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Comité Português para a UNICEFComissão Nacional Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés

MANUALDE ALEITAMENTO MATERNO

Leonor Levy · Helena Bértolo

2012

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ÍNDICE

Nota Introdutória............................................................................ 5

1. Aleitamento Materno em Portugal ........................................... 7

2. Vantagens do Aleitamento Materno......................................... 8

3. Sucesso do Aleitamento Materno ............................................ 8

4. Pontos de Viragem em Aleitamento Materno ......................... 9

5. Prática do Aleitamento Materno............................................... 14

6. Leite Materno e Ambiente......................................................... 15

7. Contra-indicações do Aleitamento Materno............................ 16

8. Como Funciona a Amamentação ............................................. 17

9. Como Ultrapassar Pequenas Dificuldades............................... 25

Nota Final........................................................................................ 35

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Nota Introdutória

Este Manual de Aleitamento Maternofoi feito com a intenção de a ajudar.

Dar de mamar é uma prioridade da sua vidaporque é bom para si, para o seu bebé e para a sua família.

As pequenas dificuldades podem ser ultrapassadascom meia dúzia de estratégias que neste livro lhe são propostas.

Esperamos, sinceramente, que a amamentaçãopor si sonhada seja um sucesso.

Boa sorte e felicidades.

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Manual de Aleitamento Materno

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1. Aleitamento Materno em Portugal

Em Portugal não existem estatísticas sobre a incidência e a preva-lência do aleitamento materno. Os estudos efectuados no nossopaís sugerem que a evolução do aleitamento materno se processoude maneira semelhante à de outros países europeus.

A industrialização, a II Grande Guerra Mundial, a massificação dotrabalho feminino, os movimentos feministas, a perda da famíliaalargada, a indiferença ou ignorância dos profissionais de saúde ea publicidade agressiva das indústrias produtoras de substitutos doleite materno tiveram como consequência uma baixa da incidênciae da prevalência do aleitamento materno. Foram as mulheres commaior escolaridade quemais precocemente deixaram de amamen-tar os seus filhos, sendo rapidamente imitadas pelasmulheres commenor escolaridade.

Este fenómeno alastrou aos países em desenvolvimento, com con-sequências gravíssimas em termos de aumento da mortalidade in-fantil. A partir dos anos 70, verificou-se um retorno gradual à práticado aleitamento materno, sobretudo nasmulheresmais informadas.

Alguns estudos portugueses apontam para uma alta incidência doaleitamento materno, significando que mais de 90% das mãesportuguesas iniciam o aleitamento materno; no entanto, essesmesmos estudos mostram que quase metade das mães desis-tem de dar de mamar durante o primeiro mês de vida do bebé,sugerindo que a maior parte das mães não conseguem cumpriro seu projecto de dar de mamar, desistindo muito precocementeda amamentação.

Por todas estas razões, é essencial que em Portugal se continuem aimplementar medidas que promovam ummaior sucesso do aleita-mento materno.

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2. Vantagens do Aleitamento Materno

O leite materno é um alimento vivo, completo e natural, adequadopara quase todos os recém-nascidos, salvo raras excepções.

As vantagens do aleitamento materno são múltiplas e já bastantereconhecidas, quer a curto, quer a longo prazo, existindo um con-senso mundial de que a sua prática exclusiva é a melhor maneirade alimentar as crianças até aos 6 meses de vida.

O aleitamento materno tem vantagens para a mãe e para o bebé:o leite materno previne infecções gastrintestinais, respiratórias e uri-nárias; o leite materno tem um efeito protector sobre as alergias, no-meadamente as específicas para as proteínas do leite de vaca; o leitematerno faz com que os bebés tenham umamelhor adaptação a ou-tros alimentos. A longo prazo, podemos referir também a importân-cia do aleitamento materno na prevenção da diabetes e de linfomas.

No que diz respeito às vantagens para a mãe, o aleitamento ma-terno facilita uma involução uterina mais precoce, e associa-se auma menor probabilidade de ter cancro da mama entre outros.Sobretudo, permite à mãe sentir o prazer único de amamentar.

Para além de todas estas vantagens, o leite materno constitui o mé-todo mais barato e seguro de alimentar os bebés e, na maioria dassituações, protege asmães de uma nova gravidez. No entanto, é fun-damental que todas as seguintes condições sejam cumpridas: alei-tamento materno praticado em regime livre, sem intervalosnocturnos, sem suplementos de outro leite, nem complementadocomqualquer outro tipo de comida. Esta protecção pode prolongar-se até aos 6 meses do bebé e enquanto a menstruação não voltar.

3. Sucesso do Aleitamento Materno

O sucesso do aleitamento materno pode ser definido por uma ama-mentaçãomais prolongada. Existe hoje o consenso entre os pedia-tras de que a duração ideal do aleitamento materno exclusivo, ouseja, sem que seja oferecido ao bebé mais nenhum alimento, é de6 meses.

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Isto não basta, no entanto; é ainda preciso que o bebé tenha umbom estado nutricional, ou seja, aumente de peso demaneira ade-quada e tenha um bom desenvolvimento psicomotor.

O sucesso do aleitamento materno pode ainda ser definido pela qua-lidade da interacção entre mãe e bebé, durante a mamada, pois esteproporciona a oportunidade de contacto físico e visual e a vivência dacooperaçãomútua entre amãe e o bebé. Uma boa interacção entre amãeeobebédurante amamadapodeser definida comoumavalsanaqual cada um dos interlocutores, mãe e bebé, emite sinais ao outro,sinais esses que são descodificados, dando origem a comportamen-tos de resposta contingentes e adequados, conduzindo aumaadapta-ção mútua de mãe e bebé, cada vez mais rica e complexa. Algunsautores responsabilizam a inexistência de bons padrões interactivos– entre mãe e bebé durante a mamada – pela falência do cresci-mento de causa não-orgânica que se verifica em algumas crianças.

