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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS E MARGEM LÍQUIDA DA CAFEICULTURA NAS PRINCIPAIS REGIÕES PRODUTORAS DE CAFÉ DO BRASIL [email protected] Apresentação Oral-Economia e Gestão no Agronegócio CÁSSIO HENRIQUE GARCIA COSTA; LUIZ GONZAGA DE CASTRO JÚNIOR; FABRÍCIO TEIXEIRA ANDRADE; ÍSIS STACANELLI PIRES CHAGAS; LUCIA HELENA DE BARROS ALBERT. UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS, LAVRAS - MG - BRASIL. Composição dos custos e margem líquida da cafeicultura nas principais regiões produtoras de café do Brasil Grupo de Pesquisa: Economia e Gestão no Agronegócio Resumo O Brasil é o maior produtor mundial de café e o segundo maior consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos. Esta cultura é representativa para o saldo positivo da balança comercial brasileira e também para a geração de empregos, principalmente os diretos, os quais contribuem significativamente para a fixação do trabalhador no meio rural. Por meio deste estudo pretende-se analisar a composição dos custos de produção e a margem líquida da cafeicultura nos estados de Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, São Paulo e Bahia, principais regiões produtoras do Brasil. Além disso, almeja-se inferir sobre a participação dos fertilizantes na evolução dos custos operacionais totais (COT), nas cidades as quais o estudo abrange. Os dados foram levantados nas seguintes cidades: Três Pontas, Santa Rita do Sapucaí, Patrocínio e Manhumirim, no estado de Minas Gerais; Iúna e Jaguaré, no Espírito Santo; Altinópolis, em São Paulo, Ribeirão do Pinhal, no estado do Paraná e Vitória da Conquista, no estado da Bahia. Os custos de produção e as margens líquidas da cafeicultura nessas regiões foram acompanhados e atualizados mensalmente. Os resultados apresentados indicam que a receita obtida através da comercialização do café, não cobre o COT nas principais regiões produtoras dessa commodity no Brasil. Verifica-se que COT apresentou aumentos em todas as regiões. Essa alta foi causada sobremaneira pela elevação nos custos dos fertilizantes, que junto com os custos de colheita e beneficiamento são os principais componentes do COT. Como mostram os coeficientes de correlação calculados, as variações nos preços dos fertilizantes são altamente correlacionadas às alterações do COT. Palavras-chave: cafeicultura, custos de produção, margem líquida. Abstract Brazil is the largest producer off coffee and the second largest consumer, behind only the United States. This culture is representative for the balance positive from Brazilian trade

Composição dos custos e margem líquida da cafeicultura nas

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COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS E MARGEM LÍQUIDA DA CAFEICULT URA NAS

PRINCIPAIS REGIÕES PRODUTORAS DE CAFÉ DO BRASIL [email protected]

Apresentação Oral-Economia e Gestão no Agronegócio

CÁSSIO HENRIQUE GARCIA COSTA; LUIZ GONZAGA DE CASTRO JÚNIOR; FABRÍCIO TEIXEIRA ANDRADE; ÍSIS STACANELLI PIRES CHAGAS; LUCIA

HELENA DE BARROS ALBERT. UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS, LAVRAS - MG - BRASIL.

Composição dos custos e margem líquida da cafeicultura nas principais regiões produtoras de café do Brasil

Grupo de Pesquisa: Economia e Gestão no Agronegócio

Resumo O Brasil é o maior produtor mundial de café e o segundo maior consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos. Esta cultura é representativa para o saldo positivo da balança comercial brasileira e também para a geração de empregos, principalmente os diretos, os quais contribuem significativamente para a fixação do trabalhador no meio rural. Por meio deste estudo pretende-se analisar a composição dos custos de produção e a margem líquida da cafeicultura nos estados de Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, São Paulo e Bahia, principais regiões produtoras do Brasil. Além disso, almeja-se inferir sobre a participação dos fertilizantes na evolução dos custos operacionais totais (COT), nas cidades as quais o estudo abrange. Os dados foram levantados nas seguintes cidades: Três Pontas, Santa Rita do Sapucaí, Patrocínio e Manhumirim, no estado de Minas Gerais; Iúna e Jaguaré, no Espírito Santo; Altinópolis, em São Paulo, Ribeirão do Pinhal, no estado do Paraná e Vitória da Conquista, no estado da Bahia. Os custos de produção e as margens líquidas da cafeicultura nessas regiões foram acompanhados e atualizados mensalmente. Os resultados apresentados indicam que a receita obtida através da comercialização do café, não cobre o COT nas principais regiões produtoras dessa commodity no Brasil. Verifica-se que COT apresentou aumentos em todas as regiões. Essa alta foi causada sobremaneira pela elevação nos custos dos fertilizantes, que junto com os custos de colheita e beneficiamento são os principais componentes do COT. Como mostram os coeficientes de correlação calculados, as variações nos preços dos fertilizantes são altamente correlacionadas às alterações do COT. Palavras-chave: cafeicultura, custos de produção, margem líquida. Abstract Brazil is the largest producer off coffee and the second largest consumer, behind only the United States. This culture is representative for the balance positive from Brazilian trade

