentimento, muito próprio do gaúcho, que é mais
conservador, de que devemos algumas coisas a outros centros superiores ou
mais desenvolvidos. Sempre nos passa a idéia de que não somos totalmente
capazes ou que não temos todas as condições intelectuais ou de recursos
materiais. Isso não é verdade. Temos condições porque começamos ao
mesmo tempo. No final de junho, levarei ao 4º Congresso Internacional de
Células-Tronco, em Toronto, os nossos resultados.
102
Perspectivas terapêuticas das doenças. Existem várias perspectivas.
Algumas doenças já estão em protocolo clínico, além de protocolos
experimentais como doença de Parkinson; esclerose múltipla; esclerose
lateral ameotrófica, que é uma situação de extrema gravidade – os indivíduos
morrem num período que varia de seis meses a um ano.
O professor Jefferson Braga Silva apresentou a questão da lesão de
nervo periférico. Isso é muito importante: todos esses estudos começam com
experimentos em animais e só depois, se aprovado pelo Comitê de Ética e
pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa, em Brasília, é que são feitos
os protocolos para estudos clínicos.
Outro elemento que gostaria de mostrar refere-se à isquemia cerebral. O
Dr. Maurício Friedrich trouxe alguns resultados interessantes de
recuperação de pacientes. Não vou alongar minha manifestação.
Mostrarei agora estudos experimentais na área da epilepsia. Contamos
com a colaboração das pesquisadoras Zaquer Munhoz Costa e Simone
Denise Salamoni. Um dos problemas que encontramos é que 30% dos
pacientes portadores de epilepsia não respondem aos medicamentos e há
possibilidade de tratamento cirúrgico para a metade desses pacientes. É
uma situação grave que faz com que os pacientes passem por situações
constrangedoras e tenham uma baixa qualidade de vida.
Esse modelo é muito interessante, pois a epilepsia é uma lesão crônica.
Ou seja, se avançarmos no estudo da epilepsia, avançaremos no estudo de
todas as lesões crônicas. Até agora mostrei casos de lesões agudas, cuja
charada está desvendada: as células têm uma atração pela lesão aguda.
Precisamos desvendar o segredo das lesões crônicas – e a epilepsia é uma
lesão crônica.
103
Verão agora o quanto avançamos. Utilizamos um camundongo que tem
a sua genética modificada. Foi colocado um gene de uma alga nas suas
células, fazendo com que as células expressem uma proteína verde. Quando
colocamos as células na luz ultravioleta elas ficam verdes. Por que
utilizamos isso? Para não nos enganarmos. O camundongo doador vai
repassar células para um camundongo que tenha células normais.
Todas as células que encontrarmos no sistema nervoso, nas lesões, que
forem verdes poderemos dizer, com certeza, que são do doador, e não do
receptor. Isso é extremamente importante para não nos iludirmos. Na
realidade, as células são elas mesmas e são do doador.
Esses animais são estudados de todas as maneiras para que seja visto
se as crises são controladas e se o tecido é regenerado. Vou passar esse
aspecto técnico.
A estrutura chamada de hipocampo é normalmente lesada nesse tipo de
epilepsia induzida em camundongos, é responsável pela nossa memória.
Quando as células são injetadas e ela está lesada, as células vão exatamente
para aquele local. Essa é uma lesão crônica, e não aguda.
Vou fornecer um dado preliminar importante. Os animais são
monitorados por vídeo após as crises. Ocorrem de uma a cinco crises por
hora. Esse modelo é realmente muito grave, pois há muitas crises por hora.
Os animais que receberam as células têm as crises diminuídas em torno de
70% com o passar do tempo.
Trago um dado muito importante. A Sra. Zaquer terminou um trabalho
mostrando que se atuarmos precocemente a redução é de 100%. Os
senhores estão recebendo esses resultados em primeira mão. Estamos numa
fase muito importante.
104
Vou resumir da seguinte maneira: as células-tronco migram para essas
lesões, diminuem as crises em 65%, 70% – e já afirmo que há uma mentira
aqui, pois ontem se descobriu que modificando a técnica e o tempo de
injeção se alcança 100% –, e as fatias voltam ao normal.
Existe uma série de perspectivas, por exemplo, para a doença de
Parkinson e, trabalhando com tecido fetal, para a esclerose múltipla, uma
doença em que se vai perdendo a bainha das células nervosas. Tudo isso é
secundário no momento em que começamos a desvendar um pouco do
segredo das lesões crônicas. É nesse ponto que estamos.
Quero destacar dois aspectos que considero fundamentais. O século
XXI, a meu ver, é o século da esperança no que diz respeito à remodelação
de órgãos e tecidos. Essa esperança depende de uma série de pessoas.
Temos de entender que para isso acontecer há necessidade de amparo.
Essas pessoas são abnegadas, mas comem e vivem também.
Passarei à última parte, à parte política e de apelo. Organizei o primeiro
congresso brasileiro de células-tronco, realizado em novembro do ano
passado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Na
ocasião, fiz um apelo político que foi pouco escutado.
Não contamos com a presença do governador do nosso Estado, mas do
governador do Paraná na abertura do congresso. Digo isso com um duplo
sentimento de satisfação e vergonha, porque esse homem está apoiando
todas essas pesquisas. Tudo o que mostrei aqui foi feito com dinheiro do
Estado do Paraná.
Qual foi o meu comprometimento? Vendi a alma. Qual foi a alma?
Transferir toda a tecnologia para a Universidade Federal do Paraná. Esse foi
o meu compromisso. Como ciência não é propriedade de ninguém, me sinto
105
à vontade para fazer isso. A satisfação foi por ter recebido o apoio que
permitiu chegarmos a esse ponto. A vergonha é saber que não recebi isso do
nosso Estado, nem essa consideração. Se não fosse os senhores me
convidarem para esta Comissão, não teria tido nenhum espaço político.
Precisamos fazer com que o poder público entenda que mais do que
boas palavras são as ações. E as ações vão incentivando aqueles jovens. Eu
já estou com 58 anos, a minha carreira científica já está sólida o suficiente
para não precisar mais dessas coisas. Na verdade, estou correndo atrás de
sonhos. Os jovens pesquisadores, no entanto, vão fazer a mudança, são eles
que vão modificar a situação do País, do nosso Estado e o sofrimento desses
pacientes.
Por favor, precisamos de auxílio. Estou buscando auxílio no governo do
Paraná. Segunda-feira, a convite do governo do Paraná, tomarei um avião da
Gol, à tarde, para estar reunido no outro dia, às 8 horas da manhã, com o
governador e seu secretariado para apresentar esses resultados. Ele quer
saber o que fizemos com o dinheiro, e eu vou mostrar. Ele me prometeu que
se os resultados foram bons, vai fazer mais um acréscimo de valores para
que possamos progredir na pesquisa.
Gostaria que isso tivesse ocorrido no meu Estado. Infelizmente, tenho
de fazer esse registro. Essa é a parte política e é uma via de duas mãos. A
nossa via como cientistas é fazer o nosso trabalho bem feito; e o trabalho das
pessoas desta Casa do Povo é fazer com que o governo seja sensibilizado no
sentido de apoiar essa iniciativa. Muito obrigado pela oportunidade.
Dra. Zaquer Munhoz Costa
106
Gostaria de reforçar o que foi dito pelo Dr. Jaderson. Estamos
trabalhando muito, temos um grupo muito grande, jovem e unido. Estamos
muito contentes com os resultados obtidos e temos a esperança de que tudo
o que estamos fazendo possa ser aplicado em pacientes, no caso de
epilepsia, que estudamos mais. Desejamos que a nossa busca seja útil para
muitas pessoas não só no Rio Grande do Sul, mas no País inteiro e até fora,
se for o caso.
Nós trabalhamos em turnos – há os turnos da manhã, da tarde e da
noite –, porque estamos empenhados na pesquisa. Realmente, contamos
com o apoio das autoridades para poder seguir adiante e para que
pesquisadores mais jovens, que vêm depois, alunos de iniciação científica,
também possam prosseguir com as pesquisas. Isso é importante para nós,
assim como é importante o convite para virmos aqui mostrar o nosso
trabalho, para que todos o conheçam.
Dra. Simone Denise Salamoni
Quero apenas agradecer pela oportunidade de mostrarmos o nosso
trabalho e pedir para que os senhores façam por nós o que o governo do
Paraná está fazendo. Muito obrigado.
107
18/mai/2006
Imunologia dos transplantes e células-tronco
Deputados José Farret (E) e Paulo Brum com Dr. Luiz Fernando Jobim
Marco Couto/AL
108
Palestrante: Dr. Luiz Fernando Jobim —chefe do serviço de Imunologia do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor de Medicina Interna da
UFRGS.
Convidado: Dr. Paulo Mayorga, diretor da Faculdade de Farmácia da
UFRGS
Dr. Luiz Fernando Jobim
Hoje, conversaremos a respeito das aplicações das células-tronco,
especialmente sobre a tipagem do sistema Antígenos Leucocitários Humanos
– HLA – entre doador e receptor para os transplantes, projeto que desenvolvo
há muitos anos.
Em 1973, iniciamos no Hospital de Clínicas de Porto Alegre um
laboratório de imunogenética ou de imunologia de transplantes, o qual
proporcionou um avanço muito grande na área de compatibilização entre
doador e receptor. Naquela época, não existia nenhum laboratório no Rio
Grande do Sul. Fomos o segundo laboratório no Brasil a iniciar a tipagem
HLA, e conseguimos ajudar durante esses anos 3 mil transplantes de rim,
algumas centenas ou milhares de transplantes de medula óssea,
transplantes de coração, etc.
Hoje, a novidade que a comunidade discute são as células-tronco.
As pesquisas com as células-tronco, diferentemente, começaram
dispersas pelo mundo inteiro, especialmente na América do Norte, na
Europa, na Inglaterra, na Espanha, em Portugal, na França, etc. A explosão
do estudo das células-tronco foi muito maior do que a própria agricultura e
a industrialização dos continentes.
109
Este mapa mostra a competição internacional no estudo de células-
tronco. Infelizmente no Brasil não temos nenhum daqueles triângulos que
mostram centros de pesquisa com células-tronco, mas já temos alguns que
poderiam estar incluídos neste mapa.
O que são as células-tronco? São células indiferenciadas que se
renovam por meio da divisão celular. Elas podem ser induzidas a se
diferenciarem nos diversos tecidos de nosso corpo, provindo de embriões, de
fetos, de células da medula óssea, do cordão umbilical e de diferentes tecidos
somáticos em adultos.
Esta é a base da medicina regenerativa, da qual se fala hoje em dia:
regenerar algo que está estragado. No futuro será possível produzir nos
tecidos e células especializadas, para tratar diversas condições de doença.
Com a melhor compreensão dos processos normais e da proliferação,
será possível corrigir eventuais processos anormais, inclusive o câncer.
Existem as células-tronco embrionárias, que vem dos embriões. Elas
são cultivadas in vitro, e podemos ter uma quantidade grande delas; podem
dar origem às células do sangue e diversas outras células.
Essas células-tronco embrionárias, que saem do embrião e são
cultivadas, poderão, teoricamente, dar origem às células dos ossos, do
cérebro, dos rins, dos músculos e assim por diante. Essa é uma parte mais
de teoria e pesquisa. Estão sendo utilizadas até com algumas restrições em
relação aos embriões, à utilização dos embriões, etc.
Mas o que nos interessa aqui são as células embrionárias provenientes
da medula óssea, que, para os leigos, dizemos ser o tutano do osso. Dentro
do osso temos as células primitivas, as stem cells, que são as células-tronco.
110
Elas dão origem a todo o sangue – aos eritrócitos, às células fagocitárias, aos
eosinófilos, às células T, às células B, às células de defesa.
O objetivo da palestra de hoje é mostrar a diferença entre esses tipos de
células-tronco. As embriônicas são totipotenciais, podem dar origem a
qualquer tipo de tecido e são fáceis de propagar in vitro. Já as somáticas são
pluripotentes e raras nos tecidos, ainda não existindo, para elas, técnicas de
propagação perpétua in vitro.
Que outros tecidos as células-tronco somáticas podem formar? As
células hematopoiéticas; os neurônios; as células musculares; as células
mesenquimais; as cerebrais, etc.
Quanto à melhor célula-tronco para desenvolvimento das terapias
celulares, podemos dizer que as do mesenque, as medulares, têm várias
vantagens. Elas são fáceis de isolar, pois simplesmente fazemos uma punção
da medula óssea e tiramos essas células-tronco. Podemos expandi-las e
cultivá-las; elas são geneticamente estáveis, de potencial reparo para muitos
tecidos e podem ser retiradas do próprio paciente – são autotransplantáveis
–, apresentando pouca atividade imunogênica, etc.
Qual a diferença entre os transplantes com células da medula óssea e
os com células de cordão umbilical? Agora falamos pela primeira vez em
células do cordão umbilical. É praticamente a mesma coisa. Elas são
também células-tronco que dão origem às células sangüíneas. Em relação às
células da medula óssea, é mais difícil se conseguir compatibilidade entre
um doador e um receptor, porque entre irmãos só temos 25% de pessoas
idênticas. E as células do cordão umbilical? Podemos congelar centenas ou
milhares dessas células e constituir um banco.
Existem vários tipos de transplantes. Quanto aos alogênicos, a medula
óssea é retirada de um doador vivo, previamente selecionado por testes de
111
histocompatibilidade, que é o que o nosso laboratório executa, chamado de
teste HLA. O doador é identificado entre os familiares, ou se utilizam bancos
de medula óssea.
Existem bancos, que não guardam a medula óssea, mas as informações.
São bancos de dados.
Transplantes autólogos: a medula óssea e as células-tronco periféricas
são retiradas do próprio paciente, armazenadas e reinfundidas após um
regime de imunossupressão, de destruição das células que estavam doentes.
Sendo um autotransplante, não há rejeição.
E há os transplantes singênicos, que ocorrem entre gêmeos
univitelínicos. São transplantes em que também nunca acontecem rejeições.
Nos autólogos e nos singênicos não há esse risco.
No transplante alogênico o doador é da família ou de banco.
Simplesmente se retira do osso ilíaco, com anestesia, o sangue, que é grosso,
contendo as células-tronco. O material é filtrado, para se tirar o excesso de
gordura, espículas ósseas, etc., e depois é feita uma transfusão.
O transplante autólogo: o sangue da medula óssea do próprio paciente é
resfriado ou congelado. Se faz, então, uma imunossupressão, uma
destruição da medula óssea anterior, e se reinfunde a própria medula óssea.
Então, tratamos o paciente e depois lhe damos uma medula óssea
novamente.
Existem alguns casos em que podemos tratar a medula óssea, num
caso de leucemia, usando medicamentos para anticorpos monoclonais a fim
de destruir células leucêmicas in vitro, enquanto essas células estão fora do
organismo.
No transplante autólogo, a coleta das células do paciente é feita através
do sangue periférico, às vezes, com máquinas especiais. Tiramos o sangue e
112
separamos as células-tronco para depois serem reinfundidas no próprio
doente.
O primeiro transplante que foi um sucesso com sangue do cordão
umbilical ocorreu em 1998 – não há muito tempo. Ele foi usado para tratar
um menino com anemia. A doadora, sua irmã, tinha uma combinação
perfeita no sistema HLA. Este é o nosso trabalho: a combinação.
O cordão umbilical: pesquisadores identificaram no cordão umbilical
um grande número de células-tronco. As células-tronco do sangue do cordão
e placentárias são células com características adultas, porém, mais imaturas
e ainda pouco estimuladas.
Algo importante: a célula-tronco do cordão umbilical é menos
imunogênica. Temos menos rejeição a ela do que a uma célula-tronco
retirada da medula óssea. Por quê? Porque a célula da criança, ou do feto –
porque é retirada do cordão umbilical –, não é tão agressiva como a célula
retirada da medula óssea de um adulto.
Existe ampla disponibilidade de cordões nas gestantes. Jogamos fora
esses cordões. O aproveitamento de material biológico habitualmente é
descartado, mas há a possibilidade de armazenamento e congelamento em
nitrogênio líquido, um banco de cordão.
Já temos, no Brasil, um banco de cordão no Instituto Nacional do
Câncer, no Rio de Janeiro, e um banco de cordão em São Paulo, que foi
doado pelo Hospital Albert Einstein. E existem dois bancos de cordão
privados.
Tenho minhas dúvidas se esses bancos privados irão oferecer o que
pretendem aos seus clientes. Em primeiro lugar, porque não sabemos se a
pessoa que deu placenta para aquele banco irá precisar desse material. Essa
criança, um dia, quando adulta, vai ficar leucêmica e precisar da placenta?
113
Qual é a proporção de utilização desse material? Qual é o custo disso para
as famílias?
Em segundo lugar, será que as células vão ficar disponíveis durante 20
anos? Quando o doador, aquela criança que nasceu e doou a placenta,
quiser usá-las mais tarde, será que essas células estarão vivas?
Essas são as dúvidas que expomos em relação aos bancos privados, que
entraram fortemente no Brasil, pois há propaganda até em Caxias do Sul de
banco de cordão umbilical. Só que não dizem o nome do diretor, nem do
médico responsável, apenas dão números de telefones para se entrar em
contato com o banco.
Sei que existem intenções de pessoas, dentro do Brasil, de criarem
bancos paralelos privados no mesmo sistema que queremos seguir, igual ao
do público, para a comercialização. Nesse caso, se alguém precisar de um
transplante de medula óssea, não tendo depositado sua placenta no banco,
ele irá comprar o material.
Isso existe em termos de comércio internacional, e custa 25 mil dólares
para se conseguir fazer uma pesquisa a fim de encontrar um doador. Isso é o
que Inca aparentemente paga para o exterior. Existem bancos públicos
enormes, na Inglaterra, nos Estados Unidos, com centenas e milhares de
pessoas já cadastradas com o seu código HLA.
Penso que no Brasil devemos investir em bancos públicos, pois já
existem muitos laboratórios prontos para isso.
No ano passado, me telefonaram de São Paulo para saber se poderíamos
tipar o HLA para um banco privado. Mas se não possuem nem laboratório,
como querem ter um banco?
114
Tenho dúvidas em relação a isso, ao tempo em que as células ficarão
congeladas, se elas vão permanecer por muito tempo, se as pessoas irão
precisar desse recurso ou não, sobre a freqüência de utilização, tendo em
vista que essas doenças são raras. Elas não são raras na população, mas
são raras para o próprio indivíduo. A possibilidade de uma pessoa contrair
leucemia deve ser mínima.
Mas quanto a isso nada sabemos; o futuro é que poderá dizer se isso
terá valor ou não. Tenho minhas ressalvas.
As desvantagens do cordão umbilical: o volume é pequeno; e sucesso
reduzido em pessoas com mais de 40 quilos. Nos adultos, às vezes temos
que usar dois cordões umbilicais, de duas pessoas. Dessa forma, são
utilizados mais nas crianças, e agora estão aumentando o volume, usando
dois ou três cordões para poder satisfazer um adulto.
Para a doação, as gestantes entre 18 e 36 anos devem fazer todas as
consultas pré-natais, idade, não possuir histórico médico de doenças, devem
repetir os exames – as mães – no período de dois a seis meses após o parto.
A Rede Brasil-Cord foi criada, mas não implantada. Nesse ponto, digo
que os nossos deputados têm que ajudar a população, porque foram criados
cinco centros no País, e o Rio Grande do Sul tem um. Toda a parte
administrativa do nosso centro foi resolvida pela Secretaria da Saúde,
Hospital de Clínicas e até com o Instituto de Células Tronco, que na
realidade é um Instituto que não tem laboratório, tem somente uma pessoa
trabalhando.
A parte administrativa foi organizada, está pronta. Vai ser no Hospital
de Clínicas, no banco de sangue e o diretor será o professor João Pedro
Marques Pereira.
115
Tudo isso já está decidido, só que não veio o dinheiro federal. Nesse
sentido, vem a parte de vocês. Quanto é que vai custar isso? Um milhão de
reais, um milhão e meio não é muito para começarmos.
O que aconteceu foi um esquecimento, no meu ponto de vista, porque
não ouvi mais falarem sobre a questão. No ano passado, nos reunimos
várias vezes e ficou decidida a parte administrativa. E o dinheiro? Onde está
o dinheiro? Esse é o ponto que deve ser levantado pela Assembléia
Legislativa.
Penso que a primeira atitude que vocês podem tomar é a de ter o acesso
com o Secretário da Saúde, que está totalmente a par disso, pois ajudou em
toda a parte administrativa o Sistema Nacional de Transplantes. A parte
administrativa está pronta, tem até diretor, só não tem verba para iniciar. É
uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea, um
grupo de estudos, etc.
A próxima questão é sobre a aplicação em transplantes; tratamento de
doenças malignas e não malignas; identificação de doadores familiares e não
familiares, que pode ser difícil e demorada para alguns pacientes.
Vocês sabem que, num banco de cordão umbilical, a proporção de se
conseguir identidade para uma pessoa que precisa é de uma em cem mil. O
nosso banco está com 200 mil.
Vocês não imaginam que trabalho foi chegar a 200 mil. Ele foi
constituído pelo Dr. José Roberto Moraes, que faleceu este ano, no Rio de
Janeiro. Foi ele quem batalhou a vida inteira pelo banco, pelo Redome, o
registro de doadores de medula óssea. Nesse caso não é banco, é com
relação à medula óssea.
E de cinco mil, sete mil, oito mil, chegamos hoje a 200 mil, o que é um
orgulho para o Brasil. Mas nós temos que conseguir mais, inclusive de
116
outras origens genéticas, porque esses 200 mil são mais da região sul e
sudeste. Precisamos de genética de populações negras da Bahia, do
Maranhão, etc. Precisamos ter toda essa constelação genética que forma o
povo brasileiro.
Aqui temos o Inca, que, em 2001, inaugurou o banco de sangue de
cordão umbilical, foi o primeiro banco no Brasil. A chance de um brasileiro
localizar um doador em território nacional é trinta vezes maior que a chance
de encontrar o mesmo doador no exterior. Isso ocorrerá, quando tivermos
um bom banco. Por quê? Porque a nossa genética é que está sendo
guardada. O cordão umbilical é das nossas pessoas, da nossa origem
genética. Nós não vamos trocar com um escandinavo, que certamente tem
sua genética muito diferente da nossa.
Temos que compatibilizar tanto no Redome, que é o registro de doadores
de medula óssea, como nos bancos de cordão umbilical que serão formados
e, por enquanto, são dois. Temos também que ter uma parcela de cada
genética da população: brancos, pretos, negros, indígenas, etc.
