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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊCIAS DA SAÚDE
PÓS-GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DO AGENTE COMUNITÁRIO NA ATENÇÃO Á SAÚDE DO IDOSO Camaragibe / PE
Adriana Falangola Benjamin Bezerra
RECIFE 2004
ADRIANA FALANGOLA BENJAMIN BEZERRA
CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DO AGENTE COMUNITÁRIO
NA ATENÇÃO À SAÚDE DO IDOSO - CAMARAGIBE/PE
Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação
ao nível de Doutorado
da Universidade Federal de Pernambuco,
para obtenção do grau de Doutor em Nutrição.
Orientador: Malaquias Batista Filho
Professor Titular do Departamento de Nutrição, CCS/UFPE
Co-orientador: Antônio Carlos G. Espírito Santo
Professor Adjunto IV do Departamento de Medicina Social, CCS/UFPE
Recife 2004
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin
Concepções e práticas do agente comunitário na atenção à saúde do idoso – Camaragibe /PE / Adriana Falangola Benjamin Bezerra – Recife : O Autor, 2004.
111 folhas : il., quadros, fotos.
Tese (doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCS. Nutrição, 2004.
Inclui bibliografia, anexos e apêndices.
1. Saúde pública – Políticas e planejamento estra-tégico – Camaragibe (PE). 2. Agentes comunitários (Saúde pública) – Identificação de concepções. 3. Idoso – Perfil epidemiológico e demográfico. I. Título.
614:32 CDU (2.ed.) UFPE
613.0438 CDD (21.ed.) BC2004-407
Ninguém liberta ninguém,
ninguém se liberta sozinho, os homens se libertam
em comunhão".
Paulo Freire
Dedicatória
À minha família,
pela energia e amor que nos une.
Sem vocês eu nada seria; eu nada serei.
Agradecimentos
- À minha mãe, Adriana, por nos presentear com a perfeita
tradução do amar, ser amado, lastro e viga de nossa inserção cidadã
no mundo.
- Ao meu pai, Milton, pela abnegação, retidão profissional e
legado de feitos à família e à sociedade.
- Ao meu marido Arnaldo, pelo cuidar, respeitar e valorizar.
- Aos meus filhos Vítor e Ugo, por existirem.
- Aos meus irmãos Milton Jr., Christina, Hugo, Ricardo, Teresa,
Ana Lúcia e descendentes, por tão bem exercitarem a herança afetiva.
- Ao Prof. Malaquias Batista Filho, pela capacidade humanística
e intelectual de lidar com a vida.
- Ao Prof. Antônio Carlos Gomes do Espírito Santo, pela
colaboração científica na elaboração deste trabalho.
- À amiga Gilcéa, pelo apoio incondicional.
- A Ana Paula, amiga na vida, na profissão e ocupação, pelo
despertar do tema e pelos momentos de diálogo.
- À amiga Erlene Roberta, pelo compartilhar.
- Às agentes comunitárias de saúde do município de
Camaragibe, pelo acolhimento.
- À Prefeitura de Camaragibe e à Secretaria Municipal de
Saúde, por disporem o espaço territorial e o espaço de abordagem às
ACS ao processo de criação/recriação intelectual, social e afetiva.
- À Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia do Estado de
Pernambuco, pelo reconhecimento e incentivo financeiro.
- Ao Ateliê Design e a Moema Cruz, pelo carinho e dedicação
ao trabalho de programação visual.
- Ao Corpo Docente da Pós-Graduação em Nutrição da UFPE,
pelos valiosos conhecimentos científicos transmitidos.
- A Christina Malta de Almeida Costa, pelo profissionalismo e
responsabilidade na revisão lingüística e documental.
- A Neci Maria Santos do Nascimento, secretária da Pós-
Graduação em Nutrição da UFPE, pelo profissionalismo e presteza.
- A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a
realização deste trabalho.
- À energia criadora, reverenciada Deus, pela certeza da
existência.
Resumo
O objetivo do estudo foi analisar as concepções predominantes referentes ao
processo saúde – doença, em idosos, entre as agentes comunitárias – ACS, do
município de Camaragibe, Pernambuco, Brasil. Adotou-se a metodologia
qualitativa. Nesta pesquisa foram entrevistadas 148 Agentes Comunitárias de
Saúde – ACS. Os resultados mostram que as ACS identificam como principal
atribuição desenvolver atividades de educação em saúde e realizar ações
básicas; a maioria refere opinião de valor negativo em relação ao
envelhecimento e apresenta compreensão integral do conceito de saúde.
Segundo as ACS, as queixas mais citadas pelos idosos, durante a visita
domiciliar, referem-se aos problemas de saúde e à necessidade de afeto. O
cuidado com os problemas de saúde foi identificado como a principal
responsabilidade do ACS para com o idoso e as dificuldades para
operacionalizar o atendimento localizam-se no campo da organização dos
serviços. A sondagem em relação às expectativas revelou o desejo das ACS
em saber “tudo” sobre o envelhecimento. A análise do conteúdo das entrevistas
permite concluir que as ACS identificam-se como protagonistas da atenção
básica e agentes nucleares da realização de determinadas políticas de saúde.
As concepções em relação às atribuições e à saúde do idoso apresentam uma
visão positiva, associadas a uma abordagem holística. A representação social
do idoso, as queixas dos idosos, os cuidados dos ACS para com os idosos e os
entraves no desempenho das atividades tiveram como respostas temas
relacionados ao adoecimento. O produto das entrevistas com as ACS indicou a
necessidade de realização de uma oficina de trabalho com gestores e gerentes
do sistema municipal de saúde, visando a sensibilização, responsabilização e
sustentabilidade das atividades das agentes junto ao segmento idoso. O
suporte teórico adotado para a oficina foi o do planejamento estratégico. A
operacionalização foi baseada na exposição dialogada de conteúdos sobre o
envelhecimento e o exercício prático de construção de um plano. Os resultados
da oficina indicam a necessidade da gestão municipal investir na divulgação e
implantação da Política Nacional do Idoso, priorizando a educação em saúde,
através da implementação de um plano intersetorial de atenção ao idoso, com
investimento na capacitação.
Abstract
The objective of this study was to analyze the predominant conceptions related
to the health – disease process in the elderly, among community health agents,
in the city of Camaragibe, Pernambuco, Brazil. The methodology adopted was
the qualitative. The thematic analysis permitted classifying and aggregating the
data. In this research, one hundred forty-eight community health agents were
interviewed. The results show that the community health agents identify the
development of activities in health educational and the performing of basic
actions as their main tasks; the majority has negative opinions of the aging
process, and complete understanding of the concept of health. According to the
community health agents, the most cited complaints by the elderly people are
the health problems and the necessity of affection. The community agents
identify the health care of the elderly as the main responsibility of the agent; and
the difficulties to operationalize the service are sited on the field of service
organization. The survey about the expectations showed the community health
agents’ wish to know “everything” about the aging process. The analysis of the
content of the interviews allows us to conclude that the agents identify
themselves as protagonists of the basic attention and core agents in the
accomplishment of determined health policies. The conceptions in relation to
the attributions and the health of the aged one present a positive view,
associated with a holistic approach. The social representation of the elderly, the
elderly complaints, the cares of the community agents regarding the elderly and
the barriers for the execution of the activities had as answers, themes related to
the disease process. The result of the interviews with the community health
agents indicated the need for a workshop with the managers of the health
system in the city, aiming for sensibility, that they may feel responsible and
interested to support the community health agents’ work with the elderly. The
theoretical support used in the workshop was the strategic planning. The
operationalizing process was based on the dialogued exposition of human
aging contents and practical exercise to create a plan. The results of the
workshop point out the necessity to the city management on investing in the
diffusion and implantation of the National Policy for the Elderly in the city,
prioritizing the health education through the implementation intersegmental plan of attention to the elderly, investing in the staff qualification.
Sumário
1. APRESENTAÇÃO 16
2. INTRODUÇÃO 20
2.1. O agente comunitário de saúde 21
2. 1. 1. HISTÓRICO 21
2. 1. 2. O ARCABOUÇO JURÍDICO 24
2. 1. 3. DIRETRIZES OPERACIONAIS PARA A PRÁTICA DO AGENTE
COMUNITÁRIO DE SAÚDE 25
2. 1. 4. IDENTIDADE PROFISSIONAL: ATOR SOLIDARISTA
E/OU ATOR INSTITUCIONAL? 28
2. 1. 5. O CENÁRIO 30
2. 1. 6. A INTERFACE DO AGENTE COMUNITÁRIO
DE SAÚDE COM O IDOSO 33
2. 2. O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL 34
2. 2. 1. CONCEPÇÕES 34
2. 2. 2. PERFIL DEMOGRÁFICO E EPIDEMIOLÓGICO 38
2. 2. 3. OS PARADIGMAS NO CAMPO DA SAÚDE
E O MODELO DE ATENÇÃO AO IDOSO 40
2. 3. O PLANEJAMENTO EM SAÚDE 46
2. 3. 1. BREVE HISTÓRICO 46
2. 3 .2. A ferramenta 47 2. 3. 3. A UTILIDADE: O USO 47
2.4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 49
3. ARTIGO 1- CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DO AGENTE COMUNITÁRIO NA ATENÇÃO À SAÚDE DO IDOSO 56
3. ARTIGO 2- PLANEJAMENTO EM SAÚDE:
O EXERCÍCIO DA CONSTRUÇÃO 80
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 100
6. APÊNDICES 103
7. ANEXOS 108
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 17
O enquadramento aos critérios de inovação e originalidade sugeridos a
teses de doutorado teve como base pesquisa realizada no Centro de
Referência e Documentação sobre Envelhecimento- CRDE, da Universidade
Aberta da Terceira Idade (UnATI) da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro- UERJ. O CRDE desenvolveu uma base de teses composta por
informações bibliográficas referentes a dissertações e teses que abordam
questões relacionadas aos idosos e ao processo de envelhecimento,
concluídas no Brasil ou defendidas por brasileiros, no exterior. O resultado da
pesquisa ao banco de teses revelou não haver produção científica catalogada
sobre o tema de estudo da tese em questão.
O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa em Seres Humanos do Instituto Materno Infantil de Pernambuco. O
estudo e seus desdobramentos foram realizados no período de 2000 – 2004,
no município de Camaragibe, Região Metropolitana do Recife, Pernambuco,
Brasil.
Considerando o “fazer de forma nova”, a inovação, o fato do estudo ter
produzido conteúdos para capacitação das agentes comunitárias de saúde na
área do envelhecimento, a partir da demanda construída no cotidiano da
relação ACS – Idoso, ao contrário da prática institucional estabelecida, seja ela
municipal, estadual ou federal, a qual trabalha conteúdos a partir do “saber
técnico” dos formuladores representantes da gestão, foi o marco da inovação.
O conhecimento das concepções e práticas das Agentes Comunitárias
de Saúde- ACS, de Camaragibe, relacionadas ao segmento idoso, bem como a
problematização da temática idoso no município, através de uma oficina de
planejamento, constituem as contribuições do estudo no campo da
originalidade.
O processo intelectual criativo da pesquisa resultou na produção de dois
artigos, respectivamente denominados: “ Concepções e práticas do agente
comunitário na atenção à saúde do idoso” e “ Planejamento em saúde: o
exercício da construção”.
O primeiro artigo versa sobre as representações sociais das ACS
relacionadas ao processo saúde- doença no segmento idoso, o papel a ser
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 18
desempenhado pelo ACS na atenção ao idoso, os entraves ao exercício da
função no que diz respeito ao segmento idoso e a demanda de conhecimento
do ACS na área do envelhecimento. A opção de explicitar as perguntas do
questionário de entrevista no corpo do trabalho tornou dispensável sua
apresentação nos anexos.
O conteúdo e a riqueza dos dados produzidos na fase de entrevista com
as ACS, para identificação das concepções e práticas, indicaram a
necessidade de trabalhar com o nível decisório e gerencial da gestão local,
conteúdos referentes à prática do agente direcionada ao segmento idoso,
visando a sensibilização, o apoio e a sustentabilidade do processo. Assim,
optou-se pela realização de uma oficina de trabalho com os atores identificados
pelas ACS como importantes para a tomada de decisão sobre a política de
atenção ao idoso, no município. O segundo artigo apresenta a sistematização
do processo de planejamento da oficina de trabalho, a qual objetivou construir
um plano operativo municipal, na área do envelhecimento.
A opção por modular a tese na forma de dois artigos atende a orientação
do Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Universidade Federal de
Pernambuco- UFPE.
A estruturação do trabalho está organizada na seqüência:
Introdução – considerando a opção de apresentar a tese na forma de dois
artigos e, portanto, a limitação de conteúdo imposta pelos periódicos, baseada
no documento “Requisitos Uniformes para Manuscritos Biomédicos” 1, a
introdução pretende situar a leitura em relação às abordagens teóricas e
conceituais do tema da tese.
Artigos- “Concepções e práticas do agente comunitário na atenção à saúde do
idoso”, enviado à Revista de Saúde Pública – Journal of Public Health, da
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. “Planejamento em
saúde: o exercício da construção”, enviado à Revista Saúde em Debate, do
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES).
1 Revista de Saúde Pública 1999; 33(1): 6-15.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 19
Considerações finais- Tópicos construídos a partir das acumulações teóricas e
da realidade empírica do estudo.
Apêndices- Modelo do Termo de Consentimento.
Memorial do Projeto de Pesquisa.
Anexos- Instruções aos autores, dos periódicos citados anteriormente.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 21
2.1. O AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE
2.1.1. HISTÓRICO
Nos países do primeiro mundo, os sistemas de saúde começam, na
metade dos anos 70, a ser fortemente questionados, tendo como pano de
fundo as novas concepções do processo saúde – enfermidade – cuidado, que
procuram articular quatro dimensões explicativas: biologia humana, estilos de
vida, ambiente e serviços de saúde (DEVER, 1980; LALONDE, 1996).
Como os sistemas de saúde estão submetidos a forças expansivas,
como a medicalização, o desenvolvimento tecnológico, a transição demográfica
e a mudança no perfil nosológico, a reação é baseada em mecanismos de
regulação, como o uso racional de recursos humanos e físicos, o controle
financeiro e a ética profissional. O paradoxo entre o uso de mecanismos de
regulação cada vez mais custosos e sofisticados e a realidade dos sistemas
marcados pela ineficiência, ineficácia, iniqüidade e com pouco apoio da opinião
pública, leva ao surgimento de novas concepções do processo saúde –
enfermidade – cuidado, que articulam saúde e condições de vida (BUSS,
2000).
No caso brasileiro, desde os anos 20, a organização sanitária teve
origem e desenvolvimento de forma dicotômica: saúde pública, de um lado, e
medicina previdenciária e liberal, de outro. Na década de 80, com o setor
saúde em crise (crise fiscal do estado financiador e crise dos paradigmas
científicos no que tange às concepções do processo saúde - doença e ético
social), o movimento sanitário propunha uma série de mudanças, inclusive a
reorganização das práticas de saúde. Entendendo que a saúde é resultante da
forma como a sociedade se organiza, considerando sua dimensão econômica,
política e cultural, o sistema deveria pensar propostas menos parciais para
atender às necessidades de saúde (PAIM, 2003).
A hegemonia do modelo médico - assistencial privatista e do modelo
sanitarista, no sistema de saúde brasileiro, não impediu a iniciativa da
construção de modelos assistenciais alternativos, entre eles a Vigilância da
Saúde e a estratégia do Programa de Saúde da Família – PSF, na perspectiva
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 22
de se aproximar do atendimento às necessidades de saúde da população,
articulando-se com as propostas de promoção da saúde (PAIM, 2003).
Promoção à saúde é o conjunto de atividades, processos
e recursos, de ordens institucionais, governamentais ou
da cidadania, orientados a propiciar o melhoramento de
condições de bem-estar e acesso a bens e serviços
(GUTIERREZ et al. 1997).
Precedente à formalização do modelo da Vigilância da Saúde e à
estratégia do PSF, no contexto da deterioração do sistema de saúde, ganha
força a retomada de propostas de assistências alternativas, calcadas em
experiências ocorridas nos anos 60, como o emprego de agentes não
profissionais ao processo de trabalho em saúde: os feldshers soviéticos; os
médicos de pés descalços na China; os assistentes médicos e o movimento de
medicina comunitária , nos Estados Unidos (MARTINS et al.1996).
No Brasil, os reflexos desses programas fizeram-se presentes nas ações
de extensão da cobertura. O II Programa Nacional de Desenvolvimento – II
PND (1975-1979), apesar de concentrar seu conteúdo nas definições da
política econômica, implantou o Programa de Interiorização das Ações de
Saúde e Saneamento – PIASS, que adotou como princípio a utilização de
agentes de saúde. O PIASS, a partir de Montes Claros/MG, estendeu-se para a
Região Nordeste (1976-1979), incorporando, em 1980, o Vale do Rio Ribeira/
SP (MACEDO; SANTOS; VIEIRA, 1980).
Em meados da década de 70, iniciativas municipais para resolver
demandas na área de saúde adotaram programas dentro dos princípios da
Atenção Primária, sendo o Programa de Agentes de Saúde uma destas
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 23
vertentes. São José dos Campos/SP é um dos municípios que dispõe dessa
experiência desde 1979 (SILVA ; DALMASO, 2002).
