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PLANTA DANINHA VI (1): 39-50, 1983 COMPORTAMENTO DE BAIXAS DOSES DE HERBICIDAS NA CULTURA DA SOJA (Glycine max (L.) Merril). I - EFEITOS SOBRE O CONTROLE DAS PLANTAS DANINHAS E PARÂMETROS DE PRODUÇÃO DA CULTURA. J. C. DURIGAN* & R. VICTORIA FILHO** * Professor Assistente -Doutor da FCAV- UNESP. 14870 — Jaboticabal, SP. Professor Livre -Docente da ESOLQ-USP, 13400 — Piracicaba, SP. *** Parte da Tese de Doutoramente do primeiro autor. RESUMO Foi estudada a possibilidade de redução nas doses recomendadas de herbicidas, isolados ou em misturas, sem afetar a produção ou outras características desejáveis da planta, para o cultivar Santa Rosa em Solo Latossol Vermelho Escuro — fase arenosa. 0 experimento foi instalado em blocos ao acaso, com vinte tratamentos e três repetições, testando-se a dose total recomendada e reduções de 25% e 50% dela, para trifluralin, alachlor e metribuzin , isolados e em misturas. As doses recomendadas foram 0,86; 1,72 e 0,28 kg/ha de trifluralin, alachlor e metribuzin, res- pectivamente. As misturas com doses reduzidas, de tri-firalin + metribuzin (0,65 + 0,21 kg/ha) e alachlor + metribuzin (1,44 4 0,21 kg/ha), apre sentaram controle geral das plantas daninhas acima de 90% até o 60.° dia após a semeadura, sem apresentar fitotoxicidade ou efeitos deletérios sobre a nodulação da soja. O controle das plantas daninhas obtido com a redução de 25% nas doses destas misturas, foi equivalente ao da testemunha capinada e proporcionou valores similares nos teores de proteína, extrato etéreo e cinzas, peso de 100 grãos, número de grãos por vagem, altura da planta e altura da inserção da vagem mais baixa. As maiores prod uções de soja, obtidas com as misturas na dose total recomendada, foram estatisticamente iguais às obtidas com estes mesmos herbicidas aplicados com dose padrão reduzida em 25%. Desta forma, de acordo com as conveniências econômicas e ecológicas, sugere-s e que a recomendação atual destes tratamentos seja feito com as doses reduzidas em 25%, nas condições de desenvolvimento da presente pesquisa. Palavras chave: Soja, Herbicida, baixas doses, produção. SUMMARY BEHAVIOR OF LOW- RATES OF HERBICIDES IN THE SOYBEAN (Glycine max (L.) Merril) CROP. I - EFFECTS ON WEED CONTROL AND CROP YIELD PARAMETERS. It was studied the feasibility of reducing the recommended herbicide rate, single or in mixtures, without affecting the yield or other desirable plant fea tures, for cultivar Santa Rosa in "Dark-Red Latossol — sandy phase". ' The trials was settled at randomized block design with treatments repplicated 3 times, testing the full recommended rate, 25% and 50% reduction of full rate of trifluralin, alachlor and metribuzin alone and in mixtures. The re- commended rates were 8,06; 1,72 and 0,28 kg/ha of trifluralin, alachlor and metribuzin, respecti- velly. Mi xt ur es wi th reduced ra te s of trigluralin metribuzin (0,65 + 0,21 kg/ha) and alachlor + metribuzin (1,44 - 0,21 kg/ha) presented con trol rate higher than 90% up to 60th day after sowing without any phytotoxicity and delete rious effects on nodulation. Weed control achie ved by 25% reduction in herbicide rates was equivalent to hoeing and afforded si mi la r levels of protein, ether-extract and ash content, we ig h of 100 grains, number of grains per pod, p l a n t heigh and height of inferior pod insertion. The highest soybean yield, achieved with full rates of the mixtures were statistically si- milar to yields provided with 25% reduction of the recommended rates of same herbicides. Therefore, in accordance to economic and eco- logic conveniencies, it is suggested that the actual rate should be reduced 25%, under the conditions of this trial. Keywords: Soybean, herbicides, Low -rates, yield.

