Upload
fran-moro
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
1/176
CONCEPÇÃO E LINGUAGEM PROJETUAL
DE HABITAÇÕES AUTOCONSTRUÍDAS EM FLORIANÓPOLIS/SC -UM ESTUDO NA BARRA DO SAMBAQUI
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTR0 TECNOLÓGICO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
Mestranda: Adriana Sales Cordeiro
Orientador: Prof. Dr. Wilson Jesus da Cunha Silveira
Linha de Pesquisa: Planejamento e Projeto de Arquitetura
Florianópolis, junho de 2005
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
2/176
UNIVERSIDADEFEDERALDESANTACATARINA
CENTROTECNOLÓGICO
PROGRAMADEPÓS-GRADUAÇÃOEMARQUITETURAEURBANISMO
PROJETOETECNOLOGIADOAMBIENTECONSTRUÍDO
Euver
ADRIANASALESCORDEIRO
CONCEPÇÃO E LINGUAGEM PROJETUAL
DE HABITAÇÕES AUTOCONSTRUÍDAS EM FLORIANÓPOLIS/SC –
UMESTUDONABARRADOSAMBAQUI
Orientador:Prof.Dr.WilsonJesusdaCunhaSilveira
LinhadePesquisa:PlanejamentoeProjetodeArquitetura
DissertaçãosubmetidaaoProgramadePós-Graduação emArquiteturaeUrbanismo daUniversidade Federal de Santa Catarinacomo requisito para obtenção do grau deMestreemArquiteturaeurbanismo.
Florianópolis,Junhode2005
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
3/176
ADRIANASALESCORDEIRO
CONCEPÇÃO E LINGUAGEM PROJETUAL DE HABITAÇÕES AUTOCONSTRUÍDAS
EM FLORIANÓPOLIS/SC – UMESTUDONABARRADOSAMBAQUI
EstadissertaçãofoijulgadaeaprovadaemsuaformafinalpeloProgramadePós-GraduaçãoemArquiteturaeUrbanismoparaobtençãodotítulode
MESTREEMARQUITETURAEURBANISMO
Florianópolis,Junhode2005
_______________________________________
Prof.Drª.SôniaAfonsoCOORDENADORADOPROGRAMA
________________________________________
Prof.Dr.WilsonJesusdaC.SilveiraUFSC,DEPTO.DEARQUITETURAEURBANISMO-
ORIENTADOR
BANCAEXAMINADORA:
_______________________________
Prof.Drª.CarolinaPalermoSzücs
UFSC,DEPTO.DEARQUITETURAEURBANISMO-PÓSARQ
_______________________________
Prof.Dr.HugoCamiloLuciniUFSC-PÓSARQ
_______________________________
Prof.Drª.AliciaNormaG.deCastells
UFSC,DEPTO.DEANTROPOLOGIASOCIAL
_______________________________
Prof.Msc.MarinaEsterF.deSouzaUFSC,DEPTO.DEARQUITETURAEURBANISMO
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
4/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
AGRADECIMENTOS
Aosmeuspaispeloamor,carinho,apoioeconfiança,indispensáveisemtodososmomentosemque
estiveramfisicamenteausentes;
AtodososmoradoresdaRuaIzabelJoãoJacintoquesedispuseramacolaborarcomestetrabalho,
atravésda boa vontadede abrirasportasde suascasas, deixando transparecer aestranhos seu
mododevida,hábitosecostumes;Semsuacooperaçãoesteestudonãoseriapossível;
AoProf.Dr.Wilson Silveiranão sópelaorientação, como também pelaamizade incondicionalao
longo dos dois anos de trabalho conjunto, e aos demais membros da banca examinadora pelas
críticasesugestões;
AoGrupodeEstudosdaHabitação–GHab,porterproporcionadoaestruturafísica,osequipamentos
eexcelenteambientedetrabalhopararealizaçãodapesquisa.AgradeçoespecialmenteàProfª.Drª.
CarolinaPalermoSzücspelaco-orientação(mesmoqueinformal)eprincipalmentepeloaprendizado
quemeproporcionouduranteoEstágiodeDocência,oqualcontribuiusignificativamenteparaminha
formaçãoprofissional;
ÀsecretáriadoPósARQ,IvoneteCoutinhoSeifert,pelaatenção,prestezaeamizadeaolongodetodo
ocurso;
ÀCoordenaçãodeAperfeiçoamentodePessoaldeNívelSuperior–CAPESeàFundaçãodeAmparo
àPesquisadoEstadodeAlagoas–FAPEAL,peloapoiofinanceiro;
ÀsamigasqueforamminhafamíliaemFlorianópolis:LucianaCarvalho,ElisabethDuarteeClaudia
Madalossopelocarinhoecompanheirismodesdeoingressonomestrado,em2003;MarianaMeloe
JulianaOliveirapelaimensaamizadequesefortaleceunoúltimoanoepelaajudanapesquisadecampo,alémdasleituras,comentários,críticasediscussõessobreaestruturadadissertaçãonafase
final;
Aosamigosque,dealgumaforma,meajudaramaolongodesseperíodo:JusaraPetinnepeloapoio
comomaterialsobreoestudodecaso;ThaískrambeckeJosiclerOrbemAlbertonpelacompanhia
diárianoGHab;LucianaDecker,CarlaCastelloeThaísProvenzannopelavaliosaajudadurantea
pesquisadecampo;AndersonGonçalvespelotratamentodigitaldasimagensdotrabalho.
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
5/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
RESUMO
O presente trabalho busca analisar a relação entre forma de concepção, dimensionamento e
articulação dos ambientes domésticos, bem como o desempenho funcional de habitações
autoconstruídas.OestudotemcomofocoumacomunidadeinstaladanobairroBarradoSambaqui,
nomunicípiodeFlorianópolis,EstadodeSantaCatarina.
Apesquisaaborda,pormeiodométododoEstudodeCaso,aquestãocomportamentalnotocanteà
concepçãoelinguagemprojetualutilizadapelosautoconstrutoresquecompõemogrupopesquisado.
AtravésdautilizaçãodométododeIndicadordeFuncionalidadedaHabitação,buscou-severificaro
graudefuncionamentodessasconstruções.Oestudocomparativoentreashabitaçõesocupadasporseusconstrutoresoriginaisehabitaçõesocupadaspormoradoressecundários,possibilitouidentificar
as relações de apropriação espacial e as diferentes formas de uso e funcionamento dessas
edificações,relacionandoousorealcomousopretendidoemprojeto.
Combasenumaamplarevisãodeliteraturaacercadasdiversasquestõesquepermeiamaanálisedo
universo habitacional, foi realizada a pesquisa de campo exploratória. Os dados obtidos foram
analisados sob três enfoques distintos, a fim de traçar o perfil comportamental dos moradores,
identificaropadrãodimensionaleaqualidadedefuncionamentodashabitaçõesestudadas.
Pode-seconcluirqueo estudodoespaçoautoconstruído constitui-senumcampode investigação
científica bastante rico e pouco explorado pelos arquitetos que trabalham com a produção
habitacional formal. O conhecimento acerca da vivência desses espaços possibilita melhor
compreensãodomododevidadaquelesquehabitamdomicíliospopulares,fornecendoinformações
comportamentais que permitem traçar um perfil real dos usuários, o que pode vir a favorecer a
elaboraçãodeprojetosmaiscondizentescomarealidadedeusoefuncionamentodashabitações
pelascamadaspopulacionaisdebaixarenda.
Palavras Chave: Linguagemprojetual dehabitaçõesautoconstruídas,Funcionalidadeda habitação,Métodosdepesquisaqualitativos.
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
6/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
ABSTRACT
This work aims to analyze the relation among conception form, sizing and joint of domestic
environments,aswellasthefunctionalperformanceofselfconstructedhousings.Thestudyhasas
focusacommunityinstalledinthequarteroftheBarradoSambaqui,inthecityofFlorianópolis,State
ofSantaCatarina,Brazil.
Theresearchapproaches,bymeansof themethodof theStudyofCase,themanneringquestionin
movingtotheconceptionandthedesignlanguageusedbytheselfconstructorsthatcomposethe
searched group. Through the use of the method ofPointer of Functionalityof the Habitation,one
searchedtoverifythedegreeoffunctioningoftheseconstructions.Thecomparativestudyentersthebusyhabitations for its originalconstructors andbusyhabitations for secondary inhabitants,made
possible to identify to the relations of space appropriation and the different forms of use and
functioningoftheseconstructions,relatingtherealusewiththeuseintendedinproject.
The research of field was carried through, based in an ample literature review concerning the
questionsrelatedtotheanalysisofthedomesticuniverse.Thegottendatahadbeenanalyzedunder
threedistinctapproaches,inordertotracethemanneringprofileof theinhabitants,to identifytothe
dimensionalstandardandthequalityoffunctioningofthestudiedhabitations.
Itcouldbeconcludedthatthestudyoftheselfconstructedspaceconsistsinasufficientlyrichfieldof
scientificinquiryandlittleexploredbythearchitectswhoworkswiththeformaldwellingproduction.
Theknowledgeconcerningtheexperienceofthesespacesmakespossibleabetterunderstandingin
thelifewayofthattheyinhabitpopulardomiciles,supplyingmanneringinformationthatallowtotrace
a real profile of the users, that brings a elaboration of adequate projects with the real use and
functioningofthehabitationsforthepopulationlayersoflowincome.
Key Words:Designlanguageofselfconstructedhabitations,Functionalityofthehabitation,Qualitative
methodsofresearch.
