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    UMA PEQUENA DIGRESSO SOBRE CONFORTO AMBIENTAL

    E QUALIDADE DE VIDA NOS CENTROS URBANOS1

    Paulo Afonso Rheingantz

    Figura 1: Vista Area da Enseada de Botafogo

    Resumo.

    Neste artigo, procuro relacionar a questo do conforto ambiental e da qualidade de vida nos grandes cen-tros com a crise do paradigma da racionalidade cientfica, que acentua a viso mecnica e inorgnica dacincia, da tecnologia e dos mtodos de produo industriais. A reduo da Terra a uma matria inerte aser explorada e manipulada banaliza a concepo do ambiente construdo, resumido a dados geolgicos etcnicos necessrios para o planejamento e a instalao dos sistemas urbanos, resultando na produo deuma cidade onde o apelo aos dados sensveis fica descartado em benefcio de novas configuraes opera-cionais. Tambm procuro questionar a prtica que substitui os limites naturais do habitvel pelos limitestcnicos, econmicos e polticos, cujas formas ajustadas s novas tecnologias, tornam as cidades impesso-ais, desumanas, frias, e os edifcios cada vez mais dependentes dos aparelhos e da energia que os alimen-ta; a funo do espao se limita simples distribuio ordenada dos indivduos e dos servios. Inspiradono pensamento de Boaventura Santos, Fritjof Capra, Ilya Prigogine e Maturana & Varela, entre outros,proponho uma abordagem que reconhea a incerteza do conhecimento, que atente para as pessoas e queconsidere cada aspecto do ambiente construdo um organismo social complexo completo de informaesa seu prprio respeito, ao mesmo tempo em que tambm parte de um sistema ou de um todo mais a-brangente. Uma abordagem que busque um novo significado ao conjunto de pensamentos, percepes evalores, de modo a configurar uma conscinciamais preocupada com as coisas vivas e suas paixes doque com a racionalidade, o argumento afasta-se daqueles usualmente utilizados ao discutir conforto ambi-ental, qualidade de vida e centros urbanos. Para demonstrar a necessidade de reconhecer a interferncia

    do observador-sujeito em sua relao com o ambiente construdo, compartilho uma leitura do ambiente daPraia de Botafogo, que integre as quatro diferentes vises pessoais: do cidado, do morador, do arquiteto,e do pesquisador.

    Homem e Ambiente.

    Escrever sobre conforto ambiental e qualidade de vida nos centros urbanos nestes tempos do capital semptria, do dinheiro sem tica, das aplicaes sem fronteiras, da poltica de resultados, onde at o altrusmose torna pragmtico, e a ganncia de uma minoria privilegiada impede que grandes contingentes de sereshumanos vivam com um mnimo de dignidade, um desafio instigante. Especialmente se considerarmosque o homem o nico mamfero que no possui um ambiente especfico para sua espcie, estruturado

    1Publicado em Cidade & Ambiente. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Vol.1 n.22 (jan/jun 2001), p.35-58.Arquiteto, Doutor, professor adjunto do PROARQ - Programa de Ps-Graduao em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura eUrbanismo, Universidade do Brasil (UFRJ).

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    pela organizao de seus prprios instintos. Desde os primrdios da civilizao ele reorganiza o ecossis-tema natural; mediante uma interveno consciente, "mede", "controla" e usa o espao e o tempo, estabe-

    lecendo valores s dimenses que percebe segundo padres culturais determinados pelo seu grupo sociale obedecendo a trs exigncias bsicas: disponibilidade de alimentos, exigncias de segurana diante dapossvel agresso de outros indivduos ou de foras da natureza, e exigncias fsicas e qumicas que pos-sibilitam sua sobrevivncia atravs da adaptao da sua constituio orgnica ao meio envolvente.

    Em sua busca por um hbitat mais confortvel e seguro, o homem procurou modific-lo para atender ssuas necessidades fisiolgicas e s diversas realidades geogrficas e culturais. A um s tempo, adaptou oambiente s suas necessidades e adaptou-se ao ambiente segundo quatro diferentes instncias ou nveis deabrangncia: o ambiente humano, o ambiente externo, oabrigo e oconforto ambiental.

    Ambiente Humano

    O ambiente humano determinado pela fisiologia dos sentidos ambiente trmico, ambiente visual, am-biente auditivo, ambiente olfativo, ambiente tctil, ambiente higinico e ambiente psquico. Os rgos

    dos sentidosadaptam o organismo contnua variao do meio ambiente e funcionam como transforma-dorescapazes de converter os diversos estmulos em impulsos nervosos. Para cada um desses tipos deexcitao existem rgos especializados na recepo e transmisso das informaes. O olho capta estmu-los eletromagnticos; o paladar e o olfato, estmulos qumicos; o ouvido, vibraes mecnicas que se pro-pagam no interior da matria sob a forma de ondas longitudinais ligadas compresso-descompresso. Omesmo princpio se aplica aos outros tipos de mecanismos sensoriais que controlam a postura, os movi-mentos e o prprio equilbrio do corpo a partir do registro de deformaes de tipo mecnico, capazes deafetar a superfcie corprea e os tecidos profundos. Mesmo as sensaes provenientes de rgos, mscu-los ou ligamentos so registradas por receptores, que mantm o crebro constantemente informado a res-peito dos movimentos realizados pelos membros permitindo-lhe sempre saber a posio do corpo no es-pao.

    Mas a percepo atravs dos rgos sensoriais pode ser modificada por influncias centrais estmulosprovocados pela experincia sensorial , que impedem definir osensvelcomo o efeito imediato de umestmulo exterior, ou de sujeitar a percepo a uma lei de constnciaou definio objetiva. Esta condi-o levou MERLEAU-PONTY a afirmar que a percepo no uma sensao pura, pois versa sobre re-laese no sobre termos absolutos. Assim, ao acreditar que sabe o que ver, ouvir, sentir a reali-dade percebida, o homem incorre em um experience error.

    Alm dos rgos sensoriais, fatores de natureza cultural influenciam a forma como o homem percebe e serelaciona com o ambiente, especialmente as crenas religiosas, as normas e condutas higinicas condu-tas individuais, hbitos familiares e grupais (inclusive alimentares), e oficiais , a geografia, a economia eo nvel educacional de cada povo. O convvio dirio com a misria, com a violncia, com a promiscuida-de, com a falta de privacidade e com o desconfortodo ambiente construdo, por sua vez, contribui para odesenvolvimento de outra peculiaridade dos sentidos humanos: aseletividade da percepo, que tende aisolar os indivduos em um novo tipo de abrigo ou ambiente psquico.

