[Conferência] Conhecimento e Universidade

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  • 8/17/2019 [Conferência] Conhecimento e Universidade

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    Conhecimento e Universidade

    Por João Carlos Salles Pires da Silva

    a Benedito Leopoldo Pepe

    1.

    No semestre de verão de 1965, Jürgen Habermas assume a c tedra de !iloso!ia esociologia "ue #ertencera a $a% Hor&'eimer, e #ro!ere a aula inaugural da(niversidade de )ran&!urt. * te%to dessa c+lebre con!er ncia intitula-se

    Con'ecimento e /nteresse0, anteci#ando o t tulo e, em #arte, o conte2do de um deseus livros mais im#ortantes, lan3ado em 1964. 1 7rata-se, sem d2vida, de umdocumento #recioso, re!inado, do "ual analisaremos a#enas o !ragmento inicial. (m!ragmento de #ouco mais de uma # gina nos servir 'o8e como um !io condutor, e#rocuraremos mostrar, nesta nossa aula, como ele com#orta, ao mesmo tem#o,#ro!undidade te rica e ironia.

    São bem con'ecidos os elementos b sicos da teoria 'abermasiana dos interessescognitivos, teoria então enunciada #ela #rimeira ve:. Como sabemos, Habermasrec'a3a a ilusão ob8etivista, segundo a "ual o mundo + concebido como umuniverso de !atos inde#endentes do su8eito do con'ecimento, a "uem caberiacontudo descrev -los en"uanto tais. ;l+m disso, temati:a os marcos de re!er nciaem "ue se situam os di!erentes ti#os te ricos e classi!ica os #rocessos de

    investiga3ão em tr s c+lebres categorias, "ue se distinguiriam #or suas estrat+giascognitivas gerais. )inalmente, con!erindo-l'es um estatuto "uase transcendental,!a: remontar esses interesses < 'ist ria natural da es#+cie 'umana, na "ualrecon'eceria as ra :es do interesse t+cnico, do interesse #r tico e, sobretudo, dointeresse emanci#at rio. = >ntretanto, #or interessante e saga: "ue o se8a,con"uanto abandonada #or seu autor, a teoria de Habermas não + nosso ob8eto. >não #or seu abandono ?#ois isso, na verdade, s a torna um ca# tulo instigante da'ist ria do #ensamento@, mas antes #or nos servirmos a"ui sobretudo de suaestrat+gia singular de e%#osi3ão, da "ual, em suma, distorcendo-a e e%agerando-a,tomamos um #onto inicial de in!le%ão, o "ue nos #ermitir en!im relacionarcon'ecimento e universidade.

    =.

    Aeten'amo-nos, #ois, no detal'e da estrat+gia discursiva 'abermasiana, e leiamosseu te%to mais #or sua ret rica inicial "ue #or suas #ro#osi3Bes. ;!inal, #recisamoscom !re"ü ncia #rocurar o sentido de um te%to ?como, ali s, o car ter de um'omem@ onde costuma esconder-se, a saber, na su#er! cie. >m sua con!er ncia,Habermas remonta a uma e%tensa tradi3ão ocidental, ou mel'or, Habermasreinventa uma e%tensa tradi3ão, ci!rando-a segundo um as#ecto c'ave, "ual se8a, o"ue se#ara, #ara mel'or valor -lo, con'ecimento de interesse. Com e!eito, +bastante natural "ue se sirva dos gregos. No caso, destaca um te%to c+lebre dePlatão, o Timeu sem d2vida, um belo e%em#lo. Nele, a!inal, ao contr rio dasse"ü ncias descritivas de retorno ao ideal, de eleva3ão do diverso ao uno, dassombras

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    criado, do necess rio ao contingente, #ortanto, da"uilo "ue sem#re + e não temdevir ao "ue sem#re se torna sem nunca #oder realmente serE * tem#o nasceucom o c+u #ara "ue, nascidos 8untos, tamb+m 8untos de novo se dissolvam, casoalguma ve: ocorra "ue devam dissolver-se. * tem#o !oi !eito segundo o modelo darealidade eterna, a !im de "ue l'e se8a o mais semel'ante #oss vel, < medida desua ca#acidade. * modelo +, #ois, ser de toda eternidadeF o c+u, #elo contr rio,desde o in cio e #ela dura3ão a!ora, !oi, + e sem#re ser .0 G

