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COMUNICAÇÕES DOS SEMINÁRIOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA 2011 - Ano Samora Machel

Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2011

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Page 1: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2011

COMUNICAÇÕES DOS SEMINÁRIOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

2011 - Ano Samora Machel

Page 2: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2011

COMUNICAÇÕES APRESENTADAS NOS SEMINÁRIOS DO GABINETE DE ESTUDOS DA

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

ORGANIZAÇÃOArlete Matola . Johane Zonjo . Sérgio Padeiro

GABINETE DE ESTUDOS

DA

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

2011

ANO SAMORA MACHEL

Page 3: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2011

Comunicações dos Seminários da Presidência da RepúblicaArlete MatolaArlete Matola, Johane Zonjo e Sérgio PadeiroGabinete de Estudos da Presidência da RepúblicaArlete Matola e Johane ZonjoMarlene MagaiaJerónimo Nhamunze, Ezidório Armando RibeiroFernando Timane, Elídio Tembe, Armando Munguambe Gabinete de Imprensa da Presidência da RepúblicaLuís JussaPACTO Imagem, Lda.7153/RLINLD/20111.500 exemplaresMaputo, Dezembro de 2011

Ficha Técnica

Título:

Coordenação:

Organização:

Editor:

Revisão:

Coordenação da edição audio-visual:

Edição audio-visual:

Fotografias:

Gravação:

Design Gráfico:

Produção:

Número de Registo:

Tiragem:

Local e data da publicação:

O Gabinete de Estudos agradece:

Aos participantes dos debates

Ao Gabinete de Imprensa da Presidência da República

Ao Protocolo do Estado

À Direcção de Administração e Finanças da Presidência da República

Page 4: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2011

Índice

NOTA DO EDITOR.........................................................................8

O DEBATE COMO FORMA DE HOMENAGEAR A VIDA, OBRA E PENSAMENTO DE SAMORA MACHELSua Excelência, Armando Emílio Guebuza...................................................12

OPORTUNIDADES PARA MOÇAMBIQUE NO ÂMBITO DA INTEGRAÇÃO REGIONAL NA SADC/ÁFRICA AUSTRALDomingos Estevão Fernandes...............................................................................17

OPORTUNIDADES PARA MOÇAMBIQUE NO ÂMBITO DA INTEGRAÇÃO REGIONAL NA SADC/ÁFRICA AUSTRAL(Comentário ao texto de Domingos Estevão Fernandes)

Paulo Mateus António Uache.......................................................................................70

COMO USAR A ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO DE TERRAS PARA A PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Sérgio Baleira.....................................................................................................75

INTERVENÇÃO DA SENHORA RABECA GOMES DA UNIÃO NACIONAL DE CAMPONESES (UNAC)

(Comentário do texto da Sérgio Baleira)

Rabeca Gomes..................................................................................................101

INTERVENÇÃO DO PADRE CARLOS SIMÃO MATSINHE, DA ORAM (ASSOCIAÇÃO RURAL DE AJUDA MÚTUA)

(Comentário ao texto de Sérgio Baleira)

Padre Carlos Simão Matsinhe............................................................................105

O PAPEL DA MULHER NO COMBATE À POBREZA: EXPERIÊNCIAS DA SOCIEDADE CIVILGraça Samo.....................................................................................................111

O PROFESSOR E OS DESAFIOS DO ENSINO E APRENDIZAGEM NO SÉCULO XXI: UMA ABORDAGEM ORIENTADA PARA O DESENVOLVIMENTO RURALBrazão Mazula.............................................................................................128

O PROFESSOR E OS DESAFIOS DO ENSINO E APRENDIZAGEM NO SÉCULO XXI: UMA ABORDAGEM ORIENTADA PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

(Comentário ao texto de Brazão Mazula)

Ernesto Vasco Mandlate....................................................................................169

O PAPEL DA CULTURA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE, CONSOLIDAÇÃO DA UNIDADE NACIONAL E PRODUÇÃO DE RIQUEZAPor: Filimone Meigos.......................................................................................................182

O PAPEL DA CULTURA NA PRODUÇÃO DE RIQUEZATânia Tomé.....................................................................................................219

UTILIZEMOS O DEBATE COMO UM DOS INSTRUMENTOS PARA A CONSOLIDAÇÃO DA UNIDADE NACIONALSua Excelência, Armando Emílio Guebuza.................................................267

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SOBRE OS AUTORES DAS COMUNICAÇÕES DA COLECTÂNEA

Domingos Estevão Fernandes: É Licenciado em Relações Internacionais e Diplomacia pelo Instituto Superior de Relações Internacionais e fez a sua Pós-Graduação em Estudos de Desenvolvimento Internacional pela Universidade de Oslo da Noruega. Fez ainda Cursos de Capacitação e Mediação de Conflitos, Diplomacia e Planificação, Gestão e Análise de projectos para o Desenvolvimento. Foi Director Adjunto para as Relações Económicas e Multilaterais. Actualmente é Director e Ponto Focal Nacional de Contacto da SADC no Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação. Ocupa ainda o cargo de Director da Comissão Nacional da SADC e é Membro do Comité Directivo para a Nova Parceira para o Desenvolvimento de África – NEPAD. Participou na concepção do documento sobre a visão da filosofia da NEPAD, no processo de reestruturação da SADC e detém uma enorme experiência sobre os assuntos da SADC.

Paulo Mateus António Uache: É Licenciado em Relações Internacionais e Diplomacia pelo Instituto Superior de Relações Internacionais e Mestrado em Estudos Diplomáticos pela Academia Diplomática de Londres da Universidade de Westminster no Reino Unido. Possui ainda formação superior em Filosofia pelo Seminário Maior Santo Agostinho de Moçambique. Foi Professor secundário de 2003 a 2008 e actualmente é docente a cadeira de Estudos Comparativos da Política Externa no Instituto Superior de Relações Internacionais.

Sérgio Baleira: É Licenciado em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Mestrado em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro da Universidade Cândido Mendes (Brasil). É docente há mais de 10 anos na Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane. Foi Pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais no Instituto Superior de Relações Internacionais, Chefe do Departamento de Estudos e Projectos no Gabinete de Estudos do Ministério do Interior, Coordenador do Departamento de Estudos e Investigação no Centro de Formação Jurídica e Judiciária do Ministério da Justiça. Actualmente desempenha as funções de Coordenador Nacional do Projecto implementado pelo Centro de Formação Jurídica e Judiciária e FAO com apoio do Reino dos Países Baixos. Possui artigos publicados a nível nacional e internacional sobre a problemática da terra em Moçambique.

Graça Samo: É Licenciada em Administração de Empresas pela Universidade de Brasília. Possui uma Pós Graduação em Desenvolvimento Local e Estudos sobre Género e é Mestranda em Educação pela Sustentabilidade. A sua carreira profissional foi sempre na área social junto de Organizações Não Governamentais e envolveu-se em trabalhos e programas de assistência humanitária durante o período do conflito armado em Moçambique e Angola; em programas no Brasil com organizações de protecção e gestão ambiental e reabilitação de jovens de comunidades excluídas nas favelas do Rio de Janeiro e cidades satélites de Brasília. Em 2004 ingressou no Fórum Mulher onde desempenha as funções de Directora Executiva e tem liderado trabalho de advocacia envolvendo as organizações da sociedade civil que lutam pela igualdade de género. É feminista e activista dos Direitos Humanos das Mulheres e da Luta pela Igualdade do Género. Em 2009 recebeu o Prémio Africano do Género em representação pela liderança do Fórum Mulher na luta pela igualdade de género, prémio ganho pelo país e atribuído a Sua Excelência o Presidente Armando Emílio Guebuza. É ainda Membro do Conselho Universitário da Universidade Pedagógica e Membro do Comité de Conselheiros da Sociedade Civil para as Nações Unidas.

Brazão Mazula: É Doutorado em História e Filosofia de Educação pela Universidade de São Paulo no Brasil. Foi Presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) em 1994. Foi Reitor da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) entre 1995 a 2007 e Reitor do Instituto Superior de Tecnologia e Gestão (ISTEG), de 2009 a 2010. Realizou e coordenou vários estudos na área da educação e possui 14 obras publicadas. Actualmente é Professor Associado da Universidade Eduardo Mondlane e Director Executivo do Centro de Estudos de Desenvolvimento (CEDE).

Ernesto Vasco Mandlate: É Licenciado em Ensino de Matemática pela Escola Superior de Pedagogia de Gustrow na Alemanha, Mestre em Ciências Sociais com enfoque em Educação, pelo Instituto de Educação de Estocolmo na Suécia. Foi director da Escola Secundária Francisco Manyanga (de 1990 a 1993) e Director do Centro de Desenvolvimento Académico da UEM de 1997 a 2008, onde coordenava e fazia capacitação pedagógica de docentes daquela instituição. Como perito em Desenvolvimento Curricular, coordenou a concepção dos currículos dos Institutos Superiores Politécnicos de Gaza, Manica, Tete e Songo, tendo também feito a preparação do corpo docente dos primeiros três Institutos Superiores Politécnicos em matérias de Educação Baseada em Competências. Foi ainda consultor e facilitador de cursos de formação de formadores no PIREP, Programa Integrado de Reforma da Educação Profissional. É actualmente docente na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), na área de Desenvolvimento Curricular e Instrucional, e o seu enfoque de pesquisa tem sido o domínio das reformas curriculares em instituições do ensino superior.

Filimone Meigos: é Doutorando em Sociologia da Arte (Universidade da Beira Interior), Mestre em Sociologia do Ambiente (Universidade de Witswatersrand), Licenciado em Sociologia do Desenvolvimento (Universidade de Witswatersrand), Bacharel em Ciências Sociais (Universidade Eduardo Mondlane) e Técnico Médio em Ciências Sociais pela então Escola Militar de Nampula, onde fez o curso de comissário político para as tropas de artilharia anti-aérea. Docente universitário, é actualmente docente e Director Geral do Instituto Superior de Artes e Cultura de Moçambique (ISArC). Foi Director da Escola Superior de Ciências Sociais no ISCTEM, jornalista e editor cultural do Notícias da Beira, Diário de Moçambique e Savana. Foi Secretário-Geral Adjunto da Associação dos Escritores de Moçambique, Secretário de ligação e Assistente no Gabinete do Governador da Província de Sofala. Exerceu funções de director delegado da Austral, em Sofala, director delegado da FNAC, na Beira, docente na Escola Militar Samora Machel, Nampula, Comissário Político de Batalhão em Nametil (Calipo). Poeta, actor e músico, publicou três títulos em Poesia, escreveu vários artigos e ensaios, é autor de bailados e musicais e participou em vários filmes como actor em Moçambique e na África do Sul.

Tânia Tomé: É Licenciada em Economia e Pós-Graduada em Auditoria e Controlo de Gestão. Formada pelo Curso Técnico de Empreendedorismo e Projectos de Investimento pela Certform e Curso Técnico de Contabilidade e Fiscalidade pela Certform. Prémio Académico Fundação Mário Soares 2003 (Portugal-África). Foi Consultora Financeira da Ernest Young (2003), Analista de Risco de Crédito em Instituições financeiras de (2004 a 2007), e Chefe de Crédito e Mitigação de Riscos. De 2007 a 2010 foi Chefe do Departamento de Investimento e Chefe de Novos Negócios na Agência de Desenvolvimento GAPI. É consultora nas áreas financeira, de gestão e de projectos, e promotora de empreendedorismo e de indústrias criativas. Actualmente desempenha as funções de Directora na Empresa Ecokaya Lda. É membro da Associação dos Economistas de Moçambique AMECON e da plataforma de investimento BidNetwork. É também cantora, compositora e poetisa tendo ganho, Prémio de Música da África Austral pela OMS 1988 (Organização Mundial de Saúde), Prémio Festival da Canção 2001, (Fep Portugal, Porto), Prémio de Poesia 2005 (BIM), Prémio de Música de África 2010 (Soundcity Music Awards), Nomeada para Museke African Music Awards 2011, Seleccionada para o Prémio de Poesia Portugal Telecom 2011. É membro da Associação dos Músicos, Membro da Associação dos Escritores Moçambicanos, Membro correspondente da Academia Rio Grandina de Letras Brasil, Membro dos Poetas del Mundo e Presidente da Associação Showesia.

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Nota do Editor

“[…] O que envelhece nos homens é o organismo. A inteligência, o cérebro, a nossa consciência, esses permanecem jovens. A nossa inteligência não envelhece, a nossa consciência de explorados não envelhece [...]” – Samora Machel1

“[…] Compatriotas,Um homem com a estatura do Presidente Samora Moisés Machel não termina em si mesmo: ele começa em si mesmo e mistura-se com os ideais do seu Povo. Torna-se imortal! Por isso, SAMORA VIVE! […]”

Foi com estas palavras que Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique encerrou a sua intervenção no dia 19 de Outubro de 2011, na Praça da Independência, cidade de Maputo, por ocasião da inauguração da Estátua de Samora Moisés Machel no quadro das cerimónias do 25º Aniversário da Morte do Primeiro Presidente de Moçambique, livre e independente.

O Governo de Moçambique proclamou em sede do Conselho de Ministros o Ano de 2011 como Ano Samora Machel, como forma de homenagear o Primeiro Presidente da República e fundador do Estado Moçambicano, Samora Moisés Machel. Ao longo do ano, várias actividades foram tendo lugar fazendo jus a essa mais que merecida homenagem. As cerimónias de 19 de Outubro de 2011, na qual participaram Chefes de Estado e de Governo convidados, altos dignatários nacionais e estrangeiros, familiares dos Mártires de Mbuzini, marcaram um dos momentos mais alto destas celebrações.

Esta brochura procura continuar a homenagear a vida, obra e pensamento do Presidente Samora Moisés Machel, que o Governo de Moçambique através das várias iniciativas, políticas e estratégias busca materializar o sonho do Primeiro Estadista Moçambicano. A colectânea abrange diversas temáticas nacionais, frutos da contribuição de especialistas moçambicanos, e aborda temas como as oportunidades de Moçambique no quadro da integração regional, a problemática da terra, o papel da mulher no combate à pobreza, o papel do professor no quadro dos desafios para um desenvolvimento rural e sustentável em Moçambique e, finalmente, examina o papel da cultura na construção da identidade nacional e geração da riqueza. O estimado leitor irá encontrar entre as páginas que separam um artigo do outro, trechos pronunciados pelo Primeiro Presidente de Moçambique, o Marechal Samora Moisés Machel. É a nossa contribuição para imortalizar o fundador do Estado moçambicano, mesmo na linha do compromisso assumido pela Nação moçambicana para com Samora Machel: “Nunca te diremos adeus. Um povo não pode despedir-se da sua História. SAMORA VIVE!” tal como foi pronunciado pelo Combatente da Luta Armada de Libertação Nacional, Marcelino dos Santos, há vinte e cinco anos atrás no elogio fúnebre a Samora Moisés Machel” 2.

A obra apresenta artigos, alguns dos quais acompanhados de comentários. Estes trabalhos constituem na prática o ponto de partida de um debate que, acreditamos, ainda está longe de ser esgotado. Prosseguir esta discussão dos temas que constam desta obra, será mais uma das formas de continuarmos a homenagear, eternizar e honrar o ideal de Samora Moisés Machel.

O artigo de Domingos Estevão Fernandes, Oportunidades para Moçambique no âmbito da Integração Regional na SADC/África Austral, procura discutir subsídios para a elaboração de linhas de orientação estratégica sobre o engajamento de Moçambique no contexto da integração regional na SADC/África Austral; identifica ainda as

1Discurso proferido pelo Presidente Samora Moisés Machel por ocasião da abertura ofi cial da Campanha Nacional de Alfabetização, no encontro com os trabalhadores dos Portos e Caminhos de Ferro. Maputo, 3 de Julho de 1978

2“À TERRA ENTREGAMOS APENAS O TEU CORPO. TU FICAS CONNOSCO”. Elogio Fúnebre ao Presidente Samora Moisés Machel, proferido por Marcelino dos Santos na Última Homenagem. Maputo, 28 de Outubro de 1986

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oportunidades, olhando para a vantagem comparativa tendo em conta o quadro de integração regional e termina analisando o papel desempenhado pelos quadros jurídicos regional para a criação de oportunidades e maximização dos benefícios da integração regional. Paulo Uache, comenta o texto de Domingos Estevão Fernandes onde chama a atenção para a necessidade de se transformar as oportunidades/potencialidades de Moçambique em vantagens através de duas apostas: no desenvolvimento dos recursos humanos e na diplomacia.

Em Como Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável, Sérgio Baleira convida-nos a compreender o que é o Sistema de Administração e Gestão de terras em Moçambique bem como os principais problemas que o mesmo enfrenta, para depois apresentar algumas propostas de solução ou melhoria do sistema nacional de administração e gestão de terras no país. O texto de Baleira é acompanhado por dois comentários, sendo o primeiro da Rabeca Gomes, da União Nacional de Camponeses (UNAC) que apresenta um dos cenários de conflitos de terra no país. O segundo comentário ao texto do Baleira é do Padre Carlos Simão Matsinhe, da ORAM (Associação Rural de Ajuda Mútua) que procura examinar os impactos sociais, económicos e culturais da problemática de terras e apresenta propostas que tenham sempre as comunidades rurais no centro do desenvolvimento.

Graça Samo, apresenta em O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da Sociedade Civil, as dinâmicas associadas ao problema da feminização da pobreza (maior incidência da pobreza sobre as mulheres) analisadas a partir dos factores determinantes e avançando numa relação de causa e efeito e que resulta na apresentação pela autora de um conjunto de estratégias para enfrentá-la, baseadas na experiência da sociedade civil moçambicana.

O artigo da autoria de Brazão Mazula, O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural é uma viagem onde o autor começa por identificar os desafios do Século XXI, examinando com algum detalhe a globalização

neoliberal e o seu impacto nas vidas das sociedades, incluindo nas das populações rurais. Desse modo, Mazula mostra que o processo de ensino e aprendizagem é, em cada estágio da evolução da sociedade, desafiado fortemente pelas mudanças tecnológicas e ambientais, quer nas escolas das cidades quer nas zonas rurais. Argumenta ainda que os desafios que se irão colocar nas primeiras décadas do século XXI irão obrigar a educação a passar do modelo de escola monológica para uma escola performativa e a correspondente passagem do ensino e aprendizagem monológicos ou bancários para um ensino e aprendizagem perfomativos, mais dialógicos e abertos ao desenvolvimento das comunidades ou da sociedade.

Ernesto Vasco Mandlate comenta o artigo Professor Brazão Mazula levantando questões de reflexão a volta de alguns tópicos abordados por Mazula, nomeadamente na Globalização e uso das Tecnologias de Informação e Comunicação; no Redesenhar a Escola; na questão dos Tipos de Ensino; e no Professor como o centro do desenvolvimento.

Filimone Meigos analisa no seu artigo O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação da Unidade Nacional e Produção da Riqueza o papel da cultura na construção identitária, tendo em conta a unidade nacional e produção da riqueza, um exercício que inicia com a definição teórica dos termos de cultura e identidade de modo a passar em revista o conceito de Unidade Nacional em Moçambique. A comunicação de Filimone Meigos é complementada pelo artigo da Tânia Tomé, que encerra a colectânea, onde a cultura é examinada numa perspectiva de economia criativa/indústrias criativas como estratégia de desenvolvimento e redução da pobreza. A autora traz uma nova abordagem da cultura, olhando-a em termos funcionais e discute novos conceitos relativos a construção da rentabilidade. O artigo apresenta uma abordagem em torno da dinâmica das indústrias criativas, ilustrando os passos a serem seguidos para sua construção e manutenção, tendo em conta todos os desafios e os diversos papéis desempenhados pelos diversos actores nesse processo.

Maputo, Dezembro de 2011

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O DEBATE COMO FORMA DE HOMENAGEAR A VIDA, OBRA E PENSAMENTO DE

SAMORA MACHEL

Comunicação apresentada por Sua Excelência, Armando Emílio Guebuza, Presidente da República

de Moçambique, por ocasião da abertura do Ciclo dos Seminários do ano de 2011 organizados pelo Gabinete

de Estudos da Presidência da República

Senhores Membros do Conselho de Ministros,

Distintos Painelistas,

Caros Convidados,

Minhas senhoras e Meus senhores,

É com justificada satisfação que nos fazemos presentes a este acto de início do ciclo de seminários do ano 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos, da Presidência da República. A proclamação de 2011 Ano Samora Machel, obreiro da nossa nacionalidade e precursor dos ideais de Mondlane, torna a nossa satisfação mais acrescida. Com efeito, foram estes ideais que moveram os moçambicanos a lutarem para libertar a terra e os homens do jugo colonial.

Fazemos votos para que 2011, seja um ano de muitas realizações e que o Gabinete de Estudos nos brinde com temáticas de profunda reflexão da nossa vida como moçambicanos, como forma de honrar e homenagear Samora Machel.

Estamos aqui, mais uma vez, na companhia de peritos nacionais fruto da nossa independência, que vão proporcionar o debate, o que constitui para nós um momento de grande satisfação:

Primeiro, porque temos a oportunidade de testemunhar o contributo dos nossos compatriotas para o engrandecimento desta nossa jovem nação moçambicana.

Segundo, porque hoje o espaço coube a sociedade civil, parceiro indispensável na nossa governação, brindar -nos com o tema sobre “Como usar a administração e gestão da terra para a promoção do desenvolvimento sustentável” o que demonstra,

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uma vez mais, o carácter democrático da Presidência Aberta e Inclusiva que lideramos.

Terceiro, porque apostamos na valorização dos quadros nacionais e que dão resultados que orgulham o País.

Saudamos a sociedade civil pela pertinência e actualidade do tema que se propõe debater, pois a terra, sendo pertença de todos os moçambicanos, representa a nossa soberania e é um instrumento de libertação económico e social de todos os moçambicanos.

Saudamos igualmente a todos os nossos compatriotas vindos de diferentes cantos desta nossa terra amada, para darem o seu contributo no debate deste tema. É nossa expectativa que o debate deste tema continue noutros fora de reflexão, como no seio das famílias, dos grupos sócio-profissionais, enfim, de toda a sociedade para que possamos encontrar respostas ajustadas às exigências do desenvolvimento desta nossa pátria de heróis.

A terminar, agradecemos de forma particular aos painelistas, peritos moçambicanos, que entregaram o seu saber e experiência para elaborar e partilhar a comunicação a ser debatido neste seminário.

Pela atenção dispensada, Muito obrigado.

Saudamos a sociedade civil pela pertinência e actualidade do tema que se propõe debater, pois a terra, sendo pertença de

o debate deste tema continue noutros forano seio das famílias, dos grupos sócio-profissionais, enfim, de toda a sociedade para que possamos encontrar respostas no seio das famílias, dos grupos sócio-profissionais, enfim, no seio das famílias, dos grupos sócio-profissionais, enfim, no seio das famílias, dos grupos sócio-profissionais, enfim, no seio das famílias, dos grupos sócio-profissionais, enfim, no seio das famílias, dos grupos sócio-profissionais, enfim, de toda a sociedade para que possamos encontrar respostas no seio das famílias, dos grupos sócio-profissionais, enfim, de toda a sociedade para que possamos encontrar respostas no seio das famílias, dos grupos sócio-profissionais, enfim, no seio das famílias, dos grupos sócio-profissionais, enfim, de toda a sociedade para que possamos encontrar respostas

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de diferentes cantos desta nossa terra amada, para darem o seu contributo no debate deste tema. É nossa expectativa que

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de diferentes cantos desta nossa terra amada, para darem o de diferentes cantos desta nossa terra amada, para darem o seu contributo no debate deste tema. É nossa expectativa que seu contributo no debate deste tema. É nossa expectativa que seu contributo no debate deste tema. É nossa expectativa que seu contributo no debate deste tema. É nossa expectativa que o debate deste tema continue noutros forao debate deste tema continue noutros o debate deste tema continue noutros o debate deste tema continue noutros o debate deste tema continue noutros o debate deste tema continue noutros foraseu contributo no debate deste tema. É nossa expectativa que o debate deste tema continue noutros forao debate deste tema continue noutros o debate deste tema continue noutros

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instrumento de libertação económico e social de todos os

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"[…] Hoje, não se trata somente de Moçambique. Trata-se dos países da SADCC. Hoje, o mundo compreendeu. Não é contra Moçambique, é contra a África Austral. É um apoio ao esforço do mundo de liquidação do Apartheid. Mesmo liquidado o Apartheid, não queremos depender de nenhum outro Estado. Cada Estado é soberano! Não é porque nós queremos o Governo de maioria da África do Sul, os pretos da África do Sul, depois dependermos desses pretos. Não é! Cada Estado deve ser soberano! […] Significa para mim, independência total e completa. Exercício do poder de cada Estado, para que todos sejamos iguais […]"

– Samora Moisés Machel3

OPORTUNIDADES PARA MOÇAMBIQUE NO ÂMBITO DA INTEGRAÇÃO REGIONAL NA SADC/ÁFRICA AUSTRAL

Por: Domingos Estevão Fernandes

INTRODUÇÃO

O presente Seminário circunscreve-se no âmbito do ciclo de palestras organizado pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República, com vista a partilhar ideias com os diversos segmentos da sociedade, tendo como objectivos fundamentais os seguintes:

• Providenciar subsídios para a elaboração de linhas de orientação estratégica sobre o engajamento de Moçambique no contexto da integração regional na SADC/África Austral.

• Identificar oportunidades, com base na vantagem comparativa, considerando o actual quadro de integração regional – implementação da agenda de integração económica regional, processo Tripartido COMESA-EAC-SADC e Acordos de Parceria Económica (APE) com a UE.

3Conferência de Imprensa do Presidente Samora Moisés Machel no Aeroporto Internacional de Maputo, após a Cimeira de um dia no Malawi. Maputo, 11 de Setembro de 1986 Dr. Domingos Estevão Fernandes durante a sua intervenção

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• Analisar o papel desempenhado pelos quadros jurídicos regional (i.e. de integração regional e dos Estados-Membros) para criação de oportunidades e maximização dos benefícios da integração regional.

Para a prossecução dos objectivos do seminário, como base metodológica, o documento apresentado faz uma abordagem sobre:

• a integração regional;• as acções em áreas prioritárias de integração regional;• o quadro jurídico-legal regional da SADC versus

Estados-Membros;• as potencialidades económicas de Moçambique;• os sectores da economia nacional com potencial

competitivo no mercado regional; e• a metodologia com vista ao desenvolvimento de Roteiro/

Matriz de Acção.

1.O Conceito de Integração Regional

• Via através da qual um grupo de países geograficamente contíguos ou próximos, com certo grau de afinidades (i.e. históricas, culturais, sociais e econômicas) decide integrar as suas economias nacionais criando um amplo mercado regional.

• Processo de multiplicação de associações de países no qual se regista um aumento da parte das trocas comerciais (bens e serviços) e financeiras intra-regionais nas trocas mundiais. As associações regionais baseiam-se no princípio da «livre adesão» vis-à-vis projecto comum.

2. O Projecto de Cooperação e Integração Regional da SADC

2.1. Génese e Evolução da SADC

2.1.1. A Conferência de Coordenação para o Desenvolvimento da África Austral (SADCC)

O desejo da criação da SADC já se fazia sentir na década de 70 nos países que compunham a Linha da Frente. Nesta altura já havia manifestações para a convergência de integração resultante dos laços comuns (históricos, económicos, políticos, sociais e culturais), e das acções conjuntas com vista a eliminação do colonialismo e do Apartheid.

Em Maio de 1979, os Ministros dos Negócios Estrangeiros dos países da Linha da Frente reuniram-se em Gaberone - Botswana, para discutir a cooperação económica e acordaram realizar uma conferência internacional de doadores e de instituições de desenvolvimento internacional. No mesmo ano em Arusha - Tanzânia, realizou-se uma Conferência que reuniu governos e representantes de agências internacionais provenientes de todas as partes do mundo para discutir a cooperação regional na África Austral.

Consequentemente, os então líderes dos 9 (nove) Estados independentes (Repúblicas de Angola, Botswana, Moçambique, Malawi, Unida da Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe, os Reinos do Lesotho e da Suazilândia), apelaram para a necessidade de uma completa independência política e económica, e a 1 de Abril de 1980 em Lusaka lançaram a Conferência de Coordenação para a África Austral (SADCC). Como resultado, foi adoptada a Declaração em Lusaka com o slogan: “África Austral Rumo à Libertação Económica”, tendo a Cimeira desenhado um Programa de Acção (SPA) que convergia nas áreas de: transportes e comunicações, alimentação e agricultura, indústria, desenvolvimento de mão-de-obra e energia.

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Com vista a uma maior integração regional, os Estados-Membros aperceberam-se da necessidade de expansão de novas áreas de interesse comum, com enfoque para a cooperação funcional em sectores chave, bem como o desenvolvimento de projectos comuns, dentro do espírito de solidariedade entre os Estados-Membros.

2.1.2. A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC)

A independência da Namíbia em 1990, trouxe uma significante mudança na SADCC, na medida em que foi a altura em que o Apartheid foi abolido na República da África do Sul, o que obrigou a Conferência a caminhar profundamente rumo à integração regional. A 17 de Agosto de 1992, em Windhoek – República da Namíbia, os Chefes de Estado e de Governo reuniram-se para criar a SADC e para o efeito, assinaram um Tratado que instituiu a Comunidade, passando de uma Conferência para uma Comunidade e redefiniu as bases de cooperação entre os Estados-Membros incluindo os aspectos de segurança.

Para o efeito foi formulado um Programa de Acção, que cobria a cooperação em vários sectores económicos e sociais, bem como a implementação de várias infra-estruturas e de projectos. E como forma de consolidar a cooperação entre os Estados-Membros, foram adoptados instrumentos jurídicos aos mais diferentes níveis sectoriais.

2.2. Visão e Missão

A Visão da SADC é a de um futuro comum, numa comunidade regional que garanta o bem-estar económico, a melhoria dos padrões e da qualidade de vida, a liberdade e a justiça social, paz e segurança dos povos da África Austral. Esta visão comum está enraizada nos valores e princípios comuns e nas afinidades históricas e culturais existentes entre os povos da África Austral.

A Missão da SADC é a de promover o crescimento económico e o desenvolvimento sócio-económico sustentável e equitativos, através de sistemas produtivos eficientes, de uma maior cooperação e integração, da boa governação, e da paz e da segurança duradoiras, para que a Região possa emergir como um participante competitivo e eficaz nas relações internacionais e na economia internacional.

2.3. Objectivos

O objectivo primordial da SADC pode ser sintetizado na visão da Organização. A via escolhida pela SADC para a realização do seu objectivo foi a da Integração Regional, a qual deverá passar progressivamente por vários processos políticos, económicos e sociais que irão consubstanciar cada uma das etapas de integração previstas — Zona de Livre Comércio; União Aduaneira; Mercado Comum; União Monetária e União Económica e Monetária.

2.4. As Principais Estratégias

Sendo a integração regional um processo irreversível, a SADC deve desenvolver estratégias de actuação que lhe permitam maximizar os benefícios do processo de integração regional tendo em vista os desafios e as oportunidades daí resultantes.

É neste contexto que Moçambique deve posicionar-se criando um ambiente político, económico e social, devendo o Governo desempenhar um papel de facilitador nas políticas a adoptar no contexto da integração regional.

Por outro lado, tendo em conta os vários instrumentos jurídicos regionais nas diferentes áreas de intervenção, e dos quais Moçambique é parte, é necessária a sua implementação, através da adopção de políticas integradas de harmonização sectorial.

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2.5. As Principais Áreas de Cooperação e Integração da SADC: RISDP e o SIPO

2.5.1. Plano Indicativo Estratégico de Desenvolvimento Regional (RISDP)

a) Objectivos Estratégicos:

Com vista a servir de orientação para as políticas e programas numa perspectiva de longo prazo a SADC, adoptou em 2003, o Plano Estratégico Indicativo de Desenvolvimento Regional – RISDP. O objectivo último do RISDP é o de aprofundar a Agenda de Integração da SADC, tendo em vista acelerar a erradicação da pobreza e o alcance das metas de desenvolvimento económico e social. Neste contexto, apresentam-se como objectivos estratégicos:

• Liberalização do comércio intra-regional – eliminação de barreiras tarifárias e remoção de barreiras não-tarifárias;

• Integração e criação de único mercado regional – harmonização de políticas, livre circulação de bens, capitais, serviços e mão-de-obra;

• Convergência macroeconómica regional – ambiente de negócios e de investimentos favorável;

• Desenvolvimento industrial, competitividade e produtividade regional; e

• Criação de Moeda única.

b) Principais Áreas de Intervenção Prioritárias:

Com vista a implementação da Agenda de Integração Regional da SADC, o RISDP prevê, igualmente, a cooperação e integração sectoriais nas áreas prioritárias-chaves seguintes:

• Liberalização do mercado/económica e desenvolvimento;• Desenvolvimento de infra-estruturas de apoio à integração

regional;• Segurança alimentar sustentável;• Desenvolvimento humano e social.

Neste contexto, constituem áreas de intervenção fundamentais:

• Comércio;• Erradicação da pobreza;• Combate à pandemia de HIV e SIDA;• Igualdade de género e desenvolvimento;• Ciência e Tecnologia;• Tecnologias de Informação e Comunicação;• Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável;• Sector Privado; e• Estatísticas.

c) Etapas da Integração Regional na SADC:

O RISDP estabelece as várias etapas de integração económica regional, nomeadamente:

• 2008: Área de Livre Comércio;• 2010: União Aduaneira;• 2015: Mercado Comum;• 2016: União Monetária; e• 2018: União Económica Monetária/Moeda Única.

As três primeiras etapas (i.e. Zona de Livre Comércio, União Aduaneira e Mercado Comum) desempenham um papel crucial no processo de integração regional, pois, visam a livre circulação de bens, serviços, capitais e mão-de-obra

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e integração dos mercados criando um único mercado regional.

2.5.2. Plano Estratégico Indicativo do Órgão (SIPO)

O Órgão da SADC para a Cooperação nas áreas de Política, Defesa e Segurança é uma instituição da SADC que responde perante a Cimeira e tem como objectivo promover a paz e a segurança na região.

O Protocolo da SADC sobre a Cooperação nas Áreas de Política, Defesa e Segurança, providencia um quadro institucional, através do qual os Estados-Membros coordenam as políticas e actividades nas áreas de política, defesa e segurança.

Para a materialização do Protocolo foi aprovado, o Plano Indicativo Estratégico do Órgão (SIPO) que tem como objectivo fulcral, criar um clima político e de segurança pacífico e estável, propício para a materialização do objectivo de desenvolvimento sócio-economico da região. O SIPO providencia também as linhas gerais que definem as actividades específicas, de acordo com os objectivos preconizados no Protocolo e as estratégias para a sua concretização. É através do Órgão que os Estados-Membros da SADC coordenam as diferentes acções nos sectores de política, defesa e segurança, socorrendo-se dos seguintes instrumentos:

• Protocolo sobre o Controle de Armas, Munições e Outros Materiais Conexos;

• Protocolo sobre a Facilitação de Circulação de Pessoas;• Pacto de Defesa Mútua;• Princípios Gerais e Directrizes que Regem as Eleições

Democráticas na SADC; e• Sistema de Aviso Prévio.

3. Realizações da SADC nos Últimos 30 Anos

3.1. Área Política, Defesa e Segurança

Nas últimas três décadas, o objectivo da SADC foi de preservação da paz e estabilidade, tendo em conta a importância destes para a implementação bem-sucedida de políticas de desenvolvimento económico. Com este objectivo, a luta que a Organização Sub-regional trava visa satisfazer/criar condições propícias para que, como região, canalizar as sinergias para os objectivos da SADC.

É neste âmbito que a área política ocupa uma posição nuclear nas actividades da SADC, pois a paz, segurança e estabilidade política constituem os principais pilares para o desenvolvimento sócio-económico. É na prossecução destes objectivos nobres que a SADC adoptou o Protocolo para a Cooperação nas Áreas Política, Defesa e Segurança, com o objectivo de servir de instrumento para fazer face aos desafios políticos de defesa e segurança regional.

Uma das grandes realizações que pode ser considerada como o pilar da actual SADC foi a visão e decisão dos Chefes de Estado e de Governo da África Austral, nos meados da década de 70, de estabelecer consultas entre si no quadro dos “Estados na Linha da Frente” no sentido de libertar os países que ainda estavam sob o jugo colonial e do Apartheid. Conscientes de que a independência política per si não era suficiente, a experiência foi aproveitada e transformada numa cooperação mais ampla com vista ao desenvolvimento económico e social dos países.

Assim, o desenvolvimento de uma identidade política entre os Estados da região constituiu um processo contínuo, alicerçado no movimento de libertação nacional e na luta contra o Apartheid, cuja dinâmica de cooperação permitiu o desenvolvimento de uma solidariedade e coesão política que foi-se aprofundando e consolidando continuamente no âmbito dos “Estados da Linha da Frente”.

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A SADCC reforçou a necessidade de cooperação regional em matéria de desenvolvimento económico, por conseguinte, mudando-se o enfoque de coordenação de projectos para uma cooperação e integração efectiva das economias numa comunidade regional. Neste contexto, a 17 de Agosto de 1992, tomou-se a decisão de transformar a SADCC em Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), através da assinatura pelos Chefes de Estado e de Governo de uma Declaração e um Tratado.

Na área política, há a registar avanços na pacificação de alguns focos de conflitos, cujo processo foi evoluindo de forma gradual e sinuosa, reforçando-se continuamente com as experiências acumuladas nos últimos trinta anos. Como fruto da cooperação nas áreas de política, defesa e segurança a região vive um clima de paz, segurança e estabilidade política, não obstante ainda persistirem alguns focos de instabilidade política.

Entretanto, não obstante os avanços, a região ainda enfrenta desafios que deverão merecer a devida atenção no processo da consolidação das conquistas das últimas três décadas. Assim, pode-se resumir que o maior desafio prende-se com a consolidação dos diversos instrumentos adoptados, visando o aprofundamento da democracia e boa governação, a promoção da paz, a defesa dos direitos humanos e liberdades fundamentais, assim como a consolidação e reforço das instituições democráticas na região.

No âmbito da implementação do Protocolo sobre a Cooperação nas Áreas de Política, Defesa e Segurança, várias acções têm sido desenvolvidas, sendo de destacar:

• Promoção da cooperação política e desenvolvimento de abordagens e de valores políticos comuns;

• Promoção do desenvolvimento de instituições e práticas democráticas nos Estados membros e encorajamento

da observância dos direitos humanos conforme o preconizado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Acta Constitutiva da União Africana (UA), entre outros;

• Aplicação das Directrizes e Princípios da SADC que Regem as Eleições Democráticas com vista a uma maior transparência, a credibilidade e a governação democrática. Neste contexto, foi instituída a Missão de Observação Eleitoral da SADC (SEOM) que tem testemunhado os processos eleitorais nos Estados-Membros;

• Reforço de mecanismos de prevenção, gestão e resolução de conflitos na região. Neste âmbito, o Órgão da SADC tem tido um papel preponderante na consolidação da paz, segurança e estabilidade na região e na abordagem de conflitos, através de acções político-diplomáticas e de facilitação de diálogos políticos em Estados-Membros, tal como nos seguintes países:

- Zimbabwe;- República Democrática do Congo;- Lesotho; e- Madagáscar.

As missões de bons ofícios da SADC revelaram ser um instrumento valioso no quadro da criação de mecanismos regionais. Neste sentido, a SADC instituiu uma Estrutura de Mediação, Prevenção, Gestão e Resolução de Conflitos.

Na área da consolidação da democracia, a SADC assumiu como questão fundamental a promoção de práticas democráticas comuns através da realização de eleições democráticas regulares, com vista a promover e aprofundar uma cultura democrática. Com efeito, a SADC instituiu o Conselho Consultivo Eleitoral da SADC (SEAC) que terá como principal tarefa aconselhar os

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Estados membros sobre questões eleitorais e a criação de uma Comissão Regional dos Direitos Humanos, estando na fase final da sua operacionalização.

Ao abordar as questões de paz e segurança, estão em curso acções para instituir, no seio do Secretariado da SADC, uma Unidade de Mediação que prestará o apoio técnico às iniciativas diplomáticas levadas a cabo pelo Órgão da SADC para a Cooperação Política, Defesa e Segurança.

No âmbito dos mecanismos da UA para a manutenção da paz, a SADC constituiu a sua Força em Estado de Alerta (SSF) integrada na Força em Estado de Alerta Africana (ASF).

3.2. Área Social e Económica

3.2.1. Comércio, Indústria, Finanças e Investimento

a) Protocolo sobre Trocas Comerciais

O comércio constitui um factor importante para o processo de integração económica regional, particularmente, para a prossecução do seu primeiro estágio, i.e. Zona de Livre Comércio.

Com vista a realização deste objectivo, a SADC adoptou, em 1996 (entrou em vigor em 2001), o Protocolo da SADC sobre Trocas Comerciais (Protocolo Comercial) que está sendo implementado por doze (12) Estados-Membros4, com a excepção de Angola, da RDC e das Seychelles.

Em 2004, a SADC procedeu à avaliação intermédia (Mid-Term Review–MTR) a implementação do Protocolo Comercial, tendo sido constatados os seguintes obstáculos ao comércio:

• Regras de Origem (RoO) complexas e restritivas;• Desarmamento tarifário – falta de implementação de

compromissos;

Zona de Livre Comércio da SADC

No âmbito da implementação da Agenda de Integração Regional, a SADC alcançou com sucesso a sua primeira etapa, com a entrada em vigor, em 2008, da Zona de Livre Comércio, constituindo uma liberalização de 85% do comércio intra-regional, no quadro da implementação do Protocolo da SADC sobre Trocas Comerciais. O processo de liberalização tarifária deverá ser concluído em 2012, com a eliminação das tarifas aduaneiras sobre os produtos sensíveis.

No que concerne à liberalização tarifária, em termos globais, a implementação das reduções tarifárias está a decorrer dentro dos prazos estabelecidos. Porém, é preciso notar que a inversão dos compromissos relativos às reduções tarifárias por alguns Estados-Membros (i.e. não implementação por atraso ou derrogação) poderá ter um impacto económico negativo noutros Estados-Membros, particularmente, nas economias pequenas e, em geral, nos ganhos resultantes da implementação efectiva dos compromissos acordados.

O Comité de Ministros do Comércio (CMC) da SADC aprovou, em Julho de 2008, Regras de Origem Revistas. Entretanto, há preocupações pelo facto de as Regras de Origem Revistas ainda não haverem produzido resultados satisfatórios. Assim, torna-se necessário que se realize uma revisão exaustiva das actuais Regras de Origem, pois, um tal exercício poderá incrementar substancialmente o comércio intra-SADC. Neste contexto,

4África do Sul, Botswana, Lesotho, Madagáscar, Malawi, Maurícias, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe.

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afigura-se urgente o tratamento das Regras de Origem ainda pendentes sobre têxteis, vestuário e farinha de trigo.

Com vista a uma liberalização efectiva do comércio intra-regional, a cooperação aduaneira e facilitação do comércio desempenha um papel importante. No domínio da documentação aduaneira foram adoptados documentos, procedimentos instrumentos comuns: Lei Aduaneira Modelo, Documento Único Regional Simplificado, Sistema de Gestão de Trânsito Aduaneiro Regional.

No que se refere ao nível de sensibilização e de transparência do actual regime comercial da SADC foi reconhecida a necessidade de incrementar a disponibilidade e a sensibilização em relação à informação sobre o comércio através de websites relevantes, da imprensa e de campanhas de sensibilização. Do mesmo modo, os Estados-Membros devem, também, ser mais transparentes nas suas relações comerciais com terceiros, requerendo a partilha de informações.

Entretanto, na presente etapa do processo de integração regional vários desafios se apresentam perante os Estados-Membros da SADC, sendo de destacar:

• O constrangimento do lado da oferta; • A competitividade produtiva; • O desenvolvimento industrial; • O desenvolvimento de infra-estruturas; • O fornecimento de energia;• A segurança alimentar; e• A pandemia de HIV e SIDA.

Impacto da Implementação da Zona de Livre Comércio para Moçambique:

Considerando os termos de trocas comerciais entre Moçambique e a região da SADC, no período compreendido entre 2008-2010, pode-se aferir que registou-se algum aumento, porém, denotando a predominância da África do Sul tal como atesta a tabela seguinte.

Importações e Exportações de Moçambique na Região da SADC (em milhões)

Fonte: TIMS

De entre os principais 100 produtos, beneficiários de tratamento preferencial, importados no quadro da Zona de Livre Comércio da SADC, destacam-se: elementos de via-férrea, ferro fundido, ferro, aço, produtos petrolíferos, produtos alimentares, produtos de borracha (pneumáticos usados em autocarros e camiões) e detergentes para limpeza.

b) União Aduaneira da SADC

Em conformidade com o RISDP, a SADC definiu o ano de 2010 como o ano para o estabelecimento da União Aduaneira da SADC. Entretanto, tal meta revelou-se não ser exequível em virtude do trabalho técnico requerido ainda pendente. Entretanto, no âmbito do processo de preparação deverão ser

RSA Outros Estados-Membros Total SADC

CIF

%

Região

%

Total CIF

%

Região

%

Total CIF

%

Total

CIF

Preferencial

% CIF

Pref/SADCIMPORTAÇÕES2008 22.048,75 92% 32% 1.946,83 8% 3% 23.995,58 25% 45.516,24 23%2009 27.104,23 93% 37% 2.134,96 7% 3% 29.239,19 40% 44.415,75 32%Jan-

Ag/´1023.940,89 87% 37% 3.627,14 13% 6% 27.568,03 42% 37.731,67 29%

EXPORTAÇÕES

FOB

%

Região

%

Total FOB

%

Região

%

Total FOB

%

Total

FOB

Preferencial

% FOB

Pref/SADC2008 3.523,50 67% 12% 1.771,17 34% 6% 5.294,67 18% 211,79 4%2009 7.629,04 77% 14% 2.314,15 23% 4% 9.943,19 19% 365,26 4%Jan-

Ag/´103.537,41 73% 10% 1.319,88 27% 4% 4.857,30 14% 401,30 8%

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alcançados, antes de Dezembro de 2011, um acordo e um entendimento sobre os seguintes elementos:

• os parâmetros da futura União Aduaneira;• os marcos de referência a atingir para o estabelecimento

da União Aduaneira;• um modelo da União Aduaneira da SADC;• as modalidades que devem ser seguidas na implementação

da União Aduaneira;

A sobreposição de filiações pelos Estados-Membros aos diversos agrupamentos regionais constitui o desafio principal no processo de estabelecimento da União Aduaneira da SADC.

Devido as diferenças nos níveis de desenvolvimento económico, o princípio da “geometria variável” que consiste na possibilidade de cada Estado-Membro integrar a União Aduaneira quando estiver em condições de fazê-lo terá de ser aplicado, reconhecendo, porém, a necessidade de se manter a unidade e a coesão da SADC.

c) Protocolo sobre Finanças e Investimentos (FIP)

Aprovado pela Cimeira realizada em Maseru, em Agosto de 2006, este Protocolo é pilar integrante da agenda de integração económica regional da SADC. O Protocolo constitui um instrumento para a realização da integração regional, através da harmonização das políticas financeiras e de investimento nos Estados-Membros. Estabelece a base e os instrumentos para a cooperação nas áreas financeira, de investimentos, e de política macro-económica.

Com efeito, em 2008, teve início a implementação do Programa de Convergência Macroeconómica (MEC) da SADC, tendo sido definidas as seguintes metas MEC: i) Crescimento

Económico (PIB Real) de 7%; ii) Taxa de Inflação de 1 dígito; iii) Balança Fiscal <5% do PIB; iv) Dívida Pública <60% do PIB; e v) Balança de Conta Corrente <9% do PIB.

No âmbito do estabelecimento do Fundo de Desenvolvimento da SADC foi criada a Facilidade de e Desenvolvimento (PPDF), num montante inicial de EUR 5 milhões, sedeado na África do Sul, sob a égide do DBSA (Development Bank of Southern Africa).

3.2.2. Infra-estruturas e Serviços

O sector de infra-estruturas, conjuntamente com o comércio, indústria, agricultura, finanças e investimento, tem um potencial catalisador susceptível de induzir um rápido crescimento económico e desenvolvimento sustentável.

No que concerne a abordagem sobre a mobilização de recursos para o sector das infra-estruturas, a preocupação reside no facto de se fazer parecer que ela está associada apenas à ajuda externa. Há necessidade de considerar seriamente a mobilização de recursos próprios para financiar projectos regionais. Em termos globais, podem ser identificadas quatro (4) áreas-chave consideradas “infra-estruturas económicas”, dada a sua importância para o funcionamento dos vários sectores e o desenvolvimento global da economia – geração de emprego, aumento da produtividade, comércio, crescimento económico, redução da pobreza:

• Fornecimento de água, saneamento e gestão de recursos hídricos;

• Energia;• Serviços de transportes; e • Tecnologias de Informação e Comunicação (ICT).

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Com vista a prossecução da Agenda de Integração Regional da SADC, o desenvolvimento de infra-estruturas de âmbito regional deverá ter como objectivos principais:

• Melhorar o acesso a serviços fiáveis tanto para empresas como para consumidores;

• Melhorar a cooperação regional bem como o comércio através da redução de riscos enfrentados pelos investidores, especialmente no domínio de políticas e de regulação;

• Reforçar as capacidades humanas nas tecnologias e engenharia com vista a instalação, operacionalização e manutenção de redes de infra-estruturas na região.

a) Sector de Transportes

Na área de transportes, registaram-se progressos sendo de realçar a implementação da Estratégia do Corredor da SADC aprovado pelos respectivos ministros em Maio de 2008. A Conferência de Investimentos do Corredor Norte-Sul contribuiu para um maior ímpeto para o desenvolvimento de infra-estruturas relacionadas com o Corredor. Os Corredores e Iniciativas de Desenvolvimento Espacial abriram oportunidades de desenvolvimento para os investidores privados nacionais e estrangeiros.

A implementação com sucesso do Corredor de Desenvolvimento de Maputo e a Iniciativa de Desenvolvimento Espacial (SDIs) da África do Sul serviram para elevar o apoio dentro da SADC para o conceito de Corredores de Desenvolvimento Económico Multi-sectorial (contrariamente a abordagem de corredores baseada no transporte que existia há uma década), e para uma abordagem de mobilização de planificação e investimento incorporada nos SDIs. Desde então, a SADC já desenvolveu vários Corredores e SDIs a nível da região, sendo de destacar: Beira; Limpopo; Lobito; Maputo; Mtwara;

Nacala; Norte-Sul; Tazara; Trans-Kalahari; Walvis Bay e Zambeze.

A reabilitação da linha Beira-Sena está concluída até Moatize e o projecto irá prosseguir para o Malawi através da concessão da Linha Férrea para a RITES (empresa Indiana). O Corredor de Desenvolvimento de Maputo foi concluído e implementado com um acompanhamento directo ao nível dos Chefes de Estado e permanece um modelo na da SADC.

No domínio do transporte aéreo, regista-se uma liberalização gradual dos espaços aéreos no contexto da Decisão de Yamoussoukro (YD), envolvendo vários Estados-Membros.

b) Sector de Energia

Na área de energia, a região encomendou unidades de geração de energia que resultaram na produção de 3140 Mega-Watts para o SAPP, contribuindo para colmatar a escassez energética na região. Como medida para reduzir o impacto da crise energética a nível da região, em 1995, foi criada a Southern African Power Pool (SAPP) que é um Projecto de Mercado de Energia visando ajudar a promoção da competitividade do comércio de energia entre os Estados-Membros, deste modo, fortalecendo a integração regional e o desenvolvimento sócio-económico. A SAPP foi operacionalizada em 2001 e constitui a primeira iniciativa do género a ser criada fora da Europa e da América do Norte.

c) Sector de Comunicações e ICT

Neste âmbito foram desenvolvidas redes de comunicações e ICT e serviços de âmbito regional que respondam as diversas necessidades de comércio e indústria, como apoio aos programas de desenvolvimento sócio-económicos. A implementação da infra-estrutura de Informação da região da SADC (SRII) foi

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dividida em três (3) fases, nomeadamente, de curta, média e longa duração.

