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3 CONFERÊNCIA DE BANDUNG E PROTAGONISMOS PERIFÉRICOS a importância da emergência do Terceiro Mundo no cenário internacional Ana Bobato Roniak Angélica Maria Rodrigues França Marina Quezia Mota Alves Há duas maneiras de perder-se: por segregação amuralhada no particular ou por dissolução no “universal” Aimé Cesaire

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3 CONFERÊNCIA DE BANDUNG E 

PROTAGONISMOS PERIFÉRICOS 

a importância da emergência do Terceiro Mundo no cenário 

internacional 

Ana Bobato Roniak 

Angélica Maria Rodrigues França 

Marina Quezia Mota Alves 

Há duas maneiras de perder-se: por segregação amuralhada no particular ou por dissolução no “universal”

Aimé Cesaire 

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Conferência de Bandung e protagonismos periféricos 

 

INTRODUÇÃO 

Segundo Hannah Arendt (1988, p. 17), revoluções são “os únicos eventos políticos que nos confrontam, direta e inevitavelmente, com o problema do começo”. A autora também afirma que revolução é ruptura, o originar de algo completamente novo, que passou a ter esta concepção quando se entendeu que o social não era simplesmente natural, mas passível de mudança. E que sua finalidade é a de instituição de liberdade, a qual só é alcançada quando os homens se unem com o propósito de ação, respeitando e cumprindo pactos e promessas feitas (ARENDT, 1988).

Embora tenha cumprido todos os critérios supracitados, no geral, raramente se apresenta a Conferência de Bandung (1955) como um movimento revolucionário. Num contexto no qual as únicas opções ofertadas eram o alinhamento com a União Soviética ou com os Estados Unidos da América, a Conferência aparece com uma proposta contra-hegemônica de não-alinhamento com estas políticas, sendo permeada por um interesse recíproco entre nações que, até então, só haviam sido consideradas com interesses exploratórios (MEDEIROS, 2017).

Neste sentido, entende-se aqui a Conferência de Bandung como um marco na história da humanidade, de verdadeira insurgência das antigas colônias na luta para consagrarem sua recente independência e, desta forma, se libertarem da “amarga experiência colonizadora de dominação econômica, política e social direta e da submissão da população à discriminação racial em sua própria terra” (TANCREDI; LUBASZEWSKI; MILAGRE, 2014, p. 2).

Neste contexto, há quem defenda que é na Conferência de Bandung que se culmina na derrubada do mito do homem-branco

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endossar essa premissa por inteiro, já que até o presente verifica-se o pensamento racista, preconceituoso e etnocêntrico permeando discursos, é inegável que naquele momento histórico a resistência não se isolou aos diálogos interestatais (YEROS, 2015). Assim, a Conferência de Bandung foi, em verdade, um momento de despertar das periferias.

Afinal, é na década de 60 que as lutas sociais ganham força, especialmente o movimento negro. Houve, naquele momento, uma revolução comportamental: os Beatles, que começam a década cantando bobas canções de amor, a terminam pedindo revolução, mudança, igualdade. Martin Luther King consegue que mais de 200 mil pessoas marchem pelo fim da segregação racial e conta seu sonho para a humanidade. E tal convivência temporal não é pura coincidência: é sincronia . 2

Felizmente, o “espírito de Bandung” não se encerrou naquela década. Ainda hoje, percebe-se três trajetórias decorrentes da Conferência: a) a do avanço das periferias e a formação do BRICS , 3

1 Em suma, “mito do homem branco superior” é o entendimento errôneo de que o homem branco europeu, de gênero masculino e cor branca, é superior aos demais seres humanos em razão de sua origem e características. Em linhas gerais, suas implicações incluem o etnocentrismo, o racismo, a xenofobia, o machismo, entre outros. 2 Sincronia significa estado ou condição de dois ou mais fenômenos ou fatos que ocorrem simultaneamente, relacionados entre si ou não (DICIO, 2018). Aqui, entende-se que os fatos estavam relacionados e se influenciaram mutuamente. 3 Os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) são países que, muito embora não sejam considerados desenvolvidos e não participem da cúpula do G7, levantam importantes considerações acerca do impacto econômico global de suas políticas fiscais e monetárias (O’NEILL, 2001).

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b) a do nacionalismo anticolonial e antirracista, que encontra força na mobilização das classes populares, negras e indígenas, e c) a difusão do espírito de Bandung às Américas, criando a possibilidade de se sustentar uma aliança mais duradoura (YEROS, 2015).

Neste sentido, Arendt (1988) também diz que a união que nasce da revolução e para a revolução gera poder. Com o presente artigo, por meio da análise histórica, pretende-se mostrar que a Conferência de Bandung foi um importante espaço de empoderamento dos países, de maneira que chegou a impactar outras dimensões da realidade, mais especificamente os movimentos sociais – e que tal influência foi recíproca.

Espera-se, assim, demonstrar como a emergência dos protagonismos periféricos foram – e ainda são – fundamentais para uma mudança estrutural da comunidade internacional e, desta forma, despertar no leitor a importância da resistência, individual e coletiva, para a transformação da realidade social.

1. PARA REFLETIR: O QUE SÃO PERIFERIAS? 

Antes de se aprofundar no foco deste artigo, que é a Conferência de Bandung, é preciso esclarecer o que esta significou. No contexto internacional, a supracitada conferência, como será visto nos próximos tópicos, foi protagonizada por aqueles países ditos periféricos, dando-lhes uma voz nas decisões político-econômicas sem precedentes, que, influenciando até a geopolítica atual, ficou conhecida por “espírito de Bandung” (BISSIO, 2015). Mas o que exatamente significa isso?

Pensar “periferia” é complicado, não tão somente em virtude da dificuldade de sua conceituação, mas ainda por uma questão de desconstrução de paradigma. Afinal, o que seria periferia? É quase

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impossível, decerto, responder sem recorrer a um conceito injusto; mais ainda no âmbito das relações internacionais, corre-se o perigo de reproduzir um conceito etnocêntrico. No entanto, é preciso observar, pelo menos basicamente, o que se entende por periferia. Na visão de Domingues (1994, p.5), diz-se que

É o grau de afastamento a um centro que clarifica a posição periférica (física, social, morfológica, etc.) e esta é o tanto mais quanto maior é a visibilidade, o posicionamento, o poder e a clareza dos atributos da condição central. Enquanto agregado social, a periferia define-se, por isso e também, não pela densidade ou pela intensidade do interrelacionamento interno ao nível local, mas sim pela dependência.

Neste sentido, justifica-se trazer, inicialmente esta abordagem pelo fato de o conceito de periferia ser fundamental para enxergar a Conferência de Bandung por um novo viés: o de um evento extremamente relevante para transformar, mesmo que não total e nem imediatamente, o jogo político das relações internacionais em pleno século XX.

