COMPARAÇÃO CÓDIGO DE SEABRA (1867) – CÓDIGO CIVIL 1966 (VERSÃO ORIGINAL) – CÓDIGO CIVIL 1966 (VERSÃO ACTUAL)

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    COMPARAO CDIGO DE SEABRA (1867) CDIGO CIVIL 1966

    (VERSO ORIGINAL) CDIGO CIVIL 1966 (VERSO ACTUAL)

    Nota: os apontamentos apresentados foram recolhidos em aulas tericasde Teoria Geral do Direito Civil I, leccionadas pela Exma. Professora

    Doutora Maria Raquel Guimares.

    Salto qualitativo no Cdigo de Seabra de 1867 em relao sOrdenaes, dada a especificidade da matria. Nas Ordenaes,

    abordavam-se os diferentes ramos de Direito; O Cdigo de Seabra apresenta a concepo do Homem liberal do

    sculo XIX.

    o Comparao no que concerne Parte Geral1 Note-se a diferena entre o artigo 1. CS1867, o artigo

    66. CC1966 e o mesmo artigo no CC2010;

    O artigo 4. C

    S

    1867 apresenta-nos uma justificaopara a existncia do ramo de Direito Civil, que se fica a

    dever necessidade de proteco da dignidade

    humana, sendo que se entende que os direitos advm

    da natureza humana;

    Ao abrigo do artigo 97. CS1867, a idade da maioridade 21 anos, no CC1966 a idade da maioridade ainda era

    a mesma, j no CC2010 de 18 anos;

    No CC1966, apresentado um elenco de factosconstitutivos da emancipao (artigo 132.), j CC2010

    apenas reconhecida como nica forma de

    emancipao o casamento;

    1Para efeitos de apresentao da comparao, utilizam-se as siglas CS1867 (Cdigo de Seabra 1867),

    CC1966 (Cdigo Civil 1966 na verso original) e CC2010(Cdigo Civil 1966 na verso actual)

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    No CS1867, o poder paternal surge no Direito daFamlia, a propsito dos poderes-deveres (artigo 101.).

    Este artigo pressupe a existncia de filhos legtimos e

    ilegtimos;

    O CS1867 admite a perfilhao de filhos ilegtimos,excepto filhos adulterinos e filhos incestuosos;

    Os artigos 157. e seguintes do CC1966 so relativos spessoas colectivas. Nos termos do artigo 158., o

    reconhecimento das pessoas colectivas da

    responsabilidade do Governo. Ao abrigo do CC2010,

    no h lugar a reconhecimento das pessoas colectivas

    por qualquer rgo, adquirindo personalidade jurdica

    de forma distinta, em virtude da liberdade de

    associao consagrada na CRP1976. Actualmente,

    basta a uma pessoa colectiva adquirir a forma

    estabelecida por Lei.

    o Comparao no que concerne ao Direito da Famlia2 Nos termos do artigo 1056. CS1867, o casamento

    um contrato perptuo entre duas pessoas de sexo

    diferente; ao abrigo do artigo 1577. CC1966, o

    casamento um contrato entre duas pessoas de sexo

    diferente, em plena comunho de vida. De acordo com

    o padro de bons costumes de 1966, considera-se

    apenas a famlia constituda a partir do casamento.

    Com a Grande Reforma de 1977, desaparece o fim de

    constiturem legitimamente famlia atravs do

    casamento, de onde decorria a distino filho

    legtimo/ilegtimo, e verifica-se a abertura a novasformas de constituir famlia. Assim, de acordo com o

    CC2010, o casamento um contrato celebrado entre

    duas pessoas que pretendem constituir famlia;

    2Para efeitos de apresentao da comparao, utilizam-se as siglas CS1867 (Cdigo de Seabra 1867),

    CC1966 (Cdigo Civil 1966 na verso original) e CC2010(Cdigo Civil 1966 na verso actual)

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    O CC1966 apresenta, no artigo 1601., osimpedimentos dirimentes absolutos de celebrao de

    casamento, verificando-se uma discriminao entre

    sexo masculino e feminino, no que concerne idade

    nbil exigida para casar. J ao abrigo do CC1867, nopodem contrair casamento os menores de 14 anos

    (sendo do sexo masculino) ou de 12 anos (sendo do

    sexo feminino). Mais uma vez se verifica uma

    discriminao entre sexos. Actualmente, de acordo

    com o CC2010, a idade nbil para ambos os sexos 16

    anos (artigo 1601.). Trata-se de uma aplicao prtica

    do princpio da igualdade, consagrado no artigo 13.

