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COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL E O CONTÍNUO ÉTICO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE José Francisco Ramos Zanca (UFF/LATEC) [email protected] Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas (UFF/LATEC) [email protected] Fernando Oliveira de Araujo (CEFET/RJ) [email protected] Helder Gomes Gosta (UFF/LATEC) [email protected] Resumo O presente artigo se propõe a analisar, com base no estado da arte da literatura, possíveis correlações teóricas entre os conceitos de comportamento organizacional e continuo ético, indicando suas contribuições para o constructo “responsabiilidade social corporativa”. O trabalho apresentado é um subproduto de tese de Doutorado, do Programa Pós-Graduação em Gestão, Qualidade e Desenvolvimento Sustentável. Como conclusão, observa-se que os valores corporativos, situados no âmbito do comportamento organizacional, são percebidos como principal fator indutor das respostas (atitudes) da organização para com sua responsabilidade social corporativa. 31 de Julho a 02 de Agosto de 2008

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COMPORTAMENTO

ORGANIZACIONAL E O CONTÍNUO

ÉTICO DA RESPONSABILIDADE

SOCIAL CORPORATIVA: UMA

PROPOSTA DE ANÁLISE

José Francisco Ramos Zanca (UFF/LATEC)

[email protected]

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas (UFF/LATEC)

[email protected]

Fernando Oliveira de Araujo (CEFET/RJ)

[email protected]

Helder Gomes Gosta (UFF/LATEC)

[email protected]

Resumo

O presente artigo se propõe a analisar, com base no estado da arte da

literatura, possíveis correlações teóricas entre os conceitos de

comportamento organizacional e continuo ético, indicando suas

contribuições para o constructo “responsabiilidade social

corporativa”. O trabalho apresentado é um subproduto de tese de

Doutorado, do Programa Pós-Graduação em Gestão, Qualidade e

Desenvolvimento Sustentável. Como conclusão, observa-se que os

valores corporativos, situados no âmbito do comportamento

organizacional, são percebidos como principal fator indutor das

respostas (atitudes) da organização para com sua responsabilidade

social corporativa.

31 de Julho a 02 de Agosto de 2008

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Abstract

This paper analyzes, based on the state of the art of literature, the

possible theoretical correlations between the concepts of

organizational behavior and continuum ethical, indicating its

contributions for the construct “corporative sociaal responsibility”.

This study represents a product of thesis of Doctoral Program in

Management, Quality and Sustainable Development. As conclusion, it

is observed that the corporative values, situated in the scope of the

organizational behavior, are perceived as main inductive factor of the

answers (attitudes) of the organization relationship with its corporative

social responsibility.

Palavras-chaves: comportamento organizacional; responsabilidade

social corporativa; contínuo ético; teoria dos stakeholders; atitudes

organizacionais.

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1 INTRODUÇÃO

Em sentido amplo, a responsabilidade social corporativa tem seu surgimento

vinculado aos diferentes conceitos associados à responsabilidade existente entre a organização

e as diferentes partes interessadas (stakeholders) aos seus negócios. Nesta relação dita

responsável, devem estar contemplados os impactos econômicos, sociais e ambientais por ela

causados.

O artigo apresentado discute as perspectivas de diversos pesquisadores, como Carroll

(CARROLL, 1979) apud (JOYNER; PAYNE, 2002), Raiborn e Payne (1997), (1990), Van

Marrewijk (2004), (2003) e Ketola (2007), segundo os quais as organizações possuem

diferentes níveis de reação ou comportamento em relação ao tratamento da sua

responsabilidade social corporativa. Estes níveis de reação ou comportamento estão

diretamente associados às diferentes estruturas motivacionais da organização, definidas

através dos conceitos de comportamento organizacional, valores organizacionais e individuais

presentes na organização.

2 METODOLOGIA

As características da pesquisa a ser desenvolvida neste trabalho são as seguintes:

a ) Análise descritiva dos atuais princípios e fundamentos referentes a: valores

individuais; valores organizacionais, comportamento organizacional, estruturas

motivacionais e responsabilidade da organização para com as suas diferentes partes

interessadas do negocio.

b ) Ampla pesquisa bibliográfica que ajude a formulação da relação de existência entre os

conceitos associados a comportamento organizacional e o de responsabilidade social

organizacional.

c ) A pesquisa realizada se propõe formular uma relação normativa entre os conceitos de

comportamento organizacional e os conceitos associados a responsabilidade social da

organização.

