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COMO SE PREPARAR PARA O CONCURSO DE DELEGADO Coordenação Eduardo Fontes | Henrique Hoffmann ‱ TEORIA RESUMIDA ‱ Caderno de QuestĂ”es ‱ Gabarito Kit em 3 volumes 2021

COMO SE PREPARAR CONCURSO DE DELEGADO

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COMO SE PREPARAR PARA O CONCURSO

DE DELEGADO

Coordenação

Eduardo Fontes | Henrique Hoffmann

‱ TEORIA RESUMIDA‱ Caderno de QuestĂ”es‱ Gabarito

Kit em 3 volumes

2021

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CARREIRA DE DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL

Antes de iniciarmos a nossa conversa acerca da metodologia de estudo, vamos abordar um pouco a sua futura carreira de Delegado de PolĂ­cia.

Primeiramente, lembre-se que a Polícia Civil é uma polícia investigativa (também chamada de Polícia Judiciåria, em razão de sua origem a partir do Poder Judiciårio), que exerce as funçÔes específicas de apuração de infraçÔes penais (investigação criminal), ou seja, tem a função de investigar delitos, ao contrårio das polícias ostensivas, que realizam a função de prevenção de crimes.

Veja a distinção entre essas polícias e os respectivos cargos policiais.

PolĂ­cias Ostensivas

Polícia Militar- praças (soldado a subtenente)

- oficiais (tenente a coronel)

PolĂ­cia RodoviĂĄria Federal policial rodoviĂĄrio federal

PolĂ­cia Penal policial penal

Guarda Municipal guarda municipal

PolĂ­cias

Investigativas

PolĂ­cia Civil

PolĂ­cia Federal

– investigador de polícia (agente de polícia)

– escrivão de polícia

– perito criminal

– delegado de polícia

Segundo a Lei Maior, a PolĂ­cia JudiciĂĄria (PolĂ­cia Federal e PolĂ­cia Civil) Ă© o ĂłrgĂŁo voca-cionado para realizar apuração de infraçÔes penais comuns (art. 144, §§ 1Âș e 4Âș)1, atribuição confirmada pela Lei 12.830/13 e por diversas outras normas. Considerando a evolução histĂłrica do sistema processual penal, entendeu por bem o legislador constituinte separar as funçÔes dentro da persecução penal, outorgando a investigação criminal a um ĂłrgĂŁo imparcial desvinculado da acusação e da defesa. A divisĂŁo de atribuiçÔes, portanto, nunca foi fruto de distribuição aleatĂłria de poderes, mas de especialização de atividades e con-tenção do arbĂ­trio estatal2.

O Delegado de PolĂ­cia, de seu turno, Ă© o chefe dessa polĂ­cia investigativa e tem a função de elucidar infraçÔes penais, possibilitando que os autores sejam devidamente res-ponsabilizados. Em regra, toda essa investigação fica documentada no bojo do inquĂ©rito policial, no termo circunstanciado de ocorrĂȘncia ou no boletim de ocorrĂȘncia circunstanciada. No final da investigação, o Delegado, realizando uma anĂĄlise jurĂ­dica de todo o conjunto de elementos coligidos, emitirĂĄ o seu entendimento, indiciando ou nĂŁo o(s) investigado(s).

Além disso, na condução da investigação, o Delegado tem o poder de conceder liberdade provisória com fiança, realizar busca pessoal, apreender bens, requisitar perícias, nomear peritos e escrivães, expedir mandados de intimação, de condução coercitiva, deter-minar a ação controlada, ordenar a incineração de drogas, celebrar acordo de colaboração premiada e muitos outros.

O que muitos esquecem ou nem sabem é que, além da parte investigativa propriamente dita, o Delegado também atua de outras formas.

Realiza a gestão de pessoas, comandando policiais subordinados que compÔem a equipe, conciliando interesses divergentes e exercendo liderança e hierarquia para manter a motivação e a disciplina do efetivo policial.

1. Quanto aos crimes militares, que representam a esmagadora minoria de ilĂ­citos penais, cabe Ă  PolĂ­cia Militar ou Forças Armadas sua apuração (art. 144, § 4Âș da CF).

2. HOFFMANN, Henrique. Investigação exclusivamente criminal é atribuição da polícia judiciåria. Revista Consultor Jurídico, nov. 2018. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2018-nov-27/academia- -policia-investigacao-exclusivamente-criminal-atribuicao-policia-judiciaria>. Acesso em: 27 nov. 2018.

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Como se nĂŁo bastasse, faz a administração dos recursos pĂșblicos colocados Ă  sua disposição, prezando pelo bom funcionamento da delegacia de polĂ­cia.

A remuneração é variåvel e vai depender de cada Estado, que define por lei o subsídio pago aos Delegados de Polícia Civil.

Como se preparar para o Cocurso de Delegado | Teoria Resumida

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ORIENTAÇÕES DE USO DESSE MATERIAL

A prova objetiva é, indiscutivelmente, a etapa que mais elimina candidatos. A quantidade de questÔes costuma variar entre 80 e 150, a depender da banca organizadora do concurso.

Quanto Ă s disciplinas constantes nessa etapa, a tendĂȘncia Ă© que apenas disciplinas jurĂ­dicas sejam cobradas, como Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Penal, Direito Processual Penal, Legislação Penal Especial, Direitos Humanos, Criminologia, Medi-cina Legal, Direito Civil, Direito Ambiental, Direito Empresarial, Direito TributĂĄrio, Direito Eleitoral e Direito do Consumidor. No entanto, alguns editais costumam explorar tambĂ©m as disciplinas de LĂ­ngua Portuguesa, InformĂĄtica e RaciocĂ­nio LĂłgico.

Em relação a essa prova objetiva, determinados editais possuem a indicação do percen-tual de acertos para que o candidato avance para a prĂłxima fase. No entanto, a maioria prevĂȘ ainda o que se costuma chamar de nota de corte, que nada mais Ă© do que conseguir ficar classificado entre um nĂșmero de candidatos preestabelecido. A tĂ­tulo de exemplo, podemos imaginar um edital aberto para o provimento de 200 cargos vagos de Delegado de PolĂ­cia Civil e que institui o mĂ­nimo de 50% de acertos da pontuação total da prova objetiva para que se participe da etapa subsequente, limitado a quatro vezes o nĂșmero de vagas previsto no documento de abertura. Aqui, nĂŁo bastarĂĄ que vocĂȘ alcance 50% de acertos na prova. VocĂȘ ainda terĂĄ que ficar entre os 800 primeiros colocados para passar Ă  etapa subsequente.

Na prova objetiva existem basicamente dois sistemas: aquele em que o edital prevĂȘ a atribuição de 1 ponto para cada resposta correta e aquele em que o edital prevĂȘ pontos diferentes em razĂŁo da disciplina. Em bancas como o CEBRASPE tambĂ©m Ă© possĂ­vel que cada resposta incorreta anule uma certa (funcionando como ponto negativo).

Quanto ao nĂșmero de alternativas, no geral sĂŁo 4 ou 5, sendo que apenas uma Ă© correta. TambĂ©m Ă© possĂ­vel que o edital estabeleça a modalidade certo x errado.

Ao responder este tipo de questĂŁo (objetiva), primeiramente devemos nos ater a um detalhe extremamente importante, qual seja, se o examinador estĂĄ pedindo para que se assinale a resposta correta ou incorreta. Isso porque, muitas das vezes o candidato sequer lĂȘ o enunciado atĂ© o final e, pressionado pelo tempo restante de aplicação de prova, marca a alternativa correta, sem atentar que a banca solicitou a marcação da incorreta. Esse erro do candidato, normalmente fruto de desatenção e nervosismo, pode acarretar a eliminação do certame ou numa queda brusca na classificação final, sobretudo se a questĂŁo errada anular tambĂ©m uma correta.

Outra dica relevante: Ă© preciso desconfiar das alternativas que contenham expressĂ”es que nĂŁo comportam qualquer ressalva, tais como sempre, jamais, Ășnica, impossĂ­vel, somente, nunca, pois a maioria das regras no Direito admite ao menos uma exceção.

TambĂ©m Ă© importante controlar o tempo, que Ă© um vilĂŁo para muitos. Aqui, sugerimos que vocĂȘ, futuro Delegado, siga a seguinte estratĂ©gia: subtraia 40 minutos do tempo total de prova e divida o restante pelo nĂșmero de questĂ”es. Daqueles, Ă© interessante que vocĂȘ utilize 10 minutos no meio da prova para aliviar a tensĂŁo, tomar uma ĂĄgua, comer um chocolate e voltar com foco total e os outros 30 minutos para passar as respostas ao cartĂŁo definitivo ao final da prova. O tempo restante deverĂĄ ser gerenciado por vocĂȘ para responder a todas as questĂ”es, com base na mĂ©dia feita.

Quando estiver resolvendo questÔes em casa, não deixe de cronometrar seu tempo. Veja se a sua média de minutos gastos para responder estå condizente com o fornecido pela Banca, e tente se adequar para não deixar de fazer a totalidade da prova no dia de sua aplicação.

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Quanto ao estudo para a prova objetiva, Ă© imprescindĂ­vel que se priorize a anĂĄlise da legislação, pois a literalidade dos dispositivos legais Ă© sempre muito explorada nessa primeira etapa. No entanto, as Bancas costumam adotar vieses diferentes. Por isso, Ă© importante conhecer a organizadora do seu concurso. O CEBRASPE, por exemplo, costuma explorar mais jurisprudĂȘncia, embora nĂŁo deixe de cobrar tambĂ©m a “lei seca”. JĂĄ a VUNESP costuma questionar a literalidade de dispositivos legais e sĂșmulas. Mas uma coisa Ă© certa: independente da Banca, o candidato precisa conhecer a letra da lei3.

Portanto, foque o seu estudo de acordo com o estilo da Banca e sempre complemente o seu estudo, seja com legislação, jurisprudĂȘncia ou doutrina, os 3 pilares para um estudo efetivo.

Em que pese esta obra ter o foco na primeira fase nos concursos pĂșblicos para o provi-mento do cargo de Delegado de PolĂ­cia, que constitui o grande filtro dos candidatos (a fase que mais elimina), vale a pena tecermos breves consideraçÔes acerca das fases subsequentes que o candidato pode enfrentar.

ApĂłs a prova objetiva, costumamos verificar as fases subjetiva e oral no que toca Ă s etapas relacionadas ao conhecimento jurĂ­dico do candidato.

Na fase subjetiva, diferentemente, as questĂ”es sĂŁo discursivas, ou seja, nĂŁo sĂŁo mais de mĂșltipla escolha: Ă© necessĂĄrio que se disserte sobre o tema, demonstrando um conhe-cimento jurĂ­dico mais aprofundado.

Das diversas maneiras que podem ser formuladas as perguntas de segunda fase, temos como mais comuns as que exigem conceitos jurídicos ou então as que trazem uma situação fåtica, como se o candidato estivesse atuando no caso concreto.

Nessa etapa, sugerimos que o candidato de imediato jĂĄ se posicione sobre o que estĂĄ sendo questionado indicando ao examinador que domina o tema, antes mesmo de fazer uma introdução sobre o assunto. Em seguida, Ă© indicado que se aprofunde na questĂŁo, des-trinchando o tema e demonstrando segurança no seu conhecimento jurĂ­dico. Sempre que houver divergĂȘncia doutrinĂĄria ou jurisprudencial, devem ser citadas as principais correntes e indicada a adotada de modo majoritĂĄrio.

Citar doutrina, lei e jurisprudĂȘncia Ă© o cenĂĄrio ideal, desde que seja possĂ­vel na hipĂłtese. SĂŁo as chamadas “trĂȘs irmĂŁs”. Se nĂŁo se recordar do artigo exato da lei, indique ao menos a Lei em que estĂĄ localizada, pois muitas vezes o edital nĂŁo permite consulta Ă  legislação nessa fase do certame.

Uma obra recomendada para essa etapa Ă© o nosso “Prova Dissertativa”, que integra a coleção carreiras policiais e que pode ser encontrado no site da Editora Juspodivm4.

Além das questÔes, o seu edital pode prever a denominada peça pråtica. Trata-se de uma peça relacionada à atividade profissional do Delegado de Polícia, onde se exige do candidato uma postura frente a uma situação simulada. Aqui não hå outro caminho: o candidato deve treinar muito e se ater às peculiaridades de cada peça. Na imensa maioria dos editais onde são cobradas as peças profissionais, os temas mais cobrados envolvem as cautelares, como busca e apreensão, prisão temporåria ou preventiva, interceptação telefÎnica, dentre outras.

Por fim, temos a fase mais temida pelos candidatos. A prova oral.

A prova oral traz um grande nervosismo, seja pelo medo que muitos candidatos possuem de falar em pĂșblico, seja pela insegurança quanto ao domĂ­nio do tema que serĂĄ abordado. Isso Ă© absolutamente normal.

3 Recomendamos o estudo Caderno de Lei Seca, bem como o Vade Mecum Carreiras Policiais, os quais podem ser encontrados nas pĂĄginas https://www.editorajuspodivm.com.br/caderno-de-estudos-da-lei-seca-complementar-carreiras-policiais-2021 e https://www.editorajuspodivm.com.br/vade-mecum-carreiras-policiais-2021.

4 https://www.editorajuspodivm.com.br/carreiras-policiais-prova-dissertativa-2021.

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Uma constatação importante Ă© que, apesar da tensĂŁo que esta fase gera, ela Ă© uma das etapas que menos elimina os candidatos. AlĂ©m disso, lembre-se: se vocĂȘ chegou atĂ© aqui, passando pelas duas primeiras fases concorridĂ­ssimas, Ă© porque vocĂȘ estĂĄ muito bem preparado. A prova oral nĂŁo tem segredo.

Mais uma vez, a chave do sucesso Ă© o treino. Caso nĂŁo saiba uma resposta, diga “nĂŁo me recordo, ExcelĂȘncia”. Evite dizer “nĂŁo sei”, pois isso demonstra de alguma forma menosprezo pelo tema apresentado pelo examinador.

Se o assunto possuir divergĂȘncia doutrinĂĄria ou jurisprudencial, assim como indicamos no capĂ­tulo atinente Ă  prova subjetiva, apresente todas as correntes, concluindo pela adotada. NĂŁo indique o seu posicionamento, a menos que este seja questionado.

Como dica de estudos, mais uma vez, aconselhamos que o candidato comece pela anålise do edital. Após, foque os seus estudos em cada tópico. Atente-se aos conceitos e natureza jurídica dos institutos, que sempre são questionados, ainda que de forma indireta. Além disso, demonstrar uma base sólida diferencia o seu desempenho dos demais.

Os treinos em grupo com outros colegas, realizando arguiçÔes simuladas também são bem-vindos e ajudam na desenvoltura. Caso não seja possível, treine em casa em frente ao espelho, como se estivesse lecionando o tema para alguém. Filmar a si mesmo também é interessante para posteriores correçÔes.

Superada a breve anålise das etapas do concurso para Delegado de Polícia, passaremos a abordar o método indicado para o estudo de questÔes objetivas.

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MÉTODOS DE ESTUDO

Este é o milagre que todos querem: descobrir o melhor método de estudos que levarå à aprovação.

Infelizmente, futuro colega, nĂŁo existe mĂĄgica nem atalho. Cada indivĂ­duo tem a sua particularidade e suas necessidades, adaptando-se de forma diferente dos demais. O mĂ©todo perfeito Ă© aquele que funciona para vocĂȘ.

Existem candidatos que sĂł conseguem absorver a matĂ©ria elaborando resumos em caderno. Outros gostam de fichas de memorização. HĂĄ, tambĂ©m, aqueles que preferem grifar pontos importantes e outros quem optam por digitar os pontos-chave ou usar dos mĂ©todos mnemĂŽnicos. Se vocĂȘ estĂĄ começando agora, Ă© interessante que teste cada um deles e veja a qual se adapta melhor.

E por onde estudar? Eis a grande dĂșvida do aluno.

O estudo deve abranger doutrina, jurisprudĂȘncia e legislação (a famosa “trĂȘs irmĂŁs). A jurisprudĂȘncia costuma ser cobrada com maior ĂȘnfase nas provas subjetiva e oral, motivo pelo qual sugerimos que vocĂȘ, futuro Delegado, foque no estudo da legislação, exceto quando a banca examinadora for a CEBRASPE, que adora pedir jurisprudĂȘncia atualizada na primeira fase.

De inĂ­cio, cumpre ressaltar que apesar de existirem materiais bons no mercado, cuidado com os “PDF’s”. Muitos dos que circulam na internet estĂŁo defasados ou contĂȘm erros jurĂ­-dicos que podem levar vocĂȘ a uma compreensĂŁo equivocada do tema, o que te prejudicarĂĄ no momento da prova. AlĂ©m disso, sĂŁo extremamente resumidos e insuficientes para obter uma base sĂłlida das disciplinas.

Por outro lado, as doutrinas sĂŁo de suma importĂąncia. Caso possa, assegure-se de ter um bom suporte doutrinĂĄrio, nem que seja apenas das matĂ©rias principais. VocĂȘ tambĂ©m pode fazer um resumo das obras, mas, nesse caso, evite transcrever o texto. Escreva com as suas prĂłprias palavras apenas o essencial, o que ajudarĂĄ na memorização do assunto.

Adquirir doutrinas voltadas para concursos policiais tambĂ©m Ă© uma boa pedida. Geralmente eles sĂŁo de fĂĄcil leitura, possuem diversos mapas mentais e esquematizaçÔes, alĂ©m de trazerem a jurisprudĂȘncia recente e questĂ”es para treino1.

