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ii UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA Comportamento Animal e Distribuição Espacial das Fezes em Sistemas Integrados de Produção de Leite Andréia Cristina Tavares de Mello Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Zootecnia. Área de concentração: Zootecnia. Sinop, Mato Grosso Abril de 2014

Comportamento Animal e Distribuição Espacial das Fezes em ... · inúmeras vezes não tivesse tentado atingir o impossível". Max Weber . ix ... O sistema de produção com a presença

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ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP

INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

Comportamento Animal e Distribuição Espacial das Fezes em

Sistemas Integrados de Produção de Leite

Andréia Cristina Tavares de Mello

Dissertação apresentada ao Programa de Pós

Graduação em Zootecnia da Universidade Federal

de Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop,

como parte das exigências para a obtenção do título

de Mestre em Zootecnia.

Área de concentração: Zootecnia.

Sinop, Mato Grosso

Abril de 2014

iii

Comportamento Animal e Distribuição Espacial das Fezes em

Sistemas Integrados de Produção de Leite

Dissertação apresentada ao Programa de Pós

Graduação em Zootecnia da Universidade Federal

de Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop,

como parte das exigências para a obtenção do título

de Mestre em Zootecnia.

Área de concentração: Zootecnia.

Orientador: Prof. Dra. Roberta Aparecida Carnevalli

Sinop, Mato Grosso

Abril de 2014

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

iv

v

vi

DEDICATÓRIA

Dedico este Mestrado à minha mãe, Suzete

Rodrigues Tavares de Mello, pelos

incentivos e apoio a todas as minhas

decisões. A vitória desta conquista dedico,

com todo o meu amor, unicamente a você.

Parabéns!

vii

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus, por esta sempre ao meu lado, me dando força e

coragem.

À minha orientadora Roberta Aparecida Carnevalli, pela orientação e por sempre ter

confiado a mim a execução desse estudo.

Aos meus co-orintadores Luciano Shozo Shiratsuchi e Bruno Carneiro e Pedreira pela

orientação.

À Universidade Federal de Mato Grosso/Campus Sinop, pela oportunidade de

realização do curso de mestrado.

À toda equipe da Embrapa Agrossilvipastoril, que me ajudara na execução do trabalho

de campo.

Aos meus amigos doutorandos Admar Júnior Coletti e Steben Crestani, pela ajuda nos

trabalhos de campo, e pela oportunidade de convivência, meu muito obrigado.

Às minhas amigas de turma do mestrado, Thuanny Pereira e Márcia de Souza, pelo

carinho e apoio nesses dois anos de curso.

À minha grande amiga Adriana Abreu Mayolino, por ter me ajudado muito durante o

mestrado, me dando força e apoio, e por ter proporcionado vários momentos felizes de

distração, que foram muito importantes.

viii

EPÍGRAFE

“Só é útil o conhecimento que nos faz melhor”.

Sócrates

"O homem não teria alcançado o possível, se

inúmeras vezes não tivesse tentado atingir o

impossível".

Max Weber

ix

BIOGRAFIA

Andréia Cristina Tavares de Mello, filha de José Tavares de Mello Neto e Suzete

Rodrigues Tavares de Mello, nasceu em Cuiabá, Estado de Mato Grosso, em 10 de fevereiro

de 1986.

Em 2006, ingressou na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), no curso de

graduação em Agronomia. No período de 2007 a 2009, participou como bolsista no

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no departamento de defesa sanitária

vegetal. No período letivo de 2009 a 2010, participou como bolsista do Programa de

Monitoria Voluntária da Universidade Federal de Mato Grosso, na disciplina de Fitopatologia

Básica e Aplicada. No período letivo de 2011, participou como bolsista do Programa de

Monitoria Voluntária da Universidade Federal de Mato Grosso, na disciplina de Criação e

Exploração de Ruminante.

Entre agosto de 2009 a julho de 2010, participou como bolsista PIBIC no projeto de

pesquisa, Epidemiologia e controle de doença de soja.

Em 2011, obteve o título de bacharel em Agronomia, colando grau em agosto de 2011.

Em março de 2012, iniciou o curso de mestrado no programa de pós-graduação em

Zootecnia, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Campus Universitário de

Sinop, concentrando seus estudos na linha de pesquisa em produção Animal, na área de

Pastagem.

x

Sumário INTRODUÇÃO GERAL .................................................................................................................. 1

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................................... 3

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................ 5

CAPITULO 1 ..................................................................................................................................... 7

Comportamento de Novilhas Leiteiras em Sistemas Integrados de Produção na Região de

Transição Cerrado-Amazônico(1)

: I - Pastejo7

Resumo ............................................................................................................................................... 7

Abstract .............................................................................................................................................. 8

Introdução .......................................................................................................................................... 8

Material e Métodos ............................................................................................................................ 9

Resultados ........................................................................................................................................ 14

Discussão .......................................................................................................................................... 21

Conclusão ......................................................................................................................................... 24

Referência Bibliográficas ................................................................................................................ 24

CAPITULO 2 ................................................................................................................................... 26

Comportamento de Novilhas Leiteiras em Sistemas Integrados de Produção na Região de

Transição Cerrado-Amazônico – Ruminação e Ócio(1)

Resumo ............................................................................................................................................. 26

Abstract ............................................................................................................................................ 27

Introdução ........................................................................................................................................ 28

Material e Métodos .......................................................................................................................... 29

Resultados ........................................................................................................................................ 32

Discussão .......................................................................................................................................... 36

Conclusão ......................................................................................................................................... 38

Referência Bibliográfica ................................................................................................................. 39

CAPITULO 3 ................................................................................................................................... 40

Distribuição Espacial das Fezes em Sistema Integrados de Produção de Leite(1) ...................... 40

Resumo ............................................................................................................................................. 40

xi

Abstract ............................................................................................................................................ 41

Introdução ........................................................................................................................................ 42

Material e Métodos .......................................................................................................................... 43

Resultados ........................................................................................................................................ 48

Discussão .......................................................................................................................................... 53

Conclusão ......................................................................................................................................... 56

Referência Bibliográficas ................................................................................................................ 56

CONCLUSÕES GERAIS ............................................................................................................... 58

1

INTRODUÇÃO GERAL

A arborização de pastagens é uma forma de uso da terra também conhecida por

sistema silvipastoril (Veiga et al., 1990). Principalmente, em condições de elevada

temperatura como as ocorridas no Centro-Oeste brasileiro, a utilização de árvores para

amenizar o estresse térmico de rebanhos leiteiros pode ser determinante da eficiência

produtiva e sanitária. Navarini et al. (2009) relatam valores médios de temperatura da

superfície corporal em pleno sol, pequenos bosques e árvores isoladas foram de 35,3°C,

34,3°C e 34,7°C, respectivamente. Entretanto, a temperatura do ar no final do período das

águas pode atingir 45ºC ao meio dia no centro-oeste.

Quando submetidos às condições climáticas estressantes, os bovinos alteram ao longo

do dia os períodos de pastejo, de ruminação e de ócio, com a maior parte da atividade de

pastejo ocorrendo durante as primeiras horas do dia, sendo mais prolongado após o

amanhecer e o mais intenso após o escurecer, embora também possa ocorrer pastejo noturno

em função do clima e da disponibilidade de forragem. Segundo Baumer (1991), há

modificação no padrão do pastejo quando os animais são submetidos a estresse pelo calor,

incluindo uma redução no tempo de pastejo e tempo dedicado à ruminação, afetando a

produtividade animal.

Os animais também atuam como elemento acelerador no processo de ciclagem de

nutrientes do ecossistema, sendo que grande parte da biomassa que consomem retorna ao solo

na forma mais degradada de fezes e urina, obtendo um retorno na ordem de até 90% dos

nutrientes minerais, incluindo o nitrogênio (MOTT & POPENOE, 1997 citado por LUCAS,

2004). No entanto é preciso saber como esses dejetos serão distribuídos pelos animais sobre a

área. O manejo do ambiente influencia diretamente na distribuição espacial desses dejetos, ou

seja, da forma que estão distribuídos os bebedouros, cochos de sal e suplementação, porteiras,

área de descanso, sombra e até mesmo as características da estrutura e morfologia da planta

forrageira ou das plantas forrageiras. Já que essas distribuições das estruturas, de sombra e da

2

heterogeneidade da pastagem, fazem com que haja áreas preferenciais de consumo e descanso

e consequentemente, na deposição das fezes e urinas desses animais.

3

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A produção de bovino a pasto, principalmente em regiões de clima tropical, tem uma

série de problemas de manejo e metabólicos, destacando-se, entre eles, o estresse pelo calor.

O sistema de produção com a presença do componente arbóreo nas pastagens é uma

alternativa para prover maior conforto térmico a esses animais, melhorando os índices

produtivos do rebanho. Segundo Almeida (2000), a maioria das raças bovinas tende a sofrer

estresse térmico em regiões quentes e com alta incidência de radiação solar, sendo alternativa

para evitar esse efeito, o uso de sombreamento.

A baixa adaptação às condições de clima e de manejo do rebanho leiteiro,

prevalecentes nas regiões tropicais, raças bovinas que foram selecionadas em regiões

temperadas ou com temperaturas amenas e com menor indicies de radiações solares, constitui

um dos maiores problemas na produtividade do rebanho em algumas regiões brasileiras, já

que segundos dados de pesquisas que têm demonstrado que criar animais, em ambiente com

conforto ambiental e bem-estar, pode refletir diretamente na melhora de seus desempenhos

produtivo e reprodutivo (Fassio et al., 2009). Por isso, minimizar efeitos prejudiciais do clima,

sobre os animais, em países de clima tropical e subtropical, tem sido uma constante

preocupação, visando amenizar a ação danosa das variáveis climáticas consideradas

responsáveis pelo estresse pelo calor (Paes Leme et al., 2005).

Quando o animal está com estresse pelo calor, alteram sua postura para aproveitar a

dissipação de calor pelo vento, ficam mais quietos e com movimentação reduzida, com

objetivo de diminuir o calor gerado pelos movimentos (Fassio et al., 2009). Há modificação

no padrão de ingestão de alimentos, incluindo uma redução no tempo de ingestão e tempo

dedicado à ruminação, afetando grandemente a produtividade do animal (Ferreira, 2005).

Ainda segundo o autor, os animais passam as horas quentes do dia descansando e ruminando.

Em torno do meio-dia, a maioria das atividades é interrompida e deixam a alimentação para

ser realizada no período noturno. Em geral, o consumo de alimentos por animais em pastejo

4

diminui quando a temperatura ambiente ultrapassa 26ºC. Para animais criados nos trópicos, o

pastejo noturno pode representar 60% do tempo total dedicado à alimentação.

Os animais a pasto também atuam como elemento acelerador no processo de ciclagem

de nutrientes do ecossistema, sendo que grande parte da biomassa que consomem retorna ao

solo na forma mais degradada de fezes e urina, obtendo um retorno na ordem de até 90% dos

nutrientes minerais, incluindo o nitrogênio (MOTT & POPENOE, 1997 citado por LUCAS,

2004). Braz et al. (2002), estudaram o retorno diário de nutrientes para o pasto na Zona da

Mata de Minas Gerais, através das fezes de três novilhas mestiças holandês-zebu durante 10

semanas, encontrando que 93,28% do N, 76,68% do P, 17,99% do K, 72,93% do Ca e 62,54%

do Mg ingeridos pelos animais retornaram à pastagem como fezes.

No entanto é preciso saber como esses dejetos serão distribuídos pelos animais sobre a

área. O manejo do ambiente influencia diretamente na distribuição espacial desses dejetos, ou

seja, da forma que estão distribuídos os bebedouros, cochos de sal e suplementação, porteiras,

área de descanso, sombra e até mesmo as características da estrutura e morfologia da planta

forrageira ou das plantas forrageiras. Já que a distribuição das estruturas de sombra e da

heterogeneidade da pastagem, fazem com que haja áreas preferenciais de consumo e descanso

e consequentemente, na deposição das fezes e urinas desses animais.

Assim, as proporções das excretas e a distribuição espacial das excretas vão depender

de vários fatores do ambiente pastagem e do sistema de produção (intensivo ou extensivo), o

que irá ou não proporcionar benefícios da ciclagem de nutrientes para o sistema de criação. O

processo de transformação e decomposição das fezes começa logo que são depositadas na

pastagem, e a velocidade de decomposição está relacionada a vários fatores, tais como:

climáticos, cobertura vegetal, características morfológicas do excremento, estrutura do solo

em questão, composição química e consistência das fezes, sistema de pastejo e biocenose, a

qual se atribui uma grande importância na aceleração desses processos (Soca, 2006).