A fase de curta duração prevê a digitalização de ligações de transmissão. A fase de média duração preconiza a expansão de transmissão digitalizada (em conclusão). A fase de longo prazo comporta todas as vias de transmissão de fibra regional (80% concluída) mas enfrenta constrangimentos em termos de capacidade e tecnologia. Para responder aos constrangimentos foi criado um grupo de trabalho, o Backhaul Working Group, e uma vez concluído o trabalho irá permitir a interligação entre todos os Estados-Membros e conectar cada Estado-Membro aos vários sistemas de cabo submarino incluindo o Sistema de Cabo Submarino de Fibra Óptica de Banda Larga (Broadband) da África Austral e Oriental (EASSy).

Outra realização nesta área é a implementação da infra-estrutura de ICT da NEPAD de banda larga em fibra óptica de/e para a África Austral e Oriental que está em curso no sector de comunicações e ICT. A implementação deste projecto é feita no âmbito do Protocolo sobre a Política de ICT e Estrutura reguladora, também conhecido como o Protocolo de Kigali. Dez (10) Estados-Membros da SADC assinaram o Protocolo antes da data limite (Novembro de 2006) dos quais, seis (6) já ratificaram o Protocolo.

d) Sector de Águas

Existe um Programa Regional de Infra-Estruturas de Água visando a promoção do desenvolvimento de uma infra-estrutura regional de águas incluindo a reabilitação e expansão das facilidades existentes, programa regional para o fornecimento de água e saneamento e, um estudo de pré-viabilidade para projectos de infra-estrutura estratégica regionais.

Até ao momento os Estados-Membros submeteram 134 projectos de infra-estruturas a diferentes níveis de implementação. Outra realização do sector de águas é a criação do Sistema de Observação do Ciclo Hidrológico da SADC (SADC HYCOSA) e instalação de equipamento. O Projecto é uma componente regional do Programa da Organização Mundial de Meteorologia, visando contribuir para o desenvolvimento sócio-económico regional através da provisão de instrumentos de gestão necessários para o desenvolvimento de recursos hídricos sustentáveis a baixo custo, gestão e protecção ambiental.

e) Sector do Turismo

O Protocolo da SADC sobre o Desenvolvimento do Turismo proporciona a promoção da região como destino turístico e facilita as viagens intra-regionais através da facilitação e remoção de barreiras, isenção de visto e harmonização dos procedimentos de imigração. Em termos de realizações, de referir a criação da Organização do Turismo Regional da África Austral (RETOSA), em 1997, com o mandato de efectuar marketing e promoção de turismo na região.

No âmbito das metas para os Estados-Membros da SADC, referir a introdução de um visto universal, semelhante ao visto Schengen, o Sistema UNIVISA, que irá facilitar as viagens intra-regionais através da remoção de restrições na emissão de vistos e harmonização dos procedimentos de imigração. Deste modo, irá possibilitar aos turistas entrarem em todos os Estados-Membros da SADC com apenas um visto bem como a facilitação do movimento trans-fronteiriço e de turistas internacionais no geral.

Os Estados-Membros da SADC demonstraram vontade política de criar Áreas de Conservação Trans-fronteiriça e uma abordagem regional de conservação da biodiversidade e desenvolvimento do turismo através de acordos bilaterais e multilaterais.

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3.3.3. Alimentação, Agricultura e Recursos Naturais

A Cimeira Extraordinária da SADC sobre Segurança Alimentar e Agricultura, realizada em Dar-es-Salam, em 2004, decidiu que os Estados-Membros deveriam aumentar da sua dotação orçamental para a agricultura em pelo menos até 10% do seu Orçamento de Estado.

Ainda no quadro das medidas de mitigação relativamente à segurança alimentar regional destaca-se a aprovação do estabelecimento de uma Facilidade Regional de Reserva Alimentar (RFRF) de 500 000 toneladas de cereais, consistindo em 375 000 toneladas em reserva física e em reserva financeira equivalente a 125 000 toneladas.

3.3.4. Desenvolvimento Humano e Social

HIV e SIDA

As actividades implementadas na área do HIV e SIDA têm-se focalizado na implementação do Plano de HIV e SIDA em particular: (i) desenvolvimento e harmonização de políticas, directrizes e quadros estratégicos para prevenção, tratamento, cuidados e assistência; (ii) mobilização de recursos e reforço de parcerias e redes; e (iii) monitorização e avaliação da implementação da Declaração de Maseru sobre Combate ao HIV e SIDA.

A SADC adoptou um Quadro Estratégico Regional sobre HIV e SIDA (2003-2007), o qual foi actualizado, focalizando aumento dos esforços regionais para o alcance dos objectivos da Declaração de Maseru, Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e Metas de Acesso Universal. O novo Quadro Estratégico Regional sobre HIV e SIDA (2009-2015) toma em consideração a aceleração da evolução da integração regional e a emergência de novos desenvolvimentos regionais, continentais e globais

vis-à-vis HIV e SIDA – necessidade tratamento de HIV e SIDA e tuberculose, circuncisão masculina, prevenção positiva e necessidade de tratamento pediátrico de HIV e SIDA.

Foram registados progressos na implementação da Declaração de Maseru sobre Combate de HIV e SIDA, particularmente a criação do Fundo da SADC de HIV e SIDA, com capital inicial de USD 7 milhões e a aprovação do Quadro de Operacionalização do Fundo da SADC de HIV e SIDA.

Género e Desenvolvimento

No âmbito da promoção do género e desenvolvimento, os Estados-Membros da SADC adoptaram a Declaração da SADC sobre Género e Desenvolvimento em 1997, que exortava aos Estados-membros para aumentarem a participação das mulheres na política e tomada de decisões para pelo menos 30% até ao ano de 2005. Como complemento desta Declaração, a sua Adenda sobre a Prevenção e Erradicação da Violência Contra as Mulheres e Crianças foi adoptada em 1998.

Dada a necessidade de harmonização da legislação, políticas, estratégicas e programas nacionais com os instrumentos jurídicos regionais relativos à igualdade e equidade de género, a Declaração foi transformada, obedecendo a outro formato e passou a designar-se Declaração da SADC sobre o Género e Desenvolvimento. O Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento aprovado e assinado, em 2008, em SANDTON (Johannesburgo), África do Sul.

O Protocolo estabelece o cumprimento de metas até 2015, no âmbito da igualdade e paridade de género nas diferentes áreas de abordagem, nomeadamente, em relação aos direitos legais e constitucionais, a governação, a educação e formação, os recursos produtivos e emprego, a violência baseada no género, o HIV e SIDA, incluindo a paz e a resolução de conflitos.

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3.3.5. Desafios

No domínio sócio-económico, não obstante as realizações logradas no quadro da integração regional, importa salientar alguns desafios presentes, nomeadamente:

• Pobreza:

A SADC reconhece a pobreza como um dos principais desafios para a região, tendo em conta que a maior parte da população vive com apenas USD 1/dia;

• Declínio acentuado da esperança de vida em vários países da SADC de 60/70 anos para 33 anos;

• Pandemia do HIV/SIDA:

A taxa de prevalência é de 25%, contribuindo para elevada mortalidade principalmente de mulheres e crianças, impactando no processo de desenvolvimento sócio-económico.

• Impacto da Crise Económica Global:

- Dificuldades no acesso a capitais para investimentos;- Redução das exportações da SADC para os mercados

internacionais;

- Redução dos preços das mercadorias de exportações nos mercados internacionais;

- Redução dos níveis de investimentos domésticos e internacional, ambos como resultado da escassez de crédito e aumento de aversão ao risco nos mercados emergentes.

- Perda de rendimentos no sector mineiro; desemprego; e redução de investimentos.

- No sector agrícola: devido a redução dos preços, traduziu-se na perda de remessas dos governos, particularmente provenientes da cobrança de impostos.

- Deterioração dos volumes de exportações e baixa dos preços das matérias-primas resultou na perda de rendimentos provenientes de taxas comerciais, exercendo pressão sobre as contas correntes e balanças fiscais dos Estados-Membros da SADC.

4. Cooperação e Integração Tripartida COMESA-EAC-SADC

No âmbito do Acto Constitutivo da União Africana e do Tratado de Abuja, de 1981, que institui a Comunidade Económica Africana (CEA), a COMESA, a EAC e a SADC são consideradas Comunidades Económicas Regionais (CERs) reconhecidas como building blocs para a edificação da CEA.

Como building blocs, as três CERs estão a implementar programas de integração regional nas áreas de comércio e de desenvolvimento sócio-económico, visando o estabelecimento de Zonas de Livre Comércio, Uniões Aduaneiras, Mercados Comuns e Uniões Monetárias.

A cooperação e integração regional entre as três CERs têm incidido em programas de desenvolvimento de infra-estruturas regionais – transportes, comunicações, Tecnologias de Comunicação e Informação (TIC) e energia; domínios considerados fundamentais para a realização da integração continental e consequentemente para o estabelecimento da CEA.

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Entretanto, no quadro da implementação dos programas de integração regional, o principal desafio enfrentado pelas três CERs é o da múltipla afiliação (overlapping membership), sobretudo vis-à-vis estabelecimento de União Aduaneira, pois, as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) permitem que um país apenas seja membro de uma União Aduaneira. Este factor implicou a necessidade de coordenação e harmonização dos respectivos programas de integração regional.

Neste contexto, foi acordado no Cairo – Egipto o estabelecimento de um quadro de cooperação e de integração regional COMESA-EAC-SADC pelos Presidentes da Autoridade da COMESA e da Cimeira da SADC, através da criação de um Grupo de Trabalho (Task Force) Tripartido ao nível dos Secretariados. Em 2005, com a adesão da EAC foi estabelecido um Grupo de Trabalho Tripartido que tem centrado o seu trabalho nas seguintes áreas:

• Comércio;• Alfândegas; • Livre circulação de pessoas; e • Desenvolvimento de infra-estruturas.

a) Comércio

No quadro da implementação dos programas de integração económica regional, as três CERs adoptaram instrumentos e programas de comércio e aduaneiros que incluem o seguinte:

• Sistemas de TICs de gestão aduaneira;• Procedimentos aduaneiros simplificados;• Regras de origem;• Sistemas comuns de valoração, conforme preconiza a

Organização Mundial das Alfândegas (OMA);• Documentos Únicos de Declaração Aduaneira (CDs);

• Nomenclaturas pautais comuns baseadas na Descrição Harmonizada das Mercadorias e no Sistema de Codificação (Código HS) da OMA;

• Sistemas de seguros de viaturas contra terceiros; • Sistemas de caução de garantia aduaneira;• Medidas para monitorar e eliminar as barreiras não-

tarifárias (NTBs);• Postos Fronteiriços de Paragem Única;• Barreiras Técnicas ao Comércio (TBTs) incluindo o

documento harmonizado e os padrões de medições; e• Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS).

b) Infra-estruturas

No quadro da cooperação no domínio de infra-estruturas, as três CERs acordaram as seguintes áreas comuns para coordenação e harmonização:

• Corredores de Desenvolvimento;• Transporte rodoviário;• Transporte aéreo;• Transporte ferroviário;• Portos;• Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs); e• Energia.

Em 2008, a Cimeira Tripartida lançou a Autoridade Regional para a Concorrência (JCA) que irá superintender a implementação cabal da Decisão de Yamoussoukro sobre Céus Abertos.

Em 2009, foi lançado o Programa-Piloto do Corredor Norte-Sul (Dar-es-Salam/Durban) COMESA-EAC-SADC para reduzir os custos do comércio transfronteiriço na África Subsariana. A iniciativa abarca infra-estruturas nas áreas de portos, transportes

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(rodoviários e ferroviários), comunicações, energia, visando interligar as respectivas redes regionais, com o objectivo de estabelecer, futuramente, a sua ligação entre Cairo (Egipto) e a Cidade de Cabo (África do Sul).

c) Circulação de Pessoas

A livre circulação de pessoas deverá ter como alvo, numa primeira fase, as pessoas envolvidas em operações empresariais além fronteiras. As CERs podem alcançar este objectivo através da concessão de facilidades de vistos para os empresários e outros profissionais e ir gradualmente estendendo esta facilidade para os restantes cidadãos. Este objectivo poderá ser materializado através de um Acordo/Protocolo vinculativo.

5. Acordo de Parceria Económica SADC-EPA/União Europeia

As relações de cooperação para o desenvolvimento entre o Grupo dos Estados de África, Caraíbas e Pacífico (Grupo ACP) e a União Europeia, a partir de 1975, foram regidas por um quadro jurídico estruturante, i.e. as Convenções de Lomé (I, II, III, IV, IV bis) e Acordo de Cotonou.

A Convenção de Lomé III (1985-1990) introduziu um regime comercial baseado em preferências não-recíprocas que permitia o acesso preferencial dos produtos (i.e. agrícolas) dos países ACP ao mercado comunitário. Os regimes tarifários (i.e. em muitos casos tarifa zero) aplicados eram mais favoráveis aos países ACP comparativamente a outros países em desenvolvimento.

A conclusão, em 1994, do Ciclo de URUGUAI e consequentemente o estabelecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1995, criou um novo contexto comercial internacional com repercussões para regime comercial ACP-UE em vigor.

A aplicação das novas regras do sistema multilateral de comércio (i.e. da OMC), assentes na liberalização e na reciprocidade, tornaram o regime comercial das Convenções de Lomé, baseado em preferências não-recíprocas, incompatível.

Em suma, o regime comercial das Convenções de Lomé já não se afigurava adequado para o desenvolvimento dos países ACP em virtude da erosão das preferências concedidas pela UE, por um lado, devido ao novo contexto comercial internacional e, por outro lado, porque o volume do comércio ACP para a UE manteve-se baixo, por conseguinte, não alcançando os objectivos esperados.

O Acordo de COTONOU, assinado em 2000, estabeleceu um novo quadro para as relações de cooperação para o desenvolvimento entre os Estados ACP e a UA. O Acordo estabeleceu a necessidade de conclusão de Acordos de Parceria Económica (APEs), compatíveis com as regras da OMC, que seriam negociados durante o período preparatório de Setembro de 2002 a 31 de Dezembro de 2007.

A definição da configuração regional constituiu condição fundamental para o processo de negociações dos APEs com a UE. A configuração da SADC, i.e. SADC-EPA, ficou reduzida a oito (8) países – Angola, Botswana, Lesotho, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Tanzânia e África do Sul (inicialmente observador5 ). Os restantes países integraram a configuração da COMESA, i.e. ESA (Eastern and Southern Africa) – Malawi, Maurícias, Madagáscar, Zâmbia, Zimbabwe. Entretanto, em 2007, a Tanzânia retirou-se da SADC-EPA e juntou-se à configuração APE da EAC (East African Community).

As negociações do APE SADC-EPA/UE foram lançadas em Windhoek, Namíbia, a 8 Julho de 2004. Para as negociações do APE com a UE, a SADC-EPA adoptou um Quadro Estratégico que visa os seguintes objectivos:

5 A África do Sul assinou com a UE o TDCA (Acordo de Comércio, Desenvolvimento e Cooperação).

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• Coordenar e alinhar a revisão do TDCA e as negociações do APE;

• Consolidar a preparação para as negociações do APE;• Estabelecer as bases sobre como a região poderá avançar

rumo ao estabelecimento de um único regime comercial entre os países da SADC-EPA e a UE;

• Preservar o ímpeto para a integração regional entre Estados-membros da SADC;

• Assegurar que o regime comercial entre a SADC-EPA e a UE seja compatível com a OMC;

• Assegurar o alinhamento entre a assistência técnica ligada ao comércio no âmbito do APE e a programação da assistência para o desenvolvimento da UE.

A SADC-EPA (Botswana, Lesotho, Moçambique, Namíbia e Swazilândia) e a UE concluíram, em Novembro de 2007, um Acordo de Parceria Económica Interino (IEPA) que visa garantir o regime de preferências não-recíprocas no acesso ao mercado da UE, em virtude da expiração da derrogação da OMC relativa ao regime comercial da Convenção de Lomé, em 31 de Dezembro de 2007. Angola e África do Sul não assinaram o IEPA, por conseguinte estando o seu acesso ao mercado da UE assegurado pela Iniciativa Everything But Arms (EBA) e pelo Acordo de Comércio, Desenvolvimento e Cooperação África do Sul-UE (TDCA) respectivamente.

Inicialmente, o IEAP SADC-EPA/UE deveria ter sido implementado a partir de 1 de Julho de 2008, porém, o IEAP apenas foi assinado a 4 Junho de 2009 pelo Botswana, Lesotho e Swazilândia, e a 15 de Junho de 2009 por Moçambique.

O IEAP preconiza uma segunda fase de negociações com vista a conclusão de um APE global e definitivo, cobrindo: liberalização do comércio de serviços; capítulo sobre investimento baseado no Protocolo da SADC sobre Finanças e Investimento (FIP); disposições sobre cooperação – capacitação institucional em

serviços, investimento, política de concorrência e aquisições públicas (procurement). Presentemente, decorrem negociações relativas às seguintes matérias:

• Assuntos pendentes (alinhamento da oferta da SACU, regras de origem);

• Notificação à OMC e a implementação do IEPA; e• Liberalização de comércio em serviços e investimentos.

Impacto para Moçambique:

O facto de o novo regime comercial resultante das negociações do APE pressupor os elementos da liberalização e da reciprocidade coloca enormes desafios à Moçambique, tratando-se de um País Menos Avançado (PMA) vis-à-vis países desenvolvidos. Para que o acesso ao mercado, i.e. nas novas condições, seja vantajoso torna-se fundamental que o APE providencie condições e recursos para que o constrangimento do lado da oferta seja superado e a competitividade elevada.

Como consequência imediata da liberalização, i.e. redução e eliminação das tarifas aduaneiras, o país deverá perder parte das suas receitas aduaneiras das importações provenientes da UE. Neste sentido, a criação de um mecanismo e/ou concessão de recursos financeiros adicionais para mitigar os efeitos adversos resultantes da perda de receitas é fundamental.

A implementação do APE torna necessária a realização de ajustamentos que acarretam consigo custos elevados.

6. Quadro Jurídico-legal Regional da SADC versus Estados-Membros

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6.1. SADC

6.1.1. Características Jurídico-internacional da Comunidade

Os Estados enquanto sujeitos de base territorial, criam estruturas internas que se afirmam através de uma repartição de poderes no interior de uma determinada organização e face ao exterior (Estados-Membros e terceiros), bem como de um objectivo comum, que seja tendencialmente permanente e enquadrado pela atribuição de personalidade jurídica. Possuem órgãos próprios que representam a sua manifestação de vontade, gerando direitos e obrigações, não só para os Estados, como também para pessoas singulares e/ ou colectivas que no seu âmbito actuam.

Embora a criação da comunidade represente o surgimento de uma ordem jurídica autónoma, de duração ilimitada, ela não goza de um estatuto de soberania, podendo dizer-se que os poderes de índole soberana que exerce são o fruto de uma transferência ou de uma delegação de exercício de poderes por parte dos Estados-Membros.

As características enunciadas, aproximam-se às da SADC, podendo caracterizá-la como sendo uma organização internacional de carácter regional, cuja fonte genérica encontra-se num instrumento de direito internacional público que é o Tratado da SADC, que constitui um direito originário outorgado pelos Estados-Membros6 .

Consequentemente, a SADC possui personalidade legal com capacidade e poderes para firmar contratos, adquirir, possuir ou alienar propriedades móveis e imóveis e propor ou ser demandada em acções judiciais e rege-se pelos seguintes princípios:

• Igualdade de soberania de todos os seus Estados-Membros;

• Solidariedade, paz e segurança;• Direitos Humanos, Democracia e o Estado de Direito;• Equidade, equilíbrio e benefício mútuo; e• Resolução pacífica de litígios.

Estes princípios consubstanciam a base estrutural da ordem jurídica comunitária, que segundo a doutrina é autónoma em relação ao direito interno e ao direito internacional, tendo as suas próprias fontes e modos de produção jurídica, opera nos limites estabelecidos pelos Estados e está (em toda a sua acção traduzida na adopção de actos jurídicos) sujeita a regras jurídicas.

Não obstante o Tratado da SADC descrever taxativamente os princípios que regem a SADC, porque é uma organização internacional de carácter regional, há a destacar o Princípio de Efectividade, que é relevante na ordem jurídica comunitária, dado que a ele está associado o não menos importante “efeito directo”7 8 .

6.1.2. Quadro Institucional

Os princípios estruturantes da ordem jurídica comunitária dotada de autonomia e tendo os seus fundamentos assentes no Tratado, constituem fontes comunitárias. A SADC aplica regras próprias derivadas do direito comunitário, que garantem uma uniformidade proveniente não só do direito comunitário originário (Tratado da SADC), mas também do direito comunitário derivado (normas ou actos emanados dos órgãos comunitários), sobre o direito estadual (inclusive da constituição).

6Vide Artigo 3º do Tratado da SADC.

7 Efeito directo, signifi ca que a norma comunitária desde que preenchidos certos requisitos, pode ser invocada em juízo pelos particulares perante os órgãos jurisdicionais nacionais, quer contra o Estado-Membro (efeito directo vertical) quer contra outros particulares (efeito directo horizontal).8 Vide Artigos 15º e 32º do Protocolo da SADC sobre o Tribunal.

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Por outras palavras, o direito comunitário, na hierarquia das fontes de direito de cada Estado-membro, deveria ocupar um grau supra constitucional. É neste contexto que no âmbito do direito comunitário, constituem fontes da SADC, de carácter vinculativo, e que ao mesmo tempo são instrumentos de integração as seguintes:

• Tratado da SADC; • Protocolos;• Acordos;• Memorandos de Entendimento;• Declarações;• Plano Indicativo Estratégico Regional de Desenvolvimento

(RISDP) e o Plano Estratégico Indicativo do Órgão (SIPO); e

• Decisões emanadas pela Cimeira e pelo Conselho de Ministros.

Estas fontes são determinantes na medida em que permitem compreender o sistema jurídico-comunitário por um lado, e por outro lado, constituem um direito criado pelos Estados-Membros através do Tratado da SADC, constituído pelas normas que criam a comunidade.

Na esteira do processo de reestruturação em 2001 constituem instituições da SADC as seguintes:

• Cimeira dos Chefes de Estado e ou de Governo;• Órgão de Cooperação nas Áreas de Política, Defesa e

Segurança;• Conselho de Ministros; • Comités e Clusters de Ministros Sectoriais;• Comité Permanente de Altos Funcionários;• Secretariado;

• Tribunal; e• Comissões Nacionais da SADC.

As fontes e as instituições da SADC desempenham um papel determinante no processo de integração regional, mas é ao Tribunal da SADC que cabe garantir a observância e interpretação adequadas das disposições do Tratado e de outros instrumentos jurídicos subsidiários (protocolos, memorandos de entendimentos, declarações, etc.), bem como dos princípios gerais de direito comunitário, no contexto da validade dos actos praticados pelas instituições da comunidade.

E é nesse contexto, que à luz do Tratado da SADC, todas as decisões tomadas pelas instituições da SADC, são de carácter consensual e vinculativo, pois derivam da própria natureza jurídica da SADC9. No entanto, o Artigo 33º do Tratado da SADC prevê de forma expressa os actos passíveis de sanções em caso de incumprimento pelos Estados-Membros.

Na sequência da relevância do papel desempenhado pelo Tribunal, este goza de competência exclusiva para dirimir litígios10 (entre os Estados-Membros e a Comunidade, entre pessoas singulares ou colectivas e a Comunidade, e entre a Comunidade e o seu quadro de pessoal).

As decisões são tomadas por maioria e têm um carácter final e vinculativo, podendo ser tomadas à revelia das partes, e os Estados-Membros devem garantir a execução das decisões do Tribunal.

9 Vide Artigo 19º do Tratado da SADC.10 Vide Artigos 14º a 19º do Protocolo sobre o Tribunal da SADC, conjugado com o respectivo acordo de emenda ao Protocolo sobre o Tribunal

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No caso de incumprimento das decisões do Tribunal, pode ser submetido por qualquer parte interessada e o Tribunal deve comunicar à Cimeira sobre o veredicto para que esta decida nos termos das suas competências.

Outro instrumento jurídico que importa referir, no contexto do quadro jurídico da região, é o Protocolo sobre Assuntos Jurídicos, que tem como objecto atribuir competências ao sector jurídico, tendo este, nos termos do seu Artigo 2º como um dos seus objectivos principais a prestação de assistência jurídica à SADC, suas instituições e Estados-Membros em matérias relacionadas com a interpretação e implementação dos instrumentos jurídicos subsidiários.

Nos termos do Artigo 3º do Protocolo sobre Assuntos Jurídicos, o sector jurídico é dotado pelo seguinte quadro institucional:

• Comité de Ministros da Justiça/ Procuradores Gerais;• Comité de Juristas; e• Unidade Coordenadora do sector jurídico (funciona

num Ministério ou Departamento da Justiça em cada um dos Estados-Membros).

6.2. Estados-Membros

A relação entre os Estados-Membros, no contexto da integração regional, consubstancia-se no cumprimento das disposições do Tratado11 , bem como na implementação dos instrumentos jurídicos aprovados pela Cimeira dos Chefes de Estado e/ou de Governo da SADC, dos quais são parte. Entre si, celebram acordos, tendo em conta as áreas de cooperação aprovadas nos termos do Artigo 21º do Tratado da SADC, assim como do RISDP.

Por outro lado ainda, o Artigo 24º do Tratado da SADC, dá também a possibilidade dos Estados-Membros estabelecerem relações entre si, com base na observância dos princípios e objectivos da SADC, mas também com outros Estados e organizações regionais e internacionais, desde que os seus objectivos sejam compatíveis com os da SADC e respectivos dispositivos legais.

6.3. Moçambique

A ordem jurídica comunitária por si só não realiza os objectivos da comunidade. Cabe aos órgãos legislativos, executivos e judiciais reconhecerem que a ordem jurídica comunitária não é um sistema externo e que os Estados-Membros e as instituições comunitárias pertencem solidariamente a um todo indissolúvel destinado a alcançar objectivos comuns.

Consequentemente, as autoridades nacionais devem não só respeitar os tratados comunitários e as normas de execução emanadas das instituições comunitárias, mas também aplicá-los e dar-lhes vida, ou seja, executá-las.

Da esquerda para a direita: Basília Machatine (ASSEMO), Dr. Tomo Psico e Yaqub Sibindy (PIMO)

11 Vide Artigo 6º do Tratado da SADC

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É neste contexto que a Constituição da República de Moçambique na alínea t) do número 2 do Artigo 179, conjugado com a alínea g) do número 1 do Artigo 204, dá competências à Assembleia da República e ao Conselho de Ministros para celebrar, ratificar, aderir e denunciar acordos internacionais.

6.3.1. Inserção do Direito Comunitário no Ordenamento Jurídico-constitucional Moçambicano Interno

Não obstante o nº 1 do Artigo 17 da Constituição preceituar que: “A República de Moçambique estabelece relações de amizade e cooperação com outros Estados na base dos princípios de respeito mútuo pela soberania e integridade territorial, igualdade, não interferência nos assuntos internos e reciprocidade de benefícios”, não resolve a questão de forma clara. Contudo, a partir dela, pode-se chegar a várias conclusões quanto à inserção do direito comunitário no direito interno moçambicano.

Com este preceito constitucional pode-se afirmar que existe um conjunto relevante de normas constitucionais internas relacionadas com a integração moçambicana na comunidade e o modo de relacionamento entre as fontes jurídicas provenientes de cada um dos ordenamentos (comunitário e moçambicano).

Quanto à inserção do direito comunitário no ordenamento jurídico moçambicano, vem consubstanciada no Artigo 18º da Constituição da República que preceitua:

i. “Os tratados e acordos internacionais, validamente aprovados e ratificados, vigoram na ordem jurídica moçambicana....”

ii. “As normas de direito internacional têm na ordem jurídica interna o mesmo valor que assumem os actos normativos infraconstitucionais emanados da Assembleia da República e do Governo, consoante a sua respectiva forma de recepção”.

No entanto, é o nº 2 do Artigo 18 da Constituição, que trata de forma específica os modos de incorporação do direito internacional público na ordem jurídico-constitucional interna.

Este preceito mostra-nos por um lado, o modo como o direito comunitário originário de origem convencional (tratados e acordos internacionais) se incorpora no direito interno (depois de regularmente aprovados e ratificados). Por outro lado, releva que estas normas não passam a valer como direito de origem interna (não são transformadas) mas continuam sendo normas dos tratados ou de direito internacional público. Com efeito, é dominante o entendimento de que as normas internacionais de origem convencional são incorporadas por meio do mecanismo de recepção na ordem jurídica interna.

No entanto, importa referir que tratando-se de instrumentos jurídicos comunitários, não é pelos simples facto de se dar cumprimento à previsão constitucional que a sua vigência é automática a nível interno, carecem de ratificação por parte de um certo número de Estados-membros (2/3), e consequentemente do depósito dos instrumentos de ratificação junto do Secretariado da SADC12 . 6.4. Avaliação

Volvidos 30 (trinta) anos, a SADC, ainda encontra-se numa fase lenta da sua consolidação, dado que até ao momento apesar das suas realizações nos diferentes domínios, ainda só alcançou a primeira etapa da integração regional (Zona de Livre Comércio).

Ainda possui uma fragilidade jurídica pelo facto de não ter todos os poderes a funcionar: legislativo, executivo e judicial,

12Vide os Artigos 41º e 43º do Tratado da SADC.

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de modo a que haja uma transferência efectiva da soberania dos Estados-membros para a comunidade.

Quanto ao valor jurídico das decisões tomadas pelas instituições da SADC, (Cimeira, Conselho de Ministros e Tribunal) cujo carácter é final e vinculativo, na prática não são executadas de forma uniforme pelos Estados-Membros.

Para uma efectiva integração regional, no contexto do direito comunitário é necessário:

• Harmonizar o quadro legal dos Estados-Membros; e• Criar mecanismos de modo a que a haja um “comando

executório”, no respeitante às decisões tomadas pelo Conselho de Ministros, Cimeira e Tribunal.

7. Potencialidades Económicas de Moçambique

7.1. Localização Geográfica Estratégica

Moçambique possui uma vasta superfície com uma área de 799.380 Km2 e uma costa extensa de cerca de 2.470 Km, complementada por uma rede de portos, estradas e caminhos-de-ferro, conferindo-lhe uma vantagem natural sobre os países do hinterland (Zimbabwe, Malawi, Zâmbia e Botswana) e fácil acesso à África do Sul.

A situação geográfica e recursos de Moçambique oferecem um vasto potencial para o desenvolvimento do comércio, que poderão contribuir para o crescimento económico e redução da pobreza, especialmente através de sectores tais como agricultura, pescas e indústria pesqueira, turismo, transportes e comunicações, energia hidroeléctrica, gás natural e minerais.

7.2. Energia

Moçambique é um país com forte potencial energético, principalmente na componente das energias renováveis consideradas mais seguras, ambientalmente sustentáveis, para além de que não se esgotam. Trata-se das energias solar ou fotovoltaica, eólica, hídrica de pequena, média e grande dimensões e geotérmica. Calcula-se que não esteja a ser explorado no país o potencial energético de 74 milhões de Terra Joules (TJ), nomeadamente o carvão mineral, gás natural e hidroeléctrica, correspondendo a cerca de USD 100 mil milhões a preços actuais no mercado. Entretanto, apenas a quantidade energética de 150 mil TJ está sendo explorada no país, o equivalente a um aproveitamento de USD 1.100 milhões no mercado internacional.

O potencial de geração de energia eléctrica identificado no país é de cerca de 14.700 Megawatts, dos quais 12.500 são de origem hídrica. Actualmente, o país possui a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) que tem capacidade para gerar 2.075 Megawatts de energia eléctrica. As exportações de electricidade, em 2008, constituíram cerca de 9,4% das exportações de Moçambique. Presentemente, Moçambique precisa de USD 20 Biliões para explorar de forma efectiva as potencialidades energéticas que possui.

7.3. Recursos Minerais e Hidrocarbonetos

Moçambique é dotado de uma diversidade e imensidão de recursos minerais, representando oportunidades de investimento para a sua exploração, extracção, transformação, utilização e comercialização. Da vasta gama de recursos minerais importa salientar como principais: Gás natural; Carvão; Ouro; Titânio; Ilmenite; Zircão; Rutilo; Tantalite; Mármore; Minerais (titânio, grafite); pedras preciosas.

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Moçambique possui elevadas potencialidades e oportunidades de investimento no sector de recursos minerais, com destaque para os hidrocarbonetos (petróleo e gás natural) e minérios (carvão, areias pesadas e metais pesados). Um terço (1/3) do território continental é coberto de bacias sedimentares (petróleo e gás), nomeadamente: Bacia do Rovuma; Bacia de Moçambique; Bacia de Maniamba; “Graben” do Baixo Zambeze; Bacia do Zambeze Central; e Bacia do Lago Niassa.

Carvão

Estudos realizados recentemente mostram a existência em quase todo o país de reservas superiores a 23 biliões de toneladas de carvão mineral, tendo já sido atribuídos de momento cerca de 105 títulos mineiros nesta área. Moçambique tem como principais Bacias Carboníferas: Maniamba-Lunho (Província de Niassa); Mucanha-Vuzi; Sanagôe-Mfidezi; Moatize-Minjova (Província de Tete); e Mepotepote (Província de Manica). Recentemente foram descobertos jazigos de carvão mineral no distrito de Changara, Cahora Bassa e Mágoè, na Província de Tete, Estão, igualmente, em curso trabalhos adicionais de pesquisa ao longo da Bacia do Zambeze, tendo sido descoberta a existência de carvão nos distritos de Mutara, Marávia e Zumbu.

Gás natural

Em Janeiro 2006, as reservas comprovadas de gás natural estimavam-se em 122,2 bilhões metros cúbicos, distribuídos pelas reservas de Temane e Pande, na província de Inhambane. Foi confirmada, em Agosto de 2010, uma nova descoberta de gás natural em ‘offshore’ na Bacia do Rovuma, sendo a segunda nesta região do país, após a primeira descoberta em Fevereiro de 2010, ambas protagonizadas pela firma Anadarko. As exportações de gás natural, em 2008, constituíram cerca de 5,5% das exportações de Moçambique.

A empresa sul-africana SASOL, investiu USD 1,2 biliões na exploração dos campos de Temane e Pande, incluindo a construção de um gasoduto para Secunda na África do Sul. O empreendimento iniciou as suas operações em 2004, tendo uma duração prevista de vinte e cinco (25) anos, em função de reservas disponíveis.

Minerais

Moçambique possui o maior depósito inexplorado e economicamente viável de minerais titaníferos a nível mundial, areias pesadas (Titânio). Os principais depósitos localizam-se em Moma, Chibuto e Limpopo (14 biliões de toneladas) que poderão durar mais de 50 anos. Se bem explorados, os recursos naturais podem constituir uma fundação para um crescimento diversificado de exportações, criação de emprego, geração de rendimento, e processamento com valor acrescentado.

7.4. Turismo

Moçambique possui um rico potencial para se tornar um destino turístico de nível regional e internacional. A combinação de um turismo de praia tropical, com a vida cosmopolita das cidades, a diversidade de flora e fauna e de ecoturismo, assim como a rica história e o mosaico cultural oferecem uma base sólida para um turismo sustentável.

Os recursos turísticos de Moçambique estão ainda inexploráveis. Com uma costa de cerca de 2700 Km, vida marinha abundante, corais, montanhas, lagos, áreas de conservação, rica biodiversidade, e uma cultura fascinante, Moçambique possui condições para ser o principal destino turístico, abrindo espaço para investimentos em instâncias turísticas, incluindo formação na área, e desenvolvimento de sistema de transporte, tendo em conta que as rotas existentes a maioria estão na direcção este-oeste ao longo dos principais corredores.

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Este sector tem potencial para catalisar o desenvolvimento sócio-económico do país e impulsionar a procura de produtos nacionais, contribuindo para a atracção de investimentos; criação de postos de emprego e oportunidades de auto-emprego, conservação da biodiversidade, assim como para o equilíbrio da Balança-de-Pagamentos, através da entrada de divisas para o país.

7.5. Agricultura

A agricultura é o sector da economia nacional mais importante em Moçambique. 46% (35 milhões hectares) dos cerca de 800.000 Km2 da superfície territorial de Moçambique tem potencial para agricultura, sendo que presentemente, apenas estão a ser explorados 5 milhões de hectares. Moçambique possui uma localização estratégica, condições climáticas e fertilidade dos solos, a abundância de recursos hídricos (100 bacias hidrográficas, 1300 lagos e 10 barragens), a pluviosidade adequada.

O sector emprega cerca de 80% da força de trabalho, contribuindo em 20% para o PIB. Excluindo as exportações da Mozal, a agricultura engloba 1/3 das exportações do país. Moçambique goza de acesso preferencial para alguns produtos agrícolas no mercado regional da SADC, no mercado da UE (Iniciativa Tudo Menos Armas-EBA, Acordo de Parceria Económica-APE) e no mercado dos EUA (AGOA13 ).

7.6. Pescas

Mais de 2/3 da população moçambicana vive dentro de uma área de 90 milhas da costa. O sector pesqueiro é deste modo uma importante fonte de alimentação, emprego e rendimento. Estima-se que cerca de 480.000 pessoas, ou mais de 3% da

população são economicamente dependentes do sector, que emprega directamente 75.000-80.000 pessoas. Recentemente, produtos pesqueiros, incluindo camarão, representavam 40-50% das exportações de Moçambique.

Existem novas oportunidades de expansão das exportações de produtos não tradicionais tais como algas, aquacultura de peixe fresco e camarão. Este sector tem oportunidade de aumentar os rendimentos concentrando-se na exportação de pescado com alto valor de exportação. A maioria tem uma tarifa zero nos mercados da SADC.

7.7. Portos, Transportes e Comunicações

Moçambique possui quatro portos primários. O Porto de Maputo, com o volume de tráfego mais alto a nível regional, tem uma capacidade instalada de 9,3 milhões de toneladas por ano com terminais para pescado, navegação marítima, carga geral, carvão, fruta/citrinos, açúcar, melaço, contentores, e aço.

O Porto da Beira, o segundo maior, em termos de volume mais alto de tráfego, possui uma terminal marítima para contentores, importação de combustíveis e uma facilidade de produção de cerveja.

O Porto de Nacala, de águas profundas que não requer dragagem, possui uma capacidade de 2,6 milhões de toneladas por ano.

O Porto da Matola, próximo do Porto de Maputo, tem uma capacidade instalada de 4,75 milhões de toneladas por ano com terminais de carvão, combustível, cereais e alumínio.

Há bastante tempo que a infra-estrutura de transportes tem dado uma focalização regional, direccionada para os países vizinhos do hinterland e para a África do Sul. Através dos portos 13AGOA: Africa Growth Opportunity Act

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de Maputo, Beira e Nacala, Moçambique torna-se um país de trânsito importante para as importações e exportações da África do Sul, Swazilândia, Zimbabwe, Malawi e Zâmbia.

7. 8.Indústria

Apesar de ser em pequena escala, o sector manufactureiro tem estado a registar um crescimento significativo desde 1998, contribuindo em ¼ para o PIB (2002). A MOZAL, é o maior contribuinte, com um investimento avaliado em 2,2 biliões de USD cujas operações iniciaram em 2001. Outros sectores manufactureiros estão concentrados em poucos sub-sectores, fundamentalmente processamento de alimentos e bebidas.

Do ponto de vista de desenvolvimento de exportações, no sub-sector manufactureiro, existem oportunidades a nível da AGOA e acesso livre de taxas para o mercado sul-africano sendo necessário no entanto a melhoria da sua competitividade em termos de preços.

A indústria de bebidas registou um crescimento rápido, devido principalmente aos investimentos de grandes companhias estrangeiras tais como a Coca-Cola, SABs e Parmalat. A característica destes sub-sectores é o facto de utilizarem mão-de-obra intensiva, criando uma oportunidade ímpar para criação de postos de trabalho em grande escala.

No sector de serviços, com destaque para a indústria de turismo, portos é uma mais-valia abrindo espaço para uma maior competitividade a nível do mercado regional.

8. Sectores da Economia Nacional com Potencial Competitivo no Mercado Regional

No processo de integração regional, a integração económica desempenha um papel central, constituindo o comércio seu

motor, visto que o processo tem como presuposto a criação de um amplo e único mercado regional. Neste contexto, com a criação da Zona de Livre Comércio da SADC e à posteriori da Zona de Livre Comércio Tripartida COMESA-EAC-SADC vários desafios se colocam perante a economia nacional moçambicana, nomeadamente, a capacidade de concorrência face a outros produtos oriundos dos países da região e de competitividade dos seus produtos noutros países da região. Para este efeito, a capacidade produtiva e de competitividade da indústria nacional afiguram-se como factores fundamentais.

Para uma maximização dos benefícios proporcionados pelo mercado regional, seria fundamental a identificação de sectores específicos da economia nacional susceptíveis de oferecerem vantagem comparativa vis-à-vis mercado regional, os quais poderiam merecer a devida atenção com vista a potenciá-las, quer ao nível da competitividade interna quer ao nível da exportação.

Considerando as potencialidades em termos de recursos naturais e de economia nacional, as quais condicionam, grosso modo, o desenvolvimento de sectores da economia nacional, com maior competitividade, orientados para a mão-de-obra intensiva, nomeadamente, a agricultura, as pescas, a indústria (manufatureira e mineira) e serviços (turismo, energia, transportes e portos).

8.2. Agricultura

Tomando em consideração a localização estratégica, as condições climáticas e fertilidade dos solos, a abundância de recursos hídricos, a pluviosidade adequada, Moçambique tem condições naturais para se tornar num fornecedor substancial de produtos agrícolas na região. A gama de produtos agrícolas com potencial para exportação inclui as principais culturas (castanha, coco, algodão, açúcar, tabaco); horticultura (toranja, flores, vegetais); culturas alimentares básicas (milho, arroz, mandioca) e

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culturas de diversificação (feijões, leguminosas, oleaginosas, amendoim).

Entretanto, com vista a incrementar a sua capacidade de exportação de produtos agrícolas, Moçambique deverá superar alguns constrangimentos, nomeadamente, baixa produtividade, incapacidade para cumprir com requisitos estrangeiros para controlo SPS (Medidas Sanitárias e Fitossanitárias); capacidade limitada de agro-processamento; elevados custos de sementes e insumos para culturas de exportação; organização de produtores ineficaz; elevados custos de transportes; e serviços limitados de desenvolvimento de exportações, tais como gestão pós-colheita, financiamento e assistência na observância de normas de importação estrangeiram.

8.3. Pescas e Indústria Pesqueira

Até 2001, i.e. antes do funcionamento pleno da MOZAL, a indústria pesqueira era a fonte principal de receitas em divisas para a economia nacional em Moçambique. Assim, o país poderia explorar oportunidades para a expansão de exportação de produtos marinhos não tradicionais, tais como alga marinha cultivada, peixe fresco e aquacultura de camarão. O país poderia, igualmente, apostar no pescado de alto valor, cuja maior parte goza de tarifa zero no mercado da SADC. A aposta na formação dos pescadores artesanais no processamento e técnicas pode contribuir para a captura de pescado com alto valor.

Com efeito, há necessidade de melhorar as condições de armazenagem a frio, capacidade de transportes e das facilidades de processamento em terra com vista a acomodar as exigências de qualidade do mercado de exportação. Por um lado, as agências de normalização de qualidade devem reforçar a sua capacidade para certificação de produtos

destinados à exportação, por outro lado a indústria tem que melhorar padrões para cumprir com as exigências de SPS. Como forma de tirar maior proveito neste sector bem como para a sustentabilidade dos recursos deve-se apostar no combate a pesca ilegal.

8.4. Energia

A existência de redes de energia regional poderão proporcionar uma maior facilidade na distribuição e a baixo custo através da sua interligação. Neste contexto, Moçambique poderá fazer o devido aproveitamento do enorme manancial de recursos energéticos, sobretudo renováveis, a seu dispor e transformando-se num dos maiores produtores e fornecedores regionais de electricidade.

A cooperação regional na área de recursos hídricos, com vista a gerar energia hidroeléctrica é essencial para responder à crescente demanda, particularmente no âmbito do desenvolvimento industrial e em geral do desenvolvimento económico regional.

8.5. Portos, Transportes e Comunicações

A localização estratégica dos portos de Nacala, Beira e Maputo, como portas de acesso para o mar para os países do hinterland, através de igual número de corredores e a possibilidade de integrar portos, transportes marítimos e cabotagem, caminhos-de-ferro, transporte rodoviário, terminais e armazéns e centros de distribuição, oferecem condições objectivas para Moçambique desempenhar um papel importante e tirar benefícios na integração regional. Neste contexto, o país deverá potenciar esta área em virtude das vantagens comparativas que detém.

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8.6. Turismo

O turismo é um dos mais promissores no sector de serviços, contribuindo, em 2009, com 2,2% para o PIB de Moçambique. A atracção de elevado número de turistas para o interior do país, em virtude da beleza natural, vida selvagem e da cultura, constitui factor a considerar para o desenvolvimento do sector, contribuindo assim para a geração de emprego e providenciando rendimentos para a população vivendo na pobreza nessas zonas. Neste contexto, tendo em conta que ¾ dos turistas que visitam o país são oriundos da África do Sul, para Moçambique a integração do turismo regional deverá constituir prioridade no desenvolvimento do sector.

Entretanto, registam-se constrangimentos que deverão ser levados em linha de conta, nomeadamente infra-estruturas subdesenvolvidas, onerosas e de qualidade abaixo dos padrões internacionais. Assim, há necessidade de melhorar o transporte aéreo, a rede de estradas, a distribuição de energia, as telecomunicações, a qualidade no fornecimento de água potável e gestão de resíduos sólidos. Áreas com potencial turístico deveriam ser objecto de uma planificação no quadro de desenvolvimento integrado.

8.7. Indústria

O sector de indústria manufactureira em Moçambique, apesar de ser pequeno, tem vindo a crescer significativamente a partir de 1998, por conseguinte, contribuindo em ¼ do PIB em 2002. Entretanto, do ponto de vista de desenvolvimento de exportações, alguns subsectores baseados na mão-de-obra intensiva e cujos produtos gozam de acesso preferencial ao mercado regional e do resto do mundo incluem o couro, artigos de couro, têxteis, confecções, processamento de alimentos e sumos de fruta.

CONCLUSÕES

1. Nas últimas três décadas, o objectivo da SADC foi de preservação da paz e estabilidade, tendo em conta a importância destes para a implementação bem-sucedida de políticas de desenvolvimento económico.

2. No âmbito da integração económica o comércio constitui um factor importante para o processo de integração económica regional. A par do comércio, sector de infra-estruturas, indústria, agricultura, finanças e investimento, tem um potencial catalisador susceptível de induzir um rápido crescimento económico e desenvolvimento sustentável.

3. No âmbito da edificação do direito comunitário para uma efectiva integração regional, é fundamental a harmonização do quadro jurídico/legal dos Estados-Membros e a criação de mecanismos de modo a que a haja um “comando executório”, no respeitante às decisões tomadas pelos diversos órgãos da SADC – Cimeira, Conselho de Ministros e Tribunal.

4. Torna-se vital e urgente a identificação de sectores específicos da economia nacional explorando a vantagem comparativa, especializando-se na produção e/ou exportando com eficiência relativamente maior, privilegiando investimento em tais domínios. Convém referir que as potencialidades existentes per si não constituem vantagem comparativa, por conseguinte, elas devem ser transformadas em vantagem comparativa.

5. Tendo em vista a operacionalização dos objectivos do seminário, afigura-se pertinente a definição de uma metodologia visando o desenvolvimento de um Roteiro/Matriz de Acção no qual deverão figurar os elementos seguintes:

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• Objectivos;• Acções;• Horizonte temporal;• Intervenientes/responsabilidades;• Resultados.

6. O estabelecimento de um Grupo de Trabalho multi-sectorial e multi-disciplinar para a elaboração de um Programa de Acção (i.e. incluindo Roteiro/Matriz de Acção) de Moçambique no âmbito da integração regional na SADC/África Austral, ofereceria uma boa base para conferir maior coerência ao exercício da sua formulação e de execução.

7. É, igualmente, importante uma organização institucional que providencie e assegure os recursos (humanos e financeiros) necessários para a realização das tarefas (responsabilidades e funções) decorrentes da implementação da Estratégia pelos sectores envolvidos no processo de execução.

Presidium do Seminário sobre Integração Regional.

“[…] Que a experiência de Unidade e coesão vivida no seio dos países da Linha da Frente pela luta de libertação política dos povos seja também estendida a todos os países e governos de maioria da África Austral na luta pela libertação económica. Trata-se agora da luta pela libertação económica dos nossos países em particular de reduzir a dependência em relação à África do Sul. Não devemos ter receio em dizer que queremos reduzir a dependência em relação à África do Sul. No entanto, clarificamos que não estamos a declarar guerra à África do Sul. […] Constatámos que a nossa gente está alienada. Recusamos um produto só porque traz “Made in Zâmbia” ou Tanzania, mas compramos o mesmo produto se trouxer a marca “Made in South África”. É nossa obrigação libertar a mentalidade daqueles que vão executar as nossas decisões. […] Sem esta libertação de mentalidades, não podemos avançar. Esta prática consequente vai permitir o alargamento constante das áreas de cooperação entre os nossos Estados. […]”

- Samora Moisés Machel14

14 “ÁFRICA AUSTRAL: REDUZIR PILHAGEM DAS MATÉRIAS-PRIMAS, REDUZIR A DEPENDÊNCIA DO IMPERIALISMO”. Discurso proferido pelo Presidente Samora Moisés Machel por ocasião da Cimeira de Lusaka. Lusaka, 31 de Março de 1980

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OPORTUNIDADES PARA MOÇAMBIQUE NO ÂMBITO DA INTEGRAÇÃO REGIONAL NA SADC/ÁFRICA AUSTRAL

(Comentário ao texto de Domingos Estevão Fernandes)

Por: Paulo Mateus António Uache

Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique;

Distintos convidados;

Minhas Senhoras e Meus Senhores;

Permitam-me, em primeiro lugar, agradecer ao Gabinete de Estudos da Presidência da República pelo convite que me endereçou para fazer o comentário deste tema. Quero igualmente saudar e parabenizar o Dr. Domingos Fernandes, pela abordagem sistematizada e clara do tema: “Oportunidades para Moçambique no Âmbito da Integração Regional na SADC/África Austral”.

Falar de oportunidades para Moçambique no âmbito da Integração Regional na SADC torna-se um assunto complexo por duas razões: (1) a percepção que existe de que a identificação de oportunidades deve enquadrar-se numa análise que identifique também as forças, as fraquezas e as ameaças. (2) O facto de pela sua natureza as oportunidades estarem viradas para o futuro, tornando-se assim, vulneráveis as dinâmicas políticas, económicas e sociais que ocorrem ao longo do tempo.

