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Iniciando-se no universo da manutenção e customização em harmônicas "O fato de se consertar uma gaita, não torna quem o faz num luthier ou customizador. Da mesma forma que alguém que sopre uma gaita não se torna gaitista. O gaitista, o luthier e o customizador se dedicam a isso por profissão. Se alguém conserta a própria gaita apenas ou a de um amigo, mas não se especializa, ele não é um luthier ou customizador". (Junior Blues) Pode ser vantajoso consertar suas gaitas sozinho com conhecimentos básicos de afinação e troca de palhetas, no entanto, é bom entender que saber o que se deve fazernão é a mesma coisa de “saber fazer o que deve ser feito”. Isso é o que diferencia alguém que assistiu 3 ou 4 workshops e comprou um método de manutenção do Little Will ou Ulysses Cazallas, de um especialista que possui anos de prática. É preciso ter técnica e ferramentas adequadas para realizar reparos na harmônica. Portanto pense duas vezes antes de abrir sua gaita. Disponha primeiro de conhecimentos básicos de montagem e manutenção de seu instrumento. 1 - Placa de cobertura superior; 2 - Parafusos internos; 3 - Placa de cobertura inferior; 4 - Placa de vozes inferior; 5 - Palhetas (responsáveis pelas notas aspiradas); 6 - Placa de vozes inferior; 7 - Pente ou corpo; 8 - Palhetas (responsáveis pelas notas sopradas); 9 - Placa de vozes superior. Remoção de metal das palhetas Quando retiramos as placas de cobertura, visualisamos um combo, constituído de duas placas de vozes envolvendo um corpo ou pente). As palhetas responsáveis pelas notas aspiradas ficam à vista (na parte de baixo) e podem ser trabalhadas sem necessidade de desmontar toda a gaita. Para trabalhar a afinação nas notas aspiradas deve-se limar a palheta apoiando-a com uma lâmina ou espátula bem fina. Coloca-se o metal por baixo da palheta e suavemente lixa-se a mesma na ponta (aumentar freqência) ou na base (diminuir frequência). Deve-se evitar limar na horizontal, ou seja, atravessando a palheta lateralmente. O ideal é lixar na diagonal ou então na vertical, com muito cuidado para não desalinhar (descentralizar) a palheta. Para aumentar a frequência do som (torna-lo mais agudo) deve-se limar (raspar) próximo da extremidade livre da palheta, deixando sua ponta mais leve. Isso faz com que ela vibre mais rápido, aumentando o tom. Para baixar a frequência do som (torna-lo mais grave) lima-se próximo da base da palheta, tornando sua extremidade mais pesada em relação à base, o que a faz vibrar mais lentamente. Isso diminui o tom. (OBS) Lembre-se de não fixar o lixamento em apenas um local na base . Isso

Como Afinar Gaitas

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Iniciando-se no universo da manutenção e customização em harmônicas

"O fato de se consertar uma gaita, não torna quem o faz num luthier ou customizador. Da mesma forma que alguém que sopre uma gaita não se torna gaitista. O gaitista, o luthier e o customizador se dedicam a isso por profissão. Se alguém conserta a própria gaita apenas ou a de um amigo, mas não se especializa, ele não é um luthier ou customizador". (Junior Blues)

Pode ser vantajoso consertar suas gaitas sozinho com conhecimentos básicos de afinação e troca de palhetas, no entanto, é bom entender que “saber o que se deve fazer” não é a mesma coisa de “saber fazer o que deve ser feito”. Isso é o que diferencia alguém que assistiu 3 ou 4 workshops  e comprou um método de manutenção do Little Will ou Ulysses Cazallas, de um especialista que possui anos de prática. É preciso ter técnica e ferramentas adequadas para realizar reparos na harmônica. Portanto pense duas vezes antes de abrir sua gaita. Disponha primeiro de conhecimentos básicos de montagem e manutenção de seu instrumento.

