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CONCURSO POLÍTICAS PÚBLICAS E EQUIDADE: AVANÇOS PRÁTICOS CEAPG FGV CATEGORIA DE PREMIAÇÃO: DOUTORANDO O DILEMA DA GESTÃO PÚBLICA ATUAL: CONFLITO ENTRE PRÁTICAS E CONCEPÇÕES TRADICIONAIS E INSTRUMENTOS INOVADORES Dilema: situação embaraçosa que tem gerado conflitos, e sofrimento entre os atores que se preocupam com o futuro da cidadania e das nossas cidades. Porto Alegre - RS 2009

CONCURSO POLÍTICAS PÚBLICAS E EQUIDADE: AVANÇOS … dilema... · no desenvolvimento da região.. ... certo saber que faz aparecer objetos, ... as práticas transformadoras estejam

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CONCURSO POLÍTICAS PÚBLICAS E EQUIDADE:

AVANÇOS PRÁTICOS

CEAPG – FGV

CATEGORIA DE PREMIAÇÃO: DOUTORANDO

O DILEMA DA GESTÃO PÚBLICA ATUAL:

CONFLITO ENTRE PRÁTICAS E CONCEPÇÕES TRADICIONAIS E

INSTRUMENTOS INOVADORES

Dilema: situação embaraçosa que tem gerado

conflitos, e sofrimento entre os atores que se

preocupam com o futuro da cidadania e das

nossas cidades.

Porto Alegre - RS

2009

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CONCURSO POLÍTICAS PÚBLICAS E EQUIDADE:

AVANÇOS PRÁTICOS

CEAPG – FGV

CATEGORIA DE PREMIAÇÃO: DOUTORANDO

O DILEMA DA GESTÃO PÚBLICA ATUAL:

CONFLITO ENTRE PRÁTICAS E CONCEPÇÕES TRADICIONAIS E

INSTRUMENTOS INOVADORES

MILTON CRUZ

INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL/UFRGS

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SUMÁRIO

Página

1. RESUMO..................................................................................................................04

2. ABSTRACT..............................................................................................................05

3. REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................06

4. O PROCESSO DE PLANEJAMENTO E TOMADA DE DECISÃO

EM MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO

ALEGRE: PRÁTICAS E CONCEPÇÕES DOMINANTES....................................11

4.1 Caso 1 – Projeto de Desenvolvimento do Turismo Municipal............................12

4.2 Caso 2 – Planejamento de Trânsito no município..............................................14

4.3 Caso 3 – Plano Diretor como instrumento de planejamento urbano e

Rural........................................................................................................15

4.4 Caso 4 – Plano Diretor como instrumento de regulação

do desenvolvimento e de proteção ambiental..........................................17

4.5 Caso 5 – Plano Diretor e a organização do mobiliário urbano. .......................17

4.6 Caso 6 – O Pólo Petroquímico do Sul e seus impactos

no desenvolvimento da região.................................................................19

5. PRÁTICAS E CONCEPÇÕES TRADICIONAIS DE PLANEJAMENTO

E GESTÃO: CONCLUSÕES....................................................................................24

6. PRÁTICA DE GOVERNO BASEADA NA TOMADA DE DECISÃO EM

ESPAÇOS RESTRITOS...........................................................................................30

7. TENSÕES E CONFLITOS ENTRE POLÍTICOS E TÉCNICOS: A

CARREIRA POLÍTICA CONTRA A BOA TÉCNICA..........................................33

8. PRÁTICAS INOVADORAS QUE SE PROPÕE A ROMPER COM AS

PRÁTICAS TRADICIONAIS: ALGUNS RESULTADOS E ALGUMAS

CONCLUSÕES.........................................................................................................35

9. NOVOS ARRANJOS INSTITUCIONAIS QUE PROMOVEM A GESTÃO

INTEGRADA DAS FUNÇÕES PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO,

ADMINISTRAÇÃO E CONTROLE PÚBLICO.....................................................42

10. BIBLIOGRAFIA......................................................................................................46

ANEXO 1 – Relatórios de Pesquisa elaborados pelos alunos do Curso

Superior em Gestão Pública da Universidade de Caxias do Sul. Vale do Caí.

RS..............................................................................................................................51

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ANEXO 2 – Bibliografia utilizada na disciplina Planejamento Urbano e

Organização Territorial.............................................................................................52

NOTA.......................................................................................................................55

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RESUMO

Este estudo busca contribuir para a reflexão de processos de formulação de políticas

públicas praticados pelas Administrações Municipais, identificando obstáculos para a

utilização de instrumentos inovadores de planejamento e gestão, e indicar algumas

pistas para o desenvolvimento de contextos locais favoráveis à aplicação de métodos

participativos e concepções de desenvolvimento sustentável. A pesquisa empírica, que

fundamenta as conclusões aqui apresentadas, foi realizada entre os anos de 2005 e 2009,

em Municípios com população entre 2,5 mil e 280 mil habitantes, localizados na Região

Metropolitana de Porto Alegre e Região Nordeste do estado do Rio Grande do Sul. O

referencial teórico que orienta a análise dos dados da pesquisa empírica utiliza os

conceitos e definições do campo de estudos das Políticas Públicas na perspectiva da

investigação das instituições, estudo das organizações locais (o “bom” governo),

“entendimento de como e por que os governos optam por determinadas ações”, e a

avaliação crítica de urbanistas sobre o processo de planejamento urbano. A análise dos

processos de planejamento e gestão praticados nas Administrações Municipais de

pequenos municípios revela conflitos gerados pelos métodos tradicionais, e indica o

surgimento de experimentos inovadores em contextos desfavoráveis para a aplicação de

práticas de gestão promotoras de arranjos institucionais indutores de desenvolvimento

social sustentável.

Palavras-chave: políticas públicas, investimento público, gestão pública, orçamento

participativo, governança local.

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ABSTRACT

This study aims to contribute to the thinking processes of formulation of public policies

applied by municipalities, identifying obstacles to the use of innovative planning and

management, and give some clues to the development of local contexts favorable to the

application of participatory methods and concepts sustainable development. The

empirical research that supports the conclusions presented here was conducted between

the years 2005 and 2009 in municipalities with a population of 2.5 thousand and 280

thousand inhabitants, located in the Metropolitan Region of Porto Alegre, and Northeast

Region of the state of Rio Grande do Sul. The theoretical framework that guides the

analysis of data from empirical research uses the concepts and definitions of the field of

studies of public policy in terms of research institutions, study of local organizations

(the "good" government), “understanding how and why governments choose certain

actions”, and critical of planners on the process of urban planning. The analysis of

planning processes and management practiced in the municipal administrations of small

municipalities reveals conflicts generated by traditional methods, and indicates the

emergence of innovative experiments in unfavorable contexts for the application of

management practices of institutional inducers promoting social development

sustainable.

Key words: public policies, public investment, public management, participatory

budgeting, local governance.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico da pesquisa utiliza os conceitos e definições do campo de

estudos das Políticas Públicas na perspectiva da investigação das instituições, estudo das

organizações locais (o “bom” governo), “entendimento de como e por que os governos

optam por determinadas ações”, e a avaliação crítica de urbanistas sobre o processo de

planejamento urbano. (MURTA, 2005; ROLNIK, 2005; VILLANUEVA, 2004;

SOUZA, 2003; FREY 2000; MARQUES, 1998; NYGAARD, 1998). Os estudos das

Políticas Públicas dão ênfase para a análise do processo de decisão dos governos como a

escolha dos atores que devem participar, os temas que entram na agenda, e a

metodologia de elaboração da política.

Na perspectiva de Claus Offe (1989), em “A democracia contra o Estado do

bem-estar?”, se analisa a política de planejamento da cidade enquanto política pública

que busca construir bens públicos1 para a sociedade urbana, esta enquanto coletividade

portadora de interesses comuns, como o acesso a bens e serviços de transporte, saúde,

educação, cultura, lazer e habitação. Investiga-se se as instituições envolvidas no

processo de planejamento contribuem para a estabilidade e viabilidade do sistema

político composto pelas três componentes estruturais da sociedade contemporânea:

Estado de direito, a democracia representativa, e as políticas do bem-estar. Isto é, se o

governo eleito, membros do Executivo e do Legislativo, busca formular a política a

partir de preocupações com o bem-estar do cidadão urbano, com o exercício das funções

urbanas (segurança e trânsito – direito de ir e vir, irregularidade – direito de moradia,

etc.), ou com o exercício do poder delegado pelo voto. E estudar as relações e tensões

entre os componentes mercado e política pública orientada para o bem-estar da

sociedade urbana, como as situações em que os interesses do mercado questionam as

regulamentações e os prazos burocráticos definidos pela legislação urbana. Um

questionamento similar aos argumentos neoconservadores para quem o Estado do bem-

estar é um peso para a economia pela carga tributária excessiva, pelo déficit

orçamentário que gera, pelo desestimulo ao investimento e ao trabalho, etc.

De Foucault (2005) tomamos a definição de práticas sociais como geradoras de

certo saber que faz aparecer objetos, conceitos, técnicas e formas de sujeito e de sujeitos

1 Para Claus Offe o bem público “só existe se houver uma coletividade onde as pessoas se

sintam pertencentes”.

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do conhecimento. Como as práticas jurídicas que definem regras de julgamento, de

punição, reparação e regulação; e que geram modelos de verdade na política, na ciência

e no comportamento cotidiano. Em “A verdade e as formas jurídicas” Foucault trata das

práticas relacionadas com o controle e a vigilância social. A abordagem de Moscovici

(2003), em a “Teoria das Representações Sociais”, sugere a prática social como

construtora do universo consensual, que se assemelha com a esfera pública

habermasiana, que opera através do agir comunicativo e que objetiva a busca de sentido

e do consenso. As representações são compartilhadas, elas constituem a realidade social

e a identidade de uma pessoa ou grupo. As representações sociais transformam teorias e

ideologias em realidades compartilhadas. “Corporificam ideias” em experiências

coletivas e interações em comportamentos. É o modo específico de compreender e

comunicar o que nós sabemos; permite dar sentido ao mundo e introduzir ordem e

percepções nele.

Da Teoria das Representações Sociais podemos inferir algumas implicações que

indicam caminhos para a investigação de como os atores individuais e coletivos fazem

julgamentos, tomam decisões, e selecionam opções ao participar da construção da

política de planejamento.

Entre elas podemos citar: 1. As diferenças na sociedade (heterogeneidade) conduzem

a vieses diferenciados de pensamento e percepção por parte de grupos e indivíduos; 2.

A sociedade seleciona as imagens e palavras que figuram no “núcleo figurativo” da

representação social (excluindo outras – como tabu);

3. A cultura (não a ciência) incita a construir realidades a partir de idéias

significantes; 4. O objetivo da classificação e da nomeação é compreender as

características, as intenções e motivos das pessoas, e formar opiniões;

5. O indivíduo em contato direto com o universo dos campos de conhecimento

específico, sem a mediação de especialistas, passa a incorporar imagens, palavras e

concepções da psicanálise, da física, da medicina, alterando a representação social;

6. A memória dá estabilidade para a representação social evitando modificações

súbitas e dá certa independência dos acontecimentos atuais.

As práticas dos atores políticos e gestores municipais podem orientar-se para a

reprodução das relações que dominam o campo da política de planejamento da cidade

ou para a busca da transformação da lógica que produz a política pública. Espera-se que

as práticas transformadoras estejam orientadas para a construção do bem comum, para a

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inclusão da diversidade de interesses existentes na sociedade urbana na política de

planejamento municipal, e para a valorização do potencial dos agentes do espaço urbano

de criar alternativas para os problemas da cidade. As práticas orientadas para a

reprodução buscariam garantir o desenho da política pública orientada pelos interesses

do mercado.

Evans (2003) apresenta a ideia de que o desenvolvimento, nas sociedades em

que as tecnologias e o conhecimento assumem destaque, deve basear-se na qualificação

das instituições de governança. Evans (2003, p. 20-62) destaca a migração das teorias

sobre o desenvolvimento focadas no acúmulo de capital (o fundamentalismo do capital)

para a ênfase em temas como as tecnologias, as idéias e as instituições. Nesta

perspectiva, passa-se a considerar a qualidade das instituições de governança um

elemento-chave para fomentar o desenvolvimento. Ele cita as experiências do FMI que

falharam em seus propósitos de fomentar o desenvolvimento na América Latina por

desconsiderarem as especificidades das instituições locais. A Argentina seria um caso

exemplar de adoção das teses da “monocultura institucional” que se mostraram

ineficazes.

