Upload
lykiet
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
Material produzido e distribuído por:
Conceitos antes aplicáveis apenas na indústria, comércio e serviços, agora precisam ser adotados nas fazendas.
O Brasil se tornou um grande exportador de carne bovina. O mundo conheceu o chamado boi verde, mais saudável e comercialmente insuperável pelo sistema de produção predominante. Mas os novos consumidores são exigentes. Obrigaram a indústria frigorífica a investir em qualidade, certificar seus processos e estes requisitos também terão que adentrar pelas porteiras.
Tal obrigação demandou investimentos fundamentais para a escalada exponencial das exportações. O princípio regulador do mercado, oferta e demanda, garantiu a viabilidade econômica desses gastos para toda a cadeia de produção. Com o aumento da procura, os preços se elevaram, proporcionando melhor resultado econômico. Foi esse o primeiro benefício da qualidade total para a pecuária.
Um fato interessante e que precisa ser ressaltado é que o consumidor de carne bovina se tornou muito mais exigente, se o produto não tiver as características desejadas, o produtor perde mercado para a concorrência.
Atualmente as qualidades procuradas já não se limitam àquelas intrínsecas à carne, como maciez, suculência, coloração, etc. O consumidor também está preocupado com o ambiente - tanto do ponto de vista ecológico quanto social - e quer saber como o sistema de produção se relaciona com o meio.
A pecuária de corte brasileira é essencialmente baseada em pastagens. Um percentual não muito grande dos animais abatidos provém de confinamentos. E mesmo assim, permanecem muito pouco tempo confinados, ganhando apenas algumas arrobas nessa etapa.
2
Material produzido e distribuído por:
É nas pastagens, portanto, que se produz carne bovina no Brasil. E é no campo que se dão as interações entre o solo, o pasto, os animais, o homem e o ambiente. Tais interações tornam o sistema técnico e operacionalmente complexo.
As interações entre os elementos integrantes geram o resultado final do sistema. Uma interação positiva entre solo, ambiente e pasto, por exemplo, tem como consequência o aumento da produção de forragem. No ambiente de qualidade total essa interação já está prevista pelo homem, outro integrante do sistema, pois só assim haverá a efetiva colheita da produção pelo integrante que faltava, o animal.
O homem interage com os aspectos biológicos e ecológicos, e incorpora o resultado obtido nas interações econômicas, para garantir o sucesso de seu empreendimento. Num ambiente de qualidade total, a máquina principal é o homem. Implantar o ambiente de qualidade total no manejo de pastagens significa investir no ambiente humano.
O primeiro ser humano do processo é o executivo principal da organização, o líder. Ele é o responsável pela boa comunicação, pela disciplina e pela sinergia.
A boa comunicação faz com que as informações corretas estejam no local necessário no momento certo. A qualidade total explora intensivamente a informação.
3
Material produzido e distribuído por:
A disciplina permite estabelecer e cumprir as instruções e procedimentos. É de grande ajuda na avaliação dos processos e na promoção de ações corretivas e preventivas.
A sinergia resulta do espírito de equipe e faz com que a soma dos esforços movimente a organização na direção de seus objetivos.
A necessidade de um sistema de qualidade total no manejo de pastagens decorre da constatação de que manejar é fundamentalmente administrar. No ambiente proposto, o administrador das interações é o homem, ou o líder, de modo mais específico. Suas decisões e atitudes interferem em todas as interações, até mesmo naquelas entre ele próprio e outras pessoas, sejam os empregados ou a sociedade como um todo.
4
Material produzido e distribuído por:
Assumindo que manejar pastagens é administrar, concentra-se o foco das ações nos itens a gerir para que o processo ocorra. Em geral uma boa gerência produz efeitos favoráveis em termos de desempenho, durabilidade, confiabilidade, conformidade, padronização e capacidade de receber assistência técnica. Transpondo os efeitos para o ambiente de pastagem, pode-se entender melhor a necessidade da qualidade total em seu manejo.
No desempenho, por exemplo, dados científicos afirmam que se pode reduzir a idade de abate para algo em torno de 30 meses, com animais criados unicamente em pastagens, sem maiores exigências em termos de intensificação. Como a idade média de abate no Brasil é de aproximadamente 36 meses, a redução proporciona um ganho considerável com custos baixos, o que se traduz em melhor resultado econômico.
A durabilidade pode ser entendida por perenidade das pastagens. No ambiente de qualidade total existem critérios para impedir a degradação do pasto.
