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COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO REOLÓGICO DE ARGAMASSAS INDUSTRIALIZADAS DE REVESTIMENTO DA REGIÃO SUL DO BRASIL Celine Vasco (1), Marienne do Rocio de Mello Maron da Costa(1), Narciso Gonçalves da Silva (2) (1) Universidade Federal do Paraná (1) Graduanda , Curitiba-PR, [email protected]. (1) Engenheira Civil, Professora Doutora do Departamento de Construção Civil da UFPR, [email protected] Universidade Tecnológica Federal do Paraná (2) Engenheiro Civil, Professor Mestre, Curtiba-PR, [email protected] RESUMO Frente à necessidade do estudo e conhecimento do desempenho das argamassas de revestimento ao longo da sua vida útil, vislumbrou-se que o comportamento reológico das argamassas, verificado no estado fresco, influencia diretamente seu desempenho no estado endurecido. Nesse contexto, o trabalho busca apresentar um diagnóstico do comportamento reológico de algumas argamassas industrializadas de mercado, comercializadas na região de Curitiba e Santa Catarina. Inicialmente foram selecionadas 10 argamassas do mercado, preparadas 3 amostras com cada uma delas, conforme o método de mistura da NBR 13276/2002, e, posteriormente, foi realizado o ensaio reológico squeeze flow e a caracterização granulométrica das amostras, bem como a sua composição quanto ao teor de material graúdo e fino. Por se tratarem de argamassas industrializadas e considerando as características intrínsecas aos processos de seleção de matéria- prima, produção e transporte, as análises consistiram em comparações qualitativas, a partir das quais verificou–se distintos comportamentos que, por semelhança, foram agrupados em duas famílias.

COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO REOLÓGICO DE …paginapessoal.utfpr.edu.br/ngsilva/links-2/noticias/SBTA2009_Reo... · dentro de padrões estabelecidos pela NBR 13281/2005, que vão

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COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO REOLÓGICO DE ARGAMASSAS INDUSTRIALIZADAS DE REVESTIMENTO DA

REGIÃO SUL DO BRASIL

Celine Vasco (1), Marienne do Rocio de Mello Maron da Costa(1),

Narciso Gonçalves da Silva (2)

(1) Universidade Federal do Paraná (1) Graduanda , Curitiba-PR, [email protected].

(1) Engenheira Civil, Professora Doutora do Departamento de Construção Civil da UFPR,

[email protected]

Universidade Tecnológica Federal do Paraná (2) Engenheiro Civil, Professor Mestre, Curtiba-PR, [email protected]

RESUMO

Frente à necessidade do estudo e conhecimento do desempenho das

argamassas de revestimento ao longo da sua vida útil, vislumbrou-se que o

comportamento reológico das argamassas, verificado no estado fresco, influencia

diretamente seu desempenho no estado endurecido. Nesse contexto, o trabalho

busca apresentar um diagnóstico do comportamento reológico de algumas

argamassas industrializadas de mercado, comercializadas na região de Curitiba e

Santa Catarina. Inicialmente foram selecionadas 10 argamassas do mercado,

preparadas 3 amostras com cada uma delas, conforme o método de mistura da NBR

13276/2002, e, posteriormente, foi realizado o ensaio reológico squeeze flow e a

caracterização granulométrica das amostras, bem como a sua composição quanto

ao teor de material graúdo e fino. Por se tratarem de argamassas industrializadas e

considerando as características intrínsecas aos processos de seleção de matéria-

prima, produção e transporte, as análises consistiram em comparações qualitativas,

a partir das quais verificou–se distintos comportamentos que, por semelhança, foram

agrupados em duas famílias.

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Palavras-chave: squeeze flow, argamassas industrializadas, comportamento

reológico.

ABSTRACT

COMPARATIVE STUDY ON THE RHEOLOGICAL BEHAVIOR OF SOUTHERN

BRAZILIAN DRY SET MORTARS FOR RENDERING APPLICATIONS

The rheological behavior of plastic mortars is one of the key parameters to

determined the performance of rendering mortars during its service life. Given the

need to improve the knowledge in this area, this article presents a diagnosis for the

rheological behavior of some commercial, dry set mortars available at Curitiba city

and Santa Catarina State in Southern Brazil. Ten mortars were selected and

prepared in triplicate according to the protocol described by the Brazilian standard

NBR 13276/2002. The mortars were submitted to the rheology tests using the

squeeze flow technique. The particle size distribution of the mortars was determined

to quantify the coarse and fine particulates. Because they are commercial mortars

and the processes for raw material selection, production, and transportation are not

known in detail, the analyses performed herein are qualitative. Based on the results

of the above mentioned methods, two groups of mortars were identified.