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
7/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 2.1 EtapasdeimplementaçãometodológicadeumaPP........................ 26
Ilustração 2.2 EsquemadaAPO................................................................ 28
Ilustração 2.3Características e modo de avaliação dos quesitos de quantidade equalidade........................................................................... 30
Ilustração 2.4Relação dos quesitos de quantidade e qualidade para cadacompartimentodahabitaçãodeinteressesocial................................ 32
Ilustração 2.5 Gráficodoindicadordefuncionalidadedocompartimento.................... 34
Ilustração 2.6 Gráficodoindicadordefuncionalidadedoquartodecasal................... 36
Ilustração 2.7 GráficodefuncionalidadedahabitaçãocomIFH105.......................... 37Ilustração 2.8 Fluxogramametodólogicodedesenvolvimentodapesquisa................. 41
Ilustração 3.1ExemplaresdehabitaçõesdonordesteedosuldoBrasil,evidenciandoadisposiçãodacozinhadeacordocomasdiferençasculturaisdecadaumadasregiões.......................................................................... 45
Ilustração 3.2Quadro geral do referencial teórico e sua relação com asetapas depesquisa.................................................................................... 62
Ilustração 4.1Localizaçãoda região sul no contexto do Brasil, com destaque paraFlorianópolis............................................................................... 64
Ilustração 4.2 RegiãoMetropolitanadaCidadedeFlorianópolis............................... 67
Ilustração 4.3Ocupaçãodemorros:desmatamentodacoberturavegetalemáreasdepreservação............................................................................... 68
Ilustração 4.4 QuadrodosprojetoshabitacionaisexecutadospelaPMFnoperíodode1989–2002................................................................................ 73
Ilustração 4.5 VistageraldaimplantaçãodoconjuntoVilaCachoeira........................ 74
Ilustração 4.6 Tipologia habitacional daVila União – casa térrea geminada duas aduas......................................................................................... 74
Ilustração 4.7 Casasgeminadasemfita–VilaCachoeira........................................ 74
Ilustração 4.8 VistageraldaimplantaçãodocondomínioVilares.............................. 74
Ilustração 4.9 Casasgeminadasduasaduas-condomínioVilares........................... 74
Ilustração 5.1 LocalizaçãodoBairronocontextodaCidadedeFlorianópolis.............. 77
Ilustração 5.2 DistritodeSantoAntôniodeLisboa,comdestaqueparaalocalizaçãodaRIJJ...................................................................................... 78
Ilustração 5.3LocalizaçãoeacessosdaRuaIzabelJ.JacintonocontextodaBarradoSambaqui.................................................................................. 80
Ilustração 5.4Campodefutebol:limiteentrearuaIzabelJ.JacintoeomanguezaldeRatones..................................................................................... 80
Ilustração 5.5 VisãogeraldaruaIzabelJ.Jacinto................................................. 80
Ilustração 5.6Visão da rua Izabel J. Jacinto no sentido:manguezal/rua FlordovinaVentura..................................................................................... 80
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
8/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
Ilustração 5.7 Exemplosdetipologiashabitacionaisdaáreadeestudo..................... 80
Ilustração 5.8 Visãodoloteamentonosentido:ruaFlordovinaVentura/manguezal...... 80
Ilustração 5.9 VisãodoloteamentoapartirdaruaFlordovinaVentura....................... 80
Ilustração 5.10 Ortofoto da área de estudo no início de sua ocupação, em1994......................................................................................... 81
Ilustração 5.11Ortofotodaáreadeestudoindicandoaevoluçãodesuaocupação,em2000......................................................................................... 82
Ilustração 5.12 PraiadoSambaqui...................................................................... 83
Ilustração 5.13RelaçãocronológicadeacontecimentoshistóricosdoDistritodeSantoAntônio...................................................................................... 84
Ilustração 5.14 RioVeríssimo,localizadonomanguezaldeRatones.......................... 86
Ilustração 5.15 Canal que recebe os efluentes domésticos do loteamento
RIJJ.......................................................................................... 86
Ilustração 5.16 ConfiguraçãourbanadaRIJJ:ausênciademeio-fioecalçadas............ 87
Ilustração 5.17 Localizaçãodasunidadesanalisadasnocontextodoloteamento.......... 93
Ilustração 6.1 Localizaçãodamoradia“Cláudia”nocontextodoloteamento............... 100
Ilustração 6.2 Plantadelocação-moradia"Cláudia"............................................. 101
Ilustração 6.3 Fachadamoradia“Cláudia”........................................................... 101
Ilustração 6.4 Plantadezoneamentodeusos–moradia“Cláudia”............................ 102
Ilustração 6.5 Localizaçãodamoradia“Joãozinho”nocontextodoloteamento........... 104
Ilustração 6.6 Plantadelocação–moradia“Joãozinho”.......................................... 105
Ilustração 6.7 Fachadamoradia“Joãozinho”........................................................ 105
Ilustração 6.8 Plantadezoneamentodeusos–moradia“Joãozinho”........................ 106
Ilustração 6.9 Localizaçãodamoradia“Margarete”nocontextodoloteamento........... 107
Ilustração 6.10 Plantadelocação–moradia“Margarete”.......................................... 108
Ilustração 6.11 Fachadamoradia“Margarete”........................................................ 108
Ilustração 6.12 Plantadezoneamentodeusos–moradia“Margarete”......................... 109
Ilustração 6.13 Localizaçãodamoradia“Giovana”nocontextodoloteamento.............. 111Ilustração 6.14 Plantadelocação–moradia“Giovana”............................................. 112
Ilustração 6.15 Fachadamoradia“Giovana”.......................................................... 112
Ilustração 6.16 Plantadezoneamentodeusos–moradia“Giovana”........................... 112
Ilustração 6.17 Localizaçãodamoradia“AnaCláudia”nocontextodoloteamento......... 115
Ilustração 6.18 Plantadelocação–moradia“AnaCláudia”....................................... 116
Ilustração 6.19 Fachadamoradia“AnaCláudia”..................................................... 116
Ilustração 6.20 Plantadezoneamentodeusos–moradia“AnaCláudia”...................... 117
Ilustração 6.21 Localizaçãodamoradia“Salete”nocontextodoloteamento................ 119
Ilustração 6.22 Plantadelocação–moradia“Salete”............................................... 120
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
9/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
Ilustração 6.23 Fachadamoradia“Salete”............................................................. 120
Ilustração 6.24 Plantadezoneamentodeusos–moradia“Salete”.............................. 121
Ilustração 6.25 Localizaçãodamoradia“Carmem”nocontextodoloteamento............. 122
Ilustração 6.26 Plantadelocação–moradia“Carmem”............................................ 123
Ilustração 6.27 Fachadamoradia“Carmem”.......................................................... 123
Ilustração 6.28 Plantadezoneamentodeusos–moradia“Carmem”........................... 124
Ilustração 6.29 Planilha de compilação das entrevistas com moradoresautoconstrutores.......................................................................... 126
Ilustração 6.30 Planilhadecompilaçãodasentrevistascommoradoressecundários..... 127
Ilustração 6.31 Arranjo do mobiliário da moradia “Cláudia” em planta e fotos dacozinha...................................................................................... 133
Ilustração 6.32 Sugestão de rearranjo de mobiliário para o quarto 3 da moradia“Cláudia”.................................................................................... 133
Ilustração 6.33 Arranjo do mobiliário da moradia “Joãozinho” em planta e fotos dacozinha...................................................................................... 134
Ilustração 6.34 Sugestão de rearranjo de mobiliário para o quarto 1 da moradia“Joãozinho”................................................................................ 134
Ilustração 6.35 Arranjo do mobiliário da moradia “Margarete” emplanta........................................................................................ 135
Ilustração 6.36 Arranjodomobiliáriodamoradia“Giovana”emplantaefotosdasaladeestar,cozinhaeáreadeserviço.....................................................
136
Ilustração 6.37 Arranjo domobiliáriodamoradia “AnaCláudia” em planta e fotosdobanheiro,quarto2,cozinhaesaladeestar.......................................
137
Ilustração 6.38 Arranjodomobiliáriodamoradia“Salete”emplantae fotosdasaladeestar,zonadearticulaçãodoscômodosecozinha.............................
138
Ilustração 6.39 Sugestão de rearranjo de mobiliário para a cozinha da moradia“Salete”.....................................................................................
139
Ilustração 6.40 Arranjo do mobiliário da moradia “Carmem” em planta e fotos dosquartos2e3...............................................................................
140
Ilustração 6.41 Sugestãoderearranjodemobiliárioparaosquartos2e3damoradia“Carmem”..................................................................................
