Condições de Trabalho em Oficinas de Reparação de · PDF file69 IESUS Entre os agravos à saúde mais citados pelos trabalhadores dessas empresas, encontram-se as doenças de pele,

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    Condies de Trabalho em Oficinas de ReparaoCondies de Trabalho em Oficinas de Reparaode Veculos Automotores de Botucatu (So Paulo):de Veculos Automotores de Botucatu (So Paulo):

    Nota PrviaNota Prvia

    ResumoEste estudo avalia qualitativamente as exposies ocupacionais a rudo e a substnciasqumicas, condies de movimentao de cargas e o cumprimento de algumas normasregulamentadoras, em 1997. Identificaram-se 68 empresas (catlogo telefnico e outrasindicaes), coletando-se informaes atravs de observao e aplicao de questionrio.Treze empresas no estavam inscritas no Cadastro Geral de Contribuintes nem na PrefeituraMunicipal. O efetivo total encontrado foi de 418 trabalhadores, 13 com idades entre 15 e17 anos. Rudo: moderado em 41% das empresas e intenso em 16%. Movimentao manualde cargas: moderada em 35% das empresas e intensa em 15%. Normas Regulamentadoras:Comisso Interna de Preveno de Acidentes (CIPA) - existente em uma das quatro empresasque deveriam possu-la; Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional (PCMSO) ePrograma de Preveno de Riscos Ambientais (PPRA) - realizados numa nica empresa;condies sanitrias e de conforto precrias em 78% das empresas; 96% das empresaspossuam pelo menos um tipo de equipamento de proteo (EPI). Uso de produtos qumicos:relacionados 26 diferentes produtos majoritariamente utilizados em funilaria e pintura;hbito de limpeza de peas com gasolina, thinners e querosene; higiene corporal precriaem 75% das empresas (mos, braos e vesturio sujos de leo e ou graxa). Tais resultadosrevelam necessidade de desenvolvimento de estratgias de interveno/preveno paraesse grupo de micro e pequenas empresas.Palavras-ChaveSade Ocupacional; Acidentes do Trabalho; Veculos Automotores.SummaryThis study qualitatively evaluates occupational exposure to noise and chemicals, heavy loadhandling conditions, and observance of work regulations. Sixty-eight shops were identifiedfrom the telephone directory and other sources. Information was collected by observation andby questionnaire. Thirteen shops were not registered. Of a total of 418 workers, 13 had agesbetween 15 and 17 years. Noise: moderate in 41% and marked in 16% of the locations. Heavyload handling conditions were moderate in 35% and marked in 15% of the shops evaluated.Work regulations: The Accident Prevention Committee (CIPA) was established in one of thefour shops requiring them; Medical Control and Occupational Health Programs was organizedin only one location. Conditions of sanitation and comfort were unsuitable in 78% of the shops;96% of the locations had at least one type of personal protection. Use of chemical products: 26products were used in automotive bodywork and painting; routine cleaning of parts withgasoline, thinners and kerosene in all shops; workers hygiene was unsuitable in 75% of thelocations (hands, arms and clothes were oily and greasy). These results indicate the need forthe development of intervention/prevention strategies for these small businesses.Key WordsOccupational Health; Work Accidents; Motor Vehicles.

    Endereo para correspondncia: Departamento de Sade Pblica - Faculdade de Medicina de Botucatu -Universidade Estadual Paulista (UNESP). Rubio Jnior Botucatu/SP. CEP: 18.608-970. Tel./Fax.: (14) 6822-3372.e-mail: [email protected]

    Work ing Cond i t ions in the Automob i le Repa ir Shops inWork ing Cond i t ions in the Automob i le Repa ir Shops inBotucatu , So Paulo, Braz il : Prel im inary ReportBotucatu , So Paulo, Braz il : Prel im inary Report

    Maria Ceclia Pereira BinderMaria Ceclia Pereira BinderDepartamento de Sade Pblica / Faculdade de Medicina de Botucatu/UNESP

    Informe Epidemiolgico do SUS 2001; 10(2) : 67-79.

    Renate WernickRenate WernickDepartamento de Medicina Preventiva / Faculdade de Medicina / UFBA

    Eduardo Rommel PenalozaEduardo Rommel PenalozaPs-Graduao em Sade Coletiva / Departamento de Sade Coletiva / Faculdade de Medicina de Botucatu / UNESP

    Ildeberto Muniz de AlmeidaIldeberto Muniz de AlmeidaDepartamento de Sade Pblica / Faculdade de Medicina de Botucatu/UNESP

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    Int roduoIntroduoImportantes do ponto de vista de

    gerao de emprego e ocupao de mo-de-obra, no Brasil, as micro e pequenasempresas raramente tm sido investigadasquanto s condies de sade e seguranade seus trabalhadores. Inexistncia decadastros atualizados, disperso ter-ritorial e grande sensibilidade s variaesdo mercado fazem com que, anualmente,muitas sejam fechadas, dificultando odesenvolvimento de programas de sadee segurana do trabalho voltados a essasempresas.

