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1 Projecto Pesquisa Tema: Comportamento Anti-Social e a Delinquência Juvenil Disciplina: Psicologia do Desenvolvimento II Curso: PSI 2º Ano Docente: Leila Furtado Discentes: Bruno Monteiro Ariane Correia Hirondina Pereira Maria Pires

Comportamento Anti-Social e a Deliquência Juvenil

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Page 1: Comportamento Anti-Social e a Deliquência Juvenil

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Projecto Pesquisa

Tema: Comportamento Anti-Social e a Delinquência Juvenil

Disciplina: Psicologia do Desenvolvimento II

Curso: PSI 2º Ano

Docente: Leila Furtado

Discentes:

Bruno Monteiro

Ariane Correia

Hirondina Pereira

Maria Pires

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Índice

Introdução .................................................................................................................................. 3

Enquadramento .......................................................................................................................... 4

Principais Alterações na Adolescência....................................................................................... 5

Desenvolvimento Cognitivo .............................................................................................. 5

Desenvolvimento Físico..................................................................................................... 5

Desenvolvimento Psicossocial ........................................................................................... 6

Factores que Influenciam o Comportamento Anti-Social e a Delinquência Juvenil ................. 7

Praticas Parentais (Coercivas) ................................................................................................ 7

Limitações Cognitivas e Imaturidade Emocional .................................................................. 9

A Puberdade ......................................................................................................................... 11

Aspectos Imaturos do Pensamento Adolescente Segundo Elkind (Fábula Pessoal) ............ 12

Desigualdade Social e a Juventude (Cabo Verde) ................................................................ 13

Estratégias de Prevenção e Combate ao Conduta Anti-Social e a Delinquência Juvenil ........ 17

Praticas Parentais (Não Coercivas) ...................................................................................... 17

Programa de Intervenção para Prevenção a Delinquência Juvenil (Pais, 2012) .................. 18

O Programa de Intervenção tem como objectivos: .............................................................. 19

Descrição das Tarefas a Desenvolver e seus objectivos ....................................................... 19

Conclusão ................................................................................................................................. 22

Referências Bibliográficas ....................................................................................................... 23

.

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Introdução

O presente trabalho foi realizado no âmbito da unidade curricular de Psicologia de

Desenvolvimento II, constituindo um elemento de avaliação e visa abordar o comportamento

anti-social e da delinquência juvenil.

De acordo com Pacheco (2004), o conceito anti-social tem sido utilizado para apontar

o temperamento violento e desafiador do comportamento de indivíduos, que apresentam

dificuldades comportamentais que originam danos no seu exercício social. E por outro lado

realça que a delinquência é unicamente um componente de um vasto padrão anti-social que

começa na infância e habitualmente permanece na adolescência e na fase adulta.

A nossa motivação para a realização deste trabalho prende-se com o interesse no

desenvolvimento das competências científicas e por outro lado emergiu através da nossa

aprendizagem nas aulas leccionadas durante este semestre onde diversas vezes debruçamos

sobre temas relacionados com a adolescência o que nos despertou o interesse em saber mais

sobre o assunto. Neste sentido, surgiu a seguinte questão norteadora: quais são as causas

básicas do comportamento anti-social e da delinquência juvenil.

Tendo esta problemática em questão e como forma de dar resposta á nossa questão,

pretendemos alcançar os seguintes objectivos específicos: relacionar o comportamento anti-

social com delinquência juvenil, conhecer e descrever os factores que influenciam o

comportamento anti-social e a delinquência juvenil, relacionar os factores predisponentes

entre se, apontar a educação como centro dessa problemática, e reconhecer a adolescência

como a fase propícia para o emergir de comportamento anti-social e da delinquência juvenil.

A metodologia utilizada para a realização deste trabalho foi a pesquisa bibliográfica

de autores conceituados e de referência. Também foram através de pesquisa de artigos

científicos, teses e monografias que abordam sobre o tema, pesquisados nas seguintes bases

de dados: Livros, Scielo, Google académico, entre outros. De igual modo, foi através da

orientação da professora.

O presente trabalho encontra-se estruturado em capítulos, sendo a introdução o

primeiro capítulo, onde contextualizamos o tema, a justificação e os objectivos do trabalho.

No segundo capítulo segue o enquadramento teórico onde definimos alguns conceitos-chave

sobre a problemática em questão e segue conclusões e as referências bibliográficas.

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Enquadramento

A luz da ideia de Papalia (2006) define a adolescência como transição da infância para

a idade adulta que demora mais ou menos 10 anos, tendo o início por volta dos 11 ou 12 anos

e o término por volta dos 20 anos. Este processo envolve grandes mudanças físicas,

cognitivas e psicossociais. A adolescência está cheia de riscos ao desenvolvimento saudável,

assim como de oportunidades de desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial. Marcas de

comportamento de risco, como utilização de bebidas alcoólicas, uso excessivo de drogas,

actividades sexual, ligação a gangues e uso de armas de fogo, tendem a se estabelecer no

início da adolescência. Marcas essas que caracterizam um comportamento delinquente. A

adolescência é o reflexo na nossa infância, perturbação enfrentada na infância podem

manifestar-se neste período o que pode induzir ao comportamento anti-social.

O termo anti-social ultimamente tem sido utilizado comumente como referência a

características de vários transtornos, tais como problemas de externalização, Transtorno da

Conduta, Transtorno de deficit de Atenção e Hiperactividade, Transtorno Desafiador

Opositivo e Transtorno de Personalidade Anti-social (Pacheco, 2004). Esse conceito também

tem sido empregado para designar o carácter agressivo e desafiador da conduta de indivíduos

que, embora não tenham o diagnóstico de um transtorno específico, apresentam problemas

comportamentais que causam prejuízos no seu funcionamento social.

