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Bairros Municipais - 1 - COMISSÃO PERMANENTE DE HABITAÇÃO, REABILITAÇÃO URBANA E BAIRROS MUNICIPAIS

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REABILITAÇÃO URBANA E BAIRROS MUNICIPAIS

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FICHA TÉCNICA Título Debate Bairros Municipais Edição Assembleia Municipal de Lisboa Comissão Permanente de Habitação, Reabilitação Urbana e Bairros Municipais Coordenação da Edição Assembleia Municipal de Lisboa Audição/Transcrição e Revisão de Texto Alexandra Ramos / Paulo Viegas Capa Sofia Henriques Ano 2011

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ÍNDICE

ABERTURA DOS TRABALHOS

Simonetta Luz Afonso……………………………………………………11 Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa

1º Painel

Deputada Municipal Inês Dentinho…………………………….............18

Professor Nuno Miguel Augusto………………………………………..20 Sociólogo, Universidade da Beira Interior Arquitecto Francisco Silva Dias…………………………………………30 Provedor da Arquitectura e Deputado Municipal de Lisboa Arquitecta Helena Roseta……………………………………………….38 Vereadora da Câmara Municipal de Lisboa

Debate

Gilda Caldeira……………………………………………………………..50 Associação Recreativa de Moradores do Bairro da Boavista Elizabete Santos…………………………………………………………..52 Grupo Comunitário do Bairro Padre Cruz O Senhor José Almeida………………………………………………….53 Deputado Municipal António Pinheiro Torres………………………….54 A Senhora Palmira Marques…………………………………………….55 (Residente no bairro dos Olivais) Deputado Municipal Nelson Antunes…………………………………..56 (Primeiro Secretário da Assembleia Municipal de Lisboa) Professor Nuno Miguel Augusto………………………………………..58 Vereadora Helena Roseta……………………………………………….60

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2º PAINEL Apresentação dos Projectos……………………………………………..66 O Senhor Filipe Santos…….…………………………………………….67 Projecto Alkântara - Associação Luta Contra a Exclusão Social A Senhora Sheila Sousa…………………………………………………69 “Projecto Ser Comunidade” da Organização Raízes O Senhor Vítor Mendes………………………………………………….70 Associação de Moradores da área das Galinheiras O Senhor Romão Lavadinho…………………………………………….70 Associação de Inquilinos Lisbonense O Senhor Vítor Pereira…………………………………………………...71 Morador da Freguesia da Ajuda A Senhora Cecília Sales…………………………………………………72 Assembleia de Freguesia dos Olivais O Senhor Jorge Miguel Máximo…………………………………………73 Junta de Freguesia de Marvila Deputada Municipal Maria Clara Silva………………………………….74 O Senhor Paulo Rodrigues………………………………………………75 APOD O Senhor João Carlos……………………………………………………76 Associação de Moradores do Bairro da Cruz Vermelha e Lumiar Zélia Amorim………………………………………………………………77 Noemi Elisabete Gomes da Silva……………………………………….78 “Crescer a Cores” do grupo Comunitário Horta Nova O Senhor João Mota……………………………………………………..78 Associação Viver Melhor no Beato O Senhor Joãozinho IE…………………………………………………..79 Instituto para a Cooperação e Desenvolvimento Internacional O Senhor Nuno Vasco Franco………………………………………….79 Associação Renovar a Mouraria

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O Senhor Manuel Saraiva……………………………………………….80 (Associação de Moradores do Bairro das Amendoeiras) A Senhora Maria Albertina Ferreira…………………………………….80 O Senhor Silvino Esteves Correia………………………………………81 (Bairro Carlos Botelho) O Senhor Professor Nuno Miguel Augusto…………………………….82 O Senhor Deputado Municipal Silva Dias……………………………..83 A Senhora Vereadora Helena Roseta………………………………….84

SÍNTESE DO DEBATE Deputado Municipal Filipe Lopes……………………………………….85

AGRADECIMENTOS Deputado Municipal Fernando Braamcamp……………………………87 Presidente da Comissão

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Aos dezanov e dias do mês de nov embro, pelas catorze horas e trinta minutos, reuniu em Sessão Extraordinária na sua Sede, sita no Fórum Lisboa, na Av enida de Roma, a Assembleia Municipal de Lisboa, para a realização de um Debate Específ ico sobre “Bairros Municipais”. Assinaram a “Lista de Presenças” os seguintes Deputados Municipais: Alberto Francisco Bento, Aline Galash Hall, Ana Bela Burt Magro Pires Marques, Ana Maria Gaspar Marques, Ana Sof ia Pedroso Lopes Antunes, André Nunes de Almeida Couto, António José do Amaral Ferreira de Lemos, António Manuel, António Manuel Dias Baptista, António Manuel Pimenta Prôa, António Maria Almeida Braga Pinheiro Torres, António Modesto Fernandes Nav arro, António Paulo Duarte de Almeida, Diogo Feijó Leão Campos Rodrigues, Diogo Vasco Gonçalv es Nunes de Bastos, Fernando Manuel Moreno D’ Eça Braamcamp, Fernando Manuel Pacheco Ribeiro Rosa, Fernando Pereira Duarte, Filipe António Osório de Almeida Pontes, Filipe Mário Lopes, Francisco Carlos de Jesus Vasconcelos Maia, Francisco David Carv alho da Silv a Dias, Gonçalo Matos Correia Castro de Almeida Velho, Hugo Filipe Xambre Bento Pereira, Idália Maria Jorge Poucochinho Morgado Aparício, Inês Lopes Cav alheiro Ponce Dentinho de Albuquerque D’Orey , Joana Rodrigues Mortágua, João Álvaro Bau, João Manuel Costa de Magalhães Pereira, Joaquim Emanuel da Silv a Guerra de Sousa, Joaquim Lopes Ramos, Joaquim Maria Fernandes Marques, Jorge Telmo Cabral Saraiv a Chav es de Matos, José António Nunes do Deserto Videira, José Manuel Rosa do Egipto, José Maria Bento de Sousa, José Maximiano de Albuquerque Almeida Leitão, José Roque Alexandre, Luís Filipe da Silv a Monteiro, Manuel Luís de Sousa Silv a Medeiros, Maria Albertina de Carv alho Simões Ferreira, Maria Cândida Rio de Freitas Cav aleiro Madeira, Maria Clara Currito Gargalo Ferreira da Silv a, Maria da Graça Resende Pinto Ferreira, Maria de Lurdes de Jesus Pinheiro, Maria Elisa Madureira de Carv alho, Maria Filomena Dias Moreira Lobo, Maria Irene dos Santos Lopes, Maria Isabel Homem Leal de Faria, Maria João Bernardino Correia, Maria

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José Pinheiro da Cruz, Maria Luísa Rodrigues das Nev es Vicente Mendes, Maria Simonetta Bianchi Aires de Carv alho Luz Af onso (Presidente da AML), Maria Teresa Cruz de Almeida, Mariana Raquel Aguiar Mendes Teixeira, Miguel Alexandre Cardoso Oliv eira Teixeira, Nelson Pinto Antunes (Primeiro Secretário da AML), Patrocínia da Conceição Alv es Rodrigues do Vale César, Paula Cristina Coelho Marques Barbosa Correia, Paulo Alexandre da Silv a Quaresma, Pedro Miguel de Sousa Barrocas Martinho Cegonho, Pedro Miguel Ribeiro Duarte dos Reis, Rita da Conceição Carraça Magrinho, Rodrigo Nuno Elias Gonçalv es da Silv a, Rosa Maria Carv alho da Silv a, Rui Jorge Gama Cordeiro, Rui Manuel Pessanha da Silv a, Maria Isabel dos Prazeres Pinto Nascimento Pereira, Vitor Manuel Bruno Morais, Rui Manuel dos Santos Matos Alv es, Maria Helena Sobral Sousa Ribeiro, Paulo Miguel Correia Ferrero Marques dos Santos, Renata Andreia Lajas Custódio, Pedro Manuel Tenreiro Biscaia Pereira, João Capelo, Maria Luisa de Aguiar Aldim, José Luis Sobreda Antunes e Ricardo Amaral Robles.

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ABERTURA DOS TRABALHOS Relator – Deputado Municipal Fernando Braamcamp, Presidente da Comissão Permanente de Habitação, Reabilitação Urbana e Bairros Municipais da Assembleia Municipal de Lisboa e Presidente da Junta de Freguesia do Alto do Pina.

Usou da palav ra a Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Maria Simonetta Bianchi Aires de Carv alho Luz Af onso

Queria em primeiro lugar agradecer à Comissão que organizou esta sessão todo o trabalho que tev e e o empenho, muito especialmente ao Senhor Presidente, também Presidente da Junta de Freguesia do Alto do Pina, Doutor Fernando Braamcamp, à Doutora Inês Dentinho e à Doutora Rita Magrinho, bem como aos demais membros da Comissão, aqueles que mais trabalharam neste tema e que se empenharam. Há alguns meses que v êm seguindo este trabalho. Agradeço muito. Quero também agradecer aos oradores, à Senhora Vereadora Helena Roseta e ao nosso conv idado, Prof essor da Univ ersidade da Beira Interior, da Cov ilhã, e ao Arquiteto Silv a Dias, nosso colega Deputado Municipal e também orador. Ao público presente, espero que colabore para que este debate, esta conv ersa entre nós, esta troca de impressões, este ponto de situação sobre a habitação municipal e a habitação social se torne de f acto enriquecedora para as decisões que dev erão ser tomadas num próximo futuro. Como todos nós sabemos, o mundo está a mudar e muitas coisas têm que ser ajustadas para exactamente conseguirem resistir à mudança e continuar para a f rente. Queria ainda inf ormar que o Senhor Presidente da Câmara pediu para transmitir os seus cumprimentos, para f elicitar os organizadores pela organização deste ev ento.

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Pediu para inf ormar que, por impedimentos de ordem pessoal, tev e a completa impossibilidade de estar aqui hoje a abrir a sessão, pelo que sou eu que v ou f azer a abertura da sessão. Era para ter f eito o encerramento, que será feito pelo Senhor Presidente da Comissão, que está muito mais dentro do tema do que eu para poder f azer uma síntese sobre tudo aquilo que se v ai dizer esta tarde e que estou conv encida que v ai ser extremamente interessante. Falar dos bairros é f alar das cidades, palco priv ilegiado das grandes mudanças sociais nas suas dif erentes v ertentes Em Portugal, durante as ultimas décadas, assistimos a um f orte processo de urbanização, simultâneo a uma mudança social de grande amplitude a todos os nív eis. Estas mudanças, acho que importa dizê-lo, são importantes para a análise da problemática que hoje aqui nos traz. Elas acompanham e, nalguns casos, estão na génese do que chamamos os Bairros Municipais. De f acto, na sua génese estão processos de construção que resultam essencialmente da necessidade e v ontade política de erradicação dos alojamentos precários que se f oram instalando na cidade, em muito f ruto dos mov imentos migratórios. E também da execução de grandes obras v iárias que obrigaram ao realojamento de populações residentes em terrenos por estes abrangidos. É, pois, neste ambiente de mudança, e neste momento também critico, que o Município de Lisboa v em procurando construir e melhorar o seu modelo de gestão dos bairros, tornando-o mais ef iciente, potencialmente mais justo e porv entura mais dinâmico, ou seja, adequado e f onte da dinâmica social que lhe é transv ersal. A gestão de cerca de 26 000 habitações, dispersas por 73 bairros, tem sof rido alterações substantiv as que importa assinalar, designadamente as que decorrem da implementação do Regulamento de Acesso à Habitação Municipal.

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Estes Bairros, constituem não só um património f ísico, mas também um património cultural, representando uma noção de v alor do capital humano e da cidadania ao consubstanciar o acesso a uma habitação. Por estas razões e com esta razão, a CML tem procurado, atrav és da Gebalis, concretizar não só uma gestão de proximidade, mas também promov er e incentiv ar projectos que contribuam para o desenv olvimento social, considerando os problemas e também as potencialidades da população que neles v iv em e aí trabalham. Ao que tem acrescido ainda um esf orço de inov ação em dif erentes áreas, energética, acessibilidade, de f orma a promov er uma maior captação e rentabilização de recursos. Criar condições à apropriação do espaço pela v alorização do sentimento de pertença, pela maior consciencialização dos direitos e dev eres de cidadania e pelo inv estimento na qualif icação do espaço público e do edif icado, são estratégias que não podemos descurar, a par do desenv olv imento de oportunidades de melhoria das competências sociais, prof issionais e indiscutiv elmente da descoberta de capacidades criativ as que abram os bairros para ao mundo e desaf iem o mundo a neles participar. A cidade "utópica", que o traçar deste pano de f undo tem como horizonte, é também a cidade da crescente heterogeneidade e complexidade das situações, dos percursos indiv iduais, dos projectos colectivos, conducentes, não dev emos iludi-lo, a um desafio de monta f ace à decisão política. Eles ref lectem, são expressão da complexidade das sociedades contemporâneas, exigem capacidades de entendimento da realidade, de def inição de metas e estratégias, de negociação, de planeamento e de alocação de recursos que à nascença não eram prev isíveis ou não f oram considerados. O que, no momento actual, implica a continuação do esf orço de inv estimento na resolução de problemas ainda com f orte expressão, designadamente em áreas como a qualidade do edif icado e espaço env olvente, dotação de equipamentos de qualidade, imagem desv alorizada, estigmatizada da

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população residente em alguns bairros, ausência ou déf ice de of erta cultural. Inv estimento também em termos sociais, nomeadamente se tiv ermos em conta o f acto do acesso à habitação ainda não ter sido, para um número signif icativo de famílias, o motor de acesso a uma ef ectiv a melhoria do seu quadro de v ida. Os déf ices de qualif icação e consequentes dif iculdades de acesso ao emprego e a rendimento estáv el, associados muitas v ezes a problemáticas de maior complexidade psicossocial, cultural ou mesmo de saúde, produziram situações de risco de exclusão ou mesmo de exclusão social, as quais não dev em ser dissociáv eis da pura gestão do parque habitacional. Ou seja, se olharmos o trabalho desenv olv ido e planeado, a gestão dos bairros implica: Gerir o património edif icado e o espaço env olv ente Gerir a relação contratual com as f amílias, designadamente no que respeita à f ixação de renda, de dev eres de manutenção das habitações, do espaço env olv ente, considerando a situação socioeconómica de cada agregado e acolhendo ev entuais dif iculdades com impacto na sua estabilidade e capacidade de assunção dos dev eres, o que neste momento quer dizer também num contexto adv erso à estabilidade de emprego e dos rendimentos; Gerir e promov er o desenv olv imento social f ace à heterogeneidade social e à div ersidade cultural; Garantir a necessária sustentabilidade f inanceira, numa conjuntura marcada pela escassez de recursos, por constrangimentos orçamentais sev eros e por riscos acrescidos de incumprimento por parte das f amílias. Estamos, pois, f ace a um enorme desaf io que conv oca, necessariamente, outros actores, nomeadamente a nív el das comunidades locais. E que conv oca, sem dúvida, estratégias de participação essenciais à prossecução dos objectiv os de desenv olv imento dos indiv íduos, das f amílias e das comunidades.

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Os projectos de desenv olvimento comunitário, assim como os Contratos de Desenv olv imento Social Local, especialmente orientados para a qualif icação e empregabilidade, são disso expressão. De f acto, para além do inv estimento público, uns e outros são sustentados em redes de parceria de incidência local. Mas, se estes são desaf ios especialmente em f unção dos problemas do que é hoje a realidade dos bairros, outros se desenham e perf ilam f ace ao f uturo, em especial do f uturo próximo, como a procura crescente em especial num contexto de crise e de risco de perda de rendimentos, a necessidade de atrair a f ixação de população mais jov em, contrariando a expulsão para concelhos limítrofes e envelhecendo a cidade, a necessidade de encontrar soluções que permitam sustentar f inanceiramente a interv enção sem pôr em causa o papel desempenhado pela autarquia. Ou seja, projectar e planear a gestão dos bairros municipais numa sociedade em processo de aceleração de mudança exige que se equacionem as questões estruturantes da consolidação dos bairros como espaços de dinamização social, económica e cultural, que se f ormulem hipóteses de estratégias que f avoreçam essa dinâmica, reduzam os riscos de precarização e não limitem o espectro da div ersidade Em síntese, prosseguir o caminho que acolhe a interculturalidade, a intergeracionalidade, a justiça, a solidariedade, não é um caminho de retórica. É o percurso árduo e exigente dos princípios e v alores f undadores das sociedades de bem-estar, centradas no processo de desenv olv imento humano. Aqui se inscrev em os direitos sociais, entre os quais o direito à habitação. Consagrá-lo tem sido um longo caminho, prossegui-lo é tê-lo inalienáv el. É esse o objecto desta ref lexão. Quem de nós não se lembra ainda, há aqui gente da minha geração e mesmo os mais nov os, não se lembra ainda de Lisboa logo à saída do aeroporto estar cheia de barracas?