A confiabilidade é o que permite ao pecuarista apoiar- se em números e fatos para argumentar com os compradores. Em outras palavras, confiabilidade é a rastreabilidade do processo. É a defesa do produtor contra devaneios políticos, sanitários e comerciais.
A conformidade decorre do detalhamento dos processos. Isso permite, por exemplo, antecipar questões como a permissão ou proibição do uso de determinado aditivo alimentar nos suplementos, bem como questões relativas aos aspectos sociais e ambientais.
A padronização também é resultado da implantação da qualidade total. Ao trabalhar com previsibilidade, monitoramento, análise e gestão do sistema, o pecuarista passa a conhecer as relações entre
5
Material produzido e distribuído por:
causa e efeito dos processos e assim estabelecem padrões que geram a uniformidade de produtos.
A capacidade de receber assistência técnica é extremamente ampliada com a qualidade total. Muitos produtores, atualmente, limitam sua gestão à adoção de determinada técnica ou insumo. Visam, com isso, resolver um problema pontual, que julgam ser o gargalo do sistema de produção, por falta de um planejamento de visão abrangente. Mas o enfoque pontual e a carência de análise e interpretação das informações resultam, muitas vezes, em decisões equivocadas. Nesse caso, mesmo técnicas e tecnologias corretas podem levar a insucessos e prejuízos nas fazendas.
O ciclo PDCA no manejo de pastagens
PDCA é a sigla para: Plan - Do - Check - Act, que significam, respectivamente, planejar, executar, avaliar e agir. O ciclo PDCA é uma valiosa ferramenta da gestão da qualidade e pode ser aplicado em qualquer atividade na organização.
Em qualquer processo de qualidade total o primeiro passo é a conceituação de quem é o fornecedor e quem é o cliente. No caso da pastagem, o pecuarista é o fornecedor e seu primeiro cliente, o cliente interno, é o boi.
6
Material produzido e distribuído por:
A gestão da qualidade se desdobra em três tipos de ação: planejamento, controle e aprimoramento da qualidade. No planejamento identificam-se os clientes e suas necessidades. A partir daí desenvolvem-se projetos e processos capazes de atender a estas. O controle da qualidade tem o objetivo de manter o processo operando de acordo com o que se planejou, para que atinja as metas estabelecidas. No aprimoramento, busca-se melhorar os processos, agindo de forma preventiva, e não somente corretiva. Ao promover um giro no ciclo PDCA obtém-se o aprimoramento contínuo das tarefas e a elevação do nível de qualidade do que se faz ou se produz.
A formatação do "P”
Trata-se do primeiro passo para a elaboração do ciclo PDCA. A letra P corresponde ao planejamento estratégico da qualidade. Suas propostas, esboçadas em documentos, têm um horizonte de 2 a 10 anos. Há vários itens a considerar, sendo o primeiro o inventário de recursos, que inclui:
• Ambiente físico - levantamento do clima (chuva, temperatura, luz), do solo (textura, relevo e fertilidade), recursos hídricos e a distribuição destes;
• Recursos vegetais - levantamento das espécies forrageiras, das culturas de grãos e das espécies arbóreas;
• Recursos animais - levantamentos dos números de raças, categorias, pesos e estádios fisiológicos;
• Infra-estrutura - levantamento das áreas de pastagens e áreas de culturas, além de cercas, bebedouros e instalações.
7
Material produzido e distribuído por:
Detalham-se as áreas de pastagens como unidades individualizadas.
O segundo item é o projeto e avaliação do sistema em termos físicos. Consiste em:
• Solo - o projeto explica os procedimentos relativos à conservação (curvas de nível, terraços, contenção de erosão, etc.) e fertilidade química;
• Volumosos - explica os procedimentos relativos às forrageiras existentes (recuperação e renovação) e às destinadas a corte ou fenação, bem como às áreas que serão destinadas à integração lavoura- pecuária, incluindo o formato do contrato em caso de arrendamento;
• Animais - o projeto explica os procedimentos relativos ao processo de produção das categorias animais, abordando metas como kg/cabeça/ano, índices de natalidade e desmame, idade de abate, épocas de estações de monta, parições e políticas de comercialização.