O comportamento delinquente encontra intimamente ligado com o comportamento

anti- social, que na perspectiva de Patterson refere a uma predisposição inata para se

comportar de determinada forma, mas a um padrão comportamental aprendido a partir da

interacção do indivíduo com o ambiente, especialmente o ambiente social, o comportamento

delinquente representa então, uma continuidade do comportamento anti-social, o que indica

que sob certas circunstâncias, existe uma estabilidade desse ao longo do desenvolvimento do

indivíduo. Entretanto eles se deferem uma vez que o comportamento anti-social pode ou não

incluir a violação de leis e por sua vez, a delinquente refere-se especificamente a essas

violações.

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Principais Alterações na Adolescência

A adolescência tal como a conhecemos é uma construção social, mediatizada pelo

meio e pelo momento histórico. Ser adolescente é viver um período de mudanças físicas,

cognitivas e sociais que juntas ajudam a traçar o perfil desta população, deste modo cabe-nos

referir alguns desses componentes marcantes nesta fase.

Desenvolvimento Cognitivo

Segundo Piaget, o desenvolvimento cognitivo do adolescente começa a ser atingido

no estágio do pensamento operatório formal, que tem como algumas características

cognitivas o uso da suposição (hipóteses), consideração de muitos pontos de vista e

flexibilidade de pensamento. Ao atingir esse período, a característica mais marcante que

distingue a inteligência do adolescente é a sua capacidade de imaginar na “oportunidade”, e

não apenas na realidade.

De acordo com (BERGER, 2000, p. 305) essa competência de pensar em termos de

possibilidades permite que os adolescentes arquitectem, explorem e formulem hipóteses, mais

depressa e em uma dimensão bem maior do que as crianças, que ainda estão ligadas à

realidade tangível do aqui e agora. Os adolescentes podem, e de fato o fazem, libertar-se da

incapacidade de abstracção do raciocínio tradicional da criança em fase escolar, voando mais

alto em direcção as ideias contraditórias, a conceitos rebeldes e sonhos etéreos, totalmente

afastados do bom senso convencional. E o momento que o adolescente passa a pensar por si

só, defendendo seu ponto de vista muitas vezes com argumentos lógicos. Eles demonstram

uma capacidade para o pensamento hipotético, ou seja, o pensamento que envolve o

raciocínio sobre proposições que reflectem ou não a realidade. Isso gera sentimentos

conflituantes, sendo também um ciclo de muitas reflexões sobre os pais, o mundo, a política,

a religião, etc. Neste período também vemos uma prevenção do adolescente consigo mesmo e

com o modo como ele é considerado pelas demais pessoas, gerando sentimentos conflituosos

com os pais, os amigos, a escola.

Desenvolvimento Físico

A nível físico o que acarreta os adolescentes é a forma como se desenvolvem

descontroladamente podendo este ser designado de puberdade, que é um fenómeno inerente à

adolescência com transformações até certo ponto bem definidas, tendo limites bem mais

precisos estreitos, e talvez por isso possa ter um carácter universal e inerente ao

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desenvolvimento humano. Sabe-se que a puberdade é o período da vida em que o indivíduo

se torna apto para a procriação, isto é, adquire a capacidade física de exercer a função sexual

madura. Tudo começa no hipotálamo, que num determinado momento começa a fabricar

substâncias que chegam à hipófise activando-a e enviando hormônios excitantes aos ovários

na mulher, e aos testículos no homem, que iniciam então a criação e liberação de óvulos e

espermatozóides. Nas meninas isso acontece por volta dos doze anos, já nos meninos por

volta dos quatorzeno anos. Sendo que todas as modificações pela qual o jovem passa se dá

em um período relativamente curto, que dura cerca de seis meses. (BECKER, 2003,p 14).

Desenvolvimento Psicossocial

Uma preocupação principal durante a adolescência é a procura de identidade, a qual

possui elementos importantes para o desenvolvimento do mesmo.

Erik Erikson (1968), afirmou que a principal tarefa da adolescência é confrontar a

crise de identidade versus confusão de identidade para transformar-se um adulto único com

um senso de identidade coerente e um papel valorizado na sociedade. O adolescente que

adquire a sua identidade é aquele que se torna fiel a uma coerente interacção com a

sociedade, a uma ideologia ou profissão, que é também uma tarefa deste estágio. A interacção

social é fundamental na formação de identidade onde envolve a criação de um sentido de

unicidade: a unidade da personalidade é sentida por si e reconhecida pelos outros, como

tendo uma certa consistência ao longo do tempo. Os outros têm um papel relevante na

definição da identidade: o adolescente vê reflectido em seu grupo parte da sua identidade e

preocupa-se muito com a opinião dos mesmos. Por vezes, procura amigos com “maneiras de

estar” divergentes daquela em que cresceu, de forma a poder pôr em causa os valores dos

pais, testando capacidades para construir a sua própria “maneira”. O grupo permite um jogo

de reconhecimento, partilha de segredos e experiências essenciais para o desenvolvimento da

personalidade

Ainda segundo Erikson, a identidade da adolescência vai se modelando através de

alterações e sintetizando identificações pregressas. Tendo como consequência desse processo

uma nova estrutura psicológica, muito maior do que a soma de suas partes. Que é

considerado o risco desta fase, e o atraso da maturidade psicológica.Em suma as alterações

que surgi tanto ao nível cognitivo, físico e psicossociais muitas vezes podem levar ao

surgimento de comportamentos anti-sociais e delinquência juvenil.

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Factores que Influenciam o Comportamento Anti-Social e a Delinquência Juvenil

Os factores para se explicar o comportamento anti-social e a delinquência juvenil são

variados, as causas variam desde factores externos que são aqueles que transpõem o

individuo, onde podemos destacar factores de carácter social ou familiar, e também factores

de natureza interna, factores, esses que são intrínsecos ao individuo.