Apesar das dificuldades acima apresentadas, o Dr. Domingos identificou as principais potencialidades económicas de Moçambique, e concluiu que estas não constituem vantagem comparativa per se, daí que sublinhou a necessidade de estas serem transformadas em vantagens comparativas. Diante desta constatação urge questionar; o que é necessário para transformar as potencialidades/oportunidades em vantagens comparativas?

Das várias respostas possíveis destaca-se a preponderância dos Recursos Humanos e da Diplomacia.

Mas porquê Recursos Humanos?Entendo que os Recursos Humanos estão no centro do desenvolvimento de qualquer sociedade. E por isso, no âmbito da integração regional, estes se tornam um elemento fundamental para que as oportunidades para Moçambique se materializem. Mas os recursos humanos só desempenharão esta função de forma eficiente se tiverem o conhecimento. Aqui temos que considerar conhecimento como o acesso a informação e como acesso a tecnologia.

O conhecimento como acesso a informação é fundamental para que os cidadãos produzam com certeza de que terão mercado, seja ele doméstico ou internacional. Mas o problema reside a vários níveis: quem vai produzir tal informação? E sobretudo como divulgá-la? Parafraseando o Dr. Domingos diria que o estabelecimento de um grupo de trabalho multi-sectorial e multi-disciplinar que se encarregasse da recolha, processamento e divulgação da informação relevante seria uma das saídas. Quanto à forma de divulgação, o leque de possibilidades vai desde os meios de comunicação mais tradicionais tais como a rádio, a televisão, os jornais,

Dr. Paulo Uache no uso da palavra

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aos mais recentes como a internet e a telefonia móvel.Quando falo da telefonia móvel, quero especificamente me referir aos serviços de SMS. Quer me parecer que o uso destes serviços para divulgar as informações do mercado doméstico e internacional pode trazer uma mais-valia para os vários sectores produtivos nacionais. Uma das provas, de que o uso das SMS pode ser um canal útil para a difusão de informação relevante, é o facto de as operadoras usarem este sistema para publicitar os seus produtos. Mas a eficiência desta informação requereria uma forte parceria público-privada.

O conhecimento como tecnologia é importante para que os produtos do País tenham a qualidade requerida, tanto para o mercado doméstico como para o mercado internacional. Aqui, as instituições de ensino técnico médio, superior e as empresas têm um papel preponderante. Ao mesmo tempo que o Estado tem a responsabilidade de financiar a investigação tecnológica, de modo a que os cientistas nacionais transformem o conhecimento universal em conhecimento local. Essa transição é fundamental para que a tecnologia utilizada responda às necessidades concretas de Moçambique.

E porquê Diplomacia?

A preponderância da diplomacia advém do facto de a integração regional ser eminentemente um campo de Relações Internacionais. E como é sabido, as Relações Internacionais ocorrem num Sistema Internacional que é anárquico. Um sistema em que cada Estado procura alcançar o seu interesse nacional, que consiste em providenciar aos seus cidadãos a segurança, a prosperidade e a defesa dos valores centrais. Apesar de se afirmar que a integração baseia-se na cooperação, não significa necessariamente que os Estados respeitam os interesses colectivos, muito pelo contrário às vezes perseguem os seus interesses individuais prejudicando os colectivos. Daí que a diplomacia seja preponderante para ultrapassarem-se as diferenças. O carácter pacificador da diplomacia se torna um instrumento fundamental no âmbito da integração regional na SADC para que a materialização das oportunidades seja possível.

Para além da diplomacia tradicional, em que os actores são apenas os Estados, é importante também que Moçambique no âmbito da Integração fortifique a sua Diplomacia pública. Esta é entendida como toda acção formal ou informal, pública ou privada que os Estados desencadeiam com vista a influenciar o público de outros Estados. A concessão de bolsas de estudo aos países da região, por exemplo, pode parecer uma aventura para um país com parcos recursos como Moçambique. Mas a longo prazo, o seu resultado pode ser muito positivo porque se hoje a história de resistência contra o colonialismo une os países da região, com o passar do tempo este elemento vai se enfraquecendo. As bolsas de estudo podem ser uma das formas de criar laços duradouros entre os povos dos Estados da região e dessa forma diminuir prováveis futuros pontos de fricção entre os Estados membros da SADC. As bolsas de estudo parecem ter a capacidade de criar uma espécie de dívida moral, e nesse sentido, podem ser fundamentais na materialização das oportunidades de Moçambique na região a vários níveis: político, económico e social.

A expansão das empresas nacionais para os países da região ou no mínimo, a publicitação dos seus produtos de exportação naqueles países são também uma forma de diplomacia pública. E quer me parecer que se o produto tem qualidade, não só aumenta a demanda, mas aumenta também o prestígio do país de origem desse produto. Outras acções como palestras e seminários com organizações não governamentais, universidades, confissões religiosas dos países da região podem ser de grande importância na materialização das oportunidades de Moçambique no âmbito da integração regional. Assim, as potencialidades que Moçambique possui nas áreas de agricultura, pesca, energia, portos, transportes e comunicações, turismo e indústria podem materializar-se de forma benéfica para Moçambique se o povo tiver conhecimento e a projecção da imagem positiva do país continuar a ser uma preocupação constante da nossa diplomacia. Reconheço que os meios que apresento como aqueles que melhor transformariam as oportunidades em vantagens comparativas são de longo prazo, porque entendo que a curto prazo os ganhos económicos serão mínimos, sendo nesta primeira fase a estabilidade política da Região o ganho mais visível. Obrigado.

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“[…] Se a terra ainda não está libertada significa que continuaremos vigorosamente o nosso combate até libertarmos a terra, cercaremos o punhado de gente que se põe a controlar a nossa terra. Não faz sentido a nossa Independência enquanto a terra continuar nas mãos de um punhado de gente. Significa que ainda não somos independentes. Moçambique ainda não está livre, o Povo ainda não está libertado. […] A terra pertence ao Povo, a terra é controlada pelo Estado. A terra foi libertada pelo Povo, só o Povo é que pode controlar a nossa terra. […] É o Povo que trabalha a terra, portanto a terra pertence ao Povo. […] E, isso veio na Constituição de Moçambique. Ouviram? […]”

– Samora Moisés Machel15

COMO USAR A ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO DE TERRAS PARA A PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Por: Sérgio Baleira 1. Notas Introdutórias

O presente documento aborda a problemática da Administração e Gestão da Terra para o Desenvolvimento Sustentável em Moçambique. O documento é produzido no contexto da realização do debate sobre o assunto organizado pela Sociedade Civil interveniente na área da gestão da terra e dos recursos naturais em Moçambique, através do Centro Terra Viva (CTV), a convite do Gabinete de Estudos da Presidência da República e para o qual o Centro de Formação Jurídica e Judiciária foi convidado a partilhar a sua experiência.

O documento está dividido em três principais momentos. No primeiro momento realiza-se a contextualização de todo o trabalho, através da apresentação de uma breve introdução, dos objectivos e da metodologia usada. No segundo momento é feito o enquadramento teórico e conceitual da administração e gestão de terras, bem como a caracterização do sistema de administração e gestão de terras em Moçambique e o levantamento dos principais problemas que este enfrenta. No terceiro e último momento são apresentadas algumas propostas de solução ou melhoria do sistema nacional de administração e gestão de terras.

2. Objectivos

O principal objectivo desta comunicação é discutir os aspectos críticos da administração e gestão de terras para a promoção do desenvolvimento sustentável em Moçambique tanto do ponto de vista sistémico – análise institucional –, quanto do ponto de vista prático – a actuação dos actores na implementação das directrizes estabelecidas.

15 “REPÚBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUE: A PRIMEIRA OFENSIVA DO GOVERNO”. Discurso do Presidente Samora Moisés Machel proferido no comício do Estádio da Machava para o anúncio das primeiras medidas importantes adoptadas após a Primeira Sessão do Conselho de Ministros da República Popular de Moçambique, e que durou dezasseis dias. Maputo, Julho de 1975

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3. Metodologia

O trabalho foi desenvolvido com base em duas principais orientações metodológicas. A primeira consistiu na compilação e análise da legislação e da informação já produzida sobre a questão da administração e gestão de terras em Moçambique, sobretudo relatórios de estudos e pesquisas de campo. A segunda orientação consistiu num levantamento rápido de informação junto dos sectores intervenientes no processo de administração e gestão de terras em Moçambique, da Sociedade Civil e de especialistas na matéria.

O acervo de informação da investigação e das actividades de formação do pessoal do Sistema Judiciário, do Sector Público em geral, da Sociedade Civil e das Comunidades Locais no domínio do “Direito dos Recursos Naturais e Desenvolvimento”, produzido pelo Centro de Formação Jurídica e Judiciária, constituiu igualmente uma importante referência para a produção da presente comunicação.

Procurou-se abordar a questão da forma mais clara e objectiva possível, sobretudo no que diz respeito a importância e aos problemas que a questão da terra em Moçambique levanta para o desenvolvimento sustentável, para o combate a pobreza e para a

estabilidade social, de modo a permitir a maior participatividade possível no debate.

Levando em consideração os Termos de Referência definidos para a elaboração da presente comunicação e para o debate e as principais partes nele representadas – Sector Público e Sociedade Civil –, a presente comunicação tende a orientar-se para a análise das questões sociais da administração e gestão de terras em Moçambique, com especial enfoque ainda para a questão do papel das comunidades locais no processo de desenvolvimento sustentável.

4. O que é um Sistema de Administração e Gestão de Terras

4.1 Conceito de Administração e Gestão de Terras

Como ocorre em qualquer área de conhecimento, os objectos de estudo podem ser resgatados a partir de diferentes perspectivas, resultando em conceituações mais ou menos genéricas e mais ou menos consensuais.

Na área da administração da terra referências conceptuais importantes são dadas pela Organização das Nações Unidas. Uma por parte da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), que define a administração de terras como sendo “a forma através da qual as normas do Direito da Terra são aplicadas e operacionalizadas”. Outra é do Conselho Económico para a Europa (UN-ECE) que considera que a administração de terras consiste no processo de “definição, registo e disseminação da informação sobre propriedade, valor e uso da terra para a implementação das políticas de gestão da terra”.

De certa forma, os conceitos compreendem vários subsistemas e processos para se administrar a atribuição dos direitos a terra (alocação, transacções/transferências, gestão de conflitos),

Dr. Sérgio Baleira durante a sua alocução

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controlo/monitorização do uso da terra (normas, planos de uso, conflitos) e os aspectos económicos (rendimentos, valoração).

Uma forma talvez mais prática de conceituação e a que se nos apresenta mais adequada para os objectivos da presente comunicação consiste na separação das noções mais estritas de Administração e de Gestão. Nesse sentido, pode-se considerar que a gestão de terras, por sua vez, diz respeito às actividades que são realizadas numa perspectiva económica e ambiental, orientadas para o desenvolvimento sustentável.

Desenvolvimento sustentável é aqui considerado como sendo o “desenvolvimento baseado numa gestão ambiental que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer o equilíbrio do ambiente e a possibilidade das gerações futuras satisfazerem também as suas necessidades”15 .

4.2 Os Pilares de um Sistema de Administração e Gestão de Terras

A definição dos elementos constitutivos de um sistema de administração e gestão de terras é normalmente menos consensual que o próprio conceito de administração e gestão de terras. No entanto, as noções acima apresentadas sugerem que um sistema ideal de administração e gestão de terras deve ser sustentado por 4 (quatro) pilares, designadamente, a) Uma Política e um Quadro Legal, que regule todos os actos nele implicados; b) Um Quadro Institucional e uma Estrutura Organizacional, conjunto de instituições / entidades que participam do processo de administração e gestão de terras; c) um Plano Geral de Uso da Terra (ou Ordenamento do Território) e seu Sistema de Monitorização; e, d) Um Sistema de Gestão de Informação sobre Terras (Land Information Management System – LIMS).

5. Administração de Terras e Desenvolvimento Sustentável

A administração e gestão de terras é uma actividade que se pressupõe, uma vez realizada correctamente, resultar no desenvolvimento sustentável. Do ponto de vista técnico, ela restringe-se a “definição, registo e disseminação da informação sobre propriedade, valor e uso da terra” que, por sua vez, são usadas para a implementação das políticas de gestão da terra.

Ou seja, a administração e gestão de terras é simplesmente parte de um conjunto de actividades importantes ou indispensáveis para a promoção do desenvolvimento sustentável, incluindo-se aí, questões mais concretas como o combate a pobreza e a promoção do bem estar em ambiente de estabilidade social.

O quadro abaixo procura representar através de um diagrama a dinâmica do funcionamento ideal de um sistema de administração e gestão de terras tendo em vista a promoção do desenvolvimento sustentável.

15Lei n° 19/2007, de 18 de Julho – Lei do Ordenamento do Território.

Plano Geral de Uso daTerra / Ordenamento

Territorial

Quadro Institucional eEstrutura

Organizacional

Política eQuadro Legal

(orientados paraequidade social)

Sistema de Gestãode Informaçãosobre Terras

Desenvolvimento Sustentável(combate a pobreza e estabilidade social)

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6. A Resposta Nacional aos Problemas da Administração e Gestão de Terras

6.1 O Modelo Geral de Resposta Nacional

Sempre existiu a nível das autoridades moçambicanas uma evidente preocupação relativamente à problemática da administração e gestão de terras para a qual se tem desenvolvido uma resposta nacional. Como ocorreria em qualquer sistema de administração e gestão de terras, a resposta nacional estrutura-se em dois principais eixos:

a) A definição dos instrumentos de administração e gestão, designadamente a Política de Terras, o quadro legal propriamente dito, o programa de governo e outros documentos normativos e orientadores; e,

b) A implementação dos instrumentos de administração e gestão de terras por parte das entidades competentes.

Constata-se a existência de uma grande desfasagem entre os dois eixos da resposta nacional. A desfasagem caracteriza-se essencialmente por a nível do eixo da definição dos instrumentos haver um maior sentido de Estado na administração e gestão de terras, enquanto a nível do eixo da implementação observa-se um maior sentido de Governo.

O sentido de Estado consiste na definição de um quadro legal de equidade e justiça social, a preocupação de se manter o Estado como o guardião de todos os Direitos de Uso e Aproveitamento da Terra através do regime de propriedade exclusiva da terra pelo Estado; o reconhecimento jurídico dos direitos “originais” das Comunidades Locais e o direito dos cidadãos particulares de requerer terra para fins legítimos; a redistribuição da riqueza, incluindo a proveniente da terra, através dos programas e planos do governo, etc..

Ou seja, considera-se que a República de Moçambique possui uma Lei de Terras “muito boa”. A legislação nacional de um modo geral, e legislação sobre terras em particular, e os programas do governo e outros instrumentos normativos e orientadores constituem evidências dessa constatação.

Dois pilares do Sistema de Administração e Gestão de Terras podem ser considerados criticamente fracos. Um é o pilar referente a um Plano Geral de Uso da Terra e seu Sistema de Monitorização e Avaliação. Outro é o pilar do Sistema de Gestão de Informação sobre Terras (LIMS).

Quanto ao plano geral de uso da terra e/ou ordenamento territorial, pode se dizer que até hoje, o instrumento de referência de que o Estado beneficia é o Zoneamento Agro-Ecológico realizado em 2008 pelo Instituto de Investigação Agrária (IIAM) e Direcção Nacional de Terras e Florestas (DNTF), através do qual foram identificados cerca de 6.996.030 hectares disponíveis para o desenvolvimento de actividades agrícolas. Tecnicamente considera-se que o processo oferece grandes margens de erro devido a aplicação da escala de 1:1.000.00016 . Quanto aos LIMS, o sistema nacional de administração e gestão de terras não possui hoje um instrumento considerado operacional, ou que cumpre as exigências do momento. Este encontra-se neste momento em construção por parte da DRTF com apoio técnico do Programa Millennium Challenge Account – componente de Acesso Seguro a Terra.

Já a nível do eixo da implementação, considera-se que o sentido de Governo presente na administração e gestão de terras, consiste na inexistência de uma abordagem que de facto realize o que foi definido pelo Estado relativamente a este recurso base do desenvolvimento económico do país e de combate a pobreza, seja na perspectiva colectivista, seja em termos individuais dos

16 Schut Marc. et al,2010. Working Towards Sustainability: Learning experiences for Sustainable Biofuel Strategies in Mozambique. Wageningen University, 17’.

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cidadãos. Observa-se na prática a inexistência de um mecanismo eficaz de controlo de conflitos de interesses, questão fundamental para o combate contra a corrupção e promoção da transparência dos actos públicos e Regista-se ainda uma grande escassez de recursos materiais e de recursos humanos devidamente capacitados para o efeito esta situação fragiliza acentuadamente a correcta implementação dos quadros legal, normativo e orientadores do próprio Estado na administração e gestão de terras.

Estudos realizados sobre o sector público nacional, e em particular a nível da área da administração e gestão de terras revelam a existência de um índice expressivo de práticas ligadas a conflitos de interesse, em estreita relação com os factores “Limitação Técnica” dos funcionários, “Corrupção” e “Má Governação”. No que respeita ao factor “limitação técnica”, por exemplo, amostras dos quadros de pessoal da área de cadastro e agrimensura aos níveis central (DNTF) e provincial (Serviços Provinciais de Geografia e Cadastro - SPGC) observa-se uma grande escassez de técnicos superiores, havendo mesmo províncias sem técnicos superiores nessa área. A nível da DNTF, por exemplo, existe apenas 1 técnico superior especialista na matéria. A nível dos distritos as limitações técnicas são um grande constrangimento e está quase totalmente dependente dos também escassos quadros dos SPGC. Essa situação não facilita a resposta às necessidades de serviço e ao aprimoramento progressivo das metodologias de trabalho, tornando fraco o sistema de administração e gestão de terras.

6.2 Consequências Lógicas do Modelo Geral de Resposta Nacional

A avaliação dos resultados práticos do sistema nacional de administração e gestão de terras apontam de forma clara para uma situação em que as autoridades competentes se sentem na obrigação de gerir o recurso terra, tendo como base as orientações governativas em detrimento das orientações do Estado. De facto, pela simples condição humana, não se pode garantir que

as orientações governativas estejam sempre de acordo com os instrumentos legais, normativos e orientadores que representam o Estado, sendo desejável que, do ponto de vista de metodologia de trabalho e das boas práticas, a autoridade técnica reequacione os interesses de forma equilibrada e transparente.

As limitações técnicas das instituições, sobretudo em matéria de recursos humanos qualificados, a corrupção e a Má Governação, aliadas ao modelo de estrutura organizacional do sector, constituem a razão de base de prevalência dessa situação que consubstancia uma espécie de supremacia governativa sobre os interesses do Estado. Um problema simplesmente estrutural e não necessariamente político.

Um exemplo paradigmático concreto dessa situação é o processo de resolução de conflitos no acesso e uso da terra e dos recursos naturais entre os Investidores Privados (e o Estado) e as Comunidades Locais. Os gráficos abaixo sugerem a existência de um grande nível de conflitualidade deste tipo a nível nacional, representando cerca de 71 %:

Este tipo de exemplos pode ser considerado cabalmente ilustrativo por constituir o corolário de situação que efectivamente tendem a reflectir um processo juridicamente contraditório de

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administração e gestão de terras e outros recursos naturais. O acompanhamento sistemático dos processos de resolução de conflitos entre comunidades locais e investidores privados nos últimos 7 anos revela que por um lado grande parte da conflitualidade nesta área é dirimida pelas autoridades político-administrativas e resultam quase sempre na perda do DUAT das comunidades locais, apesar dos reconhecidos direitos adquiridos destas sobre os recursos em causa.

Por outro lado, embora em número bastante reduzido, o mesmo tipo de disputas, desta feira resolvidas em sede das autoridades judiciárias resultam quase exclusivamente no reconhecimento dos direitos das comunidades locais e na manutenção do seu DUAT.

Ou seja, do ponto de vista técnico, a postura da administração e gestão de terras tem resultado na transformação das imprecisões, falta de transparência e inconsistências técnicas em disputas “políticas” concretas onde os desfechos são determinados pelo poder e não pela razão. A situação é bem representada pelas inúmeras autorizações de pedidos de DUAT para áreas sobre as quais recaem os direitos das comunidades locais.

Um outro facto exemplar ilustrativo da fraca observância da legislação e nas orientações normativas por parte das entidades competentes na administração e gestão de terras, são as já clássicas solicitações por parte dos diferentes grupos-alvo das formações e capacitações no domínio do Direito dos Recursos Naturais e Desenvolvimento: “Nós já sabemos de tudo isso. Vocês deveriam, é capacitar os nossos dirigentes”17.

O acompanhamento sistemático da situação revela ainda que como resultado do modelo de estrutura organizacional da administração e gestão de terras actualmente existente, que caracterizado pela prevalência do sentido de Governo sobre o sentido de Estado, os técnicos das autoridades competentes trabalham em situação constante de alta pressão e tensão, o sistema judiciário sente sua independência condicionada, o investidor privado sente-se inseguro, as comunidades locais consideram-se injustiçadas e a Sociedade Civil vê-se marginalizada.

7. Os Principais Problemas da Administração e Gestão de Terras em Moçambique

Este modelo de administração e gestão de terras parece constituir um ambiente propenso para o surgimento dos problemas mais concretos que actualmente se vivem nesta área de actividades em Moçambique.

Expomos a seguir os problemas que se nos apresentam mais representativos das grandes preocupações que actualmente se vivem em Moçambique no campo da administração e gestão de terras.

7.1 Necessidade de Reestruturação Orgânica da Entidade Responsável pela Administração e Gestão de Terras

17Veja Relatórios dos Cursos de Capacitação em Direito dos Recursos Naturais e Desenvolvimento, do Centro de Formação Jurídica e Judiciária.

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Como inicialmente se sugeriu, as funções da administração e gestão de terras são consideradas subsidiárias, e não integrantes, das funções de planeamento para o desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, o sistema de administração e gestão de terras devem funcionar discretamente, ou seja, separadamente de qualquer função de planificação e desenvolvimento propriamente dita18.

A entidade central responsável pela administração e gestão de terras em Moçambique é a DNTF, que por um lado acumula funções que transcendem a problemática própria da administração e gestão de terras, como por exemplo a gestão das florestas e da fauna bravia, e por outro lado, apesar de superintender o sector a escala nacional, em termos práticos, a integração do sistema é limitada pela autonomia e independências os serviços municipais.

A nível interno do sistema, considera-se ainda que há necessidade de reorganização/reestruturação dos diferentes serviços através dos quais se deve realizar a administração e gestão de terras, tais como os serviços de cartografia e os serviços de cadastro19.

Externamente, observa-se a necessidade de clarificação e reajustamento de serviços tais como o cadastro de terras, o registo predial, o ordenamento territorial, etc., que implicam relações interinstitucionais, entre vários ministérios, designadamente o Ministério da Agricultura, o Ministério da Justiça, o Ministério da Administração Estatal, o Ministério do Plano e Desenvolvimento, o Ministério da Coordenação da Acção Ambiental e o Ministério do Turismo20.

Isso significa, em grande medida, que a administração e gestão de terras é essencialmente uma função de carácter técnico

científico, devendo, a prior e idealmente, funcionar à parte das funções governativas, apoiando-as tecnicamente em informação para a correcta tomada de decisões.

A nível local, apesar do reconhecimento legal dos sistemas costumeiros de administração e gestão de terras considera-se que a inexistência de estruturas formais representativas das comunidades para estes efeitos torna frágil o sistema. Apesar do esforço legislativo desencadeado para melhorar a representação das comunidades nos processos de consulta comunitária, através da harmonização das leis de Terras e dos Órgãos Locais do Estado será de extrema importância acautelar-se a não corrosão dos direitos privados, estabelecidos por lei, de uso e a aproveitamento de terra das comunidades locais.

Ou seja, o Sistema de Administração e gestão de terras em Moçambique apresenta deficiências relativas a estrutura organizacional (interna e externa), competências institucionais, relações interinstitucionais, e de descentralização ao nível comunitário.

7.2 Necessidade de Desenvolvimento de um Plano Geral de Uso da Terra / Ordenamento do Território

A administração e gestão de terras não pode ser correctamente realizada se não tiver como base de orientação um Plano Geral de Uso da Terra ou, se quisermos, um Ordenamento do Território que inclua o nível de planificação de uso deste.

É o “conjunto de princípios, directrizes e regras que visam garantir a organização do espaço nacional, através de um processo dinâmico, contínuo, flexível e participativo na busca do equilíbrio entre o homem, o meio físico e os recursos naturais” e o desenho de “planos que definem as formas espaciais da relação das pessoas com o seu meio físico e biológico, regulamentando os seus direitos e as formas de uso

18 Land Equity International Pty Ltd. (2006) “Indicators of Sucess, Future Challenges”. Wollongong, Australia, Outubro de 2006. 19 HTSPE Lda. 2010 (Coord.). “Institutional Review and Design and Work Plans For Capacity Building”. DNTF/MCA-Moçambique. Maputo, Novembro de 2010.20 Idem.

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e ocupação do espaço físico” que garantirá correcta e eficaz administração e gestão de terras, assim como a promoção de um desenvolvimento sustentável21 .

Esses instrumentos assegurariam em termos práticos a facilidade e segurança das autoridades competentes na alocação de terras para os diferentes fins, atraindo e tornando os investimentos mais seguros, viáveis e propriamente sustentáveis, tanto em termos puramente económicos, quanto em termos ambientais.

7.3 Necessidade de Introdução de um Sistema de Informação e Gestão de Terras (LIMS)

O Sistema de Informação e Gestão de Terras (LIMS) actual da DNTF encontra-se com limitações técnicas de operacionalização, tendo-se decidido a sua substituição. Na realidade, o LIMS constitui o núcleo técnico científico de todo e qualquer sistema de administração e gestão de terras, garantindo em grande medida a qualidade dos serviços prestados pelas entidades competentes.

Levando em consideração o desenvolvimento progressivo do fenómeno de urbanização, tendências a nível mundial, e a identidade técnica comum “dos sistemas de administração e gestão de terras urbanas e rurais – que na realidade deve exactamente o mesmo - o sistema poderá ser usado de forma universal, constituindo a base do processo de integração dos diferentes, e por vezes contraditórios, sistemas existentes a nível da DNTF e das autoridades municipais.

7.4 Inconsistências na Interpretação de Alguns Aspectos do Quadro Legal

Regista-se aos diferentes níveis da sociedade moçambicana, nas esferas pública, privada e da sociedade civil, entendimentos diferenciados sobre alguns dos aspectos, por vezes centrais, do quadro legal da administração e gestão de terras, seja no domínio da Constituição da República – princípios constitucionais e direitos fundamentais dos cidadãos, seja no domínio da legislação específica de terras e recursos naturais. A experiência do CFJJ de formação de actores dos vários quadrantes da sociedade facultou evidências inequívocas sobre isso, levando a inclusão da problemática do conceito de Estado de Direito Democrático como nuclear das formações, capacitações seminários em matéria do Direito dos Recursos Naturais e Desenvolvimento.

7.4.1 Princípios Constitucionais Fundamentais

Soberania e Legalidade, Estado de Direito Democrático e Pluralismo Jurídico. O Estado Moçambicano instituiu constitucionalmente, como princípio fundamental, o pluralismo jurídico através do qual se “reconhece os vários sistemas normativos e de resolução de conflitos que coexistem na sociedade moçambicana, na medida em que não contrariem os valores e os princípios fundamentais da constituição”22 .

O princípio do Pluralismo Jurídico é construído em harmonia com os princípios da Soberania e Legalidade e Estado de Direito Democrático (e outros), através dos quais o Estado Moçambicano pretende alcançar os seus objectivos fundamentais.

Este princípio introduz o critério chave de valoração jurídica das diferentes normas costumeiras existentes na sociedade

22Constituição da República de Moçambique. Plural Editores. Maputo, Novembro de 2006.21I Lei n.° 19/2007, de 18 de Julho – Lei do Ordenamento do Território.

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moçambicana já consideradas à luz da Lei de Terras (1997) como válidas para a administração e gestão de terras, sobretudo a nível das comunidades locais.

No entanto, o domínio do direito estatutário sobre o imaginário social dos agentes das entidades estatais competentes na administração e gestão de terras, a cultura jurídica formal dos investidores privados e seus advogados, tem constituído um factor de secundarização e inobservância do direito costumeiro, sobretudo nas disputas pela terra e outros recursos naturais.

Nesse sentido, os objectivos fundamentais do Estado Moçambicano orientados directamente aos seus cidadãos, designadamente, a) a edificação de uma sociedade de justiça social e criação do bem-estar material, espiritual e de qualidade de vida dos cidadãos; b) a promoção do desenvolvimento equilibrado, económico, social e regional do país; c) a defesa e promoção dos direitos humanos e da igualdade dos cidadãos perante a Lei; d) o reforço da democracia, da liberdade, da estabilidade social e da harmonia social e individual; e) a promoção de uma sociedade de pluralismo, tolerância e cultura de paz; e, f) a afirmação da identidade moçambicana, das suas tradições e dos seus valores culturais, dificilmente poderão ser alcançados.

Sem o alcance destes objectivos fundamentais seria igualmente remoto, no presente estágio de desenvolvimento da sociedade moçambicana, pensar-se na promoção do desenvolvimento sustentável, do combate a pobreza, e da estabilidade social em qualquer das áreas de actividade económica, política, social e cultural, e muito menos ainda, na área da administração e gestão de terras.

O alcance destes objectivos está directamente dependente do correcto entendimento por parte de cada um dos agentes decisores do Estado destes princípios constitucionais fundamentais, incluindo os mecanismos de seu processamento,

tais como o princípio de separação e interdependência dos órgãos de soberania (poderes), designadamente o Presidente da República, a Assembleia da República, os Tribunais e o Conselho Constitucional, devendo obediência à Constituição e às leis.

A realidade vivida na área da administração e gestão de terras em Moçambique – mas também em outras áreas de actividade – revelam com clareza a existência de um grande défice de operacionalização dos princípios constitucionais e das leis, resultando na fraca observância dos direitos legalmente consagrados dos cidadão e, com isso, na fraca promoção da justiça social.

7.4.2 Lei de Terras

Entrando mais concretamente para a implementação da Lei de Terras, é possível identificar com precisão alguns aspectos que persistem complexos, levando a entendimentos diferenciados entre os vários actores. Enumeramos abaixo os que nos parecem ser mais importantes para o presente contexto.

O Conceito de Comunidades Locais. A Lei de Terras define comunidades locais como sendo “agrupamento de famílias e indivíduos, vivendo numa circunscrição territorial de nível de localidade ou inferior, que visa a salvaguarda de interesses comuns através da protecção de áreas habitacionais, áreas agrícolas, sejam cultivadas ou em pousio, florestas, sítios de importância cultural, pastagens, fontes de água e áreas de expansão”23 .

O conceito sugere que grandes áreas territoriais do Estado Moçambicano encontram-se sob a jurisdição das comunidades locais, o que, de princípio, tornaria extremamente escasso o recurso terra.

23 Lei n° 19/97 de 1 de Outubro. Lei de Terras.

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Interpretações mais radicais deste conceito de comunidade local, construídos sob uma perspectiva antropológica de ocupação territorial por parte dos vários grupos populacionais, permite mesmo considerar, pelo menos teoricamente, que não existe “terra livre e sem ocupantes” em Moçambique.

Este entendimento do conceito pode contrastar com os objectivos do Estado, expressos tanto na Constituição da República, quanto na Política Nacional de Terras e na própria Lei de Terras, que prevêem equidade e justiça social no acesso aos bens e recursos económicos24, instalando dúvidas sobre como interpretar correctamente o conceito. O Conceito de Ocupação. Uma das saídas para a questão da escassez do recurso terra, na perspectiva do conceito de comunidade local, pode ser encontrada com base na análise da ocupação da terra pelas comunidades locais.

A Lei de Terras não define o conceito de ocupação de forma substantiva, referindo-se a ele apenas no sentido subsidiário de meio através do qual pessoas singulares nacionais e comunidades locais podem adquirir o DUAT. Conjugado com a definição de delimitação do Anexo Técnico ao Regulamento da Lei de Terras, pode-se considerar que existe uma certa tendência, embora não clara, de o conceito – ou se quisermos, a ideia – de ocupação referir-se as áreas que de forma efectiva ou imediata são usadas pelas comunidades locais para o desenvolvimento das suas necessidades económicas, sociais e espirituais, mesmo no sentido ecológico do termo.

Mesmo ponderando a noção de ocupação com base nos elementos apresentados no conceito de comunidade local, designadamente, “áreas agrícolas, sejam cultivadas ou em pousio, florestas, sítios de importância cultural, pastagens, fontes de água e áreas de

expansão”, para que esta granjeie algum mérito jurídico-legal, pode-se considerar que muitas comunidades locais têm sob sua jurisdição áreas territoriais ainda muito maiores do que a porção que ocupam de forma efectiva ou imediata.

O quadro abaixo dá uma ideia da média das áreas das comunidades locais que têm sido delimitadas em Moçambique.

Tabela nº 1. Terras Comunitárias Delimitadas em Moçambique (1997 – 2008)

Fonte: Adaptado de: Calengo E. I., André. Relatório do Estudo sobre Processo das Delimitações de Terras Comunitárias em Cabo Delgado, Manica e Gaza. ITC-DFID. Maputo, Fevereiro 2009. Produzido com base nos dados da DNTF.

Nesse sentido, alguns profissionais consideram que a delimitação deve-se circunscrever a área acima definida, ponderada com base no conceito legal de comunidade local, enquanto esta mantém o direito de ser consultada sobre a área remanescente, ainda sob sua jurisdição.

Outra saída para o aparente espectro de escassez do recurso terra seria a de considerar de forma efectiva que a construção jurídica da Lei de Terras, respeitando a Constituição da República e a Política Nacional de Terras, visa garantir que as comunidades locais participem como actores chave do processo de desenvolvimento económico do país dando-se-lhes a oportunidade real e efectiva de decidir, nos limites da Lei, sobre os recursos que estejam sob sua jurisdição. Nesse sentido, a lei salvaguarda o direito de estabelecimento de parcerias económicas entre as comunidades

Nº de ComunidadesProvínciaEm Processo

Área (Ha)Total

Área Total daProvíncia

%Total

Nampula 93 2 747.936 8.160.600 9.16Maputo 11 11 154.123 2.605.800 5.91Gaza 17 3 472.484 7.570.600 6.24Inhambane 8 3 586.008 6.861.500 8.54C. Delgado 0 0 0 8.262.500 0.00Sofala 11 3 1.426.987 6.801.800 20.97Manica 7 7 780.030 6.166.100 12.65Tete 0 27 3.928.912 10.072.400 39.00Zambézia 73 18 4.205.012 10.500.800 40.04Niassa 9 0 357.231 12.905.600 2.76TOTAL 229 74 12.658.723 79.938000 15.83

Delimitadas

24 Resolução n° 10/95, de 17 de Outubro. Política Nacional de Terras.

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locais e o requerente (investidor privado), essencialmente através do processo relativo a cessão de exploração25.

Observa-se também que o baixo índice de ocupação efectiva das terras por parte das comunidades locais também se deve a dois factores principais: a) a falta de conhecimentos sobre técnicas de agricultura intensiva ou industrial; e, b) falta de financiamento para o desenvolvimento das actividades agrícolas. Essa situação coloca, de per si, o desafio de implementação dos dispositivos legais e normativos e orientadores como parte importante da administração e gestão de terras. Ou seja, a participação efectiva das comunidades locais só poderá ocorrer caso haja acesso aos recursos materiais/financeiros e conhecimento para capacitá-las a explorar melhor a terra e a estabelecer parcerias com os investidores privados, onde elas possam jogar um papel activo no processo de produção.

O Conceito de Delimitação. O Anexo Técnico ao Regulamento da Lei de Terras define delimitação como sendo a “identificação dos limites das áreas ocupadas pelas comunidades locais ou pelas pessoas singulares nacionais, que de boa fé, estejam a utilizar a terra há pelo menos 10 anos, incluindo o lançamento da informação no Cadastro Nacional de Terras”26.

Tem sido consenso por parte de várias correntes de analistas e de Organizações da Sociedade Civil, que a delimitação das terras das comunidades locais e a emissão da respectiva certidão melhora a protecção jurídica dos seus direitos. Um estudo complementar a esta matéria revela ainda que, mesmo delimitadas, várias comunidades já viram os seus direitos denegados e as suas terras usurpadas. Assim, o estudo identificou casos de comunidades que, mesmo não delimitadas, mas com contratos de parceria

com investidores privados, juridicamente válidos, têm os seus direitos melhor protegidos ainda. Ou seja, o contrato de parceria entre Investidores privados e comunidades locais tende a ser mais eficaz, e igualmente torna as delimitações mais eficazes, na protecção dos DUATs27.

Isso significa simplesmente que as terras delimitadas das comunidades locais não devem ser vistas como uma inibição a atracção do investimento privado, mas sim, no interesse da protecção dos direitos adquiridos destas, como um atractivo que deverá encontrar justamente nas sessões de consulta comunitária a base contratual e jurídica sobre a qual se deve assegurar os direitos e obrigações das partes, construindo-se assim, o processo de desenvolvimento económico, participativo, justo e sustentável.

A principal base da sustentabilidade aqui referida reside na consequência lógica da promoção de parcerias entre comunidades locais e investidores privados, em detrimento de processos contínuos de simples consultas comunitárias que culminam na desanexação de partes consideráveis das terras comunitárias: a manutenção do DUAT das comunidades locais, sobre áreas bem avaliadas como indispensáveis para a sua sobrevivência e desenvolvimento.

A Consulta às Comunidades Locais. As consultas às comunidades locais são referenciadas na legislação de terras como procedimento administrativo obrigatório no processo de pedido de DUAT, e tem como objectivo a “confirmação de que a área está livre e não tem ocupantes”.

A legislação de terras apresenta de forma breve e superficial os

25 Lei n.° 19/97 de 1 de Outubro. Lei de Terras, Decreto n.° 66/98, de 8 de Dezembro. Regulamento da Lei de Terras e Resolução n.° 70/2008, de 30 de Dezembro.26Diploma Ministerial n.° 29-A/2000, de 17 de Março. Anexo Técnico ao Regulamento da Lei de Terras.

27 Baleira, Sérgio & Samo, Saturnino 2010. (Coords.). Protecção Jurídica dos Direitos de Uso e Aproveitamento da Terras das Comunidades Locais. Centro de Formação Jurídica e Judiciária, Maputo, 2010.

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procedimentos da consulta comunitária e não define o número mínimo de encontros que devem ser realizados por cada consulta. Na realidade, várias pesquisas revelaram que as consultas têm sido feitas num só dia e durante apenas duas horas ou pouco mais ou menos. Isso tem resultado num elevado índice de imprecisões da informação inscrita na acta da consulta, sobretudo na secção reservada as declarações das partes, onde geralmente constam promessas dos requerentes sobre benefícios do investimento para as comunidades locais e na falta de entendimento claro sobre o projecto e área requerida.

O quadro a seguir apresenta os 10 principais tipos e formas de declarações que constam nas actas de consulta comunitária, levantadas através de uma amostra aleatória.

Quadro nº 3. Frequência de aspectos que constam das declarações, entendimentos ou acordos estabelecidos nas Actas das Consultas Comunitárias

Fonte: Relatórios de Pesquisa sobre “As Consultas Comunitárias Realizadas na Província da Zambézia – Uma visão do processo, acordos e entendimentos entre comunidades locais e investidores” e “The Impact of New Legal Rights and Community Consultation on local livelihoods”.

Consultas realizadas de forma sistemática durante 3 anos a Magistrados Judiciais e do Ministério Público, Administradores Distritais, Directores dos Serviços Distritais de Actividades Económicas, Técnicos dos Serviços de Geografia e Cadastro, Juristas e intelectuais revelaram a existência de uma total falta de consenso sobre o valor jurídico da Acta de Consulta às comunidades locais.

Esta situação faz das consultas comunitárias a principal fonte de conflitos de acesso e uso da terra e dos recursos naturais entre as comunidades locais e os investidores privados, conflitos esses não podem socorrer-se das actas de consulta dada a imprecisão da informação que dela consta e da incerteza sobre valor jurídico a que se lhe deve atribuir.

O facto tem vindo a suscitar o desencadeamento de novos movimentos legislativos no sentido de se melhorar os processos de consulta às comunidades locais, abrigando-se a que sejam realizadas em pelo menos 2 (dois) encontros formais, para que as comunidades possam discutir, entender e concertar opiniões sobre o investimento ou actividade que se pretende realizar .

8. Possíveis Soluções Estruturais para a Administração e Gestão de terras em Moçambique

A análise aqui desenvolvida procura resumir visões construídas decorridos cerca de 7 anos de acompanhamento sistemático da

Nº Aspectos Mencionados Frequência01 Emprego para mão-de-obra local 13902 Nada se declara 11503 Boas relações com a comunidade 8404 Construção de infra-estruturas sociais (escolas, etc.) 4105 Pagamento de compensação a comunidade 3306 Venda de produtos a comunidade 2207 Oferta de bens diversos a comunidade 1508 Oferta de bens alimentícios a comunidade 909 Assistência veterinária (para o gado da comunidade) 610 Acesso a transporte para a comunidade 5

Alda Salomão (Centro Terra Viva), Moderadora do Seminário sobre Terras

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problemática da administração e gestão de terras em Moçambique. Em termos gerais, dadas as características sócio-económicas do país e das suas populações, para que o desenvolvimento com base no acesso e uso dos recursos naturais possa lograr alcançar alguma sustentabilidade económica e ambiental, combate a pobreza e estabilidade social a situação sugere que seria necessário o desenvolvimento de uma abordagem orientada para a facilitação da integração efectiva das comunidades locais no sistema produtivo (pro poor land administration approach). Isso exigira melhorias nas seguintes áreas:

a. Desenvolvimento / Capacitação Institucional• Reestruturação do modelo estrutura organizacional

separando a entidade competente da administração e gestão de terras das funções governativas – criação de um tipo de agência ou instituto público.

• Melhoria das condições em recursos humanos e meios materiais.

• Desenvolvimento de um plano geral de uso da terra e/ou ordenamento territorial.

• Desenvolvimento de um Sistema de Informação e Gestão de Terras.

• Promoção da participação da Sociedade Civil e valorização do conhecimento já construído por estes actores em áreas técnicas específicas (a sociedade civil apenas quer espaço para contribuir).

b. Protecção Jurídica Efectiva dos Direitos de Uso e Aproveitamento da Terra Existentes.

• Levar a cabo um processo de reconhecimento formal (formalização) dos direitos existentes, especialmente das comunidades locais.

• Melhorar os mecanismos de consulta as comunidades locais.

• Promover parceiras comunidades locais, Investidores privados e Estado.

c. Promoção do Uso e Aproveitamento da Terra• Promoção de processos de formação em legislação e em

agricultura.• Promoção do financiamento público e privado para o

desenvolvimento da agricultura e outras actividades que têm como base a terra.

• Monitorização do uso e aproveitamento da terra.

d. Clarificação de Aspectos da Legislação que estão na origem dos Conflitos de Terra

• Clarificar conceitos tais como comunidade local, ocupação, etc..

• Fazer do Fórum de Consultas sobre Terras uma plataforma efectiva para a construção de consensos entre os diferentes actores intervenientes na administração e gestão de terras.

Arlete Matola, Chefe do Gabinete de Estudos da Presidência

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“[…] Nas zonas libertadas, ora vejam bem: nós lutávamos para libertarmos a terra, nós lutávamos para libertar o Povo moçambicano, é ou não é? […] Parece-nos que não faz sentido que a terra continue nas mãos de um certo grupo de gente. Aqui em Moçambique não podemos conceber isso, não podemos conceber isso. Morremos a favor de um punhado de gente? Todos os camaradas que se sacrificaram, o Povo bombardeado e queimado pelo Napalm, para depois libertar a terra e a terra continuar controlada por um punhado de gente aqui no nosso país? Onde está a liberdade, onde está a libertação da terra? […]”

– Samora Moisés Machel 28

INTERVENÇÃO DA SENHORA RABECA GOMES DA UNIÃO NACIONAL DE CAMPONESES (UNAC)(Comentário do texto da Sérgio Baleira)

Senhor Presidente da República, Excelência,Senhores Membros do Conselho de Ministros, Excelências,Excelentíssimos senhores

Vou fazer um breve comentário sobre a problemática da terra em representação dos camponeses de todo o país.

Quase em todo o país as consultas comunitárias são mal feitas. Não observam o que está estabelecido na Lei de Terras. A Lei de Terras é boa, espelha as aspirações dos camponeses, mas ocorrem muitas irregularidades, entre outros. Os líderes comunitários são aliciados por certos representantes do Governo ou por investidores a assinarem documentos em representação das comunidades sem o consentimento destas. Isto leva a muitos conflitos e à falta de confiança com as lideranças tradicionais.

28 “REPÚBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUE: A PRIMEIRA OFENSIVA DO GOVERNO”. Discurso do Presidente Samora Moisés Machel proferido no comício do Estádio da Machava para o anúncio das primeiras medidas importantes adoptadas após a Primeira Sessão do Conselho de Ministros da República Popular de Moçambique, e que durou dezasseis dias. Maputo, Julho de 1975

Rabeca Gomes, da União Nacional de Camponeses

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Os companheiros de Tete estão preocupados com algumas empresas que desalojam camponeses das suas terras e suas comunidades para locais onde não há água, mercado, escolas, hospitais, entre outros benefícios. O primeiro reassentamento é bem feito (na inauguração), mas os restantes reassentamentos não são bem feitos porque sabem que não há fiscalização nem seguimento.

Outras empresas fecham os caminhos de acesso a rios, acesso a pasto de gado, acesso a lenha, entre outras necessidades. Temos exemplos de Nampula e em zonas turísticas.

Recebemos com alegria a Iniciativa Um líder, Uma Floresta, mas o que tem acontecido em Nampula e Niassa é o surgimento de empresas que plantam pinho e eucalipto nas machambas dos camponeses sem o consentimento. Em locais onde os camponeses produzem alimentos para a sobrevivência, plantam-se árvores que contribuem para a desertificação, secando rios e outras fontes subterrâneas. A expansão de monoculturas prejudica a biodiversidade.

Outras consultas não sabemos exactamente como são feitas, só que a dado momento a comunidade faz reivindicação e de repente está a polícia a disparar e isto dá uma má imagem do país.

O processo de urbanização de municípios elimina machambas de camponeses. É caso de perguntar se a classe campesina está em vias de extinção. Devido a soma de muitos problemas de perda de terras, cheias, secas, falta de chuvas, etc., a juventude abandona o campo para as cidades e não olha para a actividade campesina com esperança, porque quando olham para os pais, só vêm pessoas a sofrer sem perspectiva de futuro. Então, procuram uma vida melhor, mas estando nas cidades a vida fica cara e acabam decidindo por uma vida pouco agradável.

Não se trata de procurar ou encontrar culpados, mas a partir do estágio actual encontrar meio-termo para cada conflito para preservar a paz (todos juntos, Governo e Sociedade Civil) para apagar o que as comunidades estão dizendo: que o Governo só nos quer na hora da campanha eleitoral e depois salve-se quem puder.

A vida nas zonas rurais pode ser melhor, caso haja:• Políticas para apoiar camponeses na produção;• Evitar que os camponeses percam terras;• Haja infra-estruturas rurais, ruas, transporte, pontes, sistemas de

rega, sistemas de captação de águas;• Sistemas de conservação de produção;• Crédito adequado para os camponeses;• Pequenas unidades de processamento de alimentos no campo;

Esses são exemplos de políticas que podem reduzir o impacto dos problemas provocados pela globalização.

Termino por aqui a minha intervenção. Obrigada.

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“[…] Transformámos profundamente o nosso País. As transformações que realizámos são já irreversíveis. O nosso Povo não aceitará jamais que a terra seja dividida entre proprietários, seja apropriada por latifundiários para explorarem o seu trabalho. A terra recuperada pelo Povo, porque foi generosamente regada pelo sangue do Povo, destina-se ao seu trabalho livre, destina-se a produzir a sua própria riqueza. Nacionalizámos a terra para criar os grandes complexos agrícolas, onde milhares de moçambicanos trabalham, ganham o seu salário e produzem para Moçambique. Nacionalizámos a terra para que os camponeses possam juntar as suas forças nas cooperativas […] Nacionalizámos a terra para plantar cajueiros, para produzir algodão, para termos açúcar e milho, fruta e amendoim, roupa e pão. Nacionalizámos a terra para que fossem nossos o carvão, o ferro e todas as riquezas que os nossos braços arrancam da terra, os rios que dominamos para irrigar os nossos campos […]”

Samora Moisés Machel 29

INTERVENÇÃO DO PADRE CARLOS SIMÃO MATSINHE, DA ORAM (ASSOCIAÇÃO RURAL DE AJUDA MÚTUA)

(Comentário ao texto de Sérgio Baleira)

1. Apresentação da ORAM e Considerações gerais

A ORAM é uma organização de carácter associativo sem fins lucrativos que congrega camponeses e pessoas comprometidas com a causa camponesa, cuja razão de ser é a defesa dos direitos e interesses dos mesmos. A ORAM procura, à luz da sua missão, defender os direitos e interesses dos camponeses, contribuindo para o desenvolvimento associativo e comunitário, com vista a assegurar a posse e o uso sustentável da terra e dos recursos naturais nas comunidades rurais.

Importa referir que este debate nasce da necessidade de maior diálogo entre o Governo e a Sociedade Civil como fruto das convulsões sociais. No âmbito destas manifestações, o Presidente da República aceitou receber a sociedade civil onde, dentre outras preocupações, a Terra em Moçambique despertou maior atenção entre os presentes. No entanto, ficou provado que a forma como este recurso é usado não é sustentável e não contribui para o desenvolvimento sustentável. Foi nesse espírito que a Sociedade Civil, propôs este tema como forma de encontrar soluções de como melhorar a gestão da terra para criar a riqueza e promover o desenvolvimento sustentável.

De uma forma geral, o documento apresentado, aborda as principais questões que se levantam, nos tempos presentes, sobre a administração e gestão de terras em Moçambique. Contudo, do nosso ponto de vista, o documento está mais concentrado nas questões de natureza técnico-jurídica, falando apenas levemente dos impactos sociais, económicos e culturais que esta problemática tem vindo a criar no país, em particular nestes últimos cinco anos.

29“O NOSSO ENTUSIASMO RESIDE NA CERTEZA DO FUTURO”. Discurso proferido pelo Presidente Samora Moisés Machel por ocasião do 5º Aniversário da Independência Nacional. Maputo, 25 de Junho de 1980.

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Pela natureza do trabalho da ORAM, baseado nas comunidades rurais, mesmo antes da aprovação da Lei de Terras em 1997, o nosso sentimento está mais próximo do dia-a-dia das populações, no que se refere à problemática da administração e gestão de terras em Moçambique.

Na verdade, nos últimos 10 anos, o efeito combinado do crescimento populacional e da crescente comercialização dos produtos agrícolas assentes no acesso e uso de terra, reflecte-se na pressão sobre a mesma, e vem contribuindo para o aumento do seu valor, desvalorizando a sua importância para as comunidades rurais. Esta importância está associada, não só a valores económicos, como também a valores sociais, culturais e espirituais.

Esta situação vem levando a que os detentores costumeiros da Terra percam-na a favor das entidades que se mostram mais economicamente poderosas, facto que, por sua vez, resulta no fenómeno de conflito de terras.

Com efeito, na base das informações colectadas e compiladas junto de vários fóruns de associações comunitárias em todo o país, a constatação geral da ORAM diz que, a actual administração e gestão de terras está cada vez mais virada para a defesa dos interesses das elites urbanas e dos investidores, e ela praticamente ignora os direitos das comunidades, adquiridos por normas e práticas costumeiras.