O II Plano Decenal de Saúde para as Américas (1971-1980), resultante
da III Reunião Especial de Ministros de Saúde da América Latina, defende a
realização de Programas de Extensão da Cobertura (PEC). (OPAS, 1971). Na
V Conferência Nacional de Saúde (1975), em Brasília, nas conclusões e
recomendações aparecem as propostas dos PEC (BRASIL, 1975).
A Conferência Internacional de Cuidados Primários em Saúde,
organizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em setembro de 1978, em Alma –
Ata, República do Cazaquistão, foi importante para a implantação, em vários
países, de programas de Atenção Primária para populações específicas (OMS,
1978).
Em 1987, o Estado do Ceará, em virtude de seca de grande proporções,
iniciou o PACS. A idéia era empregar, por um curto prazo, moradores de áreas
carentes para realizar atividades de promoção da saúde. O recurso para
bancar o programa teve sua origem no fundo especial de emergência do
Governo Federal (MINAYO; D’ELIA; SVITONE, 1990).
O Programa Nacional de Agentes Comunitários de Saúde- PNACS, foi
implantado na Região Nordeste, em 1991, sob a coordenação da Fundação
Nacional de Saúde-FNS, com o propósito de contribuir para a municipalização
e a implantação do Sistema Único de Saúde- SUS, através da ampliação da
cobertura às populações rurais e das periferias urbanas, priorizando o
segmento materno-infantil (SILVA ; DALMASO, 2002).
Em 1992, o PNACS perde o termo nacional, adotando a sigla PACS. No
ano de 1994, o programa havia se expandido para as regiões Norte e Centro-
Oeste, contando com 33.488 agentes, em 987 municípios (SILVA ; DALMASO,
2002).
O PSF foi idealizado em 1993 e oficializado em 1994, apresentando-se
como uma estratégia para reorganização do modelo de atenção básica à
saúde. O PSF representa um novo espaço para o exercício da prática do ACS.
O Plano de Metas do Ministério da Saúde, em 1997, prevê a expansão do
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 24
PACS e PSF para todo o território nacional e define as diretrizes operacionais
para o trabalho do agente (BRASIL, 1997).
Historiar sobre o ACS remete obrigatoriamente ao período do Serviço
Especial de Saúde Pública-SESP (1942-1960). O SESP iniciou suas atividades
através de um contrato de cooperação entre o governo brasileiro e o governo
americano. A atividade inicial, prioritária, do SESP, era prestar assistência
médico-sanitária às populações das áreas onde existiam matérias-primas de
interesse estratégico para os países aliados. Em 1960, após vários atos de
prorrogação do contrato de cooperação, foi criada a Fundação SESP,
vinculada ao Ministério da Saúde. A referida Fundação trabalhou com modelos
de ampliação da cobertura para populações específicas, práticas, princípios e
diretrizes que são constituintes, hoje, do PACS e do PSF, como a visita
domiciliar, adscrição de clientela, o trabalho com a comunidade, entre outros
(SILVA ; DALMASO, 2002).
2.1.2 O ARCABOUÇO JURÍDICO
A base do arcabouço jurídico do SUS é formada pela Constituição
Federal de 1988, pelas Leis 8.080/90 e 8.142/90 (BRASIL, 2003). A
operacionalização do SUS é orientada pelas Normas Operacionais, publicadas
sob forma de Portarias. No momento, a Norma Operacional de Assistência à
Saúde em vigor é a NOAS-SUS 01/02(BRASIL, 2003).
As normas e diretrizes de funcionamento do PACS e do PSF estão
explicitadas na Portaria n.º 1.886, do Gabinete do Ministro da Saúde, de
18/07/1997. O Decreto n.º 3.189, de 04/10/1999, fixa diretrizes para o exercício
da atividade do ACS (BRASIL, 2003).
Em função da necessidade de inclusão das ações de epidemiologia e
controle de doenças na gestão da atenção básica em saúde e da incorporação
das ações de vigilância, prevenção e controle da malária e da dengue, foi
publicada a Portaria n.º 44, em 03/01/2002, a qual define as atribuições dos
ACS no combate àqueles agravos (BRASIL, 2003). A Portaria n.º 1.350, de
24/07/2002, institui um incentivo financeiro adicional para os ACS, no valor de
R$ 240,00 (duzentos e quarenta reais), a ser transferido anualmente (BRASIL,
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 25
2003). Este incentivo está condicionado ao cumprimento, pelos ACS, da
Portaria n.º 44 (BRASIL, 2003). A Portaria n.º 868, de 07/05/2002, fixa em R$
2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais) o valor do recurso a ser transferido do
Fundo Nacional de Saúde aos Fundos Municipais de Saúde, referente ao
trabalho do ACS. Este valor é transferido mensalmente, em duodécimos, visto
que é anual (BRASIL, 2003).
Em julho de 2002, após 11 anos de funcionamento do PACS, é
regulamentada a profissão do ACS, através da Lei n.º 10.507 (BRASIL, 2003).
2.1.3 DIRETRIZES OPERACIONAIS PARA A PRÁTICA DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE
A regulação jurídica do SUS determina que ao ACS cabe desenvolver
atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde, por meio de ações
educativas individuais e coletivas, nos domicílios e na comunidade, sob
supervisão competente. São as seguintes as atividades a serem desenvolvidas
pelo ACS no atendimento ao que é preconizado como sua atribuição (Decreto
n.º 3.189/99) (BRASIL, 2003):
- utilizar instrumentos para diagnóstico demográfico e sociocultural da
comunidade de sua atuação;
- executar atividades de educação para saúde individual e coletiva;
- registrar, para controle das ações de saúde, nascimentos, óbitos,
doenças e outros agravos à saúde;
- estimular a participação da comunidade nas políticas públicas, como
estratégia da conquista de qualidade de vida;
- realizar visitas domiciliares periódicas para monitoramento de
situações de risco à família;
- participar ou promover ações que fortaleçam os elos entre o setor
saúde e outras políticas públicas que promovam a qualidade de vida;
- desenvolver outras atividades pertinentes à função do ACS.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 26
O ACS deve trabalhar com adscrição de famílias em base geográfica
definida, sendo responsável, no máximo, por 150 famílias ou 750 pessoas,
beneficiadas pela visita domiciliar pelo menos uma vez ao mês. Os requisitos
para ser ACS são: ser morador da área onde exercerá suas atividades há pelo
menos dois anos, ser maior de dezoito anos, ter disponibilidade de tempo
integral para exercer suas atividades e haver concluído o ensino fundamental.
Este último requisito foi incorporado a partir da Lei n.º 10.507/02 (BRASIL,
2003). Antes da promulgação da mesma, em relação à escolaridade, era
exigido apenas “saber ler e escrever”. A Lei desobriga os ACS em atividade
antes da data da promulgação, do atendimento ao requisito. Além dessas
exigências, o ACS deve também concluir, com aproveitamento, o curso de
qualificação básica para a formação do agente.
A capacitação do ACS deve acontecer em serviço, de forma continuada,
gradual e permanente, sob a responsabilidade de um instrutor supervisor. Cabe
ao profissional de enfermagem desempenhar o papel de instrutor, avaliando
sistematicamente o trabalho dos ACS. Cada grupo de 30 ACS deve ser
supervisionado por um profissional enfermeiro.
O processo de seleção é realizado pelo município, a partir da concepção
do modelo de saúde que orienta os marcos da gestão. O instrumento utilizado
na seleção é diversificado, em muitos casos, definido em função dos interesses
institucionais, sendo a prova escrita e a entrevista os mais comuns; mas, é
também utilizado o critério da indicação.
O acompanhamento das ações e o resultado das atividades realizadas
pelos ACS são monitorados pelo Sistema de Informação da Atenção Básica –
SIAB, identificado pelo Ministério da Saúde como um instrumento gerencial
para os sistemas locais de saúde, permitindo a micro-espacialização de
problemas de saúde e de avaliação de intervenções; utilização mais ágil da
informação; produção de indicadores capazes de cobrir todo o ciclo de
organização das ações de saúde a partir da identificação de problemas; e a
consolidação progressiva da informação, partindo de níveis menos agregados
para níveis mais agregados. A utilização prática dos dados gerados pelo SIAB,
ao nível das unidades básicas de saúde, é pouco expressiva, justificada, do
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 27
ponto de vista dos componentes das equipes do PSF, pela sobrecarga de
trabalho, especialmente consultas, o que impede a realização sistemática de
atividades relacionadas à análise dos dados.
A operacionalização das atividades do ACS subordina um aporte de
recursos financeiros, parte integrante da lógica de financiamento do SUS. O
repasse de recursos é feito do nível federal ao municipal e compõe o Piso de
Atenção Básica – PAB, composto por duas categorias: a fixa e a variável. A
primeira corresponde a um valor per capita, multiplicado pelo número de
habitantes do município; a segunda refere-se a um incentivo financeiro a
programas e estratégias que o município pode ou não adotar, entre elas o
PACS e o PSF. O valor de R$ 2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais)
corresponde ao montante transferido, por ACS/ano, ao município, na categoria
incentivo. Portanto, cabe à gestão local o ajuste de valores, uma vez que a
remuneração mínima do ACS deve ser de um salário mínimo.
A expansão, atualmente, do número de ACS, por orientação do
Ministério da Saúde, é condicionada à implantação ou implementação do PSF,
o que resultará na incorporação dos ACS do PACS ao PSF, com conseqüente
extinção, a médio e longo prazos, do PACS.
O PSF é constituído por uma equipe que, no mínimo, deve ter 1 médico,
1 enfermeiro, 1 auxiliar de enfermagem e 4 a 6 ACS. Cada equipe do PSF deve
acompanhar de 600 a 1000 famílias, não ultrapassando o limite máximo de
4.500 pessoas. A partir de 2001, foi incorporada à estratégia do PSF, a equipe
de saúde bucal, composta por 1 cirurgião-dentista, 1 atendente de consultório
dentário e um técnico de higiene dental (BRASIL, 2001a).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 28
2.1.4 IDENTIDADE PROFISSIONAL: ATOR SOLIDARISTA E/OU ATOR INSTITUCIONAL?
A dualidade do papel a ser desempenhado pelo ACS, enquanto membro
da comunidade que trabalha e sujeito da ação governamental, confere ao
mesmo uma condição única no cenário das categorias profissionais
estabelecidas.
As atividades legalmente previstas para serem realizadas pelos ACS
transcendem o campo tradicional da saúde, exigindo-lhes uma compreensão e
prática do processo saúde-doença, enquanto produção social. A designação de
“elo entre a comunidade e o serviço de saúde” faz desses agentes o ator-
chave para a reprodução das políticas de governo.
Nogueira, Silva e Ramos (2000) afirmam que o trabalho a ser
desempenhado pelo ACS com a comunidade abrange dois atributos sociais
básicos: a identidade com a comunidade e o pendor para a ajuda solidária. A
este perfil social está combinado o papel de mediador entre o Estado e a
comunidade. Os autores referem que: ... o ACS ajuda a abrir as portas da solidariedade comunitária, mas também as de acesso aos direitos sociais, incluindo saúde e outras dimensões do bem-estar, pelo fato de levar às famílias recursos e conhecimentos organizados pelo Estado.
As características que moldam a atividade do ACS geram grandes
dificuldades na definição da forma de vinculação institucional do agente, o que
tem favorecido a precarização das relações de trabalho da categoria. Para
refletir sobre este tema, Nogueira, Silva e Ramos (2000) sugerem que a
vinculação institucional do agente está subordinada à combinação de três
fatores gerais: a) a orientação mais liberal que hoje se adota no campo de
regulação das profissões e das ocupações, que atribui ao mercado a função de
legitimar, por livre demanda e utilização, as novas categorias que venham a
resultar da divisão do trabalho na sociedade; b) as mudanças da gestão na
administração pública, devido à reforma do Estado, que buscam dar mais
flexibilidade nas formas de vinculação de seu pessoal; c) a emergência do
paradigma solidarista de políticas sociais, que serve de base para que os
componentes desta categoria sejam efetivamente considerados como
trabalhadores sui generis, que precisam manter sua ligação originária com a
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 29
comunidade, devendo, para tanto, atuar como parte de um esquema de
parceria com o Estado.
O cenário da relação de trabalho do ACS com o município, ao nível
nacional, é constituído por várias modalidades de vinculação: estatutário,
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), cargo comissionado, prestação de
serviços, contrato excepcional por tempo determinado e cooperativa. Todas as
modalidades ferem o princípio da autonomia do ACS, requisito para legitimar a
identificação com a comunidade, denominada, por Nogueira, Silva e Ramos
(2000), de solidarista. A modalidade cooperativa vem sendo contestada pelo
Ministério Público do Trabalho, que a considera, no caso do ACS, como um
disfarce para a condição de emprego assalariado.
Pesquisa realizada pelo Departamento de Atenção Básica do Ministério
da Saúde, em 2001, sobre os vínculos contratuais dos ACS em nove Estados,
revela que, no Nordeste, 27% dos agentes são contratados como prestadores
de serviço, 24% estão na categoria bolsista, mais de 18% na categoria “outras
formas de contrato”, em que predominam contratos verbais; e 9% são
estatutários ou celetistas. Questionários em branco, referentes ao quesito
vínculo, representaram 22% do total (BRASIl, 2002a).
O cenário de precarização nas relações de trabalho a que estão
expostos os ACS, a pressão numérica deste segmento, mais de 185 mil ACS
(MACHADO, 2004), e os resultados práticos, positivos, de sua ação com a
comunidade, pressionam por uma solução para o dilema da vinculação
institucional.
O Ministério da Saúde, em janeiro de 2002, lançou a cartilha
“Modalidade de contratação de agentes comunitários de saúde: um pacto
tripartite, em que orienta os gestores a aderirem à modalidade de vinculação
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público-OSCIPS. A indicação do
Ministério, de acordo com os argumentos explicitados na cartilha, seria a
solução plausível, porque garante os direitos trabalhistas do ACS através da
CLT, uma vez que a OSCIPS é entidade de direito privado; os gastos com os
ACS não são computados nos limites de gastos com pessoal, previstos na Lei
de Responsabilidade Fiscal; gera segurança jurídica para a prefeitura e para o
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 30
agente; é compatível com os princípios e diretrizes do PACS, permitindo que o
requisito de morar na comunidade seja mantido, preservando os aspectos de
solidariedade, liderança e conhecimento da realidade (BRASIL, 2002a).
O tipo de vínculo representa um fator importante na subjetividade de ser
um agente solidarista e/ou um agente institucional, mas, como referem Silva e
Dalmaso (2002): Não existe o agente institucional ou o agente de comunidade como o
bem e o mal, o certo e o errado. Na realidade, essas categorias não são antagônicas ou excludentes, mas, sobretudo, elas aparecem como duas expressões indissociáveis e complementares de um mesmo sujeito, expressões, ao mesmo tempo, de sua prática e de suas dimensões de transformação social, de compromisso, de ética e de solidariedade.
2.1.5. O CENÁRIO
Estudo divulgado pelo Ministério da Saúde, em 2002, intitulado “Projeto
de Implantação e Consolidação do PSF: indicadores de monitoramento da
implantação em grandes centros urbanos”, apresenta o cenário do Modelo de
Atenção e do Modelo PSF, em 224 municípios brasileiros, com mais de
100.000 habitantes. Os dados apresentados a seguir ilustram a situação no
município de Camaragibe (BRASIl, 2002 b).
População 2000- IBGE
Modelo Evolução para Aprendizado1
Plena de Sistema Institucional
128.702 PSF PACS
Sim alto
Maturidade do PSF2 Ano de Implantação do PSF
Evolução das Equipes do3
PSF em relação a 2.000
1-4 alta 1999 alta
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 31
Tempo de Implantação do PSF
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - 1991
Renda média do responsável pela família (SM)
5 Médio 2,85
% de população com domicílios com abastecimento de água
% de população com domicílios com esgotamento sanitário
% da população com domicílios com coleta de lixo
77,11 20,22 84,62
Número médio de moradores por domicílio
Taxa de alfabetização
3,94
85,30
% da população cadastrada pelo PSF e PACS na população total do município
agentes comunitários de saúde do PSF e PACS por 1.000 pessoas cadastradas
PAB variável por habitante
84,66 16,54 19,98
PAB fixo por habitante/ano
percentual de recursos próprios, provenientes de impostos e transferências, aplicados em saúde
12,25 16,67
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 32
despesa total com saúde por habitante
Cobertura vacinal contra influenza em idosos
191,48 100%
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde, 2000.
1 Trajetória de habilitação do município às Normas Operacionais Básicas. 2 Tempo de implantação e trajetória de expansão. 3 Aumento no número de equipes no ano 2000.
A análise dos dados referentes ao processo de municipalização e de
implantação do PSF no município demonstra um desempenho positivo,
favorecido pelo tempo de implantação, fator importante para o acúmulo de
conhecimento por parte da gestão e gerência do sistema local de saúde.
