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Monografia apresentada para obtenção do título de especialista em Agronegócio 2016 1 Comparações de gastos com insumos na cultura do milho segunda safra: convencional x geneticamente modificado Paolo Orlando Zancanaro¹*; Melina Teixeira Andrade 2 1 Bacharel em Agronomia Rua Dr. João Sampaio 2517 Vila Independência - CEP 13418-340 - Piracicaba (SP), Brasil 2 Pecege Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas (ESALQ/USP) Rua Alexandre Herculano, 120, sala T4 - Vila Monteiro - CEP 13418-445 - Piracicaba (São Paulo), Brasil

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Monografia apresentada para obtenção do título de especialista em Agronegócio – 2016

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Comparações de gastos com insumos na cultura do milho segunda safra: convencional x geneticamente modificado

Paolo Orlando Zancanaro¹*; Melina Teixeira Andrade2

1Bacharel em Agronomia – Rua Dr. João Sampaio 2517 – Vila Independência - CEP 13418-340 - Piracicaba (SP), Brasil 2Pecege – Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas (ESALQ/USP) – Rua Alexandre Herculano, 120, sala T4 - Vila Monteiro - CEP 13418-445 - Piracicaba (São Paulo), Brasil

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Comparações de gastos com insumos na cultura do milho segunda safra: convencional x geneticamente modificado

Resumo

A utilização do milho geneticamente modificado [GM] aumentou consideravelmente nos últimos anos, resultando principalmente na diminuição dos custos de aquisição de inseticidas e no aumento dos custos de aquisição de sementes. O objetivo deste trabalho foi comparar os custos dos insumos no plantio de milho convencional e GM, na segunda safra, em diferentes regiões do Brasil. Foram coletados dados dos custos de aquisição de herbicidas, inseticidas, fungicidas e sementes, além do tratamento químico das mesmas, para o milho convencional e GM, nos anos agrícolas de 2010/11 e 2013/14. Em seguida, realizaram-se simulações de Monte Carlo [SMC] para cada tecnologia utilizada gerando 5.000 novos dados aleatórios. Houve diferenças nos custos de aquisição entre o milho GM e o convencional somente para inseticidas e sementes, sendo que na maioria dos locais o milho GM apresentou maior custo para sementes e o convencional para herbicidas. Exceto para Sinop 2013/14 [SNP 2013/14], as produtividades das duas tecnologias foram similares nos mesmos locais. Os custos totais por hectare sempre foram superiores para o milho GM, com exceção de UNAI 2010/11. Considerando os custos por saca, o milho GM apresentou custo superior ao convencional, em todos os locais, exceto para UNAI 2010/11 e SNP 2013/14. Os resultados obtidos através das SMC foram semelhantes aos obtidos para os dados originais. O milho GM apresentou custos totais e custos por saca superiores ao milho convencional para os dados originais e para os dados simulados. Palavras-chave: Milho convencional; Milho transgênico; Custo de produção.

Introdução

A produção de milho no Brasil aumentou consideravelmente nos últimos 25

anos, saindo de aproximadamente de 24 milhões de toneladas na safra 1990/91, para

84,6 milhões de toneladas na safra 2014/15. A área total colhida não sofreu aumentos

significativos, passando de aproximadamente 13,4 milhões de hectares na safra

1990/91 para 15,6 milhões de hectares na safra 2014/15. Entretanto, neste mesmo

período, houve uma redução na área cultivada com milho de primeira safra e aumento

na área de segunda safra (Conab, 2016). Assim, o incremento na produção ao longo

dos anos se deve, principalmente, ao aumento da produtividade em cerca de três

vezes (aproximadamente 130 kg ano-1), proporcionado pelo melhoramento genético e

pela melhoria nas condições de manejo.