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balance and also to generate jobs, specially the rights, which contribute significantly to definition of worker in the middle rural. For this study aims to analyze the composition of production costs border liquids of coffee and settles in the states of Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, São Paulo and Bahia, the main producing regions of Brazil. More than this, aims poin en participation in the development of fertilizer in total operation costs (COT, acromyn in portuguese), in cities which the study eovers. The data was colected in the following cities: Três Pontas, Santa Rita do Sapucaí, Patrocínio and Manhumirim in the state of Minas Gerais; Iúna and Jaguaré in Espírito Santo; Altinópolis in São Paulo; Ribeirão do Pinhal in Paraná and Vitória da Conquista in Bahia. Production costs and net margins off coffee in the regions were monitored and updated monthly. The results showed indicate that gotten revenues through the marketing of coffee does not copper the (COT) in the main producing in this commodity regions of Brazil. It appears that the TOC showed increases in all regions. This was caused mainly by elevation in the cost of fertilizers, which together with the costs of collection and processing are the main components of the COT. How to show the correlation coefficients calculated, changes in the prices of fertilizers are highly inter-relation the changes of COT. Key words: coffee growing, production costs, liquid border. 1. INTRODUÇÃO

A cafeicultura é representativa para o saldo positivo da balança comercial brasileira e também para a geração de empregos, principalmente os diretos, os quais contribuem significativamente para a fixação do trabalhador no meio rural. De acordo com Matiello et al. (2005), para cada hectare de café, no sistema de manejo tradicional, compreendendo os tratos culturais e a colheita, são utilizados, por ano, 100 a 120 homens/dia. Assim, cada trabalhador pode cuidar de cerca de 3 hectares de café. Depois do café, segundo os mesmos autores, aparecem outras culturas e criações, surgem vilas e cidades. O comércio e a indústria são ativados. Como no passado, o café continua sendo responsável pela abertura e consolidação de novas regiões agrícolas.

Wedekin e Castro (1999) reiteram a importância dessa cultura afirmando que o café constituiu-se no produto mais representativo do Brasil no século XX, haja vista ter financiado mais de meio século de industrialização e desenvolvimento do país.

O Brasil é o maior produtor mundial de café (em 2008 produziu 2,7 milhões de toneladas) e o segundo maior consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos. A participação do café nas receitas oriundas das exportações vem diminuindo ao longo dos anos. Na década de 50 o café representava cerca de 60% do total exportado pelo Brasil; já em 2008, esse percentual foi de 2,37% (ABIC, 2009). Essa diminuição relativa pode ser associada à crescente industrialização do país, ao aumento da renda média da população e à mudança na conjuntura política cafeeira, no Brasil e no mundo.

Segundo Martins & Castro Júnior (2006), as mudanças ocorridas após a década de 90, no âmbito político, econômico e institucional brasileiro e mundial, expuseram o agronegócio nacional a um elevado nível de competitividade. A retirada do governo desse setor da economia, no papel de interventor e financiador e a crescente abertura econômica do país conduziram a uma maior instabilidade dos mercados e, conseqüentemente, a exposição do setor agropecuário nacional aos ditames de livre comércio.

Essas mudanças, por serem muito recentes, sugerem que o setor vive um momento de transição. Esta nova disposição do mercado exige mudanças de paradigmas, em todos

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os elos da cadeia produtiva do café, principalmente no setor primário. Esse mercado sabidamente imperfeito, oligopsônico como comprador de café verde e oligopolista como vendedor de torrado e moído, na ausência do Estado e de mecanismos reguladores, torna assimétrico o poder de controle do setor produtivo, que opera em regime de livre mercado, disperso e desorganizado (BRAGANÇA, 2002).

Os investimentos na melhoria da qualidade e de processos representam a abertura de novos mercados para o produto. O uso de tecnologias adequadas e mais avançadas pode tornar a atividade mais competitiva. Nessa nova realidade, faz-se necessário que o produtor invista em sistemas de produção que lhe proporcionem grandes possibilidades de retorno, orientado pelas exigências do mercado consumidor.

A sustentabilidade é imprescindível para a cafeicultura atual e deve ser abordada integralmente para ser alcançada. Giordano (2003) corrobora essa premissa ao afirmar que sustentável tem como sinônimo a palavra suportável. Tem-se, portanto, que um determinado meio tem uma capacidade de sustentabilidade ou de suporte, determinada pelo conjunto de fatores que o compõe.

O produtor deve se profissionalizar por completo, ou seja, deve adotar todas as técnicas e procedimentos modernos, de modo que produza com eficiência, buscando escala e redução de custos. Para isso, terá que apoiar-se em indicadores que expressam a saúde financeira das empresas, as quais deverão, necessariamente, objetivar os lucros em longo prazo, ou seja, ser sustentável, Nogueira (2004).

2. OBJETIVOS

Por meio deste estudo pretende-se analisar a composição dos custos de produção e a margem líquida proveniente da cafeicultura nos estados de Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, São Paulo e Bahia, principais regiões produtoras do Brasil. Além disso, almeja-se inferir sobre a participação dos fertilizantes na evolução dos custos operacionais totais (COT), nas cidades as quais o estudo abrange. 3. REFERENCIAL TEÓRICO Os custos de produção são medidas monetárias ligadas às atividades produtivas, constituindo informações financeiras indispensáveis para a avaliação do desempenho do negócio café. O cálculo do custo de produção gera informações utilizadas como medida de desempenho organizacional e operacional, uma vez que sintetiza a eficiência do processo produtivo na transformação dos recursos empregados no negócio em uma unidade monetária comum. Esse procedimento permite avaliar a capacidade de gerar lucro da empresa rural, o que pode ser resumido como a capacidade de pagar por todos os recursos destinados à produção e recompensar o empresário pela decisão de continuar produzindo determinado produto em detrimento de outros investimentos alternativos. Ao se analisar o custo de produção, boa parte das causas do sucesso ou insucesso do negócio é detectada, o que proporciona decisões mais acertadas acerca do desempenho operacional e organizacional da empresa rural (Reis, 1999a).

