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 COMUNIDADES TERAPÊUTICAS CRP SP se posiciona sobre a regulamentação de Comunidades Terapêuticas. Leia aqui o pare cer da entidade sobre o assunto e saiba porquê somos contra as ações que tratam dos usuários de álcool e outras drogas em instituições com privação de liberdade que estejam fora dos pressupostos do SUS e SUAS. Oficializamos aqui nosso posicionamento sobre a regulamentação de Comunidades Terapêuticas, tendo em vista a Minuta de Resolução CONAD No /2014. Ao realizar divulgação e proposta de tratamento para dependência química, condição classificada pelo CID-10, as Comunidades Terapêuticas são serviços de saúde, devendo, portanto, ser regulamentadas exclusivamente pelo SUS, conforme o art. 198 da Constituição Federal. Lembramos ainda que já foram regulamentadas pela RDC ANVISA 101/2001, substituída pela RDC 29/2011, e também pela Portaria MS 3.088/2011, que institui a Rede de Atenção Psicossocial, e pela Portaria MS 131/2012, que regulamenta o financiamento das Comunidades Terapêuticas. Quando não se assumem como serviços de saúde, justificando-se como serviços de acolhimento, são de competência do SUAS, conforme a Constituição Federal no seu artigo 204, a Lei Orgânica da Assistência Social e a Política Nacional de Assistência Social. Portanto, a criação de um serviço fora do SUS e do SUAS contraria notável e significativamente a legislação federal e todo o avanço que as políticas públicas já promoveram e visam a continuar promovendo no país. Somos contra o financiamento público das Comunidades  Terapêuticas!  Em sua função de orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de Psicólogo e zelar pela fiel observância dos princípios de ética e disciplina da classe, conforme a lei 5766/1971, o CRPSP explicita aqui pontos problemáticos da minuta acima referida, com relação aos seguintes temas: 1. Violações de Direitos Humanos: garantia dos direitos humanos 2. Estado Laico: garantia de acesso a serviços para todos os cidadãos, independentemente de seu credo e religião, e não coerção e obrigatoriedade em participar de rituais religiosos 3. Trabalho: relações de trabalho devem ser baseadas nas leis vigentes, não podendo haver trabalhos forçados. 4. ECA: garantia dos direitos estabelecidos pelo ECA, e em particular a garantia da presença em instituições de ensino. 5. Eficácia do tratamento (curta permanência X longa permanência): necessidade de desenvolvimento de pesquisas sobre eficácia do tratamento de longa permanência. 6. Fiscalizações: garantia de fiscalização por órgãos competentes. 7. Capacitação: garantia de serviços de qualidade. A minuta não estabelece as profissões competentes à capacitação para esse tipo de trabalho. 8. Falta de esclarecimentos sobre os fluxos e a rede.  9. Luta Antimanicomial: garantia dos pressupostos dos SUS e da Lei 10.216, a Lei da Reforma Psiquiátrica Brasileira. 10. Plano Individual de Atendimento (PIA): Necessidade em apresentar modelo e critérios das comunidades terapêuticas 11. Garantia de tratamento adequado respeitando gênero e identidade sexual:desenvolvimento de tratamento considerando as diferenças de gênero e identidade sexual e promover um espaço livre de preconceitos e exclusões. 1. Violação de Direitos Humanos  Embora a minuta coloque como obrigatório que as entidades norteiem suas atividades e a qualidade de seus serviços com base nos princípios dos direitos humanos e de humanização do cuidado, apresentando alguns dispositivos gerais, impõe a obrigatoriedade da observância das normas e rotinas previstas no programa da instituição e a realização de atividades contidas no mesmo, às quais o acolhido previamente deverá concordar. Os dispositivos no art. 9º da minuta abrem a possibilidade de um acolhimento em que não se observam as necessidades e especificidades dos acolhidos no dia-a-dia. Também faz referência a "tratamento respeitoso", independentemente de etnia, credo religioso, ideologia, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, antecedentes criminais ou situação financeira, porém não estabelece quaisquer critérios ou diretrizes a respeito do que seria tal "tratamento respeitoso". Considerando o histórico de violações de direitos encontradas em comunidades terapêuticas, como se verifica no Relatório da 4ª Inspeção Nacional de Direitos Humanos em locais de internação para usuários de drogas, realizada pelo Sistema Conselhos de Psicologia, consideramos insuficiente o modo como o documento dispõe sobre a garantia de direitos, apresentado lacunas e dispositivos contraditórios entre si, que possibilitam a prática de irregularidades e violações.