O cultivo de milho no Brasil está dividido em duas épocas, denominadas de

primeira e segunda safra. O plantio da primeira safra é realizado na primavera, nos

meses de setembro e outubro, e o da segunda safra é realizado após a colheita da

soja, no verão, nos meses de janeiro e fevereiro, variando conforme a região (Ferreira

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Filho e Alves, 2013). Dentre todos os estados produtores, destacam-se Mato Grosso e

Paraná, responsáveis por aproximadamente 43% da produção brasileira na safra

2014/15. Nesta mesma safra, a região Centro-Sul (Sul, Sudeste e Centro-oeste) foi

responsável por cerca 90% da produção brasileira de milho (Conab, 2016).

O melhoramento genético e a biotecnologia permitiram o desenvolvimento de

cultivares de milho geneticamente modificadas [GM] ou transgênicas, as quais

começaram a ser cultivadas no Brasil em 2008 e, a partir de então, se difundiram por

todo o país (Duarte et al., 2009). As cultivares GM possuem eventos que conferem

resistência das plantas de milho a insetos da ordem lepidóptera e/ou a alguns

herbicidas (Cruz et al., 2014). Já as cultivares convencionais tem sido mais utilizadas

por agricultores familiares e em áreas de refúgio, adjacentes às áreas com cultivares

transgênicas. Na safra 2014/15, aproximadamente 82,7% da área cultivada no Brasil

foi com sementes GM, representando cerca de 12,5 milhões de hectares (Céleres,

2015). Ao todo foram disponibilizadas 478 cultivares, das quais 292 eram GM e 186

convencionais (Cruz et al., 2014).

A utilização da transgenia resultou na diminuição dos custos no controle de

insetos-praga e ervas daninhas devido a ausência ou redução da pulverização de

inseticidas e/ou herbicidas (Duarte et al., 2009). Entretanto, a semente GM possui

maior custo quando comparada à convencional, tornando-se um ponto negativo para a

utilização dessa tecnologia. Além do mais, em locais onde não há pressão de pragas

ou doenças no desenvolvimento das lavouras, foi verificado que a produtividade das

cultivares convencionais não diferiu das GM e, em muitos casos, foi ligeiramente

superior (Duarte, 2001; Ferreira Filho e Alves, 2013). Assim, o uso de cultivares GM só

é viável economicamente se a redução na perda de produtividade for suficiente para

compensar os custos adicionais com a aquisição das sementes (Fernandez-Cornejo e

McBride, 2000; Hyde et al., 1999; Duarte, 2001).

A utilização de sementes de milho GM ocasionou mudanças na forma de

cultivo, o que impactou diretamente nos custos de produção. Assim, este estudo teve

como objetivo comparar os custos de aquisição de insumos no plantio do milho

convencional e geneticamente modificado, em diferentes regiões do Brasil, na

segunda safra.

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Material e Métodos

Os custos de aquisição dos insumos de milho geneticamente modificado (GM –

Bt resistente a insetos da ordem Lepidóptera) e convencional [Conv.], base deste

trabalho, foram fornecidos pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada

(CEPEA/ESALQ/USP, 20151). Os dados foram coletados a campo pelo

CEPEA/ESALQ/USP (2015), para analisar custos e receitas do cultivo de milho

segunda safra nos anos agrícolas de 2010/11 e 2013/14 em diversos municípios do

Brasil. No total, os dados utilizados neste estudo envolveram trinta estruturas de custo,

sendo dez no ano 2010/11 e vinte no ano 2013/14 (Tabela 1).

