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Comunicação Manoel Francisco Guaranha https://manoelguaranha.wordpress.com/ 1 https://manoelguaranha.wordpress.com/ Comunicação, linguagem, língua, níveis de linguagem, gêneros e tipos textuais Manoel Francisco Guaranha São Paulo 2017

Comunicação, linguagem, língua, níveis de linguagem ... · outros tipos textuais, transmitir ideologias, conceitos, valores, transformar o comportamento do enunciatário em gêneros

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Comunicação, linguagem, língua, níveis de

linguagem, gêneros e tipos textuais

Manoel Francisco Guaranha

São Paulo – 2017

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Sumário Unidade I – Gêneros e tipos textuais .................................................................................................. 3

Estudo da narrativa ....................................................................................................................... 10

Estudo da descrição ...................................................................................................................... 17

Estudo da argumentação .............................................................................................................. 26

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Unidade I – Gêneros e tipos textuais

O texto é uma unidade de sentido, atividade sistemática de atualização

discursiva da língua na forma de um gênero; material linguístico com potencial para

conectar atividades sociais, conhecimentos linguísticos e conhecimentos do mundo;

unidade funcional, de natureza discursiva.

O texto é o espaço de materialização do discurso. Discurso, por sua vez é

conjunto de enunciados que ocorrem com certa regularidade e remetem a uma

mesma ideologia, visão, concepção de mundo de uma determinada comunidade

social numa determinada circunstância histórica. A ideologia se materializa por meio

da linguagem, não há um discurso ideológico, mas todos são e têm seus princípios

de regularidade em uma mesma formação discursiva.

O sujeito não pode ser concebido como total responsável por aquilo que diz;

tampouco como alguém que não é dono daquilo que escreve ou diz, ou seja,

repetidor do discurso dos outros, mas é uma entidade psicologia e social

(psicossocial) que usa a língua como lugar de interação. Sendo assim, quando

participam ativamente da definição da situação na qual se acham engajados, os

sujeitos adquirem um caráter ativo, são atores na atualização das imagens e das

representações sem as quais a comunicação não poderia existir.

Os três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional

fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela

especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado

isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora

seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos

gêneros do discurso.

Sendo assim, quanto mais gêneros do discurso dominarmos, mais facilidade

teremos de nos comunicar de forma eficiente, clara e objetiva, mais possibilidade

teremos de influenciar positivamente os outros e de não sermos influenciados pelo

discurso alheio se isso não for conveniente para nossa vida pessoal e profissional.

Por isso é importante desenvolvermos competência discursiva para ler e interpretar

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textos de forma crítica e de produzir textos eficientes e adequados às diferentes

situações de comunicação do dia a dia.

As Tipologias Textuais

Os tipos textuais constituem estratégias utilizadas para organizar o material

linguístico e apresentam-se em estreita conexão com o gênero a que pertence o

texto. É comum um único texto conter diferentes tipos que se articulam, já que essas

categorias apresentam-se em número bastante limitado enquanto os gêneros

apresentam-se em grande quantidade e, inclusive, surgem e desaparecem ao longo

da história, quer por mudanças culturais, quer por intermédio das novas tecnologias.

A tipologia textual é considerada por Marcuschi(2005)

uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição; constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados no interior dos gêneros que não são textos empíricos; sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal (p. 23).

A noção de tipo textual é um construto teórico que abrange, em geral, as

categorias designadas narração, argumentação, exposição, descrição, injunção e

diálogo. Como dificilmente são encontrados tipos puros, um texto se define como

de um tipo por uma questão de dominância, em função do tipo de interlocução que

se pretende estabelecer e que se estabelece, e não em função do espaço ocupado

por um tipo na constituição desse texto.

Já segundo Bronckart (1999, p. 22), os tipos textuais abrangem as categorias

narração, argumentação, exposição, descrição e injunção. Segundo ele, o

termo tipologia textual é usado “para designar uma espécie de sequência

teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos

lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas)”. Como se percebe, Bronckart

não apresenta, como faz Marcuschi, o diálogo como um dos tipos textuais. Isso nos

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autoriza a pensar que, por esta perspectiva teórica, os turnos de fala dos locutores

em um diálogo podem ser categorizados como narrativos, argumentativos,

expositivos, descritivos ou injuntivos. A predominância de determinado tipo textual

dependerá do objetivo enunciativo do material linguístico a que pertence, ou seja,

das especificidades do gênero em que se insere o texto.

Em primeiro lugar, consideraremos o tipo narrativo, forma básica global muito

presente em diversos gêneros cuja finalidade é contar histórias ou fatos. Sendo

linguisticamente marcado pela contação de um fato, nessa estrutura o autor

encadeia uma sequência de acontecimentos ou de eventos que ocorreram. Desse

modo, a estrutura narrativa é caracterizada pela marcação temporal cronológica,

além do destaque dado aos agentes das ações. Na narrativa, predominam as

ações, enquanto que as descrições de situações e estados lhe são subordinadas.

