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1 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL COMPARAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS E SOCIOECONÔMICOS DE SISTEMAS ORGÂNICOS DE PRODUÇÃO ANIMAL ENTRE BRASIL E ITÁLIA ANDRÉA CRISTINA CAPRIATA SILVA Médica Veterinária MOSSORÓ RN BRASIL Março 2011

COMPARAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS E … · Comparação dos impactos ambientais e socioeconômicos de sistemas orgânicos de produção animal entre Brasil e Itália. / Andréa

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIRIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PRODUO ANIMAL

COMPARAO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS E

SOCIOECONMICOS DE SISTEMAS ORGNICOS DE

PRODUO ANIMAL ENTRE BRASIL E ITLIA

ANDRA CRISTINA CAPRIATA SILVA

Mdica Veterinria

MOSSOR RN BRASIL

Maro 2011

2

ANDRA CRISTINA CAPRIATA SILVA

COMPARAO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS E SOCIO

ECONMICOS DE SISTEMAS ORGNICOS DE PRODUO

ANIMAL ENTRE BRASIL E ITLIA

Dissertao apresentada Universidade Federal

Rural do Semirido UFERSA, Campus de

Mossor, como parte das exigncias para a obteno

do ttulo de Mestre em Produo Animal.

Orientador: Prof. Dr. Joo Paulo Guimares Soares

EMBRAPA CERRADOS

Co-orientadora: Prof. Dr. Dbora Andra

Evangelista Faanha - UFERSA

MOSSOR RN BRASIL

Maro 2011

3

Ficha catalogrfica preparada pelo setor de classificao e

catalogao da Biblioteca Orlando Teixeira da UFERSA

S586c Silva, Andra Cristina Capriata.

Comparao dos impactos ambientais e socioeconmicos

de sistemas orgnicos de produo animal entre Brasil e Itlia.

/ Andra Cristina Capriata Silva. -- Mossor, 2011.

135f. : il.

Dissertao (Mestrado em Produo Animal - rea de

Concentrao em Sistemas de Produo Sustentveis no Semi-

rido) Universidade Federal Rural do Semi-rido /

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Pr-Reitoria de

Ps-Graduao.

Orientador: Prof. Dr. Joo Paulo Guimares Soares. Co-orientador: Prof. Dra. Dbora Andra Evangelista

Faanha.

1.Impactos Ambientais. 2.Produo orgnica.

3.Impactos sociais. 4.Impactos econmicos. I.Ttulo. CDD: 363.7

Bibliotecria: Keina Cristina Santos Sousa e Silva

CRB/15 120

4

5

DADOS CURRICULARES DO AUTOR

ANDRA CRISTINA CAPRIATA SILVA Nascida em Cuiab-MT. Cursou e

concluiu o ensino fundamental no Colgio Corao de Jesus em Cuiab-MT no ano de 1999. No

ano de 2000 foi aprovada no exame de seleo para cursar o ensino mdio na Escola Tcnica

Federal do Mato Grosso ETFMT. Em virtude de mudana dos seus genitores, tambm teve seu

domiclio transferido para Aracaju-SE no ano de 2002, onde cursou o terceiro ano e concluiu o

ensino mdio neste mesmo ano no Colgio Pio Dcimo. Em 2004 ingressou no curso de

Medicina Veterinria na Universidade Federal Rural do Semirido UFERSA em Mossor-RN

onde concluiu o curso no ano de 2008. Em 2009 foi selecionada para cursar especializao em

Sade Coletiva pela Faculdades Integradas de Patos - PB e concluiu a mesma em 2011. No ano

de 2009 foi aprovada em 2 lugar geral no Mestrado do Programa de Ps Graduao em

Produo Animal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN e Universidade

Federal Rural do Semirido UFERSA, o mesmo sendo concludo em 2011. No mesmo ano de

2011 foi aprovada no Doutorado em Parasitologia na Universidade Federal de Pelotas UFPEL

na cidade de Pelotas-RS.

6

Aos meus pais, Joo Andr da Silva e Rina

Flora Capriata da Silva, pelo amor, apoio,

incentivo e preocupao com a minha

formao pessoal e profissional. Por tantas

vezes desistirem das suas prprias realizaes

para tornar as minhas possveis.

DEDICO

7

AGRADECIMENTOS

Deus, o nico que digno de adorao. Obrigada senhor pelo dom da vida e por ser

o meu porto seguro em todos o momentos. Eu te agradeo por estar frente das minhas

realizaes profissionais e pessoais.

minha famlia, pelo simples fato de existirem! Pelo carinho e apoio que sempre me

deram. Embora estejamos distantes, sempre estaro no meu corao.

CAPES pela bolsa de estudos concedida que me possibilitou maior dedicao esta

jornada.

UFERSA e UFRN, em especial ao Programa de Ps Graduao em Produo

Animal PGPA, pela grande contribuio na minha formao profissional.

Universidade de Estudos de Firenze UNIFI que possibilitou a realizao deste

estudo na Itlia.

Ao professor Dr. Joo Paulo pela amizade, pacincia e dedicao. Que mesmo sem me

conhecer acreditou na minha capacidade e no meu potencial. Nos momentos mais difceis

sempre me acolheu e nunca deixou de ser o meu orientador. A voc o meu muito obrigada!

professora Dr Dbora Andra por tornar realidade o projeto de intercmbio

acadmico entre a UNIFI e UFERSA. A voc o meu sincero agradecimento!

Ao professor Dr. Andrea Martini por todo apoio e ajuda oferecida durante a minha

estadia na Itlia e principalmente por ter dado todo o suporte necessrio para que este trabalho

pudesse ter sido conduzido da melhor forma possvel.

Ao Hilton Felipe por sempre estar a disposio esclarecendo as minhas dvidas sobre

a metodologia AMBITEC e tambm pela grande parceria durante as entrevistas realizadas no

semirido brasileiro.

Claudia Lotti pela pacincia com as diferenas culturais e disponibilidade para me

acompanhar e aplicar os questionrios nas propriedades italianas.

Aos agricultores brasileiros e italianos pela receptividade e pela disponibilizao de

parte do seu tempo para a instruo deste estudo, sem os quais seria impossvel compreender

a questo!

Aos queridos amigos pelos momentos de alegria e descontrao, tornando a difcil

jornada mais agradvel.

Shirlei Barros pelos momentos de estudo e amizade. Onde enfrentamos juntas as

barreiras culturais de um intercmbio, descobrindo as belezas do velho mundo e aprendendo

um novo idioma.

8

Aos professores do PGPA e em especial ao professor Dr. Emerson Aguiar,

coordenador do curso, pelos conhecimentos transmitidos e pela definio de novos rumos em

minha vida.

Enfim, a todos que contriburam, direta ou indiretamente, para a concluso deste

trabalho, meu cordial muito obrigada!

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ABREVIATURAS

AIA Avaliao de impactos ambientais

Ambitec produo animal Sistema de avaliao de impacto ambiental da inovao

tecnolgica para produo animal

Cab. Cabea

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

COOAFAP Cooperativa de Agricultura Familiar de Apodi

COOPAPI Cooperativa Potiguar de Apicultura e Desenvolvimento Rural

Sustentvel

EMATER/RN Instituto de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Rio Grande

do Norte

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

f. Folha

H Hectare

IBGE

IFOAM

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

Internacional Federation of Organic Agriculture Moviments

Kg Quilograma

Km Quilmetro

Km2

MA

Quilmetro quadrado

Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

MDA Ministrio do Desenvolvimento Agrrio

MS Matria seca

MS Excel Microsoft Excel

Mm Milmetro

m3 Metro cbico

n Nmero

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PV Peso vivo

Ton. Tonelada

UA Unidade animal

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LISTA DE TABELAS

Captulo 1

Pgina

Tabela 1 Panorama dos principais pases europeus no mercado de orgnicos (2004) ..........26

Tabela 2 Pases com maior produo orgnica no mundo.....................................................27

Tabela 3 Pases com maior nmero de fazendas orgnicas certificadas no mundo...........27

Captulo 2

Tabela 4 Coeficientes de alterao do componente em funo do efeito da

tecnologia..................................................................................................................................52

Tabela 5 Escala de ocorrncia e fatores de ponderao utilizado nas matrizes de ponderao

da planilha Ambitec produo animal, e os coeficientes de alterao, coeficientes de

impacto e ndice geral de impacto ambiental da produo orgnica na regio toscana da

Italia..........................................................................................................................................59

Tabela 6 Escala de ocorrncia e fatores de ponderao utilizado nas matrizes de ponderao

da planilha Ambitec produo animal, e os coeficientes de alterao, coeficientes de

impacto e ndice geral de impacto ambiental da produo orgnica no semirido

brasileiro....................................................................................................................................60

Captulo 3

Tabela 7 Escala de ocorrncia e fatores de ponderao utilizado nas matrizes de ponderao

da planilha Ambitec Social, e os coeficientes de alterao, coeficientes de impacto e ndice

geral de impacto social da produo orgnica em unidades produtoras familiares da regio

semirida brasileira...................................................................................................................77

