Comunicação e Economia

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    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXI Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Natal, RN 2 a 6 de setembro de 2008

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    Integraes entre comunicao e economia aps a primeira dcada da web

    comercial1

    Andr Fagundes Pase

    Professor da Faculdade de Comunicao Social da Pontifcia Universidade Catlica doRio Grande do Sul

    Resumo

    Este artigo observa as relaes entre a comunicao e a economia diante da utilizaoda Internet como um meio de comunicao. Alem disso, revisa uma dcada depois aobra New Rules for New Economy, do socilogo Kevin Kelly, pioneira na anlise dasinterfaces entre as duas reas, atualizando os postulados com a justaposio de outras

    pesquisas e anlises sobre o tema, principalmente de Nicholas Negroponte e GeorgeGilder. Por fim, estes links so reforados com observaes de Morin sobre o

    paradigma da complexidade.

    Palavras-chave

    Internet, comunicao, economia, Kevin Kelly, complexidade

    A histria dos meios de comunicao social no apenas revela seus avanos e

    constitui um panorama da rea, mas tambm da cultura e economia das sociedades

    envolvidas. As tenses e os rumos observados durante as evolues e movimentos entre

    as mdias e os personagens envoltos no processo servem como base no apenas para acompreenso do estado atual, mas tambm para analisar as possibilidades que iro

    compor o porvir.

    Os ltimos anos do sculo XX foram marcados no setor pela crescente

    digitalizao, conseqncia das novas configuraes das telecomunicaes e

    apropriaes das mesmas pelas pessoas. Paralelo a isso, o contexto online surgiu e

    conquistou mdias. As linguagens transformaram-se em 0 e 1 no ritmo do aumento da

    largura da banda de dados, provocando convergncias e hibridaes entre os meios de

    comunicao.

    Ao longo da sua histria, a comunicao mostrou ser influenciada por fatores como os

    econmicos, tecnolgicos, sociais/culturais e polticos, entre outros, mas andando em

    ritmos muitas vezes sincronizados ou at mesmo opostos. O contexto novo releva estas

    referncias, mas tambm as ultrapassa. Diante disso, o mapeamento das interfaces entre

    1Trabalho apresentado na NP Tecnologias da Informao e da Comunicao, do VIII Nupecom Encontro dosNcleos de Pesquisas em Comunicao, evento componente do XXXI Congresso Brasileiro de Cincias daComunicao.

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    comunicao, tecnologia e economia torna-se importante. A questo do vdeo digital e

    suas diversas aplicaes, paralelas com a implantao da TV Digital, reforam a

    necessidade desta perspectiva.

    As pesquisas de Kevin Kelly indicaram, na dcada passada, uma mudana na dinmica

    das redes e nas relaes com outras reas. Porm, passados alguns anos, a expanso do

    Google e dos sites com a participao do pblico, impulsionados por mais conexes e

    presena ativa na rede, provocou alteraes. No apenas nos moldes observados por

    Don Tapscott e Anthony Williams, mas em um uso da Internet no cotidiano.

    Neste contexto, poltica e cultura esto interligadas, de forma complexa, com a

    economia. Porm, na cultura digital, relaes deste porte esto em constante

    transformao. As pesquisas de Manuel Castells, em A Sociedade em Rede (2006), e

    Thomas Friedman, em O Mundo Plano (2005), fornecem uma viso ampla das

    mudanas, conseqncia de manobras do capital que colocam em choque companhias

    tradicionais contra empresas novas. Um exemplo disso foi a compra da Time Warner

    pela America Online em 2000, quando uma empresa com duas dcadas de operao

    adquiriu parte de um conglomerado de mdia (FEDERAL TRADE COMMISSION,

    2000).