140
Ilustração 6.42 GráficodoIFHdamoradia“Cláudia”............................................... 142
Ilustração 6.43 GráficodoIFHdamoradia“Joãozinho”............................................ 143
Ilustração 6.44 GráficodoIFHdamoradia“Margarete”............................................ 144
Ilustração 6.45 GráficodoIFHdamoradia“Giovana”.............................................. 145
Ilustração 6.46 GráficodoIFHdamoradia“AnaCláudia”......................................... 146
Ilustração 6.47 GráficodoIFHdamoradia“Salete”................................................. 147
Ilustração 6.48 GráficodoIFHdamoradia“Carmem”.............................................. 148
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
10/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 Equivalênciaentreconceitoeindicador........................................................ 33
Tabela 2.2 Equivalênciaentrecoeficiente,conceitoeindicador....................................... 33
Tabela 2.3 Intervalosdedesempenhodafuncionalidadenoscompartimentos.................... 35
Tabela 2.4 FuncionalidadedaHabitaçãoIFH105.......................................................... 36
Tabela 4.1 DadosdesuperfícieedeedificaçõesdeFlorianópolis..................................... 66
Tabela 4.2População residente em áreas de risco ou de proteção ambiental emFlorianópolis............................................................................................ 68
Tabela 4.3 PopulaçãomoradoraportipodedomicílioemFlorianópolis.............................. 69
Tabela 5.1 PopulaçãoResidentenaBarradoSambaqui................................................. 88
Tabela 5.2 NaturalidadedosMoradoresdaÁreaPesquisada........................................... 89
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
11/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AER ÁreasdeExploraçãoRural
APL ÁreasdePreservaçãocomUsoLimitado
APO AvaliaçãoPós-Ocupação
APP ÁreasdePreservaçãoPermanente
ARP 0 ÁreasResidenciaisPredominantesZero
BID BancoInteramericanodeDesenvolvimento
CASAN CompanhiaCatarinensedeÁguaseSaneamento
CELESC CentraisElétricasdeSantaCatarinaS.A
CIB ConseilInternationaleduBâtiment(ConselhoInternacionaldaIndústriadaConstrução)
COHAB/ SC CompanhiaHabitacionaldeSantaCatarina
COMCAP CompanhiadeMelhoramentodaCapital
EC EstudodeCaso
ESECC EstaçãoEcológicadeCarijós
FMIS FundoMunicipaldeIntegraçãoSocial
GHAB GrupodeEstudosdaHabitação
HIS HabitaçãodeInteresseSocial
IFC IndicadordeFuncionalidadedoCompartimento
IFH IndicadordeFuncionalidadedaHabitação
IFQ IndicadordeFuncionalidadedoQuesito
IPT InstitutodePesquisasTecnológicas
IPTU ImpostoPredialTerritorialUrbano
IPUF InstitutodePlanejamentoUrbanodeFlorianópolis
PMF PrefeituraMunicipaldeFlorianópolis
PNAD PesquisaNacionalporAmostragemdeDomicílios
PP PesquisaParticipante
RIJJ RuaIzabelJoãoJacinto
TICEN TerminalIntegradodoCentro
TISAN TerminalIntegradodeSantoAntônio
UFSC UniversidadeFederaldeSantaCatarina
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
12/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
SUMÁRIO
CAPÍTULO – INTRODUÇÃO
.................................................................... 15
1.1 Justificativa e relevância do tema............................................... 16
1.2 Motivação para realização do estudo apresentado................... 18
1.3 Objetivos......................................................................................... 21
1.3.1 Objetivo Geral........................................................................ 21
1.3.2 Objetivos Específicos............................................................. 21
1.4 Metodologia e procedimentos de pesquisa.................................. 22
1.4.1 Técnicas de pesquisa.............................................................. 22
1.4.2 Etapas de pesquisa................................................................. 22
1.5 Recortes da pesquisa e limitações do trabalho......................... 23
1.6 Estrutura e apresentação do trabalho...................................... 24
CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE
PESQUISA
.................................................................................................. 25
2.1 A utilização do Estudo de Caso em pesquisas sociais............... 25
2.2 Avaliação Pós-Ocupação como método de investigaçãocomportamental.............................................................................. 27
2.3 O Indicador de Funcionalidade da habitação e suaaplicabilidade.................................................................................. 29
2.3.1 Exemplo de aplicação do método.......................................... 35
2.4 Técnicas de pesquisa...................................................................... 37
2.4.1 A observação........................................................................... 38
2.4.2 A entrevista............................................................................ 39
2.5 Etapas de pesquisa......................................................................... 40
CAPÍTULO 3 – REFERENCIAL TEÓRICO.................................................. 42
3.1 O significado antropológico do espaço doméstico.................... 42
3.2 Fenomenologia em arquitetura..................................................... 46
3.3 Apropriação do espaço habitacional............................................ 48
3.4 Adequação do espaço ao modo de vida dos usuários................. 50
3.5 O mobiliário popular e sua adequação ao espaço doméstico.... 53
3.6 Princípios antropométricos para o projeto habitacional......... 57
3.7 A autoconstrução enquanto solução para o déficithabitacional.................................................................................... 58
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
13/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
CAPÍTULO 4 – O CONTEXTO HABITACIONAL DE
FLORIANÓPOLIS....................................................................................... 63
4.1 Breve histórico............................................................................... 63
4.2 O contexto metropolitano............................................................ 66
4.3 A política habitacional do município............................................. 69
4.3.1 A atuação do poder público.................................................. 71
CAPÍTULO 5 – ESTUDO DE CASO: BARRA DO SAMBAQUI................... 76
5.1 Escolha da área de estudo........................................................... 77
5.2 Descrição físico-territorial.......................................................... 78
5.3 Caracterização da Barra do Sambaqui........................................ 83
5.3.1 Aspectos histórico-culturais................................................ 83
5.3.2 Aspectos ambientais............................................................... 85
5.3.3 Uso e ocupação do solo......................................................... 86
5.3.4 Perfil sócio-econômico........................................................... 88
5.3.5 Infra-estrutura urbana.......................................................... 89
5.4 Trabalho de campo.......................................................................... 92
5.4.1 Determinação da amostra...................................................... 92
5.4.2 Definição da entrevista estruturada e pré-teste............... 94
5.4.3 Elaboração do roteiro de entrevista final......................... 95
5.4.4 Realização das entrevistas................................................... 95
5.4.5 Levantamento arquitetônico das unidades analisadas...... 96
5.4.6 Levantamentos de dados para determinação dosIndicadores de funcionalidade.............................................. 96
CAPÍTULO 6 –RESULTADOS..................................................................... 98
6.1 Análise comportamental................................................................ 99
6.1.1 Descrição das unidades habitacionais................................. 99
6.1.1.1Moradia “Cláudia” – A territorialidade entreirmãos............................................................................... 100
6.1.1.2 Moradia “Joãozinho” – Solidão protegida................... 103
6.1.1.3 Moradia “Margarete” – A casa feminina....................... 107
6.1.1.4 Moradia “Giovana” – O palácio...................................... 110
6.1.1.5 Moradia “Ana Cláudia” – A expressão do nãolugar................................................................................ 114
6.1.1.6 Moradia “Salete” – O sonho realizado........................ 118
6.1.1.7 Moradia “Carmem” – A plenitude da satisfação.......... 122
6.1.2 Caracterização dos grupos familiares envolvidos............ 125
6.1.2.1 Perfil dos moradores autoconstrutores..................... 128
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
14/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
6.1.2.2 Perfil dos moradores secundários............................... 128
6.1.2.3 Relação entre morador e edificação............................. 129
6.2 Análise dimensional....................................................................... 131
6.3 Análise funcional........................................................................... 141
6.3.1 Determinação dos indicadores de funcionalidade.............. 142
CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES.................................................................. 150
7.1 Recomendações para trabalhos futuros.................................... 155
REFERÊNCIAS
........................................................................................... 156
Referências complementares.................................................................. 161
APÊNDICE
.................................................................................................. 163
Apêndice A - Conceituação e delimitação metodológica da PesquisaParticipante.............................................................................................. 163
Apêndice B – Roteiro de entrevista........................................................ 165
Apêndice C – Quadros de atividades, Inventário de mobiliário eArranjo físico dos equipamentos........................................................... 167
Apêndice D – Planilha dos indicadores de funcionalidade.................. 170
ANEXO........................................................................................................ 171
Anexo A - Critérios de avaliação do método do Indicador deFuncionalidade da habitação.................................................................. 171
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
15/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis /SC Um estudo na Barra do Sambaqui
15
CAPÍTULO
INTRODUÇÃO
O presente trabalho de investigação científica é de cunho social, baseado na questão
comportamental,econsistenumestudodecasodeumloteamentopopularclandestino,situadono
bairroBarradoSambaqui,nacidadedeFlorianópolis,capitaldoestadodeSantaCatarina.Oestudo
buscaanalisararelaçãoentreaformadeconcepção,dimensionamento,articulaçãoedesempenho
funcional dos cômodos em domicílios populares autoconstruídos, visto que a mesma reflete
diretamentenaqualidadedevidadeseusmoradores.
Através de uma pesquisadecampodecaráter exploratório, buscou-se investigar omodo
comoapopulação de baixa rendaconcebeespacialmente suamoradia,bemcomoas formas de
apropriaçãoe transformaçãodasedificações pelos usuários. Buscou-sedetectar tambémas reais
condições de conforto ergonômico desse tipo de habitação, na tentativa de identificar soluções
“projetuais”dequalidadeno tocanteaoatendimentodasnecessidadesespaciais dosusuários,as
quaispossamserincorporadasaoprojetoarquitetônicovoltadoparaaproduçãooficialdahabitação
deinteressesocial(HIS).
Nessecontexto, a utilização dométododo Estudo deCaso,em associaçãocom técnicas
inerentes aométodo de Avaliação Pós-Ocupação – APO1 possibilitou não sóo conhecimento dos
problemasdeordemfísicadahabitação,mastambémaexperiênciadevivenciarsocialmenteesses
espaços.
SegundoBinsEly(1997)osmétodosexistentesparaaavaliaçãodeobjetosarquitetônicos
são baseados em técnicas comportamentais (referentes à observação do comportamento dos
usuários)eemtécnicasdedeclaraçãoourevelaçãodepreferências,asquaisconsideramaopinião
dosusuários.Noentanto,empesquisasquevisamdeterminarqualidadesdoambientereferentesao
dimensionamento das peças2 e sua funcionalidade, o emprego destas técnicas, exclusivamente,
impossibilitaaobtençãodedadosobjetivos,vistoqueosresultadosquasesempresãodecaráter
1 Entende-seAvaliação Pós-Ocupação (APO)comoo estudo das relaçõesdos moradores com a edificação,desenvolvidonumdeterminadoespaçodetempo,cominícioefimdemarcados.2Nodecorrerdestedocumentootermo“peça”seráreferenteaosdiversoscômodosquecompõemahabitação,deacordocomReis;Lay,2002.
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
16/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis /SC Um estudo na Barra do Sambaqui
16
qualitativo.Nessesentido,sefaznecessáriaautilizaçãodemétodosquepossibilitemaquantificação
dessesdados,vistoqueapesquisaqualitativaeapesquisaquantitativasãocomplementares.