As informações sobre o perfil sócioeconômico da população revelam
uma similitude com os demais municípios de mesmo porte, chamando a
atenção o percentual de coleta de lixo, ao se considerar a geografia acidentada
da região, marcada por áreas de difícil acesso.
A cobertura do PSF é alta e o número de agentes/habitante é superior
ao recomendado pelo Ministério da Saúde. Segundo dados da Secretaria
Estadual de Saúde (Pernambuco, 2004), Camaragibe conta com 266 ACS e 37
equipes do PSF, o que representa uma cobertura de 100% para o primeiro e
94,64%, ao ser considerado o parâmetro nacional.
Os valores do PAB variável e fixo são compatíveis com a média nacional
para os municípios do mesmo porte de Camaragibe, o que não significa que
atendem às necessidades da população.
O percentual de contrapartida de recursos financeiros do orçamento
municipal é superior ao valor mínimo de 15%, regulamentado pela Proposta de
Emenda Constitucional-PEC 29 (BRASIL, 2003). O valor per capita de
investimento em saúde no município ocupa a 20ª posição, no ranking dos
municípios avaliados; no entanto, para garantia do direito constitucional à
saúde, o referido valor, de R$ 191,48 (cento e noventa e um reais e quarenta e
oito centavos), não atende ao direito constituído.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 33
2.1.6. A INTERFACE DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE COM O IDOSO
A Portaria n.º 1.886, de 18/12/97 (BRASIL, 2003), apresenta trinta e três
ações e atividades a serem desempenhadas pelo ACS, entre elas , “a
realização de atividades de prevenção e promoção de saúde do idoso”. As
demais atividades, em quase sua totalidade, são de caráter geral, no que diz
respeito à focalização nos ciclos da vida, marcadas por uma atuação
intersetorial.
A estratégia do PSF, em relação ao segmento idoso, prevê uma atenção
especial e uma participação ativa na melhoria de sua qualidade de vida,
abordando-o com medidas promocionais de proteção específica, de
identificação precoce de seus agravos mais freqüentes e sua intervenção, bem
como medidas de reabilitação voltadas a evitar a sua apartação do convívio
familiar e social (SILVESTRE ; COSTA NETO, 2003).
A determinação conceitual da ação do ACS na atenção ao segmento
idoso está estabelecida do ponto de vista legal e doutrinário. Cabe refletir sobre
a transformação do escrito, no fazer.
Segundo Czeresnia e Freitas (2003), propor conceitos inclusivos e
complexos, no campo do processo saúde-doença-cuidado, é insuficiente para
transformar a realidade; é necessário construir discursos e práticas que
estabeleçam uma nova relação com outros conhecimentos.
No PSF constata-se, na prática, um afastamento dos aspectos
conceituais da estratégia. A atividade predominante é a assistência individual,
baseada no saber clínico, realizada por profissional universitário, médico ou
enfermeiro, tanto da demanda organizada, como da demanda espontânea
(SILVA ; DALMASO, 2002).
As expectativas conceituais e doutrinárias da ação do ACS na atenção
ao idoso são pertinentes, do ponto de vista do perfil demográfico, do perfil
epidemiológico, e da modalidade de abordagem e concepção cidadã que se
almeja do processo de envelhecimento.Silva e Dalmaso (2002) comentam que,
... na prática do dia-a-dia, espera-se que os agentes saibam lidar com complexos problemas sociais, no entanto estes agentes não dispõem de instrumentos, tecnologia, de saberes para corresponder às expectativas da
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 34
comunidade e dos governos, isto faz com que o agente acabe trabalhando com o senso comum, com Deus e com os saberes e recursos da comunidade. Segundo as autoras, isso traz, como conseqüência, a necessidade de
garantir condições para que se construa um saber operante, que deverá incluir
uma vertente individual e biológica e, principalmente, integrar e articular as
vertentes social e comunitária.
2.2. O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL
2.2.1. CONCEPÇÕES
É necessário desnaturalizar o fenômeno da velhice e considerá-la como
uma categoria social e culturalmente construída (MINAYO; COIMBRA Jr.,
2002). Compreender o envelhecimento é entender de que forma as
potencialidades e limites do ser humano são percebidos e atualizados, através
da relação entre natureza, sociedade e cultura. As relações sociais e o
conjunto de significados que unem as pessoas constituem o substrato para
determinar que a vida seja considerada como um curso, que alguns marcos
sejam estabelecidos e as etapas da vida sejam assinaladas diferentemente.
Neste sentido, embora os indivíduos idosos tenham basicamente as mesmas
potencialidades e limitações biológicas, em cada sistema sociocultural elas
serão vividas de modo tão diverso que suas implicações serão sensivelmente
diferentes, conseqüentemente o processo de envelhecimento não pode ser
considerado homogêneo (GUEDES, 1999).
Velhice – última etapa de um ciclo vital, delimitada por
eventos como perdas psicomotoras, afastamento social,
restrição em papéis sociais e especialização cognitiva
(PAPALÉO NETTO, 2002).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 35
Nas sociedades capitalistas industriais, a visão depreciativa dos mais
velhos tem sido alimentada pela ideologia produtivista, para a qual, se uma
pessoa não é capaz de trabalhar e de ter renda própria, de pouco ou nada
serve para seu país ou comunidade. No imaginário social, a velhice sempre foi
associada a um peso, seja para a família, seja para a sociedade. A forma mais
comum de discriminação cultural tem sido o estigma de descartável (SOUZA,
E. R. et al, 2002). Guimarães (1997) menciona que, “nos dicionários
emocionais da população, velhice é sinônimo de decadência, de decrepitude e
de perda de dignidade”.
No Brasil, a idéia de que os velhos constituem um problema social vem
sendo construída sobremodo pelo Estado, através da associação de situações
de déficit com o crescimento da população de idosos.
Senescência ou Senectude – resultado do somatório de
alterações orgânicas, funcionais e psicológicas no
envelhecimento normal.
Senilidade – alterações no envelhecimento normal por
doenças que acometem a pessoa idosa
(PAPALÉO NETTO, 2002).
Na sociedade ocidental contemporânea, o Estado é o grande regulador
do curso da vida. Por causa disso, a idade cronológica é um princípio cultural
importante no aparato jurídico – político estabelecido, o qual concentra no
indivíduo a atribuição de direitos e deveres; e no mercado de trabalho, a base
da economia. Padronizada, com base na idade cronológica, a leitura do ciclo
de vida que corresponde à fase da velhice passa a ser homogeneizada,
submetida a procedimentos uniformes, não considerando as potencialidades,
os problemas e as subjetividades dos idosos (MINAYO ; COIMBRA Jr., 2002).
Para a Organização das Nações Unidas – ONU (1982), o ser idoso
difere para países desenvolvidos e para países em desenvolvimento. Nos
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 36
primeiros, são considerados idosos os indivíduos com 65 anos e mais; nos
segundos, são idosos aqueles com 60 anos e mais. A diversidade no controle
de uma série de recursos entre aqueles que têm 60 anos e os que são vinte ou
trinta anos mais velhos levou à proposição de novos recortes: 60-75 anos
(jovens idosos ou terceira idade); acima de 75 –85 anos (idosos – idosos ou
quarta idade); acima de 85 anos (idosos mais idosos ou quinta idade)
(DEBERT, 1999).
A expressão “terceira idade” surgiu no pós Segunda Guerra Mundial,
para designar participantes de um movimento de transformação de um fato
particular em questão pública – o envelhecimento – ou seja, a luta para
imprimir um novo significado ao espaço tradicionalmente percebido como o da
decadência física e da inatividade; a transformação do idoso em ator político. A
terceira idade passa a ser uma categoria que designa o envelhecimento ativo e
independente, portanto, um mercado consumidor em expansão bastante
atraente. Este novo ator político que surge empoderado, participando de
movimentos de classe, tem, na sua contribuição específica, gerado um bem
para a sociedade, “estabelecendo os contornos de seus próprios interesses,
num mundo cheio de outros poderosos interesses” (MINAYO ; COIMBRA Jr.,
2002).
Gerontologia- campo multi e interdisciplinar voltado à
descrição e explicação das alterações usuais do
processo de envelhecimento e de seus determinantes
genéticos-biológicos, psicológicos e socioculturais
(NERI, 2001).
A diversidade de situações dos mais velhos no país não permite
polarizar a discussão na categoria “terceira idade” ou no estereótipo da velhice
como período da dependência e da passividade. A primeira corre o risco de
servir como fonte de recursos numa lógica para manter o mito da imortalidade
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 37
ou da eterna juventude, através do ilimitado investimento cultural e tecnológico
nos processos biológicos. A segunda legitima as políticas voltadas para o idoso
como ser abandonado pela família e alimentado pelo Estado. O discurso
gerontológico é um dos elementos fundamentais no trabalho de racionalização
e de justificação de decisões político-administrativas e no caráter das
atividades voltadas para um contato direto com o idoso (DEBERT, 1999).
É necessário um movimento que positive o envelhecimento como
um tempo produtivo específico da vida emocional, intelectual e social,
superando, assim, os estigmas da discriminação. Pois é essa discriminação
internalizada que freqüentemente leva os idosos a uma atitude de negação,
buscando parecerem mais jovens para ser aceitos e acolhidos, obscurecendo
suas características, seus atributos e sua identidade (LINS DE BARROS,
2000).
A positivação da identidade do idoso significa, por um lado, reconhecer o
que há de importante e específico para desfrutar nessa etapa da vida; por
outro, compreender, do ponto de vista desse grupo social, os sofrimentos, as
doenças e as limitações, com toda a carga pessoal e familiar que tais situações
acarretam, embora nunca tratando tais acontecimentos dolorosos e tristes
como sinônimos de velhice (MINAYO ; COIMBRA Jr., 2002).
É necessária uma mudança na concepção acerca da saúde, da doença
e do envelhecimento. A percepção dos agravos em idosos como “coisas da
idade”, “acometimentos esperados”, precisa ser modificada, através de uma
intervenção dinâmica de ações de promoção, prevenção e tratamento, que
favoreça o envelhecimento saudável. A reflexão de Boff (1999) sobre a
subjetividade do conceito saúde - doença permite um paralelo com a complexa
realidade diversa do processo de envelhecimento: “alguém mortalmente doente
pode ser saudável porque nesta situação cresce, se humaniza e dá sentido à
vida”.
É complexo o processo de envelhecimento, mas não pode ser
considerado sinônimo de doença, privação, dependência, tristeza e frustração.
Segundo Komatsu (2003), o alcance da imagem - objetivo da positivação
do envelhecimento,
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 38
... só é possível com uma grande mudança do paradigma de ser idoso em nossa sociedade, o que envolve a quebra de espelhos e lentes da sociedade, rompendo com mitos e crenças populares, preconceitos e ditos sobre o idoso.
2.2.2. PERFIL DEMOGRÁFICO E EPIDEMIOLÓGICO
O envelhecimento populacional não se refere nem a indivíduos, nem a
cada geração, mas, sim, à mudança na estrutura etária da população, o que
produz um aumento do peso relativo das pessoas acima de determinada idade.
Este limite de idade varia de sociedade para sociedade e depende não
somente de fatores biológicos, mas, também, econômicos, ambientais,
científicos e culturais (CARVALHO ; GARCIA, 2003).
O envelhecimento como problema social surge a partir da Segunda
Grande Guerra. A humanidade tem conseguido viver cada vez mais, graças ao
controle de certas doenças, à queda nas taxas de fecundidade e de natalidade,
à melhoria das condições de vida – que premiam desigualmente pobres e ricos,
mas são abrangentes – e ao avanço de tecnologias de trabalho, saúde e lazer
(MINAYO ; COIMBRA Jr,., 2002).
O Brasil dobrou o nível de esperança de vida ao nascer em
relativamente poucas décadas, numa velocidade muito maior que os países
europeus, os quais levaram cerca de 140 anos para envelhecer. Em 1900, a
esperança de vida ao nascer do brasileiro era de 33,7 anos; em 1950, de 43
anos; em 1990, de 65 anos (VERAS, 1995).
Jamais, até os nossos dias, os países tinham registrado um número tão
elevado de idosos em sua população, especialmente no grupo de idade
extrema, acima de 80 anos. No Brasil, entre 1960 e 1980 houve uma queda de
33% da fecundidade. A diminuição no número de nascimentos resulta, em
médio prazo, na ampliação relativa da população idosa (KALACHE et al.1987).
O declínio da fecundidade, no Brasil, tem ocorrido numa velocidade
muito maior que em outros países; em torno de 30 anos, em comparação com
os 115 da França, os 85 da Suécia ou os 66 anos dos Estados Unidos
(CHAIMOWICZ, 1997; KALACHE et al. 1996).
Como conseqüência do declínio relativo do número de jovens e o
aumento da proporção de idosos, tem-se o estreitamento da base da pirâmide
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 39
populacional e o alargamento progressivo das outras faixas, bem como o
aumento da esperança de vida ao nascer (IBGE, 2002). A previsão dos
demógrafos é que, em 2020, existam cerca de 1,2 bilhão de idosos no mundo,
dentre os quais 34 milhões de brasileiros acima de 60 anos, que
corresponderão à sexta população mais velha do planeta, ficando atrás apenas
de alguns países da Europa, do Japão e da América do Norte. A pressão
numérica do referido grupo populacional obriga a uma escuta que considere a
lógica interna deste contingente societário, buscando a realização de seus
anseios para a construção de um padrão de vida que lhes seja adequado.
Assim, no contexto brasileiro, o acelerado crescimento da população idosa faz
surgir um grande desafio: como garantir uma sobrevivência digna a todos
aqueles que tiveram suas vidas prolongadas em anos? Sá (1997) pondera que
o cuidado com o envelhecimento deve ser concebido com base em indicadores
de qualidade da existência. A busca de soluções adequadas exige a inclusão
do envelhecimento como um elemento fundamental na elaboração das novas
políticas e na agenda de investigação científica do novo milênio (MINAYO;
COIMBRA Jr., 2002).
De acordo com o censo de 2000, a população de idosos do Brasil
corresponde a 8,7% da população total; em Pernambuco, o percentual é de
8,9%, representando a 6º população de idosos do país; no município de
Camaragibe, 7,3% da população é representada pelo segmento idoso.
Como repercussão da transição demográfica vem sendo observada uma
transição epidemiológica ou dos padrões de morbi-mortalidade de
características específicas. No Brasil, diferentemente dos países
industrializados, não houve uma substituição das doenças transmissíveis por
doenças não transmissíveis; o que ocorre é uma superposição destes agravos
(CHAIMOWICZ, 1997).
A mortalidade entre os idosos, no Brasil, é em grande parte referida
como de causas mal definidas (65%). O elevado percentual reflete a
precariedade da assistência médica e a dificuldade de estabelecer
diagnósticos, pela presença de múltiplas doenças (COSTA et al. 2000; MELO
JORGE; GOTLIEB; LAURENTI, 2001).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 40
Os três principais grupos de causa de mortalidade dos idosos, no Brasil,
são, respectivamente: doenças do aparelho circulatório, neoplasias e doenças
respiratórias. Em Pernambuco, a primeira e segunda causa são coincidentes
com o quadro nacional, sendo a terceira causa representada pelas doenças
endócrinas, nutricionais e metabólicas. No município de Camaragibe, a
mortalidade em idosos apresenta, como primeira causa, as doenças do
aparelho circulatório, seguida pelas doenças do aparelho respiratório e das
neoplasias (BRASIL, 2001b).
Em relação ao perfil de morbidade, constata-se uma carência de
informações em relação ao segmento idoso, sendo que as existentes, em sua
maior parte, referem-se a dados de demanda em serviços, nos quais há
limitações decorrentes dos registros e da não definição de critérios universais
de diagnóstico, anamneses e exames. Este fato é agravado pela precariedade
do acesso assistencial do referido segmento populacional (MELO JORGE;
GOTLIEB; LAURENTI, 2001).
Dados referentes à morbidade hospitalar em idosos, no Brasil e no
Estado de Pernambuco, apresentam, como primeira causa de internamento, as
doenças do aparelho circulatório e, como segunda e terceira causas, as
doenças do aparelho respiratório e do aparelho digestivo, respectivamente. As
causas de internamento, no Município de Camaragibe, em ordem decrescente,
são, respectivamente: doenças do aparelho circulatório, doenças do aparelho
digestivo e as neoplasias (BRASIL, 2002c).
2.2.3. OS PARADIGMAS NO CAMPO DA SAÚDE E O MODELO DE ATENÇÃO AO IDOSO
A presença do paradigma biologicista configura-se na vigência do
modelo assistencial médico-privatista ainda regendo o processo de
organização dos serviços de saúde no país, porém, convivendo com o modelo
sanitarista e também com ações características de modelos alternativos de
atenção à saúde. É importante enfatizar que não é fácil romper com um
paradigma estruturado secularmente, que influencia na formação profissional,
na gestão dos serviços e na macropolítica do setor, intervindo na vida e na
morte das pessoas (MENDES, 1996).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 41
A partir das demandas advindas de uma nova ordem mundial,
como: a transição demográfica e epidemiológica da população, é importante
considerar um novo paradigma, que não é hegemônico, mas aponta para a
visão da saúde como produção social, objetivando o controle dos riscos e
danos, considerando os vários determinantes no processo saúde-doença
(MENDES, 1996).