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Lisboa era uma cidade de barracas. Eu lembro-me de v iajar com 18 ou 20 anos e ouv ir da boca dos estrangeiros que “v ocês estão cheios de barracas, Lisboa é uma cidade de barracas. Hoje podemos dizer, f elizmente, que houv e um grande inv estimento e que conseguimos erradicar as barracas, dando uma habitação digna aos seus habitantes. Neste momento é preciso repensar a questão, é preciso repensar como se dá sustentabilidade a estes bairros e como se melhora a qualidade de v ida das pessoas que neles habitam. É por este desígnio que estamos todos aqui hoje. Muito obrigada e bons trabalhos, que seguirei com muito interesse.

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PRIMEIRO PAINEL Moderadores Deputada Municipal Inês Dentinho, Deputada Municipal Rita Magrinho Deputada Municipal Aline Hall. A Senhora Deputada Municipal Inês Dentinho “Agradeço as palav ras da Senhora Presidente. Estamos aqui todos para v er o que é que f azemos dessa cidade utópica, desses desaf ios que agora se colocam em relação à nov a cidade que substituiu a cidade das barracas e as decisões políticas que dev em ser tidas em conta em cada momento. Para f alarmos sobre a perspetiv a urbanística, sociológica e legal deste assunto temos uma Mesa de luxo. Temos o priv ilégio de ter connosco o Prof essor Nuno Miguel Augusto sobre a perspetiv a sociológica, que concluiu a licenciatura em sociologia pela Univ ersidade da Beira Interior; depois f ez o mestrado em sociologia na Univ ersidade de Év ora, v ertente recursos humanos e desenv olv imento sustentáv el, que concluiu em 1998 com a tese “Apropriação do Espaço e Desenv olvimento em Bairros Sociais – Um Estudo de Caso” É docente na Univ ersidade da Beira Interior desde 1996, onde se tem dedicado à inv estigação e docência, em particular nas áreas da sociologia política, juv entude e políticas sociais. Em 2007 concluiu o doutoramento em sociologia, sob a orientação do Prof essor Doutor Manuel Villav erde Cabral, com a tese “Nov os Atores Sobre Velhos Palcos – Juv entude, Política e Ideologias no Portugal Democrático”. Tem publicações na área do desenv olv imento social urbano, da sociologia política e da sociologia da juv entude. Integrou dif erentes comissões científ icas, entre as quais se destaca a do projecto de diagnóstico da imigração em Portugal, do Alto Comissariado Para a Imigração e Diálogo Intercultural, e a Comissão Científ ica do Congresso Global 2009 sobre a Agenda 21 Local.

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Dirigiu cursos de graduação e pós-graduação na Univ ersidade da Beira Interior, tendo sido o primeiro director do mestrado em “exclusões e políticas sociais, sendo actualmente o director da licenciatura em sociologia. É desde 2009 Presidente do Departamento de Sociologia da Univ ersidade da Beira Interior e director do Centro de Estudos Sociais desta Univ ersidade. Temos, assim, um olhar conhecedor, simultaneamente conhecedor interno e também exterior, para quem v em da Cov ilhã v er esta realidade dos bairros sociais na Capital.

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Professor Nuno Miguel Augusto Sociólogo, Univ ersidade da Beira Interior “Primeiro que tudo um agradecimento pelo conv ite da Assembleia Municipal de Lisboa. Eu gostaria de dizer que a comunicação que v enho aqui trazer é habitualmente uma comunicação que gera alguma polémica nos dif erentes sectores, nas diferentes orientações, por v ezes até políticas e ideológicas, mas que pretende ser um retrato daquilo que é a habitação social em Portugal v ista do ponto de v ista dos actores. Grande parte da inf ormação que aqui trago é resultado de dif erentes inv estigações em Portugal, entre as quais a minha, sobre a habitação social, mas não v ista apenas do ponto de v ista das políticas, do ponto de v ista do urbanismo, mas essencialmente do ponto de v ista dos residentes. Optei por não trazer aqui uma comunicação demasiado baseada em gráf icos, dados, etc., ainda que depois possamos no debate e na discussão trazer alguns desses dados à discussão. Entretanto a habitação social tem v indo a mudar em Portugal e a ganhar, f elizmente, outras características. A apresentação que eu v os f aço tem muito a hav er com a habitação social que v ai de 1960 até f inal dos anos 90 e muito particularmente aquilo que f oi já aqui ref erido, uma construção em massa de habitação social em Portugal que resultou em grande medida do Decreto-Lei 163/93, que prev ia a erradicação de barracas, mas também um conjunto de outros planos anteriores. Eu não queria ser demasiado gráf ico, mas v ou tentar ser o mais telegráf ico possív el, nem demasiado conceptual, mas começaria por uma pergunta muito simples: o que é af inal um bairro Em sociologia costumamos dizer que idealmente um bairro dev e ser uma comunidade marcada por laços de sociabilidade, laços de solidariedade, identidades pref erencialmente positiv as com esse espaço.

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O que nós temos assistido nos últimos anos é a uma inv ersão desta ideia de bairro. Para nós rapidamente o bairro se transf ormou numa div ersidade de designações, que v ão desde a praceta ao sítio e de algum modo a ideia f ísica, arquitectónica, substituiu a ideia social de bairro, com todas as consequências que nós conhecemos. Houv e uma substituição da ideia de bairro por um aglomerado v ertical de f ogos e isto tev e consequências depois na f orma como se organiza socialmente esse espaço. O indiv idualismo, que muito erradamente serviu de suporte a esta ideia, dizendo-se que o urbano é essencialmente um indiv íduo indiv idualista, que o pessoal das aldeias é menos indiv idualista e há maiores relações de sociabilidade. Eu aqui lembrome de um dos principais autores da sociologia urbana, que é um senhor chamado Louis Wirtz, que dizia exactamente isso, que os urbanos tinham uma atitude blasé. Isto é, que eram indiv íduos soturnos, que não f alav am uns com os outros, que não conv iv iam entre eles. Uma das críticas mais interessantes que eu ouv i a Louis Wirtz f oi a um colega dele, aliás, ele f oi criticado por muita gente, dizendo que o Louis Wirtz dizia tudo isto mas tinha os seus espaços ref erenciais na cidade, tinha os seus grupos de amigos, os quais não dispensav a, e que tinha espaços muito particulares. Tomav a café no mesmo espaço, lidav a com as mesmas pessoas e utilizav a a cidade como uma comunidade. De f acto, é com este mosaico social da cidade que temos que olhar para os bairros e não como meros aglomerados urbanos de betão. Eu entro aqui numa questão que é geradora de muitos debates e possiv elmente de alguma discórdia, que é a dif erença entre escolher uma casa e ir v iver para o bairro. Há muita dif erença entre uma casa escolhida, que possivelmente podemos alterar, podemos mudar um dia, e uma casa que é atribuída e possiv elmente será para sempre, porque as condições sócio-económicas de muitas dessas populações não lhes permitem a entrada no mercado priv ado. Há aqui uma dif erença logo à partida entre a escolha e a atribuição, que gera consequências sociais e psicossociais.

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Segunda questão, e talv ez a mais importante, a f orma como a habitação social tem sido gerida, não só em Portugal. Eu diria que na maioria dos países europeus. Tem sido v ista essencialmente pela lupa da racionalidade burocrática. Como é que se atribui uma casa? Calcula-se o número de f ilhos, olha-se para T1, T2, T3 e f az-se o realojamento normal. Esta é geralmente a lógica burocrática e muito pouco uma lógica social de base. Uma das questões que é muito ref erenciada nos estudos sobre habitação social é, por exemplo, a reconstrução de laços sociais aquando da atribuição dos f ogos, que aliás é uma expressão bastante associal. Eu poderia dar-v os v ariadíssimos exemplos de comunidades que tinham espaços de habitação e de sociabilidade anteriores à habitação social e que não f oram consideradas, passando a morar em lugares opostos do bairro. Famílias que v iv iam juntas e que f oram colocadas em locais completamente opostos desse bairro. Portanto, os problemas começam a montante e a jusante do próprio processo de atribuição da habitação. Habitualmente estas questões não são tidas em conta e depois têm consequências sociais na própria comunidade e uma coisa que habitualmente temos como negativo, mas por v ezes tem os ef eitos de controlo social inf ormal das populações. A constituição de uma comunidade é muito mais complexa do que o lev antamento de prédios com andaimes e com estruturas de betão. E se é muito mais complexa nos espaços onde as casas são escolhidas e se assumem como potencialmente temporárias, o mesmo não acontece quando as casas são atribuídas. Falou-se aqui já em apropriação do espaço e permitam-me que acrescente uma outra dimensão da apropriação do espaço, que é a apropriação social do espaço. No caso da habitação social estas estratégias de apropriação social do espaço dev em ser prioritárias. Mais que prioritárias, dev em estar no centro da discussão, mais do que a atribuição de casas.

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Esta apropriação social do espaço passa primeiro que tudo por uma questão de identidade. Que identidade é que eu construo com o meu espaço? Eu v ejo-o como um espaço positiv o, valorizado, ou olho para ele como um espaço onde me v ejo f orçado a habitar mas que grande parte das v ezes está minado por um conjunto de estereótipos e de representações sociais que são internas e externas ao bairro? Segundo, esta apropriação do espaço depende muito das relações sociais e da estabilidade das relações sociais que se estabelecem nesse espaço e que dev em ser, no essencial, relações de solidariedade. Ora, de tudo isto depende a def esa do bairro. Isto é, eu não def endo aquilo com que não me identif ico, ou aquilo que entendo que não é o meu espaço de ref erência. Aliás o que acontece na habitação social, como veremos mais à frente, é que o espaço de ref erência não é o bairro, o espaço de ref erência é a casa habitualmente. Quais são as condições para uma apropriação positiv a do espaço? Se pensarmos um pouco, quando eu penso ir v iv er nalgum espaço e escolho um espaço habitacional, v olto a ref orçar este v erbo “escolher”, há um conjunto de v ariáv eis que interv êm nesta minha av aliação e das quais passa a depender essa apropriação social: Primeiro, a av aliação das características sociais dos residentes, quem é que são os meus v izinhos; Segundo, a situação desse espaço no tecido urbano, perif erizado, segregado, plenamente integrado, próximo do comércio, próximo dos espaços culturais; Características arquitectónicas do espaço. Não precisamos ter espaços que sejam ex-libris da arquitectura, mas a v erdade é que grande parte das características estão muito relacionadas com uma standardização dos modelos arquitectónicos; Relações de sociabilidade. O que é que marca aqueles bairros? Há alguma estabilidade do ponto de v ista da sociabilidade ou não?

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Finalmente, a imagem interna e externa do bairro. Isto é, a imagem que de f ora se tem do bairro e que dentro se produz dele próprio. Eu f alo aqui numa lógica das gav etas. Esta expressão não é minha, é da Isabel Guerra. É um pouco a lógica que tem marcado a tal atribuição de f ogos, que eu acho que é uma expressão por si própria com um carácter extremamente indiv idualista e muito pouco centrada nas dinâmicas sociais. É nisto que se têm baseado as políticas sociais. As políticas sociais são políticas de atribuição de f ogos. Parece-me que em grande parte dos casos esta lógica de atribuição tem substituído uma lógica de constituição ou pelo menos reconstituição de uma comunidade residencial. Temos que pensar que as pessoas precisam muito mais do que uma casa para habitar, precisam de um espaço para v iv er e para conv iv er. A questão das sociabilidades, dos espaços de lazer, percorre toda a bibliograf ia, toda a análise não só em Portugal e podia dar-v os v ários exemplos aqui ao lado em Espanha, em muitos bairros residenciais de Salamanca, Madrid e mesmo em Paris. Aliás, França tem adoptado uma perspectiv a muito dif erente da habitação social, com a qual eu concordo plenamente. As apostas em espaços de lazer, de conv iv ência, de sociabilidade, são extremamente escassas e mais uma v ez porque a lógica é de atribuição de casas, não é a lógica de constituição de um espaço social, grande parte das v ezes desadaptado destas populações. Eu percorri v árias memórias descritivas desde 63, que foi uma das análises que eu f iz, até aos f inais de 97. A v erdade é que se f ormos ao interior dos bairros, em quase nenhum deles a memória descritiv a corresponde àquilo que f oi construído, particularmente no que respeita a espaços de lazer, zonas de recreio, zonas de conv ívio, etc. Acabamos por ter por v ezes situações onde as populações estão f ortemente envelhecidas e se f azem parques inf antis e situações onde as populações

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estão rejuv enescidas, em que estão a nascer muitas crianças, e não há espaços de lazer inf antil. Uma outra característica da habitação social é daquelas que mais a tem marcado, que é a perif erização. Eu poder-v os-ia trazer aqui uma listagem imensa da bibliograf ia nacional e internacional sobre isto e por dif erentes razões. Começam, obv iamente, pelas questões f inanceiras, começam pelas dif iculdades na expropriação de terrenos e habitualmente acabam por f icar associados a terrenos mais baratos e mais f áceis de expropriar. Obv iamente, também por questões políticas. A habitação social, e f oi dito aqui, tem uma importante dimensão política. Desde o salazarismo que era usada como uma f orma de reprodução do modelo social do Estado Nov o, até à actualidade, que f oi v ista como uma estratégia f undamental do Estado Prov idência. Uma das primeiras questões associadas a esta perif erização é a sua v isibilidade, todos nós sabemos isto. Quanto mais perif erizamos e quanto mais construímos em altura, maior é a probabilidade de nós termos uma enorme v isibilidade daquele espaço, que se torna um espaço ref erencial. A grande questão é que para além da v isibilidade dev ida à perif erização, dev ida à construção em altura, também dev ida à standardização dos modelos arquitectónicos… nós conseguimos, olhando para um bairro social, dizer que este é habitação social de 63, este é um modelo de 67, este é um modelo de 81, por aí f ora, conseguimos facilmente f azer isto. À v isibilidade urbana e arquitectónica destes espaços acrescentou-se uma outra coisa que lhe conf ere características de segregação, que são as características homogéneas da sua população. Poderíamos dizer aqui que há um, perdoem-me a expressão, jackpot pela negativ a. Muitos destes casos não só representam situações de segregação, que eu creio que poderiam e dev eriam ser muito melhor estudados em Portugal, mas muitas delas representam claros f enómenos de guetização.

