Conci¦ülio Ecume¦énico de Trento

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Concílio de Trento

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CONCLIO ECUMNICO DE TRENTO

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CONCLIO ECUMNICO DE TRENTO

O que foi o Conclio Ecumnico de Trento?

Martinho Lutero publicara, em 31 de outubro de 1517, 95 teses sobre a indulgncia. Em 15 de junho de 1520, assinou o papa Leo X a bula de ameaa de excomunho contra Lutero. A excomunho foi efetivada em 3 de janeiro de 1521. Com isto ficava selada a diviso religiosa (e poltica) da Alemanha.

No parlamento de Nuremberg, os representantes do Reino alemo exigiam a convocao de um conclio ecumnico. O imperador Carlos V queria que Trento, situada no Reino alemo, fosse o local do conclio. O papa Clemente VII, lembrado dos conclios de Constana e Basilia, evitava a convocao. Em 1527, o imperador voltou tentativa de dispor o papa em favor da idia do conclio. Pretendia a convocao de um conclio ecumnico, a reforma da Igreja e a superao da diviso. Nem mesmo um encontro pessoal entre o papa e o imperador, em 5 de novembro de 1529, demoveu o papa de sua recusa. Na assemblia geral do Reino, em Augsburgo, em 1530, os esforos do imperador pela unidade ficaram frustrados (a Confisso de Augsburgo). Mais uma vez, encareceu ao papa a necessidade de um conclio ecumnico, lembrando-o de que a no-convocao poderia acarretar maiores danos do que as consequncias temidas pelo papa.

Bem outra foi a reao de seu sucessor Paulo III (1534-1549). To logo tomou posse de suas funes, posicionou-se favoravelmente idia do conclio e procurou, desde o incio de 1535, concretizar seus planos nesse sentido. Foi convocado o conclio, primeiro para Mntua, em 1536, e, posteriormente, em 1537, para Vicenza, no chegando, porm, a reunir-se, devido a dificuldades polticas. Alm disso, numa e noutra oportunidade, foi impedida a sua abertura pela ausncia de participantes, havendo-se negado, outrossim, os prncipes protestantes a aceitar o convite, em 1539, foi adiado o conclio por tempo indeterminado.

Num encontro pessoal com o papa, voltou o imperador a propor, em 1541, [a cidade de] Trento para sediar o conclio. Efetivamente, convocou o papa o conclio para ser ali realizado, a partir de 1 de novembro de 1542. Como, no entanto, no vero de 1542, irrompera uma guerra entre a Alemanha e a Frana, tambm essa convocao ficaria sem efeito. Em 29 de setembro de 1543 suspendeu o papa o conclio, pelo motivo citado, mas, em 30 de novembro de 1544 levantou a suspenso e estabeleceu o dia 15 de maro de 1545 como termo inicial do evento. Contudo, no dia fixado, alm dos dois delegados do papa, no haviam chegado outros participantes.

Desta sorte, de fato s pde o conclio ter incio em 13 de dezembro de 1545. Haviam, desta vez, comparecido 4 arcebispos, 21 bispos e 5 superiores gerais de ordens religiosas. No princpio do vero, subiu esse nmero para 66 participantes, dos quais uma tera era constituda de italianos.

O primeiro perodo de sesses durou de 13 de dezembro de 1545 a 2 de junho de 1547. Contra a vontade do imperador, pretendia-se tratar de questes de f e de reforma simultaneamente. Na quarta sesso foi deliberado a respeito do decreto sobre as fontes da f. Na quinta sesso, expediu-se o decreto sobre o pecado original e, na sexta sesso, o decreto sobre a justificao. Tal decreto fora objeto de cuidado especial, tornando-se assim o decreto dogmtico mais significativo do conclio. Tambm os projetos de reforma foram tratados nesse perodo de sesses, assim como o dever de residncia dos bispos. Alm disso, foram discutidos a doutrina geral sobre os sacramentos e os sacramentos do batismo e da confirmao.

Em princpios de 1547, transferiu-se o conclio para Bolonha, porquanto em Trento irrompera um surto de tifo. Por certo, tinha o papa mais um outro motivo para a transferncia: queria distanciar o conclio da rea de dominao do imperador. Paulo confirmou, por isso, em 11 de maro de 1547, a deciso de transferncia do conclio, tomada pela maioria de dois teros. O imperador exigiu a volta para Trento, sobretudo porque, a seu ver, os protestantes certamente se recusariam a vir para uma cidade como Bolonha, situada no Estado Pontifcio. O papa negou o atendimento exigncia imperial, alegando que competia ao conclio decidir sobre a sua transferncia, o qual tomara tal deciso.

Em Bolonha levara o conclio adiante as deliberaes acerca da eucaristia, penitncia, uno dos enfermos, ordem e matrimnio. Ademais disso, foi debatida a doutrina sobre o sacrifcio da missa, o purgatrio e as indulgncias. Em 13 de setembro de 1549, suspendeu o papa o conclio. Morreu em 10 de novembro de 1549.

Seu sucessor, Jlio III (1550-1555), transferiu o conclio novamente para Trento, onde foi reaberto solenemente em 1 de maio de 1551. Em fins de 1551 e princpios de 1552, apareceram no conclio enviados de estados imperiais protestantes. Sua exigncia no sentido de que todos os pronunciamentos at ento feitos pelo conclio sobrre a f deveriam ser anulados, dificilmente seriam exeqveis. Foram publicados os decretos sobre os sacramentos, que haviam sido objeto de estudo em Bolonha, alm dos decretos da reforma da gesto dos bispos e da conduta de vida dos clrigos. Motivos polticos levaram, em 28 de abril de 1552, a nova suspenso do conclio, que somente em 1562 foi reaberto. Entrementes faleceram, no entanto, alm de Jlio III, tambm os seus sucessores, Marcelo II e Paulo IV.

Pio IV (1559-1565), finalmente, deu prosseguimento ao conclio. A abertura, efetuada em 18 de janeiro de 1562, controu com a presena de 109 cardeais e bispos. Em 11 de maro, foi discutido o dever de residncia dos bispos, o que levou manifestao de opinies divergentes e a uma interrupo maior do conclio, at que o papa, em 11 de maio, proibiu o debate sobre o referido tema. Concomitantemente quelas medidas, foram expedidos decretos sobre os demais sacramentos e emitidos tambm decretos de reforma, entre outros, os concernentes rejeio de exigncias de abolio do celibato. A vigsima segunda sesso, de 17 de setembro de 1562, ocupou-se com males existentes nas dioceses. Com o renovado pronunciamento sobre o dever de residncia dos bispos, a exaltao dos nimos reveladas nas contestaes chegou ao ponto de se temer a disperso do conclio. A controvrsia trouxe baila mais uma vez as relaes entre o papa e o conclio. Contudo, o novo presidente do conclio, Monrone, conseguiu salvar a situao, obtendo a aceitao de um compromisso relativamente aos pontos controvertidos: foi apenas rejeitada a doutrina protestante acerca das funes do bispo. Nessa mesma sesso, foi tambm declarada vinculativa a obrigao dos bispos de estabelecerem em suas dioceses seminrios para a formao de sacerdotes. Na vigsima quarta sesso, promulgou o conclio diversos decreto de reforma e concluiu, na sesso final de 3 e 4 de dezembro de 1563, os decretos sobre o purgatrio, as indulgncias e a venererao dos santos.

Vrias reformas haviam ficado inconcludas, entre as quais, sobretudo, as do missal e do brevirio e, ainda, a da edio de um catecismo geral. Essas tarefas foram cometidas, pelos padres conciliares, ao papa. Em 26 de janeiro de 1564, homologou o papa os decretos conciliares. Uma coletnea das decises dogmticas, a profisso de f tridentina, foi pelo papa tornada de uso obrigatrio para todos os bispos, superiores de ordens religiosas e doutores.

O conclio no conseguiu cumprir a tarefa que lhe fora inculcada pelo imperador, no sentido de restabelecer a unidade na f. No entanto, delineou claramente a concepo de f catlica frente Reforma. Pio IV morreu em 9 de dezembro de 1965. Seu sucessor, Pio V, divulgou o catecismo estatudo pelo conclio (1566), bem como o brevirio reformado (1568) e o novo missal (1570).

Concil. Trident. Sess. XXV in Acclam.

Ao Excelentssimo e Ilustrssimo SenhorDom Francisco Antonio LorenzanaArcebispo de Toledo,Primaz da Espanha etc.

Exmo. Sr.,

A santidade e credibilidade das matrias que foram definidas no sacrossanto Conclio de Trento no do lugar procura de amparo pois no o necessitam. Porm, realmente necessrio que esta traduo seja publicada com autorizao do Arcebispo de Toledo, Primaz da Espanha, para que seja assegurado aos fiis que esta a Doutrina Catlica, esta a pastagem saudvel e este o tesouro que Jesus Cristo comunicou aos seus Apstolos e chegou intacto s mos de V.E. que o entregar a outros para que o conservem em sua pureza, at a consumao dos sculos.

As virtudes Pastorais de V.E. e seu anjo por manter e propagar a Boa Doutrina, me do confiana de que receber a traduo deste Santo Conclio com o mesmo gosto com que pratica seus decretos e cuida de sua observncia por suas ovelhas

Exmo e Ilmo. Sr.A. L. P. de V. E.D. Igncio Lpez de Ayala

Notas sobre a Traduo

Ainda que os eclesisticos e sbios seculares possam desfrutar plenamente a doutrina do sagrado Conclio de Trento que foi publicada em latim, to importante e necessria sua leitura a todos os fiis em geral, to singela e cmoda sua explicao capacidade do povo, que no se deve estranhar que essa doutrina seja publicada em outras lnguas aos que no tenham conhecimento do latim. O conhecimento dos dogmas ou verdades de f, necessrio aos cristos; e em nenhum conclio foi decidido maior nmero de verdades catlicas sobre os mistrios de primeira importncia, que so os que pertencem justia, ao pecado original, ao livre arbtrio, graa e aos Sacramentos comuns e particulares. Como a divina Misericrdia conduz os fiis por meio destes vida eterna, e suas verdades so prticas, necessrio coloc-los sempre em aplicao. Ento, por isso, vemos que o conhecimento das decises do Conclio no conveniente apenas aos eclesisticos que administram os Sacramentos, mas tambm aos fiis que os recebem. Aos leigos cabe igualmente o conhecimento de muitos pontos de disciplina que foi estabelecido neste Sagrado Conclio. E esta a razo porque o mesmo Conclio ordenou a publicao de seu catecismo e ordenou que alguns de seus decretos fossem lidos repetidas vezes ao povo cristo.

[...]

A traduo que se apresenta literal, ainda que a diferena dos dois idiomas e do estilo prprio do Conclio tenha obrigado a seguir diferentes rumos na colocao das palavras. No obstante, o original a norma de nossa f e costumes, e a nica fonte de onde se deve recorrer quando se tratar de averiguar profundamente as verdades dogmticas e de disciplina, sobre cuja inteligncia possa ser suscitada alguma dvida.

[...]

Alm do mais, no parece que se deve advertir os leitores leigos, seno que os decretos pertencentes f so sempre certssimos, sempre inalterveis, sempre verdadeiros e incapazes de qualquer mudana ou variao. Mas os decretos de disciplina ou de administrao exterior, em especial os regulamentos que visam a tribunais, processos, apelaes e outras circunstncias desta natureza, admitem variao, como o mesmo santo Conclio d a entender. Em conseqncia no se deve estranhar que no sejam compatveis na prtica, em alguns pontos, com as disposies do Conclio; pois alm de intervir na autoridade legtima para fazer estas excees, a histria eclesistica comprova em todos os sculos que os usos louvveis e admitidos em algumas pocas, so reprovados e at mesmo proibidos em outras, e os que adotaram algumas providncias, no as receberam depois.