Só é possível falar de narração quando cada história contada mobilizar

personagens implicados em acontecimentos organizados no eixo do sucessivo e

quando for sustentada por um processo de intriga (BRONCKART, 1999, p. 219).

Logo, essa tipologia textual é caracterizada pela predominância de verbos no

pretérito do indicativo, uma vez que este tempo verbal remete à ideia de

acontecimentos realizados, pontua ou faz menção a estes acontecimentos,

desenvolvendo a sequência das ações em um tempo cronológico em andamento.

Certamente, há narrativas literárias que se desenrolam no presente, mas essa

estratégia gera um efeito de sentido que caracteriza o suspense a inserção do leitor

nos fatos contados. De qualquer modo, via de regra, em textos não literários, as

histórias são contadas por meio de verbos no passado.

Já o texto descritivo faz um apontamento das características de um indivíduo,

de um animal, de um ambiente, de um objeto, de uma situação e mesmo de uma

sensação. Essa tipologia textual é conhecida como aquela que mostra, que revela,

que traduz um fenômeno. A sequência descritiva apresenta a particularidade de ser

composta de fases que não se organizam em uma ordem linear obrigatória, mas

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que se combinam e se encaixam em uma ordem hierárquica ou vertical

(BRONCKART, 1999, p. 222). Analogicamente, podemos afirmar que o texto

descritivo pode ser entendido como uma imagem, uma cena dentro da moldura e

que ao autor do texto cabe mostrar essa cena. Na imagem, não há uma sequência

de acontecimentos nem uma sequência única que os olhos devem seguir. Ao sujeito

que faz a descrição é que cabe a organização dos elementos, do todo para as

partes, modo dedutivo, ou das partes para o todo, modo indutivo. O tempo verbal

apropriado para uma descrição é o presente do indicativo, mas nada impede que

sejam feitas descrições no pretérito imperfeito ou mesmo perfeito quando elas se

inserem nas narrativas. O que difere este tipo textual da narração é a menor

incidência de verbos de ação decorrente da intencionalidade do produtor de

apresentar o objeto descrito, quer dizer, o texto descritivo é marcado por um tempo

estático, o que não significa a supressão total das ações. Havendo decurso de

tempo, o texto tenderá a ser narrativo e não descritivo.

Os textos dissertativos, em que predomina a argumentação, por sua vez,

preocupam-se em defender ideias ou opiniões. É importante ressaltar que o texto

pode ou não trazer a primeira pessoa gramatical como marca. O texto dissertativo,

quando dispensa essa marca gramatical, procura produzir um efeito de sentido que

atribui às ideias apresentadas valor e caráter universais. O locutor quer que a

opinião expressa deixe de ser pessoal para ganhar uma dimensão mais universal e

com isso pretende conseguir a adesão do interlocutor apelando, geralmente, para

o senso comum ou para o bom senso. O tempo verbal deve ser o presente do

indicativo. A defesa de um ponto de vista e de uma argumentação embasada e

justificada leva em consideração aspectos objetivos, mas nem sempre isso ocorre

já que o sujeito que argumenta apresenta a realidade como ele a concebe. Caso

tenha a intenção de produzir um efeito de sentido que confere maior grau de

racionalidade ao texto, o locutor dispensa a expressão exaltada de valores

emocionais e subjetivos, já que a pessoalidade pode enfraquecer o argumento.

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Garcia (2002, p. 302), falando sobre um tipo de argumentação menos

emotiva, ressalta que “a argumentação deve basear-se nos sãos princípios da

lógica”, desenvolvendo-se a partir de ideias, princípios ou fatos. Dessa maneira,

segundo a visão desse autor, em texto ou debate, o uso de xingamentos, do

sarcasmo entre outras estratégias, por mais criativas possam vir a ser, jamais se

constitui como um argumento, antes podem se revelar a falta dele.

O texto injuntivo é aquele que faz uma recomendação, faz o apontamento de

como realizar determinada tarefa ou ação, dá ordens ou sugestões. Embora se

caracterize por verbos no imperativo ou por formas mais corteses no futuro do

pretérito em estruturas interrogativas como “você gostaria de fazer tal coisa?” ou

“você poderia fazer tal coisa?”, a caracterização desse tipo textual, em gêneros mais

simples como manuais de instrução ou placas de trânsito, é mais clara fazer.

Contudo, em gêneros mais complexos, predominantemente dissertativos, podem

aparecer sequências injuntivas, já que na argumentação o locutor defende uma

ideia com vistas à persuasão ou ao convencimento do interlocutor sobre um ponto

de vista e pode querer coroar o processo com sugestões, pedidos diretos ou até

ordens dadas ao auditório para efetivar a adesão deste às ideias apresentadas.

