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1 COMPORTAMENTO DE PLACAS REFLETORAS EM CONVERSORES DE ENERGIA DAS ONDAS. Marcus Vinicius Monteiro Marques Luiz Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz Orientador: Eliab Ricarte Beserra Rio de Janeiro Julho de 2020

COMPORTAMENTO DE PLACAS REFLETORAS EM …

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COMPORTAMENTO DE PLACAS REFLETORAS EM CONVERSORES DE

ENERGIA DAS ONDAS.

Marcus Vinicius Monteiro Marques Luiz

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz

Orientador: Eliab Ricarte Beserra

Rio de Janeiro

Julho de 2020

~~ Mecânica

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Dcpurtamcnto de Engenharia Mecânica

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COMPORTAMENTO DE PLACAS REFLETORAS EM CONVERSORES DE

ENERGIA DAS ONDAS.

Marcus Vinicius Monteiro Marques Luiz

PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO

DE ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO MECÂNICO.

Aprovado por:

fre de Almeida Cruz, Ph.D.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

JULHO DE 2020

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Departamento de Engenharia Mecânica

DEM/POLI/UFRJ

COMPORTAMENTO DE PLACAS REFLETORAS EM CONVERSORES DE

ENERGIA DAS ONDAS.

Marcus Vinícius Monteiro Marques Luiz

PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO MECÂNICO.

Aprovado por:

________________________________________________

Prof. Daniel Onofre de Almeida Cruz, Ph.D.

________________________________________________

Prof. Eliab Ricarte Beserra, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Fábio Luiz Zamberlan, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Joel Sena Sales Junior, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

Julho de 2020

3

LUIZ, Marcus V. M. M.

Comportamento de placas refletoras em conversores de

energia das ondas - Rio de Janeiro: UFRJ / Escola

Politécnica, 2020.

IX, 75 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadores: Daniel Onofre de Almeida Cruz / Eliab

Ricarte Beserra

Projeto de Graduação – UFRJ / Escola Politécnica /

Curso de Engenharia Mecânica, 2020.

Referências bibliográficas: p. 72-73.

1. Hidrodinâmica. 2. Conversão de Energia das Ondas.

3. Ansys Aqwa.

4. Teoria Potencial Linear 5. Point Absorber.

I. Onofre de Almeida Cruz, Daniel. II. Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Engenharia Mecânica.

III. Comportamento de placas refletoras em conversores de

energia das ondas.

4

Agradecimentos

Minha trajetória pela Escola Politécnica da UFRJ foi bastante longa e intensa. Participei

de diversas iniciativas estudantis e agradeço a todo corpo discente pelo espírito desbravador e

inquieto que mantém estas ações vivas. Diretamente deixo minha gratidão para o Sangue da

UFRJ, Equipe Ícarus de Fórmula SAE e ao Laboratório de Simulação e Métodos em

Engenharia do Programa de Engenharia Nuclear. Também agradeço pelo suporte e apoio da

turma do Ciclo Básico de Engenharia que ingressaram nesta instituição ainda cheio de dúvidas

sobre qual caminho seguir e só decidiram sua habilitação depois de 2 longos anos. Após

conseguir finalmente estar dentro do curso de Engenharia Mecânica, agradeço ao departamento

pelo suporte e as aulas ministradas.

Em especial, dedico este trabalho aos meus amigos do Ciclo Básico que continuam

comigo até hoje, Juliana Correia, Clara Catabriga, Ingrid Kreischer, Bruno Freijanes e Anna

Campanati. Também menciono Gilmar Bueno e Beatriz Pereira que foram companheiros

dentro do Sangue da UFRJ e me ensinaram bastante. Agradeço a Alice Cunha que me ajudou

na decisão de fazer Iniciação Científica no LASME e também ao D.Sc. Eduardo Hwang e ao

Prof. D.Sc. Su Jian pela orientação durante essa jornada. Da equipe do LASME, também

destaco Tamires Rigoni, Valéria França e ao Felipe Duarte pela companhia no laboratório.

Para fechar os agradecimentos aqueles ligados a UFRJ, devo mencionar os meu

orientadores deste projeto, o Pesquisador D. Sc. Eliabe Ricarte do PPE e o prof. D. Sc. Daniel

Onofre por me confiarem, acompanharem e me iluminarem neste projeto.

Agradeço aos meus pais, Mônica Chagas e Gilson Marques pela paciência e apoio

durante esta graduação.

5

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

COMPORTAMENTO DE PLACAS REFLETORAS EM CONVERSORES DE ENERGIA

DAS ONDAS.

Marcus Vinicius Monteiro Marques Luiz

Julho/2020

Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz

Orientador: Eliab Ricarte Beserra

Curso: Engenharia Mecânica

O recurso energético das ondas é pouco explorado tanto no país quanto a nível mundial.

Como as ondas são um fenômeno constante e com bastante potencial energético, este trabalho

se propôs a entender como potencializar a geração de energia das ondas utilizando placas

refletores em gerador de energia point absorver. Diversos modelos de layout de sítios foram

simulados no programa Ansys Aqwa que calculou o RAO do flutuador pelo métodos dos

painéis. Com base nas curvas de RAO, foi montada uma rotina de pós-processamento no Excel

para os cálculos do movimento de resposta do flutuador, da potência média absorvida e do fator

de captura. Com isso, foi visto que as placas refletoras causam um aumento da altura de onda

e com a configuração adequada melhora a performance de um flutuador do tipo point absorver.

Palavras-chave: Energia das ondas, point absorver, teoria do potencial linear, Ansys Aqwa,

Otimização.

6

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Mechanical Engineer.

REFLECTORS SHIELD BEHAVIOUR IN WAVE ENERGY CONVERTERS.

Marcus Vinicius Monteiro Marques Luiz

July/2020

Advisor: Daniel Onofre de Almeida Cruz

Advisor: Eliab Ricarte Beserra

Course: Mechanical Engineering

The wave energetical resource is little explored both in the country and worldwide. As

waves are a constant phenomenon and have a lot of energy potential, this work aimed to

understand how to enhance the generation of wave energy using reflective shield in a point

absorber energy generator. Several sites layout were simulated in the Ansys Aqwa program,

which calculated the RAO of the buoy using panel methods. Based on the RAO curves, a post-

processing routine was created in Excel for calculating the response movement of the buoy, the

average power absorbed and the capture factor. With this, it was seen that the reflective plates

cause an increase in the wave surface elevation and with the appropriate configuration

improves the performance of a point absorber buoy.

Keywords: Wave energy, point absorver, Linear potential theory, Ansys Aqwa, Optimization.

7

Sumário

1 - Introdução………………………………………………………………………………….9

2 - Revisão Teórica………….………………………………………………………………..11

2.1 - Energia das ondas……………………………………………………………….11

2.2 - Histórico………………………………………………………………………...13

2.3 - Tecnologias……………………………………………………………………..14

2.3.1 - Classificação em função da profundidade……………………………14

2.3.2 - Classificação em função da direção de onda…………………………15

2.3.3 - Classificação em função do princípio de funcionamento…………….16

2.4 - Ondas de gravidade……………………………………………………………..19

2.4.1 - Ondas regulares……………………………………………………….20

2.5 - Teoria potencial…………………………………………………………………21

2.6 - Formulação matemática………………………………………………………...22

2.6.1 - Potencial energético da onda………………………………………….22

2.6.2 - Equação do movimento do flutuador………………………………....23

2.6.3 - Potência Extraída……………………………………………………..24

2.6.4 - Fator de Captura……………………………………………………....24

2.6.5 - Mar real……………………………………………………………….25

2.7 - Conversão e Sistema de Power Take-off (PTO)..................................................26

3 - Metodologia……………………………………………………………………………....28

3.1 - Conversor de Energia das ondas………………………………………………..28

3.2 - Sítio……………………………………………………………………………..29

3.3 - Layout…………………………………………………………………………..31

3.4 - Simulação Computacional………………………………...……………………35

4 - Discussão e Resultados…………………………………………………………………...37

4.1 - Teste de convergência……………………………………...…………………...37

4.2 - Influência do Refletor…………………………………………………………..40

4.3 - Influência da profundidade no Refletor………………………………………...42

4.4 - Influência do comprimento do Refletor………………………………………...45

4.5 - Influência do ângulo de abertura no Refletor…………………………………...47

8

4.6 - Influência da posição do Refletor no oceano…………………………………...49

4.7 - Influência do Refletor na altura de onda………………………………………..51

4.8 - Influência da posição do flutuador em relação ao refletor……………………...52

4.9 - Configuração final Sugerida…………………………………………………....58

4.10 - Estudo de Caso: Mucurípe…………………………………………..………...60

4.11 - Análise do Espectro de Pierson-Moskowitz…………………………………..66

4.12 - Discussão……………………………………………………………………...68

5 -Conclusão………………………………………………………………………………….72

6 - Referências………………………………………………………………………………..74

9

1- Introdução

O planeta teve vários momentos históricos que revolucionaram a produção industrial e

o consumo que foram marcados pela utilização de uma nova fonte de energia. O primeiro marco

foi invenção da máquina a vapor na Inglaterra do século XVIII a qual iniciou o processo de

manufatura que vemos hoje, com a descoberta do motor a Diesel, a indústria conseguiu

máquinas mais eficientes e a configuração próxima da atual. Mesmo em 2015, óleo e carvão

representam 59,8% da energia primária produzida no planeta segundo a Agência Internacional

de Energia[1].

Na metade do século XX conseguiu-se utilizar a radioatividade em substituição dos

antigos minérios nos ciclos de potência, iniciando-se a indústria Nuclear que temos atualmente.

Apesar de possuir uma densidade energética maior, as usinas termo-nucleares possuem um

custo de construção muito elevado e apresentam um alto risco para sociedade e meio ambiente

em casos de acidentes. Contudo, a energia nuclear possui uma característica importante para a

atmosfera do planeta já que não produz gás carbônico(CO2) ao fim do processo de geração de

energia. Como os recursos utilizados nessas tecnologias se esgotam conforme seu uso, ou seja,

não se renovam com facilidade no planeta, foi necessário estudar novas formas de suprir a

demanda energética mundial.

Diante desse cenário surgiram fontes alternativas que não se findam e agridem menos

o planeta. Esse novo campo de estudo compreende fontes geradoras de energia que além da

vantagem descrita anteriormente em sua maioria também são consideradas energias limpas, ou

seja não aumentam a poluição atmosférica ou destroem a camada de ozônio. A energia nuclear

é limpa porém seu insumo básico, urânio-238, é um minério com estoque finito no planeta.

Diferentemente dos cenários anteriores em que se tinha uma única tecnologia em

destaque as fontes alternativas extraem energia de formas distintas. Isso representa uma

vantagem estratégica importante já que evita a dependência de matérias-primas que podem

ficar escassas devido a problemas políticos e econômicos. Segundo a Empresa de Pesquisas

Energéticas(EPE), o Brasil utiliza mais de nove fontes de produção de energia primária em

2017 sendo que 40,8% dessa produção são de energias renováveis e 59,2% provêm de energias

não- renováveis. [2]

Colocando uma lupa nos dados mencionados acima vemos que a EPE destaca recursos

hídricos, lenha, Produtos da Cana, recursos eólicos e recursos solares como as principais fontes

de energia renováveis brasileira. Os 3 primeiros somam 86,114% da energia renovável primária

produzida no país em 2017. Esses dados confirmam o compromisso do país com segurança

energética visto que possuímos diversidade na matriz energética entretanto abre espaço para

discussão sobre como utilizamos os recursos renováveis. Hoje, o mercado possui bastante

espaço para explorar energia eólica, solar e a energia da marés. Devemos levar em consideração

também a extensão de 8500km[3] da costa brasileira que abrange 17 estados brasileiros dentre

eles os mais populosos e consequentemente que possuem uma maior de demanda de energia.

A energia reservada dentro dos oceanos é bastante promissora, já que o potencial

energético teórico em toda região costeira do planeta está estimado da ordem de

20000TWh/ano até 92000TWh/ano. [4] Outras vantagens desse tipo de recurso energético é

não ocorrer de forma intermitente que ocasiona em uma maior densidade de energia em

10

comparação com outras fontes renováveis. A radiação solar possui um intensidade típica de

0,1~0,3kW/m² de área horizontal na superfície terrestre. As diferenças de radiação ao longo do

globo gera o deslocamento de massa de ar com diferentes velocidades, que proporciona ao

ventos uma concentração de energia média de 0,5kW/m² de área projetada na direção

perpendicular a direção de propagação dos ventos. Quando a superfície de água dos oceanos é

excitada pelo deslocamento de ar, há formação de ondas que possuem uma potência de

2~3kW/m² de área perpendicular a direção das ondas. Estima-se que as máquinas de conversão

de energia das marés consigam trabalhar 90% do tempo, enquanto os conversores eólicos e

solares são ineficientes durante 70%~80% do tempo de operação.[5]

Existem ainda alguns desafios a serem superados para termos o estado da arte em

energia proveniente dos oceanos, e por isso muitos estudos tem sido feito nesse campo. Cerca

de mil patentes já haviam sido registradas no mundo sobre máquinas de geração de energia das

ondas marítimas em 1980 e esse número tende a aumentar.[6] Essa grande quantidade de

estudos e registros se deve ao fato de que cada equipamento precisa de adaptação ao sítio

escolhido devido às diferenças no regime de cada bacia e oceano e isso faz com que cada

projetista tente alcançar a optimização de geração de energia com aquele sítio.

Este trabalho tem como principal objetivo analisar o desempenho de um conversor de

energia das ondas marítimas do tipo point absorber com a adição de concentradores de

escoamento. Será estudado uma determinado sítio o comportamento desta máquina com

diferentes geometrias do flutuador, diferentes tipos de concentradores de escoamento,

diferentes direções de onda e diferentes batimetrias.

Para realizar este trabalho, irá ser utilizado uma simulação numérica computacional de

desempenho hidrodinâmico do conversor, com o software Ansys-Aqwa e o processamento de

dados com o software Excel.

Com o presente estudo deve-se descobrir qual a melhor configuração do equipamento

dado o sítio escolhido e destacar parâmetros que influenciam o desempenho do conversor

independente do regime de ondas incidentes.

11

2- Referências Bibliográficas

2.1- Energia das ondas

Energia térmica, energia mecânica e energia química são as formas de energia presente

no oceanos. A primeira está relacionada com o aquecimento da superfície oceânica pela luz

solar em contrapartida as profundezas possuem temperaturas menores, esse gradiente pode ser

utilizado para alimentar um Ciclo Rankine. A energia química deriva da mistura de diferentes

fluxos de escoamentos com variadas concentrações de sal. Nosso campo de estudo, a energia

mecânica está presente no movimento das águas que são excitadas pelo vento, este que é

resultado do movimento de rotação da Terra.