1 - Placa de cobertura superior;  2 - Parafusos internos;  3 - Placa de cobertura inferior;  4 - Placa de vozes inferior;5 - Palhetas (responsáveis pelas notas aspiradas);  6 - Placa de vozes inferior;  7 - Pente ou corpo;8 - Palhetas (responsáveis pelas notas sopradas);  9 - Placa de vozes superior.

Remoção de metal das palhetas

Quando retiramos as placas de cobertura, visualisamos um combo, constituído de duas placas de vozes envolvendo um corpo ou pente). As palhetas responsáveis pelas notas aspiradas ficam à vista (na parte de baixo) e podem ser trabalhadas sem necessidade de desmontar toda a gaita. Para trabalhar a afinação nas notas aspiradas deve-se limar a palheta apoiando-a com uma lâmina ou espátula bem fina. Coloca-se o metal por baixo da palheta e suavemente lixa-se a mesma na ponta (aumentar freqência) ou na base (diminuir frequência). Deve-se evitar limar na horizontal, ou seja, atravessando a palheta lateralmente. O ideal é lixar na diagonal ou então na vertical, com muito cuidado para não desalinhar (descentralizar) a palheta.

Para aumentar a frequência do som (torna-lo mais agudo) deve-se limar (raspar) próximo da extremidade livre da palheta, deixando sua ponta mais leve. Isso faz com que ela vibre mais rápido, aumentando o tom.

Para baixar a frequência do som (torna-lo mais grave) lima-se próximo da base da palheta, tornando sua extremidade mais pesada em relação à base, o que a faz vibrar mais lentamente. Isso diminui o tom. (OBS) Lembre-se de não fixar o lixamento em apenas um local na base . Isso pode ocasionar certo desgaste do material em apenas um determinado ponto.

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Para afinar as palhetas referentes às notas sopradas (aquelas que não ficam à vista ao retirar as tampas de cobertura) pode-se aplicar uma técnica interessante onde não há necessidade de desmontar a combo. Com muito cuidado coloca-se uma chave fina dentro do orifício de forma a empurrar a ponta da palheta soprada para fora  em direção ao lado oposto ao qual ela foi fixada. A palheta ficará à vista e poderá ser trabalhada com a lima, conforme mostra a imagem abaixo:

Técnica de afinação por oitavas

Só há duas formas de saber se seu instrumento desafinou: Percebendo de ouvido ou checando a afinação com um afinador eletrônico, o que é o mais indicado. Na ausência de um afinador eletrônico é comum utilizar a “técnica de oitavas” para afinar uma harmônica. Isso consiste em tocar quatro orifícios soprados (simultaneamente) e tampar com a língua os dois orifícios do meio (como mostra a figura abaixo). Se as notas que permanecem soando estiverem com uma sonoridade uníssona, ou seja, sem oscilações de som (batimentos ou ondas), conclui-se que o instrumento está afinado. O mesmo serve para os orifícios (1,4) – (2,5) – (3,6) – (4,7) – (5,8) – (6,9) – (7,10) soprados e (1,4) – (3,7) – (4,8) – (5,9) – (6,10) aspirados. Contudo existem gaitistas que deixam algumas oitavas desafinadas propositadamente e utilizam a oscilação provocada por essa desafinação como efeito sonoro. É o caso de William Clarke, Robson Fernandes, dentre outros.

Utilização de afinadores eletrônicos

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Há grande diferença entre “frequência das notas” e “exatidão do intervalo entre as oitavas”. Mesmo com as oitavas uníssonas, sem batimentos nem oscilações, uma gaita ainda pode soar desafinada quando tocada juntamente com outros instrumentos. Isso por que, historicamente, o padrão universal de frequência utilizado na maioria dos instrumentos é tido com o A (nota lá) = 440 Hz. A afinação por oitavas, se realizada por ouvido, indica somente que as faixas das frequências dessas oitavas estão em sintonia entre si, o que não significa dizer que estão afinadas dentro de um padrão, que só um afinador cromático poderá oferecer. Uma boa opção é o Korg cromático. O produto apresenta a nota que está sendo executada, sua frequência e o grau de desvio da frequência padrão, que será escolhido em "Calib". Nem todos os afinadores possuem esse recurso.

