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Ao CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA MANIFESTAÇÃO AO ARTIGO DO PSI JORNAL DO CRPSP, EDIÇÃO nº 168 (abr.2011, p.24-25) QUE TRATA DA ALIENAÇÃO PARENTAL Autora: DENISE MARIA PERISSINI DA SILVA – CRP-SP nº 06/38483-7 Psicóloga clínica e jurídica – SP Psicóloga clínica, assistente técnica jurídica civil e mediadora familiar. Colaboradora em diversas associações de pais e mães separados, que lutam pela paternidade igualitária: APASE, SOS-Papai, PaiLegal, Pais por Justiça. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (lato sensu) pela UNISA – Universidade de Santo Amaro – SP, e pós-graduanda em LIBRAS pela mesma instituição. Docente de Psicologia Jurídica aplicada ao Direito de Família pela ESA – Escola Superior de Advocacia – núcleo Santo Amaro. Membro, Representante brasileira e Diretora Científica da Asociación Latinoamericana de Psicología Jurídica y Forense, com sede em Bogotá (Colômbia). Membro da ABPJ – Associação Brasileira de Psicologia Jurídica; Formada em Mediação Interdisciplinar, com ênfase em Mediação Familiar, pela BG Mediação Interdisciplinar, em São Paulo – SP – Brasil. Autora do livro: PSICOLOGIA JURÍDICA NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO, publicado pela Editora Forense (RJ, 1ª. edição 2009). Autora do livro: GUARDA COMPARTILHADA E SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL: o que é isso? (Campinas: Autores Associados, 2010); Autora de livro: MEDIAÇÃO E GUARDA COMPARTILHADA – Conquistas para a Família (publicado pela Juruá – Curitiba, em 2011); Autora do livro em andamento: SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL – o lado sombrio da separação. Autora de diversos artigos com temas de Psicologia Jurídica em publicações periódicas especializadas. Instrutora e Intérprete em LIBRAS pelo INI – Instituto Nacional de Idiomas. Introdução. Na edição nº 168 do Jornal do CRPSP há um artigo que trata da Lei nº 12.318/2010, às p.24-25. Nela, há opiniões 1

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Ao

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA

MANIFESTAÇÃO AO ARTIGO DO PSI JORNAL DO CRPSP, EDIÇÃO nº 168 (abr.2011, p.24-25) QUE TRATA DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Autora: DENISE MARIA PERISSINI DA SILVA – CRP-SP nº 06/38483-7Psicóloga clínica e jurídica – SP

Psicóloga clínica, assistente técnica jurídica civil e mediadora familiar. Colaboradora em diversas associações de pais e mães separados, que lutam pela paternidade igualitária: APASE, SOS-Papai, PaiLegal, Pais por Justiça. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (lato sensu) pela UNISA – Universidade de Santo Amaro – SP, e pós-graduanda em LIBRAS pela mesma instituição. Docente de Psicologia Jurídica aplicada ao Direito de Família pela ESA – Escola Superior de Advocacia – núcleo Santo Amaro. Membro, Representante brasileira e Diretora Científica da Asociación Latinoamericana de Psicología Jurídica y Forense, com sede em Bogotá (Colômbia). Membro da ABPJ – Associação Brasileira de Psicologia Jurídica; Formada em Mediação Interdisciplinar, com ênfase em Mediação Familiar, pela BG Mediação Interdisciplinar, em São Paulo – SP – Brasil. Autora do livro: PSICOLOGIA JURÍDICA NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO, publicado pela Editora Forense (RJ, 1ª. edição 2009). Autora do livro: GUARDA COMPARTILHADA E SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL: o que é isso?  (Campinas: Autores Associados, 2010); Autora de livro: MEDIAÇÃO E GUARDA COMPARTILHADA – Conquistas para a Família (publicado pela Juruá – Curitiba, em 2011); Autora do livro em andamento: SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL – o lado sombrio da separação. Autora de diversos artigos com temas de Psicologia Jurídica em publicações periódicas especializadas. Instrutora e Intérprete em LIBRAS pelo INI – Instituto Nacional de Idiomas.