Não é percepção da ORAM de que os contratos entre comunidades e investidores, são mais eficazes e suplantam o conceito de delimitação. Na verdade a delimitação de terras é a consagração do direito consuetudinário, previsto como um direito constitucional. Assim, as delimitações de terras comunitárias devem ser vistas como condição eficaz e estruturada para a implantação de parcerias mais profícuas e seguras, cujo benefício se pode estender para as futuras gerações das comunidades com terras delimitadas.

A conclusão que se tira, é que um país pode ter uma Constituição da República aberta e promissora, protectora dos princípios da igualdade

e da equidade, pode ter também, boas leis que conferem os direitos aos cidadãos e das comunidades e no entanto, estar vulnerável a conflitos sociais, quando essas leis forem reduzidas a simples documentos ou apenas aplicadas por conveniência.

2. De forma particular.

Os principais focos dos conflitos de Terra em Moçambique, na perspectiva da apresentação feita, situam-se nos seguintes pontos:

1. Na relutância, de algumas entidades, em reconhecer os direitos naturais de acesso e posse de terra por parte das comunidades locais, favorecendo alguns investidores estrangeiros ou de ocupantes nacionais de terras;

2. Na relutância sistemática em empreender consultas comunitárias genuínas e honestas, para a atribuição de DUATs a privados, estrangeiros ou nacionais, sob a desculpa de acelerar investimento nas zonas rurais. Um investimento de pouco tempo virá usurpação remediável.

3. No esforço continuado, por parte de investidores privados e de seus advogados, de colocar em causa a validade jurídica dos instrumentos aprovados pelo Estado, para a administração e gestão de terras, sobrevalorizando os formalismos do direito escrito.

4. Na fraca capacidade institucional dos Serviços Provinciais de Geografia e Cadastro e Governos Distritais, quanto à aplicação rigorosa da legislação sobre Terra, Floresta e Fauna Bravia, Ambiente e respectivos regulamentos.

5. Na não inclusão de Planos de Uso da Terra, elaborados de uma forma participativa, nos Planos Estratégicos de Desenvolvimento dos Distritos.

6. Na interferência política nos processos de atribuição de DUATs, onde temos relatos vivos de ameaças aos Comités de Gestão de Recursos Naturais junto das comunidades, por parte de alguns agentes do Governo ou empresários com influência política ou partidária.

7. Nos altos índices de corrupção na fiscalização dos recursos

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naturais, em particular os recursos florestais, em que os fiscais do Estado sonegam a cobrança de multas resultantes de apreensões de madeira ilegal ou deixam de fazer a canalização dos valores cobrados, para os agentes comunitários e os denunciantes, como mandam os regulamentos.

Estes pontos, levantados a título de exemplos, levam-nos a concordar que sim, existe uma necessidade urgente de se reflectir sobre a questão da Administração de Terras em Moçambique.

Na verdade, está evidente para a ORAM que, sendo muito positivos, os princípios consagrados na nossa Constituição da República e na Lei de Terras, podem ser reduzidos simplesmente a palavras bonitas, mas incapazes de garantir a paz e estabilidade social no País, se a sua implementação não for garantida por instituições fortes e tecnicamente competentes.

3. Sugestões

Assim, a ORAM sugere entre outras acções o seguinte:

1. Participação activa nos Processos de Planifi cação

O desenvolvimento rural, devia impreterivelmente, contar com a participação activa das comunidades rurais, em todos os processos de tomada de decisão, sobretudo no que se refere a elaboração dos Planos de Uso de Terra. Evitar a facilitação da entrega de Terras que as próprias comunidades precisam para a sua sustentabilidade.

2. Delimitação com Visão Futurista

O conceito de delimitação comunitária, não deve se restringir apenas às áreas ocupadas pelas comunidades actualmente, devido a sua fraca capacidade financeira de exploração plena de áreas maiores, ligando à pobreza extrema a que as comunidades se encontram neste momento. A delimitação devia ser

vista sob ponto de vista de garantia da protecção dos direitos das comunidades rurais e como um instrumento para a motivação de parcerias.3. Desenvolvimento de Um Novo Modelo de Parcerias

Assumindo que o modelo actual de parcerias, baseado na troca de serviços entre as comunidades rurais e os investidores, e na oferta de benefícios sociais (alguns deles da responsabilidade do Estado, como a construção de sala de aulas) não é sustentável e não garante o combate à pobreza absoluta; sugerimos que se reformule o conceito de parceria e se introduzam modelos mais sustentáveis e que promovam o desenvolvimento dentro das comunidades. Esse modelo deveria incluir formas de beneficiar comunidades cujas terras tem recursos minerais.

4. Aposta nos Pequenos Produtores e Agricultores

Uma maior aposta devia se dar aos pequenos produtores e agricultores, no sentido de melhorar a produção e produtividade, assim como para melhorar a qualidade da produção, sem com isso significar, que a ORAM se opõe ao contributo dos grandes produtores, mas é preciso que haja um equilíbrio real e honesto.

Muito obrigado.

Da esquerda para a direita: Yaqub Sibindy, Firmino Mucavele, Miguel Mabote e Marcos Juma

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“[…] No seio da mulher moçambicana ainda existe a desconfiança, ainda existe a discriminação: mulher da cidade — mulher do campo; ainda existem complexos — mulher de responsável e mulher de não responsável. Entre a mulher moçambicana ainda existe o racismo. Não é esse Moçambique que nós queremos. […] A solução desses problemas exigirá trabalho, mas esse trabalho não será realizado somente pela mulher moçambicana. Esse trabalho pertence a todos nós. […] A mulher suportou o peso de duas montanhas: o homem — não importa se tradicional ou não tradicional — o homem e, em segundo lugar, o próprio colonialismo. […] A mulher moçambicana deve engajar-se nesta batalha, neste combate, para se impor, para reconquistar a sua dignidade e a sua personalidade. […] Queremos chamar a atenção das mulheres para isto […]”.

– Samora Moisés Machel30

O PAPEL DA MULHER NO COMBATE À POBREZA: EXPERIÊNCIAS DA SOCIEDADE CIVIL

Por: Graça Samo

“A desigualdade de género constitui um obstáculo para o crescimento económico do país. No geral, os agregados familiares onde a mulher é discriminada tendem a ser mais pobres”. PARPA II

1.CONTEXTUALIZAÇÃO

No pico das manifestações de 1 e 2 de Setembro de 2010, as organizações da Sociedade Civil reuniram-se para reflectir sobre o problema que assolava a cidade capital do país, preocupadas com a dimensão do problema de violência que caracterizava os tumultos e, para analisar os factos que se apresentavam como o cerne do problema: a subida de preços que agravou o custo de vida e a falta de diálogo construtivo que, numa primeira análise, era apontada como sendo a causa das manifestações populares. O diálogo entre as organizações da sociedade civil levou à elaboração de um documento de posição, o qual veio a ser entregue ao Presidente da República, numa audiência realizada a 3 de Novembro de 2011, onde participaram cerca de 30 representantes de diversas organizações.

Graça Samo, do Fórum Mulher, oradora do Seminário sobre O Papel da Mulher

30Discurso proferido por Samora Moisés Machel, Presidente da Frelimo, na abertura da VI Sessão do Comité Central da FRELIMO em Inhambane. Tofo, 19 de Junho de 1975

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As organizações presentes avaliaram a reunião como tendo sido positiva, pois os participantes tiveram oportunidade de intervir e colocar as suas preocupações perante o Presidente da República. Em resposta às preocupações apresentadas, a sociedade civil foi convidada a preparar temas de seu interesse, a serem apresentados nos Seminários organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República. Foi neste âmbito que aconteceu o primeiro seminário dedicado ao tema da Gestão e Administração da Terra, o qual mereceu uma avaliação bastante positiva entre os actores da sociedade civil que nele participaram. De seguida, a Sociedade Civil foi convidada para trazer o tema “O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da Sociedade Civil”, sobre o qual cinge-se a presente comunicação.

A presente comunicação foi resultado de vários encontros realizados sob liderança do Fórum Mulher, rede que congrega organizações que trabalham em prol dos Direitos Humanos das Mulheres e da Igualdade de Género, mas que contou com contribuição de vários segmentos da sociedade civil, nomeadamente representantes do movimento de camponeses, associações e redes de mulheres empresárias, associações de mulheres operadoras do comércio transfronteiriço (mukheristas), Comité da Mulher Trabalhadora nos Sindicatos, entre outras.

2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL

O quadro que apresentamos esquematiza as dinâmicas associadas ao problema da feminização da pobreza (maior incidência da pobreza sobre as mulheres) analisando a partir dos factores determinantes e avançando numa relação de causa e efeito, que é quase um resumo do que temos estado a discutir nesta comunicação e que consideramos pertinente para avançar estratégias para enfrentá-la.

Quadro 1. Esquematização do Modelo para análise da pobreza e feminização da Pobreza. (MS, 2011)

2.1.Conceito de Pobreza

Em 2006, o Governo aprovou o Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta, PARPA II, um Programa cujo desenho teve mérito pelos esforços de envolvimento da Sociedade Civil, contrariamente ao PARPA I que não tinha contado com o envolvimento destes actores no processo do seu desenho. O PARPA II avançou como definição de pobreza a “Impossibilidade por incapacidade, ou por falta de oportunidade de indivíduos, famílias e comunidades de terem acesso a condições mínimas, segundo as

Farida Gulamo, no Seminário sobre O Papel da Mulher

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normas básicas da sociedade.” Com esta definição, este programa reconhecia, pelo menos ao nível da letra, que “a desigualdade de género constitui um obstáculo para o crescimento económico do país, e que no geral, os agregados familiares onde a mulher é discriminada tendem a ser mais pobres” (PARPA II, 2005).

Este é, sem dúvidas, um grande avanço em relação ao PARPA I que definia a pobreza como “incapacidade dos indivíduos assegurarem para si e para os seus dependentes, um conjunto de condições básicas mínimas para a sua subsistência e bem-estar”– isso era como dizer que 70% (e hoje pouco mais da metade) da população moçambicana era incapaz, responsabilizando esses pobres pela sua própria incapacidade. O termo dependente é também contestado pela análise de género pois, parece óbvio que para o modelo a dependência é do dinheiro e de quem o controla. O indicador de consumo per capita é um valor monetário que exclui ou torna invisível a contribuição da mulher e de outros membros da família, necessária para a sua subsistência.

Para nós, como sociedade civil que luta pelos direitos humanos das mulheres e igualdade de género, o problema da pobreza é um problema de exclusão, derivado das relações de poder do modelo dominante que privilegia o modelo do crescimento económico em benefício dos capitais financeiros que impõem regras do mercado e do investimento, sacrificando os sectores sociais, os serviços públicos e o emprego.

2.2. Feminização da Pobreza

As mulheres representam cerca de 53% da população moçambicana, maioritariamente excluídas do emprego e muitas vezes excluídas das possibilidades de consumo mesmo de serviços públicos ou sociais definidas pelo modelo dominante como instrumento de análise da incidência da pobreza. A nossa experiência como sociedade civil, tem-nos mostrado que dentro das diversas formas de família que se geram na luta pela sobrevivência, são as mulheres, com as suas múltiplas actividades,

que passam a resolver o problema sem o reconhecimento do modelo, porque não convém. Muitas vezes, são consideradas dependentes e subordinadas ao “chefe da família” que é quem controla o acesso aos fracos recursos e controla os escassos rendimentos que a mulher pode auferir, quer das actividades informais, quer dos excedentes duma produção familiar. De facto, o PARPA II reconhece que “os agregados familiares onde a mulher é discriminada tendem a ser pobres”.

Se o PARPA II avançava reflexões, a nosso ver interessantes a nível do modelo de análise da pobreza pelo reconhecimento da desigualdade como factor determinante, o actual Plano Quinquenal do Governo parece perder esses ganhos ao considerar a pobreza como sinónimo da falta de cultura de trabalho e falta de auto-estima das mulheres e homens moçambicanos. Se o PARPA II não tinha sido muito eficaz na integração do factor de análise ao processo de desenho de estratégias para o combate à pobreza, tememos que o actual Plano Quinquenal do Governo represente uma perda muito grande em relação a essas premissas. Uma incorrecta definição do problema pode levar ao desenho de estratégias inapropriadas ou ineficientes para a resolução do problema. Sendo o Plano de Acção para a Redução da Pobreza, em processo de desenho,

Marta Cumbi, da FDC, Moderadora do Seminário sobre O Papel da Mulher

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a estratégia de operacionalização do Plano Quinquenal do Governo, não temos dúvidas que venha reflectir essas lacunas em relação àquilo que deveriam ser as estratégias eficazes para reduzir a exclusão e o empobrecimento da maioria da população moçambicana, as mulheres. O fracasso das metas de redução da pobreza previstas no PARPA II foi confirmado pelo Inquérito dos Orçamentos Familiares publicado em 2010, que mostrou que a pobreza não só não diminuiu (para 45% como previsto), como aumentou até quase 55%.

3. PODER E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, SOCIAL E ECONÓMICA DAS MULHERES: AVANÇOS E DESAFIOS

3.1. Participação Política das Mulheres

O nosso país é uma referência na região e no mundo quanto à participação da Mulher nos espaços de poder e decisão política. A nível do parlamento temos 48% de mulheres, com uma presidência feminina, a nível do executivo acima de 20%. Estes e outros feitos a nível das reformas legislativas renderam ao País o Prémio Africano de Igualdade de Género em 2009 pela Femmes Africa Solidarité. A presença e participação das mulheres é importante, pois representa o reconhecimento do seu direito e capacidade de participar e influenciar decisões em seu benefício e em benefício de milhões de outras mulheres e de toda a sociedade. Todavia, não obstante os compromissos que o país assumiu a nível da União Africana de assegurar a paridade e igualdade de género em todas as esferas de decisão, essa participação é muito reduzida à medida que vamos descendo para os níveis Provincial, Distrital e Local, bem como quando falamos a nível das empresas públicas. A título de exemplo, dos 43 Municípios que compõem as autarquias em Moçambique, apenas 3 são presididos por mulheres. A nível dos Conselhos Consultivos Locais, a participação é insípida e muitas vezes condicionada a factores estabelecidos por quem maior poder de decisão tem, como por exemplo a ligação político-partidária.

Apesar da participação massiva das mulheres em actos de campanha eleitoral dos partidos, as análises de género feitas aos vários processos Eleitorais pela associação Mulher e Lei na África Austral (WLSA Moçambique, 1999, 2004 e 2009) têm mostrado que as agendas dos partidos políticos não privilegiam as questões relacionadas aos direitos humanos das mulheres e igualdade de género, pelo contrário tendem a realçar o papel reprodutivo da mulher que, como vimos na secção dois, contribui para a secundarização do papel da mulher. Desta forma, as estratégias de desenvolvimento repetem esta secundarização, a todos os níveis.

3.2. Participação da mulher na Economia

De acordo com dados do Inquérito da Força de Trabalho produzido pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), as mulheres representam a maioria da população economicamente activa (70%) encontrando-se a maioria nas zonas rurais. Ao nível do emprego formal, as mulheres representam apenas 20% estando a maioria dessa população empregue na agricultura. Isto significa que o restante da população feminina economicamente activa, encontra-se no sector informal. A taxa de desemprego

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é mais elevada entre as mulheres que nos homens (INE/INFTRAB, 2005).

O louvável esforço feito em aprovar uma Lei de Terras que garante igualdade de direitos para mulheres e homens, parece perder ênfase num contexto em que se verifica ausência de estratégias e programas voltados a responder às reais necessidades de acesso, controle e melhoria de condições de utilização da terra por parte daquelas que são a maioria da população Moçambicana. Até ao momento, são exíguos os números de mulheres que possuem Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT) mas, em contrapartida, crescem os casos de mulheres viúvas, mães solteiras e jovens que vêem usurpadas as suas terras, atitude alimentada por normas tradicionais que não reconhecem os direitos que lhes são conferidos pela Lei de Terras e pela Constituição, mas também por um mercado de terras inconstitucional.

A marginalização da economia informal, onde a maioria das mulheres busca formas de enfrentar o desemprego e sub-emprego constitui um desafio para o combate à pobreza. A falta de mecanismos que facilitem a tramitação de mercadorias a nível das fronteiras reforça o poder da corrupção sujeitando as mulheres, à exposição a abusos sexuais como forma de assegurar a manutenção do seu negócio, única forma de assegurar o rendimento para a subsistência das suas famílias.

A falta de transporte e vias de acesso limita a comunicação e acesso a informação por parte das mulheres, sobretudo nas zonas rurais. Sem a comunicação, sem as vias de acesso, sem a energia eléctrica, o acesso aos serviços básicos torna-se uma utopia.

3.3. HIV/SIDA e Violência Contra as Mulheres

O problema da Feminização do HIV/SIDA constitui uma preocupação bastante grande. O INSIDA (2009) revelou catastroficamente que 13,1% das mulheres (principalmente raparigas e jovens) contra 9,2% dos homens entre 15-49% anos têm infecção pelo HIV sendo a prevalência maior nas áreas urbanas (onde aparentemente as pessoas estão mais informadas

Maria Jossai Cumbe no Seminário sobre O Papel da Mulher

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e com maior acesso aos meios de protecção) do que nas zonas rurais.

Constitui verdade também, que muitas mulheres em idade reprodutiva experimentam o medo da morte associada à gravidez e ao parto, sem deixar de lado o problema da mortalidade por abortos clandestinos ou inseguros, resultantes da ausência de políticas e procedimentos que assegurem a todas as mulheres o acesso a serviços de aborto seguro a nível da rede de saúde pública, condicionados por uma legislação antiquada e políticas públicas ineficazes. As várias formas de poder e violência que a mulher enfrenta no seu dia-a-dia são factores que agravam a sua condição de exposição ao HIV/SIDA e demais formas de expropriação.

Os índices crescentes de violência doméstica, que de acordo com dados divulgados pelo Ministério do Interior em 2010 atingiram cerca de 14.000 casos, sendo mais de 70% dos casos de Violência praticada contra a mulher. Todas as outras formas de violência contra as mulheres são o reflexo da sociedade patriarcal, da intolerância, desrespeito e reforço da tendência de controlo sobre o corpo, liberdade, autonomia e identidade das mulheres. As práticas tradicionais nocivas praticadas em nome do resgate da tradição e da cultura têm reforçado a instrumentalização das mulheres desde a tenra idade, remetendo-as a uniões prematuras e forçadas aumentando o seu risco e exposição a doenças e dependência.

4. EXPERIÊNCIAS DA SOCIEDADE CIVIL

A Sociedade Civil moçambicana apresenta-se de diversas formas. A Sociedade Civil Organizada, está representada por organizações ou instituições reconhecidas pelo Estado, mas que não visam interesses político-partidários. Fazem parte destes grupos: sindicatos independentes, ONG’s, Associações, Instituições de Investigação, Organizações baseadas na fé, Redes, Movimentos Sociais, entre outras. Entre estes

grupos, encontram-se as organizações que trabalham pelo empoderamento das mulheres, nomeadamente: Organizações Comunitárias de Base, Grupos de Poupança e Crédito Rotativo (PCR), Associações Femininas em diversas áreas, Associações Mistas (com programas para as mulheres), Redes de Associações Femininas Fórum das Mulheres Rurais, Redes das Mulheres dentro de grandes organizações: COMUTRA – Comité da Mulher Trabalhadora – da OTM Central Sindical, Rede de Mulheres (UNAC), Jovens Feministas, Bancadas Femininas, etc., e Instituições de Investigação e Formação.

4.1. Acções realizadas pela Sociedade Civil no Combate à Pobreza

ADVOCACIA E LOBBYING

• Participação nos processos do PARPA e Observatórios de Desenvolvimento, onde advogamos para a revisão da definição da pobreza, como base de análise para o desenho de uma estratégia inclusiva para o combate à pobreza;

Participantes ao Seminário da Mulher

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• Integração de Direitos das Mulheres na Lei de Terras, Lei da Família; Lei de Violência Doméstica, Lei de HIV, entre outras;

• Sensibilização e divulgação de informação sobre Direitos Humanos e Legislação;

• Reforço da Cidadania e Participação Política: Elaboração do Manifesto Eleitoral e Agenda Política das Mulheres; Sensibilização e capacitação das mulheres para a participação efectiva em processos eleitorais; Monitoria da Governação.

EMPODERAMENTO DAS ADOLESCENTES E JOVENS:

• Criação de Bancadas Femininas em que mulheres dos 10 aos 24 anos debatem temas relevantes de Saúde Sexual e Reprodutiva. Para aproximar mais esta acção aos

beneficiários os debates são levados às escolas;• Criação de oficinas da Mulher em que as raparigas

voluntariamente realizam acções de sensibilização às outras jovens sobre o uso do preservativo e outros meios de prevenção de HIV, gravidez e DST’s, bem como encaminhamento das mesmas aos Serviços de Apoio aos Adolescentes e Jovens;

• Campanhas contra o abuso sexual da rapariga na educação.

REFORÇO DE CAPACIDADES

• Formações a vários níveis sobre Associativismo e liderança, Elaboração de Projectos, gestão e Mobilização de Recursos; Reforço às Iniciativas de Geração de Rendimentos; criação de mecanismos de acesso a micro-financiamentos;

• Divulgação de instrumentos que regulam a administração e gestão de terras, bem como os mecanismos de acesso ao DUAT;

• Formação Paralegal com foco na Lei de Terras, Lei da Família;

• Integração da abordagem de género nos programas da “Escola na Machamba do camponês”.

NETWORKING

• Criação de Redes e Fóruns de Advocacia: Fóruns de Associações Femininas nas Províncias, Fórum das Mulheres Rurais;

João Massango (Partido Ecologista) a intervir, ladeado por André Balate (PARENA)

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• Parcerias e articulação com Fóruns e Redes regionais, internacionais e movimentos sociais.

• Trocas de experiências e realização de Feiras comerciais.

5. DESAFIOS E PROPOSTAS PARA MELHORAR A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES

• As políticas e estratégias de desenvolvimento devem tornar-se mais inclusivas com o compromisso de resolver os problemas que afectam a maioria da população mais empobrecida, as mulheres, numa perspectiva de sustentabilidade ambiental e das relações de género.

• É preciso reforçar os mecanismos de acesso, participação das mulheres na planificação, implementação e monitorização dos projectos de desenvolvimento.

• A posse, segurança e gestão da terra continua sendo um desafio para a grande maioria das mulheres. É necessário assegurar que cada família tenha a delimitação das suas terras e as mulheres devem constar como titulares ou co-titulares do DUAT como forma de assegurar a salvaguarda dos seus direitos; Melhoria do investimento para mulheres agricultoras.

• Emprego e Trabalho Digno - o Governo deve ratificar e implementar a Convenção 183 da OIT sobre Trabalho digno e licença de maternidade - Estabelecer mecanismos para combate ao Assédio Sexual e outras formas de discriminação no acesso ao emprego e no trabalho.

• Acesso aos Recursos Financeiros pelas mulheres - O sistema de quotas que tem incentivado o reforço da participação Política das mulheres (30%, 50%) deve ser aplicado para reforçar a equidade no acesso às iniciativas

de empoderamento económico das mulheres no acesso aos recursos de investimento às iniciativas locais e de empreendedorismo feminino. Adequar os mecanismos de financiamento às necessidades e possibilidades de investimento pelas mulheres.

• Acesso a Justiça - Divulgar e implementar as Leis e convenções aprovadas, ao exemplo da campanha pelo pagamento de impostos. Assegurar o acesso aos registos e Identificação civil a todas as mulheres que é pré-requisito para o acesso aos demais recursos.

• Educação e Cultura - A massificação da Alfabetização e Educação de Adultos/as é uma condição essencial para garantir o acesso das mulheres às oportunidades de desenvolvimento. A cultura é dinâmica, pelo que deve-se lutar contra as práticas culturais, ditas como tradição, que atentam contra os direitos humanos das mulheres.

Participantes ao Seminário da Mulher

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“[…] Aos pais dos alunos dizemos: devem procurar compreender o sentido profundo das transformações que têm lugar nas escolas do nosso País. Devem compreender que essas transformações visam em definitivo, em última análise, o bem dos vossos filhos. Nas nossas escolas queremos transformar os vossos filhos em homens íntegros e sãos […] homens capazes de construir uma sociedade próspera e feliz. […] Exortamos os pais a que cumpram o seu dever de educadores das novas gerações, participando activamente na vida da escola, ligando intimamente a educação no seio da família à educação escolar […]”

– Samora Moisés Machel31

31“MATERIALIZAR A VITÓRIA DA LINHA REVOLUCIONÁRIA NA FRENTE DA EDUCAÇÃO”. Discurso proferido pelo Presidente Samora Moisés Machel aos Estudantes, Professores e Trabalhadores da Educação. Maputo, 8 de Março de 1977

Participantes ao Seminário sobre a Mulher oferecem um quadro ao Presidente da República, Armando Guebuza

Intervenção de uma das participantes ao Seminário sobre o Papel da Mulher

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O PROFESSOR E OS DESAFIOS DO ENSINO E APRENDIZAGEM NO SÉCULO XXI: UMA ABORDAGEM ORIENTADA PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

Por: Brazão Mazula

1.Introdução

O tema que me foi proposto é complexo. A sua complexidade reside no facto de que o tema contém, por sua vez, quatro subtemas bem diferentes, igualmente complexos. Esses subtemas são: i) o professor; -- ii) o processo de ensino e aprendizagem; -- iii) o século XXI e – iv) o desenvolvimento rural. Esses quatro subtemas estão interligados por um termo comum: desafios.

Como metodologia e para objetivo desta modesta reflexão, começarei por identificar aqueles que me parecem ser os grandes desafios do século XXI e, a partir deles, reflectir o tema.

Não é fácil de identificar os desafios que o século XXI nos traz. Os últimos 50 anos do século passado mostraram-nos quão veloz ocorrem as mudanças tecnológicas que, por sua vez, induzem a mudanças políticas, sociais e até mentais. Apontei quatro desafios que considero nucleares: i) a globalização; -- ii)

o combate a pobreza e consequente criação do bem-estar; -- iii) a paz e estabilidade social; - v) a democracia e – v) a consciência ecológica.

Para elaboração desta modesta comunicação e para que não viesse para um espaço tão nobre do Povo Moçambicano, que é a Presidência da República, contactei alguns alunos de 3 (três) escolas primárias completas de Malica, em Lichinga no Niassa, do Centro Educacional de Marracuene na Província de Maputo e a Heróis Moçambicanos na cidade da Beira; com 2 (duas) escolas secundárias: Escola Secundária Comunitária Sagrada Família de Marracuene e Escola Secundária “A Luta Contínua” de Nzinje, Lichinga; e do Instituto de Formação de Professores de Inhamízua, na Província de Sofala. Em todas elas tive encontro com um bom número de professores, de uma e duas horas de duração. Falei com alguns técnicos superiores das estruturas centrais da educação. Destes recolhi estudos e documentação diversa, estratégicas de desenvolvimento da educação em geral e de formação de professores, em particular, para o período 2012-2016. Ouvi, inclusivamente, três taxistas: um na Cidade de Maputo e dois na Beira.

Foi com agrado que notei o quanto o Governo, através do Ministério da Educação, está preocupado com a vida, o estatuto e as condições de trabalho do professor, com a qualidade do ensino e com aproveitamento racional das novas tecnologias de informação e comunicação para o desenvolvimento da educação.

Cabe-me, neste espaço organizado pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República e na presença de Sua Excelência o Chefe do Estado, alimentar o debate com alguns tópicos de reflexão do tema que me foi proposto. Aproveito saudar a Sua Excelência o Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, desejando-lhe muita saúde e sucesso nas suas altas responsabilidades para com a Nação Moçambicana. Ao mesmo tempo, é meu dever agradecer-lhe por ter permitido ao seu Gabinete de Estudos Prof. Doutor Brazão Mazula proferindo a sua intervenção

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dar-me a honra de partilhar as minhas parcas ideias neste fórum selecto de altas personalidades políticas, académicas, religiosas, do sector empresarial e do mundo da cultura.

Não vou deter-me em caracterizar cada um desses desafios. Parto do pressuposto de que, no geral, são termos entendidos por todos e porque esses desafios constam da Agenda 200532 . Deter-me-ei um pouco mais na globalização neoliberal e o seu impacto nas vidas das sociedades, incluindo nas das populações rurais, ainda com altos índices de pobreza. Daí a incidência no desenvolvimento rural e a concentração de esforços no combate á pobreza.

Importa no entanto identificar três ou quatro características das populações das comunidades rurais. A primeira característica diz que, na sua maioria, elas são camponeses que vivem ou sobrevivem da terra. A segunda diz que a terra, que herdaram dos seus avôs ou antepassados, constitui a sua identidade, de tal maneira que sem ela sentem-se perdidos e traídos; em suma, perdem a sua identificação com o País que é deles. Posso atrever-me a dizer que elas são as primeiras pessoas a acatar a Constituição da República e a Lei da Terra. A terceira característica: o camponês é trabalhador nato, mas vive, muitas vezes, na pobreza extrema. O camponês não é muito exigente, mas aspira por uma vida melhor. Mas, em quarto lugar, pede duas coisas: -- i) que se lhe ajude a explorar racionalmente os recursos da terra para o seu bem e para o bem do País, -- ii) a educação dos seus filhos, para os quais ele luta, trabalha e se sacrifica dia e noite.

2. Desafi os do século XXI

a) A globalização diz-nos que, ao mesmo tempo que somos singulares como indivíduos e colectivamente soberanos

como Nação, estamos “num mundo marcado por relações de interdependência” e “Moçambique faz parte desse mundo globalizado” (CCA, 2003: 99-100). Com os seus defeitos e ameaças, a globalização33 está aí, atinge a toda gente onde quer que esteja, na cidade ou no campo. Por causa das suas ameaças e dos riscos, Giddens refere-se ao “mundo virado do avesso” pela globalização . A arma forte da globalização são as novas tecnologias de informação e comunicação, abreviadamente conhecida por TICs. As TICs erigiram-se como poder que comanda poderes, condiciona as decisões soberanas, reorienta as vontades, as consciências e até mesmo os sentimentos. No seu termo, essa reorientação acaba confundindo as mentes, na medida em que em que o homem está habituado a guiar-se por um líder humano (seja ele pai, tio, religioso ou governante político). Nos movimentos e convulsões sociais que ocorrem hoje no mundo, incluindo na África, não se consegue identificar líderes físicos (pode-se suspeitar), descobre-se apenas liderança virtual que não se responsabiliza dos efeitos. As novelas e o facebook são, por assim dizer, essas novas lideranças das mentes. O jornalista David Kirpatrick, comentando os movimentos recentes na Tunísia, Egipto, Iémen, Síria, Grécia e Espanha, observa que “o facebook pode vir a desaparecer, mas o mundo já mudou”, e ele “vai desempenhar um papel em mais países no futuro, porque dá poder às pessoas comuns”34 .

A Agenda 2005 vai pela positiva, quando diz que “salvaguardando os efeitos positivos sobre o ambiente, o uso das novas tecnologias é um imperativo inelutável para qualquer moçambicano, seja estudante, camponês, homem de negócios ou político” e que esta “era digital oferece-nos uma oportunidade histórica única” para o nosso desenvolvimento (CCA: 101).

32COMITÉ DE CONSELHEIROS, Agenda 2025: Visão e Estratégia da Nação. Maputo, EloGráfi co, 2003 (CCA).

33GIDDENS, Anthony. O mundo na era da globalização. Trad. Saul Barata. Lisboa, Editorial Presença, 2000, p. 16. 34In http://www.cienciahoje.pt/index.php, de 07 de Junho de 2011

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Daqui duas questões – desafios para a educação em geral: i) em que medida a educação forma o cidadão para viver nesse mundo globalizado, quer enfrentando as suas ameaças, quer tirando proveito dos seus benefícios para o bem-estar da sociedade? – ii) Nos últimos cinquenta anos, passámos da ardósia, do aparo, do mata-borrão como meios didácticos para um novo meio de didáctico que é o computador, cujo mata-borrão é o “delete” embutido nele. Os governos têm de contemplar no plano da Educação orçamento para estudantes “menos privilegiados da sociedade”. Retiro este termo (“menos privilegiados da sociedade”), de John Rawls35 , segundo o qual a opção política pelos desfavorecidos ou menos privilegiados situa-se no âmbito da “justiça como equidade36” . Hoje, o laptop na mão do estudante é um meio didáctico inevitável. Os pais devem contemplar nos seus orçamentos familiares a compra desse material didáctico. Não obstante o computador ser também veículo de possíveis ameaças como jogos que afastam a concentração do aluno, distraem o tempo de aprendizagem, ele é ao mesmo tempo caderno, livro, biblioteca, máquina calculadora, jornal científico, meio de pesquisa e de intercomunicação com estudantes, docentes e pesquisadores doutros quadrantes do mundo. Cabe à escola, à sociedade e ao Estado educar a consciência do aluno para o uso correcto deste instrumento pedagógico. A sua popularização impõe-se, necessariamente, como imperativo social.

b) Esta globalização neoliberal caracteriza-se, por um lado, pelo individualismo exacerbado, corporativismos económicos e arrogância dos poderes económicos e financeiros internacionais que, no seu limite, despoletaram a crise financeira internacional, agravaram a pobreza dos pobres e, ao fim e ao cabo, acabaram afectando os próprios autores e sistemas globalizadores, deixando-os atordoados. Ultimamente, estamos assistindo a

luta não declarada entre o dólar e o euro, afectando as economias débeis. Curiosamente, as duas moedas se associam no combate ao dinar líbio, que sempre se distanciou da hegemonia daquelas moedas. A máquina globalizadora tende a reduzir os países pobres a objectos de acção, não lhes dando ouvido, inclusive nos assuntos internos, negando-lhe desta forma a qualidade de sujeitos de acção. O Banco Mundial já dizia em 2003 que, embora uns países em desenvolvimento tenham, como vantagem da globalização, entrado nos mercados mundiais, “outros países vêm ficando cada vez à margem da economia mundial e sofrem com a renda em declínio e com o aumento da pobreza37”.

Na perspectiva de alguns críticos, ao facilitar a intercomunicação dos homens, a globalização desperta nas sociedades a consciência para uma maior solidariedade humana. Essa solidariedade não fica nos sentimentalismos nem se limita à generosidade económica de ajuda ou doação, mas abriu o mundo para a cidadania global. O que isto é, ninguém sabe. Deste modo a era digital, ou a globalização define-se também como era planetária, impondo maiores solidariedades entre os homens.

Estudiosos como Joseph Stiglitz (200238 e 2007), Giddens (2000), Morin (2003), divergindo por vezes nas abordagens, entendem que este fenómeno é inevitável. Da grande desilusão que a globalização trouxe ao homem contemporâneo, como foi o iluminismo no séc. XVIII na Europa, Stiglitz alimenta a possibilidade de torná-la “eficaz” e de se criar “um mundo diferente”, até porque “muitos dos problemas da globalização são obra nossa”, como, por exemplo, os problemas ambientais. Desta feita, “temos de aprender a lidar com eles39” . Na linha deste prémio Nobel da Economia 2001, o desafio da educação

35RAWLS, John. O Liberalismo Político. Trad. Dinah de Abreu Azevedo. 2. Ed. São Paulo, Ática, 2000, p. 47, 53-5836RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. Trad. Cardoso Pinto Correia. Lisboa, Editorial Presença, 2001, p. 34

37BANCO MUNDIAL. Globalização, crescimento e pobreza. Relatório de Pesquisa do Banco Mundial. Trad. Melissa Kassner. São Paulo, Futuro, 2003, p. 55.38STIGLIZ, Joseph E. Globalização: A grande desilusão. Trad. Maria Filomena Duarte. Lisboa, Terramar, 2002.39STIGLIZ, Joseph, E. Tornar efi caz a Globalização. Trad. Luisa Venturini. Lisboa, ASA, 2007, p. 51.

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no século será o de saber tornar eficaz a globalização. Carlos Agostinho do Rosário usa o conceito de “humanização da globalização”40. Na perspectiva deste economista, agrónomo e hoje diplomata moçambicano, o desafio da educação seria o de saber humanizar a globalização para o benefício do Povo. Para Morin, as solidariedades não decorrem necessariamente da globalização, mas da consciência planetária. Para este cientista social o que está a decorrer é a “planetarização” da humanidade, a consequente “cidadania cosmopolita” e o desafio da governabilidade dessa mesma planetarização. Assim sendo, o desafio da educação consistiria em “educar para o despertar de uma sociedade-mundo”41. Para Boaventura de Sousa Santos, “o único modo eficaz e emancipatório de enfrentar a globalização neoliberal é contrapor-lhe uma globalização alternativa, uma globalização contra-hegemónica”42 .

c) Vou continuar com o pé na globalização. Mais dois aspectos: um refere-se àquilo que dois alemães, Hans-Peter Martin e Harald Schumann, já nos anos 90 do século passado, apelidaram de “terramoto económico e social”43, provocado pela globalização e outro, referente ao impacto da globalização na educação.

Esses autores prognosticavam, numa dimensão estatística, que no século XXI apenas 20% dos trabalhadores teriam emprego. Nestes termos 80% das pessoas que desejassem trabalhar não iriam encontrar emprego. Acontecendo isto, a situação seria dramática. Expressando esse drama, Scott McNealy, director da empresa norte-americana Sun Systems, considera “que, no

futuro, a questão será «to have lunch or be lunch» ou seja, «ter algo para comer ou ser devorado»44. O camponês é sempre devorado. Por exemplo, ele nunca há-de compreender como é que vende (ou obrigado a vender) o arroz que produz a um preço, e uma vez processado deve comprá-lo seis a sete vezes mais. Quero acreditar que o desemprego nas nossas cidades seja também efeito da globalização.

A questão é que tradicionalmente ter emprego significa estar dependente dum patrão, seja ele público ou privado, com quem se faz um contrato de trabalho com direitos e obrigações mútuas, compensando ao fim do mês com resultados favoráveis ao empregador e um salário fixo ao trabalhador. As novas tecnologias que suportam a globalização vêm pôr em cheque este conceito emprego. Mais do que “fim do trabalho”, podemos aventar o fim do emprego, no sentido tradicional, ou seja, fim do “trabalho remunerado para todos”. Neste contexto, diz Giddens, “a educação não pode ser encarada como uma fase de preparação prévia à entrada do indivíduo no mundo do trabalho” assalariado45.

Quando a Europa preparava o Trabalho de Maastrich, advertia os cidadãos que, no futuro, um cidadão europeu não sobreviveria apenas com um emprego, nem falando apenas uma língua. No mínimo devia estar habilitado em três profissões e falar fluentemente, três línguas, incluindo o inglês. O mesmo, penso eu, vai acontecer com a integração regional na SADC. A competição será maior, a seleção mais criteriosa, menos propensa a apadrinhamentos. Hoje mais do emprego, o mercado exige a empregabilidade. Quer dizer, sobreviverá a pessoa capaz de prestar serviços com competências, mais do que aquele que procurar vínculo fixo com o empregador. Na empregabilidade se garante o emprego como prestação de serviços de qualidade, mas nem sempre o emprego é garantia de segurança no trabalho. A educação deverá estar em condições

40DO ROSÁRIO, Carlos Agostinho. Humanização da Globalização: Desafi o para a redução da pobreza em Moçambique. New Delhi, Índia Krest Publications, 2005.41MORIN, Edgar et alii. Educar na era planetária. O pensamento complexo como método de aprendizagem pelo erro e incerteza humana. Trad. Sandra Trabucco Valenzuela. São Paulo, Cortez e Unesco, 2003, p. 63-95.42SANTOS, Boaventura de Sousa. A Universidade no Século XXI: Para uma reforma democrática e emancipatória da Universidade. 2. Ed. São Paulo, Cortez, 2003, p. 55.43MARTIN, Hans-Peter & SCHUMANN, Harald. A Armadilha da Globalização: o assalto à democracia e o bem-estar social. Trad. Lúcia pinho e Melo & Ana S. Silva. Lisboa, Terramar, 1998, p. 113. 44 MARTIN, et alii, Op. Cit.p.10.

45GIDDENS, Anthony. Sociologia. 2. Ed. Trad. Maria Alexandra Figueiredo et alii. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2000, p.513

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de preparar o cidadão nesses termos, capaz de prestar serviços com qualidade, circular livre e responsavelmente na região e no mundo, quer para realização da sua vida ou do seu negócio, quer para representar o seu país. Trata-se de formar cidadãos competentes, com domínio de três línguas e habilitados em, pelo menos, duas profissões.

Há tempos cruzei-me com um amigo médico cirurgião a conduzir uma carinha de sete a doze toneladas. Admirei-me vê-lo ao volante duma camioneta pesada. E conduzia-o com muita segurança. Perguntei-lhe para onde ia com a carinha. Disse-me que ia à vida, porque não conseguia alimentar a família apenas com o salário de médico. Achei interessante a agilidade que exibia e com mestria, passando do bisturi da sala de operações para o volante dum camião galgando as terras fora do asfalto e vice-versa, ou seja, o domínio de duas profissões. Este caso confirmou-me que as previsões do Tratado de Maastrichi ou da globalização não eram válidas apenas para a Europa, mas também para o nosso país.

Estes cenários implicam repensar a educação, repensando em profundidade o processo de ensino e aprendizagem e, por que não, redesenhar a própria escola.

3. Redesenhar a Escola

a) Penso que a questão maior é: em que medida a educação no seu processo de ensino e aprendizagem faz uso das novas tecnologias de informação e comunicação para acelerar o desenvolvimento do País, particularmente nas zonas rurais? Importa criar situações de igualdade entre as escolas da cidade e as zonas rurais, num “equilíbrio reflexivo” amplo46 , uma vez que os seus alunos são avaliados pelos mesmos programas nacionais. Alguns professores das escolas de Malica em Lichinga

e de Marracuene em Maputo, disseram que algumas perguntas dos exames nacionais pressupõem que todos os alunos têm acesso à internet, quando não. Neste aspeto as Vilas do Milénio que começam a espalhar-se pelo país podem jogar um papel importante nas zonas rurais. Elas são ao mesmo tempo instrumento presencial e virtual de aprendizagem, na medida em que facilita o acesso do cidadão à internet. No meu entender, mais do que telecentros ou centros multimédia comunitária, as Vilas do Milénio estão em melhor condições de se transformar em bancos de conhecimentos, com impacto no processo de ensino e aprendizagem. Elas facilitariam desta maneira tanto ao aluno como ao professor, das zonas rurais.

b) Tradicionalmente, a escola apareceu sempre como espaço e tempo institucionalizados para o ensino e aprendizagem do cidadão. A história da educação diz-nos que deve-se a Sólon (séc. VIII a. C.), mestre e jurista da Grécia Antiga, a distribuição dos conteúdos de ensino em tempos lectivos e a serem dados num espaço próprio, concebendo a sala de aulas. Através deste conceito de escola mais desenvolvido na época moderna, “as escolas apareceram, para Michel Foucault, como parte do aparelho administrativo do Estado moderno”. Mais do que garantir o acesso dos cidadãos ao ensino, o Estado moderno mantinha assim, através do “currículo oculto”, o “controlo e a disciplina das crianças” 47. Daí, as grandes obrigações do Estado para com a escola, garantindo-lhe livros, manuais, carteiras e todo o material didáctico necessário para escola desenvolver melhor as capacidades de literacia, de numeracia e, hoje, de computação.

As novas tecnologias (TICs) estão pondo em causa este modelo de escola tradicional ou clássico. O computador, o CD-Rom, o vídeo-conferência, a internet não só põem o aluno em on-line com um professor fisicamente distante e diferente do professor

46RAWLS, 2000: 51. 47In: GIDDENS, 2000: 514.

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da sala de aulas, como a partir delas o aluno recolhe informação e conhecimentos que, por vezes, ultrapassam o currículo utilizado na própria escola. O sociólogo Giddens coloca-nos a seguinte questão: em que medida, num futuro não muito distante, será necessária a escola, quando as crianças, em vez de sentarem em filas a escutar o professor, ligarem os seus computadores para aprender?”48 Ele não descarta, como já acontece na Inglaterra, a existência de “sala de aula sem paredes”. Onde está o estudante com o laptop no seu processo de aprendizagem, estudando em grupo com estudantes, ou comunicando-se com docentes ou investigadores doutros quadrantes do mundo, está aí a escola sem parede.

No nosso contexto, o modelo de escola será misto, de salas de aula físicas e de sala de aula virtual. É muito difícil optar por soluções exclusivistas ou disjuntivas, defenderia a adopção de todas as estratégias tecnológicas modernas e tradicionais que ajudam a vencer em menos tempo o analfabetismo, a pobreza e acelerar os ritmos de desenvolvimento.

O plano do Governo de construção de mais salas de aulas, de massificação das tecnologias de informação e comunicação e do ensino à distância é estratégico e fundamental. O termo massificação parece mais apropriado do que expansão, na medida em que pode um certo produto ser disponível em todo o território nacional (expansão) e não ser acessível a todos. A massificação significa a apropriação generalizada do produto ou dos meios tecnológicos pelas massas, seja ele rico ou pobre, como sua cultura. Significa que o próprio camponês e habitantes das zonas rurais, o pequeno e médio empresário da cidade ou vila se apropriam das novas tecnologias para aumentar os ritmos de produção e produtividade para si, sua família, elevando o seu bem-estar. O mercado devia ajudar a massificação desses recursos tecnológicos e a escola usá-las como recurso de aprendizagem sempre disponível. Os Estados

Unidos incentivaram durante algum tempo “o mercado do computador doméstico” com software educacional e mais tarde as empresas facilitaram o mercado com novos programas educacionais . As empresas existentes deveriam redireccionar os seus orçamentos de responsabilidade social corporativa para esse efeito, participando mais nos esforços do Governo.

A própria escola acaba se transformando num dos desafios do século XXI. Os avanços e a velocidade de novas tecnologias de informação e comunicação, adoptadas como oportunidade de desenvolvimento no espírito da Agenda 2025, obrigam a redesenhar o modelo da escola.

A escola defrontar-se-á com seis áreas cimeiras na vida das sociedades das próximas décadas e que desafiarão a sua identidade, a sua validade e a sua actualidade. Essas áreas como: i) a globalização; ii) a criação da riqueza e o combate à pobreza; iii) a paz e estabilidade social; iv) a democracia; v) a consciência ecológica e vi) a escola, criarão exigências de maior qualidade ao processo de ensino e aprendizagem.

48 Idem, p. 515

Dra Julieta Langa no Seminário sobre o Papel do Professor

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Podemos esquematizar esse desafio da seguinte forma:

Diagrama: Desafi os do Professor e o Processo de Ensino e Aprendizagem no Século XXI

A escola é sempre pensada como instrumento de transformação da sociedade e do seu desenvolvimento. O desenvolvimento rural implica uma escola durável e bem apetrechada, um ensino igualmente de qualidade e um professor vocacionado. Na perspectiva de Durkheim, ela recebe em cada época tarefas específicas da sociedade. Por exemplo, através do Protocolo de Bolonha, os governos europeus deram às instituições do ensino superior europeu a tarefa de encontrar uma estratégia que lhes permitissem enfrentar os desafios da integração europeia e da velocidade com que se modernizam as novas tecnologias de informação e comunicação. Os Chefes de Estado da SADC deram tarefa semelhante às universidades da região, através

do Protocolo de Blantyre, de 2000. Em Moçambique, cedo a escola foi assumida como “uma base para o Povo tomar o poder” (MACHEL, 197449 ), estabelecendo uma ruptura radical com o modelo colonial de escola. Este mote tem implicações na concepção, na organização e na avaliação da eficácia do processo de ensino e aprendizagem, que se situa no centro dos desafios do século XXI. Hoje, espera-se que ela seja um instrumento eficaz de combate à pobreza pelo conhecimento, pela ciência e técnica, através dum ensino de qualidade e duma pesquisa com impacto na melhoria da vida das comunidades. Ao mostrar que em quase todas as províncias há uma universidade, o Presidente Guebuza quis vincar que a escola deste nível de ensino (a universidade) é uma “estratégia, o caminho seguido pela Frelimo, para poder resolver o problema da pobreza”50. No topo da escola e da universidade está o combate à pobreza e a construção da riqueza, assegurando a sua distribuição equitativa, aquela que em Makhuwa se expressa pelo conceito “okawana”. Externamente a escola se define por esta sua dimensão instrumental, a de estar sempre ao serviço da sociedade. Internamente, distingue-se pelo seu desempenho perfomativo, na medida em que realiza tarefas e uma missão com impacto na melhoria da vida das sociedades, primando pela qualidade do seu ensino.

4. Tipos de Ensino: o rumo a tomar.

Redesenhar a escola implica também repensar o tipo de ensino e de aprendizagem.

Temos dois tipos de ensino e aprendizagem. Um que chamarei de ensino cumulativo e outro, de ensino perfomativo. Cada um deles gera a uma aprendizagem correspondente.

1. CRIAÇÃO DO BEM-ESTAR /

COMBATE À POBREZA

2. GLOBALIZAÇÃO 3. DEMOCRACIA

4. A PAZ 5. CONSCIÊNCIA

ESTABILIDADE SOCIAL ECOLÓGIA

6. E S C O LA

O PROFESSOR

ENSINO EAPRENDIZAGEM NO SÉC. XXI

49MACHEL, Samora Moisés. Fazer da Escola uma Base para o Povo Tomar o Poder. S.I., FRELIMO, 1974. Colecção “Estudos e Orientações”, n˚ 6.50GABINETE DE ESTUDOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (Editor). Armando Guebuza em Presidência Aberta. Maputo, Gabinete de Estudos da Presidência da República, 2009, p.61.

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No ensino cumulativo, a preocupação do sistema, dos currículos, dos programas e do professor é de transmitir ao máximo possível conhecimentos ao aluno. É centrado no professor e mais na memorização. Procura-se encher a cabeça do aluno com muitos saberes, independentemente da sua utilidade social e muitas vezes saberes são ligados entre si. Avalia-se o ensino pela quantidade dos saberes acumulados e empilhados. Cada conhecimento é um saber isolado. Cada disciplina organiza-se separadamente das restantes disciplinas. Cada faculdade é um mundo fechado às restantes faculdades, porque se considera uma esfera especializada inacessível ao não especializado na sua área do saber. Cada Universidade se constitui um astro fora do espaço comum da sociedade, numa luz de conhecimentos sem rumo claro para a sociedade, porque ela é uma instituição iluminada. Consequentemente, cada professor caminha sozinho, com um seu ensino monológico, está preocupado unicamente com a sua disciplina, faz gripar a reforma universitária, quando se apercebe que a sua disciplina vai ficar fora, fica numa posição de defesa, facilmente se associa-se a colegas num corporativismo de resistência. Este tipo de ensino contenta-se com cabeças bem-cheias de conhecimentos. Daí a multiplicidade de disciplinas, muitas vezes incluídas para acomodar este ou aquele docente; a dificuldade de trabalhar em grupo e de ouvir o outro, portanto não democrático, pois cada um se acha dono do saber; a elaboração de testes ou provas de exames muito extensos, incluindo toda a matéria dada no ciclo de estudos. Não se lhe pode acusar de ser demasiadamente teórico. Só que a prática ou a pesquisa que realiza são desfasadas da realidade social; satisfazem apenas o ego deste bancário de conhecimentos. O aluno não tem outra

alternativa senão decorar, empilhar e armazenar na sua cabeça tantos fardos de conhecimentos que recebe. No processo de aprendizagem o aluno sente tédio com esse tipo de ensino. Não se entusiasma muito, mas também não tem outra alternativa senão memorizar a matéria e responder às questões do professor na aula, às questões dos testes e dos exames, literalmente como o professor ditou os seus apontamentos; se, porventura, responder por outras palavras, mesmo que a resposta seja certa, fica reprovado, porque ele baralhou a cabeça do professor. O professor, que se sente confrontado pelo aluno, vinga-se. Pior, se for uma aluna que não aceite satisfazer os seus caprichos. É um ensino permeável à cábula. Não concordando com esse tipo de ensino, Einstein abandonou o ensino que era ministrado na faculdade. No jogo da memória, entre a recordação e o esquecimento, o aluno facilmente se esquece quando a pressão do exame termina. Na vida prática, o aprendente ou o graduado não consegue re-utilizar os conhecimentos para resolver os problemas práticos, porque recebeu conhecimentos ou saberes sem “princípios organizadores”. O monopólio do saber conduziu ao figurino medieval do professor catedrático, dono do saber configurado na cátedra: “dixit ex cathedra”. Faz-se admirar por todos, mas pouco útil.