    Esta operao simbolizou um processo chamado de bolha da Internet, quando

    investidores e organizaes investiram valores altos em "empresas ponto com",

    provocando mudanas at mesmo na mdia, com a retirada de profissionais dos espaos

    tradicionais para comunicar em sites, recebendo um salrio maior. Neste perodo

    surgem os portais da Internet, endereos que renem diversas pginas de uma mesma

    companhia. A fina camada de sabo inflou e estourou aps o Bugdo Milnio que no

    foi observado, a partir da retirada do capital de investimento. Diversas empresasencerraram atividades, provocando um realinhamento no mapa financeiro (TAS, 2005).

    A partir disso, o investimento no campo online contou com novas expectativas.

    O atual valor da marca Google e seu conseqente imprio atravs de sites como

    YouTube observado por alguns economistas como indcio de uma nova bolha.

    Porm, em contrapartida, observa-se que as operaes envolvendo a nova economia

    permanecem, delineando um cenrio onde empresas de mdia contam com contedo e

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    tradio mas necessitam de espao e acesso no mundo virtual, caracterstica observada

    ao contrrio emsites como YouTube eMySpace, por exemplo.

    Durante a primeira expanso da web, pr-Bolha, o socilogo e jornalista Kevin

    Kelly definiu, em 1998, um manifesto para a nova economia. Mesmo com as alteraes

    na topografia vistas desde ento, os indicadores permanecem vlidos.

    Uma a uma, cada uma das coisas que importam para ns na vidaso tocadas pela cincia e ento alteradas. A expresso humana, o

    pensamento, a comunicao e at a vida humana foram infiltradas pela altatecnologia. A cada setor transformado pela alta tecnologia, a ordemtradicional subvertida e novas regras estabelecidas. Os bravos tremem, osoutrora confiveis buscam ajuda desesperadamente e os espertos ganhamuma chance de prevalecer (KELLY, 1998, p. 1).2

    A presena da Internetno cotidiano cada vez maior e as transformaes na

    vida real so constantes. Servios como o Skype provocaram mudanas na telefonia

    tradicional, alm da profuso de vdeos no YouTube, formando um banco de dados

    audiovisual sob demanda e maior a cada dia. A fora da multido conectada tamanha

    que cenas de novelas, filmes ou gols marcados horas antes esto na pgina, colocados

    ali por outro usurio e no pela geradora do contedo.

    H uma ruptura na ordem tradicional, provocada pelo uso das ferramentasdigitais. Elementos adjacentes, como a propaganda e a indstria de eletrnicos, tambm

    sentem as conseqncias. Softwares como o MicrosoftMessenger, que conta com 39

    milhes de usurios apenas no Brasil (ESTADO DE SO PAULO, 2007), tambm

    contam com espaos para anncios, disputados pelas empresas. O cenrio diferente do

    vivido uma dcada antes e assim os produtores tradicionais de informao atualmente

    buscam novas sadas para a sua sustentabilidade. A sobrevivncia de um veculo, por

    exemplo, tambm passa a depender da tecnologia utilizada.

    Mas enquanto a revoluo tecnolgica do avano rpido manchete em todos os jornais, algo muito maior acontece por baixo. Ocontrole pelos lanamentos de novas ferramentas interessantes e objetos dedesejo constitui uma nova ordem econmica. A geografia das riquezas remodelada pelas nossas ferramentas. Agora vivemos em uma novaeconomia criada pela diminuio drstica dos computadores e expanso dascomunicaes (KELLY, 1998, p. 1).3

    2Traduo livre do autor.

    3Traduo livre do autor.

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    A reunio das mdias em apenas alguns aparelhos foi diluda em muitos outros

    com a digitalizao e a cpia idntica dos arquivos. Desta forma, dispositivos novos

    ganham as ruas diariamente. Os meios de comunicao legitimam seu posto de

    extenses do homem no mais apenas pelo comunicar, mas tambm pelo carregar

    consigo da mobilidade e pelo conter, como um iPodque armazena a discografia inteira

    de vrios artistas na palma da mo. Vdeos criados e produzidos para a Internetcontam

    com mais audincia que alguns programas de TV e encontram veiculao atravs dos

    nichos, alm do custo reduzido para o armazenamento. A mudana do broadcastpara o

    on demand subverte a ordem tradicional e diminui os custos, reforando uma nova

    cartografia entre os produtores de contedo.