Os cursos on-line tambĂ©m sĂŁo muito interessantes e auxiliam tanto quem estĂĄ “come-çando do zero” como quem jĂĄ estĂĄ em uma fase mais avançada dos estudos. Nada como ter um professor explicando aquela matĂ©ria que vocĂȘ nunca conseguiu entender, nĂŁo Ă© mesmo? As aulas dos cursos preparatĂłrios tambĂ©m sĂŁo uma boa pedida para o dia em que vocĂȘ estĂĄ cansado de ler, por exemplo. Se vocĂȘ anotar os principais pontos explicados em aula, jĂĄ terĂĄ um bom resumo para posterior revisĂŁo.

Jå os estudos de legislação não são os mais queridos pelos candidatos. De fato, a lei-tura da lei pode ser maçante se não utilizada uma metodologia adequada. Lembre-se que o estudo da lei é de extrema importùncia, em especial para a prova objetiva e, por isso, a ideia de elaborarmos essa obra para buscar auxiliar milhares de estudantes a vencer essa primeira etapa. Desde jå, teceremos algumas dicas valiosas.

Primeiro, separe pequenos perĂ­odos diĂĄrios para leitura da lei. Isso mesmo: pequenos perĂ­odos. NĂŁo se alongue demais, pois o estudo pode ficar entediante e comprometer o seu rendimento. Em seguida, tenha em mĂŁos marca-texto ou lĂĄpis/caneta coloridos. Marque os principais pontos dos artigos, fazendo referĂȘncias quando preciso. Isso te ajudarĂĄ em uma posterior revisĂŁo. Mas veja: o grifo Ă© o destaque, o que merece atenção. Quem marca tudo, nĂŁo marca nada. Por isso, nĂŁo faz qualquer sentido grifar o Vade Mecum inteiro.

E como descobrir a palavra-chave ou os principais pontos daquele dispositivo legal?

1 Recomendamos nossas obras da Coleção Carreiras Policiais https://www.editorajuspodivm.com.br/compre-por-colecao/carreiras-policiais.

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Aqui estĂĄ a grande jogada. O aluno tem o hĂĄbito de começar estudando a lei para depois resolver as questĂ”es, quando deveria ser o inverso. É por meio da resolução das questĂ”es que serĂĄ possĂ­vel observar qual o dispositivo legal estĂĄ sendo cobrado, qual a pegadinha empregada pela banca em relação a determinado artigo, enfim, qual ou quais palavras precisam ser destacadas no vade mecum.

Muitas das vezes Ă© exatamente isso que a banca faz: colaciona um artigo ou um trecho de artigo de lei em uma das assertivas (no caso da prova objetiva), mas troca uma palavra ou um elemento importante. Com esse treino, vocĂȘ nĂŁo irĂĄ mais cair nessas “pegadinhas”, pois conhecerĂĄ muito bem os principais pontos da lei.

O Ășltimo pilar do conhecimento jurĂ­dico Ă© a jurisprudĂȘncia. O seu estudo Ă© essencial, principalmente se o seu concurso for realizado pelo CEBRASPE, que costumeiramente ques-tiona sobre o entendimento atual dos Tribunais.

A leitura dos informativos do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça em um primeiro momento Ă© interessante. No entanto, caĂ­mos no mesmo problema da leitura da legislação: pode ser entediante ou atĂ© mesmo confusa. Para isso, atualmente existem sites de anĂĄlise de jurisprudĂȘncia, onde ela aparece minuciosamente comentada. Muitas das vezes hĂĄ comparativos e exemplos, o que facilita a compreensĂŁo.

Atente-se Ă s atividades do STF e STJ e mantenha-se informado. Cuidado tambĂ©m com as mudanças de entendimento, que ocorrem a todo momento. Por fim, nĂŁo deixe de estudar as sĂșmulas desses Tribunais, pois sĂŁo exploradas frequentemente.

E, aqui, vale a mesma regra. Note quais as palavras chave ou quais pontos da sĂșmula ou da jurisprudĂȘncia foram cobradas nas questĂ”es e realize os grifos. Depois, nĂŁo se esqueça de revisar tudo o que foi destacado.

Esses sĂŁo os principais pontos para que vocĂȘ construa uma base sĂłlida. No entanto, Ă© necessĂĄrio treinar. Treino duro, jogo fĂĄcil.

É nesse momento que entra o livro que vocĂȘ acabou de adquirir: vamos te ajudar a realizar questĂ”es de provas anteriores como forma de memorização de conteĂșdo.

Esse mĂ©todo Ă© amplamente conhecido como estudo reverso, onde o aluno conhecerĂĄ a banca por meio do estudo de questĂ”es. Como jĂĄ indicamos nos capĂ­tulos anteriores, cada organizadora possui uma forma de avaliar o conhecimento do candidato: algumas tendem a questionar mais sobre lei seca; outras sobre jurisprudĂȘncia. Sabendo o que serĂĄ cobrado, vocĂȘ poderĂĄ se preparar melhor para enfrentar a batalha.

Para alĂ©m desse fator, Ă© imprescindĂ­vel levarmos em consideração que as questĂ”es costumam se repetir. Às vezes, elas aparecem de forma idĂȘntica em mais de uma prova. Portanto, uma vez respondida aquela pergunta, vocĂȘ jĂĄ saberĂĄ qual alternativa assinalar, ainda que ela esteja escrita de modo diverso.

O estadista Abraham Lincoln jĂĄ dizia que “Se eu tivesse 8 horas para cortar uma ĂĄrvore, passaria 6 horas afiando o meu machado”. Nossa proposta aqui Ă© justamente a de afiar o seu machado por meio do estudo de questĂ”es. Mas seja realista: nĂŁo vale espiar o gabarito antes de resolver a questĂŁo. Agindo dessa forma vocĂȘ estarĂĄ se enganando e o mĂ©todo nĂŁo funcionarĂĄ.

Aqui vocĂȘ encontrarĂĄ um cronograma de estudos baseado na incidĂȘncia das ques-tĂ”es nos editais anteriores de PolĂ­cia Civil, organizado por disciplina e por tema.

De um modo totalmente direcionado, vocĂȘ precisarĂĄ apenas da disposição e do foco, pois o resto a gente jĂĄ trouxe. Preparamos dois calendĂĄrios: um de quatro meses, ideal para aqueles que dispĂ”em de mais tempo de estudo, e outro de oito meses para os candidatos com perĂ­odo de estudo mais escasso. Ambos foram organizados nos mĂ­nimos detalhes para que vocĂȘ possa elevar a sua preparação a um outro nĂ­vel.

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SIMULADOS

Fazer simulados tambĂ©m deve estar previsto no seu mĂ©todo de estudos. E nĂŁo esta-mos falando de somente resolver uma bateria de questĂ”es. Uma coisa Ă© vocĂȘ responder 50 questĂ”es em um dia. Outra coisa Ă© vocĂȘ simular a prova.

Veja bem: estamos falando de simular a prova em todos os seus aspectos, a começar pelo ambiente físico.

Encontre um bom lugar, sem interferĂȘncias externas. Desligue o celular, computador e televisĂŁo. Se quiser ser bem realista, ligue um ventilador, pois nesse caso vocĂȘ estarĂĄ acres-centando um barulho que certamente estarĂĄ presente no dia da prova.

Separe o seu material e imprima um caderno de questÔes de um concurso passado. Se o edital previu a aplicação da prova objetiva e subjetiva no mesmo dia, imprima as duas.

Agora cronometre o tempo tambĂ©m de acordo com os termos do edital, pois isso farĂĄ com que vocĂȘ tenha ideia se estĂĄ resolvendo as questĂ”es muito rapidamente ou se estĂĄ muito devagar. Lembre-se de deixar os Ășltimos 30 minutos para passar o gabarito.

Repita o processo uma vez por semana e nĂŁo esqueça de anotar o que te deixou em dĂșvida ou errou no caderno de erros (que abordaremos a seguir).

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CHECK LIST DOS TEMAS QUE VOCÊ NÃO PODE IR PARA A PROVA SEM TER ESTUDADO

Apresentaremos agora um check list dos temas de alta incidĂȘncia nas provas de concurso para Delegado de PolĂ­cia Civil, ideal para serem revistos nas Ășltimas semanas de estudos.

As disciplinas mais importantes, que denominamos nĂșcleo duro das provas para Dele-gado, sĂŁo Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Penal, Direito Processual Penal e Legislação Penal Especial (esta muitas vezes inserida no edital dentro de Penal e Processual Penal). Isso porque sĂŁo matĂ©rias cobradas com maior profundidade e algumas vezes com maior nĂșmero de questĂ”es (ou pontuação com maior peso) na prova objetiva, e sĂŁo as disciplinas costumeiramente exigidas na prova dissertativa e na prova oral (etapas que nĂŁo incluem todas as matĂ©rias da prova objetiva). Por isso, o CAPP (Constitucional, Administrativo, Penal e Processual Penal – incluindo LEP) Ă© o diferencial para sua aprovação e merecerĂĄ sempre maior destaque. Quanto a essas matĂ©rias o nĂ­vel de exigĂȘncia Ă© maior, sendo preciso dominar nĂŁo apenas a legislação, mas igualmente a jurisprudĂȘncia recente dos Tribunais Superiores e a doutrina.

` DIREITO CONSTITUCIONAL

Direitos e garantias fundamentais

Organização do Estado

Controle de constitucionalidade

Poder Constituinte

PrincĂ­pios

Segurança pĂșblica

Ordem social

` DIREITO ADMINISTRATIVO

Ato administrativo

Agentes pĂșblicos

Licitação e contratos administrativos

Organização da administração pĂșblica

Responsabilidade civil do Estado

Organização administrativa

Poderes administrativos

Controle da administração pĂșblica

` DIREITO PENAL

PrincĂ­pios

Lei penal no tempo

Lei penal no espaço

Conflito de normas

Consumação e tentativa

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DesistĂȘncia voluntĂĄria, arrependimento eficaz e arrependimento posterior

Crime impossĂ­vel

Teorias da conduta e da culpabilidade

Concurso de pessoas

Concurso de crimes

Crimes contra a vida

Crimes contra o patrimĂŽnio

Crimes contra a dignidade sexual

Crimes contra a fĂ© pĂșblica

Crimes contra a Administração PĂșblica

` LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Crimes Hediondos (Lei 8.072/90)

Lei de Drogas (Lei 11.343/06)

Lei de Organização Criminosa (Lei 12.850/13)

Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03)

Lei de Interceptação TelefÎnica (Lei 9296/96)

Lei de PrisĂŁo TemporĂĄria (Lei 7.960/89)

Lei de Identificação Criminal (Lei 12.037/09)

Lei de Lavagem de Capitais (Lei 9.613/98)

Lei de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/19)

Lei de Execução Penal (Lei 7.210/84)

Lei de Tortura (Lei 9.455/97)

Lei de Racismo (Lei 7.716/89)

Lei do Juizado Especial Criminal (Lei 9.099/95) – parte criminal

Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) – parte infracional e criminal

Lei de Investigação Criminal (Lei 12.830/13)

Estatuto da OAB (Lei 8.906/94) – direitos do advogado

Marco Civil da Internet (Lei 12.965/14) – capítulos II e III

Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98)

Código de Trñnsito Brasileiro (Lei 9.503/97) – parte criminal

Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06)

Lei de ContravençÔes Penais (Decreto-Lei 3.688/41)

Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) – parte criminal

Criança e Adolescente Vítima e Testemunha (Lei 13.431/17)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Cris Orzil

1. FONOLOGIA E ORTOGRAFIA

1.1. INTRODUÇÃOFonologia Ă© a parte da gramĂĄtica que se encarrega do

estudo dos sons pro duzidos na lĂ­ngua, da maneira correta de pronunciar, de grafar e de acentuar as palavras.

1.1.1. CONCEITOS BÁSICOS DA FONOLOGIAFonema é o nome dado a cada unidade mínima sonora de

uma lĂ­ngua. (som)

Jå a letra consiste na representação gråfica de cada um desses sons. (escrita)

É importante destacar que nĂŁo necessariamente o nĂșmero de letras de uma palavra corresponderĂĄ ao nĂșmero de fonemas. É o que ocorre, por exemplo, com a palavra CHAVE, em que a sequĂȘncia CH, embora seja composta de duas letras, representa apenas um fonema.

1.1.2. OUTROS CONCEITOS FONOLÓGICOS‱ ENCONTRO CONSONANTAL: Ă© o encontro entre duas

ou mais consoantes pronunciadas na mesma palavra, podendo ocorrer na mesma sĂ­laba ou em sĂ­labas dife-rentes.

PRE-TO (perfeito) Ocorre na mesma sĂ­laba.

POS-TE (imperfeito) Ocorre em sĂ­labas diferentes.

Observação: Não se esqueça de que toda sílaba apresenta vogal. Sendo assim, um encontro consonantal não poderá ocorrer isoladamente em uma sílaba. Veja: BÍ – CE – PS (ER-RADO); BÍ – CEPS (CERTO)

‱ ENCONTRO VOCÁLICO: Ă© o encontro entre dois ou mais fonemas vocĂĄlicos pronunciados na mesma palavra, que pode ocorrer de trĂȘs maneiras diferentes.

a) Hiato: acontece quando essas vogais pronunciadas ficam em sĂ­labas distintas. Ex.: sa-Ăș-de, pa-Ă­s, vo-o, ru-im.

b) Ditongo: encontro entre dois fonemas vocĂĄlicos na mesma sĂ­laba de uma palavra. Ex.: lei-te, mais, po-lĂ­-cia, pĂĄs-coa.

O ditongo pode ser crescente ou decrescente, dependendo da ordem em que os fonemas vocálicos aparecem na palavra. Isso porque há uma relação hierárquica entre os sons que são representados por essas letras, ou seja, haverá uma classificação que dependerá da “força” do timbre com o qual essas vogais são pronunciadas.

Dessa forma, em um ditongo, sempre haverĂĄ uma vogal (pronunciada com timbre mais forte) e uma semivogal (pro-nunciada com timbre mais fraco).

Para saber qual Ă© a vogal e qual Ă© a semivogal em um ditongo, basta observar a escala seguinte.

a

o

e

u/i (O que aparecer primeiro serĂĄ a vogal)

ĂŒU ĂĄtono e pronunciado, ainda que sem a pre-sença do trema, extinto pelo novo Acordo Or-togrĂĄfico.

Deveremos, entĂŁo, analisar a ordem em que aparecem os fonemas vocĂĄlicos, para podermos classificar os ditongos. Observe:

‱ Semivogal + vogal = ditongo crescente.

‱ Vogal + semivogal = ditongo decrescente.

Vejamos, então, a classificação dos ditongos que aparecem nos exemplos dados anteriormente:

LEITE: vogal + semivogal = ditongo decrescente.

MAIS: vogal + semivogal = ditongo decrescente.

POLÍCIA: semivogal + vogal = ditongo crescente.

PÁSCOA: semivogal + vogal = ditongo crescente.

ObservaçÔes:

HĂĄ ditongos que podem ser percebidos apenas ao se pronun-ciar o vocĂĄbulo. SĂŁo chamados de DITONGOS NASAIS DECRES-CENTES.

AM com som de /ÃU /, em flexÔes verbais cantam, falam, brincam.

EM(s) com som de /ỄI(s)/ tambĂ©m, amĂ©m, arma-zĂ©m, parabĂ©ns. (O acordo ortogrĂĄfico registra ainda “Belenzada” e “vintenzinho”.

c) Tritongo: Ă© o encontro entre trĂȘs fonemas vocĂĄlicos pronunciados, que ocorre na mesma sĂ­laba. Segue uma estrutura fonĂ©tica fixa: semivogal + vogal + semivogal. Ex.: Pa-ra-guai, sa-guĂŁo, de-sĂĄ-guam.

‱ DÍGRAFO: como o próprio nome sugere, são duas grafias (letras) utilizadas para representar um som (fonema).

a) DĂ­grafos consonantaisEx.: SS (passo), RR (carro), CH (chover), NH (minha), LH

(molhado), SC (piscina), SÇ (cresça), XC (exceção), XS (exsudar), *QU (queijo), *GU (guindaste).

*SĂł haverĂĄ dĂ­grafo nessas sequĂȘncias quando o som do U nĂŁo for pronunciado.

b) DĂ­grafos vocĂĄlicos: ocorrem quando hĂĄ pronĂșncia de apenas um fonema, considerando que o M e o N,

46 Como se preparar para o Cocurso de Delegado | Teoria Resumida

nesses casos, não exercem papéis de consoantes, mas de nasaladores da vogal anterior. Como só o som da vogal é pronunciado, recebem o nome de dígrafos vocålicos. Jå o M e o N, nesses casos, são chamados de letras diacríticas(aquelas que se unem para a formação de um dígrafo).

Ex.: AM (amparo), AN (antologia), EM (empresa), EN (pensar), IM (impedir), IN (lindo), OM (ombro), ON (longo), UM (umbigo), UN (suntuoso).

ObservaçÔes: Em “imaginação” nĂŁo hĂĄ dĂ­grafo, pois o m, seguido de vogal, exerce o papel de consoante.

DĂ­fono: ocorre quando o X Ă© pronunciado como /cs/, ou seja, uma letra representa dois fonemas. Tal conceito nĂŁo cos-tuma aparecer com frequĂȘncia em provas de concurso.

Ex.: tĂĄxi, tĂłxico.

1.2. DIVISÃO SILÁBICAa. Nos dígrafos SS, RR, SC, SÇ, XC, XS e nos encontros vocálicos

entre vogais idĂȘnticas, as letras ficam em sĂ­labas distintas. Ex.: vo-o, cres-ça, pis-ci-na, car-ro, pas-so, ex-su-dar, ex-ce--ção.

b. Os dĂ­grafos consonantais NH, CH, LH, QU, GU e os dĂ­grafos vocĂĄlicos permanecem na mesma sĂ­laba. Ex.: mi-nha, cho--ver, mo-lha-do, quei-jo, guin-das-te.

c. As consoantes isoladas em inícios de palavras formam sílaba com as letras posteriores (PNEU – MO – NI – A). Se estiverem no meio da palavra, formam sílaba com as letras anteriores (AD – VO – GA – DO).

d. Nos grupos prefixais ab-, ob-, sub-, sob-, trans-, ex-, bis-, dis-, cis-, super-, inter-, entre outros, o comportamento, em geral, serĂĄ o seguinte: se houver consoante Ă  frente, separa-se; se houver vogal, a Ășltima consoante do prefixo se unirĂĄ a esta vogal. Ex.: bis-ne-to, bi-sa-vĂł; sub-li-nhar, su-bal-ter-no.