[...]BULA CONVOCATRIADOCONCLIO DE TRENTONOPONTIFICADODEPAULO III

Paulo Bispo, servo dos servos de Deus, para perptua memria.

Considerando que desde os princpios de nosso Pontificado - no por algum mrito de nossa parte, porm por Sua grande bondade, nos confiou a providncia de Deus onipotente - que em tempos to revoltosos e que em circunstncias to mesquinhas de quase todos os negcios, foi eleita nossa solicitude e vigilncia Pastoral; desejvamos por certo aplicar solues aos males que h tanto tempo tem afligido, e quase oprimido a repblica crist: mas ns, possudos tambm, como homens, de nossa prpria debilidade, compreendemos que eram insuficientes nossas foras para sustentar to grave peso. Ento, como entendssemos que se necessitava de paz, para libertar e conservar a repblica de tantos perigos que a ameaavam, achamos ao contrrio que tudo estava cheio de dios e contradies e em especial, opostos entre si aqueles prncipes aos quais Deus havia confiado todo o gerenciamento das coisas. Assim sendo, tomando-se por necessrio que fosse apenas um o redil, e um s o pastor do rebanho do Senhor, para manter a unidade da religio crist, e para confirmar entre os homens a esperana dos bens celestiais; se achava quase quebrada e despedaada a unidade do nome cristo com cismas, contradies e heresias. E desejando ns tambm que fosse prevenida e assegurada a repblica contra as armas e os feitos dos infiis; pelos erros e culpas de todos ns, visto que ao descarregar a ira divina sobre nossos pecados, foi perdida a ilha de Rodes, foi devastada a Hungria, e concebida e projetada a guerra por mar e por terra contra a Itlia, contra a ustria e contra a Escalavnia: porque, no sossegando em tempo algum nosso mpio e feroz inimigo, os Turcos; julgava que os dios e contradies que fomentavam os cristos entre si, era a ocasio mais oportuna para executar de modo feliz seus desgnios. Sendo pois chamados, como dizamos, em meio de tantas turbulncias, de heresias, de contradies, de guerras, de tormentas to revoltosas como se revoltaram para reger e governar a nave de So Pedro; e desconfiando de nossas prprias foras voltamos ante todas as coisas, nossos pensamentos a Deus, para que Ele mesmo nos vigorasse e armasse nosso nimo de fortaleza e constncia, e nosso entendimento do Dom de conselho e sabedoria. Depois disto, considerando que nossos antepassados, que tanto se distinguiram por sua admirvel sabedoria e santidade, se valeram muitas vezes nos mais iminentes perigos da repblica crist, dos conclios ecumnicos, e das juntas gerais dos Bispos, como do melhor e mais oportuno remdio; tomamos tambm a resoluo de celebrar um conclio geral: e averiguados os pareceres dos prncipes, cujo consentimento em particular nos parecia til e condizente para celebr-lo; ento, achando-os inclinados a to santa obra, indicamos o conclio ecumnico e geral de aqueles Bispos, e a reunio de outros Padres, a quem tocasse concorrer para a cidade de Mantova. No ano da Encarnao do Senhor, 1537, terceiro de nosso pontificado, como consta em nossas escrituras e monumentos, assinando sua abertura para o dia 23 de maio, com esperanas quase certas que quando estivermos ali congregados em nome do Senhor, sua Majestade estar no meio de ns, como prometeu, e dissipar, por sua bondade e misericrdia, todas as tempestades destes tempos, e todos os perigos com o alento de sua boca. Mas como sempre o inimigo arma laos de linhagem humana contra todas as obras piedosas; inicialmente nos foi recusada toda a esperana e expectativa sobre a cidade de Mantova, a no admitir algumas condies muito alheias conduta de nossos superiores, das circunstncias do tempo, de nossa dignidade e liberdade, e do nome e da honra eclesistica desta Santa S, e as que temos expressados em outros documentos apostlicos.

Conseqentemente precisamos procurar outro lugar e determinar outra cidade, a qual no nos ocorreu prontamente oportuna e nem proporcionada, nos vimos em necessidade de prorrogar a celebrao do Conclio at o dia primeiro de novembro. Entretanto, nossos perptuos e cruis inimigos, os Turcos, invadiram a Itlia com uma forte e numerosa esquadra, tomou, saqueou e destruiu alguns lugares na costa de Pulla, e levou muitas pessoas como escravos cativos. Ns estivemos ocupados, em meio do grande temor e perigo por que passavam todos, em reforar nosso litoral e ajudar com nossos socorros, os cidados, sem deixar de aconselhar e exortar os Prncipes cristos para que nos indicassem um lugar oportuno para celebrar o Conclio. Mas, sendo vrios e duvidosos seus pareceres e crendo que o tempo corria mais rpido do que exigiam as circunstncias, com bom senso e, a nosso ver, tambm com resolues prudentes, elegemos Veneza, que era uma cidade grande, e tambm por Ter entrada franca, gozava de uma situao inteiramente livre e segura para todos, em virtude da probidade, crdito e poder dos Venezianos, que nos ofereciam a cidade. Porm, tendo se passado muito tempo, e sendo necessrio avisar a todos sobre a eleio da nova cidade, e no sendo isso possvel, devido proximidade de primeiro de novembro, que se divulgasse a noticia que se havia assinado, e estando tambm prximo ao inverno, nos vimos outra vez obrigados a fazer nova prorrogao do incio do Conclio at a prxima primavera, no dia primeiro de maio. Tomada e firmemente resolvida esta determinao, havendo-nos preparado, assim como preparado todas as coisas para realizar e celebrar o Conclio exatamente conforme a vontade de Deus, crendo que era muito condizente, tanto para sua celebrao, como para toda a cristandade, que os prncipes cristos tivessem entre si paz e concrdia, insistimos em rogar e suplicar a nossos carssimos filhos em Cristo, Carlos, sempre augusto imperador dos Romanos, e Francisco, rei cristo, ambos colunas e apoios principais do nome cristo, que fizessem uma reunio entre si e conosco. Com efeito, com ambos havamos trocado correspondncia muitssimas vezes, e tido contato por meio de Nncios e Delegados escolhidos entre nossos venerveis irmos Cardeais, para que se dignassem a esquecer as inimizades e discrdias, e que tivessem uma piedosa aliana e amizade, e prestassem seu auxlio aos interesses da cristandade que estavam em decadncia, pois tendo eles o poder principal concedido por Deus, para conserv-lo teriam que dar rgida e severa conta dos mesmos a Deus se no fizessem assim, e nem dirigissem seus desgnios ao bem comum da cristandade. Por fim, sensibilizados os dois por nossas splicas, ambos concorreram a Nice, para onde tambm fizemos uma viagem longa e muito penosa em nossa avanada idade, movidos pela necessidade da causa de Deus e do restabelecimento da paz. Entretanto, sem nos omitirmos, pois estava chegando o tempo assinalado para o incio do Conclio, o primeiro de maio, enviamos a Veneza os Delegados de suma virtude e autoridade, escolhidos entre os mesmos irmos Cardeais da Santa Igreja Romana, para que fizessem a abertura do Conclio, recebessem os Prelados que viriam de todas as partes e executassem e tratassem tudo que fosse necessrio at que ns voltssemos da viagem e das conferncias de paz e pudssemos ento fazer parte do mesmo com mais exatido. Nesse meio tempo, nos dedicamos quela santa e extremamente necessria obra de tratar da paz entre os Prncipes, o que fizemos com sumo cuidado e com toda a caridade e esmero de nossa parte. Nossa testemunha Deus, em cuja clemncia confivamos, quando nos expusemos aos perigos de vida e do caminho. Nosso testemunho nossa prpria conscincia, que em nada por certo tem que nos responder, ou por haver omitido, ou por no haver buscado os meios de conciliar a paz.

Testemunhos so tambm os mesmos prncipes aos quais tantas vezes e com tanta veemncia suplicamos por meio dos Nncios, cartas, delegados, avisos, exortaes e toda espcie de rogos para que esquecessem suas inimizades e se confederassem e concorressem unidos, com suas providncias, a socorrer a repblica crist, que estava em grande e iminente perigo. Finalmente, testemunhos so aquelas viglias e cuidados, aqueles trabalhos que dia e noite afligiam nosso nimo e aqueles graves e freqentssimos desvelos que temos tido por esta causa e objeto. Sem que, todavia hajam tocado a finalidade pretendida por nossos desgnios e disposies. Esta foi a vontade de Deus, de quem, sem dvida, no perdemos a esperana de que olhara algumas vezes com benignidade os nossos desejos. Ns, por certo, de nossa parte, nada omitimos de tudo quanto pertencia ao nosso ofcio pastoral. E se existe alguns que possam interpretar em sentido contrrio estas nossas aes de paz, sentimos muito, mas no meio de nossa dor damos graas a Deus Onipotente, Quem por nos dar o exemplo de ensinamento e pacincia, quis que seus apstolos sofressem injrias pelo nome de Jesus Cristo, que a nossa paz. E ainda que naquele nosso congresso e colquio que tivemos em Nice, no se pode, por nossos pecados, efetuar uma verdadeira e perptua paz entre os prncipes, porm foi feita uma trgua por dez anos e ns ficamos esperanosos de que com esta oportunidade se poderia celebrar mais comodamente o sagrado Conclio, e tambm, alm disso, efetivar-se a paz com a autoridade do mesmo, insistimos com os prncipes que se chegassem pessoalmente ao Conclio, conduzissem os Prelados que tinham consigo e chamassem os ausentes. Os prncipes se escusaram por ter na ocasio, necessidade de voltar a seus reinos e tambm porque os prelados que haviam vindo consigo, cansados da viagem e preocupados com os gastos, pudessem descansar e se restabelecer, e ento nos exortaram a prorrogar a celebrao do Conclio. Como tivssemos a dificuldade em conceder essa prorrogao, recebemos nesse meio tempo, cartas de nossos delegados que estavam em Veneza, nas quais nos diziam que passados j muitos dias da data marcada para o incio do Conclio, haviam chegado quela cidade apenas um ou outro prelado das naes estrangeiras. Com estas novidades, e vendo que de nenhum modo se poderia celebrar o Conclio naquela ocasio, concedemos aos prncipes que a data de incio fosse prorrogada para o santo dia de Pscoa, festa prxima Ressurreio do Senhor. As bulas de nosso decreto sobre a alterao da data foram expedidas e publicadas em Gnova, em 28 de junho do ano da Encarnao do Senhor de 1538. Tivemos um maior gosto com esta prorrogao, pois os prncipes nos prometeram que enviariam suas embaixadas a Roma para que negociassem ali, juntamente conosco, e mais comodamente, os pontos que faltavam para resolver para a concluso do tratado de paz e que no tiveram tempo de ser tratados em Nice.