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Aquilo que nós ref erimos muitas v ezes e que muitas v ezes não é uma ideia muito bem recebida, nem por quem constrói, nem porque quem nelas v iv e, é que os bairros sociais acabam por representar no interior da cidade uma concentração da pobreza e por v ários motiv os. As grandes características da habitação social, e não só em Portugal, são primeiro que tudo e por motiv os óbv ios serem compostos maioritariamente por f amílias com reduzida capacidade económica, baixos níveis de escolaridade, predominância de escalões socioprof issionais baixos, do trabalho precário, do subemprego, da economia paralela, economia subterrânea, taxas de desemprego signif icativ amente maiores do que as médias nacionais e muito particularmente junto das gerações mais nov as, junto dos jov ens. Depois há a heterogeneidade ética e racial, que muitas v ezes também não é tida em conta aquando da dita atribuição dos f ogos, e predominância de f amílias de elev ada dimensão. Estes espaços não são espaços particulares apenas do ponto de v ista arquitectónico, são espaços muito particulares do ponto de v ista social. Ora, tudo isto resulta naquilo que nós designamos por exclusão subjectiv a. O que é a exclusão subjectiv a, dita de uma f orma simplif icada? É o sentimento de exclusão. Nós sabemos, sociólogos, psicólogos, psicólogos sociais, que tem consequências a dif erentes níveis, dos comportamentos, dos modos de v ida, do desv io da delinquência e de um conjunto de v ários outros fenómenos que não v ale a pena estar aqui a dizer que não estão associados à pobreza ou à exclusão, porque ef ectiv amente estão. Consciente ou inconscientemente, os realojados acabam por interiorizar esta imagem negativ a do bairro. Acabam por reproduzir na relação com o bairro, na relação consigo próprios, na relação com a cidade e na f orma como se av aliam a si próprios. Poder-v os-ia dar vários exemplos, mas um dos bairros que eu estudei, um bairro de 63, tinha uma particularidade do ponto de v ista arquitectónico, tinha umas ripas que supostamente serv iam para que a roupa não estiv esse à vista, era uma questão meramente arquitectónica, de embelezamento. A f orma como as pessoas interpretaram

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aquelas ripas, aliás, f oram as próprias pessoas que passaram a chamar o “bairro das ripas”, f oi dizerem que aquelas ripas estav am ali para esconder a roupa v elha dos pobres. Esta interiorização da pobreza tem muitas v ezes estas consequências e não v amos av ançar para outras consequências que poderá ter. Directa ou indirectamente, as políticas de habitação social têm contribuído para uma desv alorização simbólica desses espaços., pelos motivos que aqui f alámos e por muitos outros. Esta interiorização da ideia de bairros, aquela coisa do “puto de bairro”, ou então o contrário e aprecia nalguma da bibliograf ia, que eram pessoas que não dav am a morada nos currículos para obter emprego, dav am a morada de um f amiliar ou de um amigo porque sabiam à partida que a estigmatização a que era sujeito aquele espaço, se eles colocassem no currículo a sua morada, dif icilmente ganhariam aquele emprego. Isto está ref erenciado em v ários estudos a nív el nacional. Outro f enómeno é o gosto pela casa e o desgosto pelo bairro. É uma expressão da Teresa Costa Pinto, não é minha, e que tem a hav er com um f enómeno muito particular. As pessoas tiv eram trajetórias habitacionais muito complicadas, tinham condições de habitação extremamente precárias e, ao ganharem a casa, todo o seu inv estimento pessoal, social e simbólico passou para a casa, mas não necessariamente para o bairro. É aí que se gera o tal gosto pela casa e desgosto pelo bairro. Tem uma consequência f undamental, o inv estimento na casa, que é um inv estimento simbólico para além de f inanceiro, acompanha um desinvestimento no bairro. Os chamados bairros sociais contribuíram f ortemente para uma estigmatização e rotulagem dos seus residentes. Isto é o que os dados nos rev elam e são inv estigações que estudam internamente estes f enómenos. É v erdade que contribuem para a eliminação da exclusão habitacional, mas ref orçam a exclusão subjectiva. Revelam dificuldades na constituição de uma v erdadeira comunidade residencial e logo na participação e nas solidariedades. Nós não podemos olhar para a participação como uma mera alínea d) do artigo 65 da Constituição. A participação é um

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direito social e é uma condição para o desenv olv imento destas comunidades. Finalmente, acentuam as próprias desigualdades sociais da cidade, dando-lhes v isibilidade. O f uturo dos grandes bairros, já se f alou aqui de algumas dessas questões, o env elhecimento populacional ou substituição intergeracional da habitação que acompanha a transmissão intergeracional da pobreza e da exclusão. Interv enções muito mais centradas na casa do que no bairro, o que pode lev ar a uma descaracterização do espaço e a uma descaracterização arquitectónica, a degradação dos espaços públicos e do edif icado, muito particularmente quando se utiliza uma estratégia que se usou muito no f inal dos anos 90, que era v ender as casas. Num dos bairros que eu estudei, as casas eram vendidas em moeda antiga por 1200 contos, o problema era que a seguir à v enda das casas v inha todo o restauro que implicav a a degradação que aquelas casas tinham, que deixav am de ser responsabilidade do Estado e passav am a ser responsabilidade das pessoas, tornando essa degradação muito mais ev idente. Continuidade ou mesmo acentuação negativ a do bairro, dependência de impulsos públicos para a reabilitação e para o realojamento. Sobre o f uturo da habitação social, algumas dicas apenas que gostaria de deixar para discussão. Uma maior participação dos residentes a montante a jusante do processo. Uma v erdadeira integração, as associações não dev em ser constituídas à posteriori, possiv elmente dev em ser constituídas antes para que representem essas populações logo aquando da atribuição dos f ogos. A substituição das lógicas centradas na casa por lógicas centradas na comunidade. Desconcentração da habitação social e de expressão urbana, ou construção e apropriação pública de habitações. Talv ez seja esta uma das melhores

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estratégias, desconcentração e expressão urbana da habitação social. Destandarização dos modelos arquitectónicos. Não ter modelos de habitação social que dão uma enorme v isibilidade a esses espaços. Finalmente, estratégias de v alorização simbólica dos espaços. Deixaria umas f rases que não são minhas, uma é da Paula Almeida, outra é da Isabel Guerra, que directa ou indirectamente têm a hav er com a habitação social e que ref lectem bastante bem aquilo que é a preocupação dos cientistas sociais em Portugal relativamente a estes espaços: “A identidade colectiv a não se f orma administrativ amente, nem se regula geograf icamente” e “As pessoas não são coisas que se ponham em gav etas”. Finalmente, do António Fonseca Ferreira, “Não podemos continuar a trabalhar e a inv estir para criar problemas em v ez de os solucionar”.

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Arquitecto Francisco Silva Dias Prov edor da Arquitectura e Deputado Municipal de Lisboa Num liv ro de contos há tempos publicado há um, que se intitula “zona J” e que começa assim, pela f ala duma personagem: “É chato. É muito chato. Quando v ivemos nas barracas ou em casas degradadas somos a malta das barracas e dizem que somos porcos, f eios e maus, como no f ilme…Quando somos realojados nos bairros da Câmara somos os dos bairros sociais e o nome do sítio onde moramos cola-se a nós e continuamos a ser maus embora já não sejamos porcos porque agora tomamos mais v ezes banho e não seremos f eios porque andamos mais bem v estidos, temos armários para pôr a roupa e não dormimos com os f atos que trazemos de dia porque não temos tanto f rio e usamos pijamas e o nosso olhar é menos carregado. Mas para os outros, maus continuamos a ser.” Segue-se o conto com as v enturas e desv enturas da v izinha Horácia que tinha uma f ilha que namorav a um preto. Na empena cega do Lote 406 na Av enida Dr. Arlindo Vicente, em Chelas junto ao Parque da Bela-Vista, há um graf ito de grandes dimensões que é uma assinaláv el obra de arte urbana: Tem ligações à banda desenhada, é parco o número de f iguras, o desenho è expressiv o e a coloração apelativ a. Encima-o uma legenda: Born in Chelas, nascido em Chelas. A liberdade literária permite-nos imaginar que a personagem do conto e o autor do graf ito são a mesma pessoa e que no seu pensamento tumultuam os mesmos sentimentos. E se o objectiv o primeiro dos debates que a Assembleia Municipal lev a a ef eito é o alargar da discussão dos

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problemas da cidade ao maior número e dai f ornecer aos eleitos esteio para as suas decisões, então a f ala no conto e o desenho na empena, mesmo que os seus autores estejam ausentes permite-nos f ormular questões e procurar resposta entre todos Assim saltam para a discussão três temas: O primeiro será conhecer as causas de uma espécie de anátema que cai sobre os ditos bairros municipais e ref lectir sobre as v irtudes e def eitos dos mesmos. O segundo será tentar saber se existe relação inequív oca entre o desenho da cidade e dos edif ícios e o comportamento de quem os habita. O terceiro, f inalmente, será o ref lectir sobre os critérios da atribuição e a consequente composição do tecido social que irá ocupar essas nov as extensões da cidade. O primeiro: o anátema. Comece-se por uma questão de carácter aparentemente semântico: o uso da palav ra bairro aplicada a parcelas da cidade identif icadas pela ocorrência de características formais ou f uncionais no âmbito da paisagem urbana ou da paisagem humana. Etimologicamente bairro signif ica o que está separado ou barrado, como um conjunto edif icado que se adiciona perif ericamente a um aglomerado estabilizado e é curioso v erif icar em que circunstancias o topónimo mantém a designação de “bairro”: Bairro Alto, Bairro da Encarnação, Bairro Azul, Bairro Chinês, bairro de lata, bairro operário e por extensão bairro social, bairro da câmara. É de admitir que assim seja quando persistem f actores de identif icação dominantes e mal v ai quando estes são a repetição do edif icado e a sem graça da monotonia. Serão dif erentes os sentimentos de um habitante para o seu bairro nos Oliv ais, diversificado, ou no Bairro 2 de

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Maio, no Rio Seco: dezenas de blocos do mesmo f eitio, com as mesmas f achadas, da mesma cor. E aqui entra a segunda questão: se existe relação entre o desenho dos edif ícios e da cidade e o comportamento de quem os v iv e. Num recente colóquio promov ido pelo Departamento de Arquitectura do ISCTE f oi encarado como caso de estudo o edif ício que em Chelas a toponímia popular chama a Pantera Cor de Rosa. Foi quase unânime a opinião de que parte dos problemas de comportamento colectivo dos habitantes adv iria do carácter concentracionário que apresenta muito embora se trate de uma obra notáv el de arquitectura sob o ponto de v ista formal. Logo ali ao lado no crescente da Rua Cristino da Silv a outra tipologia, o tradicional prédio lisboeta, 3 ou 4 pisos, esquerdo e direito parece ter-se f urtado a problemas de rejeição e v andalismo ocorridos no primeiro caso. Foi impressionante nesse colóquio o testemunho de uma aluna que com orgulho disse que v iv ia com os pais na Pantera e tinha escolhido aquele curso por aí ter sentido a arquitectura. É matéria delicada esta porque são insondáv eis os desígnios do destino. Quando nos f ins da década de 50, o Gov erno Central e o Município encarregaram o Gabinete Técnico da Habitação de promov er a construção em ritmo estimado (e optimista) de 3000 f ogos por ano a distribuir por entidades da prev idência designadas por lei, pôs-se a questão de saber se esses f ogos dev eriam ser implantados nos v azios urbanos que a cidade apresentav a no seu território ou concentrados nas grandes propriedades municipais, herança de Duarte Pacheco, nos Oliv ais e parte de Chelas. No primeiro caso talv ez a integração f osse mais f ácil mas hav eria problemas acrescidos na inf ra-estruturação e na

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garantia de equilíbrio em termos de equipamento e o perigo, se não f osse acautelado, da pulv erização de guetos. No segundo o atingir da condição urbana seria mais distante, pela dilatação do período de obras mas poder-se-ia construir cidade de raiz, com possibilidade de entrada em f uncionamento simultâneo das funções urbanas do habitar, do equipamento da circulação e do trabalho. Foi então seguido o 2º modelo. Dentro, aliás de uma tradição da nossa cidade que tem crescido signif icativ amente por grandes acções de carácter urbanístico de iniciativ a pública. A Baixa, a Av enida da liberdade, as Av enidas Novas, o Bairro Social do Arco do Cego, Alv alade, parte do Restelo, Telheiras, os Oliv ais, Marv ila e o Parque das Nações. E é f ácil constatar que é de operações com estas características que resulta a cidade planeada e a “melhor cidade”. Será mais agradáv el hoje v iver em Alvalade que em Benf ica, nos Oliv ais que no f alsamente luxuoso Parque dos Príncipes. De um lado o Estado, incluindo o municipalismo, do outro o mercado. Recorrendo unicamente à observ ação poder-se-á esboçar da seguinte f orma o actual perf il da população em relação à sua capacidade de acesso à habitação: Um primeiro estrato, muito reduzido, dos que têm indiv idualmente possibilidade de chegar ao mercado imobiliário, simetricamente, numa espécie de curva de Gauss estão aqueles que, por penúria de rendimentos recorrem à precariedade do alojamento ou ao auxilio total do Estado ou da solidariedade social. Em estratos intermédios e dominantes estão os que, sujeitos a grandes taxas de esf orço recorrem directamente ao crédito

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bancário ou os que directa ou indirectamente atrav és do associativ ismo podem benef iciar da interv enção do Estado. Usam-se normalmente as expressões “ajuda à pessoa” ou “ajuda à pedra” em relação a este último escalão quando a interv enção estatal se f az atrav és de abonos ou subsídios (ajuda à pessoa) ou atrav és de programas de construção de f ogos (ajuda à pedra). Tem-se localizado a acção do município predominantemente nesta ultima modalidade (ajuda à pedra) incluindo, pois as taref as de planeamento, construção e atribuição. – Taref a complexa por existir um grande af unilamento entre a demanda e a produção apertada pela escassez de recursos e que tem assumido aspectos dramáticos, experiencias f alhadas e experiencias conseguidas e também êxitos assinaláv eis. Recordam-se as deslocações f orçadas de conjuntos da população, do Vale de Alcântara para a Musgueira mas também das demolições do Martim Moniz para Alv alade, hoje jóia da cidade, os Oliv ais e a atribuição de f ogos feita através de instituições de prev idência, e do mundo do trabalho e o equilíbrio da estrutura social que hoje ai se v erif ica, as ocupações de 75, o af luxo das populações v indas das excolónias, o PER e uma espécie de passagem pelo purgatório (a barraca) para ter acesso à casa e a ev entual criação de desequilíbrios sociais localizados disso resultantes. Tudo, a contribuir para uma singular v alorização histórica da nossa cidade. Recordo as palav ras de Krus Abecassis aqui nesta Assembleia, como deputado municipal após ter sido presidente da câmara e a propósito da Zona J, em Setembro de 1995: “…destaco uma v irtude deste bairro: aquela que tem a v er com o f acto de talv ez ser o instrumento mais positiv o que se implantou em Lisboa contra a xenof obia ao promov er o conv ívio de v ários raças pois 15% da população pertence a

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minorias étnicas “ numero que, segundo disse, atemorizav a os sociólogos. Não é f eliz o graf ismo dos cartazes e dos f olhetos que anunciam este colóquio. Prédios altos de janelas serradas, uma rua v azia e candeeiros apagados. Uma v isão crepuscular. Onde estão as crianças que constituem a maioria etária da população dos bairros municipais? E as mulheres que os v iv ificam? E os idosos que animam os jardins? E a Marcha de Marv ila? E os concertos da Sociedade Filarmónica União e Capricho Oliv alense? E todas as outras associações e grupos, incluindo as Juntas de Freguesia que f omentam com a sua acção o patriotismo do lugar de que f alav a aqui o Presidente Jorge Sampaio? E as f estas que as crianças de todas as cores da escola da Zona J de Chelas f azem transbordar para a rua? E aquele homem v izinho do Parque da Belav ista e que indif erente ao ruído dizia – “Grande bairro é o nosso que até a Madona v em cá cantar!” Vai para 3 ou 4 anos reuniram-se na Escola Fernando Pessoa alguns técnicos que hav iam trabalhado no plano dos Oliv ais e três gerações dos que hoje lá v iv e e gostam de lá v iv er. Alguém recordou a perplexidade dos primeiros habitantes perante aquele pedaço de cidade que tinha mais árv ores que casas e onde não hav ia a rua tradicional, a praça ou a loja da esquina. E um dos presentes contou que nessa altura ao chegar a casa, perto da meia-noite, encontrou, sentado no lancil da rua um homem que chorav a desesperadamente. Procurou saber o que o af ligia e o desgraçado respondeu que se hav ia mudado na v éspera para aquele bairro e se tinha esquecido da morada e estav a perdido. Procurou o contador da história sacar algum indício mas nada. O outro só se lembrav a v agamente de um marco de correio. Tev e sorte porque o contador da história sabia que hav ia nos Oliv ais 5 marcos do correio e propôs-se acompanhá-lo numa ronda por todos eles.

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Azar: só no último é que o desgraçado reconheceu a sua casa e eram duas da manhã quando o contador da história chegou a sua casa. É só uma estória mas signif icativ a da solidariedade que a v izinhança pode gerar num bairro municipal. E depois do que f oi dito e do muito que hav eria a dizer, ousamos concluir: os bairros municipais, ou num sentido mais amplo, os bairros de iniciativ a estatal, do gov erno central e/ou do município são em Lisboa, um singular património. Talv ez não haja na Europa e não hav erá certamente no mundo uma capital que, independentemente dos regimes que a tenham gov ernado, albergue percentagem tão grande da população e tenha f eito crescer o seu corpo atrav és de uma v isão social do alojamento. Visão que ultrapassa o “f azer casas” e chega ao “f azer cidade” e olhar em conjunto para o trabalho, a circulação e o equipamento como suporte e estímulo da cidadania. E tudo isto talv ez se possa resumir a Libertar o protagonista do conto do sentimento que o oprime. Ou transf ormar o desespero e a prov ocação contida no grito “born in Chelas” em esperança e orgulho de ter nascido em Chelas.