Cuidado com: SU – BLI – MAR, SU – BLI – ME, A– BLA – TI – VO, A– BLU – ÇÃO, que não seguem tal regra, uma vez que os segmentos são apenas semelhantes a prefixos, mas, na verdade, fazem parte do radical.

Observação: Em palavras como “advogado”, “pneu” e “ritmo”, existe uma tendĂȘncia em se pronunciar uma vogal intercalando o encontro consonantal. No entanto, essa pronĂșncia nĂŁo Ă© recomen-dada pela grande maioria dos gramĂĄticos, os quais a consideram erro de ortoĂ©pia.

1.3. ORTOGRAFIAA ortografia estĂĄ relacionada Ă  escrita correta das palavras.

Pode ser originåria tanto da fonética quanto da etimologia.

EntĂŁo, iniciaremos este item com a apresentação do nosso alfabeto, composto de 26 letras e, adiante, veremos inĂșmeros casos de ortografia das palavras da lĂ­ngua portuguesa.

a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, w, x, y, zObservação: As letras k, w e y são utilizadas em abreviaturas

ou símbolos de termos científicos internacionais, na transcrição de palavras estrangeiras que não foram aportuguesadas, bem como em nomes próprios estrangeiros e seus derivados.

1.3.1. LETRA Xa) Usa-se X apĂłs ditongo. Ex.: caixa, frouxo, eixo.

b) Usa-se X apĂłs a sequĂȘncia EN. Ex.: enxaqueca, enxurrada, enxugar.

ComentĂĄrio: Esta regra torna-se invĂĄlida para “encher” e seus derivados e termos que começam com CH e recebem o prefixo EN-. Ex.: ENCHENTE (de encher), ENCHAPELAR (de chapĂ©u).

c) Usa-se X apĂłs o segmento ME. Ex.: mexerica, mexer, mexilhĂŁo.

Exceção: mecha

d) Usa-se X em palavras de origem africana, indĂ­gena e palavras inglesas que sofreram processo de aportugue-samento. Ex.: xavante, xique-xique, xampu.

1.3.2. LETRA Ga) Usa-se G nos substantivos terminados em –agem, -igem,

-ugem. Ex.: barragem, fuligem, ferrugem.

Exceção: pajem e lambujem

b) Usa-se G nos termos terminados em –ágio, Ă©gio, Ăłgio, Ășgio. Ex.: pedĂĄgio, colĂ©gio, relĂłgio, refĂșgio.

1.3.3. LETRA Ja) Usa-se J em verbos terminados em –jar. Ex.: viajar, des-

pejar, enferrujar.

b) Usa-se J em termos de origem tupi, africana, årabe. Ex.: jibóia, canjica, pajé.

c) Usa-se J em palavras derivadas de outras que contĂȘm J. Ex.: varejista (de varejo), lisonjear (de lisonja).

1.3.4. LETRA Sa) Usa-se S em palavras derivadas daquelas que contĂȘm “is”

no radical. Ex.: alisar (de liso), pesquisar (de pesquisa).

Obs.: Embora o termo batismo apresente “is”, ele não está no radical, pois faz parte do sufixo -ismo. Por isso, batizar deve ser grafado com a letra z.

b) Usa-se S nos sufixos –ÊS/-ESA (indicando nacionalidade, tĂ­tulo, origem); -ISA (ocupação feminina); -ENSE, -OSO, -OSA (adjetivos). Ex.: francĂȘs/francesa, poetisa, luziense, vaidoso, gostosa.

c) Usa-se S apĂłs ditongos. Ex.: nĂĄusea, lousa, causa.

d) Usa-se S nas conjugaçÔes do verbo pÎr (e em seus deri-vados) e do verbo querer. Ex.: quis, quiseste, pus, propus.

1.3.5. LETRA Za) Usa-se Z nas palavras derivadas das que jĂĄ contenham

Z. Ex. deslizar (de deslize), abalizado (de baliza).

b) Usa-se Z nos sufixos –EZ, -EZA (substantivos abstratos formados de adjetivos). Ex.: sensatez, maciez, beleza.

c) Usa-se Z no sufixo -IZAR (exceto quando o termo primi-tivo contiver “IS” no radical, como em LISO ALISAR; ANÁLISE ANALISAR). Ex.: civilizar, realizar.

1.3.6. RELAÇÃO ND (VERBO) E NS (SUBSTANTIVO)ASCENDER – ASCENSÃO

PRETENDER – PRETENSÃO

EXPANDIR – EXPANSÃO

1.3.7. RELAÇÃO CED (VERBO) E CESS (SUBSTANTIVO)CEDER – CESSÃO

EXCEDER – EXCESSO

CONCEDER – CONCESSÃO

1.3.8. RELAÇÃO TER (VERBO) E TENÇÃO (SUBSTANTIVO)DETER – DETENÇÃOCONTER – CONTENÇÃOATER – ATENÇÃO

LÍN

GU

A

POR

TUG

UES

A

47Como se preparar para o Cocurso de Delegado | Teoria Resumida

1.3.9. RELAÇÃO DE INFINITIVOS TERMINADOS EM – OAR E –UAR E A LETRA E

ABENÇOAR – ABENÇOECONTINUAR – CONTINUE

1.3.10. RELAÇÃO DE INFINITIVOS TERMINADOS EM –AIR; –OER E –UIR E A LETRA I

ATRAIR – ATRAICORROER – CORRÓIPOSSUIR – POSSUI

1.4. NÚMERO DE SÍLABASClassificação das palavras de acordo com o nĂșmero de

sĂ­labas.

1. Monossílaba: uma sílaba. Ex.: pais, céu, sol, mar.

2. Dissílaba: duas sílabas. Ex.: até, país, voo, Vasco.

3. TrissĂ­laba: trĂȘs sĂ­labas. Ex.: panela, camisa, ideia, Palmei-ras.

4. Polissílaba: quatro ou mais sílabas: Ex.: Atlético, polis-sílaba, preparatório.

1.5. TONICIDADE SILÁBICAÉ a classificação das palavras de acordo com a tonicidade

silĂĄbica (acento tĂŽnico, prosĂłdico ou de intensidade).

1.5.1. MONOSSÍLABAS ÁTONASVocábulos de uma sílaba, pronunciados com timbre fraco,

que não possuem autonomia fonética. Em geral, são palavras vazias de sentido, não conseguem transmitir efetivamente um significado, se vistas isoladamente. Ex.: de, com, a (preposiçÔes); mas, ou, e (conjunçÔes); a, o, um (artigos); te, se, lhe (pronomes oblíquos); que (pronome relativo).

1.5.2. MONOSSÍLABAS TÔNICASPalavras de uma sílaba, pronunciadas com timbre forte,

que possuem autonomia fonética, como: Ex.: på, pé, pó (subs-tantivos); mau (adjetivo); sim, mal (advérbios); dar, ver (verbos).

1.5.3. OXÍTONASSĂŁo vocĂĄbulos que possuem a Ășltima sĂ­laba tĂŽnica. Ex.:

xampu, café, Caxambu, caqui.

1.5.4. PAROXÍTONASSĂŁo palavras que apresentam a penĂșltima sĂ­laba tĂŽnica. Ex.:

Flamengo, esforço, estudos.

1.5.5. PROPAROXÍTONASSĂŁo vocĂĄbulos que possuem a antepenĂșltima sĂ­laba tĂŽnica.

Ex.: alcoĂłlico, proparoxĂ­tona.

ObservaçÔes: Existem algumas palavras cujo acento tĂŽnico Ă© incerto, portanto, apresentam duas possibilidades de pronĂșncia: acrĂłbata e acrobata; autĂłpsia e autopsia; necrĂłpsia e necropsia; biĂłpsia e biopsia; xĂ©rox e xerox; projĂ©til e projetil

1.6. ACENTUAÇÃO GRÁFICA

1.6.1. NOTAÇÕES LÉXICAS: ACENTOS GRÁFICOS OU DIACRÍTICOS E OUTROS SINAIS

a) (ÂŽ) Agudo: acento apontador de que a sĂ­laba Ă© tĂŽnica e de que o timbre da vogal Ă© aberto. (Exceto em palavras terminadas por –em e –ens, como refĂ©m e refĂ©ns.)

b) (̂ ) Circunflexo: este acento assinala que a sĂ­laba Ă© tĂŽnica e que a vogal tem o timbre fechado.

c) (`) Grave: acento indicador de crase. (Estudaremos em um capĂ­tulo especial sobre o assunto.)

d) (~) Til: indica vogal (o ou a) nasal.

e) ( ž ) Cedilha: atribui som de ss ao c : ç.

f) ( `) Apóstrofo: indica supressão de vogal: gota d’água.

g) ( – ) Hífen: une palavras, prefixos e auxilia na partição de palavras.

h) ( š ) Trema: era utilizado em nossa lĂ­ngua para marcar a pronĂșncia do u ĂĄtono nas sequĂȘncias gue, gui, que, qui. Com o novo Acordo OrtogrĂĄfico, o sinal foi extinto. PoderĂĄ ser empregado apenas em palavras derivadas de nomes estrangeiros, como mĂŒlleriano (de MĂŒller).

1.6.2. REGRAS DE ACENTUAÇÃO

REGRAS GERAIS

MONOSSÍLABAS TÔNICAS – são acentuadas quando ter-minadas em: A(S), E(S), O(S).

Ex.: chå, fé, dó.

OXÍTONAS – são acentuadas quando terminadas em: A(S), E(S), O(S), EM, ENS.

Ex.: Parå, café, cipó, refém, reféns.

PAROXÍTONAS – são acentuadas quando terminadas em: I, IS, US, UM, UNS, R, X, N, L, PS, Ã(S), ÃO(S), ON(S), ditongo (seguido ou não de S).

Ex.: tĂĄxi, tĂȘnis, bĂŽnus, ĂĄlbum, ĂĄlbuns, carĂĄter, ĂŽnix, glĂșten, amĂĄvel, bĂ­ceps, ĂłrfĂŁ(s), ĂłrfĂŁo(s), prĂłton(s), armĂĄrio(s).

Obs.: Paroxítonas terminadas em –oo deixaram de ser acen-tuadas com a reforma ortográfica. Ex.: voo, enjoo.

PROPAROXÍTONAS – são todas acentuadas graficamente.

Ex.: alcoĂłlico, proparoxĂ­tona.

REGRAS PARTICULARES

REGRA DOS “DITONGOS ABERTOS” – Eram acentuados graficamente os ditongos abertos OI, EU, EI, nas sílabas tînicas das palavras, estando seguidos ou não de S. Com o novo Acordo Ortográfico, as paroxítonas que apresentam os ditongos abertos EI e OI perdem o acento gráfico.

Exemplos:

Herói, anéis, céu, chapéu, sóis, pincéis. (Permanecem acen-tuadas graficamente.)

Heroico, ideia, assembleia, jiboia. (Perdem o acento grĂĄfico, com o novo Acordo).

REGRA DO “HIATO” – Serão acentuadas graficamente as letras i e u se:

– formarem hiato com a sílaba anterior;

– fizerem parte da sílaba tînica;

– aparecerem sozinhas ou seguidas de S;

– não antecederem uma sílaba iniciada por –nh, como “rainha”, “ventoinha”.

ExceçÔes: palavras que formam hiato com vogal repetida, como xiita e juuna.

Observação: O novo Acordo OrtogrĂĄfico extinguiu o acento grĂĄfico das letras i e u, quando antecedidas de ditongo decrescente, formando o que chamamos de “hiato falso”. Essa parte da regra que foi alterada Ă© aplicĂĄvel apenas Ă s paroxĂ­tonas.

Exemplos:

SaĂ­, saĂ­da, saĂșde, balaĂșstre (Permanecem acentuadas.)

DIREITO PROCESSUAL PENALRicardo Silvares

1. DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

EficĂĄcia da lei processual penal no espaço: o CPP adota o princĂ­pio da territorialidade (lex fori) no art. 1Âș. Assim, o processo penal Ă© regido pelo CPP ou pelas leis processuais extravagantes, com algumas ressalvas, que hoje, na prĂĄtica, sĂŁo as seguintes: (i) os tratados, as convençÔes e regras de direito internacional; (ii) os crimes de responsabilidade do Presidente da RepĂșblica e outras autoridades; (iii) processos de competĂȘncia da Justiça Militar;

EficĂĄcia da lei processual penal no tempo: a regra geral do art. 2Âș o CPP estabelece que a lei processual penal aplica-se desde logo, sem prejuĂ­zo da validade dos atos realizados sob a vigĂȘncia da lei anterior. É aplicação do sistema do isolamento dos atos processuais. Portanto, alterada a lei processual, a nova deve ser aplicada, sem prejuĂ­zo do que jĂĄ ocorreu no processo. Algumas observaçÔes importantes:

− parte da doutrina vem entendendo que, no que tange Ă s denominadas normas processuais materiais – cujo conteĂșdo nĂŁo encontra consenso na doutrina –, por possuĂ­rem conteĂșdo misto, ou seja, penal e processual, deve-se seguir a regra do art. 5Âș, LV, da CF, que proĂ­be a retroação de norma penal, salvo para beneficiar o rĂ©u. AlĂ©m disso, entende-se que ainda pode ser apli-cado, mesmo que por analogia, o disposto no art. 2Âș do Decreto-lei 3.931/1941 (Lei de Introdução ao CĂłdigo de Processo Penal), que prevĂȘ expressamente, quanto Ă  prisĂŁo preventiva e Ă  fiança, a aplicação da lei mais favorĂĄvel no caso de intertemporalidade.

− portanto, no caso de normas mistas (hĂ­bridas), ou seja, que misturem aspectos penais e processuais, o aspecto penal deve prevalecer, de modo que a nova lei nĂŁo se aplicarĂĄ se os dispositivos de natureza penal forem mais gravosos ao imputado. NĂŁo confundam normas mistas com as heterotĂłpicas, que sĂŁo normas que possuem uma Ășnica natureza (ex.: natureza processual), mas que se encontra em diploma legislativo com outro carĂĄter (ex.: natureza processual, mas inserida no CP).

São relevantes algumas observaçÔes sobre a interpretação das leis processuais penais e aplicação da analogia.

Interpretação da norma processual penal: o CPP permite expressamente a aplicação da interpretação extensiva. Trata-se de uma espĂ©cie de interpretação – ao lado das interpretaçÔes declaratĂłria e restritiva –, constante de uma classificação que leva em conta o resultado obtido com o processo interpretativo. A ideia Ă© a de que, por vezes, a lei diz menos do que queria, cabendo ao intĂ©rprete ampliar o alcance da norma, sendo citado o exemplo do Recurso em Sentido Estrito: o art. 581, I, do CPP prevĂȘ o manejo de tal recurso quando nĂŁo for recebida a denĂșncia ou queixa, regra que pode ser ampliada para abarcar tambĂ©m a hipĂłtese de rejeição do aditamento Ă  denĂșncia.

Analogia: o art. 3Âș do CPP permite a aplicação tambĂ©m da analogia ao processo penal. Para a aplicação desta Ășltima, deve haver lacuna, que pode ser integrada por meio de analogia. Para tanto, toma-se a regra existente para situaçÔes semelhantes, aplicando-se para aquela em que hĂĄ a lacuna: ubi eadem ratio,

ibi eadem jus (onde a mesma razĂŁo de fato, o mesmo direito). O CPC pode ser aplicado ao processo penal por analogia. O fundamento Ă© o prĂłprio art. 3Âș do CPP, nĂŁo o art. 15 do CPC (que nĂŁo menciona o processo penal).

Vejamos, também, alguns dos casos mais relevantes a res-peito de imunidade no processo penal:

– Imunidade diplomĂĄtica: Ă© regulada pela Convenção de Viena sobre RelaçÔes DiplomĂĄticas (v. Decreto Legis-lativo 103/1964). Havendo imunidade diplomĂĄtiva, nĂŁo pode o detentor dela ser processado no Brasil. A imuni-dade abarca os seguintes casos:

ÂĄ Chefes de Estado e membros de sua comitiva;

ÂĄ membros do corpo diplomĂĄtico e membros da famĂ­lia do diplomata;

ÂĄ funcionĂĄrios da unidade diplomĂĄtica, desde que cida-dĂŁos recrutados fora do Brasil, e seus familiares;

¥ funcionårios das organizaçÔes mundiais, que estejam a serviço delas;

− CĂŽnsul: a imunidade Ă© regulada pela Convenção de Viena sobre RelaçÔes Consulares (v. Decreto Legislativo 06/1967). SĂł haverĂĄ imunidade se prevista expressa-mente por tratado.