A pesquisa a ser desenvolvida é classificada, com base nos aspectos supracitados, da seguinte

forma:

a ) Segundo a natureza: a pesquisa caracteriza-se como pesquisa básica posto que procura

a aquisição de conhecimento da natureza sem finalidades práticas ou imediatas

(JUNG, 2003).

b ) Segundo os objetivos: pode ser caracterizada como uma pesquisa exploratória, devido

a que busca desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias existentes, tendo em

vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos

posteriores (SELLTIZ, 1997).

c ) Segundo a abordagem: caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa:

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“A pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem

emprega instrumental estatístico na análise dos dados. Parte de questões e focos de

interesse mais amplos, que vão se definindo à medida que o estudo se desenvolve,

procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja,

dos participantes da situação em estudo”. (MARTINS, 1996) apud (RODRIGUES,

2006)

d ) Segundo os procedimentos: define-se como uma pesquisa bibliográfica. Esta pesquisa

será elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros,

artigos de periódicos de revistas, de dissertações de mestrado e teses doutorado e, de

material disponibilizado na Internet. (RODRIGUES, 2006)

3 OBJETIVO E QUESTÕES–PROBLEMA

3.1 Objetivo Geral

O objetivo central deste artigo é o de analisar as possíveis correlações teóricas entre os

conceitos de comportamento organizacional e continuo ético, realçando a importância dos

valores humanos e valores organizacionais no desenvolvimento qualquer tipo de atividade.

Neste caso específico, analisar-se-ão as práticas relacionadas às formas de reação da

organização para com a sua responsabilidade social.

3.2 QUESTÕES-PROBLEMA

Questão 1: Pode ser encontrado algum tipo de relação entre os valores

organizacionais e os conceitos associados à responsabilidade social

organizacional?

Questão 2: Em caso positivo, como se daria a relação existente?

4 REVISÃO DA LITERATURA

4.1 VALORES INDIVIDUAIS, VALORES ORGANIZACIONAIS E

COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL, ESTRUTURAS

MOTIVACIONAIS: DEFININDO O CONTÍNUO ÉTICO

ORGANIZACIONAL

Diferentes autores ressaltam a importância que estão passando a ter os valores nas

organizações. Agle e Caldwell (1999) ressaltam a importância dos valores no comportamento

organizacional e a carência de estudos dirigidos a este aspecto, McDonald (1991) , Kabanoff

(2002) indicam a importância dos valores organizacionais na criação de compromisso de seus

funcionários na obtenção de posicionamentos mais competitivos. McDonald (1991) indica a

importância dos valores na gestão de uma organização e como estes influenciam em sua

tomada de decisões. Joyner e Paine (2002) referem-se à importância que as diferentes partes

interessadas têm atribuído ao comportamento ético das organizações.

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4.1.1 VALORES INDIVIDUAIS

Segundo Schwartz (1999) os valores referem-se a como as pessoas reagem ou se

comportam em diferentes situações da vida. Tratam-se de critérios ou metas que guiam a vida

dos indivíduos e as formas de se comportar, Agle e Caldwell (1999) indicam que os valores

são parte integral das vidas das pessoas determinando, modificando e regulando as relações

entre os indivíduos, organizações, instituições e sociedade. Para Rokeach (1968) os valores

são modos de conduta; é a crença de que certo modo de conduta e melhor do que outro. Um

valor é um padrão de comportamento, que serve para vários propósitos na vida humana. Com

base em sua estrutura valorativa os indivíduos agem, avaliam e fazem juízo de ações e

atitudes.

Schwartz (1999) indica que os valores são formas utilizadas pelos diferentes atores

sociais (líderes organizacionais, políticos, pessoas comuns) para se comportar, para avaliar o

comportamento dos outros, bem como para explicar e julgar o comportamento destes outros.

Para Schwartz e Bilsky (1987), Tamayo et al (2000) e (OLIVEIRA;TAMAYO,

2004) os valores são representações cognitivas de três tipos de necessidades humanas

universais:

Necessidades biológicas do organismo;

Necessidade de interação social para a regulação das relações interpessoais, e;

Necessidades sócio-institucionais, que visam o bem-estar e sobrevivência do grupo.

Assim para poder dar conta da realidade, os indivíduos têm que reconhecer essas

necessidades e planejar, criar ou aprender respostas apropriadas para a sua satisfação. Essa

satisfação, porém, deve acontecer por meio de formas aceitáveis para o resto do grupo. Desta

forma, surgem os valores que são princípios e metas que norteiam o comportamento do

indivíduo.