Ambos os soberanos tambm nos haviam pedido, por esta razo, que a pacificao precedesse celebrao do Conclio, pois se restabelecida a paz, o conclio seria sem dvida muito mais til e saudvel para a repblica Crist. Sempre, por certo, tiveram muita fora sobre nossa vontade, as esperanas que os prncipes nos davam de seus desejos de paz, o que facilitou nossa deciso em favor de seus apelos. Estas esperanas de paz aumentaram muito devido amistosa e benvola conferencia de ambos soberanos entre si, depois de nos termos retirado de Nice, e essas conferncias era entendida por ns com extraordinrio jbilo, e nos confirmou na justa confiana de que chegssemos a crer que finalmente Deus havia ouvido nossas oraes, e aceitado a nossos desejos de paz, pois ns, pretendendo e estreitando a concluso dessa conferncia, e sendo de ditame, no s dos prncipes mencionados, mas tambm nosso carssimo filho em Cristo, Ferdinando, rei dos romanos, o qual tambm achava que no deveria se realizar o Conclio antes de estar concluda a paz, empenhando-nos, todos ns, por meio de cartas e embaixadores, para que concedssemos novas prorrogaes, e insistindo com especialidade o serenssimo Csar, demonstrando que havia prometido aos que estivessem separados da unidade catlica, que interporia conosco sua mediao para que se encontrasse algum meio de concrdia, o que se poderia fazer comodamente antes de sua viagem Alemanha. Ns, persuadidos com a mesma esperana de paz que sempre, e por desejos de to grandes prncipes, vendo principalmente que nem para o dia assinalado da festa da Ressurreio, haviam chegado a Veneza mais prelados, informados j com o nome de prorrogao, que tantas vezes havia sido repetida em vo, achamos melhor suspender a celebrao do Conclio geral, e a nosso critrio e da S apostlica. Tomamos assim, nossas resolues e despachamos nossas cartas a cada um dos mencionados prncipes, feitas em 10 de junho de 1539, como claramente se pode nelas ver. Feita pois, por ns e por motivos de fora maior aquela suspenso, enquanto espervamos um tempo mais oportuno, e algum tratado de paz que contribusse depois, a dar autoridade e militncia de padres ao Conclio, e assim, mais recursos saudveis repblica Crist, pois de um dia para o outro caram muito as ocupaes da cristandade para um estado deplorvel, pois os Hngaros, depois de morto seu rei, chamaram os Turcos. O rei Ferdinando declarou-lhes guerra, uma parte dos Flamengos se tumultuou, rebelando-se contra o Csar, que passou a subjug-los em Flandes, pela Frana, porm, amistosamente e com grande harmonia do rei cristianssimo, e com grandes indcios de benevolncia entre os dois, e dali at a Alemanha, comeou a celebrar as remuneraes de seus prncipes e cidades com o objetivo de tratar a concrdia que havia oferecido. Frustadas, porm, todas as esperanas de paz, e parecendo tambm que aquele meio de procurar e tratar a concrdia das remuneraes seria a mais eficaz para suscitar maiores turbulncias do que para apazigu-las, ns resolvemos voltar a adotar o antigo remdio de celebrar o Conclio geral, e oferecemos essa deciso ao Csar, por intermdio de nossos delegados e Cardeais da Santa Igreja Romana, e o mesmo tratamos com Ratisbona, chamando a ela nosso amado filho em Cristo, Gaspar Contareno, Cardeal de Santa Praxedes, nosso delegado e pessoa de suma doutrina e integridade, para que pudssemos pelo mesmo juzo daquela regio, o mesmo que havamos receado antes o que haveria de suceder, a saber, que declarssemos que tolerassem certos artigos dos que esto apartados da Igreja, at que se examinassem e decidissem pelo conclio geral, no permitindo a f catlica Crist, nem nossa dignidade, nem a da S Apostlica, que os concedssemos. Mandamos que o melhor fosse proposto abertamente ao Conclio para que fosse celebrado o quanto antes. Nem jamais tivemos, na verdade, outro parecer nem desejo de que ele se congregasse na primeira ocasio o conclio ecumnico e geral. Espervamos por certo que se poderia restabelecer com ele a paz do povo cristo e a unidade da religio de Jesus Cristo, mas no obstante, desejvamos celebr-lo com a aprovao e gosto dos prncipes cristos. Enquanto espervamos sua vontade, enquanto observvamos esse tempo decorrido , esse tempo de Tua aprovao, Deus! Nos vimos, ultimamente, necessitados de resolver que todos os tempos so do Divino beneplcito, quando se tomam resolues de coisas santas e da piedade crist. Portanto, vendo com gravssima dor de nosso corao, que pioravam de dia a dia os assuntos da cristandade, pois a Hungria estava oprimida pelos Turcos, os Alemes em grande perigo, e todas as demais provncias cheias de medo, tristeza e aflio, determinamos no aguardar mais o consentimento de nenhum prncipe, seno atender unicamente vontade de Deus Onipotente, e os interesses da repblica Crist. Em conseqncia, ento, no podendo mais dispor de Veneza, e desejando atender assim o bem estar eterno de todos os Cristos, bem como a comodidade da nao alem, na eleio do lugar em que haveramos de fazer realizar o Conclio, ainda que houvessem sido propostos outros lugares, sabamos que os alemes desejavam que se elegesse a cidade de Trento, ainda que ns julgssemos que poderiam ser tratados mais comodamente todas as resolues na Itlia, ajustamos, movidos por nosso amor paternal, nossas determinaes a suas peties, e em conseqncia elegemos a cidade de Trento para que fosse sede do Conclio Ecumnico no dia primeiro do prximo ms de novembro, determinando aquele lugar como prprio para que pudessem ali chegar os Bispos e Prelados da Alemanha e de outras naes prximas com bastante facilidade, e os de Espanha, Frana e outras provncias tambm chegariam sem muitas dificuldades. Dilatamos a abertura at aquele dia assinalado, para dar tempo de serem publicadas as notas deste nosso decreto, por todas as naes Crists de modo que todos os prelados tivessem tempo de chegar a tempo.

E para ter deixado de assinalar nesta ocasio o trmino de um ano na mudana do lugar do conclio, como tnhamos prescrito em outras ocasies e bulas, o motivo foi de ns no termos querido diferenciar a esperana de sanar de algum modo a repblica Crist que tem sofrido tantas perdas e calamidades. No obstante as circunstncias de tempo, conhecemos as dificuldades, compreendemos que incerto quanto se pode esperar de nossa resoluo, mas sabendo que est escrito: Mostre ao Senhor tuas resolues e espera Nele que Ele as cumprir, decidimos que o mais acertado colocar nossa esperana na clemncia e na misericrdia deste mesmo Deus Onipotente, Pai, Filho e Espirito Santo, e de Seus bem aventurados Apstolos Pedro e Paulo, as quais gozamos na terra, e alm disso, com o conselho e consenso de nossas venerveis irmos cardeais da Santa Igreja Romana. Quitada e resolvida a suspenso acima mencionada, a mesma que removemos e quitamos pela presente Bula, indicamos, anunciamos, convocamos, estabelecemos e decretamos que o santo, ecumnico e Geral Conclio, haver de ter incio, prosseguir e finalizar com o auxlio do mesmo Senhor, para sua honra e glria, e em benefcio do povo cristo, na cidade de Trento, lugar confortvel, livre e oportuno para todas as naes, no dia primeiro do prximo ms de novembro do presente ano da encarnao do Senhor 1542, requerendo, exortando, advertindo e alm disso, ordenando com todo rigor e preceito em fora do juramento que fizeram a ns e a esta Santa S, e em virtude de santa obedincia e sob as demais penas que tem por costume intimar e propor contra os que no concordem quando se celebram Conclios, que tanto nossos venerveis irmos de todos os lugares, os Patriarcas, os Arcebispos, Bispos e nossos amados filhos, os Abades, como todos os demais a quem por direito ou por privilgio permitido tomar assento nos Conclios Gerais, e dar seu voto, que todos devam absolutamente vir e assistir esse Sagrado Conclio, a menos que se achem legitimamente impedidos, circunstncia na qual esto obrigados a avisar com fidedigno testemunho, ou assistir pelo menos por seus procuradores e enviados com legtimos poderes. Pedindo e tambm suplicando pelas entranhas da misericrdia de Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, cuja religio e verdades de f se combatem por dentro e por fora to gravemente, aos mencionados Imperador e Rei Cristo, assim como os demais reis, duques e prncipes, cuja presena se em algum tempo tenha sido necessria santssima f de Jesus Cristo, e salvao de todos os Cristos, principalmente neste tempo que se desejam ver salva a repblica Crist, se compreendem que tem estreita obrigao para com Deus, por todos os benefcios que tem recebido de Suas mos, no abandonem a causa, nem os interesses desse mesmo Deus, colaborem por si mesmos celebrao do Conclio, onde ser muito proveitosa sua piedade e virtude para a utilidade comum e sua salvao, e tambm de outros, tanto na vida temporal como na eterna. Mas se (o que no quereramos) no puderem participar eles prprios, que enviem seus embaixadores autorizados que possam representar no Conclio, cada um a pessoa de seu prncipe, com prudncia e dignidade. Ante todas essas coisas, que se ponham a caminho, o que lhes extremamente fcil, sem evasivas nem atrasos, para vir ao Conclio, os Bispos e Prelados de seus respectivos reinos e provncias. Circunstncia que em particular absolutamente de conformidade com a justia que o mesmo Deus e ns alcancemos dos Prelados e prncipes da Alemanha. sabido que iniciado o Conclio, principalmente por sua causa e desejos, e na mesma cidade que eles haviam pretendido, que todos o celebrem perfeitamente e lhe dem o esplendor com sua presena para que melhor e com maior comodidade, se possa quanto antes, e do melhor modo possvel, tratar no mesmo Sagrado e Ecumnico Conclio, consultar, expor, resolver e levar at o final, desejando todas as coisas que sejam necessrias na integridade e verdade da Religio Crist, ao recebimento dos bons costumes cura dos males, paz, unidade e concrdia dos cristos entre si, tanto dos prncipes como das populaes, assim como rechaar o mpeto com que maquinam os Brbaros e infiis para oprimir toda a cristandade, sendo Deus quem guie nossas deliberaes e quem leve frente de nossas almas, a luz de Sua sabedoria e verdade. E para que cheguem a estas novas escrituras, e quanto existe nelas, como notcia que todos devem Ter, e nenhum deles possa alegar ignorncia, principalmente por no ser eventualmente livre o caminho para que cheguem a todas as pessoas a quem determinadamente se deveria intimar, queremos e ordenamos que quando houver reunies de pessoas na baslica do Vaticano do Prncipe dos Apstolos, e na igreja de Latro, a ouvir a missa, sejam lidas publicamente e com vs clara e alta, pelos cursores de nossa Cria, ou por alguns notrios pblicos, e lidas, sejam fixadas nas portas das ditas igrejas, tambm nas portas da Chancelaria Apostlica, e no lugar de costume no campo de Flora, e aonde possam estar expostas por algum tempo para que possam ser lidas e suas notcias cheguem a todos, e quando as tirarem dali, sejam colocadas cpias nos mesmos lugares. Nossa vontade determinada que todas a quaisquer pessoas mencionadas mesta Bula, estejam obrigadas e compelidas por sua leitura, publicao e fixao durante dois meses depois de fixada, contados desde o dia de sua publicao e fixao, como se tivesse lido e intimado a suas prprias pessoas. Ordenamos tambm e decretamos que se de indubitvel e correta f aos seus exemplares que estejam escritos ou firmados por mos de algum notrio pblico, e referendados com o selo de alguma pessoa eclesistica constituda em dignidade. No seja, pois, licito a pessoa alguma, quebrar ou contradizer temerariamente a esta nossa Bula de invico, aviso, convocao, estatuto, decreto, mandamento, preceito e rogo. E se algum presunoso atentar contra ela, saiba que incorrer na indignao de Deus Onipotente, e tambm na de seus bem aventurados apstolos Pedro e Paulo.

Dado em Roma, em So Pedro, em 22 de maio do ano da Encarnao do Senhor de 1542 e oitavo de nosso Pontificado.

Blosio. Hier. Dan.

