19
Nº 10 ! Junho de 2003 Av. Brasil 4036/515, Manguinhos Rio de Janeiro, RJ ! 21040-361 www.ensp.fiocruz.br/publi/radis REFORMA DA PREVIDÊNCIA No ‘tudo ou nada’, diálogo dá lugar a ansiedade CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE Seis décadas de história País vive a ‘síndrome da virose suspeita’ Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS SAÚDE DA FAMÍLIA EM SOBRAL | CONCLUÍDO PROJETO GENOMA | SÚMULA DA IMPRENSA

Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

N º 10 ! Junho d e 2 0 0 3

Av. Brasil 4036/515, ManguinhosRio de Janeiro, RJ ! 21040-361

www.ensp.fiocruz.br/publi/radis

REFORMA DA PREVIDÊNCIANo ‘tudo ou nada’,diálogo dá lugar a ansiedade

CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDESeis décadas de história

País vive a ‘síndromeda virose suspeita’

Conasems de cara nova paraenfrentar desafios do SUS

SAÚDE DA FAMÍLIA EM SOBRAL | CONCLUÍDO PROJETO GENOMA | SÚMULA DA IMPRENSA

Page 2: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

memóriamemóriamemóriamemóriamemória

As fotos do Radis

A beleza e a serenidade do olhar da atrizCássia Kiss, que acabara de protagonizar

uma bem-sucedida campanha sobre ocâncer de mama, ocupam a capa da revista

Dados 15 (Junho de 1991), cujo tema eramortalidade por câncer no Brasil. Os

direitos de imagem foram generosamentecedidos ao Radis pela própria atriz.

Um menino negroestirado numa grandeavenida do Rio deJaneiro, enquanto umbatalhão de carrosdesumanizados parecepronto a atropelá-lo, denovo e de novo. A foto,comprada do Jornal doBrasil e clicada pelofotógrafo Carlos Mesqui-ta, tornou-se capa darevista Dados 14(Dezembro de 1990),sobre a violência nasregiões metropolitanas.

‘O Retrato da Aids’, foto de Olívio Lamas, adquirida da agência O Globo,causou polêmica na redação e entre leitores, por revelar a face de um homemem estado terminal em decorrência da Aids. A foto, publicada na revistaImprensa e vencedora de prêmio, foi estampada na Dados 11 (Março de 1988).O próprio jornal em que o fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, porachá-la “muito chocante”. Conversando conosco, Olívio, defendendo a suaveiculação, perguntava: “Mas o que é muito chocante? A foto ou a Aids?”.

Em vinte anos de existência, o Radisnunca contou com um fotógrafo pro-

fissional atuando nessa função, na re-dação. Durante muito tempo, limitaçõestécnicas, gráficas e orçamentárias im-pediram que nossas publicações se uti-lizassem, com flexibilidade e regularida-de, de fotografias em suas matérias. Noentanto, de um modo ou de outro, de

vez em quando conseguíamos driblar osobstáculos e fornecer ao leitor as ima-gens necessárias à compreensão, à ilus-tração e à complementação das repor-tagens e artigos. Selecionamos trêsdessas fotos, pela força de sua imageme pela repercussão que tiveram ao se-rem estampadas em nossas capas, coin-cidentemente da revista Dados.

Page 3: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

Memória 2

! As fotos do Radis

Editorial 3

! A Reforma e as reformas

Caco 3

Cartas 4

Súmula da Imprensa 5

XIX Congresso do Conasems 7

! Conasems reforça os compromissospara a consolidação do SUS! Conselho elege nova diretoria! A Carta de Belo Horizonte

Entrevista: 10Sílvio Fernandes da Silva

! Secretário municipal de Londrinadiz que fortalecer o Conasems éfortalecer o SUS

12a Conferência Nacional de Saúde 11

! Cronologia das Conferências: seisdécadas de história

Epidemiologia 14

! País vive a ‘síndrome da virosesuspeita’

Projeto Genoma Humano 15

! Concluído o mapa genético dohomem

Programa Saúde da Família 16

! Sobral mostra que saúde começa emcasa

Seguridade Social 17

! Reforma da Previdência: a pressa éinimiga da discussão

Serviços 18

Pós-Tudo 19

! Fome Zero, por que não?

Ora, Pílulas... 19

Nº 10 — Junho de 2003

cacocacocacocacocaco

editorialeditorialeditorialeditorialeditorial

A Reforma e as reformasApalavra do momento é ‘reforma’.

Além das reformas que estão naordem do dia — a da Previdência e aTributária — ainda há as ‘reformas im-plícitas’, aquelas que todos sabem queprecisam ser feitas: reforma do Judi-ciário, reforma da segurança pública,reforma da Educação, reforma agrá-ria. Para o povo da Saúde, quando apalavra ‘reforma’ cai nos ouvidos vema imediata lembrança da Reforma Sa-nitária, a bandeira decisiva que finca-mos no cume de nosso Everest passa-do, uma montanha de injustiças,desigualdades, omissões, paternalismos,clientelismos, segmentações e burocra-cias. Um olhar sobre a Reforma Sanitá-ria, exemplo de reforma bem-sucedidae ainda em curso, é uma imensa liçãopara todas as ‘reformas’ que estão sen-do propostas, impostas ou levadas a caboem nosso país.

Para começar, a Reforma Sanitá-ria tinha e tem um objetivo primordi-al, do qual jamais se afastou: assegu-rar e promover a saúde e a qualidadede vida do cidadão. Isso quer dizer queera e continua sendo o cidadão brasi-leiro o seu foco central, e não o pró-prio sistema. Em segundo lugar, a Re-forma Sanitária tinha e tem princípiosclaros — universalidade, integralidade

e eqüidade — a nortear tudo o mais,princípios esses que mais tardenorteariam igualmente o Sistema Úni-co de Saúde, criado pela Constitui-ção de 1988.

Em terceiro lugar, a Reforma Sa-nitária tinha e tem o compromisso coma transparência e com o diálogo, e seuprocesso longo de discussões, deba-tes e produção e compartilhamentode conhecimentos entre e com a so-ciedade, em diversos fóruns e de di-versas formas, foi culminado na Assem-bléia Constituinte de 88 e está longede terminar, como atesta a convoca-ção da 12ª Conferência Nacional deSaúde. E, por fim, a Reforma Sanitáriatinha e tem por pressuposto o contí-nuo ‘reformar’ de si mesma, passo apasso, segundo os princípios e pro-cessos já estabelecidos. A lição dessaReforma é muito simples e clara.

A distinção essencial entre a Re-forma Sanitária e a reforma da Previ-dência, segundo os críticos desta, éexatamente seu ponto de partida, oobjeto principal de uma e de outra:enquanto na Reforma Sanitária esse erao cidadão e seu bem estar, na da Previ-dência parece ser o equilíbrio dascontas do governo. Isso faz toda a di-ferença do mundo.

Capa: Aristides Dutra

Foto de Marcus Vinícius Silva

Page 4: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 4 ]

ccccc ararararartttttasasasasas

expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpediente

RADIS é uma publicação da FundaçãoOswaldo Cruz, editada pelo ProgramaRadis (Reunião, Análise e Difusão de In-formação sobre Saúde), da Escola Nacio-nal de Saúde Pública (Ensp).

Periodicidade: MensalTiragem: 42 mil exemplaresAssinatura: GrátisPresidente da Fiocruz: Paulo BussDiretor da Ensp: Jorge Bermudez

PROGRAMA RADISCoordenador: Rogério Lannes RochaEditor: Caco Xavier

Subeditora: Ana Beatriz de NoronhaSubeditor Gráfico: Aristides DutraRedação: Carlos Gustavo Trindade e

Katia MachadoEstudos e Projetos: Justa Helena

Franco (gerência de projetos),Jorge Ricardo Pereira e LaísTavares

Administração: Carlos Paiva, MárciaPena e Vanessa Santos

EndereçoAv. Brasil, 4036, sala 515 —Manguinhos, Rio de Janeiro / RJCEP: 21040-361Telefone: (21) 3882-9118Fax: (21) 3882-9119

E-Mail: [email protected]: www.ensp.fiocruz.br/publi/radisImpressão e FotolitoEdiouro Gráfica e Editora SA

FOTOGRAFIA DA FOME

Quero parabenizá-los pelo maravilhosotrabalho que vocês fazem ao escre-

ver esta revista. Trabalho na Secretaria deSaúde de meu município e aqui nem sempreacaba chegando a revista, porque às ve-zes alguém a segura pelos caminhos dos de-partamentos. Também sou professora deHistória, historiadora com muito orgulho eatualmente leciono no Ensino Fundamentalde meu município. O texto de abertura dareportagem Fotografia da Fome (Radis 8 —abril/2003) me tocou lá no fundo. Chega ame dar um nó na garganta e acabo choran-do, quando visualizo a foto. Com certeza alevarei aos meus alunos e pedirei a eles queinterpretem a imagem. Afinal, em Históriatambém trabalhamos com as imagens.Cristiane Dezan (por e-mail)

Olá, pessoal da Radis. Tenho 18 anos,estou cursando a 3a série do Nível

Médio e é a primeira vez que escrevo paravocês. Eu não sabia que existia uma revis-ta tão útil, até que dias atrás fui fazer umtrabalho de escola na casa de uma amiga eela tinha a revista nº 8 (abril/2003). Fize-mos um trabalho excelente sobre a fome.Fiquei muito emocionada ao ver a foto-grafia da fome, aquela menina morta comum abutre esperando seu último suspiropara devorá-la. Chorei muito, pois sei queessa é a dura realidade de muitos países.Camila Ferreira SantosBrotas de Macaúbas — BA

Car@s Caco e Ana Beatriz. Estava via-jando e somente há poucos dias pude ler

a Revista Radis que vocês enviaram, acercado problema da Fome. Fiquei vivamente im-pressionado com a consistência e honesti-dade jornalística que vocês trabalharam.Assim, quero manifestar meus parabéns eagradecer pela contribuição que deram aesta causa comum da luta contra a fome noBrasil e da construção de melhores condi-ções de segurança alimentar para todos.Chico Menezes — Membro do Consea ediretor do Ibase — RJ

A IMPORTÂNCIA DA INFORMAÇÃO

Éum imenso prazer escrever esta carta,poucas horas depois de ler a edição de

abril, que estava na Câmara de Vereado-res, à disposição da comunidade para leitu-ra. Estou muito contente em conhecer umapublicação como essa e, principalmente, asinformações sobre o tema da fome e sobreoutros temas da saúde, dos quais temospouco conhecimento. Gostaria de pedirpara receber as revistas, pois pretendousar as matérias e as belíssimas informa-ções a partir dos próximos meses, quando,

graças a Deus, estarei iniciando minha fa-culdade de Educação Física.Edinildo dos Santos Teixeira (por carta)Bento Fernandes — RN

Tive conhecimento dessa excelente pu-blicação, por acaso, ao folhear o mate-

rial de um sindicato local. Parabenizo vocêspela qualidade das informações, sobretudoporque ainda somos um país no qual a leitu-ra e o acesso a ela não estão significativa-mente democratizados. Gostaria de rece-ber estas publicações, que serão muitoimportantes como fonte de pesquisa, comofoi o caso da revista da Dengue, que utilizeiem sala de aula para aprofundar as infor-mações dos alunos.Daniel LimaDeserto — CE

SÉRIE ESPEC IAL FORMAÇÃO PROFIS-SIONAL EM SAÚDE

Olá pessoal da Radis! Sou estudante deSaúde Pública da Universidade Esta-

dual do Piauí e aluna do Profae. Foi umaagradável surpresa descobrir a revistaRadis, que tem uma excelente qualidadeeditorial. É com muita alegria e honra queagradeço a vocês por terem me atendidogentilmente. Gostaria que me enviassemas quatro revistas da série especial For-mação em Saúde que não chegaram até amim. Tenham certeza que todas elas serãode grande utilidade para o meu curso.Marilene de Souza Santos (por fax)Oeiras — PI

! O envio de edições anteriores seráfeito de acordo com a disponibilidadede estoque.

O Nome do Cachorrinho

Apromoção Dê umNome ao Cachorri-

nho da Fome mobilizoutantos leitores a fim de‘batizar’ o vira-latasmais famoso do Radis queas sugestões ainda nãopararam de chegar. Por isso, decidimosestender um pouco mais o prazo de en-vio de sugestões. No próximo número,publicaremos as melhores sugestões, bemcomo o grande vencedor. Todas as su-gestões que chegarem até o dia 10 dejunho participarão da avaliação. Aindahá tempo. Envie três sugestões de nomepara o cachorrinho, por carta, fax ou e-mail e candidate-se a ganhar um kit daFiocruz e um desenho original do perso-nagem que você ajudou a nomear.