    CRP1976;

    No CC1966, o artigo 1671. apresenta os deveresrecprocos dos cnjuges; o artigo 1672. admite a

    possibilidade de a mulher adoptar a residncia do

    marido, excepto nos casos previstos no mesmo artigo;

    o artigo 1674., sob a epgrafe poder marital, deixa

    expresso que o marido o chefe de famlia,

    competindo-lhe represent-la e decidir em todos os

    actos da vida conjugal comum; os artigos 1675. e

    1676. reconhecem direitos mulher do marido; o

    artigo 1677. declara que pertence mulher, durante a

    vida em comum, o governo domstico; o artigo 1678.

    revela-nos que, luz da legislao vigente, a

    administrao dos bens do casal pertence ao marido;

    No CS1867, o artigo 1116. declara que a mulher nopode contrair dvidas sem autorizao do marido; o

    artigo 1117. expressa que o domnio e a posse dos

    bens comuns esto em ambos os cnjuges, naconstncia do matrimnio, contudo a administrao

    dos bens do marido pertence ao marido; o artigo

    1118. admite que o marido possa dispor livremente

    dos bens mobilirios do casal;

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    No CC2010, o artigo 1671. consagra que o casamentobaseia-se na igualdade de direitos e deveres do cnjuge

    e o artigo 1672. deixa expresso que os cnjuges esto

    reciprocamente vinculados pelos deveres de respeito,

    fidelidade, coabitao, cooperao e assistncia.Consiste, mais uma vez, na aplicao do princpio

    constitucional da igualdade (artigo 13. CRP);

    O artigo 1204. CS1867 admite a separao de pessoase bens, mas no contempla o divrcio. Nos nmeros 1

    e 2 do artigo, no se atende ao princpio da igualdade

    de gnero. J no CC1966, o artigo 1778. admite

    separao litigiosa, contudo o artigo 1790 deixa

    expresso que no pode haver dissoluo do casamento

    por divrcio dos casamentos catlicos celebrados aps

    a entrada em vigor da Concordata entre o Estado

    Portugus e a Santa S, em 1940. O artigo 1792.

    CC1966 admite a dissoluo de casamento civil ou

    casamento catlico celebrado antes da entrada em

    vigor da Concordata, por divrcio, com fundamento em

    algum dos factos referidos no artigo 1778. ou

    mediante converso da separao judicial de pessoas e

    bens. Fazendo, agora, aluso ao Cdigo Civil nas suas

    edies mais recentes, at h pouco tempo, s o

    cnjuge lesado podia requer divrcio, por

    incumprimento dos deveres conjugais, o que, ao abrigo

    do regime legal em vigor neste momento, j no se

    aplica. Deixa de ser o divrcio-sano , adoptando-se

    uma concepo sociolgica, distante da via meramente

    contratual. Admite-se, portanto, a dissoluo do

    divrcio por razes que vo para alm destesimpedimentos contratuais.