    O reconhecimento da influncia de determinados fatores culturais e da existncia de um ambiente psqui-co torna a relao homem-ambiente particularmente complexa, especialmente quando associada aos efei-tos causados pelos novos meios e tecnologias de comunicao telefone, televiso, fax e, especialmente,o computador que, ao possibilitarem a realizao de um grande nmero de atividades distncia, trans-formam as relaes homem-homem e homem-ambiente.

    Ambiente Externo

    O ambiente externo determinado pela geografia em suas diferentes escalas de abrangncia e seu estudo deve considerar os seguintes aspectos: nenhum ser vivo vive isolado; cada indivduo se relaciona conti-nuamente com os outros seres vivos e com a terra, o ar e a gua de seu ambiente fsico; o estudo do ambi-ente externo envolve, basicamente, o estudo fsico de um certo lugar geogrfico e de seu clima ou conjun-to de condies meteorolgicas caractersticas do estado mdio da atmosfera. O conhecimento da geogra-fia e dos princpios que regem cada um de seus componentes fundamental para previso e controle dos

    efeitos da interveno do homem no ambiente.

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    Abrigo

    medida que aumenta o conhecimento cientfico diminui o grau de humanizao do nossomundo,... o homem sente-se isolado no cosmos porque, j no estando envolvido com a natureza,perdeu a sua identificao emocional inconsciente com os fenmenos naturais. E os fenmenosnaturais, por sua vez, perderam aos poucos as suas implicaes simblicas.

    CARL JUNG

    A resposta ao clima se realiza atravs das extensesdesenvolvidas pelo homem (roupa, edifcio e hbitat)para permitir sua adaptao s diferentes condies geogrficas e culturais, capazes de satisfazer suasnecessidades materiais, espirituais, estticas e econmicas.

    At a Revoluo Industrial, a atividade do homem e no apenas sua atividade estritamente produtiva desenvolveu-se ao ar livre. Por esta razo, o ambiente externo foi historicamente identificado com a ativi-dade fsica. Em sua ao cultural, o homem transforma o espao exterior onde desenvolve suas atividades

    e produz um ambiente dotado dos elementos bsicos de um abrigoexterior, com todos os condicionantesde um recinto climtico artificial: reas drenadas de solo; reas de vegetao bem regadas, arborizadase/ou sombreadas, destinadas proteo do sol excessivo, reas cobertas para proteger-se da chuva; e pa-redes, que podem ser as mesmas do abrigo interior, para proteger-se do vento excessivo. O abrigointeri-or, por sua vez, estava relacionado com o repouso e com a proteo contra os perigos naturais ou sobrena-turais que provm do exterior.

    O surgimento simultneo do capitalismo, da industrializao e da urbanizao modifica a dimenso cultu-ral do ambiente. As prticas higienistas e o desenvolvimento dos sistemas de saneamento e de transporte,dos sistemas e dos equipamentos da habitao interferem na configurao do abrigoproduzindo trs con-seqncias importantes: os limites naturais do habitvel so substitudos pelos limites tcnicos, econmi-cos e polticos; o desenho do espao urbano passa a operar sobre informaes baseadas nos dados topo-grficos e geolgicos, necessrios para o planejamento e a instalao dos sistemas urbanos; reduzida a

    dados geolgicos e tcnicos, a densidade histrica da cidade dissolve-se em benefcio de uma concepobanalizada do urbano: o apelo aos dados sensveis fica descartado em benefcio de novas configuraesoperacionais. (BEGUIN 1991)

    O novo hbitathumano se desenvolve fora das normas e modelos tradicionais e, freqentemente, contraeles subvertendo a economia e o saber anteriores. O espao passa debem de uso, para bem de troca,tendo trs funes positivas (BEGUIN 1991): funo distributiva distribuio ordenada dos indivduose dos servios , funo prtica o espao e os equipamentos arquitetnicos devem facilitar a vida daspessoas (e a sua higiene) , funo climtica o habitat edificado deve permitir a captao e circulaoda luz e do ar, e as diversas canalizaes devem ser incorporadas sua estrutura.

    A funo climtica do abrigo se dilui com os ajustes das formas arquitetnicas s novas mquinas . A c-lula torna-se cada vez mais dependente dos aparelhos, ao mesmo tempo em que a cidade se torna cada vezmais impessoal, desumana e fria. A qualidade do abrigo independe cada vez mais das relaes entre cultu-

    ra e geografia e as condies de conforto passam a ser garantidas por meio da tecnologia a ponto delevar o homem a colocar-se na posio de criar a totalidade do mundo em que vive. At mesmo a ativi-dade produtiva, antes identificada com o ambiente exterior, passa a ser identificada com um ambienteconstrudo fechado mais ou menos adequado, a fbrica. A atividade domstica, por sua vez, passa a seridentificada pelo alojamento desprovido de rea externa exceto pelas sacadas, terraos ou outros espa-os exteriores simblicos.

    Apenas a agricultura e as atividades improdutivas que exigem disperso trmica atividades esportivas e a circulao so realizadas no espao exterior. O homem entra em uma espcie de transe tecnolgi-co e produz na cidade tradicional uma violenta ruptura com relao ao conhecimento emprico consolida-do ao longo dos sculos por sucessivas depuraes atravs da ao solidria e continuada dos seus habi-tantes.

    medida que a cincia e a tecnologia propiciam os maiores avanos do conhecimento, seja pela imposi-

    o de uma pessoa, grupo social (ou profissional) ou do Estado que os represente, o homem afasta-se de

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    suas tradies culturais e produz um abrigo despersonalizado, desconfortvel, mas civilizado. Com suassuperfcies envidraadas e desprovidas de janelas mveis, climatizados artificialmente, os novos edifcios

    eliminam de uma s vez a ao do tecido esponjoso tradicional e o controle inteligente exercido pelohomem atravs das janelas e outros dispositivos de controle da penetrao do sol, das precipitaes ou dovento.

    Conforto Ambiental

    Embora o conforto ambiental tenha se estruturado enquanto disciplina somente aps a Segunda GuerraMundial, seus princpios surgiram na Pr-Histria, quando o homem descobriu que, nas estaes frias, eraconveniente habitar em cavernas com a abertura orientada na direo dos raios solares. Enquanto a dispo-nibilidade de energia era restrita, otimizou o seu uso maximizando a aplicao dos recursos disponveis eproduziu uma arquitetura em perfeita harmonia com o clima e com os valores culturais.