Tabela 1. Municípios em que os custos foram coletados na segunda safra

Município/Região Estado Safra Tecnologia

Rio Verde [RVD] Goiás 2010/11 GM e Convencional

Mineiros [MNR] Goiás 2010/11 GM e Convencional

Cascavel [CVEL] Paraná 2010/11 GM e Convencional

Londrina [LDN] Paraná 2010/11 GM e Convencional

Unaí [UNAI] Minas Gerais 2010/11 GM e Convencional

Rio Verde [RVE] Goiás 2013/14 GM e Convencional

Mineiros [MNR] Goiás 2013/14 GM e Convencional

Jataí [JTI] Goiás 2013/14 GM e Convencional

Cascavel [CVEL] Paraná 2013/14 GM e Convencional

Londrina [LDN] Paraná 2013/14 GM e Convencional

Unaí [UNAI] Minas Gerais 2013/14 GM e Convencional

Sinop [SNP] Mato Grosso 2013/14 GM e Convencional

Sorriso [SOR] Mato Grosso 2013/14 GM e Convencional

Campo Novo do Parecis [CNP] Mato Grosso 2013/14 GM e Convencional

Primavera do Leste [PRL] Mato Grosso 2013/14 GM e Convencional

Fonte: CEPEA/CNA (2015)

O levantamento dos dados foi realizado utilizando-se a técnica de coleta de

dados denominada de “painel”. Neste sistema, o levantamento das informações do

custo de produção é realizado através de reuniões entre pesquisadores, técnicos e

produtores nas regiões de referência (Ferreira Filho e Alves, 2013). Os resultados

fazem parte do Projeto Campo Futuro, coordenado pela Confederação da Agricultura e

1 CEPEA – Centro de Estudos Sociais em Economia Aplicada, Departamento de Economia, Administração e Sociologia, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ), Universidade de São Paulo (USP) (http://www.cepea.esalq.usp.br/).

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Pecuária do Brasil [CNA]. Durante a discussão, todos os envolvidos procuraram formar

um sistema representativo de produção que caracterizasse determinada localidade.

Foram obtidos os custos (R$ ha-1) de aquisição de herbicidas, inseticidas,

fungicidas, sementes e tratamento químico de sementes para o milho GM e

convencional. Esses custos levaram em conta o preço de mercado dos insumos, para

pagamento à vista e entregue na propriedade. Os custos foram corrigidos

(inflacionados) para o índice geral de preços – disponibilidade interna [IGP-DI] de

junho de 2015 e também foram obtidas as produtividades para cada localidade.

Posteriormente, a partir dos dados originais, foram realizadas Simulações de

Monte Carlo [SMC] para cada tecnologia utilizada (GM ou convencional),

separadamente, utilizando o software @RISK2. A partir das 15 estruturas de custo

obtidas para cada tecnologia, foi encontrada a função de distribuição para cada série

de dados e, em seguida, realizada a simulação, gerando 5.000 novos dados aleatórios

através da SMC.

Resultados e Discussão

Ao se analisar os custos dos insumos (Figuras 1 a 4) notaram-se diferenças

entre o milho convencional [Conv.] e o geneticamente modificado [GM] somente para

os inseticidas e as sementes (Figuras 2 e 4). Os custos com inseticidas foram maiores

no milho convencional do que no milho GM, com exceção dos municípios de Mineiros

2013/14 [MNR 2013/14] e Cascavel 2013/14 [CVEL 2013/14]. Tais custos variaram de

37,72 R$ ha-1 (RVD 2010/11) a 183,27 R$ ha-1 (UNAI 2013/14) para o milho

convencional e de 0,00 R$ ha-1 (RVD 2010/11) a 161,46 R$ ha-1 (MNR 2013/14) para

o milho GM. A maior diferença entre os custos do milho convencional e o GM em um

mesmo local foi observada em Sinop 2013/14 [SNP 2013/14], com um valor de 102,76

R$ ha-1 (Figura 2).

Quando se considera os custos das sementes e do tratamento de sementes,

nota-se que em todos os casos a semente GM foi superior. Para o milho convencional

essa variação foi de 149,18 R$ ha-1 (SNP 2013/14) a 447,72 R$ ha-1 (CVEL 2013/14).

Já para o milho GM a variação foi de 276,65 R$ ha-1 (SNP 2013/14) a 543,75 R$ ha-1

(LDN 2010/11) e a maior diferença de valor em um mesmo local ocorreu em LDN

2013/14 (244,31 R$ ha-1), sendo o custo da GM 47% superior ao da convencional

(Figura 4).