COMUNIDADES TERAPÊUTICAS CRPSP

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Documento sobre comunidades teraêuticas, do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo

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  • COMUNIDADES TERAPUTICAS

    CRP SP se posiciona sobre a regulamentao de Comunidades Teraputicas. Leia aqui o parecer da entidade sobre o assunto e saiba porqu somos contra as aes que tratam dos usurios de lcool e outras drogas em instituies com privao de liberdade que estejam fora dos pressupostos do SUS e SUAS. Oficializamos aqui nosso posicionamento sobre a regulamentao de Comunidades Teraputicas, tendo em vista a Minuta de Resoluo CONAD No /2014.

    Ao realizar divulgao e proposta de tratamento para dependncia qumica, condio classificada pelo CID-10, as Comunidades Teraputicas so servios de sade, devendo, portanto, ser regulamentadas exclusivamente pelo SUS, conforme o art. 198 da Constituio Federal. Lembramos ainda que j foram regulamentadas pela RDC ANVISA 101/2001, substituda pela RDC 29/2011, e tambm pela Portaria MS 3.088/2011, que institui a Rede de Ateno Psicossocial, e pela Portaria MS 131/2012, que regulamenta o financiamento das Comunidades Teraputicas. Quando no se assumem como servios de sade, justificando-se como servios de acolhimento, so de competncia do SUAS, conforme a Constituio Federal no seu artigo 204, a Lei Orgnica da Assistncia Social e a Poltica Nacional de Assistncia Social. Portanto, a criao de um servio fora do SUS e do SUAS contraria notvel e significativamente a legislao federal e todo o avano que as polticas pblicas j promoveram e visam a continuar

    promovendo no pas. Somos contra o financiamento pblico das Comunidades Teraputicas! Em sua funo de orientar, disciplinar e fiscalizar o exerccio da profisso de Psiclogo e zelar pela fiel observncia dos princpios de tica e disciplina da classe, conforme a lei 5766/1971, o CRPSP explicita aqui pontos problemticos da minuta acima referida, com relao aos seguintes temas: 1. Violaes de Direitos Humanos: garantia dos direitos humanos 2. Estado Laico: garantia de acesso a servios para todos os cidados, independentemente de seu credo e religio, e no coero e obrigatoriedade em participar de rituais religiosos 3. Trabalho: relaes de trabalho devem ser baseadas nas leis vigentes, no podendo haver trabalhos forados.

    4. ECA: garantia dos direitos estabelecidos pelo ECA, e em particular a garantia da presena em instituies de ensino. 5. Eficcia do tratamento (curta permanncia X longa permanncia): necessidade de desenvolvimento de pesquisas sobre eficcia do tratamento de longa permanncia. 6. Fiscalizaes: garantia de fiscalizao por rgos competentes. 7. Capacitao: garantia de servios de qualidade. A minuta no estabelece as profisses competentes capacitao para esse tipo de trabalho. 8. Falta de esclarecimentos sobre os fluxos e a rede. 9. Luta Antimanicomial: garantia dos pressupostos dos SUS e da Lei 10.216, a Lei da Reforma Psiquitrica Brasileira. 10. Plano Individual de Atendimento (PIA): Necessidade em apresentar modelo e critrios das