    O desenvolvimento tecnolgico e cientfico experimentado a partir da II Guerra Mundial leva o homem aacreditar que poderia assumir o "controle" do planeta, e construir ambientes climatizados, de modo a evi-

    denciar sua vitria sobre a natureza. Os novos edifcios passam a ser tratados como objetos dentro dosquais se deve criar, artificialmente, uma temperatura agradvel e predomina a concepo projetual cen-trada no edifcio enquanto objeto esttico desprovido de contexto histrico, que prioriza os esquemasgrficos determinados pelozoneamento de usose pelafuno.Esta prtica produz uma economia de esca-la que

    agradou a construtores e incorporadores e as necessidades individuais dos usurios e a manuteno posteri-or da obra foram suplantadas por valores como custo de construo, aspectos estticos vanguardistas, etc.(FERNANDEZ s/d: 4)

    O surgimento de movimentos alternativos dos anos 60, os choques do petrleo das dcadas de 70 e 80,e a crescente ameaa da poluio evidenciam a fragilidade do modelo at ento adotado, tornando impera-tivo o estabelecimento de uma nova ordem na economia mundial. neste contexto que o conforto ambi-ental surge como um novo e promissor campo de estudos com o objetivo de estudar a vinculao entre

    arquitetura e clima, motivado pela necessidade de controlar o desperdcio de energia provocado pela ar-quitetura globalizada e seus monumentos de irracionalidade. Ao priorizarem a conservao de energiaea arquitetura bioclimtica2, os programas de consolidao econmica dos pases industrializados produ-zem significativas mudanas na relao do crescimento do PIB versus crescimento de demanda de energi-a, e no desenvolvimento de novas tecnologias destinadas a consumir menos energia.

    Apesar dos inegveis avanos propiciados pelo conforto ambiental e sua compreenso compartimenta-da3, sua aplicao na produo de um ambiente construdo mais favorvel vida dos homens tm deixa-do muito a desejar: quase dois teros da populao mundial sobrevivem em condies de misria absolu-ta, epidemias assolam as grandes cidades do terceiro mundo e proliferam os guetos que armazenam aspessoas em condies prximas do esgoto comportamental.4Em que pese o reconhecimento do confortopsicolgico e dos condicionantes culturais, a tradio da pesquisa concentrou-se na fsica do conforto, emseus aspectos objetivos ou quantificveis. Se, por um lado, o uso correto das condies fsicas de con-forto e dos recursos naturais torna possvel a concepo de edifcios adaptados a seu prprio clima, poroutro, se desconsidera as implicaes emocionais, inconscientes e simblicas que conferem o valoronri-codos lugares (ou de suas imagens). Em outras palavras, o pensamento racionalista predominante na dis-ciplina conforto ambientalesqueceu-se de considerar que o homem no costuma dizer o quesente, mascomosente.

    2Como a arquitetura comum desvinculava qualquer relao entre a sua envolvente e o meio ambiente, foi necessrio inventarum novo rtulo para identificar a arquitetura que, atravs de dispositivos puramente arquitetnicos, procura proporcionarconforto aos seus habitantes utilizando o mnimo de energia.3Expressa atravs de suas diversas (e, na maior parte das vezes, estanques) vertentes: conforto higrotrmico, conforto acstico,conforto lumnico, conforto ttil, qualidade do ar, etc.4 Cf. Edward HALL (1977), distores de comportamento produzidas pela superpopulao, insalubridade e desordem, querefletem-se na exploso da agressividade e no estresse.

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    Bem-estar: Relao do Homem com o Ambiente

    O homem e seu meio ambiente participem da formao um do outro.Edward HALL

    Em sua relao com o ambiente o homem desenvolve seus sentidos, transforma o seu entorno natural econfere uma dimenso cultural ao seu hbitat. Enquanto sua dimenso sensorial evolui, sua termofisiolo-gia , basicamente, a mesma de seus ancestrais. Apesar de seu comportamento termofisiolgico ser bas-tante conhecido, o homem continua incapaz de controlar os seus humores e emoes, ou de tornar-seconsciente de inmeras maneiras secretas pelas quais os fatores inconscientes se insinuam nos seus proje-tos e decises (JUNG s/d: 83). Em sua concepo racionalista, o homem protege-se desta ciso do seuser atravs de uma psicologia dos compartimentos, que separa e conserva em gavetas incomunicveiscertos aspectos de sua vida exterior, do seu conhecimento e do seu comportamento.

    A chave para a superao da atual dissociao entre o estudo dos aspectos vinculados ao bem-estar huma-no, expresso atravs do carter de cada lugar e das formas como os homens se relacionam com o ambien-te, do entendimento clssico do conforto ambiental, est relacionada ao reconhecimento da diferencia-o estrutural entre percepo e conhecimento abstrato:

    na teoria fenomenolgica do conhecimento, a percepo considerada originria e parte principal do co-nhecimento humano, mas com uma estrutura diferente da do pensamento abstrato, que opera com idias.Qual a diferena? A percepo sempre se realiza por perfis ou perspectivas, isto , nunca podemos perceberde uma s vez um objeto, pois somente percebemos algumas de suas faces de cada vez; no pensamento, nos-so intelecto compreende uma idia de uma vez s e por inteiro, isto , captamos a totalidade do sentido deuma idia de uma s vez, sem precisar examinar cada uma de suas faces. (CHAU 1994: 124)

    Enquanto o enfoque clssico focaliza o ambiente construdo como objeto abstrato, o enfoque fenome-nolgico focaliza a relaoou a interaoentre o homem e o ambiente construdo. Em outras palavras, omundo percebido qualitativamente, valorativamente e afetivamente, e a percepo pode ser consideradauma forma de comunicao com outros indivduos ou com as coisas diretamente relacionado com o modocomo sentimos o exterior e o interior do mundo, das coisas e de nosso prprio corpo. (CHAU 1994)

    Por ser uma forma de percepo o homem no pensao conforto, mas senteo conforto o conforto uma relao complexa que envolve os significados e os valores das coisas percebidas atribudos numcampo de significaes visuais, tcteis, olfativas, gustativas, sonoras, motrizes, espaciais, temporais elingsticas (CHAU 1994: 123). Por conseguinte, deve ser entendido como relativo,particular, constru-do a partir de relaes.

    A Crise do Paradigma Dominante

    A cincia moderna ... no soube o que fazer com a complexidade. A estratgia foi reduzir ocomplexo ao simples.

    LEONARDO BOFF

    Para se superar as limitaes do pensamento clssico do conforto e da arquitetura, necessrio reco-nhecer a crise do paradigma mecanicista, ainda hoje dominante. O modelo mecanicista acredita na exis-tncia de somente duas formas de conhecimento cientfico as disciplinas formais da lgica e da matem-tica e as cincias naturais, empricas e na possibilidade de aplicar os princpios epistemolgicos e meto-dolgicos do estudo da natureza ao estudo da sociedade. Com base no pressuposto de que as cinciasnaturais so uma aplicao ou concretizao de um nico modelo de conhecimento universalmente vli-do, desconsidera as diferenas existentes entre os fenmenos naturais e os sociais e as dificuldades paracompatibilizar as cincias sociais com os critrios de cientificidade das cincias naturais. Isto acontecepor quatro razes (SANTOS 1995): a inexistncia de teorias explicativas que permitissem s cinciassociais formularem abstraes passveis de serem metodologicamente controladas e adequadamente com-provadas no mundo real; a impossibilidade de estabelecer previses confiveis em funo da variabilida-

    de do comportamento humano; a dificuldade de captar a subjetividade dos fenmenos sociais pela tica

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    da objetividade do comportamento; e a impossibilidade do cientista social se libertar dos valores que in-formam sua prpria prtica.