2 Mais informações: www.palisade.com/risk

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Figura 1. Custos de aquisição de herbicida para o milho convencional (Conv.) e

geneticamente modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

Nota: Rio Verde [RVD]; Mineiros [MNR]; Cascavel [CVEL]; Londrina [LDN]; Unaí

[UNAI]; Rio Verde [RVE]; Mineiros [MNR]; Jataí [JTI]; Cascavel [CVEL]; Londrina

[LDN]; Sinop [SNP]; Sorriso [SOR]; Campo Novo do Parecis [CNP]; e Primavera do

Leste [PRL]

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Municípios

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Figura 2. Custos de aquisição de inseticida para o milho convencional (Conv.) e

geneticamente modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

Nota: Rio Verde [RVD]; Mineiros [MNR]; Cascavel [CVEL]; Londrina [LDN]; Unaí

[UNAI]; Rio Verde [RVE]; Mineiros [MNR]; Jataí [JTI]; Cascavel [CVEL]; Londrina

[LDN]; Sinop [SNP]; Sorriso [SOR]; Campo Novo do Parecis [CNP]; e Primavera do

Leste [PRL]

0,00

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Municípios

Conv.

GM

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Figura 3. Custos de aquisição de fungicida para o milho convencional (Conv.) e

geneticamente modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

Nota: Rio Verde [RVD]; Mineiros [MNR]; Cascavel [CVEL]; Londrina [LDN]; Unaí

[UNAI]; Rio Verde [RVE]; Mineiros [MNR]; Jataí [JTI]; Cascavel [CVEL]; Londrina

[LDN]; Sinop [SNP]; Sorriso [SOR]; Campo Novo do Parecis [CNP]; e Primavera do

Leste [PRL]

0,00

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Municípios

Conv.

GM

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Figura 4. Custos de aquisição de sementes mais tratamento de sementes para o milho

convencional (Conv.) e geneticamente modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

Nota: Rio Verde [RVD]; Mineiros [MNR]; Cascavel [CVEL]; Londrina [LDN]; Unaí

[UNAI]; Rio Verde [RVE]; Mineiros [MNR]; Jataí [JTI]; Cascavel [CVEL]; Londrina

[LDN]; Sinop [SNP]; Sorriso [SOR]; Campo Novo do Parecis [CNP]; e Primavera do

Leste [PRL]

As diferenças observadas entre os custos de aquisição dos inseticidas eram

esperadas, uma vez que o milho GM utilizado pelos produtores era resistente a insetos

da ordem Lepidóptera e, por isso, é normal que se gaste mais com inseticidas em

áreas cultivadas com milho convencional. Entretanto, em dois locais (MNR 2013/14 e

CVEL 2013/14) os custos foram os mesmos, possivelmente por ter havido uma alta

pressão de seleção de insetos ou até mesmo a perda da eficiência da tecnologia Bt

pela não utilização de áreas de refúgio (Figura 2) (Martinelli e Omoto, 2005).

Outro ponto importante diz respeito ao custo das sementes somados ao custo

do tratamento químico das mesmas. Para que o alto valor investido na aquisição das

sementes GM seja viável, é necessário que o incremento na produtividade seja alto o

suficiente e compense o valor investido. Entretanto, com exceção de SNP 2013/14, as

produtividades em todos os locais foram similares quando se comparam as duas

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tecnologias. As produtividades das lavouras GM e convencionais variaram de 70

(MNR 2010/11) a 120 sacas ha-1 (MNR 2013/14 e JTI 2013/14) (Figura 5).

Com relação aos custos totais por hectare, com exceção do município de UNAI

2010/11, o milho GM obteve sempre um custo mais elevado que o convencional. Para

o milho GM esse custo variou de 447,04 (CNP 2013/14) a 816,43 R$ ha-1 (MNR

2013/14) e para o milho convencional a variação foi de 401,71 (RVD 2010/11) a

708,33 R$ ha-1 (CVEL 2013/14) (Figura 6).

