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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA DO FUTEBOL RECURSO VOLUNTÁRIO Processo nº 070/2018 Recorrentes: CORITIBA FOOTBAL CLUB – CLUBE SIDNEI FERNANDES JÚNIOR - ATLETA GABRIEL KAUÊ CAMILO DA ROSA - ATLETA BERNARDO MARCOS LEMES - ATLETA CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE – CLUBE KAWAN GABRIEL DA SILVA - ATLETA HEBERT PEDRO DE ANDRADE NETO - ATLETA AFFONSO JOÃO MARTINS NETO – ATLETA LUCAS GUIDO DE ALMEIDA J. CORREA – ATLETA VINÍCIUS KAUÊ RIBEIRO FERREIRA – ATLETA RONALD SILVA SANTOS - ATLETA Recorrido: DECISÃO DO TJD/PR RECURSO Trata-se de Recursos Voluntários interpostos pelos clubes Coritiba Footbal Club e Clube Atlético Paranaense bem como seus Rua da Ajuda, 35 / 15o andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20040-000 Tel.: (21) 2532.8709 / Fax: (21) 2533-4798 - e-mail [email protected]

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DESPORTIVA DO FUTEBOL

RECURSO VOLUNTÁRIO

Processo nº 070/2018

Recorrentes:

CORITIBA FOOTBAL CLUB – CLUBE

SIDNEI FERNANDES JÚNIOR - ATLETA

GABRIEL KAUÊ CAMILO DA ROSA - ATLETA

BERNARDO MARCOS LEMES - ATLETA

CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE – CLUBE

KAWAN GABRIEL DA SILVA - ATLETA

HEBERT PEDRO DE ANDRADE NETO - ATLETA

AFFONSO JOÃO MARTINS NETO – ATLETA

LUCAS GUIDO DE ALMEIDA J. CORREA – ATLETA

VINÍCIUS KAUÊ RIBEIRO FERREIRA – ATLETA

RONALD SILVA SANTOS - ATLETA

Recorrido:

DECISÃO DO TJD/PR

RECURSO

Trata-se de Recursos Voluntários interpostos pelos clubes Coritiba Footbal Club e Clube Atlético Paranaense bem como seus supracitados atletas, contra a decisão do Pleno do TJD/PR que os condenaram a:

- Kawan Gabriel da Silva, Affonso João Martins Neto e Lucas Guido de Almeida J. Correa, atletas do Clube Atlético Paranaense a 5 (cinco) partidas de suspensão por infração ao disposto no Art. 257 do CBJD (Rixa);

- Herbert Pedro de Andrade Neto, atleta do CAP, a 5 (cinco) partidas de suspensão por infração ao disposto no Art. 257 do CBJD (Rixa) mais 1 (uma) partida por infração ao disposto no Art. 258 §2º. do CBJD (conduta contrária a ética ou disciplina);

- Sidnei Fernandes Júnior, Gabriel Kauê Camilo da Rosa e Bernardo Marcos Lemes, atletas do Coritiba FC e Vinícius Kauê Ribeiro Ferreira, atletas do CAP, todos a 5 (cinco) partidas de suspensão por infração ao disposto no Art. 257 do CBJD (Rixa);

- Ronald Silva Santos, atleta do CAP, a 10 (dez) partidas de suspensão por infração ao disposto no Art. 257 do CBJD (Rixa). O atleta não obteve o benefício do Art. 182 em face de reincidência constante em seu registro profissional, conforme preceitua o Art. 182 §3º. (perde o direito – reincidente);

- Clube Atlético Paranaense a pena pecuniária de R$ 3.000,00 (três mil reais) por infração ao disposto do Art. 257 §3º. (impossibilidade de identificar contendores) e mais R$ 10.000,00 (dez mil reais) por infração ao disposto no Art. 258-D, ambos do CBJD (penas cumuladas para EPD cujo atleta estiver vinculado) totalizando R$ 13.000,00 (treze mil reais).

- Coritiba Footbal Club a pena pecuniária de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por infração ao disposto no Art. 258-D do CBJD (pena cumulada para EPD cujo atleta estiver vinculado).

Consta dos autos que durante a partida realizada entre ambos os clubes, pela final do Campeonato Paranaense de Futebol sub-15, realizada no Estádio Francisco Muraro, no dia 09 de dezembro de 2017, logo após o encerramento do jogo, houve uma confusão generalizada entre os atletas além da invasão do campo.

Em decorrência dessa violência com graves agressões, o árbitro Leandro José Mendes houve por bem expulsar diversos jogadores.