    Assim, se estabelece uma fronteira entre o estudo do ser humano e o estudo da natureza, que favorece osurgimento de uma crise ou revoluo cientfica em direo a um novo paradigma cientfico que pro-duz transformaes revolucionrias na evoluo cientfica. Alguns pensadores relacionam esta impressode crise com a inadequao dosistema de crenas e da viso de mundo do paradigma da racionalidadecientfica, da viso mecnica e inorgnica da cincia, que levou a uma especializao e a uma fragmenta-o progressiva do conhecimento. Crenas que consideram a vida em sociedade como uma luta competi-tiva pela existncia, que preconizam o progresso material ilimitado a ser obtido por intermdio de cresci-mento econmico, acentuando a nfase na tecnologia e nos mtodos de produo industriais. Contrarian-do esta tendncia, eles acreditam que a viso de mundo da racionalidade cientfica seja inadequada paralidar com um mundo superpovoado e globalmente interligado, e que o homem precisa deixar de encarar aTerra e o ambiente construdo como um mundo morto e fragmentado a ser explorado e manipulado.

    Boaventura SANTOS (1995) associa a crise profunda e irreversvel do modelo da racionalidade cientfica

    da cincia moderna a quatro condies tericas: inicia quando EINSTEIN demonstra as limitaes damecnica de NEWTON e da crena numa simultaneidade universal onde o tempo e o espao so absolu-tos; prossegue quando HEISENBERG e BOHR demonstram a impossibilidade de evitar a interferncia doobservador em qualquer observao ou medio e que no conhecemos do real seno a nossa interven-o nele (HEISENBERG); a seguir, GDEL questiona o prprio rigor da matemtica, que tambm seassenta num critrio de subjetividade; e culmina com Ilya PRIGOGINE: os organismos so sistemas quese auto-organizam a partir de uma ordem estabelecida no interior dos prprios sistemas. Ironicamente, oavano do conhecimento cientfico evidenciou a fragilidade das fundaes do edifcio da cincia queele prprio ajudou a construir. Crtico da cincia moderna que faz do cientista um ignorante especializa-do e do cidado comum um ignorante generalizado e do conhecimento cientfico moderno, desencanta-do e triste que transforma a natureza num autmato, SANTOS (1995) sugere ser a incerteza do conheci-mento a chave para o entendimento de um mundo a ser contemplado, atravs de uma configurao multi-dimensional de estilos onde nenhuma forma de conhecimento , em si mesma, racional. S a configurao

    de todas elas racional.Ao considerar que os problemas de nossa poca so problemassistmicos, interligados e interdependen-tes, que no podem ser entendidos isoladamente, CAPRA (1997) formula sua proposta de ParadigmaSocial: uma constelao de concepes, de valores, de percepes e de prticas compartilhadas por umacomunidade, que d forma a uma viso particular da realidade, e que serve de base para a forma de or-ganizao desta comunidade. Ao introduzir a concepo de comunidade e rede ao pensamento sist-mico, e substituir o termosistmicoporsocial,expande o conceito desociedade sustentvel.

    Crtico do paradigma da racionalidade e da ambivalncia da cincia elucidativa, enriquecedora, conquis-tadora e triunfante MORIN (1996) prope a cincia da complexidade: uma fraqueza do pensamento,uma busca de resposta incapacidade de explicar, uma palavra-pergunta. Contra a separao e compar-timentao dos conhecimentos procura um saber integrado no contexto e no conjunto global de que fazparte, tecido em conjunto e rene os saberes separados (MORIN 1998).

    PRIGOGINE e STENGERS (1992) sugerem uma nova aliana do homem com a natureza que ele des-creve, que busque compartilhar uma viso dacincia em lugar de uma viso decincia que, a exemplo daarte e da filosofia, se transforme em uma experimentao criadora de questes e de significaes.

    MATURANA e VARELA (1995) consideram a cognio parte integrante do processo de interao de umorganismo vivo com seu meio ambiente: a cognio uma atividade contnua de criar um mundo pormeio do processo de viver: viver conhecer [e inclui a percepo, a emoo e o comportamento].

    Outras contribuies importantes para a abordagem proposta neste trabalho, especialmente pelos seusdesdobramentos para a anlise do ambiente construdo enquanto organizao social complexa, foram: aAbordagemBootstrapde Geoffrey CHEW, a Totalidade e a Ordem Implicada de David BOHM, e aTeoria de Gaia de James LOVELOCK e Lynn MARGULIS.

    Ao reconhecer a contemplaodo Planeta Terra como uma organizao social auto-sustentvel e em per-

    manente mudana estes autores confirmam CAPRA (1996): a humanidade, que nunca viveu perodo to

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    rico e criativo, caracterizado pela ruptura das fronteiras do conhecimento, que muda em um movimentode velocidade acelerada, vive uma crise de percepo que a impede de enxergar que o universo do qual

    somos parte est em evoluo.O Carter Autobiogrfico e Auto-referencivel da Cincia

    O homem enche de cultura os espaos geogrficos e histricos.

    PAULO FREIRE

    A possibilidade de transformar o observadoremsujeitodo conhecimento uma atividade contnua, fasci-nante e complexa. Contnua porque cria ummundo no prprio processo de viver. Fascinante por introdu-zir o EU na aventura do conhecimento. Complexa, porque obriga o observador-sujeito a compartilharuma experimentao criadora de questes e de significaes; e, em conseqncia disto, a retratar,ou seja,comunicar, em linguagem escrita, uma experincia vivade dilogo com o leitor que desperte sua sensibi-lidade, sua percepo, sua emoo, estimulando-o a colorir, sonorizar, saborear, cheirar, dialo-

    gar, interagir com o texto-autor.Para demonstrar a necessidade de reconhecer a interferncia do observador-sujeito em sua relao com oambiente construdo, e de fornecer indcios da minha viso de mundo, a seguir procurarei compartilharuma leitura da Praia de Botafogo que integre as vises de cidado, morador, arquiteto e pesquisador. Aescolha do stio deveu-se a diferentes fatores:

    Minha condio de morador me transforma em parte integrante de sua organizao social local da qualsou parte. A vista da enseada atravs da janela de meu apartamento (Fig.2) e as caminhadas dirias naavenida Beira-mar ou na Praia de Botafogo contriburam para uma experincia criadora de questes esignificaes que condicionam o modo como percebo e me relaciono com o stio. Em outras palavras,possuo uma identidade comum ou cidadania sistmicacom a Praia de Botafogo.