Segundo Hoffmann (1980), “para fins de Análise Econômica, o termo ‘custo’ significa a compensação que os donos dos fatores de produção, utilizados por uma firma para produzir determinado bem, devem receber para que eles continuem fornecendo esses fatores à mesma”.

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A estrutura da cadeia produtiva tem exigido maior eficiência do processo produtivo, o qual é composto de setores intrinsecamente relacionados, que devem, portanto, culminar em resultados financeiros favoráveis e, assim, gerarem lucro. Os indicadores setoriais devem ser avaliados periodicamente para se adequarem às novas demandas do resultado financeiro, já que ele representa a vitalidade da empresa e todos os outros indicadores têm nele sua razão de existir

Por meio da decomposição do processo produtivo em suas partes constitutivas, o custo de produção orienta a análise de eficiência da produção, integral ou setorialmente Simultaneamente, fornece informações extremamente relevantes, que permitem uma avaliação mais aprofundada da situação, o que resulta em decisões mais eficazes. Segundo Reis (1999a), o estudo do custo de produção é um dos assuntos mais importantes da microeconomia, pois fornece ao empresário um indicativo para a escolha das linhas de produção a serem adotadas e seguidas, permitindo a empresa dispor e combinar os recursos utilizados na produção, visando apurar melhores resultados econômicos.

Diversas são as metodologias para a apuração dos custos de produção e essa é uma das razões que fazem com que a palavra ‘custo’ não tenha o mesmo significado para todos que fazem uso do termo. Essa imprecisão demanda cautela na utilização do termo “custo de produção” e gera controvérsias tanto no meio acadêmico como no ambiente empresarial. Essa maleabilidade conceitual exerce influência sobre a metodologia utilizada no cálculo do custo de produção do café.

A teoria convencional sugere sete conceitos diferentes e, em princípio, cada um deles pode ser medido para cada extensão de prazo. Quando um conjunto de fatores é desagregado para especificar mais de dois ou três fatores, o número de diferentes “custos” para um dado nível de produção, em um conjunto de preços de fatores, pode crescer consideravelmente. Muita controvérsia relativa aos custos, particularmente no contexto da política econômica, pode surgir do fato de não se reconhecer este ponto fundamental. Assim, a padronização de um conceito torna-se necessária quando se objetiva comparar custos de diferentes organizações. O problema não reside no fato de existirem várias abordagens sobre o mesmo assunto e, sim, na equivalência dos resultados gerados pelas mesmas. Esse raciocínio parte de uma premissa básica, porém, importante: “para comparar números, eles devem estar indicados na mesma unidade de medida”, Schuh (1976).

Portanto, desde que seja respeitada a correspondência entre os resultados e sua respectiva metodologia, os indicadores gerados podem ser submetidos a uma análise geral.

As receitas correspondem à recuperação dos custos suportados pela empresa e à obtenção da margem de lucro, decorrentes de suas atividades produtivas, através da entrada de numerário. A receita representa o resultado da atividade em valores monetários. Em sua expressão mais simples, é a multiplicação do preço pela quantidade produzida (Pxq). A análise consiste, em geral, na comparação da receita com o custo de produção. Comparando-se a receita total com os custos operacionais totais (COT), tem-se a margem líquida do empreendimento (Valle, 1987).

Os resultados das condições de mercado e rendimento da empresa agrícola (ou atividade produtiva) são medidos pelo preço do produto ou pela receita média. Comparando-se a receita média ou o preço com os custos totais médios obtém-se a análise econômica da atividade em questão por unidade produtiva (Reis, 2007).

4 METODOLOGIA

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Para este estudo, os dados foram levantados nas seguintes cidades: Três Pontas, Santa Rita do Sapucaí, Patrocínio e Manhumirim, no estado de Minas Gerais; Iúna e Jaguaré, no Espírito Santo; Altinópolis, em São Paulo, Ribeirão do Pinhal, no estado do Paraná e Vitória da Conquista, no estado da Bahia. A pesquisa para levantamento dos dados é uma iniciativa da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que financiou os pesquisadores e os demais recursos necessários para o trabalho.

A metodologia empregada na obtenção das informações e na estruturação das propriedades é a definida como painel que, essencialmente, é uma reunião realizada entre os pesquisadores e os técnicos e produtores locais (DE ZEN & PEREZ, 2002). Com uma planilha previamente estruturada, porém não fixada, os pesquisadores conduziram as reuniões de modo que as informações não sofressem distorções devido a alguma convicção não unânime. É importante ressaltar a participação dos técnicos locais, o que contribuiu sobremaneira para o bom resultado dos painéis ao confirmarem, por meio de cálculos e de discernimento de cunho científico e prático, as informações resultantes das discussões. Os participantes deliberaram sobre o sistema de cultivo considerado por eles o mais comum na região e procuraram expressar a propriedade integralmente. Foram alocados na planilha todos os itens de custo que estariam presentes em uma propriedade desse porte, desde o mais ínfimo gasto anual até o inventário completo. Todas as etapas do processo produtivo foram consideradas e os índices correspondentes validados em conjunto. Os preços referentes aos dispêndios foram cotados posteriormente e os parâmetros usados nos cálculos, confirmados por meio de pesquisas realizadas em bibliografias científicas.