− Presidente da RepĂșblica: se Ă© verdade que o Presidente da RepĂșblica nĂŁo estĂĄ imune Ă  lei penal, Ă© certo que nĂŁo poderĂĄ ser processado, durante o exercĂ­cio do mandato, por atos estranhos Ă s suas funçÔes (art. 86, § 4Âș, CF). AlĂ©m disso, enquanto nĂŁo sobrevier sentença condenatĂłria, nas infraçÔes comuns, o Presidente da RepĂșblica nĂŁo estarĂĄ sujeito a prisĂŁo preventiva ou temporĂĄria. Ofere-cida a denĂșncia contra o Presidente por crime comum, caberĂĄ Ă  CĂąmara dos Deputados Federais admitir a acusação pelo voto de 2/3 de seus membros. Somente entĂŁo serĂĄ o Presidente julgado pelo STF. Recebida a denĂșncia pela Suprema Corte, o Presidente Ă© afastado de suas funçÔes, mas, caso o processo nĂŁo seja julgado em atĂ© 180 dias, ele retorna ao exercĂ­cio delas, sem prejuĂ­zo da continuidade do julgamento;

− Membros do Congresso Nacional: desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional nĂŁo poderĂŁo ser presos, salvo em flagrante de crime inafian-çåvel. Nesse caso, os autos serĂŁo remetidos dentro de 24 horas Ă  Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisĂŁo (art. 53, § 2Âș, CF). Recebida a denĂșncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido apĂłs a diplomação, o STF darĂĄ ciĂȘncia Ă  Casa respectiva, que, por iniciativa de partido polĂ­tico nela representado e pelo voto da maioria de seus mem-bros, poderĂĄ, atĂ© a decisĂŁo final, sustar o andamento da ação. O pedido de sustação serĂĄ apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogĂĄvel de 45 dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato. AlĂ©m disso, os Deputados e Senadores nĂŁo serĂŁo obrigados a testemunhar sobre informaçÔes recebidas ou prestadas

178 Como se preparar para o Cocurso de Delegado | Teoria Resumida

em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informaçÔes.

− Membro da Magistratura: a Lei OrgĂąnica da Magis-tratura Nacional (LC 35/1979) dispĂ”e ser prerrogativa do magistrado nĂŁo ser preso senĂŁo por ordem escrita do Tribunal ou do ĂłrgĂŁo especial competente para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançåvel, caso em que a autoridade farĂĄ imediata comunicação e apresentação do magistrado ao Presidente do Tribunal a que esteja vinculado (art. 33, II).

− Membro do MinistĂ©rio PĂșblico: este somente pode ser preso por ordem judicial escrita, salvo em flagrante de crime inafiançåvel, caso em que a autoridade farĂĄ, no prazo mĂĄximo de 24 horas, a comunicação e a apresen-tação do membro do MinistĂ©rio PĂșblico ao Procurador--Geral de Justiça.

− Delegado de PolĂ­cia: nĂŁo possui qualquer espĂ©cie de imunidade processual.

− Advogado: somente poderá ser preso em flagrante, quando o fato resultar do exercício da profissão, em caso de crime inafiançável, devendo o flagrante ser lavrado na presença de representante da OAB.

Estrutura acusatĂłria do processo penal: o legislador da Lei Anticrime (Lei 13.964/2019) inseriu no CPP o art. 3Âș-A, que declara expressamente a estrutura acusatĂłria do processo penal brasileiro. O artigo encontra-se com a eficĂĄcia suspensa, por conta de liminar do STF em ação direta de inconstitucio-nalidade. ConvĂ©m observar que o novo dispositivo costuma ser considerado parte do novo regramento a respeito do juiz das garantias, mas, na verdade, segundo entendemos, trata-se de disposição geral, autĂŽnoma e que gera efeitos por todo o processo penal brasileiro.

Um equĂ­voco que pode ser encontrado em apressados textos sobre o assunto Ă© o de que o art. 3Âș-A do CPP trouxe ao nosso processo penal o sistema acusatĂłrio. Isso estĂĄ errado.

O sistema acusatĂłrio, segundo a maioria da doutrina nacio-nal, jĂĄ se encontra estabelecido em nosso ordenamento desde a Constituição Federal de 1988, que, ao garantir a exclusivi-dade da ação penal pĂșblica ao MinistĂ©rio PĂșblico (art. 129, I), dentre outros aspectos, eliminou a possibilidade da mistura de papeis dentro do processo, como ocorria anteriormente, jĂĄ que o CPP possibilitava, em alguns casos, o inĂ­cio do processo por disposição do prĂłprio juiz, num procedimento conhecido como judicialiforme.

E por que isso foi importante?

Vamos lembrar algo que Ă© fundamental aqui: duas sĂŁo as caracterĂ­sticas mais importantes do sistema acusatĂłrio, quais sejam, a separação das funçÔes de acusar e de julgar, bem como a preocupação com a preservação da imparcialidade do ĂłrgĂŁo julgador. Ora, ao estabelecer que apenas o MinistĂ©rio PĂșblico terĂĄ a iniciativa na ação penal pĂșblica, a CF fechou as portas para o ĂłrgĂŁo julgador ganhar, por força de lei, o poder de iniciar, de ofĂ­cio, a ação penal.

Que fique claro: no sistema acusatĂłrio, o ĂłrgĂŁo acusador nĂŁo pode ser o mesmo que irĂĄ julgar o processo; o processo deve buscar estabelecer regras que garantam, na maior medida possĂ­vel, a imparcialidade do ĂłrgĂŁo julgador.

O art. 3Âș-A do CPP cumpre exatamente esse papel, apenas trazendo, em sua primeira parte, uma afirmação que confirma a estrutura acusatĂłria do processo penal. NĂŁo por outro motivo, diz que o processo penal terĂĄ estrutura acusatĂłria.

E o restante do novo artigo? Analisando-o sob o prisma do sistema acusatĂłrio, o novo dispositivo apenas traz duas conse-quĂȘncias naturais, em forma de duas vedaçÔes: (a) Ă  iniciativa do juiz na fase de investigação; (b) Ă  substituição, pelo juiz, da

atuação probatória do órgão de acusação. Eram pontos que a doutrina jå vinha apontando quando se debruçava sobre algumas regras do nosso processo penal e que agora ganham força de lei.

Tomando-se as novas regras apenas no seu aspecto abs-trato, podemos dizer que o juiz nĂŁo poderĂĄ ter qualquer ini-ciativa na etapa de investigação, somente atuando quando provocado pela autoridade policial ou pelo MinistĂ©rio PĂșblico. AlĂ©m disso, cabe a quem alega o ĂŽnus de provar sua alegação, como estabelece o caput do art. 156 do CPP, sobretudo ao MinistĂ©rio PĂșblico, como entende parte majoritĂĄria da doutrina, no que respeita ao ĂŽnus de demonstrar a imputação inscrita na denĂșncia, razĂŁo pela qual nĂŁo pode o juiz substituir tal atividade probatĂłria do ĂłrgĂŁo de acusação.

Quais os reflexos especĂ­ficos sobre algumas regras jĂĄ exis-tentes em nosso processo penal? Esse ponto serĂĄ o mais con-troverso quando o novo art. 3Âș-A ganhar eficĂĄcia. Mas, desde jĂĄ, podemos apontar alguns dispositivos que concentrarĂŁo a polĂȘmica.

Sobre a impossibilidade de ter o juiz iniciativa na fase de investigação, a nova regra afetarĂĄ todas as autorizaçÔes para que o ĂłrgĂŁo julgador, em tal fase, aja de ofĂ­cio. Podemos citar, como exemplo, a Lei 9.296/1996, que autoriza o juiz, de ofĂ­cio. a determinar a interceptação de comunicaçÔes telefĂŽnicas jĂĄ na fase de investigação: essa possibilidade implica em iniciativa do juiz na fase investigatĂłria, o que se chocaria com a nova regra do art. 3Âș-A do CPP. Como esta Ă© uma regra geral, aplicĂĄvel a todo o processo, acreditamos que a regra da Lei de Intercepta-çÔes poderĂĄ ser considerada tacitamente revogada. O mesmo destino deverĂĄ ter qualquer outra regra que possibilite ao juiz agir de ofĂ­cio na fase de investigação.

O art. 156 do CPP é outra parte do nosso ordenamento que gerarå muitas discussÔes (aliås, jå vinha provocando acaloradas discussÔes doutrinårias). Por que? Vejamos.

Primeiramente, cumpre lembrar que a atual redação do art. 156 foi introduzida pela Lei 11.690/2008, estabelecendo que:

(i) a prova da alegação incumbirå a quem a fizer;

(b) se faculta ao juiz, de ofĂ­cio:

(b.1) ordenar, antes de iniciada a ação penal, a pro-dução antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes;

(b.2) ordenar, durante a fase processual, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes.

O que pode ser considerado afetado pelo novo art. 3Âș-A do CPP? O item “b.1”, sem dĂșvida.

É que a determinação do juiz, sem provocação da autori-dade policial ou do MinistĂ©rio PĂșblico, ainda na fase de inves-tigação, para a realização da produção antecipada de provas implica, evidentemente, a vedada iniciativa do juiz durante a investigação. Essa parte do art. 156, portanto, pode ser consi-derada tacitamente revogada pelo art. 3Âș-A do CPP, se e quanto este ganhar eficĂĄcia.

PorĂ©m, mais polĂȘmica serĂĄ a discussĂŁo sobre o item “b.2”. NĂŁo temos dĂșvida de que boa parte da advocacia se posicio-narĂĄ no sentido de que o juiz nĂŁo poderĂĄ ter qualquer inicia-tiva durante a persecução penal, inclusive na fase processual. Segundo essa corrente, a iniciativa do juiz estaria em cho-que com o novo art. 3Âș-A, que trouxe um processo de partes, cabendo a estas indicar as provas que deverĂŁo ser produzidas.

No entanto, registramos aqui nossa discordĂąncia e obser-vamos que tal entendimento dificilmente serĂĄ acolhido pelo MinistĂ©rio PĂșblico, por exemplo.

O processo de partes, em que estas tĂȘm o protagonismo e o juiz Ă© uma figura passiva, nĂŁo Ă© tĂ­pica do sistema romano-

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179Como se preparar para o Cocurso de Delegado | Teoria Resumida

-germñnico – ou seja, a adotada no Brasil –, mas do anglo-ame-ricano. Trata-se de outro modo de ver o processo. Permitam-se esclarecer esse ponto.

A tradição processual anglo-americano estabelece uma clara separação entre as funçÔes de julgar e de acusar, alĂ©m de buscar sempre garantir a imparcialidade do ĂłrgĂŁo de julga-mento. Portanto, temos, sem dĂșvida, um sistema acusatĂłrio. Mas, nĂŁo Ă© sĂł isso. Nessa tradição, vĂȘ-se com desconfiança qualquer iniciativa judicial, o que representaria uma forma do Estado estabelecer suas polĂ­ticas, o que Ă© muito estranho para esse sistema, que vĂȘ o processo como uma disputa entre partes, da qual resultarĂĄ uma solução. Assim, nessa tradição, o processo Ă© tambĂ©m adversarial: acusatĂłrio e adversarial, no sentido de que as partes tem o protagonismo, adotando o juiz uma postura mais passiva (o que nem sempre Ă© bom, bastando ver as crĂ­ticas que se faz aos juĂ­zes norte-americanos em face de acordos entre as partes – plea bargaining – muitas vezes absurdos e injustos, algumas vezes praticamente forçando inocentes a admitir a culpa).

No Brasil – assim como em paĂ­ses como Portugal, Espanha, Alemanha, ItĂĄlia, dentre outros – a tradição Ă© outra, assim como a dicotomia. O oposto do sistema acusatĂłrio, como sabemos, Ă© o inquisitivo (ou inquisitĂłrio), caracterizando-se este Ășltimo pela falta de separação entre as funçÔes de julgar e de acusar. O nosso sistema, como visto, Ă© o acusatĂłrio, nĂŁo importa o que alguns doutrinadores afirmam, com mais retĂłrica do que con-teĂșdo jurĂ­dico propriamente dito. Estes erram – se me permitem a ousadia da afirmação – porque nĂŁo percebem que um sistema acusatĂłrio pode adotar um modelo adversarial ou inquisitorial, sendo este Ășltimo aquele em que o juiz ainda possui alguns poderes dentro do processo, nĂŁo sendo uma figura meramente passiva. NĂŁo se pode confundir, portanto, as dicotomias: de uma lado, sistemas acusatĂłrio x inquitivo; de outro, modelos adversarial x inquisitorial.

Ou seja, o juiz brasileiro, o alemĂŁo, o italiano etc. ainda mantĂȘm alguns poderes dentro do processo, nĂŁo obstante a influĂȘncia cada vez maior do processo adversarial, por influĂȘn-cia da tradição anglo-americana (ex.: o art. 212 e seu parĂĄgrafo Ășnico estabelece que caberĂĄ Ă s partes fazer as perguntas Ă s testemunhas, podendo o juiz, ao final, apenas complementar a inquirição).

Diante disso, entendemos que, na fase processual, o juiz ainda preservarĂĄ alguns poderes, dentre os quais o de deter-minar, de ofĂ­cio, a produção antecipada de provas. Mas, com uma limitação imposta pelo mesmo art. 3Âș-A do CPP: desde que sua atuação nĂŁo represente uma substituição da atividade probatĂłria do ĂłrgĂŁo de acusação.

Assim, se o juiz verificar que a acusação deixou de ouvir uma testemunha que seria importante para a demonstração da hipĂłtese acusatĂłrio, nĂŁo poderĂĄ determinar, de ofĂ­cio, sua oitiva. Do mesmo modo, se o juiz tomar conhecimento de que uma testemunha importante para a acusação nĂŁo poderĂĄ ser ouvida no momento processual adequado – por exemplo, porque estĂĄ acometida de uma doença grave e caminhando para o estĂĄgio final e fatal dela – e que o ĂłrgĂŁo acusador permanece inerte ante tal situação, nĂŁo poderĂĄ o juiz determinar, sponte propria, a produção antecipada de provas para oitiva de tal pessoa, pois, ao assim agir, estaria substituindo a atuação probatĂłria do MinistĂ©rio PĂșblico, o que Ă© vedado pelo art. 3Âș-A.

Um dos motivos alegados em uma das ADIns para a incons-titucionalidade do novo art. 3Âș-A Ă© que retiraria do juiz a possi-bilidade de buscar a “verdade real” ou “verdade material”. No entanto, boa parte da doutrina atual questiona a existĂȘncia de um “princĂ­pio da verdade real” como norteador do processo penal, preferindo apontar que, se o processo nĂŁo pode pres-cindir da busca da verdade, esta serĂĄ sempre aquela passĂ­vel

de ser atingida quando observados os direitos e garantias fundamentais e as regras procedimentais.

Porém, isso não quer dizer que o juiz perdeu a iniciativa. Suponha-se, por exemplo, um juiz, durante a fase processual, que venha a tomar conhecimento de que a vítima estå grave-mente doente e não poderå ser ouvida na fase de instrução. Ora, o art. 201 do CPP estabelece que o ofendido, sempre que possível, deverå ser ouvido, não se tratando, portanto, de uma mera opção das partes, mas algo que deve ser garantido pelo próprio juiz. Esse é, assim, um exemplo de situação em que acreditamos poderå o juiz, de ofício, determinar a produção antecipada de provas, sem que implique na substituição da atividade probatória do órgão de acusação.

E se a testemunha for pessoa que poderĂĄ trazer impor-tante elemento de prova exculpatĂłria? Nesse caso, nĂŁo vemos limitação trazida pelo art. 3Âș-A, pois, caso o juiz aja de ofĂ­cio, nĂŁo estarĂĄ substituindo a atividade probatĂłria da acusação, mas da defesa. Embora alguns apontem haver uma quebra da paridade de armas, pode-se perfeitamente argumentar que o juiz estarĂĄ agindo para salvaguardar um importante princĂ­pio constitucional: o da presunção de inocĂȘncia.

Outro ponto que gerarĂĄ muita discussĂŁo: o art. 385 do CPP sobrevive ao novo art. 3Âș-A? Pensamos que sim.

Vejam o que estabelece o art. 385: “Nos crimes de ação pĂșblica, o juiz poderĂĄ proferir sentença condenatĂłria, ainda que o MinistĂ©rio PĂșblico tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada”.

Parte da doutrina adotarĂĄ o entendimento de que o art. 385 foi revogado pelo art. 3Âș-A. Isso porque poder-se-ĂĄ entender que o fato de o juiz condenar alguĂ©m que o MinistĂ©rio PĂșblico entende deva ser absolvido implicaria numa quebra do sistema acusatĂłrio.

No entanto, nĂŁo concordamos com esse entendimento. É que, nesse caso, a separação das funçÔes de acusar e de julgar ficam preservadas, assim como a imparcialidade do ĂłrgĂŁo julgador. Explico.

O processo foi iniciado porque o MinistĂ©rio PĂșblico ofereceu uma denĂșncia, que foi recebida. Houve a instrução com base nas provas indicadas pelas partes. Ao final, nosso procedimento permite Ă s partes apresentar suas conclusĂ”es finais, nĂŁo sendo o juiz obrigado a acatĂĄ-las: simplesmente, irĂĄ analisar as provas que foram produzidas e decidir, apresentando o provimento jurisdicional buscado, no inĂ­cio, pelo MinistĂ©rio PĂșblico. Ape-nas isso.

Ademais, se o juiz fosse obrigado a absolver sempre que o MinistĂ©rio PĂșblico requeresse a absolvição, a indisponibilidade da ação penal restaria prejudicada: ora, no nosso processo, nĂŁo hĂĄ a possibilidade, salvo nos casos estabelecidos em lei, de o MinistĂ©rio PĂșblico desistir da ação; logo, sua opiniĂŁo de que o acusado deve ser absolvido nĂŁo representa uma desistĂȘncia da ação, mas apenas sua conclusĂŁo sobre as provas e o juiz nĂŁo Ă© obrigado a com ela concordar.

Finalmente, outro problema que surgirĂĄ dirĂĄ respeito ao art. 384 do CPP, ou seja, ao tema da mutatio libelli. Afinal, poderĂĄ o juiz baixar os autos ao MinistĂ©rio PĂșblico para que este adite a denĂșncia, caso novas circunstĂąncias, nĂŁo descritas na inicial, surjam durante a fase de instrução?

Sem dĂșvida, para uma doutrina mais “liberal”, a resposta deverĂĄ ser negativa. A prĂłpria redação do art. 384 jĂĄ indica que a iniciativa deve ser do MinistĂ©rio PĂșblico, nunca do juiz, o que vem apenas reforçado pelo art. 3Âș-A.

Por fim, como sĂŁo contados os prazos no processo penal brasileiro?