    Alm disso, a forma como o cidado usa um aparelho transforma ainda maisesta economia. Mesmo equipamentos caros, como um iPhone, so imitados e replicados

    aps seu lanamento, numa economia tambm marcada pela transgresso digital.

    Ao colocar que Apenas observamos o comeo da ansiedade, perda, excitao

    e ganhos que muitas pessoas vo experimentar enquanto nosso mundo muda para uma

    nova e altssima economia tcnica planetria (1998, p. 1)4, Kelly refora um ponto

    observado por outros autores, como Lvy e Castells, o impacto da Internete das redes

    digitais na sociedade recente. A influncia do capital voltil dos investimentos

    financeiros nos pases, decorre da possibilidade de transferir valores para o mundo sem

    sair de casa. Casos como o processo contra o Napster so sintomas da acelerao dos

    caminhos e fluxos, agora globais, tambm na produo de contedo.

    Esta nova economia tem trs caractersticas distinguveis: global.favorece coisas-idias intangveis, informao e relacionamentos. E tambm intensamente interligada. Estes trs atributos produzem uma nova espciede mercado e sociedade, com razes em redes eletrnicas ubquas (KELLY,

    1998, p. 2).5

    As trs caractersticas observadas por Kelly podem ser aplicadas para a

    comunicao. O contedo publicado em um pas torna-se global ao ir para a Rede, as

    barreiras geogrficas deixam de ser impedimento para a difuso de um programa. Os

    seriados de televiso exemplificam isto, pois a exibio em um pas gravada e logo

    aps colocada para download para todo o mundo.

    4Traduo livre do autor.

    5Traduo livre do autor.

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    Alm disso, as aes esto interligadas so complexas, como apontaria Morin

    pois dados so trocados entre pessoas pelo mundo instantaneamente. Kelly tambm

    afirma que sempre as economias foram conectadas fato que se observa em outra

    velocidade nas navegaes do sculo XVI, por exemplo , porm a agilidade dos

    movimentos e a influncia da tecnologia marcam o tempo presente. Empresas como El

    Pas (Espanha) e BBC (Reino Unido) buscam mercados globais e oferecem contedo

    em alguns casos especfico para algumas regies.

    A economia tradicional permanece forte, mas as idias colocadas online so

    replicadas como ossites de relacionamento ou messengers, que se tornam modelos de

    negcios. Em alguns casos, empresas tradicionais adaptam-se aos modelos novos e

    buscam relaes novas com seus leitores Fox e o MySpace, Estado de So Paulo ecomunidade Link, por exemplo. Os elementos de uma Internet mais pessoal e

    colaborativa tambm podem reforar marcas tradicionais.

    Escrito em 1998, o livro indica como exemplo de companhia atual a Microsoft,

    por vender conhecimento intangvel (mesmo que armazenado em CDs) e ditar regras

    no apenas para a sua rea, mas tambm para setores interligados. Porm, o contexto

    online to mutante que menos de uma dcada depois uma empresa deste porte e

    modelo enfrentado por outra. O modelo Google, gestado no final dos anos 90, coloca

    em xeque o simples organograma tradicional administrativo e informtico visto tambm

    no contexto online atravs do Yahoo.