Padrões de afinação: "Justa" ou "Temperada"

É importante, para o desempenho do gaitista, que o mesmo busque descobrir seu próprio padrão de afinação, ou seja, o padrão ideal para seu tipo de sopro. Com o auxilio de um profissional customizador pode-se conseguir isso em muito menos tempo, o que significa avantajar o seu som. Há quem prefira afinar seu instrumento tomando como referência o A = 441Hz, 442Hz e, às vezes, até 445Hz, por que ao se tocar gaita  é comum ocorrer (principalmente com iniciantes) uma bemolização não intencionada da nota. Desta forma, afinar seu instrumento em frequências mais altas faz a nota resultante combinar bem com os outros instrumentos que estão no padrão universal de 440hz. Algumas pessoas afirmam que a gaita afinada em A = 445hz fica muito “brilhante”, com som estridente e pode ocorrer da banda ter de aumentar o volume em geral ou subir também a afinação. Afinação em A = 442hz seria o ideal para qualquer gaitista. Acontece que afinando-se cada nota exatamente de acordo com o mesmo padrão indicado no afinador, obtém-se uma afinação conhecida como "justa". Este tipo de afinação é comum em muitos modelos de gaita, como as Lee Oskar Major e a Hohner Golden Melody. Esta afinação é própria para se tocar notas individualizadas (melodias), de forma que os acordes soam ligeiramente desafinados. Gaitistas como Lee Oskar, Sugar Blue, Charlie McCoy utilizam esse padrão de afinação em suas harmônicas por tocarem de forma melodiosa. Para que os acordes soem melhor, muitos gaitistas usam a afinação "temperada". Este tipo de afinação consiste em modificar a frequência de certas notas para fazer alguns acordes soarem melhor, correndo o risco de algumas notas individuais soarem um pouco  desafinadas. Portanto existem diversos padrões de afinação e, o ideal, é que cada gaitista encontre o  padrão que melhor lhe satisfaça. Sempre que possível, utilize um afinador eletrônico para checar a “exatidão das frequências das notas de sua harmônica”e evite destoar dos demais instrumentos.

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A altura das palhetas

Ajustar o afastamento das palhetas é um requerimento básico para fazer a gaita tocar bem. Há diversos vídeos e sites na web ensinando como fazê-lo. O afastamento entre a palheta e a placa de vozes influencia bastante na forma como a gaita responde ao sopro. Quando a palheta está afastada, ela requer mais pressão para vibrar e permite que o gaitista toque mais agressivamente sem que isso prejudique de alguma forma o funcionamento da harmônica. Porém, se este afastamento for excessivo, pode ocorrer vazamentos de ar, o que contribui em diversos fatores negativos como perda de fôlego, dificuldade de tocar, aumento da pressão na palheta (o gaitista é obrigado a tocar com mais força, perdendo dinâmica e aumentando os riscos de se marcar a palheta).

Já quem toca suavemente, um afastamento menor entre a palheta e a placa de vozes permite uma resposta mais rápida do instrumento. No entanto, se esse afastamento for pequeno demais poderá acontecer da palheta não vibrar (travamentos). Em resumo, a "gata custom" tem maior durabilidade e requer menor esforço da parte de quem toca, proporcionando-lhe um rendimento imcomparavelmente melhor. Isso estimula o gaitista e facilita bastante a execução de técnicas como bends e overs, por exemplo. Se uma gaita é customizada para o seu sopro, você não terá que exercer excesso de pressão sobre a palheta para conseguir executar a técnica de Bend, por exemplo. Isso faz com que a afinação dure mais, bem como a vida útil da palheta. Ela durará um período mais longo comparando-se com a gaita de fábrica.