Tabela 8 Escala de ocorrncia e fatores de ponderao utilizado nas matrizes de ponderao

da planilha Ambitec Social, e os coeficientes de alterao, coeficientes de impacto e ndice

geral de impacto social da produo orgnica em unidades de produo familiares da regio

toscana da Itlia.........................................................................................................................79

Captulo 4

Tabela 9 Impacto econmico da produo orgnica em unidades produtivas familiares da

regio semirida brasileira........................................................................................................94

Tabela 10 Impacto econmico da produo orgnica em unidades produtivas familiares da

regio toscana italiana...............................................................................................................98

11

LISTA DE FIGURAS

Captulo 2

Pgina

Figura 1 Mapa do Estado do Rio Grande do Norte. Em destaque o municpio de

Apodi.................48

Figura 2 Mapa da Itlia. Em destaque a Regio Toscana......49

Figura 3 Organograma geral do AMBITEC produo animal - dimenso ambiental (em

detalhe os indicadores e suas respectivas variveis)..51

Figura 4 Exemplo de matriz de indicador AMBITEC produo animal (destaque para os

fatores de ponderao)...53

Figura 5 Exemplo de matriz de indicador AMBITEC produo animal (destaque para a

escala de ocorrncia)... ......54

Figura 6 Viso geral da avaliao do impacto ambiental do AMBITEC - Produo

Animal.......54

Captulo 3

Figura 7 Organograma geral do AMBITEC produo animal - dimenso social (em detalhe

os indicadores e suas respectivas variveis)......71

Captulo 5

Figura 8 Ganho lquido mdio das unidades produtivas familiares avaliadas na regio

semirida brasileira .....................102

Figura 9 Ganho lquido mdio das unidades produtivas familiares avaliadas na regio

toscana italiana ...................................................103

Figura 10 ndice geral de impacto social e ambiental das unidades familiares avaliadas na

regiao semirida brasileira ..104

Figura 11 ndice geral de impacto social e ambiental das unidades familiares avaliadas na

regiao toscana italiana .....104

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APNDICES

Pgina

A - Roteiro do questionrio em italiano aplicado nas propriedades da regio toscana da

Itlia...107

B Planilha utilizada para compilao dos coeficientes de impactos ambientais dos

produtores estudados.....131

C - Planilha utilizada para compilao dos coeficientes de impactos sociais dos produtores

estudados.......131

D Formulrio de coleta das informaes econmicas nos produtores avaliados na regio

semirida brasileira .......................................132

E Entrevista com os produtores da regio toscana.......134

F Produo confinada de bovinos na regio toscana134

G Entrevista com produtores na regio toscana.......134

H Agricultores entrevistados na regio toscana...............134

I Produo de bovinos confinados na regio toscana.......134

J Produo de bovinos confinados na regio toscana......134

L Produo de bovinos na regio toscana....................135

M Produo de bovinos confinados na regio toscana........135

N Entrevista com agricultores da regio semirida......135

O Produo de ovinos na regio toscana......135

P Produo de caprinos na regio semirida........135

Q Produo de caprinos na regio semirida.......135

13

Pgina

CAPTULO 1 - CONSIDERAES GERAIS ................................................................... 15

1 HISTRICO DA AGRICULTURA ORGNICA ...................................................... 16

2 DEFINIO DE AGRICULTURA ORGNICA ...................................................... 19

3 CERTIFICAO DE PRODUTOS ORGNICOS ................................................... 21

4 PRODUO ORGNICA NA UNIO EUROPEIA ................................................ 24

5 PRODUTOS ORGNICOS NO BRASIL .................................................................. 27

6 SISTEMAS ORGNICOS DE PRODUO ANIMAL NO BRASIL E NA UNIO

EUROPIA ............................................................................................................... 29

7 VANTAGENS DA AGRICULTURA ORGNICA..33

8 AVALIAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS AIAs ............................................... 34

9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 37

CAPTULO 2 - IMPACTOS AMBIENTAIS ..................................................................... 43 1 INTRODUO ........................................................................................................... 46

2 OBJETIVO GERAL .................................................................................................... 48

3 OBJETIVOS ESPECFICOS ....................................................................................... 48

4 METODOLOGIA ........................................................................................................ 48

4.1 Local, perodo ..................................................................................................... 48

4.2 Caracterizao das unidades familiares da regio semirida brasileira....... 48

4.3 Caracterizao das unidades familiares da regio toscana italiana .............. 50

4.4 Instrumento de coleta e formao dos ndices ................................................. 51

4.4.1 AMBITEC - dimens]ao ambiental ................................................................ 51

5 RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................................. 57

6 CONSIDERAES FINAIS ....................................................................................... 63

7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 64

CAPTULO 3 - IMPACTOS SOCIAIS ............................................................................... 66

1. INTRODUO .......................................................................................................... 69

2 OBJETIVO GERAL .................................................................................................... 71

3 OBJETIVOS ESPECFICOS ....................................................................................... 71

4 METODOLOGIA ........................................................................................................ 71

4.1 Local, perodo e caracterizao das unidades familiares ............................... 71

4.2 Instrumento de coleta e formao dos ndices ................................................. 71

4.2.1 AMBITEC dimenso SOCIAL ...................................................................... 71

5 RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................................. 73

6 CONSIDERAES FINAIS ....................................................................................... 83

7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 84

CAPTULO 4 - IMPACTOS ECNOMICOS .................................................................... 87

1. INTRODUO .......................................................................................................... 90

2 OBJETIVO GERAL .................................................................................................... 92

3 OBJETIVOS ESPECFICOS ....................................................................................... 92

4 METODOLOGIA ........................................................................................................ 92

4.1 Local, perodo e caracterizao das unidades familiares ............................... 92

4.2 Instrumento de coleta e formao dos ndices ................................................. 92

4.2.1 Receita global anual ........................................................................................ 92

4.2.2 Despesa global anual ....................................................................................... 93

4.2.3 Ganho lquido anual ....................................................................................... 93

5 RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................................. 94

6 CONSIDERAES FINAIS ..................................................................................... 100

7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 101

14 CAPTULO 5 - ANLISE COMPARATIVA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS E

SOCIOECONMICOS ENTRE BRASIL E ITLIA..102

APNDICES ......................................................................................................................... 107

15

CAPTULO 1

CONSIDERAES GERAIS

16

CAPTULO 1 - CONSIDERAES GERAIS

1 HISTRICO DA AGRICULTURA ORGNICA

A agricultura orgnica desenvolvida hoje no mundo teve um histrico bem

controvertido e se baseou em diferentes linhas de estudos e pesquisas em diferentes pases.

Vrios modelos alternativos de agricultura surgiram na dcada de 20, um dos pioneiros neste

tema foi o ingls Sir Albert Howard, que observou camponeses indianos que realizavam

prticas agrcolas de compostagem e adubao orgnica obtendo resultados de grande

importncia que se relacionavam a recuperao da fertilidade do solo com a incorporao de

matria orgnica ao solo (ORMOND et. al. 2002).

Paralelamente na Alemanha, em 1924, Rudolph Steiner deu origem a agricultura

biodinmica, que pode ser classificada como uma cincia espiritual, que busca a harmonia e

o equilbrio entre a terra, plantas, animais e o homem utilizando influencias do sol e da lua.

Caracteriza-se tambm por estabelecer uma ligao entre as formas de matria e de energia

presentes no meio ambiente, onde somente podem ser utilizados os elementos orgnicos

produzidos na propriedade agrcola, pois a mesma considerada um organismo, um ser

indivisvel (ORMOND et. al. 2002; REZENDE, 2005).

A agricultura orgnica propriamente dita surgiu na dcada de 30, na Sua. O

responsvel foi Hans Peter Mller que desenvolveu sistemas de produo que visavam a

proteo da natureza e a qualidade biolgica dos alimentos, preconizando o surgimento de

fontes de energias renovveis e sustentveis. J no Japo, no ano de 1935, Mokiti Okada criou

a Agricultura Natural, hoje em dia conhecida como Igreja Messinica, que possui os preceitos

de uma religio baseada no princpio da purificao da alma atravs de uma alimentao

saudvel. Na Agricultura Natural o solo visto como a principal fonte de vida e para que o

mesmo seja fertilizado, deve-se fortalecer a sua energia natural utilizando os insumos

disponveis no prprio local de produo para adubar e fertilizar a terra. O principal objetivo

a obteno de alimentos por sistemas de produo que se assemelham s condies originais

do ecossistema (ORMOND et. al. 2002; REZENDE, 2005).

Na Inglaterra, entre os anos de 1925 a 1930, com Sir Albert Howard e com Jerome

Irving Rodale, posteriormente na dcada de 40, j era preconizada a no utilizao de adubos

artificiais. O respeito natureza e aos consumidores, atravs da relao solo-planta-

ambiente, constitua o sistema de produo defendido (REZENDE, 2005).

17

A reao contra a prtica da adubao qumica na agricultura intensificou-se na

Europa ainda no incio do sculo XX, quando alguns movimentos em prol de uma produo

natural, valorizavam o uso de matria orgnica e outras prticas agrcolas favorveis aos

processos biolgicos. Esses movimentos, porm, ficaram, por muitos anos, margem da

produo agrcola mundial e suas prticas sequer foram validadas pela comunidade cientfica

(EHLERS, 1996).