    O modelo Web 2.0, definido por OReilly, coloca investimentos e lucros no

    mesmo nvel das aes dos usurios. A economia dos Wikinomics, conforme definio

    de Don Tapscott e Anthony Williams (2007), age com a diviso das idias com o

    consumidor. Trata-se no mais do registrar apenas quando finalizado e recolherconseqncias favorveis disso, porm colocar o pensamento no plano online, dar um

    verniz de sempre em construo (o Beta presente nossites) e buscar o posto de melhor

    espao que realiza tal tarefa. O YouTube no foi o primeirosite com vdeos naInternet,

    porm a facilidade para inserir e assistir vdeos caracterstica da marca e seu maior

    trunfo perante outros concorrentes. Nos ltimos meses, as mudanas realizadas pela

    equipe gestora provocaram inclusive a criao de um espao para feedback. As

    informaes so coletadas e analisadas, refletindo nos passos futuros (YOUTUBE,

    2007).

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    No h a perda do controle, porm as ferramentas utilizadas pelo pblico

    refletem mais a sua vontade ao receber e armazenar contedo produzido pela prpria

    audincia tradicional. A programao de televiso com os padres de qualidade das

    emissoras tambm colocada neste plano, porm de forma diferente do simples exibir

    em um nico horrio, o tradicional broadcast. A possibilidade de gravar e depois trocar

    arquivos online ou publicando em algumsite modifica como um programa apreciado

    pela audincia.

    Este uso do material difere do modelo de negcios vigente e provoca

    questionamentos sobre a validade dos indicadores de popularidade e como anunciar

    neste contexto. Na Grande Rede, umsite torna-se popular pela sua utilidade, pelo modo

    como manipulado pelo pblico e as informaes publicadas no espao tornam-se partedo cotidiano. Registra-se esse fenmeno no apenas no YouTube, mas tambm com

    Flickr,MySpace e Orkut. E esta troca de informaes, com relaes importantes para a

    vida fora do computador, global. O perfil de uma pessoa em umsite de redes sociais

    observado por pessoas antes da contratao e por amigos, por exemplo, e encontra-se

    hospedado em outro pas, muitas vezes. Assim como ocorreu com a economia e os

    investimentos globalizados, os dados e relaes pessoais, alm das informaes

    assimiladas durante o dia, trafegam pela rede mundial.

    Kelly tambm refora que a comunicao seja no sentido apenas da troca de

    dados e principalmente na relao entre pessoas com compreenso de informao

    atualmente forma a economia Porque a comunicao aquela formada pelas

    tecnologias e mdias digitais no apenas um setor da economia. Comunicao a

    economia (KELLY, 1998, p. 5).6

    No se trata de um pensamento alinhado com os conceitos de ondasformulados por Alvin Toffler nos anos 70, mas de constatar a importncia das

    comunicaes em rede para a manuteno do atual patamar de desenvolvimento

    mundial. Alm disso, emergncias como as vistas na questo do vdeo e da digitalizao

    das mdias reforam o movimento de enfatizar a comunicao no cotidiano observado

    no movimento do jornalismo participativo e apropriao popular das tecnologias. O

    planeta est interligado pela comunicao.

    6Traduo livre do autor.

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    realizado h dcadas, mas recentemente nossa habilidade de conectar ascoisas foi acelerada (KELLY, 1998, p. 9).9

    A sociedade vive interligada por redes desde as tribos de ndios, atravs das

    comunicaes entre as aldeias. Sculos depois, o homem aprimorou as tcnicas para oenvio de mensagens sem sair do seu lugar.

    Conforme ressaltado anteriormente, o processo de digitalizao ligou empresas

    de comunicao de uma forma mais gil, permitindo que textos, por exemplo, fossem

    repassados para uma redao de maneira instantnea por fax. A Internet e redes

    derivadas aceleraram o processo com uma velocidade maior.