Contagem de prazos: no processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do

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mandado ou da carta precatĂłria ou de ordem (STF, SĂșmula 770). Os prazos tambĂ©m correm: da audiĂȘncia ou sessĂŁo em que for proferida a decisĂŁo, se a ela estiver presente a parte; e do dia em que a parte manifestar nos autos ciĂȘncia inequĂ­voca da sentença ou despacho. Todos os prazos correm em cartĂłrio e sĂŁo contĂ­nuos e peremptĂłrios, nĂŁo se interrompendo por fĂ©rias, domingo ou dia feriado. NĂŁo se computa no prazo o dia do começo, incluindo-se, porĂ©m, o do vencimento. O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-ĂĄ pror-rogado atĂ© o dia Ăștil imediato. Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terĂĄ inĂ­cio na segunda-feira imediata, salvo se nĂŁo houve expediente, caso em que começarĂĄ no pri-meiro dia Ăștil que se seguir (STF, SĂșmula 310). A informatização do processo judicial Ă© objeto da Lei 11.419/2006, que, no § 3Âș do art. 4Âș, dispĂ”e que a data da publicação serĂĄ o primeiro dia Ăștil seguinte ao da disponibilização da informação no DiĂĄrio da Justiça eletrĂŽnico. Assim, o prazo começarĂĄ a ser contado somente no primeiro dia Ăștil seguinte ao considerado como data da publicação (art. 798, § 1Âș, CPP).

Segundo a Lei 11.419/2016, consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrĂŽnico no dia e hora do seu envio ao sistema do Poder JudiciĂĄrio, do que deverĂĄ ser fornecido protocolo eletrĂŽnico. Quando a petição eletrĂŽnica for enviada para atender prazo processual, serĂŁo consideradas tempestivas as transmitidas atĂ© as 24 (vinte e quatro) horas do seu Ășltimo dia. A publicação eletrĂŽnica substitui qualquer outro meio e publicação oficial, para quaisquer efeitos legais, Ă  exceção dos casos que, por lei, exigem intimação ou vista pessoal. Conside-ra-se como data da publicação o primeiro dia Ăștil seguinte ao da disponibilização da informação no DiĂĄrio da Justiça eletrĂŽnico. Os prazos processuais terĂŁo inĂ­cio no primeiro dia Ăștil que seguir ao considerado como data da publicação.

2. DO INQUÉRITO POLICIAL

A observação dos sistemas jurĂ­dicos estrangeiros, revela que hĂĄ, basicamente, trĂȘs sistemas de investigação preliminar, todos com suas vantagens e desvantagens:

− investigação realizada pela PolĂ­cia: Ă© o modelo ado-tado pelo CPP brasileiro, em que a investigação Ă© reali-zada por meio do inquĂ©rito policial, sob a presidĂȘncia do Delegado de PolĂ­cia;

− investigação judicial realizada por Juiz Instrutor: nĂŁo Ă© adotado de modo algum pelo Brasil, mas, nos paĂ­ses que ainda adotam esse sistema, o juiz que investiga nĂŁo Ă© o mesmo que julgarĂĄ a ação penal;

− investigação realizada pelo MinistĂ©rio PĂșblico: trata--se, em geral, do modelo adotado em muitos os paĂ­ses da Europa continental. No Brasil, nĂŁo pode o ĂłrgĂŁo do MinistĂ©rio PĂșblico presidir inquĂ©rito policial, que Ă© atribuição exclusiva de Delegado de PolĂ­cia, mas pode o Promotor de Justiça ou o Procurador da RepĂșblica instaurar seus prĂłprios procedimentos investigatĂłrios, conforme jĂĄ decidiu o STF.

InquĂ©rito policial Ă© denominação que existe em nossa legislação processual desde 1871, muito embora, desde o CPP de 1832, e atĂ© mesmo antes, as funçÔes de investigação criminal jĂĄ existiam, mas sem esse nomen iuris. É certo que somente a partir do final do sĂ©culo XIX Ă© que se atribuiu Ă  polĂ­cia judiciĂĄria a condução das investigaçÔes por meio do inquĂ©rito.

É um procedimento de natureza administrativa, nĂŁo sendo, portanto, um “processo administrativo”, tampouco um “pro-cesso judicial”. Logo, nĂŁo existe ainda pretensĂŁo acusatĂłria ou partes, tal como na fase judicial. Ademais, por se tratar de procedimento preparatĂłrio, vĂ­cios do inquĂ©rito nĂŁo sĂŁo capazes de anulĂĄ-lo por inteiro, assim como tambĂ©m nĂŁo poderĂŁo anular

a subsequente ação penal. No mĂĄximo, o vĂ­cio poderĂĄ anular determinado ato do inquĂ©rito, o que poderĂĄ igualmente invali-dar outros atos que guardem relação de dependĂȘncia com ele.

Pode-se conceituar inquĂ©rito policial como o procedimento administrativo preparatĂłrio da ação penal, que reĂșne um con-junto de diligĂȘncias apuratĂłrias da materialidade e autoria de infração penal determinada.

Sua finalidade Ă© a de propiciar ao ĂłrgĂŁo acusatĂłrio formar sua opinio delicti, de modo a dar o substrato probatĂłrio mĂ­nimo para o oferecimento da denĂșncia ou queixa.

Tem como características principais a inquisitoriedade, ter forma escrita e, segundo costuma dizer a doutrina, ser sigiloso. Além disso, afirma-se que o inquérito é dispensåvel, discricionå-rio, oficial, oficioso, indisponível e temporårio. Vejamos:

− Ă© inquisitĂłrio, pois nĂŁo se aplica o princĂ­pio do contra-ditĂłrio, o que nĂŁo quer dizer que nĂŁo deva ser aplicado outro: o princĂ­pio da ampla defesa, tanto assim que pode o investigado fazer-se acompanhar de defensor em todos os atos, podendo, inclusive negar-se a fornecer prova contra si prĂłprio. AlĂ©m disso, pode seu defensor formular quesitos e requerer a realização de diligĂȘncias investigatĂłrias, o que poderĂĄ ou nĂŁo ser atendido pela autoridade policial;

− o inquĂ©rito policial Ă© escrito, conforme prescreve o art. 9Âș do CPP, nada impedindo que, subsidiariamente, seja aplicado o § 1Âș do art. 405 do CPP, permitindo-se a gravação dos autos – depoimentos, declaraçÔes, inter-rogatĂłrios etc. – em sistema audiovisual;

− quanto ao sigilo, aponta-se como base legal o art. 20 do CPP. PorĂ©m, analise o que diz tal dispositivo: “A auto-ridade assegurarĂĄ no inquĂ©rito o sigilo necessĂĄrio Ă  elucidação do fato ou exigido pelo interesse da socie-dade”. Ora, em nenhum momento o art. 20 diz que o inquĂ©rito deve ser sigiloso, mas que pode ser, desde que haja necessidade. Seja como for, tal sigilo nĂŁo pode ser oposto contra o advogado do indiciado e do membro do MinistĂ©rio PĂșblico, muito menos ao juiz. AliĂĄs, a SĂșmula Vinculante 14 do STF afirma ser direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elemen-tos de prova que, jĂĄ documentados em procedimento investigatĂłrio realizado por ĂłrgĂŁo com competĂȘncia de polĂ­cia judiciĂĄria, digam respeito ao exercĂ­cio do direito de defesa. Logo, admite-se que o sigilo possa prosseguir quanto aos elementos ainda nĂŁo documentados. Admi-te-se, tambĂ©m, que o sigilo seja oposto para nĂŁo preju-dicar o andamento de determinadas diligĂȘncias, sendo exemplos comuns o sigilo sobre futura realização de busca e sobre autorização de interceptação telefĂŽnica;

− o inquĂ©rito Ă© dispensĂĄvel, pois qualquer outra peça de informação que traga prova da materialidade delitiva e indĂ­cios suficientes de autoria pode servir de base para a denĂșncia ou queixa. O prĂłprio CPP deixa esse carĂĄter do inquĂ©rito bem claro quando afirma, por exemplo, no art. 12 que tal procedimento deverĂĄ acompanhar a inicial acusatĂłria “sempre que servir de base” para ela. Ou seja, quando nĂŁo servir de base, a nĂŁo acompanharĂĄ;

− trata-se de procedimento discricionĂĄrio, uma vez que nĂŁo hĂĄ sequĂȘncia prĂ©-determinada de atos que devem ser seguidos pela autoridade policial. Esta determinarĂĄ as diligĂȘncias que se mostrarem necessĂĄrias conforme avançarem os trabalhos de investigação, observando-se as peculiaridades do caso concreto;

− Ă© um procedimento oficial, pois cabe sua condução a um ĂłrgĂŁo oficial do Estado. Segundo a Lei 12.830/2013, as funçÔes de polĂ­cia judiciĂĄria e a apuração de infraçÔes

COMO SE PREPARAR PARA O CONCURSO DE DELEGADO

Coordenação

Eduardo Fontes | Henrique Hoffmann

2021Edição

‱ Teoria Resumida

‱ CADERNO DE QUESTÕES‱ Gabarito

Kit em 3 volumess

LÍNGUA PORTUGUESACris Orzil

01. (CESPE – Delegado de PolĂ­cia – PC – SE/2018) Com relação aos sentidos e aos aspectos linguĂ­sticos do trecho da letra de mĂșsica ante-riormente apresentado, julgue o item que se segue.

Em “Mas nĂŁo me deixe sentar” (v.11), a colocação do pronome “me” apĂłs a forma verbal “deixe” — deixe-me â€” prejudicaria a correção gramatical do trecho.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo se refere ao tema “colocação pronominal”. A colo-cação do pronome “me” apĂłs a forma verbal “deixe” — deixe-me – prejudicaria a correção gramatical do texto, uma vez que “nĂŁo” Ă© palavra atrativa e, portanto, obriga que o pronome “me” fique antes do verbo “deixe”. Isso configura, por conseguinte, um caso obrigatĂłrio de prĂłclise.

Gabarito: CORRETA

02. (CESPE – Delegado de PolĂ­cia – PC – SE/2018) Com relação aos sentidos e aos aspectos linguĂ­sticos do trecho da letra de mĂșsica ante-riormente apresentado, julgue o item que se segue.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo se refere ao tema “partĂ­culas e expressĂ”es exple-tivas”. No verso “Às vezes Ă© ela quem diz”, a supressĂŁo de â€œĂ©â€ e “quem” NÃO prejudicaria a coerĂȘncia do trecho, considerando que as palavras formam uma expressĂŁo expletiva, isto Ă©, de realce. Assim, se retiradas do trecho, nĂŁo prejudicariam a coerĂȘncia, ou seja, o sentido original do texto: “Às vezes ela diz”.

Gabarito: ERRADA

03. (CESPE – Delegado de PolĂ­cia – PC – SE/2018) Com relação aos sentidos e aos aspectos linguĂ­sticos do trecho da letra de mĂșsica ante-riormente apresentado, julgue o item que se segue.

No trecho apresentado, a associação de “As grades do condomĂ­nio” (v.5) com as palavras “proteção” (v.6) e “prisĂŁo” (v.8) remete a uma solução encontrada pelos cidadĂŁos que, para se proteger da violĂȘncia, se privam de sua liberdade, tornando-se prisioneiros em seus lares.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo trata de “interpretação textual”. Quando o enuncia-dor afirma que as “grades do condomĂ­nio sĂŁo para trazer proteção / Mas tambĂ©m trazem a dĂșvida se Ă© vocĂȘ que estĂĄ nessa prisĂŁo”,

é possível inferir que aquilo que os cidadãos utilizam para se proteger (as grades) pode acabar deixando-lhes, de certa forma, encarcerados. Isto é, os cidadãos são vítimas (ficam presos) do pró-prio recurso (grades) que usam para se proteger. Portanto, pode-se dizer que a afirmação feita pela banca estå correta.

Gabarito: CORRETA

04. (CESPE – Delegado de Polícia – PC – SE/2018) Com relação aos sentidos e a aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item que se segue.

Os termos “a crimes contra o pĂșblico” (ℓ. 11 e 12) e “de queixas” (ℓ.14) complementam, respectivamente, os termos “relativos” e “investiga-çÔes”.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo se refere ao tema “termos da oração”. Vejam-se as construçÔes destacadas: “Agentes e delegados de atendimento a grupos vulnerĂĄveis realizam atendimento Ă s vĂ­timas, centralizam procedimentos relativos a crimes contra o pĂșblico vulnerĂĄvel (...) abrem inquĂ©ritos e termos circunstanciados e fazem investigação de queixas. Pode-se afirmar que “a crimes contra o pĂșblico” Ă© com-plemento nominal do adjetivo “relativos”, bem como “de queixas” Ă© complemento nominal do substantivo abstrato “investigaçÔes”. Perceba-se que aqui nĂŁo hĂĄ dĂșvidas de que sejam realmente complementos e nĂŁo adjuntos adnominais, uma vez que sĂł o complemento nominal pode completar (por meio de um termo preposicionado) a ideia de um adjetivo ou expressar uma noção de passividade em relação a um substantivo abstrato (as queixas sĂŁo investigadas). Portanto, o que Ă© afirmado na questĂŁo estĂĄ correto.

Gabarito: CORRETA

05. (CESPE – Delegado de Polícia – PC – SE/2018) Com relação aos sentidos e a aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item que se segue.

A correção gramatical e o sentido do texto seriam preservados se, no tre-cho “a um pĂșblico especĂ­fico” (ℓ. 2 e 3), a preposição “a” fosse suprimida.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo se refere ao tema “regĂȘncia verbal”. Veja-se o trecho: “O Departamento de Atendimento a Grupos VulnerĂĄveis (DAGV) da PolĂ­cia Civil de Sergipe atende a um pĂșblico especĂ­fico (...)”. O verbo “atender”, no sentido de “servir”, “acolher” Ă© verbo tran-sitivo direto (VTD) ou verbo transitivo indireto (VTI). Portanto, a

14 Como se preparar para o Concurso de Delegado | Caderno de QuestÔes

omissĂŁo da preposição NÃO prejudicaria a correção gramatical do trecho, que assim ficaria: “atende um pĂșblico especĂ­fico (...)”

Gabarito: CORRETA

06. (CESPE – Delegado de Polícia – PC – SE/2018) Com relação aos sentidos e a aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item que se segue.

De acordo com o segundo perĂ­odo do texto, o DAGV Ă© um espaço desti-nado a alojar grupos vulnerĂĄveis, como idosos, homossexuais, mulheres, crianças e adolescentes, dando-lhes refĂșgio e proteção constante.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo trata de interpretação textual. O texto afirma que o DAGV ATENDE a um pĂșblico especĂ­fico que, de fato, abarca idosos, homossexuais, mulheres, crianças e adolescentes. No entanto, em nenhum trecho foi possĂ­vel inferir que a instituição ALOJA os grupos vulnerĂĄveis ou lhes oferece REFÚGIO constante.

Gabarito: INCORRETA

07. (CESPE – Delegado de Polícia – PC – SE/2018) Com relação aos sentidos e a aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item que se segue.

Predomina no texto a tipologia narrativa, a qual é adequada ao propó-sito comunicativo de apresentar ao leitor um relato linear e objetivo da história do DAGV desde o seu surgimento até os dias atuais.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo se refere ao tema “tipologia textual”. O texto apre-sentado Ă© predominantemente EXPOSITIVO, uma vez que apre-senta informaçÔes e conteĂșdos objetivos acerca de um assunto. Isto Ă©, o texto objetiva especialmente INFORMAR, nĂŁo narrar um acontecimento ou histĂłria.

Gabarito: INCORRETA

08. (CESPE – Delegado de Polícia – PC – SE/2018) Acerca dos sentidos e de aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item a seguir.

A correção gramatical e os sentidos do texto serĂŁo preservados caso se reescreva o Ășltimo perĂ­odo do texto da seguinte forma: Para analisar essa participação, Ă© preciso verificar se ela funciona como controle social legĂ­-timo da atividade policial e se acaso ela produz uma participação equĂąnime.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questão trata de “referenciação”. Veja-se o trecho em des-taque (modificação proposta pela banca): “Para analisar essa

participação, Ă© preciso verificar se ela funciona como controle social legĂ­timo da atividade policial e se acaso ela produz uma participação equĂąnime”. Caso se optasse pelo uso de “ela”, como foi sugerido na questĂŁo, entender-se-ia que o termo retomado seria “participação”, e nĂŁo “ação promovida pelo modelo de policia-mento comunitĂĄrio”, como foi usado no trecho original. Portanto, a reescrita proposta NÃO preservaria o sentido do texto.

Gabarito: INCORRETA

09. (CESPE – Delegado de Polícia – PC – SE/2018) Acerca dos sentidos e de aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item a seguir.

A oração “que haja a implementação de um modelo de policiamento” (ℓ. 11 e 12) tem a função de qualificar o adjetivo que a antecede: “essen-cial” (ℓ.11).

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo se refere ao tema “perĂ­odo composto”. Veja-se o trecho em destaque: “(...) Ă© essencial que haja a implementação de um modelo de policiamento (...)”. A oração em destaque poderia ser substituĂ­da por ISSO: Ă© essencial ISSO. Portanto, trata-se de oração substantiva. Se colocĂĄssemos na ordem direta, terĂ­amos: ISSO Ă© essencial. Observe-se que o ISSO (que representa a oração substantiva) faz papel de sujeito. Por isso, pode-se concluir que a oração Ă© subordinada substantiva subjetiva. Portanto, faz papel de SUJEITO da oração â€œĂ© essencial”, nĂŁo exercendo, por conseguinte, a função de qualificar, como sugerido pela banca.

Gabarito: INCORRETA

10. (CESPE – Delegado de Polícia – PC – SE/2018) Acerca dos sentidos e de aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item a seguir.

A eliminação da vírgula logo após “legais” (ℓ.8) prejudicaria a correção gramatical do texto.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo se refere ao tema “pontuação”. A eliminação da vĂ­rgula apĂłs “legais” prejudicaria a correção gramatical do texto, considerando que o sinal de pontuação estĂĄ presente ali para iso-lar um adjunto adverbial de causa deslocado de longa extensĂŁo. EntĂŁo, trata-se de um caso em que o uso da vĂ­rgula Ă© obrigatĂłrio.