Para determinar os níveis de qualidade física e de funcionamento dos cômodos e das
habitaçõesemestudocomoumtodo,em funçãodediferentesvariáveisdoambienteconstruído,foi
utilizadoométododesenvolvidoporLeite (2003),denominadode IndicadordeFuncionalidadeda
Habitação. O modelo teórico deste método pressupõe que o indicador de funcionalidade é
determinado a partir do estabelecimento de critérios quantitativos e qualitativos. Assim, a
funcionalidadedosambientesédeterminadaatravésdauniãodavariáveldequantidadedemobiliário
eequipamentoscomavariáveldequalidadedoarranjofísicooudisposiçãodestes(LEITE,2003).
Nodecorrer deste capítulo serão apresentados, de maneira sucinta, as conceituações da
temáticaabordadaeosobjetivosdotrabalho,bemcomoametodologiadepesquisaadotadaparasua
realização.
1.1 Justificativa e relevância do tema
A habitação, enquanto objeto edificado, surgiu para abrigar o homemdas manifestações
climáticas(sol,chuva,ventos,nevascas,etc.)edoseventuaisataquesdeanimais.Maistardepassou
aserlocaldepermanênciaetevequeseradaptadaparadarcondiçõesderenovaçãodaforçade
trabalho do homem, através do repouso físico e mental diário. Nestemomento, a casa também
passouarefletirastradiçõesculturais,hábitosepráticasdeseususuários,traduzidaspelocotidiano
domésticovivenciadoemseuinterior,deixandodeserapenasumuniversopráticoparaatuartambém
comouniversosimbólico.SegundoLemos(1989):
Taisatuaçõesdomésticas,quecostumamosdizerligadasaoshábitosepráticasdeumasociedade, devem se desenvolver em circunstâncias ideais e a qualidade dodesempenho evidentemente está condicionada às condições oferecidas pelaconstrução(LEMOS,1989:09).
Arealidadedahabitaçãopopularbrasileiranãoatendesatisfatoriamenteàsfunçõesbásicas
mencionadasanteriormente.Sabe-sequeamaioriadosmoradoresdefavelas,cortiços,loteamentos
clandestinos e demais assentamentos subnormais habitam precariamente em casebres cujas
dimensõescomprometemavidafamiliar.Afaltadetrabalhoouarendainsuficienteparasustentara
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
17/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis /SC Um estudo na Barra do Sambaqui
17
família, aliados a uma jornada de trabalho exaustiva, sem o conforto habitacional adequado que
possibilite ao trabalhador descansar o corpo, também afetam a todos os usuários da residência,
provocandoatritosediscussõesfamiliares(CORDEIRO,2002).
Moraréumanecessidadebásicadoserhumanoecondiçãoindispensávelà(re)produçãode
sua força de trabalho. Habitar em condições precárias implica na redução do desempenho do
trabalhador,poisénointeriordahabitaçãoondeohomemrepõesuasenergiasatravésdorepouso,
das refeições e de sua higiene pessoal (ROBALINHO, 1980). Morar mal também implica no
aparecimentodeproblemas de cunho sócio-econômico, tal como o aumentoda violência urbana,
vistoqueocrescimentoexcludentedascidadesbrasileirasprivaparcelasignificativadapopulaçãode
teracessoaosserviçosdeinfra-estruturaurbanabásicos3
(deboaqualidade)quelhesgarantamviver
comomínimodedignidade.
Opanoramaapresentadoacimacaracterizaoschamadosbolsõesdepobrezaurbanos,cada
vezmais presentes nas cidades brasileiras. Maricato (2000) afirma que “nossas cidadescrescem
produzindoemseu interiorverdadeiras bombassociológicas,depósitodemultidõesabandonadas,
semquaisquerdireitoslegais”.Nessecontexto,afaltademoradiaconstitui-secomoumdosprincipais
problemasurbanosenfrentadosnaatualidadepelascidadesbrasileiras.DeacordocomaFundação
IBGE,emcemanos(1900–2000)apopulaçãourbanadoBrasilpassoude15.941.181habitantes
para 137.755.550 habitantes; conseqüentemente, aumentaram também as desigualdades sócio-
econômicasemnossascidades(OLIVEIRA,2001).
Odéficit habitacional tambémguarda relação com aprecariedade física da habitação.De
acordocomumestudorealizadopelaFundaçãoJoãoPinheiro,cercade12milhõesdebrasileiros
vivem em habitações impróprias4, sejam elas barracos improvisados em plástico, unidades
habitacionaissuperlotadasouedificaçõesantigasmalconservadas(FJP,2001).Impossibilitadasdeseinserirnomercadoimobiliárioformal,famíliasinteirasdetrabalhadores
semqualificaçãoemalremuneradossãoobrigadasaocuparemáreasinadequadasede risco,tais
como terrenosalagáveis e encostasdosmorros, como única alternativade inserçãonascidades.
Dessemodo,torna-sepatenteoaumentodonúmerodedomicíliosirregularescaracterizadospela
concentração de população de baixa renda, carência de infra-estrutura básica para o seu
desenvolvimento,eporcondiçõesprecáriasdehabitabilidadeesalubridade(SILVEIRA,2000).
3ALeifederalnº6.766/1979consideracomoinfra-estruturabásicaosequipamentosurbanosdeescoamentodas águas pluviais, iluminação pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de água potável, energiaelétricapúblicaedomiciliareasviasdecirculaçãopavimentadasounão.4OtermoImpróprio,utilizadopelaFJP,nestecasotemsentidodeinadequado(FERREIRA,1993).
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
18/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis /SC Um estudo na Barra do Sambaqui
18
Anualmente,oaumentodonúmerodedomicíliosurbanosquesurgemnopaístemsidoda
ordemde 1.200.000 unidades, sendoum terçodesse valor (360mil unidades) correspondente a
domicíliosquesurgememdiversasmodalidadesdeassentamentosinadequadosousubnormais,cuja
existênciajánãopodemaisserignoradapelopoderpúblicoepelasociedadecivilcomoumtodo.Isso
correspondeaosurgimento,acadaano,deumacidadeirregularaproximadamentedo tamanhoda
cidadedeRecife(BRASIL,2001).
Écadavezmaioronúmerodefamíliasemmédiadecincopessoaspordomicílio5convivendo
em espaços reduzidos, que impõem a superposição de atividades num mesmo ambiente. Essa
situaçãoé reflexo doalto índice de exclusãosócio-territorial que impera nas cidadesde médio e
grandeporte,caracterizadopeloadensamentopopulacionaldecorrentedosmovimentosmigratórios,
oriundosnãosódocampocomotambémdepequenasemédiascidadesdointerioremdireçãoàs
capitais(LUCINI,2003).
Ocontextoapresentado,comumamuitascidadesdoBrasil,temimpulsionadoaproduçãode
inúmeraspesquisasrelacionadasàquestãohabitacionalnosmaisdiversosâmbitos,dentreelesas
políticas e programas voltados para a HIS e a prática da autoconstrução desenvolvida pelas
populaçõesdebaixarenda(CRUZ;ORNSTEIN,1995).Noentanto,umaspectoqueaindaépouco
privilegiadonoâmbitoacadêmicoéoestudodosaspectosfuncionaisdahabitaçãopopular,sobretudo
os que se referem à área útil disponível para cada morador, às áreas de circulação e ao
desenvolvimentodasatividadesdomésticassemsobreposições(LEMOS,1989).
1.2 Motivação para realização do estudo apresentado
Opresentetrabalhodeinvestigaçãocientíficateveinícioapartirdoseguintequestionamento:
“Como a população à margem do mercado formal de trabalho e portanto sem acesso a programas de
financiamento da casa própria resolve seu abrigo e como esta resolução se dá sob o ponto de vista
do desempenho funcional?”
Aautoconstruçãoéaprincipalformadesuprimentododéficithabitacionalpelapopulaçãode
baixarenda,vistoqueatravésdelaomoradoreconomizaopagamentode mão-de-obraeconstrói
5EmFlorianópolis,onúmerodemoradorespordomicílioéde3,23(FundaçãoIBGE,2000).
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
19/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis /SC Um estudo na Barra do Sambaqui
19
sua habitaçãodeacordo com asnecessidades espaciais (esobretudo financeiras) de sua família
(MARICATO,1979;BONDUKI,1986;SILVEIRA,2000).É importantedestacarqueem loteamentos
popularestambémémuitocomumaproduçãohabitacionalatravésdoprocessodeautogestão,no
qualomoradoragecomoempreiteiro,contratandoamão-de-obra,semperderocontrolesobreo
planejamentoeconstruçãodaedificação.
Neste trabalho,considera-seo processodeautogestãosemelhanteàautoconstrução,visto
que o objetivo principal é identificar as formas de concepção espacial da moradia pelomorador
usuário, independentementedo fato dele terconstruídoou terpagadoalguémpara construiresse
espaço,deacordocomsuasnecessidades(financeiras,espaciais,estéticas).
Apesardamorosidadedoprocesso,vistoquenãohácapitalfinanceirosuficienteparacustear
todaaobradeumasóvez,edodesgastefísicodetodaafamíliaautoconstrutora,omoradorse
apropriadahabitaçãomaisfacilmente,devidoaofatodelemesmoseroresponsávelpelaconcepção
econstrução(MARICATO,1979).Essarelaçãodeapropriaçãoespacialimplicadiretamentenograu
desatisfaçãodousuárioparacomasuamoradia,deformaqueosespaçosautoconstruídosmuitas
vezesseadequammelhoràsnecessidadesculturaisdafamíliadoqueashabitaçõespromovidaspelo
poderpúblico(SOUZA,1999).