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A Senhora Deputada Municipal Inês Dentinho: “Vamos agora ouv ir a última oradora deste painel, a Senhora Vereadora Helena Roseta. Arquiteta, nasceu em Lisboa em 1947. É casada, tem três f ilhas e tem sete netos. Foi dirigente estudantil da Juv entude Escolar Católica nos anos 60 e Secretária-Geral do antigo Sindicato Nacional dos Arquitetos, cargo que ocupav a quando f oi detida pela PIDE em 1973. Participou com uma tese sobre a habitação no Congresso Da Oposição Democrática de Av eiro, em 1973. Foi deputada constituinte pelo PSD no círculo de Lisboa. Lembro-me nessa altura de a v er sair do cerco ao parlamento. Entre 1976 e 1979 f oi deputada pelo PSD. Entre 1979 e 1982 f oi eleita pela AD, círculo de Setúbal, ano em que renunciou ao mandato por conf lito de consciência no caso da amnistia do PRP-BR. Foi v ereadora em Lisboa entre 1976 e 1978 pelo PSD e Presidente da Câmara de Cascais entre 1983 e 1985 pelo mesmo partido. Apoiou a candidatura de Mário Soares a Belém em 1986, motiv o que a lev ou a abandonar o PSD. Nesse ano f oi Presidente da Comissão do Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas. Em 1987 integrou como independente as listas para as legislativ as pelo PS, tendo sido eleita e desempenhado o mandato de deputada até 1991. Entrou para o Partido Socialista em 1991, tendo sido deputada entre 1991 e 2005, por Lisboa e depois por Coimbra. Saiu do Partido Socialista em Maio de 2007.”

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Arquitecta Helena Roseta, Vereadora da Câmara Municipal de Lisboa: “O currículo não é relev ante, sou simplesmente vereadora e é nessa qualidade que estou aqui. A minha apresentação ev entualmente não será tão bonita como as que nós ouv imos. É uma apresentação mais seca, porque eu quis de propósito trazer alguns números e alguns f actos que penso que dev em ser do conhecimento, quer das populações dos bairros, quer dos Senhores Deputados Municipais. Esse f oi o esf orço que f iz, f iquei muito aquém daquilo que gostaria mas v ou tentar ser brev e. Em primeiro lugar, pegando naquilo que disse o Silv a Dias, Lisboa de f acto tem uma tradição muito grande de bairros de iniciativ a pública. Estas manchas pretas que v êem aqui marcadas na Cidade de Lisboa são bairros de iniciativ a pública desde o f im do século XIX e princípio do século XX. Alguns destes bairros já não são públicos. O Bairro do Restelo, por exemplo, começou por ser um bairro de casas económicas e hoje é um bairro como os outros. Há muitos bairros que se libertaram do estigma de casas económicas e são bairros no meio da cidade. Eu gostaria que os bairros municipais também ev oluíssem assim. No século XX, em 1980 e 1990, f oram identif icadas v inte mil f amílias nas barracas e f oram criados dois programas de realojamento. O PIMP f oi o primeiro, é o que está marcado aqui a v ermelho, e depois o PER. A Câmara f ez um esf orço enorme e construiu dezassete mil f ogos em poucos anos ao abrigo destes programas para extinção dos bairros de barracas. Foi um inv estimento de 800 milhões de euros, que ainda estamos a pagar todos os anos sob a f orma de dív ida, como é normal. Actualmente a Câmara é proprietária de 26 mil f ogos, dos quais 23 mil estão em bairros municipais e 3 mil estão dispersos pela cidade.

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Os bairros municipais são geridos pela empresa Gebalis, que f oi criada em 1995. Tinha como missão promov er a gestão integrada e participada dos bairros, desde o arrendamento até às obras e ao espaço público. Actualmente tem cerca de trezentos trabalhadores, dos quais nov enta estão afectos aos gabinetes de bairro. Estes números podem não ser exactamente, são números aproximados só para nos darem uma ordem de grandeza. O gráf ico mostra a ev olução da quantidade de casas que f oram sendo transmitidas da Câmara para a Gebalis atrav és dos bairros municipais. Os gabinetes de bairro estão organizados em cinco zonas, são catorze e estão neste momento a ser ref ormulados. A ideia é que os gabinetes de bairro sejam articulados com as nov as unidades territoriais criadas pela Câmara. Praticamente na zona centro é que não há bairros municipais, há só um ou dois, os outros são nas zonas mais perif éricas e é esse trabalho que tem v indo pouco a pouco a ser f eito e que agora está a atrav essar uma fase um pouco conturbada, porque há o anúncio da f usão das empresas municipais que ainda não chegou a resultados. Vamos v er qual é a proposta exactamente que v ai surgir. Ev identemente que os trabalhadores da empresa Gebalis também não sabem qual v ai ser o seu f uturo e qual v ai ser o seu papel. Isto é importante e está a af ectar bastante o trabalho, quer da empresa, quer nosso do pelouro. Quanto a outra questão importante, os bairros municipais são dif erentes, eles não são todos iguais. Há bairros municipais com determinadas características e outros com outras características. Quando nós f izemos a análise dos chamados bairros prioritários, os BIP-ZIP, v erif icámos que, nos 67 BIP-ZIP da Cidade de Lisboa, 35 são bairros municipais e alguns deles recentes. Isto signif ica em números aquilo que o Prof essor disse há pouco, que ao f im e ao cabo as pessoas não são

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coisas que se metam em gav etas e os bairros que f oram pensados para ser solução neste momento são problema. Nós temos já esta identif icação f eita. Há pelo menos 35 bairros que f oram construídos para serem uma solução de alojamento e que hoje são um problema. São bairros prioritários porque precisam de uma interv enção urgente nos próximos dez anos e temos que estar atentos a isso. Nós temos 73 bairros municipais, mas há 3 que são f ora de Lisboa. Isto é uma coisa um pouco estranha, mas na altura do PER era necessário comprar mais casas e não hav ia possibilidade. Foram compradas casas no Casal de Cambra, no Algueirão e no Zambujal, que são bairros de Lisboa mas são f ora do Concelho de Lisboa. Portanto, quando a gente f ala em bairros municipais, são os 70 cá dentro e estes 3 que estão f ora de Lisboa e pagam rendas à Gebalis. Esta é uma carta dos bairros municipais. Está a uma escala muito pequena mas é só para terem uma ideia da mancha. Como v êem, eles cobrem praticamente toda a cidade, excepto a zona histórica e aqui o eixo central das av enidas, o aeroporto e Monsanto. Fora isso, temos bairros municipais espalhados em toda a cidade, uns maiores e outros mais pequenos. Cabe assinalar, por exemplo, o caso do Bairro Padre Cruz é o maior bairro social da Península Ibérica. Tem esse palmarés e está perto das oito mil pessoas, seguido pelo Bairro da Boav ista, que também é muito grande, e outros na zona de Marv ila e na coroa norte, toda a zona da Alta de Lisboa e toda esta zona na parte norte da Freguesia dos Oliv ais. No estado de conserv ação dos bairros, embora eles sejam recentes, temos problemas recorrentes. Os moradores dos bairros conhecem isto, nomeadamente inf iltrações pelas coberturas e f achadas, degradação dos revestimentos. Isto é uma coisa muito preocupante porque alguns destes edif ícios são recentes e não há razão para um edif ício com 15 anos estar a meter água pelo telhado. Temos estas queixas todos os dias.

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Prov av elmente houve má f iscalização durante a construção dos bairros, houv e materiais menos seguros ou menos cuidado na maneira como as coisas f oram construídas, ou má manutenção. Tudo somado dá esta situação complicada que temos em bairros que a maioria tem menos de 15 anos e com muitas queixas de def iciência de construção. Depois também temos problemas nos espaços comuns, sobretudo nalguns bairros onde há maior conf litualidade. Problemas de v andalismo que todos conhecem, principalmente os moradores que lá estão, coitados, os elev adores, as caixas de correio e as campainhas. Este mapa é muito genérico e muito grosso. A Câmara está a preparar agora, para começar no ano que v em, uma v erif icação do estado de conserv ação de todos os f ogos municipais. Esta é uma v erificação muito sumária, mostra que temos alguns bairros em bom ou razoáv el estado de conserv ação mas estão aqui assinalados bairros em mau ou razoáv el a tender para mau estado de conserv ação, também espalhados em v ários pontos da cidade e aos quais é preciso acudir com alguma urgência. O montante total das obras prev istas a dez anos, no programa que f oi f eito pela Gebalis e f oi aprov ado pela Câmara, é de 144 milhões de euros. Neste momento nós temos contratos-programa realizados com a Gebalis no v alor de 12,8 milhões de euros, que estão em curso. O maior é de 8 milhões de euros para o “Viv er em Marv ila” e não temos mais v erba para lançar mais contratos mas precisamos de f azer mais obras. Este é um problema que desde já aqui conf esso perante os Senhores Deputados Municipais e o público que está a assistir que estou bastante angustiada. Porque temos que interv ir e não temos capacidade f inanceira para f azer o que é preciso. Vou só dar um cheirinho do que precisamos: Precisamos de interv ir no Bairro Padre Cruz e no Bairro da Boav ista, que têm operações QREN, mas o QREN não f inancia habitação, só financia equipamentos, espaço público. É tudo muito bonito e acho bem, mas não f inancia habitação e

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nós precisamos de f inanciamento de habitação para f azer realojamento. Recordo que nestes dois bairros existem as zonas de alv enaria, as mais antigas da cidade, com 40, 50, 60 anos, em condições muito precárias e que não é digno nós mantermos aquelas zonas de alv enaria. Têm mesmo que ser demolidos e substituídos por habitações actuais e condignas. Depois temos bairros em mau estado que são BIP-ZIP. Laranjeiras, que já houv e interv enção mas é preciso mais, o Bensaúde, a Quinta do Lav rado, o Alto da Eira, que esta Assembleia v árias vezes tem solicitado inf ormação e está a ser f eito um trabalho de lev antamento em colaboração com a população das patologias todas, para se f azer uma análise exactamente do que se pode f azer. Depois do Laboratório Nacional de Engenharia Civ il ter dito que aquilo é possív el recuperar, porque se o LNEC dissesse que não era possív el recuperar tinha que se demolir e realojar 132 f amílias. Não foi esse o resultado dos trabalhos do Laboratório e, portanto, está a ser preparado um processo de recuperação, que v ai ser dif ícil também e que custa dinheiro. Há ainda o Casalinho da Ajuda e a Cruz Vermelha. Depois temos interv enções de emergência em coberturas, f achadas e espaços comuns em diversos bairros. Escuso de me alongar aqui, qualquer dos Senhores Deputados Municipais, nas interv enções que o público f az aqui na Assembleia Municipal ou nas sessões descentralizadas, ouve queixas nesta matéria. Interv enções no espaço público, a mais relevante que saliento e há um acordo com a EDP para a lev ar a cabo, é no Bairro 2 de Maio, que precisa urgentemente desta interv enção. Problemas de alienação de bairros, os bairros municipais a expressão até já é pouco rigorosa, porque os bairros municipais já não são completamente municipais, já f oram v endidos 7800 f ogos em bairros municipais. Portanto, os bairros municipais são uma mistura de f ogos municipais e f ogos já alienados. São bairros mistos e ainda bem, com pessoas que são proprietárias e pessoas que pagam renda à Câmara ou à Gebalis.

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Temos que ev oluir para nov os modelos de gestão e o principal, o Prof essor também já falou aqui nisto, é a questão depois das obras, aquilo que a gente chama agora a gestão de condomínio. Na prática, em muitos prédios temos umas f racções v endidas e outras não, depois é preciso f azer condomínios e as pessoas que compraram dizem que não têm dinheiro para pagar o resto das obras, que a Câmara é que tem que as f azer. Neste momento a Gebalis gere 800 condomínios, mas potencialmente poderá v ir a gerir 2000 e este é um problema nov o, para o qual temos que ter alguma preparação. Por outro lado, temos muitas solicitações de compra de bairros. Houv e esf orços neste sentido, criou-se um nov o regulamento e tudo o mais. Este mapa mostra apenas os bairros que já estão em alienação, os que estão em alienação parcial, os que têm alienação programada para este ano e os que ainda não têm, que são os que estão a azul. Porque é que ainda não estão em alienação estes bairros? Porque só se podem pôr em alienação depois dos ónus acabarem. Como os bairros f oram construídos com dinheiro do Estado, que tem quinze anos de ónus sobre o f inal da conclusão e enquanto não terminar o ónus não se pode v ender. Além disso é preciso estar tudo em ordem, propriedade horizontal estabelecida, tudo registado, etc. Muitas v ezes as pessoas f icam chocadas, porque é que não podem comprar e o v izinho comprou, porque no passado, antes do regulamento que a Assembleia Municipal aprov ou em 2008, f oram f eitas v endas singulares de f ogos a um e a outro com o ónus em cima e depois a Câmara ainda tev e que dev olv er o dinheiro ao Estado. Isto é um erro do ponto de v ista da gestão e criou tratamentos dif erenciados que nós não podemos aceitar. De qualquer maneira, temos ainda 12 mil f racções com ónus dentro das nossas 26 mil f racções. Uns números muito rápidos sobre rendas. O montante anual é cerca de 20 milhões de euros nos bairros municipais. A renda média era de 78 euros e, com as actualizações, neste

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momento, no primeiro semestre, a renda média nos bairros municipais f oi de 82 euros. O total do subsídio de renda da Câmara, e isto é importante explicar, a renda que as pessoas pagam em f unção dos seus rendimentos, a renda que poderiam pagar ev entualmente é a renda técnica, a renda que está calculada para amortizar o inv estimento. A dif erença entre uma coisa e outra na prática é um subsídio que nós estamos a dar. Isso representa 75 milhões de euros por ano que nós não recebemos. Não só não recebemos, como esse valor não está em lado nenhum. Os recibos de renda das pessoas não explicitam que há lá um subsídio. Isto é o que o Senhor Secretário de Estado da Segurança Social chama a f actura escondida e eu penso que temos que f azer algum esf orço para tornar v isível. Não é normal que as pessoas estejam a receber um apoio cujo v alor depois não está escrito em lado nenhum e, portanto, não conseguimos contabilizar. A dív ida de rendas é cerca de 22%. Em cada mês há cerca de 22% das f amílias que não conseguem pagar a renda a tempo. Alguns pagam uns dias mais tarde e normalmente pagam até ao dia 20, que é quando recebem as pensões e temos uma quantidade enorme de pensionistas. Depois ainda há uns quantos que a partir de dia 20 não conseguem pagar e há uns que não pagam porque não querem. Há de tudo, mas a margem é esta. Redução de rendas, este é um indicador muito importante da crise e chamo a v ossa atenção para ele. Os pedidos de redução de rendas em 2010 representaram 1,6 milhões de euros e só no primeiro trimestre de 2011 já representaram metade desse v alor. As pessoas estão a ir à Gebalis, aos gabinetes de bairro e à Câmara a dizer que não conseguem pagar a renda, apresentam a sua redução de rendimentos e têm direito a uma redução de renda que lhes é autorizada quando se conf irma. Simplesmente, isto representa também que o que a gente tem a receber já não são os 20 milhões, já é menos e cada v ez é menos.