4.1.2 VALORES ORGANIZACIONAIS E COMPORTAMENTO

ORGANIZACIONAL

Segundo Rokeach (1968), Oliveira & Tamayo (OLIVEIRA;TAMAYO, 2004) a

definição de valores individuais pode ser utilizada para definir os valores organizacionais. No

âmbito deste artigo utilizar-se-á a definição de valores de Rokeach para definir os valores

organizacionais como os que norteiam o comportamento dos indivíduos de uma organização

(shared values ou valores compartilhados). Paarlberg (2007) refere-se aos valores

organizacionais como os princípios que guiam o comportamento de uma organização, estes

princípios também são conhecidos como cultura organizacional. Erez (2004) define cultura

organizacional como um conjunto de crenças e valores que são compartilhados pelos

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membros da mesma organização, Tamayo (2000) refere-se à cultura organizacional como

sendo um conjunto de valores compartilhados existentes nos grupos.

Para Agle & Caldwell (1999), Tamayo (2000) e Aycan et alli (AYCAN;KANUNGO

et al., 2000) os diferentes relacionamentos da organização, tanto com os indivíduos que nela

trabalham, como para com os outros grupos sociais, fazem com que cada organização tenha

sua própria cultura organizacional, caracterizando-a através da sua forma própria de se

comportar e de agir frente às diferentes situações do cotidiano e possuindo suas crenças,

tradições, valores, usos rituais, rotinas, normas e tabus (TAMAYO;MENDES et al., 2000).

Para Erez (2004), Tamayo (1996) e McDonald (1991) a importância dada aos valores

organizacionais deve-se a que eles irão estabelecer as práticas de gestão na organização. Para

Agle & Caldwell (1999) os valores organizacionais têm uma forte relação com as estratégias

propostas pela organização. Oliveira & Tamayo (OLIVEIRA;TAMAYO, 2004) indicam que

os valores possuem funções organizacionais importantes: a primeira delas diz respeito à

criação, sobretudo entre os funcionários, de modelos mentais que ajudem na fixação dos

objetivos e da missão da organização, a segunda refere-se ao fato de que os valores

organizacionais ajudam na construção e fixação da identidade organizacional. Tamayo et alli

(2000) indicam que os valores organizacionais são determinantes no desempenho dos

empregados, na satisfação no trabalho e na sua produtividade.

Para McDonald (1991) os valores organizacionais influenciam a organização nos

seguintes aspectos: decisões estratégicas; ética corporativa; conflitos interpessoais; qualidade

nas relações de trabalho; evolução e plano de carreira dos funcionários; motivação dos

empregados.

4.1.3 ESTRUTURAS MOTIVACIONAIS

Para Tamayo & Gondim (1996) e Schawartz (1987) os valores organizacionais

podem ser definidos como:

“Princípios ou crenças, organizados hierarquicamente, relativos a tipos de estruturas

ou a modelos de comportamento desejáveis que orientam a vida da empresa e estão a serviço

de interesses individuais, coletivos ou mistos”.

Desta definição segundo Tamayo & Gondim (1996), Tamayo (2007b) e Oliveira &

Tamayo (2004) podem ser destacados os seguintes aspectos referentes aos valores

organizacionais: aspecto cognitivo; aspecto motivacional: a função dos valores e

hierarquização dos valores.

Destes elementos Schawartz e Bilsky (1987), Tamayo (2007a) e Tamayo &

Porto(2007) destacam o elemento motivacional, indicando que os valores são

comportamentos que dependem de uma estrutura de motivações subjacente a cada um deles.

Assim, o que diferencia um valor de outro é o tipo de motivação que ele expressa.

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Operacionalmente, um tipo motivacional é um fator composto por diversos valores que

apresentam similaridades do ponto de vista do conteúdo motivacional, pode-se definir uma

estrutura motivacional das organizações como uma estrutura de diferentes tipos motivacionais

(ver figura 1)

Figura 1: Estrutura motivacional e seus diferentes tipos motivacionais

Fonte: Adaptado pelos autores de Schawartz & Bilsky (1987), Tamayo (2007a) e Tamayo & Porto

(PORTO;TAMAYO, 2007)

Sendo assim, a estrutura valorativa de uma organização pode ser descrita como um

sistema relativamente estável de valores que determina e sustenta o clima organizacional. Tal

estrutura especifica a natureza das crenças da organização, bem como a dos seus princípios e

tipos de motivações características. Esta percepção de estrutura permite criar uma

representação mental da organização. Segundo Tamayo & Gondim (1996) uma das funções

dos valores organizacionais é criar modelos mentais entre os membros da organização. Dessa

forma, modelos mentais diferentes (motivações diferentes) provocam percepções diferentes

da organização, como também do seu comportamento organizacional.