5

Ferreira et al. (2011) corroboram em estudos da distribuição de fezes em pasto de

Brachiária brizantha com 22 novilhas e 22 vacas mestiças Gir, Holandês e Jersey, com grau

de sangue médio de 83,3% taurino e 16,7% zebuíno, em diferentes níveis de sombreamento

com: pleno sol, sombra única, sombra em bosque e sombra dispersa. A sombra única era uma

sobra artificial de folhas de coqueiros e a sombra bosque e dispersas eram de árvores nativas

da região. Os autores concluíram que no tratamento a pleno sol houve maior concentração de

fezes perto dos bebedouros e da porteira. No tratamento sombra única houve maior

concentração de fezes em baixo da sombra artificial. Na sombra em bosque, 72% da

frequência das fezes foram na área de bosque, demonstrando que os animais ocupam por mais

tempo as áreas sombreadas, e com uma distribuição das fezes mais dispersas nos piquetes

com sombra dispersas.

As informações a respeito do comportamento de raças especializadas em produção de

leite e a distribuição de excretas em áreas com sombreamento natural, em condições de Brasil

Central são extremamente escassas e praticamente inexistentes, o que oportuniza estudos

desta natureza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA C.P.,E.S. KLOSOWSKI, F.C.NAVARINI, G.W.BUENO. Conforto térmico de

bovinos submetidos à diferentes condições de sombreamento na região oeste do Paraná,

2000 - Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE.

BRAZ, S. P.; NASCIMENTO JÚNIOR, D.; CANTARUTTI,R. B.; MARTINS, C. E.;

FONSECA, D. M.; BARBOSA, R. A. Caracterização da Distribuição Espacial das Fezes

por Bovinos em uma Pastagem de Brachiaria decumbens. R. Bras. Zootec., v.32, n.4,

p.787-794, 2003.

FASSIO, P. D. O.; MARIANO, A. C.; SÁVIO, D.; (2009). Sistema Silvipastoril e

Ambiência Animal. II Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG do campus Bambuí.

FERREIRA, L. C. B.; MACHADO FILHO, L. C. P.; HOETZEL, M. J.; LABARRÈRE, J. G.

O efeito de diferentes disponibilidades de sombreamento na dispersão das fezes dos

bovinos nas pastagens. Revista Brasileira de Agroecologia Rev. Bras. de Agroecologia. 6(1):

137-146, 2011.

PAES LEME, T. M. S.; PIRES, M. F. A.; VERNEQUE, R. S. et al. Comportamento de

vacas mestiças holandês x zebu, em pastagem de Brachiaria decumbens em sistema

silvipastoril. Ciênc. agrotec., Lavras, v.29, n.3, p.668-675, maio/jun., 2005.

6

FERREIRA, L. C. B.; MACHADO FILHO, L. C. P.; HOETZEL, M. J.; LABARRÈRE, J. G.

O efeito de diferentes disponibilidades de sombreamento na dispersão das fezes dos

bovinos nas pastagens. Revista Brasileira de Agroecologia Rev. Bras. de Agroecologia. 6(1):

137-146, 2011.

LUCAS, N. M. Desempenho Animal em Sistema Silvipastoril com Acácia-Negra (Acácia

mearnssi De Wild.) e Rendimento de Matéria Seca de Cultivares de Panicum maximum Jacq. Sob Dois Regimes de Luz Solar. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do

Sul, 2004, 127p. (Tese de Doutorado).

FERREIRA, R. A. Maior produção com melhor ambiente para aves, suínos e bovinos.

Viçosa, MG: Aprenda Fácil, 2005. 371p.

SOCA, M.; SIMON, L.; SOCA, M.; ROCHE, Y.; AGUILA, A. Los árboles, su papel en La

desconposición de las excretas de bovinos jóvenes y en el desarrollo de la macrofauna

edáfica en sistemas silvopastoriles en Cuba. In: Sistemas agroflorestais e

desenvolvimento com proteção ambiental: práticas e tecnologias desenvolvidas.

Colombo, PR: Embrapa Florestas, 2006, p.135-149.

7

CAPITULO 1

Comportamento de Novilhas Leiteiras em Sistemas Integrados de Produção na

Região de Transição Cerrado-Amazônico(1)

: I - Pastejo

Andréia Cristina Tavares de Mello(2)

; Roberta Aparecida Carnevalli(3)

; Luciano Shozo

Shiratsuchi(4)

; Bruno Carneiro e Pedreira(4)

; Luciano Bastos Lopes(4)

; Diego Batista Xavier(5)

(1)Projeto financiado pelo CNPq/Repensa

(2)Bolsista CNPq/Repensa - Mestranda – Universidade Federal de Mato Grosso, campus Sinop [email protected]

(3)Pesquisadora - EMBRAPA Agrossilvipastoril,Sinop/MT [email protected]

(4)Pesquisador - EMBRAPA Agrossilvipastoril, Sinop/MT

(5) Analista – EMBRAPA Agrossilvipastoril, Sinop/MT

Resumo - Em condições de elevadas temperaturas como as ocorridas no Centro-Oeste

brasileiro, a utilização de árvores para amenizar o estresse pelo calor de rebanhos leiteiros

pode ser determinante da eficiência produtiva, reprodutiva e sanitária. Objetivou-se avaliar o

comportamento de novilhas leiteiras em sistemas integrados de produção em Mato Grosso.

Foram avaliadas 24 novilhas leiteiras mestiças, com peso médio de 350 kg, em três períodos

do ano. A pastagem utilizada foi de capim-piatã manejada sob pastejo rotacionado e

submetida a três sistemas de produção, com níveis de sombra diferentes: pleno sol,

sombreamento lateral e sombreamento intenso com Eucalipto de 10 a 12 m de altura. O

comportamento animal foi avaliado a cada 15 minutos entre o período das 8:30h às 16:00h. A

disponibilidade de sombra alterou o comportamento dos animais, principalmente a frequência

de animais pastejando, e tempo de pastejo nas horas mais quentes do dia, assim como o tempo

em pastejo, nos três períodos do ano. As novilhas têm horários preferenciais durante o dia

para realizarem o pastejo. Os animais que têm à disposição áreas sombreadas as buscam para

o pastejo nas horas mais quentes do dia durante.

8

Termos de indexação: sistema silvipastoril, Urochloa brizantha, Eucalipto, pastejo.

Abstract – In high temperatures conditions as Brazilian Midwest, the use of trees for reduce

the heat stress in dairy cattle can be determinant of productive, reproductive and healthy

efficiencies. The aim was evaluated the heifers behaviour in integrated systems of production

at Mato Grosso, Brazil. It was evaluated a group of 24 breed heifers with 350 kg in three

periods of year. The grass used was piatã grass in three shade levels: full sun, shade by side

and intensive shade, using Eucalyptus with 10 to 12 m of height. The animal behaviour was

evaluated in each 15 minutes, between 8:30 am to 16:00pm.

The shade availability changed the animal behaviour, mainly about grazing in the hottest

hours of day and, in the grazing in the periods of year. The heifers have preferential times

during the day to graze. The animals that have shade areas available looking for theirs grazing

activities in the hottest hours of day during rainy, transition and dry station.

Index Terms: silvopastoral system, Urochloa brizantha, Eucalyptus, grazing.

Introdução

A arborização de pastagens é uma forma de uso da terra também conhecida por

sistema silvipastoril. Principalmente em condições de elevadas temperaturas como as do

Centro-Oeste brasileiro, a utilização de árvores para amenizar o estresse pelo calor de

rebanhos leiteiros pode ser determinante da eficiência produtiva, reprodutiva e sanitária.

Segundo Almeida (2000), a maioria das raças bovinas tende a sofrer estresse pelo calor em

regiões quentes e com alta incidência de radiação, sendo uma alternativam, o sombreamento

por árvores para evitar esse efeito.

Navarini et al. (2009) relataram valores médios de temperatura da superfície corporal

em pleno sol, pequenos bosques e árvores isoladas de 35,3°C, 34,3°C e 34,7°C,

respectivamente. Entretanto, na região centro-oeste a temperatura do ar no final do período

9

das águas pode atingir até 45ºC ao meio dia, exigindo inevitavelmente formas de amenização

dessas condições para produção animal eficiente. Segundo Lucas (2004), também práticas de

manejo, como o momento correto de entrada dos animais nos piquetes, populações de árvores

e adequação do nível de utilização da forragem permitem ganhos de peso vivo por animal e

por área satisfatórios, podendo melhorar a produtividade de sistemas silvipastoris.

Outro aspecto muito importante para melhorar a produtividade de animais em

pastagens refere-se ao conhecimento dos horários de concentração da atividade de pastejo.

Conseguir definir quais são os horários em que os animais preferencialmente exercem o

pastejo é importante para o estabelecimento de estratégias adequadas de manejo do pastejo. O

fato é devido ao tempo total gasto para a atividade ser um fator relacionado ao consumo

voluntário com maior ou menor gasto de energia (Zanine et al., 2006).

O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência do sombreamento no comportamento

de pastejo novilhas leiteiras em sistemas silvipastoris com eucalipto e pastagem de capim-

piatã sob pastejo rotativo em condições de sombreamento em distintas nas épocas do ano na

região de transição Cerrado-Amazônico.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido no Campo Experimental da Embrapa Agrossilvipastoril,

no município de Sinop/MT, latitude 11º 51’ 43’’ Sul, longitude 55º 35’ 27” Oeste e 384 m de

altitude. De acordo com a classificação de Koppen, o clima da região é Aw (clima tropical

com concentração de chuvas no verão e inverno seco), com temperatura média anual de 27ºC

e umidade relativa do ar de 76%, com precipitação média anual de 2.020 mm (INMET, 2014)

(Figura 1). O solo é classificado como latossolo vermelho-amarelo em relevo plano.

10

Figura 1. Precipitação pluvial, temperatura máxima, média e mínima e umidade relativa do

ar. Fonte: INMET, 2014.

A área experimental foi de 10ha implantada com capim-piatã (Urochloa brizantha,

cultivar Piatã), com um ano de formação junto com a lavoura, dividida em três sistemas

relacionados com níveis de sombra por árvores. No ano anterior, a área havia sido cultivada

com milho safrinha consorciado com o capim-piatã para produção de silagem e formação da

pastagem. O primeiro sistema, a pleno sol, a área total foi de 2,4 ha de área útil da pastagem, e

sem a presença de árvores. O sistema com sombreamento lateral possuía a área total de 2,6 ha,

com área útil de pastagem de 2,4 ha. Neste tratamento, o plantio das árvores foi em fileiras

duplas (2x3m) nas laterais dos piquetes com uma distância de 52 m entre renques. O plantio

foi feito no sentido leste-oeste, projetando a sombra para dentro da parcela parcialmente

durante o dia. O sistema com sombreamento intenso possuía uma área total de 4,2 ha, com a

área útil de pastagem de 2,4 ha. Neste sistema, o plantio das árvores foi feito em fileiras

triplas nas laterais e no meio do piquete (2x3m), com espaçamento entre renques de 15 m,

também no sentido leste-oeste. A disposição dos sistemas foi realizada de tal forma que não

permitiu que o sombreamento de uma área fosse projetado sobre as outras menos sombreadas.

Cada sistema foi dividido em 10 piquetes, dos quais 3 foram selecionados piquetes para cada

sistema de acordo com o momento de entrada dos animais. O delineamento experimental foi

11

em blocos completos com parcelas subdivididas: sendo os sistemas, a parcela principal, e os

horários, a subparcela. Foram considerados 8 repetições de animais e 3 repetições de área

dependendo da variável resposta.

O método de pastejo empregado foi o de lotação intermitente (e. g. pastejo rotativo) e o

momento de entrada dos animais nos piquetes foi determinado seguindo o critério de 95% de

interceptação luminosa pelo dossel. O monitoramento da interceptação luminosa foi realizado

com o aparelho LAI 2000 da LICOR, utilizando 30 medições divididas em 6 estações de

leituras conforme Carnevalli et al. (2006). Estas foram realizadas durante o período de

rebrotação até que a meta de 95% de interceptação da luz fosse atingida.

As avaliações foram realizadas em três épocas do ano: Período 1 de 20/02 a 07/03/2013,

Período 2 de 06 a 20/05/2013 e Período 3 de 18/06 a 22/06/2013, caracterizando as épocas de

pleno verão chuvoso, período de transição para seca e período sem chuva, porém ainda com

forragem para o pastejo, respectivamente. As avaliações foram realizadas em todos os dias

que os animais permaneceram em cada piquete. A taxa de lotação, assim como os dias de

ocupação de cada piquete nos diferentes períodos e sistemas foram determinados em função

da disponibilidade de forragem. Desta forma, todos os animais que estavam em avaliação

permaneceram o tempo todo no piquete, sendo alterada apenas a carga variável, quando

necessário.