    Na mitologia do Timeu, um artesão divino, um demiurgo, monta o sens vel a #artirde modelos matem ticos, numa estrat+gia de e%#osi3ão do mundo "ue, a#licada a"uestBes #ol ticas, bem #oder amos c'amar de reacion ria0. (ma estrat+giareacion ria, se ela tem algum as#ecto merit rio, consiste em #ro8etar a uto#ia não#ara o !uturo, mas e%atamente #ara o #assado. Não #or acaso, + tamb+m noTimeu "ue Platão com#ara a ;tenas #r+-'ist rica, voltada #ara a interioridade, #araa #rocura re!le%iva de sua identidade, com a ;tl ntida, voltada #ara !ora, #ara acon"uista. ; "uestão ut #ica, então cr tica cida e reacion ria < sua ;tenascontem#or nea, bem #ode ser !ormulada assimE Como c'egamos a este #onto dedegrada3ãoI

    )undamental no te%to, tal como resgatado, al+m de ecos im#ortantes de umaestrat+gia reacion ria de e%#osi3ão da teoria, + o modo singular como nele Platãoa#resenta o mito do contato entre ser e tem#o, o #onto em "ue teoria e cosmos setocam e, logo, mostram sua irredutibilidade, !irmando-se a teoria comocontem#la3ão. ;trav+s desse as#ecto de decanta3ão da teoria, Habermas nosrelembra, com a#arente inoc nciaE ; #alavra teoriaD remonta a uma origemreligiosaEtheoros era o nome do re#resentante "ue as cidades gregas enviavamaos !estivais #2blicos. Na theoria , isto +, mediante a contem#la3ão, ele se alienavano acontecer sagrado.0 K >m sua origem, #ortanto, vale a n!ase, não #oder amosse#arar !un3ão cognitiva de interesse #2blico, con"uanto a linguagem !ilos !ica#are3a !i%ar-l'e uma clivagem como condi3ão mesma de sua identidade. ;

    se#ara3ão, #or assim di:er, inventa e distingue a #r #ria !iloso!ia, como atividadecontem#lativa e%celsa. ; contem#la3ão + a"ui se#ara3ão, um recol'imento ao#onto #or "ue se #odem medir e limitar o Ser e o 7em#oE Luando o !il so!ocontem#la a ordem imortal, não #ode dei%ar de ele #r #rio assemel'ar-se < medidado cosmos, recriando-o tamb+m em si.0 5 Mugar te rico, a !iloso!ia re#rodu:iriacomo m+todo o mesmo a!astamento, re#etiria a ru#tura, renasceria #ela re#eti3ão#or "ue lógos e dóxa, discurso racional e o#inião, sem#re seriam discern veis.

    G.

    *utros camin'os e%em#li!icam a distin3ão entre um saber dos #rinc #ios e umsaber das coisas. Ao #onto de vista da mais !orte tradi3ão ocidental, e como umcontra#onto cl ssico a Platão, + "uase irresist vel a men3ão a ;rist teles #araa#resentar o con'ecimento segundo uma escala #rogressiva em dire3ão ntretanto, #ara demonstrar essa inclina3ão natural #ara a sabedoria e !a:erci ncia com a a!irma3ão mesma da cienti!icidade, ;rist teles enuncia como sua#rova mais elementar um dado deveras distante do con'ecimentoE o #ra:er "uetemos com as sensa3Bes. Lue !a3a come3ar no territ rio do sens vel a!undamenta3ão mais !orte do intelig vel, + a #rimeira sur#resa dessa trama sutil,com a "ual o #ra:er mais instant neo trans!orma-se em #rova da #rioridade dosaber #elo saber, com a sensa3ão sendo c'amada a vindicar "uase so:in'a o

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    conceitual. >sse #ra:er da sensa3ão in2til mas a mais colada ao mundo, como se!ora sua #ele, seu contato, seu interesse instalado e%#lica o dese8o de saber #orsaber, do saber sem !inalidade #r tica.0