O terceiro item do planejamento estratégico da qualidade é a previsão de produtividade e equilíbrio de produção e demanda de pastagens. Divide-se em:
• Volumosos - trata-se da previsão da produtividade das áreas de integração lavoura-pecuária, das forrageiras de corte para ensilagem ou servidas a fresco (ex.: cana), bem como das leguminosas e gramíneas;
• Demanda animal - é estimada conforme a categoria e os lotes, o ganho de peso, a época do ano e a eficiência de pastejo.
8
Material produzido e distribuído por:
A análise financeira e econômica é o quarto item. Consiste em levantar informações com objetivo de esboçar cenários financeiros e econômicos relativos aos sistemas de produção. Isso permite aceitar, rejeitar ou remodelar o que virá pela frente. Em vez de chorar sobre o leite derramado, evita-se o derramamento do leite. Algumas das informações que podem ser levantadas e analisadas são a margem bruta, a receita líquida, o fluxo de caixa projetado e a taxa interna de retorno.
O quinto item é a avaliação do impacto ambiental. Trata-se de prever os procedimentos relativos aos efeitos da atividade sobre o ambiente, como compactação e erosão do solo, preservação de reservas florestais, nascentes e áreas de preservação permanente e biodiversidade.
A formatação do "D”
Trata-se do planejamento tático da qualidade, esboçado em documentos e fluxogramas, com um horizonte de alguns meses a 2 anos. "Do" corresponde à ação, e se divide em três itens, o primeiro dos quais é o estabelecimento de critérios e cronogramas de manutenção e controle de fatores desfavoráveis à produção. Refere-se ao solo, às pastagens, aos animais e à infra-estrutura:
• Solo - estabelecem-se critérios técnicos preventivos com respeito à fertilidade e à contenção de erosões, bem como os cronogramas de erosões, bem como os cronogramas;
• Pastagem - trata-se de definir os critérios técnicos que permitem evitar a degradação e as pragas, e elaborar os cronogramas ideais para que as ações sejam bem-sucedidas;
9
Material produzido e distribuído por:
• Animal - definem-se os critérios técnicos preventivos que se referem a doenças, ecto e endoparasitos, e os cronogramas ideais para que as vacinações e aplicações de medicamentos produzam o efeito desejado;
• Infra-estrutura - trata-se de dimensionar e estabelecer a necessidade de manutenção das estradas, cercas e instalações (curral, troncos, etc.), bem como os cronogramas de manutenção ideais.
O segundo item do planejamento tático é a análise da demanda de forragem e suplementos. Consiste em três elementos de estudo: pastagem, animal, e a relação entre a pastagem e o animal.
Pastagem:
• Alocação para área de pastejo - Aqui se entende a importância de considerar cada área de pastagem como uma unidade independente, pois é preciso conhecer as dimensões da área, a capacidade de suporte e a qualidade dos bebedouros naturais e artificiais, além da localização destes no ambiente pastoril. Com tais informações pode-se prever como se dará a ocupação das áreas de pastagem pelas categorias ou lotes, num horizonte geralmente limitado ao ano agrícola.
• Formatação dos métodos de pastejo - Mais uma vez, graças à individualização das áreas de pastagem, pode-se prever como cada uma destas será utilizada, se em pastejo rotacionado ou em pastejo contínuo.
• Diferimento (vedação de pastagens) - O uso dessa tecnologia exige as previsões anteriores, pois não se pode alocar áreas
10
Material produzido e distribuído por:
para diferimento sem planejar sua necessidade para todos os períodos. Quando o diferimento for possível, faz-se a previsão das épocas ideais de vedação, segundo as exigências em termos de quantidade e qualidade de forragem da categoria ou lote que irá ocupar o pasto.
• Alocação de áreas para capineiras, conservação e agricultura - Tendo em mãos o plano de utilização de áreas de pastagens pode-se prever a necessidade de suplementação volumosa (capineiras e silagens) para equilibrar o balanço entre demanda e produção de forragem. Também se pode reconhecer as áreas que ficarão subutilizadas, as quais podem ser arrendadas ou destinadas a atividades agrícolas.
Relação pastagem-animal:
• Ajuste da taxa de lotação - Como se disse em "previsão de produtividade e equilíbrio de produção e demanda de pastagens", juntamente com a alocação das categorias e lotes, faz-se a previsão e o monitoramento do planejado. O processo é conhecido cientificamente como "mensuração de massa de forragem". Define-se como a massa total de forragem acima de uma altura específica por unidade de área do solo. Usa-se o método do quadrado, comumente aplicado em várias fazendas. O planejamento da mensuração define em que épocas e áreas a atividade será executada, de acordo com as condições encontradas.