A luz de Pais (2012) o ser humano enquanto ser social ao longo da vida atravessa por

diferentes períodos mais é de destacar a infância e a adolescência que são as etapas da vida

fundamentais para desenrolamento do processo de socialização, na infância o principal

modelo são os pais mas já na adolescência o modelo muda tornando o grupo de pares como

principal referência visto que passam mas tempo juntos no convívio escolar. Na adolescência

que é uma fase onde ocorre muitas transformações a nível físico, afectivo, social, familiar e

psicológico mas também é nessa etapa o adolescente desenvolve a sua própria identidade e

edifica a sua personalidade com as experiências da sua vida pessoal. É uma fase marcada por

um acréscimo de autonomia o que o consente um afastamento da família e começando a

inserir-se num grupo de pares com o qual se identifica e que terá grande importância no

processo de socialização e da elaboração da sua identidade.

Praticas Parentais (Coercivas)

A figura dos pais constitui o primeiro núcleo social da criança, e tem grande

influência no seu processo desenvolvimento social, cognitivo e psicológico. É a relação com

os pais que torna-se referência de todas as outras, uma vez que os pais são os responsáveis

em transmitir as primeiras informações e interpretações sobre o mundo, e essa relação é

intendida nas práticas parentais, que são tidas como o factor crucial dentre vários que

influenciam o comportamento anti-social e a delinquência juvenil, apresentando- se em dois

pólos, as práticas educativas parentais não-coercitivas e coercitivas. As não-coercitivas são as

que basicamente fazem uso de reforçadores positivos e regra afecto, envolvimento,

reforçamento, regras e comunicação (diálogos e orientações), já as coercitivas são aquelas

que fazem uso de estímulos aversivos como ao uso da punição tanto de forma verbal, física

ou de privação. Tais práticas são estratégias para inibir os comportamentos inadequados e

promovendo os comportamentos adequados, e muitas delas acabam no final por determinar o

desenvolvimento da criança (Alvarenga, 2001 citado por Salvador e Weber, 2005).

As práticas não-coercivas que envolve precisamente aspectos de relação afectiva

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regras, comunicação (dialágios e orientações) e o reforço positivo que acompanha a criança

desde da infância, constituem elementos decisivos no comportamento da mesma. A relação

sentimental deve estar disponível mesmo que as crianças não consigam enfrentar uma

contingência com êxito, isto é deve acompanha-la em todos os momentos, assim ela terá a

capacidade de distinguir os comportamentos proibidos dos permitidos. Alguns autores

afirmam que quando o filho se sente amado pelos seus pais, tornam-se muito mais fácil

apresentar regras, pois ele compreende melhor os valores morais de seus pais (Grusec et all,

2000 citado por Salvador e Weber, 2005).

As práticas coercivas referem ao controle por meios de estímulos agressivos e está

relacionado com a punição, que podem ser tanto verbal, física e a privação que no entender

de Skinner trata de uma forma de controlo do comportamento humano, e que muitas vezes

cria a ilusão de que pode realmente cumprir uma determinada tarefa, porém sua consequência

pode facilmente cancelar os benefícios que poderiam trazer, o que reforça a ideia de

(Sidman,2001) que a punição gera subprodutos muitos negativos para aqueles que vivenciam,

tais como: violência, agressão, opressão, depressão, inflexibilidade emocional e intelectual,

auto destruição e destruição dos demais, ódio, doenças e estado geral de infelicidade, que

acabam por induzir a comportamento anti-social e a delinquência juvenil. Um dos efeitos

negativos que a punição provoca é o condicionamento de fuga e esquiva. O estímulo aversivo

utilizado pelos pais pode facilmente se tornar um reforçador negativo. Sendo assim com o

uso do castigo, os pais ensinam e mantem comportamentos com os quais a criança possa fugir

ou se esquivar do acontecimento aversivo que eles manifestam, e até mesmo dos próprios

pais. (Catania, 1999; Sidman, 2001; Sousa & Baptista, 2001,citado por citado por Salvador e

Weber 2005).

De acordo com Severe (2000), as punições que são empregados para humilhar ou

desprezar as crianças, podem gerar sentimentos doentios. Quando os pais qualificam e

desvalorizam a criança, estão contribuindo para a formulação de auto regras negativas. Auto

regras inadequadas podem influenciar nos estados de depressão, raiva, medo, sentimentos de

fracasso, enfraquecimento da própria a auto-estima e autoconfiança, tudo isso acaba por

aumentar os riscos dos adolescentes em envolver em desordem com a sociedade.

Por fim temos a punição física, que de acordo com pesquisa de Weber e cols (2003), a

punição física é um factor que provoca comportamento inadequado, e se isso não funcionar

como o esperado o agente punidor tendem a bater com maior frequência e intensidade.

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É importante realçar que de acordo com estudo comparativo da interacção familiar de

dois adolescente distinto realizado por (Ana viezzer e Lidia Weber na universidade federal do

Paraná, 2005), demostram que o adolescente com comportamentos desviantes revelou baixo

envolvimento e demostração de amor, regras claras, comunicação positiva e punições branda

por parte dos pais revela a predominância de práticas coercivas.

Limitações Cognitivas e Imaturidade Emocional

Segundo Steinberg e Schwartz (2000) o desenvolvimento do ser humano pode ser

intendido como um processo onde há uma interacção entre factores biológicos que condizem

a maturação e factores comportamentais que correspondem a aprendizagem, ou também uma

combinação entre esses dois factores e este desenvolvimento nem sempre dá-se de uma

maneira organizada e orientada para uma evolução linear e clara.

Casey, Getz, Galvan (2005) e Luna (2001) dizem que no processo de

desenvolvimento existem limitações a nível cognitivo e uma imaturidade a nível emocional e

normativas na fase da adolescência. Eles afirmam ainda que num dado período que vai dos 12

aos 17 anos o adolescente já tem estruturas cerebrais maduras destinadas para um bom

raciocínio e também para fazerem uma avaliação a nível afectivo e emocional dos

acontecimentos por eles vivenciados. No entanto, os adolescentes mesmo dotados dessas

estruturas cognitivas apresentam alguns aspectos precoces como a integração funcional

particularmente nas áreas para sinalização de recompensas e em algumas áreas para a

inibição de respostas (Córtex Pré-Frontal) mas já têm uma racionalidade semelhante a que os

adultos têm, mas há uma certa instabilidade dos mecanismos inibitórios e uma falta de

experiência.