O conceito de permacultura, outra linha de atividades alternativas foi defendido por

Bill Mollison, no ano de 1971, na Austrlia, onde tambm apresenta-se como um modelo de

agricultura integrada com o meio ambiente. A diferena encontrada nessa corrente a

utilizao de informaes sobre a direo do sol e dos ventos para a determinao da

disposio espacial das plantas (ORMOND et. al. 2002).

Por volta dos anos 70 na Europa comearam a surgir os primeiros produtos orgnicos

para a compra no comrcio. O movimento ganhou mais fora no final dos anos 80 e teve seu

maior crescimento em meados da dcada de 90, atravs do programa institudo pelo Council

Regulation da CEE no documento 2092/91, de 24 de junho de 1991 que estabeleceu as

normas e os padres de produo, processamento, comercializao e importao de produtos

orgnicos de origem vegetal e animal nos seus estados membros. O mesmo documento vem

sofrendo mudanas ao longo dos anos para incorporar os avanos nas prticas de produo,

processamento e comercializao desses produtos (ORMOND et. al. 2002).

Na dcada de 70, o movimento alternativo tambm surgiu no Brasil, quando estava

ocorrendo o processo de modernizao da agricultura brasileira. Neste perodo o governo

prometia substituir as prticas agrcolas convencionais por um conjunto de prticas

tecnolgicas, tais como, incluso e utilizao de sementes transgnicas, fertilizantes e adubos

qumicos, agrotxicos com maior poder biocida, irrigao e motomecanizacao (CASTRO

NETO et. al., 2010).

A agricultura mundial nesse momento tambm foi impulsionada significativamente

principalmente nos anos 60 e 70 com a chamada "Revoluo Verde", em que as prticas de

mecanizao, correo e fertilizao do solo, assim como a utilizao de agrotxicos contra

pragas e doenas, impulsionaram a produo mundial de alimentos para patamares nunca

antes experimentados (Soares,2008).

Antigamente os sistemas agrcolas eram influenciados pela disponibilidade de

alimentos e pelo clima. Com a modernizao do campo e a utilizao da produo intensiva,

esses efeitos foram minimizados pelas melhorias das instalaes e administrao de rao

industrialmente formulada (Kathounian, 1998; Moura, 2000).

18

Ainda nos anos 70, reflexos negativos destas prticas, como a eroso e a contaminao

de solos e mananciais comearam a ser notados e, j nos anos 80, prticas menos agressivas

ao ambiente passaram a ser experimentadas e adotadas (Neves, 2001).

A necessidade de se mudar os paradigmas de desenvolvimento foram evidenciados no

evento RIO-92 (Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento),

na qual ficou reconhecida a importncia de se caminhar para a sustentabilidade no

desenvolvimento das Naes, a partir do comprometimento com a Agenda 21.

Os novos anseios que envolviam a produo de alimentos despertaram o mundo para

sistemas de produo mais conservacionistas, e a palavra ecologia ganhou significado

especial. Surgem, ento, os sistemas alternativos com propostas ambiciosas para a produo

de alimentos em harmonia com o meio ambiente. Em comum, todas apresentam forte

preocupao com os destinos inseparveis do homem e do meio ambiente, sendo a agricultura

orgnica a mais conhecida desse segmento (Soares, 2008).

Ainda segundo Soares, (2008) a agricultura orgnica apresenta-se como um mercado

inovador, inclusive para o agricultor familiar, em decorrncia da baixa dependncia por

insumos externos, pelo aumento de valor agregado ao produto com conseqente aumento de

renda para o agricultor e por propiciar a conservao dos recursos naturais.

Por outro lado, alguns pesquisadores questionaram sobre os impactos ambientais

causados pela maximizao do uso da tecnologia na produo agrcola. Tambm havia varias

experincias bem sucedidas de produo de alimentos sem agrotxicos no interior de So

Paulo, sendo inteiramente sustentveis e promovendo a proteo dos recursos naturais. Com o

crescimento das crticas agricultura convencional, houve um aumento de interesse pelas

prticas agrcolas consideradas alternativas. Desde a dcada de 80 a produo e o consumo de

orgnicos vm crescendo consideravelmente no pas (CASTRO NETO et. al., 2010).

Na dcada de 90 ocorreu uma mudana no Sistema Agroalimentar (SAG) o que

possibilitou um aumento na oferta de produtos diferenciados, abrindo caminhos para uma

nova conscincia produtiva e de consumo. Com a abertura internacional e a estabilidade

cambial ocorreu a insero dos produtos orgnicos em novos mercados, onde a qualidade

fortemente associada produo em pequena escala (CASTRO NETO et. al., 2010).

19 2 DEFINIO DE AGRICULTURA ORGNICA

De acordo com a Organizao Mundial da Sade (OMS), orgnico um termo de

rotulagem que indica alimentos produzidos em conformidade com as normas de produo

orgnica e certificados por uma estrutura ou autoridade de certificao devidamente

constituda (FAO/OMS, 1999).

Os sistemas de produo orgnicos envolvem processos ecolgicos e sociais, onde a

agricultura pode ser considerada como o resultado da co-evoluo de sistemas naturais e

sociais. A agroecologia busca agroecossistemas sustentveis, com princpios bsicos de

menor dependncia possvel de insumos externos unidades de produo agrcola e a

conservao dos recursos naturais, buscando maximizar a reciclagem de energia e nutrientes,

como forma de minimizar as perdas destes recursos durante os processos produtivos

(AQUINO et. al., 2007) e norteia tanto os sistemas orgnicos quanto os convencionais em

transio (Soares, 2008).

Ainda de acordo com a FAO (Food Agriculture Organization), define-se como

agricultura orgnica, a produo holstica de um sistema de manejo, que promove e estimula a

sade do agrossistema, incluindo a biodiversidade, ciclos biolgicos e a atividade biolgica

do solo. O sistema enfatiza ainda, prticas de manejo em preferncia ao uso de insumos

externos propriedade, levando-se em conta adaptao dos sistemas s condies regionais.

Soma-se a esse pressuposto, o uso, sempre que possvel, de praticas agronmicas, mtodos

mecnicos e biolgicos, em detrimento do uso de materiais sintticos para realizao das

funes de um determinado sistema.

Assim sendo, no se tem projeto de produo de milho orgnico por exemplo, mas sim

projetos de produo orgnica onde todas as culturas envolvidas na rotao e fixao do

nitrognio so orgnicas. O milho, no caso, embora orgnico apenas uma parcela de

produtos do sistema de produo, que pode incluir soja, aveia, pastagem, mandioca, tremoo,

trevo, feijo, carne, ovos, leite, etc, (Soares. 2008).

Na agroecologia a produo sustentvel ocorrer a partir do equilbrio entre plantas,

solo, nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos co-existentes. Quando essas

condies de crescimento ricas e equilibradas prevalecem e as plantas desenvolvem atravs

do manejo tolerncia a estresses e adversidades possumos um agroecossistema bem sucedido.

Essa estratgia viabilizada com o desenho de sistemas produtivos complexos e

diversificados que pressuponham a manuteno de policultivos anuais e perenes associados

com criaes. Sistemas de produo de base agroecolgica caracterizam-se pela utilizao de

20 tecnologias que respeitem a natureza, para, trabalhando com ela, manter ou alterar pouco as

condies de equilbrio entre os organismos participantes no processo de produo, bem como

do ambiente. Com a utilizao destes princpios foram criadas vrias correntes de produo

agrcola no industrial, sendo a agricultura orgnica a mais difundida e servindo com

sinnimo para todas as outras (ALTIERI, 1998; ASSIS; ROMEIRO, 2002).

De acordo com Penteado (2000) a atividade orgnica pode ser definida como um

conjunto de prticas que envolvem a planta, o solo, as condies climticas e a produo de

alimentos.

Caractersticas de mercado e demandas de consumo so influenciadas diretamente pela

utilizao desta tecnologia de produo agrcola. Isso se d a partir da produo com base em

normas de acesso a mercados especiais, onde a certificao que se observa a do produto em

detrimento do sistema de produo como um todo. Essa (re) interpretao do que seja a

agricultura orgnica, com foco prioritrio no chamado mercado de produtos orgnicos, tem

favorecido o estabelecimento de sistemas de produo tidos como orgnicos, baseados em

tecnologias de produtos. Em outras palavras, sistemas de produo que se limita a evitar, ou

excluir amplamente, o uso de fertilizantes sintticos, pesticidas, reguladores de crescimento e

aditivos para a alimentao animal, na medida em que esta a demanda do mercado a ser

atendido. Neste caso, a lgica de organizao da produo mantm-se a mesma dos sistemas

de produo industriais, como se verifica em alguns casos de produes orgnicas

monoculturais, que visam o aumento constante de produtividade, atravs do aporte de

insumos externos unidade de produo (CANUTO, 1998; ASSIS; ROMEIRO, 2002).