Introdução.

Na edição nº 168 do Jornal do CRPSP há um artigo que trata da Lei nº 12.318/2010, às p.24-25. Nela, há opiniões da conselheira Cristina Pellini e da psicóloga Tânia Aldrighi (em anexo).

Porém, há gravíssimos equívocos no presente artigo, que merecem um esclarecimento ao público, para que nãos e induzam psicólogos e público em geral a erro.

Prólogo: o questionamento de leis e normas fortalece a democracia.

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“A possibilidade de questionar políticas públicas ou leis consideradas injustas é essencial à sobrevivência e ao aperfeiçoamento da democracia”. A consideração do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal. De acordo com ele, “liberdade de expressão existe precisamente para proteger as manifestações que incomodam agentes públicos e privados, que são capazes de gerar reflexões e modificar opiniões”.

Marco Aurélio reconhece na discussão um pilar sobre o qual está erguida a sociedade. “A democracia compreende simplesmente a possibilidade de ir a público e emitir opiniões sobre os mais diversos assuntos concernentes à vida em sociedade”, diz. E, alerta: “Mesmo quando a adesão coletiva se revela improvável, a simples possibilidade de proclamar publicamente certas ideias corresponde a um ideal de realização pessoal e de demarcação do campo da individualidade”.

Segundo Marco Aurélio Mello, “no sistema de liberdades públicas constitucional, a liberdade de expressão possui espaço singular. Tem como único paralelo a escala de importância o princípio da dignidade da pessoa humana”.

Para o ministro, a recepção do artigo 287 do Código Penal atua exatamente no espaço constitucionalmente protegido, não sendo preciso declarar a não recepção do preceito pela Carta Federal de 1988. “Há uma baliza segura para a aplicação da norma”, diz. E mais: “O direito à liberdade de expressão é irrestringível na via legislativa. Cabe ao Estado somente tomar as providências para responsabilizar ulteriormente os excessos”. Ou seja, apenas se admite a responsabilidade civil pós-fato, como determina o Pacto de São José da Costa Rica.

A própria declaração, em seu artigo 13, lembra os casos nos quais a liberdade de expressão sofre restrições. De acordo com ela, “a lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência”.

Marco Aurélio Mello ampara seu raciocínio em um relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, de dois anos atrás. O texto do documento lembra que o conceito de ordem pública “reclama que, dentro de uma sociedade democrática, sejam garantidas as maiores possibilidades de circulação de notícias, ideias e opiniões, assim como o mais amplo acesso à informação por parte da sociedade em seu conjunto”1.

Do mérito: o artigo da edição nº 168 do Jornal Psi, do CRPSP.

Segundo Elízio Luiz PEREZ, autor do Projeto de Lei nº 4.053/20082, tratando da tipificação da Alienação Parental – que se tornou a recente Lei nº 12.318/2010 - como

1 Excertos extraídos de: SCRIBONI, C. “Questionamento de leis aperfeiçoa a democracia”. Consultor Jurídico, 16/06/2011. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2011-jun-16/questionamento-leis-aperfeicoa-democracia-marco-aurelio-mello>. Acesso em 17 jun. 2011.

2 Juiz do 2º Tribunal Regional do Trabalho, de São Paulo (SP).

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ameaça à integridade emocional de crianças e adolescentes em conflitos de família, em entrevista à Revista do IBDFAM (jan-fev./2009, pp.3-5), o grande problema é que o Judiciário não se encontra preparado ou aparelhado para lidar com os conflitos familiares nos quais os filhos são usados com instrumentos nas divergências entre os pais, e ainda encontra-se o desconhecimento do assunto por muitos psicólogos (por estranha coincidência, aqueles que vão fazer os estudos periciais psicológicos e redigir laudos que irão subsidiar as decisões judiciais!!!). Para ele, os abusos psicológicos, como a alienação parental, são vistos de forma minimizada, reducionista, como se fosse um desentendimento passageiro entre o ex-casal, ou então há o preconceito velado de que, se o pai/mãe está sendo vítima de situação semelhante, é porque de alguma forma “merece” passar por isso.