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Acordos de liquidação de dív ida em curso, a Gebalis f az este trabalho. Há neste momento 2,7 milhões de euros em acordos de liquidação de dív ida, mas são acordos a longo prazo. As pessoas têm pouco dinheiro e ainda menos têm para pagar dív idas. A pouco e pouco v ão tentando pagar a sua dív ida. Para além desta parte de gestão propriamente dita, há trabalho comunitário. A Gebalis tem uma tradição importante no trabalho comunitário. Está aqui um conjunto de projectos que os gabinetes de bairro desenv olv em com as associações e com as entidades locais. Por outro lado, a Câmara também promov e processos participativ os. O mais importante este ano f oi a consulta pública destes nov os regulamentos da habitação, com 1200 respostas durante Maio e Junho, mais uma série de sessões e comentários, etc. Outros processos de participação estão a decorrer no terreno e são bastante exigentes, porque implicam os serviços todos da Câmara estarem lá, a associação de moradores estar lá, a junta de f reguesia estar lá e acompanhar com regularidade tudo o que é decidido. Está a decorrer um no Padre Cruz e outro na Boav ista. Nós chamamos GABIP, Gabinete de Apoio ao Bairro Prioritário, neste caso GABIP Padre Cruz e GABIP Boav ista. Estes GABIP têm a particularidade de, além de terem todos os serv iços da Câmara env olv idos naquele bairro e as empresas municipais também, terem obrigatoriamente a associação de moradores e a junta de f reguesia, que têm sempre uma palav ra a dizer nas decisões importantes dos GABIP. O GABIP Padre Cruz é o que está com mais experiência. O GABIP Boav ista começou agora, a associação de moradores constituiu-se recentemente e v amos v er o que é que conseguimos f azer juntos. Finalmente, o programa BIP-ZIP, que também é um programa participativ o financiado pela Câmara. Houve 33 candidaturas

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aprov adas este ano e 18 f oram em bairros municipais e estão a decorrer. Quanto à questão regulamentar, às v ezes criticam porque eu tenho a mania dos regulamentos, mas é dizer-v os que numa situação destas, com tantas f amílias em casas municipais, tantos problemas no quotidiano do dia a dia e tanta opacidade, porque é que as coisas às v ezes são resolv idas de uma maneira e outras v ezes são decididas de outra, nós temos que ter regras muito claras. Este é também um esforço de cidadania, ter regras claras que as pessoas saibam, que o poder legislativ o conheça e que possam ser aplicadas. Os pressupostos destas regras claras. Há um despacho que eu f iz este ano e que está a lev antar muitas dificuldades, mas eu tiv e que f azer, é antipático mas tem que ser f eito, que é o despacho que nós chamamos “saber quem mora nas casas municipais e quanto paga de renda”. Ou seja, estamos a f azer uma v erif icação do que se está a passar nas casas municipais, uma v erificação sistemática que nunca tinha sido f eita. O segundo pressuposto é de regras claras. Temos três regulamentos aprov ados em Câmara depois da consulta pública, que estão pendentes na Assembleia Municipal. Já começámos na comissão a discutir o regulamento de gestão. Finalmente, dois regulamentos para a participação, o Regulamento do Prov edor do Inquilino e o Regulamento do Conselho Municipal de Habitação, que é o mais importante e permitiria ter constantemente as entidades ligadas à habitação e não só os bairros municipais, todos os outros agentes da habitação num conselho consultivo permanente a inf ormar e criticar as políticas municipais Este é o despacho da v erif icação da condição de recursos. Não me v ou deter muito. Dizer-v os apenas que nunca f oi feita esta v erif icação sistemática de quem mora nas casas municipais. Para as rendas serem justas nós temos que ter os rendimentos actualizados. Se uma casa f oi atribuída há quinze anos, a renda é actualizada todos os anos com a ev olução do salário mínimo mas nós não sabemos se os

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rendimentos da f amília mudaram e muitas v ezes mudaram. Portanto, tem que hav er uma actualização destes dados e estamos a tentar f azê-lo de três em três anos. São 1500 cartas env iadas por mês. Isto está a lev antar muitas dif iculdades e que são principalmente as pessoas não entregarem os documentos que são pedidos. Outra questão, e esta é muito importante, são pessoas que se queixam que não entregam os documentos porque alguns deles custam dinheiro. Às v ezes as certidões são mais caras do que a renda e, portanto, há aqui um problema que a administração tem que ser capaz de resolv er, interagindo com as entidades que têm outros dados e que nos poderiam f acultar. Por outro lado, há muitas críticas sobre a renda apoiada e sobre o v alor da renda actualizada e há f ogos ocupados de f orma irregular. Por isso é que temos o Regulamento das Ocupações. Estamos a implementar uma série de medidas. Se f orem à internet e f izerem a busca “simulador de renda” v ão encontrar um simulador para as pessoas poderem saber se a renda que estão a pagar é aquela que dev iam pagar ou não. Há regulamentos que f oram aprov ados no mandato anterior, que não v ou detalhar. O Regulamento do Regime de Acesso e o Regulamento de Alienação. Dizer apenas que eles precisam de ser av aliados e ajustados e teremos que f azer isso para o ano. Do nov o quadro regulamentar temos os tais três regulamentos, o Regulamento de Gestão, o Regulamento das Operações de Realojamento e o Regulamento das Desocupações, que são complexos e não v ou agora aqui detalhar. Depois temos o Regulamento do Prov edor do Inquilino e o Regulamento do Conselho Municipal de Habitação. Há um documento disponív el para todos à entrada com o resumo de todos os regulamentos e toda esta documentação está disponív el online.

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A f orma de actualização de rendas depende do regime. Não v ou também detalhar isto, mas apenas dizer que conf orme a casa está em cedência precária, ou em renda apoiada, ou em regime que pode ser de arrendamento urbano, também temos casos desses, a actualização é de acordo com o regime. Para terem uma ideia, das nossas 26 mil casas, 23 mil estão em cedência precária. Este regime já não existe mas as casas que estav am em cedência precária podem continuar em cedência precária. Portanto, temos pessoas em casas da Câmara a serem tratadas de maneira dif erente, consoante a data a que tiv eram acesso à casa. Teria aqui alguns dados sobre a consulta pública dos regulamentos que v ou passar adiante, porque não v ou f azer perder mais tempo. Dizer apenas que esta documentação toda está disponív el neste endereço “habitação.cm-lisboa.pt”. Tem todos os relatórios da consulta pública, todos os programas que v ão sendo aprov ados, os despachos, tudo isso está disponív el para poderem consultar e não é possív el neste prazo tão curto explicar isto melhor. Finalmente, se me concedem uma apreciação mais pessoal, eu sustento que com regras claras, com participação e boa gestão dos dinheiros públicos, podemos abrir muitas portas e janelas f echadas. Temos neste momento cerca de pelo menos 500 f racções dev olutas sobre as quais estamos a interv ir para poder atribuir, mas eu acho que temos mais do que 500 e todos os bairros estão constantemente a sinalizar f racções devolutas. Não devíamos ter, devíamos ser capazes de as entregar rapidamente. Podemos contribuir em Lisboa para garantir mais casas para quem precisa. O problema não é só a f alta de v erba e era a questão f inal que eu v os queria deixar, que conf ere com o que f oi dito pelos oradores anteriores. Nós temos que mudar o nosso olhar sobre os bairros municipais, que na minha opinião dev em ser bairros como os outros, sem discriminações, sendo lá que temos os nossos inquilinos. A Câmara, como senhorio, tem responsabilidades acrescidas perante os moradores nestes bairros e tem que os tratar

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como a qualquer senhorio é exigido que trate os seus inquilinos. Obrigado.” A Senhora Vereadora Rita Magrinho Eu gostaria de ref erir que temos aqui já div ersas inscrições. O tempo que temos disponív el não é suficiente para todas elas, mas nós v amos tentar que todas as pessoas f alem, o que signif ica que v amos ocupar uma parte do debate que está prev isto para o segundo painel. Como os interv enientes continuarão sempre connosco, mesmo que haja questões que não tiv essem sido resolv idas nesta primeira parte do debate, poderão ser resolv idas na segunda.

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Gilda Caldeira Associação Recreativa de Moradores do Bairro da Boav ista: Muito boa tarde a todos. Tendo eu nascido no bairro social mais antigo de Lisboa, tenho muito orgulho em poder dizer que nasci no Bairro da Boav ista. No tempo em que eu nasci tinha maternidade. Era um bairro de lusalite onde os moradores deixav am as chaves nas portas, onde hav ia uma v izinhança que hoje inf elizmente não existe, porque têm dado conta dos bairros. Nasci ali e anos depois f ui para um prédio. Fiquei f eliz porque pensav a que ia ter outra qualidade de v ida que a casa de lusalite não tinha, mas af inal isso não aconteceu. Na lusalite nós v ínhamos no Verão para a rua dormir porque não se podia estar com o calor e no Inv erno tínhamos que desencostar a cama das paredes por causa da água, mas hoje os prédios do Bairro da Boav ista estão todos assim. Tenho lá v izinhos que andam dentro de casa de chapéu. É esta a construção que a Câmara tem f eito no Bairro da Boav ista. Eu f alo do meu bairro porque é o que eu conheço. Um bairro que em 37 anos de democracia tem sido esquecido pelos políticos, chamemos-lhe assim para não dizer outra coisa. Sempre que há eleições v ão lá e prometem tudo, mas quando chega a altura não acontece nada. Têm f eito dos bairros guetos e acabado com o bairrismo dentro dos bairros. Quando f azem habitação, em vez de tentarem colocar todos os moradores no bairro, para preserv ar toda a sua f amília, todo o bairrismo, primeiro trazem os de f ora e esquecem-se dos moradores do próprio bairro. Foi aquilo que aconteceu no meu, onde nasci há 55 anos e não conheço a maior parte dos v izinhos. Vejo v izinhos meus em plena alv enaria, que não podem ir a uma casa-de-banho porque ela está a abater. Não podem

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subir as escadas para o primeiro andar, onde têm os quartos, porque as escadas estão a abater. É claro que a Senhora Vereadora f alou que não tinha dinheiro. É claro que nunca há dinheiro, principalmente para os bairros que toda a v ida f oram desprezados pelo poder local, que é o que está a acontecer no meu. Por isso eu estou totalmente de acordo com o Sr. Doutor, é v erdade que f azem dos bairros sociais uns guetos, o poder local não dev ia f azer mas f az, despreza os moradores e lembra-se deles quando há eleições. Isto é para todos os partidos políticos, não há excepções nenhumas. Por isso eu lamento que em pleno século XXI isto aconteça. A Senhora Vereadora também f alou e bem, porque no meu bairro os prédios mais modernos têm cerca de 15 anos. Quando f oram lá f azer umas análises, a areia estav a a estragar o cimento e mandaram parar a obra, mas duas semanas depois ela continuou. Por isso souberam aquilo que f izeram. Por isso as pessoas hoje v iv em naquelas casas, prédios com 15 anos onde hoje são precisos mais de três milhões para arranjar aquilo. Depois também queria f alar, isto mais para a Senhora Vereadora, das rendas em atraso. É v erdade que há redas muito baratas. Eu própria, quando sai da alv enaria e f ui para o prédio, f ui das primeiras pessoas a ter direito a um prédio, pagav a 90 escudos e f ui pagar 600, há 33 anos. Hoje pago cerca de 25 euros e é claro que é pouco, mas o prédio já tem quase 40. Mas também tenho pessoas dentro do meu bairro que pagam 500 euros e que andam de chapéu aberto dentro de casa. São estas coisas que se têm que f alar e têm que tentar resolv er, porque é impensáv el numa casa que não tenha condições pagar-se 500 euros. As rendas em atraso são v erdade. Quando a Câmara não f az o papel que dev ia de f azer, quando os inquilinos têm que substituir a Câmara, é claro que se eu tiv er que f azer obras dentro de minha casa que a Câmara não f az, então eu também não v ou pagar a renda. Estamos pagos. Por isso é que existem rendas em atraso.

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Quando a Câmara começar a cumprir o seu dev er, a dar condições às pessoas, elas também pagam a renda.” Elizabete Santos Grupo Comunitário do Bairro Padre Cruz: “Boa tarde a todos. Aprov eito desde já para f elicitar a Assembleia Municipal pela organização deste debate. A democracia não se resume ao direito de v oto, e acima de tudo o direito de participa ativ amente na v ida da polis. O meu nome é Elizabete Santos, tenho 36 anos e v iv o no Bairro Padre Cruz desde 1982. Fui objecto do processo de realojamento dos anos 90, muito mal acompanhado pela Câmara Municipal e outras entidades, ev entualmente, o que contribuiu para o f enómeno de guetização que já f oi aqui mencionado e que quem lá v iv e sabe muito bem o que é sentir isso na alma. Tem um lado muito positiv o, permitiu-me deixar de viver numa barraca para v iv er numa casa de v erdade e f oi dos melhores momentos da minha v ida. Estou aqui na qualidade de participante no Grupo Comunitário do Bairro Padre Cruz, espaço de grande utilidade para os moradores, de debate entre todos eles e alguns organismos políticos, nomeadamente a Junta de Freguesia de Carnide, a Associação de Moradores, a Gebalis e alguns organismos sócio-culturais que têm permitido combater o f enómeno de guetização. A minha interv enção v em no sentido da Senhora Vereadora Helena Roseta e do sociólogo Doutor Nuno Augusto. Relativ amente à Senhora Vereadora, gostaria de mencionar que concordo com a sua exposição, as regras existem mas é

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necessário f iscalizar o cumprimento. O que é necessário melhorar em três pontos:

Comunicar a todos os moradores toas as regras para a boa v iv ência e alertar para a f iscalização;

Fiscalização ef ectiv a; Responsabilização/Penalização de quem não cumpre.

Aqui f alo dos moradores, da Gebalis, dos condomínios, entre outros. Aprov eito para colocar três questões a título mais particular à Senhora Vereadora: Para quando está prev ista a criação do contrato-programa entre a CML e a Gebalis para a impermeabilização das f achadas? O lote onde v ivo tem 20 anos e nunca f oi objecto de qualquer tipo de interv enção de f undo. Na minha casa chov e pelo menos há três anos; Se o QREN não f inancia a construção de habitações, como é que se v ai iniciar o processo de requalif icação do bairro? Ref iro-me à f ase A0 e A1. Vamos ter um bairro ainda mais guetizado? Ao Doutor Nuno Augusto pergunto: Que mecanismos é que podem ser utilizados para combater o f enómeno das guetização? O estigma social é uma realidade, os mass-media contribuíram para isso, mas como disse e muito bem, ali v iv em pessoas e não coisas.” O Senhor José Almeida “Muito boa tarde. Queria perguntar à Senhora Vereadora o porquê de um dos lotes do Bairro Marquês de Abrantes, mais precisamente na Rua João César Monteiro número doze, não ter sido v endido quando todos os outros o f oram.

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Env iámos uma carta à Senhora, mas continuamos sem uma resposta por parte da Autarquia” O Senhor Deputado Municipal António Pinheiro Torres “Queria colocar três questões muito rápidas ao primeiro orador do primeiro painel, O senhor Prof essor Nuno Miguel Augusto. Sou Presidente da Comissão de Intervenção Social, mas f alo aqui na qualidade de f undador e dirigente de uma associação de acção social, situada na Quinta do Cabrinha. O que nós testemunhamos foi que existindo uma presença institucional, na altura era o Casal Ventoso, conserv ou-se um acerto ambiente no bairro, de conserv ação de limpeza, convívio, etc. Constatamos que o bairro se degradou muito a partir do momento em que essa presença institucional deixou de se sentir. Gostaria de saber se nos seus estudos encontrou alguma relação entre estes dois itens. Depois, quando se ref ere à homogeneidade social, lembro-me que o Senhor Presidente João Soares quando nos conv idou a nós, e a muitas outras instituições para nos instalarmos naquele bairro, v isav a, precisamente, quebrar essa dita homogeneidade social. Como é que podemos jogar estes dois f actores? Por f im, uma coisa que não é muitas v ezes f alada, e da qual eu dou um exemplo talv ez um pouco ridículo, é que na Quinta do Cabrinha os moradores, contrariamente à maior parte da população de Lisboa que tiv eram de pagar a sua casa, dispõem de garagem. E o que eu constato muitas v ezes é uma certa riv alidade entre o habitante do bairro social que usuf ruiu de um apoio, que o restante da população se v ê obrigado a suportar. E isso gera alguma tensão. Não sei se nos seus estudos isso se encontra contemplado. Relativ amente à Senhora Vereadora Helena Roseta, gostaria de lhe passar as observ ações que a mim foram transmitidas.