A energia mecânica pode ser convertida das águas oceânica basicamente de duas

formas: energia das marés e energia das ondas. A maré é um fenômeno devido a ação das forças

gravitacionais entre a Terra e a Lua, enquanto as ondas como dito anteriormente ocorre a partir

da ação dos ventos. Conforme a figura 1, pode se ver a quantidade de energia contida no oceano

segundo o tipo de onda e concluímos que as marés e as ondas de gravidade são as mais

adequada para conversão de energia, sendo a última objetivo deste estudo.

Figura 1. Esquema da energia contida nos oceanos conforme a frequência da onda.[7]

Da figura 1, também é razoável observar que no espectro da frequência que compõe as

ondas de gravidade, existe uma forte proporcionalidade entre a energia contida na onda e seu

período ou frequência. Concluímos então que por causa da formação de ventos e ondas, a

distribuição do potencial de energia pelo globo terrestre não é uniforme, com podemos

confirmar pela Figura 2. Dentro da da faixa de 0,1Hz (s^-1) até 1Hz, conseguimos concluir que

a energia possui uma dependência linear com frequência onde decresce com o aumento da

frequência. Segundo o Centre for Renewable Energy Sources(CRES)[8], a energia da onda é

proporcional à frequência como também ao quadrado de sua amplitude, destaca-se que ondas

de grandes amplitudes(>2m) e período entre 7s e 10s possuem uma densidade de energia linear

superior a 40 kW/m.

12

Figura 2: Em cores, Densidade de potência média anual. Pelos vetores, direção preferencial

média anual das ondas. [9]

Na Figura 2, fica claro o potencial energético global mas também por cada oceano, que

são estimados em 70% da superfície terrestre. O Hemisfério Norte consciente do potencial de

seus mares já possui estudos avançados nessa área. Suas pesquisas começaram em 1970, hoje

em dia tecnologias já foram desenvolvidas e implantadas em países como Escócia com o

Pelamis, Reino Unido com o Oyster e País de Gales com o Wavedragon. Este último com

projeto de instalação também em Portugal.

Quando se olha o Brasil na Figura 2, percebe-se que a energia média anual na costa é

de 10kW/m até 20kW/m, abaixo de alguns países. Todavia, o nosso país representa uma grande

aposta neste tipo de tecnologia pois possui uma superfície costeira com mais de 8500km de

extensão e um historicamente um clima regular com baixa incidência de fenômenos naturais

severos que possam prejudicar a integridade estrutural das máquinas de conversão de energia.

Além de nos manter como uma potência nas energias renováveis, visto que nossa matriz

energética, diferentemente dos países desenvolvidos, possui uma predominância da

Hidroeletricidade.

A energia dos oceanos deve ter um papel estratégico no país porque ela pode ser usada

para redistribuir a configuração de capacidade instalada versus consumo nas regiões brasileiras.

Segundo o anuário de 2017 da EPE[10], a capacidade instalada nas regiões litorâneas do Brasil

representavam 68,9% da capacidade instalada do país enquanto o consumo nesses mesmos

estados eram de 79,4% da demanda nacional. Com a instalação de usinas maremotrizes,

podemos aumentar não só a capacidade instalada perto dos maiores estados consumidores,

como também evitar perdas de eficiência na transmissão.

Mencionado anteriormente, os projetos de energias das ondas causam baixo impacto

ambiental e Thorpe[11] classifica os efeitos desse impacto em algumas categorias como

podemos ver na Tabela 1.

13

Tabela 1- Impactos ambientais na utilização de energias dos oceanos.

Adaptado de Thorpe[11], p 153

Observando a Tabela 1, podemos confirmar que há pouco impacto no sítio de instalação

da usina de conversão das ondas. Mesmo assim é necessário realizar um estudo já que os

impactos variam de acordo com o sítio escolhido em função de clima, fauna e flora, como um

relatório de impacto ambiental podemos determinar os efeitos causados com a exploração da

energia dos oceanos e pensar num plano de mitigação. Segundo Beserra [12], os dados

provenientes dos projetos em funcionamento e/ou em desenvolvimento, revelam que os

impactos ambientais não são empecilhos para a exploração da energia das ondas.

2.2 - Histórico

A tecnologia para utilização do potencial energético dos oceanos é estudado há bastante

tempo. Burman[13] conta que a primeira patente de um dispositivo de conversão de energia

das marés em energia elétrica data de 1799 e registrada por Girard em Paris. Tal equipamento

era utilizado para acionar bombas e outros acessórios nos navios. Os trabalhos modernos acerca

de energia dos oceanos começaram a ser realizados em larga escala por volta de 1970[14].

Na Europa, o as contribuições de Stephen Salter e Kjell Budal, forma iniciadas em

1973 com grupos de pesquisa sobre energia das ondas em universidades na Escócia e na

Noruega, respectivamente. Nos EUA, Michael E. McCormick foram os pioneiros, entretanto

somente se intensificaram em escala global a partir da crise do petróleo em 1973, quando

pesquisadores de diversas universidades do mundo começaram a investir seus estudos sobre o

tema. Programas de pesquisa e desenvolvimento financiados por governos foram iniciados ao

longo do final da década de 70 em alguns países da Europa como Reino Unido, Suécia e

Noruega. Com o fim da crise do petróleo no início da década de 80[15], o preço do barril de

petróleo voltou a ser altamente atrativo, levando ao desinvestimento em pesquisas sobre

energia das ondas.

Desde os anos 90, com a ameaça do aquecimento global e as constantes variações no

preço do petróleo, os programas de financiamento dos governos voltaram a crescer,

ocasionando em um aumento da produção científica sobre o assunto. A utilização e

desenvolvimento de outras fontes de energia renovável também avançou nesse período,

entretanto, algumas apostas promissoras acabaram levantando questionamentos e abrindo

espaço para novas alternativas como a energia das ondas. É o caso da energia nuclear que

14

passou a ser muito questionada devido a acidentes em larga escala como Fukushima, no Japão

em 2011.

2.3 - Tecnologias

As máquinas apresentam tecnologias com elementos fundamentais para que sejam

consideradas conversoras de energia dos oceanos segundo a Agência Internacional de Energia

Renovável(IRENA)[16].

● Estrutura e suas partes móveis, que captam a energia das ondas;

● Fundação ou ancoragem, mantendo a estrutura no lugar correto;

● O dispositivo power-take-off (PTO), responsável pela conversão da energia;

● Os sistemas de controle de segurança e optimização da operação.

Diversos dispositivos conversores de energias das ondas já foram desenvolvidos e

patenteados. Cada modelo possui algumas características diferenciadoras e outras similares,

por isso podem ser classificados de acordo alguns padrões como sua localização, seu

tamanho/orientação e seu princípio de funcionamento.

2.3.1 - Classificação em função da profundidade

Os dispositivos são classificados segundo a batimetria de seu sítio de instalação, ou seja

conforme a profundidade da camada de água. Podem estar em águas rasas, águas intermediárias

ou águas profundas.

● Águas Rasas: Conversores que estão instalados em águas com profundidades menores

do que 10m. Esta configuração é vantajosa pois está próxima a costa que acarreta em

menores custos de instalação e manutenção além de ficar perto a rede de distribuição.

Outra vantagem da águas rasas é a baixa probabilidade de condições extremas de mar

entretanto tal profundidade possui menor energia disponível.

● Águas Intermediárias: Os conversores nessa localização normalmente são fundeados

no leito marinho através de uma base estacionária que permite uma boa ancoragem

conforme apresentado por Clement et al.[17]. Assim como os dispositivos instalados

na costa, as ondas em águas rasas e intermediária possuem menor energia disponível, o

que limita seu potencial de absorção. Entretanto, as direções das ondas próximo da costa

podem ser amplamente determinadas antecipadamente devido aos fenômenos naturais

de refração e reflexão [17], o que contribui no desempenho da captura de energia das

ondas.

● Águas Profundas: Conversores do tipo offshore são flutuantes ou submersos em águas

profundas (profundidades maiores que 40 metros). Uma das vantagens da instalação

em águas profundas é que estes dispositivos estão sujeito a uma maior concentração de

energia disponível. Entretanto, esses dispositivos possuem maiores desafios em termos

de instalação e manutenção devido às condições mais extremas das ondas.

15

2.3.2 - Classificação em função da direção de onda.

As máquinas conversoras de energia dos oceanos também podem ser classificadas

levando em consideração seu tamanho e sua disposição em relação a direção de onda incidente.

Nesta classificação temos os Pontos absorvedores, Atenuadores e Terminadores, figura 3.

Figura 3: Conversores de energia das ondas por direção de onda. (a) Ponto absorvedor (OPT),

(b) Atenuador (Pelamis) e (c) Terminador (Wavedragon) – Fonte: López et. al. [18].

2.3.2.1 - Pontos Absorvedores

São estruturas cuja seção transversal que está na altura da linha d’água possui simetria

ao plano vertical.. Com essa configuração geométrica, esses dispositivos conseguem capturar

energia das ondas em todas as direções com o flutuador oscilando em um ou mais graus de

liberdade. O Powerbuoy OPT (Figura 5a) é um exemplo desse tipo de conversor.

2.3.2.2 - Atenuadores (Attenuators)

São estruturas cuja seção transversal possuem uma dimensão significativa paralela à

direção de onda. Esta configuração permite que eles consigam abranger múltiplas cristas de

ondas. Geralmente são estruturas articuladas que “atenuam” a amplitude da onda. O Pelamis

(Figura 5b) é um exemplo de dispositivo atenuador.

2.3.2.3 - Terminadores (Terminators)

São estruturas cuja seção transversal possuem uma dimensão significativa

perpendicular à direção da onda incidente como se fossem uma parede impedindo a passagem

da onda. O Wave Dragon (Figura 5c) e o Oyster são exemplos desse tipo de conversor.

O IRENA[16] afirma que aproximadamente 53% dos conversores de energia das ondas

desenvolvidos são do tipo ponto absorvedores, 33% são terminadores e 14% são atenuadores.

2.3.3 - Classificação em função do princípio de funcionamento

16

Esta classificação leva em consideração o princípio de funcionamento do dispositivo

PTO. Falcão [6] mostra um diagrama, representado na Figura 6, dos conversores deste tipo,

sendo os eles: Oscillating water collumn (OWC), Oscillanting bodies e Overtopping.

Figura 4: Exemplos de tecnologias para conversão de energia das ondas

2.3.3.1 - Oscillating Water Collumn

Esse sistema consiste em uma câmara parcialmente submersa cheia de ar. O fundo

desta câmara é composto pela superfície do mar que com o movimento oscilatório das águas

aumenta a pressão na câmara para que o ar movimente uma turbina que está conectada em

um gerador.

2.3.3.2 - Overtopping

Esses dispositivos também conhecidos como de Galgamento, represam a águas com

um reservatório acima do nível do mar. Essa massa d’água é concentrada e devolvida para o

mar passando por turbina que gera a energia desejada.

2.3.3.3 - Corpos Oscilantes

Esta classe de conversores são corpos que podem ser flutuantes ou submersos. Eles

convertem a energia das ondas através de seus movimento periódico vertical, horizontal,

rotacional ou uma combinação linear desses movimentos. Esse sistema possui uma alta

versatilidade de máquinas para conversão de energia como motores elétricos, turbinas e

geradores elétricos.

2.3.4 - Tipos de Conversores de energia das ondas.

Wavegen Limpet é um dispositivo do tipo Oscillating Water Column - OWC e

Terminator, instalado em águas rasas. Ele foi instalado na costa da ilha de Islay (Escócia) em

17

2000, e é considerado a primeira usina de energia de ondas comercial no mundo, possuindo

uma capacidade de 500 kW [19].Utiliza uma turbina tipo Wells que permite com que a energia

seja aproveitada nos dois sentidos do escoamento do ar com a turbina girando de forma

constante no mesmo sentido.

Figura 5: Wavegen Limpet: (a) ilustração do conceito - fonte: Cargo [20] e (b) protótipo –

fonte: Thorpe [11].

Wave Dragon é um conversor do tipo Overtopping e Terminator, instalado em águas

profundas. O Wave Dragon possui dois refletores curvos presos à estrutura que concentram as

ondas em um plano inclinado, um reservatório flutuante para coletar a água e algumas turbinas

do tipo Kaplan para converter a energia potencial da diferença de coluna da água em energia

elétrica. Um protótipo em escala 1/4,5 foi testado em Nissum Brendning (Dinamarca) em 2003

[17].

Figura 6: Wavedragon

Oyster é um dispositivo Oscillating bodies e Terminator, instalado em águas rasas. O

Oyster (ilustrado na Figura 8a) consiste em uma parede que oscila como um pêndulo invertido

em pitch (arfagem) devido ao movimento de surge (avanço) das ondas. Essa parede aciona um

conjunto de pistões hidráulicos que pressurizam água, bombeando-a para a costa através de

tubulações. Uma usina de conversão na costa converte a pressão hidráulica em energia elétrica

através de turbinas do tipo Pelton como representado na Figura 8b. Além disso, um circuito

fechado é utilizado para retornar a água para o dispositivo através de uma tubulação secundária

de baixa pressão [15?]. O primeiro conversor, Oyster 1(Fig. 7), em escala real foi instalado em

Orkney (Escócia) em 2009 com capacidade máxima de 315 kW. Já uma segunda geração do

modelo (Oyster 2) com capacidade máxima de 800 kW foi desenvolvida a partir das avaliações

do primeiro protótipo [21] e testada no European Marine Energy Centre (EMEC) em 2012.

18

Figura 7: Oyster

Pelamis é um conversor do tipo Oscillating bodies e Attenuator, geralmente instalado

em águas profundas. O conceito do Pelamis foi desenvolvido na Inglaterra e seu primeiro

protótipo foi testado no EMEC entre 2004 e 2007. Em 2008, este conversor foi instalado na

costa de Portugal (Figura 8) com capacidade total de 2,25 MW sendo considerado a primeira

“fazenda de ondas” (wave farm). O Pelamis consiste em uma estrutura articulada (“serpente”)

composta de quatro segmentos cilíndricos que são unidos por juntas articuladas. Os

movimentos induzidos pelas ondas são absorvidos por cilindros hidráulicos que pressurizam

óleo em alta pressão acionando um motor ligado a um gerador que gera eletricidade [6].

Figura 8: Pelamis

PowerBuoy OPT é um conversor do tipo Oscillating bodies e Attenuator, instalado em

águas intermediárias. O PowerBuoy OPT, Figura 9, consiste no conjunto de um flutuador, uma

estrutura cilíndrica submersa e um damper na base. Com o flutuador oscilando em heave

(afundamento) promove-se uma diferença de pressão sobre a estrutura cilíndrica submersa,

sendo o movimento relativo entre os dois corpos convertido em energia através de um sistema

de conversão hidráulico. Um primeiro protótipo foi testado na Espanha em 2008 com

capacidade de 40 kW[6].

19

Figura 9: PowerBuoy OPT

2.4 - Ondas de gravidade

Quando os ventos atuam sobre a superfície dos oceanos, uma parte de sua energia

cinética é transferida para as águas que gera as ondas. Essa quantidade de energia está

diretamente ligada ao tempo de atuação das correntes vento sobre a superfície do oceano. O

mar sofre uma variação de pressão a qual deforma a superfície livre da água que busca manter

seu equilíbrio se deformando e originando ondas de acordo que possui frequência e direções

de acordo com o regime de ventos incidente[22].