Na referida entrevista (2009), PEREZ enfatiza os motivos pelos quais elaborou o Anteprojeto da Alienação Parental (que se tornou o Projeto de Lei nº 4.053/2008 e, posteriormente, a Lei nº 12.318/2010):

afastar a “cegueira” do Estado acerca da alienação parental, opondo-se à alegação de que, se não estiver tipificada, ela não existe;

a tipificação da alienação parental dará mais segurança aos operadores do Direito para caracterizá-la e então tomar as medidas jurídicas cabíveis;

estabelecer um caráter preventivo: o de que tal conduta é reprovável, e se for praticada, ensejará uma firme atuação do Estado;

favorecer a aplicação de medidas conciliatórias, como a Mediação; estabelecer (ou restabelecer) a igualdade parental, o convívio equilibrado da

criança com o pai e a mãe.

PEREZ prossegue, afirmando que, embora a alienação parental não apareça de forma clara e ostensiva, e sim insidiosa e mascarada, a Lei nº 12.318/2010 apresenta alguns comportamentos típicos e clássicos que caracterizam atos de alienação parental, e que devem ser conhecidos por todos, para permitir o chamamento do Estado a intervir de forma clara e segura, sem precisar de uma avaliação mais aprofundada. Em casos de acusações de molestação sexual, por exemplo, é necessária uma perícia, mas os profissionais convocados à perícia deverão tomar algumas medidas de cautela para evitar que o próprio processo judicial sirva de instrumento à alienação parental (2009, p.4).

Lembremos da máxima de Victor Hugo:

“Não há nada mais poderoso do que a ideia cujo momento chegou.”

Diante do conteúdo, é cabível a presente Manifestação, sob os seguintes argumentos:

1.) Quanto ao prazo de aprovação da lei:

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Ocorre que o “prazo bastante reduzido” mencionado pela conselheira Cristina Pellini, na verdade, é o resultado de muitos anos de lutas e dificuldades de inúmeros pais e mães que se veem privados da convivência com seus filhos por atitudes arbitrárias, repentinas, desproporcionais e incoerentes de ex-companheiros que utilizam manobras de afastamento (como mudar de endereço e esconder-se por anos apenas para impedir a convivência da criança com o pai, por exemplo), por vezes chegando ao extremo do abuso psicológico de induzir a criança a acusar o pai/mãe de molestação sexual. E tudo isso contando-se, obviamente, com o sofrimento solidário dos profissionais de Psicologia, Direito e Serviço Social que acompanham as situações absurdas vivenciadas por esses pais e mães e os assessoram mais diretamente (especialmente os assistentes técnicos).

Então, por trás dos mencionados “dois anos e meio de tramitação” existiram muitos outros anos de injustiças, lentidão e burocracia do Judiciário, alegações levianas, obstáculos à convivência e sofrimento para os filhos.

Na verdade, a aprovação da Lei significa um avanço para aqueles que sofrem há muito mais tempo todas as arbitrariedades dos alienadores, e que contavam até então com as vantagens da lentidão e da burocracia do Judiciário, e permaneciam impunes.

O grande perigo no processo de alienação é o tempo: quanto mais a Lei demorasse para ser aprovada, e agora quanto mais tempo demorar para ser efetivamente aplicada, beneficiará somente o alienador, causando prejuízos irreparáveis à criança e seus vínculos afetivos com o pai/mãe de quem foi arbitrariamente afastado pelas manobras criminosas do alienador.