    Dois avanos tecnolgicos novssimos o chip de silcio e a asfibras ticas em conjunto permitem aplicaes e transmisses em altavelocidade. Como partculas nucleares colidindo ao mesmo tempo, ainterseco destas inovaes provocaram uma fora nunca antes vista: o

    poder da rede difundida. Assim como essa grandiosa rede espalha-se peloplaneta, uma agitado enxame cobre a superfcie da Terra. Estamos cobrindo oglobo com uma sociedade em rede (KELLY, 1998, p. 9).10

    Portanto, no contexto conectado, a sintonia com o movimento das redes

    importante. Esta fora de muitos, tambm designada como fora de vrios pequenos

    Davis dos novos meios contra os Golias tradicionais por Glenn Reynolds, em Army ofDavids (2006), provoca um jogo de foras que direcionam o trnsito das mdias.

    Desta forma, a percepo dos autores mostra-se sintonizada com Negroponte.

    Na trinca de captulos 13, 14 e 15 A Era da Ps-Informao, Horrio Nobre

    Meu e Boas Conexes , o autor refora que a TV deve buscar pensar menos como

    TV convencional e mais pela lgica das conexes digitais. Esta comunicao alteraria

    envios sncronos e assncronos de acordo com a natureza do contedo transmitido (um

    jogo de futebol ou uma novela, por exemplo).

    A base para o trnsito deste vdeo deve ser uma Internet de altssima

    velocidade. George Gilder define tal caminho em Telecosmo, obra que centra a

    discusso na afirmao que quanto maior a largura de banda maior o uso de diferentes

    mdias em um ambiente convergente.

    9Traduo livre do autor.

    10Traduo livre do autor.

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    Essas tecnologias de fibra tica, comunicao de alto espectro e asredes sem fio, juntas, constituem o telecosmo. O telecosmo torna a largura de

    banda informao a uma velocidade enorme e escala praticamente infinita a abundncia que define uma nova era, eclipsando at mesmo a maravilhosaera do computador (GILDER, 2001, p. 11).

    Portanto, o contexto tcnico est apto para receber a torrente de dados. A

    crescente oferta de planos de acesso com distintas velocidades disponveis no mercado

    indica isso. A quantidade de cabos e redes sem fio transmitindo informaes criam uma

    nova pele de comunicao para o planeta, com o digital cobrindo o outrora domnio do

    envio de sinais analgicos.

    No captulo 13 de Telecosmo, Gilder refora que as atuais estruturas que

    exercem poder no capitalismo e em especial nos setores de informao utilizamestratgias para provocar receio em novos investidores e atores que podem provocar

    mudanas em um cenrio. O governo e a mdia alimentam-se do medo de monstros

    (2001, p. 191). Desta forma, conseguem apropriar-se de inovaes ou mesmo bloquear

    seu acesso atravs de normas e leis, tanto criando novas bem como sem atualizar outras.

    Falando sobre a economia das margens do Lago Ness, os eruditosinvestigam a escurido em constante evoluo do mercado e vem por trs detoda mudana industrial a forma espectral de alguma serpente ou tubaro

    nadando em crculos, de onde apenas uma nova burocracia ou guarda liberalpode nos salvar (2001, p. 190).

    Esta afirmao no apenas encaixa-se com situaes como a de novos padres

    de informtica, mas tambm para descrever aes das empresas no limiar da

    digitalizao. O prprio caso do Brasil, que trocou um modelo com caractersticas

    distintas das presentes no mercado por outras adequadas para as estruturas vigentes (e

    tradicionais) pode ser descrito por este caso.

    Os reguladores nunca tiveram problemas para encontrartestemunhas para a ameaa iminente. Em suas campanhas de destruiocriativa, qualquer capitalista provoca pnico no estabilishmentpara abasteceros bedis com recursos para derrub-los [os inovadores] (GILDER, 2001, p.191).

    Escritas em 2001, as frases poderiam servir para uma explicao dos anncios

    das emissoras de TV durante a discusso sobre a entrada da TV Digital no Brasil, por

    exemplo. Informaes sem contexto, como o custo da TV aberta e os interesses por trs

    do processo, apoiaram uma campanha das instituies oficiais que reforou aspectos

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    novos ao meio televisivo, sem o devido esclarecimento da populao. A realidade norte-

    americana do incio do sculo permanece atual tambm no contexto brasileiro.