Aqui temos a coleta e armazenamento de cada unidade, que custa em
torno de 3 mil reais. Em cada banco nacional serão congelados 100 cordões
mensais. Isso foi o que se definiu. Se tivermos cinco, vamos ter 500
placentas sendo congeladas por mês. Esses bancos possuem tanques de
nitrogênio líquido com capacidade de estocar cerca de 3 mil unidades de
cordão.
Estávamos pensando, então, que teríamos 15 mil cordões no Brasil
disponíveis, por primeiro. E aqui está a placenta, que é jogada fora, que está
cheia de células-tronco. A coleta é feita logo após o nascimento, quando
espreme-se o cordão. Aqui temos o volume de sangue, que é um pouco
menor.
117
O transplante acontece após a identificação do cordão umbilical HLA
compatível ou semicompatível. As células são introduzidas por via
endovenosa.
Como é que acontece? Nós temos uma pessoa com leucemia que não
tem doador na família. Passamos para o registro de doadores nacional,
Redome, doadores de medula óssea, banco de dados.
Por exemplo, nós estamos agora com quatro doadores que o Redome
quer que estudemos mais profundamente. Não se consegue. Vai-se, então,
para um banco de cordão. No banco de cordão nós não precisamos de tanta
compatibilidade como precisamos com outro.
Neste ano, cuidamos de uma criança que nasceu sem as defesas, um
imunodeficiente primário grave –semelhante àquela criança que ficava na
bolha, nos Estados Unidos. No ano passado, nasceu no Estado do Rio
Grande do Sul e atendemos no Hospital de Clínicas uma criança igual.
Conseguimos um cordão na Alemanha. Esse cordão veio para o Brasil – tem
que pagar esse cordão, não sei quanto custa, em torno de 20 mil dólares,
alguma coisa assim –, a criança foi transplantada e está muito bem.
Nós já tivemos outra dessas crianças da bolha, que nascem sem defesa
nenhuma. Foi o primeiro transplante com cordão, que veio de Nova Iorque. O
transplante foi feito no Hospital de Clínicas. Esse criança evoluiu muito
bem, ela chegou a 20 mil leucócitos e, quando recebeu alta, adquiriu uma
infecção de um primo, que foi fatal. As crianças e os adultos transplantados
têm que ter muito cuidado no pós-transplante.
Existe uma série de doenças, inclusive as imunodeficiências primárias,
que nós trabalhamos no Hospital de Clínicas. Essa é uma questão que até a
Assembléia Legislativa deveria saber. Essas crianças que não têm as defesas
118
não têm os anticorpos, não têm as células T. Elas não têm defesas, têm dez
pneumonias por ano, otites, etc.
Nós temos um ambulatório no Hospital de Clínicas que atende essas
crianças. Eu atendo pessoalmente crianças e adultos com
imunodeficiências, mas o número de crianças e de adultos que foram lá com
imunodeficiências é pequeno. Muita gente está morrendo no interior sem
diagnóstico, porque, nesses pacientes, os médicos não fazem diagnóstico, só
dão antibiótico.
E aí dizem: De novo, a sua filha com infecção. Agora vamos dar
penicilina, vamos dar esse medicamento que vai curá-la, mas eles muitas
vezes não conseguem fazer o diagnóstico porque não têm os meios
laboratoriais que nós temos para chegarmos a definir que situação acontece.
Nós temos uma criança que teve dez meningites meningocócicas. Ela
tem um defeito no sistema do complemento, que é um sistema que ajuda
nas defesas. É raríssimo. O que se faz? Ela toma penicilina para o resto da
vida, é o único jeito. Agora ela está muito bem, mas, se ela não estivesse com
o diagnóstico feito, ela teria morrido de meningococo da outra vez.
Às vezes, nós temos dificuldades num hospital como esse, no sentido de
que a população saiba onde ela pode se socorrer, onde nós temos todas as
maneiras, inclusive os transplantes para os pacientes com imunodeficiências
primárias.
Inicialmente, começamos a comparar a nossa população, no início da
década de 1970, as freqüências dos genes HLA com os de outras populações.
Esse indivíduo que aparece nessa transparência parece um irmão meu, mas
sou eu mesmo há décadas. Estudamos a genética dos índios tikunas na
fronteira do Brasil com a Colômbia e com o Peru, no Alto Amazonas.
Montamos um laboratório num barco chamado Igara Catuçaua, que quer
119
dizer barco da amizade, na língua. Com um americano da Universidade da
Califórnia, estudamos as características HLA dos índios, o que é muito
interessante. Imaginem uma índia de olhos orientais e cabelos lisos,
parecida com uma japonesa. Eles são orientais, amarelos. Esses índios
afilam os dentes para ficarem com eles iguais aos da piranha. Levamos
dentistas na expedição que chegaram ao recorde de, num dia, fazerem 50
extrações dentárias porque os índios perdem os dentes. Eles não falam
português. Falam somente a língua tikuna. Eles só têm três marcadores do
HLA em cada lócus. Eles não são polimórficos como os brancos e os negros.
Isso demonstra a passagem de poucas populações pelo Estreito de Bering,
no Alasca. Pouca gente fez essa travessia quando o Estreito congelava. Foi o
que veio a fazer com que houvesse essa população indígena na América do
Norte. Se compararmos esses índios com outros índios latino-americanos,
inclusive com os esquimós, eles são praticamente superponíveis.
Sobre herança desse sistema HLA numa família, se temos um pai que
tem esse cromossomo A1B8 em vermelho, na transparência, e 3B7 em azul.
Ele casou com essa senhora que é 2B12 a 9B21. Entre seus filhos, há o de
nº 5 no quadro apresentado, que é igual ao filho nº 1. Um transplante feito
entre esses dois irmãos tem alta chance de sucesso, seja de rim, de medula
óssea, do que for.
Existem vários testes de HLA, os de baixa resolução e os de alta
resolução, que iniciamos desde o ano passado. Os de baixa resolução, ou por
intermédio de anticorpos que adquirimos. Esprememos muitas placentas
para tirar os anticorpos de dentro. É uma coisa complicada. Depois, vieram
testes chamados de PCRSSP. Pioneiramente no País, desenvolvemos um kit
para isso e agora um exame automático chamado luminex.
120
Esses eram os testes que fazíamos com anticorpos. Estudávamos as
células do doador, do receptor, víamos se o sangue do doador podia matar a
célula do receptor. Isso é feito ainda em grande parte do mundo. Depois, veio
a reação em cadeia da polimerase, que é o PCR, que deu um Prêmio Nobel a
quem o identificou, entrou o DNA no meio. Em vez de estudar a superfície
das células com anticorpos, estávamos estudando o DNA ou exatamente os
genes que queríamos detectar.
Desenvolvemos um kit HLA para o lócus a, para o lócus b, para o lócus
c, d, r, dq e agora para um genes novos chamado KIF. Todo esse
desenvolvimento foi realizado no Hospital de Clínicas. Enquanto os outros
laboratórios no Brasil compravam, a preço de ouro, os reagentes de
laboratórios industriais e internacionais, nós preparamos as nossas
amostras com um alto controle de qualidade, realizado na Universidade da
Califórnia.
Conseguimos amplificar o DNA e dizer que o indivíduo é A-1, devido a
tal banda, é A-26 devido a três bandas. Também é B-62 e apresenta o B-35.
Conseguimos um dinheiro do Ministério da Saúde para
automatizarmos, para fazermos um número de testes maiores, inclusive
poder repassar esses kits para outros laboratórios públicos nacionais.
Realizamos esses testes há dez anos, só que eles são mais lentos, porque são
manuais.
No ano passado, chegou essa nova tecnologia que veio a suplantar a
anterior, ela é automática, com esse aparelho chamado Luminex. Por
intermédio de luzes, de marcadores de DNA, consegue-se fazer um grande
número de amostras a mais do que se fazia anteriormente.
Contamos com duas tecnologias. Uma delas é feita no Hospital de
Clínicas e a outra que é comprada e custa caro.
121
Nessa projeção, vemos um americano que veio nos dar um curso.
Inicialmente, tivemos problemas com os kits e com o ampliador de DNA que
apresentava defeitos. Compramos um novo e estamos realizando os testes
com uma eficiência melhor.
O que significa a alta resolução? Todos esses testes que mencionei até
agora chamam-se de baixa resolução, inclusive esse automático. Exemplo de
alta resolução: uma pessoa poderá ser HLA A-1, mas com a alta resolução
posso saber se ela é A-1-01, A-102, A1-22, A1-27, que são subdivisões do
DNA desse sistema, seqüenciando o HLA.
O seqüenciamento é a leitura das bases genéticas de um pedaço do DNA
da pessoa. Fomos o primeiro laboratório do Brasil a fazer o seqüenciamento
automático. Estamos fazendo isso para doadores de Banco. Quando
identificamos do Banco temos de aumentar a sensibilidade e para isso
usamos o seqüenciamento para frente e para trás, conseguindo definir essa
especificidade mais apurada.
Por que fazemos isso? Quando se transplanta a medula óssea, ela entra
no sangue do paciente, pois é uma transfusão, e poderá criar um caso
agudo: ela pode rejeitar o paciente. Vejam bem, a medula óssea rejeita o
paciente! Por quê?
Porque antes de introduzirmos a medula óssea, ou até a célula do
cordão umbilical, matamos toda a medula óssea do paciente por
quimioterapia ou radioterapia. Então, aquela pessoa que tinha uma
leucemia, matamos as células leucêmicas, mas junto matamos todas as
células normais imunológicas que defendem o organismo.
A pessoa, com isso, fica à mercê de qualquer vírus. Nesse momento, se
transplanta a medula óssea ou cordão e se reconstitui a pessoa, mas, se
existir um grau de incompatibilidade severo ou maior, podemos ter que a
122
medula transplantada não se identifique e aí rejeita: O que estou fazendo
aqui, sou a medula do João, colocaram-me na Maria, ela é diferente de mim,
vou matar as células dela. E aí infiltra o fígado, a pele, o cérebro e mata o
paciente.
Outro teste que fazemos, que é muito elegante, é o pega. Pegou ou não
pegou o transplante, seja de cordão umbilical, de medula óssea. Isso porque,
durante um tempo, os hematologistas que fizeram o transplante não sabem
se pegou ou não, porque aquele organismo tem poucos leucócitos, poucas
células no sangue, que foi quase todo destruído – só se colocou um pouco do
doador.
Então usamos, do teste do DNA – que não são do HIVA – para analisar o
receptor e o doador. Vejam bem, o par doador-receptor é geneticamente
idêntico no sistema HLA. Como não são gêmeos idênticos, são diferentes em
outros sistemas genéticos. Não é uma obrigação ser igual em tudo.
Se eu contasse isto para meu pai, Homero Jobim, que era médico e que
foi reitor da universidade, ele não iria acreditar. Ele era imunologista.
Existem testes – não os tenho aqui para mostrar aos senhores – em que
um receptor do sexo masculino recebeu a medula de uma doadora. Ele
passa a ter, no sangue, o perfil de mulher, mas continua a ser homem.
Então, altera o sexo só no sangue, porque a medula mudou; o resto, se
analisarmos um fio de cabelo dele, é homem.
Há um caso mais raro – ainda bem – e mais perigoso. Este primeiro
indivíduo recebeu a medula deste outro. Só que, depois de 15 dias, o
paciente ficou com quatro tipos de células, os dois dele e mais os dois do
doador. A esse fenômeno chamamos de quimera. Ficou uma quimera
imunológica, tendo no sangue células dele e do doador. Só que entre as
123
células dele, pode haver algumas leucêmicas e aí é perigoso, porque a
doença pode voltar.
O que fazemos para nos vermos livres dessa quimera? Simplesmente
transfundimos células do doador, que passarão a brigar com as do paciente
até eliminá-las. Por transfusão, corrigimos a quimera. Interessante, não?
Nossa função no Hospital de Clínicas é estudar os doadores e os
receptores para transplantes. Iniciamos estudando a genética da população
brasileira, chegamos a analisar os índios, os negros, os brancos.
Trabalhamos durante muitos anos nisso. Fomos pioneiros nos transplantes
renais. Hoje, existe um segundo laboratório na Santa Casa, mas o Hospital
de Clínicas foi um marco na área de transplantes no Rio Grande do Sul.
Temos uma equipe grande, estamos inaugurando mais um laboratório,
zero quilômetro, recebemos incentivo da administração do hospital para
novas máquinas e estamos fazendo um grande esforço para conseguir tipar o
maior número de doadores e estamos trabalhando 24 horas em plantão. Há
dias em que aparecem 3 doadores cadáveres para transplante de rim. São 6
transplantes de rins, 6 córneas, três corações, assim por diante, é um
laboratório muito ocupado. Modéstia a parte, acho algo muito bem
organizado e que teve todo o suporte da administração do hospital.
Na semana passada fui a Salvador inaugurar o Laboratório de
Imunologia de Transplantes de Salvador, onde todos que lá estão são
gaúchos, então, exportamos um laboratório para Salvador. Foi uma beleza a
inauguração, é numa ONG de crianças com câncer, o Grupo de Apoio à
Criança com Câncer de Salvador. O laboratório de Salvador é um laboratório
público, não fazia plantão, as coisas estavam mal, enquanto temos 200 mil
tipados no Brasil, para o Redome, Salvador entrou com 400 pessoas tipadas.
Acho que será uma raiz que saiu do Rio Grande do Sul para ajudar a Bahia.
124
Agradeço a oportunidade.
Dr. Paulo Mayorga
Quero saudar e cumprimentar todos os presentes na pessoa do Sr.
Presidente, também parabenizar o Dr. Jobim pela sua exposição, muito
esclarecedora e bastante interessante. Apenas uma dúvida, Dr. Jobim, o Sr.
afirmou que o protocolo terapêutico, ou a abordagem terapêutica se inicia
pela busca de uma compatibilização de doadores de medula, mas se existe
esta alta rejeição, temos condições, hoje, de pensar em iniciar um protocolo
pela busca de compatibilidade através de células de cordão umbilical, ou
seria uma aplicação distinta?
Dr. Luiz Fernando Jobim
Talvez eu tenha me expressado mal. A procura é rápida. Hoje temos
uma procura através de um software chamado Rereme, em que os grupos
que fazem o transplante de medula óssea têm acesso ao Redome, por
intermédio do Rereme, então, colocam os dados HLA da pessoa e já faz a
busca e sabem imediatamente se tem ou não tem. Há uns 6 ou 8 meses
atrás isso não existia.
Então, isso agora é uma coisa mais moderna, em pouco tempo, numa
tarde, ficamos sabendo se existe ou não doador no Redome, se não existe,
temos que ir para os bancos.
Os nossos bancos são pequenos, o que vai acontecer? O que o Brasil
quer? Quer que os nossos bancos, tanto o de cordão quanto o Redome,
participem do internacional. Uma pessoa, na Alemanha, pode encontrar um
125
doador no Brasil e o Brasil repassará essa medula óssea para a Alemanha.
Hoje em dia, estamos sempre pedindo, mas chegará um momento em que
estaremos na mesma situação desses outros países.
Dr. Paulo Mayorga
E as pessoas que têm intenção de doar os cordões umbilicais ou sangue
obtido a partir desse material?
Dr. Luiz Fernando JobimO cordão umbilical ainda não, porque não temos banco.
Dr. Paulo Mayorga Apenas no Rio?
Dr. Luiz Fernando JobimSim.
Dr. Paulo Mayorga E não há interesse ou demanda para isso?
Dr. Luiz Fernando JobimPara cordão, não. Estamos esperando verbas para criar o centro de
cordão umbilical no Hospital de Clínicas, é nisso que vocês, deputados, têm
que nos ajudar, a pressionar Brasília. Afinal e o nosso banco? Ficou na
conversa. Deve haver uma mobilização para que isso aconteça.
126
Dr. Paulo Mayorga Perfeito, obrigado e parabéns pela explanação.
Deputado Paulo BrumNa questão da medula óssea, doutor, não existe nenhum processo de
armazenamento do próprio paciente?
Dr. Luiz Fernando JobimSim, o autotransplante é feito em vários centros, não apenas no
Hospital de Clínicas.
Deputado Paulo BrumO banco seria de células-tronco só do cordão umbilical?
Dr. Luiz Fernando JobimExato. Quando a pessoa vai doar para ela mesma, ela tira o cordão ou a
medula óssea, que é resfriada ou congelada e o paciente faz a quimioterapia,
aí ele recebe novamente a medula óssea. É a mesma medula dele, pode ter
mais recidiva de doenças anteriores.
Isso é feito no Hospital de Clínicas, na Santa Casa, no Hospital Moinhos
de Vento, talvez em outros, não sei bem, trata-se de algo corriqueiro nos dias
de hoje, porque não há rejeição.
Aqueles que querem doar a medula óssea, tiram um pouco de sangue,
fazemos os testes e os enviamos pela internet para o Instituto Nacional do
Câncer, no Rio de Janeiro, formando o Redome, o registro nacional. Aí não é
congelado nada, só dados.
127
Por exemplo, uma moça que foi estagiária no meu laboratório, doou a
medula, agora ela foi chamada por que existe alguém no Brasil que precisa
da medula dela. Agora estamos fazendo a alta resolução, que é o teste
definitivo, o HIVA DR de alta resolução para ver se, realmente, bate com
aquela pessoa que está precisando, aí o transplante é realizado.
128
25/mai/2006
Banco de sangue de cordão umbilical, a visão do serviço privado
Dra. Karolyn Sassi Marco Couto/AL
Palestrante: Dra. Karolyn Sassi — diretora-geral do Hemocord,
especialista em reprodução humana e doutoranda em Biologia Molecular
pela Universidade Federal de São Paulo.
129
Dra. Karolyn Sassi
Agradeço o convite, pois esta é uma oportunidade para nós, como
serviço privado, de podermos mostrar a nossa visão, porque hoje em dia
existem evidências de que os serviços público e privado deveriam ser
parceiros nisso e realmente podem ser.
Inicialmente, célula-tronco é uma célula que consegue se multiplicar,
formar células primitivas iguais a ela e também se diferenciar de uma
linhagem determinada de células com uma função específica. O grande
desafio de hoje é como controlar esse processo de diferenciação de ela se
transformar em uma determinada célula ou outra.
Qual é a fórmula mágica de que precisamos, quais os componentes
para fazer com que essa célula se diferencie num tipo de tecido ou num
outro?
Temos basicamente uma divisão: as células adultas, ou somáticas, que
vêm da medula óssea, de tecidos fetais e do sangue do cordão umbilical do
bebê; e as embrionárias, que vêm dos embriões, do blastocisto, na verdade,
que é o embrião de cinco dias.
Em princípio, se diz, na literatura, que as células adultas teriam uma
especialização limitada, conseguem se dividir em vários tecidos, mas em
número limitado e que a célula do embrião conseguiria se transformar em
todos os tecidos do organismo.
Começarei falando pela célula-tronco embrionária, porque é mais a
minha área. A primeira pessoa que conseguiu selecionar e retirar a célula-
tronco do embrião foi Dr. James Thomson, da Universidade de Wisconsin em
1998. Ele conseguiu tirar do miolo da parte de cima, tirando a parte que vai
formar o embrião. Essas células seriam retiradas quando o embrião teria
130
cinco dias de vida e seriam colocadas em cultura e, com isso, se destruiria
esse embrião. A partir daí se faz a cultura dessas células com uma mistura
específica de substâncias para tentar fazer com que delas se originem, por
exemplo, só fibras cardíacas, músculo cardíaco ou só neuronais.
Em 1998, foi a primeira vez que se conseguiu isolar essas células-
tronco e mantê-las em cultura. Atualmente, temos mais de 150 linhagens de
células-tronco embrionárias disponíveis no mundo, que já estão
diferenciadas num tipo de tecido, congeladas ou em cultura e sendo usadas
em pesquisas para poder, no futuro, serem utilizadas.
Quais os problemas que temos com a célula-tronco embrionária? A
contaminação, pois essas culturas foram feitas com fibroblastos de
camundongos, com algumas células dentro desse líquido que se coloca a
cultura, porque, em princípio, isso era experimental e foi usado soro fetal
bovino, que é também um dos componentes dentro dessa cultura. Muitas
dessas linhagens não poderemos aplicar em seres humanos por causa da
contaminação animal.
A questão dessas células serem totipotentes, ou seja, delas poderem se
transformar em qualquer tecido, é algo que precisamos saber como
controlar, porque pode gerar tumores. Como ela se multiplica
desordenadamente, precisamos saber quais os genes que precisamos
bloquear ou liberar a sua função para que aquelas células se comportem da
mesma maneira que se comportariam se estivessem no organismo humano,
onde recebe sinais.
No organismo, naquele determinado tecido onde ela está, ela recebe
sinais de uma célula ou do meio, que ligam e desligam os genes certos para
que a célula se comporte da forma como deveria. Na verdade, quando ela
131
está em cultura, não temos as mesmas substâncias para conseguir controlá-
la.
Aos poucos, se vem descobrindo quais os genes importantes para fazer
esse controle, e aqui descobriram um gene, que é o OCT-4, que quando a
sua expressão está aumentada, consegue manter as células primitivas
indiferenciadas. Isso já é um começo se quero multiplicá-las in vitro para
conseguir ter uma quantidade grande antes de diferenciá-la. E uma das
dificuldades era essa, por exemplo, na célula adulta, a célula somática, a
célula-tronco adulta teria uma capacidade de multiplicação limitada,
morreria dentro de algum tempo, mas se sei dominar isso, posso tentar usar
esse gene, manter a célula adulta indiferenciada sem precisar usar a de
embrião, por exemplo, porque aí há toda a controvérsia quanto ao seu uso.
Em termos de rejeições, se eu criar uma linhagem simplesmente de um
embrião e querer transplantá-la numa terceira pessoa, vai existir a rejeição,
pois, assim como nos transplantes, precisa haver compatibilidade. Esse é
um problema, também, não é simplesmente criar linhagens e a solução está
pronta.
Qual é a solução para essa rejeição? A partir disso é que se começou a
pensar na clonagem terapêutica. Por quê? Porque se pode criar um embrião
da própria pessoa que precisa de determinado tratamento com célula-tronco,
nesse caso não haveria rejeição.
A clonagem terapêutica consiste em pegar uma célula adulta célula da
própria pessoa, retirar esse núcleo, aliás, pegar um óvulo dessa pessoa, tirar
o núcleo e colocar o núcleo de uma célula adulta já como se fosse um
embrião formado. Esse embrião se multiplicaria e se faria em cultura de
uma determinada linhagem específica.
132
Quais são as alternativas apresentadas para eliminar o conflito ético em
relação ao uso do embrião? Se se souber como controlar a manipulação
genética da célula adulta, da qual eu tinha falado antes, e fazer com que ela
se comporte da mesma forma e com as vantagens da embrionária, então é
eliminada a necessidade de usar as embrionárias. Um bom começo é este
gene OCT-4, que eles descobriram.