Page 5: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 5 ]

SÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSASÚMULA DA IMPRENSA

EMPRESAS DÃO FORÇA AO FOME ZERO

OPrograma Fome Zero, do governofederal, passa a contar com o apoio

de empresas privadas na arrecadaçãode dinheiro. A indústria de chocolatespaulista Cacau Show, por exemplo, crioualgumas ações para facilitar doações dealimentos a famílias carentes. Já o gru-po Cometa, em Chapecó, Santa Catarina,que comercializa motocicletas, veícu-los e autopeças e atua no setor de tu-rismo, oferece descontos de 30% paraconsumidores que doarem cinco quilosde alimentos não-perecíveis no caso derevisões em motos. No setor público, aholding do setor elétrico Eletrobrásdestina áreas para plantio que ficampróximas a hidrelétricas.

Existe uma tendência, tanto nasempresas públicas quanto privadas,de investimentos voltados para a res-ponsabilidade social, aliando a preo-cupação com o social a perspectivasde ganhar maior simpatia e visibilida-de junto ao público. Uma boa fontede consultas para as empresas quedesejam colaborar com o ProgramaFome Zero é o Instituto Ethos de Em-presas e Responsabilidade Social.Instituto Ethos: www.ethos.org.br

MINISTÉRIO QUER DESCRIMINALIZAR USODE DROGAS

Se depender do Ministério da Saúde,o país adotará uma Política Nacional

Antidrogas (Pnad) que resulte em umnovo tipo de conduta das autoridadesem relação aos usuários de drogas, afim de que haja descriminalização. Abase para a mudança está num docu-mento denominado ‘A Política do Mi-nistério da Saúde para a Atenção In-tegral ao Usuário de Álcool e OutrasDrogas’. As idéias apresentadas bus-cam a formulação de políticas quepossam desconstruir o senso comumde que todo usuário de droga é umdoente que requer internação, prisãoou absolvição. As propostas apresenta-das independem de futuras alteraçõesna legislação, que considera o uso dedrogas como crime.

Uma das ações defendidas peloMinistério da Saúde é a implementaçãoem larga escala de Centros de AtençãoPsicossocial (CAPs) para atendimentose serviços diários para comunidades.Neles, procuraria-se desvincular o usode drogas e álcool da idéia de delin-

qüência e marginalidade, o que re-sultaria num acesso mais fácil a tra-tamento. O Ministério da Saúde con-sidera que a atual política tem dadomargem a campanhas publicitáriasque reforçam o senso comum de quetodo consumidor é perigoso para asociedade.

MA I S R I G O R N A S P R O PA G A N D A S D EB E B I D A S A L C O Ó L I C A S

AAssociação Brasileira de Bebidas(Abrabe) realiza uma verdadeira

batalha jurídica contra a decisão doTribunal Regional Federal da 4a Região,em Porto Alegre, que obriga a adoçãode mais critérios em propagandas so-bre bebidas alcoólicas, entre os quaisinformações relativas ao teor alcoóli-co e alerta de que os produtos anun-ciados não devem ser ingeridos porgestantes, à possibilidade de depen-dência e à proibição quanto ao usode menores. A Abrape vai recorrer dadecisão junto ao Superior Tribunal deJustiça (STJ). O rigor da Justiça valetambém para o vinho e a cerveja, em-bora não tenham teor alcoólico supe-rior ao limite de 13 graus Gay Lussac,definido na Lei 9.294/96, que faz res-trições ao uso e à propaganda de be-bidas alcoólicas.

CRESCE O MERCADO DE ESTIMULANTESSEXUAIS

OBrasil passou a ter concorrênciaentre os fabricantes de medica-

mentos corretivos para disfunção erétilcom a entrada no mercado, em maio,do Levitra e do Cialis. Até então os cer-ca de 12 milhões de brasileiros com pro-blemas do gênero só tinham o Viagracomo alternativa nas farmácias. O

Levitra é fabricado em parceria pelasindústrias Bayer e GlaxoSmithKline(GSK), que afirmam que o medicamen-to mostrou eficiência em 91% dos ca-sos. Já a indústria americana Lilly, fa-bricante do Cialis, assegura que seuproduto provou ser bem tolerado eeficaz para melhorar a função erétil emum bom número de pacientes. Os trêsmedicamentos do tipo têm em comumo fato de fazerem efeito entre quatroe 36 horas. Novos medicamentos dogênero deverão ser lançados em bre-ve no país, mas sem novidades, já quetambém devem se caracterizar por con-terem inibidores da enzima PDE-5(Fosfodiesterase).

SAÚDE QUE VEM DA TERRA

Cerca de três mil espécies de plantase 100 espécies de fungo serão

recolhidas e testadas por pesquisado-res da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)para possíveis utilizações contra do-enças como o câncer, leishmaniose emal de Chagas. O trabalho, realizadopelo Centro de Pesquisas René Ra-chou, em Belo Horizonte, tem comofonte de consulta uma biblioteca deextratos vegetais que apresentarambons resultados em relação a algunstipos de tumores cancerígenos e aomicróbio Trypanosoma cruzi, causadordo mal de Chagas. A fitoterapia, quetem cerca de seis mil anos, é a formamais antiga de tratamento médico.

Entre mil e duas mil espécies deplantas a serem pesquisadas ainda nãofazem parte do banco de extratos daFiocruz, e o trabalho inova também aoincluir os fungos basidiomicetos, domesmo tipo dos cogumelos. Os pesqui-sadores da Fiocruz farão ainda testespara melhorar a capacidade de con-

A Radis caiu na redeA Radis caiu na redeAgora você pode encontrar na internet o conteú-do integral de nossa revista. Além da Radis, tam-bém está lá o último ano das revistas Tema eSúmula. É possível ler na tela do computador ousalvar os arquivos em disco.

Radis: informações fundamentais para o profis-sional de Saúde. Agora também on-line.

www.ensp . f ioc ruz .b r /pub l i / r ad i s

RA

DIS

Page 6: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 6 ]

SÚMULA DA IMPRENSA é produzida a par-tir da leitura crítica dos principais jor-nais diários e revistas semanais do país.

trolar o sistema de defesa do organis-mo humano, o que pode contribuirpara a diminuição da rejeição de trans-plantes. A pesquisa da Fiocruz com plan-tas e fungos tem o apoio da Fundaçãode Amparo à Pesquisa de Minas Gerais(Fapemig) e as participações da Univer-sidade Federal de Minas Gerais (UFMG)e da Fundação Centro Tecnológico deMinas Gerais (Cetec).

MANAUS ENFRENTA GRANDE EPIDEMIADE MALÁRIA

Acidade de Manaus vive a maior epi-demia de malária de sua história,

com 16.994 notificações só no primeirotrimestre deste ano, volume 815% supe-rior ao registrado no mesmo período em2002, conforme os dados da Secretariade Estado de Saúde (Susam). A situaçãotem se agravado após a suspensão pelaSusam do serviço de aplicação de inse-ticidas à noite, o aumento das chuvas eos desmatamentos ocorridos em inva-sões de terras. Agentes da FundaçãoNacional de Saúde (Funasa) denuncia-ram, em novembro de 2002, a falta deinfra-estrutura para combater a malá-ria. Trata-se de uma doença parasitáriaoriginária da África causada porprotozoários do gênero Plasmodium. Ossintomas mais comuns da malária sãodores na cabeça e nas costas, vômitos,diarréia e febre. Até março foramregistrados 20.252 casos de malária emtodo o estado do Amazonas, sendo queem abril verificou-se redução no núme-ro de notificações em Manaus.

PLANOS DE SAÚDE MAIS CAROS

Os planos de saúde ficaram 9,27%mais caros, para tristeza das cer-

ca de 11 milhões de pessoas que pos-suem contratos individuais. A cadamês de aniversário dos contratosde cada usuário acontecerão osacréscimos. O aumento, anuncia-do em maio pela Agência Nacionalde Saúde Complementar (ANS), fi-cou próximo do valor máximo au-torizado pelo governo no ano pas-sado (9,39%), mas o reajuste médioem 2002 ficou em 7,69%. Baseadasnos balanços de custos, as empre-sas de medicina de grupo queriamaumento de 15% a 20%. Já a ANS ex-plica que o aumento deste ano foicalculado com base no percentualmédio de reajuste aplicado a 145mil contratos de planos de saúdecoletivos. No Brasil, existem cer-ca de duas mil empresas de medi-cina de grupo que atuam em di-versos segmentos.

CAOS EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS

As precárias condições em que vivemseis comunidades onde existiram

quilombos no Amapá, Pará e Maranhãosão os principais fatores que resultamem problemas de saúde como desnu-trição, anemia, verminose e até de-pressão. A constatação, feita em tra-balho de campo por uma equipe depesquisadores do Centro de Pesqui-sas Leônidas e Maria Deane, da Fiocruzem Manaus, resultou na inclusão dascomunidades no programa Fome Zero.

O Instituto de Tecnologia emFármacos da Fiocruz doará remédios esuplementos vitamínicos para as comu-nidades. Na comunidade de Arapemã,que fica próxima ao rio Tapajós, no Pará,metade das crianças apresentam qua-dro de desnutrição grave com perdapeso, atrofia muscular e retardo decrescimento. Está prevista já para esteano a ampliação da pesquisa, envolvendofamílias residentes em mais 48 comuni-dades quilombolas da região.

SEM INÁR IO D I SCUTE MUDANÇAS N ASAÚDE

Aadoção de uma política econômicano país que incentive investimen-

tos em desenvolvimento tecnológicopara fabricação de medicamentos einsumos foi o principal foco do semi-nário do 1o Seminário sobre o Comple-xo Industrial da Saúde, realizado noinício de maio, no auditório do BNDES,Centro do Rio. Um dos objetivos é di-minuir a dependência quanto a impor-tações na área de saúde, que repre-sentam um déficit de US$ 3,5 bilhõesna balança comercial do Brasil.

O evento, que contou com asparticipações do presidente da Fiocruz,Paulo Buss, do ministro da Saúde,Humberto Costa, e do presidente doBNDES, Carlos Lessa, durou três dias eserviu para dar uma idéia de quais pro-jetos o governo federal pode apoiar. Aprincípio, R$ 30 milhões irão para a fa-bricação de vacinas contra a gripe noInstituto Butantã, em São Paulo.

Segundo Paulo Buss, outros se-minários do gênero serão realizados

este ano, inclusive para discutir comolidar com as mudanças globais, sobre-tudo em relação a novos medicamen-tos que têm base na biotecnologia.Ele afirmou que até novembro estarápronto um documento, feito em con-junto pelo governo, empresas priva-das, instituições de pesquisa e outrossegmentos, para a realização de mu-danças gradativas no setor até 2015.

TRABALHO INFANTIL E DESEMPREGO

São cerca de 5,4 bilhões de criançasque trabalham no país (dados do

IBGE de 2001) e esse quadro é sufici-ente para que a Organização Interna-cional do Trabalho (OIT) faça uma re-lação direta do trabalho infantil como desemprego. A OIT até reconheceuque o Brasil tem avançado bastantena diminuição do problema, conside-rado um quadro comparativo de 1992e 2001 que apresenta queda de 8,4milhões para 5,4 milhões. Porém, pre-ocupa bastante o grande número decrianças cujo trabalho é explorado nasáreas urbanas, que chega a 56,6% dototal. No mundo são 8,5% na área ru-ral e 21,8% nos centros urbanos.

Entre as principais preocupaçõesda OIT em relação ao Brasil figura ocrescimento da mão-de-obra infantil nonarcotráfico. Segundo os dados do IBGE,mais de um milhão de crianças não fre-qüentavam escolas em 2001 e 2,2 milhõesna faixa dos 5 a 14 anos trabalhavam, o queé ilegal. Mais de 1/3 de crianças e adoles-centes era submetido a tradicional jorna-da de trabalho de 40 horas semanais e me-tade enfrentava um sistema de escravidão,ou seja, não recebia remuneração.

O pequeno jornaleiro

Inauguramos, nesta edi-ção, a ‘voz da 12ª CNS’.

Quando você vir, a partirde agora, este bonequinhoespalhado pelas páginas desta e daspróximas edições da Radis, já sabe-rá que aí estará alguém falando arespeito de suas expectativas so-bre a 12ª Conferência Nacional deSaúde, a ser realizada em dezembrodeste ano, em Brasília. Você desejaparticipar e ter também a sua vozna boca do pequeno jornaleiro? Es-creva pro Radis e diga o que esperada Conferência.