Apesar de produzirem o mesmo item, as propriedades cafeeiras têm custos de produção heterogêneos, o que é um reflexo do processo produtivo adotado. O custo é muito variável, de região para região, dentro de cada propriedade e depende, ainda, do sistema de produção adotado (MATIELLO, 2005). De acordo com esse fato, a análise da situação financeira da cafeicultura dessas regiões mostra-se extremamente relevante, visto que elas representam situações distintas e reais da cafeicultura brasileira.

O método painel mostra-se eficaz, já que o custo estimado não é arbitrário e, por isso representa a realidade, uma vez que os índices, os rendimentos e o uso de mão-de-obra e de maquinário são corroborados pelo conhecimento e pela experiência de campo dos participantes. No presente trabalho, a metodologia utilizada considera o Custo Operacional Total, proposta por Matsunaga et al. (1976).

Assim, foram estimados os custos com operações agrícolas e com material consumido, totalizando os Custos Operacionais Efetivos (COE). O COE e formado pelos seguintes desembolsos: fertilizantes, defensivos, corretivos, estimativa de funcionários contratados (fixos) e funcionários eventuais, assistência técnica, análises de Solo/foliar, despesas com contabilidade, energia elétrica, energia irrigação, telefone, juros de financiamentos, manutenção das máquinas e benfeitorias, combustíveis (gastos com diesel e gasolina), gastos com IPVA, ITR, sindicato, CNA, despesas bancárias, fretes de café e custos de colheita e beneficiamento.

O Custo Operacional Total (COT) considera, além dos desembolsos, outros custos operacionais como a depreciação de máquinas, equipamentos e benfeitorias. Não são considerados custos de oportunidade imputados à atividade produtiva que visem à remuneração do capital fixo em terra, instalações e máquinas que, somados ao COT, representariam os Custos Totais de Produção (CT).

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É importante destacar que não são computados custos com remuneração do proprietário, devido ao fato de serem de difícil padronização. Quanto à depreciação das lavouras, a mesma não foi considerada, devido à dificuldade de se estabelecer um padrão atual para operações, na maioria das vezes, realizadas há mais de dez anos.

Os fertilizantes estão entre os principais impactantes nos custos de produção de café nas regiões estudadas e aparecem nos painéis divididos nos grupos macro e micro. Nos painéis consta o nome comercial dos produtos que compõem esses grupos, a quantidade necessária de cada um por hectare, o número de aplicações necessárias durante o ano, o valor total gasto com cada item e o valor total gasto pela propriedade com esses insumos. Esses produtos foram cotados em revendas das cidades que formam a pesquisa de acordo com uma lista pré-estabelecida, já que cada região possui especificidades no que diz respeito aos produtos utilizados nas propriedades.

As margens líquidas/ha foram calculadas de acordo com a produtividade indicada nos painéis, que foi multiplicada pelos preços médios de café calculados. Desse valor, subtraiu-se o Custo Operacional Total (COT), que engloba além dos desembolsos, as depreciações de máquinas, equipamentos e benfeitorias. O valor obtido finalmente é dividido pelo número de hectares indicados nos painéis destinados ao café.

Os Preços de café recebidos pelos produtores das cidades incluídas no estudo foram cotados diariamente durante o período em que as cidades estiveram incluídas no estudo da CNA. Para fim de análise, foram calculadas as médias mensais dos preços nas respectivas regiões. A produtividade/ha indicada nos painéis é mostrada na tabela abaixo, juntamente com os preços médios calculados e a área das propriedades destinadas à cafeicultura.

Figura 1: Produtividade/ha das propriedades, preços médios da saca de 60Kg e tipos de café cotados nas

regiões estudadas. Cidades Produtividade/ha Área com lavoura (ha) Preços médios de café Tipo de café

Patrocínio - MG 20 70 258,01 Tipo 6 Cerrado - MG

Três Pontas - MG 22 30 257,95 Tipo 6 Sul de Minas - MG

Santa Rita do Sapucaí -MG 18 30 257,95 Tipo 6 Sul de Minas - MG

Manhumirim - MG 23 25 248,23 Tipo 6-7 Zona da Mata - MG

Jaguaré - ES 50 20 214,43 Conilon tipo 7 Vitória - ES

Iúna - ES 18 6 244,25 Arábica duro Vitória - ES

Altinópolis - SP 31 70 257,91 Tipo 6 Mogiana - SP

Ribeirão do Pinhal - PR 24 51 243,32 Tipo 6-7 Norte do Paraná - PR

Vitória da Conquista - BA 30 40 235,15 Tipo 6-7 Vitória da Conquista - BA

Para detectar a relação entre as variações do custo dos fertilizantes e do COT, optou-se pelo cálculo de correlações simples (r), que foi realizado utilizando-se a série de valores desses indicadores. Existe correlação entre duas ou mais variáveis quando as alterações sofridas por uma delas são acompanhadas por modificações nas outras. Ou seja, no caso de duas variáveis X e Y verifica-se se aumentos (ou diminuições) em X correspondem aumentos (ou diminuições) em Y. Assim, a correlação simples revela se existe uma relação funcional entre uma variável e as restantes.