O rápido crescimento da população de idosos, no Brasil, acarreta um
importante impacto em toda a sociedade, principalmente nos sistemas de
saúde. A infra-estrutura necessária para responder às demandas deste grupo
etário, em termos de instalações, programas específicos e mesmo recursos
humanos adequados, quantitativa e qualitativamente, ainda é precária (VERAS,
2002).
Os idosos consomem mais dos serviços de saúde, suas taxas de
internações são mais elevadas, quando comparadas a qualquer outro grupo
etário, e o tempo médio de ocupação do leito é três vezes maior. A falta de
serviços domiciliares e/ ou ambulatoriais faz com que o próprio atendimento se
dê em estágio avançado, no hospital, aumentando os custos e diminuindo as
chances de um prognóstico favorável. Os problemas de saúde nos mais velhos
são crônicos e múltiplos, perduram por vários anos, requerendo o envolvimento
de pessoas qualificadas, equipe multidisciplinar, equipamentos e exames
complementares (VERAS, 2003).
Em recente entrevista, o Ministro da Saúde, ao ser questionado quanto
aos entraves na operacionalização do SUS, identificou a carência do
atendimento de média complexidade, ou seja, o atendimento especializado,
como um dos mais graves, responsável pela sobrecarga direcionada aos
serviços de urgência e, conseqüentemente, ao desvirtuamento da função
estabelecida, implicando numa série de transtornos à população e aos
profissionais de saúde (ALMEIDA, 2004). Dados do município de São Paulo
demonstram que os idosos são os que mais freqüentam as unidades de
emergência, recebendo uma atenção pouco resolutiva, sendo a baixa oferta de
serviços especializados e, em algumas áreas, de serviços básicos, um dos
determinantes pela procura deste tipo de atendimento (KALACHE et al. 1996).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 42
O Brasil possui um sistema de saúde desorganizado, frente às
necessidades deste segmento populacional, com baixa resolubilidade, pouco
adequado para enfrentar os problemas de saúde do idoso, agravados pela
desinformação, pela dificuldade de acesso aos serviços de saúde, pelo
preconceito e despreparo da sociedade e dos profissionais de saúde em lidar
com as situações inerentes ao processo de envelhecimento, resultando em um
cuidado deficiente e de elevado custo (MENDES, 2001).
Estudo realizado no Rio de Janeiro, em 1994 (VERAS, 1995), mostrou
que 82,5% dos idosos pesquisados não relataram perda de sua capacidade
funcional. Apesar deste percentual elevado, sabe-se que uma proporção maior
do segmento idoso retorna para outras consultas, em relação aos demais
grupos usuários de serviços de saúde. Entre os que reportaram problemas de
saúde, cerca de 2/3 responderam possuir mais de uma queixa. Esta é uma
característica importante nos idosos, que deve ser levada em consideração
quando da organização dos serviços de saúde.
Com o prolongamento da vida, o período de incapacidade e
dependência também é prolongado. A complexidade deste quadro indica que
urgentes medidas precisam ser tomadas. É necessário eleger algumas
questões teóricas que considerem as especificidades do idoso e mostrem que
os modelos de prevenção para este grupo etário são distintos dos
preconizados para os segmentos populacionais mais jovens. Deve-se
desenvolver uma estratégia que leve o aparecimento da morbidade e
incapacidade para o limiar mais próximo possível do limite biológico da vida
( FRIES, 1980; FRIES ; CRAPO, 1981).
Capacidade funcional – grau de preservação da
capacidade de realizar atividades de vida diária- AVDS e
o grau de capacidade para desempenhar as atividades
instrumentais de vida diária- AIVDS.
Escalas: Katz (1963); Fillembaum e Smyer (1981);
Lawton (1982) (NERI, 2001).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 43
Nos Estados Unidos, é grande o volume de recursos empregados na
tentativa de criar modelos de operacionalização do sistema de saúde, visando
atingir uma conjunção otimizada entre a qualidade dos serviços prestados e a
quantidade de recursos despendidos. A lógica subjacente aos estudos norte-
americanos é de que este segmento poderia gozar de melhor saúde, com um
gasto menor em hospitalizações e atendimentos de complexidade crescente
(5% da população registrada no Medicare - serviço público de atendimento ao
segmento idoso- é responsável por 62% das despesas hospitalares) se os
indivíduos de maior risco fossem identificados precocemente e abordados de
forma preventiva (BOULT et al. 1993; GRUENBERG; TOPKINS; PORELI,
1989). De acordo com Veras (1998), a prevenção, nos idosos, deve ser de dois
níveis: o 1º, da prevenção clássica, isto é, das ações que tentam evitar a
instalação de quadros mórbidos; o 2º da detecção precoce da doença, isto é,
do movimento que visa a antecipação diagnóstica para postergar a
manifestação mais avançada das doenças pelo mais longo espaço de tempo
possível.
O PSF configura-se como uma estratégia de estratificação de risco e de
identificação do idoso fragilizado, diminuindo suas dificuldades em conseguir
assistência adequada para os problemas de saúde, podendo desenvolver
ações preventivas no plano primário e mesmo secundário.
O ACS, dentro de sua capacidade de atuação, é um ator importante no
sentido de promover a prevenção, contribuir para o diagnóstico e tratamento
precoce das doenças crônicas e incapacidades, procurando manter a
autonomia dos idosos.
AVDS – Atividades de vida diária ou de auto-cuidado:
arrumar-se, vestir-se, comer, fazer a toalete, banho,
locomoção.
AIVDS – Atividades instrumentais de vida diária: fazer
compras, pagar as contas, cozinhar, usar meios de
transporte, cuidar da própria saúde (NERI, 2001).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 44
Envelhecer sem nenhuma doença crônica é mais a exceção do que a
regra. A presença de doença crônica não implica que o idoso não possa gerir
sua própria vida e encaminhar o seu dia-a-dia de forma totalmente
independente. E a grande maioria dos idosos é, na verdade, absolutamente
capaz de decidir sobre seus interesses, organizar-se, sem nenhuma
necessidade de ajuda de quem quer que seja. De acordo com os mais
modernos conceitos gerontológicos, estes idosos que mantêm sua auto-
determinação e prescindem de qualquer ajuda ou supervisão para realizar as
atividades diárias deve ser considerado um idoso saudável, ainda que seja
portador de uma ou mais doenças crônicas (GORDILHO et al. 2000).
Independência funcional – o indivíduo é capaz de
realizar uma tarefa motora sozinho, o que permite a
realização das AVDS e AIVDS
(PEREIRA et al. 2002).
O investimento na promoção do envelhecimento saudável é tão
importante quanto os recursos aplicados na assistência. Significa manter 80%
dos idosos saudáveis, com sua autonomia preservada, reservando meios para
os 20% fragilizados. Os modelos de promoção e prevenção direcionados à
população idosa se aplicam de modo tímido à clientela. Desta forma, políticas
que previnam a deterioração da capacidade funcional e permitam a
compressão da morbidade, como ações educativas de estímulo à adoção de
hábitos e estilo de vida saudável, e a promoção de atividades de convivência,
mostrar-se-iam mais eficazes, evitando que os 80% venham a engrossar o
contingente dos 20% que demandam mais do sistema de saúde (VERAS,
2002).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 45
Autonomia – exercício do autogoverno, capacidade de
decisão sobre sua própria vida.
Independência – capacidade de desenvolver as
atividades instrumentais de vida diária e de auto-cuidado
sozinho (PAPALÉO NETTO, 2002).
Nesse sentido, a Política Nacional de Saúde do Idoso (Lei 8.842/94;
Decreto 1.948/96) (BRASIL, 2003) tem como propósito basilar: a promoção do
envelhecimento saudável, a preservação e/ou a melhoria, ao máximo possível,
da capacidade funcional dos idosos, a prevenção de doenças, a recuperação
da saúde daqueles que adoecem e a reabilitação daqueles que venham a ter a
sua capacidade funcional restringida, de modo a garantir-lhes permanência no
meio em que vivem, exercendo de forma independente suas funções na
sociedade.
Qualidade de Vida – é a percepção do indivíduo acerca
de sua posição na vida, de acordo com o contexto
cultural e sistema de valor com os quais convive (OMS,
1978).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 46
2.3. O PLANEJAMENTO EM SAÚDE
2.3.1. BREVE HISTÓRICO
O histórico do planejamento tem como base a necessidade de
intervenção do Estado na economia, e teve seu início na União Soviética, na
década de 20. Neste período, o planejamento era marcado por uma lógica
normativa e utilizado como um procedimento para imprimir uma orientação
mais racional à economia.
O modelo normativo do planejamento em saúde, na América Latina,
surgiu oficialmente em 1963, como proposição da Organização Pan-Americana
de Saúde-OPAS, em associação com o Centro Nacional de Desenvolvimento
da Universidade Central da Venezuela, recebendo a denominação de Método
CENDES/OPAS, cuja idéia central era a eficiência na utilização dos recursos
(SCHRAIBER et al. 1999).
Com o pragmatismo da “eficiência na utilização dos recursos”, o referido
método não atendeu a complexidade do processo de produção da saúde e da
doença. Chega-se à conclusão que o método é centrado numa lógica
economicista e administrativa mais voltada para o crescimento, em detrimento
da equidade (OPAS, 1973).
Na década de 70 surgiu uma nova modalidade de pensar o
planejamento em saúde, deslocando a discussão do âmbito da microeconomia
para o político (CPPS/OPAS, 1975).
O novo paradigma adota a denominação de Planejamento Estratégico e,
como tal, assume que: a realidade é marcada por interesses conflituosos;
quem planeja é um ator social, segundo Matus (1993),
... é uma personalidade, uma organização ou um grupamento humano, que de forma estável ou transitória tem capacidade de acumular força, desenvolver interesses e necessidades produzindo fatos na situação;
o ator social que planeja é considerado como parte do sistema planejado; as
múltiplas concepções dos atores levam à possibilidade de várias explicações
da realidade e a vários diagnósticos; o sistema sobre e com o qual se planeja é
histórico, complexo, mal definido e incerto, logo, os problemas que dele
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 47
derivam são do tipo quase estruturado, ou seja, a resolução dos mesmos não
depende exclusivamente de uma normatização, o seu enfrentamento está
subordinado à ação criativa e estratégica do ator envolvido (RIVERA, 1992).
2.3.2. A FERRAMENTA
A partir das premissas assumidas pelo planejamento estratégico surgem
enfoques particularizados ao novo paradigma: o pensamento estratégico de
Mario Testa, o planejamento estratégico situacional (PES) de Carlos Matus e o
enfoque estratégico da Escola de Medellin (FEKETE, 1997). A Teoria da Ação
Comunicativa de Habermans, no início da década de 90, traz como uma de
suas conseqüências a abordagem comunicativa do planejamento (RIVERA;
ARTMANN, 2003).
No pensamento estratégico de Mario Testa, o problema é abordado
numa perspectiva estrutural, localizando, nas questões relativas ao poder, o
ponto de partida da construção epistemológica. O PES preocupa-se em dotar
de cientificidade o processo decisório, definindo conceitos operacionais,
métodos e técnicas para o ato de planejar. A Escola de Medellin tem em
Barrenechea e Trujillo Uribe seus pensadores mais destacados, trabalha o
planejamento estratégico a partir da visão institucional setorial (saúde), com o
interesse voltado para métodos e técnicas e não para as determinações dos
processos (FEKETE, 1997).
2.3.3. A UTILIDADE: O USO
A complexidade dos problemas do setor saúde freqüentemente exige
reflexões significativas para a busca de alternativas coerentes com seu
enfrentamento. Logo, quer seja em relação a problemas de saúde da
população, ou a problemas relacionados ao funcionamento do sistema, faz-se
necessária uma análise, para uma posterior intervenção. Conseqüentemente, o
enfrentamento dos problemas exigirá intervenções de âmbito setorial, assim
como extra-setoriais e transetoriais, entendendo que esta última envolve a
participação de vários setores (SANTOS, 2004).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 48
Devido à necessidade da mudança de paradigma na saúde, torna-se
urgente a prática de um planejamento que calcule, em longo prazo, e que
ofereça possibilidade de respostas concretas aos desafios do presente, ao
mesmo tempo comprometido com as aspirações das gerações futuras. Torna-
se eminente a emergência de uma nova gestão da atenção à saúde: holística,
de longo prazo, interdisciplinar, interdependente (de cooperação e de
solidariedade entre as gerações) e participativa (CAVALCANTE, 1998).
A questão do envelhecimento populacional e a responsabilização do
Estado na efetivação de políticas públicas de positivação do envelhecimento,
tendo nesse estudo o enfoque no ACS, como ator da operacionalização dessa
política, são campos de intervenção que demandam, ao planejamento e à
administração, respostas efetivas às suas necessidades.
Segundo Rivera e Artmann (1999), o planejamento cumpre o papel de
responder às necessidades do sistema de saúde, porque entendido como
ferramenta organizacional, fazendo parte de um processo mais amplo de
desenvolvimento das organizações, valoriza a condução da ação para a
resolução.
Enquanto processo, a denominação de “ferramenta” não pode ser
entendida como um conjunto de técnicas e fórmulas. Ela é dinâmica, sua
riqueza está no processo de análise e discussão que leva ao diagnóstico, à
visão de futuro desejável e à definição de ações para transformação da
realidade identificada como problema.
O planejamento, a partir das mudanças de paradigmas, vem se
afastando do papel estrutural da organização e da administração, rumando em
direção às dinâmicas interativas dos indivíduos, ressaltando os problemas dos
sujeitos e seus valores, das culturas e seu comportamento prático, produzindo
interatividade e comunicação (SCHRAIBER et al. 1999).
Segundo Kon (1997), o planejamento surgiu como instrumento de
atuação/renovação do Estado, para a microfísica das ações assistenciais. Ao
nível macro, o planejamento volta-se para a enunciação e explicitação de
modelos , lógicas de proteger e produzir saúde, tendo como um dos itens a
prestação direta de serviços assistenciais. Para atender a esse pressuposto, o
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 49
planejamento tem que se colocar a serviço da habilidade de flexibilizar a norma
para o cotidiano dinâmico e particular da realidade.
A utilidade, o uso do planejamento, baseia-se na possibilidade de
articular o político com o técnico-científico, através da identificação de
problemas numa situação concreta, a definição de prioridades e atividades
para a solução do problema, a definição dos recursos necessários e a
identificação dos responsáveis.
O SUS, através de seus princípios doutrinários de universalidade,
equidade e integralidade; da participação popular e profissional em seus
processos decisórios; da prestação dos cuidados em saúde resolutivos e de
boa qualidade técnico-científica, tem submetido o gestor público a uma prática
de grande complexidade ( SCHRAIBER et al. 1999).
A efetivação do sistema, num cenário de luta contra-hegemônica aos
modelos tradicionais e à reforma do Estado, especialmente com relação à
flexibilização nas formas de vinculação profissional, tem demandado atitudes
criativas, submetidas a um modo de planejar .
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Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 57
CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DO AGENTE COMUNITÁRIO NA ATENÇÃO À SAÚDE DO IDOSO
CONCEPTIONS AND PRACTICE OF THE COMMUNITY HEALTH AGENT IN THE HEALTH CARE OF THE ELDERLY.
Adriana Falangola Benjamin Bezerra 1 , Malaquias Batista Filho 2
Antônio Carlos Gomes do Espírito Santo 1
1Departamento de Medicina Social, Universidade Federal de Pernambuco. 2Departamento de Nutrição, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE,
Brasil. Av. Prof. Moraes Rego s/n – Cidade Universitária. Cep: 50670-420
Baseado em tese de doutorado – Programa de Pós-Graduação.
Departamento de Nutrição/UFPE, 2004.
Correspondência para:
Adriana Falangola Benjamin Bezerra
Departamento de Medicina Social – UFPE
Av. Professor Moraes Rêgo s/n – Cidade Universitária
CEP: 50670-420 Recife, PE, Brasil
Fone: 81- 21268550 Fax: 21268558
e-mail: [email protected]
Trabalho financiado pela
Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do
Estado de Pernambuco - FACEPE (Processo nº: 23-CSD-02/00-01-5).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 58
RESUMO
OBJETIVO Analisar as concepções predominantes entre as agentes comunitárias de saúde, referentes ao processo saúde – doença, em idosos.
MÉTODOS Método qualitativo, tipologia exploratória – descritiva, técnicas de
coleta de dados: revisão da literatura, análise documental e entrevista. A
análise temática permitiu a classificação e agregação dos dados. Entrevistas
realizadas com 148 agentes comunitárias de saúde do município de
Camaragibe-PE/Brasil.
RESULTADOS Os resultados mostram que 42% das agentes comunitárias
identificam como principal atribuição desenvolver atividades de educação em
saúde e realizar ações básicas; 65% têm opinião de valor negativo em relação
ao envelhecimento; 66% apresentam compreensão integral do conceito de
saúde; as queixas mais citadas pelos idosos referem-se aos problemas de
saúde e à necessidade de afeto; 68% identificam o cuidado com os problemas
de saúde do idoso como a principal responsabilidade do ACS; 49% das
dificuldades dizem respeito à organização dos serviços; 67% nunca tiveram
capacitação na área e 63% desejam saber “tudo” sobre o envelhecimento.