É preciso considerar, na análise da injunção, também elementos contextuais,

já que uma fala expositiva como “está calor hoje” pode ser entendida como uma fala

injuntiva se o falante quiser que o ouvinte interprete sua fala como “por favor, traga-

me um copo com água” ou “ligue o ar condicionado”, por exemplo. A injunção trata-

se, de qualquer modo, de um tipo textual que procura levar o leitor a determinada

orientação transformadora. O texto injuntivo-instrucional, ainda que sob diferentes

formas, tem o poder de transformar o comportamento do leitor, pois confere a ele

um saber. O texto injuntivo, em contextos mais práticos, tem como objetivo controlar

o comportamento do destinatário – são textos que incitam à ação, impõem regras

ou fornecem instruções e indicações para a realização de um trabalho ou a

utilização correta de instrumentos.

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Apesar da aparente simplicidade do tipo injuntivo, ele pode, se combinado a

outros tipos textuais, transmitir ideologias, conceitos, valores, transformar o

comportamento do enunciatário em gêneros prescritivos como fábulas ou apólogos,

por exemplo. A diferença é que, enquanto o argumentativo deve apelar para a razão

(logos), no processo de persuasão do leitor, o injuntivo pode ser usado quando o

objetivo enunciativo é apelar para a emoção (pathos), num processo de

convencimento.

Finalmente, o tipo expositivo cumpre a função de informar utilizando a

explicação. Utiliza a razão e o entendimento com a finalidade de definir, esclarecer

ou explicar um determinado tema, assunto, situação ou acontecimento. Essa

tipologia está associada à apresentação e asserção de conceitos. No texto

expositivo, o autor preocupa-se em dar explicações e elaborar os pontos-chave da

informação, a fim de que seu auditório entenda o porquê e o como. Em gêneros

essencialmente argumentativos, o tipo textual expositivo está presente na hora em

que o produtor contextualiza e apresenta sua tese, bem como funciona como

coadjuvante no desenvolvimento dos argumentos.

Por estas considerações, percebe-se que é difícil haver um gênero

exclusivamente vinculado a uma única tipologia textual, em um mesmo texto pode

haver uma sequência de ações e uma caracterização dessa ação, ambiente, pessoa

etc. A categorização do texto como narrativo ou descritivo vai ser dada de acordo

com a predominância de uma tipologia, não de acordo com a exclusividade dela. A

exclusividade de um tipo textual ocorre apenas em gêneros simples cujos objetivos

enunciativos são muito específicos como placas de trânsito que podem ser

simplesmente injuntivas "Pare" ou expositivas como "Obras na pista"1. Em geral, os

1 Isso levando-se em consideração que esses textos não estejam deslocados de seus contextos originais, pois uma placa de trânsito “Pare” fixada no quarto de um adolescente produz um efeito de sentido que vai além daquele dado pelo injuntivo. Pode estar querendo significar, entre outras coisas, um recado aos pais: “Este território me pertence”.

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textos mais complexos de quaisquer gêneros são híbridos, pois podem trazer em

sua composição aspectos narrativos ou descritivos ou dissertativos ou injuntivos.

Para compreender a organização textual em sua complexidade, é necessário

evitar apenas rotular o material linguístico pela tipologia que ele apresenta em um

primeiro momento. Devemos considerar que se pode, em um texto argumentativo,

narrar uma breve história que servirá como argumento; pode-se, em um texto

narrativo, contar uma história com a finalidade de mudar o comportamento de

alguém, ou seja, com a intenção argumentativa e até injuntiva, por assim dizer,

como no caso das fábulas. Classificar textos a partir da tipologia, simplesmente,

pode ser improdutivo quando se pretende empreender uma análise profunda do

sentido das construções linguísticas, mas a classificação tipológica, por outro lado,

pode ser um relevante instrumento para se verificar a intencionalidade do

enunciador e para se avaliar os efeitos de produção de sentido nas estruturas

linguísticas.

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Estudo da narrativa Famigerado – conto de Guimarães Rosa

Foi de incerta feita — o evento. Quem pode esperar coisa tão sem pés nem cabeça? Eu estava em casa, o arraial sendo de todo tranquilo. Parou-me à porta o tropel. Cheguei à janela.

Um grupo de cavaleiros. Isto é, vendo melhor: um cavaleiro rente, frente à minha porta, equiparado, exato; e, embolados, de banda, três homens a cavalo. Tudo, num relance, insolitíssimo. Tomei-me nos nervos. O cavaleiro esse — o oh-homem-oh — com cara de nenhum amigo. Sei o que é influência de fisionomia. Saíra e viera, aquele homem, para morrer em guerra. Saudou-me seco, curto pesadamente. Seu cavalo era alto, um alazão; bem arreado, ferrado, suado. E concebi grande dúvida.