Gabarito: CORRETA

11. (CESPE – Delegado de Polícia – PC – SE/2018) Acerca dos sentidos e de aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item a seguir.

Na linha 4, o termo “como” estabelece uma comparação de igualdade entre o que se afirma no primeiro perĂ­odo do texto e a informação presente na oração “a sua ausĂȘncia culminaria na impossibilidade de manutenção de relaçÔes pacificadas” (ℓ. 4 a 6).

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questão se refere ao tema “período composto”. Veja-se o trecho original: “Em outras palavras, como atestam clássi-cos do pensamento político, (...)”. Nesse caso, NÃO há relação de comparação, mas de CONFORMIDADE: (conforme atestam clássicos...).

Gabarito: INCORRETA

12. (CESPE – Delegado de Polícia – PC – SE/2018) Acerca dos sentidos e de aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item a seguir.

A expressĂŁo “a polĂ­cia” presente em “da polĂ­cia” (ℓ.1) Ă© retomada, ao longo do primeiro parĂĄgrafo do texto, por meio das expressĂ”es “dessa agĂȘncia de segurança” (ℓ.2), “sua” (ℓ.5), “seu” (ℓ.6), “sua” (ℓ.6) e “dessa instituição” (ℓ.9).

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo trata de “referenciação”. Veja-se o trecho original com destaques: “A existĂȘncia da polĂ­cia se justifica pela imprescin-dibilidade dessa agĂȘncia de segurança para a viabilidade do poder de coerção estatal. Em outras palavras, como atestam clĂĄssicos do pensamento polĂ­tico, a sua ausĂȘncia culminaria na impossibilidade de manutenção de relaçÔes pacificadas. Devido a seu protago-nismo e sua importĂąncia na organização e garantia da reprodução das normas legais, o Estado democrĂĄtico nĂŁo pode abdicar dessa instituição.”

15Como se preparar para o Concurso de Delegado | Caderno de QuestÔes

LÍN

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É possível perceber que, de fato, todos os termos indicados pela questão retomam a ideia explicitada no primeiro período “a polícia”. Esses recursos de retomada são chamados de anafóricos. Portanto, a afirmação da banca está perfeita!

Gabarito: CORRETA

13. (CESPE – Delegado de Polícia – PC – SE/2018) Acerca dos sentidos e de aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item a seguir.

Por ser o Ășnico modelo de policiamento que tem na participação social um de seus componentes centrais, o policiamento comunitĂĄrio garante a real participação dos membros da população na segurança pĂșblica.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo trata de “interpretação textual”. A afirmação feita pela banca na questĂŁo extrapola as informaçÔes que podem ser inferidas a partir do texto (especialmente no Ășltimo parĂĄgrafo), considerando que em nenhum trecho houve menção de que o poli-ciamento comunitĂĄrio GARANTE a real participação dos membros da população na segurança pĂșblica.

Gabarito: INCORRETA

14. (CESPE – Delegado de Polícia – PC – SE/2018) Acerca dos sentidos e de aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item a seguir.

De acordo com o texto, a polícia atua a serviço do Estado democråtico, assegurando tanto o poder de coerção como a manutenção do Estado.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo trata de “interpretação textual”. Ao fazermos a releitura do texto, Ă© possĂ­vel perceber que em trecho algum o autor afirmou que a polĂ­cia atua de modo a assegurar a manutenção do Estado. O que se afirmou (no primeiro parĂĄgrafo) Ă© que a existĂȘncia da polĂ­cia Ă© imprescindĂ­vel para tornar viĂĄvel o poder de coerção do Estado, e nĂŁo a manutenção do Estado. Portanto, a questĂŁo se vale de palavras semelhantes Ă s que foram utilizadas pelo autor do texto, mas para fazer uma afirmação que nĂŁo pode ser inferida a partir dos dados originais apresentados pelo autor.

Gabarito: INCORRETA

A complexa questão da segurança do Brasil

O Brasil vive hoje uma grande crise de segurança pĂșblica. Isso nĂŁo Ă© segredo para ninguĂ©m. Na realidade, a sensação de medo Ă© algo que parece presente em vĂĄrios setores da sociedade em nosso paĂ­s. SĂł em Pernambuco, foram mais de cinco mil assassinatos em 2017. SĂŁo nĂșmeros de guerra. E os relatos de situaçÔes de violĂȘncias vividas estĂŁo presentes em todos os espaços. Muitas vezes sĂŁo o tema principal de programas de televisĂŁo, porĂ©m muito pouco Ă© tratado sobre como resolver. E esta Ă© a grande questĂŁo sobre a qual precisamos nos debruçar. Uma coisa Ă© certa: a violĂȘncia Ă© um problema complexo. E problemas complexos possuem soluçÔes complexas. Qualquer que seja o discurso que tente apresentar uma solução simples para estes problemas Ă© incabĂ­vel. Um exemplo Ă© o discurso que a solução para a violĂȘncia passa pela liberação de armas para os “cidadĂŁos de bem” poderem se defender.

O que a ciĂȘncia comprova Ă© que liberar armas nĂŁo resolve absolu-tamente nada quanto ao problema da segurança pĂșblica. Um estudo recente liberado pela Escola de SaĂșde PĂșblica de Harvard fez uma sĂ­ntese de vĂĄrios destes pontos e comprova a tese.

Entre algumas das conclusÔes, uma delas é que armas de fogo são usadas mais frequentemente para assustar e intimidar do que para defesa própria. Outra conclusão alarmante é que armas de fogo em casa são usadas normalmente mais para intimidar pessoas íntimas e familiares que para evitar crimes.

(...)

De toda forma, este Ă© um assunto que estĂĄ novamente na ordem do dia e nĂŁo pode deixar de ser tratado. PorĂ©m, estes discursos fĂĄceis de que a solução para a violĂȘncia estĂĄ em liberar armas ou colocar o exĂ©rcito nas ruas nĂŁo resolvem. Nunca resolveu. Por que resolveria agora? EstĂŁo aĂ­ os nĂșmeros que falam por si. Mas, de um jeito ou de outro, o debate precisa ser travado.

(...)

Edição: Monyse Ravenna

(https://www.brasildefato.com.br/2018/02/26/a-complexa-questao--da-seguranca-do-brasil/ - AristĂłteles Cardona JĂșnior - Acesso em 7.5.2018)

15. (NUCEPE – Delegado de PolĂ­cia – PC – PI/2018) Assinale a opção cujo termo em destaque diverge, em sua função sintĂĄtica, daquele que se encontra marcado em: O Brasil vive hoje uma grande crise de segurança pĂșblica.

a) EstĂŁo aĂ­ os nĂșmeros que falam por si.

b) E problemas complexos possuem soluçÔes complexas.

c) ...que tente apresentar uma solução simples para estes proble-mas é incabível.

d) armas de fogo em casa sĂŁo usadas normalmente mais para intimidar pessoas Ă­ntimas e familiares que para evitar crimes.

e) Um estudo recente liberado pela Escola de SaĂșde PĂșblica de Har-vard fez uma sĂ­ntese de vĂĄrios destes pontos e comprova a tese.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo se refere ao tema “anĂĄlise sintĂĄtica”. O verbo “vive”, no enunciado, exerceu a função de verbo transitivo direto (VTD), tendo a sua ideia complementada por “uma grande crise de segu-rança pĂșblica”, que exerce, entĂŁo, função de objeto direto (OD). Nas alternativas b, c, d, e, os termos grifados tambĂ©m exercem função de OD. Apenas na letra A o verbo “falam” foi utilizado no contexto como verbo transitivo indireto (VTI), tendo sua ideia com-plementada com um objeto indireto (OI), representado por “por si”.

GABARITO: A

16. (NUCEPE – Delegado de PolĂ­cia – PC – PI/2018) Assinale a opção na qual a(s) palavra(s)/expressĂŁo(Ă”es) NÃO se presta(m) ao papel de articulador(es) de organização textual e tenha(m) como função fazer com que o texto seja compreendido como uma unidade de sentido.

a) Entre algumas das conclusÔes, uma delas é que armas de fogo são usadas mais frequentemente para assustar e intimidar do que para defesa própria.

b) Outra conclusĂŁo alarmante Ă© que armas de fogo em casa sĂŁo usadas normalmente mais para intimidar pessoas Ă­ntimas ...

c) Qualquer que seja o discurso que tente apresentar uma solução simples para estes problemas é incabível.

d) Mas, de um jeito ou de outro, o debate precisa ser travado.

e) Um estudo recente liberado pela Escola de SaĂșde PĂșblica de Harvard fez uma sĂ­ntese de vĂĄrios destes pontos e comprova a tese.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo se refere aos temas “conectivos e referenciação”. Na letra A, “uma delas” retoma “conclusĂ”es”. Na B, “outra con-clusĂŁo” apresenta uma conexĂŁo com o que jĂĄ fora mencionado e, concomitantemente, uma noção de que alguma informação similar serĂĄ incluĂ­da, adicionada. Na C, ao se usar “Qualquer que seja o discurso”, hĂĄ articulação com discursos que serĂŁo usados como exemplos adiante. Nas D, hĂĄ uso da conjunção “mas” que estabe-lece sentido de adversidade entre as informaçÔes jĂĄ mencionadas e as subsequentes. Apenas na letra E nĂŁo hĂĄ evidĂȘncia de termos utilizados com o intuito de estabelecer conexĂ”es com o que jĂĄ fora abordado ou com aquilo que ainda serĂĄ desenvolvido no texto.

GABARITO: E

17. (NUCEPE – Delegado de PolĂ­cia – PC – PI/2018) O segmento marcado em: De toda forma, este Ă© um assunto que estĂĄ novamente na ordem do dia e nĂŁo pode deixar de ser tratado., retoma, textual e especificamente, a questĂŁo

a) das consequĂȘncias da violĂȘncia em si, na vida de cada um.

b) dos mais de cinco mil assassinatos em Pernambuco, em 2017.

c) das discussĂ”es sobre o tema da violĂȘncia empreendidas pelos meios de comunicação.

d) da liberação das armas de fogo para uso do cidadĂŁo comum e suas consequĂȘncias.

e) dos nĂșmeros da violĂȘncia, que falam por si, no paĂ­s.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A questĂŁo se refere ao tema “pronomes demonstrativos”. Observem-se os trechos em destaque: “Um exemplo Ă© o discurso que a solução para a violĂȘncia passa pela liberação de armas para os cidadĂŁos de bem poderem se defender.

DIREITO PENALRogério Sanches

1. CRIMINOLOGIA

01. (NUCEPE - Delegado de PolĂ­cia - PI/2014) O Brasil insere-se no contexto de uma “sociedade da insegurança” ou “sociedade do medo”, pautada no que Silva SĂĄnches denomina de “cultura de emergĂȘncia” ou reclamo popular por uma maior presença e eficĂĄcia das instĂąncias de controle social. Nesse sentido, o Direito Penal e as instituiçÔes do sis-tema punitivo sĂŁo eleitos instrumentos privilegiados para responder de forma eficaz os anseios da sociedade, gerando, segundo DĂ­az RipollĂ©s, o entendimento de que sua contundĂȘncia e capacidade socializadora sĂŁo mais eficazes na prevenção aos novos tipos de delitos do que as medidas de polĂ­tica social ou econĂŽmica, ou de medidas do Direito Civil ou Administrativo. Trata-se, segundo o mesmo autor, de uma canalização das demandas sociais por mais proteção como demandas por punição, daĂ­ a busca por elementos de orientação normativa, onde o Direito Penal assume especial relevĂąncia.

A partir das informaçÔes do texto, NÃO se pode concluir que:

a) os crimes de perigo abstrato não se amoldam à ideia de “sociedade do medo”.

b) a intimidação em face da pråtica de crimes contra a dignidade sexual fora reforçada pelo Direito Penal påtrio.

c) o tipo penal incriminador previsto no art. 288 do Código Penal bra-sileiro - Associação criminosa - pode ser considerado um exemplo dessa nova política criminal.

d) a alteração do termo inicial da prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, amolda-se à ideia preconizada no texto.

e) a majoração da pena do delito previsto no parĂĄgrafo 9° do art. 129 do CĂłdigo Penal brasileiro - ViolĂȘncia domĂ©stica - amolda-se Ă  ideia preconizada no texto.

Z AnotaçÔes/Comentårios

(a) Em determinadas hipĂłteses de incriminação, o perigo advindo da conduta Ă© absolutamente presumido por lei (crime de perigo abs-trato), devendo ser lembrado, a tĂ­tulo de exemplo, o trĂĄfico de drogas. A conduta do traficante Ă© crime, dispensando efetivo dano Ă  saĂșde pĂșblica, bastando o perigo, que Ă© presumido por lei (se o Promotor de Justiça comprovar que o agente praticou o verbo nuclear do tipo, a lei presume que seu comportamento Ă© perigoso para a coletividade). HĂĄ, portanto, uma relação entre a denominada sociedade do medo e a tipificação de condutas que, a priori, nĂŁo sĂŁo capazes de expor a perigo efetivo o bem jurĂ­dico, e isso decorre, certamente, ao menos em grande parte, de demandas sociais por mais proteção penal.

(b) É possĂ­vel afirmar que a intimidação em face da prĂĄtica de crimes contra a dignidade sexual foi reforçada pelo Direito Penal brasileiro em decorrĂȘncia da maior demanda social por tutela penal. É o caso, por exemplo, do estupro, que ao longo do tempo teve a pena aumentada e sofreu mudanças na ação penal, que atualmente Ă© sempre pĂșblica incondicionada; do estupro de vulnerĂĄvel, que passou a ser tipificado autonomamente, com pena maior do que a do estupro comum; do assĂ©dio sexual; da importunação sexual; do favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerĂĄvel, que foi inclusive inserido no rol dos crimes hediondos.

(c) Hå, de fato, uma relação, tendo em vista que no art. 288 do Código Penal o legislador tipifica, excepcionalmente, o cometimento de atos preparatórios para a pråtica de outros crimes, o que normalmente seria considerado um indiferente penal.

(d) Novamente, a demanda social por mais proteção penal pode ser considerada o fundamento para a modificação da regra relativa ao termo inicial do prazo prescricional nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes. Buscou-se, com base na Carta Maior (art. 227, § 4Âș – “A lei punirĂĄ severamente o abuso, a violĂȘncia e a exploração sexual da criança e do adolescente”) a eficiĂȘncia na punição do agressor, evitando uma proteção deficiente do Estado.

(e) A pena atual para a lesĂŁo corporal qualificada na forma do § 9Âș do art. 129 do CĂłdigo Penal foi determinada pela Lei nÂș 11.340/06, que dispĂ”e sobre as medidas contra a violĂȘncia domĂ©stica e familiar contra a mulher. Trata-se, como se sabe, de um diploma legal surgido a partir de grande movimento promovido por vĂ­timas que demanda-vam maior tutela penal sob o argumento de que as entĂŁo vigentes normas de coibição de violĂȘncia dessa espĂ©cie nĂŁo se mostravam suficientes para a proteção da mulher no Ăąmbito domĂ©stico e familiar.

Gabarito: A

02. (ACADEPOL – Delegado de Polícia – SP/ 2011) Constituem objeto de estudo da Criminologia

a) o delinquente, a vĂ­tima, o controle social e o empirismo.

b) o delito, o delinquente, a interdisciplinaridade e o controle social.

c) o delito, o delinquente, a vĂ­tima e o controle social.

d) o delinquente, a vĂ­tima, o controle social e a interdisciplinaridade.

e) o delito, o delinquente, a vítima e o método.

Z AnotaçÔes/Comentårios

(a) O empirismo nĂŁo Ă© objeto da criminologia, mas sua caracterĂ­s-tica, jĂĄ que esta ciĂȘncia se baseia na experiĂȘncia e na observação para a anĂĄlise do crime, do criminoso, do controle social e da vĂ­tima.

(b, d) A interdisciplinaridade, assim como o empirismo, Ă© carac-terĂ­stica da criminologia. Significa a reuniĂŁo de diversas disciplinas, como a biologia, a psicologia e o direito para o estudo dos objetos da ciĂȘncia criminolĂłgica.

(c) A criminologia tem por objeto de estudo o crime como fenĂŽmeno social (nĂŁo como fato que se subsume Ă  norma, objeto do direito penal), o delinquente (quem se envolve numa situação de hostilidade Ă s normas de organização social), os mecanismos de controle social formais e informais que se aplicam sobre o crime e a vĂ­tima (tanto sob o enfoque das conse-quĂȘncias do delito quanto do papel desempenhado no evento criminoso).

(e) O mĂ©todo nĂŁo integra os objetos de estudo da criminologia, mas explica a forma como Ă© realizada a observação dos fenĂŽmenos que compĂ”em o objeto da ciĂȘncia criminolĂłgica, que Ă© a necessidade de experimentação.

Gabarito: C

03. (ACADEPOL – Delegado de Polícia – SP/ 2011) A prevenção terciá-ria da infração penal, no Estado Democrático de Direito, está relacionada

a) ao controle dos meios de comunicação.

b) aos programas policiais de prevenção.

c) à ordenação urbana.

d) à população carceråria.

e) ao surgimento de conflito.

Z AnotaçÔes/Comentårios

(a) NĂŁo hĂĄ nenhuma relação entre a prevenção da infração penal e o controle dos meios de comunicação, de resto impossĂ­vel na vigĂȘncia do Estado DemocrĂĄtico.

88 Como se preparar para o Concurso de Delegado | Caderno de QuestÔes

(b) A ação policial é parte da denominada prevenção secundåria, aplicåvel nas situaçÔes em que a infração penal se manifesta. Esta forma de prevenção se orienta sobre grupos e situaçÔes concretas, ou seja, onde se verificam os maiores riscos de que ocorra a ativi-dade criminosa.