• correlação negativa: as variáveis x e y crescem em sentido contrário, isto é, se x cresce, y diminui;

• correlação positiva: as variáveis x e y crescem no mesmo sentido, isto é, se quando x cresce, y também cresce.

5 RESULTADOS

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5.1 Minas Gerais A importância social da cafeicultura mineira é evidente, tanto como geradora de empregos como fixadora de mão-de-obra no meio rural. O parque cafeeiro mineiro abrange mais de 90 mil propriedades em, aproximadamente, 60% dos municípios do estado, ou seja, 510 municípios (ROMANIELLO ET. AL, 2008). Minas é o estado maior produtor brasileiro. Na safra 2008, foram produzidas no estado 23,581 milhões de sacas de 60 kg beneficiadas, incluindo café arábica e robusta, com produção equivalente a 51,3% do total nacional (ABIC, 2009). O parque cafeeiro do estado de Minas Gerais possui, atualmente, em produção, cerca de um milhão de hectares de lavoura cafeeira. O estado é dividido, pela ABIC, em três regiões produtoras: 1) Sul/Centro-Oeste, com produção de 12,118 milhões de sacas de 60 kg beneficiadas (Arábica); 2) Triângulo/Alto Paranaíba/Nordeste, com produção de 4,534 milhões de sacas de 60 kg beneficiadas (arábica); 3) Zona da Mata/Jequitinhonha/Mucuri/Rio Doce/Central/Norte, com produção de 6,929 milhões de sacas de 60 kg beneficiadas (arábica) e 36 mil sacas de 60 kg beneficiadas (robusta). 5.1.1 Cerrado mineiro Na região do Cerrado Mineiro, a temperatura média é de 18°C a 23°C. A produção cafeeira ocorre na altitude de 800 a 1.300 metros acima do nível do mar, sob índice pluviométrico de 1.600 milímetros anuais e baixa umidade relativa do ar no período da colheita. Somadas às características do relevo, essas são condições favoráveis ao cultivo do café. São 155 mil hectares de café plantados e, aproximadamente, 440 milhões de pés de café distribuídos por 55 municípios que, juntos, produzem, em média, 3.500.000 sacas de 60 kg por ano (ORTEGA & MOURO, 2007). A cafeicultura nessa região caracteriza-se por seu alto nível tecnológico, o que tem possibilitado altas produtividades e bebidas de excelente qualidade. 5.1.1.1 Patrocínio Patrocínio, maior produtora de café do Brasil em 2008, localiza-se na região do cerrado de Minas Gerais, sendo considerada cidade símbolo da cafeicultura mineira. A propriedade típica indicada no painel possui 70 hectares de lavoura de café e a colheita é totalmente mecanizada.

A figura abaixo ilustra a evolução do COT (R$/ha), dos custos com fertilizantes (R$/ha) e da margem líquida (R$/ha) do período de Novembro de 2007 a Dezembro de 2008. O coeficiente de correlação (r) entre as variações nos custos dos fertilizantes e o COT para esse caso é de 98%. O gráfico evidencia que nessa propriedade as variações no COT são altamente correlacionadas às variações nos custos dos fertilizantes. Essa condição se deve ao fato da elevada participação desses custos na composição do COT nessa propriedade, que é de 46%. A margem líquida, que era positiva até abril de 2008, mostrou-se negativa durante a continuidade do estudo, tendo como principal causa o aumento no custo dos fertilizantes. Pelo fato da colheita apresentar-se totalmente mecanizada, os custos com colheita e beneficiamento, que representam grande parcela dos desembolsos na maioria das regiões, são amenizados, fazendo com que os custos com fertilizantes representem uma fatia bem maior em relação aos demais e influenciem de forma diferenciada o COT, e consequentemente a margem líquida.

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Figura 2: Indicadores em Patrocínio – MG

Figura 3: Composição do COT em Patrocínio - MG.

46%

13%

15%

27%

Fertilizantes

Mão de obra fixa e

eventual

Custos de colheita e

beneficiamento

Outros

5.1.2 Sul de Minas Gerais O Sul de Minas é a maior região produtora de café do estado e do Brasil. Com cerca

de 37.000 propriedades cafeeiras, área cultivada de 516 mil hectares e produção média de 8,0 milhões de sacas beneficiadas, o Sul de Minas responde por 56% do café mineiro e por 29% da produção nacional (BRASIL, 2000). No aspecto social, a cafeicultura sul - mineira é uma verdadeira indústria verde, pois gera 672 mil empregos, diretos e indiretos. O valor da produção de café, em cerca de 500 milhões de dólares, circula em todos os municípios da

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região. Em 2007, foram pagos, só na colheita, cerca de 1,7 milhão de salários mínimos. Outro aspecto importante da região é que cerca de 80% das propriedades de café têm área inferior a 50 hectares e a média da área plantada é de 12,0 hectares, caracterizando-se a região como típica de pequenas propriedades (CONAB, 2002).

5.1.2.1 Três Pontas - MG

A cidade de Três Pontas – MG é tradicional no cultivo de café arábica (Coffea arabica), segunda cidade maior produtora do Brasil em 2008 e um dos maiores produtoras mundiais dessa espécie de café. As características das propriedades são: área cultivada com cafeeiros 30 hectares, colheita realizada manualmente em 40% das lavouras e mecanicamente em 60%.