Outra coisa seria a partenogênese, que consiste em pegar um óvulo e
fazer com que ele, com determinado estímulo, se multiplique e se comporte
como um embrião, mas sem que ocorra a fertilização com o espermatozóide.
Alguns animais se reproduzem por partenogênese, esse já é um
processo conhecido. Experimentaram com óvulos de camundongos, de
animais e até no óvulo humano isso funciona, pois, às vezes vemos que,
mesmo sem fertilizar, com um determinado estímulo, ele começa a se
multiplicar e, após alguns dias, parece um embrião.
A outra alternativa seria a clonagem de embriões humanos – e aí entra
todo o medo da clonagem reprodutiva, criação e destruição de embriões para
isso e também teríamos de vencer a reação imunológica.
E de onde se tiraria tantos óvulos, porque para o processo da clonagem,
que os coreanos disseram que tinham iniciado – e na verdade era uma farsa
– mostrou que precisaram de muitos óvulos para conseguir poucas
linhagens.
O primeiro a realizar a clonagem foi o Dr. Ian Wilmut, que criou a Dolly
e foi a partir disso que começou toda a polêmica e a possibilidade de
analisarmos a clonagem terapêutica.
A imagem mostra uma gatinha, que também foi clonada, no Texas, o
nome dela é CC, isso foi em 2001, Copy Cat, foi a primeira gatinha clonada.
133
No caso desta égua, é interessante que ela mesma, a mãe, doou a
célula, o óvulo, de que foi feito o clone do embrião e ela mesma o gerou em
outubro de 2003. O nome da pequeninha é Prometéia e foram usados 841
embriões para apenas uma conseguir nascer.
Já foram feitos experimentos aqui de partenogênese, aquele processo do
óvulo, só ele estimulado, mas fizeram alguma mudança genética nesse óvulo
para fazer ele se comportar de uma maneira como se fosse um embrião. De
460 embriões se conseguiu 10 filhotes e uma foi para a fase adulta, que é
este camundongo fêmea, que, inclusive, até já teve filhotes normais.
É um processo possível que elimina a fertilização do óvulo com o
espermatozóide – e talvez isso diminua um pouco a polêmica, pois não será
usado o embrião verdadeiro. Mas a questão é que aqueles que defendem os
embriões dizem que o processo de clonagem ou partenogênese também gera
seres vivos.
Em princípio, se isso for feito com células humanas, teoricamente se
conseguiria gerar um ser vivo, um ser humano. Então, quem defende mesmo
os embriões, diz que mesmo a clonagem não é uma desculpa, que isso gera
seres vivos. Eles são contra, inclusive, à clonagem de embriões que foram
gerados por clonagem para retirar as células-tronco.
Os coreanos apresentaram um trabalho, em 2004, no qual eles tinham
usado 242 óvulos, geraram 30 embriões e tinham conseguido uma linhagem
de células. Nem isso é verdade. Depois, em 2005 foi publicado que eles já
tinham conseguido 11 linhagens de células tronco. Isso caiu por terra e, na
verdade, foi um balde de água fria nos defensores de células-tronco
embrionárias porque se achou que se havia descoberto a fórmula mágica de
se conseguir essas linhagens. Na verdade, retrocedeu-se um pouco.
134
Entre os obstáculos a serem superados, em termos de células
embrionárias está encontrarmos maneiras mais eficazes de obter células
tronco, porque o processo todo não é eficaz pois perdemos muito,
precisamos de muitas células e de muitos embriões para conseguir
desenvolver muito poucas linhagens. Precisamos de métodos melhores para
identificar as embrionárias e seu potencial de desenvolvimento; formas de
controlar sua diferenciação e crescimento dentro do corpo; saber se o
sistema imunológico ataca células-tronco ou aquelas diferenciada a partir
delas. Esse também é um mistério. Como nunca foi usada em uma célula
tronco embrionária, não se sabe qual será o resultado disso. Só se sabe que
em animais isso gerou tumores em uma grande porcentagem de, em função
do crescimento desordenado dessas células. Também é preciso se
compreender melhor as vantagens comparativas das células-tronco
embrionárias em relação às células somáticas em diferentes aplicações,
porque precisamos apostar naquilo que tem dado resultados clínicos e tentar
descobrir como são controladas as vantagens das embrionárias para ver se
conseguimos reproduzir isso nas adultas, que são as células de medula
óssea ou as de sangue de cordão.
A maioria dos cientistas pensa que pode levar uma ou duas gerações
para se poder aproveitar plenamente os possíveis benefícios das células
embrionárias. Essa é a minha opinião.
Com relação às dificuldades associadas no Brasil, existe um consenso
da Associação Americana de Medicina Reprodutiva quanto a embriões
congelados no sentido de que, quando usamos e transferimos embriões,
quando fazemos um processo de fertilização in vitro e se coloca os embriões
dentro do útero de uma mulher, temos um resultado no caso dos embriões
que não haviam sido congelados. Quando os colocamos dentro do útero
135
depois de um processo de congelamento e de descongelamento, a taxa de
implantação desses embriões cai em 20%. A qualidade desses embriões é
diferente. Não sabemos se trabalhar com embriões congelados, que é o que
cogita a lei, será o mesmo que trabalhar com embriões a fresco. A lei
também cita o uso de embriões inviáveis. Se esses embriões são enviáveis,
não sabemos se conseguiremos trabalhar com eles. Se eles são enviáveis, em
princípio nem os colocaríamos no útero de uma mulher. Se o consideramos
inviável, ele está morto, em outras palavras. É um embrião inutilizado. Será
que isso vai funcionar em cultura?
A maioria das clínicas têm os embriões congelados no terceiro dia. Eles
não viraram blastocistos ainda. Então, quando os descongelarmos,
precisamos deixá-los em cultura para chegar até blastocisto. Muitos
embriões não sobrevivem ao processo de descongelamento. Então, muito
poucos embriões conseguiremos levar até o quinto dia em cultura, fazendo
com que ele fique de boa qualidade para conseguirmos tirar a célula-tronco e
fazermos uma cultura da célula-tronco. A proposta da lei é bem difícil, na
prática, de acontecer.
Também precisamos do consentimento dos pais. Os embriões precisam
estar estocados por no mínimo três anos nas clínicas de fertilização. Cada
instituição, mesmo assim, terá sua comissão de ética que aprovará ou não o
uso do embrião, apesar de a lei permitir pesquisa com célula-tronco
embrionária. Existe a questão do certo e do errado. Por isso, muitas
instituições não aprovarão isso, principalmente as que envolvem religião,
instituições privadas religiosas.
A questão é: será que era hora de aprovar isso, por questões financeiras
e pela evolução das pesquisas na área, principalmente, das células-tronco
adultas? Creio que a verba e o empenho deveriam ser muito mais em torno
136
das células-tronco somáticas e adultas, porque é o que tem dado resultado.
Além de tudo, tem dado resultado em seres humanos já. Está muito mais
próximo da nossa realidade do que a célula-tronco embrionária, das quais
poucos entendem ainda do seu comportamento. Até conseguirmos aplicar
isso em seres humanos serão necessários muitos anos de pesquisa.
Na transparência que apresento sobre o processo de fertilização in vitro,
essa mostra o embrião do segundo dia. Nós o congelamos nessa fase do
terceiro dia, quando ele tem, no geral, de oito a dez células dentro dele.
Precisamos descongelá-lo e fazer com que ele chegue nessa fase. A massa
interna é o que gerará o embrião todo. Retira-se essa massa e se deixa em
cultura na estufa. O difícil é realmente passar dessa fase.
Os embriões ficam congelados em tanques de nitrogênio líquido nessa
fase de oito a dez células, com a esperança do uso direto das células na
terapêutica de doenças. Esperamos um dia conseguir usar essas células
para determinadas doenças, a criação de modelos de tecidos diferenciados
para estudo da fisiologia das doenças, das moléculas envolvidas e para
testar drogas. Isso sim é uma vantagem, podermos, pelo menos, pesquisar,
mas isso tem que ser divulgado dessa forma. Existe a vantagem de podermos
fazer as pesquisas. Estamos mais na fase de usar isso para tentar descobrir
e responder muitas questões em relação às doenças, para entender melhor
aquela doença do que já usar a célula-tronco como se fosse algo mágico que
já trata diretamente. De muitas doenças não se sabe nem qual é a base, qual
a molécula que causa aquilo. Para isso sim, criar modelos de tecidos com
doenças, estudar como aquilo funciona e por que nos levará à resposta a
respeito do tratamento mais apropriado. Por exemplo, criar células
pulmonares que têm fibrose cística. Esse é um modelo para estudarmos,
entender melhor essa doença e, a partir dali, criarmos opções terapêuticas.
137
Quanto à célula-tronco somática, em 1950, foram feitos os primeiros
experimentos com a célula-tronco hematopoética. Sabia-se, há muito tempo,
que existia uma célula na medula óssea que era a célula-mãe que conseguia
gerar todas as outras células do sangue, inclusive as células do aparato da
medula óssea., do tecido ósseo, do tecido subcutâneo, pois há gordura
dentro da medula óssea.
Em 1958, descobriu-se o complexo HLA, que é aquilo que dá
compatibilidade. Descobriu-se que precisava existir uma compatibilidade
entre as células. Em 1973, foi feito o primeiro transplante de medula óssea
com sucesso em seres humanos. Tudo isso baseado no conhecimento de que
existia uma célula que era a que dava origem às outras. Só que a célula-
tronco não estava tão em voga. Na verdade, não se sabe ainda qual é a
verdadeira célula-tronco adulta, qual é a primeira, onde ela se origina.
Sabemos que ela existe em todos os tecidos, mas não sabemos se ela começa
em algum lugar, o que ela faz e como faz. Principalmente como ela faz não se
sabe ainda. Os pesquisadores estão correndo atrás para saber como
conseguiram chegar aos resultados que alcançados em seres humanos, na
área cardíaca e tudo o mais, para tratar insuficiência cardíaca, enfarto. Não
se sabe qual a verdadeira célula-tronco, qual seu fenótipo, quais suas
características. Há marcadores na superfície das células. Sabemos que a
hematopoética tem essas características. A mesenquimal também está
dentro da medula óssea e que dá origem a outros tecidos, não às células do
sangue, mas sim as do tecido extracelular em volta. Descobriu-se, por meio
dessas publicações, que ela também gera outros tecidos. Então, não há só a
hematopoética adulta, a que origina os glóbulos vermelhos e os brancos,
mas que há outra, a que gera o tecido de sustentação da medula que
também tem a capacidade de se transformar em outros tecidos. Ela tem
138
características diferentes dessa aqui. É uma célula diferente, que tem a
mesma capacidade. Então, quem é a verdadeira célula tronco? Será que há
uma antes dessa, que origina essas duas? Tudo isso está em pesquisa ainda.
Não temos muitas respostas. O que sabemos é que mais do que 75% das
células-tronco hematopoéticas têm essas características. Só que menos de
1% das células CD34 positivas, que são as que têm esse marcador, que
armazenamos, que dosamos no sangue do cordão umbilical, têm o resto das
características. Sabemos que não só a célula-mãe, mas uma ou duas
gerações depois dela também têm a capacidade muito grande de
regeneração.
Existe também o processo de transdiferenciação, que é o interessante
da célula-tronco. Uma cientista, em 2002, descobriu a célula adulta
progenitora multipontente. Foi ela que começou a estudar a
transdiferenciação. Ela sugeriu que existia uma outra célula, que seria a
mezenquimal, que também teria capacidade de gerar outros tecidos. Por
meio da manipulação de genes responsáveis por enviar sinais bloqueadores
à células-tronco, houve o desenvolvimento de nervos ópticos danificados. Os
cientistas viram que, na verdade, o embrião, num determinado momento,
divide-se em três folhetos – o endodermo, o mesodermo e o hectodermo – que
geram, cada um deles, determinados tecidos. Eles pensavam que a célula-
tronco hematopoética adulta já estava destinada a se transformar somente
nos tecidos daquele folheto de onde ela havia se originado. Por isso se
acreditava que as células embrionárias tinham muito mais vantagem em
relação à célula adulta, porque a embrionária está antes da divisão desses
folhetos. Então, ela tem como se dividir em todos os tecidos.
Essa cientista viu que, por meio de alguma manipulação de genes,
conseguiu-se fazer com que aquela célula conseguisse se transformar e gerar
139
um tecido que era do outro folheto, que não tinha dado origem a ela. Isso é
chamado de transdiferenciação. É um pouco complicado de explicar. Não sei
se consegui deixar claro.
Outra questão é o envelhecimento das células. Pensava-se que a
células-tronco embrionária tinha muita vantagem em relação às adultas,
porque as adultas já haviam sofrido alguns processos de mutações, algumas
lesões de poluição, de fumo, de medicação que a pessoa possa ter tomado
durante a vida. Em relação às de medula óssea, às células do cordão e às do
feto, os pesquisadores pensam que elas, por serem mais jovens,
conseguiriam superar isso.
Descobriu-se a plasticidade das células-tronco da medula óssea em
1998. Aí é que se começou a falar muito em células-tronco, de que existia
essa célula que vinha da medula óssea, mas que conseguia gerar tecido
muscular, que foi o que o trabalho publicado nesse ano mostrou. Aí é que
começou toda a divulgação das células-tronco, apesar de já se conhecer a
célula- tronco da medula óssea desde a década de 1950.
A partir de então, houve outras publicações, mostrando que a célula-
tronco da medula conseguia se desenvolver em tecido hepático, em tecido
neuronal, em outras células de vasos sangüíneos e de cartilagem.
O Brasil tem a liderança, na área cardiológica. Em 2001, um primeiro
paciente recebeu a terapia com células-tronco. Ele está bem hoje. Esse é um
dado importante porque precisamos não só sugerir o tratamento com
células-tronco adultas, mas precisamos fazer esse acompanhamento por um
tempo para constatar se essa lesão não voltará. É importante o segmento.
Desde 2001 esse paciente está bem. Ele está na fila de transplante e
conseguiu sair dessa fila.
140
Trouxe uma matéria que foi publicada na revista IstoÉ. A Dra. Alice
Teixeira é consultora científica do Hemocord e é minha orientadora do
doutorado. Por intermédio do Departamento de Biofísica da Universidade
Federal de São Paulo que começamos a avaliar a possibilidade de abrir o
banco de sangue de cordão umbilical para trabalhar com células-tronco. A
Dra. Alice Teixeira trabalha há mais de 15 anos com a célula de medula
óssea.
Nessa transparência temos todas as instituições que trabalham com as
células-tronco. No Incor e no Hospital de Clínicas de São Paulo, estão sendo
feitos trabalhos com cardiopatias. No Hospital Pró-Cardíaco foi feito o
primeiro uso das células-tronco em cardiopatias. Agora, os pesquisadores
estão fazendo um estudo com acidente vascular cerebral, que será bem
interessante. A Universidade Federal do Rio de Janeiro trabalha em conjunto
com o Hospital Pró-Cardíaco na parte de pesquisa básica. O Hospital de
Clínicas de Ribeirão Preto trabalha com diabetes juvenil. A Universidade de
São Paulo tem o Projeto Genoma. A Fundação Oswaldo Cruz, em Salvador,
estuda a doença de Chagas. A Unifesp, com a Dra. Alice Teixeira, faz estudos
de pesquisa básica de cultura, in vitro, a parte celular mesmo. O INCA e o
Hospital Israelita Albert Eistein também têm um banco público de sangue de
cordão umbilical. Incluí esse dado aqui porque muita gente entra em contato
para saber como doar o sangue do cordão umbilical.
Em 1984, pesquisadores detectaram as células progenitoras no sangue
do cordão umbilical. Eles descobriram que o feto tinha muitas células-tronco
circulantes, que poderiam ser aproveitadas de alguma forma. O banco de
medula óssea é um banco de registros, de endereços, de nomes. Como é
muito difícil encontrar doadores de medula óssea, vai-se atrás dele para
141
saber se ele mora no mesmo endereço, para ver se ele ainda pode doar ou
não. A sistemática dos bancos de medula óssea é muito difícil.
Descobrir células-tronco no sangue do cordão umbilical foi uma luz.
Depois do nascimento, sai a criança, sai a placenta e essa era desprezada. O
máximo que se fazia com a placenta era pesá-la para ter esse dado e jogá-la
no lixo. Começou-se a cogitar de usar isso como uma alternativa para quem
não encontrava no banco de medula óssea algum doador compatível. Ele era
encontrado num banco de cordão, já que as células eram as mesmas,
inclusive com algumas vantagens.
Depois, houve estudos mais recentes com sangue de cordão umbilical.
São de 2004. Foi quando constataram que as células de cordão têm a
mesma vantagem da de medula óssea, que é sua plasticidade, sua
capacidade de gerar outros tecidos também. Podem se transformar em
músculos esqueléticos, podem regenerar ossos, recuperando a função
cardíaca, atuando em diabetes em paralisia. Os estudos são em animais,
porque muito pouca gente tem o sangue do cordão, porque é uma coisa
recente, e precisou usar sangue do cordão armazenado.
A maioria dos estudos no sangue do cordão é feita em sangue de cordão
de animais ainda, mas tem-se conseguido chegar no mesmo caminho das
pesquisas de medula óssea. Tem-se descoberto algumas vantagens que
citarei depois.
O primeiro transplante de sangue de cordão umbilical foi feito em 1988,
como uma alternativa. Uma criança tinha anemia de Fanconi. Foi feito na
França por Eliane Gluckmann, que foi quem começou tudo isso. Foi
publicado em 1989. Pablo Rubenstein fez o primeiro banco de sangue de
cordão umbilical em 1993, em Nova Iorque.
142
Em relação aos bancos de sangue de cordão umbilical, deve ser feita
uma opção prévia. É o paciente que tem que decidir antes se quer doar ou se
quer armazenar num banco privado, porque não existe a possibilidade de
doar metade para um e metade para outro. Essa é uma questão bem
freqüente. A diferença é que o banco público é feito para transplante
alogênico. Há uma doação e o sangue é usado em uma terceira pessoa. Ele
visa, principalmente, a aplicação em leucemias ou doenças genéticas para as
quais já existe o tratamento consagrado hoje em dia.
O objetivo dos bancos públicos é o de complementar os bancos de
medula óssea, para conseguir um maior pool de doadores. Se não for
encontrado um doador em medula, talvez se encontre num banco de sangue
de cordão umbilical algum doador para um paciente com leucemia.
No banco privado, o procedimento e a manutenção são pagos. O destino
é o uso pelo próprio doador, um dia, se ele precisar, ou algum familiar. Visa,
principalmente, a doenças hematológicas adquiridas, que são diferentes da
leucemia, e alguns tumores sólidos, que são comuns em crianças como
neuroblastoma, retinoblastoma e, no futuro, a medicina regenerativa.
Acredito que as duas coisas são complementares para a sociedade,
porque têm objetivos diferentes. O nosso objetivo é tratar a leucemia um dia,
talvez, de algum familiar, se for compatível; e não o próprio bebê que coletou
o sangue do cordão umbilical. Talvez um dia se possa apostar nessa
medicina regenerativa, que, pelas pesquisas, nos vem mostrando alguns
resultados bem animadores.
Essas são as aplicações atuais do sangue de cordão umbilical no geral,
tanto para transplante para a própria pessoa como para uma terceira pessoa
recebê-lo.
143
Pelo exemplo, podemos ver alguns tipos de câncer – e nem me atreverei
a falar sobre cada doença, porque nem são da minha área.
Nesta lista há casos de câncer; de falência de medula óssea; síndromes
de hemoglobinopatia; doenças do sangue também; alguns erros inatos do
metabolismo, que são defeitos genéticos; algumas imunodeficiências e outras
doenças. Há uma lista enorme de casos em cujo tratamento já se usa sangue
de cordão umbilical.
E qual é a lista de doenças em que a pessoa pode receber o seu próprio
sangue? São mais ou menos umas 20 doenças. A maioria são casos de
tumores: linfomas; meloma múltiplo; Sarcoma de Ewing, que é um tumor
ósseo; neuroblastoma; tumor de Wills, que é de rim; tumor neuronal; tumor
de tecido muscular; meduloblastoma; tumores de células germinativas, que
é o câncer de ovário; tumor de retina; etc.
Nos casos em que o paciente precisar realizar quimioterapia, pode-se
usar o sangue do cordão umbilical para regenerar a medula óssea
novamente. E isso já é utilizado.
O banco de cordão umbilical privado é muito criticado, porque dizem
que é muito raro precisar usar. É raro, mas existem as suas indicações
atuais. A maioria das pessoas que coletam o sangue de cordão umbilical no
banco privado o faz porque está apostando na medicina regenerativa e não
pela lista de doenças que podem ser tratadas.
Os senhores podem ver aqui as doenças que estão em pesquisa, mas o
detalhe é que as pesquisas são sempre com transplante autólogo.
Se o tratamento para diabetes um dia ficar consagrado e as pesquisas
mostrarem que pode-se usar células-tronco de cordão umbilical para tratar
diabete juvenil e eu recorrer a um banco público, eles irão liberar? É preciso
achar um doador compatível, porque terá de existir a compatibilidade, o
144
banco público vai liberar ou aquilo vai continuar sendo somente para a
leucemia? Não sabemos.
Se um dia esse tratamento ficar consagrado para diabetes e tenho o
meu próprio sangue coletado e armazenado no banco privado, poderei usá-lo
sem ter o problema da rejeição – essa também é uma vantagem. Se eu
recorrer a um terceiro, existe o problema da rejeição.
O avanço maior é nas doenças cardíacas. Se esse tratamento na área
cardiológica também ficar consagrado, e as pesquisas mostrarem que vale a
pena usar isso como uma terapêutica, pois a incidência de cardiopatias é
muito alta.
Hoje em dia, com aquela lista anterior que mostrei, é muito raro
aquelas doenças acontecerem e será muito raro aquela pessoa precisar usar
aquele sangue.
Hoje, vemos que é raro a criança precisar usar o sangue que coletou e
armazenou no banco privado, mas isso pode virar uma alternativa definitiva,
no futuro, pois há uma incidência é muito grande de insuficiência cardíaca,
de hipertensão, de doenças isquêmicas, etc. Isso pode chegar a uma
incidência de um para quatro, um para dois em mulheres após a menopausa
e com mais de 50 anos e em homens é mais freqüente ainda.