2. CONFERÊNCIA DE BANDUNG: UMA VISÃO GERAL 

Intitulada também como Conferência Asiático-Africana, a Conferência de Bandung ocorreu entre 18 e 24 de abril de 1955 e teve como pauta problemas e preocupações de interesse comum às 29 nações participantes, proporcionando uma discussão sobre maneiras através das quais as populações de tais países pudessem alcançar máxima cooperação econômica, cultural e política. O evento surgiu a partir da iniciativa dos primeiros-ministros da Birmânia, Ceilão (atual Sri Lanka), Índia, Indonésia e Paquistão e contou com 24 nações convidadas: Afeganistão, Arábia Saudita, Camboja, República

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Popular da China, Costa do Ouro (atual Gana), Egito, Etiópia, Filipinas, Iêmen, Irã, Iraque, Japão, Jordânia, Laos, Líbano, Libéria, Líbia, Nepal, Síria, Sudão, Tailândia, República Popular do Vietnã, Estado do Vietnã e Turquia (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

A Conferência marcou a primeira vez em que essas nações participantes reuniram-se como entidades políticas autônomas com o intuito de encontrar um propósito comum a todos que ultrapassava objetivos individuais e a dualidade da Guerra Fria (PARKER, 2006). O primeiro-ministro da Indonésia, à época Ali Sastroamidjojo, recebeu um destaque maior no período que antecede a Conferência de Bandung pela sua presente disposição em iniciar o debate sobre o pronunciamento das nações afro-asiáticas em um contexto de impacto mundial.

Outros líderes também se movimentaram no Ceilão em 1954, durante a chamada Conferência do Colombo, que reuniu uma parte dos primeiros-ministros asiáticos para explorarem a possibilidade de uma conferência oficial afro-asiática. No fim do mesmo ano, outro encontro de mesmo cunho ocorreu para que, em abril de 1955, a Primeira Conferência Asiático-Africana finalmente fosse possível (THE JAKARTA POST, 2015).

Os tópicos debatidos durante a Conferência enfatizam a jornada histórica pela qual as nações participantes haviam passado e a situação momentânea na qual estavam inseridas naquele momento. Uma parcela dos países membros haviam conquistado recentemente sua independência política, como foi o caso da Índia, e, por consequência, do Paquistão, que tornaram-se independentes entre si e da soberania britânica em 1947 (CHANDRA, 1989).

Muitos desses casos de independência, à época recentes, deram-se em decorrência dos efeitos do pós-guerra sobre as nações

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colonizadoras, economicamente sequeladas, mas não somente por isso. É importante destacar que a participação das tropas coloniais na guerra contribuiu para o fortalecimento de sentimentos nacionalistas locais que, somados ao enfraquecimento das metrópoles, contribuiu para os movimentos de descolonização. Ainda, havia o fato de que os estudantes que viajam para as metrópoles para completar sua formação, voltando para a colônia com maior acesso ao conhecimento, carregavam consigo o anseio de lutar por melhorias sociais (SAMPAIO, 2013).

Em contraste a esses casos, muitas nações, em sua maioria africanas, ainda encontravam-se em situação colonial, com seu desenvolvimento interrompido e sua cultura e costumes marginalizados. Nações como Argélia, Marrocos e Tunísia, que, mesmo sem ter qualquer envolvimento com a conferência ocorrida em Bandung, foram citadas em seu comunicado oficial como exemplos de nações cujas populações tiveram o direito ao estudo de suas próprias línguas e culturas reprimido. Dessa forma, a Conferência de Bandung declarava que qualquer manifestação do colonialismo era um mal que deveria ser erradicado o mais rápido possível. (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

Ademais, a Conferência Asiático-Africana reconheceu que a presença do colonialismo em diversas partes da África e Ásia impedia qualquer tipo de desenvolvimento por parte das nações colonizadas e, levando isso em consideração, enfatizou a cooperação cultural e econômica. Os membros concluíram que a integração e a formação de acordos bilaterais culturais, econômicos e políticos entre as nações participantes, sem ferir a soberania nacional de cada país, seria o melhor caminho para o avanço das nações afetadas pelo

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colonialismo (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

Buscou-se, através das discussões, maneiras de proporcionar oportunidades de crescimento econômico, social e cultural para todas as nações enquadradas como Terceiro Mundo. De acordo com o economista Alfred Sauvy, o globo estava dividido em três mundos: o primeiro mundo seriam os países com altos índices tecnológicos e de industrialização, juntamente com o uma qualidade de vida elevada; o segundo mundo seriam as nações com economia planificada que originaram-se com a queda da URSS; e, por fim, o terceiro mundo seriam os países latino-americanos, africanos e asiáticos com economia subdesenvolvida. (SAUVY, 1952).

O priorizado durante a conferência era o conflito Norte-Sul, que resumia-se na presença colonialista e opressora das nações mais ao norte do globo na soberania dos países do sul, cujo desenvolvimento, fraco e restrito, permanecia enrijecido (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

A insatisfação desses países foi o estopim para que as demais nações que se enquadravam nos padrões do Terceiro Mundo se movimentassem contra o colonialismo do pós-guerra. Além disso, foi o momento em que o Movimento dos Países Não Alinhados começou a ganhar forma, para que seu efetivo nascimento ocorresse em 1961 (KOCHER, 2004).

2.1. Não alinhamento e Bandung 

A ascensão do Terceiro Mundo ocorreu em um contexto de confronto entre as superpotências originadas ao fim da Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos e a União Soviética criaram

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entre si uma tensão militar e política que amedrontava o restante das nações do globo com a ideia de uma possível guerra nuclear. O mundo estava, de forma superficial, dividido em dois, distribuído entre zonas de influência capitalista e socialista.

A situação das outras nações que tiveram envolvimento direto na Segunda Guerra Mundial era, pelo contrário, um pouco mais precária. As derrotas do Reino Unido em território europeu e asiático, bem como em seus territórios coloniais, reduziram sua autoridade imperialista. A Holanda fora atacada pela Alemanha nazista e recebera a invasão do Japão na Indonésia (à época sua colônia), que, mesmo depois da rendição dos japoneses, manifestou um forte sentimento nacionalista através de movimentos sociais. Embora houvesse mais países europeus em estado econômico crítico, as consequências do pós-guerra para os que envolveram-se militarmente na guerra contribuíram para as ondas de libertação nacional na Ásia e África (FILHO; FERREIRA; ZENHA, 2002).

Uma parte dessas ex-colônias se aproximou dos ideais anticolonialistas dos líderes afro-asiáticos e acabaram por participar da Conferência de Bandung menos de uma década depois. Exemplos disso são Laos (ex-colônia da França, 1949), Indonésia (ex-colônia holandesa, 1949), Camboja (ex-colônia da França, 1954), Ceilão (ex-colônia do Reino Unido, 1948), entre outras (HOBSBAWM, 2008).