Em cada sistema de produção foram avaliadas oito novilhas mestiças Holandês x Zebu

(3/4 e 7/8) com peso médio de 350 kg. Estavam disponíveis mais doze animais reguladores de

carga, distribuídos de acordo com disponibilidade de forragem nos piquetes em pastejo.

Os bebedouros dos piquetes nos dois primeiros períodos de avaliação estavam do lado

de fora dos piquetes, de forma que os animais tinham que caminhar em um corredor lateral

aos piquetes para ter acesso à água. Cada sistema tinha seu corredor e bebedouro para que não

houvesse mistura entre os lotes de animais. No terceiro período, a cada dois piquetes foram

12

instalados um bebedouro na divisa entre piquetes. Com isso os animais não precisavam sair

do piquete para ter acesso à água. Mesmo assim, a porteira do piquete em uso não foi fechada,

permitindo que houvesse o caminhamento pelo corredor para acesso ao bebedouro antigo.

A área de cada piquete foi georreferenciada. Antes do início das avaliações foram

coletados os pontos geográficos nos vértices de cada piquete com um GPS modelo Garmim

ETREX 30. Com auxílio do programa SMS Advanced da AgLeader, a área de cada piquete foi

divida em 25 grids amostrais. Como as áreas dos piquetes dos três sistemas de produção eram

diferentes, os tamanhos dos grids foram diferentes, possibilitando avaliar toda a área do

piquete. No sistema a pleno sol cada grid media 10x10 m. No sistema com sombreamento

lateral cada grid media 12x10 m. No sistema com sombreamento intenso cada grid media

15x10 m. Nos grids foram avaliadas: altura pré e pós-pastejo, massa de forragem pré e pós-

pastejo e perdas por pastejo. No ponto central de cada grid foi colocado um quadrado de 1m²,

totalizando 25 quadrados por piquete, para que fossem realizadas as avaliações de perdas por

pastejo. Esses quadrados foram alocados de forma cuidadosa para que a planta forrageira não

ficasse dobrada ou amassada nas delimitações do quadrado e, assim, o animal pudesse

pastejar sem notar a presença do mesmo. Cada quadrado foi numerado de 1 a 25 (Figura 2),

assim todas as coletas que foram realizadas em cada quadrado foram georrefenciadas para

relaciona-as com os demais dados.

1 6 11 16 21

2 7 12 17 22

3 8 13 18 23

4 9 14 19 24

5 10 15 20 25

Figura 2. Esquema dos grids e dos quadrados nos pontos centrais de cada grid.

13

Em cada piquete foram coletadas cinco amostras de massa de forragem pré-pastejo com

auxílio de um amostrador de 0,25m2 de área em pontos com altura média representativa do

piquete no momento da amostragem. Destas três foram divididas em subamostras para

determinação da matéria seca em estufa com ventilação forçada a 55ºC por 48 horas. O

mesmo procedimento de coleta e de subamostragem foi realizado imediatamente após a saída

dos animais para determinação da massa pós-pastejo.

Para a medição de altura do dossel nas condições de pré e de pós-pastejo foram

utilizados como referência os vértices dos quadrados que estavam no centro de cada grid.

Foram medidos quatro pontos de altura por grid, totalizando 100 leituras de altura por

piquete. Com os dados de massa de forragem e de altura pré-pastejo foi calculada a densidade

volumétrica da forragem (kg MS.cm-1

.ha-1

).

Logo após a amostragem da forragem em pré-pastejo, os animais eram colocados nos

piquetes, iniciando o ciclo de pastejo, permanecendo no piquete o período pré-determinado,

de acordo com a oferta de forragem. Assim, o período de ocupação de cada piquete foi

variável nos diferentes períodos do ano em que as coletas foram realizadas, entretanto, o

mesmo período de descanso foi utilizado para cada tratamento dentro de cada período.

A temperatura ambiente foi medida utilizando-se miniestações meteorológicas. Estas

foram alocadas em pleno sol e entre os renques de árvores. Os dados de temperatura

utilizados foram aqueles coletados durante o período de avaliações comportamentais das

8:30h às 16:00h, a cada 15 minutos.

Para as avaliações dos aspectos comportamentais das novilhas leiteiras foram realizadas

leituras a cada 15 minutos iniciadas às 8:30h e encerradas às 16:00h, totalizando 31 horários

de observação. As leituras foram feitas considerando-se postura, a localização (pleno sol ou

sombra) e as atividades (pastejo, bebendo água e deslocando), registrando para cada animal a

14

atividade, postura e localização. Apenas a atividade principal do animal era anotada, no caso

de pastejo e caminhamento para pastejo, apenas atividade de pastejo era considerada. Todos

os animais foram identificados com fitas coloridas no pescoço, além dos brincos.

Após a tabulação e processamento dos dados, foram testados os efeitos de nível de

sombreamento e períodos de avaliação para o tempo dedicado às diferentes atividades, massa

de forragem, altura e densidade volumétrica. Para os dados de comportamento foram testados

os efeitos de horários do dia e nível de sombreamento de forma separada cada período de

avaliação. Os dados foram analisados utilizando-se o pacote estatístico SAS 9.2. Foram

realizados testes de normalidade dos dados, além da análise de variância para verificação dos

efeitos principais e interações, utilizando-se o procedimento MIXED e a comparação de

médias, quando necessário, realizada pelo método PDIFF a 5% de probabilidade.

Resultados

Analisando os dados de massa pré-pastejo dos três períodos de avaliação entre os níveis

de sombra, verifica-se que houve efeito entre os níveis de sombra (P=0,0330) (Tabela 1). Nos

dois primeiros períodos não houve diferença entre as massas de pré-pastejo nos diferentes

níveis de sombra, com média de 6.190 kg MS/ha. Apenas no início da seca, que foi registrada

a menor massa de pré-pastejo (4.250 kg MS/ha) devido redução das chuvas.

Tabela 1. Massa de forragem em condição de pré-pastejo de capim-piatã em sistemas

sombreados e a pleno sol nas diferentes períodos do ano.

Períodos Sistemas

Média Pleno sol Lateral Intenso

Chuvoso 6.680 aA 7.190 aA 6.160 aA 6.670 a Transição 6.720 aA 6.250 abA 4.170 abA 5.710 ab

Início da seca 5.540 aA 4.420 bAB 2.780 bB 4.250 b Média 6.313 A 5.953 AB 4368 B

Médias seguidas por mesma letra, não diferem entre si (p<0,050) sendo que letras minúsculas comparam linhas e

maiúsculas comparam colunas. EPM = Erro Padrão da Média

EPMtratramento=501, EPMperíodo=501, EPMtratamentosxperíodos=868

15

A massa de forragem pós-pastejo foi, em média, 3970 kg MS/ha para todos os

sistemas, sendo apenas diferenciadas durante as épocas do ano. O período chuvoso e o de

transição apresentaram um resíduo de 4.520 kg MS/ha, sendo que o menor valor foi registrado

no início da seca de 2.870 kg MS/ha.

O nível de sombra não influenciou nas alturas de pré (P=0,1396) e nem na de pós-

pastejo (P=0,1870), com média de 39,7 cm e 26,5 cm, respectivamente. No entanto foi

observado efeito de período de avaliação para as alturas pré (P=0,0018) e pós-pastejo

(P<0,0001). O primeiro chuvoso foi o que teve a maior altura de pré (46,8 cm) e pós-pastejo

(31,5 cm). Nos dois últimos períodos de avaliação, não houve diferença para as alturas pré e

pós-pastejo, com a média de 36 e 24 cm, respectivamente. Pode ser observado que houve uma

estabilidade da altura pré-pastejo o que refletiu na altura de pós-pastejo. Isso ocorreu pela

adaptação que a planta forrageira ao manejo de 95% de interceptação luminosa. Foi calculada

a remoção de forragem em termos de altura do dossel forrageiro utilizando a diferença entre

as alturas de pré e pós-pastejo. Analisando os dados de cada piquete em cada nível de sombra,

observa que houve efeito de nível de sombra no período chuvoso e no início da seca

(P<0,0001). O sistema com sombreamento intenso foi o que apresentou maior rebaixamento

do dossel nos períodos de chuva e de início da seca, sendo 20,8 e 13,7cm de remoção,

respectivamente. No período de transição, o rebaixamento foi de 9,8 cm. Mas foi este

tratamento que também teve a maior altura pré e pós-pastejo entre os demais tratamentos,

provavelmente condicionada pelo estiolamento das plantas sob condições de luminosidade

restrita. Por ocasião da avaliação o sombreamento sobre a pastagem, neste trabalho já era de

60%.

A densidade volumétrica da forragem variou com o nível de sombra (P=0,0034). O

sistema a pleno sol foi o que apresentou a maior densidade volumétrica, 173 kg MS.cm-1

.ha-1

.

16

Para o sistema com sombreamento lateral, a densidade volumétrica foi de 159 kg MS.cm-1

.ha-

1 para o sombreamento intenso o valor médio foi 99,7 kg MS.cm

-1.ha

-1.

Houve efeito de nível de sombra sobre frequência de animais na atividade de pastejo

(P<0,0001) nos três períodos de avaliação. No período chuvoso, foi o que teve o menor

número de animais na atividade. Os sistemas a pleno sol e o de sombreamento lateral não

apresentaram diferenças quanto ao número de animais pastejando, com uma média diária de

21,2% do rebanho. O sistema com sombreamento intenso resultou na maior média diária,

27,7% do rebanho pastejando. No período de transição água-seca, houve um aumento no

número de animais pastejando nas horas avaliadas. E novamente não houve diferença entre os

tratamentos a pleno sol e sombreamento lateral (média de 44%). Entretanto, para o sistema

com sombreamento intenso foi registrada a maior frequência de animais em pastejo (55,8%).

Assim como no período transição água-seca, no início da seca, o número de animais na

atividade continuou a crescer. Os sistemas a pleno sol e sombreamento intenso não

apresentaram diferenças na frequência de animais em pastejo (52,4%), mas foram inferiores

ao sombreamento lateral (66,8%)

No entanto, o tempo dedicado ao pastejo durante o dia não diferiu entre os níveis de

sombra (P=0,1657), mas houve efeito de período de avaliação (P<0,0001) e efeito interação

nível de sombra e período de avaliação (P=0,0074). O tempo médio de pastejo foi de 3h18min

(42,1% do tempo). O período chuvoso foi aquele em que as novilhas apresentaram um menor

tempo de pastejo (2h ou 25,8% do tempo). Os últimos períodos que não diferiram entre si,

com média de 4h ou 51,6% do tempo. Os sistemas a pleno e de sombreamento lateral

apresentaram o menor tempo de pastejo, 1h48min (23,2% do tempo) no período chuvoso.

Para o sistema com sombreamento intenso, o tempo despendido na atividade foi de 2h36min

ou 33,5% do tempo. No período de transição água-seca, os sistemas não diferiram quanto ao

tempo de pastejo (3h42min ou 48% do tempo). No período de início da seca, os sistemas de

17

produção a pleno sol e de sombreamento lateral não diferiram no tempo dedicado ao pastejo,

4h30min ou 58% do tempo), mas foram superiores ao tratamento de sombreamento intenso,

cujo tempo dedicado ao pastejo foi de 3h18min ou 42,6% do tempo.

As variações diárias na atividade de pastejo foram diferentes para os sistemas de

produção em cada período de avaliação (Figura 3). No período chuvoso, pode ser observado

que no período da manhã, a frequência de animais na atividade de pastejo se comporta de

forma semelhante entre os sistemas de produção (Figura 3 a). Com a paralisação da atividade

entre 9:00h às 10:30h. No período da tarde foi quando se observaram as principais diferenças

entre os tratamentos. No sistema com sombreamento intenso, os animais retornaram ao

pastejo mais cedo em relação aos demais sistemas, com cerca de 80% do rebanho na atividade

às 14:45h. No sistema a pleno sol, o pastejo só se tornou efetivo após as 15:45h, período em

que a temperatura começa a se tornar mais amena. No período de transição água-seca, a

frequência de animais em pastejo pela manhã também foi semelhante entre os níveis de

sombra, com a paralisação da atividade por volta das 9:30h (Figura 3 b). Apenas no sistema a

pleno sol que a frequência de animais em pastejo chegou à zero. No período da tarde, foram

observadas a maiores diferenças entre os tratamentos. Com os animais do sistema com

sombreamento intenso retornando ao pastejo às 13:30h com 100% do rebanho. Enquanto que

no sistema a pleno sol, os animais retonaram a atividade apenas após as 15:30h. O

comportamento das novilhas na atividade de pastejo foi semelhante aos dois primeiros

períodos avaliados em relação a distribuição da atividade de pastejo ao longo do dia. Com

comportamento semelhante na frequência de animais em pastejo, e com a maior diferença no

período da tarde, quando os animais do sombreamento intenso retornaram a atividade mais

cedo e os animais a pleno sol apenas após as 15:30h, horário em que a temperatura e a

incidência da radiação solar são mais amenas.