Nenhum se apeava. Os outros, tristes três, mal me haviam olhado, nem olhassem para nada. Semelhavam a gente receosa, tropa desbaratada, sopitados, constrangidos coagidos, sim. Isso por isso, que o cavaleiro solerte tinha o ar de regê-los: a meio-gesto, desprezivo, intimara-os de pegarem o lugar onde agora se encostavam. Dado que a frente da minha casa reentrava, metros, da linha da rua, e dos dois lados avançava a cerca, formava-se ali um encantoável, espécie de resguardo. Valendo-se do que, o homem obrigara os outros ao ponto donde seriam menos vistos, enquanto barrava-lhes qualquer fuga; sem contar que, unidos assim, os cavalos se apertando, não dispunham de rápida mobilidade. Tudo enxergara, tomando ganho da topografia. Os três seriam seus prisioneiros, não seus sequazes. Aquele homem, para proceder da forma, só podia ser um brabo sertanejo, jagunço até na escuma do bofe. Senti que não me ficava útil dar cara amena, mostras de temeroso. Eu não tinha arma ao alcance. Tivesse, também, não adiantava. Com um pingo no i, ele me dissolvia. O medo é a extrema ignorância em momento muito agudo. O medo O. O medo me miava. Convidei-o a desmontar, a entrar.

Disse de não, conquanto os costumes. Conservava-se de chapéu. Via-se que passara a descansar na sela — decerto relaxava o corpo para dar-se mais à ingente tarefa de pensar. Perguntei: respondeu-me que não estava doente, nem vindo à receita ou consulta. Sua voz se espaçava, querendo-se calma; a fala de gente de mais longe, talvez são-franciscano. Sei desse tipo de valentão que nada alardeia, sem farroma. Mas avessado, estranhão, perverso brusco, podendo desfechar com algo, de repente, por um és-não-és. Muito de macio, mentalmente, comecei a me organizar. Ele falou:

“Eu vim preguntar a vosmecê uma opinião sua explicada…” Carregara a celha. Causava outra inquietude, sua farrusca, a catadura de canibal.

Desfranziu-se, porém, quase que sorriu. Daí, desceu do cavalo; maneiro, imprevisto. Se por se cumprir do maior valor de melhores modos; por esperteza? Reteve no pulso a ponta do cabresto, o alazão era para paz. O chapéu sempre na cabeça. Um alarve. Mais os ínvios olhos. E ele era para muito. Seria de ver-se: estava em armas — e de armas alimpadas. Dava para se sentir o peso da de fogo, no cinturão, que usado baixo, para ela estar-se já ao nível justo, ademão, tanto que ele se persistia de braço direito pendido, pronto meneável. Sendo a sela, de notar-se, uma jereba papuda urucuiana, pouco de se achar, na região, pelo menos

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de tão boa feitura. Tudo de gente brava. Aquele propunha sangue, em suas tenções. Pequeno, mas duro, grossudo, todo em tronco de árvore. Sua máxima violência podia ser para cada momento. Tivesse aceitado de entrar e um café, calmava-me. Assim, porém, banda de fora, sem a-graças de hóspede nem surdez de paredes, tinha para um se inquietar, sem medida e sem certeza.

— “Vosmecê é que não me conhece. Damázio, dos Siqueiras… Estou vindo da Serra…”

Sobressalto. Damázio, quem dele não ouvira? O feroz de estórias de léguas, com dezenas de carregadas mortes, homem perigosíssimo. Constando também, se verdade, que de para uns anos ele se serenara — evitava o de evitar. Fie-se, porém, quem, em tais tréguas de pantera? Ali, antenasal, de mim a palmo! Continuava:

— “Saiba vosmecê que, na Serra, por o ultimamente, se compareceu um moço do Governo, rapaz meio estrondoso… Saiba que estou com ele à revelia… Cá eu não quero questão com o Governo, não estou em saúde nem idade… O rapaz, muitos acham que ele é de seu tanto esmiolado…”

Com arranco, calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito à meia esguelha. Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.

O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos, insequentes, como dificultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava: E, pá:

— “Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado… faz-megerado… falmisgeraldo… familhas-gerado…?

Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação?

— “Saiba vosmecê que saí ind’hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro…”

Se sério, se era. Transiu-se-me. — “Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem têm o

legítimo — o livro que aprende as palavras… É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias… Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam… A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei?”

Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes: — Famigerado?

