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8/7/2019 COMPARAO CDIGO DE SEABRA (1867) CDIGO CIVIL 1966 (VERSO ORIGINAL) CDIGO CIVIL 1966 (VERSO
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COMPARAO CDIGO DE SEABRA (1867) CDIGO CIVIL 1966
(VERSO ORIGINAL) CDIGO CIVIL 1966 (VERSO ACTUAL)
Nota: os apontamentos apresentados foram recolhidos em aulas tericasde Teoria Geral do Direito Civil I, leccionadas pela Exma. Professora
Doutora Maria Raquel Guimares.
Salto qualitativo no Cdigo de Seabra de 1867 em relao sOrdenaes, dada a especificidade da matria. Nas Ordenaes,
abordavam-se os diferentes ramos de Direito; O Cdigo de Seabra apresenta a concepo do Homem liberal do
sculo XIX.
o Comparao no que concerne Parte Geral1 Note-se a diferena entre o artigo 1. CS1867, o artigo
66. CC1966 e o mesmo artigo no CC2010;
O artigo 4. C
S
1867 apresenta-nos uma justificaopara a existncia do ramo de Direito Civil, que se fica a
dever necessidade de proteco da dignidade
humana, sendo que se entende que os direitos advm
da natureza humana;
Ao abrigo do artigo 97. CS1867, a idade da maioridade 21 anos, no CC1966 a idade da maioridade ainda era
a mesma, j no CC2010 de 18 anos;
No CC1966, apresentado um elenco de factosconstitutivos da emancipao (artigo 132.), j CC2010
apenas reconhecida como nica forma de
emancipao o casamento;
1Para efeitos de apresentao da comparao, utilizam-se as siglas CS1867 (Cdigo de Seabra 1867),
CC1966 (Cdigo Civil 1966 na verso original) e CC2010(Cdigo Civil 1966 na verso actual)
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No CS1867, o poder paternal surge no Direito daFamlia, a propsito dos poderes-deveres (artigo 101.).
Este artigo pressupe a existncia de filhos legtimos e
ilegtimos;
O CS1867 admite a perfilhao de filhos ilegtimos,excepto filhos adulterinos e filhos incestuosos;
Os artigos 157. e seguintes do CC1966 so relativos spessoas colectivas. Nos termos do artigo 158., o
reconhecimento das pessoas colectivas da
responsabilidade do Governo. Ao abrigo do CC2010,
no h lugar a reconhecimento das pessoas colectivas
por qualquer rgo, adquirindo personalidade jurdica
de forma distinta, em virtude da liberdade de
associao consagrada na CRP1976. Actualmente,
basta a uma pessoa colectiva adquirir a forma
estabelecida por Lei.
o Comparao no que concerne ao Direito da Famlia2 Nos termos do artigo 1056. CS1867, o casamento
um contrato perptuo entre duas pessoas de sexo
diferente; ao abrigo do artigo 1577. CC1966, o
casamento um contrato entre duas pessoas de sexo
diferente, em plena comunho de vida. De acordo com
o padro de bons costumes de 1966, considera-se
apenas a famlia constituda a partir do casamento.
Com a Grande Reforma de 1977, desaparece o fim de
constiturem legitimamente famlia atravs do
casamento, de onde decorria a distino filho
legtimo/ilegtimo, e verifica-se a abertura a novasformas de constituir famlia. Assim, de acordo com o
CC2010, o casamento um contrato celebrado entre
duas pessoas que pretendem constituir famlia;
2Para efeitos de apresentao da comparao, utilizam-se as siglas CS1867 (Cdigo de Seabra 1867),
CC1966 (Cdigo Civil 1966 na verso original) e CC2010(Cdigo Civil 1966 na verso actual)
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O CC1966 apresenta, no artigo 1601., osimpedimentos dirimentes absolutos de celebrao de
casamento, verificando-se uma discriminao entre
sexo masculino e feminino, no que concerne idade
nbil exigida para casar. J ao abrigo do CC1867, nopodem contrair casamento os menores de 14 anos
(sendo do sexo masculino) ou de 12 anos (sendo do
sexo feminino). Mais uma vez se verifica uma
discriminao entre sexos. Actualmente, de acordo
com o CC2010, a idade nbil para ambos os sexos 16
anos (artigo 1601.). Trata-se de uma aplicao prtica
do princpio da igualdade, consagrado no artigo 13.
CRP1976;
No CC1966, o artigo 1671. apresenta os deveresrecprocos dos cnjuges; o artigo 1672. admite a
possibilidade de a mulher adoptar a residncia do
marido, excepto nos casos previstos no mesmo artigo;
o artigo 1674., sob a epgrafe poder marital, deixa
expresso que o marido o chefe de famlia,
competindo-lhe represent-la e decidir em todos os
actos da vida conjugal comum; os artigos 1675. e
1676. reconhecem direitos mulher do marido; o
artigo 1677. declara que pertence mulher, durante a
vida em comum, o governo domstico; o artigo 1678.
revela-nos que, luz da legislao vigente, a
administrao dos bens do casal pertence ao marido;
No CS1867, o artigo 1116. declara que a mulher nopode contrair dvidas sem autorizao do marido; o
artigo 1117. expressa que o domnio e a posse dos
bens comuns esto em ambos os cnjuges, naconstncia do matrimnio, contudo a administrao
dos bens do marido pertence ao marido; o artigo
1118. admite que o marido possa dispor livremente
dos bens mobilirios do casal;
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No CC2010, o artigo 1671. consagra que o casamentobaseia-se na igualdade de direitos e deveres do cnjuge
e o artigo 1672. deixa expresso que os cnjuges esto
reciprocamente vinculados pelos deveres de respeito,
fidelidade, coabitao, cooperao e assistncia.Consiste, mais uma vez, na aplicao do princpio
constitucional da igualdade (artigo 13. CRP);
O artigo 1204. CS1867 admite a separao de pessoase bens, mas no contempla o divrcio. Nos nmeros 1
e 2 do artigo, no se atende ao princpio da igualdade
de gnero. J no CC1966, o artigo 1778. admite
separao litigiosa, contudo o artigo 1790 deixa
expresso que no pode haver dissoluo do casamento
por divrcio dos casamentos catlicos celebrados aps
a entrada em vigor da Concordata entre o Estado
Portugus e a Santa S, em 1940. O artigo 1792.