Num aleitamento materno com sucesso, verifica-se habitualmenteuma boa transferência de leite entre amãe e o bebé; a transferênciade leite refere-se não só à quantidade de leite que a mãe produz,como também àquela que o bebé obtém, sendo a actuação do bebéparticularmente importante na regulação da quantidade de leite queingere, na duração da mamada e na produção do leite pela mãe.

Ao falarmos de sucesso, temos também de ter em conta o projectomaterno; sob o ponto de vista damãe, a prática do aleitamentoma-terno de curta duração pode ser um sucesso desde que correspondaàs suas expectativas.

4. Pontos de Viragem em Aleitamento Materno

A intervenção em pediatria corresponde a actuar nos períodos crí-ticos ou melhores períodos da vida humana; assim, os «pontosde viragem» são entendidos como oportunidades preferenciaispara a intervenção em saúde, nomeadamente na promoção dasaúde e prevenção da doença, através da promoção de práticassaudáveis, e neste contexto tem especial relevância a prática doaleitamento materno.

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Para que a amamentação tenha sucesso, devem conjugar-se trêsfactores:

• A decisão de amamentar• O estabelecimento da lactação• O suporte da amamentação

Decisão de amamentar

A decisão de amamentar é uma decisão pessoal, sujeita a muitasinfluências, resultantes da socialização de cada mulher.

Muitas mulheres nem sabem bem por que decidiram amamentare, quando lhes é perguntada a razão, dizem que vão amamentarporque sim; provavelmente estas mulheres cresceram naquiloque alguns autores chamammeio aleitante, ou seja, um ambienteem que o aleitamento materno era praticado de maneira natural,sem ser posta a questão de como alimentar os bebés; provavel-mente estas mulheres tinham sido amamentadas pelas suas mãese viram outras mães a amamentar os seus filhos, tendo tido,assim, experiências positivas relacionadas com a amamentação.

Este tipo de experiência é proporcionadopelas famílias alargadas emque várias gerações coabitam, existindo uma transmissão de saberese de práticas tradicionais favoráveis ao aleitamento materno. Umaexperiência prévia comsucesso comumoumais filhos tambémse re-flecte positivamente na decisão de amamentar o futuro bebé.

Outras mães decidem amamentar porque valorizam positivamenteas consequências do aleitamento materno, quando comparado comoutro tipo de alimentação, podendo ser ou não influenciadas peloseu companheiro, amigas, mãe ou profissionais de saúde, sendoespecialmente importante a percepção do seu próprio controlosobre a prática do aleitamento materno, traduzindo-se por umamaior confiança nas suas capacidades de amamentar o seu filho.

Não podemos nem devemos culpabilizar uma mãe que não querou não pode amamentar, providenciando nestes casos os conse-lhos adequados à prática de uma alimentação com leites artificiais.

Temos, no entanto, a obrigação de informar e aconselhar todasas futuras mães quanto à prática do aleitamento materno, no-meadamente as mães indecisas.

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Para além de veicular informações quanto às vantagens do alei-tamento materno para o bebé, é importante esclarecer as futurasmães sobre as vantagens do aleitamento materno para a própriamãe, nomeadamente sobre o prazer que uma mãe esclarecida eapoiada pode encontrar no aleitamento materno, pondo assim atónica não no dever, mas no direito e no prazer de amamentar.

Alguns estudos sugerem que as mães que escolhem amamentarpor razões ligadas às vantagens do aleitamento materno para asmães amamentam durante mais tempo, commaior prazer e experi-mentammenos crises lácteas, ou seja, o sentimento de teremmenosleite, crises estas que podem ser reais ou não.

Uma gestação planeada ou desejada parece ser um pré-requisitoimportante para o sucesso do aleitamento materno, sugerindo aimportância das consultas de planeamento familiar.

O 3.o trimestre da gestação tem sido apontado como o primeiroponto de viragem em termos de sucesso do aleitamento materno,constituindo uma oportunidade privilegiada para uma primeira en-trevista entre a futura mãe e o pediatra do bebé, a fim de discutiro regime alimentar do bebé. Neste primeiro contacto devem vei-cular-se conhecimentos sobre a prática e a técnica do aleitamentomaterno, averiguar-se os conhecimentos e atitudes dos futurospais face ao aleitamento materno e a existência, ou não, de mitosrelacionados com a amamentação.

Parece especialmente importante a definição prévia da duraçãodo aleitamento materno, pelo que a futura mãe deverá ser moti-vada para um maior compromisso em termos de amamentação.

Para uma maior motivação materna, a mãe deverá ser elucidadasobre as vantagens do aleitamento materno para a mãe e para obebé, o efeito de «dose-resposta» e o prazer que a amamentaçãopode constituir para uma mãe bem preparada para amamentar.

Alguns autores sugeremquea frequência de aulas depreparaçãoparao parto durante a gestação deverá ainda fazer parte da preparação dafuturamãe, no sentido de a familiarizar comosprocedimentos do tra-balho de parto e do parto, bem como do início da amamentação.

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Estabelecimento da lactação

O estabelecimento da lactação tem sido apontado como o 2.o pontode viragem, sendo decisivas as práticas hospitalares ligadas ao tra-balho de parto, parto e pós-parto para um aleitamento maternocom sucesso.

A antropologia, a sociologia e a história têm procurado apreendero significado de acontecimentos tão importantes como o parto, paradiferentes povos de diferentes culturas. Em todos os povos é pos-sível encontrar crenças e práticas ligadas à procriação, à gestaçãoe ao parto, constituindo este uma «entrada na vida» ou um ritual depassagem. Vários estudos mostram também que todos os povosse preocupam comos cuidados a fornecer ao recém-nascido, comosejam o primeiro banho, a amamentação, as aprendizagens, os ber-ços e as embaladeiras.