Page 7: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 7 ]

Humberto Costa, ministro da Saúde: “Não foi por acaso que nossasprimeiras medidas fortalecem o município e a Atenção Básica”

XIX congresso conasemsXIX congresso conasemsXIX congresso conasemsXIX congresso conasemsXIX congresso conasems

Conasems reforça os compromissospara consolidação do SUS

A 12ª CNS deve ser uma formalização dos princípiosrealçados no XIX Congresso Nacional de SecretáriosMunicipais de Saúde: o fortalecimento do comandoúnico e da descentralização, a ampliação do financia-mento e a construção de uma política de recursos hu-manos. O trem já foi colocado nos trilhos, vamos veragora como ele vai andar.

Celso Mendonça, secretário municipal de São João Evangelista (MG)

Katia Machado

Os congressos Nacionais deSecretários Municipais deSaúde, organizados anual-mente pelo Conselho Naci-

onal de Secretários Municipais de Saú-de (Conasems), têm como tradição dis-cutir os rumos da saúde no país,reforçando os desafios colocados paraos gestores municipais de saúde e ocompromisso coletivo e empenho dosgestores no processo de construção doSUS. Foi nesse espírito que aconteceuo XIX Congresso, entre os dias 27 e 30 deabril, em Belo Horizonte, marcado aindapor duas particularidades: a comemora-ção de 15 anos do Conasems e a eleiçãoda nova diretoria (ver box página 08).

Para Otaliba Libâneo, secretáriomunicipal de saúde de Goiânia (GO),esse é um momento especial, possibili-tando “traçar e articular as estratégias,políticas e diretrizes para o Conasems epara o SUS”. Assim também pensa SílvioMendes, que até este ano ocupou ocargo de presidente do Conasems.

— O Conasems foi decisivo em to-dos os momentos de construção doSUS, seja na formulação de políticas,na operacionalização das ações emserviços ou na implementação de es-tratégias. Nesse momento de mudan-ças de diretoria e de governo, a parti-cipação do Conselho é especialmenteimportante — completou.

O Congresso, que teve mais de1.600 inscritos, teve como tema ‘Saú-de é um direito de todos e dever doEstado’, apresentando quatro impor-tantes discussões: descentralização;política de financiamento do SUS; cons-trução da atenção integral à saúde; egestão do trabalho no SUS. Esses de-bates resultaram na Carta de Belo Ho-rizonte, aprovada no último dia do con-gresso (ver box na página 09). ParaBeatriz Dobashi, secretária municipalde saúde de Campo Grande (MS), o fatode o congresso ter apresentado tãogrande número de inscritos significaque as pessoas estão buscando cadavez mais os fóruns de debates para apon-tar suas dificuldades e idéias.

— Esse é, sobretudo, um momentode boas expectativas, pois estamos con-vivendo com um Ministério da Saúdeformado por pessoas que participaram

do movimento municipalista e que tive-ram uma forte militância na ReformaSanitária e na construção do SUS. Nós,secretários municipais, estamos muitootimistas. Sabemos que temos restriçõesrecursos, mas a política nos parece fa-vorável — ressaltou a secretária.

Durante o debate, alguns desafi-os importantes na consolidação do SUSforam citados, como a implantação deuma política efetiva de recursos huma-nos para o setor Saúde e de processosde formulação das políticas públicas deSaúde no país, a reorganização dos in-vestimentos no setor, e o resgate dasleis e estratégias do SUS. Nesse senti-do, segundo informou o ministro daSaúde, Humberto Costa, presente naabertura do Congresso, o município tempapel fundamental, visto como atorprincipal das ações e serviços em Saú-de. “Não foi por acaso que nossas pri-meiras medidas fortalecem o municí-pio e a Atenção Básica”, esclareceu.

Como o ministro informou em suaapresentação, algumas ações já acon-teceram: foi aprovada a implantação demais quatro mil equipes de Saúde daFamília para o ano de 2003 e mais três

mil equipes de Saúde Bucal como es-tratégia do Programa de Saúde da Famí-lia (PSF); iniciada a execução do Planode Expansão do PSF (Proesf) em cida-des com mais de 100 mil habitantes; fo-ram ampliados os recursos para a Aten-ção Básica; corrigidos os incentivos daVigilância Sanitária, dos serviços de con-trole de doença e do Programa Farmá-cia Básica do ano de 2002 para a popu-lação; foi aumentado em 20% ocomprometimento do Ministério da Saú-de com o financiamento de cada equi-pe de PSF; e duplicados os recursos daFarmácia Básica para os municípios quefazem parte do Programa Fome Zero.Além das ações realizadas, outras foramcomo prioridades do Ministério da Saú-de para os próximos quatro anos degestão foram debatidas no Congresso.

DESCENTRALIZAÇÃOO preceito de descentralização

política e administrativa como dire-ção única por esfera de governo é umdos fundamentos constitucionais doSUS, assim como as estratégias deregionalização e hierarquização dasações e serviços públicos de saúde.

FO

TO:

MA

RC

US

VIN

ÍCIU

S SI

LVA

Page 8: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 8 ]

Tal proposta visa a fortalecer o co-mando único do município, inserindo-o em uma rede hierarquizada eregionalizada de atenção à Saúde pormeio de pactuações entre os três ní-veis de governo (federal, estadual e mu-nicipal). Tais discussões permearam amesa redonda ‘Descentralização’.

De acordo com Gastão Wagner, ti-tular da secretaria executiva do Minis-tério da Saúde, a descentralização dosistema é apenas uma forma de organizá-lo e a maneira de “garantir a universali-dade, a eqüidade e integralidade dasações”. Assim também pensa LuizRoberto Barradas, secretário estadualde saúde de São Paulo. Para ele, en-quanto a universalização, a eqüidade ea integralidade devem estar qualifica-das como princípios éticos ou doutri-nários do SUS, a descentralização, aregionalização e a participação popularpodem ser encaradas como princípiosorganizacionais do sistema.

Para Alcides Silva, ex-secretário desaúde dos municípios de Quixadá eIcapuí, o tema, do modo como está ex-presso na Constituição Federal, é uma“estratégia de horizonte”:

— Dificilmente vamos encontrardivergências. A descentralização é con-veniente porque é democrática, dimi-nui custos e dá maior autonomia aosmunicípios. Do ponto de vista normativo,existe uma equivalência de poderesentre os três níveis de gestão, não ha-vendo como estabelecer uma hierarquiano sentido de quem toma decisão. Elespodem conversar e pactuar em espa-ços como a Comissão IntergestoresTripartite (CIT) — finalizou.

Mas se, por um lado, a descentra-lização dá maior autonomia aos gestores

municipais, por outro oferece o riscode cada um agir como achar melhor. “Amaioria da nossa população e de nossaslideranças querem ter todos os servi-ços e ações no seu município, da vacinaao transplante. Sabemos que isso é im-possível e a única forma de dar acesso atudo é constituindo redes regionalizadase hierarquizadas no serviço de saúde”,concluiu Barradas. “Nós temos uma au-tonomia relativa à Constituição brasilei-ra, à lei que regulamenta o SUS, ao Con-selho Nacional de Saúde e aos contratosestabelecidos”, afirmou Gastão Wagner,acrescentando que para que a descen-tralização não fragmente o SUS, deve-se aproveitar e ampliar os fóruns de dis-cussões, como a CIT e a CIB ComissãoIntergestores Bipartite).

POLÍTICA DE FINANCIAMENTOReorganizar e implantar uma polí-

tica de financiamento efetiva tornou-se prioridade para a continuação doSUS, e o XIX Conasems tenta encami-nhar soluções, proposições e uma agen-da de ações objetivas, de forma a esta-belecer as bases de compromisso entreos três níveis de governo, voltadas paraum financiamento suficiente, estável ecom ênfase na Atenção Básica.

Segundo Marcelo Gouveia, da Se-cretaria de Saúde do Estado de MinasGerais, a Emenda Constitucional 29 (EC29), que estabelece a participação or-çamentária mínima obrigatória daUnião, estados, municípios e DistritoFederal no financiamento das ações edos serviços públicos de saúde, é omarco na discussão sobre o tema por-que “insere a responsabilidade dos trêsníveis de governo e associa o montan-te ao crescimento do Produto InternoBruto (PIB) e à arrecadação tributá-ria”. Ele acrescenta que os recursosda EC 29 podem variar segundo o cres-cimento econômico, a previsibilidadee a possibilidade de redefinição dospercentuais mínimos de aplicação.

Segundo Sílvio Fernandes, se-cretário de saúde do município deLondrina (PR), se a Emenda fossecumprida, em 2003, teríamos R$ 9bilhões disponíveis para o financia-mento da Saúde e, em 2004, R$ 20bilhões (R$ 9 bilhões de 2003 mais R$11 bilhões de 2004). Cumprí-la temsido, no entanto, o grande entrave,sobretudo para União e estados, as-sim como definir devidamente os gas-tos com a saúde. “No ano de 2002, aUnião gastou a menos cerca de R$ 4bilhões. O estado do Paraná, porexemplo, em 2001 gastou 7,62% da suareceita com a Saúde, após constataro que são realmente gastos com saú-de, esse percentual caiu para 3,5%.Fatos como esses são presentes emmuitos outros estados”, explicou Sil-vio, ressaltando que o SUS tem efici-

ência econômica, apesar de não con-seguir aplicar bem seus recursos.

Para resolver o problema, confor-me esclareceu Marcelo Gouvêa, faz-senecessário regulamentar a Emenda,definindo sua base (se móvel ou fixa),mudar o percentual mínimo de aplica-ção, que hoje é de 12% para os esta-dos e 15% para os municípios, e o tipode repasse, que atualmente dependede um fluxo do tesouro. “Se hojeconquistássemos um repasse automá-tico, os gestores municipais teriammaior autonomia”, disse.

Tal proposta, portanto, dependeainda de estratégia de acompanhamen-to e controle. Como explicou Marce-lo, é necessário reorganizar o Sistemade Informações de Operações emSaúde (Siops) e implantar ações inte-gradas entre as instâncias de controlesocial e de difusão do debate acercado financiamento. “Tudo isso dependeainda da mobilização dos atores sociais— Ministério da Saúde, Conselho Naci-onal de Secretários de Saúde (Conass),Conasems, Conselho Nacional de Saú-de (CNS), tribunais de conta e Ministé-rio Público”, concluiu.

ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDEO principal objetivo da mesa-redon-

da ‘Construindo a Atenção Integral à Saú-de’ foi avaliar os avanços e desafios noprocesso de implantação do SUS, no quediz respeito ao princípio da atenção in-tegral à saúde, estabelecendo os desafi-os e avanços nos últimos anos com rela-ção à implantação de um novo modeloassistencial voltado para a garantia deacesso, para a resolutividade e que arti-cule ações individuais e coletivas, comotambém promocionais e preventivas.

Para o secretário de saúde deGoiânia Otaliba Libâneo, a integralidadeé talvez o mais complexo princípio doSUS, pois implica em mexer no sistemacomo um todo — na Atenção Básica, naAtenção de Média e Alta Complexida-de, no processo de trabalho dos profis-sionais de saúde, entre outros fatores.De acordo com Sarah Escorel, presiden-te do Centro Brasileiro de Estudos deSaúde (Cebes), discutir a atenção inte-gral à saúde é falar sobre o acesso àsações e serviços em saúde — oferta ecobertura, atendimento e demanda pro-gramada e espontânea —, e tambémsobre a integração dos serviços de saú-de, a resolutividade, os vínculos entrepopulação atendida e trabalhadores desaúde, a humanização dos serviços eações, os mecanismos de participaçãoe controle social, a intersetorialidadee muitos outros fatores.

Nesse contexto, segundo ela, al-guns avanços foram conquistados: oinvestimento e fortalecimento da redepública de serviços de saúde em todosos níveis de complexidade, principal-

Nova diretoriado Conasems

Um aniversário de quinze anosé uma data marcante no ima-

ginário da sociedade brasileira, enão poderia ser diferente para oConasems. Foi, portanto, em climade comemoração que a nova dire-toria do Conselho que representaos quase 5.600 municípios dessepaís foi eleita. Após um acordoentre as duas chapas candidatas,o secretário municipal de saúdede Sobral (CE), Odorico Monteirode Andrade, assumiu a presidên-cia do Conselho, e Valter LavinasRibeiro, secretário municipal deTrês Rios (RJ), a vice-presidência.Os dois, que estavam concorren-do à presidência do Conasems, fo-ram aplaudidos pela plenária do XIXCongresso quando anunciaram aunião das chapas.