Sesso ICelebrada no tempo do Sumo Pontfice Paulo III, em 13 de dezembro do ano do Senhor de 1545

A ABERTURA DO SACROSSANTO CONCLIO DE TRENTOProcedimentos Introdutrios

Em nome da Santssima Trindade, seguem as ordens, constituies, atas e decretos feitos no Conclio Geral, Sacrossanto e Ecumnico de Trento, presidido em nome de nosso santssimo Cristo Pai e Senhor, por Paulo, por divina providncia, Papa III com este nome, pelos reverendssimos e Ilustrissimos senhores Cardeais da Santa Igreja Romana, Delegados da S Apostlica, Juan Maria de Monte, Bispo da Palestina, Marcelo Cervini, Presbtero da Santa Cruz em Jerusalm, Reginaldo Polo, ingls, dicono de Santa Maria em Cosmedin.

Em nome de Deus. Amm.

No ano do nascimento de nosso Senhor de MDXLV (1545), na terceira convocao, no terceiro Domingo do Advento do Senhor, em que caiu a festividade de Santa Luzia, terceiro dia do ms de dezembro do dcimo segundo ano de pontificado, pela providncia de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Paulo, Papa III, o terceiro com este nome, foi celebrada uma procisso geral na cidade de Trento, desde a Igreja da Santssima e nica Trindade, at Igreja catedral, para proceder ao feliz incio do Sacrossanto, Ecumnico e Geral Conclio de Trento, e participaram dela os trs delegados da S Apostlica e o Reverendssimo e Ilustrssimo Senhor Cristvo Madruci, Cardeal Presbtero da Santa Igreja Romana, do ttulo de So Cesrio e tambm dos Reverendos Padres e Senhores Arcebispos, Bispos, Abades, doutores e ilustres e nobres senhores que so mencionados com muitos outros doutores e telogos, como canonistas e legisladores, e grande nmero de Bares e Condes, e tambm o clero e o povo da dita cidade.

Finalizada a procisso, o referido primeiro Delegado Reverendssimo e Ilustrssimo Cardeal de Monte, celebrou a missa do Esprito Santo, na santa Igreja catedral, e pregou o Reverendo Padre e senhor Bispo de Bitonto. Depois de acabada a missa, deu a beno ao povo, o expressivo Reverendssimo senhor Cardeal de Monte, e comparecendo depois diante dos mesmos Delegados e Prelados a honrada pessoa do mestre Zorrilla, secretrio do Ilustrssimo Senhor Diego de Mandonza, embaixador do Imperador e Rei da Espanha, e apresentou as cartas em que o dito Embaixador pedia desculpas por sua ausncia, as quais foram lidas em voz alta. Depois disto, foram lidas as Bulas da convocao do Conclio e imediatamente o expressivo Reverendssimo Delegado Monte, voltando-se aos Padres do Conclio disse:

Decreto em que se declara a abertura do Conclio.Tens por bem aceitar e declarar para a honra e glria da Santa e Indivisvel Trindade, Pai e Filho e Esprito Santo, para aumento e exaltao da f e da religio Crist, extirpao das heresias, paz e concrdia da Igreja, reforma do clero e povo Crsto, e a humilhao e total runa dos inimigos do nome de Cristo, que o Sagrado e Geral Conclio de Trento tenha inicio e permanea em exerccio?

Responderam todos os presentes: 'Assim o queremos'.

Determinao da Prxima SessoEm virtude de estar prxima a festa da Natividade de Jesus Cristo, Nosso Senhor, e seguindo-se outras festividades do ano que termina e do que principia, aceitais por bem que a prxima sesso se celebre na Quinta-feira depois da Epifana, que ser em 7 de janeiro do ano do Senhor de 1546?

Responderam todos: 'Assim o queremos'.

Sesso IICelebrada no tempo do Sumo Pontfice Paulo III, em 07 de janeiro do ano do Senhor de 1546

REGRAS DE VIDA E OUTRAS ATITUDES A SEREM OBSERVADASDecreto sobre as regras de vida e outras atitudes que devem ser observadas no ConclioO sacrossanto conclio Tridentino, congregado legitimamente no Esprito Santo e presidido pelos mesmos trs Legados da S Apostlica, reconhecendo como o bem aventurado Apstolo So Tiago que toda ddiva excelente e todo dom perfeito vem do cu e desce do Pai das luzes, que concede com abundncia a sabedoria a todos os que a pedirem, sem se incomodar com sua ignorncia; e sabendo tambm que o princpio da sabedoria o temor de Deus, resolveu e decretou exortar a todos e a cada um dos fiis cristos congregados em Trento, que o fazem agora, os exorta que procurem emendar-se dos seus erros e pecados cometidos at o presente, e procedam daqui para a frente com temor a Deus sem condescender aos desejos da carne, preservando, como possa cada um, na orao e confessando freqentemente, comungando, freqentando as igrejas e enfim, cumprindo os preceitos divinos, e pedindo tambm deste Deus, todos os dias, em suas oraes particulares, pela paz dos prncipes cristos e pela unidade da Igreja.

Exorta tambm aos bispos e demais pessoas constitudas da ordem sacerdotal, que venham a esta cidade para celebrar o Conclio Geral, para que se dediquem com esmero aos contnuos louvores a Deus, ofeream seus sacrifcios, ofcios e oraes, e celebrem o sacrifcio da missa, ao menos nos Domingos, dia em que Deus criou a luz, ressuscitou dos mortos e infundiu em seus discpulos o Esprito Santo, fazendo como manda o mesmo Esprito Santo por meio de Seu Apstolo, splicas, oraes, pedidos e aes de graas por nosso santssimo Padre, o Papa, pelo Imperador, pelos Reis, por todos os que se acham constitudos em dignidade e por todos os homens para que vivamos pacfica e tranqilamente, gozemos da paz e vejamos o aumento da religio.

Exorta tambm que jejuem pelo menos todas as Sextas-feiras em memria da Paixo do Senhor, doem esmolas aos pobres e que sejam celebradas todas as quintas-feiras na igreja catedral, a missa do Esprito Santo com as liturgias e outras oraes estabelecidas para a ocasio, e nas demais igrejas se digam ao menos nos mesmos dias, as liturgias e oraes, sem que o perodo dos Divinos Ofcios sofra interrupes ou conversaes, seno ao que concerne ao sacerdote, em voz alta ou em silncio.

tambm necessrio que os Bispos sejam irrepreensveis, sbrios, castos e muito atentos ao governo das suas casas; os exorta igualmente a que cuidem, antes de tudo, da sobriedade em sua mesa e da moderao em suas refeies. Alm disso, como acontece muitas vezes, evitar na mesma mesa as conversaes inteis, e em vez disso, que seja lida a sagrada Escritura.

Instrua tambm cada um a seus familiares e empregados que no sejam devedores, alcolatras, ambiciosos, soberbos, blasfemantes, nem dados a prazeres sensuais, fujam dos vcios e abracem as virtudes, manifestando alinhamento em suas vestes e tambm atos de honestidade e modstia correspondentes aos ministros dos ministros de Deus.

Alm disso, sendo o principal cuidado, empenho e inteno deste Sacrossanto Conclio, que dissipadas as trevas das heresias, que por tantos anos cobriram a terra, renasa a luz da verdade catlica, com o favor de Jesus Cristo, que a verdadeira luz, bem como a sinceridade e a pureza e se reformem as coisas que necessitam de reforma.

O mesmo conclio exorta a todos os catlicos aqui congregados e que depois de se congregarem e, principalmente, aos que esto instrudos nas sagradas escrituras, que meditem por si mesmo com diligncia e esmero, os meios e modos mais convenientes para poder dirigir as intenes do Conclio, e conseguir o efeito desejado, e com isto se possa com maior rapidez, deliberao e prudncia, condenar o que deva ser condenado e aprovar o que merea aprovao, e todos, por todo o mundo, glorifiquem a uma s voz, e com a mesma confisso de f, a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.

A respeito do modo com que se exponham os ditames, logo que os sacerdotes do Senhor estejam sentados no lugar de bnos, segundo o estatuto do Conclio de Toledo, ningum possa fazer rudos com vozes destonadas nem perturbar de modo tumultuoso, nem to pouco discutir com premissas falsas, vs, ou obstinadas, sem que todo o que venham a expor, seja atenuado e suavizado de algum modo ao ser pronunciado, para que no se ofendam os ouvintes e nem se perca a retido do juzo com a perturbao dos nimos.

Determinao da Prxima SessoDepois disto estabelecido e decretando o Conclio que se acontecesse por casualidade que alguns no tomem o assento que lhes corresponde, e expressem sua opinio, ainda que valendo-se da frmula de Placet, assistam s congregaes e executem durante o Conclio outras aes quaisquer que sejam, e nem por isto sero seguidos de qualquer prejuzo, e nem tampouco adquiriro novos direitos.

Marcou-se a seguir, o dia Quinta-feira, 4 do prximo ms de fevereiro para celebrar a sesso seguinte.

CONCLIO ECUMNICO DE TRENTOSesso IIICelebrada no tempo do Sumo Pontfice Paulo III, em 04 de fevereiro do ano do Senhor de 1546

A PROFISSO DE F

Decreto sobre o Smbolo da FEm nome da Santa e Indivisvel Trindade, Pai e Filho e Esprito Santo, considerando este sacrossanto geral e ecumnico Conclio de Trento, consagrado legitimamente no Espirito Santo e presidido pelos mesmos trs Legados da S Apostlica, a grandeza dos assuntos que tem que tratar, em especial dos contedos dos captulos, primeiro aquele da extirpao das heresias e outro da reforma dos costumes, por cuja causa principalmente foi congregado, e compreendendo tambm com o Apstolo que no se tem que lutar contra a carne e sangue, seno contra os espritos malignos nas coisas pertencentes vida eterna, exorta primeiramente com o mesmo Apstolo a todos e a cada um que se confortem no Senhor, e no poder da virtude, tomando escudo da f, pois com ele podero rechaar todos os tiros do inimigo infernal, cobrindo-se com o manto da esperana e da salvao e armando-se com a espada da alma, que a Palavra de Deus.

E para que este seu piedoso desejo tenha em conseqncia, com a graa divina, principio e perfeito andamento, estabelece e decreta que ante todas as coisas, deve principiar pelo smbolo ou confisso de f, seguindo assim o exemplo dos Padres, os quais, nos mais sagrados conclios acostumaram agregar no princpio de suas sesses, este escudo contra todas as heresias, e somente com isso atraram algumas vezes os infiis f, venceram os hereges e confirmaram os fiis.

Por esta causa foi determinado o dever de expressar com as mesmas palavras com que se l em todas as igrejas o smbolo da f que usado pela santa Igreja Romana, como que aquele princpio em que necessariamente convivem os que professam a f de Jesus Cristo e o fundamento seguro e nico de que contra ela jamais prevaleceriam as portas do inferno.

O mencionado smbolo diz assim:

Creio em um s Deus, Pai Todo-Poderoso, criador do cu e da terra, de todas as coisas visveis e invisveis, em um s Senhor Jesus Cristo, Filho Unignito de Deus, e nascido do Pai antes de todos os sculos, Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado e no criado, consubstancial ao Pai, por Quem foram feitas todas as coisas, o mesmo que por ns, os homens, e por nossa salvao, desceu dos cus, se tornou carne pela Virgem Maria, por obra do Esprito Santo, se fez homem, foi crucificado por ns, padeceu sob o poder de Pncio Pilatos, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia como estava anunciado nas sagradas escrituras, subiu ao cu, e est sentado ao lado do Pai de onde h de vir pela Segunda vez, glorioso, para julgar os vivos e os mortos, e seu reino ser eterno. Creio tambm no Esprito Santo, Senhor e Vivificador que procede do Pai e do Filho, com Quem igualmente adorado e goza de toda glria juntamente com o Pai e o Filho, e foi Ele que falou pelos Profetas. Creio em uma nica Santa Igreja Catlica e apostlica. Creio em um s batismo para a remisso dos pecados e aguardo a ressurreio da carne e a vida eterna. Amm.