Evans defende a abertura de estratégias de desenvolvimento focadas nas

instituições (HOFF e STIGLITZ, 2001) e na capacidade institucional (AMARTYA

SEN, 2001). O desenvolvimento seria impulsionado por idéias e instituições. As idéias

como bens que podem ser utilizados por diferentes agentes econômicos e que

contribuem para o desenvolvimento. O cuidado dos países desenvolvidos com os

direitos de propriedade intelectual seria um exemplo da importância do conhecimento

na sociedade atual. A qualidade das idéias e das instituições explicaria taxas diferenciais

de desenvolvimento. Estas qualidades podem ser aferidas através da análise do processo

de planejamento e de gestão que os governos locais adotam para formular suas políticas

públicas. É de se esperar que governos e instituições que investem na educação e

capacitação, que mobilizam suas equipes de técnicos para a formulação de soluções

para os problemas da cidade, que buscam o aprimoramento do processo de tomada de

decisão para a construção do bem público, e que valorizam as recomendações dos

diferentes campos da ciência, estejam agregando qualidade às políticas públicas e ao

espaço público local.

Neste enfoque o desenvolvimento é visto como resultante da ação de atores

econômicos e sociais que respondem a incentivos. “Os arranjos institucionais modelam

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os incentivos para desenvolver idéias e tornam-se centrais na determinação da taxa de

desenvolvimento.” (EVANS, 2003, p. 26)

Em relação às idéias (ou conhecimento) é bom lembrar a importância que os

países da Comunidade Européia dão para o conhecimento em seu planejamento

estratégico de governo. Eles incorporaram o tema do conhecimento e da tecnologia de

informática nas metas dos governos da Comunidade2.

No caso brasileiro é importante resgatar o percurso de instituições como o

futebol e o carnaval que de experiências e práticas vinculadas à cultura das classes

populares tornaram-se atividades dominadas por elites profissionais da “indústria” do

turismo e do lazer, e que hoje tem participação significativa na economia e na formação

da imagem do país.

Evans (2003) propõe uma “virada institucional” que assuma novos pontos de

partida, tanto na teoria quanto nas práticas de desenvolvimento, que superem propostas

estéreis como a de menos governo que tem conduzido à governança ineficiente,

atomização dos cidadãos e paralisia política. Os exemplos da China, Vietnã e Malásia

revelam padrões institucionais híbridos em relação ao ideal proposto pela “monocultura

institucional” das Instituições de Financiamento Internacional e dos modelos anglo-

americanos.

O novo ponto de partida pressupõe que se assuma uma nova concepção de

desenvolvimento que, para Evans (2003), passa pelo “entendimento adequado sobre o

que são as necessidades econômicas – seu conteúdo e sua força”, o que requer discussão

e intercâmbio. Um processo de escolha social com o envolvimento contínuo e

deliberativo dos cidadãos na definição das prioridades econômicas. Instituições

fortemente democráticas criariam melhores possibilidades de se fazer escolhas na

formulação de políticas públicas. Ele cita Amayarta Sen (1999, p. 291) para quem

“processos de participação devem ser compreendidos em si como partes constitutivas

dos fins do desenvolvimento”. As instituições deveriam promover debates e

intercâmbios públicos, contribuir para a construção de fóruns e regras organizacionais

orientadas para a construção de consenso social, estes como elementos do

desenvolvimento. A “instituição da escolha social” teria capacidade institucional

superior ao sistema tecnocrata de atribuição de valores.

2 Comissão Européia. Para uma Europa do Conhecimento: a União Européia e a sociedade da

informação. Bruxelas. 2002. 23 p.

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Evans (2003) propõe a democracia deliberativa ou a governança fortalecida pela

participação, ou seja, o processo de planejamento, a solução de problemas e as

estratégias sendo formulados através do envolvimento dos cidadãos que propõe e

alteram suas preferências durante a interação em espaços públicos caracterizados pela

forte interação dos atores. Os processos deliberativos tradicionais como a participação

nas eleições ou o exercício dos direitos civis seriam fortalecidos pelos processos de

escolha social que interferem na qualidade das políticas públicas. Para isso deveriam ser

constituídas instituições deliberativas auto-sustentáveis (aquelas que os indivíduos

acreditam valer a pena investir o seu tempo e estão decididos apoiar partidos que as

defendam), que se mostrem capazes de superar a oposição dos que dominam os

processos de tomada de decisão. A governança fortalecida pela participação adquiriria

força e estabilidade política e contribuiria para a qualidade do desenvolvimento.

Evans (2003) analisou as experiências de Porto Alegre (Brasil) e Kerala

(Índia) que assumiram, respectivamente, o Orçamento Participativo e a

Descentralização Democrática em suas gestões, concluindo que um controle social mais

eficaz sobre as despesas públicas estimula o cidadão a investir em bens coletivos,

tornando estes sistemas participativos mais transparentes, com maior poder para

priorizar o interesse público, menos vulneráveis em relação à apatia e

(acrescentaríamos) às práticas clientelistas que atrelam os governos a processos de

negociação em que dominam interesses privados.

A abordagem de Evans orienta a pesquisa na busca de espaços e práticas

institucionais promotoras de uma governança com maior qualidade e legitimidade social

na formulação de políticas públicas capazes de resolver problemas da sociedade urbana,

de produzir bens de interesse coletivo e sujeitas ao controle social.

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4. O PROCESSO DE PLANEJAENTO E TOMADA DE DECISÃO EM

MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE:

PRÁTICAS E CONCEPÇÕES DOMINANTES

As informações e conclusões desta seção resultam de pesquisas realizadas por

alunos do Curso Superior em Gestão Pública da Universidade de Caxias do Sul3, Rio

Grande do Sul, orientados por este autor - professor da disciplina de planejamento e

organização da cidade. A coleta de informações (dados, depoimentos, e entrevistas)

ocorreu durante o ano de 2007, em Municípios com população entre 2,5 mil e 280 mil

habitantes, localizados na Região Metropolitana de Porto Alegre. A pesquisa investigou

como os governos locais elaboram a política pública, analisando processos de

Planejamento Municipal. A pesquisa coletou informações nos Executivos (gabinete do

prefeito e secretarias municipais) e Legislativos (Câmara de Vereadores) e entre alguns

atores da sociedade, como os empresários do comércio e moradores, e avaliou a opinião

dos alunos (a grande maioria técnicos de Prefeituras) sobre a participação dos atores no

processo, as informações e os instrumentos utilizados para o planejamento e a tomada

de decisão, tendo como referência as recomendações da bibliografia utilizada nos cursos

de planejamento territorial, urbanismo, sociologia urbana, planejamento e gestão

pública.

As pesquisas coletaram informações, nos locais de trabalho e nas cidades onde

atuam os técnicos, sobre os instrumentos de planejamento e gestão (Lei Orgânica

Municipal, Plano Diretor Municipal, Plano Plurianual, Consórcio Municipal de Saúde,

Uso do Solo Urbano, Gestão do Meio Ambiente Urbano, Desenvolvimento Urbano,

Planos Setoriais, Fóruns de Governo, Conselhos de Gestão) utilizados no município. Os

alunos buscaram informações que permitiram identificar os pontos de estrangulamento,

3 Curso com duração de dois anos e meio, que tem por objetivos “formar e aperfeiçoar gestores

públicos”, [...] “contribuir para otimizar a capacidade de governo” [...] ”proporcionar suporte

normativo, teórico e instrumental aplicado à gestão pública” [...] “proporcionar um espaço

permanente de reflexão acerca da função pública baseada em sólidos valores éticos” [e]

“disponibilizar fundamentos e instrumentalizar os gestores públicos para o exercício de uma

administração mais eficiente, eficaz e efetiva”.(http://www.ucs.br/Curso Superior de Formação

Específica em Gestão Pública.16/3/09).

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as potencialidades, o grau de articulação dos instrumentos utilizados pelas instituições

locais e regionais, sua adequação às exigências da legislação e ao desenvolvimento

sustentável, tendo como parâmetro o referencial teórico apresentado no curso (ver

ANEXO 2 – Bibliografia utilizada na disciplina Planejamento Urbano e Organização

Territorial). Investigou-se como os técnicos e os governos municipais utilizam estes

instrumentos e se as instituições (governo, vereadores, Conselhos Municipais, entidades

da sociedade, etc.) realizam monitoramento e acompanhamento das políticas. Após a

coleta de informações realizaram-se oficinas de trabalho em grupo com o objetivo de

sistematizar e analisar o processo de planejamento e organização do território e da

cidade, considerando as inconsistências e os pontos de estrangulamento, e de propor

alternativas para que os instrumentos contribuam para: a ampliação das possibilidades e

alternativas de desenvolvimento local; o aumento da eficiência e eficácia da instituição;

a qualificação na prestação de serviços; o aprimoramento da tomada de decisão dos

gestores responsáveis por instituições públicas; e a integração das instituições e

qualificação da participação dos atores envolvidos.

Apresentamos, a seguir, o processo de planejamento e tomada de decisão que

atualmente é implementado pelas Administrações Municipais. O processo é descrito por

seis casos, e foi reconstruído a partir da análise dos relatórios finais elaborados pelos

alunos do curso (ver ANEXO 2 – Bibliografia utilizada na disciplina Planejamento

Urbano e Organização Territorial).

4.1 Caso 1 – Projeto de Desenvolvimento do Turismo Municipal.

A investigação sobre como se elaborou um dos projetos para o desenvolvimento

do turismo em município com 280 mil habitantes, revelou que a prioridade do governo

para o projeto atendeu a “uma antiga solicitação do CDL – Clube dos Diretores Lojistas,

SINDILOJAS e Associação Comercial, Industrial e de Serviços, preocupados em

ampliar as vendas do comércio calçadista na área central”. E buscou ainda “revitalizar

um local que se tornou moradia de mendigos e drogadidos”. Entrevistas realizadas com

arquiteta e engenheiro, responsáveis pela obra, apontaram: a “realização de estudo do

solo visando à estabilidade do prédio, que não foram ajustadas as infra-estruturas de

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água e esgoto à nova demanda, que não foi avaliado o impacto da circulação de

veículos, que não houve nenhum estudo quanto à melhoria da logística dos táxis”, e que

a grande preocupação foi com a estética”. Durante a execução da obra, houve

tensionamento entre o governo, que queria retirar um seringueira, e a população que

defendia sua manutenção alegando que esta fazia parte da história da cidade e contribuía

para a qualidade do ar. A empresa responsável pela obra se comprometeu a plantar

arvores como compensação.

O cruzamento das informações obtidas nas entrevistas e documentos coletados

nas secretarias municipais com as recomendações da bibliografia utilizada no curso

permite concluir que:

- existem conflitos importantes entre os técnicos municipais, como arquitetos,

engenheiros, entre outros, e o governo (prefeito, secretários municipais) sobre o

processo de planejamento e de execução;

- o projeto foi pensado para resolver os problemas de apenas um setor da

sociedade, os comerciantes da área central, excluindo-se a população que será usuária

da área do empreendimento, os motoristas de veículos, e os taxistas;

- o projeto de construção do “receptivo turístico” não foi planejado levando em

conta o Plano Diretor do Município;

- o projeto não utilizou informações de outros órgãos, nem mobilizou técnicos

da Prefeitura visando produzir um diagnóstico intersetorial e implementar um processo

de planejamento articulado e participativo;

- não existe estrutura ou sistemática de monitoramento e avaliação das ações do

governo.

O modo como o governo conduziu o planejamento e a execução do projeto, sem

considerar outros estudos como o Plano Diretor ou o documento Rumos 2015 (um

estudo do governo do estado sobre Desenvolvimento Regional e Logística de

Transporte), sem levantar informações sobre a circulação viária na área central, a

degradação do centro, etc.; sem mobilizar e consultar as competências técnicas do

município, e sem fazer consulta a outros setores sociais que tem relação com o centro

urbano, revela uma prática de planejamento e gestão pública que centraliza as decisões

no governo, desmobiliza e desconsidera recomendações relevantes apresentadas pelas

ciências relacionadas ao urbanismo e seus operadores, e que busca atender

seletivamente a grupos de interesse da sociedade urbana. Uma prática que simplifica o

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processo de formulação da política pública ao reduzir tanto o número de atores

envolvidos no planejamento como os estudos que embasam a tomada de decisão.