18

(a)

(b)

(c) PS = a pleno sol; SL = sombreamento lateral; SI = sombreamento

intenso.

19

Figura 3. Variações diárias na atividade de pastejo de novilhas leiteiras entre os tratamentos

de nível sombreamentoem capim-piatã sob pastejo rotacionado (a) águas; (b)

transição águas-seca; (c) início da seca.

O número de visitas ao bebedouro variou com o nível de sombreamento (P<0,0001)

nos três períodos de avaliação e com a interação entre nível sombra e horário do dia

(P<0,0001). No período chuvoso, o sistema a pleno sol apresentou maior número de visitas ao

bebedouro (1,8%) em relação aos sistemas de sombreamento lateral e sombreamento intenso

(0,4%). No período de transição água-seca, o sistema a pleno sol foi o que promoveu maior

frequência de procura por água (10 visitas), mas em grupos pequenos de animais por visita.

Essas visitas aconteceram entre as 10:00h e as 15:00h. O sistema de sombreamento lateral

promoveu menor frequência de visitas (9 visitas) em relação ao pleno sol, mas o número de

animais por visita foi maior, atingindo 25% do rebanho bebendo água às 12:15h. A procura

por água, quando os animais estavam a pleno sol, iniciou-se mais cedo em relação aos demais

sistemas e foi reduzida por um pequeno número de animais, às 13:45h. Houve nova procura

por água às 16:00h. O sistema de sombreamento intenso foi o que apresentou menor número

de procura por água, (1,3%), demonstrando que muitas vezes o animal procura água não por

sede, mas para amenizar uma condição de estresse pelo calor. No período de início da seca, o

sistema a pleno sol também foi o que promoveu maior frequência e maior número de animais

consumindo água em relação aos sistemas de sombreamento lateral e de sombreamento

intenso. Essas visitas aconteceram entre 10:15h e 15:30h. No sistema com sombreamento

lateral não foi verificada visita alguma ao bebedouro durante o dia. O sistema de

sombreamento intenso foi o que apresentou apenas uma visita ao bebedouro às 10:45h por um

grupo pequeno de animais (4,2% do rebanho). Houve efeito de nível de sombra (P=0,0036)

para o tempo gasto no consumo de água, mas não houve efeito de período de avaliação

(P=0,2306), com média de 4 min (1% do tempo). O sistema a pleno sol foi o que promoveu

maior tempo dedicado ao consumo de água (7 min ou 1,7% do tempo), e os sistemas

20

sombreados não diferiram, com média de 4 min ou 1% do tempo. O sombreamento reduziu o

tempo dedicado à procura de água durante o dia.

Houve efeito de nível de nível de sombreamento sobre o deslocamento dos animais para

o período chuvoso (P<0,001) e período de transição água-seca (P=0,0037), mas não houve

efeito para período de início da seca (P=0,8221). Esse deslocamento dos animais, este ocorreu

com a finalidade de buscar água, sombra ou iniciar e finalizar ciclos de pastejo. No período

chuvoso, o número de animais se deslocando foi de 5,6% do rebanho e no terceiro foi de

4,5%. No período de transição água-seca, foi registrado o maior número de animais se

deslocando (7,5%). No período chuvoso, o sombreamento lateral apresentou a maior

frequência de animais se deslocando (8,5%), enquanto que os sistemas a pleno sol e de

sombreamento intenso não diferiram entre si (4,1%). No período de transição, os animais a

pleno sol foram os que mais se deslocaram (9,7%), e aqueles sob sombreamento lateral e

intenso se deslocaram menos (6,4%). Já no período de início da seca, o deslocamento médio

foi de 4,5 % do rebanho. Também não houve efeito de nível de sombra para o tempo gasto em

deslocamento (P=0,3262), e nem de períodos (P=0,4246), com a média de 27min. O

sombreamento não afetou o tempo gasto para o deslocamento dos animais quando estava

disponível em locais próximos da pastagem, mas alterou a distribuição do deslocamento ao

longo do dia.

Houve efeito de nível de sombra (P<0,0001) para o número de animais que preferiram

as áreas sombreadas nos três períodos avaliados. Obviamente, os animais submetidos ao

sistema a pleno sol não buscaram sombra por não terem acesso a essa condição. No período

chuvoso, o número de animais que preferiram áreas sombreadas foi de 70,2%, para dois

sistemas com sombreamentos. No período de transição água-seca, o sistema com

sombreamento intenso foi aquele que apresentou maior número de animais em áreas sob

influência de sombra (63,5%) em relação aquele de sombreamento lateral (57,5%), mesmo

21

ainda tendo áreas a pleno sol durante todo o dia nos piquetes. Nos sistemas sombreados,

houve maior concentração de animais em áreas sombreadas das 9:45h às 12:00h. No período

de início da seca, o sistema de sombreamento intenso apresentou um maior tempo dos

animais à sombra durante dia (84%) em relação aquele sombreamento lateral (39%). Nesse

período do ano, o tratamento de sombreamento intenso permaneceu quase todo o dia com a

maior área do piquete sendo sombreado. O que pode ter favorecido a maior permanência dos

animais nessas áreas.Como a temperatura nesse período já era mais amena, os animais que

tinham opção deslocavam-se livremente entre áreas de sol e sombra.

Discussão

O manejo por interceptação luminosa estabilizou a estrutura da pastagem ao longo do

tempo fazendo com que a altura pré-pastejo se mantivesse em 36 cm para a entrada dos

animais, com massa de forragem correspondente em torno de 6.000 Kg MS/ha. dia. Houve

uma variação de massa pré-pastejo ao longo do ano das estações do ano em função da

finalização das chuvas reduzindo o crescimento do capim.

Apesar da altura pré-pastejo ter sido estabilizada para todos os sistemas em estudo, o

rebaixamento ocorreu de maneira diferenciado. O sistema com sombreamento intenso

apresentou maior rebaixamento devido a menor densidade volumétrica da forragem

decorrente do maior estiolamento da forragem em condições de luz restrita. A redução em

densidade volumétrica nos tratamentos com sombreamento, principalmente no sombreamento

intenso, foi devida ao efeito das árvores sobre a população de perfilhos. As plantas possuem

aspecto de estiolamento, com menor densidade de população de perfilhos e colmos mais finos

(Paucillo et al., 2008).

Assim, fatores estruturais da pastagem e condições microclimáticas foram decisivas

nas atividades de pastejo e locomoção dos animais nos diferentes sistemas.

22

No período chuvoso, foi verificada a maior taxa de remoção do dossel, sendo o

sistema de sombreamento intenso foi o que apresentou o maior valor (21 cm), seguido pelo

sistema a pleno sol (15 cm) e sombreamento lateral (11 cm). No entanto, foi o período em que

teve a menor frequência e menor tempo dedicado ao pastejo, nas horas avaliadas. Assim, o

pastejo pode ter ocorrido nas horas em que não foram avaliadas. A frequência e o tempo de

pastejo foram inversamente proporcionais à densidade volumétrica da forragem, ou seja,

quanto menor foi a densidade volumétrica da forragem, maior foi a frequência de animais em

pastejo e o tempo dedicado a atividade. Esta situação foi mais evidente no sistema com maior

intensidade de sombra. A maior frequência de animais na atividade de pastejo, em relação aos

outros sistemas, deve ser ocorrido devido às melhorias das condições ambientais que o

sombreamento intenso proporcionou e também a maior dificuldade de pastejo decorrente pela

densidade volumétrica reduzida. Foi observado que o novo ciclo de pastejo iniciou mais cedo,

principalmente no período da tarde, período este que temperatura ambiente a pleno sol estava

em torno de 36ºC.

No entanto, neste período chuvoso, a frequência e o tempo dedicado ao pastejo ainda

foram baixos nos três sistemas, mesmo com o fornecimento de áreas sombreadas para realizar

o pastejo. Esta situação esta associada às altas temperaturas do ar, umidade relativa do ar e

incidência de radiação solar, comuns na região nesta época do ano.

No período de transição água-seca, houve um aumento na frequência e no tempo que

os animais dedicaram ao pastejo em todos os sistemas. Apesar disso, houve uma redução na

taxa de remoção do dossel forrageiro. Esse fato pode estar relacionado a melhoria das

condições climáticas, com a redução da temperatura e redução do fotoperíodo. Noites mais

longas significa menos tempo sem luz do sol para que o pastejo ocorresse, forçando os

animais a pastejarem mais durante o dia mesmo em condições não ideais para que a

manutenção do consumo ocorresse. Consequentemente, os animais que não tinham áreas

23

sombreadas para o pastejo, concentraram o pastejo em horários em que as condições

ambientais eram mais amenas, pela manhã até às 9:30h e após as 15:30h. Nos sistemas onde

tinham a disposição áreas sombreadas, houve ciclos de pastejos mais longos, por grupos

menores. Ainda, esse maior tempo dedicado ao pastejo do sistema com sombreamento lateral,

também pode ser justificado pela sua menor densidade volumétrica da forragem, do que

observado no pleno sol. O sistema com sombreamento intenso teve a menor taxa de remoção

do dossel forrageiro e o menor tempo dedicado ao pastejo, no entanto, teve a maior frequência

de animais na atividade. Com a maior frequência no período da tarde, em que os animais

utilizaram áreas sombreadas para realizarem o pastejo. Esse menor rebaixamento do dossel

forrageio neste sistema, pode estar associado a estrutura do pasto. Foi observada uma menor

densidade volumétrica da forragem, decorrente a maior altura do dossel, ocasionando maior

proporção de colmo e menor de folhas, dificultando o pastejo.

No período de início da seca, houve novamente um aumento na frequência e no tempo

em que as novilhas se dedicaram ao pastejo. A taxa que remoção manteve praticamente

constante, em relação ao período de transição. A maior taxa de remoção do dossel forrageiro

no sistema com sombreamento lateral, que teve também a maior frequência e tempo dedicado

ao pastejo. O sistema com sombreamento intenso teve a segunda maior remoção e frequência

de animais em pastejo, no entanto teve o menor tempo dedicado a atividade. Esses animais

concentraram-se em maior quantidade para realizarem o pastejo, o que fez reduzir o tempo

total dedicado a atividade. O sistema pleno sol foi o que teve o menor rebaixamento do dossel

e a menor frequência de animais na atividade. Esse menor rebaixamento do dossel pode ser

explicado pela estrutura do pasto desse sistema. Em a planta forrageira tende a ser mais

prostrada do que as que estão sob influência da sombra, para que haja maior aproveitamento

da energia solar.

24

Animais com disponibilidade de sombra na pastagem buscam por ela nos períodos de

maior temperatura durante o dia e mesmo não tendo sombra disponível os animais paralisam a

atividade de pastejo por longos períodos. Quanto maiores forem as temperaturas diárias no

decorrer do ano, mais frequente é a busca por sombra para as atividades de ruminação e

descanso. Assim, há necessidade de fornecimento de sombra aos animais mesmo que restrito

a áreas marginais do piquete.

Conclusão

O sistema silvipastoril com capim–piatã e sombreamento intenso altera a estrutura do

capim a ponto de afetar o comportamento dos animais na atividade de pastejo. Nos condições

climáticas da região de transição Cerrado-Amazônico, o calor intenso induz a maior

dependência de sombra nas pastagens.

No entanto, é necessário estudos na área de implantação sobre os espaçamentos entre

árvores e entre renques de árvores, para que não haja redução na velocidade do vento sob as

copas das árvores.