O gráfico abaixo ilustra a evolução do COT (R$/ha), dos custos com fertilizantes (R$/ha) e da margem líquida (R$/ha) do período de Novembro de 2007 a Dezembro de 2008. Como pode ser notado o COT seguiu uma tendência de alta a partir de março de 2008, que pode ser vinculada em grande proporção ao aumento dos preços dos fertilizantes durante o período, visto que esse item apresentou correlação positiva de 97% com o COT, além de ser o segundo maior impactante nos custos da propriedade, 22%. O aumento no COT foi intenso até o mês de Outubro de 2008, quando seus valores apresentaram retrações, que coincidem com a diminuição dos prejuízos da propriedade em Novembro e Dezembro de 2008. A margem líquida em Três Pontas apresentou-se negativa durante todo o estudo, apontando que os cafeicultores da cidade não conseguem cobrir seus custos operacionais totais quando da comercialização do café, daí o prejuízo citado anteriormente.

Figura 4: Indicadores em Três Pontas

(3.000,00)

(2.000,00)

(1.000,00)

-

1.000,00

2.000,00

3.000,00

4.000,00

5.000,00

6.000,00

7.000,00

8.000,00

Custo com Fertilizantes/ha

COT/ha

Margem Líquida/ha

Figura 5: Composição do COT em Três Pontas - MG.

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5.1.2.2 Santa Rita do Sapucaí – MG

Em Santa Rita do Sapucaí, as características das propriedades são: área cultivada com cafeeiros 30 hectares e colheita realizada manualmente em 100% da área. A cafeicultura dessa região caracteriza-se por elevada dependência de mão-de-obra, devido ao relevo declivoso e, também, pela alta qualidade do café produzido. A figura abaixo ilustra a evolução do COT (R$/ha), dos custos com fertilizantes (R$/ha) e da margem líquida (R$/ha) do período de Novembro de 2007 a Dezembro de 2008. Os fertilizantes, com participação de 24% no COT, que juntamente com os custos de colheita e beneficiamento são os principais responsáveis pela composição dos custos na propriedade dessa cidade, variam de forma análoga ao COT no período analisado, tendo o coeficiente de correlação de 98%. A margem líquida comportou-se de forma negativa durante todo o estudo, indicando que em nenhum dos meses consegue-se nessa propriedade cobrir os desembolsos somados a depreciação de máquinas, implementos e benfeitorias (COT), com as receitas obtidas da pela comercialização do café.

Figura 6: Indicadores em Santa Rita do Sapucaí – MG

Figura 7: Composição do COT em Santa Rita do Sapucaí - MG.

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24%

18%

27%

31%

Fertilizantes

Mão de obra fixa e

eventual

Custos de colheita e

beneficiamento

Outros

5.1.3 Matas de Minas Gerais

A Zona da Mata é um expoente na cafeicultura do estado. Porém, segundo Franco (2000), a cultura do café na região tem diminuído, em função na queda dos preços do produto. O café é cultivado em áreas acidentadas e, algumas vezes, consorciado com outras culturas. A produção apresenta três características principais: ocupação de terra antiga, pequena produção e práticas agrícolas tradicionais (GOMES, 1986). O cultivo do café nessa região é estritamente manual, o que denota a sua importância para habitantes e lavradores. Contudo, segundo Ferrari (1996), a maioria dos agro ecossistemas na região apresentam, atualmente, baixa produtividade, devido ao histórico de uso intensivo de terra com práticas não adaptadas ao ambiente, como os plantios de café sem trabalhos de conservação do solo.

5.1.3.1 Manhumirim

Manhumirim, município mineiro da Zona da Mata, apresenta uma propriedade típica com 25 hectares de área de lavoura e colheita estritamente manual.

A figura abaixo ilustra a evolução do COT (R$/ha), dos custos com fertilizantes (R$/ha) e da margem líquida (R$/ha) do período de novembro de 2007 a dezembro de 2008. Nesta cidade, os fertilizantes respondem por 25% dos custos, sendo correlacionados com o COT em 98% das vezes. A margem líquida sempre foi negativa durante o estudo, portanto não se consegue arcar com o COT da atividade cafeeira com a receita obtida com a comercialização do café nesta cidade. Figura 8: Indicadores em Manhumirim – MG

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(4.000,00)

(2.000,00)

-

2.000,00

4.000,00

6.000,00

8.000,00

10.000,00

Custo com Fertilizantes/ha

COT/ha

Margem Líquida/ha

Figura 9: Composição do COT em Manhumirim - MG.

25%

23%32%

20%Fertilizantes

Mão de obra fixa e

eventual

Custos de colheita e

beneficiamento

Outros

5.2 Espírito Santo

Segundo o Centro de Desenvolvimento Tecnológico do Café - CETCAF (2004), no estado do Espírito Santo, o segundo maior produtor brasileiro, a cafeicultura é a atividade que mais emprega mão-de-obra, gerando, de forma direta, 362.000 postos de trabalho no campo e outros 150.000 postos indiretos. Neste estado, a área cultivada de café é de 526.810 hectares, em 56.169 propriedades, que correspondem a 68,2% das propriedades rurais capixabas. Dentre estas, em 22.713 cultiva-se cafeeiro arábica (Coffea arabica) e, em 33.456, café Conilon (Coffea canephora cv. Conilon). Na safra 2008 produziu 10,230 milhões de sacas de 60 kg beneficiadas, considerando o café arábica e o robusta, o equivalente a 22,7% da produção nacional. O parque cafeeiro, em produção, ocupa 489,582 hectares, produzindo 2,867 milhões de sacas de 60 kg beneficiadas de arábica e 7,363 milhões de sacas de 60 kg beneficiadas de robusta (ABIC, 2009). Destaca-se como o maior produtor de café Conilon do país. 5.2.1 Jaguaré

O município de Jaguaré, ao norte do estado do Espírito Santo, é o maior produtor nacional de café Conilon e é representado pelo único painel com dados sobre a produção dessa espécie de cafeeiro. Foi apresentada uma propriedade de 20 hectares de lavoura, com colheita 100% manual. Também é o único painel com estrutura de irrigação (aspersão por

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canhão fixo). A irrigação, segundo relatos de produtores locais, é imprescindível, já que a região apresenta elevado déficit hídrico, o que impossibilita o cultivo eficiente dessa espécie no sistema de sequeiro (sem irrigação).