Poucas experiências humanas alcançam os níveis de stress, ansie-dade, dor e tumulto emocional ocorridos durante um parto e nopós-parto imediato. Sendo o parto uma ocasião de especial sensi-bilidade ao ambiente, não admira que acontecimentos, interacçõese intervenções ocorridos durante este período possam ter conse-quências duradouras em termos emocionais e comportamentais.

Acontecimentos ligados às práticas hospitalares durante o parto,no período do pós-parto imediato e durante a estada da mãe e dobebé no hospital podem influenciar positiva ou negativamente oestabelecimento da lactação e a duração do aleitamento materno.

Aqueles factores por si só, ou em interacção uns com os outros,podem contribuir para o sucesso ou, pelo contrário, pôr em perigo aamamentação.

Um comunicado conjunto da OMS/UNICEF (Iniciativa HospitaisAmigos dos Bebés) contempla 10 medidas importantes para o su-cesso do aleitamento materno que deveriam ser implementadasnos serviços de saúde vocacionados para a assistência a grávidase recém-nascidos, definindo objectivos e estratégias que, a seremcumpridos, confeririam a esses mesmos serviços de saúde a ca-tegoria de «Hospital Amigo dos Bebés».

Em Portugal existe, constituída, uma Comissão Nacional IniciativaHospitais Amigos dos Bebés com sede na UNICEF.

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Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés (OMS/UNICEF)

01. Ter uma política de promoção do aleitamento materno, afixada,a transmitir regularmente a toda a equipa de cuidados de saúde.

02. Dar formação à equipa de cuidados de saúde para que imple-mente esta política.

03. Informar todas as grávidas sobre as vantagens e a prática doaleitamento materno.

04. Ajudar as mães a iniciarem o aleitamento materno na primeirameia hora após o nascimento.

05. Mostrar àsmães como amamentar emanter a lactação, mesmoque tenham de ser separadas dos seus filhos temporariamente.

06. Nãodar ao recém-nascidonenhumoutro alimentoou líquido alémdo leite materno, a não ser que seja segundo indicaçãomédica.

07. Praticar o alojamento conjunto: permitir que asmães e os bebéspermaneçam juntos 24 horas por dia.

08. Dar de mamar sempre que o bebé queira.

09. Não dar tetinas ou chupetas às crianças amamentadas ao peito.

10. Encorajar a criação de grupos de apoio ao aleitamento ma-terno, encaminhando as mães para estes, após a alta do hos-pital ou da maternidade.

Na sequência da actividade desenvolvida pela Comissão NacionalIniciativa Hospitais Amigos dos Bebés, vários hospitais ematernida-des portugueses têm-se candidatado a «Hospital Amigo dos Bebés»,estando actualmente em curso a avaliação das candidaturas.

Suporte da amamentação

O 3.o ponto de viragem será o suporte da amamentação depoisda alta da maternidade.

Os primeiros quinze dias de vida do bebé, até que a lactação estejabem estabelecida, são especialmente importantes. Durante este pe-ríodo de tempo, a mãe deverá ser ajudada por alguém que a subs-titua nas tarefas caseiras, a fim de poder dedicar-se plenamente ao

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seu bebé e ter o apoio de profissionais de saúde competentes e dis-poníveis no centro de saúde, através de consulta telefónica oumesmo visita domiciliária, se necessário.

Um ambiente calmo e caloroso, uma alimentação simples e cui-dada e algumas regras elementares sobre a prática do aleitamentomaterno serão uma ajuda preciosa para o seu sucesso.

5. Prática do Aleitamento Materno

Aduraçãodamamadanãoé importante, pois amaior parte dosbebésmamam 90% do que precisam em 4 minutos. Alguns bebés prolon-gammais as mamadas, por vezes até 30 minutos ou mais; o que in-teressa éperceber queobebéestá aobter leite damamadamãeenãoestá a fazer damamadamãeuma chupeta, pois isto podemacerar osmamilos, criar fissuras e levar a mãe a desistir da amamentação.

Uma mãe pode perceber se o bebé está mesmo a mamar quandoconstata que a sucção é mais lenta do que com uma chupeta,quando verifica que o bebé enche as bochechas de leite ou, muitasvezes, quando ouve o bebé a engolir o leite.

O horário não é o mais importante; o bebé deve ser alimentadoquando tem fome – chama-se a isto o regime livre –, não se de-vendo impor ao bebé um regime rígido. Quando umbebé tem fomeacorda para comer, e este alerta é importante para uma melhoringestão de leite materno. No entanto, não se deve deixar o bebédormir mais de 3 horas durante o primeiro mês de vida.

Quando um bebé começa a mamar na mama da mãe, o primeiroleite que obtém é mais rico em água e lactose, que é o açúcar doleite; à medida que amamada prossegue, o leite vai tendo cada vezmais gordura.

O que é importante é que o bebé esvazie uma mama em cada ma-mada; o bebé deve primeiro esvaziar a primeira mama e se depoisdisso continuar com fome é que lhe é oferecida a segunda mama;chupar e esvaziar amama é o segredo para umamaior produção deleite.

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Não interessa pesar o bebé antes e depois de uma mamada, nemfazer análises ao leite, pois existe uma grande variabilidade do leitematerno ao longo do dia, quer em qualidade, quer em quantidade.A pesagem do bebé nas consultas de saúde e uma boa progressãodo seu peso garantem que o bebé está a ser bem alimentado.