Assim,oestudodoespaçohabitacionalespontâneopermitecompreendercomoapopulação
debaixarendaserelacionacomacasaequalosignificadoqueelaatribuiaosespaços,mesmoque
a solução por ela utilizada seja improvável ouaté mesmo inviável, doponto de vista técnico.O
conhecimentodessasquestõesporpartedosprojetistasquetrabalhamcomaproduçãodahabitação
de interesse social pode auxiliá-losnaelaboraçãode projetosmais condizentes com a realidade
dessapopulação,demodoqueosaspectospositivosdaautoconstrução,quandoexistentes,possam
serintegradosàproduçãohabitacionalformal,melhorandoconsideravelmenteaqualidadedeusoefuncionamentodessasedificações.DeacordocomFolz(2003):
Para projetaradequadamente uma habitação para a população debaixa rendaénecessárioconheceromododevidadessapopulação.Nãobastadividiroscômodoscom metragens mínimas, achar uma densidade-limite e considerar resolvido ointeriordessamoradia.Noentanto,nãoéfácilobservaroconjuntodeexigências,uma vez que o comportamento e asatitudesdas famíliasapresentamumcaráterunitárioedependentedocontextonoqualelasvivem(FOLZ,2003:76).
Nesse sentido, o estudo desse tipo específico de habitação implica também num estudo
comportamentalacercadeseusagentespromotoreseusuários,baseadoemseusvaloresculturais,costumes,elementossimbólicosenecessidadesespaciais(SOUZA,1999).ParaOliven(1980):
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
20/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis /SC Um estudo na Barra do Sambaqui
20
Asociedadebrasileiraéumcamporicoparapesquisasantropológicasemcidades.Édesesuporquenumasociedadecomummodelodedesenvolvimentoquetendeagerar profundas diferenças sociais isto se reflita nas nossas cidades, e que osgrupos envolvidos neste processo tendam a desenvolver estratégias desobrevivência e sistemasde representação que necessitem ser estudados com origorqueométodoantropológicopossibilita.Enquantoasclassesaltasdascidades
brasileirasseidentificammaisprontamentecomosvaloresecostumesdominantes,as classes baixas desenvolvemmecanismos adaptativos que lhes permitem lidarcomasrelaçõescapitalistasdeproduçãoeaomesmotempomantersuaidentidade.(OLIVEN,1980apudSOUZA,1999:04).
Osaspectosdedimensionamentodosespaçoshabitacionaistêm importância fundamental
paraousoe funcionamentoadequadosdoscômodos,vistoquesituaçõesextremasdeexcessode
áreaousubdimensionamentopodemrepresentarperdasdopontodevista funcional,ergonômicoe
financeiroparaseususuários(REIS; LAY, 2002). Desta forma, osestudosdo arranjoespacialda
habitaçãopopularautoconstruídaedavivêncianoseuinteriorpassamasertãoimportantesquanto
os demais anteriormente citados, visto que a qualidade física da habitação influi diretamente na
qualidadedevidadeseusocupantes.
NoBrasil,nosúltimosvinteanos,têmsidodesenvolvidosestudosacercadasatisfaçãode
usuários com relação a diversas edificações colocadas em uso no espaço urbano. Tais estudos
buscamodesenvolvimentodeavaliaçõessistemáticasdodesempenhodasedificaçõesemquestão,
a fim de possibilitar a melhoria das relações humanas em seu interior , através do método de
pesquisadenominadoAvaliaçãoPós-Ocupação(ORNSTEIN,1992).
No caso deumapesquisa sobre a qualidade funcional deespaçoshabitacionais, torna-se
imprescindíveltambémaanáliseergonômicadosambientes.Aergonomiaanalisaasinteraçõesentre
o homem e os outros elementos de um dado sistema, visando melhorá-los quanto a respostas
motoras,conforto,fadiga,esforçoebem-estar(LOPESFILHO;SILVA,2003).Olevantamentodos
aspectosergonômicosdashabitaçõesautoconstruídas,aliadoaumainvestigaçãoprofundasobreo
mododevidaeapropriaçãoespacialdosusuários,poderevelarograudeinteraçãodohomemcomo
seuambientefísicoderepouso,lazeretrabalhodoméstico.
Assim,faz-senecessáriaarealizaçãodeestudosquepossibilitemaconcepçãodelayouts
maissatisfatórios,emtermosdedimensionamentodosambientes,equepermitamumgraumaiorde
flexibilidade daHIS. Acredita-se que desta forma seja possível o provimento habitacional deboa
qualidadeparaparcelasdepopulaçãodebaixarenda,desmistificandoapremissadequeedificações
arquitetonicamentebemplanejadassãoprivilégiodeclassessociaisdetentorasdemédioealtopoder
aquisitivo.
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
21/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis /SC Um estudo na Barra do Sambaqui
21
1.3 Objetivos
Os objetivos que se buscaram alcançar com este trabalho foram classificados em duas
categorias,definidasemfunçãodoseugraudeimportânciaeexplicitadasaseguir.
1.3.1 Objetivo Geral
Compreenderomododeconcepçãodamoradiaautoconstruídapelapopulaçãodebaixarenda,em
termosdedimensionamentoearticulaçãodosespaçosinternosdaedificação.
1.3.2 Objetivos Específicos
Identificar:
• A(s)forma(s)dedistribuiçãoeáreasúteisdoscômodosemhabitaçõesautoconstruídasno
bairroBarradoSambaqui,nacidadedeFlorianópolis/SC;
• Osfatoresquedeterminaramouinfluenciaramseudimensionamento;
• Odesempenhofuncionaldessashabitaçõesconstruídassemacompanhamentotécnico;
• Aarticulaçãoentreoscômodoseodesenvolvimentodasatividadesdomésticascomesem
sobreposições;
• Asmudançasdeuso,forma,quantidadeearticulaçãodoespaçohabitacionalaolongodo
tempo,relacionando-asaograudedesempenho;
• As formas de apropriação do espaço habitacional pelos usuários, sejam os construtores
originaisouosusuáriossecundários,identificandosuaspeculiaridades;
• Aqualidadedefuncionamentodoscômodosindividualmenteedashabitaçõescomoumtodo.
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
22/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis /SC Um estudo na Barra do Sambaqui
22
1.4 Metodologia e procedimentos de pesquisa
Para alcançar os objetivos estabelecidos, adotou-se como metodologia de trabalho os
métodosdeEstudodeCasoe IndicadordeFuncionalidadedaHabitação,associadosa técnicasde
pesquisapertinentesaométododeAvaliaçãoPós-Ocupação.Esseassuntoseráabordadocommais
ênfase nocapítulo2,noqual serão explicitados todososconceitos e procedimentosdepesquisa
utilizados.Sucintamente,seguemabaixoasrespectivastécnicaseetapasderealizaçãodapresente
pesquisa.
1.4.1 Técnicas de pesquisa
• Levantamentobibliográficoedocumental;
• Levantamentoarquitetônicodashabitações,comproduçãodematerialiconográfico;
• Realização de entrevistas semi-estruturadas com os usuários-chave – moradores
autoconstrutoresemoradoressecundários(não-originais);
• Observaçãodoshábitosdeusodasedificaçõespelosusuários;
• Descriçõesfísicasdashabitaçõesedasrelaçõessociaisaelasinerentes;
• Atribuiçãodegrausdefuncionalidadeaoscômodoseàshabitações.
1.4.2 Etapas de pesquisa
• Revisãodeliteratura;
• Delimitaçãoeconceituaçãometodológicadapesquisa;
• Caracterizaçãodaproblemáticahabitacionaledefiniçãodaáreadeestudo;
• Revisãodostrabalhostécnicosproduzidospordiferentesinstituiçõeseórgãospúblicossobre
aBarradoSambaqui;
• Determinaçãodaamostra;
• Definiçãodaentrevistaestruturadaerealizaçãodopré-teste;
• Realizaçãodasentrevistas;
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
23/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis /SC Um estudo na Barra do Sambaqui
23
• Levantamentosarquitetônicosdasedificações;
• Análisedosdadosobtidos;
• Atribuiçãodosgrausdefuncionalidade;
• Conclusões.
1.5 Recortes da pesquisa e limitações do trabalho
O presenteestudo limita-sea analisaremprofundidadesetehabitaçõespré-selecionadas,
localizadasnumloteamentoclandestinodaBarradoSambaqui,emFlorianópolis,comoobjetivode
conheceromododeconcepçãodamoradiaautoconstruídapelapopulaçãodebaixarendaapenas
emtermosdedimensionamentoearticulaçãodoscômodos.Nessecontexto,osaspectospertinentes
aoconfortoambientalemateriaisconstrutivosnãoforamabordadosemprofundidade.
Porsetratardeumestudocomportamental,envolvendoaspectosdeintimidadeeprivacidade
dacomunidadepesquisada,amestrandaenfrentoudificuldadesparaconseguirseinserirerealizaros
levantamentosnecessários.Porcontadisso,apesquisadecampodemandoumaistempodoqueo
esperadoparaserconcluída,eapresentoudificuldadesqueatéentãonãotinhamsidoprevistas,tais
como:
• Dificuldadedeinserçãonacomunidadeemfunçãodadesconfiançadosmoradoresacercado
possívelenvolvimentodaprefeituramunicipaldacidadenoestudo;
• Ausênciadeliderançascomunitáriasquepudessemintroduzirogrupodepesquisajuntoaos
moradores;
• Inexperiênciadapesquisadoracomrelaçãoàaplicaçãodosmétodosdeinvestigação;
• Substituiçãodasunidadespré-selecionadasquenãoconcordaramemparticipardoestudono
momentodasentrevistase,principalmente,aobservaçãodocotidianodogrupopesquisadocom
maisênfase.