    No sens vel, #ortanto, e, em es#ecial, em sua re#eti3ão, #oder amos recon'ecer aocorr ncia de um mesmo #ass vel de #redi3ão, de uma e%#eri ncia "ue ?da mesmanature:a "ue a ci ncia e a arte@ nos a!astaria do mero acaso, #asmem, no cam#ocurial do contingente. Com e!eito, #arece ter mais c'ance de acerto "uemacumulou observa3Bes sobre um assunto determinado, ainda "ue uma tal somase8a a#enas Erlebnis e não Erfahrung, e%#eri ncia e não e%#erimenta3ão. ;e%#eri ncia,empiria, momento inicial do #ensamento, com#orta 8 a substitui3ãodo re#ouso #elo movimento e, como di: Oranger, caracteri:ar-se-ia #ela a#ari3ãode um ob8eto simb lico, transcendendo a multi#licidade dos sens veisindividuais. 4 Aesse modo, !onte comum < arte ? techn @ e < ci ncia ?epist!me @, aempiria introdu: a visada de um universal #ara al+m da mera comunidade dis#ersados sens veis. di!eren3a da sim#les mem ria ?encarnada no reino do sens vel e,#or isso mesmo, m2lti#la@, a e%#eri ncia + unaE + o universal em re#ouso todointeiro na alma, a unidade o#osta ao m2lti#lo, isso "ue #ermanece um e o mesmo

    nos seres singulares0. 9; e%#eri ncia nos ensina da doen3a de Qalias e de S crates, bem como de suacuraF #ela arte, todavia, n s os consideramos sob um conceito 2nico e os reunimos,#ermitindo-nos concluir "ue tal rem+dio curar a todos "ue acaso so!ram domesmo mal. ; arte uni!ica a e%#eri ncia, descobre-l'e a identidade em um #atamarmais elevado, sendo de grande e!ic cia. ;ssim, tendo arte e não a#enas sim#lese%#eri ncia, contando com um con8unto de #rocedimentos voltados < #rodu3ão deum resultado, tudo teria #ara ter sucesso #r tico "uem #orventura a#li"ue um 8u :ouniversal a casos "ue a e%#eri ncia acumulou e, suavemente, 8ungiu comosemel'antes. ; #assagem da e%#eri ncia < arte #rolongaria e%atamente esse#rocesso latente de uni!ica3ão e abstra3ão, sem o "ual a arte nada #oderia destacar

    ou #rodu:ir. Se a e%#eri ncia associava indiv duos a uma imagem gen+rica, a arterecol'e esses indiv duos sob um conceito, concernindo decerto o universal, mas,al+m disso, esse mundo de gera3ão, essa variedade sens vel e individual. ;!inal,dir ;rist teles, curamos sim o indiv duo, "uando #or acidente curamos o!leum tico, o !ebril ou o bilioso. Não obstante, #or+m, essa virtude da intelig ncia #oi+tica0 da arte, voltada <#rodu3ão e < a3ão, #or com#ara3ão com a ci ncia da intelig ncia te rica, votadatão-s ao con'ecimento, + #ara este, em suas !ormas mais elevadas, "ue o te%tomobili:a suas categorias, não sendo trivial "ue, de alguma !orma, se8am de mesmanature:a isso "ue se nos dis#Be no sens vel, e%igindo uma viv ncia, e, no e%tremoo#osto, o "ue dele nos #ode alcan3ar atrav+s do ensino, #or"uanto se reali:a em#uros conceitos e, com isso, + #ass vel de demonstra3ão. * te%to aristot+lico#rossegue assim seu movimento de uni!ica3ão e abstra3ão, concedendo < ci nciatra3os distintivos essenciais e, !inalmente, os mais elevados. Se a arte com#ortacon'ecimento das causas, distingue-se dela a ci ncia #or valer #or si mesma e, emsuma, #or seu desinteresse. Por isso, restrita a arte ao mundo da gera3ão ecorru#3ão, a ci ncia #ode concernir ao mundo do ser, sendo seu ob8eto necess rioe eterno.

    ;s #assagens da sensa3ão < ci ncia t m, #ois, mais "ue um sentido, uma ra:ão deser. Aa sim#les mem ria ?#ersist ncia da sensa3ão@, atrav+s da e%#eri ncia ?cu8omesmo recol'ido !ornece o #onto de #artida #ara a no3ão@, #odemos c'egar <no3ão ela mesma, liberada da multi#licidade dos casos #articulares, tanto #ara at+cnica ?"ue ainda não + ci ncia@ como en!im #ara a ci ncia, #ara o con'ecimentodo #r #rio real. >ssa g nese da ci ncia a #artir dos dados sens veis, "ue #or tudoconstitui uma cr tica ao #latonismo, não dei%a de #er!a:er uma semel'ante de!esa

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    da vida contem#lativa, não sendo neutra a #rogressão #or "ue se reali:a, en!im, oelogio da theoria . Com isso, a des#eito da utilidade do con'ecimento em# rico emesmo de sua utilidade no dom nio da #r tica, damos #re!er ncia ao artista sobreo 'omem de e%#eri ncia, ao c'e!e sobre os o#er rios, < ci ncia sobre a sensa3ão,m#rimeiro lugar, a teoria a#arece como contem#la3ão do cosmos, sendo-l'es comum

    a atitude te rica "ue libera os "ue a adotam dos conte%tos dogm ticos e dain!lu ncia #erturbadora "ue e%ercem os interesses naturais da vida0. 1= Por outro

    lado, #retendem descrever o universo como ele seria, em sua ordena3ão,secretando ambos o #ressu#osto ontol gico de um mundo estruturado e, logo,descrit vel, #ouco im#ortando a"ui a medida #ro#osta #ara um desvelamento ouuma redu3ão.