Palavras-chave: squeeze flow, dry set mortar, rheological behavior.

INTRODUÇÃO

Os consumidores de argamassas industrializadas encontram disponíveis no

mercado inúmeras marcas deste produto, as quais devem estar criteriosamente

dentro de padrões estabelecidos pela NBR 13281/2005, que vão desde requisitos

relativos à composição até a embalagem do produto. Esses requisitos buscam a

redução do número de variáveis que a argamassa possa estar exposta durante a

sua produção, transporte e consumo final nas obras, porém características

intrínsecas à matéria-prima e aos processos de produção e dosagem interferem no

3

comportamento reológico de tais argamassas e, conseqüentemente, nos estados

fresco e endurecido do revestimento. Apesar disso, até o momento, a norma

brasileira não considera essa questão.

Desde o SBTA de 2005, realizado em Florianópolis, pesquisas relativas à

importância do comportamento reológico das argamassas para o adequado

desempenho enquanto endurecida têm se mostrado presentes. A partir de então,

estudos específicos mostraram a sensibilidade do ensaio squeeze flow como

ferramenta simples e direta para a avaliação da reologia das argamassas no estado

fresco.

Dessa forma, o presente trabalho objetiva caracterizar o desempenho reológico

de dez argamassas industrializadas de revestimento, comercializadas na região de

Curitiba e Santa Catarina, mostrando, através do ensaio squeeze flow um panorama

do comportamento reológico desse grupo de argamassas, e identificando, dentro de

limitações das formulações não totalmente conhecidas, algumas justificativas

hipotéticas para as diferenças de comportamento a partir da granulometria

MATERIAIS E MÉTODOS Foram selecionadas no mercado dez argamassas industrializadas de

revestimento e, posteriormente, foram obtidas as curvas granulométricas das

mesmas por meio do peneiramento mecânico nas peneiras de série normal; a fração

mais fina, passante na peneira #200, foi caracterizada pela análise granulométrica a

laser com equipamento da marca CILAS, modelo 1064.

O método de mistura para as argamassas, nomeadas de A a J, foi baseado na

NBR 13276/2002 (1), a qual propõe a mistura total da massa de material seco em

água. A argamassadeira é acionada durante 60 segundos na velocidade baixa; em

seguida, faz-se a homogeneização da mistura com uma espátula durante os

próximos 30 segundos e, finalmente, retoma-se a mistura mecânica por mais 30

segundos, mantendo a velocidade do equipamento baixa (Figura 1). Nesse estudo,

prepararam-se as amostras com três quilogramas de argamassa industrializada e o

teor de água adicionado foi o indicado pelo fabricante (Tabela 1).

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Mistura na argamassadeira

VELOCIDADE BAIXA Homogeneização manual

Mistura na argamassadeira

VELOCIDADE BAIXA

60s 30s 30s Figura 1 – Linha do tempo para o método de mistura das argamassas.

Os ensaios realizados com as argamassas no estado fresco tiveram como base

a norma NBR 13278/2005 (2) para a determinação do teor de ar incorporado. Além

desses ensaios, foi realizado também o ensaio squeeze flow.

Para cada ensaio foram preparadas em média três misturas. Para o squeeze

flow, foram moldados corpos de prova com 200 mm de diâmetro e 10 mm de altura,

dispostos entre duas placas planas de aço, instaladas numa prensa EMIC modelo

DL 10.000 (Figura 2) e submetidos a uma carga de compressão que poderia variar

de 0 a 2000 N, com taxa de deslocamento da placa superior de 0,01 mm/s. O

deslocamento máximo programado foi de 5 mm.

Pistão de compressão

Figura 2 - Configuração do ensaio Squeeze Flow.

Para a análise dos dados resultantes desse ensaio, utilizou-se como base o

perfil típico da carga aplicada versus deslocamento (Figura 3). A curva típica passa

por três estágios bem definidos (3).

Amostra

Base metálica

5

Figura 3 – Perfil típico da carga versus deslocamento de um ensaio de squeeze flow realizado com deslocamento controlado. Estágio I: início do deslocamento com deformações unicamente elásticas. Estágio II: deformações plásticas ou fluxo viscoso. Estágio III: deslocamento decorrente do enrijecimento por deformações (3). (MIN et.al., apud CARDOSO, 2005).