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— “Sim senhor…” — e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo — apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. — Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio:

— “Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho…”

Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio. — Famigerado é inóxio, é “célebre”, “notório”, “notável”… — “Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é

desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?” — Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos… — “Pois… e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?” — Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito… — “Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?” Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse: — Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas

era ser famigerado — bem famigerado, o mais que pudesse!… — “Ah, bem!…” — soltou, exultante. Saltando na sela, ele se levantou de molas. Subiu em si, desagravava-se, num

desafogaréu. Sorriu-se, outro. Satisfez aqueles três: — “Vocês podem ir, compadres. Vocês escutaram bem a boa descrição…” — e eles prestes se partiram. Só aí se chegou, beirando-me a janela, aceitava um copo d’água. Disse: — “Não há como que as grandezas machas duma pessoa instruída!” Seja que de novo, por um mero, se torvava? Disse: — “Sei lá, às vezes o melhor mesmo, pra esse moço do Governo, era ir-se embora, sei não…” Mas mais sorriu, apagara-se-lhe a inquietação. Disse: — “A gente tem cada cisma de dúvida boba, dessas desconfianças… Só pra azedar a mandioca…” Agradeceu, quis me apertar a mão. Outra vez, aceitaria de entrar em minha casa. Oh, pois. Esporou, foi-se, o alazão, não pensava no que o trouxera, tese para alto rir, e mais, o famoso assunto.

O texto anterior trata-se de uma narrativa, um conto literário. Narrar é contar

histórias, ficcionais ou não. Pode-se afirmar que se trata de uma narrativa porque

nele prevalecem os aspectos que sustentam uma narração, que podem ser

sintetizados por meio das questões: o que aconteceu?; quando aconteceu?; onde

aconteceu?; quem participou do acontecimento?; quem narra o acontecimento?; por

que o fato narrado ocorreu?

Entremeados à narrativa, temos os outros tipos textuais que aparecem em

menor escala: descrição, injunção, exposição e argumentação.

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Colocando em prática os conceitos

a) Escreva um texto, de no máximo dez linhas, que sintetize, com a maior

objetividade possível, a narrativa anterior. Procure se guiar pelas

questões apresentadas anteriormente que constituem a base da

narrativa.

Selecione e copie quatro fragmentos do texto que sejam, respectivamente,

sequências: a) descritiva; b) expositiva; c) injuntiva; d) argumentativa.

b) Transforme o texto a seguir, um poema, em uma narração em que você

coloque os fatos em ordem cronológica. Para fazer isso, guie-se pelas

perguntas que devem ser respondidas em três blocos: versos de 1 a 4 -

a) quem praticava a ação? b) qual a ação? c) por quanto tempo? d) por

que o sujeito praticava a ação; versos de 5 a 8 - a) quais sujeitos praticam

ações? b) qual a ação cada sujeito pratica? c) por quanto tempo?; d) por

que as ações são praticadas pelos sujeitos?; versos de 10 a 14: a) quem

praticava a ação? b) qual a ação? c) por quanto tempo? d) qual o

resultado da ação?

Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; Mas não servia ao pai, servia a ela, E a ela só por prêmio pretendia. Os dias, na esperança de um só dia, Passava, contentando-se com vê-la; Porém o pai, usando de cautela, Em lugar de Raquel lhe dava Lia. Vendo o triste pastor que com enganos Lhe fora assi negada a sua pastora, Como se a não tivera merecida; Começa de servir outros sete anos, Dizendo: – Mais servira, se não fora Para tão longo amor tão curta a vida!

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Ficha de atividade Unidade – Curso:

Disciplina:

Atividade: Nome(s) completo(s): Data:

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Rebelião deixa seis presos mortos em cadeia de Pernambuco FOLHA DE SÃO PAULO, 25/07/2016

Uma rebelião de detentos em uma unidade prisional de Caruaru, no agreste pernambucano, terminou com seis presos mortos e outros 11 feridos.

De acordo com a secretaria de Justiça e Direitos Humanos, as vítimas fatais foram atingidas com golpes de falcão —um preso, inclusive, foi decapitado.

Os sobreviventes foram levados para o Hospital Regional do Agreste, sendo que três deles já retornaram à cadeia.

A rebelião teve início às 17h30 deste sábado (24) na Penitenciária Juiz Plácido de Souza e perdurou por três horas. Por volta das 13h deste domingo (25), o clima ainda era tenso no local.

O Grupo de Operações e Segurança, do sistema prisional local, além de efetivos da PM e da Polícia Civil fazem a segurança do presídio.

Por medida de segurança, 11 detentos foram transferidos para outras cadeias do Estado após o motim.

Segundo Pedro Eurico de Barros e Silva, secretário da pasta da Justiça do Estado, a rebelião ocorreu em razão de um desentendimento entre grupos rivais que disputam o controle do tráfico de drogas na unidade.

Dois pavilhões foram incendiados. Os danos, no entanto, ainda estão sendo contabilizados, informou Barros e Silva.