Estou apostando nessas pesquisas e acredito que um dia poderemos
usar o sangue do cordão umbilical armazenado e ampliarmos suas
aplicações usando-o para esclerose múltipla; paralisias; enxertos de pele e
de tecido ósseo; lúpus; etc. Na Doença de Parkinson e no Mal de Alzheimer
será mais difícil conseguir usá-lo e precisará de muita pesquisa, pois tudo
que envolve o sistema neurológico é mais complicado. É necessário que se
injete as células no local, uma boa quantidade das células precisam
145
sobreviver depois que as injetamos e elas têm de assumir a função daquelas
que queremos substituir.
Está em estudo e creio que, pelo que tudo indica, alguma coisa irá
avançar nessa área.
Por que coletar, então, o sangue do cordão umbilical? Quais são as
evidências que temos a favor disso? Achava-se que a quantidade de sangue
coletada do cordão umbilical não era suficiente para transplantar um adulto.
Há uma das publicações, aqui, uma das primeiras que apareceu, que
mostra que é suficiente transplantar um adulto com o sangue do cordão
umbilical. A quantidade varia muito, o ideal é que tenhamos de 70 mililitros
para cima para termos uma boa quantidade de células-tronco nesse sangue.
Às vezes não conseguimos isso, porque a placenta é pequena e não vem todo
o sangue, e muitas vezes vem em torno de 150 mililitros.
Esse foi um estudo interessante que envolveu 682 adultos com
leucemia. Noventa e oito deles forma tratados com sangue de cordão
umbilical, e 584 receberam medula óssea. O estudo foi feito pelo mesmo
grupo que realizou o primeiro transplante de sangue de cordão.
Os que receberam o sangue de cordão eram pacientes um pouco mais
jovens, tinham, em média, 24 anos e meio; e os que receberam medula
óssea, tinham, em média, 32 anos. Mas eram adultos.
O peso era um pouco diferente: a média dos pacientes que receberam
sangue de cordão era de 58 quilos; e os que receberam medula óssea, de 68
quilos.
Dos pacientes que receberam o sangue de cordão, 52% tinham doença
mais avançada, enquanto que o percentual dos que receberam medula era
de 33%.
146
Noventa e quatro por cento dos pacientes que receberam sangue de
cordão não tinham a compatibilidade HLA de 6/6, que é a compatibilidade
completa. Quem recebeu medula óssea precisa de uma compatibilidade de
100%.
Uma das vantagens do sangue do cordão é que pode-se procurar um
doador que não seja 100% compatível, tendo uma certa compatibilidade já
funciona.
Outra coisa muito importante é a quantidade de células que os
pacientes receberam por quilo: 0,23x10⁸ células para quem recebeu sangue
de cordão, e quem recebeu medula óssea precisou de 2,9.
Quem recebeu sangue de cordão teve uma menor incidência de doença
enxerto versus hospedeiro, apesar de a maioria, 94%, não ter a
compatibilidade. E quem recebeu sangue de cordão teve uma recuperação
da população de neutrófilos um pouco mais tardia.
A recuperação foi um pouco mais tardia, mas no final de tudo não
houve uma diferença nos dois grupos em relação à incidência de doença
enxerto versus hospedeiro crônica, à mortalidade, ao índice de recidiva da
doença e ao tempo de sobrevida livre da doença. Ou seja, o resultado é o
mesmo, no entanto, foi preciso muito menos células de cordão. O sangue do
cordão, mesmo que seja pouco, tem uma quantidade de células suficiente
para transplantar um adulto, porque a capacidade de regeneração da célula
do cordão é maior do que a célula da medula óssea, talvez por ser mais
jovem. Vários estudos têm provado o que estou dizendo.
Esse é um argumento favorável. Algumas pessoas questionavam se o
sangue do cordão seria suficiente para tratar doenças cardíacas, já que elas
ocorrem na fase adulta. Sim, até porque cada doença necessitará de um
número determinado de células. Precisamos de uma quantidade bem grande
147
de células, realmente, depois de uma quimioterapia, pois é necessário
regenerar toda a medula óssea. Para o coração, injeta-se uma quantidade
menor, a concentração é menor.
Temos visto ao longo do tempo que as aplicações do sangue do cordão
estão sendo ampliadas e são suficientes para transplantar um adulto. Para
algumas doenças degenerativas, como falei anteriormente, o número de
células a serem utilizadas é menor, não precisamos, talvez, da mesma
quantidade necessária para regenerar a medula óssea. Se temos coletado
uma quantidade pequena de células, talvez seja suficiente para determinada
doença que vamos querer tratar no futuro.
O tempo de armazenamento é indeterminado. Como fica numa
temperatura de menos 196 graus Celsius, abaixo de menos 130 não existe
metabolismo dentro da célula, não existe um envelhecimento dessa célula.
Não sabemos. Na verdade, é indeterminado. Sabemos que do sangue
armazenado desde 1993, no primeiro banco que apareceu de sangue de
cordão, até hoje as células estão viáveis, estão sendo aplicadas e têm
funcionado. Então, precisamos de mais tempo, de bancos de cordão para
irmos descongelando e vendo se vai funcionando. Em princípio, 15, 20 anos
já estão garantidos. Sabemos, por embriões ou por sêmen congelados, que
não existe tempo limite, porque realmente em nitrogênio líquido a
temperatura é muito baixa. Então, não temos como determinar.
A célula tronco do cordão dá menos rejeição em relação à de medula
óssea. Não sabemos por quê. Talvez por ser mais imatura tenha uma
capacidade de regeneração maior e provoque menos reação do organismo
onde é transplantada. Isso é uma vantagem em relação à medula óssea.
Permite um menor grau de compatibilidade, o que aumenta a
disponibilidade de potenciais doadores, porque podemos ampliar. Se
148
procuramos um doador num banco público, não precisamos pegar apenas
os que são 100% compatíveis, existe uma maleabilidade maior.
Existe uma maior concentração de células progenitoras mais primitivas
dentro do sangue do cordão, o que é bom. O sangue do cordão está
imediatamente disponível, não precisamos ir atrás do doador. O sangue já
foi coletado e está no nitrogênio, basta testá-lo para compatibilidade,
descongelar e usar. A média para conseguir achar um doador de medula
óssea é em torno de quatro meses, se recorrermos a um banco de medula
óssea, o que pode significar, às vezes, a vida de algum paciente.
Existe uma grande oferta, muito maior. Se formos pensar em quantos
partos acontecem por dia e se coletássemos de todos, para colocar num
banco público, seria ótimo.
A coleta não oferece risco nenhum, nem para mãe, nem para o bebê. A
probabilidade de uso é crescente para tratar doenças degenerativas, por
causas das pesquisas em andamento, então, existe aquela lista de coisas
que se usa hoje, mas acredito que daqui há cinco anos a lista vai estar
maior.
Quem tem história na família de doenças que são tratáveis, deve coletar
porque existe a chance de algum familiar desenvolver.
Quem tem um tipo de HLA raro, também deve coletar o sangue do
cordão, os hematologistas recomendam, porque aí é muito difícil de achar
um doador, então o ideal é que se colete o sangue do cordão para ter na
família.
A sobrevida é maior quando o transplante ocorre com sangue de um
doador aparentado, então isso é um grande argumento a favor dos bancos
privados.
149
Se eu preciso de um transplante e eu recorro a um doador, alguém que
não tem parentesco, mas, ao mesmo tempo alguém da família coletou o
sangue do cordão e aquele sangue do cordão é compatível comigo, e o do
banco público também é compatível, se eu receber o do meu parente, o
resultado é melhor. A minha sobrevida é maior. Isso, nos trabalhos, não se
sabe porquê ainda, mas o mesmo grupo da Eliane Gluckman provou isso,
que foi quem começou e fez o primeiro transplante do sangue do cordão.
Então, isso é uma vantagem.
Mesmo que aquele bebê que coletou não use o sangue do cordão, se for
compatível com algum familiar, já é uma vantagem para os familiares de
primeiro grau. É uma possibilidade de conseguir, de ter um doador ali.
A probabilidade de eu encontrar um doador compatível num banco
público, de alguém que não tem parentesco é de uma em um milhão. Se eu
tiver entre parentes de primeiro grau, a chance é de um para quatro. Claro
que não é garantido, mas a chance é muito maior.
O Hemocord está muito interessado em fazer pesquisa e contribuir.
Temos todo o interesse de ampliar aquela lista de aplicações. Eu acredito
nisso, e foi por isso que o nosso grupo resolveu montar e trabalhar com
células troncos, porque acredita que isso tem futuro, e principalmente as
células de cordão que tem mostrado vantagem sobre as de medula.
Estamos envolvidos. O Hemocord vai financiar até a primeira etapa da
coleta do sangue do cordão para fazer essa pesquisa em diabetes. Vamos
trabalhar lá Universidade Federal de São Paulo, com os meus professores,
lá, então trabalhar na área de diabetes.
A outra pesquisa que nós conseguimos junto, em colaboração com o
CNPq, as duas na área de leucemia linfoblástica aguda, também vai ser feito
lá essa pesquisa e o Hemocord vai fazer a coleta. Há pessoas que já
150
coletaram. Veio um baixo volume. Essas pessoas resolveram desistir da
coleta e doaram para a pesquisa, e esse sangue vai ser usado na
Universidade Federal de São Paulo para a gente desenvolver isso.
Gostaria de agradecer esta oportunidade. Registro que o serviço privado
não é o bandido, ele também procura contribuir, realizando pesquisas, na
medida do possível, tentando se envolver, porque o nosso interesse maior é
contribuir com esse propósito. Afinal, apostamos na medicina terapêutica,
na medicina regenerativa e tudo o mais. A solução é a união do serviço
privado com o serviço público. Dessa maneira, avançaremos mais
rapidamente. Assim como o Hospital Albert Einstein, que era um banco
privado, agora é um banco público dentro de uma instituição privada. Todos
temos a ganhar. Muito obrigada.
151
01/jun/2006
As células-tronco nas cardiopatias
Dr. Renato Kalil Luiz Avila/AL
Palestrante: Dr. Renato Kalil — Doutor em medicina pela UFRGS, diretor
científico e cirurgião da equipe de cardiologia do Instituto de Cardiologia da
Fundação Universitária de Cardiologia – IC/FUC.
152
Dr. Renato Kalil
Agradeço o convite para vir aqui palestrar sobre esse assunto das
células-tronco, em meu nome e em nome do Instituto de Cardiologia.
Nas cardiopatias, as células-tronco têm algumas utilidades já
demonstradas experimentalmente e ainda em investigação na parte clínica,
em ensaios clínicos.
As células-tronco foram testadas em doenças do miocárdio, ou seja, do
músculo do coração, e em doenças das coronárias, ou seja, dos vasos do
coração, nas cardiopatias isquêmicas. Em ambas as situações, elas
demonstraram ser úteis em melhorar a função cardiovascular, em promover
a formação de novos vasos no coração e em melhorar a contractilidade do
órgão.
Atualmente, como todos sabem, existem muitos recursos para o
tratamento das cardiopatias: a revascularização com pontes de safena ou
com angioplastia por cateter; as válvulas que podem ser implantadas,
trocando-se as válvulas do coração; o transplante cardíaco. Existem formas
de fazer o músculo cardíaco melhorar sua contractilidade nas doenças do
miocárdio. Todos esses recursos, no entanto, são limitados.
O recurso final é o transplante cardíaco, quando não há mais nenhuma
possibilidade de tratamento convencional, mas esse recurso também é
bastante limitado. Existem as limitações de doadores e o custo do
transplante, que é muito alto para ser suportado pelo sistema de saúde. As
cardiopatias em fase final também têm tratamentos complexos e de custo
elevado.
153
Como as células-tronco têm demonstrado experimentalmente que
melhoram a função cardíaca em situações terminais, estão sendo testadas
em humanos nessas situações em que não há mais outros meios de
tratamento.
Há cerca de um ano e meio, o Ministério da Saúde propôs um protocolo
de estudo multicêntrico no Brasil, envolvendo 1.200 pacientes com quatro
doenças principais do coração. São elas: a miocardiopatia dilatada, doença
do músculo do coração que não contrai bem; a doença de chagas, causada
por um parasita que ocasiona a miocardiopatia; a doença isquêmica crônica,
que é originada pela seqüência de múltiplos enfartos, e o próprio enfarto
agudo do miocárdio. Nesses quatro grupos vai ser investigada a utilidade das
células-tronco.
Esse estudo, que tem como objetivo descobrir um novo método
extremamente barato, de baixo custo, que poderá substituir alguns dos
métodos convencionais com vantagens fisiológicas e de aplicação, está em
andamento no Ministério da Saúde, desde 2004, e deve demorar cerca de
dois anos ainda para ter resultados apresentáveis. Estão sendo estudados
300 casos de cada uma dessas patologias.
Enquanto isso, existem grupos que estão investigando as cardiopatias
em projetos isolados, com cerca de 10, 20 e 30 pacientes, avaliando os
resultados nessas pequenas séries.
Há um trabalho que foi muito divulgado, não só no meio médico mas
também na mídia, realizado no Rio de Janeiro, no Hospital Pró-cardíaco em
colaboração com o Instituto do Coração do Texas. Foram estudados
pacientes com doença isquêmica crônica do coração. Compararam-se 14
pacientes tratados com sete pacientes-controle e foi observada uma melhora
da função cardíaca muito significativa nos 14 pacientes.
154
Outros estudos demonstram que o método é seguro, ou seja, não há
efeitos colaterais, não há dano nenhum nem complicações moderadas ou
graves do uso. É bastante seguro e de baixo custo, mas se é realmente
efetivo para essas patologias vamos saber mais adiante. Os pequenos grupos
estudados até agora demonstraram vantagens.
A diferença entre os experimentos em animais e em humanos é que
para o paciente queremos um efeito benéfico, efetivo, de longo prazo e que
resolva o problema. Os estudos experimentais são todos de curto prazo. O
experimento é feito, o animal é avaliado e depois sacrificado para que o
coração seja estudado. Todos os estudos em animais deram efeito positivo,
mas não foram feitos a longo prazo.
Os estudos em humanos mostraram efeitos positivos, mas até agora de
forma temporária. Aqueles grupos que acompanhavam os pacientes há mais
tempo, mostram que depois de oito, 10 ou 12 meses o efeito das células-
tronco de melhorar a contratividade do coração foi sendo reduzido. Não se
sabe ainda que mecanismo causa essa redução, isso vai ser fruto de novas
pesquisas.
Temos dois protocolos próprios do Instituto de Cardiologia que são
financiados pela FAPERGS e pelo CNPq. Um deles envolve a miocardiopatia
dilatada, ou seja, aquela doença do miocárdio – que não se sabe a causa –,
em que simplesmente o coração não contrai efetivamente. Nessa doença
tivemos uma série inicial de seis pacientes, com financiamento da FAPERGS.
O resultado foi que todos eles melhoraram uniformemente, nos primeiros
dois, quatro, seis meses, ou seja, tiveram melhora funcional importante
nesse período. Todos os pacientes melhoraram dos seus sintomas,
melhoraram na sua qualidade de vida e esses sintomas e a qualidade de vida
melhor persistem até hoje, cerca de um ano após o início do tratamento, mas
155
a função miocárdica avaliada pelo ecocardiograma, pela ressonância
magnética, isto é, por aqueles métodos que vêem a imagem do coração,
mostra que o coração voltou a contrair com deficiência como era no início.
Então, vamos fazer um novo estudo, que já começou, comparando 20
pacientes tratados com 20 pacientes-controle, ou seja, em 20 pacientes
vamos injetar as células-tronco e em outros 20 vamos acompanhar com o
mesmo tratamento, mas sem injeção de células-tronco. Vamos ver se esta
melhora temporária foi por algum efeito placebo, ou se foi porque o paciente
estava sentido-se melhor tratado, ou porque os remédios que ele está
recebendo são melhor controlados, vamos ver se há algum efeito que não
tem a ver com as células-tronco.
O que podemos dizer hoje da miocardioplastia dilatada? Ela tem um
efeito benéfico, e esse efeito benéfico, muito provavelmente, é devido à
injeção das células-tronco, e que ele parece que se dissipa com o tempo.
Na doença isquêmica do coração, que pode ser crônica ou aguda, a
aguda é o infarto do miocárdio, temos também alguns estudos. No infarto do
miocárdio está demonstrado que as células-tronco melhoraram a função
cardíaca, se injetada logo no início do infarto.
Na doença isquêmica crônica do coração, este grupo sobre o qual me
reportei do Hospital Pró-cardíaco, do Rio de Janeiro, e do Texas Heart
Institute demonstrou melhora, e temos aqui também, no Instituto de
Cardiologia, um grupo tratado com revascularização do miocárdio, isto é,
tratado junto com a cirurgia cardíaca. Na cirurgia cardíaca se faz uma ponte
de safena nas regiões onde podem ser tratadas com ponte de safena, e se faz
injeções de células- tronco onde existe doença, mas não se pode alcançar a
revascularização com ponte de safena.
156
Nesta situação o que se demonstrou? É que nas zonas de transição
entre a parte doente e a parte sadia ocorreu melhora, mas a melhora não foi
significativa, não se conseguiu demonstrar grandes diferenças entre os
grupos tratados e não-tratados na doença crônica do coração, por meio de
cirurgia cardíaca.
Não temos a terapia cardiovascular mas temos transplantes para tratar
as cardiomiopastias e o coração artificial, temos válvulas para implantar e
para tratar as válvulas cardíacas, temos a revascularização cirúrgica ou
percutânea, ou ainda o transplante cardíaco para tratar doenças
isquêmicas, mas ficamos limitados nos processos ainda hoje disponíveis. A
terapia gênica e a terapia celular podem nos fazer transpor esta fronteira, e
poderemos produzir novo músculo cardíaco, que é a cardiomiogênese, ou
produzir novos vasos no coração, ou fazer novos tecidos por meio de células-
tronco cultivadas e, com isso, substituir válvulas cardíacas.
Relativamente ao que mencionei sobre o projeto do Ministério da Saúde
– e não sei se alguém já discorreu aqui sobre esse assunto da terapia celular
em cardiologia nesse projeto patrocinado pelo Ministério da Saúde –,devo
dizer que é baseado no que comentei sobre o custo, hoje, da alta
complexidade em cardiologia, que gasta anualmente, pelo Ministério da
Saúde, cerca de 600 milhões de reais. Poder-se-ia melhor tratar os pacientes
e reduzir bastante esse custo com o emprego de tratamentos mais efetivos e
menos dispendiosos.
Foi realizada uma reunião com o objetivo de discutir esse assunto.
Neste ponto, observamos o valor investido pelo SUS no ano de 2003, que foi
de 774 milhões de reais, gastos com alta complexidade, em pacientes
cardíacos. Foi proposto esse estudo multicêntrico brasileiro, abrangendo
1.200 pacientes, sendo 300 portadores de doença chagásica, ou seja,
157
miocardiopatia chagásica, em que as células serão injetadas por via
intracoronariana, ou seja, será colocado um cateter na coronária e ocorrerá
injeção dentro da coronária. Na doença isquêmica crônica do coração,
células serão injetadas, via cirúrgica, em 300 pacientes. No infarto agudo do
miocárdio será feita a injeção intracoronária em 300 pacientes e, na
miocardiopatia dilatada também será feita a injeção intracoronariana, que é
o que estamos estudando aqui, em outros 300 pacientes. Resultarão em
respostas daqui a cerca de dois anos.
Quais são os tipos de células que se utilizam em cardiologia? Existem
mioblastos que podem ser empregados. Mioblastos são células retiradas de
qualquer músculo da perna, ou do braço, cultivados e reinjetados no
coração.
Fibroblastos são células que geram fibras. Foram usadas
experimentalmente e não são mais empregadas na parte clínica.
Podem ser usadas células de medula óssea, dessa categoria de
mononucleares, ou também células mesenquimais, que também são obtidas
da medula óssea, e a grande questão é quanto às células-tronco
embrionárias, que podem ser também utilizadas, para as quais há todas as
restrições éticas que todos conhecemos.
Como se faz isso? As células podem ter origem no sangue, na medula
óssea, no músculo ou no esqueleto. Podem ser retiradas também de tecido
gorduroso ou adiposo, ou são células embrionárias que poderão ser
injetadas no coração. Descobriu-se recentemente que o próprio coração tem
células-tronco que podem ser mobilizadas, por meio de substâncias
injetadas, as quais podem ajudar no reparo do músculo cardíaco.
As células tipo mioblastos, células que podem ser retiradas de qualquer
músculo, como por exemplo do da coxa, são cultivadas in vitro, em placas no
158
laboratório; depois que há uma quantidade suficiente são injetadas no
coração. Com isso se pensa que se pode transformar músculo esquelético em
músculo cardíaco. Isso foi feito durante algum tempo experimentalmente, e
também feito em clínica, na França, assim como em Curitiba pelo grupo da
PUC.
Este é o exemplo de um paciente que faleceu dezessete meses depois. O
coração dele foi examinado e constatou-se que havia músculo originário das
células do mioblasto que haviam sido injetadas. Elas estavam lá vivas e
contraindo ainda.
É uma terapêutica que provê células a longo prazo no coração.
As formas de injeção podem ser intramiocárdica, ou seja, injetando-as
direto no miocárdio; podem ser através da cavidade do coração, por meio de
um cateter colocado dentro da cavidade; podem ser intravenosas, ou seja,
injetando em uma veia e esperar que ela vá se localizar no coração; ou
podem ser por meio de um cateter colocado dentro da coronária.
Não sabemos como age a célula-tronco. Ela pode agir transformando-se
numa célula cardíaca, ou seja, formando a regeneração cardíaca; pode agir
transformando-se em uma célula vascular, ou pode agir através de produção
de fatores paractos, ou seja, produzindo substâncias que melhorarão a
função cardíaca, mas não necessariamente se transformando em outras
células.
Uma propriedade importante – e talvez, a Dra. Nancy tenha falado aqui
– é a mobilização e o homing, ou seja, a forma como essas células são
mobilizadas e como irão se localizar na região que desejamos tratar.
As porções onde existem lesão cardíaca tem uma atração pelas células e
elas procuram instalar-se nas zonas da lesão. Podemos mobilizar as células
159
através de substâncias injetadas na corrente sangüínea: elas saem da
medula óssea, mobilizam-se e vão-se localizar na região que queremos.
Existem trabalhos na cardiopatia isquêmica e na cardiopatia dilatada.
Qual a vantagem de tratar na cardiopatia isquêmica? É que se trata de uma
doença altamente incidente, prevalente na população em geral. Nenhuma
forma de tratamento, atualmente disponível, é capaz de regenerar os
cardiomiostos, reverter a fibrose. Esse seria o objetivo. O que vimos é que a
reversão da fibrose, hoje em dia, não é demonstrada que pode ser realizada
pelas células-tronco, mas regenerar os cardiomiostos, ou formar novos
cardiomiostos, poderia se fazer.