Considerando os custos por saca é possível se ter uma melhor visão de quanto

realmente se gastou com insumos para produzir uma saca de milho. Apenas em UNAI

2010/11 e SNP 2013/14, o custo por saca foi superior para o milho convencional em

relação ao GM (Figura 7). No primeiro local o maior custo pode ser explicado pelo

maior gasto com inseticidas e, no segundo, pela menor produtividade em relação ao

milho GM (Figura 5).

Vários autores relataram que os custos de produção de milho GM são menores

em relação ao convencional, por haver redução do uso de defensivos e redução na

perda de produtividade, compensando assim o elevado custo de aquisição das

sementes (Brookes, 2002; Fernandez-Cornejo e McBride, 2000; Duarte, 2001).

Entretanto, tem-se observado que nem sempre essas afirmações são verdadeiras,

sendo que esses custos podem sofrer variações de acordo com a região analisada,

não compensando o elevado investimento em sementes GM (Ferreira Filho e Alves,

2013). Outro fator que contribuiu para o aumento dos custos foi o aumento da

utilização de inseticidas devido à quebra de resistência do milho Bt pela falta de

implantação de áreas de refúgio (Martinelli e Omoto, 2005; Agrolink, 2014).

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Figura 5. Produtividade por saca para o milho convencional (Conv.) e geneticamente

modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

Nota: Rio Verde [RVD]; Mineiros [MNR]; Cascavel [CVEL]; Londrina [LDN]; Unaí

[UNAI]; Rio Verde [RVE]; Mineiros [MNR]; Jataí [JTI]; Cascavel [CVEL]; Londrina

[LDN]; Sinop [SNP]; Sorriso [SOR]; Campo Novo do Parecis [CNP]; e Primavera do

Leste [PRL]

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Figura 6. Custos totais por hectare para o milho convencional (Conv.) e geneticamente

modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

Nota: Rio Verde [RVD]; Mineiros [MNR]; Cascavel [CVEL]; Londrina [LDN]; Unaí

[UNAI]; Rio Verde [RVE]; Mineiros [MNR]; Jataí [JTI]; Cascavel [CVEL]; Londrina

[LDN]; Sinop [SNP]; Sorriso [SOR]; Campo Novo do Parecis [CNP]; e Primavera do

Leste [PRL]

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Figura 7. Custos por saca para o milho convencional (Conv.) e geneticamente

modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

Nota: Rio Verde [RVD]; Mineiros [MNR]; Cascavel [CVEL]; Londrina [LDN]; Unaí

[UNAI]; Rio Verde [RVE]; Mineiros [MNR]; Jataí [JTI]; Cascavel [CVEL]; Londrina

[LDN]; Sinop [SNP]; Sorriso [SOR]; Campo Novo do Parecis [CNP]; e Primavera do

Leste [PRL]

Por meio das Simulações de Monte Carlo [SMC], foi possível observar que os

custos com aquisição de herbicidas, inseticidas, fungicidas e sementes (além do

tratamento de sementes) tiveram padrão semelhante aos dados anteriormente

apresentados (dados originais não simulados). Não houve diferenças entre os custos

com herbicidas e fungicidas (gráficos sobrepostos) e houve um maior gasto com

aquisição de inseticidas para o milho convencional e um maior gasto com aquisição de

sementes para o milho GM. No entanto, em alguns casos, notam-se gastos maiores

do que os encontrados para os dados originais, tanto para o milho convencional

quanto para o GM (Figuras 8 a 11).

Uma pequena diferença pôde ser constatada no que diz respeito à

produtividade nos dados simulados através da SMC, diferentemente do ocorrido com

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os dados originais, em que as produtividades praticamente não diferiram. Para o milho

convencional, houve uma maior quantidade de dados com produtividades mais baixas

e, para o milho GM, os dados ficaram distribuídos de maneira mais similar a uma

curva normal, uma vez que os gráficos não estão sobrepostos (Figura 12).