De acordo com a Lei 10831, de 23 de dezembro de 2003, o sistema orgnico de

produo agropecuria adota tcnicas especficas, tendo por objetivos a sustentabilidade, a

proteo do meio ambiente, a maximizao dos benefcios sociais, a minimizao da

dependncia de energia no renovvel, a otimizao do uso dos recursos naturais e

socioeconmicos disponveis, bem como o respeito integridade cultural das comunidades

rurais (BRASIL, 2003), ou seja no Brasil todos os movimentos que incluem as diferentes

correntes j citadas como agricultura sustentvel, biodinmica, natural, agroecolgica ou de

base ecolgica so tecnicamente enquadrados como agricultura orgnica.

21

3 CERTIFICAO DE PRODUTOS ORGNICOS

Os pases europeus possuem tradio em exigir que os alimentos que sua populao

ir consumir possuam qualidades superiores, dando origem a certificao. A Internacional

Federation of Organic Agriculture Moviments IFOAM a responsvel por coordenar o

processo no caso dos orgnicos, onde possui o objetivo de diminuir consideravelmente a

assimetria de informaes existentes (MARTINS DE SOUZA, 2000).

Na cidade de Versalhes, na Frana, no ano de 1972 foi criada a IFOAM. A principio

contava com 400 entidades com caractersticas agroambientalistas, atuando em 10 pases e em

aproximadamente 750 entidades no ano de 2004. A mesma organizao a responsvel por

padronizar as normas e credenciar as agencias certificadoras que fazem o monitoramento dos

sistemas de produo, englobando desde o cultivo at o processamento da matria prima,

sempre de acordo com as regras vigentes para a liberao da certificao (IFOAM, 2011).

O objetivo da IFOAM a consolidao mundial da agricultura sustentvel, onde um

modelo econmico que insere os agricultores e trata o estabelecimento agrcola como um

organismo vivo, onde ocorre interao constante entre o homem e o ecossistema agrcola.

Alm de prestar um suporte para a propagao e troca de informaes entre as entidades que a

compe, tambm padroniza internacionalmente as normas e padres tcnicos responsveis por

certificar um produto em orgnico (IFOAM, 2011).

A IFOAM forneceu parmetros para a criao da legislao de orgnicos que regem os

pases europeus. Atuando em base local, tambm existes unidades de certificao

independente na Europa (IFOAM, 2011), assim como orientou a normatizao no Brasil.

Neves et. al. (2004) citam que existem cerca de 800 produtos do agrobusiness com

certificado de qualidade na Frana, arrecadando o equivalente a US$ 1,5 bilhes por ano,

sendo considerado o pas com maior tradio em relao aos certificados de qualidade e ainda

o maior exportador mundial de produtos alimentares transformados. A certificao usada

para valorizar os produtos de origem agropecuria. Na Frana cerca de 180 mil produtores

so beneficiados com o sistema de rtulos de qualidade.

Na Europa o Estado responsvel por controlar diversos grupos ou associaes de

agricultores e com isso certificar os produtos orgnicos. A identificao dos produtos atravs

dos selos de garantia diferenciada em cada pas.

A Lei dos Orgnicos (Lei 10.831/03) que rege a agricultura orgnica brasileira, sendo

o produto orgnico considerado ecolgico, biodinmico, natural, regenerativo, biolgico,

22 agroecolgico, permacultivado e outros (DAROLT, 2002) foi regulamentada pelo Decreto n

o

6323, de 27 de dezembro de 2007 e aps recente consulta pblica de suas instrues

normativas-IN, sendo a principal IN 64 (Brasil 2008) orienta as prticas e processos de

manejo da produo animal e vegetal no Brasil. Neste perodo tambm, foi criado, no mbito

do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA), o programa Pr-Orgnico,

com comisses estaduais de produo orgnica (CPORG) e a Cmara Setorial da Cadeia

Produtiva da Agricultura Orgnica (CSAO). Ambos tm o objetivo de incentivar, estruturar e

desenvolver a cadeia de produo a comercializao de produtos orgnicos no Brasil

(SOARES, 2008)

No Brasil os estados do Rio de janeiro e Rio Grande do sul foram os pioneiros na

comercializao e produo de produtos orgnicos e seu inicio aconteceu no ano de 1978. Os

produtores que foram apoiados por Organizaes No Governamentais (ONGs) deram origem

a esse nova forma de comercializao. Devido a isso se fez necessria a regulamentao para

a produo e comercializao dos produtos orgnicos. No inicio as normas para os produtos

orgnicos eram criadas pelas organizaes dos agricultores, ONGs e cooperativas de

consumidores.

O Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MA) desde setembro de 1994

em associao com os representantes das entidades ligadas produo e ao consumo de

produtos orgnicos que criaram as normas em vigor hoje em todo o territrio nacional com o

objetivo de reger a produo e o consumo dos alimentos orgnicos no Brasil, o que

possibilitou a exportao. Porem s em maio de 1999 o MA publicou a Instruo Normativa

n 007 que criou um selo de qualidade para os produtos orgnicos que vigorou at 2009. A

normativa tratava dos processos de industrializao e de produo, recusava os transgnicos e

a radiao ionizante. Considerava que o processo deve ser transparente em toda a sua

produo gerando a sade ambiental e humana. Os distribuidores no participaram do

processo de discusso e do comprometimento da sociedade como um todo. Foram criados

rgos Colegiados Nacional (OCN) e Estadual que eram partidrios e possuam a funo de

credenciar as instituies certificadoras. Onde as entidades para exercerem a certificao

deveriam ser formadas por pessoas jurdicas sem fins lucrativos e credenciadas junto ao OCN

(MMA, 2006), contudo este trabalhou auxiliou no processo de regulamentao que vigora

agora.

A certificao ou segundo atual Lei 10831, avaliao da conformidade orgnica, tem

por objetivo diferenciar os produtos e fornecer incentivos tanto para os consumidores como

para os produtores. Como regra bsica um produto receber o selo de certificao somente se

23 for produzido sem a utilizao de agrotxicos ou adubao qumica, onde os trabalhadores

envolvidos no processo devem receber uma remunerao justa e participao nos lucros

(Brasil, 2009). A propriedade rural tambm no deve oferecer danos ou riscos ao meio

ambiente.

O Instituto Biodinmico (IBD) uma das 25 certificadoras, ou Organismo Avaliador

da Conformidade (OAC) (Brasil, 2009) atuante no Brasil, possui tendncias mundiais e

trabalha com equivalncia nas normais internacionais para a atividade. Atua desde o ano de

1986, considerada a maior certificadora brasileira. monitorada por credenciamentos

internacionais (IFOAM, DAR, ISSO-65, Demeter, USDA, Eurepgap, JAS), e garante acesso

dos seus produtos ao exterior. A IBD atua em todo territrio nacional e na Amrica Latina,

possui uma equipe de inspetores que fiscalizam e orientam o processo de produo nas

propriedades (IBD, 2005).

Desde 1. de janeiro de 2011 passa a ser fiscalizada pela legislao brasileira (Lei

10.831, BRASIL, (2003)), todos os sistemas de produo que no so convencionais a se auto

intitularem orgnicos pelo uso do novo selo do Sistema Brasileiro de Avaliao da

Conformidade Orgnica (SBCO) somente aps passarem pelo crivo das instituies

certificadoras autorizadas ou OAC.

Para estar aptos comercializao e exportao, os produtos orgnicos tm que ser

certificados. Agncias certificadoras credenciadas junto ao Colegiado Nacional para a

Produo Orgnica (CNPOrg) fornecem Selos de Qualidade, que garantem o cumprimento

das normas de produo orgnica no estabelecimento rural ou na indstria processadora (IBD,

2008).

O processo de avaliao da conformidade orgnica pode ser realizado de duas formas:

A primeira metodologia a certificao auditada e a segunda forma que foi introduzida

recentemente, so denominadas de certificao participativa (BRANCHER, 2004). A auditada

considerada mais tradicional e feita em todo mundo, utiliza uma terceira parte que d

credibilidade ao produtores, comerciantes e consumidores, dando garantia de que os produtos

respeitam os procedimentos orgnicos em todas as etapas de produo (BRANCHER, 2004).

Algumas certificadoras por auditagem de terceira parte possuem credibilidade

internacional, onde no se envolvem com a organizao e o assessoramento dos agricultores,

como a rede de confiana faz, dedicando-se exclusivamente aos processos de certificao

(BRANCHER, 2004).

Na certificao participativa encontramos algumas caractersticas que a diferencia da

certificao por auditagem. Onde a principal diferena observada a confiana, que faz parte

24 dos princpios dos agricultores, tcnicos e consumidores, podem desenvolver as suas aes de

forma responsvel e verdadeira com visando a aprimorar a agroecologia (ECOVIDA, 2004).

A fiscalizao no fica somente restrita aos tcnicos altamente especializados, onde os

agricultores juntamente com os tcnicos na rea e organizaes tambm realizam a

fiscalizao chamadas organismos de controle social-OCS (BRASIL, 2007). Na certificao

participativa fundamental que os grupos e as associaes dos agricultores tenham ligaes

com as organizaes dos consumidores (ECOVIDA, 2004)

Um exemplo de OCS a rede Ecovida que vem atuando no Brasil na rea de

certificao participativa, possuindo 21 ncleos regionais, que abrange cerca de 170

municpios. Seu trabalho abrange 200 grupos de agricultores, 20 ONGs e 10 cooperativas de

consumidores. Em toda a rea de atuao da Ecovida, so mais de 100 feiras livres ecolgicas

e outras formas de comercializao (ECOVIDA, 2010).