• Ajuste do consumo e das formas de suplementação.
• O plano de ocupação pelas categorias ou lotes permite prever o consumo de suplementos minerais e a necessidade
11
Material produzido e distribuído por:
de utilizar suplementos protéicos e energéticos conforme a época e o sistema de produção.
Animal:
• Épocas de compra e venda de animais - A entrada e a saída de animais na propriedade têm de atender prioritariamente ao balanço entre a produção e a demanda de pasto. As circunstâncias de mercado vêm em segundo lugar.
• Épocas de parição e desmame - As ocasiões desses fatos têm de ser previstas, para que se reservem as áreas de pastagens ideais.
O terceiro item do planejamento tático é a análise financeira. Tendo em mãos os dois itens anteriores, pode-se levantar dados financeiros, como contas a receber, fluxo de caixa projetado, controle de custos e estoques.
A formatação do "C"
A letra C (de check - avaliar) corresponde ao planejamento operacional da qualidade. Suas propostas, esboçadas em documentos, fluxogramas e registros, têm um horizonte de dias ou meses. Define-se, nesta etapa, em que momento se dará o ponto de convergência, ao qual toda a equipe afluirá. Trata-se da fase em que a necessidade de definir atribuições e responsabilidades tem a máxima importância. O treinamento constante é o único caminho viável.
Uma sugestão prática para a atribuição de tarefas no processo operacional a realizar é responder a seis perguntas:
• O quê? - descrição do processo; • Quem? - atribuição de responsabilidades;
12
Material produzido e distribuído por:
• Quando? - momento da ação; • Onde? - local ou ponto de interferência no processo; • Por quê? - justificativa do processo; • Como? - treinamento dos responsáveis.
Manejo das pastagens e do rebanho:
• Solo - detalhamento do processo e das formas de registro da atividade de adubação, bem como escolha dos implementos a utilizar;
• Pastagem - detalhamento do processo, formas de registro e definição de critérios de entrada e saída de animais no pasto (por exemplo, pela altura do capim), utilização de pastos recém-formados, lotações efetivas e tratos culturais (como controle de invasoras) de cada piquete;
• Animal - detalhamento do processo, formas de registro e definição de critérios de pesagens, remanejamento de lotes, descarte de animais, suplementação e arraçoamento.
Plano de atividades:
• Mão-de-obra - análise e atribuição de responsabilidades, formação de grupos de trabalho, controle de horas e cobertura de faltas;
• Infra-estrutura - planejamento e operacionalização de uso de estradas, instalações e máquinas;
13
Material produzido e distribuído por:
• Finanças - planejamento de pagamentos, saques, empréstimos, cobranças e retiradas.
A formatação do "A”
A letra A do ciclo PDCA consiste na análise dos registros e documentos para a ação corretiva dos planejamentos propostos. É a etapa em que todos os planejamentos se tornam flexíveis, podendo ser ajustados de acordo com sua efetividade técnica, operacional, social e financeira. Os saltos nos níveis de qualidade se tornam claros nesta etapa, com os números traduzindo os fatos. É também neste momento do ciclo que se exprime a capacidade de receber assistência técnica.
14
Material produzido e distribuído por:
Com as mudanças que se impõem sobre a pecuária brasileira, é cada vez mais necessário tornar os processos previsíveis, bem como monitorá-los, analisá-los e administrá-los nos sistemas de produção em pastagens. Felizmente, isso pode ser realizado.
O potencial de qualificação da mão-de-obra das empresas pecuárias não constitui impedimento. Ao contrário, é mais um forte motivo para implantação da gestão de qualidade total. O sistema aqui descrito promove o espírito de equipe. Na maior parte das empresas pecuárias do Brasil, os empregados residem nas fazendas. Por isso a qualidade é ainda mais importante do que nos segmentos em que isso não ocorre. A qualidade tem como foco o homem comprometido e eficiente. No caso da pecuária, reduz a rotatividade de mão-de-obra, permitindo seu constante aperfeiçoamento, e pode até contribuir para a redução do êxodo rural.
Clique aqui para saber mais sobre gestão de pastagens!
Autores:
Josmar Almeida Junior - Msc. em Zootecnia - Proprietário da Empresa Tecnopasto
Fábio Cortez Leite de Oliveira - Msc. em Zootecnia – Consultor