Podemos classificar as segunda sua formação, regularidade e linearidade.

Conforme a formação:

● Wind Seas (ondas vagas) ocorrem pela ação dos ventos locais, não possuem

uma direção e formato definido;

● Swell (marulho ou ondulação) são mais comuns, se propagam por

quilômetros, tendendo a se alinhar e agrupar em séries. Em um determinado

local, pode existir swell vindo de vários outros locais;

● Tsunami são geradas por perturbações sísmicas (terremotos, erupções, dentre

outros);

● Ondas de capilaridade são aquelas formadas no início das correntes de

vento, acabam quando o vento termina, sendo amortecidas pela tensão

superficial da água.

● Maré ocorrem devido a atração exercida pela Lua e pelo Sol sobre o mar,

especialmente da lua por estar mais próxima da Terra. Por isso, possuem uma

periodicidade diária. Podendo ter um ciclo de 24h ou menos.

Conforme a regularidade:

● Ondas Regulares são periódicas, ou seja conseguem ser caracterizadas por

parâmetros determinados como o período, altura e profundidade;

● Ondas Irregulares são aleatórias no tempo e no espaço, podem ser

caracterizadas por parâmetros estatísticos ou espectrais.

20

Conforme a linearidade:

● Ondas Lineares são descritas pela Teoria Potencial Linear que veremos no

Tópico 2.5.

● Ondas Não-Lineares são aquelas que não satisfazem as premissas da teoria

potencial linear. Podemos citar ondas com assimetria crista-cavado ou ondas

sem periodicidade como um exemplo. São descritas por modelos analíticos

ou numéricos.

Beserra [22] afirma que “as ondas no início da sua formação são pequenas e a contínua

ação do vento determina seu tamanho final. Ainda que o vento continue soprando

indefinidamente o crescimento de uma onda gerada por ele não é infinita. Há 15 um estado

limite de evolução chamado “mar completamente desenvolvido” (fully developed sea)” (p.

142). Assim que a onda é formada ela fica independente do vento. O vento pode até mudar de

direção cessando sua contribuição para a onda todavia ela viajará por longas distâncias com

baixa dissipação de energia, até se dissipar na arrebentação em alguma costa distante ou

interagir com um corpo flutuante (dispositivos de energia das ondas). Uma forma tradicional

de estudar a interação de um corpo flutuante com as ondas do mar é considerar que ele oscila

na frequência da onda incidente. Assim, pode se calcular a amplitude de resposta de oscilação

do corpo através da análise no domínio da frequência. Esta análise pode ser feita inicialmente

considerando ondas regulares com uma única frequência, e posteriormente para ondas

irregulares. Sendo que estas são uma representação aproximada do mar real que pode ser obtida

através do somatório de diversas ondas regulares com diferentes frequências

2.4.1 - Ondas regulares

A onda regular é uma simplificação das ondas do mar, considerando-as periódicas no

tempo e no espaço e utilizando um perfil senoidal para descrever sua propagação ao longo do

oceano. De acordo com Journée e Massie [23], elas apresentam cinco características principais

que podem ser observadas na ilustração da Figura 12, sendo elas:

1ª) h: a profundidade da água, ou seja a distância vertical medida entre o leito marinho e o nível

médio da água [m];

2ª) H: a altura da onda [m], que é a distância vertical entre a crista e o cavado da onda;

3ª) 휁𝑎: a amplitude da onda [m], que é igual a metade da altura da onda;

4ª)𝑇: o período da onda [s], que é o intervalo de tempo entre duas cristas ou cavados sucessivos;

5ª) e 𝜆: o comprimento da onda [m], que é a distância horizontal entre duas cristas ou cavados

sucessivos.

Fig 10: Esquema de uma onda regular e seus parâmetros.[23]

21

Existem outras características que são derivadas das principais apresentadas.

● 𝑓 = 1⁄𝑇 [Hz], que é o inverso do valor do período da onda;

● Frequência angular da onda 𝜔 = 2𝜋⁄𝑇 𝑜𝑢 2𝜋𝑓 [rad/s], que também tem relação com o

período da onda;

● Celeridade ou velocidade de fase da onda 𝑐 = 𝜆⁄𝑇 [m/s], que é a velocidade com que a

onda se propaga;

● Número de onda angular 𝑘 = 2𝜋⁄𝜆.

● Perfil senoidal da onda (휁) – a forma da superfície da água – pode ser expressa como

uma função de 𝑥 e 𝑡 da seguinte forma: 휁 = 휁𝑎 cos(𝑘𝑥 − 𝜔𝑡).

2.5 - Teoria Potencial

Esta formulação do problema para analisar o comportamento das ondas é bastante

coerente a partir de algumas hipóteses simplificadoras. A seguir temos uma lista das

características necessárias para a utilização da teoria Potencial:

● Incompressibilidade: água é um fluido incompressível nas condições de mar;

● Efeitos de viscosidade desprezível: os efeitos de inerciais e gravitacionais tornam os

efeitos viscosos desprezíveis pois são maiores;

● Irrotacionalidade: válido para partículas nas regiões externas a camada limite onde os

efeitos viscosos são desprezíveis, essas partículas portanto não apresentam momento

angular;

● Pequena amplitudes: a razão entre amplitude e comprimento de ondas são pequenas.

Deslocamentos, velocidades e as acelerações das partículas de água e as pressões

harmônicas possuem uma relação linear com a elevação da superfície da onda;

● Tensão superficial desprezível: dadas as dimensões consideráveis dos corpos sendo

analisados;

● Condições de contorno: a região fluida é considerada infinita em seu plano horizontal,

sendo limitada pela profundidade e superfície livre verticalmente;

● Estacionaridade: o escoamento nesta condição se comporta de forma harmônica e com

frequência angular igual a frequência de excitação, portanto, todas as grandezas físicas

se comportam de forma harmônica com o tempo;

Com as hipóteses simplificadoras mostradas, o campo de velocidades do escoamento

vem do gradiente da função potencial 𝜙 (𝑥, 𝑦, 𝑧,𝑡). Então, a equação de Laplace será satisfeita

em todo domínio do fluido e será:

∇² 𝜙(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 0 (1)

O potencial de velocidades(𝜙) que descreve o fluido pode ser dividido em três partes

que correspondem ao potencial da onda incidente(𝜙0), ao potencial de difração(𝜙𝑑)

proveniente da presença do corpo flutuante e a terceira parte que é o potencial de radiação(𝜙𝑟)

devido ao movimento do corpo em interação com as ondas. Então,

22

𝜙 = 𝜙0 + 𝜙𝑑 + 𝜙𝑟 (2)

Os potenciais geram uma força no corpo flutuante. O potencial de radiação(𝜙𝑟) produz

uma força composta por uma parte proporcional a aceleração e outra proporcional a velocidade.

A parcela referente a aceleração é chamada de massa adicional(A) e a parcela referente a

velocidade é chamada de coeficiente de amortecimento(B). Tanto a massa adicional quanto o

coeficiente de amortecimento variam com a frequência de oscilação do corpo. Então é

necessário considerar esse fenômeno na equação do movimento adicionando os coeficiente de

massa adicional(A) e amortecimento potencial (B).

Também há forças de restauração hidrostática para quando o corpo não está em sua

posição de equilíbrio, e elas dependem apenas da posição do corpo em relação a posição de

equilíbrio. A proporção entre a força e o deslocamento do corpo é dado pelo coeficiente de

restauração hidrostático(C).

O potencial da onda incidente(𝜙0) e de difração(𝜙𝑑) são representadas na equação de

movimento como forças externas. Elas são calculadas fazendo uma integração do campo de

pressão devido aos campos de velocidade, definido pelos potenciais na superfície do corpo.

Os coeficientes hidrodinâmicos e as forças de excitação da onda podem ser definidos

numericamente como a utilização da teoria potencial. Desta forma, consegue-se aplicar esse

parâmetros na equação do movimento e no cálculo do RAO, como será apresentado no próximo

tópico.

2.6 - Formulação matemática

2.6.1 - Potencial Energético da onda.

Como foi visto na seção 2.1, os oceanos possuem uma densidade de potência média

anual bastante diferenciada em cada parte no globo, Figura 2. A equação que descreve a

potência por unidade de comprimento de uma frente de onda (kW/m) em águas profundas está

descrita abaixo. Importante ressaltar que em águas rasas as ondas sofrem efeitos devido a

interferência do fundo do mar, entretanto essa formulação é válida para o nosso estudo porque

a utilizamos para comparar alguns termos que influenciam mesmo em pequenas profundidades.

P(kW/m) = 0,49*𝐻𝑆2𝑇𝑒 (3)

onde Hs (m) é a altura significativa de onda e Te (s) o período da onda.

2.6.2 - Equações do movimento do flutuador.

O movimento de um dispositivo de energia das ondas é caracterizado como sistema

oscilatório. Podemos escrever a equação do movimento como um sistema mola-amortecedor

para graus de liberdade independentes. Quando o flutuador oscila em heave(afundamento) para

ondas regulares com frequência angular (𝜔) pode ser expressa por:

(𝑀 + 𝐴)�̈�+ (𝐵 + 𝐵𝑝𝑡𝑜)�̇� + 𝐶𝑧 = 𝐹𝑒 (3)

23

Tal que:

● 𝑧: deslocamento vertical do flutuador [m];

● �̇�: velocidade vertical do flutuador [m/s];

● �̈�: aceleração vertical do flutuador [m/s²];

● 𝑀: massa do flutuador [Kg];

● 𝐴 : massa adicional do flutuador [Kg];

● 𝐵: coeficiente de amortecimento potencial do flutuador [Kg/s];

● 𝐵𝑝𝑡𝑜: coeficiente de amortecimento do sistema de PTO linear [Kg/s], que será

detalhado na seção 2.4;

● 𝐶: coeficiente de restauração hidrostática em movimento de heave sendo seu

módulo igual a 𝜌𝑔𝐴𝑤 [Kg/s²], em que 𝐴𝑤 é a área de linha d’água;

● 𝐹𝑒: força externa no flutuador devido às ondas incidentes e difratadas [N];

Podemos supor que a solução particular da equação (3) é dada por:

● 𝐹𝑒(𝑡) = 𝐹𝑒 ∙ 𝑒 𝑖(𝜔𝑡+휀𝑓) , onde 𝐹𝑒 é a amplitude e 휀𝑓 a fase da força de

excitação externa;

● 𝑧(𝑡) = 𝑧0 ∙ 𝑒 𝑖(𝜔𝑡+휀𝑧), 𝑧0 é a amplitude e 휀𝑧 a fase do deslocamento vertical.

● �̇�(𝑡) = 𝑖𝜔𝑧0 ∙ 𝑒 𝑖(𝜔𝑡+휀�̇�) , 휀�̇� =(휀𝑧 + 𝜋 2 ) é a fase da velocidade vertical.

● �̈�(𝑡) = −𝜔 2 𝑧0 ∙ 𝑒 𝑖(𝜔𝑡+휀�̈�) , 휀�̈�=(휀𝑧 + 𝜋) é a fase da aceleração vertical.

Ao substituir os termos acima na equação do movimento oscilatório temos que:

𝑧0 =𝐹𝑒

−𝜔2(𝑀+𝐴)+𝑖𝜔(𝐵+𝐵𝑝𝑡𝑜)+𝐶 (4)

É comum trabalhar com um parâmetro adimensional para o deslocamento do flutuador.

Tal parâmetro chamando de Response Amplitude Operator(RAO) que é a resposta de um corpo

flutuante à onda unitária incidente como função do período de onda e sua direção. Também

chamado de Função de Transferência, fornece um indicativo sobre o movimento do corpo

flutuante a cada onda incidente, calculado para cada direção e frequência de onda. Pode-se

dizer que o RAO é a identidade hidrodinâmica do corpo flutuante, pois demonstra como ele irá

se portar na interação com as ondas. O RAO só tem sentido se assumirmos que os movimentos

da unidade são lineares, portanto, proporcionais à altura da onda, e que o princípio da

superposição funciona. Define-se o RAO matematicamente da seguinte forma:

RAO = 𝑍0휁𝑎

= 𝐹𝑒휁𝑎

−𝜔2(𝑀+𝐴)+𝑖𝜔(𝐵+𝐵𝑝𝑡𝑜)+𝐶; (5)

Sendo, 휁𝑎: a amplitude da onda incidente em metros.

A análise do RAO do flutuador é essencial, já que mostra como será a resposta do

flutuador frente as ondas incidentes, e também devido ao fato da potência extraída das ondas

ser proporcional ao RAO do flutuador, como será apresentado mais a frente.

24

2.6.3 -Potência Extraída.

Finnegan & Goggins [24] apresentam que para que o flutuador oscilando

exclusivamente em heave em ondas regulares, a potência média extraída por um sistema de

PTO (descrito na sessão seguinte ???) com coeficiente de amortecimento linear (𝐵𝑝𝑡𝑜) pode

ser calculada como:

𝑃𝑟𝑒𝑔= 𝐹𝑒 ∗ 𝑧 ′(𝑡)= 0,5 𝐵𝑝𝑡𝑜*𝑤²|𝑍𝑜 |² = 0,5 𝐵𝑝𝑡𝑜*|𝑈𝑜 |² (6)

Tal que:

𝑃𝑟𝑒𝑔: Potência média extraída do mar ao longo do tempo [kW];

𝑈𝑜: amplitude complexa da velocidade do flutuador, derivada de 𝑍𝑜.

Como o RAO é dado em função da amplitude da onda incidente 휁𝑎 (𝑧0 = 𝑅𝐴𝑂 × 휁𝑎),

a potência média extraída também pode ser calculada como sendo:

𝑃𝑟𝑒𝑔

휁𝑎= 0,5 𝐵𝑝𝑡𝑜*𝑤²*|RAO|² (7)

2.6.4 -Fator Captura.

Para Renzi et al. [25] o conceito de Capture Width Ratio - CWR (taxa de captura por

largura) representa a razão entre a potência média extraída pelo conversor e a potência média

disponível em uma frente de onda com largura igual à do flutuador, que também é uma forma

de avaliar avaliam a eficiência do conversor. Este fator, que foi traduzido como Fator de

Captura (FC), pode ser calculado através da equação:

FC = 𝑃𝑟𝑒𝑔

0,5𝜌𝐶𝑔𝜁𝑎2𝐿

(8)

𝜌: massa específica da água salgada (1025 kg/m³);

𝑔: aceleração da gravidade (9,81 m/s²);

𝐶𝑔: velocidade de grupo da onda incidente [m/s];

𝐿: largura ou outra dimensão característica relevante do flutuador [m].