    Figura 2 Vista da Enseada de Botafogo

    Sua paisagem natural contm os principais elementos caractersticos da cidade do Rio de Janeiro, taiscomo a presena do mar, da montanha e da praia; de baixios alagadios [hoje aterrados] e vegetao [res-qucios da Mata Atlntica]. Ou seja, a identidade prpria da Praia de Botafogo contm uma identidadecomum ou cidadania sistmica com a cidade do Rio de Janeiro.

    A interveno humana na paisagem contm diversas caractersticas do processo de urbanizao do Rio deJaneiro: praia e ar poludos, morro devastado/modificado por tneis, viadutos e cortes; aterro de lagoas,reas alagadias e praia; freqncia de engarrafamentos e de alagamentos; seu cenrio marcado pela

    variedade de edifcios que destoam entre si por sua variedade de cores, volumetria, gabarito, partido deimplantao, por sua aparncia inusitada (Fig. 3) ou pelo seu uso.

    Figura 3 Centro Empresarial Mourisco

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    A diversidade de usos ali convivem habitaes de luxo, de classe mdia e populares; shopping-center,edifcios de escritrios, bancos, hospital, cinemas, igreja, bares e restaurantes, escolas, universidade, par-

    ques, alm da proximidade com favela e de grupos humanos que habitam ou freqentam o local con-vvio do luxo com o lixo [moradores de rua e de alguns edifcios pouco recomendveis]; presenade idosos e de crianas; ocorrncia de assaltos e de roubos de automveis tambm se identificam com ada Cidade do Rio de Janeiro.

    Seu poder de atrao, evidenciado pela presena de alguns dos mais modernos edifcios de escritriosabrigando importantes organizaes, tais como Fundao Getlio Vargas, Intelig, Coca-Cola, Telemar,Telefnica, Intelig, IBM.

    Os quatro primeiros fatores esto relacionados com um olhar profissionalinteressado em compreender asconseqncias materiais da interveno humana no ambiente. Os dois ltimos fatores esto relacionadoscom a possibilidade de aproveitar a experincia acumulada nas observaes participantes desenvolvidasdesde 1995, para contemplaros valores e os significados da interao entre os diversos grupos envolvidoscom a produo, o consumo e o uso do ambiente construdo.

    O processo de ocupao da Praia de Botafogo e o acmulo de objetos singulares produzidos para atenderaos interesses de seus proprietrios e projetistas, refletem o descaso com a paisagem natural e eviden-ciam o modo como a lgica implacvel e abstrata do paradigma da racionalidade promove a destrui-o da beleza da paisagem e do meio ambiente.

    Este processo pode ser observado atravs do confronto entre a situao atual e o relato da alem Ina vonBINZEN (1882):

    Botafogo adorvel com suas vivendas dispostas como uma grinalda em tomo da praia de mesmo nome,seus jardins dominados ao fundo pelo imponente Corcovado e na frente pelo curioso Po de Acar, dentroda enseada. A magnificncia das flores neste bairro, onde s mora gente rica e distinta, fascinantementeadmirvel! As mais viosas trepadeiras, de um verde intenso, cobrem os muros mostrando grandes e deslum-brantes flores vermelho-escuras, roxas, amarelas, brancas... (BINZEN 1994: 75);

    ou atravs do confronto entre imagens colhidas no incio do sculo XIX (Fig. 4) e a situao de atual,desfigurada por um processo de ocupao que despreza o contexto e a geografia do stio (Fig. 5).

    Figura 4 Paisagem Natural da Enseada de Botafogo Figura 5 Vista Atual da Enseada de Botafogo

    Fonte: Rugendas (1824)

    Apesar de sua configurao ter condicionado seu traado inicial, hoje possvel observar pelo menosdois dos princpios de ordenamento identificados por Franois BEGUIN (1991): Seus limites naturaisforam substitudos pelos limites tcnicos, econmicos e polticos a funo de passagem do bairro justifi-ca os aterros de alagadios, as obras virias (corte de morro, abertura de tnel, construo de viadutos),perfurao da linha 1 do metr e a construo de edifcios em rea pblica de preservao ambiental [pos-tos de gasolina, restaurantes, clubes e edifcio de escritrios]. Sua densidade histrica dissolve-se em be-nefcio da banalizao do urbano verticalizao e densificao imobiliria, mantendo o parcelamentodo solo; liberao da taxa de ocupao [Shopping Praia de Botafogo] e do gabarito [edifcios FundaoGetlio Vargas, Casa Alta, Apollo, Argentina, CAEMI, Coca-Cola/Intelig (Fig.6)]; permisso para cons-truir edifcio praticamente desprovido de janelas [Telemar] (Fig.7).

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    Figura 6 Edifcio Coca-Cola/Intelig. Figura 7 Edifcio-sede da Telemar.

    Para Srgio SANTOS, a rea evidencia que o poder pblico no tem seno corroborado tendncias es-pontneas, implementando servios e infra-estrutura urbana e mesmo regulamentando, onde a iniciativaprivada j criou o fato. O autor explicita a lgica do processo de desenvolvimento da cidade: dependn-cia das solues tcnicas em relao s condies e interesses polticos dos grupos que comandam a Ad-

    ministrao Pblica que dificulta e/ou impede sua implementao; ao regulamentadora do Poder Pbli-co apenas corrobora a ao da iniciativa privada, principal elemento criador de tendncias de transforma-o do espao urbano. Neste sentido, Botafogo mostra os efeitos dessa ao conjugada, ao refletir emseu espao os efeitos transformadores impostos por sua recriada funo de passagem (SANTOS 1981:214).

    O processo de atrao das grandes empresas verificado a partir da dcada de 70 est relacionado com asaturao e valorizao da rea central da cidade. A velocidade do processo de transformao de Botafo-go em um centro especializado de servios ... [revela a] forma predatria e imediatista com que se conso-lida e expande o espao conquistado pela cidade (SANTOS 1981: 216). As marcas desta urbanizaofragmentada podem ser atribudas adequao da racionalidade cientfica (saber tcnico) aos interesseseconmicos e lgica da mo invisvel do mercado, sempre com o beneplcito do Estado.