Page 9: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 9 ]

A 8ª Conferência foi marcantepara a área da Saúde, quando con-seguimos oficializar o SUS. Achoque a 9ª, a 10ª e a 11ª CNS acaba-ram sendo um pouco repetitivas,pois não foi feito um balanço doque foi conseguido na conferên-cia anterior. Nesse sentido, é muito interessan-te a proposta da 12ª CNS de fazer um balanço doque foi feito até agora e um momento de supe-rar os problemas existentes.

Aparecida Pimenta, secretária municipal desaúde de Amparo (SP)

mente nos serviços de atenção básica;o aumento da cobertura de serviçosem todos os níveis de complexidade; adifusão e implementação de açõesintersetoriais visando a promoção eproteção da saúde; e a ampliação dosprocedimentos de atenção básica, taiscomo a imunização, cobertura às ges-tantes e à infância.

Para Jorge Solla, titular da Secre-taria de Atenção à Saúde do MS (SAS),não há dúvidas de que nesses 15 anosse conseguiu ampliar o acesso à saúde.“Nos últimos oito anos, foram implanta-dos 50 mil postos de Saúde da Família.Mas a oferta ainda não é suficiente”,disse. Segundo ele, a estratégia da Saú-de da Família é prioridade desse novogoverno, pois constrói um caminho emdireção à atenção integral à saúde.Nesse sentido, de acordo com Solla, aproposta é dobrar o número de equi-pes de PSF e fazer com que, até o finaldessa gestão, 50% dos gastos com asequipes do programa sejam financia-dos pelo MS, 25% pelos estados e ou-tros 25% pelos municípios. Se, por umlado, em muito se avançou, por outro

muitos são ainda os problemas existen-tes para se falar de uma atenção inte-gral à saúde. “Se fôssemos fazer umafotografia dos vários municípios, vere-mos que há estágios diferenciados en-tre eles”, explicou Otaliba, ao citar al-guns desses problemas:

— Entre os maiores impasses es-tão: a inadequação entre a oferta deprocedimentos médicos e os perfisde morbimortalidade e da coberturaassistencial nas di-ferentes áreas dacidade; o acesso àatenção médica ébaseado na deman-da espontânea àsunidades de saúde;serviços com baixaresolutividade, ge-rando multiplicidadee repetição de in-tervenções sobreum mesmo problemade saúde; distribui-ção desproporcio-nal dos serviços desaúde em relação

à velocidade de crescimento urbano;despreparo e qualificação insuficien-te dos profissionais, particularmenteos médicos; o PSF ainda se estruturaem muitos lugares como uma práticade medicina simplificada, dirigida àsregiões e aos grupos sociais em si-tuação de exclusão social e sanitá-ria; falta de articulação com outrosníveis de complexidade como asconsultas especializadas, exames einternações hospitalares; e resistên-cia corporativa às mudanças dos pro-cessos de trabalho por parte dos pro-fissionais de saúde.

Segundo Otaliba, diante dessequadro e para a construção da Aten-ção Integral, muitos desafios deve-rão ser enfrentados. No que diz res-peito à infra-estrutura da rede deserviços de saúde, é necessário re-cuperar, readequar e ampliar as uni-dades básicas de saúde e as unidadesde suporte e referência, garantir mó-veis e equipamentos adequados para aatenção nas unidades básicas de saúdee de referência. Quanto à gestão e pla-nejamento, é necessário planejar asações e serviços no âmbito das equipesde atenção básica, das unidades bási-cas de saúde, dos distritos e do municí-pio, definindo o perfil das unidades, donível de complexidade das ações e servi-ços a serem ofertados em cada unidadee região de saúde, bem como a sua coe-rência com os problemas de saúde exis-tentes na população. “Além disso”, dizLibâneo, “nota-se grande importância emimplementar, articular e integrar os ins-trumentos de gestão como o cartão na-cional de saúde, superar a fragmenta-ção e implementar rotinas de integraçãodos sistemas de informação em saúde quepossibilitem analisar situações de saúdee identificar os problemas”.

GESTÃO DO TRABALHOConstruir uma política de recur-

sos humanos nunca antes estabelecida.Essa idéia foi unânime entre os partici-pantes da mesa-redonda ‘Gestão do Tra-balho no SUS’, presentes nas discus-sões sobre os desafios, perspectivas e

Carta de Belo Horizonte

Os documentos produzidos no finaldos Congressos Nacionais de Se-

cretários Municipais de Saúde tradu-zem as expectativas e propostas dosgestores municipais para a consoli-dação do SUS. A Carta de Belo Hori-zonte, produzida no final do XIXConasems, estabelece as seguintesprioridades de ação:1) Avançar na consolidação do pro-cesso de descentralização do SUS:defendendo o princípio do co-mando único em cada nível do sis-tema de saúde; contribuindo coma estruturação hierarquizada eregionalizada do sistema; favorecen-do a implantação e o fortalecimen-to dos fóruns de articulação e depactuação regionais.2) Direcionar esforços que garantama integralidade de atenção à saúdeaos brasileiros: articulando as açõesdos três níveis de governo; qualifi-cando e integrando as práticas desaúde pública com as práticasassistenciais; estimulando as aborda-gens intersetoriais de promoção dasaúde; garantindo o princípio domultiprofissionalismo na promoção ena assistência;3) Garantir o financiamento ade-quado nos três níveis do sistemacomo condição básica para a con-solidação do SUS: defendendo amanutenção dos atuais percentuaismínimos orçamentários, constituci-onais, para a saúde em cada nível

de governo; intervindo nas discus-sões e tramitação do projeto de leicomplementar à Emenda Constituci-onal 29, bem como nos projetos deemendas constitucionais referentesa Reforma Tributária, Reforma da Pre-vidência e Reforma das Relações deTrabalho; avançando na regulação,na pactuação e no aperfeiçoamentodos mecanismos de contratualizaçãodas ações assistenciais; defendendoe implementando o princípio daorçamentação ascendente; eaprofundando a participação docontrole social no processo deelaboração e acompanhamentodo orçamento.4) Reconhecer a gestão de pessoase as relações de trabalho como eixocentral da atuação dos três níveisgestores do SUS: participando da de-finição do Plano Nacional deCapacitação dos Profissionais do SUS;defendendo a implementação demudanças no processo de formaçãoe educação permanente dos profis-sionais de saúde, enfatizando o prin-cípio do multiprofissionalismo e ascompetências e habilidades especí-ficas; combatendo a precarizaçãodas relações de trabalho em todosos níveis do SUS; estimulando a im-plantação de PCCS em todos os mu-nicípios brasileiros; contribuindopara o reconhecimento de novasatuações profissionais voltadas paraas necessidades do SUS.

Page 10: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 10 ]

O RADIS ADVERTE:

Criar cachorrinhos faz bem para a saúde emo-cional e são muitas as recordações deixadaspelo meio do caminho. Virou até moda adquirirrações nobres para alimentá-los. Você não pre-cisa trocar o seu bichinho por uma criança po-bre, como cantava o Eduardo Dusek, mas quan-do estiver puxando a coleira, pare e pense: opaís tem um programa chamado Fome Zero.

limites para a construção de uma agen-da de ações objetivas visando estabe-lecer as bases de compromissos entreos três níveis de governo. “O nosso mai-or desafio nesse momento diz respeitoà questão dos trabalhadores de saúde.Se o SUS se faz com gente, o pontofundamental é o trabalhador da Saú-de”, afirmou Maria Luiza Jaeger, titularda Secretaria de Gestão do Trabalhodo Ministério da Saúde.

Segundo Rogério Carvalho Santos,secretário municipal de saúde deAracajú (SE), não há como negar o gran-de ‘buraco’ que se formou na área derecursos humanos. Para ele, no que dizrespeito ao financiamento de pessoal,os municípios esbarram em muitos pro-blemas, como o limite fiscal, a rigidezdo gasto com o pessoal no setor públi-co, a descentralização de pessoal cujos

acordos não prevêem substituição ourepasses financeiros, o desconhecimen-to dos gestores públicos a respeito dadinamicidade do mercado de trabalhona área, as tecnologias de avaliação dedesempenho do servidor público ultra-passadas, a precarização de contratose uma completa indefinição de regraspúblicas nas relações de trabalho e deregras futuras sobre a previdência.

Quanto à formação, na qual estáinserida a graduação, a residência eoutras especializações, o mestradoprofissionalizante e a especialização téc-nica, Rogério disse que muitos entravesprecisam ser superados, como “o siste-ma anacrônico de autorização de cur-sos de graduação, discursos sobre re-formas curriculares pelo qual o alunotem que ser exposto a todas as práticasde trabalho, uma interação burocráti-

ca e vazia entre Ministério da Saúde eMec e a falta de uma política governa-mental de distribuição de escolas e pro-gramas”. Mas esses não são os únicosproblemas enfrentados pelos municípi-os. Conforme explicou o secretário, asituação atual da educação permanen-te vive ainda o caos de um financiamen-to insuficiente e irregular e com pou-cos centros formadores.

De acordo com Maria Luiza, o go-verno vem trabalhando para estabeleceruma ação coordenada e com responsa-bilidade na área, em conjunto com osgovernos estaduais e municipais. Nessesentido, planeja produzir um diagnósti-co dos profissionais em atuação no SUS,discutir um plano de carreira de formaque os profissionais possam circular en-tre os três níveis de gestão sem quehaja disparidades entre os salários, re-ver a lei de responsabilidade fiscal, for-talecer a relação com as executivas deestudantes, estabelecer uma relaçãopermanente com o Conass e o Conasemse estimular um processo de educaçãopermanente. “Além disso”, completouMaria Luiza, “é preciso mexer na Pós-graduação e nas residências médicas, or-ganizando-as em função do SUS e do Saú-de da Família, discutir a questão dosmestrados profissionalizantes, rompernossa relação com as universidades noque diz respeito a compra de serviço erever o ensino médio”.

Silvio Fernandes da Silva, secretário municipal de Londrina (PR):

“Fortalecer o Conasems é fortalecer o SUS”Na década de 80, cria-

mos as bases de cons-trução do SUS. Na décadade 90, especialmente noinício dela, a nossa luta

era para ampliar a descentralização,aprovar a Lei Orgânica 8080 e colocarem prática as diretrizes e princípiosdo SUS. De meados da década de 90para cá, o processo de implementaçãodo SUS, especificamente o de des-centralização da Saúde, ocorreu emum ambiente de governabilidade res-trita aos municípios. A diretriz era ade avançar na descentralização. Asdificuldades enfrentadas eram, sobre-tudo, em relação ao financiamento.Por não encontrarmos soluções pararesolver tais entraves, passamos a teruma pulverização do poder de gestãodos municípios e uma centralizaçãode alguns aspectos da política que fo-ram prejudiciais aos SUS. Além desse,um outro problema impede o avançodo SUS: a falta de uma política de re-cursos humanos adequada.

Essas dificuldades resultaramem um certo enfraquecimento doConasems, que sempre foi um ator

político forte no processo de cons-trução do SUS, no sentido de formu-lar e propor idéias. Por isso, nessemomento, um dos fatores que pode-rá fortalecer nosso sistema de saúdeé o fortalecimento do Conasems, aose construir uma agenda municipalistanas arenas políticas do SUS. A supera-ção de tais obstáculos diz respeitoao nosso fortalecimento comogestores municipais e atores políti-cos formuladores de propostas.

Resolver os problemas que im-pedem o avanço do SUS não depen-de, no entanto, única e exclusiva-mente dos municípios, mas de ummovimento da sociedade brasileira,dos estados e do governo federal.Aqui se torna de suma importânciaa 12ª Conferência Nacional de Saú-de para reforçar todas as conquis-tas na construção do SUS. É o mo-mento também de discutir deforma mais profunda as causas denossas dificuldades e questõesfundamentais como a reorganiza-ção da Atenção Básica, o fortale-cimento da descentralização, o re-forço do comando único e o avanço

da política de recursos humanos. Euentendo que, quando discutimos osaspectos mais amplos das condiçõesde saúde da população, temos queincluir os elementos da macro-políti-ca econômica e outras grandes difi-culdades que acabam refletindo nasaúde como o crescimento da vio-lência, o desemprego, entre outros.

Em relação aos congressos pro-movidos pelo Conselho Nacional deSecretários Municipais de Saúde(Conasems), talvez esse tenha sido ode maior participação dos gestores desaúde. Minha expectativa, por isso, édas mais positivas. Vejo com muito oti-mismo as mudanças que estão ocor-rendo no Ministério da Saúde, com-posto por secretários e ministro quetiveram experiências municipalistasrecentes. Isso já representa um avan-ço do SUS, ou seja, a possibilidadede se recuperar algumas bandeirasum pouco ‘amareladas’, como aquestão do comando úni-co, da ampliação da au-tonomia de gestão dosmunicípios e do reforçoda descentralização.