A velocidade de grupo definida como a velocidade de deslocamento de um grupo de

onda segundo o Shore Protection Manual[26], que é diferente da velocidade de uma partícula

de onda. Esse parâmetro pode ser calculado como:

𝐶𝑔 =𝜔

2𝑘(1+

2𝑘∗ℎ

𝑠𝑒𝑛ℎ(2𝑘∗ℎ)) (9)

Em que:

ℎ: profundidade [m];

𝑘: número de onda [rad/m], que corresponde ao número de comprimentos de

onda por unidade de distância. Para uma determinada profundidade da água (ℎ), o

número de onda (𝑘) pode ser obtido através da relação de dispersão:

25

𝜔² = 𝑘𝑔 tanh(𝑘ℎ) (10)

2.6.5 - Mar real

A representação das ondas regulares modela somente uma única onda com

características bem definidas, como foi dito as ondas de gravidade são um conjunto de ondas

vinda de várias direções. Podemos inferir que uma boa aproximação para ondas irregulares de

um mar real será a superposição das ondas regulares, definindo um espectro de onda. O

espectro de onda é criado pela decomposição de um perfil de onda irregular em um número de

componentes de ondas senoidais. Através desse modelo de espectro, as principais

características de ondas (altura, frequência e direção) são consideradas como variáveis

aleatórias, ou seja, não determinísticas. Sendo estas propriedades estatísticas das ondas

consideradas como constantes para cada estado de mar (com cerca de três a quatro horas de

duração) [22].

Para um estado de mar específico, as ondas são caracterizadas por uma altura

representativa, um período e o tipo de espectro. Cada modelo espectral foi projetado para um

estado de mar, podemos citar os espectros de Pierson-Moskowitz e JONSWAP como alguns

utilizados em estudos. Neste trabalho iremos utilizar o primeiro modelo de espectro citado

para manter a coerência com trabalhos anteriores, Khan e Ishikawa.

O espectro de Pierson-Moskowitz é válido para um mar totalmente desenvolvido, ou

seja, assume que as ondas estão em equilíbrio com o vento. A equação do espectro de onda é

definido por duas variáveis, o período de pico (Tp) e a altura significativa de onda (Hs). Para

este modelo, a distribuição de energia (𝑆), em função da frequência da onda (𝜔), é dada por:

𝑆(𝜔) = 5𝜋 4 𝐻𝑆2

𝑇𝑝4

1

𝜔5𝑒𝑥𝑝 [−

20𝜋4

𝑇𝑝4

1

𝜔4] (11)

Tal que:

𝐻𝑆é a altura significativa de onda[m], correspondente a média média das alturas de

1/3 das ondas de maior amplitude;

𝑇𝑝 é o período de pico, que corresponde à frequência com maior densidade de energia

do espectro [s];

Para o mar real, vamos reescrever as equações de potência média extraída e fator de

captura. De acordo com Fernandes & Fonseca [27], pode-se escrever a potência média extraída

do conversor de energias das ondas de acordo com a expressão a seguir:

𝑃𝑖𝑟𝑟𝑒𝑔 = 2∫∞

0𝑃𝑟𝑒𝑔(𝜔)𝑆(𝜔) 𝑑𝜔 (12)

Para o fator de captura os mesmos autores reescrevem a equação da seguinte forma:

𝐹𝐶𝑖𝑟𝑟𝑒𝑔 =𝑃𝑖𝑟𝑟𝑒𝑔

𝐽𝑖𝑟𝑟𝑒𝑔 ∗𝐿 (13)

Onde:

L é a dimensão característica do flutuador

𝐽𝑖𝑟𝑟𝑒𝑔 é o fluxo de energia médio disponível para ondas regulares descrito pela equação

abaixo:

26

𝐽𝑖𝑟𝑟𝑒𝑔 = 𝜌𝑔 ∫∞

0𝐶𝑔(𝜔)𝑆(𝜔) 𝑑𝜔 (14)

2.7 - Conversão e Sistema de Power Take-Off(PTO)

O flutuador possui energia em forma de energia potencial e cinética que precisa ser

convertida em energia elétrica, os sistemas de PTO quem fazem essa conversão. Estes sistemas

possuem uma grande variabilidade de equipamentos que cumprem o papel de transformar a

energia como turbinas, sistemas hidráulicos, geradores elétricos lineares e também sistemas

totalmente mecânicos. Segundo IRENA [16], aproximadamente 42% dos conversores utilizam

um sistema de PTO com componentes hidráulicos. Um PTO deste tipo possui um sistema de

alta pressão que consiste em um conjunto cilindro-pistão. O pistão pressiona o fluido de

trabalho que está dentro do cilindro aumento a pressão interna. Este fluido, usualmente óleo ou

água, estando pressurizado vai ser estocado em alguns ciclos acumuladores de alta pressão para

regular a potência de saída. Quando o fluido de trabalho está pressurizado, ele aciona um motor

ou turbina hidráulica a fim de acionar um gerador elétrico rotativo que gera energia elétrica.

Após isso, o fluido de trabalho retorna para um acumulador de baixa pressão, fechando assim

o circuito. Existem conversores de frequência e transformadores para ajustar a frequência e

tensão da corrente elétrica e enviá-la para rede de transmissão. Cargo[20] divide os modelos

de PTO em duas categorias mais gerais: modelo linear e modelo não-linear. O primeiro modelo

diz que a força do PTO é uma combinação linear entre a força de amortecimento e a força de

restauração, então a força do PTO é linearmente dependente da da velocidade do flutuador. Já

o modelo não-linear assume que a força do PTO não é linearmente dependente da velocidade

do flutuador. Segundo Drew, Plummer e Sahinkaya[17], o desempenho do dispositivo de

geração de energia das ondas tem relação com o amortecimento do PTO e este amortecimento

é ajustado para alcançar máxima eficiência de conversão. Se o amortecimento for muito alto,

os movimentos do flutuador serão bastante reduzidos e gerará pouca potência. Em

contrapartida, se o amortecimento for muito baixo, o amortecedor do PTO absorverá pouca

energia e pouca energia será extraída. É nítido que um sistema PTO precisa de um

amortecimento ótimo para garantir a eficiência do sistema.Para análise no domínio da

frequência e considerando um PTO linear, apenas com a força relacionada a um coeficiente de

amortecimento(Bpto), há uma condição ótima pra maximizar a potência extraída(Pot).

Segundo [20] e [25], a condição ótima do coeficiente de amortecimento(Bpto*) é obtida por 𝛿𝑃𝑜𝑡

𝛿𝐵𝑝𝑡𝑜= 0e portanto:

𝐵𝑝𝑡𝑜* (𝜔)=√𝐵(𝜔)2 + [−𝜔(𝑀 + 𝐴(𝜔)) + 𝐶 𝜔 ]2 (15)

27

3- Metodologia

Nesta parte do estudo é apresentada a metodologia aplicada para atingir o objetivo deste

estudo. Inicialmente são apresentados o modelo de conversor de energia das ondas e o sítio

escolhido para o estudo de caso. Em sequência são apresentados os estudos das configurações

do flutuadores e o modelo de simulação numérica computacional.

3.1 - Conversor de Energia das ondas

Este estudo é parte de um projeto de pesquisa desenvolvido pelo PPE (Programa de

Planejamento Energético) da COPPE/UFRJ e coordenado pelo pesquisador Eliab Ricarte

Beserra. O dispositivo de energia das ondas analisado é do tipo ponto absorvedor (point

absorber) para operação em águas rasas e intermediárias. Esta máquina consiste em um

flutuador oscilando em heave dentro de uma estrutura em forma de torre fundeada no leito

marinho. O flutuador é conectado com a estrutura através de roldanas que auxiliam no seu

movimento vertical e restringem os outros graus de liberdade. Para a conversão desse

movimento, sistemas de PTO têm sido estudados por outros integrantes do projeto, por

exemplo, o trabalho desenvolvido por Neto [30]. Em trabalhos anteriores como Khan[28], a

geometria do flutuador considerada era de uma pirâmide quadrangular invertida, ou seja, com

sua base quadrangular voltada para cima. Mais especificamente, foram construídos primeiro

um modelo na escala de 1:40, com aresta da base de 15 cm (Figura 11a). Após os testes

experimentais deste primeiro modelo, teve início a fase de construção do modelo na escala de

1:10, sendo adicionadas reentrâncias a geometria do flutuador, ficando com 80 cm de largura

máxima de captura (Figura 11b). Neste último modelo foram adicionados chanfros nas arestas

laterais da pirâmide e um par de refletores acoplados na torre para canalização do fluxo das

ondas (Figura 11c). Ambos modelos foram ensaiados no Instituto Nacional de Pesquisas

Hidroviárias (INPH) e novos testes também foram realizados com o modelo na escala de 1:40

no Laboratório de Ondas e Correntes (LOC) da COPPE/UFRJ.

Figura 11 - Flutuador (a) em escala 1:40 e (b) em escala 1:10 Fonte: Neto [30], p. 104.

Esta equipe de pesquisa continua desenvolvendo estudos com essa temática, a exemplo

deste trabalho que utiliza o mesmo conceito do dispositivo, contudo, apresenta como

ineditismo, a implementação de placas refletoras de ondas que aumentam a altura de onda do

sítio.

28

3.2 - Sítio

Seguindo a linha dos estudos de Khan[28] e Ishikawa[29], o sítio escolhido para este

estudo foi sítio de Pecém(CE). Há uma vantagem clara de utilizar o Pecém para estudo de

comportamento do conversor já que este local possui bastante informações hidrográficas que

será destacada adiante. Beserra [22], afirma que “o mar do Ceará é caracterizado por ondas

predominantemente geradas pelo vento em termos locais (Sea) e pela ocorrência sazonal de

ondas geradas fora dessa área (Swell)”. As ondas de Sea são aquelas de períodos menores(4s a

10s) e ocorrem durante o ano inteiro como podemos ver na figura 12. Em contra partida as

ondas de Swell são aquelas com períodos maiores(10s a 20s) que vieram sobre a influência da

zona de convergência do Atlântico Norte e são predominantes no verão quando esse fenômeno

está em seu máximo.

Fig12: Espectro das ondas na região de Pecém para Janeiro e Julho de 2001

a) b)

Fig 13: a) Probabilidade de ocorrência do Período de onda. b) Correlação da Potência de onda

Cruzando o potencial da onda por período e a frequência da respectiva onda com tal período.

29

Pode-se destacar na figura 13, em que há um histograma representando uma análise histórica

do períodos de ondas do Pecém. Verifica-se a ocorrência de ondas predominantes cujos

períodos variam de 6s até 8s. Quando relaciona-se a fig 13a com a equação 3, tem se o potencial

energético do campo do Pecém que está destacado na fig 13b. Tal figura revela que o campo

de Pecém possui um potencial energético médio para conversores que tenham melhor

eficiência tanto em períodos baixos quanto em períodos mais altos. Uma máquina adequada

para Pecém deve conseguir atuar em amplo espectro de ondas e intensificar sua eficiência para

ondas de 6s a 8s.

Ainda analisando as informações do sítio de Pacém mas agora pela ótica da altura de

onda, consegue-se observar pela figura 14 que historicamente existem 8 alturas de ondas

predominantes entretanto somente 3 períodos de onda se destacam em grande ocorrência que

são 1,25m, 1,5m e 1,75m. Realizando o mesmo procedimento de cruzamento dos dados do

histograma da fig 14a com a equação 1, obtém-se os resultados da fig 14b em que podemos

analisar o potencial energético de Pecém em função da altura de onda. Destaca-se pela figura

citada anteriormente a altura de 1,5m para a atividade de um conversor para este sítio

especificamente.

a) b)

Fig 14: a) Probabilidade de ocorrência de altura de onda. b) Correlação da Potência de onda

Cruzando o potencial da onda por altura e a frequência da respectiva onda com tal altura.

Fig 15: Probabilidade de ocorrência da direção de onda.

Já foi visto pela figura 12, que o campo de Pecém recebe ondas tanto da Zona de

Convergência do Atlântico Norte quanto da Zona de Convergência do Atlântico Sul. É de se

esperar que o Pecém tenha onda de todas as direções, como pode-se observar na figura 15. Um

30

conversor do tipo point absorber é vantajoso pois consegue captar ondas de todas as direções

e funcionaria bem em qualquer época do ano. Vale ressaltar que se for construído um conversor

que possua mais eficiência para direções de ondas distintas a figura 15, guiará o

posicionamento deste conversor. Já que o mesmo deverá estar posicionado para direção que

captará maior energia das ondas.

Pelo descrito acima, um conversor de energia das ondas para o sítio de Pecém deve

apresentar as características a seguir.

3.3 - Layout

Para realizar um estudo completo da geração de energia com um conversor de ondas,

devemos olhar o Layout. Nesta fase, deve ser estudada a composição da usina e seu

conversores: tamanho dos conversores, posição dos conversores, quantidade dos conversores

e estruturas complementares. Em um estudo de simulação numérica da hidrodinâmica de um

conversor é necessário somente focar no layout dos flutuadores e estruturas que possam intervir

na dinâmica das ondas.

Neste trabalho especificamente, foi realizado várias mudanças de um layout simples

onde temos somente um flutuador até a interação do flutuador com vários refletores que

possuem comprimento e ângulo de abertura diferentes. Também foi modificado a posição dos

refletores em relação ao flutuador. A figura 16 mostra a configuração básica do layout utilizado,

segundo ela iremos mostrar os parâmetros que foram modificados

Figura 16: Parâmetros do conjunto Flutuador-Refletor

Onde:

31

d: profundidade do leito marinho ou batimetria.

c: comprimento do refletor.

𝛼: ângulo entre os refletores.

rx: distância do refletor em relação ao flutuador na direção x.

ry: distância do refletor em relação ao flutuador na direção y.

fy: distância do flutuador em relação posição inicial central na direção y.

Foi considerado também um layout especial em que simula a colocação de um flutuador

na praia de Mucuripe. Nessa situação o flutuador é colocado próximo ao porto do Inace, que

pode ser considerado como um grande refletor. Pode-se observar na fig 18, a descrição anterior.

Foi simulado o flutuador em 3 posições diferentes a uma distância de 13m e outra de 22m da

estrutura de Mucurípe.

Fig. 17: Batimetria da região de Mucurípe

Fig. 18: Representação gráfica do Porto do INACE e a posição do Flutuador

32

Diante da quantidade de parâmetros que foram analisados segundo a explicação

anterior. Foi montada a tabela 2, que contém as variações de parâmetros em cada caso estudado

que também ajudou a organizar a ordem das simulações computacionais. Foram realizadas 23

simulações com layouts distintos para avaliar a melhor configuração de interação entre o

flutuador e o refletor. O caso base de comparação é a situação onde o layout possui somente o

flutuador. Para o caso de Mucurípe foi realizado um estudo com o layout simples. Ao final da

tabela 2, pode ser visto um caso com um layout bastante diferente do apresentado na figura16.

Esta última configuração com 4 flutuadores está representada na figura 19 e mostra o layout

final sugerido para uma usina de conversão das ondas que otimiza a presença dos refletores.