A certificao apresenta um alto custo para os pequenos agricultores que muitas vezes

no podem pagar e com isso devem comercializar seus produtos como convencionais,

deixando assim de vender seus produtos com um preo maior. Com isso a forma participativa

apresenta-se como uma forma de certificao que no apresenta custos aos produtores

fazendo com que os mesmos possam realizar a certificao dos seus produtos.

4 PRODUTOS ORGNICOS NA UNIO EUROPEIA

De acordo com Yussefi e Willer (2005) (apud DAROLT), cerca de 30% das

produes convencionais se converteram a produo orgnica entre os anos de 1986 a 1996.

Podemos ter uma viso geral da producao orgnica europia fornecida pela FiBL Survey

(2005/2006), onde encontramos 42% das terras orgnicas de lavouras arveis, onde

geralmente existem plantaes de cereais e forragem, 45% de pastagens permanentes, alm de

7% de terras de colheita, onde a maior parte da produo de frutas e azeitonas. No

continente europeu existem mais 6,5 milhes de hectares orgnicos, se comparado com o ano

de 2003, tem se um aumento de 3%.

O mercado europeu considerado o maior do mundo em relao a comercializao de

alimentos e bebidas orgnicas, movimentando aproximadamente US$ 13,7 milhes no ano de

2004 (IFOAM, 2007). Nos anos de 2001 a 2004 houve um crescimento de 26% na venda de

produtos frescos. Havendo destaque para as frutas orgnicas tropicais exticas. A banana

um dos melhores exemplos, onde a Inglaterra responsvel por comprar 50% das 80

toneladas produzidas. importante mencionar que 48% da comercializao das frutas e

25 verduras orgnicas de todo o continente europeu de responsabilidade dos supermercados

(ORGANIC MONITOR, 2007).

Em 2004 a Alemanha teve um faturamento aproximado de 3,5 bilhes de Euros (cerca

de US$ 4,3 bilhes). De acordo com Yussefi e Willer (2006), o pas possui um crescimento

muito grande na venda de frutas e vegetais, alcanando um acrscimo nas vendas de 14%

nesse mesmo ano. O pas tem o maior mercado da Europa, onde um dos maiores

contribuidores para este sucesso so os supermercados convencionais, que possuem o papel

de canal de distribuio dominante com 36% do total das vendas de produtos orgnicos. Isso

ocorreu devido a importantes redes de supermercados darem espao aos alimentos orgnicos

nas suas lojas, um exemplo a conhecida rede Rewe. Alm disso, a criao de supermercados

especializados em produtos orgnicos se espalha por todo pas, em 2004 foram abertas 40

lojas. A Basic e a Alnatura, so importantes redes alems prometem aumentar os

investimentos em orgnicos nos prximos anos (ORGANIC MONITOR, 2007). De acordo

com os dados da IFOAM (2006) a Alemanha lder em supermercados orgnicos na Europa.

Inicialmente abertos na dcada de 90, hoje somam 250 lojas no pas. A maioria dos

supermercados oferece cerca de 20 a 50 itens orgnicos. J as redes de supermercado Rewe e

a Redeka oferecem uma grande gama de produtos, chegando a 500 itens (YUSSEFI E

WILLER, 2006).

A Inglaterra e a Alemanha juntas so responsveis por metade do excedente do

continente. A Inglaterra responsvel pelo maior mercado de frutas da Europa. E a principal

via de comercializao desses produtos nesse pas tambm atravs do supermercado. A

Wole Foods, uma cadeia de supermercados americana adquiriu a Fresh & Wild, uma rede de

lojas de alimentos orgnicos Inglesa pelo valor de US$ 38 bilhes. Atualmente so sete lojas

operando e aps a compra oito novas lojas esto previstas. A rede tem faturamento anual de

29 bilhes e considerada a rede mais lucrativa (ORGANIC MONITOR, 2007).

A Itlia tambm um pas bastante importante e a maior cadeia de supermercados a

NaturaSi teve um crescimento de 13% de 2004 ao incio de 2005. Na regio norte da Itlia

esto concentrados a maior parte das lojas de produtos orgnicos onde existem cerca de 100

supermercados orgnicos com mdia de 200 m em rea de venda. A Serramarina um

supermercado convencional italiano e abriu uma loja na cidade de Pduva com uma oferta de

25% de produtos orgnicos, quando geralmente no ultrapassa de 8 a 9%. A Tabela 1

apresenta um panorama dos principais pases da Europa.

26 Tabela 1 - Panorama dos principais pases europeus no mercado de orgnicos (2004)

Pas e Dados do mercado

Alemanha

Retorno do mercado de alimentos

orgnicos

(EUR) 3,5 bilhes

Populao (milhes) 82,5

Despesa do consumidor em alimentos

orgnicos

(EUR) 42

Itlia

Retorno do mercado de alimentos

orgnicos

(EUR) 2,4 bilhes

Populao (milhes) 57,8

Despesa do consumidor em alimentos

orgnicos

(EUR) 42

Frana

Retorno do mercado de alimentos

orgnicos

(EUR) 1,9 bilhes

Populao (milhes) 59,9

Despesa do consumidor em alimentos

orgnicos

(EUR) 32

Inglaterra

Retorno do mercado de alimentos

orgnicos

(GRP) 1.213 bilhes

Populao Populao (milhes) 59,2

Despesa do consumidor em alimentos

orgnicos

(EUR) 30

Sua

Retorno do mercado de alimentos

orgnicos

(EUR) 778 milhes

Populao (milhes) 7,4

Despesa do consumidor em alimentos

orgnicos

(EUR) 105

27

Sucia

Retorno do mercado de alimentos

orgnicos

(EUR) 421 milhes

Populao (milhes) 9

Despesa do consumidor em alimentos

orgnicos

(EUR) 47

Holanda

Retorno do mercado de alimentos

orgnicos

(EUR) 419 milhes

Populao (milhes) 16,2

Despesa do consumidor em alimentos

orgnicos

(EUR) 26

Fonte: IFOAM (2006)

5 PRODUTOS ORGNICOS NO BRASIL

De acordo com a matria da revista ISTO DINHEIRO de maio de 2005. Nos anos

de 2003 e 2004 a agricultura orgnica obteve um crescimento de 300% em sua rea plantada.

Nos anos de 2001 e 2002 existiam cerca de 280 mil hectares na safra que em 2004 passaram

para 841 mil hectares. A partir do relatrio da IFOAM (2006) em 2001 os pas apresentava

275,576 hectares certificados, sendo que no ano de 2003 era contabilizados 803,180 hectares.

O total de hectares certificados no mundo de 6,58 milhes, que incluem as grandes reas de

Will colection. O Brasil est entre os lideres da produo mundial o que pode ser observado

na Tabela 2.

Tabela 2 - Pases com maior produo orgnica no mundo

Posio Pas rea de orgnicos (hectares) (reas em inteira converso e em converso)

1 Austrlia 12.126.633

2 China 3.466.570

3 Argentina 2.800.000

4 Itlia 954.361

5 USA 889.048

28

6 Brasil 887.637

7 Alemanha 767.891

8 Uruguai 759.000

9 Espanha 733.182

10 Inglaterra 690.270

Fonte: IFOAM (2006)

De acordo com o Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA) em

2003 o Brasil possui uma rea plantada de 842 mil hectares, que movimentaram US$ 1 bilho.

J o site Deutsche Welle (2004) trouxe uma matria onde afirma que a movimentao

brasileira gira em torno de US$ 100 milhes do total de US$ 26,5 bilhes em 2004. O total de

19 mil fazendas responsvel por volta de 300 mil toneladas de alimentos que movimentam

um mercado de R$ 300 milhes anuais. J a IFOAM apresenta dados que indicam 14 mil

produtores que movimentaram US$ 200 milhes, onde coloca o pas na dcima terceira

(Tabela 3) posio entre os pases lderes em fazendas orgnicos no mundo.

Tabela 3- Pases com maior nmero de fazendas orgnicas certificadas no mundo

Posio Pas Nmero de fazendas orgnicas

1 Mxico 120.000

2 Indonsia 45.000

3 Itlia 36.639

4 Filipinas 33.900

5 Uganda 33.900

6 Tanznia 30.000

7 Kenya 30.000

8 Repblica da Correia 28.951

9 Peru 23.400

13 Brasil 14.003

Cerca de 90% da produo do pas destinada a exportao, o Brasil possui taxas de

crescimento variando em 40 a 50%, que segue tendncia latina americana (IFOAM, 2006).