Determinao da Prxima SessoTendo entendido que o mesmo Sacrossanto, Ecumnico e Geral Conclio de Trento, congregado legitimamente no Esprito Santo e presidido pelos mesmos trs Legados da S Apostlica, que muitos dos Prelados de vrios pases esto dispostos a empreender viagem at o Conclio e que alguns j esto a caminho de Trento, e considerando tambm o quanto deve decretar o Sagrado Conclio, tanto maior ser o crdito e respeito que ter entre todos, quanto maior o nmero de Padres participantes do pleno conselho, para as determinaes e colaboraes, resolveu e decretou que a prxima Sesso ser celebrada na Quinta-feira seguinte prxima Dominica Laetare, mas que entretanto no deixem de tratar e apresentar os pontos que pertenam ao Conclio, dignos de sua proposio e exame.

Sesso IVCelebrada no tempo do Sumo Pontfice Paulo III, em 08 de abril do ano do Senhor de 1546

AS SAGRADAS ESCRITURAS

Decreto sobre as Escrituras CannicasO Sacrossanto, Ecumnico e Geral conclio de Trento, congregado legitimamente no Esprito Santo e presidido pelos trs legados da S Apostlica, propondo-se sempre por objetivo que exterminados os erros se conserve na Igreja a mesma pureza do Evangelho, que prometido antes na Divina Escritura pelos Profetas, promulgou primeiramente por suas prprias palavras, Jesus Cristo, Filho de Deus e Nosso Senhor, e depois mandou que seus apstolos a pregassem a toda criatura, como fonte de toda verdade que conduz nossa salvao, e tambm uma regra de costumes, considerando que esta verdade e disciplina esto contidas nos livros escritos e nas tradues no escritas, que recebidas na voz do mesmo Cristo pelos apstolos ou ainda ensinadas pelos apstolos, inspirados pelo Esprito Santo, chegaram de mo em mo at ns.

Seguindo o exemplo dos Padres catlicos, recebe e venera com igual afeto de piedade e reverncia, todos os livros do Velho e do Novo Testamento, pois Deus o nico autor de ambos assim como as mencionadas tradues pertencentes f e aos costumes, como as que foram ditadas verbalmente por Jesus Cristo ou pelo Esprito Santo, e conservadas perpetuamente sem interrupo pela Igreja Catlica.

Resolveu tambm unir a este decreto o ndice dos Livros Cannicos, para que ningum possa duvidar quais so aqueles que so reconhecidos por este Sagrado Conclio. So ento os seguintes:

Do antigo testamento: cinco de Moiss a saber: Gnesis, xodo, Levtico, Nmeros e Deuteronmio. Ainda: Josu, Juzes, Rute, os quatro dos Reis, dois do Paralipmenos, o primeiro de Esdras, e o segundo que chamam de Neemias, o de Tobias, Judite, Ester, J, Salmos de Davi com 150 salmos, Provrbios, Eclesiastes, Cntico dos Cnticos, Sabedoria, Eclesistico, Isaas, Jeremias com Baruc, Ezequiel, Daniel, o dos Doze Profetas menores que so: Oseias, Joel, Ams, Abdas, Jonas, Miquias, Naum, Habacuc, Sofonas, Ageu, Zacarias e Malaquias, e os dois dos Macabeus, que so o primeiro e o segundo.

Do Novo Testamento: os quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e Joo, os Atos dos Apstolos escritos por So Lucas Evangelista, catorze epstolas escritas por So Paulo Apstolo: aos Romanos, duas aos Corntios, aos Glatas, aos Efsios, aos Filipenses, aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timteo, a Tito, a Filemon, aos Hebreus. Duas de So Pedro Apstolo, trs de So Joo Apstolo, uma de So Tiago Apstolo, uma de So Judas Apstolo, e o Apocalipse do Apstolo So Joo.

Se algum ento no reconhecer como sagrados e cannicos estes livros inteiros, com todas as suas partes, como de costume desde antigamente na Igreja catlica, e se acham na antiga verso latina chamada Vulgata, e os depreciar de pleno conhecimento, e com deliberada vontade as mencionadas tradues, seja excomungado.

Fiquem ento todos conhecedores da ordem e mtodo com o qual, depois de haver estabelecido a confisso de f, h de proceder o Sagrado conclio e de que testemunhos e auxlios serviro principalmente para comprovar os dogmas e restabelecer os costumes da Igreja.

Decreto sobre a Edio e Uso da Sagrada EscrituraConsiderando tambm que deste mesmo Sacrossanto Conclio, do qual se poder tirar muita utilidade Igreja de Deus, se declara que a edio da Sagrada Escritura dever ser autntica entre todas as edies latinas existentes, estabelece e declara que se tenha como tal, as exposies pblicas, debates, sermes e declaraes, esta mesma antiga edio da Vulgata, aprovada na Igreja pelo grande uso de tantos sculos, e que ningum, por nenhum pretexto se atreva ou presuma desprez-la.

Decreta tambm com a finalidade de conter os ingnuos insolentes, que ningum, confiando em sua prpria sabedoria, se atreva a interpretar a Sagrada Escritura em coisas pertencentes f e aos costumes que visam a propagao da doutrina Crist, violando a Sagrada Escritura para apoiar suas opinies, contra o sentido que lhe foi dado pela Santa Amada Igreja Catlica, qual de exclusividade determinar o verdadeiro sentido e interpretao das Sagradas Letras; nem tampouco contra o unnime consentimento dos santos Padres, ainda que em nenhum tempo se venham dar ao conhecimento estas interpretaes.

Aos medocres, sejam declarados contraventores e castigados com as penas estabelecidas por direito. E querendo tambm, como justo, colocar um freio nesta parte aos impressores que sem moderao alguma, e persuadidos de que lhes permitido a quanto se lhes queira, imprimirem sem licena dos superiores eclesisticos, a Sagrada Escritura, notas sobre ela, e exposies indiferentemente de qualquer autor, omitindo muitas vezes o lugar da impresso, ou muitas vezes falsificando, e o que de maior conseqncia, sem nome de autor, e alm disso tais livros impressos alhures, so vendidos sem discernimento e temerariamente, este Conclio decreta e estabelece que de ora em diante seja impressa, com a maior compreenso possvel, a Sagrada Escritura principalmente a antiga edio da Vulgata, e que a ningum seja lcito imprimir nem fazer com que seja impresso livro algum de coisas sagradas ou pertencentes religio, sem o nome do autor da impresso, nem vende-los, nem ao menos t-los em sua casa, sem que primeiro sejam examinados e aprovados pela Igreja, sob pena de excomunho e de multa estabelecida no Canon do ltimo Conclio de Latro.

Se os autores forem [do clero] Regulares, devero alm do exame e aprovao mencionados, obter a licena de seus superiores, depois que estes tenham revisto seus livros segundo os estatutos prescritos em suas constituies. Aqueles que comunicam ou publicam manuscritos, sem que antes sejam examinados e aprovados, fiquem sujeitos s mesmas penas que os impressores. E os que os tiverem ou lerem, sejam tidos como autores, se no declararem quem o h sido. Seja dado tambm por escrito a aprovao desses livros, e que aparea essa autorizao nas pginas iniciais, sejam manuscritos ou impressos, e tudo isto, a saber, o exame e a aprovao dever ser feita gratuitamente, para que assim se aprove apenas o que seja digno de aprovao e se reprove o que no a merea.

Alm disso, querendo o Sagrado Conclio reprimir a temeridade com que se aplicam e distorcem qualquer assunto profano, as palavras e sentenas da Sagrada Escritura podem ser utilizadas para se escrever bobagens, fbulas, futilidades, adulaes, murmrios, supersties, mpios e diablicos encantos, adivinhaes, sortes, libelos de infmia, ordena e manda estripar esta irreverncia e menosprezo, que ningum daqui para frente se atreva a valer-se de modo algum de palavras da Sagrada Escritura para estes e nem outros semelhantes abusos que todas as pessoas que profanem e violem deste modo a Palavra Divina, sejam reprimidas pelos Bispos, com as penas de direito a sua atribuio.

Determinao da Prxima SessoA seguir estabelece este sacrossanto Conclio, que a prxima e futura Sesso seja feita e celebrada na Quinta-feira depois da prxima sacratssima solenidade de Pentecostes.

Sesso VCelebrada no tempo do Sumo Pontfice Paulo III, em 17 de junho do ano do Senhor de 1546

O PECADO ORIGINALDecreto sobre o Pecado OriginalPara que nossa santa f catlica, sem a qual impossvel agradar a Deus, purgada de todo erro, se conserve inteira e pura em sua sinceridade, e para que no flutue no povo cristo todos os ventos de novas doutrinas, e, sabendo que a antiga serpente, inimiga perptua do ser humano, entre muitssimos males que em nossos dias perturbam a Igreja de Deus, alm de ter suscitado novas heresias, tambm levantou antigas sobre o pecado original e seu remdio, o Sacrossanto Ecumnico e Geral Conclio de Trento, congregado legitimamente no Esprito Santo, e presidido pelos mesmos trs Legados da S Apostlica, resolveu ento empreender o rebaixamento dos que esto errados e confirmar os que seguem os testemunhos da Sagrada Escritura, dos santos Padres e dos conclios melhor recebidos, e dos ditames e consentimento da mesma Igreja, estabelece confessa e declara estes dogmas sobre o pecado original:

I. Se algum no acreditar que Ado, o primeiro homem, quando anulou o preceito de Deus no paraso, perdeu imediatamente a santidade e justia em que foi constitudo, e incorreu, por culpa de sua prevaricao, na ira e indignao de Deus, e consequentemente na morte com que Deus lhe havia antes ameaado, e com a morte em cativeiro, sob o poder daquele que depois teve o imprio da morte, ou seja, o demnio, e no confessa que Ado, por inteiro, passou, pelo pecado de sua prevaricao, a um estado pior, no corpo e na alma, seja excomungado.

II. Se algum afirmar que o pecado de Ado prejudicou apenas a ele mesmo e no sua descendncia, e que a santidade que recebeu de Deus, e a justia com que perdeu, a perdeu para si mesmo, no incluindo ns todos, ou que marcado ele com a culpa de sua desobedincia, apenas repassou a morte e penas corporais a todo gnero humano e no o pecado, que a morte da alma, seja excomungado, pois contradiz o Apstolo que afirma: "Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, e desse modo foi passada a morte a todos os homens por aquele em quem todos pecaram."

III. Se algum afirmar que este pecado de Ado, que nico em sua origem e transfundido em todos pela propagao, no por imitao, se faz prprio de cada um, e que se pode retirar pelas foras da natureza humana, ou por outro meio que no seja pelo mrito de Jesus Cristo, nosso Senhor, nico mediador, e que nos reconciliou com Deus pois por meio de sua Paixo fez para ns justia, santificao e redeno, ou nega que o prprio mrito de Jesus Cristo se aplica tanto aos adultos, como s crianas por meio do sacramento do batismo, expressamente conferido segundo a frmula da Igreja, seja excomungado, porque no existe outro nome entre os homens da terra, em que se possa obter a salvao. Daqui se pode lembrar as palavras: "Este o Cordeiro de Deus, Este O que tira os pecados do mundo". E tambm: "Todos vs que fostes batizados, vos revestistes de Jesus Cristo".