Tabela 2: Característica das simulações deste estudo

Caso

Número de

flutuadores L d c 𝛼 rx ry Fy

01 1 8m 7,5m

Sem

refletor

Sem

refletor Sem refletor Sem refletor 0m

2 1 8m 15m

Sem

refletor

Sem

refletor Sem refletor Sem refletor 0m

3 1 8m 30m

Sem

refletor

Sem

refletor Sem refletor Sem refletor 0m

4 1 8m 7,5m 8m 90° 0m 0m 0m

5 1 8m 15m 8m 90° 0m 0m 0m

6 1 8m 30m 8m 90° 0m 0m 0m

7 1 8m 7,5m 4m 90° 0m 0m 0m

8 1 8m 7,5m 16m 90° 0m 0m 0m

9 1 8m 7,5m 8m 30° 0m 0m 0m

10 1 8m 7,5m 8m 60° 0m 0m 0m

11 1 8m 7,5m 8m 120° 0m 0m 0m

12 1 8m 7,5m 8m 150° 0m 0m 0m

13 1 8m 7,5m 8m 90° 2m 2m 0m

14 1 8m 7,5m 8m 90° 4m 4m 0m

15 1 8m 7,5m 8m 90° 6m 6m 0m

16 1 8m 7,5m 8m 90° 8m 8m 0m

17 1 8m 7,5m 8m 90° 0m 0m 4m

18 1 8m 7,5m 8m 90° 0m 0m 8m

19 1 8m 7,5m 8m 90° 4m 4m 8m

20 1 8m 7,5m 8m 90° 4m 4m 12m

21 1 8m 7,5m 8m 90° 8m 8m 12m

22 1 8m 7,5m 8m 90° 8m 8m 16m

23 4 8m 7,5m 8m 90° 8m 8m 12m

24 4 8m 7,5m 8m 90° 8m 8m 16m

33

Figura 19: Configuração do Layout final sugerido.

3.4 - Simulação Computacional

Neste trabalho foi utilizado dois programas para fazer todo o estudo de um conversor

de energia das ondas: Ansys e Excel. No primeiro foi concebida toda geometria, que representa

o domínio, também foi realizado os cálculos das equações de movimento. Os resultados foram

extraídos e manipulados no Excel para realizar análises e comparar as diferentes situações

simuladas.

O Ansys é um programa tradicional utilizado para realizar diversos cálculos

computacionais. Ele possui diversos módulos que dá ao programa uma capacidade de estudar

uma situação de engenharia como um todo, desde a construção da geometria, discretização do

domínio, configuração dos parâmetros físicos e resolução das equações governantes,

respectivamente nos módulos: Design Modeler, Meshing e Aqwa. Será apresentado a seguir

mais informações sobre esses módulos.

Fig. 20: Esquema dos Módulos do Ansys Aqwa

O Design Modeler é um aplicativo de desenhos de geometrias muito parecido com o

Auto CAD. Ele tem a capacidade de projetar tanto peças mecânicas como volumes de controle

para análise em fluídos. Este módulo também é usado em projetos de engenharia tanto 2D

quanto em 3D. Neste estudo foi projetos 3 domínios que são os flutuadores, os refletores e o

Quebra mar do Inace. Alguns desse domínios possuem diferenças de tamanho para cada caso

estudado

34

O passo seguinte é bastante importante para uma simulação computacional. Após a

construção do domínio que será estudado, é necessário discretizá-lo. Essa ação é feita pelo

Meshing, onde pode-se criar uma discretização do domínio, também chamado de malha. Neste

passo, consegue-se construir uma malha de modo automático para testes iniciais e o próprio

programa entra com regras default a fim de que a malha possua uma qualidade adequada. Foi

construída 4 tipos de discretização distintas, 3 para o flutuador e refletores e 1 para o Quebra

mar. O tamanho da malha do elemento pode ser visto na Tabela 3. Há uma diferenças nos

elementos do flutuador e refletor porque foi realizado um teste de convergência de malha para

termos uma discretização mais adequada no estudo.

Tabela3: Configuração das malhas utilizadas

No próximo parágrafo falaremos melhor do Aqwa, uma parte do pacote da Ansys que

foi utilizado para resolver as equações governantes. Como ele só trabalha com superfícies, é

desenhado uma figura 3D no Design Modeler que na realidade é uma peça oca. Ou seja temos

várias chapas desenhadas e anexadas para formar a geometria do flutuador. No momento da

discretização do domínio, o Meshing fez uma malha automática formada por elementos

triangulares e quadrados.

Após a malha ficar pronta, colocamos ela dentro do Aqwa em que iremos configurar

os parâmetros do movimento das ondas oceânicas. Como dito no capítulo 2, o Aqwa consegue

não somente inputar os parâmetros físicos como também resolver essas equações e mostrar os

resultados. Neste passo foi configurado a profundidade do mar, direção das ondas, período e

altura de onda, importante ressaltar que programa foi utilizado para calcular ondas regulares.

Como Khan[28] e Ishikawa[29], foi selecionado um intervalo de período de 2s até 20s pela

característica do sítio escolhido, entretanto 6s, 7s e 8s são períodos de maior ocorrência de

ondas em Pecém e também possuem maior potencial energético e eles serão o melhor indicador

para performance do conversor. Para manter uma análise mais generalista do equipamento a

profundidade também variou em 7,5m, 15m e 30m e especialmente no estudo de caso de

Mucurípe foi configurada uma profundidade, 3m, de águas rasas.

É importante dizer que as ondas em águas rasas assumem um formato de ondas

paralelas a costa que neste trabalho foi aproximado por ondas regulares. Essas ondas possuem

equações bem definidas descritas no capítulo 2 e também estão configuradas no Aqwa.

O Aqwa possui um solver integrado que resolve as equações governantes pelo métodos

dos painéis e também possui um módulo integrado de pós-processamento. Com estes dois

últimos passos consegue-se configurar os indicadores procurados para fazer a análise

energética do conversor. Para isso, o Aqwa provê as informações de RAO, massa adicional e

amortecimento do conversor em cada período. Como o programa não consegue analisar vários

casos ao mesmo tempo e cruzar informações é necessário extraí-los em csv(Comma-separated

values) e manipulá-los no Excel.

35

O último passo da metodologia deste trabalho foi utilizar o Microsoft Excel para

manipular os resultados que serão discutidos no próximo capítulo. Cada caso de estudo teve o

RAO, massa adicional e amortecimento colocados no Excel e com a as equações do capítulo 2

conseguimos gerar a potência extraída pelo flutuador e seu fator de captura(FC). Foram

considerados como resultados e comparados em gráficos RAO, potência extraída e FC.

36

4- Discussão e Resultados

Neste capítulo, será apresentado os resultados da análise do comportamento do

flutuador em relação ao estado de mar do porto do Pecém. O estudo levou em consideração o

flutuador como o único corpo no oceano e também a interação do flutuador com os refletores

de ondas. Estudamos em diferentes etapas o comportamento do refletor variando seu

comprimento, altura, ângulo de abertura e a posição do flutuador em relação ao refletor. Por

fim, simulamos um estudo de caso em que utilizamos o Quebra mar do porto de Mucuripe na

função de um refletor.

Para verificar a eficiência do refletor num gerador de ondas do tipo point absorver, o

RAO, a potência média extraída e o fator de captura foram utilizados como parâmetros. Os

resultados serão apresentados por etapa de simulação

4.1 - Teste de convergência.

O teste de convergência é um artifício utilizado para assegurar que a discretização do

domínio está adequada. Quanto mais discretizado ficar o domínio, ou seja, quanto mais ele

estiver separado em menores elementos maior é a precisão da simulação e menores a chances

da simulação divergir. Para se ter certeza que a discretização está adequada é feito uma bateria

de malhas com uma quantidade de elementos diferentes e escolhe-se um parâmetro de controle.

Fig. 21: Vista Isométrica(a), Vista Superior(b), Vista Lateral(c) e Vista Frontal(d) do

Flutuador Simulado no Teste de Convergência.

37

Usualmente, gera-se três malhas com números de elementos crescentes e avalia-se o

comportamento do parâmetro de controle. Espera-se que quanto mais refinada a malha estiver,

ou seja, quanto mais elementos ela possuir melhor é o resultado da simulação. Neste trabalho

foi gerada uma malha para o teste de convergência somente no caso do flutuador como sendo

o único corpo flutuante. Todas as malhas possuía elementos triangulares e quadrados, sendo o

último tipo em sua maioria. É importante ressaltar que a malha 1 é a malha mais refinada, a

malha 2 a malha intermediária e a malha 3 aquela mais pobre ou grosseira. A quantidade de

elementos de cada malha está na tabela 4. Vemos também na tabela 5, alguns parâmetros

geométricos que o software controla para classificar a qualidade da malha. O Ansys Meshing

possui mais de 10 parâmetros geométricos e nesse estudou foi escolhido 3 deles para garantir

uma discretização que qualidade que evite erros numéricos

Fig. 22:Vista Isométrica(a), representação da Malha 1 (b), representação da Malha 2(c) e

representação da Malha 3(d) do Flutuador Simulado no Teste de Convergência.

Tabela4: Informações sobre o refinamento da malha

Geometria Tamanho do elemento Informações da malha

Mínimo Máximo Nós Elementos

Malha 1 Flutuador 0,2 m 0,3 m 1126 1112

Malha 2 Flutuador 0,4 m 0,5 m 418 412

Malha 3 Flutuador 0,6 m 0,7 m 245 240

O Skewness é um indicador que mede o quão os elementos da malha estão próximos

de polígonos ou poliedros regulares. Polígonos regulares para domínios 2D, que é o caso do

estudo, e poliedros regulares para domínios 3D. Skewness aparece em um intervalo de 0 até 1,

sendo 0 o valor ótimo e 1 representa uma célula com valor não adequado.

38

Element Quality também está em um intervalo de 0 até 1, entretanto a interpretação

deste resultado é o oposto de Skewness, ou seja, quando a Element Quality é 1, a célula está

perfeita. Esse indicador mede a relação do volume da célula com o quadrado do somatório das

arestas da célula, quando o domínio é 2D.

O último indicador que foi analisado foi a Aspect Ratio dos elementos. Este parâmetro

funciona totalmente diferente dos outros escolhidos. O objetivo da Aspect Ratio é medir o

comprimento da célula em relação a sua altura e quanto mais próximo da igualdade melhor é a

célula, ou seja, quanto mais o próximo de 1 é Aspect Ratio melhor. Esses três parâmetros

geométricos foram escolhidos para validar previamente e discretização porque são os mais

simples dentre os parâmetros que medem a qualidade da malha do software Ansys Meshing.

Tabela 5: Parâmetros de qualidade da malha.

Após a formulação da malha, foi configurado o caso mais simples do nosso estudo no

Ansys Aqwa para colher os resultados e comparar a eficiência da malha. A situação

configurada foi a do flutuador como único corpo flutuante que é a situação mais simples e o

principal caso de controle a ser comparado com os outros layouts configurados. Também foi

escolhido como indicador para ser analisado e comparado no teste de convergência o RAO que

além de ser de grande interesse para o estudo já foi analisado por outros trabalhos como

Khan[28] e Ishikawa[29].

Segundo a figura 23, todas as malhas tiveram um bom comportamento de RAO e não

foi detectado nenhum ponto em que a simulação possa ter divergido. A malha 2, de

discretização intermediária, foi escolhida para ser a configuração de malha padrão no flutuador

dos outros casos simulados visto que ela apresenta um resultado no teste satisfatório e não

consome tanto tempo computacional quanto a malha mais refinada. A malha 3, mais pobre, foi

descartada porque os resultados para os períodos mais baixos estão um pouco afastados dos

resultados da malha mais refinada. Este intervalo de período é bem importante por causa da

ocorrência de ondas com períodos de ondas de 4s até 8s ser maior, sendo 6s o período de

referência neste estudo.

39

Fig 23: RAO das simulações do teste de convergência.

4.2 - Influência do Refletor

O resultado a seguir apresenta o RAO em heave na figura 25 do wec piramidal com

base quadrada e lado de 8m, como analisado no trabalho de Khan [28]. No presente trabalho

essa simulação foi refeita para ser a base de comparação com a situação em que os refletores

estão presentes. Ao lado desse cenário está representado o mesmo wec com um refletor cujo

comprimento é igual ao tamanho do lado do wec. Em ambos os cenários todos os outros

parâmetros são iguais.

É observado que o refletor realmente modifica o comportamento do flutuador ao captar

as ondas incidentes. Quando não há as placas na frente, o comportamento do RAO é crescente

e a partir do período de 4s o RAO está acima de 0,9, ou seja, o flutuador consegue obter um

deslocamento de acima de 90% da altura da amplitude de onda.

Fig. 24: Layout analisado

40

Se o refletor está presente, o RAO fica acima de 1 nos períodos entre 4,5s a 6s. Esta é

a situação procurada para validar a utilização do refletor como um intensificador de geração de

energia. Como esta situação acontece num intervalo de ondas muito pequeno em relação ao

intervalo total que vai de 2s até 20s, ou mesmo num intervalo muito insignificante em relação

ao comportamento do sítio. Relembrando, para o sítio de Pecém e Mucurípe, os períodos de

ondas relevantes são de 6s até 8s e 12s.

figura 25: Curva de RAO

Para confirmarmos a ineficiência do flutuador neste caso, é necessário observar sua

eficiência energética. Na Fig 26, está representado a Potência Extraída em que podemos

confirmar a ineficiência do refletor. Vale ressaltar o comportamento em ambos os casos do

decaimento da potência extraída após um máximo no gráfico. Isso porque a Potência Extraída

descrita na Equação 3 é inversamente proporcional ao período e decai segundo uma hipérbole.

É importante ressaltar a importância do RAO neste momento, pois a curva de Potência Extraída

do Refletor somente está acima nos períodos em que sua curva do RAO é acima de 1.

figura 26: Curva de Potência Extraída

41

É necessário também avaliar a eficiência do flutuador em relação a potência disponível

no sítio e para isso calculamos o Fator de Captura como representado na Equação 8. Conforme

a Fig 27.

figura 27: Curva de Fator de Captura

Como pode-se constatar para ambos os casos existe mais energia disponível no sítio

que não sendo aproveitada pelo flutuador. No caso 4, o flutuador tem um rendimento máximo

no período de 3,75s de 45% e o caso 4, em 4,75s o rendimento máximo de 41%. Interessante

lembrar esse período possuem uma ocorrência muito baixa no sítio.

4.3 - Influência da profundidade no Refletor

Como mostrado na seção anterior, será apresentada uma comparação entre situações

distintas com o mesmo flutuador variando somente o refletor, cuja altura dependerá da

profundidade apresentada. Antes disso, é necessário observar a Fig 28 que apresenta situação

canônica do flutuador sendo único corpo flutuante. É nítido notar que nesta situação o RAO do

flutuador não sofre nenhum impacto com a variação da profundidade.