COMPORTAMENTO DE BAIXAS DOSES DE HERBICIDAS NA … · dose total recomendada e reduções de 25% e 50% dela, para trifluralin, alachlor e metribuzin, isolados e em ... métodos de

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PLANTA DANINHA VI (1): 39-50, 1983

COMPORTAMENTO DE BAIXAS DOSES DE

HERBICIDAS NA CULTURA DA SOJA(Glycine max (L.) Merril).

I - EFEITOS SOBRE O CONTROLE DAS PLANTASDANINHAS E PARÂMETROS DE PRODUÇÃO DA CULTURA.

J. C. DURIGAN* & R. VICTORIA FILHO*** P r o fe s s o r As s i s t e n t e - Do u t o r d a F C AV -

UNESP. 14870 — Jaboticabal, SP.

Professor Livre -Docente da ESOLQ -USP ,13400 — Piracicaba, SP.

** * Par te da Te se de Do ut ora mente do pri me ir oautor.

RESUMOFoi estudada a possibilidade de redução nas doses

recomendadas de herbicidas, isolados ou em misturas,sem afetar a produção ou outras característicasdesejáveis da planta, para o cultivar Santa Rosa emSolo Latossol Vermelho Escuro — fase arenosa.

0 experimento foi instalado em blocos ao acaso,com vinte tratamentos e três repetições, testando-se adose total recomendada e reduções de 25% e 50% dela,para trifluralin, alachlor e metribuzin, isolados e emmisturas. As doses recomendadas foram 0,86; 1,72 e0,28 kg/ha de trifluralin, alachlor e metribuzin, res-pectivamente.

As misturas com doses reduzidas, de tri-firalin +metribuzin (0,65 + 0,21 kg/ha) e alachlor + metribuzin(1,44 4 0,21 kg/ha), apresentaram controle geral dasplantas daninhas acima de 90% até o 60.° dia após asemeadura, sem apresentar fitotoxicidade ou efeitosdeletérios sobre a nodulação da soja. O controle dasplantas daninhas obtido com a redução de 25% nasdoses destas misturas, foi equivalente ao da testemunhacapinada e proporcionou valores similares nos teores deproteína, extrato etéreo e cinzas, peso de 100 grãos,número de grãos por vagem, altura da planta e altura dainserção da vagem mais baixa.

As maiores produções de soja, obtidas com asmisturas na dose total recomendada, foramestatisticamente iguais às obtidas com estes mesmosherbicidas aplicados com dose padrão reduzida em25%. Desta forma, de acordo com as conveniênciaseconômicas e ecológicas, sugere-se que arecomendação atual destes tratamentos seja feito comas doses reduzidas em 25%, nas condições dedesenvolvimento da presente pesquisa.

Palavras chave: Soja, Herbicida, baixas doses,produção.

SUMMARYBE HAVI OR OF LO W-RA TE S OF HE RB IC IDESIN TH E SOY BE AN (G ly ci ne ma x (L .) Mer ri l)CROP. I - EFFECTS ON WEED CONTROL ANDCROP YIELD PARAMETERS.

I t was stud ied th e feas ib i l i t y o f reduc ingthe reco mmended herb i cid e rat e , s ingl e or inmixtures , wi thout af fect ing the yi eld or o therdes ir ab le pla nt fe a tu re s, fo r cu lt iv ar Sa nta Ro sain "Dark-Red Latossol — sandy phase". '

Th e trials wa s set t led at randomi zed blockd e s i gn wi th t r e a t me n t s r ep p l i c a t ed 3 t i me s ,te st in g th e fu ll reco mmen de d ra te , 25 % an d 50 %redu ct io n of fu ll ra te of tr if lu ra li n, al ac hl or an dm e t r i b u z i n a l o n e a n d i n m i x t u r e s . T h e r e -co mmen de d ra te s were 8, 06 ; 1, 72 and 0,28 kg/h aof tr if lu ra li n, al ac hlo r an d me tr ib uzi n, re sp ec ti -velly.