IV. Se algum negar que as crianas recm nascidas precisam ser batizadas, ainda que sejam filhos de pais batizados, ou diz que batizam para que se lhes perdoem os pecados, porm que eles em nada participaram do pecado de Ado, para ser preciso purific-los com o banho da regenerao para conseguir vida eterna, dessas afirmaes consequente que a forma de batismo entendida por eles, no verdadeira, porm falsa na ordem da remisso dos pecados, ento: sejam excomungados pois estas palavras do Apstolo, "por um homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, e desse modo a morte atingiu todos os homens por aquele em quem todos pecaram", no devem ser entendidas em outro sentido seno aquele que sempre entendeu a Igreja Catlica, difundida por todo o mundo. E assim, por esta regra de f, conforme a tradio dos Apstolos, mesmo as criancinhas que ainda no possam Ter cometido pecado algum, recebem com toda verdade o batismo em remisso de seus pecados que contraram devido gerao, para que sejam purificados, pois no pode entrar no Reino de Deus, sem que tenham renascido pela gua e pelo Esprito Santo.

V. Se algum negar que se perdoa a continuao do pecado original pela graa de nosso Senhor Jesus Cristo, e que conferida pelo batismo, ou afirmar que no se retira tudo o que prpria e verdadeiramente pecado, porm diz que com o batismo apenas se apara ou se deixa de imputar o pecado, seja excomungado. Deus, por certo, em nada prejudicar os renascidos, pois com o batismo, cessa absolutamente a condenao a respeito daqueles pecados que, mortos e sepultados, na realidade pelo batismo com Jesus Cristo, no vivem segundo a carne, porm despojados do homem velho, e vestidos do novo, que, pelo batismo, foi criado por Deus, passam a ser inocentes, sem mancha, puros, sem culpa e amigos de Deus, seus herdeiros e partcipes com Jesus Cristo, da herana de Deus de modo que nada pode retardar a eles a entrada no cu.

Confessa, no obstante, e cr este Santo Conclio, que fica nos batizados a sensualidade, como que deixadas para exerccio, no pode prejudicar aos que no a consentem, e a revestem varonilmente com a graa de Jesus Cristo, mas pelo contrrio, ser jubilado aquele que legitimamente lutar. O Santo Snodo declara que a Igreja Catlica jamais entendeu que esta sensualidade, chamada eventualmente de pecado pelo Apstolo So Paulo, tenha esse nome por ser verdadeira e propriamente pecado nos renascidos pelo batismo, seno porque deriva do pecado e se inclina para ele. Se algum sentir o contrrio, seja excomungado.

Declara, no obstante, o mesmo Santo Conclio, que no sua inteno compreender neste decreto, em que se trata do pecado original, a bem aventurada e imaculada Virgem Maria, me de Deus, porm que se observem as constituies do Papa Sixto IV, as mesmas que renova, sob as penas contidas nas mesmas constituies.

Decreto sobre a ReformaCap. I - Que se estabeleam ctedras de sagrada EscrituraInsistindo, o mesmo Sacrossanto Conclio, nas piedosas constituies dos Sumos Pontfices e dos Conclios aprovados, adaptando-as e incorporando-as, estabeleceu e decretou, com a finalidade de que no fique obscurecido e depreciado o tesouro celestial dos sagrados livros que o Esprito Santo comunicou aos homens com sua liberalidade, que as igrejas nas quais foram estipuladas prendas, pagamentos ou outra remunerao qualquer para os leitores da Sagrada Teologia, obriguem os Bispos, Arcebispos, Primazes, e demais pessoas pertencentes a Ordens locais, a fazer as leituras e concorram tambm pela privao dos resultados aos no aprovados que obtiverem tais remuneraes, e a que os eclesisticos ditos acima, exponham e interpretem a Sagrada Escritura por si mesmos, se forem capazes, e se no forem, por substitutos idneos que devem ser eleitos pelos mesmos Bispos, Arcebispos, Primazes, e demais pessoas pertencentes a Ordens. Mas, daqui para frente no se h de conferir as remuneraes mencionadas, seno a pessoas idneas e que podem por si mesmas desempenhar esta obrigao, ficando nula e invlida a proviso que no seja feita nestes termos. Nas Igrejas metropolitanas ou catedrais, se a cidade for famosa ou de muito movimento, assim como nos colgios em que haja populao sobressalente, ainda que no esteja ligada a nenhuma diocese, contanto que o clero seja numeroso, e naquelas que no tenham destinada remunerao alguma, dever-se- ter destinada e aplicada perpetuamente para esse feito, "ipso facto" a primeira remunerao que de qualquer modo seja conseguida, com exceo que chegue por penitncia, e a que esteja anexa a outra obrigao e trabalho incompatvel. E, porm, em caso de no haver arrecadao alguma nas mesmas igrejas ou a mesma no ser suficiente para que haja o pagamento da remunerao, o Metropolitano ou Bispo, dever tomar providncias de acordo com as regras, para que haja a leitura e/ou ensinamento da Sagrada Escritura providenciando os frutos de algum benefcio simples, completadas no obstante as cargas e obrigaes da igreja ou diocese ou colgio, para que essa pessoa tenha, tanto pelas contribuies dos beneficiados de sua cidade ou diocese, ou do melhor modo possvel sua remunerao, e condicional que no se omitam de modo algum estas e outras leituras estabelecidas pelo costume ou por qualquer outra causa. As igrejas cujas rendas anuais forem baixas, ou onde o clero e povo seja to pequeno ou pobre que no possa ter comodamente uma ctedra de teologia, tenham ao menos um mestre escolhido pelo Bispo, que ensine a gramtica aos clrigos e outros estudantes pobres, para que possam, mediante a vontade de Deus, passar ao estudo da Sagrada Escritura, e por isto, devero conceder ao mestre de gramtica, os frutos de algum benefcio simples, que ser percebido apenas durante o tempo que se mantenha ensinando, mas que no seja prejudicado o ensinamento devido a seus trabalhos, e ento dever ser-lhe pago da mesa capitular ou episcopal algum salrio correspondente, ou se isto no puder ocorrer, o mesmo Bispo dever buscar algum meio de proporcionar igreja ou diocese recursos para esse pagamento, de modo que sob nenhum pretexto se deixe de cumprir esta piedosa, til e frutuosa determinao.

Haja tambm a ctedra de Sagrada Escritura nos mosteiros de monges nos quais seja possvel; e se forem omissos os Abades no cumprimento disso, que sejam eles obrigados por modos oportunos pelos Bispos locais, bem como por delegados da S Apostlica a faz-lo. Haja igualmente ctedra de Sagrada Escritura nos conventos das demais Ordens, sempre que possvel, para que possam florescer esses estudos. Esta ctedra dever ensinar os captulos gerais ou provinciais pelos mestres mais dignos. Estabelea-se tambm essa ctedra nos estudos pblicos (que at o momento no tenha sido estabelecido), pela piedade dos religiosssimos prncipes e repblicas, e por seu amor defesa e aumento da f catlica e conservao e propagao da Santa Doutrina, pois ctedra to honorfica mais necessria que tudo o mais, e restabelea-se a ctedra aonde queira que se haja fundado e que esteja abandonada. E para que no se propague a iniqidade sob o pretexto de piedade, ordena o mesmo e Sagrado Conclio, que ningum seja admitido ao magistrio deste ensinamento, seja pblico ou privado, sem que antes seja examinado e aprovado pelo Bispo do lugar, sobre sua vida, costumes e instruo, mas no se confundam estes com os leitores que ensinaro nos conventos. Entretanto, enquanto exercerem seu magistrio em escolas pblicas ensinando as Sagradas Escrituras, e os escolares que as estudem, gozem e desfrutem plenamente de todos os privilgios sobre a recepo de frutos, prendas e benefcios concedidos por direito comum na ausncia de eclesisticos.

Cap. II - Dos pregadores da Palavra Divina e dos PedintesSendo mais necessria causa crist a pregao do Evangelho, que seu ensinamento na ctedra, e sendo esse o principal ministrio dos Bispos, estabeleceu este Santo Conclio que todos os Bispos, Arcebispos, Primazes e os demais Prelados das igrejas, sejam obrigados a pregar o Sacrossanto Evangelho de Jesus Cisto por si mesmo, se no estiverem legitimamente impedidos. Mas se ocorrer que os Bispos e demais mencionados estiverem impedidos, tero a obrigao, segundo o disposto no Conclio Geral, de escolher pessoas hbeis para que desempenhem frutiferamente o ministrio da pregao. Se algum no der cumprimento a esta disposio, fique sujeito a uma severa pena. Igualmente os Padres, os Curas, e os que governam igrejas paroquiais ou outras que tm o encargo de salvar almas, de qualquer modo que seja, instruam com discursos edificantes por si ou por outras pessoas capazes, se estiverem legitimamente impedidos, ao menos nos domingos e festividades solenes, aos fiis as Sagradas Palavras, segundo sua capacidade e a de suas ovelhas, ensinando-lhes o que necessrio que todos saibam para conseguir a salvao eterna, anunciando-lhes com brevidade e claridade os vcios dos quais devem fugir, e as virtudes que devem praticar, para que procurem evitar as penas do inferno e conseguir a felicidade eterna. Mas se alguns destes forem negligentes ao cumprir essas obrigaes, ainda que pretendam sob qualquer pretexto estar isento da jurisdio do Bispo, e ainda que suas igrejas se julguem de qualquer modo isentas, ou por acaso anexas ou unidas a algum mosteiro, ainda que estes existam fora da diocese mas se achem as igrejas efetivamente dentro dela, no fique, por falta da providncia e solicitude pastoral dos Bispos, dificultada a verificao do que dizem as escrituras: "As crianas pediram po e no havia quem o partisse". Em conseqncia, se alertados pelo Bispo no cumprirem esta obrigao dentro de trs meses sejam obrigados a cumpri-la por meio de censuras eclesisticas ou de outras penas vontade do mesmo Bispo, do modo que lhe parecer conveniente, como que ele pague a outra pessoa, para que desempenhe aquele ministrio, alguma remunerao decente, dos frutos dos benefcios, at que arrependido, o principal responsvel cumpra com sua obrigao. E se algumas igrejas paroquiais sujeitas a mosteiros de qualquer diocese, acharem que os abades ou prelados regulares sejam negligentes nas obrigaes mencionadas, sejam compelidos a cumpri-las pelos Metropolitanos em cujas provncias estejam aquelas dioceses, como delegados para isto da S Apostlica, sem que seja impedida a execuo deste decreto, por qualquer costume ou exceo, apelao, reclamao ou recurso, at que se conhea e decida por juiz competente, quem deve proceder sumariamente e atendida apenas a verdade do feito.

Tambm no possam pregar nem nas igrejas de suas ordens, os Regulares de qualquer regio que sejam, se no tiverem sido previamente examinados e aprovados por seus superiores sobre a vida, costumes e instruo, e tenham tambm sua licena com a qual estaro obrigados, antes de comear a pregar, a apresentar-se pessoalmente a seus Bispos, e pedir-lhes a beno. Para pregar nas igrejas que sejam de suas ordens, tenham a obrigao de conseguir, alm da licena de seus superiores, a do Bispo, sem a qual de nenhum modo possam nelas pregar. Os bispos devero conceder gratuitamente essa licena. E se, que Deus no permita, o pregador espalhar no meio do povo, erros ou escndalos, ainda que os pregue em seu mosteiro, ou em mosteiros de outra ordem, o Bispo o proibir o uso da pregao. Se pregar heresias, o Bispo proceder contra ele segundo o disposto no direito, ou segundo o costume do lugar, ainda que o pregador alegue estar isento por privilgio geral, em cujo caso, proceder o Bispo com autoridade Apostlica e como delegado da Santa S. Mas cuidem os Bispos que nenhum pregador padea vexaes por falsas acusaes ou calnias, nem tenha justo motivo de queixar-se disso. Evitem tambm, alm disso os Bispos, a permisso de pregao sob nenhum pretexto de privilgio, em sua cidade ou diocese, de pessoa alguma, que mesmo sendo Regulares no nome, vivem fora da clausura e obedincia de suas regras, ou tambm dos Presbteros seculares, que no sejam conhecidos e aprovados em seus costumes e doutrina, at que os mesmos Bispos consultem sobre o caso Santa S Apostlica, para que no ocorra de serem utilizadas pessoas indignas com tais privilgios, pois isto s poder acontecer se for calada a verdade e faladas mentiras.