4.1.4 CONTÍNUO ÉTICO ORGANIZACIONAL

Joyner & Payne (2002) indicam a existência de vários estudos onde fica claro que a

variável econômica da organização já não serve como único prisma na medição do

desempenho organizacional. As organizações começam a ser cobradas pela sociedade pelo

seu comportamento em relação a outras variáveis, para além das econômicas. Neste contexto

dimensões ambientais e sociais também devem ser privilegiadas. A aceitação e a atitude da

organização na priorização destas variáveis reflete-se em bons negócios.

Lo & Sheu (2007) indica que a inclusão dos fatores socioambientais agrega valor às

estratégias organizacionais, indicando que, tanto a academia, como as organizações privadas

vêm analisando os benefícios da inclusão destas dimensões nas decisões estratégicas. Para

Joyner e Payne, existe uma verdade fundamental no que diz respeito à relação entre a

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sociedade e as organizações, segundo a qual as organizações não podem existir sem a

sociedade, e a sociedade não pode avançar nem se desenvolver sem os diferentes tipos de

organizações em que nela existem. Nesta simbiose as organizações devem reconhecer a

existência da sociedade e a sociedade deve demandar das organizações um comportamento

adequado.

Apesar de tanto a teoria quanto a prática evidenciarem uma suposta relação orgânica e

comprometida, é relevante se fazer um questionamento: como saber se, de fato, o

comportamento da organização é um comportamento adequado? Joyner & Payne (2002)

indicam que este comportamento pode ser avaliado através da utilização do conceito de ética,

especificamente da ética corporativa. Raiborn (RAIBORN;PAYNE, 1990) define esta ética

corporativa como: um sistema de valores e de princípios organizacionais que estão

associados a uma definição de certo ou errado.

Na visão de Raiborn e Payne (1990), o comportamento ético diferencia-se do

comportamento legal, na medida em que, o segundo reflete as atitudes e desejos da cultura da

sociedade na qual os indivíduos se inserem. Nestas circunstâncias, algumas vezes, a sociedade

define comportamentos como sendo legais, mas os quais podem ser vistos pela sociedade

imorais. A legalidade é a base da conduta de uma sociedade, mas nem sempre corresponde a

um comportamento certo ou errado. Esta diferenciação reflexa a distinção clássica entre o

espírito da lei (moralidade) e a implementação da lei (legalidade).

Para Joyner & Payne (2002), Raiborn & Payne (1997) (RAIBORN;PAYNE, 1990) as

organizações adotam uma postura ética devido a uma variada gama de motivos. E estes

diferentes motivos sempre se encontraram dentro dos extremos da moralidade e da legalidade:

o primeiro deles, considerado ético por natureza no qual a organização procura fazer o bem

pelo simples fato de pensar que é a coisa certa, não por pressões externas nem por pressões do

governo. Neste caso, os diretores e fundadores (nível hierárquico superior) transmitem a sua

idéia de certo para a organização.

O segundo extremo da legalidade é considerado completamente maquiavélico, no qual

a organização cumpre a lei o faz o certo, no sentido de convencer as diferentes partes

interessadas que está agindo de forma adequada. A organização com esta segunda postura

procura evitar os problemas legais, além de passar uma imagem de correta para as diferentes

partes interessadas.

Nesta visão de Joyner e Payne, o comportamento ético da organização pode ser

entendido como um contínuo, onde num extremo dele encontra-se um comportamento ético-

legal, no qual as ações que a organização realiza são as mínimas necessárias para o

cumprimento das leis e normas vigentes. No outro extremo do contínuo pode ser

caracterizado um comportamento ético-moral, no qual as ações que a organização realiza são

para alcançar o bem-estar de todos os indivíduos e grupos da sociedade. Entre um extremo e

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outro do contínuo podem ser identificado outros tipos de comportamentos associados a este

continuo ético (ver figura 2).

Figura 2: Continuo ético

Fonte: Os autores

O desempenho econômico já não é a única variável através da qual está sendo

mensurado o resultado da organização. As organizações estão, gradativamente, sendo

cobradas em relação ao seu desempenho e comportamento socioambiental. Sendo assim se faz

de suma importância a realização de estudos teóricos e práticos das relações existentes entre

os conceitos referentes a comportamento organizacional (valores) e responsabilidade social

corporativa.