Para explicar isto é fulcral destacar o papel notório que a imagiologia cerebral veio a

ter, graças essa técnica foi possível ter-se conhecimento das trajectórias de desenvolvimento

cognitivo e emocional dos adolescentes onde essa técnica fornece descrições mais completas

e precisas do desenvolvimento neurotómico do cérebro humano (Casey et al., 2005; Spear

2000 citado por Oliveira, 2010, p. 15).

As imagens estruturais e funcionais de zonas cerebrais obtidas através das técnicas da

imagiologia cerebral como Ressonância Magnética estrutural e funcional, Tomografia por

Emissão de Positrões e Imagens do Tensor de Difusão mostram que a força de análise destas

técnicas origina na possibilidade de estabelecer padrões genéricos de desenvolvimento

mostrando as mudanças estruturais que decorrem em determinados períodos de tempo, a

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maturação de diferentes regiões cerebrais podendo assim mostrar eventuais conexões desses

modelos com outros de natureza comportamental como os comportamentos de riscos que

podem ser estudados a partir de uma avaliação psicológica.

Considerando que “em geral, a sequência pela qual o córtex amadurece ocorre em

paralelo com as etapas cognitivas do desenvolvimento humano” (Casey et al., 2005, p. 104;

Casey et al., 2008, citado por Oliveira, 2010).

Esse desenvolvimento apresenta-se sequenciado ou seja numa primeira fase há uma

maturação das regiões responsáveis para as funções primárias (sensoriais e motoras), e uma

segunda fase onde dá-se a maturação das áreas de associação (linguagem e atenção espacial -

córtices temporal e parietal) e na terceira fase e não a menos importante há uma maturação

tardia e mais duradoura das regiões responsáveis pelos processos cognitivos de ordem

superior, com funções de integração de processos sensórios-motores e de modulação da

atenção e linguagem (córtices pré-frontal e temporais laterais). Também é de se observar que

o tamanho do cérebro de uma criança de seis anos corresponde a 90% do tamanho do cérebro

de um adulto e assim destacar a grande importância dos “refinamentos” ou melhor dizendo

aperfeiçoamento tem no processo de maturação do individuo (Casey et al., 2005, citado por

Oliveira, 2010).

Esses refinamentos importantes que o cérebro dos adolescentes suporta são três (Nolte

& Luna 2002 citado por Oliveira 2010):

Eliminação de sinapses - há uma eliminação selectiva de algumas sinapses raramente

usadas levando a diferentes processos de modulação, inibição/activação (fluxo de

neurotransmissores) melhorando a conectividade entre regiões cerebrais.

Sinapto génese e arborização dendrítica - criação das ligações sinápticas entre

neurónios que tendem a ocorrerem em grande parte de configuração geneticamente planeada.

Garantem o acesso do efeito nervoso entre neurónios auxiliando, nessa função, processos de

inibição/activação da informação dirigida através dos neurónios. A experiência sócio

emocional torna mais uma das causas da formação das sinapses juntamente como a

programação da maturação.

Mielinização – é um processo bioquímico geneticamente planeado de afastamento dos

axónios por cobertura com mielina, responsável pelo aumento da velocidade de divulgação

dos sinais eléctricos dos Sistemas Nervoso Central e Periférico através de uma crescente e

ampla rede de circuitos cerebrais, promovendo assim a associação de áreas distintas.

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Durante esse processo de refinamento há uma alteração do volume de massa cinzenta, há

um decréscimo por causa da eliminação das sinapses, também no corpo estriado – que esta

envolvido no processamento de recompensas e na calibração das informações sobre riscos e

nas zonas do córtex pré-frontal que estão reunidas, respectivamente, a fiscalização cognitiva

da emoção e ao processamento da memória de trabalho, memória de trabalho espacial e

planeamento (Casey et al., 2005, 2008; Spear, 2000; Steinberg, 2005 citado por Oliveira,

2010).

A Puberdade

As modificações físicas com que o jovem encara germinam sensações de insegurança,

assim como as vigorosas modificações a nível de humor e alternância de estados psicológicos

persistentes. Todas estas pressões a nível físico, psicológico e social que o adolescente

enfrenta podem desencadear comportamentos agressivos de conflito diante às autoridades,

aos pais que poderão abranger comportamentos anti-sociais ou de Delinquência juvenil

(Monteiro & Ferreira, 2007, citado por Pais, 2012).

Um dos sinais diz respeito a forma como os adolescentes buscam sensações

particularmente na presença de grupo de pares, que está frequentemente correlacionada com

condutas anti-sociais e de delinquência precoce ou seja o grupo tem uma forte influência no

aumento dos comportamentos de riscos praticados pelos adolescentes (Steinberg, 2005,

citado por Oliveira, 2010).

A maturação cerebral do sistema sócio emocional que se associa a diversas formas de

desenvolvimento social e reconhecimento de faces ocorre justamente durante a puberdade e

antecede a maturação do sistema de controlo que permite a auto-regulação (Casey et al.,

2008 citado por Oliveira, 2010). Steinberg (2008) diz que no processo de desenvolvimento o

ser humano tende a usar primeiramente o sistema socio emocional e só depois dá-se o uso do

sistema de controlo. Há um amadurecimento mais lento e prolongado do sistema de controlo

que vem atingir um pico de maturação e exercício por volta dos 16 anos mas antes ele é

ineficiente e imaturo devido a um precoce desenvolvimento do sistema sócio emocional e a

sua grande força motivacional.

A passagem da puberdade para o período intermediário da adolescência é marcada por

uma intensa busca de sensações, esta sugestão propõe assim que a preferência irreflectida ou

agitada para recompensas imediatas, são típicas das descrições dos comportamentos de

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decisão dos adolescentes (Reyna & Farley, 2006; Rivers et al., 2008; Steinberg, 2008, 2009

citado por Oliveira, 2010).