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A primeira prende-se com a perplexidade, gerada em alguns bairros, perante o f acto de terem existido pedidos de desdobramento que se encontrav am aprov ados antes da entrada em v igor do nov o regime de acesso, e que após a entrada em v igor deste nov o regime lhes f oi dito que teriam de se recandidatar outra v ez. Uma questão é a criação de expectativ as à população grav emente carenciada atrav és do sistema de atribuição de pontos, cujo máximo acho que é cento e v inte, e as pessoas com mais de cem f icam automaticamente esperançadas mas ninguém lhes diz que as casas que existem para atribuição neste momento são muito poucas, existindo uma expectativa, na maior parte das v ezes, gorada. Lev ando a que as pessoas se rev oltem e percam a conf iança na administração pública, ao v erem a enorme quantidade de casas desocupadas durante v ários anos e, simultaneamente, dizeremlhes que não existem casas para atribuírem. As pessoas sentem alguma dif iculdade em perceber isto. A conclusão da pessoa que me passou esta mensagem é que este tipo de inércia lev a à f alta de conf iança das autoridades nesta matéria e induz as pessoas a f azerem justiça pelas suas próprias mãos, sendo perf eitamente compreensível pois há anos que v êm os seus processos parados e as suas queixas ignoradas. Eu percebo, da sua apresentação, tudo aquilo que a Câmara se propõe f azer, mas depois as coisas esbarram nesta realidade concreta, nestas dif iculdades.” A Senhora Palmira Marques (Residente no bairro dos Oliv ais): “Boa tarde a todos. Gostaria de expor o seguinte caso, eu moro nos Oliv ais, f ui realojada quando adolescente, v ivia na Avenida Infante Santo com a Rua de santana à Lapa, e na altura f oi-me muito dif ícil integrar-me no bairro. Hoje em dia tenho muito orgulho do

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bairro onde v iv o. E por isso mesmo gostaria de chamar a atenção para algumas situações, como por exemplo, a Av enida de Berlim, que é de certa f orma a passadeira entre o aeroporto e o Parque das Nações tem uma zona na qual se passa, de repente, de um sítio bonito e civ ilizado, para uma zona f eia e degradada. Gostaria de alertar também para o f acto de que nem sempre os espaços comuns se encontram degradados por v andalismo, por exemplo, no prédio onde habito os elev adores estão constantemente av ariados, e não é por v andalismo. Quando nos dirigimos à Gebalis para f alarmos dos problemas relacionados com os espaços comuns, dizem-nos f requentemente que não têm nada a v er com isso, é o caso de dos intercomunicadores, que estão f requentemente av ariados, a f echadura que se avaria e a resposta da Gebalis é que isso é um problema dos moradores. Relativ amente ao condomínio, existem habitações que já f orma compradas e os moradores não conseguem constituir porque enão existe consenso. O Senhor Deputado Municipal Nelson Antunes (Primeiro Secretário da Assembleia Municipal de Lisboa): “Para além de primeiro secretário, sou também Presidente da junta de Freguesia de S. Sebastião da Pedreira. Vou f alar da habitação dispersa, porque não tenho, na Freguesia que presido, habitação social, tenho apenas um prédio, propriedade da Câmara Municipal de Lisboa e que desde dois mil e oito, se não me engano, que existe um andar que se encontra desocupado até este momento. Há um ano que o número duzentos e dez, segundo direito da Rua Sebastião da Pedreira se encontra atribuído, e que a pessoa à qual o andar f oi atribuído ainda anão o ocupou. Na altura em que a senhora f oi v er o andar chov ia, por conseguinte, a senhora não quis assinar o documento para assumir essa habitação e por conseguinte continuamos sem a

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Câmara Municipal de Lisboa receber uma renda e com uma casa por ocupar. Agradecia Senhora Vereadora que um dos seus assessores se dirigisse na próxima segunda f eira à Junta de Freguesia porque o Primeiro andar direito f oi cedido pela Senhora Vereadora Helena Lopes da Costa à Junta de Freguesia de São Sebastião da Pedreira para instalação da biblioteca da Freguesia e o seu ciberespaço. O que acontece é que chov e tanto na biblioteca, como no ciberespaço. Na sexta f eira passada f oram lá uns senhores da unidade territorial local e pouco f izerem, pois continua a chov er. Existe, por conseguinte, uma situação periclitante naquele prédio, quer para com as pessoas que lá habitam, quer para a Junta de Freguesia. Não posso admitir que chov a nos liv ros e nos computadores, ou que a Câmara se alheie e a unidade territorial seja impotente para resolv er os problemas.” A Senhora Deputada Municipal Rita Magrinho Inf ormou que, no intuito de se cumprir o horário, as restantes inscrições do primeiro painel iriam transitar, de f orma intercalada, para o segundo, nomeadamente, o Senhor Vítor Pereira, morador da Freguesia da Ajuda, A Senhora Deputada Municipal pelo Centro Democrático Social, Clara Silv a, a Senhora Zélia Amorim para se pronunciar relativ amente à perspectiv a sociológica que tinha sido colocada, o senhor Deputado Filipe Lopes, relativ amente à reabilitação v ersus bairros nov os. Deu a palav ra, solicitando que f ossem o mais sucintos possív eis, aos oradores do primeiro painel por f orma a poderem responder às questões que hav iam sido lev antadas.

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O Senhor Professor Nuno Miguel Augusto Começou por dizer que algumas das questões que lhe hav iam sido colocadas eram de dif ícil resposta. Explicou que depois de criadas as situações era dif ícil resolv ê-las e que aquelas eram situações que f uncionavam em crescendo, pois env olv ia a responsabilidade de certos agentes sociais, da Comunicação Social e dos próprios residentes, que tinham uma certa tendência em criar “nominhos”, alcunhas, relativ amente ao próprio bairro em que se inseriam. Ref eriu que uma das possív eis f ormas de minimização daquela estigmatização, ou “guetização”, era a integração urbana daqueles espaços. Disse que os dados revelavam que os nív eis de satisfação residencial subiam significativ amente quando aqueles espaços eram aglomerados ao tecido urbano. Partilhou que possiv elmente a participação seria, na sua opinião, o f actor mais importante, e que aquele debate era um bom exemplo disso. Considerou, no entanto, que embora a participação f osse um elemento chave, existia, habitualmente, um problema, relacionado com o f acto de a habitação social ser muito indiv idualista e pouco geradora de participação. Esclareceu que a parte interessante era que as pessoas, de dif erentes regiões do país, pois aquele não era um problema exclusiv o das grandes metrópoles, quando eram inseridas nos bairros, as inquiridas, entrev istadas e analisadas, na sua maioria não conheciam nem o v izinho da f rente e que as relações que se estabeleciam numa primeira f ase eram de desconf iança, que não existia sequer uma tentativ a de integração ou tão pouco de interconhecimento, o que lev av a, um pouco, àquilo que o senhor António Torres dizia relativ amente à conf litualidade social que se estabelecia à posteriori. Acrescentou que enquanto existia uma regulamentação as pessoas tinham um relacionamento ou comportamento mais ou menos pacíf ico e que quando essa regulamentação externa deixav a de existir se entrav a numa lógica de conf litualidade.

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Explicou que a conf litualidade, sob o ponto de v ista sociológico, dependia do não interconhecimento, e de alguma desconf iança relativ amente às relações de v izinhança que pudessem v ir a ser estabelecidas. Desenv olv eu que posteriormente iria existir um restabelecimento positiv o daqueles laços sociais, que poderiam v ir a ser quebrados atrav és da v enda das casas. Clarif icou que os moradores comprav am as casas sem considerarem as implicações de tal aquisição, nomeadamente, não ref lectiam que à posteriori todas as despesas inerentes à habitação teriam de ser suportadas pelo morador e a constituição de um condomínio. Aditou que os condomínios tinham trazido, para o interior dos bairros, uma conf usão terríf ica, pois muitos deles já tinham tido a oportunidade de ao longo do tempo restruturarem as relações de proximidade e solidariedade e, v oltaram às relações de conf litualidade como resultado do estabelecimento legal daqueles condomínios. Relativ amente à questão lev antada pelo senhor António Torres, de como é que se combinav a a dispersão da habitação social com a manutenção das comunidades, salv aguardando que quando dizia dispersão habitacional não se ref eria, à desagregação urbanística, mas sim, a uma não aposta dos bairros de grande dimensão onde se alojam milhares de pessoas em condições per si precárias. Finalizou ref erindo-se ao ciúme existente entre a v izinhança, mais concretamente, ao f acto de o meu v izinho ter uma garagem. Clarif icando que semelhante situação traduzia o eterno conf lito entre público e priv ado existente em Portugal. Acrescentou que as instituições públicas não eram inocentes neste conf lito, pelo contrário, tinham adoptado, ao longo de v árias gerações, uma lógica paternalista, assistencialista, a “lógica do coitadinho”, do ajudar o pobre, criando a ideia de que a habitação social, para o ser, para legitimar o papel do Estado e das Autarquias, dev eria de ser muito pobrezinha, não dev eria de ter v arandas, nem jardins, nem garagens.

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A Senhora Vereadora Helena Roseta Disse que iria tentar responder de f orma rápida a algumas das questões que lhe hav iam sido colocadas. Relativ amente à requalif icação do bairro Padre Cruz, disse que para a f ase denominada A0, o que se encontrav a previsto construir no bairro Padre Cruz eram equipamentos, f inanciados pelo QREN, e que a Fase A1 iria decorrer atrav és de um contrato de desenv olv imento de habitação, que iriam lançar no ano seguinte. Esclareceu tratar-se de uma hasta pública, que iriam ser promotores priv ados a concorrer e que a Câmara a única coisa que tinha de garantir era a cedência do terreno, os projectos e que, se no f inal da hasta pública, no f inal das obras, não existissem compradores em número suf iciente, a Câmara teria de comprar uma parte. Adiantou que em dois mil e treze teriam de garantir v erba para a aquisição de alguns f ogos da f ase A1. Ref erindo-se à questão relativ a ao Bairro Marquês de Abrantes, inf ormou que uma parte importante daquele bairro tinha terminado em dois mil e um, e como tinha um ónus de quinze anos, só em dois mil e dezasseis é que poderiam colocar aquele lote à v enda. Assumiu que o senhor Presidente Pinheiro Torres tinha toda a razão no retrato que tinha f eito em relação às casa v azias e clarif icou que as dif iculdades sentidas na atribuição de casa v azias eram de duas ordens, designadamente, a incapacidade f inanceira para a realização de obras, sentidas durante algum tempo e o nov o regulamento para atribuição de casas, que precisav a de ser agilizado. Esclareceu que naquele momento já tinham dinheiro para as interv enções, pois o PIPARU dispunha de uma v erba para a realização de obras em quinhentas f racções e que tinham, também naquele momento, preparada a empreitada para duzentas e trinta f racções.

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Conf essou que a ef icácia das medidas prev entiv as que se encontrav am a utilizar por f orma a se ev itar a v andalização das casas era muito baixo e garantiu que se encontrav am a estudar outras soluções. Relativ amente às outras questões, nomeadamente a da senhora Palmira Marques, disse que o nov o regulamento Municipal prev ia, quer os condomínios, quer as comissões de lote e que a ref erida comissão poderia desempenhar taref as de gestão do bairro. Dirigindo-se ao Senhor Presidente da Junta de Freguesia de São Sebastião da Pedreira, relembrou que se encontrav a f amiliarizada com a questão e que até poderia env iar ao local dois assessores conf orme o exigido, mas que pouco adiantaria, pois quem iria dar a ordem aos serv iços municipais iria ser a Vereadora e não os seus assessores, que a f orma correcta de agir era aquela, a Vereadora dav a indicações às direcções e os dirigentes aos seus f uncionários. Adiantou que se encontrav a em condições de entregar a chav e naquele momento, que tinha a indicação que ainda existiam problemas no telhado mas que não af ectav am aquela f racção. Finalizou ref erindo-se aos desdobramentos. Mencionou que apenas trinta e cinco situações se encontravam pendentes de despachos anteriores à entrada em v igor do regulamento, tendo, todos os processos, sido analisados juridicamente. Af irmou que as casas se encontrav am em condições de serem atribuídas e que pretendia f azê-lo ainda em dois mil e doze. Apelou à compreensão dos munícipes, pois cada v ez que entregav a uma casa a um munícipe com um despacho de há cinco anos atrás, um dos que se tinham inscrito no regulamento, com v ista à atribuição de uma casa no decorrer daquele ano, era prejudicado. Destacou que tinha solicitado a v erif icação de todos os despachos anteriores e que todos os que não eram v álidos tinham caducado. Acrescentou que a Câmara iria entregar os f ogos que tinham sido bem atribuídos. Frisou que desde que se encontrav a naquelas f unções não dava nenhum despacho

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de atribuição que não possuísse a morada correcta, ev itando assim erros anteriores, como a atribuição de casas sem existirem v agas. A Senhora Deputada Municipal Alline Hall Agradeceu o uso da palav ra e mencionou que lhe cabia a honra de ef ectuar a súmula dos ilustres oradores. Começou por se ref erir à interv enção do Senhor Prof essor Doutor Nuno Miguel Augusto, atrav és da qual o orador lhes tinha f ornecido o ponto de v ista dos moradores dos bairros sociais, salientando alguns aspectos, nomeadamente, que a ideia f ísica e arquitectónica de bairro substituía a ideia social e comunitária; que existia um drama pessoal dos moradores na questão existente entre uma casa escolhida e uma casa atribuída; que uma apropriação do espaço, a título social, constituía um problema de identif icação; a questão do gosto pela casa e não pelo bairro; a questão da importância de se organizar o espaço para v iv er e conviver, e não apenas como o espaço onde se iria dormir. Destacou, também da intervenção do Senhor Prof essor, que um dos problemas que permitia perceber a chamada “lógica das gav etas” era a preocupação da atribuição de f ogos e não a criação de espaço de conv ivência cultural; que um problema de perif erização, que poderia lev ar à segregação, residia na questão estilística e arquitectónica desses bairros; que os motiv os de concentração da pobreza acabav am por condicionar uma segregação objectiv a dos próprios moradores, tendo, também, sugerido, para o f uturo da habitação social, algumas perspectiv as e sugestões. Disse, relativ amente à interv enção do Senhor Prof essor Doutor Arquitecto Francisco Silv a Dias, que tinham sido abordados três temas f undamentais, designadamente, os f actores sociais, o f acto de o desenho arquitectónico e o comportamento social poderem estar interligados e os critérios de atribuição daqueles espaços, dos quais salientou o perf il dos moradores, f raccionando-os em dois tipos,

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designadamente, aqueles que se socorriam dos subsídios estatais e os intermédios e dominantes que recorriam ao crédito bancário. Destacou também a tentativ a de v alorização da cidade nos bairros sociais, a promoção do conv ív io das etnias heterogéneas. Lembrou também que as f estas de bairros, e outros elementos positiv os, ajudav am à ligação da própria comunidade, criando solidariedade, solidariedade que também era v iv ida nos bairros de origem estatal, com características únicas a nível mundial, e com um estímulo de cidadania aliado ao orgulho sentido e rev elado pela maioria dos seus moradores. Destacou, da interv enção da Senhora Vereadora Helena Roseta, o lev antamento cirúrgico e o estado da questão dos bairros naquela altura; o f acto de alguns dos bairros a nív el histórico, terem começado por serem bairros sociais, estando, naquela altura integrados na malha urbana da cidade; a articulação dos gabinetes de bairro com a Gebalis; a questão dos trinta e cinco bairros que necessitav am de interv enção urgente e integrados no programa Bip/Zip; o lev antamento de alguns problemas habitacionais, nomeadamente, a questão da f iscalização, deficiência de construção, v andalismo, entre outros; o montante de cento e quarenta e quatro milhões de euros necessários à reabilitação e o problema de o programa QREN não v isar aquela reabilitação urbana. A Senhora Vereadora apresentou também as prioridades para o ano de dois mil e doze, nomeadamente, os problemas urgentes de requalif icação e de interv enção de emergência; a alienação de cerca de sete mil f ogos municipais; os problemas de gestão que tinham desembocado na dif erença de renda/f actura e renda técnica; o f acto de a dívida da renda ser cerca de v inte e dois por cento por razões de ordem div ersa; a importância do trabalho comunitário da Gebalis, os processos participativos promov idos pela Câmara Municipal e, f inalmente, o quadro regulamentar, com o intuito de clarif icação das regras em três pontos f undamentais, nomeadamente, justiça/equidade, regras de gestão e participação com regulamentos, tendo ainda destacado o trabalho que ainda não tinha sido realizado até àquele

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momento, designadamente, a rev isão sistemática da actualização de rendas e obv iamente, o lev antamento dos moradores e dos seus rendimentos. A Senhora Deputada agradeceu os contributos generosos dos munícipes presentes, cujos testemunhos tinham sido anotados pelos oradores. Louv ou o exercício de cidadania de todos os presentes. Saudou o trabalho realizado por todos os membros da quinta comissão, na pessoa do Senhor Presidente Fernando Braamcamp. (Seguidamente deram início à actuação de um grupo de jov ens, do centro de artes e f ormação do Lumiar, com danças af ricanas e ensaiados por Nuno Farela.)

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SEGUNDO PAINEL Moderadores Deputado Municipal José Manuel Rosa do Egipto, Deputado Municipal Filipe Lopes Deputada Municipal Joana Mortágua O Senhor Deputado Municipal Rosa do Egipto Cumprimentou os presentes e participou que tinham, no seguimento do Debate, um segundo Painel, designado “A Voz dos Bairros” e para o qual a comissão tinha conv idado algumas das entidades que se tinham candidatado ao programa Bip/Zip a partilharem com os presentes o seu testemunho, o testemunho do seu trabalho no campo, das suas v iv ências. Inf ormou que a mesa era composta por si, pela Deputada Municipal Joana Mortágua e pelo Deputado Municipal Filipe Lopes e que o Debate iria ser liderado pela Deputada Municipal Joana Mortágua. Inf ormou que o tempo destinado a cada uma das interv enções, devido ao elevado número de inscrições, era de três minutos e, solicitando a compreensão dos presentes, apelou ao poder de sínteses de cada um. A Senhora Deputada Municipal Joana Mortágua Deu início à apresentação dos projectos.