    comunidades teraputicas 11. Garantia de tratamento adequado respeitando gnero e identidade sexual:desenvolvimento de tratamento considerando as diferenas de gnero e identidade sexual e promover um espao livre de preconceitos e excluses. 1. Violao de Direitos Humanos Embora a minuta coloque como obrigatrio que as entidades norteiem suas atividades e a qualidade de seus servios com base nos princpios dos direitos humanos e de humanizao do cuidado, apresentando alguns dispositivos gerais, impe a obrigatoriedade da observncia das normas e rotinas previstas no programa da instituio e a realizao de atividades contidas no mesmo, s quais o acolhido previamente dever concordar. Os dispositivos no art. 9 da minuta abrem a possibilidade de um acolhimento em que no se observam as necessidades e especificidades dos

    acolhidos no dia-a-dia. Tambm faz referncia a "tratamento respeitoso", independentemente de etnia, credo religioso, ideologia, nacionalidade, orientao sexual, identidade de gnero, antecedentes criminais ou situao financeira, porm no estabelece quaisquer critrios ou diretrizes a respeito do que seria tal "tratamento respeitoso". Considerando o histrico de violaes de direitos encontradas em comunidades teraputicas, como se verifica no Relatrio da 4 Inspeo Nacional de Direitos Humanos em locais de internao para usurios de drogas, realizada pelo Sistema Conselhos de Psicologia, consideramos insuficiente o modo como o documento dispe sobre a garantia de direitos, apresentado lacunas e dispositivos contraditrios entre si, que possibilitam a prtica de irregularidades e violaes.

  • 2. Estado Laico:

    A minuta dispe, em seu art. 14, sobre as atividades de desenvolvimento da espiritualidade, como parte do mtodo de recuperao. Vimos reforar, portanto, a importncia em garantir servios no contexto do Estado Laico, ou seja, aquele que respeita todos os tipos de crena, a dos que creem em Deus respeitando esta diversidade, e a dos que no creem. Portanto, entendemos que essa especificidade deve ser rigorosamente respeitada nos Plano Individual de Atendimento (PIA). A minuta apresenta uma definio satisfatria do que, do ponto de vista da laicidade, pode se compreendido por espiritualidade, assim sendo fundamental que a espiritualidade no seja reduzida prtica da religio, que apenas um dos aspectos da espiritualidade. Portanto, deve haver a garantia da liberdade de escolha em participar de rituais religiosos, que quando existirem devero ter, obrigatoriamente, um cunho ecumnico, sem coero participao. Desse modo, qualquer obrigatoriedade em atender a atividades religiosas pode ferir a liberdade individual e, ainda, gerar excluso social.

    3. Trabalho: O texto da Minuta em seu Artigo 16 define os conceitos relacionados s atividades que geram resultados econmicos, caracterizando a necessidade de adequao legislao trabalhista vigente. A minuta inverte a lgica do trabalho e dos direitos dos usurios, colocando a Lei n 9.608/2008 (Lei do Voluntariado) acima do Decreto-Lei 5452/1943 (Consolidao das Leis do Trabalho - CLT), o que claramente opera a favor de que as entidades obtenham verbas dos trabalhos dos usurios, enquanto seu objetivo deveria ser de promover a autonomia, inclusive financeira, e reinsero social dos mesmos. Fica evidente o emprego da mo de obra dos acolhidos nas atividades das Comunidades Teraputicas, pois segundo a minuta da resoluo, os resultados econmicos advindos do trabalho realizado dentro dessas instituies devero ser aplicados nas finalidades institucionais da entidade. A Lei n 9.608/2008, que dispe sobre o servio voluntrio

    e d outras providncias, aponta que o servio voluntrio deve ser exercido mediante termo de adeso entre a entidade, pblica ou privada, e o prestador do servio voluntrio, dele devendo constar o objeto e as condies de seu exerccio. Alm disso, a lei dispe que o prestador do servio voluntrio poder ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntrias. Portanto, da maneira que se encontra a minuta, deixa brecha para utilizao do trabalho dos acolhidos como mo-de-obra forada, o que uma afronta Carta Magna, que dispe no Art. 5, II, ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei. 4. ECA: Para alm de questes referentes ao servio ofertado, a minuta contraria o Estatuto de Crianas e