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CAPITULO 2

Comportamento de Novilhas Leiteiras em Sistemas Integrados de Produção na

Região de Transição Cerrado-Amazônico – Ruminação e Ócio(1)

Andréia Cristina Tavares de Mello(2)

; Roberta Aparecida Carnevalli(3)

; Luciano Bastos

Lopes(4)

, Larissa Fernanda Garcia(5)

, Camila Eckstein(5)

, Admar Júnior Coletti(5)

(1) Projeto financiado pelo CNPq/Repensa

(2) Bolsista CNPq/Repensa - Mestranda – Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop/MT- [email protected]

(3) Pesquisadora - EMBRAPA Agrossilvipastoril, Sinop/MT - [email protected]

(4)Pesquisador – EMBRAPA Agrossilvipastoril, Sinop/MT

(5)Bolsista CAPES – Doutorando – Universidade Estadual Paulista, [email protected]

Resumo - A baixa adaptação de raças bovinas leiteiras às condições extremas de clima, em

regiões tropicais constitui problema para a produtividade leiteira em algumas regiões

brasileiras. Objetivou-se avaliar o comportamento de novilhas leiteiras em capim-piatã

(Urochloa brizantha, cultivar Piatã) em três níveis de sombra, no estado de Mato Grosso.

Foram avaliadas 24 novilhas mestiças, de peso médio 350 kg, em três períodos do ano. A

pastagem utilizada foi de capim-piatã manejada sob pastejo rotacionado e submetida a três

sistemas de produção, com níveis de sombra diferentes: pleno sol, sombreamento lateral e

sombreamento intenso com Eucalipto de 10 a 12 m de altura. O comportamento animal foi

avaliado a cada 15 minutos, das 8:30h às 16:00h. Foram avaliadas as atividades (ruminação e

ócio) e a posição (em pé ou deitada), localização (áreas com sombra e a pleno sol). Os

períodos do ano afetaram a frequência e o tempo dedicado pelos animais ao ócio e não afetam

27

a frequência e nem o tempo em ruminação. As novilhas têm horários preferenciais durante o

dia para permanecer em ócio e para a ruminação, com ciclos mais longos e com maior

frequência nos períodos mais quentes do dia. Há a necessidade de se promover um ambiente

propício ao refúgio nas horas mais quentes do dia com introdução de sombreamento.

Termos de indexação: iLPF, Urochloa brizantha, ruminação, ócio, sombra.

Abstract – The low adaptation of dairy cattle to extreme weather conditions found in tropical

areas is the problem in milk production activity in Brazilian conditions. The aim was evaluate

the dairy heifers behaviour in piatã grass (Urochloa brizantha, Piatã) in full sunlight, at Mato

Grosso, Brazil. It was evaluated 8 breed heifers with average weight of 350 kg, in three year

periods. The piatã grass was one year old without anyone kind of arborisation or artificial

shade. The animal behaviour was evaluated in each 15 minutes, of 8:30am to 16:00pm. The

year periods affected the frequency and the time spent to leisure by animals and it didn’t

affected the frequency and rumination time. The heifers have preferential time for leisure and

rumination during the day, with longer cycles and more frequency in the hotter time of the

day. There is the necessity to promote the environment adequate to animals in the hotter time

of the days with shadowing introduction.

Index Terms: Urochloa brizantha, grazing, rumination, leisure

28

Introdução

Há uma perspectiva quanto ao conforto animal em sistema silvipastoril, favorecendo a

sanidade e o desempenho animal pela melhoria das condições microclimáticas. Entretanto,

segundo Lucas (2004), as práticas de um bom manejo, como o momento de entrada dos

animais no piquete, populações e espaçamento de árvores na área e adequação do nível de

utilização da forragem para permitir ganhos de peso vivo por animal ou por área, podem

transformar o sistema silvipastoril em uma atividade muito mais viável do que até o presente

momento. Isto ocorre, principalmente em regiões de clima quente, em que a produção de

bovinos sob condições de pastejo pode ser melhorada com a introdução de sombreamento

para minimizar o estresse pelo calor. Navarini et al. (2009) relataram valores médios de

temperatura da superfície corporal em pleno sol, pequenos bosques e árvores isoladas de

35,3°C, 34,3°C e 34,7°C, respectivamente. Considerando que a temperatura do ar no final do

período das águas pode atingir 45ºC ao meio dia no centro-oeste, o uso de sombra pode trazer

benefícios ao bem estar animal.

Quando o animal está em estresse pelo calor, sua postura é alterada para melhorar

aproveitamento do vento na dissipação de calor, os animais permanecem mais quietos e com

movimentação reduzida, com objetivo de diminuir o calor gerado pelos movimentos (Fassio

et al., 2009). Há modificação no padrão do pastejo, incluindo uma redução no tempo de

pastejo e tempo dedicado à ruminação, o que pode afetar a produtividade animal (Ferreira,

2005). Ainda segundo o autor, os animais passam as horas quentes do dia descansando e

ruminando. Em torno do meio-dia, a maioria das atividades é interrompida e deixam a

alimentação para ser realizada no período noturno.

O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência do sombreamento em pastagem no

comportamento de novilhas leiteiras nas atividades de ruminação e ócio em sistemas

silvipastoris com eucalipto e pastagem de capim -piatã, em diferentes épocas do ano no

decorrer do dia, na região de transição Cerrado-Amazônico.

29

Material e Métodos

O experimento foi conduzido no Campo Experimental da Embrapa Agrossilvipastoril,

no município de Sinop/MT, latitude 11º 51’ 43’’ Sul, longitude 55º 35’ 27” Oeste e 384 m de

altitude. De acordo com a classificação de Koppen, o clima da região é Aw (clima tropical

com concentração de chuvas no verão e inverno seco), com temperatura média anual de 27ºC

e umidade relativa do ar de 76%, com precipitação média anual de 2.020 mm (INMET, 2014)

(Figura 1). O solo é classificado como latossolo vermelho-amarelo em relevo plano.

Figura 1. Precipitação pluvial, temperatura máxima, média e mínima e umidade relativa do

ar. Fonte: INMET, 2014.

A área experimental foi de 10 ha implantada com capim-piatã (Urochloa brizantha,

cultivar Piatã), com um ano de formação junto com a lavoura, dividida em três sistemas

relacionados com níveis de sombra por árvores. No ano anterior, a área havia sido cultivada

com milho safrinha consorciado com o capim-piatã para produção de silagem e formação da

pastagem. O primeiro sistema, a pleno sol, a área total foi de 2,4 ha de área útil da pastagem, e

sem a presença de árvores. O sistema com sombreamento lateral possuía a área total de 2,6 ha,

com área útil de pastagem de 2,4 ha. Neste tratamento, o plantio das árvores foi em fileiras

30

duplas (2x3m) nas laterais dos piquetes com uma distância de 52 m entre renques. O plantio

foi feito no sentido leste-oeste, projetando a sombra para dentro da parcela parcialmente

durante o dia. O sistema com sombreamento intenso possuía uma área total de 4,2 ha, com a

área útil de pastagem de 2,4 ha. Neste sistema, o plantio das árvores foi feito em fileiras

triplas nas laterais e no meio do piquete (2x3m), com espaçamento entre renques de 15 m,

também no sentido leste-oeste. A disposição dos ssitemas foi realizada de tal forma que não

permitiu que o sombreamento de uma área fosse projetado sobre as outras menos sombreadas.

Cada sistema foi dividido em 10 piquetes, dos quais 3 foram selecionados piquetes para cada

sistema de acordo com o momento de entrada dos animais. Experimento seguiu delineamento

experimental em blocos completos com parcelas subdivididas: sendo os sistemas, a parcela

principal, e a subparcela, os horários. Foram considerados 8 repetições de animais e 3

repetições de área dependendo da variável resposta.

O método de pastejo empregado foi o de lotação intermitente (e. g. pastejo rotativo) e o

momento de entrada dos animais nos piquetes foi determinado seguindo o critério de 95% de

interceptação luminosa pelo dossel. O monitoramento da interceptação luminosa foi realizado

com o aparelho LAI 2000 da LICOR, utilizando 30 medições divididas em 6 estações de

leituras conforme Carnevalli et al. (2006). Estas leituras foram realizadas durante o período de

rebrotação até que a meta de 95% de interceptação da luz fosse atingida.

As avaliações foram realizadas em três épocas do ano: Período 1 de 20/02 a 07/03/2013,

Período 2 de 06 a 20/05/2013 e Período 3 de 18/06 a 22/06/2013, caracterizando as épocas de

pleno verão chuvoso, período de transição para seca e período sem chuva, porém ainda com

forragem para o pastejo, respectivamente. As avaliações foram realizadas em todos os dias

que os animais permaneceram em cada piquete. A taxa de lotação, assim como os dias de

ocupação de cada piquete nos diferentes períodos e sistemas foram determinados em função

da disponibilidade de forragem. Desta forma, todos os animais que estavam em avaliação

31

permaneceram o tempo todo no piquete, sendo alterada apenas a carga variável, quando

necessário.

Em cada sistema de produção foram avaliadas oito novilhas mestiças Holandês x Zebu

(3/4 e 7/8) com peso médio de 350 kg. Estavam disponíveis mais doze animais reguladores de

carga, distribuídos de acordo com disponibilidade de forragem nos piquetes em pastejo.

Os bebedouros dos piquetes nos dois primeiros períodos de avaliação estavam do lado

de fora dos piquetes, de forma que os animais tinham que caminhar em um corredor lateral

aos piquetes para ter acesso à água. Cada sistema tinha seu corredor e bebedouro para que não

houvesse mistura entre os lotes de animais. No terceiro período, a cada dois piquetes foram

instalados um bebedouro na divisa entre piquetes. Com isso os animais não precisavam sair

do piquete para ter acesso à água. Mesmo assim, a porteira do piquete em uso não foi fechada,

permitindo que houvesse o caminhamento pelo corredor para acesso ao bebedouro antigo.

O período de ocupação de cada piquete foi variável nos diferentes períodos do ano em

que as coletas foram realizadas, entretanto, o mesmo período de descanso foi utilizado para

cada tratamento dentro de cada período.

A temperatura ambiente foi medida utilizando-se miniestações meteorológicas. Estas

foram alocadas em pleno sol e entre os renques de árvores. Os dados de temperatura

utilizados foram aqueles coletados durante o período de avaliações comportamentais das

8:30h às 16:00h, a cada 15 minutos.

Para as avaliações dos aspectos comportamentais das novilhas leiteiras foram realizadas

leituras a cada 15 minutos iniciadas às 8:30h e encerradas às 16:00h, totalizando 31 horários

de observação. As leituras foram feitas considerando-se postura, a localização (pleno sol ou

sombra) e as atividades (ruminação e ócio), registrando para cada animal a atividade, postura

e localização. Apenas a atividade principal do animal era anotada, no caso de pastejo e

32

caminhamento para pastejo, apenas atividade de pastejo era considerada. Todos os animais

foram identificados com fitas coloridas no pescoço, além dos brincos.

Após a tabulação e processamento dos dados, foram testados os efeitos de nível de

sombreamento e horários de avaliação para o tempo dedicado às diferentes atividades

comportamentais de forma separada cada período de avaliação. Os dados foram analisados

utilizando-se o pacote estatístico SAS 9.2. Foram realizados testes de normalidade dos dados,

além da análise de variância para verificação dos efeitos principais e interações, utilizando-se

o procedimento MIXED e a comparação de médias, quando necessário, realizada pelo método

PDIFF a 5% de probabilidade.

Resultados

A atividade de ócio variou com os níveis de sombra (P<0,0001), nos três períodos

avaliados. No período chuvoso, o sistema a pleno sol apresentou maior frequência de animais

em ócio (54,6%) que o sistema com sombreamento intenso (41,7%) e o sombreamento lateral

(34,1%). Em média, nos três sistemas os animais permaneceram em ócio com o maior número

de animais entre 10:00h e 13:00h, com mais de 50,0% do rebanho. Os animais do sistema a

pleno sol permaneceram grande parte do dia em ócio na área próxima ao bebedouro. Os

animais permaneceram paralisados grande parte do tempo, principalmente entre 11:00h e

14:15h, com 61% do rebanho, em média. No período de transição águas-seca e no início da

seca a temperatura média era de 33ºC, com umidade relativa do ar, de 83% e 74%,

respectivamente. No sistema com sombreamento intenso, a temperatura média foi de 31ºC

para o primeiro período e 32ºC para os dois últimos períodos, e não foi verificada essa busca

dos animais pela lama neste sistema de produção. No período de transição água-seca, os

sistemas a pleno sol e de sombreamento lateral não apresentaram diferenças quanto à

frequência de animais em ócio ao longo do dia (26,8%), mas foram superiores ao sistema de

sombreamento intenso (19,7%). No período de início da seca, o sistema a pleno sol foi aquele

33

que apresentou maior número de animais em ócio durante todo o dia (29,2%) em relação aos

sistemas de sombreamento lateral e intenso (16%). No entanto, não houve efeito de nível de

sombreamento sobre o tempo em ócio (P=0,0594), mas houve efeito de período de avaliação

(P<0,0001). No sistema a pleno sol, os animais permaneceram maior parte do tempo em ócio

(2h48min ou 36,1% do tempo). Entre os sistemas de sombreamento lateral e intenso não

houve diferença, com média de 2h03min ou 26,5% do tempo. No período chuvoso, as

novilhas permaneceram mais tempo em ócio, (3h24min ou 44% do tempo) do que nos dois

últimos períodos, os quais não diferiram entre si (média de 1h45min ou 22,6% do tempo).