Mi xt ur es wi th redu ce d ra te s of tr ig lu ra li nmetr ibuzin (0 ,6 5 + 0,21 kg/ha) and alachlor +met r ibuzin (1 ,44 - 0 ,21 kg/ha) presen tedcon t rol rate h igher than 90% up to 60th dayafter sowin g without an y ph yt o tox ici ty anddelet e ri ou s ef fe ct s on no dul at io n. We ed co nt ro lac hie ved b y 2 5 % red u ct ion in h erb i c id e rat esw as eq uiv al en t to ho ei ng an d af fo rd ed si mi la rle ve ls of pro te in , et her -ex tr ac t an d as h co nt en t,we ig h of 100 grains, numb er of grains per pod,plant heigh and height of inferior pod insertion.

The highest soyb ean yi eld , ach ieved wi thfu ll rates of the mixt u res were sta t i st ical ly si -mi la r to yi el ds pro vi ded wi th 25% re duct io n oft h e r e co mme n d ed r a t e s o f s a me h e rb i c id e s .Th erefo re, in accordance to economi c and eco-lo g ic con ven ien c i es , i t i s su gges t ed th a t th eactual ra te should be reduced 25%, under theconditions of this trial.

Keywo rds: So ybean , herb i c ides , Lo w -rates ,yield.

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INTRODUÇÃOO controle das espécies daninhas em

uma determinada cultura com o uso deherbicidas deve ser feito empregando-sedoses mínimas suficientes para atender aoperíodo em que a associação fatalmenteserá maléfica à quantidade e qualidade doproduto colhido.

Para um mesmo herbicida a persis-tência no solo e consequentemente suaação, varia com a dose empregada e sofreinfluências marcantes das propriedadesdos solos, das condições climáticas e dosmétodos de aplicação. Por esta razão, umdado experimental obtido em uma regiãonão pode ser utilizado para outra,sobretudo se as condições edáficas eclimáticas foram diferentes (4).

As indicações das doses dos herbici-das, atualmente, apresentam-se muito rí-gidas e generalizadas para as diferentesregiões do país, sendo que para determi-nados locais elas são superestimadas e emoutros subestimadas. Este tipo de estudodeve ser regional ou até mesmo comobservações específicas para cada pro-priedade, em diferentes tipos de solos,principais cultivares, vários anos agríco-las e diversas combinações e misturas deherbicidas.

A quantidade de herbicida suficientepara atuar no local primário de ação edesencadear todo o processo de into-xicação levando a planta à morte, é bas-tante baixa. Desta forma, uma porcenta-gem baixíssima do que é aplicado origi-

nalmente será suficiente para o bomdesempenho do produto na área tratada(27).

Vários trabalhos, nas mais variadascondições brasile iras, já mostraram apossibi lidade de redução nas doses dealgumas misturas padrões de herbicidaspara a cultura da soja, sem prejuízo dequalquer natureza (5, 9, 18, 22, 29, 36 ).Da mesma forma, em outros países, che-gou-se à conclusão que os tratamentosque apresentaram maiores produções nãoforam necessariamente os que mostrarammelhores controles do mato (16, 17 ).

O problema da fitotoxicidade tam-bém deve ser levado em consideraçãoquando se determina doses de herbicidaspara a cultura em questão (3, 7, 19, 21,33, 34 ).

Alguns trabalhos também já deter-minaram que certas misturas comprova-damente eficien tes em doses padrões in-dicadas, proporc ionam períodos de con-trole excessivamente dilatados. SegundoHonda et alii (20 ), as misturas de triflu-ralin e metribuz in nas doses de 0,86 +0,63 kg/ha, proporcionaram excelentecontrole das plantas daninhas até 120dias após a aplicação.

Desta forma, objetivou-se no presen-te trabalho, estudar a redução das dosesem alguns herbicidas padrões , principal-mente em misturas, sem se perder a efi-ciência no controle das plantas daninhase na capacidade de prdoução das plantasde soja.

Quadro 1 — Caracter ísti cas químicas e físicas do solo Latossol Vermelho-Escuro fase -arenosa. Jabo.ticabal, 1980.