(c) A ordenação urbana é ligada à prevenção primåria, dirigida a todos os cidadãos e aplicåvel a longo prazo, com o objetivo de propiciar aos indivíduos qualidade de vida para que conflitos e dificuldades sejam superados sem que se recorra a expedientes situados à margem da lei.

(d) A prevenção terciĂĄria tem como destinatĂĄrio o condenado, que se submete Ă  imposição estatal do cumprimento da pena, sendo que seu objetivo Ă© evitar a reincidĂȘncia por meio da ressocialização.

(e) O surgimento do conflito, como manifestação interna, ou seja, a forma como é gerado, é objeto da prevenção primåria.

Gabarito: D

04. (MPE/GO – Promotor de Justiça – GO/2010) Sobre os conceitos básicos da criminologia, marque a alternativa correta:

a) A Escola Positiva, encabeçada por Lombroso, Garofalo e Ferri, surge no final do sĂ©culo XIX como crĂ­tica e alternativa Ă  denominada Escola ClĂĄssica, dando lugar a uma polĂȘmica que duraria quase um sĂ©culo. No entanto, a Scuola Positiva italiana, apresenta duas vertentes opostas: a antropolĂłgica de Lombroso e a sociolĂłgica de Ferri, que acentuaram a relevĂąncia etiolĂłgica do fator individual e do fator social em suas respectivas explicaçÔes do delito.

b) Por vitimização terciåria entende-se os custos pessoais derivados da intervenção do sistema legal que, paradoxalmente, incrementam o padecimento da vítima.

c) O controle social Ă© o conjunto de instituiçÔes, estratĂ©gias e sançÔes sociais que pretendem promover e garantir a convivĂȘncia interna de seus membros, segundo modelos e normas comunitĂĄrios. Divide-se em instĂąncia formal e informal, atuando esta subsidiariamente em relação Ă  primeira, tendo em vista sua maior efetividade.

d) Uma das principais diferenças entre o Direito Penal e a Criminologia é o método empregado nas investigaçÔes. Enquanto no Direito Penal o método empregado é o indutivo-sistemåtico para analisar o fato delitivo, na Criminologia a abordagem do fenÎmeno criminal é empírica e interdisciplinar.

Z AnotaçÔes/Comentårios

a) A Escola Positiva, primeiramente representada por Cesare Lom-broso, cujos ensinamentos, embora dotados de evidente exagero e atualmente desacompanhados de qualquer rigor cientĂ­fico, propiciaram grande avanço no estudo da Criminologia, firmando conceitos pos-teriormente aperfeiçoados por outros expoentes, como Enrico Ferri, representante da fase sociolĂłgica desta escola. Para a Escola Positiva, a pena deveria visar somente a recuperação do delinquente ou sua neutralização, quando se constatasse a impossibilidade de recuperĂĄ-lo, e nĂŁo a tutela do bem jurĂ­dico, motivo pelo qual poderia se dispensar a relação entre sua cominação e a extensĂŁo do dano praticado. No seu bojo, inovou-se no tocante ao mĂ©todo, adotando-se o mĂ©todo experimental, no qual os crimes e os criminosos sĂŁo analisados indivi-dualmente, respeitando peculiaridades e particularidades de cada caso concreto. Lombroso representou a fase antropolĂłgica da Escola Positiva, introduzindo o mĂ©todo experimental no estudo da criminalidade; desenvolveu a teoria do criminoso nato, indivĂ­duo que seria predisposto Ă  prĂĄtica delituosa em razĂŁo de caracterĂ­sticas antropolĂłgicas. JĂĄ Enrico Ferri, representante da fase sociolĂłgica, fundamentava a responsabi-lidade penal na convivĂȘncia social, afastando a tese do livre arbĂ­trio.

(b) Como conceito criminolĂłgico, a vitimização se desdobra em trĂȘs aspectos: a) primĂĄria: presente logo em seguida ao cometimento do crime; sĂŁo os efeitos imediatos da conduta delituosa, como o prejuĂ­zo pessoal, material ou moral; b) secundĂĄria: Ă© o produto da equação que envolve as vĂ­timas primĂĄrias e o Estado em face do exercĂ­cio do controle formal. Em outras palavras, Ă© o ĂŽnus que recai na vĂ­tima em decorrĂȘncia da operação estatal para apuração e punição do crime; c) terciĂĄria: Ă© a provocada pelo meio social, normalmente em decorrĂȘncia da estig-matização trazida pelo tipo de crime. Exemplo clĂĄssico Ă© a vĂ­tima de crimes contra a dignidade sexual, que, alĂ©m de suportar o crime, sofre o preconceito de outras pessoas, que nĂŁo a aceitam como anteriormente. Logo, a vitimização terciĂĄria nĂŁo trata do padecimento da vĂ­tima pela intervenção do sistema legal.

(c) Efetivamente, o controle social pode ser definido como a reuniĂŁo de mecanismos e sançÔes sociais imbuĂ­dos do propĂłsito de submeter os componentes do grupo social Ă s regras estabelecidas para a comu-nidade. Pode ser formal (ĂłrgĂŁos de Estado) ou informal (famĂ­lia, opiniĂŁo pĂșblica etc.). A principal forma de controle Ă© a informal, que se aplica em todos os momentos da vivĂȘncia em comunidade. Constatada a sua insuficiĂȘncia, o controle informal cede lugar aos mecanismos de controle formal.

(d) A diferença bĂĄsica entre o Direito Penal e a criminologia Ă© a de que esta Ășltima Ă© uma ciĂȘncia empĂ­rica que estuda o crime, a pessoa do criminoso, da vĂ­tima e o comportamento da sociedade, que retrata o delito enquanto fato, perquirindo as suas origens, as razĂ”es de sua existĂȘncia, os seus contornos e a forma de exteriorização, ao passo que o Direito Penal se atĂ©m somente Ă s consequĂȘncias do delito, impondo a respectiva sanção.

Gabarito: A

05. (MPE/GO – Promotor de Justiça – GO/2010) Com base na Crimi-nologia contemporñnea majoritária (perspectiva etiológica), assinale a alternativa incorreta:

a) A teoria do etiquetamento, proposta por Becker, destaca a impor-tĂąncia do estudo de psicopatas para a compreensĂŁo do fenĂŽmeno delitivo.

b) A teoria ecológica ou da desorganização social aponta para o meio físico (principalmente, o bairro) na compreensão do fenÎmeno delitivo.

c) Para as teorias da aprendizagem, alguém primeiro se agrupa com sujeitos que cumprem as normas ou não, e isso influi decisivamente em que seu próprio comportamento seja respeitoso ou desviado.

d) A teoria da anomia, a partir da formulação de Durkheim, sugere que tanto as crises econĂŽmicas como as Ă©pocas de aumento inesperado de bem-estar tĂȘm influĂȘncia agravante na taxa de criminalidade.

Z AnotaçÔes/Comentårios

(a) A teoria do etiquetamento, desenvolvida no Ăąmbito da crimino-logia, nĂŁo se relaciona com o estudo de psicopatas para a compreensĂŁo do fenĂŽmeno delitivo. Considera que o sistema penal Ă© seletivo quanto ao estabelecimento da população criminosa, proporcionando que a lei penal recaia com maior ĂȘnfase apenas sobre determinadas camadas da população, como, por exemplo, fazendo com que a maior parte da população carcerĂĄria seja proveniente de classes econĂŽmicas baixas.

(b) A teoria ecológica ou da desorganização social, no ùmbito da criminologia, estuda a razão pela qual se identifica que a popula-ção criminosa é composta, em sua maioria, por membros da mesma comunidade, impossibilitada de impor modelos adequados de ação individual e coletiva.

(c) Para as teorias da aprendizagem, assim como o indivĂ­duo absorve as regras sobre condutas e atividades lĂ­citas pela convi-vĂȘncia com pessoas e grupos, da mesma forma apreende valores inerentes Ă s atividades criminosas, incorporando o comportamento desviado.

(d) Anomia significa desorganização, anarquia. Para essa teoria, fatores diversos que arruínam a organização rotineira da vida social, tornando confusa a aplicação das normas até então vigentes, podem provocar a anomia, ou seja, a falta de normas.

Gabarito: A

2. PRINCÍPIOS

06. (CESPE – Delegado de PolĂ­cia – PC-SE/2018) O princĂ­pio da indivi-dualização da pena determina que nenhuma pena passarĂĄ da pessoa do condenado, razĂŁo pela qual as sançÔes relativas Ă  restrição de liberdade nĂŁo alcançarĂŁo parentes do autor do delito.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A individualização da pena Ă© relacionada Ă  anĂĄlise da gravidade do fato e das condiçÔes de seu autor. Deve ser observada em trĂȘs momen-tos: a) na definição do crime e da pena pelo legislador; b) na imposição da pena pelo juiz; c) na fase de execução da pena, momento em que os condenados serĂŁo classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal (art. 5Âș da LEP).

89

PEN

AL

Como se preparar para o Concurso de Delegado | Caderno de QuestÔes

O princĂ­pio segundo o qual nenhuma pena passarĂĄ da pessoa do condenado Ă© o da intranscendĂȘncia, ou da pessoalidade, expresso no art. 5Âș, inciso XLV, da Constituição Federal, que dispĂ”e: “nenhuma pena passarĂĄ da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, atĂ© o limite do valor do patrimĂŽnio transferido”. A Convenção Americana de Direitos Humanos tambĂ©m disciplina o princĂ­pio, prevendo que “a pena nĂŁo pode passar da pessoa do condenado” (art. 5Âș, 3, CADH). Trata-se de desdobramento lĂłgico dos princĂ­pios da responsabilidade penal indi-vidual, da responsabilidade subjetiva e da culpabilidade.

Gabarito: Errado

07. (CESPE – Delegado de Polícia – PC-SE/2018) Em razão do princí-pio da legalidade penal, a tipificação de conduta como crime deve ser feita por meio de lei em sentido material, não se exigindo, em regra, a lei em sentido formal.

Z AnotaçÔes/Comentårios

O artigo 5Âș, inciso II, da Constituição Federal dispĂ”e que “ninguĂ©m serĂĄ obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senĂŁo em virtude de lei”. Reforçando essa garantia, o artigo 5Âș, XXXIX da Carta Magna (com idĂȘntica redação do artigo 1Âș do CP) anuncia que “nĂŁo hĂĄ crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prĂ©via cominação legal”. Trata-se de real limitação ao poder estatal de interferir na esfera de liberdades individuais, daĂ­ sua inclusĂŁo na Constituição entre os direitos e garantias fundamentais.

Em Direito Penal, mais do que a legalidade, impera a reserva legal, segundo a qual a infração penal somente pode ser criada por lei em sentido estrito, ou seja, lei complementar ou lei ordinåria, aprovadas e sancionadas de acordo com o processo legislativo respectivo, previsto na CF/88 e nos regimes internos da Cùmara dos Deputados e Senado Federal.

Gabarito: Errado

08. (MPE – BA – Promotor de Justiça – MPE – BA/2018 – Adaptada) Assinale a alternativa correta.

A assertiva de que ninguém pode ser punido pelo que pensa ou pelo modo de viver reflete o princípio da exteriorização do fato em direito penal.

Z AnotaçÔes/Comentårios

Pelo princĂ­pio da materialização do fato (nullum crimen sine actio), o Estado sĂł pode incriminar condutas humanas voluntĂĄrias, isto Ă©, fatos, e nunca condiçÔes internas ou existenciais. Em outras palavras, estĂĄ consagrado o Direito Penal do fato, vedando-se o Direito Penal do autor, consistente na punição do indivĂ­duo baseada em seus pensamentos, desejos ou estilo de vida. Essa caracterĂ­stica do Direito Penal levou o STF a declarar a inconstitucionalidade do art. 25 da Lei de ContravençÔes Penais, que punia a conduta de “Ter alguĂ©m em seu poder, depois de condenado, por crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito Ă  liber-dade vigiada ou quando conhecido como vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na prĂĄtica de crime de furto, desde que nĂŁo prove destinação legĂ­-tima”. Para o tribunal, “Admitir essa qualidade do sujeito ativo para configuração do tipo vai muito alĂ©m da intenção de proteger o bem jurĂ­dico tutelado, no caso o “patrimĂŽnio”, e representa, isso sim, um modelo polĂ­tico-criminal nĂŁo sĂł transgressor da prĂłpria dignidade da pessoa humana, mas tambĂ©m apto a substituir um modelo de direito penal do fato por um modelo de direito penal do autor” (RE 583.523/RS, j. 03/10/2013).

Alertamos, no entanto, que, embora tenha adotado o Direito Penal do fato, nosso ordenamento penal admite, de forma legítima, circuns-tùncias relacionadas ao autor, especificamente na anålise da pena (personalidade, antecedentes criminais etc.), resultado do mandamento constitucional da individualização da sanção penal.

Gabarito: Certo

09. (MPE – MS – Promotor de Justiça – MS/2013) Relativamente ao princípio da insignificñncia, assinale a alternativa correta:

a) O princĂ­pio da insignificĂąncia pode ser aplicado no plano abstrato.

b) Possuindo o réu antecedente criminal não é possível a aplicação do princípio da insignificùncia.

c) O princípio da insignificùncia atua como instrumento de interpre-tação restritiva do tipo penal.

d) Pode se dizer que o fundamento teĂłrico do princĂ­pio da insignifi-cĂąncia reside no carĂĄter retributivo.

e) Segundo o Superior Tribunal de Justiça, em caso de apreensão de quantidade ínfima de cocaína é possível o trancamento da ação penal, com base no princípio da insignificùncia.

Z AnotaçÔes/Comentårios

(a, c) O tipo penal, abstratamente considerado, é aplicado indistin-tamente, sem nenhuma limitação em razão da variåvel gravidade da lesão ao bem jurídico. O princípio da insignificùncia atua concretamente, restringindo a aplicação do tipo penal sobre fatos cujo impacto seja de tal forma diminuto que não exija punição na esfera penal.

(b) Embora a assertiva tenha sido considerada incorreta, a questĂŁo Ă© objeto de controvĂ©rsia. HĂĄ quem sustente que a incidĂȘncia do princĂ­pio da insignificĂąncia deve se basear em anĂĄlise estritamente objetiva, ou seja, se a lesĂŁo ao bem jurĂ­dico for irrelevante, exclui-se a tipicidade. Outros sustentam que se deve analisar tambĂ©m a reprovabilidade social da conduta, que se liga Ă  vida pregressa do agente, pois, tratando-se de alguĂ©m que se dedica ao crime, nĂŁo pode o Estado se abster, sob pena de incentivar a multiplicação de fatos delituosos. HĂĄ decisĂŁo do STF nesse sentido (HC 136.769/PR, rel. min. Ricardo Lewandowski, DJe 07/11/2016). No mesmo sentido, o STJ: “No caso, tem-se a impossibili-dade de aplicação do princĂ­pio da bagatela, pois o recorrente Ă© reinci-dente e possui maus antecedentes, nĂŁo havendo como se reconhecer o reduzido grau de reprovabilidade da conduta, a atrair a aplicação do referido princĂ­pio, em consonĂąncia com a orientação jurisprudencial desta Corte” (AgRg no AgRg no AREsp 1.683.178/MG, j. 01/09/2020).

(d) A insignificùncia é desdobramento lógico do princípio da frag-mentariedade, que, por sua vez, é decorrente do princípio da interven-ção mínima. De acordo com esse postulado o direito penal só deve ser aplicado quando estritamente necessårio, de modo que a sua inter-venção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de controle (caråter subsidiårio), observando somente os casos de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente tutelado (caråter fragmentårio).

(e) A jurisprudĂȘncia do STJ adota a orientação de que tanto no trĂĄfico quanto no uso de drogas a insignificĂąncia nĂŁo Ă© aplicĂĄvel (HC 318936/SP e RHC 57561/SE).

Gabarito: C

10. (FUNCAB – Delegado de PolĂ­cia – RJ/2012) De acordo com o GlossĂĄrio JurĂ­dico do Supremo Tribunal Federal, “o princĂ­pio da insig-nificĂąncia tem o sentido de excluir ou de afastar a prĂłpria tipicidade penal, ou seja, nĂŁo considera o ato praticado como um crime, por isso, sua aplicação resulta na absolvição do rĂ©u e nĂŁo apenas na diminuição e substituição da pena ou nĂŁo sua nĂŁo aplicação”. Sobre o tema princĂ­pio da insignificĂąncia, assinale a resposta correta.

a) Buscando sua origem, de acordo com certa vertente doutrinåria, no Direito Romano, o princípio da insignificùncia vem sendo objeto de recorrentes decisÔes do STF, nas quais são estabelecidos dois parùmetros para sua determinação: reduzidíssimo grau de repro-vabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica provocada.

b) O princĂ­pio da insignificĂąncia, decorrĂȘncia do carĂĄter fragmentĂĄrio do Direito Penal, tem base em uma orientação utilitarista, tem origem controversa, encontrando, na atual jurisprudĂȘncia do STF, os seguintes requisitos de configuração: a mĂ­nima ofensividade da conduta do agente; nenhuma periculosidade social da ação; o reduzidĂ­ssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e a inexpressividade da lesĂŁo jurĂ­dica provocada.

c) Sua atual elaboração deita raĂ­zes na doutrina de Claus Roxin e, no Direito Penal brasileiro, consoante jurisprudĂȘncia atual do STF, se limita Ă  avaliação da inexpressividade da lesĂŁo jurĂ­dica provocada, ou seja, observa-se se a ofensa ao bem jurĂ­dico tutelado Ă© relevante ou banal.

d) Surgindo como uma consequĂȘncia lĂłgica do princĂ­pio da indivi-dualização das penas, a insignificĂąncia penal nĂŁo aceita a peri-culosidade social da ação como parĂąmetro, de acordo com o posicionamento atual do STF, em razĂŁo da elevada abstração desse conceito, mas apresenta como requisitos: a mĂ­nima ofensividade da conduta do agente; o reduzidĂ­ssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e a inexpressividade da lesĂŁo jurĂ­dica provocada.