Esses países, juntamente com o restante do Terceiro Mundo, apresentavam-se, em sua maioria, distantes de se associarem aos ideais soviéticos, mas, ao mesmo tempo, não muito próximos da oferta capitalista dos EUA (HOBSBAWM, 2008). Durante as discussões da Conferência de Bandung, os países participantes concordaram em não restringir ou determinar a escolha das nações presentes sobre qual sistema da dicotomia mundial era o melhor a ser

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adotado. Essa decisão foi uma forma de reforçar o princípio da soberania que cada país deveria exercer sobre seu território, sem a interferência de outras nações, mesmo que parte do Terceiro Mundo (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

A preocupação com a eclosão de uma possível Terceira Grande Guerra era explícita e foi pautada na discussão da Conferência Asiático-Africana, que explicitou o desejo conjunto das nações participantes de caminharem para a paz mundial. Em detrimento disso, destacou-se como inadequada a escolha dos países afro-asiáticos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas . Esse ato tinha por objetivo proporcionar uma participação 4

mais efetiva por parte das nações asiático-africanas na manutenção da paz e segurança em um contexto internacional (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

Além dessa recomendação, com a possibilidade crescente de uma Terceira Guerra Mundial com um presumível viés nuclear, a Conferência de Bandung considerou imperativo o desarmamento e a proibição da produção, experimento e uso de armas de guerra termonucleares, com o intuito de proteger a civilização mundial de uma destruição em massa. Estava presente em meio às

4 Levando em consideração que muitas nações ainda não haviam sido aceitas para serem parte das Nações Unidas e considerando importante que a cooperação pela paz mundial seja universal, a Conferência Asiático-Africana pediu ao Conselho de Segurança por apoio na admissão de países que fossem qualificados para associarem-se ao Conselho de acordo com os requisitos da carta das Nações Unidas. As nações sugeridas pela Conferência foram: Camboja, Ceilão, Japão, Jordão, Líbia, Nepal e Vietnã (unificado) (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955)

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recomendações da Conferência uma cooperação para tal fim por meio das Nações Unidas em prol de uma regularização, limitação, controle e redução de todas as forças armadas (com foco em armas de destruição em massa) e declarou que um desarmamento universal seria uma necessidade absoluta para a preservação da paz (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

2.2. Situação dos países afro-asiáticos 

Movimentos de descolonização e revoluções transformaram de modo impressionante o mapa político do globo: à época da Conferência de Bandung, o número de Estados internacionalmente reconhecidos como independentes na Ásia e na África crescia exponencialmente . Cabe ressaltar, aqui, que os países afro-asiáticos 5

ganhavam importância em virtude do enorme e crescente peso demográfico que exerciam, somado à pressão que representavam coletivamente. Todavia, quando surgiram no mundo pós-guerra e pós-colonial, essas não foram suas primeiras preocupações, já que, inseridos no contexto da Guerra Fria, a pressão maior se dava quanto ao modelo político-econômico que iriam adotar (HOBSBAWM, 1995).

Neste contexto, os países recém independentes adotaram, ou foram exortados a adotar, sistemas políticos derivados de suas antigas metrópoles. Em teoria, portanto, o mundo tinha cada vez mais pretensas “repúblicas democráticas populares” sob um partido único

5 Isto se refere principalmente aos países asiáticos, já que somente seis países africanos eram independentes à época da Conferência, a saber Costa do Ouro, Egito, Etiópia, Libéria, Líbia e Sudão. A maioria dos países do continente africano ainda se encontrava na situação de colônia europeia.

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orientador ; na prática, tais rótulos indicavam no máximo em que 6

zona de influência esses Estados queriam situar-se internacionalmente. Contudo, suas pretensões eram, em geral, um tanto utópicas, já que, na maioria dos casos, faltavam-lhes as condições materiais e políticas para corresponder a elas (HOBSBAWM, 1995).

Os Estados Unidos e a União Soviética, de certa forma, repetiram o que as potências europeias haviam feito através da Conferência de Berlim (1884-1885) , perpetuando e desenvolvendo 7

um comportamento imperialista, criado e mantido, até então, pelos franceses e ingleses. Naquele momento, França e Inglaterra – potências que já não possuíam o mesmo poder anterior – ganharam uma espécie de compensação pela aceitação da Europa bipolar: a manutenção dos seus impérios coloniais (HOBSBAWM, 1995).

Seus governos desejavam a continuidade inalterada do processo colonial, como se apenas continuassem o que se mantinha favorável às potências europeias. Onde os inimigos recém-derrotados da Segunda Guerra Mundial implantaram ocupações – como no caso da Indonésia e Vietnã invadidos pelo Japão –, as antigas metrópoles tentaram desesperadamente retomar o controle do território. Quando

6 De fato, a maioria dos países acabou por adotar um modelo de Estado capitalista, seguindo o que lhe impunha, direta ou indiretamente, sua respectiva antiga metrópole. Assim, os que se inclinaram-se a adotar o modelo de revolução socialista eram minoria. 7 Realizada entre 1884 e 1885 sob a premissa de missão civilizatória, a Conferência de Berlim caracteriza-se por ter sido o evento da “partilha da África”, no qual se decidiu de que forma se daria a ocupação do continente africano pelas potências europeias. Conforme acordado na Conferência de Berlim, a maior parte do continente africano foi dominada pela França e pela Inglaterra, as duas grandes potências do século XIX (HOBSBAWM, 1988).

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a retirada se tornou inevitável, como na Índia, no Paquistão e na Palestina, a descolonização foi efetivada. Mas mesmo esses exemplos não produziram automaticamente o desmonte do colonialismo metropolitano (KOCHER, 2005).

Neste contexto de crescimento dos processos emancipatórios, destacaram-se a influência da internacionalização do capital, (principalmente norte-americano, sedento por novos mercados para exportação e investimento de excedentes de capital) e o amadurecimento dos movimentos de libertação nacional, muitas vezes inspirados pelo modelo alternativo representado pela União Soviética (KOCHER, 2005).

Assim, além de culminar na chamada “derrubada do mito do homem-branco superior”, a descolonização – em grande parte afro-asiática – também serviu para incitar um interesse recíproco entre estas nações na discussão e definição de diretrizes de posicionamento e ação próprias, não necessariamente condizentes com as expectativas das superpotências norte-americana e soviética (VISENTINI, 2007 apud TANCREDI; LUBASZEWSKI; MILAGRE, 2014).

3. REFLEXOS DA CONFERÊNCIA DE BANDUNG 

É inegável que a Conferência de Bandung “preparou o terreno” para a iminente ordem política internacional multipolar – na qual, teoricamente, o conjunto de países periféricos contraiu uma importância relativa nunca antes vista, apesar de todos os obstáculos que enfrentam para cooperarem e se desenvolverem econômica e socialmente de maneira cada vez mais independente. No entanto, em meio a esses desafios, a heterogeneidade dos países, que a princípio poderia ser um empecilho à coordenação da ação coletiva, foi

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superada pelo desejo comum de todas as nações de enfrentar o subdesenvolvimento.