    Agora, com a tecnologia da informao sendo a principal fonte de novas

    riquezas, existe uma caada a novos monstros para justificar uma futura campanha

    governamental de tributao e regulamentao (GILDER, 2001, p. 191). A criao das

    guias de desenvolvimento das novas mdias tornou-se a ocasio ideal para uma

    renegociao poltica e econmica. A alterao das leis no Brasil a adaptao das leis

    de telecomunicaes para permitir tele e radiodifuso sob demanda e o padro WiMax,

    por exemplo tornam-se instantes oportunos tambm para rever fontes de recursos e

    tambm a manuteno de estruturas geradoras de capital para o governo e empresas

    relacionadas.

    Gilder no defende um campo para concorrncia, um capitalismo tradicional

    com verniz contemporneo, mas sim aes que caminhem para o reforo do proposto

    telecosmo. Resumindo, o verdadeiro monstro que deve ser combatido so as

    regulamentaes mal-orientadas (2001, p. 199). A constatao carece de um

    complemento, no somente para economias em expanso como o Brasil, pois o monstro

    nesta metfora tambm formado pelas empresas que no compreendem as

    propriedades do novo meio digital e jogam suas foras no mercado para garantir a

    sobrevivncia. Tal perpetuao do negcio como visto nos perodos analgicos no

    apenas concede foras aos monoplios, objeto suficiente para um outro estudo, porm

    veste de avano iniciativas com potencial limitado, como o Sistema Brasileiro de TV

    Digital.

    Com cada nova verso capenga da Lei das Telecomunicaes, oCongresso americano afeta importantes jogadores americanos que ele deveria

    estar recompensando. Entretanto, a longo prazo, nem mesmo o progressopoder parar o telecosmo (GILDER, 2001, p. 199)

    A proposta de um padro brasileiro para a TV Digital foi estimulada pelo

    governo, que meses depois cortou a atuao prtica das universidades antes estimuladas.

    Apesar da definio contrria aos pensamentos do incio do processo de prospeco do

    SBTVD e prioridade para os padres j vigentes e seus interesses relacionados, o

    processo deixou como conseqncia um novo estmulo para pesquisa.

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    Tal impulso para o conhecimento no conta com tantos investimentos como

    outrora, porm novas alianas foram formadas em busca de alternativas. Apenas na

    Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, por exemplo, a Faculdade de

    Comunicao Social iniciou projetos com a unidade da Informtica e da Engenharia,

    tanto com troca de conhecimento com laboratrios como estudos para outros projetos.

    A sabedoria adquirida neste processo est alinhada no apenas com o

    paradigma do pensamento complexo de Morin, mas tambm com o reposicionamento

    da cultura e das aplicaes do homem seja no nvel social ou econmico , provocado

    pela acelerao das redes e da informtica.

    Kelly salienta que, nesse contexto, a propriedade descentralizada,

    conseqncia da facilidade para trocar arquivos de mdia, e centros de conhecimento e

    de especialistas fazem contraponto aos centros financeiros:

    A distribuio da propriedade torna-se global, assim como aprpria economia. Nos ltimos anos, a Europa enviou muitos recursos paraos mercados de aes... ao mesmo tempo, investidores famintos despejamvolumes financeiros nos cofres dos mercados emergentes da sia e AmricaLatina (1998, p. 157).11

    Mesmo que existam locais como o Vale do Silcio, com idias e dinheiroconcentrados, espaos como o CESAR (Centro de Estudos e Sistemas Avanados do

    Recife), em Pernambuco, e a crescente busca por profissionais da rea em pases como

    ndia e Brasil alerta para esta importncia do saber. Como etapa final desta cadeia de

    sucesses, o autor indica que conceitos econmicos tornam-se elementos decisivos em

    todas as etapas da vida.