A figura abaixo ilustra a evolução do COT (R$/ha), dos custos com fertilizantes (R$/ha) e da Margem Líquida (R$/ha) do período de Janeiro a Dezembro de 2008. Nesta cidade os fertilizantes correspondem a 36% do COT, apresentando o coeficiente de correlação de 98% com esse indicador. A margem líquida apresenta-se positiva durante todo o período de análise, mostrando que nessa localidade os produtores conseguem arcar não só com os seus desembolsos, mas também com a depreciação dos ativos envolvidos na atividade. Apesar dos menores preços médios obtidos pelos produtores do café conilon, essa variedade possibilita uma produtividade/ha bem maior do que o café arábica. Esse fator constitui uma das explicações para os melhores resultados observados nesta cidade.

Figura 10: Indicadores em Jaguaré – ES

-

1.000,00

2.000,00

3.000,00

4.000,00

5.000,00

6.000,00

7.000,00

8.000,00

9.000,00

10.000,00

Custo com Fertilizantes/ha

COT/ha

Margem Líquida/ha

Figura 11: Composição do COT em Jaguaré - ES.

36%

19%

22%

23%

Fertilizantes

Mão de obra fixa e

eventual

Custos de colheita e

beneficiamento

Outros

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5.2.2 Iúna O município de Iúna situa-se ao sul do Espírito Santo, região montanhosa e

tradicional produtora de café arábica. O painel indicou 6 hectares de lavoura cafeeira e colheita 100% manual, com a presença do “meeiro”, que recebe 40% da produção em troca de toda a mão-de-obra necessária na propriedade, inclusive a responsabilidade pela colheita e o beneficiamento do café.

A figura abaixo ilustra a evolução do COT (R$/ha), dos custos com fertilizantes (R$/ha) e da margem líquida (R$/ha) do período de Janeiro a Dezembro de 2008. Nesta cidade os fertilizantes correspondem 43% do COT. Essa elevada participação desse item nos custos da propriedade, segunda maior dentre as cidades estudadas, justifica-se pela ausência de outros custos importantes, devido à presença do “meeiro”. Portanto, alguns custos, como o de mão de obra fixa e eventual, custos de colheita e beneficiamento, não constam no painel. Essa cidade é a que apresenta a menor correlação entre custos de fertilizantes e COT, sendo de 68%. No que diz respeito à margem líquida, nota-se que esse indicador se apresenta positivo durante a maior parte do estudo, em alguns meses comporta-se de forma negativa, já em outros o COT se iguala as receitas com comercialização do café. Figura 12: Indicadores em Iúna – ES

(1.000,00)

-

1.000,00

2.000,00

3.000,00

4.000,00

5.000,00

Custo com Fertilizantes/ha

COT/ha

Margem Líquida/ha

Figura 13: Composição do COT em Iúna.

43%

57%

Fertilizantes

Outros

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5.3 São Paulo Embora a participação paulista, na cafeicultura nacional, tenha se reduzido em

cerca de 50% no período 1990-2000, este estado ainda é o terceiro maior produtor brasileiro. E, apesar de essa cultura representar apenas 1,98% da renda agrícola estadual, a sua relevância é grande, visto que concentra a torrefação, a moagem e a industrialização do café, importa grãos de outros estados e países, amplia o valor agregado pelo setor e exporta parcela considerável da safra brasileira (ANUÁRIO, 2001). Na safra 2008, produziu 4,420 milhões de sacas de 60 kg beneficiadas, apenas de café arábica, ou o equivalente a 9,6% da produção nacional (ABIC,2009). 5.3.1 Altinópolis

O município de Altinópolis localiza-se na região paulista denominada Alta Mogiana, reconhecida nacionalmente por sua cafeicultura. Produz café de boa qualidade e sedia algumas indústrias de torrefação e moagem. As características da propriedade incluem 70 hectares de área de lavoura, sendo a colheita realizada mecanicamente em 30% delas.

A figura abaixo ilustra a evolução do COT (R$/ha), dos custos com fertilizantes (R$/ha) e da margem líquida (R$/ha) do período de Janeiro a Dezembro de 2008. Em Altinópolis os custos com fertilizantes respondem por 29% do COT e se correlacionam com esse indicador em 99%. As margem líquida nessa cidade foi positiva nos dois primeiros meses, se tornando negativa no restante do estudo. Figura 14: Indicadores em Altinópolis – SP

(2.000,00)

(1.000,00)

-

1.000,00

2.000,00

3.000,00

4.000,00

5.000,00

6.000,00

7.000,00

8.000,00

Custo com Fertilizantes/ha

COT/ha

Margem Líquida/ha

Figura 15: Composição do COT em Altinópolis - SP.