De acordo com a Figura 30, na presença do refletor a profundidade pode causar uma

variação do RAO. O Refletor atuou melhor em pequenas profundidades para pequenos

períodos, onde sabemos que no intervalo de 4,5s até 6s o RAO ultrapassa 1. Para períodos a

partir de 10,75s, o refletor começa a atuar melhor na profundidade de 15m do que 7,5m. A

partir de 14s, o refletor atua praticamente na mesma eficiência para profundidades de 15m e

30m.

Como a profundidade não altera o comportamento do RAO quando o flutuador não está

em conjunto com o Refletor, será analisado somente a Potência Extraída e o Fator de Captura

da simulação com profundidade de 7,5m. É observado na Fig 26 o comportamento da Potência

Extraída do caso 4, caso 5 e caso 6 descritos acima.

42

Fig 28: Curva de RAO

O refletor consegue maximizar a Potência média Extraída em aproximadamente 62kW

quando submetido a uma profundidade de 15m ou 30m, ou seja uma diferença de apenas 2 kW

para o máximo de Potência média Extraída do caso 4. É importante ressaltar que o pico da

curva de Potência Média Extraída ocorre no Período de 4,5s, que apesar de ser um período de

onda presente no campo de Pecém ocorre com uma frequência menor do que outros períodos

de onda.

Fig. 29: Layout Analisado

Fig 30: Curva de RAO

43

Fig 31: Curva de Potência Extraída

Fig 32: Curva de Fator de Captura

4.4 - Influência do comprimento do Refletor

O estudo também avaliou o comportamento do refletor em relação ao seu comprimento.

Foi interessante observar se um comprimento maior refletiria em um aumento de energia, já

que o refletor captará uma massa de água conforme o aumento de seu comprimento. Vale

ressaltar que cada parâmetro é variado de casa vez, para saber se a modificação nos parâmetros

de saída são realmente vindos da variação dos parâmetros de controle. Nesse caso, todas

simulações foram feitas com uma profundidade de 7,5m e foi variado somente o comprimento

do refletor.

44

Fig 33: Layout Analisado

Como pode ser observado na Fig 34, o RAO varia conforme o comprimento do refletor.

Quando o refletor está na presença de ondas com períodos maiores, ele acaba agindo como um

freio para as ondas e quase não transfere movimento para o flutuador. Em todos os casos, para

ondas com um período de 10s, o flutuador obteve uma RAO menos que 0,8 na presença do

flutuador. Quando maior foi o comprimento do refletor mais ele agiu como um dispersor de

energia. O refletor conseguiu aumentar a capacidade de geração de energia para períodos mais

curtos, no geral de 3,75s até 6,5s.

Deve-se ressaltar que na Fig 35, a Potência Média Extraída apresenta um

comportamento muito diferente do RAO. Apesar do RAO em períodos curtos ter um melhor

comportamento para os refletores menores, quando olhamos para a Potência Extraída esse

comportamento é diferente. A equação de geração de energia por meio do flutuador em heave,

também é função da massa adicional e do amortecimento. O comportamento desses parâmetros

não foi avaliado no estudo.

Fig 34: Curva de RAO

Observando a Fig 35, a Potência Média Extraída apresenta um máximo em 3,75s para

o Refletor de 16m e o Refletor de 4m um máximo em 4,25s. É interessante notar que no

primeiro caso ondas com tal período não estão presentes no sítio e no segundo o período de

ocorrência também tem pouca probabilidade de aparecer no sítio. Utilizando essa análise para

o sítio de Pecém e Mucurípe, o refletor não traz vantagem alguma. Porém regiões com períodos

de ondas muito curto(5,5s>) em grande ocorrência são aconselháveis de ter acoplado ao point

absorver um refletor.

45

Pode-se dizer que em todos os casos mostrados até o momento, nas seções 4.1, 4.2 e

4.3, o fator de captura foi considerado muito pequeno. Apesar da energia disponível no sítio, o

flutuador aproveita no caso máximo 60% da mesma. Porém, em mais de 75% dos casos

simulados o fator da captura é menor que 0.5 ou 50% da energia disponível nas ondas do sítio.

Fig 35: Curva de Potência Extraída

Fig 36: Curva de Fator de Captura

4.5 - Influência do ângulo de abertura no Refletor

O estudo procurou simular diversas situações para esmiuçar o comportamento do

refletor. Nesta seção, foi variado o ângulo de abertura do refletor a fim de que consiga-se

encontrar uma abertura ótima para o refletor. Confirme a Fig 38, o ângulo de abertura dos

refletores foi simulado em um intervalo de 30° até 150° com um passo de 30°

Nota-se que o para os ângulos obtusos, as curvas de RAO possuem um comportamento

similar com um mínimo local e um máximo em períodos de onda muito próximos. O

comportamento dessas curvas também se acentuam com o aumento do ângulo de abertura.

Importante dizer que o mesmo o ângulo de 150° apresentando um RAO máximo maior que os

46

outros casos então consequentemente RAOs maiores que todos os outros ângulos de abertura

de 5s até 7s, após esse período de onda os refletores se comportam da mesma forma

independente do ângulo de abertura. O RAO para ondas de 20s é ligeiramente menor que 6s,

ou seja, o refletor se desloca bem menos que a altura de onda e com isso gera muito pouco

energia nessa configuração.

Fig. 37: Layout Analisado

Fig 38: Curva de RAO

Nesse caso, o comportamento do RAO segue o esperado e o influencia no

comportamento da Potência Média Extraída. Como pode ser visto pela Fig 39, o refletor com

47

150° apresenta a melhor curva de Potência Média Extraída e um crescimento de mais de 60%

em relação a curva de 120° no mesmo Período. Mostrando como o RAO impacta no parâmetro

final, já que o mesmo intervalo na curva de RAO a diferença é de somente 33%.

Fig 39: Curva de Potência Extraída

Figura 40: Curva Fator de Captura

4.6 - Influência da posição do Refletor no oceano

Após ser estudada a modificação do refletor para otimizar a captação da energia das

ondas, foi necessário, para aprofundar o estudo, olhar para o comportamento do flutuador, se a

posição do refletor for modificada. O flutuador foi mantido na sua posição inicial e em

contrapartida o refletor foi afastado da sua posição original se movimento pelos eixos x e y.

Olhando a tabela 2, no capítulo 3, pode-se ver que dos casos 13 ao 16 essa movimentação foi

realizada.

48

Fig. 41: Layout Analisado

O resultado desta nova configuração é visto nas figuras a seguir. Em relação ao RAO,

pode ser constatado na figura 42 que houve um ganho de performance em relação a

configuração original. Não só conseguiu-se obter RAO maiores do que 1 em determinados

períodos como também aumentar a faixa de períodos que o RAO está acima de 1.

Figura 42: Curva de RAO

Como já foi mostrado na modelagem matemática, o RAO influencia diretamente na

geração de Potência no flutuador. É visto na figura 43, uma potência máxima extraída acima

de 100kW em períodos abaixo de 5s. Importante lembrar que é de interesse do estudo períodos

entre 6s e 12s. Nessa faixa de período, as configurações em que o refletor está afastado de 6m

e 8m da sua posição inicial possuem uma performance melhor e próxima a 20kW por uma faixa

49

de períodos mais larga. O FC foi registrado na figura 44 e apresenta comportamento

semelhante a figura 43. Ressalta-se que o FC máximo de comparação foi aproximadamente 0.8

com o período de 3,75s e na faixa de períodos procurada o FC está na entre 0,12 e 0,095.

Fig 43: Curva de Potência Extraída

Fig 44: Curva de Fator de Captura

4.7 - Influência do Refletor na altura de onda

Quando observa-se a interação entre o refletor e o oceano consegue-se notar que se

forma entre as placas do refletor uma região diferenciada. Tal região aparece na presença do

flutuador ou somente quando simulamos os refletores. Na Fig 45 que apresenta o

comportamento da lâmina d’água, pode ser observada a situação descrita anteriormente.

A legenda da Figura 45, revela que a elevação da superfície da onda se intensifica

exatamente quando a onda passa pelos refletores e se dispersa tanto antes quanto após as placas.

Essa figura, que apresenta os refletores de 8m de comprimento, ajuda a compreender a melhor

forma de usar os refletores. É nítido que a frente de onda apresenta uma elevação na região

entre os refletores e uma grande parcela deste efeito se perde após as placas. A amplitude de

50

onda configurada no Software foi de 0,75m e vemos na região em vermelho uma nova altura

de onda de 1m. Com esse ganho na altura de onda, foi percebido a necessidade de modificar a

posição do flutuador no oceano. Os resultados em RAO, potência média extraída e fator de

captura serão mostrados nas próximas seções.

Fig 45: Elevação da Superfície do Mar

4.8 - Influência da posição do flutuador em relação ao refletor

Anteriormente, foi apresentado resultados sobre mudanças nos refletores e seu impacto

no comportamento do flutuador. Quando foi percebido que o refletor conseguia aumentar a

altura de onda em determinada região como mostrado na seção 4.5, apareceu a necessidade de

movimentar o flutuador para o mais próximo possível desta região. Esta decisão foi tomada

com base na equação 3, porque sabe-se ondas com maior altura possuem um maior potencial

energético.

No capítulo 3, seção 3.2, foi apresentado na tabela 2, os casos variantes da configuração

original e pode-se ver que do caso 17 ao 24 foram feitas análises com essa mudança de posição

do refletor em relação a posição inicial central. Para avaliar a performance do flutuador nessa

configuração também foi modificado a posição do refletor, afastado em x e y de 0m, 4m e 8m

4.8.1 - Refletores com rx=0 e ry=0

Para a situação mais simples em que o somente o flutuador modifica sua posição inicial

e avança para mais próximo da região com maior altura de onda temos o resultado ilustrado

nas figs 47, 48 e 49. O flutuador foi colocado na sua posição central entre os refletores, na

região de altura de onda máxima e no ponto médio dessas distâncias, ou seja em uma posição

intermediária com uma altura de onda também intermediária.

A variação de RAO, apresentada na fig 47, mostra um resultado acima de 1 em intervalo

de período bastante significativo conforme o flutuador é movimentado para região em que a

elevação da superfície do mar é maior. Ainda observando a figura 47 pode se constatar que

toda curva de RAO apresenta valores maiores quando o flutuador é modificado para mais

próximo desta elevação.

51

Fig 46: Layout Analisado

Na fig 48 a seguir, tem o resultado da potência média extraída nestas configurações. É

possível observar novamente o efeito otimizador do RAO na potência extraída, visto para a

situação de fy=8m, tem-se um pico de 250kW e para fy=4m tem-se um pico de 210kW. Como

esperado o gráfico de FC, representado na fig 49, apresenta curvas com o mesmo formato da

potência média extraída e valores de pico que pela primeira vez estão acima de 1, ou seja, todo

potencial energético do sítio foi aproveitado nesse intervalo de período. Infelizmente, esse

intervalo são para períodos muito pequenos e fora da zona de interesse para o sítio de Pecém e

Mucuripe especificamente.

Fig 47: Curva de RAO

52

Figura 48: Curva de Potência Extraída

Figura 49: Curva de Fator de Captura

4.8.2 - Refletores com rx=4 e ry=4

É interessante ressaltar que esta configuração mescla dois elementos. A modificação da

posição dos refletores em relação a posição inicial, como mostrado na seção 4.5, e a análise

atual de movimentação do flutuador para a zona de elevação da superfície elevada. Já pode-se

observar pelo gráfico de RAO, na figura 51, a união dos dois comportamentos.

A variação de RAO, apresentada na figura 51, mostra um resultado acima de 1 com

pico em 1,8 e a presença de um intervalo de período bastante significativo conforme o flutuador

é movimentado para região em que a elevação da superfície do mar é maior. Ainda observando

a figura 51, pode se constatar que toda curva de RAO apresenta valores maiores quando o

flutuador é modificado para mais próximo desta elevação.

53

Fig. 50: Layout Analisado

Na fig 52 a seguir, tem o resultado da potência média extraída nestas configurações. É

possível observar novamente o efeito otimizador do RAO na potência extraída, visto para a

situação de fy=12m, tem-se um pico de 250kW e para fy=8m tem-se um pico de 150kW. É

necessário ressaltar que apesar de ter um pico de potência menor na situação intermediária,

fy=8m, do que na seção 4.7.1, a potência média apresenta uma faixa de valores acima até o

período de 5,5s. Como esperado o gráfico de FC, representado na fig 53, apresenta curvas com

o mesmo formato da potência média extraída e valores de pico que estão novamente acima de

1, ou seja, todo potencial energético do sítio foi aproveitado nesse intervalo de período.

Novamente, esse intervalo são para períodos muito pequenos e fora da zona de interesse para

o sítio de Pecém e Mucuripe especificamente.

Figura 51: Curva de RAO

54

Figura 52: Curva de Potência Extraída

Figura 53: Curva de Fator de Captura

4.8.3 - Refletores com rx=8 e ry=8

Como novamente esta configuração mescla dois elementos. A modificação da posição

dos refletores em relação a posição inicial, como mostrado na seção 4.5, e a análise atual de

movimentação do flutuador para a zona de elevação da superfície elevada. Pode-se observar

pelo gráfico de RAO, na figura 55, a união dos dois comportamentos.

A variação de RAO, apresentada na figura 55, mostra um resultado acima de 1 com

pico em 1,78 e a presença de um intervalo de período bastante significativo conforme o

flutuador é movimentado para região em que a elevação da superfície do mar é maior. Ainda

observando a figura 55, pode se constatar que toda curva de RAO apresenta valores maiores

quando o flutuador é modificado para mais próximo desta elevação. Importante ressaltar que o

comportamento descrito é muito parecido tanto para o melhor caso, fy=16, quanto para situação

intermediária, fy=12.

55

Fig. 54: Layout Analisado

Na fig 56 a seguir, tem o resultado da potência média extraída nestas configurações. É

possível observar novamente o efeito otimizador do RAO na potência extraída, visto para a

situação de fy=16m, tem-se um pico de 200kW e para fy=12m tem-se um pico de 145kW. É

necessário ressaltar que apesar de ter um pico de potência menor na situação intermediária,

fy=12m, do que nas seções anteriores, a potência média apresenta uma faixa de valores acima

até o período de 6,5s e para fy=16 até o período de 7s. Como esperado o gráfico de FC,

representado na fig 57, apresenta curvas com o mesmo formato da potência média extraída e

valores de pico que estão novamente acima de 1, ou seja, todo potencial energético do sítio foi

aproveitado nesse intervalo de período. Novamente, esse intervalo são para períodos muito

pequenos e fora da zona de interesse para o sítio de Pecém e Mucuripe especificamente.

Figura 55: Curva de RAO

56

Figura 56: Curva de Potência Extraída

Figura 57: Curva de Fator de Captura

4.9 - Configuração final Sugerida

Conforme os resultados anteriores, consegue-se constatar que o caso 22, em que o

flutuador está entre os refletores e na posição com maior elevação, foi aquele mostrou o melhor

resultado de RAO para a faixa de Período procurada. Com base nisso, foi desenvolvido um

modelo um pouco diferenciado com 4 flutuadores e os 4 refletores. Assim, otimizou-se a

quantidade de refletores e flutuadores no layout. Nesta seção será discutido o resultado dessa

configuração.