    Nos termos da Concordata de 1940, o casamentocatlico produz, por si s, efeitos civis, algo que ainda

    hoje se mantm. Aps um aditamento Concordata,

    torna-se possvel proceder dissoluo do casamento

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    catlico por divrcio, cessando os efeitos civis que da

    advinham, ainda que, luz da Igreja Catlica,

    continuem casados;

    Importa distinguir separao de pessoas (e bens) dedivrcio, sendo que este ltimo constitui a ruptura dovnculo contratual do casamento. A separao de

    pessoas (e bens) tem fins/interesses patrimoniais e

    acautela a vontade daqueles que pretender manter o

    vnculo contratual, dada a sua orientao religiosa;

    A partir de 2008, o divrcio constitui a ruptura da vidaem comum, independentemente da culpa do(s)

    cnjuge(s), no tendo de ser necessariamente a

    consequncia da violao de dever conjugal;

    No CC1966, o artigo 1801. relativo presuno delegitimidade do filho, consagrando-se que legtimo o

    filho nascido ou concebido na constncia do

    matrimnio da me. Esta distino entre filhos

    legtimos e ilegtimos desaparece com a Grande

    Reforma de 1977. No CC2010, o artigo 1847. fala em

    filhos concebidos dentro e fora do casamento; o artigo

    1798. apresenta-nos o critrio utilizado para

    determinar o momento da concepo do filho, sem o

    estigma da ilegitimidade. Apresenta-se o prazo fixado,

    por determinao mdica, ainda que ilidvel face s

    circunstncias (por exemplo: ocorrncia de interrupo

    voluntria da gravidez), para determinar o momento da

    concepo do filho; o artigo 1826., relativo

    presuno de paternidade, consagra que se presume o

    filho nascido ou concebido na constncia do

    matrimnio da me tem como pai o marido da me.

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    o Comparao no que concerne ao Direito das Sucesses3 No CS1867, o artigo 1969. apresenta a ordem relativa

    sucesso legtima, em que o cnjuge sobrevivo

    aparece em posio desfavorvel. Nos termos do artigo

    2003., s na falta de descendentes, descendentes eirmos e descendentes destes, que o cnjuge

    sobrevivo suceder; no CC1966, o artigo 2133.

    apresenta a ordem relativa sucesso legtima, cujas

    regras foram alteradas pela Grande Reforma de 1977,

    em benefcio do cnjuge sobrevivo;

    No CC1966, os artigos 2156. e 2157. so relativos sucesso legitimria, apresentando a mesma ordem do

    artigo 2133.. Consideram-se herdeiros legitimrios

    apenas os descendentes e ascendentes. Actualmente,

    no CC2010, constituem herdeiros legitimrios o

    cnjuge, os descendentes e os ascendentes, segundo a

    ordem definida pela sucesso legtima;

    Estas alteraes relativas relao sucessria advmdas alteraes ao Direito da Famlia, nomeadamente a

    possibilidade de dissoluo do casamento e a definio

    do regime de bens. Na actualidade, constitui regime de

    bens supletivo a comunho de bens adquiridos.

    Procura-se privilegiar a vida em comum dos cnjuges,

    promovendo a comunho de vida at morte;

    Actualmente, pode haver lugar a convenoantenupcial para definio do regime de comunho

    geral de bens ou de separao geral de bens. Na

    ausncia de conveno, aplica-se o regime supletivo da

    comunho de bens adquiridos.

    3Para efeitos de apresentao da comparao, utilizam-se as siglas CS1867 (Cdigo de Seabra 1867),

    CC1966 (Cdigo Civil 1966 na verso original) e CC2010(Cdigo Civil 1966 na verso actual)

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    Na relao entre o Cdigo de Seabra e o Cdigo de 1966 (versooriginal), no h uma significativa ruptura de solues. Alis,

    verifica-se antes uma transio de solues entre cdigos, ainda

    que o segundo apresente um outro sistema externo (estrutura

    sistemtica). A grande diferena entre solues materiais (sistemainterno) reside na relao entre a verso original do Cdigo Civil

    1966 e o Cdigo Civil revisto em 1977, sendo que neste ltimo se

    procede adaptao das solues do Cdigo quelas constantes da

    Lei Fundamental de 1976, nomeadamente o princpio da no -

    discriminao;

    As alteraes realizadas pelo legislador ordinrio em 1977constituem um avano face realidade que se vivia nessa poca, na

    medida em que as novas solues adoptadas no se encontravam

    espelhadas na vivncia social constatvel no ps -25 de Abril.