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29%

13%33%

25%

Fertilizantes

Mão de obra fixa e

eventual

Custos de colheita e

beneficiamento

Outros

5.4 Paraná

O cultivo do café, no estado do Paraná, contribuiu grandemente para sua colonização e povoamento. A colonização do chamado “Norte Novo” (Cornélio Procópio, Ribeirão do Pinhal, etc.) teve sua estrutura fundiária constituída em pequenos lotes e, na grande maioria, destinada ao plantio de cafeeiros. O café trouxe para essa região um grande contingente populacional, com importantes efeitos sobre a estrutura demográfica e econômica do Paraná (OLIVEIRA, 2001). Devido ao clima e à competição imposta por outras atividades agrícolas, o café foi sendo substituído por outras culturas anuais, em especial a soja e o trigo, de elevada cotação no mercado internacional, vinculadas a técnicas modernas, proporcionando uma expansão produtiva e alterando a estrutura agrária do estado. Porém, a cafeicultura paranaense ainda destaca-se no cenário nacional, sendo este o quinto maior produtor nacional. Na safra 2008, produziu 2,608 milhões de sacas de 60 kg beneficiadas, apenas de café arábica, o equivalente a 5,7% da produção nacional (ABIC, 2008).

5.4.1 Ribeirão do Pinhal

Ribeirão do Pinhal é a cidade representante da cafeicultura paranaense no projeto, por ser uma das que mais se destacam no cultivo de cafeeiros no estado e, também, por ser uma das remanescentes de uma história grandiosa da cafeicultura. Indicou-se, em seu painel, propriedade com área de lavoura de 51 hectares e com colheita 100% manual. Destaca-se, nessa região, o elevado valor investido em infra-estrutura das propriedades cafeeiras.

A figura abaixo ilustra a evolução do COT (R$/ha), dos custos com fertilizantes (R$/ha) e da Margem Líquida (R$/ha) do período de Janeiro a Dezembro de 2008. Os fertilizantes respondem por 32% dos custos dessa propriedade, possuindo correlação de 99% com o COT. As margens líquidas, negativas durante todo o estudo, mostram que a receita com a comercialização do café é inferior ao COT nessa localidade.

Figura 16: Indicadores em Ribeirão do Pinhal – PR

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(6.000,00)

(4.000,00)

(2.000,00)

-

2.000,00

4.000,00

6.000,00

8.000,00

10.000,00

Custo com Fertilizantes/ha

COT/ha

Margem Líquida/ha

Figura 17: Composição do COT em Ribeirão do Pinhal - PR

32%

17%24%

27%

Fertilizantes

Mão de obra fixa e

eventual

Custos de colheita e

beneficiamento

Outros

5.5 Bahia A cafeicultura na Bahia surgiu a partir da década de 1970 e teve uma grande influência no desenvolvimento econômico de alguns municípios. Atualmente, as principais cidades produtoras são Planalto, Poções, Barra do Choça, Encruzilhada, Ribeirão do Largo e Vitória da Conquista. A altitude média da região é de 850 metros. Dentre a espécie arábica plantada no estado, 95% é da variedade Catuaí. Na safra 2008, produziu 2,142 milhões de sacas de 60 kg beneficiadas, 1,566 milhões de sacas café arábica e 576 mil sacas de café robusta. A produção do estado é equivalente a 4,7% da produção nacional (ABIC, 2009).

5.5.1 Vitória da Conquista A cidade representante do estado da Bahia no estudo é Vitória da Conquista. As características da propriedade incluem 40 hectares de área de lavoura, sendo a colheita realizada manualmente em 100% deles.

A figura abaixo ilustra a evolução do COT (R$/ha), dos custos com fertilizantes (R$/ha) e da Margem Líquida (R$/ha) do período de Janeiro a Dezembro de 2008. Nessa localidade, os fertilizantes correspondem a 27% do COT, correlacionam-se de forma positiva com o COT em 98% casos e a margem líquida foi negativa em todo o estudo.

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Figura 18: Indicadores em Vitória da Conquista – BA

(4.000,00)

(2.000,00)

-

2.000,00

4.000,00

6.000,00

8.000,00

10.000,00

Custo com Fertilizantes/ha

COT/ha

Margem Líquida/ha

Figura 19: Composição do COT em Vitória da Conquista - MG.

27%

16%33%

24%

Fertilizantes

Mão de obra fixa e

eventual

Custos de colheita e

beneficiamento

Outros

6 CONCLUSÃO

Os resultados apresentados indicam a receita obtida através da comercialização do café, não cobre o COT nas principais regiões produtoras dessa commodity no Brasil. A cidade de Jaguaré no estado do Espírito Santo, com a produção do café conilon, foi a única a apresentar margens líquidas positivas durante todo o período de análise.

Quanto à composição do COT nas regiões estudadas, observa-se que os custos com fertilizantes, juntamente com os custos de colheita e beneficiamento são os principais componentes do COT das cidades estudadas. Outro item com impacto significativo nos custos da cafeicultura das regiões estudadas é custo com mão de obra fixa e eventual.

Através da análise dos gráficos, verifica-se que COT apresentou aumentos em todas as regiões. Essas altas foram causadas principalmente pela elevação nos custos dos fertilizantes, que como mostram os coeficientes de correlação, são altamente correlacionados às variações do COT. 7 REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO CAFÉ 2000/2001. Rio de Janeiro: Coffee Business, 2001. 161 p.

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