Esse é um estudo experimental, publicado em 2001, em pacientes com
enfarto do miocárdio, através de injeção direta no miocárdio. Em ratos, ficou
demonstrado que as células injetadas se transformavam em miostos, ou
seja, células do músculo cardíaco e estruturas vasculares.
No estudo que foi realizado em colaboração com o Pró-cardíaco, do Rio
de Janeiro e o Texas Heart Institute, que foi publicado em 2003, 14
pacientes foram tratados e sete foram pacientes-controle. Foram utilizadas
as células da medula óssea, injetadas por cateterismo e foram, depois,
avaliados. Não ocorreram efeitos colaterais relacionados. Todos os pacientes
melhoraram assintomaticamente. Ocorreu uma melhora da função
ventricular, ou seja, esse índice de 20% subiu para 29%. E o grupo-controle
teve uma piora. Nesses pacientes o benefício foi mantido após um ano.
Em dez pacientes que não eram passíveis de revascularização completa
com ponte de safena, foi feita, além da revascularização, um implante de
células-tronco, que demonstrou que existe segurança, melhora da função
cardíaca global e melhora da perfusão dos segmentos onde foram tratados.
160
Na nossa experiência no Instituto de Cardiologia – e esse trabalho foi
realizado pelo Dr. Santana – foram injetadas células de medula óssea para
tratar áreas de fibrose miocárdica durante a cirurgia cardíaca, a fim de
avaliar a segurança e os efeitos.
Os pacientes foram acompanhados de um a nove meses, um paciente
apresentou um sangramento e foi tratado; um paciente teve pneumonia, com
complicações não-relacionadas ao implante, e os demais estão clinicamente
bem e assintomáticos.
Mas o estudo com a cintilografia miocárdica foi negativo, ou seja, não
ocorreu melhora entre o pré-operatório e a extensão do déficit de perfusão,
que era de 30% no pré-operatório e de 29% no pós-operatório.
Não ocorreu melhora significativa, nem nesse índice nem no índice que
chamamos de fração de injeção, que melhorou de 30% para 32%, não sendo
muito significativo. Conclusão, na cardiopatia isquêmica e no uso em
cirurgia cardíaca junto com ponte de safena, concluímos que é factível, não
implicando em risco adicional para o paciente. Os resultados indicam que o
transplante não está associado à regeneração das áreas de fibrose, mas que
limita a extensão da fibrose aumentando a área viável, ou seja, não substitui
a fibrose, mas pode limitar a sua extensão.
Um método de implante que nós estamos fazendo, por meio do Dr.
Rogério Sarmento Leite, no Instituto de Cardiologia, é o implante na veia do
coração. Ele entra com um cateter, em vez de injetar na veia coronária, ele
injeta na veia coronária retrogadamente. O Dr. Sarmento Leite demonstrou
que em alguns casos existe uma melhora imediata.
Ainda foi demonstrado que houve uma melhora significativa usando o
método de injeção na veia do coração. Vocês podem observar que a fração de
161
injeção desse paciente aumentou de 45% para 58% , que é uma melhora
significativa.
Por último, falarei no estudo que estamos fazendo em cirurgia numa
situação de cardiomiopatia dilatada e diopática, ou seja, não existe causa
definida e o coração está dilatado e não contrai direito.
Há argumentos contrários para se usar as células-tronco nessa
situação. Isso porque em geral é uma doença genética, ou seja, todas as
células do organismo são afetadas. Então, se formos transplantar células-
tronco do próprio paciente para o coração, elas também levarão aquele
defeito genético para o coração, e poderá não ter efeito.
Existe um embasamento experimental, que é bastante limitado, mas até
agora não há estudos clínicos com essa patologia. Porém há outros estudos
experimentais bastante significativos, que entusiasmam no sentido de
utilizar nessa situação.
O próximo estudo mostrou que as células mesenquimais de medula
óssea melhoram a função cardíaca com o modelo de rato de miocardiopatia
dilatada. Melhorou a função ventricular, formou novos vasos, formou
músculo, reduziu a fibrose, a cicatrização do coração, produziu fatores que
melhoraram a função cardíaca. Isso se estabelece como uma potencial nova
estratégia terapêutica. Esse trabalho foi publicado numa revista de grande
prestígio no meio médico, em 2005.
Demonstrou que existe a formação de uma grande rede nova de vasos.
Esse é um rato em que não foi feito nada. Aqui, há um rato que foi ao
experimento, mas não foi tratado. Depois, um rato em que foram injetadas
as células mesenquimais, mostrando todos esses vasos em muito maior
quantidade do que nos outros grupos.
162
A liberação desses fatores que vão melhorar a função cardíaca e
diminuir a perda de células também aumentou bastante nos ratos tratados.
Os índices que medem a contratilidade miocárdica melhoraram nos ratos
tratados.
A histologia de um coração normal, a histologia de um coração com
miocardiopatia – essas partes brancas são fibroses, tecido cicatricial –, e nos
corações que tinham fibrose e foram tratados, aquela fibrose foi bastante
reduzida, quase desapareceu.
Há um fundamento experimental claro e bastante otimista em relação à
miocardiopatia dilatada. Existem poucos estudos clínicos, e na América do
Sul estamos sendo pioneiros nisso. Existem três estudos clínicos em
miocardiopatia dilatada no mundo, e esses três são da América do Sul.
Um deles é de São Paulo, do Dr. Edimar Bocchi, que mostrou que a
mobilização das células e a infusão entre a coronária é viável em
insuficiência cardíaca grave, pois ele fez isso em nove pacientes, e ocorreu
melhora. Foi demonstrada melhora com essa mobilização.
Um outro estudo foi apresentado num congresso americano, em 2005.
É um estudo colaborativo entre Pittsburgh, Montevidéu, Rosário – na
Argentina –, e uma universidade em Dallas. Eles trataram 30 pacientes, dos
quais 15 foram para um grupo-controle e 15 foram tratados com injeção de
células-tronco. Todos tinham um déficit de função miocárdica importante.
Não tiveram complicações e foram seguidos por seis meses.
O que se encontrou? Que no grupo tratado com células-tronco, nesses
quinze, houve uma grande melhora funcional, que os pacientes, no teste de
caminhada de seis minutos – é um teste em que se vê por quanto tempo o
paciente, num total de seis minutos, consegue caminhar sem cansar –,
melhoraram bastante, passando de 50 metros para 300 metros.
163
Esse peptídeo natriurético é uma substância que se dosa, para avaliar
insuficiência cardíaca, melhorou bastante. Baixou de 800 para 300, e a
contractilidade miocárdica também aumentou bastante, de 26% para 46%
no grupo tratado, que foi bem diferente do grupo-controle, que não se
constatou melhora.
Conforme vemos aqui na projeção, este é um grupo de Buenos Aires, o
Dr. Trainini e a Dra. Noemi Lago estiveram aqui, em Porto Alegre, na semana
passada, num simpósio que promovemos. Apresentaram no congresso, em
março de 2006 – quando apresentamos os nossos resultados –, a experiência
com oito casos, de diversas etiologias de doença isquêmica dilatada do
coração, verificaram melhora na classe funcional, ou seja, caiu
significativamente o comprometimento funcional do paciente, houve melhora
da fração de injeção e não houve diferença de diâmetro no coração.
Concluiu-se que é uma técnica viável e segura com melhora clínica e
funcional.
Em conclusão, estamos achando, nesse estudo, que os resultados
iniciais são encorajadores, que existe uma melhora objetiva e subjetiva
imediata, que a função ventricular se perde a médio prazo, mas a melhora
clínica subjetiva é mantida – o mecanismo de como isso funciona tem ainda
que ser esclarecido –, e que se precisa mais acompanhamento e mais estudo
para definir melhor as indicações.
No âmbito do que vai ser o estudo e do que se alastrou como futuro,
estamos nesta fase: estamos separando as células, injetando-as diretamente
em algum lugar e vendo como funciona. No futuro, vamos saber ainda qual o
tipo celular melhor, qual o método de liberação, se elas têm reação
imunogênica.
164
Vamos estabelecer as considerações éticas para ver se vamos usar
células embrionárias, que tipo de células embrionárias ou não; qual o
número de células que vamos injetar – por enquanto estamos injetando o
número que obtemos aleatório e não sabemos se isso é muito ou pouco; qual
vai ser a eficácia na realidade na clínica – sabe-se que os efeitos adversos a
curto prazo não existem, mas, a longo prazo, têm de ser ainda avaliados; se
vai haver um efeito positivo sobre a mortalidade desses pacientes; qual vai
ser o momento ideal para a aplicação, quando vai ser a indicação da
aplicação; qual vai ser o paciente ideal; em que doenças vai ser mais
benéfico ou em que doenças que vai haver vantagem em relação aos métodos
convencionais. Tudo isso ainda tem que ser esclarecido. Era isso. Muito
obrigado.
165
Conclusão
Encerrar as atividades da Comissão Especial sobre Pesquisas de
Células-Tronco nos traz um misto de satisfação e tristeza. Satisfação por
termos a oportunidade de conhecer os estudos que vêm sendo feitos em
hospitais e universidades do nosso Estado e de possibilitarmos condições de
divulgar esse trabalho. Tristeza por constatarmos que ainda há muito para
ser mostrado, especialmente se considerarmos o que vem sendo feito em
outras regiões do país.
Mas, se alcançamos os objetivos iniciais que nos levaram a defender
que esta Comissão fosse criada, sabemos também que ainda há muito a ser
feito. Nossa proposta visava tomar conhecimento de pesquisas para
podermos informar e divulgar os avanços na área e contribuirmos para o
aperfeiçoamento da legislação. Agora que encerramos a coleta de
informações, podemos trabalhar para aprimorar as leis e reunir esforços na
busca de recursos junto ao Poder Público e à iniciativa privada.
Sabemos que as pesquisas sobre células-tronco sustentam a
esperança humana de encontrar tratamento e até mesmo a cura para
doenças que, até pouco tempo, eram consideradas irremediáveis, como
diabetes, esclerose múltipla, enfarto, distrofia muscular e lesões medulares.
Mas, agora, podemos dizer que, embora já haja grandes avanços,
verdadeiros milagres científicos, ainda há muito a ser feito. Um esforço a ser
compartilhado pelos pesquisadores, em seu trabalho incansável, e pela
166
sociedade, através do apoio legislativo e financeiro. É triste vermos
pesquisadores afirmando que governos de outros Estados apóiam pesquisas
feitas aqui, em troca de receberem todo o conhecimento obtido.
167
Sugestões e encaminhamentos
Ao Poder Executivo Estadual:
1. Viabilizar o banco público de sangue de cordão umbilical no Estado. No
final de 2005, a Secretaria Estadual da Saúde lançou uma portaria, criando
o Banco Público de Sangue de Cordão Umbilical, que será constituído em
parceria com algumas entidades do Estado. Sabe-se que é oneroso, é
precisos buscar verbas junto aos empresários.
Temos uma necessidade real, imediata, de pacientes aguardando por
transplante, à espera de um doador de medula. O cordão umbilical vem
substituir o doador de medula, passando a ser um recurso mais fácil,
porque bebês nascem todos os dias e, todos os dias, o sangue daquele
cordão umbilical e a placenta são jogados fora.
2. Abrir um edital específico contemplando a pesquisa das células-tronco no
Estado na Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapergs). As verbas poderiam
vir através de uma lei de incentivo fiscal às pesquisas, semelhante à
legislação existente para incentivo à Cultura.
168
Ao Poder Legislativo Estadual
Que nas comissões permanentes que tratem dos assuntos que envolvem as
pesquisas com células-tronco, sejam criados mecanismos que permitam o
acompanhamento das ações propostas pela Comissão, bem como se
constitua um canal permanente de comunicação entre as instituições de
pesquisa, a Assembléia Legislativa e a população.
Palácio Farroupilha, 1º de junho de 2006.
Deputado Pedro Westphalen,
Relator.
169
Anexos
Agradecimentos
Queremos registrar nossa gratidão a todos os convidados especiais,
pela disponibilidade e qualidade das palestras apresentadas. Também
agradecemos a todos que participaram das audiências, razão do nosso
trabalho, e que contribuíram de maneira efetiva nas discussões e
encaminhamentos.
Agradecemos aos serviços disponibilizados pela Assembléia Legislativa
para realização dos nossos trabalhos, tais como assessoramento, secretaria,
imprensa, informática, editoração eletrônica e reprografia, sonografia, ao
Departamento de Comissões Parlamentares, ao Departamento de Taquigrafia
e ao Gabinete do deputado José Farret, que sempre nos prestigiou.
170
Pronunciamento do deputado Paulo Brum sobre a visita ao Instituto de Ortopedia e Traumatalogia do Hospital de Clínicas de São Paulo
Senhor Presidente, nobres colegas:
Na condição de presidente da Comissão Especial sobre Células-
Tronco, viajei a São Paulo para conhecer o trabalho que vem sendo
realizado no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital de Clínicas
da USP — uma das instituições de ponta na pesquisa no tratamento de
pessoas com deficiência e de novos equipamentos.
Na visita que fiz, fiquei particularmente impressionado com o trabalho
da Oficina Ortopédica, ligada ao Laboratório de Bioengenharia e Tecnologia
Assistiva. Com o lema “Recuperação, independência, superação,
produtividade e conforto”, a Oficina Ortopédica desenvolve tecnologia em
órteses, próteses, acessórios e cadeiras de rodas, para atender aos pacientes
conforme suas necessidades.
Em especial quanto às cadeiras de rodas, está sendo montada uma
linha de testes para avaliá-las quanto à sua capacidade de rodagem e
resistência a impacto, semelhante ao que é feito com automóveis. A idéia é
171
definir normas técnicas para a construção desse equipamento, que passará
a ter prazo de validade.
Ao mesmo tempo, está sendo organizada uma parceria com um
fabricante de cadeiras para que elas passem a ser feitas de forma que se
sirvam perfeitamente ao corpo do usuário, com materiais de qualidade, mas
com baixo custo.
Esses materiais também estão sendo pesquisados pela equipe da
Oficina Ortopédica, que se utiliza de computadores para produzir encostos e
assentos totalmente anatômicos, projetados a partir de moldes feitos com
almofadas. Assim, o peso do usuário se distribui uniformemente pela
cadeira, garantindo conforto e saúde.
Dentro de quatro meses, quando as máquinas para fabricação desses
equipamentos estiverem prontas, os pacientes do Instituto de Ortopedia e
Traumatologia sairão de lá com uma cadeira totalmente adequada ao seu
corpo. E paga pelo SUS.
Fiquei muito feliz em tomar conhecimento dessa realidade, pois há
anos eu venho dizendo que a cadeira de rodas é uma extensão do corpo das
pessoas com deficiência e luto para que todos tenham acesso a
equipamentos de qualidade. Com uma cadeirinha feita com latão e lona,
como as que são pagas atualmente pelo SUS, a pessoa fica mal acomodada e
acaba sofrendo com outros problemas provocados pela má postura.
O Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP foi inaugurado em 1953, para combater uma
epidemia de Paralisia Infantil que atacava São Paulo.
O Instituto dispunha de toda a tecnologia ortopédica, existente na
época, para o ensino do tratamento da paralisia infantil aguda e suas
seqüelas, bem como de fraturas. Com a erradicação da paralisia infantil, o
172
Instituto pôde ser utilizado para o atendimento, a pesquisa e o ensino de
outras importantes patologias ortopédicas.
Pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia passaram alguns dos
maiores professores da ortopedia mundial e quase todos os grandes
ortopedistas brasileiros, além de um número infindável de estudantes e
médicos interessados em conhecer e treinar as técnicas aqui desenvolvidas
ou aperfeiçoadas. É lá que trabalha o Dr. Tarcísio de Barros Filho, pioneiro
em pesquisas para o tratamento de lesões medulares com o uso de células-
tronco medulares.
Atualmente, o Instituto ocupa 25.000 metros quadrados de área
construída com 7 laboratórios de especialidades, e um corpo clínico com
mais de 200 médicos que se dedicam ao tratamento das enfermidades do
aparelho locomotor. Por lei, pode admitir pacientes particulares e
conveniados (na proporção máxima de 20%) e para tal, possui um andar
exclusivo com todos os recursos de um hospital privado.
Cientifica e academicamente o Instituto é ligado à Universidade de São
Paulo, através do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade
de Medicina. Dedica-se ao ensino, em nível de graduação, residência e pós-
graduação, formando mestres e doutores, além de oferecer cursos de
especialização aos ortopedistas e profissionais afins.
Hoje, como um dos principais centros de pesquisas do Brasil, está entre
os maiores hospitais de ortopedia e traumatologia da América Latina.
Faço este pronunciamento com grande satisfação, por poder
compartilhar com meus nobres colegas os avanços que vêm sendo
conquistados aqui, com conhecimento e tecnologias desenvolvidos em nosso
país.
173
Debate sobre células-tronco deverá mobilizar Parlamento em 2006 Por: Mirella Poyastro / Agência de Notícias
Data: 01/03/2006
A Lei de Biossegurança – aprovada pelo Congresso Nacional e em fase de
regulamentação – representou o primeiro passo de uma longa jornada até as
células-tronco serem utilizadas na cura de doenças, como o Mal de
Parkinson e de Alzheimer, do coração, diabetes, tipos de cânceres e
distrofias musculares. O texto autorizou a comunidade científica brasileira a
realizar pesquisas com células-tronco embrionárias, consideradas as mais
eficazes para formar qualquer tecido do corpo. No entanto, o embrião deve
ser obtido do processo de fertilização in vitro, congelado há mais de três
anos e ter sua utilização aprovada pelos pais. Já o uso de células-tronco
adultas está fase avançada. No Estado, cirurgias cardíacas, por exemplo,
estão sendo realizadas nos hospitais de Clínicas de Porto Alegre, no São
Lucas da PUCRS, no Instituto de Cardiologia e na Santa Casa de
Misericórdia.
Acompanhar a evolução das pesquisas do uso de células-tronco do ponto de
vista científico e bioético. Incentivar a discussão sobre o tema ainda
cerceado pela desinformação ou por posições religiosas que vêem nele um
atentado à vida e não um recurso terapêutico que poderá salvar muitas
vidas. Unir esforços na busca de recursos nas áreas governamental e
empresarial. Estes são os principais objetivos da Comissão Especial sobre a
pesquisa das Células-Tronco, presidida pelo deputado Paulo Brum (PSDB),
cujas atividades se iniciam a partir do próximo dia 15. Os integrantes do
174
órgão deverão definir o calendário de reuniões e de palestras com
especialistas e profissionais da área.
Paulo Brum é paraplégico e voluntário de um grupo de estudo do Hospital de
Clínicas de São Paulo, composto por 40 pessoas. Eles se preparam para
fazer um transplante de medula com células-tronco adultas. "Sabemos que
essas pesquisas sustentam a esperança humana de encontrar tratamento e,
até mesmo, a cura para doenças que eram consideradas irremediáveis, como
a diabetes, a esclerose múltipla, o enfarto, a distrofia muscular e as lesões
medulares", declarou Paulo Brum. O parlamentar afirmou que a comissão
pretende ainda contribuir para o aperfeiçoamento da legislação existente.
A vice-presidência da comissão ficou com o deputado Luis Fernando
Schmidt (PT), e a relatoria, com Pedro Westphalen (PP). Também integram o
órgão técnico os parlamentares Marco Lang (PFL); Jussara Cony (PCdoB);
Ciro Simoni e Giovani Cherini, do PDT; Elmar Schneider e Kanan Buz, do
PMDB; José Farret (PP), Edson Portilho (PT) e Abílio dos Santos (PTB).
Células-tronco
Há três tipos de células-tronco: as encontradas na medula de pessoas de
qualquer idade – mas com baixo poder de reprodução e especialização; as
existentes no cordão umbilical – mais potentes que as da medula; e o tipo
mais promissor, as dos embriões.
As células-tronco embrionárias têm extraordinário poder de reprodução e
capacidade ilimitada de especialização, podendo se transformar em qualquer
tecido humano. Estas são obtidas de embriões congelados ou clonados. Os
primeiros são células da mãe que se transformam e se multiplicam para dar
origem a todos os tecidos do organismo, sendo considerado o mais versátil. A
175
idéia é montar bancos como os de sangue, com várias linhagens de células,
para o uso de transplantes. O clonado é igual ao congelado, só que
produzido a partir de uma célula do próprio paciente, eliminando o risco de
rejeição em transplante.
Poderão levar décadas ainda para que as células-tronco sejam usadas na
cura de doenças. O primeiro passo do processo é a regulamentação da
matéria. Depois vem a fase de pesquisa que necessitará de recursos
financeiros para o início dos estudos científicos. Os resultados serão
testados primeiro em animais, para depois começarem experiências com
seres humanos.
Especialistas afirmam que é impossível precisar o tempo que levará para
utilização das células-tronco se tornarem prática comum na medicina, pois
tudo nesta área é estimado, inclusive, o número de embriões congelados no
País. Os pesquisadores trabalham com a existência de 30 mil embriões
congelados, espalhados nos cerca de 180 centros de reprodução assistidas
do País.
Especialistas em células-tronco serão ouvidos
Por: Daniela Bordinhão / Agência de Notícias Data: 09/03/2006 A Comissão Especial sobre a pesquisa das Células-Tronco, presidida pelo
deputado Paulo Brum (PSDB), definiu nesta quinta-feira (9) a metodologia de
trabalho que será adotada nos próximos 120 dias. O parlamentar anunciou
a presença de especialistas e de representantes de laboratórios e institutos
176
de pesquisas nas audiências públicas. Brum comunicou também a
realização de reuniões no interior do Estado e de um seminário sobre o tema
no encerramento das atividades do órgão técnico. Na próxima quinta-feira
(16), a comissão deverá receber a professora de Hematologia da Faculdade
de Farmácia e de pós-graduação em Ciências Médicas da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Patrícia Pranke.
Brum afirmou que o principal objetivo da comissão é incentivar a discussão
sobre o tema ainda cerceado pela desinformação ou por posições religiosas
que vêem nele um atentado à vida e não um recurso terapêutico que poderá
ajudar na cura de doenças. “Ouviremos especialistas do Rio Grande do Sul e
de outros estados para acompanhar a evolução das pesquisas do uso de
células-tronco e levaremos informações às comunidades”, assegurou.
Segundo o parlamentar, a comissão vai unir esforços na busca de recursos
nas áreas governamental e empresarial e receber sugestões para o
aperfeiçoamento da legislação existente. Brum ressaltou que as pesquisas
representam a esperança de cura para pessoas que sofrem de doenças como
diabetes, esclerose múltipla, enfarto, distrofia muscular e lesões medulares.