CONCLUSÃO As agentes comunitárias identificam-se como protagonistas da
atenção básica e agentes nucleares da realização de determinadas políticas de
saúde. As concepções em relação às atribuições e à saúde do idoso
apresentam uma visão positiva, associadas a uma abordagem holística. A
representação social do idoso, as queixas dos idosos, os cuidados das agentes
comunitárias para com os idosos e os entraves no desempenho das atividades
tiveram como respostas temas relacionados ao adoecimento. O poder público deve investir na formação de agentes comunitárias capazes de lidar com os
múltiplos aspectos do envelhecimento, provendo condições para apropriação,
pelo agente, do instrumental adequado e necessário para positivar o
envelhecimento.
Descritores: programa saúde da família, saúde do idoso, agente comunitário de saúde, idoso, envelhecimento.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 59
Abstract Objective To analyze the predominant conceptions among the community health agents in relation to the process of health and disease in the elderly people. Methods This is a qualitative study of exploratory and descriptive type. The techniques of data collection were literature review, documental analysis and interviews. The thematic analysis allowed data classification and aggregation. Interviews were carried out with one hundred forty-eight community agents from the city of Camaragibe-PE/Brazil. Results The results reveal that forty-two percent of the community agents identify the development of activities in health educational and the performing of basic actions as their main tasks; sixty-five percent have negative opinions of the aging process, and sixty-six percent have complete understanding of the concept of health. The most cited complaints by the elderly people are the health problems and the necessity of affection. Sixty-eight percent of the community agents identify the health care of the elderly as the main responsibility of the agent; forty-nine percent of the difficulties are related to the health services organization; sixty-seven percent had never had any qualification in the area and sixty-three percent would like to know “everything” about the aging process. Conclusions The community agents identify themselves as protagonists of the basic attention and core agents in the accomplishment of determined health policies. The conceptions in relation to the attributions and the health of the aged one present a positive view, associated with a holistic approach. The social representation of the elderly, the elderly complaints, the cares of the community agents regarding the elderly and the barriers for the execution of the activities were the theme answers related to the disease process. The local government authorities must invest in the qualification of community agents, who are able to deal with the multiple aspects of the aging, providing them with conditions for appropriation of the adequate and necessary tools to a positive aging process. Keywords: community health agent; aged; Aging Health; Health Services for
the Aged; Family Health Program; conception of the aging process.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 60
INTRODUÇÃO
A Organização das Nações Unidas – ONU considera o período de 1975
a 2025 como a era do envelhecimento, dado o crescimento marcante da fração
de indivíduos com idade equivalente ou superior a 60 anos, considerados
idosos 5 .
No Brasil, estima-se que a população de idosos crescerá 16 vezes,
contra 5 vezes o crescimento da população geral, o que significará, em termos
absolutos, a sexta maior população de idosos do mundo, ou seja, 32 milhões
de indivíduos idosos no ano 2025 6.
O rápido processo de envelhecimento da população brasileira, apesar de
recente, vem sendo ressaltado na produção científica e nos fóruns de
discussão sobre o assunto, não só por suas implicações sociais, mas, também,
pela necessidade de estruturação de um modelo assistencial que contemple o
segmento idoso de forma integral, superando os desafios representados por
estas novas demandas sociais e de saúde 21 .
Entre tais desafios coloca-se o fortalecimento do trabalho interdisciplinar
da equipe que assiste ao idoso, a partir de dinâmicas relacionais, integradoras
das diversas áreas de conhecimento. Este é um território por onde transitam
não apenas o mundo cognitivo, mas também a solidariedade profissional que
está presente na boa prática de interagir saberes e fazeres, mostrando-se
eficaz na constituição de modelos assistenciais centrados no usuário 8.
O processo de municipalização da saúde tem investido na ampliação do
atendimento através do Programa de Saúde da Família - PSF e do Programa
de Agentes Comunitários de Saúde – PACS, considerados portas de entrada
ao sistema de saúde, buscando uma relação mais pessoal dos profissionais
com os usuários e com capacidade resolutiva de 80% das demandas da
população.
Os agentes comunitários de saúde (ACS) vêm se constituindo, nestes
programas, como segmento efetivo do trabalho em saúde, representando
novos atores nos cenários da assistência. Segmento efetivo da produção dos
serviços, que se apresenta não apenas como suporte para gerar determinadas
ações em saúde, mas, também, como peça efetiva na organização da
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 61
assistência 18. Por vivenciar os problemas e morar na comunidade em que
desempenha a sua prática de trabalho, o ACS figura como importante elo de
interlocução entre a equipe e o usuário, na produção do cuidado.
Como protagonista da atenção básica e referido como agente nuclear da
realização de determinadas políticas de saúde, é exigido do ACS, no seu
cotidiano institucional, atender ao segmento idoso, o qual, no imaginário
coletivo, representa a dependência, passa a ser numericamente representativo,
com marcantes mudanças no corpo físico, apresentados à doença num
contexto fisiológico, e cronologicamente próximos da morte. Como
representação institucional, cabe a este agente de saúde viabilizar e fazer
acontecer, no que concerne à sua competência, os argumentos do arcabouço
jurídico estabelecido na Política Nacional do Idoso – Lei 8842/94, que busca,
além de garantir os direitos dos idosos, positivar o envelhecimento.
Considerando a dinâmica do processo de envelhecimento e a
participação do ACS neste processo, a realização de estudos que visem
pesquisar a concepção social do envelhecimento, através da análise das
motivações, habilidades, entraves e competências adquiridas e por adquirir do
sujeito ACS, pode contribuir para implementação de políticas públicas através
do conhecimento gerado, servindo como rico substrato na construção de
conteúdos para formação e capacitação de pessoal; como instrumento para
gestão; e como apoio na tomada de decisões, ou seja, através da avaliação
para gestão. Considerando o marco - referencial consultado, o estudo teve por
objetivo analisar as concepções (representações) que predominam entre os
ACS do município de Camaragibe/PE, no que se refere ao processo saúde –
doença, em idosos. Neste contexto, busca responder as seguintes questões:
- Quais são as concepções (representações) que predominam entre os
ACS no que se refere ao processo saúde – doença, em idosos?
- Quais os entraves identificados pelos ACS na sua prática de trabalho
com o segmento idoso?
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 62
- Qual a demanda de conhecimento dos ACS em relação ao processo de
envelhecimento?
METODOLOGIA
LOCAL DE REALIZAÇÃO
O projeto foi desenvolvido no Município de Camaragibe, localizado na
Região Metropolitana do Recife (RMR), a 16 km da capital do Estado, com uma
população de 128.989 habitantes, distribuída em um território de 52,9 km2, com
uma taxa de urbanização de 100%, segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE /2000 3.
DESENHO DO ESTUDO
A pesquisa fez opção pela metodologia qualitativa, pois, representa uma
forma adequada para viabilizar o entendimento da natureza de um fenômeno
social, num universo de significações, motivos, aspirações, crenças e valores 9,
16. A tipologia, considerando os objetivos, é exploratória - descritiva, uma vez
que o estudo apresenta natureza de sondagem, não parte de hipóteses e
expõe características de uma determinada população 19.
As técnicas de coleta de dados selecionadas, consideradas meios para
operacionalização, foram as seguintes 12: revisão da literatura, análise
documental e realização de entrevistas do tipo estruturada.
A escolha da técnica de entrevista justifica-se a partir da abordagem
fenomenológica, que valoriza o mundo real tal qual foi vivido e sentido pelo
entrevistado 16. De acordo com Jahoda et al. (1951) 10, a entrevista, como fonte
de informação, fornece dados referentes a “fatos; idéias, crenças, maneiras de
pensar; opiniões, sentimentos, maneiras de sentir; maneiras de atuar; conduta
ou comportamento presente ou futuro; razões conscientes ou inconscientes de
determinadas crenças, sentimentos, maneiras de atuar ou comportamentos”.
Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário com
oito perguntas abertas e uma pergunta de múltipla escolha. As informações
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 63
para o estudo compreendiam dados de identificação do ACS, a saber: idade,
estado civil, escolaridade, ocupação anterior à função exercida, tempo na
função atual, bairro de moradia, unidade de trabalho, bem como as concepções
do ACS relacionadas ao idoso e ao processo de envelhecimento, considerando
o desenvolvimento de sua prática cotidiana.
No tocante a esta prática, foram abordadas as seguintes questões:
atribuições do agente comunitário de saúde, representação social do idoso
construída pelo agente, o que é saúde do idoso, queixas referidas pelos idosos
durante a visita domiciliar, cuidados do agente para com o idoso, dificuldades
identificadas no desenvolvimento de sua prática com o idoso, demanda de
conhecimento do ACS relacionada à temática do idoso/ envelhecimento e
participação anterior em evento específico na área do idoso/ envelhecimento.
De um total de 150 ACS1, formalmente inseridas no Programa de
Agentes Comunitários de Saúde – PACS, ou no Programa de Saúde da
Família – PSF, em 2000, 148 foram localizadas. Dessas 150 ACS, 25 estavam
de férias ou de licença para tratamento de saúde. Mesmo nesta situação de
ausência legalmente justificada, 23 ACS compareceram às entrevistas,
enquanto duas não o fizeram por impossibilidade de locomoção. As entrevistas
ocorreram no ano 2000 e foram realizadas com grupos de 30 ACS, em espaço
previamente acordado – auditório - em horários distintos, mediante a assinatura
de Termo de Consentimento.
Para favorecer o intercâmbio entre pesquisador e pesquisado, Minayo13
(1998) sugere algumas medidas a serem utilizadas na aproximação com o
grupo social a ser estudado, as quais foram adotadas na pesquisa em questão,
a saber: a) Apresentação; b) Menção do interesse da pesquisa; c) Explicação
dos motivos da pesquisa em linguagem de senso comum; d) Justificativa da
escolha das entrevistadas; e) Garantia de anomicidade das entrevistas; f)
Conversa inicial, para criar um clima o mais possível descontraído.
Por considerar de fundamental importância esta “conversa inicial”, foram
realizadas oficinas de automassagem com as 148 ACS. O contingente de ACS
1 No município de Camaragibe, 100% das ACS são do sexo feminino.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 64
foi distribuído em 5 grupos, nos quais se trabalhou a técnica de automassagem
para ser utilizada e aplicada no cotidiano, visando o “cuidar-se” e “cuidar do
outro”, buscando neste primeiro contato estabelecer um clima de empatia,
estímulo à participação e integração do grupo.
Para a análise dos relatos das ACS entrevistadas, utilizou-se a técnica
de análise de conteúdo, em especial, a análise temática. Para tanto, foram
seguidas as etapas citadas por Bardin (1977) 2: a pré-análise, a exploração do
material, com a seleção de categorias temáticas (Quadros 1 – 8) , o tratamento
dos dados obtidos e a interpretação.
CARACTERIZAÇÃO DAS AGENTES COMUNITÁRIAS DE SAÚDE
O perfil predominante das ACS, no que diz respeito aos dados de
identificação, apresentou uma distribuição eqüitativa de 39% entre o intervalo
etário de 18 e 29 anos e 30 e 39 anos. Em relação às outras variáveis
individuais, 54% eram casadas; 55% referiram como grau de instrução o ensino
médio completo e 59% exerciam a função atual por um período de 25 a 60
meses.
A variável escolaridade chama a atenção, pelo percentual de agentes
com ensino médio completo, quando o critério mínimo de escolaridade exigido
pelo PSF para a função, na época do estudo, era saber ler e escrever 4.
De acordo com o relato das ACS, a característica de 100% das agentes
serem do sexo feminino deve-se ao fato de, no município, haver resistência,
por parte da comunidade, ao agente do sexo masculino. Tal postura justifica–
se, em parte, pela construção de “um imaginário coletivo” que permite à mulher
se desnudar frente ao profissional de saúde médico e enfermeiro, pois os
mesmos trazem histórias e contextos de vida diferentes do seu; no entanto, a
mesma situação não se reproduz na relação com o ACS, uma vez que o
mesmo compartilha vivências semelhantes à sua, incluindo o espaço
geográfico. Desta forma, estabelece-se uma situação de constrangimento, em
alguns momentos impeditiva do acesso à moradia pelo ACS do sexo
masculino.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 65
Em relação ao local de moradia, 91% das agentes residiam no mesmo
bairro onde está situada a Unidade de Saúde da Família – USF, atendendo ao
critério preconizado pelo PSF. Apenas 5% das agentes moravam em bairros
diferentes ao da sua prática de serviço. Estas agentes eram vinculadas ao
PACS, segundo o qual a alocação se dá conforme critério específico do
município de Camaragibe, em função das necessidades dos bairros.
CONCEPÇÕES DAS ACS ACERCA DA ATENÇÃO AO SEGMENTO IDOSO
Na segunda parte do questionário de entrevista foram abordadas
questões relacionadas às concepções das ACS sobre as atribuições a serem
desempenhadas; ao que é ser idoso; ao que é saúde do idoso; às queixas dos
idosos durante as visitas domiciliares; aos cuidados do ACS na atenção ao
idoso; às dificuldades para o desempenho da atenção ao idoso. Finalizando a
entrevista, identificou-se a participação das ACS em eventos relacionados ao
idoso e/ou ao processo de envelhecimento e à demanda de conhecimentos na
área.
Ao serem questionadas sobre as atribuições do ACS (Quadro 1), as
opções mais citadas foram: desenvolver atividades de educação em saúde;
estimular a organização da comunidade e realizar ações básicas de saúde de
acordo com seu nível de competência, através de visitas domiciliares . As
referidas atribuições são compatíveis com o conteúdo formal repassado no
treinamento introdutório concebido pelo Ministério da Saúde para o exercício
da atividade. Silva e Dalmaso (2002) 18, ao entrevistarem ACS de uma região
metropolitana, sobre as ações a serem desenvolvidas, identificaram como
ponto central do trabalho a ser desempenhado pela categoria, as orientações,
especialmente sobre prevenção de doenças e saneamento.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 66
Quadro 1- Atribuições do agente comunitário de saúde
1- Desenvolver atividades de educação em saúde
2- Estimular a organização da comunidade
3- Realizar ações básicas de saúde, de acordo com seu nível de competência,
através de visitas domiciliares.
4- Realizar reuniões com grupos prioritários – gestantes, crianças e idosos
Resultado do Esquema de Codificação:
1+3= 63 (42,5%) 3= 14 (9,5%) 2+3= 01 (0,7%)
1+2+3= 48 (32,3%) 1+2= 04 (2,7%) 1+4= 01 (0,7%)
1= 14 (9,5%) 1+2+3+4= 02 (1,4%) sem informação = 01
(0,7%)
Quanto à representação social do idoso construída pelas ACS (Quadro
2), 65% referiu uma opinião de valor negativo, associada à presença de
enfermidades, dependência física e emocional:
“É uma pessoa que está com sua idade 60 e não tem
mais gosto de viver, sempre reclamando. Fica numa
cadeira de balanço”.
“È uma pessoa que já está ficando na mesma idade da
criança, a partir de 60 anos, que não tem mais controle
sobre as coisas”.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 67
“Ser idoso é quando você chega na idade avançada e
não tem carinho da família e quando os próprios filhos
não têm paciência de dar os medicamentos na hora
certa; é quando eles não podem mais fazer o que
fizeram antes por causa das doenças”.
Segundo Sayeg (1999) 17, existe uma forte tendência em associar o
idoso às noções de dependência social e, principalmente, à dependência física.
Nesse sentido, apenas 18% das ACS referiram uma opinião de valor positivo:
“É ter saber pela vida. Ensinando e passando para os
mais novos experiências de vida”.
“Uma pessoa com experiência de vida a transmitir e
socialmente apta”. “É uma pessoa que já passou pelas
fases de criança, adolescente, adulto e agora é uma
pessoa madura que encara as realidades da vida e nos
passa segurança”.
Quadro 2- Representação social do idoso pelo agente
• Ter idade avançada, necessitar de afeto e cuidados – 58 (39,2%)
• Ter idade avançada e apresentar enfermidades – 38 (25,7%)
• Ter experiência, sabedoria e capacidade de doação – 27 (18,2%)
• Ter experiência, idade avançada e apresentar
enfermidades – 15 (10,1%)
• Sem informação – 10 ( 6,8%)
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 68
O aspecto cronológico foi abordado pela maioria das ACS. Como agente
institucional, sua concepção é fortemente marcada pelo aparato jurídico-político
do Estado, em que a idade cronológica é um princípio cultural de extrema
relevância. Para Minayo e Coimbra Jr. (2002) 14, o curso da vida passa, cada
vez mais, a ser regulado pelo Estado, a despeito dos problemas e
potencialidades de cada um: a infância, a adolescência e a juventude são o
tempo de escolarização; a idade adulta é o tempo associado à procriação e à
participação no mercado de trabalho; a velhice, o tempo da aposentadoria.
Definir a pessoa idosa do ponto de vista cronológico não atende a uma
uniformidade de critérios, nem tampouco às peculiaridades individuais do
processo de envelhecer.