    A prevalncia da concepo do edifcio como obra isolada de arquitetura em detrimento de seu relacio-namento com o contexto (CULLEN 1983) pode ser comparada com a existente entre o monolito do filme2001 Uma Odissia no Espao e os macacos que o observam, Sua melhor expresso, a metfora dostransatlnticos ancorados nas caladas das metrpoles (MUSA in CAMARGO 1989: 84), ilustra o pro-cesso de internacionalizao e globalizao caracterstico da produo dos novos edifcios de escritrios esuas diferentes concepes:

    A primeira concepo representada pelo edifcio da Fundao Getlio Vargas (1955) exemplar nicoda proposta de Oscar NIEMEYER para a construo de diversos edifcios paralelos, eqidistantes e com omesmo gabarito, de modo a preservar a paisagem natural circundante , que apresenta os seguintes equ-vocos: embasamento e lmina do edifcio desprovidos de aberturas para a via, rompendo a tradicionalrelao edifcio-pedestre (Fig. 8); desobedincia ao limite de pavimentos recomendado por NIEMEYERpara os edficios da orla mximo de 4 pavimentos de modo a preservar a paisagem natural circundante(Fig. 9); desprezo ao clima, ao propor duas cortinas de vidro orientadas para leste e para oeste, condenan-

    do os usurios do edifcio ao eterno desconforto provocado pelo efeito estufa.A segunda concepo representada pela transposio mimtica do estilo internacional e seus edifcios-mquina de trabalhar. Estes edifcios-monolitos so localizados, concebidos e ocupados segundo umalgica de explorao predatria das condies locais e de excluso das relaes sociais que ocorrem emseu entorno: os transatlnticos na calada escolhem o porto mais conveniente para que seu seletogrupo de passageiros possa usufruir, sem preocupar-se com o impacto ambiental e social.

    A terceira concepo representada pelo casusmo com que as autoridades pblicas tratam sua cidade epelo tipo de interesses a que ela tem servido: ao privatizar reas pblicas e de preservao ambiental5,

    5Cujos exemplos mais evidentes, so: Iate Clube, Piscina do Botafogo, Sede do Clube Guanabara, restaurante Sol e Mar e Cen-tro Empresarial Mourisco, cuja concesso do direito de construo, em troca da preservao do Pavilho Mourisco do BotafogoFutebol e Regatas a exemplo do tombamento do edifcio do Caneco merece um captulo parte no livro negro da histriarecente da cidade.

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    confirma-se a funo corrobaradora do Estado em relao aos interesses da iniciativa privada apontadapor Srgio SANTOS (1981).

    Figura 8 Edifcio da Fundao Getlio Vargas

    Figura 9 Desenho de Niemeyer : gabarito de 15 pavtos.

    Os pressupostos e paradigmas que fundamentam a produo desses edifcios o desprezo pela vida local,pelos seus moradores e seu direito de usufrurem a paisagem so explicitados por MORIN (1996: 162) a industrializao, a urbanizao, a burocratizao, a tecnologizao se efetuaram segundo as regras e osprincpios da racionalizao, ou seja, a manipulao social, a manipulao dos indivduos tratados comocoisas em proveito dos princpios de ordem, de economia, de eficcia e podem ser ilustrados atravs detrechos de material publicado em jornais e em revistas especializadas.6

    Modificar esta viso e esta prtica fragmentada no uma tarefa simples. O sucesso comercial e o reco-nhecimento popular destes edifcios sugerem que o problema no deve ser analisado exclusivamentequanto aos interesses de determinados grupos sociais, econmicos ou categorias profissionais. No setrata de uma questo de natureza tecnolgica ou de capacidade tcnica, mas de uma questo de naturezacultural que est cada vez mais sedimentada [com sutis variaes] tanto no saber tcnico, quanto no gostode proprietrios, ocupantes e cidados: uma clara manifestao do desejo mimtico7das sociedadescapitalistas criado pelo prprio mercado, e que se torna ele prprio o critrio para desejos aceitveis ouno. (SUNG s/d: 55)

    Passadas trs dcadas de explicitao dos equvocos ainda persistem as mesmas idias que justificamestes monumentos da irracionalidade: os investidores escolhem os edifcios por sua aparncia, pela sualocalizao [e facilidade de acesso], pelo seu custo inicial e pela tecnologia embarcada [sistemas eletrni-cos de superviso e controle nem sempre operacionais]; os produtores no medem seus gastos com a sin-gularidade da aparnciae com a novidade tecnolgica; pouca importncia dada, por ambos, aos custosoperacionais, ao desperdcio de energia, e operacionalidade e eficincia dos sistemas prediais; nenhumaimportncia dada adequao climtica do envelope, cuja aparncia reflete o desejo mimtico quetransforma seus proprietrios e ocupantes em personagens de um mundo fantasma ... uma espcie deterceiro mundo, entre o pas real em que ... vivem e a comunidade internacional onde imaginam viver(Jurandir Freire COSTA in NASCIMENTO 1997: 73).

    6Expressas pela propaganda de lanamento do Edifcio Praia de Botafogo 440 (in Srgio SANTOS 1981); Centro EmpresarialRio(in Projeto n 71);Da localizao Obraq, um projeto completo(in Projeto n 110); Geometria Dinmica(in Finestra Brasiln 15), e em matria publicada no Jornal do Brasil de 5/7/98 relativa ao lanamento do Centro Empresarial Mourisco.7Cf. SUNG (s/d: 52), termo utilizado por Celso FURTADO para explicitar a iluso de uma modernidade que nos condena a ummimetismo cultural esterilizante ... [e a] ... obsesso de reproduzir o perfil daqueles que se auto-intitulam desenvolvidos.

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    Assim, a arquitetura afasta-se cada vez maisde sua razo tica facilitar e tornar mais confortvel a vidado homem sobre a terra para servir aos interesses do capital imobilirio, ao egode seus autores e ao

    desejo mimtico de seus proprietrios e ocupantes. A razo tcnica que move sua prtica passa a pro-por e a resolver desafios8cujas conseqncias so, em geral, repartidas entre poder pblico, contribuin-tes e ocupantes condenando estes ltimos dependncia de dispendiosos equipamentos para garantirseu conforto e bem-estar.

    Para reverter esta tendncia, prudente substituir o paradigma da racionalidadeque a fundamenta pelaunio doparadigma social(CAPRA 1997; SANTOS 1995) com opensamento complexo(MORIN 1996); indispensvel convencer todos os envolvidos com a produo e com o consumo do ambiente construdoda necessidade de se comear a olhar o mundo [e o ambiente construdo] com outros olhos; necessriomodificar a relao autoritria e desigual que caracteriza o processo de urbanizao; preciso substituir aprtica da explorao capital-intensiva e seu condicionamento implacvel que destri a beleza do meioambiente em funo da expanso de uma economia que manipula o saber tcnico e sua racionalidadecompartimentalizada. (SCHUMACKER in CAPRA 1991: 170)

    O Pensamento Complexo / Social:

    Uma nova racionalidade deixa-se entrever. A antiga racionalidade procurava apenas pescar aordem na natureza. Pescavam-se no os peixes, mas as espinhas. A nova racionalidade, permitin-do conceber a organizao e a existncia, permitiria ver os peixes e tambm o mar, ou seja, tam-bm o que no pode ser pescado.