Todas as mães se preocupammuito com os alimentos que devemcomer. Se na família houver casos de alergia, as mães não deve-rão abusar do leite e dos seus derivados. Caso contrário, as mãesdeverão praticar uma dieta saudável e variada, evitando comergrandes quantidades de qualquer alimento ou alimentos maisalergizantes ou que possam excitar o bebé.

Porém, o que é mais importante é a ausência de stress, pois este éinimigo da lactação, dado que impede a ejecção do leite, que ficaassim retido na mama.

6. Leite Materno e Ambiente

Infelizmente, na actualidade o leite materno também contém ou-tros componentes, consequência da industrialização. Estes pro-dutos tóxicos, como por exemplo as dioxinas, existem no ar querespiramos e em alguns dos alimentos que ingerimos.

Cerca dos 6 meses de idade, o bebé começa a comer outro tipo dealimentos para além do leite materno ou de um substituto desteleite, até se integrar, por volta do ano de vida, no regime alimentarda família.

Depois do desmame, os produtos de consumo diário – carne, peixe,leite e queijos gordos e gorduras animais, e ainda a fast-food e osalimentos fabricados – são os principais fornecedores de dioxinaspara a população em geral, não esquecendo o papel da poluição.

No entanto, os maiores especialistas mundiais nesta matéria consi-deram o leite materno como insubstituível, continuando a aconse-lhar o aleitamento materno, nãodeixandode recomendar, no entanto,medidas tendentes a reduzir as dioxinas que o aleitamento maternopode transmitir.

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Existem numerosos artigos científicos acerca dos malefícios dasdioxinas em toda a comunidade, nas gestantes e nos fetos.

Os estudos publicados sobre esta matéria não contestam a pre-sença de dioxinas no leite materno, mas todos sustentam o papelimportante do leite materno nas várias dimensões do desenvolvi-mento do bebé.

Interessa difundir conselhos e propostas preventivos, tendentes àdiminuição da transferência materna de dioxinas para a próximageração, a qual pode ser evitada ou, pelo menos, diminuída atra-vés de diferentes medidas: a regulamentação para a descarga dedioxinas, uma redução do consumo de produtos animais e ali-mentos fabricados, a substituição de gorduras animais por gor-duras vegetais e a ingestão de leite e queijo magros em vez degordos, em todas as idades, prática esta também recomendadapara a prevenção da obesidade, cada vez mais prevalente na nossasociedade, nomeadamente em crianças e adolescentes.

Tais práticas levariam a umamenor acumulação de poluentes nasadolescentes, futuras mães, com uma menor passagem de dioxi-nas durante e depois da gestação, aconselhando-se ainda que, du-rante o período de aleitamento materno, a mãe não tente perderpeso.

7. Contra-indicações do Aleitamento Materno

Contra-indicações temporárias

Existem certas situações em que as mães não devem amamentaros seus bebés, até essas mesmas situações estarem resolvidas;por exemplo, mães com algumas doenças infecciosas como a va-ricela, herpes com lesões mamárias, tuberculose não tratada ouainda quando tenham de efectuar umamedicação imprescindível.Durante este período de tempo, os bebés devem ser alimentadoscom leite artificial por copo ou colher, e a produção de leite ma-terno deverá ser estimulada.

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Contra-indicações definitivas

As contra-indicações definitivas do aleitamento materno não sãomuito frequentes, mas existem. Trata-se de mães com doençasgraves, crónicas ou debilitantes, mães infectadas pelo vírus daimunodeficiência humana (VIH), mães que precisem de tomar me-dicamentos que são nocivos para os bebés e, ainda, bebés comdoençasmetabólicas raras como a fenilcetonúria e a galactosemia.

8. Como Funciona a Amamentação

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Manual de Aleitamento Materno

Figura 1 - Anatomia da mama

Observe o mamilo e a área de pele mais escura que o rodeia e quese chama aréola mamária. Na aréola encontram-se as pequenasglândulas chamadas glândulas de Montgomery que segregam umfluido oleoso para manter a pele saudável.

Dentro da mama estão os alvéolos que são pequeninos sacos fei-tos de células secretoras de leite. Há milhões de alvéolos – a figuramostra apenas alguns deles.

Uma hormona chamada prolactina faz com que estas células pro-duzam leite.

Representação esquemática da mamaAlvéolos Vasos sanguíneos

Células musculares

Ductos

Mamilo

Aréola

Tubérculos de Montgomery

Tecido de suporte e gordura

AdaptedfromBreastfeedingCounsellig:a

trainingcourse.

WHO/CHD/93.4,UNICEF/NUT/93.2

Células produtorasde leite

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Em torno dos alvéolos há células musculares, as células mioepi-teliais, que se contraem e expulsam o leite para fora dos alvéolos.Uma hormona chamada ocitocina provoca a contracção dessascélulas musculares.

Pequenos tubos, ou ductos, levam o leite dos alvéolos para o exte-rior. Sob a aréola, os ductos tornam-semais largos permitindo que,ao sugar, o bebé recolha o leite. Os ductos tornam-se outra vezmaisestreitos à medida que passam através do mamilo.

Os alvéolos e os ductos estão rodeados por tecido de sustentaçãoe por gordura.

A gordura e o tecido de sustentação é que dão a forma à mama efazem a maior parte da diferença entre uma mama grande e umapequena. Tanto as mamas grandes como as pequenas contêm amesma quantidade de tecido glandular e podem produzir umagrande quantidade de leite.

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Manual de Aleitamento Materno

Figura 2 - Prolactina

Quando um bebé mama, impulsos sensoriais vão do mamilo parao cérebro. Em resposta, a parte anterior da hipófise na base do cé-rebro segrega prolactina. A prolactina vai através do sangue para amama, fazendo com que as células secretoras produzam leite.