CC1966 admite a dissoluo de casamento civil ou
casamento catlico celebrado antes da entrada em
vigor da Concordata, por divrcio, com fundamento em
algum dos factos referidos no artigo 1778. ou
mediante converso da separao judicial de pessoas e
bens. Fazendo, agora, aluso ao Cdigo Civil nas suas
edies mais recentes, at h pouco tempo, s o
cnjuge lesado podia requer divrcio, por
incumprimento dos deveres conjugais, o que, ao abrigo
do regime legal em vigor neste momento, j no se
aplica. Deixa de ser o divrcio-sano , adoptando-se
uma concepo sociolgica, distante da via meramente
contratual. Admite-se, portanto, a dissoluo do
divrcio por razes que vo para alm destesimpedimentos contratuais.
Nos termos da Concordata de 1940, o casamentocatlico produz, por si s, efeitos civis, algo que ainda
hoje se mantm. Aps um aditamento Concordata,
torna-se possvel proceder dissoluo do casamento
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catlico por divrcio, cessando os efeitos civis que da
advinham, ainda que, luz da Igreja Catlica,
continuem casados;
Importa distinguir separao de pessoas (e bens) dedivrcio, sendo que este ltimo constitui a ruptura dovnculo contratual do casamento. A separao de
pessoas (e bens) tem fins/interesses patrimoniais e
acautela a vontade daqueles que pretender manter o
vnculo contratual, dada a sua orientao religiosa;
A partir de 2008, o divrcio constitui a ruptura da vidaem comum, independentemente da culpa do(s)
cnjuge(s), no tendo de ser necessariamente a
consequncia da violao de dever conjugal;
No CC1966, o artigo 1801. relativo presuno delegitimidade do filho, consagrando-se que legtimo o
filho nascido ou concebido na constncia do
matrimnio da me. Esta distino entre filhos
legtimos e ilegtimos desaparece com a Grande
Reforma de 1977. No CC2010, o artigo 1847. fala em
filhos concebidos dentro e fora do casamento; o artigo
1798. apresenta-nos o critrio utilizado para
determinar o momento da concepo do filho, sem o
estigma da ilegitimidade. Apresenta-se o prazo fixado,
por determinao mdica, ainda que ilidvel face s
circunstncias (por exemplo: ocorrncia de interrupo
voluntria da gravidez), para determinar o momento da
concepo do filho; o artigo 1826., relativo
presuno de paternidade, consagra que se presume o
filho nascido ou concebido na constncia do
matrimnio da me tem como pai o marido da me.
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o Comparao no que concerne ao Direito das Sucesses3 No CS1867, o artigo 1969. apresenta a ordem relativa
sucesso legtima, em que o cnjuge sobrevivo
aparece em posio desfavorvel. Nos termos do artigo
2003., s na falta de descendentes, descendentes eirmos e descendentes destes, que o cnjuge
sobrevivo suceder; no CC1966, o artigo 2133.
apresenta a ordem relativa sucesso legtima, cujas
regras foram alteradas pela Grande Reforma de 1977,
em benefcio do cnjuge sobrevivo;
No CC1966, os artigos 2156. e 2157. so relativos sucesso legitimria, apresentando a mesma ordem do
artigo 2133.. Consideram-se herdeiros legitimrios
apenas os descendentes e ascendentes. Actualmente,
no CC2010, constituem herdeiros legitimrios o
cnjuge, os descendentes e os ascendentes, segundo a
ordem definida pela sucesso legtima;
Estas alteraes relativas relao sucessria advmdas alteraes ao Direito da Famlia, nomeadamente a
possibilidade de dissoluo do casamento e a definio
do regime de bens. Na actualidade, constitui regime de
bens supletivo a comunho de bens adquiridos.
Procura-se privilegiar a vida em comum dos cnjuges,
promovendo a comunho de vida at morte;
Actualmente, pode haver lugar a convenoantenupcial para definio do regime de comunho
geral de bens ou de separao geral de bens. Na
ausncia de conveno, aplica-se o regime supletivo da
comunho de bens adquiridos.
3Para efeitos de apresentao da comparao, utilizam-se as siglas CS1867 (Cdigo de Seabra 1867),
CC1966 (Cdigo Civil 1966 na verso original) e CC2010(Cdigo Civil 1966 na verso actual)
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Na relao entre o Cdigo de Seabra e o Cdigo de 1966 (versooriginal), no h uma significativa ruptura de solues. Alis,
verifica-se antes uma transio de solues entre cdigos, ainda
que o segundo apresente um outro sistema externo (estrutura
sistemtica). A grande diferena entre solues materiais (sistemainterno) reside na relao entre a verso original do Cdigo Civil
1966 e o Cdigo Civil revisto em 1977, sendo que neste ltimo se
procede adaptao das solues do Cdigo quelas constantes da
Lei Fundamental de 1976, nomeadamente o princpio da no -
discriminao;
As alteraes realizadas pelo legislador ordinrio em 1977constituem um avano face realidade que se vivia nessa poca, na
medida em que as novas solues adoptadas no se encontravam
espelhadas na vivncia social constatvel no ps -25 de Abril.