Segundo a Organização das Nações Unidas - ONU, a Organização
Mundial da Saúde - OMS e os organismos oficiais do Estado Brasileiro,
considera-se idoso aquele com idade equivalente ou superior a 60 anos15.
Do ponto de vista conceitual, como se sabe, o envelhecimento bem
sucedido deve ser traduzido como a ausência de enfermidades e manutenção
das condições de autonomia e funcionalidade. Nesta ótica, a determinação
cronológica deve ser associada ao contexto bio-psico-social e cultural11.
A dicotomia entre ser velho e ser idoso explica-se pelo fato de, ao
primeiro, atribuir-se a ocorrência de problemas de saúde, em geral múltiplos e
coexistentes, maior probabilidade de apresentar limitações físicas com o
passar dos anos, comprometendo sua autonomia e funcionalidade. Ao
contrário, idoso é aquele que acumulou anos de vida ganhos preservando a
autonomia de suas funções11. Na abordagem sobre a saúde do idoso (Quadro 3), 66% referiram a
saúde de forma integral, sob a ótica bio-psico-social:
“É o bem-estar de cada um. Estar bem de saúde
mental, física e espiritual. Viver bem, em harmonia com
a família, num ambiente saudável e de paz”.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 69
“É ter saúde física e mental, lazer, boa convivência
com a família e uma situação financeira regular”.
“É cuidar não só da assistência física, mas também da
mental, para que ela possa voltar a sentir-se útil na
sociedade e dentro de sua própria casa”.
Quadro 3- O que é, para você, saúde do idoso?
• Ter saúde física, mental e social – 97 (65,5%)
• Não ter enfermidades – 28 (18,9%)
• Ter acesso aos serviços de saúde e ajuda da comunidade – 17 (11,5%)
• Sem informação – 06 ( 4,1%)
A concepção teórica do modelo de atenção à saúde centrada na família,
a partir de seu ambiente físico e social, enfatizada no PSF, pode ter
influenciado o recorte das falas das agentes, no que diz respeito à elaboração
cognitiva do que seja saúde do idoso sob a ótica da integralidade.
Em relação às queixas dos idosos durante as visitas domiciliares, os
problemas de saúde aparecem em primeira ordem (Quadro 4).
“De problema de pressão e hipertensão, de problema
de coluna, de reumatismo”. “Dores na coluna, dores
nas pernas, dores nas juntas, sente a ausência dos
familiares, conversa sempre só porque não tem com
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 70
quem, sente também moleza no corpo, não sente sono,
dorme pouco, não sente apetite para comer”.
As queixas ainda revelam falta de atenção, solidão e isolamento do
contexto familiar.
“De estar sempre sozinho, das pessoas da família não
terem tempo para ele”.
“Solidão, falta de atenção dos familiares e da
sociedade, situação financeira difícil”.
Quadro 4- Queixas referidas pelos idosos durante a visita domiciliar
• Problemas de saúde – 39 (26,4%)
• Necessidade de atenção e problemas de saúde – 38 (25,7%)
• Necessidade de atenção, problemas financeiros e de saúde – 19 (12,8%)
• Necessidade de atenção - 19 (12,8%)
• Problemas financeiros e de saúde – 10 ( 6,8%)
• Necessidade de atenção e problemas financeiros – 09 ( 6,1%)
• Sem informação – 14 ( 9,4%)
De acordo com o relato das agentes, a maioria dos idosos da área
habitam em núcleos familiares intergeracionais e, apesar do grande número de
pessoas vivendo juntas, a responsabilidade de cuidados para com os idosos
não é dividida entre os membros da família.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 71
O processo de redefinição pelo qual vem passando a instituição familiar
tem contribuído para o sentimento de abandono revelado pelas agentes,
quando questionadas sobre as principais queixas dos idosos. A progressiva
inserção da mulher no mercado de trabalho retirou do seio familiar quem, até
então, na maioria das vezes, era responsável pela realização dos cuidados
referentes às crianças e aos idosos1. Estes fatores, associados ao expressivo
aumento no número de separações e de migrações dos mais jovens, em busca
de melhores condições de vida, vêm alterando o perfil de poder e tomada de
decisões dentro das famílias, que passam atualmente por uma construção de
modelos alternativos7. Este novo modo de conviver pode causar uma certa
fragilização das relações afetivas, sentida e relatada pelos idosos no momento
da visita domiciliar, ao referirem a “necessidade de atenção” como queixa
freqüente.
Ao serem questionadas quanto aos cuidados que deveriam ter na
atenção à saúde dos idosos, a maioria (68%) fez referência aos problemas de
saúde (Quadro 5), de forma isolada ou agregada. A concentração de
posicionamentos relacionados ao adoecimento respalda-se no fato de 26,4%
das queixas demandadas durante a visita domiciliar se referirem aos problemas
de saúde (Quadro 4):
“Observar se está tomando alguma medicação ou se
tem pressão alta e faz alguma dieta, se é diabético,
quais as suas queixas”.
Percebe-se, ainda, a valorização do cuidar com atenção e respeito,
quando 46% das ACS fazem referência a estas habilidades na sua praxe
cotidiana.
“Escutar, entender, aconselhar, deixar que eles vejam
em mim uma amiga, alguém em que eles possam
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 72
confiar e contar e o meu carinho e a minha atenção
fazem com que eles se sintam mais jovens, mais
humanos, sabendo que um mais jovem ainda escuta
um mais velho”.
“Os cuidados são o modo de falar (expressar) com
eles, pois eles têm um modo de pensar diferente, ou
seja, têm suas culturas, tabus e foram criados com
muita rigidez”.
Quadro 5- Cuidados do agente para com o idoso
• Ter habilidade para lidar com os problemas
de saúde, atenção e respeito
ao idoso– 67 (45,3%)
• Ter habilidade para lidar com os problemas de saúde- 33 (22,3%)
• Atenção e respeito aos idosos- 27 (18,2%)
Sem informação– 21 (14,2%)
A maior parte dos problemas identificados pelo agente, na sua praxes
(Quadro 6), diz respeito à governabilidade municipal, qual seja: falta de
recursos e treinamento na área, número de domicílios a serem visitados
incompatível com as especificidades de cuidados para com o grupo idoso e
aqueles relacionados à organização dos serviços de saúde (agendamento,
transporte, referência, atendimento médico e de enfermagem). A efetivação de
uma política de atenção ao idoso no município vai contribuir para tornar
factível a resolução de tais problemas.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 73
Os depoimentos abaixo são ilustrativos das dificuldades identificadas
pelas ACS no desenvolvimento de sua prática com o idoso.
“Como não tive treinamento especial às vezes não sei
se digo as coisas certas ou se faço o que é certo”.
“Mais tempo e treinamento para lidar com eles”.
“Queixas de atendimento e demora para marcação de
exames e consultas, ter um espaço para ficar mais
próxima a eles”.
“A falta de medicamento, às vezes o atendimento do
profissional de saúde, são algumas das queixas dos
idosos”.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 74
Quadro 6- Dificuldades identificadas no desenvolvimento de sua prática com o idoso
• Falta de recursos e organização dos
serviços (medicamentos, material didático,
espaço físico, área de lazer), falta treinamento
na área, número de domicílios a serem
visitados incompatível com as especificidades
de cuidados para com o grupo idoso – 59 (39,8%)
Difícil acesso aos domicílios, conflito de
gerações, dificuldade de deslocamento
do idoso aos serviços de saúde,
relacionamento com a
família do idoso- 43 (29,1%)
Relacionadas à organização dos
serviços de saúde (agendamento,
transporte, referência, atendimento
médico e de enfermagem) – 14 ( 9,5%)
• Não tem dificuldades – 07 ( 4,7%)
• Sem informação – 25 (16,9%)
A não participação em eventos específicos na área do
idoso/envelhecimento (Quadro 7) está de acordo com a demanda de
conhecimentos, referida pelas ACS, na atenção ao idoso (Quadro 8), uma vez
que 67% informam não ter participado de eventos relacionados à área e 63,5%
gostariam de obter toda informação necessária para cuidar do idoso.
“Gostaria de aprender tudo que houver de interessante,
esclarecedor, informativo, para melhorar a qualidade de
vida do idoso”.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 75
Quadro 7- Participação anterior em eventos específicos na área do idoso/ envelhecimento
• Sim- 44 (29,7%)
• Não – 100 (67,6%)
• Não informou – 4 ( 2,7%)
Quadro 8- Demanda de conhecimento solicitada pelo agente
Toda informação necessária para cuidar do idoso – 94 (63,5%)
• Informações sobre enfermidades mais prevalentes
na velhice, noções sobre alimentação, atividade
física e direitos dos idosos – 29 (19,6%)
• Aspectos psicológicos – 14 ( 9,5%)
• Não informou – 11 ( 7,4%)
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 76
CONCLUSÃO
As ACS reproduzem, em suas falas, as atribuições que formalmente
foram determinadas para serem executadas.
A representação social do “ser idoso”, para as ACS, é marcada por uma
imagem negativa associada ao velho/velhice, como: problema, ônus,
inutilidade, doença, incapacidade, dependência, perda, impotência.
Desconstruir esta imagem, ou melhor, procurar positivar o envelhecimento
através do reconhecimento do que é importante e específico nessa etapa da
vida, para desfrutá-la, é o grande desafio.
Desafio que conta com um forte aliado, traduzido pelo entendimento das
ACS do que seja a saúde do idoso, revelado por respostas contextualizadas
numa perspectiva bio-psico-social.
As agentes estão, no seu cotidiano, numa relação com o segmento
idoso marcada por queixas relacionadas ao adoecimento. Ao destacarem os
entraves ao desempenho de suas funções, estas agentes referem situações
que dificultam a resolutividade das queixas, ou seja, problemas que impedem a
solução dos agravos referidos pelos idosos.
Em relação às atribuições e ao questionamento sobre “o que é saúde do
idoso”, as concepções apresentam uma visão positiva, associada a uma
abordagem holística, as quais estariam no campo das subjetividades. Os
questionamentos relacionados à representação social do idoso, às queixas dos
idosos, aos cuidados dos ACS para com os idosos e aos entraves no
desempenho das atividades tiveram como respostas temas relacionados ao
comprometimento do bem-estar do idoso. Estes, de fato, traduzem as práticas
preponderantes das ACS, quais sejam: marcação de exames e consultas,
reforço da conduta médica e de enfermagem e controle da medicação e do
tratamento.
Ao referir que gostariam de saber “tudo” sobre o idoso e sobre o
envelhecimento, as ACS apontam para o complexo contexto de negatividade e
positividade a que são expostas e exigidas no cotidiano de sua atuação com o
segmento idoso.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 77
O caminho a ser construído pelas ACS para sua atuação deve se pautar
pela adaptação do idoso às perdas físicas, sociais e emocionais, fazendo-o
reconhecer a si mesmo e compreender o seu estado, o seu tempo, além de
estimulá-lo a descobrir mecanismos de inserção social, tornando-o mais ativo e
consciente de sua importância e seu papel como cidadão atuante.
Para atuar nesta perspectiva, é necessário que o poder público invista
na formação de indivíduos (ACS) capazes de lidar com os múltiplos aspectos
que revestem o envelhecimento humano, provendo condições para a
apropriação, pelo agente, do instrumental adequado e necessário para lidar
com os problemas de saúde dos idosos e, assim, contribuir, junto com os
demais membros da equipe, para positivar o envelhecimento.
Como afirmam Uchôa e Vidal (1994) 20, “ o importante é integrar todos os
recursos disponíveis (individuais e coletivos) em um processo no qual haja
compensação pela incapacidade, redefinição de prioridades e adaptação à
situação, permitindo aos idosos continuar, mesmo quando têm graves
problemas de saúde”.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 78
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Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 81
PLANEJAMENTO EM SAÚDE: O EXERCÍCIO DA CONSTRUÇÃO
HEALTH PLANNING: PRACTICING ON BUILDING
Adriana Falangola Benjamin Bezerra1 Av. Professor Moraes Rego, s/n –
Cidade Universitária, Recife, PE. CEP: 50670-420. Departamento de Medicina
Social. Universidade Federal de Pernambuco/UFPE. e-mail:
Malaquias Batista Filho2 Av. Professor Moraes Rego, s/n – Cidade
Universitária, Recife, PE. CEP: 50670-420. Departamento de Nutrição –
Universidade Federal de Pernambuco/UFPE. e-mail: [email protected]
Antônio Carlos Gomes do Espírito Santo3 Av. Professor Moraes Rego,
s/n – Cidade Universitária, Recife, PE. CEP: 50670-420. Departamento de
Medicina Social. Universidade Federal de Pernambuco/UFPE. e-mail:
Ana Paula de Oliveira Marques2 Av. Professor Moraes Rego, s/n –
Cidade Universitária, Recife, PE. CEP: 50670-420. Departamento de Medicina
Social. Universidade Federal de Pernambuco/UFPE. e-mail:
1Nutricionista, doutoranda em nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco, Professora Assistente
do Departamento de Medicina Social da UFPE. 2 Médico, Professor Titular do Departamento de Nutrição da UFPE 3 Médico, Professor Adjunto do Departamento de Medicina Social da UFPE. 4 Nutricionista, doutoranda em nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco, Professora Assistente
do Departamento de Medicina Social da UFPE.
Trabalho financiado pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do
Estado de Pernambuco – FACEPE (Processo nº: 23-CSD-02/00-01-5).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 82
RESUMO
O artigo tem por objetivo apresentar a sistematização do processo de
planejamento, através de uma oficina de trabalho, do plano operativo da
atenção ao idoso no município de Camaragibe/PE. O suporte teórico adotado
foi o do planejamento estratégico. Participaram do evento 22 pessoas:
gestores, gerentes de serviços de saúde, professores, alunos de pós-
graduação e alunos de graduação. A operacionalização foi baseada na
exposição dialogada de conteúdos sobre o envelhecimento humano e o
exercício prático de construção do plano. Os resultados da oficina indicam a
necessidade de investir na divulgação e implantação da Política Nacional do
Idoso no município, priorizando a educação em saúde, através da
implementação de um plano intersetorial de atenção ao idoso, com
investimento na capacitação de pessoal.
Descritores: Política de saúde, planejamento estratégico, planejamento
em saúde, idoso.
ABSTRACT
The objective of this article is to present the systematization of the
planning process of the operative plan of the attention to the elderly in the city of
Camaragibe/PE through a workshop. Strategic planning was the adopted
theoretical approach. The participants of the workshop were 22: health services
managers and controlling and teachers and graduate and postgraduate
students. The operacionalizing process was based on the dialogued exposition
of human aging contents and practical exercise to create the plan. The results
of the workshop point out the necessity to invest in the diffusion and
implantation of the National Elderly Politics in the city. The health education
should be a priority and a intersegmental plan of the attention to the elderly with
staff qualification should be implemented.
Descriptors: Health Policy, Strategic Planning, Health Planning, Aged.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 83
INTRODUÇÃO
O planejamento surgiu como uma tentativa de regulação global da
sociedade. A experiência inicial dos países socialistas é ilustrativa desta
afirmação. Enquanto alternativa à economia de mercado, o planejamento, nos
países socialistas, adotou um modelo de regulação baseado em um único ator
tecnocrático, subordinando as relações intersubjetivas a uma visão de
desenvolvimento baseado no determinismo econômico (RIVERA; ARTMANN,
1999).
Na saúde, a apropriação de um modelo de planejamento global,
baseado em atos reguladores do Estado, em detrimento da negociação
política, ocorreu em 1963, denominando-se método CENDES/OPAS.
O método CENDES/OPAS surgiu como resposta às demandas
apresentadas na Reunião de Punta Del Este (agosto de 1961) quanto à
formulação de planos integrados de desenvolvimento econômico e social,
como condição para a realização de investimentos externos que, na missão
desenvolvimentista, permitiam aos países subdesenvolvidos percorrer as
diversas etapas supostamente já percorridas pelos países que alcançaram sua
maturidade econômica e social, nesta ordem.
Em 1972, por ocasião da III Reunião dos Ministros da Saúde das
Américas, em Santiago do Chile, circulava a versão de um documento científico
da OPAS, com as seguintes considerações sobre o método CENDES/OPAS: ‘o
planejamento em saúde não produzia o desenvolvimento e os resultados
esperados’, ‘a relação com os níveis decisórios não havia sido satisfatória,
principalmente devido à falta de comunicação intelectual entre o político e o
planejador’ (FEKETE, 1997).
No final da década de 70 surge o planejamento estratégico em saúde
como tentativa de reconhecimento da complexidade do contexto, ao introduzir
as idéias de superioridade do político sobre o econômico e da diversidade de
atores-sujeitos do mesmo ato de planejar. A questão da viabilidade política
passa a ocupar um papel central e a definição de propostas/ compromissos de
ação a depender de uma articulação que se abre a uma perspectiva
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 84
policêntrica de análise. Um dos grandes méritos do planejamento estratégico
foi trazer à tona a iminência do diálogo (RIVERA; ARTMANN, 1999).
O PES apresenta uma certa complexidade que, segundo Artmann
(1993) e Cecílio (1997), tem sido suavizada através de propostas e adaptações
do método.