Page 11: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 11 ]

Ana Beatriz de Noronha

No dia 5 de maio, foi ofi-cialmente convocada a12a Conferência Nacionalde Saúde (CNS), que de-

verá, segundo o decreto, ocorrer de7 a 11 de dezembro deste ano, emBrasília. Mais uma vez, diversos seto-res da sociedade se movimentam ese preparam para viver outro impor-tante momento de amplos e demo-cráticos debates sobre as questõesde saúde. Engana-se, no entanto,quem pensa que a história foi sem-pre assim. Na verdade, as Conferên-cias mudaram bastante, fazendo comque muito pouco haja em comum,por exemplo, entre a 1a Conferên-cia, realizada em 1941, com cerca de70 participantes, e a lendária ‘Oita-va’, que ocorreu em 1986, com a pre-sença de mais de 4 mil pessoas. Aolongo do tempo, e sempre refletin-do o contexto político, elas se trans-formaram e ganharam novos sentidosaté se firmarem como um fórum pri-vilegiado de discussões sobre os ru-mos da saúde no país.

UM COMEÇO NADADEMOCRÁTICO

A Lei que instituiu as Conferênci-as de Saúde foi promulgada em 1937,no primeiro governo de Getúlio Vargas,apenas dez meses antes do golpe quedeu origem ao Estado Novo, períodocaracterizado pela centralização dopoder no Executivo, aumento da açãointervencionista do Estado e falta deliberdade política. Ela surge, de acor-do com Gilberto Hochman, pesquisa-dor da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e autor do livro A era do sa-neamento (Hucitec/Anpocs, 1998),num período de grande reformulaçãodo Ministério da Educação e Saúde,sob o comando de Gustavo Capanema,que foi ministro de 1934 a 1945.

— As Conferências são, em suaorigem, parte de um processo deextrema centralização político-admi-nistrativa no Estado brasileiro. Alémdisso, elas foram pensadas inicialmen-te como um encontro de técnicos eadministradores do ministério e dosestados para assessorar o ministro noscampos da educação e da saúde —explica Gilberto, lembrando que ogolpe de 1937 abortou qualquer idéia

Seis décadas de história

A 12ª Conferência Naci-onal de Saúde pretenderediscutir o modelo donosso sistema de Saúde,buscando avançar con-cretamente com a Refor-ma Sanitária e assegu-rar a integralidade. Ela representa umterritório provedor de saúde.

Gilson Cantarino, secretário desaúde do estado do Rio de Janeiro

de os técnicos presentes discutiremas políticas de saúde durante a 1a

Conferência, realizada em 1941.Os quatro anos passados entre

a promulgação da Lei e a realizaçãoda 1a CNS também serviram paraacrescentar novos e importantes da-dos ao contexto inicial. Por conta da2a Guerra Mundial, por exemplo, hou-ve uma aproximação com os aliadose, conseqüentemente, com os Esta-dos Unidos, o que gerou uma sériede acordos, dentre eles o que deuorigem ao Serviço Especial de SaúdePública (Sesp), que durou até a dé-cada de 90. Internamente, era o perí-odo de uma segunda grande reformaministerial no campo da saúde com acriação dos Serviços Nacionais (da Tu-berculose, da Lepra. etc.), cujo ob-jetivo era o de organizar ações decombate aos principais problemas sa-nitários do país, por meio de estrutu-ras centralizadas do ponto devista da coordenação no go-verno federal, segmentada pordoenças específicas e pensa-da dentro de uma concepçãocurativa e não preventiva.

— Além de ser a primeira,essa conferência é importan-te porque, apesar de não dis-cutir problemas de assistência,legitima uma reforma que teveum impacto muito longo na his-tória da saúde do Brasil, crian-do uma cultura política e téc-nica que, de certa forma,

permaneceu pelo menos até o final dosanos 80. Apesar de ter sido um encon-tro despolitizado, é possível identifi-car em seus anais algumas demandashistóricas, como por exemplo, por umministério da saúde, que existe desdeo início da república, e outra pelareelaboração das relações entre osentes federados, que tendia à centrali-zação, até por conta da falta de capa-cidade técnica da quase totalidade dosmunicípios para resolver seus problemassanitários — acredita o pesquisador.

A DESCENTRALIZAÇÃOCOMO PALAVRA DE ORDEM

A despeito de a lei estabelecerum tempo máximo de dois anos entreuma conferência e outra, a 2a CNS sóocorreu em 1950. Apesar de ter dei-xado poucas lembranças, essa con-ferência foi importante no estabele-cimento da legislação referente à

12ª conferência nacional de saúde12ª conferência nacional de saúde12ª conferência nacional de saúde12ª conferência nacional de saúde12ª conferência nacional de saúde

Page 12: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 12 ]

higiene e segurança do trabalho e àprestação de assistência médica sa-nitária e preventiva para trabalhado-res e gestantes.

Segundo Gilberto Hochman, a 3a

CNS, realizada em 1963, durante o go-verno de João Goulart, também podeser considerada um marco na histó-ria das Conferências de Saúde, prin-cipalmente por ter sido a primeiraconferência realizada após a criaçãodo Ministério da Saúde, em 1953, pelocontexto em que ocorreu e por re-presentar a primeira proposta efetivade descentralização na área da saúde.“A exposição de motivos que acompa-nha o anteprojeto define claramenteos objetivos da reforma e faz agudaanálise dos principais defeitos da or-ganização sanitária federal. Visandofazer do Ministério o centro pro-pulsor de toda a atividade médico-sanitária do país, propugna-se peladescentralização progressiva da exe-cução das tarefas assistenciais, como reforço dos serviços dos estadose municípios que serão convenien-temente assistidos, financeira e tec-nicamente, tornando-se um órgãopreferencialmente normativo e co-ordenador”, afirmou o então minis-tro da Saúde, Wilson Fadul, no dis-curso de abertura do evento. Dentreas recomendações da 3a CNS, pode-mos destacar: as que afirmam a ne-cessidade de integração dos progra-mas de saúde pública ao programaglobal de desenvolvimento e das ati-vidades preventivas e curativas àsunidades sanitárias; o incremento deuma política farmacêutica, com a in-tensificação na fabricação de produ-tos profiláticos e terapêuticos pelosórgãos oficiais; e o apoio aos progra-mas de pesquisa que busquem traçaro diagnóstico dos problemas peculia-res às moléstias existentes no país.

Durante os governos militares,foram realizadas quatro conferênci-as, que voltaram a ter um perfil pre-dominantemente técnico e burocra-ta. A 4º Conferência teve como temacentral a questão dos recursos hu-manos e a necessidade de se identi-ficar o tipo de profissional necessá-rio às demandas da saúde no país. Aexpectativa, expressa no discurso doministro Leonel Miranda, era que, aofinal da conferência e para o bem dapolítica de saúde, “os educadores sa-íssem do encontro mais sanitaristas eos sanitaristas mais educadores”.

A 5º Conferência, ocorrida em1975, foi a primeira realizada emBrasília. As discussões sobre cincotemas principais — sistema nacionalde saúde, programa de saúde ma-terno-infantil, sistema de vigilânciaepidemiológica, controle das gran-des endemias e extensão das ações

de saúde às populações rurais —ocorreram em 14 grupos de traba-lhos, compostos por, no máximo, 15membros, e visavam fornecer subsídi-os para a elaboração de uma PolíticaNacional de Saúde a ser submetidaao Conselho do Desenvolvimento So-cial. A 6º CNS, realizada em 1977, tra-tou principalmente do controle dasgrandes endemias e da interiorizaçãodos serviços de saúde.

Em março de 1980, a implanta-ção e o desenvolvimento do Progra-ma Nacional de Serviços Básicos deSaúde (Prev-Saúde) determinaram osdebates da 7º CNS, que também tra-tou da regionalização e organizaçãodos serviços de saúde nas Universi-dades Federais e da articulação dosserviços básicos com os serviçosespecializados no sistema de saúde.

UMA CONQUISTADA SOCIEDADE

Em 1985, com o fim do regime mi-litar e instauração da ‘Nova Repúbli-ca’, ganha força o ‘movimento sanitá-rio’, formado por profissionais da saúde,cujas bandeiras e propostas ganhammais legitimidade à medida que pioramas condições de vida da população efracassam diversas iniciativas ligadas àpolítica de saúde vigente. A ele se jun-tam diversas outras forças sociais e po-líticas e multiplicam-se as discussões eos debates sobre a saúde. A idéia deum sistema único de saúde ganha con-sistência e começa a se desencadearum processo político, no qual repre-sentantes do ‘movimento sanitário’ as-sumem postos decisivos no governo ecomeçam a viabilizar as propostas fei-tas ao longo do tempo.

Com o objetivo de fornecer sub-sídios para a reformulação do Siste-ma Nacional de Saúde e gerar ele-mentos que permitissem uma ampladiscussão sobre saúde na Constituin-te, é convocada a 8a Conferência Na-cional de Saúde, dentro de um espíri-to muito diferente das anteriores. Sãoestimuladas as pré-conferências muni-cipais e estaduais, que se transformamem espaços de participação democrá-tica de representantes de todos ossegmentos do setor e da sociedade.Finalmente, em março de 1986, no Gi-násio de Esportes de Brasília, mais dequatro mil pessoas se reúnem paradiscutir tanto as diretrizes gerais dapolítica de saúde quanto alguns te-mas específicos, dentre os quais adescentralização dos serviços de saú-de, considerada, pelo então ministroRoberto Figueira Santos, como remé-dio para a abusiva e sempre crescen-te concentração de poder político,econômico e administrativo exercidapelos antigos governos. A participaçãopopular nos serviços de saúde e o

controle social também foram temasque mereceram destaque. A pré-Cons-tituinte da Saúde, como ficou conhe-cida a 8a CNS, acabou legitimando aidéia de uma Reforma Sanitária quecriasse uma ação institucional corres-pondente ao conceito ampliado desaúde — promoção, proteção e recu-peração — e fosse muito além de me-ras reformas administrativas e aumen-to do financiamento para o setor.

Prevista inicialmente para acon-tecer em 1990, a 9a Conferência so-fre três adiamentos, acabando porocorrer apenas em agosto de 1992,quase seis anos depois da Oitava edois anos depois de publicada a Leinº 8.142 — que dispõe, entre outrascoisas, sobre a participação da co-munidade na gestão do Sistema Úni-co de Saúde (SUS) e altera o interva-lo previsto entre uma Conferência eoutra para quatro anos. A demorapode ser atribuída ao cuidado com aorganização do evento, com o obje-tivo de garantir uma participação cadavez mais consciente da sociedade nasdiscussões sobre a Saúde, principal-mente devido à enorme crise ética epolítica que assolava o país no gover-no Collor e aumentava, cada vez mais,a distância entre o SUS previsto naConstituição de 88 e o sistema queestava sendo implantado. Entre aspropostas aprovadas na conferênciaestava a de garantia de efetiva im-plantação dos Conselhos de Saúde esua composição paritária e a dedestinação orçamentária para a Saú-de (entre 10% e 15% do orçamentototal dos municípios, estados e União).Também mereceram destaque asquestões referentes à democratiza-ção da informação e à comunicaçãoem saúde, consideradas fundamentaispara o controle social.

Sem o ‘charme’ da Oitava e apolêmica que envolveu a Nona, a 10a

Conferência, cujo tema central era‘SUS — Construindo um modelo deatenção à saúde para a qualidade devida’, foi realizada em 1996, época emque o SUS enfrentava sérios proble-mas orçamentários. “Na conjuntura de1996, pode ser que a grande resistên-cia institucional e ideológica ao SUSesteja concentrada no desvirtuamen-to e na montagem e execução do or-çamento da Seguridade Social, tantoao nível da retração das bases finan-ceiras previstas na Constituição, comoao nível da desqualificação dos valo-res éticos da solidariedade social”,afirmou, na abertura do evento, o mi-nistro Adib Jatene. Dentre as resolu-ções aprovadas na Carta da 10a Confe-rência, estava a de deflagração de umaampla mobilização popular pela apro-vação do Projeto de Emenda à Consti-tuição (PEC 169), que garantia 30% dos

Page 13: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 13 ]

recursos da Seguridade Sociale no mínimo 10% dos orçamen-tos da União, estados e municí-pios para a saúde, e a amplia-ção da base de arrecadação daSeguridade Social como fontespermanentes de recursos.