Prática que não dá garantias para a resolução dos problemas que se propõe a resolver: a

degradação urbana e a queda das vendas do comércio do centro. A ausência de um

sistema de monitoramento das ações inviabiliza a análise do impacto das decisões

tomadas pelo governo, pelos técnicos, e instâncias de participação, como os conselhos

municipais, sobre as políticas públicas.

4.2 Caso 2 – Planejamento de Trânsito no município.

A pesquisa realizada pelos técnicos em município de 40 mil habitantes revelou o

bom conhecimento da equipe técnica local sobre a realidade municipal, a legislação que

organiza o Sistema Nacional de Trânsito, a atual concepção de trânsito e sua relação

com as funções urbanas e o Plano Diretor, e a estrutura necessária para o município

desenvolver a política de trânsito.

Com relação à estrutura necessária para o município desenvolver a política de

trânsito (Departamento Municipal criado por Lei de março de 2002) constatou-se a

inexistência de técnicos no setor de projetos e de combate à poluição. Foram priorizados

os setores de agentes de trânsito e controle de multas, de obras e de sinalização. A

educação para o trânsito também tem sido contemplada com projetos como “Trânsito

vai à escola” e a “Semana Municipal do Trânsito”. A ausência de pesquisas sistemáticas

no setor, não permite que se avalie o impacto destas iniciativas sobre o comportamento

de motoristas e da população.

O diagnóstico revelou uma estrutura urbana “antiga” com ruas estreitas, calçadas

irregulares, que tem gerado congestionamentos, stress, dificuldades no deslocamento de

pedestres e ciclistas, e, principalmente, grande número de acidentes e mortes que vem

aumentando.

Com relação ao Departamento de Trânsito, observam-se ações descontinuas e

desarticuladas, a inexistência de um planejamento norteador para a área central e as

ligações com os municípios da Região Metropolitana, a falta de uma equipe técnica

encarregada da elaboração de projetos, a falta de cooperação entre técnicos e de

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integração com outros setores e entidades, a insuficiência de recursos, a ausência de

delegação de responsabilidades, e descontinuidades provocadas pelas trocas de governo.

A principal conclusão a que o grupo de técnicos chegou foi a necessidade de um Plano

de Ação, já indicando as primeiras ações, que oriente a formulação da política de

trânsito no município.

As informações contidas nos documentos e depoimentos coletados apontam para

a insuficiência das ações dos governos locais orientadas para a resolução de conflitos

gerados pelo rápido crescimento da frota de automóveis e caminhões. A cidade não

conseguiu “atualizar”, no mesmo ritmo, sua infra-estrutura urbana, capacitar equipes

técnicas para a formulação de projetos e soluções de problemas complexos, como os do

trânsito urbano e metropolitano, e organizar espaços de participação efetiva da

população que possam contribuir para a mudança do comportamento dos motoristas.

Como no caso 1, o processo de planejamento no trânsito tem utilizado prática de

planejamento e gestão que não articula instituições e atores com a qualidade exigida

pelo problema criado pelo comportamento dos usuários de automóvel. No caso 2,

constatou-se que os técnicos assimilam mais rapidamente as novas concepções sobre

trânsito, circulação viária e demais funções urbanas, que os membros dos governos.

Também neste caso surgem conflitos entre técnicos municipais e governo, que utiliza

um estilo de autoridade que se distancia da prática de governo que busca a construção

do consenso. Ao fazer esta escolha na condução do processo de priorização e tomada

de decisão, acaba desestimulando e desmobilizando os formuladores e implementadores

locais que acabam se desresponsabilizando pelos resultados da política pública.

4.3 Caso 3 – Plano Diretor como instrumento de planejamento urbano e rural.

Neste terceiro caso a pesquisa foi realizada em município de 12 mil habitantes

que possui Plano Diretor desde 1964. Apesar de o Plano Diretor ter 44 anos este nunca

foi atualizado. O diagnóstico revelou problemas como concentração de atividades em

certas partes da cidade, lugares vazios, convívio inadequado de atividades industriais e

residenciais, focos de poluição industrial e esgoto urbano no rio que corta o município,

uso de áreas da mata ciliar para a agricultura, uso intensivo de agrotóxicos, ausência de

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regulamentação no espaço rural e na zona de transição entre o campo e a cidade,

surgimento de loteamos irregulares, e problemas de sinalização viária. A pesar de o

município ter uma forte tradição cultural e identidade comunitária a pesquisa revelou a

falta de uma política de preservação do patrimônio histórico e cultural, de parcerias

público-privadas para o desenvolvimento do turismo, a degradação de construções

históricas e a tendência à “padronização cultural”. Lei municipal de 2006 organizou

nova estrutura administrativa criando o Departamento de Planejamento e

Desenvolvimento Econômico e o Departamento de Meio Ambiente. Porém estas

estruturas “estão deficitárias, não estão estruturadas, e ações de planejamento urbano e

rural e de preservação do meio ambiente são muito tímidas. Na maioria dos casos está

se „apagando incêndios‟. Percebe-se nitidamente que não há uma unidade de ação nos

projetos desenvolvidos pela Administração Municipal e a comunidade em geral”. Outro

problema identificado é a inadequação da formação e ausência de capacitação dos

ocupantes de cargos para o exercício da função, e a falta de profissionais para a

elaboração de projetos (a Prefeitura tem apenas um engenheiro).

O comportamento da população também apareceu como um problema apontado

pelos técnicos quando estudaram a coleta de lixo seletiva (separação do lixo seco do

orgânico) que não tem funcionado em algumas regiões, e a pouca participação na

discussão do planejamento urbano.

A cidade cresceu, segundo os técnicos, “aleatoriamente” apesar da existência do

Plano Diretor, este considerado pelos urbanistas como o principal instrumento para o

planejamento do crescimento da cidade.

No caso 3 os principais conflitos identificados pela pesquisa foram: a

modernização da agricultura com a preservação do meio ambiente, o crescimento

urbano com a degradação do patrimônio histórico e cultural e a desestruturação das

relações comunitárias tradicionais. Os governos locais não foram capazes de utilizar o

Plano Diretor como instrumento de planejamento do futuro desenvolvimento da cidade.

A estrutura administrativa foi utilizada para a destinação de cargos aos membros dos

governos e não para o planejamento e a gestão do território urbano. Também neste caso

3 os governos utilizaram a prática de planejamento e gestão que não articula instituições

e atores com a qualidade exigida pelos problemas criados pela modernização da cidade

e do campo. A prática dos governos de utilizar o poder local como espaço privilegiado

para a ocupação de cargos e o exercício das prioridades dos partidos políticos contra os

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interesses da sociedade urbana, tornou anacrônicos tanto o Plano Diretor como a

estrutura administrativa encarregada do planejamento e gestão de ações de

desenvolvimento, ordenamento e proteção ambiental.

Ao fazer esta escolha os governos contribuíram para o desenvolvimento de

conflitos urbanos e rurais que se acumulam, e não criaram alternativas para a

preservação das relações identitárias da cultura que formou o espaço urbano e rural.

4.4 Caso 4 – Plano Diretor como instrumento de regulação do desenvolvimento e de

proteção ambiental.

Neste quarto caso a pesquisa foi realizada em município de 41 mil habitantes

com Plano Diretor de 1955. Um dos principais problemas diagnosticados, decorrentes

do desenvolvimento da indústria do calçado, é a poluição dos arroios locais, condição

que deu para a cidade o título de “Cubatâo do Sul”. Também neste caso os governos

correm atrás do problema, criando, a posteriori do agravamento dos problemas,

instrumentos como um novo Plano Diretor Ambiental (2002), criação do Conselho do

Meio Ambiente (2002), Semana do Meio Ambiente (1993), coleta seletiva (1993),

disque-denúncia, e parceria com Ministério Público para monitoramento industrial. A

partir de 2002 intensificam-se a fiscalização e as autuações. Apesar destas medidas, as

últimas amostras coletadas nos arroios mostram a persistência de uma elevada

quantidade de cromo e altos índices de óleos, graxas e bactérias.

4.5 Caso 5 – Plano Diretor e a organização do mobiliário urbano.

Neste quinto caso a pesquisa foi realizada em município de 60 mil habitantes

com Plano Diretor de 1973. O estudo focalizou a principal rua do município que tem

quase quatro mil metros de extensão e cumpre a função de pólo comercial e de serviços

da cidade, e que atrai a população dos municípios vizinhos. O estudo do mobiliário

urbano existente na rua indicou que em torno de 80% dos equipamentos estão com

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problemas. Problemas como: calçada irregular (com buracos e pedras soltas), existência

de buraco onde deveria haver uma árvore, bicicletário estragado, toldo com altura baixa

que dificulta passagem de pedestres, bancos danificados, rampa para automóvel criando

obstáculo na calçada, tocos de ferro de antigas placas de propaganda, mesas e cadeiras

na calçada dificultando a passagem, poste no meio da calçada, caixas (de cimento e

tijolo) altas ao redor das árvores. Além destes problemas constatou-se a inexistência de

uma preocupação do poder público e dos comerciantes da rua com o tratamento

paisagístico de um dos principais equipamentos urbanos da cidade. Os técnicos

municipais utilizam recomendações de publicações técnicas para, por exemplo, colocar

as lixeiras a cada 25 metros, mas não seguem qualquer recomendação em relação à

estética, a paisagem e cuidados com a funcionalidade. Artigos de profissionais e

moradores na imprensa local criticam o lixo nas ruas e o desleixo com os espaços e

equipamentos públicos, e passam uma imagem negativa sobre a cidade e o

comportamento do cidadão. Uma sondagem junto a moradores indicou que a grande

maioria imagina que um calçadão poderia qualificar este espaço, e que comerciantes

tem opinião contrária. O poder público não aparece como ator que tem proposta e que

pode mediar um processo de debate que formule alternativas para a qualificação deste

espaço público. Apesar do Plano Diretor já ter 35 anos o poder público local não tem

utilizado pesquisas e instrumentos de planejamento para ordenar e qualificar espaços

que são constitutivos da identidade da sociedade urbana local. O município poderia,

como recomendaram os alunos do curso, propor um tratamento urbanístico diferenciado

para a rua, formulando um Plano paisagístico e de ordenamento do mobiliário,

estimulando assim o fortalecimento e o resgate da identidade local que tem como pontos

fortes a tradição cultural e a preservação ambiental. Como nos casos anteriormente

analisados, percebe-se a falta de iniciativa dos governos locais para se precaver dos

impactos negativos do crescimento urbano e preservar os aspectos positivos da cultura

local.

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4.6 Caso 6 – O Pólo Petroquímico do Sul e seus impactos no desenvolvimento da

região.

Neste sexto caso a pesquisa foi realizada no mesmo município de Montenegro

(60 mil habitantes), cujo Plano Diretor é de 1973, e seu vizinho Triunfo (25 mil

habitantes), onde se instalou o III Pólo Petroquímico do país, entre 1976 e 1982. As

empresas de primeira geração do Pólo produzem petroquímicos básicos (COPESUL) e

as de segunda geração processam estes produtos básicos para a Ipiranga, Braskem,

Petroquímica Triunfo, Innova, Petroflex e DSM. As de terceira processam os produtos

das de segunda geração manufaturando bens para o consumidor. As de segunda geração

se instalaram nas décadas de 80 e 90. As expectativas do município de Montenegro de

aumento de sua arrecadação relacionam-se com as indústrias de terceira geração. Em

1978 o município assina Convênio de Adesão ao Programa de Complementação Urbana

visando à obtenção de empréstimo junto ao BNH para implementação do Projeto

CURA. Este projeto previa um Plano de Complementação Urbana para o sistema viário,

iluminação pública, esgoto de águas pluviais, serviços públicos, educação e cultura,

recreação, e desapropriações. Este Plano visava atender às projeções feitas pelo

Conselho de Implantação do Pólo Petroquímico do Sul – CONPETRO que, conforme

documento do Banco do Estado do Rio Grande do Sul – BANRISUL, encaminhado ao

Banco Nacional da Habitação em 12 de abril de 1984, previa a criação de um novo

núcleo urbano.

Optou-se, então, pela criação de um novo núcleo urbano vinculado à

atual cidade, com toda a infra-estrutura necessária, além da ampliação

existente, que seria o suporte para atender à demanda futura da

população atraída pela implantação do Pólo, cuja estimativa era de que,

em 1985, quando do seu pleno funcionamento, fosse da ordem de

160.000 habitantes [...]. (BANRISUL, 1984)

Segundo o documento “Projeto CURA – Montenegro: Plano de

Complementação Urbana” a população passaria de 28.309 habitantes, em 1977, para

143.933 habitantes, em 1980. Um aumento superior a 400% em três anos.