BAIXAS DOSES DE HERBICIDAS EM SOJA

Quadro 2 — Herb ic idas ut il izados , com suas respec ti vas do ses e sub -do ses, al ém do tipo de ap li cação.Jaboticabal, 1980.

(a ) Do se pa dr ão (b ) 3/4 da dose pa dr ão (c) 1/2 da dose padrão(x) Treflan 480 g/1— Concentrado Emulsionável, Elanco Química Ltda.(y) Laço 43% - Concentrado Emulsionável. Indústria Monsanto S.A.(z) Lexone 70% — Pó-molhável, DuPont do Brasil S.A.ppi — pré-plantio incorporado.pré — pré-emergência.

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MATERIAIS E MÉTODOSO experimento foi instalado em solo

Latossol Vermelho-Escuro fase-arenosa 8) Série Santa Tereza (1 ), cujas carac-terísticas físicas e químicas são apresen-tadas no Quadro 1. A semeadura, junta-mente com a adubação, do Cultivar SantaRosa, foi realizada no dia 27/11 '1980.

O delineamento experimental adotadofoi o de blocos ao acaso, com vintetratamentos e três repetições, sendo que asparcelas tinham uma área total de 28,8 m2.

Os tratamentos constaram de dosespadrões recomendadas, reduções de 25%,ou seja, 3/4 da dose padr ão e reduçõesde 50% ou metade da dose padrão, paraos herbicidas, isolados ou em misturas .Além disso, foram mantidas duas teste-munhas ( com e sem capina o ciclo todo ).

O estabelecimento das doses padrões sebasearam nas informações contidas

nos boletins da Secretaria de Defesa Sa-nitária Vegetal — Divisão de ProdutosFitossanitários (DIPROF) do Ministérioda Agricultura, onde constam as dosesindicadas para a cultura na época do seuregistro. Também foram baseadas nosboletins técnicos distribuídos pelas pró-prias firmas produtoras. As indicações dasdoses padrões foram determinadas deacordo com as recomendações feitas parasolos com textura média e 1,5-3,0% dematéria orgânica.

As indicações das doses padrões dasmisturas dos herbicidas metribuzin +alachlor e metribuzin + trifluralin, foramfeitas com base na relação dos produtosregistrados ou renovados no período dejaneiro a março de 1978, páginas 20 e 22,da DIPROF, além do boletim intitulado"Só prá quem planta soja" distribuído noBrasil pela firma Du Pont do Brasil S/A.

Os herbicidas testados, com suas res-

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pect ivas doses e sub -dose s, além dos tiposde aplicações, encontram-se especificadosno Quadro 2.

A aplicação dos herbicidas foi feitacom pulverizador costal a pressão (CO2 )constante de 2,8 kg/ha cm2, munido debicos de jato plano ( "leque") com ângulode abertura do jato de 110 0, espaçados em0,5 m na bar ra e com um gas to de 450litros de calda por ha. Nas aplicações, avel ocidad e do ven to est ava ent re 1,5 e2,0 km /hora ; UR ar de 71,9 a 72,1 ; tem-peratura do solo a 5 cm de profundidadede 29,4 a 33,0°C ; temperatura ambienteà sombra de 24,5 a 26,0°C, o solo estavaúmido e destorroado e o horário sempreesteve entre 17:00 e 18:30 horas.

As contagens do número de plantasdaninhas, por espécie botânica, foramrea li za da s ao s 30 ( 27 /1 2/ 19 80 ) e 60(26/01/1981) dias após a semeadura dasoja. Em cada parcela foi lançado, ao aca-so, por cinco vezes , um retângulometáli co de 0,4 x 0,8 m, totalizando áreade amostragem de 1,6 m2, ou 5,6% da áreatotal da parcela.

A nodulação foi aval iada pelo pesoda matéria seca de nódulos , aos 67 diasapós a semeadura . Foram ret irados dasraízes de dez plantas por parcela, sendomuito bem lavados e secos a uma tempe-ratura de aproximadamente 60°C, até pe-so constante (24 ). Esta avaliação se deudurante o plen o flor esci mento das plan -tas de soja, que teve início 60 dias após asemeadura.