Segundo Steinberg (2008) no momento intermediário da adolescência com o pico do

sistema de controlo cognitivo vem estabelecer um equilíbrio entre as cognições e os afectos

dando origem a uma maior maturidade na tomada de decisão e uma certa autonomia do

adolescente o que não acontecia anteriormente onde muitos dos comportamentos eram

dependentes do grupo de pares.

Aspectos Imaturos do Pensamento Adolescente Segundo Elkind (Fábula Pessoal)

Segundo Elkind (1984, 1998) com base no trabalho clinico verificou que existem

alguns aspectos imaturos do pensamento adolescente ele conseguiu ainda descrever atitudes e

comportamentos imaturos onde ele destaca:

Tendência a discutir porque estão a procura de ocasiões para testar as suas habilidades

de raciocínio adquiridas recentemente.

Indecisão ao tornarem-se conscientes das escolhas que a vida lhes oferece vão ter

problemas em decidir.

Encontrar defeitos nas figuras de autoridade, os adolescentes nesse momento

percebem que os adultos que antes respeitavam têm falhas e que muitas das coisas que

eles exigem não o fazem.

Hipocrisia aparente os adolescentes, em muitos momentos não constatam a

disparidade entre manifestar um ideal e fazer os sacrifícios essenciais para viver de

acordo com ele.

Autoconsciência muitas vezes reflectindo sobre si próprio, os adolescentes muitas

vezes, fazem suposições que todo mundo gira em volta deles. A esse fenómeno Elkind

dá o nome de público imaginário, onde há uma “plateia” mentalmente criada que

está ligada com os comportamentos e pensamentos do próprio adolescente onde ele

pensa que todo mundo pensa e agi em volta dele pensando nele, o adolescente tende a

experimentar diversas atitudes, comportamentos e mesmo forma de vestir “frente” ao

publico imaginário, existi um conjunto de padrões de comportamento provenientes de

um grupo de amigos do adolescente. Tomando como exemplo uma menina que troca

de roupa muitas vezes antes ir para uma festa por fica a imaginar o que o publico

imaginário ira reagir e ela quer provocar uma boa impressão no grupo.

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Suposição de invulnerabilidade ele utiliza o termo fábula pessoal onde ele fala da

crença dos adolescentes de que são especiais, nesse momento eles estão dotados de

um pensamento egocêntrico de que sua experiência é única e de que os seus

comportamentos não devem ser praticados em sintonia com a regras que regulam as

outras pessoas, “nada de mau acontece comigo”, “os acidentes só acontecem com os

outros”, “eu sou o todo-poderoso o intocável”, “Os outros ficam escravos das drogas,

mas não eu”.

Este fenómeno de fábula pessoal é um dos factores que levam a comportamentos

expostos e autodestrutivos (Elkind, 1998, citado por Papalia, 2004, p. 458). Eles podem ser

mais aptos a se envolver em comportamentos de alto risco, porque adolescentes tendem a

pensar em si mesmos como exclusivo e sentem se acima dos acidentes que podem acontecer

com esses comportamentos perigosos ou seja que são capazes de driblar as consequências

negativas do seu comportamento, por esse facto eles tendem a ser mais inclinados a utilizar

de drogas e álcool. Podemos tomar como exemplo durante a apresentação de uma palestra

sobre o HIV-SIDA os adolescentes podem ignorar as informações pensando que não

susceptíveis aos riscos e mantem relações sexuais sem preservativo por estarem perdidos na

fábula pessoal.

Então podemos dizer que os adolescentes tendem a subestimar os riscos que correm

com os seus comportamentos, fruto dessa vida metal recheada de fantasias, sentimentos de

invulnerabilidade e egocentrismo, razoes mais do que suficientes para torna-los pouco ou

nada conscientes do perigo que alguns comportamentos de riscos podem trazer.

Desigualdade Social e a Juventude (Cabo Verde)

Baseando em estudos feitos por Redy Lima em Cabo Verde, sobre um grupo de jovens

em particular que em conexão à família deparavam-se a uma distância relativa, visto que

fazem parte de uma unidade familiar mas passam a maior parte do tempo fixados nas

vizinhanças dos bairros onde residem, controlados pelos grupos de pares, realizando

comportamentos vistos como desviantes.

Segundo Lima (2010) a sociedade cabo-verdiana vem passando por muitas mudanças

estruturais desde da escravatura, colonização, independência nacional 1975 e em 1991 houve

realização das primeiras eleições e mudando para o regime capitalista ou semi-capitalista

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onde se prende o desenvolvimento económico no sector privado e houve privatização de

algumas das maiores empresas públicas. As mudanças trouxeram avanços económicos

marcantes para uma parte da população, banindo outros para segundo plano, forçando-os a

procurar um outro caminho para a sobrevivência e afirmação pessoal e social.

Baseando nos dados da DECRP1 e a INE

2, já no meio da década de 90 houve um

grande crescimento económico, mas por outro lado a pobreza ainda continuava a afectar

cerca 37% da população cabo-verdiana e a desigualdade social continuava a aumentar, a

juventude era uma das partes mais afectada pelo desemprego e cerca de 48% da faixa etária

dos 15 a 24 anos, tornado o desemprego numa problemática que afecta maioritariamente o

meio urbano e camada juvenil.

A juventude como uma questão social é recente e que existem poucas análises a volta

do assunto, mas ao examinarmos os procedimentos institucionais, os discursos políticos e

intelectuais, verifica-se que os jovens são tidos como uma grupo que deve ser controlado,

usando todos os métodos possíveis como a religião e política e mesmo medidas severas.

Como a democracia os jovens vieram a ter um papel activo e reivindicativo na sociedade

cabo-verdiana, protagonizando algumas manifestações nessa época, a partir desse momento

podemos dizer que os jovens tornaram-se livres e começaram a ser vistos como a categoria

social problemática que se devia dar maior atenção e criação de politicas publicas tendo os

jovens como alvos.