A 11a Conferência foi reali-zada em 2000, com o tema ‘Efe-tivando o SUS: acesso, qualida-de e humanização na atenção àsaúde com controle social’. Ape-sar da grande expectativa, oencontro enfrentou inúmerosproblemas e gerou certa decep-ção entre os presentes, comomostra o depoimento dado aoRadis e publicado na revistaTema 29 (fev/2001) de ElaineCruz, delegada por São Paulo:

— A Conferência começouerrada, quando foi definido oque seria discutido. O tema fi-cou amplo demais. Na Oitava,debatemos o SUS. Na Nona, de-batemos descentralização emunicipalização. Na Décima, fi-nanciamento. Mas o que esta-mos debatendo nesta? Está semfoco. Mas esta Conferência temalgo diferente: muita gente nova.Isso significa que, apesar de to-das as dificuldades, tem muitagente querendo discutir o SUS.Muita gente inexperiente, quedesconhece a história, mas é im-portante porque oxigena de fato”.

Quando o setor da Saúdese prepara para uma nova Con-ferência, é importante que setenha em mente que as confe-rências surgiram como instru-mentos de um regime totalitá-rio e que, portanto, não sãonecessariamente democráticasem si, como alerta o pesquisa-dor Gilberto Hochman e comobem lembrou o ex-ministro AdibJatene, na abertura da 10a CNS:

— Os brasileiros podem seorgulhar de terem construído,no setor da saúde e no sistemade saúde, algumas das mais ati-vas instâncias de participaçãosocial em saúde no continente,instâncias únicas de participa-ção na administração públicabrasileira, que são as Conferên-cias e os Conselhos de Saúde.São instâncias privilegiadas depoder, conquistadas pela soci-edade brasileira, das quais de-vemos nos orgulhar e extrairdelas todas as possibilidadespolíticas que oferecem.

Mais informações: História dasConferências Nacionais de Saúde(www.fiocruz.br/histconferencias/histconferencias.htm)

saicnêrefnoCsadaigolonorCsaicnêrefnoCsàetnereferlaredefoãçalsigelaatsileuq,oxiabaalebatA

.sonrevogropadazinagroátse,edúaSedsianoicaN

onA ataD otnevE etnediserP! edúaSadortsiniM

7391 10/31 873ieL saicnêrefnoCsaiutitsnI—muecelebatseeedúaSedsianoicaN

.saleertnesonasiodedodoírep

sagraVoilúteG! amenapaCovatsuG

1491 10/03 887.6.ceD SNCª1aacovnoC—

50/91 691.7.ceD ª1adoãçazilaeraaidA—SNC

01/22 090.8.ceD edatadaaxiF—SNCª1adoãçazilaer

11/51a11/01ed edúaSedlanoicaNaicnêrefnoCª1

0591 70/72 924.82.ceD SNCª2aacovnoC— artuDrapsaGociruE! ohliFsoiRodraudE

von/.zniuqª2 edúaSedlanoicaNaicnêrefnoCª2

3591 70/52 029.1ieL adoirétsiniMoairC—edúaS

sagraVoilúteG

3691 70/42 103.25.ceD SNCª3aacovnoC— traluoGoãoJ! ludaFnosliW

21/51a21/9ed edúaSedlanoicaNaicnêrefnoCª3

6691 40/72 622.85.ceD SNCª4aacovnoC— ocnarBoletsaC! ottirBedodnumyaR

7691 20/12 152.06.ceD SNCª4aaidA—

90/40a80/03ed edúaSedlanoicaNaicnêrefnoCª4 ! adnariMlenoeL

5791 20/52 904.57.ceD SNCª5aacovnoC— lesieGotsenrE! adiemlAedoluaP

odahcaM80/80a80/50ed edúaSedlanoicaNaicnêrefnoCª5

7791 30/10 813.97.ceD SNCª6aacovnoC—

80/50a80/10ed edúaSedlanoicaNaicnêrefnoCª6

9791 90/02 610.48.ceD SNCª7aacovnoC— oderieugiFoãoJ! edotsuguAoiráM

amiLortsaC

11/12 232.48.ceD SNCª7aerefsnarT— ! sedneMrydlaWedrevocrA

0891 30/82a30/42ed edúaSedlanoicaNaicnêrefnoCª7

5891 70/32 664.19.ceD SNCª8aacovnoC— yenraSésoJ! annA'tnaSsolraC

11/40 478.19.ceD aerefsnarT—SNCª8adoãçacovnoc

6891 30/12a30/71ed edúaSedlanoicaNaicnêrefnoCª8 ! sotnaSarieugiFotreboR

0991 30/70 540.99.ceD SNCª9aacovnoC— ! ikuzusTogieS

0991 80/90 544.99.ceD oãçazilaeraerefsnarT—SNCª9ad

rolloCodnanreF! arreuGineclA

21/82 241.8ieL osonaortauqaraparetlA—saicnêrefnoCsaertneodoírep

1991 60/11 *000.00.ceD ª9adoãçazilaeraaidA—SNC

2991 60/32 *000.00.ceD SNCª9aacovnoceR— ! enetaJbidA

80/41a80/90ed edúaSedlanoicaNaicnêrefnoCª9

5991 21/40 727.1.ceD SNCª01aacovnoC— euqirneHodnanreFosodraC

! enetaJbidA6991 30/12 148.1.ceD SNCª01adatadaaretlA—

90/60a90/20ed edúaSedlanoicaNaicnêrefnoCª01

0002 70/82 *000.00.ceD SNCª11aacovnoC— ! arreSésoJ

80/90 *000.00.ceD SNCª11adatadaaretlA—

21/91a21/51ed edúaSedlanoicaNaicnêrefnoCª11

3002 50/50 *000.00.ceD SNCª21aacovnoC— avliSadaluLoicánIsiuL! atsoCotrebmuH

.atadalepadadéaicnêreferajuc,oãçaremunmessoterceD*

)mth.alsigel/rb.vog.odanes.www(laredeFodaneSodsodadedesaB:oãçalsigelaerbosetnoF

Page 14: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 14 ]

epidemiologiaepidemiologiaepidemiologiaepidemiologiaepidemiologia

Carlos Gustavo Trindade

Desde a divulgação, no finalda década de 70, da exis-tência da Síndrome daImunodeficiência Adquirida

(Aids), quaisquer informações emrelação a desconhecidas doençastêm alarmado a sociedade. Para osepidemiologistas, as novas viroses eo desaparecimento e reaparecimentode velhas é algo natural no mundo, porcausa das modificações que ocorremno universo de microorganismos. O queinteressa saber é se os microorganismosestão realmente cada vez mais pode-rosos, devido a alguns fatores comopressões demográficas, mudanças decomportamento, globalização, ques-tões ecológicas e redução de recur-sos e infra-estrutura para controle dasdoenças, ou se simplesmente são osefeitos na sociedade da maneira rá-pida e genérica como chegam as in-formações num mundo globalizado.

A fama imediata das viroses des-conhecidas ignora os caminhos tra-çados pela ciência. Para enfrentaro receio das doenças infecciosasque aparecem como grandes in-cógnitas, vale a fantasia baseada emestranhas denominações logo popu-larizadas pela mídia. Um bom bife sig-nifica, na percepção de muitos, a ima-gem de uma fogosa ‘vaca louca’,tantos foram os comentários sobre o‘Mal da Vaca Louca’, a EncefalopatiaEspongiforme Bovina que ataca o gadoe origina nos seres humanos aSíndrome de Creutzfeldt-Jacob, quedestrói o sistema nervoso. Mesmo aAids chegou a ser tratada como umaespécie de ‘câncer gay’.

As denominações populares ga-nharam, recentemente, tom ‘heróico’com a chamada ‘superpneumonia’, quenada mais é do que a Síndrome Respi-ratória Aguda Severa (Sars, sigla da ex-pressão em inglês). A divulgação, nodia 17 de abril, da descoberta de umagente patogênico, um coronavírusjamais observado em seres humanos eque pode ter origem animal, ajudou asociedade a ter mais noção sobre omal. O chefe do departamento deEndemias da Escola Nacional de SaúdePública (Ensp), Paulo Sabroza, acha na-tural as denominações de viroses base-

País vive a ‘síndrome da virose suspeita’

adas em referências culturais locais en-quanto não definidas por especialistas.“Os dados epidemiológicos são passa-dos com uma rapidez inédita, muitasvezes sem que a ciência tenha encon-trado explicação sobre o ocorrido”, diz.

A grande questão, na opinião deSabroza, é que as análises relativas aviroses não se resumam apenas aos fa-tores que desencadeiam o aumento dedoenças infecciosas, e sim ao risco realque representa o fato de a maioria doscasos serem assintomáticos. É precisoconhecer a história natural do parasi-ta para que o trabalho tenha eficácia.Por isso, o pesquisador observa queexiste falta de segurança num país ondeo serviço de vigilância sanitária baseiaas medidas preventivas contra a Sarsapenas nos isolamentos alfandegários,e alerta sobre a urgência de ser criadauma técnica de detecção imunológicapara saber como é o comportamentodo vírus na população, pois até entãoos históricos têm sido feitos apenas emrelação aos casos mais graves. “Criarapenas barreiras alfandegárias em ca-sos assintomáticos pode produzir re-sultados catastróficos”, alerta.

O maior número de informaçõesveiculadas sobre novas viroses pode serum bom sinal. Segundo o professor deepidemiologia da Ensp Guido Palmeira,isso é uma mostra de que a VigilânciaSanitária está atenta e notifica cadacaso suspeito. Lamenta, no entanto,que a imprensa faça sensacionalismoe difunda pânico em casos suspeitos,como os da Sars, por ignorar que paraser suspeito basta uma pessoa estar

com febre ou ter passado por um lu-gar onde o vírus circula. Palmeira estáentre os que acham natural o apare-cimento de novas e velhas doençaspelo próprio processo de modificaçãoque existe nelas, mas acha que aglobalização aumenta os riscos de di-fusão de viroses nos organismos. “Exis-te maior facilidade de acesso aos mei-os de transportes”, diz.

A adequação das informações àciência tem gerado discussões sobreo papel da imprensa. Marcelo Leite,editor de Ciência do jornal Folha deSão Paulo, acha que a imprensa tempapel mais positivo do que negativona cobertura dos casos de doençascomo a Sars, e lembra que a difusãorápida das informações evitou que osurto se propagasse de forma rápida.Ressalta que o mesmo deveria acon-tecer na Ásia, o que ajudaria a evitara passagem da doença da China paraHong Kong. Ele admite que algumasrevistas semanais fazem sensacionalis-mo e que matérias sobre casos nãoconcretos da Sars geraram pânico.Mas lembra, no entanto, que na Folhaexistem critérios para levar adiante asnotícias: o de trabalhar sempre cominformações significativas da comuni-dade científica e sem ênfase nos ca-sos de suspeita de doença. Quantoaos rótulos populares sobre as doen-ças, Leite diz que não há problema,desde que explicados e que não des-pertem falsas expectativas.

Cada um de um grupo de vírus,que pode causar infecções

em aves, camundongos, suínos,cães e também no homem. Vis-tos no microscópio, tais vírus têma forma de uma coroa (em latim,corona), daí o seu nome.

Doenças infecciosas

Oinfectologista Vicente AmatoNeto, da Universidade de São

Paulo, propôs um quadro sobre ostipos de doenças infecciosas:

Emergentes: Enfermidades novas(Sars, Aids)Reemergentes: Aquelas que ressur-gem, depois de terem desapareci-do (cólera, dengue, febre amarela)Permanentes: Já existem há algumtempo e prosseguem (Doença deChagas, hanseníase, malária)Recrudescentes: Não desapare-ceram, mas não aumentaram (tu-berculose, leptospirose)Transparecentes: Existiam, mas nãoeram identificadas (hepatites B e C)

Page 15: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 15 ]

ppppprrrrrooooojetjetjetjetjeto geno geno geno geno genoooooma huma huma huma huma humanmanmanmanmanooooo

Esperamos quea 12ª CNS re-presente umespaço no qualpossamos ava-liar os 15 anosde SUS, o queconseguimos de avanços, o queprecisamos melhorar e, prin-cipalmente, desatar os nóscríticos para implementaçãodo SUS. Queremos nesse es-paço formular diretrizes eimplementar uma nova polí-tica de saúde no país.

José Sinval Clemente da Sil-va, secretário municipal desaúde de Jacaré dos Ho-mens (AL)

Caco Xavier

Do segredo mais íntimo da vida aoponto mais alto da Terra em ape-nas um mês. Em abril de 1953, oscientistas James Watson e Francis

Crick descobrem o modelo da estruturadupla-hélice da molécula do DNA (abreviaçãoem inglês de Ácido Desoxirribo-Nucléico),principal componente dos cromossomos eresponsável pelas instruções por meio dasquais cada ser vivo vem a ser aquilo que é,inclusive o ser humano. Em maio do mesmoano, os alpinistas Edmond Hilary e TenzingNorgay Sherpa, sem hélice alguma, alcan-çam o cume da montanha mais alta do plane-ta, a 8.850 metros acima do nível do mar.