É desejável que a faixa de deslocamento que corresponde ao estágio I seja a

menor possível, visto que tais deformações irreversíveis podem acarretar fissuras já

no estado fresco. O estágio intermediário, cujas deformações são maiores e

acontecem com pequenos acréscimos da carga aplicada, deve ser o fluxo

característico que reflete na boa aplicação da argamassa. Por último, no estágio III,

a força necessária para deformar o material cresce exponencialmente e é

denominado enrijecimento por deformação. Provavelmente, as operações de

aplicação e espalhamento da argamassa são dificultadas neste estágio devido às

altas tensões (4).

A metodologia adotada nesta pesquisa está resumida na Figura 4, e os teores

de água indicados pelos fabricantes e adotados para as misturas são apresentados

na Tabela 1.

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10 Argamassas industrializadas

Análise granulométrica

Squeeze flow

Peneiramento mecânico

A Laser (fração passante na peneira

#200)

Figura 4 – Ensaios realizados com as argamassas industrializadas no estado fresco.

Tabela 1 – Teores de água indicados pelos fabricantes (em gramas, para cada 3 kg de argamassa anidra).

Argamassas industrializadas

Teor de água indicado pelo fabricante (g)

A 480

B 480

C 480

D 600

E 450

F 600

G 420

H 525

I 480

J 660

7

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Comportamento reológico

Os resultados obtidos a partir do ensaio squeeze flow foram agrupados em

duas famílias de argamassas, cujos comportamentos se mostraram semelhantes. As

Figuras 5 e 6 mostram as curvas carga versus deslocamento obtidas para os dois

grupos.

Figura 5 – Curvas carga versus deslocamento obtidas no ensaio squeeze flow para as argamassas do Grupo 1 – argamassas que atingiram o estágio III.

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Figura 6 - Curvas carga x deslocamento obtidas no ensaio squeeze flow para as argamassas do Grupo 2 – argamassas que não atingiram o estágio III.

As argamassas A, D, E, F e G (Figura 5) formam o primeiro grupo, cujos

deslocamentos alcançaram o estágio de deformações por enrijecimento

(estágio III), onde o fluxo da mistura é dificultado. Dentre essas cinco

argamassas, três (A, F, G) não atingiram o deslocamento máximo imposto de 5

mm, tendo o ensaio abortado, quando a célula de carga atingiu seu limite

máximo (2000 N). As demais (D e E) deslocaram-se 5 mm normalmente, com

cargas abaixo do limite da célula. As argamassas que compõem o grupo 2

apresentaram deformações majoritariamente plásticas (B, C, H, I e J) e

atingiram a deformação máxima de 5 mm. As cargas máximas de compressão

observadas nesse grupo de argamassas foram as menores cargas entre todo o

universo amostral da pesquisa.

Buscando justificar o comportamento distinto de parte das argamassas

do grupo 1 (A, F e G), as quais não alcançaram o deslocamento máximo, foram

levantadas duas hipóteses, tendo como base a inspeção visual (prática comum

nas obras, através da qual pode-se prever de uma forma aproximada, o

desempenho da argamassa): a) a primeira supõe que a falta de pasta na

mistura provocou o embricamento das partículas sólidas logo no início do

ensaio (Figura 7 a); b) a segunda hipótese cogita a possibilidade de excessiva

fluidez da pasta e conseqüente falta de coesão entre a pasta e os agregados, o

9

que também leva ao embricamento, como exemplificado na Figura 7 b. Isso

pode ser resultado da influência do teor de água que o fabricante indicou na

embalagem, o qual foi adotado, ou ao teor de bolhas de ar que foram

incorporadas durante a mistura, o que proporciona a lubrificação no contato

entre os agregados,. Sendo assim, a pasta menos viscosa propiciou uma

distância interpartículas maior e facilitou o desprendimento e escorregamento

dos agregados (4) e, conseqüentemente, a pasta, por ser bastante fluida,

deslocou-se rapidamente e os grãos se aproximaram facilmente até o

embricamento.

No que se refere à prática de obra, é possível inferir que as argamassas

do grupo 2 possivelmente apresentarão maior facilidade de aplicação e

espalhamento, por apresentarem, para uma mesma taxa de cisalhamento,

menores cargas aplicadas para o deslocamento desejado (5). Isso caracteriza

baixa energia despendida pelos pedreiros para aplicar, nivelar e fazer o

acabamento final do revestimento. Sendo assim, as argamassas desse grupo

provavelmente apresentar-se-ão mais aplicáveis que as demais, o que não

implica em dizer que o grupo 1 trata-se de argamassas não aplicáveis.

a) b)

Figura 7 – a) Embricamento dos grãos por falta de pasta da argamassa; b) Embricamento dos grãos por excesso de fluidez da pasta e falta de coesão da mistura.