"Vamos abrir uma investigação para responsabilizar quem comandou e executou os homicídios na unidade", diz o secretário.

As visitas de familiares, que aconteceriam neste domingo, foram suspensas. A Penitenciária Juiz Plácido de Souza está superlotada. Com capacidade para abrigar

400 presos, o local tem hoje 1.850 homens.

No texto anterior, também prevalece a narrativa. Diferente do conto

“Famigerado” de Guimarães Rosa, nele prevalece um tom mais objetivo em virtude

das exigências do gênero a que pertence. Sendo uma narrativa, é possível

responder às perguntas: o que aconteceu?; quando aconteceu?; onde aconteceu?;

quem participou do acontecimento?; quem narra o acontecimento?; por que o fato

narrado ocorreu?

a) Confrontando os dois textos, é possível responder às questões anteriores

do mesmo modo nos textos de Guimarães e na notícia? Justifique.

a) Quais são os elementos que conferem objetividade à notícia?

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b) Ainda que mais objetivo, o texto apresenta marcas do sujeito que o

redigiu. Identifique essas marcas e procure mostrar o efeito de sentido

que elas produzem na notícia.

Ficha de atividade

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Estudo da descrição

Os textos a seguir, de diferentes gêneros, são predominantemente

descritivos:

“Juliana entrou, arranjando nervosamente o colar e o broche. Devia ter quarenta

anos e era muitíssimo magra. As feições, miúdas, espremidas, tinham a amarelidão de tons

baços das doenças de coração. Os olhos grandes, encovados, rolavam numa inquietação,

numa curiosidade, raiados de sangue, entre pálpebras sempre debruadas de vermelho.

Usava uma cuia de retrós imitando tranças, que lhe fazia a cabeça enorme. Tinha um tique

nas asas do nariz. E o vestido chato sobre o peito, curto da roda, tufado pela goma das saias

— mostrava um pé pequeno, bonito, muito apertado em botinas de duraque com ponteiras

de verniz.” (Eça de Queirós, O Primo Basílio)

“Quaresma era um homem pequeno, magro, que usava pince-nez, olhava sempre

baixo, mas, quando fixava alguém ou alguma cousa, os seus olhos tomavam, por detrás das

lentes, um forte brilho de penetração, e era como se ele quisesse ir à alma da pessoa ou da

cousa que fixava. Contudo, sempre os trazia baixos, como se se guiasse pela ponta do

cavanhaque que lhe enfeitava o queixo. Vestia-se sempre de fraque, preto, azul, ou de

cinza, de pano listrado, mas sempre de fraque, e era raro que não se cobrisse com uma

cartola de abas curtas e muito alta, feita segundo um figurino antigo de que ele sabia com

precisão a época.” (Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Quaresma)

Um mover de olhos, brando e piedoso, Sem ver de quê; um riso brando e honesto, Quase forçado; um doce e humilde gesto, De qualquer alegria duvidoso; Um despejo quieto e vergonhoso; Um repouso gravíssimo e modesto; Uma pura bondade, manifesto Indício da alma, limpo e gracioso; Um encolhido ousar; uma brandura; Um medo sem ter culpa; um ar sereno; Um longo e obediente sofrimento:

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Esta foi a celeste formosura Da minha Circe, e o mágico veneno Que pôde transformar meu pensamento. (Luís Vaz de Camões) “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos

mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe

a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a

fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados.

Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme.

Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o isqueiro, ou travar ligeira conversa com um amigo, cai logo — cai é o termo — de cócoras, atravessando largo tempo numa posição de equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica suspenso pelos dedos grandes dos pés, sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.

É o homem permanentemente fatigado. Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra

remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude.

Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela

organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas

linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto

dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.

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Este contraste impõe-se ao mais leve exame. Revela-se a todo o momento, em todos os pormenores da vida sertaneja — caracterizado sempre pela intercadência impressionadora entre extremos impulsos e apatias longas.

É impossível idear-se cavaleiro mais chucro e deselegante; sem posição, pernas coladas ao bojo da montaria, tronco pendido para a frente e oscilando à feição da andadura dos pequenos cavalos do sertão, desferrados e maltratados, resistentes e rápidos como poucos. Nesta atitude indolente, acompanhando morosamente, a passo, pelas chapadas, o passo tardo das boiadas, o vaqueiro preguiçoso quase transforma o “campeão” que cavalga na rede amolecedora em que atravessa dois terços da existência.

Mas se uma rês “alevantada” envereda, esquiva, adiante, pela caatinga garranchenta, ou se uma ponta de gado, ao longe, se trasmalha, ei-lo em momentos transformado, cravando os acicates de rosetas largas nas ilhargas da montaria e partindo como um dardo, atufando-se velozmente nos dédalos inextricáveis das juremas.