A frequência de animais na atividade de ruminação no período chuvoso teve efeito de

sombra (P<0,050). No período chuvoso, o sistema de sombreamento lateral apresentou a

maior frequência de animais ruminando (35,1%). Por outro lado, o sistema de sombreamento

intenso apresentou 25,8% e o pleno sol 19,5% do rebanho. Durante todo o dia havia animais

ruminando, mas houve um período de maior frequência, 11:15h às 13:45h, com uma média de

38%. No período de transição águas-seca, a frequência de animais ruminando não diferiu

entre os sistemas a pleno sol e de sombreamento intenso (17,6%), mas diferiu naquele de

sombreamento lateral (21,2%). Os sistemas a pleno sol e de sombreamento lateral não

diferiram quanto ao número de animais ruminando (16%), e apresentaram números inferiores

àqueles do sombreamento intenso (23,8%). No período de início da seca, essa diferença entre

os sistemas de produção aumentou indicando maior frequência de animais ruminando para o

sistema de sombreamento intenso. Entretanto, não foi observada diferença no tempo dedicado

à atividade de ruminação entre os sistemas de nível sombra (P=0,1960) e nem de período de

avaliação (P=0,2102), com a média de 1h32min.

De acordo com a Figura 3, o tempo dedicado a ruminação não foi alterado ao longo

dos períodos do ano, permanecendo ao redor de 20% do tempo avaliado. Já o ócio oscilou a

34

medida que o tempo não era utilizado para a atividade de pastejo. Variando de 46% o tempo

avaliado no período chuvoso para 20% o período de início da seca

Figura 3. Evolução das atividades dos animais em pastagens durante as épocas do ano.

Houve efeito de nível de sombreamento para a posição deitada no período chuvoso e de

início da seca (P=0,0002), mas não para o período de transição água-seca (P=0,6596). No

período chuvoso, não houve diferença entre os sistemas a pleno sol e o sombreamento lateral

quanto ao número de animais deitados (30,5%). Enquanto que, no tratamento com

sombreamento lateral, verificou-se que, 26,2% do rebanho preferiu permanecer deitado entre

os horários de avaliação. No período de transição, a média de animais deitados foi de 22,5%.

35

No início da seca, o sistema a pleno sol e o de sombreamento intenso apresentaram o maior

número de animais deitados (33,2%) em relação ao sombreamento lateral (24,9%). O sistema

de sombreamento lateral foi o que apresentou menor número de animais deitados, e aquele o

que os animais deitaram mais tarde e levantaram mais cedo em relação aos demais sistemas,

mesmo não existindo restrição de espaço à sombra. Nos sistemas que tinham acesso a áreas

sombreadas os animais preferiram deitados sob a sombra. Apesar da diferença na frequência

de animais deitados, não houve efeito de nível de sombreamento sobre tempo em que os

animais permaneceram deitados (P=0,5197), com média de 2h03min (26,7 % do tempo).

Contudo, houve efeito de períodos de avaliações (P=0,0456). No início da seca foi aquele em

que as novilhas permaneceram deitadas por mais 2h18min ou 29,7% do tempo, mas sem

diferença do primeiro período (2h06min ou 27,1% do tempo). No período de transição água-

seca, as novilhas passaram menos tempo deitadas (1h48min ou 23,2% do tempo). De qualquer

forma, esse tempo na posição deitada que as novilhas permaneceram variou pouco entre

períodos (23 a 29%) do tempo apesar de serem valores estatisticamente diferentes.

Houve efeito de nível sombreamento (P<0,0001) para o número de animais que

preferiram as áreas sombreadas nos três períodos avaliados. Obviamente, os animais

submetidos ao sistema a pleno sol não buscaram sombra por não terem acesso a essa

condição. No período chuvoso o número de animais que preferiram áreas sombreadas foi de

70,2%, para os dois sistemas sombreamentos. No período de transição água-seca, o sistema de

sombreamento intenso foi aquele que apresentou maior número de animais em áreas sob

influência de sombra (63,5%) em relação aquele de sombreamento lateral (57,5%), mesmo

ainda tendo áreas a pleno sol durante todo o dia nos piquetes. Nos sistemas sombreados,

houve maior concentração de animais em áreas sombreadas das 9:45h às 12:00h. No início da

seca, o sistema de sombreamento intenso apresentou maior tempo dos animais à sombra

durante dia (84%) em relação aquele de sombreamento lateral (39%). Nesse período do ano, o

36

tratamento de sombreamento intenso permaneceu quase todo o dia com a maior área do

piquete sendo sombreado, o que pode ter favorecido a maior permanência dos animais nessas

áreas. Como a temperatura neste período já era mais amena, os animais que tinham opção

deslocavam-se livremente entre áreas de sol e sombra.

Discussão

No período chuvoso, a frequência de animais em ócio foi alta em todos os sistemas.

Os animais a pleno sol teve a maior frequência e tempo em ócio. Nesse sistema era frequente

o rompimento da bóia do bebedouro provocado pelos animais para o extravasamento de água

e formação de lama. Neste período, choveu durante quase todas as noites que antecederam os

dias de leituras, assim, a umidade relativa do ar era alta (87%) associada às altas temperaturas

(36ºC), como ocorre comumente nessa época do ano na região do meio norte do estado do

Mato Grosso, tornando o ambiente bastante desconfortável para os animais. Com isso as

novilhas, sem ter acesso à sombra, procuravam baixar a temperatura corporal deitando ou

ficando perto da lama, e permanecendo em ócio por longos períodos durante o dia. Esses

animais permaneceram grande parte das horas avaliadas na região do bebedouro. As novilhas

que permaneciam paralisadas ao redor do bebedouro, ficavam com a boca aberta, na maioria

do tempo, ou deitada na lama formada neste local. As altas temperaturas neste sistema nos

horários de maior frequência de ócio provavelmente favoreceu para essa alta incidência de

ócio deste sistema. Essa alta frequência de animais em ócio, nesse período, refletiu uma baixa

frequência em outras atividades, principalmente pastejo. O maior tempo dedicado ao ócio por

esses animais está relacionado à dificuldade dos mesmos permanecerem no pasto quando as

condições climáticas estavam mais extremas nas horas mais quentes do dia. Por outro lado,

para os outros sistemas havia áreas de pastagens sombreadas, onde os animais permaneciam

nesses horários de pico de temperatura.

37

Segundo Magalhães et al., 2006, alta temperatura do ar associada à alta umidade do ar

interfere no conforto e nas funções fisiológicas dos animais, interferindo negativamente na

distribuição da frequência e do tempo dedicado a cada atividade. Além disso, causam

respostas primárias de estresse, como o aumento da temperatura corporal, da frequência

respiratória e da sudoração.

Entre os sistemas com sombreamento, foi o com sombreamento intenso que

apresentou a maior frequência e maior tempo de animais em ócio. De acordo com os dados de

temperatura, esses sistemas apresentaram considerável diferença entre a temperatura sob

sombra em relação ao pleno sol, sendo superior a 5-7ºC. Entre os sistemas com

sombreamento essa diferença foi pequena nos horários de maior frequência de animais em

ócio, para o sombreamento intenso (33ºC) enquanto no sombreamento lateral (32ºC). No

sistema onde o adensamento das árvores foi maior houve um grau a mais na temperatura, o

que pode ter sido ocasionado pela redução na velocidade do vento. Soares (2009) observou

que a velocidade do vento diminuía de acordo com o aumento da densidade de árvores na

área, e diminuía ainda mais sob as copas das árvores.

No período de transição águas-seca, a frequência e no tempo dos animais em ócio

diminuiu quase que em 50% pontos porcentuais, o que ocasionou um aumento na frequência

em outras atividades, principalmente no pastejo. Os sistemas a pleno sol e o de sombreamento

lateral apresentaram as maiores frequências de animais em ócio. O sistema com

sombreamento intenso teve a menor frequência e tempo dedicado ao ócio. No sistema a pleno

sol, as altas temperaturas e incidência de radiação solar inibiam a atividade de pastejo diurno,

sobrando mais tempo para o animal permanecer em ócio. Já no sombreamento intenso, como

os animais tinham maior área sombreada de pastejo durante o dia, assim o faziam restando

menos tempo para o ócio, em relação ao sombreamento lateral e pleno sol.

38

No período de início da seca, a frequência de animais em ócio no sistema a pleno sol

se manteve praticamente constante. No entanto, o tempo dedicado ao ócio diminuiu. Nos

sistemas com sombreamento, houve uma redução na frequência e no tempo dedicado ao ócio,

em relação aos demais períodos avaliados. Essa redução no tempo dedicado ao ócio pelos

animais neste período pode ser justificada pelo aumento no tempo dedicado ao pastejo.

A frequência dos animais em ruminação não foi alterada ao longo dos períodos

avaliados. Desta forma, o sombreamento afetou levemente a distribuição da atividade de

ruminação ao longo do dia, mas não afetou a duração da mesma.

Observa que houve uma evolução das atividades dos animais no decorrer dos períodos

de avaliação (Figura 3). As atividades de ruminação e de deslocamento não se alteraram nas

diferentes condições de pasto e nas variações climáticas. Entretanto, os animais modificaram

a distribuição das atividades de pastejo e ócio. Houve aumento no tempo de pastejo do

período chuvoso para o período de início da seca. Esse aumento deve estar associado à

redução de temperatura favorecendo o pastejo diurno, já que os valores de massa de forragem

pré-pastejo e densidade volumétrica de forragem não apresentaram nenhuma relação

significativa com o tempo de pastejo.

Conclusão

Os animais que são criados a pleno sol, passam mais tempo e em maior frequência em

ócio, do que aqueles que possuem áreas sombreadas.

Animais que tem disponível áreas sombreadas para o repouso, as utilizam nos horas

mais quente do dia, diminuindo a frequência de animais em ócio nas horas mais quente do

dia.

Em regiões em que a temperatura e a umidade relativa do ar são altas espaçamentos

muito pequenos entre renque das árvores pode aumentar a frequência e o tempo em ócio dos

animais, por diminuir a velocidade do vento, e assim, dificultar a dissipação de calor.

39

Referência Bibliográfica

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CAPITULO 3

Distribuição Espacial das Fezes em Sistema Integrados de Produção de Leite(1)

Andréia Cristina Tavares de Mello(2)

; Roberta Aparecida Carnevalli(3)

; Luciano Shozo

Shiratsuchi(4)

; Bruno Carneiro e Pedreira(4)

; Luciano Bastos Lopes(4)

; Steben Crestani(5)

(1)Projeto financiado pelo CNPq/Repensa

(2)Bolsista CNPq/Repensa - Mestranda – Universidade Federal de Mato Grosso, Sinop/MT [email protected]

(3)Pesquisadora - EMBRAPA Agrossilvipastoril, Sinop/MT - [email protected]

(4)Pesquisador - EMBRAPA Agrossilvipastoril

(5) Bolsista CAPES – Doutorando – Universidade de São Paulo, [email protected]

Resumo – Animais em pastagem atuam como elemento acelerador do processo de ciclagem

de nutrientes no ecossistema, sendo que grande parte da biomassa que consomem retorna ao

solo na forma mais degradada de fezes e urina. Objetivou-se avaliar a distribuição espacial de

fezes de novilhas leiteiras em diferentes níveis de sombreamento. Foram avaliadas 24 de

novilhas mestiças, com peso médio de 350 kg, em três períodos do ano. A pastagem utilizada

41

foi de capim-piatã manejada sob manejo rotativo e submetida a três níveis de sombreamento

(a pleno sol, sombreamento lateral e sombreamento intenso) com Eucalipto com 10 a 12 m de

altura. O comportamento animal foi avaliado por leituras das atividades dos animais a cada 15

minutos das 8:30h às 16:00h. A avaliação da distribuição das placas de fezes foi realizada

com auxílio de um GPS, em um caminhamento marcava-se se havia ou não placa de fezes a

cada passo. Os níveis de sombreamento e as épocas do ano influenciaram a distribuição das

fezes. Houve locais de maior concentração de fezes para todos os níveis de sombreamento,

mas quando a pastagem tinha sombreamento mais intenso, a dispersão foi mais homogênea. O

fornecimento de áreas de sombra na pastagem influência a distribuição das placas de fezes,

tornando-a mais homogênea.