    EDGAR MORIN

    Em contraposio metfora inorgnicado edifcio do conhecimento do pensamento mecanicista e aobjetividade de suas descries [que so independentes do observador e do processo de conhecimento],surge a metfora orgnica da rede do conhecimento, que inclui necessariamente a compreenso doprocesso de conhecimento na descrio dos fenmenos naturais. Se a realidade for percebida como umarede de relaes, suas descries formam uma rede interligada de concepes e de modelos. O entendi-mento da realidade como uma rede de relaes inviabiliza a objetividade da explicao, uma vez que aexplicao de qualquer fenmeno demanda algo humanamente impossvel: o entendimento da totalidade.

    O reconhecimento crescente dos processos participativos possibilita o surgimento de uma nova racionali-dade, complexa/social, que utiliza de forma criativa e integrada os vrios modos de conhecimento, inclu-sive o tecnolgico, confere um sentido transformador interao homem/mundo. A transformao dodesenvolvimento tecnolgico em sabedoria de vida possibilita a compreenso de significados que esca-pam ao olhar tcnico e neutro dos observadores.

    O pensamento complexo (social) deriva do pensamento sistmico e surge em contraposio ao pensamen-to mecanicista, a partir da concepo dos organismos como totalidades integradas: enquanto o pensa-mento mecanicista analtico e busca a explicao no estudo das partes ou elementos de base, o pensa-mento social (sistmico) contextual, e busca a explicao no estudo da totalidade.

    Enquanto opensamento sistmico clssicoopera com trs elementos interdependentes, padro[deorga-nizao], estruturaeprocesso[da vida], e pressupe que opadro de organizaos pode ser reconheci-do se estiver incorporado a uma estrutura fsicaque, nos sistemas vivos, um processo em andamento; opensamento complexotrata com trs faces indissociveis: sistema, interaoe organizaoonde o con-junto das interaes constitui a organizao do sistema. Nos sistemas vivos, a organizao cria ordem,mas tambm cria desordem.

    O pensamento complexosurge com a afirmao de que sistema uma palavra-raiz para a complexida-de. O movimento de retroatividade inerente relao entre todoe partes, sugere a introduo da com-plexidade no nvel paradigmtico, e prope que se considere o sistema no apenas como unidade global,mas como unitas multiplex processo recorrente que considera que as partes so ao mesmo tempomenos e mais do que as partes; que as partes so eventualmente mais do que o todo; que o todo menos

    8EmMais um moderninho: Rio Branco ganha novo prdio inteligente (in Veja Rio, 9/09/1992: 19), o autor do projeto de umedifcio comercial declara: nunca fizeram um prdio to alto num terreno to pequeno, de apenas 726 metros quadrados.

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    do que o todo; que o todo insuficiente; que o todo incerto; que o todo conflituoso gera um circuitoativo do tipo [uno diverso] onde a diversidade organiza a unidade que organiza a diversidade ...

    (MORIN 1996). Por estar inserido em uma determinada cultura [fornecedora de paradigmas], o pensa-mento complexoobriga a unir noes que se excluem no mbito do princpio simplificao/reduo doreal: incerteza, indeterminao, aleatoriedade, contradies.

    Ao reconhecer a necessidade de um mtodo que saiba distinguir, mas no separar e dissociar, ... querespeite o carter multidimensional da realidade antropossocial, ... que possa enfrentar as questes dosujeito e da autonomia, MORIN considera que a complexidade inerente s inter-relaes dos elementosdiversos de um sistema cuja unidade se torna complexa (una e mltipla); define sistema aberto comoaquele cuja essncia e manuteno da diversidade so inseparveis de inter-relaes com o ambiente, pormeio das quais o sistema tira do externo matria/energia e, em grau superior de complexidade, informa-o; ressalta a importncia dageratividade, princpio qualitativamente novo, que reconhece que a cons-tante degradao dos componentes moleculares e celulares a enfermidade que permite a superioridadedo ser vivo sobre a mquina. fonte da constante renovao da vida. (MORIN 1996: 299)

    Em relao ao risco incessante de degradar-se, de simplificar-se, em funo da necessidade de uma teoriaconservar sua complexidade mediante uma recriao intelectual permanente, MORIN (1996) identifica ostrs rostos que esta simplificao assume, em forma individual ou combinada: a degradao tecnicista,que conserva da teoria que deixa de ser logospara ser techn aquilo que operacional, manipulador, eque pode ser aplicado; a degradao doutrinriada teoria que, menos aberta contestao da experin-cia, aprovao do mundo exterior, abafa e cala aquilo que a contradiz; e a pop-degradaoque, ao eli-minar as obscuridades e dificuldades, reduz e vulgariza a teoria a poucas frmulas de choque, custadessa simplificao de consumo.

    O Ambiente Construdo uma Organizao Social Complexa

    Entendido como uma organizao social complexa regida pela incerteza e pela possibilidade constitudopelo conjunto das relaes que se estabelecem entre suas partes o ambiente construdo no se restringe

    apenas s relaes entre suas medidas e seus materiais. Como ele no vale por si prprio, seu valor ousignificado surge em funo das relaes que estabelece com o entorno e com seus habitantes. O ambienteconstrudo no pode ser visto isoladamente de seu contexto maior, com quem interage em um movimentode retroatividade todo/partes.

    Em meus estudos sobre as imagens e os julgamentos transmitidos pela percepo indireta leitura e jor-nais e pela percepo em campo, realizados com o objetivo de identificar as imagens os conflitos depercepes e de expectativas de realizadores, administradores, proprietrios, locatrios, usurios e funcio-nrios de alguns edifcios de escritrios, foi possvel evidenciar a importncia do carter no-hierrquicoe aberto s politonalidades na avaliao do desempenho do ambiente construdo ou organismo socialcomplexa. Um organismo social que adquire dupla identidade, ou seja, uma identidade prpria e umaidentidade comum ou cidadania sistmica, na medida em que interage com seus usurios e com o ambi-ente onde est inserido. Esta dupla identidade foi evidenciada ao reconhecer que o inconsciente coletivo

    dos ocupantes de um edifcio incorpora a personae a anima: o clima de satisfao com os edifcios ecom a cidade perceptvel e, a exemplo das relaes de afeto e amor, justifica a aceitao de defeitos einconvenientes; a aparncia do edifcio ou do lugar intensifica inconscientemente a importncia do eu[JUNG 1984]. Alm do inconsciente coletivo, o inconsciente pessoal de JUNG tambm est presente nainterao homem ambiente.

    Atravs destas pesquisas e da minha experincia de vida na Praia de Botafogo, foi possvel evidenciar asmudanas estruturais que ocorrem ao longo da vida de um ambiente construdo ou organizao socialcomplexa: mudana de usurios, modificao de layoutdos pavimentos, modificao de sistemas e insta-laes e da prpria gesto predial.9Elas tambm permitiram reconhecer que o processo de organizaosocial no interior de um edifcio no se limita a seus aspectos construtivos ou sua qualidade esttica,

    9As constantes modificaes realizadas no Shopping-center Rio-Sul ou da orla martima da Zona Sul so exemplos das mudan-as estruturais que ocorrem em um ambiente construdo ao longo de sua vida ou existncia.