Vimo-lo neste steeple-chase bárbaro.” (Os Sertões, Euclides da Cunha) “BMW Série 1, um veículo ágil e compacto com uma aparência esportiva e moderna.

A dianteira exibe um novo design, que inclui a grade em forma de rim característica da BMW e os elegantes faróis LED*. A traseira apresenta os cativantes faróis em forma de L e o interior ergonômico proporciona inúmeras possibilidades de organização. A última geração de motores BMW TwinPower Turbo é tão eficiente quanto emocionante. Isso é o Puro Prazer de Dirigir. É isso que caracteriza o BMW Série 1.”

http://www.bmw.com.br/pt/all-models/1-series/5-door/2015/start-page.html

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Descrição de compras de produtos alimentícios para merenda da Prefeitura Municipal de Itapeva. Fonte: http://www.itapeva.sp.gov.br/itapeva/compras/Editais_p_download/PDF/Microsoft%20Word%20-%20Edital%20PP10%20Merenda.doc.PDF

Os textos descritivos podem ser caracterizados como:

a) Dedutivos: que descrevem o objeto do todo para as partes.

b) Indutivos: que descrevem o objeto das partes para o todo.

c) Objetivos: que apresentam os aspectos de forma técnica, exata. Por

exemplo, não se diz que uma pessoa é alta, mas exatamente quanto ela

mede: 1,80 metros; não se diz que uma pessoa é gorda, mas a massa

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corporal dela, 150 quilos. Esse tipo de descrição deve prevalecer nos

manuais de instrução, por exemplo.

d) Subjetivos: são as descrições literárias ou de textos de propaganda, em

que são colocadas as impressões do sujeito sobre os objetos

apresentados.

As combinações possíveis são descrição: a) dedutiva objetiva; b) dedutiva

subjetiva; c) indutiva objetiva; d) indutiva subjetiva.

Em textos técnicos deve prevalecer a descrição dedutiva objetiva já que

o leitor espera um texto claro, de fácil compreensão e sem ambiguidades.

Nas descrições de textos de propaganda ou literárias prevalecem textos com

maior grau de subjetividade.

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Colocando em prática os conceitos

Escreva um texto descritivo, objetivo e dedutivo a partir das figuras a seguir:

Sistema de aquecimento e ventilação do Fiat Pálio Fire Economy

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Fonte: http://www.fiat.com.br/content/dam/fiat-brasil/manuais-carros/17164L1.pdf

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Ficha de atividade Unidade – Curso:

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Estudo da argumentação Argumentar é defender uma ideia. Para isso, você deve ter uma ideia clara,

formular uma tese e pensar em argumentos que a sustentem.

A lei (Lima Barreto) - Vida urbana, 7-1-1915

Este caso da parteira merece sérias reflexões que tendem a interrogar sobre a serventia da lei. Uma senhora, separada do marido, muito naturalmente quer conservar em sua companhia a filha; e muito naturalmente também não quer viver isolada e cede, por isto ou aquilo, a uma inclinação amorosa.

O caso se complica com uma gravidez e para que a lei, baseada em uma moral que já se findou, não lhe tire a filha, procura uma conhecida, sua amiga, a fim de provocar um aborto de forma a não se comprometer.

Vê-se bem que na intromissão da “curiosa" não houve nenhuma espécie de interesse subalterno, não foi questão de dinheiro. O que houve foi simplesmente camaradagem, amizade, vontade de servir a uma amiga, de livrá-la de uma terrível situação.

Aos olhos de todos, é um ato digno, porque, mais do que o amor, a amizade se impõe. Acontece que a sua intervenção foi desastrosa e lá vem a lei, os regulamentos, a polícia, os inquéritos, os peritos, a faculdade e berram: você é uma criminosa! Você quis impedir que nascesse mais um homem para aborrecer-se com a vida!

Berram e levam a pobre mulher para os autos, para a justiça, para a chicana, para os depoimentos, para essa via-sacra da justiça, que talvez o próprio Cristo não percorresse com resignação.

A parteira, mulher humilde, temerosa das leis, que não conhecia, amedrontada com a prisão, onde nunca esperava parar, mata-se.

Reflitamos, agora; não é estúpida a lei que, para proteger uma vida provável, sacrifica duas? Sim, duas porque a outra procurou a morte para que a lei não lhe tirasse a filha. De que vale a lei?

a) Que ideia o sujeito defende?

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_____________________________________________________________________ b) Sintetize o argumento que o sujeito constrói.

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_____________________________________________________________________ c) O texto é argumentativo, mas na construção do argumento o sujeito utiliza um outro

tipo textual. Qual é e quais as características que permitem que você identifique esse

tipo textual? _____________________________________________________________________

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Internet ajudou a derrubar o mito da tolerância brasileira BOB VIEIRA DA COSTA (Folha de São Paulo, 3/8/2016)

A internet vem ajudando a derrubar o mito de que nós brasileiros somos tolerantes às diferenças. Histórias que desnudam a intolerância entre nós surgem a cada dia. Para cada caso com pessoas conhecidas noticiado na mídia, há outros milhares nas redes sociais.