Afinal, como característica comum entre estes países reside o fato de todos terem lidado, mesmo que de modos diferentes, com o imperialismo e com constantes intervenções externas nocivas à suas autonomias (HOBSBAWM, 2008). Essa união permitiu que a Conferência pudesse se posicionar como um polo de poder alternativo que tornaria a Guerra Fria bem mais complexa do que aparentemente se imaginava (PEREIRA, 2015). Nas palavras do presidente Ahmed Sukarno, chefe de Estado da Indonésia, durante a abertura da Conferência:

Todos nós, estou certo, estamos unidos por coisas mais importantes do que aquelas que superficialmente nos dividem. Estamos unidos por uma repulsa comum ao colonialismo sob qualquer forma que ele se apresentar. Estamos unidos por uma repulsa comum ao racismo. E estamos unidos por uma determinação comum de preservar e estabilizar a paz no mundo… Falando em termos relativos, todos os que estamos reunidos aqui somos vizinhos. Praticamente todos estamos unidos pela experiência comum do colonialismo. Muitos de nós temos a mesma religião. Muitos de nós temos as mesmas raízes culturais. Muitos de nós, as assim chamadas nações subdesenvolvidas, temos problemas econômicos similares, de modo que cada um pode aproveitar a experiência do outro e ajudar. E, eu penso que devo dizer que todos partilhamos os ideais comuns de independência nacional e liberdade (INSTITUTE OF PACIFIC RELATIONS, 1955 apud BISSIO, 2015, p.28).

De forma geral, a convenção se propunha a considerar e discutir problemas de interesse comum e concernentes aos países da

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Ásia e da África, abordando modos e meios pelos quais os seus povos poderiam realizar uma cooperação econômica, cultural e política mais estreita, tendo em vista a conquista do desenvolvimento mútuo (TANCREDI, 2014). Nesse aspecto, é possível definir quatro objetivos principais da Conferência: a luta contra o colonialismo/neocolonialismo e o racismo; o direito de todos os povos à autodeterminação; a luta pela independência e pela neutralidade no interior da Guerra Fria; e, por último, a busca pelo desenvolvimento econômico (TANCREDI, 2014). 8

A partir do desenvolvimento das discussões mencionadas anteriormente, a Conferência marcou a manifestação efetiva do Terceiro Mundo no cenário internacional, contribuindo para consolidar uma nova tendência de crescente influência dos países neutralistas (VISENTINI, 2007). Tal posicionamento somente foi possibilitado pela crença de que a recuperação da independência política formalizava o meio para a conquista da libertação econômica, social e cultural (AMIN, 2010).

Como consequência, a vitória política da realização da Conferência pode ser encontrada na força de uma de suas principais propostas, o “neutralismo” perante os dois blocos de poder da Guerra Fria. No entanto, é necessário que esse neutralismo seja compreendido como “neutralismo positivo”, ou “neutralismo ativo”, uma vez que a neutralidade desejada não era a indiferença ou ausência, mas sim um desejo de participação efetiva nas principais

8 Mais tarde, como se verá nos próximos tópicos, essas reivindicações apresentadas nos princípios de Bandung – e nas diversas conferências que trataram do tema do desenvolvimento na época – passariam a ser defendidas no âmbito da ONU, que passaria a constantemente institucionalizar e englobar a agenda da Cooperação Sul-Sul (PEREIRA, 2015).

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decisões do sistema internacional e o abandono da posição de periferia subjugada (TANCREDI, 2014).

Além de Bandung ter marcado a emergência de países subdesenvolvidos no sistema mundial, ela influenciou e inspirou o surgimento do Movimento dos Não-Alinhados (MNAL), a partir da Conferência de Belgrado , em 1961 (PEREIRA, 2015). Afinal, os 9

princípios basilares da Conferência de Bandung foram adotados pelo MNAL (NON ALIGNED MOVEMENT, 2015).

Ademais, a institucionalização do não-alinhamento trouxe consigo a cooperação visando ao respeito à soberania e conceitos como autodeterminação nacional , o que, aliada aos demais fatores 10

supracitados, firmaria a pretensão comum às nações não alinhadas de constituir uma terceira via não entre dois polos, mas sim livre para atuar dentro de ambos, conforme suas necessidades e interesses nacionais (BROWN, 1966).

9 Em setembro de 1961, 28 países do chamado Terceiro Mundo se reuniram em Belgrado, capital da então Iugoslávia, para discutir temas como o desarmamento, a integridade nacional e a bipolaridade ideológica do período. Desse modo, a Conferência de Belgrado, após um encontro preparatório no Cairo, Egito, seria um ambiente propício para discutir as questões levantadas pelos membros do movimento, como o desarmamento e a neutralidade (ROTHFELD et al., 2013). 10 No que diz respeito ao aspecto interno da autodeterminação, é necessário evidenciar que este refere-se ao direito de um povo de determinar seu próprio regime econômico e político e diversamente do aspecto externo – que cessa de existir sob o direito costumeiro quando ele vem a ser implementado – o aspecto interno possui um caráter permanente (CASSESE apud BIAZI, 2015).

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Ainda no que concerne às concepções políticas suscitadas pela Conferência, a coexistência pacífica e o princípio de não-interferência acabaram por confluir na recusa à participação em qualquer pacto militar e, consequentemente, na discussão sobre o desarmamento (ROTHFELD et al., 2013). Afinal, embora o confronto entre as duas superpotências dominasse o cenário internacional, nem todos os conflitos relacionados ao Terceiro Mundo estavam essencialmente ligados à Guerra Fria.

Os Estados do Terceiro Mundo não possuíam qualquer intenção de se envolverem em um conflito global (HOBSBAWM, 2008). Dessa forma, em meio à bipolarização mundial, era previsível que as armas nucleares tivessem pouca utilidade prática para exercer influência direta aos países periféricos. Outrossim, instigar o fortalecimento militar seria, no mínimo, incoerente com os objetivos dos países participantes da Conferência, uma vez que possuíam o objetivo de promover um desenvolvimento estável e eliminar as fontes de conflitos regionais e globais, além de direcionar suas energias às tentativas de diminuir as tensões entre as grandes potências (ALLISON, 1988).

3.1. Enfrentamento dos reflexos coloniais

Diversos países recém-independentes encontravam-se ainda atrelados à dominação indireta de países industrializados mais poderosos (a despeito da independência formal), o que dificultava a mobilização rumo a uma via autônoma de desenvolvimento (LINHARES, 2006). Dessa forma, era clara a maneira como a estrutura centro-periferia resultava em aspectos desiguais, exploradores e coercitivos dessa relação e era responsável pela própria manutenção: imperialismo, neocolonialismo e imposição cultural (BUZAN, 2002). Essa situação, no entanto, não foi

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impeditiva a ponto de impossibilitar os países a estabelecerem propostas concretas que, futuramente, convergiram para o surgimento de ideias de enorme impacto e extraordinário significado, a exemplo da necessidade de implementar uma Nova Ordem Econômica Internacional (NOEI).