    Nesta economia das redes, a propriedade est fragmentada em uma

    mirade de partes, espalhada em caminhos eletrnicos, e dispersa entretrabalhadores, investidores, membros de parcerias e, em doses mnimas, atentre rivais. As redes provocaram uma nova distribuio do capitalismo(KELLY, 1998, p. 157).12

    A difuso dos conhecimentos e padres provoca uma nova paginao nas

    estruturas de negcios. O fato, por exemplo, observado tanto para a construo de

    novas estruturas caso do Software Livre e doLinux ou tambm para a reformulao

    dos padres troca de arquivos em MP3 e ajustes na indstria musical. Esta mudana

    11Traduo livre do autor.

    12Traduo livre do autor.

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    de etapas acontece com rapidez entre os utilizadores das mdias no interessados em

    protocolos e regras, mas sim nos usos , porm sem tanta rapidez entre as empresas e

    instituies responsveis pela produo e regulamentao dos setores.

    Desta forma, os vetores importantes para estes processos mudam suas

    propriedades.

    Assim como as redes surgem, o centro retrocede. No coincidncia que as redes globais apareceram paralelas com o movimentofilosfico da ps-modernidade. Na ps-modernidade, no h autoridadecentral, no h dogma universal, no h uma premissa tica nica (KELLY,1998, p. 159).13

    Sintomas do contemporneo, o crescimento das redes informatizadas

    configura-se at mesmo como ps-moderno. Kelly recorda as definies de Steven Best

    e Douglas Kellner, em The Postmodern Turn (1997), para o estado das artes, cincias e

    polticas, fragmentadas, instveis, indeterminadas e incertas. Isto define a rede

    (KELLY, 1998, p. 159).14

    No apenas trata-se de observar que o futuro das tecnologias e das

    comunicaes est nas redes. O futuro da tecnologia formado pelas redes. Redes

    largas, grandes, profundas e rpidas. Redes eltricas de todos os tipos vo colorir oplaneta e seus ns complexos vo definir nossa economia e colorir nossas vidas

    (KELLY, 1998, p. 159).15 Isto observado antes da digitalizao pelas grandes cadeias

    de rdio e televiso, alm da expanso da telefonia, porm na contemporaneidade h a

    apropriao coletiva das tcnicas para a comunicao e produo de contedo. As

    ferramentas outrora disponveis para poucos so expandidas com a criao de novos

    sites na rede, como o YouTube e seus derivados.

    Portanto, a Internet e suas ramificaes ou mesmo conexes com outras

    mdias esto inseridas em uma economia da informao conectada. Vincent Mosco

    define este setor tradicionalmente como estudo das relaes sociais que constituem a

    produo, a distribuio e o consumo de recursos, incluindo os recursos da

    comunicao (1999, p. 98).

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    Entende-se ento que a economia da informao obedece a estes pressupostos,

    porm no mais compreende apenas a produo exercida pelos atores tradicionais. No

    trata-se de ousar e afirmar que no h mais pblico, mas o contexto online favorece a

    expresso do espectador e concede a ele elementos para tambm influir no processo. O

    computador ferramenta para expresso tanto dos emissores tradicionais quanto da

    audincia. Este pblico est situado em uma outra cultura, digital, e dialoga com os

    meios novos.

    Conforme Lvy (2007) observa, neste atual contexto a populao apropriou-se

    das mdias e da cibercultura, retirando poder dos agentes iniciais e difundindo tanto

    ferramentas quanto informaes produzidas desta forma. Atribuies de definio ejulgamento de valor da mdia e do contedo veiculado nela para a comunidade, seja de

    dimenso pequena ou grande, tambm so aferidas pela populao. Alm destes pontos,

    o plano geral formado pela equao das foras das tenses observadas, com soma ou

    subtrao em determinados pontos.