    Adolescentes ao propor, permitir e regulamentar a internao de pessoas acima dos 12 (doze) anos de idade. Segundo o ECA a criana e o adolescente tm direito liberdade, ao respeito e dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituio e nas leis. O Art. 101, 1o, dispe que o acolhimento institucional e o acolhimento familiar so medidas provisrias e excepcionais, utilizveis como forma de transio para reintegrao familiar ou, no sendo esta possvel, para colocao em famlia substituta, no implicando privao de liberdade. Desta forma, o adolescente no deve ter sua liberdade violada para a desintoxicao, e sim se vincular aos dispositivos da rede pblica SUS, tais como CAPS AD e ambulatrios, alm de participar de programas complementares, como os de profissionalizao. A minuta de resoluo no evidencia a obrigatoriedade de manter o adolescente na escola, dando

    margem para no efetivao do Art. 53 do ECA, que dispe que a criana e o adolescente tm direito educao, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exerccio da cidadania e qualificao para o trabalho, assegurando -lhes igualdade de condies para o acesso e permanncia na escola. Alm disso, segundo o art. 7, inciso XXXIII, da Constituio Federal, proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condio de aprendiz.Para os maiores de 14 anos e menores de 24 anos, a CLT, no Art. 428, dispe que deve ser feito um Contrato de aprendizagem. Ademais, ao menor aprendiz, salvo condio mais favorvel, ser garantido o salrio mnimo hora. A minuta no esclarece como sero as "atividades prticas inclusivas" estabelecidas no Art. 16, 3, dando margem para utilizao da mo de obra dos adolescentes de forma irregular. 5. Eficcia do tratamento (curta permanncia X longa permanncia):

    Reiteramos que consenso na literatura mundial que o tratamento com base na abstinncia total das drogas est associado a altas taxas de recada. As evidncias internacionais indicam que as abordagens mais bem sucedidas para reduzir ou cessar o uso so intervenes psicossociais, em que a comunidade e o meio cultural passam a ser elementos fundamentais no cuidado integral deste sujeito. Neste sentido, outras modalidades de tratamento, alm da internao, so consideradas e bem sucedidas de acordo com cada caso. No entanto, essas intervenes funcionam unicamente quando o vnculo de confiana com o usurio estabelecido, e o mesmo atrado

  • voluntariamente e tem interesse em realizar o tratamento. Tambm necessrio atentar que a

    exclusividade da oferta de acolhimento baseado na abstinncia incompatvel com os princpios vigentes do SISNAD. As mltiplas ferramentas disponveis incluem diversas outras possibilidades reconhecidas pela SENAD e pelo CONAD. Portanto, a exclusividade da institucionalizao baseada na abstinncia no prevista na Lei de Drogas ou em qualquer outra norma, sendo indispensvel a garantia de oferta mltipla para usurios. 6. Fiscalizaes: Verificamos ainda que falta a criao de um grupo condutor de fiscalizao nessas instituies, composto por organizaes integrantes do CONAD. Alm disso, o documento necessita incluir a obrigao das instituies conveniadas de receberem toda e qualquer demanda de inspeo e avaliao das condies sociais e de sade do acolhido por quaisquer dos entes conexos de fiscalizao de suas atividades, a fim de assegurar que os direitos dos acolhidos estejam sendo