4.2 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA E

COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL

4.2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA: DEFINIÇÕES

Na literatura existem vários estudos e definições que associam o conceito da

organização para com seus impactos econômicos, sociais e ambientais (VALOR, 2005). Valor

(2005) indica que um mesmo autor pode utilizar diferentes definições associadas a este

conceito num mesmo ou em diferentes artigos. Um dos construtos mais comumente associado

a este conceito é conhecido como responsabilidade social corporativa. Esta denominação

possui uma série de diferentes definições, com fronteiras pouco definidas e legitimidade

completamente discutida (LANTOS, 2001).

A responsabilidade social corporativa também é discutida na literatura, como:

cidadania corporativa; filantropia corporativa; responsabilidade corporativa; governança;

ambientalismo e desenvolvimento sustentável Todos estes conceitos são usados para

caracterizar tanto a responsabilidade da organização para com as suas diferentes partes

interessadas como também com os impactos sociais, ambientais e econômicos causados por

sua operação (MURRAY;HAZLETT,S. et al., 2007).

Segundo Murray & Hazlett et alli (2007), indicam que a responsabilidade social corporativa

tem sido definida de formas distintas, a saber: como conceito; como termo; como teoria e/ ou

como uma atividade ou conjunto de atividades.

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Para Amaeshi & Bongo (2007) o termo de responsabilidade social corporativa e um

construto multipropósito para o qual existe um sem-número de interpretações, tais

interpretações estão associadas tanto ao desempenho econômico das organizações no longo

prazo, como a responsabilidade social corporativa enquanto um passo em direção à

constituição de uma sociedade mais justa e decente (CETINDAMAR, 2007).

Cetindamar (2007) também indica que o conceito de responsabilidade social

corporativa inclui os conceitos associados ao desenvolvimento sustentável, além dos

conceitos associados aos relacionamentos existentes da organização com seus stakeholders.

Já Hediger () e Lantos (2001) indicam que este conceito integra tanto as dimensões de

negócios, ética como também a social. Para Snider & Hill et alli (2003) a responsabilidade

social corporativa descreve a relação entre a organização e a sociedade.

Ebner & Baumgartner (2006) realizaram um estudo através da análise de um grupo de

55 artigos, identificando e contextualizando o conceito de responsabilidade social corporativa

utilizado nestes artigos. Os autores identificam através destes artigos que o conceito encontra-

se associado aos seguintes contextos, a saber:

Responsabilidade social corporativa associada ao conceito desenvolvido pela

Comissão Brundtland ou pelo Triple Bottom Line (TBL).

Responsabilidade social corporativa associada ao desenvolvimento da teoria das partes

interessadas (stakeholders).

Responsabilidade social corporativa associada ao conceito de desenvolvimento

sustentável.

Responsabilidade social corporativa e desenvolvimento sustentável utilizados em

forma sinônima.

Responsabilidade social corporativa associada a uma contextualização miscelânea.

A comunidade econômica européia através de seu Green Paper define

responsabilidade social corporativa como:

Um conceito através do qual as organizações de forma voluntária integram as suas

preocupações sociais e ambientais (operação e gestão) dos seus negócios, como também com

todas as diferentes partes interessadas que interagem com a organização (CDCE, 2001).

Para o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) a

responsabilidade social corporativa pode ser entendida como:

O desejo contínuo das organizações de se comportar de forma ética e contribuir para o

desenvolvimento econômico, melhorando também a qualidade de vida da forca de trabalho e

das suas famílias como também das comunidades e da sociedade como um todo.

(HOLME;WATTS, 2000)

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Para o WBCSD apud (HOLME;WATTS, 2000), o conceito associado à

responsabilidade social corporativa dependerá tanto do país, do setor econômico, como do

tipo de negócio onde a organização se insere. Como exemplo, o conceito associado à

responsabilidade social corporativa usado no Brasil é diferente dos conceitos utilizados em

outros países do mundo, estas diferentes visões de responsabilidade social corporativa foram

desenvolvidas no primeiro encontro de dialogo da responsabilidade corporativa promovido

nos paises baixos em 1998 pelo WBCSD (ver figura 3).

Figura 3: Definições de Responsabilidade social corporativa no mundo, segundo World Business Council for

Sustainable Development

Fonte: Adaptado de (HOLME;WATTS, 2000)

4.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA:

COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL

É de suma importância conhecer como se relacionam o comportamento organizacional

com a responsabilidade social corporativa, diversos pesquisadores, como Carroll

(CARROLL, 1979) apud (JOYNER;PAYNE, 2002), Raiborn & Payne (1997), (1990), Van

Marrewijk (2004), (2003), Ketola (2007), tem tentado desvendar quais seriam estas formas de

reação ou comportamentos em relação ao tratamento da sua responsabilidade social

corporativa.