A meta era estabelecer uma relação mais equitativa com o valor “de mercado” dos produtos industrializados. Na brecha formada pela queda persistente dos preços das commodities e a 11

simultânea elevação dos produtos industrializados – cuja fabricação era imatura nos países participantes da Conferência, formadores posteriormente do Terceiro Mundo –, encontrava-se a explicação de uma das causas do subdesenvolvimento herdado da etapa colonial, recém superada na maioria deles. Portanto, mudar essa equação era uma necessidade essencial para superar ou ao menos minimizar a dependência das ex-metrópoles, ainda muito forte (BISSIO, 2015).

Do ponto de vista social, uma pauta foi o fato de que o colonialismo, em muitas partes das regiões envolvidas, acabava por oprimir as culturas nacionais dos povos e entravar a cooperação nesse sentido; uma das formas de opressão, por exemplo, era a proibição de uso dos idiomas tradicionais para a comunicação (SAMPAIO, 2013). Assim, sem seus direitos básicos na esfera da educação e da cultura, o povo acabava por não ter liberdade para desenvolver a sua identidade e as regiões acabavam por não avançar

11 Commodities é o termo utilizado para se referir aos produtos de origem primária que são transacionados nas bolsas de mercadorias. São normalmente produtos em estado bruto ou com pequeno grau de industrialização, com qualidade quase uniforme e são produzidos e comercializados em grandes quantidades do ponto de vista global. Também podem ser estocados sem perda significativa em sua qualidade durante determinado período. Podem ser produtos agropecuários, minerais ou até mesmo financeiros (BRANCO, 2008).

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em termos culturais , o que foi condenado pelos participantes 12

(TANCREDI, 2014).

Outro ponto de concordância foram os pronunciamentos de repúdio sobre as práticas de segregação racial e discriminação que vinham minando as relações humanas tanto na África quanto no resto do mundo, sendo estas consideradas graves violações aos direitos humanos defendidos pelos participantes da convenção (TANCREDI, 2014).

Desta maneira, foi reafirmada a determinação dos povos afro-asiáticos de erradicar cada traço de racismo que pudesse ainda existir em seus próprios países, além do comprometimento de utilizarem sua influência moral para a prevenção contra o perigo de se tornarem vítimas do mesmo mal na luta para erradicá-lo (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

Portanto, conclui-se dessa análise que, no mundo bipolar da época, os povos representados em Bandung levantavam a bandeira da promoção da coexistência pacífica, rejeitando a participação em qualquer pacto militar e contestando a ordem internacional vigente para, enfim, se reafirmarem como Estados soberanos (BISSIO, 2015). A partir da traumática experiência colonial, eles defendiam, também, a não-intervenção e a não-interferência nos assuntos internos dos demais países, consagrando os princípios de respeito à soberania e à integridade territorial de todas as nações, com a defesa dos direitos humanos como valor fundamental (BISSIO, 2015).

12 Avanço cultural, aqui, refere-se ao desenvolvimento e valorização das culturas tradicionais daqueles países colonizados. Isto quer dizer que uma parte expressiva das práticas culturais daqueles países acabavam sendo negligenciadas e não valorizadas pelo resto da comunidade internacional, em virtude do já enraizado etnocentrismo.

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Além disso, os princípios fundamentais da Conferência de Bandung pautavam-se também na necessidade de desenvolver relações horizontais entre países subdesenvolvidos, baseadas na cooperação e na ideia de reciprocidade (PEREIRA, 2015). Por fim, mais que ter sido um passo importante na direção de uma agenda própria, a principal conquista política da Conferência de Bandung foi o fato de apresentar uma nova forma de compreensão do momento histórico e da geopolítica.

3.2. Desenvolvimento da Cooperação Sul-Sul

Uma das mais notórias consequências da Conferência de Bandung, que permanece na geopolítica até os dias atuais, foi o desenvolvimento do que se define por Cooperação Sul-Sul. Esse passo inédito e audacioso na história se deu a partir do momento no qual, em meio à dicotomia Leste-Oeste instigada pela Guerra Fria, os participantes introduziram um novo foco na agenda do Terceiro Mundo: o conflito Norte-Sul.

Diante desta nova análise, os países interpretaram o contexto da época como um momento no qual as potências mais desenvolvidas e industrializadas do Norte acabavam por impedir o desenvolvimento dos países do sul; os quais, por sua vez, ficariam relegados à exportação de produtos primários (TANCREDI, 2014).

Foi a partir desse encontro, com a aplicação e respeito aos seus princípios fundamentais, que os países do Sul Global, explorados por muitas décadas pelas superpotências globais ricas e dominantes, puderam se unir e presumivelmente construir uma força de solidariedade, promotora do desenvolvimento auto-iniciado (ROA, 2010).

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Nesse contexto, analisa-se uma discussão estabelecida em meio a uma crise de hegemonia – na qual esteve presente a disputa de ideias, valores e princípios – atrelada diretamente à capacidade da periferia de produzir alternativas e soluções para o desenvolvimento (PEREIRA, 2015). Ademais, com esse tipo de produção, essa força seria fundamental para reduzir os desequilíbrios inerentes ao atual sistema de governança global, o qual ainda prejudica os pobres e mantêm seu estado de desigualdade (ROA, 2010, p.23).

Sendo a Conferência de Bandung considerada a pioneira nas discussões sul-sul, ela trilhou o caminho para a consolidação de um contexto favorável a essa cooperação. A partir dela, foi reconhecida a urgência de promover o desenvolvimento econômico da zona afro-asiática dentro do respeito à independência nacional por meio da assistência técnica (termo atualmente substituído por “cooperação técnica”) entre participantes e/ou por meio de acordos multilaterais e bilaterais com o resto do mundo (BISSIO, 2015).

Também foi solicitada a criação de um fundo especial das Nações Unidas para o desenvolvimento econômico e fora recomendado aos países afro-asiáticos que variassem suas exportações “manufaturando” suas matérias-primas e incentivando mercados inter-regionais e intercâmbios de delegações regionais (PEREIRA, 2015).

Diante de tal plano econômico, a Conferência materializa aquilo que se pode definir como a “ideologia do desenvolvimento”. O desenvolvimento nesse período é visto como “a vontade de desenvolver as forças produtivas, de diversificar a produção, nomeadamente industrializando, bem como a vontade de assegurar ao Estado nacional a direção e o controle desse processo” (AMIN apud PEREIRA; MEDEIROS, 2015, p.8).

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Desde então, a Cooperação Sul-Sul tem sido desenvolvida de múltiplas maneiras – variando desde integração econômica, a partir da formação de blocos de negociações dentro de instituições multilaterais, até intercâmbios culturais. Atualmente, inclui assistência humanitária, financiamento de projetos de desenvolvimento e demais programas, apoio orçamental e fortalecimento balança de pagamentos (ROA, 2010, p.2).