Deste tipo de ensino, resulta, no fim, como dizem Montaigne e Edgar Morin, numa “cabeça bem cheia” e uma aprendizagem igualmente empilhadora, cumulativa, bancária e monológica. Daí a expressão de “vou amarrar”, muito frequente nas vésperas dos testes e dos exames. Quando o aluno, após esse esforço acumulado para decorar a matéria dum trimestre ou dum semestre em 24 ou 48 horas, fica reprovado, ele fica muito admirado. É tarefa do professor mostrar aos alunos durante o ano que desse “amarrar” da última hora só poderá resultar um rendimento marginal decrescente51.

O ensino perfomativo não está preocupado com acumulação de saberes, mas com a criação de competências, habilidades,

Tipos de Ensino

1. Ensino Cumulativo 2. Ensino Perfomativo

Aprendizagem cumulativa ou bancária Aprendizagem perfomativa

“Cabeça bem-cheia” “Cabeça bem-feita”

51Cfr. GOMES, Orlando. Economia: Ciências e Factos. Lisboa, Vulgata, 2000, p. 169-176

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atitudes ou valores e princípios que organizam e explicam os conhecimentos. Desenvolve “uma aptidão geral” que permite à pessoa, ao longo da sua vida, “colocar e tratar os problemas” e, ao mesmo tempo, fornece-lhes “princípios organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido”52 . Capacita a saber identificar e colocar os problemas e a resolvê-los. Incide mais no despertar da curiosidade de saber, no debate e na problematização, na “arte da argumentação e da discussão”, na ligação e religação dos saberes, na capacitação para solução dos problemas com princípios organizadores. Incide no desenvolvimento do que os gregos chamavam de “métis” (µ ), que significa um conjunto de atitudes mentais... que conjugam o ‘faro’, a sagacidade, a previsão, a leveza de espírito, a desenvoltura, a atenção constante, o senso de oportunidade”53 . Incide na criação de capacidade e na arte de “transformar detalhes, aparentemente insignificantes”. Incide nos valores humanos, um dos quais é o da convivência social, a capacidade de diálogo e a cultura de trabalho árduo e cooperativo. Por isso, este tipo de ensino é dialógico e perfomativo. O motor deste ensino é, em primeiro lugar, o professor. Daí a exigência da sua formação nesse sentido e o desafio para as instituições de formação de professores e faculdades de educação.

5. Da Escola Monológica à Escola Perfomativa

Temos que nos perguntar que tipos de ensino as nossas escolas, incluindo as instituições do ensino superior, ministram: se ensino cumulativo, se ensino perfomativo. Há uma relação entre o tipo de ensino e o modelo de escola. O ensino cumulativo é próprio duma escola monológica, enquanto o ensino perfomativo caracteriza uma escola perfomativa. Isto não significa que da escola monológica54 não possa resultar graduado pró-activo.

Assim:

Os pressupostos de repensar uma escola e um ensino para o séc. XXI vêm sintetizados por Jacques Delors, no relatório “Educação: um tesouro a descobrir”, encomendado pela Unesco. O seu ponto de partida é que se está a dar uma “revolução da inteligência” contínua e a “sociedade da informação”que se desenvolve em ritmos acelerados. Esses dois movimentos obrigam a educação a se repensar a si mesma, de modo a responder cabalmente aos desafios do século, com prioridades para as seguintes tarefas:

- formar o capital humano qualificado;- formar “agentes económicos aptos a utilizar as novas tecnologias

e que revelem um comportamento inovado”;- formar “cientistas, inovadores e quadros de alto nível”;

- formar para a inovação pessoas capazes de evoluir, de se adaptar a um mundo em rápida mudança e capazes de dominar as transformações”, que não se compadecem “com rotinas nem com qualificações obtidas por imitação ou repetição” 55.

Apenas a escola perfomativa e o ensino perfomativo podem responder com eficácia a essas tarefas gerais e as particulares definidas por cada país. Então, o desafio consistirá em passar 52MORIN, Edgar. A Cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Trad. Eloá

Jacobina. 7. Ed. Rio de Jeneiro, Bertrand Brasil, 2002, p. 21.53Idem, p. 2254Monológico: vem de Mnos (do grego, Móvos), que signifi ca sozinho

Ensino cumulativo Escola Monológica

α

δ δEnsino Perfomativo Escola Perfomativa

β

55DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Trad. José Carlos Eufrázio. Lisboa, ASA, 1996.

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da escola monológica para a escola perfomativa e do ensino cumulativo ou bancário para o ensino perfomativo, como as setas (delta) indicam.

A escola monológica realiza o ensino cumulativo. Pensa sozinha. É uma escola fechada em si mesma. Não vai ao Povo, mas pede ao povo para que venha a si, dado que se considera como único espaço de conhecimentos científicos válidos. A sua pretensão de validade reside nos conhecimentos acumulados ao longo dos tempos e dos livros que lê. Aproxima-se do povo, estrategicamente e não comunicativamente56, para lhe transmitir os conhecimentos. Ouve, mas não dialoga nem sequer é solidária, acaba decidindo sozinho. Ensina a saber “desenrascar-se” perante as agruras da vida.

A escola perfomativa realiza o ensino perfomativo. É permanentemente solidária com o homem, com a sociedade, com a pátria e com o mundo. Educa o aluno ou estudante a ser cidadão patriota, isto é, responsável “em relação à sua pátria”57. É uma escola dialógica. Ensina o aluno a saber dialogar com a sociedade e com as comunidades. Promove e dinamiza uma interação entre a escola e a sociedade. Dialoga com o pensamento e as experiências de vida e da história. Dialoga com a natureza, criando no aluno a consciência ecológica. A saber que o problema da erosão, do lixo na cidade ou na vila, a sujidade ambiental são seu problema. Forma o homem dialogante, solidário e não fanático. Dialoga com as comunidades para aprender delas os saberes locais58 e permutar conhecimentos transformadores da vida comunitária para o seu bem-estar progressivo. Dialoga com a globalização para dela tirar proveito e comunicar-se com o mundo. A escola perfomativa prepara o aluno a identificar oportunamente as “armadilhas” da globalização, esse “terramoto económico e

social”, utilizando a expressão de Schumann59 , mas ao mesmo tempo ensina a saber recolher as vantagens para o seu proveito e da sociedade na qual vive. A pobreza do povo é sua preocupação. Assume a democracia como seu estatuto de estar na sociedade e assim educa os seus alunos ou estudantes. Educa os estudantes no valor da diversidade cultural e de ideais, como esteio da paz social. Ensina a saber viver e o aluno aprende a saber viver. O saber viver é um dos desafios identificados pela Agenda 2025. Edgar Morin apontava-o já nos anos 90 do século XX, como um dos desafios do homem do século XXI. Segundo este cientista, a escola terá de ensinar o aluno ou estudante, como cidadão, “a viver”, como condição para enfrentar a globalização. Para isso, Morin recorda-nos Durkheim, para quem “o objetivo da educação não é o de transmitir conhecimentos sempre mais numerosos ao aluno”, mas o de “criar nele um estado interior e profundo, uma espécie de polaridade de espírito que o oriente num sentido definido, não apenas durante a infância, mas toda a vida”.

Essa deverá ser a orientação da escola neste século. Uma escola desafiada a formar o capital humano, como “agente apto a utilizar as novas tecnologias, (...) com um comportamento inovador”; uma pessoa “capaz de evoluir, de se adaptar a um mundo em rápida mudança e capaz de dominar a transformação”60. A escola perfomativa é a única capaz de formar capital humano com esse perfil e, no seu tipo ideal, a única capaz de provocar com eficácia o desenvolvimento rural. Significa que o próprio professor deve ser capital humano.

Em suma, o século XXI não se compadece com a escola monológica, com ensino cumulativo. Este século postula uma escola perfomativa com um ensino igualmente perfomativo. A escola e o ensino que persistirem no ensino cumulativo não só serão marginalizadas como serão sempre subservientes, sem

56Tomamos os conceitos estratégicos e comunicativo no sentido habermasiano de agir comunicativo e agir estratégico. 57MORIN, 2002: 65.58Cfr. GEERTZ, Cliford. O Saber Local. 2.ed. trad. Vera Mello Joselyne. Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 1997.

59MARTIN et alii, Op. cit., p. 113. 60MORIN, 2002: 47-54

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identidade e arriscam-se a desaparecer perante um mercado que vai exigindo altas qualificações com competência, mais do que o papel do diploma que pode ser comprado. Ora, as comparências não se vendem, nem se compram.

6. O Professor: pensando no desenvolvimento rural:

6.1. Os grandes educadores como Confúcio (551-479 a.C.), Sócrates (469-399 a. C.), Comenius (1592-1670), Pestalozzi (1712-1778), Émile Durkheim (1858-1917), Ortega y Gasset (1883-1955), Vygostsky (1896-1934), Piaget (1896-1980), Bruner (1916-), Paulo Freire (192-1997), Basil Bernstein (1925-2000), Michael Apple (1942-), Edgar Morin (1922-), Julius Nyerere, Samora Machel, Tuntufye Mwamwenda, só para citar alguns, todos mostram que ser professor é, ao mesmo tempo, uma tarefa, uma vocação, uma profissão e, sobretudo, uma missão. Essas quatro dimensões do ser professor61 são interdependentes, complementares e se articulam entre si como se indica no esquema:

Este quadro significa que o primeiro desafio do professor e resumo todos os restantes desafios é o de saber ser professor, em qualquer momento e em qualquer lugar. Como tarefa, ele deve realizar ações que lhe são traçadas pelo Estado e não pode fugir

delas, nem, a belo prazer, alterar os conteúdos dos programas de ensino. Deve cumprir essa tarefa com responsabilidade e, como tal, não ser professor despachante, que despeja a matéria ao aluno, não se preocupando com a assimilação pelos alunos, no extremo do ensino cumulativo. Nem sequer ser professor supersónico, que corre com as matérias a grandes velocidades, não se fazendo ouvir e sem se preocupar com o tempo de aprendizagem necessário ao aluno, porque corre para outras actividades pessoais da machamba, beber, recolher-se nas explicações aos seus próprios alunos porque dá mais dinheiro ou ir dar aulas noutros estabelecimentos de ensino em detrimento da instituição onde está vinculado. Ser professor é uma profissão. É uma profissão de tipo especial, cuja função é educar. Comenius já dizia no séc. XVII que ensinar é uma arte e responsabilidade62

. Kant (1724-1804) identificava a arte de governar e arte educar como duas invenções dos homens das mais difíceis entre todas63. Celebra um contrato com o Estado e por ele se compromete a exercer condignamente a profissão que o torna funcionário do Estado. Do mesmo contrato, espera receber do Estado todo o apoio, condições necessárias e motivação para o seu bom desempenho. Como vocação, direi em resumo, que a tarefa e a profissão de ensinar não podem ser confiadas a qualquer pessoa, pela responsabilidade que a sociedade e a Nação dão de educar os seus filhos, os seus cidadãos. O ser professor é, acima de tudo, uma missão. Como diz Edgar Morin, é “uma missão de transmissão” de conhecimentos, de ensinar a saber ser, saber estar, saber fazer e a saber pensar. Grande responsabilidade. Essa transmissão exige competência, “além de que é também uma técnica, uma arte”64 . Em suma, o professor deve ser competente. As comunidades rurais querem um professor com vocação e assuma profissão como missão. Dizia-me um dirigente que a sociedade pode tolerar uma asneira numa pessoa doutra

SER PROFESSOR

é

Tarefa Vocação Profissão Missão

61Desenvolvi essas quatro dimensões por ocasião do Conselho Coordenador do Ministério da Educação, realizado na Cidade de Quelimane, no dia 12 de Agosto de 2010.

62COMÉNIO, João Amós. Didáctica Magar. Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos. Trad. Joaquim Perreira Gomes. 5. Ed. Coimbra, Fundação Calouste Gulbenkian, Serviço de Educação e Bolsas, 2006, p. 45.63KANT, Immanuel, Sobre a Pedagogia. Trad. João Tiago Proença. Lisboa, Editora Alexandria, 2004, p.16.64MORIN, 2002: 101.

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profissão, mas não tolera a um professor, não que ele seja santo, mas por que ele educa e, por isso, deve ser modelo dos seus alunos e da sociedade.

6.2. Passo agora a referir-me aos desafios de ser professor em cada um dos três níveis do nosso ensino: primário, secundário e superior. Esses níveis, no conjunto do sistema de educação, pressupõem uma articulação de acção e coordenação de esforços de mais actores imprescindíveis, se se quiser que o processo de ensino e aprendizagem logre resultados. Esses actores são: a própria escola, o Estado, as comunidades locais (= como “cidadãos individualmente ou colectivamente organizados)”65.

No entanto, há uma plataforma comum em todos esses níveis, devendo cada nível realizá-la à responsabilidade do seu escalão:

- a missão de “ensinar a viver” e a saber pensar;- transmitir sabiamente os conhecimentos;- ensinar a saber transformar esses conhecimentos para o bem próprio, da sociedade e saber assumi-los ao longo de toda a sua vida;- ensinar de tal modo que o aluno/estudante saiba transformar as informações que recebe e os saberes que adquire em conhecimento e a saber “transformar «esse» conhecimento em sapiência”66.

Esta plataforma visa a formação duma cabeça bem-feita. Ela é válida não só para escolas das zonas rurais como para as das zonas urbanas, com algumas especificidades. Zonas rurais onde tudo existe: o homem e os recursos que a terra oferece, mas também onde a pobreza mais se caracteriza pela “carência

de potencialidades básicas”, adotando o conceito de Amartya Sen 67.

Acredito que muitos aspectos não serão novos, porque o Ministério da Educação deve os ter contemplado nos programas de ensino. O que faço é talvez reforçá-los e facilitar o debate de ilustres personalidades presentes neste espaço que a todos nos orgulha.

6.2.1. No Ensino Primário:

No ensino primário, o professor conduz ou deverá conduzir o processo de ensino e aprendizagem no sentido da criança se situar desde cedo no mundo (a comunidade local) que a rodeia, saber o ser humano, valorizar a vida, começar a crescer no espírito da verdade, no sentido de servir a sociedade e saber respeitar a família, a pátria e a Deus.

A primeira condição humana da criança é a de saber comunicar-se na língua materna e na língua oficial do Estado moçambicano, que é o português. São importantes as disciplinas de comunicação e linguagem, como a escrita com boa caligrafia, a leitura e a gramática. À medida que vai ganhando o domínio de escrever bem e de forma legível, de ler e falar correctamente, no caso bilingue, nas línguas 1 e 2, vai se apercebendo da vastidão do mundo através da geografia, geometria e desenho. Penso que a caligrafia devia ser obrigatória. Pela caligrafia também se avalia a responsabilidade. A boa caligrafia significa que a pessoa se preocupa em se comunicar bem com outra pessoa e fazer-se entender. O domínio do computador não substitui a boa caligrafia. Pela biologia, vai descobrindo a natureza do ser humano e cada vez mais respeitando o corpo humano e saber prevenir doenças contagiosas e endémicas como a tuberculose,

65SANTOS: 2005:60.66MORIN, Op. Cit., p. 47. 67SEN, Amartya. O Desenvolvimento como Liberdade. Trad. Joaquim Coelho Rosa. Lisboa,

Gravida, 2003, p. 101-124.

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a malária, o HIV/Sida e a própria cólera, conservando limpo o meio ambiente. A disciplina de biologia deve ajudá-la a descobrir-se e a descobrir a constituição do corpo humano, os cuidados de higiene, a idade apropriada de relações sexuais, os rapazes e as raparigas a respeitarem-se mutuamente e a razão por que se deve evitar casamentos e gravidez prematuros. Ao aprender esses cuidados, a criança poderá influenciar melhor os seus tios e avôs a praticar os ritos de iniciação em ambiente de higiene e, se não tiver coragem de o dizer, porque é tabu, mwikho em emmakhwa, ela quando crescer jamais permitirá que os seus filhos se submetam a esses ritos em ambiente pouco higiénicos, de poeiras e sujeita a infecções várias. Vai crescendo e depositando mais confiança nas unidades sanitárias. Vai-se formando no sentido de coerência dos hábitos de vida com os conhecimentos científicos adquiridos na escola. A escola acaba sendo tempo e espaço de formação e não apenas de instrução.

Vai perceber que a vida é a maior riqueza do ser humano e não só deve amá-la, como ninguém tem o direito de tirar a vida a outrem, nem fazer justiça por suas próprias mãos, desenvolvendo assim o sentido de respeito à norma e confiança nas leis e nas instituições de justiça pública.

Vai desenvolvendo a cultura de leitura, através de textos infantis e de escritores nacionais. Por esses textos vai melhorando a redação, a escrita, e crescendo no sentido crítico e de verdade. Tanto os poemas em língua portuguesa como os contos (karingana wa karingana) e provérbios locais são determinantes nessa fase de aprendizagem. O professor pouco poderá avançar se as escolas primárias não tiverem bibliotecas apetrechadas com livros e se ele próprio não tiver o hábito de leitura. A matemática joga um papel fundamental no sentido de rectidão, de lógica e busca da verdade. No entanto, percebi nas minhas pesquisas que, geralmente, os professores das escolas primárias têm muitas dificuldades de aproveitar a abertura dos 20% do tempo curricular para enriquecer o programa com os saberes locais.

Vai, igualmente, descobrindo que a sociedade moçambicana é estruturalmente complexa e diversificada na sua composição; aprende que essa diversidade cultural é que faz a nação moçambicana. A criança começa assim a crescer na cidadania multicultural: que a moçambicanidade não se define pela configuração tribal ou étnica, mas pela capacidade cidadã de convivência multicultural, de cooperação e de solidariedade. Por conseguinte, a existência de concidadãos de etnias diferentes não constitui nenhuma invasão territorial e eles não são “vientes”. Daí o respeito pela diferença e pela sua dignificação. As ditas ciências sociais, como a história, que constam do currículo para este nível, deveriam ajudar a criança a crescer nesta direcção de moçambicanidade, de cidadania multicultural, de cooperação e solidariedade. Neste memo sentido, são importantes as disciplinas dos trabalhos manuais ou ofícios, de educação física e a prática do desporto.

Partindo do pressuposto de que o Distrito é o polo de desenvolvimento e a maioria dos distritos se situam em zonas rurais, seria importante que a criança receba desde cedo conhecimentos elementares sobre a poupança, juros e se aperceba da importância de guardar dinheiro no banco e que a poupança pressupõe rendimentos da produção e não da usura ou de corrupção. As estruturas governamentais do Distrito têm um papel fundamental na estabilização das direcções das escolas. Há uma inquietação de que os professores são muitas vezes solicitados a actividades extra-escola, que interferem no tempo lectivo. A partir de certa altura, a escola já não consegue repor as horas interrompidas, o que se reflecte no aproveitamento pedagógico dos alunos no fim do ano.

Seguimos as teorias piagetianas de desenvolvimento humano, é neste nível de ensino que a criança aprende a apegar-se mais à família, a respeitar com mais intensidade os pais, a amar a pátria e os símbolos de identificação nacional. Solidifica o afecto familiar e o espírito patriótico, sem cair no nacionalismo estreito que pode conduzi-lo ao fanatismo. Conhece os feitos históricos da sua pátria e as autoridades nacionais e locais.

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É importante a educação cívica no sentido weberiano68 . Nesse nível de ensino, aprende também a importância vital da região. Alguém dizia que assim como o pensamento está para a filosofia e ciência, a oração está para a região que liga o homem a Deus. Aprende por que razão a Constituição da República integra a religião no capítulo referente aos direitos fundamentais do cidadão69.

6.2.2. No Ensino Secundário:

Na antiguidade clássica, os romanos apreciam o homem culto. Assim a educação do cidadão romano tinha por objetivo formar o homem culto. Os gregos, pelo contrário, apreciavam o guerreiro e só podia ser político (governante ou membro do senado) quem tivesse sido guerreiro. No período helénico, a educação tinha por objectivo formar um cidadão culto, que soubesse servir ao estado.

Em algum momento se deve educar o cidadão a ser homem culto, que ama a sua pátria e saber servir à sua sociedade que o educa. O momento é, no meu entender, o nível do ensino secundário. Em poucas palavras é o nível apropriado para o aluno (dos seus 14 a 18 anos de idade) aprender “a verdadeira cultura”70. Até porque começa a ser difícil chamar atenção a um estudante do ensino superior, que se julga já educado, mesmo quando ostenta lacunas de formação em regras básicas de urbanidade e civismo.

As comunidades rurais querem que os seus filhos aprendam bem, preparados para um futuro sem pobreza. Refiro-me à ânsia da cultura de conhecimento (curiosidade à ciência), e cresçam na cultura de trabalho (no sentido da diferença entre trabalho e ocupação, e no de que sem trabalho não há vida possível e ele é a única

fonte de riqueza honesta), na cultura desportiva (com impacto na saúde e na convivência social: saber ganhar com mérito e saber perder e saber saudar quem ganhou) e na cultura de laser (como momento de descontracção, de combate ao stress, de fruição e saber descansar. É importante ensinar a saber descansar. A cultura do laser estimula o turismo, o embelezamento da casa e dos locais públicos, construção de praças, jardins, o cultivo das artes, nas cidades, nas vilas e nos municípios, por exemplo. Pois, o laser é também terapia). Nesses quatro tipos de cultura, o aluno prepara-se melhor para o combate à pobreza e à criação de riqueza nacional versus o bem-estar.

Essa fase é determinante para o aluno. Através das disciplinas das ciências e das humanidades o professor ajuda o aluno a aprofundar os conhecimentos sobre o Universo na sua imensidão, sobre a terra onde habita com outros homens e foi dada ao homem para dela explorar racionalmente as suas riquezas, sobre a vida que deve estimar e valorizar e sobre o humano, com respeito e humildade71. Embora cada disciplina tenha um peso próprio, definido centralmente pelo Ministério da Educação, nenhuma disciplina deve ser sacrificada, por exemplo, o ensino das humanidades. Morin observa que “uma das principais missões do professor secundário é a salvaguardar a cultura das humanidades” . Tanto as matemáticas como a filosofia, as ciências agrárias como história nacional, a geometria como o desenho e as artes plásticas, tanto as ciências marinhas como a literatura, tanto o empreendedorismo como a poesia são todas importantes e se complementam na formação do homem culto e cidadão.

Ao abrir-se num distrito ou numa localidade uma escola média profissional, não se deve sacrificar o ensino das humanidades, mas também ao abrir uma escola secundária geral, é importante que o aluno adquira já da escola competências do saber-fazer que lhe permitirão na vida prática caminhar para uma maior autonomia económica e não depender apenas do salário como

68WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. Trad. Leonidas Hegenberg e Octany Silveira da Mota. São Paulo, Cultrix, 1993.69CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, 2004, artigo 5470MORIN, Op. cit. p. 78 71MORIN, Op. cit ., p. 79.

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emprego. A matemática ensina ao aluno a saber pensar com lógica nas operações que realiza. As noções básicas de agricultura e geometria no espaço capacitam-no a saber rentabilizar a terra para que a semente melhorada produza quantidades competitivas no mercado e para combater com eficácia a fome. A história nacional deveria ajudá-lo a inserir-se melhor na sua comunidade, no seu país, no continente, nesta era planetária e alimentar a formação da cidadania, moçambicanidade e a auto-estima.

Os programas de ensino devem ajudar o aluno a “internalizar a história da sua nação”, a história da sua aldeia ou comunidade onde vive o dia-a-dia, conhecer os recursos nela existentes, e a saber “situar-se no futuro histórico” da África, e, “mais amplamente, da humanidade”72 .

Estes desafios de ensino e aprendizagem obrigam que o professor, na sua formação profissional, tenha conhecimentos básicos de antropologia cultural e da psicologia de desenvolvimento para melhor saber-se na comunidade de trabalho e orientar melhor o aluno sob o ponto de vista pedagógico. Pedagogos como Pestalozzi (1746-1827) e Edgar Morin (1921-) (bastante distanciados no tempo) enfatizam a necessidade do professor se “educar sobre o mundo e a cultura dos adolescentes”. Verifica-se muitas vezes que o professor não conhece o mundo e as micro-sociedades que rodeiam a escola, que moldam a cultura dos adolescentes73 e se reflectem na sua aprendizagem.

Outro desafio para o professor comum às escolas da zona urbana como às das zonas rurais refere-se aos meios de comunicação social e às novas tecnologias. Com o mercado liberalizado, os meios de comunicação social, particularmente, as televisões e a internet, veiculam também imagens, filmes ou novelas nem sempre decorosos e com cenas de violência e agressão.

O professor tem de ser formado também na leitura dessas imagens estereotipadas de modo que o aluno saiba que nem todas as cenas que vê devem ser imitadas e muito menos assumidas para fundamentar a violência e o alcoolismo.

Penso que todas as escolas das zonas rurais deviam dar noções de agricultura, de criação, tratamento e cuidados de animais, incluindo de piscicultura, habilitando, deste modo, o aluno para, na sua prática, participar mais tecnicamente na luta contra a fome. A este nível, todos os alunos, da 8ª a 12ª classes, deviam possuir um laptop. Assim como há alguns anos a ardósia foi um meio didáctico obrigatório, hoje o computador impõe-se por si mesmo. Isso obriga a que o professor vá à escola já capacitado no manejo desses meios informáticos. As escolas beneficiariam muito mais das capacidades das Vilas do Milénio, transformados em bancos de conhecimento.

Dos contactos mantidos com professores e técnicos superiores da educação, percebi que há outro fenómeno que afecta a qualidade deste nível de ensino e justifica em parte as excessivas reprovações. A Universidade Pedagógica tem vindo a formar docentes com formação superior, especializados para o nível secundário, mas nem todos são aproveitados. Face à demanda ou pressão social, e como não se pode deixar as classes sem professores, os distritos deslocam os professores com formação de 12ª +1, para dar aulas nas 8ª, 9ª e 10ª classes.

Outro fenómeno é a interrupção das aulas nas escolas do ensino primário e secundário, sobretudo nas zonas rurais. Os distritos e os municípios interrompem as aulas para os alunos e professores receberem uma autoridade que vem fora da localidade ou distrito. A partir de um certo número, torna-se muito difícil os professores reporem as aulas interrompidas. Tanto os professores como os técnicos superiores acham que se devia regulamentar os actos e as

72MORIN, Op. cit., p. 78.73MORIN, 2002: 80

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personalidades cujas visitas requerem a interrupção das aulas.

Penso que o ensino secundário devia todo ele ser profissionalizante, embora diferenciado do ensino técnico profissional que tem uma vocação própria. Assim, o aluno graduado do ensino secundário geral estaria igualmente em condições de criar auto-emprego ou ser facilmente aceite no mercado pelas competências profissionais que traz da escola. Essa reorientação para um ensino profissionalizante tem implicações semelhantes nas instituições de formação de professores.

O professor ideal para os desafios deste século e pela qualidade de ensino que se exige para o desenvolvimento das zonas rurais deve ter uma formação de bom nível. Penso que é tempo de se começar a formar professores com o nível superior para o ensino primário. Os actuais professores com formação dos institutos de formação IFPs sentem na prática as suas limitações e, na sua maioria, prosseguem os estudos para cobrir lacunas que sentem. Cada um ingressa num primeiro curso que se lhe abre portas, nem sempre ligado à sua área profissional. Isto também influencia na baixa qualidade de ensino. Penso que a Universidade Pedagógica e as Faculdade de Educação doutras Universidades poderiam assumir essa tarefa.

Nas mesmas pesquisas, foi-me igualmente observado que a qualidade de ensino primário passa também pela afectação de pessoal qualificado nas direcções das escolas. Esse pessoal existe e continua a ser formado pela Universidade Pedagógica através dos cursos de Gestão de Recursos Humanos/Inspecção, de Planificação Administração e Gestão Escolar, abreviadamente conhecido pelos estudantes por PAGE e de Gestão Ambiental, Planificação e Desenvolvimento Comunitário. Sem contar com os dos anteriores, só em 2011 A Universidade Pedagógica graduou naqueles cursos

1.202 estudantes no total, assim distribuídos:

Sugere que sejam aproveitados os graduados nesses cursos, afectando-os através de concursos públicos para as direcções das escolas primárias e secundárias e se estabilize essas direcções por um mandato a ser determinado pelo Ministério da Educação. Faz-se referencia à experiencia positiva do Instituto de Formação de Professores “Alberto Chipande”, em Pemba. 6.2.3. No Ensino Superior:

a) Quando chegamos ao ensino superior nas diversas modalidades de universidade, institutos e escolas superiores, a reflexão ganha outro peso, porque são outras a sua missão, a sua função e as suas responsabilidades. Quanto mais se qualifica nos conhecimentos técnicos e científicos, mais é chamada a ir ao Povo.

Há duas diferenças nítidas entre este nível de ensino com os dois precedentes, o primário e o secundário. Enquanto nestes o enfoque do ensino é a formação do aluno com uma cultura geral, a formação de uma consciência cidadã e planetária no sentido de solidariedade com a humanidade e conhecimentos básicos para a vida, já no ensino superior o enfoque é gerar conhecimento e competências que habilitem o estudante para o desenvolvimento da sociedade. Não se pode pensar o ensino superior sem a sua ligação directa com o desenvolvimento da sociedade. Nas instituições do ensino superior as três actividades de docência

Graduação 2011 UP: Maputo Beira Gaza Nampula Quelimane TOTAL

Gestão de Rec. Humanos/Inspecção: 209 - - - - 209

PAGE: 422 142 - 165 65 794

Gestão Ambiental, Planificação eDesenvolvimento Comunitário: 25 11 119 - 44 199

Total: 656 153 119 165 109 1.202

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(D), investigação (I) e extensão universitária (Eu) tornaram-se quase uma ladainha académica. Analisando bem, nenhuma dessas actividades é exclusiva da universidade. O ensino primário e o ensino secundário também realizam a docência. Como observa o sociólogo brasileiro Pedro Demo, a própria pesquisa não é uma actividade exclusiva da universidade. É que, muitas vezes, tem-se um conceito errado de pesquisa. Quando se fala de pesquisa, pensa-se sempre em pesquisa de ponta e associa-se esta à universidade ou aos centros de investigação. Quando se fala de pesquisa de ponta, só se reconhecem aquelas realizadas nos Estados Unidos da América, na Europa, no Japão, no Canadá ou Austrália. Mas a pesquisa é, “antes de tudo, ambiente de aprendizagem” e uma “reconstrução do conhecimento”74 . Pedro Demo avança mais dizendo que pesquisa, assim entendida, começa no próprio ensino pré-escolar e se prolonga por toda a vida, porque “reconstruir conhecimento não é tarefa especial para curso especial, mas função da vida” (idem, p. 77).

Outra diferença é a ligação da escola com a comunidade, que nos centros educacionais das zonas libertadas da Frelimo durante a luta de libertação nacional, tornou-se um princípio. Quer dizer, a extensão universitária não é uma actividade exclusiva da universidade. Ai do ensino superior que não se liga com as comunidades. Só que nas universidades segundo Boaventura de Sousa Santos, a extensão universitária deverá surgir, neste século XXI, como alternativa contra-hegemónica da globalização. O capitalismo global acaba reduzindo as universidades, sobretudo nos países periféricos em “agências de extensão ao seu serviço” 75. Condiciona o apoio financeiro a projectos de pesquisa que lhe são úteis. Boaventura de Sousa Santos entende que cabe às próprias universidades desencadearem reformas que coloquem a extensão no centro das suas actividades, “com implicações no curriculum e nas carreiras dos docentes”. São muitas as vantagens da extensão universitária, na medida em que ela reforça a coesão social, ajuda

a aprofundar a democracia, é uma forma de luta contra a exclusão social, às doenças endémicas como HIV/SIDA e à malária, desde que essas actividades não visem “arrecadar recursos extra-orçamentais”76.

O que qualifica uma instituição do ensino superior performativo e justifica a sua existência é o seu vínculo necessário ao desenvolvimento da sociedade.

A seta alfa significa que é a sociedade que justifica a instituição do ensino superior, seja ela pública ou privada. Significa que a instituição do ensino superior presta contas à sociedade para validar a sua existência e o seu desempenho. Quando se torna improdutiva, a sociedade pode fecha-la, quer por iniciativa do Estado que é soberano, quer retirando os seus estudantes, reorientando-os para instituições mais sérias. Não se pode pensar que, como o povo está sedento de educação e por ser zonas rurais, pode-se abrir um ensino residual, sem obedecer aos requisitos oficiais do Estado. As zonas rurais não podem ser lixo dum ensino de lixo.

O vector gama reproduz a tese central do vínculo necessário ao desenvolvimento. Não se trata do mero enriquecimento da entidade instituidora, mas do desenvolvimento da sociedade. É o sentido da seta beta.

74DEMO, Pedro. Professor do futuro e reconstrução do conhecimento. 4. Ed. Petropolis, Rio de Janeiro, Editora Vozes, 2004, p. 78.75SANTOS, Op. cit., p. 73

76Idem, p. 73-74

SOCIEDADE(Comunidades Locais)

α β

IES DESENVOLVIMENTO

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Assim, a sociedade e as comunidades locais pedem à instituição do ensino superior três coisas, como nos recorda Edgar Morin:

i) Que a instituição do ensino superior saiba conservar dinamicamente a herança cultural do povo, nos seus saberes, ideias e valores, na medida em que não é possível construir o futuro sem salvaguardar e preservar o passado histórico e cultural (o património local, nacional e da humanidade);

ii) Saiba regenerar essa herança, actualizando-a, reexaminando-a regularmente e transmitindo-a às novas gerações;

iii) Saiba gerar saberes, ideias e valores para o bem da sociedade e o bem-estar dos seus cidadãos.

Uma instituição do ensino superior, particularmente a universidade, é, por missão e função, dinamicamente conservadora, racionalmente regeneradora e geneticamente geradora e criativa77 . Talvez seja esta a maior expectativa da sociedade, em geral, ou das comunidades rurais em particular, quando pedem uma instituição do ensino superior na sua localidade: que ela saiba gerar saberes que lhes ajuda a sair da pobreza; traga ideias novas que lhe abra as mentes e valores que reforçam o seu ethos.

Resumindo esquematicamente a missão e a função do ensino superior, temos:

Quadro: Missão e Função do Ensino Superior. Elaborado a partir de E. Morin.

A Escola Superior de Ciências e Costeira de Quelimane parte do pressuposto de que a investigação deve ser inspirada nos problemas das comunidades (da sociedade) e as soluções devem ser obtidas no terreno numa busca interactiva entre os docentes, estudantes, as comunidades e que só assim elas podem ter impacto na melhoria da vida das comunidades. Ambas, a Escola e as Comunidades definiram em conjunto duas áreas prioritárias neste momento: a piscicultura e a pesca artesanal. A Escola trabalha com pescadores artesanais de Zalala em Quelimane, da praia de Pemba, de Zonguene (Gaza), da Albufeira de Cahora Bassa (Tete) e de Metangula, no Distrito do Lago (Niassa). Essa ligação faz-se sentir na melhoria da gestão da pescaria, no processamento e conservação do pescado. Estão, igualmente, a desenvolver tecnologias de conservação do pescado introduzindo congeladores solares e eólicos, fabricados pela Escola, para não dependerem unicamente do combustível importado que lhes fica caro. Na área de piscicultura, construíram um conjunto de tanques de criação de peixe em Zonguene e Chonguene, na província de Gaza e para cultivo de tilápias numa Quinta das Mahotas, sempre com o envolvimento dos estudantes.

Outra experiência é da UniLúrio de Nampula. No seu processo de ensino e aprendizagem, cada grupo de estudantes do Curso de Medicina está vinculado a uma comunidade local. O Curso de Nutrição trabalha com mães locais no aproveitamento da casca do ovo para a produção de farinha, rica em cálcio para as crianças. O mesmo fazem com as sementes de abóbora, que aproveitam para o fabrico de farinha de alto valor nutritivo. O Curso de Agricultura da Delegação de Sanga trabalha com os agricultores locais para a melhoria das sementes que, durante duas semanas, vão viver conviver com elas, inclusive, indo trabalhar conjuntamente nas suas machambas. A UniLúrio parte do pressuposto de que as famílias e as comunidades, ao mesmo tempo que são objecto na sua pobreza como carência de potencialidades, nas suas necessidades e problemas), são também sujeito, que devem ser envolvidas inclusive na investigação, cujos resultados vão melhorar igualmente o processo de ensino e aprendizagem. Ao proceder deste modo, o processo torna-

1ª 2ª 3ªMissão de: Conservar Regenerar Gerar (criar)

a herança cultural do Povo essa herança saberes, ideias e valores

Função de: Docência Investigação Extensão Universitária1ª 2ª 3ª

77Essas três características são-nos recordadas por Edgar Morin (Op. Cit., p. 81).

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se dialógico e democrático. Experiência curiosa: na última campanha agrícola, a Faculdade da Agricultura teve maus resultados na produção do feijão. Os docentes não quiseram aceitar a experiência dos agricultores. Disse-me o Reitor, Professor Ferrão, que os docentes e investigadores recorreram a todas as suas teorias e livros para a produção do feijão e os resultados foram nulos. Aprenderam que na segunda campanha deve escutar mais aos agricultores e rever as teorias que ensinam aos estudantes.

Não posso dizer que estas duas instituições sejam as únicas. Posso dizer, sim, que estão num bom caminho e constituem exemplo a seguir. Acredito que haja muito mais experiências de instituições públicas ou privadas que caminham nesse sentido. No entanto, tenho a percepção de que as instituições do ensino superior instaladas nas zonas rurais são mais abertas, mais dialógicas e envolventes, mais propensas ao ensino perfomativo, do que as instaladas nas cidades que lutam entre o modelo mais clássico e tradicional de ensino e o modelo perfomativo.

A segunda diferença com o ensino primário e o secundário é que uma instituição do ensino superior é mais flexível no seu funcionamento académico. É resultado da autonomia de que dispõe. Uma instituição do ensino superior tem (ou deve ter) a liberdade de a qualquer momento abrir um curso de formação ou campo de pesquisa de acordo com as necessidades da sociedade. Faculdade essa que o ensino primário e secundário não têm.

Acrescento duas características do ensino superior, que contrariam a histórica reforma de Humboldt em Berlim no século XIX. A primeira é que toda a especialização, sobretudo no ramo das ciências, configurada em departamentos, deve estar intimamente ligada ao geral. Quem de facto percebeu isto foi o Director do Instituo Federal da Tecnologia de Zurique, Suíça, quando devolveu Albert Einstein à Escola Secundaria de Aarau para completar e “consolidar os conhecimentos literários,

históricos e linguísticos de base” 78. Este caso diz, no seu limite, que nenhum aluno deve ingressar no ensino superior sem a cultura geral das humanidades consolidada, mesmo quando se encaminhe para as áreas tecnológicas e cientificas como a física, química e engenharias. O ensino secundário tem a tarefa de consolidar no aluno essa cultura geral das humanidades. Um taxista na cidade da Beira, que me levou para a cerimónia de graduação da UP, ocorrida no dia 13 de Junho último, dizia-me: “alguns desses doutores não sabem escrever correctamente”. Não lhe respondi. Foi um reparo muito forte, mas não o contrariei. Através do escrever correctamente, o taxista e talvez os outros cidadãos moçambicanos, estão a exigir do graduado universitário uma cultura geral consolidada e como condição para ingressar no ensino superior onde se vai especializar numa determinada área científica.

Uma segunda característica que contraria Humboldt é que este, na sua reforma, achava que a formação profissional, embora importante, era uma vocação marginal e indirecta de Universidade79. Nas condições de pobreza de Moçambique, acho que áreas das humanidades devem constar dos seus programas de ensino e que a formação profissional não é vocação marginal da universidade.

O figurino desse ensino superior aberto, transformador, perfomativo, cria exigências ao professor que deve ensinar, investigar e envolver-se na extensão universitária.

7. A título de conclusão:

Como afirmei na introdução, o tema que me foi dado é complexo na sua compreensão e na extensão. Por isso, não podia ter a veleidade de esgotar a reflexão. Pretendi apenas

78MAZULA, Brazão. Pensar a “Educação Perfeita”: Comemorando Einstein 100 Anos Depois. Maputo, Imprensa Universitária/UEM, 2006, p. 29-30.79MORIN, 2002: 82.

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trazer umas ideias, por vezes, soltas, apenas para provocar o debate, consciente de que é deste debate que sairão propostas mais concretas.

A tese central da comunicação diz que o processo de ensino e aprendizagem é, em cada estágio da evolução da sociedade, desafiado fortemente pelas mudanças tecnológicas e ambientais, quer nas escolas das cidades quer nas das zonas rurais. Nas primeiras décadas deste século XXI far-se-ão sentir com maior acutilância seis desafios: i) a globalização; ii) o combate à pobreza e criação da riqueza nacional versus o bem-estar social; iii) a manutenção da paz e estabilidade social; iv) a democracia; v) a criação da consciência ecológica e vi) o repensar a própria escola.

Estes desafios obrigam a educação a passar do modelo de escola monológica para a escola perfomativa e a correspondente passagem do ensino e aprendizagem monológicos ou bancários para um ensino e aprendizagem perfomativos, mais dialógicos e abertos ao desenvolvimento das comunidades ou da sociedade. Ouso dizer que se se quiser uma educação determinante no desenvolvimento rural há que optar por uma educação perfomativa nos seus três níveis, particularmente, as universidades.

A comunicação termina incidindo mais nos desafios do processo de ensino e aprendizagem referentes ao professor nos três níveis de ensino primário, secundário e superior, e pensando mais no desenvolvimento rural. Apesar do professor ser o motor-chave desse processo, salienta-se que ele só poderá lograr êxito quando souber ser professor, houver uma articulação estreita de acção e cooperação com outros quatro actores, igualmente determinantes, que são Estado, as comunidades locais, o sector privado industrial e a própria escola.

Não posso terminar, sem mais uma vez saudar Sua Excelência o Presidente da República que pacientemente me escutou. Os

meus agradecimentos vão também para o gabinete de Estudos da Presidência da República, mais especificamente na pessoa da Exma. Senhora Dra Arlete Matola e a sua equipa, que me dirigiu o convite e me foi integrando nas praxes protocolares destas circunstâncias. A todas as personalidades presentes nesta sala, as minhas respeitosas saudações.

Muito Obrigado pela atenção dispensada!

Dr. Aurélio Simango no Seminário sobre o Papel do Professor

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“[…] Vamos começar a nossa Campanha de Alfabetização. Que os que sabem aprendam mais a ensinarem aos que não sabem. Que aqueles que não sabem aceitem aprender. Que todos e cada um se torne elemento activo da transformação do nosso País. Que todos e cada um se engaje no combate duro, longo, mas exaltante para pôr a ciência ao serviço do nosso progresso. Cada um aprenda a sentir a dor do outro como uma dor de todos nós. E dizemos: FAÇAMOS DO PAÍS UMA ESCOLA EM QUE TODOS APRENDEMOS E TODOS ENSINAMOS […]”

– Samora Moisés Machel80

O PROFESSOR E OS DESAFIOS DO ENSINO E APRENDIZAGEM NO SÉCULO XXI: UMA ABORDAGEM ORIENTADA PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

(Comentário ao texto de Brazão Mazula)

Por: Ernesto Vasco Mandlate

Introdução:

Com a permissão de Sua Excelência o Presidente da República, gostaria de iniciar esta intervenção agradecendo o convite que me foi formulado pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República, com vista a comentar a comunicação de tão conceituado Professor na área da Educação, o Professor Doutor Brazão Mazula.

Ilustres participantes,

O tema que nos propomos debater hoje, designadamente “O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma abordagem para o Desenvolvimento Rural em Moçambique”, é de suma importância, actualidade e relevância relativamente ao contexto sócio-económico de Moçambique.

Dr. Ernesto Mandlate a proferir a sua intervenção

80“A BATALHA DA ALFABETIZAÇÃO”. Discurso proferido pelo Presidente Samora Moisés Machel por ocasião da abertura ofi cial da Campanha Nacional de Alfabetização, no encontro com os trabalhadores dos Portos e Caminhos de Ferro. Maputo, 3 de Julho de 1978

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Para o presente seminário, serviu de premissa o argumento de Todaro (2000), segundo o qual, “Os sistemas de educação dos Países em Desenvolvimento (PeD), na actualidade, não se encaixam na visão holística do desenvolvimento rural”. Através desta afirmação, veio-me à mente que a maioria da população moçambicana vive em zonas rurais e por isso o desenvolvimento de Moçambique no seu todo passa necessariamente pelo desenvolvimento da zona rural do país.

Conforme pudemos ouvir, a comunicação do Professor Mazula desdobra-se em cinco grandes temas, a saber:

1. Desafios do Século XXI.2. Redesenhar a Escola.3. Tipos de Ensino: rumo a tomar (ensino cumulativo versus

perfomativo).4. Da Escola Monológica à Escola perfomativa.5. O Professor: pensando no desenvolvimento rural.

Ao longo do artigo ora apresentado, o autor brinda-nos com experiências e exemplos de uma amostra pequena, mas significativa na ilustração de conceitos e processos no domínio da Educação, ou melhor, em toda a esfera sócio-cultural. Em termos geográficos, o artigo viaja por experiências do Norte, Centro e Sul de Moçambique, fazendo notar que os desafios do ensino e da aprendizagem são praticamente os mesmos em todo o Moçambique e certamente na zona da SADC e em muitos países em desenvolvimento.

Nos cinco temas tratados ao longo da sua comunicação, o orador (Professor Mazula) coloca igual número de desafios, que servem de pano de fundo na sua reflexão didáctica em torno da Educação em prol do desenvolvimento rural em Moçambique, designadamente: (1) a globalização, (2) o combate à pobreza e consequente criação do bem-estar, (3) a paz e estabilidade social, (4) a democracia e (5) a consciência ecológica. Este pentágono é nos repetido algumas vezes ao longo dos diferentes capítulos da comunicação.

Na sua introdução, o orador chama atenção para as características do grupo-alvo do objecto do tema chave deste seminário, que são as comunidades rurais, constituídas fundamentalmente por camponeses que vivem ou sobrevivem da terra, herdada dos seus avôs ou antepassados, vivendo por vezes na pobreza extrema, mas aspirando uma vida melhor. É sobre este segmento social na sua relação com o ensino-aprendizagem para o desenvolvimento que hoje queremos discutir.

Não é pretensão deste texto comentar a comunicação do Professor Mazula na íntegra, mas sim dar uma singela contribuição para o debate em certas partes que parecem cruciais na análise da problemática “O Professor e os Desafios do Ensino Aprendizagem no Século XXI: Uma abordagem para o Desenvolvimento Rural em Moçambique”.

Da Globalização

O orador, no seu texto, considera, e com razão, as tecnologias de informação e comunicação (TIC) a arma forte da globalização e como arma, ela funciona como um pau de dois bicos: ou apropriamo-nos dela e usamo-la em nosso proveito ou colocamo-nos como vítimas dela. As comunidades precisam de uma visão mais ampla de como as TIC podem ser usadas de forma proveitosa para os sectores onde elas trabalham e para o desenvolvimento do país no seu todo.

Segundo Collis & Moonen (2001) o uso de Tecnologias, em caso específico, a Internet na Educação, imprime mudanças na atitude do professor e do estudante. O uso das TIC introduz uma situação híbrida no processo de ensino-aprendizagem, pois mantém-se o ensino presencial, mas combinado com o ensino “online”. A combinação dos dois modelos, o “online” e o presencial é uma das manifestações de “Blendend Learning”, conceito bastante usado e discutido na aplicação das TIC no ensino.

É importante referir que, Moçambique tem uma política informática desde o ano 2000, que assenta em seis pilares, a saber:

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(a) Contribuir para o combate à pobreza e para o melhoramento das condições de vida dos moçambicanos;

(b) Assegurar o acesso dos cidadãos aos benefícios do saber mundial;

(c) Elevar a eficácia e eficiência das instituições do Estado e de utilidade pública na prestação dos seus serviços;

(d) Melhorar a governação e administração pública;

(e) Fazer de Moçambique um produtor e não um mero consumidor das tecnologias de informação e comunicação;

(f) Elevar Moçambique ao nível de parceiro relevante e competitivo na Sociedade Global de Informação (Política Informática de Moçambique, 2000).

Esta política informática definiu igual número (seis) de áreas de actuação com vista à implantação de uma sociedade de informação em Moçambique, nomeadamente: (1) educação, (2) desenvolvimento de recursos humanos, (3) saúde, (4) acesso universal, (5) infra-estruturas e (6) governação. O documento da Política Informática ressalva, no entanto, que as seis áreas explicitadas não devem ser vistas de forma exclusiva, pois outras áreas também se revelam importantes, sendo o caso da agricultura e recursos naturais, o meio ambiente e o turismo, o comércio electrónico e a protecção do negócio, a protecção do público, a rede de instituições académicas e de pesquisa, a mulher e a juventude, a cultura e a arte, e a comunicação social (idem).

As tendências demográficas das últimas décadas permitem observar que a percentagem da população rural tem vindo a decrescer, contrariamente à tendência crescente da percentagem da população urbana, mas mesmo assim, a percentagem da população rural continua acima da percentagem da população urbana. Pelas condições oferecidas pelas zonas urbanas, pode-se ter a tentação de investir mais acções de uso das TIC para o desenvolvimento nas cidades, pois é lá onde as condições de acesso a estas tecnologias são melhores, ou seja, é lá onde existe a electricidade,

as telecomunicações e menor taxa de analfabetismo. Contudo, uma tal estratégia iria apenas aumentar o fosso entre a cidade e o campo e não levaria a nenhum desenvolvimento do país no seu todo. Por isso, dadas as condições de Moçambique, é necessário não descurar de investir acções de uso das TIC nas zonas rurais, o que implica utilizar cada pequena possibilidade de forma efectiva. Por exemplo, o número de usuários da telefonia móvel tem crescido de forma assinalável desde a sua introdução em meados da década 90. Efectivamente, em todo o lugar onde alguns membros da comunidade já utilizam o telemóvel, existem condições embrionárias de uso das TIC para a elevação do nível de vida das populações. Nas escolas, a presença de computadores ainda é uma raridade, mas mesmo assim, há que ser-se proactivo, preparando-se os professores e outros educadores em matérias de TIC. Estas são mais algumas entre várias sugestões para a educação na zona rural e, como dizia Michael Fullan (2001), na sua obra The New Meaning of Educational Change, não há falta de ideias para a realização de uma boa Educação; o problema está nos processos de implementação, que são bem mais complexos.

A questão da preservação do meio ambiente afigura-se também como uma das áreas de intervenção, na qual a Educação é chamada a participar. O orador (Professor Mazula) toca num aspecto preponderante da educação para o desenvolvimento, esclarecendo a diferença entre emprego e trabalho. Nas zonas rurais é notório o facto de a maioria não ter emprego no sentido tradicional da palavra, mas sim trabalho. A questão é: como a educação pode contribuir para um trabalho mais rentável que destrua a pobreza e crie o bem-estar das populações rurais? Muitos pais no campo, quando enviam os seus filhos à escola sonham em ver o seu filho melhor do que eles e frequentemente, esta imagem se confunde com o fixar-se nas urbes e ter um emprego.