Os que recolhem as esmolas, que comumente so chamados Pedintes, de qualquer condio que sejam, no presumam, de modo algum, que possam ser pregadores por si mesmo ou por outros, e se isso acontecer, devero ser reprimidos eficazmente pelos bispos e Padres locais, sem que lhes sejam dados quaisquer privilgios.

Determinao da Prxima SessoAlm disso, este mesmo Sacrossanto Conclio estabelece e decreta que a prxima futura sesso ser realizada e celebrada na primeira Quinta-feira aps a festa do bem aventurado Apstolo So Tiago.

Prorrogue-se depois a Sesso para o dia 13 de janeiro de 1547.

Sesso VICelebrada no tempo do Sumo Pontfice Paulo III, em 13 de janeiro do ano do Senhor de 1547

A SALVAO(ou: A JUSTIFICAO)Decreto sobre a SalvaoPrlogoHavendo-se difundido nestes tempos, no sem a perda de muitas almas e grave corroso na unidade da Igreja, certas doutrinas errneas sobre a Salvao, o Sacrossanto, Ecumnico e Geral conclio de Trento, congregado legitimamente no Esprito Santo e presidido em nome de nosso santssimo Padre e senhor em Cristo, Paulo, pela divina providncia Papa III deste nome, pelos reverendssimos senhores Jos Maria Monte, Bispo de Palestina, e Marcelo, Presbtero do ttulo de Santa Cruz em Jerusalm, Cardeais da Santa Igreja Romana e Legados Apostlicos, se prope declarar a todos os fiis cristos, pela honra e glria de Deus Onipotente, para tranqilidade da Igreja e salvao das almas, a verdadeira e perfeita doutrina da salvao, que o Sol de Justia, Jesus Cristo, autor e consumador de nossa f ensinou, seus Apstolos a comunicaram e perpetuamente foi admitida pela Igreja Catlica inspirada pelo Esprito Santo, proibindo com o maior rigor que qualquer um, de ora em diante se atreva a crer, pregar ou ensinar de outro modo que aquele que estabelece e declara no presente decreto.

Cap. I - A natureza e a lei no podem salvar os homensAnte todas estas coisas declara o santo Concilio que, para entender bem e sinceramente a doutrina da Salvao, necessrio que todos saibam e confessem que todos os homens, havendo perdido a inocncia pela prevaricao de Ado, feitos imundos e, como diz o Apstolo: "Filhos da ira por natureza", segundo se exps no decreto do pecado original, em tal grau eram escravos do pecado e estavam sob o imprio do demnio e da morte que no s os gentios por fora da natureza, como tambm os judeus pelas Escrituras da lei de Moiss, poderiam se erguer ou conseguir sua liberdade; mesmo que o livre arbtrio no fora extinto.

Cap. II - Da misso e mistrio da vinda de CristoPor este motivo, o Pai Celestial, o Pai de Misericrdia e Deus Todo Poderoso e Todo Consolo, enviou aos homens, quando chegou aquela ditosa plenitude do tempo, Jesus Cristo, Seu Filho Manifestado e Prometido a muitos santos Padres antes da lei, e em seu tempo, para que redimisse os Judeus que viviam na Lei, e aos gentios que no aspiravam a santidade a conseguissem e para que todos recebessem a adoo de filhos. A seu filho, Deus nomeou como Reconciliador de nossos pecados, mediante a f em sua paixo, e no somente de nossos pecados, mas tambm aqueles de todos os homens.

Cap. III - Quem salvo por Jesus CristoAinda que Jesus Cristo tenha morrido por todos, nem todos participam do benefcio de sua morte, mas somente aqueles a quem sejam comunicados os mritos de sua Paixo porque, assim como nasceram os homens, efetivamente impuros, pois nasceram descendentes de Ado, e sendo concebidos pelo mesmo processo, contraem por esta descendncia sua prpria impureza, e do mesmo modo, se no renascessem por Jesus Cristo, jamais seriam salvos, pois nesta regenerao conferida a eles, pelo mrito da paixo de Cristo, a graa com que se tornam salvos. Devido a este benefcio nos exorta o Apstolo para dar sempre graas ao Pai Eterno, que nos fez dignos de entrar juntamente com os Santos na glria, nos tirou do poder das trevas e nos transferiu ao Reino de Seu Filho muito Amado, e Nele que logramos a redeno e o perdo dos pecados.

Cap. IV - dada a idia da salvao do pecador e do modo com que se faz na lei da graaNas palavras mencionadas se insinua a descrio da salvao do pecador. O destino transitrio, desde o estado em que nasce o homem descendente do primeiro Ado, ao estado de graa e de adoo como filhos de Deus, dado pelo segundo Ado, Jesus Cristo, nosso Salvador, essa translao no se pode conseguir, depois de promulgado o Evangelho, sem o batismo, ou sem o desejo de ser batizado, segundo o que est escrito: "No pode entrar no Reino dos Cus, ningum que no tenha renascido pela gua e pelo Esprito Santo".

Cap. V - Da necessidade que tem os adultos em prepararem-se salvao e de onde ela provmDeclara tambm que o princpio da prpria salvao dos adultos se deve tomar da graa divina, que lhes antecipada por Jesus Cristo, isto , de Seu chamamento aos homens que no possuem mrito algum, de sorte que aqueles que eram inimigos de Deus por seus pecados, se disponham, por sua graa, que os excita e ajuda, a converterem-se para sua prpria salvao, assistindo e cooperando livremente com a mesma graa. Deste modo, tocando Deus o corao do homem pela iluminao do Esprito Santo, nem o prprio homem deixe de fazer alguma coisa, admitindo aquela inspirao, pois ela desejada, e nem poder mover-se por sua livre vontade sem a graa divina em direo salvao na presena de Deus. Por isto que quando se diz nas Sagradas Escrituras: "Converte-nos a Ti Senhor, e seremos convertidos", confessamos que somos prevenidos pela Divina Graa.

Cap. VI. Modo desta preparao.As pessoas dispem-se para a salvao, quando movidos e ajudados pela Graa Divina, e trocando o dio pela f, se inclinam deliberadamente a Deus, crendo ser verdade o que sobrenaturalmente Ele revelou e prometeu. Em primeiro lugar, Deus salva o pecador pela graa que ele adquiriu na redeno, por Jesus Cristo, e reconhecendo-se como pecadores e passando a admitir a justia divina, que na realidade os faz aceitar a misericrdia de Deus, adquirem esperanas de que Deus os olhar com misericrdia pela Graa de Jesus Cristo, e comeam a amar-Lhe como fonte de toda justia e salvao, e por isso se voltam contra seus pecados com algum dio e repulso, isto , com aquele arrependimento que devem ter antes de serem batizados e enfim, se prope a receber este sacramento, comear uma vida nova e observar os mandamentos de Deus.

Desta disposio que falam as Escrituras, quando diz: "Aquele que se aproxima de Deus deve crer que Ele existe, e que o Remunerador dos que O buscam. Confia filho: teus pecados sero perdoados, e o termos a Deus afugenta os pecados". E tambm: "Fazei penitncia e receba cada um de vs o batismo em nome de Jesus Cristo para a remisso de vossos pecados e conseguireis o Dom do Esprito Santo". E ainda: "Ide pois e ensinai todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo, ensinai-as tambm a observar tudo que Eu recomendei". E enfim: "Preparai vossos coraes para o Senhor".

Cap. VII - Que a salvao do pecador e quais suas conseqnciasA esta disposio ou preparao se segue a salvao em si mesma, que no s o perdo dos pecados mas tambm a satisfao e renovao do homem interior, pela admisso voluntria da graa e dons que a seguem, e da resulta que o homem de injusto pecador, passa a ser justo e de inimigo a amigo, para ser herdeiro na esperana da vida eterna. As conseqncias desta salvao so a glria final de Deus e de Jesus Cristo, e a vida eterna.

O meio para conseguir isso, Deus Misericordioso, que gratuitamente nos limpa e santifica, marcando-nos e ungindo-nos com o Espirito Santo, que nos prometido e que o prmio da herana que havemos de receber. A conseqncia meritria o muito Amado e Unignito Filho, nosso Senhor Jesus Cristo que em virtude da imensa caridade com que nos amou, a ns que ramos inimigos, nos brindou, com Sua Santssima paixo no madeiro da Cruz, com a salvao e fez por ns a vontade de Deus Pai. O instrumento destas benemerncias o sacramento do Batismo, que sacramento de f, sem a qual ningum jamais conseguiu ou conseguir a salvao. Efetivamente a nica conseqncia formal a Santidade de Deus, no aquela com a qual Ele mesmo Santo, porm com aquela com que nos faz santos, ou seja, com a Santidade que dotados por Ele, somos renovados interiormente em nossas almas, e no s seremos salvos, mas tambm assim Ele nos chama, e seremos participantes, cada um de ns, da Santidade segundo medida que nos fornece o Esprito Santo, de acordo com sua vontade e segundo prpria disposio e cooperao de cada um.

Sabemos ainda que apenas podero ser salvos aqueles a quem forem ensinados os benefcios da Paixo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Isto porm, se consegue na salvao do pecador, quando o benefcio da mesma santssima paixo se difunde pelo amor de Deus por meio do Esprito Santo nos coraes dos que so salvos e fica inerente neles.

A partir disso, que na prpria salvao, alm da remisso dos pecados, se difundem ao mesmo tempo no homem, por Jesus Cristo, com quem se une, a f, a esperana e a caridade, pois a f, se no estiver firmemente agregada esperana e caridade, nem une perfeitamente o homem com Cristo, nem o faz membro vivo de Seu Corpo. Por esta razo se diz com mxima verdade que a f sem obras uma f morta e ociosa, e tambm, para Jesus Cristo nada vale a circunciso, nem a falta dela, mas vale apenas a f que ocorre pela caridade. Esta aquela f que por tradio dos Apstolos pedem os Catecmenos Igreja, antes de receber o sacramento do batismo quando pedem a f que d vida eterna, a qual no pode vir da f sozinha, sem esperana nem caridade. Daqui ento, imediatamente vem lembrana as palavras de Jesus Cristo: "Se quiseres entrar no Cu, observa os mandamentos". Em conseqncia disso, quando os renascidos ou batizados recebem a verdadeira e Crist Santidade, so alertados imediatamente que a conservem em toda a pureza e serenidade com que a receberam, para que no ocorra como Ado que a perdeu, por sua desobedincia, tanto para si como para seus descendentes. Esta Santidade lhes deu Jesus Cristo com a finalidade de com ela se apresentarem perante Seu tribunal, e consigam a salvao eterna.

Cap. VIII - Como se entende que o pecador se salva pela f e pela graaQuando o Apstolo diz que o homem se salva pela f e pela graa, suas palavras devem ser entendidas com aquele sentido que a Igreja Catlica adotou e consentiu perpetuamente, de que quando se diz que somos salvos pela f enquanto esta o princpio de salvao do homem, fundamento e raiz de toda salvao, e sem a qual impossvel sermos agradveis a Deus, ou participar do bom destino de Seus filhos, tambm se diz que somos salvos pela graa pois nenhuma das coisas que precedem salvao, seja a f ou sejam as obras merece a graa da salvao porque se graa, no provm das obras, ou como diz o Apstolo, a graa no seria graa.