Participaram da reunião os deputados José Sperotto (PFL) e Luis Fernando
Schmidt (PT) e o diretor-presidente da Fundação de Articulação e
Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de
Deficiência e de Altas Habilidades no RS (Faders), Luiz Augusto Gemelli.
A comissão especial sobre a pesquisa das Células-Tronco, instalada em
dezembro de 2005, tem 120 dias para concluir suas atividades. A entrega do
relatório está prevista para o dia 6 de junho.
177
Especialista fala da pesquisa e uso de células tronco Por: Marta Sfreddo / Agência de Notícias Data: 16/03/2006 A pesquisa e o uso de células-tronco no tratamento de várias doenças foi o
tema da palestra da professora doutora Patrícia Pranke, da Faculdade de
Farmácia e do curso de Pós-graduação em Ciências Médicas da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. O assunto foi abordado durante reunião da
Comissão Especial sobre a Pesquisa de Células-tronco, presidida pelo
deputado Paulo Brum (PSDB), nesta quinta-feira (16). "Nossa expectativa é
de que as terapias com células-tronco sejam uma esperança de vida melhor
para todos nós", assinalou a pesquisadora, que também é presidente do
Instituto de Pesquisa com Células-tronco. Com o lançamento do edital de
pesquisas em 2005, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) aprovou 41 projetos, entre os quais o da Ufrgs. O CNPq
disponibilizou recursos para os pesquisadores brasileiros fazerem estudos
no tratamento de lesão medular em ratos, comparando os resultados entre
os três tipos de células-tronco: medula óssea, sangue de cordão umbilical e
embrionárias humanas.
Hoje, a Lei de Biossegurança (nº 11.105, de 24.03.05) permite, com
restrições, o uso de células-tronco embrionárias humanas. Segundo Patricia,
os pesquisadores estão otimistas diante da possibilidade destas células
serem usadas para tratar doenças que até há bem pouco tempo eram
consideradas incuráveis. No entanto, apesar do otimismo que cerca as
pesquisas, o assunto é tratado com muita cautela pela comunidade
científica. Para a doutora, a população precisa ser esclarecida e deve buscar
informações junto a grandes centros de pesquisa, centros universitários e
178
hospitais para evitar situações como as divulgadas recentemente, quando
médicos estavam comercializando ilegalmente supostas células-tronco em pó
para pacientes portadores de doenças graves, numa exploração anti-ética da
terapia. "Qualquer tratamento com pacientes só pode ser feito se houver a
aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do
Ministério da Saúde", alertou. Ela revelou, porém, que ninguém no mundo
utiliza células-tronco embrionárias em seres humanos. O uso ainda é
limitado ao campo da pesquisa.
De acordo com Patricia, são diagnosticados por ano, no Brasil, 7.100 novos
casos de leucemia em adultos, provocando mais de 4.300 mortes. Metade
delas poderia ser evitada por meio do tratamento com células-tronco de
sangue do cordão umbilical. Já entre crianças e adolescentes, surgem 9.200
casos novos de leucemia todo ano no País, enquanto a aplasia de medula
acomete 800 pessoas no mesmo período. Segundo a especilista, o Brasil
necessitaria entre 6.500 e 8.000 transplantes de medula óssea por ano e só
consegue realizar 900, por falta de doadores.
O uso de células-tronco de cordão umbilical mudaria esta realidade. Entre
as vantagens, estão a oferta ilimitada (uma vez que bebês nascem todos os
dias), a disponibilidade imediata e a menor rejeição. Para isso, defendeu a
implantação de bancos públicos de sangue de cordão umbilical. "Estamos
lutando, junto com o Ministério e a Secretaria Estadual da Saúde, para que
em breve possamos abrir este banco no Rio Grande do Sul", afirmou
Patricia. Atualmente, existem apenas dois bancos públicos para
armazenamento deste tipo de material no Brasil: um no Rio de Janeiro e
outro em São Paulo. A pesquisadora estima que outros oito bancos seriam
suficientes para atender à demanda do País, observando que o maior
problema a enfrentar é o custo do investimento.
179
O deputado Paulo Brum ressaltou que o trabalho realizado pela cientista vai
ao encontro dos objetivos da comissão, que pretende ampliar o debate em
torno do tema e desta forma contribuir para trazer avanços à sociedade.
Também participaram da reunião os deputados José Farret (PP), Ciro Simoni
(PDT), Luis Fernando Schmidt (PT) e Reginaldo Pujol (PFL).
Pesquisadora anuncia primeiros transplantes com células-tronco
Por: Rafael Guimaraens / Agência de Notícias
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre vai realizar as primeiras cirurgias do
estado com a utilização de células tronco em seres humanos, para a
recuperação de tendões e estruturas articulares em processos degenerativos.
A informação foi prestada pela coordenadora do Laboratório de Embriologia
e Diferenciação Celular de Centro de Pesquisas da instituição, Elizabeth
Cirne Lima, em palestra nesta quinta-feira (23), na Comissão Especial sobre
a Pesquisa das Células-Tronco da Assembléia, proposta e presidida pelo
deputado Paulo Brum (PSDB).
A cientista afirmou que a discussão pública em torno da aplicação
terapêutica das células-tronco é fundamental para desmitificar conceitos e
preconceitos sobre o assunto. "Barrar conhecimento não é possível e proibir
a pesquisa é um erro", disse ela. "É preciso estudar, divulgar as informações
corretas, debater e formar uma opinião sobre quais as regras que devemos
fixar e quais os caminhos a seguir".
180
Considerada uma das maiores especialistas do Estado, Elizabeth Cirne Lima
salientou que é preciso cautela sobre a utilização das células-tronco na
recuperação de seres humanos, em curto prazo. "Sabemos ainda muito
pouco sobre aspectos fundamentais desta matéria", disse ela. Destacou a
diferença entre células-tronco adultas e as embrionárias, alvo das polêmicas
éticas que envolvem os cientistas e os religiosos, pois envolvem manipulação
de embriões.
"As células embrionárias, como o nome diz, são obtidas de embriões
humanos, podem se multiplicar in vitro e têm capacidade de dar origem a
todos os tipos de células, mas nunca a um novo indivíduo completo",
explicou, destacando que os pesquisadores ainda não têm domínio completo
sobre cada etapa da diversificação celular. As células-tronco adultas são
obtidas de diversos tecidos de seres humanos formados, especialmente da
medula óssea, do sangue do cordão umbilical, do sangue periférico e da
placenta.
A curto prazo, a pesquisadora revelou-se mais otimista sobre o uso
terapêutico de células adultas. Ainda assim, justificou as pesquisas de
células-tronco embionárias, argumentando que as adultas têm algumas
limitações. "Não conhecemos ainda o sistema de multiplicação das células
adultas in vitro, portanto elas têm de ser imediatamente transplantadas
para o paciente", explicou. "Além disso, elas podem dar origem a um número
ainda bem reduzido de tipos de novas células adultas".
Elizabeth relatou os projetos que sua equipe vem desenvolvendo em animais,
destacando a regeneração do músculo cardíaco após infarto agudo e crônico,
a recuperação do fígado em casos de falência hepática e o desenvolvimento
de células pancreáticas para a produção de insulina. Destacou que todas
elas são rigorosamente examinadas pela comissão de ética do Ministério da
181
Saúde. Lembrou que o Hospital de Clínicas realizou a primeira pesquisa de
células-tronco financiada pelo governo brasileiro, em convênio com a
Universidade Ludwig Maximillian, de Munique, da Alemanha. Ela tratava do
estabelecimento de rotinas de manutenção de células embrionárias.
Ao final da reunião, o presidente Paulo Brum anunciou para a próxima
quinta-feira a palestra do professor Jefferson Braga da Silva, no Centro de
Biociências da PUC. Revelou ainda que a comissão vai interiorizar suas
atividades com um debate na Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Santa Maria, marcado para o dia 7 de abril. A Comissão Especial
sobre a Pesquisa das Células-Tronco foi criada em dezembro do ano passado
e deve encerrar suas atividades em junho, com um grande seminário.
Instituto da PUC pretende iniciar pesquisas com pessoas paraplégicas
Rafael Guimaraens / Agência de Notícias Data: 30/03/2006
O sucesso das experiências de células-tronco na recuperação de ratos
paraplégicos cria uma perspectiva promissora para sua utilização em seres
humanos, afirmou o médico Jefferson Braga da Silva, do Instituto de
Pesquisas Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Ele foi o
palestrante convidado da Comissão Especial sobre a Pesquisa de Células-
Tronco da Assembléia Legislativa, presidida pelo deputado Paulo Brum
(PSDB). A pesquisa coordenada por ele mostrou que seis meses após a
182
aplicação seqüenciada de células-tronco retiradas da medula óssea os
animais já conseguiam caminhar.
O médico acredita que este tipo de terapia pode ser eficaz em casos de
pessoas que sofreram trauma agudo, uma semana ou dez dias após o
acidente. "Se conseguirmos bons resultados, poderemos ir paulatinamente
ampliando as experiências para períodos mais longos", afirmou. Jefferson
Silva falou sobre a realidade e as perspectivas da terapia com células-tronco.
Inicialmente fez uma diferença entre as células adultas e as embrionárias,
estas últimas alvo de controvérsias éticas por aspectos culturais ou
religiosos, pela ausência de comprovação de sua eficácia e pela falta de
regulamentação na lei.
Ele acredita que os recursos devem ser destinados preferencialmente a
pesquisas que dão resultado, que são as que utilizam células-tronco adultas,
retiradas principalmente da medula óssea, material que existe no interior
dos ossos. "Desde que foi promulgada a Lei da Biossegurança, no ano
passado, dos 51 projetos aprovados pelo Conselho Nacional de Pesquisa
(CNPq), 49 trabalham com células da medula óssea e do cordão umbilical",
revelou.
Ele relatou os projetos desenvolvidos pelo Instituo de Pesquisas Biomédicas
da PUC. Em seres humanos, a instituição vem obtendo resultados
expressivos na recuperação dos nervos da mão, rompidos em traumatismos,
e nos casos de calvície, nos quais o uso de células-tronco produz resultados
20% mais eficientes que os dos implantes convencionais. Em animais, além
183
da recuperação da medula, em casos de paraplegia, o Instituto consegue
bons resultados na restauração de unhas e do fígado.
Jefferson Silva observou que setores da mídia têm criado ilusões em relação
à utilização terapêutica imediata das células-tronco, especialmente em casos
mais graves. "Não podemos tirar a esperança das pessoas, mas também não
devemos gerar falsas expectativas", afirmou. "Se tivermos recursos,
poderemos evoluir nos avanços científicos que certamente retornarão à
comunidade na forma de novas terapias", afirmou.
O deputado Paulo Brum destacou a preocupação da comissão que preside,
no sentido de informar a opinião pública e suscitar o debate realista sobre o
tema. "Estamos conhecendo experiências importantes no uso das células-
tronco, mas temos consciência de que elas devem ser apoiadas para
conseguirem efetivamente alterar as realidade das pessoas que sofrem com
doenças graves", disse ele. No próximo dia 19 de abril, a médica Karolyn
Sassi, diretora do Hemocord, será a palestrante na Comissão Especial sobre
pesquisas das Células-Tronco. Na semana seguinte, os deputados estarão no
interior, conhecendo o trabalho desenvolvido na Faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Santa Maria.
Biólogo relata pesquisa com células-tronco adultas Marta Sfreddo / Agência de Notícias
184
O biólogo Lindolfo da Silva Meirelles, mestre e doutorando em Genética e
Biologia Molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, palestrou
na reunião da Comissão Especial das Células-Tronco, presidida pelo
deputado Paulo Brum (PSDB), nesta quinta-feira (6). O especialista falou das
pesquisas em torno da distribuição de célula-tronco mesenquimal (MSC) in
vivo. Estas células, que são encontradas primariamente na medula óssea,
podem dar origem a ossos, tendão, cartilagem, tecidos adiposo e muscular,
estroma medular e células neurais, o que evidencia a possibilidade de serem
utilizadas para procedimentos de terapia celular e gênica. O trabalho de
pesquisa de Meirelles é feito a partir de células-tronco mesenquimal de
medula óssea de camundongos.
Bolsista de doutorado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), o pesquisador explicou que a célula-tronco é uma célula
capaz de auto-renovação e de geração de outros tipos celulares em estágio
mais avançado. Elas podem ser do tipo embrionárias, fetais ou adultas (pós-
natais). Esta última é o foco do trabalho de pesquisa de Meirelles.
De acordo com ele, a medula óssea é uma fonte acessível e rica de células-
tronco. A MSC é um dos dois tipos de células-tronco encontradas na medula
óssea e passou a ser mais estudada pela comunidade científica. Segundo
Meirelles, depois de isolar e caracterizar as células-tronco mesenquimais
adultas, a pesquisa procurou apurar a presença de células similares em
outros órgãos. Hoje, acrescentou, a linha de experiência detectou MSCs em
vários órgãos e tecidos, como timo, baço, rim, fígado, músculos, pulmões,
artéria aorta e veia cava.
Questionado pelo deputado Paulo Brum sobre a aplicação clínica das MSCs,
Meirelles disse que a utilização destas células de forma purificada ainda não
é corrente, pois os resultados têm sido melhores a partir do uso combinado
185
dos vários tipos celulares. Entretanto, o pesquisador acredita que o uso de
célula-tronco mesenquimal isolada pode ter, no futuro, um impacto muito
grande nos casos de tratamento de lesão de medula espinhal.
A professora orientadora da pesquisa de Meirelles, Nance Beyer Nardi, disse
que apesar do avanço das pesquisas, a aplicação clínica das células-tronco
ainda é muito incipiente. Segundo ela, nenhum ensaio clínico no mundo usa
células-tronco embrionárias e alguns poucos experimentos utilizam células-
tronco adultas e fetais em humanos. Nance relatou estudos realizados na
cidade de Laranjeiras (RJ), em que 1.200 pacientes participarão de
protocolos clínicos de terapia celular para cardiopatias.
Antes do início da palestra, o deputado Paulo Brum informou que na
próxima segunda-feira (10) estará com o médico Tarcízio Barros Filho. Ele
ele é coordenador de pesquisa sobre a utilização de células-tronco adultas
no tratamento de pacientes com lesão medular crônica, realizada pelo
Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O parlamentar é um
dos voluntários da pesquisa.
Participaram da reunião os deputados José Sperotto (PFL) e José Farret (PP)
e o pró-reitor de Pesquisa da UFRGS, Cesar Augusto Vasconcellos.
CTMO quer aumentar número de transplantes
Por: Daniela Bordinhão / Agência de Notícias Data: 25/04/2006 Hora: 09:00
186
A relação entre células-tronco e transplante de medula óssea foi o tema da
palestra do oncologista do Centro de Transplante de Medula Óssea (CTMO)
do Hospital da Universidade Federal de Santa Maria (HUSM), Luís Carlos
Antunes. O assunto foi abordado nesta segunda-feira (24), durante a
audiência pública no anfiteatro do HUSM, da Comissão Especial sobre a
Pesquisa das Células-Tronco, presidida pelo deputado Paulo Brum (PSDB).
"Em 1990, o HUSM foi o primeiro hospital do Estado a realizar um
transplante de medula óssea. Até o final de 2006, pretendemos realizar em
torno de 40 procedimentos. Queremos ultrapassar os números registrados
nos últimos anos", afirmou o especialista. Antunes ressaltou que o CTMO,
implantado em 1997, atualmente recebe pacientes de todas as regiões do
Estado e de Santa Catarina.
O médico explicou que a medula óssea e o sangue periférico são fontes ricas
de células-tronco usadas no tratamento de doenças como leucemia aguda e
crônica, linfoma, mieloma múltiplo e aplasia de medula. "O hospital
universitário já utilizou este recurso para o transplante de medula óssea em
aproximadamente 150 pacientes", estimou o especialista. Segundo ele, o
CTMO realiza transplantes halogênicos ou aparentados e autólogos ou
autogênicos. "No primeiro tipo a coleta de células-tronco é feita por meio de
punção na cristalíaca (em um dos ossos da bacia) do doador para,
posteriormente, ser aplicado no paciente. No segundo caso, utiliza-se as
células-tronco do sangue periférico do paciente para depois injetá-lo
novamente através de um catéter central", esclareceu Antunes.O oncologista
afirmou que a cura de doenças verifica-se em 50% dos pacientes
transplantados.
187
Além do CTMO, o curso de pós-graduação de Medicina Veterinária da UFSM
está desenvolvendo pesquisas com células-tronco em animais. "Fizemos a
coleta do material, exames microscópicos e observamos as reações.
Futuramente estas pesquisas poderão beneficiar pacientes humanos e
animais", previu o coordenador do grupo de pesquisa, professor Nei Peppi.
O deputado Paulo Brum ressaltou a importância destes estudos e dos
transplantes realizados no HUSM desde 1997. O parlamentar garantiu que a
comissão estará levando aos órgãos competentes as reivindicações dos
pacientes e da comunidade científica. A principal solicitação é a destinação
de recursos financeiros para assegurar as pesquisas.
Participaram da audiência pública o coordenador de Pesquisa, Ensino e
Extensão do HUSM, Sérgio Nunes Pereira, a coordenadora do curso de
medicina da UFSM, Leris Haeffner, além de medicos, professores e
estudantes da instituição.
CTMO
Após a palestra, a comissão visitou as instalações do Centro de Transplante
de Médula Óssea. A instituição dispõe de sete quartos com ventilação
especial, uma equipe médica formada por oncologistas, pediatras,
geneticistas e hematologistas, além de enfermeiros, assistentes sociais,
psicólogos, fisioterapêutas e nutricionistas. Há 76 dias, a paciente Cláudia
Silva, que sofre de aplasia medular, foi submetida ao transplante de medula
óssea. Cláudia recebeu a doação de células de sua irmã Fabiana. "Minha
irmã está reagindo muito bem. Estou feliz porque ajudei a salvar sua vida.
Hoje sinto-me um pessoa bem melhor", declarou Fabiana.
188
Células-tronco são debatidas na Assembléia Legislativa
Daniela Bordinhão / Agência de Notícias
04/05/2006
As evidências clínicas do uso de células-tronco em pacientes vítimas
de acidente vascular cerebral (AVC) foram tema da palestra do neurologista e
chefe do Programa de Doenças Neurovasculares do Hospital São Lucas da
PUCRS, Maurício Friedrich. O assunto foi abordado nesta quinta-feira (4)
durante reunião da Comissão Especial sobre a Pesquisa das Células-Tronco,
presidida pelo deputado Paulo Brum (PSDB ). O Hospital da PUC já realizou
o tratamento experimental com as células-tronco de medula óssea em 20
pacientes que apresentaram diagnóstico de acidente vascular cerebral
isquêmico.
O especialista explicou que o procedimento utilizado no hospital visa
restabelecer as áreas neuronais que foram comprometidas com a doença.
Segundo ele, os estudos mostram que as células-tronco retiradas da medula
óssea representam o caminho para a cura de problemas neurológicos. "Dos
20 pacientes selecionados para o tratamento, 14 tiveram uma boa
recuperação e, desses, três ficaram sem seqüelas", contabilizou. Friedrich
189
disse que o tratamento experimental nestes pacientes representa a primeira
etapa das pesquisas. "Pretendemos ainda estender os estudos para todos os
casos de isquemia cerebral, incluindo pacientes já seqüelados por AVC
prévio", informou.
O médico ressaltou que o derrame cerebral é a maior causa de morte
no Brasil. No Rio Grande do Sul, cerca de 20 mil casos de AVC são
diagnosticados por ano.
O deputado Paulo Brum elogiou as pesquisas desenvolvidas pela
equipe do especialista que trazem esperança de cura às pessoas vítimas da
doença. "Continuaremos ouvindo os estudiosos no assunto para
acompanhar a evolução das pesquisas do uso de células-tronco e levar
informações às comunidades", assegurou o parlamentar.
A doença
O acidente vascular cerebral (AVC) é um distúrbio circulatório agudo
cerebral em que um vaso sangüíneo é obstruído por um coágulo,
ocasionando perda de funções motoras ou de linguagem.
Também participaram da reunião os deputados Edson Portilho (PT) e
José Farret (PP).
190
Sugerida criação de fundo para financiar pesquisa com células-tronco
Tatiana Fraga / Agência de Notícias
11/05/2006
O diretor do Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital da PUC,
neurologista Jaderson da Costa, foi o palestrante da audiência pública
promovida pela Comissão Especial sobre a Pesquisa das Células-Tronco,
realizada na manhã desta quinta-feira (11) na Assembléia Legislativa. Após
falar do estudo desenvolvido naquela universidade sobre a utilização de
células-tronco adultas no tratamento de doenças neurológicas, o médico fez
um apelo ao poder público gaúcho que, segundo ele, negligencia
financeiramente a pesquisa nesta área.
Costa afirmou que foi o governo paranaense o principal patrocinador do
estudo coordenado por ele. "Toda a tecnologia médica que estamos
elaborando será transferida para a universidade federal daquele estado",
lamentou. De acordo com o neurologista, enquanto a Fundação de Amparo à
Pesquisa do Rio Grande do Sul liberou R$ 40 mil, o Executivo do Paraná
disponibilizou R$ 370 mil para a realização da pesquisa.
191
O presidente da Comissão, deputado Paulo Brum (PSDB), defendeu a criação
de um fundo para o financiamento dos estudos sobre a utilização das
células-tronco no tratamento de inúmeras doenças. "Desenvolvemos a
pesquisa, ampliamos o conhecimento técnico na área e perdemos para outro
Estado", disse. Brum garantiu que conversará com o governador Germano
Rigotto sobre o assunto.
Epilepsia
Considerada uma lesão crônica, a epilepsia é o novo alvo dos pesquisadores.
Costa destacou que estudo realizado em camundongos epilépticos
mostraram uma redução de 100% dos ataques, após aplicação de células-
tronco da medula óssea. "Cerca de 30% das pessoas que sofrem da doença
não respondem aos medicamentos e mais da metade não podem fazer
cirurgia. Este é um grande passo para a medicina que pode estar
encontrando um tratamento consistente para a doença", comemorou.
O deputado José Farret (PP) também participou da reunião.
Audiência
A próxima reunião do órgão técnico será no dia 18 de maio. Na ocasião, o
chefe do serviço de Imunologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e
professor de medicina da Ufrgs, Luiz Fernando Jobim, falará sobre
imunologia dos transplantes e células-tronco.
192
Transplante de medula é tema de audiência
Tatiana Fraga / Agência de Notícias
A Comissão Especial sobre a pesquisa das Células-Tronco, presidida pelo
deputado Paulo Brum (PSDB), realizou audiência pública na manhã desta
quinta-feira (18). Palestrante do encontro, o chefe do serviço de Imunologia
do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor de medicina da Ufrgs,
Luiz Fernando Jobim, falou sobre seu trabalho em tipagem de Antígenos
Leucocitários Humanos (HLA). O exame identifica a compatibilidade tecidual
de doadores e pacientes receptores de medula óssea.