    preservados. Outrossim, no Art. 5 da minuta, que dispe sobre os rgos que devero ser comunicados sobre o incio e encerramento de suas atividades, deveriam ser includos os seguintes rgos: Conselhos Municipais e Estaduais de Sade, Conselhos Municipais e Estaduais de Assistncia Social, Ministrio Pblico e Conselho Tutelar, em casos de internao de adolescentes at os dezoito anos. Outro ponto de extrema importncia a elegibilidade para admisso nas entidades: a minuta no esclarece sobre as mulheres gestantes e lactantes, tampouco sobre as populaes transexuais, deixando a dvida se essas instituies teriam condies mnimas de acolhimento e garantia de diretos destes grupos de pessoas. 7. Capacitao: A minuta dispe que a admisso do acolhido somente se d aps avaliao diagnstica feita por mdico, e que a caracterizao do abuso ou dependncia seja feita por profissional competente

    com "capacitao na abordagem de pessoas com uso, abuso ou dependncia". Porm, no explicita qualquer indicao sobre que tipo de profissional se refere. A inexistncia destes indicativos permite que as atividades sejam feitas por profissionais de reas diversas, sem garantia de superviso e observncia de funes privativas de determinadas profisses. Ainda, ao dispor, em seu art. 15, que as atividades previstas "devero ser supervisionadas por membros da equipe da entidade, a quem caber motivar os acolhidos, dando o carter teraputico a tais atividades", leva compreenso de que a nica qualificao regulamentada e exigida da equipe a de "motivar os acolhidos" para realizarem atividades mencionadas no documento - p.ex., de carter laboral, espiritual e de lazer -, e que isto corresponde a proporcionar um carter teraputico. Desse modo, a minuta parece reduzir a importncia de complexas capacitaes e qualificaes exigidas de profissionais como psiclogos, mdicos, assistentes sociais, nutricionistas, terapeutas ocupacionais,

    dentre outros, para oferta de servios eficazes e adequadamente fundamentados, com capacidade de abordar necessidades e vulnerabilidades individuais e problemas especficos. A minuta , portanto, vaga e deficiente com relao capacitao e qualificao de equipes que trabalham nessas entidades. Embora disponha sobre a exigncia de capacitao, inclusive continuada, no apresenta requisitos e exigncias claras a respeito. 8. Falta de esclarecimentos sobre os fluxos e a rede: Em seus considerandos, a minuta esclarece que as Comunidades Teraputicas no so equipamentos de sade. Como explicitado anteriormente, tendo isto em vista, deveriam ento ser regulamentadas pelo SUAS, atendendo legislao e referncias de atuao pertinentes. Porm, isto no est contemplado, o que j coloca em cheque como sero feitos os encaminhamentos em articulaes com as redes de servio. Contraditoriamente, buscam tratar dependncia qumica.

    Tambm partindo deste ponto, se no se consideram equipamentos de sade e ainda no definem critrios e exigncias para a composio de equipe, no garantem avaliao adequada quanto a possveis intercorrncias em sade aps a pessoa ter sido admitida. Tambm no h, assim, meios que garantam que a avaliao mdica que a minuta permite que seja feita 7 (sete) dias aps internaes que ocorrem sem avaliao mdica, quando esta no est disponvel, seja providenciada de forma eficaz e adequada (observa-se ainda aqui que tal "permisso" de internao sem avaliao mdica absolutamente contrria lei 10216/2001, da Reforma Psiquitrica). Enfim, tendo em vista tal contexto, no garantem que minimamente sejam feitos encaminhamentos e articulaes adequadas e eficazes com a rede do SUS. Os fluxos no so esclarecidos, portanto, pelo documento, o que possibilita a ocorrncia de irregularidades e precariedade da ateno sade e assistncia das pessoas acolhidas.