E não podemos esquecer que o Brasil é o país pioneiro em dar um tratamento jurídico (legal) à Alienação Parental, comparando-se com a América Latina e outros países que, embora tenham pesquisas mais avançadas, ainda não tipificaram a Alienação Parental como crime.

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Para os 20 milhões de “órfãos de pais vivos” e seus “pais/mães mortos em vida”, vítimas das atitudes nefastas da Alienação Parental, e para os profissionais que assessoram estas pessoas e que acompanham seu sofrimento, a Lei já veio “atrasada”!

2.) Quanto a preparação dos recursos humanos:

Ocorre que o CRPSP tem condições de se reunir com a Presidência do TJSP para buscarem formas de melhorar a estrutura dos psicólogos que atendem no Judiciário, e projetos de novos concursos e contratações para atenderem a demanda de processos – que, aliás, vai aumentar significativamente com a vigência desta Lei.

E a exigência legal do prazo de 90 dias diz respeito ao que já foi mencionado anteriormente: o grande perigo no processo de alienação é o tempo: quanto mais tempo a Lei demorar para ser efetivamente aplicada, beneficiará somente o alienador, causando prejuízos irreparáveis à criança e seus vínculos afetivos com o pai/mãe de quem foi arbitrariamente afastado pelas manobras criminosas do alienador.

É imprescindível não esquecermos que, nos processos civis, o Assistente Técnico tem 10 (dez) dias para protocolar o Parecer, após a intimação aos advogados para se manifestarem acerca do Laudo pericial. Porém, no caso da perícia psicológica de Família, nem sempre o psicólogo tem possibilidade de conhecer a criança (principalmente o assistente técnico do(a) genitor(a) não-guardião(ã)), então se ele tiver que iniciar seus trabalhos somente nesta data, o prazo para a sua avaliação psicológica será muito menor!Na área criminal, o Assistente Técnico só inicia seu trabalho depois de aceito pelo juiz e ter terminado o trabalho do perito oficial e o prazo de entrega do parecer será fixado pelo juiz.

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Literatura especializada não falta, cursos e palestras não faltam, material informativo não falta, sempre há possibilidade de se inserir este tema na disciplina de Psicologia Jurídica das Universidades (consigne-se que a UNISA – Universidade de Santo Amaro (SP) utiliza material didático com este tema incluso, o que significa que os futuros profissionais se formam conhecedores do tema).

3.) Quanto ao reconhecimento da Síndrome de Alienação Parental:

Ocorre que a inclusão de determinada síndrome ou categoria de transtorno mental em uma edição do DSM depende dos seguintes critérios: revisões literárias, análise de informações e pesquisas de campo. Ora, então para se incluir um transtorno como “Depressão”, por exemplo, é porque houve profissionais que se propuseram a pesquisarem, não apenas na literatura, mas também com pacientes, para verificarem a incidência, etiologia, efeitos e tratamento daquele transtorno.

Então, por que os psicólogos não podem fazer o mesmo em relação à Síndrome de Alienação Parental, cuja Lei que tipifica os atos de Alienação Parental está posta e precisa ser cumprida (princípio jurídico do pacta sunt servanda – o que está estabelecido deve ser cumprido)?

A classificaçäo de depressäo crônica, por exemplo, foi proposta por H. S. Akiskal em 1983. Quer-se dizer então que, antes desta data, ninguém ficava “deprimido”3?3 Fonte: <http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=82955&indexSearch=ID>. Acesso em 21 mai.2011.

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No dia 05 de junho de 2010, a APA sugeriu uma atualização para o DSM-V que seria adicionada na categoria de Transtornos do Humor (Depressão Maior, Transtorno Bipolar, Distimia, Ciclotimia, etc). Trata-se do Transtorno Disfórico Pré-mestrual, a famosa TPM4. Ora, se a TPM ainda não está inserida no DSM-IV quer dizer que ela não existe, certo? Muitas mulheres – e muitos homens – dariam qualquer coisa que tivessem para poder responder afirmativamente... E todos os médicos que diagnosticam e tratam mulheres com TPM estão “errados”?