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    uma vez que ele tambm incorpora as relaes todo/partes e uno/diverso apontadas por MORIN(1996):

    o todo mais do que a soma das partes a exemplo da doura do acar, o ambiente construdo indescritvel e somente pode ser percebido em sua plenitude no prprio processo de interao;

    o todo menos do que a soma das partes a soma dos significados particulares que o ambiente cons-trudo pode assumir para cada um de seus habitantes deve ser menor do que a soma das partes que ocompem;

    o todo mais do que o todo a complexidade da relao onde o todo um dinamismo organizacionalque transcende a realidade global.

    Ageratividade a fonte da constante renovao da vida de um organismo social, seja ele um ambienteconstrudo ou um edifcio, que se caracteriza por um processo incessante de degradar-se, de simplificar-se, em funo da necessidade de conservar sua complexidade mediante uma recriao intelectual perma-nente que assume os trs rostos visveis de MORIN:

    Voltando anlise da Praia de Botafogo, a presena da degradao tecnicista pode ser confirmada pela acrena na inevitabilidade das transformaes no espao urbano (SUNG s/d: 34); assim como a nfasena racionalidade cientfica, nos interesses econmicos, na tcnica e na tecnologia pode ser confirmadapela prevalncia daquilo que operacional, manipulador e incorpora as trs funes positivas deBEGUIN, em detrimento das necessidades essenciais para a vida de cada grupo que configura o organis-mo social complexoPraia de Botafogo.

    A degradao doutrinria, por sua vez, evidenciada pelo determinismo econmico presente na doutri-na e nas crenas subjacentes produo do ambiente construdo, especialmente sua pouca tolerncia contestao e crescente desqualificao de quem ou daquilo que contradiz o saber messinico de tcni-cos e especialistas ou a religiosidade do capitalismo (SUNG s/d: 23); crena de que somente a defesados interesses prprios [do mercado] contra os interesses dos outros gera a eficcia e a solidariedade(SUNG s/d: 34) ao mercado.

    Por fim, a pop-degradao representada pelo desejo mimtico que justifica e produz um mundo fan-tasma entre o pas reale a comunidade internacionalem que nossas elites imaginam viver, exemplificadopela Barralndia, pelos edifcios de nvel internacional ou de padro de comparvel aos existentes noprimeiro mundo, pela lgica dos transatlnticos nas caladas e pela paisagem esquizofrnica queacumula objetos vidos por ateno10.

    Qualidade de Vida: interao homem X ambiente construdo

    A doura que saboreamos num torro de acar no propriedade nem do acar nem de nsmesmos. Estamos produzindo a experincia da doura do aucar no processo de interagirmoscom o acar.

    Roland FISCHER

    Com base nesta bela metfora, R. D. LAING prope a seguinte questo: se o universo inteiro for como adoura do acar, que no est no observador nem na coisa observada, e sim na relao entre ambas, co-mo vocs podem falar do universo como se fosse um objeto observado?(in CAPRA 1991: 116).

    Se a metfora de FISCHER e a questo de LAING forem relacionadas com a qualidade de vida [e com oconforto ambiental] no ambiente construdo, possvel considerar que o conceito de qualidade de vidano propriedade nem do ambiente construdo nem do homem: ele uma experincia produzida no pro-cesso de interao do observador-sujeito com o organismo social complexo. De modo anlogo, se aqualidade de vida de um determinado ambiente construdo est na relao entre ambos e com o contextomaior com que interagem, parece pouco sensato conceb-lo ou analis-lo isoladamente.

    10Cf. MAHFUZ (1996: 100) a expresso estes objetos vidos por ateno, os quais glorificam seus arquitetos e proprietrios,enquanto ignoram, quando no prejudicam, seu contexto fsico foi cunhada por Klaus HERDEG (1983).

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    Se o ambiente construdo e seus ocupantes compem uma organizao socialintegrada, configurada poruma rede de relaes complexas que se fundamentam em determinados princpios ou padres de organi-

    zao, ento qualidade de vida [e conforto ambiental] pode ser definida como a experincia produzida noprocesso de interao. Uma experincia que no objetiva, conforme preconiza a racionalidade cientficasubjacente produo do ambiente construdo, que por sua vez, no um contexto absoluto. Ele criadono prprio processo de viver [e de conhecer], e condicionado cultural e historicamente: todo conheci-mento significativo conhecimento contextual, e grande parte dele tcita e vivencial (CAPRA 1997).Da a dificuldade de compartilhar uma experincia (e no a sua simples descrio) envolvendo qualidadede vida e conforto ambiental nos centros urbanos.

    Assim, o estudo dapercepo ambiental um processo cognitivo que lida com as conformaes subjeti-vas, imagens, impresses e crenas que as pessoas possuem do meio ambiente. Este processo cognitivoest sujeito a filtros socioculturais, categorias e sistemas resultantes do processo de socializao doindivduo e a filtros psicolgicos dependentes do sistema interpretativo pessoal, de valores e de expec-tativas de cada pessoa. Mas preciso observar que o processo cognitivo no se resume a um processomental realizado no interior do nosso crebro: segundo CAPRA (1996), pensamos com nosso corpo; na

    mesma linha de raciocnio, DAMSIO (1996: 255) observa: quando vemos, ouvimos, tocamos, sabore-amos ou cheiramos, o corpo e o crebro participam na interao com o meio ambiente.

    Se comparada com a paisagem natural, a anlise da paisagem da Praia de Botafogo desfigurada pela des-proporo e falta de harmonia das torres de vidro, concreto e granito que bloqueiam a vista do perfil dosmorros que a emolduram ilustra a triste veracidade do argumento de Italo CALVINO (1993: 30): a Praiade Botafogo [e a cidade do Rio de Janeiro] mediante o que se tornou pode-se recordar com saudadesaquilo que foi.

    possvel que esta opinio no seja compartilhada por um empresrio instalado em um dos modernosedifcios fundeados na Praia de Botafogo onde entra e sai em seu automvel e que, de seu escritrioclimatizado, desfruta o esplendor deste carto postal pintado pelo supremo pintor e arquiteto do mun-do (Padre CARDIM). Sua relao com a cidade real similar quela representada pelo domo queenvolve a cidade de Seaside, no filme O Show de Truman. Diversa deve ser a opinio de um morador darua Muniz Barreto, cuja vista da enseada foi bloqueada pelos novos edifcios. A racionalidade da obser-vao somente ser obtida pelo conjunto de vises e significados produzidos pelas diferentes cidadaniassistmicas que configuram o organismo social Praia de Botafogo.

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