    Na maioria das pequenas empresas,o proprietrio figura chave, devendoassumir inclusive as responsabilidadespela sade e segurana - sua e de seusempregados.1,2 Por essa razo, seusconhecimentos a respeito dos riscosassociados ao tipo de atividade so deimportncia fundamental para adoo demedidas capazes de neutraliz-los.

    Oficinas de reparao de veculosautomotores constituem ramo de ativi-dade caracterizado por organizar-se sobforma de numerosas pequenas empresas.Na Frana, em 1989, das 64 mil empresasdesse tipo, 80% possuam at cincotrabalhadores, empregando um total de300 mil pessoas.3 Embora constituaatividade cujos trabalhadores so ex-postos a numerosos agentes agressores sade, trata-se de ramo ainda muitopouco estudado. A escassez de publica-es provavelmente relaciona-se difi-culdade de acesso a essas empresas,como acontece com micro e pequenasempresas de uma maneira geral.

    As estatsticas oficiais francesasrevelam que a incidncia de acidentes dotrabalho nas empresas de reparao deveculos automotores mais elevada doque a mdia nacional, o que indica ne-cessidade de desenvolvimento de es-tratgias de preveno que levem emconta as especificidades dessas em-presas. 3 Na Inglaterra, estimativasrecentes revelam registro de mais 3.000acidentes por ano em oficinas de reparosde veculos. A relao de riscos deacidentes nesse ramo de atividade

    extensa,3-5 incluindo desde cortes comferramentas at acidentes de trnsitodurante teste de veculos, bem comoquedas relacionadas a condies de pisos,acidentes com mquinas manuaismotorizadas, queda de materiais sobre ocorpo, acidentes com equipamentos paraelevao de veculos, queimaduras porcontacto com superfcies aquecidas oupor incndios ou exploses associadosao manuseio de gasolina, ferimentoscausados por ar ou gua sob presso,leses oculares por corpo estranho,eletrocusso, dentre outros.

    Em relao aos agentes fsicos, orudo constitui a exposio mais fre-qente, com efeitos indesejveis, tantoauditivos, estreitamente relacionados dose-equivalente, como extra-auditivos,menos influenciados pela dose. Emalgumas circunstncias, os nveis de rudopodem atingir valores em torno de 110dB(A), cabendo lembrar que, na depen-dncia do tempo de exposio diria, nveisacima de 85 dB(A) podem implicar dosepotencialmente capaz de les iona r oaparelho auditivo. Alm do rudo, cabe citaras exposies a vibraes por manuseiode ferramentas manuais motorizadas e aradiaes ultravioleta e infravermelha emoperaes de corte e solda.3-5

    Tambm constituem importanterisco de intoxicao crnica, as ex-posies a substncias qumicas 3-6

    provenientes de emisses da combustoincompleta de gasolina e de leo diesel.Segundo a Internacional Agency forResearch on Cncer (IARC),6 a emissode motores a diesel provavelmentecarcinognica para seres humanos, sendoclassificada no grupo 2A e, como pos-sivelmente carcinognica, a de motoresa gasolina, classificada no grupo 2B.Cabe destacar ainda as emisses demonxido de carbono, dixido de en-xofre, xidos de nitrognio e hidro-carbonetos policclicos aromticos.Segundo a IARC,6 a combusto incom-pleta, tanto do diesel, como da gasolina,gera exposies a milhares de subs-tncias qumicas sob a forma gasosa eparticulada.

    Informe Epidemiolgicodo SUS

    Condies de Trabalho em Oficinas

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    Entre os agravos sade mais citadospelos trabalhadores dessas empresas,encontram-se as doenas de pele, asreaes alrgicas, a irritao ocular e osproblemas respiratrios; alm de asmaocupacional e neoplasia.

    Nos Estados Unidos, constatou-se apresena de isocianatos em endurecedoresusados em tintas para veculos e aexistncia de risco de ocorrncia de asmaocupacional, 7 tendo sido propostametodologia 8 para controle de riscosdecorrentes de exposies a produtosqumicos em oficinas de pintura deveculos. No Reino Unido, a exposio atintas contendo isocianatos apontadacomo uma das mais importantes causasde asma ocupacional.9 Leses msculo-esquelticas relacionadas a esforosfsicos e posies incmodas de trabalhoconstituem outro importante grupo dedoenas.3,4 Devido gravidade potencialdas exposies a substncias qumicas,recomenda-se que a ventilao nas oficinasrenove pelo menos 60 m3 de ar/hora/trabalhador.3 Medidas visando prevenir aocorrncia de acidentes do trabalho esurdez ocupacional tambm so reco-mendadas.3,4

    Os objetivos deste estudo foram:a) cadastrar micro e pequenas empresas

    reparadoras de veculos do municpiode Botucatu - So Paulo;

    b) identificar e caracterizar qualita-tivamente exposies ocupacionais deseus trabalhadores, particularmenteas relacionadas ao rudo, substnciasqumicas, movimentao manual decargas;

    c) averiguar os conhecimentos e ocumprimento de exigncias legais10

    quanto existncia de ComissoInterna de Preveno de Acidentes(CIPA