É imprescindível que os psicólogos observem os comportamentos e sentimentos das crianças envolvidas nos litígios dos pais, havendo ou não acusações de abuso sexual, para então estabelecerem parâmetros de diagnóstico diferencial dos sintomas manifestados por estas crianças, e bases empíricas para proporem a inclusão da Síndrome de Alienação Parental na próxima edição do DSM, prevista para 2013 – o que não está tão distante assim, então o tempo urge! Conforme se observa a seguir:

American Psychiatric AssociationDSM-5 Developmenthttp://www.dsm5.org/ProposedRevisions/Pages/ConditionsProposedbyOutsideSources.aspx

Conditions Proposed by Outside SourcesThere are a number of conditions that are being recommended for addition to DSM-5 by outside sources, such as mental health advocacy groups, that are still under consideration by the work groups. The following conditions are considered “under review,” and work groups will make a recommendation about their inclusion after further assessing the evidence. We welcome your comments on whether available evidence indicates that the following should be included in DSM-5. 

• Apathy Syndrome• Body Integrity Identity Disorder• Complicated Grief Disorder• Developmental Trauma Disorder• Disorders of Extreme Stress Not Otherwise Specified• Fetal Alcohol Syndrome• Internet AddictionMale-to-Eunuch Gender Identity Disorder• Melancholia• Parental Alienation Disorder5

• Seasonal Affective Disorder

4 Fonte: <http://azpsicologia.blogspot.com/2010/09/tpm-no-dsm-v.html>. Acesso em 21 mai. 2011.

5 Destaques meus.

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• Sensory Processing Disorder

Informação complementar: É preciso deixar consignado aqui que há uma contradição entre os argumentos apresentados pela conselheira Pellini e sua postura. No dia 28/08/2009, ela estava presente em uma palestra, da qual eu participei, aos alunos de Psicologia da UNIP Norte, instituição na qual ela é docente. O tema era, justamente, Alienação Parental, em que estavam também presentes: um pai separado membro de entidade de igualdade parental, e a Dra. Fernanda Pernambuco, juíza da 3ª. Vara de Família do Foro de Santo André (SP), e foi exibido o filme-documentário “A Morte Inventada” (Allan Minas/Daniela Vitorino – Caraminhola Produções). Então, como pode a conselheira Pellini agir de forma tão paradoxal, acolhendo profissionais que expõem acerca da Alienação Parental, e depois argumentar de forma contrária no artigo?

(Da esquerda para a direita: eu (Denise, subscritora desta manifestação), um membro de entidade parental, Dra. Fernanda Pernambuco – juíza da 3ª. Vara de Família de Santo André, e a conselheira Cristina Pellini, da Comissão de Ética do CRPSP, na ocasião professora de Psicologia de um dos campi da UNIP Norte, a quem gostaria de perguntar em que momento está sendo inautêntica e incoerente: quando participou do evento ou em suas afirmações ao artigo?).

4.) Quanto ao papel da lei:

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A opinião da psicóloga Tânia Aldrighi mostra-se equivocada. Obviamente não teria a Lei parâmetros para traçar o perfil psicológico do alienador e identificar os motivos. Isto é competência da Psicologia Forense/Jurídica, mediante os procedimentos de Avaliação Psicológica que lhe são cabíveis e característicos. E isto se consegue mediante esforço e dedicação dos profissionais em buscarem conhecimento aprofundado do tema, pesquisas empíricas, consulta à bibliografia disponível etc., para então termos informações estatísticas fidedignas (no Brasil) para reivindicarmos a inclusão desta síndrome na próxima edição do DSM, assim como a atuação dos psicólogos em todos os outros países que pesquisam acerca do tema.