Com relação aos custos totais por hectare, os dados simulados foram

superiores para o milho GM em relação ao convencional, assim como ocorreu para os

dados originais (Figura 13). Adicionalmente, os custos por saca do milho GM também

foram maiores do que o convencional, da mesma forma como ocorreu para os dados

originais (Figura 14). De forma geral, tais resultados indicam que os custos com

insumos foram maiores para se produzir uma saca de milho GM do que convencional,

já que a produtividade entre eles praticamente não diferiu e o menor gasto com o uso

de inseticidas não compensou o elevado valor de aquisição das sementes.

Nos últimos anos, a adoção do milho GM foi muito grande entre os produtores

brasileiros, tanto na primeira quanto na segunda safra. A rápida aceitação desta

tecnologia se deve ao fato de que os produtores preferem reduzir o risco de perda na

produção, principalmente em anos com alta infestação de pragas, mesmo que a longo

prazo tenham taxas de retorno menores quando comparadas às taxas obtidas na

produção do milho convencional (Ferreira Filho e Alves, 2013).

Usualmente, o gerenciamento dos custos e o registro das informações técnicas

não são práticas usuais entre a maioria dos produtores rurais, apesar de serem

ferramentas bastante importantes e que deveriam ser utilizadas no dia a dia. Todo

esse conjunto de informações permite um planejamento estratégico de curto, médio e

longo prazo, assim como contribui para a tomada de decisão dos produtores.

O setor agropecuário possui muitas especificidades e está cada vez mais

sujeito às variações de produtividade/produção e às variações de preços de mercado

dos insumos e outros custos. Neste sentido, a busca por informações e a utilização

das ferramentas disponíveis, ainda que não eliminem os ricos edafoclimáticos e de

mercados, contribuem consideravelmente para auxiliar a tomada de decisão dos

agricultores.

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Figura 8. Simulações de Monte Carlo para os custos de aquisição de herbicidas para o

milho convencional (Conv.) e geneticamente modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

Figura 9. Simulações de Monte Carlo para os custos de aquisição de inseticida para o

milho convencional (Conv.) e geneticamente modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em Agronegócio – 2016

16

Figura 10. Simulações de Monte Carlo para os custos de aquisição de fungicida para o

milho convencional (Conv.) e geneticamente modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

Figura 11. Simulações de Monte Carlo para os custos de aquisição de sementes mais

tratamentos de sementes para o milho convencional (Conv.) e geneticamente

modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em Agronegócio – 2016

17

Figura 12. Simulações de Monte Carlo para produtividade por saca para o milho

convencional (Conv.) e geneticamente modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

Figura 13. Simulações de Monte Carlo para custos totais por hectare para o milho

convencional (Conv.) e geneticamente modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em Agronegócio – 2016

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Figura 14. Simulações de Monte Carlo para custos por saca para o milho convencional

(Conv.) e geneticamente modificado (GM)

Fonte: Resultados originais da pesquisa

Conclusões

O milho convencional apresentou um maior custo de aquisição de inseticidas.

O milho geneticamente modificado teve um maior custo de aquisição de sementes

combinado ao tratamento químico das mesmas. Os custos totais por hectare e os

custos por saca foram superiores no milho geneticamente modificado em relação ao

convencional, tanto para os dados originais quanto para os dados simulados.

Agradecimento

Ao Prof. Dr. Lucilio R. A. Alves, pelo auxílio nas análises estatísticas e

interpretação dos resultados.

Referências

Agrolink. 2014. Quebra na resistência do milho Bt pode ser falta de área de refugio. Disponível em: <http://www.agrolink.com.br/noticias/quebra-na-resistencia-do-milho-bt-pode-ser-falta-da-area-de-refugio_197523.html>. Acesso em: 15 mar. 2016.

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista em Agronegócio – 2016

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Cruz, J.C; Pereira Filho, I.A; Simão, E. P. 2014. 478 cultivares de milho estão disponíveis no mercado de sementes do Brasil para a safra 2014/2015. Sete Lagoas, Embrapa Milho e Sorgo, 35p.

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