A maior parte da prolactina está no sangue cerca de 30 minutosapós a mamada – o que faz com que a mama produza leite para a

Prolactinano sangue

• Prolactina à noite

• Suprime a ovulaçãoSucçãodo bebé

Adaptado da OMS/UNICEF

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mamada SEGUINTE. Para esta mamada, o bebé toma o leite quejá está na mama.

Ou seja, quanto mais o bebé suga, mais leite é produzido.

• Mais prolactina é produzida à noite; portanto, amamentar durantea noite é especialmente importante paramanter a produção de leite.

• A prolactina faz com que a mãe se sinta relaxada e algumasvezes sonolenta; logo, geralmente a mãe descansa bem, mesmoamamentando durante a noite.

• A prolactina suprime a ovulação; assim, a amamentação podeajudar a adiar uma nova gestação, sobretudo se a amamentaçãofor praticada também durante a noite.

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Manual de Aleitamento Materno

Figura 3 - Ocitocina

Quando um bebé suga, impulsos sensoriais vão do mamilo parao cérebro. Em resposta, a parte posterior da hipófise na base docérebro segrega uma hormona chamada ocitocina.

A ocitocina vai através do sangue para a mama e produz a con-tracção das células musculares, ou células mioepiteliais, em tornodos alvéolos. Isto faz com que o leite colectado nos alvéolos fluaatravés dos ductos até ao mamilo. Chama-se a isto reflexo da oci-tocina ou reflexo de ejecção.

A ocitocina é produzida mais rapidamente que a prolactina. A oci-tocina faz com que o leite que já está na mama flua para ESTA

Ocitocinano sangue

• Contracção do úteroSucçãodo bebé

Adaptado da OMS/UNICEF

Impulsossensoriais

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Figura 4 - Ocitocina

Como ajudar o reflexo da ocitocina:

Sentimentos agradáveis como sentir-se contente com o seubebé, ter prazer com o bebé, tocá-lo, olhar ou mesmo ouvir obebé chorar podem ajudar o reflexo da ocitocina. A confiançana sua capacidade de amamentar e a convicção de que o seuleite é o melhor para o bebé também são importantes para aju-dar o leite a fluir.

O que pode dificultar ou bloquear o reflexo da ocitocina:

Sentimentos desagradáveis como dor, preocupação, dúvidasse a mãe tem leite suficiente e, de um modo geral, o stresspodem bloquear o reflexo e parar o fluxo de leite.

mamada. A ocitocina pode começar a actuar antes que o bebé sugue,quando a mãe está preparada para amamentar.

Se o reflexo da ocitocina não funciona bem, o bebé pode ter difi-culdade em receber leite. Pode ter-se a impressão que as mamasdeixaram de produzir leite.

De facto as mamas continuam a produzir leite, mas este não flui.

A ocitocina provoca a contracção do útero no pós-parto, o queajuda a reduzir as perdas de sangue, para além de acelerar a in-volução uterina.

Por vezes, nos primeiros dias aparecem dores uterinas, que podemser bastante fortes, e também pequenas perdas de sangue.

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Manual de Aleitamento Materno

Ajuda Dificulta

StressDorPreocupação

Confiança, Prazer,Tocar, olhar

ou ouvir o bebé

Adaptado da OMS/UNICEF

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Assim:

• A mãe precisa de ter o seu bebé sempre junto a si, para quepossa olhar para ele, tocá-lo e perceber as suas necessidades.Esta prática ajuda o seu corpo a preparar-se para a amamen-tação e ajuda o leite a fluir.

• Se uma mãe está separada do bebé entre as mamadas, o re-flexo da ocitocina pode não funcionar facilmente.

• É preciso ter empatia para com os sentimentos da mãe queestá a amamentar.

• É importante fazê-la sentir-se bem e aumentar a sua confiançana sua capacidade de amamentar o bebé, ajudando assim oseu leite a fluir.

Manual de Aleitamento Materno

Figura 5 - Factor inibidor

A produção do leite materno é também controlada dentro da pró-pria mama.

Existe uma substância no leite materno que pode diminuir ou ini-bir a produção de leite. Se muito leite é deixado na mama, o factorinibidor faz com que as células deixem de produzir leite. Isto ajudaa proteger a mama dos efeitos desagradáveis de uma produçãode leite exagerada. A inibição da produção de leite é, obviamente,necessária se o bebé morre ou pára de mamar por alguma razão.

Se o leite permanecena mama, o factorinibidor faz parar aprodução de leite

Adaptado da OMS/UNICEF

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Se o leite materno é removido, o factor inibidor também é remo-vido. Então a mama produz mais leite.

Assim:

• Se um bebé pára de mamar numa das mamas, essa mamadeixa de produzir leite.

• Se o bebé mama mais de uma mama, essa mama produzmais leite e torna-se maior que a outra.

• Para umamama continuar a produzir leite, o leite deve ser re-movido.

• Se um bebé não pode mamar de uma ou das duas mamas, oleite deve ser removido por expressão, manual ou combomba, para permitir que a produção continue.

Figura 6 - Reflexos do bebé

Existem três principais reflexos do bebé relacionados com a ama-mentação: o reflexo de busca e preensão, o de sucção e o de de-glutição.

Quando alguma coisa toca nos lábios ou nas bochechas do bebé,ele abre a boca e pode virar a cabeça à procura daquilo que lhetocou. O bebé põe a língua para baixo e para fora. Este é o reflexode busca e preensão.

Quando alguma coisa toca o palato do bebé, ele começa a sugare, quando a sua boca se enche de leite, ele deglute. São reflexos

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Manual de Aleitamento Materno

Busca e preensão

Sucção

Deglutição

Adaptado da OMS/UNICEF

A mãe aprendea segurar a mamae a posicionaro bebé

O bebé aprendea boa adaptaçãoà mama da mãe

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que acontecem automaticamente, sem que o bebé tenha de osaprender.