Os cientistas que descobriram o DNAreceberam o Prêmio Nobel pelo feito, e osalpinistas que fincaram bandeiras no cumegelado do monte Everest também tiveramseu quinhão de glória: um tornou-se Cava-leiro do Império Britânico e o outro heróinacional. As implicações de um feito e deoutro, no entanto, são bem diferentes. En-quanto a conquista do Everest foi um ‘fim’,a descoberta do DNA foi apenas o início.

Cinqüenta anos depois, cientistas anun-ciam a ‘receita do ser humano’, a conclusãodo mais ambicioso e abrangente consórciointernacional de pesquisa jamais realizado: oProjeto Genoma Humano. “Depois de três bi-lhões de anos de evolução, temos diante dosolhos as instruções que levam cada um denós do óvulo à vida adulta e à sepultura”, dizo cientista Robert Waterson, da Universi-dade de Washington. O genoma humano é

Concluído o mapagenético do homem

composto de cerca de três bilhões de basesde DNA, em 23 pares de cromossomos, entre30 mil a 40 mil genes, e todas essas ‘letrasquímicas’ que compõem o código genéticodo homem foram identificadas. Isso significa

que a Ciência já tem a receita e osingredientes da vida humana. O próxi-mo passo é aprender como esses in-

gredientes se misturam.O seqüenciamento do genoma é de

fato uma conquista importantíssima, masjá evidencia a relativização das idéias ini-ciais de que a definição dessa ‘escritura’significaria quase automaticamente a vi-tória contra inúmeras doenças. O fato éque, em genética, nada se parece muitocom uma proposição lógica simples do tipo“se isso, então aquilo”, p" q. Ao contrá-rio, existem às vezes centenas de genesenvolvidos no aparecimento de um tipo pe-culiar de câncer, por exemplo, e as relaçõesentre eles são imensamente complexas. Alémdisso, fatores externos, como o meio ambi-ente e hábitos, podem incidir de maneiradecisiva na proliferação de um tumor.

A HUMILHAÇÃO DO HOMEM E OCAMINHO EVOLUTIVO

Não foi nada agradável, para a auto-imagem da humanidade, saber que o ho-mem compartilha mais de 99% de seu DNAcom os chimpanzés, e que tem apenas 300genes a mais do que um camundongo. Es-tudos como o de Sean Carroll, da Universi-dade de Wisconsin e publicado na revistaNature, sobre as características genéti-cas que diferem o homem do chimpanzé,mostram que as pesquisas têm um longocaminho pela frente, já que apontam parao fato de que a inteligência e a fala, porexemplo, dependem de complexas combi-nações de genes e uma forte interaçãodestes com o meio ambiente.

Em artigo na Folha de São Paulo(07/03/2003), o filósofo Alberto Tassinari lem-bra que, desde a descoberta do DNA, “a hege-monia do pensamento sobre a sociedade

deslocou-se da sociedade entendida comoum mundo da cultura para a sociedade en-tendida como uma das extensões da natu-reza”. Tassinari assegura que essa com-preensão, certamente, não provém de umaevolução biológica do homem nos últimosanos, e sim de uma mudança cultural. “Aprova de que o homem é essencialmente umser cultural está na própria biologia”, dizele, já que “o homem é o único animal queestuda a vida e persegue o conhecimentode sua natureza biológica”.

Para Francis Collins, diretor degenoma nos Institutos Nacionais de Saúdedos EUA, a seqüência do genoma é “umpresente incrível para toda a humanida-de”, e ainda uma “plataforma fundamentalpara a compreensão de nós mesmos”. Se aconquista do Everest, cujos 50 anos cele-bramos ao mesmo tempo que a descobertado DNA, trouxe uma compreensão decisi-va de quão alto o homem pode ir, a publica-ção do código genético, ao contrário, mos-tra que, por mais ‘fundo’ que mergulhemosdentro de nós mesmos, só o que consegui-mos saber é que parece não ter limite oque ainda nos falta saber.

Oprojeto tem três fases:1. Seqüenciamento: Identificar

as letras químicas que compõemcada gene do genoma humano.2. Conjugação: Situar as letras quí-micas em sua ordem corresponden-te. Essa ordem é o código genético.3. Identificação: Ler as informaçõesde cada gene, identificar cada umdos genes e averiguar sua função.

A s informações contidas noDNA estão escritas em se-

qüências de bases químicas, A(adenina), T (timina), C (citosina)e G (guanina). Genes são as partesdo genoma que, ao combinarem-seentre si, codificam proteínas.

Page 16: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 16 ]

ppppprrrrrogrogrogrogrograma sama sama sama sama saaaaaúdúdúdúdúde de de de de da fa fa fa fa famíliaamíliaamíliaamíliaamília

Katia Machado

Com a proposta de apresentartrabalhos e ações que tiveramcomo base a estratégia Saúdeda Família, a Secretaria de

Desenvolvimento Social e da Saúde deSobral junto com a Escola de Formaçãoem Saúde da Família Visconde de Sabóiaorganizaram em março a I MostraSobralense de Saúde da Família. O even-to ocorreu não apenas para mostrar,como também discutir e compartilharidéias que fortaleçam o Sistema Únicode Saúde (SUS). “A mostra é fruto de umgrupo de trabalhadores motivados. É umtrabalho que vem desde 1997, quandoforam implantadas as primeiras equipesdo Programa Saúde da Família (PSF) emSobral”, disse Thomas Martins Júnior, di-retor-presidente da Escola.

A mostra foi dividida em três momen-tos de debates. O primeiro marcado pelaaula inaugural do Curso de Mestrado emEducação em Ciências para Saúde, pro-movido pela Escola Visconde de Sabóiaem parceria com a Escola Nacional deSaúde Pública de Cuba, cujo tema foi‘O processo de trabalho na estratégiaSaúde da Família’. “Esse mestrado fazparte do desafio de construir o Saúdeda Família em Sobral como estratégiaestruturante”, disse Odorico Monteiro deAndrade, secretário de saúde da cidade.Durante a aula, Carlile Lavor, consultorda Escola de Sobral, explicou que o PSFpermite uma relação mais humana e maispróxima com os seus profissionais. “Porisso a necessidade de pensar em uma Lei

Orgânica nova para fortaleceressa iniciativa”, concluiu.

O segundo momentodo evento colocou empauta o tema ‘Promoçãoda Saúde e a EstratégiaSaúde da Família”. ParaMiguel Malo, coordenadorda área de Promoção daSaúde da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas),a saúde deve ser vista comorecursos da vida. Segundoele, alguns aspectos motivamo tema. Entre eles: as evidên-cias epidemiológicas dos

determinantes sócio-econômi-cos de doença, a revalorização

de outras medicinas, a perspec-tiva biomédica que gera serviços e

políticas de saúde que não conseguemenfrentar a complexidade dos proble-mas na área, uma crescente necessida-de de recursos para satisfazer a expan-são de tecnologias, a perspectiva dasaúde positiva, o reconhecimento darelação entre problema de saúde e es-tilo de vida e o desejo de melhorar econtrolar a própria saúde.

Por fim, o encontro foi marcadopela solenidade de lançamento do Cur-so Seqüencial dos Agentes de Saúde,oferecido pela Escola Visconde deSabóia. Com o objetivo de gerar com-petências no Agente Comunitário deSaúde, fortalecendo a experiênciaacumulada e somando novos conheci-mentos, o curso foi iniciado em 2003com 33 agentes comunitários. Nessesentido, ele congrega profissionais demedicina, enfermagem, odontologia,serviço social, psicologia, fisioterapia,nutrição, educação física, informática,terapia ocupacional, farmácia, comu-nicação, pedagogia e ciências sociaispara que possam definir nas suasrespectivas áreas o que os agen-tes poderão aprender e usar no seudia-a-dia. Direcionado aos agentescom segundo grau completo, o cur-so tem duração de dois anos.

EXPERIÊNCIASBEM SUCEDIDAS

Alguns outros trabalhos pude-ram ser conferidos na I MostraSobralense. Entre eles, o projeto‘Trevo Quatro Folhas’, cujo objeti-vo é o de reduzir a mortalidade ma-terno e infantil. Recebe esse nomepois suas atividades compreendem

no acompanhamento e assistência du-rante quatro fases: a gestação, o parto,o nascimento e o primeiro ano de vidada criança. Nesse trabalho, dois atoressão de suma importância: a mãe social ea madrinha social. A primeira surge danecessidade de garantir à gestante apossibilidade de se preocupar mais coma gravidez e com a saúde de seu filho.Nesse sentido, o papel da mãe social écumprido por uma pessoa da comuni-dade que recebe um benefício por diatrabalhado para auxiliar a gestante emsuas tarefas, tanto nos trabalhos domés-ticos quanto no cuidado da família. Asegunda, a madrinha social, é aquela quesustenta a mãe social, acolhendo umacriança como afilhada por meio de umacontribuição mensal. “Esse trabalhocontribuiu para que Sobral reduzisse suataxa de mortalidade infantil que, em1996, era de 43% a cada mil nascidos-vivos para 18,7%, em 2002. O trevo émuito sedutor. Serve para qualquer lu-gar do mundo”, ressaltou Odorico.

A residência em Saúde da Famíliatambém chamou a atenção no even-to. A atividade faz parte do programada Escola Visconde de Sabóia, cujomaior desafio é o de fomentar e de-senvolver processos educacionais queviabilizem a qualificação dos profissio-nais de saúde da família, em parceriacom a Universidade Estadual Vale doAcaraú. Ela está voltada para formar ecapacitar profissionais de saúde paraatuarem na construção de um mode-lo de atenção à saúde centrado napromoção. “A estratégia Saúde da Fa-mília supera todas as outras implanta-das no país, inclusive a experiência desistemas locais de saúde. A residên-cia, portanto, pretende fortalecercada vez mais essa idéia”, finalizou osecretário de saúde de Sobral.

Sobral mostra que saúde começa em casa

Poderíamos utili-zar a 12ª Conferên-cia para repactuarnossos compromis-sos. A 8ª Conferên-cia foi um marco,pois houve grandeconsenso. Temos que buscar no-vamente esse mesmo consenso.

José Carlos Silva, assessor daSecretaria Executiva do Minis-tério da Saúde

Page 17: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 9 ! MAI/2003

[ 17 ]

seguridade socialseguridade socialseguridade socialseguridade socialseguridade social

No início de um governo, uma conferência representaum espaço para que se possa definir os rumos por ondea Saúde estará caminhando nos próximos quatro anosde gestão. É um momento privilegiado de lançar dis-cussões nos municípios e estados por meio das etapasmunicipais e estaduais da conferência e definir, noâmbito nacional, quais são as questões centrais quedevem nortear a construção de uma política efetiva de Saúde, au-mentando a oferta e qualidade dos serviços do SUS.

Otaliba Libâneo, secretário municipal de saúde de Goiânia (GO)

Ana Beatriz de Noronha

Desde que começaram a ser vei-culadas notícias sobre a reformada Previdência, uma idéia é repe-tida constantemente: a de que

se o projeto do governo, enviado para Con-gresso no dia 30 de abril, não for aprovadoaté julho, não haverá solução para o país.Com ajuda dos meios de comunicação e deestatísticas tidas como absolutas, criou-se um clima de ‘tudo ou nada’ e a discussãose polariza, como diz o editorial da Folha deSão Paulo do dia 4 de abril, de forma poucodemocrática, dando a impressão de quequem está contra as reformas propostaspelo governo está contra o Brasil.

Ainda que poucos discordem da ne-cessidade de se reformar a Previdência,para alguns, o estardalhaço da mídia acabaabafando debates sérios sobre questões real-mente importantes. “Temas que deveriam serobrigatórios numa discussão com tamanho im-pacto permanecem na penumbra. Não há, porexemplo, apenas uma única maneira de identi-ficar as causas, de estimar a medida do déficitprevidenciário e de propor soluções para saná-lo”, afirma o mesmo editorial.