    $esmo tradi3Bes em a#ar ncia irreconcili veis ?como a !enomenologia de >dmundHusserl e a !iloso!ia "ui3 anal tica de Mud ig Tittgenstein@ #odem recon'ecer-seem uma mesma o#osi3ão aos resultados da trans!orma3ão da teoria docon'ecimento em teoria da ci ncia. Como a!irma Habermas, Husserl não cuida dascrises nas ci ncias, mas da sua crise en"uanto ci ncia, #ois esta ci ncia não temnada a di:er a res#eito de nossa mis+ria0. 1G Com e!eito, em seu livro A "rise das"i#ncias Europ ias e a $enomenologia Transcendental , Husserl enuncia com vigor asitua3ão #arado%al #or "ue a ci ncia cada ve: mais acumula gan'os te ricos econ"uistas #r ticas, contribuindo todavia cada ve: menos #ara a unidade!ormadora do 'omem. ;ssim como a 'ist ria não con!essa, tam#ouco ocon'ecimento cient !ico redime, sendo a 'i#ostasia da ci ncia uma !orma #oss velde 'eteronomia radical #or sinal, como ;dorno e Hor&'eimer 8 o tin'amanalisado.

    *ra, tal diagn stico + re!erendado #or com#leto #or uma o#osta tradi3ão anal tica,com o agravante de um Tittgenstein não estar 'istoriando, em seu TractatusLogico%Philosophicus, uma crise es#ec !ica e 'istoricamente datada, mas antesse#arando em de!initivo, em "ual"uer circunst ncia, o cam#o do signi!icativo deuma "ual"uer #oss vel relev ncia. Se a obra de Husserl + ainda um trabal'onost lgico de e#istemologia, de!esa de uma teoria do con'ecimento dese8osa decontra#or-se < sua redu3ão 'ist rica ?e, logo, contingente@ a uma mera teoria dasci ncias, a obra de Tittgenstein, no mesmo es# rito de recusa de uma tal redu3ão,

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    renuncia inclusive a ser uma e#istemologia, recuando ao cam#o mais radical deuma l gica !ilos !ica. Com Tittgenstein, c'egamos ao #ice de uma crise, nuncatendo sido tão radical a se#ara3ão #oss vel entre !iloso!ia e ci ncia, nem tão #lena anegatividade do em#reendimento !ilos !ico. ;gora, se o !il so!o não #retende !a:ere#istemologia, + tamb+m #or não encontrar "ual"uer #ossibilidade de reden3ão#elo con'ecimento, uma ve: "ue este, na de!ini3ão de sua #ossibilidade essencial ede!initiva, em nada #oderia contribuir #ara uma #oss vel am#lia3ão do mundo dos!eli:es.

    * "ue #ode ser dito #ode ser dito claramente. * mundo resolve-se em !atos, suasmenores unidades signi!icativas, não sendo o correlato da linguagem mais "ue aa#lica3ão sucessiva da o#era3ão l gica de nega3ão ao con8unto das #oss veis#ro#osi3Bes elementares. ;rran8os de eventos, concatena3Bes de ob8etos, rela3Besconstantes entre ndices, combina3Bes cu8a !orma #ossa ser descritaE em umsentido bastante essencial, #arece ao !il so!o "ue tais !atos são tudo "ue #ode serdito, circunscrevendo-se < sua enuncia3ão todo #oss vel labor signi!icativo. Nessecam#o, então, sobre o "ual se derramam nossas 'i# teses das mais triviais esta segunda #arte, sim,a!irma elo"üente ao editor, e%atamente esta segunda #arte + a im#ortante0. 1K)oi assim "ue #Wde tra3ar, do interior da linguagem, de dentro da #ossibilidade dasigni!ica3ão, o limite do +tico. Com e!eito, não 'averia ci ncia da +tica. Se 'ci ncia de tudo "ue #ode ser dito, não ' ci ncia do todo, uma "ue col'esse osentido do mundo, "ue não se re#ortasse a !atos. ;!inal, não se redu:indo a !atos,o valor ultra#assaria os limites do "ue #ode ser dito. $as, no mundo, tudo + como+ e tudo acontece como aconteceF não ' nele nen'um valor e se 'ouvesse, nãoteria nen'um valor0. 15 Não ' isso então "ue seria uma ci ncia da +tica.