Na busca do desenvolvimento para as zonas e comunidades rurais, a Educação tem também a missão de educar as mentes e inculcar atitudes mais positivas sobre as possibilidades de criação de bem-estar nessas comunidades. E neste assunto, a palavra “tecnologia” tem que estar

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presente não apenas na sala de aulas, mas também no nosso discurso político e na relação com os membros das comunidades locais.

Conforme faz referência o Professor Mazula, o Tratado de Maastricht, assinado em 1992, chamou atenção aos cidadãos europeus sobre a necessidade e utilidade de cada indivíduo ter mais que uma profissão, pelo menos três, parafraseando o autor. Este facto tem uma certa similaridade com as estratégias de sobrevivência das comunidades rurais, onde não raras vezes um mesmo indivíduo, lavra a sua machamba (e por isso se designa lavrador), pesca (pescador), cria gado (criador de gado), esculpe louça e outros artefactos de madeira ou pedra (escultor), vende o excedente dos seus produtos (vendedor), …, e por vezes ainda é líder religioso na sua aldeia ou congregação. A segunda questão é: como é que a escola pode contribuir na optimização da rentabilidade desta multiplicidade de profissões para o indivíduo?

Do Redesenhar a Escola

Sobre a necessidade de criação de situações de igualdade entre a escola da cidade e a da zona rural, parece não haver muita matéria para discussão. O problema porém surge, quando nos apercebemos que a igualdade de condições entre a escola urbana e a escola rural ainda é um horizonte alcançável a longo prazo. E a terceira pergunta a lançar aos ilustres participantes é: como tratar as escolas rurais enquanto não se atingir essa igualdade de situações?

Em 2009 tive a oportunidade de trabalhar num estudo diagnóstico para um programa alternativo de expansão do ensino primário do segundo grau (EP2), cujo objectivo era a provisão do ensino primário completo a mais aldeias, sem que se tenha de contratar mais professores, ou seja, usando os mesmos professores vinculados ao Ministério da Educação (os orçamentos anuais não aumentam muito e as novas contratações são limitadas). No âmbito deste programa foram visitados certos distritos do litoral de Cabo Delgado nomeadamente, Macomia, Meluco, Quissanga, Ibo e Metuge. Sem entrar em muitos detalhes, gostaria de apresentar um caso retirado do artigo de Hargreaves (2001) “Multigrade Teaching

in Peru, Srti Lanka and Vietnam”, que serviu de inspiração para a elaboração de alguns cenários:

Caso 1: O caso de PeruO Peru encontra-se na parte central-ocidental da América do Sul, possui uma população de 25 milhões de habitantes, uma área de 1,285,000 Km2 e a sua densidade populacional é muito baixa (19 pessoas por Km2). Até 1998, treze anos atrás, 95% de crianças de 6 aos 11 anos tinham acesso ao ensino primário. Como eles conseguiram isso?

No Peru, escolas com professores multidisciplinares e multi-classes são o modelo mais comum nas escolas rurais e dispersas, em todo o país. Este é o único modelo através do qual o Governo pode garantir acesso à educação à maioria das crianças de populações pobres e isoladas, com destaque para as populações indígenas da Amazónia. No Peru 96% de escolas com professores multidisciplinares e multi-classes encontra-se em zonas rurais; e nas zonas rurais 89 % das escolas é deste tipo. 69% dos professores do Peru trabalha neste tipo de escolas (cerca de 41,000 professores) e 56 % deles constitui-se de homens. O trabalho neste tipo de escolas (que pode também incluir pequenas deslocações de uma escola a outra) revela-se particularmente difícil para as professoras, que têm também responsabilidades domésticas incluindo cuidar de filhos.

O Ministério da Educação propôs a organização das escolas em redes de escolas (uma espécie de ZIPs), como forma de minimizar o isolamento. Ligaram-se as redes de escolas a institutos de formação de professores e estes tiveram a tarefa de dirigir reciclagens e outro tipo de acções de formação em serviço, que incluíam métodos de ensino bilingue em ambiente multicultural;

Em cada província criaram-se Comissões de Coordenação da Educação em Zonas Rurais; estas comissões tinham que diagnosticar problemas e fazer planos de resolução dos mesmos nos seus contextos;O Ministério colocou ênfase nos seguintes aspectos: (a) treinamento prático de professores sobre situações reais da sala de aulas, (b) supervisão

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e monitoria do treinamento de professores, (c) agrupamento de professores em equipas de 8 a 10 elementos de escolas próximas, que se encontram regularmente, de modo a minimizar o efeito do isolamento, (d) prestação de contas destas equipas às comunidades e estruturas educacionais da zona, (e) diálogo contínuo com ONGs, unidades da sociedade civil e governos locais, (f) curriculum simplificado, com objectivos claros, (g) criação de um sistema de avaliação de resultados e (h) constituição de um sistema de distribuição de material didáctico para alunos e professores.

Para muitos países em desenvolvimento a definição de políticas para a escola rural tem resultado em estratégias educacionais diferentes. Por isso, há que indagarmo-nos sobre o seguinte: que estratégias são válidas no contexto moçambicano para as escolas das zonas rurais, como factores de desenvolvimento dos locais onde elas estão inseridas?

Dos Tipos de Ensino

Observando as últimas reformas nos diferentes subsistemas do Sistema Nacional de Educação, nota-se que as bases da mudança do ensino cumulativo para o perfomativo foram lançadas, porém o alcance dessa mudança ainda vai levar alguns (talvez muitos) anos, pois trata-se da aquisição de uma nova cultura e atitude perante a arte de ensinar e de aprender. Trata-se de formar novos professores e oferecer oportunidades de formação contínua aos mais antigos, usando métodos da escola perfomativa.

Esta abordagem pedagógica é também conhecida por ensino centrado no estudante e pode ser resumido em certos aspectos:

• Cada estudante é tratado como uma individualidade, merecendo um tratamento que lhe é adequado, consoante as suas próprias características e necessidades;

• O processo de instrução baseia-se na abordagem construtivista da aprendizagem, o que obriga à valorização da experiência anterior do estudante;

• O curriculum coloca balizas sobre os resultados esperados, mas para cada estudante existe uma trajectória de aprendizagem a ser observada pelo professor;

• A atribuição de tarefas de aprendizagem constitui a estratégia central de formação, o que desenvolve a competência de auto-regulação na aprendizagem e aprendizagem ao longo da vida;

• Porque este tipo de ensino inclui muitas tarefas de aprendizagem em grupos, os estudantes desenvolvem também a competência de cooperação e o sentido de complementaridade.

Do ponto de vista teórico é uma abordagem atraente, mas ao mesmo tempo difícil, pois representa uma mudança de paradigma na forma de pensar e agir dos professores, que deixam de ser transmissores de conhecimentos e passam a ser facilitadores da aprendizagem (Mandlate, 2004).

Do Professor: pensando no desenvolvimento

Falar do professor é falar da qualidade do ensino e os problemas de qualidade são os mais difíceis de resolver, pela complexidade de factores que intervêm. O orador (Professor Mazula), chama atenção para o seguinte: “as zonas rurais não devem ser lixo de um ensino de lixo”. Como princípio, a directriz é imaculada, mas a questão central é: como ela funciona na prática?

Muitos dos presentes nesta sala têm experiência do entusiasmo das populações de um determinado posto administrativo, quando lhes é anunciada a construção de uma nova escola secundária, que seja pública, privada ou de uma organização da sociedade civil. Poucos são os casos em que alguém se lembra de perguntar se a escola terá laboratórios, computadores, campos de jogos e outros espaços diferentes das salas de aula normais. Para as populações, a vinda da escola secundária ou do ensino superior é sempre uma boa nova; é sinal de progresso e desenvolvimento. Neste aspecto há que apelar o papel do Estado, como agente regulador dos sectores de actividade económica, incluindo o sector da Educação.

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Professor no ensino secundário

Nas zonas rurais a massificação do ensino secundário tem sofrido constrangimentos por falta de professores devidamente capacitados e por falta de meios materiais para a realização de certas disciplinas. As disciplinas com maiores dificuldades de implementação são as profissionalizantes e as TIC.

As escolas secundárias têm que ter laboratórios, mas sabe-se que muitas escolas, mesmo nas urbes, as que possuem laboratórios nem sempre têm reagentes para fazer as aulas laboratoriais. Existe um esforço de pôr em funcionamento as bibliotecas escolares, mas salvo algumas excepções, as escolas não possuem livros em número suficiente, nem bibliotecários formados.No concernente ao desenvolvimento de competências de TIC nas escolas, há um esforço de apetrechar as escolas, mas das poucas que já possuem computadores, a manutenção dos mesmos é quase inexistente. Casos também existem em que certas escolas não têm espaços físicos para acomodar computadores.

Professor no ensino superior

Sobre o ensino superior, o Professor Mazula trouxe-nos dois exemplos de como as instituições de ensino superior podem interagir com as comunidades. Em termos curriculares, existem dois modelos que aguçam esta abordagem, designadamente o ensino baseado em competências e o ensino baseado na resolução de problemas.

O mérito destes dois modelos curriculares (quando correctamente implementados) consiste em:a) eles quebrarem a fronteira entre ensino e investigação, pois, em termos de ambiente de aprendizagem, o docente é fundamental na orientação da aprendizagem, mas é o estudante que constrói o seu próprio conhecimento e desenvolve as sua próprias competências e b) quebrarem a fronteira entre teoria e prática, pois na maior parte das

aulas o docente ao invés de transmitir teorias, ele apresenta um plano de actividades que permita ao estudante apropriar-se do conhecimento teórico relevante na realização de certas tarefas reais da vida ou profissão relacionada com o curso (Mandlate, 2004).

Professor no ensino técnico-profissional e vocacional

Não seria bom terminar esta comunicação sem falar da importância das escolas, institutos médios e superiores politécnicos como uma alavanca importante para o desenvolvimento. Philip e Altbach (2003) observam que Ghana e Coreia do Sul, em 1960, tinham aproximadamente o mesmo desenvolvimento económico, ambos os países evoluíram, mas a Coreia do Sul não só evoluiu como também se tornou numa referência mundial na área económica, graças fundamentalmente a um investimento agressivo na educação técnico-profissional dos seus cidadãos. O professor da escola técnico-profissional e vocacional é o mestre, o tutor, o pesquisador, o conselheiro e consultor para empresas e comunidades locais.

Mas para finalizar este comentário à comunicação do Professor Mazula, parece pertinente perguntar: de que depende a formação do Professor que queremos nas nossas escolas? Como construir o professor agente do desenvolvimento da zona onde se insere a sua escola?

A Sua Excelência o Senhor Presidente da República e aos ilustres participantes deste seminário vão os meus agradecimentos pela atenção dispensada.

Muito Obrigado.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• Collis, B. & Moonen, J. (2001). Flexible Learning in aDigitalWorld. London: Kagan Page.

• Fullan, M. (2001). The New Meaning of Educational Change (3rd ed.). New York: Teacher College, Columbia University

• Política Informática de Moçambique. (2000). Governo de Moçambique.

• Hargreaves, E., et al. (2001). Multigrade teaching in Peru, Sri Lanka and Vietnam: an overview. In International Journal of Educational Development. Pergamon.

• Mandlate, E. (2004). Ensino Centrado no Estudante na UEM. In Rumos a Novos Horizontes. Imprensa Universitária da UEM. “[…] O Estado promoverá o conhecimento e o revigoramento e a

difusão nacional e internacional da cultura moçambicana, elemento da consolidação da unidade nacional e parte essencial da personalidade moçambicana […]”

– Samora Moisés Machel 81

81Discurso da Proclamação da Independência Nacional de Moçambique proferido por Samora Moisés Machel, Presidente da Frelimo, no Estádio da Machava. Maputo, 25 de Junho de 1975

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O PAPEL DA CULTURA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE, CONSOLIDAÇÃO DA UNIDADE NACIONAL E PRODUÇÃO DE RIQUEZA

Por: Filimone Meigos

Foi-me pedido que falasse sobre o papel da cultura na construção identitária, tendo em conta a consolidação da unidade nacional e produção de riqueza. Com a devida modéstia académica, sinto-me mais ou menos confortável para falar da cultura na construção identitária, consolidação da unidade nacional, tendo por estudo de caso Moçambique, onde aloco a minha história de 51 anos de idade. Poderei, ainda que de forma mapeada, desembocar na produção de riqueza. Porém, confesso, não me sinto capaz de tratar da produção de riqueza, como poderá fazê-lo alguém com uma identidade de economista, coisa que não possuo. Por isso, a minha contribuição neste debate, cingir-se-á ao papel da cultura na construção da identidade e na consolidação da unidade nacional, se bem que, provocativamente e de forma mapeada, me refira a cultura como um meio implícito que se afirma como produtor e produto da riqueza. Na verdade, a produção de riqueza como tal, será tratada pela segunda oradora que complementará a minha alocução.

Para o meu caso, farei uma incursão teórica, definindo os termos cultura e identidade para passar em revista o conceito de unidade nacional, que, provocativamente, não distingo de moçambicanidade. Na medida do possível, farei por dar exemplos práticos da minha experiência de moçambicano colonizado renascido a 25 de Junho de 1975, portanto, moçambicano independente. Resulta daqui que este é um state of mind paper, isto é, sigo as minhas percepções, algumas abordagens teóricas, e, sobretudo, a minha experiência vivencial do assunto. Concluo com alguns truísmos, verdades a la palisse, a saber:

• Que as identidades sociais são processuais tal como a cultura e a unidade nacional/moçambicanidade. Por isso, devem ser alimentadas quotidianamente por todos e cada um de nós.

• Que a(s) cultura(s) as identidades e a unidade nacional são, parafraseando meu amigo Isaú Menezes, como o chá: devem ser tomados como um todo: açúcar, folhas de chá e água quente. O que vai variando é o que acompanha esse chá: se pão de centeio, mandioca, batata doce, madumbe, nhymu, magunba/marora com salada, xiquento de caril de amendoim com xima ou arroz, rale, ou titxota. Seja como for, temos que ser capazes de cria as condições para que tenhamos à mesa aquilo que nós queremos e achamos que se ajusta melhor ao nosso paladar. Sem preconceitos.

Passo, de seguida a tratar os conceitos. Porém, antes de entrar na discussão dos conceitos, julgo ser necessário aclarar alguns pressupostos teóricos, assunções axiológicas, portanto de valores, que ajudarão a enquadrar a minha apresentação:

1. Sendo eu sociólogo, que fique claro: trato os factos sociais como coisas, tal como foi definido por Émile Durkheim. Este sociólogo francês define facto social como sendo

Dr. Filimone Meigos a proferir a sua alocução

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Toda a maneira de agir, fixa ou não, susceptível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, que é geral na extensão de uma dada sociedade, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter” (1966:12).

Três características são fundamentais para entender o facto social:

a) Exterioridade em relação às consciências individuais;b) Coersitividade, a coersão que o facto social exerce ou é

susceptível de exercer sobre os indivíduos;c) Generalidade, em virtude de ser comum o grupo ou

sociedade.

Por isso, nalguns casos referir-me-ei a situações, nomes, fenómenos e processos, tratando-os como coisas a partir das quais procuro captar o chamado social.

2. Sendo o social que queremos analisar, moçambicano, portanto, com a particularidade africana, defendo, com Elísio Macamo (2002) a insistência na particularidade africana que pressupõe uma realidade social fundamentalmente diferente da europeia, o que exige instrumentos analíticos apropriados. Aliás, segundo o mesmo sociólogo, a particularidade africana pode ser resultado da complexidade do social ele próprio.

3. Sou apologista da abordagem subversiva, tal como definida por Cardinal Arns, num encontro da Sociedade Internacional para o Desenvolvimento, realizada em 1983. Neste encontro, Arns define subversão nos seguintes termos: subverter significa virar a situação ao contrário e olhar para ela à partir do outro lado, isto é, olhar para a situação à partir do lado das pessoas que têm que morrer para que o sistema continue.

4. Na medida do possível, do ponto de vista da intersubjectivação (Castiano, 2010) aloco a minha comunicação no chamado afrocentrismo e ubuntismo. Isto é, dou primazia a colocação

das ideias africanas no centro de qualquer análise que envolva a cultura e o comportamento africano. Portanto, este seria o afroncentrismo defendido por Assante (1998), e; Ubuntismo, um movimento mais aberto, que acomoda sem remorsos valores “estrangeiros” de forma construtiva (Castiano, 2010).

5. Um último reparo: sou dos que pensa, diferentemente de Max Weber, que o cientista social deve estar engajado. Estou a dizer que advogo um pensamento engajado, tal como defendido por Castiano e Ngoenha (2010) no livro que assinaram em conjunto e publicado Agosto último sob estampa da editora da UP. Estou a querer dizer que existe, tentativamente, uma neutralidade axiológica, mas este cientista social que sou, não é cogumelo, isto é, não vem do nada, não cogumelou (muschruming). Tenho uma história de vida, um passado e uma convivência. Portanto, aprendi e apreendi algumas coisas que me impelem a tomar partido, portanto, minha filiação teórica.

Passo de seguida ao tratamento e discussão dos conceitos de cultura, identidade(s) e unidade nacional.

1. Cultura

Sem ser exaustivo, irei definir cultura, sua acepção ao longo dos tempos para nos concentrarmos naquilo que julgo ser importante para a questão que vamos debater: como a cultura pode ajudar-nos a entender as identidades, a unidade nacional/moçambicanidade e a produção da riqueza?

Por motivos que se prendem com a minha filiação teórica, realço o ponto de vista da sociologia, se bem que a problemática da cultura tenha sido colocada inicialmente pelos antropólogos, o que resulta do encontro do europeu com o outro, no empreendimento colonial. Portanto, refiro-me a alteridade que foi posta aos viajantes e cronistas europeus nos seus contactos com os ameríndios, africanos e asiáticos.

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Para os sociólogos, o agente, actor social, se quisermos, interage com os seus ou com “o outro” através de mediações simbólicas. Na verdade, a nossa acção como homens e mulheres circunscritos a um espaço e a um tempo determinados, ocorre na interacção que estabelecemos entre a primeira e a segunda natureza, tal como teoriza o filósofo moçambicano Severino Ngoenha. Para este filósofo, a primeira natureza seria a natureza ela própria: rios, montanhas, árvores, animais, solo, subsolo e outras realidades da estratosfera e mundo circundantes.

A segunda natureza seria a maneira como os homens e mulheres materializam a vida através de mediações simbólicas e materiais por eles inventadas, ou ainda através de gestos e palavras feitos significados e significantes. Portanto, Ngoenha se refere aos produtos tangíveis e não tangíveis que resultam na acção humana:“Para o Homem a importância da cultura é tal, que faz dela a segunda natureza, sem a qual, aliás, não pode viver” (Ngoenha, 1994:10).

Esta questão clama por uma definição importante. Na verdade, esta acepção é melhor entendida quando complementada pela definição de E. Tylor, com a devida relativização, que sintetizou cultura nos seguintes termos:Tomado em seu amplo sentido etnográfico (cultura) é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade (Laraia, 2001:14).

Isto quer dizer, em suma, que os homens e mulheres ao levarem a cabo as suas práticas sociais fazem-no na primeira natureza através da segunda natureza. Isto é, a maneira de pensar, sentir e agir, depende do material e imaterial que é a segunda natureza, portanto a cultura ela própria. Não olhemos para a cultura como uma simples expressão de xigubo, makway, ballet, etc., mas, como uma condição que nos faz a nós próprios, no sentido em que determina e estrutura a maneira como nós pensamos e agimos (…) (Meigos, 2006).

De facto, neste trabalho entendemos cultura como conjunto de práticas através das quais se produzem e se trocam significados dentro de um determinado grupo (Hall, pp. 233). Resumimos, por isso, cultura como sendo práticas sociais no seu sentido mais amplo. Então, estamos a dizer que a maneira como se realiza o parto é cultura. A maneira como se amamenta é cultura. A maneira como se beleka a criança é cultura. A maneira como comemos é cultura. Isto inclui a disposição dos dedos para fazer as bolas de uswa/nsima/chima/titchota, molhar no caril (mutxovelo, N´suzi, ) e leva-lo à boca.

Ao definirmos as coisas, os actos através dos quais a cultura se materializa, incluímos a divisão social do trabalho: o que é que as crianças fazem, o que é que os homens fazem, o que é que as mulheres fazem e como o fazem no conjunto das práticas sociais?

A cultura entendida como advogamos, incorpora a forma como realizamos os nossos enterros, como caçamos, como pescamos, como nos sentamos, como nos posicionamos perante os nossos ou os outros, como nos percebemos e como nos comportamos em todos os sentidos. Portanto, inclui todo o complexo material e imaterial, quer dizer, a combinação de todos os traços culturais (crenças, ideias, isto é, os elementos constitutivos de uma cultura). Esses elementos são vários. O que importa é que eles enformam o nosso comportamento, os nossos valores e a nossa maneira de ser. A propósito, um pequeno episódio ilustrativo:

Uma antropóloga estrangeira a África estava estudando os usos e costumes duma comunidade africana. Tendo terminado os seus inquéritos e entrevistas, com tempo de sobra, entre o se despedir e ir ao aeroporto, propôs uma brincadeira aos miúdos que olhavam para ela atónitos e interrogativos. A brincadeira que ela propôs consistia no seguinte: Ela penduraria um saco de doces numa árvore distante. Quando ela dissesse, “já!” as crianças competiriam numa corrida e quem chegasse primeiro, teria direito a comer os rebuçados todos.

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Então, a antropóloga disse “já!”, e as crianças agarraram-se todas umas as outras e partiram juntas em direcção à árvore das guloseimas. Uma vez lá, a mais velha distribuiu por igual os rebuçados por todos, para gáudio da antropóloga. As crianças, felizes, comeram e se divertiram à brava. Atónita, a antropóloga questionou, à boa maneira dos antropólogos, sobre aquele comportamento. As crianças simplesmente responderam: Isto é UBUNTU! sou quem sou porque SOMOS todos nós, como poderia um de nós ficar feliz se todos os outros estivessem tristes!!!?

Como podem ver, a questão aqui é o choque de culturas (civilizações) a que se refere o teórico norte-americano Samuel Huntington. A racionalidade subjacente na concepção da antropóloga era a competição, portanto, o TER mais relativamente aos outros, isto é, competição. Na cabeça das crianças a racionalidade era o SERMOS, e não TERMOS. Vejam a diferença que as culturas fazem. O padrão cultural da antropóloga em questão era a compensação e a emulação do melhor, individualmente. Diferentemente, o padrão cultural das crianças era o chamado Ubuntu: nem um indivíduo nem outro: todos!

Cá está a máxima ubuntiana segundo a qual nós só somos nós, com e entre os outros, isto é “pessoa só é pessoa entre e com os outros”:

• Munthu ndi munthu na anthu; (Ci-Sena)• Munu ni munu ni vanu; (Changana)• Umuntu ngumuntu ngabantu; (Zulu)

A construção do conceito de cultura nem sempre foi pacífica, exactamente, porque, tal como me referi algures, ela emana da alteridade, do encontro com o outro, teorizada pela antropologia, então instrumento do crime colonial. Isso propiciou abordagens etnocêntricas (julgar o outro a partir do ponto de vista dos valores de quem julga, considerando os seus valores superiores aos dos outros):

• Do mesmo modo, encorajou abordagens deterministas do ponto de vista biológico e geográfico. Isto é, por exemplo, afirmar que uma tez de pele é inferior ou superior a outra com a consequente hierarquização na escala societal e a respectiva recompensa social, isto é a distribuição de bens e serviços culturais (simbólicos); bens e serviços económicos (mercado); e bens e serviços políticos (portanto, recursos de poder e de autoridade (Política);

• Ou, o pensar preconceituoso segundo o qual as pessoas dos trópicos são preguiçosas pelo facto de aí terem nascido o que se justificaria pela existência de “temperaturas mais altas que propiciam o ócio”, e que, portanto, são pouco fiáveis no que concerne a labuta, ao trabalho. Deste ponto de vista, as pessoas nascidas nos trópicos, como nós, são “pouco laboriosas”, “pouco trabalhadoras”, “pouco empreendedoras”.

Ora, essa maneira de pensar criou condições para o aparecimento de:

• Epistemecídios (matar o saber dos outros);• Genocídio (eliminar o outro porque é diferente);• Xenofobia (aversão ao outro por ser diferente);• Preconceitos/ discurso de desqualificação do outro, teoria

da rotulação/rotulagem;• Universalismo eurocêntrico que, aliás, repousa no

discurso positivista dominante.

E tal como nos assevera José Castiano,

Assim, por insistir numa posição universalista, o positivista não reconhece, e nem está disposto para tal, a posição ou o “local cultural” eurocentrista em que se encontra submerso. Desta forma, não admira que, devido a sua

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tendência de universalizar a validade das suas interpretações, o positivista tenda a não reconhecer o discurso do “outro” (Castiano, 2010:133).

Resumindo, quer dizer que ao nos referirmos a cultura estamos a falar desse conceito escorregadio que, no entanto, pode ser definido estruturalmente pelas suas componentes ideológicas que constituem as lentes através das quais os homens e mulheres lêem o mundo (Ruth Benedict). Ou, todo esse complexo que constitui formatação informática (Clifford); código de símbolos partilhados (Geertz); conjunto organizado dos vários modos de vida de uma sociedade: o trabalho, a religião, a linguagem, as ciências, as artes e a política (Hegel). Assim sendo, podemos concatenar, com Williams as componentes da cultura nos seguintes vectores:

1- Manifestação de trabalhos e práticas;2- Processo de desenvolvimento;3- O que expressa uma forma de vida.

A UNESCO (Agência das Nações Unidas para a Cultura, Educação, Ciência, Ambiente) define cultura, não no sentido restrito das belas artes, literatura e filosofia, mas como sendo

As características distintivas e específicas e a maneira de pensar e organizar a vida de cada indivíduo e comunidade. Por isso, cultura cobre a criação artística, bem como a interpretação, execução e circulação das obras de arte, cultura física, desporto, jogos e actividades ao ar livre e também as formas de como uma sociedade e os seus membros exprimem os seus sentimentos para com a beleza e harmonia, a sua visão do mundo, como também os modos de criação científica e tecnológica e o controle do seu ambiente natural.

Posto isto, resta-me terminar com a frase lapidar de um sociólogo do nosso tempo, Anthony Giddens, que define cultura como sendo aqueles aspectos da sociedade humana que são antes apreendidos do que herdados. Esses elementos culturais são

compartilhados por membros da sociedade e tornam possível a cooperação e a comunicação. Formam o contexto comum em que os indivíduos numa sociedade vivem as suas vidas. A cultura de uma sociedade compreende tanto aspectos intangíveis – as crenças, as ideias e os valores que formam o conteúdo da cultura – como também aspectos tangíveis – os objectos, os símbolos ou a tecnologia que representam esse conteúdo (Giddens, 2010).

Cá está a justificação ontológica e epistemológica dos movimentos de libertação nacional e as consequentes políticas culturais dos países que foram adquirindo as independências. Seja a African Personality defendida por Nkrumah, seja Cultura como a expressão mais alta do movimento de libertação nacional (Amílcar Cabral) ou que seja mesmo o paradigma libertário proposto por Severino Ngoenha:

O substracto filosófico do pensamento africano é, sem dúvida, a busca da liberdade, devido à situação categorial oprimido/escravo/colonizado/subdesenvolvido na qual os povos africanos se encontram a seguir ao encontro/choque com o Ocidente. Estas buscas tomam formas diferentes segundo as épocas, os períodos históricos e os lugares geográficos (Ngoenha, 2004:74).

Este desiderato tem por pano de fundo o chamado Renascimento Africano que floresce no Pós-Guerra, particularmente nos primórdios dos anos 60, o chamado ano de África. O historiador congolês-democrático Elikia M´Bokolo põe a questão nos seguintes termos:

Se a ideologia do “renascimento africano” conheceu fluxos e refluxos, as independências libertaram definitivamente, sem dúvida, no domínio da cultura, as forças criadoras das sociedades africanas que já nada poderia conter, mesmo no tempo dos despotismos dos partidos-Estados-nações. É certo que essas dinâmicas haviam surgido num passado mais ou menos longínquo, tanto no plano propriamente artístico como no plano das diversas actividades culturais e da reflexão intelectual. Mas as independências criaram uma situação nova, dando aos Estados os

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meios, e, simultaneamente, a obrigação, de inventar políticas culturais e aos criadores uma liberdade e uma autonomia que não desfaleceriam. (M´Bokolo, 2007, 586).

Resumindo: temos que a cultura torna-se pois, num importante instrumento, numa das prioridades dos Estados nascidos das independências. Para o caso moçambicano, a Constituição de 1975 proclama no seu artigo 15, que:

A República Popular de Moçambique realiza um combate enérgico contra o analfabetismo e obscurantismo, e promove o desenvolvimento da cultura e personalidade nacionais. O Estado age para promover internacionalmente o conhecimento da cultura moçambicana das conquistas culturais revolucionárias dos outros povos.

É verdade que esta Constituição foi revogada e deu lugar à de 1990. Se bem que não seja tão peremptória como a de 1975, esta Constituição também proclama, no Artigo 11 (Objectivos fundamentais) ainda que diferentemente, o comprometimento do Estado moçambicano perante a cultura, nos seguintes termos:

O Estado moçambicano tem como objectivos fundamentais:

(…)c) A edificação de uma sociedade de justiça social e a criação

do bem-estar material, espiritual e de qualidade de vida dos cidadãos;

(…)i) A afirmação da identidade moçambicana, das suas

tradições e demais valores sócio-culturais;

No seu artigo 94 (Liberdade de criação cultural), a Constituição de 1990 vai mais longe e articula que:

1. Todos os cidadãos têm direito à liberdade de criação científica, técnica, literária e artística.

2. O Estado protege os direitos inerentes à propriedade intelectual, incluindo os direitos de autor, e promove a prática e a difusão das letras e das artes.

Se compararmos os preceitos plasmados nas duas Constituições podemos inferir que a cultura tem lugar destacado, se bem que na Constituição de 1990 tenha ficado esbatida a maneira clara como vinha explícita na Constituição de 1975. Porque será? Terá alguma coisa a ver com a mudança de paradigma económico, o que se exprime na atitude do Estado retratar-se numa perspectiva de “nem carne nem peixe”, isto é, deixando ambígua a importância e o papel da cultura? Seja como for, prevalece a intenção, pelo menos no espírito, de evidenciar o papel da cultura e identidades na Constituição. Atentemos, a propósito, para o Artigo 9 (línguas nacionais) na Constituição de 1990:

O Estado valoriza as línguas nacionais como património cultural e educacional e promove o seu desenvolvimento e utilização crescente como línguas veiculares da nossa identidade.

Da esquerda para a direita, a frente, Francisco Rodolfo e Glória Muianga

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Isto quer dizer que o Estado reconhece as línguas nacionais como sendo veiculares da nossa identidade. A questão básica que se nos coloca é: será que o Estado reconhecendo esse preceito abarca toda a questão sobre as culturas e identidade(s) dos moçambicanos? O que são, afinal, as identidades? O que é que está em jogo quando falamos de identidades? Qual é a relação que podemos estabelecer entre as culturas, as práticas sociais, os indivíduos e as identidades?

A secção que se segue é uma tentativa de discurso por esse “lamaçal” que dá pelo nome de identidades.

Identidades: identifi cações e identizações em confl ito cooperado

A julgar pelo modelo que nos é proposto acima por Rogério Tilio (2009), as identidades são tidas como construções, portanto, numa perspectiva socio-construcionista, isto é, identidades múltiplas e não essencialistas . O que é que isso quer dizer?

Quer dizer tão somente que os indivíduos, ao se engajarem

em relações sociais, constroem identidades sociais, que, por sua vez inserem-se em determinadas culturas. Identidades sociais seriam, portanto, as formas pelas quais os indivíduos se percebem dentro da sociedade em que vivem e pelas quais percebem os outros em relação a eles próprios (BRADLEY, 1996).

Bradley vai mais longe ao afirmar que a identidade social se refere ao modo como nós, enquanto indivíduos, nos posicionamos na sociedade em que vivemos e o modo como percebemos os outros nos posicionando. As identidades sociais provém das várias relações sociais que as pessoas vivem e nas quais se engajam (idem).Weeks (1990) define identidade como o sentimento de pertencer a um determinado grupo; é a identidade que define “ o que você tem de comum com algumas pessoas e o que o torna diferente das outras”. Por seu turno, Norton (2000) entende identidade como a “forma como a pessoa entende sua relação com o mundo, como essa relação é construída ao longo do tempo e do espaço, e como a pessoa entende possibilidades para o futuro”.

Em última análise estamos a falar de dois conceitos: identificação e identização. Isto é, referimo-nos ao processo através do qual os actores sociais se integram em conjuntos mais vastos, de pertença, ou de referência, com ele se fundindo de modo tendencial (processo de identificação) (Pinto, Madureira 1991:218); e, processo de Identização, o processo através do qual os agentes tendem a autonomizar e diferenciar-se socialmente, fixando em relação a outros, distâncias e fronteiras mais ou menos rígidas (Pierre, Tap, 1986:12): Por exemplo, nós os do centro, nós os do Nguiana, nós os do Maxaquene, nós os Macuas, nós os Koti de Angoche, mwatu muno, wagaia…

De qualquer modo algumas questões saltam-nos à vista: •Que o conceito de identidade é escorregadio, portanto, processual, estrutural e relacional. Já me explico. As

culturas

identidades sociais

práticas sociais

indivíduos

Figura 1: Multidimensões das inseções sociais

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identidades são construídas reflexiva e auto-reflexivamente, portanto, produtos contextuais que são definidos pelas diferentes categorias que esse mesmo indivíduo ostenta. As identidades, por conseguinte, são processos de exclusão, inclusão, integração diferenciação, com e contra.

Por exemplo, eu sou negro, masculino, nascido na Beira, filho de mãe chuabo, cujo pai era da zona sena da Zambézia (Campira) e cuja mãe era chuabo de ascendência, macua mauriciana e indiana. Sou filho de pai de Inhambane (Magueza) de ascendência Chope (de Kandene) por parte do pai, e de mãe de ascendência Changana: Serafina Muchine Macuacua era minha avó. Meus filhos nasceram no Maputo, filhos deste que eu sou, e de uma mãe filha de um Ngoni (Trindades) e de uma nhunguê (Costa Xavier).

De qualquer modo, se eu quiser operacionalizar os processos de exclusão direi que não sou branco, portanto, excluo os brancos dessa definição, não sou mulher, excluo as mulheres do meu grupo de pertença, integro-me no grupo dos homens, da Beira e não no grupo dos homens de Nova Zelândia. Portanto, a construção de identidades alimenta-se sempre de alteridades (reais ou de referência). Quer dizer, em conclusão que, as identidades são relacionais, isto é, são sempre em relação a algo: excluem, incluem, são contra e são com, isto é, são por fechamento e por inclusão (a grupos de pertença e de referência): Nós os do AMIZAVA, nós os da Academia de Ciências de Moçambique, nós os da CASA da BEIRA, nós os da AMETRAMO, nós os GAYS, etc.

Concatenando, as identidades estruturam e são estruturadas pelas culturas dos agentes sociais que as ostentam. Isto é, eu ostento a identidade A, B, ou Y, na medida em que eu for capaz de espelhar traços identitários e traços culturais dessa mesma identidade que eu vou construindo relacional e estruturalmente em relação aos meus e aos outros. Essa mesma ostentação, depende das estratégias identitárias que eu for utilizando de acordo com o trajecto social que eu for incorporando.

Se eu tomar cultura como estilo de vida próprio influenciado pelo meio social em que vivo, um território, um tempo, uma história, um modo de vida próprio, que compartilho no e com o (s) meu (s) grupo (s) de referência (s) e de pertença, então, iremos desembocar naquilo que muitos chamam de identidade cultural, porque, afinal, partilhamos a mesma cultura, nós os outros. Quer dizer que há uma identidade cultural brasileira, moçambicana, tanzaniana, sul-africana, portuguesa, etc.. Isso se manifesta no canto, nos ritmos, no balanço, na maneira de comer, no que comer, nas crenças, etc. Isso, na verdade, nos obriga a irmos para o concerto das ditas globalizações com a nossa cota parte. Devemos levar connosco os nossos instrumentos e, na medida do possível, as nossas tonalidades, temas, proposta de pauta e solfejo e o nosso próprio gosto, portanto, nosso farnel, nossa comida. Temos que fazer perguntas simples do género:

• O que é efectivamente nosso que me diferencia dos outros?

• O que é que somos de facto?• Será que somos, como muitos dizem, cidadãos do mundo,

cidadãos globalizados?• Ou somos cidadãos de um sítio concreto, de uma cultura

e de uma história concretas?

Em conclusão, direi que a identidade é a produção da diferença, e ser diferente significa ser como os meus, por oposição a ser como os outros. Isso impõe-me certos deveres. Primeiro para com os meus. Depois, já que sou de uma cultura inclusiva, ubuntiana, sempre com os outros, para minha própria satisfação. Só assim posso entender o outro, de paridade, mesmo que diferente. E a propósito, penso que não faz sentido que, por exemplo, os Jogos Africanos se realizem no meu país (Moçambique) e o hino desses jogos abra com a minha timbila, e depois, estruturalmente, esse hino seja uma composição totalmente dominada pelo género musical kwassa-kwassa que não é moçambicano. Deveria ser o contrário. A Timbila seria transversal, e depois, um cheirinho de kwassa-kwassa, porque

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nós somos com os outros. Ninguém fará o mesmo com o nosso Muganda, Maphadza, Utse, Makway ou Mudjagadja, em iguais circunstâncias. Porque é, em suma, uma questão de produção da diferença e de afirmação de identidade cultural.

Identidade Moçambicanidade Moçambicanização

Em 1998, o Professor Carlos Serra, sociólogo moçambicano, levou a cabo uma série de sessões, um curso aberto, do qual participei, em torno do tema “Para uma sociologia dos processos identitários em Moçambique”. Dessas sessões resultou uma compilação em livro cujo título aproveitei para dar nome a esta secção. Participaram como oradores nomes sonantes da nossa inteligentsia: Severino Ngoenha, Elísio Macamo, António Sopa, Nelson Saúte, Gerharld Liesegang, Manuel Araújo e o próprio Carlos Serra.

O que vou fazer de seguida é aproveitar essa compilação para através dela localizar, isto é, moçambicanizar o debate sobre as identidades. No meu entender, essa foi a primeira incursão para a sistematização do tema, na academia moçambicana. Por isso, vou fazer uma rápida revisão bibliográfica dos textos para passar em seguida a secção da unidade nacional que muito ganhará com tais textos.

No sumário do livro em apreço podemos ler que Carlos Serra escreveu o prefácio. Da página 17 a 34 Severino Ngoenha escreveu o texto: Identidade moçambicana: já e ainda não. Da página 35 à 70 Elísio Macamo analiza “A influência na formação de identidades sociais no sul de Moçambique”; da página 71 à 79, António Sopa escreve “Notas sobre a identidade”; Nelson Saúte escreveu (79-98) o texto Identidades em literatura (Espaço público, literatura e identidade). Territorialidades sociais e identidades com referência a Moçambique é o texto de Gerhard Liesegang (99-160); Espaço e identidade (161-172) é o texto de Manuel Araújo, e finalmente, da página 173 à 188 Carlos Serra encerra com a comunicação: Pluralidade e processualidade

identitárias – para um paradigma da identificação contraditorial.No prefácio, o Professor Carlos Serra refere-se à maneira como nós monitoramos nas nossas vidas como pequenos mundos dóxicos, do género: “a vida é assim”, “uma coisa é o que é”, “uma coisa não pode ser ao mesmo tempo ela e outra própria”, “somos moçambicanos”, “ele é Ndau”, etc..

Serra assevera que tal se deve ao facto de pensarmos de forma aristotélica estabelecendo espécies de coisas destituídas de interacção: “organizamos os fenómenos como se a razão de ser estivesse neles próprios e fosse independente de uma relação ou de um campo relacional”.

Serra, advoga que a questão não pode ser posta nos termos “quem somos nós?”, mas, antes, “quem somos nós em relação aos outros?”, ou, “quem são os outros em relação a nós?”. Serra assevera que a identidade social não preexiste à relação: constrói-se na relação: na relação ela actualiza-se sem cessar. E toda a relação é não apenas conflitual como processual (…). Por isso, A identidade é um modo historicizado e dinâmico de categorização simbólica usado por indivíduos e grupos nas suas trocas sociais. Ela não é um estado, mas um processo incessantemente alimentado, retro-alimentado e modificado quando necessário no decorrer das relações sociais”. Portanto, estamos a dizer que a identidade social, em princípio, deve ser considerada sob o signo da construção social (conflitual-dialógico) que é negocial, conflitual, ambíguo, processual, em acontecendo. Na verdade, e segundo Serra, as identidades actualizam-se pela inovação.

De seguida, o professor Severino Ngoenha diz-nos que a identidade moçambicana é, de certa forma, uma herança que herdámos da coragem e da valentia de muitos homens e mulheres que lutaram, que se sacrificaram e dos quais muitos morreram pela nossa independência, pela nossa soberania, pela nossa liberdade: “Exactamente por isso, a moçambicanidade é, também, e sobretudo, um dever e uma tarefa: dever de conservar a liberdade e a soberania duramente conquistadas; tarefa de as

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consolidar e de as incrementar para as gerações futuras”.Ngoenha empresta ao debate uma questão interessante, a missão que nos é posta relativamente à consolidação e incrementação da identidade moçambicana com os olhos postos nas futuras gerações. Tarefa árdua esta, a de explicarmos aos nossos filhos que somos, negros, brancos, ou mulatos, manhambanas, massenas ou machanganas, de origem bantu, koi-koi, San, lusa, indiana, chinesa, paquistanesa, grega, persa, etc., mas, acima de tudo, moçambicanos. Falando assim, referimo-nos às nossas cosmogonias, ou à tez da nossa pele, mas, sobretudo, somos moçambicanos em moçambicanização, isto é, em acontecendo, o que se torna tarefa, missão premente e espinhosa neste paradigma do neo-liberalismo. Dizer que somos mais do que as nossas origens pode pôr em causa aqueles que preferem as identificações por exclusão, uma vez que “ficamos poucos, sendo que assim, restam mais fatias do bolo para dividirmos entre nós.” Ou seja, infelizmente, há cada vez mais gente a excluir por questões ligadas à redistribuição de recursos materiais e de poder.

Na verdade, este é um tempo de oportunismos, de divisões que se apoiam na tez da pele, nas origens, por fechamento, pois, “os recursos são escassos”, tal como nos diz a ciência económica. Resulta daqui que cada um se reduz à sua origem, supostamente essencial e originária, excluindo os outros. Voltaremos a este assunto quando tratarmos da unidade nacional.

Elísio Macamo, à boa maneira dos sociólogos, propõem-nos um quadro teórico inspirado no sociólogo alemão, George Simmel que realça o modelo do antagonismo cultural, o modelo da ambivalência cultural e o modelo do dualismo cultural para explicar as identidades sociais. No modelo do antagonismo cultural, Simmel parte do pressuposto segundo o qual os indivíduos são produtores/criadores de cultura. Nesta acepção cultura é entendida como

O modo de vida e integra vários elementos que vão desde crenças religiosas até folclore, política, etc. Os indivíduos vivem a vida e, no processo, dão conteúdo e significado à sua existência.

Do lado oposto, a materialização do antagonismo acontece pelo facto de termos que ter em conta outro extremo do binómio, portanto o extremo cultural, que se apresenta como sistema social, portanto como forma. Resumindo, teremos aqui uma situação em que a forma e o conteúdo interagem em cooperação ou conflito. Portanto, referimo-nos ao conflito interessante dos indivíduos como produtores e produtos da cultura. Isto é a criação individual da cultura e a necessidade da reprodução do social que é sistémico e estrutural:

Trata-se do problema cultural da individualização, dum mal-estar cultural determinado pela necessidade de os sistemas se reproduzirem sem referências aos criadores individuais de cultura.

O modelo da ambivalência cultural também assenta num conflito entre o extremo individual e o extremo estrutural, do sistema. Todavia,

Desta feita, porém, os indivíduos são apresentados como consumidores de cultura ou, mais precisamente, como administradores da sua própria conduta de vida. A cultura é, neste modelo, vista como uma esfera estética, donde os indivíduos retiram símbolos proporcionados pela cultura integram, entre outros, a religião, a língua, a etnia, a linhagem, etc.

No modelo do dualismo cultural, o extremo individual é representado por indivíduos receptores de cultura. Do ponto de vista individual a cultura é recebida e “processada” como cultura subjectiva. Isto é, no fundo a velha discussão filosófica entre o subjectivo e o objectivo, entre o indivíduo e a estrutura

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social. O que pressupõem ter em conta essa tensão permanente ente a individualidade e a estrutura social, portanto, conflito entre o indivíduo e a sociedade.

Neste artigo, Macamo começa por se referir a Eduardo Mondlane afirmando que este dizia que Moçambique era uma invenção portuguesa, dentro da qual a experiência comum de opressão e dominação dos africanos conduzira ao despertar duma identidade nacional moçambicana. Paralelamente, Macamo contrapõem o historiador francês Michel Cahen que colocou em causa a interpretação de Mondlane, interrogando-se sobre se Moçambique existiria de facto. O argumento de Cahen, plasmado na explanação de Macamo, é que “a nação moçambicana como sentimento de cidadania por parte da maioria dos habitantes do Estado não existe. Existe, sim, uma referência às fontes locais de identificação como sejam a etnia e respectivos valores culturais, a região e suas especificidades, etc.. A ideia de nação moçambicana que as elites internas teriam promovido ao longo dos anos – à custa de muito sangue e do atraso geral do país – corresponderia mais à orientação jacobina, isto é, centralista, de elites desenraizadas e teria pouco ou quase nada a ver com as tradições culturais da maioria dos Moçambicanos. Michel Cahien vai mais além e indicia o projecto nacional da FRELIMO, por via dum marxismo estalinista, de ter sido o esforço de um pequeno extracto “crioulizado” à procura duma identidade”.

Cahien, francês que é, esqueceu-se que De Gaulle diz que a nação francesa foi construída a ferro e fogo. Esqueceu-se, também, que a França, como comunidade imaginada, nasceu como todas as outras nações, através de uma unidade nacional política que, a pouco e pouco, se foi transformando e construindo. Escusado será dizer que Cahien está equivocado duas vezes. Primeiro está querer definir identidades por base em essências. Segundo, está a deitar, depois do banho, a água mais a criança. Isto é, todo o trabalho que foi feito, de forma perversa, pelo colonialismo, de unir os moçambicanos na base do sofrimento e dominação comuns;

Segundo, ignorou todo o trabalho político decorrente da Luta de Libertação Nacional dos moçambicanos e da subsequente politização e consciencialização dos moçambicanos nos anos pós independência, mesmo que tenha havido alguns percalços. Quem não se lembra de Samora a cantar, e todos nós a repostarmos em coro antifónico: “Vamoçambicano inkwero: Akuna muchope akuna muchangana!

Achei interessante que Macamo tenha trazido a lume toda esta discussão, pois, tem a ver com a nossa própria identidade nacional, que, aliás, tal como todas, é uma construção, “um plebiscito de todos os dias”.

A seguir, o historiador António Sopa brindou-nos com uma análise centrada na etnicidade, socorrendo-se de Bourdieu (1994) e Cunha (1996):

“As divisões étnicas são uma explicação possível para perceber, dizer e construir o mundo social, dentro de um certo princípio de visão e de divisão, ainda que, par o mesmo, esta forma de reagrupamento esteja sempre ameaçada pelas cisões e oposições ligadas às distâncias no espaço social (Bourdieu 1994)”;“A etnicidade usa uma linguagem cultural para falar de grupos e relações sociais. Ela pode ser um aspecto fluído e ambíguo da vida social, sendo manipulada pelos próprios agentes num grupo considerável; (Cunha, 1996)”.

Este é o aspecto novo acrescentado às discussões até aqui apresentadas nesta discussão. No meu entender, descobre um aspecto importante, particularmente no caso moçambicano, onde, contrariamente ao propalado discurso da unidade nacional, a etnicidade ganha cada vez maior espaço, como veremos adiante.

Nelson Saúte fala do equívoco da nacionalidade literária, discussão antiga na instituição literária, uma tentativa de

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responder a questão: quem são os escritores moçambicanos? Portanto, está a falar da identidade nacional no campo das literaturas.

Gerhard Liesegang trata da questão das territorialidades sociais ligadas às identidades incorporando o conceito de etologia humana nas ciências sociais. Etologia seria o estudo do comportamento social dos animais não humanos e, a sua introdução no estudo dos animais humanos. Segundo Liesegang, ajuda-nos a entender o comportamento social dos humanos: “esta terra é minha e dos meus; este espaço é meu e dos meus”, tal como o fazem os leões, as formigas ou as cobras.

De seguida, Manuel de Araújo trata, do ponto de vista da ciência geográfica, a noção de escolha de lugar, espaços dominantes e dominados, evolução das diferenças e das relações entre espaços e a percepção de espaço. Na verdade, ele se refere a como as pessoas se identificam com os espaços onde residem e realizam as suas relações sociais:

Quando se pergunta a um citadino onde mora, ele indica a rua, quando é possível e o bairro onde reside. Isto significa que ele se identifica com o “seu bairro” que lhe serve como ponto de referência para se situar no conjunto urbano.

Esta acepção encerra as complexas tramas sociais, relações que se cosem a partir dos espaços entrosados às identidades.

Por fim, Carlos Serra faz o remate final, se me é permitido o uso de uma metáfora emprestada dos futebóis. Encerra assim, em aberto, o debate, mostrando a maneira dual em que assentamos as nossas acepções e análises, para terminar com o princípio da ambivalência identitária, o pomo da questão. Resumindo, as identidades são complexas, fluídas e processuais. Ele fala em polissemia dos processos identitários em Moçambique. Quer dizer que os processos identitários, em Moçambique,

dizem muita coisa, são polissémicos. No fundo, ele quer dizer que identidade como processo social é um termo com muitos significados passíveis de serem tratados tanto para bem como para mal.

Sobre a unidade nacional: moçambicanidade

Nesta secção recorri a um artigo que escrevi há alguns anos, e publiquei no Jornal Notícias, creio que em 2004. Transcrevi-o quase à letra adequando-o a esta discussão.

A sociologia questiona e problematiza a realidade social. Dentre as várias estratégias teóricas que utiliza, ela socorre-se de antinomias/díades do tipo conflito versus consenso. Isto quer dizer que, através de lentes sociológicas, um mesmo facto social, pode ser visto numa perspectiva de “guerra ou de paz”. De “cooperação” ou de “conflito”, embora exista uma terceira perspectiva, o acontecendo, o continuum, portanto, processual. No caso da unidade nacional, que eu entendo como moçambicanidade, ela se presta aos três sentidos e a muito mais.

No meu entender, a unidade nacional/moçambicanidade tem sido discutida segundo a atitude da “avestruz”, enterrando a cabeça na areia deixando exposto o resto do corpo. Isto é, omitindo o conflito. O que não me parece sensato, porque o conflito permanece latente, e por isso, adiado. É de louvar os esforços que têm sido feitos no sentido de incluir na agenda nacional tal questão.