Tais relações se dão a nível de governos e suas agências, bem como entre empresas privadas, de origem em tais países do Sul, e organizações da própria sociedade civil. Todos esses esforços foram responsáveis pelo fortalecimento tanto das condições sociais como do desenvolvimento econômico dos países ativos em tal política (ROA, 2010, p.2).

Muito embora a Conferência de Bandung apresentasse o estabelecimento de cooperações a nível econômico e político entre os próprios países do Sul global ao final do século XX como terceira via, tal estratégia sofreu um forte processo de inflexão. Como consequência do forte crescimento da dívida externa dos países em desenvolvimento que despontavam como expoentes nesse processo, a possibilidade de renovação da agenda da Cooperação Sul-Sul era limitada (LOPES; NASCIMENTO; VADELL, 2013).

No entanto, surge uma nova perspectiva de desenvolvimento consonante às realidades de países como China, Turquia, Brasil, África do Sul e Índia e observa-se a renovação da força desse movimento (LOPES; NASCIMENTO; VADELL, 2013). Previamente, os Programas de Ajuste Estrutural, promovidos pelas instituições de Bretton Woods com o objetivo de elencar a 13

13 Conferência realizada em 1944 com o objetivo de criar regras e instituições formais de um sistema monetário internacional capaz de superar as enormes limitações que os sistemas então conhecidos, o padrão-ouro e o

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produtividade de produtos primários provenientes do continente africano e asiático frente à maior demanda por parte da comunidade internacional – em especial a Europa (TUSMA, 2010) – promoveram uma esfera de insatisfação comum entre os países em desenvolvimento devido aos expressivos impactos sociais consequentes (LOPES; NASCIMENTO; VADELL, 2013).

Em meio à ineficiência dos esforços de países do norte na promoção de políticas desenvolvimentistas e perante a emersão de países subdesenvolvidos, vê-se a ampliação do conceito e atuação da Cooperação Sul-Sul e a projeção da China como, no âmbito dessa cooperação, maior país subdesenvolvido do mundo. Nesse aspecto, as políticas de auxílio da nação chinesa aos demais países tomam os holofotes do cenário internacional. Tais políticas chinesas tem seu início representado pelo estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e o Egito em 1956, marcando o início da cooperação Sino-Africana (LOPES; NASCIMENTO; VADELL, 2013).

A partir disso, segundo Visentini e Oliveira (2007), a República Popular da China apoiava ativamente o processo de descolonização do continente africano, como forma de aumentar a sua influência política e de conquistar novos parceiros. Com a promoção, por parte dos chineses, de uma política de não-alinhamento marcada pelo fim das relações sino-soviéticas após a década de 1960, foi adotada uma política de “estratégia de duas

sistema de desvalorizações cambiais competitivas, haviam imposto ao comércio internacional. Entre as instituições, destacam-se o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), responsáveis por financiamentos, concessões de crédito, supervisão de atividades econômicas, dentre outras funções a nível internacional (OLIVEIRA; MAIA; MARIANO, 2008).

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zonas intermediárias” pelo líder chinês Mao Tsé-Tung, a qual se referia aos países subdesenvolvidos e a nações da Europa Ocidental.

Aos chineses, seria necessária a promoção do apoio por meio de políticas de cooperação entre os Estados da primeira zona intermediária, constituída pelos países subdesenvolvidos, enquanto buscaria-se traçar meios para um conquista diplomática da segunda zona, ou seja, aquela constituída pelos países europeus. Com isso, observava-se a oportunidade da China promover uma segunda via de influência na Ásia dissociada da URSS, bem como aproximar as relações entre os países subdesenvolvidos asiáticos e africanos, sob a égide da representatividade chinesa enquanto maior economia do bloco (LOPES; NASCIMENTO; VADELL, 2013).

Outro exemplo prático da Cooperação Sul-Sul, num contexto mais atual, consiste no momento em que os países da periferia passam a atuar cada vez mais sintonizados, formando blocos como o BRICS – que é apenas um dos exemplos das consequências da evolução da Cooperação Sul-Sul. Esses novos arranjos apresentam caráter reformista da ordem internacional e buscam novas soluções e formas de cooperação para lidar com problemas concernentes ao desenvolvimento, tão caro aos países da periferia (PEREIRA, 2015). A criação do Banco do BRICS e outros tipos de cooperação sinalizam um crescente protagonismo desse grupo de países, que têm se portado como porta-vozes dos países em desenvolvimento através dos seus modelos de cooperação diferenciados da lógica Norte-Sul que imperava nas décadas de 1980 e 1990 (PEREIRA, 2015).

Sendo assim, a maioria dos países em desenvolvimento ainda considera o princípio de igualdade e benefício mútuo expresso na Conferência de Bandung como um princípio central da Cooperação Sul-Sul (ROA, 2010). Como consequência final da tomada de tais decisões, parte do Terceiro Mundo industrializava-se e entrava

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visível e rapidamente no Primeiro Mundo, embora continuassem desfavorecidos economicamente – através principalmente de uma nova divisão internacional do trabalho, baseada na transferência de indústrias referentes à primeira geração de economias industriais – que produziam para o mercado mundial – para outras partes do mundo. (HOBSBAWM, 1998).

No entanto, esses países, atualmente classificados como “doadores do Sul”, ainda apresentam-se relutantes em serem vistos como reprodutores de hierarquias tradicionais de doador-receptor, tão fortemente rejeitadas pela Conferência. Por último, é possível entender, no contexto atual, os sucessos e as dificuldades encontradas pelos princípios iniciados em Bandung. Afinal, em um mundo no qual o capital domina, o cenário desigual é perpetuado e a competição e a pressão permanecem, o espírito de Bandung é frequentemente desafiado. As próprias prioridades e interesses estratégicos são mais defendidos do que qualquer outra ação em prol do bem comum, tornando a visão de Bandung ainda mais prejudicada (ROA, 2010).

Não obstante, analisando as repercussões da reunião na política contemporânea, ainda são realizadas tentativas de uniões entre os países do Terceiro Mundo em blocos promotores de interesses comuns. Atualmente, essas tentativas abrangem também países latino-americanos e possuem uma importante distinção em relação à época em que ocorreu Bandung: há países do Terceiro Mundo considerados “emergentes”, podendo consolidar-se como potências mundiais futuramente. Este fato constitui-se como um novo elemento de empoderamento dos países subdesenvolvidos, que recorrem a estes países de maior destaque para ganharem voz e poder de barganha em relação aos desenvolvidos, além de aumentarem suas possibilidades de defesa (TANCREDI, 2014).