    Pro#osi3Bes, dir , não #odem e%#rimir nada de mais alto0. 16 * "ue #ode serdito, coincidindo com o trabal'o das ci ncias, não toca, #ortanto, em "uestBesessenciaisE Sentimos "ue, mesmo "ue todas as "uestBes cient !icas #oss veisten'am obtido res#osta, nossos #roblemas de vida não terão sido se"uertocados0 1 tam#ouco nossa mis+ria.

    5.

    Habermas atravessa, em #oucas lin'as, a 'ist ria da !iloso!ia, dos #r+-socr ticos anossos contem#or neos. X natural "ue cometa algumas in8usti3as ?nada inocentes@,e algumas a#ro%ima3Bes, #or abru#tas, sabem mais < ironia "ue ao rigor.Podemos, #or e%em#lo, duvidar de uma unidade "ue #aira sobre #ensamentos tão

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    diversos, como se termos !ilos !icos centrais #udessem sobreviver intactos m todo caso, a sele3ão do as#ecto ?a saber, ase#ara3ão entre con'ecimento e interesse@ lan3a boas lu:es sobre a 'ist ria naturalde nossas categorias transcendentais e revela grande arg2cia argumentativa.

    Nesse sentido, tam#ouco + gratuita sua singela !rase inicial. Yetornemos, #ois, aocome3o mesmo do te%to, "ue, sem cerimWnia, enuncia uma trivialidade, um mero!atoE Aurante o semestre de verão de 14R=, Sc'elling #ro!ere em /ena suas li3Bessobre o m+todo dos estudos acad micos. Na linguagem do idealismo alemão, elerenova en!aticamente a"uele conceito de teoria "ue a grande tradi3ão !ilos !icadesde sem#re a!irmara.0 14 Não #odemos descartar um as#ecto biogr !icorelevante e nada des#re: vel na men3ão, tendo sido Sc'elling o ob8eto de sua tesede doutorado. >sse as#ecto, entretanto, + secund rio. * come3o + emblem tico,con!essa um conte%to, o lugar de onde #arte a re!le%ão de Habermas, isto +, de umcerto #ro8eto de universidade. Para um intelectual euro#eu, tal men3ão a Sc'ellingre#orta ao momento de intenso debate na ;leman'a, "ue resultou nas baseste ricas da !utura (niversidade de Zerlim, criada em 141R, sobre modelo !i%ado #orHumboldt. >ntre #ro8etos distintos, o de )ic'te e o de Sc'leiermac'er, Humboldt

    #re!ere este 2ltimo, de sorte "ue, diante da du#la tare!a de #rodu:ir uma ci nciaob8etiva e uma !orma3ão sub8etiva, subordina a !orma3ão sub8etiva < tare!a de#rodu3ão in!inita do saber. 7emos talve: um bom e%em#lo de m in!initude,#or"uanto se desnatura, ao tem#o "ue #ode cum#rir-se. Com e!eito, essaconvic3ão do idealismo alemão acerca do #a#el !ormador da ci ncia, malgrado a#retensão de eternidade "ue a anima, con!lita com a atual realidade da ci ncia e semostra anacrWnicaE as ci ncias #ro#orcionam agora um #oder es#ec !icoE mas o#oder de dis#osi3ão "ue elas ensinam não e"uivale < ca#acidade de viver e de agir,"ue outrora se es#erava do 'omem cienti!icamente !ormado0. 19