Pela figura 59, podemos observar o RAO das três posições dos flutuadores, a posição

lateral possui simetria. Interessante observar que 3 dos 4 flutuadores performam melhor em um

grande intervalo de período que o caso inicial que possui somente o flutuador. E em ambos os

casos com melhor resultados, posição frontal e lateral a onda, o RAO também é maior do que

1 em um intervalo de período.

57

Fig 58: Layout final sugerido

Quando analisa-se a fig 61, o gráfico sobre a potência extraída, observa-se mais uma

vez que um RAO muito elevado consegue melhorar a geração de energia da onda. Olhando

para os períodos iniciais com RAO acima de 1,2 temos essa confirmação. Após esse fenômeno

no Período de 8s, as curvas de Potência extraída estão com um comportamento bastante similar.

A curva de fator de captura possui o mesmo formato da curva de potência mais uma

vez e aparece um pico de rendimento de 1 para curva do flutuador frontal. Esse mesmo

flutuador, apresenta um FC de 0,57 para o período procurado de 6s.

Fig. 59: Curva de RAO

58

Figura 60: Curva de Potência Extraída

Figura 61: Curva de Fator de Captura

4.10 - Estudo de Caso: Mucurípe

Como foi dito no capítulo 3, existe uma situação final que é objeto de estudo deste

trabalho. Depois de entender a relação da geração de energia do flutuador na presença de um

refletor, o estudo simulou uma situação mais próxima de um caso real. A região de Mucurípe

que foi escolhida para esta simulação possui um porto no INACE que é uma parte de estudo

neste trabalho. Analisamos como o porto do INACE pode se comportar como um refletor de

proporções maiores. Da mesma forma que foi mostrada na seção 4.6, inicialmente fizemos

uma simulação para ver o impacto deste porto na elevação das ondas sem a presença do

flutuador cujo resultado será apresentado na seção a seguir.

4.10.1- Estudo da elevação do Mar - Sem flutuador

59

Conforme está representado na figura 62, a elevação do mar na região de Mucuripe

sofre uma influência do porto do INACE. Para esta simulação foi utilizado o valor de altura de

onda de 1,5m, mesmo valor da região do porto de Pecém, porém o input do programa é a

amplitude de onda cujo valor é metade da altura de onda, ou seja 0,75m. Outro detalhe

importante a mencionar é a direção de onda, que foi corrigida para imitar a frente de onda que

vem aproximadamente perpendicular ao sítio. Desta forma, foi colocada uma frente de onda na

direção de 130º no referencial do Aqwa. A saber, para o Aqwa a direção 0º é o vetor de direção

do eixo x, no mesmo sentido e a direção varia no sentido horário.

O mapa de cores extraído do Aqwa foi configurado para que toda superfície com valor

igual ou menor que 0,75m ficasse com a mesma cor a fim de que pudesse o efeito do porto

pudesse ser melhor visualizado. Conseguimos verificar pela figura que o porto consegue elevar

o nível do mar e em alguns ponto no valor máximo de 1,6516m porém de uma forma mais

pontual. Consegue-se identificar regiões com aproximadamente 1m de amplitude de onda com

mais facilidade. Nas próximas seções, o estudo analisou o comportamento do flutuador

próximo ao porto do INACE.

Figura 62: Elevação da superfície do Mar

4.10.2 - Performance do flutuador a distância de 30m.

O flutuador recebeu a excitação da frente de onda e apresentou os resultados das fig 63,

64 e 65. Seguindo a linha já utilizada neste trabalho extraímos do Aqwa o RAO, a potência

extraída e o Fator de Captura. O RAO está sendo mostrado na figura 63 e foi constatado uma

curva com um perfil bastante diferente de todos os outros já registrados durante o trabalho.

Nesta configuração temos uma curva de RAO com um vale bastante agudo no período

de 10s. Já olhando no período de 6s, de interesse do estudo, o RAO está acima de 1,8 indicando

bastante movimento do flutuador em relação a onda incidente.

60

Figura 63: Curva de RAO

A curva representada na Figura 64, de Potência Média Extraída, ressalta mais uma vez

o impacto do RAO na captação de energia. Primeiro no período de 5s, quando o RAO é de

0,617, observa-se que uma queda na acentuada da Potência que volta a subir no período

seguinte. Depois no período de 10s e que o RAO é de 0,257 entretanto a Potência Extraída

permanece bastante baixa, visto que em períodos mais altos há uma dificuldade de gerar energia

no modelo de point absorber. Lembrando que a curva de fator de captura tem o mesmo formato

da curva de Potência Extraída. Para este caso, tivemos somente um Fator de Captura acima de

1 em 4s e 3 pontos acima de 0,6 que foram 5,5s, 6s e 6,5s.

Figura 64: Curva de Potência Extraída

61

Figura 65: Curva de Fator de Captura

4.10.3 - Performance do flutuador a distância de 40m.

Nesta configuração, o vale também aparece na curva de RAO porém um pouco

retardado em relação ao vale que surge na configuração anterior. Trazendo para este layout um

RAO maior do que 1 em um intervalo de período 6,5s até 9,5s. O RAO, figura 66, volta a ser

maior que 1 após o período 17,5s. No período de 6s, de interesse do estudo, o RAO está em

0,889.

A curva representada na Fig 55, de Potência Média Extraída, ressalta mais uma vez o

impacto do RAO na captação de energia. Primeiro no período de 5s, quando o RAO é de 0,617,

observa-se que uma queda na acentuada da Potência que volta a subir no período seguinte.

Depois no período de 10s e que o RAO é de 0,257 entretanto a Potência Extraída permanece

bastante baixa, visto que em períodos mais altos há uma dificuldade de gerar energia no modelo

de point absorber. Lembrando que a curva de fator de captura tem o mesmo formato da curva

de Potência Extraída. Para este caso, tivemos somente um Fator de Captura acima de 1 em 4s

e 3 pontos acima de 0,6 que foram 5,5s, 6s e 6,5s.

Figura 66; Curva de RAO

62

Figura 67: Curva de Potência Extraída

Figura 68: Curva de Fator de Captura

4.10.4 - Performance do flutuador a distância de 50m.

Nesta configuração, o vale também aparece na curva de RAO porém um pouco

retardado em relação ao vale que surge na configuração da seção 4.9.3. Trazendo para este

layout um RAO maior do que 1 em um intervalo de período 7,5s até 11,5s. A esta distância o

RAO só volta a ser maior que 1 no período de 20s. No período de 6s, de interesse do estudo, o

RAO está em 1.285, ou seja, 6s está dentro da primeira faixa de RAO acima de 1 que ocorre

nesta configuração.

A curva representada na Fig 70, de Potência Média Extraída, ressalta mais uma vez o

impacto do RAO na captação de energia. Caso o RAO se mantivesse constante ou com valores

próximos seria esperado uma queda na captação da potência todavia quando vemos o período

4,5, e 5s isto não acontece. O RAO sofre um acréscimo e causa também um aumento da

potência média extraída. O mesmo fenômeno ocorre no período de 6,5s até 7s. Lembrando que

a curva de fator de captura tem o mesmo formato da curva de Potência Extraída. Para este caso,

63

tivemos somente um Fator de Captura acima de 1 em 3,5s e 6s e 3 pontos acima de 0,6 que

foram 4, 4,5s e 5s.

Figura 69: Curva de RAO

Figura 70: Curva de Potência Extraída

64

Figura 71: Curva de Fator de Captura

4.11 - Análise do Espectro de Pierson-Moskowitz

Como apresentado na seção 2.6.5 do capítulo 2, a formulação de um espectro de ondas

é necessária para vermos um comportamento mais fiel da realidade já que a formulação

espectral aproxima o comportamento de uma onda de gravidade formada pela combinação de

um número finito de ondas regulares vindas de diferentes direções. Por isso, foi calculada a

Potência de Ondas irregulares e seu respectivo Fator de Captura para alguns casos estudados

que foram considerados mais importantes.

Os resultados são apresentados em perspectivas diferentes: intervalo total do período

de onda do sítio (2s-20s), intervalo de períodos mais energéticos (6s-8s) e intervalo de períodos

que aparecem no verão (6s-12s). Dessa forma, consegue-se ter uma visão mais ampla do

comportamento do dispositivo de energia das ondas. Então foi possível comparar o

desempenho do flutuador em seu layout original e as modificações sugeridas pelo trabalho

presente.

A tabela 6 mostra os resultados para os casos 1, 4, 22 e 23, é necessário ressaltar que o

caso 23 apresenta um layout mais complexo. Enquanto na seção 4.9 nas figuras 59 e 60 foi

mostrado graficamente o comportamento deste layout como um todo. Na tabela 6 o

comportamento do wec é considerado simétrico em cada flutuador, visto que na análise de

ondas irregulares os 4 flutuadores apresentam o mesmo comportamento com ondas vindo de

todas as direções, sem nenhuma direção preferencial.

O caso 1 apresenta o resultado do flutuador simples, sem nenhuma modificação. Ao

inserir o refletor temos o caso 4, o layout mais simples com um refletor. A presença do refletor

trouxe uma modificação na captação de energia com o Espectro de PM, vemos pela tabela 6,

que o caso 4 consegue trazer 2kW a mais do que o caso 1, em todo o período de onda. Quando

os períodos mais importantes são observados, consegue-se constatar uma vantagem do caso

original. Em ambos intervalos de períodos de 6s-8s e 6s-12s, o caso 1 apresentou uma Potência

Média Extraída de ondas irregulares aproximadamente 1,5kW maior. Obviamente, o Fator de

Captura segue o mesmo padrão, ou seja, nos intervalos de períodos selecionados o caso 1

apresenta uma melhor performance e no intervalo total da análise o caso 4 possui um Fator de

Captura ligeiramente maior.

65

Tabela 6: Potência Média Extraída e Fator de Captura de Ondas irregulares vs Efeito do

refletor.

Casos

Potência Extraída de Ondas Irregulares [W]

Fator de Captura de Ondas Irregulares

6s-8s 6s-12s Total 6s-8s 6s-12s Total

1

12,501.67

13,426.72

40,742.31 0.043 0.041 0.070

4

11,463.54

12,065.03

42,761.08 0.040 0.037 0.074

22

28,088.05 29,171.37

78,249.80 0.098 0.090 0.135

23 - Frontal

28,154.33

29,239.46

77,699.98 0.098 0.090 0.134

Continuando a olhar a Tabela 6, vê-se o caso 22 que mostra layout de melhor resultado

na análise de ondas regulares. Para ondas irregulares, era esperado que os melhores números

também viessem desta configuração. Pela tabela 6, o caso 22 quase dobra a Potência média

Extraída de ondas irregulares em comparação com o caso 1. Quando se observa os intervalos

menores, o caso 22 mais que dobra o valor da Potência Média Extraída por ondas irregulares.

Confirmando ser a melhor configuração entre refletor e flutuador. O fator de captura segue o

mesmo comportamento da Potência Média extraída.

A última sugestão feita por esse trabalho foi tentar otimizar a quantidade de refletores

e flutuadores, que no caso 4, original, era de 4 refletores para somente 1 flutuador e a

configuração final do caso 23 possui 4 refletores e 4 flutuadores como visto na figura 18. O

resultado do caso 23 possui uma ligeira diferença para o caso 22 já que há interação entre os 4

flutuadores. Novamente, o caso 23 apresenta resultados superiores ao caso 1. Interessante

observar que durante o intervalo total de períodos o caso 23 tem uma potência média extraída

de ondas irregulares menor que o caso 22, entretanto nos períodos mais importante o resultado

do caso 23 é um pouco melhor.

É necessário também avaliar o comportamento do flutuador perante ao Quebra mar de

Mucurípe sob a ótica das ondas irregulares. Vemos os resultados desse cálculo na tabela 7, que

contém novamente as Potências Médias Extraídas e o Fator de Captura para ondas irregulares.

O efeito do Quebra mar sob a abordagem de ondas regulares trouxe um resultado bastante

positivo com RAO’s maiores que 1,5 em todos os casos. Então era de se esperar que os

resultados para ondas irregulares seriam bastante positivos também.

Ao analisar a tabela 7, vemos que para o caso com distância de 30m é aquele com

maiores Potência Média Extraída e maiores Fator de Captura. Em todos os intervalos estudados

a distância de 30m teve números maiores que as outras distâncias escolhidas. É necessário olhar

também a Potência Extraída dos casos da tabela 6 em comparação com a tabela 7.

Tabela 7: Potência Média Extraída e Fator de Captura de Ondas irregulares do flutuador na

Região de Mucurípe.

66

Casos

Potência Extraída de Ondas Irregulares [W]

Fator de Captura de Ondas Irregulares

6s-8s 6s-12s Total 6s-8s 6s-12s Total

30m

59,230.243

60,119.068

94,931.936

0.166

0.153

0.168

40m

35,528.824

38,192.234

86,752.425

0.099

0.097

0.153

50m

30,080.906

33,144.044

87,043.743

0.084

0.084

0.154

Nessa abordagem é natural avaliar o melhor layout da tabela 6 que é o caso 22

em comparação com a configuração que não performa tão bem da tabela 7, o caso com distância

de 50m. Comparando a potência média extraída em todos os intervalos registrados é nítido que

o caso de 50m gera uma potência superior em todas as situações e quando é avaliado os

intervalos maiores, o caso de Mucurípe amplia sua vantagem para mais que o dobro no

intervalo completo de períodos.

Agora, comparando entre os casos de Mucurípe, tem-se na tabela 7 que o flutuador

afastado de 30m possui a melhor performance dentre todos. A essa distância o flutuador

apresenta resultados melhor em todos os intervalos estudados e em comparação com a distância

de 50m quase dobra sua performance no intervalo de 6s-8s. Interessante observar que no

intervalo completo de 2s-20s a diferença entre as performances é de 7kW mas nos intervalos

menores conseguimos ver que a distância de 30m tem um potência superior em 19kW.

4.12 - Discussão

Durante este trabalho, foi explicado desde a necessidade de maiores estudos e

investimento em energias limpas e renováveis até a condução de uma análise de um modelo de

máquina conversora de energia das ondas. Tal análise é conduzida porque foi notado um grande

potencial energético mundial para este tipo de fonte de energia e em especial no Brasil que

possui uma costa de tamanho continental. Foi apresentado não só o potencial energético como

também diversos tipos de tecnologias que são utilizadas para gerar energia com os oceanos.

Como o mercado ainda não possui um tipo prioritário de forma de geração de energia pelos

oceanos, o trabalho escolheu analisar a tecnologia de point absorver que é uma das principais

utilizadas e possui algumas vantagens importantes para o projeto.