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Uma das primeiras pesquisas neste sentido acontece com os trabalhos de Carroll, que

em 1979, desenvolve um modelo chamado de “Modelo de desempenho social organizacional”

(Organizational Social Performance Model) (CARROLL, 1979) apud (JOYNER;PAYNE,

2002). Vários autores (AMAESHI;ADI, 2007; BRANCO;RODRIGUES, 2006;

MUNILLA;MILES, 2005; SNIDER;HILL et al., 2003) utilizam este modelo como base para

identificar a relação existente entre comportamento organizacional e responsabilidade social

corporativa. Carroll caracteriza a relação entre o comportamento organizacional e

responsabilidade social corporativa através de três dimensões a ser consideradas (ver figura

4).

Figura 4: Modelo de desempenho social organizacional

Fonte: (CARROLL, 1979) apud (JOYNER;PAYNE, 2002)

A primeira dimensão do modelo de Archie Carroll corresponde à dimensão dos

aspectos socioambientais. Nesta dimensão são caracterizados todos os aspectos importantes

para as diferentes partes interessadas que interagem com a organização e para os quais a

organização tem que passar a ter uma responsabilidade e uma forma de satisfazê-los.

A segunda dimensão corresponde à responsabilidade social da organização, refere-se à

responsabilidade social, através de diferentes variáveis com as quais a organização se

responsabiliza, a saber:

A variável econômica da organização refere-se à produção de bens e geração de

riqueza para a organização, seja através de oferecimento de produtos ou serviços.

A variável legal da organização condiz com a obediência às leis da sociedade e

regulamentos próprios pelos quais a organização se rege.

A variável ética da organização tem relação com a satisfação das expectativas da

sociedade para com o comportamento da organização.

A variável filantrópica refere-se à realização de atos voluntários por parte da

organização procurando o bem estar da sociedade como um todo.

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A terceira e última dimensão do modelo de Carroll diz respeito aos tipos de filosofias

de reações associadas ao comportamento organizacional, explicando os diferentes tipos de

reações que a organização poderia ter na hora de cumprir a sua responsabilidade social. Estas

filosofias ou formas de ação são 4, a saber:

Na filosofia de reação a organização se preocupa com os aspectos sociais (sócio-

ambientais) devido ao marco legal existente que abrange a organização; a organização

se vê forçada a interagir.

Na filosofia de defesa a organização interage com os aspectos sociais, para assim

evitar e fugir das pressões que viriam a existir (legais e sociais) pelo fato de não estar

tendo uma preocupação socioambiental.

Na filosofia de acomodação a organização se preocupa com os aspectos

socioambientais, pelo só fato de eles existirem, sem nenhum outro interesse, faz

porque tem que fazer.

Na filosofia de pro atividade a organização de forma voluntária interage com os

aspectos socioambientais tendo se antecipar aos problemas que a organização venha

causar, somente pelo fato de ser a coisa certa a ser feita.

Esta terceira dimensão do modelo de Carroll serve como base para se introduzir e

aprofundar posicionamentos referentes às diferentes formas de reação que podem ser

encontradas nas organizações na hora de cumprir a sua responsabilidade social.

Outra caracterização desta terceira dimensão do modelo de Carroll é a apresentada por

Raiborn & Payne (1997), (1990) na qual definem que o comportamento da organização ao

respeito da sua responsabilidade social pode ser classificado em um dos seguintes níveis, a

saber:

Nível básico: este nível básico caracteriza-se pelo fato de as organizações realizarem

apenas o que as leis e regulamentações associadas indicarem que deve ser feito; nada

além.

Nível atualmente acessível: neste nível o comportamento da organização é aceito pela

sociedade, em geral. A organização cumpre as leis e regulamentações, embora se

caracterize também pela falta de esforço e de dedicação da organização com respeito

aos problemas socioambientais.

Nível prático: neste nível organização procura se esforçar para dar algum tipo de

solução aos problemas socioambientais existentes.

Nível teórico: neste nível a organização apresenta um comportamento ético-moral

voltado completamente para a solução dos problemas socioambientais causados pelo

só fato dela existir.

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Um terceiro enfoque desenvolvido tentando classificar estas formas de reação, refere-

se ao modelo de reação proposto por Van Marrewijk (2004) (WERRE ;VAN MARREWIJK ,

2003) o qual se utiliza das teorias de Clare Graves (1974), (1971) e dos seus seguidores Beck

e Cowan (1996) , (COWAN;TODOROVIC, 2000) no referente a sistemas motivacionais e

níveis de existência , para assim propor um modelo que relaciona os diferentes estágios de

reação da organização para com a responsabilidade social da organização, a saber:

Complacência Legal: A responsabilidade social corporativa neste nível consiste em

prover o bem-estar da comunidade, dentro dos limites das regulamentações e leis.