Apósalistagemdetodasasunidadesdoloteamentoqueseenquadravamnosquesitosde
análisedoestudoedareformulaçãodaabordagemdecampo(comapresençadeumaex-integrante
daassociaçãodosmoradores),foipossívelcontornarosentravesdescritosacima,deformaquesua
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
24/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis /SC Um estudo na Barra do Sambaqui
24
ocorrência não inviabilizoua coleta de dados e por conseqüência, os resultados alcançadospela
presentepesquisa.
Noentanto,nãofoipossívelaprofundarintensamenteasquestõespertinentesàinvestigação
comportamental,deformaqueosresultadosprovenientesdessefocodeanáliseficaramrestritosàs
informações fornecidas pelosmoradoresentrevistadose pelas observações realizadas duranteas
visitasdelevantamentodasunidadespesquisadas.
1.6 Estrutura e apresentação do trabalho
A fim de possibilitar melhor compreensão do estudo aqui apresentado, o documento foi
estruturado da seguinte maneira: primeiramente serão apresentados a metodologia e os
procedimentosdepesquisautilizados(capítulo2).Emseguidaexpõe-seumrelatosobreoreferencial
teórico adotado (capítulo 3) e o panorama da questão habitacional na cidade de Florianópolis
(capítulo4).Naseqüência,serãoapresentadosoobjetodeestudo(capítulo5),aanálisedosdadose
resultados obtidos (capítulo 6). Por fim, o capítulo 7 apresenta as conclusões e sugestões para
trabalhosfuturosrelacionadosaotemaabordadonapresentedissertação.
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
25/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
25
CAPÍTULO
METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
Opresentetrabalhosedesenvolveapartirdeumaabordagemqualitativa,representadapelo
método doEstudodeCaso(EC),em associaçãocom técnicasinerentesaométododeAvaliação
Pós-ocupação–APO.NaanálisedosresultadosfoiutilizadoométododoIndicadordeFuncionalidade
da Habitação (IFH), como forma de apresentar quantitativamente as conclusões do trabalho de
campo.
AescolhadométododeEstudodeCasojustifica-sepelanecessidadederealizaçãodeum
estudo comportamental acerca dos agentes promotores e usuários das edificações em estudo,
baseado em seus valores culturais, elementos simbólicos e necessidades espaciais. Em
contrapartida,astécnicasempregadasnométododeAPOpossibilitamaaferiçãododesempenhodo
ambienteconstruídoemuso,atravésdeprocedimentosquepermitemocruzamentodeavaliações
técnicas, aliadas a avaliações comportamentais, com a opinião dos usuários destes ambientes
(BENEVENTE,2002).Emfunçãodanaturezadoestudo,considerou-sedesumaimportânciapara
sua realização uma complementação teórica do EstudodeCaso apartir dométodo daPesquisa
Participante (PP), a fim de esclarecer os pressupostos básicos do universo de investigação e
observaçãodegrupossociais(ApêndiceA).
No presente capítulo serão apresentadas as conceituações metodológicas dos métodos
utilizadoseastécnicasdepesquisaempregadas,bemcomoasetapasderealizaçãodotrabalhoeda
pesquisadecampo,objetodopresenteestudo.
2.1 A utilização do Estudo de Caso em pesquisas sociais
O método de Estudo de Caso presume que a obtenção de conhecimento do fenômeno
estudadosedáapartirdaexploraçãointensadeumúnicocaso,atravésdareuniãodomaiornúmero
possíveldeinformaçõesdetalhadas,pormeiodediversastécnicas(BECKER,1999;GOLDEMBERG,
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
26/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
26
2002).Seuobjetivoéapreenderatotalidadedeumadadasituaçãoedescreveracomplexidadede
umcasoconcreto,vistoquepermiteoconhecimentodeumarealidadesocialquenãopoderiaser
conseguidoatravésdaanáliseestatística.Nessesentido,oestudodecasoconstitui-secomoumadas
principaismodalidadesdepesquisaqualitativaemciênciassociais(BECKER,1999;GOLDEMBERG,
2002).
Diferentedapesquisamédica(apartirdaqualsedesenvolveuessemétodo),oestudode
caso realizado em pesquisas sociais refere-se não só a um único indivíduo, mas sim a uma
organização ou comunidade, tais como cidades industriais, bairros urbanos, fábricas, hospitais
psiquiátricos,entreoutros.Assimcomonosdemaismétodosdepesquisaqualitativa,asprincipais
técnicas de coleta de dados utilizados pelo estudo de caso são a observação participante e as
entrevistas(BECKER,1999),asquaisserãoabordadasposteriormentecommaisprofundidade.
EssemétodopodesercomplementadometodologicamentepelaPesquisaParticipante(PP),
aqualédefinidaporBorda(1988)comoummétododepesquisavoltadoparaasnecessidadesde
populações que compreendemas classes mais carentes nas estruturas sociais contemporâneas,
levandoemcontasuasaspiraçõesepotencialidadesdeconhecereagir.APPpressupõearelação
fundamentalentresujeitoeobjetodepesquisa,fundamentadanoconhecimentodaexperiênciade
vidadacomunidadeemestudo(saberpopular)enodirecionamentodasatividadesemseubenefício
(HAGUETTE,1997).
De acordo com Freire (1988), a implementação metodológica adequada de uma PP
compreendeasetapasconstantesdaIlustração2.1.Nestetrabalho,asduasprimeirasetapaslistadas
abaixocompreenderamasprimeirasaçõesdepesquisaeimplementaçãodoestudodecaso.
1ªETAPA 2ªETAPA 3ªETAPA
Verificar a existência deestudos anteriores na áreaescolhida, com o intuito decaracterizá-la previamente,evitando assim a produçãode informações repetidas;delimitar a área depesquisa.
Fazer visitas exploratórias,anotando tudo aquilo quechamar a atenção; identificarorganismosoficiaise privadosexistentes. Fazer visitas àsliderançasdessesorganismos,afimdeexplicarapesquisaeométodoparticipante.
Sugerir às lideranças, caso sejanecessário, reuniõesmaisamplas,nas quais a interpretação dosobjetivos da organização quedesenvolve a pesquisa e seumétododetrabalhopossaserfeita,em parte, por representantespopulares.
Ilustração2.1–EtapasdeimplementaçãometodológicadeumaPesquisaParticipante
Fonte:FREIRE,1988.Dadoscompiladospelaautoradestetrabalho.
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
27/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
27
OEstudodeCasodiferedométodocientíficotradicional(baseadoemanálisesquantitativas,
experimentos de laboratório, etc) por tratar-se de uma intervenção num grupo social real, a qual
envolve os valores essenciais das pessoas e sua vida cotidiana (HAGUETTE, 1997). Em
contrapartida, umadasmaiores limitações impostaspelosmétodosqualitativosaospesquisadores
quebuscamcompreenderorganizações, grupose comunidadesdomundo realéadificuldadede
inserçãoem seu objeto deestudo.Conseguir permissão paraestudaraquiloque sepretende, ter
acessoàspessoasquesequerobservar,entrevistarouentregarquestionáriossãotarefasdifíceise
aindapoucodiscutidasmetodologicamente(BECKER,1999).
2.2 A Avaliação Pós-Ocupação como método de investigação
comportamental
Aqualidadedoambienteconstruídopodeserdefinidacomoumconjuntodecaracterísticas
inerentesà construção que satisfazem asmaisdiversasnecessidadesdeseususuários,estando
desta forma diretamente associada ao grau de desempenho técnico do edifício (ROMÉRO;
ORNSTEIN,2003).Nahabitação,ograudedesempenhoéreferenteàeficáciadesuaestruturafísica
emrelaçãoaoatendimentodasfunçõesquelhessãoatribuídas(LEITE,2003).
O desempenho de uma edificação pode ser aferido através de dois tipos de avaliações
distintas(ORNSTEIN,1992):aavaliaçãotécnica(calcadaemexperimentoslaboratoriaisounão,com
ousemocontroledascondiçõesambientais)eaavaliaçãocomportamental(baseadanasopiniõese
observaçõesdomododevidadosusuários).
O método de pesquisa denominado de Avaliação Pós-Ocupação surgiu em função da
necessidadedeadequaçãodasconstruçõesnãosóàsexigênciastécnicasdeproduçãoeusodo
edifício,masprincipalmente às expectativas comportamentais deseususuários.Nesse sentido,a
APOvisaigualmenteidentificarasnecessidadeseosníveisdesatisfaçãodosusuários,emrelação
aoespaçoconstruído.
Cruz (1998) afirma que a avaliação gera informações acerca da detecção de aspectos
positivos e negativos da edificação em uso. Dessa forma, as avaliações pós-uso servem como
instrumentodecontroledequalidadedoprocessoprodutivo,oqualenglobaasetapasdeprojeto,
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
28/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
28
construção, fabricação de materiais e componentes, uso, manutenção e operação dos edifícios
(Ilustração2.2).
Ilustração2.2–EsquemadaAPO
Fonte:ROMÉRO;ORNSTEIN,2003,p.26.
Os diagnósticos produzidos visam realimentar futuros projetos semelhantes, a fim de
disseminarassoluçõespositivaseminimizaraocorrênciadeerrosrepetitivos.Aatuaçãomaisefetiva
deveocorrernaetapadeprojeto,ouseja,naquelademenorcustodentrodociclodeproduçãoeuso
dosambientes(CRUZ,1998;ROMÉRO;ORNSTEIN,2003).
NoBrasilarealizaçãodeavaliaçõesdoambienteconstruídoaindaérecente,masnocampo
internacional os métodos e técnicas de pesquisa da APO vêm sendo adotados por psicólogos
ambientaiseuropeusenorte-americanosdesdeadécadade60,comoobjetivodeidentificarograu
deinfluênciadodesempenhodoespaçoconstruídosobreocomportamentohumano.Asprimeiras
avaliaçõesnopaísforamrealizadaspeloInstitutodePesquisasTecnológicasdoEstadodeSãoPaulo
(IPT),noiníciodadécadade70.