O presente texto busca registrar a reflexão sobre a experiência de
construção de um plano operativo de nível local, na área da atenção integral ao
segmento idoso, utilizando a ferramenta do planejamento. Neste contexto, o
artigo delimita-se, por apresentar a sistematização de um processo e os
resultados alcançados, sem pretensão de uma construção teórica nem de uma
análise da metodologia.
O CENÁRIO
O plano operativo é parte constituinte do projeto de pesquisa intitulado
Promoção da saúde: a prática do agente comunitário na perspectiva da
qualidade de vida do idoso. O referido projeto foi desenvolvido no município de
Camaragibe, Região Metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil, e
apresentou, como propósito, identificar a demanda de conhecimento de 150
agentes comunitárias de saúde (ACS) na atenção ao idoso para, a partir deste
conhecimento, elaborar uma proposta de capacitação. O projeto obteve o
suporte financeiro da FACEPE, através do Edital PUBLIC I/2000, tendo sido o
único projeto da área de saúde a ser aprovado.
O levantamento da demanda de conhecimento gerou um conteúdo rico
de concepções e informações sobre a prática das ACS, o que permitiu
identificar a necessidade de se trabalhar a problemática da relação ACS-idoso
com os demais atores da instância local.
Entendendo que o planejamento precede e preside a ação (MATUS,
1993) e que é a ferramenta que possibilita alcançar um ponto desejado no
futuro, atravessando um caminho desconhecido entre o presente e o momento
almejado, e ainda que planejar é a arte de elaborar o plano de um processo de
mudança (TANCREDI; BARRIOS; FERREIRA, 1998), buscou-se encontrar o
traçado metodológico que garantisse, como produto, a explicitação das ações,
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 85
responsabilidades e compromissos, de modo a resultar em um instrumento
orientador da gestão municipal no campo da atenção ao idoso.
Assim, nos dias 06 e 07 de janeiro de 2001 realizou-se, no Núcleo de
Atenção ao Idoso - NAI / UFPE, uma oficina de trabalho, baseada no
planejamento estratégico, incorporando propostas e adaptações ao método,
para suavizá-lo, como sugerem Artmann (1993) e Cecílio (1997).
O ‘PENSAR’ A OFICINA
A decisão de realizar a oficina de trabalho, considerando-a uma frente
de sustentabilidade ao processo de investigação da demanda de conhecimento
e da conseqüente capacitação das ACS, implicou na necessidade de definir os
participantes, os objetivos e a metodologia, visando obter os produtos
esperados.
A programação da oficina foi construída intercalando conteúdos sobre a
metodologia adotada e temas sobre o processo de envelhecimento (Quadro 1).
A mesma foi pensada para imprimir o sentimento de aquisição de
conhecimento (metodologia e envelhecimento), de construção coletiva, de
espaço para reflexão sobre a prática de cada um e momento de sensibilização
e adesão à questão do trabalho do ACS.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 86
QUADRO 1- CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA OFICINA
1º DIA Manhã Dinâmica de Integração
Transição Epidemiológica: impacto nos indicadores de morbimortalidade e
reflexos para organização dos serviços
Introdução ao Método Altadir de Planejamento Popular – MAPP
O Momento Explicativo
Tarde Aspectos bio-psico-sociais do envelhecimento humano
O Momento Normativo
2º DIA Manhã Idoso: direitos sociais e cidadania
O Momento Estratégico
Tarde
Prevenção e controle de agravos à terceira idade: níveis de prevenção,
diabetes e hipertensão, atividade física, alimentação, higiene pessoal, fatores
psicológicos
O Momento Tático - Operacional
PARTICIPANTES
A definição dos participantes foi baseada na identificação, pelas ACS,
dos atores considerados estratégicos na condução do processo de trabalho do
referido segmento, no que diz respeito aos idosos. O grupo de trabalho foi
constituído tentando, ao máximo, atender às indicações das ACS. Participaram
da oficina 22 pessoas, sendo: 4 supervisores do Programa de Saúde da
Família; 4 gerentes de unidades de média complexidade ( Centro de
Especialidades Médicas- CEMEC, Núcleo de Apoio Psico- Social- NAPS), 3
professores da UFPE; 1 gerente administrativo do NAI/ UFPE; 4 residentes do
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 87
Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva- NESC/FIOCRUZ; 6 alunos bolsistas da
UFPE.
A OFICINA
Após as apresentações, realizou-se uma dinâmica, visando estabelecer
um sentimento de cooperação e empatia no grupo.
A operacionalização da oficina foi planejada de forma que inicialmente
fosse apresentado um tema relacionado ao processo de envelhecimento e a
prática do agente comunitário de saúde, através de exposição dialogada, para,
em seguida, o grupo iniciar o esquema processual dos quatro momentos do
planejamento estratégico, quais sejam: explicativo, normativo, estratégico,
tático-operacional. No início da construção de cada um dos quatro momentos
foi apresentada a respectiva base teórico – metodológica.
O grupo refletiu sobre a transição epidemiológica e o impacto na
organização dos serviços para, em seguida, utilizando a dinâmica da
“tempestade de idéias”, identificar problemas relevantes. Na determinação dos
problemas o grupo foi orientado a considerar o valor político do problema, o
custo político, em caso de adiamento de sua resolução, o custo econômico, o
grau de governabilidade sobre o problema. Foram elencados e hierarquizados
9 (nove) problemas, sendo selecionado o problema incipiente processo de
divulgação e implantação, no município, da Política Nacional do Idoso (Quadro
2).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 88
QUADRO 2- MOMENTO EXPLICATIVO
PROBLEMAS
HIERARQUIZAÇÃO
Aumento do número de pessoas idosas • Aumento rápido da população idosa
15
Sistema de saúde não faz planejamento adequado
• Sistema de saúde inadequado
50
Incipiente processo de divulgação e implantação da Política Nacional do Idoso
• Desconhecimento em relação ao processo de envelhecimento
51
Escassez de recursos financeiros 36 Escassez de infra-estrutura urbana Deficiência de atividades culturais de lazer
para os idosos
48
A partir da seleção do problema, foram identificados os atores com
capacidade para atuar e transformar a realidade através de uma motivação
positiva (+), contrária (-) ou indiferente (0). Foram identificados 31 (trinta e um)
atores, destes: 18 (dezoito) com interesse (+) ; 6 (seis) indiferentes ao
problema; 1 (um) com interesse (-); 6(seis) com dupla motivação, sendo 4
(quatro) positivas e negativas e 2 (duas) indiferentes e positivas. Para os atores
identificados como (-) e (0), foram definidas estratégias de ação, com o objetivo
de eliminar resistências e buscar o apoio para a resolução do problema.
Trabalhando a partir do problema selecionado, foram identificadas suas
causas determinantes. O objetivo foi elaborar o fluxograma situacional, a árvore
explicativa. A comunicação entre as causas, considerando a determinação de
uma sobre a outra, foi graficamente representada por setas, em que a(s)
causa(s) com maior afluxo de setas foi/foram identificada(s) como um nó
crítico, ou seja, uma causa que, ao ser trabalhada, pode influir em outras
causas, determinando a contenção/resolução do problema (Quadro 3). Na
escolha do nó crítico foram considerados os critérios de governabilidade sobre
o mesmo e de viabilidade política para modificá-lo.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 89
QUADRO 3 - MOMENTO EXPLICATIVO: Árvore Explicativa PROBLEMA: Incipiente processo de divulgação e implantação da Política Nacional do Idoso.
Inefic cia dos meios d nformações (quem produz informaç não atende a realidade)
Insuficiência de
equipamentos sociais
Insuficientes recursos
financeiros
Herança dos governos com seus programas assisten is verticais
Deficiência no processo de formação dos
profissionais de saúde
Sistema de saúde inadequado
Deficiente política
pública de
educação em saúde
Estereótipo do idosocomo ser improdutivo
Deficiência de informações sobre as
necessidades dos idosos
Pouco investimento em recursos humanos para
trabalho com idosos
Precário e inadequado a so à informação eserviços de s e
Incipiente interesse dos profissionais das diversas
áreas pelo idoso
Incipiente política social para trabalhar a
questão dos idososPouca sistência dos
órgãos vernamentais
Transição demográfica X
Incipiente planejamento
Concepções e práticas do agente comunitário
asgo
e iões
ces a aúd
cia
iên
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 90
A deficiente política pública para educação em saúde foi o nó critico
selecionado pelo grupo. Definido o nó critico, foram pensadas operações que
levassem à modificação positiva do problema, através de ações, identificação
de responsáveis, apoio necessário à operacionalização e prazo de execução
(Quadro 4). Definidas as operações, foi analisada sua viabilidade em relação
ao recurso político, organizativo, cognitivo e financeiro. Considerando a
viabilidade, foram elencados os produtos, os resultados e analisada a eficiência
e a eficácia das operações frente ao problema (Quadro 5).
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 91
QUADRO 4- MOMENTO NORMATIVO Nó Crítico Operação Ações
Respon- sáveis
Apoio1 Prazos
Defi- ciente política pública para educa-ção em saúde
Op1 Definir um planointersetorial de atenção ao idoso
e implantação da política do idoso
Op2 Investir em capacitação na atenção ao idoso
Sensibilizar parlamentares para viabilizar a capacitação
Estimular o Conselho Municipal de Saúde sobre a importância da promoção e prevenção à saúde Fazer um levantamento do número de idosos na comunidade Utilizar dados epidemiológicos para subsidiar o planejamento das ações intersetoriais Adequar o sistema de informação em saúde local para avaliar a situação de saúde do idoso Cobrar da liderança política ações voltadas para a melhoria da qualidade de vida do idoso Investir na infra-estrutura Inserção das práticas alternativas no atendimento ao idoso no Programa de Saúde da Família – PSF Estimular atividades de educação em saúde junto aos escolares, igrejas, equipamentos sociais, entre outros Destinar recursos financeiros para ações de educação em saúde do idoso Definir conteúdos para capacitação de recursos humanos: fármacos (polifarmácia); orientação alimentar; orientação sobre atividades físicas, saúde bucal e mental Motivar os profissionais para realizar ações de atenção integral ao idoso, instrumentalização dos profissionais
Gestor/Diretorias da Secreta-ria de Saúde /Secretaria de Assistência Social
SECED,SECAD
SEFIN, UPE , UFPE, NAI Conselho Estadual dos Direitos do Idoso SECOB Câmara de Vereadores, Conselheiros SEGOV; Ministério da Saúde SEPLANDS, UFPE Residente, Igrejas Associações em geral Clube de Mães Conselhos de Moradores ONG, Famílias Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (Secção-PE)
Op1 novembro de 2000 a dezembro de 2004 março a setembro de 2001 Op2 A partir de novembro de 2000
1 Secretarias Municipais de Educação, Administração, Finanças, Obras, Governo; Universidade de Pernambuco, Universidade Federal de Pernambuco, Núcleo de Atenção ao Idoso/UFPE, Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Social do Estado, Organizações Não Governamentais.
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 92
QUADRO 5- MOMENTO ESTRATÉGICO PROBLEMA: Incipiente processo de divulgação e implantação da Política Nacional do Idoso CAUSA PRINCIPAL: Deficientes políticas públicas para educação em saúde
RECURSOS AÇÃO Político Organizativo
Cognitivo Financeiro
PRODUTO RESULTADO EFICIÊNCIA EFICÁCIA
Definir um plano intersetorial de atenção ao idoso
++++
+++
++++
++
Sistema de informação mais estruturado
Criação do Conselho Municipal dos Direitos dos Idosos
Plano deatenção ao idoso de Camaragibe
Estruturação (hierarquização) e unificação na rede de serviços de saúde na atenção do idoso
Política de atenção ao idoso implantada no município
Intersetoria- lização das ações
de atenção ao idoso
Alta Alta Média
Alta Média Alta
Investir emcapacitação
+++
na atenção ao idoso
++++
++++
+++++
Incorporação das práticas alternativas na rotina da USF
RH capacitados e treinados
Implementação das práticas de educação nos grupos
Melhoria da qualidade daassistência
Média
Melhoria da
qualidade de vida e satisfação dos usuários
Alta
Média Alta
Concepções e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 93
Na perspectiva da ação e a partir das operações, dos produtos e dos
resultados previstos foram definidas metas, indicadores, fontes de informação
dos indicadores, periodicidade da averiguação e fóruns para apresentação e
divulgação das operações e ações realizadas e o impacto sobre o problema
(Quadro 6).
UMA ANÁLISE DAS LIMITAÇÕES
Durante a organização da oficina entendia-se que esta teria a
construção e a opção metodológica possíveis, na medida em que o tempo
disponível para realizá-la era limitado pela disponibilidade na agenda dos
participantes.
Em relação à metodologia, apesar do estudo não pretender fazer uma
análise da mesma, adotou-se uma perspectiva situacional baseada no
planejamento estratégico, que, pela complexidade e limitação do tempo, foi
simplificada e adaptada ao contexto. As considerações de Matus (1997)
suportam a referida opção quando o mesmo expõe que o método serve, no
máximo, para ajudar a sistematizar o conhecimento da realidade e não para
substituí-lo. Quem planeja é sempre o ator. Para Matus, um ator com
conhecimento do problema e capacidade de raciocínio estratégico com certeza
enfrentará melhor um problema do que alguém com pouco conhecimento da
realidade e apenas conhecimento do método, por melhor que este seja.
A representatividade dos atores na oficina atendeu, em parte, a
indicação das agentes comunitárias, pela ausência da Secretária de Saúde.
Apesar da importância da referida participação, a presença da coordenadora
de atenção básica cumpriu o papel da representação da direção na dinâmica
da oficina. Em relação aos gerentes de território, ator ao nível da gestão com
maior interlocução entre as ACS e o gabinete da Secretaria de Saúde, houve
uma representação expressiva, dos cinco compareceram quatro. Inclusive, dos
quatro residentes que participaram da oficina, três foram incorporados
posteriormente à equipe do município, sendo um na função de gerente de
território.
Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 94
QUADRO 6- MOMENTO TÁTICO-OPERACIONAL PROBLEMA:Incipiente processo de divulgação e implantação da Política Nacional do Idoso
Opera-ção
Meta Produto Resultado Indicador Fontes deInfor-
Periodi-
mação cidade
Respon-sável
Fóruns
Número de consultas ambulatoriais
Número deinternamentos
SIM
SIA 1 SIAB2 SIH3
4 SINAN5
Semestral
Controle e avaliação
I Fórum de Atenção ao Idoso do Município de Camara-gibe/PE
Número de reuniões do Conselho Municipal dos Direitos do Idoso
Atas
Trimestral
Op1 Definir um plano interse- torial de atenção ao idoso
Garantir a partici-pação de 5 secretá-rios para a constru-ção doplano
Criação do Conselho Municipal dos Direitos dos Idosos
Sistema de infor-mação estrutu-rado
Plano de atenção ao idoso de Camara-gibe
Política de atenção ao idoso implantada no município Interseto-rialização das ações de atenção ao idoso Estruturação (hierarquiza-ção) eunificação da rede deserviços de saúde na atenção ao idoso
Ações intersetoriaisrealizadas
% de atividades e/ou ações com fundo/fontes de outras secretarias
Banco deDados da Secretaria de Governo
Anual
Comissão Interseto-rial (composta por represen- tantes de cada secretaria envolvida)
Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 95
....continuação
Op2 Investir em capaci-tação na atenção ao idoso.
30% do funcio-nalismo em geral. Destes, 50% para a saúde e 50% para as demais secre-tarias
Incor-poração das práticas alternati-vas narotina da USF
Melhoria da qualidade de vida e satisfação dos usuários RH
capaci-tados e treinados Imple- mentação das práticas de educação em saúde nos grupos e na comuni-dade
Melhoria da qualidade da assistência
% de funcionárioscapacitados
Freqüência às
capacitações
Anual
Represen-tação dos RH decada secretaria
de Saúde
Conselho Municipal
Conselho Municipal dos Direitos do Idoso
1
1Sistema de Informação Ambulatorial 2Sistema de Informação da Atenção Básica, 3Sistema de Informação Hospitalar, 4-Sistema de Informação de Mortalidade, S Sistema de Informação de Agravos Notificáveis
Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 96
RESULTADOS
As limitações apresentadas não foram impeditivas dos avanços
conquistados, demonstrados a seguir e entendidos como resultados de uma
oficina motivada pela vontade e necessidade de conquistar aliados ao
fortalecimento da prática das ACS na atenção ao idoso, no município de
Camaragibe.
A aproximação e o conhecimento entre os participantes, promovendo a
articulação do grupo em torno da temática da prática do ACS na atenção ao
idoso;
a mobilização dos participantes, em decorrência do envolvimento na oficina,
e da negociação para a explicitação de responsabilidades e compromissos;
a construção de um plano operativo, com definição de prioridades,
contribuindo para imprimir direcionalidade à ação no campo da política
municipal de atenção ao idoso;
a abordagem e explicitação de aspectos fundamentais na área do
envelhecimento e do planejamento estratégico.
A avaliação dos resultados é positiva, considerando as limitações e os
determinantes para a realização do evento; no entanto, a oficina e o plano
operativo devem ser entendidos como parte de um processo técnico – político
e, portanto, contextualizado na realidade que, por princípio, é dinâmica.