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Contrariando as previsões do Conselho, a população do município, 33 anos

após, ainda é apenas 37,5% (60 mil) do que foi estimado (160 mil).

Ainda segundo o documento do Banco do Estado do Rio Grande do Sul –

BANRISUL

[..] verifica-se, claramente, que nos últimos quatro anos, em termos

reais, não houve crescimento no retorno do ICM para o município de

Montenegro, tendo ocorrido o mesmo com os coeficientes de rateio,

cujo quadro demonstra até uma redução do seu percentual, no período

de 1981 a 1983. Conclui-se, assim, que todas as projeções de entradas

adicionais de receita falharam, assim como falhou o cronograma de

implantação das indústrias de transformação (terceira geração) que até

agora não se instalaram no Pólo, [...] concluímos que o município em

questão não tem e nem terá, a curto prazo, condições de saldar o seu

compromisso com o BANRISUL, como bem demonstra o atraso já

acumulado desde setembro de 1983, [...]. (BANRISUL, 1984)

As expectativas de um surto de desenvolvimento geradas pelas projeções do

Conselho referentes à Implantação do Pólo Petroquímico do Sul – CONPETRO não se

confirmaram. O impacto positivo de um crescimento significativo de receita, os ganhos

em planejamento e urbanização da cidade e de organização da administração pública

não se realizaram.

A localização das empresas de terceira geração está mais relacionada com a

presença de grandes centros consumidores de plástico e com disponibilidade de mão-de-

obra qualificada, como é o caso do Vale dos Sinos e das indústrias moveleira e metal-

mecânica de Caxias do Sul. Esta determinação de localização reduziu drasticamente a

capacidade de atração deste tipo de indústria da transformação pelo município de

Montenegro. Estudos sobre a relação das indústrias do Pólo com os sistemas produtivos

locais do Rio Grande do Sul não foram localizados pelos técnicos municipais, e, parece,

não foram levados em conta pelos planejadores quando da negociação com o município

de Montenegro. O potencial existente na cidade, como sua tradição fluvial e de centro

rodo-ferroviário também não foi beneficiado com a instalação do Pólo.

Pode-se afirmar que, em relação aos ganhos em organização da administração

pública, estes não se realizaram em Montenegro, e, no caso de Triunfo, gerou-se graves

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problemas de gestão, como indicam as denúncias de má utilização dos recursos públicos

pelos órgãos municipais, que tem muito mais recursos que os municípios vizinhos e

fazem muito menos4, e acusações de práticas ilegais de utilização de recursos públicos

nas campanhas eleitorais. Na Prefeitura de Montenegro não ficou uma memória do

Projeto CURA e dos estudos dos impactos do Pólo sobre o município e região, seja

através de documentos ou testemunhos de técnicos locais. As informações são precárias

e fragmentadas e, quando existem, são de responsabilidade individual.

Em 1978 a Prefeitura reformulou o Plano de 1973 visando atualizá-lo para o

recebimento das indústrias e trabalhadores do Pólo. O caráter emergencial da

reformulação limitou sua abrangência tratando apenas da hierarquia do sistema viário,

zoneamento urbano, regras para as construções, e previsão de legislação própria para

loteamentos. Não abordou o tema a partir de concepção mais ampla do desenvolvimento

urbano, possivelmente porque, na visão dos planejadores e gestores, o desenvolvimento

da cidade, naquele momento, se restringia à chegada de novas indústrias, confundindo-

se com o crescimento do PIB. A diversidade da legislação urbana, que “dificulta sua

compreensão e aplicação pelos e construtores” até os dias de hoje, também não foi tema

da reformulação do Plano.

Além da frustração gerada pela não realização dos ganhos com arrecadação, o

município teve aumentada sua demanda por serviços de assistência, saúde e educação,

pois recebeu um contingente significativo de população de baixa renda. Segundo

correspondência enviada pelo município de Montenegro, em maio de 1993, ao governo

do estado dava conhecimento que

Passados já, agora, aproximadamente dez anos da implantação do

Pólo (sic), Montenegro só recebeu migrantes, desabrigados,

operários, trabalhadores sem especialização, acompanhados de um

contingente de problemas de impossível solução, mormente na área

social, com o consequente empobrecimento de toda comunidade

local, obrigada a dividir o seu pouco, com o nada dos totalmente

desassistidos. [...] Um dado relevante na presente exposição, é o que

mostra os índices de retorno do ICM para Montenegro, o qual se

manteve estável, desde 1977, ao redor de 0,5%. O Pólo não

incrementou, em nada, a receita destinada à comunidade

4 Opinião corrente entre os gestores dos municípios da região.

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montenegrina. Ao invés, foi penalizada com problemas sabidamente

insolúveis na área assistencial, enquanto o vizinho Município de

Triunfo ficou com a totalidade dos benefícios e nenhum problema, a

exemplo do índice atual de retorno do ICM, que é de 2,4092%.

(PREFEITURA MUNICIPAL DE MONTENEGRO, 1993).

O município vizinho, Triunfo, sofreu o impacto de ter de administrar um dos

maiores PIBs municipais do estado, sem ter uma estrutura administrativa capacitada

para tal. Triunfo tem um PIB cerca de dez vezes maior que o de Montenegro, menos da

metade da população, e indicadores sociais e de serviços públicos muito inferiores.

Triunfo faz parte dos 21 municípios do Rio Grande do Sul que participam com mais de

1% no valor adicionado do estado, tem um PIB per capita de R$193.347 (2005), taxa de

analfabetismo de 9,89% (2000), expectativa de vida ao nascer de 71,46 anos (2000) e

coeficiente de mortalidade infantil de 11,11 por mil nascidos vivos (2006). Montenegro

tem um PIB per capita de R$18.165 (2005), taxa de analfabetismo de 6,21% (2000),

expectativa de vida ao nascer de 74,97 anos (2000) e coeficiente de mortalidade infantil

de 8,36 por mil nascidos vivos (2006). (Fonte: FEE, 1992). O município “mais rico”

tem piores indicadores sociais que o município “mais pobre”.

A opinião dos técnicos locais, para quem

“o processo de planejamento não foi bem pensado e analisado.

Planejar é visualizar o futuro. [...] refletir sobre o que queremos, para

onde queremos ir e de que forma. [...] Para planejar é preciso

conhecer, ter dados, bases estatísticas e saber como executar o

planejado”, (Goulart et al. 2007)

e as informações contidas nos documentos, indicam que a concepção e a prática do

planejamento que reduz o desenvolvimento ao aumento do PIB e da arrecadação, e se

subordina ao método de planejamento que centraliza informações e decisões decisivas

em apenas uma das instâncias federativas (neste caso no governo do estado), teve um

impacto negativo no desenvolvimento do município e na imagem que gestores locais e

população têm sobre o futuro da cidade, e que ainda hoje não foi superado. Este

processo de planejamento tecnocrático tradicional se opõe à construção e disseminação

de uma concepção de planejamento e gestão baseada na descentralização das

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informações e decisões, e na interação entre técnicos de diferentes esferas federativas.

Interação que poderia ter incentivado a capacitação de planejadores e gestores locais, o

aprimoramento da organização de secretarias como as de planejamento, meio ambiente,

e administração, e, principalmente, a formação de uma nova cultura de planejamento.

Cultura que se caracterizaria pela habilidade dos grupos técnicos na formulação de

políticas públicas em contextos participativos e orientados para a resolução de

problemas locais, e pelos gestores interessados e decididos a valorizar a boa técnica e as

formulações do corpo técnico local.

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5. PRÁTICAS E CONCEPÇÕES TRADICIONAIS DE PLANEJAMENTO E

GESTÃO: CONCLUSÕES

Os estudos do processo de planejamento praticado em municípios da Região

Metropolitana de Porto Alegre indicam que os maiores obstáculos para o planejamento,

a organização e o desenvolvimento sustentável das cidades estão relacionados com: a

falta de informação da grande maioria da população, a linguagem hermética (difícil) dos

textos jurídicos e técnicos, equipes técnicas municipais pequenas, desmotivadas e pouco

qualificadas, dificuldade dos municípios trabalharem em conjunto, falta de apoio ou

conflito entre o governo (secretários e prefeitos) e os técnicos, a concepção dos

governos sobre o desenvolvimento local, e as práticas tradicionais de planejamento e

gestão.

O modelo de modernização das cidades brasileiras, que priorizou o transporte

rodoviário e desestruturou boa parte do ferroviário e hidroviário (que já foram infra-

estruturas do desenvolvimento do Rio Grande do Sul), tem gerado problemas que as

instituições do Estado, os especialistas e os governos não tem conseguido resolver, se

considerarmos o elevado número de acidentes com feridos, mortos e perdas de vida e

danos materiais que ocorrem a cada ano em todo o país. Este modelo que vem

“atropelando” a cidadania e as tradições históricas e culturais das cidades é um exemplo

paradigmático da crença dos governantes e de setores privados desenvolvimentistas que

atribuem à modernização qualificações exclusivamente positivas enquanto os exemplos

empíricos demonstram os graves impactos negativos gerados por este modelo.

Se a realidade empírica dá visibilidade, através das estatísticas, para um grave

problema social que a opinião pública tem representado como a “guerra no trânsito”

porque os gestores públicos o tratam como um problema que, via de regra, não se

conecta com o debate sobre o desenvolvimento da cidade?

A realidade objetiva das estatísticas revela a gravidade dos impactos negativos

gerados por este modelo. Impactos que, na grande mídia, tem se explicado como

resultado do comportamento de indivíduos (racionais) que escolhem o caminho da

ilegalidade e da transgressão (o problema é abordado como um desvio comportamental

de indivíduos racionais). Mesmo se esta for a abordagem dominante entre os

governantes estes podem e devem mobilizar-se para o redesenho das políticas de

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planejamento e gestão do sistema viário, do trânsito, e da educação, de forma a articulá-

las e orientá-las para a prevenção e a sustentabilidade das cidades. Isto é, para a garantia

da vida no espaço urbano. Isto se supormos que o governante eleito tem como meta de

governo o bem público, as recomendações da ciência, e a resolução de problemas que

dizem respeito ao conjunto da sociedade urbana. Mas o que as pesquisas e observações

apontam é a falta de discussões públicas sobre os cenários futuros da cidade

considerando as tendências atuais e o comportamento social que o modelo de

modernização e desenvolvimento tem promovido. Problemas graves e complexos como

este tem sido remetidos para o “subsolo da agenda do governo”. O problema só emerge

do subsolo quando da ocorrência de fato grave que passa a ser divulgado pela imprensa.

Esta prática de lidar com o problema, tem se revelado incapaz de gerar políticas

públicas que mudem a ênfase atual que prioriza medidas coercitivas e imediatistas,

voltadas para o curto prazo. Gestores e planejadores acabam contribuindo ativamente ou

passivamente (se tornando reféns), para a promoção de opiniões que vendem as

vantagens de empreendimentos que prometem gerar empregos e desenvolvimento, e que

ocultam os impactos negativos que tem sido assumido pelo conjunto da sociedade

urbana e cujos custos sociais são pagos com recursos públicos.

Os discursos de campanha política e de defesa de projetos geradores de

emprego, baseiam-se em representações do crescimento e da modernização como

processos que tem como resultado apenas conseqüências positivas, e nunca negativas.

Ao contrário da crença de muitos gestores públicos e defensores do “desenvolvimento

sem restrições” (concepção de que o crescimento é bom por si mesmo), o estudo da

implantação de indústrias, construção de edificações, implantação de sistema viário, e

da infra-estrutura de saneamento, entre outros, que não obedeceram às recomendações

dadas pela “boa técnica” (formulada pelas diferentes áreas das ciências), isto é, que não

se submeteram ao ordenamento e a regulação proposta pelos Planos Diretores, Planos

Ambientais e Setoriais, e à fiscalização prevista em Leis como o Código de Posturas, a

Lei Orgânica, os decretos e resoluções municipais, revelou um acúmulo crescente de

problemas que vem recaindo sobre as gerações atuais. A aprovação de legislação para o

planejamento e a organização de nossas cidades desde os anos 50 e 60, portanto com

mais de quarenta anos, não tem garantido a construção de cidades sustentáveis

considerando a qualidade de vida da sociedade urbana. Os governos, os principais

responsáveis pela condução das políticas locais, não tem conseguido romper com as

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abordagens simplificadoras que tratam o desenvolvimento local com simples

crescimento econômico. Presumem que a atração de investimento gerando empregos é

suficiente para desencadear uma dinâmica positiva para a cidade. A preocupação,

quando existe, com a herança cultural e histórica deixada pelas gerações passadas, sobre

a qual se assenta boa parte das instituições, não se traduz em políticas de fomento da

identidade local, fragilizando práticas como as constituídas pelas redes sociais

comunitárias.