Condenados em 1ª. Instância e pelo TJD a quo, recorrem novamente os mencionados clubes e atletas à essa Corte.

Nas razões de recurso dos clubes, ambos solicitam, preliminarmente, a concessão de efeito suspensivo que foram concedidos parcialmente, apenas para o não recolhimento das multas aplicadas, permanecendo, devido a gravidade das condutas, as suspensões impostas aos atletas.

Alega o Coritiba em sua defesa que foram os atletas do CAP que iniciaram a confusão e agrediram em bando um único atleta de sua equipe; que o Coritiba e seu jogadores são vítimas; que os atletas Coritibanos agiram em defesa de um outro colega; que a conduta dos seus atletas é de “inexigibilidade de conduta diversa” em face do ocorrido; que os atletas devem ser absolvidos ou receberem punição mais branda; que são meninos de 14 e 15 anos que merecem uma segunda oportunidade; que devem receber apenas penas educativas; que em sendo absolvidos ou desclassificadas as condutas dos jogadores, fica o clube automaticamente absolvido da condenação da pena pecuniária; que há um excesso de punição com a somatória das penas de multa dos Artigos 257, §3º. E 258-D pedindo por fim a absolvição de todos.

Alega o Clube Atlético Paranaense em sua defesa que embora alguns atletas tenham a sua conduta individualizada, todos acabaram respondendo por rixa; que os atletas cuja conduta foram individualizadas deveriam responder por hostilidade e não por rixa; que o estopim de toda confusão partiu dos atletas do Coritiba; que as condutas dos seus atletas foram reativas; que o tumulto durou apenas 32 segundos; que esses atletas são crianças e com essa pena vão perder os seus lugares no time; Que a conduta nada mais foi que uma troca de hostilidades; Que a pena pecuniária aplicada ao clube é bis in idem e deve ser afastada, pedindo por fim a desclassificação da conduta dos seus jogadores para o Art. 250 (ato hostil) e a absolvição do clube.

O Parecer da Procuradoria Geral de Justiça Desportiva é no sentido da mantença da decisão do Tribunal a quo. Nas palavras do Procurador Dr. Michel Sader, os fatos restaram claramente demonstrados como “o sol do meio-dia”.

Voto

Recebo os recursos da defesa, mas nego em parte o provimento.

Como sabemos, a rixa é uma conduta de concurso necessário, ou seja, conduta coletiva (plurissubjetivo), sendo a sua característica especial o necessário concurso de condutas contrapostas, sendo ainda necessário que existam três ou mais rixosos.

Os rixosos são ao mesmo tempo sujeitos ativos e passivos da mesma conduta, uns em relação aos outros.

Com essa multiplicidade de participantes é evidente a dificuldade e complexidade da individualização das condutas, motivo pelo qual punem-se todos os rixentos identificados. Como é conduta de perigo, e o perigo é presumido (juris et de iure), não é necessário que qualquer dos rixosos sofra lesões corporais, pune-se a troca de agressões independente de quem começou sendo irrelevante o fato desencadeador do evento.

Mais, o concurso de crimes é possível no crime de rixa, os indivíduos participantes da rixa que praticarem outras condutas durante a mesma, respondem individualmente pelo que cometeram, uma vez que ai se caracterizariam seriam condutas autônomas, mas não houve recurso da Procuradoria nesse sentido.

No presente caso trata-se de rixa “ex improviso” pois tem o seu surgimento subitamente, da simples exaltação dos ânimos e segundo as circunstâncias. A individualização de condutas inicial feita pelo árbitro, não descaracteriza a rixa, pois sempre existe o seu início e, ultrapassando o mínimo de participantes, configurada e caracterizada está a conduta injusta de uns contra os outros.

A rixa - também chamada de “banzé”, “chinfrim”, “safarrusca” ou “baderna - não se pode precisar quem é agressor ou vítima, todos os são, motivo pelo qual todos devem ser punidos por sua atuação no evento.

Assim diz o Códex repressivo desportivo:

Art. 257. Participar de rixa, conflito ou tumulto, durante a partida, prova ou equivalente.

PENA: suspensão de duas a dez partidas, provas ou equivalentes, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, e suspensão pelo prazo de quinze a cento e oitenta dias, se praticada por qualquer outra pessoa natural submetida a este Código.

§ 1º No caso específico do futebol, a pena mínima será de seis partidas, se praticada por atleta.

§ 2º Não constitui infração a conduta destinada a evitar o confronto, a proteger outrem ou a separar os contendores.