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O Senhor Filipe Santos (“Projecto Alkântara – Associação Luta Contra a Exclusão Social): “Muito boa tarde. Obrigada por nos terem conv idado. Começamos por dizer que não estamos env olv idos em nenhum projecto Bip/Zip, embora tenhamos colaborado inicialmente com a preparação de algumas activ idades que poderiam lev ar a uma candidatura de Bip/Zip. Não sabemos porque é que não f icamos nessa candidatura, mas existe uma coisa que talv ez v alha ainda mais, o f acto de estarmos disponív eis para trabalhar com a comissão que apresentou e que conseguiu v er aprov ado esse mesmo Bip/Zip. Eu sou o Presidente do Projecto Alkântara e gostav a de v os apresentar o Projecto que presido. O Projecto Alkântara existe na Av enida de Ceuta desde 1999. Surge com o objectiv o de acompanhar a população excluída, ou em risco de exclusão, oriunda do ex-Casal Ventoso e realojada nos nov os bairros do Cabrinha, Loureiro e Ceuta Sul e, mais tarde, acabamos por estender a nossa interv enção ao Bairro da Bela Flor e o Bairro da Liberdade. Pretendia-se, então, apresentar aos responsáv eis políticos nov as politicas sociais no âmbito local, bem como, inovadores modelos de interv enção que v iessem potenciar os princípios da Democracia participativ a e ef ectiv ação dos direitos e dev eres de cidadania. O Projecto Alkântara, como o seu nome indica, pretende ser uma ponte entre as margens, entre a cidade e não cidade, entre a exclusão e a ef ectivação da inclusão social, entre os mais f av orecidos e os mais marginalizados, entre os indiv íduos e as suas comunidades e colectiv idades. De entre toda esta população excluída e f ragilizada, os idosos, ref ormados e inadaptados eram aqueles que mais careciam de interv enção e acompanhamento, devido à queda abrupta das relações f amiliares, de v izinhança, entre outras existentes no anterior bairro, podendo f icar confinados ao seu apartamento sem relações interpessoais relev antes que ajudassem na adaptação ao nov o contexto.

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Actualmente o Projecto Alkântara desenv olv e acções que procuram v iabilizar um processo de env elhecimento activ o e digno, e a promoção integral da personalidade de cada indiv íduo que melhore a sua autoestima, tendo em conta que se trata de uma população que durante anos f oi objecto de exclusão a todos os nív eis. Pretende ainda v alorizar a riqueza espiritual e humana da população residente nos bairros do v ale de Alcântara, ao mesmo tempo que se procura v alorizar e aprov eitar as reserv as de experiência e de v iv ência acumuladas ao longo da v ida, canalizando-as em prol da comunidade. Tendo como div isa Conhecer, Ref lectir e Agir, o Projecto Alkântara actua em torno de contextos espaciais e relacionais complexos, sobretudo nas áreas da pobreza e das exclusões, criando um quadro de dinâmicas que possam permitir a integração plena da população abrangida, dotando os indiv íduos de meios e técnicas direccionadas ao combate contra o estigma social, construído e ampliado ao longo dos tempos. São benef iciários directos, todos os indivíduos em situação de exclusão social, ou outra, que atrav és da inf ormação de orientação, e da f ormação de uma consciência cidadã se transf ormam em sujeitos activ os na condução dos seus próprios projectos de v ida, e também todas as pessoas e sujeitos colectivos interessados na dinamização de acções de orientação, f ormação e gestão de recursos que permitam melhorar a v ida das comunidades do Vale de Alcântara. São benef iciários indirectos agentes sociais, económicos, mediadores de políticas sociais, instituições particulares de solidariedade social, grupos e associações de cidadãos, instituições de ensino, cultura e autarquias. Os objectiv os são promover a realização do env elhecimento activ o e digno, e a promoção global da personalidade do utente, v alorizar a riqueza espiritual e humana dessa população, aprov eitar as reserv as de experiência-v iv ência acumuladas ao longo do tempo, canalizando-as a f av or da comunidade.

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Temos centro de conv ívio, no Loureiro e no Cabrinha, ateliers e activ idades ocupacionais, artes manuais e decorativ as, passeios e v isitas, expressão musical, espaço de memória, de v ida, saúde prev entiv a em pareceria com os médicos do mundo, mediação para o emprego, entre outros. Neste momento desenvolvemos em pareceria com a Câmara um Projecto que se chama Env elhecer Viv endo, com o objectiv o de acompanhar os utentes que se encontram isolados, ou sem suporte f amiliar. Conv ido-v os a v isitarem a nossa página do f acebook.” A Senhora Sheila Sousa (“Projecto Ser Comunidade” da Organização Raízes) “Queria agradecer o conv ite do Senhor Presidente da junta de f reguesia de Santa Maria dos Oliv ais. Represento a “Raízes”, que neste momento desenv olv e dois projectos na f reguesia dos Oliv ais, um Projecto “Escolhas”, no casal do Machados e Quinta das Laranjeiras, e uma candidatura recente ao Bip/Zip na Quinta das Laranjeiras. Esta candidatura é f ruto de uma parceria com a Junta de Freguesia e com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e f oi f eita em f unção das necessidades que f orma sendo sentidas pelo grupo comunitário que integra as v árias instituições do Casal dos Machados e Quinta das Laranjeiras. Foram detectadas v árias necessidades nesta comunidade, que v ão de encontro ao que f oi f alado no primeiro painel, e detectadas algumas mais-v alias em alguns moradores da comunidade, como o v oluntariado. Decidimos aproveitar estas maisv alias existentes na comunidade e f azer uma candidatura ao Bip/Zip O projecto “Ser Comunidade” são serv iços prestados de e para a comunidade, que integram uma técnica e uma administrativ a.

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O projecto passa pela lav andaria social e, entre outros, pelo Banco do Tempo. O pretendido é criar um grupo de v oluntários, indivíduos da comunidade que coloquem os seus conhecimentos à disposição de quem precisa.” O Senhor Vítor Mendes (Associação de Moradores da área das Galinheiras) “Não f oi à primeira, nem à segunda mas à terceira v ez, que o problema do Alto do Chapeleiro f oi resolv ido. As casas f oram deitadas abaixo, o terreno está limpo e os moradores agradecem. O que me traz aqui é a necessidade de chamar a atenção para alguns problemas que continuamos a ter no bairro. E as questões são as seguintes: o v andalismo; as rendas de casa, que de social não têm nada; o rés-do-chão das casas, que se destinav am ao comércio, encontram-se a serem habitadas sem o mínimo de condições; a f alta de uma esquadra, num bairro considerado problemático, e, entre outros, os parques inf antis ao abandono. A associação de moradores v ai continuar a trabalhar, cumprindo com as nossas obrigações, mas também vai exigir, a quem de direito que cumpram as suas.” O Senhor Romão Lavadinho (Associação de Inquilinos Lisbonense): “Felicito a Assembleia por esta iniciativ a. A minha interv enção tem a v er com duas questões muito simples, a questão da qualidade de v ida e a questão da reabilitação do património. A Senhora Vereadora há pouco disse que a reabilitação deste património custav a cento e quarenta milhões de euros, isto porque durante anos, o poder instituído em Lisboa, nunca aplicou a Lei que obriga os senhorios a cumprirem com as suas obrigações. Actualmente

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as pessoas pagam as suas rendas e não têm condições de habitabilidade Chamav a também a atenção da Câmara para uma outra coisa. A Câmara tem v indo a v ender alguns apartamentos aos inquilinos, o que na minha opinião não dev eria de acontecer, pois a Câmara tem de ter um papel social. Mas o problema que realmente queria lev antar era a questão dos condomínios. Pois a Câmara dev eria acautelar, no momento da v enda, a questão dos condomínios, criando as condições necessárias à preserv ação do património ou, então, qualquer dia as casas estão a cair e o problema será maior.” O Senhor Vítor Pereira (Morador da Freguesia da Ajuda) “Embora não habite em nenhum bairro social achou por bem, ao ouv ir a primeira interv enção da Senhora Vereadora, interv ir. Despertou-me a atenção relativ amente àquilo que estav a prev isto em relação aos dois bairros, o do 2 de Maio e o Bairro do Casalinho. Fiquei surpreendido quando percebi que o que se encontrav a prev isto para o Bairro 2 de Maio era uma interv enção na v ia pública, uma v ez que a maioria das casas do bairro se encontram no estado de degradação av ançado. A Senhora Vereadora Helena Roseta é uma pessoa que def ende uma democracia participativa e por isso deslocou-se ao Bairro 2 de Maio para debater com a população o critério do aumento de rendas, mas eu penso que, tal como o Gov erno Central, a Câmara Municipal de Lisboa, dev eria de env eredar por uma política em que a componente social surja à f rente da componente económica. Em primeiro lugar dev eriam de ter arranjado as habitações e só depois é que dev eriam de ter aumentado as rendas.

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Pedia à Senhora Vereadora que se deslocasse nov amente ao bairro para ouv ir as queixas dos moradores relativ amente às condições em que v iv em.” A Senhora Cecília Sales Assembleia de Freguesia dos Oliv ais “Boa tarde. Eu v enho f alar do Bairro Bensaúde e do Bairro da Quinta das Laranjeiras. O primeiro f ica situado junto ao Ralis, e ali v iv em cerca de mil e trezentas pessoas de dif erentes etnias e prov enientes de bairros da perif eria de Lisboa. Desde dois mil e oito que temos v indo a apresentar, quer na Assembleia Municipal de Lisboa, quer na Assembleia de Freguesia dos Oliv ais, a situação de degradação e abandono a que este bairro e a sua população têm sido v otados. Destaco algumas questões detectadas no bairro. Questões que conhecemos de perto pois temos lá a Associação de pensionistas e idosos. Passo a enumerar a má qualidade dos blocos habitacionais, dos interiores, das escadas, esgotos e canalizações tapados com pladur, pisos desniv elados, inf iltrações, não existe iluminação de escadas em v ários blocos, entre outros. Todos estes problemas são do conhecimento da Gebalis. Tendo a opinião de que o meio ambiente contribui para o comportamento social das pessoas e para a sua qualidade de v ida, não é aceitáv el abandonar os moradores e permitir que v iv am em tão precárias condições de habitualidade e higiene urbana. O Bairro Bensaúde f oi o último bairro de realojamento a ser construído e é neste momento o bairro mais degradado da Freguesia e, consequentemente, de maior exclusão social. Em relação ao acompanhamento social, tivemos a inf ormação de que nos acordos de cooperação e pareceria, de âmbito comunitário e de âmbito f amiliar, estão indicados oito projectos para o Norte Oriental, onde nos inserimos, num

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f inanciamento total de sessenta e quatro mil trezentos e sessenta ponto dezassete euros - o menor f inanciamento de toda a cidade. Todas as medidas emergentes da crise f inanceira v ieram agrav ar a v ida de todos, mas principalmente a das populações dos bairros sociais, à partida mais desf av orecida e com consequências sociais imprev isív eis. Como v ai, senhora Vereadora, combater a nív el local esta dif ícil etapa, quer a nív el das questões de segurança, quer ao nív el da sensibilidade para resolv er e minimizar, no âmbito das competências da Gebalis, nos bairros as consequências políticas e sociais altamente grav osas para os moradores destes bairros. Passo a dar um pequeno apontamento sobre outros dois bairros da Freguesia – o Bairro da Quinta dos Machados e o Bairro da Quinta das Laranjeiras. Este último tem uma população de cerca de dois mil quinhentos e sessenta e sete moradores, setecentos e cinquenta e cinco f ogos e v inte e dois lotes. A habitação encontra-se em acelerado estado de degradação, constituindo um dos maiores problemas do bairro. Existe um polidesportiv o mas remetido ao abandono. Seria um espaço comunitário importante, destinado a activ idades div ersif icadas e regulares. Ambos os bairros possuem problemas de higiene urbana e f alta de manutenção na habitação.” O Senhor Jorge Miguel Máximo Junta de Freguesia de Marv ila “Temos estado a observ ar um manancial de problemas que têm sido lev antados pelas pessoas que aqui têm v indo apresentar os seus casos. Marv ila possui imensos bairros municipais.

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Como autarcas compete-nos resolv er os problemas. Identif icadas as situações, temos de encontrar soluções. O problema reside na conjectura macroeconómica. É f ácil identif icar problemas concretos, mas todos nós sabemos que as soluções não são f áceis de atingir, sob o ponto de v ista f inanceiro. Temos de ser criativ os. Marv ila tem estado a apostar nessa componente, na criativ idade. Marv ila tem de f uncionar em rede, em rede de parcerias. Todos juntos somos responsáveis pela construção de soluções para a Freguesia, todos juntos somos responsáv eis pela dinâmica de ev olução do próprio bairro. A qualidade de v ida de um bairro não se circunscrev e apenas à qualidade do espaço público, tem muito a v er com a própria v iv ência da comunidade, com a dinâmica empreendedora e inov adora das pessoas, com a sua capacidade de se juntarem, de se ligarem e de criarem soluções, de se motiv arem, f acilitando o desenv olv imento da Freguesia. Marv ila é responsabilidade de todos, as pessoas têm de f azer parte da solução, não se podem limitar a apresentar problemas.” A Senhora Deputada Municipal Maria Clara Silva “ Boa tarde. Tenho setenta anos de idade, sou enf ermeira de prof issão e lembrome de quando f azia as minhas activ idades junto dos bairros degradados de Lisboa, e interv inha junto das populações mais carenciadas. Estou, por isso, dentro do quadro que estamos a f alar. Actualmente sou v ogal para a prev enção da toxicodependência do Bairro do Lumiar. De há pelo menos trinta e seis anos a esta parte, a lamúria de ambas as partes é a mesma e sem resultados. A culpa, porque é preciso existir sempre um culpado que não eu, é das pessoas que são pobres, sujas e más. Nunca oiço ref erir o papel da escola como agente de mudança sócio cultural das populações.

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É pelo conhecimento que a democracia pode ser de f acto exercida. Tenho duas questões a colocar ao Senhor Prof essor Dr. Nuno Miguel Augusto, primeiro gostaria de perceber o porquê de não existir na escola uma disciplina estruturada e transversal, pois a democracia não nasce, a democracia aprende-se. E segundo, de saber se existe algum estudo sociológico sobre o abandono das escolas e quais as soluções apontadas para o abandono escolar. O Senhor Paulo Rodrigues APOD: “Boa tarde a todos. Represento uma associação muito nov a, que tem v indo a desenv olver um trabalho muito importante no Bairro da Horta Nov a em estreita colaboração com a Junta de Freguesa de Carnide. Trabalhamos com v árias instituições e também estamos env olv idos no projecto Bip/Zip. Temos sido conf rontados com problemas muito grav es. Um deles prende-se com os elev adores, que, na sua maioria, não f uncionam. Temos imensos deficientes e pessoas limitadas, dou o exemplo da minha mãe, que f az hemodiálise três v ezes por semana e habita num terceiro andar. Existem muitos casos do género. Os elev adores f azem muita f alta. Um outro, relacionado com a segurança, pois ao que tudo indica algumas esquadras, senão mesmo todas as esquadras do bairro, irão ser encerradas. A presença da polícia no bairro é muito importante e transmite uma certa segurança aos seus moradores. Vejam o que é que v ão f azer ao bairro, analisem as coisas em termos sociais e não económicos.”