Cap. IX - Contra a v confiana dos heregesMesmo que seja necessrio crer que os pecados no se perdoam e nem jamais sero perdoados seno pela graa da misericrdia Divina e pelos mritos de Jesus Cristo, sem dvida no se pode dizer que se perdoam ou que se tenham perdoado a ningum que tenha ostentado sua confiana e certeza de que seus pecados sejam perdoados sem a graa e misericrdia de Deus, e se fiem apenas nisso, pois podem ser encontrados entre os hereges e cismticos, ou melhor dizendo, se fala muito em nossos tempos e se preconiza com grande empenho contra a Igreja Catlica, esta confiana v e muito distante de toda piedade, nem to pouco se pode negar que os verdadeiramente salvos devem ter por certo em seu interior, sem a menor dvida, que esto salvos pela graa e misericrdia divina, nem que ningum fica absolvido de seus pecados e se salva seno com a certeza que est absolvido e salvo com essa mesma graa, nem que com apenas esta crena consegue toda sua perfeio, perdo e salvao, dando a entender que aquele que no cresse nisto, duvidaria das promessas de Deus e da certeza da morte e ressurreio de Jesus Cristo, pois assim como nenhuma pessoa piedosa deve duvidar da misericrdia Divina, dos mritos de Jesus Cristo, nem da virtude e eficcia dos sacramentos.

Do mesmo modo todos podem recear e temer a respeito de seu estado de graa se reverterem toda considerao a si mesmos e a sua prpria debilidade e indisposio, pois ningum pode saber mesmo com a certeza de sua f, na qual no cabe engano, que tenha conseguido a graa de Deus.

Cap. X - Do incremento da salvao obtidaOs que conseguiram a salvao e assim tornados amigos e ntimos de Deus, caminhando de virtude em virtude, se renovam como diz o Apstolo, dia aps dia. Assim , que mortificando sua carne e servindo-se dela como instrumento para salvao e santificao mediante observncia dos mandamentos de Deus e da Igreja, crescem na mesma santidade que conseguiram pela graa de Cristo, e auxiliando a f com as boas obras, se salvam cada vez mais, segundo o que est escrito: "Aquele que justo, continue em sua salvao". Em outra parte: "No te receies da salvao at a morte". Tambm: "Bem sabeis que o homem se salva por suas obras, e no s pela f".

Este o aumento de santidade que pede a Igreja quando roga: "Concedei, Senhor, aumentar a nossa f, esperana e caridade".

Cap. XI - Da observncia dos mandamentos, e de como necessrio e possvel observ-losNingum, ainda que j esteja salvo (batizado) pode persuadir-se de que est isento de observar os mandamentos e nem valer-se daquelas palavras temerrias e proibidas inclusive com excomunho pelos Padres, as quais dizem que a observncia dos preceitos divinos impossvel ao homem salvo, pois Deus jamais nos pede coisas impossveis, mas pedindo, aconselha que apenas faamos aquilo que pudermos, e que peamos aquilo que no tivermos a possibilidade de fazer, pois Ele sempre nos ajuda com Suas graas para que consigamos fazer aquilo que Ele nos pede, e Seus mandamentos no so pesados, e Seu jugo suave, e Sua carga leve.

Os que so filhos de Deus, amam a Cristo e os que O amam como Ele mesmo atesta, observam Seus mandamentos, e isso, por certo, o podem fazer devido Divina Graa, pois ainda que nesta vida mortal caiam eventualmente os homens, por mais justos e santos que sejam, ao menos em pecados leves e cotidianos, que so chamados pecados veniais, nem por isso deixam de ser justos, porque dos justos so aquelas palavras to humilde como verdadeira: "Perdoai as nossas ofensas".

Portanto, muito importante que tambm os justos sejam obrigados a percorrer o caminho da santidade, pois, apesar de livres dos pecados, mas alistados entre os servos de Deus, podem, vivendo sbria, justa e piedosamente, adiantar em seu proveito, a graa de Jesus Cristo, que foi quem lhes abriu a porta para entrar nesta graa.

Deus por certo no abandona aos que chegaram a salvar-se com Sua graa, se estes no O abandonarem primeiro, e em conseqncia, ningum deve se envaidecer por possuir a f, convencendo-se que somente por ela estar destinado a ser herdeiro e que h de conseguir a herana de Deus, a menos que seja partcipe com Cristo de Sua paixo, para o ser tambm em Sua glria pois, ainda o mesmo Cristo, como diz o Apstolo: "sendo Filho de Deus, aprendeu a ser obediente em todas as coisas que padeceu e consumada Sua paixo passou a ser a causa da salvao eterna de todos os que O obedecem". Por esta razo, adverte o mesmo Apstolo aos batizados dizendo: "Ignorais que entre aqueles que participam dos jogos, ainda que muitos participem, apenas um recebe o prmio? Correi ento, para que alcanceis este prmio. Eu efetivamente corro, no com objetivo incerto, e luto no como quem descarrega golpes no ar, porm, mortifico meu corpo e o fao me obedecer, e no porque prego a outros, que eu possa me condenar".

Alm disso, o Prncipe dos Apstolos, So Pedro, diz: "Zelai sempre para assegurar, com vossas boas obras, vossa vocao e eleio, pois procedendo assim, nunca pecareis". Daqui consta que se ope doutrina da religio catlica os que dizem que mesmo o justo peca em toda boa obra, pelo menos venialmente, ou, o que mais intolervel, que merece as penas do inferno, assim como os que afirmam que os justos pecam em todas as suas obras, se, encorajando na execuo das mesmas sua fraqueza e exortando-se a correr na palestra desta vida, se prope como prmio, a bem-aventurana, com o objetivo de que principalmente Deus seja glorificado, pois a Escritura diz: "pela recompensa inclinei meu corao a cumprir Teus mandamentos que salvam". E de Moiss, diz o Apstolo, que tinha presente ou aspirava a recompensa.

Cap. XII - Deve-se evitar a presuno de crer temerariamente na prpria predestinaoNingum, enquanto estiver nesta vida mortal, deve ser to presunoso de estar convencido do profundo mistrio da predestinao divina, que saiba com certeza e seguramente do nmero dos predestinados, como se fosse certo que o batizado no tem possibilidade de pecar, ou simplesmente deva prometer a si mesmo, se pecar, o arrependimento seguro, pois sem revelao especial no se pode saber quem so os que Deus escolheu para si.

Cap. XIII - Do dom da perseverana (na f)O mesmo se h de crer acerca do Dom da perseverana (na f), do que dizem as Escrituras: "Aquele que perseverar (na f) at o fim, se salvar" .

Essa perseverana no poder ser obtida de outra mo seno daquele que tem a virtude de assegurar ao que est em p, que continue assim at o fim, e de levantar ao que cai. Ningum prometa coisa alguma com segurana absoluta, pois todos devem ter confiana que a ajuda Divina a mais firme esperana de sua salvao.

Deus, por certo, a no ser que os homens deixem de corresponder sua graa, assim como iniciou a boa obra, a levar perfeio, pois Ele que causa ao homem a vontade de faz-la, e a execuo e perfeio dessa obra.

No obstante, os que se convencem de estar seguros, olhem bem, no caiam, e procurem sua salvao com temor e amor, por meio de trabalhos, viglias, esmolas, oraes, oblaes, sacrifcios e castidade, pois devem estar possudos de temor a Deus, sabendo que renasceram na esperana da glria, mas no chegaram sua posse fugindo dos combates que lhes foram impostos, contra a carne, contra o mundo e contra o demnio.

Aos que no podem ser vencedores seno obedecendo, com a graa de Deus ao Apstolo So Paulo, que diz: "Somos devedores, no carne para que vivamos segundo ela, pois se vivermos segundo carne, morreremos, mas se mortificarmos com o esprito a ao da carne, ento viveremos".

Cap. XIV - Dos justos que caem em pecado e de sua reparaoOs que tendo recebido a graa da salvao, a perderam por pecado, podero novamente salvar-se pelos mritos de Jesus Cristo, procurando, estimulados com o auxlio divino, recobrar a graa perdida, mediante o sacramento da Penitncia. Este modo de salvao a reparao ou restabelecimento daquele que caiu em pecado, a mesma que com muita propriedade foi chamada pelos Padres de segunda tbua (apoio de salvao) depois do naufrgio da graa que perdeu.

Assim sendo, para aqueles que, depois do batismo, carem em pecado, foi estabelecido por Jesus Cristo o sacramento da Penitncia, quando disse: "Recebei o Esprito Santo, e queles a quem perdoares os pecados, ficaro perdoados, e queles a quem no perdoares, no sero perdoados". Por isto, se deve ensinar que muito grande a diferena entre a penitncia do homem cristo depois de sua queda, e o batismo, pois a penitncia no somente inclui a separao do pecado e sua renegao, ou o corao contrito e humilhado, mas tambm a confisso sacramental dos pecados, ao menos em desejo de faz-la no devido tempo, e a absolvio dada pelo sacerdote, e tambm a satisfao por meio de ajudas, esmolas, oraes e outros exerccios piedosos da vida espiritual. No da pena eterna, pois esta se perdoa juntamente com a culpa, pelo sacramento, ou por seu desejo, seno pela pena temporal que segundo ensina a Escritura, no sempre como sucede no batismo, totalmente perdoado queles que ingratos divina graa que receberam, entristeceram o Esprito Santo, e no se envergonharam de profanar o templo de Deus. Desta penitncia que diz a Escritura: "Lembre-se de qual estado voc caiu: faa penitncia e executa as boas obras". E tambm: "A tristeza de haver pecado contra Deus, produz uma penitncia permanente para conseguir a salvao". E ainda: "Fazei penitncia e fazei frutos dignos de penitncia".

Cap. XV - Com qualquer pecado mortal se perde a graa, mas no a fTemos que ter em mente por certo, preveno contra os gnios astutos de alguns que seduzem com doces palavras e bnos os coraes inocentes pois a graa que recebemos no batismo, poderemos perder no somente com a infidelidade, pela qual perece a prpria f, mas tambm com qualquer outro pecado mortal, ainda que a f se conserve.

Isto est escrito na doutrina da Divina Lei, a qual exclui do reino de Deus, no somente os infiis, mas tambm os fiis que praticam a fornicao, os adultrios, os efeminados, sodomitas, ladres, avaros, alcolatras, maldizentes, e a todos os demais que caem em pecados mortais, pois podem abster-se deles com a divina graa, e ficam por eles separados da graa de Cristo.

Cap. XVI - Dos frutos do batismo (justificao) isto , do mrito das boas obras, e da essncia deste mesmo mritos pessoas que j foram batizadas e desse modo conservam perpetuamente a graa que receberam, e s que a recuperaram depois de perdida, de deve lembrar as palavras do Apstolo So Paulo: "Faam em bastante quantidade toda espcie de boas obras e saibam bem que vosso trabalho no vo para Deus, pois Deus no injusto ao ponto de esquecer vossas obras e nem do amor que manifestastes em Seu nome". E tambm: "No perdais vossa confiana que tendes um grande Guardio". E esta a causa pela qual os que fazem boas obras at a morte e esperam em Deus, a eles concedida a vida eterna como graa prometida misericordiosamente por Jesus Cristo, aos filhos de Deus, visto que o prmio com que sero recompensados fielmente, segundo a promessa de Deus, os mritos e as boas obras. Esta pois, aquela coroa de justia que, como dizia o Apstolo, estava reservada para ser obtida depois de sua luta e seu caminho, a mesma que deveria ser dada pelo justo Juiz, no s aos batizados, mas tambm a todos aqueles que desejam Sua santa chegada.

Como o prprio Jesus Cristo difundia perenemente sua virtude aos batizados