Para a ISTO DINHEIRO 85% dos produtos so destinados exortao, principalmente para

os Estados Unidos, Europa e Japo, gerando um faturamento de R$ 255 milhes. J o Instituto

29 Biodinmico afirma que 75% da produo orgnica exportada para os mesmos destinos j

mencionados. Aponta tambm que o principal produto exportado a soja. Podemos observar

que a exportao dos produtos nacionais uma tendncia. Dentre os produtos que geralmente

so exportado temos: sucos de frutas, acar, soja processada, acar branco e acar

mascavo, caf, sucos ctricos, mel, arroz, frutas como manga, banana, melo e mamo papaya,

leos essenciais, castanhas, erva mate, cogumelos, leo de babau, leos vegetais, essncias

florestais, extratos vegetais, frutas desidratadas, cachaa e doces. Os lideres das exportaes

so: a soja, o caf e o acar, que somaram juntas US$ 30 milhes em 2004. A Alemanha e a

Holanda so as maiores importadoras da Europa dos produtos brasileiros. As empresas

brasileiras vm se mostrando cada dia mais competitivas e invadindo os mercados

internacionais.

6 SISTEMAS ORGNICOS DE PRODUO ANIMAL NO BRASIL E NA UNIO

EUROPIA

Os sistemas orgnicos de produo animal so modelos sustentveis de produo que

tem em sua essncia a simplicidade e a harmonia com a natureza, sem deixar de lado a

segurana, a produtividade e a rentabilidade para o produtor, onde todos os princpios de

agroecologia1

podem ser aplicados. Por isso, preciso observar que estes sistemas no so

obtidos somente na troca de insumos qumicos por insumos orgnico/biolgico/ecolgicos,

mas prevem cuidados com a alimentao do rebanho, as instalaes e o manejo humanitrio,

a escolha de animais, a sanidade e at os cuidados higinico-sanitrios durante o

processamento e empacotamento do produto.(SOARES, 2010).

Por outro lado, a produo orgnica animal tambm consiste numa atividade

componente e indispensvel aos sistemas orgnicos de produo, que normalmente incluem

gros, frutas e hortalias, pois permitem integrar, o solo as plantas e os animais de forma

sustentvel sem deixar de lado a harmonia com o ambiente, a produtividade e a rentabilidade

para o produtor, atendendo prioritariamente ao preconizado na lei 10831(Brasil, 2003),

atravs de IN 64(Brasil, 2009).

Na Unio Europia a normatizao enfatiza a necessidade de se reduzir a dor e o

sofrimento dos animais ao mnimo possvel ao longo de todo o seu tempo de vida. Como

conseqncia o tempo de transporte estritamente controlado e os mtodos de abate so

concebidos para serem o mais rpido e indolor possvel (COMISSO EUROPIA DE

AGRICULTURA BIOLGICA, 2011).

30

A produo de alimentos orgnicos de origem animal tambm uma demanda atual

da sociedade mundial. O consumidor deseja alimentos de qualidade, a preo justo, saudveis

do ponto de vista de segurana alimentar, livre de perigos biolgicos (cisticercose, brucelose,

tuberculose, prons, etc.); perigos qumicos (carrapaticidas, antibiticos, vermfugos,

hormnios, etc.) e produzidos com menor uso de insumos artificiais e cuidados em relao ao

bem estar animal. Alm do que, existe a preocupao atual com a preservao do meio

ambiente e a biodiversidade e com o papel social da atividade agropecuria, com a gerao de

empregos no campo e diminuio do xodo rural (Aroeira et al., 2003).

No Brasil os alimentos orgnicos de origem animal so comercializados em pequena

escala (feiras-livres, lojas e cestas a domiclio) face s exigncias de legislao sanitria para

serem colocados num grande canal varejista. As legislaes estaduais e municipais vem

facilitando as aes de pequenos agricultores e agroindstrias de pequeno porte tanto para os

produtos de origem vegetal, quanto animal (Fonseca, 2000).

Embora iniciativas de grande escala como produo de carne bovina orgnica na

regio centro-oeste do Brasil, com foco em exportao, tem se desenvolvido e apresenta

grande potencial, de acordo com Neiva, (2000), a produo orgnica de leite e seus derivados

vm surgindo timidamente no Brasil. Mesmo representando 0,01% da produo convencional

nacional (Aroeira, 2003), vem despertando grande demanda estimulando os produtores a

converso. A Regio Sul produz cerca de 10.000 litros de leite por dia, a Regio Sudeste,

1800 litros, e o Nordeste, 500 litros. Em 1998, a Granja Caipira realizou uma pesquisa, em

Braslia/DF, e constatou que o mercado de leite orgnico demandava 3% do leite

convencional ou seja 1 milho de litros/ano, porm se constatou por estimativas que a

produo no passava de 180 mil litros leite/ano.

As mudanas no nvel de produtividade e na gentica dos animais utilizados na

Revoluo Verde foram enormes, contribuindo para o aparecimento de muitas doenas que

implicam no uso intensivo de medicamentos e condies artificiais de criao. Os problemas

relacionados com a segurana dos alimentos, como o mal da vaca louca, invocam a

importncia do uso da rastreabilidade como forma de garantir ao consumidor a qualidade

superior desejada (Fonseca, 2000).

Na Unio Europia o primeiro passo para a obteno da sade animal dada pela

escolha de raas a partir da sua vitalidade, adaptabilidade s condies locais e resistncia s

doenas. A preferncia por raas e variedades nativas adequadas ao ambiente da explorao

agrcola colabora neste sentido (COMISSO EUROPIA DE AGRICULTURA

BIOLGICA, 2011).

31

Segundo Soares, (2008) os maiores entraves para o desenvolvimento da pecuria

orgnica referem-se produo de forragem e gros para a alimentao animal, face ao

pequeno tamanho das propriedades, escassez de raes orgnicas para suplementao

alimentar durante o perodo de estiagem, baixa fertilidade do solo nas reas de pastagens,

baixa adoo da prtica da adubao verde e ao clima desfavorvel em determinadas pocas

do ano, em algumas regies, que no caso destes ltimos tambm limitam os sistemas

convencionais.

Por outro lado, existe uma srie de alimentos alternativos, no convencionais com

caractersticas orgnicas que podem ser produzidos nas propriedades rurais orgnicas com

objetivo de diversificao/rotao de culturas, fixao de nitrognio, gesto do nitrognio e do

carbono, melhoria da estrutura do solo, sendo combinados para produo de raes de

monogstricos e de ruminantes, entre eles a mandioca, os feijes silvestres, a cana-de-acar,

o farelo de arroz, o farelo de trigo e as pastagens consorciadas (gramneas e leguminosas).

Contudo, imprescindvel destacar que os sistemas de produo orgnicos envolvem

uma viso holstica da propriedade, onde animais e vegetais se mantm num manejo integrado

em harmonia, reciclando nutrientes e gerando relaes qumicas e biolgicas complexas.

Essas relaes necessitam ser esclarecidas de maneira cientfica, para agregar tecnologias

cadeias produtivas e diminuir o empirismo que envolvia a produo orgnica, proporcionando

o avano do conhecimento e maior oferta nos mercados nacionais e internacionais (Soares,

2010).

Como em qualquer sistema de produo animal, no Brasil existem alguns aspectos do

manejo orgnico animal conforme a IN produo animal-vegetal - Lei 10831, onde

recomenda-se que a nutrio e alimentao animal seja equilibrada e supra todas as

exigncias dos animais. Os suplementos devem ser isentos de antibiticos, hormnios e

vermfugos, sendo proibidos aditivos promotores de crescimento, estimulante de apetite e

uria, bem como suplementos ou alimentos derivados ou obtidos de organismos

geneticamente modificados ou mesmo vacinas fabricadas com a tecnologia da

transgenia.(SOARES, 2008)

recomendada tambm a produo de forragem (volumosos e concentrados) por

meio da formao e manejo das pastagens, capineiras, silagem e feno. Neste aspecto,

importante que a maior parte da alimentao seja proveniente da prpria propriedade e que

85% e 80% da matria seca consumida por ruminantes e monogstricos, respectivamente, seja

de origem orgnica.

32

No manejo e adubao de pastagens, o consrcio de gramneas e leguminosas

recomendado para a gesto do nitrognio no sistema, sendo exigida a diversificao de

espcies vegetais. Prope-se a implantao de sistemas agroflorestais, como os silvipastoris,

nos quais as rvores e arbustos fixadores de nitrognio (leguminosas) possam se associar a

cultivos agrcolas e com pastagens ou serem mantidos alternadamente com pastejos e cultivos,

assim como bancos de protenas ou cercas vivas. Na adubao destas reas, em funo da

extenso, aconselha-se o chorume como alternativa, sendo permitido o uso de calcrio para a

correo da acidez dos solos. Como fontes de fsforo e potssio, so permitidos o uso de

termofosfato, fosfato de rocha e o uso restrito de sulfato de potssio, respectivamente.

No Brasil quanto ao manejo sanitrio dos rebanhos, o tratamento veterinrio

considerado um complemento e nunca um substituto s boas prticas de manejo, entretanto, se

necessrio, recomenda-se o uso de fitoterpicos e da homeopatia. So obrigatrias todas as

vacinas estabelecidas por lei, e recomendadas vacinaes e exames para as doenas mais

comuns a cada regio. Como medida preventiva contra ecto e endoparasitos, recomendam-se

a rotao de pastagens e o uso de compostos de ervas medicinais, juntamente com a rao ou

o sal mineral. Na preveno de bernes e carrapatos, as pesquisas tm avaliado o controle

biolgico, com resultados satisfatrios, alm do que dentre as medidas preventivas

aconselhadas para controle de parasitas est a manuteno das esterqueiras cobertas e

protegidas de moscas (Brasil, 2008).