Quandosetratadeestudosrelacionadosàhabitação,eparticularmenteàhabitaçãosocial
produzidaemsérie,aaplicabilidadedaAPOtorna-semaisrelevanteparaareduçãodosimpactos
negativosprovocadospelapadronizaçãoemmassa.Oprévioconhecimentodasvariáveisculturais,
hábitos,crençasemododevidadosdiversosgruposdeusuáriospossibilitaaoprojetistaatenderuma
gamadeexigênciasmaisampla,proporcionandoousodoedifíciodeumamaneiramaissegurae
confortávelparaoindivíduo.Éimportantedestacarqueasatisfaçãodousuáriocomoespaçoqueele
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
29/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
29
habitaédeterminadanãosópelasqualidadesfísicasdahabitação,mastambémporfatoresexternos
taiscomoasrelaçõesdevizinhançaeaqualidadeambientaldoentornourbano(IMAI,2000).
De acordo com Ornstein (1992), existem três níveis de pesquisa possíveis de serem
realizadosnumaAPO,asaber:
• Indicativaoudecurtoprazo;
• Investigativaoudemédioprazo;
• Diagnósticooudelongoprazo.
Neste trabalho, a APO não foi utilizada como método de pesquisa, mas sim como um
complementometodológicoparaoestudoecompreensãodarelaçãoentreusuárioeedificação,a
partir do emprego de técnicas investigativas peculiares. No entanto, as etapas de trabalho
implementadasassemelham-seàquelaspertinentesaumaAPOindicativaoudecurtoprazo,visto
que pretendeu-se fazer um levantamento dos aspectos construtivos, funcionais e de conforto
ergonômicodashabitaçõespré-selecionadas.Esse levantamentoconsistiunarealizaçãodevisitas
exploratórias ao ambiente em estudo e entrevistas semi-estruturadas com usuários-chave,
propiciandoaindicaçãodosprincipaisaspectospositivosenegativosdaedificação,alémdoscritérios
referenciaisdedesempenho.
2.3 O Indicador de Funcionalidade da Habitação e sua
aplicabilidade
O Indicador de Funcionalidade da Habitação (IFH) consiste num modelo de análise e
avaliaçãodaqualidadedoprojetoresidencialdeinteressesocialpadronizado(produzidopelopoder
público), desenvolvido por Leite (2003) com base no método apresentado por Silva (1982). Esse
modelopossibilitaaidentificaçãodeproblemasdefuncionalidadeespacialtantonaetapadeprojeto
quanto na etapa de pós-ocupação da edificação (LEITE, 2003), através do levantamento de
informaçõessobreodesempenhodoscômodosemrelaçãoàsdemandasdeusoefuncionamento
quelhessãoimpostaspelomododevidadosusuários.
OobjetivoprincipaldoIFHéexpressarahabitabilidadedaedificaçãoatravésdeumvalor
numérico.Arelaçãoentreoindicadorresultanteeosintervalosdevaloresestabelecidospelométodo
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
30/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
30
expressa a adequação ou inadequação para o uso, num primeiro momento dos cômodos, e
posteriormente da habitação como um todo. Caso um aspecto da moradia não apresente o
desempenho previsto e sua habitabilidade fique comprometida, isto se torna visível através da
representaçãográficadoIFH,aqualsedápormeiodegráficosdotiporadar(LEITE,2003).
O modelo teórico de determinação do indicador de funcionalidade é proposto a partir do
estabelecimento de critérios de avaliação quantitativos e critérios de avaliação qualitativos. Os
aspectos quantitativos referem-se à quantidade de mobiliáriomínimo e adicional. Já os aspectos
qualitativossãopertinentesaoarranjoespacialdessesequipamentosnoscômodos,considerandoos
espaçosdecirculaçãoparaosusuárioseaarticulaçãoentreosprópriosequipamentoseoambiente
(Ilustração2.3)(LEITE,2003).
Compartimento Quesito
Característica do
quesito
Modo de avaliação
MobiliáriomínimoTodososcompartimentos
Mobiliárioadicional
Quantidade
(quantoetipo)
Verificar se a quantidade e tipode equipamentos existentes nocompartimento atendem àsnecessidadesmínimas
Proximidadedoroupeiroàporta
CirculaçãoeutilizaçãoAcessibilidadeàjanela
QuartodocasaleQuartodosfilhos
Otimização
Circulaçãolivre
Árealivrecentral
AcessibilidadeàjanelaSaladeEstareJantar
Otimização
Passagemlivre
Relaçãofogão/janela
Aberturadeportasdeequipamentos
Cozinha
ProximidadedorefrigeradorOtimização
Utilizaçãosimultânea
IluminaçãonaturalBanheiro
Privacidade
Aberturaparaoexterior
Circulaçãoeutilização
EspaçoparadepósitoÁreadeserviço
Otimização
Qualidade
(arranjofísicooudistribuição)
Verificar se a qualidade do oudisposição dessesequipamentos permitem tanto aplena utilização deles própriosquantoadeoutrosequipamentos
Ilustração2.3–Característicasemododeavaliaçãodosquesitosdequantidadeequalidade
Fonte:LEITE,2003,p.92.
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
31/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
31
Na realidade, o IFH é o resultado do somatório dos indicadores de funcionalidade dos
compartimentos(IFC),osquaissãodeterminados,porsuavez,pelosomatóriodosindicadoresde
funcionalidade dos quesitos (IFQ). Significa dizer que a adequação da funcionalidadedoquesito
determina a adequação do compartimento e assim por diante, culminando com a adequação ou
habitabilidadedaedificaçãocomoumtodo.
A ilustração da página anterior mostra que Leite (2003) estabeleceu quinze critérios
diferenciadosparaaadequaçãodosseiscompartimentosdahabitaçãopadronizadaaosquesitosde
qualidadepressupostospelométodo.Todososcritérios,bemcomoascaracterísticasdeavaliaçãode
cadaumdeles,constamdoanexoAdopresentetrabalho.
A fim deotimizar a identificação desses critérios em campo, optou-se por agrupá-los em
apenas quatro quesitos, de acordo com as características semelhantes entre eles, conforme a
ilustração 2.4. Pode-se citar como exemplodesse agrupamentoa reunião dos quesitos descritos
comocirculaçãolivre,árealivrecentralepassagemlivredentrodoquesitodenominadodecirculação
eutilização.
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
32/176
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
33/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
33
AaplicaçãodométododoIFHpressupõeasseguintesetapas(LEITE,2003):
• Elaboraçãodeumalistagemdasatividadesexercidasnoambientedomiciliar;
• Realizaçãodoinventáriodoequipamentodomésticoconvencionalcontemporâneo;
• Definiçãodoscritériosadotadosnaarticulaçãodosequipamentoscomosusuários,como
espaçoeentresi;
• Formulação de hipóteses de articulação dos equipamentos e espaços segundo critérios
definidos,embuscadospadrõesdeotimizaçãoeconômicaefuncional.
A partir da análise dométodo proposto por Silva (1982), Leite (2003) estabeleceu cinco
conceitos de funcionalidade, aos quais foram atribuídos valores numéricos denominados de
indicadores.Atabela2.1apresentaarelaçãoentreosconceitoseseusrespectivosindicadores.
Tabela2.1–Equivalênciaentreconceitoeindicador
Conceito Supera Atendeplenamente
Atendeparcialmente
Atendeprecariamente
Atendemuitoprecariamente
Indicador
4 3 2 1 0
Fonte:LEITE,2003,p.92.
AdeterminaçãodoIFQdequantidadeconsistenaidentificaçãodaexistênciadoequipamento
comomínimoouadicionalconformediscriminadonocritériocorrespondenteaestecompartimento.
Emseguida,calcula-seocoeficienteentreaquantidadedeequipamentosexistenteseaquantidade
mínimarecomendadae,porfim,identifica-senatabela2.2oconceitoeoindicadordefuncionalidade
correspondenteaestecoeficiente.
Tabela2.2–Equivalênciaentrecoeficiente,conceitoeindicador
Coeficiente
Maiorque1,20 Iguala1,0 Entre0,9e0,7 Entre0,7e0,5 Menorque0,5
Conceito
SuperaAtende
plenamenteAtende
parcialmenteAtende
precariamenteAtendemuitoprecariamente
Indicador
4 3 2 1 0
Fonte:LEITE,2003,p.93.
OIFQdequalidadeédeterminadoatravésdacomparaçãodasdimensõesdosespaçosentre
osequipamentos, indicadas no inventáriodemóveis e espaços de utilização, com asdimensões
especificadasparacadacritério.Emseguida,atribui-seoconceitodefuncionalidadecorrespondente,
deacordocomatabela2.1.
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
34/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
34
ApósadeterminaçãodosIFQ’s,osvaloresobtidossãolançadosnumgráficodotiporadar,de
acordocomailustração2.5,comointuitodedeterminaroIFCdecadacômodoanalisado.Oseixos
radiaismarcamaescalados indicadoresquevariamde0 a4,e paracada critérioquecompõeo
quesito,ovalordoindicadorémarcadonoeixocorrespondente.Externamente,emcadaeixoconsta
o nome do critério que está sendo analisado (LEITE, 2003). A partir dessas características se
estabelece umaescala dedesempenhoda funcionalidade, representada, neste caso, porgráficos
hexagonais(emfunçãodonúmerodecômodosanalisados).
Ilustração2.5–Gráficodoindicadordefuncionalidadedocompartimento
Fonte:LEITE,2003,p.100.