— A Previdência é dever do Estado e nãopode ser tratada como uma questão mera-mente financeira, sob a ótica do lucro. É pre-ciso saber o que estamos falando: Como surgiua Previdência? Ela tem cumprido o seu papelsocial? Quais as suas fontes de financiamento?Como são utilizados os recursos arrecadados?Quais os critérios para isenções, renúnciasfiscais, anistias e refinanciamento de débitos?Nenhumas dessas e nem outras tantas ques-tões são tratadas na proposta do governo,que se limita a discutir o Projeto de Lei Com-plementar nº 9/99, que altera a previdênciados servidores públicos — explica a auditorafiscal da Receita Federal Maria Lucia FattorelliCarneiro, no texto “Mentiras e verdades so-bre a ‘Reforma da Previdência’”, disponívelem www.apub.org.br/fattorelli.pdf

Reforma da Previdência:A pressa é inimiga da discussão

DÉFICIT OU SUPERÁVIT,EIS A QUESTÃO

Na atual guerra de informações, quevitima principalmente o cidadãocomum, a primeira dificuldadeestá em se definir se existe ounão déficit da previdência e, seexiste, qual é o seu valor.

Para o governo, o déficit,que em 2002 chegou a R$ 53 bi-

lhões deve, em 2003, atingiro valor de aproximadamenteR$ 65 bilhões e isso justifica

a pressa. Para os críticos do governo, odéficit só existe se esquecermos que aPrevidência Social é parte da SeguridadeSocial, definida na constituição como:“conjunto integrado de ações de inicia-tiva dos poderes públicos e da sociedade,destinadas a assegurar os direitos relati-vos à saúde, à previdência e à assistên-cia social”. Seria como se avaliássemosas contas de uma família, considerandoapenas o salário de um dos cônjuges.

Entretanto, de acordo com MariaLucia Fattorelli, se forem consideradastodas as receitas previstas na Constitui-ção Federal para o financiamento daseguridade, o ‘déficit’ se transforma numsuperávit de cerca de R$ 20 bilhões.

PREVIDÊNCIA X CONTASPÚBLICAS: QUANDO 2+2=5

O governo diz que é impossível equili-brar as contas públicas se a reforma não forfeita e transforma a Previdência na grandevilã da crise econômico-financeira do país.Outros alegam que o que ocorre é justamen-te o contrário e que parte do rombo da Pre-vidência é causado pelo uso do dinheiro ar-recadado para a seguridade no pagamentode juros das dívidas interna e externa. Opior para a sociedade é que, geralmente,todos utilizam balanços de pagamentos, es-tatísticas e muitos números, na maioria dasvezes totalmente incompreensíveis aos

olhos do(e) leitor, para defender e legitimarseus pontos de vista.

“A reforma não é para fazer favor parauns, não é para prejudicar outros. A refor-ma é para conseguirmos fazer com que opaís deixe definitivamente de ser um paísemergente, em vias de desenvolvimento epasse a ser um país desenvolvido, e queconquiste os espaços que já deveria terconquistado no mundo globalizado”, disseo presidente Lula da Silva ao encaminhar aproposta de governo ao Congresso.

— A sociedade brasileira sabe que nãofoi a Previdência que levou o país à situa-ção em que se encontra, mas sim uma lógi-ca econômica que propicia um lucro enor-me aos bancos enquanto faz aumentar amiséria do povo — contesta a deputadafederal Jandira Fegahli (PC do B/RJ)

SERVIDORES PÚBLICOS:CULPADOS OU INOCENTES?

Uma das principais polêmicas causadaspela proposta do governo está em mexer prin-cipalmente na previdência dos servidorespúblicos, acabando com o que uns chamam deprivilégios e outros chamam de direitos. A re-clamação daqueles que se opõem à propostado governo é que a mídia e o governo só falamno quanto recebem os servidores, mas nuncasobre o quanto eles pagam a mais do que ostrabalhadores da iniciativa privada.

Esses foram apenas três pequenosexemplos da miscelânea de informaçõescom que o leitor se depara pela manhãquando abre os jornais e com as quais tam-bém não se depara, porque a grande mídiafaz questão de ocultar.

Se muitas pessoas estão a favor da pro-posta de governo e outras tantas, contra,há também muitas delas que só gostariam deter mais tempo para se informar, discutir edecidir, principalmente por acreditarem nosditos populares de que ‘a pressa é inimiga daperfeição’, ‘o apressado come cru’ e ‘tare-fa apressada é tarefa estragada’.

Page 18: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 18 ]

ssssserererererviçviçviçviçviçososososos

EVENTOS

XXX CO N G R E S S O BR A S I L E I R O D EANÁLISES CLÍNICAS E III CONGRESSOBRASILEIRO DE CITOLOGIA CLÍNICA

Organizado pela Sociedade Brasi-leira de Análises Clínicas (SBAC),

o congresso acontecerá entre osdias 08 e 12 de junho no Centro deConvenções Rio Centro, no Rio deJaneiro/RJ. O evento contará coma participação de especialistas emMicrobiologia Clínica, Hematologia,Imunologia e Bioquímica.Mais informações:Tel.: (21) 2234-4881 / 2234-2053E-mail: [email protected]: www.cbac.org.br

CURSOS NA ENSP

ESPECIAL IZAÇÃO DE INFORMAÇÃO EINFORMÁTICA EM SAÚDE

Ocurso, que se inicia no dia 08 desetembro e termina no dia 10 de

outubro, tem como objetivo ampliara capacidade de utilização das infor-mações em saúde, capacitar os alu-nos a analisar o impacto das novastecnologias de informação e suas al-ternativas, identificar métodos de tra-tamento, modelagem e visualização dedados gráficos e não-gráficos e de-senvolver habilidades que contribuampara ampliar a utilização das infor-

mações. Os interessados deverão seinscrever até o dia 04 de julho naSecretaria Acadêmica da EscolaNacional de Saúde Pública (Ensp).

ESPECIALIZAÇÃO EM COMUNICAÇÃO ESAÚDE

Oobjetivo do curso é oferecersubsídios para o planejamento,

desenvolvimento e avaliação de po-líticas e práticas institucionais decomunicação no campo da SaúdePública, contribuindo para o desen-volvimento e consolidação dessecampo de atuação. As inscrições po-derão ser feitas até o dia 04 de ju-lho. Os interessados deverão procu-rar a Secretaria Acadêmica da Ensp,levando uma carta de intenções,uma carta de apresentação da insti-tuição à qual pertence, curriculumvitae e documentos pessoais. No atoda inscrição, será cobrado uma taxade R$ 20,00.Mais informações:Secretaria Acadêmica da ENSPRua Leopoldo Bulhões, 1480 — Sala 317Manguinhos — Rio de Janeiro / RJCEP: 21041-210Tel.: (21) 2598-2557 / 2598-2558 /0800-230085Fax: (21) 2598-2727E-mail: [email protected]

PRÊMIO

PRÊMIO PARA EXCELÊNCIA EM BIBLIO-GRAFIA DE SAÚDE

AFundação Pan-americana de Saúdee Educação está oferecendo o

Prêmio Fred L. Soper 2003 para tra-balhos publicados no ano de 2002que abordem situações sanitárias,

tendências na área da saúde, do-enças, sistemas de tratamento ebenefícios de serviços. Os interes-sados em participar da seleção de-verão se inscrever até o dia 30 dejunho. O resultado será anunciadoaté o dia 01 de dezembro deste anoe o vencedor receberá um diplomaao mérito e mais US$ 2.500. Os tra-balhos devem ser encaminhadospara a Fundação Pan-americana deSaúde e Educação no endereço:525 23rd Street NWWashington, DC 20037Tel.: 202-974-3416 / Fax: 202-974-3636Mais informações:www.paho.org/Spanish/PAHEF/soper.htmEmail: [email protected]

LANÇAMENTOS

EDITORA FIOCRUZ

A Ciência Particular deLouis Pasteur, de GeraldGeison, traz uma biogra-fia detalhada de Pasteur,reconhecido como heróinacional da França eresponsável por avanços que permi-tiram o desenvolvimento de soros evacinas, a descoberta de fenôme-nos bioquímicos e a demonstraçãoexperimental da teoria dos genescomo causadores de doenças. O li-vro tem como base os últimos escri-tos do pesquisador doados à Biblio-teca Nacional de Paris.

Mais informações: Editora FiocruzAvenida Brasil, 4036 / sala 112Manguinhos — Rio de Janeiro/RJCEP: 21040-361Tel.: (21) 3882-9041Fax: (21) 3882-9006

CAMPANHA

SAÚDE BUCAL NO RIO

ASociedade Brasileira de Estomato-logia realizará, de 26 a 27 de ju-

nho, grande campanha, no municípiodo Rio, de prevenção a problemas desaúde bucal. Estão previstas orienta-ções e exames em 10 postos de aten-dimento. A iniciativa conta com oapoio do Ministério da Saúde, Secre-taria Municipal de Saúde e todas asfaculdades de odontologia do Rio deJaneiro e cidades periféricas.

Hoje em dia, nem município, nem estado, nem Uniãofazem Saúde sozinhos. Essa questão deverá estar re-fletida na 12ª CNS. O SUS já está posto, conhecemosbem o papel das três esferas de governo, as possibili-dades de financiamento, os caminhos de modelo deatenção e os canais que a população usa de controlesocial. Essa conferência, portanto, representará oamadurecimento dessas questões, assim como dos gestores de saú-de, pois se traduz em um debate muito mais operacional e de conso-lidação do SUS.

Beatriz Dobashi, secretária municipal de saúde de Campo Grande (MS)

Page 19: Conasems de cara nova para enfrentar desafios do SUS · Conasems de cara nova para enfrentar desafios do ... fotógrafo trabalhava recusou-se a publicá-la, por ... com o social a

ora

, pílula

s...

ora

, pílula

s...

Fome Zero, por que não?

RADIS 10 ! JUN/2003

[ 19 ]

PÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDOPÓS-TUDO

Fatima Amaral (Fafinha)*

Tenho 47 anos. Graças a Deus e àsolidariedade de muita gente, não

senti a dor da fome na carne, mas seimuito bem o quanto pode machucar.Ainda muito pequena, eu morava emAlfenas, Minas Gerais, e minha mãe la-vava roupas para o proprietário da casaonde morávamos, como forma de pa-gamento do aluguel. As amigas de mi-nha mãe nos mandavam leite gordo egostoso. Na época, papai estava quaseque sempre desempregado e a saúdenão era nada boa. Sofríamos, mas éra-mos muito apegados uns aos outros.Cinco irmãos, e eu era a filha ‘do meio’.Éramos felizes, à nossa maneira.

Eu pedia dinheiro aos nossos co-nhecidos e, com ele, comprava pãotodos os dias. Eu pegava uma cédu-la e partia ao meio e, com muitojeito, enrolava bem as duas metades.

Eu acreditava que de uma cédula fa-zia duas e assim, todos os dias na par-te da manhã, ia até a padaria com ape-nas uma parte da cédula. No balcão,toda metida, pedia o pão. O dono doestabelecimento me entregava o pão eeu entregava a ele a nota partida eenrolada. Eu acreditava que ele nãoia perceber que pagava o pão com umpedaço da cédula e assim foi até o diaem que mudamos de Alfenas. Não fazmuito tempo, fazendo um retrospectodo meu passado, só então percebi queeu apenas pensava que estava enga-nando o comerciante. Mas não, eraele que me enganava. Na minha ino-cência, eu pensava que ele não iriadesenrolar a cédula partida com a qualeu pagava o pão. Acontece que, nodia seguinte, eu voltava com a outraparte, para comprar outro pão. É ób-vio que ele passou muito tempo ‘jun-tando’ as duas metades das notas comque eu pagava o pão todos os dias. Obondoso comerciante permitiu que,durante um bom tempo, eu levassedois pães pelo preço de um.

Mudamos para o campo, duzen-tos quilômetros distante de Alfenas.Fomos morar em uma fazenda muito emuito pobre, mas, apesar da pobreza,algo me encantava nas noites com lu-zes de lamparina em que, fora da casa,eu corria atrás de vaga-lumes. Eu no-tava o fascinante brilho das estrelas

no céu e ouvia o galo cantar. Pareceque eu percebia quando todos os se-res despertavam. Mais tarde, muda-mos novamente, para onde estamosaté hoje, em São Sebastião do Paraí-so. A cidade nos adotou. Hoje, nestaminha cidade adotiva, existe almoçoem benefício dos menos favorecidos,mas mesmo assim ainda tem muita gen-te com fome. Eu tive e tenho ótimosexemplos na vida. Aprendi a recebere também a doar, e me sinto muitoamada, feliz porque tento sempretransformar os obstáculos em experi-ências produtivas. Nossa felicidadeestá em nossa capacidade de ser!Quero me convencer de que a fomevai acabar e que o Brasil ainda vai sermuito feliz! Acredito que o primeiropronunciamento do presidente LuizInácio Lula da Silva vai se concretizar!Que possamos acreditar e ter espe-rança. O Brasil vai melhorar.

* Fafinha é leitora do Radis