Termos de indexação: sistema silvipastoril, placas de fezes, sombreamento, grids

Abstract - Animals in grazing work as catalyst in the nutrient ciclying processes of the

ecosystems, and that part of biomass that animal intake returning to soil in the degraded way

like faeces and urine. The aim was evaluate the spatial dung distribution from dairy heifers in

integrated systems of production at Mato Grosso, Brazil. It was evaluated a group of 24 breed

heifers with 350 kg in three periods of year. The grass used was piatã grass in three shade

levels: full sun, shade by side and intensive shade, using Eucalyptus with 10 to 12 m of

height. The animal behaviour was evaluated in each 15 minutes, between 8:30 am to

16:00pm. The spatial faeces distribution was evaluated with GPS, by walking and capturing

points where there was faeces boards in all steps for the grassland paddocks. The kind of

shade and the year periods affected in spatial dung distribution. There are places with more

dung concentration, in all kind of shade, but when the pasture had the intensive shade, the

dispersion was more homogeneous. The shade area available in the grassland affect the spatial

dung distribution, can be more homogeneous.

42

Introdução

A arborização de pastagens é uma forma de uso das terras também conhecida por

sistema silvipastoril (Veiga et al., 1990). Principalmente em condições extremas de

temperatura como as ocorridas no Centro-Oeste brasileiro, a utilização de árvores para

amenizar o estresse térmico de rebanhos leiteiros pode ser determinante da eficiência

produtiva e sanitária. Navarini et al. (2009) relataram valores médios de temperatura da

superfície corporal em pleno sol, pequenos bosques e árvores isoladas de 35,3°C, 34,3°C e

34,7°C, respectivamente. Entretanto, a temperatura do ar no final do período das águas pode

atingir 45ºC ao meio dia no centro-oeste.

Quando submetidos a condições climáticas estressantes, os bovinos alteram os

períodos de pastejo, de ruminação e de ócio ao longo do dia. Com maior parte da atividade de

pastejo ocorrendo durante as primeiras horas do dia e sendo mais prolongada após o

amanhecer e mais intenso após o escurecer, embora também possa ocorrer pastejo noturno em

função do clima e da disponibilidade de forragem. Segundo Baumer (1991), há modificação

no padrão de ingestão de alimentos quando os animais são submetidos a estresse térmico,

incluindo redução no tempo de ingestão e no tempo dedicado à ruminação, afetando

grandemente a produtividade do animal.

Os animais também atuam como elemento acelerador do processo de ciclagem de

nutrientes no ecossistema, sendo que grande parte da biomassa que consomem retorna ao solo

na forma mais degradada de fezes e urina, obtendo um retorno da ordem de até 90% dos

nutrientes minerais, incluindo o nitrogênio (Lucas, 2004). No entanto, é preciso saber como

esses dejetos são distribuídos pelos animais sobre a área. O manejo do ambiente influencia

diretamente a distribuição espacial desses desejos, ou seja, a forma como são distribuídos os

bebedouros ou aguadas, os cochos de sal e de suplementação, as porteiras, as área de

descanso, a sombra e até mesmo as características da estrutura e morfologia da planta

43

forrageira ou das plantas forrageiras. Já que a distribuições dessas estruturas, da sombra e da

heterogeneidade da pastagem fazem com que haja áreas preferenciais de consumo e de

descanso podendo, consequentemente, modificar os padrões de deposição da fezes e urina dos

animais.

O objetivo deste experimento foi avaliar a distribuição de fezes de novilhas leiteiras

associada ao comportamento animal em sistemas silvipastoris com eucalipto e capim-piatã na

região de transição Cerrado-Amazônico.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido no Campo Experimental da Embrapa Agrossilvipastoril,

no município de Sinop/MT, latitude 11º 51’ 43’’ Sul, longitude 55º 35’ 27” Oeste e 384 m de

altitude. De acordo com a classificação de Koppen, o clima da região é Aw (clima tropical

com concentração de chuvas no verão e inverno seco), com temperatura média anual de 27ºC

e umidade relativa do ar de 76%, com precipitação média anual de 2.020 mm (INMET, 2014)

(Figura 1). O solo é classificado como latossolo vermelho-amarelo em relevo plano.

Figura 1. Precipitação pluvial, temperatura máxima, média e mínima e umidade relativa do

ar. Fonte: INMET, 2014.

44

A área experimental foi de 10 ha implantada com capim-piatã (Urochloa brizantha,

cultivar Piatã), com um ano de formação junto com a lavoura, dividida em três sistemas

relacionados com níveis de sombra por árvores. No ano anterior, a área havia sido cultivada

com milho safrinha consorciado com o capim-piatã para produção de silagem e formação da

pastagem. O primeiro sistema, a pleno sol, a área total foi de 2,4 ha de área útil da pastagem, e

sem a presença de árvores. O sistema com sombreamento lateral possuía a área total de 2,6 ha,

com área útil de pastagem de 2,4 ha. Neste tratamento, o plantio das árvores foi em fileiras

duplas (2x3m) nas laterais dos piquetes com uma distância de 52 m entre renques. O plantio

foi feito no sentido leste-oeste, projetando a sombra para dentro da parcela parcialmente

durante o dia. O sistema com sombreamento intenso possuía uma área total de 4,2 ha, com a

área útil de pastagem de 2,4 ha. Neste sistema, o plantio das árvores foi feito em fileiras

triplas nas laterais e no meio do piquete (2x3m), com espaçamento entre renques de 15 m,

também no sentido leste-oeste. A disposição dos sistemas foi realizada de tal forma que não

permitiu que o sombreamento de uma área fosse projetado sobre as outras menos sombreadas.

Cada sistema foi dividido em 10 piquetes, dos quais 3 foram selecionados piquetes para cada

sistema de acordo com o momento de entrada dos animais. O delineamento experimental foi

em blocos completos com parcelas subdivididas: sendo os sistemas, a parcela principal, e a

subparcela, os horários. Foram considerados 8 repetições de animais para avaliação de

comportamento e 3 repetições de área para as demais avaliações.

As avaliações foram realizadas em três épocas do ano: Período 1 de 20/02 a 07/03/2013,

Período 2 de 06 a 20/05/2013 e Período 3 de 18/06 a 22/06/2013, caracterizando as épocas de

pleno verão chuvoso, período de transição para seca e período sem chuva, porém ainda com

forragem para o pastejo, respectivamente. As avaliações foram realizadas em todos os dias

que os animais permaneceram em cada piquete. A taxa de lotação, assim como os dias de

45

ocupação de cada piquete nos diferentes períodos e sistemas foram determinados em função

da disponibilidade de forragem. Desta forma, todos os animais que estavam em avaliação

permaneceram o tempo todo no piquete, sendo alterada apenas a carga variável, quando

necessário.

O método de pastejo empregado foi o de lotação intermitente e o momento de entrada

dos animais nos piquetes foi determinado seguindo o critério de 95% de interceptação

luminosa pelo dossel. O monitoramento da interceptação luminosa foi realizado com o

aparelho LAI 2000 da LICOR, utilizando 30 medições divididas em 6 estações de leituras

conforme Carnevalli et al. (2006). Estas foram realizadas durante o período de rebrotação até

que a meta de 95% de interceptação da luz fosse atingida.

Em cada sistema de produção foram avaliadas oito novilhas mestiças Holandês x Zebu

(3/4 e 7/8) com peso médio de 350 kg. Estavam disponíveis mais doze animais reguladores de

carga, distribuídos de acordo com disponibilidade de forragem nos piquetes em pastejo.

Os bebedouros dos piquetes nos dois primeiros períodos de avaliação estavam do lado

de fora dos piquetes, de forma que os animais tinham que caminhar em um corredor lateral

aos piquetes para ter acesso à água. Cada sistema tinha seu corredor e bebedouro para que não

houvesse mistura entre os lotes de animais. No terceiro período, a cada dois piquetes foram

instalados um bebedouro na divisa entre piquetes. Com isso, os animais não precisavam sair

do piquete para ter acesso à água. Mesmo assim, a porteira do piquete em uso não foi fechada,

permitindo que houvesse o caminhamento pelo corredor para acesso ao bebedouro antigo.

A área de cada piquete foi georreferenciada. Antes do início das avaliações foram

coletados os pontos geográficos nos vértices de cada piquete com um GPS modelo Garmim

ETREX 30. Com auxílio do programa SMS Advanced da AgLeader, a área de cada piquete foi

divida em 25 grids amostrais. Como as áreas dos piquetes dos três sistemas de produção eram

diferentes, os tamanhos dos grids foram diferentes, possibilitando avaliar toda a área do

46

piquete. No sistema a pleno sol cada grid media 10x10 m. No sistema com sombreamento

lateral cada grid media 12x10 m. No sistema com sombreamento intenso cada grid media

15x10 m. Nos grids foram avaliadas: altura pré e pós-pastejo, massa de forragem pré e pós-

pastejo e perdas por pastejo. No ponto central de cada grid foi colocado um quadrado de 1m²,

totalizando 25 quadrados por piquete, para que fossem realizadas as avaliações de perdas por

pastejo. Esses quadrados foram alocados de forma cuidadosa para que a planta forrageira não

ficasse dobrada ou amassada nas delimitações do quadrado e, assim, o animal pudesse

pastejar sem notar a presença do mesmo. Cada quadrado foi numerado de 1 a 25 (Figura 2),

assim todas as coletas que foram realizadas em cada quadrado foram georrefenciadas para

relaciona-as com os demais dados.

1 6 11 16 21

2 7 12 17 22

3 8 13 18 23

4 9 14 19 24

5 10 15 20 25

Figura 2. Esquema dos grids e dos quadrados nos pontos centrais de cada grid.

Para a medição de altura do dossel nas condições de pré e de pós-pastejo foram

utilizados como referência os vértices dos quadrados que estavam no centro de cada grid.

Foram medidos quatro pontos de altura por grid, totalizando 100 leituras de altura por

piquete. Com os dados de massa de forragem e de altura pré-pastejo foi calculada a densidade

volumétrica da forragem (kg MS.cm-1

.ha-1

).

Logo após a amostragem da forragem em pré-pastejo, os animais eram colocados nos

piquetes, iniciando o ciclo de pastejo, permanecendo no piquete o período pré-determinado,

47

de acordo com a oferta de forragem. Assim, o período de ocupação de cada piquete foi

variável nos diferentes períodos do ano em que as coletas foram realizadas, entretanto, o

mesmo período de descanso foi utilizado para cada tratamento dentro de cada período.

A temperatura ambiente foi medida utilizando-se miniestações meteorológicas. Estas

foram alocadas em pleno sol e entre os renques de árvores. Os dados de temperatura

utilizados foram aqueles coletados durante o período de avaliações comportamentais das

8:30h às 16:00h, a cada 15 minutos.

Para avaliações do caminhamento dos animais na área, uma novilha de cada tratamento

recebeu um GPS. O GPS foi preso em um colar no pescoço, preso a um cabresto. Após

fixação do GPS no colar era ligado o GPS e assim todo o caminhamento do animal foi

registrado em forma de trilha. Todos os dias antes do início das leituras comportamentais

descarregavam-se os dados do GPS e iniciava uma nova trilha. Com o auxílio do programa

Quantum Gis, foram desenhados os mapas de caminhamento dos animais, demonstrando

quais foram os locais de preferência, onde os animais permaneceram por mais tempo ao longo

do dia.

A distribuição e a contagem das placas de fezes foram realizadas também com auxílio

de aparelho GPS. Após a saída dos animais dos piquetes era feito um caminhamento pelos

grids e a cada passo verificava-se se havia ou não placas de fezes. Caso houvesse um ponto

era marcado no GPS. Com auxílio do programa Quantum Gis foram desenhados os mapas de

distribuição das placas de fezes para cada tratamento.

Após a tabulação e processamento dos dados, foram testados os efeitos de nível de

sombra, local (grids) e períodos de avaliação para o tempo dedicado às diferentes atividades,

massa de forragem, altura e densidade volumétrica. Para os dados de comportamento foram

testados os efeitos de horários do dia e nível de sombreamento de forma separada cada

período de avaliação. Os dados foram analisados utilizando-se o pacote estatístico SAS 9.2.

48

Foram realizados testes de normalidade dos dados, além da análise de variância para

verificação dos efeitos principais e interações, utilizando-se o procedimento MIXED e a

comparação de médias, quando necessário, realizada pelo método PDIFF a 5% de

probabilidade.