A representação do desenvolvimento local exclusivamente como crescimento do

PIB tem impactado negativamente o desenvolvimento municipal, fragilizando a opinião

de gestores e da população sobre sua capacidade de tomar iniciativas formulando

políticas públicas que organizem o futuro da cidade. Este processo de planejamento

tecnocrático tradicional se opõe à construção e disseminação de uma concepção de

planejamento e gestão baseada na descentralização das informações e decisões, e na

interação entre técnicos de diferentes esferas federativas. Interação que poderia ter

incentivado a capacitação de planejadores e gestores locais, o aprimoramento da

organização de secretarias como as de planejamento, meio ambiente, e administração, e,

principalmente, a formação de uma nova cultura de planejamento e gestão. Cultura que

se caracterizaria pela habilidade dos grupos técnicos na formulação de políticas públicas

em contextos participativos e orientados para a resolução de problemas locais, e pelos

gestores interessados e decididos a valorizar a boa técnica e as formulações do corpo

técnico local.

Esta paradigma que simplifica e reduz a concepção de desenvolvimento também

impactam negativamente o setor empresarial do Rio Grande do Sul, que, segundo

matéria da colunista de economia Denize Nunes, do jornal Correio do Povo, “o governo

do estado, em reunião com empresários, avaliou que o setor empresarial abalado pela

situação cambial não despertou para o mercado nacional em crescimento, e continua

focado na exportação”. (Correio do Povo, dezembro, 2007)

Estas experiências estudadas revelam que instrumentos de planejamento e

regulação do desenvolvimento como o Plano Diretor não tem sido utilizados pelos

governos para planejar e prevenir as conseqüências negativas do crescimento urbano.

Inovar, aprovando Plano Diretor ou criando estruturas administrativas e cargos, não tem

se traduzido em melhoria da qualidade urbana, pois não tem sido suficiente para

produzir bons resultados em termos de política ambiental e ordenamento do espaço

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urbano. Estas práticas de governo transformaram os Planos Diretores Municipais em

instrumentos potenciais de planejamento (até hoje muito pouco utilizados) que quase

ninguém conhece, poucos sabem dizer como ajudou a organizar a cidade, e que serve

mais como material publicitário que o Prefeito utiliza para a apresentação da cidade.

As pesquisas indicam que as ações estão mais relacionadas com a necessidade

de o Estado produzir justificativas para a opinião pública, de que está fazendo a sua

parte, do que com a efetiva transformação de realidades de degradação do espaço e da

sociedade urbana. Ações que comprometem o espírito democrático, federativo e

republicano da Constituição de 88.

Um conflito importante no processo de planejamento e de gestão tem colocado

em lados opostos os representantes dos partidos políticos e o governo, e os técnicos

municipais. Existe uma opinião razoavelmente disseminada entre técnicos municipais

de que os governantes “atropelam” ensinamentos e recomendações apresentados pelos

diferentes campos do saber. A legislação urbana (Plano Diretor, Lei Orgânica, etc.)

aparece mais como um estorvo para o governante do que um instrumento de auxílio no

planejamento da cidade. Um estorvo que parece estar relacionado com as exigências de

delegação de decisões para outros grupos e instâncias, que os novos instrumentos de

planejamento propõem, e de respeito a um conjunto de regramentos que regulam a ação

do gestor. Regulação que se coloca como necessária se o planejamento da cidade for

orientado para o conjunto da sociedade urbana; para o atendimento do bem comum.

A boa técnica em planejamento e gestão, quando se prioriza o bem comum, tem

com requisito fundamental a existência de atores (técnicos, governo, conselhos)

interessados e capacitados para a construção coletiva de soluções para os problemas da

sociedade urbana. Esta abordagem exige a instituição de espaços e arranjos

institucionais promotores de uma interação forte entre instâncias de governo e entre o

público e o privado, que se tornem reconhecidos pela sociedade local quando se trata de

planejamento e tomada de decisão sobre a cidade. A prática tradicional, ainda

dominante, que desconsidera a necessidade da constituição destes espaços de interação e

a formação de novos arranjos institucionais para a produção de diagnósticos

intersetoriais e soluções para os problemas do conjunto da sociedade local, vêm gerando

um acúmulo de problemas ambientais, de organização urbana, e de desenvolvimento

econômico e social que cresce mais rapidamente do que a capacidade dos governos em

resolvê-los.

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Destacamos que não partilhamos da concepção ingênua de que todos os políticos

atropelam as recomendações técnicas e que nem todos técnicos são operadores da boa

técnica. Existem bons e maus exemplos dos dois tipos de prática. O que a pesquisa

constatou foi a tendência dominante dos governos locais de deixar de lado as boas

práticas de gestão administrativa, orçamentária, ambiental e urbana.

A ausência da prática social de acompanhar, monitorar e avaliar

sistematicamente, durante os quatro anos de uma gestão, as políticas públicas do

governo; e a precariedade da avaliação que é feita ou em momentos de crise da política

pública ou no período da disputa eleitoral (avaliação que não se consolida na

representação que os atores tem sobre as políticas públicas), tem como conseqüência a

simplificação e empobrecimento da opinião dos atores (sindicatos, associações,

conselhos, etc.) sobre as possibilidades da política pública para o setor. Ocorre a

naturalização das políticas existentes, o que dá grande liberdade para o governante

continuar reproduzindo práticas que conformam as políticas tradicionais.

A opinião dos técnicos que participaram desta pesquisa remete para a seguinte

conclusão: as mudanças operadas pela recente modernização dos espaços sociais,

construídos pelas comunidades tradicionais, que vieram como imigrantes da Europa,

vem desestruturando suas relações identitárias baseadas no compromisso com a

coletividade, e introduzindo práticas sociais homogeneizadoras e individualistas

características do modelo de desenvolvimento que se fundamenta na utilização do

automóvel, da motocicleta e das novas tecnologias como símbolos de status,

principalmente entre os jovens. A atuação dos governos locais se mostrou incapaz de

preservar mesmo alguns símbolos mais significativos da tradição cultural da sociedade

local e de organizar uma estrutura administrativa local capaz de, minimamente,

formular políticas públicas condizentes com a tradição cultural herdada. Mas se mostrou

eficiente na utilização do poder local como espaço privilegiado para o exercício das

prioridades dos partidos políticos que, no longo prazo se revelou contraria aos interesses

do conjunto da sociedade urbana local.

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Conclusão semelhante apresenta Claus Offe quando analisa a fragilização atual

do Estado de Bem Estar Social na Europa.

A meu ver, a desorganização de vastas, relativamente estáveis e

abrangentes comunidades de interesse econômico, filiação

associativa, valores culturais e estilos de vida constitui a chave para a

compreensão adequada do enfraquecimento geral dos

comprometimentos de caráter solidário. (OFFE, 1989, p.307)

A reprodução das concepções tradicionais, principalmente pela sociedade

política, que tem grande capacidade de liderar a promoção de práticas, tanto na gestão

pública quanto entre setores privados da sociedade local, tem inibido o surgimento

daquilo que Foucault chamou de instâncias emergentes, isto é, instituições inovadoras

com capacidade de formular ou disseminar concepções e práticas capazes de dar

sustentação para um novo modelo de gestão pública que promova a participação social,

o bem estar da cidadania, e o controle público, enfim, o desenvolvimento sustentável da

sociedade local.

O dilema e o desafio dos governos que tem por objetivo o bem comum da

sociedade é romper com a visão tradicional de desenvolvimento que, por um lado

assume como natural ou inevitável o impacto social negativo da modernização, como a

perda de vidas no trânsito, e, por outro, como a única via para o desenvolvimento da

sociedade.

Nas perspectivas de Evans e Foucault o rompimento com as concepções e

práticas tradicionais, que tem desorganizado culturas e comunidades locais e ampliado

os conflitos sociais e a degradação ambiental nas cidades, só ocorrerá se um novo tipo

de instituição e grupos sociais mobilizarem-se para apresentar e disputar, na opinião

pública e nos espaços públicos e privados, uma nova representação (social) sobre

desenvolvimento, políticas públicas, e práticas de governo. Representação que busque

orientar e organizar os atores individuais e coletivos para o desenvolvimento e a

sustentação da cidadania no espaço local.

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6. PRÁTICA DE GOVERNO BASEADA NA TOMADA DE DECISÃO EM

ESPAÇOS RESTRITOS

A investigação do processo de planejamento praticado em municípios da Região

Metropolitana de Porto Alegre, à luz das abordagens de Evans, Foucault, Offe, Souza e

Frey, permite afirmar que os espaços onde se tomam as decisões e as práticas

institucionais se assemelham a “gabinetes de negociação” onde ainda predomina a

presença do interesse privado que busca obter diferenciais vantajosos para a instalação e

funcionamento de atividades no território urbano. Espaços onde loteadores,

empreendedores imobiliários, indústrias e moradores negociam diretamente com o

Prefeito condições mais favoráveis para seus negócios e interesses. Este estilo de gestão

tem como conseqüências o “isolamento” do Prefeito, a desmotivação e

desresponsabilização dos técnicos, e a descrença da população na possibilidade de

implementação de projetos de interesse do conjunto da sociedade local. E o resultado na

cidade são os loteamentos fora dos padrões técnicos (ausência de áreas verdes, praças,

ruas estreitas, ausência de esgoto, calçadas estreitas ou fora do padrão técnico, ocupação

irregular de morros, nascentes e margens de arroios), indústrias operando fora das

normas técnicas (poluindo o ar, arroios e o solo) e em áreas residenciais, entre outros. E

como resultado econômico deste processo de tomada de decisão tem-se, de um lado, o

ganho privado com o relaxamento das obrigações urbanas e, de outro, a publicização

dos custos sociais e ambientais gerados, que é assumido pela Prefeitura. Esta

“flexibilização” seletiva garante diferenciais na obtenção de lucro, para alguns setores,

grupos ou indivíduos, no uso do solo urbano e tem contribuído para a degradação do

espaço urbano e, consequentemente, da qualidade de vida na cidade.

A pressão sobre os governos locais pela flexibilização da legislação e da

fiscalização municipal sobre atividades econômicas e o uso privado dos espaços

urbanos é permanente e mais organizada que a pressão em defesa do interesse público,

do bem comum. A valorização destes espaços provoca o estreitamento da participação

de técnicos, conselhos municipais, e entidades da sociedade, reduz a base de apoio das

políticas de interesse coletivo, e resulta no aprisionamento do gestor local (Prefeito,

Secretários, Vereadores) às rotinas de negociação de gabinetes.

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Esta prática tem inviabilizado a discussão sobre o futuro da cidade com

entidades empresariais e de trabalhadores, ambientalistas, associações de moradores,

conselhos, e cidadania. A ausência de debate público sobre o planejamento e a

organização da cidade inibe a formulação, pelos atores individuais e coletivos, de

opiniões consistentes (aquelas que se mostram adequadas para abordar a complexidade

de fenômenos como o da modernização das cidades), prejudicando a qualidade das

intervenções das instituições e seus representantes. A observação dos debates sobre

Plano Diretor nas Câmaras de Vereadores, que pesquisas futuras deveriam aprofundar,

revela a precariedade do instrumental utilizado pelo legislador local para debater e

aprovar a Lei que orienta a organização do espaço urbano. A falta de capacitação para o

entendimento desta Lei, e a ausência de infra-estrutura nas Câmaras Municipais e na

maioria dos Executivos, tem transformado o Plano e o planejamento em ritual de

cumprimento das exigências legais. Não se pode esperar que vereadores que raramente,

ou nunca, são acionados para debater o desenvolvimento municipal estejam habilitados

para entender e defender um projeto de cidade social e ambientalmente sustentável. As

habilidades desenvolvidas pelo legislador em nossas instituições políticas, como a de

dar sustentação para os projetos do partido no governo, defender interesses de grupos de

sua base de apoio eleitoral, fiscalizar o governo, etc., se mostram inadequadas para o

debate e a tomada de decisão sobre o futuro desenvolvimento da cidade. Instituições

como o Legislativo e os Partidos Políticos tem sido incapazes de criar condições locais

que permitam o desenvolvimento de competências institucionais que qualifiquem o

debate sobre políticas públicas e as relações entre o interesse público e o privado.