Na Unio Europia incluem se como prticas comuns a produo orgnica de

animais: o acesso permanente ao ar-livre, pastagens apropriadas para satisfao das

necessidades nutricionais e comportamentais, proibio de confinamento ou isolamento dos

animais, utilizao de camas e palhas apropriadas, quantidade limitada de gado por rea. Um

princpio geral da produo orgnica europia proibir a utilizao de cho fendado para fins

de descanso. Alm de restringir a remoo ou reduo de caudas, bicos e cornos

(COMISSO EUROPIA DE AGRICULTURA BIOLGICA, 2011).

No caso da seleo e melhoramento animal, assim como na sua aquisio sugerido o

uso de gentipos adaptados, com menores exigncias nutricionais para evitar as doenas

carncias; mais rsticos capazes de produzir satisfatoriamente em condies naturais de

criao, sem o uso preventivo de antibiticos, promotores de crescimento e hormnios que

no so permitidos. Para o manejo reprodutivo somente a monta natural e a inseminao

artificial so permitidas. No so permitidas a transferncia de embries -TE e fertilizao in

vitro FIV (BRASIL, 2008, Soares, 2008; Soares, 2010).

33

Na Unio Europia os tratamentos utilizados preferencialmente na produo orgnica

animal incluem a homeopatia (tratamento alternativo usando doses altamente diludas de

agentes causadores de sintomas semelhantes aos da doena agentes causais encorajando o

corpo a fortalecer se contra a doena) e a fitoterapia (tratamentos herbais usando plantas e

seus extratos). Podem haver casos excepcionais onde as terapias alternativas no funcionem,

sendo necessria a utilizao de medicamentos veterinrios alopticos sintticos, incluindo

antibiticos. Restries relativas evoluo do tratamento e aos intervalos de segurana dos

medicamentos devem ser muito bem definidos (COMISSO EUROPIA DE

AGRICULTURA BIOLGICA, 2011).

No Brasil no que diz respeito ao bem estar animal, as instalaes devem ser adequadas

ao conforto e sade dos animais. O acesso gua, alimentos e pastagens tambm deve ser

facilitado. Alm disso, as instalaes devem possuir espao adequado movimentao, o

nmero de animais por rea no deve afetar aos padres de comportamento, assim como o

isolamento e recluso de animais jovens no deve ser utilizado (Soares, 2008).

Na Unio Europia incluem se como prticas comuns a produo orgnica de

animais: o acesso permanente ao ar-livre, pastagens apropriadas para satisfao das

necessidades nutricionais e comportamentais, proibio de confinamento ou isolamento dos

animais, utilizao de camas e palhas apropriadas, quantidade limitada de gado por rea. Um

princpio geral da produo orgnica europia proibir a utilizao de cho fendado para fins

de descanso. Alm de restringir a remoo ou reduo de caudas, bicos e cornos

(COMISSO EUROPIA DE AGRICULTURA BIOLGICA, 2011).

Ainda na Europa as prticas de gesto so adaptadas a cada espcie. Como por exemplo

conceder s aves um maior tempo de intervalo entre posturas de ovos. Os animais tambm

podem ser mantidos em grupos menores para que estabeleam hierarquias sociais como

ocorreria na natureza. Os profissionais devem possuir conhecimentos bsicos e competncias

nas necessidades de sade e bem-estar dos animais (COMISSO EUROPIA DE

AGRICULTURA BIOLGICA, 2011).

7 VANTAGENS DA AGRICULTURA ORGNICA

Alguns alimentos produzidos de forma convencional, podem conter resduos de

agrotxico, prejudicando a sade da populao (SANTOS; MONTEIRO, 2004). Uma

alimentao de qualidade pode prevenir doenas, principalmente em um pas como o Brasil,

onde parte da populao apresenta carncia nutricional e baixo acesso ao sistema pblico de

34 sade, imprescindvel uma alimentao livre do contaminantes para que a populao tenha

uma maior qualidade de vida (CALDAS; SOUZA, 2000).

Os alimentos orgnicos apresentam superioridade em relao aos alimentos

convencionais, prova disto o valor nutricional, sabor e outros atributos que apresentam

diferenas quando esses produtos so comparados (BORGUINI; DETTERER, 2003). Porm

ainda no existem estudos que comparem os aspectos nutricionais e sensoriais, no entanto

vrios trabalhos atestam a superioridade dos orgnicos (SANTOS; MONTEIRO, 2004).

Em todo o mundo estima-se que 20 mil mortes so registradas por ano nos casos de

envenenamento por agrotxicos (WHO-UNEP, 1989 apud WERF, 1996). A contaminao

dos alimentos por agrotxicos uma constante preocupao do consumidor e dos rgos de

vigilncia e sade publica. Sendo necessrio a preveno e a fiscalizao das intoxicaes

decorrentes de alimentos contaminados (AGNCIA NACIONAL DE VIGILNCIA

SANITRIA, 2004).

Os produtores que praticam a agricultura orgnica so atrados pelos preos dos seus

produtos, onde so pelo menos 30% mais elevados que o valor do produto convencional, pode

se relatar ainda por uma diminuio nos custos de produo e tambm por uma maior

conservao dos recursos naturais de sua propriedade (SOARES, 2006).

A escolha por produtos orgnicos no Brasil est associada a consumidores bem

informados, com nveis mais elevados de renda e escolaridade, e que tem grande interesse

pela questo ambiental. Mas, com o aumento da produo, os preos tendem a cair (como j

acontece na Europa), propiciando s classes de menor renda o acesso a produtos orgnicos, a

produtos "limpos" (SOARES, 2006).

A agricultura orgncia apresenta inumeras vantagens para o agricultor e para o

consumidor. Destaca se a diversificao da produo, onde implica em menores riscos de

produo e mercado, obtendo um produto final diferenciado, com maior qualidade, melhor

conservao, mais nutritivos e livres de contaminao. Tambm vale ressaltar a conservao

ambiental onde ocorre um aumento da fertilidade, conservao do solo, fauna e flora.

8 AVALIAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS-AIAs

As questes de preservao ambiental esto em evidncia em todo o mundo, onde tais

preocupaes em grande parte, so resultantes do grau de apropriao que a humanidade tem

feito dos recursos ambientais, s vezes muito alm da capacidade regenerativa da natureza

(RODRIGUES, 1998).

35

O Sistema de Avaliao de Impacto Ambiental da Inovao Tecnolgica Agropecuria

(Sistema Ambitec) desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente

(RODRIGUES, 2002; CAMPANHOLA, 2003; KITAMURA, 2003 e IRIAS et al., 2003)

restringe-se demanda institucional de avaliar impactos ambientais de inovao tecnolgica

agropecuria, segundo os objetivos de desenvolvimento sustentvel. No contexto de

desenvolvimento do Sistema Ambitec entende-se por ambientais os impactos econmicos,

ecolgicos, sociais e sobre o conhecimento das inovaes tecnolgicas. O Sistema emprega

uma plataforma (MS-Excel) prtica, de execuo simples, de baixo custo, e passvel de

aplicao a todo universo tecnolgico e ambiental de insero institucional.

Podem ser consideradas como ferramentas metodolgicas para anlise, mitigao e

previso dos efeitos negativos causados por projetos, planos e polticas, que causem

alteraes ambientais (SECRETARIA, 1992). Com a finalidade de informar o

desenvolvimento, a transferncia, a indicao e a adoo, as AIAs tambm so utilizadas nas

avaliaes de inovaes tecnolgicas agropecurias (RODRIGUES, 1998).

O objetivo da AIA a preveno dos danos causados ao meio ambiente por atividades

antrpicas. Ao considerar que para qualificar-se como impacto ambiental uma alterao ou

efeito sobre o ambiente deva atingir (positiva ou negativamente) interesses de pessoas, a AIA

incorpora em essncia a dimenso poltica, dado que tanto aqueles efeitos quanto estes

interesses no so homogeneamente distribudos entre grupos sociais ou indivduos. por

fora desta dimenso poltica que as AIAs so exerccios de julgamento, balizados por

objetivos de desenvolvimento, da aceitabilidade das aes e de seus efeitos sobre o ambiente e

o bem-estar social (BISSET, 1983).

A AIA da inovao tecnolgica agropecuria primordial para o desenvolvimento

sustentvel da agricultura, pois a interao tecnologia ambiente sociedade, com seus

mltiplos interesses e objetivos, pode resultar em impacto no-intencionais, indiretos e

retardados (PORTER, 1995). somente com a sistemtica avaliao desses impactos,

empregando mtodos especificamente desenhados para tanto, e inseridos no correto contexto

institucional, que o curso do desenvolvimento e da adoo de inovaes tecnolgicas

agropecurias contribuir, com maior segurana, para a sustentabilidade.