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O Senhor João Carlos Associação de Moradores do Bairro da Cruz Vermelha e Lumiar: “Boa tarde a todos. Gostaria de dizer que f alar nos bairros municipais é, em primeiro lugar, f alar nas pessoas. A gestão dos bairros municipais f oi, é e continuará a ser, uma taref a complexa que requer estruturas dinâmicas, ef icazes e pouco burocráticas. Não existem dúv idas de que atualmente os bairros sociais constituem um grande f oco de tensão social. Estão associados ao tráf ico e consumo de droga e outro tipo de crimes que geram sentimentos de medo e insegurança, inclusiv é naqueles que lá nasceram. Desaf iava a comunicação social a noticiarem o que de bom se f az no Alto do Lumiar, um sem número de bons exemplos do trabalho associativ o lev ado a cabo no Alto do Lumiar. Consideramos necessário encontrar soluções ao nív el dos acessos e da mobilidade. Quem é o responsáv el por os bairros municipais serem guetos div orciados da restante cidade? Contrariamente ao que o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa ref eriu na reunião de v inte e seis de Outubro de dois mil e onze, e com o dev ido respeito, não estamos de acordo com a af irmação prof erida. Se os guetos existem, dev e-se aos continuados erros de planeamento urbanístico, são os continuados erros de arquitectura, f oi o div órcio da Câmara em relação aos bairros municipais que criou o af astamento da cidade aos bairros municipais. Abordar a política social de habitação é, em primeiro lugar, pensar nas pessoas, isto é, pensar numa política de v alorização da qualidade de v ida da população, que passando muito pela habitação, não termina aí, pelo contrário, dá início a um processo global de melhoria da qualidade de v ida das pessoas. É pois necessário f azer coincidir as melhorias de

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alojamento com as melhorias das condições envolventes dos conjuntos habitacionais, por f orma a criar aos moradores, atrav és de uma participação activa destes, uma identif icação positiv a com a zona onde habitam. Assim é necessário um acompanhamento social à população e promov er apoios ao seu próprio desenv olv imento. Estará a Gebalis dotada para f azer o acompanhamento social? Dev erá de existir também mais acompanhamento sócio f amiliar aos moradores, mais acções promocionais ao nível da sensibilização. Somos a f av or da Gebalis, para a realização de todo este trabalho de proximidade” Zélia Amorim “Peço desculpa, pois a minha interv enção encontra-se um pouco descontextualizada, pois dev eria de ter sido f eita no primeiro painel. Sou socióloga, já ocupei um cargo político, na Câmara de Loures e neste momento exerço f unções na Gebalis. Apesar de todas as condicionantes e de todas as queixas aqui apresentadas, considero positiv o o trabalho que f oi realizado, considero positiv o a criação dos bairros municipais, pois as pessoas deixaram de v iv er em barracas. Não acredito que existam guetos em Lisboa. Penso que se conseguíssemos, por exemplo, flexibilizar a transf erência, no caso de um indiv iduo que se encontra insatisf eito no sítio onde v iv e, porque não transferi-lo, desde que possív el, para outro bairro? Até poderia existir um intercâmbio entre cidades, quem sabe? Obrigar as pessoas as v iverem contrariadas num determinado sítio é um mau princípio.

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Era importantíssimo que a Câmara ponderasse sobre a possibilidade de instalar mais comércio, aprov eitando e dinamizando as lojas v andalizadas.” Noemi Elisabete Gomes da Silva, “Crescer a Cores” do grupo Comunitário Horta Nov a “Boa tarde a todos. Eu gostaria de partilhar as boas práticas que estão a ser desenv olvidas ao nível do programa Bip/Zip, o projecto “Horta Nov a com Padrinhos”. Fomos conv idados, em conjunto com outras associações, pela Junta de Freguesia de Carnide a participar neste programa, no qual, o maior objectiv o consiste em apadrinhar os bairros. Fizemos, numa primeira f ase, uma reunião com todos os moradores, com intuito de realizarmos um real lev antamento das necessidades de cada lote. Destaco que a parte interessante deste projecto, e aqui f elicito a Câmara e a Senhora Vereadora Helena Roseta, é o f acto de f azer com que as populações se mobilizem num objectiv o comum, participando, com responsabilização. A caminhada é longa, mas estou certa que todos nós iremos contribuir para termos bairros sociais muito melhores.” O Senhor João Mota Associação Viv er Melhor no Beato: “Boa tarde. Eu moro no Beato há 45 anos. Pretendia alertar para o problema da limpeza na v ia pública, pois de há 3 anos a esta parte que as ruas quase não são limpas. Nem limpezas, nem lav agens de caixotes, nem desbaratizações, nada dessas coisas.

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Já solicitamos div ersas vezes a intervenção da Câmara, mas a resposta agora é sempre a mesma - a Crise! Gostaria também de saber se sempre nos v ão lá por os telhados ou não.” O Senhor Joãozinho IE Instituto para a Cooperação e Desenv olvimento Internacional “A participação é uma responsabilidade indiv idual. É um dev er. Tudo o que aqui ouv i são regras. E chega sempre um momento em que o pai não pode cumprir e aí o f ilho tem de reagir. Nós temos de nos adaptar ao sítio onde nos inserimos. E não é só tirar as pessoas das barracas e coloca-las nos bairros. Não. Temos de acompanhá-las. Tem de existir trabalho social. É por f alta de acompanhamento que outras coisas emergem, tal como a insegurança ou o v andalismo. Gostaria de saber quem é que v ai ocupar, ou gerir, a casa de cultura. E se estão a pensar em ouv ir primeiro a população, para tentarem perceber o que realmente f alta ao bairro, para tentarem perceber que tipo de equipamento se insere melhor naquela área. Quem v ai gerir, Câmara ou Gebalis?” O Senhor Nuno Vasco Franco Associação Renov ar a Mouraria “Boa tarde a todos. A nossa Associação nasceu em Janeiro de dois mil e oito e a nossa primeira interv enção realizou-se no mês seguinte. O impacto foi de tal ordem positivo, que em Março o mov imento passou a Associação Sócio Cultural. Desde muito cedo que assumimos um papel interventivo junto da população emigrante, com acções de apoio div ersas.

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Realizamos também uma série de acções junto de todas as crianças do bairro, desde ateliers de rua, a contadores de história. Somos responsáv eis pela criação de um Jornal, pela edição de um CD de Fado, por um curso de letras de f ado, por uma série de v isitas guiadas à f reguesia, pela edição de um liv ro de gastronomia, um liv ro de banda desenhada sobre a Mouraria, v amos ser responsáv eis pela primeira edição do Festiv al Há Mundos na Mouraria e, entre outros, pela rota das tasquinhas da Mouraria. Temos um projecto, ao abrigo do programa Bip/Zip, que é o Edif ício Manif esto Casa Comunitária da Mouraria, que será uma realidade no início de dois mil e doze. Precisamos de mais uma creche e de mais um parque inf antil.” O Senhor Manuel Saraiva (Associação de Moradores do Bairro das Amendoeiras) “Boa tarde a todos. Venho de uma Freguesia de Lisboa que porv entura será a que mais habitação social tem, Marv ila. Solicito à Autarquia o apoio na criação de uma rede entre as v árias associações existentes na f reguesia de Marv ila, potenciando recursos e optimizar soluções. Marv ila merece mais respeito, tratem da sinalética. Marv ila não é Chelas.” A Senhora Maria Albertina Ferreira “Boa tarde a todos. Eu tenho v ários bairros sociais, ou zonas. Vou centrar-me em três problemas, começando pelas lojas, pelas garagens e pelas casas ocupadas. As garagens estão emparedadas, as lojas estão praticamente todas vandalizadas

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e danif icadas, as que não estão pertencem a associações. O comércio é escasso, pois as rendas exigidas são muito elev adas. Quero também f alar do Bairro do Alto do Chapeleiro, local onde a Senhora Vereadora especif icou que iriam alienar algumas f racções. E eu gostaria de perguntar como é que, a seguir, v ão lidar com a questão do condomínio. E, no caso de não comprarem o que é que pode acontecer ao morador? Relativ amente à casa de cultura, é um bico-de-obra que data de dois mil e um. Candidatámo-nos, sem sucesso, a um Bip/Zip para a casa da cultura, para conseguirmos dar aquele espaço à população. Nós gostaríamos muito de ter a casa de cultura a f uncionar, o nosso projecto é muito giro, mas não temos orçamento para o ef eito.” O Senhor Silvino Esteves Correia (Bairro Carlos Botelho) “Boa Tarde. O Bairro Carlos Botelho f ica situado na zona de Picheleira, f reguesia do Beato. O que trago à v ossa consideração prende-se com o f acto de que as pessoas quando f oram realojadas terem sido obrigadas a enf rentar grandes alterações no seu dia-a-dia. As pessoas f oram transportadas para uma realidade muito dif erente daquela em que v iv iam e ninguém acautelou, ou as preparou para essa mudança. Ao não serem esclarecidas as pessoas tendem a ocupar, para além da sua habitação, espaços comuns aos outros, criando situações de conf lito. Tudo isto surge da má preparação das pessoas no seu realojamento. Outra questão é a ausência de equipamentos. Não existe um único equipamento num bairro com imensas f amílias e

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crianças. As crianças brincam, sem segurança, no meio da rua. Outra situação é a da limpeza urbana, melhor dizendo, a ausência da mesma. As ruas só são lav adas quando chov e ou quando o Senhor Presidente da Câmara v ai v isitar o bairro.” Constatando não existirem mais interv enções o Senhor Deputado Municipal Rosa do Egipto agradeceu a participação dos interv enientes daquele segundo painel e as suas interv enções. Perguntou ao Professor Nuno Miguel Augusto, na sequência das questões que lhe tinham sido dirigidas, se pretendia dizer mais algumas palav ras. O Senhor Professor Nuno Miguel Augusto Começou por se ref erir às questões relacionadas com a escola e com a escolaridade. Disse que a escola era, à partida, um espaço de cidadania. Esclareceu que tinham existido v árias tentativ as ref erentes à introdução de uma disciplina relacionada com a educação cív ica. Def endeu que a educação cív ica deveria de ser transversal a uma div ersidade de disciplinas, não se cingindo apenas a uma. Recordou que a f unção do sociólogo consistia em ser voz das populações e, que o tinha pretendido lev ar àquele debate era apenas um retrato daquilo que considerav a serem as perspectiv as, as percepções, as representações sociais que aquelas populações tinham. Considerou que nas interv enções posteriores se tinham clarif icado as questões que lhe tinham sido colocadas quer do lado dos actores que interv inham directamente nos processos quer do lado dos actores que v iv iam naquele espaço. Admitiu que a expressão “gueto”, ou “guetização”, era muito f orte. Comentou que nem a guetização, nem a segregação,

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dev eriam de ser def inidas por um critério racial. Relembrou que o que hav ia dito era que a concentração de problemas que representav am a habitação social eram problemas de ordem div ersa. Disse, por f orma a se ev itarem alguns problemas, que as pessoas não poderiam e nem dev eriam de ser tratadas como benef iciários ou destinatários, mas sim como parte integrante do processo. Explicou, f alando de realojamento, que as pessoas não poderiam ser simplesmente transportadas para uma nov a realidade, ignorando as suas necessidades, o seu estilo de v ida, porque ao se descurarem esse tipo de questões originav am-se problemas grav íssimos. Ilustrou que as pessoas prov enientes de um meio rural possuem dificuldades em se desf azerem dos seus animais, e quando realojadas, lev am os animais consigo. O Senhor Deputado Municipal Silva Dias Ref eriu sentir uma certa angústia quando ouv ia alguém comentar que determinadas pessoas, prov enientes de um meio rural ou de um espaço com quintal, quando realojadas, lev av am para o interior do apartamento a criação. Af irmou que trabalhara cinquenta anos na habitação social e que nunca encontrara nada do género, que nunca v ira galinhas na banheira. Manif estou o seu respeito pelas pessoas que habitam nos bairros sociais, pelo seu patriotismo, pelo seu amor à cidade. Disse que tinha uma enorme esperança nas populações dos bairros sociais.

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A Senhora Vereadora Helena Roseta Começou por dizer que tinha apontado as v árias questões que tinham sido lev antadas ao longo do debate, mas que dev ido ao av ançar da hora iria apenas debruçar-se sobre uma delas, nomeadamente, o problema das lojas. Considerou ser um problema grav íssimo e que já tinha sido criada uma equipa para f azer um lev antamento das f racções dev olutas nos v ários bairros Municipais. Esclareceu que se encontrav am a preparar a nov a tabela de taxas, unif icada, para o ano seguinte. Prometeu que iam resolv er o problema das tabelas, as normas de acessos e garantiu que iam agilizar a f orma de as pessoas poderem aceder a lojas ou a espaços municipais. O Senhor Deputado Municipal Rosa do Egipto Solicitou ao Senhor Deputado Municipal Filipe Lopes que f izesse uma síntese daquele debate.

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SÍNTESE DO DEBATE O Deputado Municipal Filipe Lopes f ez a seguinte síntese do debate: “Vou f azer a síntese mais sintética possível, dado o adiantado da hora. Os bairros municipais, como v imos por todos os problemas que f oram lev antados, são um problema pegado e que parece quase sem solução. No entanto, ouv imos ao mesmo tempo div ersos depoimentos que mostram uma coisa real: Primeiro, os bairros existem. Não se podem apagar, têm que continuar e têm que ser tratados o melhor possív el. No entanto, não tenhamos dúv idas que os problemas que nós encontrámos aqui nos bairros são problemas que encontramos noutras zonas pobres da cidade: eu estav a a pensar nos bairros antigos da Mouraria, de Alf ama e outros que tratei e têm exactamente os mesmos problemas, não têm é o problema da existência de um tecido social, que são as pessoas. O problema é que em todos os bairros nov os as pessoas não se conhecem e não se cria um tecido social de um dia para o outro. As pessoas só se sentem integradas a partir do momento em que se conhecem uns aos outros e isso não é só nos bairros municipais, é também nos bairros nov os e nos prédios nov os. Quando um inquilino v ai para um prédio nov o não conhece o seu v izinho, não lhe diz bom dia, não lhe f ala e só no f im de um certo tempo começa a conhecer. O problema maior é que ef ectiv amente houv e erros. A reabilitação, recuperar aquilo que é f undamental e que são os bairros antigos, porque lá existe esse tecido social, existe essa riqueza que nós v imos no depoimento da Mouraria. Outra coisa é que esse tecido social, quando existe, permite criar relações entre as pessoas, porque as pessoas é que f azem parte das soluções de todos os problemas.

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Essas associações de pessoas, esse conhecimento, essas redes, e ouv imos v ários testemunhos desses, são a esperança de melhorar a pouco e pouco a v ida, sempre com o amor de que f alou o Deputado Municipal Silv a Dias. Quero dar os parabéns à equipa da Vereadora Helena Roseta ao criar os BIP/ZIP. Foi o catalisador que v ai permitir que essas pessoas dos bairros municipais se juntem para resolv er os seus problemas, com a ajuda de todas as entidades, mas v imos nitidamente nos div ersos bairros que só há solução quando o colectiv o entra a trabalhar. Estou de acordo com o Deputado Municipal Silv a Dias que a esperança existe, os bairros f oram necessários e são necessários porque não temos outra solução. Poderíamos melhor aprov eitar os bairros antigos, infelizmente há lá muitas casas v azias, estamos a deixar perder o tecido social desses bairros e é uma pena. Vamos criar outros, mas é nessa colectiv ização, essa união das pessoas, nessas redes, que está a solução para os bairros. Portanto, mãos ao trabalho e parabéns a todos.” O Senhor Deputado Municipal Rosa do Egipto Agradeceu a presença e o trabalho de todos e deu a palav ra ao Senhor Presidente da Comissão o Senhor Fernando Braamcamp para que pudesse encerrar o debate.

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O Senhor Deputado Municipal Fernando Braamcamp, Presidente da Comissão Começou por agradecer à Senhora Presidente da Assembleia, aos oradores conv idados, a todo o público interv eniente e aos f uncionários da Assembleia Municipal. Agradeceu, a título indiv idual, aos Deputados Municipais da sexta comissão, em especial ao seu grupo de trabalho, na organização daquele debate, que classif icou de magníf ico. Disse que construir bairros tinha sido construir a cidade e que os bairros se f aziam de pessoas. Esclareceu que o desaf io era mais que construir, era saber gerir de f orma sustentada e humana. Rev elou que a sexta comissão, numa tentativa de melhorar a percepção sobre aquela matéria, tinha entendido promov er aquele debate, abrindo-se à sociedade civ il por f orma a sentir os seus anseios e se f amiliarizar com os problemas existentes em torno da habitação social. Ref lectiu que era dif ícil perceber onde terminav am os interesses pessoais e onde começav am os interesses colectiv os, duas posições antagónicas. Ref eriu ser um tema com uma dinâmica própria e sem f im. Participou que a Câmara tinha em discussão, naquele momento, um nov o regulamento, que iria gerir as relações entre a Autarquia e o munícipe, um normativ o que no seu entendimento iria harmonizar toda a conf usão, estabelecendo regras. Entendeu que os objectiv os tinham sido alcançados e agradeceu a todos, sem execepção. Seguidamente deu o debate por encerrado.

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