O processo político que elege representantes para deliberar sobre questões de

interesse da sociedade local não dá conta da complexidade dos problemas colocados

pela modernização da cidade. O eleitor não tem nenhum instrumento, disponibilizado

pela sociedade democrática contemporânea – como o caso do direito ao voto, para

escolher um vereador que lhe de garantias mínimas sobre sua visão de desenvolvimento

e seus compromissos com o bem comum. Os Legisladores não são obrigados a prestar

contas ao público das suas opiniões sobre estes temas durante as eleições. No lugar

destes temas predominam as promessas de atendimento de reivindicações individuais,

de grupos da base eleitoral do vereador, assistencialistas, de grupos de interesse ou de

movimentos sociais organizados a partir de interesses setoriais ou de bairro.

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Processos de planejamento e orçamento participativo nas Administrações

Municipais se confrontam com estas práticas institucionais tradicionais avessas à

participação e descentralização das informações e decisões, e durante a implantação

sofrem uma acomodação seletiva que exclui os elementos inovadores e incorpora as

velhas práticas, atualizando-as.

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7. TENSÕES E CONFLITOS ENTRE POLÍTICOS E TÉCNICOS: A

CARREIRA POLÍTICA CONTRA A BOA TÉCNICA

A pesquisa sobre o processo de planejamento e de gestão identificou o conflito

entre os operadores da política do governo e os operadores das políticas públicas

urbanas. Conflito que, parece, encontra explicação nas diferentes lógicas que regulam,

de um lado, o campo da política e, de outro, o campo da burocracia5 encarregada da

administração técnica da esfera local do Estado.

Este conflito tem se explicitado em debates como os que buscam formular

políticas para o aquecimento global, como ocorreu no Congresso Científico

Internacional sobre Mudanças Climáticas [1] acontecido em março de 2009 em

Copenhague, onde “cientistas buscaram alertar governos de que o problema é mais sério

do que se imaginava”.

A opinião dos técnicos esta orientada para a defesa das funções administrativas a

que correspondem seus cargos, e de instrumentos de planejamento e gestão como o

Plano Diretor, a Lei Orgânica, Planos Setoriais, etc. A justificação da boa técnica em

planejamento e gestão, é fortalecida quando prioriza o bem comum, o planejamento e a

organização de todo o território da cidade. E enfraquece quando se fundamenta em

ações voltadas para grupos de interesse e regiões privilegiadas da cidade.

Entrevista, realizada por este autor em janeiro de 2009, que objetivou entender a

lógica que orienta o comportamento dos atores no campo onde se produz a Política de

Planejamento da Cidade, permite desenhar, preliminarmente, o “mapa das idéias”

presentes no discurso de militante político partidário que tem atuado intensamente como

assessor de vereador. As idéias contidas no discurso foram associadas a um tema que as

relaciona com o referencial teórico utilizado nesta pesquisa. Os temas a que as idéias

explicitadas pelo entrevistado se relacionam são: a prática dos agentes políticos, os

estilos de gestão e planejamento; a atuação das instituições; e a participação social.

A análise do “mapa das idéias” montado a partir do discurso nos conduziu às seguintes

conclusões. A instituição Partido Político tem falhado na coordenação dos operadores

da política quando o objetivo é implementar o programa do Partido e respeitar o estatuto

5 Neste estudo a burocracia é entendida como em Weber, isto é, um “saber profissional

especializado” e “imprescindível em uma economia de produção de bens em massa como a capitalista”.

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partidário. O exercício da gestão pública tem gerado acomodação às rotinas burocráticas

que dificultam ações inovadoras e transformadoras de realidades sociais problemáticas.

O Partido opera como conjunto de grupos de interesse em disputa, com dificuldade para

produzir consenso tanto sobre o modo como implementar o projeto do partido como

sobre a forma de fazer a disputa política interna. As lideranças do Partido, e os

operadores da política como secretários municipais e militantes políticos, tem como

principal referencia para sua prática a carreira política, enquanto projeto político

pessoal, em detrimento do projeto do Partido para a sociedade. O discurso da disputa

política se conforma de acordo com os interesses do vereador (geralmente interesses

ligados à sua continuidade na política ou conquista de posição privilegiada no campo da

política), se ajustando à avaliação que o agente político faz da correlação de força

existente no campo. Como exemplo o entrevistado cita o caso do Orçamento

Participativo (OP): “no início [os vereadores] se bateram muito contra o OP, depois na

campanha eleitoral defenderam o OP, hoje não o prestigiam”. [...] “A motivação dos

vereadores [...] se move pelo interesse imediato, fazem muito jogo de cena para o

eleitorado”.

O comportamento, dos setores sociais, de indiferença e baixa participação

aumenta a liberdade do vereador de conduzir seu mandato segundo seus interesses

privados, distanciando-se do interesse público. Neste sentido “a comunidade tem um

pouco de culpa, ela deixou de ir à câmara como ia...” [...] mas “a maior responsabilidade

é dos vereadores”.

Esta prática, do gestor público, que se orienta para a construção da carreira,

agrava os conflitos existentes entre comunidades e retarda ou inviabiliza a resolução dos

problemas. Secretários que não querem por em risco suas carreiras políticas, buscando

minimizar as incompatibilidades e maximizar ganhos através de reconhecimentos do

maior número possível de eleitores, dificultam o funcionamento de um sistema de

planejamento e gestão pública que tem por prioridade a mediação orientada para a

resolução de problemas urbanos. Se a prática política está orientada para a construção

da carreira então pensar o futuro da cidade torna-se uma questão secundária que só

adquire prioridade durante a disputa eleitoral ou em momentos de grave crise.

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8. PRÁTICAS INOVADORAS QUE SE PROPÕE A ROMPER COM AS

PRÁTICAS TRADICIONAIS: ALGUNS RESULTADOS E ALGUMAS

CONCLUSÕES

Práticas inovadoras, baseadas em processos de planejamento e orçamento

participativo ou de governança, vêm sendo experimentadas nas Administrações

Municipais como tentativa dos governos para enfrentar as críticas de centralização das

decisões, ineficiência e ineficácia das políticas públicas, falta de controle público das

ações do governo, corrupção, entre outras. A pressão de diferentes atores deste novo

contexto pós Constituição de 88 tem levado os governos a buscar diferenciar-se através

do estilo da gestão. As duas maiores referências atuais, no Rio Grande do Sul, são o OP

e a governança. O OP como símbolo das gestões do PT (1989 – 2004) e a governança, a

partir de 2005, do governo do PMDB.

Estas práticas inovadoras se confrontam com práticas institucionais tradicionais

avessas à participação e descentralização das informações e decisões, e durante a

implantação sofrem uma acomodação seletiva que exclui os elementos inovadores e

incorpora, atualizando, as velhas práticas. Estudos que acompanharam a implantação do

OP em Porto Alegre e municípios da Região Metropolitana (ABERS, 2000; SILVA

2004, 2002) mostram a capacidade organizativa dos atores, que construíram uma

relação privilegiada com o Estado baseada em práticas onde a liderança regula e

controla o acesso às informações e o atendimento das demandas de sua base social, de

neutralizar os aspectos inovadores e atualizar o conteúdo das práticas tradicionais.

Durante o primeiro ano de gestão (2005) o governo de município da região

nordeste do Rio Grande do Sul (60 mil habitantes), formado pelo PMDB (Prefeito) e PT

(vice-prefeito), realizou experiência inovadora através de Consulta Pública que

envolveu moradores de todos os onze bairros da cidade e dos cinco distritos rurais,

representantes locais das esferas de governo estadual e federal, entidades empresariais e

sindicais, ONGs, religiosas, secretários municipais, o Prefeito e o Vice-prefeito.

A consulta, que teve por inspiração o Orçamento Participativo de Porto Alegre,

foi realizada no período de março a julho de 2005, exigiu a contratação de consultoria

especializada que organizou várias reuniões de com o Prefeito, Vice, e seus gabinetes,

seminários de planejamento com todas as secretarias municipais e com o gabinete de

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relações com a comunidade. Estas reuniões, organizativas e de planejamento,

objetivaram apresentar a proposta da consulta para a equipe de governo, conhecer a

proposta inicial de cada secretaria, colher opiniões sobre a participação da sociedade,

uniformizar o entendimento e os procedimentos da equipe, e articular a consulta com a

elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento, as diretrizes para o Plano Diretor,

o Plano Plurianual 2006/2009, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e o Orçamento 2006.

Um conjunto de tarefas que a instituição local (Executivo e Legislativo) nunca havia

executado e para a qual não estava preparada. A divisão do município, visando

capilarizar a consulta, demandou a atividade de técnicos do planejamento que

organizaram mapas com a distribuição da população nos bairros e distritos. A

preparação da agenda, com as lideranças dos onze bairros e dos cinco distritos, exigiu a

estruturação de um gabinete com dedicação exclusiva para a definição das datas que

garantiriam a maior participação possível, e muitas consultas e reuniões com as

associações de moradores e distritais. A organização dos debates exigiu a formulação de

regimento interno para as reuniões de moradores e as plenárias setoriais que

apresentaram propostas para a organização do centro e entradas da cidade, segurança,

preservação do meio ambiente, desenvolvimento, entre outras. Regimento que

regulamentou as intervenções, o recebimento de propostas, e a eleição de representantes

para acompanhar os trabalhos do Executivo.

A participação da equipe de governo não foi homogênea. Alguns secretários

participaram de praticamente todas as reuniões que aconteceram à noite, fora do horário

de expediente da Administração. Mesmo sem uma pesquisa mais rigorosa e baseando-

me na observação da participação, das vinculações partidárias e funcionais (cargo), e

nas opiniões dos atores, parece que dois aspectos seriam explicativos dos diferentes

envolvimentos na consulta: primeiro, a crença pessoal na importância e nos resultados

da participação e, segundo, a contribuição deste processo para a carreira individual, seja

ela política, funcional ou de liderança comunitária. É maior o envolvimento de quem

acredita que o processo participativo contribui para melhoria da política pública, da

cidade, do seu bairro, ou para a qualificação da sua carreira pessoal.

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Na opinião6 de secretário municipal que participou da consulta, as

coisas positivas [...] nesse caso da consulta pública [...]

movimentamos um público importante e que precisava ter sua

cidadania avivada, alimentada. Sabemos que isto é um processo de

construção, mas tem que ter o pontapé inicial. Vejo como muito

importante saber das comunidades do campo e da cidade quais são

suas prioridades, o que realmente interessa para que tenham mais

qualidade de vida onde moram, nesse sentido que vejo ser a

participação popular como de suma importância para os acertos das

políticas públicas. (Entrevista, janeiro de 2009)

Como resultados concretos para a sociedade o secretário aponta

Primeiro a oportunidade de participar e serem ouvidas pelo poder

público. E em segundo ao ver concretizado muito dos seus pedidos.

Mesmo que o poder por questões orçamentárias e jurídicas não

possam implementar todas as demandas, mas o processo se feito com

transparência tem respaldo e compreensão pela população. [...] pode-

se observar o crescimento e a vontade de participar e colaborar com a

construção de uma cidade melhor. [...] Muitos cidadãos, e delegados

do processo, internalizaram que a proposta só trás ganhos sociais e

está mostrando que é importante a participação nos processos do

poder público. Porém, não dá para sentir que houve uma criação da

necessidade do processo, talvez mais pela baixa cidadania do que

pelo processo em si. (Entrevista, janeiro de 2009)

É importante destacar que a experimentação de práticas e instrumentos

inovadores, no horizonte de uma gestão municipal (4 anos), foi suficiente para revelar

suas qualidades superiores, quando comparadas com as tradicionais, para um grupo de

membros ligados ao gestor local e algumas lideranças de entidades e associações

comunitárias, mas se mostrou insuficiente para criar e consolidar a necessidade da

participação, na formulação das políticas públicas, no conjunto da cidadania. As práticas

6 Entrevista realizada, por este autor, com secretário municipal que participou da Consulta Pública, em

janeiro de 2009.

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tradicionais, no Rio Grande do Sul, foram criadas e consolidadas por processos de

planejamento e gestão que remetem para o final do século XIX e inicio do século XX,

portanto, um horizonte de longa duração. O tensionamento entre novas e velhas práticas

inicia dando visibilidade tanto para as qualidades da nova metodologia como para os

pontos de estrangulamento ou resistência como a descrença ou concepção antagônica

dos atores, ausência de recursos e infra-estrutura, e desqualificação institucional, e,

inicialmente, para apenas alguns dos atores envolvidos no processo. A capilarização e

consolidação de práticas e instrumentos inovadores requerem debate e aperfeiçoamento

das estratégias de implantação, que deve fazer parte da própria metodologia, e prazos

mais dilatados que os de uma gestão, portanto, continuidade quando da troca de

governo.