Adicionalmente neste nível as organizações podem responder também aos princípios

de caridade e de custodia. A responsabilidade social corporativa é percebida como um

dever, uma obrigação ou um comportamento corretivo.

Guiado pela ganância: Neste nível a responsabilidade social corporativa consiste na

integração dos aspectos éticos, sociais e ambientais na gestão da organização,

contribuindo para a maximização dos lucros e minimização dos riscos, as ações de

responsabilidade social corporativa são desenvolvidas e promovidas sempre

procurando o bem-estar econômico da organização

Preocupação: Neste nível a responsabilidade social corporativa consiste no

balanceamento dos aspectos econômicos, sociais e ambientais, sendo os três

importantes na organização. A responsabilidade social corporativa vai alem da

complacência legal e da procura pelo lucro ou minimização dos riscos

Sinergia: Neste nível a responsabilidade social corporativa consiste em uma procura

balanceada por soluções funcionais que aumentem o desempenho da organização

criando valor social, ambiental e econômico de uma forma sinérgica, na qual sejam

incluídas todas as partes interessadas relevantes a organização. A motivação da

responsabilidade social corporativa deve-se a importância dela por si só, devido a que

ela é reconhecida como o caminho que o progresso esta seguindo

Os três modelos apresentados procuram identificar quais seriam os possíveis

comportamentos da organização para com a sua responsabilidade social, numa outra linha de

raciocino, mas atrás do mesmo objetivo. Ketola (2007) desenvolve um modelo que tem como

base o discurso social das organizações nas três dimensões da responsabilidade social

corporativa (econômica; ambiental; social) (ver figura 5) . O modelo de Ketola fundamenta-se

em três aspectos, a saber:

Aspecto filosófico: baseia-se na associação dos conceitos associados a ética e valores e como

estes podem refletir no comportamento da organização, para Ketola o comportamento ético

valorativo da organização pode ser:

Utilitário/Egoísta

De justiça, deveres e direitos

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Virtuoso

Aspecto psicológico: baseia-se na suposição que as defesas psicológicas (discursos) da

organização ao respeito da sua gestão, jogam um papel importante no duro , árduo e lento

caminho para a organização se converter em uma organização mais responsável.

Aspecto gerencial: baseia-se no analise das ações realizadas pelas companhias em referencia a

sua responsabilidade social, para assim projetar este tipo de ações no modelo proposto por ele,

neste aspecto Ketola identifica que podem existir diferentes combinações entre a

responsabilidade econômica; ambiental e social da companhia. Os extremos de cada uma

destas possíveis combinações são apresentados no quadro 1.

Quadro 1: Combinações extremas do modelo de Ketola entre a responsabilidade econômica; ambiental e social

da companhia

Fonte: (KETOLA, 2007)

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Figura 5: Cubo da Responsabilidade Corporativa

Fonte: (KETOLA, 2007)

O modelo de Ketola possui três fases, a saber:

A primeira delas desenvolve-se através do aspecto filosófico. São pesquisados a

declaração de valores da organização para os aspectos, econômico, social e ambiental.

Esta identificação dos valores realiza-se através de pesquisas nos diferentes médios de

discurso da organização tais como mídias/ meios de comunicação, relatórios de

sustentabilidade, internet, comunicados de prensa e declarações da alta gerência. Os

valores identificados poderão ser classificados como: valores utilitários/egoístas;

valores de justiça/deveres/direitos e valores virtuosos.

A segunda fase do modelo desenvolve-se através do aspecto psicológico, tentando

descobrir todos os discursos de defesa da organização em relação a sua

responsabilidade econômica; social e ambiental.

A terceira fase do modelo desenvolve-se através do aspecto gerencial, identificando

assim quais são as reais ações que a empresa realiza referente à sua responsabilidade

econômica, social e ambiental.

Ketola conclui que diferentes tipos de valores levam a diferentes tipos de discursos e

de ações (ver figura 6)

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Figura 6: Modelo de Responsabilidade Corporativa

Fonte: (KETOLA, 2007).

O quadro 1 apresentado a continuação apresenta uma visão resumo/comparativa entre

os diferentes modelos apresentados nesta seção.