Resultados

Analisando a remoção da altura do dossel, verifica-se que houve efeito de nível de

sombreamento (P<0,0001), mas não houve efeito de local (P=0,4274) no período chuvoso. O

sistema de sombreamento intenso foi o que apresentou a maior taxa de remoção (20,8 cm),

seguido pelo sistema a pleno sol (14,7 cm) e por o sombreamento lateral (10,6 cm).

A distribuição das placas de fezes não foi influenciada pelo nível de sombra no

primeiro chuvoso (P=0,8707) e nem no período de início da seca (P=0,4699). No entanto,

houve efeito de nível de sombra para no período de transição águas-seca (P=0,0165).

Nesse mesmo período houve efeito de local (P=0,0090) e de interação entre nível de

sombra e local sobre a distribuição das placas de fezes (P=0,0025). O sistema a pleno sol

promoveu maior concentração de placas de fezes em locais que ficavam perto da entrada e na

divisa da cerca ao lado oposto da porteira de entrada do piquete (Figura 3 (a)). No sistema de

sombreamento lateral houve maior concentração em áreas no centro do piquete e em áreas sob

alguma influência da sombra que os animais pastejavam. Nesse mesmo período, foi

observado que os animais utilizavam o corredor de acesso ao bebedouro para a ruminação

e/ou ócio. (Figura 3 (b)). No sistema com sombreamento intenso, houve maior concentração

de placas de fezes nos locais que receberam alguma influência de sombra. Observou-se que as

novilhas permaneciam sob os renques de árvores enquanto estavam ruminando ou em ócio

(Figura 3 (c).

49

(a)

(b)

(c)

Figura. 3. Mapas da distribuição espacial das placas de fezes de cada sistema de produção, no

período chuvoso.

50

(a) a pleno sol; (b) sombreamento lateral; (c) sombreamento intenso. Contorno em preto = divisa de cada piquete; linha preta = porteira do piquete; linha verde = renque de árvores.

No período chuvoso, a maior concentração de fezes ocorreu em locais onde as novilhas

permaneceram por maior tempo pastejando, ruminando ou em ócio. No sistema a pleno sol, a

distribuição de fezes foi concentrada em algumas regiões, e, apesar de não avaliada a

distribuição na área do bebedouro, que estava fora do piquete nesse período, foi o local onde

as novilhas permaneceram longos períodos durante o dia. A sombra condicionou maior

distribuição das fezes nos locais sob sua influência, uma vez que as novilhas utilizavam as

áreas sombreadas para realizarem pequenos ciclos de pastejo durante as horas mais quentes do

dia e para a ruminação ou o descanso.

No período de transição águas-seca, para a taxa de remoção do dossel forrageiro, não

foi observado efeito de nível de sombra (P=0,0828) e nem de local (P=0,3497). No entanto,

houve efeito de nível de sombra (P=0,0165) sobre a distribuição das fezes, mas não de local

sobre a distribuição das placas de fezes (P=0,1491). O sistema a pleno sol foi o que promoveu

uma concentração das fezes em alguns locais perto da entrada, na região central, e em regiões

próximas das cercas do piquete, mas sem diferença entre locais (Figura 4 (a)). No sistema de

sombreamento lateral, não houve maior concentração de fezes em áreas sob influência da

sombra. Porém, em regiões próximas das áreas sombreadas, onde esses animais pastejavam,

houve maior concentração de fezes, uma vez que nesse período do ano foi observado que os

animais permaneceram no corredor de acesso ao bebedouro, o qual encontrava-se sombreado

durante todo o dia (Figura 4 (b)). No sistema de sombreamento intenso, houve maior

concentração de placas de fezes nos locais que estavam sob influência da sombra, local oposto

à entrada do piquete. Esses locais foram mais acessados pelos animais quando estavam em

ócio e/ruminando. Também houve concentração de fezes em locais que estavam sob

influência da sombra, onde as novilhas utilizaram para o pastejo (Figura 4 (c)).

51

(a)

(b)

(c)

Figura. 4. Mapas da distribuição espacial das placas de fezes de cada tratamento, no segundo

período de avaliação.

(a) a pleno sol; (b) sombreamento lateral; (c) sombreamento intenso. Contorno em preto = divisa de cada piquete; linha preta = porteira do piquete; linha verde = renques de árvores.

(a) (b) (c)

52

No período de início da seca, a taxa de remoção do dossel forrageiro teve efeito de

nível de sombreamento (P<0,0001), e que não houve efeito de local (P=0,4274). No entanto,

não houve efeito de nível de sombra (P=0,4699) para a distribuição de fezes, mas foi

observado efeito de local (P<0,0001) e efeito de interação entre nível de sombreamento e

local (P=0,0465). No sistema a pleno sol, houve maior concentração de placas de fezes na

entrada do piquete em direção ao bebedouro e em dois locais na divisa dos piquetes (Figura 5

(a)). Neste terceiro período de avaliação, os bebedouros estavam instalados dentro de cada

piquete. No sistema de sombreamento lateral, houve maior concentração de fezes em dois

pontos centrais do piquete (Figura 5 (b)). No sistema de sombreamento intenso, houve maior

concentração de placas de fezes nos locais que estavam sob influência de sombra próxima ao

bebedouro e entrada do piquete (Figura 5 (c)).

(a)

(b)

53

(c)

Figura. 4. Mapas da distribuição espacial das placas de fezes de cada tratamento, no terceiro

período de avaliação.

(a) a pleno sol; (b) sombreamento lateral; (c) sombreamento intenso. Contorno em preto = divisa de cada piquete; linha preta = porteira do piquete; linha verde = renques de árvores;

circulo azul=bebedouro

Discussão

No período chuvoso, a remoção do dossel forrageiro foi uniforme em casa sistema de

produção, ou seja, o rebaixamento foi homogêneo independente do nível de sombreamento. O

sistema de sombreamento intenso foi o que teve maior taxa de remoção do dossel (20,8 cm).

Da mesma forma, o sistema com sombreamento intenso foi aquele com a menor densidade de

forragem, já que a altura da forragem em pré pastejo foi mais maior, pois em ambientes

sombreados há maior competição por luminosidade.

No período chuvoso, o nível de sombra não influenciou na distribuição das placas de

fezes. No entanto, para este período, a concentração de placas de fezes foi maior em relação

aos demais períodos, porém, variaram de acordo com sistemas de produção. A maior

concentração de fezes ocorreu em locais onde as novilhas permaneceram por maior tempo

pastejando, ruminando ou em ócio. No sistema a pleno sol, a distribuição de fezes foi

concentrada em algumas regiões, e, apesar de não avaliada a distribuição na área do

bebedouro, que estava fora do piquete nesse período, foi o local onde as novilhas

permaneceram longos períodos durante o dia. A sombra condicionou maior distribuição das

54

fezes nos locais sob sua influência, uma vez que as novilhas utilizavam as áreas sombreadas

para realizarem pequenos ciclos de pastejo durante as horas mais quentes do dia e para a

ruminação ou o descanso. Assim como observado por Braz et al. (2003), avaliando a

distribuição e a cobertura de placas de fezes de três animais por dez semanas consecutivas de

ocupação Brachiaria decumbens em Minas Gerais, concluíram que as placas de fezes

cobriram 0,81% da superfície da área experimental e havendo duas regiões distintas quanto à

densidade de deposição das fezes. Uma associada ao ato de pastejo, quando parte das fezes foi

distribuída na maior parte da área da pastagem. Porém, a densidade das fezes era inferior

àquela em outra região que estava associada ao ócio e/ou à ruminação, a qual ocupava menor

área da pastagem e apresentava maior densidade de defecações.

No período de transição águas-seca, a taxa de remoção do dossel forrageiro foi

semelhante em todos os sistemas de produção, assim, o pastejo foi de forma uniforme

independente do sistema de produção ou da localização de áreas preferenciais para o pastejo.

No entanto, o nível de sombra influenciou a distribuição das placas de fezes, mas a

distribuição foi de forma uniforme em cada sistema de produção. Ainda assim, observa-se

nos mapas das Figuras 3 e 4, que houveram regiões de maior concentração de fezes em cada

piquete de forma bem semelhante ao período das águas. No entanto, em outras regiões de

estudos sobre a distribuição das fezes, há relatos que o nível de sombra influência a

distribuição das fezes. Como os resultados encontrados por Ferreira et al. (2011) realizaram

estudos em Brachiaria brizanta com 22 novilhas e 22 vacas mestiças Gir, Holandês e Jersey,

em diferentes níveis de sombreamento (pleno sol, sombra única, sombra em bosque e sombra

dispersa. Os autores concluíram que no tratamento a pleno sol, houve maior concentração de

fezes perto dos bebedouros e da porteira. No tratamento com sombra única, houve maior

concentração de fezes embaixo da sombra artificial. Na sombra em bosque, 72% da

frequência das fezes ocorreu na área de bosque, demonstrando que os animais ocupam por

55

mais tempo as áreas sombreadas e com distribuição de fezes mais dispersa nos piquetes com

sombra dispersa. A distribuição dos renques de árvores influenciou na dispersão das placas de

fezes, funcionando como um condicionador de pastejo, uma vez que os animais utilizam áreas

sombreadas para realizarem ciclos de pastejo, ócio e/ou ruminação nas horas mais quentes do

dia, interferindo assim, na distribuição das placas de fezes.

No período de início da seca, o nível de sombra influenciou a taxa de remoção do dossel

forrageiro, mas não influenciou na localização de preferência para o pastejo. Assim, o pastejo

foi de forma uniforme em cada sistema de produção. Entretanto, o nível de sombra

influenciou a distribuição das placas de fezes. Neste período, já havia sido instalado os

bebedouros nos piquetes. A presença de bebedouro dentro dos piquetes promoveu

concentração de fezes ao seu redor no tratamento a pleno sol e no de sombreamento intenso,

assim como a presença de sombra promoveu maior concentração de fezes em áreas sob sua

influência por condicionar o pastejo e as atividades de ócio e de ruminação. Esses resultados

são semelhantes aos encontrados por Kruschewsky (2009), que avaliando a dispersão das

placas de fezes de 35 novilhas em piquetes com árvores nativas e a pleno sol, por meio da

avaliação do Índice de Dispersão (ID), verificou que a distribuição das fezes na pastagem a

pleno sol ocorreu de forma agregada. Entretanto, no sistema com árvores nativas, a avaliação

do ID demonstrou que a uniformidade na distribuição, com maior deposição de fezes no

quadrante onde está localizada a porteira de acesso ao piquete e também um dos bebedouros,

e um quadrante localizado no centro do piquete. Kruschewsky (2009), no mesmo

experimento, avaliou a distribuição de fezes em pastagens de Tanzânia sombreadas por

renques de árvores de Grevillea robusta (20x5m) e Mombaça a pleno sol. Na pastagem a

pleno sol, concluíram que houve uma maior deposição de fezes na área próxima ao bebedouro

e da porteira de forma agregada, no sistema sombreado também houve uma deposição de

56

fezes na área do bebedouro e no ponto central do piquete, mas com uma distribuição mais

uniforme e homogênea.

Ao contrário do que se preconizava de maneira empírica, a deposição de fezes não foi

concentrada exclusivamente em baixo das árvores quando estas estão presentes na pastagem,

e tendo apresentado maior dispersão em relação a pleno sol. Mesmo assim, a concentração de

fezes existe, em maior ou menor grau, independente da presença de sombra, alternando os

locais onde ocorre. Quando existem árvores em grande número nas pastagens há possibilidade

de troca de malhadouro, já que os animais se concentram em determinados pontos. A maior

parte da área sob árvores não foi utilizada pelos animais durante sua ocupação no piquete.

Conclusão

O sombreamento da pastagem condiciona uma maior distribuição das fezes pela área.

Entretanto, a concentração de fezes não deixa de existir em determinadas regiões, apenas é

amenizada.

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CONCLUSÕES GERAIS

Animais com disponibilidade de áreas sombreadas na pastagem buscam por ela nos

períodos de maior temperatura durante o dia. Os animais a pleno sol paralisam a atividade de

pastejo por longos períodos durante o dia permanecendo em repouso nas horas mais quentes.

Há necessidade de fornecimento de sombra aos animais mesmo que restrito a áreas marginais

do piquete.

Dias de ocupação variáveis alteram os horários das atividades dos animais, entretanto

não alteraram o tipo e o tempo dedicado a cada atividade.

O sombreamento da pastagem altera a distribuição de placas de fezes, tornando-a mais

homogênea. No entanto, ainda assim, são formadas áreas de maior concentração dentro dos

piquetes.