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3.3. Ubuntu: o que significou a Conferência de Bandung

De fato, a importância fundamental de Bandung reside na ideia comum a todos os países reunidos referente à liberdade de ação no âmbito mundial (ROTHFELD et al., 2013). Entre os principais pontos de sua agenda, constava a meta de estruturar uma força do Terceiro Mundo capaz de promover a cooperação política, econômica e cultural. Essa aliança era vista como estratégica para superar o trágico legado do período colonial que as independências não tinham conseguido deixar para trás, já que, através de formas por vezes sutis, perdurava o neocolonialismo (BISSIO, 2015). Por essa 14

razão, diz-se que a Conferência de Bandung trouxe consigo consequências de caráter não só político ou econômico, mas também repercussões sociais.

Como sobredito, além de incitar um interesse recíproco entre os países asiáticos e africanos de estabelecimento de diretrizes e agendas políticas próprias, a descolonização culminou na derrubada do mito do homem branco superior (VISENTINI, 2007). As ondas de libertação nacional na Ásia e na África inspiravam um forte sentimento nacionalista na população afro-asiática que se opunha à intervenção imperialista em seus territórios.

O cenário que se sucedeu à conferência de Bandung representava um mosaico a nível global: se na década de 1970, por um lado, os países da América do Sul experimentavam o mais duro período ditatorial, na América Central observava-se o auge da luta armada na Guatemala, Nicarágua e El Salvador; e o “processo de

14 Entendido aqui como um processo de dominação política e econômica que potências exerciam sobre a Ásia, a África e a Oceania, ao longo do século XIX e início do XX. Por ter ocorrido em etapa posterior ao colonialismo tradicional, o colonizado procura se reafirmar contraditoriamente em relação ao colonizador. (ARANTES, 2011)

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descolonização” gerava fortes impactos na África e na Ásia (BISSIO, 2015). A contestação do racismo e do colonialismo ganhava forças em um contexto internacional e já não era opção, às potências em atual estado de tensão política, intervir nos governos de suas respectivas ex-colônias (ROTHFELD et al., 2013).

Por fim, o conceito africano de Ubuntu aparenta mais idealmente retratar aquilo que foi originalmente proposto pela Conferência de Bandung. Ubuntu é a premissa da noção de compartilhamento e equidade entre todos e a responsabilidade coletiva da sociedade. No entanto, o desafio é delimitar até que ponto os países pioneiros de Bandung estariam dispostos a adotar o verdadeiro espírito de colaboração contido no conceito de Ubuntu (CHIDAUSHE, 2010). Logo, o princípio de não-interferência, quando não compreendido em sua complexidade, prejudica o espírito africano de comunidade, solidariedade e Ubuntu e, consequentemente, o espírito de Bandung e da Cooperação Sul-Sul (CHIDAUSHE, 2010).

4. PROTAGONISMOS PERIFÉRICOS E PROJEÇÕES DE         

BANDUNG

Pensar em periferia, como sobredito, é reconhecer a existência de um eixo central, de referência, ao redor do qual todo o resto orbita, que domina as relações de poder. Por muito tempo, enxergou-se o mundo de uma forma eurocêntrica, como se os demais países fossem meros coadjuvantes em suas próprias histórias – já que a Europa encontrava-se numa posição de colonizadora, subjugando econômica, política e socialmente aqueles países cujo poder bélico não era capaz de detê-la (PEREIRA, MEDEIROS, 2012).

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A Conferência de Bandung, neste contexto, foi o momento em que os países ditos periféricos, inspirados pelos movimentos de descolonização, tomaram consciência de seus protagonismos e, finalmente, o reivindicaram no contexto internacional. Nesse sentido, dizia o dirigente senegalês, Leopold Senghor, que

Bandung marcou a morte do complexo de inferioridade dos povos do Terceiro Mundo e foi um poderoso acelerador da sua tomada de consciência. (...). O Terceiro Mundo alinhara-se politicamente em torno da defesa do anticolonialismo, criando um movimento cuja identidade coletiva se afirmava simultaneamente contra o velho colonialismo europeu (STOCKER, 2012, s. p.).

Percebe-se tal ruptura com o pensamento de superioridade hierárquica europeia com os próprios princípios da Conferência, já citados anteriormente. Inclusive, é importante entender o porquê da importância que se dá à presença dos supracitados princípios no comunicado final da Conferência.

Estes princípios não eram, de forma alguma, novidade no cenário internacional. A Carta da ONU, por exemplo, redigida e ratificada por cinquenta países em sua criação, no ano de 1945, já os trazia no artigo 2º da mesma forma (ONU BRASIL, 2018). No entanto, ao expressá-los no comunicado final da Conferência Afro-asiática, os países afro-asiáticos enviam um recado diferente ao resto do mundo: a partir daquele momento, os países periféricos passaram a se enxergar como detentores dos mesmos direitos dos países centrais e iriam lutar pela sua efetivação – é assim que Bandung confere ao sistema internacional um novo ator coletivo (KOCHER, 2005).

A Conferência de Bandung marcou a emergência da periferia no cenário mundial, criando uma agenda própria do Terceiro Mundo. Para além dos princípios de igualdade entre as nações e

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diferentemente dos países centrais, cuja maior inquietude era relacionada ainda com as demandas econômicas, salienta-se que essa agenda trazia uma forte preocupação dos países periféricos com as questões sociais. Nesse âmbito, em virtude do envolvimento dos países africanos na Conferência, identifica-se um cuidado especial com a questão do racismo (PEREIRA, MEDEIROS, 2012).

Tem-se, no artigo terceiro da comunicado final da Conferência, o reconhecimento da igualdade de todas as raças. Nesse sentido, destacamos uma forte oposição ao apartheid e ao racismo, princípios que posteriormente seriam institucionalizados a partir do Movimento dos Não-Alinhados (PEREIRA, MEDEIROS, 2012). Era colocado em pauta, pela primeira vez na voz de países periféricos, que as disparidades sociais não haviam sido – nem chegado perto de – extintas com a publicação da Declaração Universal de Direitos Humanos, em 1948. Em Bandung, tinha se consumado o despertar dos povos colonizados (GUITARD apud BISSIO, 2015).

Não é à toa que se percebe, na década seguinte, uma eclosão de movimentos sociais ao redor do mundo. Embora não fossem exatamente uma novidade, considerando que a luta pelo reconhecimento de direitos humanos data de 539 a.C. (SOUZA, 15

2017), e sem querer afirmar que a Conferência de Bandung tenha sido a grande responsável por isto, os anos 1960 são marcados por um crescimento exponencial de movimentos em prol da

15 Diz-se que “a primeira forma de declaração dos direitos humanos na história é atribuída ao Cilindro de Ciro, uma peça de argila contendo os princípios de Ciro, rei da antiga Pérsia que ao conquistar a cidade da Babilônia, em 539 a.C. libertou todos os escravos da cidade, declarou que as pessoas poderiam escolher a sua própria religião e estabeleceu a igualdade racial” (SOUZA, 2017).

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universalização e ampliação do rol de proteção dos direitos humanos. Afinal, até então, quem era detentor dos direitos humanos?