Conforme Martins (2010) houve grandes ganhos a partir da década de 90 a nível de

oportunidades de realização para os jovens a vários níveis, mas por outro lado temos um

sistema económico, educativo e de protecção social muito débil o que dificulta os jovens a ter

m emprego, uma habitação propiá e afirmação de uma família.

Lima (2010) fundamentando nos pensamentos Martins (2010) afirma que este cenário

leva os jovens a estarem numa situação que vai de aspiração a frustração, visto que passam

grande parte do tempo estudando, batalhando por um emprego que esta cada vez mais difícil

por causa do grande controlo de uma rede de compadrio e de militância politica, ainda diz

que a desigualdade em Cabo Verde, dá-se a um nível económico mas também nota-se

desigualdades a nível cultural e espacial onde se destaca o mais grave de todos a nível das

oportunidades juvenis e afirma que a onda de violência protagonizada pelos jovens na Cidade

1 DECRP - Documento de Estratégia de Crescimento e de Redução da Pobreza.

2 INE – Instituto Nacional de Estatísticas

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da Praia e Mindelo, podem ser compreendidos como um sinal de reclamação dos jovens pelos

seus direitos que vêm sido desrespeitados numa sociedade onde os poucos recursos são

aproveitados por uma minoria que quer se destacar da maioria.

No séc. XX com a emigração barrada pelos países de destino, com o aumento do

êxodo rural, devido a fracas políticas publicas direccionada para o meio rural a cidade da

Praia foi vítima de um aumento da ocupação de uma forma desordenada dos espaços e o

aparecimento de bairros clandestinos. Com Cidade desprevenida teve grandes problemas no

acesso a habitação, água potável, saneamento e alguns serviços públicos indispensáveis para

a sobrevivência, todo esse processo levou a uma divisão entre o centro (Classes dominantes)

e as periferias (classes dominadas) (Lima, 20101).

Pegando no conceito casteliano (2006) de desfiliação para significar um grupo de

sujeitos desvinculados de suas qualidades colectivas, entregues a si próprios, e que juntam

grande parte das desvantagens sociais como pobreza, falta de emprego, sociabilidade

limitada, condições inseguras de habitação, grande exposição a todos os riscos da vida o

melhor dizendo entregues à condição de vulnerabilidade – económica e social.

A escola que devia ser um instrumento de sociabilização dos jovens, trabalha ao

serviço das classes dominantes estimulando os jovens a ambicionarem alto, mostrando-os que

tudo é possível, claro com as condições necessárias, mas contudo essa linguagem não se

adapta quando utilizada com a classes dominadas vindas do subúrbio colocando-lhes em

grandes problemas de adaptação muito por causa da desvantagens cultural que eles tem em

relação a classe dominante (Bourdieu e Champagne citados por Lima, 2010).

Várias análises mostram que muitos jovens originários das classes dominadas vivem a escola

como uma prisão, um local onde se é obrigatório ir e onde se é vítima de um demorado

processo de violência simbólica e física, com fracturas radicais nas linhas e processos de

convivência entre formas culturais diferentes. (Lima, 2010, p. 9). Desta forma o abandono

escolar torna-se uma realidade como forma de se defender da violência física e simbólica que

se vive na escola e jovem acaba por se auto excluir do ambiente escolar, tornando-os assim

mais frágeis a situações de riscos, muito também por falha do sistema politico que não

fornece meios de intervenção de forma a fazerem os jovens integrarem em aspectos sociais de

forma ainda ambicionarem um futuro melhor. Toda essa situação posiciona os jovens ao lado

da sociedade e num processo de perda de vínculos no contexto social que estavam antes e

começam a vincular-se com novos grupos sociais na busca de sobrevivência, aliados a jovens

Page 16: Comportamento Anti-Social e a Deliquência Juvenil

16

na mesma situação social à margem das classes dominantes.

Os jovens das classes dominadas e os seus bairros são na maioria das vezes

menosprezadas, postas de lado e julgadas como pessoas e lugares extravagantes fora do

comum, que estão afogando-se na pobreza, não gostam de trabalhar estas são algumas da

características negativas e uma forma de violência que muitas vezes a classe dominada é

vítima por parte da classe dominante. As sociedades urbanas actuais, as relações sociais são

mostradas em forma de rivalidades, como forma de sobrevivência, os jovens tendem a

reajuntar-se empregando estratégias que parecem com às tribos antigas, lutando assim ao

isolamento imposto por elas.

As tribos urbanas podem ser definidas como grupos semiestruturados, constituídos

maioritariamente por indivíduos com uma identificação semelhante como rituais e

componentes de cultura que mostram valores e estilos de vida, moda, música e lazeres típicos

de um espaço-tempo (Maffesoli citado por Lima, 2010).

De acordo com Lima (2010) os grupos thugs mostram as mesmas características que

as outras tribos urbanas vivendo para o momento, vivem cada situação de uma forma muito

intensa e a violência é vivida dessa igual maneira, este constructo é originário dos subúrbios

(Guetos) norte-americanos é usado pelos jovens desafilhados, como já é costume numa óptica

de estima do que é estrangeiro, na procura de uma afirmação pessoal e social, não levando em

conta que podem ser associado ao conceito negativo que esta relacionada com esse termo, por

outro angulo também alterar o peso filosófico e politico de revindicação político-social que se

viu como o movimento Thug Live.

No que toca aos seguidores do movimento thug live, é oportuno dizer que os sentidos

também podem existir onde não aparentam existir. Muitos jovens dão valor ao que reparam o

que se desenrola a sua volta, consumando com a integração da nova moda não porque

simplesmente vivem, mas para que consigam viver, isto é, para se fazerem crer que

pertencem a um sentimento identitário (Pais, 2004, citado por Lima, 2010).

Muitos grupos thugs delinquentes na cidade da Praia, tal como nos Estados Unidos de

América, surgiram como uma das primordiais formatos de união, de trabalho e identidade

para muitos jovens servindo em algumas situações como um papel de equilíbrio estrutural em

diferentes espaços o que esclarece os afectos ambíguos dos habitantes dessas zonas em

analogia a eles.