Do tot al de grã os col hid os por par -cel a, for am ret ira das amo st ras para asanálises de proteína, extrato-etéreo e cin-zas. A metodologia seguida para tais aná-lises se basearam em A.O.A.C. (2) e Sar-ruge e Haag (30 ).

Para se obter a produção de grãos porumidade de área, foram colhidas duaslinhas com cinco metros de compri-mento. Com as plantas desta área tam-bém foram medidos outros parâ metros deprodução, que são : altura de inserção davagem mais baixa, número de vagens porplanta, peso de 100 grãos e númerode sementes por vagem.

RESULTADOS E DISCUSSÃOOs res ult ado s de con tro le das pri n-

cip ais pla nta s dan inh as da áre a enc on-tram-se nos Quadros 3 e 4, para as ava-liações real izad as aos 30 e 60 dias apósa semeadura da soja, respectivamente.

Os herbicidas testados mostraram-sebastante eficientes para o controle dogrupo de plantas daninhas a que são re-comendados, ratificando os bons resulta-dos já obtidos por diversos pesquisadores,nas mais variadas condições edafo-climáticas (10, 11, 23, 26, 32, 35 ).

As principais plantas daninhas mo-nocotiledôneas que infestaram a área, ouseja, capim-carrapicho, capim-pé-de-gali-nha, capim-colchão e capim-marmelada,foram muito bem controladas pelo triflu-ralin e pelo alachlor. As porcentagens decontrole sempre estiveram acima de 90%,mesmo na avaliação efetuada aos 60 diasapós a semeadura da soja, principalmen-te para os tratamentos em que estes her-bicidas foram aplicados na dose padrãorecomendada ou que se reduziu para 3/4dela. Também foram obt idos bons con-trol es das principais dico tiledônes coma aplicação de metribuzin , na super fície( MY) do solo ou incorporado (M).

De modo geral, pode-se observar queas porcentagens de controle foram meno-res quando as doses fo ram reduzidaspar a a met ade daq uel a con sid erada pa-drão , em todos os herb icidas test ados enas duas avaliações realizadas.

Os herbic idas portanto , mostraramuma açã o mai s ace ntu ada e esp ecí ficasobre determinadas espécies de plantasdaninhas e como são comun s as infesta-ções mistas das chamadas "folhas largas"e "folhas estreita s" como a que ocor reuna área experimental em questão, as mis-turas e as combinações de herbicidas apa-recem como uma interessante opção, poispermitem reduzir as doses e aumentarsensivelmente o espectro de ação.

Os result ados de contro le geral (mo -no + dicoti ledôneas) foram sensivelmen -te maiores para as mis turas de tri flura-lin + metribuzin e alchlor + metribuzin.

BAIXAS DOSES DE HERBICIDAS EM SOJA 45

Observa-se ainda que, mesmo com as do-ses reduzidas em 50%, os resultados decontrole (sempre acima de 85% para aprimei ra avaliação e acima de 80% paraa segunda) para as misturas, foram su-periores aos obtidos para os mesmos pro-dutos aplicados isoladamente e em dosetotal.

As mist uras levam níti da vant agemno que se diz res pei to ao con tro le dasplantas daninhas e em consequênc ia dis-so , não pe rmit em que a cultur a so fracom a competição imposta pelas espéciesnão cont ro ladas como ocor re com osprodutos apli cados isol adam ente . Pode -se obse rvar , pe los dados da pr im ei raavaliação , que o tri flu ral in na dose pa -drão (T 1) controlou apenas 49,5% dasplantas de quanxuma e da mesma formao metr ibuz in, apli cado na supe rfíc ie dosolo (MY1) controlou 66,7% do capim-colchão. A mistura de trifluralin + me-tribuzin na dose padrão (TM1) controlou,nesta mesma época, 90,5 e 100,0% deguanxuma e capim-colchão, respectiva-mente. Des ta forma, no tra tamento emque se testou mistura, praticamente nãohouve comp etição com as plantas dani-nha s que escapa ram ao con tro le e ist opode trazer claros benefícios à produçãofinal de grãos.