    Desta maneira, h a formao de um fluxo da informao entre as mdias, um

    anel recursivo como observa Edgar Morin. possvel realizar uma metfora com a

    biologia. A natureza digital dos dados e sua transmisso pelaInternete redes derivadas

    criam um manancial que serve de fonte de gua (dados) para alimentar os seres vivos

    (mdias) que dependem deste recurso.

    [...] Ora, na prpria idia de complexidade que enuncio, anuncioao mesmo tempo em que ela contm em si a capacidade de unificar, aimpossibilidade de acabamento, uma parte de incerteza, uma parte deindecidibilidade e o reconhecimento com o tte--tte final com o indizvel(MORIN, 1996, p. 98).

    Esta formao de um fluxo nico no pacfica e acontece tanto com estmulos

    e guias bem como atravs das prticas. A colocao do texto na Internetno previa o

    seu uso nas emissoras de rdio, porm os comunicadores contam muitas vezes com

    acesso Internet dentro do estdio, com empresas reduzindo custos de reportagem e

    enfatizando investimentos em materiais colocados online. Esta incerteza, este jogo do

    acaso ps-moderno que altera as mdias de maneira orgnica, unifica atravs da

    dependncia. Por exemplo, a concentrao das informaes enviadas por agncias

    atravs dos seus feeds online torna a imprensa tradicional dependente do recurso. Ao

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    simplesmente capturar as informaes, sem trabalhar e diferenciar do online, replica

    informaes e no torna seu meio diferente dos outros, mas sim pasteuriza o produto

    final.

    O que necessrio compreender o modo de estruturao dosoutros tipos de pensamento diferentes do nosso, e isto no s de cultura paracultura mas tambm no interior de uma civilizao (MORIN, 1996, p. 32).

    Em virtude do modo como as redes digitais costuram as mdias nesta adaptao

    para a era da cultura digital, em um prazo maior pode ser observada a autonomia do

    contexto online. Conforme observado no pargrafo anterior, se atualmente serve de base

    para os outros, a simples aplicao das informaes em outros meios pode provocar na

    populao adulta e idosa o fenmeno observado na juventude, que busca fontes maisgeis para atualidades. Por exemplo, registra-se isso no atual estado dos jornais

    impressos, que perdem leitores tradicionais e tentam manter o pblico com a migrao

    digital para a web e celular, e apenas expande-se com a entrada de publicaes em

    classes menos favorecidas. A adaptao das mdias tambm refora movimentos de

    formao de novos espaos convergentes.

    Conforme observado por Morin, em Terra-Ptria, o mundo encontra-se

    conectado e a informao tambm.

    Ademais, devemos dizer que o mundo encontra-se cada vez

    mais uno e cada vez mais particularizado, digamos cortado em

    pedaos. Uno no sentido de que cada parte do mundo cada vez

    mais faz parte do mundo em sua globalidade. E que o mundo

    em sua globalidade encontra-se dentro de cada parte (MORIN,

    2002, p. 46).

    No paradigma da troca de informaes, sejam elas culturais ou polticas ou

    econmicas, a mundializao instantnea e suas conseqncias atravs das aplicaes

    da Internet provocam alteraes constantes na comunicao. Portanto, a rea no s

    agrega valores de outras como outrora, mas tambm transforma e modifica o papel do

    comunicador. Seja atravs das redes sociais, informaes publicadas em websites ou

    restries para campanhas polticas online, possvel constatar que as idias de Kelly

    continuam vlidas, embora transformadas.

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    A justaposio com outros olhares no apenas permite uma compreenso da

    situao, mas uma atualizao que carrega consigo passos evolutivos do meio e formam

    bases para a compreenso do porvir. Desta forma, o comunicador pode compreender os

    novos fluxos da informao, influenciados por fatores econmicos e pela participao

    do pblico. Cria-se um novo cenrio, que requer tambm novos agentes de

    comunicao. Passados 10 anos, o olhar de Kevin Kelly continua atual e atraente para

    novas discusses.

    Referncias bibliogrficas

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