§ 3º Quando não seja possível identificar todos os contendores, as entidades de prática desportiva cujos atletas, treinadores, membros de comissão técnica, dirigentes ou empregados tenham participado da rixa, conflito ou tumulto serão apenadas com multa de até R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

Não concordo com os argumentos de ambas defesas de que os atletas são crianças. O que vi nas imagens da safarrusca no final do jogo é impressionante. Ví ali cavalos – não no sentido ofensivo da palavra, mas apenas no sentido do porte físico dos atletas - dando voadoras, chutes, murros por todos os lados, com violência que raramente se vê em atletas profissionais.

Além disso não existe nos autos nenhuma prova que exclua a antijuridicidade das condutas praticadas. A solitária alegação inexigibilidade de conduta diversa e/ou legítima defesa argumentada pela defesa é surpreendente e chega a brincar com este Colegiado.

Diante dos fatos, dou provimento parcial aos Recursos, mantendo a acertada decisão condenatória do Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná no tocante as penalidades aplicadas aos Clubes CORITIBA FOOTBAL CLUB a pena pecuniária de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por infração ao disposto no Art. 258-D do CBJD e CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE, R$ 3.000,00 (três mil reais) por infração ao disposto do Art. 257 §3º. e mais R$ 10.000,00 (dez mil reais) por infração ao disposto no Art. 258-D, ambos do CBJD totalizando R$ 13.000,00 (treze mil reais).

Com relação as penas aplicadas ao CAP, não se trata de bis in idem como acredita a defesa. Aqui o clube foi apenado com multa pela rixa praticada pelos seus atletas não identificados, mais a multa pela suspensão aplicada a seu atleta Hebert Pedro de Andrade Neto, condenado nos termos do Art. 258 do CBJD.

Lembro aos senhores que no concurso de delitos, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente como reza o Art. 72 do Código Penal que vamos buscar emprestado nos termos do Art. 283 do CBJD em face da lacuna sobre o tema no códex desportivo.

Com relação especificamente ao jogador RONALD SILVA SANTOS, apenado com 10 (dez) partidas de suspensão e sem o benefício do Art. 182 (redução) pois é reincidente, não fazendo faz jus conforme o §3º do referido artigo, entendo que existe uma grande discrepância da sua pena com as penas aplicadas aos outros jogadores transgressores, motivo pelo qual proponho a redução da suspensão aplicada de 10 (dez) partidas para 06 (seis) partidas sem o benefício, face a já mencionada reincidência não específica.

É interessante nesse momento fazer brevemente a diferenciação de reincidência e antecedentes. Reincidência é voltar a incidir, conceito jurídico que significa aquele que volta a praticar um delito – igual ou não – mesmo depois de condenado. É o que chamamos de reincidência genérica ou específica. Já os antecedentes, nada mais é do que aquele que praticou o delito, cumpriu a sua pena, e volta a delinquir depois do lapso temporal previsto no nosso códex desportivo, no caso, 01 (um) ano. (Art. 179 §2º.

Art. 179. São circunstâncias que agravam a penalidade a ser aplicada, quando não constituem ou qualificam a infração:

(...)

§ 2º Para efeito de reincidência, não prevalece a condenação anterior se, entre a data do cumprimento ou execução da pena e a infração posterior, tiver decorrido período de tempo superior a um ano.

Ninguém fica reincidente toda a vida. No Código Penal são 5 (cinco) anos e o condenado volta a ser primário. Na Justiça Desportiva é 01 (um) ano, mas em ambos os registros permanecem e carregam o gravame de maus antecedentes.

Mantenho também a decisão que condenou todos os jogadores, SIDNEI FERNANDES JÚNIOR, GABRIEL KAUÊ CAMILO DA ROSA, BERNARDO MARCOS LEMES, KAWAN GABRIEL DA SILVA, HEBERT PEDRO DE ANDRADE NETO, AFFONSO JOÃO MARTINS NETO, LUCAS GUIDO DE ALMEIDA J. CORREA, VINÍCIUS KAUÊ RIBEIRO FERREIRA, a 05 (cinco) partidas de suspensão já com o benefício do Art. 182, exceto RONALD SILVA SANTOS, j’a mencionado, apenado com 6 (seis) partidas de suspensão.

Que essa punição sirva para formar a base educacional desses jogadores de base.

Assim encaminho o meu voto.

Intime-se. Publique-se.

Rio de Janeiro, 10 de maio de 2018

MAURO MARCELO DE LIMA E SILVA

AUDITOR RELATOR

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