AVALIAÇÃO
A observação do processo de trabalho e as respostas ao instrumento de
avaliação, preenchido por 100% dos participantes, permitem afirmar que o
evento foi um espaço de construções coletivas, favorecidas pelo diálogo, pela
disposição e compromisso dos participantes.
Na opinião de 63% dos participantes, o conteúdo trabalhado foi
considerado ‘muito bom’ e 37% classificaram como ‘bom’ os temas abordados.
Em relação à condução dos trabalhos, 79% dos participantes avaliaram como
‘muito boa’ e 21% como ‘boa’.
Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 97
Os sentimentos de construção coletiva e de responsabilização foram os
aspectos positivos mais comentados, enquanto a limitação do tempo foi o
principal entrave identificado. A seguir, são apresentados alguns comentários
emitidos pelos participantes da construção do plano.
‘Muito válido e proveitoso, tanto no conhecimento transmitido, quanto no
relacionamento interpessoal’.
‘A forma de discutir o problema com diversos atores presentes é muito
importante, por isso, deve-se tentar garantir a presença em eventos
desta natureza e, até mesmo, a presença de atores que estejam fora do
âmbito da Secretaria de Saúde, para propiciar a intersetorialidade das
ações. Foi maravilhoso participar desta oficina, pois, além de ter sido
muito interessante e construtiva a discussão, propiciou um novo olhar
para o assunto’.
‘Acredito que um dos grandes entraves ao avanço da PNI é a falta de
interesse em participar de eventos como este, visto que alguns
envolvidos diretamente na questão não comparecem e não justificam a
ausência’.
‘Foi uma grande pena que muitas vezes tínhamos que correr por causa
do tempo. Mas criamos ‘estratégias’ e, em ‘consenso’, chegamos ao final
com sucesso’.
PERSPECTIVAS
A continuidade do trabalho iniciado com a realização da oficina constitui
importante determinação para a viabilidade das operações e ações
identificadas.
Apesar da simplificação na utilização do instrumental metodológico, é
inegável sua contribuição para a construção coletiva, política e complexa, como
a intervenção proposta por essa experiência relatada. Segundo Matus (1993),
não há como negar a importância de métodos que ajudem a realizar a
Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 98
complexa tarefa de gerir situações que apresentam variáveis não controláveis e
que exigem respostas eficazes, criativas e flexíveis’.
A implementação de um sistema de monitoramento e avaliação do plano
permitirá a retroalimentação, com identificação de problemas e avanços, os
quais terão como conseqüência a reelaboração do plano, propiciando espaço
para a reflexão e o exercício metodológico.
Rivera e Artmann (2003) sugerem a incorporação, ao exercício
metodológico do planejamento estratégico, de categorias de análise como a
cultura da organização e sua relação com os problemas, bem como a utilização
estratégica da cultura como recurso para intervenção sobre problemas; na
análise estratégica do plano, deve-se aprofundar a reflexão do conteúdo
específico da negociação, visando o desenvolvimento da habilidade de
liderança; trabalhar a técnica de simulação de cenários, possibilitando um
diálogo entre a visão de futuro e a visão organizacional, buscando uma
aplicação mais sistemática da prospectiva como recurso dentro do cálculo
estratégico. Estes desdobramentos teórico-metodológicos podem ser
incorporados ao plano, qualificando a reflexão sobre a prática do ACS
relacionada ao segmento idoso, no município de Camaragibe.
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Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 101
A dialética que envolve a performance ocupacional do ACS, por si só já
representa um complexo cenário. Na representação “agente social”, o ACS
deve ter liderança e realizar a ajuda intracomunitária, enquanto “agente
institucional” deve efetivar a política estatal. Isto torna o ACS um trabalhador de
extração comunitária, mas posto a serviço do Estado. Esta dupla militância
traz, como condição e conseqüência, uma série de conflitos de ordem prática e
subjetiva.
Concomitante a esta dialética, a prática do trabalho do ACS tem como
principal característica a atenção a múltiplos aspectos das condições de vida,
situados no campo da ação intersetorial, o que requer o aporte de instrumental
técnico, suporte emocional e administrativo, que não são viabilizados a
contento.
Apesar das condições negativas a que estão submetidos os ACS, a
avaliação do trabalho desempenhado pela categoria tem sido positiva. Souza
et al. (2002)1, observam que os programas saúde da família e de agentes
comunitários têm potencializado uma relação mais pessoal e menos
“hospitalocêntrica” dos profissionais do setor com os usuários.
As concepções das agentes comunitárias de saúde do município de
Camaragibe acerca do processo de envelhecimento, proposição do estudo em
questão, não diferem do discurso hegemônico da sociedade. A maioria percebe
o idoso como dependente e sem papel social a desempenhar.
Nos questionamentos relacionados a conteúdos mais abrangentes,
como a saúde, as respostas apontam para uma concepção ampliada, o que
deve ser favorecedor da sensibilização, adesão e compreensão ao processo de
envelhecimento numa perspectiva positiva.
A mudança de paradigma não pode ser dependente apenas da
concepção subjetiva do ACS, enquanto agente institucional; é necessário que a
gestão tenha como marca a positivação do envelhecimento, o que inclui o
estabelecimento de diretrizes políticas, organizativas, investimento na formação 1 SOUSA, E. R. de et al. O idoso sob o olhar do outro. In: MINAYO, M. C. S. COIMBRA Jr., C.
E. A. Antropologia, saúde e envelhecimento. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2002. p. 191-209.
Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 102
e capacitação e a garantia de recursos sociais e materiais voltados à atenção
ao idoso.
A oficina de planejamento, realizada com os gestores e gerentes do
município, teve por objetivo iniciar o diálogo sobre a política de atenção ao
idoso no município, a partir das demandas específicas apresentadas pelas
ACS no momento da entrevista, ao identificarem, como entraves à prática
ocupacional com o idoso, questões pertinentes à gestão e gerência do sistema
municipal.
Os perfis epidemiológico e demográfico da população indicam ao
Sistema Municipal de Saúde a necessidade de adotar políticas de promoção à
saúde, capazes de manter a capacidade funcional do idoso, garantindo sua
permanência na comunidade, pelo maior tempo possível, gozando ao máximo
sua independência. Os reflexos desta opção sustentam uma prática voltada
aos princípios humanísticos e doutrinários do SUS, na qual o ACS é
protagonista da execução e sustentabilidade do processo.
Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 104
Apêndice A
TERMO DE CONSENTIMENTO Recife, _____ de _______________ de 2004. Eu, _______________________________________________, portador do
R.G._______________ residente à rua
_________________________________, nº. ___________, complemento
_____________, Bairro __________________, Cidade ______________,
Estado __________________, estou de acordo em, na qualidade de
entrevistada (respondendo as questões contidas no instrumento de coleta de
dados do projeto), participar da pesquisa Promoção da Saúde: a prática do
agente comunitário de saúde – ACS na perspectiva da qualidade de vida do
idoso. A pesquisa está sob a responsabilidade da pesquisadora Adriana
Falangola Benjamin Bezerra, assessorada por duas alunas do Projeto de
Iniciação Científica do Departamento de Medicina Social do Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, bolsistas da Pró –
Reitoria de Pesquisa - UFPE/ CNPq.
De acordo,
Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 105
Apêndice B
MEMORIAL DO PROJETO DE PESQUISA
1. Incentivo à pesquisa
Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco
(FACEPE). Edital PUBLIC 01/2000.
2. Conseqüências do projeto de pesquisa efetivadas-
Capacitação de 150 ACS, em janeiro de 2001.
Projeto aprovado pela Pró – Reitoria de Extensão (PROEXT)- Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE)
Quantitativo de Bolsas de Extensão- 02
3. Conseqüências do projeto de pesquisa em fase de efetivação
Avaliação da capacitação, realizada em 2001- janeiro de 2003.
Projeto aprovado pela Pró – Reitoria de Pesquisa (PROPESQ),
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Quantitativo de Bolsas de Iniciação Científica- 02
4. Produtos
Anais do VI Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Salvador, setembro de
2000.
Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 106
Anais do 52º Congresso Brasileiro de Enfermagem . Recife, outubro de
2000.
Palestrante no V Fórum do Centro de Ciências da Saúde – UFPE. Recife,
novembro de 2000.
Apresentação de Pôster no V Fórum do Centro de Ciências da Saúde –
UFPE. Recife, novembro de 2000.
Anais do I Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão da UPPE. Recife,
dezembro de 2000.
Palestrante- coordenação do grupo temático “Legislação: da teoria à
prática." Pré – Conferência para a III Conferência Municipal de Assistência
Social do Recife. Recife, junho de 2001.
Anais do III Congresso Sul-Brasileiro de Geriatria e Gerontologia – Santa
Catarina, setembro de 2001.
Inscrição do projeto de pesquisa no VI Prêmio Banco Real – Universidade
Solidária. Trabalho de pesquisa selecionado para representar a
Universidade Federal de Pernambuco. Brasília, setembro de 2001.
Certificação de participação no Prêmio Saúde Brasil. São Paulo, dezembro
de 2001.
Anais do II Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão da UPPE. Recife,
dezembro de 2001.
Certificação de participação no II Prêmio Saúde Brasil. São Paulo,
dezembro de 2002.
Anais do III Congresso de Extensão da UPPE. Recife, dezembro de 2002.
Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 107
Debatedora na II Jornada Pernambucana de Geriatria e Gerontologia.
Recife, setembro de 2001.
Certificação de participação no Vivendo o Campus- UFPE. Apresentação de
pôster. Recife, agosto de 2002.
Anais do I Congresso de Extensão Universitária. João Pessoa, novembro
de 2002.
Anais do VII Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva.Brasília, julho/agosto
de 2003.
4. Premiação
II Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFPE. IV Encontro de
Extensão. Primeira classificação na área de Saúde e Qualidade de Vida.
Recife, dezembro de 2001.
5. Direcionalidade – situação objetivo
Publicação de artigo com os resultados da avaliação da capacitação das
Agentes Comunitárias de Saúde- ACS.
Projeto de capacitação para o total, atualizado, das ACS do município.
Expansão do projeto a outros municípios.
Inclusão do projeto na linha de financiamento do Ministério da Saúde-
Incentivo à pesquisa em áreas prioritárias.
Apoio de Instituições, nacionais e internacionais, de fomento à pesquisa e
extensão.
Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 109
Anexo A-
REVISTA DE SAÚDE PÚBLICA Journal of Public Health
Informações Editoriais
Editor Científico Prof. Dr. Oswaldo Paulo Forattini
Coeditores Científicos Prof. Dr. Carlos Augusto Monteiro
Prof. Dr. Moisés Goldbaum
Editores Associados Prof. Dr. Laercio Joel Franco
Prof. Dr. Luiz Jacintho da Silva
Prof. Dr. Fernando Lefèvre
Prof. Dr. Paulo Hilário Nascimento Saldiva Instruções aos autores Artigos originais - São contribuições destinadas a divulgar resultados de
pesquisa original inédita, que possam ser replicados e/ou generalizados.
Devem ter a objetividade como princípio básico. O autor deve deixar claro
quais as questões que pretende responder
• Devem ter de 2.000 a 4.000 palavras, excluindo tabelas, figuras e referências.
• As tabelas e figuras devem ser limitadas a 5 no conjunto, recomendando
incluir apenas os dados imprescindíveis, evitando-se tabelas muito longas, com
dados dispersos e de valor não representativo. Quanto às figuras, não são
aceitas aquelas que repetem dados de tabelas.
• As referências bibliográficas estão limitadas a 15, devendo incluir aquelas
estritamente pertinentes à problemática abordada, havendo, todavia,
flexibilidade. Deve-se evitar a inclusão de número excessivo de referências
numa mesma citação. Faculdade de Saúde Pública da USP - Av. Dr.Arnaldo,715 - 01246-904 São Paulo – SP - Brasil -
Fone/Fax: (011-055)3068-0539 - E-mail: [email protected] - Web: http://www.fsp.usp.br/rsp
Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 110
A estrutura dos artigos é a convencional: Introdução, Métodos, Resultados e
Discussão, embora outros formatos possam ser aceitos. A Introdução deve
ser curta, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e
destacando as lacunas do conhecimento ("estado da arte") que serão
abordadas no artigo. Os Métodos empregados, a população estudada, a fonte
de dados e critérios de seleção, dentre outros, devem ser descritos de forma
compreensiva e completa, mas sem prolixidade. A seção de Resultados deve
se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir
interpretações/comparações. O texto deve complementar e não repetir o que
está descrito em tabelas e figuras. Devem ser separados da Discussão. A
Discussão deve começar apreciando as limitações do estudo, seguida da
comparação com a literatura e da interpretação dos autores, extraindo as
conclusões e indicando os caminhos para novas pesquisas.
Cada manuscrito deve indicar o nome de um autor responsável pela
correspondência com a Revista, e seu respectivo endereço, incluindo telefone,
fax e e.mail. Apresentação Estas instruções estão baseadas na tradução do
documento "Requisitos Uniformes para Manuscritos Apresentados a Periódicos
Biomédicos", publicado na Revista de Saúde Pública 1999; 33(1). No que
couber e para efeito de complementação das informações, recomenda-se
consultar esse citado documento.
A Revista de Saúde Pública é um periódico especializado, internacional, aberta
a contribuições da comunidade científica nacional e internacional, arbitrada e
distribuída a leitores do Brasil e de vários outros países.
Tem por finalidade publicar contribuições científicas originais sobre temas
relevantes para a saúde pública, seja no âmbito do país, seja no âmbito
internacional.
Os manuscritos devem destinar-se exclusivamente à Revista de Saúde
Pública, não sendo permitida sua apresentação simultânea a outro periódico,
Faculdade de Saúde Pública da USP - Av. Dr.Arnaldo,715 - 01246-904 - São Paulo – SP - Brasil Fone/Fax: (011-055)3068-0539 - E-mail: [email protected] - Web: http://www.fsp.usp.br/rsp
Concepões e práticas do agente comunitário
Bezerra, Adriana Falangola Benjamin 111
tanto do texto, quanto de figuras ou tabelas, quer na íntegra ou parcialmente,
excetuando-se resumos ou relatórios preliminares publicados em anais de
reuniões científicas.
Os manuscritos poderão ser encaminhados em português, em inglês ou em
espanhol, em quatro vias, para o Editor Científico.
Os manuscritos publicados são de propriedade da Revista, vedada tanto a
reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, como a tradução para
outro idioma, sem a autorização do Conselho de Editores. Desta forma, todos
os trabalhos, quando submetidos à publicação, deverão ser acompanhados de
documento de transferência de direitos autorais, contendo assinatura de cada
um dos autores.
Referências toptop- As referências devem ser ordenadas alfabeticamente, numeradas e normalizadas de acordo com o estilo Vancouver (RSP, vol. 33(1) p. 11-13).
Referências
Comitê Internacional de Directores de Revistas Médicas. Requisito de
uniformidade para manuscritos apresentados a revistas Biomédicas. Rev Esp
Salud Pública 1995; 69: 151-162.
International Committee of Medical Journal Editors. Uniform requeriments for
manuscripts submitted to biomedical journals. N Engl J Med 1997;336:309-15.
Internacional Committee of Medical Editors. Requisitos uniformes para
manuscritos apresentados a periódicos biomédicos. Rev Saúde Pública
1999;33(1).
JAMA instructions for authors manuscript criteria and information. JAMA 1998;
279:67-64.
Faculdade de Saúde Pública da USP - Av. Dr.Arnaldo,715 - 01246-904 - São Paulo – SP - Brasil
Fone/Fax: (011-055)3068-0539 - E-mail: [email protected] - Web: http://www.fsp.usp.br/rsp
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Anexo B-
REVISTA SAÚDE EM DEBATE
INSTRUÇÃO AOS AUTORES
Revista do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES), voltada
para a área de Saúde Pública e Saúde Coletiva. Aceita trabalhos inéditos, sob
forma de artigos originais, artigos de opinião, artigos de revisão ou de
atualização, relato de casos e resenha de livros de interesse acadêmico político
e social.
Artigo Seqüência de apresentação do texto
1. Título em português e em inglês
2. Folha de apresentação com nome completo dos autores, endereço e e-
mail e, no rodapé, as referências profissionais. Quando o artigo for
resultado de pesquisa com financiamento, citar a agência financiadora.
3. Resumo em inglês e português; descritores, mínimo de três, máximo de
cinco palavras, não ultrapassando o máximo de 700 caracteres
(aproximadamente 120 palavras).
4. Artigo propriamente dito.
a) as marcações de nota de rodapé devem ser subscritas.
b) palavras ou trechos de textos que são destacados a critério do
autor, utilizar aspas simples.
c) quadros e gráficos devem ser apresentados em folhas separadas.
d) os autores citados no corpo do texto deverão ser escritos em
caixa baixa (só a primeira letra em caixa alta), observando-se a
norma da ABNT NBR 10.520:2001.
e) as referências bibliográficas no corpo do texto, deverão ser
apresentadas entre parênteses, em caixa alta, seguidas do ano.
5. As referências bibliográficas deverão ser apresentadas no final do artigo,
observando-se a norma da ABNT, NBR 6023:2000.
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