Em geral, o que a literatura especializada preceitua em termos de perfil do alienador é6:

Papel de “vítima” perante os outros (profissionais, amigos, Judiciário); Esquizo-paranóide: faz uma divisão rígida das pessoas em “boas” (a favor dela) e

“más” (contra ela), e sente-se perseguida, injustiçada, indefesa; Psicopata: não sente culpa ou remorso; não tem a mínima consideração pelo

sofrimento alheio - nem dos filhos -, e não respeita leis, sentenças, regras;

6 APASE (org.) Síndrome de Alienação Parental e a tirania do guardião – aspectos psicológicos, sociais e jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007. DIAS, M.B. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: RT, 6ª. ed., 2010. SILVA, D.M.P. Psicologia Jurídica no Processo Civil Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2009 (em vias da 2ª. edição). SILVA, D.M.P. Guarda Compartilhada e Síndrome de Alienação Parental: o que é isso? Campinas: Autores Associados, 2010 (em vias da 2ª. edição). SILVA, D.M.P. Mediação e Guarda Compartilhada – conquistas para a família. Curitiba: Juruá, 2011.

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“Síndrome de Medéia”7.

Todos os qualificadores do crime se limitam ao modo “como” foi praticado, mas não o “por quê”, pergunta a ser respondida pelos investigadores do caso, e pelos psicólogos que estabelecem o perfil do criminoso. Compara-se com a tipificação de homicídio do Código Penal:

Art. 121 - Matar alguém:Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.

Além disto, as sanções previstas no artigo 6º da Lei se aplicam ao alienador e não à criança:

Art. 6º Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;III - estipular multa ao alienador;IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;VII - declarar a suspensão da autoridade parental.Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar.

Conforme a atual Lei nº 12.318/2010, uma vez caracterizada a Alienação Parental através das condutas para dificultar ou impedir a convivência da criança/adolescente com o outro pai/mãe, o juiz pode aplicar as seguintes punições ao alienador (art. 6º):

1. declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;2. ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;3. estipular multa ao alienador;4. determinar intervenção psicológica monitorada;5. determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;6. declarar a suspensão da autoridade parental.

7 Na mitologia grega, Medéia era filha do rei Eetes, da Cólquida (atualmente, a Geórgia), sobrinha de Circe (aparecendo, ainda, como filha de Circe e Hermes ou como irmã de Circe e filha de Hécate) e que foi, por algum tempo, esposa de Jasão. É uma das personagens mais terrivelmente fascinantes desta mitologia, ao envolver sentimentos contraditórios e profundamente cruéis. Conta-se que, para se vingar da traição do marido, que se casou com Creusa, filha do rei Creonte de Corinto, que instigou Jasão a expulsar Medeia e seus filhos (que teve com Jasão) do reino, mata os filhos antes de fugir para Atenas, não num acesso de loucura, mas num ato de fria e premeditada vingança em relação ao marido infiel.

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Se houver mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar ou retirar a criança ou adolescente junto à residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar.

Porém, é importante considerarmos que as sanções previstas no art. 6º da Lei nº 12.318/2010 não constituem, de forma alguma, “punições” à mãe, geralmente a alienadora das crianças. Em muitos casos, torna-se a única medida para se estabelecer (ou restabelecer) o contato da criança com o outro pai, depois de um afastamento prolongado por atitudes arbitrárias e unilaterais do alienador.

Em contrapartida, torna-se uma medida para romper a sensação de impunidade da mãe alienadora, que ainda acredita que “nunca se tira guarda de mãe”, causando-lhe uma necessária ferida narcísica na onipotência...