Não se obse rvaram quai sque r sint o-mas de intoxicação pelos herbicidas estu-dados , duran te todo o ciclo da cultu ra eesta parece ser uma séria vantagem dadiminuição das doses dos herbicidas.

Nas Figu ras 1 e 2 são apresentadosos resultados de número de vagens porplanta e produção de grãos por ha, res-pectivamente.

Em relação ao número de vagens porplanta, verifica-se claramente que apenasas misturas nas doses padrão e com 25%de redução , se mantiveram no mesmo ní-vel da tes temunha que foi capinada du -rant e todo o cicl o. Em termos prát icos ,um herbicida deve proporcionar à cultu -ra, resultados de produção igua is a estetip o de tes temunh a, para que pos sa setornar realmente comp etit ivo no merca-do. É evidente que a produção de grãos

mostrou a mesma tendência, ou seja, asmi st ur as ci ta das ap re se nt ar ampr od uções praticamente iguais à obtida natestemunha cap inada (3018,78 kg/ha ).Ficou mais uma vez confirmado que o nú-mero de vagens por planta é uma dascaracterísticas mais afetadas pela compe-tição, talvez devido a algum possível efei-to deletério sobre alguma ( s ) fase (s) deflorescimento.

O controle das plantas daninhas pro-porcionado pelas doses padrão e reduzidados produtos isolados ou pelas misturascom 50% das doses não foram suficientespara evitar quedas de produção. Houveum gradiente de queda no número devagens e na produção de grãos, às vezessem significância estatística de acordocom a diminuição das doses, dos herbici-das aplicados isoladamente.

Com o era de se esp era r, a tes tem u-nha sem cap ina apr ese ntou sev erasre duções, em relação à capinada, nonúmero de vag ens por pla nta e napro duç ão de grãos, ou seja, de 50% e48%, respectivamente.

Como o objet ivo final é a produçãode grãos , as mistu ras, na dose padrão ecom redução de 25% dela, aparecem co-mo a melhor opção técnica para o con-trole químico das plantas daninhas nacultu ra da soja, por um período de 60dias após a semeadura, que é temposuficient e para evita r o perío do decompetição total neste culti var.

Logicamente, a melhor opção nemsempre é a mais viável economicamente.Alguns autores já mostraram a possibili-dade de racional izaç ão no empregodestes produtos químicos, integrando-oscom o método mecânico, cuja utilização ébastante comum nesta cultura (6, 17).

Nem sempre são necessárias as mis-turas de herbicidas, pois a infestação dasplantas dani nhas pode ser representadapor algumas poucas espécies que por suavez podem ser con tro lad as facil men tepor um só herbicida, mesmo com dosesdiminuídas. No experimento em questão,melhores resultados foram obtidos com

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Figura 1 - Médias do númer o de vagens por plant a do cul tivar Santa Rosa, sub met ido aosdifer entes tratamento s com her bicidas, isolados ou em mis tura. Jaboticabal, 1980.

Figura 2 - Médias de produção de grãos (kg/ha) do cult ivar Santa Rosa, sub metido aos di fer entestrata mento s com herbicidas , isolados ou em mistura. Jaboticabal, 1980.

o emprego das misturas devido a variadaocorrência de espécies daninhas na área.

No Qaudro 5 são apresentadas asmédias dos dados obtidos nas avaliaçõesde características morfológicas, de pro-du çã o e de co mp os iç ão qu ím ic a do sgrãos.

O peso de 100 grãos não apresentoudif ere nça s sig ni fic ati vas ent re os dif e-rent es trat amen tos test ados , junt amentecom o número de grãos por vagem eteores de prot eína, ext rato-etéreo ecinzas dos grãos.

Vários trabalhos já evidenciaram apouca sensibilidade destes parâmetros às

variações de fatores externos (15, 28, 31).No experim ento em ques tão , o númerode plantas daninhas que escaparam aocontrole em alguns dos tratamentos tes-tados, não foram suficientes para trazerreduções nestas características.