    Por sua !eita, a #ro#osi3ão mais ut #ica de )ic'te !a:ia #re#onderar, ao contr rio, a!orma3ão sub8etiva. Nesse sentido, eivado de um sentimento mais !orte #ara a

    sublimidade e a dignidade, )ic'te #Wde dirigir-se como s bio a seus alunos alunos"ue tamb+m s #odia entender como doutos, dos "uais discerne a voca3ãoE 7odosa#licais toda a vossa !or3a #ara, com 'onra, #oderdes ser contados na ordem doss biosF e eu !i:, e !a3o, a mesma coisa0. =R > esses s bios, de!inidos en"uantotais em !un3ão da sociedade ?#ois s e%istiriam gra3as < sociedade e #ara asociedade0@, não se recon'eceriam em uma institui3ão voltada #ara a sim#lesre#rodu3ão de livros outrora raros. Votariam seus es!or3os ?i@ #ara o em#regoautWnomo do entendimento cient !ico e ?ii@ #ara sua reali:a3ão em obras, de sorte"ue, como institui3ão, a universidade a construir-se submetia-se #or umadetermina3ão de sua identidade a um desa!ioE ;ssim como tudo "ue alega odireito < e%ist ncia, tem a obriga3ão de ser e produ&ir o "ue nada + ca#a: de ser e#rodu:ir, ao mesmo tem#o garantindo "ue sem#re #reservar o seu car terE assimtamb+m deve #roceder a universidade ?...@, #ois, em outro caso, ela + !adada adesa#arecer.0 =1

    * modelo de Humboldt, "ue con!ormou a organi:a3ão das institui3Bes cient !icassu#eriores, com#ortaria #rinc #ios ainda atuais, mas tam#ouco #arece resistir aodesa!io de )ic'te. == Habermas denuncia seus com#romissos com uma sociedade#r+-industrial e seus com#romissos com a id+ia cl ssica das rela3Bes entre a teoriae a #r tica, re!erindo-se a teoria < ess ncia imut vel das coisas #ara l do mbitomut vel dos neg cios 'umanos0, mas ad"uirindo validade na atitude vital de'omens "ue, !iloso!icamente cultivados, in!erem de sua atitude contem#lativanormas #ara seu com#ortamento individual. =G >ntretanto, #or tal subordina3ãoagora anacrWnica, o modelo de Humboldt ver-se-ia "uestionado, colocando-se denovo, como um desa!io, a "uestão #rimacial de )ic'te, embora não sua solu3ão,uma ve: "ue a !orma3ão sub8etiva destinada sim#lesmente aos s bios deve darlugar a outra con!orma3ão, a outra cidadania universit ria.

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    >is, #ois, "uanto de #ro8eto #ol tico se oculta em sua men3ão inicial a Sc'elling.Habermas nunca dei%ou de colocar-se tare!as generosas. Na d+cada de 6R, 8sendo uma celebridade na ;leman'a, boa #arte de sua energia intelectual e deseus estudos acad micos tin'am como alvo a re!orma na universidade. Por umlado, !ala então sobre o con'ecimento do lugar da universidade, de um certo lugaronde costuma reali:ar-se o #ro8eto mesmo da teoria. Por outro lado, #ode !alar dauniversidade a #artir de uma re!le%ão radical sobre o con'ecimento, a 2nica "ue,#ortanto, #oderia vindicar o sentido de uma institui3ão cient !ica su#erior. Com isso,Habermas #ode at+ a#ontar a limita3ão de #ro8etos ut #icos de e%tra3ão !ic'teanaEestaria ultra#assada #ela realidade a sim#les id+ia de uma !orma3ãoessencialmente #rivada, atrav+s da "ual trans!ormar-se-ia o saber em obras, #ois oconte2do in!ormativo das ci ncias não #enetraria agora o mundo da vida e%ceto #orum desvio, o das conse"ü ncias #r ticas do #rogresso t+cnico, #restando-se tão-somente < am#lia3ão do nosso #oder de dis#osi3ão t+cnica e não < nossa !orma3ão.Monge de "ual"uer ilusão, a tare!a universit ria em uma civili:a3ão marcada #orcom#leto #ela ci ncia trans!igura-se, restando-nos en!rentar o #roblema de comose #ode 'o8e e!etuar a re!le%ão sobre a cone%ão, ainda es#ont nea, entre#rogresso t+cnico e mundo social da vida, e como submet -la ao controle de uma

    discussão racional0. =K > a #r #ria classi!ica3ão tradicional dos saberes, antesuni!icados #elo signo da teoria, dilui-se no modo como as ci ncias 'o8e #enetramna #r %is vital, tornando-se a autonomia individual de#endente de uma !ormaradical de 'eteronomia. ;gora, não #odendo resolver-se o #rocesso !ormativo nointerior da 'ist ria vital de cada estudante, dir Habermas, a trans!orma3ão dosaber em obras resolve-se no cam#o #oliticamente relevante da tradu3ão do sabertecnicamente utili: vel no conte%to do nosso mundo vital0. =5