90 Como se preparar para o Concurso de Delegado | Caderno de QuestÔes

e) Inserida no princĂ­pio da intervenção mĂ­nima, embora jĂĄ mencio-nada anteriormente por Welzel como uma faceta do princĂ­pio da adequação social, a insignificĂąncia determina a inexistĂȘncia do crime quando a conduta praticada apresentara simultĂąnea pre-sença dos seguintes requisitos, exigidos pela atual jurisprudĂȘncia do STF: a mĂ­nima ofensividade da conduta do agente; nenhuma periculosidade social da ação; o reduzidĂ­ssimo grau de reprova-bilidade do comportamento; a inexpressividade da lesĂŁo jurĂ­dica provocada; e a inexistĂȘncia de um especial fim de agir.

Z AnotaçÔes/Comentårios

(a, b) O princĂ­pio da insignificĂąncia Ă© decorrente da fragmentarie-dade do Direito Penal, aplicĂĄvel somente nos casos de relevante lesĂŁo ou perigo de lesĂŁo ao bem juridicamente tutelado. O STF tem admitido recorrentemente a insignificĂąncia, desde que “a conduta do agente seja marcada por ofensividade mĂ­nima ao bem jurĂ­dico tutelado, reduzido grau de reprovabilidade, inexpressividade da lesĂŁo e nenhuma pericu-losidade social” (HC 119.580/BA, DJe 20/08/2014).

(c) NĂŁo Ă© equivocado buscar na doutrina de Claus Roxin sobre a tipicidade penal o fundamento do princĂ­pio da insignificĂąncia. A assertiva estĂĄ errada, no entanto, ao limitar as exigĂȘncias impostas pelo STF Ă  avaliação da inexpressividade da lesĂŁo jurĂ­dica provocada. Como vimos nos comentĂĄrios acima, sĂŁo quatro os requisitos: a) conduta marcada por ofensividade mĂ­nima ao bem jurĂ­dico tutelado; b) reduzido grau de reprovabilidade; c) inexpressividade da lesĂŁo; d) nenhuma periculosidade social.

(d) O princípio da insignificùncia não tem ligação com a individua-lização da pena, mas com o caråter fragmentårio do Direito Penal. No mais, a respeito dos requisitos, aplicam-se os comentårios às assertivas anteriores.

(e) Dentre os requisitos estabelecidos pelo STF para a aplicação do princĂ­pio da insignificĂąncia nĂŁo estĂĄ a inexistĂȘncia de especial fim de agir, que nĂŁo faz sentido, dada a natureza do instituto.

Gabarito: B

11. (ACADEPOL – Delegado de Polícia – SP/ 2011) A ideia de que o Direito Penal deve tutelar os valores considerados imprescindíveis para a sociedade, e não todos os bens jurídicos, sintetiza o princípio da

a) adequação social.

b) culpabilidade.

c) fragmentariedade.

d) ofensividade.

e) proporcionalidade.

Z AnotaçÔes/Comentårios

(a) O princĂ­pio da adequação social, idealizado por Hans Welzel, define que, apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal, nĂŁo serĂĄ considerada tĂ­pica se for socialmente adequada ou reconhecida, isto Ă©, se estiver de acordo com a ordem social da vida historicamente condicionada. O princĂ­pio da adequação tem duas funçÔes precĂ­puas: a) de restringir o Ăąmbito de abrangĂȘncia do tipo penal (limitando sua interpretação ao excluir as condutas socialmente aceitas); b) de orientar o legislador na seleção dos bens jurĂ­dicos a serem tutelados, atuando, tambĂ©m, no processo de descriminalização de condutas. O princĂ­pio da adequação social apresenta as mesmas funçÔes do princĂ­pio da inter-venção mĂ­nima (do qual decorre a fragmentariedade), mas ambos tĂȘm fundamentos distintos – aquele, a aceitação da conduta pela sociedade; este, a Ă­nfima relevĂąncia da lesĂŁo ao bem jurĂ­dico.

(b) A culpabilidade Ă© um postulado limitador do direito de punir. Assim, sĂł pode o Estado impor sanção penal ao agente imputĂĄvel (penalmente capaz), com potencial consciĂȘncia da ilicitude (possibi-lidade de conhecer o carĂĄter ilĂ­cito do seu comportamento), quando dele exigĂ­vel conduta diversa (possibilidade de agir de outra forma).

(c) O Direito Penal sĂł deve ser aplicado quando estritamente neces-sĂĄrio, de modo que sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de controle (carĂĄter subsidiĂĄrio), observando somente os casos de relevante lesĂŁo ou perigo de lesĂŁo ao bem juridicamente tutelado (carĂĄter fragmentĂĄrio). De acordo com este Ășltimo aspecto, o Direito Penal nĂŁo se destina Ă  proteção de todos os bens juridicamente tutelados, mas somente daqueles dotados de especial relevĂąncia social. Isso significa que, de toda a gama de interesses protegidos pelo ordena-mento jurĂ­dico, volta-se o Direito Penal apenas a parte dele (fragmentos).

(d) O princĂ­pio da ofensividade ou lesividade (nullum crimen sine iniuria) exige que do fato praticado ocorra lesĂŁo ou perigo de lesĂŁo ao bem jurĂ­dico tutelado. Tal como outros princĂ­pios, o da lesividade nĂŁo se destina somente ao legislador, mas tambĂ©m ao aplicador da norma incriminadora, que deverĂĄ observar, diante da ocorrĂȘncia de um fato tido como criminoso, se houve efetiva lesĂŁo ou ao menos perigo con-creto de lesĂŁo ao bem jurĂ­dico protegido.

(e) A proporcionalidade é um princípio constitucional implícito, desdobramento lógico do mandamento da individualização da pena. Para que a sanção penal cumpra a sua função, deve se ajustar à rele-vùncia do bem jurídico tutelado, sem desconsiderar as condiçÔes pessoais do agente.

Gabarito: C

12. (Delegado de PolĂ­cia – AP/ 2010 – FGV) Quando o Supremo Tribunal Federal editou a SĂșmula Vinculante nÂș 11 “SĂł Ă© lĂ­cito o uso de algemas em casos de resistĂȘncia e de fundado receio de fuga ou de perigo Ă  integridade fĂ­sica prĂłpria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisĂŁo ou do ato processual a que se refere, sem prejuĂ­zo da responsabilidade civil do Estado”, o fez com base na interpretação de determinados princĂ­pios constitucionais do direito penal. Assinale qual das alternativas a seguir contĂ©m um princĂ­pio que nĂŁo foi utilizado como fundamento dessa decisĂŁo.

a) “A RepĂșblica Federativa do Brasil, formada pela uniĂŁo indissolĂșvel dos Estados e MunicĂ­pios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado DemocrĂĄtico de Direito e tem como fundamentos (...) a dignidade da pessoa humana” (art. 1Âș, III, CF).

b) “NinguĂ©m serĂĄ privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” (art. 5Âș, LIV, CF).

c) “SĂŁo inviolĂĄveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação” (art. 5Âș, X, CF).

d) “É assegurado aos presos o respeito Ă  integridade fĂ­sica e moral” (art. 5Âș, XLIX, CF).

e) “NinguĂ©m serĂĄ submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante” (art. 5Âș, III, CF).

Z AnotaçÔes/Comentårios

(a) Um dos fundamentos da sĂșmula vinculante nÂș 11 Ă© a preservação da dignidade da pessoa humana, aviltada quando o uso de algemas ocorre simplesmente com propĂłsito desonroso, infamante.

(b) O uso de algemas nĂŁo estĂĄ relacionado Ă  clĂĄusula do devido processo legal, mas Ă  necessidade em situaçÔes de “resistĂȘncia e de fundado receio de fuga ou de perigo Ă  integridade fĂ­sica prĂłpria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros”, conforme se extrai da prĂłpria sĂșmula acima transcrita.

(c) O uso indiscriminado e sem critério de algemas também pode acarretar violação à imagem e à honra da pessoa, pois a exposição do preso algemado certamente contribui para que lhe seja atribuída a pecha de criminoso antes do julgamento ou mesmo do processo.

(d) A integridade física e moral do preso também pode ser atingida nas situaçÔes em que as algemas são aplicadas no intuito de desneces-sariamente subjugå-lo, diminuí-lo.

(e) A utilização de algemas pode constituir tratamento degradante se nĂŁo ocorre com o propĂłsito Ășnico de garantir a segurança tanto do prĂłprio preso quanto dos demais envolvidos na prisĂŁo.

Gabarito: B

3. FONTES DO DIREITO PENAL

13. (Cespe – Juiz de Direito Substituto – ES/ 2012 – Adaptada) Assi-nale a opção correta com referĂȘncia Ă s fontes de direito penal.

A jurisprudĂȘncia, entendida como a repetição de decisĂ”es em um mesmo sentido, emanadas dos tribunais, Ă© fonte de criação do direito penal.

Z AnotaçÔes/Comentårios

A jurisprudĂȘncia adquiriu novos contornos e importĂąncia no cenĂĄ-rio jurĂ­dico-penal, passando a ser fonte imediata reveladora de direito

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PEN

AL

Como se preparar para o Concurso de Delegado | Caderno de QuestÔes

(nĂŁo Ă©, pois, fonte de criação). É o que ocorre de forma evidente com as sĂșmulas vinculantes, a exemplo do verbete de nÂș 24, que disciplina a atipicidade de crime contra a ordem tributĂĄria quando pendente o lançamento definitivo do tributo. De outro lado, as decisĂ”es jurispru-denciais, ainda que nĂŁo vinculantes, configuram tambĂ©m fonte formal imediata, a exemplo do que ocorre com o crime continuado (art. 71, CP), cujos contornos atuais dados pelos tribunais limitam a continuidade no tempo (trinta dias entre as infraçÔes) e no espaço (mesma comarca ou comarcas vizinhas).

Gabarito: Errado

14. (Delegado de PolĂ­cia – SP/ 2011 – ACADEPOL) Com relação Ă s fontes do Direito Penal, Ă© correto dizer que as fontes formais sĂŁo classificadas em

a) materiais e de cognição.

b) imediata e substancial.

c) mediata e de produção.

d) mediata e imediata.

e) exclusivamente de cognição.

Z AnotaçÔes/Comentårios

(a, d, e) Fonte material Ă© a fonte de produção da norma, o ĂłrgĂŁo encarregado da criação do Direito Penal. Por previsĂŁo constitucional, a fonte material do Direito Penal no Brasil Ă© a UniĂŁo (art. 22, I, CF/88). A expressĂŁo fonte de cognição nĂŁo Ă© espĂ©cie de fonte formal, mas seu sinĂŽnimo. A fonte formal Ă© o instrumento de exteriorização do Direito Penal, ou seja, o modo como as regras sĂŁo reveladas. É a fonte de conhe-cimento ou de cognição, tradicionalmente classificada em: a) imediata: a lei Ă© a Ășnica fonte formal imediata do Direito Penal; b) mediata: abrange os costumes e os princĂ­pios gerais de direito

(b) Fonte substancial Ă© sinĂŽnimo de fonte material.

(c) Fonte de produção é sinÎnimo de fonte material.

Gabarito: D

4. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DE CRIMES

15. (MPE- PR – Promotor de Justiça – MPE – PR/2016) O delito de extorsão mediante sequestro pode ser classificado como:

a) Delito de tendĂȘncia interna transcendente peculiar;

b) Delito de tendĂȘncia interna transcendente de resultado separado;

c) Delito de tendĂȘncia interna transcendente incompleto de dois atos;

d) Delito de tendĂȘncia interna peculiar de resultado separado;

e) Delito de tendĂȘncia interna peculiar incompleto de dois atos.

Z AnotaçÔes/Comentårios

(a) O crime de tendĂȘncia interna transcendente peculiar se caracte-riza pelo fato de que a tendĂȘncia que transcende a objetividade tĂ­pica nĂŁo se revela completamente. Trata-se de conceito trazido por Zaffaroni e Pierangeli (Manual de Direito Penal Brasileiro - Parte Geral, pp. 506/507). Em sĂ­ntese, pode ocorrer tanto para reduzir o Ăąmbito de incidĂȘncia da norma quanto para fundamentar o delito. No primeiro caso, os autores citam como exemplo a traição no homicĂ­dio, que pressupĂ”e nĂŁo apenas que a vĂ­tima esteja em situação na qual nĂŁo pode se proteger, mas que o agente se aproveite dessa situação, pois, se assim nĂŁo fosse, todo e qual-quer homicĂ­dio cometido contra um indefeso atrairia a qualificadora. No segundo caso, citam os crimes profissionais ou habituais: “Nestes tipos, a conduta tĂ­pica nĂŁo se configura com uma pluralidade ou repetição, mas a pluralidade ou a repetição de atos sĂŁo apenas uma presunção do profissionalismo ou da habitualidade (Danielsen). A conduta tĂ­pica pode aqui configurar-se com um sĂł ato, se as circunstĂąncias que a rodeiam demonstram a peculiar tendĂȘncia interna que constitui a habitualidade ou o profissionalismo”.

(b) No crime de tendĂȘncia interna transcendente (ou crime de intenção), o sujeito ativo quer um resultado dispensĂĄvel para a consu-mação do delito (que transcende a objetividade tĂ­pica). O tipo subjetivo Ă© composto pelo dolo e por elemento subjetivo especial (finalidade transcendente). Se esse crime for de resultado cortado, isso significa que o resultado (dispensĂĄvel para a consumação), nĂŁo depende do agente, nĂŁo estĂĄ na sua esfera de decisĂŁo. Ex.: na extorsĂŁo mediante sequestro, a obtenção da vantagem – pagamento do resgate –, dispensĂĄvel para

a consumação do crime, não depende do agente, mas de terceiros ligados à vítima.

(c) Trata-se do também denominado crime mutilado de dois atos, que se verifica quando o resultado dispensåvel depende de novo com-portamento do agente, estå em sua esfera de decisão. Ex.: no crime de petrechos para falsificação de moeda, a efetiva falsificação das moedas e sua colocação em circulação, ambos resultados dispensåveis para a consumação, dependem de nova decisão do agente.

(d) O crime de tendĂȘncia interna transcendente de resultado sepa-rado e o mutilado de dois atos nĂŁo se confundem com o de tendĂȘncia peculiar, como vimos nos comentĂĄrios Ă s assertivas anteriores.

Gabarito: B

16. (UFMT – Defensor PĂșblico – DPE – MT/2016 - Adaptada) Em relação aos crimes, Ă© INCORRETO afirmar:

a) Crimes de mera conduta são de consumação antecipada.

b) Nos denominados crimes materiais, o tipo penal descreve a conduta e o resultado naturalĂ­stico exigido.

c) No crime preterdoloso, a totalidade do resultado representa um excesso de fim (isto é, o agente quis um minus e ocorreu um majus), de modo que hå uma conjugação de dolo (no antecedente) e culpa (no subsequente).

d) Crimes de forma livre são aqueles que admitem qualquer meio de execução.

Z AnotaçÔes/Comentårios

(a) Os crimes de mera conduta são aqueles em que o tipo penal descreve apenas a conduta delituosa, sem sequer mencionar o resultado naturalístico. Pune-se aqui pela simples atividade, como, por exemplo, na violação de domicílio (art. 150, CP). Os crimes de consumação antecipada são os formais, nos quais apesar de o tipo penal descrever conduta e resultado naturalístico, este é dispensåvel para a consumação.

(b) SĂŁo crimes materiais aqueles em que o tipo penal descreve conduta e resultado naturalĂ­stico (necessĂĄria modificação no mundo exterior), sendo indispensĂĄvel a sua ocorrĂȘncia para haver consuma-ção. A conduta e o resultado sĂŁo cronologicamente separados. É o que ocorre, por exemplo, no homicĂ­dio (art. 121 do CP).

(c) No crime preterdoloso, o agente pratica delito distinto do que havia projetado cometer, advindo da conduta dolosa resultado culposo mais grave do que o projetado. O comportamento Ă© doloso, mas o resul-tado (mais grave) Ă© involuntĂĄrio. Cuida-se, portanto, de figura criminosa hĂ­brida, havendo verdadeiro concurso de dolo e culpa no mesmo fato (dolo no antecedente – conduta – e culpa no consequente – resultado).

(d) O crime de execução livre é aquele que admite variadas formas para a pråtica da conduta típica, como o homicídio, cometido por golpes de faca, disparo de arma de fogo, envenenamento, esganadura etc.

Gabarito: A

17. (Vunesp – Juiz de Direito – MS/2015) Assinale a alternativa correta a respeito do entendimento do crime.

a) O crime comissivo por omissão é aquele em que o sujeito, por omissão, permite a produção de um re sultado posterior que lhe é condicionante.

b) O crime consunto Ă© o delito que absorve o de menor gravidade.

c) Crime de ação mĂșltipla Ă© aquele em que o sujeito necessita percor-rer vĂĄrias açÔes do preceito funda mental para que consiga chegar ao resultado, sem a qual nĂŁo hĂĄ como se subsumir a conduta ao delito.

d) Crime vago Ă© aquele em que a ação do agente causa dĂșvida sobre a tipificação do fato ao delito realizado.

e) É admissível a forma tentada no crime unisubsistente.

Z AnotaçÔes/Comentårios

(a) Nos crimes omissivos imprĂłprios, ao contrĂĄrio dos omissivos prĂłprios, nĂŁo basta a simples abstenção de comportamento. Adota-se aqui a teoria normativa, em que o nĂŁo fazer serĂĄ penalmente relevante apenas quando o omitente tiver a obrigação de agir para impedir a ocor-rĂȘncia do resultado (dever jurĂ­dico). Mais do que um dever genĂ©rico de agir, aqui o omitente tem dever jurĂ­dico de evitar a produção do evento.