Há nesses grupos de thugs uma cultura de fazer tudo na pressa ou seja tudo para

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17

ontem onde eles têm uma visão firme da sua própria vida e como uma celebração da

vida nessa óptica eles experimentam, sentem, conquistam, sentem um bocado de tudo antes

que seja tarde visto que para eles o amanha é uma incógnita ou mesmo não existe. A

violência é assim vivida e entendida como uma contra violência social existente em várias

dimensões (Lima, 2010).

Estratégias de Prevenção e Combate ao Conduta Anti-Social e a Delinquência Juvenil

Com a problemática do comportamento anti-social e da delinquência juvenil muitos

autores criaram estratégias que podem contribuir para que os adolescentes possam ter

comportamento pró- social. Pretendemos começar a dar relevância nas práticas parentais pelo

simples facto de que as práticas parentais estabelecidas entre pais e filhos, desde os primeiros

anos de vida, têm sido notados como uma das principais estratégias no processo de

desenvolvimento do comportamento bem visto na sociedade.

Praticas Parentais (Não Coercivas)

As estratégias empregadas pelos pais com o objectivo de promover a socialização de

seus filhos são, o que a literatura refere como práticas parentais educativas, disciplinares ou

de cuidado. Os pais geralmente usam uma combinação de vários métodos e irão variá-los de

acordo com a situação, além disso, os métodos também irão entrelaçar com um conjunto de

posturas e sentimentos parentais, não necessariamente todos consistentes entre si. (Grusec &

Lytton, 1988, citado por Pacheco 2004).

Outros salientam que quando o filho se sente admirado pelos seus pais, torna- se

muito mais fácil mostrar regras, pois ele percebe melhor os valores morais dos seus pais.

Quando o meio é caloroso e confortável as crianças aceitam mais facilmente as indicações e

punições dos pais por saberem que eles estão actuando com amor e preocupação. (Grusec,

Goodnow & Kuczynski, 2000; Severe, 2000; Weber, 2005, citado por Pacheco 2004).

Grande utilidade deve ser dada também ao uso de reforçadores positivos. Para

Sidman (2001), o reforçamento positivo é a principal técnica não-coercitiva de controlo de

conduta. O reforçador possui duas características que o definem: ele segue uma acção e ele

torna mais provável que a acção se repita. Sendo assim, os reforçadores positivos fortificam

as acções que o tenham produzido. O reforço positivo pode ser utilizado pelos pais para

estimular e fortificar comportamentos desejáveis em suas crianças, como também modificar

Page 18: Comportamento Anti-Social e a Deliquência Juvenil

18

os indesejáveis, além de ser uma excelente prática de controlo e modelagem de

comportamento, o reforço positivo oferece inúmeros efeitos positivos no desenvolvimento,

com também produz sentimentos de alegria, pois garantem às pessoas algo que elas desejam.

Ainda complementa falando que os pais que dão possibilidades para o recebimento de reforço

positivo, têm filhos mais felizes e competentes, e que as famílias que exercem reforçamento

positivo desfrutam de um benefício adicional: raramente surgem razões para castigo.

As regras são também cruciais para a prevenção do comportamento anti- social e da

delinquência juvenil, pois como sujeitos verbais, grande parte de seus comportamentos são

adquiridos através de descrições verbais, apresentadas como regras, e que especificam as

contingências do ambiente da criança. Quando as regras são justificadas e racional, a criança

assimila facilmente em que situações certos comportamentos devem ou não ser emitidos,

além de saber porque razões poderão ser revigoradas ou corrigida (Sousa & Baptista, 2001).

Ainda como prática não-coercitiva, é imprescindível a comunicação. A comunicação

está presente na vida das crianças, como falantes ou ouvintes, e enquanto ouvintes, a

comunicação pode ser fonte de instruções, direcções, aprendizados, reforçamento,

determinação de normas, entre outros. O comportamento verbal é de extrema relevância para

a interacção entre os seres humanos. É importante recordar que os pais que educam filhos

mais competentes e seguros (os pais participativos) são aqueles que estimulem o diálogo,

compartilham com a criança o raciocínio por detrás da forma como eles actuam e imploram

suas objecções quando ela se nega a consentir. Os pais também precisam ser bons ouvintes,

uma vez que o comportamento verbal de qualquer indivíduo é conservado pelo ambiente

verbal ou cultural, quando os pais ouvem seus filhos estão fortalecendo e garantindo a

comunicação expressa por seus filhos. Na medida em que os pais ouvem e dão importância

ao que os seus filhos falam estão dando um exemplo, ou seja, provavelmente os filhos

aprenderão a ouvi-los quando necessário, além disso, a comunicação positiva aparece como

factor de protecção em diversas pesquisas sobre relação pais e filhos. (Baumrind, 1966, citado

por Ana viezzer e Lidia Weber, 2005).

Programa de Intervenção para Prevenção a Delinquência Juvenil (Pais,

2012)

Como tínhamos dito anterior a o comportamento anti-social e delinquência juvenil são

um fenómeno que tem sido alvo de intervenção ao longo dos tempos. No entanto essas

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19

intervenções têm tido o seu centro na reabilitação, […] estratégias, essas actuam quando o

problema já existe. Nos últimos tempos têm-se actuado com o objectivo de criar estratégias

de Prevenção a actuar no âmbito da Delinquência juvenil, desvalorizando-se um pouco as

Estratégias de reabilitação (Negreiros, 2001, citado por Pais, 2012).

Baseado num programa de intervenção proposto por Pais (2012) que foi

implementado junto dos jovens que se encontram em Instituições por razões de negligência,

renúncia parental ou maus tractos.

O Programa de Intervenção tem como objectivos:

Criação de várias actividades que serão realizadas junto dos jovens e dos associados

da Instituição de Acolhimento que visam a fortalecimento e o aumento das ligações

afectivas;

Ajudar o processo vinculativo e a determinação de relações de afecto no seio das

Instituições;

Execução de acções que tornem o adolescente apto para a vida e na sociedade

aquando a saída da Instituição de Acolhimento;

Laborar junto dos jovens as habilidades de decisão diante de conflitos violentos;

Alertar a população face essa situação complexa que é a Delinquência juvenil.