Análise Granulométrica das Argamassas

10

Na Figura 8 estão apresentadas as curvas granulométricas das 10

argamassas industrializadas, determinadas por peneiramento mecânico e por

granulometria a laser. O material foi inicialmente peneirado na série normal de

peneiras (até peneira #200) e a fração passante na peneira #200 foi submetida

à granulometria a laser, para dar continuidade à curva granulométrica da fração

fina das argamassas..

As curvas granulométricas que caracterizam as argamassas do grupo 1

apresentaram um grande percentual de grãos concentrado em torno de uma

dimensão nominal, ou seja, a distribuição granulométrica pode ser considerada

uniforme. Entre as amostras do grupo, a curva granulométrica da argamassa A,

é a que mais se distingue das demais, com destaque para a porcentagem de

material retido na peneira com abertura de 0,6 mm, onde cerca de 45% da

amostra de argamassa ficou retida. Portanto, mais de 60% do material teve

diâmetro superior a 0,6 mm, ou seja, em relação às demais argamassas, a

argamassa A contém maior quantidade de agregados graúdos. Esse fato pode

justificar o comportamento reológico de tal argamassa, sabendo-se que a

presença significativa de grãos graúdos pode facilitar o atrito e o embricamento

entre eles e assim o deslocamento imposto é dificultado e a carga de

compressão, necessária para o deslocamento desejado, aumenta muito, fato

pelo qual o ensaio squeeze flow foi abortado. A argamassa G, por sua vez,

apresentou um comportamento no squeeze flow semelhante ao da argamassa

A, entretanto, para a G a quantidade de água adotada, para a mistura, é a

menor (420g) e a sua distribuição granulométrica é mais discreta, sou seja, sua

população de grãos apresenta ausência ou escassez de partículas de

determinados diâmetros, isso reflete no empacotamento, na densidade da

mistura e no seu desempenho reológico em geral., como se verifica nas curvas

obtidas pelo ensaio squeeze flow.

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Figura 8 – Curvas Granulométricas das argamassas.

Para o grupo 2 pode-se verificar uma tendência de distribuição

granulométrica contrária a do grupo 1, não havendo um percentual significativo

de grãos concentrado em torno de uma dimensão nominal (argamassas B,C e

J); por isso, classificam-se tais argamassas como de distribuição

granulométrica desuniforme, com um adendo para as argamassas H e I, cujo

acumulo de grãos em torno de uma dimensão nominal é significativo e difere

da caracterização das demais argamassas do grupo 2. Então, diferentemente

das demais argamassas, era de se supor que as argamassas H e I

apresentassem embricamento entre os grãos e dificuldade no escoamento

(semelhante ao comportamento do grupo 1); porém, isso não se observou nas

curvas do ensaio squeeze flow, o que possibilita inferir que a reologia dessas

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argamassas foi satisfatória pela influência de outros fatores que não a

composição granulométrica, como, por exemplo, o teor de ar incorporado, a

morfologia dos grãos, quantidade de pasta, etc.

O gráfico da Figura 9 mostra a fração graúda e a fração fina (material

pulverulento) das argamassas.

Figura 9 – Fração graúda e fina das argamassas.

Sob o ponto de vista reológico, a fração fina (material pulverulento),

representada pelos finos da areia e pelo cimento, é responsável pela formação

da pasta e conseqüente coesão da mistura, além do preenchimento dos vazios.

Essas, por possuírem grande superfície, estão mais propensas à aglomeração.

A fração graúda, por sua vez, altera as linhas de fluxo do material dificultando o

seu escoamento (6). Cabe destacar que o teor de material pulverulento tende a

aumentar o consumo de água da mistura, sendo necessário, em alguns casos,

o emprego de aditivos dispersantes para assegurar uma fluidez desejável.

As argamassas que compõem o grupo 1 apresentaram os menores teores

de material pulverulento, cujos efeitos prejudicam o seu comportamento

reológico, por causarem uma deficiência na quantidade de pasta na mistura e

conseqüente maior facilidade de embricamento dos grãos. Esse

comportamento foi observado no ensaio squeeze flow para este grupo de

argamassas (deslocamento por enrijecimento).

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Neste estudo, as argamassas D e F apresentaram curvas granulométricas

semelhantes, e os teores de água indicados pelos fabricantes foram iguais;

porém, o teor de finos difere (4% para a D e 15% para a F). Os

comportamentos reológicos também apresentaram divergências: a argamassa

D alcançou o deslocamento de 5 mm, diferentemente da argamassa F; isso

revela que há inúmeras variáveis envolvidas na reologia das argamassas e o

ensaio squeeze flow apresenta-se sensível o suficiente para apontar tais

influências que o material possa estar sujeito. Dessa forma, supõe-se que

algum aditivo tenha sido empregado na formulação da argamassa F, com base

na observação da sua excessiva fluidez no momento do preparo da mistura.