Em um trabalho com dessecamentopré -col hei ta, Dur iga n et al (14 ) mos -traram que os teores de proteína, extrato-etéreo e cinzas dos grãos já não eram maisalter ados aos 54 dias após o início doflo res cim ent o nos cul tiv ar Viçoj a.Para o cult ivar Santa Rosa isto ocor reuaos 75 dias após o início do floresc imen-to (13).

Nas parcelas onde o controle foi me-

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nor, pode-se no ta r uma tendência dasplan tas de soja sere m maio res (namaioria das vezes sem diferençasestatisticamen te signif ica tiv as ent re ostra tam entos ), devido à competição pelaluz imposta pelas plantas daninhasremanescentes aos tratamentos.

Pelo Quadro 5 observa-se ainda quea competição muito mais intensa na tes-temunha sem capina, duran te o ciclo to-do, levou à atrof ia no crescimento dasplantas como mostr a a altur a final . Istopode ser confi rmado através dos resul ta-dos obtidos para a cultura de inserçãoda vagem mais baixa que é umacarac terís tica não muito sensível, masque apresentou redução (ao redor de 3cm) signi ficativa estat isticamente emrelação a todos os demais tratamentos.

Pa ra a re co me nd aç ão ra ci on al docontro le químico das plantas dan inh as,é necessário conhecer-se, além das infor-mações sobre a fitotoxic idade do produtoà cul tura, a eficiên cia no cont role , easpectos econômicos da sua aplicação, ospossíveis efeitos colaterais benéficos, oudeletérios dos herbicidas na atividademicrobiana do solo, ou pelo menos, naatividade de determinados microorganis-mos que têm implicações diretas no pro-cesso de produção. Neste experimentotambém se avaliou o efeito dostratamentos sobre a nodulação dasplantas (Quadro 5) e não se constatoudiferenças estatisticamente significativasentre os tratamentos.

Poucos trabalhos foram feitos emnosso meio para estudar a influência deherbicidas na nodulação de leguminosas.Os herbicidas usados no presente experi-mento foram estudados anteriormentetambém no cultivar Santa Rosa porDeuber et alii (12 ). 0 trifluralin ( 0,96kg/ha ), o ala chl or (2, 40 kg/ ha) e omet rib uzi n (0,63 kg/h a) foram test adosjunt amente com diferentes populações deplantas e apenas o primeiro herbicidareduziu o número e peso de nódulos emum dos experimentos realizados.

Vários herbicidas foram testados emcondições ecológicas muito próximas as

do presente experimento; entre eles es-tavam o trifluralin e o alachlor, nas dosesde 0,26 e 1,92 kg/ha, respect ivamen te(24 ). Verificou-se não haver efeitosprejudiciais de nenhum dos herbicidassobre a nodulação, avaliada através dopeso de nódulos de dez plantas por par-cela, assim como também não houve di-ferenças signifi cativas entre os tratamen -tos para a época de floração , altura finaldas plantas , inserção da vagem maisbaixa, maturação e, produção; de grãos.

A redução das doses efetuada nopresente experimento, certamente contri -buiu para a não interferência na popula-ção do Rhyzobium e consequentemente nanodulação. A adequação das doses, dimi-nuindo -as, para se obter controle somen-te na época desejada, pode-se constituirem um benefício ecológico, além daque-les de natureza técnica e econômica.

O controle de Sorghum hapelensena cultura da soja foi estudado por McWhorter e Anderson (25) e obtiveramcorrelações lineares altamente significa-tivas entre o aumento na porcentagem decontrole várias características de produção,tais como a redução na quantidade deimpurezas nos grãos (r = 0,90 ), a reduçãono teor de umidade dos grãos por épica dacolheita (r = 0,86 ), a melhoria no nível dequalidade das sementes (r = 0,92 ), oaumento na produção de grãos ( r = 0,94) eo aumento do lucro (r = 0,96). No entanto,os autores tornam a salientar que esta éuma espécie daninha especial, que ocorreem pesadas infestações e sempre trazsérias perdas na quantidade e qualidade doproduto colhido, mas que tais conclusõesnão devem ser generalizadas ouextrapoladas.

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