    /sso, #or+m, + Habermas, e não #retendemos avan3ar mais em suas #osi3Bes 8algo envel'ecidas sobre a universidade, nem substituir a re!le%ão sobre nossarealidade #ela realidade alemã. Nossa inten3ão !oi a#enas escandir a relev nciadesse come3o singelo #or "ue se re!lete a res#eito da universidade tendo em conta

    dimensBes mais essenciais do con'ecimento. Com isso, #or com#ara3ão, #odemoslamentar um certo ames"uin'amento no atual debate sobre a re!orma universit ria debate "ue, < maneira #ositivista, toma a universidade como um dado,

    restringindo-se a seguir ao e%ame de varia3Bes #oss veis, em geral as relativas a!ormas de organi:a3ão e de !inanciamento. ;o contr rio, de um #onto de vista!ilos !ico "ue não recuse a re!le%ão, o debate s #ode ter sentido na dimensãoelevada "ue interroga a (niversidade em seu #r #rio direito < e%ist ncia no caso,segundo a determina3ão do #r #rio con'ecimento "ue, nesse lugar, segundo seusinteresses e os da sociedade, + l cito #rodu:ir. Membrar essa dimensão constitutiva,segundo cremos, + #arte da missão de uma )aculdade como a nossa. ;!inal,situados na ta%inomia &antiana na ordem das !aculdades in!eriores, + tamb+mnossa a tare!a elevada de re!letir sobre o sentido mesmo e a #ossibilidade docon'ecimento.

    6.

    Lue lugar então + esse, a universidadeI Com "ue direito #ode 8usti!icar suae%ist nciaI Aur&'eim nos ensina "ue o termo 'ni(ersitas , em sua origem, remontatão-s a uma cor#ora3ão de!inida #elo recon'ecimento de algumas regras. >ssetermo, tomado de em#r+stimo da linguagem 8ur dica, teria o sentido a#enas deuma associa3ão dotada de uma certa unidade. >m suma, sua con!orma3ão originalremonta ao interesse de mestres na !orma3ão de novos mestres, sendo a#enasderivada a liga3ão !utura e indissol2vel do termo < id+ia de estabelecimentos deensino. =6 $as não + #or saudosismo "ue recu#eramos esse sentido #erdido,su!ocado #ela tare!a de desenvolvimento m %imo da ci ncia. 7endo surgido comocor#ora3ão, na "ual, em sua origem, o interesse greg rio #revalecia sobre "ual"uer

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    contem#la3ão, a (niversidade ocu#a 'o8e uma #osi3ão es#ecial em nossasociedade. ; universidade + um lugar, talve: o 2nico lugar de con!ronta3ão cr ticaentre as gera3Bes, um lugar de e%#eri ncias m2lti#las, a!etivas, #ol ticas, art sticas,#or com#leto insubstitu veis ?[@F lugar de concorr ncia entre saberes, de seucolocar-se em "uestão, e #ortanto, !orma insubstitu vel de es# rito cr tico e c vico,de es# rito c vico cr tico, lugar "ue viria a desa#arecer atro!iando toda re!le%ãogeral, a"uela ca#a: de ultra#assar os limites das es#eciali:a3Bes disci#linares e dascom#et ncias economicamente !uncionais ?[@.0 =

    7endo assim em conta sua instala3ão, a (niversidade, obrigada a colar-se a seutem#o, torna-se tamb+m inatual como, de resto, a !iloso!ia. (m lugar assim, setem direito a e%istir, renova o sentido de 'ni(ersitas . $ais "ue cons rcio, + lugar"ue deve guardar a diversidade, criando as condi3Bes comuns #ara uma identidadedo diverso na #rodu3ão do con'ecimento. Por sua nature:a, #or guardar as#r #rias condi3Bes da argumenta3ão, nela #revalecem os interesses da autonomiae da emanci#a3ão sobre "uais"uer outros. ;!inal, a ess ncia da atividadeacad mica não est nos trabal'os de #onta, no gesto ol m#ico, nos trabal'os "uemais atendem a demandas urgentes da sociedade ou ainda no g nio incomunic vel

    de um "ue outro #es"uisador, como se a universidade, sob o signo da urg ncia, sedestinasse a#enas a ser um centro de e%cel ncia, uma organi:a3ão de #es"uisa,devendo ser !inanciada segundo r gidos crit+rios das institui3Bes de !omento. ;ocontr rio, #or nossa ess ncia, somos antes desa!iados #or uma re!le%ão "ue,#artindo desse lugar, naturalmente e%ige o #rimado da #alavra e #reserva, contra aurg ncia do tem#o, a #aci ncia do conceito. =4