Cabelo ruim, gordo, vagabundo, retardado mental, boiola, malcomida, golpista, velho, nega. Expressões como essas predominam nas nuvens de palavras encontradas em posts que revelam todo tipo de intransigência ao outro, em vários aspectos: aparência, classe social, deficiência, homofobia, misoginia, política, idade, raça, religião e xenofobia.

Segundo dados da ONG Safernet, denúncias contra páginas que divulgaram conteúdos do tipo cresceram mais de 200% no país. Num primeiro momento, parece que a internet criou uma onda de intolerância.

O fato, porém, é que as redes sociais apenas amplificaram discursos existentes no nosso dia a dia. No fundo, as pessoas são as mesmas, nas ruas e nas redes.

Vejamos: o Brasil lidera as estatísticas de mortes na comunidade LGBT (dado da Associação Internacional de Gays e Lésbicas); mata muito mais negros do que brancos (Mapa da Violência); aparece em quinto lugar em homicídios de mulheres (Mapa da Violência); registrou aumento de 633% nos casos de xenofobia (Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos); e 6,2% dos seus empregadores confessam não contratar pessoas obesas (site de recrutamento).

A intolerância nas redes é resultado direto de desigualdades e preconceitos sociais em geral, não é uma invenção da internet. O ambiente em rede facilita que cada um solte seus demônios, ao dar a sensação de um pretenso anonimato. O mundo virtual é, portanto, mais uma forma de os intolerantes se manifestarem e ampliarem seu alcance.

Para se ter ideia, nossa agência, por meio da iniciativa Comunica que Muda, resolveu medir a intolerância na internet durante três meses, utilizando a plataforma Torabit.

De abril a junho, foram analisadas nada menos que 393.284 menções aos tipos de intolerância citados no início do texto. O percentual de abordagens negativas dos temas ficou acima de 84%. No caso do racismo, chegou a 97,6%.

O maior número de menções (220 mil) foi para a política, seguido da misoginia (50 mil), mas há que se ressaltar que o tema reflete a crise atual. Entre os Estados, o Rio de Janeiro registrou o maior número de citações (58.284), apesar de, proporcionalmente à população, o Distrito Federal ser o mais intolerante.

Bem melhor seria se, na verdade, passássemos a adotar a aceitação como o contrário de intolerância. Porque a própria palavra tolerância lembra indulgência e condescendência, e não é isso que se quer.

Suportar o outro é só o começo de uma evolução. Tolerar é manter uma relação positiva com pessoas completamente diferentes. É um processo de mão dupla, aceitar para ser aceito.

Não é um caminho fácil. O primeiro passo, sem dúvida, é tornar o debate de interesse público, fazer explícitas as ofensas cotidianas.

Já passou o tempo em que a internet era terra de ninguém. Não faltam canais para denúncias. O acesso a um meio amplo de comunicação, aliado a uma ideia distorcida de liberdade, fez com que os intolerantes encontrassem eco.

No entanto, como bem resume a frase, "liberdade de expressão não é licença para ser estúpido".

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BOB VIEIRA DA COSTA é sócio-fundador da agência de propaganda Nova/SB. Foi

coordenador de comunicação do Ministério da Saúde e ministro-chefe da Secretaria de

Comunicação da Presidência da República (governo FHC)

a) Que ideia o sujeito defende? _____________________________________________________________________

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b) Quais são os argumentos utilizados? _____________________________________________________________________

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c) De que natureza são os argumentos utilizados pelo autor? _____________________________________________________________________

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Leia o texto a seguir, de Luís de Camões:

Mudam-se os tempos, mudam-se as

vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E em mim converte em choro o doce

canto.

E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.

[mor = maior; soía = passado de soer, costumar).

Transforme o poema em um texto argumentativo em prosa respondendo às

questões de forma objetiva:

a) Tese (versos 1 a 4): O sujeito defende de ideia de que

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b) Argumento 1 (versos 4 a 8): primeiro fato que confirma a tese

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c) Argumentos 2 (versos 9 a 11): segundo fato que confirma a tese

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d) Argumento 3 (versos 12 a 14): terceiro fato que confirma a tese

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Em classe, será dado um tema para argumentação. Use o esquema a seguir

para planejar o texto. Escreva a tese e os argumentos nas caixas destinadas a

cada elemento. Em seguida, redija o texto seguindo o planejamento.

Tese Argumentos

tese

argumento 1

argumento 1

argumento 1

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Ficha de atividade Unidade – Curso:

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