Existem, porém, algumas coisas que a mãe e o bebé têm deaprender.

Uma mãe tem de aprender como segurar a sua mama e posicio-nar o bebé, para que ele pegue bem na mama.

O bebé tem de aprender como pegar na mama para ter uma suc-ção eficaz.

Note, no desenho, como o bebé se aproxima da mama. Ele apro-xima-se da mama por debaixo do mamilo. Isto ajuda a uma boaadaptação ou pega entre a sua boca e a mama da mãe porque:

• O mamilo está posicionado para o palato do bebé, podendoassim estimular o reflexo de sucção.

• O lábio do bebé está posicionado para debaixo domamilo, demodo a colocar a língua por baixo dos canais galactóforos.

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Manual de Aleitamento Materno

Figura 7 - Adaptação entre mãe e bebé (pega)

Bebé A

• A boca do bebé apanha a maior parte da aréola e dos tecidosque estão sob ela, incluindo os canais galactóforos.

• O bebé estica o tecido da mama para fora, para formar umlongo bico.

A B

Adaptado da OMS/UNICEF

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• O mamilo constitui apenas um terço do bico.

• O bebé mama na aréola e não no mamilo.

O bebé A está bem adaptado à mama da mãe (boa pega).

Bebé B

• A boca do bebé não apanha a maior parte da aréola e dos te-cidos que estão sob ela, e os canais galactóforos não estãoincluídos nesses tecidos.

• O bebé não consegue esticar o tecido da mama para fora afim de formar um longo bico.

• O mamilo constitui a totalidade do bico.

• O bebé mama apenas no mamilo.

O bebé B não está bem adaptado à mama da mãe (má pega).

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Manual de Aleitamento Materno

Figura 8 - Adaptação entre mãe e bebé (pega)

Bebé A

• O queixo do bebé toca a mama.

• A boca do bebé está bem aberta.

• O seu lábio inferior está virado para fora.

A B

Adaptado da OMS/UNICEF

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• Pode-se ver mais aréola acima do que abaixo da boca do bebé.

• Isto mostra que o bebé está a atingir os canais galactóforoscom a sua língua, o que ajuda a expressão do leite.

O bebé A está bem adaptado à mama da mãe (boa pega).

Bebé B

• O queixo do bebé não toca na mama.

• A boca do bebé não está bem aberta.

• O seu lábio inferior não está virado para fora.

• Pode-se ver a mesma quantidade de aréola acima e abaixoda boca do bebé.

• Isto mostra que o bebé não está a atingir os canais galactó-foros com a sua língua, o que dificulta a expressão do leite.

O bebé B não está bem adaptado à mama da mãe (má pega).

9. Como Ultrapassar Pequenas Dificuldades

Dificuldades Precoces

Nas primeiras semanas de amamentação podem surgir algumasdificuldades, principalmente para as mães que estão a amamen-tar pela primeira vez.

Logo após o nascimento do bebé (por vezes ainda durante a fasefinal da gravidez), surge o primeiro leite chamado colostro – um lí-quido branco transparente ou amarelo, que se mantém durante 2a 3 dias e que é muito importante para proteger o bebé de infec-ções e para o ajudar a evacuar.

1) Mamas muito cheias e dolorosas (Ingurgitadas)

Quando o leite «desce», por volta do 2.o - 3.o dias, asmamas podemficar quentes, mais pesadas e duras, devido ao aumento de leite eà quantidade de sangue e de fluidos nos tecidos da mama. A mãe

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pode ter um ligeiro aumento da temperatura corporal que não ul-trapassa, em regra, os 38o C, durante 24 horas. Habitualmente, oleite sai com facilidade e a mãe continua a dar de mamar sem difi-culdade. Pode dar demamar com frequência para retirar o leite, ouretirá-lo manualmente ou com bomba. Depois de alguns dias, sen-tirá as mamas vazias e confortáveis.

Algumas vezes, especialmente se o leite não é retirado em quan-tidade suficiente, as mamas podem ficar ingurgitadas. Nesta si-tuação as mamas ficam tensas, brilhantes e dolorosas, e pode serdifícil retirar o leite. A aréola está tensa e é difícil para o bebé agar-rar uma quantidade suficiente da mama para poder sugar. A mãepode amamentar menos porque tem dor. A produção de leite di-minui porque a criança mama durante pouco tempo, de modo nãoeficaz, e o leite não é retirado.

A mama pode ficar infectada porque o leite não é drenado e, es-pecialmente, se a mãe tem fissuras nos mamilos.

Para prevenir o ingurgitamento

• As mães devem dar de mamar em horário livre (sempre queo bebé quiser).

• Colocar a criança a mamar em posição correcta e verificar ossinais de boa pega.

Para tratar o ingurgitamento

• Retirar o leite da mama, colocando o bebé a mamar, se pos-sível, ou com expressãomanual ou bomba (lavar as mãos cui-dadosamente antes de tocar nas mamas).

• Quando conseguir retirar um pouco de leite, a mama fica maismacia e o bebé poderá sugar mais eficazmente.

• Se o bebé não consegue mamar, a mãe deve retirar o leitepara um copo (manualmente ou com bomba) e dá-lo ao bebé.

• Deve continuar a retirar com a frequência necessária para queas mamas fiquem mais confortáveis e até que o ingurgita-mento desapareça.

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A mãe consegue retirar o leite mais facilmente se estimular o re-flexo de ocitocina (ver Figura 4); este funciona melhor se:

• Estiver descontraída e com o bebé por perto;

• Passar com o chuveiro ou com água quente (parches);

• Beber uma bebida morna (não café, chá preto ou cacau);

• Massajar levemente com a ponta dos dedos ou com a mãofechada na direcção dos mamilos.