Diante dos objectivos estabelecidos, pretende-se desenvolver tarefas que ajudem a

alcançar os objectivos, alertando a população sobre essa problemática que é a delinquência

juvenil, dando grande foco da intervenção aos jovens mas também operar a nível das

instituições e a nível familiar. O Programa apresenta as seguintes tarefas.

Descrição das Tarefas a Desenvolver e seus objectivos

Tarefa 1 - Recolha de informação para avaliação de necessidades:

Pretende-se, através da aplicação de Inquéritos aos cooperadores, através da aplicação

de uma Entrevista a membros da Instituição em evidência (Psicóloga ou Técnica), analisar as

carências destes jovens para, através da execução do projecto, serem criadas acções que

combatam essas necessidades. Pretende-se ainda compreender de que forma a inexistência de

vínculos familiares e a ausência de relações afectivas significativas poderá estar na base de

comportamentos anti-sociais.

Tarefa 2 - Campanhas de sensibilização no âmbito da Delinquência juvenil:

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Criação de cartazes e folhetos com a intenção de sensibilizar a comunidade para a

problemática da Delinquência juvenil, enfatizando a relação entre a ausência de vínculos e a

adopção de comportamentos anti-sociais.

Tarefa 3 - Realização de Palestras de Sensibilização face à temática da Delinquência

juvenil:

Consciencialização da comunidade para a problemática da Delinquência juvenil.

Sensibilização dos progenitores e os membros das Instituições face à problemática da

Delinquência juvenil, enfatizando a relação entre a ausência de vínculos e a adopção de

comportamentos anti-sociais.

Tarefa 4 - Desenvolvimento de estratégias cognitivas de resolução de conflitos:

Debate acerca das diferentes formas de resolução de conflitos, incentivando à procura

de propósitos alternativos para os mesmos, optando-se sempre pela resolução de conflitos na

ausência de comportamentos agressivos. Estimular à racionalidade no processo de tomada de

decisões, pensando-se sempre nos meios necessários para tingir os fins, bem como nas

consequências e as causas das diferentes acções que poderão ser tomadas, estimulando a

capacidade e a sensibilidade para a compreensão de problemas que eventualmente possam

surgir.

Tarefa 5 - Acções de Formação na área da Delinquência juvenil para os Técnicos

presentes nas Instituições:

Execução de formações realizadas por psicólogos e criminólogos com formação na

área da Delinquência juvenil, focalizadas aos membros da Instituição com o intuito de dar a

compreender a importância da vinculação e do afecto para os jovens, através da exibição de

filmes, realização de palestras, etc.

Pretende-se ainda dar formação a estes profissionais no âmbito da promoção e reforço

da conduta pro-social através de recompensas e o afastamento da conduta desviante, através

da aplicação de castigos, não muito severos, quando o jovem desenvolve condutas anti-

sociais.

Tarefa 6 - Treino das competências parentais:

Execução de formações realizadas por psicólogos e criminólogos, direccionadas aos

pais, com o intuito de dar a conhecer a importância dos valores familiares, através da

exibição de filmes, realização de palestras e divulgação de tácticas acerca da forma como

actuar no dia-a-dia com os jovens.

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Tarefa 7 - Terapia familiar funcional:

Uma vez que, grande parte dos jovens que se encontram na instituição, senão todos,

encontram-se institucionalizados devido à exibição a factores de risco no seu seio familiar,

será necessário lutar contra esses factores de risco para que estas famílias se tornem

funcionais e seja possível novamente a inclusão familiar destes jovens. Para tal é necessário

que se resulte à alteração dos padrões de comunicação e interacção no seio familiar e

resolução de problemas no seio familiar, através da comunicação verbal com o terapeuta.

Tarefa 8 - Actividades de reforço e valorização das relações afectivas e de promoção das

competências sociais:

Pretende-se efectuar actividades com os elementos da Instituição ABC que fortaleçam

os laços afectivos destes jovens com outros jovens e com os membros da sua instituição.

Realizar-se-ão nesse sentido peças de teatro que envolvam os técnicos e os jovens;

actividades escolares; passeios de convívio com outras Instituições, etc.

Page 22: Comportamento Anti-Social e a Deliquência Juvenil

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Conclusão

Ao longo desse trabalho foi possível concluir que o comportamento anti-social e a

delinquência juvenil são fenómenos que a cada dia esta a aumentar tonando-os em focos de

preocupação social, vimos também ser fundamental trabalhar no combate a esses fenómenos

visto que podem multiplicar-se no decorrer do percurso do indivíduo e originar grandes

males, podendo o colocar o individuo em conflito com a lei ou mesmo pôr termo à sua vida.

O comportamento anti-social e delinquência juvenil sucedem maioritariamente na

adolescência muito por causa das grandes mudanças físicas, psicológicas e sociais que

ocorrem nessa fase mas também por causas dos factores de natureza familiar, individual,

social ou escolar.

Foi de notar que é nas idades mais prematuras que deverá haver uma actuação diante

dos fenómenos do comportamento anti-social e da delinquência Juvenil, visto que, é mais

eficiente a prevenção em crianças e jovens, que se encontram a fabricar todos os dias a sua

personalidade e identidade ao contrário dos adultos que já fabricaram o seu “Eu” exclusivo

têm uma apreciação articulada sobre as normas. Então é fundamental a produção de

estratégias de prevenção a esses fenómenos, nomeadamente os adolescentes que se deparam

em situações de risco de exclusão social, originárias de famílias negligentes e

desestruturadas, física e economicamente, bairros degradados sem condições de habitação e

higiene, onde o desemprego e a pobreza é uma constante e o crime é uma forma de garantir a

sua sobrevivência.

Page 23: Comportamento Anti-Social e a Deliquência Juvenil

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