Atenção para algumas jurisprudências nesse sentido:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO8

Voto nº 16.139- 8ª. Câmara de Direito PrivadoApelação nº 552.528-4/5 - GuarulhosApelante: S.A.B.Apelado: R.R.S.Regulamentação de visitas. Guarda da criança concedida ao pai. Visitas provisórias da mãe. Necessidade. Preservação do superior interesse da menor. Síndrome da alienação parental. Sentença de improcedência mantida. Recurso improvido, com determinação.(...)São Paulo, 14 de maio de 2008.CAETANO LAGRASTA – Presidente e Relator.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO9

Voto nº 18.611- 8ª. Câmara de Direito PrivadoApelação nº 648.638-4/1 – Rio ClaroApelante: A.L.C.Apelado: D.S.Guarda. Fixação em favor do pai. Regulamentação das visitas maternas.Advertências quanto à possível instalação da Síndrome da Alienação Parental. Sentença mantida. Recurso improvido, com observação.São Paulo, 29 de julho de 2009.CAETANO LAGRASTA – Presidente e Relator.

Além disso, o pai/mãe prejudicado pela SAP com mensagens difamatórias, pode exigir reparação do outro pai alienador, através da calúnia, difamação, falsa

8 Fonte: <https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=2612430&vlCaptcha=kHzbX>.

9 Fonte: <https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=3962308>.

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comunicação de crime, denunciação caluniosa, e outros crimes contra a honra previstos no Código Penal.

É importante mencionar que a proposta de tipificação da Síndrome de Alienação Parental como crime desta Lei não tem a mesma conotação da tipificação de outros crimes pela legislação penal, que determina que “só existirá crime a partir da existência da lei caracterizadora”. Conforme a Lei nº 12.318/2010, uma vez caracterizada a ocorrência de SAP no caso concreto, as sanções serão aplicáveis ao alienador, mesmo que as manobras de alienação tenham ocorrido há muitos anos atrás, porque a SAP é um processo, uma sequência de atos praticados ao longo do tempo, que podem ter se iniciado inclusive durante a vigência do casamento ou união estável do casal, e se arrasta até trazer consequências graves para os filhos...

5.) Quanto ao papel do Psicólogo Jurídico:

A Lei foi aprovada com esta imperfeição: vetou a Mediação extrajudicial, limitando-a ao âmbito judicial. O problema é que as pessoas já chegam ao Judiciário com o espírito de litígio e não de diálogo. Além disso, alguns projetos de mediação judicial se assemelham a conciliação, à busca imediata de acordos, e não necessariamente a um trabalho mais elaborado de uma autêntica Mediação.

Mas, como diz o próprio Desembargador Antonio Carlos Malheiros, “nada impede que as pessoas tomem a iniciativa de procurar seus profissionais de Mediação, por conta própria”. E aí, cabe mais uma atuação dos psicólogos, promovendo o diálogo entre as partes ao invés de participar da lógica binária do Judiciário: Autor X Réu, Inocente X Culpado etc.

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Além disto, o documento do I Encontro Nacional de Psicologia: Mediação e Conciliação ocorrido em 2006 preceitua que (fls.9-10):

(...)Os Conselhos Federal e Regionais de Psicologia, (...), e acreditando que haja, na Psicologia, competência acumulada para contribuir com o desenvolvimento de uma cultura de conciliação, promoveu o I Encontro Nacional de Psicologia – Mediação e Conciliação.O Encontro teve início em cada um dos 16 Conselhos Regionais e, em 7 e 8 de dezembro de 2006, representantes dos vários encontros regionais reuniram-se em Brasília para a tarefa de construção de referências para a prática do psicólogo nesse campo. Este relatório apresenta a síntese dos resultados do I Encontro e traz, em anexo, material relativo ao assunto.Cumpre-se assim a tarefa de ampliar a inserção dos psicólogos na sociedade brasileira a partir da produção de referências para a qualificação das práticas profissionais.

Ana Mercês Bahia BockPresidente do CFP

Então, é possível sim haver novas formas de atuação do psicólogo jurídico, além das tradicionais (perito e assistente técnico), bastando-se apenas as condições e oportunidades para pesquisas, produção de conhecimentos e práticas profissionais de qualidade para atendimento à população.

6.) Quanto a necessidade da classificação nosológica da Síndrome de Alienação Parental:

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Mas uma vez está a visão reducionista, não percebendo que para fins judiciais é preciso uma classificação nosológica e que neste ponto é preciso a participação do Psicólogo Jurídico. Revela uma visão desinformada do Psicólogo Clínico.