Se as mamas apresentarem edema (inchaço), pode aplicar águafria ou gelo, depois de retirar o leite.

Como extrair o leite manualmente

• Lave as mãos antes de iniciar a extracção;

• Sente-se confortavelmente, coloque o polegar sobre a partesuperior da aréola e o indicador sob a aréola mamária e pres-sione em direcção ao tórax (costelas); não deve deslizar osdedos para não magoar;

• Pressione e solte de seguida, não deve sentir dor; se sentir, éporque não está a aplicar a técnica correctamente;

• O leite deve começar a sair, primeiro em pequena quantidadee depois em maior quantidade;

• Rode os dedos para massajar todos os locais;

• Faça a expressão do leite até sentir a mama flácida (mole) (verFigura 9).

2) Bloqueio dos Ductos

No mamilo abrem-se cerca de 10 a 20 canais que drenam o leite.Pode acontecer que alguns destes canais fiquem obstruídos, pos-sivelmente por leite espesso. A mulher que amamenta pode sen-tir um nódulo (inchaço) doloroso numa parte da mama, e o localficar avermelhado. A mulher não tem febre e sente-se bem.

Esta situação tem como causas prováveis o uso de roupas aper-tadas (soutien), uma pancada na mama, ou porque a criança nãosuga daquela parte da mama.

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Manual de Aleitamento Materno

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Figura 9 - Extracção manual

Para tratar o ducto bloqueado

• Para resolver esta situação, a mãe deve amamentar em dife-rentes posições de modo a esvaziar todas as partes da mama(por exemplo, colocando o corpo do bebé debaixo do braço).

• Pode ainda fazer uma leve pressão, com os dedos, no sentidodo mamilo para ajudar a esvaziar aquela parte da mama.

• A mãe deve usar roupas largas e um soutien que apoie, masnão comprima.

3) Mastite

Se o ducto (canal) bloqueado não drenar o leite, ou no caso de in-gurgitamento mamário grave, o tecido mamário pode infectar.

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Manual de Aleitamento Materno

Adaptado da OMS/UNICEF

a.

b.

c.

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Neste caso, parte da mama fica avermelhada, quente, com tume-facção (inchada) e dolorosa. A mulher tem febre, normalmenteelevada, e sente grande mal-estar – estamos em presença de mas-tite, pelo que deve consultar o seu médico.

Para tratar a mastite

O médico assistente indicará quais os medicamentos que a mãedeve tomar.

Entretanto, é fundamental que:

• A mãe repouse;

• Retire o leite manualmente, ou com bomba;

• Possa continuar a amamentar do lado não afectado.

A situação melhora, habitualmente em um ou dois dias.

4) Mamilos dolorosos e/ou com fissuras (Gretados)

A causa mais comum de dor nos mamilos é umamá adaptação dobebé à mama materna (pega incorrecta).

Por vezes a pele do mamilo parece completamente normal, outrasvezes nota-se uma fissura na extremidade ou na base do mamilo.

A amamentação é dolorosa, podendo levar a mãe a amamentardurante menos tempo e/ou com menor frequência. A criança quesuga só o mamilo não consegue retirar leite suficiente, ficandofrustrada. O leite não é retirado com eficácia, o que poderá levarà diminuição da produção de leite.

Para prevenir dor/fissuras nos mamilos

• Coloque a criança numa posição correcta (cabeça em linharecta com o corpo, face de frente para o mamilo);

• Verifique sinais de boa pega do bebé (ver Figura 8);

• Não deve lavar os mamilos com sabão, devem ser lavadosunicamente uma vez ao dia;

• Não deve interromper a mamada, o bebé deve deixar a mamaespontaneamente;

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Manual de Aleitamento Materno

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• Se a mãe tiver de interromper, deve colocar um dedo, suave-mente, na boca do bebé de modo a interromper a sucção.

Mamilos com fissuras (gretas)

Muitas vezes, a criança continua a mamar emmá posição durantealguns dias, o que pode causar lesão do mamilo. O mamilo podeficar com fissuras, o que pode favorecer a entrada de «micróbios»e causar infecção – mastite.

Para tratar os mamilos dolorosos e/ou com fissuras

Na maior parte das vezes, a dor desaparece logo que a pega dobebé é corrigida.

• Pode iniciar a amamentação pelo mamilo não doloroso;

• Deve aplicar uma gota de leite no mamilo e aréola, após obanho e após cada mamada – isto facilita a cicatrização;

• A mãe deve expor os mamilos ao ar e ao sol, sempre que pos-sível, no intervalo das mamadas.

Se a dor é tão intensa que mesmo melhorando a pega do bebénão desaparece, a mãe pode retirar o leite e dar ao bebé com copoou colher, até que o mamilo melhore ou cicatrize.

Mamilos planos e invertidos

Algumas mães pensam que os seus mamilos são muito peque-nos para amamentar, mas o tamanho dos mamilos em «repouso»não é importante, dado que omamilo é só 1/3 da porção da mamaque o bebé deve introduzir na boca para sugar plenamente.

Omamilo fica mais saliente nas últimas semanas de gravidez e/oulogo após o parto, pelo que não é necessário fazer qualquer ma-nobra ou usar qualquer método durante a gravidez.

Para além deste aspecto, a mãe pode tentar rodar o mamilo entreos dedos de modo a ficar mais saliente.

A utilização de moldes de mamilos durante a gravidez é desacon-selhada, dado que não é evidente que ajudem a melhorar o for-mato do mamilo e podem lesá-lo.

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Manual de Aleitamento Materno

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O que é importante é que a mãe coloque o bebé ao peito logo apóso nascimento (durante a primeira hora); evite o uso de tetinas e dechupetas, para evitar que o bebé tenhamaior dificuldade em pegar.