Entende-se que, naquele momento de libertação das antigas amarras coloniais, temas como racismo, etnicidades e identidades culturais ganhavam força e, finalmente, podiam ser enfrentados pelas minorias. Decerto, a Conferência de Bandung teve sua parcela de influência nesse processo, especialmente no movimento negro (YEROS, 2015). Contudo, é preciso considerar que, qualquer que seja o contexto de manifestação, seja este a comunidade internacional ou mesmo a sociedade civil, a luta das periferias nunca é fácil; aliás, nenhum movimento de resistência é. Em verdade, o que acontece é que existe uma série de empecilhos em ambos os âmbitos.

No caso dos movimentos sociais, tem-se que considerar, a princípio, que cada movimento possui suas especificidades e dissidências dentro do próprio movimento – o que, por si, já é um grande desafio. O movimento negro, por exemplo, enfrenta dificuldades diferentes daquelas dos movimentos feministas, embora possam ter militâncias em comum. No geral, o que se pode afirmar é que a luta dos movimentos sociais é sempre contra injustiças e marginalizações cometidas pelo Estado; por óbvio, seu maior empecilho é estar se mobilizando contra o regulador da vida em sociedade. Os movimentos sociais precisam lidar com a violência, institucionalizada e institucional, e as forças hegemônicas, que geralmente se recusam a reconhecer seus direitos, seja na esfera legal ou pragmática (FRANK; FUENTES, 1989).

Voltando à situação dos países periféricos na comunidade internacional, os desafios são outros; e, em grande maioria, estão relacionados à desigualdade inerente ao formato dos organismos internacionais, baseados em critérios econômicos ou de influência política. Sendo assim, um desses desafios é a questão da disparidade

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financeira entre os países, a qual é um empecilho para negociações – desde as bilaterais até as em organismos internacionais.

Aqueles países com maior poderio econômico possuem votos de maior valor; às vezes de forma indireta, quando influenciam os países que praticamente dependem das relações comerciais que com eles mantêm. De forma direta, tem-se como clássico exemplo o Fundo Monetário Internacional (FMI), que utiliza os milhões de SDRs como parâmetro para estabelecer o valor do voto de cada país 16

(International Monetary Fund [IMF], 2018).

Outro desafio é a questão da representatividade no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), principal órgão responsável pela tomada de decisão acerca de questões referentes à paz e segurança internacionais, cuja própria estrutura é exclusiva. Ainda hoje se tem como cinco membros permanentes os chamados vencedores da Segunda Grande Guerra, mesmo tendo se passado mais de 70 anos desde seu fim. Com um limite de 15 representações, a conta é simples: sobram apenas 10 para serem disputadas entre os demais países reconhecidos pela ONU – a saber, 188 (BACCARINI, 2017).

Aqui, vale destacar que desde 1965 não se amplia o número de delegações, que são distribuídas da seguinte forma: dois assentos para o continente africano; dois para a América Latina e Caribe; dois para a Ásia, dois para a Europa Ocidental e outros países (Canadá, Israel, Austrália ou Nova Zelândia), um para a Europa Oriental e um último para a África ou a Ásia. Para que se tenha alguma representação árabe, os países afro-asiáticos mantém um acordo de

16 SDR, ou Special Drawing Rights, é a moeda utilizada pelo FMI. Esta é determinada pela soma dos valores em dólares americanos, baseando-se nas taxas de câmbio do mercado e considerando as principais moedas, isto é, o dólar americano, euro, iene japonês, libra esterlina e renminbi chinês.

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sempre incluir um país árabe. A falta de representatividade, que retira a legitimidade, a eficiência e a transparência do órgão, somada aos fatos de que a) a composição atual não reflete as mudanças políticas e econômicas ocorridas nos últimos 60 anos e que b) o poder de veto poderia ser prejudicial à tomada de decisões, faz com que se defenda uma reforma no CSNU (GROCHOCKI, 2005).

A observação de tais dificuldades, no entanto, não devem ser desanimadoras. Desde a Conferência de Bandung, o quadro já não é mais o mesmo – e nem se limita ao que aqui é demonstrado. No contexto internacional, como sobredito, surgiu uma Cooperação Sul-Sul capaz de reduzir consideravelmente a dependência dos países periféricos aos países centrais. Ainda, diversas alterações nos métodos de trabalho têm sido adotadas pelo Conselho de Segurança, e o movimento em prol de sua reforma tem se fortalecido (BACCARINI, 2017).

Se fosse possível fazê-la, a lista de melhorias alcançadas nestes mais de 60 anos pelas lutas das periferias seria longa, felizmente. Não obstante, ainda há muito a ser transformado: os problemas de dependência, subdesenvolvimento e marginalização, típicos do período colonial, persistem a existir na atualidade, mesmo que mascarados por novas configurações (HALL apud VENÂNCIO; FARBIARZ, 2016).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante, ao findar deste trabalho, retomar seus aspectos mais relevantes. Desta forma, faz-se necessário lembrar que a Conferência de Bandung, objeto e motivo para redação deste artigo, foi um momento de mudança na História mundial, a partir do qual

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passou a prevalecer, entre as nações afro-asiáticas, o pensamento anticolonial e antirracista, que reverbera até hoje (YEROS, 2015).

Na comunidade internacional, a Conferência, juntando pragmatismo e idealismo, foi responsável por trazer uma agenda própria, que carregava consigo questões sociais que até então não recebiam o destaque devido. Vale lembrar aqui que, naquele contexto bipolar, a concretização dos princípios da Conferência era tarefa árdua. Ainda assim, Bandung deu voz aos países marginalizados no contexto mundial, despertando-os e caracterizando o que aqui se chamou de protagonismo periférico, cuja relevância se faz cada vez mais gritante, tanto na resolução de conflitos internacionais quanto no âmbito das relações comerciais.

Neste sentido, pode-se verificar na atualidade a permanência e a resistência do “espírito de Bandung” frente às problemáticas internacionais. Isto é, no crescimento da influência do BRICS, no fortalecimento do movimento negro, na emergência de outros muitos movimentos sociais, nos movimentos contra a xenofobia, na valorização das culturas regionais, Bandung está presente (BISSIO, 2015). Contudo, como à época da Conferência, existem desafios, que precisam ser enfrentados diariamente por quem busca lutar por um ideal contra-hegemônico.

Especialmente hoje, o mundo assiste uma guinada à extrema-direita, cuja principal característica é a proliferação massiva de discursos de ódio. Neste contexto, líderes ensandecidos tentam convencer o mundo de que a solução está no conservadorismo econômico e social (LOCH, 2017). É por isso que o protagonismo das periferias – o “espírito de Bandung” – nunca pode ser esquecido.

Para evitar retrocessos que destruam suas árduas conquistas, é necessário dar ainda mais voz aos marginalizados, permitir que se tenha lugar de fala para todas e todos e garantir que a

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representatividade seja efetiva – da esfera micro à esfera macro. A única saída é, como sempre, resistir.

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