0
1
2
3
4
a1
b1
a
b
c
d
IFC 18
NarepresentaçãográficadoIFC,quandotodososquesitosapresentamomesmoindicador,o
gráficoassumeaformadeumhexágonoperfeito.Seoindicadoremquestãoforiguala3(Atende)o
hexágonopassaarepresentarasituaçãoidealdefuncionalidadedocompartimento.Porsuavez,as
deformaçõesemsuaformabásica(emvirtudedosdiferentesvaloresparacadaquesito)representam
osconflitosarquitetônicosinerentesaocompartimento,caracterizandoassimsuainadequabilidadeao
usosatisfatório.AmesmasituaçãotambéméválidaparaográficodoIFH.Aanálisedasdiferentes
formas representadas nos gráficos possibilita a identificação das causas de inadequabilidade
funcional,econseqüentementeabuscaporsoluçõesadequadasaocontextoanalisado.
A tabela 2.3 apresenta a relação entre os conceitos e indicadores para os quesitos de
quantidade e de qualidade, bem como os intervalos de desempenho da funcionalidade nos
compartimentosenahabitaçãocomoumtodo.
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
35/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
35
Tabela2.3–Intervalosdedesempenhodafuncionalidadenoscompartimentos
Conceito e Indicador de
Funcionalidade dos Quesitos
Intervalo de variação do Indicador de
Funcionalidade do Compartimento
Compartimento
N
m
e
o
d
Q
u
o
S
a
e
P
c
a
P
e
o
M
u
o
P
e
a
m
e
e
S
a
e
P
c
a
P
e
o
M
u
o
P
e
a
m
e
e
QuartodoCasal
QuartodosFilhos
SaladeEstar/Jantar
CozinhaBanheiro
Áreadeserviço
6 4 3 2 1 0 4 3 2 1 0
Intervalos de variação do Indicador de Funcionalidade
da Habitação
144 108 72 36 0
Fonte:LEITE,2003,p.99.
2.3.1 Exemplo de aplicação do método
Para melhor compreensão do método apresentado, segue um exemplo prático de
determinaçãodoIFHdeumaunidadehabitacionalhipotética,resultantedoestudorealizadoporLeite
(2003)duranteodesenvolvimentodametodologiaemquestão.
Habitação com maior indicador do estudo: IFH 105
A tabela 2.4 apresenta a relação entre os cômodos avaliados nessa unidade, seus
respectivosIFQ's,IFC'seconceitosdefuncionalidade.Emtodososcompartimentososquesitosa1e
b1correspondemàsvariáveisdemobiliáriomínimoeadicional,respectivamente.Osdemaisquesitos
variam de acordo com as características de avaliação do cômodo. Assim, os quesitos
correspondentesàsvariáveisab,cedsão,respectivamente,emcadacompartimento:
Quartodocasal-proximidadedoroupeiroàporta,áreadecirculação,acessoàjanela,otimização;
Quartodosfilhos-proximidadedoroupeiroàporta,áreadecirculação,acessoàjanela,otimização;
SaladeEstar/Jantar-circulaçãolivre,árealivrecentral,acessoàjanela,otimização;
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
36/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
36
Cozinha-passagemlivre,relaçãofogãoejanela,aberturadeportaseequipamentos,proximidadedo
refrigerador;
Banheiro-otimização,utilizaçãosimultânea,iluminaçãonatural,privacidade;
Áreadeserviço-aberturaparaoexterior,circulação,espaçoparadepósito,otimização.
Tabela2.4–FuncionalidadedaHabitaçãoIFH105
Indicador de Funcionalidade do
Quesito IFQ
Quantidade Qualidade
Compartimento
a1 b1 a b c d
Indicador de
Funcionalidade do
Compartimento
IFC
Conceito de
funcionalidade do
compartimento
QuartodoCasal 4 3 4 3 2 3 19 Atende
QuartodosFilhos 2 4 2 4 1 3 16 AtendeSaladeEstar/Jantar 3 3 4 4 0 3 17 Atende
Cozinha 4 3 3 3 3 3 19 Atende
Banheiro 3 3 4 0 3 3 16 Atende
Áreadeserviço 3 3 3 3 3 3 18 Atende
Indicador e Conceito de Funcionalidade da Habitação 105 ATENDE
Fonte:LEITE,2003,p.104.
AinterpretaçãodosvaloresdosIFC'ssedáatravésdarepresentaçãográficadosmesmos.É
necessáriosalientarqueaproduçãodosgráficosparatodososcompartimentosemestudopossibilita
aanálisemaisaprofundadadosdadosobtidos.Ailustração2.6demonstraoexemplodográficoradar
paraoquartodecasal.
0123
4Equipamento mínimo
Equipamento adicional
Roupeiro próximo à porta
Área de circulação
Acesso à janela
Otimização
IFC 19
Ilustração2.6–Gráficodoindicadordefuncionalidadedoquartodecasal
Fonte:LEITE,2003,p.108.Adaptadopelaautoradestetrabalho.
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
37/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
37
OsgráficosdosIFC'spossibilitamcompararodesempenhodosquesitoseindicamquaisos
aspectos que merecem ser estudados e aprimorados. No exemplo acima, o quesito com menor
desempenhocorrespondeaoacessoàjanela,oqueindicaqueesseaspectodeveserestudadocom
ointuitodeaumentaraqualidadedeseufuncionamento.OgráficorepresentativodoIFH,porsuavez,
reúneosvalorespertinentesacadaum dos cômodosanalisados.A interpretaçãodesses valores
permite identificar quais oscompartimentosqueapresentamproblemas, sejamelesresultantesdo
projetodearquiteturaoudasformasdeutilizaçãodoespaçopelosusuários(Ilustração2.7).
0
6
12
18
24Quarto Casal
Quarto Filhos
Sala Estar/ Jantar
Cozinha
Banheiro
Área de Serviço
IFH 105
Ilustração2.7–GráficodefuncionalidadedahabitaçãocomIFH105
Fonte:LEITE,2003,p.107.Adaptadopelaautoradestetrabalho.
2.4 Técnicas de pesquisa
Astécnicasdepesquisautilizadasnaproduçãodestetrabalhoforamasseguintes:
• Levantamentobibliográficoapontandoparaaquestãodamoradiapopular,fenomenologiaem
arquitetura,antropologiacultural,métodosdepesquisasocial,fatoresdedimensionamentoda
habitaçãoequalidadedoambienteconstruído;
• Levantamento documental de estudos produzidos por instituições governamentais e de
ensinosobreaBarradoSambaqui;
• Levantamentoarquitetônicodashabitações,comproduçãodematerialiconográficoreferente
àsedificações–plantasbaixasmobiliadasefotografias;
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
38/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
38
• Realização de entrevistas semi-estruturadas com os usuários-chave – moradores
autoconstrutores e moradores secundários (não-originais), a fim de identificar o grau de
satisfação dos usuários com o espaço autoconstruído e as formas de produçãoespacial
dessashabitações(qualopartidoarquitetônico,asprioridadesespaciaisehierarquiaentreos
espaçosaseremconstruídos);
• Observaçãodoshábitosdeusodasedificaçõespelosusuários,nodecorrerdasvisitasem
campo;
• Descriçõesfísicasdashabitaçõesedasrelaçõessociaisaelasinerentes,afimdeconhecero
comportamento do morador em relação à edificação a partir dos usos atribuídos aos
diferentesespaçosdeatividadeepermanênciadomésticos;
• Atribuiçãodegrausdefuncionalidadeaoscômodos.
Dentre as técnicas mencionadas anteriormente, a observação dos hábitos de uso e a
entrevistaconstituem-secomoasprincipaisformasdecoletasdedadosemcampoparaesteestudo.
Assim,faz-senecessáriasuaconceituaçãomaisaprofundada.
2.4.1 A Observação
Umestudocomportamentalécaracterizadopelacompreensãodomododevidadosmembros
dogruposocialpesquisado,oqualnãopodesertotalmenteconhecidoapenasatravésdeentrevistas
formaisouquestionáriosestruturados:faz-senecessárioconhecerossistemasderelaçõessociaise
deparentescoentreaspessoas,bemcomoasreaçõessensoriaiseemocionaiscaracterísticasda
comunidadeemestudo-seuscheiros,cores,comoaspessoaslidamcomsuasperdas,ansiedadese
medos(DAMATTA,1974).Velho(1981:124)afirmaqueessessão"aspectosdeumaculturaede
umasociedadequenãosãoexplicitados,quenãoaparecemàsuperfícieequeexigemumesforço
maior,maisdetalhadoeaprofundadodeobservaçãoeempatia".
Empesquisasdecunhosocial, a técnicadeobservaçãomaisutilizadaéconhecida como
observação participante, a qual consiste na coleta de dados pelo pesquisador através de sua
participaçãonavidacotidianadapopulaçãopesquisada(ApêndiceA).
Essatécnicadepesquisaexigenãosóumaboapreparaçãodopesquisadoracercadesua
aplicaçãoemcampo,comotambémumadedicaçãoprofundadomesmoaoinserir-senumgrupodo
8/15/2019 Concepção e Linguagem Projetual de Habitações Autoconstruídas Em FlorianópolisSC Um Estudo Na Barra Do Sa…
39/176
Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui
39
qualelenãofazparte,natentativadecaptarvivênciasparticularesmantendoumacerta"distância
socialepsicológica"(VELHO,1981:124),afimdegarantiraconfiabilidadedosdadosobtidos.
Nopresente trabalho, em função das limitaçõesdetempo parasua realização,daprópria
natureza investigativa do estudo e da dificuldade de inserção na comunidade pesquisada, a
observação dos hábitos de uso das edificações pelos usuários foi caracterizada pelo exame
minuciosodassituaçõesvivenciadasduranteasvisitasacampo,asquaispossibilitaramumasériede
informações ricas em conteúdo sociológico. Os dados provenientes de tais observações foram
complementadospelasentrevistas,asquaispermitiramsuaanálisesoboenfoquecomportamental,
abord