O point absorver possui um característica bastante importante que é conseguir captar

ondas de todas as direções e gerar energia da mesma forma. Outras tecnologias apresentam

direções preferenciais que pode ser utilizadas de forma vantajosa dependendo do sítio

escolhido. Outro aspectos interessantes do point absorver é que ele possui um layout bastante

simplificado, já que este conversor de energia nada mais é do que uma boia marítima. Ou seja,

a estrutura geral do equipamento é bastante simples o que diminui o custo de construção e

manutenção.

Da mesma forma que Khan[28] e Ishikawa[29], este trabalho seguiu uma linha

previamente escolhida em cima de uma pesquisa ocorrida no PPE da COPPE/UFRJ que está

analisando um gerador de energia das ondas point absorver colocado no sítio de Pecém em

67

Pernambuco. Este grupo de pesquisa já realizou trabalhos tanto pela linha energética como

Khan[28], Ishikawa[29] e o presente estudo como contribuições sobre os esforços sofridos pela

estrutura, o sistema de gerador desta máquina entre outros temas que envolvem os oceanos

como fonte alternativa de energia. Neste processo foi trazido a adição de refletores no layout

da torre que é utilizado para conduzir o movimento do flutuador. Era esperado que os refletores

modificassem o comportamento do RAO deste corpo flutuante e com isso otimizar a geração

de energia.

No estudo foram realizadas simulações numéricas computacional já que o custo de

realizar uma bateria de testes experimentais é bastante alto. Em um estudo experimental haveria

uma bateria de testes de bancadas e caso houvesse resultados favoráveis um segunda bateria

de teste no mar, primeiro um local de teste mais controlado e aproximado das condições reais

e depois no sítio principal escolhido para implementação do equipamento. O estudo numérico

computacional consegue antecipar resultados e situações a fim de otimizar a etapa

experimental. Escolhemos o Ansys Aqwa para este tipo de estudo porque é um software de

mercado e simples de ser manipulado, logo a metodologia deste trabalho pode ser replicada

para outros sítios, outras geometrias de flutuadores e geometrias de refletores de uma forma

mais facilitada.

Foi configurada 26 simulações, sendo 23 simulações para analisar o comportamento do

refletor que levaram a 3 simulações extras que tentaram reproduzir o efeito do refletor no porto

do INACE que fica em Mucurípe. Levantou-se a hipótese que a parede do Quebra mar do

INACE funcionaria da mesma forma que os refletores colocados no projeto de um flutuador

solitário em alto mar. Para levantar essa hipótese foi necessário entender como o refletor pôde

agregar no comportamento do RAO, este parâmetro foi escolhido como base de comparação

visto que na equação do modelo de geração de energia de um point absorver ele é um fator ao

quadrado, ou seja ele potencializa a geração de energia mais do os outros termos como o

amortecimento e frequência. Da mesma forma, para o modelo de potencial energético nos

oceanos a altura de onda é o termo quadrático desta equação. O termo quadrático em ambos os

casos são importantes porque o RAO é a relação do deslocamento do flutuador com a altura de

onda incidente. Em contra-partida os dois modelos divergem no período de onda, já que para

o modelo do WEC como point absorver a potência média extraída possui um comportamento

inversamente proporcional por causa do fator da frequência que é o inverso do período fazendo

a potência média extraída decrescer hiperbolicamente, e na equação do potencial energético o

período é um fator da equação que aumenta o potencial energético de forma linear. Esta análise

é muito importante para o trabalho e foi comprovada com os resultados numéricos das

simulações visto que em todos os gráficos apresentados de potência média extraída os maiores

valores, em alguns casos maiores que 100kW, eram presentes em períodos mais curtos até 5s.

Para períodos médios, de 5s até 10s, foi visto que o termo quadrado do RAO ainda consegue

diminuir o efeito da diminuição da frequência em alguns casos e melhorar a potência média

extraída. Em todos os gráficos após 10s, a curva de potência média extraída tem pouca variação

e apresentam valores abaixo de 20kW e em muitos casos em um comportamento decrescente

assintótico.

É necessário observar com mais detalhes o comportamento do refletor que foi divido

em 2 grandes grupos: o comportamento do refletor conforme a modificação de um parâmetro

intrínseco e o comportamento do refletor conforme a modificação de sua posição no layout. No

primeiro grupo, foi modificado tanto a altura, comprimento e ângulo de abertura e no segundo

grupo foi modificado a posição refletor em relação ao flutuador e vice-versa para otimizar o

68

RAO gerado no flutuador. Este segundo grupo só veio como consequência dos resultados do

primeiro grupo que não foram satisfatórios.

Observou-se que a altura de onda se modificada bastante quando interagia com os

refletores. Ao localizarmos essa região no Aqwa, posicionamos o flutuador em posições mais

próximos esperando maior potência. Esse resultado ficou comprovado pois foram obtidos

RAOs maiores do que 1 em todos os casos, nos casos 13, 14, 15 e 16 em que o Refletor foi

afastado do flutuador e o flutuador ficou estagnado em sua posição inicial. Nessa configuração,

conforme aumentava o afastamento do refletor também foi melhorado o valor mínimo do RAO

que no melhor caso, caso16, ficou pouco acima 0,8. Todos os casos deste grupo apresentam

um vale no período de 5s, e o caso que mostra melhor recuperação do RAO próximo aos

períodos de 6 até 8s foi o caso 15, com distanciamento de 6m do refletor em relação ao

flutuador.

Com base nessa modificação e a sinalização da região com altura de onda mais elevada,

foi escolhido dentre a configuração anterior colocar o flutuador pouco a pouco mais próximo

da maior elevação de onda. Nos casos 17, 18, 19, 20, 21 e 22, avaliamos como o RAO se

comporta se tivermos os refletores afastados de 0m, 4m e 8m e ao mesmo tempo posicionar o

flutuador no ponto central, no ponto com maior altura de onda e na ponto médio dessa distância

entre o ponto central inicial e a maior altura de onda. Sempre que o flutuador foi aproximado

da maior superfície de onda, a curva de RAO subiu em todos os pontos. Tanto que no caso 22,

com o flutuador na região de maior altura de onda e o refletor com afastamento de 8m, toda a

curva de RAO fica acima de 1, aumentando a potência extraída. No intervalo de 5s até 7s, foi

obtida uma potência extraída acima de 50kW, resultado semelhante aparece somente no caso

21, em que a única diferença para o caso 22 é que o flutuador está posicionado no ponto médio

da região. Conforme esse layout, foi realizado uma simulação com condições idênticas ao caso

22, com um número de 4 flutuadores posicionados entre os refletores.

Com essa configuração final sugerida, pretende-se aproveitar o máximo dos 4 refletores

colocados no mar e também otimizar a geração de energia em todas as direções. Visto que no

caso 22, retiramos a simetria de todas as direções do layout. Dessa forma, o layout não só

conseguirá absorver energia sem nenhuma direção preferencial como também conseguirá

otimizar a relação refletor e flutuador. Ou seja, conseguiremos que 4 flutuadores captem a

energia das ondas na presença de também 4 refletores em vez de 1 flutuador interagir com 4

refletores.

Ao final de entender como o refletor se comporta, o trabalho procurou estudar o

funcionamento do flutuador próximo de uma construção que se assemelhasse ao refletor,

poderia ser o relevo de uma região como um canion mas foi escolhido o Quebra mar do porto

do INACE em Mucurípe-CE. Colocamos o flutuador a 3 distâncias distintas do Quebra mar e

vimos sua interação com o RAO. Como esperado as ondas incidentes bateram no anteparo do

Quebra mar e criaram uma região de superposição de ondas elevando a altura de onda e

trazendo um RAO maior para o flutuador. Em todos os casos, foi notado um RAO maior do 1

em um intervalo maior do que 3s de período seguidos. No melhor caso tivemos um intervalo

de 7,5s até 11,5s acima de 1 em uma sensível recuperação na captação de potência extraída.

Todas as curvas de RAO também obtiveram um vale considerável abaixo de 0,7 mas que não

afetou o período de 6s que era de interesse particular deste estudo.

Para finalizar com um entendimento mais completo sobre o refletor foi feito uma

análise do impacto de ondas irregulares em alguns casos importantes e também no estudo de

caso de Mucurípe. Foi visto que ao usarmos a abordagem do espectro de Pierson-Moskowitz o

69

refletor teve um desempenho bastante positivo. O comportamento do WEC foi visto sob

diferentes intervalos de períodos para se ter um entendimento mais acurado e isso trouxe uma

vantagem para o estudo. Foi mostrado que o refletor agia melhor nos períodos mais críticos

para o sítio o que eleva sua importância para o layout.

70

5 - Conclusão

Neste capítulo são apresentadas as última consideração deste trabalho em relação ao

objetivo geral do trabalho, ou seja, comparar o desempenho de flutuador sem e com interação

entre as placas refletoras, buscando obter um modelo que otimize a absorção da energia das

ondas. Ao longo do estudo foi sendo desenvolvido diversas etapas para entender melhor o

comportamento da interação flutuador-refletor, tanto que foi proposto um modelo final que se

destaca em relação aos demais. Entretanto antes de falarmos sobre esta sugestão, é importante

falar de forma sequencial que os principais resultados foram obtidos.

Inicialmente os modelos de flutuadores com refletores foram avaliados de forma que

os flutuadores tinham uma posição fixa no centro de flutuadores e com uma distância

milimétrica de cada placa refletora, e observou-se então que não houve influência positiva

significativa no desempenho dos mesmos quando foram testados com três profundidades

diferentes, refletores com 3 comprimentos diferentes e ângulos de abertura variados entre os

refletores. Em seguida, verificou-se também que não teve diferença no desempenho quando

comparado os modelos com e sem flutuador posicionado em frente os flutuadores, em alguns

casos apresentando uma performance bem inferior.

Na segunda fase do estudo, foi analisado o comportamento do flutuador em uma

posição relativa diferente do refletor mas o refletor tinha constante suas dimensões. Esta etapa

foi iniciada deixando o flutuador parado em seu lugar de origem e afastando as placas

refletoras. Percebeu-se que o afastamento das placas refletores trouxe um aumento de RAO

para o flutuador. Durante a primeira fase, percebeu-se que há uma região entre as placas que a

altura de onda é maior que a altura de onda do sítio. Sendo assim entendeu-se que era necessário

estudar como o comportamento do flutuador reagiria se essa região fosse otimizada. Então foi

planejado em deixar as placas refletoras na posição inicial da fase 1 e mudou-se o flutuador de

posição até ele estar na região de maior altura de onda. Este modelo trouxe o melhor resultado

entre os estudados (RAO>1 em vários períodos), então foi sugerido um modelo otimizado que

mescla o melhor da segunda fase: Placas refletoras afastadas de 8m do flutuador e o centro de

massa do flutuador posicionado em um altura de onda maior que a altura de onda do sítio.

Depois de analisar o comportamento do flutuador e refletor para ondas regulares e

entender como o refletor aumentava a altura de onda do sítio. Um caso real foi analisado, o

quebra-mar de Mucurípe, e com isso foi simulado como pode-se otimizar o comportamento do

flutuador com corpos refletores já presentes no sítio escolhido. No caso de Mucurípe foi testado

3 distâncias e em todos os casos foi detectados RAOs em diversos períodos maiores do que 1.

Por fim, o estudo analisou o comportamento do flutuador e refletor com ondas

irregulares pelo Espectro de Pierson Moskowitz. Nesta abordagem, foram escolhidos 7 dos 27

casos para serem olhados mais a fundo. Novamente, o flutuador que estava com os refletores

teve um desempenho melhor. Quando ele foi posicionado onde a altura de onda era maior, o

valor da potência média extraída foi quase duas vezes maior para os casos 23 e 22 e para o

estudos de caso de Mucurípe mais que dobrou.

Ainda assim, o modelo estudado e proposto não está em seu estado da arte, existem

outras análises a serem feitas para complementar o que foi descoberto neste estudo. É bastante

71

relevante para apoiar a inserção de refletores em máquinas conversoras de energia das ondas

levantar novos trabalhos levando em consideração, parâmetros de ondas, localização,

parâmetros de geometria e layouts do sítio entre outras questões. A seguir, será elucidado um

pouco dessas sugestões.

Antes de aprofundar a proposição de novas abordagens, é necessário reiterar que este

trabalho mantém um padrão de análise realizado anteriormente em que foi estudado o

comportamento de ondas regulares e posteriormente ondas irregulares, de gravidade, com a

utilização de espectro de ondas. Seguindo essa lógica, a primeira adição a esse estudo é simular

novamente este layout com uma nova condição de onda ou novo sítio. Desta forma, será

verificado a atuação do refletor em novas profundidades, período de onda, altura de onda e

direção de ondas. Procurando entender como funciona o refletor diante de novas ondas.

Uma segunda análise importante é entender como o refletor se comporta diante de

outros modelos de WEC. Como trabalhou-se com point absorver e ele é muito versátil,

naturalmente mudar a geometria do flutuador seria a primeira ideia. Os estudos de Ishikawa

trouxeram geometrias como esferas e cones por exemplo, já Khan trouxe uma pirâmide

tetraédrica como a desse estudo, entretanto variou o seu calado. Mas também pode se pensar

em utilizar outros modelos de WEC como Oyster, Pelamis ou Wavegen Limpet e etc. Para esse

tipo de estudo, com WEC distintos, seria interessante até avaliar novas formas de simulação,

utilizando técnicas de CFD.

As técnicas de CFD são bastante poderosas já que conseguem modelar além da

superfície do oceano e trazer cálculos de outras equações governantes como Navier-Stokes e

modelos de turbulência. Dado essa robustez, o CFD exige um grande poder computacional e

por isso não foi utilizado neste estudo. Outro tópico que evoluiria bastante a pesquisa utilizando

CFD é a possibilidade de avaliar os coeficientes de arrasto e sustentação do flutuador, buscando

assim uma geometria ótima.

Foi testado neste trabalho novas configurações no arranjo entre refletor e flutuador,

considerando até a adição de novos flutuadores. Essa tendência é bastante relevante visto que

a progressão das fontes de energia renováveis é serem construídas como usina de energia.

Portanto para uma avaliação mais comercial é interessante construir análise com layouts

diferenciados entre vários refletores e vários flutuadores.

Para fechar, pode-se afirmar que o objetivo deste trabalho foi obtido com êxito e espera-

se que os resultados e as discussões levantadas devam trazer uma luz a pesquisa de novos

dispositivos de aproveitamento da energia marítima. A principal questão trazida pelo trabalho

foi utilizar equipamentos externos e não flutuantes que otimizam o funcionamento de

dispositivos existente e abriu um leque de possibilidades bastante alto para novas tendências

sobre essa matriz energética. É notório também ressaltar que o dispositivo utilizado para essa

otimização, o refletor, é bastante simples de fácil construção e replicação, que pode ser

implementado em máquinas geradoras de energia já atuantes. Todo o trabalho reforça o

potencial da energia das ondas na matriz energética brasileira e pode apontar um grande

pioneirismo do país diante esse tópico de bastante importância mundial. Trazendo uma

otimização e diversificação para o País.

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6- Referências

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