Se olharmos para as teses da Frelimo ao longo da sua existência, a unidade nacional tem estado sempre presente. Está na sua própria génese (na união dos três movimentos que estão na sua origem), está nas teses de todos os congressos e está na sua acção programática. A questão básica que se levanta é, porquê esta atenção especial para com a unidade nacional/moçambicanidade?

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A moçambicanidade e a unidade nacional são assuntos que estão sempre presentes. Quanto menos não seja pelo simples facto de Moçambique ser um mosaico de pequenas nações, se assim se pode dizer, que sozinhas, provavelmente não chegassem a ser uma unidade sócio-político cultural no concerto mundial das nações. Só esse facto clama por uma reflexão.

Outro dado que me parece importante é o facto de a Constituição moçambicana hierarquizar os cidadãos em originários, de cidadania adquirida, e não originários, o que de per si constitui mote para discussão. Porquê, por exemplo, os de cidadania adquirida primeiro que os não originais? E porquê esta dicotomia?

Em terceiro lugar, tem havido preocupação, particularmente de segmentos políticos, ao se referirem à moçambicanidade e unidade nacional como sendo uma pedra basilar da nossa existência, quiçá do nosso desenvolvimento harmonioso. Enquanto uns exacerbam a diferença no sentido negativo do termo apelando a secessão, outros há que se desmultiplicam em discursos para provar que só a unidade nos trará paz e coesão sociais. Pela negativa, temos pronunciamentos como o célebre “discurso das cancelas”: “Já que temos problemas, vamos pôr cancelas no Rio Save e dividir o país. Assim, resolvemos as assimetrias”(!)

Pela positiva podemos arrolar o discurso do Presidente Joaquim Chissano aquando dum aniversário do 4 de Outubro e a Conferência de Armando Emílio Guebuza no passado dia 2 de Fevereiro (2006), a propósito do Dia dos Heróis. No primeiro caso, Chissano defendeu que se deve discutir a moçambicanidade e a unidade nacional sem tabús. Na mesma perspectiva, Guebuza explicita o não à padronização identitária.

O ponto é saber até que medida a moçambicanização e a unidade nacional são tidas como missão por todos nós, moçambicanos renascidos do 25 de Junho. Pois, a moçambicanização deve ser

aquilo que nos faz ser cada dia estes moçambicanos que somos, sempre em construção porque, no dizer de Severino Ngoenha, a moçambicanidade é e ainda não.

A dupla dimensão da unidade nacionalConcebo a moçambicanidade e a unidade nacional em duas dimensões. A primeira é de fórum filosófico. A segunda, empírica. A primeira, é uma perspectiva teórica sobre o conceito de unidade, dimensão que acaba enformando a maneira como as pessoas representam o termo. Isto é, como as pessoas entendem o termo unidade.

A segunda dimensão (empírica) incorpora a filosófica e é a realização prática das ilações teóricas sobre essa unidade. Ou seja, como cada um de nós materializa e incorpora no seu dia-a-dia essa unidade, em ordem a consubstanciar a moçambicanidade, este outro conceito processual, em acontecendo quotidianamente. É o processo da moçambicanização tal como definido por Carlos Serra, Elísio Macamo e Severino Ngoenha, feliz formulação que parece captar esse ir acontecendo. Tal processualidade fragmentária e ténue, é, ao que parece, muito complicada e confusa.

Evaristo Abreu no Seminário sobre a Cultura

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Do ponto de vista teórico-filosófico o termo unidade é dúbio. Por um lado, ele se refere a uma entidade, a um ente distinto. Quer dizer, uma unidade é um elemento singular. Seja um copo, um lápis ou uma manga. Por exemplo, nas Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM) unidade era o elemento básico da instituição militar, era o soldado: a unidade, o elemento.

Por outro lado, do ponto de vista empírico/prático, a unidade remete-nos para a união, o que vai desaguar num substantivo colectivo. É por isso que nas FPLM, unidade significa(va) um conjunto militar estruturado, como, por exemplo, uma companhia um batalhão ou uma brigada.

Sendo que o conceito de unidade nacional começou a ser construído por altura da Luta Armada de Libertação Nacional num contexto político/militar sui generis, é muito provável que essa confusão teórica tenha sido um bicho-de-sete-cabeças nas mentes dos nossos libertadores. Não fosse o cunho marcadamente político que a luta de libertação nacional acarretou, mais complicado seria ainda. Valeu-nos a existência dum inimigo comum, o que fez prolongar a “lua-de-mel” nesse “casamento nacional” que fez prescindir a procura de virtudes de parte a parte dos “nubentes”, potenciando, em contrapartida, a vontade de união por oposição a um “papão comum”, o colonizador.

Na verdade, por essa altura, a unidade nacional dos moçambicanos se construiu pela negação do colonialismo. Ou seja, pela negativa que passou a ser positiva. Nos anos subsequentes a 1975, a unidade nacional se formatou na luta contra Ian Smith, no apoio à luta contra o apartheid, no apoio a luta dos zimbabweanos pela sua independência, caracterizados por uma solidariedade nacional que pode ser simbolizada pelo Banco de Solidariedade, pelo espírito de missão dos Jovens do 8 de Março e de todos esses moçambicanos anónimos que deixaram as “suas províncias”

para cumprirem tarefas em sítios que jamais passariam pelos seus planos pessoais.

No entanto, tal não evitou que a vida de milhares de moçambicanos fosse sacrificada pondo em causa a legitimidade e eficácia dessa abordagem da questão.Até aqui tudo bem. Inimigo comum: será?

Hoje, numa situação de multipartidarismo e de pluralismo de ideias o que é então a unidade nacional? Qual é o inimigo comum, por via de cuja negação far-se-á a unidade nacional, pela positiva, tal como nas primeiras duas situações de supostos “casamentos” felizes? E em relação ao tal “casamento”, será que já acabou a “lua-de-mel”? Se sim, já podemos começar a olhar para as virtudes e os podres que enformam tal “casamento”?

Em relação ao inimigo comum, o velho Marcelino dos Santos disse-o e bem, na palestra dada por Armando Emílio Guebuza (2 de Fevereiro 2004) que o inimigo comum de hoje são os globalizadores. É pela negação destes que é suposto fazermos a unidade nacional dos moçambicanos, quiçá a unidade de todos os condenados da terra. Portanto, na óptica do dinossauro da nossa libertação, o que guia a definição é a mesma estratégia ideologizante por negação, que por seu turno, tornar-se-á positiva. Adiante veremos o senão dessa estratégia.

Em relação à questão da “lua de mel” está claro que ela já se acabou, se bem que persista a componente político-ideológica na definição de unidade nacional. Mais do que nunca, volvidos estes anos todos, os noivos já estão mais preocupados um com o outro. Falando sem suporte metafórico, penso que continua por resolver a questão prática da unidade dos moçambicanos. Os moçambicanos precisam conhecer-se mutuamente, inter cruzar as diferentes origens étnicas, sociais, raciais etc., tal como

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definido nos Estatutos da Frente de Libertação de Moçambique. No caso de hoje, penso, um dado novo deve ser a atitude que hoje, diferentemente, tem que ser tomada. É o caminho do reconhecimento mútuo e respeito pela diferença que devemos trilhar se queremos resolver a questão descartando a tese do inimigo comum, e não tanto “matar a tribo para fazer crescer a nação”. Essas “tribos” devem ser entendidas no sentido de “mini-nações”, como há dias asseverava um amigo meu: “mini nações com existência própria e com cunho de enriquecimento do sentimento nacional”.

Se eu quiser falar como Castiano (2010), diria que temos que ser capazes de materializar aquilo que ele chama de intersubjectivação. Portanto, devemos ser capazes de nos misturarmos, reconhecendo as diferentes idiossincracias colectivas e individuais.

O que inviabiliza o argumento do inimigo comum hoje é o facto de a globalização (e os globalizadores) serem um fenómeno que remonta há muitos séculos. Para além de que os moçambicanos não são o seu único sujeito/objecto. No entanto, e ao que tudo indica, precisamos de continuar a ser moçambicanos nascidos desse 25 de Junho de 1975, quanto menos não seja só pela identidade de passaporte. Donde resulta que precisamos de estar unidos moçambicana e independentemente dos globalizadores que, obviamente, estiveram e sempre estarão omnipresentes. Parece-me que independentemente da nossa unidade nacional, a estratégia para a globalização deve ser segundo a divisa decalcada e reformulada: “pobres de todo o mundo uni-vos!”, o que implica uma coligação mundial de todas as raças, etnias, classes sociais e nações contra a injustiça social que é engendrada à escala planetária. Mas, a unidade nacional deve ser a coligação de todos os pobres, ricos, pretos, brancos, A-Senas, A-Ndaus , Macondes, A-Jauas, Changanas, etc. etc., todas essas mini-nações moçambicanas. Na verdade, deve ser uma vontade política assente no famoso paradigma libertário Ngoenhiano, que pressupõe, em última instância, a vontade de vivermos juntos e de partilharmos um mesmo destino e espaço,

sejam elites, contra-elites ou a massa anónima que, na falta de melhor termo chamaremos nação moçambicana que é uma comunidade imaginada. Essa vontade traduz-se na vontade de liberdade comum, por oposição à escravatura nas suas diferentes mutações, seja o racismo, o elitismo, o etnicismo, o regionalismo, a pobreza, ou outro “ismo” qualquer que se nos afigure negativo para connosco como comunidade imaginada.

Outrossim, não temos chance que não seja maximizarmos as benesses dessa globalização que, não obstante, traz vantagens inevitáveis, como por exemplo os preceitos que são supostos fundamentar o nosso Estado, que no fundo emana da Revolução Francesa: Liberdade, Fraternidade, Igualdade. Quer dizer que no nosso caso, ao invés de um Estado mínimo devemos começar a pensar num Estado que cuide dos mais desfavorecidos, contrariamente aos hegemonizantes ditames neo-liberais. Cuidando das diferenças, aproximando posições e igualando os diferentes quadrantes. Aqui, mais uma vez cabe o cliché: iguais na diferença! Ou, diferentes na igualdade!

Então, em que fi camos?

Tudo passa pela unidade nacional.

Na definição de unidade nacional por via de inimigos comuns, por altura da Frente de Libertação de Moçambique, parece que deixamos por resolver questões existenciais que ajudariam a entender hoje as querelas da unidade nacional de ontem, intra nacionalmente. Se ontem deixamos de lado as querelas inter grupais para cuidarmos do inimigo comum, a pergunta legítima que se pode fazer hoje é: derrotado o inimigo comum, que esforços foram feitos na resolução dessas questões adiadas?

Durante a Luta Armada de Libertação Nacional, a FRELIMO foi de facto uma frente onde triunfou a “linha justa”. Como falar de unidade nacional hoje numa situação de multipartidarismo e de pluralismo de ideias, constitucionalmente consagrados? Como

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entender o globalizador como inimigo comum para a definição da nossa unidade nacional hoje, se tais globalizadores estabelecem redes e coligações com o Estado moçambicano e segmentos nacionais de moçambicanos? (não nos esqueçamos que o Estado moçambicano anda nos carris do Washington Consensus).

Mais do que pensar nos globalizadores como inimigo comum, temos que pensar em nós mesmos deixarmos de ser nossos inimigos internos. Já me explico. Isso significa que um maconde deve ver um changana como seu co-cidadão; um Chope deve ver um jauá como seu co-cidadão. E por aí adiante. O que é que isso significa?

Unidade é singularidade na pluralidadade: confusão existencial.

Cada uma das comunidades de pessoas que compõem o nosso país ostenta a sua própria idiossincracia, a sua identidade cosmogónica. Quer dizer tão simplesmente que cada uma das comunidades tem a sua dinâmica simbólica (de significados) intra grupal. Daí a noção de partilha de significados. Por exemplo, os ritos de iniciação revestem-se dum significado vital para os Macondes. Provavelmente não o sejam para os Ba ronga. Todavia, ambos têm o direito a serem nacionais moçambicanos, cada um com as suas iniciações ou não. E cada um de nós deve entender o outro, não como folclore, mas como parte de si: o Jawa deve entender que o Muganda é genuinamente seu, como também o Xigubo e o Tufo. E vice-versa: O changana deve entender que o makway é seu, tal como também o nhambaro e o mapadza.

Ao falarmos de unidade nacional, julgo, queremos proclamar a hifenização da nossa existência comum, sem eclipsarmos as existências individuais/comunitárias: Macondes são Macondes, A-ndau são A-Ndau, Ba-ronga são Ba-ronga, A-sena são A-sena. Mas “unidademente”, devemos ser todos e cada um, moçambicanos, nacionalmente unidos.

Quando falamos de unidade nacional queremos dizer que cada um dos diferentes grupos sócio-linguístico-culturais goza do direito à diferença. Unidade nacional, para mim, significa que eu maconde reconheço os códigos intra-grupais E-makua e os respeito. E vice-versa. Reconhecer vai para além da simples tolerância. Posso tolerar até ao dia que eu quiser. Mas reconhecer significa que eu maconde, eu macua, vejo o nhunguê como me vejo a mim próprio, nesta comunidade imaginada que dá pelo nome de Moçambique. Isto pareceria ser simples se não houvesse de permeio preconceitos, arrogâncias e rotulagens sedimentadas em muitas das nossas cabeças, o que vem complicar ainda mais o xadrez. Vamos por partes.

Segundo o dicionário de sociologia de Allan Johnson, “preconceito é a teoria da desigualdade racial, étnica, entre outras formas, e discriminação é a sua prática”. Preconceito é uma atitude cultural positiva ou negativa dirigida a membros de um grupo ou categoria social. Como uma atitude, combina crenças e juízos de valor com predisposições emocionais positivas ou negativas.

O preconceito é sociologicamente importante porque fundamenta a discriminação, o tratamento desigual de indivíduos que pertencem a um grupo ou categoria particular.

Arrogância não tem grandes definições, é isso mesmo: soberba, altivez, insolência, o olhar para o comparsa de cima para baixo, complexado.

Sobre as rotulagens, a ideia central é que há uma norma de comportamento contra a qual existe um desvio, que por sua vez pode afectar a maneira como as pessoas são vistas, como se vêem. É muito importante porque determina como os recursos e oportunidades são alocados. Implica a maneira como os recursos, capitais políticos, simbólicos materiais etc., são distribuídos numa base de critérios simplistas: “Estes não se comportam como nós, logo, não são nossos”, donde resulta que

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não merecem ser incluídos na partilha. Em contrapartida, “os nossos merecem tudo” pelo simples facto de supostamente se comportarem de acordo com a “norma da nossa casa”.

Nenhuma forma de exclusão deve ser critério para a distribuição de recursos ou desqualificação do outro. Pelo contrário, unidade nacional significa inclusão. Quer dizer que se queremos fazer unidade nacional dos moçambicanos, a diferença e as idiossincracias devem ser sempre tomadas em conta na construção do todo unido moçambicano, da nação moçambicana. Se assim é que deveria ser, a pergunta justa que se nos coloca é: Donde vêm tais preconceitos, arrogâncias, e rotulações, e porquê?

O Desconhecimento mútuo e a moral da história

É ponto assente entre muitos concidadãos nossos que o diferente é mau, por isso desprezível, anti-normal e desviosionista, portanto fora das expectativas de acordo com a “norma vigente”, “a nossa”. Na verdade, essa forma de ver as coisas para além de ser divisionista é a primeira porta de entrada para se ver como normal a alocação desigual de oportunidades, só porque o outro é diferente e este é como eu. Como se fosse proibido e anormal ser outro.

Mais ainda, o outro não é visto com estatuto igual. O outro é visto como exótico, na mesma perspectiva que os Colombos viram a primeira banana ou o primeiro ser não europeu. Nas FPLM fazia-se questão de que cada secção fosse a nação. Não era sem razão que em cada dez unidades (elementos) tínhamos concidadãos provenientes de todo o país. Simbolicamente era importante porque, cruzávamos informação, padrões culturais e existenciais entre pessoas de proveniências distintas, ensinávamo-nos as línguas locais uns dos outros, danças, canções e até aconteciam casamentos inter-étnicos. Seria isso alguma contribuição para a unidade nacional? Não sei, mas uma coisa é assente: diminuía-se o fosso entre nós e os outros. As nossas cabeças e os nossos filhos passaram a ser o cruzamento entre macondes e machopes, changanas e senas. Ndaus passaram

a dançar xigubo e Nhungwes a dançar muganda. Nada mau em termos de mudança de atitudes estimulando práticas de cruzamento de mentalidades e de representações. Pelo menos era uma via de diminuição das tensões e da propensão para a desqualificação do outro. Portanto, o “casamento” hoje deve ser ao nível das nossas cabeças.

Hoje devemos exigir a mudança das nossas próprias mentalidades, equidade no tratamento e reconhecimento de que algo vai mal e que, por isso, deve ser imprimida uma dinâmica no sentido de mudá-lo, estrategicamente. Não pela negação. Tão pouco pela via de inimigos comuns, mas antes pelo contrário, potenciando o facto de partilharmos o mesmo 25 de Setembro, o mesmo 25 de Julho, a mesma Constituição, a mesma Lurdes Mutola, os mesmos Mambas, no fundo símbolos dum mesmo espaço geográfico este nosso Moçambique. A meu ver, isso se faz induzindo o nosso sentimento nacional, do Rovuma ao Maputo. Do Zumbo ao Chinde. De facto, passa pela noção de que a produção, distribuição e reprodução da riqueza, passa pelo reconhecimento das diferenças, assimetrias e as diferentes identidades.

Na verdade, tal passa por uma educação cívica. E porque não, educação política nas escolas através duma disciplina que consagre a cidadania como objecto de estudo?Tudo isso, imagino, ajudaria a formatar a primeira dimensão da unidade (filosófica). Tal seria levado a cabo socorrendo-nos de uma espécie de educação de cartilha nas nossas casas, nas escolas, nas barracas, etc.. Só assim, penso, será possível passarmos para a segunda dimensão (empírica) da questão: reconhecermos e internalizarmos que a cidadania moçambicana constitucionalmente instituída assenta na igualdade, sem exclusão. Aliás, de contrário, e de acordo com a nossa Constituição, é crime desqualificar quem quer que seja na base da sua origem, cor da pele, origem étnica, orientação sexual, religiosa ou mesmo política. Resumindo e concatenando, ser diferente só enriquece a nossa moçambicanidade e contribui para chamar a nossa atenção para se evitar o estigma só porque se é diferente.

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Só assim estaremos a glorificar os milhares de moçambicanos que verteram seu sangue, suor e inteligência a pensar numa comunidade política, cultural e económica justa, e que paute pela equidade, afinal o sonho que continuamos a augurar para este nosso Moçambique. Nacionalmente.

Conclusão

A cultura entendida como advogamos, incorpora, como realizamos os nossos enterros, como caçamos, como pescamos, como nos sentamos, como nos posicionamos perante os nossos ou os outros, como nos percebemos e como nos comportamos em todos os sentidos. Portanto, inclui todo o complexo material e imaterial, quer dizer, a combinação de todos os traços culturais (crenças, ideias, isto é, os elementos constitutivos de uma cultura). Esses elementos são vários. O que importa é que eles enformam o nosso comportamento, os nossos valores e a nossa maneira de ser. Portanto, estamos a dizer que cultura, é, no fundo uma questão material e imaterial, ideológica, que perpassa as nossas relações sociais.

As identidades sociais são processuais tal como a cultura e a unidade nacional/moçambicanidade. Por isso, devem ser alimentadas quotidianamente por todos e cada um de nós. A(s) cultura(s) as identidades e a unidade nacional são, parafraseando meu amigo Isaú Menezes, como o chá: devem ser tomados como um todo: açúcar, folhas de chá e água quente. O que vai variando é o que acompanha esse chá: se pão de centeio, mandioca, batata doce, madumbe, nhymu, magunba/marora com salada, xiquento de caril de amendoim com xima ou arroz, rale, ou titxota. Seja como for, temos que ser capazes de cria as condições para que tenhamos à mesa aquilo que nós queremos e achamos que se ajusta melhor ao nosso paladar. Sem preconceitos.

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“[…]… Esperava ver hoje um pouco de baile aqui, estava à espera de ver baile aqui. O baile nunca vem ao público, é nas casas fechadas e quando não está fechada a casa é de noite, com um pouco de luz, quando há um pouco de luz, quando a luz chega um pouco à sala onde se dança, diminuem para aparecerem aquelas luzes escuras. Esta é a cultura civilizada, cultura dos homens civilizados. Só de noite, quando o sol não existe. Foi essa civilização que envenenou o nosso Povo […] Hoje temos a nossa cultura moçambicana desenvolvida e desejada em toda a parte do mundo […]”

– Samora Moisés Machel82

O PAPEL DA CULTURA NA PRODUÇÃO DE RIQUEZA

Por: Tânia Tomé

PREÂMBULO

Foi com imenso lisonjeio que recebi do Gabinete de Estudos da Presidência da República a tarefa de apresentar o tema “O Papel da Cultura na Produção de Riqueza” no âmbito de um dos seminários relativos ao papel da cultura para sociedade promovidos pela mesma. Um tema novo e pertinente sobre um conceito antigo e de senso comum – o da cultura. A cultura ganha relevo como eixo estratégico do desenvolvimento humano, económico e social e torna-se crucial desenhar estratégias que possibilitem o seu melhor entendimento e aprofundamento e acções concretas para gerar resultados.

Aceitei o desafio de criar uma reflexão muito particular que tem a ver, por um lado, com a minha experiência como Economista e Gestora, mas igualmente como artista e agente cultural. O grande desafio foi criar uma abordagem que pudesse ser compreendida pelos planificadores estratégicos, mas também pelos próprios produtores culturais. E que igualmente pudesse incorporar as necessidades e desafios reais que ambos sentem no caminho para o crescimento.

Dra. Tânia Tomé durante a sua intervenção

82 “REPÚBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUE: A PRIMEIRA OFENSIVA DO GOVERNO”. Discurso do Presidente Samora Moisés Machel proferido no comício do Estádio da Machava para o anúncio das primeiras medidas importantes adoptadas após a Primeira Sessão do Conselho de Ministros da República Popular de Moçambique, e que durou dezasseis dias. Maputo, Julho de 1975

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É também uma grande responsabilidade abordar um tema onde pouco ou quase nenhum estudo foi desenvolvido em Moçambique, não existindo possibilidades de contar com um mapeamento empírico ou existência de dados, de onde pudesse concretizar quantitativamente o real impacto das actividades culturais na geração de riqueza.

Na missão que recebi arrisco a reformular o tema para economia criativa/indústrias criativas como estratégia de desenvolvimento e redução da pobreza. Far-se-á assim em primeiro lugar uma abordagem conceptual, trazendo uma nova abordagem da cultura em termos funcionais e novos conceitos relativos a construção da rentabilidade que todos almejamos.

Criar-se-á uma abordagem em torno da dinâmica das indústrias criativas, clarificando que passos deviam ser seguidos para sua construção e manutenção, tendo em conta todos os desafios e os diversos papéis desempenhados pelos diversos actores nesse processo.

Neste âmbito pretende-se, com esta reflexão, abrir caminhos possíveis para uma compreensão e estímulo a consciência de que é possível realmente gerar rentabilidade para os agentes culturais e em consequência disso riqueza para a sociedade. Sobretudo, apoiar no caminho de aprendizagem e estímulo a novas abordagens sobre estes novos conceitos e seus impactos na nossa economia. Ciente estou do que ainda ficará por dizer e aprofundar, pretendo não obstante partilhar os escassos conhecimentos que carrego ao largo dos anos trabalhando especificamente com actividades artísticos culturais a todos níveis.

1. Introdução e contexto

O termo cultura é um conceito usado numa variedade de contextos. No seu sentido mais lato, designa todo um

sistema de crenças, valores e costumes, praticados por toda uma comunidade. Neste sentido a cultura se enquadra numa estrutura antropológica e sociológica descrevendo as práticas comuns e fundamentais ao funcionamento de uma sociedade em particular. É possível ainda definir o mesmo conceito com uma orientação mais funcional (Throsby) na qual seu significado se define como um conjunto de actividades que de alguma forma envolvem criatividade na sua produção tendo inerente a geração e comunicação de significados simbólicos, sendo o seu produto final potencialmente uma forma de propriedade intelectual. Neste último sentido importa-nos perceber de que forma essas actividades geram rentabilidade e de que forma contribuem ou podem contribuir para gerar riqueza, em particular na nossa economia.

A riqueza segundo princípios económicos é o resultado de uma eficiente e eficaz aplicação de recursos escassos designados por factores de produção tradicionalmente conhecidos por recursos naturais, mão-de-obra e capital.

Nas últimas décadas, embora sem particular visibilidade, alguns estudos económicos foram realizados, por um lado, relativos à aplicação da análise económica a questões culturais e, por outro, na própria influência da cultura no desenvolvimento económico e social dos territórios. Mas foi mais recentemente, com a nova abordagem económica e de gestão que a cultura surge como parte integrante e relevante nesse processo, uma vez que se assume que o desenvolvimento se deve centrar mais nas pessoas (capital humano) e menos nos bens, considerando assim como novo factor de produção o conhecimento/capital intelectual (Drucker), gerando novas possibilidades de geração de riqueza com recursos intangíveis como o é das actividades culturais.

A criatividade humana é uma das características basilares do empreendedorismo e da inovação.Conceitos como da economia da cultura, economia

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criativa, indústrias criativas emergiram e tornam-se cada vez mais relevantes o seu aprofundamento, entendimento e mensuração.

No caso particular moçambicano, poucos ou quase inexistentes estudos foram feitos criando a real contabilização das indústrias criativas existentes, ou relevando o seu impacto na economia ou produção de riqueza. Felizmente, a cultura começou a ter uma atenção maior e urge essa necessidade.

Neste contexto a informação é muito escassa para se entender a real dimensão da riqueza produzida pelas escassas indústrias criativas na riqueza do país. Não obstante, o que se pretende é facilitar a compreensão do universo da economia criativa, com especial atenção ao impacto do funcionamento destas indústrias, não só para a geração de riqueza mas igualmente a sua importância e contribuição para um desenvolvimento sustentável do nosso país, possibilitando igualmente o estímulo ao investimento neste sector produtivo.

Importa então desenvolver um trabalho mais de base, com clarificação de conceitos e efeitos tanto a nível macroeconómico, como a um nível mais microeconómico. E fazer uso dos melhores estudos e exemplos realizados em realidades mais próximas a nossa, e dos escassos e ainda pouco consistentes estudos locais, dando assim continuidade ao processo de aprendizagem concernente ao funcionamento e construção da economia criativa e de suas indústrias já iniciado pelo Ministério da Cultura e por outras organizações não governamentais em Moçambique.

O estudo envolverá os itens seguintes:• Contextualização - Conceitos chave• Cultura o veículo de desenvolvimento• Dinâmica da Economia Criativa/Indústrias criativas

- Arte como negócio - Papel dos Stakeholders - Contexto Moçambicano• Desafios e Conclusões

1.1 Conceitos chave:

A introdução sugere-nos que para compreender o papel da cultura na geração de riqueza, devemos perceber o quão importante é entender o conceito de cultura não apenas na sua dimensão antropológica e social, mas também e sobretudo na sua abordagem funcional. Por outro lado, a mudança de abordagem económica para uma abordagem onde se considera como mais um dos factores de produção de recursos intangíveis como o é o conhecimento (propriedade intelectual), torna possível o estudo e a disseminação de um conjunto de novos conceitos ligados ao exercício e rentabilização das actividades artístico-culturais, conceitos estes que se irão definir ao longo de toda a reflexão teórica aqui estabelecida. Os principais conceitos

Eunice Andrade e José Mucavel no Seminário sobre a Cultura

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chave: indústria criativa, economia criativa, economia da cultura, Empreendedorismo, recursos intangíveis, propriedade intelectual, talento, criatividade, Coopetição, Commodificação, Domunicação.

Indústrias criativas:

São o conjunto de actividades com origem na criatividade individual, habilidade e talento que tenham o potencial de riqueza e criação de emprego através da geração e exploração da propriedade intelectual.

Economia criativa:

Abrange para além das indústrias criativas, o impacto dos seus bens e serviços em outros sectores e processos da economia e suas conexões. Estando portanto associada a transversalidade destas indústrias a outros sectores.

Economia da cultura:

Abrange as indústrias criativas e todas as outras diversas modalidades de expressão cultural e artística do país. Pode-se arriscar a dizer que a mesma representa a cultura na sua função mais basilar – a social e antropológica.

Empreendedorismo:

É um processo dinâmico pelo qual os indivíduos identificam ideias e oportunidades e transformam-nos em empreendimentos.

Recursos Intangíveis/capital intelectual:

“O tecido intelectual que foi formalizado, apreendido e completado para dar um activo com valor agregado”(Thomas Stewart).

Talento:

“Talento é ter as competências necessárias para hoje e ter potencial para adquirir as competências necessárias para o futuro” (UlissesTapajós).

“Talento é a habilidade excepcional de um indivíduo – esta habilidade pode ser natural ou desenvolvida. No mundo executivo o talento geralmente é desenvolvido através do esforço consistente das habilidades comportamentais” (Sérgio Averbach).

Criatividade:

“É o processo que resulta em um produto novo, que é aceito como útil, e/ou satisfatório por um número significativo de pessoas em algum ponto no tempo” (Stein, 1974). “Criatividade representa a emergência de algo único e original” (Anderson, 1965).

“Um produto ou resposta serão julgados como criativos na extensão em que a) são novos e úteis ou de valor para uma tarefa e b) a tarefa é heurística e não algorística” (Amabile, 1983).

Coopetição:

É um novo conceito que tem subjacente a aliança entre dois conceitos em economias de mercado, o da competição que deve existir como forma de garantir que os produtores produzam mais e melhor, e o da cooperação que em novas economias se sustém em alianças estratégicas úteis ao desenvolvimento do negócio. Significa trabalhar em conjunto com os concorrentes de forma a beneficiar das suas capacidades e características distintivas nos domínios da investigação e desenvolvimento, produção, distribuição, entre outros.

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Comodifi cação/Comoditização:

Comoditização toma lugar quando o valor económico é assinalado a algo não previamente considerado em termos económicos; por exemplo, uma ideia, identidade, cultura. Então, comoditização se refere a expansão do mercado para áreas anteriormente não comerciais, e o tratamento de coisas como se elas fossem commodities comerciáveis.

Domunicação:

Ocorre quando há competição por dominação, surgindo numa medida em que os países mais pobres, não conseguem aproveitar das vantagens que surgem pelas oportunidades do processo de desenvolvimento e da globalização. Existe quando existe uma comunicação de tal ordem dominante, com possibilidade de criar nesses países valores alienados.

2. Cultura o veículo de desenvolvimento

A missão de abordar a cultura como veículo de desenvolvimento é um grande desafio, sobretudo num país em que a cultura é quase sempre e unicamente abordada tão-somente em termos antropológicos e sociais, e onde as actividades artísticas e criativas não são consideradas ainda como profissões académicas ou intelectuais. Exemplo disso é ter-se criado só muito recentemente a Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane e o Instituto Superior de Artes e Cultura (ISArC) como instituições de nível superior para profissionalizar essas actividades. E quase toda a capacitação de actividades de foro artístico e criativo se extinguir na formação média e educação secundária durante muito tempo, ou então ser inexistente. Constata-se tal facto pela existência já há largos anos de apenas escolas de nível secundário escassas e localizadas unicamente na capital de Moçambique, nomeadamente a Escola Nacional de Artes Visuais, Escola Nacional de Música, Escola Nacional de Dança, etc. No concernente as actividades de

carácter ainda mais tradicional, como é por exemplo o caso do Artesanato, a formação académica é quase inexistente. Existem, não obstante, associações que aglomeram com intensidade essa formação prática, a interacção entre os artistas como forma de aprendizagem, e destaca-se por exemplo o caso do Núcleo de Arte, Mozarte, CEDARTE, etc., e na sua maioria as associações ainda servem como mostras/exposições públicas onde os artistas têm a possibilidade de apresentar os seus produtos e de os vender.

Algo muito interessante e particular acontece com artesanato, onde a aprendizagem quase se extingue ao “learning by doing” onde aprendizagem é muitas vezes passada entre gerações de familiares. Não obstante é uma das actividades artísticas que mais rende, sobretudo penso pelo seu factor diferenciador que desperta interesse a estrangeiros no mercado nacional, sendo dos produtos mais exportados em mercados africanos, como veremos a posterior. Neste sentido, verifica-se um sinal muito concreto de que temos muito a analisar e aprender das nossas próprias indústrias criativas que podem não seguir necessariamente os padrões internacionais, tanto nas suas características como nos seus processos.

Outras actividades criativas como é o caso da fotografia e do cinema, tem alguma formação suportadas também pelas próprias associações, nomeadamente o Centro de Formação Fotográfica de Maputo e a Associação Moçambicana de Cineastas (AMOCINE). As associações continuam a ser os núcleos e os centros de promoção criativa. Carecem de meios e recursos, sendo a escassez relativa à formação e capacitação e ainda de matéria-prima para aprimorar o conhecimento em determinado sector criativo.

Esta situação repete-se a outros níveis, como é o caso da música, da literatura, dança, entre outros. Não obstante, as indústrias criativas não se extinguem nas actividades artísticas, existindo outras de carácter criativo como é o caso do design, decoração,

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arquitectura, publicidade, televisão, rádio, jornais, etc.. Estas são actividades tecnicamente mais rentáveis e estabelecidas, e são igualmente as que são tratadas com uma dimensão mais profissional, tanto a nível de formação superior existente, como a própria resposta às necessidades do mercado de trabalho, e económico, sendo na sua maioria representadas em termos organizacionais por empresas.

O que as distingue, a meu ver, no seu resultado, é sobretudo a abordagem mental que temos sobre elas, que torna como prioritárias na formulação da estratégia educacional, aquelas que pensamos ser mais rentáveis. Isto é a nossa premissa, é o que nos leva a investir menos nas actividades artísticas, e valorizar menos determinando que o preço a que estaríamos dispostos a pagar por um produto artístico seria quase inexistente ou irrelevante. Podíamos dizer num sentido mesmo muito preliminar que o grande problema, é mesmo a mentalidade. Superando-a com novas abordagens, e com uma educação primária voltada para a criatividade e arte e empreendedorismo como disciplinas também inclusivas, poderemos aprender a criar indústrias criativas que sejam também de origem artística e igualmente rentáveis.

Outro aspecto como resultado do acima citado, é que ao analisar as formações e capacitações escassas, tanto no nível secundário bem como no nível superior constata-se que em nenhuma delas essa formação é voltada para inclusão das actividades artísticas criativas como parte integrante do mercado e do seu funcionamento. E por essa razão a gestão, a organização, o trabalho deixam de ser ferramentas orientativas, o que as torna elementos puramente de prazer que não carregam em si aquilo que chamamos de utilidade. Isto é, mesmo o próprio prazer gerado dessas actividades aos seus consumidores, não é visto como útil, e por isso não tem valor, e por conseguinte um preço. E assim acaba por ser produto não comercializável.Naturalmente, toda esta abordagem está associado ao funcionamento das economias de mercado, a um sistema que poderíamos denominar semi-capitalista. É sobretudo nestas economias desenvolvidas que nascem as primeiras abordagens de indústrias criativas. O conceito surge na Austrália em 1994 (Creative Nation), mas é no Reino Unido em 1997 que o mesmo é mais aprofundado e desenvolvido.

A grande questão não é apenas opinar e debruçar sobre os aspectos económicos, mas imbricar estes conceitos no processo de aprendizagem, ainda que de forma subtil. Para se perceber que se pretende realmente ter indústrias criativas funcionais em Moçambique, é fulcral mudar a mentalidade que se tem acerca das actividades artístico-culturais. E a partir daí, investir na educação e em sistemas integrados, cujo papel crucial do Estado e do Governo no seu fomento possa existir, possibilitando a criação de ambientes favoráveis ao desenvolvimento. Tal sistema integrado deveria existir com a actuação em rede, com todos os outros stakeholders como são os média, os críticos e agentes privados.

Por outro lado, não existe um mapeamento das actividades artísticas/ e muitos poucos registos ou documentos que possam servir de base para formular e ou defender a hipótese da cultura como veículo de desenvolvimento. E a questão da informalidade Gilberto Mendes, Cremildo Gove, Luisa Uachisso no Seminário sobre a Cultura

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de grande maioria das indústrias criativas é considerável, tornando bastante difícil medir convenientemente o impacto das mesmas na renda nacional, e a ter indicadores precisos da rentabilidade de cada actividade em particular.Mesmo assim e reformulando a hipótese para – a economia criativa como estratégia de desenvolvimento e redução da pobreza, far-se-á aqui uma referência ao impacto social e económico que as actividades artísticos culturais tem para toda uma sociedade ainda que de forma basilar e generalista. Destacam-se os seguintes itens/aspectos:

•As actividades artísticas e culturais são catalisadoras de esforços de revitalização na comunidade e podem fazer a diferença na saúde, no crime, no emprego e na educação etc.. Exemplos (Festival de Medellin, Festival da Cultura, Festival Showesia sobre a Paz, etc.).

• A educação e formação nas artes são cruciais para desenvolver as habilidades dos jovens e desenvolver uma base de capital humano. Só com essa capacitação e sobretudo desde tenra idade, a mentalidade e o conhecimento se tornam verdadeiros pilares para criar e mover o motor do desenvolvimento.

• A cultura é um agente de expressão, de preservação, de afirmação de diversidade. Transmite identidade nacional e confiança. A cultura devia tornar possível reconhecer o que nos torna e identifica como Moçambicanos (O que é ser Moçambique/Moçambicano para nós), e devia ser um elemento chave para que o mundo ou o que nos rodeia, nos conseguisse identificar como Moçambicanos (O que é ser Moçambique/Moçambicano para os de fora? Como os outros nos vêem?) Exemplos (artesanato, festival nacional da cultura, aldeia cultural, prémios artísticos culturais internacionais, espectáculos nacionais, espectáculos internacionais com participação de artistas nacionais, CDs, livros editados fora, etc.)

• A economia criativa é uma opção viável para a promoção do desenvolvimento humano, para melhorar a qualidade de vida das pessoas pois, a mesma pode possibilitar geração de emprego e renda, e bem-estar social associado uma mais elevada valorização da identidade e valores culturais.

• A criatividade é um recurso abundante, enquanto os outros factores de produção são escassos. Pela sua abundância torna-se um elemento importante como estratégia para o desenvolvimento e redução da pobreza. É necessário identificar onde estão as vantagens comparativas, os talentos e a criatividade que permitem ser motores de atractividade nacionais e internacionais, mas também pontes e transportadores de valores e qualidade. É preciso ir de encontro as verdadeiras referências artístico-culturais.

• A cultura é uma componente chave do mercado de turismo, o turismo cultural é um motor económico essencial. Segundo a Confederação das Nações Unidas Para o Comércio e Desenvolvimento (CNUCED) em Moçambique, o turismo contribuiu em 2008 para 3.4% do PIB e foi responsável por mais de 1.75 milhões de empregos na região da SADC em 2006.

• As indústrias criativas podem então ser potencialmente contribuidores do indicador de rendimento (PIB).No Reino Unido, os dados oficiais mostram que as indústrias criativas representam 8% do rendimento nacional e 5% da força de trabalho. Os dados da CNUCED revelam que na Dinamarca as indústrias criativas representam 5,3%, enquanto que na China as indústrias criativas representam 6% do PIB no ano 2004.

Não existem ainda dados específicos sobre o impacto das economias criativas no rendimento nacional moçambicano. O desafio é em primeiro lugar identificar as indústrias criativas, estabelecer metodologias para a criação de uma base de dados de registo das indústrias e formalização/legalização com base

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na sua localização e dimensão, e sobretudo as com maior potencial, e mensurá-las. Para fazer essa mensuração temos que necessariamente adaptar e enquadrar os conceitos estabelecidos pelos países desenvolvidos ao nosso contexto moçambicano.

• Contribuição das indústrias criativas para as exportações. Segundo os dados da CNUCED o total das exportações de bens criativos em Moçambique totalizou 4.5 milhões em 2008. Não obstante, não se pode deixar de referenciar que em 2008 Moçambique importou bens e serviços criativos ascendentes a 51, 4 milhões de dólares. O que significa que em 2008 as exportações representaram 0,08% do valor total de produtos totais importados, revelando uma balança comercial deste sector de actividade completamente deficitária. Mais uma vez se repete aqui a necessidade de fazer uma substituição das importações pelas exportações para a obtenção de uma melhor balança comercial. Mas tal só pode acontecer com a aposta na produção interna dos nossos produtos criativos, principalmente com qualidade e factores diferenciadores, e tentar ao máximo desviar dos factores negativos da globalização e da domunicação.

As exportações totais dos produtos criativos africanos ascendeu em 2005 a 1.7 Bilhões de dólares, representando 1% da produção mundial com 60% exportações em artesanato e 47% em design.

O comércio dos produtos criativos continua a ser dominado pelos países desenvolvidos, onde a música e os audiovisuais representam 90% das exportações.

O que fazer para tornar a criatividade em potencial económico?

• Conscientizar gestores públicos, privados e sociedade civil para a convergência de interesses;

• Desenvolver políticas de desenvolvimento transversais;• Promover acesso adequado ao financiamento;• Levantar estatísticas que monitorem o desenvolvimento

das acções públicas;• Garantir educação e capacitação, e investimento em infra-

estruturas;

EM SUMA: Estimular crescimento económico e inclusão social

Promover identidade histórica e contemporânea

População local e turistas consumo da vida cultural

Criação de empregos mais atractivos para jovens

Induzir externalidades positivas para outrosserviços

Mais-valia em toda cadeia de valor

Lucrécia Paco a intervir no Seminário sobre a Cultura

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• Garantir o real funcionamento dos instrumentos legais e das sociedades que os regulam;

• Formar um ambiente que reconheça o valor económico da criatividade e do intangível cultural;

• Mapear e mensurar as actividades artísticas.

3. Dinâmica da Economia Criativa/ Indústrias Criativas

Como a economia criativa pode se tornar na ferramenta estratégica que permite o desenvolvimento e sua sustentabilidade?

Indústrias criativas são o conjunto de actividades com origem na criatividade individual, habilidade e talento que tenham o potencial de riqueza e criação de emprego através da geração e exploração da propriedade intelectual. Já o conceito de Economia criativa abrange para além das indústrias criativas, o impacto dos seus bens e serviços em outros sectores e processos da economia e suas conexões. Estando portanto associada a transversalidade destas indústrias a outros sectores.

Não há receitas milagrosas, nem conselhos que possam transformar as ideias em acções e gerar eficientemente resultados. A experiência e aprendizagem constante da prática do quotidiano, a nossa história e os valores e princípios que fazem parte da nossa cultura, é que nos permitem a nosso próprio modo e ritmo criar e produzir ideias e acções. Esta reflexão é simplesmente uma abordagem muito preliminar que tem como base a experiência adquirida ao longo dos anos, e as influências que nela foram surgindo também ao longo dos anos, portanto contestável. No entanto, no início deve existir o princípio que deve seguir algum conhecimento basilar, algum padrão ou norma orientativa, que permita ao menos visualizarmos ao princípio do túnel, uma porta, a primeira porta. Essa porta pode fechar ou abrir, cabe-nos porém proceder o movimento

da intenção desejada, e isso só depende de nós.

A geração de riqueza na economia criativa depende da capacidade de criar conteúdo criativo, transformá-lo em bens e serviços que possam ser comercializáveis e distribuí-los tanto a nível nacional como internacional.

Este padrão poderá ser identificado pelos seguintes itens aqui descritos, que revelam as etapas a seguir para criar e ou desenvolver as indústrias criativas. Aspectos que se devem ter em conta também no processo de identificação das necessidades a serem realizadas para tornar a criatividade em potencial económico.

- O início, a visão, a ideia, o primeiro grão.- Fomento, criar o ambiente para o seu “urgimento”- Produção.- Resultados.- Vantagem comparativa/Factor diferenciador.- Distribuição/Reconhecimento.- Monitoria.

Nesta nova abordagem, a organização dos mercados é sobretudo suportada em redes, onde existem parcerias entre os agentes sociais e económicos, onde prevalecem os aspectos intangíveis da produção, onde o pressuposto é sobretudo o da sustentabilidade, da melhoria do bem-estar e da inclusão socioeconómica. Traz em si a abordagem profunda das alianças estratégicas, que tem subjacente o conceito da Coopetição, onde as relações entre concorrentes podem agregar valor e gerar mais resultados para todos.

Assim, de acordo com a definição da UNCTAD a economia criativa tem o potencial de fomentar o crescimento económico, criar empregos e exportação, ao mesmo tempo que promove a inclusão social.

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Será que arte pode tornar-se um negócio? E um negócio rentável?

A)Indústrias Criativas

Aqui a abordagem é mais microeconómica com enfoque directo as actividades dos agentes culturais. O estudo neste item pretende-se um pequeno guia cuja informação possa servir útil para o quotidiano do funcionamento dos agentes culturais e criativos. Não existem receitas milagrosas reitera-se, pretende-se dar a consciência alguns princípios e valores que poderão ser praticados para um melhor caminho da rentabilização dos agentes culturais. A condição imposta de aprender fazendo prevalece e revela que nos deparamos com um guião standard que só pode ser adaptado e custumizado pelos próprios agentes culturais no exercício e prática da sua própria actividade.

Fez-se referência em itens anteriores a definição de indústrias criativas e suas vantagens. É de extrema importância voltar a estes conceitos e entendê-los na sua profundidade. Perceberemos no entanto ao longo desta reflexão, que o papel atribuído a propriedade intelectual como critério base na definição das indústrias criativas nos países em vias de desenvolvimento e em particular em Moçambique, pode não se ajustar totalmente a realidade, sendo necessário fazer os ajustes e redefinições necessárias para poder identificá-las e mensurá-las adequadamente.

Afinal o que representam na realidade as indústrias criativas? Existem algumas caracterizações universais por tipo de actividade. Desde os mais tradicionais como o artesanato até aos mais intensivos em serviços e tecnologia como a nova média. Estes subsectores interagem entre si, alguns deles fazendo parte da mesma cadeia de valor, com impactos em outros sectores da economia, como por exemplo o comércio, o turismo ou a educação, característica chave de transversalidade da própria economia criativa.

O quadro abaixo faz essa ilustração:

Fonte: UNCTAD

Como podemos observar pela ilustração, fazem parte da indústria criativa diversos sectores de produção criativa, desde aquelas actividades mais profissionalizadas que pela sua natureza e integração no mercado se apresentam mais rentáveis como televisão, arquitectura, design, e actividades com menos potencial de rentabilização, sobretudo ligadas a actividade artística como artesanato, música, teatro, dança etc. Em Moçambique, e sobretudo em países africanos como já havíamos referenciado, o artesanato e o design são as actividades mais representativas das produções artísticas. Ainda se destaca a inexistente produção da nova média (softwares, animação digital, etc.), e os números pouco expressivos de rentabilização com as artes visuais e com os festivais culturais existentes.

Os diversos sectores produtivos estão estruturados em grupos organizacionais que os caracterizam, são eles:

1. Os próprios agentes culturais/criativos2. As associações3.As empresas criativas

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Na nossa abordagem a preocupação recai sobretudo para o primeiro e segundo grupo, sobretudo no que diz respeito à ausência ou escassa conexão da actividade com uma gestão de negócio da actividade cultural e com a sua ausência de integração no mercado. As empresas, pela sua natureza de rentabilização, tem como pilar essa necessidade para o seu funcionamento, por isso não são prioritárias nesta reflexão. Não obstante todas necessidades e comprometimentos descritos ao longo de toda reflexão, abrange a todos actores produtivos. Quão melhor e eficaz o sistema integrado estiver a funcionar será benéfico a todos.

De certo modo, dentro destes sectores e dentro destes grupos ainda houve um debruçar mais intenso sobre a actividade artística e cultural. Porquanto essas actividades são as que visivelmente menos encaradas como actividades geradoras de rentabilidade, são um recurso abundante na qual Moçambique apresenta factores diferenciadores.

• Exemplos: Agentes Culturais e Indústrias artístico-Criativas em Moçambique:

AEMO, AMMO, AMOCINE, CNCD, Núcleo de Artes, Mozarte, Showesia, Mozbeat, Vidisco, Grupo Teatro Mutumbela Gogo, Grupo Teatro Gungu, Logarítimo etc.Mozambique Fashion Week, Festival Nacional de Cultura, Festival Dockanema, Festival de Dança Kinani, Aldeia Cultural, Festival Novidades de Verão, Festival Internacional Showesia, FEIMA, Feira do Livro, entre outros.

Como podemos definir os objectivos em concreto dos agentes culturais/criativos? O que os move a criarem e sobretudo a produzirem implementando os seus sonhos ou ideias em coisas concretas?

Na verdade, esta questão depende muito em particular do que

move o agente por um lado, e por outro, da forma como está organizado e estruturado, e a dimensão económica que tem sobre a sua própria actividade produtiva.

Pode-se, não obstante, descrever alguns objectivos basilares que são transversais a todo tipo de agentes criativos. Consoante a própria tipologia dos agentes, eles podem seguir todos eles, ou apenas alguns dos descritos itens abaixo indicados:

• Satisfação dos admiradores/fans/consumidores• Satisfação da equipe/organização do artista• Satisfação do empresário/investidor• Satisfação do produtor/editor• Satisfação do artista/reconhecimento/lucro

B) Processo Produtivo das Indústrias Criativas

O processo produtivo das indústrias criativas como aqui descrito, é uma visão muito própria da minha percepção particular sobre as mesmas, que parece em termos genéricos não fugir a ideia da cadeia universal produtiva. É uma visão muito particular da minha escola da vida de aprendizagem como artista e agente cultural.

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Inspiração

Da inspiração percebemos toda a génese e semente do processo criativo, podemos nomeá-lo de talento, criatividade, sonho, ideia, visão. É o ambiente criado mesmo antes de urgir a semente, aliás, é precisamente o ambiente que dá asas à emergência dessa semente. Somos animais de influências, e os actos de aprendizagem e conhecimento se iniciam como processos de imitação e repetição do que vemos e sentimos. As influências directas e indirectas que temos do ambiente que nos rodeia e das pessoas que nele integram, podem ser conscientes ou inconscientes. E advém daquilo que bebemos e respiramos como prioritário: as nossas referências. As nossas referências, os nossos modelos que queremos imitar e ou gostaríamos de seguir. Nem sempre existe uma consciência absoluta do seu papel no processo criativo e de inspiração do agente criativo, e na maioria o agente nem consegue inclusivamente identificar quais as suas referências.

Na verdade, o processo criativo poderia, se quiséssemos denominá-lo de processo de recriação e transformação, relembrando a célebre citação de Lavoisier “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. No fundo, o que se pretende dizer é que para ter inspiração e para podermos criar, necessitamos sempre de informação, seja ela consciente ou não, saibamos ou não as fontes ou estímulos. Por essa razão, reiteramos a necessidade de processos educativos que incluam a criatividade e arte e o empreendedorismo nas escolas primárias, para não dizer infantários e, claro primordialmente com as suas famílias. É bastante comum a expressão “de pequenino é que se torce o pepino”, ou então “as crianças são verdadeiras esponjas”.

As crianças facilmente assimilam a informação que lhes é dada, ou que está ao seu dispor, seja ela positiva ou negativa. E vão acumulando essa informação até ao momento que iniciam o seu processamento e assimilação. Essa informação é determinante para a escolha da trajectória que essa criança pode

seguir no futuro, e sobretudo para ele próprio ter a capacidade de “ identificar e agarrar as oportunidades” que lhe cruzarão ao longo da sua vida.