O HLA é uma proteína genética localizada no cromossomo seis das células
humanas. Jobim afirmou que o método de identificação deste conjunto de
genes é fundamental para a realização dos transplantes de medula. "É
preciso que haja compatibilidade para que o processo seja efetuado com
sucesso", alertou. Segundo o médico, isso evita ou minimiza a rejeição do
enxerto, que acontece por meio de uma resposta imunológica do receptor
contra o HLA do doador.
O transplante de medula é um procedimento que beneficia pessoas
portadoras de doenças hematológicas, como as leucemias e as aplasias de
medula. Pacientes com patologias imunológicas, em que as defesas do
193
organismo estão comprometidas, também podem se curar com o
transplante. Existem três tipos de transplante de medula: o alogênico, em
que as células são transplantadas de um indivíduo para outro; o singênico,
em que o processo é realizado entre gêmeos univitelinos; e o autólogo, em
que células transplantadas pertencem ao próprio paciente.
Seminário
Elogiando a palestra do médico, o deputado José Farret (PP) sugeriu a
realização de um seminário com a participação de todos os palestrantes que
estiveram no órgão técnico.
Comissão discute pesquisa com cordão umbilical
Cibele Carneiro / Agência de Notícias
O uso de células-tronco (CT) do sangue de cordão umbilical no tratamento
de doenças é mais promissor do que as CT embrionárias e de medula óssea.
A afirmação é da diretora-geral do Hemocord, Karolyn Sassi Oligari, que fez
uma análise sobre o tema na reunião da Comissão Especial sobre a pesquisa
das Células-Tronco, presidida pelo deputado Paulo Brum (PSDB). Segundo
ela, além das inúmeras experiências positivas do uso do sangue umbilical
para o tratamento de doenças cardíacas, o avanço nas pesquisas permitirá
que, em uma década, doenças como Alzheimer, Parkinsin, diabetes e
paralisias possam ser revertidas. "Aposto nestas pesquisas e acho que
194
vamos poder aplicar as CT deste sangue para além das doenças cardíacas",
ressaltou.
Segundo a especialista em reprodução humana, uma das vantagens do uso
desta técnica é que, diferentemente das CT de medula óssea, a coleta não
oferece riscos para mãe ou para o bebê. "O uso do sangue também permite
menor grau de incompatibilidade (aumentando a disponibilidade de
potenciais doadores) o que não ocorre com a medula de um doador, que deve
ser 100% compatível com a do paciente", explicou.
Karolyn disse ainda que o sangue do cordão umbilical não possui barreiras
éticas, como ocorre com as CT embrionárias, as quais precisaram da criação
de legislação específica para poderem ser estudadas. "Não sabemos ainda
quais os benefícios que as embrionárias podem trazer para os seres
humanos. Os cientistas também ainda não sabem como controlar a
multiplicação destas CT dentro do corpo humano, o que aumenta a
probabilidade de desenvolvimento de tumores", avaliou a diretora,
acrescentando que serão necessárias ainda duas gerações para poder aplicar
esta técnica no tratamento de doenças humanas.
Ela explicou ainda que a armazenagem do sangue de cordão umbilical pode
ser feita de maneira pública ou privada. A doação para bancos de sangue
públicos é para utilização de terceiros, geralmente pacientes com leucemia.
"É como um complemento do banco de medula óssea", salientou. Já o
sangue alocado em bancos privados é para uso próprio ou familiar, tem
custos de manutenção, e geralmente é usado para doenças hematológicas
adquiridas e no tratamento de tumores. "O serviço privado está avançando
195
nas pesquisas para o tratamento terapêutico e de doenças degenerativas.
Mas entendo que os bancos públicos e privados se complementam e
deveriam se unir para desenvolver o setor", avaliou Karolyn, ao lembrar que
no Brasil existem cerca de oito bancos de sangue privados - sendo o
Hemocord o único da Região Sul -, e quatro públicos.
O deputado Brum lembrou que o relatório da comissão será entregue no dia
6 de junho. "A nossa última reunião ocorre no dia 1º, com a presença do
cardiologista Renato Kalil, que falará sobre as células-tronco nas
cardiopatias", enfatizou. A comissão também editará um livro com a
transcrição de todas as palestras proferidas durante os trabalhos.
O deputado José Farret (PP) também participou da reunião.
RS avança em pesquisa com pacientes cardíacosPor: Roberta Amaral / Agência de Notícias
O Rio Grande do Sul é pioneiro na América Latina, junto com São
Paulo, em transplante de células-tronco no coração. O anúncio foi feito nesta
quinta-feira (1º) pelo diretor científico do Instituto de Cardiologia, Renato
Kalil, na última reunião da Comissão Especial sobre a pesquisa das Células-
Tronco da Assembléia Legislativa.
Com o suporte financeiro de R$ 58 mil da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado (Fapergs), durante um ano, seis pacientes portadores de
infarto agudo do miocárdio - doença isquêmica crônica do coração -
196
cardiomiopatia dilatada e cardiopatia chagásica se submeteram ao
transplante e responderam satisfatoriamente ao tratamento.
O procedimento consiste na coleta do líquido da medula óssea, e as
células são separadas para serem injetadas no coração do paciente.
Conforme Kalil, apesar dos resultados positivos, ainda é preciso avançar na
pesquisa sobre os tipos e o número de células, os efeitos e as causas de
mortalidade após o tratamento, além de conhecer as doenças, os pacientes e
o momento ideal para o tratamento.
A equipe de cirurgia cardíaca agora se prepara para uma nova
pesquisa com 40 pacientes. Financiado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a contrapartida do
Instituto de Cardiologia do RS, serão investidos cerca de R$ 240 mil na
análise do tratamento com células-tronco em 20 pacientes e somente com
medicação em outros 20. O objetivo é comprovar os resultados já obtidos em
pesquisas isoladas e verificar a viabilidade da substituição dos tratamentos
cardíacos tradicionais (inclusive o transplante de coração) pela terapia com
células-tronco.
No Brasil, 4 milhões de pessoas sofrem de insuficiência cardíaca grave.
Se ficar comprovado que as células-tronco podem melhorar as condições
desses pacientes na mesma proporção que os estudos preliminares têm
indicado, estima-se que 200 mil vidas poderão ser salvas em três anos e
reduzido o custo do tratamento em aproximadamente R$ 37 milhões por
mês.
O presidente da Comissão, deputado Paulo Brum (PSDB), adiantou
que entre as sugestões que serão apresentadas no relatório final está a
criação de um fundo para que o RS avance nos estudos sobre esta nova
alternativa da medicina. "Sem sombra de dúvidas, é fundamental que o
197
poder público incentive as pesquisas com células-tronco, para evitar que
cientistas gaúchos busquem melhores condições de trabalho em outros
estados, a exemplo do que vem acontecendo no Paraná", destacou o
presidente.
Também participaram da reunião os deputados Edson Portilho (PT) e
José Farret (PP).
Atas
ATA DE INSTALAÇÃO
Aos sete dias do mês de dezembro do ano dois mil e cinco, às dezoito horas e
trinta minutos, no Salão Nobre do Gabinete da Presidência, localizado no 1o
andar do Palácio Farroupilha, o Digníssimo Presidente deste Poder
Legislativo, Excelentíssimo Senhor Deputado Iradir Pietroski, reuniu-se com
os Excelentíssimos Senhores Deputados Paulo Brum, Marquinho Lang e
Adilson Troca com o objetivo de instalar a Comissão Especial sobre a
pesquisa das Células-Tronco que tem por finalidade estudar os avanços das
pesquisas da utilização das Células-Tronco em seres humanos, com o
propósito de contribuir na discussão sobre o tema e congregar esforços na
busca de recursos e informações nas áreas governamental, empresarial e
comunidade, a fim de que todas as metas sejam alcançadas, requerida
consoante o Processo nº 20039-0100 – RCE 7/2005. O Excelentíssimo
Senhor Presidente desta Assembléia Legislativa saudou os Deputados
presentes e declarou instalada a Comissão Especial sobre a pesquisa das
198
Células-Tronco , dando posse aos Deputados indicados pelas respectivas
Bancadas para comporem, como membros titulares e suplentes, a Comissão
Especial sobre a pesquisa das Células-Tronco, sendo titulares os Senhores
Deputados Edson Portilho - PT, Luis Fernando Schmidt- PT, José Farret- PP,
Pedro Westphalen- PP, Elmar Schneider- PMDB, Kanan Buz- PMDB, Ciro
Simoni- PDT, Giovani Cherini- PDT, Abílio dos Santos- PTB, Marquinho
Lang- PFL, Paulo Brum- PSDB e Jussara Cony- PCdoB . Suplentes os
Senhores Deputados Adão Villaverde - PT, Adilson troca-PSDB, Edson Brum
- PMDB, Flavio Koutzii- PT, Floriza dos Santos- PDT, Jair Soares- PP, João
Fischer- PP, José Sperotto- PFL, Márcio Biolchi- PMDB, Osmar Severo- PDT
e Sérgio Peres- PTB. O Senhor Presidente, Deputado Iradir Pietroski declarou
instalada a Comissão e empossados seus membros titulares e suplentes.
Saudou os membros da Comissão destacando a relevância dos estudos
acerca do assunto e a necessidade de aperfeiçoar a legislação existente. Logo
após, desejou a todos um trabalho exitoso na busca de políticas públicas
que viabilizem a terapia com Células-Tronco. O Senhor Deputado Paulo
Brum afirmou que a instalação deste órgão técnico visa conhecer pesquisas
desenvolvidas na área para informar e divulgar os avanços que, muitas
vezes, sustentam a esperança humana de encontrar tratamento ou até
mesmo a cura para certas doenças.
Conforme entendimento político entre as Bancadas, foram eleitos por
aclamação e empossados os Excelentíssimos Senhores Deputados Paulo
Brum, como Presidente e Luis Fernando Schmidt como Vice-Presidente e,
ainda, o Excelentíssimo Deputado Pedro Westphalen, como Relator.. E, nada
mais havendo para registrar, lavrei a presente ata que, após lida e aprovada,
será assinada pelo Digníssimo Presidente da Assembléia Legislativa do
Estado do Rio Grande do Sul, Deputado Iradir Pietroski, pelo Senhor Paulo
199
Brum, Presidente da Comissão Especial sobre a pesquisa das Células-
Tronco, e por mim, Secretária ad hoc desta Comissão. Palácio Farroupilha,
sete de dezembro do ano de dois mil e cinco.
Dep. Iradir Pietroski,
Presidente da Assembléia Legislativa.
Dep. Paulo Brum,
Presidente da Comissão Especial sobre a pesquisa das Células-Tronco.
Simone da Rosa Zuliani,
Secretária ad hoc da Comissão Especial sobre a pesquisa das Células-
Tronco.
ATA nº 01/2005
Aos nove dias do mês de março do ano dois mil e seis, às onze horas, na
Sala Doutor Maurício Cardoso, quarto andar do Palácio Farroupilha, reuniu-
se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente
da Comissão, Deputado Paulo Brum, e os Senhores Deputados Luis
200
Fernando Schmidt e José Sperotto. Justificou ausência o Deputado José
Farret. Abertos os trabalhos, o Senhor Presidente saudou os presentes e
noticiou a presença do Senhor Luis Augusto Gemelli, Presidente da
FADERS. O Senhor Presidente apresentou aos Senhores Deputados a
Secretária da Comissão, Simone da Rosa Zuliani, e o Assessor Superior da
Comissão, Antônio Cândido. Salientou que o objetivo desta primeira Reunião
da Comissão é ouvir os Senhores Deputados, para que seja traçado o plano
de ação da Comissão. Explanou sobre a relevância dos trabalhos da
Comissão e sobre a importância de serem difundidas entre a população as
inovadoras pesquisas com células-tronco. Afirmou que já manteve contato
com diversos especialistas da área. Logo após, passou a palavra ao
Deputado Luis Fernando Schmidt, que, após saudar os presentes,
parabenizou a instalação da Comissão, ressaltando que o objetivo da mesma
é de extrema importância para a vida humana, que a ciência está
possibilitando verdadeiros milagres, e que muitas pessoas poderão passar a
ter uma vida melhor com as descobertas feitas pelos estudos com células-
tronco. Citou que há várias passagens bíblicas que impulsionam as pessoas
a reagirem diante de situações difíceis e que um dos objetivos da ciência, na
atualidade, é ajudar as pessoas a procurarem sua cura. Disse que considera
importante que os trabalhos da Comissão se revelem democráticos, de
maneira que não sejam debatidas questões ideológicas ou religiosas.
Acrescentou que nem sempre poderá estar presente nos trabalhos da
Comissão que aconteçam nas quintas-feiras, vez que preside a Comissão de
Serviços Públicos, a qual tem reuniões quintas-feiras às nove horas, muitas
vezes estendendo-se até o meio-dia. o Senhor Presidente agradeceu a
contribuição do Senhor Deputado Luis Fernando Schmidt e passou a
palavra ao Deputado José Sperotto, que cumprimentou os presentes e
201
parabenizou o Senhor Presidente pela iniciativa de criação da Comissão.
Disse que, com a evolução da raça humana, vivenciamos, atualmente, a
importância da informação e que, com esta, a Comissão deve utilizar-se de
sua estrutura e da estrutura da Assembléia Legislativa, citando os exemplos
da Rádio e TV Assembléia, para buscar o conhecimento e difundi-lo em
nível municipal, estadual e federal. O Senhor Presidente, concordando com
as afirmações do Deputado José Sperotto citou a passagem bíblica “Levanta-
te e anda”, demonstrando a importância de difundir todo o conhecimento,
salientando que a Comissão já fez contato com o Instituto de Pesquisas
Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, que
desenvolve pesquisas com células-tronco do nervo periférico, acidente
cardio-vascular e epilepsia. O Laboratório de Imunologia e o Departamento
de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que desenvolvem
pesquisa com células-tronco mesenquimais(adultas). O Hemocord, banco de
cordão umbilical que desenvolve pesquisas sobre a plasticidade das células-
tronco, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que desenvolve pesquisas com
cardiomiopatia dilatada, O ICFUC, Instituto Fundação Universitária de
Cardiologia, que desenvolve pesquisas em cardiopatias, o Hospital de
Clínicas de São Paulo que desenvolve pesquisas em lesado-medular,
salientando que é voluntário deste Hopital nas pesquisas com implante de
células-tronco adultas . O Hospital de Clínicas do Rio de Janeiro, que
desenvolve pesquisas em cérebro, o Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto,
que desenvolve pesquisas em sistema imunológico. Disse que é importante,
além de ouvir os especialistas do Rio Grande do Sul, trazer também
especialistas de outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro. Sugeriu
que os trabalhos da Comissão iniciem convidando a especialista Patrícia
Pranke, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
202
Também considera importante ouvir os especialistas: Jaderson Costa
Dacosta, Doutor da Pontifícia Universidade Católica com pesquisa aprovada
pelo CNPQ- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-
em epilepsia; Dr. Maurício, que desenvolve pesquisas em acidente cárdio-
vascular na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Rogério
Sarmento-Leite, pesquisador do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do
Sul- Fundação Universitária de Cardiologia, que teve projeto selecionado
como o melhor caso clínico nos Estados Unidos, Ivo Nesralla, Diretor do
Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul- Fundação Universitária de
Cardiologia , Nance Nardi, bióloga e geneticista, coordenadora do programa
de células-tronco do Departamento de Genética da Universidade Federal do
rio Grande do Sul, Luis Eduardo Rohde, responsável pelas pesquisas do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, João Ricardo Santanna, pesquisador do
Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul- Fundação Universitária de
Cardiologia e Mayana Zatz, geneticista da Universidade de São Paulo, entre
outros pesquisadores que possam contribuir para os trabalhos da Comissão.
O Deputado José Sperotto pediu a palavra ao Senhor Presidente e sugeriu
que ao término dos trabalhos da Comissão, o Relatório da Comissão seja
distribuído à comunidade. O Senhor Presidente concordou com a sugestão
do Senhor Deputado e sugeriu que ao final dos trabalhos da Comissão seja
feito um Seminário difundindo aquilo que foi abordado nas Reuniões.
Considerando relevante, foi aprovado que a Comissão realize Reuniões,
acompanhada de um especialista do assunto, também no interior do Estado,
contando com com a estrutura que a Casa oferece, inclusive locação de
veículos. Solicitou aos Senhores Deputados integrantes da comissão que
sugiram nomes de especialistas da área que possam ser convidados para as
Reuniões da Comissão . Logo após, passou a palavra ao Senhor Luis
203
Augusto Gemelli, o qual parabenizou a iniciativa da Comissão, agradeceu a
oportunidade e disse que a FADERS- Fundação de Articulação e
Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de
Deficiência e de Altas Habilidades no Rio Grande do Sul- está à disposição
da Comissão naquilo que possa acrescentar aos trabalhos realizados.
Ressaltou a importância da existência dos bancos públicos de cordão-
umbilical e que deve-se ter restrições àquelas entidades que fazem mau uso
do conhecimento adquirido. Considerou importante o deslocamento da
Comissão ao interior do Estado. Logo após, o Senhor Presidente agradeceu a
presença de todos e convocou os Senhores Deputados membros da
Comissão para a próxima reunião, que acontecerá no dia dezesseis de março
do corrente ano, às onze horas, em local a ser definido, para que na
oportunidade seja ouvido um especialista no assunto. Nada mais havendo a
tratar, agradeceu a presença de todos e contribuição dos Senhores
Deputados e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata,
que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente,
Deputado Paulo Brum, e por mim , Secretária.
Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,
Presidente da Comissão Secretária.
ATA nº 02/2006
204
Aos dezesseis dias do mês de março do ano dois mil e seis, às onze
horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-
se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o senhor Presidente
da Comissão, Deputado Paulo Brum, o Deputado Luis Fernando Schmidt, o
Deputado José Farret e o Deputado Reginaldo Pujol. Também estava
presente a Assessoria Técnica da Comissão , o Doutor Paulo Mayorga,
Diretor da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul , o Doutor José Ângelo Zuanazzi, Vice-Diretor da Faculdade de Farmácia
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Doutora Martina Fritsch,
integrante do Grupo de Pesquisas em células-tronco do Hemocord. Após
saudar os Deputados e demais presentes, o Senhor Presidente determinou
que fosse confeccionado e registrado em ata um documento contendo o
Roteiro de Trabalho da Comissão, cuja transcrição segue: “Os Deputados
membros da Comissão, abaixo assinados, estão de acordo com o
encaminhamento dado pelo Presidente desta Comissão na Reunião de
16/03/2006, com relação a proposta de Roteiro de Trabalho que constará do
seguinte:Roteiro de trabalho: a)Envio de ofícios reportando a instalação da
Comissão, sua duração e seu objeto, bem como solicitando colaboração, aos
seguintes órgãos e instituições: Secretaria Estadual de Saúde - Sr. Osmar
Gasparini Terra, Secretário; Famurs - Sr. Mauri Heinrich, Presidente;
Secretaria Municipal de Saúde- . Sr. Pedro Gus, Secretário; Secretaria
Municipal de Acessibilidade e Inclusão Social- Sr. Tarcízio Teixeira Cardoso,
Secretário; todas as 496 Prefeituras e Secretarias de Saúde do Estado do RS;
Ministério da Saúde; Tribunal de Contas do Estado; Ministério Público do
Estado; b)Realização de Audiências Públicas, através da oitiva das
Secretarias de Estado que interagem no processo da saúde, Municípios,
órgãos nacionais e internacionais e comunidade em geral, tais como:
205
Secretários de Estado ; Presidente da Famurs; Ministério da Saúde ;
Ministério Público Estadual; Tribunal de Contas Estadual; Municípios;
Convites a outras autoridades, a cargo da presidência da comissão;
Realização de Reuniões Regionais, com interiorização, se necessário, para
esclarecimentos e proposição de estudos, junto a Secretarias Municipais de
Saúde e Secretaria Estadual de Saúde, bem como Universidades, Hospitais e
Centros de Pesquisa, sobre o tema objeto da Comissão; Oitiva de
pesquisadores do tema, em reuniões realizadas no Palácio Farroupilha ou fora
da Casa. Visitas a Hospitais e Centros de Pesquisa que trabalhem com
células-tronco ou pesquisem o tema; Visitas a Universidades com o intuito de
obter informações em Centros de Pesquisa sobre Células-Tronco.” Feito isso,
foi elaborado o documento, que após a aquiescência dos Senhores
Deputados membros da Comissão, será anexado, fazendo parte integrante
desta ata. Logo após, passou a palavra à Doutora Patrícia Pranke,
Farmacêutica, Pesquisadora e Professora de Hematologia da Faculdade de
Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que agradeceu a
oportunidade de comparecer à Reunião e palestrou sobre as pesquisas com
células-tronco enfatizando as células-tronco do cordão umbilical. Dentre
outros assuntos, explanou sobre o Projeto da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul aprovado pelo CNPQ- Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico- e defendeu a criação de um banco de cordão
umbilical público no Rio Grande do Sul , demonstrando a importância das
células-tronco em diversos tipos de tratamento clínico em seres humanos.
Após, o Senhor Presidente abriu espaço para questionamentos. Nada mais
havendo a tratar, agradeceu a presença dos Senhores Deputados e demais
presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata,
206
que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente,
Deputado Paulo Brum, e por mim , Secretária..
Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,
Presidente da Comissão Secretária.