Pode deixar o bebé pegar do modo que ele quer, ter contacto pelea pele com o bebé e tentar em várias posições.

Se a mama está muito cheia, o mamilo fica menos saliente, peloque é favorável retirar uma porção de leite antes de colocar o bebéao peito.

A mãe pode ainda tentar espremer um pouco de leite para a bocado bebé; normalmente, após provar o leite, ele fica mais motivadopara mamar.

Pode também tentar que o mamilo fique mais saliente, utilizandouma bomba ou uma seringa de 20 ml (ver Figura 10), várias vezesao dia durante 30-60 segundos, e sempre antes de ir amamentar.

Se a mãe continua com dificuldades, após tentar estas técnicas,pode pedir ajuda a um profissional de saúde ou a alguém com ex-periência em amamentação.

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Manual de Aleitamento Materno

Figura 10 - Extracção do leite

Corte uma seringa de 10 ou 20 ml

Coloque o êmbolo ao contrário

Puxe suavemente o êmbolo paraque o mamilo fique mais saliente

Adaptado da OMS/UNICEF

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Dificuldades Tardias

1) Pouco Leite/Choro do Bebé

Algumas mães pensam que o seu leite é insuficiente porque:

• O bebé chora mais do que o habitual;

• Quer sugar mais frequentemente;

• Demora muito a mamar;

• Adormece a mamar.

Muitas vezes, as mães têm bastante leite, mas falta confiança deque o seu leite é suficiente. Todas as mulheres possuem um nú-mero semelhante de células produtoras de leite, independente-mente do tamanho das mamas.

Por vezes as mães tentam amamentar a criança em horário bemdeterminado (rígido); deixam a criança esperar muito tempo paramamar; trocam demama, quando o bebé não esvaziou totalmentea primeira (a criança não ingere quantidade suficiente da gorduraque está no final da mamada e fica insatisfeito).

O que fazer?

• A mãe deve amamentar sempre que o bebé tenha fome (emhorário livre);

• O bebé deve esvaziar uma mama até ao fim (até que ele pareespontaneamente), só depois a mãe deve oferecer a outra; namamada seguinte deve alternar;

• Acordar o bebé e não o deixar muito agasalhado, dado queisso favorece o adormecimento.

Se quer aumentar a produção de leite:

• A mãe pode amamentar commais frequência durante algunsdias;

• Amamentar também de noite (a libertação de prolactina é su-perior durante a noite);

• Retirar o leite, sempre que não esteja com o bebé.

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Manual de Aleitamento Materno

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Se a criança está a aumentar de peso, está decerto a alimentar--se em quantidade suficiente.

2) Voltar ao Trabalho

Voltar a trabalhar é, na maior parte das vezes, motivo de algumaansiedade e preocupação. No entanto, a legislação apoia o aleita-mento materno, mas as situações variam de mãe para mãe:

• O emprego da mãe pode ser próximo do domicílio;

• Talvez seja possível levar a criança para uma ama ou crecheperto ou no local de trabalho;

• Alguém poderá levar a criança para mamar enquanto a mãetrabalha;

• Se estas hipóteses não forem viáveis, a mãe pode retirar oleite antes de sair de casa e deixá-lo para ser dado ao bebé;

• No local de trabalho, deve retirar com a frequência com queo bebé mamaria;

• Amamente sempre que estiver em casa, à noite, logo pelamanhã, e sempre que possível.

Como deve conservar o leite

• Existem sacos de plástico esterilizados para o efeito.

• Pode ainda guardar em biberão esterilizado.

Validade

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Manual de Aleitamento Materno

CONSERVAÇÃO SEGURA DE LEITE MATERNO, EM CASA

LEITE RECÉM EXTRAÍDO (fresco) Tempo máx. LEITE CONGELADO Tempo máx.

À temperatura ambiente (se <25oC) 6/8 horas

LEITE REFRIGERADO Tempo máx.

Fundo 1.a prateleira do frigorífico(0/4oC)

8 dias

Fundo 1.a prateleira do frigorífico(4/10oC)

3/5 dias*

*Se temp. >5oC depois 3.o dia. consumir 6 h seguintes

No congelador (dentro do frigorífico) 2 semanas

No congelador (separadoTipoCombi) 3/6 meses

Na arca frigorífica( -19oC ou + baixo) +6 meses

DESCONGELAÇÃO DO LEITE Tempo máx.

Descongelado dentro do frigorífico 12/24 horas

Descongelado fora do frigorífico Imediato

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Manual de Aleitamento Materno

Nota Final

Esperamos que este Manual lhe tenha sido útil.

Para qualquer esclarecimento complementarque julgue oportuno, poderá contactar:

Comissão Nacional Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés

Av. António Augusto de Aguiar, 21 – 3.o Esq. – 1069-115 LisboaTel.: 213 577 500 · E-mail: [email protected]

Em caso de dúvidas ou dificuldade contacteo seu Centro de Saúde.

Existem ainda linhas telefónicasde Apoio ao Aleitamento Materno:

Mama Mater – Associação de Aleitamento Materno de Portugal

Telefone 214 532 019 · www.mamamater.pt

SOS Amamentação

Telefone 213 880 915 · www.sosamamentacao.org

Mais informações:

www.amamentar.net

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TítuloManual de Aleitamento Materno

Edição revista 2012

Edição

Comité Português para a UNICEFComissão Nacional Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés

Autores

Leonor LevyHelena Bértolo

Revisão Técnica e Científica desta edição

Purificação AraújoAntónio LucasTeresa Félix

Pre-Impressão

Heragráfica

Impressão

Jorge Fernandes, Lda.

Tiragem

100 000 exemplares

Depósito Legal

344586/12

ISBN

978-972-96436-1-3

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