Os resultados para a equipe de governo e os técnicos foram

Um crescimento e ver que a participação popular não é um bicho de

sete cabeças, mas que pode ser um grande colaborador para o acerto

das políticas públicas. O convívio e o contato com as comunidades

aproximaram muitos membros da equipe da realidade social. O

envolvimento dos técnicos foi em menor escala, porém, acredito que

houve crescimento e resultados semelhantes à equipe de governo.

(Entrevista, janeiro de 2009)

Segundo o secretário os maiores entraves para a implementação das

prioridades levantadas pela Consulta são

Sem dúvida o principal é financeiro, pois as demandas são muito

superiores ao orçamento público. Depois a questão técnica da

prioridade, onde muito pedidos não condizem com a realidade da

comunidade e seria um uso de recursos públicos com poucos

benefícios sociais. (Entrevista, janeiro de 2009)

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As maiores frustrações produzidas foram

Acredito que a maior frustração é não conseguir concretizar o pedido

pelo fatores acima citados. [...] O método às vezes insuficientes para

dar conta da proposta inovadora da participação. E uma que não é do

método mas a falta de comprometimento do governo em colocar em

prática muitas ações que forma priorizadas (governo com nuances

políticas não comprometidas com o processo). (Entrevista, janeiro de

2009)

E sobre o instrumento da participação, é possível apostar neste tipo de

instrumento para qualificar a gestão pública?

Sem dúvida. Com alguns aperfeiçoamentos no processo, no método e

comprometimento da equipe. [...] É um instrumento que qualifica a

cidadania e a gestão pública. Acredito que tenhamos que ter mais

clareza no método, este deve ser internalizado por todos e a partir daí

um maior comprometimento de todos. Outro ponto é fazer com que a

participação de todos seja mais efetiva e se estimule a população a

entender e participar do processo, não só em número,

mas em qualidade na discussão das demandas. (Entrevista, janeiro de

2009)

Entre os entraves identificados pelo secretário temos o orçamento, os

problemas jurídicos, e as demandas sociais com elas vem da sociedade. Muitas

demandas da sociedade, se não forem criticadas por critério de eficiência e eficácia

enquanto políticas voltadas para o bem comum, podem comprometer recursos públicos

escassos em benefício de poucos. A participação social sem critérios técnicos como, por

exemplo, políticas e ações que beneficiem prioritariamente as regiões mais carentes de

infra-estrutura, com piores indicadores sociais, e sem uma orientação geral que aponte

para a inclusão e a sustentabilidade, tende a produzir políticas públicas orientadas para

os atores que tem maior capacidade de mobilização e organização, e a reproduzir

desigualdades.

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Um processo de participação baseado neste diagnóstico deve considerar as

limitações orçamentárias, jurídicas e de concepção dos atores para a formulação de

estratégias e metodologias de intervenção visando ajustar as expectativas iniciais dos

atores, propor a qualificação e estruturação do setor jurídico e definição de uma agenda

de prioridades para a resolução dos problemas neste setor, organização de setor de

captação de recursos, parcerias locais e regionais, e modernização administrativa

orientada para o aumento da eficiência e eficácia da gestão. A participação só terá um

caráter inovador e sustentável se for entendida como participação dos operadores da

política, da boa técnica, de líderes de comunidades, ongs, entidades empresariais e

religiosas, e incidir qualificando as dimensões administrativa, a interação entre os

atores, e a concepção de desenvolvimento e da política da sociedade local.

A observação de todo o processo, da preparação inicial à conclusão da

sistematização das prioridades, revela a emergência de um aprendizado coletivo

resultado da interação sistemática e organizada entre técnicos, membros da equipe de

governo e lideranças sociais, que teve por objetivo conhecer e hierarquizar demandas

territoriais e setoriais a partir de critérios técnicos e discutidos publicamente. Um

aprendizado cujos impactos as pesquisas precisam avaliar se quisermos avançar na

qualificação de metodologias de formulação de políticas públicas. Entretanto a

observação participante permitiu identificar mudanças importantes na qualificação e

refinamento do conhecimento das equipes de educação, saúde, planejamento, obras, etc.

sobre as características das populações e seus territórios7, sobre novas metodologias de

construção coletiva dos planos setoriais e adoção de critérios objetivos para formulação

dos planos orçamentários.

Durante a realização da consulta ficou evidente a ausência de envolvimento da

maioria dos vereadores. Apenas um vereador acompanhou e fez intervenções em todo o

processo. Os representantes do Legislativo ainda relutam em participar de propostas que

tem origem no Executivo, independentemente da importância e da sua função para a

construção das políticas públicas, principalmente as que abrem espaço para a

intensificação da participação social. Esta ausência, me parece, pode ser explicada, por

um lado, pelo temor de valorizar um projeto criado pelo Executivo e desvalorizar o

7 Comparando o conhecimento coletivo explicitado no início e final do processo de consulta é possível

afirmar que a equipe de governo tinha um conhecimento da realidade social fragmentado e restrito a

algumas áreas do município, desconhecendo carências, descontinuidades de infra-estrutura e

potencialidades de vários bairros e distritos.

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Legislativo e o trabalho do vereador, que tem como referência práticas assistenciais, de

clientela e atendimento individual para com seus eleitores. Por outro, o fato de os atores

envolvidos com estas práticas não verem necessidade de participação no debate sobre

temas de interesse coletivo como desenvolvimento e formulação de políticas para a

cidadania. Nas experiências de experimentação do Orçamento Participativo tem se

manifestado duas posições dos representantes de alguns Partidos Políticos, uma que o

desconsidera e não acompanha o processo e outra que o combate ativamente como um

método que ameaça a sua carreira política.

O processo de consulta revelou a dificuldade de muitos atores coletivos de

apresentar propostas para a organização da cidade, mas também mostrou a possibilidade

de construção de matriz de prioridades, em espaços públicos, para políticas de saúde,

educação, obras, saneamento, ordenamento urbano, regularização, contemplando

diferentes interesses da sociedade, todas as unidades territoriais do município, em

horizonte de tempo de dez anos. Processo que contém maior racionalidade científica e

maior grau de justificação que processos baseados nas práticas tradicionais de

negociação das lideranças empresariais, sindicais e comunitárias, dos técnicos, e

secretários com o Prefeito ou presidente da Câmara de Vereadores.

Tentativas empíricas de introduzir práticas inovadoras nos processos de gestão e

planejamento de políticas públicas revelam-se fundamentais, pois, o diálogo e a

problematização da realidade atual com os atores, conduzida por metodologia e

estratégia adequada, revela os pontos de estrangulamento e potencialidades institucional

(concepções, missão, procedimentos burocráticos, infra-estruturas, etc.), e cultural

(comportamento dos atores no processo de decisão, concepções e crenças que orientam

os atores) que devem ser superados ou promovidas para a criação de novas

competências e arranjos institucionais indutores do desenvolvimento local.

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9. NOVOS ARRANJOS INSTITUCIONAIS QUE PROMOVEM A GESTÃO

INTEGRADA DAS FUNÇÕES PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO,

ADMINISTRAÇÃO E CONTROLE PÚBLICO

A utilização de instrumentos como o Orçamento Participativo, O Estatuto da

Cidade, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a modernização e a capacitação permanente

da gestão pública a partir de uma concepção de desenvolvimento nacional sustentável,

federativa e republicana, demanda arranjos institucionais e sociais caracterizados pela

interação forte entre todos os entes da federação (União, estados e municípios), cada um

com papel pró-ativo na formulação das políticas públicas. Arranjos baseados na

cooperação, troca de experiência e participação, e orientados para o debate e a

formulação de políticas públicas voltadas para o bem comum, controladas socialmente,

e promotoras da qualidade de vida da sociedade local.

A criação de contextos locais promotores de inovação poderia ser incentivada

por programas, parcerias e projetos de pesquisa envolvendo a União, o estado, o

município, instituição de ensino superior, e pesquisadores, que tivessem como objetivo

o desenvolvimento de competências institucionais e sociais para a formulação de

soluções aos problemas do desenvolvimento. Problemas criados pelo modelo de

crescimento como a exclusão social, o desemprego estrutural, a violência, a degradação

dos espaços urbanos, entre outros, deveriam ser vistos pelo Estado, pela sua gravidade,

complexidade e abrangência, como prioritários na agenda de instituições de pesquisa e

financiamento, e ser promovidos e considerados como projetos de Ciência e Tecnologia

(C&T) Social.

Nesta concepção de desenvolvimento, de articulação federativa e radicalização

dos pressupostos republicanos, órgãos como o Ministério do Planejamento, Ministério

das Cidades, Ministério da Ciência e Tecnologia, Prefeituras, Universidades, Ministério

Públicos, Justiça, órgão de extensão rural, e Legislativos desempenhariam como função

prioritária desenvolver as potencialidades e a criatividade da sociedade, destravando

bloqueios resultantes de interesses de grupos e corporações. Bloqueios que exigem ação

coordenada de especialistas das três esferas e da sociedade para enfrentar problemas

complexos e estruturais como os da irregularidade urbana e da violência, e encontrar

soluções de longo prazo.

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A criação de linhas de pesquisa para a inovação em políticas públicas

promotoras do desenvolvimento institucional e social, a exemplo das linhas de C&T

existentes e financiadas pelo CNPQ e CAPES, estimularia professores, estudantes,

gestores e técnicos de áreas de conhecimento como Sociologia, Economia,

Administração, Direito, Arquitetura, Assistência Social, Educação e Saúde, a se engajar

em projetos que promovam a criatividade em políticas públicas, previnam conflitos e

que sejam orientados para a resolução de problemas sociais relevantes, rompendo com a

tradição das áreas sociais de atuação focada nas conseqüências e desconectada de um

projeto de desenvolvimento. Poderiam ser criados núcleos encarregados de monitorar,

debater e propor a qualificação das instituições, desenvolver metodologias e

instrumentos inovadores e disseminar práticas de planejamento e gestão inovadora.

Trata-se de organizar iniciativas do Estado para a formação de uma nova

geração de formuladores de políticas públicas que se proponham a desenvolver

tecnologias que estejam disponíveis e a serviço do desenvolvimento social, e se

comprovem aplicáveis na diversidade de contextos territoriais, urbanos e sociais que

constituem a realidade brasileira.

Levantamentos como os realizados por Grazia e Ribeiro (2003), que

contabilizaram 140 municípios que já haviam experimentado o Orçamento Participativo

até o ano 2000, sinalizam a demanda social por experiências de gestão inovadoras que

se aproximam da “Instituição de escolha social”, proposta por Evans (2003).

Experiências que tem mostrado uma capacidade institucional superior para realizar o

controle dos gastos públicos, para descentralizar os investimentos no território8, e para a

tomada de decisão de governo. Mas que só se tornarão parte da nova institucionalidade

promotora do desenvolvimento sustentável se adquirirem um escala nacional.

Experiências como as do Orçamento e Planejamento Participativo, que

brotaram por iniciativa de gestores locais, programas como o Bolsa Família e o

Programa de Saúde da Família, ações do governo federal, a legislação que regulamentou

os direitos da criança e do adolescente e permitiu à implantação dos Conselhos

Tutelares, iniciativas do legislativo, apontam para um contexto de tentativas e

experimentações, das diferentes esferas de governo, que buscam responder demandas da

sociedade que o modelo de desenvolvimento baseado exclusivamente no crescimento da

8 Sobre a descentralização dos investimentos no território ver: MARQUETTI, Adalmir. Participação e

redistribuição: o Orçamento Participativo de Porto Alegre. In. A inovação democrática no Brasil: o

orçamento participativo. Cortez Editora. SP. 2003. p. 129 – 153.

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economia e as velhas instituições, caracterizadas pela baixa representatividade e

ausência de prestação de contas, tem se mostrado incapazes de responder.