Os juzos de valor so, portanto, componentes intrnsecos na avaliao dos impactos

da tecnologia agropecuria e so considerados em todo o processo, desde o entendimento de

que os impactos e benefcios no so igualmente distribudos entre os grupos sociais at o

reconhecimento de que os grupos sociais tm valores e objetivos diferentes (BISSET, 1983),

sendo que todos apresentam interface com o desempenho ambiental da tecnologia. Partindo-

36 se desse pressuposto, a AIA da inovao tecnolgica para a agricultura sustentvel pode ser

definida como a anlise das alteraes impostas ao meio ambiente, de acordo com os

objetivos de desenvolvimento traados localmente, que por sua vez possibilitam o

estabelecimento de uma norma de julgamento (GIRARDIN et al.,1999).

O Ambitec Agro oferece uma plataforma prtica de AIA, onde ocorre uma aplicao

simples e de baixo custo que pode ser utilizada amplamente nas tecnologias agropecurias no

contexto institucional de P&D. A perspectiva de sustentabilidade do sistema considera o

conceito de ciclo de vida da tecnologia. O montante significa considerar os recursos

necessrios ao desenvolvimento tecnolgico (por exemplo: matria-prima, habitats afetados).

E a jusante, significa considerar os resduos e os efeitos na qualidade ambiental (PORTER,

1995).

Em termos gerais, os mtodos utilizados para a avaliao de impacto ambiental de

projetos e atividades econmicas podem ser classificados em: mtodos "ad doc", listas de

verificao, matrizes, sobreposio de mapas, redes de interao, diagramas de sistemas e

modelos de simulao (GIRARDIN; BOCKSTALLE; VAN DER WERF, 2000). Rodrigues et

al. (2000) desenvolveram o aplicativo Ambitec, que faz uso de escalas de ponderao para

indicadores pr-definidos que permite realizar avaliao, julgando os nveis de impactos

ambientais, utilizando matrizes integradas na forma de planilhas eletrnicas nas quais so

inseridos os dados e obtidos os resultados da avaliao (LANNA, 2002).

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42

CAPTULO 2

IMPACTOS AMBIENTAIS DA PRODUO ORGNICA ANIMAL EM UNIDADES

FAMILIARES NAS REGIES SEMIRIDA BRASILEIRA E DA TOSCANA -

ITLIA

43 IMPACTOS AMBIENTAIS DA PRODUO ORGNICA ANIMAL EM UNIDADES

FAMILIARES NAS REGIES SEMIRIDA BRASILEIRA E DA TOSCANA -

ITLIA

SILVA, Andra Cristina Capriata. Impactos ambientais da produo orgnica animal em

unidades familiares nas regies Semiarida brasileira e Toscana-Itlia. 2011. 135f.

Dissertao (Mestrado em Produo Animal) Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(UFRN)/ Universidade Federal Rural do Semirido (UFERSA), Mossor, 2011.

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar os impactos ambientais do manejo

orgnico de animais em unidades de produo familiares no semirido brasileiro e na regio

toscana da Itlia. Foram utilizados questionrios e em seguida os dados coletados foram

aplicados em planilhas (MSExcel) que compe o AMBITEC produo animal dimenso

ambiental desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente. Aps a insero dos coeficientes de

alterao de cada varivel dos indicadores por unidade de produo, a planilha calcula

automaticamente o coeficiente de impacto e as mdias ponderadas desses coeficientes formam

o ndice geral de impacto que pode variar na amplitude de -15 a +15. O manejo orgnico das

propriedades apresenta o ndice geral mdio de impacto ambiental positivo e da ordem de

1,82 para aquelas na regio toscana da Itlia e 3,83 nas unidades produtivas no semirido

brasileiro. Nas propriedades avaliadas na regio toscana da Itlia e semirido brasileiro os

indicadores que possuram as maiores mdias foram: Diminuio do uso de insumos

materiais ( = 6,86, = 9,00) , Melhoria da capacidade produtiva do solo ( = 5,29, =

11,43) e Melhoria da qualidade do produto ( = 6,61, = 8,50) respectivamente, com

exceo da regio semirida brasileira que apresentou mdia elevada para o indicador

Diminuio da emisso de poluentes atmosfricos ( = 6,43). Mesmo em face das evidentes

diferenas esperadas entre as regies estudadas, a utilizao do manejo orgnico dos animais

independente da regio mostra se uma alternativa vivel ambientalmente, pois contribui

para ambas com ndices positivos, mostrando reduo do impacto ambiental comparado com

o perodo antes da adoo do manejo orgnico.

Palavra-chave: produo orgnica animal, impactos ambientais, agricultura sustentvel, meio

ambiente

44 ENVIRONMENTAL IMPACTS BY THE ORGANIC PRODUCTION IN UNITS OF

FAMILIAR PRODUCTION IN THE WESTERN POTIGUAR- BRAZIL AND

TUSCAN REGION OF ITALY

SILVA, Andra Cristina Capriata. Environmental impacts by the organic production in

units of familiar production in the western potiguar- brazil and tuscan region of Italy. 2011. 135f. Dissertation (Animal Production magister) Federal of Rio Grande do Norte

University (UFRN)/ Federal Rural of Semirido University (UFERSA), Mossor,

2011.

SUMMARY: The objective of this study was evaluated the environmental impacts by

the organic production in units of familiar production in the western potiguar- Brazil and

tuscan region of Italy. Questionnaires were used and after these the data that was collected

was been applied in spread sheets (MSExcel ) these is composes the AMBITEC animal

production - ambient dimension developed by Embrapa Environment. After the insertion of

the alteration coefficients from each variable of indicators per unit of production, the spread

sheet automatically calculates the impact coefficient and the weighted average of these

coefficients whose form the general index of impact that can vary in the range of -15 to +15.

The organic production provided to a general impact average positive of the order of 1,82 in

units of familiar production in tuscan region of Italy and 3,83 in units of familiar production

in the western potiguar- Brazil. In the properties evaluated in the Tuscan region of Italy and in

the western potiguar- Brazil we see the indicators that possessed the highest averages were:

Reduction of the use of seasonings ( = 6,68, = 9,00 ), Improvement of the productive

capacity of the ground ( = 5,29, = 11,43) and Improvement of the product quality ( =

6,61, = 8,50) respectively, with the exception of the western potiguar- Brazil that showed

high average for the indicator Reduction of the atmospheric emission pollutants ( = 6,43).

Even with the expected differences evident between the regions studied, the use of organic

management of animals independently of the region that was studied shows that its an

environmentally viable alternative, because its contributed in both cases for positive results,

showing reduced environmental impact to compared with the period before the adoption of

organic management.

Key Words: animal organic production, environmental impacts, sustainable agriculture,

environment

45

CAPTULO 2 - IMPACTOS AMBIENTAIS DA PRODUO ORGNICA ANIMAL

EM UNIDADES FAMILIARES NAS REGIES SEMIRIDA BRASILEIRA E DA

TOSCANA - ITLIA

1 INTRODUO

O meio ambiente tem adquirido nos ltimos anos grande importncia por causa dos

fatores globais, como o efeito estufa, a poluio atmosfrica, o buraco na camada de oznio e

a perda da biodiversidade. Problemas ambientais locais tais como a poluio do ar, da gua,

degradao do solo, do ambiente de trabalho e domstico, tm impacto significativo na sade

dos seres humanos (PIGNATTI, 2004).

A humanidade sempre interagiu com o meio ambiente e consequncias negativas, de

maior ou menor grau, sempre aconteceram, porm elas tm chegado a nveis elevadssimos

atualmente. Provavelmente, em nenhuma outra atividade humana, exista interao to grande

entre o ser humano e a natureza como na agricultura e sua conseqncia atual que, ali,

acabam por ocorrer grandes problemas ambientais (BRANDENBURG, 1999).

A agricultura tida como uma das principais causas e ao mesmo tempo uma das

principais vtimas da crise scioambiental. Os impactos causados por essa atividade

delimitam o processo produtivo, que est direta e estreitamente vinculada s dinmicas dos

ecossistemas e a determinadas relaes sociais produo, assinalando a necessidade de uma

maior compreenso dos nexos da agricultura, meio ambiente e sociedade (QUIRINO &

ABREU, 2000).

A agricultura sustentvel, de acordo com EHLERS (1999), mais do que um conjunto

definido de prticas, a agricultura sustentvel hoje apenas um objetivo. O que varia a

expectativa em relao ao teor das mudanas contidas nesse objetivo (EHLERS, 1999).

Agricultura sustentvel o manejo e a utilizao do ecossistema agropecurio, de

modo a manter sua diversidade biolgica, produtividade, capacidade regenerativa, vitalidade e

habilidade de funcionamento, de maneira que possa preservar agora e no futuro significantes

funes ecolgicas, econmicas e sociais na esfera local, nacional e global, e no cause danos

em outros ecossistemas (Lewandowski et al., 1999, citando a Conferncia de Ministros

Europeus de Meio Ambiente).

Os impactos ambientais das atividades agropecurias so conseqncias diretas do

desmatamento e da necessidade de conter a sucesso natural com o objetivo de maximizar a

produo lquida. A caracterstica predatria da agricultura, entretanto, est freqentemente

46 associada com a dependncia de insumos externos e operaes mecanizadas para garantir o

excesso de fatores de crescimento e a proteo absoluta a grandes reas cultivadas com

organismos geneticamente homogneos (Rodrigues, 1999).

A criao animal convencional