Por essa razão, existe a necessidade de investimento sobretudo nessa fase podendo-se considerar como hipóteses as idades compreendidas entre os 0 e os 12 anos de idade para criar essa predisposição à produção criativa. Nesse âmbito, é muito importante que a mesma informação seja sobretudo e apenas positiva, pois a criança não tem capacidade de discernir o que é bom e o que é mau, o que é certo e o que é errado. E mesmo criado esse discernimento, o processo cumulativo de informação não é autónomo e por essa razão a criança não consegue evitar estar a assimilar e acumular dentro de si informação negativa.

Toda esta questão é extremamente importante, pois por aqui se percebe como toda uma sociedade pode acabar alienada por outros valores, e como produção oriunda de falta de talento e criatividade em economias de mercado nos pode levar a efeitos nefastos relacionados com a “comodificação”.

É que nos últimos anos na realidade moçambicana, e falemos em particular da música embora se estenda a múltiplas realidades em outros sectores produtivos e criativos, vão emergindo um conjunto de agentes culturais que não tem como base o seu processo de produção e criação o seu talento e habilidade. E o mais espantoso é que através de todo um sistema (actores fundamentais no mercado – Stakeholders) a funcionar ou não a seu favor eles tornaram-se a suposta referência no mercado, o que é bastante grave, pois, a mediocridade deixa de ser excepção passando a ser regra, criando a aparente ilusão de que tudo é fácil de se alcançar, ou que mesmo sem trabalho, sem esforço, sem talento e sem qualidade pode se ser um artista de sucesso ou agente criativo e cultural.

Por outro lado, porque na actualidade com instrumentos de comunicação como os média que chegam praticamente a todo

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lugar e quase todas as pessoas, tais referências inadequadas podem e influenciam uma sociedade inteira levando a que haja uma perda de valores e de princípios. E depois perguntamo-nos qual o impacto disso na nossa sociedade? Em termos antropológicos e sociológicos e em termos económicos?

A incultura penso, a regressão e o travão ao desenvolvimento humano e sustentável.

Parece simples percebermos que se por hipótese considerarmos agricultor A com terreno fértil e um agricultor B com terreno não fértil com todas as outras variáveis iguais entre as quais, o que pretende produzir, financiamento, formação, contexto etc. O agricultor A com terreno fértil, sempre produzirá mais com menos recursos que o Agricultor B, pois tem uma vantagem comparativa, que é possuir uma área arável que está predisposta sem grande esforço à plantação. Se admitirmos que a fertilidade é precisamente o talento que é um dos princípios da indústria criativa, então percebemos que devíamos investir os nossos recursos para onde temos mais vantagem comparativa, e que isso ia possibilitar um maior impacto positivo, não só em termos sociais mas também económicos. Em termos económicos, não só pela justeza dos resultados (princípios de distribuição justa), mas porque um produto com qualidade pode vender para fora do país, incrementar as exportações, o turismo, etc.. A inspiração é assim a predisposição natural e espontânea que move os indivíduos a produzirem. Ela nasce de um processo de assimilação de informação e conhecimento de forma directa e indirecta.

Produção e Criação

No processo de produção existem factores que já identificamos na economia criativa como imprescindíveis para o seu funcionamento. Aqui, esse processo se repete, pois só estamos a sair do nível macro, para o nível micro, para o contexto específico e particular do agente cultural.

O mesmo só poderá existir, se existirem recursos disponíveis, nomeadamente o conhecimento (propriedade intelectual), capital (recursos financeiro) para adquirir e processar a matéria-prima.Neste âmbito, destacamos a formação e a capacitação como alimentos para esse processo, e o financiamento ou recursos financeiros necessários ao processo produtivo de um bem ou serviço criativo.

Por outro lado, o ambiente onde se deve produzir é crucial. Aqui destaca-se o papel dos agentes públicos no fomento da produção criativa, desde a criação e regulamentação dos instrumentos legais até à sua inspecção e fiscalização, incluindo ainda a criação de fundos e subsídios para a produção criativa e a criação ou regulamentação de sociedades de arrecadação dos direitos de autor. É muito importante salientar que essa produção só vai gerar resultados efectivos, se funcionar dentro de um sistema integrado, onde os stakeholders funcionam entre si como uma rede, ligados por conectores e elos com objectivos comuns e ou convergentes.

Prof. Doutor Nataniel Ngomane, moderador do Seminário sobre a Cultura

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Outro aspecto muito relevante é a questão da mentalidade, a cabeça que temos, a cultura em si e o processo de socialização que nos permite dar ou não valor as coisas, nos permite a bem ou mal identificar a que preço estamos dispostos a pagar para adquirir determinado bem ou serviço no mercado.

Embora não esteja explícito na figura acima representada, o consumo é o outro lado da moeda da produção. É essencial para o produtor que existam consumidores interessados em comprar/ adquirir os bens ou serviços culturais. O lado da procura vai ser fundamental para definir o preço a que consumidores estarão disponíveis para consumir determinado bem ou serviço criativo. E aí percebemos o papel fundamental do Estado, mas também dos média para permitir que a sociedade valorize o bem criativo e que veja nele utilidade e tenha interesse em adquirir. Para que a produção exista e possa efectivamente gerar resultados, é necessário que estejam criadas as condições legais que possibilitem que as indústrias criativas possam ser reguladas e protegidas de forma a garantir os seus direitos.

Divulgação/Reconhecimento

“Não basta sermos bons, temos que ser reconhecidos no mercado como bons”, ou identificados de uma forma única e diferenciadora. Para isso é necessário que o agente cultural tenha visibilidade e notoriedade, a falta dela gera uma ideia de escassez e inexistência. A Índia por exemplo, é a maior produtora cinematográfica do mundo, empregando mais de 5 milhões de pessoas e gerando cerca de 220 milhões de dólares em receitas de exportação por ano, no entanto os EUA são vistos mundialmente como o maior produtor de audiovisuais, exactamente porque é detentor da distribuição e visibilidade desse produto criativo.

Neste âmbito, por um lado é necessário ter vantagem comparativa, criar o factor diferenciador do produto criativo que tem muito a ver com o talento a criatividade e a qualidade impressas no

processo produtivo. Por outro lado, também é necessário fazer uso dos instrumentos de comunicação e marketing para dar a conhecer ao público em geral e aos consumidores o valor acrescentado desse mesmo produto criativo.

Em Moçambique, poucos são os artistas que possuem estas características, onde aliam a sua criatividade e talento e qualidade do seu produto a uma adequada gestão do negócio artístico-criativo. No entanto, eles existem e o seu trabalho é muito útil não apenas como geradores de riqueza, mas como exemplo e referências úteis para as gerações futuras, criando a possibilidade de sustentabilidade e continuidade para a boa dinâmica das indústrias criativas no nosso país.Para além dos artistas acima destacados, existem sobretudo os seguintes grupos que interessa destacar:

1.Os artistas famosos e sem talento e qualidade no seu produto artístico que geram alguma rentabilidade com as suas actividades;

2. Os artistas pouco conhecidos, mas talentosos e com qualidade no seu produto artístico;

3. Os artistas conhecidos com qualidade no seu produto artístico, mas não geram rentabilidade que poderiam com seu produto criativo.

Grande parte dos artistas famosos fazem muito investimento apenas, em torno do uso de instrumentos de comunicação, não tendo no entanto o seu factor diferenciador criado que tem a ver com talento e qualidade que seu produto deveria possuir. Vemos ainda que tais artistas poucas vezes tem interesse em investir para que o seu produto ganhe a devida qualidade, dado o esforço e trabalho que muitas vezes tem que ser impressas para que tal aconteça.

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Neste sentido, o mercado cria por via da comunicação, falsas referências no mercado, que é muito prejudicial ao funcionamento das indústrias criativas, possibilitando deste modo que os efeitos negativos commodificação do produto cultural existam, nomeadamente a injustiça na geração e distribuição de riqueza para os agentes culturais e possibilitando menos riqueza para o país. É um conceito relacionado com a possibilidade de existência dos malefícios causados principalmente com a massificação da actividade artístico-cultural quando a mesma é exclusivamente utilizada para obtenção do lucro e não igualmente como veículo de identidade, beleza e qualidade. Ou seja, à utilização da arte e da cultura apenas como recursos materiais que não têm outro significado se não a geração de benefícios económicos.

Resulta deste modo um produto sem qualidade que é menos atractivo ao exterior, inviabiliza exportações e turismo, pois os padrões internacionais são mais elevados, e onde a busca pelo factor diferenciador é regra, gerando também problemas culturais em termos sociais e antropológicos.

Do outro lado da moeda, temos os artistas que possuem o elemento chave das indústrias criativas, que é o talento, a criatividade e qualidade no seu produto criativo, mas que pouco são conhecidos ou então são conhecidos mas não conseguem gerar a rentabilidade que deveriam do seu produto criativo. Tal acontece ou porque não fazem uso dos instrumentos de comunicação, ou fazem dele uso inadequado, ou ainda porque não conseguem fazer uso desses instrumentos por motivos alheios a sua vontade.

É necessário ter em conta que todos resultados gerados tem também e necessariamente a ver com um bom funcionamento do Estado e mercado onde os produtores criativos estão inseridos. Desde o essencial bom desempenho dos agentes públicos no seu fomento, com os quais destacamos os instrumentos acima citados, mas também e directamente relacionado com o papel

dos média e dos patrocinadores e todos os outros agentes relevantes.

Deixar uma marca, ou marcar alguém ou o mercado, seria deixar esse sinal carimbado de existência, para nunca se ser esquecido e deveria aliar as duas forças acima mencionadas, ter talento e qualidade referenciada como factor diferenciador, e usar igualmente dos instrumentos de comunicação para divulgar e ser reconhecido no mercado como único e bom.

E no fundo isso seria num mercado onde o sistema integrado estivesse a funcionar eficientemente, o distintivo necessário que possibilitaria gerar ao consumidor a vontade de adquirir determinado bem. Daí adveio o conceito de marca, que é hoje usado no marketing, que está intimamente ligado aos direitos de propriedade intelectual. Isto é pelo facto de existir tal marca, o gestor cultural tem direito a usufruir de todas as receitas geradas pelo uso da mesma, ainda que por outros utilizadores. Assim, ao criar uma marca e ao fazer o seu registo nas entidades competentes, cria-se não só uma protecção efectiva de direitos de autor, mas também direitos de exclusividade do uso da mesma, bem como se cria a possibilidade de geração de receitas futuras. Estes conceitos estão directamente relacionados com a criação de uma reputação, a imagem que deixamos marcada no mercado e nos consumidores.

Resultados

Para que toda esta cadeia produtiva possa funcionar e de forma eficiente gerando não só a rentabilidade para os agentes culturais, como também contribuir para o rendimento nacional e para o desenvolvimento sustentável de um território, é necessário que esteja a funcionar de forma integrada e em rede um conjunto de actores a que denominamos stakeholders.

Os resultados podem ser medidos a nível micro e de forma quantitativa pelo lucro e rentabilidade de todas partes envolvidas

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no processo produtivo, na cadeia de valor. Em uma avaliação mais qualitativa pela satisfação de todos agentes envolvidos no processo, produtores, consumidores, distribuidores e todos outros actores.

A um nível macro, os resultados podem ser medidos com os indicadores de rendimento nacional, como o PIB, e como as exportações. É comum dizermos que tempo é dinheiro, no que diz respeito a alcançar os resultados pretendidos, o timing é extremamente importante. Mas para atingir bons resultados necessitamos mais do que isso, é necessário ter a pessoa certa (conhecimento/capacidade/talento), no lugar certo (aplicar onde existem vantagens comparativas/factor diferenciador/qualidade), no momento certo (timing), com os recursos certos (recursos financeiros necessários). E percebermos mais uma vez, que os resultados gerados dependem de factores endógenos que tem a ver com a nossa capacidade e talentos individuais, com a nossa força e empenho, com o nosso trabalho e disciplina, com a nossa mentalidade, atitudes e comportamentos. Mas também com factores exógenos, com o ambiente e o mercado onde vivemos, as infra-estruturas que existem e os recursos disponíveis necessários como financeiro e formação para poder processar a nossa matéria-prima.

Em suma, nada funciona sozinho, por mais bons e talentosos que possamos ser, o mercado deve estar actuar em nosso favor, e ou devemos conseguir força-lo a isso. Existem um conjunto de papéis que devem ser eficientemente estabelecidos por cada um dos stakeholders na cadeia produtiva, para se atingir os resultados pretendidos e a todos níveis.

C) Papel dos Stakeholders:

I) Entidades Públicas:

O papel destas entidades é de criar o ambiente propício para que todo processo produtivo aconteça de forma eficiente e eficaz

para toda cadeia valor, desde a predisposição natural a criação, até aos resultados efectivos dos produtos criativos produzidos. É imperioso salientar a necessidade de um sistema jurídico-legal regulativo que possa proteger os direitos de autor, onde são garantidos não só a formulação e regulamentação das leis, mas sobretudo a sua implementação e fiscalização, por forma a garantir o seu cumprimento por todos.

Em Moçambique percebemos que os agentes públicos foram incorporando, ainda que de forma subtil, o aspecto cultural como prioritário, desenhando as bases preliminares para uma política cultural como abaixo destacado por alguns exemplos:

• Política Cultural

Agenda 2025, Plano Estratégico para Redução da Pobreza, Plano Governamental Estratégico Para Educação e Cultura, II Conferência Anual sobre Cultura 2009

• Propriedade Intelectual e Instrumentos Legais: Decreto 18/99 Maio 1999, Lei dos Direitos de Autor Lei nº

4/2001 de 27 de Fevereiro,

De facto, constatamos que foram criados alguns instrumentos que deviam ser presumivelmente úteis. No entanto, os mesmos existem como ideais em largos documentos, mas na vida prática não desempenham o papel de utilidade que deveriam, nem para os agentes culturais e nem para o estímulo a sua produção. Portanto, os instrumentos não estão a desempenhar o papel para o fim o qual foram destinados. Necessitam assim de reformulação, por um lado, mas por outro, necessitam de uma implementação eficaz, acompanhada de fiscalização e monitoria bastante profundas.

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Outra necessidade seria a de aumentar as competências dos agentes públicos e suas instituições que lidam directamente com estas questões, sobretudo no que diz respeito a uma mudança de abordagem e mentalidade acerca do papel da cultura para o desenvolvimento.

A outra grande responsabilidade dos agentes públicos é a de criar instrumentos e mecanismos de estímulo e fomento a produção artísticos cultural, como subsídios para apoiar essas actividades ou isenções de impostos para a concretização das actividades, ou para quem decide apoiar ou investir nessas actividades. Em Moçambique destaca-se o seguinte:

• Fomento e Tributação

Lei do Mecenato, Instituto Nacional do Livro e do Disco, INAC, Criação da Direcção Nacional de Promoção de Indústrias Culturais – DNPIC, FUNDAC

O problema da má ou inexistente implementação repete-se. Praticamente os instrumentos não exercem as funções para que foram estabelecidas. De facto, revela-se importante saber as reais dificuldades que as instituições públicas enfrentam para não conseguir atingir os objectivos pretendidos com os instrumentos criados. É necessária uma auscultação profunda, para que se possa resolver os problemas da melhor forma possível. A Lei de Mecenato existe, mas o estímulo ao investimento para a produção criativa é inexistente, por um lado porque os benefícios podem não ser tão atractivos, por outro lado, a burocracia extrema e falta de transparência que provoca uma descrença bastante grande em relação a este instrumento.

O Instituto Nacional do Livro e do Disco, o INAC, o IPI (registo de marcas), existem como efectivos meios de registos das obras editadas no mercado. No entanto, foram formulados

à partida para proteger os direitos do autor, e no entanto vemos a crescente pirataria a que os produtos artísticos estão sujeitos.

Associado aos instrumentos legais estão as sociedades de arrecadação, cuja gestão devia ser independente mas seguida muito de perto pelas instituições que regulam as actividades criativas.

As sociedades de arrecadação são determinantes para os produtores criativos conseguirem tirar partido dos direitos de propriedade intelectual dos produtos que concretizam. Em Moçambique é quase inexistente, por exemplo no caso da música os produtores e criativos nessa área teriam o direito de arrecadar receitas provenientes do número de vezes que as suas músicas passam na rádio ou nas televisões. As músicas de determinados autores que foram realizadas há muitos anos, mas que são recriadas pelos novos músicos, não poderiam ser lançadas no mercado sem autorização dos proprietários ou respectivos representantes, seria também outra via de arrecadar fundos. Naturalmente, são questões bastante sensíveis e delicadas, que deveriam ser estudadas e aprofundadas para melhor responder as reais necessidades do nosso mercado e contexto moçambicano. Salienta-se então o seguinte:

Sociedade de Arrecadação de Direitos

SOMAS constituída em 1998, apoiada pela Sociedade de Autores e Compositores -CISAC

Esta sociedade desde que foi constituída, pouco ou nada fez no sentido de arrecadar fundos provenientes dos direitos de autor. Muito em questão está também a falta de competências e conhecimentos de gestão nessa área, mas também a quase inexistente regulação das leis e das outras instituições destacadas acima que existem para o efeito. Segundo a UNCTAD, a

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SOMAS só trabalha no sector da música, e só arrecadou de instituições públicas como a TVM e Rádio Moçambique, e desde a sua constituição só realizou três vezes a transferência de receitas arrecadadas para os produtores.

Todas estas instituições e mecanismos deviam funcionar em conjunto e de forma convergente, para que pudessem existir resultados efectivos. O sistema deve ser integrado, onde as forças actuam em simultâneo e em rede. A Criação da Direcção Nacional de Promoção de Indústrias Criativas se for um exemplo vivo de comprometimento que gera acções, em todos as necessidades nas áreas acima mencionadas, poderá ser óptimo veículo para a criação de mecanismos funcionais e efectivos de fomento a estas indústrias.

Outro aspecto a que os agentes públicos devem focalizar é na questão da capacitação e formação. Em Moçambique muito recentemente tem se realizado o exercício de promover essas acções juntamente com outras organizações e partes interessadas. A formação e capacitação são extremamente importantes para a profissionalização da actividade criativa. Não só no âmbito de entendimento do conceito e do papel das indústrias criativas, mas também na gestão do negócio criativo, incluindo questões contratuais. Destacam-se as seguintes iniciativas, sendo algumas delas de agentes privados:

•Capacitação e Formação: Criação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo MondlaneCriação do Instituto Superior de Artes e Cultura em 2009 Formação em Planos de Negócio para Indústrias Criativas 2010 (GAPI e OIT, Tânia Tomé) Formação em Economia Criativa 2011 (Direcção Nacional de Promoção de Indústrias Culturais – DNPIC e UNESCO, Lala Deheinzelin) Seminário Sobre Cultura e seu papel na geração de riqueza

(Gabinete de Estudos da Presidência, Filimone Meigos e Tânia Tomé).

Sob responsabilidade dos agentes públicos, está igualmente o investimento que deve ser feito em infra-estruturas que possam sustentar a implementação das políticas culturais como verdadeiros pilares para o acolhimento das indústrias criativas e suas necessidades.

Outro problema e grande desafio é a disseminação de toda a informação para os agentes culturais e para um bom funcionamento do mercado nesses sectores. Informação concernente aos instrumentos legais e leis existentes de protecção aos direitos de autor, critérios e metodologias para a recepção dos direitos de propriedade intelectual, bem como os fundos, subsídios e programas existentes de benefício aos agentes e instituições criativas.

A questão do mapeamento e mensuração de actividades artístico-culturais, através de criação de indicadores úteis são também uma questão premente. Que deve envolver em todo processo muita cautela, pois a nossa realidade e contextos moçambicanos são diferentes dos modelos conceptuais com os quais trabalhamos para conseguir trabalhar as informações.

É extremamente importante criar e utilizar indicadores, pois através deles saberemos o real impacto das indústrias criativas na geração de riqueza e na redução da pobreza no nosso país. Um primeiro passo seria criar o registo adequado de todas actividades artístico-culturais, e dos bens e serviços criativos produzidos no país. Naturalmente criar um sistema de base de dados coerente e dinâmico, é um grande desafio, mesmo em outros sectores base e prioritários. Ainda assim, no que diz respeito ao mapeamento das indústrias criativas foram realizados alguns estudos, ainda com algumas lacunas e não abrangentes, mas é um bom primeiro passo.

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•Mapeamento e indicadores:

Fortalecendo as Indústrias Criativas para o Desenvolvimento em Moçambique (Conferência das Nações Unidas Para o Comércio e Desenvolvimento) CNUCED/UNCTAD

Estudo Sócio-Económico das Indústrias de Artesanato e Música, efectuado nos distritos de Zavala, Ilha de Moçambique, na Cidade de Maputo (UNESCO, Agência Sueca de Desenvolvimento – SIDA)

II) Média

Ao longo de toda a reflexão se fez referência ao papel dos media como difusor de informação que permite um funcionamento adequado ao mercado das indústrias criativas. Desde o disseminar de informação relativa aos instrumentos legais que existem, subsídios, formações, financiamentos etc., como também veicular informação dos produtos, bens e serviços criativos existentes no mercado, sobretudo os representativos que sirvam de exemplo e referência para toda uma sociedade. Também tem o papel fundamental de disseminar informações relativas ao nosso património e valores culturais, possibilitando que os mesmos não se diluam ao longo do tempo, servindo ainda de estímulo à aquisição a esses bens.

III) Consumidores

Os consumidores são fulcrais, pois são a razão última da produção dos bens e serviços criativos, sem eles não existem resultados. Os mesmos necessitam de estímulo para que possam valorizar os produtos, sobretudo artísticos, possibilitando que os mesmos se tornem comercializáveis.

IV) Críticos

São um agente fulcral para criação do estímulo à produção com qualidade, que oriente o agente criativo a produzir mais e melhor, sobretudo procurando o seu factor diferenciador, a vantagem comparativa do seu produto. A escassez de críticos ou de crítica útil, faz com que não exista uma avaliação oficial e informação disseminada sobre as características dos produtos criativos, provocando a quase inexistente selecção que o mercado devia realizar no seu funcionamento. A maior parte da crítica existente é relativa ao sector do livro, nomeadamente acerca da literatura, e ainda assim é escassa e muitas vezes improdutiva. No que diz respeito a outras actividades, como música, teatro, dança, cinema, moda, artesanato, praticamente não há uma crítica realizada ou difundida. Esta questão está intimamente ligada à questão da falta de responsabilização pelas acções e produtos que os agentes realizam, criando a falta de preocupação no resultado que determinado produto tenha, tanto para um consumidor específico como para uma sociedade no geral. De salientar que a questão da inexistência de responsabilização é um problema cultural que se estende a todos os sectores da nossa sociedade.

V) Entidades privadas:

Como se adiantou, as entidades privadas vão desde as entidades que fornecem capacitação e formação, até aqueles que fornecem fundos ou créditos para o financiamento das actividades produtivas. O financiamento serve não só para adquirir a matéria-prima necessária, mas igualmente para o processo de produção do bem ou serviço criativo. O mesmo pode advir de patrocínios ou apoios de empresas ou instituições, ou de fundos específicos desenhados por entidades que fomentam o ambiente criativo (por exemplo o FUNDAC, UNESCO, AECDI entre outros).

O financiamento poderia ser ainda através de créditos providenciados pela banca para esse tipo de actividade. Em

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Moçambique, por ainda ser uma actividade que o mercado não reconhece como rentável, ainda não se tornou suficientemente estimulante para que a banca comercial crie produtos específicos. Os produtos criativos, sobretudo os artísticos, são ainda vistos como projectos de alto risco e sem grandes retornos pela banca comercial. Para além disso, o grande problema é que na sua maioria os agentes culturais não possuem habilidades para criar projectos e planos de negócio e nem capacidade financeira para contratar quem o faça.

D) Profi ssionalização das indústrias criativas:

O que há de interessante na cultura ou na economia da cultura, se assim quisermos denominar, é a flutuação das fronteiras entre profissionalização e não-profissionalização, pois a cultura tem um papel social e identitário que o identifica e que em muitas actividades é o bastante para definir sua existência. Isto é, não se deve forçar a que todas actividades culturais tenham que ser necessariamente incorporadas no modelo produtivo das economias de mercado, e por isso, a existência de leis de incentivo por parte dos agentes públicos deve permanecer como estímulo integral a todas as actividades culturais.

No caso em concreto, distingue-se aqui as indústrias criativas, que tem como princípio e resultado o seu valor e papel na geração de rentabilidade para os seus produtores e a um nível macro, como consequência a geração de riqueza para o país. A sua profissionalização é fulcral para que as actividades criativas se possam integrar no mercado, de modo que a cadeia produtiva possa trabalhar do começo ao fim, desde a criação, distribuição, comercialização até ao consumo.

Tal implica que os mesmos se regulem pelos princípios de mercado, procurando criar uma gestão adequada do negócio criativo, incluindo as questões jurídico-legais que os protegem como produtores (contratos, patentes, marcas, entre outros). Tal só poderá acontecer efectivamente não só com a mudança

de abordagem e mentalidade acerca destas actividades em primeiro lugar, e sobretudo, com a capacitação e formação nas áreas acima citadas.

A criação de incubadoras por sector e actividade produtiva que permita que exista uma infra-estrutura criada/arrendada onde os agentes criativos possam fazer o uso dos mesmos equipamentos e espaço, onde possam fazer a partilha dos custos administrativos, onde possam interagir e aprender uns com os outros, e onde exista uma organização mãe que apoia e dá formação e apoie na gestão de negócios de cada agente criativo (empresas, associações, indivíduos) até que os mesmos se pudessem tornar autónomos, seria um bom começo. A título de exemplo, tem o SEBRAE no Brasil que vai crescendo e se tornando numa estrutura clara de capacitação e apoio para auto-sustentabilidade dos agentes que nele participam.

A meu ver, outra necessidade e desafio é a de criar uma “carteirinha profissional” que identifica cada agente criativo, nos produtos e bens que realiza. Essa carteirinha poderia ser atribuída na base da experiência e dos trabalhos já realizados e ou realizando exames práticos ou teóricos pelas organizações representativas daquela actividade em especial. A carteirinha devia atribuir um nível, grau, consoante a qualidade do produto e serviço criativo. É extremamente importante que existam nuances ou diferenças de tratamento consoante o tipo de actividade criativa. Por exemplo, a música e o artesanato são extremamente diferentes no que diz respeito a forma de se estabelecer por exemplo exames teóricos, pois o artesanato ainda não tem tanta informação teórica elaborada a respeito e a sua aprendizagem é sobretudo de teor mais prático. Já para a música temos instituições próprias como Escola de Artes da Universidade Eduardo Mondlane, que em conjunto com a Associação dos Músicos pode encontrar a melhor forma de criar essa avaliação nos diversos estilos musicais, desde os mais tradicionais até aos mais modernos, tendo em conta peculiaridades e características de cada estilo e produtor musical.

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Essa carteirinha devia ser apresentada como alvará da actividade, e seria fulcral para que os consumidores ou intermediários no processo produtivo de aquisição do bem ou serviço, pudessem tomar a sua decisão com o conhecimento adequado. A mesma deveria servir de base e argumento para os patrocinadores/financiadores tomarem a decisão de investir ou apoiar determinada actividade.

A carteirinha também possibilitaria a criação de um registo efectivo de todas actividades criativas em funcionamento efectivo em Moçambique, possibilitando um mapeamento por tipo de actividade, dimensão e região.

Outro aspecto é criar um selo criativo, na mesma medida que o selo Made in Mozambique, que permita um maior estímulo à profissionalização e formalização dos agentes e suas actividades, como também da qualidade produzida desses produtos e serviços criativos.

O grande aspecto a reter é que as indústrias criativas, mesmo seguindo princípios económicos, não devem perder de vista o papel social e identitário que os torna produtos e serviços criativos de Moçambique. É precisamente essa natureza local que cria o factor diferenciador dos produtos tanto no mercado nacional como internacional, estimulando as exportações e o turismo.

E) Comunicação e Marketing

Será que existe marketing para produto artístico? Nos mercados evoluídos dos países desenvolvidos percebemos que as indústrias criativas são de tal ordem que tem um impacto muito grande nas exportações e no produto interno bruto desses territórios. E percebemos ainda que o papel e o investimento em comunicação, de forma a tornar os produtos visíveis no

mercado, é extremamente elevado. Na abordagem, a questão da necessidade de divulgação já se havia destacado o exemplo da Índia como o maior produtor de audiovisuais do mundo sendo no entanto os EUA que detém a maior distribuição e visibilidade, dando a impressão de ser o maior produtor de audiovisuais. Os EUA são na verdade dos países que mais exportam bens e serviços criativos.

Segundo os dados da Conferência das Nações Unidas para o comércio e desenvolvimento, 90 % das exportações de bens criativos são provenientes dos sectores de música e audiovisuais. O mercado das indústrias criativas nos EUA é tão desenvolvido, que os produtos e serviços criativos encontram-se até cotados em bolsa. As informações tanto negativas, como positivas destacadas nos media sobre os artistas, podem fazer as cotações aumentar ou descer, e é mais uma via de geração de receitas para os agentes culturais.

Os artistas famosos, ao se apresentarem em programas de televisão, ou ao concederem entrevistas para revistas ou jornais, geram rendimento. A sua geração de receitas com a sua actividade artística-criativa vai muito para além dos espectáculos que participam e dos CDs que vendem. É visível por aqui perceber o papel da comunicação e Marketing a volta destes agentes, as marcas, o merchandising com a sua imagem, os royalties provenientes dos mesmos são outras formas das quais os mesmos se servem para gerar rentabilidade.

Muito diferentemente em Moçambique, percebemos que muitos artistas famosos dado igualmente o seu contexto, praticamente vivem mais de fama e aparência do que rentabilização. Isto é, não ganham a vantagem que poderiam da fama que possuem. Relembrando ainda que a fama tem também seus aspectos negativos associados, como a falta de privacidade, maior exposição e exigência por parte dos consumidores e admiradores (fans). Às vezes, coloca-se a questão de perceber se é vantajoso

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para o artista ser famoso numa sociedade em que a propriedade intelectual não gera os direitos e benefícios que deveria, dada a falta de regulamentação/fiscalização etc..

Então, a grande questão passa por saber como integrar o conhecimento com os sistemas existentes de patentes, marcas registadas e de direitos autorais. E fundamentalmente, de perspectivar como fazer para que sejam cumpridos os direitos de cada agente que tem posse da propriedade intelectual.

Nos países africanos, e em Moçambique em particular, o conhecimento tradicional é vasto, pois existem muitos recursos nativos, que pertencem a comunidade como seus direitos colectivos, e também são necessários encontrar uma metodologia para mapeá-los de forma sistémica, e permitir que tal comunidade usufrua dos seus direitos de propriedade intelectual.

Na actualidade fomos invadidos pelo fenómeno da Globalização, que alia as tecnologias de informação com as da comunicação e que nos traz a possibilidade de existência de um novo conceito: o da domunicação. Este ocorre quando há competição por dominação, surgindo numa medida em que os países mais pobres, sobretudo os africanos, não conseguem aproveitar das vantagens que surgem pelas oportunidades do processo de desenvolvimento e da globalização havendo ameaças que pesam na rica diversidade das culturas locais, das tradições orais, das línguas e dos patrimónios dos países. Tal comunicação em larga escala e massificação, permite difundir muito rapidamente a cultura e valores de outros povos, sobretudo ocidentais, alienando os valores e culturas locais, que se podem perder muito rapidamente nos próximos anos se não existirem programas educacionais enraizados nos valores culturais e línguas locais.

As culturas, sobretudo africanas, são postas à prova pelos rápidos processos de transformação socioeconómicos e pela invasão de modelos estrangeiros e de produtos culturais de massa. Os medias dos países africanos enfrentam esse grande desafio juntamente com os agentes públicos, de manter aceso e vivo os seus patrimónios locais. Neste âmbito, é necessário voltar ao contexto moçambicano para se perceber e identificar as reais necessidades do nosso país. No entanto, salta à vista que é necessário seguir as tendências evolutivas de mercado, porque não é possível fugir a elas, sobretudo no que diz respeito a aproveitar as vantagens das ferramentas úteis que existem no mercado, para dar ao produto artístico mais visibilidade, potenciando o seu reconhecimento e reputação por parte dos consumidores nacionais e internacionais (websites, e-commerce, músicas e livros digitalizados, etc.).

Mas também é necessário não esquecer a adequação necessária a cada contexto de cada sociedade, tendo em consideração igualmente a etapa económica e financeira que determinada sociedade está a viver. A expressão “Pensa Global, Age Local” responde claramente e adequadamente a essa necessidade, pois, por exemplo em África, no que diz respeito ao uso da internet de cada 1000 habitantes apenas 9,6 pessoas tem acesso a ela, em comparação com 450 pessoas nos países ocidentais. Percebe-se assim que é fundamental que a vida cultural e a criatividade sejam preservadas e desenvolvidas por meio de políticas culturais alinhadas com estratégias de desenvolvimento nacional e regional.

A tabela que se segue (fig. 3) representa as variáveis chave do marketing, com o qual o produtor criativo se deve preocupar no concernente a gestão adequada do negócio criativo. É um quadro estandardizado para produtos genéricos que necessita de ser adaptado por cada agente criativo, em particular no exercício da sua actividade.

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Exactamente porque um produto criativo tem características próprias, e por ser um recurso intangível, que não se vê e não se toca, torna-se difícil avaliar o seu valor e preço, e muitas das variáveis aqui destacadas tornam-se de difícil aplicação. Por essa razão, se apresenta de seguida algumas peculiaridades relativas ao produto criativo.

Fig 3 -. Quadro mix de marketing

F) Peculiaridades

É essencial que não se fique com a ideia de que um produto artístico/criativo deva seguir em extremo unicamente modelos económicos previamente estabelecidos para outras realidades. É necessário encontrar o próprio motor que as move, dentro daquilo que são os valores e princípios que regem a sociedade moçambicana. Outro importante aspecto a reter é que o impacto da cultura e das indústrias criativas é tão grande que não pode ser apenas medido por indicadores económicos.

Ficam aqui destacadas algumas questões que parecem interessantes de reflexão, pois, estudar um bem ou serviço criativo

pode ser quase como estudar um bem e serviço produtivo na sua concepção genérica, como por exemplo o produto musical, ou tão diferente que não se possa reproduzir esses modelos de forma facilitada para encontrar a fonte de rentabilidade, como por exemplo no caso do artesanato.

É preciso ainda ressaltar as questões e fases económicas que diferem os países desenvolvidos dos países em vias de desenvolvimento, pois essa discrepância causa também diferenças nas abordagens de como funcionam as indústrias criativas em cada lugar. As receitas das indústrias criativas nos países desenvolvidos na sua maioria advêm dos direitos de propriedade intelectual, pois os mesmos tem sistemas legais e de arrecadação altamente desenvolvidos que permitem gerar aos agentes criativos mecanismos de rentabilização eficientes. Já em países em vias de desenvolvimento como é o caso de Moçambique, não tem esses instrumentos legais devidamente funcionais muito menos sociedades de arrecadação que realmente funcionem. Portanto, um dos conceitos chave na definição de indústrias criativas que é os direitos de propriedade intelectual não se encontra garantido. Por essa razão, é necessário reformular conceitos e a forma de mapeamento adequados a cada contexto, para podermos identificar também mais correctamente onde estão as vantagens comparativas das indústrias criativas em Moçambique. Neste âmbito, apresenta-se aqui algumas peculiaridades para reflexão:

• Existe concorrência no produto artístico?• Decisão entre beleza e utilidade?• Satisfação do artista pode ser mais importante que o

lucro?• Será que existe garantia no produto artístico?• E desconto?• Fama vs aparência?

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• Porque grande parte dos agentes económicos não está disposto a pagar pelo produto artístico?

4.Desafi os e Conclusões:

Muitos são os desafios existentes desde a identificação de indústrias criativas em Moçambique e principalmente as de factor diferenciador, sobretudo na sua criação, construção e rentabilização. Abaixo descrito um conjunto de desafios identificados ao longo desta reflexão:

A estabilidade política e macro económica são condições necessárias para a produção da riqueza. Em Moçambique, as barreiras para o desenvolvimento da economia criativa tem a ver na generalidade com o baixo nível de desenvolvimento e da história colonial. Não obstante, padece igualmente de problemas com a pobreza, falta de governação, administração ineficiente, modelos de desenvolvimento baseados em lucratividade económica de curto prazo, dívida externa, corrupção desenfreada, má redistribuição da riqueza, etc.. Em consequência disso, o desenvolvimento da economia criativa tem que fazer face ao baixo nível educacional e recursos humanos, escassez de recursos financeiros e infra-estruturas, ausência de protecções dos direitos de autor e da propriedade

intelectual, falta de legislação cultural adequada, ausência de políticas culturais coerentes, políticas tributárias e alfandegárias prejudiciais, alienação cultural, a espoliação do património cultural e do conhecimento tradicional, ausência de informações e dados de pesquisas confiáveis etc..

Neste âmbito, compreende-se que não existe um ambiente de mercado que permita a existência adequada de estímulo à produção criativa, muito menos a sua comercialização e consumo. Constata-se no entanto que as indústrias criativas podem e efectivamente criam empregos e riqueza, dando o impulso à economia para o seu desenvolvimento sustentável, sendo neste sentido uma verdadeira ferramenta crucial, não apenas para preservação e promoção da diversidade cultural dos povos, mas também para combater a pobreza.

Percebe-se ainda que para desenvolver os sectores criativos é fulcral uma abordagem integrada, onde existe colaboração entre os diversos actores da sociedade, desde os sector público, o privado, os media, entre outros. Deve-se salientar ainda que as indústrias criativas, que embora escassas e claramente não totalmente identificadas, elas existem e aquelas com vantagens comparativas se apresentam com um grande potencial para contribuir para redução da pobreza e para o desenvolvimento sustentável. Destacam-se aqui algumas necessidades a serem colmatadas:

• Necessário fazer o mapeamento e avaliar os recursos, infra-estruturas, investimentos e seus resultados

• Desenvolver a colecta de dados e metodologias de classificação, de análise e comparação de dados com base no nosso contexto

• Necessidade de protecção e execução dos direitos de propriedade intelectual (criação de sociedades de arrecadação)

• Abordagem integrada (em simultâneo todos stakeholders)

Mentalidade FinanciamentoPirataria

Comodificação QualidadeQuadro legal e benefícios

Direitos do autorProfissionalização (Projecto/plano de negócio, Contratos)

Domunicação (Globalização)Responsabilização

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• Transformar comprometimentos em acções • Pensamento de longo prazo • Política cultural com abordagem económica (produção,

distribuição, consumo, etc.) • Inclusão da cultura na estratégia para a redução da

pobreza • Associar as actividades culturais às tecnologias de

informação e comunicação• Aprender fazendo

E reitera-se, não existem receitas milagrosas. O único caminho possível é o da aprendizagem contínua com a experiência do dia-a-dia, no contexto e realidades moçambicanas. Fica igualmente claro que há muito ainda por explorar e aprofundar sobre as indústrias criativas em Moçambique, mas ficam estabelecidas as primeiras reflexões de aprendizagem que espero que sirvam de estímulo para a produção de mais reflexões e aprofundamento, mas sobretudo de acções e comprometimento no sentido de tornar estas indústrias mais rentáveis e ferramentas úteis na geração de riqueza para o nosso pais, tendo sempre em conta o papel social e antropológico da cultura.

Está lançada a enxada para os primeiros preparos da terra a ser lavrada, para que se possa questionar e construir uma plataforma e rede cultural que nos permita construir o nosso motor cultural como um dos veículos para o desenvolvimento sustentável do nosso país. O mais importante, penso, é embarcarmos para essa roda-viva do conhecimento e da aprendizagem enfrentando os desafios e o longo caminho que nos espera e reinventarmos o nosso próprio motor com base nos nossos próprios valores e identidade. E nesse processo, o mais importante, “learning by doing”, aprender fazendo.

UTILIZEMOS O DEBATE COMO UM DOS INSTRUMENTOS PARA A CONSOLIDAÇÃO DA UNIDADE NACIONAL

Comunicação apresentada por Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República, por ocasião do encerramento do Ciclo de Seminários do Ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República

Senhores Membros do Conselho de Ministros,Distintos Painelistas,Caros Convidados,Minhas senhoras e Meus senhores,

É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação do Ano Samora Machel.

Como temos estado a referir, o Presidente Samora Machel ainda nos inspira na árdua missão de construção do nosso bem-estar. A semente que ele lançou à terra já desabrochou plena e robusta em todo o nosso belo Moçambique. Na verdade, Um homem com a estatura do Presidente Samora Moisés Machel não termina em si mesmo: ele particulariza a individualidade e ao mesmo tempo congrega em si e simboliza os ideais e as aspirações do seu Povo. Torna-se imortal! Por isso, SAMORA VIVE E VIVE NO MEIO DE NÓS! Samora continua a inspirar a luta do nosso povo pelos ideais de liberdade, paz, progresso e bem-estar individual e colectivo. Hoje, mais do que nunca, encontramos na nossa

Senhores Membros do Conselho de Ministros,

pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação do Ano Samora Machel.pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação do Ano Samora Machel.pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação do Ano Samora Machel.do Ano Samora Machel.do Ano Samora Machel.

2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação

encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação

2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação

encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação

2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação do Ano Samora Machel.

República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação do Ano Samora Machel.

É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da

Como temos estado a referir, o Presidente Samora Machel ainda Como temos estado a referir, o Presidente Samora Machel ainda Como temos estado a referir, o Presidente Samora Machel ainda Como temos estado a referir, o Presidente Samora Machel ainda Como temos estado a referir, o Presidente Samora Machel ainda Como temos estado a referir, o Presidente Samora Machel ainda Como temos estado a referir, o Presidente Samora Machel ainda Como temos estado a referir, o Presidente Samora Machel ainda Como temos estado a referir, o Presidente Samora Machel ainda

do Ano Samora Machel.

República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação

2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da

Minhas senhoras e Meus senhores,

É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado

Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,

É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da

Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,

É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o

Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,

É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o

Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,

É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o

Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,

É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o

Minhas senhoras e Meus senhores,

É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da

É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da

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É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação República. Este ano que está prestes a findar foi caracterizado pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação do Ano Samora Machel.pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação do Ano Samora Machel.pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação do Ano Samora Machel.pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação pela realização de muitas actividades no âmbito da proclamação

encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da encerramento de mais um ciclo de seminários do ano de 2011, organizados pelo Gabinete de Estudos da Presidência da

Senhores Membros do Conselho de Ministros,Distintos Painelistas,Caros Convidados,Minhas senhoras e Meus senhores,

É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o

Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Distintos Painelistas,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Distintos Painelistas,Senhores Membros do Conselho de Ministros,Distintos Painelistas,Caros Convidados,Minhas senhoras e Meus senhores,Caros Convidados,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,

Distintos Painelistas,Caros Convidados,Caros Convidados,Minhas senhoras e Meus senhores,Caros Convidados,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,

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Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,

Distintos Painelistas,Caros Convidados,Minhas senhoras e Meus senhores,

Senhores Membros do Conselho de Ministros,Distintos Painelistas,Caros Convidados,Minhas senhoras e Meus senhores,

É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o

Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,Minhas senhoras e Meus senhores,

É com muita honra e satisfação que hoje presenciamos o

Page 136: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2011

determinação de lutar contra a pobreza, uma das manifestações mais sublimes dos ideais de Samora Machel.

Na nossa comunicação que dava início ao ciclo de seminários do presente ano, uma das recomendações que deixamos para o Gabinete de Estudos foi que “devia nos brindar com temáticas de profunda reflexão da nossa vida como moçambicanos, como forma a honrar e homenagear Samora Machel”.

Com efeito, através dos nossos peritos nacionais frutos da nossa Independência, foi possível reflectir sobre os temas tais como:

• Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável;

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da Sociedade Civil;

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em Moçambique;

• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre

• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos serviços prestados pelo sector.

A apresentação e debate das comunicações supracitadas tiveram o mérito de:

• trazer-nos valiosos contributos para o ajustamento das nossas políticas públicas à complexidade da realidade social, económica, cultural e política do País;

• permitir-nos o conhecimento da capacidade dos nossos compatriotas no engrandecimento desta nossa jovem nação moçambicana, construindo e estreitando as amizades e convivências, trocando saberes e experiências

e participando no processo da nossa governação como verdadeiros parceiros e consolidando, deste modo, a Unidade Nacional; e

• materializar o carácter democrático da Presidência Aberta e Inclusiva que lideramos, pois tornou-se num dos espaços de todos os moçambicanos, independentemente da natureza política, profissional, cor ou religião, idade, sexo.

Saudamos a todos os nossos compatriotas pelo tempo que têm disponibilizado para se fazerem presentes neste fórum de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. Para o seminário que hoje se realiza coube o tema “o papel dos profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.

A terminar, agradecemos de forma particular aos painelistas, peritos moçambicanos que a todos nós orgulham, que entregaram o seu saber e tempo para elaborar e partilhar as comunicações que foram debatidas nos seminários aqui organizados, incluindo o de hoje. Referimo-nos aos nossos concidadãos:

• Domingos Manuel Fernandes;• Paulo Uache;• Cerina Mussá;

Independência, foi possível reflectir sobre os temas tais como:

• Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do

• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos serviços prestados pelo sector.

• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos serviços prestados pelo sector.serviços prestados pelo sector.serviços prestados pelo sector.

• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos serviços prestados pelo sector.

• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos serviços prestados pelo sector.

• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos serviços prestados pelo sector.

• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos serviços prestados pelo sector.

• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos serviços prestados pelo sector.

• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos serviços prestados pelo sector.

• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos serviços prestados pelo sector.serviços prestados pelo sector.serviços prestados pelo sector.serviços prestados pelo sector.serviços prestados pelo sector.serviços prestados pelo sector.

• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre

• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos

• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre

• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos

• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre

Moçambique; • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos

serviços prestados pelo sector.• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos

serviços prestados pelo sector.

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em Moçambique;

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em Moçambique;

• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

A apresentação e debate das comunicações supracitadas tiveram A apresentação e debate das comunicações supracitadas tiveram A apresentação e debate das comunicações supracitadas tiveram A apresentação e debate das comunicações supracitadas tiveram A apresentação e debate das comunicações supracitadas tiveram A apresentação e debate das comunicações supracitadas tiveram A apresentação e debate das comunicações supracitadas tiveram

serviços prestados pelo sector.

da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobreda Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos

da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos

• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

Desenvolvimento Sustentável; • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

Sociedade Civil; • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em Moçambique;

• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

Desenvolvimento Sustentável; • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

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XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobreda Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre

• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobreda Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobreda Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre

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• O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobreda Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobreda Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre

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• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre

• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos da Unidade Nacional e Produção da Riqueza; e hoje sobre

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• O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos • O desafio dos profissionais da saúde na melhoria da qualidade dos

Moçambique; • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

Moçambique; • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

Moçambique; • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

Moçambique; • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

Moçambique; • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

Moçambique; • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

Moçambique; • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação • O Papel da Cultura na Construção da Identidade, Consolidação

• Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável;

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da Sociedade Civil;

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

• Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável;

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

• Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

• Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

• Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do • Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

• Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável;

• Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável;

• Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável;

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da Sociedade Civil;

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da Sociedade Civil; Sociedade Civil;

Desenvolvimento Sustentável; • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

Sociedade Civil; • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

Sociedade Civil; • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

Sociedade Civil; • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

Sociedade Civil; • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

Sociedade Civil; • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

Sociedade Civil; • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

Desenvolvimento Sustentável; • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

Sociedade Civil;

• Usar a Administração e Gestão de Terras para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável;

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da Sociedade Civil;

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

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• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século • O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século

• O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da • O Papel da Mulher no Combate à Pobreza: Experiências da

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

• O Professor e os Desafios do Ensino e Aprendizagem no Século XXI: Uma Abordagem para o Desenvolvimento Rural em

Saudamos a todos os nossos compatriotas pelo tempo que têm disponibilizado para se fazerem presentes neste fórum de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade.

têm disponibilizado para se fazerem presentes neste fórum

serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais

serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais

serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.

tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.

tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.

tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.

Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso

Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais

ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais

Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus

Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais

ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes

dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.

tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais dever com zelo e sentido de missão. Queremos pois, aqui e mais uma vez, expressar o nosso profundo reconhecimento.

ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso

de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes

debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. Para o seminário que hoje se realiza coube o tema profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes

Para o seminário que hoje se realiza coube o tema profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao

Para o seminário que hoje se realiza coube o tema profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.Para o seminário que hoje se realiza coube o tema profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os

profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os

Para o seminário que hoje se realiza coube o tema profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os

profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os

profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes

profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes

profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus

profissionais da saúde do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades

ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso tipo de carências, mas mesmo assim, sempre cumpriram o seu serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso ficam expostos aos desafios impostos pela demanda dos seus serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso serviços, cada vez mais crescente, e confrontados com diverso

Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades de salvar as nossas vidas. Estes nossos compatriotas, por vezes Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades Índico pela entrega e abnegação na realização das suas actividades

têm disponibilizado para se fazerem presentes neste fórum de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. Para o seminário que hoje se realiza coube o tema “o papel dos profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os

têm disponibilizado para se fazerem presentes neste fórum de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade.

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os

de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os

profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os

debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. Para o seminário que hoje se realiza coube o tema “o papel dos profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.Para o seminário que hoje se realiza coube o tema profissionais da saúde na melhoria da prestação dos serviços no sector”.

debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. Para o seminário que hoje se realiza coube o tema debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. Para o seminário que hoje se realiza coube o tema debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. Para o seminário que hoje se realiza coube o tema

de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. Para o seminário que hoje se realiza coube o tema

têm disponibilizado para se fazerem presentes neste fórum de debate de ideias, para como parte da nação moçambicana debatermos assuntos de inequívoca pertinência e actualidade. Para o seminário que hoje se realiza coube o tema

Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os

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Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os Queremos, por isso, saudar e prestar tributo a todos os

Page 137: Comunicações dos Seminários da Presidência da República, 2011

• Sérgio Baleira;• Alda Salomão;• Graça Samo;• Marta Cumbi;• Brazão Mazula;• Ernesto Vasco Mandlate;• Albertina Moreno;• Filimone Meigos;• Tânia Tomé;• Nataniel Ngomane• Aurélio Zilhão; e• Rosa Marlene Manjate

Com estas palavras, declaramos encerrado o ciclo de seminários do ano de 2011 realizados pelo Gabinete de Estudos. Desejamos a todos os presentes votos de um ano novo próspero e repleto de muitas realizações.

Pela atenção dispensada, Muito obrigado.

• Rosa Marlene Manjate

Pela atenção dispensada, Muito obrigado.Pela atenção dispensada, Muito obrigado.Pela atenção dispensada, Muito obrigado.

do ano de 2011 realizados pelo Gabinete de Estudos. Desejamos a todos os presentes votos de um ano novo próspero e repleto de muitas realizações.

do ano de 2011 realizados pelo Gabinete de Estudos. Desejamos a todos os presentes votos de um ano novo próspero e repleto de muitas realizações.

Pela atenção dispensada, Muito obrigado.Pela atenção dispensada, Muito obrigado.Pela atenção dispensada, Muito obrigado.Pela atenção dispensada, Muito obrigado.Pela atenção dispensada, Muito obrigado.

Com estas palavras, declaramos encerrado o ciclo de seminários do ano de 2011 realizados pelo Gabinete de Estudos. Desejamos a todos os presentes votos de um ano novo próspero e repleto de muitas realizações.

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• Aurélio Zilhão; e• Rosa Marlene Manjate

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• Aurélio Zilhão; e• Rosa Marlene Manjate• Rosa Marlene Manjate

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• Rosa Marlene Manjate

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• Rosa Marlene Manjate

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