Entretanto, estas iniciativas tem entrado em conflito com o sistema

meritocrático9 que organiza as carreiras no Estado e na sociedade. São muitos os

exemplos de municípios que não conseguem organizar e implementar o Programa de

Saúde da Família devido às exigências colocadas pela carreira médica. O orçamento dos

pequenos municípios e o perfil exigido do profissional (como o de atender população

rural, muitas vezes isoladas) aparecem como obstáculos para o desenvolvimento de uma

carreira que exige boa remuneração, acesso às novas tecnologias e conhecimentos, e

bens culturais que só estão disponíveis nos grandes centros urbanos. A implantação dos

Conselhos Tutelares vem mostrando a sua subordinação às práticas normativas que

orientam as carreiras jurídicas e às práticas da política local, que a tem transformado de

uma instância que deveria prevenir e solucionar conflitos, que envolvem crianças e

adolescente, em instância que “adverte”, “encaminha”, e que tem sido utilizada por

muitos candidatos a conselheiro tutelar como “trampolim” para o cargo de vereador. O

programa Bolsa Família, que não depende, para sua implantação, de carreiras

fortemente enraizadas na sociedade brasileira como a jurídica e a médica, exigiu mais

integração das esferas de governo na coleta e controle de dados sobre as famílias, e o

uso de tecnologia da informação para a integração de cadastros. O programa

demonstrou a capacidade de políticas públicas focadas repercutirem rapidamente, ao

atender as necessidades básicas de setores sociais diferenciados (com educação das

crianças e renda familiar fixa), gerando resposta política eleitoral que sinaliza o ajuste

da política com a opinião dos beneficiários; independentemente de considerarmos

necessárias políticas organizadoras destes setores da sociedade no médio e longo prazo

(políticas de ocupação, capacitação, organização de empreendimentos, etc.).

Estes experimentos de políticas públicas de grande repercussão social revelam

que os valores e a lógica de premiação das carreiras, como é feita pelas instituições e

entidades, reproduz práticas de promoção de indivíduos e grupos que conflitam com os

9 Max Weber identificara o surgimento na sociedade moderna de uma nova aristocracia – a aristocracia de

diplomas – que passa a obter status social através de diplomas, que operam semelhantemente aos títulos

de propriedade da sociedade tradicional. Michel Young (1958), em seu livro "Rise of the Meritocracy",

apontou o aspecto negativo da meritocracia.

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princípios do interesse geral e coletivo que organizam políticas e instituições inovadoras

baseadas na transparência e no controle social. Torna-se mais importante a construção

da carreira de um líder na comunidade que se tornará vereador, de uma liderança

empresarial que se tornará deputado, etc., do que a discussão e formulação do desenho

de política e perfil de instituição que é capaz de resolver os problemas da irregularidade

no bairro, da degradação dos morros e contaminação do rio.

A lógica e os valores que presidem e orientam a construção das carreiras

profissionais, carreiras políticas, carreiras de lideranças empresariais, e comunitárias,

tem criado importantes obstáculos para a formulação e implementação de políticas

públicas orientadas para o interesse público, a construção do bem comum e o

desenvolvimento da sociedade local. Se Claus Offe sugere que a democracia, na

sociedade contemporânea, volta-se contra o Estado de Bem Estar Social, nossa pesquisa

encontrou na cultura da meritocracia das carreiras um obstáculo que vem deformando

utopias, e disseminando desilusões capazes de gerar apatia e imobilismo social.

A sociedade brasileira, apesar de ainda carecer de instituições e espaços que

promovam o debate sistemático sobre a participação social orientada para a inovação,

vem assistindo ao surgimento de experimentos inovadores em planejamento e gestão

local que podem e devem servir como contribuição para a organização de um novo

arranjo federativo indutor do desenvolvimento social.

Resta apostar que utopias como as geradoras de energias criativas que

mobilizaram as forças sociais que redemocratizaram o país, e produziram a Constituição

de 88, continuem atuando, agora sobre as instituições políticas e sociais que dão sinais

de envelhecimento e desestruturação, e não vem respondendo às expectativas e

necessidades de uma sociedade cada vez mais urbana e complexa.

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UFRGS: Porto Alegre, Ano 1, n. 2, jul/dez. 1999.

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Caderno CRH. Políticas Públicas. nº 39. Jul./dez. 2003.

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2003.

SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do Desenvolvimento Urbano. 2ª. Edição. Rio de

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ANEXO 1 – Relatórios de Pesquisa elaborados pelos alunos do Curso Superior em

Gestão Pública da Universidade de Caxias do Sul. Vale do Caí. RS.

ASSMANN, César Luiz et al. O planejamento do município de Feliz e a proposta de

melhoria. UCS. 2007.

BERTINATTO, Carla et al. Plano Diretor do Município de Estância Velha. UCS.

2007.

GOULART, Carline et al. Estudo de Caso. A importância do Planejamento Urbano

em um Município – perspectiva de crescimento com a implantação do Pólo

Petroquímico do Sul. UCS. 2007.

MOYSÉS, Maria Cristina et al. Planejamento Urbano. UCS. 2007.

OLIVEIRA, Cardeci Umpierre de, et al. Receptivo Turístico de Novo Hamburgo.

UCS. 2007.

ULLMANN, Alex Adriano et al. Planejamento de Trânsito no município. UCS. 2007

Documentos.

BANRISUL. Documento da Diretoria do Banco do Estado do Rio Grande do Sul. 12 de

Abril. 1984.

PREFEITURA MUNICIPAL DE MONTENEGRO. Correspondência enviada pelo

Município de Montenegro ao governador do estado, Alceu de Deus Collares.

Processo Administrativo n° 3393/94. Maio. 1993.

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ANEXO 2 – Bibliografia utilizada na disciplina Planejamento Urbano e

Organização Territorial

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

BEZNOS, Clóvis. Desenvolvimento Urbano. Revista Trimestral de Direito Público.

11/95.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE MUNICÍPIOS. Legislação sobre o Plano Diretor.

Brasília. 2005.

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Sociedad en Argentina. Universidad Católica de Córdoba: Buenos Aires, 1997. p.13 -

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ERBA, Diego Alfonso, et all (organizadores). Cadastro multifinalitário como

instrumento da política fiscal e urbana. Rio de janeiro. 2005. 144p. (p. 39 – 99).

FACHIN, Roberto e CHANLAT, Alain (Orgs.). A problemática do governo municipal

na América Latina e a necessidade de (re)inventar as práticas administrativas e políticas.

Ed. Sulina / Ed. UFRGS: Porto Alegre, 1998.

FERRARI, Celso. Curso de Planejamento Municipal Integrado. Urbanismo. São Paulo.

Livraria Pioneira. 1998.

GONÇALVES, Maria Flora (org.). O Novo Brasil Urbano: impasses, dilemas,

perspectivas. Porto Alegre. Mercado Aberto. 1995.

LIANZA, Sidney, Felipe Addor (organizadores). Tecnologia e desenvolvimento social e

solidário. Porto Alegre. Ed. UFRGS. 2005. Parte 3 e 4.

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OLIVEIRA, Isabel Cristina Eiras de. Estatuto da Cidade, para compreender. Rio de

Janeiro. IBAM/DUMA. 2001.

PAULICS, Veronika, Org. 125 Dicas – Idéias para a ação municipal. São Paulo. Pólis.

2000. 288p. (p. 23 – 30, 175 – 176, 185 – 186, 203 – 204).

ROLNIK, Raquel, Otilie Macedo Pinheiro (organizadores). Plano Diretor Participativo:

guia para elaboração pelos municípios e cidadãos. Brasília. Ministério das Cidades.

2005. 160p.

SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do Desenvolvimento Urbano. 2a. Ed. Rio de Janeiro.

Bertrand Brasil. 2005.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO SUL. Quem são os vereadores

do Rio Grande do Sul. Dezembro. 2005.

BAUMGARTEN, MAÍRA. O Brasil na Era do Conhecimento: políticas de ciência e

tecnologia e desenvolvimento sustentado. Porto Alegre: PPGS, 2003.(Extrato do

capítulo 1)

BRAGA, Roberto. Plano Diretor Municipal: três questões para discussão. SP. UNESP.

v.1, n.1,1995, p. 15-20.

CORREA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo. Ática. 2000.

FRENTE NACIONAL DE PREFEITOS. Espaço Urbano. Consórcios Públicos.

Abril/Maio. 2005.

GARCIA, Ronaldo Coutinho. Subsídios para organizar avaliações da ação

governamental. Texto para discussão n . 776. Diretoria do IPEA. Brasília. Janeiro.

2001.

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GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Rumos 2015. Estudo sobre

Desenvolvimento Regional e Logística de Transporte no RS. Porto Alegre. 2004.

Documento Síntese.

LEFEBVRE, Henry. O direito à cidade. São Paulo. Ed. Centauro. 2001. p. 71 – 83, 93 –

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LEFEBVRE, Henry. A revolução urbana. Belo Horizonte. Ed. UFMG. 1999. LEI N .

10.350, de 30 de Dezembro de 2004. Sistema Estadual de Recursos Hídricos.

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MINISTÉRIO DAS CIDADES. 3 ª Conferência Nacional das Cidades.

Desenvolvimento Urbano com Participação Popular: avançando na Gestão Democrática

das Cidades. Brasília. Maio de 2007.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Plano Nacional de Recursos Hídricos. Brasília.

2006.

PORTO ALEGRE. PREFEITURA MUNICIPAL. Plano Diretor de Desenvolvimento

Urbano Ambiental. Secretaria do Planejamento Municipal. PDDUA. Lei Complementar

434/99. março de 2000.

PORTO ALEGRE. PREFEITURA MUNICIPAL. Plano Diretor Setorial de Transporte

Coletivo do Município de Porto Alegre. EPTC. 2000.

SANTOS, Milton, Maria Laura Silveira. O Brasil: território e sociedade no início do

século XXI. Rio de Janeiro. Record. 2001.

SÉRIE CARACTERIZAÇÃO E TENDÊNCIAS DA REDE URBANA DO BRASIL.

Volume 1. Cap. 1; p. 366 – 371. Volume 2. p. 335 – 343. Volume 6. p. 47 – 90, 159 -

166.

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NOTA

1 Ciência enfrenta política em encontro sobre clima. Organizado para atualizar estimativas

sobre o aquecimento global, o Congresso Científico Internacional sobre Mudanças Climáticas

terminou na quinta-feira (12) em Copenhague com um intenso debate entre cientistas e o

primeiro-ministro da Dinamarca. O premier Anders Rasmussem, após a apresentação dos

resultados finais do encontro, defendeu que o novo acordo climático deve estabelecer uma meta

que permita uma elevação de até 2ºC na temperatura global. A Dinamarca assumirá a

presidência da Convenção do Clima da ONU em dezembro, quando 190 países negociarão

novas metas de emissão para o próximo período de Protocolo de Kyoto, o pós-2012. Após a fala

do primeiro-ministro, o oceanógrafo alemão Stepham Rahmstorf pediu a palavra e disse que

usar o nível de 2ºC não diminui a insegurança com relação a graves impactos da mudança do

clima. "Os 2ºC devem ser um limite que não deve ser ultrapassado e não uma meta", disse.

Rasmussem reagiu e perguntou se Rahmstorf estava afirmando que o IPCC (painel do clima da

ONU) errou ao sustentar que 2C era um limite razoável. "Você acha que eu deveria dizer à

União Europeia que nós deveríamos revisar esta meta, que levou meses para ter consenso?",

afirmou. Will Stefen, cientista da Universidade Nacional da Austrália, interveio com panos

quentes no debate. Disse ao ministro que adotar 2ºC como meta poderia ser uma saída para

viabilizar o acordo climático no curto prazo. Mas fez ressalva: "Creio que num futuro bem

próximo teremos que revisar isso".

A disputa em torno dos limites de temperatura acabou sintetizando a principal conclusão do

Congresso em Copenhague: cientistas precisam alertar governos de que o problema é mais sério

do que se imaginava.

"Observações recentes confirmam que, devido às altas taxas de emissão (de gases-estufa), os

piores cenários do IPCC estão se tornando reais", afirma o texto síntese da reunião. Entre os

dados mais pessimistas apresentados em Copenhague, destaca-se o modelo de Rahmstorf que a

elevação do nível do mar será mais que o dobro da prevista pelo IPCC. Nicholas Stern,

economista autor de estudo de 2006 que prevê um rombo de até 20% no PIB caso a mudança

climática não seja combatida, admitiu em conferência de imprensa que, apesar de severos, os

cenários projetados por ele já estão defasados. "Olhando para trás, o "Relatório Stern"

subestimou os riscos e os danos", afirmou.

Fonte: Gustavo Faleiros/ Folha Online. Disponível em: Ambiente Brasil > Notícias > Categoria

> Mudanças climáticas. 14 / 03 / 2009 [P.33]