Quadro 1: Comparativo, respostas organizacionais referente a sua responsabilidade social

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Fonte: Carroll (CARROLL, 1979) apud (JOYNER;PAYNE, 2002); Raiborn e Payne Raiborn e Payne

(PAYNE,DINAH.;RAIBORN et al., 1997); Van Marrewijk (VAN MARREWIJK , 2004); Ketola (KETOLA,

2007)

5 RESULTADOS E CONCLUSÕES

5.1 RESULTADOS

O trabalho procura, de forma teórica, ressaltar a importância do relacionamento

existente entre as dimensões comportamento ético organizacional e responsabilidade social

corporativa. Ketola através da apresentação do seu modelo, especificamente no que diz

respeito aos aspectos filosófico e gerencial, deixa clara a relação de importância entre estas

duas dimensões. Outros autores anteriores a Ketola, como Wood (WOOD , 1991), Castka

(CASTKA;BAMBER et al., 2004), Waddock & Bodwell (WADDOCK ;BODWELL , 2002)

já ressaltavam a importância da correlação existente entre os conceitos de valores, princípios e

fundamentos organizacionais no que se refere ao desenvolvimento da responsabilidade social

corporativa.

Os resultados teóricos obtidos através do desenvolvimento desta pesquisa indicam que

os diferentes comportamentos organizacionais associados à responsabilidade social

corporativa, encontram-se inseridos no conceito de continuo ético. Deste arrolamento, sugere-

se a correlação teórica entre dois aspectos-chave (ver figura 7), propiciando a obtenção dos

seguintes resultados:

O primeiro deles diz respeito aos diferentes tipos de reações da organização para

com a sua responsabilidade social: pode-se concluir que independentemente do

modelo utilizado ou dos futuros modelos de responsabilidade social que venham a

ser desenvolvidos, as reações organizacionais sempre estarão inseridas no contínuo

ético, localizando-se entre os conceitos de legalidade e moralidade.

O segundo conclui que através da identificação dos valores organizacionais

(comportamento organizacional) relacionados à responsabilidade social da

organização, podem ser identificados (induzidos) os tipos de resposta ou

comportamentos da organização para com sua responsabilidade social corporativa.

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Figura 7: Responsabilidade social corporativa; comportamento organizacional e continuo ético.

Fonte: Os autores

5.2 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS

Através do artigo pode-se perceber a relação entre comportamento organizacional e a

responsabilidade social corporativa. Muito se tem dito ao respeito das origens e das

transformações do conceito de responsabilidade social corporativa: dever de quem?

responsabilidade para quem? normativa? instrumentalista? virtuosa? Ou tantos outros

questionamentos que se relacionam com este assunto.

Ameshi & Adi (AMAESHI;ADI, 2007) indicam que a responsabilidade social

corporativa surge devido a diferentes pressões e fatores, dentro dos quais tem destaque, o

governo; sistemas de negócios; valores pessoais e pressões de diferentes grupos sociais.

Independente de quais sejam os tipos de pressões que levem ao desenvolvimento da

responsabilidade social e as diferentes reações adotadas pelas organizações, o fator humano

sempre estará presente através dos valores individuais. Tais valores afetarão o

desenvolvimento das reações associadas às ações de responsabilidade social corporativa da

organização.

A cultura organizacional é inserida na organização de uma forma Top-Down,

(PAARLBERG;PERRY, 2007), (EREZ;GATI, 2004), (KABANOFF;DALY, 2002) onde a

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cultura organizacional corresponde às idéias pensamentos e desejos dos fundadores e da alta

gerência da organização em relação ao seu comportamento esperado.

Sendo assim, pesquisas referentes aos valores tanto das pessoas (indivíduos da

organização) como da organização em relação aos conceitos de responsabilidade social

corporativa, podem ser considerados de extrema importância. Isto se deve ao fato de que tais

investigações podem contribuir para a identificação de diferenças entre a percepção da alta

gerência e os trabalhadores no que concerne sua percepção de responsabilidade social

corporativa. Assim poder-se-ia avaliar a possível diferença de percepção (gerência / operação)

destas ações e ações corretivas poderiam ser implementadas.

Como sugestão para trabalhos futuros, recomenda-se a criação de um modelo prático

direcionado a identificar os tipos de reações da organização com respeito a sua

responsabilidade social. Cabe frisar que uma organização se compõe de diferentes estruturas e

processos, sendo assim, o modelo a ser desenvolvido não poderia considerar a avaliação desta

responsabilidade social de forma global, mas sim teria que considerá-la, de forma

segmentada, para cada uma das áreas e processos organizacionais.

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