    (ma institui3ão "ual"uer, em sociedade, deve 8usti!icar seu direito < e%ist ncia.>ssa, a li3ão de )ic'te. >, não sendo tal 8usti!icativa uma mera !ormalidade,e%#ressa-se ela no modo #or "ue a institui3ão se re#rodu:, em como se reali:a. ;(niversidade, então, renova-se tamb+m como um certo lu%o necess rio dasociedade, #ois não #rodu: a#enas #ro!issionais #ara o mercado nem #ode

    determinar-se #or ele, mas antes constitui-se ela #r #ria em #rivilegiado es#a3o desociabilidade, no "ual ela revive #or seus #r #rios rituais, re!a:-se em novos#es"uisadores, #er!orma-se de cidadãos. (ma institui3ão "ue, ao contr rio, não sedemora, "ue não se d ao lu%o da re!le%ão, não + certamente uma universidade.

    Não "uisemos tra:er < baila a tem tica mais recente sobre a re!orma universit rianem sua #auta, mas antes indicar dimensBes mais essenciais "ue, de um #onto devista !ilos !ico, #odem a estar em 8ogo. ;#enas isso, sobretudo #or ser este ummomento de !esta, um momento de acol'ida a novos !uturos mestres, a novos#arceiros em de!esa do con'ecimento e da universidade. >m um momento assim,não cabe #ensar com amargor, nem #odemos temer um tom mais em# tico diantede um tal tema. ;demais, s uma certa #erversão da nature:a 'umana leva-nos a

    8ulgar "ue o cinismo + sinal de intelig ncia, mas a#enas uma certa veleidade does# rito #ode levar-nos a #re!erir $e!ist !eles ao )austo, como se o cr tico !ossesem#re mais saga: "ue o dogm tico, e o #essimista mais arguto "ue o otimista. Xcomo se essas !aces do negativo, 'erdeiras de uma tradi3ão me!isto!+lica, tivessemmirado algo "ue ainda não vimos ou não "uisemos ver. >ssas !aces, entretanto,segundo "uisemos a"ui crer, são cegas #ara a uto#ia. >, estando com os #+s#lantados em São M :aro, !oi sobre um #ouco de uto#ia "ue #retendemos !alar.;!inal, #rocurando estar em uma (niversidade, essa não + mais "ue nossaobriga3ãoE somos condenados < uto#ia #or dever de o! cio.

    Estrada de )*o L+&aro, -. de mar/o de 01123

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    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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    ^^^^^, Tractatus Logico%Philosophicus, São Paulo, >dus#, 199K.

    NOTAS

    [1] Cf. HABERMAS, Jürgen, “Conhecimento e Interesse”, in HABERMAS, J.,Técnica e Ciência como ‘Ideologia’ . !s nos ser"imos #$tr$#%&'o (ort%g%es$ #$ co)et*ne$Technik und Wissenschaft als ‘Ideologie’ , intro#%+in#o, )%+ #o origin$), $)g%m$s (o%c$s $)ter$&-es, (oro(ort%n$s o% necess ri$s.[/] Cf., e. g., McCAR0H , 0hom$s, La Teoría Crítica de Jürgen Ha ermas, c$(. /.[2] 34A05 , Timaios, 2678c.[9] HABERMAS, J., “Conhecimento e Interesse”, (. 1/:.[;] HABERMAS, J., “Conhecimento e Interesse”, (. 120E4ES, !etafísica , A 1, :6< $18:6/ $2.[?] @ERRI@A, J$c %es," "lho da #ni$ersidade, (. 1/;.[6] Cf. RA ER, i))es8 $ston, La Théorie %ristotélicienne de la &cience, (. /1.

    [:] ARIS0>0E4ES, %nalíticos 'osteriores, II, 1

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    [//] Cf. H MB54@0, Fi)he)m "on, “So7re $ 5rg$ni+$&'o Intern$ e E tern$ #$s Instit%i&-es Cient fic$s S%(eriores em Ber)im”.[/2] Cf. HABERMAS, J., “3rogresso 0Dcnico e M%n#o Soci$) #$ Gi#$”, (. :6.[/9] HABERMAS, J., “3rogresso 0Dcnico e M%n#o Soci$) #$ Gi#$”, (. :=.[/;] HABERMAS, J., “3rogresso 0Dcnico e M%n#o Soci$) #$ Gi#$”, (. :?.[/=] Cf. @ RKHEIM, E., L’