    9. Reforma Psiquitrica e Luta Antimanicomial: Segundo a lei 10216/2001, vedada a internao em instituies com caractersticas asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos que ofeream assistncia integral pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo servios mdicos, de assistncia social, psicolgicos, ocupacionais, de lazer, e outros. Entendemos que qualquer entidade ou instituio que descumpra a referida lei asilar e, portanto, um retrocesso lgica da Reforma Psiquitrica Brasileira. A regulamentao de servios que objetivam a admisso de dependentes qumicos margem das diretrizes e

  • regulamentaes do SUS e do SUAS, e que se utilizam da segregao social a longo prazo, somente

    contribui para avanar na construo de instituies que excluem as pessoas da sociedade, fato j constatado na histria da humanidade, como nos manicmios, nos leprosrios, nos asilos, dentre outras instituies. Todas as polticas pblicas recentes de nosso pas vo contra esse processo de segregao, visando criao de uma rede de servios de base territorial em seu lugar e o avano em promover no somente a sade integral do indivduo, como garantir o direito liberdade e insero social. Reiteramos ainda que defendemos a internao como ltimo recurso, tal como a Lei da Reforma Psiquitrica Brasileira estabelece e, quando for necessria, que seja breve,realizada em hospitais gerais de referncia ou nos servios especializados da Rede de Sade, como os CAPS. 10. Programa Individual de Acolhimento (PIA): Na minuta, fica claro que h o Programa de Acolhimento da Instituio e o Programa Individual de Atendimento (PIA), previsto em modelo anexo minuta de regulamentao. O "Programa de

    Acolhimento" da entidade equivale ao Regulamento Interno da instituio-CT, incluindo as normas de convivncia. Do mesmo modo, no apresentado um modelo ou exigncias especficas, o que imprescindvel, incluindo a apresentao e ampla publicidade obrigatrias s instituies. Somente desta forma, com parmetros e exigncias formais claras, vivel controlar possveis irregularidades nas disposies desses regramentos internos ou circunstncias nas quais essas disposies fossem contrrias s definies e regras da resoluo CONAD. Compreendemos ainda que qualquer projeto individualizado de tratamento deve considerar primordialmente em sua elaborao as necessidades da pessoa acolhida, no podendo preponderar obrigatoriedade de anuncia e obedincia a normas e regulamentaes institucionais que podem no contemplar as necessidades e complexidades do ser humano que busca o servio. Desse modo, defendemos a incluso de dispositivo que obrigue a observncia da no obrigatoriedade das atividades descritas, observada tambm sua viabilidade e pertinncia s necessidades e

    especificidades do acolhido no PIA. O mesmo se aplica a todos os tipos de atividades propostas. Entendemos tambm ser necessrio incluir os profissionais da rede na elaborao do PIA. 11. Garantia de tratamento adequado em gnero e identidade sexual Em nenhuma parte de seu texto, a minuta aborda especificamente questes de gnero e identidade sexual, no provendo quaisquer garantia de direitos adequado das pessoas de acordo com seu gnero e identidade sexual, tanto em relao a servios que considerem gnero sexual e identidade sexual dos usurios, quanto garantia de um ambiente sem preconceitos e excluso. As Comunidades Teraputicas so servios criados pela sociedade civil principalmente atravs de entidades filantrpicas em meados do sculo XX, quando no havia praticamente nenhuma poltica pblica voltada para essa questo. Recentemente, houve a regulamentao de diversos servios

    pblicos no mbito do SUS e SUAS voltados para essa problemtica. Portanto, criar uma rede de servios fundamental para avanar nessa rea. Manter ou aumentar a utilizao de Comunidades Teraputicas um retrocesso. Exposta as razes acima, o CRP SP refora o seu posicionamento contra as aes que tratem dos usurios de lcool e outras drogas em instituies com privao de liberdade que estejam fora dos pressupostos do SUS e SUAS. A importncia da rede de servios do Sistema nico de Sade - SUS e SUAS ressaltada aqui, para a garantia do cuidado de sade integral, universal e equnime baseada nos princpios dos direitos humanos. Uma poltica adequada, eficaz e consequente para usurios de lcool e outras drogas, comprometida com a cidadania destes sujeitos, dever se desenvolver em uma srie de equipamentos, como na implantao de CAPS-AD 24hs, CAPSi, Unidades de Acolhimento Transitrio, Consultrios de Rua, leitos em hospital geral, equipes de sade mental na ateno bsica, e em uma aprimorada articulao entre Redes.