Ninguém aqui está propondo que a criança envolvida na Síndrome de Alienação Parental, decorrente dos atos de Alienação Parental seja medicalizada! Pensar desta forma é uma postura reducionista da complexidade de fatores que envolvem os atos de Alienação Parental. Queira a sra. Tânia Aldrighi expor as informações que baseiam suas conclusões neste sentido.

Nos casos concretos atendidos pelos profissionais que assessoram as partes (sobretudo aqueles pais/mães alvos das manobras de Alienação), podem-se observar as seguintes consequências aos filhos:

Mudança de sentimentos em relação ao pai/mãe-alvo: de ambivalência amor-ódio à aversão total;

Dificuldades de identificação social e sexual com pessoas do mesmo sexo do pai/mãe-alvo;

Reações psicossomáticas semelhantes às de uma criança verdadeiramente abusada; Estender a animosidade a todas as outras pessoas relacionadas ao pai/mãe-alvo

(avós, tios, primos, atual companheiro(a)); Culpa e remorso ao descobrir que vivenciou uma farsa que interessava ao

alienador ⇒ ódio ao alienador.

Com a alienação, a criança aprende a:

mentir compulsivamente; manipular as pessoas e as situações; manipular as informações conforme as conveniências do(a) alienador(a), que a

criança incorpora como suas (“falso self”); exprimir emoções falsas; acusar levianamente os outros; não lidar adequadamente com as diferenças e as frustrações = INTOLERÂNCIA.

Assim, temos crianças que: dão uma explicação para o pai e outra para a mãe, para que pai e mãe não

briguem mais, e se contradizem tanto que já nem sabem mais o que estão dizendo;

só telefonam para o pai escondido da mãe, com medo de que a mãe descubra e confisque-lhe o celular;

“inventam” festinhas de aniversário toda semana para não estarem com o pai, e não querem que o pai os leve, mesmo quando o amigo aniversariante é vizinho da casa do pai;

acusam o pai falsamente de abuso sexual, baseado em relatos frágeis e inconsistentes.

Alguém acha que isso é pouco???

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Page 15: MANIFESTAÇÃO AO ARTIGO DO PSI JORNAL DO CRPSP abr

Conforme explicitado anteriormente, as sanções previstas no artigo 6º da Lei se referem ao alienador e não à criança!

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Ante todo o exposto, venho por meio desta apresentar esta Manifestação, requerendo que seja publicada na próxima edição do Jornal Psi (do Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo) e também no Jornal do Federal, para esclarecimento aos psicólogos inscritos não apenas no Estado de São Paulo mas também a todos de outros Estados, acerca dos equívocos do artigo ora mencionado, para que não prejudique o entendimento e atuação dos psicólogos que atuam nas Varas de Família (peritos) e os que assessoram partes que os contratam (assistentes técnicos) acerca do tema relevante da Alienação Parental.

Coloco-me à disposição de Vs.Sas. para maiores esclarecimentos e informações que necessitarem, para pleno deslinde e entendimento da questão.

Ao Conselho Federal de Psicologia, apresento protestos de elevada consideração.

São Paulo, 08/08/2011.

Denise Maria Perissini da Silva – CRP 06/38483-7Psicóloga clínica e jurídica – SP.

PS: O decurso de tempo entre o artigo e esta manifestação é porque contei com a colaboração de entidades que lutam pela igualdade parental (inclusive o que aparece na foto que a conselheira Pellini “esqueceu”(???), e inúmeros pais vítimas de arbitrariedades das ex-esposas guardiãs de seus filhos, e de profissionais ineptos da Psicologia e do Judiciário que fomentam a Alienação Parental nas crianças, causando-lhes gravíssimos prejuízos emocionais. Esta manifestação é um pouco do trabalho deles também.

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