No grupo 2 nota-se que as argamassas tiveram maiores frações de

material fino, exceto a C, o que impõe um maior consumo de água para uma

mesma fluidez. As argamassas H e J comprovam o fato, pois apresentaram os

maiores teores, tanto de material pulverulento como de água (em torno de 0,6

kg de água para 3 kg de argamassa). Porém, as argamassa B e I têm um dos

menores teores de água (0,480 kg) e os seus comportamentos reológicos

também se enquadraram no grupo 2 (onde prevalece o estágio de

deformações plásticas). Por isso, presume-se que, para a obtenção de uma

fluidez satisfatória, foi empregado um aditivo dispersante, cuja finalidade é

reduzir o consumo de água

Por fim, tem-se a argamassa C, cujo teor de finos é um dos mais baixos

no universo amostral. A tendência de comportamento reológico dentro do grupo

2 (Figura 6) não é seguida por essa argamassa, pois além de apresentar a

maior carga de compressão, sua curva carga versus deslocamento é a única

do grupo que apresenta uma leve inclinação final característica do estágio III,

onde ocorre embricamento dos grãos. Esse comportamento se deve ao baixo

teor de finos e conseqüente menor quantidade de material para compor a pasta

da mistura.

Cabe destacar a importância da influência da morfologia da areia (natural

ou artificial) e do cimento no comportamento reológico das argamassas,

variáveis essas não exploradas nesse trabalho.

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CONCLUSÕES

O panorama do comportamento reológico das dez argamassas

industrializadas revela quanto os fatores intrínsecos ao produto podem alterar o

desempenho reológico da argamassa. Sendo assim, o estudo possibilitou

verificar que alguns critérios devem ser adotados na formulação, visando

compensar ou suprir algumas deficiências que possam decorrer, por exemplo,

da utilização de uma areia mal graduada. Por isso, há possibilidade de fazer

um “balanceamento” com as variáveis envolvidas no processo de fabricação,

de forma a sempre assegurar um bom comportamento reológico.

Dentre os dois grupos de argamassas, pode-se destacar as argamassas

do grupo 2 por apresentarem as menores cargas de compressão axial para um

deslocamento pré-estabelecido do material; além disso, a distribuição

granulométrica nas amostras desse grupo foi satisfatória, por ter facilitado o

empacotamento das partículas (7) e a geração da pasta . Porém, outras

variáveis, como por exemplo, morfologia dos grãos, não foram avaliadas e, por

também alterarem as condições de empacotamento e as propriedades da

mistura, o estudo pode ser complementado futuramente.

Desta forma, o estudo possibilitou verificar que há diferenças no

comportamento reológico das argamassas abordadas na pesquisa, o que

poderá implicar em maior ou menor facilidade de aplicação na prática.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 13276 - Argamassa para

assentamento de paredes e revestimentos de paredes e tetos – Preparo da mistura e

determinação da consistência – ABNT NBR 13276. Rio de Janeiro, 2005.

____. NBR 13268 - Argamassa para assentamento de paredes e revestimentos de paredes e

tetos – Determinação da densidade da massa e do teor de ar incorporado – ABNT NBR

13278. Rio de Janeiro, 2005.

CARDOSO, F.A., CAMPORA, F. L., PILEGGI, R.G., JOHN, V.M. Caracterização Reológica de

Argamassas do Mercado por Squeeze-Flow. In: Simpósio Brasileiro de Tecnologia

das Argamassas, VII.Anais, ANTAC, Recife, 2007.

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do método de squeeze-flow. Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas, VI, In:

Anais, ANTAC, Florianópolis, 2005. p 121-143.

MIN, B. H. ERWIN, L; JENNINGS, H. M., Rheological behaviour of fresh cement past as

measured by squeeze flow. Journal of materials science, v.29, 1994. p. 1374-1381.

PILEGGI, R. G. Efeito da distribuição granulométrica sobre o comportamento reológico de

concretos refratários. 1996. 210 p. Dissertação (mestrado em Engenharia de Materiais) –

Programa de Pós-graduação em Ciências e Engenharia de Materiais, Universidade

Federal de São Carlos, São Carlos.

PILEGGI, R.G. Ferramentas para o estudo e desenvolvimento de concretos refratários. 2001.

187 p. Tese (doutorado em Engenharia de Materiais) – Programa de Pós-graduação em

Ciências e Engenharia de Materiais, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.