ATA nº 03/2006
Aos vinte e três dias do mês de março do ano dois mil e seis, às onze
horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-
se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente
da Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret. Também
estavam presentes a Assessoria Técnica da Comissão , Elizabeth Cirne-Lima,
Coordenadora do Laboratório de Embriologia e Diferenciação Celular do
Centro de Pesquisas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Bióloga, Mestre
e Doutora em Bioquímica, palestrante da Reunião de hoje; Clarisse Sampaio
Alho, Vice-Diretora da Faculdade de Biociências da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, alunos da Faculdade de Biociências da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Belkis Moraes,
Secretária-adjunta da Secretaria de Acessibilidade e Inclusão Social. Logo
após saudar os Senhores Deputados e demais presentes e reafirmar a
necessidade da interiorização da Comissão para a cidade de Santa Maria em
abril do corrente ano, para que se possa discutir o assunto com outros
órgãos, como Universidades, Secretarias de Município e Hospitais, bem como
207
difundir as pesquisas realizadas. O Senhor Presidente passou a palavra à
Elizabeth Cirne-Lima, que agradeceu a oportunidade de comparecer à
Reunião e palestrou sobre as pesquisas com células-tronco enfatizando as
células-tronco embrionárias. Dentre outros assuntos, ressaltou a
importância da continuidade da pesquisas com células-tronco embrionárias,
afirmando que as mesmas, de acordo com recentes pesquisas, são
totipotentes, o que significa que podem transformar-se, in vitro, em
qualquer tecido humano, possibilitando a cura de diversas doenças. A
palestrante relatou que a primeira pesquisa do Brasil que obteve recursos de
órgãos federais foi o “Estabelecimento da rotina de manutenção de células-
tronco in vitro”. Relatou que o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em várias
de suas pesquisas, mantém convênio com a Universidade de Munique, na
Alemanha. Que pesquisadores alemães e brasileiros têm realizado estudos
juntos e obtido excelentes resultados. Após, o Senhor Presidente abriu
espaço para questionamentos, passando a palavra à Doutora Clarisse
Sampaio, que elogiou a inicitaiva da criação da Comissão, dizendo que este é
um meio de a comunidade científica entrar em contato com a comunidade
em geral e mais uma vez enfatizou que a pesquisa com células-tronco
embrionárias é assunto de relevância na vida de pessoas que necessitam de
tratamentos que podem vir a ser obtidos com o referido estudo. O Senhor
Presidente, após agradecer pela contribuição das duas pesquisadoras
anunciou que a Comissão, no dia trinta de março do corrente ano, terá como
palestrante o Doutor Jefferson Braga da Silva, especialista em micro-cirurgia
de mão e pesquisador de células-tronco do Hospital São Lucas. Nada mais
havendo a tratar, agradeceu a presença dos Senhores Deputados e demais
presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata,
que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente,
208
Deputado Paulo Brum, e por mim, Secretária.
Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,
Presidente da Comissão Secretária.
ATA nº 04/2006
Aos trinta dias do mês de março do ano dois mil e seis, às onze horas,
na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-se a
Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente da
Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret. Também
estavam presentes a Assessoria Técnica da Comissão e a Doutora Karolyn
Sassi, Diretora-Geral do Hemocord . Logo após saudar os Senhores
Deputados e demais presentes, o Senhor Presidente anunciou a
interiorização da Comissão ao município de Santa Maria no dia vinte e
quatro de abril do corrente ano e passou a palavra ao palestrante, Doutor
Jefferson Braga da Silva, Professor Livre- Docente em Cirurgia da mão e
Professor da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, que agradeceu a oportunidade de comparecer à Reunião
e palestrou sobre as pesquisas com células-tronco enfatizando as
209
perspectivas dessa terapia. O palestrante definiu o que são células, suas
funções e diferenciação das células-tronco e suas diversas funções. Trouxe à
tona a existência de células-tronco de medula óssea, de gordura, de
células-olfativas e também de tecido neural e de músculos. Dentre outros
assuntos, ressaltou a relevância das células-tronco de medula óssea e
também do nervo periférico. Abordou questões acerca da Lei de
Biossegurança, bioética e utilização de células-tronco embrionárias e, após,
apresentou slides ilustrativos das experiências com células-tronco feitas com
animais e humanos, demonstrando que é necessário incentivo de diversos
ógãos a essas pesquisas para que se evolua nesse campo da ciência. Após, o
Senhor Presidente abriu espaço para questionamentos, passando a palavra à
Doutora Karolyn Sassi, que agradeceu a oportunidade e salientou que
considera importante que os recursos sejam repassados a pesquisas com
viabilidade comprovada. Também explicou brevemente pesquisas de células-
tronco com cordão umbilical. Nada mais havendo a tratar, agradeceu a
presença dos Senhores Deputados e demais presentes e encerrou a reunião,
e, para constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai
assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim,
Secretária.
Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,
Presidente da Comissão Secretária.
210
ATA nº 05/2006
Aos seis dias do mês de abril do ano de dois mil e seis, às onze horas,
na Sala Maurício Cardoso, quarto andar do Palácio Farroupilha, reuniu-se a
Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente da
Comissão, Deputado Paulo Brum, o Deputado José Farret e o Deputado
José Sperotto. Também estavam presentes a Assessoria Técnica da
Comissão, a Doutora Nance Beyer Nardi, representando o Senhor Pedro
Fonseca, Vice-Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o
Professor César Augusto Zen Vasconcellos, Pró-Reitor de Pesquisa da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul . Após saudar os Senhores
Deputados e demais presentes, o Senhor Presidente anunciou que a
Comissão irá até São Paulo, representada por seu Presidente e Assessor
Superior, no dia dez de abril do corrente ano, para audiência com o Doutor
Tarcízio Barros Filho, Coordenador de Pesquisa sobre a utilização de células-
tronco adultas no tratamento de pacientes com lesão medular crônica, no
Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Logo após, o Senhor
Presidente passou a palavra ao palestrante, Senhor Lindolfo Meirelles,
Mestre em Genética e Biologia molecular pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Genética e
Biologia molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul . O
palestrante explanou sobre a investigação da distribuição das células-tronco
mesenquimais in vivo. Definindo o que são células-tronco, afirmou que são
células capazes de renovação e geração de outros tipos celulares. Abordou,
dentre outros assuntos, a plasticidade das células-tronco e como é feita sua
diferenciação nos diversos tipos de tecido, como por exemplo, o tecido
211
adiposo. Logo após, o Senhor Presidente passou a palavra ao Deputado José
Sperotto, que parabenizou, na pessoa do palestrante, a Comunidade
Científica do Estado do Rio Grande do Sul, pela evolução nos diversos ramos
de pesquisas. O Deputado iniciou um debate sobre o tempo de duração de
uma célula-tronco no organismo humano e indagou se as células-tronco
seriam uma possível descoberta para uma vida humana mais longa. O
palestrante respondeu que as células-tronco existem no organismo humano
durante toda a sua vida e que, atualmente, apenas é possível afirmar que o
tratamento com essas células pode trazer uma melhor qualidade de vida ao
ser humano. O Senhor Presidente indagou ao palestrante se há previsão,
pela comunidade científica, de as pesquisas serem aplicadas em seres
humanos. O palestrante esclareceu ao Senhor Presidente que já há projetos
para o tratamento de cardiopatias em seres humanos. Logo após, o Senhor
Presidente passou a palavra à Doutora Nance Nardi, que agradeceu a
oportunidade e afirmou que há vários grupos de pesquisa sobre células-
tronco na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e que essa discussão é
muito relevante hodiernamente. A mesma explicou, de maneira breve, a
sobrevida das células-tronco e salientou que nenhum desses programas
utiliza células-tronco embrionárias em suas pesquisas. Também foi passada
a palavra, pelo Senhor Presidente, ao Sr. Pedro Vasconcellos, que agradeceu
a oportunidade e ressaltou que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul
tem vanguarda em diversos programas de pesquisa. Nada mais havendo a
tratar, o Senhor Presidente agradeceu a presença dos Senhores Deputados e
demais presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a
presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor
Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim, Secretária.
212
Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,
Presidente da Comissão Secretária.
ATA nº 06/2006
Aos vinte e quatro dias do mês de abril do ano de dois mil e seis, às
quatorze horas, no Anfiteatro Gulerpe, anexo ao Hospital Universitário de
Santa Maria, reuniu-se, em Audiência Pública, a Comissão Especial das
Células-Tronco. Compuseram a mesa o Senhor Presidente da Comissão,
Deputado Paulo Brum e o palestrante, Dr. Luís Carlos Antunes. Também
estavam presentes a Assessoria Técnica da Comissão, o Senhor Júlio Cézar
de Almeida Brener, Vereador do município de Santa Maria, o Senhor Sérgio
Nunes Pereira, Coordenador de Pesquisa, Ensino e Extensão do Hospital
Universitário de Santa Maria, neste ato representando a Sra. Elaine Resener,
Diretora do Hospital Universitário e o Sr. Larry Argenta, Diretor-Clínico do
Hospital Universitário, a Senhora Léris Falet Haeffner, Coordenadora do
Curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria, o Senhor Ney
Pippi, integrante da Assessoria de Apoio Internacional do Gabinete da
213
Reitoria, médicos, enfermeiros e demais funcionários do Hospital
Universitário de Santa Maria, além de estudantes da Universidade Federal
de Santa Maria. Após saudar os presentes, o Senhor Presidente explicou
que o principal objetivo da Comissão, criada em sete de dezembro do ano
passado, é informar a comunidade sobre os avanços das pesquisas com
células-tronco, em nível estadual e federal. Esclareceu brevemente quais
foram os trabalhos já realizadas pela Comissão até o momento. Disse que a
primeira interiorização da Comissão se dá em Santa Maria, no dia de hoje.
Logo após, passou a palavra ao Senhor Sérgio Nunes Pereira, que disse que
o assunto é muito importante e que embora haja especulações que em nada
contribuem à ciência, o crescimento real das pesquisas com células-tronco
tem sido expressivo no mundo inteiro. O mesmo disse que a área de
cardiologia já está sendo beneficiada atualmente mas todas as áreas da
medicina poderão vir a ser beneficiadas com o desenvolvimento das
pesquisas. O Senhor Presidente então passou a palavra ao palestrante,
Doutor Luís Carlos Antunes, Médico Oncologista do Centro de Transplante
de Medula Óssea do Hospital Universitário de Santa Maria, que agradeceu a
oportunidade e afirmou que o transplante de medula óssea é o uso
terapêutico de células-tronco. Explanou que no ano de mil novecentos e
noventa, o Hospital Universitário de Santa Maria foi o primeiro hospital do
Estado a realizar um transplante de medula óssea. O médico explicou que a
medula óssea e o sangue periférico são fontes ricas de células-tronco usadas
no tratamento de doenças como leucemia aguda e crônica, linfoma, mieloma
múltiplo e aplasia de medula. Segundo o palestrante, o Centro de
Transplantes de Medula Óssea do Hospital Universitário de Santa Maria
realiza transplantes halogênicos ou aparentados e autólogos ou autogênicos.
Explicou que, no primeiro tipo, a coleta de células-tronco é feita por meio de
214
punção na cristalíaca (em um dos ossos da bacia) do doador para,
posteriormente, ser aplicado no paciente. No segundo caso, utiliza-se as
células-tronco do sangue periférico do paciente para depois injetá-lo
novamente através de um catéter central. O palestrante também afirmou
que há uma lista enorme de patologias que podem se beneficiar das células-
tronco da medula óssea. Logo após, o Senhor Presidente abriu espaço para
questionamentos dos presentes, que usaram da palavra promovendo debate
sobre o assunto. Após, o Senhor Presidente disse que o intuito da Comissão
é auxiliar as pesquisas naquilo que for possível , para que no futuro muitas
doenças consideradas incuráveis tenham outra alternativa. Então, passou a
palavra ao palestrante, que agradeceu a oportunidade. Nada mais havendo a
tratar, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos os presentes e
encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de
lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum,
e por mim, Secretária.
Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa
Zuliani,
Presidente da Comissão Secretária.
ATA nº 07/2006
215
Aos quatro dias do mês de maio do ano de dois mil e seis, às onze
horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-
se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente
da Comissão, Deputado Paulo Brum, o Deputado José Farret e o Deputado
Edson Portilho. Também estava presente a Assessoria Técnica da Comissão.
Justificou a ausência o Deputado Marquinho Lang. O Presidente da
comissão saudou os presentes e explanou sobre a primeira interiorização da
Comissão, que aconteceu em Santa Maria, no dia vinte e quatro de abril do
corrente ano. Logo após, passou a palavra ao palestrante, Maurício
Friedrich, Doutor em Neurociências pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul , Chefe dos Programas de Doenças Neurovasculares do
Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
e do Hospital Mãe de Deus, que proferiu a palestra "Perspectivas do uso de
células-tronco em pacientes com derrame". Após agradecer a oportunidade,
o palestrante salientou que o acidente vascular cerebral é a maior causa de
mortes no Brasil e que desde o ano de dois mil e dois há pesquisas com
células-tronco nessa área específica. Também explanou acerca da
potencialidade das células-tronco de medula óssea, dizendo que acredita
que as mesmas podem ser mais eficazes do que as células-tronco
embrionárias. Ilustrou sua palestra com vídeos sobre o assunto. Logo após o
término da palestra, o Senhor Presidente agradeceu o palestrante e
mencionou que a próxima reunião da Comissão será no dia onze do corrente
mês, na Sala Salzano Vieira da Assembléia Legislativa, às onze horas. Nada
mais havendo a tratar, agradeceu a presença dos Senhores Deputados e
demais presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a
presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor
Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim, Secretária.
216
Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,
Presidente da Comissão. Secretária.
ATA nº 08/2006
Aos onze dias do mês de maio do ano de dois mil e seis, às onze horas,
na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-se a
Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente da
Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret. Também
estavam presentes a Senhora Simone Denise Salamoni e a Senhora Zaquer
Costa, pesquisadoras do Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital São
Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Presente a
Assessoria Técnica da Comissão. O Presidente da Comissão saudou os
presentes e passou a palavra ao palestrante, Doutor Jaderson Costa da
Costa, Neurologista, Diretor do Instituto de Pesquisas Biomédicas da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Professor Titular de
Neurologia da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, Professor-orientador do Programa de Pós-graduação em
Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Professor
Adjunto Associado do Departamento de Medicina Interna da Universidade de
Miami, que agradeceu a oportunidade e proferiu palestra sobre terapia com
células-tronco em neurologia. Ilustrou sua palestra com vídeos sobre o
assunto. Afirmou que, no ano de mil novecentos e noventa e oito, pesquisas
descobriram que havia células-tronco em cérebros humanos e que a
217
Doutora Éva Mezey descobriu que a partir da medula óssea podem ser
obtidas células-tronco do sistema nervoso. O palestrante esclareceu que,
apenas no ano de dois mil, as pesquisas com células-tronco do sistema
nervoso iniciaram no mundo todo e o Rio Grande do Sul acompanha a
evolução das pesquisas na vanguarda. Disse que doenças como Mal de
Parkinson, esclerose e isquemia cerebral, hoje em dia, já podem ser tratadas
com células-tronco. O palestrante acredita que o século vinte e um é o
século da esperança para remodelagem de órgãos e tecidos. Finalizou sua
palestra explanando sobre o Primeiro Congresso Brasileiro de Células-
Tronco, realizado em novembro do ano passado, no Hospital São Lucas da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, com o incentivo
financeiro do governo estadual do Paraná. Logo após o término da palestra, o
Senhor Presidente agradeceu o palestrante e passou a palavra à
pesquisadora Zaquer Costa, que agradeceu a oportunidade e disse que o
Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
espera fazer muito pela população mundial no tangente às pesquisas com
células-tronco. Nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença dos
presentes e encerrou a reunião, e, para constar, foi lavrada a presente Ata,
que depois de lida e aprovada, vai assinada pelo Senhor Presidente,
Deputado Paulo Brum, e por mim, Secretária.
Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,
Presidente da Comissão. Secretária.
ATA nº 09/2006
218
Aos dezoito dias do mês de maio do ano de dois mil e seis, às onze
horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-
se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente
da Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret. Também
presentes o Doutor Paulo Mayorga, Diretor do Curso de Farmácia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Assessoria Técnica da
Comissão. O Presidente da Comissão saudou os presentes e passou a
palavra ao palestrante, Doutor Luiz Fernando Jobim, Chefe do Serviço de
Imunologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Professor de Medicina
Interna da Universidade Federal do Rio grande do Sul, que proferiu palestra
sobre a imunologia dos transplantes e células-tronco. Após agradecer a
oportunidade, o palestrante explicou a plasticidade de diferentes tipos de
células-tronco. Também explanou sobre os diversos tipos de transplantes,
quais sejam, alogênico, autólogo e singênico. Falou sobre a Rede BrasilCord,
projeto que visa criar cinco bancos públicos de cordão umbilical no Brasil e
que no projeto está previsto um banco no Hospital de Clínicas de Porto
Alegre. Afirmou que já existe toda a previsão administrativa mas os recursos
financeiros não são liberados por parte do Governo Federal. O Deputado
Paulo Brum solicitou ao palestrante que envie à Comissão dados sobre o
projeto mencionado, para que seja verificada a possibilidade de colaborar
com o mesmo. Na seqüência, o Doutor Jobim relatou um caso de uma
criança que nasceu sem imunidades mas foi tratada com implante de
células-tronco com sucesso. Após, explicou sobre os trabalhos do Hospital
de Clínicas de Porto Alegre com tipagem de Antígenos Leucocitários
Humanos, proteína localizada no cromossomo seis das células humanas.
Logo após a palestra, o Deputado Presidente agradeceu e passou a palavra
219
ao Deputado José Farret, que elogiou a palestra e sugeriu que seja feito um
seminário sobre o assunto assim que possível. Após a explanação do
Deputado José Farret, foi oferecida a palavra ao Senhor Paulo Mayorga, que
agradeceu a oportunidade e elogiou a palestra afirmando que o palestrante
foi muito esclarecedor em suas explanações. Nada mais havendo a tratar, o
Senhor Presidente agradeceu a presença dos presentes e encerrou a reunião,
e, para constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai
assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim,
Secretária.
Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,
Presidente da Comissão. Secretária.
ATA nº 10/2006
Aos vinte e cinco dias do mês de maio do ano de dois mil e seis, às
onze horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha,
reuniu-se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor
Presidente da Comissão, Deputado Paulo Brum e o Deputado José Farret.
Presente a Assessoria Técnica da Comissão. O Presidente da Comissão
saudou os presentes e passou a palavra à palestrante, Doutora Karolyn
Sassi, Diretora-Geral do Hemocord, Especialista em Reprodução Humana e
Doutoranda em Biologia Molecular pela Universidade Federal de São Paulo,
que proferiu palestra que tinha por foco central o assunto Bancos de
Sangue de Cordão Umbilical e a Visão do Serviço Privado. Após agradecer a
220
oportunidade, a palestrante afirmou que considera o uso de células-tronco
do cordão umbilical promissor para o tratamento de diversas doenças e que
os bancos privados de cordão umbilical podem ser parceiros dos bancos
públicos, vez que visam ao tratamento de diferentes doenças. Explanou
sobre a definição de células-tronco, diferenciou os genes importantes para a
eficácia do tratamento com células-tronco e apresentou soluções para a
rejeição da terapia por determinados pacientes, como por exemplo, a
clonagem terapêutica. Também apresentou alternativas para eliminar o
conflito ético que circunda as pesquisas com células-tronco embrionárias,
como fazer a partenogênese. Disse que há dúvidas em relação à eficácia do
tratamento com células-tronco embrionárias em seres humanos, vez que até
o momento as pesquisas foram realizadas apenas com animais. Demonstrou
dúvidas quanto ao congelamento de embriões e a Lei Federal que permite
que embriões congelados sejam utilizados em pesquisas. Relatando o
histórico da terapia com células-tronco, a palestrante afirmou que desde mil
novecentos e cinqüenta há experimentos com células-tronco hematopoéticas
e que em mil novecentos e setenta e três foi realizado o primeiro transplante
de células-tronco da medula óssea em seres humanos. A palestra foi
ilustrada com vídeos sobre o assunto. O Senhor Presidente agradeceu a
presença da palestrante e seus esclarecimentos e nada mais havendo a
tratar, agradeceu a presença dos presentes e encerrou a reunião, e, para
constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai
assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim,
Secretária.
221
Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa Zuliani,
Presidente da Comissão. Secretária
ATA nº 11/2006
Ao primeiro dia do mês de junho do ano de dois mil e seis, às onze
horas, na Sala Salzano Vieira, terceiro andar do Palácio Farroupilha, reuniu-
se a Comissão Especial das Células-Tronco. Presentes o Senhor Presidente
da Comissão, Deputado Paulo Brum, o Deputado José Farret e o Deputado
Edson Portilho. Presente a Assessoria Técnica da Comissão. Recebido ofício
justificando as ausências do Deputado Edson Portilho nas reuniões dos dias
seis de abril, vinte e cinco de abril, onze de maio, dezoito de maio e vinte e
cinco de maio do corrente ano. O Presidente da Comissão saudou os
presentes e passou a palavra ao palestrante, Renato Kalil, Doutor em
Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Diretor-Científico
e Cirurgião da equipe de cardiologia do IC-FUC(Instituto de Cardiologia do
Rio Grande do Sul, Fundação Universitária de Cardiologia), que proferiu a
palestra " células-tronco nas cardiopatias". Após agradecer a oportunidade, o
palestrante afirmou que embora os tratamentos de doenças cardíacas
estejam em potencial evolução, a terapia com células-tronco pode salvar a
vida de muitos pacientes, vez que, quando a doença isquêmica é muito
avançada e difusa, os métodos atualmente disponíveis não são efetivos.
Explanou sobre os dois projetos que estão sendo desenvolvidos no Instituto
de Cardiologia. Também explicou o projeto do Ministério da Saúde que visa
reduzir os gastos com internação utilizando terapia com células-tronco. A
palestra foi ilustrada com vídeos sobre o assunto, que apresentavam, dentre
outros assuntos, a origem das células-tronco, dados estatísticos de cura de
222
pacientes cardíacos tratados com células-tronco e terapias ideais que teriam
como ações minimizar a perda de cardiomiócitos reduzindo a morte celular
(apoptose), promover o retorno da função de miocárdio hibernante para um
nível normal, estimular a revascularização de zonas isquêmicas pela
angiogênese, e criar novos cardiomiócitos, para repor aqueles perdidos após
a injúria inicial. Ao término da palestra, o Senhor Presidente agradeceu a
presença do palestrante e seus esclarecimentos e nada mais havendo a
tratar, agradeceu a presença dos presentes e encerrou a reunião, e, para
constar, foi lavrada a presente Ata, que depois de lida e aprovada, vai
assinada pelo Senhor Presidente, Deputado Paulo Brum, e por mim,
Secretária.
Deputado PAULO BRUM, Simone da Rosa
Zuliani,
Presidente da Comissão. Secretária.
223
224
É O RELATÓRIO.
Deputado Paulo Brum,Presidente.
Deputado Pedro WestphalenRelator
Deputado Luis Fernando Schmidt,Vice-Presidente.
Deputado Abílio dos Santos Deputado Edson Portilho
Deputado José Farret Deputado Elmar Schneider
Deputada Jussara Cony Deputado Giovani Cherini
Deputado Kalil Sehbe
DEPUTADOS SUPLENTES
Deputado Adão Villaverde Deputado Adilson Troca
Deputado Edson Brum Deputado Flávio Koutzii
Deputado Floriza dos Santos Deputado Jair Soares
Deputado José Sperotto Deputado Márcio Biolchi
Deputado João Fischer Deputado Osmar Severo
Deputado Sérgio Peres